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FACULDADE MARIA MILZA LICENCIATURA EM HISTÓRIA

ROSENILDA FRANCISCO DA CRUZ

QUEM TEM MARIA CONSIGO TEM TUDO! : FESTA DA PADROEIRA NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO EM CONCEIÇÃO DO ALMEIDA-BA, 1974-1995.

GOVERNADOR MANGABEIRA – BA 2015

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ROSENILDA FRANCISCO DA CRUZ

QUEM TEM MARIA CONSIGO TEM TUDO! : FESTA DA PADROEIRA NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO EM CONCEIÇÃO DO ALMEIDA-BA, 1974-1995.

Monografia apresentada ao curso de licenciatura em História da Faculdade Maria Milza, como requisito parcial para obtenção do título de graduada.

Orientador: Prof. Mestre Hamilton Santos Rodrigues

GOVERNADOR MANGABEIRA – BA,

2015 2

Dados Internacionais de Catalogação

Cruz, Rosenilda Francisco da C955q Quem tem Maria Consigo tem tudo!: festa da padroeira Nossa Senhora da Conceição em Conceição do Almeida – BA – 1974-1995 / Rosenilda Francisco da Cruz. – 2015

59 f.

Orientador: Prof. Me. Hamilton Rodrigues Santos

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em História) – Faculdade Maria Milza, 2015.

1. Cultura Popular. 2. Rituais Religiosos. 3. Festejos. I. Santos, Hamilton Rodrigues. II. Título.

CDD 306

[Dig3 ite um ROSENILDA FRANCISCO DA CRUZ a cita ção do QUEM TEM MARIA CONSIGO TEM TUDO! : FESTA DA PADROEIRA NOSSAdoc SENHORA DA CONCEIÇÃO EM CONCEIÇÃO DO ALMEIDA-BA, (1974-1995).um ent

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AGRADECIMENTOS

Uma enorme gratidão é o que sinto por todos que colaboraram para que esta pesquisa se concretizasse. A contribuição de todos foi significativa e indispensável, o apoio e gratuidade das pessoas tornando possível o acesso as fontes orais, iconográficas e escritas, que possibilitaram o desenvolvimento e enriquecimento deste trabalho. É um momento gratificante, mas também complicado por que foram tantos que colaboraram, as vezes com um palpite, uma dica ou até mesmo ouvindo as descobertas sobre a temática. Primeiramente agradeço a Deus por ter me dado forças para caminhar nesta longa jornada, sei que houveram muitos momentos de dificuldades, mas não mim deixei envolver. Agradeço a meus familiares que me deram suporte, em especial minha filha Laianne que é a maior motivadora para que eu desse seguimento aos meus estudos, meus pais que semianalfabetos e em meio a toda suas dificuldades, mim incentivaram desde criança a estudar. A meus irmãos em especial Manuela que ao logo destes anos se tornou minha ouvinte em todos os momentos. A Laercio que se mostrou Companheiro de enorme paciência, pois sei que não é nada fácil conviver no meio de tantas tensões e stress. Devo agradecer a Coordenação e professores que contribuíram para a realização desse trabalho direcionando-me caminhos para seguir, com destaque para meu professor e orientador Hamilton Rodrigues, que com as discussões tanto em sala de aula como nas orientações me forneceu subsídios para dar continuidade a pesquisa. Agradeço de modo especial a Margarete Nunes, amiga e parceira que, nas horas de desespero, com suas palavras confortantes animou-me e contribuiu para que eu não desistisse, ainda agradeço a ela por me fornecer livros e fotografias que fazem parte do acervo pessoal de seu falecido pai seu “Nezinho”. Aos meus entrevistados que mim forneceram através de suas memorias, ricas colaborações para o andamento da pesquisa, a secretaria da Paroquia que forneceu documentos da Igreja. Aos colegas e amigos que construímos ao logo do curso, que presenciaram momentos de alegrias e também de desesperos. 5

E por fim, a Nossa Senhora da Conceição, objeto deste estudo que por muitas horas se tornou abrigo dos meus pensamentos. A todos estes e as demais pessoas que não foram citadas, agradeço por ter chegado até aqui.

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HINO À VIRGEM MARIA!

Escutai Virgem Maria Flor do Vale de Sião Dos almeidenses contritos A fervorosa oração

Pedimos estrela D’Alva Um raio excelso de luz Sobre as trevas tenebrosas Que o tempo, o mundo conduz

Rainha, estrela do céu Oh Virgem da Conceição Alcançai de Cristo Rei Um olhar de Compaixão

Que abrande a fúria dos homens Que o mundo inteiro ameaça E traga a paz sobre a Terra Oh Virgem cheia de Graça.

Gilberto Ribeiro.

