powered by ABSOLUT Tripla atualidade BARRIOS para JOANA BARRIOS, apresentadora de dois programas de televisão e um filme a estrear em breve no cinema. texto Tiago Manaia A atriz também é fotografia Rui Palma blogger. Na internet styling Ruben de Sá Osório costuma partilhar moda styling assistant Sreya enquanto pensamento. make-up + hair Andy Dyo Mãe de dois filhos, esteve em tempos ligada à noite, foi porteira da discoteca Lux. É um símbolo de hiperatividade. Conversa calmamente connosco num carro em direção a Lisboa, evoca com frequência o Alentejo que a viu nascer. O iPhone que tem nas mãos brilha sem parar com notificações, estamos longe da pré-história.

P: Quando fizeste a apresentação JB: Não tem sido um percurso particularmente tortuoso. Tenho tido pública da Absolut Creative a sorte de procurar, e ter sido encontrada por pessoas que praticam o Competition lembravas algumas mesmo código de valores que eu. Tenho encontrado gente que valoriza a das crenças da marca e de como minha dispersão. Estou a falar do TEATRO PRAGA, do MANUEL REIS e falo do são importantes na época que espaço de alegria e libertação que é o Canal Q (apresenta em itinerância vivemos. A Absolut defende Super-swing). Estou a falar da Bertrand, que esteve aberta às minhas inclusão, igualdade de género e vontades relativamente ao livro que fiz de receitas. E agora com o Armário, pede às pessoas para celebrarem programa que apresento na RTP2. Tu enquanto indivíduo encerras imensas o seu lado único. Tem sido fácil coisas em ti, porque não trazer isso para o teu âmbito de trabalho? manter a tua originalidade ao longo da tua carreira de atriz?

P: O ativismo JB: Claro que P: O teatro que fazes JB: Para a televisão, entrevistava P: Nunca JB: Claro que sim. Mas a minha P: Quando JB: Nunca me disseram que não nunca te vai não, é impossível. é ativista, o filme do no outro dia a minha atriz preferida, ninguém te disse natureza nem sequer me permite trabalhas para podia não dizer alguma coisa. Até largar? GABRIEL ABRANTES, a PAULA SÁ NOGUEIRA, e ela disse- para focares? ser só uma coisa. Aconteceu isso marcas também porque o meu trabalho com marcas Diamantino (deverá me uma coisa genial: “Há pessoas com o MANEL REIS. Nunca pensei sentes que és chega por haver esta identidade e estrear em 2019) que são atores durante um ano, ser porteira de uma discoteca livre? Nunca te defesa muito séria de valores. É um também... e depois desistem ou deixam até ele vir falar comigo. pediram para conjunto de ideias que me permite de ser. Mas quando escolhes não falar? sentir confortável a fazer o que faço. isto e continuas ao fim de dez É óbvio que não consigo dissociar anos sem desistir, é porque é P: O ator acaba por JB: Se me forem procurar o meu trabalho de uma posição so- uma forma de estar na vida.” ser um intérprete, no para fazer de princesa cial e política, e de uma chamada de P: Quiseste ser atriz para dialogar com os outros? JB: Sim. teu caso estás ligada ao indefesa, faço. Mas se atenção para muitas causas e ques- Teatro Praga onde és calhar não faço aquela tões. Embora faça uma coisa meio mais que isso, és uma coisa que procuram. a brincar e irónica, nunca deixo de P: Sentes que estás a JB: As redes sociais são uma espécie de autoestrada de comunicação. É bom ver a artista no seu todo... Mas já fiz personagens procurar verdade no meu discurso. encontrar interlocutores quantidade de pessoas que fazem stories quando sai um episódio novo do Armário. como intérprete. Especialmente neste tempo em que ou um público? E recebo mensagens do género: “nunca pensei que pudesse haver um programa é possível camuflar a realidade com onde se debatessem temas tão importantes, dentro de uma categoria que é tão P: E o que te impede na JB: É óbvio que tenho muitas coisas que 59 mil filtros. Ou seja, a internet fa- menosprezada e associada a coisas muito fúteis e a frivolidades”. Para mim a moda, tua atividade virtual de são ficcionais, mas acho que o real não é z-nos viver no tempo do não tempo. o teatro, os textos, a roupa, a forma como tu te moves —tudo é comunicação. Todas não fugir para o lado da assim tão mau quanto isso. Nem tão pouco Podes hoje publicar uma fotografia as coisas que faço convergem para a mesma coisa: abrir uma linha de diálogo. ficção? Procuras o real? glamoroso, nem tão pouco interessante. que tiraste há 5 dias e evocar uma Mas se calhar a linha de diálogo que quero abrir ainda não é a banda larga. Ainda Mas também não me sinto muito pressionada a série de coisas de outro tempo. O é daquelas coisas que tens de ligar e ficar à espera que o modem diga que sim. ser uma pessoa que partilha muito. que é o real? Obrigado ao Dino Parque da Lourinhã e à Letícia da Costa Gonçalves.

02 03 ABSOLUT FESTA DE LANÇAMENTO, CREATIVE RIVE ROUGE EM LISBOA COMPETITION

Ainda antes de entrar na festa da Absolut avistámos André Januário, retocava a maquilhagem no espelho de um carro estacionado perto do Mercado da Ribeira. Num movimento rápido despiu o blusão de penas que trazia vestido, para desvendar uma camisola de lentejoulas verdes. Nunca mais ninguém na rua lhe tirou os olhos de cima, até ele entrar no Rive Rouge.

01 Joana Barrios apresentou o evento Absolut Creative Competition 02 Bill Onair 03 Josh Quinton, David Motta, André Januário 04 Pedro Miguel Morgado e Rita Gonçalves 05 Bernardo de Lacerda e Teresa Lucas 06 Eduarda Abbondanza 07 A campanha da revista Toiletpaper 02 que nasceu da colaboração entre Maurizio Cattelan Pierpaolo Ferrari e Micol Talso ARE YOU NEXT? De que se trata esta competição? um futuro melhor. Acreditamos 08 André Abreu e Rui Palma CONCURSO Desde 1985 que a ABSOLUT que ninguém deve ser forçado 09 Aurora Pinho cantou 4 temas: ABSOLUT colabora com centenas de artistas ao silêncio, e todos merecem Trans‑phoenix, Apocalypse, Devil CREATIVE dos mais ousados ​​e famosos do o direito de se expressar, seja Shaved My Head, Get The Guns Out COMPETITION mundo. Estamos agora numa qual for o meio que utilizam. missão global para descobrir o próximo HARING, BRITTO ou THOMAS. As pessoas devem ser livres Se é um artista ou designer, esta para amar quem querem. é a sua oportunidade de lançar Desde o início dos anos 80, (ou acelerar) a sua carreira, apoiamos a comunidade LGBTQ+. 01 03 participar numa competição global É uma convicção nossa muito vista pelos melhores artistas forte de que um mundo colorido, do mundo e ganhar 20.000€. diversificado e respeitoso é algo para o qual todos nos devemos O CONCURSO TERMINA esforçar e trabalhar. Todos devem A 31 DE JANEIRO. ser exatamente quem são e amar exatamente quem querem. AS NOSSAS CRENÇAS COMO PARTICIPAR? Todos os géneros são iguais. A igualdade de género não Desenvolva uma criatividade. 04 05 é apenas um problema das Certifique-se apenas que mulheres, mas uma questão inclui a forma da garrafa humana fundamental que afeta Absolut (faça download dos todos nós. Os nossos direitos, materiais e templates em responsabilidades e oportunidades www.absolut.com/pt/competition ). nunca devem depender do facto de termos nascido homem ou 1. Deixe que uma das nossas mulher. Todos têm o direito de crenças o inspire na sua criação. viver livres e de forma igual. 2. Adicione a forma da garrafa Não importa de onde vimos, Absolut de uma maneira somos todos humanos. claramente visível. Não importa o sangue ou a 06 raça, a crença ou a cor, há mais 3. Faça arte. coisas que nos unem do que as que nos separam. Não importa Mais informações em de que parte do mundo somos, www.absolut.com/pt/competition devemos partilhar as nossas semelhanças enquanto celebramos aquilo que nos torna únicos.

Todos devem ser livres de se expressar. O verdadeiro fundamento dos 07 08 09 direitos humanos é a liberdade de expressão, que permite criar

04 05 Os micromundos criados por J OA N A de trinta décadas que convive de ABSOLUT ASTOLFI, levam-nos quase sempre perto com todo o tipo de talentos, TIMELINE de volta à infância —momentos em em diversas áreas ligadas à cultura. que os sonhos superam a realidade. Tem sido um nome essencial na Artista, arquiteta e criativa, há crítica de arte contemporânea quem diga que JOANA ASTOLFI é e esteve ligado à emergência de sobretudo uma “encantadora de artistas como JULIÃO SARMENTO, espaços”. Nas suas mãos tudo ou RUI CHAFES. Em 2007, como ganha uma vida nova, e tanto nas curador da ELLIPSE FOUNDATION, vitrines das lojas que imagina (para trouxe a Portugal uma exposição a Hèrmes ou a Claus Porto), como do agora designer da marca Aqui passamos em revista nos restaurantes que desenha (o francesa Celine —HEDI SLIMANE. algumas das colaborações O JÚRI Bairro do Avillez ou Belcanto), em MELO tinha descoberto uma artísticas da marca nas NACIONAL tudo se sente o seu gosto pelos série de fotografias originais últimas décadas. DA ABSOLUT objetos com história. Recupera‑os feitas por SLIMANE na Costa da CREATIVE em todo o tipo de lugares. O Caparica. Escreve regularmente COMPETITION universo ASTOLFI é alimentado pelo para publicações nacionais e humor e a realidade dos sítios mais internacionais. A possibilidade texto Tiago Manaia castiços de Lisboa —cidade que de poder ler algumas das fotografia Rui Palma voltou a ver com olhos de turista, ideias que lhe atravessam o quando há 13 anos regressou de pensamento é tentadora. uma longa temporada em Itália. Na primeira fase Há também a sua paixão pelas O artista internacional B O S E da ABSOLUT CREATIVE pessoas, não interessa de onde KRISHNAMACHARI junta-se também COMPETITION e após veem, quer sempre ouvir o que ao júri português para avaliar as © The Absolut Company AB 1999 / Nam June Paik June / Nam 1999 AB Company Absolut © The o encerramento têm para contar. O seu olhar candidaturas da Absolut Creative Fairhurst / Angus 1992 AB Company Absolut © The do período de impôs-se, e este furor que se Competition. A competição candidaturas, será grita à volta da capital portuguesa começa aqui, mas pode levar‑te ABSOLUT FAIRHURST. ABSOLUT PAIK. escolhido um vencedor deve muito ao seu toque. a percorrer o mundo. nacional. Os trabalhos nacionais serão Quando percorremos os arquivos 1992, Absolut Fairhurst. 1999, Absolut Paik. avaliados por J OA N A da discoteca Frágil é possível O padrão cruzado nesta obra O artista coreano NAM‑BORN ASTOLFI e ALEXANDRE ver em 1984, ALEXANDRE MELO Absolut, é feito a partir de PAIK é considerado o fundador MELO. As candidaturas numa animada conversa com o etiquetas de plástico. Essas do videoarte e foi um dos devem ser entregues cantor ANTÓNIO VARIAÇÕES. De etiquetas, geralmente anexadas primeiros membros do até dia 31 de Janeiro. que falavam na altura? Há mais à mercadoria de lojas de roupas, movimento internacional de eram uma das ferramentas arte Fluxus nos anos 60. favoritas de ANGUS FAIRHURST, A sua celebração da garrafa um dos membros fundadores Absolut é uma cornucópia de da Britart nos anos 90. cores, luzes e sons brilhantes. ©Armand Arman 1989 ©Armand © The Absolut Company AB 1998 / Maurizio Cattelan / Maurizio 1998 AB Company Absolut © The ABSOLUT ARMAN.

