RELATÓRIO FINAL DO PROGRAMA DE PESQUISA E MONITORAMENTO DE FAUNA CINEGÉTICA DO PERÍODO 2002-2003

VOLUME I – CAÇA DE BANHADO

Contrato de Serviço FZBRS/FAURGS

EXECUTOR DO CONTRATO DE SERVIÇO FAURGS-UFRGS:

Prof. João Oldair Menegheti, Dep. de Zoologia, IBIOC/UFRGS.

EXECUTORES:

Prof. João Oldair Menegheti, Dep. de Zoologia, IBIOC/UFRGS.

Biól. João Carlos Pradella Dotto, FAURGS

COLABORADORES:

Biól. César J. Drehmer

Geóg. Roberta Roxilene dos Santos

Porto Alegre, 15 de maio de 2003

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ÍNDICE

I. INTRODUÇÃO ...... 1 I.1 INTRODUÇÃO GERAL...... 1 I.2 INTRODUÇÃO - CAÇA DE BANHADO...... 3

II. MÉTODOS...... 5

III. RESULTADOS E DISCUSSÃO...... 9

III.1 CENSOS AÉREOS DE MARRECAS DE CAÇA EM TRÊS REGIÕES DO RS...... 9 III.1.1 Contagens totais de marrecas de caça em três regiões do RS. Censo aéreo de inicio de primavera – setembro/outubro 2002...... 9 III.1.2 Análise das contagens aéreas totais, por espécie, de marrecas de caça, em três regiões do RS. Censo aéreo de início de primavera - setembro/outubro 2002...... 9 III.1.2.1.Contagens totais de marreca-piadeira em três regiões do RS. Censo de início de primavera - setembro/outubro 2002 ...... 9 III.1.2.2.Contagens totais de marreca-caneleira em três regiões do RS. Censo de início de primavera - setembro/outubro 2002 ...... 10 III.1.2.3.Contagens totais de marrecão em três regiões do RS. Censo de início de primavera - setembro/outubro 2002 ...... 10 III.1.3 Análise das contagens aéreas de marrecas de caça por região. Censo aéreo de início de primavera - setembro/outubro 2002...... 11 III.1.3.1 Análise das contagens de marrecas de caça na Planície Costeira do RS. Censo aéreo, expedição de final de setembro de 2002...... 11 III.1.3.2 Análise das contagens de marrecas de caça na Região Sudoeste do RS. Censo aéreo, expedição de início de outubro 2002...... 12 III.1.3.3 Análise das contagens de marrecas de caça na Região Oeste do RS. Censo aéreo, expedição de início de outubro 2002...... 13 III.1.4 Comparação das variações de abundância relativa das marrecas de caça constatadas em censos aéreos início de primavera no RS, entre 1995 e 2002...... 14 III.1.4.1 Contagens totais das marrecas piadeira, caneleira e marrecão em três regiões do RS, entre 1995 e 2002. Censos aéreos...... 14 III.1.4.2 Comparação das densidades anuais das marrecas piadeira, caneleira e marrecão, em transectos aéreos efetuados em setembro/outubro, em três regiões do RS, entre 1995 e 2002...... 15 III.1.5 Justificativa para a análise em conjunto dos totais de marrecões censados na Planície Costeira e regiões Oeste e Sudoeste, em duas expedições não contínuas...... 18 III.2.CENSOS AÉREOS DE MARRECAS DE CAÇA NA PLANÍCIE COSTEIRA DO RS...... 20 III.2.1. Comparação entre os totais de marrecas de caça obtidos em contagens aéreas na Planície Costeira do RS. Censo aéreo – expedição de agosto de 2002...... 20 III.2.2 Análise das contagens aéreas totais das marrecas de caça, por espécie, obtidas na Planície 2

Costeira do RS. Censo aéreo - expedição de agosto de 2002...... 20 III.2.3 Análise das contagens aéreas totais das marrecas de caça, obtidas na Planície Costeira do RS. Censo aéreo - expedição de final de setembro de 2002...... 22 III.2.4 Análise das variações de contagens aéreas totais de marrecas de caça obtidas na Planície Costeira do RS em agosto e setembro de 2002...... 23 III.2.5- Análise das contagens aéreas totais das marrecas de caça registradas no final de agosto e/ou agosto/setembro de 1999, 2000, 2001 e 2002, na Planície Costeira do RS...... 24 III.2.6 Comparação entre as densidades de marrecas de caça obtidas em censos na Planície Costeira, de 1999 a 2001...... 26 III.2.7 As variações de densidade das marrecas de caça na Planície Costeira entre 1999 e 2002.. 29 IV. RECOMENDAÇÕES À PORTARIA DE CAÇA DE 31 2003...... IV.1 ZONEAMENTO DE CAÇA, TEMPORADA DE CAÇA E COTA MÁXIMA DE ABATE DA MARRECA- PIADEIRA...... 31 IV.2 ZONEAMENTO DE CAÇA, TEMPORADA DE CAÇA E COTA MÁXIMA DE ABATE DA MARRECA- CANELEIRA...... 32 IV.3 ZONEAMENTO DE CAÇA, TEMPORADA DE CAÇA E COTA MÁXIMA DE ABATE DA MARRECÃO 34 IV.4 SEGUNDA PROPOSTA DE ZONEAMENTO DE CAÇA, TEMPORADA DE CAÇA E COTA MÁXIMA DE ABATE DE POMBA-DE-BANDO E 36 POMBÃO...... V. 39 AGRADECIMENTOS...... VI. 40 BIBLIOGRAFIA......

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I. INTRODUÇÃO

I.1. INTRODUÇÃO GERAL

Em cumprimento ao cronograma da cláusula sexta do termo de contrato de prestação de serviços Ajur. n° 06/2003 celebrado entre Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul – FZBRS e Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - FAURGS, publicado no Diário Oficial do Estado do Rio Grande do Sul em 17 de março de 2003, o presente relatório, dividido em dois volumes, apresenta dados de pesquisa e monitoramento de espécies de valor cinegético no Estado do Rio Grande do Sul, correspondentes ao ciclo de estudos 2002-2003. O programa de pesquisa e monitoramento com as espécies animais liberadas à caça no RS, tem como compromisso subsidiar à Fundação Zoobotânica do Estado e ao IBAMA na gestão destas espécies. O programa de pesquisa é constituído por quatro projetos: a) o de determinação das razões de sexos e etárias das aves de caça: b) o de determinação da abundância relativa das marrecas de caça presentes no RS; c) o de determinação da abundância relativa das pombas de caça no RS; d) o de determinação da abundância relativa da perdiz no RS. Compreende-se ciclo de estudo como o tempo necessário para a obtenção de dados nos quatro projetos, sua organização, processamento, interpretação e a elaboração e entrega ás autoridades, de um informe técnico anual, período que usualmente tem um ano de duração. Desde que coube ao Estado a responsabilidade de execução dos estudos verificando a viabilidade da atividade de caça amadorista, inicialmente atribuída à FEPAM e ultimamente à FZBRS, contrata anualmente a Fundação de Apoio da UFRGS para efetuá-los. Como o recurso financeiro a ser repassado à FAURGS depende do recolhimento de taxa estadual cobrada dos caçadores quando de seus licenciamentos, o referido contrato tem sido fechado após o encerramento da temporada, em torno de setembro de cada ano, ainda que a atividade se inicie antes. Para cobrir despesas de campo, algumas vezes a própria FAURGS tem antecipado recursos próprios para não ser perdido o “timing” biológico. O ciclo de estudos 2002-03 está sendo anômalo. Como referido anteriormente, o esperado é que a assinatura do contrato de serviço entre Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (FZBRS) e Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (FAURGS) se desse em setembro de 2002. Não o foi, pois deu-se somente em março de 2003. Os pesquisadores para não perderem o momento adequado de amostragem biológica, dispuseram-se a sair a campo, com um mínimo possível de fundos financeiros adiantados pela própria FAURGS, com complementação pela Federação Gaúcha de Caça e Tiro, através de

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empréstimo feito à FZBRS. Desta forma, efetuou-se um censo aéreo das principais áreas de marrecas no RS, em setembro-outubro de 2002 e outro, em agosto, somente na Planície Costeira do Estado. Em fevereiro de 2003, levou-se a cabo duas expedições simultâneas de monitoramento de pombas. Finalmente, em março de 2003, efetuou-se o monitoramento de perdiz, com a metade do esforço usual de amostragem. Esta última medida foi determinada exclusivamente pela necessidade de elaboração imediata dos dados. Apesar de coletados, os dados brutos permaneceram intocados, gravados em fitas ou em papel, pois não havia certeza se o contrato seria renovado. Para algumas destas atividades contratam-se usualmente profissionais de apoio, por tempo limitado, o suficiente para execução da tarefa empreitada. Como não havia fundo disponível, não foi possível efetuar as contratações de serviço. Finalmente o contrato foi assinado com grande atraso, o que, por sua vez, repercutiu nos prazos de entrega dos informes técnicos ao Estado, que necessitaram ser postergados. O ciclo de estudo iniciou-se com a abertura anual da temporada de caça, em torno do final de maio-início de junho. Em 2002 a abertura da temporada deu-se pela portaria do IBAMA núm. 73/02 publicada no D.O. de 17.05.2002. No inicio do ciclo é quando o grupo de pesquisa participa das barreiras de fiscalização de caça efetuadas durante a temporada de caça, com montagem de laboratório biológico, e exame de exemplares capturados por caçadores. A atividade oportuniza a obtenção de estimadores populacionais de importância capital para o manejo sustentável dos animais de caça do RS: as capacidades de renovação de suas populações através da determinação das razões etárias, bem como suas razões de sexos utilizadas como indicadoras de equilíbrio demográfico. Superpondo-se parcialmente com o projeto anterior, inicia-se se possível em julho, mais tardar em agosto, a avaliação das populações de marrecas presente no Estado, através de censos aéreos. As contagens são repetidas em um mesmo ano, na dependência do recurso financeiro disponível. Por isto, efetuam-se duas ou três expedições de campo. A última é efetuada em outubro. A seleção dos meses para realização destes censos, baseia-se no comportamento migratório das marrecas de caça do RS. As mesmas migram anualmente da Argentina e Uruguai ao RS e retornam. Dada a rapidez com que as informações são obtidas em censo aéreo, precisam ser armazenadas em micro-cassete. A partir daí, inicia-se a seguinte seqüência: 1. desgravação das fitas e passagem dos dados para papel; 2. contagem de bandos grandes de marrecas, plasmados em diapositivos, que são projetados em quadro branco dotado de sistema de grade; 3. geração de banco de dados em computador; 4. processamento estatístico- matemático dos dados; 5. redação de documento com as interpretações.

