DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMENTAÇÃO DA MARINHA

REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

(Editada desde 1851)

v. 135 n. 07/09 jul./set. 2015

FUNDADOR COLABORADOR BENEMÉRITO

Sabino Elói Pessoa Luiz Edmundo Brígido Bittencourt Tenente da Marinha – Conselheiro do Império Vice-Almirante

R. Marít. Bras. Rio de Janeiro v. 135 n. 07/09 p. 1-304 jul. / set. 2015 A Revista Marítima Brasileira, a partir do 2o trimestre de 2009, passou a adotar o Acordo Ortográfico de 1990, com base no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras – Decretos nos 6.583, 6.584 e 6.585, de 29 de setembro de 2008.

Revista Marítima Brasileira / Serviço de Documentação Geral da Marinha. –– v. 1, n. 1, 1851 — Rio de Janeiro: Ministério da Marinha, 1851 — v.: il. — Trimestral.

Editada pela Biblioteca da Marinha até 1943. Irregular: 1851-80. –– ISSN 0034-9860.

1. MARINHA — Periódico (Brasil). I. Brasil. Serviço de Documentação Geral da Marinha.

CDD — 359.00981 –– 359.005 COMANDO DA MARINHA Almirante de Esquadra Eduardo Bacellar Leal Ferreira

SECRETARIA-GERAL DA MARINHA Almirante de Esquadra Airton Teixeira Pinho Filho

DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMENTAÇÃO DA MARINHA Vice-Almirante (Refo-EN) Armando de Senna Bittencourt

REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA Corpo Editorial Capitão de Mar e Guerra (Refo) Milton Sergio Silva Corrêa (Diretor) Capitão de Mar e Guerra (RM1) Carlos Marcello Ramos e Silva Jornalista Deolinda Oliveira Monteiro Jornalista Manuel Carlos Corgo Ferreira

Assessoria Técnica Capitão de Mar e Guerra (RM1-T) Nelson Luiz Avidos Silva Terceiro-Sargento-PD Isabelle de Medeiros Vidal

Diagramação Desenhista Industrial Felipe dos Santos Motta Artífice de Artes Gráficas Celso França Antunes

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Departamento de Publicações e Divulgação Primeiro-Tenente (RM2-T) Luiz Cesário da Silveira do Nascimento

Apoio Administrativo e Expedição Suboficial-CN Maurício Oliveira de Rezende Suboficial-MT João Humberto de Oliveira

Impressão / Tiragem Gráfica Editora Stamppa Ltda / 8.000 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA Rua Dom Manuel no 15 — Praça XV de Novembro — Centro — 20010-090 — Rio de Janeiro — RJ  (21) 2104-5493 / -5506 - R. 215, 2524-9460

A REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA (RMB) é uma publicação oficial daMARINHA DO BRASIL desde 1851, sendo editada trimestralmente pela DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMENTAÇÃO DA MARINHA. As opiniões emitidas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores, não refletindo o pensamento oficial daMARINHA . As matérias publicadas podem ser reproduzidas, com a citação da fonte. A Revista honra o compromisso assumido no “Programa” pelo seu fundador, Sabino Eloi Pessoa: “3o – Receberá artigos que versem sobre Marinha... 5o – ... procurará difundir tudo quanto possa contribuir para o melhoramento e progresso da nossa Marinha de Guerra e Mercante; programar ideias tendentes a dar impulso à administração da Marinha e a suas delegações, segundo o melhor ponto de vista a que seja possível atingir...” Ao longo de sua singradura, a RMB busca aperfeiçoar o “Programa” ao se atribuir a “Missão” de divulgar teses, ideias e conceitos que contribuam também para o aprimoramento da consciência marítima dos brasileiros. Como tal, está presente em universidades, bibliotecas públicas e privadas do País, entre outras instituições. Empenha-se em trazer teoria e técnica aplicadas para solver questões que retardam o desenvolvimento social e material da Nação. Divulga ensinamentos a respeito da ética e do trabalho, esclarecendo o que nos cabe realizar na Marinha e no País, respeitando conceitos e fundamentos filosóficos. Mostra como a conquista da honra ocorre na formação militar, analisando a lógica do mercado vis-à-vis com nossa ambiência naval. Atende plenamente à “índole da revista e, confiando no futuro, protestamos indiferença sobre política e prometemos não nos envolver em seus tão sedutores quanto perigosos enleios”.

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9 NOSSA CAPA 9 MARINHA SOCORRE REFUGIADOS NO MEDITERRÂNEO Mensagem do Comandante da Marinha alusiva a ação realizada pela Corveta Barroso. Operação de resgate de mais de 200 migrantes, no Mar Mediterrâneo, em cum- primento à Lei do Mar e aos ditames humanitários. Destaque ao profissionalismo mesmo em períodos de enormes carências e inadequações de meios

  

15 DA ORIGEM DA VIDA AO HOMEM – Parte III Mucio Piragibe Ribeiro de Bakker – Contra-Almirante (Refo) Evolução cultural do homem – ambiente, prematuridade, cultura, sexo. Bases do processo cultural. Origem do amor. Revolução criativa

29 RETROSPECTIVA HISTÓRICA DA TRAGÉDIA DO CRUZADOR BAHIA Odyr Marques Buarque de Gusmão – Contra-Almirante (Refo) Auxílio dos navios para aviões, no corredor Dakar-Natal, que repatriavam tropas dos EUA. Na Estação 13, guarnecida pelo Bauru, rendido pelo Bahia, ocorreu o trágico afundamento. Breve retrospectiva

34 PRIMÓRDIOS DO BOMBARDEIO ESTRATÉGICO NA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL, 1914-1918 Eduardo Italo Pesce – Professor A “Grande Guerra”. Morte de 15 milhões de pessoas. Avanços de tecnologia. Guerra aérea no seu início. Incursões sobre a Grã-Bretanha. Armas químicas

45 ESTUDO COMPARATIVO DE NAVIOS-AERÓDROMOS René Vogt – Engenheiro Civil Breve histórico. Defesa nacional – necessidade. Concepção de custo – exequibi- lidade e comparativo de tamanhos diferentes de NAe – Alternativa

79 A PROJEÇÃO ANFÍBIA NO APOIO À POLÍTICA EXTERNA: Construindo parcerias no Atlântico Sul Cláudio Lopes de Araujo Leite – Capitão de Mar e Guerra (FN) O emprego político do Poder Naval. A MB e seu entorno estratégico. Conjugado anfíbio e sua projeção. Poder Naval

87 O RETORNO AO MITO DA CAVERNA NUCLEAR Leonam dos Santos Guimarães – Capitão de Mar e Guerra (RM1-EN) Parábola do anel de Giges – atenção dos cientistas políticos e psicólogos. Pensar o impensável. Diplomacia nuclear. Tensões políticas. Guerra nuclear – insensatez

96 VULNERABILIDADES DA NAVEGAÇÃO POR SATÉLITES Carlos Norberto Stumpf Bento – Capitão de Mar e Guerra (RM1) Sistemas globais de navegação por satélite. Vulnerabilidades do sinal. Resiliência necessária. Perspectivas para a navegação aquaviária 106 A BATALHA NAVAL NO CARNAVAL: Você sabia? Hercules Guimarães Honorato – Capitão de Mar e Guerra (RM1-IM) A Escola de Samba Império Serrano em 1947. Em 1950, homenagem a Batalha de Riachuelo – resumo histórico

113 A AGÊNCIA DE TRANSPORTES AQUAVIÁRIOS NA MOBILIZAÇÃO NACIONAL Jonas Soares dos Santos Filho – Especialista Aquaviário A Agência Nacional de Transportes Aquaviários. Breve histórico. Sistema de mobilização

121 AS PRINCIPAIS VÍTIMAS DA PIRATARIA MARÍTIMA Henrique Peyroteo Portela Guedes – Capitão de Fragata da Marinha de Portugal Resumo histórico. Sequestros na última década. Forma hedionda do trato aos sequestrados. Vítimas da pirataria

127 FATOR HUMANO NA OPERAÇÃO DE AERONAVES REMOTAMENTE PILOTADAS Alessandro Pires Black Pereira – Capitão de Fragata Desenvolvimento da atividade. Seleção e treinamento. Operação e manutenção – adestramento

133 INCURSÃO ANFÍBIA COM EMPREGO DE UNIDADES DE INFANTARIA Leonel Mariano da Silva Júnior – Capitão de Fragata (FN) Aspectos doutrinários da incursão. Incursões a partir da Segunda Guerra Mundial. Operações Archery. Presente e futuro

151 ARTEFATOS CONTÁBEIS UTILIZADOS PELO INSTITUTO DE PESQUISAS DA MARINHA Paulo André de Barros Corrêa – Capitão de Fragata (T) Giselle da Silva Carvalho – Professora Metodologia. Referencial teórico – contabilidade e sistema de controle gerencial, conceitos. Gerência no Instituto de Pesquisas

167 NOVAS PERSPECTIVAS NA SELEÇÃO DE PILOTOS MILITARES Simone Avellar Montes Ferreira – Capitão-Tenente Objeto de estudo da psicologia – aptidão, raciocínio, coordenação. Recursos humanos disponíveis. Diminuir perdas na instrução, testes a implementar para melhorar instrução aérea

170 GESTÃO DE RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE Romero de Albuquerque Maranhão – Capitão-Tenente (T) Fabiana dos Santos Pereira Campos – Professora – MSC Cláudia Echevenguá Teixeira – Professora-Doutora Aspectos legais da gestão de resíduos. A gestão em organizações militares. Método – avaliação – discussão de resultados. Modelo e análise comparativa

185 APLICAÇÃO DE ANÁLISE DE VALOR AGREGADO PARA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE PROJETOS EM UM ESTALEIRO MILITAR João Carlos Castro Dias – Primeiro-Tenente (EN) Jorge de Oliveira Wanderley – Técnico de Planejamento Maitê Garcia Brandão Torres – Técnica de Planejamento Breve histórico da análise do valor agregado. Conceitos básicos. Casos reais de aplicação no AMRJ 193 A CONTRIBUIÇÃO DO PROJETO DO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO PARA CIÊNCIA E TECNOLOGIA Mickaello Lins Magalhães Silva – Aspirante Integração entre o poder público e a iniciativa privada – offset e seus frutos. No Brasil e na Marinha. Submarino nuclear visto muito além da defesa

201 HENRY TANDEY – O homem que não atirou em Hitler Hugo Maia Nobrega Alves – Aspirante Atuação distinta e excepcional. Condecoração – Cruz da Vitória. Tandey poupou o soldado

205 UM GESTO DE HUMANIDADE Vinícius Souza Figueredo – Aspirante Navegar preservando a natureza. Diminuição de poluentes – o petróleo. Poluição do mar – fauna e flora afetadas

209 CARTA DOS LEITORES

210 NECROLÓGIO

220 A MARINHA DE OUTRORA

224 O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL

230 DOAÇÕES À DPHDM

233 ACONTECEU HÁ CEM ANOS Seleção de matérias publicadas na RMB há um século. O que acontecia em nossa Marinha, no País e em outras partes do mundo

240 REVISTA DE REVISTAS Sinopses de matérias selecionadas em mais de meia centena de publicações rece- bidas do Brasil e do exterior

251 NOTICIÁRIO MARÍTIMO Coletânea de notícias mais significativas da Marinha do Brasil e de outras Marinhas, incluída a Mercante, e assuntos de interesse da comunidade marítima

NOSSA CAPA

MENSAGEM DO COMANDANTE DA MARINHA ALUSIVA AO RESGATE DE REFUGIADOS PELA CORVETA BARROSO EDUARDO BACELLAR LEAL FERREIRA Almirante de Esquadra

Meus comandados! ou ainda na assistência que foi prestada Com enorme orgulho assistimos, no fim àqueles que de tudo precisavam: cuidados de semana passada, à competente ação do médicos, agasalhos, alimentação, água e Comandante e da tripulação da Corveta conforto. Barroso no resgate e transporte a salvo para Ao analisar o ocorrido, constatamos que terra de mais de 200 refugiados – homens, as ações, que inicialmente pareciam conter mulheres e crianças – que, nas águas do uma grande dose de voluntarismo e de Mediterrâneo, fugiam dos horrores de improvisação para enfrentar uma circuns- conflitos fratricidas. tância inopinada, caracterizaram, na reali- Em nenhum momento houve hesitação dade, padrões de elevado profissionalismo por parte de nosso pessoal, aí também de uma tripulação que, ao bem se preparar incluída a Cadeia de Comando, quanto para a missão de paz que vai desempenhar às medidas tomadas, seja na decisão de, no Líbano, acabou mostrando-se capaz de cumprindo a Lei do Mar e os ditames hu- superar uma complexa situação de apoio manitários, fazer a rápida aproximação da humanitário. cena de ação e recolher os refugiados, seja O êxito alcançado foi fruto desse intenso na faina de embarque propriamente dita adestramento e, acima de tudo, do elevado MARINHA SOCORRE REFUGIADOS NO MEDITERRÂNEO

espírito marinheiro que deve permear nos- Foi esse patrimônio de valor e profis- sas tripulações. sionalismo que por certo inspirou aqueles Na Ordem do Dia alusiva ao Sesqui- que, na noite do dia 4 de setembro de 2015, centenário da Batalha Naval do Riachuelo, escreveram uma bela página da história afirmei que a vitória naquela ocasião não naval brasileira e nos fizeram renovar a fé foi apenas fruto do destemor de nossos nos destinos de nossa querida Marinha. Por heróis, mas principalmente consequência algumas horas estivemos todos nós mari- do esforço de preparação de uma Marinha nheiros, todos nós brasileiros, embarcados que, desde seus primórdios, destacou-se por na Corveta Barroso torcendo pelo sucesso cultivar profundo profissionalismo mesmo da faina de resgate. em períodos de enormes carências ou ina- Bravo Zulu, Corveta Barroso e a to- dequações de meios, e que assim continua dos os que concorreram para o final feliz sendo nos dias de hoje. desse episódio!

RESGATE DE 220 MIGRANTES NO MAR MEDITERRÂNEO

A Corveta Barroso, da Marinha do estavam 94 mulheres, 37 crianças e quatro Brasil, resgatou, no dia 4 de setembro, 220 bebês de colo, muitos deles extremamente migrantes no Mar Mediterrâneo. No grupo debilitados.

Refugiados no convés de voo da Barroso

10 RMB3oT/2015 MARINHA SOCORRE REFUGIADOS NO MEDITERRÂNEO

Cerca de 13h30 no horário de Brasília automático de comunicações do serviço (18h30 na Itália), o navio encontrava-se internacional de Busca e Salvamento. navegando a 170 milhas da terra mais pró- O MRCC informou sobre a existência xima, Sicília, Itália, com destino a Beirute de uma embarcação com risco de afundar (Líbano), quando recebeu um comunicado com cerca de 400 migrantes, com destino à do Centro de Busca e Salvamento Maríti- Europa, e solicitou ao navio brasileiro que mo (MRCC) italiano, por meio do sistema se aproximasse da posição, a cerca de 150

milhas da terra mais próxima, Peloponeso, Barroso debilitadas, com casos de desi- Grécia. A corveta chegou ao local após uma dratação leve, foram medicadas pela nossa hora de navegação. equipe médica de bordo. Inclusive tinha uma Dois navios-patrulha italianos de peque- senhora com uma fratura no braço e outra no porte se juntaram à cena de ação e, tendo grávida. Todos estavam com muita sede. em vista a impossibilidade de receberem os Eles se sentiram muito aliviados, alguns se migrantes a bordo, a Guarda Costeira italia- jogaram no convés da Corveta Barroso em na solicitou o apoio da Marinha do Brasil agradecimento. Eles já estavam há sete dias para o resgate e posterior transporte para o na embarcação, sem perspectiva de chegar porto italiano de Catânia. O Comandante da talvez com vida à costa da Itália”. Marinha do Brasil prontamente autorizou a “Eu me sinto apenas um cidadão, um prestação do apoio, a fim de salvaguardar servidor da Marinha do Brasil. Sinto mui- a vida daquelas pessoas. to orgulho do que eu faço na Marinha do Segundo o Capitão de Fragata Alexandre Brasil, perante o Brasil. Nada de heroísmo, Amendoeira Nunes, comandante do navio, é apenas a nossa função”, afirmou o coman- “as pessoas chegaram a bordo da Corveta dante Amendoeira.

RMB3oT/2015 11 de atuar como Navio Capitânia do Comandante da Força-Tarefa, car- go esse exercido por um almirante brasileiro desde 2011, e realizar tarefas de interdição marítima e capacitação da Marinha libanesa. No dia 4 de setembro, a Cor- veta encontrava-se navegando a 170 milhas da terra mais próxima, Sicília, Itália, com destino a Bei- rute (Líbano), quando recebeu um comunicado do Centro de Busca e Salvamento Marítimo (MRCC) italiano, por meio do sistema auto- Alguns migrantes estavam muito debilitados e receberam atendimento mático de comunicações do serviço internacional de Busca e Salvamen- CORVETA BARROSO INTEGRA A to, informando sobre uma embarcação com FORÇA-TAREFA MARÍTIMA DAS risco de afundar com cerca de 400 migrantes, NAÇÕES UNIDAS NO LÍBANO com destino à Europa. O comandante prontamente autorizou a A Corveta Barroso saiu em 8 de agosto prestação do apoio. A Barroso chegou ao do Rio de Janeiro para substituir a Fragata local informado, a cerca de 150 milhas da União na Força-Tarefa Marítima das Na- terra mais próxima, Peloponeso, Grécia, ções Unidas (FTM-Unifil) no Líbano, a fim após uma hora de navegação.

12 RMB3oT/2015 MARINHA SOCORRE REFUGIADOS NO MEDITERRÂNEO

CORVETA BARROSO E FRAGATA Defesa, realizou a imposição da Ordem do UNIÃO SÃO CONDECORADAS Mérito da Defesa. Também esteve presente o Embaixador do Brasil para o Líbano, Jor- A Corveta Barroso e a Fragata União ge Geraldo Kadri; o Subchefe de Operações foram condecoradas no dia 14 de setembro, de Paz do Ministério da Defesa, Brigadeiro em Beirute – Líbano, com a Ordem do do Ar Tarcísio de Aquino Brito Veloso; o Mérito da Defesa (OMD) e com a Insígnia Comandante da Força-Tarefa Marítima da da Ordem do Rio Branco (ORB). Unifil, Contra-Almirante Flavio Macedo As comendas conferidas à Corveta Brasil; além de Embaixadores de países Barroso materializam o reconhecimento amigos sediados no Líbano e representa- do Ministério da Defesa e do Ministério ções da Marinha Libanesa e da Unifil. das Relações Exteriores pelo exemplar desempenho por ocasião do salvamento de 220 imigran- tes no Mar Mediterrâneo no último dia 4 de setembro, quando navegava na costa da Sicília – Itália. Já a Fragata União foi agra- ciada com a Ordem do Mérito da Defesa em reconhecimento pela sua terceira participação na Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil), quando se tornou o navio da MB que mais participou da- quela missão. A cerimônia foi presidida pelo Ministro de Estado das Relações Exteriores, Chan- celer Mauro Vieira, que rea- lizou a imposição da Insígnia da Ordem do Rio Branco. O Comandante da Marinha, Almirante de Esquadra Edu- ardo Bacellar Leal Ferreira, representando o Ministro da Comandante da Marinha condecora a CV Barroso

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Salvamento; Faina; Corveta; Fragata;

N.R.: A Direção da RMB registra a intensa cooperação prestada pelo Capitão de Mar e Guerra Paulo César Bitten- court Ferreira, comandante do 2o Esquadrão de Escolta, para a preparação da matéria de capa. O CMG Paulo Ferreira não mediu esforços para buscar as melhores fotografias e informações para produzir artigo de relevante qualidade, digno de estar presente na nossa revista.

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DA ORIGEM DA VIDA AO HOMEM

Parte III*

MUCIO PIRAGIBE RIBEIRO DE BAKKER** Contra-Almirante (Refo)

SUMÁRIO

A evolução cultural do homem As condições ambientais A prematuridade A evolução cultural – A neotenia A evolução da sexualidade As bases do processo cultural A origem do amor como sentimento romântico – O ser humano A Revolução Criativa – O Homem Comportamentalmente Moderno Glossário Errata história cultural, que é extraordinária. Ne- A EVOLUÇÃO CULTURAL DO nhuma outra espécie no planeta conseguiu HOMEM um triunfo comparável. Desde que o ho- mem descobriu a agricultura, a metalurgia, As condições ambientais a domesticação dos animais e a construção de cidades, todas as descobertas culturais A história física do Homo Sapiens dos hominídeos (australopitecíneos) – o Sapiens pode até ser considerada, de certa manejo da pedra, o domínio do fogo, a forma, irrelevante no processo de seu apa- caça – foram eclipsadas ou diminuídas. recimento sobre a Terra, em face de sua E essa revolução é recentíssima. Durante

* Parte I e Parte II foram publicadas nas RMB dos 1o e 2o trimestres/2015, respectivamente. ** Conferencista, escritor e colaborador frequente da RMB. Foi diretor da Escola de Guerra Naval, secretário da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar e diretor de Hidrografia e Navegação da Marinha. DA ORIGEM DA VIDA AO HOMEM – Parte III

milhares de anos os homens foram apenas habituaram e ao qual se adaptaram perfei- caçadores. Depois se tornaram agricultores tamente, a ponto de não terem necessidade e metalurgistas, há não mais de 10 mil anos, de nenhum esforço inventivo para garantir e os resultados dessa revolução cultural só a sobrevivência da espécie. se generalizaram há uns 5 mil anos. Com o desaparecimento da floresta, Mas como se processou essa transforma- os primatas são lançados numa savana ção cultural? Por quais revoluções passou infestada, aliás, contrariamente à floresta, a homonização? Uma das hipóteses mais de animais predadores. Imediatamente, admitidas seria que o fator decisivo da evo- se o primata deseja subsistir, é obrigado lução, que teria conduzido ao surgimento a transformar seus hábitos e até seu cor- do homem como elemento cultural, estaria po. Em particular, os perigos da savana intimamente relacionado às transformações aconselham-no a manter-se de pé2, de ocorridas no seu nicho ecológico, inclusive maneira a enxergar mais longe um eventual as climáticas, as quais teriam fornecido inimigo. Quanto às mãos, reservadas na não só as condições ambientais adequadas, floresta a subir nas árvores, a pendurar-se mas, sobretudo, os estímulos e as motiva- nos galhos e a colher ou carregar os frutos ções necessários para conduzir ou orientar de sua dieta de predominância frugívora, o processo evolutivo. Certamente, tais têm o seu uso tradicional limitado nas sa- transformações foram ocasionadas pelas vanas, mas ficam, de certo modo, liberadas movimentações e rupturas que teria sofrido para ampliá-lo com outras funções mais a crosta terrestre há uns 12 milhões de anos, condizentes com seu novo habitat. Assim, as quais teriam provocado uma profunda a postura em pé e a liberação das mãos para falha geológica, separando o leste africano novas tarefas (com o polegar em posição da parte central e ocidental dos continentes, diferente dos demais dedos, permitindo o ao tempo em que a Terra se resfriava.1 manejo de ferramentas) constituem as mais Essas movimentações e rupturas da crosta importantes mutações, que irão modificar e, principalmente, esse resfriamento tiveram completamente este ser vivo que seria o consequências capitais sobre a vegetação nosso ancestral. terrestre. O imenso e quase completo manto Mas, com a savanização do leste africa- florestal original, que existia por essa época, no, as áreas das florestas ricas em frutos, começa a desaparecer. Em vastos territórios brotos e sementes, de alto valor energético, a floresta se retira, cedendo lugar a pastagens foram reduzidas consideravelmente, res- e savanas, as extensões descobertas. Os tando apenas grandes extensões de forma- primatas são então expulsos do ambiente ções vegetais abertas, pobres em recursos no qual viveram de maneira protegida por vegetais facilmente digeríveis. A redução dezenas de milhões de anos, meio a que se dessas áreas deve ter exercido uma pressão

1 Vale da Grande Fenda (Great Rift Valley), que se estende ao longo da África desde o Mar Vermelho até o Zim- bábue, passando pela Etiópia, pelo Quênia e pela Tanzânia. Nessa ocasião, no Mioceno, surgiram as grandes cadeias de montanhas: o Himalaia, as Rochosas e os Andes, por exemplo. 2 A opção por uma postura bípede, em pé, seria o caminho mais natural e mais fácil, em virtude da posição capen- gante dos grandes símios, praticamente intermediária entre a postura bípede e a quadrúpede, além do uso das mãos que se observa em todos os primatas, mesmo nos mais rudimentares. Aliás, é possível que a posição bípede, como postura, já tivesse sido adotada no interior de formações florestais densas, como ocorre ainda hoje com chimpanzés na natureza, quando assumem essa postura sobre galhos mais grossos, para alcançar frutos que de outra maneira não seriam acessíveis. A bipedia, portanto, já era uma adaptação postural antes de se tornar locomotora (Walter A. Neves e Luis B. Piló – O Povo de Luzia, 2008).

16 RMB3oT/2015 DA ORIGEM DA VIDA AO HOMEM – Parte III

seletiva muito forte sobre os primatas que anos, por razões ainda não esclarecidas.3 O habitavam essas regiões, e muitos deles outro grupo, que passou a consumir prote- devem ter se extinguido por não terem ína animal em grande escala, desenvolveu realizado a necessária transição adaptativa. outro comportamento muito importante: Nesse novo contexto, duas linhagens de deu início ao lascamento da pedra, para hominídeos devem ter surgido: uma adapta- produzir lascas afiadas com o propósito de da à coleta e ao consumo de grandes quanti- utilizá-las na remoção de pedaços de car- dades de alimentos vegetais, de baixíssima ne, pele, tendões e tutano das carniças dos qualidade nutricional; e outra, que adotou animais mortos e deixadas pelos grandes uma dieta essencialmente carnívora, mas felinos africanos. suplementada por recursos vegetais. Ambas Outras modificações de comportamen- as linhagens conviveram em várias partes to ou de fisiologia se teriam seguido. O da África, explorando nichos ecológicos primata, porque é ameaçado por outros muito distintos, mas nas mesmas paisagens. animais e porque também agora tem que A adaptação do primeiro grupo a essa caçar, aprimora a sua capacidade de visão dieta de brotos, talos, sementes e tubérculos já em três dimensões e em cores. A obri- muito duros só foi possível pela fixação, gação de caça e de proteção do grupo para nessa linhagem, de dentes molares e pré- este animal frágil e pequeno, mais fraco molares muito grandes. Porém os austra- do que muitos outros habitantes da savana, lopitecos que adotaram tal dieta, como os teria provocado nova pressão evolutiva A. Aethiopicus, A. Boisei e A. Robustus, que resultou não só em um novo grau de por exemplo (chamados de magadônticos sociabilidade, mas também na ampliação e classificados como Paranthropus), tive- da tecnologia do uso da pedra4, que foi ram vida evolutiva relativamente curta, aprimorada pelo seu lascamento e poli- extinguindo-se por volta de 1,4 milhão de mento para atingir um formato desejado,

3 Alguns autores consideram que os A. Paranthropus se extinguiram porque não tiveram condições para competir com a espécie Homo, da qual foram contemporâneos. Até admitem que eles tenham sido caçados pelo H. Erectus por causa da carne, à semelhança do que ocorre ainda hoje na África com gorilas e chimpanzés, que são abatidos por caçadores ilegais africanos, para venda ou consumo da carne desses símios, levando-os à ameaça de extinção. 4 O uso da pedra e seu desenvolvimento marcam o início da indústria lítica e de uma economia de predação, que caracteriza o período mais antigo dos tempos pré-históricos, o Paleolítico, subdivido geralmente em três estágios cronológicos (Inferior ou Antigo, Médio e Superior) de limites mal definidos, em razão de períodos de transição muito longos de numerosas variações de fáceis – conjunto de traços tipológicos, tecnológicos ou estilísticos da cultura ou variante cultural. O Paleolítico Inferior corresponde às primeiras manifestações da atividade humana, a partir de cerca de 2 milhões de anos atrás, com o uso da pedra: indústrias olduvaiense, acheulense, musteriense (Levallois), com numerosas variações locais. O Paleolítico Médio é essencialmente representado pelo musteriense, que se desenvolveu entre 100 mil e 50 mil anos atrás. O Paleolítico Supe- rior iniciou-se por volta de 35 mil anos a.C. e vai até 10 mil anos, quando começa a Nova Idade da Pedra, o Neolítico, em que os instrumentos de pedra passaram a ser feitos pelo método de polimento mediante o atrito, ao invés da fratura e separação de lascas, como nos períodos anteriores. As ferramentas de pedra mais antigas, feitas a partir de choques entre duas pedras de forma a arrancar lascas afiadas de uma delas, permaneceram praticamente inalteradas por mais de 700 mil anos, tendo sido usadas por ancestrais do Homo Sapiens, como o Homo Habilis, e provavelmente também o Homo Rudolfensis, o Australopithecus Garhi e o Paranthropus Boisei até 1,8 milhão de anos, quando começaram a surgir machadinhas e outros instrumentos de pedra mais sofisticados. É provável que o desenvolvimento de uma linguagem, ainda que rudimentar, tenha influenciado o sucesso na transmissão das técnicas de produção de ferramentas. Assim, nossos ancestrais estariam criando algum tipo de protolinguagem usando sons e gestos, para indicar ideias simples e transmitir aprendizado e habilidades.

RMB3oT/2015 17 DA ORIGEM DA VIDA AO HOMEM – Parte III

o qual servisse à produção de ferramentas A prematuridade específicas, como machados e pontas de lanças, que permitissem seu uso tanto na A duração da gestação entre os grandes proteção grupal como no abate da caça, macacos é de 39 semanas. A da mulher é inclusive no de animais de grande porte. de 40 semanas. Ora, os estudos biológicos Possivelmente, o ancestral do homem determinam que a gestação da mulher é teria formado bandos e organizado expe- muito curta. Na verdade, para ser propor- dições para defender-se ou, ao contrário, cional à duração da gestação dos grandes para capturar a caça. Essas necessidades macacos, a gestação da mulher deveria ser grupais poderiam estar, talvez, na origem de 21 meses e não de nove meses somente. dos primeiros rudimentos de linguagem Por que então esta prematuração do bebê e no surgimento da liderança e do co- humano, este nascimento antes do termo? É mando dos grupos. que o volume cefálico Provavelmente, por do bebê humano é tal volta de 2,5 milhões Para ser proporcional que o canal obstetrício de anos atrás, deve materno já tem dificul- ter surgido o gênero à duração da gestação dade em deixar passar Homo, evoluído dos dos grandes macacos, a o bebê de nove meses.5 australopitecos car- gestação da mulher deveria Ao contrário, o crânio nívoros, tardios, uma do bebê macaco é bem vez que continuaram ser de 21 meses e não de menor e, o que é mais a utilizar o mesmo nove meses somente notável, o volume do procedimento de seus cérebro do bebê ma- ancestrais no que se caco já é igual a 60% refere tanto à subsistência quanto à tec- do cérebro do macaco adulto, enquanto o nologia do uso da pedra. cérebro do bebê humano não é senão 25% No entanto, é a posição em pé que teria do cérebro do homem normal. Aliás, basta consequências incalculáveis para o ances- comparar um bebê macaco e um bebê hu- tral do homem e explicaria, na verdade, mano para se notar os efeitos desta prema- uma das características essenciais da es- turação. O filhote do homem tem um crânio pécie humana em relação a todas as outras ainda para ser acabado e cujas paredes só espécies e talvez o motivo extraordinário do se encontrarão mais tarde. O bebê macaco gênio particular do homem: seu nascimento já está com seu crânio pronto dentro de sua prematuro. mãe e logo passa a brincar, enquanto que o

5 A capacidade craniana dos primatas (Proconsul, Driopiteco, Australopiteco) foi crescendo continuamente durante o processo evolutivo para atingir o gênero Homo. Um cérebro maior, no entanto, requer certas alterações corporais, pois depende de grande suprimento de sangue. Essas alterações, que possibilitaram o funcionamento de um cérebro maior, foram compensadas com reduções metabólicas em outras partes do corpo, como é o caso do estômago, que foi reduzido, modificando a dieta humana, inclusive com o cozimento que se passou a fazer dos alimentos. Também a perda dos espinhos penianos (pequenas estruturas flexíveis de queratina, ainda presentes em macacos e outros mamíferos), ocorrida durante o processo evolutivo do homem, provavelmente deve estar relacionada à necessidade de maior suprimento de sangue para o cérebro, devido ao seu crescimento. Originalmente, tais espinhos teriam a função de remover o esperma de rivais que tivessem copulado anteriormente com aquela fêmea, garantindo, assim, a propagação de seus genes. A perda dos espinhos diminuiu a sensibilidade tátil e pode estar associada à maior duração da cópula na espécie, em comparação com os chimpanzés.

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bebê humano progride lentamente e estaria em primeiro lugar. Assim, de acordo com condenado à morte sem o ambiente familiar.6 a maioria dos pesquisadores da evolução O macaco tem os seus dentes mais cedo e humana, poderíamos afirmar o seguinte: “O uma maturidade sexual igualmente mais homem é inteligente porque é um prematu- avançada. Em suma, em todos os planos, o ro”. E poderíamos completar: “O homem só bebê humano é um ser informe, retardado, é homem porque é um prematuro”. inacabado, ainda em evolução. E é dessa Então, a revolução que nos levou à desvantagem inicial, dessa vulnerabilidade, homonização foi, indubitavelmente, a que ele extrairá sua força e sua vocação úni- postura em pé, isto é, o andar bípede. Aliás, ca entre todas as espécies. Na verdade, no a diminuição do comprimento dos braços plano biológico, o encéfalo do bebê humano que se verificou nos fósseis da espécie continuará a desenvolver-se e até mesmo a Homo parece indicar que a espécie devia completar a maior parte de sua evolução ter abandonado em definitivo qualquer fora desse ambiente suave e protegido que utilização tipicamente símia das árvores, é o corpo de sua mãe. seja para alimento ou refúgio, o que veio Se bem que a formação do cérebro representar, certamente, a adaptividade da humano, na medida em que se processa espécie ao seu novo ambiente, ocorrido fora da mãe, esteja com a savanização do sujeita a desafios e leste africano. Por outro experiências de toda A maioria dos lado, a exclusividade sorte, principalmente pesquisadores da evolução da vida no solo, com do ponto de vista da uma ênfase maior no sociabilidade e da cul- humana afirma: o homem andar bípede, poderia tura, as consequências é inteligente porque é um explicar, no decorrer são extraordinárias. prematuro do tempo evolutivo, o Claro, o macaquinho estreitamento dos qua- necessita de uma “as- dris, que, nas fêmeas, sistência técnica” por parte da mãe, mas deve ter acarretado também um estreita- breve e ligeira, já que está quase completo mento do canal vaginal, a diminuição do quando vem ao mundo. Ao contrário, o tempo de desenvolvimento intrauterino, o bebê humano é fatalmente envolvido numa nascimento precoce e, por conseguinte, a rede de cuidados, de conselhos e de apren- expansão da neotenia e uma maior depen- dizagens que o lança imediatamente numa dência do recém-nascido dos seus pais.7 esfera que poderíamos chamar de cultura Além disso, sabe-se que o risco de um e não apenas de natureza. Essa evolução é, nascimento antes do termo é bem maior ao mesmo tempo, psicológica, intelectual, entre as mulheres que permanecem muito cultural e afetiva, igualmente, pois o bebê tempo em pé. Assim, o ficar em pé dos do homem, fraco como é, sente mesmo, ancestrais do homem também teve esse desde o nascimento, que só existe por causa efeito: provocar a prematuração do bebê da rede de inter-relações que estabelece humano – lançá-lo, portanto, no caminho com seus semelhantes, por meio de sua mãe real da evolução intelectual e social.

6 Segundo Stephen Jay Gould – paleontólogo norte-americano (1942-2002) –, os bebês humanos nascem como embriões e como embriões permanecem durante os primeiros nove meses de vida. Se a gestação da mulher du- rasse mais de um ano e meio, os bebês humanos teriam as mesmas características precoces de outros primatas. 7 Leakey (1955), McHenry e Coffing (2000), Klein e Edgar (2005).

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A evolução cultural – A neotenia da, têm um baixo índice de crescimento, à exceção do cérebro, que alcança o tamanho Como parte de um exercício de imagi- do adulto, quando o corpo alcança apenas nação, podemos supor uma faina diária de 40% do seu crescimento final. Esse período um grupo de australopitecíneos em contra- seria um período de aprendizagem social, de posição a um grupo de Homo Habilis ou de aquisição de cultura. Essa cultura, sinônima Homo Erectus. As diferenças entre eles são de capacidade de adaptação humana, nos poucas, mas desempenham um papel muito diferencia dos demais símios. importante na evolução. Ambos os grupos Por outro lado, do conceito de neotenia são muito parecidos, constando de 20 a 30 resulta a constatação de que os humanos não indivíduos, entre machos adultos, fêmeas e se especializaram fisicamente à medida que filhos. O que diferencia os últimos é o seu atingiram a maturação. Retêm, pela maior cérebro de maior tamanho. Porém o mais parte, as faces redondas e as características importante é notar que não especializadas de sua os machos nascidos no face juvenil. Em outras grupo Homo nele per- Inacabados e desprotegidos palavras, os humanos não manecem, sendo seus pela natureza, coube sofreram especializações integrantes, portanto, para viver em um deter- unidos pelo sangue, aos seres humanos minado nicho específico, mais cooperativos e completarem o seu projeto permanecendo “gene- com objetivos comuns, por escolha própria, usando ralistas”, mesmo como ao contrário do grupo adultos. A neotenia8 está, dos Australopitecíne- a razão e a reflexão que só portanto, relacionada os, onde os machos eles possuem com a grande adaptabili- abandonam o grupo dade dos seres humanos assim que atingem a a inúmeras condições idade sexual de reprodução. Infere-se daí de vida, ao contrário dos outros primatas e que, no grupo símio, temos mais tensões mamíferos que se adaptaram, particularmente, entre os machos, mais confrontações e me- apenas a um determinado ambiente. Diferen- nos interação amistosa. Fundamental é notar temente dos animais que se especializaram, também que o grupo Homo necessita dessa o bebê humano é o ser mais desprotegido da cooperação social, pois seus filhos são mais natureza, e é por isso que o homem tem o seu dependentes do que os dos símios, tendo destino em aberto. A sua falta de especializa- uma infância mais prolongada e já com ras- ção resultou na sua independência da natureza gos de uma linguagem mais elaborada que a e abriu-lhe caminho para a possibilidade de daqueles. Aliás, essa é a principal diferença autodeterminação, tornando-o essencialmente entre os autralopitecíneos e o gênero Homo: uma criatura social. Inacabados e desprotegi- os humanos, com a infância muito prolonga- dos pela natureza, com a perda, inclusive, de

8 Neotenia – Etmologicamente, “manter a juventude”. Também chamada de teoria da fetalização ou do retardamento, foi criada pelo anatomista holandês Louis Bolk, na década de 1920. É dele a frase: “O homem é um feto de primata que amadureceu sexualmente” (1926). Foi reformulada pelo paleontologista americano Stephen Jay Gould. Segundo Gould, o homem é essencialmente um animal neotêmico, de desenvolvimento muito vaga- roso, o que é fundamental para a sua aprendizagem como ser cultural, adaptável a uma grande diversidade de nichos ecológicos: do Equador aos polos, de regiões tórridas até a Sibéria e o Ártico, do nível do mar a altitudes de mais de 3.500 m. A neotenia representa a manutenção, pelos humanos adultos, dos traços juvenis de seus ancestrais primatas. Em um de seus textos, Gould escreveu: “A criança é o verdadeiro pai do homem”.

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algumas capacidades instintivas, coube aos A evolução da sexualidade seres humanos completarem o seu projeto por escolha própria, usando a razão e a reflexão Ainda durante o processo evolutivo, o pa- que só eles possuem. drão da atividade sexual da espécie Homo foi Na espécie humana, sabe-se que o parto é se alterando gradativamente até se diferenciar muito arriscado. O bebê tem a cabeça excep- por completo dos padrões de outras espécies cionalmente grande em relação ao tamanho de mamíferas, inclusive primatas. A maioria dos seu corpo e passa com muita dificuldade pelo mamíferos é sexualmente inativa na maior par- canal materno de nascimento. Deve ter sido te do tempo. Sua atividade sexual restringe-se relativamente comum a ocorrência de óbitos ao período em que a fêmea está no estro, isto durante o parto, tanto da gestante quanto do é, quando está ovulando e pode ser fertilizada. bebê. Indícios fósseis sugerem que foi a anato- As fêmeas dos mamíferos “sabem” quando mia, e não apenas a natureza social do homem, isto ocorre e procuram os machos para o ato que levou as mães humanas – em contraste sexual. Muitas fêmeas, inclusive primatas, vão com parentes primatas mais próximos e com além disso e dão sinais externos (seus genitais quase todos os outros mamíferos – a pedirem incham e ficam vermelhos ou rosados) de que ajuda no parto. Na verdade, talvez o hábito de estão em disponibilidade para o acasalamento. procurar assistência no parto já existisse quan- Os ciclos sexuais humanos são muito diferen- do o mais antigo membro do gênero Homo tes: a receptividade sexual da fêmea humana apareceu, e possivelmente data de 5 milhões é mais ou menos constante e não se limita à de anos atrás, quando ancestrais humanos curta fase da ovulação. passaram a andar eretos regularmente. A ovulação oculta (a mulher não sabe Outro aspecto importante na evolução dos quando está no estro), a receptividade cons- australopitecíneos para o gênero Homo refe- tante para o ato sexual e o breve período re-se à redução do dimorfismo sexual, o que, fértil de cada ciclo menstrual garantem que provavelmente, teria acarretado alterações a maior parte do relacionamento sexual fisiológicas e comportamentais nas fêmeas entre os humanos ocorra no tempo errado ao longo de sua linhagem evolutiva, fazendo para a concepção. Além disso, a duração do com que se tornassem mais receptivas sexual- ciclo menstrual varia de uma mulher para mente aos machos, independentemente do pe- outra, ou de um ciclo para outro da mesma ríodo fértil. Tais alterações vieram intensificar mulher, mais do que entre outras fêmeas o comportamento cooperativo entre macho mamíferas. Então, seja qual for a principal e fêmea, contribuindo para um aumento da função biológica do relacionamento sexual frequência de encontros e reencontros entre entre os humanos, ela parece não ser a con- ambos. Podemos até considerar que essa co- cepção, que é só um subproduto ocasional. operação tenha aumentado também a atenção Por outro lado, além da ovulação oculta, e o cuidado dispensado à prole, o que seria, existe o fato da cópula oculta. Todos os talvez, o embrião do núcleo familiar.9 animais que vivem em bandos, sejam pro-

9 As diferenças físicas entre o homem e a mulher, afora as características sexuais específicas, são relativas ao tamanho: os homens são mais altos e mais musculosos e têm os quadris mais estreitos. Isso tudo significa que, geralmente, os homens são mais fortes e velozes que as mulheres. Essa distinção resulta, provavelmente, do processo evolutivo que levou os machos a empreenderem a caça, inclusive a de animais de grande porte, enquanto as fêmeas colhiam plantas e raízes alimentícias e se dedicavam à maternidade e à infância prolongada da espécie. Essa divisão do trabalho nas sociedades pré-humanas talvez esteja na raiz da dominância social do homem sobre a mulher que, exercida durante tanto tempo, chegou até os dias atuais, nos quais os homens, quase sempre, têm o controle dos instrumentos de prestígio e de poder sobre as mulheres.

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míscuos ou monogâmicos, fazem sexo em uma nova função do sexo para o gênero público. A chimpanzé que está ovulando Homo (diferente dos padrões da maioria dos pode acasalar consecutivamente com vários mamíferos), servindo como fator de apoio machos, na presença de todos os outros. Por social e não apenas como instrumento de que nos tornamos tão diferentes? fertilização; assim como a menopausa que, Existem várias teorias apresentadas pelos no processo evolutivo, surgiu para permitir biólogos e antropólogos estudiosos da evo- às mães caçadoras maior dedicação e cuida- lução da espécie para explicar a origem da do com a infância prolongada da espécie.10 ovulação e da copulação ocultas nos huma- nos: segundo uma dessas teorias, a ovulação As bases do processo cultural e a cópula oculta surgiram para melhorar a cooperação e reduzir a agressividade entre A formação de grupos humanos para as os caçadores. Como seria possível ao grupo atividades de caça e de proteção e defesa contra de homens pré-históricos, nossos ancestrais, predadores, ou mesmo contra grupos rivais, organizar um trabalho em equipe necessário, deve ter se constituído em fator de excepcional por exemplo, para matar um mamute depois importância para a coesão, cooperação e so- de passar a maior parte do tempo brigando ciabilidade do grupo, com evidentes benefícios pelos favores públicos de uma mulher no para a linhagem evolutiva que levou ao homem estro? O estro e o sexo visível fragmentariam moderno. Da mesma forma, a construção e a a sociedade humana, ao afetar os laços de utilização de abrigos para o grupo, o conforto convivência entre fêmeas, entre machos e en- gerado pelo domínio do fogo – aquecimento, tre machos e fêmeas. Outra teoria argumenta possibilidade de sono ininterrupto, preparação que a ovulação e a cópula ocultas surgiram da carne e seu compartilhamento não só devem para cimentar os laços entre um homem e uma ter contribuído para o aperfeiçoamento da mulher específicos e assentar os alicerces da linguagem, em vigílias ao redor do fogo, mas família humana. A mulher permaneceria se- também para a intensificação da convivência xualmente atraente e receptiva para satisfazer e sociabilidade grupal, com a necessidade de sexualmente o homem sempre, uni-lo a ela assistência ao parto e de proteção e cuidados e recompensá-lo por ajudá-la a criar o filho, com a infância prolongada da espécie. Essa do qual poderia ser o pai. convivência deve ter definido um procedimen- Por conseguinte, a ovulação oculta e a to grupal, um modo de viver e de atuar de seus receptividade constante vieram representar componentes, que está na raiz do processo cul- 10 A natureza deve ter programado a morte para ocorrer no final da fertilidade das espécies. O fato das mulheres viverem décadas após a menopausa e os homens até uma idade em que a maioria deles já não pode procriar é uma exceção, que pode ser explicada pela intensa fase de cuidados com a prole, que costuma se estender por quase duas décadas. Com a idade, a maioria dos mamíferos, incluindo os machos humanos, os chim- panzés e os gorilas de ambos os sexos, passa por um declínio gradativo até a interrupção da fertilidade, não pelo corte abrupto desta que ocorre na mulher. A menopausa feminina, provavelmente, é o resultado de dois aspectos singularmente humanos: o perigo excepcional que o parto representa para a mãe e o perigo que a morte da mãe representa para a sua prole. Como os bebês humanos se desenvolvem muito lentamente e não conseguem se alimentar sozinhos após o desmame (diferentes dos jovens antropóides), a morte de uma mãe caçadora-coletora provavelmente poderia ter sido mais fatal para seus filhos até o final da infância do que para qualquer outro primata. Uma mãe caçadora-coletora, com diversos filhos, colocaria em risco a vida deles em cada gravidez posterior. Quando se tem três filhos vivos, por exemplo, e ainda dependentes da mãe, não seria lógico arriscar a perda de três em função de um quarto. Por isso, a natureza levou a seleção natural a interromper a fertilidade da fêmea humana, de forma a proteger os seus filhos ainda dependentes. Mas como parto não implica risco de morte para os pais, os homens não desenvolveram a menopausa (Jared Diamond. O terceiro chimpanzé. Editora Record, 2010).

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tural: linguagem, concepções, crenças, normas, poderiam não passar de uma maneira diversa hábitos, costumes, artes, símbolos, objetos etc. de articular sons, algumas pancadas a mais Depois que alguns instrumentos básicos ou a menos em uma pedra, alguns jeitos da cultura – fala, habilidades manuais, posse simples, mas especiais, de observar a caça. do fogo, técnicas de caça – se estabeleceram, Essas pequenas coisas, que podem parecer aquele que fosse incapaz de dominá-los não espantosamente elementares para o Homo sobreviveria (e milhares devem ter sido Sapiens, com suas culturas tão diversifica- eliminados por esta razão). Mas a evolução das, devem ter sido a base das grandes di- da cultura não deve ter sido um processo versificações posteriores da cultura humana. contínuo. Ao contrário, ela deve ter se desen- Mas o aperfeiçoamento da linguagem volvido através de etapas importantes. Muito e a intensificação do seu uso, em algum provavelmente, os primeiros elementos de período de nossa pré-história mais recente cultura a se desenvolveram foram a fala e – provavelmente no Paleolítico Superior, as habilidades manuais. Depois, deve ter por volta de 35 mil anos atrás, quando se sido introduzido o fogo. Cada um desses iniciou a Nova Idade da Pedra –, certa- elementos teve uma evolução própria e cada mente possibilitaram o extravasamento e um deles se estabeleceu atuando como fator a transmissão da emotividade humana, de seletivo. Depois que esses processos míni- seus sentimentos, em que o amor sobres- mos se consolidaram, eles se diversificaram. saiu como a emoção fundamental, a qual Apareceram várias falas, várias tradições incentivou uma nova dimensão cultural e na confecção de instrumentos de pedra e o estreitamento dos laços de sociabilidade, maneiras diversas de se obter o fogo. Da permitindo o prazer da convivência grupal e mesma forma, devem ter se desenvolvido a aceitação do outro de forma mais intensa várias técnicas de caça e vários tipos de e frequente e, talvez, mais íntima. O amor relações familiares, estabelecendo-se essa foi, portanto, o sentimento de maior signifi- característica tão tipicamente humana que cação para a espontaneidade dos encontros é o “tabu do incesto”.11 Tudo isso deve ter e reencontros e da convivência ininterrupta ocorrido em tempos diferentes e com ritmos entre os humanos. O aperfeiçoamento da diferentes. Mas há motivos para se acreditar linguagem, que provavelmente se originou que, mesmo muito antes do aparecimento do e se desenvolveu12 na intimidade de peque- Homo Sapiens, já havia tradições culturais nos grupos que caçavam juntos e conviviam entre os australopitecos. Essas “tradições” nos mesmos abrigos, compartilhando 11 Alguns pesquisadores de campo observaram que a longa associação dos chimpanzés durante o crescimento, como parte de uma mesma família, talvez possa inibir, por força da familiaridade, qualquer interesse sexual incestuoso por seus companheiros. Com relação à mãe, como ela conserva um tipo de dominância sobre seu filho, isso talvez possa explicar a inibição dele pelo acasalamento. Portanto, é possível que possam ocorrer determinados mecanismos inatos que operem no sentido de provocar o esmorecimento das inclinações sexuais incestuosas. Mecanismos semelhantes devem ter sido transmitidos aos australopitecos e evoluído para a espécie Homo. 12 É bem provável que os caçadores primitivos, para obterem sucesso na atividade de caça, muitas vezes arriscada, já empregassem algum sistema linguístico, mesmo rudimentar, com gestos, disposições corporais, grunhidos ou mes- mo algum tipo mais elaborado de som (que poderia se transformar em palavras no devir, ou seja, com a repetição do processo). A linguagem é um fator social que une as pessoas. Pesquisando sua evolução, é possível conhecer como se processaram a migração dos povos ancestrais, da mesma forma como a reconstrução do vocabulário de línguas perdidas poderá fornecer indicações sobre o que era visto e pensado e como uma cultura coexistia – ou colidia – com outra. Já que qualquer som poderia ser associado a um significado particular, a existência de palavras com som e significado semelhantes em diferentes línguas sugere um ancestral comum, a partir do fato que todos os povos descendem de um pequeno grupo que viveu na África há 200 mil anos. Os “linguistas paleoantropologistas” estão reconstruindo os caminhos percorridos por 5 mil línguas, a partir de línguas-mães ancestrais.

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alimentos, na participação dos machos na O aparecimento do amor teria deter- criação de crianças, nas conversas ao redor minado, há mais de 1 milhão de anos, um do fogo, criou várias redes de conversações aumento significativo das relações monogâ- que constituíram as bases para diferentes micas, contribuindo de forma decisiva para culturas13 e, certamente, provocou a ex- o nascimento da família humana. plosão da inventividade humana. Na con- A linguagem, a sociabilidade, a cultura, versação, a necessidade do outro nos deu a autoconsciência e o amor transformaram autoconsciência e identidade, tornando-nos o Homo Sapiens no ser humano. seres conscientes capazes de representar o mundo exterior e nós mesmos.14 A Revolução Criativa – O Homem Comportamentalmente Moderno A origem do amor como sentimento romântico – O ser humano A Revolução Criativa do Paleolítico Superior começou por volta de 45 mil anos O amor foi a emoção fundamental para atrás e se caracterizou, antes de tudo, por a humanização do homem, inclusive sob o uma explosão ilimitada da inventividade aspecto romântico, o qual deve ter surgido humana em todos os setores da vida. A quando ele se tornou au- indústria lítica, que, até toconsciente. As emo- então, era limitada a um ções são disposições A linguagem, a conjunto de não mais corporais que nos per- sociabilidade, a cultura, a de 20 peças especiali- mitem certas condutas zadas, passou a contar sociais. Não se espera, autoconsciência e o amor com mais de 70, não por exemplo, uma con- transformaram o Homo mais talhadas a partir de duta gentil no âmbito lascas, mas sim de lâmi- emocional do ódio. Sapiens no ser humano nas, em estilos grupais O amor romântico, e até pessoais. segundo alguns especialistas, não representa Finalmente, ossos, dentes, chifres e apenas um fenômeno cultural. Estudos mais conchas passaram a ser utilizados como detalhados do assunto sugerem que o amor matéria-prima para a fabricação de ob- remonta há pelo menos 1 milhão de anos e que, jetos utilitários, esculturas e adornos, por trás da manifestação do sentimento, existe marcando as primeiras manifestações uma poderosa química cerebral organizada estéticas e artísticas, que mais tarde pas- pelo processo evolutivo com o único objetivo sariam também a se expressar por meio de perpetuar genes humanos. Os circuitos ce- de pinturas (arte rupestre). rebrais ligados ao amor, segundo os cientistas, Os mortos começaram a ser sepultados não podem ter sido criados em pouco tempo, em covas formais, com oferendas mortuá- mas ao longo da evolução humana e antes do rias e seus objetos de uso pessoal, demons- surgimento do Homem Moderno. trando uma complexa ritualização em torno

13 “Uma cultura é uma rede de conversações que define um modo de viver, um modo de estar orientado no existir, um modo de crescer no atuar e no emocionar. Cresce-se numa cultura vivendo nela como um tipo particular de ser humano na rede de conversações que a define.” (Maturana, 1997) 14 Segundo o psicanalista francês Jacques Marie Lacan (1901-1981), a consciência do homem é a linguagem. Sem negar a importância do evolucionismo de Darwin, Lacan afirma que a especificidade do ser humano são a palavra e a linguagem. É o que o diferencia dos outros animais.

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do fenômeno da morte. É a origem do que do que se supunha, pois era capaz de pro- se poderia chamar de Homem Comporta- mover artes razoavelmente sofisticadas, mentalmente Moderno. pelo menos 40 a 50 mil anos antes de É provável, no entanto, que a data esti- qualquer outro exemplo conhecido. mada para o início da Revolução Criativa A descoberta permitiu conhecer um pou- do Homo Sapiens seja revista, em face da co mais sobre uma época – Idade das Pedras descoberta, na África do Sul, de um ver- Média – na qual o comportamento huma- dadeiro ateliê na Gruta de Blombos, não no ainda é pouco conhecido. Se o Homo longe da Cidade do Cabo (entrada pelo Sapiens já sabia misturar o ocre e ainda Oceano Índico), que é agora o mais anti- armazená-lo para uso a longo prazo, trata- go testemunho artístico da humanidade. se de um importante passo na evolução do Pesquisadores sul-africanos e franceses pensamento daquela espécie e um marco na encontraram lá um conjunto de ferramen- cognição humana porque demonstra que, tas e recipientes que datam de 100 mil há 100 mil anos, o Homo Sapiens tinha anos atrás, portanto 70 mil anos antes do capacidade de armazenar substâncias que Homo Sapiens reproduzir suas caçadas e usava em suas práticas sociais e artísticas. ritos nas cavernas francesas. Consistiam É possível que, com essa descoberta, a data em martelos e tiras de couro usados para a do início da Revolução Criativa do homem fabricação de ocre (um tijolo de argila) em seja até revista, e que a origem do Homem pó. Havia também outros elementos mo- Comportamentalmente Moderno tenha sido ídos, como ossos de mamíferos, pedaços bem antes do que se imaginava. de pedra e carvão. O pó era armazenado A Revolução Criativa do homem, tam- nas conchas de moluscos do mar. Da sua bém chamada de “O Grande Salto para a mistura com líquidos, feita à mão, nas- Frente”, num período de 40 mil anos atrás, ciam pigmentos de cores com vermelho e correspondeu a uma mudança radical no amarelo. O processo, descrito na revista comportamento humano resultante do Science, revela que a abstração e o uso de aparecimento de gente anatomicamente símbolos são mais antigos do que se pen- moderna na Europa, que trouxe a arte e o sava. Naquele período, na África do Sul, o progresso tecnológico, que mal existiam, o Homo Sapiens era muito mais inteligente que marca a nossa ascensão à humanidade.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Antropologia; História Geral;

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GLOSSÁRIO

ADN – Abreviação de Ácido Desoxirribo Nucléico (DNA, na sigla em inglês). Substância contida no núcleo das células com as informações genéticas que definem as características de cada pessoa e a maneira como as células funcionam em cada indivíduo. Australopiteco – Antropóide fóssil, provável ancestral do homem. Braquiação – ­ Modo de locomoção de certos macacos arborícolas de braços compridos, que seguram um galho balançando o corpo com um dos braços para alcançar outro galho com o outro braço. Catarrinos – Superfamília de macacos da África e da Ásia que possuem narinas muito próximas. A subordem compreende os antropomorfos (chipanzés, gorilas, orangotangos, gibões) e os cinomorfos (colobos, babuínos, mandril, rhesus). Colóide – Sistema no qual partículas se encontram suspensas num fluido. Coacervato – Fase da coacervação (fenômeno de separação, em duas fases, de certas soluções ma- cromoleculares) que contém as macromoléculas com os graus de polimerização mais elevados. Dimorfismo – Conjunto de diferenças entre macho e fêmea de uma mesma espécie. Filogenia – Evolução das espécies segundo a doutrina do transformismo. Estudo científico dessa evolução. Fáceis – Conjunto de traços tipológicos, tecnológicos e estilísticos da cultura material que permite identificar um período ou unidade cultural ou então, mais comumente, uma subdivisão ou variante de unidade cultural maior. Fotossíntese – Nas plantas verdes, em presença da luz, reação bioquímica que, a partir das moléculas minerais simples (CO , H O etc.), produz moléculas orgânicas glucídicas de pouca massa molar. 2 2 Algumas dessas moléculas são polimerizadas em glucídios de massa molar elevada (amido); outras se transformam em lipídios e outras, enfim, unem-se a moléculas azotadas. O fenômeno é caracterizado pela absorção de carbono e liberação de oxigênio. Gene – Segmento do ADN responsável pela síntese de uma proteína, enzimática ou não, e, por consequência, de um caráter hereditário. Unidade genética que condiciona a transmissão e a manifestação de caracteres hereditários. Hominídeos – Família de mamíferos primatas antropomorfos, da superfamília dos hominóides, for- mada pelo homem atual e pelas espécies fósseis mais próximas, consideradas como ancestrais da espécie humana. Hominóides – Superfamília de primatas superiores desprovidos de caudas e de bolsas faciais. Instinto – Conjunto de comportamentos animais ou humanos característicos da espécie, transmitidos por via genética e que se exprime na ausência de aprendizagem. Molécula – Partícula formada de átomos que representa, para um corpo ou substância pura constituída por ela, a menor porção de matéria que pode existir no estado livre. Sinergia – Associação de vários órgãos no cumprimento de determinada função fisiológica. Ação simultânea. Associação de vários fatores que, contribuindo para uma ação ordenada, aumentam sua eficiência.

26 RMB3oT/2015 DA ORIGEM DA VIDA AO HOMEM – Parte III ERRATA

Correção do artigo publicado na RMB do 2o trimestre de 2015 – “Da Origem da Vida ao Homem – Parte II”.

Na página 68, linha 2, onde se lê: ... dos Atropitecos, os quais evoluíram para ... Leia-se: ... dos Afropitecos, os quais evoluíram para ...

Na página 69, figura 12, na legenda, onde se lê:Dustralo pithecus Leia-se: Australopithecus Nota 2, linha 8, onde se lê: ... espécie uma longa agilidade para subir em árvores ... Leia-se: ... espécie uma grande agilidade para subir em árvores ... Linha 10, onde se lê: ... (Leakey, 1995; Melfery e Cotting, 2000; ... Leia-se: ... (Leakey, 1995; MacHenry e Coffing, 2000; ...

Na página 70, linha 19, onde se lê: ... do gênero Homo. Sediba significa forte“ ”, ... Leia-se: ... do gênero Homo. Sediba significa fonte“ ”, ... Linha 29, onde se lê: ... o A. Alfarensis. Devemos ressaltar ... Leia-se: ... o A. Afarensis. Devemos ressaltar ...

Na página 71, linha 12, coluna 2, onde se lê: ... na espécie Homo ... Leia-se: ... da espécie Homo ...

Na página 72, linha 4, onde se lê: ... se tratava de uma notável espécie ... Leia-se: ... se tratava de uma nova espécie, ... Linha 10, coluna 2, onde se lê: ... perto de Heildelberg ... Leia-se: ... perto de Heidelberg ... Linha 11, coluna 2, onde se lê: Os Heildelbergensis ... Leia-se: Os Heidelbergensis ...

Na página 73, linha 17, coluna 2, onde se lê: ... Sapien Neanderthalensis) viveu ... Leia-se: ... Sapiens Neanderthalensis) viveu ... Linha 28, coluna 2, onde se lê: ... a Montbron, Departamento de Chavente ... Leia-se: ... a Montbron, Departamento de Charente ...

Na página 75, linha 36, onde se lê: ... conhecia o jogo e era capaz de falar de ... Leia-se: ... conhecia o fogo e era capaz de falar de ...

Na página 78, linha 17, coluna 2, onde se lê: ... o que habitou a Ásia entre 400 a 500 mil ... Leia-se: ... o que habitou a Ásia entre 400 a 50 mil ...

Na página 82, linha 2, coluna 2, onde se lê: ... Há cerca de 50 mil anos ... Leia-se: ... Há cerca de 30 mil anos ...

RMB3oT/2015 27 A SEGUNDA MAIS ANTIGA DO MUNDO

A Revista Marítima Brasileira completou 164 anos em 1o de março de 2015. Fundada em 1851 pelo Primeiro Tenente Sabino Elói Pessoa, foi a segunda revista mais antiga do mundo a tratar de assuntos marítimos e navais. Conforme os registros obtidos, a Rússia foi o primeiro país a lançar uma revista marítima, a Morskoii Sbornik, (1848). Depois vieram: Brasil – Revista Marítima Brasileira (1851), França – Revue Maritime (1866), Itália – Rivista Marittima (1868), Portugal – Anais do Clube Militar Naval (1870), Estados Unidos – U.S Naval Institute Proceedings (1873) República Argentina – Boletín Del Centro Naval (1882).

RMB1oT/2014 1 RETROSPECTIVA HISTÓRICA DA TRAGÉDIA DO CRUZADOR BAHIA

ODYR MARQUES BUARQUE DE GUSMÃO* Contra-Almirante (Refo)

Segunda Guerra Mundial já havia pela Casa Armstrong, na Inglaterra, fazia A terminado em 8 de maio de 1945 no parte do Programa Naval de 1907 do mi- Teatro de Operações da Europa. Entretanto, nistro da Marinha, Almirante Alexandrino a Marinha do Brasil continuava no mar de Alencar. Navio antigo, obsoleto, tecni- guarnecendo, no corredor Dakar-Natal, camente ultrapassado, mas querido de sua estações, pontos previamente selecionados, guarnição, que, carinhosamente, o chamava para servir como referência à navegação de “Velhinho”. No dia 3 de julho, dá-se o e prestar qualquer auxílio aos aviões que rendez-vous – é assim como os marinheiros regressavam da Europa repatriando as tro- chamam os encontros no mar. Lá estava o pas americanas ou transferindo-as para o Bauru na Estação 13. Não sei e não com- Pacífico. Na Estação 13, localizada a cerca preendo por que escolheram esse fatídico de 500 milhas náuticas a nordeste de Natal, número 13. Marinheiros são supersticiosos, encontrava-se o Destróier-Escolta (DE) falta grave que convém sempre evitar. Bauru, este mesmo que se encontra hoje Nesse marzão nordestino, azul ou ver- atracado no Espaço Cultural da Marinha, de, é sempre motivo de grande alegria o no Rio de Janeiro. encontros de dois navios, sejam de guerra Na manhã do sábado dia 30 de junho de ou mercantes. Trocam-se acenos, sinais 1945, uma típica manhã de nosso Nordeste, de apito e amistosas mensagens de fonia. o Cruzador Bahia suspendeu do porto do Re- Significa a quebra da monotonia num am- cife para render o Destróier-Escolta Bauru biente cercado pela imensa massa oceânica na Estação 13. O scout Bahia, construído e, na maior parte das vezes, por um azul

* Comandou o Contratorpedeiro (CT) Paraná, o Centro de Adestramento Marques de Leão, a Força de Minagem e Varredura, o Centro de Instrução Almirante Wandenkolk e a Força de Contratorpedeiros. Foi adido naval na França e na Holanda. RETROSPECTIVA HISTÓRICA DA TRAGÉDIA DO CRUZADOR BAHIA

Cruzador Bahia

celeste, clarinho como os olhos de minha avó Alice. O Bauru tem pressa, dentro em breve estará regressando, para reparos, ao Rio, onde os aguardam namoradas, noivas, esposas, filhos e pais. Aos marinheiros nordestinos, a boemia. Sem quaisquer explicações, pois os comandantes nas Marinhas são soberanos – Deus no céu e os comandantes a bordo, com poder de vida ou morte em suas deci- sões –, o Capitão de Corveta Paulo Antonio Teles Bardy, comandante do DE Bauru, determina a seu oficial de quarto, Tenente Ary Jones: “Mande ‘tocar postos de con- tinência’” – honraria máxima prestada a autoridades. No caso, prestada ao Capitão de Mar e Guerra Garcia D’Ávila Pires de Carvalho e Albuquerque, representando seu Capitão de Mar e Guerra navio, o Cruzador Bahia. Garcia D’Ávila Pires de Carvalho e Albuquerque

30 RMB3oT/2015 RETROSPECTIVA HISTÓRICA DA TRAGÉDIA DO CRUZADOR BAHIA

Ary Jones, sem bem compreendê-la, não Os navios se afastam. O Bauru toma hesita, cumpre a ordem com presteza: “Seu o rumo sul em demanda ao Rio; o Bahia Mestre, toque postos de continência”. Com permanece solitário na Estação 13, apenas igual presteza, ouve-se o trinar do incon- um ponto geográfico assinalado nas cartas fundível apito marinheiro. Este cerimonial náuticas. O Almirante Lúcio Torres Dias, tem algo de místico, fantasioso, em que de quem tive o privilégio de sua amizade, todos assumem uma posição mais marcial. foi, dos 17 oficiais do Bahia, o único que Da rede geral de fonoclama, ouve-se a voz sobreviveu ao naufrágio. Autenticidade firme e grave: Bauru“ , guarnecer postos de maior em relatá-lo eu não teria aos que, por continência”. Tudo se transforma – bown, ventura, me prestigiem com suas leituras: bown, bown... Todos, num acelerado passo, “Na manhã de 4 de julho de 1945, oficiais e praças, assumem seus postos. encontrava-me de serviço no camarim Bardy manobra seu navio de modo a da máquina quando fui surpreendido por passar bem próximo do Bahia. É um mo- uma forte explosão ocorrida na popa. O mento solene, corações batem com mais choque psicológico foi terrível – o sopro da vigor. Bardy, o ainda jovem capitão de explosão varreu o convés, tudo destruindo. corveta, presta sua continência ao oficial Estima-se que, naquele primeiro momento, superior mais antigo presente e não só mais de cem vidas se perderam. Meios de a ele, mas àquele grupo de homens que salvamento foram destroçados, o mastro guarneciam seu companheiro de longas tra- tombou e o incontrolável alagamento pelos vessias em comboios para Trinidad-Tobago tubos dos hélices e o rombo na popa fizeram transportando material estratégico para a com que o Bahia afundasse, verticalizado, vitória dos Aliados e de nosso interesse. em cerca de quatro minutos. Sem bem o saber, Bardy prestava a última O martírio, entretanto, estava por vir. Os homenagem da Marinha do Brasil a seu sobreviventes, reunidos em 17 balsas su- “Velho Barco” – o Cruzador Bahia. perlotadas, sofreram os rigores do mar em

Assinalado o local aproximado do afundamento do Cruzador Bahia, nas proximidades dos penedos de São Pedro e São Paulo

RMB3oT/2015 31 RETROSPECTIVA HISTÓRICA DA TRAGÉDIA DO CRUZADOR BAHIA

verdadeira grandeza – dias tórridos, noites consistiu no embarque dos sobreviventes, frias, presença constante de tubarões e das alguns já muito debilitados ou terminais, cáusticas águas-vivas, perda progressiva exigindo que homens do navio inglês des- da consciência, que se instalava em vagas cessem pela escada de quebra-peito para de loucura transitória, sem alimentação de passar os coletes apropriados e os içarem qualquer espécie e, acima de tudo, a sede, para bordo. A presença das balsas atraiu o maior de todos os sofrimentos. Inúmeras um grande número de tubarões, que, enfu- aeronaves, voando em baixas ou altitudes recidos, tentavam saltar para seu interior. elevadas, passavam, mas não nos viam e Com o inútil propósito de afastá-los da área, nada mudou durante quatro dias e quatro militares da disparavam tiros de longas noites. Se as condições climáticas armas portáteis. O aparecimento de sangue noturnas eram mais bem suportadas, psi- dos próprios tubarões tornou a situação cologicamente a sensação de abandono muito perigosa, pois eles se devoravam. aumentava terrivelmente. Os sobreviventes, ao chegarem ao A salvação veio por acaso, com a pre- convés do Balfe, eram despidos e deitados sença na área do mercante inglês SS Balfe, sobre uma lona e abrigados por um co- da Companhia The Lamport & Comercial bertor. Passavam por um precário exame Holt Line, que procedia da Inglaterra em médico, pois a bordo não havia médicos, demanda a Santos, transportando cimento. embora existisse enfermaria. A todos era Um modesto tripulante, um simples ajudan- fornecida uma forte bebida alcoólica. Aos te de cozinha, o também jovem Raymond primeiros goles, a sensação de queima era Charlie Highams, 17 anos, curioso ao insuportável.” ouvir ruídos estranhos, levantou-se de seu A comunicação foi difícil até o embar- descascar batatas e, perplexo, viu passando que do Tenente Lúcio, que dominava bem junto a seu navio uma balsa e um homem o idioma inglês. desesperado acenando um pedaço de pano Na balsa do Tenente Lúcio, que foi a pedindo socorro. penúltima a ser recolhida tão logo o Balfe Mais tarde, constatou-se que nessa balsa chegou à área, encontravam-se mais três havia dois outros náufragos desfalecidos. A sobreviventes. Mais tarde, outros recolhi- ajuda humanitária prestada, desde os primei- mentos foram realizados, que acabaram ros momentos, pelo Balfe aos náufragos foi por permitir o recolhimento das 17 balsas inestimável. A primeira grande dificuldade lançadas pelo Bahia. Cinco dos náufra- gos recolhidos faleceram na travessia para Recife e foram sepultados no mar, com as honras fúnebres prescritas no cerimonial marítimo. O alarme dado pelo Balfe desencadeou providências para que fossem para a área unidades da 4a Es- quadra Americana e da Força Naval do Nordeste (FNNE). A assistência médica prestada por médicos e enfermeiros america- Ray Highams com 17 anos, quando era ajudante de cozinha do SS Balfe, e passados 56 anos (Revista do Clube Naval no 321, p. 23) nos e brasileiros foi excelente.

32 RMB3oT/2015 RETROSPECTIVA HISTÓRICA DA TRAGÉDIA DO CRUZADOR BAHIA

talados esbarros limitadores de conteira e elevação. Não têm fundamentos versões de que submarinos alemães, que se internaram na Argentina após a guerra, tenham torpedeado o Bahia. As perdas em vidas humanas durante a explosão, por ocasião do afundamento e no período nas balsas, foram as maiores ocorridas na Marinha, superando mesmo a explosão do Encou- raçado Aquidaban, na Ilha Grande, no século passado. Em todo o episódio, ocorreram as seguintes mortes em consequência do acidente: Comandante Garcia D’Ávila, 16 oficiais, 15 suboficiais, 42 sargentos, 224 Primeiro-Tenente Lúcio Torres Dias cabos e marinheiros, 29 taifeiros, cinco fuzileiros navais e quatro marinheiros ame- Lúcio, sobre a tragédia do Bahia, tudo ricanos, num total de 335 mortos. ouviu e presenciou e de tudo participou. Em túmulos de marinheiros não flo- Não acredito que tivesse dúvidas sobre a rescem rosas, mas, no dia 4 de julho, causa de seu afundamento – explosão das nós, brasileiros, não podemos relegar ao bombas de profundidade armazenadas esquecimento este triste acontecimento, no convés do tombadilho e das dispostas elevando, num preito de gratidão, nossas nas calhas de lançamento. A explosão foi preces e nossos pensamentos a esses he- ocasionada por disparos intempestivos róis que contribuíram para que tenhamos ocorridos na metralhadora Oerlinkon de esta tão bela, tão rica e grande Nação. 20 mm número 7, instalada no eixo axial Soberana, cristã, multirracial e livre de do navio. Os projetis atingiram as bombas ideologias políticas contrárias às nossas de profundidade por não terem sido ins- tradições.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Segunda Guerra Mundial; Marinha do Brasil; Cruzador Bahia;

RMB3oT/2015 33 PRIMÓRDIOS DO BOMBARDEIO ESTRATÉGICO NA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL, 1914-1918*

EDUARDO ITALO PESCE** Professor

SUMÁRIO

Introdução Rumo à guerra Avanços da tecnologia Início da guerra aérea Bombardeio das Ilhas Britânicas Reflexos e consequências Conclusão INTRODUÇÃO novo paradigma para os conflitos armados interestatais, com profundos reflexos para o dia 11 de novembro de 2014, ocorreu a sociedade em todos os países envolvidos No 96o aniversário do Armistício de direta ou indiretamente. Compiègne, que pôs fim às hostilidades da Entre os legados da guerra de 1914- Primeira Guerra Mundial. Iniciado em 1o de 1918, destaca-se o ataque frequente ou agosto de 1914, este conflito, que já foi cha- intencional à população civil por meios mado “A Grande Guerra”, estabeleceu um diretos, como no bombardeio de cidades

* Trabalho apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Marítimos da Escola de Guerra Naval – Rio de Janeiro, 19 nov. 2014. ** Especialista em Relações Internacionais, professor aposentado do Centro de Produção da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Cepuerj), colaborador permanente do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Escola de Guerra Naval (Cepe/EGN) e colaborador assíduo da RMB. por dirigíveis e aviões, ou indiretos, como Como lembra Nye, a Primeira Guerra na guerra submarina irrestrita visando ao Mundial provocou a morte de mais de 15 estrangulamento econômico do inimigo. milhões de pessoas. Apenas uma batalha, a As origens do que hoje se denomina do Somme, resultou em cerca de 1,3 milhão “bombardeio estratégico” remontam à de pessoas mortas ou feridas. A guerra des- Primeira Guerra Mundial. A reflexão a truiu não apenas pessoas, mas três impérios seguir procurará abordar os primórdios europeus: o Alemão, o Austro-Húngaro e desta modalidade de operação aérea, o Russo (o Império Otomano localizava-se tomando como exemplo a campanha de predominantemente na Ásia). Abriu cami- bombardeio contra as ilhas britânicas nho para a ascensão dos Estados Unidos e pelos alemães. Serão examinados alguns do Japão como grandes potências mundiais, aspectos militares, assim como reflexos e assim como para a Revolução Russa e as consequências para as populações ataca- confrontações ideológicas que marcaram das – tais como baixas (mortos e feridos) o século XX2. e prejuízos materiais. O autor citado não considera possí- vel isolar uma causa RUMO À GUERRA para a Primeira Guerra A Primeira Guerra Mundial, mas preconi- Joseph S. Nye, Jr. Mundial provocou a morte za dividir a questão em observa que o equi- três níveis distintos: o líbrio de poder é fre- de mais de 15 milhões de do sistema multipolar, quentemente culpado pessoas – destruiu três o dos Estados inde- pela Primeira Guerra pendentes e o dos líde- Mundial. Os Estados impérios europeus: o res individuais de tais não buscam equilibrar Alemão, o Austro-Húngaro Estados. Em cada um o poder para preser- e o Russo dos três níveis citados, var a paz, mas sim a noção de equilíbrio sua independência. O de poder é essencial equilíbrio de poder contribui para a ma- para compreender o início da guerra. À nutenção do sistema anárquico de Estados medida que o sistema de alianças perdeu independentes, embora nem todos estes flexibilidade, o equilíbrio tornou-se cada sejam preservados. Para compreender o vez menos multipolar, aumentando, assim, equilíbrio, é preciso compreender o poder, a probabilidade de guerra3. que Nye conceitua como “a capacidade de No nível estrutural do sistema, existiram atingirmos os nossos objetivos ou fins”. dois elementos fundamentais: o crescimen- Geralmente, tal capacidade está associada to do poder alemão e a crescente rigidez das ao controle ou à posse de determinados alianças. No nível interno das sociedades, recursos, tais como: população, território, devem ser tomadas em conta as crises nos recursos naturais, dimensão econômica, impérios Austro-Húngaro e Otomano em forças militares e estabilidade política1. declínio, assim como a situação política

1 NYE, Jr., Joseph S. Compreender os Conflitos Internacionais: Uma Introdução à Teoria e à História. Lisboa: Gradiva, s/d, pp. 69-71. 2 Ibidem, pp. 81-82. 3 Ibidem, p. 83. PRIMÓRDIOS DO BOMBARDEIO ESTRATÉGICO NA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL, 1914-1918

na Alemanha. Já o papel dos líderes indi- combates. O emprego da tecnologia refletiu viduais, às vésperas da Primeira Guerra uma tendência à industrialização e à pro- Mundial, foi quase sempre caracterizado dução em massa, que vinha desde o século pela mediocridade4. anterior7. Podemos afirmar que, já naquela Segundo Nye, a guerra teve causas múl- época, este uso extensivo da tecnologia tiplas, pois existiram várias causas, todas caracterizou uma “Revolução de Assuntos elas suficientes. Ainda assim, considera que Militares” (RAM). esta não era inevitável, nem quanto ao seu As inovações tecnológicas incluíram a início, em 1914, nem quanto à sua duração, guerra aérea e a guerra submarina, assim relativamente longa, de mais de quatro como o uso de metralhadoras, carros de anos. É preciso distinguir três tipos de combate, lança-chamas e gases tóxicos nos causas, em termos de proximidade temporal campos de batalha. A artilharia, as comu- com um acontecimento: as profundas, as nicações (especialmente a radiotelegrafia) intermédias e as precipitantes. Na Primeira e os transportes – com destaque para o uso Guerra Mundial, foram causas profundas estratégico das ferrovias – também tiveram as mudanças na estrutura do equilíbrio de grande desenvolvimento. Outra inovação poder e certos aspectos dos sistemas polí- na guerra naval foi o navio-aeródromo, que ticos internos, como o conflito de classes assumiu sua forma definitiva (com convés e o nacionalismo. As causas intermédias de voo corrido) em 1918. Pode-se afirmar foram, além da diplomacia alemã, a cres- que quase todos os meios de combate da cente complacência em relação à paz e Segunda Guerra Mundial – à exceção da as idiossincrasias pessoais dos líderes. A bomba atômica – foram melhorias ou modi- causa precipitante, por sua vez, foi o as- ficações dos utilizados na guerra anterior8. sassinato do arquiduque Franz Ferdinand A guerra aérea contribuiu modestamente em Sarajevo por um terrorista sérvio, no para o resultado da guerra de 1914-1918, dia 28 de junho de 19145. mas serviu como campo de provas para técnicas e táticas que viriam a ser usadas AVANÇOS DA TECNOLOGIA em 1939-1945. Entre estas está o bombar- deio de alvos militares e civis no território Segundo Nye, a opinião de que a guerra do país inimigo, depois conhecido como de 1914-1918 teria sido causada ou precipi- “bombardeio estratégico”. Tanto os Alia- tada pela corrida armamentista na Europa dos da “Entente” (Reino Unido, França, é demasiadamente simplista6. Ainda assim, Itália e Rússia) como as Potências Centrais não há como negar que o desenvolvimento (Alemanha e Áustria-Hungria) emprega- da tecnologia de armamentos teve impacto ram este tipo de operação. O bombardeio decisivo sobre a conduta da guerra, con- aéreo de cidades, com a finalidade de tribuindo para aumentar a letalidade dos destruir o moral inimigo, foi introduzido

4 Ibidem, pp. 83-89. 5 Ibidem, pp. 89-91. 6 Ibidem, p. 97. 7 TECHNOLOGY during – Wikipedia, the free encyclopedia. Artigo original em inglês disponibi- lizado em: . Acesso em 14 nov. 2014. 8 Ibidem. Ver também: FRIEDMAN, Norman. British Carrier Aviation: The Evolution of the Ships and their Aircraft. Annapolis: Naval Institute Press, 1988, pp. 7 e 22-23. Ver ainda: MACINTYRE, Donald. “Porta- aviões: a arma majestosa”. Rio de Janeiro: Renes, 1974, pp. 8-19. História Ilustrada da 2A Guerra Mundial.

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pelos alemães nos primeiros dias da guerra. Grã-Bretanha e no continente. No início Todas as capitais dos beligerantes, exceto da guerra, os aeroplanos militares eram Roma, sofreram ataques9. empregados apenas para observação e re- Dirigíveis e aeroplanos foram emprega- conhecimento. Os aviões de caça e bombar- dos em operações de bombardeio durante o deio foram desenvolvidos após o início das conflito. O Zeppelin era um tipo de dirigível hostilidades, entre 1915 e 1916. Apesar da rígido, no qual o gás (na época hidrogênio, notoriedade dos dirigíveis alemães, ambos posteriormente substituído por hélio) era os lados do conflito possuíam aeronaves armazenado em “balonetes” no interior de mais leves que o ar. A vulnerabilidade uma estrutura de alumínio com cobertura destas aeronaves, assim como os progressos de tela. Embora a dirigibilidade dos balões da aviação de caça e das defesas antiaéreas, tenha sido demonstrada pelo brasileiro Al- levou à sua substituição por bombardeiros berto Santos Dumont, o desenvolvimento mais pesados que o ar a partir de 191711. da tecnologia dos diri- No dia 6 de agosto gíveis rígidos, no final de 1914, um Zeppe- do século XIX e início O raid de Cuxhaven foi o lin alemão realizou a do século XX, deveu- primeiro ataque aeronaval primeira operação de -se ao conde alemão bombardeio estratégico Ferdinand von Zeppe- da história e empregou da história e o primeiro lin. O nome Zeppelin três “porta-hidroaviões” ataque com bombas tornou-se praticamente adaptados lançadas do ar contra sinônimo de dirigível, uma cidade, ao bombar- embora os alemães dear Liège, na Bélgica. também possuíssem outros tipos de aero- As primeiras ações de bombardeio por aero- nave mais leves que o ar, como os Schütte planos (inicialmente com bombas lançadas Lanz (rígidos) e Parseval (semirrígidos)10. manualmente) foram limitadas e resultaram em poucos danos. Antes da estabilização da INÍCIO DA GUERRA AÉREA Frente Ocidental, aviões alemães lançaram cerca de 50 bombas sobre Paris, causando Os dirigíveis da Marinha Imperial alemã alguns danos à Catedral de Notre Dame12. eram empregados em missões de reco- No dia de Natal de 1914, enquanto as nhecimento, em proveito da Esquadra de tropas de ambos os lados confraternizavam Alto-Mar. Até o final de 1916 ou início de nas trincheiras, ocorreu um ataque de hi- 1917, porém, a Alemanha fez amplo uso de droaviões da Marinha Real britânica contra seus dirigíveis como arma de longo alcance a base alemã de Cuxhaven. O alvo primário para ataques estratégicos, contra alvos na deste ataque – que ficou conhecido como o

9 WHITEHOUSE, Arch. Os Zeppelins na Guerra. Rio de Janeiro: Record, s/d., pp. 9-13. Ver também: STRATEGIC BOMBING during World War I – Wikipedia, the free encyclopedia. Artigo original em inglês disponibilizado em: . Acesso em 14 nov. 2014. 10 WHITEHOUSE. Op. cit., pp. 15-31 e 52. Ver também: ZEPPELIN – Wikipedia, the free encyclopedia. Dispo- nibilizado em . Acesso em 14 nov. 2014. 11 STRATEGIC BOMBING. Op. cit. Sobre o bombardeio estratégico alemão, ver também: GERMAN STRA- TEGIC BOMBING during World War I – Wikipedia, the free encyclopedia. Artigo original em inglês disponibilizado em: . Acesso em 14 nov. 2014. 12 WHITEHOUSE. Op. cit., p. 48. Ver também: STRATEGIC BOMBING. Op. cit.

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raid de Cuxhaven – eram os hangares de di- Nessa campanha, os alemães empregaram rigíveis Zeppelin da Marinha Imperial alemã inicialmente dirigíveis da Marinha e do em Nordholz, nos arredores daquele porto, Exército e, mais tarde, aviões do Exército. fora do alcance das aeronaves baseadas no Em 1915, os dirigíveis (na maioria Zeppe- Reino Unido. Esta operação foi o primeiro lins, mas também do tipo Schütte Lanz) ataque aeronaval da história e empregou três eram as únicas aeronaves em serviço que “porta-hidroaviões” adaptados (Engadine, possuíam autonomia de voo suficiente para Riviera e Empress), escoltados por outras atingir parte significativa do território das unidades navais da Royal Navy13. Ilhas Britânicas, a partir do continente Cada um dos três navios mercantes adap- europeu. Desde o final do ano anterior, ti- tados deveria lançar ao mar três aeronaves. nham sido realizados alguns ataques contra Dos nove hidroaviões colocados na água, portos britânicos no Canal da Mancha, com sete conseguiram decolar e prosseguir com poucos efeitos, por aeroplanos alemães a missão, que foi completada sem nenhuma operando no limite do raio de ação15. baixa e com a perda de apenas uma aerona- No início de 1915, foi autorizada pelo ve. O nevoeiro, as nuvens baixas e o fogo Kaiser a campanha aérea contra alvos estra- antiaéreo impediram o completo sucesso do tégicos na Grã-Bretanha. Tais alvos deveriam ataque. Apesar disso, o Almirantado alemão incluir bases militares e depósitos de muni- foi forçado a deslocar parte das unidades da ção, mas excluir os palácios reais e as áreas Esquadra de Alto-Mar para outros portos. residenciais. A campanha teve início em 19 Esta operação demonstrou na prática a via- de janeiro, quando dois Zeppelins atacaram bilidade dos ataques aeronavais, realizados Great Yarmouth e King’s Lynn, na costa por aeronaves baseadas em navios (mesmo ocidental, matando quatro civis e causando se tratando de hidroaviões com flutuadores), danos insignificantes. No primeiro ataque assim como a importância estratégica da de dirigíveis contra Londres, ocorrido em 31 nova arma aérea da Esquadra britânica14. de maio, morreram sete pessoas e outras 31 ficaram feridas. Ataques posteriores à capital BOMBARDEIO DAS ILHAS britânica, ocorridos naquele ano, resultaram BRITÂNICAS em maiores perdas. Uma bomba de três to- neladas (a maior bomba disponível naquela Embora ataques estratégicos tenham época) foi lançada por um Zeppelin em 8 de ocorrido em diversas frentes, talvez a mais setembro sobre o centro financeiro da “City”, conhecida campanha de bombardeio es- causando extensos danos e matando 22 civis, tratégico da Primeira Guerra Mundial seja inclusive seis crianças. Na noite de 13-14 aquela empreendida contra a Grã-Bretanha de outubro de 1915, um ataque com cinco pela Alemanha a partir de janeiro de 1915. dirigíveis causou a morte de 71 londrinos16.

13 WHITEHOUSE. Op. cit., pp. 64-69. Ver também: FRIEDMAN. Op. cit., p. 32. Ver ainda: CUXHAVEN RAID – Wikipedia, the free encyclopedia. Artigo original em inglês disponibilizado em: . Acesso em 14 nov. 2014. 14 Ibidem. 15 GERMAN STRATEGIC BOMBING. Op. cit. Ver também: WHITEHOUSE. Op. cit., p. 52. 16 WHITEHOUSE. Op. cit., pp. 52, 69 e 76. Ver também: AIR RAIDS – Spotlights on History: The First World War. Texto original em inglês disponibilizado no sítio oficial do Arquivo Nacional britânico em: . Acesso em 15 nov. 2014. Ver ainda: GERMAN STRATEGIC BOMBING. Op. cit. Ver também: KLEIN, Christopher. London’s World War I Zeppelin Terror. History in the Headlines, June 2nd, 2014. Artigo original disponibilizado em: . Acesso em 15 nov. 2014.

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As condições meteorológicas sobre o Gotha) a partir de 1917. Num ataque diurno Mar do Norte e a Grã-Bretanha dificulta- de bombardeiros Gotha contra Londres, vam a navegação aérea, afetando a precisão em 13 de junho de 1917, morreram 162 dos bombardeios e fazendo com que bom- civis. Foi o maior número de mortos num bas fossem lançadas a milhas de distância só ataque aéreo à Grã-Bretanha durante a de seus alvos. Isso tornava extremamente guerra. No dia 7 de julho, outras 57 pessoas difícil atingir instalações militares vitais, foram mortas em um novo ataque à capital, resultando em danos “colaterais” e causan- contribuindo para agravar mais ainda o do baixas (mortos e feridos) na população sentimento de indignação dos britânicos civil. As perdas civis transformaram os contra os alemães18. Zeppelins em objeto do ódio popular. Foi De 1915 a 1918, os Zeppelins alemães instituído o blackout na Grã-Bretanha, e efetuaram 208 incursões sobre a Grã- foram instalados holofotes e baterias an- -Bretanha, lançando um total de 5.907 tiaéreas em torno da bombas, que mataram capital e das principais 528 e feriram 1.156 pes- cidades. No início, os De 1915 a 1918, os soas19. Outros dados, meios de defesa eram Zeppelins alemães porém, dão conta que precários, devido às dirigíveis alemães rea- limitações técnicas da efetuaram 208 incursões lizaram 51 raids sobre a artilharia, assim como sobre a Grã-Bretanha, Inglaterra, matando 557 das armas e dos moto- e ferindo outras 1.358 res dos aviões. Caças lançando um total de 5.907 pessoas20. As bombas equipados com moto- bombas, que mataram 528 lançadas em cidades da res mais potentes, que e feriram 1.156 pessoas Grã-Bretanha causaram lhes permitiam atingir prejuízos materiais de altitudes de voo mais 1,5 milhão de libras. elevadas, entraram em serviço em 191617. Tomaram parte em tais ataques 84 dirigí- Em 2 de setembro daquele ano, os veis, dos quais 30 foram abatidos ou perdi- alemães lançaram contra Londres o maior dos em acidentes21 (outros dados citam 115, ataque da guerra, com 16 dirigíveis. Um dos quais 77 perdidos22). Em comparação, Zeppelin voando a 11 mil pés (3.352,8 aeroplanos realizaram um total de 27 raids metros) de altitude foi atingido por um caça diurnos e noturnos, tendo lançado 246.774 britânico, caindo em chamas. Outros mais libras (111.935 kg) de bombas, com a perda seriam abatidos com sucesso. O incremento de 62 aeronaves. Tais ataques resultaram das defesas britânicas resultou em maior em 835 mortos e 1.972 feridos, causando risco para os dirigíveis alemães, que foram prejuízos materiais de 1.418.272 libras. progressivamente substituídos por aviões Todavia, tais números são pequenos, quan- de bombardeio (principalmente do tipo do consideramos que, durante a Segunda

17 WHITEHOUSE. Op. cit., pp. 70-76. Ver também: AIR RAIDS. Op. cit. Ver ainda: GERMAN STRATEGIC BOMBING. Op. cit. Ver também: KLEIN. Op. cit. 18 Ibidem. 19 WHITEHOUSE. Op. cit., p. 10. 20 GERMAN STRATEGIC BOMBING. Op. cit. 21 Ibidem. 22 KLEIN. Op. cit.

