XXVII I ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PR ODUÇÃ O A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008

ANÁLISE DE POTENCIALIDADES PARA O DESENVOLVIMENTO DE UMA FRANQUIA SOCIAL: O CASO DO INSTITUTO RUMO NÁUTICO / PROJETO GRAEL

Joanna Alves Dutra (Proj. Grael) [email protected] Fernando Oliveira de Araujo (CEFET/RJ) [email protected]

Ao longo de quase dez anos, o Instituto Rumo Náutico / Projeto Grael tem amadurecido e consolidado sua atuação enquanto instituição representativa e relevante do Terceiro Setor. Em paralelo, o próprio Terceiro Setor e suas Tecnologias Sociaais também vêm se estabilizando e ganhando credibilidade, no cenário econômico e social brasileiro. O presente estudo tem como objetivo analisar um sistema de replicação de Tecnologias Sociais, ainda novo e polêmico, denominado Franquia Social, para atender à crescente demanda do Instituto Rumo Náutico / Projeto Grael de abertura de novas unidades em diferentes regiões do Brasil. O estudo analisa as instituições referências na implantação de Franquias Sociais e os modelos de franquia existente no mercado para avaliar as potencialidades e dificuldades para a criação da Franquia Social do Projeto Grael.

Palavras-chaves: Instituto Rumo Náutico; Projeto Grael; Gestão no Terceiro Setor; Tecnologia Social; Franquia Social

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1. Considerações iniciais O Brasil, seguindo a tendência do cenário mundial, sobretudo a partir de meados da década de 90 do século passado, participa de inúmeras transformações de ordem econômica, política, social e cultural. Tais alterações, por sua vez, contribuem para o desenvolvimento de novos modelos de relacionamentos entre instituições e sociedade. O conjunto de entidades que vem ganhando espaço nesse enredo é o chamado Terceiro Setor, composto por organizações sem fins lucrativos, formado, no Brasil, por aproximadamente 500 mil entidades sociais contabilizadas pelo IBGE, em 2002. Tais organizações abrangem desde Fundações, Institutos, ONGs, até Associações e OSCIPs, que atuam nas áreas de educação, cidadania, saúde, meio ambiente, cultura, entre outras. Estas organizações vêm buscando, com o passar dos anos, desenvolver metodologias, técnicas e sistematizações de ações para desempenharem com sucesso as missões e objetivos para as quais se propõem. Proporcionando melhores soluções orientadas, entre outras, à elevação do padrão de qualidade de vida de indivíduos em situação de risco social; diminuição do impacto da ação do ser humano sobre o meio ambiente e a valorização de hábitos e costumes regionais e nacionais. Paralelamente ao crescimento da demanda social, aumenta a atuação do Segundo Setor, composto pela iniciativa privada, no sentido de apoiar, por vezes através de seus Institutos e Fundações, as iniciativas do Terceiro Setor. Essa atuação é enxergada por algumas ONGs como uma tentativa de proporcionar uma contrapartida aos prejuízos ambientais e desigualdades sociais causados possivelmente pelo investimento social privado, uma espécie de motivação compensatória. As empresas estão sendo cada vez mais responsabilizadas pelos aspectos éticos e sociais de seus negócios (AMBIENTE BRASIL, 2006). A tendência dos Institutos e Fundações privados é a de apoiarem experiências bem-sucedidas e o desenvolvimento de iniciativas inovadoras de terceiros, bem como suas próprias práticas corporativas, reduzindo assim os riscos de insucesso dos seus patrocínios. 1.1. Descrição da situação-problema Muitos projetos bem sucedidos já passaram pelo processo de sistematização de práticas orientado ao compartilhamento do benefício social a outras realidades e localidades, o que é classificado no âmbito do Terceiro Setor, como Franquia Social. O Instituto Rumo Náutico (IRN), também conhecido como Projeto Grael (caso analisado neste artigo) vem passando por este processo. O núcleo de Niterói do IRN já formou até dezembro de 2007, 4.500 alunos. O Projeto Navegar (discutido em tópicos subseqüentes) implantou 37 unidades em todo o Brasil. O IRN tem 10 convites de novas unidades, com demanda induzida para o desenvolvimento da Franquia Social e compartilhamento de tecnologias sociais. 1.2. Objetivos Com base na realidade do IRN, o presente trabalho objetiva analisar as perspectivas e potencialidades de consolidar as práticas, metodologias e técnicas relacionadas às atividades do IRN/ Projeto Grael em uma Tecnologia Social capaz de ser replicada e adaptada para

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outras iniciativas sociais localizadas em distintas regiões do país, levando-se em conta os aspectos sociais, regionais, culturais e econômicos locais. 1.3. Relevância do estudo O estudo apresenta-se como relevante na medida em que carrega a responsabilidade de lidar com três vertentes singulares: − Um sobrenome de sucesso (Grael), reconhecidamente uma marca associada à credibilidade. − Um Projeto Social bem sucedido, mas que enfrenta as dificuldades típicas do Terceiro Setor (escassez de recursos e profissionalismo; excesso de boa-vontade deslocado do compromisso com resultado) − Uma demanda espontânea e em crescente expansão.