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Em dezembro, inicia-se um novo projeto: o de determinação do tamanho das populações de pombas de caça no RS. Dura até parte do janeiro seguinte. A seleção do período de amostragem é determinada pelo comportamento reprodutivo das duas espécies de pombas. Ainda que indivíduos de ambas espécies nidifiquem durante todo ano, há picos em que maiores contingentes incorporam-se ao esforço reprodutivo. Durante estes períodos, as pombas vocalizam mais para o acasalamento, para o reforço de ligação dos casais e para comunicação com os filhotes. Dezembro e janeiro são meses de muita vocalização e, portanto, para melhor percepção de pombas. Duas equipes atuam simultaneamente em campo, através da quantificação populacional por duas técnicas – registro das vocalizações das pombas de caça e de suas visualizações. Ambas totalizam 20 dias de campo. Finalmente, em março saem as expedições para avaliação dos estoques de perdiz. A seleção de março é devido ao fato de que deve-se aguardar até que a nova geração incorpore- se à população adulta. Isto significa independência do jovem em relação ao cuidado parental e aquisição de capacidade plena de vôo, mecanismo importante para minimizar risco de mortalidade. São outros 20 dias de campo, descontinuados na metade por alguns dias para descanso dos cães de aponte utilizados no levantamento. Os dois últimos projetos requerem também intensa atividade de gabinete após retorno do campo que compreende organização, processamento, interpretação dos dados e redação dos informes correspondentes. A inclusão na portaria de caça de caturrita, garibaldi e lebre são iniciativas do IBAMA, visando o controle populacional das três espécies, consideradas prejudiciais à agricultura.

I. 2. INTRODUÇÃO - CAÇA DE BANHADO

Apesar das dificuldades já mencionadas sofridas durante o ciclo de estudo 2002-2003, foi possível realizar três expedições de censo aéreo de marrecas de caça: a primeira em agosto, a segunda em final de setembro e a terceira no início de outubro de 2002. A primeira e a segunda cobriram a Planície Costeira (PC) do RS, desde o município de até o de Santa Vitória do Palmar. A terceira expedição às regiões Oeste e Sudoeste. Portanto, somente na Planície Costeira foi possível realizar uma expedição no inverno. Mais uma vez o censo na PC em agosto de 2002, ofereceu informações importantes cujos conteúdos são aproveitados e discutidos no presente documento. Nas previsões feitas em relação às atividades e ao orçamento para 2002-03, elaboradas previamente, constava a realização de três expedição para cada região, no início e meio do inverno e início de primavera, que não puderam ser concretizados por falta de recurso financeiro. O plano de expansão dos censos aéreos em tempo e espaço baseou-se fundamentalmente no que foi constatado a partir de 1999 sobre movimentações de bandos de

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marrecas na Planície Costeira. Marrecas evadiam-se da Planície Costeira sem que se soubesse o destino. Depressão Central e Regiões Oeste e Sudoeste? Ou Uruguai? A expectativa é de que se aberta a temporada de caça de 2003, o repasse de fundos seja suficiente para a concretização do plano já mencionado para o ciclo de estudos 2003-04. Em 2002, os níveis hidrométricos dos corpos de água sobrevoados, pertencentes às regiões PC, Oeste e Sudoeste do RS, estavam acima do normal. As lagunas dos Patos e Mirim, tão importantes para as marrecas, bem como os rios Uruguai, Butuí, Ibicuí e tributários, mais os rios Santa Maria, Negro e tributários, apresentavam várzeas cheias de água e campos e lavouras justapostos, inundados. É importante destacar o fenômeno, porque somente tendo plena ciência do mesmo, poder-se-á entender a distribuição dos bandos de marrecas. Esta avaliação dos ambientes para as regiões Oeste e Sudoeste, foi feita de forma expedita por uma equipe, que deslocou-se com um veículo tracionado, composta por um biólogo e um motorista em agosto, como forma de buscar-se uma informação no terreno que não se obteria de outra forma, uma vez que não foi possível sobrevoar as referidas regiões durante o inverno. Embora os dados sobre as duas espécies de pombas conste no informe técnico, volume II - caça de campo, entregue na FZBRS em 05/05/2003, onde foi sugerida uma temporada coincidente com o período e zoneamento de caça a perdiz, também no volume I, está sendo sugerida uma temporada ajustada em período e zoneamento com a caça de banhado. Quanto aos dados obtidos em barreiras de fiscalização, os mesmos restringiram-se ao exame de exemplares da marreca-piadeira, cujo aproveitamento, entretanto, não foi possível devido à insuficiência da amostragem, apesar do esforço empreendido nas barreiras. A marreca-caneleira e o marrecão estiveram sob moratória de caça na temporada de 2002.

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II. MÉTODOS

As limitações imposta por falta de recursos e problemas administrativos, já exposto na introdução do presente relatório, impossibilitou a realização de três expedições aéreas de contagens de aves aquáticas na região da Planície Costeira, e duas de contagens nas regiões Oeste e Sudoeste, como entendem os autores ser o esforço ideal para avaliar-se as densidades de aves de valor cinegético no estado do Rio Grande do Sul. Assim como ocorreu em 2001, a carência de recursos restringiu a atividade de campo em duas expedições aéreas na Planície Costeira e uma nas outras duas regiões. Efetuou-se a primeiro expedição de censo aéreo, na região da Planície Costeira, entre 16 e 18 de agosto de 2002, com os seguintes municípios amostrados: Arambaré, , , Camaquã, Capivari do Sul, , Jaguarão, , , , Rio Grande, Santa Vitória do Palmar, São José do Norte, São Lourenço do Sul, Tapes, Tavares, Tramandaí, Turuçú e Viamão. O total de horas de vôo necessárias para completar o roteiro foi de 13 horas. As condições meteorológicas imperantes em 16 e 17 de agosto, eram de densos nevoeiros nas proximidades das cidades de Pelotas e Rio Grande. O nevoeiro do dia 16 impediu o sobrevôo ao norte do primeiro município, mais precisamente sobre a Lagoa Pequena, local tradicional de censo de marrecas de caça. Em 17 de agosto, pelo mesmo motivo, não foi possível sobrevoar os ambientes de áreas úmidas, próximos à Lagoa Formosa e à foz do Rio na margem noroeste do canal São Gonçalo, municípios de Arroio Grande e Capão do Leão. A segunda expedição para a Planície Costeira desenvolveu-se entre 28 e 30 de setembro. Além dos municípios amostrados na primeira expedição, listados no parágrafo anterior, amostraram-se também os municípios de Capão do Leão e de Cidreira. O vôo totalizou 14 horas e 35 minutos. A terceira expedição de censo aéreo foi realizada entre os dias 17, 18 e 19 de outubro com o objetivo de censar as regiões Oeste e Sudoeste do Estado. As más condições meteorológicas reinantes sobre o território gaúcho nas duas primeira semanas do mês de outubro impossibilitaram que o intervalo de tempo transcorrido entre a segunda e terceira expedições fosse menor. Na Região Oeste do RS foram censados os municípios de , , Maçambará, São Borja e . Na região Sudoeste, os municípios de Aceguá, Bagé, , , Rosário do Sul e São Gabriel. O tempo de vôo na terceira expedição foi de 22 hora e 41 minutos. A aeronave utilizados nas três expedições foi um helicóptero de dois lugares, modelo ROBINSON R-22, a mesma adotada a partir de 1998.

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As técnicas adotadas de amostragem foram duas: a primeira, denominada de contagem em pontos (PO) e a segunda, contagem em transectos (DT). Em ambas, as aves foram computadas, individualmente, ou aos pares, quando encontradas em pequenos bandos e, por soma de estimativas de subgrupos, quando em bandos maiores. Quando do evento de bandos com tamanhos maiores, eram tiradas fotos, em diapositivos, posteriormente recontadas para verificação da contagem em vôo. As espécies de marrecas foram identificadas do ar através dos padrões de coloração das partes de seus corpos e das características de vôo, quando espantadas. Nos transectos adotou-se uma faixa de 150 metros de largura. As aves observadas fora da faixa demarcada, também foram contadas sem o rigorismo praticada dentro da faixa, sendo anotadas como “fora-de-transecto” (FT) e tratadas com abordagem qualitativa, com o objetivo de complementar informações. Os procedimentos e recursos usados para a identificação e contagens das aves, as descrições técnicas do vôo e os critérios para a seleção das áreas, foram os mesmos adotados nos censos de marrecas executados em anos anteriores e encontram-se descritos em Menegheti et al. (2001). Os critérios utilizados na elaboração da regionalização e sub- regionalização do Rio Grande do Sul para fins de manejo da fauna cinegética, adotados no presente relatório, encontram-se descritos em Menegheti et al. (1998).

Número de pontos censados em 2002 no RS

Nas expedições a região do litoral em 2002, o número de pontos e respectivas áreas foram os que se seguem. A) No censo de agosto houve contagem de marrecas de caça em 47 pontos. Repetiram-se os pontos censados em 2001 constituindo-se, portanto, os dois últimos anos, em aqueles com maior número de pontos da série de tempo desde 1999 - a série tem variado entre 44 a 47, a área varrida manteve-se próxima a média até o ano de 2001 que foi de 74,1 km2 (C.V. de 1,68%). A área total dos pontos censados em agosto de 2002, durante o primeiro censo foi um pouco maior do que a média, igual a 74,89 km2. B) No censo de setembro foram contadas marrecas de caça em 46 pontos na PC, apenas um não foi repetido, porém foi mantido a baixa variabilidade, tanto em número de pontos quanto em área censada. A área total dos 46 pontos foi igual a 74 km2 . Na região Sudoeste o número de pontos foi igual a 78, um pouco inferior ao total censado em 2001, que foi de 82. Na região Oeste o total de pontos censados foi igual a 83. Também nesta região o número de pontos foi um pouco menos do que o total censado no ano anterior que foi de 87. Somando o número de pontos das três regiões, segunda e terceira expedição, tem-se um total de 207 pontos, um pouco acima da média que é de 184,75 da série de oito anos

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(1995 a 2002). Comparativamente o menor número de pontos da série de tempo, foi em 1996, com 140 pontos; e o maior, foi em 2000, com 216 pontos. O C.V. da série de tempo foi igual a 15,90%. Tanto quanto possível, procura-se manter constante o total de pontos de contagem entre censos de diferentes anos. No entanto, há uma variação interanual inevitável, provocada pela dinâmica natural dos ambientes de áreas úmidas, acentuada freqüentemente por modificações antropogênicas (pulsação da fronteira agrícola e ampliação da fronteira urbana). Exemplos são surgimento de açudes novos, outros, são eliminados. Banhados são drenados para aproveitamento econômico convencional da terra. A outros é permitido o desenvolvimento da sucessão ecológica e restaurados, mediante a desistência definitiva ou circunstancial, de aproveitamento. Planícies de inundação dos rios e lagos pulsam. Durante a atividade de campo, urgem ajustes a essas transformações, com adequação do plano de trabalho prévio. Do total de 254 pontos, considerando as três expedições, somente 36,61% tem suas superfícies determinadas. Coincidem com os pontos da Planície Costeira. Devido a falta de recurso financeiro nos últimos anos de licenciamentos de caça, houve uma interrupção no processo de determinação de superfície dos demais pontos, através de SIG.

