Análise De Noções Da Violência No Mosh a Partir Do Heavy Metal
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS ESCOLA DE MÚSICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA Lúcia Vulcano de Andrada “WE WHO ARE NOT AS OTHERS”: análise de noções da violência no mosh a partir do heavy metal Belo Horizonte, MG 2013 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS ESCOLA DE MÚSICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA Lúcia Vulcano de Andrada “WE WHO ARE NOT AS OTHERS”: análise de noções da violência no mosh a partir do heavy metal Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Música da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Música. Linha de pesquisa: Música e Cultura Orientadora: Rosângela Pereira de Tugny Belo Horizonte, MG 2013 A553w Andrada, Lúcia Vulcano de We who are not as others: análise de noções da violência no mosh a partir do heavy metal / Lúcia Vulcano de Andrada. –2013. 115 fls., enc. ; il. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Música. Orientadora: Profa. Dra. Rosângela Pereira de Tugny 1. Música – Aspectos sociais. 2. Mosh – Aspectos sociais. 3. Música e violência. 4. Heavy Metal. I. Tugny, Rosângela Pereira de. II. Universidade Federal de Minas Gerais. Escola de Música. III. Título. CDD: 780.7 RESUMO Este trabalho tem como objetivo promover uma discussão acerca de noções da violência no mosh - um tipo de dança que acontece por meio de socos, chutes e empurrões. A partir de dados etnográficos, depoimentos e experiências de pessoas que praticam o mosh, observou-se que a violência vivida nesse tipo de dança acontece em condições distintas, onde há um conjunto de regras e estruturas compartilhadas entre os participantes de um mosh. Pensando nessa manifestação a partir do texto A Arqueologia da Violência de Pierre Clastres, a presente pesquisa pretende desconstruir a noção de violência, enquanto algo que se constitui como um desvio de comportamento, para ressignificá-la como um valor compartilhado em uma cultura onde se enfatiza a coragem e a agressividade. Palavras-chave: Mosh. Violência. Heavy Metal. Poder. ABSTRACT This research aims to promote a discussion about notions of violence in the mosh - a type of dance that happens through punches, kicks and shoves. From ethnographic data, testimonies and experiences of people who practice mosh, it was observed that the violence experienced in this type of dance happens in different conditions, where there is a set of rules and structures shared among the participants of a mosh. Considering this event from the text "A Arqueologia da Violência" of Pierre Clastres, this research aims to deconstruct the notion of violence as something that is built as a deviant behavior, offering new significance to it as a shared value in a culture where it emphasizes courage and aggressiveness. Keywords: Mosh, violence, heavy metal, power LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 Cavalera Conspiracy ................................................................................ 19 FIGURA 2 Gula e Bruto dentro da casa de show Music Hall .................................... 22 FIGURA 3 Twisted Sister .......................................................................................... 34 FIGURA 4 Logo da banda Circle Jerks .................................................................... 42 FIGURA 5 Capa do disco Butchered at birth de 1991 .............................................. 66 FIGURA 6 Marylin Manson....................................................................................... 68 FIGURA 7 Linha rítmica ........................................................................................... 89 FIGURA 8 A banda Black Sabbath em sua formação clássica e em foto atual .... 102 FIGURA 9 Foto da banda Ghost ........................................................................... 103 LISTA DE SIGLAS BOPE - Batalhão Operações Policiais Especiais CPP - Comunicação pessoa de Pedro CPA - Comunicação pessoa de André FIFA - Federation Internationale de Football Association PMRC - Parents Music Resource Center PM - Polícia Militar UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais UNICAMP - Universidade de Campinas SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9 1.1 Look into my eyes, you'll see who I am - Apresentações .............................. 15 1.1.1 Pedro Esteves ou Bruto ou Zim .................................................................... 15 1.1.2 War for territory - Etnografia do show do Cavalera Conspiracy ................ 16 1.1.3 André Vinhal ou Gula ..................................................................................... 26 1.1.4 We're not gonna take it - Sobre o heavy metal ............................................ 