Os Impactos Da Territorialização Dos Assentamentos Rurais Em Candiota, RS Ciência E Natura, Vol
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Ciência e Natura ISSN: 0100-8307 [email protected] Universidade Federal de Santa Maria Brasil Alves, Flamarion Dutra; Pires Silveira, Vicente Celestino Os impactos da territorialização dos assentamentos rurais em Candiota, RS Ciência e Natura, vol. 30, núm. 1, 2008, pp. 149-172 Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=467546318010 Como citar este artigo Número completo Sistema de Informação Científica Mais artigos Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Home da revista no Redalyc Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto Os impactos da territorialização dos assentamentos rurais em Candiota, RS * Flamarion Dutra Alves 1, Vicente Celestino Pires Silveira 2 1UNESP Av. 30-A, 614, casa 08. Vila Alemã, Rio Claro SP 13506.680 e-mail: [email protected] 2Departamento de Educação Agrícola e Extensão Rural Centro de Ciências Rurais/UFSM - Santa Maria, RS e-mail: [email protected] Resumo Este artigo tem como objetivo analisar os impactos da territorialização dos assentamentos rurais no município de Candiota, loca- lizado na região sul do Rio Grande do Sul. A discussão inicial parte do processo de ocupação territorial do Rio Grande do Sul, na qual se inicia as diferenças regionais, de um lado a grande propriedade na região sul do es- tado e de outro a pequena propriedade na parte norte-nordeste do estado. O processo de modernização na agricultura, a partir de 1960, agravou as desigualdades socioeconômicas causando o aumento do êxodo rural, con- centração de terras e renda. Esse processo levou ao surgimento de movi- mentos sociais no campo, que reivindicavam a distribuição de terras e a desconcentração fundiária. No fim da década de 1980, começa a se implementar assentamentos rurais em Candiota ocasionando uma diminuição na concen- tração fundiária e aumentando o dinamismo socioeconômico no espaço rural do município. Em 2006, Candiota conta com vinte e cinco assentamentos com 693 famílias que alteraram e geram uma nova dinâmica no município. Palavras-chaves: Questão Agrária, Assentamentos Rurais, Candiota, Territorialização. Summary This paper analyzes the impacts of rural settlements territorialization in the Candiota County, located in the south region of the Rio Grande do Sul. The topic starts from the territorial occupation of Rio Grande do Sul state that begins with regional differences, one side the *Dissertação defendida no Programa de Pós-Gradauação em Extensão Rural - Centro de Ciências Rurais da UFSM, 2006. Ciência e Natura, UFSM, 30 (1): 149 - 172, 2008 149 great property in the south region and another one, the small property in north-northeast region of the state. The modernization process in agriculture, from 1960, amplifies the social-economical difference causing the increase of the rural exodus, land and income concentration. Consequently, begins social movements in the rural areas, which demanded land distribution and agrarian structure modification. In the end of the decade of 1980, it establishes rural settlements in Candiota causing a reduction in the agrarian concentration and increasing the social-economical dynamism in the rural area of the County. In 2006, Candiota has twenty and five rural settlements with 693 families. They had modified and generate a new dynamics in the County. Key-Words: Agrarian questions, Rural settlements, Candiota, Territorialization. Introdução A ocupação populacional realizada, em um espaço, trás mudanças de diversas ordens: social, econômica, cultural entre outras. Esse processo de transformação do espaço é conseqüência de diversos motivos, que nem sempre são analisados sistematicamente, o resgate histórico vem contri- buir para a verificação da origem das transformações. O processo de colonização e ocupação realizado no estado do Rio Grande do Sul não foi homogêneo no que se refere às etnias, estrutura fundiária e atividades agropecuárias. Porém, o caráter concentrador na Mesorregião Sul permaneceu intacto, com suas grandes propriedades e va- zios demográficos, barrando a possibilidade de desenvolvimento econômi- co e social para a maioria da população dessa região. A modernização na agricultura brasileira ocorrida a partir da dé- cada de 1960, trouxe uma gama de mudanças para o campo e no Rio Gran- de do Sul não foi diferente, havendo uma expansão das atividades agrícolas de commodities, principalmente soja e trigo no planalto gaúcho, situado na Mesorregião Norte do Estado que favoreceu a expansão da grande propri- edade mecanizada ocupando cada vez mais o espaço que pertencia à peque- na propriedade. A exclusão dos pequenos agricultores no planalto gaúcho a partir da década de 1960 agravou o êxodo