Número de transectos aéreos e respectivas áreas censados em 2002 no RS

Na Planície Costeira o número de transectos foi de 27 na primeira expedição, totalizando 167,46 km2 de superfície, e de 29 na segunda com 175.03 km2 censados. A menor área na primeira expedição foi devido a impossibilidade de realizar alguns transectos como decorrência das más condições meteorológicas já referidas anteriormente. Uma peculiaridade dos dois sobrevôos na Planície Costeira foi que os mesmos tiveram algumas das suas rotas em transectos alteradas, quando comparadas a anos anteriores. O excepcional nível da água que atingiu as lagunas dos Patos e Mirim inundou grandes áreas de campo, alterando a profundidade de seus banhados marginais. Com isso, foi necessário modificar consideravelmente a rota dos transectos em torno destes corpos d’água, para seguir- se sobrevoando sobre águas rasas, interface água-solo, ambientes preferenciais de pelo menos duas espécies de marrecas de caça. A lagoa Mirim no inverno de 2002 atingiu nível muito superior aos anos anteriores. Nas regiões Sudoeste e Oeste o total de transectos foi igual a 28, com superfície de 100,37 km2, 10,5 % maior do que em 2001. Alguns transectos tiveram distâncias um pouco ampliadas como conseqüência da inundação dos rios Uruguai, Butui, Touro Passo e outros que encontravam-se fora do leito normal. Outro motivo é que algumas várzeas só concentram aves em época de inundação, quando os ambientes tornam-se mais atrativos. Comparando os

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dois últimos anos, as distâncias percorridas em transectos aéreos nas duas regiões: totalizou- se 605,4 km em 2001, e 669,15 km em 2002. Consideradas as três expedições, a distância total percorrida em transectos foi igual a 2.952,39 km, eqüivalente a uma área “varrida” de 442,85 km2

Análise das flutuações populacionais das marrecas de caça no RS

Avaliou-se os padrões de flutuações populacionais das marrecas de caça, a partir de utilização de instrumentos estatísticos aplicados em dados obtidos em pontos e transectos de contagens anuais. Utilizaram-se as séries de dados obtidos em censos de início de primavera na Planície Costeira e regiões Oeste e Sudoeste, iniciados em 1995. Também foram usados dados dos censos realizados em julho e agosto na Planície Costeira, também denominados expeditos ou de inverno que começaram em 1999. O censo expedito efetuado em agosto de 2002, foi comparado aos censos expeditos de épocas assemelhadas de 1999, 2000 e 2001. Ao longo dos oito anos, foram desenvolvidas 14 campanhas para censos de marrecas de caça, sendo seis expeditos, dois em l999 e 2000, um em 2001 e outro em 2002.

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III. RESULTADOS E DISCUSSÃO

III.1 CENSOS AÉREOS DE MARRECAS DE CAÇA EM TRÊS REGIÕES DO RS

III.1.1 Contagens totais de marrecas de caça em três regiões do RS. Censo aéreo de início de primavera - setembro/outubro de 2002.

Nas duas expedições do censo aéreo de primavera (setembro/outubro) de 2002 foram contadas um total de 145.502 de marrecas piadeira, caneleira e marrecão. Foram aproximadamente 10.000 indivíduos a mais do censado no início da primavera de 2001. Deste total, 10,71% foi registrado em pontos de contagem, 86,38% em transectos de contagem e 2,91% fora-de-transecto. Como em anos anteriores, as contagens de marreca-piadeira constituíram a maioria (67,87%). Seguiu-se o marrecão, com 23,03% do total de marrecas contadas e a marreca- caneleira com 9,10%. Tanto em pontos, quanto em transectos a marreca-piadeira foi marcadamente mais abundante do que as duas outras. Em pontos, 83,71% e em transectos, 66,33%. As contribuições relativas de marreca-caneleira e de marrecão diferiram em pontos e transectos, do seguinte modo: maior percentagem de marreca-caneleira em pontos (10,23% vs 6,06%) e maior percentagem de marrecão nos transectos (24,67% vs 9%). Comparando os totais de cada espécie contados em pontos e em transectos, o maior percentual foi obtido em pontos para as duas dendrocygnas e o inverso ocorreu com o marrecão.

III.1.2 Análise das contagens aéreas totais, por espécie, de marrecas de caça, em três regiões do RS. Censo aéreo de início de primavera - setembro/outubro de 2002.

III.1.2.1.Contagens totais de marreca-piadeira em três regiões do RS. Censo de início de primavera, setembro/outubro 2002

O total de marrecas-piadeira contadas em pontos, em transectos e fora-de-transecto, alcançou a 98.756 indivíduos. Em pontos de contagem registraram-se 13.043 marrecas, em transectos 83.373 e fora-de-transecto 2.340. Em pontos, a contagem correspondeu a cerca de 13,21% do total registrado de marrecas-piadeira; enquanto que em transectos a percentagem foi de 84,42%. Ao compararem-se as três regiões, agrupando contagens em pontos e em transectos, a Planície Costeira atingiu o maior total, 62.770 marrecas; seguida pela Região Oeste com 28.402. A Região Sudoeste teve o menor total, 5.244. Foi em transectos que se obteve o maior total de marrecas-piadeira contadas na Planície Costeira. Diferentemente, do que ocorreu em 9

outros anos, quando tanto na Região Sudoeste quanto na Oeste, os totais obtidos em transectos e em pontos se assemelhavam, no censo de 2002 os totais obtidos em transectos são muito superiores aos em pontos. Como havia inundação, boa parte de campos e lavouras justapostos foram invadidos pelas águas proporcionado ambientes favoráveis às aves. Em conseqüência poucas aves foram avistadas em pontos que tradicionalmente são corpos d’água pequenos e permanentes.

III.1.2.2.Contagens totais de marreca-caneleira em três regiões do RS. Censo de início de primavera - setembro/outubro 2002

O total de marrecas-caneleira contadas em pontos, em transectos e fora-de-transecto, alcançou a 13.240 indivíduos, 63,17% a mais do que no censo de primavera de 2001. Em pontos de contagem registrou-se 12,04% do total de 2002; enquanto que em transectos, assim como ocorreu com a marreca-piadeira, a percentagem foi bem maior atingindo a 85,39%. Agrupando contagens em pontos e em transectos e comparando-se as três regiões, a Planície Costeira atingiu o maior total, 6.070 marrecas-caneleira; seguida pela Região Oeste, com 5.326 e Região Sudoeste com 1.455 indivíduos. Em 2001, a ordem entre as duas últimas regiões foi invertida em relação aos totais. Consideradas as três regiões, foi em transectos que se obtiveram os maiores totais de marrecas-caneleira, bem como com marreca-piadeira.

III.1.2.3.Contagens totais de marrecão em três regiões do RS. Censo de início de primavera - setembro/outubro 2002

Os marrecões contados em pontos, em transectos e fora-de-transecto, somaram 33.506. Aproximadamente 10 vezes mais do que o total de 2001. Em pontos, a contagem correspondeu a apenas 2,82% do total registrado de marrecões; enquanto que em transectos a percentagem foi de 92,55%. Foi de 1.550 indivíduos a contagem fora-de-transecto na Planície Costeira. A discrepância entre os percentuais em pontos e em transectos é ainda maior, 90% a favor dos últimos. O evento de inundações de campos e restevas inundadas explicam este fenômeno. Ao agrupar as contagens em pontos e transectos e comparando as três regiões, é notório que a Planície Costeira atingiu o maior total, 18.845 marrecões; seguida pela Região Oeste com 10.759 e Sudoeste com 2.352 indivíduos. Foi em transectos o maior total de marrecões contado nas três região. O maior total em pontos de contagem foi alcançado na Região Oeste, 839 indivíduos, valor baixo relativamente ao total registrado de marrecão.

III.1.3 Análise das contagens aéreas de marrecas de caça por região. Censo aéreo de início de primavera - setembro/outubro de 2002

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III.1.3.1 Análise das contagens de marrecas de caça na Planície Costeira do RS. Censo aéreo, expedição de final de setembro de 2002

O total de marrecas de caça contadas no início de primavera de 2002, na Planície Costeira, foi equivalente a 91.762. Deste total, 11,29% foi contado em pontos, 84,26% em transectos e 4,44% fora-de-transecto. Houve acentuada dominância da marreca-piadeira (Fig. III 1) sobre as demais. O total da espécie correspondeu a 70,79%. Em nível bem inferior, com cerca de um décimo do total da espécie anterior, a marreca-caneleira com um percentual de 6,99% do total de marrecas contadas. O marrecão correspondeu a 22,22% do total.

Figura III.1 – Contagens totais das marrecas de caça obtidas em censo aéreo efetuado na Planície Costeira do Rio Grande do Sul, final de setembro de 2002.

70000

60000

50000

40000

30000

n individuos 20000

10000

0 pia can ma

Legenda: pia= marreca-piadeira; can= marreca-caneleira; ma= marrecão

Tanto em pontos de contagem quanto em transectos efetuados na Planície Costeira a marreca-piadeira foi muito mais abundante do que as duas outras. O nível de dominância de marreca-piadeira em pontos (87,28%), foi bem superior ao observado em transectos (69,48%). As percentagens de marreca-caneleira em pontos e transectos também diferiram muito, praticamente a metade, respectivamente 12,60% e 6,16%. No caso do marrecão, as percentagens em pontos e transectos discreparam ainda mais, respectivamente 0,12% e 24,36%. Ao se considerar o total obtido de cada espécie resultante da adição do número de indivíduos contados em pontos e em transectos, o maior percentual é em transecto para as três espécies. Para marreca-piadeira obteve-se 14,41% do total, em pontos e mais do que seis vezes em transectos, 85,59%. Para marreca-caneleira, em pontos foram 21,52% do total e 78,48% do total em transectos. Para marrecão praticamente toda a contagem na região da Planície Costeira foi em transecto chegando a percentagem de 99,94%. No ano de 2001 esta percentagem foi de 91,19% a favor dos transectos.

11

III.1.3.2 Análise das contagens de marrecas de caça na Região Sudoeste do RS. Censo aéreo expedição de início de outubro de 2002

No início de outubro de 2002 o total de marrecas contadas, na Região Sudoeste, foi igual a 9.119 indivíduos. A disparidade entre percentagens de pontos e de transectos também foi acentuada como se deu na Planície Costeira. Do total, apenas 16,61% foi contado em pontos, 82,64% em transectos e 0,75% fora-de-transecto. Ainda que com valores inferiores à da Planície Costeira, também na Região de Sudoeste, houve acentuada dominância da marreca-piadeira sobre as demais (58,25%). Seguiu-se com percentuais inferiores o marrecão com 25,79% e a marreca-caneleira com 15,96% do total de marrecas contadas. Os totais de indivíduos das três espécies estão representados na Fig. III.2.

Figura III.2 – Contagens totais das marrecas de caça obtidas em censo aéreo efetuado na Região Sudoeste do Rio Grande do Sul, outubro de 2002 6000

5000

4000

3000

n individuos 2000

1000

0 pia can ma

Legenda: pia= marreca-piadeira; can= marreca-caneleira; ma= marrecão

A marreca-piadeira foi mais abundante na Região Sudoeste do que as duas outras. Esta dominância foi maior em pontos do que em transectos. O nível de dominância de marreca-piadeira em pontos chegou a 86,54%, enquanto que em transectos foi de 52,19%. As percentagens de marreca-caneleira e de marrecão em pontos e transectos diferiram da espécie anterior, pois ambas apresentaram percentuais menores em pontos. Os valores são, respectivamente, de 7,26% - 17,85% e 6,20% – 29,96%. Os marrecões censados na região Sudoeste, ao contrário do que ocorreu em 2001, foram encontrados em maior número nos transectos. É provável que a causa tenha sido o alto nível hidrométrico das várzeas dos rios Santa Maria e Negro que constituem basicamente os ambientes censados em transectos, nesta região. Ao se considerar o total obtido de cada espécie resultante da adição do número de indivíduos contados em pontos e em transectos, o maior percentual é em transecto para

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marreca-piadeira e marreca-caneleira. Para marreca-piadeira obteve-se 25% do total, em pontos e, em transectos, 75%. Atente-se que no Sudoeste, a discrepância entre as percentagens obtidas em pontos e transectos para a marreca-piadeira foi menor do que a observada na Planície Costeira. Para marreca-caneleira, foram 7,56% do total em pontos de contagem e 92,44% em transectos. Para marrecão, a diferença foi ainda maior, 4% do total em pontos e os restantes 96% em transectos.

