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A INVENÇÃO DA TRADIÇÃO: A “DEVOÇÃO” AO SENHOR BOM JESUS DO BONFIM NA/DA

Francisco Antonio Nunes NetoI

RESUMO ABSTRACT

Este artigo é parte integrante de uma pesquisa de This article is part of an ongoing doctoral re- doutorado em andamento sobre as memórias da Festa e search on the memories of the festival and the dos festejos ao Senhor Bom Jesus do Bonfim na Bahia a festivities to Senhor Bom Jesus do Bonfim in Ba- partir de 1745. Neste sentido, este texto de caráter intro- hia since 1745. Thus, this text of and introduction, dutório apresenta preliminarmente as origens remotas has preliminarily the remote origins of devotion and da devoção e culto a Este Senhor na Bahia, integrando- worship to this Lord in Bahia, integrating the set of -se ao conjunto de estudos e pesquisas sobre as histó- studies and research about the stories of feasts and rias das festas e os festejos populares no Brasil. festivals popular in .

Palavras-chave Keywords

Festa. Devoção. Tradição. Memória. Identidade. Bahia. Party. Devotion. Tradition. Memory. Identity. Bahia. Brasil. Brazil.

Interfaces Científicas - Humanas e Sociais • Aracaju • V.1 • N.2 • p. 45-55 • fev. 2013 • 46 • RESUMEN

Este artículo es parte integrante de una investigación estudios y pesquisas sobre las historias de las fiestas de doctorado en andamiento sobre las memorias de y las celebraciones populares en Brasil. la Fiesta y de las celebraciones al Señor Buen Jesús del Bonfim en Bahia a partir de 1745. En este sentido, Palabras clave este texto de carácter introductorio, presenta prelimi- narmente los orígenes remotos de la devoción y culto Fiesta. Devoción. Tradición. Memoria. Identidad. a este Señor en Bahia, integrándose al conjunto de Bahia. Brasil.

1 INTRODUÇÃO

As origens remotas da devoção ao Senhor Bom Je- [...] como em diferentes lugares e momentos uma sus do Bonfim na Bahia e das representações (CHAR- determinada realidade social é construída, pensada, dada a ler. Uma tarefa deste tipo supõe vários cami- TIER, 1990) a Ele elaboradas remontam ao século XVIII, nhos. O primeiro diz respeito às classificações, divi- de acordo com as referências e fontes de pesquisa sões e delimitações que organizam a apreensão do existentes sobre esta temática. Neste sentido, seguir a mundo social como categoriais fundamentais de per- “direção” como dito no trecho da música em destaque, cepção e de apreciação do real. Variáveis consoante as classes sociais ou os meios intelectuais, são produzi- relaciona-se, em Salvador, com a história desta que é das pelas disposições estáveis e partilhadas, próprias a mais forte entre as manifestações de “fé” pública e do grupo. São estes esquemas intelectuais incorpora- popular na/da Bahia. Direção que como farol e fio con- dos que criam as figuras graças às quais o presente dutor ao longo de 277 anos tem movido uma legião de pode adquirir sentido, o outro torna-se inteligível e o espaço ser decifrado. (CHARTIER, 1990, p. 16) fiéis de diversas nacionalidades, de diversos credos, de diversas cores e classes sociais à Colina Sagrada para Aos nossos dias, os “festejos” ao Senhor Bom Je- demonstrar sua devoção ao Senhor da Colina, na se- sus do Bonfim iniciam-se com um “cortejo” de fiéis gunda quinta-feira do mês de janeiro. às 10 horas da manhã na segunda quinta-feira do mês de janeiro, num percurso de aproximadamen- O conceito de “representação” tal como formulado te 8 km que tem como ponto de partida a Igreja de por Roger Chartier nos possibilitou tocar no conjunto Nossa Senhora Conceição da Praia e como ponto de fontes e referências sobre os “festejos” ao Senhor de chegada a Colina Sagrada – entre foguetes, si- Bom Jesus do Bonfim, prescrutando entre as “repre- nos, preces e samba (PENNA, 1978) –, local onde sentações” elaboradas as formas de enunciação sobre encontra-se a Igreja do Senhor do Bonfim que anu- esta prática cultural. Dessa maneira, através das fon- almente atrai mais de um milhão de pessoas entre tes e referências que constituem-se em documentos devotos do Santo, moradores da cidade e turistas primordiais para a realização deste estudo, como por de outros estados brasileiros assim como de outros exemplo os Jornais Diário de Notícias, Diário da Bahia e países, que em sua maioria trajam-se de branco, demais documentos e fontes de pesquisa como as atas cor que simboliza e identifica o Senhor Bom Jesus e anuários da Irmandade Devoção do Senhor Bom Je- do Bonfim na tradição católica e Oxalá nas tradi- sus do Bonfim, intentamos ler as histórias sobre as ho- ções sacro-africanas. menagens ao Senhor da Colina Sagrada, identificando