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RESUMO

O objetivo deste trabalho foi pesquisar as modificações ocorridas nos festejos a Nossa Senhora da Conceição para a preservação da memória na cidade de Conceição do Almeida, no período de 1974 a 1995. Identificando os elementos constituintes dos festejos, registrando os momentos mais significativos de sua realização. Também visou retratar algumas peculiaridades ocorridas nos festejos e vivências católicas no município de Conceição do Almeida-Ba, festa esta centenária que anualmente era marcada por novenários, procissões, missas, eventos religioso e possuía também eventos sociais como: leilões, lavagens e até mesmo shows musicais, estes acontecidos sempre dos dias 29 de novembro ao dia 08 de dezembro de todos os anos, culminando na data comemorativa da padroeira Nossa Senhora da Conceição. A metodologia utilizada para atingir os objetivos propostos contou com as seguintes etapas: no primeiro momento utilizando fontes primarias, com a realização de trabalho de campo, com intuito de obter informações necessárias para o desenvolvimento da pesquisa, através das entrevistas realizadas. No que se refere aos dados secundários, houveram levantamentos bibliográficos para revisão da literatura sobre o tema em discussão. Esta pesquisa constata que os festejos a Nossa Senhora da Conceição ainda que em consequência de diversas mudanças religiosas, culturais e socioeconômicas, permanece encontrando motivos para sua existência, conservando sua tradição e preservando elementos característicos das memórias de seus ancestrais.

Palavras-chave: Memória, peculiaridades, festejo.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1- Mapa do município de Conceição do Almeida-Ba. 2015.

FIGURA 2- Fotografia da Santa Padroeira de Conceição do Almeida-Ba Nossa Senhora da Conceição. Década de 1970.

FIGURA 3- Programação da festa de Nossa Senhora da Conceição, 1975.

FIGURA 4- Fotografia da primeira eucaristia. Década de 1970.

FIGURA 5- Fotografia da primeira eucaristia. Década de 1970.

FIGURA 6- Procissão de Nossa Senhora da Conceição. Década de 1970.

FIGURA 7- Procissão de Nossa Senhora da Conceição. Década de 1970.

FIGURA 8- Jornal da , dedicado a paroquia de Conceição do Almeida-Ba. 1977.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...... 10

2 CAPITULO I- A CIDADE E SUA DEVOÇÃO RELIGIOSA ...... 16 2.1 Breve Histórico do Município de Conceição do Almeida- Ba:...... 16

2.2 Devoção religiosa a Nossa Senhora da Conceição ...... 21

2.3 Contexto histórico da Festa de Nossa Senhora da Conceição em Conceição do Almeida-Ba...... 26

3 PECULIARIDADES DA FESTA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO...... 33 3.1 Leilão e Feira da Fé ...... 33

3.2 Novenas e Barracas ...... 38

3.3 Lavagem...... 42

3.4 Procissão e Shows Musicais ...... 44

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 51

FONTES ...... 54

REFERENCIAS BIBLIOGRAFIAS ...... 57

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1 INTRODUÇÃO

Esta pesquisa denominada: Quem tem Maria consigo tem tudo!: Festa da Padroeira Nossa Senhora da Conceição em Conceição do Almeida-Ba, período de 1974 a 1995. Retrata algumas peculiaridades ocorridas nos festejos e vivências católicas no município de Conceição do Almeida-Ba, festa esta centenária que anualmente é marcada por novenários, procissões, missas, eventos religioso e possuía também eventos sociais como: leilões, lavagens e até mesmo shows musicais, estes acontecidos sempre dos dias 29 de novembro ao dia 08 de dezembro de todos os anos, data comemorativa da padroeira Nossa Senhora da Conceição. Obtive desejo em desenvolver esta pesquisa quando além de perceber que até então não há tantas informações escritas acerca desta festa tão tradicional e que movimenta a cidade, tenho em mim uma inquietação para compreender as características deste festejo no período referido, e por recordar de quando criança em que minha mãe também devota a Nossa Senhora da Conceição levava eu e meus irmãos até a cidade onde aconteciam os festejos remetendo-me a várias memórias sobre esta festa. Lembro-me como se fosse hoje, todos nós animados nos preparando, colocando as melhores roupas para caminharmos do Coirão “localidade onde vivi e vivo, caminhávamos vários quilômetros a pé, durante o percurso que duravam horas, todos chegávamos soados, empoeirados e mesmo assim ainda entusiasmados até a praça da cidade onde aconteciam os festejos, o que para mim ainda uma criança era mais uma forma de diversão. Recordo também que havia barracas de doces, de jogos e uma movimentação intensa de pessoas diversas, espalhadas pela praça da cidade, todos com intuito de festejar a padroeira mais também com entusiasmo para divertir-se nas tradicionais barracas e rever amigos. Ainda lembro que íamos sem medo, a cidade era tranquila não existiam vestígios de violência, e ao logo do caminho encontrávamos vizinhos de outras localidades que também estavam indo aos festejos. Esses laços que foram construídos durante estes percursos são extremamente marcantes e significativos em minha memória, e tenho certeza que também na memória das pessoas que tenho entrevistado, ao recordar sobre a festa pode fazer uma viagem aos tempos 11