III.1.3.3 Análise das contagens de marrecas de caça na Região Oeste. Censo aéreo, expedição de início de outubro de 2002

Na expedição de outubro de 2002 o total de marrecas de caça contado na Região Oeste foi igual a 44.621, portanto, 8,89% a mais do que o total da primavera de 2001. Esta percentagem não se repetiu quando a abordagem for por espécie. Chama a atenção a diferença de contagem entre os dois últimos anos para a marreca-caneleira e para o marrecão. Em 2001, a primeira totalizou 857 indivíduos e, em 2002, 5.375. O marrecão teve um incremento importante entre os dois anos, pois pulou de um total de 282 indivíduos em 2001, para 10.759 indivíduos em 2002. A marreca-piadeira totalizou 39.514 indivíduos em 2001; contrastando expressivamente com o obtido em 2002, igual a 28.487 indivíduos. A comparação entre os totais das três espécies é evidenciada na (Fig. III.3). Ao compararem-se as percentagens entre pontos e transectos, constata-se que somente 8,30% foi contado em pontos, 91,51% em transectos e 0,19% fora-de-transecto. Repetiu-se a dominância da marreca-piadeira sobre as demais (63,84%). Seguiram-se, o marrecão com 24,11% e a marreca-caneleira com 12,05% do total de marrecas contadas. Tanto em pontos quanto em transectos efetuados na região Oeste a marreca-piadeira foi mais abundante do que as duas outras espécies. O nível de dominância de marreca-piadeira, em pontos (72,54%), foi um pouco maior do que o observado em transectos (62,98%). As percentagens de marreca-caneleira são as mais divergentes entre as três espécies; 4,81% em pontos e 12,73% em transectos. Contrariamente, diferiram pouco para o marrecão: 22,65% em pontos e 24,29%. Considerandos os dois métodos de contagem, o maior percentual de aves censadas foi em transecto para as três espécies. Nesta Região, tradicionalmente, um grande número de aves das três espécies é censado em açudes utilizados para irrigação de arroz (considerados como pontos de contagem) e em um número variável de transectos que depende fundamentalmente da condição de inundação dos rios para atrair as marrecas. Em 2002 as maiores contagens deram-se em áreas alagadas por inundação dos cursos d’águas na região, com destaque para o rio Uruguai, Ibicui, Touro Passo e outros. As percentagens dos totais obtidas foram: para marreca-piadeira 9,46% em pontos e 90,54% em transectos; para marreca-caneleira, 3,31% em pontos e 96,69% em transectos; para marrecão, 9,46% em pontos e 90,54% em transectos.

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Figura III.3 – Contagens totais das marrecas de caça obtidas em censo aéreo efetuado na Região Oeste do Rio Grande do Sul, outubro de 2002.

30000

25000

20000

15000

n individuos 10000

5000

0 pia can ma

Legenda: pia= marreca-piadeira; can= marreca-caneleira; ma= marrecão

III.1.4 Comparação das variações de abundância relativa das marrecas de caça constatadas em censos aéreos inicio de primavera no RS, entre 1995 e 2002

Os dados dos anos anterior a 2002, usados nas análises das variações interanuais no presente relatório encontram-se em Menegheti et al. ( 1996, 1997, 1998, 1999, 2000 e 2001) e Menegheti & Dotto (2002).

III.1.4.1 Contagens totais das marrecas piadeira, caneleira e marrecão em três regiões do RS, entre 1995 e 2002. Censos aéreos

O total de marreca-piadeira contada em censo aéreo efetuado no final de setembro e início de outubro de 2002, nas três regiões do RS foi igual a 98.756 indivíduos. Levada em conta a série de tempo, é um valor intermediário, pois em ordem decrescente, é o quarto da série, bem próximo ao obtido em 1995 (Tab. III.1). O total de 2002 foi inferior a média da série, 105.823 marrecas-piadeira/ano e CV de 23,89%. Relativamente foi o menor das três espécies de marreca. O menor total da série de tempo continuou sendo de 63.760 marrecas-piadeira obtido em 1998. O total de marrecas-caneleira contadas em censo aéreo efetuado no final de setembro e início de outubro de 2002, nas três regiões do RS foi igual a 13.240 indivíduos. É um valor muito próximo ao de 1997, sendo o quinto maior valor da série temporal.(Tab. III.1). O total de 2002 está muito próximo a média de toda série, igual a 13.403 marrecas/ano e CV de

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54,50%. O menor total da série de tempo foi igual a 2.234 marrecas-caneleira, obtido em 1998 e o maior, de 21.724, de 2000.

Tabela III.1. Contagem total das marrecas piadeira, caneleira e marrecão nas três regiões, em sete expedições aéreas, Rio Grande do Sul. 1995 – 2002. Marreca-piadeira Marreca-caneleira Marrecão Outubro 1995 98.363 21.272 69.405 Setembro/Outubro 1996 90.859 20.148 45.082 Setembro 1997 150.611 13.727 37.259 Setembro/Outubro 1998 63.760 2.234 8.190 Setembro/Outubro 1999 111.055 6.768 15.708 Setembro/Outubro 2000 109.129 21.724 45.396 Setembro/Outubro 2001 124.049 8.114 3.320 Setembro/Outubro 2002 98.756 13.240 33.506 Média 105.823 13.403 32.233 C.V. % 23,89 54,50 68,72

Marreca-piadeira (Dendrocygna viduata) Marreca-caneleira (D .bicolor) Marrecão (Netta peposaca)

O total contado de marrecão em censo aéreo de final de setembro e início de outubro de 2002, nas três regiões do RS, igualou aos 33.506 indivíduos. Comparado ao total de 2001, o valor é dez vezes maior. Assim como ocorreu com a marreca-caneleira, também os dados de marrecão correspondem ao quinto maior valor da série. O total obtido em 2002 foi superior a média de toda série, igual a 32.233 marrecas/ano e CV de 68,72%, (Tab. III.1). O maior total da série de tempo foi igual a 69.405, em 1995, e o menor em 2001, de 3.320 indivíduos.

III.1.4.2 Comparação das densidades anuais das marrecas piadeira, caneleira e marrecão, em transectos aéreos efetuados em setembro/outubro, em três regiões do RS, entre 1995 e 2002

O cálculo de densidade das marrecas piadeira, caneleira e marrecão, para as três regiões, só foi possível usando os totais censados em transectos, uma vez que as áreas dos pontos das regiões Oeste e Sudoeste não foram ainda calculadas.

Marreca-piadeira

A densidade de marreca-piadeira para os transectos efetuados na Planície Costeira, nas regiões Oeste e Sudoeste, em 2002, foi de 302,73 indivíduos/km2, densidade que se posiciona no patamar mais alto formado por outras como a de 1997, 2000 e 2001 todas acima de 300 aves por km2 (Fig. III.4). A densidade média de marreca-piadeira correspondente à série 1995-2002, é igual a 253,23 indivíduos/km2 e CV de 27,26%. A menor densidade da série foi obtida em 1998 com 146,54 indivíduos/km2 e a maior, de 327,96 indivíduos/km2 em 1997. Portanto, a densidade de marreca-piadeira em transectos aéreos no ano de 2002, nas três regiões do Estado está acima da média e entre as maiores densidades da série de oito anos.

Figura III.4 – Variação da densidade anual de marreca-piadeira (indiv./km2), obtida nos transectos aéreos executados em três regiões do Rio Grande do Sul, entre 1995 e 2002.

350 15

300

Marreca-caneleira

A densidade de marreca-caneleira para os transectos efetuados na Planície Costeira, nas regiões Oeste e Sudoeste, em 2002, foi de 41,05 indivíduos/km2, densidade que está em um nível intermediário (valores próximo a 40 indivíduos/ km2), juntamente com as de 1995, 1996 e 1997. A média da série é de 35,28 indivíduos/km2 (Fig.III.5). Seu CV é relativamente alto, 60,22%. A densidade menor da série foi obtida em 1998, com 5,90 indivíduos/km2, e a maior foi de 72,51 indivíduos/km2 em 2000. Com a baixa densidade da espécie obtida em 2001, de apenas 23,72 indivíduos/km2 , a densidade em transectos de 2002, volta ao patamar de valores mais freqüentes da série. Figura III. 5 – Variação da densidade anual de marreca-caneleira (indiv./km2), obtida nos transectos executados aéreos em três regiões do Rio Grande do Sul, entre 1995 e 2002.

80

70 60 2 50

40

30 n indivíduos/km 20

10

0 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Marrecão

Havia uma grande expectativa em relação aos valores de densidade de marrecão para 2002, considerando os transectos efetuados nas três regiões, uma vez que em 2001 a densidade foi de apenas 7,30 indivíduos/km2, a menor densidade da série de tempo. O 16

“retorno” de sua densidade em 2002 para patamares acima de 100 aves/Km2, coloca-a como a terceira maior da série, inferior a 1995 e 2000 (Fig. III.6). A densidade média de marrecão da série 1995-2002, é igual a 90,50 indivíduos/km2 e CV de 73,41%, o mais alto das três espécies de marrecas

Figura III.6 – Variação da densidade anual de marrecão (indiv./km2), obtida nos transectos aéreos executados em três regiões do RS, entre 1995 e 2002.