Interfaces Científicas - Humanas e Sociais • Aracaju • V.1 • N.2 • p. 45-55 • fev. 2013 • 47 • 2 As origens da devoção ao Senhor Bom Je- sus do Bonfim na Bahia

No Brasil, a “invenção da tradição” (HOBSBAWM, do Rosário do Pópulo da Penha de França de Itapagipe 1997) de celebrar e festejar o Senhor Bom Jesus do ou simplesmente Igreja da Penha, edificada em Itapa- Bonfim relaciona-se com a figura de Theodózio Rodri- gipe em 1743. Neste lugar nasceu a devoção ao Santo gues Faria, capitão de Mar e Guerra. Em 28 de novem- durante a Páscoa, período em que a Igreja Católica re- bro de 1742 o capitão Theodózio e a tripulação da Nau lembra a morte e a ressurreição do Cristo Crucificado. Setúbal conseguiu aportar em Lisboa após livrar-se A escolha do lugar deve-se ao fato de ter sido o local de um pavoroso temporal que quase os fizeram nau- onde Theodózio Faria desembarcou festivamente com fragar. Este fato evidencia indícios da crença que Ro- a sua tripulação em 1745. De acordo com as fontes rigues Faria passou a ter no Bom Jesus do Bonfim. Em e estudos existentes sobre as origens da devoção ao solo português, como sinal de agradecimento “pros- Senhor do Bonfim, em 18 de abril de 1745 Theodózio seguiram, descalços, em procissão, levando a vela do Faria solicitou ao então Arcebispo da Bahia D. José traquete para a igreja de Nosso Senhor da Boa Morte” Botelho de Matos permissão (licença) para fundar na (BAHIA, 1995). De retorno à Salvador em 1745, o ca- Bahia a Irmandade de devotos leigos, de cuja missão pitão de Mar e Guerra trouxe consigo uma imagem do seria zelar e manter o culto ao Bom Jesus do Bonfim Senhor Bom Jesus do Bonfim em pinho de riga medin- e à Nossa Senhora da Guia, desenvolver atividades do 1,06 de altura semelhante a existente em Setubal sociais dentro dos princípios da Igreja como a evange- e, junto com ela, em si, o desejo em dar continuidade lização e a catequese, assim como, zelar conservar e a fé que havia livrado-os do infortúnio da morte. De manter o patrimônio da Devoção. acordo com Eric Hobsbawm (1997, p.9), Após a composição do grupo gestor, a Irmandade [...] por “tradição inventada” entende-se um conjunto passou a denominar-se Devoção do Senhor do Bon- de práticas, normalmente reguladas por regras táci- fim, quando, logo em seguida, configurou-se a Mesa ta ou abertamente aceitas; tais práticas, de natureza natural ou simbólica, visam inculcar certos valores e Administrativa da Devoção ao Senhor do Bonfim normas de comportamento através da repetição, o que constituída pelos cargos de juiz, escrivão, tesourei- implica, automaticamente, uma continuidade em rela- ro, procurador, zelador, benfeitor e mordomos, tendo ção ao passado. Aliás, sempre que possível, tenta-se como cuidador-responsável o capitão Theodózio que estabelecer continuidade com um passado histórico apropriado. morando na Cidade Alta transferiu-se para o Alto do Bomfim estabelecendo residência na atual rua do Na época em que se inscreve os indícios da “tra- Faria, onde faleceu no ano de 1757. Seu corpo foi dição” e devoção ao Bom Jesus do Bonfim na Bahia, sepultado na nave central no interior da Igreja do o Papa Bento XVI era o Pontífice da Igreja Católica, Bonfim, onde ainda hoje, milhares de fiéis transitam, André Melo e Castro vice-Rei na Colônia da Bahia e D. não sabendo que alí jaz o capitão de Mar e Guerra João V Rei de Portugal. Theodózio Rodrigues Faria, um dos principais res- ponsáveis no estabelecimento e institucionalização Já havia em Portugal o costume da devoção ao da devoção ao Senhor do Bonfim no Brasil. (TAVA- Bom Jesus nas cidades Areosa, Setúbal, Povoa, Cha- RES, 1964, p. 36) Era prática cultural no Brasil enter- musca, Minho, Porto, Vila Real, Valença, Carreço e rar os falecidos mais abastados no interior das Igre- Portoalegre. No Brasil, a imagem do Bom Jesus foi jas e os pobres em suas cercanias. Na lápide onde primeiramente colocada na Igreja de Nossa Senhora encontram-se depositados os restos mortais corpo