em que as relações pessoais aconteciam em meio ao cotidiano festivo. Diante deste relato seguia o meu anseio, não apenas em recordar fatos sobre uma festa, mas registrar um contexto social e religioso de uma população, diante da importância que hoje devemos dar às micro histórias e a histórias locais. Este trabalho teve como objetivo geral analisar a composição da Festa de Nossa Senhora da Conceição, que ocorre entre os dias 29 de novembro ao dia 08 de dezembro em forma de novenário, na cidade de Conceição do Almeida, no período de 1974 à 1995, através desta pesquisa pude conhecer elementos que constituíram a festa ao longo dos anos referidos; identificando nas memórias as peculiaridades ocorridas nos festejos à Nossa Senhora da Conceição no referido período, compreendendo as relações sociais e culturais que envolveram e envolvem os festejos. A pesquisa é o caminho para a produção do conhecimento. Os trabalhos de pesquisa regional e local servem para ampliação da história nacional, proporcionando novas leituras das várias faces da sociedade brasileira. O campo religioso brasileiro leva a reconstituição de novas narrativas e a condição de novas possibilidades de reconhecimento deste espaço tão plural e significante para a população. A periodização em questão (1974-1995) é apontada pelo momento em que os festejos de Nossa Senhora da Conceição, padroeira da cidade de Conceição do Almeida-Ba, era presidida pelo Pároco Antenor Lourenço dos Santos, que dinamizou, alterou e caracterizou de forma peculiar a festa. O período desta pesquisa foi instituído também a partir das recordações, de pessoas que sempre relatam mudanças que aconteceram no festejo religioso da cidade. As relações de comemorações e festejos constituíam a fundamental maneira de agradecerem, reverenciar a Santa Protetora da cidade, Nossa Senhora da Conceição, percebendo que muitas pessoas participantes dos ritos religiosos também faziam parte das festas e shows que ocorriam após os atos religiosos, incorporando também um caráter mais popular. As memórias de participantes dos festejos a Nossa Senhora da Conceição, se fez de extrema valia para o aprofundamento desta pesquisa. Assim como as observações e diálogos desenvolvidos com os entrevistados (as) e demais fontes, que encaminharam maiores informações do período, ampliou a discussão da problemática em estudo. 12

É possível percebermos que nos últimos tempos vem surgindo estudos que se preocupam em apresentar uma nova história, com temas que desvendam o cotidiano das camadas populares. Segundo a historiadora Margarete Nunes Santos: “Os sujeitos são construtores da organização histórica são múltiplos e plurais, responsáveis e tradutores da riqueza do processo histórico, estes sujeitos são reconhecidos publicamente ou se encontram no anonimato, mas deixaram suas marcas visíveis no tempo em que viveram e consequentemente na história.” A prática de uma pesquisa de uma festa religiosa em torno de uma população de um pequeno município se torna importante, na medida em que há necessidade de estudos desta natureza nas pequenas localidades, para ampliar o debate historiográfico, sobre tudo acerca da temática em questão. Os festejos a Nossa Senhora da Conceição foram alterados ao passar dos anos e com a contribuição do Padre Antenor Lourenço Santos, padre que presidia as missas e eventos na paróquia da cidade de Conceição do Almeida-Ba, segundo informações dinamizou os festejos dedicados a Santa padroeira da cidade, mas ao perceber que as festas religiosas estavam seguindo outras proporções, tentou outros meios de organizações para que o festejo não perdesse o caráter religioso. Ouve um período que shows musicais, lavagem, leilões, e outras diversas formas de comemorações desta tradicional festa, aconteciam com mais intensidade, mas com as mudanças ocorridas alguns destes elementos foram tomando outros rumos, chegando ao seu determinado fim. Através deste pressuposto, esta pesquisa aprofundou-se em algumas questões norteadoras: Quais as memórias peculiares os participantes guardam sobre a festa? Quais recriações foram elaboradas por essas pessoas que participavam da festa? Quais as dificuldades encontradas pelo Padre e organizadores na composição da festa? Como era a relação social e cultural dos envolvidos na festa? Dessa maneira foi possível que as análises acerca da festa da padroeira de Conceição do Almeida, revelaram dimensões do cotidiano, possibilitando que se conheça a história dos católicos participantes, destacando as suas estratégias para recriarem outras maneiras de se manifestar durantes os festejos a Nossa Senhora da Conceição. Sendo importante perceber a intensidade da prática de manifestações na festa, constituinte de uma dimensão fundamental do lugar. 13

