Transdisciplinaridade No Stf – a Adi Nº 3510
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This version of Total HTML Converter is unregistered. TRANSDISCIPLINARIDADE NO STF – A ADI Nº 3510 TRANSDISCIPLINARITÀ IN LA CORTE SUPREMA - ADI N. 3510 ana maria gomes da silva alho RESUMO Este artigo tem por objetivo analisar, no âmbito da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 3510 (ADI 3510) - que discutiu a utilização de células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não utilizadas no respectivo procedimento, desde que considerados inviáveis ou que estejam congelados há três anos ou mais – a importância da transdisciplinaridade, frente ao reconhecimento, pela Suprema Corte brasileira, de que o Direito, por si só, não responde a todas as questões. Assim, com base nos fundamentos utilizados pelo autor da Ação Direta de Incostitucionalidade, pelos especialistas ouvidos na audiência pública, inclusive Amici Curiae e nos votos dos ilustres Ministros do Supremo Tribunal Federal, efetuou-se o exame concluindo-se, ao final, que não obstante se verificar a busca de embasamento em outras áreas do conhecimento, principalmente no campo da biologia e da medicina, não se visualizou a discussão cruzada, necessária, nas áreas da ética, da moral, da filosofia e da sociologia. PALAVRAS-CHAVES: TRANSDISCIPLINARIDADE STF ADI Nº3510 AUDIÊNCIA PÚBLICA. RIASSUNTO Questo articolo si propone di analizzare entrol'Azione Diretta di Incostituzionalità n. 3510 (ADI 3510) - che ha discusso l'utilizzo di cellule staminali embrionali ottenute da embrioni umani ottenuti da fecondazione in vitro e non utilizzati nel loro procedimento, poiché non vitali o sono congelati per tre anni o più - l'importanza della transdisciplinarità, rispetto al riconoscimento da parte della Corte Suprema brasiliana, che il Diritto non risponde a tutte le domande. Così, per i motivi usato dall'autore di Azione diretta degli Incostitucionalidade, da esperti sentiti in udienza, tra cui Amici Curiae e dei voti dei Ministri della Corte Suprema, ha condotto l'esame e si è concluso alla fine, che sebbene vi è la ricerca di argomenti in altri settori della conoscenza, soprattutto nel campo della biologia e della medicina, non sono stati trovati le discussioni necessari in materia di etica, morale, filosofia e sociologia. PAROLE CHIAVE: TRANSDISCIPLINARITÀ CORTE SUPREMA ADI N.3510 UDIENZA 1. Introdução Os estudiosos e aplicadores do Direito vêem percebendo, já há algum tempo, que as principais matrizes teóricas utilizadas na Teoria do Direito, a saber, a Filosofia Analítica Normativista, a Hermenêutica Jurídica e a Matriz Sistêmica, não são suficientes para compreender questões tão complexas e paradoxais, como as surgidas nas sociedades igualmente complexas e paradoxais do novo século[1]. Diante dessa nova realidade social é que se busca auxílio em uma também nova matriz teórica, para a reconstrução da teoria jurídica contemporânea: a Transdisciplinaridade[2]. Dentro dessa ótica é que o Supremo Tribunal Federal, como guardião da Norma Maior, para decidir sobre questões tão delicadas quanto as que decorrem da evolução nas diversas áreas das ciências e tecnologias, principalmente aquelas que, transcendendo às questões da ciência pura ou da sua evolução, envolvem questões morais, éticas, religiosas e culturais, ciente de que essas respostas não virão apenas do Direito e reconhecendo a necessidade de utilização de conhecimentos que não detém, vem buscando, por meio das Audiências Públicas e da utilização do Amicus Curiae, esse conhecimento, além de legitimação para suas decisões. Não foi diferente no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 3510, que discute a inconstitucionalidade do artigo 5º e parágrafos, da Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005, que autoriza, mediante determinadas condições, a utilização de células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro. Assim, buscar-se-á no presente estudo, analisar, no âmbito específico da ADI nº 3510, a importância da transdisciplinaridade na decisão da Corte Suprema. 