RMB3oT/2015 39 PRIMÓRDIOS DO BOMBARDEIO ESTRATÉGICO NA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL, 1914-1918

Guerra Mundial (1939-1945), cerca de 20 A produção alemã de armamentos tam- mil civis residentes foram mortos durante a bém foi afetada pelo esforço necessário blitz sobre Londres – cujo apogeu ocorreu para manter a guerra aérea. A fabricação entre setembro e outubro de 194023. de dirigíveis era um empreendimento caro, pelo enorme custo unitário dessas aerona- REFLEXOS E CONSEQUÊNCIAS ves, em comparação com o dos aeroplanos mais pesados que o ar. Um detalhe curioso Com os ataques aéreos sistemáticos a é que, no pique da construção de dirigíveis populações civis, a guerra entrou numa durante a guerra, a Alemanha teve que era sem precedente. No entender do Fre- suspender temporariamente a produção de gattenkapitän Peter Strasser, comandante salsichas de carne bovina, pois os intestinos dos dirigíveis (Führer der Luftschiffe) da usados como revestimento das salsichas Imperial Marinha alemã, morto em 5 de também eram usados na fabricação dos agosto de 1918, durante o último raid de “balonetes” de gás (câmaras de hidrogênio) Zeppelins sobre a Grã-Bretanha, agora dos dirigíveis rígidos. Estimava-se que não haveria mais “não combatentes”, uma cerca de 250 mil vacas eram necessárias vez que todos poderiam se tornar alvos. para construir um Zeppelin!26 Este novo tipo de guerra era uma “guerra A enorme área vélica e as grandes di- total” 24. mensões do casco, bem como a limitada A Alemanha esperava que os efeitos velocidade (empregando motores diesel), psicológicos dos bombardeios sobre a o teto de voo relativamente baixo e – prin- Grã-Bretanha afetassem o moral do povo cipalmente – a volatilidade do gás hidrogê- e levassem este país a se retirar da guerra. nio, tornavam os dirigíveis particularmente Isto não ocorreu, e a “maré” da campanha vulneráveis ao fogo inimigo, assim como foi revertida em 1916. Embora o efeito mi- a acidentes. No início da guerra, os para- litar direto dos ataques aéreos estratégicos quedas disponíveis eram pouco práticos e, contra o território britânico fosse pequeno, por isso, geralmente eram utilizados apenas os raids causaram grande alarme na popu- pelas tripulações dos balões cativos de lação. Isso fez com que meios e recursos observação. Somente em 1918 a aviação substanciais – principalmente unidades alemã viria a receber um modelo padrão de de artilharia antiaérea e de aviação de paraquedas, para uso a bordo de aeroplanos caça – tivessem de ser retirados da Frente e dirigíveis. Por tal razão, as tripulações Ocidental e trazidos de volta para o Reino dos Zeppelins não podiam contar com esse Unido, além de causar alguma turbulência tipo de equipamento durante a campanha27. na produção industrial de armamentos e O intenso fogo antiaéreo e o uso de munições25. munição incendiária pelos aviões de caça

23 Ibidem. Ver também: GERMAN STRATEGIC BOMBING. Op. cit. Ver ainda: WHITEHOUSE. Op. cit., pp. 10-11. 24 WHITEHOUSE. Op. cit., p. 252. Ver também: KLEIN. Op. cit. Ver ainda: PETER STRASSER – Wikipedia, the free encyclopedia. Resumo biográfico e dados pessoais disponibilizados em: . Acesso em 16 nov. 2014. 25 GERMAN STRATEGIC BOMBING. Op. cit. Ver também: KLEIN. Op. cit. Ver ainda: WHITEHOUSE. Op. cit., pp. 10, 70-78 e 129-151. 26 KLEIN. Op. cit. 27 GERMAN STRATEGIC BOMBING. Op. cit. Ver também: PARACHUTE – Wikipedia, the free encyclopedia. Artigo disponibilizado em: . Acesso em 16 nov. 2014.

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britânicos – cujos pilotos, por sinal, nor- Na guerra de 1914-1918, apesar do ter- malmente também voavam sem paraque- ror que as armas químicas inspiravam na das – facilitavam a ignição do hidrogênio população, seu uso prático ficou limitado que escapava dos “balonetes” perfurados ao campo de batalha. As dificuldades de ar- pelos disparos, provocando a explosão e mazenamento, manipulação e lançamento o incêndio do dirigível que fosse assim das armas químicas (incendiárias e gases atingido. Quando tal ocorria, os tripulantes tóxicos), que já constituíam um problema alemães tinham duas opções: queimar até em terra, praticamente inviabilizavam seu morrer ou saltar sem paraquedas. Geral- uso a bordo de aeronaves. Seria necessário mente, a segunda opção também resultava esperar 20 anos para que tal uso ocorresse. em morte ou – nos raros casos em que Durante a Segunda Guerra Mundial, não ocorresse junto ao solo – em fraturas e seriam utilizados gases tóxicos pelos be- ferimentos graves, além das queimaduras ligerantes, mas bombas incendiárias lan- sofridas28. çadas por aeronaves Os equipamen- seriam extensamente tos de segurança e Na guerra de 1914-1918, empregadas em todos proteção e os recur- os teatros de opera- sos médicos da épo- apesar do terror que as ções. No bombardeio ca eram precários, armas químicas inspiravam Aliado que destruiu se comparados aos na população, seu uso Dresden, de 13 a 15 desenvolvidos pos- de fevereiro de 1945, teriormente. Em 31 prático ficou limitado ao foram empregadas de janeiro de 1915, campo de batalha 3.900 toneladas de poucos dias após te- bombas incendiárias rem início os bom- e de alto-explosivo30. bardeios aéreos contra o Reino Unido, Os bombardeios estratégicos da Pri- foi empregado gás em grande escala meira Guerra Mundial mostraram o que pela primeira vez na guerra, quando os estava por vir. O número de vítimas civis alemães dispararam 18 mil granadas de de tais ataques foi modesto. Somando-se os artilharia, carregadas com gás lacrimogênio raids realizados por dirigíveis e por aviões (T-Stoff), para atacar posições russas a contra a Grã-Bretanha, o total de baixas na oeste de Varsóvia, na Frente Oriental. população chegou a 1.342 mortos e 3.330 Durante o conflito, diversos tipos de gases feridos31 (ou 1.413 mortos e 3.409 feridos, tóxicos seriam empregados nos campos segundo outros dados32). Em comparação, de batalha da Europa. Alguns deles (como nos bombardeios atômicos contra as cida- gás lacrimogênio e gás mostarda) tinham des japonesas de Hiroshima e Nagasaki, nos efeito desestabilizador, enquanto que ou- dias 6 e 9 de agosto de 1945, foram mortas tros (como fosgênio e cloro) eram letais29. entre 129 mil e 246 mil pessoas nas duas

28 Ibidem. 29 CHEMICAL WEAPONS in World War I – Wikipedia, the free encyclopedia. Artigo disponibilizado em: . Acesso em 16 nov. 2014. 30 BOMBING OF DRESDEN in World War II – Wikipedia, the free encyclopedia. Artigo disponibilizado em: . Acesso em 16 nov. 2014. Ver também: KLEIN. Op. cit. 31 GERMAN STRATEGIC BOMBING. Op. cit. 32 AIR RAIDS. Op. cit.

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cidades (90 mil a 166 mil pessoas em Hi- CONCLUSÃO roshima e 39 mil a 80 mil em Nagasaki)33. Do ponto de vista militar, o emprego A Primeira Guerra Mundial estabeleceu independente do poder aéreo contra alvos um novo paradigma para os conflitos arma- estratégicos, durante a guerra de 1914-1918, dos. Tal paradigma – no qual a tecnologia gerou o paradigma moderno de guerra em três representa papel fundamental – inclui o dimensões. Tanto quanto a experiência britâ- ataque sistemático à população civil, pelo nica com operações aéreas ofensivas sobre o bombardeio aéreo de cidades, com a finali- continente, a necessidade de reorganizar os dade de minar o moral do povo inimigo. Este meios de defesa aérea contra os Zeppelins e tipo de operação, que viria a ser extensamente aviões de bombardeio alemães, então divi- empregado em 1939-1945, é atualmente de- didos entre os componentes de aviação da nominado “bombardeio estratégico”. Desde Marinha e do Exército, o surgimento das armas contribuiu para a cria- nucleares em 1945, o ção da primeira Força A Primeira Guerra potencial de letalidade Aérea independente Mundial estabeleceu da guerra aumentou do mundo, a Royal Air exponencialmente. Os (RAF), em 1o de novo paradigma para meios de destruição abril de 191834. conflitos armados no qual disponíveis atualmen- Como um toque a tecnologia representa te – perto dos quais os final, no dia 18 de existentes em 1914- julho de 1918, a base papel fundamental – o 1918 parecem insig- de dirigíveis Zeppelin “bombardeio estratégico” nificantes – excedem da Marinha Imperial amplamente qualquer alemã em Tondern, objetivo militar. no litoral da Dinamarca (em área que en- Segundo Joseph S. Nye, Jr., a culpa tão pertencia à Alemanha), foi atacada por pela eclosão da Grande Guerra em 1914 sete aviões, lançados do convés de voo do costuma ser atribuída ao equilíbrio de Navio-Aeródromo HMS Furious. Dois poder, mas ele considera tal explicação dirigíveis e um balão cativo foram destru- insuficiente. Segundo Nye, o poder pode ser ídos, ao custo de um avião derrubado, com caracterizado como a capacidade de atingir a morte do piloto. Este foi primeiro ataque objetivos ou fins, geralmente associada à aeronaval na história, no qual não foram posse de determinados recursos ou meios usados hidroaviões, mas aviões equipados militares, econômicos ou de outros tipos. com rodas. Por ironia, pouco mais de três A guerra de 1914-1918 resultou em mais meses antes, as tripulações de voo do Royal de 15 milhões de mortos e na destruição dos Naval Air Service (RNAS) tinham sido impérios Alemão, Austro-Húngaro, Russo transferidas para a recém-criada RAF35. e Otomano, abrindo caminho para a ascen-

33 ATOMIC BOMBINGS of Hiroshima and Nagasaki – Wikipedia, the free encyclopedia. Artigo disponibilizado em: . Acesso em 16 nov. 2014. 34 GERMAN STRATEGIC BOMBING. Op. cit. 35 FRIEDMAN. Op. cit., p. 58. Ver também: MACINTYRE. Op. cit., p. 16. Ver ainda: TONDERN Raid – Wi- kipedia, the free encyclopedia. Artigo original em inglês disponibilizado em: . Acesso em 16 nov. 2014.

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são dos EUA e do Japão, assim como para é modesto, quando comparado às baixas e aos a Revolução Russa e o advento da União danos e prejuízos da guerra de 1939-1945. Soviética. O estudo sobre as causas da Pri- Apesar disso, o alarme e a revolta da população meira Guerra Mundial deve ser subdividido com o bombardeio foram grandes. Os ataques em três níveis: o do sistema multipolar, aéreos e o blackout mudaram a rotina dos o dos Estados soberanos e o dos líderes moradores de Londres e de outras cidades que individuais. Nestes três níveis, o conceito se tornaram alvos. Hábitos arraigados tiveram de equilíbrio de poder é fundamental para que ser mudados. O combate aos incêndios, o compreender o começo da guerra. Esta teve resgate dos corpos e o atendimento aos feri- causas múltiplas, mas não era inevitável. dos mobilizaram os serviços de emergência. Teve causas profundas e intermédias, Máscaras contra gases e outros equipamentos sendo o assassinato do herdeiro do trono de proteção tiveram que ser distribuídos. austro-húngaro, em 28 de junho de 1914, Agora não apenas os jovens convocados para tão somente a causa precipitante. o serviço militar corriam riscos, mas também O emprego extensivo de tecnologia na os civis “frente interna”. Primeira Guerra Mundial foi resultado da Durante a guerra, a Grã-Bretanha também produção industrial utilizou dirigíveis e ae- em massa de arma- roplanos de bombardeio mentos. As inovações Os progressos ocorridos contra a Alemanha. A do conflito incluíram a após a Primeira Guerra Marinha Real britânica, guerra aérea e a guer- que no início contava ra submarina, assim Mundial mudaram não com alguns navios adap- como o uso de diversos só a conduta da guerra, tados para operar com novos armamentos nos mas a vida das pessoas na hidroaviões, aperfeiçoou, campos de batalha. ao longo do conflito, o Com exceção da bom- sociedade no século XX. navio-aeródromo dotado ba atômica, todos os Nada mais seria como antes de convés de voo, capaz armamentos utilizados de lançar e recuperar em 1939-1945 foram aviões equipados com aperfeiçoamentos dos usados em 1914-1918. rodas. Os dois estágios deste desenvolvimento A guerra aérea – que incluiu o bombardeio ficaram caracterizados nos ataques aeronavais de alvos militares e civis – também foi uma às bases de dirigíveis da Marinha Imperial ale- amostra do que estava por vir. A campanha mã, em Cuxhaven (1914) e Tondern (1918). Os alemã de bombardeio contra a Grã-Bretanha, componentes aéreos da Marinha e do Exército de 1915 a 1918, é um bom exemplo dessa britânicos foram unificados em 1918, com a nova modalidade de guerra. Até 1916, foram criação da Real Força Aérea. Depois da guerra, empregados basicamente dirigíveis (a maioria essa unificação gerou longa controvérsia entre o do tipo Zeppelin) nos raids de bombardeio. A Almirantado e o Ministério do Ar, a respeito da partir de 1917, porém, tais aeronaves foram posse e operação dos meios aéreos embarcados, substituídas por aeroplanos, menos vulnerá- que só seria resolvida favoravelmente à Marinha veis às defesas britânicas fortalecidas. em 1937. Os progressos da aviação e de outros Embora haja discrepância nos dados, o ramos da tecnologia ocorridos após a Primeira número de baixas civis e os prejuízos causados Guerra Mundial mudaram não só a conduta da pelos dirigíveis Zeppelin e pelos bombardeiros guerra, mas a vida das pessoas na sociedade no Gotha em suas incursões sobre a Grã-Bretanha século XX. Nada mais seria como antes.

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1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Primeira Guerra Mundial; Tecnologia; Guerra aérea;

BIBLIOGRAFIA

Livros e capítulos: ARARIPE, Luiz de Alencar. Primeira Guerra Mundial. In: MAGNOLI, Demétrio (org.) História das Guerras. São Paulo: Contexto, 2013, pp. 319-353. FRIEDMAN, Norman. British Carrier Aviation: The Evolution of the Ships and their Aircraft. An- napolis: Naval Institute Press, 1988. HASTINGS, Max. Catásfrofe – 1914: A Europa Vai à Guerra. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014. WHITEHOUSE, Arch. Os Zeppelins na Guerra. Rio de Janeiro: Record, s/d. Coleção “Aventuras Vividas”. MACINTYRE, Donald. “Porta-aviões: a arma majestosa”. Rio de Janeiro: Renes, 1974. História Ilustrada da 2a Guerra Mundial. NYE, Jr., Joseph S. Compreender os Conflitos Internacionais: Uma Introdução à Teoria e à História. Lisboa: Gradiva, s/d.

Artigos jornalísticos: AIR RAIDS – Spotlights on History: The First World War. Sítio do Arquivo Nacional britânico em: . Acesso em 15 nov. 2014. BOMBING OF DRESDEN in World War II – Wikipedia, the free encyclopedia. Artigo disponibi- lizado em: . Acesso em 16 nov. 2014. CUXHAVEN RAID – Wikipedia, the free encyclopedia. Artigo disponibilizado em: . Acesso em 14 nov. 2014. GERMAN STRATEGIC BOMBING during World War I – Wikipedia, the free encyclopedia. Artigo disponibilizado em: . Acesso em 14 nov. 2014. KLEIN, Christopher. London’s World War I Zeppelin Terror. History in the Headlines, June 2nd, 2014. Artigo original disponibilizado em: . Acesso em 15 nov. 2014. TECHNOLOGY during World War I – Wikipedia, the free encyclopedia. Artigo disponibilizado em: . Acesso em 14 nov. 2014. PARACHUTE – Wikipedia, the free encyclopedia. Artigo disponibilizado em: . Acesso em 16 nov. 2014. PETER STRASSER – Wikipedia, the free encyclopedia. Resumo biográfico e dados pessoais dis- ponibilizados em: . Acesso em 16 nov. 2014. STRATEGIC BOMBING during World War I – Wikipedia, the free encyclopedia. Artigo disponibi- lizado em: . Acesso em 14 nov. 2014. TONDERN Raid – Wikipedia, the free encyclopedia. Artigo disponibilizado em: . Acesso em 16 nov. 2014. ZEPPELIN – Wikipedia, the free encyclopedia. Artigo disponibilizado em . Acesso em 14 nov. 2014.

44 RMB3oT/2015 ESTUDO COMPARATIVO DE NAVIOS-AERÓDROMOS

RENÉ VOGT* Engenheiro Civil

SUMÁRIO

Introdução Histórico nacional Importância na defesa nacional Modos de obtenção Necessidade básica – um projeto de concepção Condicionantes principais na concepção do NAe Custos de obtenção e ciclo de vida Comparação do custo de obtenção de um NAe Catobar com outros tipos de meios navais Opções realistas de aeronaves Estudo de exequibilidade e comparativo de três tamanhos diferentes de navios-aeródromos operando pelo regime Catobar Navio-Aeródromo alternativo – Regime Stovl Conclusão Desenho do convés de voo Siglas e abreviaturas Referências Apêndices I – Requisitos Básicos de Projeto Relativos à Capacidade Militar de um NAe II – Definição da US Navy para Depot Maintenance

* Empresário e membro da Sociedade de Amigos da Marinha de São Paulo (Soamar-SP). Colaborador assíduo da RMB. ESTUDO COMPARATIVO DE NAVIOS-AERÓDROMOS

INTRODUÇÃO de navios-aeródromos e propõe outra alternativa para a preservação da asa fixa ontinua na pauta da Marinha do Basil embarcada. Com base em nossas pesquisas, C(MB) o estudo para a obtenção de um concluímos que não poderemos nos abster novo navio-aeródromo (NAe) para suceder de examinar a questão de um NAe alterna- ao A-12 São Paulo. O assunto é comple- tivo, operando no regime Short Take-off xo tanto do ponto de vista político como and Vertical Landing (STOVL). técnico. Primeiramente, será necessário Terceiro, comparando os custos calcu- justificar política e estrategicamente a im- lados de um NAe do tipo Catobar com os portância deste meio naval caro e poderoso. custos de outros meios navais igualmente Segundo, no Brasil não há uma tradição importantes para a defesa nacional, como, de construção naval militar consolidada e por exemplo, escoltas e submarinos, somos os nossos quadros técnicos precisarão do forçados a refletir sobre a aplicação de apoio de um colaborador estrangeiro para nossos escassos recursos no curto prazo. a consecução da tarefa de elaborar, pri- O autor declara não ter nenhum vínculo meiramente, um estudo de exequibilidade. comercial com qualquer estaleiro nacional O tempo está cons- ou estrangeiro. Todos pirando contra nós, os nomes, marcas, mo- pois um projeto desta A partir de 1996 até delos e premissas aqui envergadura irá ul- os dias atuais, vimos a mencionados são de trapassar os prazos escolha e preferência preconizados no Plano Marinha trabalhar para do autor e de seu livre de Articulação e Equi- reconquistar a operação de arbítrio, não emanando pamento da Marinha aeronaves de asa fixa nem representando a do Brasil (PAEMB). opinião oficial da Ma- Nos parágrafos se- rinha do Brasil. guintes, o autor se propôs estudar e avaliar este assunto, bem como oferecer algumas HISTÓRICO NACIONAL opções que foram estudadas e calculadas com base em informações ostensivas e na A história da aviação naval da MB (Ref. boa literatura técnica de projetos de navios. 9) teve seus primórdios lá pelos idos de Primeiro, este artigo está baseado numa 1916, sendo a primeira arma aérea do Brasil. memória de cálculo elaborada pelo autor, A criação da Aviação Naval foi efetivada em que são estudados e comparados três por meio de decreto do então presidente, possíveis tamanhos de navios-aeródromos Wenceslau Braz, impulsionando o desenvol- como sucessores do A-12 São Paulo, vimento da aviação em nosso país. Em 1941, operando no regime Catapult Assisted durante a presidência de Getúlio Vargas, sob Take-off but Arrested Recovery (Catobar). influência dos acontecimentos mundiais e Este estudo é muito extenso, e aqui apre- também por razões políticas, foi criada a sentaremos apenas os resultados resumidos, Força Aérea Brasileira (FAB), decretando-se com os comentários pertinentes. Para os a extinção da Aviação Naval e da Aviação interessados, o autor poderá disponibilizar do Exército, com a transferência de todo o o estudo completo ([email protected]). inventário, inclusive pilotos, para a FAB. Segundo, o autor também levanta a Em 1952 começou uma segunda fase, questão dos altos custos de ciclo de vida com o renascimento da Aviação Naval por

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meio de um decreto que criou a Diretoria novas aeronaves. O Minas Gerais acabou de Aeronáutica da Marinha. Nesta segunda dando baixa do serviço ativo com a compra fase da Aviação Naval, que duraria até 1965, do A-12 São Paulo, o ex-Foch da Marine foram obtidos o Navio-Aeródromo Ligeiro Nationale (França). (NAeL) A-11 Minas Gerais, comprado na Todas estas etapas demandaram muito Inglaterra e modernizado na Holanda, os empenho, coragem, idealismo e trabalho primeiros helicópteros e aeronaves de asa para dar à Marinha do Brasil esta que é fixa. Também aconteceram a implantação da uma capacidade operacional indiscutível Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia desde os meados da Segunda Guerra Mun- (BAeNSPA), a transferência das instalações dial. Hoje, mais do que nunca, a Marinha da Avenida Brasil para São Pedro da Aldeia precisa batalhar para manter e melhorar e a formação, na United States Navy (USN), sua Aviação Naval, apesar das dificuldades dos primeiros pilotos de asa fixa. orçamentárias e de algumas opiniões con- Esta fase intensa e pioneira sofreu um re- trárias, discutíveis ou equivocadas. trocesso em função do decreto presidencial do Marechal Castello Branco, ao extinguir, IMPORTÂNCIA NA DEFESA novamente, a asa fixa NACIONAL na Aviação Naval. Os aviões então embar- Para uma defesa eficaz, As condições geo- cados no A-11 Minas nenhuma das componentes gráficas das vastas ex- Gerais passaram a ser tensões marítimas dian- operados pela FAB. navais – a força de te de nossa longa costa O período seguinte, superfície, a submarina, mostram que as missões compreendido entre de defesa devem focar, 1965 e 1996, viu a a aviação embarcada (e primordialmente, a ne- operação dos P-16 da aquela baseada em terra) gação do uso do mar ao FAB embarcados no e o Corpo de Fuzileiros inimigo e o seu acesso Minas Gerais, a con- ao nosso território. Estas solidação e expansão Navais – poderá cumprir as serão apoiadas no futuro da asa rotativa, o início missões de defesa sozinha pelo Sistema de Geren- das operações com ciamento da Amazô- helicópteros a bordo ou isoladamente nia Azul (SisGAAz). de fragatas e contrator- Mas são necessários os pedeiros e a criação da Helibras em Itajubá. meios de superfície, submarinos e aéreos A partir de 1996 até os dias atuais, vimos para a consecução das missões de defesa, a Marinha trabalhar para reconquistar a socorro marítimo e garantia da livre navega- operação de aeronaves de asa fixa, após ár- ção, a partir dos dados obtidos deste sistema duo esforço do então ministro da Marinha, de informação e vigilância. Almirante de Esquadra Mauro Cesar Pe- As missões atribuíveis à Marinha do reira Rodrigues, junto ao então presidente Brasil, na faixa costeira de soberania da República, Fernando Henrique Cardoso. nacional, zona econômica exclusiva, Foram comprados caças A-4 Skyhawk do plataforma continental e áreas marítimas governo do Kuwait e, com ajuda de uma fir- de responsabilidade do País no âmbito ma americana, foi implementado o trabalho da International Maritime Organization de treinamento, operação e manutenção das (IMO), que devem poder ser realizadas de

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forma realista e eficaz, são as seguintes: 1. entre especialistas em defesa, políticos Socorro e Salvamento; 2. Patrulhamento (Congresso) e oficiais da USN sobre os prós contra o Tráfico de Drogas, Contrabando e e contras desses pesados meios navais. Eles Afins; 3. Proteção à Navegação Comercial; tornaram-se imensos, absurdamente caros 4. Bloqueio a Ações Inimigas nessa Área e, pior, de eficácia questionável diante dos (AA: Area Access) e 5. Bloqueio do Acesso novos cenários possíveis em conflitos de ao Território Nacional (AD: Area Denial). maior envergadura (Ref. 8 e 15). Atual- Para uma defesa eficaz, nenhuma das mente as aeronaves disponíveis para levar componentes navais – a força de superfície, sensores de proteção e informação eletrôni- a submarina, a aviação embarcada (e aquela ca do NAe e mísseis e bombas até os alvos, baseada em terra) e o Corpo de Fuzileiros os custos e os riscos das missões aéreas não Navais – poderá cumprir as missões de são mais facilmente justificáveis quando defesa sozinha ou isoladamente. Elas são comparados aos custos menores e à grande complementares. Mas, no presente estudo, precisão dos mísseis de cruzeiro e drones vamos restringir-nos ao escopo dos navios- que podem executar muitas dessas missões. aeródromos e sua aviação embarcada de asa Além disso, não podemos esquecer da fixa, porém sem deixar de fazer referências exposição ao risco dos NAes a ataques de oportunas às demais componentes navais. mísseis, bombas inteligentes e torpedos. Militarmente, o navio-aeródromo é Não é preciso afundar o porta-aviões para considerado uma arma ofensiva. Pode inutilizá-lo, basta bombardear e avariar o também prover cobertura aérea em zonas convôo para torná-lo inoperante, obrigan- de conflito onde não é possível estabele- do-o a retornar ao estaleiro para docagem e cer ou utilizar um aeródromo de apoio reparos por meses. A importância militar de em terra ou sobrevoar territórios vizinhos um NAe exige cautela com sua exposição ao território-alvo, a partir de outras bases ao risco numa zona de conflito. Mas, diante mais distantes. da necessidade de preservá-lo, teria o seu Então, partimos da premissa que a ca- Grupamento Aéreo Embarcado (GAE) a racterística ofensiva no NAe é, também, autonomia e a capacidade militar necessá- um elemento de defesa. À parte a inegável rias para atingir a zona-alvo em condições eficácia de submarinos em missões de ideais e realizar suas missões? bloqueio naval, a aviação embarcada de Fala-se muito do custo inicial de obten- asa fixa pode fazê-lo igualmente, mas com ção, quando, na realidade, o custo de ciclo a vantagem de se deslocar mais rapidamen- de vida é muito maior e mais importante. te e a distâncias bem maiores, varrendo Este inclui, além do custo inicial de ob- grandes áreas marítimas num intervalo de tenção, custos operacionais, manutenção e tempo relativamente pequeno, mas com modernização e descarte, não só do NAe, menor letalidade e maior possibilidade de mas inclusive dos navios e submarinos ser detectada. Numa escala menor, a asa indispensáveis para escoltá-lo em áreas de rotativa também mostra grande eficácia grande ameaça. neste tipo de missão, também a partir de Como se usa dizer na Marinha, “quem navios menores. tem um, tem nenhum”. Ter apenas um Os Estados Unidos da América (EUA) único navio-aeródromo significa tê-lo ope- são, e sempre foram, os maiores operado- racional em apenas dois terços do tempo. res de navios-aeródromos. Pois bem, lá Como exemplo do que queremos dizer, mesmo, atualmente, há grandes discussões a USN considera para seus CVNs ciclos

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típicos e sucessivos de 32 meses, que com- A USN, sob o comando do Chief of preendem as viagens e os diversos períodos Naval Operations (CNO) Almirante Elmo de reparos, manutenção, modernização Zumwalt, (Ref. 13) durante a década de e treinamento. Com um apoio industrial 1970, estudou a introdução do Sea Con- moderno e eficiente na retaguarda, como é trol Ship (SCS) com 13.700 tons Full- o caso nos EUA, os CVNs apresentam uma Load, que seria um navio pequeno com disponibilidade média da ordem de 76% operação STOVL, de muito menor custo (Ref. 14) durante estes ciclos de 32 meses. que um NAe de grande porte, e que seria Porém esta disponibilidade de 76% não possível obter em maior número. Seriam é irrestrita e é subdividida em vários níveis empregados em missões ASW e proteção de da seguinte maneira: 19% ou seis meses comboios para a eventualidade de uma guerra em missão; 46% do tempo ou 15 meses convencional na Europa contra a União das na base, mas capaz de suspender dentro de Repúblicas Soviéticas Socialistas (URSS). 30 dias; e outros 11% ou quatro meses em Outros tipos, como o VSTOL Support condições de suspender em até 90 dias. No Ship (VSS) com 29.100 tons Full-Load, saldo de 24% do ciclo, ou por cerca de sete além do CVV (Ref. 6) do tipo Catobar, com meses, o navio fica em deslocamento de 59.800 manutenção atracado tons Full-Load, foram na base ou docado e Ter apenas um navio- estudados e avaliados indisponível para o se- aeródromo significa tê-lo pela US Navy e pelo tor operativo. Portanto, operacional em apenas Government Accoun- para se ter um NAe tability Office (GAO), disponível a qualquer dois terços do tempo. Para mas finalmente a dou- tempo, é preciso ter no se ter um NAe disponível trina pendeu para o lado mínimo duas unidades. dos Super Carriers (Ref. Num dado momento e a qualquer tempo, é 13), saindo vitorioso para uma situação ines- preciso ter no mínimo duas o lobby do Almirante perada, seria apenas unidades Rickover no Congresso, um único navio deste com a continuação da tipo suficiente para a classe Nimitz. consecução das missões exigidas? Atualmente uma aeronave como o Joint O autor reitera que não é contra um na- Strike Fighter F-35B (STOVL) poderia ser vio-aeródromo novo, mas procura colocar o a solução para missões Anti-Access/Area assunto em discussão, dada sua importância Denial (AA/AD), embarcando-se um me- operacional e de custos. Sem dúvida, a nor número num dado navio de operação superioridade aérea é muito importante STOVL, sendo bem mais evoluído do que numa zona de conflito marítima, mas exis- o Sea Harrier. Possivelmente, a redução no tem outras opções para áreas distantes da custo do navio em si poderia justificar o in- nossa costa e bases. Por exemplo, hoje um vestimento nesta aeronave sofisticada e de navio que opere aeronaves STOVL e heli- custo elevado. Seu custo de obtenção hoje cópteros pode desempenhar perfeitamente anda na casa dos US$ 106 a 139 milhões missões de escolta, defesa, vigilância e por unidade – informação do Congressio- Anti-Submarine Warfare (ASW). Deve-se nal Research Service, Washington. Em cogitar de navios menos caros e complexos, contrapartida, um F18 G/H Super Hornet que se pode obter em maior número. está em torno de US$ 65 milhões. Como

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os custos de obtenção do GAE são muito demais à procura dos comboios aliados. relevantes em relação ao do próprio navio, Mas as divergências entre os dois chefes é preciso avaliar bem a relação de custos privavam a Kriegsmarine da importante entre navio versus GAE e sob observância vigilância aérea, acabando por prejudicar dos Requisitos de Estado-Maior (REM). o conjunto. Embora estejamos falando da asa fixa Finalizando, se a nossa pretensão por um embarcada, não podemos nos abster das futuro NAe do tipo Catobar se mostrar finan- aeronaves baseadas em terra no território ceiramente injustificável ou inconveniente, a nacional. Elas também podem e devem importância da asa fixa e rotativa embarcadas ser empregadas na defesa do País, mas continua tendo alta relevância no controle seu alcance operacional a partir da costa de áreas marítimas e, portanto, na defesa limita seu raio de ação diante das enormes da livre navegação. A alternativa brasileira distâncias marítimas da zona pretendida poderia ser os porta-helicópteros ou navios- para missões AA/AD. As bases em terra -aeródromos operando no regime STOVL. abrigariam outros tipos de aeronaves de Atualmente, somente a Inglaterra está caça e ataque, aeronaves de vigilância + construindo dois porta-aviões novos de ASW, aeronaves de reabastecimento em 65.000 tons, mas com o sistema STOVL, voo (Revo) e helicóp- e a Itália o seu Cavour teros. de 27.000 tons tam- Devemos conside- Embora estejamos falando bém para operações rar, ainda, o requisito STOVL. Essas duas da eficiência opera- da asa fixa embarcada, Marinhas contam com cional militar, em que não podemos nos abster das o futuro F-35B. Mas as armas devem ser as Marinhas da Índia empregadas de forma aeronaves baseadas e da China estão for- integrada, pertencer a em terra temente empenhadas uma mesma força sin- em desenvolver sua gular e operar sob um componente de asa fixa comando único. Por exemplo, na opinião do embarcada em regime operacional Catobar. autor, a operação das aeronaves P-3 Orion O objetivo não é declaradamente de atacar pela FAB não é uma decisão acertada. ou conquistar terras alheias, mas criar uma Quem vigia e combate no mar é a Marinha, força de defesa marítima de longo alcance, e a missão da FAB é fiscalizar o espaço parecendo contar com recursos para enfren- aéreo brasileiro. Nos países adiantados, é tar os elevadíssimos custos necessários. A assim que funciona. briga é pela hegemonia das rotas marítimas, Como exemplo histórico e sem entrar áreas de pesca e de recursos naturais offsho- no mérito político-doutrinário da questão re, como gás e petróleo, Oceano Índico e (Ref. 3), o autor cita uma passagem no Sudeste Asiático. livro de memórias do Almirante Dönitz, a respeito de suas divergências notórias com MODOS DE OBTENÇÃO o Marechal Göring, o chefe da Luftwaffe. A Kriegsmarine precisava do apoio de Nos dias atuais, não existem disponíveis reconhecimento aéreo de longo alcance navios num estado minimamente aceitável para aumentar a eficiência das operações para alguma compra de oportunidade. No dos submarinos, pois estes perdiam tempo caso da USN, que praticamente seria a única

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fonte de obtenção possível, o último porta- manutenções e de apoio logístico integrado. -aviões convencional a dar baixa foi o CV-63 Não devemos esquecer que, antes de qual- Kitty Hawk, em 2009, e que foi incorporado quer estudo de exequibilidade e concepção, em 1961. Outro exemplo seria o do CV-67 é fundamental prever o tipo de operação John Kennedy, incorporado em 1968 e com aérea que se deseja ou precisa, consequente- baixa em 2007. Além disso, ambos com mente as aeronaves a serem operadas e suas quase 50 anos de vida, grandes demais para quantidades. Sem esta premissa, nenhum as nossas demandas e cujas reformas seriam estudo pode ser iniciado. Donde um projeto proibitivas. Então, esta opção cai totalmente comercial preexistente em oferta quase que por terra. Outra poderia ser a compra de um certamente teria que sofrer muitas “adapta- navio da classe Invincible, mas já são navios ções”. Também desinteressante. com 25 a 35 anos de idade. Então teriam que ser reformados num estaleiro inglês, NECESSIDADE BÁSICA – UM com material inglês e preços ingleses. Ve- PROJETO DE CONCEPÇÃO lhos, obsoletos e caros. Obviamente, também Qualquer que seja se constituem numa É fundamental prever o o modo de obtenção opção indesejável. possível ou desejável, Diante do quadro tipo de operação aérea dadas as circunstâncias atual, a melhor e a que se deseja ou precisa, e a nossa realidade, a mais realista opção da consequentemente as Marinha do Brasil, na Marinha do Brasil se- condição de cliente, ria obter um navio-ae- aeronaves a serem operadas deve ser a autoridade ródromo novo, qual- e suas quantidades. Sem de projeto (Ref. 5, pp. quer que seja o tipo de 318/396). A autoridade operação, Catobar ou esta premissa, nenhum de projeto é a orga- STOVL. As opções estudo pode ser iniciado nização que possui a seriam: a) comprar um competência profissio- navio de um estaleiro nal e a autoridade para experiente segundo projetos correntes em especificar requisitos, realizar tarefas de oferta; b) elaborar um projeto no Brasil projeto, aplicar gerência de configuração a com a ajuda de um estaleiro experiente e projetos e documentações associadas e, ao contratá-lo para construir o navio primeiro mesmo tempo, monitorar a eficácia dessas da classe em seu país de origem ou, al- atividades para um dado estado do material. ternativamente, no Brasil; c) elaborar um Tanto na elaboração de um projeto projeto nacional, com ou sem ajuda, para completo ou apenas no desenvolvimento desenvolver conhecimento, recaindo-se de um estudo avançado, o cliente (no caso na opção b) anterior. Em princípo, o leque a MB) deve ser bem esclarecido, sabendo de opções seria estreito: Estados Unidos, avaliar corretamente o que é ofertado ou Inglaterra ou França, nesta ordem. Num desenvolvido pelos estaleiros estrangeiros segundo plano, Itália e Espanha. contratados, principalmente no caso de A opção a) seria a pior delas, pois desde itens que não sejam do nosso domínio. o início certamente não corresponderia aos Mesmo não tendo a experiência no projeto nossos REM e demandas e impossibilitando, e na construção de navios-aeródromos, um inclusive, o desenvolvimento dos planos de mínimo de estudos esclarecedores nacio-

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nais deve ser desenvolvido em estudos de de elevadores e, no caso Catobar, a escolha exequibilidade e concepção. Com recursos das catapultas, o aparelho de parada e o próprios, com ajuda ou não, esta providên- comprimento da pista de pouso. Segundo, cia será importante para virmos a ser um dimensionar o hangar e, terceiro, dimensionar cliente crítico e exigente, angariando o o casco e escolher o conceito de propulsão. devido respeito do contratado. A partir dos requisitos básicos acima, Acreditamos que não poderemos pres- devem-se fazer as primeiras considerações de cindir da ajuda estrangeira, mas é funda- arquitetura naval para um NAe, iniciando pelo mental que participemos do projeto com- projeto do convoo e do hangar. Seguindo a pleto e da construção do novo meio naval, tradição da RN (Royal Navy), 100% do GAE desde a fase de estudos de exequibilidade deve ser abrigado no hangar. Os critérios da até o final, com a incorporação do meio. USN preveem abrigo para 40% do GAE, Não fazê-lo seria renunciar à obtenção considerando que o nível de manutenção leva de conhecimento e experiência. No pro- em conta eventuais trocas de turbinas. cesso de obtenção de Dimensionados o qualquer novo meio convoo e o hangar, estu- naval, deve-se almejar Acreditamos que não dam-se as dimensões do concomitantemente poderemos prescindir casco, com o intuito de o desenvolvimento da ajuda estrangeira, satisfazer aos requisitos do conhecimento, da quanto à autonomia, ao engenharia e da expe- mas é fundamental que raio de ação, à sustenta- riência nacionais, com participemos do projeto bilidade, à velocidade e a a finalidade de buscar outros aspectos de arqui- a autonomia em pro- completo e da construção tetura naval. Além das jetos e construções do novo meio naval, condicionantes princi- navais. Os requisitos e desde a fase de estudos de pais, destacam-se requi- os interesses nacionais sitos básicos de projeto precisam ser preserva- exequibilidade até o final, para conseguir-se plena dos, e isto só se conse- com a incorporação do capacidade de combate gue se os fornecedores de um navio de guerra, estiverem plenamente meio indispensáveis para um conscientes de que navio-aeródromo. Eles estão lidando com um cliente bem prepa- se encontram no Apêndice 1. rado e ser condição sine qua non prestar um serviço correto e cumprir os contratos. CUSTOS DE OBTENÇÃO E DE CICLO DE VIDA CONDICIONANTES PRINCIPAIS NA CONCEPÇÃO DO NAe Como dito acima, nossa única opção sensata seria a construção e obtenção de um O primeiro passo na concepção de um navio novo. Mas como os países que detêm novo navio-aeródromo é a escolha dos tipos esta tecnologia e operam porta-aviões são de aeronaves e a definição das quantidades muito parcimoniosos com informações a serem embarcadas e operadas (Ref. 1) em sobre custos de construção, podemos ter a função dos REM, portanto optar pelo tipo de certeza que tenderemos a ser submetidos operação (Catobar ou STOVL), o número a custos superfaturados, pois, mesmo para

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um estaleiro experiente, o nível de incerteza como veremos adiante. Finalmente, os é alto devido à escassez de demanda por tal custos de combustíveis dependem essen- tipo de meio naval. cialmente das condições de mercado, e os Exceto os EUA, os demais países são atualizados foram obtidos na internet neste absolutamente herméticos quanto à divul- ano de 2015. gação de informações. Entretanto, TABELA No 01: VALORES ATUALIZADOS DO CV-67 PARA nos EUA existe uma figura jurídica 2015 RATEADOS SOBRE 50 ANOS chamada Freedom of Information Cost Category in US$ Milhões: base FY-2015 CV-67 Agreement (Foia), que provê o ci- John Kennedy dadão contribuinte com um mínimo Investment Cost de transparência. O autor obteve na Research & Development 621,00 internet valores sobre custos de obten- ção e manutenção de porta-aviões da Ship Acquisition Cost 3.013,50 USN por meio dos registros do GAO, Midlife Modernization Cost 1.273,02 órgão do Congresso dos Estados Direct Operating and Support Costs Unidos (Ref. 7), com base no US$ do Personnel Ship – Crew: 2.796 (cost over 50 years) 6.815,00 FY-1997 (Ref. 7), que foram reajus- Depot Maintenance (1) 6.071,10 tados pelo autor com base na inflação Other (2) 1.371,51 americana no período 1997-2014, de Fossil Fuel (US$ 44,14/barrel) 1.103,50 aproximadamente 47,0%. Indirect Operating and Support Costs Custos atualizados de obtenção Training 236,67 e ciclo de vida do CV-67 John Fuel Delivery Cost ($27,57/bbl) 689,25 kennedy Other (3) 85,26 Total Investment Cost 4.907,70 O referido trabalho do GAO tinha Total Direct Operating and Support Cost 15.361,11 por objetivo comparar os custos de Total Indirect Operating and Support Cost 1.011,18 obtenção e manutenção de navios-ae- ródromos nucleares e convencionais, Disposal 77,91 utilizando para tal as classes nuclear Life Cycle Cost – Ship Only 21.357,90 CVN-68 Nimitz e convencional CV- Average / Year (50 Years) 427,16 67 John Kennedy, devido à similari- Air Wing – 80 Aircraft 4.250,000 dade de tamanho dos navios e GAEs Spares 1.080,000 entre as duas. Personnel Air Wing: 2.156 (cost over 50 years) 5.923,488 Os custos obtidos foram atualiza- Training 205,699 dos pela inflação americana no perío- Fuel JP-5 1.438,200 do de 1997 a 2015. Para custos como Research & Development, soldos e Delivery Cost 240,358 treinamento, podemos considerar a Life Cycle Cost – Air Wing Only 13.137,745 inflação como bom indicador. Po- Avg/Year (50 Years) 262,755 rém, para custos industriais, ou seja, (1) Depot Maintenance: Includes routine maintenance, repairs and ship obtenção, manutenção e moderniza- modernization work but not the cost of midlife modernization; ção, inclusive salários de operários (2) Other (2): Includes a number of direct unit cosst categories such as spares, supplies, intermediate maintenance; especializados, o aumento de custo (3) Other (3): Includes a a number of indirect support cost categories such real foi acima da inflação (Ref. 10), as publications, ammunition handling and technical services;

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Custo Marine Gas Oil (MGO) base rational Intervals de 18 meses incluindo MAR/2015: US$ 705,00/mt – 7,46 barrels/ as missões, ou deployments, cerca de ton ou US$ 94,5/barrel. Custo de NSFO seis meses (variável) e 12 meses (tempo (Navy Special Fuel Oil) No 5 ou No 6 restante) na base pronto para suspender em MAR/2015: US$ 294,00/mt – 6,66 em 30 dias, seguidos de SRA – Selected barrels/mt ou US$ 44,14/barrel. Custo do Restricted Availability de três meses. combustível de aviação a turbina JP-5 base Após períodos cíclicos de 60 meses ((3 FY-2014: US$ 152,88/bbl. x 18 meses) + (2 x 3 meses)), tem-se um Total de combustível fornecido ao CV- COH – Complex Overhaul de 12 meses de 67 em 50 anos: 25 milhões de barrels, a duração. O custo de Depot Maintenance um custo operacional de US$ 18,77 (FY- não inclui o Midlife Modernization, que 1997) – US$ 18,77 x 1,47 = US$ 27,57 é incluído no Investment Cost. (custo de manuseio e transporte) + US$ O Midlife Modernization ocorre geral- 44,14 (custo de mercado) = US$ 71,71/ mente após 25 anos de serviço (meia-vida) barrel (total em MAR/2015). Relação peso/ e tem uma duração de aproximadamente 30 volume: JP-5: 1 MT = 7,93 bbl, MGO: 1 meses, chamado de SLEP – Service Life MT = 7,46 bbl e NSFO: 1 MT = 6,66 bbl. Extension Program. Considerando uma NAe 65000/52000/45000 (vide parágrafo vida útil de 600 meses (50 anos), subtrain- seguinte): 90 dias mar/ano x 50 = 4.500 dias do-se os 30 meses do SLEP e dividindo-se de mar. Para os três tamanhos de NAes em o saldo por períodos de 72 meses (3 x 18 estudo, arbitraremos cerca de 90 dias de mar/ meses – Operational Intervals, 2 x 3 meses ano para efeito de estudo de custo. Igualmen- SRA, 1 x 12 meses COH), teremos ao longo te arbitraremos um consumo do MGO médio da vida útil: 8 x COH, 16 x SRA e 24 x em regime de baixa intensidade. Operating Intervals, onde esses Operating Os resultados da Tabela No 01 acima Intervals são divididos entre tempo em devem ser encarados com alguma descon- viagem e estadia na base, mas em prontidão fiança, pois foram reajustados meramente de 30 dias. Resumindo, temos a seguinte pela inflação dos EUA no período de 1997 distribuição do ciclo de vida: 72% Opera- a 2015. Não é possível acreditar que o In- ting Intervals, 15% COH, 8% SRA, estes vestment Cost atualizado do CV-67 John dois últimos respondendo com 23% pelo Kennedy, corrigido pela inflação ameri- quesito Depot Maintenance e, finalmente, cana, chegue em 2015 a “apenas” US$ 5% para o Midlife Modernization. Nos 4.908 milhões. Portanto, o mero ajuste dos períodos de Complex Over Haul e Midlife custos de obtenção pela inflação americana Modernization, ou seja, 20% do total de de 47% no período considerado não nos ciclo de vida, o navio fica rigorosamente parece realista. indisponível para o setor operativo. O quesito Depot Maintenance (vide Apêndice 2) representa uma parcela Custo de obtenção dos NAe apreciável do custo de ciclo de vida do 65000/52000/45000 pelo método da navio. Acima mostramos os ciclos e a literatura MNVDET disponibilidade atual de um CVN segundo Ref. 14. Porém estes ciclos são diferentes Inicialmente, o autor estudou três opções para um navio-aeródromo convencional. de navios-aeródromos no regime Catobar, No trabalho da Ref. 7, o quesito Notional denominados de NAe 45000/52000/65000, Depot Maintenance Cycle menciona Ope- em alusão aos seus deslocamentos máxi-

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mos em toneladas, como possíveis opções custos reais para M.O. + material, em torno para suceder ao A-12 São Paulo. Fizemos de 78,8% de 1980 a 1997 e 65,7% de 1997 o cálculo dos custos de obtenção destes a 2015, contemplando o aumento real de três navios-aeródromos pelo trabalho custos relativos a mão de obra e material, MNVDET-CV (Ref. 10). Este trabalho superiores à inflação americana no período indica, para este período, uma subida de considerado.

Primeiramente calculamos os custos do NAe 65000, elaborado pelo autor, resumidamente: SWBS-100 a SWBS-700 totalizam: US$ 5.043 milhões SWBS-800 Shipyard Technical Support e SWBS-900 Shipyard Support Services: US$ 3.228 milhões ______

TSCC – Total Ship Construction Cost (SWBS100 A SWBS900): US$ 8.271 milhões PROFIT: TSCC x 0,15: US$ 1.241 milhões SHIP PRICE: US$ 9.512 milhões CHANGES SHIP PRICE x 0,12: US$ 1.142 milhões ______

TSC – Total Shipbuilder Costs: US$ 10.654 milhões Custos Governamentais – percentagens por default do Ship Price: I) OTHER SUPPORT COSTS – 2% x US$ 9.512: US$ 190 milhões II) PROGR. MANAG. GROWTH COST – 10% x US$ 9.512: US$ 951 milhões III) OUTFITTING COSTS – 4% x US$ 9.512: US$ 380 milhões ______

TGC – Total Government Costs: US$ 1.521 milhões TOTAL END COST (TSC + TGC): US$ 12.175 milhões POST-DELIVERY AVAILABILITY COST – 5% x US$ 9.512: US$ 476 milhões ______

TSAC – Total Ship Acquisition Cost: US$ 12.651 milhões

Analogamente, teremos os seguintes custos Total Ship Acquisition Cost para os outros dois NAes: NAe 52000: TSAC = US$ 11.220,480 milhões NAe 45000: TSAC = US$ 10.112,177 milhões Estes custos finais de obtenção dos navios não incluem os custos com a aviação embarcada. Custos de obtenção e ciclo de vida custos de obtenção e do Government estimados dos três navios-aeródromos Accountability Office para os custos de catobar estudados ciclo de vida baseados no CBV-67 John Kennedy, para os valores do FY-1997 Finalizando, montamos uma tabela da USN relativos a treinamento, com- final para os NAe 65000/52000/45000 bustível, manutenção e pagamentos do com os valores obtidos na Ref. 10 para pessoal.

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TABELA No 02 – CUSTOS DE CICLO DE VIDA

Categoria de Custos NAe 65000 NAe 52000 NAe 45000 US$ milhões (FY-2015) Projeto 360,00 360,00 360,00 Custo de Obtenção 12.651,00 11.220,50 10.112,20 Modernização Meia- 1.149,69 930,72 775,17 Vida Pessoal Navio (50 anos) 3.550,58 3.550,58 3.550,58 Manutenção de Base (1) 5.482,95 4.438,64 3.696,81 Outros (2) 1.238,64 1.002,72 835,14 Combustível (MGO) 669,37 609,10 573,73 US$ 94,50/bbl (3) 7.083.270 bbl/50 anos 6.445.440 bbl/50 anos 6.071.170 bbl/50 anos Treinamento do Pessoal 124,02 124,02 124,02 Custo Entrega Combust. 6,54 8,08 8,80 Outros (4) 77,01 77,01 77,01 Sucateamento 87,98 87,98 87,98 Total Obtenção: 14.160,69 12.511,22 11.247,37 Total Custos Diretos 10.941,54 9.601,04 8.656,26 Total Custos Indiretos 295,55 297,09 297,81 Life Cycle Cost (Navio) 25.397,78 22.409,35 20.201,44 Média Anual LCC 507,96 448,19 404,03 Média Anual Operação + Treinamento + 247,74 216,58 194,59 Manuten. Air Wing 2.297,297 1.837,838 1.608,108 Spares 689,189 551,351 482,432 Personnel Air Wing 2.185,457 1.912,201 1.638,946 Training 76,335 66,791 57,246 Fuel JP-5 120,105 159,548 179,492 Delivery Cost 20,072 26,664 29,997 Air Wing LCC 5.388,46 4.554,40 3.996,22 Média Anual Air W 107,77 91,10 79,92 LCC Média Anual Ops + Ma- 61,83 54,33 47,76 nut + Trein. Air Wing Média Anual Total de 309,57 270,91 242,35 Ops Navio + GAE (1) Depot Maintenance: SRA (Selected Restricted Availability) 16 x em 50 anos, COH (Complex Overhaul) 8 x em 50 anos; (2) Peças de reposição, material em geral, manutenção intermediária; (3) Considerados 90 dias de mar/ano sobre 50 anos em regime de baixa intensidade; (4) Fainas de munição e serviços técnicos;

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Custos de navios-aeródromos operando COMPARAÇÃO DO CUSTO no regime STOVL DE OBTENÇÃO DE UM NAE CATOBAR COM OUTROS TIPOS Em julho de 2008 foi assinado o DE MEIOS NAVAIS contrato de construção dos dois CVFs ingleses, com um valor contratual de £ Neste trabalho estamos estudando na- 3,5 bilhões ou US$ 5,5 bilhões para cada vios-aeródromos, mas a Marinha do Brasil navio e ao câmbio da época. Atualmente precisa pensar em defesa de forma global e este custo já ultrapassou a barreira dos integrada. Há muitas pautas que demandam US$ 6 bilhões e, ainda assim, não se verbas. Como o orçamento é limitado de- explica exatamente a sua natureza (dado mais, somos forçados a pensar e especular relativo ao CVF obtido no site www.que- o que seria possível fazer, alternativamente, enelizabethcruises.net). Provavelmente é com o mesmo volume de dinheiro necessá- o mero custo de construção no estaleiro, rio à obtenção e manutenção de um único comparável ao custo TSCC = US$ 8.271 NAe tipo Catobar. milhões calculado logo acima para o Manter a asa fixa embarcada nos leva- NAe 65000. ria certamente a considerar a alternativa Precisamos, ainda, considerar realisti- de obter-se um navio do tipo e tamanho camente os custos de obtenção e ma- do Cavour. Mesmo o preço elevado dos nutenção de outros NAe com operação JSF F-35B, embarcados em um esquadrão tipo STOVL. O Cavour custou € 1,5 de 12 aeronaves, poderia ser compensa- bilhão em 2008 (http://digilander.libero. dor diante da redução no custo de obten- it). Utilizando o cálculo de atualização ção do navio propriamente dito. Grosso de custos do trabalho MNVDET-CV modo, o custo de obtenção de um único (+18% em sete anos) e o câmbio da NAe 45000 equivaleria ao de quatro época (1€ = US$1,46 em 2008), hoje che- navios do tipo Cavour, sem computar os gamos a um valor atualizado igual a US$ respectivos GAEs. 2.584 milhões. Este navio tem um com- Se considerássemos um escolta como primento total Length Over All (LOA) = aquele proposto pelo autor no trabalho 244,00 m e deslocamento máximo 27.500 publicado na RMB 1ot/2015, o custo de um tons. Embarca normalmente oito Harriers NAe 45000 equivaleria a oito, ou mesmo e 12 SH-3 Sea King, podendo abrigar até mais, escoltas. Um submarino convencio- 30 aeronaves no total. nal da TKMS tipo U-214 custa cerca de € Aplicando-se o mesmo cálculo ao 500 milhões ou aproximadamente US$ 600 Invincible, que custou £ 185 milhões em milhões. Donde um NAe 45000 equivale- 1980 (1£ = US£ 2,44), chegamos a um va- ria a cerca de 16 submarinos. A incerteza lor atualizado igual a US$ 1.337 milhões. é aflitiva, pois não há como dizer qual é Este é um navio com LOA = 200,00 m a arma mais importante: todas as com- e deslocamento máximo de 22.000 tons. ponentes navais são importantes – aérea, Embarcava 12 Harriers e dez SH-3 Sea de superfície, submarina e anfíbia. Essas King. O mesmo cálculo aplicado ao Ark decisões dependem de estudos estratégicos Royal, incorporado em 1985 por £ 333 para a definição da política externa do País milhões, indica um custo de obtenção atu- para três décadas à frente ou mais. Mas, em alizado de aproximadamente US$ 1.761 tempos de penúria, há que se fazer escolhas milhões em 2015. para montar um poder dissuasório minima-

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mente crível. E não esqueçamos que operar dade, pois o porte pode variar desde 16 um porta-aviões significa ter também, tons, no caso do futuro Grippen Naval, obrigatoriamente, navios de escolta de su- até 25 tons do F-18 Super Hornet ou 30 perfície, suprimento e submarinos – donde tons do E-2C/D. mais custos. Para os navios-aeródromos tipo STO- VL, as missões AEW, vigilância, reco- OPÇÕES REALISTAS DE nhecimento, enlace de dados, guiagem AERONAVES de mísseis etc. podem ser muito bem desempenhadas por drones. No nosso Com a definição do programa FX-2 em caso aqui estudado, propomos o modelo favor do SAAB Grippen NG, espera-se MQ-8C da Northrop-Grumman, baseado que haja uma solução técnica satisfatória na célula do helicóptero Bell 407, com para uma versão naval do Grippen como, 12 horas de autonomia e quase 500 kg de aliás, já foi anunciado pela SAAB. Isto carga útil, capaz de embarcar sensores de seria muito conveniente do ponto de alta capacidade. Em número maior, pode- vista industrial, de logística, da escala de se dispor de pelo menos um aparelho no produção e de custos. Mas, no presente ar durante as 24 horas do dia. Um drone momento, a realidade é a disponibilidade pairando a 4.000 m (teto operacional de três opções de aeronaves de combate aprox. 5.000 m) na vertical do navio para lançamento catapultado: F-18 Super estende sua Line of Sight (LOS) para Hornet, Rafale Naval e o MIG-29. Num cerca de 150 n.m. futuro próximo, teremos o Joint Strike Fighter F-35 nas versões “B” STOVL e ESTUDO DE EXEQUIBILIDADE “C” Catobar. E COMPARATIVO DE TRÊS Para missões de Airborne Early War- TAMANHOS DIFERENTES ning (AEW), Reabastecimento em Voo DE NAVIOS-AERÓDROMOS (Revo) ou Carrier Onboard Delivery OPERANDO PELO REGIME (COD), temos atualmente as versões CATOBAR Grumman AEW E-2C/E-2D e o COD Greyhound. Para Revo, utilizam-se tan- Vários tipos de navios de referência – ques externos dedicados para aeronaves dimensões e coeficientes de combate, nesta função chamados de nannies (babás). Inicialmente o autor compara os dados Finalmente, para missões Anti Subma- obtidos para as suas três opções, NAe rine Warfare (ASW), transporte e outras, 65000, NAe 52000 e NAe 45000, com temos uma série de helicópteros, mas nos dados da literatura, resumidos na tabela deteremos apenas nos modelos utilizados abaixo. Nas duas tabelas subsequentes pela MB, a saber: Esquilo, Eurocopter (Nos 04 e 05) são comparados dados EC-725, Sikorsky 70B (MH-16) e Super relativos a navios reais que foram cons- Lynx ou AW-159 Wild Cat. Sejam quais truídos e um estudo da USN denominado forem os requisitos de missões e as ae- CVV-1976 (Ref. 6). O autor realizou ronaves escolhidas, seria uma questão um rápido estudo sobre a opção de um de pura lógica prover uma capacidade NAe tipo STOVL, mas, para facilitar, e flexibilidade de poder operar qualquer utilizamos como exemplo o Cavour, da aeronave de asa fixa existente na atuali- Marinha Italiana.

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TABELA No 03: COMPARAÇÃO ENTRE AS TRÊS OPÇÕES NAe CATOBAR ELABORADAS PELO AUTOR NESTE ESTUDO

CLASSE NAe 65.000 NAe 52.000 NAe 45.000 LOA (m) 292,00 275,00 268,00 LWL (m) 274,50 253,00 248,00 BWL (m) 36,60 36,00 34,50 B Flight Deck 68,00 66,00 64,00 T (m) 10,50 9,70 8,60 Borda Livre (m) 17,50 17,70 17,50 Altura Hangar-LWL (m) 7,00 7,20 7,00 Tirante Hangar (m) 6,30 6,30 6,30 Altura Gallery Deck (m) 4,20 4,20 4,20 Altura Quilha-Hangar (m) 17,50 16,90 15,60 Conveses Abaixo Hangar 5 x 3,10 5 x 3,00 4 x 3,10 Alt. Quilha-1o Convés (m) 2,00 1,90 3,20 Área Convôo (m2) 16.518 15.902 15.800 Área Hangar (m2) 4.680/ 180 x 26 4.000/160 x 25 3.840/160 x 24 No de Catapultas 02 02 02 No de Elevadores (BE) 02 02 02 Fn 0,277 0,289 0,292 Cb 0,60 0,58 0,58 B/D1 2,09 2,13 2,21 B/D2 1,31 1,31 1,32 L/B 7,50 7,03 7,20 B/T 3,49 3,71 4,01 Desloc. (m3) 63.294 51.242 42.677 Desloc. (Tons) 64.877 52.523 43.744 D1 (m) 17,50 16,90 15,60 D2 (m) 28,00 27,40 26,10

D1 – Altura da quilha ao piso do hangar D2 – Altura da quilha ao convoo

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TABELA No 04: COMPARAÇÃO COM DIVERSOS TIPOS DE NAVIOS-AERÓDROMOS (A)

CLASSE CVV-USN / 77 C. de Gaulle Nimitz CVN-68 Kennedy CV-67 CVF-UK

LOA 276,30 261,50 326,00 320,60 284,00

LWL 260,60 240,00 317,00 302,00 263,00

BWL 38,20 31,50 40,80 39,60 39,00

B FlightDeck 76,80 64,00 77,00 76.90 73,00

T 10,50 8,50 11,30 10,90 11,00

Fn 0,305 0,297 0,277 0,312 0,253

Cb 0,57 0,65 0,61 0,62 0,61

B/D1 2,18 n.d. 2,17 2,11 2,22

B/D2 1,44 n.d. 1,32 1,28 1,30

L/B 6,82 7,90 7,77 7,63 6,41

B/T 3,64 3,71 3,61 3,63 3,55

Desloc. (m3) 58.341 40.976 89.170 80.976 63.415

Desloc. (tons) 59.800 42.000 91.400 83.000 / 60.730 65.000

D1 17,50 n.d. 18,80 (*) 18,80 18,00

D2 26,50 n.d. 30,90 (*) 30,90 30,00

Incorp. 1o Cl. Proj. cancelado 2001 1975 1968 Em finalização

Custo Obtenção US$ 3,7 bi – 03 US$ 4,06 bi /97 US$ 2,05 bi /97 £ 3,7 bilhões

Custo Ops/Ano n.d. US$ 160 mi – 97 US$ 120 mi – 96

TABELA No 05: COMPARAÇÃO COM DIVERSOS TIPOS DE NAVIOS-AERÓDROMOS (B)

CLASSE A-12 São Paulo Invincible (RN) Garibaldi (I) Pr. de Astúrias

LOA (m) 265,00 210,00 180,00 196,00

LWL (m) 238,00 192,80 162,80 (*) 177,30

BWL (m) 31,70 27,50 22,60 (*) 24,30

B FlightDeck (med) 51,20 36,00 33,00 32,00

T (m) 8,40 7,30 6,70 (*) 6,70

Fn 0,319 0,33 0,386 0,305

Cb 0,51 0,55 0,53 0,58

B/D1 2,02 2,10 1,81 2,29

B/D2 1,31 1,29 1,17 1,17

L/B 7,51 7,01 7,20 7,30

B/T 3,77 3,77 3,37 3,63

Desloc. (m3) 31.980 21.463 13.065 16.769

Desloc. (Tons.) 32.780 16.860/22.000 10.100 / 13.370 15.912 / 17.188

D1 (m) 15,70 13,10 12,50 10,60

D2 (m) 24,20 21,30 19,30 20,70

Invincible 1980 Incorporação Clemenceau 1961 Illustrious 1982 Garibaldi 1985 P. de Astúrias 1988 Primeiro da Classe Foch 1963 Ark Royal 1985

Invincible £ 185 mi Custo de Obtenção n.d. n.d. n.d. Ark Royal £ 333 mi

Custo Operação 97-98: £ 46,9 / 35,8 Invincible/Illustrious n.d. 98-99: £ 41,5 / 42,4 n.d. n.d. £ milhões/ano 99-00: £ 51,8 / 37,5

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Dimensionamento, coeficientes e refinamentos em função do número e da propulsão localização dos elevadores de aeronaves e munição, pontos de reabastecimento e O autor não tem como dizer se a Ma- outros inúmeros detalhes. rinha do Brasil deve continuar na linha Dimensionado o convoo, parte-se para tradicional e adotar um navio-aeródromo o projeto do hangar que será função do para operação no regime Catobar. Adotar número de aeronaves a serem abrigadas o regime STOVL implicaria adotar neces- simultâneamente e o nível de manutenção sariamente (e sem opções) o Joint Strike a ser executado a bordo. Com estes dois Fighter F-35B. Mas a Royal Navy (Ingla- elementos “mais ou menos” definidos, terra) e a Marina Militare (Itália) estão na dimensiona-se o casco para se chegar às mesma situação. O principal cliente para dimensões e coeficientes que permitam sa- versão “B” continua sendo o USMC. tisfazer aos requisitos de autonomia, raio- O primeiro passo a ser dado na con- -de-ação, sustentabilidade, velocidade etc. cepção do novo navio trata da análise das Para os NAe 65000/52000/45000, o opções de aeronaves existentes ou a serem autor adotou o conceito do All Electric construídas no curto prazo, que definirão o Ship. Temos, pois, a geração de apenas tamanho da pista de pouso e das catapul- um tipo de energia, a elétrica, para fazer tas, em regime Catobar, ou o comprimento funcionar desde propulsão, catapultas, da pista de rolamento e o ângulo do Ski aparelho de parada, elevadores etc., até a Jump no caso STOVL. Em seguida temos demanda normal a bordo de hotelaria. Com outro requisito fundamental no layout a opção Catobar, o NAe seria provido de do convoo: operações de pouso e lança- duas catapultas EMALS (Electro Magnetic mento simultâneos diurnas e noturnas e Aircraft Launching System). O aparelho de com “qualquer” condição meteorológica. parada com três cabos seria igualmente do Finalmente, o número de aeronaves sendo tipo eletro-magnético. manobradas, abastecidas, municiadas e Para este estudo, que visa encontrar estacionadas temporariamente no con- respostas com relação ao tamanho de um voo, em função do requisito de número futuro NAe Catobar, escolheremos três e tipos de missões ou o número diário tamanhos de navios da Tabela No 03 em ou taxa-hora de lançamentos e pousos. função de seu deslocamento máximo, cal- São básicamente estes os três requisitos culando todos dados necessários para uma que definirão inicialmente o tamanho do escolha, resumidos em tabelas, a partir das convoo, sendo que posteriormente haverá dimensões iniciais da Tabela no 3.

TABELA No 06: PROPULSÃO, GERAÇÃO ELÉTRICA E ESCOLHA DAS MÁQUINAS

NAe 65000 NAe 52000 NAe 45000 Diam. Hélice 7,50 m 6,90 m 6,20 m RPM (28 kts) 123 133 149 Eficiência dos Hélcies 0,70 0,70 0,70 Brake Power (28 kts) 125.310 kW 109.354 kW 100.652 kW Eficiência Total 0,693 0,693 0,693 4 x Motores Elétricos 32.130 kW 28.040 kW 25.808 kW Demanda a Bordo (máx) 30.000 kW 30.000 kW 30.000 kW

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Margens de projeto e Service Life of Allied Engineers – Recomended Allowances Practice 14: Weight Estimating and Margin Manual for Marine Vehicles, para navios- Tipicamente em projeto de navios, aeródromos recomenda-se uma margem de um certo número de margens é incluído crescimento de peso durante a vida útil (SLA na estimativa do peso leve de um navio. – Service Life Allowances) igual a 7,5% Estas margens devem levar em conta as sobre o deslocamento leve projetado, sem a incertezas nos cálculos de estimativa do reserva de projeto de 6%, para um período peso leve, potenciais mudanças do projeto previsto de 30 anos de serviço (Ref. 10). ainda durante a construção e aumento de peso durante o detalhamento de projeto Pesos – Ship weight break-down system e construção, devido a informações mais precisas. No caso do ineditismo de um O resultado atualizado dos cálculos projeto de um navio-aeródromo no Brasil, de distribuição dos pesos efetuados pelo as incertezas devem ter alta relevância. autor e com base em dados pesquisados e Consideraremos uma margem de projeto confrontados com a metodologia de cálculo de 6% sobre o deslocamento leve, segundo do trabalho MNVDET-CV (Ref. 6 e 10) o seguinte critério da USN: “design similar está relacionado na Tabela no 7, abaixo. to existing designs but with major changes As frações SWBS são expressas percen- and an associated level of some uncertainty”. tualmente em relação ao deslocamento Na realidade, esta consideração é mais do máximo, inclusive as reservas de projeto que rigorosa porém a favor da segurança. e SLA (margens de crescimento durante a Conforme o documento SAWE – Society vida útil). O resultado segue abaixo:

TABELA No 7: DISTRIBUIÇÃO DE PESOS

NAe 65000 (tons) NAe 52000 (tons) NAe 45000 (tons) SWBS 100 29.649 (45,7%) 24.003 (45,7%) 19.991 (45,7%) SWBS 200 1.492 (2,3%) 1.523 (2,9%) 1.312 (3,0%) SWBS 300 2.595 (4,0%) 2.626 (5,0%) 2.318 (5,3%) SWBS 400 454 (0,7%) 368 (0,7%) 350 (0,8%) SWBS 500 6.293 (9,7%) 5.095 (9,7%) 4.243 (9,7%) SWBS 600 2.984 (4,6%) 2.416 (4,6%) 2.012 (4,6%) SWBS 700 260 (0,4%) 210 (0,4%) 175 (0,4%) PESO LEVE 43.727 (67,4%) 36.241 (69,0%) 30.401 (69,5%) RESERVA PROJETO 6% x PESO LEVE 6% x PESO LEVE 6% x PESO LEVE PESO LEVE+RES.PROJ. 46.350 (71,4%) 38.415 (73,1%) 32.225 (73,7%) MARGENS (SLA) (*) 3.280 (5,0%) (*) 2.718 (5,2%) (*) 2.280 (5,2%) CARGA ÚTIL 15.247 (23,6%) 11.390 (21,7%) 9.239 (21,1%) DESL MAX C/ SLA 64.877 (100%) 52.523 (100%) 43.744 (100%)

(*): Na tabela temos a margem de SLA igual a 5,0% do “deslocamento máximo + SLA”, que corresponde numericamente a 7,5% do “peso leve sem as reservas de projeto”, como preconizado pela USN : 7,5% x 43.727 = 3.280 tons / 7,5% x 36.241 = 2.718 tons / 7,5% x 30.401 = 2.280 tons

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TABELA No 8: DISTRIBUIÇÃO DA CARGA ÚTIL, TRIPULAÇÃO E GRUPO AÉREO EMBARCADO

Itens NAe 65000 NAe 52000 NAe 45000 (toneladas) (toneladas) (toneladas) Diesel Naval (MGO) 6.300 4.270 3.709 JP-5 4.020 2.900 2.000 Lubrificantes 50 50 50 Munição 1.200 850 600 GAE (28 + 2 + 10) 800 (26 + 2 + 8) 600 (18 + 2 + 8) 550 Água potável 600 600 550 Mantimentos (45 dias) 1.000 950 770 Tripulantes do Navio 1.300 1.300 1.300 Tripulantes do GAE 800 700 600 Temporários 120 120 120 Pessoal e Pertences 427 400 360 Tratamento de Efluentes 850 770 650 TOTAL 15.247 11.390 9.239

Na composição dos GAE partimos de cruzeiro de 18 kts. Como default, admitimos baixo para cima, baseados primeiramente que a geração a bordo para hotelaria seja de no GAE do Charles de Gaulle, composto 8.000 kW nos três casos para simplificar, ge- de 20 aeronaves de caça Rafale-M e Super ração esta que deverá ser somada à demanda Étandard, 2 x E-2C e ca. 4 x helicópteros. elétrica da propulsão em cada caso. Assim, Os demais GAEs foram por comparação calculamos a autonomia, ou fuel endurance, com navios similares como, por exemplo, dividindo o estoque de combustível pelo seu o CVF inglês. No cálculo dos pesos do consumo total na geração de energia elétrica GAE, consideramos os pesos vazios das para a propulsão e hotelaria. aeronaves F-18-E/F Super Hornet com Já no caso de períodos prolongados 14.000 kg, Grumman E-2C com 18.400 kg de permanência no mar ou em viagem e e o helicóptero Sikorsky S-70B (MH-16) operações aéreas, será necessário estudar com 6.200 kg. Acrescentamos algum peso as várias situações de deslocamento, opera- a mais para obter flexibilidade no número ções de baixa, média e alta intensidade. A embarcado e trade-off entre tipos, além de autonomia, o raio de ação, a fuel endurance levar em conta os sobressalentes. e a sustentabilidade serão diferentes em cada situação e dependerão das demandas Autonomia e raio de ação específicas de cada item como combustível do navio e das aeronaves, munição e estoque A autonomia e o raio de ação de um navio de mantimentos. devem ser relativizados, pois não compõem O estudo da logística de ressuprimento no pura e simplesmente um único valor. O pri- mar deverá contemplar e combinar as várias meiro cálculo a ser feito, e o mais simples, situações mencionadas acima, além das pos- considera o ferry range, ou seja, o simples síveis distâncias de bases e portos amigos, deslocamento ou transporte entre dois pon- estabelecendo os intervalos “ótimos” de tos, sem operações aéreas, à velocidade de suprimento para o fornecimento simultâneo

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do maior número de itens no menor intervalo No quesito sustentabilidade, é preciso con- de tempo possível. A eficiência da logística siderar, ainda, os regulamentos ambientais no mar também dependerá da combinação preconizados pela IMO-Marpol (MARitime dos shuttle ships (suprimento entre bases e POLlution). Quando o anexo “V” do IMO- força-tarefa) e station ships (que acompa- Marpol foi ratificado, no final dos anos 70, os nham a força-tarefa). armadores foram obrigados a tomar medidas de curto prazo no quesito poluição, relativo Sustentabilidade operacional e ao tratamento de efluentes sanitários, águas regulamentos IMO-Marpol de lastro e contaminação por óleo, águas cinzentas, resíduos orgânicos de cozinha e Como dito acima, a configuração do sólidos secos em geral, como metais, plásticos GAE dependerá do tipo de missão e do e vidro. Porém, navios governamentais e de nível de intensidade de uma crise no teatro guerra tiveram a sua adesão obrigatória pos- de operações. Como exemplo, podemos tergada, mas a maioria das Marinhas resolveu mencionar os CVFs da RN, onde os GAEs aderir, à guisa de bom exemplo. são dimensionados segundo o critério TAG Outro aspecto ambiental que vem sendo (Tailored Air Groups), em função do tipo implantado gradualmente e com grande rigor e do nível de operações aéreas: são as emissões das máquinas de propulsão I) tempos de paz e exercícios menores; e geração de energia. O regulamento IMO- II) crises de média intensidade, strike Marpol 73/78 Anexo VI se aplica às emissões configuration; e de NOx (óxidos de nitrogênio) de motores diesel III) crises de alta intensidade, wartime. e turbinas. O Tier III entrará em vigor em 2016. Resumindo, nesse conjunto de requisitos A sustentabilidade do meio naval e seu ambientais, podemos estabelecer como pre- GAE num teatro de operações dependerá do missa um limite prático de 60 dias em que número de missões e dos estoques de combus- os navios conseguem armazenar resíduos a tíveis e munições e seu ressuprimento. Mas, serem descartados no próximo porto a ser de- para simplificar os cálculos, consideramos mandado. Ocasionalmente, em circunstâncias apenas o consumo de combustível das aerona- especiais, pode haver o transbordo dos resíduos ves como parâmetro de cálculo, porém, a rigor, sólidos para um navio de ressuprimento, que os deveríamos considerar igualmente o estoque incinerará. Mas, no caso de um NAe, a situação de bombas, mísseis e munições. Os resultados é menos crítica devido à disponibilidade de vo- da memória de cálculo estão resumidos na Ta- lume e espaço e à possibilidade de incineração bela no 9, nas antepenúltima e penúltima linhas. de resíduos orgânicos a bordo. TABELA No 9: RAIO DE AÇÃO, AUTONOMIA E SUSTENTABILIDADE NAe 65000 NAe 52000 NAe 45000 Ferry Range (18 kts) n.m. 16.020 11.792 10.911 Dias de Mar 37 27 25 Ferry Range (15 kts) n.m. 20.285 14.835 13.635 Dias de Mar 56 41 37 Mantimentos (dias) 45 45 45 Aut. Baixa Intens. (dias) 30 22 19 Raio de Ação (n.m.) 13.680 10.032 8.697 Aut. Alta Intens. (dias) 23 18 17 Raio de Ação (n.m.) 11.049 8.640 8.123 GAE Baixa Intens. (dias) 18 13 09 GAE Alta Intens. (dias) 7 5 4 IMO-Marpol (dias) 60 60 60 ESTUDO COMPARATIVO DE NAVIOS-AERÓDROMOS

Centros, estabilidade e seakeeping – Centros comparações com várias classes Os cálculos dos centros do navio são Coeficientes seguramente os parâmetros mais importan- tes na avaliação da sua estabilidade. Destes Na tabela No 10 relacionamos os prin- dependerá o seu comportamento no mar (sea cipais coeficientes que servem para aferir worthyness). Em toda a nossa pesquisa, pode- o projeto de um navio. Um dos principais mos enumerar os parcos resultados de dados a ser obtido é o coeficiente de bloco. No- reais: KG da classe Nimitz, GM da classe São tamos, pelos dados das tabelas de nos 4 e Paulo. Os demais centros foram calculados 5, que a maioria, desde a década de 1930 com o auxílio da literatura Ref. 11 e Ref. 2. até os dias atuais, se concentra em torno Observamos que, nos casos dos navios de Cb = 0,60. da década de 1930 e do período da Segunda Na tabela No 11 relacionamos as alturas Guerra Mundial, as alturas metacêntricas dos centros de gravidade (KG) e suas pro- eram menores e giravam em torno de GM porções em relação aos pontais “D1” (altura = 1,75 m. Na literatura ostensiva, encon- da quilha ao piso do hangar) e “D2” (altura tramos o valor da altura metacêntrica do da quilha ao convoo). Devido a informa- Clemenceau como sendo aproximadamente ções frequentemente confusas, resolvemos GM = 1,55 m. Já o seu sucessor Foch, hoje fazer esta distinção e, para efeito do cálculo São Paulo, tem uma estabilidade melhor de estabilidade, fica claro que o pontal “D1” do que seu antecessor da mesma classe. é o correto, por considerar-se o piso do han- Atualmente, os navios-aeródromos moder- gar como o Bulkhead Deck. Notamos que nos têm alturas metacêntricas (GM) com os porta-aviões mais antigos, entre 1930 e valores entre 2,50 m e 3,00 m. Isto também 1950, tinham esta relação similar aos atuais, fica evidente na razão B/D (relação boca/ mas alturas metacêntricas (GM) menores. pontal) maior dos navios modernos. TABELA No 10: TABELA DE COEFICIENTES DE VAN GRIETHUYSEN (Ref. 21) TIPO L / B L / D1 L / D2 B / D1 B / D2 B / T F v NAe Típico 6 - 7,5 6 - 8 n.d. 9 n.d. 1,3 3,3- 4,1 0,8 Nimitz 7,10 7,77 16,7 10,3 2,17 1,32 3,61 0,79 Enterprise 7,14 7,83 16,7 10,3 2,15 1,31 3,58 0,79 São Paulo 7,50 7,51 15,2 9,8 2,02 1,31 3,77 0,87 CVF 6,60 6,41 14,6 8,8 2,17 1,30 3,55 0,65 NAe 65000 6,88 7,50 15,7 9,8 2,09 1,31 3,49 0,73 NAe 52000 6,81 7,03 15,0 9,2 2,13 1,31 3,71 0,75 NAe 45000 7,10 7,20 15,9 9,5 2,21 1,32 4,01 0,78 STOVL BR 7,00 7,40 17,7 9,5 2,41 1,29 3,40 0,81 Cavour 7,00 7,40 17,0 9,1 2,29 1,23 3,35 0,83 CVV (*) 6,72 6,82 15,3 9,8 2,25 1,44 3,64 0,74 Wasp 7,96 7,21 12,4 8,1 1,72 1,13 4,17 0,99 Essex 7,93 8,61 15,6 10,1 1,82 1,18 3,72 0,96 CV-6 7,37 9,31 13,8 9,3 1,73 1,16 3,93 0,94 CV-5 7,49 7,72 11,1 11,1 1,44 1,44 4,29 0,94 (*): O projeto CVV de 1975 foi um estudo da USN para obter um NAe menor e convencional, como alternativa aos CVNs, sob o comando do CNO AE Zumwalt (Ref. 06). Mas o projeto foi derrotado pelo lobby do Almirante Rickover no Congresso.

RMB3oT/2015 65 ESTUDO COMPARATIVO DE NAVIOS-AERÓDROMOS

TABELA No 11: CENTROS OBTIDOS NA LITERATURA OU CALCULADOS PELO AUTOR CVV-USN/1976 ENTERPRISE NIMITZ CLASSE NAe 65.000 4ª G NAe 52.000 NAe 45.000 (Estudo) CVN-65 CVN-68 KB (m) 5,94 5,46 4,84 5,96 6,19 6,20 BMt (m) 9,72 10,55 10,93 11,44 11,03 11,11 KM (m) 15,66 16,01 15,77 17,40 17,22 17,31 KG (m) 12,91 13,35 13,33 14,4 14,34 14,37 GM (m) 2,75 2,66 2,44 3,00 2,88 2,94 T roll (seg) (1) 16,00 16,00 16,00 (1) 16,00 17,30 17,30 T pitch (seg) 8,51 8,23 8,16 8,97 8,97 KG/D1 (%) (2) 0,74 0,79 0,85 0,85 0,76 0,76 KG/D2 (%) (2) 0,46 0,49 0,51 0,54 0,46 0,47

WASP YORKTOWN ESSEX ENTERPRISE SÃO PAULO CLASSE CVF ( UK ) CV-7 CV-5 CV-9G CV-6 A-12 KB (m) 4,11 3,81 4,51 4,87 5,00 6,21 BMt (m) 12,15 9,63 9,01 8,37 11,10 11,27 KM (m) 16,26 13,44 13,52 13,24 16,10 17,48 KG (m) 14,71 11,60 11,75 11,50 13,53 14,71 GM (m) 1,55 1,84 1,77 1,74 2,57 2,77 T roll (seg) 16,00 16,00 16,00 16,00 14,34 17,00 KG/D1 (%) (2) 0,92 (1) 0,57 0,72 0,67 0,87 0,83 KG/D2 (%) (2) 0,60 0,43 0,46 0,46 0,56 0,49 (1): Valores arbitrados por semelhança e compatibilidade. (2): Percentagens de KG (altura do CG acima da quilha) em relação ao pontais D1 e D2, respectivamente.

Avaliação preliminar da estabilidade dos estáveis e com boas qualidades náuticas em função dos centros para efeito deste estudo de exequibilidade. A altura relativa dos centros e as relações Os resultados dos cálculos feitos e das proporções dos navios (relações e resumidos na tabela no 11 mostram que coeficientes constantes das três tabelas os coeficientes dos três tamanhos de imediatamente acima) são compatíveis com navios-aeródromos que estamos estudan- valores reais e com aqueles consagrados na do, NAE 45000/52000/65000, estão em literatura técnica. conformidade com os navios das classes Nimitz e Enterprise, que nos servem como NAVIO-AERÓDROMO exemplos preferenciais de comparação. ALTERNATIVO – REGIME STOVL Contudo, também utilizamos outras classes de navios para avaliar nossos resultados, Tendo até este ponto estudado exaus- quando necessário. tivamente os navios-aeródromos que Sem efetuar cálculos dedicados à es- operam no regime Catobar, pois é a nossa tabilidade, mas apenas comparando os tradição, percebemos que a opção de um resultados obtidos com os navios existen- navio-aeródromo STOVL também precisa tes (ou que existiram), podemos concluir ser estudada, pois há detalhes relevantes a que os modelos aqui estudados (NAe considerar. Percebemos que os custos de 65000/52000/45000) podem ser considera- obtenção e operação do regime Catobar

66 RMB3oT/2015 ESTUDO COMPARATIVO DE NAVIOS-AERÓDROMOS

são elevados e, sendo os nossos recursos AA/AD, em que o objetivo é engajar o ini- orçamentários escassos, vimo-nos compe- migo a uma distância segura. Avaliando, o lidos a analisar uma versão STOVL. Ini- range do F-35B é da ordem de 1.080 n.m., cialmente, uma análise técnico-econômica, e o combat radius de cerca de 450 n.m. é sem considerar aspectos relacionados com equivalente a uma distância que um escol- os prováveis futuros REM. ta inimigo a 30 nós levaria 15 horas para Pesquisando os navios modernos e atu- entrar em contato com a nossa força-tarefa ais, o italiano Cavour é o maior desta cate- (www.globalsecurity.org/military/systems/ goria de navios-aeródromos. Outros, como aircraft/f-35specs.htm). o Juan Carlos espanhol, a classe Mistral Com base nas informações obtidas so- francesa e os americanos da classe Makin bre o navio Cavour, da Marinha italiana, Island, são navios para operações anfíbias, conseguimos calcular/estimar as princi- e não os consideraremos aqui como NAes pais dimensões, mas uma dúvida persiste STOVL “puros”. Aliás, o próprio Cavour no quesito deslocamento máximo, pois também tem uma componente anfíbia em- encontramos os valores 27.100/27.500 e barcada, mas sem doca, caracterizada por 30.000 tons. E nenhuma destas informações sua capacidade Ro-Ro (Roll-On / Roll-Off) caracteriza o deslocamento, nem se incluem para veículos militares. reservas etc. Com as medidas obtidas, ar- Com base em informações que obtive- bitramos o deslocamento em 27.974 tons, mos na literatura ostensiva na internet e incluindo as reservas SLA. Daí resultou um com auxílio do nossa metodologia habitual coeficiente de bloco igual a 0,50, relativa- de cálculo, analisamos e deduzimos de mente esbelto, e calculamos os coeficientes maneira aproximada os dados técnicos do gerais, que se mostraram coerentes. Cavour e, em seguida, concebemos um NAe Os valores da potência de propulsão que pouco maior e puramente STOVL, que cha- calculamos (brake power) são compatíveis maremos hipoteticamente de NAe STOVL com as velocidades. A informação sobre o BR, sem atribuições de natureza anfíbias consumo de MGO à velocidade de 16 nós que possam restringir ou comprometer a confere com os cálculos feitos para uma finalidade principal de operar aeronaves turbina G&E LM2500 em regime de apro- embarcadas. Os resultados da nossa pesquisa ximadamente 11.300 kW. Com os 88.000 estão relacionados na Tabela no 12. kW instalados com quatro turbinas em re- Aqui será necessário o leitor rever gime Cogag, o navio pode chegar a 30 nós e flexibilizar o seu conceito de navio- e com um eixo + duas turbinas acionando a aeródromo, pois, para missões AA (Area plena força, o Cavour atinge 24 nós. Access) – impedir acesso, AD (Area Denial) Tendo o Cavour como modelo, repetimos – negação do mar, ASW – guerra antissub- os cálculos para o nosso projeto do NAe marino, superioridade aérea, proteção de STOVL BR, com deslocamento e dimensões forças-tarefa e, em escala menor, cobertura um pouco maiores, como seria a nossa opção aérea para operações anfíbias, um NAe para a Marinha do Brasil. Os coeficientes e STOVL poderá ser perfeitamente adequado e a estabilidade mostraram-se melhores, pois uma solução a ser considerada (Ref. 13 e 15). forçamos os resultados a nosso critério. Po- A questão do raio de ação das aeronaves rém surgiu um detalhe importante no tocante STOVL, como o F-35B, inferior às capaci- ao arranjo geral, pois como a altura da WL dades do tipo Catobar, como o F-35C, perde (water line) ao piso do hangar resultou em relevância quando as operações são do tipo 4,00 m, e segundo consenso geral, muito

RMB3oT/2015 67 ESTUDO COMPARATIVO DE NAVIOS-AERÓDROMOS

baixo para um elevador de borda externa, do Atlântico Norte para proteger e abrigar optamos por dois elevadores internos (ao 100% das aeronaves, além de possibilitar estilo da Royal Navy), um a vante e outro manobras no convoo em condições mais a ré da ilha, com dimensões 21,0 x 14,0 m adversas, embora nos novos e recentes CVFs para 30 tons. A Royal Navy sempre adotou os elevadores fiquem localizados no bordo este estilo devido à fúria do Mar do Norte e a boreste (BE).

TABELA No 12: CARACTERÍSTICAS DO CAVOUR E DO NAe STOVL BR CAVOUR NAe STOVL BR REFERÊNCIAS LOA (m) (*) 235,00 245,00 LWL (m) 215,60 225,00 BWL (m) 29,10 30,60 B Moldada 39,00 42,00 T (m) 8,70 9,00 Volume Displ. Máx. (m3) 27.293 34.081 Weight Displ. Máx. (tons) 27.974 34.933 D1 (m) 12,70 12,70 D2 (m) 23,70 23,70 Free-Bord (m) 15,00 15,00 WL to Hangar Floor (m) 4,00 4,00 Flight Deck Dimensions 232,60 x 34,50 243,00 x 37,00 Pista 183,00 x 14,20 jump 12° 200,00 x 14,20 jump12° Hangar Dimensions 134,20 x 21,00 x 7,20 145,00 x 22,50 x 7,20

Fn (28 kts) 0,34 0,31 Cb 0,50 0,55 LWL/BWL 7,4 7,4 (6,0 – 8,0)w B/D1 2,29 2,41 Nimitz = 2,17 B/D2 1,23 1,29 (1,3) / Nimitz = 1,32 B/T 3,35 3,4 (3,3 – 4,1)

KB (m) 5,15 5,25 KM (m) 14,07 13,91 KG (m) 12,29 11,94 KG/D2 (%) 52,0 50,0 Nimitz: 47% D2 Nimitz: 76%, CVF: 83% KG/D1 (%) 97 94 São Paulo: 87% GM (m) 1,78 1,97 Nimitz: 2,94 T roll (seg) (Sandia Labs, US) 15,80 15,80 Nimitz: 17,30

Pb Brake-Power (kW) (calculado) 74.000 (calculado) 84.152 Veloc = 28 kts Pb Brake-Power (kW) (calculado) 11.300 (calculado) 12.800 Veloc = 15 kts Cogag (4 x LM 2500) 2 x 44.000 Brake-Power Cogag p/Eixo (kW) (1 x LM2500+) 2 x 48.000 (2 x MTU20V8000) Geração Elétrica (kW) 18.000 20.000 Veloc Máx. (kts) 30 28 68 RMB3oT/2015 ESTUDO COMPARATIVO DE NAVIOS-AERÓDROMOS

Quanto à propulsão do NAe STOVL 3) Pouso mais fácil em situações de BR, imaginamos dois eixos independen- meteorologia adversa. Os pilotos dizem que tes como no Cavour, porém acionados é mais fácil primeiro parar e depois pousar no modo Codag, com dois motores diesel do que o contrário. MTU20V8000 de 9,0 MW cada e uma 4) Mais de uma aeronave pode pousar turbina G&E LM2500+ de 30 MW, em simultaneamente. vez do modo Codag do Cavour, prin- 5) As aeronaves podem ser enfileiradas cipalmente por razões de economia de e prover uma taxa de decolagem superior combustível. No modo puramente diesel, a uma catapulta. o navio deve atingir 18 nós. No caso des- ta variante, calculamos a nova autono- Mas há desvantagens: mia. Raio de ação do NAe STOVL BR: 1) Um caça STOVL não pode decolar com 15 nós: 862 horas/36 dias/12.920 n.m. a mesma carga de um Catobar. O F-35B e para 28 nós: 155 horas/6,5 dias/4.340 embarca no total cerca de 11.000 kg e o n.m. F35C, cerca de 16.600 kg (combustível Para termos uma rápida noção da + carga militar). Isto reduz a autonomia sustentabilidade desta versão no quesito e a força militar do F-35B. Mas um de operações aéreas, citamos aqui alguns recurso para contornar esta deficiência números que calculamos. O número de seria equipar um F-35B com tanques missões do GAE pode ser obtido, grosso externos ejetáveis, que desempenharia modo, considerando-se o combustível a missão Revo (nanny), completando o que cada aeronave carrega e o total do abastecimento de outras aeronaves em estoque de JP-5 a bordo, que permite ao missão depois da decolagem, possibili- GAE um total de 18,5 missões do con- tando, assim, o embarque do máximo de junto completo. No tocante ao estoque carga militar e combustível. Contudo, de carga militar, estimemos 150 tons este recurso diminui o número dispo- para os mísseis e munição dos canhões nível de aeronaves para as missões e do navio e torpedos ASW para os heli- o reabastecimento em voo sempre está cópteros. As 450 tons restantes seriam associado a riscos adicionais. bombas e mísseis para os F-35B, o que Tomemos como exemplo a distân- resultaria em 45 tons por aeronave ou o cia entre o Rio de Janeiro e Capetown suficiente para aproximadamente sete ou Lagos, na África, igual a 3.300 n.m. missões de ataque ou combate aéreo do A área de responsabilidade do Brasil no conjunto de caça. âmbito da IMO-Solas (Safety of Life at Finalizando, alguns comentários sobre o Sea) cobre cerca de 13 milhões de km2, regime operacional. No sistema STOVL, o cuja distância máxima é de 1.850 n.m. jato decola após uma pequena corrida e no numa reta do Rio de Janeiro ao vértice final há uma rampa chamada de ski jump e sudeste do polígono que engloba esta o pouso é vertical. As principais vantagens área. Donde apenas um único NAe deste sistema são as seguintes: STOVL navegando entre 1.100 e 1.300 1) Em relação à decolagem puramente n.m. da costa brasileira cobriria com vertical, a aeronave pode carregar mais o combat radius de um F-35B (raio: peso. 450 n.m.) a faixa central do Atlântico 2) Não há necessidade de catapultas e Sul, na área de vigilância coberta pelo aparelhos de parada. SisGAAz.