No âmbito acadêmico, o estudo denota-se como relevante, pois à medida que o IRN/ Projeto Grael amplia seu espaço na área de Responsabilidade Social, aumentam os convites de Instituições e Prefeituras para a abertura de novos núcleos em várias regiões do Brasil, muitas vezes precipitando o processo de desenvolvimento da proposta-piloto da Tecnologia Social. Adicionalmente, a discussão sobre os modelos de Franquia Social e o próprio conceito dela são temas bastante atuais, na medida em que passou a ser um desafio colocado pelo avanço do Terceiro Setor e o crescimento da sua importância para amenizar os problemas sociais tão preocupantes do Brasil. 2. Metodologia 2.1. Classificação da pesquisa Segundo Silva & Menezes (2001), a presente pesquisa pode ser classificada como de abordagem qualitativa do problema. Quanto aos objetivos, de acordo com Gil (2002), a pesquisa é de caráter exploratório, na medida em que visa proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo explícito ou a construir hipóteses, suportado por revisão da literatura. 2.2. Técnicas de coleta de dados Para o desenvolvimento da presente pesquisa, lançou-se mão de: levantamento bibliográfico; pesquisa na internet; análise de exemplos que estimulem a compreensão; pesquisa documental, experiência autoral e entrevistas. 2.3. Limitações do método A revisão da literatura foi prejudicada pela pouca quantidade de referências bibliográficas sobre o tema da Franquia Social. Adicionalmente não foram considerados dados quantitativos analisáveis para uma possível inferência estatística relacionada à problemática evidenciada. 3. Revisão da literatura 3.1. Terceiro Setor no Brasil A sociedade civil brasileira é um espaço ainda em formação. Uma parte da população brasileira não consegue enxergar as políticas sociais como um direito seu, mas sim como uma “dádiva” das elites; não consegue perceber que tem o direito e a potencialidade de se fazer valer enquanto ator do “jogo social” (MARTINS, 1997). Mas, por que isto ocorre?

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Assim como na maioria dos países da América Latina, existe um forte traço paternalista na cultura brasileira, herança da colonização portuguesa, que faz com que o espaço público seja ocupado apenas pelas elites - diretamente ou por intermédio de entidades como o Estado e a Igreja - deixando o resto da sociedade inerte (SODRÉ, 1965). Essa sociedade civil enfraquecida trouxe reflexos no próprio papel desempenhado pelo Terceiro Setor na história brasileira. Na maioria das vezes, a face do Terceiro Setor que mais se mostrava atuante era justamente aquela ligada às estruturas assistencialistas e de ajuda mútua, ou seja, a “caridade”. Além disto, a ação dos segmentos do Terceiro Setor esteve quase sempre condicionada às conveniências do Estado (LANDIM, 1993). Somente a partir dos anos 70 e 80, simultaneamente às crises brasileiras (econômica, política, social e moral), alguns setores da sociedade civil passaram a rejeitar explicitamente as múltiplas formas de assistencialismo e começaram a agir mais intensamente através dos movimentos sociais, associações civis – que cresceram bastante neste período – e ONGs, que contestavam o regime militar em vigor (FAUSTO, 2004). Os movimentos sociais começaram a se perceber atores de um confronto global de classes e passaram a atuar de forma mais incisiva, reivindicando direitos sociais junto ao aparelho de Estado. Além disso, a partir das greves de metalúrgicos no ABC em 1978, o movimento sindical renasceu e passou a ter um caráter extremamente combativo (FERNANDES, 1994). Apesar dessa movimentação, os segmentos mais dinâmicos do Terceiro Setor mantiveram-se à distância dos governos, já que qualquer forma de cooperação estava rejeitada de antemão. Procuraram-se alternativas. Já os anos 90 trouxeram um grande paradoxo: simultaneamente ao processo de democratização das instituições, o Brasil atravessou uma crise econômica - que se arrasta desde o final dos anos 70 - sem precedentes na sua história, elevando ainda mais as distâncias entre pobres e ricos. E, justamente neste período de aumento das demandas sociais, enfrenta- se a hegemonia de um discurso neoliberal que pede uma redução do tamanho e das atividades do Estado, proclamando o “império do mercado”. Diante deste fato, programas estatais de caráter social, que já funcionavam precariamente, tenderiam a desaparecer. Com uma demanda social enorme, os movimentos sociais e as ONGs passaram a estabelecer o diálogo, criando inclusive parcerias com o governo, com os empresários e até mesmo com as tradicionais associações de ajuda mútua e assistência. Surgiram então iniciativas integradas, como a Campanha da Ação da Cidadania contra a Fome e pela Vida. (FERNANDES, 1994). Por outro lado, paralelamente a esse processo, à medida que o Terceiro Setor avança, intensificam-se iniciativas de reflexão sobre a construção de processos que possibilitem a difusão de experiências bem-sucedidas. Percebe-se uma crescente preocupação com a ampliação do impacto social dos projetos e com a sua disseminação em redes, objetivando atender a demanda social existente. E a busca por uma estratégia eficaz para gerar sustentabilidade das comunidades excluídas em seu processo de desenvolvimento, ou seja, uma Tecnologia Social. 3.2. Tecnologia social O conceito – não a expressão de tecnologia social – surge a partir do contexto de tecnologia apropriada (TA), desenvolvido por Mahatma Ghandi, na Índia, entre os anos 1924 e 1927, que revolucionou o processo de fiação manual, como forma de lutar contra as injustiças sociais

