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Nova espécie de orquidaceae (catasetinae) para o estado do Amazonas, Brasil / New specie of (catasetinae) for the state of Amazonas, Brazil

DOI:10.34115/basrv4n1-009

Recebimento dos originais: 30/11/2019 Aceitação para publicação: 24/01/2020

Ariel Dotto Blind Doutor em Agronomia Tropical pela Universidade Federal do Amazonas Pesquisador da Estação Experimental de Hortaliças / Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia Efigênio Salles 69.060-020, Adrianópolis, Manaus – Amazonas, Brasil [email protected]

RESUMO Uma nova descrição de é apresentada para o Estado do Amazonas, Brasil. Foram realizadas ilustrações e comparações de amostras herborizadas com bibliografia taxonômica disponível. A nova espécie é oriunda de vegetação predominante floresta ombrófila densa, com clima quente úmido de ambiente típico amazônico. A descrição da nova espécie se assemelha parcialmente com características morfológicas de Catasetum brasilandense, e C. rondonensis porem após examinar holótipos em 4 anos de cultivo foi possível verificar divergências morfobiométricas marcantes, principalmente no conjunto floral, bem como pela época de floração e local de ocorrência.

Palavras-Chaves: Catasetum lendarium nv. sp., Amazônia, Nova orquídea, Flores tropicais

ABSTRACT A new description of orchid genera Catasetum is presented for the State of Amazonas, Brazil. Illustrations and comparisons of herborized samples were made with available taxonomic bibliography. The new species comes from predominantly dense ombrophilous forest vegetation, with hot humid climate in typical Amazonian environment. The description of the new species partially resembles morphological characteristics of Catasetum brasilandense, and C. rondonensis but after examining holotypes in 4 years of cultivation it was possible to verify marked morphobiometrics divergences, mainly in the floral set, as well as the flowering season and place of occurrence.

Keywords: Catasetum lendarium nv. sp., Amazon, New orchid, Tropical flower

1 INTRODUÇÃO O gênero Catasetum Rich. ex Kunth (1822:330) - (Orchidaceae) pertencente a subtribo Catasetinae (PRIDGEON et al., 2009) é amplamente cultivado na orquidicultura mundial por apresentar espécies muito exóticas com dezenas de cores e características acentuadas em suas flores, além de proporcionar cultivo relativamente fácil. Este gênero destaca-se por apresentar

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132 Brazilian Applied Science Review flores femininas e masculinas, as vezes estas duas formas na mesma haste floral (LACERDA, 1998; PEDROSO de MORAES et al., 2016), contudo somente as flores masculinas manifestam a real cor, os devidos detalhes, e são confiáveis para discriminação de uma espécie em questão (DODSON, 1962; ENGELS et al., 2016). As espécies do gênero são perenes e podem vegetar de forma epífita, rupícola ou terrícola e comumente apresentam caule (bulbos) atarraxados, dilatados e cobertos por bainhas (LACERDA, 1998; HOLST, 1999). As folhas geralmente são membranosas, lanceoladas, podendo ser diminutas ou compridas, pontiagudas ou ovaladas nas extremidades (ROMERO & JENNY 1993). Após a formação e amadurecimento do bulbo as folhas senescem e a planta entra em estádio de dormência vegetativa, geralmente coincidindo com período de menor precipitação pluviométrica (PETINI-BENELLI, 2016a; FRANKEN et al., 2016). A inflorescência pode surgir na base de brotos jovens, imaturos e em bulbos maturos e maduros fisiologicamente (SCAGLIA, 1998; MILET-PINHEIRO et al., 2015). Dependendo da espécie a haste floral pode ser ereta, arqueada ou pendular e apresentar número diverso de botões florais que pode ser definido pela inter-relação do espécime com o ambiente que habita (STERN & JUDD 2001; FRANKEN et al., 2016). No geral, após abertura das flores, é possível obter apreciação por até 8 dias, mas isto irá depender principalmente de visitantes florais e condições climáticas que podem comprometer estruturas das flores. Os frutos contendo sementes microscópicas, podem ser formados após polinização das flores femininas que por sua vez, não são atrativas comercialmente principalmente por apresentarem formas grotescas e colorido relativamente uniformizado (HOEHNE,1942; SILVA & SILVA, 2004) A maioria das espécies catalogadas na Amazônia foram descritas baseadas em holótipos coletados e cultivados, além de serem herborizadas amostras dos vegetais e depositadas em herbários da região (PETINI-BENELLI 2016b; THIERS, 2018). Mais de 40 espécies de Catasetum já foram descritas para o estado do Amazonas (BARROS et al., 2016, VALSKO et al., 2019) algumas consideradas endêmicas, as quais possuem registros raríssimos de ocorrência e habitat, como é o caso do Catasetum kleberianum Braga descrito em 1994 que até o presente momento nunca mais foi encontrado na natureza após diversas excursões de campo. Outra espécie que não foi apresentada a ciência, um único exemplar vivo, desde seu registro baseado em uma aquarela de 1967 foi, C. meeae Pabst, que provavelmente pode ser um hibrido natural, haja visto que no local referido a ocorrência, habitam Catasetum ferox Kraenzl, C. longifolium Lindl, C. pileatum Reinchb, C. rionegrensis Campacci & Silva, C. stenoglossum Pabst, C. cuculatum Silva & Oliveira e C. callossum Mansfeld respectivamente. Um dos últimos híbridos descritos como espécie no Brasil ocorreu claramente com C. brevilobatum Marçal & Chiron