Tratou-se de uma pesquisa cientifica qualitativa e descritiva por que estudou as experiências de homens e mulheres, a partir de suas memórias, para conhecer melhor as características que marcaram os festejo da Padroeira Nossa Senhora da Conceição em Conceição do Almeida- Ba. Foi necessário que fizesse uma seleção de idades dos entrevistados que contemplasse a periodização, busquei entrevistar homens e mulheres com a faixa etária de 40 á 75 anos, de classe média e baixa, as entrevistas aconteceram nas suas próprias casas excerto a entrevista com o Senhor Luciano Silva dos Santos que ocorreu no supermercado local de seu trabalho como Gestor Administrativo, assim como as demais entrevistas, a do Padre Antenor Lourenço dos Santos teve significativa importância ,até por que ele quem era o Pároco da Igreja no período referido. Foi preciso adentrar no mundo das pessoas envolvidas na festa, consultar suas memórias, escutar e registrar os seus depoimentos; percorrer suas vivências ao entorno da festa, conhecer as mudanças e permanências no festejo, analisar como era dinamizados shows musicais, lavagens, quantidade de barracas ao entorno da praça “local onde acontecia e acontece os novenários”, os mecanismos usados para a manutenção da igreja e da festa, valorização e conservação da tradição mesmo com respectivas mudanças. Com isso interpretar as relações familiares e sociais construídas pelos devotos, a maneira como as práticas dos ritos são transmitidas de geração para geração, se tornando importante. Para aprofundamento das análises foram consultadas fontes orais, documentais e imagens, que proporcionarão maior dimensão para recolhimento dos elementos necessário para a pesquisa historiográfica. As fontes iconográficas foram encontradas no arquivo pessoal do Senhor Manoel da Conceição Santos (Nezinho), já falecido, cedidas por sua filha Margarete Gomes dos Santos que as guardam com muito apreço, já os documento foram cedidas pela secretaria da Paroquia de Nossa Senhora da Conceição em Conceição do Almeida-Ba, para conseguir tive que ir até a secretaria paroquial várias vezes até que as encontrassem, ajudando a enriquecer a pesquisa. Este trabalho foi fundamentalmente desenvolvido com a exploração de fontes orais, oferecendo grande suporte na pesquisa histórica, rompendo com a distância entre pesquisador e fontes. 14

Neste trabalho, a fonte oral passou a ser um recurso essencial principalmente no estudo do cotidiano dos devotos, que através das suas memórias, e das histórias contadas e os fatos vivenciados pelos mesmos, a história oral estabelece-se como um campo aberto às investigações e ao conhecimento histórico. A história oral reaviva a voz de quem viveu, e o significado disto é estabelecido por quem narra, dando o direito ao historiador da análise e do recorte, daquilo que se pensa ser interessante para ficar escrito, à fala torna-se transcrição para os leitores. A palavra mostra o quanto é rica a comunicação humana, pois é carregada de significados, expressões, gesticulações; enfim todas as formas que o ser humano tem para se expressar atreves do corpo tornando que seja compreendido pelo seu ouvinte. Os historiadores têm buscado novos olhares para a produção do conhecimento historiográfico, o que rompe com a velha forma, que conferiam aos documentos escritos respeito na obtenção do conhecimento. Isso não quer dizer que uma fonte suplanta outra, pelo contrário as múltiplas fontes oferecem mais informações para a produção historiográfica, dentro desta várias formas de buscar conhecimentos a imagem também conquista seu espaço proporcionando maior riqueza de informações. Na pesquisa foram utilizadas fotografias, ao ser analisadas dentro do contexto inseridas, contribuiu com suas informações, apresentando momentos singulares de interação da sociedade com a cultura. Esta pesquisa, Quem tem Maria consigo tem tudo!: Festa de Nossa Senhora da Conceição em Conceição do Almeida-Bahia, 1974-1995, constitui-se de dois capítulos: o primeiro convida o leitor para conhecer um pouco da história do município e a sua relação com a Santa Padroeira, que foi um dos motivos inspirador para dá origem ao nome da cidade. Enfim, conhecer aspectos geográficos e sócio-culturais desta comunidade, tendo como eixo central a tentativa de perceber, sentir e ressignificar a influência religiosa destes sujeitos sociais, descortinando conflitos e tensões que envolveram o imaginário do povo almeidense. O segundo capitulo refere-se aos elementos constituintes do festejo no período de 1974 a 1995. Porem enfoca com mais atenção nos que foram modificados e alguns que até tiveram fim, e também nas experiências e vivencias dos devotos, entendendo-as dentro de uma dinâmica histórica-cultural, discorre 15

também sobre a manutenção da tradição, das rupturas e (re)elaborações de praticas, costumes e valores e os prolongamentos destas no campo religioso, especificamente na Festa de Nossa Senhora da Conceição em Conceição do Almeida-Ba. Outro aspecto relevante refere-se ao tempo da memória, que ultrapassa o tempo da vida individual, pois trazem consigo histórias vivenciadas coletivamente. Este trabalho também se encaminha diante das discussões em torno das memórias de devotos praticantes aos festejos, criando e recriando diversas relações sociais e culturais, na qual a religiosidade constitui um elemento importante nessas relações.