Interfaces Científicas - Humanas e Sociais • Aracaju • V.1 • N.2 • p. 45-55 • fev. 2013 • 48 • do capitão Rodrigues Faria, lê-se: “Aqui jaz o Cap. De na Bahia, o que nos mobiliza a questionar quais teriam Mar e Guerra Thoedózio Roiz de Faria, primeiro ben- sido os motivos e fatores que imperaram para que não feitor desta Igreja”. fosse grafado na documentação e atas da Devoção ao Bom Jesus do Bonfim a condição do capitão como tra- Entretanto, o costume de enterrar os mortos no ficante de escravos, uma vez que, não era estranho e interior das Igrejas ou em áreas adjacentes foi interdi- nem coibido pela Igreja tal prática. tado pelos poderes locais em quase meados do século XIX. De acordo com o saber médico em vigor naquele Além de Theodózio Rodrigues Faria, Salvador de contexto, as “epidemias” que assolavam a população Brito Ribeiro foi outro traficante de escravos que pra- como o cólera morbus, a peste bubônica, a varíola, o ticava a fé a Este Santo católico, embora na Bahia tifo, a febre amarela, a bexiga, dentre outras, relacio- setecentista os traficantes de escravos e marinheiros navam-se com o costume de enterrar os mortos nos tivessem apreço e devoção especial por São José, ten- termos então praticados, assim como da ausência de do fundado na Igreja Santo Antonio da Barra uma Ir- saneamento, da utilização de cloacas ou quartos de mandade composta por comerciantes da Costa da Mina despejos localizados no interior das casas, do esgoto a (BAHIA, 1995). Entretanto, quanto à devoção ao Bom céu aberto e da existência de grande quantidade de ra- Jesus do Bonfim – a quem recorriam para solicitar aju- tos responsáveis pela causa de várias doenças (DAVID, da no desenvolvimento das suas atividades comercias 1996). Durante a Regência, em virtude das interdições, – a fé dos traficantes de escravos pode ser lida através as irmandades passaram a adquirir terrenos aos quais da quantidade expressiva de ex-votos esculpidos em denominaram “campo santo”, onde realizariam os se- madeira com cenas de viagens marítimas e das tor- pultamentos. A introdução desta prática cultural – de mentas, objetos guardados no Museu dos Ex-Votos sob sepultar longe dos limites das Igrejas – foi contestada os cuidados da Devoção ao Bom Jesus do Bonfim. por setores da população que armada de foices, facas, facões, enxadas e demais instrumentos, promoveram Entre os anos de 1746 e 1754 processou-se a constru- verdadeira devassa nos cemitérios. Este fato ocorrido ção da Igreja do Senhor Bom Jesus do Bonfim num local entre 1834 e 1835 entrou para a história da Bahia e do que, provavelmente, tenha pertencido a algum proprietá- Rio de Janeiro como “Cemiterada” (REIS, 1991). rio de terras da região, uma vez que na época, em Itapa- gipe, a maioria das faixas de terra pertencia aos donos de Embora sempre citado na documentação que trata engenho e políticos da cidade. Em larga medida é possí- das origens remotas da Devoção ao Senhor Bom Jesus vel afirmar que a edificação do Templo tornou-se possível do Bonfim e da edificação da Igreja deste Santo na através do recebimento do terreno doado e às expensas Bahia, existem poucos indícios ou indícios menos subs- do dinheiro obtido com a louvação do Santo, primeira- tanciais sobre a vida do capitão Theodózio Rodrigues mente, entre uma massa de devotos composta por pes- Faria, traficante de escravos, que estabeleceu relações cadores, negros livres, brancos, pequenos comerciantes e comerciais entre a Bahia, Europa e África, como consta demais moradores da região de Itapagipe. Neste contexto, nos documentos da Devoção ao Senhor Bom Jesus do segundo Katía Mattoso (1992), a construção das igrejas Bonfim, Irmandade fundada em 1745. Além de trafi- era uma atribuição do rei de Portugal, mas, até onde se cante Faria era Administrador dos Fumos, cargo criado sabe, nenhuma espécie de auxílio foi prestado pela Coroa pelo Marquês de Pombal cuja função era inspecionar e portuguesa. Curiosamente, embora tenha havido ampla separar o produto a ser vendido no comércio exterior. participação popular no processo de construção da Igreja, A função do capitão como traficante não consta nem notamos que desde a primeira composição, a Mesa Admi- na documentação consultada nem nos estudos exis- nistrativa da Devoção ao Senhor do Bonfim foi constituída tentes sobre o início da devoção ao senhor do Bonfim apenas por representantes das camadas sociais privile-