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133 Brazilian Applied Science Review para o estado da Bahia, que possivelmente seja (C. purum x C. arietinum – carecendo confirmação cientifica). Até o momento as últimas espécies descritas para o estado do Amazonas foram Catasetum ivanae Benelli 2016, holótipo lago carabanatuba Humaitá-AM, e recentemente Catasetum sophiae Valsko, Krahl & Benelli 2019 holótipo Novo Airão-AM, que ponderando as estruturas morfobotanicas, podem ser apenas variações típicas do Catasetum denticulatum Miranda, e Catasetum callosum Mansfeld respectivamente. Somente uma análise com marcadores moleculares a nível de DNA é confiável e pode revelar a(s) distancia(s) genética de forma instantânea, dessas novas espécies, evitando assim especulações botânicas da ocorrência de uma especiação ou confirmar notoriamente que pode haver variabilidade natural em função da interação do genótipo com ambiente. Desta forma comparações morfológicas e biométricas em flores devem acumular pelo menos 4 anos de analises, inclusive com mais de um exemplar, para que assim o efeito ambiental sobre as características da planta e flores possa ser ponderado corretamente. Sob este ponto de vista Catasetum barbatum Lindl ocorre em vários estados da região norte do Brasil em ecossistemas dessemelhantes e curiosamente fora ilustrado mais de 15 variações das fimbrias do labelo em flores masculinas (ROCHA & SILVA, 2001) embora muitos estudiosos descordem, e provável que tenha variedades e/ou subespécies intraespecíficas, e que de fato tenha ocorrido algum tipo de especiação neste táxon que ainda carece de estudos fitomoleculares. Na Amazônia, o desmatamento e atividades de agricultura extensiva além de coletas predatórias intensificaram a perda de material botânico em diversas regiões após a década de 70 (FEARNSIDE 1990; FERREIRA et al., 2005), contudo novos caminhos foram desenvolvidos nesse processo de colonização para locais remotos e consequentemente novos acessos botânicos estão sendo revelados pela ciência. A busca incessante por novos registros e espécies raras também veem contribuindo para descoberta de novos exemplares não só de plantas, mas de todos reinos. No geral o Estado do Amazonas possui cerca de 85 % de seu território preservado, diferentes condições climáticas e microrregiões únicas que satisfazem a ecossistemas raros que podem ser naturais ou artificiais e neles a contenção de flora nativa, que as vezes são inexploradas cientificamente (FEARNSIDE 1990; SILVA & SILVA 2008). Existem duas estações climáticas que perfazem o ano, sendo a estação chuvosa, que inicia em meados de novembro e culmina com o início da estação seca que inicia em meados de junho, porem na região sempre ocorrem chuvas temporãs, típico clima amazônico (ALVARES et al., 2013).

