Ilha Da Trindade E Arquipélago Martin
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ILHA DA TRINDADE & ARQUIPÉLAGO MARTIN VAZ. UM ENSAIO GEOBOTÂNICO Ruy José Válka Alves 1998 Dedicado à Marinha do Brasil, ao amigo Wanderbilt Duarte de Barros, e aos Veteranos da História Natural da Ilha da Trindade, Professores do Museu Nacional: Johann Becker, Luiz Emygdio de Mello Filho & Fernando Segadas Vianna. © Serviço de Documentação da Marinha – Brasil. 1998 A474 Alves, Ruy José Válka. c 1998 Ilha da Trindade & Arquipélago Martin Vaz : Um Ensaio Geobotânico / Ruy José Válka Alves. Rio de Janeiro : Serviço de Documentação da Marinha, 1998. 144 p. : il. ISBN - 85.7047.054-9 1. Trindade, Ilha da (ES) – Expedições Exploradoras. 2. Fauna das Ilhas – Trindade, Ilha da (ES). 3. Martins Vaz, Arquipélago de (Brasil) – Expedições Exploradoras. 4. Museu Nacional (Brasil). I. Brasil. Serviço de Documentação da Marinha. II. Título. CDD 918.152 2 PREFÁCIO DA DHN Há 41 anos, a Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN) se vale da Ilha da Trinda- de como ponto avançado de observação meteorológica em águas oceânicas brasileiras. Na verdade, em 1957, no Ano Geofísico Internacional, foi estabelecido o Posto Ocea- nográfico da Ilha Trindade (POIT), que permaneceu subordinado à DHN até 1986, quando se deu a passagem para o Comando do 1º Distrito Naval. Por esses motivos, a Trindade estará sempre ligada à Diretoria de Hidrografia e Nave- gação. A ilha é isolada, situando-se a cerca de setecentas milhas do continente, e, por caracte- rísticas naturais, não dispõe de cais para atracação, o que faz aumentar muito as dificuldades para o desembarque do material necessário ao dia-a-dia, ressaltando, uma vez mais, o profissionalismo e a tenacidade daqueles que lá trabalham. A rica obra que tenho a honra de prefaciar dará ao leitor excelente noção do trabalho realizado sobre esse pequeno, mas importante, rincão de nossa Pátria. Niterói, 23 de outubro de 1998. PREFÁCIO O presente trabalho de autoria do Dr. Ruy José Válka Alves, jovem e dedicado pes- quisador, recentemente incorporado à equipe de cientistas do Departamento de Botânica do Museu Nacional pela porta clara e isenta de um concurso de provas e títulos, tem o grande mérito de voltar a colocar em evidência a Ilha da Trindade, bastião avançado da soberania nas águas profundas do Atlântico Sul. O autor apresenta dados sobre a história e geografia, a geologia e a geomorfologia, a ecologia, a flora e fauna desta singular porção de um outro Brasil, tão diferente da massa geologicamente estável do Brasil continental, o Brasil vulcânico erguido sobre as profundida- des atlânticas e apenas emergido pelos topos de suas projeções singulares como Trindade, Martin Vaz e Fernando de Noronha. Conforme nos diz o título do estudo, tem ele um objetivo restrito apesar de reunir um elenco diversificado e importante de informações, relatos e comentários sobre a Ilha nos sé- culos que se seguiram à era das navegações, quando os europeus, tangidos pelas dificuldades da vida nos tempos de então, e pela avidez de apropriação de riquezas e bens materiais, se lançaram à ocupação de outras terras do Novo Mundo, na África, na Ásia e na Oceania, apoderando-se do capital que os conduziu aos esplendores do século XIX e ao desenvolvimen- to alcançado no presente século. A história da destruição da cobertura vegetal de Trindade é claramente apresentada e discutida no texto que, em realidade, é um relato trágico da incapacidade do homem ociden- tal de entender, conviver e adaptar-se à sobrevivência das florestas que integram o patrimônio vivo do planeta. Conforme seu objetivo, que aparece no título do ensaio, faz o Dr. Ruy Alves um levan- tamento pormenorizado da maioria dos cientistas que visitaram Trindade e dos materiais e conclusões que cada um deles coletou ou elaborou. As questões pendentes, as dúvidas existen- tes, as espécies não mais encontradas, tudo isso é discutido e posto numa linha de pesquisas e de busca de solução. Dessa forma um dos resultados mais significativos do trabalho é uma atualização do levantamento florístico que ora se eleva a aproximadamente 120 espécies. Nessa parte são abordadas as coleções feitas por entidades e especialistas diversos, sobressaindo a participação dos botânicos e biólogos do Museu Nacional, mercê das contri- buições de Bruno Lobo (1916), dos participantes da Expedição João Alberto (1950), de Johann Becker (1965) e recentemente do próprio Ruy Alves. Os resultados da Expedição João Alberto, significativos porém não publicados, dor- mem em esquecidos relatórios e são discutidos no trabalho em consideração. Mas Trindade não é somente um problema científico. Trindade faz pensar no século XXI a cujas portas nos achamos e no ciclo científico e tecnológico cujo início estamos a ver. Este é um importante ponto da vida do Brasil, como nação e como estado, que nos parece ausente das cabeças pensantes de nossos dirigentes e legisladores voltados para problemas mais terra a terra e suas quizilas políticas e de suas pestúnculas regionais. Trindade é em si um problema de gestão de recursos naturais. O que ocorre em Trin- dade é