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prevalentes naquele país. O trabalho de Ghandi despertou a consciência política de milhões de indianos, mostrando-lhes a necessidade de autodeterminação das comunidades e, também de implementar um processo de desenvolvimento que privilegiasse o saber social, popular, e as soluções nativas- em vez do conhecimento importado. As idéias propostas por Ghandi implicavam a contínua melhoria dos processos e técnicas tradicionais; a adaptação das chamadas tecnologia modernas (TM) à realidade local. A participação da comunidade, constantemente, era imprescindível para o resultado positivo deste trabalho (DAGNINO, BRANDÃO & NOVAES, 2004). Ernest Frederich Shumacher, economista alemão radicado na Inglaterra, foi influenciado pelos conceitos de Ghandi e sistematizou a chamada Tecnologia Intermediária (TI) apropriada para os países pobres, pois possuía: simplicidade funcional, baixo custo operacional, facilidade de manejo, eficácia na solução de problemas do cotidiano, uso em escala e replicabilidade. Essas características foram a base para o conceito de Tecnologia Social, no Brasil (SCHIAVO, 2004). A Tecnologia Social trouxe à tona a discussão de que nem tudo na área social é ou deve ser fruto do conhecimento empírico, que a eficácia e eficiência dos saberes e experiências populares pode ser demonstrada cientificamente, através de análises de processos, dos resultados, dos impactos. Segundo Schiavo (2004): “[...] uma atuação social consistente requer bem mais do que boas intenções, do que o desejo de fazer o bem sem olhar a quem. Em respeito à dignidade das próprias pessoas a quem se pretende beneficiar, em respeito ao seu direito de autonomia social e pessoal e à autodeterminação, a ação social requer intensos estudos e pesquisas, análises e observações críticas constantes, além de um permanente e progressivo processo de avaliação e feedback, que propicie o aperfeiçoamento contínuo dos processos e instrumentos utilizados e a otimização dos resultados e impactos sociais obtidos.” 3.3. Franquia: antecedentes A idéia de lucro é a primeira que surge quando se lê ou escuta a palavra franquia; combiná-la com a palavra social parece, inicialmente, dicotômico. Toda palavra, em sua origem, possui relação entre significante e significado, o que se chama de denotação. Porém, na maioria das vezes, as palavras são usadas no seu sentido conotativo, ou seja, significados novos que se aderem à denotação a partir da experiência, da informação, e/ou da massa sonora da palavra. Isso acontece em toda sociedade, pois esta é resultado de um processo dinâmico, histórico. Saussure (1969), reformulador da lingüística, dizia que a língua é um sistema que se impõe para a comunicação. É tudo que se dispõe para ser usado. O autor inaugura a teoria da Parole e da Langue; onde Parole é a atualização da comunicação ou do sistema, o que é usado no momento apropriado, de cunho individual. Quando essa é apropriada pelo coletivo, torna-se uma Langue . Com os idiomas e, conseqüentemente, com suas palavras também sofrem este processo; isso aconteceu com a palavra franquia. Segundo Dahab (1996), a palavra “franquia” tem sua origem na França da Idade Média, sendo que sua derivação, franchisage, vem de franc, que por sua vez significa “a outorgação de um privilégio ou de uma autorização”. Sendo o verbo franchiser correspondente à concessão de um privilégio ou autorização que, dessa forma, abolia o estado de servidão, num sistema feudal, havia senhores que ofereciam letters of franchise (cartas de franquia) às pessoas. Antes mesmo do fim da Idade Média, a palavra também teve seu fim, ressurgindo em 1850, século XIX, através da política de expansão de mercado da Singer Sewing Machine

