CGU Ministério da Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da União OGU – Ouvidoria-Geral da União Coordenação-Geral de Recursos de Acesso à Informação

PARECER

Referência: 00077.001417/2016-71 Assunto: Recurso contra decisão denegatória ao pedido de acesso à informação. Restrição de Não há restrição de acesso. acesso: Resumo Objeto do recurso: Cidadão solicita cópia das declarações de bens apresentadas por Ministros de Estado.

Opinião técnica: Opina-se pelo conhecimento e desprovimento do recurso, visto se tratar de informação pessoal sensível protegida pela legislação de acesso à informação.

Órgão ou entidade Secretaria - Geral da Presidência da República/PR. recorrido (a): Recorrente: L.P.V.S. Palavras- Demonstrativos. Prestação de Contas. Tributos. Dispositivo Chave expresso da LAI. Interesse Social. TCU. Contra dispositivo expresso da LAI. Informação Pessoal. Acata-se a argumentação do recorrido. Sigilo Fiscal. Conhecido e desprovido. Recomendações.

Senhor Ouvidor-Geral da União

1. O presente parecer trata de solicitação de acesso à informação, com base na Lei nº 12.527/2011, conforme resumo descritivo abaixo apresentado:

1 Relatório 00077.001417/2016-71 Ação Data Teor

“Considerando o que preconiza a Lei de Acesso à Informação e à luz do que também preconiza as Leis nº 8.112/1990 e nº 8.730/1993, que determinam que ocupantes de cargos públicos da administração direta ou indireta precisam apresentar declarações de bens atualizadas no ato de suas posses, gostaria de solicitar cópias digitais das declarações de bens apresentadas pelos ministros:

Wellington (PPI) Mendonça Filho (Educação) (Justiça) (Transparência) (Secretaria de Governo) (Casa Civil) (Fazenda) (Agricultura) José Serra (Relações ExterioreS) Ricardo Barros (Saúde) Marcos Pereira (Indústria e Comércio) (Defesa) Maurício Quintella (Transportes) 14/12/2016 Pedido Roberto Freire (Roberto Freire) (Trabalho) (Desenvolvimento Social) (Minas e Energia) Dyogo Oliveira (Planejamento) (Tecnologia) (Meio Ambiente) (Esportes) Marx Beltrão (Turismo) (Integração Nacional) Bruno Araújo (Cidades) Sérgio Etchegoyen (Gabinete de Seg. Institucional) Grace Maria Mendonça (AGU)

Entendo que ainda que a Lei de Acesso à Informação protege dados pessoais, mas considerando o fato de que todas as pessoas acima listadas já se encontram na lista PEP (Pessoas Politicamente Expostas) e a grande maioria delas já vem ocupando cargos públicos sujeitos à divulgação de tais informações, deduzo que este pedido não encontrar obstáculos para prosperar.”

“... informamos que o presente pedido não pode ser atendido tendo em vista tratar-se de solicitação de documentos que contém informação pessoal de natureza sensível. Sobre este assunto, o inciso IV da Lei de Acesso a Informação (Lei 12.527/11) diz que informação pessoal é aquela relacionada à pessoa identificada ou identificável. Entende-se a pessoa natural, nesse sentido, como a pessoa física, ou seja, o indivíduo ao qual se atribuem direitos e obrigações. Os dispositivos que tratam da proteção às informações pessoais encontram-se no artigo 31 da Lei de Acesso a Informação, que é regulamentado no Capítulo VII do Decreto 7.724/12. Pela análise das normas relativas a este tema, o acesso a informações pessoais, impôs Resposta dever de salvaguarda à Administração quando a informação pessoal 30/01/2017 se referir a intimidade, à vida privada, à honra e à imagem. Pretende- Inicial se, portanto, proteger os direitos à privacidade e à vida privada, conforme prescrição constitucional. Esclarecimentos adicionais sobre a Lei de Acesso a Informação poderão ser obtidos na Coordenação do SIC-PP por meio do telefone: (61) 3411-2874. Informamos que, de acordo com o art. 15 da Lei de Acesso à Informação (Lei nº 12.527/12) e com o art. 21 do Decreto 7.724/2012, há possibilidade de recurso no prazo de 10 (dez) dias, que será dirigido aoSAS, gabinete Quadra 01, da Bloco Secretaria A - Edifício Executiva Darcy Ribeiro da Secretaria de Governo CGUda PresidênciaBrasília/DF da -República. CEP 70070-905 Com informações da Secretaria de Governo da Presidência2 da República - Atenciosamente, Serviço de Informações ao Cidadão Palácio do Planalto - www.planalto.gov.br/acessoainformacao.” É o relatório.

Análise

2. Registre-se que o Recurso foi apresentado perante a CGU de forma tempestiva, em acordo com o disposto no caput e §1º do art. 16 da Lei nº 12.527/2011, e ao prazo de 10 (dez) dias previsto no art. 23 do Decreto nº 7.724/2012, in verbis:

Lei nº 12.527/2011

Art. 16. Negado o acesso a informação pelos órgãos ou entidades do Poder Executivo Federal, o requerente poderá recorrer à Controladoria-Geral da União, que deliberará no prazo de 5 (cinco) dias se: (...)