Interfaces Científicas - Humanas e Sociais • Aracaju • V.1 • N.2 • p. 45-55 • fev. 2013 • 49 • giadas. O que isso poderia significar uma vez que há uma foi esculpida, retratando o momento em que, agoni- nota dissonante entre os personagens que majoritaria- zando, em expressão de dor e com a cabeça pendente mente colaboraram para que a Obra se efetivasse e os sobre o ombro direito, o Senhor Bom Jesus do Bonfim outros personagens que, como representantes, estavam entrega sua alma a Deus Pai. A cruz que atualmente é legitimados a legislar em seu nome? vista na Basílica do Bonfim não é a originalmente vin- da de Setúbal. Esta, que foi substituída em 1853, con- Do ponto de vista arquitetônico a Igreja do Nosso tém uma guarnição que a reveste e uma placa onde se Senhor Bom Jesus do Bonfim seguiu os modelos das lê: “feita no anno de 1853, sendo thesoureiro Manoel Igrejas portuguesas, sobretudo o modelo projetado Martins Torres”. Em 1892 a Imagem do Santo foi colo- pelo arquiteto português Manuel Roiz João Pedro para cada em um nincho de metal doado pelo comerciante a Igreja de Setúbal construída em 1689. Uma vez edi- Olímpio Afonso Moura. A imagem de Nossa Senhora da ficada, a Igreja da Colina Sagrada do Bonfim passou Guia em vestes ornados com motivos florais, insinua-se pertencer à Paroquia de Santo Antônio Além do Carmo estar sendo insufladas pelo vento. Compõe a Imagem como as demais então existentes na Cidade Baixa. um globo com nuvens azuis, róseas e amarelas e quatro querubins onde numa peanha e de pé Ela carrega no Em junho de 1754, quando da conclusão da pri- braço esquerdo a Imagem do Deus Menino e na mão di- meira etapa da construção da Igreja do Bom Jesus do reita uma estrela-guia de prata dourada que simboliza Bonfim, o Templo foi inaugurado com missa festiva a orientação que dá aos seus filhos. sendo a imagem do Bom Jesus transferida da Igreja da Penha para sua nova morada à Colina Sagrada, em O lugar onde foi edificada a Igreja foi escolhido solene, imponente e concorrida procissão. Governava pelo capitão Theodózio Faria pela beleza do sítio e a Bahia D. Luiz Pedro Peregrino de Carvalho Menezes disposição topográfica, uma vez que, a localização e Athaíde, 10º conde da Autoguia e 6º vice-Rei do Bra- no alto de uma colina possibilitaria a Igreja ser vista sil. A prelazia ficou aos encargos do Arcebispo D. José à longa distância na cartografia da cidade. Da mesma Botelho de Mattos. No contexto de sua inauguração forma, era crença da época, herança medieval, que a a Igreja não possuía grandes atrativos arquitetônicos, altura era um dispositivo de localização que facilitava por esse motivo, não figurava entre as mais suntuosas a inter-comunicação entre Deus e os homens (fiéis). da Bahia na época da sua fundação. (VIANNA, s/a, p. Como já dito anteriormente, a efetivação das obras 35) Na primeira etapa foi inaugurado apenas a Cape- tornou-se possível em virtude das doações feitas à la-Mor e Altar onde foram entronizadas as imagens Mesa Administrativa da Devoção do Senhor Bom Je- do Senhor Bom Jesus do Bonfim e da Nossa Senhora sus do Bonfim desde o contexto em que a Imagem ain- da Guia, esta esculpida em madeira e medindo 90cm, da encontrava-se na Igreja da Penha. Assim, o projeto trazida também de Setúbal por Theodózio Rorigues de do capitão Faria efetivou-se com os parcos recursos Faria. Nossa Senhora da Guia passou a ser cultuada do próprio capitão, das doações feitas pelos romeiros juntamente com o Senhor Crucificado, seu Filho. Es- e demais devotos em dinheiro, velas, azeite para as tas Imagens possuem além do valor religioso, dimen- lâmpadas, objetos decorativos para a Igreja, alfaias, sões de objetos de arte que as distinguem. terrenos, dentro de uma infinidade de outros donati- vos em nome da fé. O Templo e o seu entorno foram O conjunto escultórico da Imagem do Senhor Bom ganhando nova feição com a continuidade da cons- Jesus do Bonfim é composto por uma cruz, um apare- trução das torres e dos seus campanários com termi- lho de prata contendo barra decorativa, ponteiras, pla- nações em forma de bulbos recobertas com azulejos ca com a inscrição INRI, resplendor, cravos com pedras amarelos, a sacristia, a sala dos milagres, o frontão, preciosas, coroa de espinho e mandorla. Esta imagem as portas e varandas laterais.