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Company, que outorgava uma série de franquias a comerciantes independentes. A General Motors, em 1898, a Coca-Cola, em 1899, a Hertz Rent-a-Car, em 1921 e as companhias petrolíferas, na década de 30, seguiram a sua estratégia. O significado atual da palavra tem seu boom , nos EUA, no pós Segunda Guerra. O Brasil acompanhou essa tendência mundial liderada pelos EUA, mas só veio a ter uma legislação vigente com a Lei nº 8.955, de 15 de dezembro de 1994, publicada no Diário Oficial da União aos 16 de dezembro de 1994. A utilização contemporânea das palavras carrega o significado da sua época de uso, sendo assim, atualmente, dada a linha de evolução, essa palavra corresponde ao direito concedido a uma pessoa ou grupo para comercializar produtos ou serviços de uma empresa em determinado território. No final da década de 90 do século passado, com o sucesso de algumas iniciativas sociais, a franquia começou a possuir um novo significado, além do já existente. Para além dos aspectos comerciais sua utilização passou a ser um instrumento ou uma tecnologia da ação social. Os projetos pioneiros foram o Projeto Pescar, 1988, o Educafro (Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes), 1998, o Formare, da Fundação Ioschpe, em 2001. Embora a consolidação do Terceiro Setor tenha se dado concomitantemente com o surgimento dessa tecnologia social, sua aceitação tem ocorrido, de forma lenta, pois alguns críticos relutam em caracterizar os Projetos Sociais, as ONGs, os Institutos como uma Empresa. 3.4. Franquia social Segundo Cherto (2002), as franquias sociais concretizam-se em redes que aprendem continuamente e são capazes de autodesenvolvimento. A rede constrói um novo caminho e se torna mais forte porque faz parte do papel do franqueador transformar o conhecimento da rede em ações eficazes, pois o saber sem a ação é limitado. Já a entidade franqueada deve investir ou encontrar quem invista na implantação de sua unidade, a quem caberá cuidar do dia-a-dia da unidade que opera, fazendo com que se efetive o que foi definido pelo franqueador. Cherto (2002) diz ainda que o fraqueado deve ser proativo em relação ao restante da rede e à sua própria comunidade, contribuindo para a criação de diferenciais competitivos, para o desenvolvimento de ações locais, com idéias e sugestões que não ponham a perder a essência da rede, que mantenham o conceito vivo e que permitam produzir resultados cada vez melhores. Cherto (2002), no 1º Seminário Internacional sobre Avaliação, Sistematização e Disseminação de Projetos Sociais, organizado pela Fundação Abrinq, defende que o papel primordial da entidade franqueadora é desenvolver o conceito a ser replicado e ainda estabelecer os padrões e as normas para implantação, operação e gestão de cada uma das entidades selecionadas. Ainda defende que a entidade franqueadora autoriza a entidade franqueada a fazer uso da marca de seu programa, bem como de sua metodologia e de seus sistemas, além de oferecer apoio e orientação continuados a cada um dos franqueados, de modo a assegurar a qualidade do projeto. Com relação à entidade franqueadora, Cherto acredita que a sua responsabilidade abrange ainda, monitorar e supervisionar a rede, para garantir a consistência e a qualidade da ação e ainda coletar e difundir dados e informações, captar, estruturar e sistematizar conhecimentos e disseminá-los entre todos os integrantes da rede.

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Baggio (2003) comenta que: “[...] O custo para se expandir um projeto social bem formatado é muito alto. A maioria das empresas que investem no Terceiro Setor pretende que sua marca esteja ligada a um projeto social de qualidade, com modelo de gestão eficiente e resultados consistentes. As empresas carecem desse tipo de informação e muitas vezes estão dispostas a investir em uma marca de sucesso, comprando praticamente uma solução turn-key.” Para Martins (2004), franquia, seja de natureza comercial ou social é o sistema pelo qual o proprietário de uma marca e de certa metodologia repassa seu conhecimento e sua visibilidade para outros, sob contrato. A utilização do modelo de franquia está relacionada à busca de uma sistematização que permita maiores controles e resultados em nome de maior impacto social, bem como a multiplicação de experiências - ou seja, a disseminação de projetos sociais de referência. Croce (2002) observa que existem três possibilidades de disseminação de projetos no Terceiro Setor: a primeira é quando o projeto influencia políticas públicas; a segunda é a idéia de ampliação da cobertura, quando um projeto que atinge quinhentas pessoas passa a atingir 10 mil; a terceira possibilidade está relacionada à idéia da replicação, quando um projeto começa a ser considerado por outros independentemente da organização que lhe deu origem. O referido autor cita as principais características que possibilitam a disseminação de projetos: a) Primeira característica: ter baixa identidade de problema. Identidade de problema é o nível de especificidade com que se aborda a problemática em questão. A identidade se define pela particularidade dos sujeitos, da abrangência territorial, da especificidade temática e da combinação entre estes e outros fatores [...] Quanto maior for a identidade do problema, quanto mais específica e mais características próprias apresentar o lugar, maior será a dificuldade para sua replicação; b) Segunda característica: ter baixa identidade de recursos. Isso é o outro extremo da mesma coisa. Se os recursos com os quais se conta para solucionar um problema estão muito identificados com determinado contexto, provavelmente teremos dificuldade para encontrá-los em outro contexto; c) Terceira característica: ter uma estrutura metodológica modular. Quando o projeto está pensado em módulos, é mais fácil a possibilidade de replicação; d) Quarta característica: ter uma boa sistematização. Freqüentemente a sistematização gera quase que uma nova realidade, para além da prática sistematizada; e) Quinta característica: possuir materiais de qualidade e instrumentos de trabalho que sejam possíveis de ser compreendidos e aliados a uma etapa de capacitação dos novos atores envolvidos. f) Sexta característica: ter uma boa relação custo-benefício [...]. Quando se começa a disseminar em réplica, alguns custos diminuem em função dos materiais. Porém outros custos aumentam.

