O Caso Anitta
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REVISTA TEXTUS | São Cristóvão - ano 1, n. 1, p. 209-218, abr. 2019 APROPRIAÇÃO LINGUÍSTICA POR ARTISTAS BRASILEIROS PARA A INSERÇÃO NO MERCADO FONOGRÁFICO INTERNACIONAL: O CASO ANITTA Adriam Cirilo dos Santos Resumo: O trabalho a seguir propõe uma análise da visão empreendedora dos mercados musicais e os métodos que Anitta (cantora) usou para se inserir neles. Trata-se também da história de vida da artista e de como se consolidou sua carreira em território nacional, ou seja, no mercado musical brasileiro e suas apropriações linguísticas para desenvolver sua identidade cultural fora do país, a fim de concretizar, por vez, sua carreira internacional. Seguindo essa linha, este artigo é fundamentado pelos conceitos musicais, culturais e de globalização. Palavras-chave: Línguas Estrangeiras. Apropriação Linguística. Mercados Musicais. Globalização. Anitta. Abastract: The following work proposes an analysis of the entrepreneurial vision of the musical markets and the methods that Anitta (singer) used to insert in them. It is also about the artist's life history and how her career in Brazil was consolidated, that is, in the Brazilian musical market and her appropriations linguistics to develop their cultural identity outside the country, in order to concretize, in turn, international career. Following this line, this article is based on the musical, cultural and globalization concepts. Keywords: Foreign Language. Appropriations Linguistics. Musical Market. Globalization. Anitta. INTRODUÇÃO Dentro de uma diversidade de mercados musicais, a língua é a base, obviamente, mais usada para a complementação do trabalho artístico, sendo assim, o cantor irá se valer de vários aspectos do seu idioma ou de uma língua estrangeira para ter seus objetivos alcançados. Tendo uma visão empresarial sobre esse assunto linguístico no âmbito do mercado fonográfico brasileiro e Graduando em Letras Português e Inglês pela Universidade Federal de Sergipe - UFS. E-mail: [email protected] Trabalho realizado sob orientação técnica da Profª Drª Renata Ferreira Costa Bonifácio (UFS). 209 REVISTA TEXTUS | São Cristóvão - ano 1, n. 1, p. 209-218, abr. 2019 internacional, percebe-se uma certa globalização dos idiomas, principalmente do espanhol e do inglês e seus mercados musicais. O inglês, na maioria das vezes, dominou o cenário musical internacional, porém, nos 1últimos anos, o espanhol, marcado pelo reggaeton¹, vem ocupando espaço. A consequência disso é a apropriação do idioma, que está em ascensão no mercado fonográfico internacional. Diversos artistas estão se apropriando de outros idiomas para ganhar mais público fora do seu país, principalmente o brasileiro, que não tem sua língua, o português, como uma das línguas mais faladas do mundo. Com isso, ele irá buscar os idiomas que estão em evidência para criar novos trabalhos. Hodiernamente, muitos artistas brasileiros fazem o uso das variações linguísticas e dos idiomas de forma inteligente e empreendedora, pois os que conseguem lançar muitos sucessos e mantêm uma carreira em constante evolução, procuram adentrar outros mercados, e o melhor meio de fazer isso é através da língua. Existem vários artistas brasileiros tentando se inserir no mercado internacional, mas, na contemporaneidade, uma cantora se destaca: Anitta. Durante a sua trajetória artística, a cantora sempre mostrou sua versatilidade idiomática e inteligência para reger a carreira tanto no Brasil quanto fora dele. Entretanto, esse processo de ganhar outros locais a favor do seu reconhecimento, em que sua identidade cultural é totalmente diferente das pessoas desse lugar, traz consequências: o abandono da sua própria identidade ou a tentativa impor ela. Periférica, jovem, adepta ao funk, pobre e mulher, Anitta construiu sua identidade na comunidade marginalizada do Rio de Janeiro. Aprendeu a dançar em vários estilos, virou empresária da própria carreira, consegue se comunicar em português, espanhol e inglês. Entretanto, a artista, hoje bem-sucedida, não retira seu vínculo com sua origem e continua sendo uma pessoa versátil tanto na música quanto nas suas relações de trabalho ou pessoais. O sujeito ainda tem um núcleo ou essência interior que é o “eu real”, mas este é formado e modificado num diálogo contínuo com o mundo cultural “exteriores” e as identidades que esse mundo oferece. A identidade, nessa concepção sociológica, preenche o espaço entro o “interior” e o “exterior”- entre o mundo pessoal e o mundo público, O fato de que projetamos a “nós próprios” nessas ¹ Estilo musical derivado do reggae, originado no Panamá e popularizado em Porto Rico. A maioria das músicas que segue esse estilo, possui um conteúdo sexual, entretanto, muitas músicas mostram a realidade das ruas, das drogas e toda história da marginalização. 