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2) No retorno ao navio, às vezes o caça de 12 aeronaves embarcadas, mais um é obrigado a descartar carga militar, esquadrão de reserva, estaríamos falando dependendo do peso total no momento de 60 aeronaves ou 15% do total atual antes do pouso. previsto da versão F-35B, num total 3) Hoje existe apenas um fabricante de ae- aproximado de US$ 6.330,00 milhões ronaves STOVL: a Lockheed-Martin. somente para a obtenção dos aviões (Fon- A Boeing fabricava o AV-8B, a versão te: US Department of Defense projected americana do Harrier. Obviamente, há F-35 flyaway cost of US$ 105,50 millions uma grande dependência dos clientes per unit – Source: Jeremiah Gertler, e demanda uma boa relação político- F-35 Joint Strike Fighter Program pg. diplomática com os Estados Unidos. 17, Congressional Reasearch Service, Hoje os clientes da versão STOVL Washington DC, as per April 29th, 2014). JSF F-35B, em números previstos e aproximados, são o USMC, com 350 Encerrando o estudo sobre o Cavour unidades; a Royal Navy, com 138 uni- e uma versão STOVL para a Marinha do dades e a Marina Militare (italiana), Brasil, elaboramos a Tabela no 13, com a com 22 unidades. composição das frações de pesos e o cálculo Nenhum outro cliente associado da carga útil do navio. E na Tabela no 14, a do projeto Joint Strike Fighter F-35 composição da carga útil, fundamental no da Lockheed-Martin, a saber Holanda, cálculo da autonomia e sustentabilidade Noruega, Dinamarca, Turquia, Austrália destes dois meios navais. Evidentemente e Canadá, comprará a versão F-35B, mas que, no caso do Cavour, trata-se de valores todos obterão a versão F-35A, sendo que estimados e, no caso do NAe STOVL BR, somente a USN operará a versão F-35C. são valores impostos. O Brasil seria, possivelmente, um clien- te conveniente para ajudar a diluir custos CONCLUSÃO e riscos do projeto da versão F-35B. Se pensarmos por hipótese em qua- Na pesquisa por um tamanho adequado tro navios, cada uma com um esquadrão de navio-aeródromo operando no regime

TABELA No 13: DISTRIBUIÇÃO DE PESOS

CAVOUR NAe STOVL BR SWBS 100 12.784 (45,7%) 15.964 (45,7%) SWBS 200 900 (3,2%) 1.300 (3,7%) SWBS 300 1.119 (4,0%) 1.397 (4,0%) SWBS 400 196 (0,7%) 245 (0,7%) SWBS 500 2.713 (9,7%) 3.493(10,0%) SWBS 600 1.287 (4,6%) 1.747 (5,0%) SWBS 700 112 (0,4%) 140 (0,4%) PESO LEVE 19.111 (68,3%) 24.286 (69,5%) PESO LEVE + RESERV 20.258 (72,4%) 25.743 (73,7%) 1.400 MARGENS (SLA) 1.747 (5,0%) (5,0%) CARGA ÚTIL 6.322 (22,6%) 7.443 (21,3%) DESL MÁX C/ SLA 27.974 (100%) 34.933 (100%)

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TABELA No 14: DISTRIBUIÇÃO DA CARGA ÚTIL, TRIPULAÇÃO E GRUPO AÉREO EMBARCADO

Itens CAVOUR NAe STOVL BR Diesel Naval (MGO) (tons) 2.125 3.300 JP-5 (tons) 1.215 1.900 Lubrificantes (tons) 30 45 Munição (tons) n.d. 600 Grupo Aéreo Embarcado (tons), 12 x F-35B/12 x S-70B/4 x MQ-8C 12 x F-35B/14 x S-70B/6 x MQ-8C inclusive Sobressalentes 128,0 / 75,0 / 6,0 = 209 x 1,1 = 230 128,0 / 88,0 / 9,0 = 225 x1,1 = 248 Água potável (tons) n.d. 200 Mantimentos (tons) (1.210 x 18 x 10 kg) = 218 (1.000 x 45 x 10kg) = 450 Tripulantes do navio 451 600 Tripulantes do GAE 203 280 Temporários 140 +416 120 Pessoal e Pertences (200 kg/indiv) 242 200 Tratamento de Efluentes (tons) n.d. 500 TOTAL 6.322 7.443 Observação: O drone MQ-8C, da Northrop Grumman, foi adotado como modelo para missões AEW e afins.

Catobar, percebemos que existe claramente futuro navio serão os REM (Requisitos um limite inferior e que este seria mais ou de Estado-Maior) e o custo de ciclo de menos equivalente à nossa versão NAe vida resultante, que deverá ser compati- 45000. Como visto, os principais fatores bilizado com os recursos orçamentários condicionantes são as disponíveis. dimensões, o número Qualquer que seja a e os requisitos de ope- Qualquer que seja a opção opção do modo de ob- ração das aeronaves tenção do novo navio, (Ref. 1). do modo de obtenção será fundamental for- O limite superior do novo navio, será mar uma equipe técni- de opções seria o Su- fundamental formar uma co-gerencial-operativa, per Carrier. Obvia- que terá como missão mente, não correspon- equipe técnico-gerencial- elaborar os estudos de de à nossa doutrina operativa, que terá como exequibilidade e con- e muito menos aos cepção, com ou sem nossos recursos orça- missão elaborar os estudos ajuda de consultoria mentários. Mas, para de exequibilidade e estrangeira. Desde o estabelecer um limi- concepção início, uma das tare- te, adotamos como fas fundamentais deste exemplo o desloca- grupo será a elaboração mento do CVF inglês de 65.000 tons. dos requisitos de manutenção e de apoio Consideramos também um deslocamento logístico integrado, procurando envolver intermediário de 52.000 tons. Mas o que a indústria nacional e multinacional neste realmente determinará o tamanho do processo.

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À medida em que fomos avançando na Existe uma corrente de pensamento que pesquisa sobre a questão da asa-fixa em- argumenta que quanto maior o navio-aeró- barcada, verificamos que, para a Marinha dromo, maior será a eficiência de custos, do Brasil, uma versão de NAe tipo STOVL ou seja, se considerarmos a atividade-fim também deve ser seriamente examinada. do NAe, em que o custo operacional das Além da óbvia questão de custos de ob- aeronaves embarcadas seria o parâmetro de tenção, operação e manutenção, o principal avaliação, fica evidente que isto é verdade. requisito da Marinha do Brasil seria, pos- No entanto, no caso brasileiro, com apenas sivelmente, o controle de áreas marítimas, um (mais provável) ou dois (previstos) guerra ASW e a defesa de forças-tarefa. NAes Catobar, seria como colocar “todos Apenas secundariamente deveríamos focar os ovos no mesmo cesto”, alta limitação num apoio aéreo para operações anfíbias de operacional, risco e vulnerabilidade. envergadura limitada. Estas missões podem Olhando os custos calculados acima, so- ser perfeitamente desempenhadas por um mos da opinião de que “dispersar” a asa fixa NAe STOVL (Ref. 13 e 15). num número maior de navios é mais seguro, O Plano de Articulação e de Equi- eficaz e resulta em maior disponibilidade pamento da MB (PAEMB) preconiza dos meios navais. Claro que do ponto de dois NAes Catobar no âmbito de duas vista econômico temos que olhar do lado esquadras. Se considerarmos o custo de da engenharia primeiro, em que produzir obtenção de dois NAe 45000, chegamos o melhor pelo menor custo é mandatório a um custo de obtenção de aproxima- e, segundo, no extremo oposto como a damente US$ 25,7 bilhões (Tab. No 2), Marinha, deve-se olhar a racionalidade dos incluindo os respectivos GAEs. Um NAe gastos para obter os melhores resultados STOVL BR equipado com seu GAE re- pelo menor dispêndio possível. Mas aqui presentaria um custo de obtenção de cerca a estratégia militar e os requisitos opera- de US$ 4,5 bilhões. Ou seja, com algo cionais são prioritários e podem sobrepujar como US$ 18 bilhões (70% de 2 x NAe os critérios econômicos e a otimização dos 45000 equipados) a Marinha do Brasil custos operacionais. poderia obter quatro navios-aeródromos Analisando-se os números dos parágra- tipo STOVL equipados, cuja soma de fos anteriores, podemos enxergar o leque de aviões de caça e helicópteros seria de 48 opções ou alternativas que se abriria com a unidades do tipo F-35B e 56 Sea Hawk, mera escolha de um NAe STOVL BR em contra 36 unidades do F-35C e 16 Sea detrimento de uma versão Catobar, quan- Hawk embarcados em dois NAe 45000, do ponderamos simultaneamente sobre a como exemplo comparativo. obtenção de vários outros tipos de meios Como calculado acima, o custo opera- navais, diante do montante de recursos que cional anual de um NAe 45000 seria da seriam necessários, por exemplo, para dois ordem de US$ 242 milhões/ano, enquanto NAe 45000 e seus GAEs. que o custo operacional anual de um na- Mas é interessante observar como a vio da classe Invincible, pouco menor do escolha das aeronaves de caça/bombardeio que o Cavour, em valores atualizados de influenciaria na decisão do tipo de navio: 1999 (£ 43milhões x 1,6) para 2015, cerca no regime Catobar, as opções seriam o F-18 de 48% com base na inflação americana, G/H, Grippen Naval, Rafale M e o F-35C. seria em torno de US$ 102 milhões/ano, Já no regime STOVL, estaríamos limitados incluindo o GAE. ao F-35B, com suas implicações políticas,

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custos e sofisticação técnica, ou seja, uma e comprometer o contratado nas garantias opção relativamente complicada. Mas dos navios quanto a desempenho, funcio- a Inglaterra e a Itália estão neste mesmo namento, disponibilidade e custos durante barco. Entretanto, a diferença do custo de o ciclo de vida. obtenção e operação entre os dois tipos de Os prazos estão se esgotando rapidamen- navios, Catobar ou STOVL, poderá pesar te e os que foram preconizados originalmen- demais na balança. te não têm mais como ser cumpridos. Desde Podemos admitir a construção do o início dos estudos até a incoporação, po- primeiro navio da nova classe em esta- demos falar num prazo compreendido entre leiro estrangeiro que for escolhido para dez e 15 anos, se tudo correr razoavelmente participar dos estudos desde o início dos bem. Somente a experiência estrangeira trabalhos. Esta medida ajudaria a mitigar os de alguns estaleiros em particular poderia riscos. Já do segundo navio em diante, os ajudar a encurtar os prazos, e mesmo assim mesmos deveriam ser devemos ser cautelosos construídos no Bra- – há exemplos demais sil, com a assistência Desde o início dos estudos de programas equivoca- continuada do mesmo até a incoporação, dos ou mal engendrados estaleiro estrangeiro. nos países ditos mais Mesmo com tradições podemos falar num prazo avançados. Ninguém fortes em construção compreendido entre dez e está livre de erros. naval, os estaleiros es- 15 anos Os resultados ob- trangeiros que seriam tidos pelo autor são candidatos naturais a apenas indicadores ini- uma concorrência tiveram uma série de ciais para as possíveis direções a serem problemas nos últimos anos em diversos tomadas, tanto em relação ao tamanho e programas de obtenção de meios por suas tipo de navio, como a custos de obtenção, Marinhas pátrias. operacional, manutenção e treinamento, Portanto, a escolha de um parceiro enfim, o custo de ciclo de vida. Este estudo estrangeiro não é uma tarefa fácil. O es- tem por objetivo apresentar os dados e nú- colhido teria que se comprometer com a meros que foram obtidos e calculados que Marinha do Brasil desde o projeto de exe- possam estimular as reflexões dos leitores, quibilidade até a incorporação de todos os procurando flexibilizar algumas ideias mais navios da classe. Inclusive, idealmente, in- arraigadas, tentando induzi-los a refletir cluir cláusulas contratuais de compromisso sobre as opções possíveis ou desejáveis, relativas à manutenção e às modernizações que poderiam atender aos nossos interesses, de ciclo de vida, como forma de envolver requisitos operacionais e orçamento.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Navio-aeródromo; Projeto; Construção naval;

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A-45 – Desenho do convés de voo proposto pelo autor

SIGLAS E ABREVIATURAS AA: Area Access LWL: Length Water Line – Comprimento da AD: Area Denial Linha-d’Agua AEW: Airborne Electronic Warfare MARPOL: MARitime POLlution ASW: Anti Submarine Warfare MGO: Marine Gas Oil BWL: Beam Water Line – Boca na Linha-d’Água MNVDET: Modern Naval Vessel Design and B/D: Relação boca/pontal – índice de estabilidade Evaluation Tool B/T: Relação boca/calado n.m.: nautical mile (milha náutica) CATOBAR: Catapult Assisted Take-Off But NSFO: Navy Special Fuel Oil Arrested Recovery PAEMB: Programa de Articulação e Equipamento COD: Carrier Onboard Delivery da Marinha do Brasil CODAG: COmbination Diesel And Gas RAF: COGAG: COmbination Gas And Gas REM: Requisitos de Estado-Maior COH: Complex Over Haul RN: Royal Navy CVF: Future Aircraft REVO: Reabastecimento em Vôo CVN: Nuclear-Powered Aircraf Carrier SAR: Salvage And Rescue CVV: Aircraft Carrier Medium SisGAAz: Sistema de Gerenciamento da Amazô- D: Hull Depth – Pontal nia Azul – Marinha do Brasil Fv: Volumetric Froude Number SLA: Service Life Allowances FY: Fiscal Year SLEP: Service Life Extension Program GAE: Grupamento Aéreo Embarcado SRA: Selected Restricted Availability GAO: Government Accountability Office, US STOVL: Short Take-Off Vertical Landing Congress, Washington SWBS: Ship Weight Break-down System IMO: International Maritime Organization T: Draft – Calado JSF: Joint Strike Fighter TGC: Total Government Cost : Índice de esbeltez TKMS: Thyssen Krupp Marine Systems L/B: Relação comprimento/boca na linha-d’água TSAC: Total Ship Acquisition Cost L/D1: Relação comprimento/pontal “D1” da TSCC: Total Ship Construction Cost viga-navio TSC: Total Shipbuilder Cost LOA: Length Over All – Comprimento Total USMC: United States Marine Corps LOS: Line Of Sight USN: United States Navy

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REFERÊNCIAS

1) Andrews, Dr. David, R.I.N.A, London College. “Architectural Considerations in Carrier Design”, International Journal of Maritime Technology, London, 2004. 2) Doerry, Armin. “Ship Dynamics”, SANDIA NATIONAL LABORATORIES, references: A) Gates, P.J.. “Surface Warships – An Introduction to Design Principles” B) Gillmer,Thomas & Johnson, Bruce. “Introduction to Naval Architecture” C) Comstock, J.P.. “Principles of Naval Architecture” , SNAME D) Lewis, Edward. “Principles of Naval Architecture –Stability and Strength, SNAME 3) Dönitz, Almirante Karl. “Zehn Jahre und Zwanzig Tage” (Dez Anos e Vinte Dias), Livro de Me- mórias, Athenäum-Verlag 1958, Bonn. 4) Eule, Klaus. “Water Treatment and Waste Management for Enduring Operations”, Naval II/2008. 5) Freitas, VA-EN (RM1) Élcio de Sá. A Busca de Grandeza: Marinha, Tecnologia, Desenvolvimento e Defesa, Editora Serviço de Documentação da Marinha, 2014. 6) Friedman, Dr. Norman. “Return to the Small Carrier”, Naval War College, US Navy. 7) G.A.O. “Government Accountability Office”, Congresso dos Estados Unidos da América, dados obtidos no site do congresso americano na internet: www.fas.org/man/gao/nsiad98001/c3.htm 8) Isenberg, David. “The Illusion of Power: Aircraft Carriers and US Military Strategy”, Research Analyst at the Center For Defense Information, USA. 9) Lynch, CMG (RM1) Pedro Augusto B. O Voo do Falcão Cinza, 1a Edição. 10) MNVDET-CV. Coletânea de Procedimentos de Cálculo de Navios-Aeródromo : www.mnvdet-cv.com 11) NAVSEA. “Manual for the Salvage Engineer”, SO300-A8-HBK-010, Code 55W. 12) Pesce, Eduardo Italo & Correa, Ronaldo Leão. “Uma Classe de Navio Aeródromo para a Marinha do Brasil”, RMB 2oT/2000. 13) Polmar, Norman. “Aircarft Carriers Vol. II”, Potomac Books, Virginia, 2nd Edition. 14) RAND – Aircraft Carrier Maintenance Cycles and Their Effects : www.rand.org 15) Rubel, Prof. Robert C. (Captain USN Retired). “The Future of Aircraft Carriers”, Dean of the Naval Warfare Studies, Naval War College. 16) Slapnicar, V. University of Zagreb & Ukas, B. Saipem S.p.A. Milano. “Aircraft Carrier Stability in Damaged Condition” th 17) Tupper, Eric. Introduction to Naval Architecture, 4 Edition. 18) Vego, Dr. Milan, Naval War College, USN. “Defining Priorities at Sea: Mobility, Versatitlity and Survivability”, Naval Forces IV/2009. 19) Vogt, René. “NAe 55000 – Um sucessor para o Navio-Aeródromo São Paulo”, RMB 3oT/2009. 20) Vogt, René. “Um sucessor para o NAe São Paulo – Uma Segunda Opção”, RMB 1oT/2011. 21) Watson, D.G.M.. Practical Ship Design, 1st Edition, 1998. 22) Wolfson, Dianna. “A to the Inherent List on Nimitz Class Aircraft Carriers”, B.S. Marine Engineering Systems, U.S. Merchant Marine Academy 1996, application to masters degree at the MIT 06/2004.

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APÊNDICE “1” (Ref. 1): Requisitos Básicos de Projeto Relativos à Capacidade Militar de um Navio-Aeródromo

Capacidade militar, que reúne as considerações que tornam o NAe um navio de guerra plenamente capaz. Este requisito abrange quatro grupos de características principais:

a) Características operacionais de alto nível:

Warfighting: Somatório de todas as suas missões típicamente militares. Utility: Capacidade de ser reconfigurado rapidamente para vários tipos de missões. Interoperability: Capacidade de integrar e liderar uma força-tarefa.

b) Características de habilitação de alto-nível:

Survivability: Vem a ser a capacidade do navio de resistir a pesadas avarias e continuar operando, mesmo com restrições, ou ser capaz de alcançar um porto amigo por meios próprios. Grande impacto no trabalho de arquitetura naval. Sustainability: Trata-se da capacidade de cumprir todas as missões por períodos prolongados. Mobility: Mobilidade é a capacidade de sustentar velocidade e constitui um dos elementos mais importantes de um NAe. Portanto, o conceito da propulsão é um dos mais significativos parâmetros de projeto. Availability: A disponibilidade traduz a meta de garantir o funcionamento de todos os equipamentos e servi- ços a bordo, durante todo o ciclo de vida do navio e dentro das especificações. Exige alto nível de confiabilidade com grandes pressões sobre as instalações industriais da esquadra, a capacidade da indústria de manter e fornecer componentes e sistemas e demandas sobre a infraestrutura de treinamento do pessoal. Adaptability: Devido à percepção de que no pós-Guerra Fria os navios de guerra precisam ser mais flexíveis em função das missões que lhes poderão ser atribuídas num mundo mais cheio de incertezas. Contudo, esta facilidade não pode ser atingida sem um projeto intencionalmente consciente e sem um apreciável impacto no seu custo inicial.

c) Características arquitetônicas:

As preocupações usuais do projetista do navio com relação à forma e à configuração do casco são igualmente relevantes no caso do NAe como no caso de qualquer outro navio de guerra. Utiliza a representação S5 (Speed, Seakeeping, Stability, Strength, Style) como parâmetro de arquitetura naval.

d) Tecnologia adotada:

Considera as tecnologias adotadas para os diversos sistemas a bordo, os níveis de automação e inovações. O nível de automação em geral deve levar em conta a redução da carga de trabalho gerada para a tripulação versus o impacto no custo inicial do projeto e especilização da tripulação para efetuar a manutenção preventiva e corretiva em viagem.

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APÊNDICE “2” Definição da US Navy para Depot Maintenance:

U.S. Code § 2460 - Definition of depot-level maintenance and repair:

(a) In General:

In this chapter, the term “depot-level maintenance and repair” means (except as provided in subsection (b)) ma- terial maintenance or repair requiring the overhaul, upgrading, or rebuilding of parts, assemblies, or subassemblies, and the testing and reclamation of equipment as necessary, regardless of the source of funds for the maintenance or repair or the location at which the maintenance or repair is performed. The term includes:

(1) all aspects of software maintenance classified by the Department of Defense as of July 1, 1995, as depot- level maintenance and repair, and (2) interim contractor support or contractor logistics support (or any similar contractor support), to the extent that such support is for the performance of services described in the preceding sentence.

(b) Exceptions:

(1) The term does not include the procurement of major modifications or upgrades of weapon systems that are designed to improve program performance or the nuclear refueling or defueling of an aircraft carrier and any concurrent complex overhaul. A major upgrade program covered by this exception could continue to be performed by private or public sector activities. (2) The term also does not include the procurement of parts for safety modifications. However, the term does include the installation of parts for that purpose.

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A PROJEÇÃO ANFÍBIA NO APOIO À POLÍTICA EXTERNA: Construindo parcerias no Atlântico Sul*

Desde o tempo de paz, ressalta-se o íntimo relacionamento existente entre os assuntos de Defesa e de Relações Exteriores do País. Nesse con- texto, o Poder Naval constitui um eficaz instrumento da política externa do Estado. Quando convenientemente empregado, é capaz de influenciar a opinião pública e as elites dirigentes do país-alvo, reforçar laços de amizade, garantir acordos e alianças e demonstrar intenções em áreas de interesse, contribuindo para a adoção de ações favoráveis e dissuadindo as desfavoráveis. (BRASIL, 2014)

CLÁUDIO LOPES DE ARAUJO LEITE** Capitão de Mar e Guerra (FN)

SUMÁRIO

Introdução O emprego político do poder naval A Marinha do Brasil e o seu entorno estratégico O conjugado anfíbio, a projeção anfíbia e o poder naval Conclusão

INTRODUÇÃO bombardeios ou ataques aéreos. Tal desin- teresse, perdoável aos amadores, não pode papel do Poder Naval em apoio à po- ser admitido no meio militar, no acadêmico O lítica externa é assunto tão importante nem no diplomático. É imperativo que estes quanto desconhecido do público em geral. profissionais conheçam o emprego político Ao cidadão comum, interessado por narra- e diplomático dos navios, pois o país que tivas de batalhas como Trafalgar e Midway, renuncia ao apoio do Poder Naval à política ou emocionado com os blockbusters que externa limita seu Poder Naval e debilita mostram, com efeitos especiais e alguma sua política externa. fantasia, Pearl Harbor e Iwo Jima, pouco Este artigo tem por finalidade relem- interessa qualquer papel das forças navais brar este importante papel das Marinhas e que não envolva desembarques anfíbios, analisar o emprego, no entorno estratégico

* Artigo publicado na revista Âncora e Fuzis, no 45, 2014. ** Chefe do Departamento de Doutrina do Comando-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais. A PROJEÇÃO ANFÍBIA NO APOIO À POLÍTICA EXTERNA: Construindo parcerias no Atlântico Sul

brasileiro, da Projeção Anfíbia1, modali- latava que “eles (os navios) navegavam ao dade de Operação Anfíbia (OpAnf) que se longo da costa ante os olhares das demais caracteriza pelo emprego das capacidades cidades e mostravam o poder de Atenas” intrínsecas do Conjugado Anfíbio2 para (apud TILL, 2004). introduzir em área de interesse, a partir do A diplomacia naval é, portanto, tão an- mar, meios para cumprir tarefas diversas tiga quanto as Marinhas. Os navios levam em apoio a operações de guerra naval ou consigo a bandeira do país que representam. relacionadas, entre outras contingências, Sua existência demonstra o poder de seu com a prevenção de conflitos e a distensão Estado; e sua presença em determinado de crises (BRASIL, 2014). local, o interesse naquela região. Tal fato é tão verdadeiro hoje como o O EMPREGO POLÍTICO DO era na Grécia de Tucídides. Entre 1946 e PODER NAVAL 1991, em cerca de 250 crises ocorridas, a Marinha dos EUA foi empregada em Desde o início da civilização, os navios 80% das ocasiões (KIDD, apud GOMES, são inequívocos símbolos de grandeza e 1992, p. 4). Em crises ou não, o Professor poder. Tucídides, no século V a.C., já re- Geoffrey Till (2004, p. 264) relata que,

O Conjugado Anfíbio Fonte: Comando-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais

1 Embora a Projeção Anfíbia seja a modalidade de OpAnf mais recentemente definida e incorporada em nossos manuais, observa-se que, em termos de probabilidade de emprego, é a primeira, ocorrendo com maior fre- quência do que as quatro demais. Ver GAVIÃO (2010), com a ressalva de que o autor, à época, empregou os termos “Engajamento Anfíbio e Reação a Crises”, pois a expressão Projeção Anfíbia ainda não havia sido normatizada. 2 Conjugado Anfíbio: Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais embarcado em uma força naval, juntamente com os meios aeronavais adjudicados, em condições de cumprir missões relacionadas às tarefas básicas do Poder Naval (BRASIL, 2013).

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apenas em 1997, a US Navy mostrou a sua versatilidade e flexibilidade, podem bandeira norte-americana 1.629 vezes ao tanto realizar uma demonstração de forca visitar portos estrangeiros em 99 diferen- para intimidar um rival como, após capear tes países. seu armamento e, em seguida, descobrir O escopo deste artigo não permite uma mesas, taças e aparelhagem de som, receber análise profunda do emprego político do a comunidade local, embaixadores e chefes Poder Naval. Vale, de Estado para uma todavia, relembrar agradável recepção. que a adequação do Uma força-tarefa pode Outro fator funda- Poder Naval, como aproximar-se ou afastar-se mental para o apoio das instrumento de apoio como desejar ou atracar forças navais à política à política externa, externa é o conceito ocorre em virtude de em portos estrangeiros, de liberdade dos oce- suas características levando consigo o Estado anos – fora os intrínsecas (ver figu- territoriais dos países ra) e do conceito da que representa (admitidos, de modo liberdade dos mares geral, como 12 milhas a (LUTTWAK, 1974), temas que serão de- partir do litoral). A enormidade dos oceanos talhados adiante. oferece gigantesco espaço para desloca- As características do Poder Naval per- mento, evolução e organização das forças mitem aos navios e às forças deslocarem- navais. Uma força-tarefa pode aproximar-se se rapidamente (dependendo de sua capaci- ou afastar-se como desejar ou, até mesmo, dade de prontidão) e permanecerem por lon- por convite, atracar em portos estrangeiros, gos períodos em regiões de interesse. Com levando consigo o Estado que representa.

As características do Poder Naval Fonte: Doutrina Básica da Marinha (BRASIL, 2014)

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Como afirma a Doutrina Básica da Ma- der Naval possui a capacidade de estreitar rinha (DBM): os laços com as nações amigas, ampliar a Quando provenientes de uma Marinha cooperação e fazer presente a bandeira de com capacidade de projeção, [as Forças nosso país, sempre que necessário. Navais] podem levar os interesses de Embora o Poder Naval brasileiro, nesse estado a todos os países costeiros, em entorno estratégico, possa ser contestado decorrência do conceito da liberdade em relação a poder de combate por atores de navegação nos mares e pelas carac- não regionais dotados de maiores recursos terísticas intrínsecas do Poder Naval. materiais e econômicos (FERREIRA, (BRASIL, 2014). 2010, p. 128), a presença de nossos navios pode proporcionar expressivos resultados A MARINHA DO BRASIL E O SEU políticos e diplomáticos, por meio da am- ENTORNO ESTRATÉGICO pliação dos laços de amizade, confiança e credibilidade decorrentes das afinidades Mas será a teoria aplicável à prática, culturais e interesses afins pelo desenvol- no caso brasileiro? Onde e como o Poder vimento e segurança regionais. A presença Naval pode contribuir para a diplomacia naval brasileira, assim, insere-se em um brasileira? conjunto de iniciativas A Política de Defe- diplomáticas que in- sa Nacional (BRASIL, Em todo o nosso entorno clui a Cúpula América 2005) responde a tal do Sul-África, a Zona questão e, assim, defi- estratégico o Poder Naval de Paz e Cooperação ne o entorno estratégi- possui a capacidade de do Atlântico Sul (Zo- co brasileiro: estreitar os laços com as pacas), o Fórum de A América do Sul Diálogo Índia-Brasil- é o ambiente re- nações amigas, ampliar a -África do Sul (Ibas) gional no qual o cooperação e fazer presente e a Comunidade de Brasil se insere. Países da Língua Por- Buscando aprofun- a bandeira de nosso país tuguesa (CPLP), que dar seus laços de visam à construção cooperação, o País visualiza um entorno do que foi denominado, pelo ministro estratégico que extrapola a região sul- da Defesa, de “cinturão de boa vontade” -americana e inclui o Atlântico Sul e os do Atlântico Sul (ABDENUR; SOUZA países lindeiros da África, assim como NETO, 2014, p. 216). a Antártica. Ao norte, a proximidade do Essa construção de parcerias atende, Mar do Caribe impõe que se dê crescente ainda, às Diretrizes de nossa Estratégia atenção a essa região. (BRASIL, 2005). Nacional de Defesa, que estabelece o se- guinte: “As Forças Armadas devem estar Nas regiões citadas, dos mais de 40 países organizadas sob a égide do trinômio moni- existentes, apenas Bolívia e Paraguai não toramento/controle, mobilidade e presença” possuem litoral. Ainda assim, esses dois (BRASIL, 2008). Pelo exercício do citado importantes vizinhos dividem com o Brasil trinômio, o Brasil fortalece os laços diplo- fronteiras com extensos rios navegáveis, máticos, acompanha in loco os assuntos de com destaque para o Rio Paraguai. Em todo interesse no seu entorno estratégico e efeti- o nosso entorno estratégico, portanto, o Po- va seu apoio a outros países, contribuindo

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para a estabilidade da região e para evitar cionados às OpAnf e trouxe a doutrina ao o crescimento de perturbações locais que, encontro da realidade ao definir a Proje- se não eliminadas, podem vir a evoluir e ção Anfíbia. Justifica-se plenamente, no trazer graves prejuízos a nosso país, como entender deste autor, o acréscimo desta os delitos transnacionais e a pirataria. quinta OpAnf à nossa doutrina, por sua importância nas operações navais modernas O CONJUGADO ANFÍBIO, A e porque, ainda que uma Projeção Anfíbia PROJEÇÃO ANFÍBIA E O PODER venha a ocorrer em um ambiente onde não NAVAL exista a ameaça real ou latente de força adversa, a execução de tal operação exige Vimos como a flexibilidade e a versati- especificidades de planejamento, adestra- lidade permitem a uma força naval graduar mento e material somente encontradas nos o emprego da força e possibilitam a adoção Conjugados Anfíbios. da configuração mais apropriada a cada si- A importância da Projeção Anfíbia tuação e missão com que venha a se deparar. entre as operações modernas pode ser O Conjugado Anfíbio, já definido neste exemplificada pela publicação doutrinária artigo, proporciona grande incremento a norte-americana Expeditionary Force essas duas características. A presença de 21 (2014), cujo prefácio, redigido pelo um Grupamento Operativo de Fuzileiros comandante-geral do United States Marine Navais embarcado, dotado de capacidade Corps (USMC), General John E. Amos, intrínseca de planejamento, combate e assim se inicia: apoio logístico, somada aos recursos ae- A última década deixa claro que Capaci- ronavais e meios para desembarque aéreo dade de Reação e Versatilidade – marcas ou por superfície, amplia a capacidade de registradas institucionais do USMC uma força naval projetar seu poder em terra – estão sempre em demanda. Mesmo e influenciar as ações que lá acontecem. enquanto combatíamos o inimigo no Esta projeção de poder em terra é intima- Iraque e no Afeganistão, U.S. Marines mente ligada à vocação anfíbia do Corpo de foram os primeiros a responder aos tsu- Fuzileiros Navais. Nem sempre ocorrerá, namis no Oceano Índico e no Japão, aos contudo, por meio das quatro modalidades terremotos no Paquistão e no Haiti e ao “tradicionais” de OpAnf3. As Marinhas tufão nas Filipinas. Como a força pronta atuais têm realizado, com frequência expedicionária da Nação, estamos e crescente, OpAnf de menor envergadura, continuaremos a estar profundamente não necessariamente desenvolvidas em engajados ao redor do globo. ambiente hostil. Normalmente, tais OpAnf abrangem desembarques para “prover ajuda CONCLUSÃO humanitária, para evacuar nacionais, pro- teger populações, realizar tarefas especiais Como vimos, o emprego político e diplo- ou até para combater as assimétricas novas mático do Poder Naval é tema conhecido e ameaças” (FERREIRA, 2010, p. 135). estudado desde a antiguidade. As Forças Em consequência, a última edição de Navais, em decorrência de suas caracterís- nossa DBM atualizou os conceitos rela- ticas intrínsecas e da liberdade dos oceanos,

3 Este termo foi empregado para designar as quatro modalidades de OpAnf normatizadas anteriormente à pu- blicação da nova Doutrina Básica da Marinha: Assalto Anfíbio, Incursão Anfíbia, Demonstração Anfíbia e Retirada Anfíbia.

RMB3oT/2015 83 A PROJEÇÃO ANFÍBIA NO APOIO À POLÍTICA EXTERNA: Construindo parcerias no Atlântico Sul

são excepcionais instrumentos de um Estado e engajamento com nações amigas, fez-se para incrementar relações de confiança e necessária uma atualização das definições amizade, dissuadir intenções hostis e incen- tradicionais de OpAnf, o que ocorreu em tivar as que lhes são favoráveis. nossa última revisão da DBM, que passou a Tais conceitos teóricos encontram plena incorporar o conceito de Projeção Anfíbia. comprovação na análise do caso prático do Os fatos e argumentos expostos neste Brasil, país em cujo entorno estratégico, artigo demonstram que a frequência da conforme definido nos mais elevados do- execução de operações de Projeção An- cumentos de política de Estado, encontram- fíbia pelo Brasil tende a seguir o padrão se o Atlântico Sul, a Antártica e diversos internacional, isto é, trata-se da modalidade países com os quais podemos e devemos de OpAnf mais rotineiramente executada. estreitar, de modo crescente, os laços de A atual revisão da DBM incorporou a cooperação e confiança, por intermédio de Projeção Anfíbia à nossa doutrina. Cabe nossa Marinha. agora, então, discutirmos e aperfeiçoarmos Dentro das Forças Navais, assume papel essas novas ideias e conceitos e compreen- relevante o Conjugado Anfíbio, pela flexi- dermos suas consequências sobre o nosso bilidade e versatilidade que proporciona, material, capacitação de recursos humanos, em especial no tocante a ações que visam planejamento e operações, de modo a al- a projetar o poder dessa Força com a fina- cançarmos, em grau cada vez maior, aquela lidade de influenciar os acontecimentos que que é considerada por Sun Tzu a glória ocorrem em terra. suprema: conquistar seus objetivos sem Em decorrência do crescente papel do precisar desembainhar a espada, ou, como emprego de tropa de Fuzileiros Navais a a Doutrina Marítima Britânica se expressa: partir do mar, em operações distintas das “A principal importância de uma Marinha quatro modalidades de OpAnf clássicas, está nos eventos que deixam de ocorrer por como em operações de assistência huma- causa de sua influência” (REINO UNIDO, nitária, de combate a delitos transnacionais 2011, p. 2-21).

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Relações Internacionais; Estratégia; Corpo de Fuzi- leiros Navais; operação anfíbia; Atlântico Sul;

REFERÊNCIAS

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O RETORNO AO MITO DA CAVERNA NUCLEAR

O delicado equilíbrio de poder mundial multipolar atual pode fazer com que a ideia de que seria possível um Estado vencer uma guerra nuclear volte à mente de estrategistas e políticos. Não existe ideia mais perigosa para a humanidade do que a de uma “guerra nuclear limitada” que possa ser vencida por uma das partes em contenda. Essa ideia parece estar ressurgindo nas potências nucleares atuais e potenciais. Interromper essa “marcha da insensatez” é tão vital para o futuro da humanidade como reverter a marcha das mudanças climáticas, amea- ça de mais longo prazo, porém muito mais mediatizada.

LEONAM DOS SANTOS GUIMARÃES* Capitão de Mar e Guerra (RM1-EN)

anel de Giges1 é uma lenda que inte- a fim de comunicarem ao rei, como todos O gra “A República” de Platão2. Giges os meses, informações sobre seus rebanhos, era um pastor que servia ao soberano da Giges foi lá também, mas usando seu novo Lídia. Devido a uma grande tempestade e anel. tremor de terra, rasgou-se o solo e abriu-se Estando ele sentado no meio dos outros uma fenda no local onde ele apascentava pastores, deu por acaso uma volta ao engas- seu rebanho. Admirado ao ver tal coisa, te do anel para dentro, em direção à parte desceu por lá e contemplou, entre outras interna da mão e, ao fazer isso, tornou-se maravilhas, um cavalo de bronze oco, mas invisível para os que estavam ao lado, os com aberturas. Espreitando através delas quais falavam dele como se tivesse ido viu lá dentro um cadáver, aparentemente embora. Admirado, passou de novo sua maior do que um homem normal, e que não mão pelo anel e virou para fora o engaste. tinha mais nada senão um anel de ouro na Assim que o fez, tornou-se visível. Tendo mão. Arrancou-o e saiu. Como os pastores observado estes fatos, experimentou mais se tivessem reunido, da maneira habitual, vezes para ver se o anel tinha mesmo

* Diretor de Planejamento, Gestão e Meio Ambiente da Eletrobras Eletronuclear. Doutor em Engenharia e membro do Standing Advisory Group on Nuclear Energy (SAGNE) da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). 1 The Ring of Gyges. http://plato-dialogues.org/tetra_4/republic/gyges.htm 2 A República, Platão, http://www.eniopadilha.com.br/documentos/Platao_A_Republica.pdf O RETORNO AO MITO DA CAVERNA NUCLEAR

aquele poder. Verificou que, se voltasse o uma guerra entre as grandes potências que engaste para dentro, se tornava invisível; se o possuíam acabou se tornando em pouco o voltasse para fora, ficava visível. Assim, tempo suicida. Sua proliferação horizontal senhor de si, logo fez com que fosse um dos (vários países o possuem) e vertical (em delegados que iam se encontrar com o rei. cada vez maior quantidade) gerou o risco Uma vez lá chegando, seduziu a mulher do de que um confronto convencional entre soberano e, com o auxílio dela, atacou-o, superpotências poderia levar a uma esca- tomando o trono da Lídia. lada catastrófica e, assim, permitiu evitar A parábola do anel de Giges há muito uma temida, e felizmente nunca ocorrida tempo chama a atenção dos cientistas até hoje, terceira guerra mundial. políticos e psicólogos de todo o mundo, No entanto, o “anel de Giges nuclear” sendo objeto de muitas investigações filo- não eliminou, longe disso, a tendência ine- sóficas3. Dentre as diversas interpretações rente da humanidade em competir pela he- plausíveis, pode ser gemonia, segundo com- vista como uma inte- portamentos nem sem- ração entre um poder A parábola do anel de pre éticos. Os Estados desequilibrado dado Giges há muito tempo não podem confiar em a um homem e seu intenções e, portanto, comportamento ético. chama a atenção dos avaliam as capacidades Tal interação pode cientistas políticos e dos seus adversários. ser tomada de forma psicólogos, sendo objeto Nenhum Estado pode mais ampla como ter exata certeza sobre uma metáfora de uma de muitas investigações as capacidades de seus tecnologia disruptiva, filosóficas. Pode ser vista concorrentes e, portan- uma nova fonte de to, devem se preparar poder tecnológico (o como uma interação entre para os piores cenários anel), que propicia a um poder desequilibrado e “pensar o impensá- um Estado (Giges) dado a um homem e seu vel”. Este conceito de tornar-se hegemônico desconfiança tem des- globalmente (tomando comportamento ético taque no pensamento o trono da Lídia). estratégico, resumido Ao final da Segun- por Sun Tzu na questão: da Guerra Mundial, o “anel de Giges “Você pode imaginar o que eu faria se eu nuclear” tornou os EUA a superpotência pudesse fazer tudo o que posso?”. hegemônica, na sequência dos objetivos Hoje, o imperativo tecnológico existe de uma “Grande Estratégia”4 aplicada no sentido de que os tomadores de decisão continuamente desde o século XVIII. En- têm que considerar como responder às tretanto, não demorou muito para outros mudanças tecnológicas reais e potenciais. países adentrarem na “caverna nuclear”5 e Este não é apenas um fenômeno puramente encontrarem também seus aneis. Com isso, racional e determinista. As decisões sobre

3 O anel de Gyges, Luiz Maurício Menezes, Investigação Filosófica: vol. 3, n. 1, artigo digital 3, 2012.http:// pt.scribd.com/doc/105302333/Luiz-Mauricio-Menezes-O-anel-de-Gyges 4 A Grande Estratégia dos EUA, Leonam dos Santos Guimarães, http://blogceiri.com.br/a-grande-estrategia-dos-eua/ 5 A (contra) ameaça nuclear, Leonam dos Santos, Guimarães, http://www.defesanet.com.br/geopolitica/ noticia/4179/A-(contra)-ameaca-nuclear/

88 RMB3oT/2015 O RETORNO AO MITO DA CAVERNA NUCLEAR

quais tecnologias de segurança e defesa gica que lhe garantiria derrotar qualquer o Estado deve escolher para desenvolver adversário concebível está se reduzindo são moldadas por um processo contínuo de rapidamente. respostas recíprocas e pelos imperativos de Estamos entrando em uma era onde o seus concorrentes. Na era industrial, cada domínio americano nos mares, no céu e no grande economia tem um potencial militar espaço, para não mencionar o ciberespaço, latente, que alimenta o “imperativo tecno- já não pode ser tido como certo. Torna-se, lógico”, devido à ligação direta entre as portanto, urgentemente necessário para os esferas civil e militar da tecnologia. EUA desenvolverem uma nova geração de O imperativo tecnológico é, portanto, o tecnologias militares, de forma que outros resultado de sistemas econômicos indus- países não venham a se sentir capazes de triais que baseiam a sua vitalidade econô- contestar sua hegemonia. mica e crescimento contínuo em C&T e Esses outros países certamente estão projetos de P&D. Mesmo que os projetos crescendo e se sentindo mais capazes7. A de P&D estejam localizados dentro do setor China está cada vez mais interessada em civil, a utilização dual6 de suas inovações pressionar pelas suas reivindicações territo- garante que uma “dissuasão embutida” vai riais no Pacífico Ocidental. A Rússia tem a seguindo uma tendên- clara intenção de resta- cia ascendente. Nesse belecer a sua influência sentido, as grandes Nenhum Estado pode na região que sempre potências não podem ter exata certeza sobre considerou ser formada ficar indiferentes ao por “países satélites”, progresso econômico as capacidades de seus como tem mostrado na e tecnológico de ou- concorrentes. Assim, devem Ucrânia. Estados me- tros Estados e, assim, “pensar o impensável” nos poderosos, e mais a concorrência é feroz imprudentes, como a e sem esmorecer. A Coreia do Norte e o Irã, metáfora do anel de Giges exemplifica podem também tornar-se mais inclinados plenamente o papel da C&T na estratégia a endurecer suas posições, se passarem a das grandes potências atuais. acreditar que poderiam causar dano sig- Desde o fim da Guerra Fria as Forças Ar- nificativo às forças americanas, fazendo madas dos EUA foram tão bem financiadas Washington pensar duas vezes antes de e se tornaram tão tecnologicamente supe- atacá-los. riores que seria completamente temerário Simultaneamente, antigos aliados dos para qualquer Estado lançar um desafio EUA, como Japão, Coreia do Sul, Israel, direto à superpotência hegemônica global Arábia Saudita e Turquia, já não parecem ou a seus aliados. Esta situação ainda se sentir-se tão confortáveis com o “guarda- mantém até hoje, mas ela não é mais tão chuva” de proteção americano e ensaiam absoluta como já foi. Embora os EUA ainda ações independentes de defesa contra poten- possuam, de longe, as Forças Armadas mais ciais inimigos comuns. Por outro lado, novos capazes do mundo, a vantagem tecnoló- aliados, como os países do leste da Europa

6 Dual-use technology, https://en.wikipedia.org/wiki/Dual-use_technology 7 A marcha da insensatez hoje, Leonam dos Santos Guimaraes, http://operamundi.uol.com.br/conteudo/opi- niao/40640/a+marcha+da+insensatez+hoje.shtml

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e do Sudeste da Ásia, estreitam relações Lançada pelo Presidente Ronald Reagan com os EUA na medida em que se sentem em 1983, a Strategic Defense Initiative ameaçados pelas crescentes capacidades (SDI)9, ou Guerra nas Estrelas, como ficou respectivamente da Rússia e da China. mais conhecida, deu uma contribuição Pela terceira vez desde o fim da Segunda fundamental para o fim da Guerra Fria e a Guerra Mundial, os EUA percebem a ur- derrocada da União Soviética, mesmo que gente necessidade de avanços tecnológicos seus objetivos finais nunca chegassem a ser para compensar as vantagens de potenciais atingidos. Entretanto, novas tecnologias de- inimigos e tranquilizar seus aliados, ou seja, senvolvidas desde então deram nascimento reencontrar o desejado anel de Giges. a inovações tecnológicas que propiciaram O primeiro desses momentos ocorreu aquilo que passou a ser chamado de Revo- no início dos anos 1950, quando a União lution in Military Affairs (RMA)10 da qual Soviética passou a ter forças convencio- faz parte a doutrina do “Shock and Awe”11. nais na Europa muito Os mísseis de preci- maiores do que as que são cirúrgica, o “ne- os EUA e seus aliados As circunstâncias tworked battlefield”, poderiam derrotar. A os satélites de reco- resposta americana econômicas, políticas e nhecimento, o sistema foi aumentar a van- técnicas de hoje são muito GPS e as aeronaves tagem numérica em diferentes daquelas que “stealth” foram frutos forças nucleares para desse esforço de P&D. combater a União So- prevaleciam na década Os EUA assim ti- viética, introduzindo, passada nham encontrado um inclusive, diversos novo anel de Giges tipos de armas de uso que os mais prováveis tático para o combate direto a essas forças adversários não conseguiriam copiar. A convencionais superiores. efetividade desta Revolução nos Assuntos Nos anos 1980, situação similar se repe- Militares foi demonstrada em 1991, durante tiu. Os planejadores militares americanos, a primeira Guerra do Golfo e aperfeiçoada se recuperando da derrota na guerra do em 2003, na invasão do Iraque. Bunkers Vietnã, reconheceram que a União Sovié- militares inimigos foram reduzidos a es- tica tinha conseguido construir um arsenal combros, e suas formações blindadas de nuclear igualmente poderoso, chegando-se estilo soviético tornaram-se alvos fáceis. à situação de Mutual Assured Destruction A doutrina do “Shock and Awe” se mos- (MAD)8. Tornou-se então necessário trou efetiva. Os estrategistas estrangeiros encontrar outra maneira de restaurar uma ficaram impressionados com essas demons- dissuasão crível na Europa. Ousadamente, trações, mas igualmente determinados a os EUA responderam investindo em uma aprender com elas. família de tecnologias ainda não experi- Essa grande vantagem que os EUA mentadas, destinadas a destruir as forças conseguiram vem, porém, diminuindo inimigas bem atrás da linha de frente. paulatinamente. Embora o Pentágono

8 Mutual assured destruction, https://en.wikipedia.org/wiki/Mutual_assured_destruction 9 Strategic Defense Initiative, https://en.wikipedia.org/wiki/Strategic_Defense_Initiative 10 Revolution in Military Affairs, https://en.wikipedia.org/wiki/Revolution_in_Military_Affairs 11 Shock and awe, https://en.wikipedia.org/wiki/Shock_and_awe

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tenha aperfeiçoado e melhorado muito as muito mais rapidamente nos dias de hoje, tecnologias que foram utilizadas nas guer- em parte graças à internet, que o próprio ras do Golfo, essas tecnologias também Pentágono ajudou a criar. Além disso, têm proliferado e se tornado muito mais mudanças tecnológicas de todos os tipos se disponíveis e baratas pela disseminação de tornaram mais rápidas, graças a uma con- suas aplicações civis. corrência feroz nos mercados consumidores Além disso, durante os longos anos civis, e fortemente condicionada pelo uso de missões de contra-insurgência e esta- dual. Na disputa tecnológica militar atual, bilização no Afeganistão e no Iraque, o a concorrência será implacável, multipolar Pentágono passou a estar mais focado em e os êxitos provavelmente mais fugazes. produzir carros blindados resistentes a Esse fato, entretanto, tem uma caracte- minas e drones de vigilância e ataque do rística bastante alarmante, e que é pouco que em efetivas inovações para manter-se discutida. No desenvolvimento de novas bem à frente dos concorrentes militares. estratégias, tem se assumido que a lógica Chega-se, portanto, da dissuasão nuclear e ao momento atual em a política do “no first que os EUA têm que Uma resposta racional à use”14 sobreviveria a buscar um novo anel um intenso conflito de Giges, uma outra superioridade tecnológica convencional. Novos estratégia baseada em de um competidor pode sistemas, como o PGS, novos avanços tecno- raramente mencionam lógicos. O desenvol- se tornar uma diplomacia as armas nucleares15. vimento do sistema nuclear muito arriscada A busca por um novo Prompt Global Strike anel de Giges conven- (PGS)12” é um exem- cional pode, entretanto, plo desse esforço. se tornar um incentivo para os oponentes Entretanto, as circunstâncias econômi- responderem com estratégias de escalada cas, políticas e técnicas de hoje são muito nuclear. diferentes daquelas que prevaleciam na Uma resposta racional à superioridade década passada13, tendo surgido vários tecnológica de um competidor pode se obstáculos que dificultam a repetição dos tornar uma diplomacia nuclear muito ar- resultados obtidos pelos EUA desde o fim riscada. Num mundo multipolar em que a da Segunda Guerra Mundial. hegemonia dos EUA vem se degradando, Mesmo se todos estes obstáculos vierem essa resposta pode ser dada por mais de a ser superados, é pouco provável que essa um adversário e mesmo contra outro país nova estratégia garanta um domínio militar que não seja os EUA, num processo que dos EUA por longo prazo, como as ante- o grande estrategista Thomas Schelling16 riores propiciaram. A tecnologia se difunde chamou de “competição na tomada de ris-

12 Prompt Global Strike, https://en.wikipedia.org/wiki/Prompt_Global_Strike 13 Who’s afraid of America?, http://www.economist.com/news/international/21654066-military-playing-field- -more-even-it-has-been-many-years-big 14 No first use, https://en.wikipedia.org/wiki/No_first_use 15 Conventional Prompt Global Strike (CPGS) weapons, http://missilethreat.com/missile-class/conventional- prompt-global-strike-cpgs-weapons/ 16 Thomas Schelling, https://en.wikipedia.org/wiki/Thomas_Schelling

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cos” no qual um inimigo passa a acreditar do fim da II Guerra Mundial. As cicatrizes que poderia vencer. por ela deixadas nos fazem recordar as Nesse sentido, o mundo parece estar en- terríveis consequências de conflitos entre trando em um processo de real crescimento grandes potências militares. Nesse con- das ameaças nucleares17 que talvez seja texto, os governos atuais dessas potências mais perigoso do que aquele levou à MAD. deveriam pautar suas ações na redução do A evolução da precisão e da velocidade dos risco de confrontos no futuro. Infelizmente, mísseis, a retomada do desenvolvimento quando se analisa suas condutas recentes, e emprego de armas nucleares táticas, o eles têm agido no sentido oposto. desenvolvimento de Multiple Independant O orgulho nacional e a pressão política Re-Entry Vehicles (MIRVs)18 por novos doméstica para “mostrar a bandeira” e países19, a modernização militar de China “demonstrar credibilidade” têm sistemati- e Rússia e as recentes tensões no Leste camente sido sobrepostos ao bom senso na Europeu (Ucrânia) e Sudeste Asiático (ilhas condução da política externa das grandes do Mar da China Meridional), somadas às potências. Diversas de suas ações recentes antigas, mas sempre renovadas, no Oriente se aproximam perigosamente dos momen- Médio (Irã, Israel, Arábia Saudita, Iraque, tos mais ‘quentes’ da Guerra Fria21. Síria, Egito) e Extremo Oriente (Coreia e Por exemplo, a Rússia tem repetidamen- Taiwan), parecem apontar para uma nova te feito voos militares provocativos perto do “Marcha da Insensatez”. espaço aéreo dos membros da Organização No seu livro A Marcha da Insensatez: do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), de Troia ao Vietnã20, Bárbara W. Tuchman especialmente das três repúblicas bálticas. demonstrou, através de exemplos históricos, Em uma ocasião, bombardeiros russos que governos nacionais executam atos au- chegaram até mesmo a sobrevoar áreas todestrutivos por não reconhecerem a exis- próximas a espaço aéreo da Grã-Bretanha22. tência de alternativas mais razoáveis com A natureza tola de tais manobras foi subli- respeito aos interesses das próprias nações nhada pela obsolescência tecnológica dos que representam. Ela ainda identifica a causa aviões bombardeiros que as perpetraram, fundamental desses desatinos: a impotência Tu-95 “Bear”, operacionais desde 195223. da razão ante os apelos da cobiça, da ambi- Os comandantes militares britânicos e da ção egoísta e da covardia moral. OTAN não seriam provavelmente sus- Ao longo desse ano de 2015 temos visto cetíveis à intimidação por armamento de se sucederem comemorações dos 70 anos tecnologia tão antiga. Desse modo, tais

17 As Reais Ameaças Nucleares na Atualidade, Leonm dos Santos Guimaraes, http://www.defesanet.com.br/ nuclear/noticia/18298/As-Reais-Ameacas-Nucleares-na-Atualidade/ 18 Multiple independently targetable reentry vehicle, https://en.wikipedia.org/wiki/Multiple_independently_tar- getable_reentry_vehicle 19 Ninguém está falando da mais perigosa ameaça nuclear de hoje: desenvolvimento de mísseis MIRV pela China e pela Índia, Leonam dos dos Santos Guimaraes, http://www.jornal.ceiri.com.br/ninguem-esta-falando-da- mais-perigosa-ameaca-nuclear-de-hoje-desenvolvimento-de-misseis-mirv-pela-china-e-india/ 20 A Marcha da Insensatez: De Tróia ao Vietnã, Tuchman, Barbara Wertheim, http://www.saraiva.com.br/a- marcha-da-insensatez-de-troia-ao-vietna-363123.html 21 Falso Alarme, Verdadeira Catástrofe, Leonam dos Santos Guimarães, http://www.jornal.ceiri.com.br/falso- alarme-verdadeira-catastrofe/ 22 UK summons Russian envoy after bombers fly over English Channel, http://www.cnn.com/2015/01/29/world/ uk-russia-bombers-intercepted/ 23 Tupolev Tu-95, http://pt.wikipedia.org/wiki/Tupolev_Tu-95_Bear

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sobrevoos consistiriam numa combinação nucleares, a aliança pouco poderia fazer do inútil com o desagradável, ou seja, o para evitar tal resultado. epítome de uma provocação desnecessária. Manobras militares na escala de bata- Os voos por aviões de combate e vigi- lhão, como as que têm sido feitas, não são lância russos modernos na região do Báltico susceptíveis de pesar decisivamente na ava- são mais graves, como também são inci- liação do Kremlin sobre a real possibilidade dentes que têm envolvido navios de guerra da OTAN honrar sua promessa de que o russos operando perto das águas territoriais ataque contra um membro seria considera- de vários países europeus. As autoridades do um ataque contra todos. Vladimir Putin norte-americanas e da OTAN têm repeti- e seus assessores podem acreditar nesse damente denunciado tal conduta24. compromisso ou o considerarem um blefe, Por outro lado, os membros da OTAN mas gestos militares simbólicos como essas também se engajaram em ações provo- manobras provavelmente não alteram de cativas desnecessárias. Em fevereiro de maneira significativa seus cálculos. 2015, a aliança realizou exercícios25 com Do outro lado do mundo, as grandes tanques e 1.400 militares perto de Narva, potências também exibem uma tendência Estônia, chegando a apenas 200 metros da crescente de se envolver em gestos provo- fronteira russa. No final de maio, aviões cativos, elevando os riscos de confronto. russos interceptaram um contratorpedeiro Isso é especialmente verdadeiro em re- dos EUA26 que estava operando no Mar lação à disputa territorial em curso entre Negro, adjacente às águas territoriais da China e Japão sobre as ilhas Senkaku/ Rússia, perto de sua base naval na penín- Diaoyu no Mar da China Oriental. Barcos sula da Crimeia. de pesca chineses frequentemente entram Tais gestos certamente não proporcio- nas águas no entorno dessas pequenas nam benefícios militares tangíveis. A reali- ilhas e aeronaves militares chinesas os zação de manobras com as forças terrestres sobrevoam bem de perto. Em novembro nas repúblicas bálticas é uma questão sim- de 2013, Pequim proclamou uma zona bólica. Um oficial de alta patente da OTAN de identificação de defesa aérea Air De- admitiu recentemente que a Rússia poderia fense Identification Zone (ADIZ)28 sobre ocupar todos os três estados bálticos em a disputada região, apesar das objeções questão de dias27, se Moscou efetivamente veementes de Tóquio e Washington. quiser dar esse passo temerário. A menos Aviões norte-americanos imediatamente que a OTAN esteja disposta a lutar uma desafiaram essa nova zona29 e realizaram guerra em grande escala com uma Rússia voos militares através desse espaço aéreo, dotada de um enorme arsenal de armas sem notificar a China.

24 NATO Accuses Moscow Of Endangering Civil Aviation In Baltic Region, http://www.hngn.com/arti- cles/52922/20141215/nato-accuses-moscow-of-endangering-civil-aviation-in-baltic-region.htm 25 U.S. military vehicles paraded 300 yards from the Russian border, http://www.washingtonpost.com/blogs/ worldviews/wp/2015/02/24/u-s-military-vehicles-paraded-300-yards-from-the-russian-border/ 26 Russia warplanes head off US destroyer in Black Sea, http://www.aljazeera.com/news/2015/05/russia-warplanes- head-destroyer-black-sea-150531045733604.html 27 Incoming NATO Military Committee chairman: Russia could occupy the Baltics in 2 days if it wanted to, http:// www.businessinsider.com/russia-can-occupy-baltics-in-2-days-2015-5 28 Air Defense Identification Zone, https://en.wikipedia.org/wiki/Air_Defense_Identification_Zone 29 Defying China, U.S. bombers fly into East China Sea zone, http://www.reuters.com/article/2013/11/26/us- china-defense-usa-idUSBRE9AP0X320131126

RMB3oT/2015 93 O RETORNO AO MITO DA CAVERNA NUCLEAR

As tensões estão claramente em ascen- cluindo a realização de patrulhas aéreas e são. O Japão mobilizou seus caças para marítimas na área34. interceptar aviões chineses30 sobre o Mar Seria ruim o suficiente caso um conflito da China Oriental 415 vezes entre março entre grandes potências irrompesse devido de 2013 e março de 2014 e o ritmo não a contraditórios intratáveis sobre questões diminuiu sensivelmente desde então. Por substantivas cruciais. Seria, entretanto, outro lado, a China tem repetidamente in- ainda pior se tal tragédia ocorresse porque terceptado voos de vigilância japoneses e os rivais se envolvessem num conflito de- americanos dentro ou perto dos territórios corrente de posturas simbólicas irrefletidas. em disputa31. Infelizmente, essa parece ser a tendência Quando aviões militares rivais operam tanto no Leste Asiático como no Leste em tal proximidade, um mero erro de cál- Europeu. Seria sensato que todas as partes culo, ou um acidente, poderia provocar um envolvidas renunciassem a tais condutas de incidente extremamente desagradável, com forma a reduzir o nível de risco, que hoje é risco de escalada. Isso é, precisamente, o alto e crescente. É preciso parar a “Marcha que aconteceu na primavera de 2001, quan- da Insensatez” antes que seja tarde demais. do um avião espião dos EUA colidiu com O delicado equilíbrio de poder mundial um avião de combate chinês32 perto da ilha multipolar atual pode fazer com que a ideia chinesa de Hainan. A crise resultante durou de que seria possível um Estado vencer uma semanas antes que as cabeças se esfriassem guerra nuclear35 volte à mente de estrategis- e uma solução diplomática fosse alcançada. tas e políticos, após longo tempo ter sido Poderíamos pensar que Pequim e abandonada pela realidade da MAD. Não Washington teriam aprendido com essa existe ideia mais perigosa para a humani- experiência alarmante e tomassem medidas dade do que a de uma guerra nuclear limi- para evitar perigos semelhantes, mas há tada36 que possa ser vencida por uma das pouca evidência disso. Na verdade, ambos partes em contenda. Essa ideia parece estar os países estão atualmente empenhados ressurgindo nas potências nucleares atuais numa postura arriscada sobre o Mar do Sul e potenciais. Interromper sua marcha é tão da China. Pequim tem ameaçado proclamar vital para o futuro da humanidade como uma ADIZ também nessa região33, apesar reverter a marcha das mudanças climáticas, das disputas territoriais multifacetadas em ameaça de mais longo prazo, porém muito curso com os seus vizinhos. Washington mais mediatizada. está aprofundando seu envolvimento nas Giges não pode retornar à caverna tensões subjacentes a essas disputas, in- nuclear: o preço a pagar poderá ser alto

30 Japanese Fighter Jet Scrambles Against China Have Hit a Record High, http://time.com/56997/japan-china- fighter-jet/ 31 Chinese Intercepts of U.S. Planes Expose Limits of Warming Ties, http://www.wsj.com/articles/midair- encounter-of-chinese-jet-and-u-s-surveillance-plane-exposes-limits-of-warming-ties-1408896137 32 U.S. Navy plane collides with Chinese fighter, http://usatoday30.usatoday.com/news/world/2001-04-01-collide.htm 33 China’s Dangerous $5 Trillion Dollar Bet: A South China Sea ADIZ?, http://nationalinterest.org/blog/the-buzz/ chinas-dangerous-5-trillion-dollar-bet-south-china-sea-adiz-12887 34 US considers military patrols of Beijing’s artificial islands in South China Sea, http://www.theguardian.com/ us-news/2015/may/13/us-considers-military-patrols-of-beijings-artificial-islands-in-south-china-sea 35 The nuclear dangers: The red line is closer than you think, http://www.vox.com/2015/6/29/8845913/russia- war#redline 36 Limited Nuclear War, http://www.scientificamerican.com/article/limited-nuclear-war/

94 RMB3oT/2015 O RETORNO AO MITO DA CAVERNA NUCLEAR

demais! Esforços ainda maiores do que os empreendidos pela comunidade internacio- que vêm sendo feitos para mitigar as mu- nal para evitar essa ameaça, que poderia danças climáticas devem ser urgentemente se configurar em prazos bem mais curtos.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Energia nuclear; Guerra nuclear; Direito; Geopolítica; Nova Ordem Mun- dial; Ciência e Tecnologia;

RMB3oT/2015 95 VULNERABILIDADES DA NAVEGAÇÃO POR SATÉLITES*

CARLOS NORBERTO STUMPF BENTO** Capitão de Mar e Guerra (RM1)

SUMÁRIO

Sistemas globais de navegação por satélite Vulnerabilidades do sinal GNSS A resiliência necessária Proteção legal Aumento da resistência dos receptores GNSS Sistemas alternativos Perspectivas para a navegação aquaviária

SISTEMAS GLOBAIS DE tos da vida humana, e sua aceitação cresce a NAVEGAÇÃO POR SATÉLITE cada dia, transformando-os em uma utilidade pública com cobertura global. Daqui a poucos s Sistemas Globais de Navegação por anos, os usuários em todo o mundo deverão OSatélite (Global Navigation Satellite contar com quatro GNSS: o GPS (Sistema Systems – GNSS), que fornecem serviços de Posicionamento Global, em inglês: Global de posição, navegação e hora (Positioning, Positioning System) americano, o Glonass Navigation and Timing – PNT), estão cada russo, o Compass chinês e o Galileo europeu, vez mais inseridos nos mais diversos aspec- estando apenas esse último sob controle civil.

* Artigo publicado originalmente na Revista Villegagnon no 9 de 2014. ** Hidrógrafo. Instrutor de Navegação da Escola Naval. Master of Business Administration (MBA) em Gestão Internacional pela Coppe-RJ. Autor do livro Navegação Integrada, lançado recentemente. VULNERABILIDADES DA NAVEGAÇÃO POR SATÉLITES

Esses sistemas, devido à sua alta pre- se em uma órbita elevada (distância de 20 cisão, estabilidade, cobertura global 24 a 25 mil quilômetros da Terra) e o seu seg- horas por dia e imunidade às condições mento de controle em terra está tendendo a ambientais, aliadas à sua facilidade de uso, ser passado para os próprios satélites, com vêm rapidamente se fazendo onipresentes pouca dependência de estações em terra, com o desenvolvimento de aplicações em as quais são projetadas para resistir até a telecomunicações, distribuição de energia, ataques militares. Tal robustez, porém, em redes de dados, em sistemas de backup, torna-se questionável em face dos sinais em sistemas financeiros e nos transportes dos satélites, transmitidos em alta frequ- terrestre, aéreo e aquaviário, aplicações ência com uma potência menor do que 100 essas muitas vezes interdependentes e watts, chegarem à superfície da Terra com associadas a serviços relacionados à sal- uma energia muito baixa, estando sujeitos a vaguarda da vida humana, tais como o sinais de interferência que, caso sejam for- Sistema Mundial de Socorro e Segurança tes o suficiente, podem sobrepor-se aos si- Marítima (GMDSS, nais do GNSS ou em inglês), a sincro- sobrecarregar o nização de sinais receptor, tornan- náuticos, os Ser- do-o ineficaz. Iro- viços de Tráfego nicamente, isso é de Embarcações um resultado di- (VTS, em inglês) reto do propósito etc. Apesar de suas original do siste- vantagens, uma ma de fazer com possível interrup- que os sinais dos ção do sinal GNSS satélites Navstar pode vir a causar (GPS) fossem ex- prejuízos globais traordinariamente incalculáveis1. Mas Figura 1 – Satélites de um GNSS difíceis de serem somente em 2001 Fonte: http://www.esa.int captados e utiliza- começaram a serem dos por terceiros, levantadas sérias preocupações sobre tal empregando uma combinação de potência vulnerabilidade. muito baixa do sinal transmitido e técnicas Há cerca de 40 anos, os conceitos bási- de ocultação do sinal. Ademais, tal baixa cos desse tipo de sistema foram definidos potência era desejável para garantir uma por um pequeno grupo de oficiais ameri- longa duração da bateria, aumentando a canos, sendo inicialmente concebido como vida orbital dos satélites. E essa concepção um sistema de navegação e direcionamento permanece inalterada até hoje. de armas altamente sigiloso. Atualmente, Outra preocupação é que, apesar da caminha-se para uma disponibilidade de disponibilidade crescente de GNSS es- vários GNSS, que brevemente operarão em trangeiros compatíveis ser, sem dúvida, conjunto por meio de receptores híbridos. um benefício para a navegação e outras Além disso, os satélites GNSS encontram- atividades, suas transmissões individuais

1 Hoje, estima-se que cerca de 7% do Produto Interno Bruto (PIB) dos países ocidentais dependa de alguma forma da navegação por satélites.

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adicionadas dentro da banda GNSS têm pública. No entanto, tais tipos de bloquea- o efeito colateral indesejável de elevar o dores podem vir a interferir em receptores ruído ambiente, que, aliado à crescente GNSS da aviação civil, como já ocorreu hiperatividade das condições ionosféricas, com um sistema de orientação de pouso contribui ainda mais para a degradação dos por GPS que estava em processo de certi- sinais dos satélites. ficação em um aeroporto internacional nos EUA e sofreu paradas frequentes durante VULNERABILIDADES DO SINAL os testes de aceitação devido à presença de GNSS bloqueadores em veículos que trafegavam na autoestrada adjacente ao aeroporto. Os fabricantes de tecnologias de recep- No meio militar, uma preocupação das ção de sinais de satélites sempre focaram forças aéreas, terrestres e navais são os os seus esforços na melhoria da sensi- resultados obtidos em exercícios realizados bilidade dos receptores, deixando a sua nas costas leste e oeste dos EUA, onde fo- robustez e resiliência2 em segundo plano. ram utilizados bloqueadores de alta potên- As vulnerabilidades dos sinais dos GNSS cia que causaram bloqueio do sinal GPS a só vieram a público em 2001, quando uma distância de 350 milhas náuticas desde usuários do GPS civil foram alertados que o sistema havia se mostrado vulnerável à interferência de transmissões de baixa frequência mais potentes, quer seja por meio de bloqueio, imitação ou retransmis- são maliciosa do sinal. A partir de então, vários relatos de interferência intencional ou acidental aumentaram significativa- mente. O uso criminoso de aparelhos tem sido feito por meio do bloqueio do sinal dos sistemas de rastreamento de veículos que utilizam GPS portáteis de baixo custo, visando ao roubo de veículos e sua carga. No Brasil, onde existem apenas projetos de lei sobre o assunto, já estão disponíveis diversos bloqueadores (jammers) de GPS à venda (figura 2). Nos Estados Unidos da América (EUA), embora não existam estatísticas disponíveis, estima-se que existam milhares desses dispositivos de baixo custo (menos de US$ 150) em uso nas suas estradas, apesar de sua venda e seu uso serem ilegais. As interferências, que também podem Figura 2 – Bloqueador portátil de GPS com alcance afetar sinais de telefonia celular, até agora de 20 metros (R$ 1.950,00) não têm ameaçado seriamente a segurança Fonte: http://www.mercadoespiao.com.br

2 Resiliência – característica de equipamentos e arquiteturas empregados na concepção de um sistema que o tornam inerentemente confiável, seguro contra ameaças externas e capaz de resistir a determinado grau de avaria.

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a superfície até uma altitude de 12 quilôme- Proteção Legal tros. Esse fato pode interferir na operação de Veículos Aéreos Não Tripulados (Vant), Na verdade, o que existe atualmente é onde, além do bloqueio, a fraqueza do sinal apenas uma necessidade de se discutir inter- GNSS também vem permitindo o emprego nacionalmente as sanções a serem aplicadas da técnica de falsificação do sinal (spoo- a quem esteja comercializando ou portando fing), como o Irã alegou ter feito em 2011 um bloqueador ilegal. Nos EUA, a pena contra um Vant (RQ-170 Sentinel) da Força imposta é restrita apenas à apreensão do Aérea dos EUA (figura 3), alimentando-o equipamento. Já na Austrália, existe uma com coordenadas GPS falsas e fazendo- legislação que aplica cinco anos de reclusão, o colidir com o solo iraniano. além de uma multa de 850 mil dólares, ao Atualmente, a navegação em tempo real infrator que prejudique a condução segura em uma carta náutica digital e o acompa- de uma embarcação. No Brasil, já existem nhamento automático de embarcações por alguns projetos de lei sobre o assunto. meio do revolucionário Sistema de Iden- tificação Automático Aumento da (Automatic Identifica- resistência dos tion System – AIS) são receptores GNSS dependentes do sinal dos satélites. As seguintes medi- Apesar de ainda das tecnológicas podem não se ter notícia no ser desenvolvidas vi- setor aquaviário sobre sando aumentar a resis- casos de interferências tência dos receptores à que possam ter com- interferência: prometido a seguran- – Receptor GNSS ça da navegação, os antibloqueio – Apesar usuários GNSS desse de ser uma boa solução segmento aparentam inicial, é impraticável a ter uma falsa percep- Figura 3 – Vant RQ-170 Sentinel construção de um recep- ção de que o sinal es- Fontes: www.aviakinetic.com e danviet.vn tor com proteção total tará sempre disponí- contra bloqueio do sinal, vel, sem levar em consideração que uma além de tal concepção poder contribuir para possível interrupção ou interferência do uma escalada de potência dos bloqueadores. sinal GNSS quando navegando em águas – Aumento da potência do transmissor restritas, principalmente à noite ou em dos satélites – A próxima geração de satéli- baixa visibilidade, pode ter consequências tes GPS III, com o seu primeiro lançamento desastrosas. previsto para 2015, será capaz de direcionar maior potência sobre a superfície da Terra A RESILIÊNCIA NECESSÁRIA onde tenham sido detectados bloqueadores. Porém o aumento da potência de transmis- As seguintes soluções em relação aos são dos satélites atualmente em órbita seria GNSS têm sido estudadas visando atenuar impraticável ou extremamente dispendioso. as interferências indesejadas no sinal dos – Tecnologia Anti-Spoofing – Tem satélites: circulado nos meios militares que o Vant

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supostamente “e-abatido” no Irã estaria 2) Quando o IRS é do tipo “corrida equipado com um GPS sem criptografia, livre”, sem recebimento de atualizações utilizando o Serviço Padrão de Posiciona- contínuas de posição GPS, os erros se mento (SPS). Como o GPS militar M-Code acumulam ao longo do tempo, tendendo é praticamente imune à falsificação devido a aumentar mais rapidamente durante as à sua criptografia forte, todas as aeronaves manobras de aproximação. Na navegação que forem equipadas com esse código de- aquaviária, esse sistema é utilizado princi- vem estar protegidas. palmente a bordo de submarinos nucleares, que permanecem por muito tempo submer- Sistemas Alternativos sos, portanto sem acesso ao sinal GNSS. – Bússola Quântica – Cientistas britâni- O rápido crescimento e a aceitação dos cos afirmam que daqui a três ou cinco anos GNSS têm tornado inúteis ou obsoletas criarão um novo sistema de navegação que outras excelentes tecnologias, que pelo não se baseia em tecnologias espaciais. A menos poderiam ser empregadas como denominada “bússola quântica” poderá fontes alternativas de PNT complementares substituir os GNSS em submarinos e navios às dos GNSS ou reservas (backup) em caso nucleares, já que os sinais dos satélites não de perda do sinal dos satélites: chegam abaixo da superfície do mar. O pro- – Sistema de Referência Inercial (IRS) pósito é que, quando o submarino retorne à – Um IRS não depende de sinais de entra- superfície, tenha um erro da ordem de um da e tem sido utilizado na aviação, com quilômetro em sua posição, o que hoje não suas saídas sendo geralmente integradas é possível com o emprego do IRS. com o GPS por meio do computador do O princípio físico do sistema é que os áto- sistema de gerenciamento de voo (FMS, mos, em suas energias mais baixas, tornam- em inglês). Em uma situação de bloqueio -se os corpos mais frios conhecidos no uni- causando a perda do sinal GPS, o sistema verso e extremamente sensíveis às mudanças de gerenciamento de voo muda automa- nos campos magnético e gravitacional da ticamente para a orientação IRS até que Terra. Se um super-resfriador de átomos a recepção de dados GPS seja reestabe- for instalado em um pequeno dispositivo, as lecida. Em um ataque de spoofing, no flutuações magnéticas e gravitacionais dos entanto, não haveria um alerta claro de átomos aprisionados podem permitir rastrear falha do GPS. os movimentos do dispositivo a uma grande As duas principais desvantagens para a distância e determinar a sua localização com solução de backup IRS são: extrema precisão. A promessa dos cientistas 1) O custo de uma instalação IRS e sua é que futuramente se consiga uma precisão integração com o FMS poderiam torná-lo de cerca de 90 cm para receptores localiza- proibitivo para a maioria dos aviões regio- dos na superfície terrestre. nais e executivos de médio porte e para – DME4 e VOR5 – A Administração todas as aeronaves menores. Federal de Aviação dos EUA propôs essa

3 DME (Distance Measuring Equipment) é um equipamento de radionavegação que permite determinar a distância de uma aeronave em relação a um ponto rigorosamente localizado no terreno. 4 VOR (Very High Frequency Omnidirectional Range) é um equipamento eletrônico usado na navegação aerovi- ária. A rádio-ajuda VOR emite dois sinais: um não direcional e outro rotativo (direcional), alinhados com o norte magnético da Terra. Um receptor a bordo da aeronave mede a diferença de fase entre os dois sinais e a converte em graus magnéticos chamados radiais – estes indicam ao piloto sua localização.

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combinação como a sua solução para blo- implementadas pelos países que operam os queio GPS, baseando-se no fato de que, no GNSS, a maioria sob controle militar, ou território continental dos EUA, o espaço disponham de recursos para arcar com gas- aéreo tem uma rede DME e VOR bem es- tos que seriam proibitivos para os demais tabelecida. A desvantagem é que receptores usuários GNSS do mundo, que clamam dos DME são comuns em novas aeronaves por uma alternativa precisa, abrangente, grandes, mas muito menos comuns em confiável e acessível. companhias de médio porte e em aeronaves Nesse sentido, além do eLoran, que já corporativas, e raramente encontrados em está praticamente pronto, uma concepção máquinas menores. Além disso, mesmo de sistema alternativo está sendo desenvol- nos EUA, pelo fato de a aviação representar vida pela BAE Systems, em que os seus menos de 10 por cento de toda a comunidade sinais de navegação serão obtidos por meio de usuários de GPS, a obtenção de financia- de oportunidade (Navsop), sendo projetado mento para instalações adicionais dedicadas para aceitar sinais GNSS, além de ATC, exclusivamente à aviação pode ser difícil. TV, rádio, wi-fie torres de telefonia celular, – eLoran: O enhanced Loran (eLoran) e obtendo uma precisão de poucos metros, consiste em uma versão modernizada e pa- podendo tal tecnologia atingir áreas onde dronizada da versão anterior do sistema de os sinais GNSS são incapazes de penetrar, longo alcance Loran-C, que possui várias como áreas urbanas densas. versões ao redor do mundo. O sistema é constituído por estações em terra estrate- PERSPECTIVAS PARA A gicamente posicionadas, que empregam NAVEGAÇÃO AQUAVIÁRIA sinais de baixa frequência, alta potência e longo alcance (Long Range Navigation) A seguir são apresentadas as conse- não sujeitos a interferências, em que os quências que a perda do sinal GNSS poderá receptores eLoran conseguem selecionar trazer para a navegação aquaviária nos dias automaticamente as estações com melhor de hoje. geometria para o posicionamento. É um Na navegação oceânica, o navegante sistema que fornece serviços de PNT em terá que passar a conduzir a sua embarcação terra, mar e ar, desde a superfície até alti- por meio da navegação estimada, da nave- tudes elevadas. gação astronômica, ou de um IRS. Enquanto a bússola quântica encontra-se Na navegação costeira, o radar passará a em estágio embrionário, os militares dos ser o principal sistema para posicionamento EUA vêm trabalhando no desenvolvimento do navio, em que o requisito da Organiza- de unidades de IRS miniaturizadas para ção Marítima Internacional (IMO, da sigla Vant e pequenas aeronaves. O setor aero- em inglês) para um Sistema de Exibição de náutico daquele país tem utilizado o DME Cartas Eletrônicas e Informações (ECDIS, e VOR como alternativa ao GNSS na fase da sigla em inglês) exige que as posições aproximação de aeroportos, o que ainda radar obtidas possam ser plotadas sobre não torna a alternativa eLoran interessante uma carta digital. A utilização de um IRS para aquele setor. seria interessante até o navio sair da área Além das medidas legais adotadas, que de interferência. diferem ou não existem em muitos países, Na navegação em águas restritas, ge- as soluções apresentadas, com exceção do ralmente no acesso a portos ou canais, eLoran, evidenciam que elas só poderão ser onde a precisão da navegação é vital para

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como vimos anteriormente, as posições das embarcações e a sincronia de dados dessa ferramenta são altamente dependentes de um GNSS. Nesse caso, em qualquer um dos tipos de navegação, o adequado acompa- nhamento automático poderá ser feito por meio da vigilância visual e do Radar/Arpa. Cabe ressaltar ainda que uma perda repentina do sinal GNSS à noite obrigará o navegante, que não disponha de um radar, a realizar a navegação exclusivamente pelo método visual, o que se complica em áreas Figura 4 – Interferência intencional no sinal GNSS desprovidas de sinalização náutica lumino- do navegante sa. E a perda do sinal GNSS em condições Fonte: o autor de baixa visibilidade, além de inviabilizar a segurança da navegação, a perda do sinal a navegação visual, poderá, dependendo da GNSS fará com que se perca a capacidade intensidade com que o fenômeno meteoro- de se navegar em tempo real. Um IRS se lógico (chuva e estado do mar) se apresente, tornará ineficiente em face das sucessivas vir a afetar ou mesmo anular o desempenho mudanças de rumo que tal navegação do radar, inclusive no acompanhamento de exige. A navegação passará a ser realizada embarcações. Tal fato não ocorreria com exclusivamente pelos tradicionais métodos o sinal GNSS, por este ser praticamente visual e eletrônico radar. Nesse aspecto, imune às condições ambientais. as Marinhas de guerra têm desenvolvido Como a navegação aquaviária moderna seus ECDIS Navais (Cisne, na Marinha procura contribuir para o desenvolvimen- do Brasil), que permitem que as posições to e a aplicação do moderno conceito de visuais e radar obtidas pela equipe de na- e-Navigation5, a solução eLoran parece vegação sejam plotadas sobre uma carta apresentar-se como a mais apropriada digital. A maioria dos meios da Marinha para o setor, por ser o único sistema que Mercante, contudo, por não possuírem pode atender, em tempo hábil, às seguintes equipes de navegação (muitos navios já exigências de ferramenta complementar não mais possuem pelorus), provavelmente aos GNSS: serão obrigadas a depender de um serviço – prover PNT resiliente para utilização de praticagem, na maioria das vezes já em aplicações críticas de infraestrutura, obrigatório. incluindo o transporte aquaviário; No acompanhamento automático de em- – ser independente de um GNSS; barcações, que visa evitar o abalroamento, – poder ser facilmente integrado a um a perda do sinal GNSS tornará o revolucio- GNSS; nário Sistema de Identificação Automático – possuir capacidade de detecção de (AIS, da sigla em inglês) inoperante, já que, interferência e de atenuação de danos;

5 e-Navigation – Conceito IMO que visa à “integração de ferramentas de navegação existentes, em particular as eletrônicas, em um sistema abrangente que contribuirá para aprimorar a segurança da navegação, com repercussões positivas para a segurança marítima de um modo geral e para a preservação do meio ambiente, além de reduzir a carga de trabalho do navegante”. (http://www.imo.org/OurWork/Safety/Navigation/Pages/eNavigation.aspx)

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– permitir transição suave para o sistema o emprego de sistemas de armas pelas quando o sinal do GNSS é perdido; forças que disponham de um serviço PNT – possuir potencial para ser implantado alternativo, preciso e confiável. Outro em todo o mundo; aspecto interessante é que a consolidação – permitir o desenvolvimento de aplica- de um sistema alternativo como o eLoran ções para a navegação marítima em geral; contribuirá para a própria longevidade – possuir modos de falhas diferentes de dos GNSS, pois a sua simples existência um GNSS; e tende a dissuadir ações de interferência – proporcionar níveis de desempenho intencional ou negação de sinal, já que as semelhantes a um GNSS. mesmas se tornariam ineficazes. Somando-se a essas exigências, desta- O World Wide Radio Navigation Plan ca-se que o eLoran é a única ferramenta de 2010, da Associação Internacional de complementar disponível para prover o Auxílios à Navegação (Iala, da sigla em serviço da hora, além de operar em uma inglês), reconheceu que o principal desafio frequência que permite acessar locais é garantir que um serviço de PNT resiliente, onde o sinal do satélite não atinge, inclu- com base no GNSS e no eLoran, esteja dis- sive dentro de compartimentos metálicos ponível para apoiar a aplicação do conceito (ex: contêineres), o que pode ser útil em de e-Navigation. diversas aplicações do setor aquaviário. Tais aplicações podem ser otimizadas por meio da sua integração ao AIS e utilização por embarcações, pela sinalização náutica, por VTS, etc. Podemos destacar também a capacidade desse sistema, nos moldes de um GNSS Diferencial (DGNSS)6, de transmitir conti- nuamente sinais de correção de posição ao navegante por meio de uma estação eLoran Diferencial (eDLoran). Como vantagem, o sinal eLoran, ao contrário do sinal GNSS, não sofre desvios atmosféricos e troposfé- ricos (figura 5). Além de se constituir em uma al- Figura 5 – Concepção de um eLoran / eDLoran ternativa em caso de interferência no Fonte: o autor sinal GNSS, o eLoran serve também de Finalmente, cabe ressaltar que a solução alternativa em casos de possível nega- integrada GNSS/eLoran atende às necessi- ção regional do sinal pelos operadores dades de uma navegação segura e eficiente de alguns GNSS, em caso de interesse em tempo de paz. Em caso de conflito político ou militar, o que pode garantir armado, tal concepção possui as seguintes a continuidade de operações militares e vulnerabilidades:

6 GNSS Diferencial – sistema que visa aumentar a precisão do GNSS, reduzindo os erros dos sinais dos satélites recebidos pelo navegante dentro de determinada área. O processo consiste em comparar a posição conhecida e muito precisa de uma Estação de Referência DGNSS em terra com posições obtidas por meio dos satélites GNSS disponíveis, pressupondo que o erro na determinação de um ponto é semelhante para todos os receptores situados dentro do alcance da estação (assumindo que eles estejam recebendo sinais dos mesmos satélites).

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1 – O GNSS, apesar de ter seus satélites transmissores posicionados em órbitas elevadas e suas estações de controle e moni- toramento em terra serem bem protegidas, é um sistema vulnerável à interferência ou negação do sinal dos satélites de sua constelação. 2 – O eLoran, mesmo sendo pratica- mente imune a interferências e não estando sob controle de poucos países, possui suas estações transmissoras instaladas em terra, o que torna o sistema vulnerável a ataques contra as suas instalações. Apesar de a Navegação Oceânica estar menos sujeita à ocorrência de acidentes aquaviários, os campos de exploração pe- Figura 6 – Cobertura eLoran para a Amazônia Azul trolífera localizados no oceano possuem um Fonte: o autor intenso tráfego de embarcações que, aliado à sua importância estratégica, também exi- ge um serviço de PNT alternativo, preciso excesso de confiança em torno delas, bus- e confiável que contribua para o tráfego cando sempre manter-se treinado na utili- seguro das aerona- zação das tradicionais ves e embarcações de e consagradas ferra- apoio marítimo e as É importante sempre mentas de navegação operações dos meios manter-se treinado na que independem de navais e aeronavais sistemas externos, tais destinados à sua pro- utilização das tradicionais e como o pelorus, o sex- teção (figura 6)7. consagradas ferramentas de tante, o ecobatímetro Em face do expos- e o radar, que, apesar to neste artigo, torna- navegação que independem de, em tempo de paz, se evidente a impor- de sistemas externos serem complementa- tância para o nave- res às modernas ferra- gante de poder des- mentas de navegação frutar das vantagens das fascinantes eletrônica integradas, serão vitais em caso tecnologias que surgem no seu passadiço, de perda de sinais durante a eventualidade mas também é importante que se evite um de um conflito armado.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Navegação; Navegação por satélite;

7 O Brasil está desenvolvendo um programa à semelhança do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), deno- minado de Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz).

104 RMB3oT/2015 VULNERABILIDADES DA NAVEGAÇÃO POR SATÉLITES

BIBLIOGRAFIA

BASKER, Sally; WILLIAMS, Paul. Navigating eLoran: Challenges and the Way Forward. Iala Conference, 2010. Disponível em BENTO, Carlos Norberto Stumpf. Navegação Integrada. Niterói: Claudio Ventura Comunicação, 2013. (www.e-nav.net). GENERAL LIGHTHOUSE AUTHORITIES OF THE UK & IRELAND (GLA). Update on eLoran. Iala Conference, 2010. Disponível em INTERNATIONAL LORAN ASSOCIATION. Enhanced Loran (eLoran). Disponível em JAMES, Callan. What Will Follow GPS? Avionics Today, 2012. Disponível em LATIN AMERICA GEOSPATIAL FORUM. Exército britânico trabalha na tecnologia de “bússola quântica” para substituir GPS. Disponível em PARKINSON, Brad. GNSS Vulnerable: What to Do? GPS World, 2014. Disponível em THE ROYAL ACADEMY OF ENGINEERING. Global navigation Space Systems: reliance and vulnerabilities. Raeng, 2011.

RMB3oT/2015 105 A BATALHA NAVAL NO CARNAVAL: Você sabia?

“Cada qual brinca como pode, pois o carnaval é de todos [...] essa talvez seja a única festa nacional sem dono.” (DAMATTA, 1997, p.119)

HERCULES GUIMARÃES HONORATO* Capitão de Mar e Guerra (RM1-IM)

ste autor, durante uma busca inicial pecial atenção à Escola de Samba Império Ena internet para elaboração de um Serrano. O referencial teórico foi constituído artigo sobre a Batalha Naval do Riachuelo por autores consagrados na temática do car- e os valores demonstrados por seus heróis, naval, como Sérgio Cabral (1996), Haroldo motivado pelas comemorações, em 2015, Costa (2001) e André Diniz (2008), e pelo dos 150 anos da mais importante vitória recém-lançado livro de Bernardo Araújo naval brasileira, encontrou um fato his- (2015) sobre a referida agremiação. Foi tam- tórico muito interessante, desconhecido bém utilizada a busca no acervo do Arquivo dos oficiais contatados a opinarem sobre o Nacional e do jornal O Globo. achado. A Escola de Samba Império Ser- A relevância deste trabalho está em tra- rano, no carnaval de 1950, homenageou a zer à luz o que se passou numa época em Batalha Naval do Riachuelo em seu desfile, que o nosso país saiu de um conflito mun- enfocando o episódio em seu enredo e seu dial, a Segunda Guerra Mundial, e soube samba. representar e apresentar, por intermédio de Assim, surgiu a motivação para escrever um desfile de escola de samba no carnaval, este pequeno texto, cujo objetivo é apre- a nossa maior festa popular, o que foi para sentar este fato histórico encontrado por o Brasil a vitória, em 11 de junho de 1865, intermédio de uma pesquisa bibliográfica da nossa Marinha Imperial brasileira na exploratória de cunho qualitativa, com es- Batalha Naval do Riachuelo.

* Professor de Metodologia da Pesquisa na Escola Naval. Mestre em Educação pela Universidade Estácio de Sá. A BATALHA NAVAL NO CARNAVAL: Você sabia?

A IMPÉRIO SERRANO E O A Escola de Samba Império Serrano foi CARNAVAL DE 1950 fundada em 23 de março de 1947. Cari- nhosamente conhecida como “Reizinho de As escolas de samba são agremiações Madureira”, teve um feito inédito em sua que foram, nos seus anos iniciais, consti- história: seu primeiro carnaval, em 1948, tuídas por pessoas que habitavam o mesmo com o enredo “Homenagem a Antônio lugar e que congregavam o gosto pelo Castro Alves”, causou boa impressão carnaval – segundo Barbosa (2012), eram nos jurados, que ficaram “maravilhados, os “sambistas moradores”. como o compositor Ary Barroso, e deram O jornal Mundo Sportivo, de Mário Fi- à agremiação notas altas, que a levariam lho, promoveu, em 7 de fevereiro de 1932, o ao surpreendente título” (ARAUJO, 2015, primeiro desfile de escola de samba na Pra- p. 49). ça Onze1, sagrando-se vencedora a Estação Depois foram mais três títulos seguidos, Primeira de Mangueira. O marco inicial da completando um inédito tetracampeona- oficialização dos desfiles ocorreu em 1935, to: em 1949, com o enredo “Exaltação quando a Prefeitura do Distrito Federal cria a Tiradentes”; 1950, “Batalha Naval do a Diretoria-Geral de Turismo, como parte Riachuelo”, foco deste estudo; e 1951, com de um programa de desenvolvimento do o enredo “61 anos de República”. A escola turismo internacional. “Começava assim a era considerada uma das quatro grandes relação formal entre o poder público [...] e agremiações até a década de 1960, ao lado as escolas de samba. A representação destas de Mangueira, Portela e Salgueiro. se fez por meio da União das Escolas de Em relação aos desfiles das agremiações, Samba (UES), organização fundada em no ano de 1946 propôs-se um tema único, 1934” (SILVA, 2007, p.18). o “Carnaval da Vitória”, quando todos os enredos abordaram a vitória dos Aliados. O regulamento foi elaborado pela União Ge- ral das Escolas de Samba (Uges), liga que substituiu a UES, e que não mencionava a respeito da obrigação de temas nacionais. Em 1947, porém, com a aproximação da Uges com o Partido Comunista Brasileiro (PCB), o prefeito do Distrito Federal, Pedro Ernesto, interveio e, no regulamento para o desfile, determinou a obrigatoriedade do motivo nacional nos enredos. Com a situação estabelecida pelo apoio do PCB à Uges2, foi criada como dissidente, ainda em Figura 1 – Coroa símbolo da Império Serrano, 1947, a Federação Brasileira das Escolas fundada em 23 de março de 1947 de Samba (FBES). De imediato, setores

1 Praça Onze de Junho, antigo Largo do Rocio Pequeno, que teve o seu nome mudado, em 1865, em homenagem à vitória brasileira na Batalha Naval do Riachuelo. Como informação complementar: a Rua Mata Cavalo, localizada também no Centro da cidade do Rio de Janeiro, teve, nesse mesmo ano, seu nome mudado para Rua do Riachuelo. 2 Foi apelidada de União Geral das Escolas Soviéticas, depois passou para Ugesb, acrescentando o Brasil ao final do seu nome (ARAUJO, 2015).