BLACK YELLOW MAGENTA CYAN 4801_413252_1100000Arman.pgs 17.09.2004 02:46

BLACK YELLOW MAGENTA CYAN 4801_273653_1100000Master.pgs 31.05.2005 10:49

1989, Absolut Arman. 1998, Absolut Cattelan. 2015, Absolut Thomas. Esta campanha apresenta uma O artista italiano M AU R I Z I O MICKALENE THOMAS recorre à escultura criada a partir de 98 CAT TEL AN é conhecido pelo história da arte ocidental e à caixas de garrafas Absolut e seu trabalho satírico. A sua arte pop, para desenvolver ideias pincéis colados a um pedaço colaboração com a Absolut mostra sobre feminilidade, beleza, raça, de madeira contraplacado. O um rato aparentemente de ressaca, sexualidade e género. Para a artista francês ARMAND ARMAN dentro de uma garrafa vazia. Absolut quis imaginar como as é um dos cofundadores de o definições convencionais de beleza Joana Astolfi Alexandre Melo movimento Nouveau Réalisme. poderiam ser desconstruídas.

06 07 powered by

powered by You Must 10 Scenario in the Shade 12 The Haas Brothers 14 Outcast Manufacturers 16 Kissi Usuki JOANA BARRIOS e Dino foram fotografados por 18 Clara Não RUI PALMA. JOANA BARRIOS usa um vestido, NUNO BALTAZAR, brincos e botas MANGO. Dino usa boina, 20 Sara casaco, camisa e colar da OUTRA FACE DA LUA. Obrigado ao Dino Parque da Lourinhã. 21 House that Jack built 22 Vai e Vem PARQ: Revista de tendências de distribuição gratuita. Rua Quirino da Fonseca, 25 – 2oesq. 1000-251 Lisboa 23 Cds Assinatura anual: 12 euros 24 Perks of beeing Human Director: Francisco Vaz Fernandes ([email protected]) 26 Barbar Inês + Kruella Editor: Francisco Vaz Fernandes ([email protected]) Editor de Moda: Rúben de Sá Osório 27 Raf Simmons + Magic Line Design: Valdemar Lamego (www.k-u-n-g.com) 28 Joalharia Portuguesa Periocidade: Bimestral 29 Beleza Depósito legal: 272758/08 Registo ERC: 125392 30 You Must Buy Edição: Conforto Moderno Uni, Lda. NIF: 508 399 289 Propriedade: Conforto Moderno Uni, Lda. Soundstation Rua Quirino da Fonseca, 25 – 2oesq. 1000—251 Lisboa Telef: 00351 218 473 379 32 Noname 34 The Good The Bad Impressão: Eurodois. R. Santo António 30, 2725 Sintra 12.000 exemplares & The Queen Distribuição: Conforto Moderno Uni, Lda.

Central Parq A reprodução de todo o material é expressamente Editorial: proibida sem a permissão da PARQ. Todos os direitos Sessenta 36 Atelier Bow-Wow reservados. Copyright © 2008 — 2018 PARQ. Que número mais perfeito para uma edição que encerra o 38 Lost in translation ano em que cumprimos os nossos 10 de vida acatando sem- Tex tos Rui Miguel Abreu pre a nossa missão de dar voz a um estar jovem e urbano. 42 Berlin Q Carla Carbone Sara Madeira Procuramos estar atentos ao melhor que desponta em solo Carlos Alberto Oliveira Sara Silva nacional procurando equacioná-lo com as trends interna- 44 Senhor Doutor Débora Nobrega Fotos cionais. Estivemos e estamos sempre de braços abertos Francisco Vaz Fernandes Andy Dyo para acolher a franqueza com que nos abordam. Muitos de Joana Teixeira Frederico Santos vós acham que têm espaço na PARQ e contactam-nos para Fashion ed. João Patrocínio Nuno Vieira encontrar esse lugar. Na maior parte das vezes são propos- Liliana Pedro Pedro da Silva tas bem razoáveis que de facto fazem sentido na PARQ. No 46 Walk in the park Luís Sereno Rita Menezes fim contas é esse diálogo tão espontâneo que enriquece Margarida Santos Styling todas as nossas edições. Nesta, de natal trouxemos várias 56 ... Maria São Miguel Ana Beatriz Alves perspetivas do Japão de hoje e questões sobre o futuro Patrícia César Vicente Pedro Aparício que se discutem em Berlim. Também não quisemos deixar Rafael Vieira Rúben de Sá Osório de partilhar o nosso entusiasmo pelo SENHOR DOUTOR que Parq Here Roger Winstanley promete dar que falar. 64 Massimo Dutti Perto da quadra do Natal resta-nos desejar-vos boas fes- www.parqmag.com tas e porque não oferecer a PARQ aos vossos queridos. Steve Madden facebook /parqmag Francisco Vaz Fernandes 66 Quorum instagram /parqmag youtube /parqmag

08 DEZEMBRO 2018 09 DEZEMBRO 2018 JONAH FREEMAN + JUSTIN LOWE O MA AT apresenta no espaço Tanto podemos estar numa SCENARIO IN a partir de agora reservado cave secreta repleta de antigos THE SHADE para vídeo-projeções, uma obra aparelhos tecnológicos de um complexa de JONAH FREEMAN & suposto hacker, como podemos texto por Francisco Vaz Fernandes JUSTIN LOWE. Scenario in the Shade passar por corredores anónimos foi apresentada pela primeira vez repletos de dejetos, para depois na bienal de Instambul em 2017 e passarmos a uma sala hi-tec. Aí, FRED PERRY STORES: NORTE SHOPPING - PORTO é composta por um trajeto entre em montras e prateleiras bem ARRÁBIDA SHOPPING - GAIA diferentes salas com diferentes iluminadas aparecem acessíveis RUA DO OURO, 234 - LISBOA ambientes esquizofrénicos, os produtos que são grande parte culminando num espaço com vários reflexo de um escape, da forma FRED PERRY CORNERS: vídeo-projeções, que enfatizam o como uma sociedade lida com as MARQUES & SOARES PORTO carácter onírico de uma realidade suas ansiedades. Basicamente, EL CORTE INGLÉS GAIA que não está tão longe do nosso JONAH FREEMAN & JUSTIN LOWE fazem EL CORTE INGLÉS LISBOA quotidiano. Ou seja, é um trabalho uma colagem de cenários prováveis. que refere que esse universo transfigurado está à distância Lidam com a grande escala de um afastar de uma cortina. arquitetónica, da mesma forma como realizam pequenas composições de É isso mesmo que acontece no colagens em papel. São recortes MA AT quando atravessamos uma que criam uma visão retrospetiva porta de um típico contentor e nos do lastro da ruína que os ideais de deparamos com uma sala vitoriana cada geração deixam. Destroços decrépita. Não podemos deixar que em geral alimentam uma de pensar em Alice no País das cultura underground que germina Maravilhas quando atravessa o nas brechas. Referem-se mais espelho. A partir daí não voltamos diretamente às subculturas juvenis LISTEN TO BLACK / CHAMPAGNE / CHAMPAGNE a ter contacto com a realidade californianas que não tendo estado exterior. Deixada a luz intensa de contempladas nos ideais da América MA AT uma típica sala de exposições, criam então cenários no espaço e no Scenario in the Shade entramos num emaranhado de tempo que não colam na perfeição. Av. Brasília, Lisboa corredores escuros com salas Estaremos perante um retrato → 25 de Fevereiro de 2019 estranhas e ambientes díspares. da América bipolar de Trump?

10 YOU MUST SEE 11 THE HAAS BROTHERS NIKOLAI e SIMON HAAS são bem Em colisão com a tradição, as FLINSTONES a imagem do novo self-made criações dos irmãos HAAS são man americano. Criados em Los povoadas por séries únicas de texto por Francisco Vaz Fernandes Angeles sem qualquer formação criaturas peludas que parecem ter artística, estes dois jovens já saído de uma série de desenhos viram as suas obras chegar animados, como por exemplo, os aos exclusivos leilões de design Flinstones. Esta relação com a contemporâneo promovidos pela memória juvenil, não é de desprezar leiloeira Christie's. Ao que se sabe no entendimento das suas criações. a sua única escola foi a Rriiccee, É uma relação propositadamente a banda de música experimental procurada pelo carácter empático de VINCENT GALLO. Mesmo sem que geram. O sorriso, afinal, desarma reconhecer o seu talento musical, a os mais céticos. No entanto, o seu sua experiência, segundo os irmãos trabalho capta também zonas de HAAS, foi libertadora, ajudando- sombra. Os seus bichos de peluche os a ultrapassar as suas inibições evocam com ironia a taxidermia e os e a chocar com as atitudes mais abusos de uma classe privilegiada convencionais. Esquecidos estes que gostava de expor nos seus primeiros passos nas áreas culturais, salões, os seus troféus de caça. De já em 2004 eram referidos pela resto, a atenção que se tem dado sua produção de móveis, “The aos irmãos HAAS explica-se pelo Haas Brothers”. Num armazém, no crescente interesse em colecionar centro de Los Angeles, os irmãos peças de design, o que faz com que HAAS começaram a dar forma se procurem peças únicas e que ao seu universo, ignorando em evidentemente transpirem luxo. grande parte questões como a funcionalidade, o carácter minimal e a reprodutibilidade que estavam no cerne de anos de história do design.

http://www. thehaasbrothers.com

12 YOU MUST SEE ANDREIA SANTANA Depois de uma individual na Ao imprimir no convite da exposição OUTCAST Fundação de Serralves, na sequência a imagem de uma sala dos anos MANUFACTURERS da atribuição do prémio revelação 50, onde se pode ver várias do Novo Banco, ANDREIA SANTANA formas em ferro que animam um texto por Francisco Vaz Fernandes volta a expor na Galeria Filomena painel que faz parte de um todo fotos por Francisco Sousa Ferreira Soares, novos projetos construídos arquitetónico, acreditamos que © Galeria Filomena Soares em ferro. Tanto em Serralves, as formas e a materialidade dos «História da falta» (2017) como objetos nunca negaram uma visão agora, “Outcast Manufacturers”, os mais abrangente do mundo material títulos referem-se a procedimentos onde a artista inscreve a sua própria técnicos e materiais envolvidos na produção. Descobrir, identificar e produção de objetos manufaturados catalogar são processos próprios que um dia deixaram de ter utilidade de uma linguagem arqueológica que e daí passaram a descontinuados certamente lhe impõem barreiras e consequentemente esquecidos. à sua própria subjetividade. As Desenterrá-los e dar-lhes visibilidade suas obras ficam, assim, abertas é o culminar de um processo a uma subjetividade contida que de pesquisa que se torna uma não lhe retira a espontaneidade. verdadeira arqueologia que, por sua Encontramos nas suas formas vez, dá lugar a um trabalho artístico. um organicismo que não é alheio à morfologia da natureza. O projeto de ANDREIA SANTANA restitui essas técnicas de produção Cada peça de ANDREIA SANTANA, e integra-las no seu próprio apesar de configurar um volume, processo criativo, saltando assim é essencialmente apercebida de uma aparente esfera formal para num plano, com uma leitura algo onde a artista inscreve o seu favoravelmente bidimensional. gesto num todo social, ganhando São obras que não ocupam assim uma nova amplitude. A um espaço, constituem-no, materialidade formal de A N D R E I A configuram-no, permitindo ver SANTANA acaba por escavar uma para além de cada elemento. velha tensão entre o campo das ditas artes plásticas e outras artes, ditas aplicadas, onde podemos incluir o design e de certa forma a arquitetura. Falamos de relações que o projeto modernista procurou esvaziar devido à sua dificuldade crescente em se relacionar com o objeto, em particular com o útil.