250

200

2 150

100 n indivíduos/km

50

0 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

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III.1.5. JUSTIFICATIVA PARA A ANÁLISE EM CONJUNTO DOS TOTAIS DE MARRECÕES CENSADOS NA PLANÍCIE COSTEIRA E REGIÕES OESTE E SUDOESTE, EM DUAS EXPEDIÇÕES NÃO CONTÍNUAS

Durante a audiência pública de 02/05/2002 sobre as pesquisas com marrecas de caça, foi questionada a abordagem de se considerar em conjunto os totais de marrecões contados na Planície Costeira e regiões Oeste e Sudoeste. A restrição é que ao invés do censo ser realizado em uma única expedição, o era em duas, intervaladas por um período de tempo considerado excessivo, diante do dado publicado por Nascimento et al. (2000) de que uma ave anilhada em Santa Vitória do Palmar, rio Grande do Sul foi recuperada em Santa Fé, a uma distância de 1.380 km, três dias depois. Referiu-se na audiência de que se o marrecão tem tal capacidade de movimentação, poder-se-ia estar duplicando contagens ao considerarem-se as duas expedições, cujo total apresentado poderia estar sendo maior do o realmente existente na natureza. Em contraponto, a questão que se colocou na oportunidade era: até que ponto a constatação de que um par de marrecões que apresentava aquela rapidez de deslocamento, era representativo do comportamento dos grandes bandos. Portanto, urgia obter-se esta informação. A fim de contribuir com a solução do enigma, fez-se uma análise sobre a movimentação dos bandos de marrecão presentes na Planície Costeira em 2002, comparando- se a distribuição de abundância da espécie em dois momentos de amostragem. O primeiro, na primeira expedição; o segundo 40 dias após, na segunda expedição. Foram plotados em mapa com divisões municipais, os locais onde foram encontrados bandos de marrecão com 100 ou mais indivíduos. Em agosto de 2002, os bandos constituídos de 100 ou mais marrecões foram encontrados em duas áreas: a primeira, em ambas margens da laguna Mirim, cuja a maior distancia entre os bandos não ultrapassou a 150 quilômetros; a segunda, nas margens norte e nordeste da laguna dos Patos, região que compreende os municípios de Mostardas, Palmares e Capivari do Sul e Viamão, sendo a maior distancia entre os bandos não superior a 90 quilômetros. O quadro observado 40 dias depois foi muito semelhante. Na região da laguna Mirim a única diferença foi a presença de um único bando com mais de 100 marrecões, no canal de São Gonçalo, margem leste, município de Rio Grande. Portanto, os bandos mantiveram-se nas duas áreas citadas. A distância em linha reta entre elas é de aproximadamente 200 quilômetros, o que corresponde a uma área censada em transecto de aproximadamente 30 km2. Ao cotejar-se a quantidade de marrecões em cada região, observa-se: 1) na margem da laguna Mirim o somatório dos bandos em agosto foi de aproximadamente 20.000 marrecões e, em setembro, de cerca de 18.000 marrecões. Portanto abandonaram esta área aproximadamente 10% do total presente em agosto, transcorridos 40 dias; 2) nas margens 18

norte e nordeste da laguna dos Patos, os bandos em agosto totalizaram aproximadamente 1800 marrecões e, em setembro, 1400 indivíduos. Nesta área portanto a evasão de marrecão em 40 dias, foi proporcionalmente maior (22%). Um dado importante é que em agosto, contou- se um bando de 600 indivíduos em um banhado próximo a foz do rio Capivari. Quarenta dias localizou-se um bando de 600 marrecões a 15 quilômetros ao sul ( banhado de margem da Lagoa Bonifácia), sugerindo tratar-se do mesmo bando. Em análise mais detalhada do que ocorreu com os bandos de marrecão em intervalo de 40 dias nas margens da laguna Mirim, comparamos os totais censados na margem oeste, que corresponde aos municípios de Jaguarão e Arroio Grande com os totais obtidos na margem oposta, que corresponde a uma posição mais ao sul, município de Santa Vitória do Palmar. Em agosto o somatório dos bandos praticamente se equivalem, com aproximadamente 10.000 indivíduos em cada margem. Destaca-se um grande bando com mais de oito mil indivíduos no banhado Del Rey, em Santa Vitória, próximo a localidade de Anselmi. Em setembro este bando reduziu-se e presumivelmente parte dele cruzou a laguna deslocando-se para o norte, aos municípios de Jaguarão e Arroio Grande. Com isso as contagens obtidas na margem oeste, em setembro, aumentaram em 30 % chegando a aproximadamente 13.000 marrecões. O raciocínio lógico indica que os marrecões acrescentados em setembro, que se somaram aos já presentes em agosto, na costa oeste da Mirim, simplesmente atravessaram a laguna vindos da costa leste. Calculadas as distâncias em linha reta, a travessia da Mirim corresponde a 60 ou 84 km. Ou seja, os bandos de marrecão teriam se deslocado em média cerca de 70 km em 40 dias. O marrecão é fortemente colonial durante sua invernagem. Portanto, é a sua coesão social o fator poderoso e determinante para que a maior parte dos indivíduos prefira movimentar-se com o bando ao invés de individualmente. Fundamentado na constatação anterior e apesar de que por imposição do mau tempo imperante, houve um interregno de 16 dias entre a expedição à PC-RS no final de setembro e a expedição às regiões Oeste e Sudoeste, consideraram-se em conjunto as contagens de marrecão de ambas expedições.

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III.2.CENSOS AÉREOS DE MARRECAS DE CAÇA NA PLANÍCIE COSTEIRA DO RS

Com o objetivo de identificar variações intraanuais da intensidade de imigração de marrecas ao Estado, implementaram-se a partir de 1999, na região da Planície Costeira, de dois a três censos anuais, cujas características encontram-se em Menegheti et al. (2000). Portanto a análise das variações de abundância de marrecas na Planície Costeira passa a ser de fundamental importância pela freqüência dos censos, pela época em que são realizados e pela série temporal que vem sendo gerada. Analisam-se a seguir os dois censos efetuados em 2002 e a série temporal, em que são incluídos mais oito censos de 1999 a 2001.

III.2.1. Comparação entre os totais de marrecas de caça obtidos em contagens aéreas na Planície Costeira do RS. Censo aéreo - expedição de agosto de 2002

No censo aéreo de agosto de 2002, contou-se um total de 105.329 indivíduos das três espécies de marrecas na Planície Costeira, tanto em pontos quanto em transectos. Ao comparar os percentuais da contagem total das três espécies, em conjunto, em pontos e em transectos da Planície Costeira, a marreca-piadeira correspondeu a 63,01%, a marreca-caneleira a 14,13% e o marrecão a 22,66%. Para as contagens em pontos, a marreca-piadeira correspondeu a 83,33%, a marreca-caneleira a 11,57% e o marrecão a 5,10%. Somente em transectos, o percentual de marreca-piadeira censada atingiu a 59,83%; em segundo lugar o marrecão, com 25,61% e por último a marreca-caneleira com 14,56%. O total de marrecão foi 1,76 maior do que o da marreca-caneleira na Planície Costeira. O oposto se deu em agosto de 2001, quando a dominância foi da marreca-caneleira - 1,8 vezes maior do que o marrecão. O que tem se mantido na série temporal é a sempre maior abundância da marreca-piadeira.

III.2.2 Análise das contagens aéreas totais das marrecas de caça, por espécie, obtidas na Planície Costeira do RS. Censo aéreo - expedição de agosto de 2002

Marreca-piadeira

O total de marrecas-piadeira contadas em pontos, em transectos e fora-de-transecto, alcançou a 69.043 indivíduos (Fig. III.7). Chama a atenção a pequena diferença dos totais de 20

marrecas-piadeira censadas em agosto dos dois últimos anos. A diferença é de apenas 831 marrecas a menos em 2002. Em pontos contaram-se 12.605 marrecas-piadeira; em transectos, 53.970; fora-de-transecto, 2.468. Na relação das contagens de marrecas-piadeira entre pontos e transectos, as primeiras corresponderam a cerca de 18,93%; enquanto que as segundas totalizaram 81,07%. Os percentuais de 2002 foram muito próximos aos obtidos em 2001. Isto denota que a distribuição das marrecas-piadeira entre pontos e transectos de contagem na região da Planície Costeiras foram semelhantes entre os dois últimos anos.

Marreca-caneleira

O total de marrecas-caneleira contadas em pontos, transectos e fora-de-transectos em 2002, foi de 14.886 indivíduos. Aproxima-se bastante do total de agosto de 2001, apenas 1.405 indivíduos a menos (Fig. III.7). Em percentuais, a redução equivale a apenas 8,62%. Em pontos contaram-se 1750 indivíduos; em transectos 13.132; e fora-de-transecto, apenas 4. Na relação das contagens de marrecas-caneleira entre pontos e transectos, as primeiras corresponderam a cerca de 11,76% do total registrado; enquanto que as segundas totalizaram 88,24%.

Marrecão

As contagens de marrecões totalizaram 24.024 indivíduos, efetuadas em pontos, transectos e fora-de-transectos (Fig. III.7). Ao contrario do acontecido com as outras duas espécies, em que se verificaram pequenas diferenças nas contagem entre os totais dos dois últimos anos, os de marrecão diferiram muito entre si. Em 2002, censaram-se 15.700 aves a mais do que no ano anterior, o que equivale a 2,90 vezes a mais que em 2001. Em pontos a contagem foi baixa, apenas 771 marrecões; em transectos, de 23.101; fora-de-transecto, de 152. Em pontos, a contagem correspondeu a cerca de 3,23% do total registrado de marrecões; enquanto que em transectos a percentagem foi de 96,77%.

21

Figura III.7 – Contagens totais das marrecas de caça obtidas em censos aéreos efetuado na Planície Costeira do Rio Grande do Sul, em agosto 2002.

80000

70000

60000

50000

40000

n individuos 30000

20000

10000 0 pia can ma

Legenda: pia= marreca-piadeira; can= marreca-caneleira; ma= marrecão

III.2.3 Análise das contagens aéreas totais das marrecas de caça, obtidas na Planície Costeira do RS. Censo aéreo - expedição de final de setembro de 2002

O total de marrecas de caça contadas no início de primavera de 2002, na Planície Costeira, foi equivalente a 91.762. Deste total, 11,29% foi contado em pontos, 84,26% em transectos e 4,44% fora-de-transecto. Houve acentuada dominância da marreca-piadeira (Fig. III 8) sobre as demais. O total da espécie foi de 64.957 indivíduos o que correspondeu a 70,79%. Em nível bem inferior, com cerca de um décimo do total da espécie anterior, a marreca-caneleira com 6.410 indivíduos o que equivale a um percentual de 6,99% do total de marrecas contadas. O marrecão com 20.395 indivíduos, correspondeu a 22,22% do total.

Figura III.8 – Contagens totais das marrecas de caça obtidas em censo aéreo efetuado na Planície Costeira do Rio Grande do Sul, final de setembro de 2002.

70000

60000

50000

40000

30000 n individuos

20000

10000

0 pia can ma

Legenda: pia= marreca-piadeira; can= marreca-caneleira; ma= marrecão 22

Tanto em pontos de contagem quanto em transectos efetuados na Planície Costeira a marreca-piadeira foi muito mais abundante do que as duas outras. O nível de dominância de marreca-piadeira em pontos (87,28%), foi bem superior ao observado em transectos (69,48%). As percentagens de marreca-caneleira em pontos e transectos também diferiram muito, praticamente a metade, respectivamente 12,60% e 6,16%. No caso do marrecão, as percentagens em pontos e transectos discreparam ainda mais, respectivamente 0,12% e 24,36%. Ao se considerar o total obtido de cada espécie resultante da adição do número de indivíduos contados em pontos e em transectos, o maior percentual é em transecto para as três espécies. Para marreca-piadeira obteve-se 14,41% do total, em pontos e mais do que seis vezes em transectos, 85,59%. Para marreca-caneleira, em pontos foram 21,52% do total e 78,48% do total em transectos. Para marrecão praticamente toda a contagem na região da Planície Costeira foi em transecto chegando a percentagem de 99,94%. No ano de 2001 esta percentagem foi de 91,19% a favor dos transectos.

III.2.4 Análise das variações de contagens aéreas totais de marrecas de caça obtidas na Planície Costeira do RS em agosto e setembro de 2002.

