Análise De Potencialidades Para O Desenvolvimento De Uma Franquia Social: O Caso Do Instituto Rumo Náutico / Projeto Grael

Análise De Potencialidades Para O Desenvolvimento De Uma Franquia Social: O Caso Do Instituto Rumo Náutico / Projeto Grael

XXVII I ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PR ODUÇÃ O A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008 ANÁLISE DE POTENCIALIDADES PARA O DESENVOLVIMENTO DE UMA FRANQUIA SOCIAL: O CASO DO INSTITUTO RUMO NÁUTICO / PROJETO GRAEL Joanna Alves Dutra (Proj. Grael) [email protected] Fernando Oliveira de Araujo (CEFET/RJ) [email protected] Ao longo de quase dez anos, o Instituto Rumo Náutico / Projeto Grael tem amadurecido e consolidado sua atuação enquanto instituição representativa e relevante do Terceiro Setor. Em paralelo, o próprio Terceiro Setor e suas Tecnologias Sociaais também vêm se estabilizando e ganhando credibilidade, no cenário econômico e social brasileiro. O presente estudo tem como objetivo analisar um sistema de replicação de Tecnologias Sociais, ainda novo e polêmico, denominado Franquia Social, para atender à crescente demanda do Instituto Rumo Náutico / Projeto Grael de abertura de novas unidades em diferentes regiões do Brasil. O estudo analisa as instituições referências na implantação de Franquias Sociais e os modelos de franquia existente no mercado para avaliar as potencialidades e dificuldades para a criação da Franquia Social do Projeto Grael. Palavras-chaves: Instituto Rumo Náutico; Projeto Grael; Gestão no Terceiro Setor; Tecnologia Social; Franquia Social XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008 1. Considerações iniciais O Brasil, seguindo a tendência do cenário mundial, sobretudo a partir de meados da década de 90 do século passado, participa de inúmeras transformações de ordem econômica, política, social e cultural. Tais alterações, por sua vez, contribuem para o desenvolvimento de novos modelos de relacionamentos entre instituições e sociedade. O conjunto de entidades que vem ganhando espaço nesse enredo é o chamado Terceiro Setor, composto por organizações sem fins lucrativos, formado, no Brasil, por aproximadamente 500 mil entidades sociais contabilizadas pelo IBGE, em 2002. Tais organizações abrangem desde Fundações, Institutos, ONGs, até Associações e OSCIPs, que atuam nas áreas de educação, cidadania, saúde, meio ambiente, cultura, entre outras. Estas organizações vêm buscando, com o passar dos anos, desenvolver metodologias, técnicas e sistematizações de ações para desempenharem com sucesso as missões e objetivos para as quais se propõem. Proporcionando melhores soluções orientadas, entre outras, à elevação do padrão de qualidade de vida de indivíduos em situação de risco social; diminuição do impacto da ação do ser humano sobre o meio ambiente e a valorização de hábitos e costumes regionais e nacionais. Paralelamente ao crescimento da demanda social, aumenta a atuação do Segundo Setor, composto pela iniciativa privada, no sentido de apoiar, por vezes através de seus Institutos e Fundações, as iniciativas do Terceiro Setor. Essa atuação é enxergada por algumas ONGs como uma tentativa de proporcionar uma contrapartida aos prejuízos ambientais e desigualdades sociais causados possivelmente pelo investimento social privado, uma espécie de motivação compensatória. As empresas estão sendo cada vez mais responsabilizadas pelos aspectos éticos e sociais de seus negócios (AMBIENTE BRASIL, 2006). A tendência dos Institutos e Fundações privados é a de apoiarem experiências bem-sucedidas e o desenvolvimento de iniciativas inovadoras de terceiros, bem como suas próprias práticas corporativas, reduzindo assim os riscos de insucesso dos seus patrocínios. 1.1. Descrição da situação-problema Muitos projetos bem sucedidos já passaram pelo processo de sistematização de práticas orientado ao compartilhamento do benefício social a outras realidades e localidades, o que é classificado no âmbito do Terceiro Setor, como Franquia Social. O Instituto Rumo Náutico (IRN), também conhecido como Projeto Grael (caso analisado neste artigo) vem passando por este processo. O núcleo de Niterói do IRN já formou até dezembro de 2007, 4.500 alunos. O Projeto Navegar (discutido em tópicos subseqüentes) implantou 37 unidades em todo o Brasil. O IRN tem 10 convites de novas unidades, com demanda induzida para o desenvolvimento da Franquia Social e compartilhamento de tecnologias sociais. 1.2. Objetivos Com base na realidade do IRN, o presente trabalho objetiva analisar as perspectivas e potencialidades de consolidar as práticas, metodologias e técnicas relacionadas às atividades do IRN/ Projeto Grael em uma Tecnologia Social capaz de ser replicada e adaptada para 2 XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008 outras iniciativas sociais localizadas em distintas regiões do país, levando-se em conta os aspectos sociais, regionais, culturais e econômicos locais. 