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conservadores da política carioca estimu- a Estação Primeira de Mangueira; e na laram algumas agremiações a se unirem à Praça XV pela União Geral das Escolas de Federação. “A Portela, depois de perder Samba do Brasil (Ugesb), com o “Prazer da para o Império no carnaval de 1948 [...] Serrinha” vencendo. ficou na associação ‘comunista’, enquanto Na pesquisa realizada sobre a autoria o rival foi para a FBES. A cisão durou três do samba enredo de 1950, cujo título era carnavais, vencidos pelo Império Serrano “Batalha Naval do Riachuelo”, deparou-se (ARAUJO, 2015, p.51). com as fontes estudadas divergindo em um A Império Serrano tinha ganho os car- dos três autores, mantendo-se em todas os navais de 1948 e 1949, reinando sozinha na sambistas Mano Décio da Viola e Penteado Federação. A escola escolheu como enredo (Arnaldo da Silva Ferraz). A diferença está para 1950 a Batalha Naval do Riachuelo, no terceiro autor, que Araújo (2015, p. 56) tema histórico e que realçava o motivo na- afirma ser Molequinho, porque “o ano de cional. O desfile oficial foi realizado dia 19 1951, além do tetracampeonato, marcaria de fevereiro na Avenida Presidente Vargas. a estreia de Silas de Oliveira no Império Os desfiles não oficiais, ou seja, que não Serrano”. Com o que não concorda Ca- tiveram apoio financeiro da Prefeitura do bral (1996, p. 80), que constata que Silas Distrito Federal, foram realizados: na Praça de Oliveira e Mano Décio da Viola “são Mauá, pela União Cívica das Escolas de os autores de cerca de 80 por cento dos Samba (Uces), sendo consagrada campeã sambas-enredo (sic) do Império Serrano: de 1948, ano em que o Império desfilou pela primeira vez, a 1972, quando morreu, a escola cantou 12 sambas de enredo feitos por Silas de Oliveira”. Ato contínuo, fomos pesquisar no dicio- nário on-line de música popular brasileira4, do maestro Ricardo Cravo Albin, para uma solução final; porém a dúvida ainda persis- tia. Na consulta ao dicionário, percorrendo a discografia dos autores, chegamos ao sambista Mano Décio da Viola e o encon- tramos como autor junto com Penteado e Molequinho; se formos pesquisar via Silas de Oliveira, constatamos que ele é o autor do samba enredo de 1950, junto com Mano Décio da Viola e Penteado. Um estudo deve ter sua sustentação na bibliografia recuperada, o que não estava acontecendo com a autoria do samba enre- do de 1950. Assim, com a vontade de des- velar a real autoria do samba em homena- Figura 2 – Dona Olegária3 gem a Riachuelo, este autor foi a campo, ou

3 Considerada a primeira destaque dos desfiles das escolas de samba brasileiras. 4 Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Disponível em: . Acesso em: 20 jun. 2015.

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melhor, à quadra atual da Império Serrano, Hoje rendemos homenagem na Avenida Edgard Romero, 114, no bairro Aos defensores do Brasil Imperial de Madureira. Foi recebido pelo diretor de Relações Públicas do Departamento Mu- Pelo seu exemplo de coragem sical, Baiano de Xangô (Antônio Carlos Na Batalha Naval Pinheiro dos Santos), que se prontificou Salve a Marinha de Guerra em ajudar e verificar os nomes dos autores Seu passado glórias mil encerra questionados. Com o auxílio as famílias Tamandaré, Almirante Barroso dos autores Mano Décio e Silas de Oli- Marcílio Dias, marinheiro veira e com a pesquisa em documentação histórica da instituição, coordenada pelo garboso Departamento Cultural, foram ratificados Salve esses heróis os nomes dos autores do samba enredo de Filho varonil 1950: Mano Décio da Viola, Penteado e Lutaram e tombaram Silas de Oliveira. Em defesa do nosso Brasil5 Tudo esclarecido sobre seus autores, vamos enfim ao samba enredo em ques- Um episódio curioso aconteceu no desfile tão, que faz uma justa homenagem aos de 1950, ocasionado pela eterna competição, nossos heróis de Riachuelo, com uma que às vezes não era salutar, entre as agremia- letra de rimas simples, mas bem completa ções irmãs de Madureira, (Império Serrano e e representativa do embate, visto que um Portela), independentes de estarem, à época, samba tem que ser de fácil assimilação por em ligas que desfilavam em locais diferentes. todos os integrantes da agremiação, bem Bernardo Araujo conta em seu livro que o como transmitir ao público que assiste a jornalista Irênio Delgado, um simpatizante da ideia de um começo e um fim no trato de Império, viu o portelense Seu Natal (Natalino uma festa popular, mas repleta de valores José do Nascimento) conversando com dois significativos e representativos do orgulho meninos e lhes oferecendo dinheiro logo nacional, como coragem, exemplo, heróis, antes do desfile da Império. Irênio verificou luta e morte em defesa do nosso Brasil. A os dois contratados se aproximando do carro seguir, a letra do samba enredo é transcrita: alegórico que trazia um grande navio de guerra, representação da batalha a ser desen- volvida no enredo. Quando o carro começou a se mover, a belonave adernou para o lado. Agora estava tudo explicado: os meninos sol- taram os parafusos que prendiam o navio, que tombou. O jornalista pensou rápido, pegou algodão e álcool e ateou fogo no casco do navio, “que passou pela comissão julgadora adernado e em chamas, exatamente como se estivesse na sangrenta batalha. Foi aplaudido de pé e apenas confirmou o campeonato e a consagração do Império Serrano”. (ARAU- Figura 3 – Os autores do samba enredo de 1950 JO, 2015, p. 57).

5 A música original de 1950 do samba enredo pode ser baixada em mp3 do sitio: https://youtu.be/CYsboxHwelc.

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O jornal O Globo, em sua edição de 20 concorrente ao título do desfile oficial, ou de fevereiro de 1950, fez alusão a uma forte seja, o da FBES, não informando absolu-

Figura 4 – Jornal O Globo de 20 de fevereiro de 19506 Fonte: Disponível em: . Acesso em: 20 ago. 2015.

6 Importante ressaltar que a campeã na categoria das Repartições Públicas do Carnaval de 1950 foi o Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ).

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tamente nada sobre os desfiles das demais fluvial e a negação aos paraguaios do acesso ligas. Disputando contra um belíssimo des- e apoio logístico externo, principalmente file da Aprendizes de Lucas, destacou-se a vindo da Europa. Então, como fazer com Império Serrano, com o tema “Batalha Naval que essas informações e notícias fossem do Riachuelo”. E, assim, a matéria intitulada amplamente divulgadas que não pelos “A Escola de Samba sauda o povo e pede livros de História do Brasil? passagem” complementava sobre a apresen- Dizem que “no Brasil tudo acaba em tação da “Verde e Branco de Madureira”: samba”, mas o carnaval brasileiro sem dú- Bom ritmo, ótimos executantes, ricas vidas é a nossa maior festa popular, com o fantasias, sua apresentação foi grande- reinado momesco desde o Sábado de Aleluia mente aplaudida. Falando em coisas da até a Quarta-Feira de Cinzas. Assim, pôde-se nossa terra, da nossa história, em homens trazer e apresentar na passarela da Av. Pre- que lutaram pela manutenção material e sidente Vargas uma representação histórica mental do Brasil, [...] uma alta finalidade: de Riachuelo, do que foi a luta de brasileiros conservação da verdadeira música popular honrados e heróis, homenageados pelo povo de nossa gente e a conquista de um plano de que faz dessa festa momentos de descontra- diversão educativa, de que muito estávamos ção e animação. Assim, um fato histórico precisando. (O GLOBO, 1950, p. 10). importante para o nosso país foi muito bem Podemos verificar que já existia uma representado pela “Verde e Branco de Ma- preocupação, quando da escolha do tema da dureira”, por seus passistas, seus ritmistas, Escola de Samba pelos seus diretores respon- seu mestre-sala e sua porta-bandeira, por sáveis, que ele fosse algo que representasse toda uma comunidade que se declarou, desde um fato de características nacionais e de o início de sua fundação, uma agremiação grande importância para o nosso país, prin- democrática de raiz, em particular no trato cipalmente na transmissão de conhecimentos daqueles que a compõe e, também, daqueles históricos, via nossa maior festa popular. que são por ela homenageados. Espera-se que este pequeno ensaio CONSIDERAÇÕES FINAIS sobre o carnaval e sua representação na identidade de sua comunidade seja o ca- Contar um achado de pesquisa simples- minho do que se desejou transmitir sobre mente indo direto ao fato em si não retrata uma Marinha imperial, representada por um estudo a ser desenvolvido, depois que uma Escola de Samba também imperial, a inquietação do autor é aguçada pela a Império Serrano. Do Morro da Serrinha, constatação. Comemoramos, em 2015, os esta escola de samba, com suas inovações 150 anos da Batalha Naval do Riachuelo, nos desfiles iniciais, soube arrematar quatro um embate que reuniu características títulos sequenciais. Neste período, temos peculiares, já que éramos uma Marinha no ano de 1950 representação simples, mas oceânica guerreando em águas restritas e verdadeira, do que foi o 11 de junho de fluviais. Nós, militares – oficiais e praças 1865, na alegria e descontração dos nossos –, e servidores civis da Marinha do Brasil heróis anônimos fantasiados de verdadeiros sabemos o que significou a nossa vitória, heróis brasileiros que lutaram bravamente que proporcionou o controle da navegação nos conveses de nossos navios de guerra.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Batalha do Riachuelo; Música; Cultura; Civismo;

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REFERÊNCIAS

ARAUJO, Bernardo. O prazer da Serrinha: Histórias do Império Serrano. Rio de Janeiro: Verso Brasil, 2015. (Coleção de Samba). BARBOSA, Alessandra. T. de S. P. Nasceu lá na serra uma linda flor: memórias sobre a fundação do Império Serrano (1947-1952). 2012, 152f. Dissertação (Mestrado em História Social) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, São Gonçalo, Rio de Janeiro, 2012. CABRAL, Sérgio. As escolas de samba: o quê, quem, como, quando e por quê. Rio de janeiro: Fontana, 1996. COSTA, Haroldo. 100 anos de carnaval no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Irmãos Vitale, 2001. DAMATTA, Roberto. Carnavais, Malandros e Heróis: para uma sociologia do dilema brasileira. Rio de Janeiro: Rocco, 1997. SILVA, César Maurício B. da. Relações institucionais das escolas de samba, discurso nacionalista e o samba enredo no regime militar – 1968-1985. 2007. 181f. Dissertação (Mestrado em Ci- ência Política) – Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de janeiro, 2007.

112 RMB3oT/2015 A AGÊNCIA DE TRANSPORTES AQUAVIÁRIOS NA MOBILIZAÇÃO NACIONAL

JONAS SOARES DOS SANTOS FILHO*

SUMÁRIO

Introdução Da Agência Nacional de Transportes Aquaviários O sistema nacional de mobilização A Antaq e a mobilização nacional Conclusão INTRODUÇÃO preparada para, caso não haja outra alterna- tiva plausível, atuar num conflito armado. nicialmente torna-se obrigatório afirmar Assim sendo, de fundamental impor- Ique a paz é o objetivo maior que todos tância é a capacitação de toda a sociedade devemos perseguir. Parafraseando o hino brasileira em toda sua diversidade e de do glorioso Exército Brasileiro, “a paz forma continuada, mobilizando e prepa- queremos com fervor, a guerra só nos causa rando os seus diversos estratos (políticos, dor”. Mas, em contrapartida, a guerra é um empresários, pesquisadores científicos, fenômeno social contumaz na sociedade força de trabalho etc.) para haver uma mundial, e nossa nação, como parte impor- transformação de uma situação de paz e tante da ordem social mundial, deve estar normalidade para outra situação de guerra

* Especialista em Regulação de Serviços de Transportes Aquaviários da Agência Nacional de Transportes Aqua- viários (Antaq). Mestre em Direito Econômico e Desenvolvimento pela Universidade Cândido Mendes. Advogado. A AGÊNCIA DE TRANSPORTES AQUAVIÁRIOS NA MOBILIZAÇÃO NACIONAL

– voltada, por conseguinte, para atender aos Federal (importantíssima para questões esforços de guerra. de logística portuária e de navegação no Em alguns dos principais vetores do Brasil) na Mobilização Nacional. desenvolvimento da logística nacional, encontram-se a exploração da infraestrutura DA AGÊNCIA NACIONAL DE portuária, a navegação marítima e de apoio TRANSPORTES AQUAVIÁRIOS e a navegação interior, estes necessários em caso de conflito armado, para atender No âmbito da exploração da infraes- à mobilização nacional. trutura portuária nacional e da navegação Essa é, portanto, a questão-chave deste marítima e de apoio e também da navega- estudo: quais as funções da agência re- ção interior nacional, a Lei no 10.233, de 5 guladora federal que trata dos portos, da de junho de 2001, trouxe ao ordenamento navegação de longo curso, de cabotagem, jurídico pátrio, dentre outros objetos, a de apoio marítimo, de apoio portuário e da criação da Antaq1. Assim, além de tratar dos navegação interior do Brasil num cenário assuntos portuários, o legislador também de crise e conflito armado, ou seja, num forneceu à Antaq a competência para tratar cenário de guerra? da navegação fluvial, lacustre, de travessia O trabalho está estruturado a partir (traduzida na navegação interior), de apoio das presentes disposições introdutórias, marítimo, de apoio portuário, de cabotagem apontamentos sobre a Agência Nacional e de longo curso (traduzida na navegação de Transportes Aquaviários (Antaq) em marítima e de apoio)2. si, algumas considerações sobre o Sistema Essa agência reguladora setorial tem Nacional de Mobilização e na sugestão por finalidade implementar as políticas de algumas políticas para indicar e po- formuladas pela Secretaria de Portos da tencializar a atuação da Antaq no cenário Presidência da República (SEP/PR), pelo de mobilização nacional, além de uma Conselho Nacional de Integração de Políti- breve conclusão, com metodologia da cas de Transporte (Conit), e pelo Ministério pesquisa baseada em, além de uma certa dos Transportes, segundo os princípios e as dose de conhecimento empírico, pesquisa diretrizes estabelecidos na legislação. bibliográfica em diversos bancos de da- É responsável por regular, supervisio- dos, tais como, por exemplo, bibliotecas, nar e fiscalizar as atividades de prestação periódicos científicos com publicações de serviços de transporte aquaviário e de voltadas para o tema e sítios eletrônicos exploração da infraestrutura portuária e especializados. aquaviária, garantindo a movimentação de Nesse sentido, o intuito do trabalho é, pessoas e bens, em cumprimento a padrões justamente, desenvolver conceitos e ideias de eficiência, segurança, conforto, regulari- – todos devidamente baseados na legisla- dade, pontualidade e modicidade nos fretes ção em vigor e jurisprudência pátria – que e tarifas e harmonizando, preservado o inte- contribuam para difundir esse tema junto resse público, os objetivos dos usuários, das à comunidade acadêmica brasileira e à empresas concessionárias, permissionárias, sociedade em geral, tendo como escopo a autorizadas e arrendatárias, e de entidades questão do papel desta Agência Reguladora delegadas, arbitrando conflitos de interes-

1 Vide Lei no 10.233/2001, em seu Art. 1o, inciso IV, e Art. 21. 2 Ibid, em seu Art. 23.

114 RMB3oT/2015 A AGÊNCIA DE TRANSPORTES AQUAVIÁRIOS NA MOBILIZAÇÃO NACIONAL

ses e impedindo situações que configurem suas posteriores alterações pontuais e seus competição imperfeita ou infração da respectivos anexos). ordem econômica3, 4. Foi uma mudança substancial, haja Já tivemos anteriormente a oportunidade vista que a outrora estruturação interna da de consignar que, sobre a Antaq5: Antaq, em sua atividade-fim de agência Sua criação vem de encontro à necessi- reguladora, estabelecia que as superinten- dade do Estado brasileiro de regular e dências finalísticas estavam organizadas fiscalizar os serviços públicos passíveis setorialmente e, na novel estruturação de delegação ao setor privado, criando interna, estão estruturadas por processos condições para que as novas pessoas de trabalho. Frise-se “atividade-fim”, pois jurídicas delegadas possam produzir a atividade-meio – no caso específico, da melhor forma possível (assegurando a Superintendência de Administração e assim a qualidade na prestação dos ser- Finanças (SAF) – continua com a mesma viços públicos), criando, por exemplo, estrutura. regras de acesso ao mercado regulado Podemos admitir que essa mudança e punições às empresas operadoras. Ou organizacional da Antaq teve como princi- seja, a Antaq desempenha seu papel, no pais motivações a adequação às alterações âmbito federal, basicamente, fixando de competências estabelecidas pelo novo diretrizes de atuação, exercendo o con- marco legal dos portos e uma certa racio- trole e fiscalizando o mercado regulado nalização do trabalho (por intermédio da de transporte aquaviário. uniformização e modernização de proces- sos e procedimentos), pois, na verdade, a Vinculada à SEP/PR6, é interessante estruturação antiga da Antaq trazia, sim, um destacar, ainda, que o regime autárquico certo ranço da forma em que a Agência foi especial caracterizador das agências regu- inicialmente estruturada: basicamente, os ladoras – independência administrativa, antigos funcionários da Portobras ficaram autonomia financeira e funcional e mandato na Superintendência de Portos, e os anti- fixo de seus dirigentes – é garantido pelo gos funcionários da Sunaman ficaram na Art. 21, §2o, da Lei de criação da Antaq. Superintendência de Navegação Marítima Há menos de um ano, a Antaq alterou e de Apoio. de forma substancial sua estruturação in- Ou seja, da forma antiga – e conside- terna, com a publicação no Diário Oficial rando apenas as atividades relacionadas à da União, em 25 de agosto de 2014, da atividade-fim –, existiam a Superintendên- resolução no 3.585-Antaq, de 18 de agosto cia de Portos (SPO), a Superintendência de de 2014, que trata justamente do novo Navegação Marítima e de Apoio (SNM) e Regimento Interno da Antaq – ficando, por a Superintendência de Navegação Interior óbvio, revogado o antigo Regimento Inter- (SNI). E essas superintendências organiza- no consubstanciado pela antiga Resolução das setorialmente tinham suas respectivas no 646-Antaq, de 6 de outubro de 2006 (e gerências hierarquicamente subordinadas

3 BRASIL. ANTAQ. Conheça a Antaq. Disponível em: . Acesso em 12/10/2014. 4 Vide Lei no 10.233/2001, em seu Art. 20. 5 SANTOS FILHO, Jonas Soares dos. “O papel da Antaq no setor marítimo”. Revista Marítima Brasileira. V. 132, 1o trimestre. Rio de Janeiro: Marinha do Brasil, 2012. p. 88. 6 Ibid, em seu Art. 21.

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organizadas por processos de trabalho. As- volvidas pelas entidades reguladas dentro sim, por exemplo, na área de Fiscalização de sua esfera de atuação, nos termos da existiam uma Gerência de Fiscalização de Lei no 10.233/20017, transformando todo Portos (GFP), uma Gerência de Fiscaliza- o planejamento das questões pertinentes ção da Navegação Marítima e de Apoio em ação concreta. Nos dizeres de Aragão, (GFM) e uma Gerência de Fiscalização da “criam uma relação jurídica continuada Navegação Interior (GFI), cada qual subor- entre o particular e a administração pública, dinada a sua respectiva superintendência com a sucessiva edição de atos normativos finalística. Isso, algumas vezes, na parte e fiscalizações”8. prática, trazia certa segregação de conhe- Desde já, surge, portanto, uma rela- cimento entre os técnicos que exerciam ção direta entre a Antaq e a Mobilização suas atividades laborais, por exemplo, na Nacional: suas competências legais de Superintendência de Portos: muitas vezes, regulação normativa, supervisão técnica e não tinham um conhecimento pleno da operacional e de fiscalização das atividades regulação da área de navegação interior. desenvolvidas pelo ente regulado, com sua Atualmente, conta a Antaq com uma nova organização sistêmica interna dando Superintendência de Outorgas (SOG), oportunidade para aperfeiçoar tais faculda- uma Superintendência de Regulação des legalmente atribuídas. (SRG), uma Superintendência de Fis- calização e Coordenação das Unidades O SISTEMA NACIONAL DE Regionais (SFC) e uma Superintendência MOBILIZAÇÃO de Desempenho, Desenvolvimento e Sus- tentabilidade (SDS). E cada qual com as Preliminarmente, cumpre-nos destacar a suas gerências subordinadas organizadas importância da questão “Mobilização Na- setorialmente: por exemplo, na área de cional”, imprescindível para entendermos o fiscalização, temos – além de uma nova assunto. Logo, primeiramente, abordamos gerência, chamada de Gerência de Pla- a Constituição da República Federativa do nejamento e Inteligência da Fiscalização Brasil de 1988, que, em seu Art. 22, inciso (GPF) – a Gerência de Fiscalização de XXVIII e em seu Art. 84, inciso XIX, Portos e Instalações Portuárias (GFP) e a estabelece, respectivamente, que compete Gerência de Fiscalização da Navegação privativamente à União legislar sobre a (GFN). Mobilização Nacional e que a Decretação Nesse sentido, a Antaq tem, além de da Mobilização Nacional compete privati- outras competências legais, uma função vamente ao Presidente da República. Para principal dentro do sistema portuário e de Simões9: navegação mercante nacional: regular e Para implementar a Mobilização Nacio- fiscalizar a execução das atividades desen- nal, faz-se necessária uma organização

7 Vide Lei no 10.233/2001, em seu Art. 23: “Constituem a esfera de atuação da Antaq: (Redação dada pela Lei no 12.815, de 2013) I – a navegação fluvial, lacustre, de travessia, de apoio marítimo, de apoio portuário, de cabotagem e de longo curso; II – os portos organizados e as instalações portuárias neles localizadas; III – as

instalações portuárias de que trata o art. 8o da Lei na qual foi convertida a Medida Provisória no 595, de 6 de dezembro de 2012; IV – o transporte aquaviário de cargas especiais e perigosas; V – a exploração da infraestrutura aquaviária federal. (Incluído pela Medida Provisória no 2.217-3, de 4/9/2001)”. 8 ARAGÃO, Alexandre Santos de. Curso de Direito Administrativo. 2a Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013. p. 403. 9 SIMÕES, Elias Nicolau Buhamra. “Uma abordagem sobre a Mobilização Nacional”. Revista Marítima Brasileira. V. 131, no 01/03, jan./mar. Rio de Janeiro: Marinha do Brasil, 2011. p. 136.

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sob forma de estrutura sistêmica, tendo realiza-se diante de uma agressão es- em vista os seguintes aspectos: globa- trangeira, justamente para complementar lidade dos problemas, interessando a – acrescentar, suplementar – o que falta todos os níveis da administração públi- na Logística Nacional, por intermédio de cas e às múltiplas e variadas atividades atividades idealizadas e engendradas pelo da vida nacional; impossibilidade de Estado. Para Videira, “a Mobilização Na- soluções compartimentadas para os cional nada mais é do que uma Logística problemas de mobilização, pelo fato de revigorada”10. envolver todas as expressões do Poder E, para esse conjunto de atividades Nacional; complexidade das atividades planejadas, orientadas e empreendidas pelo de mobilização que envolvem interesses Estado, fica criado o Sinamob, que consiste nacionais como um no conjunto de órgãos todo; e necessida- que atuam de modo de de orientação A Mobilização Nacional, ordenado e integrado, normativa, de su- a fim de planejar e re- pervisão técnica diante de uma agressão alizar todas as fases da e de fiscalização estrangeira, ocorre para Mobilização e da Des- específica, a serem complementar o que falta mobilização Nacionais. conduzidas por um O Sinamob, tendo órgão central. na Logística Nacional, por como órgão central intermédio de atividades o Ministério da De- Aqui se destaca a fesa, estrutura-se sob Lei no 11.631, de 27 de idealizadas e engendradas a forma de direções dezembro de 2007, que pelo Estado setoriais (que tem de dispõe sobre a Mobili- frente órgãos como os zação Nacional e cria Ministérios da Justiça, o Sistema Nacional de Mobilização – Sina- da Fazenda, da Ciência e Tecnologia, do mob. Detalhe interessante que a própria Lei, Planejamento, do Orçamento e Gestão no caput de seu Art. 1o, traz a referência ao etc.) que responderão pelas necessidades inciso XIX do Art. 84 da Lex Mater pátria. da Mobilização Nacional nas áreas polí- Temos, inclusive, a conceituação legal tica, econômica, social, psicológica, de do termo “Mobilização Nacional”, esculpi- segurança e inteligência, de defesa civil, do em seu Art. 2o, inciso I: Mobilização Na- científico-tecnológica e militar. cional o conjunto de atividades planejadas, Na verdade, podemos estabelecer duas orientadas e empreendidas pelo Estado, fases na Mobilização Nacional: a fase do complementando a Logística Nacional, Preparo (que “consiste na realização de destinadas a capacitar o País a realizar ações estratégicas que viabilizem a sua ações estratégicas, no campo da Defesa execução, sendo desenvolvida desde a Nacional, diante de agressão estrangeira. situação de normalidade, de modo contí- Desse nomen iuris podemos tecer alguns nuo, metódico e permanente”11) e a fase entendimentos: a Mobilização Nacional da Execução (caracterizada pela celeridade

10 VIDEIRA, Antônio Celente. “A nova visão logística diante da Mobilização Nacional e do empreendorismo”. A logística no comércio exterior brasileiro. Coordenação: Jovelino de Gomes Pires. São Paulo: Aduaneiras, 2013. p. 90. 11 Ex vi Lei no 11. 631/2007, em seu Art. 3o.

RMB3oT/2015 117 A AGÊNCIA DE TRANSPORTES AQUAVIÁRIOS NA MOBILIZAÇÃO NACIONAL

e compulsoriedade das ações a serem im- A ANTAQ E A MOBILIZAÇÃO plementadas, com vistas em propiciar ao NACIONAL País condições para enfrentar o fato que a motivou. Será decretada por ato do Poder Podemos afirmar, sem sombra de dú- Executivo, autorizado pelo Congresso Na- vida, que o setor de transporte – seja ele cional ou referendado por ele, quando no em quaisquer modais – é de fundamental intervalo das sessões legislativas12). importância para o preparo e a execução Destaca-se, então, o Art. 9o, que trata da Mobilização Nacional. E, nesse senti- dos recursos financeiros para o preparo da do, especificamente no modal marítimo Mobilização Nacional – por sua importân- e hidroviário, a Antaq assume um papel cia, colacionamos ipsi litteris: “Os recur- essencial, dentro de sua competência legal sos financeiros necessários ao preparo da de regular e fiscalizar o setor portuário, ma- Mobilização Nacional serão consignados rítimo e hidroviário, de forma a aperfeiçoar nos orçamentos dos órgãos integrantes sua atividade regulatória e, também, de ma- do Sinamob, respeitada a característica peamento das informações das instituições orçamentária de cada órgão”. Ou seja, reguladas que atuam no setor. o dinheiro necessário para as ações de Nesse sentido, dentro das diretrizes preparo da Mobilização Nacional deve ser governamentais de mobilização nacional consignado nos orçamentos estabelecidos estabelecidas na política da questão13 e para cada integrante do Sistema. considerando os serviços regulados e fis- Por fim, cumpre-nos ainda destacar uma calizados pelas agências reguladoras em importante função do Sinamob, consignada geral – que possuem um caráter estratégico no Art. 7o, inciso II, qual seja formular a –, a Antaq, dentro de seu planejamento Política de Mobilização Nacional. Tal Po- setorial adequado ao Sinamob, deve, dentre lítica foi regulamentada por intermédio do outras ações: Decreto no 7.294, de 6 de setembro de 2010. ▪ Na expressão política do Poder Na- As agências reguladoras são pontos- cional (gerar uma estrutura política que chave da administração pública federal permita à nação fazer face às modificações para a implementação de soluções para necessárias quando for decretada a Mobili- os problemas complexos que circundam a zação Nacional)14: atividade econômica de logística empresa- – aprimorar o ordenamento jurídico e os rial – e as áreas portuária e de navegação instrumentos legais relativos à mobilização mercante marítima e hidroviária não estão nacional; isentas de tais problemas. – intensificar a coordenação entre orga- Assim, quando de uma possível decre- nizações governamentais na elaboração de tação de Mobilização Nacional, têm esses instrumentos legais relativos à mobilização órgãos públicos, em geral – e a Antaq em nacional. particular, dentro de sua área de competên- ▪ Na expressão econômica do Poder cia –, um papel de fundamental importância Nacional (assegurar a fonte da maioria na complementação da logística nacional dos recursos tangíveis e dos meios a serem para o esforço de guerra. utilizados)15:

12 Ibid, em seu Art. 4o. 13 Ex vi Decreto no 7.294, de 6 de setembro de 2010, em seu Art. 6o. 14 Escola Superior de Guerra. Nota Complementar de Estudos 70-2015 – Mobilização Nacional. p.9. 15 Ibid, p. 10.

118 RMB3oT/2015 A AGÊNCIA DE TRANSPORTES AQUAVIÁRIOS NA MOBILIZAÇÃO NACIONAL

– assegurar a continuidade do funciona- sários à rápida transformação estrutural das mento dos serviços ou atividades essenciais Forças Armadas)18: à população; – planejar o fluxo de transporte aquavi- – planejar a reorientação da produção, ário que garanta a manutenção do abasteci- da comercialização, da distribuição e do mento logístico no contexto da Mobilização consumo de bens e a utilização de serviços, Nacional; de modo a suportar os efeitos decorrentes – implementar ações, quando do pla- da decretação da Mobilização Nacional. nejamento da construção e da adequação ▪ Na expressão psicossocial do Poder de hidrovias e instalações portuárias, que Nacional (que visa à motivação de pessoas permitam sugerir, caso necessário, sua e da sociedade, com a finalidade de criar compatibilização com as necessidades da condições favoráveis ao apoio das ativida- Defesa Nacional. des de mobilização)16: – implementar cursos, estágios e outros CONCLUSÃO eventos voltados para a capacitação de re- cursos humanos e de organizações, visando Nesse diapasão, podemos afirmar que à Mobilização Nacional; a Antaq já vem realizando algumas ações – incentivar pessoas dos setores público relevantes no âmbito do Sinamob, tais como e privado a participar de cursos, estágios e destaque no monitoramento das condições das outros eventos de qualificação para ativi- instituições reguladas (por exemplo, com o dades de Mobilização Nacional; controle da frota das embarcações mercantes – promover a formação e o aperfeiço- que atuam na navegação marítima e de apoio amento de quadros capazes de conduzir e na navegação interior) e nas estatísticas do o preparo e a execução da Mobilização setor portuário, marítimo e hidroviário (di- Nacional. vulgadas principalmente por intermédio do ▪ Na expressão científica e tecnológica anuário estatístico da Antaq), além da dispo- do Poder Nacional (ações de fortalecimento nibilização de funcionários em tempo integral da indústria nacional, mobilizando os re- para a capacitação relacionada ao assunto. cursos e atividades da ciência, tecnologia Portanto, a interação entre a Antaq e as e inovação para o interesse da Defesa atividades de Mobilização Nacional são de Nacional)17: fundamental importância para o alcance do – levantar fontes alternativas para con- seu êxito, haja vista que a agência participa tinuidade do fornecimento de produtos nos principais setores da infraestrutura do País. estratégicos não produzidos no Brasil; Certamente, considerando a importância – promover a cooperação internacional do assunto para nossa nação, torna-se fun- com vistas a assegurar a transferência de damental que, cada vez mais, os variados tecnologias e o fornecimento de produtos aspectos pertinentes à exploração da infraes- estratégicos de interesse da Mobilização trutura portuária nacional e à exploração do Nacional. transporte marítimo e hidroviário nacional ▪ Na expressão militar do Poder Nacio- sejam estudados e compreendidos, enfren- nal (visando assegurar os recursos neces- tando os desafios da Mobilização Nacional.

16 Ibid, p. 11. 17 Ibid, p. 12. 18 Ibidem.

RMB3oT/2015 119 A AGÊNCIA DE TRANSPORTES AQUAVIÁRIOS NA MOBILIZAÇÃO NACIONAL

Assim sendo, temos a expectativa de, visão sobre tão vasto e admirável assunto, com essas ligeiras linhas, estar contribuindo que se configura de fundamental importân- para trazer ao debate mais uma modesta cia para a defesa do Brasil.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Mobilização; Política marítima; Administração governamental;

REFERÊNCIAS

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120 RMB3oT/2015 AS PRINCIPAIS VÍTIMAS DA PIRATARIA MARÍTIMA

HENRIQUE PEYROTEO PORTELA GUEDES* Capitão de Fragata da Marinha de Portugal

SUMÁRIO

Resumo histórico O número de sequestros na última década é impressionante A forma hedionda como alguns dos sequestrados são tratados As vítimas da pirataria não devem ser abandonadas

RESUMO HISTÓRICO Hodiernamente, quando se fala de pirataria marítima as atenções viram-se epois de quase um século de acalmia, normalmente para os milhões de dólares Dem que apenas marcou sua presença que a mesma tem vindo a onerar o comércio assídua nas águas do Sudeste Asiático e nos marítimo global, que já representa cerca de mares do Sul da China, em países como 92% do comércio mundial. Esses elevados a Indonésia, a Malásia, as Filipinas e em custos estão associados à alteração das rotas locais como os estreitos de Malaca e de dos navios para evitarem zonas perigosas, Singapura, a pirataria marítima recrudesceu ao encarecimento dos prêmios dos seguros, a partir de meados da década de 1980 do ao pagamento de resgates e de segurança século passado. privada a bordo, e à presença de um elevado

* N.R.: Autor do livro “A Pirataria Marítima Contemporânea: as duas últimas décadas”. Colaborador costumeiro da Revista Marítima Brasileira, em especial sobre Pirataria Marítima (2o e 4o trim./2008; 3o trim./2010; 3o trim./2011; 3o trim./2013; e 3o trim./2014). AS PRINCIPAIS VÍTIMAS DA PIRATARIA MARÍTIMA

número de navios de guerra na área do Cor- marítimos, estes nunca falavam de pirata- no de África, entre outros fatores. Contudo, ria, a menos que o tema fosse abordado. A existem outros aspectos, não menos impor- partir de 2010, inclusive, altura em que a tantes, que são normalmente renegados a pirataria caminhava para o seu auge no Cor- segundo plano ou simplesmente ocultados. no de África, a situação inverteu-se, pois Refiro-me às sequelas deixadas nos marí- eram eles próprios que abordavam o tema timos na sequência praticamente no início do seu infortunado das conversas, mencio- envolvimento em atos Os ataques resultam, nando que se sentiriam de pirataria. Enquanto muito mais confortá- na maior parte dos muitas vezes, em veis com a existência casos, em que apenas sequestros, que podem de segurança armada há tentativa de ataque, durar alguns dias, meses a bordo. Passou, desde as consequências para então, a existir uma as tripulações são pra- ou anos, causando, grande preocupação ticamente nulas, o frequentemente, marcas com a pirataria por mesmo já não se pode parte dos tripulantes dizer quando os ata- profundas nos marítimos cujos navios operavam ques são consumados. neles envolvidos em zonas propensas a Estes resultam, mui- este fenômeno, apesar tas vezes, em seques- do abrandamento que tros, que podem durar alguns dias, meses este tem tido nos últimos três anos. Dos ou anos, causando, frequentemente, marcas entrevistados que foram sujeitos a maus- profundas nos marítimos neles envolvidos. tratos por parte de piratas, a grande maio- Até o ano 2010, num vasto leque de ria teve, a posteriori, diversos problemas entrevistas feitas com tripulantes de dife- clínicos, tais como: maior apetência para o rentes nacionalidades sobre suas vidas de consumo de bebidas alcoólicas, distúrbios no sono, apatia, irrita- bilidade etc. Esses tipos de sintomas fizeram-se sentir em todos os esca- lões etários, sendo mais intensos nos marítimos que estiveram longos períodos de tempo se- questrados. Apesar da gravidade de muitas das situações clínicas, apenas uma minoria dos tripulantes, a maior parte da qual oriunda de países ocidentais, recebeu acompanha- Tripulantes sequestrados mento médico pós- Foto: Medafricatimes.com incidente. A alteração

122 RMB3oT/2015 AS PRINCIPAIS VÍTIMAS DA PIRATARIA MARÍTIMA

comportamental é vista por muitos marí- sequestrados na Somália 33 tripulantes, timos como um sinal de fraqueza que os provenientes de navios retidos entre abril envergonha, o que faz com que, muitas das de 2010 e março de 2012. Pelo período vezes, estes não divulguem os seus pro- de tempo decorrido, pode-se imaginar a blemas e, consequentemente, não tenham forma deplorável em que estes marítimos acesso a cuidados médicos adequados. As se encontravam, tendo em consideração os etnias e a cultura dos seus países de origem maus-tratos a que devem ter sido sujeitos e podem também criar preconceitos que difi- a miserável alimentação que lhes deve ter cultam a exposição das sido fornecida. Os que suas patologias. Uma ainda não foram liber- das grandes preocu- De 2004 a 2013 houve 5.874 tados estão irremedia- pações dos tripulantes marítimos sequestrados. velmente entregues ao que tiveram acompa- seu destino, dependen- nhamento médico é o Além disso, 361 foram do a sua sorte de algum receio da divulgação agredidos, 94 mortos e se familiar ou de alguma indevida da sua ficha desconhece o paradeiro de 78 associação que consiga clínica, o que, segun- juntar o dinheiro neces- do eles, a acontecer, sário para o seu resgate, os colocaria numa “lista negra” que lhes pois os seus empregadores há muito que se dificultaria muito a renovação de contrato. devem ter esquecido deles. A instabilidade psicológica dos marítimos não só afeta a eles próprios como causa, A FORMA HEDIONDA COMO também, graves problemas familiares du- ALGUNS DOS SEQUESTRADOS rante a sua recuperação. SÃO TRATADOS

O NÚMERO DE SEQUESTROS A situação dramática vivida pela tripu- NA ÚLTIMA DÉCADA É lação do navio-tanque de químicos Marida IMPRESSIONANTE , de pavilhão das Ilhas Marshall, sequestrado no Golfo de Adem em 8 de De 2004 a 2013, segundo o International maio de 2010 e libertado cerca de oito Maritime Bureau1, houve, a nível global, 5.874 marítimos sequestrados. Nesse perí- odo, para além dos sequestrados, houve 361 tripulantes agredidos, 94 que foram mortos e 78 cujos paradeiros se desconhece. O maior número de sequestros ocorreu entre 2008 e 2011 e resultou, sobretudo, do elevado número de navios tomados, com as respetivas tripulações, nas águas da Somália. Nessas, foram sequestrados 815 tripulantes em 2008, 867 em 2009, 1.016 em 2010 e 470 em 2011. Consta Marítimo ameaçado que, em dezembro de 2014, ainda estavam Fonte: Maritime Security Review

1 O International Maritime Bureau faz parte da International Chamber of Commerce, organização internacional, fundada em 1919, que promove e suporta o comércio internacional e a globalização.

RMB3oT/2015 123 AS PRINCIPAIS VÍTIMAS DA PIRATARIA MARÍTIMA

meses depois, é apenas um exemplo, entre recuperar do seu trauma mental, físico e muitos outros, da forma duríssima como emocional e, ainda hoje, apesar do tempo são tratados os marítimos quando os seus decorrido, sofre de tremores nos seus de- navios são sequestrados por piratas. dos. Estes são apenas alguns exemplos dos Pouco tempo após o início do sequestro, maus-tratos a que esta tripulação foi sujeita a comida e a água acabaram a bordo, fican- durante o tempo de cativeiro. do a tripulação dependente da capacidade Outro caso de uma tripulação que foi de produção de água doce do navio. O com- tratada de forma cruel ocorreu a bordo do bustível também acabou ao fim de algum Navio Mercante Iceberg 1, de bandeira tempo, e os piratas, não percebendo como panamenha, sequestrado em 29 de março tal tinha sido possível, começaram a bater de 2010 ao largo da costa do Iêmen. As nos tripulantes que tinham a seu cargo a negociações para a libertação do navio área de máquinas e a efetuar disparos junto falharam, e os piratas decidiram, então, às suas cabeças. A tripulação foi mesmo utilizá-lo como “navio-mãe”2, tendo, para forçada a entrar, sem qualquer tipo de tal, procedido ao seu aprontamento durante respiração autônoma ou de ventilação, em dois meses, período no qual foram coloca- diversos tanques para verificar a existên- dos skiffs3 a bordo. Partiram depois rumo cia de algum resquício de combustível. A ao Golfo de Omã com cerca de 50 piratas inexistência deste levou a que a produção embarcados. Após a embarcação ter sido de energia deixasse de ser possível. No identificada como suspeita por dois navios entanto, os piratas continuaram a exigir que de guerra, decidiram voltar à Somália. As a iluminação permanecesse ligada. Como negociações foram reatadas sem sucesso, tal deixou de ser exequível, toda a tripula- voltando o Iceberg 1 a partir como “navio- ção foi espancada e torturada. Quando as mãe”. Contudo, as condições estavam negociações atingiram o impasse, os piratas agora muito mais degradadas, pois a água agarraram os tripulantes e amarraram-lhes e o combustível eram escassos, tendo os tri- as pernas aos braços, atrás das costas, du- pulantes sido espancados pelos piratas por rante horas. O comandante e o engenheiro estes os considerarem como os principais (chefe de máquinas) foram colocados por responsáveis pela situação. Depois, quando algum tempo na câmara frigorífica de carne, se preparavam para navegar rumo a outra a uma temperatura de 17 graus negativos. cidade, para abastecer o navio, ocorreu um O mestre do navio chegou a ser pendurado incêndio na máquina principal deste. Após de cabeça para baixo e agredido diversas o fogo ter sido debelado, foi solicitado ao vezes, enquanto o engenheiro foi atirado engenheiro que colocasse o motor para ao mar amarrado por uma perna e depois trabalhar, tendo ele respondido que era puxado para bordo. O segundo engenheiro impossível, por questões técnicas. Como do navio, quando foi libertado, padecia de consequência, os piratas agarraram nas diversos traumatismos e teve que passar suas orelhas e cortaram-nas com uma faca, vários meses fazendo fisioterapia. Este ficando o seu corpo cheio de sangue. Para marítimo levou cerca de um ano para se piorar as coisas, o último ferro (âncora) que

2 Do inglês mother-ship. São os navios utilizados pelos piratas para se deslocarem até perto dos seus alvos. Transportam nestes lanchas de alta velocidade (skiffs), que são depois colocadas na água para o ataque final, normalmente, aos navios mercantes. 3 Skiffs são pequenas embarcações de madeira ou fibra, capazes de dar velocidades elevadas, e que são utilizadas nos ataques de pirataria.

124 RMB3oT/2015 AS PRINCIPAIS VÍTIMAS DA PIRATARIA MARÍTIMA

possuíam partiu-se, à semelhança do que já pouco de pão de manhã. Os piratas foram acontecera com os anteriores, e o navio foi mudando, enquanto os marítimos ali foram à deriva para terra, acabando por encalhar, permanecendo ano após ano. o que fez aumentar ainda mais a frustração No início de dezembro de 2012, come- dos piratas. Nas conversações que se segui- çou a se notar maior movimento em terra ram com o armador, os facínoras disseram- e mais lanchas rápidas a circular junto ao lhe que iriam arrancar os rins e os corações navio. Na manhã do dia 10 desse mês, cerca aos tripulantes do navio. Um desses marí- de dez homens armados, pertencentes à po- timos, de nacionalidade iemenita, ao ouvir lícia marítima de Puntland, desembarcaram tal barbaridade ficou desesperado e saltou de uma camioneta, tendo os piratas a bordo borda fora, acabando por perder a vida. O ficado em alerta máximo. Alguns desses seu corpo foi colocado na câmara frigorífica homens dirigiram-se para o navio, tendo durante três meses, quando então esta parou havido uma intensa troca de tiros entre estes por falta de eletricidade. Quando o cheiro e os piratas. Essa situação repetiu-se por do cadáver se tornou vários dias, e destes insuportável, este foi confrontos resultaram lançado ao mar. A recuperação dos ferimentos em três tri- Entretanto, surgiu marítimos, após a sua pulantes. A escassez um buraco no cas- de gêneros e de água co do Iceberg 1 por libertação, até pode ser um a bordo era tanta que onde começou a en- processo bem sucedido se os marítimos já nem trar água. Metade da conseguiam andar. tripulação foi colo- houver proatividade por Finalmente, a polícia cada para escoar essa parte dos armadores, sendo de Puntland deixou água com baldes, e a o inverso também verdade os piratas partirem na outra metade a repa- condição de os reféns rar o motor. Durante serem deixados ilesos a dois dias, os marítimos desempenharam bordo. Estes tripulantes foram então liber- arduamente essas tarefas que se revelaram tados no final de dezembro de 2012, após infrutíferas. Na sequência desse insucesso, cerca de três anos de cativeiro. foram espancados impiedosamente durante 15 dias. Como já não conseguia suportar AS VÍTIMAS DA PIRATARIA NÃO tanta tortura, o comandante, certa noite, DEVEM SER ABANDONADAS trocou de roupa, reuniu alguma comida e água e disse que ia partir, pedindo à tripu- A recuperação dos marítimos, após a sua lação que levasse os seus haveres para sua libertação, até pode ser um processo bem casa quando fosse libertada. Prometeu que sucedido se houver proatividade por parte se chegasse à casa primeiro que ele faria dos armadores, sendo o inverso também tudo o que tivesse ao seu alcance para os verdade. Estes últimos têm o dever moral libertar. Nunca mais tiveram notícias dele. e ético de assegurar apoio mental e físico Alguns dias depois, o gerador avariou de aos seus tripulantes, após estes terem ficado vez. Passaram, então, a viver na ponte sujeitos a atos de pirataria. Devem, pois, do navio, ocupando seus dias a cozinhar, pugnar para que eles sejam medicamente comer e dormir. Diariamente, tinham di- acompanhados até a sua completa reabili- reito a uma xícara de arroz à noite e a um tação, para que possam vir a desempenhar

RMB3oT/2015 125 AS PRINCIPAIS VÍTIMAS DA PIRATARIA MARÍTIMA

novamente as suas funções de forma segura um com problemas, mas em silêncio para e eficiente. Isso poderá ser mais facilmente não perder o seu emprego. conseguido por meio da contratação de se- A indústria marítima tem de continuar a guros cuja cobertura garanta o diagnóstico, estimular a adoção de medidas que visem o tratamento e a reabilitação dos marítimos, preparar melhor seus marítimos para as evitando assim o seu natural afastamento situações adversas provocadas pela pirata- do trabalho por longos períodos. É sempre ria, o que poderá, no futuro, evitar nestes preferível para um empregador ter um marí- muitos problemas de foro psiquiátrico e timo convenientemente recuperado do que consequente absentismo.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Pirataria;

BIBLIOGRAFIA

Hell on the high seas. Disponível em: Acesso em: 21Dez2014. Piracy and Armed Robbery Against Ships: Annual Reports from 2000 to 2014. : ICC International Maritime Bureau [2001 to 2015].

126 RMB3oT/2015 FATOR HUMANO NA OPERAÇÃO DE AERONAVES REMOTAMENTE PILOTADAS*

Nas estatísticas relacionadas aos acidentes aeronáuticos e a sua causalidade com fatores humanos, parece não haver discriminação entre sistemas de aeronaves tripuladas ou não tripuladas, o que seria talvez esperado, pelo nível de automação desses sistemas

ALESSANDRO PIRES BLACK PEREIRA** Capitão de Fragata

SUMÁRIO

Introdução Desenvolvimento Seleção e treinamento Operação Manutenção Conclusão

INTRODUÇÃO Durante o processo de elaboração da mi- nha monografia na Escola de Guerra Naval um momento em que avançamos (EGN), em 2013, vários assuntos tiveram Nnos estudos para a implantação de de ser deixados de lado pela abrangência e Aeronaves Remotamente Pilotadas (ARP), escopo que tinha escolhido para o trabalho, operando-as a partir de nossos navios, mas que decididamente iriam contribuir vários outros aspectos do emprego deste de alguma forma para a sua relevância e o sistema começam a ser observados de uma prosseguimento nos estudos sobre o assun- forma mais profunda e objetiva. to ARP. Um destes assuntos relevantes foi

* Matéria publicada na Revista da Aviação Naval, no 75, 2014. ** Foi o primeiro oficial da MB a realizar voo solo em aeronave T-27 Tucano, da FAB (1999). Instrutor de voo no HI-1 por quase 10 anos. Atualmente serve na DGMM como gerente de Obtenção e Modernização de Meios Aeronavais. FATOR HUMANO NA OPERAÇÃO DE AERONAVES REMOTAMENTE PILOTADAS

a influência do fator humano nas operações evidências de que o erro humano é iden- e nos acidentes aeronáuticos que envolviam tificado como o principal fator causal em os equipamentos que já estavam em uso por acidentes de aviação, e é, portanto, a maior diversas Forças Armadas (FA) estrangeiras, ameaça à segurança de voo. Já as taxas de sendo elas operadas a partir de navios ou acidentes envolvendo ARP chegam a ser baseadas em terra. O objetivo do presente cem vezes maiores do que as de aeronaves artigo foi o de preencher um pouco esta convencionais, havendo cerca de um aci- lacuna, iniciando o processo de alerta e dente a cada mil horas de voo, a maioria divulgação sobre o assunto, relativamente deles causados por panes nas aeronaves, novo na Marinha do Brasil (MB). embora um elevado índice também seja Sucessos operacionais têm demonstra- observado no que diz respeito ao fator do as suas vantagens estratégicas e as do humano na condução de suas operações. emprego dos seus sensores e equipamentos Dados acerca da análise dos fatores embarcados para a diminuição do efeito humanos em acidentes com ARP ainda do conceito da névoa da guerra. Estes são escassos, mas o assunto vem ga- sucessos levaram a nhando importância um rápido desenvol- desde que os orça- vimento de diversos Sucessos operacionais têm mentos têm diminuído sistemas com caracte- a disponibilidade de rísticas diferenciadas demonstrado vantagens recursos para novas (asa-fixa ou rotativa, estratégicas do uso de ARP aquisições. Na com- um rotor ou vários e as do emprego dos seus posição dos acidentes, rotores, decolagem os principais fatores independente ou por sensores e equipamentos contribuintes foram, meio de catapultas, embarcados para a em média: 25% por estações de controle falha de motor, 24% em terra ou embar- diminuição do efeito do por falha elétrica, 22% cadas, dentre outras) conceito da névoa da devido a descuidos no e para aplicações guerra pouso, 10% por falha limitadas, incluindo mecânica, 10% por o esclarecimento no erro de lançamento e mar, segurança interna e patrulhamento pouso, e 9% de outros itens, como acuidade de fronteiras. No entanto, o alto índice de visual, assuntos relacionados a sobrecarga acidentes de ARP em serviço operacional é de trabalho e de saúde, baixa proficiência, frequentemente citado como um elemento desorientação espacial, falta de coordena- dissuasor para a ampliação do seu uso dual, ção da tripulação e design da estação de principalmente na desejada integração com controle. Os principais estudos relataram a circulação aérea geral no espaço aéreo. que mais de 50% dos acidentes tiveram Nas estatísticas relacionadas aos aci- elementos de fatores humanos, tais como dentes aeronáuticos e a sua causalidade as questões de proficiência, falhas durante com fatores humanos, parece não haver o pouso e falhas ou atrasos em reconhecer e discriminação entre sistemas de aeronaves responder corretamente a panes mecânicas. tripuladas ou não tripuladas, o que seria Dentre as muitas recomendações emana- talvez esperado, pelo nível de automação das destes trabalhos de pesquisa, algumas desses sistemas. A análise histórica fornece são bastante interessantes para o nosso início

128 RMB3oT/2015 FATOR HUMANO NA OPERAÇÃO DE AERONAVES REMOTAMENTE PILOTADAS

de operação com ARP: criação de um pro- Dentre os fatores humanos mais impor- grama de segurança com foco nas operações tantes a serem observados na fase de desen- com ARP, criação de critérios de seleção volvimento e implantação de um sistema e treinamento de pessoal, treinamento em ARP, podemos realçar as deficiências de coordenação com os navios, melhoria no de- engenharia e projeto quando do delinea- sign dos sistemas de controle GCS (Ground mento ergonômico das estações GCS, cau- Control Station) e a criação de carreiras e sando impacto no erro humano em vários cursos específicos voltados para a operação acidentes analisados. Posicionamento dos e a manutenção desses sistemas. monitores, sistemas de entradas de dados Não só a escolha do melhor equipamento (teclado, mouse, joystick, reconhecimento é suficiente para o sucesso do processo de im- de voz, trackball), luminosidade no am- plantação das ARP na MB, mas outros aspec- biente, posicionamento dos dados nos mo- tos também precisam receber nossa atenção: nitores, luzes de alarme e cores utilizadas, dentre outros, são detalhes que têm levado à identificação de problemas de ergonomia funcional dentro de algumas GCS.

SELEÇÃO E TREINAMENTO

“As qualificações e o status dos opera- dores de veículos remotamente pilotados estão entre os aspectos mais controversos do desenvolvimento deste equipamento. Opiniões sobre quem devem ser os futuros operadores variam entre o homem da rua e um piloto altamente qualificado, com formação em engenharia” (Kiggans, 1975). Lendo a declaração acima, podemos entender um pouco a abrangência que este DESENVOLVIMENTO fator irá trazer para a condução nas opera- ções com ARP. O piloto é um dos requisitos Diversas Forças Armadas têm sido técnico-operacionais fundamentais para que continuamente desafiadas a enfrentar sejam solucionados os problemas inerentes adequadamente a integração de sistemas ao processo decisório ao longo do voo, base- humanos para aperfeiçoar o desempenho ado no seu treinamento e talento individual dos sistemas ARP. e na sua educação aeronáutica, com ciclos A própria adoção do termo ARP (RPA de decisão bastante curtos e ação proativa. em inglês), em detrimento ao antigo Drone Os pilotos de ARP são elementos básicos ou Vant (veículo aéreo não tripulado), foi necessários para assegurar a integridade dos motivada, pela imagem negativa de que protocolos operacionais e de controle de toda eram robôs sem cérebro ou no modo auto- a missão, incluindo fases específicas e que mático, sem a existência de pessoalidade normalmente requerem grande habilidade (piloto, operador do sensor, analista de psicomotora, como o pouso e a decolagem. inteligência), missão típica de quem estaria Questões sobre o processo de recrutamento, no controle desses equipamentos. seleção, necessidade de experiência prévia

RMB3oT/2015 129 FATOR HUMANO NA OPERAÇÃO DE AERONAVES REMOTAMENTE PILOTADAS

de voo e o treinamento com currículo ade- relacionado à motivação para a atividade e quado para a qualificação são essenciais e clima organizacional se fazem importan- deverão ser analisados. tes. Devemos, do mesmo modo, evitar a O processo de formação de pilotos e resignação de pilotos e mecânicos causada mecânicos deve ser orientado para as novas por terem sido, inicialmente, deslocados tecnologias empregadas, facilitando melhor da linha de voo para voarem ARP, o que adaptação e melhoria do rendimento no poderá trazer a noção de que eles poderão cumprimento da missão, o que irá reduzir nunca mais sentir as forças G novamente certamente a interferência de indesejáveis nas suas carreiras, numa cabine de verdade. fatores humanos nos possíveis acidentes Outro aspecto é o impacto causado pela aeronáuticos com ARP. atividade no campo da saúde ocupacional. Sintomas de stress, alterações de humor, OPERAÇÃO alteração nos níveis de atenção relacionados com a tarefa do GCS altamente automatizado, “ARP são o elemento que carrega o fluxo cognição e desempenho na pilotagem têm de causalidade nesse aparecido devido, prin- ambiente de ações, cipalmente, às longas ameaças e funções Um dos maiores problemas jornadas nas estações de multidimensionais controle causadas pelo para a geração dos encontrados dentre os aumento da demanda efeitos políticos dese- fatores humanos é a para que essas aerona- jados sem risco para dificuldade experimentada ves estejam no ar. os pilotos, com muito Também foi ob- baixa capacidade de por pilotos externos durante servado que um dos interceptação e a um pousos e decolagens maiores problemas custo muito mais bai- encontrados dentre os xo do que seria possí- fatores humanos é a vel com sistemas convencionais tripulados. dificuldade experimentada por pilotos exter- E, se por acaso a ARP falhar em sua missão, nos durante pousos e decolagens. A maioria não se tem nas mãos o “embaraço político” desses sistemas ARP possui o piloto exter- de ter pilotos capturados. Pilotos são os no, que executa estas fases mais delicadas, “bens” mais difíceis e caros de se produzir como uma aeronave normal (utilizando-se em tempo de paz, e com alta taxa de perdas normalmente um joystick ou um rádio igual em tempo de guerra, cuja escassez condicio- ao utilizado por aeromodelistas), e o piloto na alternativas estratégicas” (RAZA, 2011). interno (que está à frente de uma estação Facilmente, com a leitura desta citação, de controle), que assume o controle após a podemos verificar a importância dos pilotos decolagem, determinando automaticamente, nesses sistemas. Mesmo assim há certa por meio de um software altitude, a veloci- discriminação contra os pilotos de ARP, dade e o rumo que ela deve tomar. não sendo a eles transferida a imagem ro- mântica da atividade aérea, nem tampouco MANUTENÇÃO os registros de horas de voo e o alcance de respectivas marcas, tão importantes para o São muitos os desafios enfrentados pelo desenvolvimento das suas carreiras aéreas. pessoal de manutenção de ARP, com foco Neste aspecto, as análises do fator humano em áreas em que as tarefas de manutenção

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diferem das tarefas dos envolvidos na ma- a transformar, com um índice mínimo de nutenção de aeronaves, às quais eles já es- acidentes, o conhecido binômio navio- tariam acostumados. Podemos destacar: os aeronave num novo termo: trinômio navio- problemas de hardware, incluída a monta- aeronave-ARP. Sem sombra de dúvidas, gem e desmontagem frequente de sistemas; este novo equipamento virá complementar falta de informação sobre padrões de falha a operação das nossas aeronaves tripuladas de componentes que lhes permita planejar embarcadas, minimizando os efeitos da a manutenção de forma eficaz; dificuldades névoa da guerra e aumentando os níveis de associadas à documentação ausente ou ina- segurança da operação militar ao retirar as dequada e a necessidade de tomar decisões tripulações de um possível ambiente hostil, sobre o resgate de componentes. deixando que elas se exponham somente Outro aspecto relevante na condução quando realmente necessário. dos serviços de manutenção é a cultura A adoção de ações que mitiguem a organizacional de que as ARP seriam interferência dos problemas de integração “descartáveis”. As ARP possuem, sim, um do homem com o sistema deverá ser mais ciclo de vida bem menor que uma aeronave forte dentro das áreas tradicionais de fatores convencional e, em caso de falha, elas não humanos, como, por exemplo, a ergonomia, estarão colocando uma tripulação em risco. especificamente nas estações GCS. Mas essa cultura deve ser combatida, na No processo de seleção e treinamento medida em que a ARP já não permite uma dos pilotos e operadores de sensores, a perfeita consciência situacional do seu ope- preocupação com o fator humano será rador, o que poderia amplificar em muito constante. Os escolhidos sentir-se-ão va- os resultados de um acidente. Não se deve lorizados pelo que estão fazendo, mas não assumir riscos nos serviços de manutenção será exatamente o que eles imaginaram nos que normalmente não ocorreriam em uma seus sonhos estilo Top Gun, e poderão ter aeronave convencional. problemas quando enfrentarem o ar fecha- do de um contêiner com ar condicionado e a discriminação de alguns de seus pares alados. Com isso, acho que todos entenderam que, a partir deste momento, é imprescindí- vel o empenho de vários setores, para que, à medida que é iniciado o esforço da MB em demonstrar a viabilidade e a eficácia das ARP operando a partir de seus navios, haja uma procura crescente para melhor desempenho do sistema por completo e a redução dos aspectos relacionados com o fator humano, especificamente voltados CONCLUSÃO para a redução das taxas de acidente de que outras FA tem se visto vítimas. Sistemas Seremos desafiados, dentro de um curto de aeronaves remotamente pilotadas não espaço de tempo, a enfrentar adequada- devem ser centrados no modelo de aero- mente a integração dos sistemas ARP com nave que será utilizada, e sim no homem nossos navios e o seu pessoal, de forma que irá operá-la.

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Os alardeados benefícios e as promessas No quadro abaixo, podemos observar oferecidas pelos fornecedores de sistemas os possíveis fatores contribuintes que po- ARP possuem uma infinidade de implica- deriam levar à perda de uma ARP. Facil- ções para a sua implantação na MB. Em vez mente podemos identificar que muitos deles de serem a solução para o erro humano, os estão relacionados a variados aspectos da sistemas ARP têm a oportunidade de abrir integração do homem com o sistema, já de vez um novo capítulo na análise e na crí- previstos na atual sistemática de avaliação tica dos fatores humanos na Aviação Naval. de acidentes aeronáuticos.

Fatores contribuintes que podem levar à perda de ARP

FATOR CONTRIBUINTE POSSÍVEL CAUSA – Falha em reconhecer uma situação crítica Resposta inadequada do operador – Informação crítica de voo errada ou inadequada – Atraso no fluxo de informações Inserção errada de dados críticos para o voo Entrada errada dos dados Excesso de informaçãoes do operador – Ação x tempo disponível – Sobrecarga dos sensores Informação crítica indisponível ou inadequada Dependência do design – Operador distante da malha de controle Demora na reação aos comandos – Software inadequado – Link de controle – Descanso inadequado – Troca de turnos ineficiente Fadiga do operador – Saturação de tarefas a serem cumpridas – Tempo x importância da missão Controle de múltiplas ARP Excesso de carga de trabalho – Reinicialização inesperada do sistema Caminhos do software para situações inseguras – Inadequada proteção de segurança no software

Fonte: Range Commanders Council-Range Safety Criteria for Unmanned Air Vehicles

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Veículo aéreo não tripulado; Operação aérea; Adestramento; Curso de aperfeiçoamento avançado;

132 RMB3oT/2015 INCURSÃO ANFÍBIA COM EMPREGO DE UNIDADES DE INFANTARIA*

LEONEL MARIANO DA SILVA JÚNIOR** Capitão de Fragata (FN)

SUMÁRIO

Introdução Aspectos doutrinários da Incursão Anfíbia Incursões Anfíbias a partir da Segunda Guerra Mundial A Operação Archery O presente e o futuro das Incursões Anfíbias Conclusão INTRODUÇÃO Neste artigo, serão apresentados, pri- meiramente, alguns aspectos doutrinários doutrina para as Incursões Anfíbias atinentes às IncAnf, que darão o emba- A(IncAnf), da forma como hoje se apre- samento para análise futura, seguidos da senta, começou a se desenvolver na Segunda sua evolução histórica a partir da 2a GM, Guerra Mundial (2a GM). Desde então, essas verificando-se qual dos seus tipos foi operações marcaram-se, em suas ocorrências empregado em cada operação realizada. históricas, pela distinção em dois tipos, Posteriormente, descreve-se o emprego conforme a natureza das unidades que nu- de uma ForInc nucleada em unidade de cleavam a Força de Incursão (ForInc): de infantaria. O exemplo apresentado é a infantaria ou de operações especiais. Operação Archery, realizada por forças

* Artigo apresentado à Escola de Guerra Naval (Curso de Estado-Maior para Oficiais Superiores – 2013) e publi- cado na revista O Anfíbio v. 32, 2014. ** Serve atualmente no Comando da Tropa de Reforço. INCURSÃO ANFÍBIA COM EMPREGO DE UNIDADES DE INFANTARIA

britânicas na Noruega ocupada por forças o inimigo; e elevar o moral da tropa (pro- alemãs, em dezembro de 1941. Por fim, à pósito psicológico). luz dos ensinamentos obtidos do exemplo No caso de realização de IncAnf com o histórico e das demandas que, nos dias propósito de evacuação de pessoal, há uma atuais, poderiam levar à realização de uma observação a ser feita quanto às operações IncAnf, particularmente no contexto das de evacuação de não combatentes (OpENC), Forças Armadas do Brasil, serão iden- normalmente realizadas por meio de uma tificadas quais as principais vantagens, projeção anfíbia, operação de menor cunho atualmente e no futuro, do emprego de agressivo. Pela doutrina do Ministério da um Grupamento Operativo de Fuzileiros Defesa, uma OpENC envolverá a entrada Navais (GptOpFuzNav), nucleado em de uma força no território do país anfitrião, unidade de infantaria, na realização dessa ocupação temporária de objetivos que modalidade de operação anfíbia. assegurem segurança para a realização de uma retirada planejada de não combatentes, ASPECTOS DOUTRINÁRIOS DA seguida da retirada planejada da própria INCURSÃO ANFÍBIA força. Essa força deverá estar preparada para mudanças rápidas no ambiente da operação, A operação anfíbia, operação naval que pode passar de permissivo para incerto lançada do mar, por uma Força-Tarefa ou hostil, conforme a evolução da crise. Anfíbia, sobre região litorânea hostil ou Desta forma, uma IncAnf, realizada com potencialmente hostil para introduzir uma propósito de evacuação de não combatentes força em terra a fim de cumprir missões em um ambiente hostil, também poderia ser designadas, comporta cinco modalidades: considerada uma OpENC. Pode-se supor assalto, incursão, demonstração, retirada até mesmo que uma operação tenha o seu e projeção anfíbia. Quanto às incursões planejamento iniciado como projeção an- anfíbias, preconiza a Doutrina Básica da fíbia e, depois, no caso de o litoral passar Marinha: a ser considerado hostil ou potencialmente A IncAnf compreende uma rápida pene- hostil, passe a ser tratada como uma IncAnf. tração ou a ocupação temporária de um O inverso também poderia ocorrer. objetivo em terra, seguida de uma retirada A necessidade de retirada planejada deve planejada. Esta modalidade não se carac- nortear o planejamento de uma IncAnf e faz teriza pelo emprego de forças de menor com que, nessa operação, nem todos os com- vulto, nem pela duração da operação, ponentes da Força de Incursão efetivamente mas sim pelo fato de haver uma retirada atuem em terra: somente desembarcarão os planejada (BRASIL, 2014, p. 3-5). que forem necessários, diferentemente de um assalto anfíbio, em que todos os meios A IncAnf pode ter como propósitos: de fuzileiros navais realizam o desembarque destruir ou neutralizar objetivos; obter e se estabelecem em terra. informações; executar operações de des- De acordo com Till (2007), em geral os pistamento; salvaguardar a vida humana; dois tipos de unidades requeridos para a capturar, evacuar ou resgatar1 pessoal e realização de “operações expedicionárias” material; apoiar outras operações; inquietar são os de operações especiais e os de infan-

1 A diferença básica entre resgate e evacuação é a liberdade relativa de movimento que o pessoal evacuado possui, diferentemente do pessoal a ser resgatado, que se encontra na condição de refém.

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taria leve2. Segundo o autor, essa natureza Deve ser ressaltado que a clara distinção da tropa determina como serão a inserção entre unidades de operações especiais e de e a extração da força, sendo aspecto central infantaria, verificada atualmente no Corpo para o desenvolvimento dessas operações. de Fuzileiros Navais (CFN), pode não Em IncAnf nucleadas por unidades de ser encontrada nas unidades de fuzileiros operações especiais, os elementos finali- navais de outros países. Na 2a GM, tropas zam o movimento navio-para-terra (MNT), britânicas e norte-americanas chamadas, provenientes dos na- respectivamente, de 3 vios, não por meio Winston Churchill, commandos e raiders , de desembarques, e realizaram ações dos sim infiltrando-se em empenhado em manter dois tipos. Em parti- sigilo, por meios espe- elevado o moral britânico cular, o termo com- ciais, normalmente um mandos, que no Brasil ou mais dias antes do e em buscar a iniciativa atualmente é utilizado desencadeamento de no conflito, enviara um por tropas de operações suas ações ofensivas, memorando ao chefe do especiais, até hoje é progredindo poste- usado para se referir riormente também em Estado-Maior das Forças aos fuzileiros navais sigilo até os objetivos. Armadas da França para britânicos que realizam O desencadeamento as operações anfíbias. das ações em terra dá- que envidassem seus As unidades britânicas se assim com grande esforços para manter um criadas na 2a GM deram surpresa e poder de “reino de terror” sobre origem ao que atual- fogo sobre o inimigo, mente é a 3a Brigada de permitindo que tropas as forças alemãs nos Marines Commandos, com efetivos reduzi- territórios ocupados na que participou desde o dos obtenham sucesso. desembarque na Nor- Já nas IncAnf nu- Europa mandia, na 2a GM, até cleadas por unidades o assalto anfíbio em Al de infantaria, essas finalizam o MNT de- Faw, no Iraque, durante a Segunda Guerra sembarcando, em praias de desembarque, do Golfo, em 2003. zonas de desembarque ou locais de pouso de helicópteros, que poderão ou não estar defen- INCURSÕES ANFÍBIAS A PARTIR didos pelo inimigo, e progridem no terreno DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL para realizar suas tarefas por meio de ações clássicas de infantaria. Este tipo de IncAnf Em 4 de junho de 1940, durante a 2a GM, poderá envolver também operações especiais. encerrava-se a retirada da Força Expedicio-

2 Till (2007) cita, como exemplos de Inf leve, as unidades dos fuzileiros navais e as dos exércitos transportadas por meios aéreos, paraquedistas ou não. 3 Tropa criada pelo Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA (USMC) em 1941, para atuar, como os commandos bri- tânicos na Europa e África, contra alvos japoneses no teatro de operações do Pacífico. Porém tal designação deixou de existir em 1943, com a mudança no desenrolar do conflito, que, a partir do início da ofensiva dos EUA, envolveu uma grande série de Assaltos Anfíbios (AssAnf), o que demandava que os raiders execu- tassem as mesmas tarefas dos demais fuzileiros navais. Aliou-se a esse fato a resistência institucional, da maioria do USMC, à existência de uma “força de elite” em suas fileiras, que já seriam por si só compostas pela elite das Forças dos EUA .

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nária Britânica de Dunquerque, na França, Clarke, sul-africano de nascimento, após a ofensiva alemã que culminou com deu então o nome de commandos às novas a conquista da França e da Bélgica. Alguns unidades constituídas para tais ataques, dias antes desse evento, o primeiro-ministro com base no nome que os bôeres davam britânico, Winston Churchill, empenhado às suas unidades móveis: kommandos4. em manter elevado o moral britânico e em Originalmente, os comandos eram divi- buscar a iniciativa no conflito, enviara um didos em um estado-maior e dez tropas, memorando ao chefe do Estado-Maior cada uma com três oficiais e 47 praças. das Forças Armadas da França para que Essa organização diferia da padrão de envidassem seus esforços para manter um um batalhão de infantaria, arma núcleo “reino de terror” sobre as forças alemãs nos de onde saiu a maioria dos componentes territórios ocupados na Europa. dos comandos, mas era similar quanto ao Com base na solicitação de Churchill, efetivo de militares empregados. Em 1940, o Tenente-Coronel do Exército Dudley constituíram-se dez unidades de comandos, Clarke (1899-1974), assistente do chefe com voluntários de praticamente todas as do Estado-Maior Geral, criou um plano unidades do Exército britânico; a partir de que buscava adaptar para a situação da fevereiro de 1942, criaram-se outras cinco, época as táticas que os espanhóis desen- com fuzileiros navais. volveram contra os franceses durante as Em 24 de junho de 1940, 16 dias após a guerras napoleônicas (1803-1815), em que aprovação de Churchill, realizou-se a primei- lançavam ataques de surpresa atrás das ra incursão de comandos, em Boulogne, na linhas inimigas, com pequenos grupos de França ocupada. Essa operação, bem como soldados irregulares: as guerrilhas. Tais as realizadas no mês seguinte, em táticas também haviam causado grandes (ilha britânica no Canal da Mancha) e em perdas aos britânicos, quando utilizadas Bardia, na Líbia, em abril de 1941, ambas pelos colonos holandeses durante a guerra as regiões ocupadas pelos alemães, não teve dos bôeres de 1899-1902, na África do bons resultados. Buscou-se nessas IncAnf Sul, e por rebeldes árabes na Palestina realizar operações especiais, com a infiltração ocupada pelos britânicos, em 1936. Seu em locais afastados das guarnições inimigas, plano consistia em lançar, no continente mas erros no planejamento e na execução europeu ocupado pelos alemães, ataques demonstraram a necessidade de as novas uni- de surpresa com o propósito de fazer os dades melhor desenvolverem sua organização germânicos desviarem forças de outros e seu adestramento. Teatros de Operação (TO) para proteger as Ainda em 1941, houve uma IncAnf de costas europeias. Em 8 de junho, o plano forças britânicas nas Ilhas Lofoten e uma de foi aprovado por Churchill. forças canadenses em Spitzbergen, ambas Desta forma, seriam realizadas ações na Noruega ocupada pelos alemães. Essas sobre objetivos no continente europeu, a IncAnf podem ser classificadas como de fim de se atingirem dois propósitos mais infantaria, mas não contaram com oposição amplos: um político (elevar o moral das de vulto, o que contribuiu para a obtenção forças britânicas) e um estratégico (apoiar de resultados satisfatórios. operações em outros TO, com o desvio de A primeira IncAnf de infantaria desse tropas alemãs). conflito, com efetiva oposição, foi a lan-

4 Palavra da língua africâner, dialeto utilizado pelos colonos holandeses na África do Sul, que significa “unidade militar”.

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çada pelos britânicos em Vaagso, também Já a maior em vulto das IncAnf da 2ª na Noruega, em dezembro desse ano, com GM (de infantaria) foi realizada por cana- resultados considerados altamente satisfa- denses e britânicos em Dieppe, na França tórios. Além de proporcionar a destruição ocupada, em agosto de 1942. Planejada da guarnição local, instalações industriais para desembarcar cerca de 6 mil homens, e navios alemães; a evacuação de volun- essa operação mostrou-se inadequadamen- tários noruegueses para o combate no te planejada e baseada em informações exílio e a captura de material sigiloso e equivocadas, tendo sido considerada um prisioneiros de guerra alemães, essa ope- fracasso extremamente custoso, somente ração efetivamente serviu como diversão não de todo infrutífero pelos ensinamentos estratégica, desviando tropas alemãs de que gerou sobre como não deveria ser um outros teatros de operação para a defesa assalto anfíbio sobre as praias defendidas da Noruega, e foi utilizada como fonte de pelos alemães na França ocupada. ensinamentos para as operações anfíbias No mesmo mês da operação em Dieppe, que a seguiram. mas no teatros de operações (TO) do Pací- Ainda na 2ª GM, fico, raiders dos EUA em novembro de 1941, realizaram duas IncAnf houve uma IncAnf de Após a 2ª GM, dentre os de infantaria bem-su- operações especiais conflitos marcados pela cedidas, nas ilhas de realizada pelos britâ- Butaritari e Makin (no nicos – em Beda Lit- ocorrência de operações então protetorado britâ- toria, na Líbia, contra anfíbias, somente voltou a nico das Ilhas Gilbert, o comando alemão na hoje parte da República região5, extremamente haver registro de IncAnf na de Kiribati), ocupadas mal-sucedida: de 53 Guerra do Vietnã (1965-1975) pelos japoneses. Essas militares que se infil- IncAnf visavam à des- traram, somente dois truição das guarnições sobreviveram. Seguiram-se a essa operação, japonesas nas ilhas, e, em Makin, também em 1942, diversas IncAnf do mesmo tipo à destruição de instalações, captura de bem-sucedidas, realizadas pelos britânicos prisioneiros, obtenção de dados e diversão contra objetivos na Europa ocupada pela estratégica em apoio à campanha que seria Alemanha: em St-Nazaire6, Boulogne, Cabo iniciada pelos norte-americanos na Ilha de Barfleur e St-Honoré (França), em Casquet Guadalcanal. Seguiram-se nesse TO, ainda e Sark (Ilhas do Canal da Mancha) e em em 1942, durante a campanha de Guadal- Glamfiord (Noruega). canal, IncAnf de operações especiais para

5 Sua tarefa era matar ou capturar o líder das forças alemãs na Líbia, General Erwin Rommell (1891-1944), mas as informações foram inadequadas: a instalação atacada era, na verdade, o quartel-general dos serviços de abastecimento alemão e italiano, e Rommell não a frequentava. 6 Considerada a “maior de todas as incursões”, não pelo vulto, mas pela audácia nas ações e pelos resultados obtidos. Nela, 622 commandos chegaram ao porto por meio de um contratorpedeiro antigo da Marinha dos EUA (Campdeltown), que simulava ser um navio alemão, destruíram as instalações, navios ancorados e o dique seco do porto de St-Nazaire, explodindo inclusive o Campdeltown, para que este encalhasse no porto. Ali havia o único dique seco capaz de reparar o então maior navio alemão, o Encouraçado Tirpitz, que assim refugiou-se na Noruega até o reparo do dique, um ano e meio depois, quando a Batalha do Atlântico já se encontrava decidida para o lado aliado.

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reconhecimento, realizadas por raiders em de pouso, aeronaves e um radar, em apoio Savo e Tasimboko (Ilhas Salomão). a um Assalto Anfíbio (AssAnf), que ocor- Após a 2ª GM, dentre os conflitos reria a seguir na Baía de San Carlos. marcados pela ocorrência de operações Por fim, em 1991, na Primeira Guerra anfíbias, somente voltou a haver registro do Golfo (1990-1991), tropas dos EUA de IncAnf na Guerra do Vietnã (1965- realizaram uma IncAnf de infantaria na ilha 1975). Em 1965, sete IncAnf de infantaria kwaitiana de Umm Al-Maradim, ocupada por foram realizadas pelos EUA – em Chu Lai, tropas iraquianas que ali haviam estabelecido Batangan, Vung Mu, Ben Goi, Tam Quam, um radar e posto de escuta. Não houve oposi- Lang Ke Ga e Phu Thu, no então Vietnã do ção à ação norte-americana, tendo a ilha sido Sul, a fim de capturar vietcongues e destruir evacuada antecipadamente pelos iraquianos. suas bases. As duas primeiras, com efetivos Como resultados, houve a destruição de norte-americanos de cerca de 2 mil homens, equipamentos e a captura de material contro- duraram seis e três dias, respectivamente, e lado, além de, como manobra diversionária, as demais, de menor vulto, apenas um ou contribuir para a dúvida iraquiana sobre um dois dias. Apesar de ter havido mortos e eventual assalto anfíbio norte-americano no prisioneiros entre os vietcongues, os mes- litoral do Kwait ocupado. mos, organizados como forças de guerrilha, Constata-se assim que há relativo equilí- retornavam às regiões após a retirada da brio quanto ao total de ocorrências dos dois Força de Incursão. Essa série de IncAnf, tipos de IncAnf. A fim de se verificar, com como um todo, não foi considerada bem- base em exemplo real, em que condições sucedida, não obtendo ganhos relevantes um comandante operacional poderá fazer de inteligência e de baixas inimigas para melhor uso de uma IncAnf de infantaria, faz- as forças norte-americanas. se mister analisar uma operação desse tipo Essas IncAnf, apesar de serem classifi- bem-sucedida e com efetiva oposição inimi- cadas como de infantaria, envolviam ações ga a todas as etapas da IncAnf, inclusive ao de busca e destruição de forças de guerrilha, desembarque e à retirada planejada. Dentre o que fazia com que não houvesse ameaça as apresentadas neste estudo, as operações significativa ao desembarque e à retirada em Vaagso, Butaritari e Makin, na 2ª GM, da Força de Incursão. são as únicas que reúnem essas condições. Em 1979, mesmo sem conflito aberto A IncAnf realizada por forças britânicas entre EUA e Irã, houve uma IncAnf de ope- em Vaagso foi, dessas três, a operação com rações especiais: elementos do USMC e do maior quantidade de meios empregados, Exército norte-americano foram infiltrados inclusive efetivos de tropa. Era também a por helicóptero, a partir do Porta-Aviões única com a necessidade de se proteger a Nimitz, que operava no Mar da Arábia, ForInc contra reforços que viessem por terra. para resgatar 65 cidadãos dos EUA feitos Por essas razões, será abordada neste estudo. reféns em sua Embaixada em Teerã, capi- tal do Irã. A missão foi abortada antes do A OPERAÇÃO ARCHERY resgate, devido à queda de um helicóptero no deserto iraniano. Com a invasão da União Soviética pela Na Guerra das Malvinas (1982), os Alemanha, em junho de 1941, os soviéticos britânicos realizaram uma IncAnf de ope- passaram a demandar dos britânicos que rações especiais contra posições argentinas pressionassem os alemães pelo oeste, a fim na Ilha de Pebbles, destruindo um campo de dividir suas forças. Os britânicos com-

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batiam contra os alemães no Mediterrâneo Decidiu-se realizar essa incursão (Ope- e no Oriente Médio, mas, quanto à Europa ração Archery) em paralelo a uma operação ocidental, não tinham ainda perspectivas re- naval de interrupção do tráfego marítimo alistas de invasão. Visualizaram então utilizar alemão no Mar do Norte, próximo às Ilhas uma grande incursão para, pelo menos, lançar Lofoten, para cortar o fluxo de minério de dúvidas em Berlim quanto à possibilidade de ferro da Noruega para a Alemanha (Ope- um desembarque na costa europeia. ração Anklet). Após analisar a costa europeia, os bri- Logo, enquanto o propósito estratégico tânicos decidiram-se pela pequena Ilha de da Operação Archery era reduzir os efetivos Vaagso, na Noruega, localizada no Mar do alemães empregados em combate na União Norte, ao norte de Oslo (capital do país), Soviética e no Oriente Médio, seus propósi- devido a ser acessível a um desembarque tos táticos eram destruir a guarnição alemã anfíbio, ser guarnecida por tropa de efetivo e suas instalações, os navios mercantes e apropriado à vitória das tropas britânicas e as fábricas de óleo de fígado de bacalhau dispor de grande concentração de fábricas localizadas junto ao porto de Vaagso do de óleo de fígado de bacalhau, vitais ao Sul8, evacuar voluntários noruegueses para esforço de guerra alemão7. a Grã-Bretanha e capturar livros-código,

FIGURA 1 – Localização de Vaagso Fonte: Google Earth, 2013. 7 Grande fonte de vitamina A e D, esse óleo era essencial para as tripulações de submarinos alemães, que per- maneciam longos períodos sem ver a luz do sol. Além disso, também era importante insumo na fabricação de explosivos. 8 Neste trabalho, foram adotados os nomes de localidades constantes do relatório britânico sobre a Operação Ar- chery. Vaagso do Sul, atualmente, é o nome de uma parte da cidade norueguesa de Maaloy, e não o contrário, como será mencionado posteriormente.

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de 150 soldados de infantaria, um carro de combate e cerca de cem trabalhadores utilizados nas fábri- cas de óleo de fígado de bacalhau. Uma bateria de quatro ca- nhões, posicionada na Ilha de Maaloy, e outra de dois canhões, na Ilha de Rugsund, protegiam a entrada do fiorde de Vaagso. Havia ainda uma ba- teria móvel de obu- seiros de 105 mm em Halsor, no norte da Ilha de Vaagso, prote- gendo a entrada norte para Ulvesund, onde os comboios alemães FIGURA 2 – Operações Archery e Anklet 1 – 22 de dezembro: meios da Operação Anklet deixam constumavam se for- 2 – 24 de dezembro: meios da Operação Archery deixam Scapa Flow mar e poderiam ser 3 – 25 de dezembro: meios da Operação Archery são forçados a parar nas Ilhas encontrados navios Shetland, devido a danos causados por tormenta mercantes, incluindo 4 – 26 de dezembro: Operação Anklet é desencadeada nas Ilhas Lofoten 5 – 27 de dezembro: Operação Archery é desencadeada em Vaagso traineiras armadas. Fonte: FORD, 2011, p. 13. Não havia navios de guerra alemães na documentos e máquinas de criptografia área. Havia três aeródromos de onde as alemães e prestar ajuda a colaboracionistas aeronaves de ataque alemãs poderiam noruegueses (chamados quislings). Além alcançar Vaagso, em Herdla, Stavanger e disso, apoiaria, no nível operacional, a Trondheim, porém as provenientes dos dois realização da Operação Anklet, dividindo últimos necessitariam de reabastecimento os esforços dos navios e aeronaves alemães em Herdla. baseados na Noruega. A Força de Incursão tinha um efetivo A data prevista para a incursão em Vaag- de 51 oficiais e 525 praças. Nucleada em so era 21 de dezembro de 1941. Adiada pe- elementos de infantaria, possuía também las más condições meteorológicas durante elementos de engenharia de combate (es- os ensaios e a travessia, ocorreria somente pecializados em demolições com explosi- em 27 de dezembro. A Operação Anklet vos), de saúde, inteligência e comunicação iniciou-se um dia antes, com um pequeno social. Noruegueses exilados também desembarque nas Ilhas Lofoten. compunham o efetivo, nas funções de Quanto às defesas alemãs, acreditava-se guias e intérpretes. A força aérea britânica que eram compostas por uma guarnição dispunha de dois aeródromos dentro do

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alcance para apoiar as ações em Vaagso: bateria de canhões, fábricas e outras insta- Sumburgh, nas Ilhas Shetland, e Wick, no lações alemãs na ilha; norte da Escócia. – Grupo 4, com 65 militares, atuando A ForInc foi dividida em cinco grupos, como reserva embarcada, sob o controle com os seguintes efetivos e tarefas: direto do comandante da ForInc; e – Grupo 1, com cerca de 50 militares, – Grupo 5, com cerca de 30 militares, para conquistar a área de Hollevik, onde para bloquear a estrada em Rodberg (ou havia uma posição de armas automáticas Raudeberg), ao norte de Vaagso do Sul, alemã, e posteriormente passar à reserva impedindo a aproximação de reforços ale- do Grupo 2; mães, particularmente a bateria móvel de – Grupo 2, com cerca de 200 militares, obuseiros, vinda de Halsor. para conquistar Vaagso do Sul e destruir Essa organização encontra reflexos as fábricas e outras instalações alemãs na na doutrina atual do CFN, na divisão do localidade; Componente de Combate Terrestre de – Grupo 3, com 105 militares, para uma ForInc em Grupamentos Funcionais conquistar a Ilha de Maaloy, destruindo a (GptFunc). Os Grupos 2 e 3 atuaram como

FIGURA 3 – Ilha de Vaagso Fonte: Google Earth, 2013.

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da ForInc, em Vaagso do Sul e na Ilha de Maaloy. Já os Grupos 1 e 5 reali- zaram tarefas de GptFunc de Cobertura, destruindo uma posição de armas automáticas e bloqueando a chegada de reforços ini- migos, provendo proteção às ações dos Grupos 2 e 3. O Grupo 4, por sua vez, atuou como GptFunc de Reserva. A Força-Tarefa Anfíbia era composta do Cruzador Kenya (capitânia) e de quatro destróieres, que proveriam apoio de fogo naval, além de dois na- vios-transporte de tropas. Um submarino (Tuna) atu- aria como “farol”, posicio- nando-se antecipadamente para guiar os demais na- vios, durante a escuridão, para a entrada do fiorde de Vaagso. Bombardei- ros britânicos proveriam apoio ao desembarque, além de lançarem bombas de fumaça sobre as praias de Desembarque, para proteger as tropas da ob- servação alemã. A hora do desembarque (Hora-H) foi marcada para FIGURA 4 – Operação “Archery” Os números 1, 2, 3 e 5 indicam as regiões de atuação dos Grupos do CCT. O as 8h57 (hora local) de 27 Grupo 5 atuava ao norte da região apresentada, daí a seta. O Grupo 4 constituía a de dezembro. Neste dia, reserva do CCT. o início do crepúsculo Fonte: EUA, 1942. matutino náutico (ICMN) se daria às 7h43, o do cre- GptFunc de Assalto, pois realizariam a púsculo matutino civil (ICMC) às 8h49 e o destruição de instalações e as outras tarefas nascer do sol ocorreria às 10h039. 9 Levantamento feito para a cidade norueguesa de Trondheim, local mais próximo de Vaagso (e com latitude similar), cujos dados encontraram-se disponíveis. Fonte: www.sunrisesunset.com. Acesso em: 21 jul. 2013.