Ao compararem-se os totais obtidos em pontos e transectos, das três espécies de marrecas, entre as expedições de agosto e setembro de 2002, busca-se avaliar quão importantes são os censos expeditos do litoral para subsidiar a seleção da melhor estratégia de gestão sustentável das marrecas de caça do RS. Entre outras informações, permite avaliar qual ou quais as espécies de marrecas são mais movediças. O intervalo de tempo entre as duas expedições, considerando as datas de encerramento da primeira e de inicio da segunda - foi de 40 dias. A área censada em agosto em pontos e transectos foi igual a 242,34 km2 e em setembro, de 249,03. A diferença portanto foi de 2,73 %. O motivo provocador da diferença de áreas, já descrito na metodologia, foram as condições meteorológicas.

Marreca-piadeira

Os totais de marrecas-piadeira obtidos em pontos e em transectos, foram semelhantes entre agosto e setembro de 2002. A diferença foi de apenas 5,72% em relação a agosto. A percentagem da diferença é muito próxima da obtida em 2001 (5,14%). Como referido em Menegheti e Dotto (2002): “Se se fosse considerar como critério as variações de abundância de marreca-piadeira, inexistiria argumento para justificar a execução de censos

23

expeditos na Planície Costeira” Outros indicadores, evidenciaram que a marreca-piadeira é a mais sedentária entre as três espécies.3

Marrecão e marreca-caneleira

Opostamente à marreca-piadeira, ao se confrontarem os dados das outras duas espécies, percebe-se claramente que ambas foram mais movediças. A variação dos totais entre agosto e setembro de 2002, o confirmam. Não houve tanta movimentação com o marrecão. Somente 21,06% do total de indivíduos contados em agosto de 2002, abandonaram a PC em setembro. O quadro foi bem diferente com a marreca-caneleira. Um percentual de 59,21% do total de indivíduos contados em agosto, abandonaram a PC em 40 dias. Este fato já tinha sido detectado anteriormente quando foram comparados os totais censados na primeira e na última expedição a PC ( Menegheti et al. 2000 e 2001; Menegheti & Dotto, 2002). Portanto, dados passados já haviam indicado o que foi ratificado em 2002: contingente expressivo de marreca- caneleira abandona a PC antes do marrecão, ainda durante o inverno.

III.2.5- Análise das contagens aéreas totais das marrecas de caça registradas no final de agosto e/ou agosto/setembro de 1999, 2000, 2001 e 2002, na Planície Costeira do RS

Marrecas-piadeira

Ao compararem-se os totais registrados de marrecas-piadeira no censo aéreo de agosto de 2002, com os obtidos em agosto dos três anos anteriores, constata-se que o de 2002 foi o maior – 66.575 indivíduos. Em 2001 a contagem totalizou 64.730 exemplares; em 2000, 49.677 indivíduos e, em 1999, 42.476 indivíduos (Fig.III.9).

Figura III.9 – Contagens totais da marreca-piadeira obtidas em censos aéreos efetuados na Planície Costeira do Rio Grande do Sul, em agosto de 1999, 2001, e 2002 e agosto/setembro de 2000.

70000

60000

50000

40000

30000 n individuos

20000

10000

0 1999 2000 2001 2002 24

Marrecas-caneleira

Ao cotejarem-se os totais registrados de marrecas-caneleira em agosto de 2002 com os de agosto de dois anos anteriores, semelhantemente ao ocorrido com a marreca-piadeira, constata-se que o obtido em 2002 também foi o maior: 14.882 indivíduos, porém semelhante ao de 2001 - 14.665 (Fig. III.10). Em 2000 e em 1999 as contagens totais foram bem inferiores aos dois primeiros, 7.962 e 4.040 exemplares.

Figura III.10 – Contagens totais da marreca-caneleira obtidas em censos aéreos efetuados na Planície Costeira do Rio Grande do Sul, em agosto de 1999, 2001, e 2002 e agosto/setembro de 2000.

16000

14000

12000 10000

8000

n individuos 6000

4000

2000

0 1999 2000 2001 2002

Marrecões

Ao confrontarem-se os totais obtidos nos últimos quatro anos, verifica-se que na Planície Costeira, o de agosto de 2002 foi bem superior ao de agosto de 2001, respectivamente 23.872 e 8.152. O total de 2002 está no mesmo patamar do censo de agosto de 2000. A diferença é de 2.900 indivíduos. O total alcançado em agosto de 2001 forma outro patamar com o de 1999, em nível bem inferior ao outro patamar. O total de agosto de 1999 foi de 8.857 marrecões (Fig. III.11). Portanto, repete-se na PC, um modelo já percebido em anos anteriores: ou um grande contingente de marrecões está presente no RS, caracterizando penetração massiva da espécie desde Argentina e Uruguai, ou opostamente, poucos invadem nosso território. Este comportamento de variação anual de abundância do marrecão, é o que temos denominado de “tudo ou nada”. Em 2001 já se havia feito uma avaliação deste padrão de comportamento na PC, desconsiderando os meses em que os censos foram executados. Os totais variaram no patamar inferior de um mínimo de 6.430 de marrecões a um máximo de 8.857, considerados o censo de 2001, os três censos de 1999 e o censo de 1998. No superior, 25

os totais divergiram entre cerca de 24.000 e 36.000 marrecões. Somente em 1996 obteve-se um total intermediário de marrecões (cerca de 16.000 exemplares) a sugerir um terceiro patamar, o que não se confirmou até o momento, sugerindo que seja mais uma exceção que confirma a regra. Em todo o caso, não se deve descartar a possibilidade de existência efetiva deste terceiro patamar. Fato que se manifestaria, ou não, em série mais longa de censos anuais.

Figura III.11 – Contagens totais dos marrecões obtidas em censos aéreos efetuados na Planície Costeira do Rio Grande do Sul, em agosto de 1999, 2001 e 2002 e agosto/setembro de 2000.

30000

25000

20000

15000

n individuos 10000

5000

0 1999 2000 2001 2002

III.2.6 Comparação entre as densidades de marrecas de caça obtidas em censos na Planície Costeira, de 1999 a 2002

Marreca-piadeira

Os censos de 1999, 2000, 2001 e 2002 foram executado respectivamente nos seguintes períodos: início de agosto, final de agosto e final de setembro no primeiro ano; final de julho, agosto/setembro e início de outubro no segundo; final de agosto e início de outubro no terceiro; meados de agosto e final de setembro-início de outubro. Em agosto de 2002, a densidade de marreca-piadeira foi maior do que em setembro- outubro. Cerca de 8,4% exemplares abandonaram a Planície Costeira. Algo semelhante, porém em ponto menor do acontecido em 2000, quando entre julho e agosto-setembro ausentou-se da PC um contingente de 30,00% do observado em julho. Este padrão de movimentação não é estável. outros dois padrões foram observados. Em um destes, houve aumento de marrecas-piadeira na PC - entre final de agosto e início de outubro de 2001. Um

26

terceiro, foi de redução das marrecas piadeira na PC e um retorno observado em expedição seguinte. Isto aconteceu em 1999, entre início de agosto, final de agosto e final de setembro. Dos dois censos de 2002 foi igual a 263,5 marrecas/km2 e um C.V. igual a 6,19%. Semelhante a de 2001 (267,5 indivíduos/km2 e CV=3,97%. A densidade média de 2002 foi superior à de 2000 (229,23 marrecas/km2 e um C.V. igual a 15,61%) e inferior à densidade média dos três censos de 1999 que foi de 182,12 marrecas/km2 e um C.V. igual a 8,60%. (Fig. III.12).

Figura III.12 – Variação das densidades de marreca-piadeira (indiv./km2) obtidas em censos aéreos efetuados na Planície Costeira do Rio Grande do Sul, entre 1999 e 2002.

300

250

2 200

150

100

n indivíduos/km

50

0 1999.1 1999.2 1999.3 2000.1 2000.2 2000.3 2001.2 2001.3 2002.2 2002.3

Legenda: ano.1 = final de julho ou início de agosto; ano.2= final de agosto e/ou início de setembro; ano.3= final de setembro e/ou início de outubro

Marreca-caneleira

Em agosto de 2002, a densidade de marreca-caneleira foi maior do que em setembro- outubro. Cerca de 60,66% exemplares abandonaram a Planície Costeira. O mesmo aconteceu em 2001, sendo que o percentual de retirantes da PC foi maior ainda (72,88%). Em 1999 ocorre o mesmo, porém com percentagem menor do que nos dois anos anteriores. Em 2000 registrou-se um outro padrão de variação. Entre final de julho e agosto-setembro houve redução no número de marrecas-caneleira na PC, 33,33% do observado em julho. Voltou a haver um incremento de indivíduos na PC (32,35%). A densidade média dos dois censos de 2002 foi igual a 42,5 marrecas caneleira/km2 e CV de 61,56%. Semelhante a de 2000 (43,32 indivíduos/km2 e CV=19,89%). A densidade média de 2002 foi um pouco superior à de 2000 (37,50 marrecas/km2 e C.V. igual a 81,08%) e bem superior à densidade média dos três censos de 1999 que foi de 15,67 marrecas/km2 e CV igual a 28,78%. (Fig. III.12). O que está sugerido nesta análise, é que outubro não é o melhor mês para quantificar o contingente de marreca-caneleira presente na Planície Costeira. Os indivíduos provindos da 27

Argentina e Uruguai, ou de outras regiões do Estado chegariam antes do marrecão - junho parece ser representativo - e não permaneceriam tanto tempo na Planície Costeira quanto o marrecão.

Figura III.13 – Variação de densidade da marreca-caneleira (indiv./km2) obtidas em censos aéreos efetuados na Planície Costeira do Rio Grande do Sul, entre 1999 e 2002.

70

60

2 50

40

30

n indivíduos/km 20

10

0

1999.1 1999.2 1999.3 2000.1 2000.2 2000.3 2001.2 2001.3 2002.2 2002.3

Legenda: ano.1 = final de julho ou início de agosto; ano.2= final de agosto e/ou início de setembro; ano.3= final de setembro e/ou início de outubro

Marrecão

Avultam dois padrões de movimentação do marrecão na PC quando se examina a Fig. III.14: o abandono da PC entre o inverno e o final de inverno-início de primavera, que parece ser o mais freqüente (2000, 2001 e 2002); e o de permanência quase estável durante o mesmo período (1999). Como apenas em dois dos quatro anos foi possível fazer-se três expedições à PC (1999 e 2000), far-se-ão comparações entre censos de agosto e final de setembro. A retirada dos marrecões se deu de forma relativamente lenta quando as densidades anuais na PC foram maiores: 20,18% em 2000 e 23,23% em 2001. Quando as densidades de marrecão na PC foram menores, houve dois padrões de movimentação: o primeiro, de retirada abrupta, 84,85% em 2001 e outro de quase permanência do mesmo número, pois em 1999 retiraram-se 8,82% do total presente em agosto. Quais os fatores ambientais ou comportamentais a determinar estes diferentes padrões de movimentação na PC é tema ainda ignorado e cujo esclarecimento dependerá de uma série de tempo maior com a execução de pelo menos dois censos anuais de marrecão na PC. Levando-se em conta os padrões de movimentação apresentados pelo marrecão e a marreca-caneleira na PC, torna-se urgente a expansão dos censos aéreos de meio de inverno, também para as regiões Central, Oeste e Sudoeste do RS. Desta forma, se poderia ter uma imagem mais completa da distribuição de abundância do marrecão e da marreca-caneleira, bem como de suas movimentações por território riograndense. Só desta forma poder-se-á 28

identificar qual foi o destino dos contingentes de marrecão e de marreca-caneleira que se evadiram da PC. Se não forem outras regiões do Estado, é possível que passem ao território uruguaio. A mesma prova poderá ser aplicada também às movimentações de ambas espécies nas regiões Oeste e Sudoeste. Ficará evidente também em que época usualmente se dá a maior concentração das espécies de marreca de caça em cada uma das quatro regiões mencionadas. A série de censos aéreos anteriores a outubro ainda é pequena. No entanto, pelo que ficou indicado nestes quatro anos de censos expeditos, junho-julho são os melhores meses para determinar maiores concentrações de marreca-caneleira na PC; e agosto para o marrecão. Por ser a mais sedentária entre as três espécies de marrecas, está indicado que o censo da marreca-piadeira pode ser executado em qualquer dos três meses. Os anos de maior densidade de marrecão na PC foram: 113,40 marrecões/km2 e CV=18,79%, em 2000 e 87,50 marrecões/km2 e CV=18,59%. Os de menor densidade foram: 30,33 marrecões/km2 e CV=13,32%19,34%, em 1999; e 19 marrecões/km2 e CV=104,21%.