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Em face às constantes visitas dos fiéis à Colina Até o estabelecimento da tradição que celebra os Sagrada, as áreas adjacentes à Igreja passaram por festejos ao Senhor Bom Jesus do Bonfim no mês de processos de urbanização e paisagismo. As ações janeiro, por conta das questões de ordem político- modernizadoras visavam criar mecanismos que faci- -religiosas, esta celebração já aconteceu em meses litassem o acesso dos devotos ao lugar, num contexto distintos no calendário de festas religiosas na Bahia. em que chegar ao Alto do Bonfim não era tarefa das Por exemplo, até 1803 quando houve a introdução mais fáceis, visto que, Salvador não possuía meios de das “novenas” no habituário das práticas religiosas transportes capazes de satisfazer às demandas então da Igreja e em 1804 quando o Papa Pio VII concedeu apresentadas. Distando Itapagipe do centro urbano autorização para que as homenagens ocorressem da cidade do Salvador, sempre no segundo domingo do mês de janeiro após a Epifania – dia que festeja-se o Santíssimo Sacramen- [...] o acesso por terra era extremamente complicado, to –, as reverências e homenagens ao Santo acontece- pois os terrenos da baixa que ligava a cidade à área ram em distintos meses do ano como fevereiro (1763), hoje conhecida como Calçada eram extremamen- te alagadiços, ficando o transeunte, muitas vezes, a abril (1765), maio (1769) e setembro (1771), embora mercê da maré para conseguir chegar até a península. a partir de 1773 o mês de janeiro já fosse o praticado Este acesso era realizado sempre em lombo de animais por escolha da Mesa Administrativa da Devoção do ou ainda nas cadeirinhas de arruas. A maneira mais fá- Senhor Bom Jesus do Bonfim. No mesmo ano da con- cil de acesso a esta região, sem dúvida, era através da baía de Todos os Santos, em barcos e saveiros. O de- cessão feita pelo Papa Pio VII também foi aprovada sembarque ocorria no Porto de Mont Serrat, localizado pela Mesa Administrativa a entronização da imagem próximo à igreja de Mont Serrat, na extremidade inter- de São Gonçalo do Amarante então tido entre as mo- na da baía, ou no porto dos Pescadores, localizado na ças casadoiras como casamenteiro. Sobre este Santo parte interna da baía, no sopé da Colina do Bonfim. (SANTANNA, 2009, p. 116) daremos maior grafia no decorrer deste estudo.

Através das doações e esmolas angariadas De acordo com a documentação da Devoção ao entre os fiéis, continuamente, novos empreendi- Senhor Bom Jesus do Bonfim já citada neste texto, mentos modernizadores iam alcançando o lugar os “festejos” a Este Senhor duravam dez dias come- através das ações modificadoras da Mesa Admi- çando com as novenas e terminando com a realização nistrativa da Devoção do Senhor do Bonfim, tais de missas solene e campal no domingo. Entretanto, como a abertura da Avenida Dendezeiros (1798), de acordo com os Jornais Diário de Notícias, Diário da o calçamento da Ponte da Pedra (atual Ladeira do Bahia e A Tarde, assim como nas demais referências Binfim), a urbanização da praça onde o desdobra- analisadas, as homenagens ao Santo encerravam- mento das comemorações ao Santo tomou lugar à -se efetivamente na Segunda-Feira do Bonfim. Esta, medida que o número de fiéis foi crescendo (1810) a partir dos anos 30 do século XX, passou a ser pra- e a abertura de uma ligação entre a Baixa do Bon- ticada entre os baianos como prévia do carnaval de fim, Largo de Roma e Calçada, numa extensão de Salvador. Utilizando o bordão “tristezas não pagam dí- mil metros. Para a realização destas obras a Mesa vidas” como fartamente noticiado no Jornal Diário de Administrativa da Devoção do Senhor do Bonfim Notícias durante toda a década de 1930, grande parte não contou com o auxílio dos recursos financeiros da população da cidade fizera-se presente. do poder público, como pode ser observado nas atas de reuniões, anuários, revistas e demais do- No largo da Igreja em 1849 já encontravam-se cumentos da Irmandade. Havia no conjunto des- construídas as casas dos romeiros, fiéis que deslo- sas ações modernizadoras a intenção em valorizar cavam-se das mais longínquas localidades do Estado a Igreja do Senhor do Bonfim. para os rituais litúrgicos tanto no contexto da “festa”