14 YOU MUST SEE KISSI USSUKI Jovem, artista e lituana. Justė P: O seu estilo artístico é... Urbonavičiūtė é o seu nome, KU: Vivo, arrojado e divertido! texto por Joana Teixeira KISSI USSUKI é a sua heterónima ilustradora. Natural da Lituânia, P: Que mensagem pretende passar Justė desenha para entreter —gosta através das suas ilustrações? de criar composições surreais e KU: Gosto de fazer as pessoas rir. absurdas, que finaliza com cores Gosto que se relacionem com o meu garridas que fazem os olhos chorar trabalho. Gosto de fazer cócegas nos por mais. As suas ilustrações, com seus olhos com bonitas combinações uma pitada de humor nonsense, de cores. não devem ser levadas a sério. São cor-de-rosa, são berrantes, P: A cor é definitivamente são bizarras na sua imagética uma característica do seu colorida —mas também são, ao trabalho. Porquê? mesmo tempo, desenhos simples KU: Simplesmente gosto de cor. Mesmo pelos quais qualquer pessoa com quando compro tintas mais escuras, queda para a arte moderna se acabo sempre por usar tons cor-de- pode facilmente apaixonar. A PARQ -rosa ou roxos. falou com a Justė para saber mais sobre o seu mundo cor-de-rosa. P: Quão importante é a arte nos atribulados dias de hoje? http://www. P: Como é que a arte KU: A arte foi sempre importante! O kissiussuki.com entrou na sua vida? que mais gosto na arte dos dias de hoje KU: Desde criança que desenho. é a variedade de métodos e ferramen- Costumava sentar-me sozinha no meu tas que usa – e a liberdade imensa que quarto a desenhar raparigas vestidas um artista tem de afirmar aquilo em de cor-de-rosa em todos os cadernos que acredita. É tão inspirador! (que é mais ou menos o que faço ago- ra). Mais tarde decidi fazer da arte ape- nas um passatempo e tirar um curso de Inglês na universidade. Mas, feliz- mente, em vez de começar a trabalhar numa agência de traduções fui com- prar tinta cor-de-rosa. E foi aí que a minha carreira começou —há 5 anos.

16 YOU MUST SEE CLARA NÃO, Não é novidade para ninguém que a PARQ, volta e meia, escreve sobre artistas E melhor do que vermos as palavras de CLARA nas redes sociais, é mesmo en- CLARA SIM! portugueses. Porém, é a novidade desta edição, falar sobre a ilustradora, es- contrá-la em exposições pelo nosso país fora e também no país vizinho. Já critora, designer, dona de casa, dona de si e mulher de mais uns 7 ou 8 ofícios, expôs em Lisboa no Artroom, em Guimarães na Área 55, na Galiza no Festival texto por Sara Silva de seu nome, CLARA NÃO. Na verdade, sentimos alguma pressão ao redigir este da Poesia do Condado em conjunto com a artista portuguesa, MARIANA MALHÃO artigo, pois estamos perante uma expert nas palavras e na construção das fra- e até já esteve à conversa como oradora, na Universidade Lusófona do Porto. ses mais aleatórias, mas, ao mesmo tempo, mais fixes e honestas de sempre! De momento, a artista esteve inteiramente dedicada ao seu relatório-disser- tação de tese, do qual, o tema “relação fabular entre Desenho e Escrita”, partiu Em conversa com a PARQ, CLARA, começa por dizer que já quis ser professora de um nobre projeto em que esteve envolvida enquanto organizadora: ofici- de Português e até Pediatra, antes de imaginar, sequer, que a arte de se ex- nas de story-telling e ilustração com as crianças hospitalizadas no Hospital pressar, de trabalhar e de viver seria, atualmente, o seu caminho. São João do Porto.

Recordou-nos um episódio muito interessante, em que refere, que sempre fora Como podem ver, CLARA NÃO, é uma artista de mão cheia! E para o futuro, boa aluna a todas as disciplinas e Físico-Química e Educação Visual eram as promete brindar-nos com mais colaborações, projetos pessoais e exposições. suas preferidas. Sabia sempre tudo de cor e nos testes estava sempre prepa- Vamos, certamente, aguardar ansiosamente por mais e, claro, ainda melhor! Ou não seria o trabalho da artista uma referência na arte no nosso país. Tudo tão pessoal e honesto, que se torna impossível não nos revermos nas palavras e no encanto de CLARA.

http://www. claranao.com

rada, até que num, em particular, sentiu-se “traída” pela dita falta de estudo e no momento, deu-lhe uma branca, achando que não iria correr bem. Muito pelo contrário! Clara, como ela própria disse “sabia que sabia” e de imediato, con- seguiu dar resolução ao problema, acabando por ter uma avaliação de 100%.

A artista ressalvou este momento, dada a importância que tem no seu dia- -a-dia, dizendo: “Ainda hoje penso neste teste quando penso na vida em ge- ral. Podemos estudar imenso as opções, ser minuciosamente cautelosos, mas quando sabemos, sabemos, é só ter coragem de afirmar (ou negar)”. E é, den- tro desta incrível lucidez, espírito livre e sonhador, que vamos conhecendo e querendo saber mais sobre CLARA.

Comanda o seu próprio destino, aplicando a criatividade ao serviço da ideia, ins- pirando-se nas pessoas e na sua vida pessoal, para, no final, transmitir a men- sagem. E é literalmente uma mensagem, a expressar da maneira mais “bruta”, todos os “sentimentos e demandas”. Divide o seu trabalho em duas vertentes, sendo, uma delas, o formato sketch, no qual, utiliza marcadores à mão ou, até, tinta-da-china com pincel, em folhas brancas, para uma ilustração mais rápida e momentânea e o formato de bordado, exigindo outra preparação e mais re- flexão sobre a mensagem que pretende abordar.

Não hesita em referir, que o seu trabalho lhe dá imenso gozo e a gratificação que sente, é imensa, por saber, que as pessoas se identificam tanto com as suas mensagens e ilustrações.

18 YOU MUST SEE 19 YOU MUST SEE SARA “Sara” é a carta de amor de BRUNO NOGUEIRA a BEATRIZ BATARDA. A ideia origi- nal da série partiu da sua cabeça de génio que, não tão frequentemente quan- texto por Joana Teixeira to gostaríamos, nos brinda com odisseias trágico-cómicas. Desta vez, BRUNO criou “Sara” —a atriz dramática que não consegue chorar. Ofereceu esta per- sonagem complexa a MARCO MARTINS, o realizador desta série de 8 episódios que recentemente contou os seus dias na RTP.

Esta é uma sátira moderna ao mundo audiovisual. Sara Moreno é uma atriz de sucesso, que, ao desaprender a arte de chorar, se vê confinada a um calvário de situações caricatas e emoções intensas. BEATRIZ BATARDA incarna esta per- sonagem brilhantemente —com todos os gestos, peculiaridades e expressões às quais tem direito.

Aclamada pela crítica, “Sara” é uma sátira que arrasa por completo o estado do audiovisual português, ao ponto de incluir uma telenovela na sua narrativa, com direito a um genérico original. Diferentes registos (comédia, paródia, tra- gédia) coexistem na revolução conceptual que é este enredo. E a personagem principal da trama, Sara Moreno, é complexa nas suas diversas camadas —tão reais quanto caricaturadas ou até mesmo surreais.

“Sara” é mais um laivo de genialidade de BRUNO NOGUEIRA, materializado em poe- sia visual por MARCO MARTINS e interpretado na perfeição por BEATRIZ BATARDA —qual declaração de amor-ódio à cultura audiovisual portuguesa. Quem não viu, pode ver na RTP Play.

LARS VON TRIER Depois de uma pausa de sete anos, LARS VON TRIER volta a Cannes com o fil- THE HOUSE me “The House That Jack Built”. THAT JACK BUILT No momento em que compramos o bilhete (e as pipocas) para ver um filme de LARS VON TRIER já sabemos que vamos ser desafiados, que vamos sentir uma texto por Margarida Santos certa inquietação e que a nossa crença vai ser questionada. LARS VON TRIER traz para a arte cinematográfica o lado obscuro da mente. O espectador, ao ver os seus filmes, sente desconforto, o que leva muitas vezes a saltar da cadeira.

E este último filme não podia ser diferente. “The House that Jack Built” é um dra- ma dinamarquês que se passa nos anos 70, nos Estados Unidos da América. Um filme chocante sobre Jack (MATT DILLON), um serial killer que ao longo de 12 anos comete cada crime como se fosse uma obra de arte. É uma viagem, em forma de monólogo, de 155 minutos à mente perturbada de um assassino que pode chocar o público mais sensível. Um filme com algumas cenas mais gore, como TRIER já nos tem habituado, mas distingue-se desse género por- que oferece ao espetador mais do que violência gratuita. Neste “drama psico- lógico” nem tudo é sinistro. Podemos encontrar partes que apelam ao humor.

Por último, deixo uma mensagem transmitida no trailer que me intrigou bastan- te. Ao chegar ao segundo minuto do trailer, Jack diz-nos que há quem acredite que as atrocidades demonstradas na arte são desejos internos do artista que não os pode concretizar por viver numa sociedade civilizada. Se isto vos fizer pensar e sentir uma certa inquietude, este filme é para vocês.

“The House that Jack Built” vai estrear nas telas de cinema portuguesas a 3 de janeiro de 2019.

20 YOU MUST WATCH 21 YOU MUST WATCH MÁRCIA P: A MÁRCIA não é o caso Leia a entrevista completa CDS Com os olhos postos em 2019, eis oito VAI E VEM de um fenómeno de sucesso, em www.parqmag.com BOAS NOVAS discos que aguçaram de sobremanei- do dia para a noite. Tem ra a curiosidade, a avaliar pelas pistas texto por Patrícia C. Vicente conquistado o seu espaço texto por Carlos Alberto Oliveira reveladas neste ano que findará num na música de forma sólida instante. e consistente, tornando-se uma das melhores autoras 01— O novo álbum da Norte Americana Decidimos falar com a MÁRCIA sobre o da sua geração. De alguma SHARON VAN ETTEN, Remind Me Tomorrow, seu novo trabalho, Vai e Vem. Uma voz forma tem sido programado tem data marcada de lançamento para portuguesa que temos acompanhado este crescimento gradual ou 18 de janeiro. Acerca do disco a artis- e ver crescer ao longo dos anos. Das aconteceu de forma natural, ta comenta: “Eu quis ser mãe, cantora, suas experiências em cima do palco, quase sem se aperceber? atriz, ir à escola, tudo isto com a ca- sobre a inspiração para as suas letras M: Saber que posso viver da música misola com nódoas, restos de comida e todo o seu crescimento na música, foi (e é) uma conquista de vida. Só isso no cabelo e sentia-me uma confusão, 01 com a música e para a música. Se um é que foi uma ambição e demorei mui- mas estou aqui. Este disco é acerca artista pensa em desistir? Sim, pode to a chegar aí. De resto, não escolhi de perseguir as nossas paixões”. A ar- acontecer. Mas nunca o fez e é por isso ter um sucesso gradual. Ele é gradual tista apresentou como primeiro single que hoje conhecemos uma das melhores porque corresponde a uma conquista “Comeback Kid”. autoras portuguesas da sua geração. lenta. Uma pessoa pode considerar que ser mãe, mulher, viver em liberda- 02— A banda do prolifero BRADFORD COX, os DEERHUNTER, está de volta com um P: MÁRCIA, já passaram de e conforto, sendo apenas cantora novo álbum chamado Why Hasn’t Everything Already Disappeared?. O novo regis- quase dez anos depois do e compositora, é o sucesso. Então aí 02 to de originais sairá a 18 de janeiro via 4 AD. O seu primeiro single apresenta- lançamento do primeiro sinto um sucesso enorme. do foi “Death in Midsummer”. O disco foi produzido por CATE LE BON, THE BAND, EP com 5 temas. Quase BEN H. ALLEN III, e BEN ETTER. uma década a crescer P: Durante o seu percurso, enquanto compositora, houve algum momento em 03— Também a 18 de janeiro será lançado o novo álbum dos GO DARK, Neon autora e cantora. Mudava que tivesse pensado em Young, pela Bella Union. Acerca do disco a banda revela: "Este álbum é como se alguma coisa no seu desistir? Nada na vida é fosse o seu próprio animal. Soltá-lo é importante". "Numb" foi o levantar do véu percurso? Se sim, o quê? fácil, mas na música assim do que se pode esperar do novo álbum. M: Se pensasse apenas no percurso como em outras áreas, por profissional (e não familiar) mudaria al- vezes surge aquela vontade 04— A banda britânica TOY regressa com gumas coisas, sim. Mas a vida segue de desistir. Seja porque não o seu quarto álbum de estúdio Happy os seus caminhos, e os objectivos vão nos identificamos ou porque in the Hollow que será posto à venda a mudando, e a cada momento corres- as coisas não acontecem 25 de janeiro. Durante a reta final des- ponde aquilo que acreditamos que é como idealizamos. Já te ano foram revelando os singles “The melhor na altura. lhe aconteceu? Se sim, Willo”, “Energy” e "Sequence One". Acerca como ultrapassou? deste último single a banda comenta: P: Do álbum Vai e Vem, M: Sim, pensei se desistir de editar 04 "Sequence One" retrata a passagem por há quanto tempo estava discos seria uma hipótese quando me uma zona de guerra pós-apocalíptica a trabalhar nele? apercebi das dificuldades de os fazer com o seu mais que tudo." M: Trabalhei um ano, entre gravar as chegar ao público. Mas não sei desis- maquetes e o momento de saída do tir de nada. Sou persistente, teimosa, 05— Os BEIRUT anunciaram o seu novo disco, mas as canções compus o longo e raramente aceito que alguém me disco Gallipoli, sucessor de No No No dos dias e dos anos. Há duas canções diga “não vais conseguir”. Além disso, 05 de 2015. Acerca do tema título, Z AC H que já têm 4 ou 5 anos… sei que tenho um público que bebe as CONDON escreve: "encontrámos por minhas canções da mesma forma vital acaso numa cidade medieval na ilha P: Já há muito que se diz com que eu as escrevo. Não saberia de- de Gallipoli uma procissão encabeçada por um padre a carregar o santo padroeiro da cidade, pelas ruas sinuosas e es- que o amor é uma fonte sistir de fazer música. As canções são treitas, acompanhados pelo que parecia ser toda a cidade. No dia seguinte escrevi a música de uma assentada, apenas inesgotável para quem uma maneira de desabafar. Seria mui- parando para comer." O disco sairá a 1 de fevereiro do próximo ano. escreve. As suas letras são to infeliz se não escrevesse canções... muito honestas. A MÁRCIA 06— "Dolphin" foi a primeira música a ser revelada do novo álbum de PANDA BEAR, Buoys, que será lançado via Domino a escreve sobre amor, em 8 de fevereiro de 2019. O seu sexto álbum é co-produzido pelo seu colaborador de longa data RUSTY SANTOS. O disco diferentes estágios. Enganos, foi gravado em Lisboa, Portugal, cidade que LENNOX adoptou como sua casa. desilusões. Em músicas como “Tempestade” e “Do que eu sou 07— Os texanos HARLEM não gravaram material novo desde que em 2010, ano em que editaram o álbum Hippies pela capaz” passa uma mensagem Matador. A banda decidiu cessar as de confiança e positiva. atividades em 2012. Entretanto rea- Bebe das suas experiências gruparam-se e têm trabalhado no seu para se inspirar? Ou absorve novo álbum. O novo disco que se cha- das histórias á sua volta? ma Oh Boy, será lançado no dia de S. M: Faço as duas coisas. Só consigo Valentim de 2019. Para adocicar o ou- falar do que sinto ou já senti, mas às vido avançaram com “Swervin” como vezes sou convidada a sentir aquilo primeiro single do novo disco. que outra pessoa, que me confidencía as suas experiências, sente —ou aqui- 08— Quem também tem um disco novo lo que eu imagino que ela sente. É um na calha é CASS MCCOMBS, que sairá exercício de empatia. Gosto de enten- a 8 de fevereiro via Anti- Records. O der os outros, mostrar que também sei álbum de seu nome Tip of the Sphere que todos temos dias e momentos di- foi produzido por SAM OWENS (aka SA M fíceis. É isso que nos mostra que não 06 EVIAN) e teve como primeiro single 07 estamos sozinhos, tal como a música. “Sleeping Volcanoes”.