Figura III.14 – Variação de densidade do marrecão (indiv./km2) obtidas em censos aéreos efetuados na Planície Costeira do Rio Grande do Sul, entre 1999 e 2002

160 140 120 2 100 80 60

n indivíduos/km 40

20

0 1999.1 1999.2 1999.3 2000.1 2000.2 2000.3 2001.2 2001.3 2002.2 2002.3

Legenda: ano.1 = final de julho ou início de agosto; ano.2= final de agosto e/ou início de setembro; ano.3= final de setembro e/ou início de outubro

III.2.7 As variações de densidade das marrecas de caça na Planície Costeira entre 1999 e 2002 Ao levar-se em conta uma densidade anual de cada uma das três espécies, nos 10 censos efetuados entre 1999 e 2002, obteve-se as médias de 229,5 marrecas-piadeira/km2; 33,70 marrecas-caneleira/km2; e 64,40 marrecões/km2. Por tratarem-se de médias discrepantes, em especial entre a primeira e as duas últimas, para poderem-se comparar as diferenças entre variabilidades de densidade das três espécies, utilizaram-se os respectivos coeficientes de variação (CV): 18,0%; 56,3%; e 68,5%. Aplicou-se o teste de Feltz & Miller

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(1996) para identificar se havia diferença significativa ou não. Concluiu-se pela primeira opção, pois o valor obtido foi igual a 7,601, correspondente a p<0,025. Em seqüência, aplicou-se o teste de Duncan de comparações múltiplas adaptado, para identificar quais os CVs eram diferentes. O resultado foi que o CV de marreca-piadeira foi o único que divergiu estatisticamente. Os resultados corroboram o que já havia sido constatado anteriormente, ou seja, que a marreca-piadeira é mais sedentária do que a marreca-caneleira e o marrecão.

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IV. RECOMENDAÇÕES À PORTARIA DE CAÇA DE 2003 CAÇA DE BANHADO

IV.1 Zoneamento de caça, Temporada de caça e Cota máxima de abate da marreca-piadeira ( Dendrocygna viduata )

O quadro a seguir resume as recomendações para a temporada de caça à marreca-piadeira em 2003: Cota semanal máxima Duração da Início da Fim da Zoneamento* por temporada temporada Temporada caçador Aceguá, Alegrete, Arambaré, , Arroio Grande, Bagé, Balneário Pinhal, Barra do Quaraí, Cacequi, , Camaquã, 12 semanas 30 de maio 25 de , Capão da Canoa, Capão do Leão, 25 e 13 fins-de- de 2003 agosto de Capivari do Sul, Cerrito, Chui, Cidreira, Cristal, semana 2003 Dom Pedrito, , Itaqui, Jaguarão, Maçambará, Mostardas, Osório, Palmares do Sul, Pedro Osório, Pelotas, Quarai, Rio Grande, , Rosário do Sul, , Santa Vitória do Palmar, , Santo Antônio da Patrulha, São Borja, São Gabriel, São Lourenço do Sul, São Sepé, Tapes, Tramandaí, Triunfo, Turuçu, Uruguaiana, Viamão e . * Fig IV.1 – mapa com o zoneamento em anexo

Justificativas das recomendações da marreca-piadeira

Mais uma vez a marreca-piadeira voltou a apresentar níveis altos de abundância no RS, de quase 100 mil indivíduos. Foi o quinto valor da série, superado pelos obtidos em 1997. 1999, 2000 e 2001. Esteve abaixo da média, cerca de 106 mil marrecas. Sua densidade para as regiões Planície Costeira, Oeste e Sudoeste do RS foi cerca de 303 marrecas/km2. Ao considerarem-se os oito anos da série a tendência segue sendo de não- declínio da população de marreca-piadeira. Os caçadores seguem alegando que não a sabem caçar ou por não a considerarem tiro esportivo. A captura média/caçador segue mantendo-se bem inferior à cota máxima de abate

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semanal. Mesmo assim, a média das cotas efetivas, vem aumentando, ainda que de forma gradual. Mesmo que a contagem total obtida em 2002 tenha mostrado uma pequena baixa, por ser inexpressiva, os autores recomendam que se mantenha a cota semanal de 25 marrecas- piadeira, uma temporada de caça com duração de 12 semanas, iniciando-se em 30 de maio, findando em 25 de agosto de 2002.

IV. 2 Zoneamento de caça, Temporada de caça e Cota máxima de abate da marreca-caneleira ( Dendrocygna bicolor )

O quadro a seguir resume as recomendações para a temporada de caça à marreca-caneleira em 2003: Cota semanal Fim da máxima Duração da Início da Temporada Zoneamento* por temporada temporada caçador Aceguá, Alegrete, Arambaré, Arroio do Padre, Arroio Grande, Bagé, Balneário Pinhal, Barra do Quaraí, Cacequi, Cachoeira do Sul, Camaquã, Candiota, Capão da Canoa, Capão do Leão, Capivari do Sul, Cerrito, Chui, Cidreira, Cristal, Dom Pedrito, Hulha cinco 09 semanas 30 de maio 04 de Negra, Itaqui, Jaguarão, Maçambará, Mostardas, e 10 fins-de- de 2003 agosto de Osório, Palmares do Sul, Pedro Osório, Pelotas, semana 2003 Quarai, Rio Grande, Rio Pardo, Rosário do Sul, Santa Margarida do Sul, Santa Vitória do Palmar, Santana do Livramento, Santo Antônio da Patrulha, São Borja, São Gabriel, São Lourenço do Sul, São Sepé, Tapes, Tramandaí, Triunfo, Turuçu, Uruguaiana, Viamão e Vila Nova do Sul. * Fig IV.1 – mapa com o zoneamento em anexo

Justificativas das recomendações da marreca-caneleira

Na análise da série histórica de oito anos de contagens totais nas três regiões do Estado, o padrão de declínio do total de marreca-caneleira que se deu até 1998, seguiu sendo revertido em 2002. A reversão que iniciou a partir de 1999 e que continuou em 2000 com recuperação bem maior; teve uma quebra em 2001. As contagens de 1999 triplicaram em relação às de 1998; as de 2000 equivaleram a 3,2 vezes às de 1999, constituindo-se no maior número de marrecas-caneleira censadas no Estado, atingindo valores semelhantes às também excepcionais contagens obtidas em 1995 e 1996. Em 2001 houve uma queda de 62,65% em 32

relação ao total de marreca-caneleira contado em 2000. Observou-se em 2002, uma recuperação, pois o incremento em relação a 2001 foi de cerca de 63%. Tomando os valores de densidade de marreca-caneleira para os transectos efetuados na Planície Costeira, nas regiões Oeste e Sudoeste, em 2001, foi de 41,05 indivíduos/km2, superior à média da série histórica de oito anos que é igual a 35,28 indivíduos/km2. A densidade média de 2002 situa-se em nível intermediário da série (valores próximos a 40 indiv./km2) pois a menor densidade da série equivaleu a 5,90/ km2 (1998) e a maior, de 72,51/ km2 (2000). Com a baixa densidade da espécie obtida no ano de 2001 de apenas 23,72 indivíduos/km2 , pode-se afirmar que em 2002 a densidade em transectos, volta ao patamar de valores mais freqüentes da série. A partir de 1999, quando iniciaram-se censos de inverno na Planície Costeira, prosseguindo até 2002, ficou evidente que para esta região do Estado, o censo aéreo de início de primavera não reflete o contingente que esteve ai presente, porque parte das marrecas- caneleira evadiram-se. Em seqüência, a pergunta que assalta a qualquer um é a seguinte: este padrão de movimentação detectado na Planície Costeira será valido para todas as áreas marrequeiras do Estado? Pergunta que só será possível de responder com a efetivação de censos de inverno em todas as áreas propícias às marrecas. Como é possível que o padrão de movimentação da marreca-caneleira observado na PC também se dê nas demais regiões, reproduzir-se-ão alguns resultados nela obtidos. Ao cotejarem-se os totais registrados de marrecas-caneleira em agosto de 2002 com os de agosto de dois anos anteriores, constata-se que aquele obtido em 2002 foi o maior: 14.882 indivíduos, assemelhado ao de 2001 - 14.665 (Fig. III.10). Em 2000 e em 1999 as contagens totais foram bem inferiores aos dois primeiros, 7.962 e 4.040 exemplares. É baseado no quadro geral de recuperação dos contingentes da marreca-caneleira em 2002, é que se propõe a reabertura da temporada de caça desta marreca com cota- máxima-de-abate-semanal conservadora, de cinco exemplares, e temporada mais curta de caça, de nove semanas.