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O território de Presidente Figueiredo sentido norte do estado do Amazonas, possui uma ampla gama de rios, ecossistemas naturais e artificiais situados em áreas de florestas mistas densas, ombrófilas, fluviais e de campos rupestres que são abundantes em epífitas em geral (SILVA & SILVA 2008; SOUZA & NOGUEIRA, 2009). O município possui aptidão agrícola por estar geograficamente próximo a capital, possuir acesso pela rodovia Br 174, apresentar condições edafoclimaticas favoráveis a produção de hortifrutigranjeiros e espécies industriais como guaraná (Paullinia cupana) e cana de açúcar (Saccharum officinarum) (www.ibge.gov.br/cidadesat/2017). Diversas áreas estão sendo exploradas para agricultura e a supressão da vegetação nativa veem ocorrendo principalmente ao noroeste do território, consequentemente ocorrendo perda da diversidade botânica da região. Neste sentido novos táxons podem ser identificados e desvendados pela ciência, o que se faz necessário realizar avaliação de espécies, caracterização de exemplares botânicos, contextualização da diversidade biológica de orquidáceas endêmicas e contribuição do status ocorrência para preservação dos habitats.

2 MATERIAL E MÉTODOS A espécime foco deste presente estudo foi encontrada em dezembro de 2014 em área rural, noroeste do município de Presidente Figueiredo – AM (Figura 1).

Figura 1. Localização geográfica do município de Presidente Figueiredo, Estado do Amazonas, Brasil, região de origem do Catasetum lendarium nv. sp.

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Habita galhos de arvores identificadas como Castanheira do Brasil (Bertolletia Excelsia Kunt) e troncos em decomposição de outras especies. Amostras do vegetal foram resgatadas e cultivadas em orquidário sob o certificado de legalidade junto ao Ibama n° 4829619 / 20-58 preservando-se assim indivíduos vivos da espécie. Após 4 anos de florações consecutivas, foi realizado foto documentação e aferições de medidas morfobotanicas com auxílio de paquímetro, além de desenhos ilustrativos. A herborização foi realizada com plantas floridas conforme sugestões de PETINI-BENELLI, (2016b) e depositada nos herbários da HUAM (Herbário da Universidade Federal do Amazonas, campus Manaus-AM) e no HOE, (Herbário Horticultural OE, campus Presidente Figueiredo – AM, juntamente com flores masculinas de cada amostra, armazenada sem danos, em solução liquida Spirit. A comparação morfobiometrica dos exemplares foi realizada por meio de bibliográfica comparativa descritiva disponível, utilizando-se espécies registradas com semelhanças fenotípicas conforme sugestões de SCAGLIA, (1998) e THIERS, (2018) baseando-se em descrições realizadas por PETINI-BENELLI, (2016a); ENGELS et al., (2016) e VALSKO et al., (2019).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 CATASETUM LENDARIUM BLIND NV SP 3.1.1 Holótipo: Brasil – Estado do Amazonas, Presidente Figueiredo, área rural, próximo ao lago da hidrelétrica de Balbina, elevação de 173 m. 1°45’27”S - 60°37’24”W , A.D. Blind HOE 0201A ♂, 23-XII-2014 em excicata e acesso adicional 1°64’61”S - 59°99’16”W, E.J. Blind, HOE 0302B ♂, 03-I-2018 in solução Spirit idem deposito HUAM in solução Spirit sem código definido até o momento. 3.1.2 Isótipos: Brasil - Estado do Amazonas, Presidente Figueiredo, área rural, lago da hidrelétrica de Balbina, elevação aproximada 174 m. 1°38'09.0"S - 59°56'09.4"W, A.D. Blind & R.L. Blind 12-XI 2015 em cultivo, in fl. ♂ 2016, Porto Velho – RO. Acesso adicional: Estado do Amazonas, Presidente Figueiredo, área rural, proximidade do córrego tracuá 178 m 1°42’46.8” S - 60°13’53.5” W, Franci & Marcos 28-XII-2014 idem em cultivo 15-I-2020 in fl. ♂, materiais adicionalmente examinados. Difere facilmente e significativamente pelos segmentos anatômicos florais e detalhes biométricos além dos pigmentos quando comparado com Catasetum brasilandense Benelli, e Catasetum rondonensis Lacerda aos quais foram ponderados para comparações desta nova espécie (Tabela 1).

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TABELA 1. Comparação morfobotanica e biométrica entre as três espécies de catasetum inter- relacionadas: C. lendarium, C. brasilandense e C. rondonensis. Manaus – AM, 2020.