22 YOU MUST LISTEN 23 YOU MUST LISTEN TIAGO LOUREIRO TIAGO LOUREIRO apresentou a sua PERKS OF última coleção cápsula na edição BEING HUMAN Multiplex da Moda Lisboa, no contexto da plataforma Workstation texto por Luís Sereno —plataforma que uniu a visão fotos por Rita Menezes de fotógrafos com mostras de produção e styling por Luís Sereno ilustradoras e apresentações modelo Vlada Kikh (Best Models) em formato happening de cinco make-up por Hugo Bizarro designers de moda. A coleção parte de uma reflexão por via da obra Agradecimentos a Era uma vez no Porto. The Garden of the Earthly Delights, de BOSCH. TIAGO equacionou quais seriam estas consequências pecaminosas da vida terrena no mundo actual e espelhou, num trabalho gráfico que se assemelha a um toile du jouy, temas como gentrificação, desflorestação, aquecimento global, poluição aquática,etc, numa interpretação distópica. Com um tema tão acertivo e actual, o impacto dá-se também pela força dos detalhes e da tipologia de construção das peças. Estas partiram de um blazer masculino e de umas calças com pregas de uma coleção anterior, @tiago_m_loureiro que, através de draping, assumiram novas formas e contornos, as quais apresentam grande versatilidade no modo como podem ser usadas. A paleta assenta nos nudes, com vários tipos de brancos, beges e rosa pálido, tendo o estampado mais detalhes mais vividos —destaca‑se a qualidade do desenho à mão. Os tecidos vão de mousseline a algodões, crepes e linhos.

24 YOU MUST WEAR 25 YOU MUST WEAR Há três anos que a cerimónia Blogs fiel ao que faço e trabalhar com os FRED PERRY do Ano premeia os influenciadores produtos/marcas em que acredito, vai RAF que trazem um je ne sais quoi de irre- tudo correr bem. SIMMONS verência à blogosfera. Na edição pas- sada, BÁRBARA INÊS levou para casa o P: Sentes que o instagram texto por Maria São Miguel prémio de blog de moda do ano. Nesta está a sobrepor-se ao blog? rede social partilha looks, viagens e lu- B: A nível de números, sim. O insta- gares a visitar. Numa conversa exclu- gram destaca-se pela sua rapidez e fa- siva com a PARQ, a fashionista revela cilidade. Quem lê o blog é quem real- que a sua caminhada no digital come- mente está interessado em ver mais çou de forma natural e que o segredo de mim, como por exemplo as fotogra- é manter-se fiel a si mesma. fias que não estão no Instagram ou as peças de roupa. P: Como te sentes ao saberes que ganhaste o prémio de P: No futuro, o que blog de moda do ano? podemos esperar de ti? B: Uma alegria enorme porque ao olhar B: Vou manter-me no registo que tenho para trás nunca pensei que isto fosse tido até agora, em que partilho muito acontecer algum dia. Aconteceu na- do meu estilo pessoal. Dedicação vão A FRED PERRY, para além da coleção mantendo o mesmo espírito de turalmente e fico muito feliz porque é ter sempre da minha parte. Virão no- Authentics, passa a vender na loja irreverência que estava na sua realmente algo que adoro fazer, uma vos projetos a nível profissional (estou de Lisboa, a sua coleção premium origem. Por isso o casamento paixão mesmo. mega entusiasmada), mas ainda não que resulta da colaboração com entre RAF SIMONS e a FRED PERRY, posso revelar isso. RAF SIMONS. E uma coleção que com tudo que a marca tinha para P: Segundo os especialistas, oferece‑nos uma desconstrução oferecer, um extenso arquivo o mundo da blogosfera está a do estilo streetwear, uma das marcado por relações fortes com perder a sua relevância. Como te temáticas que o designer de as sub-culturas juvenis londrinas posicionas em relação a isso? origem belga, tem conseguido só poderia ser perfeito, inspirador B: Eu mantenho-me fiel ao meu traba- levar ao nível superior de moda. e duradouro. A colaboração está O BLOG DO ANO VAI PARA ... lho. Acho que dizem isso está a acon- Aliás ninguém como o atual diretor para se manter com coleções BÁRBARA INÊS tecer cada vez mais e o nosso trabalho criativo da Calvin Klein, para fazer cada vez mais perto de nós pode acabar por perder a credibilidade. http://www. releituras da moda que se vive na porque sentir as peças na mão Fred Perry texto por Liliana Pedro Contudo, acho que se eu me manter barbaraines.pt rua e trazê-los para a alta moda, ainda é importante para muitos. Rua Áurea, 234, Lisboa

FILA MAGIC LINE

texto por Maria São Miguel

Em 1979 a FILA equipou a lenda do montanhismo REINHOLD MESSNER na sua escalada do monte K2, a segunda montanha mais alta do mundo (tecnicamente mais difícil que o Everest) através de uma rota exigente apelidada de "The Magic Line". Quase uma década depois, a FILA apresentou a coleção Magic Line, uma interpretação da natureza exigente deste trilho, em artigos L AT TE x A marca de streetwear portuguesa cultura de sneakers e streetwear. de performance de inverno com KRUELLA L AT TE convidou KRUELLA D’ENFER Além da exposição, foi criada uma toque arrojado de estilo. Agora, D’ENFER para uma colaboração exclusiva. A série limitada de t-shirts com uma a FILA revisita a sua coleção de artista produziu cinco telas únicas, das telas estampada —made in 1988, relançando a Magic Line como texto por Joana Teixeira em exposição na loja física da L AT TE, Portugal e com a etiqueta da L AT TE. uma coleção de moda enraizada com pormenores deliciosos que no legado de conquistas da marca. combinam o imaginário singular de Esta coleção apresenta silhuetas KRUELLA D’ENFER com a estética http://www. vindas diretamente dos arquivos da L AT TE. Esta parceria nasceu da lattelisbon.com com detalhes em polar e padrões admiração dos criadores da marca com uma dinâmica de cor original. Latte Lisbon pelo conhecido trabalho da artista, http://www. Tudo dedicado a um streetwear Rua Nova do Almada, 61, Lisboa e foi adaptada ao universo da kruelladenfer.com progressivo, impactante e arrojado.

26 YOU MUST SEE 27 YOU MUST WEAR PORTUGUESES A Joalharia contemporânea se tratar de uma marca com um de- TONYMOLY EM portuguesa marcou presença na sign arrojado pela formas geométricas AMESTERDÃO Internacional Jewellery Art Fair, e utilização de materiais habitualmente texto por Sara Silva em Amesterdão. O evento, que se não usados neste segmento. No con- texto por Liliana Pedro realizou de 9 a 11 de novembro, texto de joalharia contemporânea, a Chegam os dias mais festivos e, reuniu cerca de 150 criadores de verdade é que “lá fora” estão 50 anos com eles, chegam também as mais de 40 países. O nome de à frente. O público tem uma mente preocupações com a nossa pele, Portugal esteve representado por mais aberta para assimilar novas ex- que pede uma maquilhagem mais DIOGO DALLOZ, BRUNO DA ROCHA, pressões artísticas, valorizando mais glamourosa nesta altura do ano. Os SOPRO, ANA BRAGANÇA, ANA JOÃO, o design do que o material. E a arte é produtos TONYMOLY vêm para nos CECÍLIA RIBEIRO, JOANA SANTOS, isso. A Sieraad para a TelmaDA foi im- socorrer e dar aquele “extra‑glow” MATER JEWELLERY TALES e T E L M A portante por isso. à nossa pele, permitindo cuidar DA DÃO. A PARQ entrevistou, três a fundo das impurezas e outras destes joalheiros. A experiência imperfeições. Para além de ser vivida na feira e o panorama da 31 anos, Designer de produto uma marca dedicada aos nossos joalharia nacional foram os assuntos cuidados diários, também, as de destaque da conversa. Como é que olha para o mercado suas embalagens, fazem com que de joalharia nacional? queiramos comprar tudo! Super em É um mercado difícil de entrar ao ini- voga, a marca TONYMOLY apresenta cio, principalmente com coleções con- produtos num formato incrivelmente ANDREIA QUELHAS LIMA temporâneas e que requer colecções adorável, cheio de estilo e, claro, 42 anos, Joalheira mais consensuais com materiais no- sempre com a missão de tratar da bres como a prata e o ouro. Ainda as- nossa pele da forma mais saudável. sim, as oportunidades vão surgindo e É caso para dizer que a entrada no BURBERRY o mercado vai-se desenvolvendo para novo ano vai ter ainda mais brilho! HER a joalharia de autor. texto por Sara Silva