§1o O recurso previsto neste artigo somente poderá ser dirigido à Controladoria Geral da União depois de submetido à apreciação de pelo menos uma autoridade hierarquicamente superior àquela que exarou a decisão impugnada, que deliberará no prazo de 5 (cinco) dias.

Decreto nº 7.724/2012

Art. 23. Desprovido o recurso de que trata o parágrafo único do art. 21 ou infrutífera a reclamação de que trata o art. 22, poderá o requerente apresentar recurso no prazo de dez dias, contado da ciência da decisão, à Controladoria-Geral da União, que deverá se manifestar no prazo de cinco dias, contado do recebimento do recurso.

3. Quanto ao cumprimento do art. 21 do Decreto nº 7.724/2012, observa-se que consta das respostas publicadas no Sistema Eletrônico do Serviço de Informação ao Cidadão (e-SIC) que a autoridade que proferiu a decisão, em primeira instância, era hierarquicamente superior à que adotou a decisão inicial, porém, não consta, que a autoridade que proferiu a decisão, em segunda instância, era o dirigente máximo do órgão/entidade.

SAS, Quadra 01, Bloco A - Edifício Darcy Ribeiro CGU Brasília/DF - CEP 70070-905 3 4. O cidadão, no presente pedido, solicita cópias digitais das declarações de bens apresentadas por Ministros, de acordo com o que preceitua o artigo 1º da Lei nº 8.730/1993. Algumas considerações merecem destaques sobre o pedido de acesso à informação em comento. Num primeiro momento, percebe-se estar diante de situação que pode suscitar entendimentos díspares com desfechos também diferentes para o caso. De uma forma genérica, de um lado, por exemplo, a divulgação da informação pode ser evocada tendo por base o princípio da publicidade, informador da Administração Pública como um todo. De outro, a negativa ao acesso à informação, pode ser alegada tendo como fundamento o direito à privacidade (art. 5º, inciso X, CF), que protege a esfera íntima do cidadão. É certo, porém, que, por se tratar de autoridades públicas, há controvérsias acerca do assunto, assim como percebe-se que os órgãos aos quais incubem a fiscalização e/ou arrecadação dos tributos a que se referem a informação solicitada também discutem o tema, no sentido de avançar em seu entendimento.

5. Após analisar o caso concreto apresentado, percebe-se que, embora as declarações de bens se refiram a autoridades públicas, ainda assim, deve-se prevalecer o entendimento de que se tratam de informações pessoais de natureza sensível. O artigo 31 da Lei de Acesso à Informação, ao regulamentar o acesso a tais informações, impôs deveres de salvaguarda à Administração apenas quando informações pessoais se referirem à intimidade, vida privada, honra e imagem. Pretende-se, portanto, proteger os direitos à privacidade e à vida privada, conforme prescrição constitucional. (Apostila “Aplicação da Lei de Acesso à Informação em recursos à CGU” - http://www.acessoainformacao.gov.br/central-de- conteudo/publicacoes/arquivos).

6. Na aludida apostila, também há a compreensão de que, segundo regras internacionais, as Regras de Herédia, são dados pessoais aqueles concernentes a uma pessoa física ou moral, identificada ou identificável, capaz de revelar informação, por exemplo, sobre seu patrimônio. Sendo assim, correlacionando o

SAS, Quadra 01, Bloco A - Edifício Darcy Ribeiro CGU Brasília/DF - CEP 70070-905 4 esclarecimento ora exposto ao presente pedido de acesso à informação, compreende-se que, se as informações solicitadas forem disponibilizadas, muito além da revelação de nomes e valores dos bens ali constantes, outras informações pessoais poderiam ser facilmente deduzidas, não sendo possível avaliar o desdobramento de tais deduções, tampouco prever quão profunda a intimidade dessas pessoas poderia ser violada. Em outro cenário, pode-se citar, também, o risco à segurança delas que decorria de tal divulgação, já que o conhecimento de seus valores patrimoniais estaria ao alcance de todos.

7. Por oportuno, é de suma importância mencionar que as informações pleiteadas possuem natureza fiscal. O Decreto 7.724/2012, que regulamenta a Lei de Acesso à Informação, enuncia, no art. 6º: Art. 6º O acesso à informação disciplinado neste Decreto não se aplica:

I- às hipóteses de sigilo previstas na legislação, como fiscal, bancário, de operações e serviços no mercado de capitais, comercial, profissional, industrial e segredo de justiça; e II- às informações referentes a projetos de pesquisa e desenvolvimento científicos ou tecnológicos cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado, na forma do §1 o do art. 7 o da Lei n o 12.527, de 2011 .

8. Relevante citar entendimento do professor Aldemário Araújo Castro sobre o assunto: “(...) todas as vezes que a Administração tributária, no estrito e regular exercício de suas competências ou atribuições, identificar, localizar ou obter dados ou informações enquadráveis como elementos da intimidade ou da vida privada de pessoas físicas ou empresas deverá mantê-las (também) sob sigilo (fiscal). Afinal, um dos sentidos do sigilo fiscal consiste em resguardar, no seio da Administração Pública, com vistas a prestigiar direito fundamental inscrito na Constituição, os elementos de intimidade e de vida privada de terceiros.”