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Às 7h39, os navios fizeram contato Os grupos iniciaram então o cumpri- com o Tuna e, protegidos pela escuridão mento de suas tarefas: às 9h20, o Grupo e com práticos noruegueses, penetraram 3 assumiu o controle da Ilha de Maaloy e no fiorde sem serem detectados. Às 8h42, sinalizou para um destróier, transportando iniciou-se o movimento navio-para-terra o Grupo 5, poder demandar o Norte; o das embarcações de desembarque. Às 8h48, Grupo 3 recebeu então ordem para destruir iniciou-se o apoio de fogo naval e aéreo a fábrica Mortenes, ao norte de Maaloy, sobre as posições alemãs e as baterias de executando-a às 10h15. Às 9h50, o Grupo 1 artilharia de costa. O principal objetivo do cumpriu suas tarefas em Hollevik e passou fogo naval foi a bateria de canhões na Ilha à reserva da Força. de Maaloy. Para neutralizá-la, o Cruzador O Grupo 2, entretanto, enfrentou difícil Kenya, com canhões de 152 mm, e mais combate na localidade de Vaagso do Sul. dois destróieres lançaram, em nove minu- Além das dificuldades inerentes às ações tos, mais de 400 granadas sobre cerca de em área urbana, a guarnição alemã era 250 metros quadrados. Às 8h56, aeronaves maior do que o previsto (uma tropa de Hampdens britânicas lançaram bombas cerca de 50 homens, proveniente da frente de fumaça sobre as praias. Uma dessas oriental, onde combatia os soviéticos, bombas, proveniente de uma aeronave encontrava-se na cidade em licença). Às abatida por fogos antiaéreos alemães, caiu 10h15, o Grupo 4 (reserva embarcada) sobre uma embarcação de desembarque, o reforçou. Às 10h20, o Grupo 5 lançou causando 20 baixas no Grupo 2. À Hora-H, bombas para produzir crateras na estrada as demais embarcações abicaram nas praias em Rodberg e capturou inimigos em fuga de Desembarque. de Vaagso do Sul. Às 10h40, devido às A doutrina atual das operações anfíbias dificuldades no combate nessa localidade, preconiza que, na seleção da Hora-H para os Grupos 1, 3 e 5 receberam ordem para um desembarque diurno, deve-se procurar reforçar o Grupo 2. reservar um período de luz, após o ICMN, Aeronaves alemãs procedentes de Her- para a preparação por fogos das praias e dos dla iniciaram o ataque aos britânicos às objetivos iniciais. Já a partir do ICMC, há 10h05. Tal ameaça poderia ser agravada iluminação natural para permitir observa- com a vinda de aeronaves dos outros aeró- ção do apoio de fogo. Portanto, verifica- dromos na Noruega. A quantidade dessas se que a entrada dos navios no fiorde de aeronaves havia aumentado após o início Vaagso se deu antes do ICMN, com apoio da Operação Anklet, no dia anterior. O do submarino “farol”, o que possibilitou a bombardeio pelos britânicos da pista de manutenção, o máximo possível, do sigilo Herdla, às 12 horas, possibilitou o fim da das ações. O início dos fogos de prepara- operação em Vaagso com segurança. ção se deu entre o ICMN e o ICMC, e o Às 13h30, com todo o efetivo empregado desembarque se deu após o ICMC, mas em Vaagso do Sul, o Grupo 2 informou o antes do nascer do sol, contando ainda com cumprimento de suas tarefas. Iniciou-se então apoio de bombas de fumaça. Tais aspectos o reembarque das tropas, concluído às 14h34. permitiram a redução da visibilidade das Às 15 horas, os navios deixaram o fiorde. tropas alemãs sobre a Força de Incursão, A Força de Incursão destruiu todas as no momento do desembarque. Conclui-se instalações alemãs na região de Vaagso, assim que, nesses aspectos, esta operação cabos telefônicos, um carro de combate, encontra reflexos na doutrina atual. quatro baterias de defesa de costa e uma

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antiaérea, tanques de óleo combustível, um na 2ª GM, lançadas pelos EUA e pelo Reino depósito de munição, um farol, um gerador Unido, tanto no Atlântico como no Pacífico. de energia, um depósito de minas terrestres Outro aspecto que pôde ser observado na e quatro fábricas de óleo de fígado de baca- Operação foi a necessidade do levantamen- lhau. Foram mortos 150 soldados alemães to mais detalhado possível sobre a situação e 98 foram feitos prisioneiros de guerra. militar do inimigo, a fim de que se pudesse Setenta e um noruegueses foram evacuados determinar o efetivo que desembarcaria para se unirem ao exército norueguês no para o cumprimento das tarefas da ForInc. exílio. Os navios britânicos afundaram dez Esse efetivo deve ser o mínimo possível, navios mercantes alemães, sendo que um considerando a necessidade de retirada estava artilhado e dotado de livros-códigos posterior, mas deverá ter um vulto que alemães utilizados nas costas francesa e permita o cumprimento das tarefas dessa norueguesa, que foram capturados intactos. Força, antes da chegada de reforços que Os britânicos tiveram 19 militares mortos inviabilizem esse cumprimento. e 52 feridos, e houve um morto e cinco O líder alemão Adolf Hitler (1889-1945), feridos entre os habitantes da localidade. ao ser informado do ataque a Vaagso, de- Podemos concluir que o número de terminou o envio imediato de mais 12 mil instalações destruídas (demandando grande homens para reforçar as defesas na Noruega. quantidade de explosivos e especialistas em Interpretando que a série de IncAnf que demolição), a forte defesa alemã na região e culminara em Vaagso era um ensaio para o fato de a operação requerer, em boa parte, um assalto anfíbio britânico no país nórdico, combates em área urbana (área que dificulta Hitler declarou a seus ministros, em janeiro a infiltração de elementos de operações de 1942, “sua convicção de que a Noruega especiais) foram fatores determinantes para era a zona do destino da guerra e que por- que as ações da Operação Archery tenham tanto exigia obediência incondicional às sido de infantaria. suas decisões sobre a defesa dessa área” Em relatório conjunto dos comandantes (ROSKILL, 1956, p. 100, tradução nossa). envolvidos na operação, vários ensina- Posteriormente, foram desviados pelos mentos foram apontados. O tempo de três alemães, de outros teatros de operações, semanas para planejamento e execução da uma divisão blindada e novas baterias operação foi visto como sendo o mínimo costeiras, além de posicionados, para de- requerido para um evento de tal vulto, fesa do litoral norueguês, todos os meios bem como a realização de pelo menos dois navais possíveis. Tal processo de reforço ensaios em área semelhante à da operação. não seria interrompido até 1944, com o No relatório conjunto, foi verificado desembarque aliado na Normandia, quando também que as dificuldades de se combater o efetivo alemão na Noruega era de 372 em área urbana, aliadas à limitação imposta mil homens, boa parte dos quais provavel- de não se causarem danos excessivos às mente teria tido melhor emprego na frente propriedades norueguesas, fizeram com que russa ou francesa. A Noruega foi libertada as ações em Vaagso do Sul durassem mais em 1945, sem nenhum combate de vulto tempo que o previsto, impondo-se inclusive desde Vaagso. a necessidade de destruição da pista em A Operação Archery é, portanto, exem- Herdla para se evitar o reforço de aeronaves plo de diversão estratégica bem-sucedida. alemãs. Esse relatório foi base para a série Pode-se supor que a realização de uma de operações anfíbias que viriam a seguir IncAnf de infantaria, com desembarque

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de tropas similar ao de um assalto anfíbio, possibilidade dessas armas serem utilizadas contribuiu para a convicção de Hitler, em atos terroristas ou de sabotagem tende divulgada a seus subordinados apenas um a aumentar. Para apoiar um GptOpFuzNav mês após a operação, de que a Noruega que seja empregado ante essas ameaças, o seria decisiva para a 2ª GM. CFN dispõe atualmente de uma Companhia Após a 2ª GM, o único exemplo de uma de Defesa NBQR com pessoal e equipa- IncAnf que serviu como manobra diversio- mentos especializados, pertencente ao Ba- nária foi a que forças dos EUA realizaram talhão de Engenharia de Fuzileiros Navais. na Ilha de Umm Al-Maradim, ocupada Nesse contexto, nos EUA, país de maior por tropas iraquianas. Essa IncAnf foi de poder naval na atualidade, os comandan- infantaria, o que reforça a conclusão de que tes do USMC, de Operações Navais e da esta natureza de tropa é mais apropriada a Guarda Costeira emitiram em 2010 uma tal propósito. publicação conjunta denominada “Conceito de Operações Navais”, que afirma: O PRESENTE E O FUTURO DAS Forças navais receberão crescentemente INCURSÕES ANFÍBIAS tarefas ligadas ao contraterrorismo, à contraproliferação e à contrapira- Apresentaremos agora algumas con- taria. Essas tarefas poderão envolver siderações quanto à atual conjuntura bombardeios e IncAnf conduzidos internacional, conside- com os propósitos de: radas relevantes para o destruição de terroris- emprego dos fuzileiros A projeção do poder naval tas e seus santuários; navais na realização de captura de piratas ou IncAnf, tanto no pre- sobre terra apresenta-se outros criminosos e sente como no futuro. cada vez mais provável de cerco ao contrabando; Como primeiro as- ocorrer em áreas urbanas resgate de reféns; ou pecto relevante, a pro- segurança e remoção jeção do poder naval de material, incluindo sobre terra apresenta-se cada vez mais armas de destruição em massa (EUA, provável de ocorrer em áreas urbanas. Em 2010, p. 64, tradução nossa). 2008, metade da população mundial vivia nessas áreas, e, em 2010, 44% da população Dadas as considerações acima e o veri- mundial vivia a menos de 150 km da costa. ficado na Operação Archery, apresenta-se, Nos litorais, encontram-se cerca de 80% primeiramente, um aspecto que reforçaria das capitais nacionais e a grande maioria uma possível necessidade de uma IncAnf, dos centros de poder político e econômicos. seja de infantaria ou de operações especiais, Isso leva a que não se possam mais evitar, para destruição de instalações, que seria a nas guerras do futuro, os conflitos em áreas impossibilidade dessa destruição por meios urbanas. aéreos. Naquela operação, as condições me- Também é relevante a preocupação atu- teorológicas eram extremamente adversas almente crescente, no cenário internacional, (final de dezembro, no hemisfério norte, com a proliferação de armas de destruição em região de altas latitudes), gerando até em massa, com agentes nucleares, bioló- mesmo atraso no Dia-D da operação. Além gicos, químicos e radiológicos (NBQR). disso, as construções se encontravam em Devido à acelerada evolução científica, a área urbana, em país ocupado (população

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não hostil), o que aumentava a possibilida- pamentos especializados, o que dificultaria de de danos indesejados, caso se empregas- sobremaneira a realização de uma IncAnf se o meio aéreo. Na atualidade, a possível de operações especiais para esse fim, pois existência de agentes NBQR seria outro o pessoal e os equipamentos especializados aspecto que poderia inviabilizar ações de em defesa NBQR dificilmente poderiam ser meios aéreos sobre as instalações. infiltrados da mesma forma que os elemen- Quanto às IncAnf de operações espe- tos de operações especiais. ciais, podemos concluir que serão a opção A Estratégia Nacional de Defesa bra- prioritária quando a IncAnf se destinar a sileira, promulgada em 2008, preconiza realizar ações de resgate de reféns ou de que a negação do uso do mar ao inimigo, captura de pessoal. Para ações de destruição o controle de área marítima e a projeção de e neutralização, poderão ser empregadas, poder marítimo, tarefas básicas do poder mas um aspecto a ser considerado deverá naval brasileiro, deverão ter como foco, en- ser a capacidade dessas tropas de transpor- tre outros, a defesa proativa das instalações tar e preparar, em prazo curto, o material de interesse e ilhas oceânicas nas águas de demolição a ser em- jurisdicionais brasilei- pregado nessas ações. ras e a prontidão para No estudo sobre Há necessidade do Poder responder a ameaças a Operação Archery, às linhas de comércio podem-se verificar Naval Brasileiro manter- marítimas. alguns aspectos que se em condições de O Almirante de Es- fizeram com que a empregar, rapidamente, quadra (FN) Alvaro Au- IncAnf fosse realizada gusto Dias Monteiro, com tropas de infan- GptOpFuzNav em comandante-geral do taria, e que podem ser ações antipirataria CFN de 2007 a 2011, replicados, tanto na ressaltou, em artigo de atualidade como no ou antiterroristas, 2010, que, para tanto, futuro. O primeiro é, particularmente no forças adversas têm que como já visto, a neces- continente africano ser detidas ou dissua- sidade de combates em didas além dos limites área urbana, devido às das águas jurisdicionais dificuldades de movimentação que tal situ- brasileiras, devendo o poder naval do País ação traz às tropas de operações especiais. ser capaz de influenciar todo o Atlântico Outro aspecto foi o grande número de Sul. Nesta visão, caberia ao CFN ser capaz instalações a serem destruídas, que tornou de, entre outras ações, destruir ou neutrali- necessária grande quantidade de explosi- zar bases ou pontos de apoio do inimigo, vos e especialistas em demolição. Quanto neutralizar forças inimigas em suas bases, a isso, não necessariamente haverá, em apoiar operações em terra, salvaguardar a futuras ações, grande quantidade de cons- vida humana e resgatar pessoal e material truções, mas a preocupação crescente com de interesse. Preconizou ainda que uma fer- a não proliferação de armas com agentes ramenta indispensável para a credibilidade NBQR poderá levar à necessidade de des- do poder naval é a existência de uma força truição ou neutralização de instalações com que, a partir de bordo, chegue à terra capaz esses agentes. Para tal, haverá certamente a tanto de combater como de prover apoio necessidade de atuação de pessoal e equi- humanitário.

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FIGURA 5 – Atlântico Sul (porção do entorno estratégico do Brasil) Na orla ocidental da África, porção do Estratégia Nacional de Defesa, consubstan- Atlântico Sul em que o governo brasileiro ciam a necessidade deste poder manter-se tem manifestado interesse prioritário quan- em condições de empregar, rapidamente, to à estabilidade e segurança, registraram- GptOpFuzNav em ações antipirataria ou se, entre 2009 e 2012, 197 ataques no mar antiterroristas, particularmente no continente contra navios mercantes no Golfo da Guiné. africano. Vem em reforço a essa conclusão o Além de colocar em risco a segurança do fato, já apresentado, de que a maior potência comércio internacional no entorno estraté- naval da atualidade apresenta orientações gico do País, um possível vínculo entre os similares quanto ao possível emprego de perpetradores de tais ataques e grupos terro- seus meios na realização de IncAnf. ristas regionais aumenta a preocupação do Além da tarefa principal de destruição governo brasileiro. Em 2013, o ministro da de instalações, outra das tarefas realizadas Defesa do Brasil, Celso Amorim, afirmou pela ForInc da Operação Archery foi a que, caso a ameaça terrorista verificada Evacuação de Não Combatentes (ENC). No no continente africano no mesmo ano, contexto atual, o crescimento dos interesses particularmente no Mali, atingisse a costa brasileiros no exterior vem contribuindo ocidental daquele continente, poderia afetar para o aumento da presença de empresas, os interesses brasileiros. representações e organizações do Brasil Tais preocupações do governo do Bra- em outros Estados, causando o aumento sil e as orientações quanto ao emprego do número de cidadãos brasileiros em do poder naval brasileiro, decorrentes da território estrangeiro.

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Em 2006, uma grande operação de ENC IncAnf, em um planejamento de nível opera- ocorreu no Líbano: em meio ao conflito cional. Quanto às de infantaria, ressaltam-se, entre Israel e o grupo guerrilheiro Hez- como aspectos que indicariam o seu emprego, bollah, meios navais e de fuzileiros navais em detrimento das de operações especiais: dos EUA e de outros seis países evacuaram – seu melhor emprego como despista- milhares de não combatentes. Somente os mento, dadas as similaridades com o assalto EUA retiraram 15 mil de seus nacionais. Já anfíbio; o Brasil retirou, por meios aéreos (militares – a necessidade de destruição, neutrali- e comerciais), 2.950 de seus cidadãos do zação ou captura de instalações ou mate- Líbano, sem ter empregado força naval. riais em grande quantidade ou envolvendo A crescente possibilidade de envolvi- ameaças de agentes NBQR; mento de brasileiros e a grande quantidade – a possibilidade de conflitos em áreas de evacuados que pode ocorrer nesse tipo urbanas; e de operação, que, em caso de mudança – a possível necessidade de se lançar do ambiente operacional para hostil, po- uma IncAnf com propósito de ENC, em deria passar a ser realizada por meio de ambientes operacionais incertos ou hostis. uma IncAnf, são aspectos que reforçam a Os aspectos acima, à exceção do primeiro, necessidade de se manter o preparo para têm considerável relevância no contexto de IncAnf do tipo de infantaria, pois somente emprego, atual e no futuro, do poder naval um grande efetivo de tropa poderia prover brasileiro. Desta forma, apesar de ter ocorrido a segurança e lidar com as dificuldades lo- relativo equilíbrio entre os totais de ocorrên- gísticas inerentes a evacuação de tal porte. cia dos dois tipos desde a 2ª GM, as IncAnf de infantaria aparecem com maior possibilidade CONCLUSÃO de serem realizadas nesse contexto, conclusão relevante para a manutenção da eficiência no Verificam-se, portanto, diversas situações preparo, pela MB, dos GptOpFuzNav para o em que se pode concluir pela validade das emprego em nível operacional.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Corpo de Fuzileiros Navais; Operação anfíbia; Comportamento operativo;

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150 RMB3oT/2015 ARTEFATOS CONTÁBEIS UTILIZADOS PELO INSTITUTO DE PESQUISAS DA MARINHA*

PAULO ANDRÉ DE BARROS CORRÊA** Capitão de Fragata (T) GISELLE DA SILVA CARVALHO*** Professora

SUMÁRIO

Introdução Justificativa Objetivos e problema de pesquisa Estrutura do texto Metodologia Método de pesquisa Seleção da unidade de análise Coleta e tratamento de dados Delimitações no estudo Referencial teórico A Contabilidade Gerencial e os Sistemas de Controle Gerencial (SCG) Conceitos dos artefatos de contabilidade Outros instrumentos de controle gerencial (artefatos) utilizados no setor público e especificamente na MB Caracterização da organização Controle gerencial no IPqM Análise de resultados Considerações finais

* Título apresentado pelo autor: “Artefatos Contábeis utilizados por uma Organização Militar de Ciência e Tec- nologia da Marinha do Brasil – O caso do Instituto de Pesquisas da Marinha”. ** Chefe do Departamento de Administração do Instituto de Pesquisa da Marinha (IPqM). Mestre em Ciências Contábeis. Pós-Graduação em Gerência Financeira e Marketing. *** Mestre em Ciências Contábeis. ARTEFATOS CONTÁBEIS UTILIZADOS PELO INSTITUTO DE PESQUISAS DA MARINHA

INTRODUÇÃO feiçoamento da gerência na administração pública, na busca incessante pela sua exce- s restrições orçamentárias e o contingen- lência, mais especificamente no âmbito das Aciamento são fatores que têm afetado de Forças Armadas, que têm sofrido historica- maneira sistemática, nos últimos anos, os ór- mente com cortes orçamentários. gãos componentes da Administração Pública Aliado a esse fato, ressalta-se que um Federal no Brasil. Por outro lado, o cidadão dos autores deste trabalho é atualmente brasileiro, mais consciente de seus direitos, chefe do acesso aos dados necessários para passou a exigir cada vez mais a prestação de a elaboração deste trabalho. um serviço público de qualidade. Vale colocar que os estudos sobre con- Não obstante tais fatos serem comuns a trole gerencial têm se mostrado importan- diversos órgãos públicos, seus agentes rea- tes, pois possibilitam mensurar o quão pró- gem a essas situações de maneiras diferentes. ximas estão as organizações do estado da Enquanto alguns aparecem mais conformados arte nesta matéria, assim como demonstrar com o status quo, outros acreditam que podem a preocupação dos gestores com a melhoria buscar soluções para os problemas por meio do desempenho da entidade. da realização de ações estratégicas, que, se não Objetivos e problema resolvem totalmente as Artefatos de contabilidade de pesquisa questões, pelo menos permitem uma visão mitigam seus efeitos. estratégica, contribuindo Tem sido observado Dentro desse segun- nos últimos anos que, do grupo de agentes pa- sobremaneira para o dentro dos quadros de rece estar a Alta Admi- processo de tomada de pessoal das Forças Ar- nistração do Instituto de madas, vários militares Pesquisas da Marinha decisão da organização têm se especializado na (IPqM), Organização área de controle de ges- Militar (OM) da Marinha do Brasil (MB) tão, produzindo diversos trabalhos sobre o da área de Ciência e Tecnologia (C&T) que assunto e propondo novas técnicas a serem desenvolve novas tecnologias para a Força e implantadas em suas OM. que tem se empenhado em buscar instrumen- Especificamente na Marinha do Brasil, tos utilizados dentro da esfera da Marinha, no existe essa percepção, tendo sido introduzi- âmbito do setor público brasileiro, assim como dos de forma sistemática e normatizada, com no mundo corporativo, para colocar em prática o passar do tempo, diversos instrumentos de em seu controle da gestão. controle gerencial em suas organizações. Tais instrumentos, hoje também deno- Contudo, percebe-se ainda, ao se defron- minados de artefatos de contabilidade por tar a literatura acadêmica sobre este tema alguns autores, permitem uma visão estraté- e o que efetivamente tem sido implantado, gica, contribuindo sobremaneira para o pro- que há espaço para a introdução de novas cesso de tomada de decisão da organização. técnicas que possibilitem ganhos organiza- cionais no âmbito da Marinha. Justificativa Assim, surge o problema a ser pesquisa- do: quais instrumentos de controle gerencial A justificativa para elaboração deste existentes hoje na literatura acadêmica sobre trabalho é a necessidade constante de aper- o assunto estão sendo utilizados no IPqM?

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A fim de responder ao problema formu- gráfica, pesquisa documental, levantamento lado, foi traçado o objetivo intermediário, e estudo de caso. que auxilia o alcance do objetivo principal: Cabe ressaltar que Gil (2009) descreve que – revisar a literatura acadêmica sobre a pesquisa bibliográfica é aquela elaborada controle gerencial no meio corporativo, assim a partir de material já publicado, constituído como no setor público nacional, incluindo-se principalmente de livros, artigos de periódicos neste último a própria Marinha do Brasil. e, atualmente, material disponibilizado na Atingido esse objetivo, pode-se chegar internet, enquanto a pesquisa documental é ao objetivo principal: elaborada a partir de materiais que não recebe- – descrever e analisar os artefatos de ram tratamento analítico. Segundo esse mesmo contabilidade que estão sendo utilizados autor, o levantamento envolve a interrogação pela unidade de análise em foco. direta das pessoas cujo comportamento se de- seja conhecer, em tempo que o estudo de caso Estrutura do texto envolve o estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos de maneira que se permita O presente texto está dividido em sete o seu amplo e detalhado conhecimento. capítulos. Neste primeiro foram identifica- dos o problema proposto, os objetivos e a Seleção da unidade de análise justificativa da pesquisa. O segundo capítulo versará sobre a metodo- A unidade de análise escolhida foi o logia de pesquisa, tipo de pesquisa, a seleção da Instituto de Pesquisas da Marinha, tendo unidade de análise, a forma de coleta de dados em vista que um dos autores faz parte do e o seu tratamento. Serão, ainda, delineadas as quadro de pessoal do IPqM, tendo conhe- limitações do método escolhido. cimento da sua estrutura organizacional, O capítulo 3 procurará revisar a literatu- suas normas internas, seus relacionamentos ra acadêmica sobre o tema aqui abordado, com outros órgãos, suas características etc. enquanto o quarto capítulo caracterizará a unidade de análise. Coleta e tratamento de dados O capítulo 5 descreverá os instrumentos de controle gerencial existentes no IPqM, A coleta de dados foi iniciada com leitu- enquanto o sexto trará a análise dos resul- ra de bibliografia alusiva ao tema em foco, tados e o sétimo as considerações finais. a fim de montar a fundamentação teórica do assunto. Em seguida, foi realizada pesquisa METODOLOGIA documental e observação não participante na unidade de análise, com intuito de co- Neste capítulo será tratada a metodolo- nhecer seu organograma, norma regimen- gia, o tipo de pesquisa, seleção da unidade tal, ordens internas etc. de análise e, ainda, a forma de coleta de Posteriormente, foi realizada entrevista dados e o seu tratamento. Serão definidas semiestruturada com o assessor de Gestão também as limitações do método escolhido. Integrada e Planejamento Estratégico do IPqM, servidor civil efetivo da OM, que é Método de pesquisa responsável pelo gerenciamento dos dados alusivos aos controles existentes, e com o Quanto aos procedimentos técnicos chefe do Departamento de Administração, adotados, o estudo utilizou pesquisa biblio- oficial superior também lotado no Instituto.

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Quanto à entrevista, Cervo, Bervian e Para Busco (2009), a contabilidade Silva (2007) descrevem como uma forma gerencial proporciona aos gestores uma de recolher, por meio do interrogatório do maneira de compreender as atividades de informante, dados para a pesquisa. sua organização, possibilitando que eles se comuniquem de forma significativa sobre Delimitações no estudo tais atividades. Segundo Atkinson (2008), a contabi- O estudo foi realizado em apenas uma lidade gerencial se constitui no processo organização, sendo as considerações feitas de identificar, medir, relatar e analisar as ao final do trabalho pertinentes apenas informações sobre os eventos econômicos à unidade de análise, não podendo ser da organização, servindo como uma das generalizado, uma vez que se refere a um principais fontes de tomada de decisão e universo restrito e provavelmente possa não controle nas organizações. representar o ocorrido em demais órgãos Anthony e Govindarajan (2011) acre- militares e da Administração Pública. ditam que o controle visa assegurar que as estratégias adotadas pela entidade sejam REFERENCIAL TEÓRICO fielmente cumpridas, de forma que os objetivos da organização sejam totalmente A Contabilidade Gerencial e os Sistemas alcançados. de Controle Gerencial (SCG) Para Mahama (2006), esse controle gerencial agrega todos os arranjos orga- Em 1998, o Institute of Management Ac- nizacionais e as ações definidas com fim countants (IMA) conceituou a contabilidade de facilitar o atingimento das metas de gerencial como um processo de identificar, desempenho, reduzindo-se o impacto de mensurar, acumular, analisar, preparar, in- ações inesperadas. terpretar e comunicar as informações usadas Os SCG, na visão de A. Davila, Foster pela gerência para planejar, avaliar e controlar e Li (2009), compõem-se de controles uma organização e assegurar o uso apropriado formais, informação de rotinas e proce- e a responsabilização pelos recursos. dimentos utilizados pelos gestores a fim Ittner e Larcker (2001) descrevem que de manter ou modificar os padrões das o IMA elaborou estudo em que descreve atividades organizacionais. a evolução da contabilidade gerencial Merchant e Van der Stede (2007) afir- durante o tempo, passando por quatro es- mam que o SCG possui dois empregos tágios: até 1950 – foco no orçamento e em básicos, sendo um o controle estratégico, custos; entre 1950 e 1965 – atenção para focando o ambiente externo à organização, planejamento e controle, usando técnicas e outro o controle gerencial, com enfoque de decisão; de 1965 a 1985 – ênfase na interno relacionado a influenciar os cola- redução de desperdícios, usando técnicas de boradores a seguir as metas da entidade. análise de processos e controle de custos; Em 2006, Soutes apresenta uma pesqui- a partir de 1985 – foco na utilização dos sa sugerindo a segregação das ferramentas recursos e tecnologias para criar valor. de contabilidade que tratam do controle ge- Após este estudo, o IMA estabelece uma rencial, de acordo com os estágios propos- nova definição para o tema, afirmando que a tos pelo IMA, considerando como artefatos contabilidade gerencial se refere ao produto tradicionais as ferramentas utilizadas em de evolução através desses citados estágios. primeiro e segundo estágios e ferramentas

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modernas os artefatos usados nos outros nômica), EVA (Economic Value Added), dois estágios, conforme descrito a seguir: Simulação, Balanced Scorecard (BSC) e Artefatos tradicionais: Custeio por Ab- Gestão Baseada em Valor (VBM). sorção, Custeio Variável, Custeio Padrão, A fim de esclarecer a origem do conceito Preço de Transferência, Retorno sobre o de artefatos de contabilidade, coloca-se a Investimento, Moeda Constante, Valor visão de Soutes (2006) e Guerreiro (2007), Presente, Orçamento e Descentralização. que consideram que tais artefatos incluem Artefatos modernos: Custeio Basea- as atividades, as ferramentas, os instrumen- do em Atividades (ABC), Custeio Meta tos, os modelos de gestão e os sistemas uti- (Target Costing), Benchmarking, Kaizen, lizados por profissionais da contabilidade Just in time (JIT), Teoria das Restrições, gerencial para exercer a função adminis- Planejamento Estratégico, Gestão Baseada trativa e de controle no desenvolvimento em Atividades (ABM), Gecon (Gestão Eco- de suas funções.

Conceitos dos artefatos de contabilidade

Artefatos tradicionais

Artefatos Autores Conceitos Consiste na apropriação de todos os custos de produção aos bens ela- Custeio por Martins (2010) borados, e só os de produção; todos os gastos relativos ao esforço de absorção produção são distribuídos para todos os produtos ou serviços feitos. Método de custeio de estoque em que todos os custos de fabricação Horngren et al. variáveis são considerados custos inventariáveis. Todos os custos de fa- Custeio variável (2000) bricação fixos são excluídos dos custos inventariáveis, sendo os mesmos custos do período em que ocorreram. Método em que se calcula o custo de uma unidade e atribui-se, dessa forma, o custo para as demais, a priori e em seguida; após produzido o Custeio padrão Slomski (2008) lote, apura-se o custo real incorrido para, dessa forma, apurar eventuais diferenças de preços, de volumes, de tempo etc. Valor cobrado por uma empresa na venda ou transferência de bens, servi- ços ou propriedade intangível, à empresa que com ela se relaciona. Tendo Preço de Schoueri em vista não terem sido negociados em mercado livre, tais preços podem transferência (PT) (2006) se desviar daqueles que teriam sido acertados entre parceiros comerciais não relacionados, em transações comparáveis com circunstâncias iguais. Retorno dos recursos aplicados pelos acionistas e credores do negócio, Retorno sobre o Assaf Neto que é medido pela divisão entre o Lucro Operacional Líquido e o In- investimento (2009) vestimento. Método que consiste em proporcionar integridade ao denominador comum monetário, em termos de essência econômica, propondo-se a Moeda constante Martins (2001) prestar informações mais comparáveis, já que utiliza uma moeda de poder aquisitivo constante. Medida de quanto valor é criado ou adicionado hoje por realizar um Valor presente Ross (2002) investimento. Blumentritt Processo de alocação de recursos financeiros de uma organização, de Orçamento (2006) suas unidades, suas atividades e seus investimentos. Gomes e É a delegação de autoridade e responsabilidade aos gerentes de escalões Descentralização Mandim (2005) inferiores da entidade no que concerne à tomada de decisão.

RMB3oT/2015 155 ARTEFATOS CONTÁBEIS UTILIZADOS PELO INSTITUTO DE PESQUISAS DA MARINHA

Artefatos modernos

Artefatos Autores Conceitos Custeio Baseado Método de custeio que objetiva proporcionar um tratamento nos custos em Atividades Berti (2006) indiretos, tomando como base as atividades da empresa, independente (ABC) de sua relação com o volume. Processo de planejamento de lucros, preços e custos que parte do preço Custeio Meta Martins (2010) de venda para chegar ao custo, razão pela qual diz-se que é custo definido (target costing) de fora para dentro. Processo de aprendizado com os outros, possibilitando assim o estudo Benchmarking Garvin (2001) dos processos do modo como são realizados. Laraia et al. Processo que objetiva produzir desempenho superior no curto prazo, em Kaizen (2009) áreas precisamente definidas. Filosofia de gestão empresarial baseada na eliminação total dos estoques Just in time Assaf Neto e e produção puxada pela demanda. A empresa começa a produção somente (JIT) Silva (2007) quando o produto estiver demandado pelo cliente. Teoria das Antunes et al. Conjunto de ferramentas que permitem identificar, analisar e propor Restrições (2004) soluções para os problemas organizacionais. Técnica administrativa que, por meio da análise do ambiente de uma entidade, gera a compreensão das suas oportunidades e ameaças e seus Planejamento Almeida (2010) pontos fortes e fracos no intuito do atingimento da sua missão e, por Estratégico meio desta consciência, estabelece o propósito do rumo que a organi- zação deverá seguir a fim de aproveitar oportunidades, evitando riscos. Gestão Baseada Processo que tem por objetivo atender às necessidades dos clientes, Atkinson et al. em Atividades deixando-os satisfeitos, ao mesmo tempo em que reduz a demanda por (2008) (ABM) recursos organizacionais. Modelo gerencial de administração por resultados econômicos, correta- Gecon (Gestão Santos (2005) mente mensurados, o qual incorpora um conjunto de conceitos integrados Econômica) dentro de uma visão holística e sistêmica, visando à eficácia empresarial. Young e EVA (Economic Método que mede a diferença, em termos monetários, entre o retorno O’Byrne Value Added) sobre o capital de uma empresa e o custo desse capital. (2003) Instrumento de planejamento, disponibilizado pela pesquisa operacional, que possibilita a criação de cenários, a partir dos quais pode-se orientar Simulação Silva (2002) o processo de tomada de decisão, proceder a análises, avaliar sistemas e propor soluções para a melhoria de performance. Sistema de gerenciamento e de avaliação que vê o desempenho do negó- Balanced Atkinson et al. cio sob quatro perspectivas: financeira, do cliente, do processo interno e Scorecard (BSC) (2008) da aprendizagem e conhecimento. Conjunto dos caminhos tomados pela administração de uma companhia, no rumo do crescimento do seu valor, da forma mais objetiva possível Gestão Baseada Costa et al. ao longo do tempo, em favor dos seus proprietários ou acionistas, sen- em Valor (VBM) (2011) do esse caminho constituído de estratégias, normas, ações e atitudes, visando alcançar seus objetivos estratégicos e, consequentemente, os resultados esperados.

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Outros instrumentos de controle a SGM-304, a OMPS-C é a OM que tem gerencial (artefatos) utilizados no setor como atividade principal a pesquisa e o público e especificamente na MB desenvolvimento de ciência e tecnologia, destacando-se: serviços prestados prove- Além dos artefatos mencionados, os nientes de suas pesquisas, fabricação e quais foram listados por Soutes (ver tabelas consequente comercialização dos produtos das páginas anteriores), observa-se que a por ela desenvolvidos, apoio técnico, ades- administração pública no País e até mesmo tramento e consultoria técnica em sua área a MB vêm se utilizando de outros instrumen- de atuação para a MB e, eventualmente, a tos, elaborados a partir de necessidades pró- clientes extra-Marinha. prias de gerenciamento de suas atividades. Na Sistemática OMPS, os custos são indi- cadores gerenciais que servem para apontar a) Sistemática OMPS disfunções ou avaliar atividades. Neste caso, a MB passou a adotar o emprego da conta- A Sistemática OMPS foi instituída em se- bilidade de custos, por meio da utilização do tembro de 1994, com o objetivo de implantar custeio por absorção nas suas organizações na Marinha do Brasil, em determinadas OM, industriais e prestadoras de serviços. Assim, uma mudança de cultura de gestão, baseada dentro da sistemática, o desempenho da na apuração e apropriação de custos. Não OMPS é analisado em função do resultado obstante, a intenção era também tornar essas de seus indicadores. Mensalmente, as OMPS OM flexíveis e adaptáveis, fazendo com que devem confrontar os valores reais de seus produzissem bens e serviços com qualidade, custos indiretos e de suas despesas adminis- ao menor custo possível, e fossem dirigidas trativas, apropriados em conformidade com ou comandadas por militares criativos e ar- os procedimentos previstos nas normas em rojados com autonomia suficiente para reagir vigor, com os respectivos valores orçados/ prontamente às necessidades impostas pela faturados para o período, a fim de verificar a atual conjuntura (SECRETARIA-GERAL correção dos índices e das taxas aplicados no DA MARINHA, 1999). seu faturamento para a recuperação dos cus- De acordo com a Norma da Marinha tos indiretos e das despesas administrativas denominada SGM-304, OMPS é a OM incorridos no período. que presta serviços a outras OM e, even- tualmente, a organizações extra-Marinha b) Programa Netuno numa das seguintes áreas: industrial, de pesquisa e desenvolvimento de ciência e O Programa Netuno foi elaborado com tecnologia, hospitalar, de abastecimento ou base no programa GesPública, estabelecido de serviços especiais, efetuando a cobrança no âmbito do Governo Federal pelo Decreto pelos serviços prestados, a partir dos custos no 5.378, de 23 de fevereiro de 2005. e das despesas incorridos. De acordo com a publicação EMA-134 O Sistema OMPS corresponde, portan- – Manual de Gestão Administrativa da to, a uma nova forma de gestão das OM Marinha, o Programa Netuno é um processo produtivas da MB criada visando avaliar administrativo que visa aprimorar a gestão os seus desempenhos e otimizar a aplicação das OM e, consequentemente, proporcionar de seus recursos da Marinha. à Marinha do Brasil as melhores condições O IPqM é uma OMPS de Ciência e para estar pronta e adequada à estatura Tecnologia (OMPS-C). Conforme descreve político-estratégica exigida pelo País.

RMB3oT/2015 157 ARTEFATOS CONTÁBEIS UTILIZADOS PELO INSTITUTO DE PESQUISAS DA MARINHA

O Programa tem a finalidade de con- nos assuntos relacionados à administração tribuir para a melhoria da qualidade dos geral e ao desenvolvimento organizacio- serviços e da administração organizacional, nal, em particular nas orientações para o orientando-se, basicamente, pelas seguin- desenvolvimento de atividades voltadas tes diretrizes: manter o adestramento da para o aprimoramento da gestão apoiadas tripulação das OM, com a otimização do pelo Programa Netuno. emprego do pessoal; aperfeiçoar a estrutura O Conselho de Gestão integra-se à es- administrativa para eficiência e eficácia trutura organizacional da OM como órgão das ações das OM; valorizar o elemento de assessoramento, sendo responsável pela humano, enfatizando o desenvolvimento promoção da qualidade de sua gestão, em e aperfeiçoamento de suas qualidades; e conformidade com os conceitos e funda- racionalizar custos. mentos disseminados por meio do progra- O Programa Netuno é centrado na di- ma de excelência gerencial da Marinha. nâmica de autoavaliação da gestão para O Conselho reúne-se de maneira or- identificação das necessidades de melhoria dinária, mensalmente, para examinar e nas OM, utilizando-se do instrumento do deliberar sobre prestações de contas, bem Governo Federal para avaliação da Gestão como as ações implementadas, e avaliar Pública adaptado à cultura da Marinha. os resultados obtidos com a execução das O Instrumento para Avaliação da práticas de gestão (Planos de Melhoria da Gestão Pública (IAGP) é um conjunto de Gestão – PMGes, Planejamento Estratégico orientações e critérios para avaliação da Organizacional – PEO e outros), assuntos gestão, que tem por referência o Modelo afetos à administração econômico-finan- de Excelência em Gestão Pública (MEGP) ceira e gerencial da OM, assim como sobre e os conceitos e fundamentos preconizados inspeções e auditorias ocorridas na mesma. pelo Programa GesPública. Também pode se reunir de maneira Tal instrumento é utilizado para ava- extraordinária para tratar de aspectos ge- liação das organizações que aderiram ao renciais pertinentes, que requeiram uma GesPública, que é o caso da Marinha, ação tempestiva por parte da OM e que não bem como para a avaliação dos Relatórios possam (ou não seja conveniente) aguardar de Gestão (RG) das organizações que se a realização da próxima reunião ordinária candidatam ao Prêmio Nacional da Gestão para a devida apreciação ou sempre que Pública. A partir do resultado dessas ava- houver transferência de responsabilidade de liações, é possível vislumbrar melhorias qualquer tipo de gestão financeira que impli- para o sistema de gestão da organização que uma prestação de contas extraordinária. avaliada de forma objetiva e consistente por meio de um Plano de Melhoria da d) Programa de Aplicação de Recursos Gestão (PMGes). (Orçamento Anual)

c) Conselho de Gestão De acordo com o contido na publicação SGM-301 – Normas sobre Administração De acordo com a publicação SGM-107 Financeira e Contabilidade, ao início de – Normas Gerais de Administração, inte- cada ano as OM devem elaborar um docu- grado à estrutura organizacional das OM, mento denominado Programa de Aplicação o Conselho de Gestão é o responsável pelo de Recursos (PAR), que objetiva orientar assessoramento ao comandante ou diretor e racionalizar a utilização dos recursos

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orçamentários ou extra-orçamentários que f) Projeto Esplanada Sustentável (PES) lhe forem alocados no respectivo exercício. Nesse documento, com base em necessida- O PES é uma iniciativa conjunta dos des previamente levantadas, o Comando Ministérios do Planejamento, Orçamento deve estabelecer diretrizes e prioridades e Gestão (MPOG); do Meio Ambiente para assegurar a utilização eficiente e eficaz (MMA); de Minas e Energia (MME); dos recursos disponíveis durante o ano. e da Secretaria-Geral da Presidência da Trata-se de um documento que, ao longo República, que tem por objetivo principal do ano, está sujeito a ajustes periódicos, incentivar órgãos e instituições públicas em razão de fatos supervenientes, como federais a adotarem modelo de gestão or- necessidades inopinadas e inadiáveis ou ganizacional e de processos estruturados suplementação de crédito, aumento ou na implementação de ações voltadas ao uso redução das receitas etc. racional de recursos naturais, promovendo a sustentabilidade ambiental e socioeconô- e) Relatório de Gestão (RG) mica na Administração Pública Federal. Essa metodologia consiste em uma A Instrução Normativa 63/2010 do Tri- ferramenta gerencial na qual há uma fase bunal de Contas da União (TCU) definiu o inicial de coleta de informações sobre as RG como sendo documentos, informações despesas, para em seguida essas despesas e demonstrativos de natureza contábil, serem analisadas, de modo a definir um financeira, orçamentária, operacional ou potencial de economia e a identificação patrimonial, organizado para permitir a visão de ações que poderão promover redução sistêmica do desempenho e da conformidade efetiva de gastos. da gestão dos responsáveis pelas unidades O PES, instituído pela Portaria Intermi- jurisdicionadas num exercício financeiro. nisterial (MPOG, MMA, MME e MDS) no Como se percebe, esse Relatório se 244/2012 e coordenado pelo MPOG, por constitui num avanço do ponto de vista da meio da Secretaria de Orçamento Federal gestão pública, pois o TCU passa a não so- (SOF/MP), tem como principais objetivos: mente verificar a questão da conformidade, promover a sustentabilidade na Administra- ou seja, da legalidade dos atos praticados ção Pública Federal; melhorar a qualidade pelos agentes públicos, mas também passa do gasto público; incentivar a implantação a mensurar o desempenho da organização. de ações de eficiência energética; estimular Anualmente, por meio de Decisão Nor- ações para o consumo racional dos recursos mativa, o TCU disciplina a forma e o con- naturais e bens públicos; garantir a gestão teúdo do referido Relatório. No que tange integrada de resíduos pós-consumo; me- especificamente à avaliação da gestão, por lhorar a qualidade de vida no trabalho; e meio do RG se divulga o planejamento e reconhecer e premiar as melhores práticas os resultados alcançados, estrutura de go- de eficiência na utilização dos recursos vernança e autocontrole da gestão, gestão públicos. de pessoas, terceirização de mão de obra e custos relacionados, gestão do patrimônio CARACTERIZAÇÃO DA imobiliário e mobiliário, gestão da tecno- ORGANIZAÇÃO logia da informação e do conhecimento, gestão do uso dos recursos renováveis e O vertiginoso avanço tecnológico expe- sustentáveis e sustentabilidade ambiental. rimentado pelo material de emprego mili-

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tar, ocorrido durante e logo após a Segunda Atualmente, subordinado à Secretaria Guerra Mundial, levou a MB, motivada de Ciência, Tecnologia e Inovação da pelo anseio de dotar-se de equipamentos Marinha, o IPqM trabalha, em parceria mais modernos, a sentir a necessidade de com universidades, empresas e centros de acompanhar, de forma autóctone, o vibran- pesquisas civis e militares, nas atividades te desenvolvimento tecnológico iniciado de pesquisa científica e desenvolvimento naquela época. tecnológico nas áreas de: Armamento, Em outubro de 1953, a ideia de criação Guerra Eletrônica, Acústica Submarina, de um laboratório de pesquisas científicas Controle e Monitoração, Materiais e Nave- e tecnológicas para a MB foi formalmente gação Inercial. Tendo como lema “Nossa levada, pela primeira vez, à consideração meta é desenvolver tecnologias necessárias da Alta Administração Naval, pelo ofício à Marinha” e focado no cumprimento da do diretor-geral de Eletrônica da Marinha sua missão, o IPqM continua desenvol- ao ministro da Marinha. Após vários estu- vendo material de defesa e contribuindo dos, no dia 27 de dezembro de 1955, por também para o desenvolvimento científico, determinação do ministro da Marinha, era tecnológico e econômico do Brasil. lançada a pedra fundamental do futuro O IPqM é considerado uma OMPS. laboratório de pesquisas tecnológicas da Portanto, atua cobrando de seus clientes MB. Estava plantada a semente do que viria pelos serviços que lhes são prestados. O a ser o IPqM. valor cobrado é proporcional aos custos e Em 14 de julho de 1959, era criado o às despesas incorridas, que são apurados IPqM, pelo Decreto do Poder Executivo com base em metodologia disposta na no 46.426, com pesquisas concentradas Norma SGM-304. nas seguintes áreas: armamento, biologia marinha, bioquímica, oceanografia física, CONTROLE GERENCIAL NO IPqM eletrônica, química e acústica submarina. Na década de 70, o Instituto, paralela- Pode-se afirmar que o controle gerencial mente às pesquisas relacionadas ao material do IPqM seja constituído por diversos ins- de emprego militar, intensificou sua atu- trumentos que propiciam a existência de um ação nas áreas de biologia marinha (Pro- ambiente favorável a uma administração jeto Cabo Frio), energia solar, biomassa, focada no controle da ação planejada. alimentação e saúde, todas elas de grande O IPqM busca, inicialmente, de forma alcance social, levando-se em consideração sistemática o alto desempenho na conse- as carências do País naquela época. cução de suas tarefas pela promoção da Em 26 de abril de 1984, foi criado o Ins- cultura de rastrear novos conhecimentos tituto Nacional de Estudos do Mar (Inem), que melhorem a qualidade do serviço pres- atual Instituto de Estudos do Mar Almirante tado pela organização, baseada no seu lema Paulo Moreira (IEAPM), que assumiu a de desenvolver tecnologias necessárias à responsabilidade de conduzir os trabalhos Marinha. Desta forma, pode-se perceber relativos à biologia marinha (Projeto Cabo que a procura por novos conhecimentos Frio), até então desenvolvidos no IPqM. pode ser apontada como uma das pedras A partir de então, o IPqM passou a fundamentais da cultura organizacional. priorizar esforços em projetos atinentes a O IPqM vem realizando desde a sua material de emprego militar, com possibi- criação, em 1959, atividades de Pesquisa lidade de emprego dual. Científica, Desenvolvimento Tecnológico

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e Prestação de Serviços Tecnológicos em e de administração financeira, material e áreas de interesse da Marinha do Brasil, de pessoal e a de ordenação de despesas. que resultaram em materiais, componentes, equipamentos e sistemas que contribuíram c) Planejamento Estratégico para a diminuição da dependência tecno- lógica do nosso país. Para o atingimento Uma das práticas que vêm obtendo de suas metas, a OM tem participado dos melhores resultados nesse sentido é a me- diversos processos e tendências referentes todologia do Planejamento Estratégico, a às inovações na gestão, sempre observando qual é amplamente utilizada por diversas os preceitos estabelecidos pela Alta Admi- organizações públicas, privadas, com ou nistração da Marinha do Brasil. sem fim lucrativo, o qual tem sido difun- Contudo, não obstante os esforços an- dido no âmbito da Administração Pública teriores, os quais sem dúvida produziram por meio do Programa Nacional de Gestão resultados satisfatórios, observou-se que, Pública e Desburocratização (Gespública) para que tais melhorias se tornassem efe- e, no âmbito da Marinha do Brasil, pelo tivas e para que permanecessem por meio Programa Netuno, que é uma customiza- das constantes trocas ocorridas através do ção do Gespública, tendo por propósito tempo de seus agentes públicos responsá- fortalecer e capacitar as OM para o futuro, veis pelo desenvolvimento das atividades por meio da uma ferramenta de gestão que internas, verificou-se a necessidade de permita diagnosticar o estágio de desenvol- sistematização das práticas nesse sentido vimento gerencial e planejar ações visando adotadas pela OM, evitando-se que as a melhoria contínua. diversas conquistas fossem transformadas Com tal metodologia, voltam a ser em saudosos registros históricos. utilizadas antigas ferramentas de gestão e Assim, o Instituto passou a adotar são ainda apresentadas novas, focadas no diversos artefatos que contribuem para a diagnóstico da organização, na melhoria eficácia de seu controle gerencial, listados constante dos processos e, principalmente, a seguir. no registro, no planejamento e na sistema- tização dos diversos passos necessários à a) Orçamento contínua evolução, sem deixar de lado a valorização do elemento humano. O IPqM traduz seu plano de alocação Nesse contexto, e envidando esforços de recursos financeiros pelos seus diversos nas ações de melhoria, a administração do setores por meio do PAR, que é preparado Instituto de Pesquisas desenvolveu várias no final do exercício financeiro do ano ações ao longo dos últimos anos, entre as anterior, a fim de que se possa planejar as quais pode-se destacar: aquisições para o ano seguinte. – implantação de reuniões em que toda a tripulação tome conhecimento de infor- b) Descentralização mações de relevância a respeito de seu Departamento/Grupo, como, por exemplo, No que tange a este aspecto, a Direção treinamentos e exercícios realizados e pro- da OM se utiliza de Portarias para delegar gramados, emprego dos recursos recebidos competência de determinados assuntos, tais pela OM ao longo do exercício financeiro como a assinatura de documentos admi- e situação de operacionalidade dos equipa- nistrativos alusivos às atividades de apoio mentos da OM, entre várias outras;

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– mapeamento dos principais processos execução das oportunidades de melhoria finalísticos e de apoio; vislumbradas naquele período. – otimização dos parâmetros eficácia, efi- ciência e efetividade das atividades da OM; d) OMPS – publicação de um link na página da OM na Intranet, com a disponibilização, O IPqM é uma OMPS da MB, integrante dentre outros, dos seguintes documentos: do Sistema de Ciência e Tecnologia da Regulamento e Regimento Interno da Ins- Marinha, sendo classificado como uma tituição, Planejamento Estratégico, Progra- OMPS-C. Sua gerência é dividida em três ma de Aplicação de Recursos e resultados níveis. O primeiro nível é o estratégico, da Pesquisa de Clima Organizacional; composto por diretor, vice-diretor, gabi- – realização de palestras e treinamentos nete da direção (formado por um oficial internos para a capacitação de maior núme- assistente, uma assessoria de comunicação ro de membros da tripulação; social e uma assessoria de relações institu- – indicação para cursos, palestras e cionais), assessores da direção, chefes dos adestramentos externos; departamentos (de pesquisa e desenvolvi- – criação do serviço de Ouvidoria com mento, de administração e de intendência) o propósito de ser um canal aberto para o e conselhos (de gestão e técnico-científico). recebimento de críticas e sugestões dos O segundo nível é o tático, composto pelos clientes internos da OM; encarregados de grupo (auxiliares dos che- – medição do nível de satisfação dos fes de departamento). O terceiro nível é o clientes externos relacionados com os operacional, composto pelos encarregados serviços que são prestados pelo IPqM; e de divisão (auxiliares dos chefes de grupo). – colocação de caixas de sugestões pelos O desempenho da OMPS-C é avaliado diversos refeitórios da OM. de acordo com o resultado de indicadores econômico-financeiros, cujos principais Além de todas estas ações, o Instituto são: Faturamento Bruto, Resultado Ope- possui um Plano de Melhoria de Gestão racional/(Custos + Despesas Administra- como Ações de Melhoria, que é revisto tivas), Resultado Líquido/(Faturamento sistematicamente. O intuito é visualizar – Descontos), Perdas/Custos e Despesas áreas em que existam oportunidades de Administrativas/Custos. melhorar a qualidade dos serviços pres- tados, seja no âmbito interno, seja no e) Conselho de Gestão (CG) âmbito externo. O Plano de Melhoria baseia-se na análi- Dentro da estrutura organizacional do se de possibilidades de melhoria em relação IPqM, cabe destacar, no que tange ao as- a determinadas áreas, descritas a seguir: pecto de gestão, a existência de um CG, Liderança; Formulação e Implementação instituído por meio do Regulamento da OM de Estratégias; Imagem e Relacionamento; e disciplinado por um documento denomi- Responsabilidades; Gestão do Conhe- nado Ordem Interna, que discute e delibera cimento e Informações Comparativas; mensalmente assuntos ligados à gerência dos Processos Orçamentários, Financeiros, recursos humanos, materiais e financeiros Finalísticos e de Apoio. da OM. Neste fórum, onde alta e média Mensalmente, por ocasião do Conselho gerências são reunidas, é realizada uma de Gestão, é avaliado o andamento da explanação por um militar ou servidor civil,

162 RMB3oT/2015 ARTEFATOS CONTÁBEIS UTILIZADOS PELO INSTITUTO DE PESQUISAS DA MARINHA

designado anteriormente, sobre cada conta coordenar, junto aos gerentes de projetos, de gestão da OM, assim como é discutida a gestores e Setor de Apoio à Gestão, os pro- aplicação para o mês seguinte do uso dos re- cessos de aquisições e a gestão financeira cursos orçamentários e extra-orçamentários inerente aos projetos; e coordenar, por meio disponíveis no Instituto. de reuniões periódicas, o gerenciamento O CG também é o fórum onde são apre- do escopo, custo, cronograma, recursos ciados os resultados dos indicadores de de- humanos, riscos e qualidade dos projetos. sempenho constantes no Plano Estratégico O EP acompanha todas as atividades Organizacional. desenvolvidas nessa área de projetos, por meio da utilização de um programa infor- f) Conselho Técnico-Científico (CTC) matizado denominado Sapa. Os gerentes de cada projeto lançam todas as informações O CTC, instituído por meio do Regu- pertinentes aos mesmos nesse sistema, lamento da OM e disciplinado por um possibilitando o acompanhamento e inter- documento denominado Ordem Interna, venções pontuais do EP, caso sejam neces- tem por finalidade assessorar o diretor na sárias, a fim de controlar cada atividade que condução das atividades de pesquisa, de- está sendo desenvolvida. senvolvimento e inovação afetas ao IPqM e na orientação dos assuntos administrativos h) Sistema de Controle da Gestão que, por sua influência na infraestrutura de Ambiental Ciência, Tecnologia e Inovação, requeiram tratamento pelo próprio Conselho. O IPqM possui uma sistemática dis- Dentre as diversas atribuições do CTC, ciplinada em uma norma interna (Ordem cabe destacar, no que tange ao controle Interna) que trata da questão da Gestão gerencial, a análise dos resultados obtidos, Ambiental. Para isso, o citado documen- tanto no aspecto físico como no aspecto to descreve como ocorre a execução de financeiro, para os projetos de CT&I em práticas alusivas a um Sistema de Gestão execução (com recursos orçamentários ou Ambiental Simplificado, estabelecendo extra-MB), propondo orientações para sanar metas e compromissos com o desempe- eventuais óbices encontrados e propor ações nho ambiental, por meio da realização de para o atendimento das metas relativas à determinadas ações. Dentre estas, merece CT&I fixadas anualmente para o IPqM. destaque a Coleta Seletiva de Lixo, proce- dimento que também está regulamentado g) Escritório de Projetos (EP) internamente por meio de um documento (Ordem Interna). O EP, instituído por meio do Regu- Cabe ainda salientar que a MB possui lamento da OM e disciplinado por um também normas específicas para gerenciar documento denominado Ordem Interna, os procedimentos de implantação e acompa- foi instituído a fim de assessorar a Direção nhamento dos Sistemas de Gestão Ambien- nos assuntos afetos ao Planejamento e Con- tal de suas OM, onde está incluído o IPqM. trole de Projetos, tendo em vista o grande número de projetos existentes. i) Relatório de Gestão As atribuições principais do EP são: co- ordenar as ações dos gerentes de projetos; O Relatório de Gestão (RG) da OM é realizar o planejamento inicial do Projeto; elaborado e enviado anualmente ao Cen-

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tro de Controle Interno da Marinha, OM Neste sentido, apesar de não ser elenca- responsável por consolidar os RG desta da como artefato de contabilidade, pode-se Força que são transmitidos ao Tribunal de incluir a atividade desenvolvida pelo EP da Contas da União. OM neste contexto. O EP é um instrumento que tem a responsabilidade de manter toda j) Projeto Esplanada Sustentável (PES) a propriedade intelectual relativa à gestão de projetos e de ativamente sustentar o Outro instrumento de controle gerencial planejamento estratégico (KERZNER, utilizado pela OM é o PES, o qual é disci- 2006). No IPqM, assessora a Direção no plinado no âmbito da Marinha pelo Estado- planejamento e controle de projetos, sendo Maior da Armada, que estabelece as dire- considerada mais uma ferramenta de apoio trizes para cumprimento das demais OM. à gestão. A Direção do IPqM, por meio de Porta- Também foi verificado que a OM usa ria Interna, designa militares e servidores mecanismos próprios da administração civis para compor um grupo que gerencia pública para controlar a gestão, assim e realiza, mensalmente, medições de ativi- como utiliza sistemáticas desenvolvidas dades que monitoram o consumo de água, dentro da MB, que proporcionam aumento energia elétrica, serviços de telecomunica- do nível de controle das principais ativi- ções e processamento de dados, material dades executadas. Estes são a Sistemática de consumo, serviços de manutenção e OMPS, o Conselho de Gestão, o Conselho limpeza de instalações, dentre outros. Tais Técnico-Científico, o Sistema de Controle informações são inseridas no Sispes, que é da Gestão Ambiental, o Relatório de Gestão o sistema informatizado do Ministério do e o Programa Esplanada Sustentável. Planejamento, Orçamento e Gestão que Nota-se que a quantidade de instru- funciona como um banco de dados sobre mentos de controle gerencial próprios da o assunto. administração pública e da MB utilizada Essas medições são apreciadas no Con- pelo Instituto é bem maior, o que vem de selho de Gestão da OM, que delibera quais encontro à visão de Hofstede (1981) sobre ações devem ser tomadas para o gerencia- o assunto quando tal pesquisador salienta mento das atividades, a fim de implantar que os sistemas de controle gerencial de melhorias e redução de custos. entidades de órgãos públicos devem ser específicos para tal setor, procurando-se ANÁLISE DE RESULTADOS evitar somente a adoção das abordagens tradicionais, uma vez terem sido desen- Pode-se observar que o IPqM tem uti- volvidas para organizações que visam ao lizado instrumentos de controle gerencial lucro, podendo não serem aplicáveis com amplamente difundidos no universo cor- sucesso na área pública. porativo. Dentre os artefatos tradicionais, foi verificado que a OM utiliza o Custeio CONSIDERAÇÕES FINAIS por Absorção (metodologia OMPS), Orça- mento e a Descentralização, enquanto dos O objetivo principal do presente artigo artefatos modernos observou-se a utilização foi o de verificar quais artefatos de con- do Planejamento Estratégico. Isto indica tabilidade têm sido utilizados pelo IPqM, que o Instituto conhece e aplica alguns dos podendo-se assim observar como é realiza- conceitos de controle da gestão corporativa. do o controle gerencial da OM.

164 RMB3oT/2015 ARTEFATOS CONTÁBEIS UTILIZADOS PELO INSTITUTO DE PESQUISAS DA MARINHA

Para tanto, procurou-se primeiramente o órgãos da administração pública nacional, embasamento teórico necessário ao correto sendo estes últimos numa quantidade bem entendimento do assunto ora em pauta, superior aos primeiros, o que já era indi- assim como o levantamento e a análise cado pela literatura acadêmica que estuda dos instrumentos de controle gerencial o tema. utilizados pela IPqM. Foi também possível observar que ainda Os resultados encontrados propiciaram há espaço para a introdução de outros arte- atingir o objetivo principal da pesquisa, fatos a fim de melhorar o controle gerencial observando-se como o Instituto utiliza os do IPqM. Para tanto, sugere-se a realização diversos artefatos de contabilidade. Foi ve- de um trabalho específico para tal, que rificado que a OM usa tanto aqueles usados pode utilizar, inclusive, todo arcabouço no mundo corporativo como os próprios de desta pesquisa.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Administração pública; Contabilidade; Instituto de Pesquisas da Marinha;

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166 RMB3oT/2015 NOVAS PERSPECTIVAS NA SELEÇÃO DE PILOTOS MILITARES*

SIMONE AVELLAR MONTES FERREIRA** Capitão-Tenente

seleção de pilotos, especialmente os se diretamente na estratégia de recursos Amilitares, sempre foi um grande objeto humanos das instituições, tendo em vista de estudo da Psicologia. Há registros de que que, além de dispendioso, um piloto não em 1943 a Força Aérea americana já aplica- se forma do dia para a noite, mas sim no va uma bateria de 20 testes nos cadetes de decorrer de um longo período. aviação visando medir aptidões tais como Com o intuito de diminuir as perdas na raciocínio matemático, relações espaciais, instrução aérea e, consequentemente, os coordenação psicomotora, entre outras. Desta custos envolvidos na formação do piloto forma, esperava-se reduzir o alto número de militar brasileiro, a Força Aérea Brasileira baixas que aconteciam em combate. (FAB) adquiriu, em 2004, o Pilot Aptitude Os investimentos em pesquisas e no de- Test (Pilapt), instrumento de seleção de- senvolvimento de testes que possam avaliar senvolvido pela Real Força Aérea inglesa as características necessárias em um piloto e que no Brasil foi denominado Teste de se justificam desde aquela época, tendo em Aptidão para Pilotagem Militar (Tapmil). vista o grande custo que envolve a sua for- O teste também é usado em outras Forças mação. No caso das Forças Armadas, além Aéreas, tanto da Organização do Tratado do alto custo, uma alta taxa de reprovação do Atlântico Norte (Otan), como da Ásia e nos cursos de formação de pilotos reflete- da América do Sul.

* Materia publicada na Revista da Aviação Naval, no 75, 2014. ** Serve no 1o Esquadrão de Helicópteros Anti-Submarino. Possue o Curso Especial de Psicologia de Aviação para Oficiais. NOVAS PERSPECTIVAS NA SELEÇÃO DE PILOTOS MILITARES

O Tapmil é uma bateria de seis testes que quanto maior o resultado no Tapmil, que simula uma situação em que a perfor- maiores são as chances de o indivíduo obter mance requerida para realizar a tarefa é sucesso na instrução aérea. Uma vez que similar à requerida em uma situação real indivíduos com notas maiores no Tapmil de voo, visando mensurar habilidades psi- tendem a ter um desempenho superior, comotoras, cognitivas e tarefas múltiplas consequentemente necessitam menos horas (psicomotoras e cognitivas combinadas). de voo para aprender. A escolha destes, Entende-se por habilidades cognitivas portanto, pode gerar uma economia nas os processos cerebrais que tornam possível horas de voo gastas com instrução. o pensamento, a aprendizagem e a memó- Cabe ressaltar que este teste, como os ria, entre outros. A habilidade cognitiva outros testes de seleção para pilotos, não permite o gerenciamento de informações, avalia a personalidade, o estado emocional argumentação, resolução de problemas, ou a motivação dos militares, fatores que capacidade de comunicação etc. Por outro comprovadamente influenciam o sucesso lado, a habilidade psicomotora diz respei- durante o curso. Tais aspectos são avaliados to aos movimentos durante a seleção pelo coordenados do ser Instituto de Psicologia humano, tais como Estudos realizados na da Aeronáutica (IPA) velocidade de reação e, no caso da Mari- e deslocamento, co- AFA demonstraram que nha, pelo Serviço de ordenação motora, quanto maior o resultado Seleção do Pessoal da percepção espacial, no Tapmil, maiores são as Marinha (SSPM). agilidade etc. Apesar de ser um Por se tratar de chances de o indivíduo obter teste extremamente um teste psicológico, sucesso na instrução aérea útil e eficaz na seleção aprovado pelo Con- de pilotos, não se pode selho Federal de Psi- esquecer que ele ava- cologia, o Tapmil é de uso exclusivo dos lia pessoas e, neste caso, sempre existe a psicólogos devidamente registrados no possibilidade de existirem sujeitos “falsos- Conselho e sujeitos ao seu código de ética. positivo” e “falsos-negativo”, porém a O teste foi adaptado à realidade brasileira possibilidade de isto ocorrer é reduzida pela e validado usando-se um total de 476 cade- alta validade do teste. tes aviadores da Academia de Força Aérea A Marinha do Brasil (MB) aplica o (AFA) e, por se tratar de um teste totalmente Tapmil nos oficiais alunos do Curso de informatizado, possui uma série de vanta- Aperfeiçoamento de Aviação para Oficiais gens em relação aos tradicionais métodos (Caavo) desde 2009 na AFA, porém não de medição de aptidão, tais como: maior com o objetivo de selecionar, já que ele é rapidez na obtenção dos resultados, maior realizado durante o curso. Neste caso, o teste objetividade da aplicação e a possibilidade serve como uma ferramenta para assessorar de avaliação de maior número de atributos o comando durante a instrução dos oficiais. de uma só vez. Desta maneira, permite uma Em 2014, o Centro de Instrução e Ades- avaliação mais rápida e precisa. tramento Aeronaval Almirante José Maria Nesse sentido, outra grande vantagem do Amaral Oliveira (CIAAN) adquiriu o do teste é sua alta confiabilidade. Estu- teste Tapmil, tornando a MB uma das pri- dos realizados na AFA demonstraram meiras Marinhas do mundo a utilizar esta

168 RMB3oT/2015 NOVAS PERSPECTIVAS NA SELEÇÃO DE PILOTOS MILITARES

ferramenta durante a formação de aviadores A aquisição e a adoção do Tapmil pela navais. Os psicólogos de Aviação lotados Marinha como ferramenta de seleção para os no Complexo Aeronaval de São Pedro da futuros aviadores navais irá contribuir signifi- Aldeia foram qualificados pela empresa cativamente para a segurança da aviação e a Psytech (desenvolvedora do software) eficácia da seleção de pilotos, por se tratar de para aplicar o teste. Pretende-se, no futuro, um excelente preditor de desempenho durante utilizá-lo no processo de seleção para o a instrução aérea. Desta forma, a sua utiliza- Caavo, com objetivo de aprimorar a seleção ção irá ajudar a otimizar os custos e diminuir dos futuros pilotos da MB. os cortes durante a formação dos pilotos.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Aviação naval; Cursos de Oficiais;

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Comando da Aeronáutica. Teste da Aptidão para Pilotagem Militar (Tapmil) – Manual. Academia da Força Aérea, 2011.

RMB3oT/2015 169 GESTÃO DE RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE GESTÃO DE RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE*

ROMERO DE ALBUQUERQUE MARANHÃO* Capitão-Tenente (T) FABIANA DOS SANTOS PEREIRA CAMPOS** Professora – MSC CLÁUDIA ECHEVENGUÁ TEIXEIRA*** Professora-Doutora

SUMÁRIO

Introdução Gestão de resíduos de saúde Aspectos legais da gestão dos RSS Gestão de RSS em Organizações Militares Método Desenhando o modelo de avaliação Apresentação e discussão dos resultados Aplicação do modelo Análise comparativa Conclusões

* Título apresentado pelos autores: Construção e aplicação de um modelo de avaliação da gestão de resíduos de serviços de saúde em Organizações Militares. ** Biólogo, especialista em Gestão Ambiental pela Universidade Cândido Mendes, mestre em Geografia pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e doutorando em Administração pela Universidade Nove de Julho (Uninove). Assessor da Gerência de Apoio ao Licenciamento Ambiental da Coordenadoria-Geral do Programa de Desenvolvimento de Submarino com Propulsão Nuclear (Cogesn). *** Administradora, mestre em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e doutoranda em Administração pela Uninove. Professora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. **** Pós-doutorada em Engenharia Ambiental pela Universidade do Estado do Arizona (EUA). Doutora em Engenharia Civil e Ambiental pela Universidade de Sherbooke (Canadá), mestre em Engenharia Civil pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Bióloga pela Universidade de Caxias do Sul. Professora do Programa de Pós-Graduação em Administração da Uninove e pesquisadora do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT).

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INTRODUÇÃO balhos de campo; laboratórios analíticos de produtos para saúde; necrotérios, funerárias contexto enfrentado pelas organiza- e serviços onde se realizem atividades de O ções está em implementar a gestão embalsamamento (tanatopraxia e somato- ambiental, sendo a geração de resíduos conservação); serviços de medicina legal; um aspecto importante a ser considerado drogarias e farmácias, inclusive as de para reduzir e evitar impactos ambientais manipulação; estabelecimentos de ensino negativos. Neste sentido, apesar dos passos e pesquisa na área de saúde; centros de lentos, as empresas estão procurando aten- controle de zoonoses; distribuidores de pro- der às necessidades e pressões do mercado, dutos farmacêuticos; unidades móveis de da sociedade, do governo e da legislação atendimento à saúde; serviços de acupun- vigente, com ações para a melhoria do tura; serviços de tatuagem, dentre outros desempenho ambiental (BARBIERI, 2007; similares (BRASIL, 2004; BRASIL, 2005). DIAS, 2011). Desde 1993, pela Resolução no 5 do A questão da redução da geração dos Conama de 1993 (BRASIL, 1993) e pela resíduos sólidos é um desafio tanto para potencial periculosidade associada a estes o setor público como para o privado. A resíduos, vem sendo exigido a todos os partir da publicação da Política Nacional estabelecimentos que lidam com a saúde de Resíduos Sólidos, esse desafio tornou-se elaborarem e implementarem o Plano de uma necessidade premente, uma vez que Gerenciamento de Resíduos. Apesar de a metas de redução – com vistas a diminuir legislação estabelecer critérios, percebe-se a quantidade de resíduos encaminhados a ausência de informações para realizar a para disposição final – passaram a ser de- avaliação da qualidade de tais critérios em mandadas para todas as esferas (SISINNO sua aplicação. et al., 2011), e estas ações preconizadas em Dentro destes contexto, o presente artigo planos de gestão. apresenta critérios para avaliação da gestão O êxito no manejo adequado dos Re- de RSS, considerando diferentes categorias síduos de Serviços de Saúde (RSS) nas e indicadores. Para ilustrar a aplicação instituições ultrapassa seus limites, bene- desses critérios, uma avaliação da gestão ficiando a comunidade local e o entorno. de RSS de Organizações Militares (OM) Em diversos estabelecimentos de saúde, da Marinha do Brasil e do Exército foi es- a baixa eficiência no gerenciamento dos colhida, a partir da construção e aplicação RSS, em especial na etapa de segregação, de um modelo obtido por intermédio de é decorrente do acondicionamento inade- dados secundários. quado (ALI e KUROIWA, 2009; VIRIATO De acordo com Corrêa (2000) e Mara- e MOURA, 2011). nhão (2012), estudos analisando a Gestão Os geradores de RSS, conforme a Re- de RSS em OM são escassos na literatura solução do Conselho Nacional do Meio científica, principalmente em virtude das Ambiente (Conama) no 358/2005 e a peculiaridades das OM. Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) no 306/2004 da Agência Nacional de Vi- GESTÃO DE RESÍDUOS DE SAÚDE gilância Sanitária (Anvisa), são todos os serviços relacionados com o atendimento Conforme Silva & Hoppe (2005), os à saúde humana ou animal, inclusive os RSS são resíduos gerados por prestado- serviços de assistência domiciliar e de tra- res de assistência médica, odontológica,

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laboratorial, farmacêutica e instituições derando suas características e os aspectos de ensino e pesquisas na área de medicina referentes ao processo de geração, segrega- relacionados tanto à população humana ção, acondicionamento, coleta, armazena- quanta à veterinária. mento, transporte, tratamento e destinação A Gestão de Resíduos abrange atividades final, além da proteção à saúde pública e ao referentes à tomada de decisões estratégicas meio ambiente (BRASIL, 2004). com relação aos aspectos institucionais, Em toda a sua estrutura, devem ser con- administrativos, operacionais, financeiros siderados princípios que levem à minimiza- e ambientais, ou seja, à organização do ção e soluções integradas ou consorciadas setor para esse fim, envolvendo políticas, que visem ao tratamento e à disposição instrumentos e meios (FERREIRA, 2007). final destes resíduos de acordo com as O gerenciamento engloba os aspectos diretrizes estabelecidas pelos órgãos com- tecnológicos e operacionais da questão, petentes (BRASIL, 2004). Dessa maneira, envolvendo fatores administrativos, ge- é possível inferir que a gestão antecede ao renciais, econômicos, ambientais e de gerenciamento de resíduos e que estas são desempenho (produtividade e qualidade, atividades correlatas e não correntes. A por exemplo) e relaciona-se a prevenção, gestão está relacionada ao nível estratégico redução, segregação, reutilização, acondi- da organização; o gerenciamento, ao nível cionamento, coleta, transporte, tratamento, operacional (MARANHÃO, 2012). recuperação de energia e destinação final Todavia, Ferreira (2007) ressalta que a de resíduos sólidos (FERREIRA, 2007). gestão é uma etapa fundamental durante De acordo com a Anvisa, gerenciamento o processo de manejo dos resíduos e está de resíduos é um conjunto de procedimentos diretamente atrelada com a tomada de de- de gestão, planejados (integrados) e imple- cisão acerca dos resíduos, o que propicia mentados a partir de bases científicas e téc- alcançar um gerenciamento (operacionali- nicas, normativas e legais, com o objetivo de zação) mais eficaz, na busca de atender aos minimizar a produção de resíduos e propor- aspectos legais em vigor. cionar aos resíduos gerados, um encaminha- mento seguro, de forma eficiente, visando à ASPECTOS LEGAIS DA GESTÃO proteção dos trabalhadores e à preservação DOS RSS da saúde pública, dos recursos naturais e do meio ambiente (BRASIL, 2004). No Brasil, a gestão dos RSS teve como A concepção, a operação e o monitora- marco a Resolução no 5 do Conama, de mento do sistema de gerenciamento devem 1993 (BRASIL, 1993), sendo atribuídas estar previstos e descritos em um Plano de responsabilidades específicas aos vários Gerenciamento de Resíduos de Serviços segmentos envolvidos, como geradores, de Saúde (GRSS), que tem como propósito autoridades sanitárias e ambientais. fundamental reduzir ao máximo possível os Todavia, a Resolução Conama no riscos à saúde de pacientes, funcionários e 358/2005 (BRASIL, 2005) complementa comunidade em geral, oriundos do manejo os procedimentos do gerenciamento, esta- inadequado, principalmente de resíduos belecendo as diretrizes para o tratamento que possuem elevado grau de periculo- e a disposição dos RSS. Já a Resolução da sidade. Este plano deve ser estruturado RDC Anvisa no 306/2004 (BRASIL, 2004) pelos geradores de RSS e deve conter ações dissemina o Regulamento Técnico para o relativas ao manejo de tais resíduos, consi- gerenciamento dos RSS, e, recentemente,

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a Lei no 12.305, de agosto de 2010, institui Militares de Saúde, quer seja na rotina de a Política Nacional de Resíduos Sólidos atendimento das Seções de Saúde, tornam- (PNRS) (BRASIL, 2010) e estabelece, em se elementos geradores de resíduos. Assim, seu art. 20o, procedimentos de elaboração os diretores e comandantes das diversas de planos de gerenciamento de resíduos Organizações Militares adquirem respon- de diferentes origens, incluindo aqueles sabilidade perante o Ministério Público gerados em serviços de saúde. (MARANHÃO, 2012). Tchobanoglous et al. (1993) registram que o gerenciamento de resíduos envolve GESTÃO DE RSS EM um conjunto de ações exercidas, direta ou ORGANIZAÇÕES MILITARES indiretamente, nas etapas de coleta, trans- porte, transbordo, tratamento e destinação Em pesquisa realizada por Corrêa final ambientalmente adequada, de acordo (2000) fazendo um panorama da Gestão com plano municipal de gestão integrada de RSS com 36 OM de Saúde do Exército de resíduos sólidos ou com plano de geren- Brasileiro (EB), apenas 20% das OM pos- ciamento de resíduos sólidos. suíam conhecimento sobre a legislação A Resolução Conama no 358/2005 relacionada à Gestão de RSS e haviam (BRASIL, 2005) trata do gerenciamento confeccionado o Plano de Gerenciamento sob o prisma da preservação dos recursos de Resíduos de Serviço de Saúde (PGRSS). naturais e do meio ambiente, enquanto a Mas, em relação ao treinamento do pessoal RDC n° 306/2004 (BRASIL, 2004) con- e à segurança ocupacional, o autor registrou centra sua regulação no controle dos pro- que todas as Organizações realizam progra- cessos de segregação, acondicionamento, ma de treinamento regular para o efetivo da armazenamento, transporte, tratamento e área de saúde. disposição final. Todavia, Corrêa (2000) ressalta que o A PNRS preconiza, no art. 1o (BRASIL, EB necessita estabelecer uma política para 2010), que estão sujeitas à observância o gerenciamento dos resíduos gerados pelos da lei as “pessoas físicas ou jurídicas, de serviços de saúde. A adequação à legislação direito público ou privado, responsáveis, em vigor é uma necessidade clara, que per- direta ou indiretamente, pela geração de mitirá que as diversas Organizações Milita- resíduos sólidos e as que desenvolvam res sigam os processos estabelecidos com ações relacionadas à gestão integrada ou ao uniformidade e correção, seguindo normas gerenciamento de resíduos sólidos”. e condutas ambientalmente corretas, que, Destarte, percebe-se que cada um dos consequentemente, trarão benefícios para regulamentos legais e normativos é com- toda a sociedade. plementar, considerando as dimensões Por outro lado, o estudo desenvolvido no principais do tema, a dimensão ambiental EB por Gusmão (2009) retrata a necessida- e a dimensão da saúde. de do Plano de Gerenciamento de resíduos Corrêa (2003) acentua que, com base na para o setor de odontologia, preconizando legislação vigente, a responsabilidade pelo que todo procedimento odontológico gera gerenciamento dos resíduos é do agente resíduos, sejam eles biológicos ou quími- gerador. Neste contexto, enquadram-se as cos, que podem causar um dano maior à OM que, em virtude das ações de saúde por saúde dos pacientes e dos profissionais que elas prestadas, quer seja nas atividades am- direta ou indiretamente têm contato com bulatoriais e hospitalares das Organizações estes materiais.

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A autora registra que, dentre esses resí- Gil (2002), a pesquisa descritiva é útil duos, os de sobras de amálgama, soluções quando se objetiva descrever as caracte- desinfetantes, soluções usadas para processa- rísticas de determinado fenômeno. Já a mento de filme radiográfico, medicamentos pesquisa exploratória, para esse autor, visa que não podem ser consumidos, materiais identificar os fatores que contribuem para a perfurocortantes e contaminados por saliva ocorrência dos fenômenos, aprofundando o ou sangue, e lâminas de chumbo das películas conhecimento da realidade examinada. A radiográficas são os de maior importância descrição dos dados e sua análise seguiram na clínica odontológica (GUSMÃO, 2009). as recomendações de Bardin (2011), por Gusmão (2009) recomenda que as OM meio da análise de conteúdo, categorizando sigam os procedimentos constantes na le- dados relevantes para a pesquisa. gislação, criando ambientes próprios para A categorização é a reunião de um o manejo de resíduos, e instruam todo o conjunto de elementos em uma mesma pessoal de saúde, militares e funcionários classe sobre um título genérico, em que civis, a participar de cursos, palestras e estão elementos classificados com algumas campanhas de vacinação com a finalidade características em comum. Seu objetivo de evitar uma possível contaminação e principal é expor o conteúdo bruto de uma poluição do meio ambiente. forma clara e condensada, fazendo com No estudo realizado por Santos e Henkes que os dados ocultos possam ser visuali- (2013) em um hospital do EB, ao analisar zados. Acreditando nesses fatores é que o Plano de Gerenciamento de RSS ficou o pesquisador parte para a categorização, evidenciado que os procedimentos não estão após uma análise de conteúdo codificada completamente especificados. Além disso, (BARDIN, 2011). os autores diagnosticaram que o hospital não Depois de registrar os dados, buscou-se possui uma área para armazenamento inter- a construção de um modelo de avaliação no dos resíduos, o que contraria a legislação. da Gestão dos RSS a partir de categorias e Maranhão et al. (2013) realizaram um indicadores identificados na revisão biblio- estudo em OM da Marinha do Brasil, gráfica. Por fim, realizou-se uma análise especificamente num posto médico, e con- comparativa dos trabalhos produzidos por cluíram que o Plano de Gerenciamento de Maranhão et al. (2013) e Santos et al. Resíduos implantado atende às exigências (2013). A escolha dos trabalhos justifica-se legais e evita problemas ambientais, pois pelos seguintes motivos: os artigos foram gera aumento no tempo de vida útil dos encontrados em periódico e evento com aterros sanitários, em função da correta classificação Qualis; são estudos empíricos separação e destinação final dos resíduos e recentes, diferentemente das pesquisas rea- gerados, bem como benefícios ambientais lizadas por Corrêa (2000) e Gusmão (2009); à sociedade. e atendem ao preconizado por Aaker (2001), ao registrar que os dados secundários podem MÉTODO ser uma interessante fonte de ideias novas a serem exploradas, posteriormente, por meio De acordo com Morin (1996, 2000), da pesquisa primária. o método é o caminho percorrido para a Registra-se que, no trabalho de Santos construção do saber. Do ponto de vista de et al. (2013), o Plano de Gerenciamento de seu objetivo, esta pesquisa é classificada RSS estava anexo ao estudo, o que facilitou como descritiva e exploratória. Conforme na obtenção de dados. Em relação ao PGRSS

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do posto médico mencionado por Maranhão et al. (2013), foi solicitada aos autores uma cópia do último PGRSS analisado (ano de 2011) para que pudessem ser realizadas a análise e a compara- ção dos dados.

DESENHANDO O MODELO DE AVALIAÇÃO

Conforme a legislação vi- gente – do Conama 358/2005 e da Anvisa 306/2004 – e os estu- Figura 2: Categoria operacional e indicadores envolvidos na Gestão de dos desenvolvidos por Ventura RSS. Fonte: Elaborada pelos autores (2009), Schneider (2004), Fer- reira (2007) e Maranhão (2012), a Gestão em seu Gerenciamento, é possível deduzir dos RSS engloba as seguintes categorias: que a categoria operacional da Gestão é operacionais, financeiras, ambientais e composta pelos seguintes indicadores: administrativas, conforme o diagrama segregação, acondicionamento, coleta e constante da figura 1. transporte interno, armazenamento interno, armazenamento final ou externo, e tratamento e destinação final (BRA- SIL, 2004; BRASIL, 2005; BRASIL, 2010), conforme apresentado no diagrama da figura 2. Dos estudos desenvolvidos por Corrêa (2003) e Gusmão (2009), é pos- sível inferir que a categoria administra- tiva da Gestão dos RSS é composta por indicadores de pessoal, qualificação/ treinamento e saúde ocupacional, sendo esta relacionada à vacinação e ao uso adequado de Equipamento de Proteção Individual (EPI), conforme ilustrado no diagrama da figura 3. Figura 1: Dimensões consideradas na avaliação da Gestão de A construção da categoria finan- RSS. Fonte: Elaborada pelos autores ceira foi baseada nas críticas reali- zadas por Santos e Henkes (2013) ao APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO evidenciarem que a escassez de recursos DOS RESULTADOS é um entrave para o aprimoramento da Gestão dos RSS. Além disso, os autores De acordo com os aspectos legais en- apontam que, para qualificar o pessoal, volvidos na Gestão dos RSS, bem como manter o gerenciamento do Plano de Gestão

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gestão inadequada dos RSS. Com base naquela revisão e nos resultados obtidos pelos autores, foi possível construir os indicadores para a cate- goria ambiental, conforme ilustrado na figura 5. A integração de todas as categorias e seus respectivos indicadores formam o mode- lo que será empregado para a avaliação da Gestão de RSS nas Organizações Militares. Para operacionalização da pesquisa, foi gerado um for- mulário (quadro 1) a fim de Figura 3: Categoria administrativa e indicadores envolvidos na Gestão de registrar e analisar as catego- RSS. Fonte: Elaborada pelos autores rias empregadas no processo de Gestão dos RSS. e realizar melhorias, é preciso que haja re- De forma a possibilitar uma comparação cursos disponíveis. Sem tais investimentos, entre os casos analisados, adotaram-se os a Gestão dos RSS não pode ser realizada valores de (1) – não atende, (3) – atende com eficácia. A relação entre os indicado- parcialmente e (5) – atende para os itens res e a variável financeira é ilustrada no das categorias. diagrama da figura 4. O coeficiente obtido por cada Organiza- O estudo realizado por Maranhão et ção estudada corresponde à seguinte fórmu-

al. (2013) apresentou uma revisão biblio- la: {SOMA (x1...x16)/80*100}. O escore fi- gráfica com os problemas decorrentes da nal considera que, na faixa de 1 a 25 pontos, a Organização está no está- gio inicial do PGRSS. De 26 a 50 pontos, pondera- se que a Organização já possui um compromisso e um PGRSS implantado, mas necessita melhorar as rotinas e os procedimen- tos de gestão. De 51 a 75 pontos, a Organização já possui uma Gestão de RSS que necessita ser aperfeiço- ada. E, acima de 76 pontos, é avaliada como uma Or- ganização que possui um Figura 4: Categoria financeira e indicadores envolvidos na Gestão de RSS padrão de Excelência em Fonte: Elaborada pelos autores Gestão de RSS.

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Caso A – Marinha do Brasil: Posto Médico da Esquadra

De acordo com Maranhão et al. (2013), o Posto Médico da Esquadra (Pamesq) está lo- calizado na Base Naval do Rio de Janeiro (BNRJ), em plena Baía de Guanabara. A escolha dos pesquisadores por esta unidade para análise deve-se ao fato de ser a primeira Or- Figura 5: Categoria ambiental e indicadores envolvidos na Gestão de RSS. Fonte: Elaborada pelos autores ganização Militar da Marinha do Brasil a obter certificação ambiental pela Diretoria de APLICAÇÃO DO MODELO Portos e Costas (DPC), em 2010, após Auditoria Ambiental em suas instalações. O modelo foi aplicado em duas Organi- O Pamesq atende a militares da ativa zações Militares a partir de dados secundá- e servidores civis lotados no Complexo rios obtidos na revisão bibliográfica: Naval da Ilha de Mocanguê. No Posto há

Quadro 1 – Formulário de Avaliação da Gestão de RSS AVALIAÇÃO DA GESTÃO DE RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE Categoria Indicador Não Atende Atende Parcialmente Atende Segregação Acondicionamento Coleta e transporte interno Operacional Armazenamento Interno Armazenamento Final Tratamento e destino final Custos Financeira Qualificação Obras/Reformas Pessoal Treinamento Administrativa Vacinação EPI Esgoto sanitário Ambiental Condições do entorno Coleta seletiva Fonte: Elaborado pelos autores

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os setores de emergência, odontologia, am- feitas as reformas necessárias para atender bulatório, laboratório, farmácia, radiologia às exigências legais. Apesar de o Plano e esterilização, além de uma copa e área conter informações sobre qualificação da administrativa (MARANHÃO et al., 2013). equipe do Posto, não há dados dos custos Principais características do gerencia- envolvidos ou sobre a forma como são cus- mento de RSS no Pamesq: teados e realizados os treinamentos. Além 1 – O PGRSS está implantado desde disso, não é indicado o valor despendido 2004 de acordo com as exigências da le- com pagamentos para as empresas que gislação do Conselho Nacional do Meio realizam o transporte e a destinação final Ambiente para serviços de saúde, bem do RSS. como com a legislação federal definida O PGRSS registra, ainda, em relação os pela Anvisa. resíduos líquidos, que estes somente são 2 – A segregação é realizada em reci- encaminhados para o sistema coletor do pientes (cestos e lixeiras) específicos para município após tratamento. Em relação ao cada tipo de resíduo, conforme suas carac- entorno do Pamesq é possível aferir que o terísticas e o potencial infectante. mesmo fica num Complexo Militar situado 3 – O acondicionamento e a armazena- no interior da Baía de Guanabara, sendo o gem seguem a padronização de cores, con- ambiente aquático o seu entorno. De acor- forme o tipo de resíduo sólido, de acordo do com Maranhão et al. (2013), o PGRSS com a legislação vigente. O Posto possui implantado na Organização militar evita lixeiras com tampas plásticas resistentes, problemas ambientais e atende às exigên- para o armazenamento dos resíduos, de- cias legais, pois gera aumento no tempo de vidamente identificadas de acordo com o vida útil dos aterros sanitários, em função tipo de resíduo. da correta separação e destinação final dos 4 – A coleta e o transporte interno dos resíduos gerados, bem como benefícios resíduos são realizados por profissionais ambientais à sociedade. qualificados. A partir destes dados e da leitura do 5 – O armazenamento externo é reali- PGRSS do Pamesq, foi realizado o preen- zado em um depósito para seu posterior chimento do formulário (quadro 2). destino final. Este local, situado na área externa ao Posto e de fácil acesso aos Caso B – Exército Brasileiro: Hospital funcionários da empresa de coleta, é cons- Militar de Área de Brasília truído em alvenaria, com porta e janelas para circulação do ar. Além disso, possui De acordo com Santos e Henkes (2013), revestimento interno (piso e paredes até o Hospital Militar de Área de Brasília o teto) com material lavável (cerâmica e (HMAB) tem a missão de prestar assistên- azulejos). cia primária, secundária e terciária à saúde 6 – O tratamento e a destinação são aos militares do Exército, pensionistas, realizados por empresa especializada e dependentes e servidores civis. Possui em credenciada pelo Órgão Ambiental para seu efetivo mais de 700 servidores, entre posterior envio ao aterro sanitário, no caso militares e civis, para o desenvolvimento dos resíduos orgânicos, e autoclavados e in- das atividades médicas e administrativas. cinerados no caso dos resíduos infectantes. O HMAB atende a todos os militares De acordo com o PGRSS, foi construída da ativa e da reserva e servidores civis da a área de armazenamento externo e foram área da 11a Região Militar, que engloba os

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Quadro 2 – Formulário de Avaliação do PGRSS do Pamesq AVALIAÇÃO DA GESTÃO DE RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE Categoria Indicador Não Atende Atende Parcialmente Atende Segregação X Acondicionamento X Coleta e transporte interno X Operacional Armazenamento Interno X Armazenamento Final X Tratamento e destino final X Custos X Financeira Qualificação X Obras/Reformas X Pessoal X Treinamento X Administrativa Vacinação X EPI X Esgoto sanitário X Ambiental Condições do entorno X Coleta seletiva X Fonte: Elaborado pelos autores

estados do Tocantins e Goiás e o Distrito 2 – O HMAB não possui uma área para Federal, perfazendo um total de cerca de 70 dispor para o procedimento de armazena- mil usuários. Possui enfermaria, ambulató- mento interno. Já a área de armazenamento rio, unidade de curativos intensivos, emer- externo precisa ser reformada. A justificati- gência, consultório odontológico, serviço va do gestor é que a estrutura da unidade é de radiologia e quimioterapia (SANTOS e antiga e as normas ambientais são recentes HENKES, 2013). (SANTOS e HENKES, 2013). Santos e Henkes (2013) registram que o 3 – O tratamento e a destinação final PGRSS do HMAB não atende em sua tota- dos RSS são realizados por empresa espe- lidade às normas da Anvisa. As principais cializada que não especifica o lugar onde características do gerenciamento de RSS é realizado o procedimento. Além disso, no HMAB são: Santos e Henkes (2013) constataram pro- 1 – A segregação e o acondicionamento blemas no manuseio dos RSS por parte dos são realizados por tipo de resíduo e em funcionários da empresa contratada, bem recipientes (cestos e lixeiras) específicos como no veículo utilizado para a atividade. para cada tipo de resíduo, conforme suas Apesar de o PGRSS registrar que há características e seu potencial infectante. treinamentos para equipe envolvida na A padronização de cores para os sacos de Gestão dos RSS, Santos e Henkes (2013) acondicionamento é cumprida no HMAB, diagnosticaram que alguns membros - todavia Santos e Henkes (2013) consideram nhecem os procedimentos para o manuseio que a segregação no Hospital é ineficiente. dos resíduos.