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2 A CIDADE E SUA DEVOÇÃO RELIGIOSA

2.1 BREVE HISTÓRICO DO MUNÍCIPIO DE CONCEIÇÃO DO ALMEIDA- BA.

Conceição do Almeida-Ba é um município que foi desmembrado da antiga comarca de São Felipe em 1890, tendo sua sede instalada onde anteriormente foi construída, em meados do século XIX, uma capela, pelo então proprietário de engenho Antônio Coelho de Almeida Sande, devoto de Nossa Senhora da Conceição. A localidade foi denominada inicialmente de Capela d’Almeida, combinação de um topônimo de cunho religioso e político, o que dimensionou essas esferas de poder, que se concretizavam naquele período histórico na região. Segundo o memorialista Geraldo Coni Caldas, a origem do povoado e do nome do município está diretamente relacionada a esse contexto. Ainda segundo o memorialista (CALDAS,1974. p. 45):havia o donatário da região e um possível filho ou sobrinho que possuía o mesmo nome, e que posteriormente participou da emancipação política do município e por muito tempo foi confundido como sendo seu fundador. No entanto, as datas e períodos pesquisados demonstram esta contradição. Segundo o autor (CALDAS, 1974. p. 45) em seu livro intitulado “Conceição do Almeida: Minha Terra Minha Gente”: a referência a Capela do Almeida – antigo nome do povoado- data do primeiro quartel do século passado [referindo-se ao século XIX]. Segundo ele, um agricultor de nome Antônio Coelho D’ Almeida Sande (Velho), proprietário residente no vale do rio Cedro, atualmente povoado Canoa, próximo à atual sede do município, construiu uma pequena Capela reunindo nativos e recebendo auxílios diversos dos então moradores das proximidades. Capela esta edificada no local onde se encontra a Igreja Matriz da Cidade. Essa obra memorialista demonstra que a história do município se iniciou a partir da construção de uma capela em uma fazenda, que se formou a partir de prerrogativas religiosas e políticas e assim, deu-se origem à cidade. Contudo, o autor não realça a condição histórica anterior na qual se constituía a fazenda como “engenho.” Fazendo-se essa reflexão percebe-se que o município não surgiu meramente de uma fazenda e não se desenvolveu por “mera bondade” e vontade de crescimento político e econômico como tenta direcionar os escritos históricos anteriores. 17

A desconstrução dessa condição histórica se faz importante ao se observar que outras fontes e outras histórias contadas e recontadas pela população, nas quais se verificam as relações de poder que se estabeleciam entre os senhores e seus escravos, a presença predominante de uma população negra era refletida na condição étnico-racial dos sujeitos da cidade. Segundo alguns estudos, o município de Conceição do Almeida permaneceu na categoria de Vila até 1909, posteriormente, pelo decreto de nº 761, de 16 de agosto de 1909, foi elevada à condição de foro de cidade, com o topônimo de Affonso Penna, em homenagem póstuma ao então Presidente da República Affonso Augusto Moreira Penna. Durante trinta e três anos foi assim denominada, porém, devido a um conflito político e a insatisfação popular que não construiu uma condição identitária com o novo nome, continuou a ser chamada por Capela do Almeida ou Conceição do Almeida. Havia também outra cidade no Brasil com o mesmo topônimo (Affonso Penna), permanecendo, então, essa nomenclatura ao município mais antigo. Em 1944, o decreto lei de nº 12.978, de 1º de junho, restaurou o nome Conceição do Almeida. Essa informação se faz necessária, principalmente nas pesquisas histórias sobre o município, em função de que algumas fontes e documentos, aqui trabalhados, apresentam a nomenclatura Affonso Penna, referindo-se ao atual município de Conceição do Almeida. Falar de cidade, como afirmou (PESAVENTO, 2002, p.10): “A cidade não é simplesmente um fato, um dado colocado pela concretude da vida, mas como objeto de análise e tema de reflexão, ela é construída como desafio, podendo ser um objeto de questionamentos.” É lidar com a representação cultural dos lugares, colocando para os pesquisadores um desafio: tentar perceber “o lugar onde as coisas acontecem” como um objeto de muitos discursos e olhares que se compõem ou se contradizem e que esse é o caminho que leva também a um imaginário social e aos sentidos que ultrapassam o senso comum. O que leva a uma reflexão sobre a experiência do vivido e suas sociabilidades, conduzindo a memória social da cidade. Diante dessa reflexão, neste momento pretende-se pensar como se constituiu a cidade de Conceição do Almeida-Ba, encaminhando, primeiramente, um olhar que possa ultrapassar o mito fundador, e também a concepção do poder centralizador das elites que, por muitas décadas, descreviam a história dos locais como única forma de referência importante e permanente. 18

Desta forma entende-se que a história do município tida como “oficial” é formada a partir de uma memória que se faz oficializada, uniformizada, que silencia “outras histórias.” Muitas vezes essa história oficial é estabelecida por uma organização de acontecimentos e interpretações que se quer preservar; há, por vezes, uma visão linear, um endeusamento do progresso econômico e social, um discurso permeado de intencionalidades, negando, muitas vezes, o processo dialético e contraditório da própria História que pode e deve ser repensado.