SAS, Quadra 01, Bloco A - Edifício Darcy Ribeiro CGU Brasília/DF - CEP 70070-905 5 9. Ainda, a possibilidade de quebra de sigilo fiscal é assunto pacífico na doutrina e na jurisprudência. Tendo em vista a natureza de garantia fundamental dada ao sigilo fiscal, não se pode permitir a quebra sem que haja uma autorização por meio de uma ordem judicial. Enfatiza-se, ainda, que o art. 10º, da Lei Complementar n. 105/2011 caracteriza a violação do sigilo em comento como crime, nos seguintes termos: “A quebra de sigilo, fora das hipóteses autorizadas nesta Lei Complementar, constitui crime e sujeita os responsáveis à pena de reclusão, de um a quatro anos, e multa, aplicando-se, no que couber, o Código Penal, sem prejuízo de outras sanções cabíveis.” 10. Logo, pelo exposto, percebe-se que o caso em análise também está protegido por um dos casos de sigilo previstos na legislação. O sigilo fiscal encontra guarida no manto da inviolabilidade da intimidade, o que converge para o mesmo raciocínio até aqui construído: o de que a informação não deve ser concedida por ferir o princípio constitucional da intimidade. 11. Importante ressaltar que a Lei 8.730/1993 atribui ao Tribunal de Contas da União o controle da legalidade e legitimidade dos bens declarados, agindo de forma a preservar prática de irregularidades, atribuição essa que faz o referido Tribunal a, em prol da sociedade, inibir práticas ilícitas que decorram da prática da gestão pública pelos ocupantes dos aludidos cargos.

Lei 8730/1993 Art. 1º (...) § 2º O declarante remeterá, incontinenti, uma cópia da declaração ao Tribunal de Contas da União, para o fim de este: I - manter registro próprio dos bens e rendas do patrimônio privado de autoridades públicas; II - exercer o controle da legalidade e legitimidade desses bens e rendas, com apoio nos sistemas de controle interno de cada Poder; III - adotar as providências inerentes às suas atribuições e, se for o caso, representar ao Poder competente sobre irregularidades ou abusos apurados; IV - publicar, periodicamente, no Diário Oficial da União, por extrato, dados e elementos constantes da declaração; (...)

SAS, Quadra 01, Bloco A - Edifício Darcy Ribeiro CGU Brasília/DF - CEP 70070-905 6 12. Sendo assim, opina-se pelo conhecimento e desprovimento do presente recurso, por restar demonstrado que a transparência das informações solicitadas adentrariam na esfera íntima dos declarantes, ferindo o princípio constitucional da intimidade.

13. Diante do descumprimento de procedimentos básicos da Lei de Acesso à Informação, recomenda-se orientar a autoridade de monitoramento que reavalie os fluxos internos para assegurar o cumprimento das normas relativas ao acesso à informação, de forma eficiente e adequada aos objetivos da Lei de Acesso à Informação, em especial recomenda-se que: a) A autoridade responsável por decidir o recurso de segunda instância seja a autoridade máxima do órgão ou da entidade.

NARA MARTINS QUIRINO Analista Técnico - Administrativo

De acordo. À consideração superior, pelo conhecimento e desprovimento do recurso.

ÉRICA BEZERRA QUEIROZ RIBEIRO Coordenadora-Geral de Recursos de Acesso à Informação

D E C I S Ã O

No exercício das atribuições a mim conferidas pelo inciso V do artigo 13 do Decreto 8.910/2016, de 22 de novembro de 2016, adoto, como fundamento deste ato, o parecer acima, para decidir pelo conhecimento e desprovimento do recurso interposto, nos termos do art. 23 do Decreto 7.724/2012, no âmbito do pedido de informação nº 00077.001417/2016- 71, direcionado a Secretaria - Geral da Presidência da República/PR.

GILBERTO WALLER JÚNIOR

SAS, Quadra 01, Bloco A - Edifício Darcy Ribeiro CGU Brasília/DF - CEP 70070-905 7 Ouvidor-Geral da União

SAS, Quadra 01, Bloco A - Edifício Darcy Ribeiro CGU Brasília/DF - CEP 70070-905 8 PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA Controladoria-Geral da União Folha de Assinaturas

Documento: PARECER nº 4086 de 30/03/2017

Referência: PROCESSO nº 00077.001417/2016-71

Assunto: Recurso de Acesso à Informação

Signatário(s): GILBERTO WALLER JUNIOR Ouvidor

Assinado Digitalmente em 30/03/2017

Relação de Despachos: De acordo. À consideração superior.

ERICA BEZERRA QUEIROZ RIBEIRO ANALISTA DE FINANCAS E CONTROLE

Assinado Digitalmente em 30/03/2017

Relação de Despachos: aprovo.

GILBERTO WALLER JUNIOR Ouvidor

Assinado Digitalmente em 30/03/2017

Este despacho foi expedido eletronicamente pelo SGI. O código para verificação da autenticidade deste documento é: 95ca8008_8d477a316b24bcc