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De acordo com os dados obtidos na mento Interno, Tratamento e Destinação pesquisa, foi realizado o preenchimento Final), deixando a desejar de forma acen- do formulário para o HMAB (quadro 3). tuada quanto ao Armazenamento Final, o que se justifica pelo não atendimento do ANÁLISE COMPARATIVA indicador sobre Obras/Reformas (da cate- goria Financeira). De todos os indicadores A partir da aplicação do formulário de da categoria operacional, o que necessita de avaliação nas duas instituições, fez-se uma ações emergenciais é a Segregação, tendo análise comparativa visando ilustrar que em vista que dela dependem as demais a construção de um modelo de avaliação etapas de manejo, como alguns autores re- traz informações para uma mesma base e forçam (SCHNEIDER, 2004; VENTURA, permite comparações. 2009; MARANHÃO et al. 2013). Ao analisar os resultados detalhada- Outra relação que pode ser percebida no mente, a partir de cada categoria e de seus HMAB é que, por ter atendimento parcial indicadores, percebe-se que, em relação à no indicador de Custos e Qualificação (da categoria Operacional, o Pamesq atende categoria Financeira), os demais indicado- positivamente a todos os seus indicadores, res da variável Operacional não atingem enquanto o HMAB atende apenas, parcial- as metas necessárias para o bom funciona- mente, às necessidades adequadas a cada mento da GRSS. Realidade que não atinge indicador (Segregação, Acondicionamento, o Pamesq nessa dimensão e que, na refle- Coleta e Transporte Interno, Armazena- xão dos autores, pode ser pela estrutura/

Quadro 3 – Formulário de Avaliação do PGRSS do HMAB AVALIAÇÃO DA GESTÃO DE RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE Categoria Indicador Não Atende Atende Parcialmente Atende Segregação X Acondicionamento X Coleta e transporte interno X Operacional Armazenamento Interno X Armazenamento Final X Tratamento e destino final X Custos X Financeira Qualificação X Obras/Reformas X Pessoal X Treinamento X Administrativa Vacinação X EPI X Esgoto sanitário X Ambiental Condições do entorno X Coleta seletiva X Fonte: Elaborado pelos autores

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porte diferente de uma unidade para outra, Treinamento quando se compara as duas bem como pelo atendimento adequado do instituições de saúde. indicador Treinamento (categoria Adminis- Os resultados obtidos com o modelo trativa), fato que no HMAB atende apenas apontam que o Pamesq obteve um coefi- parcialmente. Esta percepção confirma a ciente de 88 pontos (quadro 4), e, desta necessidade de se ter treinamento adequado forma, é considerado como uma Gestão de e continuado para o pessoal que lida com a Excelência em RSS. Registra-se que os da- GRSS e sua operacionalização (SCHNEI- dos apresentados pelo sistema de avaliação DER, 2004). corroboram com a indicação apresentada O Treinamento (indicador da categoria por Maranhão et al. (2013). Administrativa) e o Custo (da categoria Já o HMAB obteve um escore de 60 Financeira) podem ter relação com o pontos (quadro 4), indicando que o Hospital atendimento parcial do indicador Esgoto já possui uma Gestão em RSS, porém que Sanitário e Condições do Entorno e o não necessita ser aperfeiçoada. Tais informa- atendimento da Coleta Seletiva, perten- ções estão em consonância com as obser- centes à categoria Ambiental, quando vações e recomendações apresentadas por se visualiza esses resultados do HMAB, Santos e Henkes (2013). enquanto que no Pamesq é atendido Uma possível explicação para o melhor totalmente para o primeiro e o segundo desempenho do Pamesq está na interli- indicadores parcialmente para a coleta, gação do PGRSS ao Sistema de Gestão resultados positivos e relacionados a Ambiental (SGA) da Base Naval do Rio de um resultado melhor também para o Janeiro, o que pode ser um ponto positivo Quadro 4 – Comparativo entre as avaliações do Caso A e Caso B Categoria Indicador CASO A CASO B Segregação 5 3 Acondicionamento 5 3 Coleta e transporte interno 5 3 Operacional Armazenamento Interno 5 3 Armazenamento Final 5 1 Tratamento e destino final 5 3 Custos 3 3 Financeira Qualificação 3 3 Obras/Reformas 5 Pessoal 5 5 Treinamento 5 3 Administrativa Vacinação 3 5 EPI 3 5 Esgoto sanitário 5 3 Ambiental Condições do entorno 5 3 Coleta seletiva 3 1 COEFICIENTE 88 60 Fonte: Elaborado pelos autores

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para a manutenção do Plano. Já o PGRSS tenha sido atingido, tendo em vista que do HMAB não está integrado com outros o sistema foi criado e aplicado em duas planos, conforme registrado por Santos e Organizações, uma da Marinha do Brasil Henkes (2013). e outra do Exército Brasileiro. Considerando todos esses detalhamen- Uma crítica ao sistema de avaliação está tos, seria relevante fazer uma análise mais em não considerar as quantidades de resídu- aprofundada de cada indicador, elencando os geradas como uma variável, mas entende- o nível de prioridade para ações estratégicas -se que tal variável manteria o enfoque no que possibilitem a melhoria contínua das gerenciamento dos RSS e não na Gestão. categorias que atendem parcialmente, ou Como esta é a versão preliminar da não atendem, às necessidades adequadas a proposta, tornam-se necessários ajustes uma gestão de RSS de excelência. e melhorias para que o mesmo possa ser empregado em outras organizações de Saú- CONCLUSÕES de, sejam públicas ou privadas, e também que o formulário seja preenchido com a A elaboração de um instrumento de integração dos responsáveis pelos setores avaliação é uma tarefa complexa. Na de Gestão de RSS de forma a evitar vieses literatura, encontram-se poucos artigos nos resultados ou na avaliação. que descrevem passo a passo as etapas de Sugere-se a continuação da pesquisa e geração de um modelo. que outras categorias e indicadores sejam O modelo de avaliação apresentado foi acrescidos a partir da combinação ou construído e aplicado nas Organizações análise crítica de modelos já existentes Militares com categorias obtidas da litera- para avaliação da Gestão de RSS. Outra tura e não em modelos anteriores, podendo possibilidade de pesquisa seria a inclusão ser esta uma limitação da pesquisa. Outra de uma escala tipo Likert para avaliação limitação deve-se à obtenção dos dados a da Gestão de RSS de uma organização na partir de fontes secundárias e sem observa- ótica dos diversos atores sociais. ções diretas, ou de outros dados primários Acredita-se que esta avaliação prelimi- decorrentes de entrevistas. nar possa auxiliar na melhoria da Gestão O objetivo desta pesquisa foi avaliar dos RSS já implantados nas Organizações a Gestão de RSS em OM, a partir da Militares estudadas e sirva de instrumento construção e aplicação de um Modelo de para que os gestores possam avaliar a Ges- Avaliação. Considera-se que o objetivo tão dos RSS.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Serviço de saúde; Precaução;

182 RMB3oT/2015 GESTÃO DE RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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RMB3oT/2015 183 GESTÃO DE RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE

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184 RMB3oT/2015 APLICAÇÃO DE ANÁLISE DE VALOR AGREGADO PARA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE PROJETOS EM UM ESTALEIRO MILITAR

“Quem não mede não gerencia: quem não gerencia não melhora.” J. Juran (1904-2008)

JOÃO CARLOS CASTRO DIAS* Primeiro-Tenente (EN) JORGE DE OLIVEIRA WANDERLEY Técnico de Planejamento MAITÊ GARCIA BRANDÃO TORRES Técnica de Planejamento

SUMÁRIO

Introdução Breve histórico da análise de valor agregado Conceitos básicos da técnica de análise de valor agregado Caso real de aplicação da AVA no AMRJ Caso A Caso B Conclusão INTRODUÇÃO Drucker (1987), em artigo publicado na Havard Business Review, já antecipava o aumento da competitividade e a es- surgimento de um novo tipo de organização, Ocassez cada vez maior de recursos têm chamada de Organização Baseada na Infor- feito com que as instituições passem a tratar mação (OBI), onde se procura: e administrar seus negócios, principalmente – menos níveis de gestão (sem níveis in- os estratégicos e os que geram maiores va- termediários que, muitas vezes, não tomam lores econômicos, como se fossem projetos decisões, servindo unicamente como canais [1]. Com este tratamento, as instituições de comunicação, apenas gerando atrasos); buscam obter maior concentração de esfor- – equipes de especialistas autogerenci- ços e a possibilidade de aplicação de um áveis, que normalmente trabalham onde as gerenciamento específico e mais eficiente ações e os problemas se encontram, e não nas atividades vitais para sua existência. apenas nos escritórios; e

* O Primeiro-Tenente (EN) Dias é mestre em Engenharia Mecânica e encarregado do Núcleo de Auditoria de Projetos do AMRJ. Os outros autores fazem parte deste núcleo. APLICAÇÃO DE ANÁLISE DE VALOR AGREGADO PARA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE PROJETOS EM UM ESTALEIRO MILITAR

– um sistema de informação completo, BREVE HISTÓRICO DA ANÁLISE ágil e de acesso generalizado, integrando e DE VALOR AGREGADO suprindo toda a organização. Buscando se inserir nesse contexto, o Ar- A análise de valor agregado é uma senal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ), técnica para controle e acompanhamento cumprindo uma Orientação Setorial (Oriset) de projetos que integra custos, prazos e da Diretoria-Geral de Material da Marinha progresso físico e que surgiu no “chão de (DGMM), criou, no ano de 2012, seu Escri- fábrica” dos Estados Unidos da América tório de Gerenciamento de Projetos (EGP) (EUA), no princípio da “administração [2]. Desde a sua criação, o EGP planejou e científica” (início do século XX) [3]. Seu acompanhou 42 projetos, que vão desde re- conceito básico é muito simples: trata-se paro naval até projetos de modernização da da avaliação sobre o que foi “gerado de infraestrutura do próprio AMRJ, utilizando valor” (valor agregado) em relação ao custo para tal o software de Gerenciamento de apropriado necessário para geração desse Projetos (GP) Primavera. A implementação valor e ao que se planejava gastar. Em uma de algumas boas práticas de GP fez com situação ideal, todos esses valores devem que o EGP do Arsenal ser iguais; no entanto, (AMRJ-41), atingisse, não é o que acontece em outubro de 2014, Desde a sua criação, na maioria dos projetos o nível de maturidade o Escritório de executados na prática. em GP de 2,95 em Embora tenha surgi- uma escala que varia Gerenciamento de Projetos do no início do século de 0 a 5, representando planejou e acompanhou XX, a AVA começou uma transição do am- a ser utilizada de uma biente entre iniciativas 42 projetos, que vão desde forma padronizada na isoladas de boas práti- reparo naval até projetos década de 60 do sécu- cas para o ambiente de de modernização da lo passado pela Força práticas padronizadas Aérea americana. A de GP, tendo a in- infraestrutura do próprio análise de valor agre- tenção de se atingir o AMRJ gado fazia parte de um nível de maturidade de critério elaborado pelo 3,5 até 2017. Dentre Departamento de De- as boas práticas de GP implementadas pelo fesa americano (Department of Defense AMRJ-41, algumas são de fundamental im- – DoD) constituído por um conjunto de 35 portância: elaboração, divulgação e acompa- regras que eram utilizadas para o controle de nhamento de cronogramas para cada projeto projetos e para elaboração de relatórios de executado, que, segundo o benchmarching resultados conhecidos como Cost/Schedule realizado em 2011 pelo Project Management Control System Criteria (C/SCSC). Porém Institute (PMI), é uma prática utilizada nas foi a partir da década de 90 que a técnica se metodologias de gerenciamento de projetos difundiu bastante, principalmente quando o por 95% das empresas brasileiras; e a técnica Office of Management and Budget (OMB) de Análise de Valor Agregado (AVA), que, americano passou a exigir a utilização da téc- segundo o mesmo benchmarching, 81% das nica de análise de valor agregado em todos empresas utilizam ou pretendem utilizar a os contratos do governo. Isso fez com que curto prazo. vários órgãos passassem a adotá-la, dentre

186 RMB3oT/2015 APLICAÇÃO DE ANÁLISE DE VALOR AGREGADO PARA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE PROJETOS EM UM ESTALEIRO MILITAR

os quais merecem destaque a National Aero- referência o planejamento contido na Li- nautics and Space Administration (NASA) e nha de Base do projeto. Como exemplo, a Central Intelligence Agency (CIA). Nesta analisemos a seguinte situação: mesma década, a AVA é acrescentada ao Supondo que, para revisão das linhas Project Management Body of Knowledge de eixo de um navio, tenha sido planejado (PMBoK), que é o Guia de Boas Práticas um prazo de 30 dias e um orçamento de de Gerenciamento de Projetos elaborado R$ 1 milhão, e que, pelo planejamento da pelo PMI e difundido em todo o mundo, LB, até o 15o dia 50% do serviço teria que além de ter passado a ser padronizada pelo ter sido concluído, o VP para esta situação American National Standards Institute será dado por: (ANSI), o que contribuiu ainda mais para a VP = 0,5 X R$ 1 milhão = R$ 500 mil sua popularização. Custo Real do Trabalho Realizado (CRTR) ou Actual Cost of Work Perfor- CONCEITOS BÁSICOS DA med (ACWP): É o custo real incorrido TÉCNICA DE ANÁLISE DE VALOR para realização do serviço até um deter- AGREGADO minado instante. Vamos supor que, para o mesmo exemplo acima, até o 15o dia Para utilização da AVA, é necessário tenham sido apropriados R$ 400 mil. que se tenha conhe- Neste caso, CRTR = cimento de alguns 400 mil. conceitos básicos Valor Agregado do que serão definidos A análise de valor agregado Trabalho Realizado a seguir: é uma técnica para controle (VATR) ou Earned – Linha de Base e acompanhamento de Value (EV) ou Bud- (LB) do Projeto: É a geted Cost Work Per- distribuição, ao lon- projetos que integra custos, formed (BCWP): É go do tempo, de to- prazos e progresso físico o valor efetivamente das as atividades do executado para o pro- projeto, bem como e que surgiu no “chão jeto até um determi- de seus respectivos de fábrica” dos Estados nado instante. Para orçamento e duração Unidos da América o mesmo exemplo, [3]. Em outras pala- supõe-se que tenha vras, seria a fotogra- sido verificado que, até fia do cronograma o 15o dia, tenha sido referência do projeto, referência essa que executado 30% do serviço. Para este caso, será utilizada para comparar o andamento o VATR será dado por: real do projeto com o andamento ideal. VATR = 0,3 X R$ 1 milhão = R$ 300 mil Por isso, é de extrema importância que a Indicador de Desempenho de Prazo Linha de Base do projeto esteja o mais (IDP) ou Schedule Performance Index confiável possível, pois, caso contrário, (SPI): É o indicador utilizado para analisar toda análise estará imprecisa. o desempenho do projeto com relação ao – Valor Planejado (VP) ou Budgeted prazo de execução. É definido pela seguinte Cost Work Scheduled (BCWS): É o valor relação: planejado para a execução do projeto até SPI = VATR um determinado instante, tomando como VP

RMB3oT/2015 187 APLICAÇÃO DE ANÁLISE DE VALOR AGREGADO PARA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE PROJETOS EM UM ESTALEIRO MILITAR

Sendo assim, quando o SPI for igual ma ação corretiva, ao término do projeto o a 1 para as etapas do caminho crítico custo necessário para revisão das linhas de do projeto, significa que o mesmo está eixo do navio, que inicialmente seria de R$ sendo executado conforme o planejado. 1 milhão, será agora de: Por outro lado, quando SPI for menor do Custo estimado final = Custo Apropria- que 1, indica que o projeto está atrasado do até o momento + (Orçamento Disponível e, quando maior do que 1, mostra que para o término) = CPI o projeto se encontra adiantado. Para o Custo estimado final = R$ 400 mil + exemplo hipotético mostrado acima, te- R$ 600 mil = R$ 1,2 milhão remos a seguinte situação: 0,75 SPI = R$ 300.000,00 = 0,6 Para facilitar a análise do projeto, in- R$ 500.000,00 clusive por meio da visualização do seu O que indica um atraso de 40% no proje- histórico no que diz respeito à evolução to com relação ao prazo. Desta forma, caso dos indicadores apresentados acima, os não seja tomada nenhuma ação corretiva, mesmos costumam ser apresentados gra- o tempo necessário para revisão das linhas ficamente, em uma curva conhecida como de eixo do navio, que inicialmente seria de curva S, conforme Figura 1: 30 dias, será agora de: Observando-se aquele gráfico, percebe- Duração Projetada = se que um projeto que apresente bom anda- = Duração Prevista Inicialmente = mento com relação ao custo e ao prazo deve SPI ter as Curvas de ACWP, Linha de Base e = 30 dias = 50 dias BCWP o mais próximas possíveis. No caso 0,6 de execução conforme o planejado, as três Indicador de Desempenho de Custo curvas estarão sobrepostas. (IDC) ou Cost Performance Index (CPI): É o indicador utilizado para analisar o desem- CASO REAL DE APLICAÇÃO DA penho do projeto com relação ao custo de AVA NO AMRJ execução. É definido pela seguinte relação: CPI = VATR No presente estudo de análise de de- CRTR sempenho de projetos no AMRJ utilizando Quando o CPI for igual a 1, significa que a técnica de análise de valor agregado, o projeto está sendo executado conforme serão avaliados dois diferentes projetos de o planejado com relação ao custo. Por Períodos de Manutenção (PM) de navios outro lado, quando CPI for menor do que distintos. O projeto A apresentou orçamen- 1, indica que está se gastando mais do que to inferior a 10 milhões e prazo inicial de o planejado para a execução do projeto, e, execução menor do que quatro meses, tendo quando maior do que 1, mostra que se está sido caracterizado como um projeto de bai- gastando menos do que o planejado. Para xa complexidade. Já o projeto B apresentou o exemplo hipotético mostrado acima, orçamento superior a 10 milhões e prazo teremos a seguinte situação: de execução também menor do que quatro CPI = R$ 300 mil = 0,75 meses. No entanto seu nível de complexi- R$ 400 mil dade era consideravelmente maior do que O que indica um custo de execução do o do projeto A. Para a análise em questão, projeto 25% maior do que o planejado. só será avaliado o desempenho dos projetos Desta forma, caso não seja tomada nenhu- no que se refere ao prazo de execução dos

188 RMB3oT/2015 APLICAÇÃO DE ANÁLISE DE VALOR AGREGADO PARA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE PROJETOS EM UM ESTALEIRO MILITAR

Figura 1 – Curva S para Análise de Valor Agregado (Vargas, 2002)

PM. Com relação ao desempenho de custos, a mais escura representa o valor agregado. será realizado em um próximo trabalho. Vale ressaltar que foram ocultados da curva os custos reais de execução do projeto. CASO A Analisando-se aquela curva, percebe- se que na fase inicial do projeto, por conta O projeto avaliado tinha duração inicial das indefinições, o desempenho ficou muito prevista de dois meses (fevereiro e março). abaixo do esperado, sinalizando atraso O mesmo apresentou muitas incertezas com considerável com relação à prontificação do relação à disponibilidade de recursos e à projeto no prazo inicialmente planejado. A definição de seu escopo na sua fase inicial, partir do momento em que as informações o que comprometeu seriamente seu desem- com relação à disponibilidade de recursos penho com relação ao prazo, como pode ser e ao escopo do projeto foram se tornando observado na Curva S da figura 2, extraída mais concretas (final de fevereiro), o de- do software de Gerenciamento de Projetos sempenho do projeto começou a melhorar. Primavera. A curva mais clara representa Tal informação pode ser observada com a o valor planejado para o projeto, enquanto mudança de inclinação da curva de Valor

RMB3oT/2015 189 APLICAÇÃO DE ANÁLISE DE VALOR AGREGADO PARA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE PROJETOS EM UM ESTALEIRO MILITAR

CURVA S DO PROJETO A

Término Planejado – Término Real Figura 2 – Curva S para o Projeto A Fonte: Autores Agregado. No entanto, essa melhora de Vale ressaltar que foram ocultados da curva desempenho não foi suficiente para recu- os custos reais de execução do projeto. perar o atraso do projeto, sendo o mesmo Por meio da análise da curva da próxima finalizado no dobro do tempo planejado, página, percebe-se que o projeto B foi con- quatro meses. cluído muito próximo do prazo inicialmente planejado. Ao final do mês de maio, houve CASO B uma mudança acentuada da inclinação da curva de Valor Agregado, sinalizando a Neste caso, o projeto analisado tinha tomada de alguma ação corretiva a fim de duração inicial prevista de três meses se recuperar o pequeno atraso que havia (março, abril e maio), porém seu escopo e no projeto até então, fazendo com que o os recursos necessários para sua execução mesmo fosse prontificado dentro do prazo já estavam definidos antes mesmo da fase planejado. Observa-se ainda que, quando inicial do projeto, o que fez com que o de- comparado com o caso A, as curvas de Valor sempenho do mesmo com relação ao prazo Planejado e Valor Agregado apresentam acontecesse muito próximo do planejado. uma defasagem muito menos acentuada, evi- Assim como no caso A, para o caso B a denciando, desta forma, melhor desempenho curva mais clara da figura 3 representa o do projeto quando comparado ao primeiro valor planejado para o projeto, enquanto caso. Para ambos os projetos percebe-se ain- a mais escura representa o valor agregado. da que a análise de desempenho em qualquer

190 RMB3oT/2015 APLICAÇÃO DE ANÁLISE DE VALOR AGREGADO PARA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE PROJETOS EM UM ESTALEIRO MILITAR

CURVA S DO PROJETO B

Término Planejado – Término Real Figura 3 – Curva S para o Projeto B Fonte: Autores fase já projetava uma tendência com relação pretendem utilizar a técnica. Seguindo esta ao seu término, sinalizando a necessidade ou tendência, o AMRJ passou a usá-la como não da tomada de ações corretivas por parte principal técnica de avaliação de desempe- dos envolvidos. nho de projetos desde 2012, representando CONCLUSÃO A utilização da técnica uma mudança de pa- de análise de Valor radigma na forma de A utilização da se gerenciar projetos técnica de análise de Agregado para avaliação dentro da instituição, Valor Agregado para de desempenho de projetos gerando subsídios para avaliação de desem- tem ganhado cada vez a tomada de decisões penho de projetos gerenciais. Para o tra- tem ganhado cada vez mais popularidade entre as balho em questão, fo- mais popularidade en- organizações ram apresentados dois tre as organizações, projetos (A e B), um fato comprovado com com condições desfa- o benchmarching 2011, realizado pelo voráveis para a sua execução (Projeto A) PMI Brasil, onde foi constatado que 81% e outro com condições favoráveis (Projeto das organizações brasileiras utilizam ou B), tendo sido observado que, no decorrer de

RMB3oT/2015 191 APLICAÇÃO DE ANÁLISE DE VALOR AGREGADO PARA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE PROJETOS EM UM ESTALEIRO MILITAR

cada um, as avaliações de desempenho de- a AVA tem sido uma importante ferramenta monstravam tendências no que diz respeito de Gerenciamento de Projetos no AMRJ, às suas prontificações nos prazos planejados, contribuindo para que o Arsenal possa, tendências essas confirmadas ao término de além de cumprir seu lema, “Tradição em cada projeto, validando, desta forma, as aná- fazer bem feito”, possa também “fazer bem lises realizadas. Sendo assim, percebe-se que feito com o prazo e o orçamento planejados”.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Projeto; Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro; Controle de Qua- lidade;

REFERÊNCIAS

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192 RMB3oT/2015 A CONTRIBUIÇÃO DO PROJETO DO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO PARA CIÊNCIA E TECNOLOGIA*

MICKAELLO LINS MAGALHÃES SILVA Aspirante

SUMÁRIO

Introdução Interação entre o poder público e a iniciativa privada Integração entre poder público e iniciativa privada por meio de offset e seus frutos O que é offset e como ocorre no Brasil Offset na Marinha do Brasil Entrevista com a Capitão-Tenente (QC-IM) Érica Von Raschendorfer Bastos, realizada dia 31 de julho de 2014 Submarino Nuclear Brasileiro visto muito além da defesa Considerações finais INTRODUÇÃO benefícios para a sociedade. Essa tarefa de levar a nossos cidadãos melhor qualidade de esforço do aparato público é otimizado vida, oferecendo melhores e mais eficien- Oao se utilizarem as ferramentas certas tes serviços, traduz-se nos deveres que os na execução de um bem. O objetivo é levar agentes públicos têm para com a sociedade. ao cidadão, nossos clientes mais importan- Visando proporcionar ao cidadão essa tão tes, os melhores resultados. Estes melhores almejada qualidade de vida, a Administração resultados são as atribuições que a Adminis- Pública se espelhou na atuação da iniciativa tração Pública possui e se transformam em privada em buscar satisfazer os anseios de

* Artigo publicado originalmente na Revista Villegagnon, no 9, 2014. A CONTRIBUIÇÃO DO PROJETO DO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO PARA CIÊNCIA E TECNOLOGIA

seus clientes. Para isso, uniu-se o desejo do INTERAÇÃO ENTRE O PODER poder público de oferecer ao povo serviços PÚBLICO E A INICIATIVA de qualidade com a vontade, a capacidade e PRIVADA a eficiência da iniciativa privada. As medidas de compensação conhecidas Integração entre poder público e por offset reforçam os ganhos na integração iniciativa privada por meio de offset e entre a Administração Pública e a inciativa seus frutos privada. Apesar de subutilizado, o offset vem contribuindo para o desenvolvimento da Um bom exemplo de integração da economia nacional. Exemplo disso é o projeto iniciativa privada com o poder público é o do Submarino Nuclear Brasileiro (SN-BR). Projeto do Submarino Nuclear Brasileiro. Nosso submarino nuclear terá a missão Neste cenário de grandes expectativas e de contribuir com a defesa da soberania de muitos investimentos, a indústria nacional nosso mar territorial. lucra e se desenvolve, A tecnologia a ser em- tornando possíveis al- pregada para propul- O Brasil terá notória gumas obras de infra- são do submarino terá importância estratégica ao estrutura necessárias também o intuito de para a construção do diversificar a matriz dominar a tecnologia de Complexo Naval que energética brasileira, propulsão nuclear abrigará um estaleiro contribuindo para um e uma Base Naval. É maior dinamismo da o que nos sugere o Ca- indústria ao possibilitar que grandes montan- pitão de Corveta (IM) Anderson Chaves tes de energia possam ser disponibilizados. da Silva. De acordo com este autor, os Inicia-se, portanto, o debate pelo desenvolvi- benefícios do Programa Nuclear Brasileiro mento de um reator multiemprego, o Reator extrapolam a defesa da soberania da Zona Multipropósito Brasileiro. Econômica Exclusiva, nossa Amazônia Além dos resultados imediatos gerados Azul. O aprimoramento técnico e científico pelo desenvolvimento de um reator multita- é notório com o advento da transferência refas, o Brasil terá notória importância estra- integral de tecnologia na construção do tégica ao dominar a tecnologia de propulsão submarino, deixando a parte nuclear sob nuclear. A materialização dessa conquista égide de nossa Marinha. tecnológico-científica será o Brasil desenvol- Conforme o autor mencionado, nos é ver e operar submarinos de propulsão nuclear. apresentado um novo conceito de parcerias:

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[...] as políticas de compensação co- sil, o Decreto no 7.546, de 2 de agosto de mercial, industrial e tecnológica, ou 2011, em seu artigo 2o, inciso 3o, define as simplesmente offset, têm trazido grandes práticas offset como: benefícios para as partes envolvidas, a [...] qualquer prática compensatória ponto de passarem a competir em preço estabelecida como condição para o e qualidade com o produto principal e, fortalecimento da produção de bens, em muitos casos, se tornarem o fator do desenvolvimento tecnológico ou da determinante na escolha de um fornece- prestação de serviços, com a intenção dor. Dessa maneira, de gerar benefícios de ter conhecimento natureza industrial, tec- pleno do que se de- A Marinha deixa um nológica ou comercial seja receber e se o concretizados (BRA- país tem condições grande legado técnico SIL, 2011). de absorver o que para a indústria nacional o fornecedor tem de defesa e todas suas Offset na Marinha do a oferecer torna-se Brasil premissa nas ne- atividades correlacionadas gociações de offset Dentro das Forças (SILVA, 2013). Armadas, a Marinha do Brasil (MB) firmou diversos (19) acordos O que é offset e como ocorre no Brasil de compensação. Segundo o Comandante Anderson (SILVA, 2013), encarregado da As práticas de offset em nosso país Divisão de Acompanhamento de Operações ainda são pouco conhecidas, tendo como de Crédito, mestre em Ciências Contábeis primeiros usuários as Forças Armadas e pela Universidade Federal do Rio de Janei- possuindo uma publicação própria que ro (UFRJ) e em Negócios Internacionais regulamenta essas negociações. No Bra- (MBA) pelo Centro Universitário Interna-

RMB3oT/2015 195 A CONTRIBUIÇÃO DO PROJETO DO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO PARA CIÊNCIA E TECNOLOGIA

cional (Uninter), o mais expressivo offset ENTREVISTA COM A CAPITÃO- já firmado pelo Brasil foi o Programa de TENENTE (QC-IM) ÉRICA VON Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), RASCHENDORFER BASTOS, que engloba o projeto de construção do REALIZADA DIA 31 DE JULHO DE SN-BR. 2014 Nesse caminho de desenvolvimento e produção de conhecimento por meio da co- Em entrevista com a Capitão-Tenente operação da iniciativa privada com o poder (QC-IM) Érica Von Raschendorfer Bastos, público, a MB contribuiu de forma positiva, assistente do gerente de Administração e deixando um grande legado técnico para a Finanças da Coordenadoria Geral do Pro- indústria nacional de defesa e todas suas grama de Desenvolvimento de Submarino atividades correlacionadas. Além disso, com Propulsão Nuclear (Cogesn), fora insere-se como uma entidade pública de abordada a motivação para parcerias entre referência em obter os melhores resultados a Marinha do Brasil e empresas privadas, para a Nação, sendo, assim, um verdadei- tendo em vista o desenvolvimento do sub- ro exemplo de comprometimento com o marino nuclear e os desdobramentos dessa Brasil, utilizando de maneira profícua o interação. aparato público. Silva (2013) complementa Aspirante Mickaello: Por que em da seguinte forma: contratos de Defesa, como o desenvolvi- Por fim, é importante salientar que os mento e construção do submarino nucle- Acordos de Com- ar, a prática de offset pensação firmados foi empregada, não se pela MB buscam Apenas cinco países deixando tudo a cargo gerar benefícios no mundo dispõem da Marinha? para a Força nas CT (QC-IM) Éri- áreas de tecnologia, de tecnologia para a ca: Na realidade, tudo fabricação de mate- construção de submarinos começou em uma riais ou equipamen- nucleares parceria estratégica tos, nacionalização, firmada em 2009 en- treinamento de pes- tre os presidentes da soal, exportação e incentivos à indústria época, Lula e Sarkosi, que abrangia de defesa brasileira, que contribuem outras áreas, em especial a de Defesa, e para o desenvolvimento do setor de que contemplava a construção do sub- defesa e dos demais setores correlacio- marino com propulsão nuclear também. nados da economia nacional. Para isso, esta parceria foi estruturada por meio de um Acordo de Cooperação Silva (2013) enfatiza, ainda, o papel do e Transferência de Tecnologia entre o administrador público como usuário das Brasil e a França. parcerias, expondo sua importância como O Prosub nasceu ainda em 2008 e, agente fomentador do desenvolvimento ao atualmente, se desenvolve por meio de expor que a sociedade espera dos gestores sete contratos, dentre eles: construção de públicos compreensão dos reais benefícios quatro submarinos convencionais, constru- do offset “... não apenas como uma simples ção do Estaleiro e Base Naval em Itaguaí, compensação do exportador pela aquisição construção do submarino com propulsão de produtos ou serviços”. nuclear e offset.

196 RMB3oT/2015 A CONTRIBUIÇÃO DO PROJETO DO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO PARA CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Apenas cinco países no mundo dispõem brasileiro na França (ET-Prosub), além de de tecnologia para a construção de subma- um escritório de projetos com especialistas rinos nucleares. Dos cinco, apenas dois brasileiros e franceses em São Paulo. poderiam transferir esta tecnologia (França Aspirante Mickaello: Partindo do pres- e Rússia). Em virtude das circunstâncias suposto que as práticas de offset promovem políticas da época, a França foi escolhida. um real desenvolvimento ao País, a senhora Vale lembrar que este projeto já existia para concorda que, ao se optar por contratos em o Brasil, por força do Decreto nº 6.703, que há transferência de tecnologia, nossa de 18 de dezembro de 2008, que instituiu indústria é beneficiada? Ou há, na verdade, a Estratégia Nacional de Defesa (END) uma perda por desacreditar o potencial (BRASIL, 2008). brasileiro? O Brasil tem compromisso – decorrente CT (QC-IM) Érica: A transferência da Constituição Federal e da adesão ao de tecnologia é estratégica e dá ao País Tratado de Não Proliferação de Armas possibilidade de desenvolvimento futuro Nucleares – com o uso estritamente de forma contínua. Sem dúvida, abre por- pacífico da energia nuclear. Entretanto, tas para o surgimento de novos nichos de afirma a necessidade estratégica de mercado e, em grande escala, elevação do desenvolver e dominar essa tecnologia. Produto Interno Bruto (PIB) e do Produto O Brasil precisa garantir o equilíbrio e Nacional Bruto (PNB), dada a capacidade a versatilidade da sua matriz energética de fornecimento de peças e sobressalentes e avançar em áreas tais como as de para outros países que compartilham da agricultura e saúde, que podem se bene- mesma tecnologia de defesa. A END deixa ficiar da tecnologia de energia nuclear. estabelecido que a intenção do Projeto não E levar a cabo, entre outras iniciativas é receber, simplesmente, o SN, e sim obter que exigem independência tecnológica com ele a capacidade de produção interna em matéria de energia nuclear, o proje- de todas as suas partes. O modelo brasilei- to do submarino de propulsão nuclear ro já foi modificado, ou seja, o Scorpène (BRASIL, 2008). nacional é 6 metros maior que o modelo francês. Esta modificação no projeto foi A END tem alguns pontos focais: a realizada por pessoal nosso envolvido no reestruturação das Forças Armadas e a reor- desenvolvimento do SN-BR. ganização da indústria nacional de defesa. A indústria nacional será muitíssimo Este acordo de cooperação, por tratar-se beneficiada, pense na parte de catalogação: de um ajuste oneroso envolvendo alto vo- com nossas empresas atingindo níveis de lume financeiro, prevê uma compensação, desenvolvimento que garantam inclusão estabelecida estrategicamente pelo governo no Sistema Militar de catalogação, poderí- brasileiro, reduzida a termo por meio das amos fornecer para o mundo todo. Não se cláusulas de offset, prevendo transferência trata de desacreditar da indústria nacional, de tecnologia, know-how (informação muito pelo contrário, o governo tem bus- tecnológica protegida). No caso Prosub, a cado incentivar, quer seja por meio de um transferência de tecnologia se dá por meio regime diferenciado de tributação, quer seja de um contrato exclusivo não apenas pelas por meio da contratação. De fato, para este cláusulas de offset. Temos engenheiros bra- projeto, ainda precisamos conhecer todo o sileiros distribuídos pela França desenvol- produto e, para isso, ainda teremos muito vendo o projeto do SN-BR, um escritório contato com os franceses.

RMB3oT/2015 197 A CONTRIBUIÇÃO DO PROJETO DO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO PARA CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Submarino Nuclear Brasileiro visto nos informa o site do Centro Tecnológico muito além da defesa da Marinha em São Paulo (CTMSP), cujo lema é “Tecnologia Própria é Indepen- Por ocasião da construção do SN-BR, a dência”: parte nuclear ficou inteiramente sob respon- Desde o final da década de 1970, a MB sabilidade do Brasil. A França está nos auxi- desenvolve, nas dependências de seu liando, capacitando nossos técnicos e enge- Centro Tecnológico da Marinha em São nheiros. Outro fato importante que merece Paulo (CTMSP), um programa de desen- ser mencionado é que nossa indústria estará volvimento de tecnologia nuclear, visan- criando novas oportunidades de empre- do, por um lado, ao domínio do ciclo do go, notadamente um combustível nuclear, grande benefício so- que logrou êxito em cial. Além disso, nosso O advento do SN-BR é uma 1982, com a divulgação país estará ingressan- do enriquecimento do do num seleto grupo conquista que o Brasil terá urânio com tecnologia de países que operam na garantia dos interesses desenvolvida pela MB. submarinos nucleares, Por outro, o desenvol- juntamente a Estados nacionais – defesa da vimento de um protó- Unidos, Rússia, Reino soberania, tendo em vista a tipo de reator nuclear Unido, França, China característica dissuasória, capaz de gerar energia e Índia, possibilitando para fazer funcionar a que o Brasil venha a sendo elemento estratégico planta de propulsão de ser um membro per- que confirmará o papel de um submarino nuclear manente do Conselho (CTMSP, 2014). de Segurança da ONU, destaque do Brasil junto O objetivo do Bra- objetivando o poder de ao Brics e na Comunidade sil não é criar armas veto dentro do referido Internacional nucleares, pois é um Conselho. signatário do Tratado O advento do SN- de Não Proliferação -BR é uma conquista que o Brasil terá Nuclear (TNP) desde 1998. Nosso sub- na garantia dos interesses nacionais, bem marino terá o objetivo de defesa de nossa como a defesa da nossa soberania, tendo Amazônia Azul. Dito isto, o Brasil pro- em vista sua característica dissuasória, sen- porcionará aos brasileiros a garantia da do, portanto, um elemento estratégico que soberania e defesa de nossas águas. O confirmará o papel de destaque que o Brasil advento de nosso submarino de propulsão vem alcançando no Brics1, bem como na nuclear incrementará a matriz energéti- Comunidade Internacional. Agora, não mais ca brasileira. É o caso da usina de Belo apenas como oitava economia do mundo e Monte, que utilizará um reator nuclear no maior produtor de alimentos, mas também processo de obtenção de energia. Fala- como desenvolvedor de tecnologia nuclear se agora em um Reator Multipropósito para propulsão. Brasileiro, que atenderá não apenas aos O sonho brasileiro de construir e operar propósitos militares, como também às áreas submarinos nucleares não é recente, como de pesquisa, ciência e tecnologia, sendo,

1 Grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

198 RMB3oT/2015 A CONTRIBUIÇÃO DO PROJETO DO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO PARA CIÊNCIA E TECNOLOGIA

notadamente, um expressivo avanço para A prova da multiplicidade de empregos o País. Complementando e embasando o para o reator multipropósito brasileiro nos exposto: é apresentada no site do Instituto de Física [...] em consonância com outras nações de São Carlos (IFSC), na matéria “Entenda desenvolvidas de dimensões continen- o projeto do grande Reator Multipropósito tais, cresce a importância de se pos- Brasileiro”, disponibilizada no dia 7 de suir uma forte Força de Submarinos, março de 2012: estruturada em diversos submarinos Além da aplicação na medicina, que salva convencionais e, principalmente, em milhares de vidas anualmente, o fluxo de submarinos com propulsão nuclear, que nêutrons de alta intensidade advindo do terão a tarefa principal de negar o uso funcionamento do novo reator multipro- do mar ao inimigo, por serem armas de pósito servirá para o teste de combustíveis capacidade dissuasória por excelência e outros materiais utilizados na produção (SILVA, 2014). de energia e de propulsão, na tentativa de oferecer maior segurança e eficiência para O submarino nucle- projetos como o com- ar é considerado um plexo nuclear de Angra dos mais complexos O submarino nuclear é e o submarino nuclear meios navais já ideali- brasileiro. zados pelo homem, se- considerado um dos mais gundo Guedes (2012), complexos meios navais já Como já relatado em contribuição para idealizados pelo homem e agora reforçado, os o site DefesaNet. Gue- ganhos para a indústria des (2012) defende A. Guedes brasileira são bastan- que te significativos. Um seu reator nucle- grande parceiro perten- ar, por ser uma fonte quase ines- cente à indústria nacional que vem contri- gotável de energia, confere- buindo para que o sonho de operarmos o lhe enorme autonomia, podendo desen- submarino nuclear se torne realidade é a volver velocidades elevadas por longos Bosch. Ao fornecer ferramentas de alta qua- períodos de navegação, ampliando lidade para a construção da estrutura me- significativamente sua mobilidade e tálica (casco) dos submarinos, bem como permitindo-lhe patrulhar áreas mais as utilizadas na Unidade de Fabricação de extensas dos oceanos. Estruturas Metálicas (Ufem), explicita sua participação, já durante o projeto dos sub- Os ganhos com o advento dos novos marinos. Desse modo, a parceria firmada submarinos são reforçados na mesma entre Brasil e França, representada por meio reportagem, e é enfatizada a quantidade da Direction des Constructions Navales et expressiva de empregos gerados e de em- Services (DCNS), vem, desde o presente, presas nacionais envolvidas nas etapas de alavancando nossa economia ao estimular construção. Guedes (2012) ressalta ainda nossas indústrias, seja aumentando a de- que a transferência de tecnologia e a ex- manda ou gerando novos empregos. pressiva nacionalização dos equipamentos O custo estimado do programa é de R$ tornarão possíveis uma elevada qualifica- 21 bilhões. Só a fábrica de estruturas ção dos profissionais brasileiros. metálicas injetou R$ 240 milhões na in-

RMB3oT/2015 199 A CONTRIBUIÇÃO DO PROJETO DO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO PARA CIÊNCIA E TECNOLOGIA

dústria nacional, que forneceu 95% dos ganho produtivo e social proveniente das equipamentos e das máquinas usados medidas de compensação (offset). na obra. Em 2025, quando o complexo A capacidade de o Brasil operar e construir deve alcançar capacidade máxima de submarinos nucleares foi apresentada como produção, vai gerar 9 mil empregos di- um meio de o País se fazer ouvir no Conselho retos e 32 mil indiretos. (VIDA BOSCH, de Segurança da ONU, pois possibilitará ao 2014, p. 27) Brasil pleitear ser membro permanente do Conselho. Além disso, é fato que irá contribuir CONSIDERAÇÕES FINAIS para um maior dinamismo da matriz energética brasileira, ao passo que se vislumbra a criação Neste artigo, foi abordada uma forma de do Reator Multipropósito Brasileiro. interagir o poder público com a iniciativa A Marinha do Brasil foi a protagonista privada, a saber: as medidas de compensa- que desencadeou significativos avanços nas ção, ou offset. áreas de ciência e tecnologia, por meio do Os benefícios nas áreas de ciência e Prosub. O SN-BR é a materialização do tecnologia, resultado das parcerias entre a progresso científico e tecnológico brasilei- iniciativa privada e o poder público, foram ro. Mesmo que ainda não esteja concluído, explicitados por meio do projeto do SN- os ganhos do projeto são inegáveis. O SN- BR. Outros impactos na economia, como BR, mais que um instrumento de defesa, o aumento da demanda para a indústria de não apenas será, mas já é, um elemento que defesa e suas atividades correlacionadas incrementa o desenvolvimento científico e e geração de empregos, são exemplos do tecnológico brasileiro.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Submarino nuclear; Ciência e tecnologia na Marinha; Energia nuclear; Desenvolvimento; Política nacional; Política nuclear;

BIBLIOGRAFIA

ASSESSORIA de Comunicação IFSC-USP. Entenda o projeto do grande Reator Multipropósito Brasileiro. Disponível em: . Acesso em: 17 jul. 2014. BRASIL. Decreto no 7.546, de 2 de agosto de 2011. Regulamenta o disposto nos §§ 5o a 12 do art. 3o da Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993, e institui a Comissão Interministerial de Compras Públicas. Diário Oficial da União, Brasília, 2011. BRASIL. Ministério da Defesa. Estratégia de Defesa Nacional. Paz e Segurança para o Brasil. MD, 2008. CTMSP. Submarinos na estratégia naval brasileira. Disponível em: . Acesso em: 17 jul. 2014. FERNANDES, S. “Os guardiões do petróleo”. Vida Bosch. São Paulo, v. 35, abr./jun. 2014. GUEDES, A, A. O projeto do submarino de propulsão nuclear. Disponível em: . Acesso em: 17 jul. 2014. SILVA, A. C. “Marinha do Brasil e as Práticas de Compensação Comercial, Industrial e Tecnológica”. Revista Marítima Brasileira. Rio de Janeiro, v. 133, no 10/12, out./dez. 2013. SILVA, R. T. F. “As contribuições da Energia Nuclear para o Poder Naval”. Revista Marítima Bra- sileira. Rio de Janeiro, v. 134, no 04/06, abr./jun. 2014.

200 RMB3oT/2015 HENRY TANDEY – O homem que não atirou em Hitler*

HUGO MAIA NOBREGA ALVES Aspirante

SUMÁRIO

Introdução Atuação distinta Cruz da vitória Outubro de 1914

INTRODUÇÃO Quando a guerra começou, Tandey foi mandado para a Bélgica, em outubro de enry Tandey nasceu em Leamington, 1914, onde lutou na Batalha de Ypres, a Hum pequeno vilarejo no meio oeste da fim de impedir o avanço alemão e garantir Inglaterra, em 30 de agosto de 1891. Filho para a Inglaterra um posto avançado para de um militar reformado, Tandey se alistou desembarque no continente, visto que no Exército britânico em 1910, aos 18 anos, aquela região era a mais próxima da ilha no regimento de infantaria conhecido como britânica. , tendo servido em Guern- Em 1916 foi ferido pela primeira vez, sey (uma ilha inglesa perto da França) e na quando lutava na Batalha de Somme ao África do Sul, antes do início da Primeira lado dos franceses contra o Império ale- Guerra Mundial. mão. Em 1917 foi ferido novamente, na

* Artigo publicado originalmente na Revista Villegagnon, no 9, 2014, com o título “Henry Tandey, V.C., D.C.M., M.M. – Da honra ao infortúnio”. Correspondendo: V.C. – ; D.C.M. – Distinguished Conduct Medal; MM – . HENRY TANDEY – O homem que não atirou em Hitler

Batalha de Passchendaele (Terceira Bata- enemy, he rushed a post, returning with lha de Ypres), sendo transferido, após sua twenty prisoners, having killed several recuperação, para o 33o Regimento (West of the enemy. He was an example of Riding Regiment – daring, courage throu- Regimento do Duque ghout the whole of the de Wellington), em operations. 1918. (THE LONDON Gazet- te, 1918, p. 14.454) ATUAÇÃO DISTINTA Alguns dias depois, o Soldado Henry Tan- Em 28 de agosto de dey teria outra atuação 1918, quando entrin- notável. Ele resgatou cheirada nas redonde- vários homens feridos zas da cidade francesa ao, novamente, invadir de Cambrai, a divisão as trincheiras alemãs e de Tandey sofria um cessar o fogo inimigo, pesado bombardeio retornando com vários advindo da artilharia prisioneiros. Essa atitude alemã entrincheirada fez com que recebesse a a apenas algumas cen- Medalha Militar (Milita- tenas de metros a sua ry Medal – M.M.). frente. Junto com mais Henry Tandey dois companheiros, CRUZ DA VITÓRIA Tandey se aventurou em campo aberto (a chamada “Terra de Ninguém”), ata- No dia 28 de setembro de 1918, tropas cou as trincheiras inimigas (tomando sua alemãs e inglesas se enfrentaram na pequena posição) e regressou com 20 cidade de Marcoing, França. prisioneiros alemães. Essa O objetivo inglês era chegar atuação rendeu-lhe mais tarde ao outro lado do rio que corta a Medalha de Notável Conduta a cidade e continuar avançan- (Distinguished Conduct Me- do sobre território dominado dal – D.C.M.), com a seguinte alemão. Naquele dia, Tandey, citação retirada da The London ao ser cercado por 37 alemães Gazette, em 3 de dezembro de portando metralhadoras, con- 1918: venceu outros oito colegas a No. 34506 Pte. H. Tandey, partirem para cima dos solda- 5th Bn., W. Eid. E. (T.F.) dos munidos apenas de baio- (Leamington) netas, acabando por rendê-los. He was in charge of a reser- Tandey foi ferido duas vezes ve bombing party in action, naquele dia, mas se recusou a and finding the advance Cruz da Vitória ir para o hospital enquanto a ba- temporarily held up, he cal- talha não estivesse ganha. Por led on two other men of his party, and tamanho ato de bravura e coragem, recebeu working across the open in rear of the a Cruz da Vitória (Victoria Cross – V.C.), a

202 RMB3oT/2015 HENRY TANDEY – O homem que não atirou em Hitler

mais alta condecoração militar. O feito foi sa, Henry encontrou-se com um soldado assim registrado na The London Gazette: alemão a noroeste de Menin. O soldado No. 34506 Pte. Henry Tandey, não tinha forças nem para levantar o pró- D.C.M.,M.M., 5th Bn., W. Rid. R. (T.F.) prio rifle. O militar inglês o tinha na mira, (Leamington) mas o deixou ir, ao que, com um aceno de For most conspicuous bravery and ini- cabeça, o soldado alemão agradeceu tal ato tiative during the capture of the village de compaixão. Esse caso seria mais uma and the crossings at Marcoing, and the história bonita de guerra se não fosse por subsequent counter-attack on September um detalhe: o soldado poupado por Tandey 28th, 1918. When during the advance on era ninguém mais do que o próprio Adolf Marcoing, his pla- Hitler. toon was held up by No final do ano de machine-gun fire, O soldado poupado por 1918, Adolf Hitler ha- he at once crawled via lido sobre a conde- forward, located Tandey era ninguém mais coração de um soldado the do que o próprio em um jornal e reco- and, with a Lewis Adolf Hitler nheceu Tandey na foto. gun team, knocked Ele recortou a notícia e it out. guardou para si. On arrival at the crossings he restored Já em 1937, ele toma conhecimento de the plank bridge under a hail of bullets, uma pintura do italiano Fortunino Matania thus enabling the first crossing to be pelo Dr. Otto Schwend, um médico que made at this vital spot. atuou na Batalha de Ypres em 1914. Essa Later in the evening, during an attack, he, pintura retratava um soldado britânico with eight comrades, was surrounded by (supostamente Tandey) carregando um fe- an overwhelming number of Germans, rido, tendo Hitler deitado no canto superior and he led a bayonet charge through direito da pintura. Baseada em um evento them, fighting so fiercely that 37 of the real em Menin, a pintura foi encomendada enemy were driven into the hands of the remainder of his company. Although twice wounded, he refu- sed to leave till the fight was won. (THE LONDON Gazette, 1918, p. 14.778)

OUTUBRO DE 1914

Já após o fim da batalha e vitória ingle- O quadro de Fortunino Matania

RMB3oT/2015 203 HENRY TANDEY – O homem que não atirou em Hitler

pelo regimento de Henry Tandey, o Green Hitler pediu para Chamberlain transmi- Howard, em 1923. tir seus votos de agradecimento a Henry Hitler identificou o homem carregan- naquele dia. do o ferido como sendo o soldado que Em 1940 Tandey teria supostamente lhe poupou a vida. Quando, em 1938, o dito aos seus amigos: primeiro-ministro bri- “Se ao menos eu sou- tânico Neville Cham- besse o que ele iria se berlain visitou Hitler Quando eu vejo todas tornar… quando eu para assinar o Acordo vejo todas as pessoas, de Munique, viu a as pessoas, mulheres mulheres e crianças pintura na parede e e crianças que ele tem que ele tem matado perguntou ao Füher o matado e ferido, peço e ferido, peço des- que era, tendo Hitler culpas a Deus por dito: desculpas a Deus por tê-lo tê-lo deixado esca- “Aquele homem deixado escapar par.” (TANDEY apud veio até mim para JOHNSON, 2012, p. me matar. Eu pen- Tandey 155) sei que nunca mais veria a Alemanha Apesar de inques- novamente. A Providência salvou-me tionável bravura em toda a sua carreira do fogo diabólico que aqueles garotos militar, Henry Tandey seria lembrado para ingleses estavam apontando para nós.” sempre como “O homem que não atirou (HITLER apud JOHNSON, 2012, p. 150) em Hitler”.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; História da Inglaterra; Hitler, Adolf; Primeira Guerra Mundial; História da Alemanha; Comportamento;

BIBLIOGRAFIA

BLETCHLY, Rachael. “Henry Tandey spared wounded Adolf Hitler’s life in First World War – and changed the world forever”. Mirror. Londres, 11 jan. 2014. Disponível em: . Acesso em: 04 set. 2014. JOHNSON, David. One Soldier and Hitler, 1918: The Story of Henry Tandey VC DCM MM. Glou- cestershire: the History Press, 2012. THE LONDON Gazette. 3 de dezembro de 1918, p. 14.454. Disponível em: . Acesso em: 04 de set. de 2014. ______. 13 de dezembro de 1918, p. 14.778. Disponível em: . Acesso em: 04 de set. de 2014. ______. 11 de março de 1919, p. 3.430. Disponível em: . Acesso em: 04 de set. de 2014. VICTORIA Cross. The Duke of Wellington’s Regiment (West Riding). Disponível em: . Acesso em: 05 de set. de 2014.

204 RMB3oT/2015 UM GESTO DE HUMANIDADE*

VINÍCIUS SOUZA FIGUEREDO Aspirante

navegação personifica muitos atri- se navegar e as tradições do mar revelam a A butos humanos. A superação do virtude socializável do ser humano. Além medo de avançar sobre o desconhecido, disso, a navegação representa o melhor dos estereotipado pelos traços dos monstros modais, transformando o homem num ser marinhos invisíveis consequentes da su- global e sem fronteiras, revolucionando a perstição, representa a coragem e a bravura logística e aproximando os países no campo dos marinheiros das grandes navegações. do comércio internacional e das relações A estratégia, a criatividade e o patriotismo diplomáticas. Essas foram algumas das se fizeram presentes nas manobras das diversas características que representam frotas navais envolvidas nas guerras dos as facetas do ser humano expressas pela séculos passados, escrevendo a história necessidade de se navegar. de um modo único. A ciência de se na- Porém existe uma faceta do homem ex- vegar, ancorada inicialmente na Escola pressa pela navegação que fere a principal de Sagres, transcendeu a superfície das virtude defendida pela filosofia tradicional águas e alcançou o firmamento brilhante aristotélica: o equilíbrio que, nesse con- do céu noturno, desprendendo comple- texto, está associado à sustentabilidade. xos cálculos das estrelas, representando Apesar da bravura, da coragem, da estra- a cognição lógica do homem. A vida de tégia, da cognição lógica, da socialização bordo, o espírito de corpo necessário para e da globalização, a navegação mundial

* Artigo publicado originalmente na Revista Villegagnon, no 9, 2014. UM GESTO DE HUMANIDADE

revela outra característica do homem: a o enxofre e outros tipos de substâncias que desarmonia com a própria natureza, capaz impactam consideravelmente o ambiente. de ameaçar o futuro de sua própria espé- Porém, apesar desses números assus- cie. É preciso navegar, porém sem deixar tadores, o derrame de petróleo tem sido de preservar a natureza, sem deixar de se o protagonista desse cenário de desastres preocupar com a sustentabilidade. contra a natureza, sendo considerado um A frota mundial dos maiores desastres de navios emite um ecológicos de que se volume de poluentes É preciso navegar sem tem notícia. Afinal, o que equivale à meta- deixar de preservar a petróleo derramado dá de da poluição pro- início a uma sequência duzida pela frota de natureza. de efeitos que desesta- veículos do mundo A frota mundial de navios bilizam o ecossistema, 1 inteiro . Navios são emite poluentes que que, quando afetado, expoentes emissores pode demorar dezenas da poluição particu- equivalem à metade dos de anos para se recom- lada, fora os impactos produzidos pela frota de por. causados pelo derra- O “ouro negro” me de petróleo, pelo veículos do mundo inteiro (como o petróleo pode tributil-estanho das ser chamado) flutua na tintas antivegetais que envolvem os cascos água, causando um fenômeno conhecido dos navios, pela limpeza das embarcações por “maré negra”, que impede a entrada da que derramam produtos químicos ricos luz solar e inviabiliza o processo de fotos- em óleos minerais, entre outras formas de síntese da vegetação aquática. Desse modo, impacto do meio ambiente. Essa é uma fa- o nível de oxigênio na água é comprome- ceta hostil do homem, tido, o que provoca a que age por seus inte- mortandade de peixes, resses, que não busca O petróleo derramado dá que, mesmo subindo à a sustentabilidade e o início a uma sequência de superfície, acabam se equilíbrio, deixando- impregnando de óleo e se levar pelos resul- efeitos que desestabilizam morrem asfixiados. As tados em curto prazo. o ecossistema, que, quando aves que se alimentam Os navios lançam afetado, pode demorar desses peixes acabam no ar mais de 870 morrendo, tanto por milhões de toneladas dezenas de anos para se falta de alimento quan- de gás carbônico, e recompor to pelo óleo impreg- esse volume tende a nado em suas penas, aumentar 250% até fazendo-as perderem 20502. Além disso, a frota marítima produz o isolamento térmico e morrerem de frio, quase 30% dos óxidos de nitrogênio de ori- além de contaminarem outros animais de gem antropogênica, sem contar os sulfatos, sua cadeia alimentar.

1 LACK, D.A. et al. “Particulate emissions from commercial shipping: Chemical, physical, and optical properties”. Journal of Geophysical Research, vol. 114, 2009. 2 Dados retirados do site da Internacional Maritime Organization (IMO) – ww.imo.org.

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Ave afetada por petróleo derramado

O prejuízo ambiental em uma área que ção atual dos países. Hoje, por intermédio sofreu o derrame de petróleo é praticamen- dos 30 mil navios que compõem o modal te incalculável, prejudicando também as marítimo, o homem encurtou as distâncias atividades econômicas baseadas na pesca e globalizou os espaços. E o que será de e no turismo. O petróleo é derramado seu futuro se o ser humano, apesar de ter não só pelo vazamento de navios e de demonstrado tantas qualidades e atributos plataformas, como também pela limpeza no mar, continua, em sua essência, atri- dos tanques. buindo ao equilíbrio ecológico uma posição Quando as embarcações são lim- secundária? pas ou reparadas, um volume grande Navegar é preciso e é importante. En- de material tóxico é tretanto, navegar sem derramado na água, deixar de preservar e o que compromete a Navegar sem deixar de sem impactar a natureza vida de mamíferos, preservar é um gesto é um ofício que revela a de aves marinhas e genuíno de humanidade mais nobre das virtudes: de tartarugas. As tin- o “equilíbrio do ser”, tas que revestem os como se propôs a dizer cascos são produzidas com estanho, com- Aristóteles. Navegar e usar as águas de modo posto que é letal para vários organismos sustentável e equilibrado é a virtude do ho- plânctons e é capaz de não apenas afetar mem que transcende as fronteiras do tempo a reprodução desses seres, como também e lança um olhar para o futuro. É a virtude provocar distorções genéticas pela altera- do homem que entende o passado e que ção cromossômica. desenvolve o seu espírito com a precaução Todo esse impacto demonstrado pela dos fatos, sabendo associar o ontem ao hoje navegação apenas demonstra que o ser e que tem a destreza de esboçar as tendências humano ainda continua priorizando os seus do amanhã. É a virtude do homem sensato, interesses a partir de uma perspectiva de que associa suas cognições lógicas regidas curto alcance, sem olhar para o futuro das pelo ritmo da razão à subjetividade de sua próximas gerações. No passado, ele des- alma, reconstruindo e renovando a si próprio cobriu novos continentes e usou as águas a cada dia a partir daquilo que ele consegue como fator determinante para a configura- enxergar do futuro. É a virtude do homem

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que se preocupa com a sua própria espécie não apenas a natureza, como também a si e entende que o potencial da criatividade e próprio. da ousadia usado para descobrir um novo Sendo assim, navegar sem deixar de pre- continente pode ser usado para preservar servar é um gesto genuíno de humanidade.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Poluição do mar; Exemplo;

BIBLIOGRAFIA

GRAYLEY, Mônica Villela. Mudanças climáticas: Reunião analisa papel de navios no aumento do efeito estufa. jul. 2009. Disponível em: http://www.institutocarbonobrasil.org.br/mudancas_cli- maticas1/noticia=722404>. Acesso em: 02 ago. 2013. LACK, D.A. et al. “Particulate emissions from commercial shipping: Chemical, physical, and optical properties”. Journal of Geophysical Research, vol. 114, 2009. NAVIOS emitem poluição equivalente à metade da frota mundial de carros. Site Inovação Tecno- lógica, 04 maio 2009. Disponível em: . Acesso em: 02 ago. 2013. NAVIOS emitem um volume de poluentes particulados equivalente a metade da frota mundial de carros. EcoDebate, 05 maio 2009. Disponível em: . Acesso em: 02 ago. 2013.

208 RMB3oT/2015 CARTAS DOS LEITORES

Esta seção destina-se a divulgar ideias e pensamentos e incentivar de- bates, abrindo espaço ao leitor para comentários, adendos esclarecedores e observações sobre artigos publicados. As cartas deverão ser enviadas à Revista Marítima Brasileira, que, a seu critério, poderá publicá-las parcial ou integralmente. Contamos com sua colaboração para realizar nosso pro- pósito, que é o de dinamizar a RMB, tornando-a um eficiente veículo em be- nefício de uma Marinha mais forte e atuante. Sua participação é importante.

Recebemos do Capitão de Mar e Guerra (Refo) Cesar Augusto Lambert de Azevedo a seguinte correspondência relativa ao artigo “Relações do Brasil com a República Popular da China”, de sua autoria, publicado na edição do 2o trimestre de 2015, páginas 149-160. “Solicito a publicação das seguintes Leia-se: ... sem discriminar nenhum correções no meu artigo: Estado (OLIVEIRA, 2005, p. 149) ... 1 – Na página 150, onde se lê: ... 3 – Na página 160, deixei de mencionar China Brazil Earth Remote Satellites a seguinte referência bibliográfica: (NA- (CBERS) ... TIONAL BUREAU OF STATISTICS OF Leia-se: ... China Brazil Earth Resources CHINA. ...) e (PITA, Antonio; NEDER, Satellites (CBERS) ... Vinicius ...): OLIVEIRA, Henrique Alte- 2 – Na página 155, onde se lê: ... sem mani. “A Política Externa nos Governos discriminar nenhum Estado (OLIVEIRA, Militares”. In: Política Externa Brasileira. p. 149) ... São Paulo: Saraiva, 2005, p. 107-167.”

A RMB recebeu correspondência de Carlos Alberto Sampaio Fernandes sobre a matéria “Encerramento das Atividades Culturais de 2014 da DPHDM – Efemérides Navais”, publicada na edição do 1o trimestre de 2015, à página 300, seção Noticiário Marítimo. “Em complemento à matéria publicada Fernandes, que o referido oficial foi o pri- por esta revista, ressalto que deixou de ser meiro comandante do Corpo de Alunos do mencionado, no resumo biográfico do Al- Colégio Naval, adido naval na Argentina e mirante de Esquadra Octávio José Sampaio Uruguai e comandante do 1o Distrito Naval.” NECROLÓGIO

A RMB expressa o pesar às famílias pelo falecimento dos seguintes colaboradores e assinantes:

AE Julio de Sá Bierrenbach  08/01/1919 † 11/06/2015 AE Carlos Augusto Bastos de Oliveira  05/04/1936 † 11/06/2015 CA Telmo Becker Reifschneider  03/11/1924 † 23/05/2015 CMG Salvio Augusto de Oliveira Martins  10/10/1926 † 0 2/05/2015 CT Hamilton Luiz da Silva  05/08/1963 † 29/04/2015

Nascido em São Paulo, filho de Julio Bierrenbach e de Julia de Sá Bierrenbach. Promoções: a segundo-tenente em 12/1/1942; a primeiro-tenente em 30/4/1943; a capitão-tenente em 4/5/1945; a capitão de corveta em 30/6/1952; a capitão de fragata em 5/11/1957; a capitão de mar e guerra em 5/3/1964; a contra-almirante em 15/4/1968; a vice-almirante em 31/3/1973; e a almirante de esquadra em 31/3/1975. Foi transferido para a reserva em 28/6/1977. Em sua carreira exerceu cinco coman- dos: Navio-Hidrográfico Sirius, Cruzador Tamandaré, Centro de Instrução Almirante Wandenkolk, Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes e 1o Distrito Naval. Foi diretor de Escola de Guerra Naval, da Diretoria de Hidrografia e Navegação, da Escola Naval e da Diretoria de Pessoal JULIO DE SÁ BIERRENBACH Militar. Foi presidente da Comissão Naval Almirante de Esquadra Brasileira em Washington e da Comissão de NECROLÓGIO

Desportos da Marinha. Foi capitão dos Portos Naval do Mérito de Guerra – Serviços de de São Paulo, secretário-geral da Marinha e Guerra – 3 Estrelas; Medalha Força Naval ministro do Superior Tribunal Militar. do Nordeste – Bronze; Medalha Força Na- Comissões: Navio-Hidrográfico Rio val do Sul – Bronze; Ordem do Mérito da Branco, Navio-Escola Almirante Salda- Defesa – Grande-Oficial; Ordem do Mérito nha, Contratorpedeiro Maranhão, Corveta Naval – Grã-Cruz; Ordem do Mérito Mili- Jaceguai, Contratorpedeiro Marcílio Dias, tar – Grande-Oficial; Ordem do Mérito Ae- Caça-Submarino Guaporé, Arsenal de Ma- ronáutico – Grã-Cruz; Ordem do Mérito de rinha do Rio de Janeiro, Navio-Hidrográfi- Rio Branco – Grã-Cruz; Ordem do Mérito co Javari, Corveta Caravelas, Encouraçado Judiciário Militar – Grã-Cruz; Medalha da Minas Gerais, Comando do 3o Distrito Vitória; Medalha Militar e Passador Platina Naval, Contratorpedeiro Bracuí, Navio- – 4o Decênio; Medalha Mérito Tamandaré; Tanque Ilha Grande, Caça-Submarino Medalha Mérito Marinheiro – 2 Âncoras; Gurupi, Navio de Apoio Duque de Caxias, Medalha do Pacificador; Medalha Mérito Estado-Maior da Armada, Diretoria do Santos Dumont; PY-NM Paraguai – Ordem Pessoal Militar, Escola Superior de Guerra, Nacional do Mérito; PT-OA Portugal – Comando em Chefe da Esquadra. Ordem Militar de Avis; e FR-NM França Em reconhecimento aos seus serviços, – Ordem Nacional do Mérito. recebeu inúmeras referências elogiosas À família do Almirante Bierrenbach, o e as seguintes condecorações: Medalha pesar da Revista Marítima Brasileira.

PRONUNCIAMENTO NA CONFRARIA DO BODE VERDE, NO CLUBE NAVAL, EM 9 DE JULHO DE 2015 Almirante Bierrenbach de agosto de 1954, realizada em decorrência Prestamos hoje nossa homenagem ao Al- do atentado da Rua Tonelero. Transcreve- mirante de Esquadra Julio de Sá Bierrenba- mos aqui palavras do Almirante Bierrenbach ch, nosso hidrógrafo mais graduado, falecido narrando esse episódio: aos 98 anos, em 11 de junho, dia em que se “ [...] Seguindo-se às reuniões em dias comemoravam os 150 anos da Batalha Naval anteriores no Clube da Aeronáutica e no do Riachuelo. Com toda sua lucidez e dispo- Clube Naval, houve, na tarde de sábado, dia sição, era um prazer ouvir dele histórias dos 14, a Assembleia no Clube Militar, presidida velhos tempos da Hidrografia e da política pelo General Canrobert Pereira da Costa, contemporânea do Brasil. O Almirante Bier- tendo a seu lado o vice-presidente do Clube, renbach teve atuação destacada no cenário General Juarez Távora. O salão estava repleto. político nacional entre as décadas de 50 e Encontravam-se presentes mais de 40 oficiais- 80 do século findo. Participou por três anos generais das três Forças Armadas. Lembro-me, de comboios na Segunda Guerra Mundial. entre outros, do Coronel Lindenberg e dos Licenciado a pedido, foi assessor político de Majores Joaquim Colares, Helder Henriques, Carlos Lacerda e de Jânio Quadros, deste na Jarbas Passarinho e Antônio Carlos Andrada campanha presidencial. Ainda como capitão Serpa falando em homenagem a Rubens de corveta, quando comandava o Navio Vaz. Também resolvi falar, relatando o que Hidrográfico Rio Branco, empenhado na sabia sobre a demora na prisão dos sicários histórica Campanha do Amapá, participou da Guarda Pessoal do Presidente, sem dúvida da memorável Assembleia do Clube Militar implicados no atentado, conforme provaram

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nossos colegas da Aeronáutica, embora o mencionando que “mais a merecem os deso- General Caiado de Castro, chefe do Gabinete cupados dos cais que, voluntariamente, en- Militar, pela imprensa, afirmasse que o Presi- capelam nossas espias...”. Em abril de 1964, dente tinha dado ordens ao chefe da Guarda assumiu, sem que tivesse sido nomeado pelo para prendê-los. Assim terminei minhas pala- ministro da Marinha, o cargo de capitão dos vras: ‘Diante disso, eu me permito fazer uma Portos de São Paulo, em Santos, onde teve pergunta ao Exmos. Senhores oficiais-generais notável atuação, contribuindo positivamente e aos meus companheiros oficiais superiores para a consolidação da Revolução naquela das três Forças Armadas: É possível que o tão sensível área. Foi diretor de Hidrografia Exército de Caxias, a Marinha de Tamandaré e Navegação em 1969 e 70, na Ilha Fiscal. e a Aeronáutica de Rubens Vaz cumpram as Nos anos 80, como ministro presidente do determinações de um homem que não tem for- Supremo Tribunal Militar (STM), apre- ça moral nem para dirigir sua própria Guarda sentou, em todas as oportunidades, sua Pessoal? Senhores, a Constituição está de pé e contrariedade perante a impunidade acerca existe um vice-presidente da República eleito do Caso Riocentro e sua repulsa pelas ten- pelo povo’.[...] a íntegra do que eu disse foi tativas do Exército de justificar que aquele publicada no Diário do Congresso [...], na ato não fora um atentado, o que pode ser véspera a Tribuna da Imprensa já havia pu- melhor verificado em seu livro: Riocentro: blicado a manchete: ‘Café Filho também foi quais os responsáveis pela impunidade?. eleito pelo povo’. Na segunda-feira os jornais Em novembro de 1982, após as eleições noticiaram que eu havia sido punido com dez legislativas e para os governos estaduais, dias de prisão rigorosa [...]” manifestou-se favorável à eleição direta Nosso Almirante, na época capitão de para a Presidência da República, em 1984, fragata, foi um dos revoltosos embarcados com candidatos civis disputando o pleito; e em 1955 no Cruzador Tamandaré, que afirmou, também, que o ciclo militar havia suspendeu com o Presidente da República chegado ao fim. Como ministro do STM, a bordo para instalar um Governo Provisó- repudiou toda forma de tortura e, em seus rio em Santos – episódio conhecido como veredictos, perseguiu sempre a preservação “Novembrada” – e por isso foi alvo real da integridade da pessoa humana. Publicou dos canhões do Forte de Copacabana e do também 1954-1964. Uma década política. Forte Duque de Caxias, no Leme. Em 1962, Tinha planejado escrever um livro ou quando comandava o Sirius, encaminhou ele artigo cujo título seria: “A revolução que ao ministro da Marinha da época um ofício ajudei a fazer e o golpe que ajudei a termi- restituindo sua medalha da Ordem do Mérito nar”. Achava ele que o poder deveria ter Naval, ao tomar conhecimento de que polí- sido devolvido aos civis em 31 de janeiro ticos que nada jamais fizeram pela Marinha de 1966, como determinava o Ato Institu- seriam condecorados. Entre os agraciados cional da Revolução de 1964. Infelizmente, com a medalha, Leonel Brizola. Por esse ato, esse projeto não chegou a ser concretizado. o então Capitão de Fragata Bierrenbach foi O Almirante Bierrenbach continuará indiciado como criminoso em um Inquérito vivo em nossas memórias. Policial Militar e exonerado do comando (Baseado em texto do CC Walid Maia do Sirius. Após a iniciativa dele, cerca de Pinto Silva e Seba, com a colaboração do 60 almirantes e oficiais superiores também AE Marcos Augusto Leal de Azevedo e do devolveram suas medalhas, gerando uma CA Paulo Cezar de Aguiar Adrião – junho crise na Marinha. Justificava a devolução de 2015)

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Em sua carreira exerceu três coman- dos: Força de Submarinos, Comando em Chefe da Esquadra e Comando de Operações Navais. Foi capitão dos Portos de São Paulo, e diretor-geral do Pessoal da Marinha. Comissões: Cruzador-Ligeiro Barroso, Base Almirante Castro e Silva, Submarino Humaitá, Comissão Naval Brasileira em Washington, Diretoria do Pessoal Mili- tar, Comando de Minagem e Varredura, Secretaria-Geral da Marinha, Escola de Submarinos, Escola de Guerra Naval, Gabinete do Comando da Marinha, Adido Naval e Aeronáutico na Espanha, e Estado- Maior da Armada. Em reconhecimento aos seus servi- ços, recebeu as seguintes medalhas e CARLOS AUGUSTO BASTOS DE condecorações: Ordem do Mérito da OLIVEIRA Defesa – Grande Oficial; Ordem do Mé- Almirante de Esquadra rito Naval – Grã Cruz; Ordem do Mérito Militar – Comendador; Ordem do Mérito Nascido no Rio de Janeiro, filho de Aeronáutico – Grande Oficial; Ordem de Coroacy Rebello de Oliveira e de Elizabeth Rio Branco – Grande Oficial; Ordem do Bastos de Oliveira. Mérito Judiciário Militar – Alta Distin- Promoções: a segundo-tenente em ção; Medalha Militar e Passador Platina 29/12/1957; a primeiro-tenente em – 4o decênio; Medalha Naval de Serviços 13/2/1959; a capitão-tenente em 13/2/1961; Distintos; Medalha Mérito Tamandaré; a capitão de corveta em 30/6/1966; a ca- Medalha Mérito Marinheiro – 2 âncoras; pitão de fragata em 1/7/1971; a capitão Medalha do Pacificador; Medalha Mérito de mar e guerra em 30/4/1979; a contra- Santos Dumont; e PT-M2 Portugal – Me- almirante em 31/3/1985; a vice-almirante dalha do Mérito Militar de 2a Classe. em 31/3/1990; e a almirante de esquadra em À família do Almirante Carlos Augusto 31/3/1994. Foi transferido para a Reserva Bastos de Oliveira, o pesar da Revista Ma- Remunerada em 12/5/1997. rítima Brasileira.

MEU AMIGO CARLOS 1.136, Oliveira, Carlos — três apelativos Conhecemo-nos ainda meninos. Ele era para o mesmo amigo. O primeiro era seu um garoto inteligente, estudioso, ativo e número de matrícula no Colégio Militar, cordial. Tinha notável presença de espírito, onde estudamos. Na Marinha tornou- que sempre manteve e admirei. se Oliveira. E na família era singelamente 1.125! 1.136! Na lista de chamada, a Carlos, como também passei a chamá-lo. cada aula no Colégio Militar, nossos núme-

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ros se sucediam — um logo após o outro telefonema inesperado: era Carlos, em —, prenúncio da amizade que cresceria Washington, onde buscava tratamento para sempre. Leila, sua esposa. Aproveitei sete dias de Juntos ingressamos no Colégio Naval folga entre períodos letivos para visitá- e juntos prosseguimos até o primeiro em- lo. Foram dias breves e inesquecíveis. barque como oficiais no CruzadorBarroso. Nossas famílias se uniram em amizade que Ali, Carlos se destacou logo. Foi o início até hoje perdura. de uma vitoriosa carreira. Amizades fortes resultam de afinida- Sua inteligência era prática e criati- des naturais, mais do que de constante va. Franco, firme, otimista, organizado, convivência. Nossas carreiras na Marinha dinâmico e diligente, Carlos seria muito foram paralelas: ele no Corpo da Armada bem-sucedido em qualquer profissão que e eu no de Engenheiros. Após o tempo no escolhesse. E, acima de tudo, era um bom Barroso, interagimos pouco, separados filho de Deus, sempre disposto a ajudar por distâncias e afazeres. Mas nos contatos quem dele precisasse. largamente espaçados, tanto em serviço Como guarda-marinha, pensou em como em visitas familiares, sempre nos ingressar no Corpo de Engenheiros. sentíamos cada vez mais próximos. E ainda Comprou livros em que se prepararia para que à distância, cada um de nós sempre o Concurso de Seleção. Mas desistiu da acompanhou a trajetória do outro. ideia, entusiasmado pela vida no Barroso. Terminado o tempo no mais alto posto Eu, que nunca pensara em ser engenheiro, da Marinha, formou-se em Direito. Preten- herdei seus livros e segui a rota que meu dia advogar, mas sobreveio a doença. Com amigo traçara para ele mesmo. Porém ânimo forte, encetou uma luta constante e quase desisti também durante meu tempo árdua pela saúde, que manteve até o último no Mariz e Barros. dia. Sua ausência nos entristece. Porém, sua Passamos três anos sem nos vermos, lembrança nos conforta. separados geograficamente e em nossos Não te digo adeus, querido amigo, pois rumos de carreira: ele no Rio de Janei- nos encontraremos na vida eterna. Que ro, tornando-se submarinista, e eu na Deus te ilumine os caminhos! Universidade de São Paulo e depois em Boston, no Massachusetts Institute of Elcio de Sá Freitas Technology (MIT). Mas então recebi um Vice-Almirante (Refo-EN)

ALMIRANTE OLIVEIRA, O EXEMPLO Conheci o Almirante de Esquadra Carlos Algum tempo depois, voltei a encontrá- Augusto Bastos de Oliveira nos idos de lo, já capitão de corveta, como imediato do 1967, quando, como capitão-tenente, lecio- Submarino Rio Grande do Sul (Fleet Type, nava a matéria de Manobras no Curso de americano), onde exerci as funções de ofi- Aperfeiçoamento de Submarinos, na antiga cial de Máquinas e gestor, e que tinha como Escola de Submarinos, na Base Almirante comandante o falecido Vice-Almirante Castro e Silva. Desde aquela época, impres- Mauro Brasil. Era uma dupla impecável! A sionou-me sua capacidade de comunicação e inteligência, o conhecimento, a liderança e sua agilidade de raciocínio e pronta resposta o bom humor grassavam em nosso conví- para qualquer desafio verbal. vio, tornando nosso ambiente a bordo um

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verdadeiro curso de pós-graduação para de carreira daquela Diretoria, cujo titular submarinistas. Naquela ocasião, registrei era o então Vice-Almirante Mauro Brasil, outras características da personalidade e da que autorizou que ele me fizesse o convite formação do Almirante Oliveira, dentre as para ser seu encarregado da Administração quais destaco, sem medo de errar: sua inte- na CNSP. ligência; sua capacidade de transmitir aos Foi outro período repleto de experi- seus subordinados tanto suas experiências ências e ensinamentos, ocasião em que da vida como sua bagagem profissional; testemunhei sua liderança ultrapassar os sua capacidade de liderança, exercida ora limites da Marinha e se projetar tanto nas no sentido de seus subordinados, ora na unidades do Exército Brasileiro como nas direção de seu comandante; e seu foco no da Força Aérea localizadas em São Paulo resultado a obter, além do seu bom humor, como também no meio civil, principal- marcante em nossa relação. Aliada a sua já mente entre soamarinos. De sensibilidade citada facilidade de expressão oral, tinha aguçada, negociava com o Governo do ainda a qualidade de, profundo conhecedor Estado, com invejável desenvoltura, os da língua portuguesa, ser exímio e exigente assuntos de interesse da Marinha. na comunicação escrita. Confesso que Mais uma vez, por motivos de carreira, foram ensinamentos valiosos para o então nos afastamos profissionalmente, mas man- Capitão-Tenente Kleber. tínhamos estreito contato pessoal e familiar. Tais conhecimentos e características Em rápidas palavras, esse era o Almiran- profissionais, certamente, o guindaram para te Oliveira, meu instrutor, meu professor, servir no Gabinete do Ministro da Marinha. minha referência e o exemplo que procurei Nos afastamos profissionalmente e seguir, amoldando seus ensinamentos à voltamos a nos encontrar quando ele, minha personalidade, o que asseguro ter contra-almirante, foi designado para a dado certo pelos resultados que obtive até direção da extinta Comissão Naval em chegar ao Almirantado. São Paulo (CNSP), hoje sede do 8o Distrito Naval. Eu servia na Diretoria do Pessoal Kleber Luciano de Assis Militar da Marinha (DPMM), como oficial Almirante de Esquadra (Refo)

MEU RELACIONAMENTO COM O ALMIRANTE OLIVEIRA

Profundamente abalado pela perda do tornar um relacionamento bastante amis- grande chefe e estimado amigo, reporto- toso, não obstante a estrita observância dos me ao remoto passado, lá pelos idos dos rígidos preceitos militares, considerados os anos 50 a bordo do Cruzador Barroso, naturais atributos da formação de ambos. quando tivemos oportunidade de trocar Como sói acontecer no quotidiano da as primeiras palavras. Na época, ele carreira naval, desembarcamos do Barroso primeiro-tenente, ajudante do imediato, e e seguimos rumos distintos. Anos depois, eu marinheiro recém-cursado em Direção em 1973, nos encontramos na Capitania de Tiro (DT). A partir daí, talvez pela sua dos Portos do Estado de São Paulo. Ele aquiescência aos meus argumentos acerca já capitão de fragata e eu tenente AA. de uma nota publicada em “Plano do Dia”, Nessa ocasião, em função do conheci- foi como se semeássemos o que viria a se mento anterior, do perfeito entrosamento

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no exercício de nossas funções de então e do assistente são de caráter sumamente mi- do estreito convívio social, inclusive entre litares, limitando-se ao estrito cumprimento nossas famílias, estreitamos os laços de de ordens e sem as mínimas condições amizade. Naquela época, eu já percebia o de, sequer, argumentar qualquer tipo de seu extremado amor à Marinha, o patente discordância ou ponderação, atitudes que, dinamismo, seu permanente entusiasmo, o como amigos, nos eram permitidas. Meus raciocínio rápido e uma invulgar inteligên- argumentos foram aceitos e, mais uma cia, faculdades que perfeitamente se alia- vez, a franqueza prevaleceu e a amizade vam ao formalismo rigoroso com relação ao continuou, sem qualquer mácula. trabalho, notadamente consigo próprio, à Após sua ascensão ao Almirantado, total lhaneza no trato e afabilidade, natural mantivemos o já costumeiro relaciona- nos momentos informais. mento, sem contudo servirmos juntos. Alguns anos mais tarde, no início de Apenas, quando no Comando da Força década de 80, voltamos a nos encontrar, de Submarinos, foi nomeado para uma dessa vez no Gabinete do Ministro. Ele árdua tarefa, qual seja o Inquérito Policial em Brasília, como assessor parlamentar, e Militar (IPM) do lamentável acidente do eu no Rio de Janeiro, na área de Relações Bateau Mouche. Nessa época, eu servia Públicas, como assessor de Imprensa. Pou- no Comando de Operações Navais (CON) co tempo depois, quando de sua ida para a e fui distinguido com sua convocação para Espanha como adido militar, tive a honra e assessorá-lo na condução do inquérito, o orgulho de ser escolhido como seu único atribuição que desempenhei, acatando-a procurador, com poderes para representá-lo como mais uma irrestrita demonstração de incondicionalmente, sobre todos os aspec- absoluta confiança. Posteriormente, acom- tos, desde atribuições junto à faculdade de panhei de perto sua gestão no Comando em seus filhos à administração de imóveis, a Chefe da Esquadra, na Diretoria-Geral do depósitos bancários, à liberdade para fazer Pessoal e no CON, sua última comissão aplicações financeiras, enfim, tudo o que ele na Marinha, quando foi transferido para próprio faria se presente estivesse. Consi- Reserva Remunerada, com todas as honras derei uma honra aquela escolha. de estilo a que fazia jus. Posteriormente, ainda no Gabinete do Após tantos anos de estreita ligação, por Ministro, dessa vez já como subchefe, con- vezes com vínculo sumamente militar e na tinuamos nosso relacionamento amistoso, maior parte simplesmente como verdadei- sem nunca prescindirmos dos preceitos ros amigos, vivenciei todo seu dinâmico militares. Quando de sua promoção a entusiasmo e também todo seu sofrimento almirante, eu então capitão de corveta, ao ser acometido por rara enfermidade que, fui distinguido com o honroso convite com seu agravamento, o deixou verdadei- para ser seu assistente, enfatizando que a ramente abatido, sem ânimo e debilitado. escolha fora feita em reunião de família. Hoje, sinto muito sua falta e, como único Pela honraria, manifestei-lhe meus agrade- lenitivo, peço ao bom Deus que ampare cimentos, procedimento que também foi sua alma. seguido junto aos seus familiares. Todavia, tive que declinar do honroso convite, por Eduardo Expedito de Souza entender perfeitamente que as obrigações Capitão de Mar e Guerra (Refo-AA)

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rido para a Reserva Remunerada em 22/12/1976. Em sua carreira exerceu o comando do Navio-Aeródromo Ligeiro Minas Gerais. Foi presidente da Comissão Naval Brasi- leira na Europa e diretor de Comunicações e Eletrônica da Marinha. Comissões: Comando do 6o Distrito Naval, Gabinete do Ministro da Marinha (subchefe), Diretoria do Pessoal da Mari- nha, Comando do 5o Distrito Naval, Escola de Guerra Naval, Comando em Chefe da Esquadra, Cruzador Tamandaré, Cruzador Ligeiro Barroso, Comissão Naval Brasi- leira em Washington, Secretaria-Geral de Marinha e Estado-Maior da Armada. Em reconhecimento aos seus serviços, recebeu as seguintes medalhas e condeco- rações: Medalha Naval do Mérito de Guerra TELMO BECKER REIFSCHNEIDER – Serviços de Guerra com 2 Estrelas; Meda- Contra-Almirante lha da Força Naval do Nordeste – Bronze; Ordem do Mérito Naval – Comendador; Nascido no Rio Grande do Sul, filho de Ordem do Mérito Militar – Comendador; Francisco Becker Reifschneider e de Elisa Ordem do Mérito Aeronáutico – Comen- Becker Reifschneider. dador; Ordem do Mérito do Trabalho Promoções: segundo-tenente em Getúlio Vargas – Oficial; Medalha Militar 24/8/1945; a primeiro-tenente em e Passador Prata – 2o decênio; Medalha 5/9/1946; a capitão-tenente em 11/9/1951; Mérito Tamandaré; Medalha do Pacificador a capitão de corveta em 31/3/1955; a ca- e Medalha Mérito Santos Dumont. pitão de fragata em 23/1/1961; a capitão À família do Almirante Telmo Becker de mar e guerra em 16/9/1966; e a contra- Reifschneider, o pesar da Revista Marítima almirante em 30/5/1972. Foi transfe- Brasileira.

TELMO BECKER REIFSCHNEIDER

Nascido em 3 de novembro de 1924, (CMRJ), onde cursou os dois primeiros no Rio Grande do Sul, filho de oficial do anos daquele ciclo, sendo transferido para Exército Brasileiro, conviveu durante toda o Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) sua infância com os percalços decorrentes para completar o terceiro e o quarto anos das designações do seu pai para comissões ginasiais. Naquela ocasião em que com- em diversas localidades daquele Estado. pletava o ciclo ginasial, extinto o CMPA, Ao atingir a fase de ginásio, foi matricu- voltou ao CMRJ, recebendo Certificado de lado no Colégio Militar do Rio de Janeiro Reservista de 2a Categoria.

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Em 1941, entrou, por concurso, para a convencimento sobre temas de interesse Escola Naval; teve praça de aspirante a 12 da Marinha. de março, passando a cursar, em regime de Em 19 de maio de 1964, foi designado “compressão” durante quatro anos, todo o para fazer curso no Naval War College, da período escolar. Marinha dos Estados Unidos da América, Declarado guarda-marinha em 1944, foi o qual concluiu, com sucesso, em junho designado para servir na Força Naval do de 1965. Nordeste, embarcando no Contratorpedei- De regresso ao Brasil, já no posto de ca- ro Bocaina, onde participou de inúmeras pitão de fragata, foi designado imediato do missões de patrulhamento e escolta de Cruzador Tamandaré, função que exerceu comboios. até setembro de 1966, quando, promovido Embarcado nos postos de tenente em ao posto de capitão de mar e guerra, as- diversos navios da Esquadra, em 1951 foi sumiu a chefia do Gabinete do secretário- selecionado para servir na primeira oficia- geral da Marinha, cumulativamente com a lidade do Cruzador Tamandaré. de representante daquela Secretaria-Geral Em 1955, promovido ao posto de ca- na Comissão de Construção de Navios no pitão de corveta, foi designado assistente Brasil. do comandante do 6o Distrito Naval, ba- Dispensado daquelas funções, foi movi- seado em Ladário, função que exerceu até mentado para o Estado-Maior da Armada e, 1956, quando regressou ao Tamandaré. em 15 de abril de 1969, assumiu o comando Na função de encarregado do Convés, era do Navio-Aeródromo Minas Gerais. Du- responsável pelo estado de sete Divisões, rante seu comando, foi realizado o primeiro nas quais se encontrava toda a artilharia período de modernização e atualização pesada e leve do navio. Famoso pelo grau daquele navio, tendo sido reconhecido pe- de exigência sobre o estado de conservação los seus chefes e pares que a obra só teria do material e sobre a apresentação, a qual- tido o sucesso que teve, no período exíguo quer instante, dos oficiais e praças que as em que foi realizada, com o regime de compunham, a convocação à sua presença administração e fiscalização rigorosos que era sempre motivo de preocupação para os estabeleceu (vide Elogio constante de seus subordinados diretos. assentamentos – fls. 50). A par deste comportamento em serviço, Ao passar o comando com o navio no nas horas de lazer da praça-d’armas trans- mar e operando, o seu desembarque teve formava-se em um companheiro jovial, como meio de transporte um avião do 1o comunicativo, frequentemente “dirigindo Grupo Aéreo Embarcado (GAE), lançado julgamentos” de “vacilos” de colegas, em de bordo e pilotado pelo coronel coman- serviço ou em horários de folga, fixando dante daquele Esquadrão. penalidades em “cervejadas” ou similares, Em outubro de 1970, assumiu a função adequadas aos “crimes” cometidos. de subchefe do Gabinete do Ministro da No período que se seguiu a agosto Marinha e, em junho de 1972, já promovi- de 1958 até maio de 1964, realizou com do a contra-almirante, a chefia do referido sucesso cursos de carreira na Escola de Gabinete. Guerra Naval (EGN), exerceu funções em Em março de 1974, foi designado para gabinetes importantes, ressaltando-se a de presidir a Comissão Naval Brasileira na Eu- assessor parlamentar, quando teve a opor- ropa (CNBE), cargo que assumiu em julho, tunidade de demonstrar sua capacidade de não sem antes cumprir um compromisso de

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longa data: casou-se com Glória, sua noiva solicitou sua transferência para a Reserva norte-americana. Remunerada, que foi concedida no mesmo Em 1975, a carreira naval, pela terceira mês. vez, voltou a reunir em uma atividade fim Durante toda a sua carreira, recebeu – execução do Programa de Construção de inúmeras condecorações navais e militares Navios no Exterior e no Brasil – o Almi- nacionais, nos graus compatíveis, conde- rante Telmo e o Capitão de Mar e Guerra corações civis e estrangeiras, bem como Fernando, seu tenente do Tamandaré elogios de todos seus chefes militares. e seu imediato no comando do Navio- Deixar o Serviço Ativo da Marinha não Aeródromo Ligeiro Minas Gerais. Desta representou, contudo, diminuição da sua vez com a nomeação de Fernando para o vocação para o trato das atividades do mar. cargo de delegado do Governo brasileiro Assim é que, em 1979, atendendo a para a fiscalização e execução do Projeto convite de colega também oficial da reserva das Fragatas. da Marinha, nomeado diretor da Petrobras, O conhecimento mútuo da maneira de assumiu função na Superintendência da proceder de cada um dos dois tornou sim- Frota Nacional de Petroleiros (Fronape). ples e fácil o relacionamento funcional, be- Posteriormente, foi nomeado diretor da neficiando, por fim, a execução das tarefas referida Frota, cargo que exerceu, com re- de cada um, levando sempre ao resultado conhecida probidade e eficiência, entre 16 final desejado pela Marinha. de outubro de 1979 e 6 de janeiro de 1992. Exonerado da CNBE, o Almirante Tel- Falecido em 23 de maio de 2015, o Al- mo foi nomeado diretor de Comunicações e mirante Telmo não deixou descendentes, Eletrônica da Marinha, cargo em que tomou já sendo viúvo na ocasião. posse em agosto de 1976. Em dezembro de 1976, após 36 anos Fernando M. Baptista da Costa e meses de serviços prestados à Marinha, Capitão de Mar e Guerra (Refo)

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AS LIÇÕES DE ONTEM PARA A MARINHA DE HOJE E DE AMANHÃ

– Hélice do Contratorpedeiro Mariz e Barros A MARINHA DE OUTRORA HÉLICE DO CONTRATORPEDEIRO MARIZ E BARROS

Na cidade de São Paulo, bairro de San- mensões: 104 m de comprimento, 10.7 m de tana, na Avenida Santos Dumont, Praça boca e 3.7 m de calado. Propulsão: vapor; Heróis da FEB, próximo ao portão do Par- 4 caldeiras Babcock-Wilcox; 2 turbinas a que de Material Aeronáutico de São Paulo, vapor G.E. gerando 42.800 shp, acopladas existem 3 belos monumentos constituídos a dois eixos. Velocidade: máxima de 36.5 de peças de alto valor histórico, a saber: nós. Raio de ação: 6.000 milhas náuticas a 1) O hélice, que pertenceu ao Contrator- 15 nós. Armamento: 5 canhões de 5 pol./38 pedeiro Mariz e Barros (M1 posteriormente (127 mm) em reparos singelos; 4 canhões designado D26), navio construído pelo Bofors L/60 de 40 mm em dois reparos Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, se- duplos; 8 metralhadoras Oerlikon de 20 mm guindo o projeto da classe norte-americana em reparos singelos; 3 reparos quádruplos Mahan. Seu primeiro comandante foi o de tubos de torpedos de 21 pol. (533 mm); Capitão de Mar e Guerra (CMG) Antônio 2 calhas de cargas de profundidade Mk 3, Alves Câmara Júnior. Foi o segundo navio 4 projetores laterais do tipo K Mk 6 para a ostentar esse nome em homenagem ao cargas de profundidade Mk 6 ou Mk 9 e Capitão-Tenente Antônio Carlos de Mariz dois geradores de fumaça Mk 4. Hélice: 3 e Barros, morto durante a Guerra do Para- pás com 10.700 Lbs ( 4853 Kg). guai. Suas características: A placa que identifica o hélice foi Batimento de Quilha: 8 de maio de furtada. O CMG (RM1) Ronald dos 1937. Lançamento: 28 de dezembro de Santos Santiago levantou junto ao De- 1940. Incorporação: 29 de novembro de partamento do Patrimônio Histórico 1943. Baixa do Serviço Ativo: 22 de agosto da Secretaria Municipal de Cultura da de 1972. Deslocamento: 1.500 toneladas Cidade de São Paulo, o que constava na (padrão), 2.200 toneladas (carregado). Di- placa de inauguração:

RMB3oT/2015 221 A MARINHA DE OUTRORA

“Homenagem da Marinha do Brasil à associação dos ex-combatentes do Brasil Secção de São Paulo Hélice do Contratorpedeiro Mariz e Barros 1940-1972 Navio construído pelo Arsenal da Marinha do Rio de Janeiro e lançado ao mar em 1940, participou de inúmeras operações durante a II Grande Guerra, inclusive de escolta aos navios-transporte que conduziram nossa Força Expedicionária para a Europa. Setembro – 1981”

O Monumento

Inscrição constante do hélice:

Baldwin Lima – Hamilton-Corp. Heat 542 D WGT 10,7000 LBS DIA 11’-O PITCH AT 7 RAD 12’-O’’ DWG DD 384 S44-23 ALT-2A LLOYDS 8221

Inscrição no hélice

222 RMB3oT/2015 A MARINHA DE OUTRORA

2) Canhão doado pelo Exército Brasileiro:

3) Hélice de aeronave doada pela Força Aérea Brasileira:

Colaboração de: Ronald dos Santos Santiago Capitão de Mar e Guerra (RM1)

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Contratorpedeiro; Homenagem;

RMB3oT/2015 223 O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL

As histórias aqui contadas reproduzem, com respeitoso humor, o que se conta nas conversas alegres das praças-d’armas e dos conveses. Guardadas certas liberdades, todas elas, na sua essência, são verídicas e por isso caracterizam várias fases da vida na Marinha. São válidas, também, histórias vividas em outras Marinhas. Contamos com sua colaboração. Se desejar, apenas apresente o caso por carta, ou por e-mail ([email protected]).