A nova fragrância BURBERRY HER é o objeto de referência ideal para quem se identifica a 100% com o espírito aventureiro e vibe londrina. HER é uma verdadeira experiência vibrante, floral e frutada, que reflete a atitude atrevida da mulher. É, sem qualquer dúvida, o espírito britânico INNER num frasco! A fusão das bagas de frutos com o almíscar e o âmbar GLOW LIP fazem com que esta combinação seja explosiva e inesquecível. COLOR

texto por Sara Silva

CH INSIGNIA Como é que se sente ao representar Portugal neste texto por Sara Silva grande evento de joalharia e o que é que temos de especial? É com grande satisfação que participa- mos pela segunda vez nesta feira, jun- tamente com outras marcas/designers portugueses. Neste tipo de eventos temos a oportunidade de apresentar o nosso trabalho e partilhar um con- junto de ideias com outros criadores internacionais. Nesta feira, como o pú- blico é o consumidor final, temos ain- da a vantagem do contacto direto. A nossa joalharia tem história, tradição, qualidade, criatividade e design. A con- Na correria do dia a dia, muitas jugação destes fatores aliada à compe- vezes esquecemo-nos dos cuidados titividade dos nossos produtos, coloca essenciais a ter com a nossa pele, a joalharia portuguesa em destaque. sobretudo na maquilhagem diária. Para nos facilitar a vida, a MAKE UP FACTORY desenvolveu, a pensar nas TELMA FERREIRA, 37 anos, nossas necessidades, o batom Inner Com o Natal aí à porta, a euforia este perfume é, nada mais nada Arquiteta e designer de jóias Glow. Um produto imprescindível na das prendas e o pensamento menos, do que a incorporação de nossa rotina, que nos oferece uma habitual do “mas o que é que lhe ingredientes de alta qualidade, A presença de Portugal em eventos excelente pigmentação de cores vou oferecer este ano!?”, é a altura provenientes do Oriente. E, sendo internacionais é importante variadas, entre os tons mais neutros perfeita para fazermos um balanço esta experiência um tributo à para a Joalharia Portuguesa? e os mais intensos, combinando do que há de novo por aí. No mundo sabedoria oriental, o seu conteúdo A presença em eventos internacionais um cuidado intensivo e uma cor das fragrâncias, por exemplo, há não poderia ser mais harmonioso. é importante para qualquer sector de brilhante. Agora não há desculpas! novidades e das boas! CAROLINA CH INSIGNIA é a fragrância negócio, e a joalharia não é excepção. Inner Glow é o produto perfeito HERRERA lançou recentemente do momento! Um autêntico No caso particular da TelmaDA ainda para um look leve e uma sensação as edições limitadas CH INSIGNIA. objeto de desejo, para todos os depreendo mais essa importância por suave e agradável, todos os dias. Disponível para mulher e homem, apreciadores do luxo e elegância.

28 YOU MUST WEAR / SEE 29 YOU MUST WEAR 01 02 03

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01— Fila 04— Le Coq Sportif 07— Nike 10— Stradivarius LOEWE SOLO ELLA perfumesloewe.com 02— Puma 05— Adidas 08— Asics 11 + 12— Merrell 03— Reebok 06— New Balance 09— Converse x Miley Cyrus 13— Palladium

30 YOU MUST BUY noNAME noNAME NONAME noNAME noNAME SEM NOME, MAS COM ALMA texto por Rui Miguel Abreu

FATIMAH WARNER tem falado pouco, mas quando fala, como CHANCE THE RAPPER, artista que depois permitiu que bri- aconteceu quando recentemente conversou com a norte- lhasse um pouco mais ao convidá-la para Coloring Book. A -americana Fader, demonstra desarmante franqueza e não atenção decorrente desse trabalho deu-lhe amplitude para teme alienar boa parte da sua base de apoio quando ex- desenhar uma auspiciosa estreia com Telephone, mixtape plica que muitos dos seus fãs estão equivocados ao olha- de 2016 que a levou para a estrada onde acumulou o sufi- rem para ela como a antítese de CARDI B: “Não sou. Sou ciente para investir neste Room 25. apenas a FATIMAH”. FATIMAH WARNER foi criada pelos avós em Chicago, A artista que assina NONAME (era NONAME GYPSY donos de um negócio de jardinagem. Foi protegida dos pe- até perceber que a comunidade cigana poderia sentir-se rigos da grande cidade, nunca rendeu na escola, leu mui- ofendida) é de facto diferente porque é única: na aparência to pouco, quase não escutou músicas enquanto crescia, de “girl next door” pode ler-se a projecção de uma norma- passava o tempo a ver televisão. Mas algures entre o ter lidade invulgar num mundo que já só se encara através de crescido artisticamente em modo isolado e o seu proces- filtros; na resistência à exposição mediática —além de dar so de descoberta do mundo, NONAME ergueu uma distinta poucas entrevistas, NONAME tem presença residual nas re- personalidade artística, com uma voz carregada de peque- des sociais, não faz vídeos... —será possível entender uma nas nuances de modulação, um bálsamo numa era de gran- inabalável determinação de fazer o que tem a fazer, mas des vozes que não escondem os superlativos instrumentos de acordo com as suas regras, com as suas ideias; e na com que foram dotadas. sua decisão de ser completamente livre, sem depender se- Room 25 está, portanto, condenado a figurar em quer de qualquer tipo de acordo com alguma plataforma lugares cimeiros de listas que distingam o melhor que 2018 de streaming, como fez o seu camarada CHANCE THE RAPPER, nos ofereceu porque brilha por méritos próprios, sem ne- entende-se um respeito desmedido pela sua própria perso- cessitar de um contexto ou de uma vaga de fundo, sem se nalidade criativa: “Não me agrada ter que esperar que al- apoiar em contribuições de nomes de uma qualquer elite guém aprove para onde posso levar a minha ideia”, explicou artística, sem surgir embrulhado em grande campanha de a R AWIYA K AM EIR da Fader, deixando claro que pagou todas marketing, servido por vídeos brilhantes ou carregado por as despesas de produção de Room 25 do seu próprio bolso. um qualquer poder político urgente, com a força de algu- NONAME mantém-se resolutamente independen- ma mensagem que aglutine o mundo. É apenas Noname te porque tem dado passos cautelosos desde que surgiu a dizer quem é, ao que vem, nos seus próprios termos, no no mapa da modernidade urbana norte-americana com seu próprio tempo. E isso é tão precioso. Em 2018 ou em alguns versos em Acid Rap, trabalho do seu conterrâneo qualquer outra altura.

32 SOUNDSTATION 33 SOUNDSTATION theGOOD the BAD & the QUEEN theGOOD the BAD & the QUEEN

Mais de uma década depois, os THE GOOD, THE BAD & THE de soul punk que os piscavam o olho de quando QUEEN lançam Merrie Land pela sua editora, a Studio 13 em vez. E o folk ganha também aqui uma nova roupagem. label. Trata-se do segundo disco de originais desta su- As memórias de DAVID BOWIE estão bem presen- perbanda, que reúne PAUL SIMONON (THE CLASH), tes em “The Great Fire”, e mais uma vez a sinfonia meló- e (, BLUR e ). Para a sua produ- dica predomina. A voz ecoa sobre cenários de um filme MERRIE LAND ção, os créditos vão para o colaborador de longa data de noir. Os coros cunham o dramatismo que acompanha o DAVID BOWIE, TONY VISCONTI, que co-produziu o disco e que storyboard. O cenário está montado para as persona- colabora inclusive nos coros no single “Gun To The Head”. gens saltarem para a nossa imaginação. O disco foi concebido sob o espectro do Brexit, A própria discografia do mentor da banda ser- a saída de Inglaterra da União Europeia. De acordo com ve de caldeirão para cozinhar “The Truce Of Twilight”, onde uma conferência de impren- ecoam elementos utilizados sa, o disco é como se fosse sobretudo nos álbuns dos uma carta de despedida de GORILLAZ e até dos BLUR em uma era, uma série de ob- temas presentes no seu ál- servações e reflexões vividas bum homónimo. theGOOD the BAD & the QUEEN pelos britânicos em 2018, e O grande momento um hino ao país de hoje, uma de descompressão acontece Grã-Bretanha que tenta ser com “Lady Boston”. Em mui- inclusiva, mas que vive atual- to, graças ao coro THE CÔR mente numa espécie de crise Y PENRHYN, do país de Gales. Anglo-Saxónica. É como se Uma pausa merecida no car- de um fim de uma relação se rocel da vida. Um instante tratasse, questionando-se o para entrar luminosidade que pode ser salvo. através do céu cinzento. Um Não é a primeira breve momento para respi- MERRIE LAND vez que resgata rar. Longe dos ruídos dos o quotidiano dos britânicos dias alucinados consumi- como sua musa. Já com os dos no quotidiano, que não BLUR, sobretudo em Modern permitem ouvir os nossos Life is Rubbish e , os es- pensamentos. tilhaços do dia a dia das suas Provavelmente o gentes povoavam as canções. elemento mais difícil e com- Embora as vidas quotidianas plexo do disco reside no tema dos ingleses sejam retratadas “The Last man to leave”, devi- na sua restante discografia, do aos órgãos fantasmagó- theGOOD the BAD & the QUEEN a verdade é que ultimamen- ricos e para os arranjos à la te ficaram circunspetas aos orquestra circense decaden- melindres citadinos da metrópole Londres. A realidade do te, não descurando o recurso ao spoken word. O cenário Reino Unido como um povo, como uma unidade, só voltou é como se tratasse de um maestro de cerimónia a eva- a ganhar espaço neste novo disco. E abraça a ancestral cuar um teatro prestes a ruir. britânia com a melodia pop que tão bem arquiteta. “The Poison Tree”, a derradeira canção de despe- A riqueza lírica compõe as canções. Estamos pe- dida, encerra as hostes do disco. Não sem antes lançar rante um livro aberto. Uma alma desventrada e nua. Como uma esperança de que talvez não seja um fim, mas sim um romance, queremos ouvir e absorver com todos os nos- um novo começo. Não há como escapar à retórica, mas sos sentidos. Como tal, mergulha-se numa profunda nar- a verdade é que com o passar to tempo tudo se encaixa MERRIE LAND rativa em “Merrie Land”, o tema título. E “Gun to the Head”, novamente nos trilhos. segue a mesma linha, num registo que se assemelha em Merrie Land é um carrocel introspetivo do quo- tudo à paranóia e ao fantástico mundo de GEORGE ORWELL. tidiano de uma nação, expondo a sua ansiedade sobre Às páginas tantas somos surpreendidos por um um futuro incerto. Analisa e confronta um passado nem krautrock sinfónico em “Nineteen Seventeen”. Os CAN são sempre glorioso, evidenciando aqui e ali as suas fraque- uma referencia inegável. Por outro lado, quem conhece a zas e dificuldades, com um melancólico saudosismo. E obra discográfica de ALBARN, reconhece-lhe o crédito de levanta questões sobre o seu futuro. Perspetiva-se uma um mágico capaz de espantar o seu público. nova vida com uma hesitante expetativa, deambulando O INCRÍVEL MUNDO DA BRITÂNIA Os resgates à rica herança musical da nação entre uma esperança luminosa e uma amarga melanco- estendem-se um pouco por todo o disco. Provavelmente lia. A dúvida sobre o futuro instala-se, mas é preciso dar texto por Carlos Alberto Oliveira será por isso que “Drifters and Trawlers” evoque uma espécie um passo ao seu encontro.