Interfaces Científicas - Humanas e Sociais • Aracaju • V.1 • N.2 • p. 45-55 • fev. 2013 • 51 • e dos “festejos” quanto em outras ocasiões e que não do ponto de vista do formato – pelas “fitinhas do Se- podiam regressar no mesmo dia para às suas cidades nhor do Bonfim” que não mais produzida artesanal- de origem. Era costume entre os romeiros dirigir-se à mente na Bahia passou a ser industrializada em São Colina Sagrada para pagar promessas ao Senhor do Paulo. Mesmo assim, continuaram sendo vistas por Bonfim por Ele haver intercedido em problemas de todos os lados “dependuradas nos automóveis ao lado calamidade pública, em males de saúde e em toda do chofer, no escritório comercial, na residência do sorte de graça concedida. A presença costumeira dos pobre e do rico” (TAVARES, 1964, p.44). Atualmente, romeiros e demais fiéis na Colina Sagrada foi dando a forma como é usada pelos fiéis a distingue da sua a tônica a dimensão de fé e crença no Santo, fato que concepção original. favoreceu na multiplicação do números de devotos crescente a cada ano. De acordo com o Dr. José Edu- No decorrer do século XIX registram-se a insti- ardo Freire de Carvalho, tesoureiro da Devoção entre tuição de outras modificações, tais como, a devoção os anos de 1884 e 1934, o culto ao Senhor do Bonfim e festa ao Santíssimo Sacramento (1811), as obras tomou vasta proporção em virtude da presença dos ro- de talha na capela-mor pelo entalhador Antonio meiros que passaram a divulgar as graças alcançadas Joaquim dos Santos, alcunhado por “Juca Pataca” fruto da devoção ao Santo. (1814), pintura do teto e das laterais baseado na Es- cola Flamenga realizada por Antonio Joaquim Velasco No início do século XIX os adeptos e devotos do (1817-1819), primeira saída da imagem do Senhor do Nosso Senhor Bom Jesus do Bonfim passaram a uti- Bonfim do seu nicho sagrado (1823), composição de lizar como artefatos da fé a “medida”, os “registros” músicas para as novenas pelo musicista Damião Bar- e as “estampas” do Senhor do Bonfim e de Nossa se- bosa de Araújo (1839), instalação do relógio fabricado nhora da Guia, que naquele contexto, simbolizavam pelo baiano José Francisco Tavares na torre esquerda ao mesmo tempo espécie de souvenires e amuletos (1848), reconstrução da torre ao lado do Evangelho sagrados utilizados pelos fiéis como marca da crença (1849), implantação do serviço de iluminação man- no Santo e da graça que objetivavam lograr. A “me- tido a gás carbônico (1862), inauguração do adro da dida”, como originalmente denominava-se as fitinhas Igreja, do chafariz na praça, colocação do gradil de do Bonfim por conter o tamanho exato do braço es- ferro que contorna a Igreja, instalação da estátua do querdo da Imagem do Senhor do Bonfim – distância Cristo Redentor, primeira imagem do Santo em praça entre a mão até a altura do coração – foi criada em pública no Brasil (1863); assentamento dos azulejos 1809 por Manoel Antonio da Silva Servo, tesoureiro portugueses na fachada do Prédio (1873), assenta- da Devoção do Senhor do Bonfim, com o objetivo de mento das pedras do adro da Igreja e construção da angariar entre os fiéis fundos para a Igreja. Bordada Capelinha das Almas ou Santa Feliciana (1885). Com à mão, a “medida” era feita em tecido de algodão e o apoio do poder local, o Arcebispo em exercício proi- ornada com fios dourados. Era usada pelos fiéis como biu a lavagem no interior do Templo em 1890, reafir- marcador de livros, proteção e relíquia (BAHIA, 1995, mando a proibição em 1899 o Arcebispo D. Luis. Estas p. 3). Em larga medida, juntamente com a propagação informações sobre as modificações no Templo e no da graças alcançadas por intermédio do Santo através seu entorno, constam tanto nos Jornais Diário de No- dos romeiros, as “medidas” proporcionaram a difusão tícias e Diário da Bahia, quanto na documentação da do nome do Santo no Brasil e em outros países (SAN- Devoção ao Senhor Bom Jesus do Bonfim. TANNA, 2009, p.139). A história da Igreja do Senhor do Bonfim confunde- Como decorrência do processo de industrialização -se com a própria história de sua construção proces- das coisas e dos objetos, a “medida” foi substituída – sada em mais de duzentos anos. Construção aqui é

Interfaces Científicas - Humanas e Sociais • Aracaju • V.1 • N.2 • p. 45-55 • fev. 2013 • 52 • entendida tanto do ponto de vista da edificação e ar- lo XIX, a partir das fontes documentais, as mulheres quiteturização do prédio-morada do Senhor quanto re- passaram a ser assimiladas como “irmãs mesárias”. lativo ao conjunto de práticas, normas e regras ao culto Como já mencionado, o primeiro estatuto da Devoção do Santo iniciadas em 1746 quando da implantação da foi aprovado no ano de 1918 pelo Arcebispo D. Jerôni- pedra fundamental no lugar onde se erigiu o Templo. mo Tomé da Silva.