Assim como Dahab (1996) constrói uma análise das vantagens e desvantagens da franquia comercial, Baggio (2003) cita como vantagem da utilização da franquia social para uma organização do Terceiro Setor, o aumento da visibilidade e da credibilidade do projeto entre patrocinadores e apoiadores em potencial, e ainda afirma que a padronização das ações e

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reedição de estratégias pode ser considerada vantajosa na medida em que contribuem diretamente para a conquista de resultados. Sendo assim, de uma forma geral, franquia social pode ser percebida como um sistema de gestão de uma entidade social, uma metodologia de multiplicação, uma estratégia de gestão de um conceito, um repasse de tecnologia, com fundamento de um beneficio social, ou seja, sem buscar fins lucrativos. Sem perder de vista como frisa Longo (2005: 4) que: “O processo de transferência é bastante complexo e difícil, exigindo além da disposição do cedente, competência e determinação de quem recebe os conhecimentos. A verdadeira transferência de tecnologia ocorre quando receptor absorve o conjunto de conhecimentos que lhe permite adaptá-la as condições locais, aperfeiçoá-la e, eventualmente, criar nova tecnologia de forma autônoma.” 4. Instituto Rumo Náutico / Projeto Grael: análise de possibilidades para o desenvolvimento da franquia social 4.1. Apresentação O Projeto Grael durante os seus quase nove anos de atividades e experiência amadureceu suas práticas e modelos de gestão e se prepara para uma nova etapa: a disseminação e replicação de suas metodologias de inclusão social através dos esportes náuticos. A trajetória do Instituto é descrita a seguir baseada no relatório anual do IRN (2006).

4.2. Histórico A ação precursora do Projeto Grael deve ser atribuída ao coronel Dickson Grael, um ex-atleta, ativo incentivador dos esportes, com formação em educação física e pai de Axel, Torben e Lars Grael. Em 1988, as duas tripulações formadas por (classe ) e Lars Grael (classe ) e seus respectivos proeiros Nelson Falcão e Clínio de Freitas, retornaram dos Jogos Olímpicos de Seul cada uma com uma medalha de bronze. Para recepcioná-los, Dickson Grael reuniu alguns colaboradores, dentre eles o seu filho Axel Grael e o empresário João Macedo e lançou-se na idéia de tirar a vela dos limites dos muros dos Iates-Clube e levá-la para um espaço público. Pretendia-se que a vela, esporte que já se delineava como o esporte de maior sucesso olímpico no país, fosse mais conhecido e mesmo que fosse praticado por um contingente maior do público, deixando o seu aspecto elitista. Levou-se a idéia de promover uma grande exposição de barcos aos dirigentes do Plaza Shopping, o maior da cidade de Niterói, que prontamente concordou em abrigá-la. Um barco de cada classe olímpica na época foi cedido para o evento, que também contou com um Laser e um Optimist, por serem as classes mais praticadas. Os barcos foram completamente armados dentro da praça principal do shopping, sendo que um Star foi pendurado majestosamente no teto do referido espaço. A exposição, de grande impacto visual, atraiu muitos visitantes e alcançou grande repercussão, cumprindo a sua função de promover a vela e levá-la aos olhos do público em geral.