34 SOUNDSTATION 35 SOUNDSTATION A Trienal de Arquitectura de Lisboa trouxe à capital YOSHIHARU TSUKAMOTO, fundador do atelier BOW-WOW com MOMOYO KAIJIMA, durante o ciclo de conferências internacionais Distância Crítica, que intercala cada edição da Trienal. Este atelier japonês, criado em Tóquio em 1992, desmultiplica o seu trabalho de arquitectura entre constru- ção de edifícios, pesquisa e intervenções artísticas. Grande parte da sua produção é inspirada na realidade urbana das grandes metrópoles, em particular da cidade Tóquio: den- samente povoadas, com pouco espaço disponível e a pre- atelier BOW-WOW atelier BOW-WOW ços de metro quadrado astronómicos. Nas suas pesquisas sobre a paisagem urbana têm feito o levantamento de situações singulares de ocupação, que levou à publicação de guias de arquitectura. Por exem- plo em “Made in Tokyo” listam-se exemplos pouco comuns da utilização do espaço ou o cruzamento de programas im- prováveis, derivados dessa escassez de terrenos na capi- tal japonesa, como centros comerciais em baixo de viadu- tos ou linhas férreas, cemitérios atravessados por túneis ou uma escola de condução de super-carros na cobertu- BOW-WOW atelier BOW-WOW atelier ra de uma grande superfície comercial. Outro guia é “Pet Architecture”, onde são retratadas “mi- cro-arquitecturas”, pequenos edifícios que preenchem espaços reduzidos na cidade e são alvo de personalizações pelos utilizadores. Na obra construída do ate- lier BOW-WOW destacam-se também as ocupações desses reduzidos lotes, tipicamente estreitos e longos. São atelier BOW-WOW atelier BOW-WOW uma nova geração de “Machiya” (casa de cidade), inspirada nas tradicionais moradias citadinas e toma a forma de edifícios de pequenas dimensões em que os espaços habitacionais se distri- buem por vários pisos, dentro de uma filosofia asiática de apropriação, carac- terizada pelo minimalismo e a efeme- ridade. Por vezes integram pequenos pátios, oferecendo uma área exterior BOW-WOW atelier BOW-WOW atelier privada e aumentando a qualidade do espaço interior, com luz natural e um pouco de verde. Os desenhos que pro- duzem para documentar os seus pro- jectos são característicos, graficamen- te muito elaborados, onde cortes e plantas perspectivados Esta foi a última conferência de Distância Crítica, aguar- revelam a potencial ocupação dos espaços. damos agora a próxima edição da Trienal que tem o tema Actualmente têm igualmente projectos, de me- “A Poética da Razão” e irá acontecer entre 3 de Outubro e nor ou de maior escala, realizados fora do Japão, como nos 2 de Dezembro de 2019. EUA, na Bélgica, na Dinamarca ou em França. atelier BOW-WOW atelier BOW-WOW O espaço público, e a sua capacidade relacional, é outro tema amplamente pensado pelo atelier. Em diver- sas intervenções artísticas têm explorado o que definem como “micro espaço público” (onde, para além de pequeno, micro significa também individual), recriando os encontros e os comportamentos que ocorrem na cidade, incentivan- do a participação e activação do espaço comum. Exemplo disso foi “Furnicycle”, o trabalho apresentado na Bienal de Xangai em 2012, onde a funcionalidade de bicicleta se cru- zava com o mobiliário (bicicleta-mesa ou bicicleta-banco) BOW-WOW atelier BOW-WOW atelier criando novos objectos para a socialização no espaço pú- blico. Mas mais do que os próprios objectos, as suas inter- venções pretendem originar situações ou processos que resultem na reunião informal dos utilizadores, dando lugar a que as pessoas se apropriem e adaptem os espaços. Nas palavras de TSUKAMOTO: "O espaço público de menor di- mensão poderá ser aquele para apenas uma pessoa". Mais recentemente apresentaram “Piranesi Circus” na Bienal de Arquitectura de Chicago 2015, e participa- ram na Bienal de Arquitectura de Veneza 2016 com “The atelier BOW-WOWtexto por Paulaatelier Melâneo BOW-WOW Timber Network”.

36 ARQUITECTURA 37 ARQUITECTURA O Japão pode não ser um destino na bucket list de todos, mas está presente, com certeza, no imaginário de cada um. Seja pelos desenhos animados que acompanharam a gera- ção dos anos 90 —Dragon Ball, Navegantes da Lua, Doraemon—, seja pelo catálogo de Anime pelo qual passamos hoje os olhos na Netflix, seja pelo sushi que comemos ao fim de semana, ou pelos filmes que imortalizaram este país a mais de dez horas de distância de Portugal. Após várias horas de viagem, o jet lag marca a chegada ao Oriente. As oito horas de diferença horária não LOST in translation perdoam as pálpebras, que começam a pesar logo à saída do aeroporto —afinal, a nossa cabeça ainda vai na madru- gada enquanto no Japão já é outro dia. Perdemo-nos no trânsito a caminho de Tóquio, e absorvemos pela primeira vez, com os olhos entreabertos, o urbanismo japonês. Onde estão os arranha-céus? Fora do centro e das grandes avenidas, os prédios são baixos, as casas são minimalistas e, sendo esta uma capital com 14 milhões de pessoas, a arquitetura das habitações é sim- ples, compacta e tradicional. Há casas que nem percebe- TRANSLATION LOST in mos que são casas. Há restaurantes que nem sabemos que são restaurantes —e não saber ler Kanji (os caracteres ja- poneses) também não ajuda. O choque cultural é suave, é uma ode ao célebre slogan censurado de Fernando Pessoa: “Primeiro estranha-se, depois entranha-se”. Durante o dia a cidade vive em azáfa- ma, as estradas são largas e as passadeiras compridas, e há tantos peões quanto bicicletas. Entrar num supermercado é uma experiência por si só. Há frutas que nunca vimos e outras hiperbolizadas em tamanho (as uvas são gigantes!). LOST in translation Há snacks curiosos e doces calóricos, como em qualquer parte do mundo, mas com a singularidade de aqui alguns sabores serem mesmo estranhos. Não resistimos a empi- lhar nos braços sacos e sacos de KitKat —aparentemente, uma obsessão dos japoneses no que toca a chocolates. São sabores que nunca vimos à venda do nosso lado do mundo e podia ficar aqui por duas páginas a descrevê-los. Mas, afinal, o que comem os japoneses? Sushi? Sim —mas, surpreendentemente ou não, o sushi parece ser underra- texto por Joana Teixeira ted no Japão (esta perceção é provavelmente o resultado TRANSLATION LOST in do quão overrated é na Europa). E depois de visitar vários fotos por João Padinha supermercados, lojas de conveniência e mercados de rua, @joaopadinha concluímos que os japoneses adoram frango frito, carne e peixe grelhados no carvão (sempre com quantidades injus- tificáveis, mas deliciosas, de molho) e, claro, ramen, muito ramen, ramen em todo o lado e a qualquer hora. E pedir uma refeição sem falar japonês é uma experiência que nos faz compreender o poder da linguagem gestual e a sorte que temos de alguém ter inventado menus com imagens. Quando a noite cai, enquanto as zonas residenciais LOST in translation adormecem sob o breu, o centro ganha uma vida nocturna que encandeia os olhos. Néon, luzes, ecrãs, billboards. A LOST IN LONGING quantidade exponencial de informação visual que o nosso córtex recebe —e a forma lenta e confusa como tenta pro- No Verão de 2018, JOÃO PADINHA decidiu, de um dia para cessá-la— faz-nos compreender o verdadeiro significado de o outro, viajar sozinho para o Japão. Tóquio fê-lo perce- estar em Tóquio. Mas, no meio de tanto estímulo imagético ber que quanto maior a cidade, maior é o sentimento de e de tanta hipérbole visual e sonora, a essência cultural ja- solidão. Maior é a expressão ansiosa de quem procura um ponesa perde-se, dissipa-se. Caracterizados pela simpatia porto seguro. A fotografia analógica entra em campo por e boa educação, fazem tantas vénias quantas são as pala- querer explorar fora da sua zona de conforto. “No digital vras que dizem, tentam ajudar o turista perdido sem falar deixamos, muitas vezes, de nos preocupar com certos as- TRANSLATION LOST in outra língua senão o japonês, e vivem vidas socialmente petos como o ângulo e a luz, por haver maior espaço de ex- organizadas —andando do lado certo da rua, descendo do perimentação —o que nos leva a fotografar continuamente lado certo das escadas, fazendo uma fila do lado certo da até uma imagem servir. No analógico tem de haver um cer- plataforma. Mas, se olharmos através de uma lupa, encon- to cuidado, não existem disparos contínuos nem ecrã para tramos a desorganização na esfera pessoal de cada um. saber como ficou.” Inspirado no trabalho de SARAH BAHBAH Acorrentados à tecnologia, perdidos na sua individualidade. e WONG KAR-WAI, utilizou a imagem analógica —muitas ve- É uma sensação estranha essa, a de ser tão bem-recebi- zes descuidada e amadora— para retratar situações que do num país com uma cultura e língua completamente di- geram ansiedade, fazendo lembrar stills de filmes antigos ferentes, onde não é só o significado das palavras que se onde as cores fortes e garridas são uma constante. E, as- LOST in translation perde na tradução, como também as ligações emocionais. sim, partilhou a sua visão de Tóquio com a PARQ.