Figura 1: Mapa do município de Conceição do Almeida-Ba e região.

 Conceição do Almeida-BA Fonte: Site do (IBGE), Instituto brasileiro geográfico e estatísticas.2015.

Geograficamente, Conceição do Almeida está situada numa planície entre os rios Mutum e Cedro, limitando-se com os municípios de , São Felipe, Santo Antônio de Jesus, Castro Alves, Sapeaçu e , como mostra o mapa acima. A sede do município se encontra em um planalto, está a 160 km da 19

capital do estado, pelo trajeto da malha rodoviária da BR 101 e BR 324. Possui, atualmente, como principais atividades econômicas as práticas agrícolas e a pecuária. O município conta com uma população atual estimada de 18.525 habitantes, segundo censo estatístico de 2015. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) a cidade de Conceição do Almeida está situada na zona fisiográfica do Recôncavo da Bahia, zona que totaliza 10.531 km² e o município ocupa 262 km². (micro-região homogênea do Recôncavo com 6.497 km²).A cidade vivenciou um período do chamado progresso econômico na sua história, quando até a década de 70, ainda sobrevivia da atividade do fumo e consequentemente o beneficiamento do mesmo, que empregava grande quantidade de operários. Pensar este período da cidade é analisar aspectos que marcou sua dinâmica econômica e espacial como direciona a dissertação da pesquisadora (SANTOS, 2012, p. 46),sobre a atividade fumageira de Conceição do Almeida e região:

Essas sociedades tiveram no seu processo histórico e espacial um desenvolvimento diferenciado, caracterizado pela combinação de aspectos diversos da história, resultando também no aparecimento de grupos que ocuparam determinados espaços, incutindo suas próprias marcas, expressando formas de vida que configuram as paisagens. Tudo isso esboça o pluralismo encontrado na região do Recôncavo e as mudanças ocorridas nesta região, principalmente durante o século XX.

O cotidiano rememorado está no ato de narrar e ver a cidade a partir de muitas lentes, de pensar esta conjuntura acrescida de ambiguidades, versões aceitas ou rejeitadas, intermediadas por relações de poder, que deve ser analisadas em função do olhar e da construção historiográficas e do contexto em que foram constituídas, fruto de uma representação, de uma imaginação ou desejo que também dimensionam o saber histórico de uma época. Essas questões sugerem reflexões acerca da cidade e seu contexto histórico, dentro de uma perspectiva que pode e deve ser ampliada e repensada, pois se trata de uma visão do imenso contexto histórico que pode ser abarcada por outros pesquisadores.É relevante ressaltar que, ao fazer uma investigação histórica, o pesquisador deverá levar em conta a temporalidade da qual esta sendo tratada e o contexto ao qual se insere o município, pois os dados e a caracterização vão sendo modificados na própria dinâmica histórica. Tais elementos não podem ser 20

esquecido, apesar de olharmos a cidade do passado com o olhar do presente, estas dimensões não podem ser descartadas. Assim, observa (CALVINO, 1990, p. 12) que:a cidade é feita “das relações entre as medida de espaço e os acontecimentos do passado.” Além desses aspectos, pensar a cidade como um local que produz espaços e imagens portadoras de significados de um passado que se apresenta a partir de reflexões feitas no presente.

2.2DEVOÇÃO RELIGIOSA A NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO

Como toda trajetória da colonização tem definições e características do país colonizador, a Religião Católica demostra a grande influência na colonização do Brasil. Apesar de passar aqui no Brasil por algumas adaptações, traços da colonização ainda se mantém viva e presente na maioria dos brasileiros.Segundo (ROSENDAHL, 1996, p. 71): “no Brasil, a religião cristã foi introduzida oficialmente pelos portugueses, não só através da intervenção do Estado, mas também das ordens religiosas e pela ação dos colonos”. A autora ainda afirma que:

O complexo processo de ocupação brasileira feito em etapas valorizando determinadas áreas em momentos distintos permitiu que o catolicismo no Brasil assumisse características próprias, bastante distintas do catolicismo Europeu.