Neste sentido, no decorrer do século XX outras Segundo este documento, para fazer parte da De- ações modificadoras foram implementadas, tais voção como membro o requerente tinha que atender como a instalação elétrica na fachada do Templo a alguns requisitos, por exemplo: não pertencer a (1902), aprovação do primeiro Estatuto da Devoção sociedades secretas, não fazer parte de partidos po- do Senhor do Bonfim por D. Jerônimo Tomé da Sil- líticos, estar em plena comunhão com a Igreja Cató- va (1918), aprovação do Hino Oficial do culto a Ima- lica Apostólica Romana, possuir maioridade civil e ter gem do Senhor do Bonfim por D. Jerônimo Tomé da um trabalho aceito como lícito na sociedade. Ainda, Silva (1923), “sagração” da Igreja por D. Miguel de como requisito para o limitado número de vagas, ser Lima Valverde, baiano, arcebispo de Olinda (1923), bacharel em Direito e Contabilidade para as funções publicação do primeiro estudo sistematizado sobre de Procurador e Tesoreiro, respectivamente. Através a história das origens da Devoção ao Senhor Bom dos nomes de alguns engenheiros, jornalistas, profes- Jesus do Bonfim pelo Dr. José Eduardo Freire de Car- sores das faculdades de medicina e direito e políticos valho Filho (1923), elevação da Igreja do Bonfim à que passaram pela Devoção como membros, perce- condição de Basílica Menor pelo Papa Pio XI (1927), bemos fortemente uma dimensão de classe. Dentre colocação dos quadros da Via Sacra trazidos de Mi- estes nomes figura: Carlos Costa Pinto, Sophia Henri- lão (1927), entronização da imagem do Coração de queta de Aguiar Costa Pinto, Adolfo Espinheira Freire Jesus trazida de Barcelona (1929), lançamento da de Carvalho, José Joaquim , Carlos Marback de campanha Telhado Novo (1969), inauguração do Mu- Andrade, Maria Augusta Marback de Andrade, Juracy seu dos Ex-Votos criado pelo tesoureiro da Devoção Magalhães, Otávio Mangabeira, Clemente Mariani, a Rubem Freire de Carvalho Tourinho (1975), criação família Freire de Carvalho, dentre outros conhecidos do emblema das Opas da Irmandade de autoria do na história da Bahia. mesário Dr. Mário de Sousa Gomes (1977), promul- gação do atual estatuto (1981), decretado por D. Trienalmente são escolhidos novos membros (“ir- Lucas Moreira Neves “Ano Jubilar” em função das mãos dignatários”) da Mesa Administrativa que, den- comemorações de 250 anos da chegada a Bahia da tre as atribuições listadas no Estato, encarregam-se Imagem do Senhor Bom Jesus do Bonfim e de Nossa pela organização da “festa” que homenageia o Senhor Senhora da Guia (1994) e visita do bispo de Setubal do Bonfim e cuida da continuidade da divulgação do D. Manuel da Silva Martins e do Padre Manuel Viera seu Nome. A Mesa é composta pelos irmãos dignatá- à Colina Sagrada (1995) rios nas funções de Juiz, Tesoureiro, Escrivão e Pro- curador. As eleições ocorrem em Assembleia geral Sobre a história da Devoção do Senhor Bonfim, as- com a presença dos irmãos devotos. Entre estes, dis- sociação pública de fiéis regida pelo Código do Direito tinguem-se os “beneméritos” – prestadores de serviço Canônico, cumpre destacar que esta manteve um ca- ao culto e às obras mantidas pela Devoção do Senhor ráter eminentemente elitista na composição de seus do Bonfim – a quem é concedido a Comenda do Se- cargos, durante muitos tempos ocupados apenas por nhor Bom Jesus do Bonfim, que quando completam homens de cujas idoneidades moral, cristã e cidadã setenta e cinco anos de idade, ascendem à condição fossem indubitáveis. Entretanto, em meados do sécu- de “mesários eméritos”.