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Em julho de 1996, às vésperas dos Jogos Olímpicos de Atlanta, um grupo de velejadores liderados por Torben e Lars Grael, além de , levou a idéia de uma escola de vela para estudantes da rede pública para o então prefeito de Niterói, João Sampaio. Os velejadores voltaram de Atlanta em grande triunfo. Essa tinha sido a melhor campanha olímpica da equipe brasileira de vela contribuindo para a melhor participação do país na história olímpica até então. Na chegada ao Brasil, no dia 1 de agosto, e mediante grande comemoração com desfiles em carros de bombeiro pela cidade de Niterói, Torben Grael deu uma entrevista ao Jornal do Brasil, pregando a popularização do esporte como uma das soluções para os problemas sociais do Brasil. Na recepção no Rio Yacht Club, Torben foi homenageado e condecorado pelo prefeito João Sampaio com a Medalha do Mérito Araribóia. Na ocasião, Torben reiterou a solicitação de apoio ao prefeito para a criação do projeto de vela que beneficiasse estudantes da rede pública. O dirigente municipal, que já era simpático à idéia, comprometeu-se publicamente. Somente em 1998, cerca de dois anos depois de ser publicamente anunciado, foram adquiridos pela Prefeitura de Niterói os primeiros equipamentos e contratados os primeiros membros da equipe da tão esperada escola pública de vela. O sonho pioneiro de deselitizar e tornar a vela um instrumento de educação começava naquele momento a sair do papel. A primeira infraestrutura que abrigou o Projeto Grael era na areia da praia do Preventório, em Niterói/ RJ, exatamente onde hoje existe a “Estação do Catamarã”. Um toldo e dois containeres. Assim as primeiras turmas de velejadores oriundos das escolas públicas foram se formando, beneficiando centenas de jovens, que tiveram os seus primeiros contatos com os barcos a vela. As condições eram precárias para o tamanho do programa que ali foi se desenvolvendo. Mesmo assim os resultados foram surgindo. Em 1999, um ano após o início dos trabalhos, um dos fundadores do Projeto Grael, o velejador Lars Grael, mudou-se para Brasília e se tornou um dirigente do esporte nacional vindo a ocupar posteriormente o importante cargo de Secretário Nacional de Esportes. Lars Grael transforma a experiência pioneira do Projeto Grael em uma política pública de dimensão nacional. Criou o Projeto Navegar, tornando a vela acessível gratuitamente ao grande público, levando-a para grandes centros, bem como para rincões remotos do país, na Amazônia, no cerrado e outras localidades potenciais. Passou-se a praticar a vela em vários novos pontos do litoral, nos rios, nas represas e lagoas. Lugares estes onde anteriormente não havia ainda qualquer tradição náutica ou a prática da vela esportiva. Foram criados mais de 30 núcleos do Projeto Navegar (Figura 01).

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Figura 01: Mapa do Brasil com atuais e futuros projetos sociais de vela (IRN, 2005)

Posteriormente, já na condição de Secretário da Juventude, Esporte e Lazer do Governo do Estado de São Paulo, Lars Grael criou o Projeto Navega São Paulo. A vela passou a se espalhar fora dos centros mais tradicionais também naquele estado. Os dirigentes do Projeto Grael tinham a convicção que podia ir muito mais longe. A vela tinha potencial de ser utilizado como instrumento de motivação para a educação e o mercado náutico poderia ser uma opção viável de inclusão social. Mesmo atuando ainda na areia da praia do Preventório, o Projeto Grael deu início ao Programa Profissionalizante Náutico, implantando oficinas de fibra de vidro, de mecânica e marcenaria náutica. Para esse importante passo o Projeto Grael contou com uma valiosa parceria: o Instituto Camargo Corrêa. A organização com sede em São Paulo, soube identificar naquela iniciativa, o seu real potencial e firmou um contrato de patrocínio com o IRN em 2002. O Programa Profissionalizante Náutico deu uma nova dimensão ao Projeto Grael e ampliou em muito a permanência dos alunos junto ao projeto, melhorando em muito os seus resultados educacionais. As condições da areia da praia não eram mais suficientes para abrigar o Projeto Grael. Em 2003, começou-se a procurar alternativas para a instalação definitiva do programa. Depois de muita procura e negociação, o IRN adquiriu, com recursos do sócio-fundador Torben Grael, em julho de 2004, o imóvel onde funcionou no passado o Restaurante e Hotel Samanguaiá. A nova sede deu novo impulso ao Projeto Grael. Permitiu que o Programa Profissionalizante Náutico passasse a contar com uma infraestrutura adequada, oficinas com equipamentos e mais conforto para os alunos. Na sede, outro componente fundamental do Projeto pode se desenvolver: o Programa de Educação Complementar, com a sua agenda ambiental, artística, de ciência (geografia, história) e geração de renda. Também permitiu o aumento do número de alunos atendidos. No final de 2004 (da aquisição da nova sede) a meados de 2006, a organização passou pela sua mais intensa e rápida transformação. No período, o Projeto Grael: − Ampliou e diversificou a sua equipe de profissionais; − Planejou e criou novos projetos; − Equipou-se e melhorou a infraestrutura; − Aperfeiçoou a captação de recursos; − Criou e modernizou os seus procedimentos administrativos internos; − Articulou-se com instituições parceiras no Brasil e no exterior; − Implantou o núcleo de Maricá/ RJ;

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− Aumentou em muito a sua visibilidade e o se reconhecimento.