O PESO DA INJUSTIÇA

oficial de Marinha tem, entre muitos nado. Ficará agradecido pela compreensão O de seus deveres, os de um juiz, per- e pela dispensa do lançamento no Livro de manentemente julgando seus subordinados. Contravenções, vulgarmente conhecido Nem precisa ser o comandante, sempre como “Livro de Castigo”, ou gerará uma terá sob suas ordens alguém sendo julgado revolta interior que durará eternamente pela por ele. injustiça sofrida – segundo ele. Um simples excesso de licença no porto O que acabei de relatar não é ficção, sede, em dias normais, sem qualquer obri- aconteceu comigo duas vezes. Eu era ca- gação especial, como suspender, preparar pitão-tenente, oficial da Divisão F do Cru- para a inspeção técnica etc., é uma falta que zador Barroso, superentusiasmado e pronto deverá ser julgada, em primeira instância, para executar qualquer faina. Era início do pelo oficial de serviço. A justificativa ano, e o navio estava se preparando para a apresentada pelo praça é suficiente para tradicional Viagem dos Aspirantes. ser dispensado o lançamento no Livro de O imediato do navio, oficial de grande Contravenções? prestígio, muito “tesa”, parecia (podemos Isto é um pequeno exemplo, mas outros dizer) que gostava de mim, que me “co- similares e outros sui generis acontecem a chava”. Dele veio a ordem: “Os aspirantes todo instante, e o julgamento feito pelo ofi- devem ser tesados para saberem como é a cial marcará para sempre a vida do subordi- Marinha de verdade”. Foi uma viagem que O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL

marcou uma geração de aspirantes e que eu amizade. Entretanto, havia dias em que saiba, a única em que os aspirantes substi- a conversa era séria, sobre serviço, era tuiriam os marinheiros, iriam ser alojados quase uma reunião de trabalho. Pois neste em cobertas de praças, ter as refeições no ambiente de profunda amizade respeitosa, rancho geral, fazer lona e areia, limpar os um belo dia fui abordado por um almirante amarelos, descer no costado para limpar (não consigo me lembrar de quem seja) que a linha-d’água e muitas outras agruras, me confessou que até aquela data não me exceto limpar banheiros e privadas. suportava devido ao meu comportamento Eu era um jovem espoletado e, em face da na sua viagem de instrução de janeiro, ordem do imediato, por quem eu nutria uma quando ele ainda era aspirante da Escola grande admiração, saí distribuindo papeletas Naval. Imaginem só! Quantos anos se brancas (registro de contravenções dos aspi- passaram? Mais de 20. E durante todo este rantes) para tudo que era lado e, consequen- tempo fui causador (involuntário) de uma temente, cometendo inúmeras injustiças pelo revolta íntima que durou desde quando ele exagero das minhas exigências. Deve ser era um jovem aspirante até ter em seus observado que também preenchi inúmeras ombros as platinas douradas de almirante. papeletas azuis, as de elogio. O outro caso é mais recente. Eu já tinha No meio da viagem, um colega, muito deixado a Revista Marítima Brasileira, espirituoso, chegou para mim me gozando em meados de 2005. Esta falha, por mais e contou que os aspirantes tinham me in- que eu me esforce, não me lembro de ter cluído em um restrito grupo de oficiais que, cometido, mas o “injustiçado” ainda tinha segundo os aspirantes, eram classificados bem presente na memória a “injustiça” que de excessivamente “tesas” e, portanto, que sofreu. Eu era o então diretor da Escola cometiam muitas injustiças. Esta classifica- Naval e ele aspirante. Em uma cerimônia ção deu origem a um apelido nada lisonjeiro interna, ele foi repreendido veementemente que me acompanha até hoje! A companhia por mim, em uma formatura, consequen- que eu tinha no grupo identificado pelos temente diante de seus colegas, sobre seu aspirantes me fez despertar para eu próprio corte de cabelo. O aspirante não reconhe- classificar o meu comportamento como ceu que houvesse motivo para tal e achou completamente impróprio. Mas, naquela exagerada a maneira como me dirigi a ele. altura dos acontecimentos, os erros já ti- Agora ele é almirante e eu um convidado nham sido cometidos e eu tive de aguentar ao almoço do 22o andar. O mesmo ambiente com a pecha a minha vida inteira. cordial e amigável existente foi favorável a O tempo passou, cheguei a vice-almi- que, num belo dia, ele se dirigisse a mim e rante e, no final da linha, a encarregado da contasse esta história. Pedi desculpas, disse Revista Marítima Brasileira por exatamen- não ser o meu modo de agir e relembrei a te 20 anos. Por causa deste meu trabalho importância de nossos atos com respeito voluntário, para mim altamente gratificante, aos subordinados. a Marinha permitiu que eu almoçasse no Desde então fiquei com vontade de es- “Rancho dos Almirantes”, no 22o andar crever sobre o assunto para servir de alerta do Edifício Barão de Ladário. a todos os oficiais. Considerei o desabafo Lá o ambiente era extremamente amis- como uma superação da injustiça praticada toso e alegre. Na maioria dos almoços, não por mim. Imaginem só a importância dos eram “velhos chefes” que lá se reuniam, julgamentos: este pequeno incidente ficou mas “tenentes” cheios de jovialidade e atravessado na garganta daquele então

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aspirante por mais de 20 anos! Vejam Luiz Edmundo Brígido Bittencourt os leitores como uma injustiça, por mais Vice-Almirante (Refo) simples e pequena que seja, pode marcar a vida do “injustiçado”. Por menor que seja a PS.: Os leitores não se preocupem. injustiça, ela será considerada grande para No segundo caso, parece que depois da “a vítima”. Todo cuidado é pouco ao julgar conversa (ou desabafo?) ele fez as pases um ato de seu subordinado. comigo.

ATLETA OLÍMPICO* Pedreira era taifeiro disciplinado e dedi- competições esportivas e atribuindo peque- cado. Servia já há pouco mais de um ano no nos prêmios aos vencedores. Navio-Patrulha Pirangi, sediado em Natal Entre as provas a disputar havia uma de e pertencente à então Força de Patrulha natação, que consistia em atravessar parte Costeira do Nordeste. do Rio Potengi, saltando da ponte e chegan- Por seus méritos, foi indicado pelo ime- do ao cais da Base Naval de Natal. Pouco diato ao novo comandante, CT Silva, para mais ou pouco menos do que cem metros. ser seu despenseiro. Entre os inscritos, fazendo a calistênica Foi uma feliz escolha. Durante um ano, de aquecimento, excitado e um pouco nervo- Silva comandou o Pirangi e durante todo so, estava o Pedreira. Não era uma figura de esse período teve em Pedreira um eficiente atleta modelo, mas naquela marujada poucos servidor. Claro que o taifeiro mareava de pareciam sê-lo. Ainda mais nadadores! forma obstinada e permanente. Mas não Aos seus lugares! Atenção! Larga! descurava de seus afazeres. Cumpria suas E saíram todos a nadar. Estilos? Os mais tarefas sempre a tempo e a hora. diversos. Um porém se destacou. Foi cair E coitado, ainda guarnecia postos de n’água e começar a gritar, pedindo socorro. combate no pequeno cesto da gávea, onde Pedreira estava se afogando! fazia as vezes do radar que o navio não Retirado às pressas do rio, havia bebido possuía. Nessas situações não dispensava alguma água, foi rapidamente ressuscitado. a companhia de um balde para alívio dos Logo que viu seu despenseiro novamen- males do mar. te na ativa, o comandante chamou-o à sua Era profundamente religioso, crente pra- presença e perguntou-lhe: ticante, e dizia sempre que, “com fé tudo se “– Pedreira, por que você se pôs a nadar alcança”. Um dia, ele não mais enjoaria. Ti- se é afogado? Você por acaso ignorava que nha fé nisso. E, diga-se de passagem, consta não sabia nadar?” que nos seus últimos anos de Marinha virou “– Não, Sr. Comandante, eu sabia que não lobo do mar. Não enjoava mesmo! nadava nada, mas é que o prêmio era uma ca- Mas a história que vamos lhes contar, neta Parker dourada e eu sempre quis ter uma. do bom taifeiro, ele a viveu dentro do mar. Fui na esperança de um milagre. Não deu!” Sim, dentro do mar mesmo! Logo após assumir, o CT Silva resolveu Augusto Cesar da Silveira Carvalhêdo motivar a guarnição, promovendo algumas (Almirante, in memoriam)

* Do livro A Marinha Pitoresca, de Helio Leoncio Martins, Decio de Oliveira Guimarães e Augusto Cesar da Silveira Carvalhêdo.

226 RMB3oT/2015 O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL ABACAXIS E TUBARÕES*

Era um hábito daquela primeira turma para a praia. A primeira, se escolhida, do Colégio Naval, a de 1951, sair aos sába- além do incômodo da noite certamente dos, nos antigos escaleres, para a realização mal dormida, traria inevitavelmente outras de patescarias de final de semana. consequências, tais como atraso na forma- Sábado bem cedo, sete ou oito, às vezes tura matutina, provável papeleta e, pior que mais, por escaler, levando o farnel forneci- tudo, tremenda gozação dos companheiros. do pelo colégio e que constava de latarias, A segunda escolha parecia então mais pães de forma, ovos cozidos, refrigerantes indicada, mas também envolvia seus riscos. e água, saíam em busca de praias então Como se apresentar todo molhado ao oficial desertas e totalmente despoluídas. de serviço? E como nadar naquelas águas As preferidas eram as de Alcatrazes e negras e infestadas de tubarões até à praia? Gipoia. Naquela as águas eram de tal forma Infestadas de tubarões? Estranhará o lei- transparentes que se viam as estrelas do tor. Não esqueça que vivíamos o primeiro mar pousadas em seu fundo a 5 e 6 metros ano do Colégio Naval e as lendas corriam de profundidade. As areias claras e limpas de boca em boca: a Ilha Grande teria uma não abrigavam o lixo que hoje, infelizmen- grande caverna submarina onde os tubarões te, prolifera no local, agredindo natureza, faziam seu ninho. beleza e placidez locais. Dizia-se mesmo que, na época em que O regresso variava. Às vezes retornavam ali funcionara a escola de aprendizes- no próprio sábado, às vezes pernoitavam marinheiros, um aprendiz estava na ponte nas ilhas e só na noite de domingo, exaus- pescando, com as pernas penduradas, que tos, retornavam ao colégio. viera um tubarão e lhe comera uma delas! Foi numa dessas noites de domingo que Crédulos, pouco experientes, imberbes um grupo chegou à ponte, já depois do si- alguns, os alunos ouviam as histórias, as- lêncio, e encontrou a maré de baixamar, que sustavam-se, aumentavam-nas e passavam- devia ser de sizígia. O escaler lá embaixo nas uns aos outros. fazia-se necessário subir pelo cabo para Antunes armou então as peças de seu pro- deixá-lo, uma vez que a faina de içamento blema. Tinha que ir a nado, não podia molhar era normalmente realizada no quarto d’alva a roupa, tinha que ocorrer riscos incalculá- de segunda-feira. veis. Mas, se não conseguia subir no cabo, E Antunes, forte, mas pesadão, que nosso colega tinha, por outro lado, iniciativa nunca havia conseguido içar seu corpo em e coragem, itens da FIO1 que, dizem, sempre um cabo, não foi naquela noite que fez sua lhe foram favoráveis na carreira. estreia nessa arte. Bem que tentou, mas Felizmente, não existe um item “capaci- lhe faltaram as forças e feito, nas repetidas dade de içar o corpo com auxílio das mãos, tentativas. por meio de um cabo”! Ficou, então, Antunes confrontado com Resolveu que nadaria nu para a praia. duas opções: dormir no escaler ou ir a nado Assim decidiu, assim o fez. Jogou o calção,

* Do livro A Marinha Pitoresca, de Helio Leoncio Martins, Decio de Oliveira Guimarães e Augusto Cesar da Silveira Carvalhêdo. 1 FIO – Folha de Informações de Oficiais – Documento semestral de avaliação do oficial, pelo comandante, quanto a diversos aspectos de sua personalidade e comportamento. Hoje é denominado Folha de Avaliação de Oficiais (FAO).

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tênis e camiseta para os companheiros na E nadando de costas, por óbvia precaução! ponte e, resoluto, lançou-se ao mar. Após uma eternidade, vencidos tubarões Não havia nadado cinco metros quando e arraias, nosso herói chegou à praia, respi- sentiu alguma coisa roçar-lhe a perna. Era ração ofegante pelo cansaço (e pelos sustos). uma simples casca de abacaxi, transfigura- Aplaudido, verificou-se inteiro, não da em voraz tubarão. faltava nada, graças a Deus! Antunes já apavorado acelerou as bra- Vestiu-se e lá se foram todos dormir o çadas. E os detritos a lhe roçarem o corpo! sono gostoso dos jovens cansados. De cima da ponte, eletrizados, seus companheiros viram Antunes bater todos Augusto Cesar da Silveira Carvalhêdo os recordes de natação imagináveis. (Almirante, in memoriam)

O GATO*

Viriato servia a bordo do Contratorpe- tomar outras providências, pediu a Carlos deiro Alfax. Era um mulato muito forte, Pedro que resolvesse o caso do Viriato, trabalhador, com algumas punições em sua retornando à tolda, aliviado e fagueiro. caderneta. Nada no entanto que o desabo- Carlos Pedro fingiu aceitar os argumen- nasse. Se não era marinheiro exemplar, tos de Almeida – afinal ele não o iria ajudar também não era um “bola sete”. em nada – e prosseguiu rumo à popa. Lá Antigamente, até o final da década dos chegando desceu a escada, e atingindo a cinquenta, havia, aos sábados, mostra de coberta da Divisão R deparou-se com um pessoal a bordo. cenário totalmente inusitado. Num desses sábados, que ficou conhe- Naquela classe de navio, os classe Alfax, cido no navio como o dia do gato, a horas descia-se ao 1o convés abaixo do princi- tantas o oficial de serviço foi procurado por pal e chegava-se logo à coberta da R. Aí um marinheiro espavorido que lhe disse: arrumavam-se os triliches dos marinheiros – Seu tenente! O Viriato enlouque- daquela Divisão. Ao fundo, a boreste, ficava ceu. Está quebrando tudo lá embaixo na a enfermaria. Pois era entre a porta desse coberta. compartimento e a última linha de beliches, O Tenente Almeida era um dos menos que se encontrava o Viriato. Em pé, olhar atléticos de sua turma e já começava a esgazeado, musculatura contraída, limitava- imaginar como iria se safar do problema, se a brandir a mão direita, como se fosse dar quando passa pela tolda o Carlos Pedro, seu cuteladas, e a dizer em voz alta, mas sem colega de turma, halterofilista renomado gritar: “– Olha o gato! Olha o gato!” e bastante forte, a seu ver, para fazer face Entre Viriato e a porta da enfermaria ao Viriato. três ou quatro marinheiros caídos e ame- Pediu-lhe ajuda, a qual lhe foi dada de drontados não se mexiam, não falavam! pronto e, juntos, dirigiram-se os dois à Só olhavam para o Viriato e deviam pensar coberta, à ré do navio. como passariam por ele, colocado que es- No caminho, porém, falou mais alto a tava, com seu gato imaginário, entre eles e prudência do Almeida e, alegando ter que a saída da coberta.

* Do livro A Marinha Pitoresca, de Helio Leoncio Martins, Decio de Oliveira Guimarães e Augusto Cesar da Silveira Carvalhêdo.

228 RMB3oT/2015 O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL

Carlos Pedro foi se aproximando de para promoção. Já saía do hospital quando, Viriato e lhe falando com calma: para sua surpresa, quem vê subindo a ladei- “– Calma Viriato! Aqui é o Tenente ra à paisana? Nada menos que Viriato. Ao Carlos Pedro. Vamos acabar com isso e vê-lo, o taifeiro dirigiu-se a Carlos Pedro e subir para descansar um pouco!” entre os dois travou-se o seguinte diálogo: A ausência de reação do Viriato au- “– Bom dia, seu tenente. Eu queria mentou a confiança de Carlos Pedro que, mesmo lhe agradecer. O senhor foi tão segurando o taifeiro com as duas mãos, bom pra mim naquele dia a bordo.” (No tentou levá-lo consigo. A reação violenta dia do gato, depois de dominado o taifeiro, colheu-o de surpresa: Viriato lançou-o os marinheiros que ele acuara haviam se contra os beliches. enchido de coragem e tentado agredir o Caído ao chão, de branco pirulito, na taifeiro dopado. O tenente os impedira). frente dos marinheiros atônitos, o tenente, “– Tudo bem, Viriato. Mas o que você tão forte quanto o taifeiro, viu-se ferido faz aqui à paisana?” em seus brios e, literalmente, voou-lhe em “– Fui mandado embora da Marinha, seu cima, derrubando-o. Rolaram os dois pelo tenente. Disseram que eu estava doente e, chão da coberta. Nesse momento o Cabo como não tinha estabilidade, fui desligado Enfermeiro Fialho juntou-se ao tenente e sem direito a nada.” ambos, tenente e enfermeiro, dominaram “– E o que está fazendo atualmente o Viriato que continuava a avisar: “– Olha Viriato?. Está trabalhando?” o gato!” “– Estou, seu tenente. Sou chofer de Aplicada uma injeção tranquilizante em lotação. Trabalho na Caxias-Mauá!” Viriato, foi então possível removê-lo para o “– Chofer de lotação? Da Caxias- HCM, onde foi encaminhado à enfermaria Mauá?”, perguntou assustado Carlos Pedro. psiquiátrica, a 11a. Completando: “– E você ficou bom?” Aí parecia ter-se encerrado o problema: “– Claro, seu tenente, bonzinho. Só aque- Viriato internado para tratamento, o Tenen- le gato é que aparece de vez em quando!” te Carlos Pedro, com sua fama de valente Agora se pode entender um pouco e brigador, incólume, o Tenente Almeida porque a Caxias-Mauá era, nos anos cin- aliviado, porque tudo se resolvera sem que quenta, a recordista dos casos de batida e fosse necessária a sua presença. atropelamentos. Eram os Viriatos que, sãos A vida continuava a bordo do Alfax, com e saudáveis, tripulavam seus bólidos. um taifeiro a menos. Passados dois meses, eis que Carlos Augusto Cesar da Silveira Carvalhêdo Pedro vai ao HCM para exames de rotina, (Almirante, in memoriam)

RMB3oT/2015 229 DOAÇÕES À DPHDM JULHO A SETEMBRO DE 2014

DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECA DA MARINHA

DOADORES

Contra-Almirante (Refo) Mauro Vianna de Araripe Macedo Severino do Ramo Neves Silva Miguel Assad Isaltino Gilberto Sgarbi Heitor Amilcar Luis Severiano S. Rodrigues Jansen Coli Calil N. A. de Oliveira SO-FN-RM1 Haroldo Cesar C. Assunção Caixa de Construção de Casas Para o Pessoal da Marinha Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica (Icaer) Museu Histórico Nacional Biblioteca do Exército Editora (Bibliex)

LIVROS E PERIÓDICOS RECEBIDOS

ESPANHA Revista de Historia Naval – v. 33, no 129 (períodico 2015)

ESTADOS UNIDOS Captain Raphael Semmes and the C.S.S. Alabama – folheto The Continental Navy – folheto The Boat Jane’s Fighting Ships – 2005/2006 (periódico)

BRASIL Revista do SIPM – v. 1, no 1 (períodico 2014); v. 2, no 2 (periódico 2015) O cavaleiro preso na armadura – (livro 2014) As viagens dos vassalos do Rei Salomão ao Rio das Amazonas – (livro 2011) Baphomet um enigma templário – (livro 2008) Nuno Cobra a semente da vitória – (livro 2011) Revista europea de estudos Latinoamericanos e do Caribe – (periódico 2015) Informativo Marítimo Diretoria de Portos e Costas – no 1 – v. 23, jan./abr. (períodico 2015) O Periscópio – no 67, v. 49 (periódico 2014) Os Meninos da Juliet – (livro 2011) Nomar – v. 50 nos 869, set., 870, out., 871, nov., 872, dez., (periódicos 2014); v. 51, nos 873, jan., 874, fev., 875, mar., 876, abr., 877, mai., 878, jun., 879, jul., (periódicos 2015) DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDOS

O estojo e a joia – (livro 2015) Angra de ontem & hoje – (livro 2014) O Alenxandrino – (periódicos 2013/2014) O mar, a forja e a têmpera do comandante – (livro) Pequeno dicionário de comércio exterior – (livro) Cadernos do CHDD – v. 13, no 25, 2o semestre 2014 (periódico); v. 15, no 25, 2o semestre 2014 (periódico) Infocirm – mai./ago./dez., (folheto 2014) 2.ex Atlas Geográfico das zonas costeiras e oceânicas do Brasil – (livro 2011) Ilhas oceânicas brasileiras: da pesquisa ao manejo – v. 2, 2 exs. (livro 2009) Em busca do consenso – (livro 2014) Revista Tecnologia e Defesa – v. 32, no 140 (periódico 2015) Anuário estatístico da Marinha – v. 2, no 36 (periódico 2008) Diarios de Viagens ao Rio de Janeiro 1842-1867 – 2 exs. (livro 2006) Marquês de Sapucahy o executivo do império – (livro 2006) Rio de Janeiro, século XIX cidade da ópera – (livro 2013) Cenas da escravidão e pós-abolição no Brasil Meridional (SC: 1791-1891) – (livro 2015) A Galera – no 157 (periódico 2007) Poder nacional, cultura política e paz mundial: Conferências de San Thiago Dantas na Escola Superior de Guerra 1951-1962 – (livro 2014) Revista da Escola Superior de Guerra – v. 82, no 57, jul./dez., (periódico 2013) Escola de Artilharia de Costa e Antiaérea (EsACosAAe) – Ed. Esp. 80 anos (periódico 2014) Capelas Navais – (livro 2013) Nosso Século Brasil – 1900/1910, 1910/1930, 1930/1945, 1945/1960, 1960/1980, vols. 1/2 (livro) História da sociedade brasileira – (livro) Uma janela para a história de Cuiabá – (livro 2000) Nossa história – v. 2, no 18 abr., (periódico 2005) Revista de História da Biblioteca Nacional – v. 1, no 1, jul., (periódico 2005); 2, nos 17, 18, 22 fev./mar./jul., (periódicos 2007); v. 3, no 31 abr. (periódico 2008) Biotech 2009: Life Sciences Navigating the sea change – (livro 2009) International Laser class association – (folheto 2004) Bertioga – Rio 450 anos depois – (folheto 2015) Allan O’Mill – (folheto) Memórias da construção naval – (monografia) Catalogação das faianças portuguesas recuperadas no naufrágio do Galeão Sacramento – (monografia) Defesa e diplomacia: Uma visão geral – (monografia 2007) Museu Naval histéoria e museografia – (monografia 2009) Laços de Família: Etnias do Brasil – (livro 2012) De pai para filho: Imigrantes portugueses no Rio de Janeiro – (livro 2010) Ele diz, ela diz – (livro 2013) Ideias em destaque – no 45, jan./jun., (periódico 2015) Com a palavra D. Leopoldina Imperatriz do Brasil – (livro 2015)

RMB3oT/2015 231 DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDOS

Vila Militar glórias e conquistas 1098-2015 – (livro 2015) Engenharia militar brasileira: o legendário batalhão de engenheiros Villagran Cabrita – (livro 2015) A paz territorial – (livro 2015) Violência e pacificação no Caribe – (livro 2015) A Defesa Nacional – v. 102, no 827, 2o quadrimestre (periódico 2015) Revista do Exército Brasileiro – v. 151, 2o quadrimestre (periódico 2015) Direito do mar: textos selecionados – v. 1, (livro 2015)

232 RMB3oT/2015 ACONTECEU HÁ CEM ANOS

Esta seção tem o propósito de trazer aos leitores lembranças e notícias do que sucedia em nossa Marinha, no País e noutras partes do mundo há um século. Serão sempre fatos devidamente reportados pela Revista Marítima Brasileira. Com vistas à preservação da originalidade dos artigos, observaremos a grafia então utilizada.

SOBRE A NOVA DOUTRINA DE GUERRA (RMB, jul/1915, p. 2.111-2.169) Segundo-Tenente E. W. Muniz Barreto

(...) – “Nós vemos nessa mistura a TACTICA E ESTRATEGIA previsão e a execução dentro da Afim de precisar melhor as concepção estrategica, deixando idéas que examinaremos, a se- á tactica apenas a technica da guir reproduzimos a divisão, execução dentro do circulo pouco feita pelo autor, da tactica e da preciso do campo de batalha. Sal- estrategia. ta á vista que a estrategia assim Depois de considerar as opini- considerada foi além da concep- ões de alguns escriptores, assim ção philosophica que lhe attribue se exprime elle: o caracter fundamental de previ- ACONTECEU HÁ CEM ANOS são. Não se pode comprehender a tactica do campo de batalha que porque a tactica deva se contentar chamaremos Tactica de Combate. em ser a arte de utilisar as forças (...) immediatamente, deixando de “Por bien posseder une science se occupar com as operações de il faut connaitre histoire.” (Au- guerra, desde que ellas sejam ca- gusto Comte) racterisadas pela sancção remota A estrategia e a tactica exis- do combate. tem desde que a guerra foi cha- Essa será a razão talvez pela mada a resolver as pendencias qual Napoleão chamava a estra- collectivas no planeta. Na remo- tegia assim considerada de Gran- ta antiguidade, o caracteristico de Tactica. Depois de uma longa rudimentar das lutas armadas reflexão sobre o valor das expres- offerecia um aspecto differente á sões, resolvemos estabelecer a conducta dos exercitos em cam- distincção entre a estrategia e a panha, daquelle que hoje con- tactica, exclusivamente fundados templamos em pleno seculo XX, sobre os principios da sua pro- com a marcada evolução da arte pria concepção. de “forçar o inimigo á nossa pro- Assim, a estrategia ficando pria vontade”. dentro do circulo de uma previsão Os combatentes eram, em ge- technica não transporá a linha ral, mercenarios que occorriam que marca as operações activas ao appello das armas com os de guerra. A tactica será a arte de primeiros accórdes do clarim da executar as referidas operações. guerra. Só pouco a pouco o nucleo Como a guerra se divide em cam- permanente, a principio reduzi- panhas, e estas em batalhas, nós do, foi crescendo em numero; a teremos varios campos de opera- capacidade das “combinações” ções, segundo a extensão que lhes numericas desenvolveu-se com será attribuida. Se consideramos os mais vultuosos effectivos; os toda a superficie em que a guerra exercitos antigos deram logar se desenvolve, teremos o theatro ás brigadas, divisões e corpos das operações; dentro de uma res- de hoje; os “grupos de exercito” tricção mais accentuada, limitan- se impuzeram como unidade es- do a extensão ao simples campo trategica. Antigamente a preo- de batalha, surge-nos o theatro de cupação do “combate” dominava combate. quasi exclusivamente; a guerra Sendo a tactica a arte de exe- por pouco se resumia na bata- cutar as operações de guerra, te- lha, e na simples marcha das remos a tactica do theatro de ope- forças, sem outra preocupação reções, que chamaremos a Tactica que uma “viagem” através das Geral ou Tactica de Campanha, e regiões que separam os comba-

234 RMB3oT/2015 ACONTECEU HÁ CEM ANOS tentes. Os generaes conduziam a direcção do exercito, antes, pessoalmente as tropas até o ter- durante e após a batalha, até ritorio inimigo, e pessoalmente os menores detalhes; a arte do empenhavam as batalhas, como general, como se deprehende hoje faz o commandante de bri- das passagens de Xenophonte, gada ou de divisão. resumia-se, a bem dizer, em di- O “preparo” para a guerra e rigir convenientemente as suas os grandes “movimentos” estra- tropas durante o combate. Fóra tegicos desappareciam deante disso só o preoccupavam as da idéa do combate; na batalha, questões propriamente logisti- então, os chefes mostravam-se ha- cas, que diziam respeito á mar- beis, e consumados nos movimen- cha, ou, de quando em vez, as tos á vista do inimigo, nas ordens de ordem militar geral resolvi- de formatura mais ou menos cer- das em conselho. radas ou abertas. (...) O stratego, dos gregos, en- Bordo do C. T. “Pará” – Rio, feichava em suas mãos toda Agosto de 1915.

UM RESUMO HISTORICO DA RADIOTELEGRAPHIA Primeira Parte – 1831-1895 (RMB, jul/1915, p. 2.245-2.254)

Ao iniciarmos a serie de artigos fio, mas a ideia de que a terra que constitue este resumo histori- poderia ser adoptada para a co, rendamos preito de homena- volta de uma corrente num cir- gem aos grandes mestres – Mar- cuito telegraphico. coni, Branly, Slaby, Von Arco, Por outro lado em 1831 Fa- Braun, Fleming, Hertz e Tesla, raday observou os primeiros cujos trabalhos neste assumpto phenomenos de inducção, que têm sido extraordinarios. ao mesmo tempo e independen- Reconheçamos neles os precur- temente eram estudados por sores da telegraphia sem fio, os Henry, esta era um passo que grandes bemfeitores da sciencia teria dado logar a telegraphia e da humanidade dos quaes seria em fio, se fosse, talvez, como injusto esquecermo-nos neste pe- mais tarde, conhecida a pos- queno trabalho. sibilidade da adopção da ter- Data de poucos annos não ra num circuito telegraphico, propriamente a telegraphia sem como se deduz das observações

RMB3oT/2015 235 ACONTECEU HÁ CEM ANOS de Steinheil, em Munich em sobre um canal de 25 metros 1838, que demonstrou o papel de largo, sendo outras tenta- que a terra poderia representar tivas feitas por Vail, Palart, neste assumpto. Deshorbes e Gale, que traba- Pareceu que nada mais se lhou sob as ordens de Morse e poderia fazer com elementos conseguiu augmentar esta dis- que se contavam naquella épo- tancia, enviando um despacho ca, se não fôra os estudos que sobre a cidade de Susqueha- mais tarde foram feitos; no ma, mas segundo os autores entretanto, não nos devemos foi o estudo da radiotelegra- esquecer que em 1842 Mor- phia mais uma vez abandona- se, o inventor do telegrapho do em vista do máo resultado commum, havia estabelecido destas experiencias. uma communicação sem fio, (...)

OS ACONTECIMENTOS NAVAES (RMB, jul/1915, p. 2.256-2.266)

SUBMARINO DESTRUIDO A iniciativa coube, pois, ao Aus- POR OUTRO SUBMARINO triaco (ou ao Allemão) firmando Era o que faltava occorrer nes- praticamente a possibilidade (até ta guerra. O submarino Italiano então não admittida pelos experts) “Medusa”, que tanto serviço util de um submarino destruir outro. de reconhecimento estava pres- A lição poderá ser util aos In- tando, foi torpedeado por um sub- glezes, no mar do Norte. marino austriaco, no Adriatico. O boletim austriaco diz que da RAIDS AEREOS sua guarnição foram capturados Os aeroplanos allemães e os Ze- um official e quatro marinheiros. ppelins já effectuaram 104 raids Os dous submarinos navega- ás cidades inglezas e francezas, vam immersos, um proximo do sendo 83 raids de Taubes e 21 de outro, sem saberem disso. Zeppelins. O italiano foi o primeiro a Os portos militares e pontos emergir, sendo visto pelo pe- importantes ficaram intactos, riscopio do austriaco. O com- mas a população civil e as em- mandante deste, não perdendo prezas particulares soffreram as tempo, lançou-lhe um torpedo, consequencias. destruindo-o. (...)

236 RMB3oT/2015 ACONTECEU HÁ CEM ANOS

EVOLUÇÃO DO CRUZADOR DE COMBATE* (RMB, ago/1915, p. 2.323-2.330)

Na guerra actual poucos factos Tão formal resultado carece até tem sido mais surprehendentes agora de sufficiente fundamento, que o apparecimento do cruzador más é fora de duvida que os factos de combate na primeira linha de registrados tivessem alentado ao todos os encontros navaes. Na ba- Sr. L. Clowes na propaganda da talha da bahia theoria de que o de Heligoland, melhor navio de em fins de Agos- Isso impressionou combate é o cru- to, nas Malvinas tão profundamente zador couraçado. em Novembro e alguns criticos que Esta foi a elegante no mar do Norte pronunciaram logo a expressão da mes- em 24 de Janei- ma idéa que ori- ro, o cruzador de sentença condemnatoria ginou posterior- combate mostrou contra o encouraçado, mente o cruzador ser o factor deci- considerando-o um typo de combate; mas sivo. Como prova fora de moda sua evolução tem de sua ubiquida- sido mais lenta de pode-se citar do que geralmente sua presença, no espaço de 3 a se pensa, pois começou ha cerca de 4 mezes, em pontos tão distan- trinta annos. Para seguil-a é con- tes uns dos outros como as ilhas veniente prescindir da arbitraria Falklands, Jamaica, Halifax e distincção entre navio de combate os Dardanellos; e isso impressio- e cruzador couraçado e considerar nou tão profundamente alguns ambos meramente como “navios criticos que pronunciaram logo a couraçados” sob cuja ampla classi- sentença condemnatoria contra o ficação figuravam a principio nos encouraçado, considerando-o um orçamentos os do typo “Invincible”. typo fora de moda. (...)

OS ACONTECIMENTOS NAVAES De 1 a 7 de Julho (RMB, ago/1915, p. 2.357-2.384)

A SITUAÇÃO NAVAL portos e os movimentos das es- Com as esquadras allemã e quadras inglezas e francezas austriaca internadas em seus constituindo um mysterio, a si-

* Trad. da Revista General de Marina de Junho ultimo.

RMB3oT/2015 237 ACONTECEU HÁ CEM ANOS tuação permanece a mesma, e 11 navios mercantes turcos as noticias referem-se apenas á Nos portos do Egypto: actividade de ordem secundaria 18 navios allemães ora de pequenas escaramuças 3 navios austriacos entre navios pequenos e ora dos Nos portos das Colonias: submarinos. 118 navios allemães Os submarinos inglezes agem 7 navios austriacos no mar de Marmora e os alle- 5 navios turcos mães em certas areas das costas Ou seja, um total de 301 navios. inglezas, aquelles, embaraçam as Muitos insistem para que o operações Turcas, embora a sua governo inglez confisque esses acção não tenha o menor effeito navios, como uma represalia para a solução do grande proble- á campanha dos submarinos ma do Dardanellos, e estes execu- contra a marinha mercante in- tam uma represalia, cujos effeitos gleza, independentemente de materiaes são desagradaveis á qualquer decisão do Tribunal navegação ingleza e neutra, mas de Prezas, como já fez o governo em nada affectam a decisão final italiano. da lucta. O SUBMARINO NA DEFEN- AEROPLANO VERSUS SUB- SIVA MARINO Apezar de certas precauções Um aeroplano francez, pilota- tomadas pela esquadra Italiana do pelo Tenente Romillet, lançou, fazendo reconhecimentos cons- no dia 1º, duas bombas de uma tantes na costa da Dalmatia, o altura de 15 metros, sobre o sub- cruzador couraçado “Garibal- marino Austriaco U II, ao Norte di”, que operava em frente a do Adriatico. Cattaro, foi torpedeado por um As bombas explodiram nas submarino austriaco, sendo des- proximidades da torre de coman- truido. Quasi toda a sua guarni- do, destruindo o submarino. ção salvou-se. Os submarinos allemães ope- NAVIOS MERCANTES APRI- rando no entrado do Bosphoro SIONADOS têm obrigado a esquadra russa Segundo informações do a diminuir a frequencia de seus Lloyds, acham-se detidos nos por- ataques, e ultimamente apenas os tos inglezes: destroyers e submarinos russos 119 navios mercantes alle- operam nessa região, evitando o mães transporte de carvão para Cons- 20 navios mercantes aus- tantinopla, por mar. triacos (...)

238 RMB3oT/2015 ACONTECEU HÁ CEM ANOS

NOTICIARIO MARITIMO

JULHO – 1915 um cruzador couraçado e quin- ze submarinos da marinha dos MARINHAS ESTRANGEIRAS Estados Unidos, se installaram agulhas giroscopicas tendo-se re- ESTADOS UNIDOS solvido ultimamente installar-se agulhas duplicadas magistraes NOVO SUBMARINO – O sub- em todos os navios da classe De- marino “E 2”, em construcção vai laware e bem assim nos construi- ser provido de accumuladores dos posteriormente. Edison, compostos de aço e nickel, Dá-se attenção especial á ins- contendo uma solução de potassa trucção de officiaes e marinheiros incapaz de produzir gazes vene- que terão a seu cargo o manejo des- nosos e que, ao contrario, absorve sas agulhas, enviando-os durante o excesso de anhidrido carbonico um mez ao Arsenal de Marinha de do ambiente. Nova York ou ás officinas onde se fabricam as referidas agulhas. SETEMBRO – 1915 A secção de navegação faz tam- bem embarcar dois artilheiros MARINHAS ESTRANGEIRAS escolhidos na esquadra do Atlan- tico, os quaes foram instruidos es- ESTADOS UNIDOS pecialmente no manejo da agulha giroscopica e prestam seus servi- AS AGULHAS GIROSCOPI- ços inspeccionando e ajustando CAS – O Scientific American pu- estes apparelhos e dando instruc- blicou que em vinte couraçados, ção para o seu uso.

RMB3oT/2015 239 REVISTA DE REVISTAS

Esta seção tem por propósito levar ao conhecimento dos leitores matérias que tratam de assuntos de interesse marítimo, contidas em publicações recebidas pela Revista Marítima Brasileira e pela Biblioteca da Marinha. As publicações, do Brasil e do exterior, são incorporadas ao acervo da Biblioteca, situada na Rua Mayrink Veiga, 28 – Centro – RJ, para eventuais consultas.

SUMÁRIO (Matérias relacionadas conforme classificação para o Índice Remissivo)

CIÊNCIA E TECNOLOGIA (C&T) PROPULSÃO Tecnologia all-electric para navios (241)

FORÇAS ARMADAS ARMAMENTO Canhões navais (242) FORÇAS ARMADAS DE PORTUGAL Reestruturação das Forças Armadas (243) TORPEDO Sistemas de defesa contra torpedos (245)

PODER MARÍTIMO MAR Abysses (246)

PSICOSSOCIAL ASSISTÊNCIA SOCIAL Os Navios da Esperança (247) REVISTA DE REVISTAS

TECNOLOGIA ALL-ELECTRIC PARA NAVIOS Por que a mudança e o que ela representa? Norman Friedman* (Naval Forces, no III/2015, vol. XXXVI, p. 52-56)

O renomado autor deste artigo faz de- O texto trata da evolução histórica da talhada análise do interesse crescente no propulsão naval, da introdução da energia investimento em navios de guerra elétricos turboelétrica nos meios navais a partir de por várias Marinhas. “A nova classe de 1914 e das vantagens dela advindas para a contratorpedeiros Zumwalt (DDG-1000) é arquitetura interna dos navios de guerra. diferente por vários motivos; mas, talvez, o Segundo Norman Friedman, a tecnolo- mais importante (e menos visível) é que são o gia all-electric acrescenta outros ganhos, primeiro de uma série de navios all-electric”, além de ser muito silenciosa. Dentre estes, afirma, ao iniciar sua argumentação. destacam-se a flexibilidade no arranjo da

USS Zumwalt (DDG-1000)

* Colaborador frequente da Naval Forces e de outros periódicos especializados em temas navais/marítimos. Autor do Naval Institute Guide to World Naval Weapons, Fifth Edition (Guia de Sistemas de Armas Navais do Instituto Naval, Quinta Edição) e do Network-centric warfare: How Navies Learned to Fight Smarter Through Three World Wars (Guerra centrada em rede: como as Marinhas aprenderam a lutar mais inteligentemente por meio das três guerras mundiais). Dentre seus outros livros, encontram-se The U.S. Maritime Strategy – 1988 (A Estratégia Marítima dos EUA – 1988) e Seapower as Strategy: Navies and National Interests – 2001 (Poder Naval como Estratégia: Marinhas e Interesses Nacionais – 2001).

RMB3oT/2015 241 REVISTA DE REVISTAS

propulsão, já que as turbinas propulsoras Friedman prossegue analisando argu- não necessitam estar conectadas diretamen- mentos a favor e contra esse tipo de propul- te aos eixos, e a possibilidade de instalação são naval, abordando, inclusive, os aspectos dos hélices em azipods, permitindo-lhes relacionados aos ganhos para sistemas de rotação de 360 graus para manobras do combate, como os lasers elétricos (que navio em águas restritas sem auxílio de se tornariam virtualmente inesgotáveis) e rebocadores. canhões eletromagnéticos.

CANHÕES NAVAIS Contra-Almirante (Reserva-Itália) Massimo Annati* (Naval Forces, no III/2015, vol. XXXVI, p. 22-27)

“A artilharia naval está vivendo uma Por outro lado, adverte o articulista, o era de evolução graças à adição de avanços míssil é mais preciso do que a munição tecnológicos”, afirma o autor. tradicional (não guiada) e provê alcances Comparada aos mísseis, a nova geração maiores com cabeças de combate mais de canhões navais desfruta de custo muito pesadas. Para ele, a combinação dos siste- mais baixo por engajamento e também de mas os torna complementares e, por esse maior flexibilidade, prossegue Annati. O motivo, verifica-se a instalação de canhões canhão pode engajar navios de superfí- cie, alvos costeiros e aeronaves e pode disparar granadas ilu- minativas, inertes ou de advertência – tare- fas impossíveis para o míssil lançado de navio ou aeronave. Além disso, se ne- cessário, os canhões navais podem bater alvos a curtas dis- tâncias e com tempo de reação menor do que o de mísseis e, por possuírem gran- des paióis, garantem ações prolongadas e repetitivas.

* Serviu na Marinha italiana por cerca de 38 anos, especialmente nas áreas de armamento e de cooperação inter- nacional. É atualmente membro do Grupo de Trabalho Europeu para Armas Não Letais.

242 RMB3oT/2015 REVISTA DE REVISTAS

de médio e grande calibre nos navios de cipais atores nesse ramo. Assim, aborda guerra mais modernos. Entretanto, alerta, detalhadamente diversos tipos de munição, a disponibilidade de projetis guiados evo- analisando possibilidades, vantagens e luídos de uma nova geração de granadas desvantagens. de alta precisão representa uma mudança Finalizando, aborda desenvolvimentos de paradigma. futuros, citando, dentre outros, o Elec- O artigo prossegue analisando a limita- tromagnetic Railgun (EMRG – canhão da (em seu entendimento) capacidade dos eletromagnético), que tem como propulsor fabricantes existentes de projetar e produzir o eletromagnetismo e será capaz de lançar esse tipo de munição. Segundo Annati, a projetis de 10 kg a distâncias de cerca de 370 BAe Systems e a Oto Melara são os prin- km, a velocidades superiores a 2.500 m/s.

REESTRUTURAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS A nova realidade da Marinha Miguel Bessa Pacheco* (Revista de Marinha, Portugal, maio/junho 2015, no 985, p. 46-47)

O artigo aborda a reestruturação da Segundo o articulista, todas as modi- Defesa Nacional e das Forças Armadas de ficações realizadas têm origem na crise Portugal realizada nos últimos dois anos. mundial de 2008 e adotaram como paradig- Busca, sucintamente, abordar as alterações ma a racionalização, buscando minimizar verificadas e suas consequências para a o impacto na capacidade operacional das Marinha portuguesa. Forças Armadas do país. Toda essa rees- Segundo o autor, o processo teve início truturação foi enquadrada por Resolução com a revisão e a aprovação, em março de de Conselho de Ministros, de abril de 2013, 2013, do Conceito Estratégico de Defesa designada Defesa 2020. Entre outras coisas, Nacional, documento de alto nível que ana- foi estabelecido efetivo de militares entre lisa o ambiente estratégico interno e externo 30 mil e 32 mil e nível de orçamento em e define objetivos e linhas de ação. A partir 1,1% do PIB para a Defesa Nacional. desse documento, prossegue Pacheco, ocor- O artigo prossegue analisando as mu- reu a revisão do Conceito Estratégico Mili- danças no âmbito da Marinha. Cita altera- tar, do qual foram deduzidas as missões das ções como: as das relações institucionais Forças Armadas e foi definido o Sistema de com o chefe do Estado-Maior General das Forças necessário para realizá-las. O autor Forças Armadas e com a Autoridade Ma- aborda, ainda, as modificações, ao nível rítima Nacional, que foram politicamente organizacional, em demais documentos, alteradas; as orgânicas, ocorridas dentro da leis e no Estatuto dos Militares das Forças Marinha por meio da extinção ou transfe- Armadas (ainda em revisão), decorrentes rência de organizações; as administrativas; das mudanças introduzidas nos documentos as operacionais das Forças; e as de âmbito de mais alto nível. do pessoal e da organização, além de outras.

* Oficial da Armada de Portugal.

RMB3oT/2015 243 REVISTA DE REVISTAS

Macroestrutura simplificada da Marinha – Conforme Decreto-Lei no 185/2014, de 29 de dezembro

244 RMB3oT/2015 REVISTA DE REVISTAS

SISTEMAS DE DEFESA CONTRA TORPEDOS Milan Vego* (Naval Forces, no III/2015, vol. XXXVI, p. 28-30)

“As Marinhas deram os primeiros passos para se be- neficiarem de armas projetadas para inter- ceptação e destruição de torpedos guiados do inimigo” é a frase que inicia este artigo do Dr. Vego e lhe dá o enfoque. Segundo o au- tor, as Marinhas do mundo, ao lon- go dos últimos 20 anos, priorizaram quase exclusivamen- te o desenvolvimento de armas essas armas, e dentre eles ressalta o al- de defesa contra os mísseis anti- cance de busca para possibilitar o alarme navio, enquanto a defesa contra torpedos foi antecipado e o uso de contramedidas. relegada a segundo plano. No entanto, afir- De forma geral, Vego estabelece dois ma, os torpedos modernos são muito mais componentes principais para a defesa: letais, autônomos, velozes e eficazes de que deteção e destruição da plataforma de seus predecessores, além de possuírem me- torpedo inimiga em sua base ou em trân- canismos de direcionamento sofisticados e sito, e a destruição ou jamming/decoying capacidade de re-ataque. (defesa soft kill) do torpedo em sua fase O autor analisa aquela que conside- final de corrida. ra a maior ameaça, o torpedo pesado Milan Vego aborda ainda os conceitos (Heavyweight Torpedo – HWT) e as operacionais da defesa contra torpedos de possibilidades de defesa e, também, os forma detalhada, citando fabricantes e mo- torpedos leves (Lightweight Torpedo – delos de equipamentos disponíveis em nível LWT). A maioria dessas armas possui internacional, e conclui afirmando que essa capacidade de busca acústica passiva/ ameaça tende a aumentar nos anos vindou- ativa e algumas são guiadas a fio. Cita ros. Para ele, os torpedos serão cada vez mais os requisitos necessários à defesa contra velozes e letais e terão alcances maiores.

* Professor de Operações no Naval War College (EUA) desde 1991. Serviu por 12 anos como oficial da Marinha da ex-Iugoslávia e por três anos e meio na Marinha mercante alemã. É Ph.D. em História Moderna pela Universidade George Washington. É autor, dentre outros oito livros e numerosos artigos para publicações profissionais, deSoviet Naval Tactics (1992) e Naval Strategy and Operations in Narrow Seas (1999; 2003). É também seu o livro-texto Operational Warfare (2001).

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ABYSSES (Études Marines, no 8, junho/2015 – Centro de Estudos Estratégicos da Marinha da França)

Tem-se a impressão de que a Terra é conhe- A publicação apresenta artigos de re- cida e controlada até o ponto de só falarmos levante interesse, com os autores abaixo sobre sua preservação para gerações futuras. indicados: Mas será que seus habitantes sabem que 95% – “Se o fundo do mar me contasse...” e dos fundos marinhos continuam inexplorados? “Os destroços do fundo do mar, santuário O levantamento dos segredos provenientes da memória dos homens”, ambos de Alexia dos oceanos dá à luz grandes esperanças a Pognonec; pesquisadores, industriais e estados. – “O homem no espelho das profunde- Nos seus espaços misteriosos e, às vezes, zas” e “A conquista, exploração das pro- assustadores, as profundezas tornaram-se fundezas”, ambos de Claire de Marignan e hoje questão estratégica vital. Estratégica para Alexandre Babin; a guerra naval: as duas guerras mundiais de- – “A arte da guerra naval para a conquis- monstraram a importância das forças subma- ta das profundezas”, do Capitão de Fragata rinas, a dissuasão a reforçou. Estratégica para Franck Maire; o nosso mundo conectado: 99% das comuni- – “Explorar e intervir”, entrevista com o cações digitais intercontinentais transitam por Capitão de Fragata Hubert Vatbois; cabos submarinos. Estratégica, finalmente, – “A corrida do ouro? Busca aos recur- para atender às necessidades da humanidade: sos minerais marinhos” e “A vida abissal, reservas se esgotam na terra, as profundezas um novo mundo?”, ambos de Adrien revelam um enorme potencial de recursos Ausard; e energéticos, minerais, biodiversidade... – “Geopolítica das profundezas”, de Esta edição da Études Marines lança Cyrille P. Coutansais. luz sobre o mundo marítimo e oferece ao O Prefácio é do Contra-Almirante leitor um mergulho nessas profundezas Thierry Rousseau (diretor da publicação), para contribuir para dissipar seus mistérios. e o Posfácio é de Christophe Bec.

Escafandro Newtsuit

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OS NAVIOS DA ESPERANÇA Walter Colli* (Jornal da Ciência, 17 de junho de 2015)

No artigo, publicado pelo Jornal da Ciên- Faço esse relato para divulgar uma ini- cia, orgão da Sociedade Brasileira para o Pro- ciativa belíssima que desconhecia, apesar de gresso da Ciência (SBPC), o autor descreve e meus 76 anos de idade. Nunca ouvira falar comenta sua viagem no Navio de Assistência da existência dessa flotilha. É muito simples Hospitalar (NAsH) Carlos Chagas, um dos entender: a Marinha do Brasil mantém qua- navios da Marinha do Brasil que atuam na tro navios navegando pelo Rio Amazonas e Amazônia realizando ações cívico-sociais seus afluentes, até a fronteira com os países junto a populações ribeirinhas. limítrofes da região amazônica, além de Esta viagem, realizada de 2 a 6 de de- três navios armados que policiam constan- zembro do ano passado, foi parte do Prê- temente nossa fronteira molhada, tentando mio Almirante Álvaro conter o contrabando Alberto conferido ao de animais e o tráfico autor (iniciativa con- O navio singra o rio de entorpecentes. Em junta do Ministério da e fundeia próximo a convênio com o Minis- Ciência, Tecnologia e tério da Saúde, esses Inovação; da Marinha comunidade ribeirinha. navios, que percorrem do Brasil e do Conselho São pequenas vilas com cada um 25 mil km Nacional de Desenvol- por ano, são equipados vimento Científico e casas sobre troncos. A com 20 tipos de medi- Tecnológico-CNPq) na assistência hospitalar não é camentos básicos e com área de conhecimento trivial porque o ribeirinho é laboratório de análises “Ciências da Vida”. capaz de processar a do- A seguir, transcre- esquivo e custa a entender e sagem de uma série de vemos o artigo: a se fazer entender enzimas do soro, bem “Como parte do como fazer hemograma Prêmio Almirante Ál- completo, necessários varo Alberto 2014, que recebi do Conselho ao diagnóstico médico. Além disso, o navio Nacional de Desenvolvimento Científico dispõe de gabinetes odontológicos comple- e Tecnológico (CNPq), com o apoio ines- tos e outros equipamentos. timável da Fundação Conrado Wessel, e Fomos, eu e minha mulher, tratados de do qual me orgulho porque representou maneira fidalga, conduzidos por um oficial um reconhecimento da comunidade a 50 da Marinha, de nossa casa, em São Paulo, anos dedicados à ciência e à universidade, até Manaus, e de lá, transportados por um a Marinha do Brasil ofereceu-me uma helicóptero Esquilo do Esquadrão Tucano, viagem de oito dias em um dos navios que dá apoio à flotilha, alcançamos o Navio de uma pequena frota que singra os rios de Assistência Hospitalar (NAsH) Carlos amazônicos e aos quais deu-se o nome de Chagas, que já estava viajando. Cada navio Navios da Esperança. tem um lema. O do Carlos Chagas, chama-

* Professor titular aposentado da Universidade de São Paulo (USP), onde atua como professor colaborador sênior. É um dos diretores da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

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NAsH Carlos Chagas

do ‘O peixe-boi da Amazônia’, é ‘Saúde organiza os habitantes e faz a triagem onde houver vida’. O que vimos é algo que a partir de suas queixas, encaminhando merece ser relatado. cada qual para um tipo de atendimento. O navio singra o rio e fundeia quando Os médicos conversam, administram avista uma comunidade ribeirinha. São remédios, orientam. Quando necessário, pequenas vilas com poucas casas, todas transportam o paciente para o navio, seja construídas sobre troncos de árvore, para para tratamento dentário, seja para colheita flutuarem na época da cheia e, às vezes, são de material e exames de laboratório, seja comunidades um pouco maiores. para observar melhor a evolução de um Na maior parte dessas comunidades, sintoma. Foi assim no caso de uma senhora o fornecimento de energia é feito por um que não tinha os sinais clássicos de infarto gerador que, por economia, funciona por de miocárdio, mas cujas enzimas no soro poucas horas após o anoitecer. Não existem indicavam que uma lesão importante esta- sistemas de distribuição de água e tratamen- va se instalando. A decisão dos médicos, to de esgotos. A água para uso domiciliar é junto com o comandante do navio – um tirada diretamente do rio, e para lá retorna oficial competente, além de simpático –, levando todo tipo de dejetos. Ainda assim, foi embarcar a paciente no helicóptero e é comum que as crianças se banhem no rio levá-la para um hospital de Manaus, pois em meio à contaminação. estávamos próximos da capital. Foi assim A lancha do navio leva a equipe de que essa operação salvou essa mulher. Ou saúde para a margem. Lá, são ministradas com um menino com uma infecção na face aulas de escovação de dentes e distribu- muito próxima do olho e que havia sido ídos dentifrício e escovas. A enfermeira tratado em um hospital de uma pequena

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NPaFlu Pedro Teixeira

cidade próxima, mas sem melhora. Os rapidamente o levou para essa cidade mais médicos trouxeram o menino para o navio próxima, onde estava o hospital. ao cair da tarde, quase noite. A discussão Esse atendimento não é trivial porque, que se seguiu foi uma aula de como se não raramente, o ribeirinho é esquivo e toma uma decisão ao mesmo tempo rápi- custa a entender e a se fazer entender. da e ponderada. No escuro, o helicóptero Algumas vezes a pessoa é analfabeta. É não podia sair, nem a lancha, por falta de clássica a história de um atendimento em luz própria. Por outro lado, a inflamação que o médico, para ter certeza de que o estava perigosamente próxima do olho. paciente iria medicar-se corretamente, Manter o menino no navio durante a desenhou no ‘receituário’ um sol nascente, noite era desaconselhável; devolvê-lo à um sol a pino, um sol poente e uma lua margem, impensável. O comandante, em quarto minguante, tendo ao lado dois por rádio, comunicou-se com o hospital pequenos círculos em cada um dos perí- mais próximo e certificou-se de que eles odos a indicar o número de comprimidos dispunham do antibiótico que os médicos a ser ingeridos. haviam receitado. Mas como chegar lá Tudo nos impressionou favoravel- com um navio cuja velocidade de cruzeiro mente: a absoluta organização do navio; é baixa? O comandante comunicou-se com os homens, cada qual executando sua seu colega do Navio-Patrulha Roraima, o função com responsabilidade e alegria; ‘Águia do Amazonas’, que nos acompa- um cozinheiro, que, em instalações mí- nhava como um anjo da guarda. O menino nimas, fazia um pão delicioso todos os foi transportado para o navio-patrulha, que dias e uma comida honesta e gostosa. É

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na praça-d’armas que todos se reúnem Universidade de São Paulo, nos impres- para o relatório diário dos acontecimentos sionaram sobremaneira pela forma como e para o planejamento das atividades do diagnosticavam e medicavam. Eles nunca dia seguinte. Mas o que mais nos im- esquecerão, quando estiverem exercendo pressionou foi a atitude dos jovens que suas profissões em outras paragens, essa compõem o núcleo da saúde. Alguns, já experiência de atendimento diuturno de dentro da carreira militar. Mas outros brasileiros necessitados e desassistidos. voluntários, os homens cumprindo ser- Desde o comandante do 9º Distrito viço militar, as mulheres por escolha Naval, em Manaus, que nos recebeu muito própria. Aqueles jovens – três dentistas, bem, até os homens da Divisão de Máqui- um farmacêutico, uma enfermeira, qua- nas, passando pela chefia do Estado-Maior, tro médicos – funcionavam como uma pelo comando da Flotilha e pelos coman- unidade treinada. Sua competência ao dantes dos navios, além dos profissionais conversar com os ribeirinhos, obtendo da saúde a quem já me referi, notamos que informações e orientando, foi a parte mais nessa atividade não há lugar para a impro- bonita de se ver. Seus olhos brilhavam, visação. Tudo é planejado, todos sabem o conscientes de que estavam fazendo que fazer, em nenhum momento sentimos algo importante e sabiam o que estavam a presença do jeitinho brasileiro. fazendo. Os médicos, recém-formados, Essa curta viagem devolveu-me parte um na Santa Casa de São Paulo, os ou- da esperança que outrora, quando jovem, tros três na Faculdade de Medicina da já nutri pelo Brasil.”

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Esta seção destina-se a registrar e divulgar eventos importantes da Marinha do Brasil e de outras Marinhas, incluída a Mercante, dar aos leitores informações sobre a atualidade e permitir a pesqui- sadores visualizarem peculiaridades da Marinha. Colaborações serão bem-vindas, se possível ilustradas com fotografias.

SUMÁRIO (Matérias relacionadas conforme classificação para o Índice Remissivo)

ADMINISTRAÇÃO COMEMORAÇÃO 60 anos da Corveta Caboclo (255) DHN celebra o Dia Mundial da Hidrografia (255) Edição especial da Navigator aborda os 150 anos da Batalha Naval do Riachuelo (256) DESATIVAÇÃO Desativação do Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais Maré VIII (257) DOAÇÃO Marinha recebe terreno em Barreirinhas (258) HOMENAGEM Homenagem à memória dos mortos da Marinha em guerra (258) INAUGURAÇÃO 2o DN inaugura busto do Almirante Tamandaré em Juazeiro (259) MOSTRA DE DESARMAMENTO Mostra de Desarmamento do AvTrFlu Piraim (260) Mostra de Desarmamento da Corveta Imperial Marinheiro (261) Mostra de Desarmamento do Navio-Varredor Abrolhos (263) ORGANIZAÇÃO DGN obtém autonomia administrativa (264) NOTICIÁRIO MARÍTIMO

POSSE Assunção de cargos por almirantes (265) 9o DN recebe vencedora do Prêmio Almirante Álvaro Alberto (266) Prêmio CNTM (267) Prêmio Inovação em 2015 da Indústria Naval (268) Prêmio Revista Marítima Brasileira (268)

APOIO ARSENAL AMRJ – Associado Honorário da Abimde (269) ANTÁRTICA Reconstrução da Estação Antártica Comandante Ferraz (269)

ARTES MILITARES JOGO DE GUERRA Jogo Simulado de Segurança no Atlântico Sul (271)

ATIVIDADES MARINHEIRAS BUSCA E SALVAMENTO Aeronave da MB resgata mulher a 200 km de Corumbá (271) Marinha socorre pesqueiro durante evento-teste no RJ (271) MB resgata tripulantes de embarcação à deriva (272) PESQUISA NPqHo Vital de Oliveira realiza sua primeira comissão científica (273) SINALIZAÇÃO NÁUTICA MB e DNIT assinam termo para sinalização náutica do Rio Madeira (273)

CIÊNCIA E TECNOLOGIA (C&T) INSTITUTO IEAPM e Ueap firmam Protocolo de Intenções (274) IEAPM firma acordo com a UFRRJ (275) IPqM realiza testes de mar com Sonar Nacional Passivo (275) VEÍCULO NÃO TRIPULADO IPqM assina Termo de Parceria para desenvolvimento de Veículo Submarino Autônomo (276)

CONGRESSOS ENCONTRO XI Bioinc (277) Base Naval de Natal recebe escoteiros do mar (278) EXPOSIÇÃO Exposição “A cidade do Rio de Janeiro em Cartas Náuticas” no Museu Naval (278) FEIRA Brasil Offshore 2015 (279)

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SIMPÓSIO I Simpósio Internacional sobre Manejo de Pesca Marinha (280) V Simpósio de Práticas de Gestão (281) XVIII Spolm (282)

EDUCAÇÃO CURSO MB ministra cursos de aquaviários para tribo Guató (283) MB, MPA e Ifes firmam acordo para formação de pescadores 283( ) Pescadores ganham capacitação em curso de aquaviários (284) ESCOLA DE GUERRA NAVAL EGN – Nova Instituição Científica e Tecnológica 284( ) ESPORTE Resultados Esportivos (285) Vôlei de Praia da MB traz medalhas para o Brasil (286)

FORÇAS ARMADAS AERONAVE Aeronave AF-1B realiza primeiro reabastecimento em voo com KC-130 da FAB (286) HS-1 recebe mais dois SH-16 Seahawk (287) Recebimento de aeronaves SH-16 Seahawk (287) MARINHA DA BOLÍVIA Militares da Bolívia fazem estágio na MB (288) MARINHA DA NAMÍBIA MB conclui a instalação do Sistema LRIT na Marinha da Namíbia (289) MARINHA DO JAPÃO MB e Marinha japonesa em operação conjunta pela primeira vez (289) MISSÃO DE PAZ MB contratará empresa aérea para transportar contingentes para o Haiti (290) OPERAÇÃO Flotilha do Amazonas atua na Tríplice Fronteira com Marinhas da Colômbia e Peru (291) SUBMARINO NUCLEAR Batalhão de Engenharia de Fuzileiros Navais conclui apoio às obras do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (291)

PODER MARÍTIMO AGÊNCIA Agência Fluvial de Imperatriz intensifica inspeções navais (292) APRESAMENTO MB e PF apreendem cocaína em veleiro holandês (292) MB e PF realizam apreensões no Paraná (293) NPaFlu Amapá apresa comboio, carregamentos e embarcações (294) PORTO Paraná ganha novo terminal portuário privado (296) Tegram já embarcou 1,4 milhão de toneladas (296) SEGURANÇA DA NAVEGAÇÃO 8o DN e Prefeitura de Araçatuba firmam convênio (297)

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PSICOSSOCIAL AJUDA HUMANITÁRIA NAsH Tenente Maximiano atende durante cheia do Rio Paraguai (298) “Navio da Esperança do Pantanal” realiza vacinação no Rio Paraguai (298) ASSISTÊNCIA SOCIAL Navega Reserva (299) CULTURA De Martino no Brasil (299) Museu Naval atrai grande público no Circuito Cultural Rio Ônibus (300) LANÇAMENTO DE LIVRO A Pirataria Marítima Contemporânea – as últimas duas décadas (301) Lançamento do livro Manual de Providências do Assistente (302) Lançamento do livro Navegação Integrada (302) Lançamento do livro O Mar, a Forja e a Têmpera do Comandante (303)

RELAÇÕES INTERNACIONAIS RELAÇÕES INTERNACIONAIS Brasil e Índia discutem cooperação em Defesa (304)

254 RMB3oT/2015 NOTICIÁRIO MARÍTIMO 60 ANOS DA CORVETA CABOCLO

O Comando do 2o Distrito Naval (Sal- também participou de fatos marcantes da vador-BA) comemorou, em 16 de julho história nacional e internacional, como a último, o Jubileu de Diamante da Corveta recuperação do Transatlântico Santa Maria, Caboclo, mais antigo navio em atividade sequestrado por revolucionários portugueses na sua área de jurisdição. Quinto navio da no porto do Recife, em 1961; o socorro e classe Imperial Marinheiro, a Caboclo foi salvamento dos tripulantes do Pesqueiro incorporada à Marinha em 16 de julho de Alcatraz, perdido no mar por 22 dias, em 1955, em Rotterdam, Holanda. 1973, com fugitivos de Angola; e as buscas Nos seus 60 anos de serviços, a corveta à aeronave da Air France que caiu no mar soma 663.330 milhas navegadas e 3.690 dias em 1o de junho de 2009, nas proximidades de mar e foi merecedora de cinco prêmios do Arquipélago de São Pedro e São Paulo, de Navio de Socorro do Ano. A Caboclo maior operação de busca e salvamento já realizada pela Marinha do Brasil. Participaram da ce- rimônia de aniversário do navio o comandante do 2o Distrito Naval, Vice-Almirante Luiz Henrique Caroli; ex- -comandantes do na- vio e do Grupamento de Patrulha Naval do Leste; integrantes da Sociedade Amigos da Marinha e titulares de Organizações Militares da Marinha situadas em Salvador e Aratu (BA). (Fonte: www.mar. Comandante do 2o Distrito Naval e ex-comandantes da Corveta Caboclo mil.br)

DHN CELEBRA O DIA MUNDIAL DA HIDROGRAFIA

A Diretoria de Hidrografia e Navega- navegação e da proteção do meio ambiente. ção (DHN) comemorou, em 30 de junho Na ocasião, a DHN celebrou também o último, o Dia Mundial da Hidrografia. A 94o aniversário da criação da Organização data instituída por meio de Resolução da Hidrográfica Internacional (OHI). Organização das Nações Unidas (ONU) é Presidida pelo diretor da DHN, Vice-Al- o dia 21 de junho e visa divulgar a rele- mirante Antonio Reginaldo Pontes Lima vância dos Serviços Hidrográficos dos seus Junior, a solenidade contou com a presença estados membros, em prol da segurança da dos ex-diretores Almirante de Esquadra

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Evento reuniu militares, servidores civis e representantes de empresas ligadas à hidrografia

(Refo) José Alberto Accioly Fragelli, Almi- No evento, foram proferidas palestras pelo rante de Esquadra (Refo) Marcos Augusto diretor do Centro de Hidrografia da Marinha Leal de Azevedo, Almirante de Esquadra (CHM), Capitão de Mar e Guerra Rodrigo (RM1) Luiz Fernando Palmer Fonseca, de Souza Obino, e pelo Diretor do Centro de Vice-Almirante (Refo) Lucio Franco de Sá Sinalização Náutica Almirante Moraes Rego Fernandes, Vice-Almirante (RM1) Paulo (CAMR), Capitão de Mar e Guerra Alexandre Cesar Dias de Lima e Vice-Almirante Coelho Gomes. Em seguida, os presentes parti- (RM1) Edison Lawrence Mariath Dantas, ciparam da cerimônia militar em que foi lida a além de militares, servidores civis e repre- Ordem do Dia do diretor-geral de Navegação, sentantes de empresas ligadas às atividades Almirante de Esquadra Elis Treidler Öberg. hidrográficas. (Fonte: www.mar.mil.br)

EDIÇÃO ESPECIAL DA NAVIGATOR ABORDA OS 150 ANOS DA BATALHA NAVAL DO RIACHUELO

Como parte das comemorações alusivas A edição comemorativa contou com aos 150 anos da Batalha Naval do Riachuelo, alguns dos principais historiadores que a Diretoria do Patrimônio Histórico e Docu- se dedicam ao estudo daquele importante mentação da Marinha (DPHDM) lançou o episódio histórico, como os Professores Vol. 11/no 21 da revista Navigator, com a 1a Doutores Francisco Doratioto, da Univer- parte do Dossiê Temático “150 anos da Ba- sidade de Brasília; Vitor Izecksohn, da talha Naval do Riachuelo: Reflexões e abor- Universidade Federal do Rio de Janeiro; dagens sobre a Guerra da Tríplice Aliança”. José Miguel Arias Neto, da Universidade

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Estadual de Londrina; Álvaro Pereira do Nascimento, da Universidade Federal Ru- ral do Rio de Janeiro; e Johny Santana de Araújo, da Universidade Federal do Piauí. Também participaram: Coronel Sergio Fernando Sanchez, do Exército argentino e sócio do Instituto de História Militar da Argentina; Capitão de Mar e Guerra (RM1) Francisco Eduardo Alves de Almeida, professor do Programa de Pós-Graduação em Estudos Marítimos da Escola de Guerra Naval; General Aureliano Pinto de Moura, presidente do Instituto de Geografia e His- tória Militar do Brasil; Coronel André Cezar Siqueira, pesquisador do Centro de Estudos e Pesquisas de História Militar do Exército; e Tenente Anderson de Rieti Santa Clara dos Santos, pesquisador da DPHDM. Esta edição da Navigator e as anteriores estão disponíveis no site da revista: www. revistanavigator.com.br. (Fonte: www.mar.mil.br) Capa da edição comemorativa

DESATIVAÇÃO DO GRUPAMENTO OPERATIVO DE FUZILEIROS NAVAIS MARÉ VIII Foi realizada em 2 de julho último, na Divi- de Fuzileiros Navais Maré VIII e Encerra- são Anfíbia (Rio de Janeiro-RJ), a Cerimônia mento da Participação da Marinha do Brasil de Desativação do Grupamento Operativo na Operação São Francisco. A Operação foi

Solenidade na Divisão Anfíbia

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iniciada no dia 5 de abril do ano passado, com com cerca de 4.700 militares durante toda a finalidade de preservar a ordem pública e a a Operação, contribuindo decisivamente incolumidade das pessoas e do patrimônio nas para o cumprimento da missão, que re- 16 comunidades do Complexo da Maré, onde queria uma tropa preparada, consciente moram cerca de 140 mil pessoas, contribuindo dos preceitos legais, com civilidade, para o restabelecimento da paz social na região. urbanidade e, ao mesmo tempo, firmeza A Marinha, por meio do Grupamento de atitudes. Operativo de Fuzileiros Navais, participou (Fonte: www.mar.mil.br)

MARINHA RECEBE TERRENO EM BARREIRINHAS

A Capitania dos Portos do Maranhão Barreirinhas (MA) é conhecida por ser (CPMA) e o município de Barreirinhas a “porta de entrada” da região turística dos (MA) assinaram, em Lençóis Maranhenses, 6 de agosto último, que consiste em uma Termo de Cessão vasta área de altas du- de Uso com futura nas de areias brancas e doação de um ter- de lagos, distante 250 reno para servir de km da capital do Estado Patromoria para a do Maranhão, São Luís, CPMA. A cerimô- sede da CPMA. O turis- nia de assinatura do mo no município tem documento ocorreu propiciado o aumento com a presença do significativo de em- capitão dos Portos Capitão dos Portos do Maranhão e prefeito de barcações de turismo e do Maranhão, Capi- Barreirinhas recreio, com a necessi- tão de Mar e Guerra dade da presença cons- Marcos Tadashi Hamaoka; do prefeito tante da CPMA a fim de manter a segurança de Barreirinhas, Léo Costa; e de diversas do tráfego aquaviário e a salvaguarda da autoridades locais, bem como da comuni- vida humana e de evitar a poluição hídrica. dade pesqueira vizinha ao terreno. (Fonte: www.mar.mil.br)

HOMENAGEM À MEMÓRIA DOS MORTOS DA MARINHA EM GUERRA

O comandante de Operações Navais, existência das Marinhas de Guerra. Essa Almirante de Esquadra Elis Treidler Öberg, tarefa tornou-se essencialmente árdua a expediu, em 20 de julho último, Ordem do partir da Grande Guerra, quando a nova Dia em homenagem à memória dos mortos arma submarina foi usada de forma irres- da Marinha de Guerra na Segunda Guerra trita contra o tráfego marítimo. Mundial. Transcrevemos o texto a seguir: A Segunda Guerra Mundial trouxe sub- “A proteção ao transporte marítimo marinos e torpedos mais modernos que os sempre foi uma das razões principais da usados na anterior, o que fez da Batalha do

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Atlântico um momento da guerra no mar composta pelos cruzadores Bahia e Rio essencialmente cruel. Grande do Sul, pelas corvetas Carioca, A Marinha do Brasil, em 1939, não se Caravela, Camaquã e Cabedelo e pelos encontrava preparada para a execução da caça-submarinos Guaporé e Gurupi, foi um guerra antissubmarino em proteção aos marco na História Naval brasileira que não nossos navios mercantes. Esse fato impli- pode ser esquecido, bem como não podem cou esforço intenso de nossos oficiais e ser esquecidos o Baependi, o Araraquara, praças para adquirir, com a rapidez possí- o Aníbal Benévolo, o Itagiba, o Arará, o vel, aquela capacidade. O fato de o Brasil Antonico e o Afonso Pena, que entregaram permanecer neutro durante os primeiros ao mar mais da metade das perdas que tive- anos da guerra não foi suficiente para ga- mos. A Marinha do Brasil tem uma dívida rantir a segurança de nossos navios. Assim, de gratidão com as tripulações do Bahia, depois que 18 navios da Marinha Mercante do Camaquã e do Vital de Oliveira pelo brasileira foram torpedeados e afundados, sacrifício deles exigido dos 486 tripulantes em 31 de agosto de 1942, o Brasil aban- que com eles se foram. donou o estado de neutralidade e entrou Portanto, hoje e aqui, devemos ter orgu- oficialmente no conflito. lho ao reverenciá-los; estão presentes com Mahan, na sua obra clássica A influência seus nomes gravados no mármore deste do Poder Marítimo sobre a História, em mausoléu para que nós, seus sucessores, que estabelece de forma clara os pilares não os esqueçamos. da Estratégia Naval, declara que ‘o mar é Foram 575 comboios, nos quais 3.164 uno e indivisível’. Uma verdade que pode navios mercantes foram acompanhados, ser estendida aos homens do mar, aqueles com um preço pago de 1.468 vítimas. que labutam no mar sob qualquer pretexto Foram momentos difíceis aqueles anos e sempre estarão unidos pelo mar. em que, nos conveses de nossos navios, de Dessa forma é que, naqueles dias de guerra ou mercantes, os homens do mar 1942, a Marinha Mercante brasileira e a não se furtaram ao dever de enfrentar as Marinha do Brasil passaram a atuar quase agruras e os desafios do conflito. Cultuemos que unidas. o exemplo dos heróis daqueles tempos! A criação da Força Naval do Nordeste, Vida longa à Marinha Mercante brasi- em 5 de outubro de 1942, sob o comando leira! Viva a Marinha do Brasil!” do então Capitão de Mar e Guerra Al- (Fonte: Bono Especial no 497, de fredo Carlos Soares Dutra, inicialmente 20/7/2015)

2o DN INAUGURA BUSTO DO ALMIRANTE TAMANDARÉ EM JUAZEIRO

Por ocasião das comemorações dos 137 Brasil. O monumento foi instalado na orla anos de emancipação política de Juazeiro nova da cidade, ao lado da Saldanha Ma- (BA), município situado às margens do Rio rinho, típica embarcação do São Francisco São Francisco, o Comando do 2o Distrito nos séculos XlX e XX e que atualmente Naval (Salvador-BA) presenteou, no dia 17 funciona como centro cultural. de julho, a população com um busto do Al- Participaram da cerimônia de inaugu- mirante Tamandaré, patrono da Marinha do ração o comandante do 2o Distrito Naval,

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Vice-Almirante Luiz Henrique Caroli; o prefeito de Juazei- ro, Isaac Carvalho; o deputado estadual Crisóstomo Lima (Zó); e o presidente da Sociedade Amigos da Marinha–Juazeiro, Joselito Menezes de Sousa. Ao agradecer à po- pulação de Juazeiro, o Vice-Almirante Caro- li destacou o legado do Almirante Taman- daré: “Um exemplo para todos os brasi- Inauguração do monumento leiros de amor à pátria e dedicação ao Brasil. Uma referência e Marinha completará cem anos aqui no fonte de inspiração na busca de uma Ma- Vale do São Francisco, sempre apoiando rinha e um país cada vez melhores”. Já o o nosso povo, principalmente os que na- prefeito de Juazeiro ressaltou a presença vegam no rio”, disse. da Marinha no município. “Em 2019, a (Fonte: www.mar.mil.br)

MOSTRA DE DESARMAMENTO DO AvTrFlu PIRAIM

Em cumprimento ao disposto na Por- Navegação da Bacia do Prata S/A, sendo taria no 315, de 28 de julho de 2015, do batizado, à época, com o nome de Reboca- comandante da Marinha, foi dor Guaicuru. Posteriormente, realizada em 14 de agosto em 1977, sofreu profundas último a cerimônia de Mostra modificações estruturais, sendo de Desarmamento do Aviso convertido para navio de trans- de Transporte Fluvial (AvTr- porte de passageiros. Em no- Flu) Piraim. Transcrevemos a vembro de 1981, o Comando do seguir a Ordem do Dia alusiva 6o Distrito Naval foi autorizado ao evento, expedida pelo chefe a adquirir o meio para integrar do Estado-Maior da Armada, a Flotilha do Mato Grosso, com Almirante de Esquadra Wilson a finalidade de melhor dotá-la Barbosa Guerra. para o cumprimento de suas “A história deste navio tem missões no cenário ribeirinho. início em 1950, ano de sua No dia 10 de março de 1982, construção na Holanda, no estaleiro H. foi submetido à Mostra de Armamento, B. Peters, por encomenda do Serviço de concretizando o ato de incorporação ao Ser-

260 RMB3oT/2015 NOTICIÁRIO MARÍTIMO viço Ativo da Marinha, em cumprimento à mil milhas náuticas navegadas em proveito Portaria Ministerial no 1.866 de 2 de dezem- da Flotilha de Mato Grosso. bro de 1981, do então ministro da Marinha, É, ainda, digno de destaque, seu im- Almirante de Esquadra Maximiano Eduar- portante papel no estreitamento dos laços do da Silva Fonseca, ficando subordinado de amizade com as Armadas paraguaia, ao Comando da Flotilha de Mato Grosso, argentina, uruguaia e boliviana durante as com sede na cidade de Ladário. Operações Boiadeiro, Aspirantex, Platina, O Aviso de Transporte Fluvial Piraim Acrux, Ninfa e Brasbol, entre outras. Um foi o primeiro navio da Marinha do Brasil longo percurso, uma vida operativa intensa a receber este nome, cujo significado, na que, para o seu desfecho, estamos hoje aqui língua tupi, é ‘o rio reunidos em ato sole- do peixe’. Foi assim ne, na despedida deste denominado em uma ‘bravo guerreiro’. justa homenagem ao Dessa forma, no feito militar de Au- momento em que o gusto Leverger, chefe Pavilhão Nacional é de Divisão e barão arriado pela última vez de Melgaço, que, à a bordo, por dever de margem direita do justiça, exalto o lega- Rio Piraim, em Porto do deixado por todos Melgaço, organizou aqueles que passaram e comandou a resis- pelos conveses da tência que impediu o AvTrFlu Piraim ‘Máquina de Guerra’, avanço paraguaio em os quais personifica- direção a Cuiabá e a consequente queda ram a alma aguerrida deste navio. A esses da capital, tornando-se, por isso, um gran- marinheiros, que tiveram o privilégio de de herói e digno da gratidão de todos os fazer parte destas tripulações, prestamos brasileiros. nosso reconhecimento pelos relevantes Por mais de 33 anos, o AvTrFlu Piraim, serviços prestados à Marinha do Brasil. com o Pavilhão Nacional a tremular no Aviso de Transporte Fluvial Piraim, por penol da carangueja, realizou diversas sua singradura na Marinha do Brasil e pelo operações ribeirinhas, patrulhas e inspe- cumprimento exitoso de sua missão, receba ções navais, assistências cívico-sociais e o merecido e distinto ‘Bravo Zulu’. operações de socorro e salvamento ao longo Viva a Marinha!” da calha dos Rios Paraguai e Cuiabá, per- (Fonte: Bono Especial no 567, de fazendo 2.524,5 dias de mar e cerca de 137 14/8/2015)

MOSTRA DE DESARMAMENTO DA CORVETA IMPERIAL MARINHEIRO

Foi realizada, em 5 de agosto último, a Esquadra Wilson Barbosa Guerra, expediu cerimônia de Mostra de Desarmamento da a seguinte Ordem do Dia: Corveta Imperial Marinheiro. O chefe do “Realiza-se na presente data a Mostra Estado-Maior da Armada, Almirante de de Desarmamento da Corveta Imperial

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Marinheiro, em cumprimento à Portaria no versas patrulhas navais, salvamentos e 249 de 5 de junho de 2015 do Comandante reboques, recebendo assim, pela primeira da Marinha. Terceiro navio a serviço da vez, em 1970, o título de Navio de Socorro Marinha do Brasil a ostentar o nome ‘Impe- do Ano. rial Marinheiro’, tal título que homenageia Em 7 de julho de 1982, iniciou a Ope- imperiais marinheiros que tem na figura de ração África-82, tendo visitado as cidades Marcílio Dias o seu maior símbolo de bravura de São Tomé, em São Tomé e Príncipe; e dignidade. Libreville e Port Gentil, na As corvetas classe Im- República do Gabão; Lagos, perial Marinheiro foram na Nigéria; e Lomé, em projetadas na gestão do Togo, regressando ao Rio de então ministro da Marinha, Janeiro, em 11 de setembro Almirante de Esquadra Re- do mesmo ano. nato de Almeida Guillobel, Em junho de 1984, pas- no início da década de 1950. sou à subordinação do Co- Construída no Estaleiro C.C. mando do 5o Distrito Naval. Sheepsbower & Gashonder A partir de então, a Corveta Bedriff Jonker & Stans, em Imperial Marinheiro de- Rotterdam, na Holanda, dicou-se aos mares do sul, a Corveta Imperial Mari- realizando comissões nacio- nheiro foi a primeira a ser nais e internacionais, como construída num total de dez, Unitas, Aspirantex, Aderex, e coube a ela dar o nome a Diplomex, Sulminex, Re- uma classe de navios de nos- trex e Temperex, além do sa Marinha que sempre prestou relevantes apoio à Copa do Mundo de 2014. Operativa serviços à sociedade brasileira. Teve sua até o fim, recebeu pela última vez o prêmio quilha batida em 26 de outubro de 1953, de Navio de Socorro do ano em 2013. sendo lançada ao mar em 19 de novembro Visitou dezenas de portos no litoral bra- de 1954 e incorporada à Armada no dia sileiro, além de fazer tremular o Pavilhão 18 de junho de 1955, por meio do Aviso Nacional em portos de países lindeiros ao sul Ministerial no 1.113 daquele ano. Ao longo desses 60 anos em ativida- de, ficou subordinada, inicialmente, ao antigo Comando da Flotilha de Submarinos, como Navio de Apoio a Sub- marinos. Em abril de 1969, passou à subor- dinação do Comando do 1o Distrito Naval, onde se destacou no cumprimento de di- Corveta Imperial Marinheiro

262 RMB3oT/2015 NOTICIÁRIO MARÍTIMO do Brasil, como: Montevidéu e Nueva Pal- trono, Almirante Tamandaré e do Imperial mira, no Uruguai; e Buenos Aires, Mar del Marinheiro Marcílio Dias, como a Corveta Plata, Baia Blanca e Zarate, na Argentina. Museu Imperial Marinheiro, tornando-se Sua última comissão operativa, Inspe- um verdadeiro memorial de todo o legado ção Naval e Comissão de Adestramento que se encerra em seu próprio nome. de Oficiais de Manobra, foi realizada no Neste comovente e ao mesmo tempo sau- período de 29 de abril a 6 de maio de 2015, doso momento, de baixa do serviço ativo de totalizando, assim, a expressiva marca de tão importante meio, podemos sentir o calor 3.538 dias de mar e 580.783,12 milhas da bravura daqueles que tiveram o privilégio náuticas navegadas. e a honra de fazer parte deste legado. Diante Diante de um histórico de sucesso, quis desta verdadeira escola de marinheiros, pres- o destino que a jovem senhora ‘Imperial tamos nossa reverência pelos seus feitos em dos Mares’, de alma aguerrida, permaneça prol da Marinha e da Pátria. dedicando-se à Marinha do Brasil e à cidade Bravo Zulu, Imperial Marinheiro!” de Rio Grande-RS, terra natal de seu pa- (Fonte: Bono no 548, de 5/8/2015)

MOSTRA DE DESARMAMENTO DO NAVIO-VARREDOR ABROLHOS

Foi realizada, em 20 de agosto último, nação do Comando do 2o Distrito Naval, a Mostra de Desarmamento do Navio-Var- encerrando o recebimento dos últimos na- redor Abrolhos. Na ocasião, o chefe do vios-varredores da classe, marcando assim Estado-Maior da Armada, Almirante de a renovação da nossa Marinha, à época, no Esquadra Wilson Barbosa Guerra, assim âmbito da guerra de minas. se expressou: Pertence a uma classe de “Primeiro Navio de nossa navio singular, desenvolvida Marinha a ostentar o nome em para realizar operações de con- homenagem ao Arquipélago tramedida de minagem, tanto de Abrolhos, onde a agluti- de minas de contato como de nação da expressão ‘abra os influência. Para este propósito, olhos’ relembra que, a despei- foi construído em madeira e to dos modernos recursos de dotado de um sistema de prote- navegação, seus extensos re- ção para reduzir sua assinatura cifes constituem preocupação magnética, além de possuir constante para os navegantes. equipamentos específicos, com Quinto navio da classe alto grau de complexidade, Aratu, em um total de seis, o a fim de executar tarefas de Abrolhos foi construído pelo varredura mecânica, acústica, estaleiro Abeking & Rasmus- magnética e combinada. sen, na cidade de Lemwerder, na Alemanha Desde a sua incorporação, passaram-se e teve a quilha batida em 25 de maio de quase quatro décadas, nas quais os ‘Ho- 1973, sendo lançado ao mar no dia 7 de mens de Ferro’ e o ‘Cebolinha’, como o maio de 1974. Incorporado à Armada em Abrolhos foi carinhosamente apelidado, 25 de fevereiro de 1976, passou à subordi- cumpriram inúmeras missões, contribuindo

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para manter viva a doutrina da guerra de o legado deixado pelos marinheiros que minas, destacando-se as Operações Dra- passaram por seus conveses, os quais gão, Unitas, Costeirex, Varredex, Uanfex, contribuíram para formar a sua alma des- Retrex, Nordestex, Adevarex, Deportex, temida. Dessa forma, por dever de justiça, Tropicalex, Laçador e Águas Claras. Em prestamos o nosso reconhecimento pelos diversas comissões, fez tremular o Pavilhão importantes serviços prestados à Força de Nacional no porto de Montevidéu (Uru- Minagem e Varredura e à nossa Marinha. guai), bem representando nossa Marinha Abrolhos! Como uma justa homenagem no exterior. Dessa forma, este navio se pelo cumprimento exitoso de sua missão, despede do serviço ativo da Armada com receba o distinto ‘Bravo Zulu’, certo de que a expressiva marca de 1.305 dias de mar e este meio faz jus ao seu brado: ‘Força na 176.828,9 milhas náuticas navegadas. preparação, orgulho na execução!’. Ao arriar do Pavilhão Nacional pela Viva a Marinha!” última vez, ato solene que encerra a vida (Fonte: Bono Especial no 588, de operativa deste ‘velho guerreiro’, exalto 20/8/2015)

DGN OBTÉM AUTONOMIA ADMINISTRATIVA

Desde julho último, a Diretoria-Geral dos Levantamentos Hidrográficos pós-dra- de Navegação (DGN) está desvincula- gagens, que são validados pela AM. Além da do Comando de Operações Navais disso, também tem sido observado um (ComOpNav), sendo classificada, assim, significativo incremento da participação do como Organização Militar (OM) Brasil nas discussões em fóruns com autonomia administrativa. internacionais, tais como a Orga- A alteração foi determinada pela nização Marítima Internacional Portaria no 244/MB, do Coman- (IMO) e a Organização Hidro- dante da Marinha, de 1o de junho gráfica Internacional (OHI). de 2015. Assim, a DGN passa a É, portanto, importante esta contar com um almirante de es- atualização da estrutura orga- quadra dedicado exclusivamente nizacional da MB, de forma ao cargo de diretor-geral, tendo a garantir eficácia e eficiência como organizações diretamente na execução das atividades da subordinadas a Diretoria de Portos DGN. Estas, entretanto, não fo- e Costas (DPC) e a Diretoria de ram alteradas, permanecendo o Hidrografia e Navegação (DHN). seu propósito de contribuir para A reestruturação da DGN foi o preparo e aplicação do Poder proveniente da necessidade de a Naval e do Poder Marítimo, no Marinha do Brasil (MB) atender às tocante às atividades relaciona- crescentes demandas referentes à das aos assuntos marítimos, à Autoridade Marítima (AM), dentre as quais segurança da navegação, à hidrografia, à destacam-se os aumentos da movimentação oceanografia e à meteorologia. de navios nos portos, dos pedidos de pes- Apesar desta mudança administrativa, quisas científicas em Águas Jurisdicionais não haverá alteração no atual organograma Brasileiras, da navegação de cabotagem e da MB e, consequentemente, nas relações

264 RMB3oT/2015 NOTICIÁRIO MARÍTIMO de subordinação vigentes, permanecendo vegação; de Meio Ambiente e de Ciência e as capitanias dos portos, delegacias e agên- Tecnologia; de Logística e Plano Diretor; e cias, bem como os serviços de sinalização Jurídica. A OM funcionará, provisoriamen- náutica e o Centro de Instrução Almirante te, no 1o andar do Edifício Almirante Julio Braz de Aguiar (Ciaba), subordinados aos de Noronha, atual sede do Estado-Maior da comandos de distritos navais, sob a égide Armada (EMA-Rio), até a conclusão das do Setor Operativo. obras de adaptação da antiga Maternidade Para o cumprimento de suas tarefas, Oswaldo Nazareth, na Praça XV, para onde a DGN disporá de cinco assessorias: de se transferirá, juntamente com a DPC. Assuntos Marítimos; de Hidrografia e Na- (Fonte: Bono no 507, de 22/07/2015)

ASSUNÇÃO DE CARGOS POR ALMIRANTES

– Vice-Almirante (RM1) Domingos Pinto Homem, comandante da 2a Divisão Savio Almeida Nogueira, diretor da Pro- da Esquadra, em 5/8; curadoria Especial da Marinha, em 15/7; – Contra-Almirante (IM) Jayme Teixei- – Vice-Almirante (RM1) Francisco ra Pinto Filho, diretor de Coordenação do Antônio de Magalhães Laranjeira, dire- Orçamento da Marinha, em 5/8; tor-presidente da Empresa Gerencial de – Vice-Almirante Glauco Castilho Projetos Navais, em 15/7; Dall’Antonia, comandante do 8o Distrito – Contra-Almirante José Roberto Bueno Naval, em 6/8; Junior, adido Naval nos Estados Unidos da – Vice-Almirante Carlos Alberto Ma- América e no Canadá, em 16/7; tias, vice-chefe de Assuntos Estratégicos – Contra-Almirante Edervaldo Teixeira do Estado-Maior Conjunto das Forças de Abreu Filho, vice-chefe do Estado- Armadas do Ministério da Defesa, em 6/8; Maior da Armada, em 20/7; – Contra-Almirante José Augusto Vieira – Almirante de Esquadra Paulo Cezar da Cunha de Menezes, secretário da Co- de Quadros Küster, diretor-geral de Nave- missão Interministerial para os Recursos gação, em 3/8; do Mar, em 6/8; – Vice-Almirante Bento Costa Lima – Contra-Almirante Arthur Fernando Leite de Albuquerque Junior, assessor do Bettega Corrêa, diretor do Centro de Inte- Diretor-Geral do Material da Marinha, ligência da Marinha, em 6/8; em 3/8; – Contra-Almirante Noriaki Wada, se- – Contra-Almirante Sergio Fernando de cretário de Acompanhamento e Articulação Amaral Chaves Junior, chefe do Estado- Institucional do Gabinete de Segurança Insti- Maior da Esquadra, em 3/8; tucional da Presidência da República, em 7/8; – Contra-Almirante Jorge Henrique – Vice-Almirante Luiz Henrique Caroli, Machado, comandante da 1a Divisão da comandante do 1o Distrito Naval, em 10/8; Esquadra, em 4/8; – Contra-Almirante Marcio Magno de – Contra-Almirante Carlos Eduardo Farias Franco e Silva, subchefe de Organi- Machado dos Santos Dantas, comandante zação e Assuntos Marítimos do Comando do Centro de Instrução Almirante Alexan- de Operações Navais, em 10/8; drino, em 5/8; – Vice-Almirante Marcos Silva Rodrigues, – Contra-Almirante Newton Calvoso comandante do 7o Distrito Naval, em 11/8;

RMB3oT/2015 265 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

– Contra-Almirante Paulo Cesar Demby – Contra-Almirante Sérgio Nathan Corrêa, comandante do Centro de Instrução Marinho Goldstein, comandante da Força Almirante Wandenkolk, em 11/8; Aeronaval, em 14/8; – Contra-Almirante Roberto Koncke – Contra-Almirante Alfredo Martins Fiuza de Oliveira, subchefe de Estratégia Muradas, diretor do Centro de Análises de do Estado-Maior da Armada, em 11/8; Sistemas Navais, em 14/8; – Contra-Almirante Renato Batista de – Vice-Almirante Cláudio Portugal de Melo, subchefe de Organização do Esta- Viveiros, comandante do 2o Distrito Naval, do-Maior da Armada, em 11/8; em 21/8; – Contra-Almirante Alan Guimarães – Vice-Almirante Paulo Mauricio Farias Azevedo, subchefe de Logística e Mo- Alves, diretor de Comunicações e Tecno- bilização do Estado-Maior da Armada, logia da Informação da Marinha, em 21/8; em 11/8; – Contra-Almirante Fernando Ranauro – Contra-Almirante (Md) Marco Anto- Cozzolino, chefe do Estado-Maior do Co- nio Gomes de Freitas, vice-diretor de Saúde mando do 1o Distrito Naval, em 24/8; do Hospital das Forças Armadas, em 12/8; – Contra-Almirante Marcos Lourenço – Vice-Almirante José Carlos Mathias, de Almeida, diretor do Instituto de Estudos diretor de Sistema de Armas da Marinha, do Mar Almirante Paulo Moreira, em 27/8; em 13/8; – Contra-Almirante Denilson Medeiros – Contra-Almirante Oscar Moreira da Nôga, diretor de Assistência Social da Silva Filho, comandante da Força de Sub- Marinha, em 31/8; marinos, em 13/8; – Contra-Almirante José Renato de – Vice-Almirante Wilson Pereira de Oliveira, coordenador da Manutenção de Lima Filho, diretor de Portos e Costas, Meios da Diretoria-Geral do Material da em 14/8; Marinha, em 31/8.