27 2 SOBRE O MOSH ................................................................................................... 37 2.1 Roots bloody roots - Definições e origens do mosh ..................................... 37 2.2 Piece by piece - Organização e estrutura........................................................ 40 3 MOSH E VIOLÊNCIA ............................................................................................. 50 3.1 War pigs - Sobre a violência ............................................................................. 50 3.2 Peace sells... but who's buying? - Música e violência ................................... 59 3.3 Visions from the dark side - Violência e música pesada ............................... 62 3.4 Riot of violence - Mosh e violência .................................................................. 70 3.5 Purification through violence - Mosh, violência e energia ............................ 78 3.6 Everything dies - O mosh e seus riscos .......................................................... 82 3.7 Considerações finais sobre a violência no mosh .......................................... 83 4 MOSH E ESTÉTICA ............................................................................................. 85 4.1 Strength to Endure - Mosh e poder ................................................................. 85 4.2 Strength beyond strength - Poder e violência ................................................ 89 4.2.1 Sepultura X Dead Fish ................................................................................... 93 4.2.1.1 Sepultura ...................................................................................................... 93 4.2.1.2 Dead Fish ..................................................................................................... 94 4.2.1.3 Análise comparativa do mosh do Dead Fish e do Sepultura .................. 95 4.3 Fight to be free - Violência estética ................................................................. 98 4.4 Depth of satan's eyes - Poder e noções sobre o diabo ............................... 101 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 107 6 DISCOGRAFIA .................................................................................................... 110 6.1 Discografia - Pedro ......................................................................................... 110 6.2 Discografia - André ......................................................................................... 111 6.3 Discografia - Complementar ........................................................................... 112 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 114 9 1 INTRODUÇÃO Era ao toque rápido do bumbo da bateria que eu me movimentava. Não matinha os olhos abertos todo tempo e uma mistura de luzes e pessoas se apresentavam para mim quando os tinha abertos. Eu sentia uma leveza contraditória ao peso da música em meu corpo; movia-me com facilidade pelos diversos outros corpos de outras pessoas que também se embalavam com cotoveladas, chutes e empurrões. Vários cheiros passavam pelo meu nariz e nenhum deles era agradável; o meu tênis estava coberto no mais fino chorume: uma mistura de suor, cerveja e sujeira. Quando eu achava que já havia enfrentado tudo, sobrevivido a um mar de mãos, pernas e cabeças, um punho fechado veio na minha direção. Não houve tempo para que eu desviasse. Atingiu-me em cheio a mais emblemática das agressões - pois justamente acerta aquilo que nos identifica como um indivíduo - o rosto. Não vi o dono do punho e jamais saberei quem foi, mas isso pouco importou e pouco importa. A minha bochecha doeu como se a minha carne estivesse encolhido, retraído para dentro do meu crânio. A dor se espalhou pelo lado direito de meu rosto com a sensação de mil agulhas furando meu maxilar. Pareceu-me que vários minutos haviam se passado durante a agonia de levar um soco no rosto, mas foram apenas alguns rápidos segundos de dor. Aquilo me encheu de coragem e prontamente voltei para o meio das pessoas, vibrando em um modo diferente e me movendo com uma energia que nunca achei que teria. E, ao fundo, o som alto, pesado e sujo que ecoava pelo local, vindo diretamente da banda. As primeiras questões sobre a violência no mosh me acertaram juntamente com aquele “soco na cara”, há quase doze anos atrás. De fato, o soco doeu muito, mas fui sentir os reais efeitos algumas horas depois. Não conseguia abrir a minha boca direito, devido a um pequeno inchaço local. E assim também me foram apresentadas as seguintes questões: como a violência se apresenta no mosh? Qual o seu significado? Como as pessoas que mosham veem a violência? Pois somente depois de vários