38 JAPÃO 39 JAPÃO 40 JAPÃO 41 JAPÃO DANIEL DOMSCHEIT-BERG é um ativista alemão, especialista cansou de ver os seus colegas a serem promovidos quan- em segurança de TI e defensor da transparência. Com JULIAN do faziam metade do seu trabalho. ASSANGE, ele ajudou a construir a plataforma WikiLeaks e O conhecimento tornou-se móvel. Quem tem representou a organização como porta-voz. O alemão está um smartphone carrega consigo todo a sabedoria a que a hoje envolvido em vários projetos na Internet relacionados nossa civilização já teve acesso. Esta é uma grande chan- com privacidade e anonimato, além de promover a des- ce, a de estes aparelhos estarem todos ligados. Hoje, o ho- centralização das suas infraestruturas. Em Brandenburg mem mais rico do mundo está a cerca de cinco segundos rural, ele ensina crianças sobre eletrônica e tecnologia e de separação da mulher mais pobre do planeta. Nunca es- cultiva vegetais num jardim partilhado. No passado, além tivemos, como espécie, tão perto uns dos outros e é real- de escrever o livro “Inside WikiLeaks” DOMSCHEIT‑BERG tra- mente fundamental estarmos em contacto. É essencial Berlin Q Berlin Q balhou para várias empresas da Fortune 500. Ele desafiou falarmos sobre diferenças culturais e encontrarmos pon- a audiência a imaginar que teríamos nascido há 600 anos, tos em comum, e descobrirmos onde nós, como espécie, numa cidade a algumas centenas de quilómetros a sul de queremos ir. Mas para isso é essencial que todos nós se- Berlim. O privilégio que hoje tomamos como garantido —ler jamos parte da conversa. Esse era o desafio que DA N I E L e escrever— não era para todos, mas apenas para uma pe- DOMSCHEIT‑BERG colocava quena percentagem da civilização. Teríamos de ter nascido Ao contrário de outras conferências, o Q Berlin na família certa (a maioria estaria excluída desse grupo) ou Questions abrangeu toda a cidade, trocando o seu cená- juntarmo-nos a um mosteiro ou grupo religioso específico rio cinza pelo cinza da capital e transformando Berlim em (a maioria também não iria dar esse passo) para aceder a mais um palco. As excursões guiadas tiveram lugar após essas atividades. Claro que para o sexo feminino a possi- as discussões e levaram os participantes a instituições e Berlin Q Berlin Q bilidade seria ínfima. Como consequência, esses poucos projectos de envolvimento cívico que lidam com os tópi- privilegiados tiveram a chance de escolher o que devia cos discutidos no Q. Entre eles contaram-se o Connect constituir a civilização e o que seria valorizado. A estas se Women, um projetco da Terre de Femmes para apoiar re- juntou rapidamente a capacidade de enriquecer. Na cidade fugiadas do sexo feminino após a sua chegada a Berlim e de Wittenberg foi então produzida uma máquina capaz de a Flussbad Berlin eV., uma sociedade dedicada a transfor- imprimir livros através do que chamaríamos hoje de uma mar o canal Spree. campanha de crowdfunding. Este excerto da história coin- cide com a atualidade no que diz respeito ao desenvolvi- mento de uma sociedade que, num curto espaço de tem- po, teve acesso a grandes quantidades de informação. E, Berlin Q Berlin Q segundo DOMSCHEIT-BERG, sempre que há uma revolução de comunicação segue-se, normalmente, uma revolução de poder. Mas hoje, ao fazermos parte de uma sociedade em definição, temos a oportunidade de observarmos e intervir- mos no seu potencial. E continuou, “se todos trabalharmos juntos para que estas inovações atinjam o seu potencial para o ser humano, em vez de o manifestar capital apenas para algumas empresas que hoje são muito mais podero- sas do que qualquer coisa que já tenha existido, podemos UM CONVITE beneficiar a todos”. Berlin Q Berlin Q CHAD SANDERS transmitiu, no geral, o mesmo Berlin Q convite á acção. O "black entrepreneur", como se define, é a estrela em ascensão multi-hifenizada da nova série que SPIKE LEE irá produzir. O programa, intitulado "Archer", é uma comédia e thriller sociológico que captura a vida de um gé- PARA QUESTIONAR nio e iconoclasta afro-americano de 20 e poucos anos que mora em Brooklyn e que desenvolveu uma aplicação de en- contros com leitura de química sexual. O personagem cen- tral é descrito como um “young black MARK ZUCKERBERG", e a história vai viajar entre Nova York, Silicon Valley e Berlim. O que constitui um bom governo em tempos de agitação O currículo dos oradores era brilhante a a sua diversida- Antes de ser comprado pelo diretor de “Do The Berlin Q política? Como o ciberespaço se pode tornar um ambiente de fora do habitual. Entre eles contavam-se NIGHAT DAD, Right Thing”, SANDERS tentou vender a série que a escreveu respeitoso? Como pode uma sociedade livre ser alcança- diretora da Digital Rights Foundation no Paquistão, S T Y L I umas dezenas de empresas que, em geral, lhe disseram que da ou defendida? Como a engenharia genética mudará a CHARALAMBOUS, editor da plataforma de notícias online o plot era muito irreal e que chegaram a propôr que a per- nossa sociedade? Estas são questões essenciais que todos sul-africana independente Daily Maverick, CHAD SANDERS, sonagem principal não fosse afro-americana. “Mas vocês devemos abordar. A conferência Q Berlin Questions deu com a Google e uma série com SPIKE LEE no currículo, I VA N têm um programa com uma mulher que dá á luz dragões”, o primeiro passo. O ambiente é particularmente sombrio LAM LONG-YIN, líder estudantil e o presidente do partido retorquiu, “não podemos antes substituí-lo por um dragão?”. no antigo complexo industrial. O painel de oradores está pró-democrático Demosistō de Hong Kong e VICENTE FOX, O projeto é vagamente baseado na vida de SANDERS, um preparado. Câmaras, luzes, som —as tecnologias estão ao ex-presidente do México e um dos mais ferozes críticos empreendedor de tecnologia que anteriormente foi sócio nível de uma grande produção. Estas ultrapassam mesmo do presidente Trump. “Berlim é uma cidade de liberdade e na Dev Bootcamp, uma escola intensiva de codificação que alguns dos melhores concertos da atualidade. Mas desta tolerância, que, nestes tempos, a torna o local ideal para acabou por ser vendida para a Kaplan por milhões de dígitos. Berlin Q vez a transmissão é mesmo só para a Internet. discutir os maiores desafios que a sociedade enfrenta. SANDERS passou os primeiros quatro anos de sua carreira Estamos no coffee break. Tempo para o público, Pela segunda vez, convidámos algumas das melhores e na Google. Ele fundou recentemente a agência de desen- claramente privilegiado e composto maioritariamente por mais corajosas mentes do mundo para nossa cidade”, dis- volvimento de negócios Archer Genius Management, que empresários alemães de poupa e estilo reconhecidamente se BURKHARD KIEKER, diretor administrativo da visitBerlin, é a base para o título da série. Tal como DOMSCHEIT-BERG, MÜNCHNER (Google it), que pagou bem pelo evento, confra- a organização do evento. Todos concordaram que não sa- que abandonou a WikiLeaks devido ao desencanto com a ternizar. Exceção para a imprensa e a guest list dos orado- bemos o que vem aí, mas que o presente assenta numa forma como a empresa era gerida, SANDERS, contou como res. Mais de 500 convidados provenientes de todo o mun- mudança tectónica. A revolução digital, que afirmam que o estilo popularmente descontraído da empresa-monopó- do, especialistas em diversas áreas, juntaram-se a 15 de está ainda no início, será tão ou mais significante como o lio, a que chama de Moo-gle, e o seu slogan “bring yourself Dezembro para discutir temas essenciais —justiça social e evento da criação da imprensa. Mas, como devemos abor- to work”, com calções cargo e hoodies, são apenas uma económica, progresso técnico, ética e identidade cultural. dar estas mudanças radicais na sociedade? substituição para o fato e gravata tradicionais, e como se texto por Diana Nóbrega Berlin Q

42 SOCIEDADE 43 SOCIEDADE ir ao encontro do que o público quer ouvir, tendo acontece a certas pessoas que cantam em português, com também a obrigação de nos tornarmos distintos letras que ficam no ouvido e quase que servem “exclusi- dentro deste panorama. Para mim, essa é a melhor vamente” como alvo de chacota. Gozam de certa popula- parte da capacidade de reinvenção de um músico. ridade em determinado tempo, por se considerar um mau Reconheço que a mesma nem sempre é fácil. Mas produto e acima de tudo um “produto gozável”. Exemplo: é um desafio por demais interessante. Quanto ao MARIA LEAL. Isto não acontece ao SENHOR DOUTOR que criou um facto de ser uma moda, o que se ouve hoje, acredi- personagem propositadamente, mas que, no entanto, tem- to que existem artistas no panorama nacional que -se afirmado e é levado a sério. Muito conceptual, mas num se vão fazer ouvir daqui por décadas, tal como ou- patamar acima, faz música. Para além da parte da música vimos muitos dos nomes do “El Dorado” da música do SENHOR DOUTOR ser genuinamente boa. Como expectador Senhor Doutor portuguesa e, dos quais continuamos a gostar e desses “fenómenos”, porque é que acha que isto aconte- continuam a influenciar o nosso trabalho. ce periodicamente na música portuguesa? Como é que o P: O SENHOR DOUTOR tem uma linguagem simples, direta. SENHOR DOUTOR consegue ser levado a sério? Com letras facilmente compreendidas e que contam his- SrD: Eu acho que isto se prende, na sua maioria, tórias. Nomes como DESPE E SIGA, FÚRIA DO AÇÚCAR são com o propósito do projeto e da música que o mes- responsáveis por músicas portuguesas que em português mo representa. Quem faz uma determinada música, contavam histórias com um cunho de humor, tinham facili- a certa altura terá de a defender, dentro do panora- dade em ficar no ouvido e criar impacto, atualmente ainda ma em que ela vai, inevitavelmente, cair. Eu defendo são ouvidas e muitos sabem as letras de cor, uns porque a minha desta forma. Sim, é verdade que existem es- são de esse tempo e assistiram ao fenómeno na altura, ou- tórias de personagens caricatas, existem relatos de Sr. Dr. Sr. Dr. Sr. Dr. tros mais jovens conheceram estas músicas mais recen- desamores lavados a “baba e ranho”, um rapaz que temente através de festas, onde os revivalismos musicais se apaixona por um “dia da semana”, mas, confesso e a cultura vintage ganham popularidade. Qual a sua opi- que o humor de certas letras é, apenas, uma forma nião? Daqui a 30 anos vamos ouvir as músicas que hoje o de tentar chegar a algo mais sério, mais pensado. A saúde da música vai bem, dá sinais de vida, respira ar SENHOR DOUTOR canta? E fico feliz que esta componente se compreenda, fresco e felizmente parece estar tudo bem. Mas foi exa- SrD: Eu tenho um plano rígido para a educação daqui pois, cada vez mais, não me faz sentido dissociar a tamente por esse motivo que fomos falar com o SENHOR por 30 anos. Criar salas, onde as crianças estarão minha música da escrita que a acompanha. DOUTOR. Não precisamos de receitas, nem de um atestado, amarradas às cadeiras e forçadas a ouvir os meus P: Acha que existem preconceitos dentro da música por- não precisamos de fazer exames para saber que os ba- temas, como consequência de um mau comporta- tuguesa? Seja do público ou entre artistas? timentos estão bons e que a continuarmos assim vamos mento. Podemos alargar isto também para lares de SrD: Isso tende a desaparecer. Acredito que a exi- ter cada vez mais qualidade de vida musical. Contudo, idosos e estabelecimentos prisionais. Brincadeira, gência do público de hoje, também tenha contribuído queríamos saber o que o pensa o SENHOR DOUTOR sobre a claro! Eu gostaria de pensar que sim, no entanto, para que qualquer “extravagância” do artista, seja música que se faz em Portugal, assim como queríamos sei que estes temas apenas não morrerão, caso eu ela, também, mais facilmente compreendida. Quanto mais informações sobre este projeto que se diferencia mesmo tenha a capacidade de, daqui por 30 anos, a preconceito entre os artistas, não me faz senti- dos cantores, autores e bandas portugueses que conhe- fazer temas novos e que nessa altura façam sentido. do. Podemos, certamente identificarmo-nos mais, cemos de hoje em dia. Só desta forma, quem estiver cá, nessa altura, po- ou menos, com o trabalho de alguém, mas termos derá dizer o que pensa do SENHOR DOUTOR, ou criar uma atitude de preconceito para com determinado Com uma “escola da vida” e com letras que nos apresen- Doutor” é uma expressão com peso. Desde sempre um silêncio constrangedor em redor dessa mesma trabalho, é igualmente expor o nosso ao preconceito. tam personagens inspirados em pessoas do nosso quo- que me lembro de ter uma carga imediata na pos- questão. Aplicando um tom mais sério, não ousaria P: Qual a sua opinião sobre a popularidade da música por- tidiano —e não digam que não— tem uma opinião sobre a tura dos outros. “Ah sim, senhor Doutor. Com cer- pensar em tornar-me num mito. É natural! É fruto do tuguesa nos dias de hoje? vida de cada um e faz um relato da mesma. Este persona- teza, Senhor Doutor.” Ninguém ousa questionar um tempo rápido que vivemos. Mas sim, gostava imen- SrD: A música portuguesa vive uma época fantás- gem SENHOR DOUTOR é médico de doenças já curadas, ele “D” e um “R” em consonância, mesmo que seja um so de ter a energia suficiente para continuar a fazer tica. Seja cantada na nossa língua, seja cantada nou- é engenheiro para quem tudo se resolve com um reiniciar título fictício. O SENHOR DOUTOR é um jogador, um música e a escrever letras que se assumam como tra, ou não seja cantada, de todo, a verdade é que de computador, ele é arquiteto de mesa de cabeceira, ele “bluffer”, que vai a jogo mesmo com uma mão tre- atuais daqui por 30 anos e não ficar preso num de- vivemos um tempo de composição, como há mui- é um especialista em quase nada, no entanto, é o típico mendamente baixa. É a personificação da “fina flor terminado período. Mas para isso, inúmeras são as to não testemunhávamos. Os músicos estão mais campeão de matraquilhos da sua rua, a personagem mais do entulho”. É aquela pessoa que não sabe dimen- variáveis que terão de se alinhar. atentos. Também nós somos consumidores diários bem-afamada entre os seus amigos da missa de domingo. sionar-se, não sabendo a sorte que a inconsciência P: O SENHOR DOUTOR é empático. O público diverte-se a de música, também nós lemos, também nós somos Finalmente descobrimos o verdadeiro talento deste S EN H O R acarreta. Alguém que é esperto demais para o meio ouvir as letras e gosta da música que é tocada. O que é frutos de uma globalização que nos torna comuns DOUTOR, a música. Não acreditam? É ouvirem. Por agora onde nasceu, mas fraco em demasia para sair dele. que as pessoas ainda não sabem sobre o SENHOR DOUTOR? e frutos de entidade cultural que nos distingue. É ficam com um prognóstico. No entanto, ali, é um SENHOR DOUTOR e exige ser E o que é que podem esperar? um misto de equilíbrio e desequilíbrio entre estas tratado como tal. SrD: O que não sabem, não podem saber, caso con- variáveis, que irá contribuir para que os temas se- P: O SENHOR DOUTOR é uma personagem criada e pensa- P: O público é cada vez mais exigente e voraz, o que le- trário teria de vos matar! Existem verdades constran- jam mais ricos e a música e mensagens subjacen- da. Desde a forma de vestir, seja pela forma de cantar, as- vou á saturação de alguns géneros musicais, o revisitar gedoras e meias verdades, um pouco mais ainda. Se tes, sejam mais fortes e contributivas. sim como pelas letras que contam histórias sobre a vida de outros e ainda a criação/exploração de outros géneros. o meu lema é “mais vale parecer, do que ser”, não de alguns personagens. Tem uma estética muito própria Acredita que a música portuguesa que hoje é ouvida por me posso expor tão perigosamente. Na verdade, eu Depois desta “consulta” ficámos a saber que o S E N H O R e seja no videoclipe de “Miguel”, como na roupa que usa e um público mais jovem, é apenas uma moda? adoro criar uma empatia com o público. Nem sairia DOUTOR é educado, não tem medo de partilhar as suas opi- pela sonoridade, é muito conceptual. As músicas do SENHOR SrD: As músicas são sempre fruto do seu tempo. minimamente contente de um concerto, se não ouvir niões (assim como se pode perceber pelas letras que canta). DOUTOR são um relato sobre a vida de alguém. Como sur- Seja de uma forma melódica, por algo que esteja a risos, se não sentir que o público está completamen- Para quem ainda não ouviu e vai ouvir pela primeira vez o giu a ideia para este projeto? Como foi feita a “construção” ser mais usado no momento, seja nas letras e te- te dentro da música, dentro da letra. Esse é o meu tema “Miguel”, asseguro-vos que é impossível ficar indife- do SENHOR DOUTOR? mas que a completam. Daí se exigir aos artistas a maior objetivo, quando vou tocar. Muitas das vezes rente. Por aqui, acreditamos que o SENHOR DOUTOR padece SrD: O SENHOR DOUTOR surgiu, antes de mais, pela capacidade de se reinventarem, por mais que a sua nem o engano importa. Aliás, o engano até torna o de um caso sério de sucesso que todos nós vamos poder música que foi criada e que não cabia na estética música seja boa. Verdade é, que uma música boa concerto mais bonito, mais orgânico. Importa sim, testemunhar. Os nossos agradecimentos e continuação de de outros projetos onde tocava, na altura os P I N TO é sempre uma boa música, seja hoje, seja num fu- que o público esteja comigo nos temas, que cante sucesso ao JORGE e a toda a equipa da Vachier & Associados. FERREIRA. Como músico, sempre me cativou pensar turo próximo, ou mais longínquo. No entanto, este os refrões quando é suposto, que se dê um relacio- uma narrativa em redor da banda, do personagem, é também um exercício interessante para os mú- namento e que se apaixonem ambas as partes. Isso das músicas. Para mim, essa componente, quase sicos. Cada vez mais existe uma relação estreita é o mais bonito nos concertos. que “romântica”, é bastante importante. entre os artistas e o consumidor da nossa arte. P: Preconceitos á parte. O SENHOR DOUTOR é uma perso- Neste caso, com o SENHOR DOUTOR, o tom burlesco Claro está, que o objetivo não é fazer música da nagem que é caricata, as letras das suas canções contam de algumas músicas, aliado a algumas letras, criou moda, unicamente porque existe alguém a fazê- histórias que nos fazem rir. No entanto, está num patamar uma personagem “dândi”, mas manchada de nódoas, -la e porque é um produto testado e comprovado que é música. As pessoas riem e divertem-se com o SENHOR deixadas pela inevitável natureza que o criou. “Senhor em alguma parte do mundo. No entanto, temos de DOUTOR, mas não existe “um gozo” ao SENHOR DOUTOR como texto por Patrícia César Vicente