4.3. Analisando o projeto de franquia social O primeiro passo para a criação e sistematização de um modelo capaz de ser disseminado e replicado é a definição da metodologia, dos limites e dos conceitos de uma Tecnologia Social. O IRN/Projeto Grael já superou essa fase ao definir os três pilares principais da sua Tecnologia Social: Iniciação Esportiva; Educação Complementar; Iniciação Profissionalizante. É um triqueto que tem na náutica seu principal elo. Destaca-se que a Franquia Social dessa Tecnologia Social tem um grande potencial, pois: A Vela é um esporte que permite vários desdobramentos educacionais importantes. Toda atividade esportiva, além de desenvolver o físico e o intelecto, promove a auto-estima, a socialização, estimula tanto a competição como a solidariedade, e introjeta valores positivos que nortearão o futuro do jovem, dentro ou fora do ambiente esportivo. A vela, em particular, é um esporte que oferece um grande potencial educativo e de suporte na formação geral do jovem. Algumas das vantagens e oportunidades proporcionadas pela vela são apresentadas conforme as suas dimensões: a) Habilidades pessoais: − Contribui para a autoconfiança, a disciplina, o desenvolvimento da liderança e o sentido de equipe; − É um esporte de estratégia e de decisão. Essas características do esporte são potencializadas pelo programa do Projeto Grael, de forma a se constituírem em ensinamentos referenciais para a vida profissional e social do jovem. − Desenvolve no praticante o senso de oportunidade e risco, de desafio e limite, além do respeito às adversidades; b) Motivação para a educação: − Estimula o interesse pela tecnologia, pela física, pela matemática, e essa potencialidade auxilia a compreensão e o aprendizado na escola formal; c) Educação ambiental: − A vela é um esporte que promove o interesse e a sensibilidade para os temas ambientais. Ao aprender a velejar, desenvolve-se a percepção de fenômenos e atributos da natureza, adquirindo-se a sensibilidade para compreender: as correntes e marés, rajadas de vento e suas variações, formação de nuvens, entre outros fenômenos. d) Oportunidade profissional: − A vela e a náutica oferecem oportunidades de trabalho e renda em um mercado crescente. − O Projeto Grael procura oferecer aos seus participantes oportunidades em todas essas dimensões, mas uma das mais fortes ênfases do Projeto Grael é na formação profissionalizante voltada para o mercado náutico. O Brasil é um país com vocação para a atividade náutica uma vez que possui condições muito favoráveis: em função do clima pode-se navegar o ano todo em mais de 8.000 km de litoral, 30.233 km de rios navegáveis e 36 mil km2 de reservatórios. Apesar disso, o Brasil, ainda tem um mercado náutico reprimido. Comparando-se com outros países, verifica-se que enquanto o Brasil apresenta uma proporção de 1 barco pra cada 1.600 habitantes, na Suécia, país que possui clima

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menos favorável, a proporção é de 1 barco para 7 habitantes. Apesar disso, o mercado náutico no Brasil está se expandindo rapidamente e, inclusive, o país está ganhando maior participação no cenário internacional. É um mercado que cresce 8% ao ano no Brasil e, portanto, trata-se de uma oportunidade muito promissora para os jovens formados pelo Projeto Grael, por ter grande demanda de mão de obra especializada. Dados estatísticos da Associação Brasileira das Organizações Não-Governamentais (Abong, 2003) apontam para a existência de mais de 276 mil fundações e associações sem fins lucrativos no país, que somadas geram empregos para mais de 1,5 milhão de pessoas. Além disso, 12 milhões de pessoas, entre gestores, voluntários, doadores e beneficiados de entidades beneficentes levaram a atividade a crescer cerca de 157% nos últimos cinco anos, respondendo por aproximadamente 5% do PIB nacional. Apesar dos números favoráveis, o Terceiro Setor, é um dos mais carentes em profissionalização de seus colaboradores e atores (Araujo, Correa & Silva, 2003). No IRN, este também é um dos obstáculos para o crescimento da Instituição e conseqüentemente um ponto relevante a ser considerado para o desenvolvimento da Franquia Social. Duas ações colocam-se como condição cinequanon para a implantação de novos núcleos, independente se o processo ocorrerá, ou não, através de um sistema de Franquia Social: − Estabelecer fundamentos e princípios filosóficos e pedagógicos da Instituição. − Desenvolvimento e estabelecimento de um Sistema, ou Modelo de Gestão operacional e estratégico. Segundo Croce (2002), outros pontos cruciais a serem avaliados para a constituição de uma Franquia Social dessa Tecnologia Social são: − A questão do custo, pois normalmente quando se começa a disseminar em réplica os custos diminuem, porém o investimento inicial para se implantar uma unidade do IRN/Projeto Grael é alto o que é compensado pelas tecnologias modernas que o participante das oficinas tem contato, proporcionando uma formação de qualidade. − A questão dos materiais de qualidade e instrumentos de trabalho que sejam possíveis de ser compreendidos e aliados a uma etapa de capacitação dos novos atores envolvidos. Esta é uma deficiência já identificada pelo IRN/Projeto Grael e foi tomado como providência cursos SENAI de capacitação da equipe e contratação de uma consultoria para a confecção desses materiais e instrumentos. Somado a um fator positivo, a característica da estrutura metodológica em módulos que o IRN/Projeto Grael já possui. Sendo assim, algumas etapas já estão sendo conquistadas, porém estão ainda pela frente as etapas do cuidado com o registro da marca; a elaboração dos termos jurídicos para formalizar o convênio de parceria entre o franqueador e o franqueado social, e; o plano de dimensionamento da expansão. 5. Conclusões e sugestões de novas pesquisas O sucesso de uma Tecnologia Social é mensurado pela sua capacidade de ser efetiva e replicável. Os produtos, as técnicas, as metodologias que representem efetivas transformações sociais são submetidos a diferentes métodos e sistemas de difusão, replicação, ou multiplicação, um deles é a Franquia Social que foi o foco deste estudo.