o que ocorre no Brasil. Trindade é o micro e o Brasil o macro. Nela a destruição do patrimônio natural chegou a situações extremas. Pode assim ser ela um laboratório para a recuperação florestal de sua área cujos resultados poderão, certamente, servir à elaboração das diretrizes para recuperação e prosperidade do Brasil continental, também tão devastado e tão carente de uma gestão ecológica bem orientada. Louva o autor o esforço de nossa Marinha que vem mantendo essa disjunção territorial brasileira e que já desenvolveu a consciência de que sua tarefa depende e dependerá basica- mente da recuperação florestal de Trindade. É hora de despertar o CNPq para os problemas realmente prioritários da pesquisa brasileira, aplicada às grandes questões nacionais. Ou o Brasil acorda, se desburocratiza e estabelece a política científica racional, ágil e inteligente, aumentando dotações, identifican- do centros de excelência e preparando o recrutamento de novos pesquisadores e dessa forma reestruturando novas equipes executantes de uma política florestal dinâmica ou, caso contrá- rio, o Brasil, se comparado à velha Europa de que se diz “que passado tem ela”, - dele caberá dizer “que futuro teria ele ?’. Uma coisa é certa: Se a nossa Marinha tiver condições de levar avante seu projeto de recuperar as florestas da Ilha da Trindade, poderá contar com o apoio do nosso Museu Naci- onal, qualificado tal como ela de Instituição Nacional, em cujo laboratório trabalham o Dr. Ruy José Válka Alves e uma plêiade de colegas tão preparados e interessados em prestar serviços à Nação, quanto ele mesmo, nesta encruzilhada do destino nacional em que nos en- contramos. Isto porque de todas as instituições científicas nacionais é o Museu Nacional o que se debruçou com maior freqüência e intensidade sobre problemas biológicos de Trindade. Junho de 1997 LUIZ EMYGDIO DE MELLO FILHO Prof. Emérito - Departamento de Botânica, Museu Nacional 6 Ilha da Trindade observada de Sul-Sudeste. de observada Trindade da Ilha 7 INTRODUÇÃO A história natural das ilhas oceânicas brasileiras ainda nos reserva muitas incógnitas. Por razões nebulosas, diversas expedições científicas importantes perderam ou deixaram de divulgar seus resultados em publicações. Graças à falta de dados precisos e confiáveis, boa parte dos artigos publicados sobre Trindade e Martin Vaz está repleta de especulações e equí- vocos, que incluem a idade geológica, dados históricos e nomes científicos referentes à flora e fauna. Com este livro, gostaria de preencher parte desta lacuna e apontar para a necessidade de se continuar as pesquisas. Aqui também vale o lema “conhecer para poder preservar,” muito em vogue nos dias de hoje. Resumir o que já foi feito me parece um ponto de partida indispen- sável para pesquisas futuras. A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (U.N.C.E.D.), no Rio de Janeiro, em 1992, inaugurou uma nova era, em que o mundo se volta, ainda que lentamente, para a importância do equilíbrio civilização-natureza. A rigidez das doutrinas cegas vem cedendo espaço à flexibilidade. Ficou claro que, na defesa da Pátria, as nações e suas forças armadas teriam que enfrentar inimigos menos convencionais, como os agentes causadores da degradação ambiental. Embora aparentemente novo, esse papel nunca foi estranho à Marinha, que vem fornecendo apoio à pesquisa e conservação em Trindade pelo menos desde 1916, para os pesquisadores oriundos do Museu Nacional, outras instituições e, mais recentemente, aos biólogos do Projeto TAMAR As limitações econômicas do pesquisador e das entidades de pesquisa, bem como os critérios seletivos adotados pelos órgãos de fomento à pesquisa, raramente permitem a publi- cação de trabalhos com a extensão do ora apresentado. A oportunidade de publicá-lo apareceu graças ao interesse da Marinha, fiel guardiã da Ilha da Trindade. Sabendo que ainda restam pontos a esclarecer, dúvidas a tirar e, certamente, alguns erros à corrigir, espero que o estimado leitor consiga aproveitá-la de modo produtivo. As oportunidades são efêmeras. Se não as apro- veitamos de imediato, geralmente desaparecem. ABSTRACT Trindade (South Trinity) is a Brazilian oceanic island erected from the atlantic abyss by alcaline and mixed volcanic activity approximately 3 million years ago. The oceanic depths in its vicinity reach 5800 m, and the emergent landmass rises 620 m above sea level, covering 9.28 km2. The brazilian military Marines keep an oceanographic and meteorological station on Trindade. Martin Vaz is the largest of a small group of islands which belong to an archipelago of the same name, located about 48 km east of Trindade, thus being the easternmost brazilian territory. Martin Vaz is uninhabited and poorly vegetated, but many marine bird species use it for nesting grounds. The research of Trindade Island is historically intertwined with the birth of the National Museum of Rio de Janeiro, in the second half of the 18th century, when the Vice King of Portugal, Dom Luiz de Vasconcellos Souza, ordered the occupation of the Island in 1783, specifically requiring that all specimens interesting to natural history be brought back.