44 MÚSICA 45 MÚSICA WALK IN THE PARK

fotos por NUNO VIEIRA Mariana: styling por ANA BEATRIZ ALVES casaco FOREVER 21, ténis hair por BEATRIZ TEXUGO MERRELL RUNNING modelos ANNA-LISA and MARYANA (Just Models) styling assistant MARIA PAISANA Anna: pólo DOCKERS, calças SARA special thanks to TOUGH LUCK MAIA, ténis MERRELL RUNNING

46 47 ↑ ↑ Mariana: Mariana: conjunto azul SARA MAIA, camisa LEVIS, top CONSTANCA ENTRUDO, long sleeve BORN AUTHENTIC, brincos STYLIST´S OWN calças BORN AUTHENTIC, sapatos CROCS ↓ Mariana: conjunto BORN AUTHENTIC, cap NEW ERA, botas DR. MARTENS. Anna: vestido COS Fotógrafo convidado, italiano, vegan, usa mochila SCOTCH & SODA

↑ Mariana: conjunto azul SARA MAIA, camisa LEVIS Anna: top COS

↑→ Mariana: sweetshirt TOMMY HILFIGER, calças COS, ténis MERRELL

Anna: t-shirt SELVA in OUTTOLUCH LISBON

48 49 Mariana: Mariana: casaco SARA MAIA, calças DOCKERS, sapatos BIRKENSTOCK casaco e calças SARA MAIA Anna: Anna: t-shirt VOLCOM, jeans LEVIS, cachecol REALITY t-shirt VOLCOM, calças vintage in STUDIO in OUTTOLUCH LISBON CHICLETE PORTO, sapatos PALLADIUM

50 51 Mariana: knitwear SCOTCH & SODA, calças STYLIST´s OWN, botas MERRELL

Anna: top CONSTANÇA ENTRUDO, calças SARA MAIA, sapatos CROCS

52 53 Mariana: Anna: “Get together shirt” STYLIST´s OWN, t-shirt VOLCOM, calções jeans LEVIS , sapatos PALLADIUM CONSTAÇA ENTRUDO, Anna: botas MERRELL long sleeve VOLCOM, calças vintage DICKIES in CHICLETE PORTO, sapatos PALLADIUM

54 55 “Man is least himself when he talks in his own person. Give him a mask, and he will tell you the truth.” Oscar Wilde

fotos por FREDERICO SANTOS styling por PEDRO APARÍCIO make-up por SANDRA ALVES ilustrações por MAFALDA FIALHO assistante de fotografia PEDRO MOURA SIMÃO ← ↑ styling assistant CARLOTA BOTELHO blazer INÊS TORCATO, casaco e camiseiro INÊS TORCATO, ténis modelos BERNARDO CASCAIS ( L'A g e n c e) YAKIV (Just Models) colares CAIO MAHIN CONVERSE, colar PEDRO SEQUEIRA

56 57 ↑ ↑ colares PEDRO SEQUEIRA gola NAIR XAVIER, polo FRED PERRY x RAF SIMONS, saia BY MALENE BIRGER, botas DR. MARTENS

58 59 ↑ ↑ camisola FRED PERRY, trainer e camisola FRED PERRY, casaco INÊS TORCATO blazer INÊS TORCATO

60 61 ↑ ↑ bomber e Sweat LACOSTE, calções NYCOLE camisas BARBOUR, ténis BRAND, botas ERMENEGILDO ZEGNA CONVERSE, meias WEST MISTER

62 63 MASSIMO A Avenida da Liberdade, em Lisboa, coleções de mulher na cave e piso DUTTI acolhe a mais recente loja MASSIMO térreo estando reservado o andar DUTTI que nasce num edifício superior às coleções de homem, texto por Francisco Vaz Fernandes histórico no coração da capital que contém uma área exclusiva de portuguesa. Para trazer ao nível de Personal Tailoring. Os acessórios luxo, a experiência de loja, a INDITEX não foram esquecidos e têm contou com a colaboração de morada garantida na antiga torre LÁZARO ROSA-VIOLÁN, um designer da casa, enquanto a perfumaria de interiores espanhol conhecido ocupa a antiga cozinha. Junto às em Portugal pelos decores criados caixas há um espaço reservado para JNCQUOI, que se encontra do para livros de design e moda que do outro lado da avenida. Para o resultam de uma colaboração novo projeto optou por criar um com a editora alemã Taschen. Nas ambiente eclético de um típico traseiras foi recuperado um MASSIMO DUTTI palacete do século XIX apresentando pequeno jardim criado por J ES U S Avenida da Liberdade, 193 várias atmosferas densas e ricas MORAINE que futuramente terá Lisboa em detalhes que acomodam, as uma cafetaria adjacente.

STEVE MADDEN Steve Madden, famoso designer de sapatos e acessórios para mulher texto por Maria São Miguel e homem, abriu no passado mês de Julho a primeira loja em Portugal, na Rua D. Pedro 93-95, no Príncipe Real, em Lisboa. Estabelecida em Nova Iorque, hoje está presente em 80 países com mais de 330 lojas em todo o mundo, Lisboa junta-se agora a esta grande família. Steve Madden tem apostado na evolução da marca traçando um caminho único no mundo da moda internacional, inspirando-se no pulsar das grandes metrópoles, no estilo urbano e no rock & roll: “O que me inspira é ver o que as pessoas usam nas ruas de Nova Iorque a Londres. Caminhar e sentir o asfalto em todo o mundo é a minha inspiração”. Selena Gomes, Katy Perry, Lady Gaga, Rihanna, Taylor Swift, Becky G ou Kate Moss são algumas das celebridades que STEVE MADDEN habitualmente escolhem as suas Rua D. Pedro V, 93 criações para os seus looks da Principe Real – Lisboa passadeira vermelha e do dia a dia.

64 PARQ HERE 65 PARQ HERE QUORUM Desde Junho, o restaurante QUORUM Há ainda um serviço de degustação, no Chiado passou a estar entregue à com cinco momentos: Mar Português texto por Francisco Vaz Fernandes equipa do Chef TIAGO SANTOS que trou- (49 euros); e outro com 7 momentos: xe para esta mesa da capital, um país Viagem a Portugal (69 euros) que pode inteiro. O projeto do jovem geógrafo ser acompanhado por várias listas de que trocou uma carreira universitária harmonizações de vinhos com dife- pela cozinha, passa por resgatar mui- rentes preços. Optamos pela Viagem a ta da cozinha tradicional portuguesa, Portugal, fomos logo surpreendidos de indo ao encontro dos processos e sa- início por um pão com chouriço, que bores que sobrevivem em lugares re- na verdade era um pequeno invólucro cônditos, trazendo-os para o patamar de massa fina que levado à boca se da cozinha contemporânea. Depois de desmanchava, soltando todos os su- uma passagem pela Universidade de cos inerentes a um enchido. Um efei- Harvard, onde se formaria em ciên- to surpresa que, imediatamente foi ul- cia e cozinha, palmear o nosso país trapassada pelo ovo de tomatada. Uma na descoberta da sua riqueza e diver- pequena gema de ovo solitária que em sidade culinária, foi como uma neces- três colheradas nos remeteu para o sidade para voltar a respirar. Nestes Alentejo mais profundo. Ficámos de momentos, sente que é o ainda geó- imediato impressionados pela destre- grafo que há em si a falar mais alto. za técnica exigida em conseguir man- Nesse sentido, o Chef TIAGO SANTOS ter o aspeto insuspeito de uma gema procura que todo o seu conhecimen- do ovo, que na verdade, depois de su- to técnico global adquirido se coloque gada, é substituída pelo líquido da to- ao serviço dos nossos sabores e tradi- matada. É ainda de referir uma das ções, potenciando-os. Ou seja, quan- sobremesas, a Laranja dos Pobres, re- do provamos, uns raviolis de camarão ceita oriunda do Alentejo, onde as la- rosa da costa, mergulhados um caldo ranjas eram amargas e como tal, eram de um cozido português, ainda que os consumidas com azeite e mel para se ácidos dos enchidos sobressaem, so- poderem comparar em doçura às do mos transportados para sabores do Algarve. Nesta sobremesa, o Chef re- Japão, suscitando-nos dúvidas e de- toma a tradição, resgatando o fio gene- safios que, no final de contas, apenas roso de azeite, mas recria-a, segundo QUORUM espevitam o nosso interesse pelos nos- as regras de uma cozinha contemporâ- w o m e n´s Rua do Alecrim 30B, Chiado, Lisboa sos sabores mais profundos. nea. São gestos de grandiosidade cul- tural como estes, onde o local se pen- Ter. 19h30 → 23h30 O QUORUM tem uma carta semanal sa no global, que trazem diversidade → → Qua. Dom. 12h30 15h que é constituída por duas entradas criativa à gastronomia do Chef T I AG O 38. 712511 Lat, -9.139364 Long e das 19h30 → 23h30 (12 euros), dois pratos principais (28 SANTOS, proporcionando-nos uma ex- MerrellPortugal Merrell.pt Encerra à Seg. euros) e duas sobremesas (9 euros). periência inesquecível. Icepack Polar

66 PARQ HERE Men´s

38. 712511 Lat, -9.139364 Long MerrellPortugal Merrell.pt Moab Adventure Mid