rural e o conseqüente inchaço urbano em alguns municípios. A exclusão rural criou ainda uma demanda por terra, ou seja, a luta pela reforma agrária ficou cada vez mais acentuada com o surgimento de movimentos sociais do campo, por exemplo, o Movi- mento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). Assim, as transformações no campo devido à modernização da agri- cultura, pressão pela reforma agrária e a diminuição da concentração fundiária no campo brasileiro entraram com força no debate da questão agrária surgindo 150 Ciência e Natura, UFSM, 30(1): 149 - 172, 2008 à importância de estudos com relação à reforma agrária e os resultados obti- dos, após a instalação dos assentamentos rurais. Quais os impactos sociais, econômicos, culturais entre outros nos territórios conquistados? A pesquisa teve como local de análise o município de Candiota, no Rio Grande do Sul, no qual apresenta um total de vinte e cinco assenta- mentos rurais, onde a estrutura fundiária municipal se caracterizou histori- camente pela grande propriedade, e hoje, contrasta com um elevado núme- ro de pequenas propriedades. Nesse sentido, surge a importância da análise no município de Candiota para proporcionar reflexões acerca da reforma agrária e da agricultura familiar. Material e métodos Ao pesquisar realidades cada vez mais dinâmicas e complexas se faz necessário aplicar instrumentos de análise que permitam abordar uma variedade de aspectos e informações. Buscou-se uma metodologia a qual permitiu uma observação do todo e dos elementos que o compõem e as inter-relações entre esses elementos. Sendo assim, através da metodologia sistêmica ou enfoque sistêmico de Bertalanffy (1975) e de Morin (1977) atingiu-se os objetivos propostos anteriormente. Inicialmente, considera-se uma breve explicação sobre a metodologia sistêmica, sua importância e aplicações em ciências humanas, e em seguida os procedimentos metodológicos utilizados na pesquisa reali- zada no município de Candiota-RS, com relação aos impactos dos assenta- mentos rurais analisados de modo sistêmico. A metodologia sistêmica nas ciências humanas A investigação priorizou uma análise ampla da realidade, com di- versos aspectos. A ciência precisa de um enfoque sistêmico para diagnosti- car a realidade humana, pois como disse Bertalanffy (1975) sobre as duas grandes mudanças ocorridas na sociedade contemporânea e que por essas mudanças surge a necessidade desse enfoque. A teoria de Bertalanffy (1975) se baseia em um método de análise sistêmico, integrando as partes, ou seja: (...) A tendência ao estudar os sistemas como uma entidade e não como um aglomerado de partes está de acordo com a tendência da ciência contemporânea que não isola mais os fenômenos em contextos estreitamente confinados, mas abre-se ao exame das interações e investiga setores da natureza cada vez maiores (ACKOFF 2, 1959 apud BERTALANFFY, 1975, p.25). 2ACKOFF, R .F. Games, Decisions and Organization . General Systems, 145- 150, 1959. Ciência e Natura, UFSM, 30 (1): 149 - 172, 2008 151 A partir dessas mudanças no enfoque do método de investigação, esta pesquisa norteia-se pela metodologia sistêmica que busca a análise de diversas categorias em forma integrada (Figura 1). Cada elemento apresen- ta vários sub-sistemas, e esses devem ser analisados entre si em simultanei- dade, suas interferências mútuas e suas ligações. A ação de um sub-sistema pode provocar uma reação em outro sub-sistema, direta ou indiretamente que por sua vez recebe influência de outro sub-sistema de seus elementos ou de outro elemento. Figura 1 . Abordagem sistêmica ou enfoque sistêmico de análise. Fonte: ALVES (2006). Ao analisar o objeto de estudo deve-se discuti-lo a partir do todo, para isso é fundamental verificar as interações existentes entre os elemen- tos, conforme Morin (1977, p. 101) A idéia de inter-relação remete para os tipos e as formas de ligação entre elementos ou indivíduos, entre estes elementos / indivíduos e o todo. Assim, o sistema é uma unidade global organizada de inter-relações entre elementos, ações ou indivíduos (Morin, 1977, p.100). Assim, o enfoque sistêmico baseia-se na análise do processo de organização de cada elemento e nas inter-relações entre eles, ou seja, a idéia do todo passa pelas riquezas das interconexões, das interfaces entre 152 Ciência e Natura, UFSM, 30(1): 149 - 172, 2008 os elementos, e não do número de elementos, não sendo um mero agrega- do, amontoado ou soma de partes. Por esses motivos vistos, a utilização da metodologia sistêmica é peça-chave para o conhecimento da realidade de uma sociedade, pois os conhecimentos globais e históricos são importantes para a análise local de um município, como no caso de Candiota (Figura 2). Unidades de análise sistêmica no objeto de estudo Figura 2 . Unidades de análise