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O desenvolvimento de um modelo de franquia social fomenta ações na organização para o aprimoramento da qualidade, o aumento da eficiência e da eficácia dos serviços realizados, bem como no aperfeiçoamento de padrões e procedimentos internos. Nesse sentido, a profissionalização dos recursos humanos, o desenvolvimento de estratégias de comunicação, a avaliação de resultados e o desenvolvimento de uma estrutura gerencial altamente eficiente. Tais fatores, evidenciados por Ashoka & McKinsey (2001) como inerentes ao desafio da sustentabilidade, são obstáculos para o IRN/ Projeto Grael na implantação de um modelo de franquia social, pois a organização ainda possui um padrão cultural que característico do Terceiro Setor: a informalidade que se expressa nas práticas organizacionais através da falta de sistematização de procedimentos e políticas (FALCONER, 1999; TEODÓSIO & RESENDE, 1999). Os aspectos ressaltados por Tenório (1997) estão sendo claramente vivenciados pela organização nesse processo: ao mesmo tempo em que essa informalidade confere à organização agilidade e flexibilidade para atender às demandas diárias, por outro lado ela dificulta a gestão, pois as funções e, principalmente, as responsabilidades das pessoas não são claramente definidas. O alto custo de investimento inicial é outra característica do IRN/Projeto Grael que pode limitar a implantação de novas unidades. Por outro lado, certamente, a disseminação de projetos no Terceiro Setor via franquias sociais pode ser uma alternativa para solucionar o problema de escala desses projetos em um país carente de soluções sociais como o Brasil. Por ser um modelo de gestão recente, faz-se necessário um acompanhamento mais constante para uma melhor avaliação de seus resultados. Pois o experimento de uma tecnologia social não se dá em laboratório, com total controle do pesquisador, mas sim nas comunidades, com seres humanos e culturas que se pretende beneficiar. É necessária muita sensibilidade e ética para prevenir os riscos do processo de implantação da tecnologia. Como sugestão de investigações futuras, recomenda-se o estudo de caso da primeira unidade do IRN/Projeto Grael implantada no sistema de franquia social, a fim de verificar se as experiências dos estudos de casos que serviram inspiração para modelo adotado realmente foram os mais adequados para a Instituição e para a comunidade onde foi implantada a Franquia Social. E uma pesquisa, através de questionário com participantes das unidades de franquias sociais do IRN/Projeto Grael, para fazer um estudo comparativo dos diferentes e semelhantes impactos sociais e econômicos desencadeados pelas atividades metodológicas. Referências ABONG . Dados estatísticos do Terceiro Setor no Brasil . Disponível em www.abong.org.br AMBIENTE BRASIL . Ações compensatórias do mercado: o discurso das fundações e institutos empresariais . Disponível em www.ambientebrasil.com.br . Acesso em 19/12/2006. ARAUJO, F.O.; CORRÊA,R.F.; SILVA, G.S. Sustentabilidade de organizações sociais e avaliações dos seus impactos em micro-sistemas locais: uma contribuição da Engenharia de Produção ao Terceiro Setor . Rio de Janeiro. Monografia (Graduação em Engenharia de Produção). Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2003. ASHOKA , MCKINSEY & COMPANY INC . Empreendimentos Sociais Sustentáveis – Como elaborar planos de negócios para organizações sociais . São Paulo, Petrópolis, 2001. BAGGIO , R. Franchising, caminho promissor para ONGs . Valor Econômico, 10 jun. 2003. Disponível em: http://www.cherto.com.br/artigos/baggio.asp. Acesso em 08 dez. 2006.

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