Através desta perspectiva é possível entender a religião católica brasileira como algo singular, que embora tenha passado por alterações mantem-se viva e ativa nas diferentes sociedades, que compõe o cenário do país, e através das memórias e recriações atravessa gerações, mantendo-se presente na vida de diversos homens e mulheres.(ELAIDE,1998,p.76), na sua obra O Sagrado e o Profano; A essência das religiões:diz que:

“O tempo tem origem de uma realidade quer dizer, o tempo fundado pela primeira aparição desta realidade tem um valor e uma função exemplares; é por essa razão que o homem se esforça por ritualizá-lo periodicamente com rituais apropriados”. 21

O autor ressalta ainda que:(1998, p. 78). “Ao nível das civilizações primitivas, tudo que o homem faz tem um modelo transumano, portanto, mesmo fora do tempo festivo, seus gestos imitam os modelos exemplares fixados pelos deuses e antepassados míticos”. Salvador por ser o berço da colonização brasileira despertou a atenção de varias nações que ao chegar a capital baiana no século XIX se deslumbravam com tanta diversidade, contava com um tradicional e extenso ciclo de festas que por sua maioria tinha cunho religioso. Refletindo sobre esse contexto histórico faz-se importante ressaltar que entre os colonizadores existiam também famílias pobres que trouxeram suas tradições para o novo país, dentre estas tradições estavam presentes a devoção aos santos e santas que de certa maneira era importante para eles, muitos santos cultuados no Brasil foram trazidos pelos colonizadores: (ROSENDAHL,1996, p.33). “Nos espaços sagrados, a distribuição e disposição das imagens correspondem às necessidades dos cultos e se inspiram em tradições e sentimentos do próprio grupo religioso”. Especificamente sobre o contexto abordado nesta monografia a festa de Nossa Senhora da Conceição,padroeira da cidade de Conceição do Almeida, acontece todos os anos no dia 08 de dezembro como em diversas outras cidades.A data, também escolhida para celebrar o dia da família, é comemorada com festas religiosas tradicionais, com procissões, novenas e missas em várias localidades do país.É relevante esclarecer que esta foi considerada protetora do nosso país, no período colonial, mas,com o advento da República, já no século XX esta devoção foi modificada, e os brasileiros passaram a assumir sua devoção a Nossa Senhora da Aparecida, que foi consagrada como padroeira do país em 16 de julho de 1930. Ela é certamente uma das virgens marianas mais importantes da América Latina. Segundo (MIYAHIRA, 2013, p.39) Nossa Senhora da Conceição Aparecida é uma das virgens patronas latinas que constituem “(...) símbolos que contribuíram para a construção de uma identidade nacional católica (...)”. Discorrer sobre essa devoção é falar de uma relação ente os sujeitos “os devotos” e o objeto de devoção (Santa ou imagem devotada), esta devoção é construída, consumida, ressignificada e transformada a partir da experiência humana com o sagrado e o seu contexto social, cultural e histórico que é partilhado nas experiências e significados para os sujeitos que dela fazem parte. 22

A religião católica foi uma das formas importantes que os colonizadores encontraram para desenvolvimento e manutenção do sistema colonial. A devoção aos santos, no catolicismo popular é fundamentada a partir de um conjunto de representações e práticas que são vivenciadas pelos devotos. Segundo (OLIVEIRA, 1985, p. 122), “uma coletividade presta o culto (individual ou coletivo) aos seus santos, estando revestido de uma obrigação moral”. (DURKHEIM, 2008, p. 72), expôs em sua obra: As Formas Elementares da Vida Religiosa, que:

“A religião só pode ser criação coletiva, pois não há “religião individual”, sendo ainda uma imagem da sociedade, planeada pelo homem para o homem, porém com suas origens na realidade para ter relação com o tempo vivido e resistir ao tempo. Durkheim acrescenta que no sagrado foram erguidos os ritos, os símbolos e as crenças que conduziriam consciências no desenvolvimento de uma comunidade moral, sendo distinções dos elementos profanos que reconstruiriam e conservariam o sagrado, com o intuito de organização e submissão de práticas pela sociedade. Sendo assim, o sagrado é uma representação da própria sociedade, em que:“as crenças religiosas são representações que exprimem a natureza das coisas sagradas e as relações que essas mantêm entre si e com as coisas profanas. Enfim, os ritos são regras de comportamento que prescrevem como o homem deve se comportar com as coisas sagradas”

Segundo (IX INTERECLESIAL,1997,APUD SANTOS, 2004, p. 29): a devoção é um aspecto muito marcante e presente nas pessoas, em especial as pessoas simples que se apegam com toda fé que se transmite como seu mais forte meio de esperança para alcançar alguma graça desejada, quer seja cura de uma doença, bem material, conquista de trabalho, casamento, etc.A fé aos santos é alimentada cotidianamente por uma infinidade de dificuldades da vida humana, pelo próprio pedido de proteção e também pela vontade de se sentir mais próximo de Deus. Com os almeidenses não poderia ser diferente, a história que regi o município é cercada de práticas devocional a Nossa Senhora da Conceição, santa esta que há mais de um século se tornou padroeira da cidade, tendo seu nome associado ao município a fim de prestigiá-la. É imprescindível ressaltar que o catolicismo não é uma religião homogênea, ela se configura a partir de diferentes práticas que reflete a cultura de cada localidade, existindo assim o catolicismo oficial e o popular. Segundo (GOMES, 2002,14). “Qualquer tentativa de definição de religião, é, pois, de toda impossível fora das formas concretas em que historicamente manifestou ou evoluiu.” 23