1.3. Relevância do estudo O estudo apresenta-se como relevante na medida em que carrega a responsabilidade de lidar com três vertentes singulares: − Um sobrenome de sucesso (Grael), reconhecidamente uma marca associada à credibilidade. − Um Projeto Social bem sucedido, mas que enfrenta as dificuldades típicas do Terceiro Setor (escassez de recursos e profissionalismo; excesso de boa-vontade deslocado do compromisso com resultado) − Uma demanda espontânea e em crescente expansão. No âmbito acadêmico, o estudo denota-se como relevante, pois à medida que o IRN/ Projeto Grael amplia seu espaço na área de Responsabilidade Social, aumentam os convites de Instituições e Prefeituras para a abertura de novos núcleos em várias regiões do Brasil, muitas vezes precipitando o processo de desenvolvimento da proposta-piloto da Tecnologia Social. Adicionalmente, a discussão sobre os modelos de Franquia Social e o próprio conceito dela são temas bastante atuais, na medida em que passou a ser um desafio colocado pelo avanço do Terceiro Setor e o crescimento da sua importância para amenizar os problemas sociais tão preocupantes do Brasil. 2. Metodologia 2.1. Classificação da pesquisa Segundo Silva & Menezes (2001), a presente pesquisa pode ser classificada como de abordagem qualitativa do problema. Quanto aos objetivos, de acordo com Gil (2002), a pesquisa é de caráter exploratório, na medida em que visa proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo explícito ou a construir hipóteses, suportado por revisão da literatura. 2.2. Técnicas de coleta de dados Para o desenvolvimento da presente pesquisa, lançou-se mão de: levantamento bibliográfico; pesquisa na internet; análise de exemplos que estimulem a compreensão; pesquisa documental, experiência autoral e entrevistas. 2.3. Limitações do método A revisão da literatura foi prejudicada pela pouca quantidade de referências bibliográficas sobre o tema da Franquia Social. Adicionalmente não foram considerados dados quantitativos analisáveis para uma possível inferência estatística relacionada à problemática evidenciada. 3. Revisão da literatura 3.1. Terceiro Setor no Brasil A sociedade civil brasileira é um espaço ainda em formação. Uma parte da população brasileira não consegue enxergar as políticas sociais como um direito seu, mas sim como uma “dádiva” das elites; não consegue perceber que tem o direito e a potencialidade de se fazer valer enquanto ator do “jogo social” (MARTINS, 1997). Mas, por que isto ocorre? 3 XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008 Assim como na maioria dos países da América Latina, existe um forte traço paternalista na cultura brasileira, herança da colonização portuguesa, que faz com que o espaço público seja ocupado apenas pelas elites - diretamente ou por intermédio de entidades como o Estado e a Igreja - deixando o resto da sociedade inerte (SODRÉ, 1965). Essa sociedade civil enfraquecida trouxe reflexos no próprio papel desempenhado pelo Terceiro Setor na história brasileira. Na maioria das vezes, a face do Terceiro Setor que mais se mostrava atuante era justamente aquela ligada às estruturas assistencialistas e de ajuda mútua, ou seja, a “caridade”. Além disto, a ação dos segmentos do Terceiro Setor esteve quase sempre condicionada às conveniências do Estado (LANDIM, 1993). Somente a partir dos anos 70 e 80, simultaneamente às crises brasileiras (econômica, política, social e moral), alguns setores da sociedade civil passaram a rejeitar explicitamente as múltiplas formas de assistencialismo e começaram a agir mais intensamente através dos movimentos sociais, associações civis – que cresceram bastante neste período – e ONGs, que contestavam o regime militar em vigor (FAUSTO, 2004). Os movimentos sociais começaram a se perceber atores de um confronto global de classes e passaram a atuar de forma mais incisiva, reivindicando direitos sociais junto ao aparelho de Estado. Além disso, a partir das greves de metalúrgicos no ABC em 1978, o movimento sindical renasceu e passou a ter um caráter extremamente combativo (FERNANDES, 1994). Apesar dessa movimentação, os segmentos mais dinâmicos do Terceiro Setor mantiveram-se à distância dos governos, já que qualquer forma de cooperação estava rejeitada de antemão. Procuraram-se alternativas. Já os anos 90 trouxeram um grande paradoxo: simultaneamente ao processo de democratização das instituições, o Brasil atravessou uma crise econômica

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