9o DN RECEBE VENCEDORA DO PRÊMIO ALMIRANTE ÁLVARO ALBERTO

O Comando do 9o Distrito Naval (Ma- Criado em 1981, o Prêmio Nacional de naus-AM) recebeu, no período de 29 de Ciência e Tecnologia é considerado a mais junho a 3 de julho, a Professora Magda importante honraria nacional do setor de Becker Soares e seu filho Marco Antônio Guimarães. A visita foi fruto da conquista pela professora do Prêmio Almirante Álvaro Alberto para a Ciência e Tecnologia, promo- vido pelo Conselho Nacional de Desenvol- vimento Científico e Tecnológico (CNPq). A programação, na capital amazonen- se, constou de embarque no Navio de Assistência Hospitalar (NAsH) Carlos Chagas, onde a homenageada acompanhou a realização de atividades de assistência hospitalar nas comunidades de Santa Maria Professora Magda Becker em visita ao NAsH e Jutuarana. Carlos Chagas

266 RMB3oT/2015 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Ciência e Tecnologia. Foi instituído durante O Prêmio é concedido anualmente, a solenidade comemorativa dos 30 anos do em sistema de rodízio, a uma das três CNPq, por meio de Decreto Presidencial e, grandes áreas do conhecimento: Ciências a partir de 1986, passou a ser denominado Exatas, da Terra e Engenharias; Ciências Prêmio Almirante Álvaro Alberto para a Humanas e Sociais, Letras e Artes; e Ciência e Tecnologia, em homenagem ao Ciências da Vida. primeiro presidente do órgão. (Fonte: www.mar.mil.br)

PRÊMIO CNTM

O Comando do Controle Naval do . Comando do 2o Distrito Naval: Corveta Tráfego Marítimo (CNTM) divulgou a Caboclo; relação das Organizações Militares (OM), . Comando do 3o Distrito Naval: Navio- dos navios mercantes e dos barcos de Patrulha OceanográficoAraguari ; pesca agraciados com o Prêmio CNTM . Comando do 4o Distrito Naval: Navio- 2014/2015, referente ao período de 1o de Auxiliar Pará; maio de 2014 a 30 de abril de 2015. São . Comando do 5o Distrito Naval: Navio- os seguintes os premiados: Patrulha Babitonga; 1) Prêmio Orgacontram – Dentre as OM . Comando do 9o Distrito Naval: Navio- integrantes da Orgacontram, a Capitania Patrulha Fluvial Pedro Teixeira. dos Portos do Ceará obteve o melhor de- – Prêmio Contato – CNTM Diretoria de sempenho nos exercícios de Controle Naval Hidrografia e Navegação: Navio Oceano- do Tráfego Marítimo, nos âmbitos nacional gráfico Antares. e internacional. – Prêmio Contato – CNTM Esquadrão 2) Prêmio Contato CNTM – Foram de Helicópteros: 1o Esquadrão de Helicóp- agraciadas as seguintes OM da Marinha teros Antissubmarino. do Brasil e da Força Aérea Brasileira, por – Prêmio Contato – CNTM II Força Aé- terem encaminhado ao Sistema de Informa- rea: 3o Esquadrão do 7o Grupo de Aviação. ções sobre o Tráfego Marítimo (Sistram) o 3) Prêmio Segurança no Mar – Os se- maior número de partes de contatos dentro guintes navios mercantes distinguiram-se da área de responsabilidade SAR brasileira: em suas categorias, pelo desempenho – Prêmio Contato – CNTM Esquadra alcançado no envio de informações para . Navios Soltos (navio-aeródromo, navio- o Sistram: escola, navio de socorro submarino e na- – Navio Mercante (NM) Brasileiro de vio-veleiro) – Navio-Escola Brasil; Longo Curso: NM Log In Pantanal, da . Comando do 1o Esquadrão de Escolta: Log-In Logística Intermodal S.A.; Fragata Liberal; – Navio Mercante Brasileiro de Cabota- . Comando do 2o Esquadrão de Escolta: gem: NM Norsul Abrolhos, da Companhia Fragata Rademaker; de Navegação Norsul; . Comando do 1o Esquadrão de Apoio: – Navio Mercante Estrangeiro Afretado Navio de Desembarque de Carros de Com- de Longo Curso: NM Angol, da Log-In bate Almirante Saboia. Logística Intermodal S.A.; – Prêmio Contato – CNTM Distrital – Navio Mercante Estrangeiro Afretado . Comando do 1o Distrito Naval: Navio- de Cabotagem: NM Ocean Dignity, da Patrulha Oceânico Apa; Petrobras Transporte S.A.;

RMB3oT/2015 267 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

– Navio Mercante Estrangeiro: NM A entrega dos prêmios para as OM Torm Amazon. sediadas na área Rio e para a Comuni- 4) Prêmio Segurança no Mar – Especial dade Marítima aconteceu em solenidade – Os seguintes navios mercantes e barcos realizada em 2 de julho último no Salão de pesca distinguiram-se pela participação Nobre do Edifício Almirante Taman- efetiva em evento de busca e salvamento: daré, na cidade do Rio de Janeiro. A NM Aramon, da Muniz Agência Marítima cerimônia foi presidida pelo comandante Ltda.; Rebocador Norsul Rio, da Compa- de Operações Navais e diretor-geral de nhia de Navegação Norsul; Barco de Pesca Navegação, Almirante de Esquadra Elis Ouled Si Mohand, de Gabriel Calzavara de Treidler Öberg. Araújo; e Barco de Pesca Golfo Pesca V, de (Fonte: Bono Especial no 408, de Jorge Roberto da Silva Marques. 17/6/2015)

PRÊMIO INOVAÇÃO EM 2015 DA INDÚSTRIA NAVAL

Por sua importante contribuição para os segmentos tais como perfuração offshore, avanços em embarcações modernas propor- construção e suporte de embarcações, ele cionados pela criação de seu novo sistema de é o mais novo membro da família de pro- propulsão elétrica Azipod D, a ABB, grupo pulsão Azipod sem engrenagem da ABB. líder em tecnologias de energia e automação, Desde sua criação, em 1987, o Azipod conquistou o Prêmio Inovação do Ano. A se tornou a opção preferida dos cruzeiros empresa recebeu a premiação em julho últi- marítimos, navios quebra-gelo, navios mo, durante a exposição Electric & Hybrid cargueiros próprios para climas polares e Marine World Expo, em Amsterdã, Holanda. navios offshore de alojamento. O Azipod D O sistema foi escolhido após avalia- requer até 25% menos potência instalada, ção por comissão julgadora internacional em parte devido à sua refrigeração híbrida formada por 38 jornalistas da área naval, que aumenta o desempenho do motor elétri- especialistas na indústria e acadêmicos, que co em até 45%. Sua potência de propulsão reconheceram a flexibilidade, a confiabili- varia de 1,6 a 7 megawatts por unidade. dade e a eficiência energética superiores às A ABB é um grupo suíco que opera em apresentadas pelo Azipod D. Criado para cerca de cem países, inclusive no Brasil. impulsionar as opções de propulsão para (Fonte: Kreab Corporate Information)

PRÊMIO REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

O Capitão de Corveta Alexandre manente do Brasil junto à Organização das Arthur Cavalcanti Simioni recebeu, em Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque 15 de junho último, o Prêmio Revista (EUA), pelo conselheiro militar do órgão, Marítima Brasileira relativo ao triênio Almirante de Esquadra (RM1) Fernando 2011/2012/2013, pelo seu artigo “Terro- Eduardo Studart Wiemer. rismo Marítimo”, publicado na RMB do 1o O Prêmio Revista Marítima Brasileira trimestre de 2012. A medalha correspon- foi instituído em 11 de junho de 1907 pelo dente foi entregue na sede da Missão Per- Decreto no 6.510, com o propósito de es-

268 RMB3oT/2015 NOTICIÁRIO MARÍTIMO timular o estudo e a pesquisa de assuntos técnicos-navais, sendo concedido, desde 1910, ao autor do trabalho considerado de maior utilidade para a Marinha. A partir de 1950, o Prêmio RMB passou a ser con- cedido a cada três anos, republicando-se o artigo premiado. O Capitão de Corveta (FN) Simioni é, atualmente, oficial de Treinamento Militar – DPKO – na ONU. Em sua car- reira, acumula vários cursos nas áreas de segurança, estratégia e defesa e já recebeu diversas condecorações. O oficial tem tra- balhos divulgados em várias publicações especializadas. O artigo premiado foi republicado na Imposição da medalha Revista Marítima Brasileira RMB do 1o trimestre de 2015. ao Capitão de Corveta (FN) Simioni

AMRJ – ASSOCIADO HONORÁRIO DA ABIMDE

O Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro 8o Distrito Naval (Sáo Paulo-SP), sendo o (AMRJ) foi admitido como Associado AMRJ representado pelo seu diretor, Con- Honorário da Associação Brasileira das tra-Almirante (EN) Mario Ferreira Botelho. Indústrias de Materiais de Defesa e Segu- A Abimde é uma entidade civil sem fins rança (Abimde), por sua contribuição para o lucrativos, que congrega as empresas do fortalecimento da Base Industrial, Logística, setor de material e de serviços de emprego Científica e Tecnológica Nacional de Defesa militar e de segurança, com a finalidade e Segurança. A cerimônia de admissão, de patrocinar, promover e representar seus promovida pela Abimde, aconteceu em 9 interesses e objetivos comuns. de julho último, na sede do Comando do (Fonte: Bono no 397, de 15/6/2015)

RECONSTRUÇÃO DA ESTAÇÃO ANTÁRTICA COMANDANTE FERRAZ

A Marinha do Brasil, por intermédio da O tempo previsto para a conclusão das Secretaria da Comissão Interministerial para obras é de 540 dias contados da data de ce- os Recursos do Mar (Secirm), e a empresa lebração do compromisso firmado. O valor chinesa Ceiec assinaram, em 31 de agosto investido será cerca de US$ 99,6 milhões último, contrato para a reconstrução da Es- de dólares, menor preço apresentado dentro tação Antártica Comandante Ferraz (EACF). do processo licitatório para execução das A Estação será pré-fabricada na China e, pos- obras na Antártica, a serem desembolsados teriormente, montada no continente antártico. em três anos, a partir de 2016.

RMB3oT/2015 269 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Com a assinatura desse contrato, a Ceiec sempre que possível, o Grupo Base e os poderá dar início aos trabalhos na região, pesquisadores ficarão agrupados em um só começando pelo reconhecimento do terreno bloco, para economia de energia elétrica. onde será instalada a EACF e pelos ensaios Em decorrência do compromisso do geotécnicos complementares previstos no Brasil com o desenvolvimento de pesqui- projeto executivo. A ideia é que essa etapa sas, a área que recebeu maiores ampliações seja realizada durante o próximo “verão e melhorias foi a destinada aos laboratórios, antártico”, entre janeiro e março de 2016. com um total de 19 unidades. Serão 14 O projeto a ser executado é do escritório laboratórios na área do prédio principal e brasileiro Estúdio 41 e foi escolhido por mais cinco laboratórios isolados. As es- meio de concurso. A técnica construtiva foi pecificações dessas unidades de pesquisa desenvolvida a partir de estudos realizados estão de acordo com as necessidades e em outras edificações antárticas, consideran- orientações da comunidade científica. do as características da Península Keller e Por fim, a reconstrução e a manutenção da própria logística do Programa Antártico de uma Estação permanente na Antártica Brasileiro. busca, inicialmente, a continuidade das As novas instalações ocuparão uma pesquisas que são realizadas naquela re- área de aproximadamente 4.500 m², divi- gião. Além disso, as futuras instalações didos em seis setores distintos: privativo, da EACF reafirmam o posicionamento do social, serviços, operação/manutenção, País em relação à presença e ao comprome- laboratórios e módulos isolados. A Estação timento com o futuro do continente gelado foi projetada para abrigar 64 pessoas em e os compromissos assumidos por meio do dois blocos. Durante o verão, ficarão os Tratado da Antártida e do seu Protocolo de 32 integrantes do Grupo Base e do grupo Proteção Ambiental (Protocolo de Madri). de manutenção em um único bloco. E no (Fonte: Centro de Comunicação Social outro ficarão os pesquisadores. No inverno, da Marinha)

Projeto da Estação Antártica Comandante Ferraz

270 RMB3oT/2015 NOTICIÁRIO MARÍTIMO JOGO SIMULADO DE SEGURANÇA NO ATLÂNTICO SUL

Foi realizado na Escola de Guerra Naval câmbio de ideias e conhecimentos que (EGN), na cidade do Rio de Janeiro, de 9 a contribuam para fortalecer as bases de 11 de setembro último, o 1o Jogo Simulado um pensamento político-estratégico, de Segurança no Atlântico Sul. O evento civil e militar, envolvendo análise de foi promovido pelo Programa de Pós-Gra- situações que possam redundar em crises duação em Estudos Marítimos da EGN, internacionais envolvendo o Brasil ou pelo Instituto de Relações Internacionais da outros países (fictícios) e a segurança Pontifícia Universidade Católica do Rio de do Atlântico Sul. A atividade foi reali- Janeiro e pelo Instituto de Pós-Graduação zada no âmbito do Projeto Pró-Defesa em Estudos Estratégicos Internacionais da III. Participaram oficiais de Marinha, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. estudantes universitários e aspirantes da O jogo teve o propósito de criar um Escola Naval. fórum de diálogo acadêmico e de inter- (Fonte: Bono no 579, de 19/8/2015)

AERONAVE DA MB RESGATA MULHER A 200 KM DE CORUMBÁ

O Comando do 6o Distrito Naval (Ladá- Corumbá (MS), em 17 de julho último. Na rio-MS) realizou evacuação aeromédica na ocasião, uma aeronave voou até a Fazenda região do Paiaguás, localizada a 200 km de São Sebastião Grande para resgatar Laura Francielle, de 35 anos, que apresentava suspeita de pneumonia. Durante o voo, a paciente foi acompa- nhada por médico da Marinha do Brasil (MB), que prestou os primeiros socorros. Ao desembarcar no heliponto do Comple- xo Naval de Ladário, Laura Francielle foi encaminhada para o hospital da cidade por ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Neste ano, esta é a nona vez que uma aeronave da Marinha é empregada para salvar vidas no Pantanal. Paciente acompanhada por médico da MB (Fonte: www.mar.mil.br)

MARINHA SOCORRE PESQUEIRO DURANTE EVENTO-TESTE NO RJ

A Capitania dos Portos do Rio de Ja- David, que afundava na Baía de Guana- neiro (CPRJ) resgatou, em 22 de agosto bara, no Rio de Janeiro (RJ). O resgate último, a embarcação pesqueira Rei aconteceu durante ação de presença pró-

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xima às raias de competição de maratona aquática, por ocasião dos eventos-teste Aquece Rio. Um militar constatou a situação do barco, que adentrava a região isolada, e acionou o socorro. Os inspetores da CPRJ verificaram que as bombas de esgotamento estavam inoperantes, escoltando a embar- cação até o terminal pesqueiro da Praça XV, a fim de solucionar o problema e garantir a integridade física das 14 pessoas Militares da CPRJ e tripulantes do que estavam a bordo. Rei David após o resgate Com o propósito de garantir a salvaguar- da da vida humana no mar e a segurança da tições, por meio da intervenção no tráfego navegação, a Marinha do Brasil controlou de embarcações. o fluxo de navios nos horários das compe- (Fonte: www.mar.mil.br)

MB RESGATA TRIPULANTES DE EMBARCAÇÃO À DERIVA

A Capitania dos Portos do Paraná mais contato com os tripulantes. O condutor (CPPR) resgatou, em 23 de junho último, se perdeu no trajeto, indo parar na área de três pessoas a bordo de um barco de alu- fundeio de navios. O pedido de ajuda foi mínio, a cerca de 15 milhas da costa do feito à CPPR por amigos dos desapareci- Paraná, nas proximidades da Ilha do Mel. dos, quase dez horas após o ocorrido. Ao A embarcação estava desaparecida desde a tomar conhecimento do desaparecimento, a manhã do dia anterior. Capitania iniciou as buscas por terra e mar, Na ação conjunta entre a CPPR, o Corpo com o apoio de helicóptero do Batalhão de de Bombeiros, a Força Verde (Batalhão de Polícia Militar de Operações Aéreas. Com Polícia Ambiental do Paraná) e a Pratica- informações de navegadores que passaram gem, foram resgatados Abdull Perreira, de pelo local, foi possível localizar o navio e 37 anos; Débora de Santana da Costa, de realizar o resgate. 30 anos, e sua filha, de 6 anos. Um navio (Fonte: www.mar.mil.br) mercante prestou os primeiros socorros enquanto as vítimas aguardavam a chegada da lancha da Capitania. Ao chegarem à CPPR, os três foram conduzidos de ambulância ao Hospital Re- gional. Todos apresentavam boas condições de saúde. Segundo informações repas- sadas à CPPR, a embarcação seguiria em direção a Pontal do Paraná. No percurso, não houve Tripulantes resgatados chegam à CPPR

272 RMB3oT/2015 NOTICIÁRIO MARÍTIMO NPqHo VITAL DE OLIVEIRA REALIZA SUA PRIMEIRA COMISSÃO CIENTÍFICA

O Navio de Pesquisa Hidroceanográfi- O foco principal da missão foi a realiza- co (NPqHo) Vital de Oliveira iniciou, em ção de medições meteoceanográficas com o 27 de junho último, a primeira comissão propósito de caracterizar a evolução de vór- científica, realizada na travessia entre Cape tices de mesoescala que se propagam do sul Town (África do Sul) e Arraial do Cabo da África em direção ao interior do Atlântico (RJ). O navio recebeu 18 pesquisadores de Sul (Agulhas Rings). A importância dessas quatro instituições ligadas ao Ministério da estruturas inclui a influência na dinâmica Ciência, Tecnologia e Inovação: Instituto das correntes, do clima e na caracterização Nacional de Pesquisas Espaciais, Universi- das variáveis bioquímicas favoráveis aos dade Federal de Pernambuco, Universidade organismos marinhos. Medidas das diver- Federal do Rio Grande e Universidade do sas variáveis físicas, químicas e biológicas Estado do Rio de Janeiro. da água do mar foram obtidas ao longo da derrota, principalmente dentro dos referidos vórtices. Estimativas dos fluxos atmosféri- cos de CO2, quantida- de de movimento, calor sensível, calor latente, além da realização de radiossondagens para observação dos perfis termodinâmicos at- mosféricos integram os trabalhos a bordo. (Fonte: www.mar. Tripulação e pesquisadores a bordo do Vital de Oliveira mil.br)

MB E DNIT ASSINAM TERMO PARA SINALIZAÇÃO NÁUTICA DO RIO MADEIRA

A Marinha do Brasil (MB), por inter- O TED tem por objeto a execução de médio do Comando do 9o Distrito Naval levantamentos hidrográficos, atualização de (Manaus-AM), assinou, em 10 de julho úl- documentos cartográficos e planejamento timo, Termo de Execução Descentralizada e implantação de sinalização náutica na (TED) com o Departamento Nacional de Hidrovia do Rio Madeira, no trecho entre Infraestrutura de Transportes (DNIT), vi- Porto Velho, em Rondônia, e sua foz no sando à sinalização náutica do Rio Madeira, Rio Amazonas, no Amazonas. no Amazonas. A cerimônia de assinatura Segundo o comandante do 9o Distrito aconteceu na sede do Comando do 9o DN. Naval, Vice-Almirante Wagner Lopes de

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Moraes Zamith, o pro- cesso de sinalização co- meçará ainda em 2015 e terá duração de cinco anos. “Acabamos de assinar um termo que permitirá a sinalização da Hidrovia do Madei- ra, que é tão importante para o desenvolvimento da região, uma vez que permite o escoamento de grãos que são produ- zidos no Centro-Oeste e exportados a partir de Assinatura do Termo na sede do Comando do 9o DN portos aqui, no norte do País”, destacou. O diretor do DNIT, Valter Casemiro já fez projetos com o DNIT no Tocantins, Silveira, explicou que a parceria com o no Tapajós e faz hoje toda a sinalização do Comando do 9o DN segue os mesmos Rio Paraguai. É um trabalho que a Marinha moldes de termos já firmados em outros já tem condições de fazer e com bastante estados. “Costumamos fazer essa coope- eficiência”, afirmou. ração em outros rios no Brasil. A Marinha (Fonte: www.mar.mil.br)

IEAPM E UEAP FIRMAM PROTOCOLO DE INTENÇÕES

O Instituto de Estudos do Mar Almirante 15 de julho último, Protocolo de Intenções Paulo Moreira (IEAPM) e a Universidade que irá promover a cooperação técnica e do Estado do Amapá (Ueap) firmaram, em científica. As instituições comprometeram-se a desenvolver cursos de qualificação e capa- citação; promover o intercâmbio de infor- mações técnicas e científicas, bem como os resultados de pesquisas e levantamentos bi- bliográficos; organizar seminários e encon- tros para a discussão de resultados globais e/ou parciais de programas entre técnicos, professores, acadêmicos e a comunidade em geral; e possibilitar que profissionais, professores e acadêmicos compartilhem a infraestrutura técnica e administrativa de ambas as partes. O compromisso tem a vigência de cinco anos. Representantes da Ueap e do IEAPM (Fonte: www.mar.mil.br)

274 RMB3oT/2015 NOTICIÁRIO MARÍTIMO IEAPM FIRMA ACORDO COM A UFRRJ

O Instituto de Estudos do Mar Al- cepcionados pelo diretor do IEAPM, mirante Paulo Moreira (IEAPM) e a Contra-Almirante Oscar Moreira da Silva Universidade Federal Rural do Rio de Filho. O grupo visitou os laboratórios Janeiro (UFRRJ) ofi- de Química, Micros- cializaram, em 2 de copia, Biotecnologia junho último, Acordo Marinha e Acústica de Cooperação Téc- Submarina do IEAPM. nico-Científica entre O trabalho em as instituições. Essa conjunto deve en- parceria vai permitir globar também ativi- maior intercâmbio no dades de assessoria, desenvolvimento de consultoria e coor- pesquisas nas áreas denação de proje- de ciências físicas e tos; realização de naturais, tecnologia e estudos, pesquisas e engenharia relaciona- experimentos e pro- das ao meio ambiente posição de cursos marinho. técnicos em níveis A reitora da UFRRJ, diversos e de pro- Professora Ana Maria Diretor do IEAPM com a reitora da UFRRJ gramas de estágios Dantas Soares, acom- para pesquisadores panhada do pró-reitor e alunos, além de de Infraestrutura, Professor Valdomiro intercâmbio de informações técnico-cien- Neves Lima, e dos professores Marcelo tíficas e demais atividades afins. Neves e Márcio Nunes Miranda, foram re- (Fonte: www.mar.mil.br)

IPqM FINALIZA TESTES DE MAR COM SONAR NACIONAL PASSIVO

Com o propósito de possibilitar o mo- A Comissão Sonap-I promoveu experi- nitoramento acústico do tráfego das barcas mentos com o objetivo de possibilitar o mo- Rio-Niterói e dos navios que demandam o nitoramento acústico do tráfego das barcas porto do Rio de Janeiro (RJ), o Instituto Rio-Niterói e dos navios que demandam o de Pesquisas da Marinha (IPqM) realizou porto do Rio de Janeiro. Foram testados o testes de desempenho do demonstrador Sistema de Detecção, Acompanhamento e de tecnologia do projeto Sonar Nacional Classificação de Contatos (SDAC) e o Cen- Passivo (Sonap). As ações foram realizadas tro de Integração de Sensores e Navegação no período de 17 a 21 de agosto último Eletrônica (Cisne). na Baía de Guanabara e contaram com Os experimentos em ambiente marinho apoio do Aviso de Pesquisa Oceanográfico foram feitos com um arranjo cilíndrico de Aspirante Moura, que permaneceu fun- hidrofones (CHA) montado pelo Instituto deado nas proximidades da Escola Naval. e composto de 32 staves, com cerca de 1

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metro de diâmetro. Entre as autoridades O encarregado do Grupo de Sistemas que acompanharam os testes, estavam o Acústicos Submarinos do IPqM e res- gerente do Empreendimento Modular do ponsável pelo projeto, Capitão de Fragata Submarino de Propulsão Nuclear da Coor- Leonardo Martins Barreira, destacou que o denadoria Geral do Programa de Desen- teste demonstrou a capacidade do Instituto de volvimento de Submarino com Propulsão desenvolver todo o ciclo tecnológico de um Nuclear (Cogesn); o sistema sonar passivo. assessor do Comando “Os testes utilizaram de Operações Navais sistemas e algoritmos (ComOpNav); o di- desenvolvidos pelo retor do IPqM, Con- IPqM, desde o sinal tra-Almirante (EN) analógico dos hidrofo- Luiz Carlos Delgado, nes até as telas de aná- anfitrião do experi- lise pelos operadores mento; e o gerente sonar, com ferramentas da Acústica Subma- de acompanhamento, rina da Secretaria de classificação e análise, Ciência, Tecnologia e que compreendem o Inovação da Marinha Apresentação do projeto Sonap domínio do conheci- (SecCTM). mento necessário ao “A Sonap-I consistiu num passo firme na projeto de modernos sistemas sonar.” direção do desenvolvimento de um sistema Em maio, o IPqM realizou experimentos sonar passivo totalmente nacional, com similares com o apoio do Depósito de Com- funcionalidades específicas desenvolvidas bustíveis da Marinha no Rio de Janeiro. Os para atender às demandas da Força de Sub- resultados obtidos foram importantes para o marinos e, ainda, às tecnologias necessárias avanço das técnicas e dos algoritmos imple- à operação do Submarino Nuclear Brasilei- mentados no sistema para essa Comissão. ro”, destacou o diretor do IPqM. (Fonte: www.mar.mil.br)

IPqM ASSINA TERMO DE PARCERIA PARA DESENVOLVIMENTO DE VEÍCULO SUBMARINO AUTÔNOMO

O Instituto de Pesquisas da Marinha Esse Termo, financiado com recursos da (IPqM) assinou, em 23 de junho último, Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Termo de Parceria com a empresa Optovac também inclui a Universidade de São Paulo Mecânica e Optoeletrônica Ltda visando ao (USP) como outra Instituição de Ciência e desenvolvimento de Veículo Submarino Tecnologia (ICT) e prevê o desenvolvimento Autônomo (VSA). O projeto, denominado do VSA em um prazo de três anos, utilizando Sistema de Navegação Inercial para Embar- o que existe de mais moderno em termos de cações e Veículos Submarinos Autônomos, sensores inerciais, representando o estado da faz parte do Programa Inova Aerodefesa. arte na área de fusão de dados.

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O projeto, em con- sonância com a Estra- tégia Nacional de De- fesa (END) e outros programas e políticas a ela associados, visa capacitar a indústria e as ICT para que, juntas ou cada uma dentro de suas áreas de atuação, consigam conquistar indepen- Diretora da Optovac, diretor do IPqM e o encarregado do Grupo de Sistemas de Armas do Instituto dência tecnológica aplicada na indústria de material de defesa, em Pesquisa e De- mirante (EN) Luiz Carlos Delgado, e a senvolvimento (P&D) e no Poder Naval. diretora da empresa Optovac, Valérie Participaram da assinatura do Termo de Marie Sebastianne Dulong Redron. Parceria o diretor do IPqM, Contra-Al- (Fonte: www.mar.mil.br)

XI BIOINC

Foi realizado de 27 a 31 de julho último, em institutos de pesquisa, indústrias de tintas Arraial do Cabo (RJ), o XI Encontro de Bioin- ou materiais, órgãos regulatórios, órgãos crustação, Ecologia Bêntica e Biotecnologia ambientais e das Forças Armadas. Marinha (XI Bioinc). O evento foi organizado A incrustação em cascos de navios e em pelo Instituto de Estudos do Mar Almirante estruturas flutuantes é um antigo problema Paulo Moreira (IEAPM), da Marinha do mundial e gera prejuízos econômicos e Brasil, localizado naquela cidade fluminense. ambientais. Há mais de duas décadas, o Participaram do XI Bioinc mais de cem IEAPM estuda os problemas relacionados cientistas dos seguintes países: Suécia, Itá- à incrustação marinha em busca de soluções lia, Rússia, França, Alemanha, Martinica, menos agressivas ao meio ambiente. Hong Kong, Chile, China e Brasil. Foram (Fonte: www.mar.mil.br) discutidas as perspectivas da Bioincrustação e Bio- tecnologia Marinha diante das mudanças climáticas. Também participaram do encontro profissionais, estudantes e interessados nos diversos campos rela- cionados à biotecnologia marinha, bioincrustação e corrosão marinha, oriun- Participantes do Encontro de Bioincrustação, Ecologia Bêntica e dos de universidades, Biotecnologia Marinha, realizado em Arraial do Cabo (RJ)

RMB3oT/2015 277 NOTICIÁRIO MARÍTIMO BASE NAVAL DE NATAL RECEBE ESCOTEIROS DO MAR

A Base Naval de Natal (RN) foi sede, de Entre as atividades, os escoteiros acompa- 17 a 19 de julho último, do “Grande Jogo nharam o cerimonial à Bandeira, praticaram Naval”, encontro atividades esportivas, com a participação participaram de oficinas de cerca de 250 es- de carpintaria e mari- coteiros do mar dos nharia e conheceram o estados Rio Grande Navio-Patrulha Oceânico do Norte, Paraíba e Araguari, subordinado Pernambuco. Duran- ao Comando do 3o Dis- te três dias, os jovens trito Naval (Natal-RN). vivenciaram de per- No dia 19, as crianças e to a rotina de uma jovens realizaram lim- organização militar peza nas praias do trecho da Marinha. O tema Escoteiros em oficina de carpintaria entre a Ponta do Morcego do encontro foi “Carpinteiro Naval”, em e o Forte do Reis Magos e participaram de alusão às comemorações pela unificação treinamento funcional nas areias. do Escotismo Nacional. (Fonte: www.mar.mil.br)

EXPOSIÇÃO “A CIDADE DO RIO DE JANEIRO EM CARTAS NÁUTICAS” NO MUSEU NAVAL

Está em cartaz no Museu Naval, no Rio tes, cais e outras intervenções humanas. São de Janeiro, a exposição “A cidade do Rio mostrados também instrumentos náuticos de Janeiro em Cartas Náuticas”, promovi- de valor histórico, seja pela importância da pela Diretoria do para a navegação ou Patrimônio Histórico pelos levantamentos e Documentação da hidrográficos. Marinha (DPHDM). “A Cidade do Rio A mostra, que vai até de Janeiro em Car- 15 de novembro, leva tas Náuticas” integra o visitante, por meio da o conjunto de expo- cartografia náutica, a sições intitulado “O conhecer as transforma- Acervo Cartográfico ções ocorridas junto ao do Rio de Janeiro” mar desde a fundação promovido pelas ins- da cidade até os dias de tituições parceiras do hoje, com ênfase na vocação marítima do Rio. 27o Congresso Internacional de Cartografia Percorrendo a exposição, é possível notar (ICC-2015), sediado na cidade. A mostra do o progresso da cidade à beira mar, além das Museu Naval também é uma homenagem múltiplas modificações que a orla marítima da Marinha do Brasil ao 450o aniversário sofreu ao longo do tempo, com aterros, pon- do Rio, onde a paisagem entre montanhas

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Sextante – Inglaterra, 1877 e o mar é considerada Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco). O Museu Naval fica à Rua Dom Manuel, no 15, Praça XV, Centro. A entrada é franca. Carta da Baía do Rio de Janeiro – c. 1582 – 1585

BRASIL OFFSHORE 2015

Foi realizada de 23 a 26 de junho último, no setor, discutir novas tecnologias de ex- em Macaé (RJ), a edição 2015 da Brasil ploração e produção e descobrir soluções Offshore – Feira e Conferência Interna- para o potencial do mercado. cional da Indústria de Petróleo e Gás. O Esta foi a oitava edição da Brasil evento, terceiro maior do mundo e primeiro Offshore, que contou com a participação do Brasil na área, reuniu 700 expositores, de 38 países, entre os quais Estados Unidos sendo 56 internacionais, com os propósitos da América (EUA), Reino Unido, França, de concentrar oportunidades de negócios Dinamarca, Alemanha e China. Na feira, foram apresentadas várias novidades para o mercado offshore, como as da empresa norte-americana Ga- tes, que expôs três mo- delos de mangueiras da série Black Gold para petróleo, que po- dem suportar até 15 mil psi de pressão. Já a Mobil, líder em

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lubrificantes automotivos e industriais, renomados especialistas mundiais. O apresentou a linha biodegradável Mobil evento é realizado a cada dois anos em SHC Aware, composta de óleos e graxas Macaé, base das operações e responsável sintéticos de alto desempenho que trazem por mais de 80% da exploração offshore maior segurança e garantia de produtivida- do Brasil. A promoção e a organização são de. Os produtos, de tecnologia inédita no da Reed Exhibitions Alcantara Machado; País, são formulados para reduzir o impacto do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e ambiental, mesmo em caso de vazamentos. Biocombustíveis e da Sociedade de Enge- Também foram discutidas na Brasil nheiros de Petróleo. Offshore tendências do mercado e com- (Fontes: www.brasiloffshore.com, partilhadas experiências e novidades de www.g1.globo.com e Grupo In Press As- gestão, em conferências proferidas por sessoria de Comunicação)

I SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE MANEJO DE PESCA MARINHA

Cientistas, gestores públicos, re- tes: deixar de lado o modelo de gestão da presentantes dos setores pesqueiros pesca baseado em medidas pontuais e ado- industrial e artesanal e sociedade ci- tar uma gestão por planos de manejo; am- vil reuniram-se em pliar a participação e a Brasília, de 6 a 8 de inclusão da sociedade julho último, no I nas discussões sobre Simpósio Internacio- gestão pesqueira; rever nal sobre Manejo de e atualizar a legislação Pesca Marinha, sob de pesca e criar um o tema “Desafios e instituto nacional de Oportunidades”. No pesquisa e coleta de evento, organizado dados pesqueiros. pela Oceana, insti- Na abertura do en- tuição voltada para contro, o secretário de o estudo e a proteção Planejamento e Orde- dos oceanos, foram namento da Pesca, do discutidas propostas Ministério da Pesca e para o manejo ade- Aquicultura (MPA), quado da pesca no Fábio Hazin, anun- Brasil, que enfrenta ciou que, apesar de o problemas tais como Ministério ter sofrido a falta de gestão pes- um corte de 80% em queira e a diminuição Secretário de Planejamento e Ordenamento da seu orçamento este das populações de Pesca do MPA ano, R$ 12 milhões várias espécies co- estão assegurados para merciais, que estão em risco de extinção. “dar continuidade ao trabalho dos doze co- Entre as mais de 30 propostas apresenta- mitês permanentes de gestão (CPGs), que das no Simpósio, destacaram-se as seguin- haviam sido criados e que estavam apenas

280 RMB3oT/2015 NOTICIÁRIO MARÍTIMO no papel, e para observadores de bordo”. ladas por ano. A ausência de um manejo Os CPGs são instâncias em que as medidas adequado, falta de monitoramento e pesca de manejo recomendadas por especialistas excessiva são alguns dos problemas que poderão ser discutidas e acordadas entre o o setor enfrenta. O Ministério do Meio setor pesqueiro, governo e sociedade civil; Ambiente publicou no final de 2014 a já observadores de bordo cuidarão da coleta Portaria 445, que lista as espécies aquá- de dados sobre o que cada barco de pesca ticas ameaçados de extinção. A chamada está capturando e fazem parte da retomada “Lista Vermelha” traz, pela primeira vez, do monitoramento das pescarias, interrom- 98 espécies marinhas, muitas das quais pido em escala nacional desde 2008. Os exploradas comercialmente. A portaria especialistas presentes receberam bem o prevê a proibição da pesca dessas espécies. anúncio, mas fizeram ressalvas. “A dispo- Participaram do Simpósio especialistas nibilização de uma linha de financiamento de Canadá, Austrália, Estados Unidos, No- específica é um avanço muito importante, ruega e Chile (países que já alcançaram um permitirá dar início a uma série de ações nível mais avançado de manejo da pesca), de pesquisa com mais segurança, é um que compartilharam suas experiências na incentivo para que os trabalhos sejam rea- área. lizados. Evidentemente R$ 12 milhões não A Oceana foi criada em 2001 para tra- são um recurso suficiente e não vão atender balhar exclusivamente na proteção e recu- a todas as demandas. Mas é um início”, peração dos oceanos em escala global, por comentou Paulo Pezzuto, pesquisador da meio de campanhas e estudos científicos. Universidade do Vale do Itajaí. A organização atua no Brasil desde o ano O volume de pesca marinha anual no passado e está presente em sete países e na Brasil, que já foi de 750 mil toneladas, União Europeia. atualmente está em torno de 400 mil tone- (Fonte: eventosoceanabrasil.org.br)

V SIMPÓSIO DE PRÁTICAS DE GESTÃO

Foi realizado na Escola Naval, em 24 e musical do Projeto Orquestra de Cordas da 25 de junho último, o V Simpósio de Prá- Grota, composto por adolescentes residen- ticas de Gestão, organizado pela Diretoria tes na Comunidade da Grota, em Niterói. de Administração da Marinha (DAdM) Em seguida, foram entregues as premiações sob a coordenação da Secretaria-Geral da do Programa Netuno às Organizações Mi- Marinha. O Simpósio é parte integrante litares que se destacaram pelo desempenho das atividades do Programa Netuno e teve institucional com excelência em gestão. o propósito de apresentar as práticas de O comandante da Marinha e o secretário- gestão de outras Organizações Militares geral da Marinha, Almirante de Esquadra (OM), suas iniciativas e melhorias e as Airton Teixeira Pinho Filho, entregaram dificuldades encontradas, de modo que os os troféus e diplomas relativos ao Prêmio participantes do evento pudessem apro- Excelência em Gestão às seguintes OM: veitar a experiência em suas próprias OM. Comando do 4o Distrito Naval, Diretoria de O evento foi aberto pelo comandante da Obras Civis da Marinha, Centro de Análises Marinha, Almirante de Esquadra Eduardo de Sistemas Navais, Escola Naval, Centro Bacellar Leal Ferreira, após a apresentação Médico Assistencial da Marinha, Centro

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de Controle de Inventário da Marinha, Centro de Instrução Almirante Alexandrino Hospital Naval de Brasília, Navio-Escola e o Instituto de Estudos do Mar Almirante Brasil, Capitania dos Portos do Espírito Paulo Moreira receberam o Prêmio Espe- Santo, Comando do Grupamento de Patru- cial 2015, e o Centro de Intendência da Ma- lha Naval do Nordeste, Centro Tecnológico rinha em São Pedro da Aldeia foi agraciado do Corpo de Fuzileiros Navais e Delegacia com o Prêmio DAdM de práticas de gestão. da Capitania dos Portos em Laguna. O Co- Todo o material apresentado no Sim- mando em Chefe da Esquadra, o Comando pósio está disponível nos sites www.ne- do Pessoal do Corpo de Fuzileiros Navais, tuno.dadm.mb e www.programanetuno. a Diretoria de Abastecimento da Marinha, mar.mil.br. a Diretoria de Hidrografia e Navegação, o (Fonte: Bono no 463, de 7/7/2015)

XVIII SPOLM

“Desenvolvimento Logístico e Pesqui- de instituições nacionais e internacionais. sa Operacional: Base Sólida de Defesa O Simpósio reúne, anualmente, cerca de da Amazônia Azul” foi o tema do XVIII mil participantes dos setores acadêmico Simpósio de Pesquisa Operacional e Lo- e militar, da iniciativa privada, de órgãos gística da Marinha (Spolm), organizado do governo e do setor produtivo de bens e pelo Centro de Análises de Sistemas Navais serviços. O propósito é integrar desenvol- (Casnav). O evento foi realizado nos dias 5 vedores de ferramentas de apoio à decisão e 6 de agosto último, na Escola de Guerra e logística com as organizações que cons- Naval (EGN), no Rio de Janeiro. tituem parcela do Poder Marítimo, além de A programação constou de Sessão Ple- possibilitar o intercâmbio de informações nária, palestras, minicursos e workshops entre empresas e o meio acadêmico. ministrados por renomados palestrantes (Fonte www.casnav.mar.mil.br)

282 RMB3oT/2015 NOTICIÁRIO MARÍTIMO MB MINISTRA CURSOS DE AQUAVIÁRIOS PARA TRIBO GUATÓ

A Capitania Fluvial do Pantanal, por rança do Pantanal, ministrou, na primeira meio da Agência Escola Flutuante Espe- quinzena de junho, cursos de Marinheiro Fluvial Auxiliar de Convés e de Máquinas Nível 1 para a população indígena Guató, localizada a 320 km de Corumbá (MS). O curso qualificou os alunos para exercerem a função de patrão de embarcação com ar- queação bruta até 10 e potência propulsora de até 170 kW, empregadas na navegação interior. A referida atividade contribuiu para o incremento da mentalidade de segurança aquaviária na região, além de proporcionar maior cidadania a uma parcela da sociedade Curso qualificou os alunos para exercerem a função pantaneira. de Patrão de embarcação (Fonte: www.mar.mil.br)

MB, MPA E IFES FIRMAM ACORDO PARA FORMAÇÃO DE PESCADORES

A Marinha do Brasil (MB), por meio Estiveram presentes à cerimônia o minis- da Diretoria de Portos e Costas (DPC); o tro da Pesca e Aquicultura, Helder Zahluth Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) e Barbalho; o diretor de Portos e Costas, Vi- o Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) ce-Almirante Cláudio Portugal de Viveiros; firmaram, em 9 de julho último, Acordo o reitor do Ifes, Denio Rebelo Arantes, e a de Cooperação Técnica (ACT) para a rea- diretora-geral do Campus Piúma, Claudia lização de cursos do Ensino Profissional Marítimo para aqua- viários do 3o Grupo- Pescadores, que pre- cisam regularizar sua situação profissional junto à Autoridade Marítima. A ceri- mônia de assinatura aconteceu no Cam- pus Piúma do Ifes, que oferecerá os cur- sos sob a acreditação da MB. Assinatura do Acordo de Cooperação Técnica

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Silva Ferreira. Os cursos ofertados pelo Ifes para difundir os preceitos da segurança serão gratuitos e permitirão ao pescador pro- da navegação, da prevenção da poluição fissional, em qualquer tipo de embarcação hídrica e da salvaguarda da vida humana pesqueira, estar habilitado às competências nos mares e rios. Segundo a diretora do exigidas para o exercício das capacidades Campus Piúma, existe uma grande procura previstas nas Normas da Autoridade Marí- por esse tipo de formação e a intenção é tima para Aquaviários (Normam-13/DPC). atender paulatinamente a todo o segmento O Ifes contará com o apoio da DPC e pesqueiro capixaba. da Capitania dos Portos do Espírito Santo (Fonte: www.mar.mil.br)

PESCADORES GANHAM CAPACITAÇÃO EM CURSO DE AQUAVIÁRIOS

A Prefeitura de São Sebastião (SP), em piscina do Centro de Apoio Educacional conjunto com a Marinha do Brasil (MB) de São Sebastião. e a companhia energética Repsol Sinopec No dia 20, educadores ambientais da Pre- Brasil, realizou, de 17 a 21 de agosto últi- feitura proferiram a palestra “Água e lixo: mo, Curso de Aquaviários para pescadores O que a dengue tem a ver com isso?”. No da região. Cerca de 20 pescadores se capa- mesmo dia, os pescadores foram orientados citaram, habilitaram e legalizaram para as por educadores da Repsol sobre o tema “Se- atividades pesqueiras, ficando aptos para gurança em áreas em torno de plataformas”. pilotar embarcações de pesca na classifica- Esta foi a quinta edição do curso no ção de Pescador Profissional (POP). município, como parte das ações de res- Os candidatos ao curso foram selecio- ponsabilidade social da Repsol. Segundo nados por meio de teste físico aplicado a companhia, essa qualificação profissional pela MB, com o acompanhamento de é ministrada às comunidades dos Estados agentes da Divisão de Pesca da Secreta- em que a empresa atua – São Paulo, Rio de ria de Meio Ambiente do município e de Janeiro e Espírito Santo. representante da Repsol Sinopec. O teste, (Fonte: Assessoria de Imprensa do Gru- com caráter eliminatório, foi realizado na po Nacional de Serviços – Grunase)

EGN – NOVA INSTITUIÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

Por meio da Portaria no 109, de 1o de tanto básica como aplicada, em temas de junho de 2015, do Estado-Maior da Ar- interesse do País e da Marinha nas áreas de mada, a Escola de Guerra Naval (EGN) Defesa Nacional e Poder Marítimo. foi definida como Instituição Científica e Desta forma, a EGN tornou-se o primei- Tecnológica (ICT) da Marinha do Brasil. ro Centro de Altos Estudos Militares das A qualificação deve-se ao fato de a EGN Forças Armadas e a décima Organização atender aos requisitos previstos na Lei de Militar da Marinha do Brasil a ser reco- Inovação Tecnológica, notadamente no nhecida como ICT. que diz respeito a pesquisas científicas, (Fonte: Bono no 397, de 15/6/2015)

284 RMB3oT/2015 NOTICIÁRIO MARÍTIMO RESULTADOS ESPORTIVOS

3a ETAPA DA COPA DO MUNDO Centro de Instrução Almirante Milciades DE VELA Portela Alves, Centro de Instrução e Realizada de 8 a 14 de junho em Adestramento Almirante Newton Braga, Weymouth, Inglaterra, a competição Base de Fuzileiros Navais da Ilha das teve a participação de nove atletas da Flores, Batalhão de Operações Especiais Marinha do Brasil. As 3oSG (RM2-EP) de Fuzileiros Navais, Colégio Naval, Martine Soffiatti Grael e Kahena Kunze CIAAN, Base de Fuzileiros Navais da conquistaram a medalha de ouro na classe Ilha do Governador, Centro de Apoio a 49erFX. Sistemas Operativos, Base Naval do Rio de Janeiro, Navio de Desembarque de CORRIDA 150 ANOS DA BATALHA Carros de Combate Mattoso Maia, Bata- NAVAL DO RIACHUELO – Realizada lhão de Blindados de Fuzileiros Navais, em 21 de junho, na orla da Praia de Copa- Batalhão de Controle Aerotático e Defesa cabana. Participaram 64 pelotões militares Antiaérea, 1o Batalhão de Infantaria de Fu- e dez civis, totalizando mais de 1.700 zileiros Navais (BtlInfFuzNav), Presídio corredores, representando as seguintes da Marinha, 2o BtlInfFuzNav, Batalhão de Organizações Militares: Diretoria-Geral Viaturas Anfíbias, Batalhão de Engenharia do Material da Marinha, Comando do 1o de Fuzileiros Navais, Corveta Inhaúma, Distrito Naval, Comando em Chefe da Es- 3o BtlInfFuzNav, Comando do 1o Esqua- quadra, Comando do Pessoal de Fuzileiros drão de Helicópteros Antissubmarino, Navais, Comando da Força de Fuzileiros Depósito de Combustíveis da Marinha no da Esquadra, Diretoria de Portos e Costas, Rio de Janeiro, Batalhão de Artilharia de Diretoria de Hidrografia e Navegação, Fuzileiros Navais, Centro Tecnológico do Diretoria de Obras Civis da Marinha, CFN, Batalhão de Comando e Controle, Diretoria do Pessoal Militar da Marinha, Depósito de Combustíveis da Marinha Diretoria de Saúde da Marinha, Diretoria no Rio de Janeiro, Companhia de Polícia do Patrimônio Histórico e Documentação e Companhia de Apoio ao Desembarque. da Marinha, Comissão de Promoções de A Banda Marcial do Corpo de Fuzilei- Oficiais, Comando do Material de Fuzi- ros Navais evoluiu na Avenida Atlântica, leiros Navais, Centro de Instrução Almi- executando canções como o Cisne Branco, rante Sylvio de Camargo, Hospital Naval Aquarela do Brasil e Cidade Maravilhosa. A Marcílio Dias, CIAW, Diretoria de Aero- presença dos Avisos de Instrução Aspirante náutica da Marinha, CIAA, EN, Centro Nascimento, Guarda-Marinha Jansen e de Controle Interno da Marinha, Diretoria Guarda-Marinha Brito no mar de Copa- de Finanças da Marinha, CIAGA, Centro cabana atraiu grande público, bem como a de Educação Física Almirante Adalberto exposição de meios do CFN. Nunes, Centro de Perícias Médicas da Marinha, Batalhão Naval, Batalhão de 2a ETAPA DA COPA DO MUNDO Logística dos Fuzileiros Navais, Centro DE REMO de Adestramento Almirante Marques de A 3oSG (RM2-EP) Fabiana Beltrame Leão, Base de Fuzileiros Navais do Rio conquistou o 2o lugar na competição, rea- Meriti, Grupamento de Navios Hidrocea- lizada de 19 a 21 de junho na cidade de nográficos, Navio-AeródromoSão Paulo, Varese, Itália.

RMB3oT/2015 285 NOTICIÁRIO MARÍTIMO VÔLEI DE PRAIA DA MB TRAZ MEDALHAS PARA O BRASIL

As Terceiros-Sargentos (RM2-EP) Bár- competindo pela modalidade de vôlei de bara Seixas de Freitas e Ágatha Bednarczuc praia. De oito etapas jogadas, foram con- Rippel retornaram ao Brasil em 28 de julho quistadas três medalhas de ouro e duas de último depois de uma jornada de sucesso prata, o que garantiu à dupla o 1o lugar na corrida olímpica e o 1o lugar na temporada de 2015 do Circuito Mundial. Foram 71 dias fora de casa, passando por oito países, com uma comissão técnica formada por um técnico, um assistente, um preparador físico, um fisioterapeuta e um estatístico. Após três semanas de trei- namento no Rio de Janeiro (RJ), a equipe seguiu para os Estados Unidos e para a Polônia. Em seguida, retornou ao Rio de Janeiro, para a disputa da última etapa do Dupla da Marinha conquistou três ouros e duas Circuito Mundial. pratas em oito etapas jogadas (Fonte: www.mar.mil.br)

AERONAVE AF-1B REALIZA PRIMEIRO REABASTECIMENTO EM VOO COM KC-130 DA FAB

O Esquadrão VF-1 efetuou, em 29 de ve reabastecedora o KC-130 Hércules da junho último, a primeira missão de Reabas- FAB. O Revo visa prolongar a autonomia e tecimento em Voo (Revo) com a aeronave o alcance das aeronaves de combate, dando AF-1B N-1001. A manobra foi realizada maior flexibilidade no cumprimento das nas áreas de instrução da Marinha do Brasil missões e permitindo que os vetores aéreos (MB) ao sul da Ilha de Cabo Frio (RJ) e envolveu o 1o Esqua- drão do 1o Grupo de Transporte da For- ça Aérea Brasileira (FAB) e as aeronaves AF-1/1A/1B N-1001, N-1004 e N-1021. As três aeronaves do Esquadrão VF-1 efetuaram dois exer- cícios de transferên- cia de combustível usando como aerona- Manobra realizada em área de instrução da MB ao sul da Ilha de Cabo Frio

286 RMB3oT/2015 NOTICIÁRIO MARÍTIMO aumentem sua carga bélica e sua distância recebida pela MB, reafirma o crescente de incursão em território inimigo. aprestamento do Esquadrão VF-1 e a as- O reabastecimento em voo com a censão operacional da Força Aeronaval. N-1001, primeira aeronave modernizada (Fonte: www.mar.mil.br)

HS-1 RECEBE MAIS DOIS SH-16 SEAHAWK

Uma aeronave Boeing C-17 Globemas- praças especialistas do Esquadrão Guerrei- ter III da Força Aérea dos Estados Unidos ro, com apoio da Diretoria de Aeronáutica (Usaf), proveniente da cidade de Charles- da Marinha, do Grupo de Fiscalização e ton, Carolina do Sul (EUA), pousou no Ae- Recebimento de Helicóptero Multiemprego roporto Internacional de Cabo Frio (RJ) em e do Depósito Naval no Rio de Janeiro. dia 10 agosto último Após a conclusão trazendo dois SH-16 da compra destes seis Seahawk, que com- helicópteros, pode- pletarão o inventário -se afirmar que a MB de seis novas aerona- tem uma aeronave ves do 1o Esquadrão multiemprego que é de Helicópteros An- o “estado da arte” na ti-Submarino (HS-1). Operação ASW (An- Em 2012, a Mari- ti-Submarine Warfare) nha do Brasil (MB) e ASuW (Anti-Surface substituiu os SH- Warfare), cumprindo, 3A/B Seakings pelos assim, a missão que Seahawks. Na época, Aeronaves SH-16 Seahawk a bordo do C-17 da Usaf é atribuída ao HS-1 o recebimento dos (“detectar, localizar, helicópteros foi totalmente conduzido acompanhar e atacar alvos submarinos e pela Sikorsky, fabricante das aeronaves. alvos de superfície, a fim de contribuir para Três anos depois, a MB adquiriu amplo a proteção das forças e unidades navais”) e, conhecimento para operação e manutenção além disso, elevar o nível de adestramento do meio, sendo todo o recebimento destas e aprestamento da Força Aeronaval. novas aeronaves conduzido pelos oficiais e (Fonte: www.mar.mil.br)

RECEBIMENTO DE AERONAVES SH-16 SEAHAWK

Foi realizada em 27 de julho último, na os antigos SH-3 A/B. Além da capacidade empresa Sikorsky Aircraft Corporation, antissubmarino, elas também podem atuar na cidade norte-americana de West Palm em ações antissuperfície. Beach, cerimônia de recebimento dos heli- O Programa PMA-299, por meio do cópteros S-70B da Marinha do Brasil (MB). qual foi efetivada a aquisição, contou com As duas aeronaves (designadas na MB a participação do Foreign Military Sales como SH-16) pertencem ao segundo lote (FMS), órgão do Departamento de Defesa das seis adquiridas pela força para repor dos Estados Unidos responsável por inter-

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mediar compras de equipamentos militares. Capitão de Mar e Guerra (EUA) Craig Até 2019, está prevista ainda a entrega de D. Grubb; e o encarregado do Grupo de um simulador de voo e de missão, que tra- Fiscalização e Recebimento, Capitão de rá uma contribuição Mar e Guerra Gunther significativa ao ades- Otto Diehl Junior. O tramento, à economia recebimento destas e à segurança de voo. duas aeronaves, acres- Estiveram pre- cidas às quatro que já sentes à cerimônia o estão em operação, diretor de Aeronáuti- ampliará a capacidade ca da Marinha, Con- de realizar tarefas de tra-Almirante Carlos detecção, localização, Frederico Carneiro acompanhamento, Primo; o adido naval identificação e ataque nos Estados Unidos Assinatura da transferência das aeronaves para a MB a alvos de superfície da América e Canadá, e submarinos, além de Contra-Almirante José Roberto Bueno ações de busca e salvamento, e reforçará a Junior; o vice-presidente da Sikorsky, Bob presença da MB em toda a Amazônia Azul. Kokorda; o gerente do Programa PMA-299, (Fonte: www.mar.mil.br)

MILITARES DA BOLÍVIA FAZEM ESTÁGIO NA MB

Militares da Marinha da Bolívia reali- as relações institucionais entre as duas zaram, de 4 de maio a 19 de junho últimos, Armadas e, sobretudo, aumentar a coope- Estágio Técnico em Estruturas Navais na ração internacional entre os dois países na Base Fluvial de Ladário (MS), da Marinha fronteira oeste do Brasil. do Brasil (MB). Durante o período, os (Fonte: www.defesanet.com.br e www. bolivianos aplicaram conhecimentos so- mar.mil.br) bre estruturas navais e processos pertinentes, tais como: soldagem MIG/eletrodo revesti- do, corte plasma, cor- te oxiacetileno, corte com guilhotina, calan- dragem, dobramento de chapas e montagem das estruturas navais. Para o comandante do 6o Distrito Naval, Contra-Almirante Petrônio Augusto Si- queira de Aguiar, a oportunidade contri- buiu para incrementar Militares bolivianos no Dique Getúlio Vargas, Base Fluvial de Ladário

288 RMB3oT/2015 NOTICIÁRIO MARÍTIMO MB CONCLUI A INSTALAÇÃO DO SISTEMA LRIT NA MARINHA DA NAMÍBIA

Uma representação da Marinha do Bra- cias, bem como rastrear, por meio de posi- sil (MB), formada pelo Capitão de Mar e ções satélites, 10 mil contatos simultanea- Guerra Luis Cesar Blanco, do Comando mente. O sistema permite a obtenção de um de Operações Navais (ComOpNav) e pelo panorama de superfície do tráfego marítimo analista de sistemas real que irá contribuir Bruno Hansen, do para as operações de Centro de Análises de patrulha naval e de Sistemas Navais (Cas- Socorro e Salvamen- nav), esteve em Wal- to. Será também uma vis Bay, na Namíbia, importante ferramen- de 30 de junho a 3 de ta para a Marinha da julho, para concluir a Namíbia realizar o instalação do Sistema Controle Naval do Long Range Identifi- Tráfego Marítimo. cation and Tracking A adesão da pri- (LRIT) na Marinha CMG Blanco com o comandante da Marinha da meira Marinha da daquele país. Namíbia e o analista de sistemas Bruno Hansen África ao CDRL Bra- O Centro de Dados sil consolida a posi- Regional LRIT do Brasil (CDRL Brasil), ção de destaque do Brasil na instalação e desenvolvido pelo Casnav, permanece na na operação desse sistema da IMO para posição de único nessa categoria e está acompanhamento de navios mercantes, habilitado pela Organização Marítima bem como reforça o sentimento de coope- Internacional (IMO) para integrar outras ração e os laços de amizade que unem as Marinhas ao sistema de monitoramento e Marinhas da Namíbia e do Brasil. identificação de navios a grandes distân- (Fonte: www.mar.mil.br)

MB E MARINHA JAPONESA EM OPERAÇÃO CONJUNTA PELA PRIMEIRA VEZ

A Marinha do Brasil (MB) e a Mari- nha do Japão promoveram, em 7 e 8 de junho último, sua primeira operação na- val conjunta. A Passex foi realizada nas águas jurisdicionais do Rio de Janeiro (RJ), sob o Comando da 2a Divisão da Esquadra. Participaram da ação a Fra- gata Liberal, da MB, e o Navio-Escola Kashima, do Japão. Os navios dos dois países realizaram exercícios de manobras táticas, leap Fragata Liberal e Navio-Escola Kashima durante o frog, ligth line e cross deck. Todos os exercício de ligth line

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exercícios foram acompanhados de perto duas Marinhas, reforçando os laços de pelos oficiais japoneses, que estiveram a amizade entre os países. bordo da fragata brasileira, assim como A Operação Passex garante que as Ma- militares brasileiros também puderam rinhas do Brasil e do Japão sejam capazes conhecer a rotina do navio japonês. Essas de se comunicar e cooperar em tempos de atividades contribuíram para o adestra- guerra ou de ajuda humanitária. mento e para a interoperabilidade das (Fonte: www.mar.mil.br)

MB CONTRATARÁ EMPRESA AÉREA PARA TRANSPORTAR CONTINGENTES PARA O HAITI

A Marinha do Brasil (MB), cumprindo rítima da Força Interina das Nações Unidas as diretrizes do Ministério da Defesa, rea- no Líbano (FTM-Unifil), pela primeira vez lizará a contratação de uma empresa aérea a responsabilidade por essa missão será para executar o transporte da tropa a ser entregue exclusivamente à MB. A opção empregada nos 22o e 23o contingentes de pelo emprego de aeronaves civis ocorre em militares brasileiros da Missão das Nações função da agilidade no transporte das tropas. Unidas para Estabilização do Haiti (Minus- Desde junho deste ano, a Marinha tah). O primeiro embarque para o Haiti com passou a participar da Minustah com 181 a contratada ocorrerá entre 12 de novembro militares, sendo seis na composição do e 4 de dezembro deste ano, com 972 mili- Estado-Maior do Batalhão Brasileiro e 175 tares da Marinha e do Exército Brasileiro. militares para o Grupamento Operativo de O rodízio entre os contingentes, normal- Fuzileiros Navais do Haiti. Além disso, efe- mente, é efetuado, semestralmente, por meio tua o transporte de materiais, equipamentos aéreo. Fruto da experiência adquirida com e viaturas para aquele país, também em dois a logística empregada pela Força no carre- períodos anuais, empregando navios de gamento de materiais para os meios navais apoio logístico orgânicos da Força. brasileiros empregados na Força Tarefa-Ma- (Fonte: www.mar.mil.br)

Contingente brasileiro em formatura

290 RMB3oT/2015 NOTICIÁRIO MARÍTIMO FLOTILHA DO AMAZONAS ATUA NA TRÍPLICE FRONTEIRA COM MARINHAS DA COLÔMBIA E DO PERU

Os Navios-Patrulha Fluvial (NPaFlu) O exercício incrementou a interope- Pedro Teixeira e Rondônia, subordinados rabilidade entre a Marinha do Brasil, a ao Comando da Flotilha do Amazonas, jun- Armada da República da Colômbia e a tamente com embar- Marinha de Guerra cações da Capitania do Peru, em um tra- Fluvial de Tabatinga, balho conjunto e em realizaram, em 4 e sinergia que garante 5 de agosto último, excelentes resultados exercício operativo no combate aos de- de controle fluvial litos transnacionais na região da Tríplice e ações de presença Fronteira entre Brasil, dos respectivos Es- Colômbia e Peru. A tados em seus limites ação, no Rio Soli- territoriais. mões, compreendeu Exercício operativo na região da Tríplice Fronteira Das 101 embarca- as cidades de Tabatin- ções abordadas, duas ga (AM), Letícia (Colômbia) e Santa Rosa foram notificadas por descumprimento (Peru) e contou com a participação dos do Regulamento da Lei de Segurança do navios colombianos Letícia e Igaraparana Tráfego Aquaviário. e dos peruanos Loreto e Maranõn. (Fonte: www.mar.mil.br)

BATALHÃO DE ENGENHARIA DE FUZILEIROS NAVAIS CONCLUI APOIO ÀS OBRAS DO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DE SUBMARINOS

O Batalhão de Engenharia de Fuzileiros Navais conduziu, de janeiro a julho últi- mos, a Operação Pionex, com as tarefas de realizar levantamento topográfico, instalar marcos geográficos, fixar placas sinalizado- ras e cercar o perímetro nas elevações do Complexo Naval de Itaguaí (RJ), onde será fabricado o primeiro submarino brasileiro com propulsão nuclear. A operação contou com apoio do Ba- talhão Logístico de Fuzileiros Navais, do Batalhão de Comando e Controle e da Uni- dade Médica Expedicionária da Marinha, Serviço de engenharia sendo realizado nas com a participação de quase cem militares. elevações do Complexo Naval de Itaguaí Após quatro meses de planejamento e seis

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meses de execução, foram construídos Esquadra, Vice-Almirante (FN) Alexandre 3.600 metros de cerca e fixados 1.770 perfis José Barreto de Mattos, acompanhado pelo metálicos, 32 marcos terrestres e cem pla- comandante da Divisão Anfíbia, Contra- cas de sinalização nas íngremes elevações Almirante (FN) Jorge Armando Nery do complexo. Soares, e pelo comandante da Tropa de No dia 18 de julho, a conclusão desta Reforço, Contra-Almirante (FN) José Luiz empreitada foi marcada pela visita do Corrêa da Silva. comandante da Força de Fuzileiros da (Fonte: www.mar.mil.br)

AGÊNCIA FLUVIAL DE IMPERATRIZ INTENSIFICA INSPEÇÕES NAVAIS

A Agência Fluvial de Imperatriz (MA) inverno, outros estão em pleno verão. intensificou, desde o dia 21 de julho último, Com um período de estiagem de aproxi- as Inspeções Navais madamente três me- na área de jurisdição ses (junho, julho e que abrange municí- agosto), os níveis de pios dos estados Ma- água dos rios e lagos ranhão, Pará e Tocan- baixam e os bancos tins, como parte da de areia aparecem, Operação Verão. Des- formando praias de tacam-se também as água-doce. Isso acon- aplicações de provas tece justamente nas para arrais amadores férias escolares, o que e motonautas, além de Inspeção Naval leva muitas famílias Ações de Fiscalização a escolher esses des- do Tráfego Aquaviário (AFTA). tinos para navegar em suas embarcações Enquanto boa parte dos estados bra- de esporte e recreio. sileiros registra baixas temperaturas no (Fonte: www.mar.mil.br)

MB E PF APREENDEM COCAÍNA EM VELEIRO HOLANDÊS

Uma operação conjunta da Marinha do A operação conjunta foi organizada Brasil (MB) e da Polícia Federal (PF) de pela Coordenação-Geral de Prevenção e Pernambuco e do Rio Grande do Norte re- Repressão a Entorpecentes, com colabo- sultou na prisão por tráfico internacional de ração da Agência Nacional de Crimes da entorpecentes, no dia 1o de agosto último, Grã-Bretanha (NCA). A NCA alertou o do mecânico holandês Raymond Knobbe, governo brasileiro sobre a viagem de um de 48 anos. No Veleiro Rody, de bandeira suspeito de tráfico internacional de dro- holandesa, tripulado por ele, foram encon- gas. De posse dessas informações e tendo trados e apreendidos dez tabletes de cocaína conhecimento da possível localização do envoltos em sacos plásticos, com um peso veleiro suspeito de transportar material bruto de 11,5 kg. entorpecente, policiais federais solicitaram

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internacional de entorpecentes, caso seja condenado poderá pegar penas que variam de cinco a 20 anos de reclusão. O holandês foi levado para Recife (PE) no dia 2 de agosto. Conduzido para reali- zação de exame de corpo de delito no Ins- tituto de Medicina Legal, foi, em seguida, recambiado para o Centro de Observação e Triagem Professor Everardo Luna, onde ficou à disposição da Justiça Federal. A embarcação foi levada para a capital per- Militares da Marinha durante abordagem à nambucana. embarcação As informações sobre a apreensão foram apresentadas em coletiva de imprensa reali- apoio ao Comando do 3o Distrito Naval zada na sede da Polícia Federal, em Recife (Natal-RN), que designou o Navio Patrulha (PE), em 3 de agosto último. Macau para a operação. (Fonte: www.mar.mil.br) Por volta das 5h30min do dia 1o de agosto, a embarcação suspeita foi avistada e abordada pelos militares e policiais fe- derais. Como o mar estava muito agitado, foi ordenado ao tripulante que se dirigisse para fundeio em Fernando de Noronha. Descoberta a droga, o estrangeiro recebeu voz de prisão em flagrante e, em seguida, foi levado para o Posto da Polícia Federal situado no Centro de Convivência, na Vila do Trinta, área central do arquipélago de Fernando de Noronha. Autuado por tráfico Entrevista Coletiva

MB E PF REALIZAM APREENSÕES NO PARANÁ

A Marinha do Brasil, em ação conjun- ta com a Polícia Federal, apreendeu, em 27 de julho último, nas proximidades de Itaipulândia (PR), material contraban- deado e duas embarcações que faziam a travessia Paraguai-Brasil. Um veículo em terra, que aguardava a carga, também foi detido. Esta foi a segunda apreensão conjunta, durante a Operação Ágata 9, com a Polícia Federal, por meio do Núcleo Especial de Polícia Marítima (NEPOM). Embarcações apreendidas

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Entre o material apreendido estavam 40 caixas de cigarros, vestuário, relógios e equipamentos eletrônicos, caracterizando contrabando e descaminho. A carga estava em duas lanchas (com motores de 125 e 225 HP) e foi encaminhada para a Receita Federal. Os ocupantes abandonaram as lanchas ao avistarem as equipes brasileiras. Anteriormente, no dia 20 do mesmo mês, policiais federais realizavam diligên- cias no Lago de Itaipu quando identificaram movimentação suspeita de embarcações. Veículo apreendido Desde então, equipes de inspeção naval da Já na manhã do dia 22, a Polícia Federal Capitania Fluvial do Rio Paraná (CFRP) e apreendeu, entre os municípios de Missal e o Nepom passaram a acompanhar a ativida- Medianeira, na rodovia PR-495, 2.100 qui- de. A ação culminou no acompanhamento los de maconha e um veículo. Um homem tático de um veículo e sua abordagem na foi preso em flagrante pelos crimes de tráfi- rodovia estadual. co de drogas, receptação, uso de documento falso, adulteração de sinal identificador de veículo automotor e resistência. O sucesso da ação repressiva expõe a importância de uma perfeita coordenação entre a organi- zação de Segurança Pública e a MB, a qual colaborou com a apreensão, uma vez que os militares da Capitania bloquearam, via fluvial, a passagem do montante da droga, fazendo com que o ato ocorresse em terra. Lancha da capitania realizando Inspeção Naval (Fonte: www.mar.mil.br)

NPaFlu AMAPÁ APRESA COMBOIO, CARREGAMENTOS E EMBARCAÇÕES

O Navio-Patrulha Fluvial (NPaFlu) conduzidas por tripulante sem habilitação. Amapá, subordinado ao Comando da Flo- A intervenção contou com o apoio da tilha do Amazonas (ComFlotAM), apresou, Polícia Civil do Estado do Amazonas, do em 11 de agosto último, um empurrador Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e com duas balsas carregadas de seixos dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) (fragmentos de minerais ou rochas) na e do Instituto Chico Mendes da Biodiversi- milhagem 10 do Rio Solimões, próximo a dade (ICMBio). Essa operação baseou-se Manaus (AM). Ao serem abordadas pelo na alta incidência de crimes ambientais Grupo de Visita e Inspeção do navio, que nas reservas extrativistas federais no Rio realizava a comissão de Patrulha Naval Japurá (Amazonas) nos meses de agosto Japurá I, constatou-se que as embarcações e setembro, quando ocorrem as desovas, navegavam com excesso de carga e eram especialmente de quelônios.

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A Japurá I foi planejada com base no de Codajás, junto com a embarcação e as relacionamento que o ComFlotAM vem toras de madeira. fomentando com as agências extra-Marinha A segunda apreensão foi a de um com- e os órgãos de Segurança Pública, visando boio de empurrador e chatas de seixos ao desenvolvimento de ações integradas (fragmentos de minerais ou de rochas), por de combate aos crimes ambientais e trans- excesso de carga e por estar sendo conduzido fronteiriços nos rios da Amazônia. As por tripulante não habilitado, e uma lancha embarcações apresadas foram entregues à tipo “expresso”, sem inscrição na Capitania Capitania Fluvial da Amazônia Ocidental, e com condutor não habilitado. Ambas as em Manaus. embarcações foram apresentadas na Capi- tania Fluvial da Amazônia Ocidental.

NPaFlu Amapá com embarcações regionais apreendidas

No mesmo dia 11, o NPaFlu Amapá realizou mais duas ações. Na primeira, Foram apreendidas 120 toras de madeira foi apresada uma embarcação que fazia o provenientes de extração ilegal reboque de aproximadamente 120 toras de madeira nas proximidades da Ilha de Aja- Em 31 de julho, as ações de Patrulha ratuba, a cerca de 50 milhas náuticas (92 e Inspeção Naval aconteceram nos rios km) a jusante de Codajás (AM). Durante Solimões e Japurá, nas proximidades da a inspeção, constatou-se que o condutor cidade de Maraã (AM). Durante a operação, não possuía habilitação e documentação embarcações regionais foram apreendidas e exigidas pela Autoridade Marítima e que a entregues à Agência Fluvial de Tefé (AM), madeira era proveniente de extração ilegal. devido a diversas irregularidades consta- O condutor foi preso em flagrante por cri- tadas, dentre elas a não apresentação das me ambiental e apresentado a representan- habilitações pelos condutores. tes da 74a Delegacia Interativa de Polícia O NPaFlu realizou, ainda, Ações Cí- vico-Sociais (Aciso) na comunidade de São Francisco da Foz do Copeá, onde foi proferida palestra sobre a importância da higiene bucal, com a distribuição de esco- vas e cremes dentais. Na mesma comuni- dade, tripulantes do navio apresentaram os coletes salva-vidas aos moradores da vila, conscientizando-os da importância do uso no transporte fluvial. NPaFlu Amapá apresa empurrador e balsas (Fonte: www.mar.mil.br)

RMB3oT/2015 295 NOTICIÁRIO MARÍTIMO PARANÁ GANHA NOVO TERMINAL PORTUÁRIO PRIVADO

A Secretaria Especial de Portos assinou Enquanto os demais portos do País utili- contrato, em 9 de julho último, para a zam o sistema RTG (rubber tyre gantry), instalação de um Terminal de Uso Privado o de Pontal será equipado com RMG (rail (TUP) na área da poligonal do porto de Pa- mounted gantry), guindastes de pórtico ranaguá, no município de Pontal do Paraná montados sobre trilhos, tendência mundial (PR). A previsão é de que a Subsea 71 do por sua eficiência e segurança. Brasil invista R$ 103 milhões na área para Situado na entrada da Baía de Para- a montagem e o embarque de dutos subma- naguá, região conhecida como Ponta rinos, usados na prospecção e exploração do Poço, o Porto de Pontal fica a uma de petróleo e gás. O lançamento da pedra distância de 23 quilômetros do alto-mar. fundamental do Porto Pontal está previsto Esta localização privilegiada e estratégi- para o último trimestre deste ano. ca gera uma economia de mais de uma Além de funcionar como um indutor hora para atracação em relação ao porto mercantil, aproximando o Paraná das gran- de Paranaguá. Com cais de mil metros e des rotas mundiais de comércio, o novo três berços para atracação simultânea de terminal portuário, que ampliará em 55% a navios, a profundidade permanente é de capacidade portuária do estado, acena com 16 metros, mais do que o suficiente para desenvolvimento econômico e geração de abrigar grandes embarcações. empregos (mais de 7 mil, diretos e indi- A primeira etapa da obra do Porto retos). Com investimento aproximado de Pontal, com finalização prevista para o R$ 1,5 bilhão, o Terminal Portuário Porto segundo semestre de 2017, vai envolver a Pontal irá ocupar um espaço de mais de implantação de dois terços da estrutura total 600 mil m² e contará com um pátio de 450 do terminal e possibilitar a movimentação mil m², o que constitui a maior área para de 700 mil TEUs2. Operando integralmente, depósito de contêineres do País. sua capacidade máxima de movimentação Porto Pontal será também um dos ter- será de 2 milhões de TEUs, com 56 RMG, minais mais modernos da América Latina 10 portêineres e 80 terminal tractors. e o primeiro do país a operar sobre trilhos. (Fonte: Ieme Comunicação)

TEGRAM JÁ EMBARCOU 1,4 MILHÃO DE TONELADAS

O Terminal de Grãos do Maranhão previsto para este primeiro ano da operação. (Tegram), localizado no porto do Itaqui, A informação é do consórcio responsável em São Luís (MA), embarcou 1,4 milhão pela gestão do terminal, formado pelas em- de toneladas de soja em mais de 20 navios presas NovaAgri, Glencore, CGG Trading de meados de março ao início de julho e Amaggi/Louis Dreyfus. deste ano. Este volume, em apenas quatro Com quatro armazéns, o Tegram tem meses, já representa mais da metade do capacidade de armazenagem estática de 500

1 Empresa multinacional de serviços de petróleo, uma das quatro maiores do setor. 2 Twenty Foot Equivalent Unit – refere-se à Unidade Equivalente de Transporte, que possui um tamanho padrão de contêiner intermodal de 20 pés.

296 RMB3oT/2015 NOTICIÁRIO MARÍTIMO mil toneladas de grãos (125 mil toneladas volume) e 150 mil caminhões (20% do cada) e capacidade de movimentação de volume), com capacidade de embarque de 5 milhões de toneladas ao ano; outros 5 10 milhões de toneladas. milhões de toneladas serão acrescidos na O Tegram é uma das maiores obras de segunda fase, quando o terminal terá mais infraestrutura para a exportação da safra um berço para atracação, com previsão brasileira de grãos, e sua abertura tem benefi- de operar em 2017. A primeira fase de ciado diretamente os produtores da região do operação do Terminal envolve um berço Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí, Bahia) prioritário para atracação de navios; a se- e do nordeste de Mato Grosso. Esta proximi- gunda prevê a operação de mais um berço. dade da nova fronteira agrícola do Brasil gera Quando estiver totalmente concluído (fases maior agilidade ao escoamento da safra para 1 e 2), o Tegram estima receber um fluxo mercados estratégicos, como Europa e Ásia. anual de 220 navios, 900 trens (80% do (Fonte: Agência Ideal)

8o DN E PREFEITURA DE ARAÇATUBA FIRMAM CONVÊNIO

A Marinha do Brasil, por meio do Co- Wilson Pereira de Lima Filho, e o Prefeito mando do 8o Distrito Naval (Manaus-AM), Aparecido Sério da Silva. e a Prefeitura Municipal de Araçatuba (SP) A fiscalização do tráfego de embarcações firmaram, em 19 de junho último, convênio e dos equipamentos náuticos em geral visa ao cumprimento das normas da Autoridade a fim de fiscalizar o tráfego de embarca- Marítima (Normam) e dos Planos de Uso e ções e equipamentos náuticos que possam Ocupação do Solo, em especial o Decreto colocar em risco a integridade física dos no 18.147, da Prefeitura Municipal de Ara- cidadãos nas praias do município e nas çatuba, que disciplina entrada e saída de áreas adjacentes. Assinaram o documento embarcações nas praias e áreas adjacentes. o comandante do 8o DN, Vice-Almirante (Fonte: www.mar.mil.br)

Comandante do 8o DN e prefeito de Araçatuba assinam convênio

RMB3oT/2015 297 NOTICIÁRIO MARÍTIMO NAsH TENENTE MAXIMIANO ATENDE DURANTE CHEIA DO RIO PARAGUAI

O Navio de Assistência Hospitalar à época de cheia do Rio Paraguai. Os mili- (NAsH) Tenente Maximiano suspendeu, tares atuaram nas localidades de Porto da em 29 de junho último, para atuar na região Manga, Porto Esperança, Porto Morrinho entre Ladário e Porto Murtinho, em Mato e Codrasa. Grosso do Sul, para prestar atendimento Durante o trabalho, foram realizados médico às populações que encontram 86 atendimentos médicos e 28 odontoló- dificuldades de acesso às cidades devido gicos. Também foram distribuídos cerca de 4 mil medicamen- tos e realizadas 20 vacinações. As vaci- nas, obtidas junto à Secretaria de Saúde de Corumbá (MS), garantiram a imuni- zação contra hepatite B; influenza (H1N1); sarampo, caxumba e rubéola (tríplice viral); febre amarela, rota-vírus, tétano e difteria (DT), coque- luche e meningite. (Fonte: www.mar. Atendimento médico prestado na localidade de Porto Esperança mil.br)

“NAVIO DA ESPERANÇA DO PANTANAL” REALIZA VACINAÇÃO NO RIO PARAGUAI

Após desatracar de Ladário (MS) a fim de realizar mais uma Operação de Assistência Hospitalar na calha do Rio Paraguai, o Navio de Assistência Hospitalar (NAsH) Tenente Maximiano, o “Navio da Esperança do Pan- tanal”, prestou, até o dia 28 de junho último, além dos habituais serviços de assistências médico-odontológicas, apoio à vacinação da população ribeirinha residente na região, desde a foz do Rio Cuiabá até a localidade de Porto da Manga. Para possibilitar a rea- lização da operação, o navio contou com o Militares também realizaram atendimento médico

298 RMB3oT/2015 NOTICIÁRIO MARÍTIMO embarque de equipe de saúde formada por do Castelo, Porto da Manga e Codrasa. Foi dois médicos, um enfermeiro, dois dentistas realizado um total de 233 atendimentos e um técnico em higiene dental. médicos e 102 atendimentos odontológicos. Durante a Comissão, o NAsH abarran- Além disso, foram distribuídos 4.155 me- cou nas localidades de Porto Jatobazinho, dicamentos e 100 quilos de material como Porto Paraguai Mirim, Porto São Pedro, roupas, cobertores e toalhas. Porto Barra do São Lourenço, Porto Baía (Fonte: www.mar.mil.br)

NAVEGA RESERVA

Com o propósito de ampliar os laços que e-mail para [email protected]. unem a Alta Administração Naval e o pessoal mil.br, informando posto/graduação, NIP, da Reserva, foi criado pela Marinha do Brasil nome completo e data de nascimento. o Navega Reserva. Por meio desse canal de Após a validação desses dados, os mili- comunicação exclusivo, o comandante da tares passarão a receber correspondências Marinha, Almirante de Esquadra Eduardo eletrônicas em suas caixas postais. Esse Bacellar Leal Ferreira, pretende usar a internet canal possibilitará que a Marinha do Brasil para troca de mensagens eletrônicas que per- amplie o conhecimento sobre as questões mitam comentários, observações e perguntas. levantadas e, eventualmente, aprimore Aqueles que desejarem contribuir procedimentos e normas. podem realizar o cadastro encaminhando (Fonte: www.mar.mil.br)

DE MARTINO NO BRASIL

Foi realizada, de 16 de junho a 20 de se- de seu tempo. Alguns dos quadros foram tembro últimos, no Museu Nacional de Be- expostos pela primeira vez. las Artes (MNBA), Rio de Janeiro, a ex- posição “De Martino no Brasil”. A mostra, uma realização da Marinha do Brasil (MB), do Museu Nacional de Belas Artes/Instituto Bra- sileiro de Museus/ Ministério da Cultura e do Instituto Italiano de Cultura do Rio de Janeiro, reuniu cerca de 50 obras de Eduardo De Marti- no, um dos maiores Na foto, em primeiro plano: comandante da Marinha, Almirante de Esquadra pintores de marinhas Eduardo Bacellar Leal Ferreira; e Mônica Xexéo, diretora do MNBA

RMB3oT/2015 299 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Eduardo De Martino (1938-1912) foi o Paraguai (1865-1870), onde produziu oficial da Marinha de Guerra da Itália e dezenas de esboços e aquarelas – muitos residiu parte de sua vida no Brasil, tendo se deram origens a obras a óleo. casado com uma brasileira. Foi um impor- A exposição foi oportuna para a Marinha tante pintor internacional e muitas das suas porque a instituição comemora este ano os obras estão em museus brasileiros, inclu- 150 anos da vitória do Brasil na Batalha Naval sive no acervo da Diretoria do Patrimônio do Riachuelo – uma das pinturas expostas re- Histórico e Documentação da Marinha feria-se àquele evento. Durante a inauguração (DPHDM). De Martino esteve na linha de da mostra, a MB lançou a medalha comemo- frente da Guerra da Tríplice Aliança contra rativa dos 150 anos da Batalha.

MUSEU NAVAL ATRAI GRANDE PÚBLICO NO CIRCUITO CULTURAL RIO ÔNIBUS

A participação do Museu Naval (MN) da Oficina de Nós, da pintura de camufla- no projeto Circuito Cultural Rio Ônibus, em gem e dos jogos lúdicos sobre a Amazônia 12 de julho último, atraiu 2.320 visitantes Azul e os 150 Anos da Batalha Naval do ao local. O MN foi uma das 11 instituições Riachuelo. Também houve apresentação culturais cariocas integrantes da 2a edição do conjunto Fuzibossa, no pátio interno de 2015 do projeto, que homenageou os da instituição. 450 anos do Rio de Janeiro com visitas e transporte gratuitos para os participantes. No Museu, os visitantes puderam conhe- cer o carro blindado “Piranha” e participar

Apresentação do Fuzibossa. Ao fundo, Oficina de Nós e pintura de camuflagem

Os outros espaços culturais do centro do Rio de Janeiro que participaram do Circuito Cultural Rio Ônibus foram: Centro Cultu- ral Banco do Brasil, Casa França-Brasil, Instituto Pretos Novos, Espaço Meu Porto Maravilha, Museu de Arte do Rio, Thea- tro Municipal, Museu Nacional de Belas Artes, Museu Histórico Nacional, Palácio da Justiça e Palácio Tiradentes. A próxima Crianças se divertem no carro blindado edição do evento está prevista para outubro.

300 RMB3oT/2015 NOTICIÁRIO MARÍTIMO A PIRATARIA MARÍTIMA CONTEMPORÂNEA – AS ÚLTIMAS DUAS DÉCADAS

Foi lançado em 30 de junho último, na engloba cada região em que os ataques sede do Clube Militar Naval de Portugal, piratas foram e são registrados, estenden- em Lisboa, o livro A Pirataria Marítima do-se pela avaliação do que tem sido feito Contemporânea – as últimas duas décadas, em prol do combate à pirataria. Também de autoria do Capitão de Fragata Henrique são abordadas a evolução do Direito In- Peyroteo Portela Gue- ternacional em relação des, da Marinha por- ao tema e a ocorrên- tuguesa. Na ocasião, cia de julgamentos de a obra foi apresentada casos de pirataria em pela administradora vários países. A obra se executiva da Portli- completa com capítulos ne Bulk International, dedicados à avaliação Comandante Cristina dos prejuízos causados Alves, e pelo Con- por esses atos e ao que tra-Almirante Jorge os armadores têm fei- Palma, que comandou to para proteger seus força naval ao largo navios. Como anexos, da Somália, local onde são publicadas resolu- se registram inúmeros ções da Organização casos de pirataria. Marítima Internacional O livro, de 304 pá- (IMO), da Organiza- ginas, aborda a prática ção das Nações Unidas da pirataria marítima (ONU), do Parlamento na atualidade. Após Europeu e da União uma breve resenha Europeia. histórica sobre o tema, O Comandante Por- o autor analisa a sua ocorrência a partir tela Guedes conta com mais de 20 artigos da década de 1990 até os dias atuais. Seu publicados sobre pirataria marítima em estudo é baseado em dados estatísticos e revistas de vários países, inclusive na Revista Marítima Brasileira, da qual é colaborador assíduo. Em 2008, recebeu o Prêmio Comandante Joaquim Costa pelo melhor artigo publicado naquele ano na Revista da Armada (Portugal). O militar também tem se destacado em inúmeras palestras e conferências. O livro A Pirataria Marítima Contem- porânea – as últimas duas décadas é uma publicação das Edições Revista de Mari- nha, simultaneamente em português e in- O Comandante Portela Guedes por ocasião do glês. Outras informações em: https://www. lançamento de seu livro facebook.com/henriquepeyroteoguedes.

RMB3oT/2015 301 NOTICIÁRIO MARÍTIMO LANÇAMENTO DO LIVRO MANUAL DE PROVIDÊNCIAS DO ASSISTENTE

Foi lançado recentemente o livro Manual de Providências do Assistente – Tudo o que você precisa saber do dia a dia de um Ga- binete, de autoria do Capitão de Corveta (T) Renato Ferreira da Silva. A obra tem como propósito servir de consulta rápida para todos que assessoram autoridades navais. A fim de permitir ampla divulgação e a lei- tura e a consulta por todos no âmbito da Ma- rinha do Brasil, o livro será distribuído para os gabinetes de oficiais-generais e sua versão digital pode ser acessada, em formato PDF, no site da Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha (DPHDM) na intranet (www.dphdm.mb), na opção “Publi- cações”. O Manual também pode ser obtido gratuitamente no Departamento de Publica- ções e Divulgação da DPHDM. Informações pelo telefone (21) 2104-5492 ou pelo e-mail publicaçõ[email protected]. (Fonte: Bono no 429, de 23/6/2015)

LANÇAMENTO DO LIVRO NAVEGAÇÃO INTEGRADA

Foi lançado recentemente o livro Na- das margens de erro do navegante e, con- vegação Integrada, de autoria do Capitão sequentemente, para maior probabilidade de Mar e Guerra (RM1) Carlos Norberto de ocorrência de acidentes de navegação. Stumpf Bento. A obra faz uma abordagem Em paralelo, a concepção dos modernos sobre o conceito de e-navigation da Or- sistemas de navegação de bordo e de auxílios ganização Marítima Internacional (IMO, à navegação em terra vem sendo otimizada, da sigla em inglês) e o potencial de sua visando, dentro do conceito de e-navigation, aplicação no País. à “integração de ferramentas de navegação Pode-se constatar atualmente um acen- existentes, em particular as eletrônicas, em tuado aumento do volume e da densidade um sistema abrangente que contribuirá para do tráfego aquaviário mundial, com previ- aprimorar a segurança da navegação, com são de dobrar nos próximos 20 anos. Tam- repercussões positivas para a segurança bém são realidades o aumento do calado marítima de um modo geral e para a preser- dos navios, diminuindo a folga sob suas vação do meio ambiente, além de reduzir a quilhas, e o emprego de maiores veloci- carga de trabalho do navegante”. dades e redução de suas tripulações. Esses O livro do Comandante Norberto – que fatores vêm contribuindo para diminuição dá sequência à obra Navegação: A Ciência

302 RMB3oT/2015 NOTICIÁRIO MARÍTIMO e a Arte, do Capitão de Mar e Guerra Al- em material técnico e didático existente tineu Pires Miguens – pretende, ao longo na Marinha do Brasil, em literatura in- de seus quatro capítulos, evidenciar a im- ternacional e em conteúdo disponível na portância das principais internet. A abordagem do ferramentas eletrônicas de trabalho é fundamentada navegação, operando de nos modernos Sistemas forma isolada ou integra- Globais de Navegação da, e, sempre que oportu- por Satélite (GNSS) ope- no, dar algumas noções rando em conjunto com básicas de sua operação. uma cobertura de Cartas Assim, procura propor- Náuticas Digitais, radares cionar ao navegante em modernos e uma estrutura geral uma visão abrangen- confiável de comunicações te das potencialidades da navio-terra. navegação integrada para O autor é hidrógrafo, o nosso país, fundamen- instrutor de Navegação tando-se no contido em na Escola Naval, pos- convenções internacio- sui Master of Business nais relacionadas com a Administration (MBA) navegação, em resoluções em Gestão Internacional da IMO, em publicações pela Coppe-RJ e colabora da Associação Internacional de Auxílios com a Revista de Villegagnon. Também à Navegação (Iala, da sigla em inglês), em já colaborou com a Revista Marítima algumas normas da Autoridade Marítima, Brasileira, assinando o artigo “O caso na experiência de instrutores de navegação, Costa Concórdia”.

LANÇAMENTO DO LIVRO O MAR, A FORJA E A TÊMPERA DO COMANDANTE

Foi lançado em 10 de junho último, na cidade do Rio de Janeiro, o livro O Mar, a Forja e a Têmpera do Comandante, de autoria de Heitor Amílcar da Silveira Neto, pela Jacintha Editores. A obra conta, em 175 páginas, a vida de Washington Barbeito de Vasconcelos. O biografado, economista e empre- sário, foi oficial da Marinha do Brasil. Ao se transferir para a Reserva da Força, destacou-se na Vale do Rio Doce antes de se tornar empresário da armação nacional. O livro, que narra sua trajetória desde a infância até os dias de hoje, é dividido nos seguintes capítulos: Aviso aos navegantes

RMB3oT/2015 303 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

(Prefácio); Adeus, Marinha; O general, A vida ninguém governa; e Tempo, esse a guerra e a infância; Meninos feitos ho- grande ativo. Ao final, é apresentada uma mens do mar; Adversidades e avanços na Cronologia de 1926 (ano de seu nascimen- travessia; Armação e Navegação; Ao leme; to) até 2013.

BRASIL E ÍNDIA DISCUTEM COOPERAÇÃO EM DEFESA

Militares do Brasil e da Índia discuti- Em relação à Marinha, ficou acertado um ram, nos dias 17 e 18 de junho último, a intercâmbio acadêmico de aspirantes entre as ampliação da cooperação bilateral nas áreas academias navais dos dois países em 2016, científicas e tecnológicas e intercâmbios a continuidade dos entendimentos visando à acadêmicos buscando parcerias em projetos futura cooperação em projetos e construções de construção naval e outras áreas de defesa. de submarinos Scorpène e de navio-aeródro- Esses temas foram abordados na reunião do mo e também um acordo que prevê troca de IV Comitê Conjunto de Defesa, realizada informações sobre o tráfego marítimo. no Ministério da Defesa (MD), em Brasília. Na ocasião, as chefias de Operações Con- A delegação indiana foi recebida pelo juntas e de Logística também propuseram e subchefe de Assuntos Internacionais do MD, firmaram acordo de intenção de intercâmbio General Décio Luís Schons, e por oficiais da no campo de planejamento conjunto e em- Marinha, do Exército e da Aeronáutica. Os prego das Forças Armadas em apoio à defesa militares dos dois países identificaram áreas civil. E, na área de logística, as propostas de defesa a serem melhoradas e construíram foram voltadas para a estrutura existente da acordos bilaterais em ajuda humanitária mobilização militar indiana e procedimentos e desastres naturais. A comitiva indiana na mobilização das indústrias. apresentou interesse em intercâmbio nessa As reuniões bilaterais entre o Brasil e a questão devido à experiência e ao papel Índia tiveram início em 2010, com perio- das Forças Armadas brasileiras em apoio à dicidade anual. Defesa Civil em casos de catástrofes. (Fonte: www.defesaaereanaval.com.br)

Foto: Tereza Sobreira

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