33

IV. 3 Zoneamento de caça, Temporada de caça e Cota máxima de abate de marrecão ( Netta peposaca )

O quadro a seguir resume as recomendações para a temporada de caça do marrecão em 2003: Cota Duração Início da Fim da semanal da temporada Temporada Zoneamento* máxima por temporada caçador Aceguá, Alegrete, Arambaré, Arroio do Padre, Arroio Grande, Bagé, Balneário Pinhal, Barra do Quaraí, Cacequi, Cachoeira do Sul, Camaquã, Candiota, Capão da Canoa, Capão do Leão, Capivari do Sul, Cerrito, Chui, Cidreira, Cristal, Cinco 09 30 de maio 04 de Dom Pedrito, Hulha Negra, Itaqui, Jaguarão, semanas e de 2003 agosto de Maçambará, Mostardas, Osório, Palmares do Sul, 10 fins-de- 2003 Pedro Osório, Pelotas, Quarai, Rio Grande, Rio semana Pardo, Rosário do Sul, Santa Margarida do Sul, Santa Vitória do Palmar, Santana do Livramento, Santo Antônio da Patrulha, São Borja, São Gabriel, São Lourenço do Sul, São Sepé, Tapes, Tramandaí, Triunfo, Turuçu, Uruguaiana, Viamão e Vila Nova do Sul. * Fig IV.1 – mapa com o zoneamento em anexo

Justificativas das recomendações do marrecão

Em 2002 confirmou-se o modelo de eletrocardiograma em relação à variação interanual das quantidades de marrecão que penetram o território do RS. O ano de 2001 foi péssimo para marrecão. Chegou a ser batido o recorde negativo, até então com o censo de 1998. A contagem foi de cerca de 3.300 marrecões. Portanto, havia uma expectativa quanto ao que ocorreria em 2002. Novamente o marrecão foi para cima. O total de marrecões contados alcançou aos 33.506 indivíduos, cerca de dez vezes mais que o total de 2001. O total obtido em 2002 foi um pouco superior a média de toda a série, igual a 32.233 marrecas/ano (Tab. III.1). Para que se tenha uma visão geral do que aconteceu ao longo da série de tempo, o maior total foi igual a 69.405, em 1995. O menor já foi mencionado anteriormente. Quando se consideram somente os transectos, as densidades obtidas mostraram um quadro semelhante ao das contagens totais. Após a densidade de 2001, de cerca de 7,30 marrecões/km2 houve uma retomada em 2002, com sua densidade patamares acima de 100

34

aves/km2, constituindo-se na terceira maior densidade da série histórica de oito anos, inferior apenas a 1995 e 2000 com 205,52 e 153,35 indivíduos/km2, respectivamente. Contrariamente ao ocorrido com a marreca-caneleira, o censo de início de setembro é representativo, pois a evasão massiva do Estado ainda não se deu. Este fato ficou bem evidente ao examinarem-se as contagens efetuadas na Planície Costeira, entre agosto e final de setembro de quatro anos, a partir de 1999. Com o que fica corroborado uma vez mais em 2002, ou seja, um padrão de variação de totais de marrecões que invadem anualmente o Estado, com o formato de um eletrocardiograma, ou o padrão do “tudo ou nada” como já referido em anos anteriores, cresce o grau de certeza de que estas variações representam muito mais um caráter de oportunismo nas movimentações de suas populações, do que propriamente declínio de sua abundância. Mesmo assim, adotando a postura de cautela assumida pelo IBAMA, propusemos cota- máxima-de-abate-semanal conservadora de cinco exemplares e uma temporada relativamente curta de nove semanas.

IV.4 Segunda proposta de zoneamento, temporada e cotas de caça de pomba-de- bando (Zenaida auriculata) e pombão (Columba picazuro) para 2003

As recomendações para a caça das duas espécies de pombas eram elaboradas usualmente fazendo-a coincidir com o zoneamento e a temporada sugeridos para caça de perdiz. No entanto, dado que suas populações são grandes e sub-aproveitadas pela caça amadorista, não se constitui em presa preferencial, nos últimos anos tem se ampliado o zoneamento e a duração da temporada, fazendo-as coincidir também com as de marrecas. Entende-se como segunda proposta de zoneamento e temporada de caça às duas espécies de pombas, uma proposta que coincide com as datas e zoneamentos recomendados para a temporada de caça de banhado. A primeira proposta de zoneamento, temporada e cota das duas espécies de pombas consta no Volume I – Caça de Campo, entregue à diretor da Fundação Zoobotânica em 05 de maio de 2003. A primeira e a segunda proposta não são excludentes. Caso seja conveniente, pode ser elaborada uma terceira com zoneamento e temporada que coincida com as duas modalidades de caça ( de campo e de banhado). As cotas recomendadas são as mesmas para as duas propostas. Portanto, assim como tem ocorrido nos últimos anos, as recomendações para a temporada de caça das duas espécies de pombas são: de manutenção das cotas máximas de abate semanal; coincidência com os zoneamentos de caça da perdiz e de marrecas; e que as

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datas de suas aberturas e seus encerramentos harmonizem-se com as das marrecas e da perdiz.

Justificativas ( texto apresentado no Volume I – Caça de campo)

Apesar do atraso na emissão das expedições a campo, afortunadamente os índices de abundância de pombas baseados em suas visualizações não foram afetados. O diagnóstico fundamenta-se na inexistência de diferença significativa entre as densidades relativas com os anos prévios. É interessante cruzar, sempre que possível, resultados obtidos com, pelo menos, duas técnicas diferentes. Neste sentido sim, houve prejuízo com o atraso, porque não puderam ser considerados índices de abundância das pombas de caça determinados a partir das vocalizações contra tempo. Mesmo assim, os autores consideram seguro recomendar cotas máximas semanais, zoneamento e duração de temporada para a caça de pomba em 2003. Contribuem para esta convicção o fato de que as pombas não se constituem em item preferencial de caça no RS, além de que número de pombões avistados em março de 2003 foi um record de abundância e de que os índices de abundância de pomba-de-bando fundamentados em registros de visualizações seguem sendo os melhores indicadores de sua densidade relativa.

O quadro a seguir resume as recomendações para a segunda proposta de temporada de pomba-de-bando e pombão para 2003. Cota semanal máxima Duração da Início da Fim da Zoneamento* por temporada temporada Temporada caçador Aceguá, Alegrete, Arambaré, Arroio do Padre, Arroio Grande, Bagé, Balneário Pinhal, Barra do 10 Quaraí, Cacequi, Cachoeira do Sul, Camaquã, pombões Candiota, Capão da Canoa, Capão do Leão, Capivari do Sul, Cerrito, Chui, Cidreira, Cristal, 12 semanas 30 de maio 25 de Dom Pedrito, Hulha Negra, Itaqui, Jaguarão, e 13 fins-de- de 2003 agosto de Maçambará, Mostardas, Osório, Palmares do semana 2003 Sul, Pedro Osório, Pelotas, Quarai, Rio Grande, 20 Rio Pardo, Rosário do Sul, Santa Margarida do pombas- Sul, Santa Vitória do Palmar, Santana do de-bando Livramento, Santo Antônio da Patrulha, São Borja, São Gabriel, São Lourenço do Sul, São Sepé, Tapes, Tramandaí, Triunfo, Turuçu, Uruguaiana, Viamão e Vila Nova do Sul. • Fig IV.1 – mapa com o zoneamento em anexo

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V. AGRADECIMENTOS

Os pesquisadores do programa de pesquisa e monitoramento de fauna cinegética da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul RS e Universidade Federal do Rio Grande do Sul agradecem: a) à direção da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (FZB) pela atribuição conferida e pelo fácil e rápido entendimento alcançado entre as partes quando da renovação do contrato de prestação de serviço celebrado com a FAURGS; b) à direção da Fundação de Apoio a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (FAURGS) pelo apoio administrativo dado, pelo adiantamento de recursos que possibilitou o cumprimento do calendário das expedições a campo; c) à Direção do Museu de Ciências Naturais, pela cedência, sempre que necessária, de pessoal de apoio e pela disponibilização de equipamentos para expedições a campo; d) a Federação Gaúcha de Caça e Tiro pelo estímulo ao desenvolvimento pleno e qualificado do programa de pesquisa; e) aos comandos do Batalhão Ambiental e da Policia Rodoviária Estadual, pelo suporte conferido durante a realização das barreiras de pesquisa e fiscalização de caça em rodovias estaduais; f) ao IBAMA regional pelo apoio dado em barreiras de pesquisa e fiscalização de caça. Os pesquisadores também agradecem aos colaboradores: biólogos César J. Drehmer, Luciano Moura, Demétrio Luis Guadagnin e Jacqueline B. Siqueira; geógrafa Roberta Roxilene dos Santos; e cooperadores Juliano P. Salomon, Ronaldo Costa da Silva, Beno Scherner e Gilson Freire Gaspar. Os agradecimentos são também extensíveis ao amigo e competente piloto aéreo Cel. Luiz Gonzaga Hermes pelos relevantes serviços prestados e a Bruno Foernges por mais ano de empréstimo de reboque para trabalho de campo com perdiz.

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VI. BIBLIOGRAFIA

FELTZ, C.J. & G.E. MILLER. 1996. An asymptotic test for the equality of coefficients of variation from k populations. Statist. in Med. 15: 647-658. MENEGHETI, J.O.;. D.L. GUADAGNIN; E.VÉLEZ MARTIN; J.C.P. DOTTO; M.I.BURGER; M.T.Q. MELO; R.C.CRUZ; R.A.RAMOS. 1996. Relatório Final do Programa de Pesquisa e Monitoramento de Fauna Cinegética do Rio Grande do Sul. Período 1995-1996, 83 p. MENEGHETI, J. O. 1997. Manejo de fauna a través de la caza deportiva en Brasil y la legislación de fauna. Safari Sur, Buenos Aires, 6: 36-39. MENEGHETI, J. O.; D.L. GUADAGNIN; E.VÉLEZ MARTIN; J.C.P. DOTTO; M.I.BURGER; R.C.CRUZ; M.T.Q. MELO; R.A.RAMOS. 1997. Relatório Final do Programa de Pesquisa e Monitoramento de Fauna Cinegética do Rio Grande do Sul. Período 1996- 1997, 105 p. MENEGHETI, J.O. (Coord.), D.L. GUADAGNIN, E.V. MARTIN, J.C.P. DOTTO, M.I. BURGER, M.T.Q. MELO, R.C. CRUZ e R.A. RAMOS. 1998. Relatório Final do Projeto de pesquisa e Monitoramento de Fauna Cinegética, Convênio Faurgs-Fepam, Acordo de Cooperação Técnica Fepam-FZBRS. Rel. Téc. para Fepam e Ibama, . 113p. MENEGHETI, J. O.; D.L. GUADAGNIN; I.A. ACCORDI; J.C.P. DOTTO; M.I. BURGER; M.T.Q. MELO; R.C.CRUZ. 1999. Relatório Final do Programa de Pesquisa e Monitoramento de Fauna Cinegética do Rio Grande do Sul .Período 1998-1999, 107 p. e apêndice de 26 p. MENEGHETI, J.O. (Coord.), D.L. GUADAGNIN, I.A. ACCORDI, J.C.P. DOTTO, M.I. BURGER, M.T.Q. MELO, 2000. Relatório Final do Projeto de pesquisa e Monitoramento de Fauna Cinegética, Período 1999-2000. 74 p e apêndice 5p.. MENEGHETI, J. O.; D.L. GUADAGNIN e J.C.P. DOTTO. 2001. Relatório Final do Programa de Pesquisa e Monitoramento de Fauna Cinegética do Rio Grande do Sul .Período 2000- 2001. Volume I – Caça de Banhado, 65 p. MENEGHETI, J. O & J.C.P. DOTTO. 2002. Relatório Final do Programa de Pesquisa e Monitoramento de Fauna Cinegética do Rio Grande do Sul .Período 2001-2002. Volume I – Caça de Banhado, 37 p. NASCIMENTO, J.L.X.; P.T.Z. ANTAS, F.M.B.V. SILVA & S.B.SCHERER. 2000. Migração e dados demográficos do marrecão Netta peposaca (Anseriformes, Anatidae) no sul do Brasil, Uruguai, Paraguai e norte da Argentina. Melopsitaccus, Belo Horizonte, 3(4):143- 158.

Zoneamento proposto de caça de banhado - 2003

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Legenda Municípios Propostos

Fonte: Divisão Municipal,IBGE 2002

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