Características Baseado em plantas adultas C. brasilandense C. rondonense C. lendarium nv. sp. Benelli & Izzo Lacerda basal ereta-raramente basal horizontal basal recurvada Inflorescência curvada, racemosa 10- racemosa 20-30 cm multifloral 16-17 cm 25 cm triangular acuminada 8- triangular lanceolada línea -triangular Bráctea floral 9 x 6-7,5 mm 8-8,5 x 3-3,5 mm acuminada 12 mm Pedicelo com curvado, 30-35 x 1.8- ereto oblíquo ereto, 29-32 x 2-3 mm ovário 2.1 mm sigmoidal 20 x 2 mm esparsadas distribuídas esparsadas distribuídas Flores masculinas - após 2/4 da haste após ¾ da haste Conjunto adensado Flores femininas - - 3/4 da haste Biometria da flor 58-60 mm 43-45 mm 42-48 mm (horiz.) lanceoladas acuminata lanceoladas oblonga lanceolada longa Sépalas in. com. côncava 27-29 mm x 6- acuminata 22-23 x 7- penta nervada 30 x 12 Dorsais 7mm 7,5 mm mm lanceoladas acuminata côncavas abrigadas lanceoladas lanceoladas Pétalas junto as sépalas dorsais 23-24 x 7,5-8 mm breviata 27 x 13 mm 23-24 mm x 5-6 mm denticulado trapezoidal côncavo saciforme 18 x subtrapezoidal 8 mm margens diminuto trilobato côncavo na porção espiculadas carnoso 4 x 2 mm, na saciforme 18-18,5 mm Labelo apresentando calo porção basal cônico x 10-13 mm, calo sacado expressivo na subtrapezoidal único na porção distal porção distal 5-6 mm, e ondulado 5-8 mm 9-10 mm um porção na basal 1-2 mm

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subtriangular triangular apiculado 14- clavada rastelada 18- Coluna apiculado 13-15 x 6 15 mm x 4-5 mm 19 x 6 mm mm paralelas projetadas para paralelas projetadas crespas paralelas Antenas o centro do labelo 6-7 para cavidade do projetadas ao centro mm labelo 9-10 mm do labelo 6 mm Polinia 2-2.2 x 1-1.2 mm 2.8-3 x 1-1.1 mm 2.8-3 x 1-1.1 mm

Aspecto visual das flores masculinas

Foto: A.D. Blind Foto: A. Petini-Benelli Foto: Orquistudium Fonte: A.D. Blind 2019.

3.2 DIAGNOSE, NV SP Erva epífita, raízes adventícias abundantes, caule dilatado atarraxado roliço fusiforme com folhas lanceoladas ovaladas trinervadas na face dorsal 4 a 7 por pseudobulbo e inflorescência comumente ereta. Referii ilustração in fl, 04-I-2018 (Figura 2).

FIGURA 2. Aspecto morfobotanico de Catasetum lendarium Blind nv. sp. Retratado a mão livre. Desenho - A. D. Blind, 2018.

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Inflorescência masculina ereta ou arqueada (raro) apresentando número variável de flores em equidistância de 2,5 cm e número variável até 18 unidades dispostas em forma de roseta. Flores masculinas abertas maduras com pedicelo ereto ou levemente curvado de 1.8 cm de cor marrom avermelhado (incluindo ovário infértil) e brácteas amplexicaules verde característico na intersecção (Figura 3).

FIGURA 3. Aspecto da inflorescência e das características florais de Catasetum lendarium nv. sp. Foto e Cultivo: A. D. Blind, 2018. Sépalas dorsais manifestando 2,7 cm, moderadamente côncavas também marrom avermelhadas sem pintas com ápice pontiagudo, semelhante as características das pétalas. As sépalas comumente curvan-se para traz, ao ponto do pedicelo separa-las. Labelo sem pintas amarelo ouro, e/ou cor gema em tons profundos e externos de amarelo alaranjado. O labelo apresenta depressão central côncava de 0,5 cm de profundidade margeada de espiculas amarelas em até duas linhas distintas com espicula carnosa única ou bífida pontiaguda na porção frontal em direção horizontal ao segmento floral com 0,5 cm. Outra espicula pontiaguda menor 0,2 cm de cor marron-avermelhada surge na porção basal do labelo porem em direção vertical. A inserção do labelo com a coluna apresenta 6-8 cílios diminutos esparsos, ainda com tons marrom-avermelhados e a coluna possui depressão característica com adjacência saciforme circular 0,2 a 0,3 cm. A coluna e rostelo surgem acima do labelo em porção frontal com base moderadamente larga de 0,5 cm. Antenas paralelas de 0,7 cm verde claras, surgem voltadas para o centro do labelo que são divididas por outra espicula, está acuminada, apresentando cor amarelo característico do labelo. Flores com estirpe de 0,5 cm, apresentando 2 polineas de 0,2