210 REVISTA TEXTUS | São Cristóvão - ano 1, n. 1, p. 209-218, abr. 2019 identidades culturais, ao mesmo tempo que internalizamos seus significados e valores, tornando-os “parte de nós”, contribui para alinhar nossos sentimentos subjetivos com os lugares que ocupamos no mundo social e cultural. (HALL, 2015, p.11-12) Assim, dando raízes fixas às questões sociais, culturais, linguísticas e indenitárias, baseando-se na carreira da cantora Anitta e considerando alguns dos processos de globalização e identidade de Stuart Hall, este artigo pretende apresentar os pontos principais sobre o mercado fonográfico brasileiro e internacional, a apropriação dos idiomas a fim de facilitar a inserção nos outros mercados, a trajetória da carreira da artista no Brasil e fora dele e a importância disso tudo na sociedade. 1. BIOGRAFIA DA ANITTA, SUAS APROPRIAÇÕES LINGUÍSTICAS PARA A MÚSICA 1.1. Vida e carreira no Brasil Larissa de Macedo Machado nasceu em Honório Gurgel, no Rio de Janeiro, em 30 de março de 1993. Aos 7 anos, Larissa cantava no coral da igreja e sempre mostrou suas habilidades artísticas, tanto para dança quanto para o canto. Com 16 anos, formou-se em Administração de Empresas por uma escola técnica e chegou a estagiar na Vale do Rio Doce, porém, mesmo estando próxima de se tornar efetiva na empresa, optou pelo seguimento artístico e começou a publicar vídeos na internet, cantando e dançando. Então, Larissa intitulou-se artisticamente como Anitta, nome retirado de uma minissérie da Rede Globo, “Presença de Anitta”, em que a personagem conseguia ser “sexy sem ser vulgar”. Larissa (doravante Anitta) nunca teve interesse em estudar outros idiomas, pois naquele momento inicial da sua carreira ainda não almejava uma carreira internacional ou qualquer planejamento profissional com línguas estrangeiras. Então, sua mãe, Miriam Macedo, sabendo a importância de estudar uma segunda língua, obrigou sua filha a cursar inglês. 211 REVISTA TEXTUS | São Cristóvão - ano 1, n. 1, p. 209-218, abr. 2019 A cantora assinou contrato com uma gravadora individual chamada Furacão 2000, onde ela apresentava suas composições e mostrava seu show completo. Sempre teve bons retornos em relação à produtividade, pois sempre usou as habilidades de empresária para administrar sua carreira musical, e isso ela aprendeu observando os seus superiores na Vale do Rio Doce e os negócios do seu pai quando ainda não sonhava tanto com a carreira de cantora e empresária, sendo ela o seu próprio produto. Eu sempre esperei o resultado, até hoje eu faço isso, nunca aumento um valor sem ter certeza que eu estou dando resultados para a pessoa que está me contratando...eu comecei a fazer as minhas músicas e eu ia sempre por um valor quase que dado e fazia questão de entregar uma coisa muito boa, com isso o cliente chegava e falava ‘nossa, eu adorei’, ainda não aumentava o meu cachê e quando ele tivesse uma segunda certeza de que não foi sorte, na terceira vez pedia para aumentar um pouco e ia estabelecendo uma relação. (HOTMART, 2018) Ainda vendendo seu produto com músicas nacionais, Anitta consolidou uma carreira no Brasil. Tendo em vista que para conquistar o público brasileiro inteiro não era somente necessário o funk, ela mostrou sua versatilidade e apresentou seus diversos estilos, como sua canção “Meiga e Abusada”, que traz uma melodia pop, abrindo novos caminhos para a cantora. Em seguida, Anitta assinou contrato com a Warner Music Brasil, gravadora que produziu “Show das Poderosas”, música que revelou a cantora para o Brasil inteiro, com certeza o estopim de sua carreira nacional. Após a explosão e visibilidade ter chegado em proporção nacional, ela fez inúmeras parcerias com outros artistas brasileiros, atitude que ajudou bastante no aumento do período de fama da empresária Anitta. No entanto, a maior responsável por essa permanência de sucesso foi ela mesma e suas canções solo, todas lançadas com clipes. Em entrevista para seu documentário “Vai Anitta”, na Netflix, em 2018, a artista falou que, como boa entendedora do mercado musical brasileiro, se o artista não lança clipe, determinada música não fará muito sucesso no Brasil. 1.2 Apropriação idiomática e carreira internacional 212 REVISTA TEXTUS | São Cristóvão - ano 1, n. 1, p. 209-218, abr. 2019 Em 2016, depois de ter feito sua primeira parceria internacional com o cantor J. Balvin, “Ginza”, Anitta deu início à sua carreira internacional e procurou artistas que estivessem em alta nos streams² globais. A cantora encontrou, então, Maluma, artista colombiano que já alcançou seu espaço no mercado internacional. Juntos, lançaram “Sim ou não”, em cuja letra existem dois idiomas, o espanhol e o português. Os cantores citados são do mercado latino. No entanto, por que Anitta preferiu o âmbito da America Latina no início da carreira internacional? A priori, temos que ressaltar que o mercado latino é um dos mercados que está em ascensão na atualidade, trazendo uma presença forte do reggeaton e, principalmente, visibilidade mundial para o espanhol. Baseando-se nesses fatos, Anitta decidiu produzir sua primeira canção solo, mas antes pesquisou bastante: A minha pesquisa sobre a música em espanhol começou tem dois anos, que eu já viajava para outros países para entender a cultura. Nessas viagens, entendi que em pouco tempo às pessoas estariam consumindo a música em espanhol em todo o mundo. O que eu precisava fazer era fazer o brasileiro se acostumar com a música em espanhol.