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Na Basílica da Colina Sagrada há um conjun- rezavam-se pela intercessão no “Cólera Morbus” to de quadros que tem como objeto central Este que assolou drasticamente a população baiana; em Santo. Estas representações também tornaram-se 1923 no dia 03 de julho por ocasião do centenário objeto de devoção e culto para as diversas invoca- da Independência do Brasil, na Bahia, a Imagem ções a Ele solicitadas através das Imagens: A Morte foi conduzida na Galeota do Senhor dos Navegan- do Justo, A Morte do Pecador, Jesus no Horto das tes até o cais do porto, dali seguindo para a Igreja Oliveiras, Jesus na Presença de Pilatos, A Flage- da Vitória, neste mesmo ano houve a consagração lação de Jesus, Jesus Coroado de Espinhos, Jesus da Capela e do Altar-Mor; em 1942 encontrou-se Atado com a Cana Verde, Jesus Rumo ao Calvário, com a Imagem de Nossa Senhora da Conceição Bom Jesus Sofredor, Senhor Bom Jesus dos Passos, da Praia pelo fim da Segunda Guerra Mundial, em Senhor Bom Jesus dos Navegantes, Bom Jesus da 1945 em comemoração aos 200 anos da chegada Lapa, Bom Jesus do Monte Santo, Senhor Bom Je- das Imagens do Nosso Senhor Bom Jesus do Bon- sus do Bonfim, este último, também cultuado em fim e Nossa Senhora da Guia em 24 de junho de Portugal e entronizado na Bahia como Senhor do 1745; em 1959 pela comemoração do bicentenário Bonfim, seu padroeiro, mas ao longo da sua histó- da Freguesia de Nossa Senhora da Penha, em 1961 ria do Brasil também cultuado em diversas partes pelo Jubileu de Ouro da sagração episcopal de D. deste território. No período medieval haviam dois Augusto Álvaro da Silva; em 1976 em comemoração momentos em que eram prestadas homenagens ao ao tricentenário da criação da Arquidiocese de São filho de Deus: o Natal e a Páscoa face ao nascimen- Salvador, em 1980 em função da primeira visita do to e Paixão de Cristo quando com mais vagar a Ima- S.S. o Papa João Paulo II em missa campal no Cen- gem do Menino Jesus ou Crucificado era cultuada. tro Administrativo da Bahia; em 1994 pela comemo- ração dos duzentos e cinquenta anos da chegada Do Altar-Mor onde encontra-se entronizada, a das Imagens de Setúbal e pelo encerramento das Imagem do Senhor do Bonfim, por algumas vezes Missões e em 1º de dezembro de 1996 em função ao longo de sua história na Bahia, deixou seu ni- da vinda de São Paulo da Imagem de Nossa Senhora cho sagrado indo ao encontro dos fiéis que a Ele, Aparecida numa missa concorrida no Estádio Otá- por algum motivo de comoção coletiva, suplicava vio Mangabeira, Fonte Nova. intercessão. Neste sentido, registram-se as se- guintes saídas da Imagem da Colina Sagrada: em Aos nossos dias as devoções a Este Santo na Bahia 1823 saiu pela primeira vez para a Igreja de São podem ser verificadas, além de Salvador, em Ilha de Domingos no Terreiro de Jesus para uma procissão Maré, Macaúbas, Senhor do Bonfim, Feira de Santa- de penitência em função da instabilidade política na, Muniz Sodré, , Chorrochó, Nilo Peçanha, vivida no Estado por conta da guerra de Indepen- Xique-Xique, Jequiriça, Mucurerê, Santo Amaro da dência da Bahia tendo ali permanecido durante Puruficação, Nova Lima, Amélia Rodrigues, , nove meses por determinação do general portu- Barra do Choça, Ibititá, , , Palmeiras, guês Madeira de Melo. Finda a guerra o Senhor do Tremendade, , Mata de São João, Nilo Pe- Bonfim retornou para o seu Altar-Mor como herói çanha, Piatã, Jequiriçá, Rio do Pires e . Em e padroeiro da Bahia e do Brasil. outros estados brasileiros, existem devoções em Cam- po Grande/MS, Grajaú/GO, Pirinópolis/GO, Silvania/ Em 1842 saiu para a Igreja de São Francisco em GO, Catas Altas/MG, Bocaiúva/MG, São João Del Rei/ virtude da grande seca que assolou a Província e MG, Ouro Preto/MG, Diamantina/MG; Aracitaba/MG, outras localidades como o Sertão baiano, em 1855 Bonfinápolis/MG, Rio de Janeiro (capital/Copacabana) saiu para a Catedral da Sé onde em solenes missas e em Angra dos Reis e Magé; Olinda/PE, Aparecida/

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SP, Sorocaba/SP, Salgado/SE, Laranjeira/SE, Marechal no Brasil. Em Salvador, a cada ano renovam-se Deodoro/AL, Serra da Raiz/PB, Fortaleza e Crateús/CE, tanto a fé no Santo quanto a presença e partici- Conceição do Araguaia/N, Paraíba e Pará. pação de novos fiéis que continuam disputando lugar nas novenas, na lavagem, nas missas e na A “festa” ao Senhor Bom Jesus do Bonfim con- continuidade dos festejos que ocorrem na parte tinua integrando o ciclo de festividades religiosas externa do Templo.

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Recebido em: 20 de novembro de 2012 Avaliado em: 5 de dezembro de 2012 I Doutorando em Cultura e Sociedade/IHAC (UFBA) e Professor da Univer- Aceito em: 12 de dezembro de 2012 sidade do Estado da Bahia Departamento de Ciências Humanas e Tecno- logias/Campus V - [email protected]

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