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139 Brazilian Applied Science Review cm e antera de 0,3 cm (Figura 4). Flores femininas típicas do gênero, bicolores com frutos relativamente pequenos quando maturos fisiologicamente (Figura 5).

FIGURA 4. Biometria ponderada em três anos consecutivos da floração de Catasetum lendarium nv. sp. A, B – sépalas 27 mm x 6 mm; C, D – pétalas 24 mm x 6 mm; E, F – flor completa vertical 58 mm x 24 mm; G, H – pedicelo 29 mm x 2 mm; I, J – Labelo divido – 18 mm x 16 mm; K, L – polinario 5 mm x 2 mm; M, N – estirpe e polinea 5 mm x 2 mm; O, P – coluna 4 mm x 14 mm e Q – flor completa frontal 42 mm. Esquema: A. D. Blind, 2019.

FIGURA 5. Aspecto das flores femininas maduras em C. lendarium e biótipo de fruto desenvolvido da espécie contendo sementes. Fotos e Cultivo: A. D. Blind, 2019.

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3.2.1 Etimologia: Epíteto baseado em alusão a cor de ouro do labelo desta nova especie em ânimo a história que circula na Amazônia, sobre a lendária cidade de ouro perdida “Uma luz nos mistérios amazônicos - em busca do Eldorado. “Obra rarissima, uma lenda curiosamente verdadeira” de Roland Stevenson in memorian. 3.2.2 Distribuição e habitat: Área geograficamente singular e restrita, com acesso moderadamente difícil via terrestre, considerando a área norte do município de Presidente Figueiredo em estádio de ocupação pela atividade agrícola, exploração madeireira, pode-se afirmar que a espécie Catasetum lendarium é vulnerável (VU), segundo os critérios da IUCN 2014, sendo raro de se avistar indivíduos na natureza. Catasetum lendarium, floresce em bulbos maturos folhados, normalmente em Janeiro, podendo estender-se até Abril em brotações sucessivas ou quando há quebra natural de dormência, podendo anteceder Janeiro. As flores tem durabilidade atrativa a polinizadores em média de 8 dias, exceto quando a polinario é deslocado igualmente como ocorre com outras espécies do gênero (MILET-PINHEIRO et al., 2015; PEDROSO de MORAES et al., 2016). A disposição e caracteres das flores são semelhantes ao C. brasilandense registrado para Brasilandia - MT, porem este último apresenta no geral, cor verde abacate com pintas marron escuras em todos segmentos e depressão mais alongada no sentido do comprimento do labelo, lembrando uma lança (Petini-Benelli, & Izzo, 2018). C. rondonensis também apresenta alguma semelhança dos detalhes do labelo com C. lendarium, porem manifesta cavidade com poucas espiculas diminutas e com maculas em todo perímetro incluindo disposição de pétalas e sépalas divergentes. Apesar de C. brasilandense e C. rondonensis apresentarem algum tipo de semelhança com C. lendarium é muito improvável que seja uma variação de algum destes, haja visto que são considerados endêmicos de suas regiões de origem e seus matizes são bem distintas. Adicionalmente comparando espécies que ocorrem juntas ou próximas no habitat, destaca-se o C. rivularium Barbosa, C. garnetianum Rolfe, C. longifolium Lindl, C. ciliatum Lindl Catasetum sp e C. barbatum Lindl também os quais não deixam dúvidas morfológicas de que C. lendarium é uma nova espécie ao considerar as características morfobotanicas principalmente das flores masculinas (Figura 5).

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Catasetum rivularium Catasetum garnetianum Catasetum longifolium

Catasetum ciliatum Catasetum sp Catasetum barbatum

FIGURA 5. Aspecto do conjunto de flores masculinas de espécies de Catasetum que ocorrem juntas ou próximo ao habitat de C. lendarium nv. sp. Fotos e cultivo: A.D. Blind, 2018.

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