2. A Transdisciplinaridade Termo utilizado inicialmente em 1970, por Jean Piaget, em um congresso sobre interdisciplinaridade, quando expressou a necessidade desta etapa ser sucedida por uma outra, “transdisciplinar”[3], a transdisciplinaridade demonstrou ser tema de discussão necessária[4]. Assim, foi objeto do 1º Congresso Mundial sobre a Transdisciplinaridade, realizado no Convento de Arrábida, em Portugal, no período de 2 a 6 de novembro de 1994 que, apoiado pela UNESCO, deu origem à Carta da Transdisciplinaridade, de autoria de Edgar Morin, Basarad Nicolescu e Lima de Freitas[5]. É do Artigo 3º da predita Carta que se extrai que transdisciplinaridade é complementar à aproximação disciplinar: faz emergir da confrontação das disciplinas dados novos que as articulam entre si; oferece-nos uma nova visão da natureza e da realidade, A transdisciplinaridade não procura o domínio sobre as várias outras disciplinas, mas a abertura de todas elas àquilo que as atravessa e as ultrapassa. Segundo Maria Francisca Carneiro[6], no decorrer da última década, houve a consolidação da * Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 630 This version of Total HTML Converter is unregistered. transdiciplinaridade e da complexidade no âmbito da investigação metódica do Direito, significando, “mais que uma conseqüência das transformações da sociedade e da ciência (...) alteração do método”. Conforme Leonel Severo Rocha[7], a idéia de transdisciplinaridade “foi difundida por Edgar Morin, como uma nova proposta teórica para se refletir a sociedade globalizada [...] Trata-se assim de um recorte diferente daquele instituído pelas matrizes teóricas cartesianas”. Essas matrizes[8] são a Filosofia Analítica, a Hermenêutica Jurídica e a Pragmática–Sistêmica. Conclui Leonel Severo[9] que somente uma nova matriz teórica transdisciplinar pode auxiliar na reconstrução da teoria jurídica contemporânea que, com a ruptura da departamentalização dos campos da racionalidade que trabalha, de forma isolada, com a filosofia analítica, a hermenêutica e a pragmática, apresente uma visão pagmática-sistêmica, refletida na comunicação entre os diversos subsistemas. Destaca Maria Francisca Carneiro[10], porém, a existência de críticas à transdiciplinaridade, tais como (a) a de gerar conhecimentos superficiais, vez que, ao se aprofundar, o pesquisador mergulha na especialidade retornando, assim, às disciplinas tradicionais; (ii) “à vaguidade e imprecisão da conclusão que, as mais das vezes tende a ser poli, multi ou interdisciplinar”. Não obstante as críticas existentes, conclui Maria Francisca[11] que, haja vista já se saber que transdisciplinaridade e complexidade são conseqüência uma da outra, vez que as sociedades são complexas, as pesquisas transdiciplinares são necessárias, principalmente no campo do Direito, porque “o Direito emana da sociedade e a ela se reporta”, decorrendo, daí, a obrigação de considerar a transdisciplinaridade, também nas pesquisas no âmbito do Direito. Nesse tom, dentro da realidade social atual, fica claro que o Direito, por si só, não dá conta de responder a todas as questões fáticas que surgem no seio da própria sociedade, principalmente no que concerne às novas e diferentes relações jurídicas que decorrem das contínuas e aceleradas modificações trazidas pelo desenvolvimento das modernas tecnologias. Porém, a consciência das limitações do conhecimento jurídico, nem sempre vêm da mesma forma para todos, conforme muito bem expressa Alejandro Nieto[12], in verbis: [...] Cuando los juristas toman conciencia de la limitación de su conocimiento, reaccionan de manera muy diferente según su temperamento personal o contexto cultural [...] lo más corriente, no obstante, es que adopten uma simples y congruente modéstia intelectual, que se traduce em manifestaciones del estilo de las siguientes [...] De lo que, em definitiva, se trata, es de perder la arrogacia de la verdad, de desprenderse del orgullo del dogmatismo y de aceptar sin disgusto la humilde naturaleza del conocimiento jurídico: impuro, contaminado por el yo y por influencias sociales, ancilar de otros intereses y com frecuencia mercenario, pero um conocimiento socialmente útil y aun necesario, irrenunciablemente humano y, pese a todo, generosamente gratificante. Nesse diapasão, pedindo licença à Vanice Lírio do Valle[13] para usar, em analogia e de forma genérica, nomenclatura por ela utilizada ao tratar da pretensão de auto-suficiência dos sistema constitucional de direitos fundamentais, é que se vem concluir que, diante das complexas relações jurídicas que hoje se impõe à análise da sociedade e ao crivo do judiciário, não há mais espaço para um “Direito Narciso” que, de tão apaixonado por si mesmo pensa se bastar e, ao deixar de olhar para os lados, deixa de perceber o outro e porque não, de aprender e evoluir com ele. 3. A Transdisciplinaridade no STF, as Audiência Pública e o Amicus Curiae Demonstrando uma visão apartada do “Direito Narciso”, dando-se a este o conceito amplo acima referido, com vistas a buscar informações de outras áreas do conhecimento, afetas ao tema sub judice, o I. Relator da ADI 3510, Ministro Carlos Britto, em 19/12/2006, proferiu despacho ordinatório convocando a realização de audiência pública, no termos do §1º do artigo 9º, da Lei nº 9.868/1999. (conforme andamento processual, disponível no sítio do STF). Para melhor entender a utilização desse instrumento constitucional, vê-se por bem trazer breves informações sobre