As devoções referem-se a práticas religiosas que não objetivam o encontro com a divindade. Através da fé os devotos almejam contar com a ajuda do santo ou da santa para alcançar os objetivos finais, sejam eles espirituais ou materiais. Segundo (VILLA, 1997, p.47): “ Os santos eram os intermediários entre o fiel e Deus, daí a relação de cumplicidade entre o devoto e o seu santo protetor”. Ser devoto trata-se apenas da reverência, adoração e ação de graças à divindade em causa. Pode-se definir como devoção o ato de piedade ou sentimento religioso, expressão de veneração a Deus e aos santos através de práticas religiosas e adoração, pode também ser conhecida ou intitulada de afeição; dedicação, amor ou afeto demonstrado em relação a algo, alguém que se adora ou venera. De acordo com (ROSENDAHL,1996, p. 64), em livro intitulado: Espaço e Religião, “Em todos os povos, as formas de cultos são rodeadas por uma aura de profunda seriedade moral. Todo lugar sagrado contem em si mesmo um sentido de obrigação intrínseca. Ele não apenas encoraja a devoção, como a exige, não apenas induz a aceitação intelectual, como reforça o compromisso emocional do devoto”. Segundo a doutrina católica, a devoção é um "culto privado (pessoal ou comunitária)", centralizado na ação de entrega ou consagração de si próprio ou da comunidade "ao amor de Deus (e, por extensão, ao das pessoas divinas, aos santos" e à Virgem Maria). As devoções, que são principalmente expressas através da oração, fazem parte de um "culto privado" mais amplo, que é a piedade popular. Estas expressões populares de fé desenvolveram-se à margem da liturgia oficial, mas elas, se forem sabiamente praticadas e mantidas longe de qualquer superstição, são reconhecidas pela Igreja Católica como importantes para o fomento da fé e da espiritualidade dos fiéis. De acordo com (IX INTERECLESIAL1997, APUD SANTOS, 2004, p. 29):

Os santos eram venerados nos oratórios familiares, um pequeno canto, mesa ou altar dentro de casas, nas capelas dos povoados ou fazendas ou ainda nos santuários mantidos por congregações e irmandades. Os leigos, mais do que o clero, lideravam estes cultos. Achavam que era melhor pedir a Deus por intermédio dos santos do que fazer diretamente. Consideravam Deus mito distante.

É preciso ressaltar que a devoção não é igual à idolatrar, que é o culto de adoração que se presta a um indivíduo, tributando-lhe a honra que é devida só a 24

Deus. Ainda como escreve (ROSENDAHL,1996, p. 50). “A fé significa uma liberdade que permite ao homem participar ontologicamente da existência de Deus”. O dogma que declara a Imaculada Conceição da Virgem Maria foi baseado pela Bíblia onde afirma que Maria recebeu uma saudação do Anjo Gabriel vindo anunciar que ela seria a Mãe do Salvador. Mas para gerar o filho de Deus, Maria precisaria está livre de todo pecado.Os Santos tem fundamental importância para os devotos, através dos santos as pessoas devotas podem sentir-se mais próximo do divino. (ROSENDAHL,1996, p. 72): diz que “Santos são as representações fundamentais do catolicismo popular, como seres, pessoas e espíritos dotados de poderes sobrenaturais. Os santos apesar de estarem no céu se fazem presente na terra por meio de sua imagem”. Desde o cristianismo inicial que os Padres da Igreja defendiam a Imaculada Conceição da Virgem Maria, tanto no Oriente como no Ocidente que Maria, mãe de Jesus, foi imune de toda a mancha do pecado original, desde o primeiro momento da sua concepção. Nesta perspectiva que justifica-se o devocionismo e apego a Maria que a séculos se concretizou como mãe acolhedora e símbolo de pureza. Segundo entrevista realizada com o Padre da Paroquia de Nossa senhora da Conceição em conceição do Almeida-Ba, Antenor Lourenço dos Santos:

É norma da Igreja de que toda Paróquia constituída tenha o seu padroeiro. No caso, a Paróquia de Conceição do Almeida adotou como padroeira: Nossa Senhora da Conceição.O meu objetivo ao festejar Nossa Senhora é o mesmo da comunidade católica, que celebra todos os anos, com muita alegria e fervor, esta festa mariana, cujo objetivo é: Prestar um culto a Imaculada Conceição, Renovar a nossa prática pastoral a partir da experiência de fé vivida por Maria: mulher obediente, mulher de oração, mãe de todos os seguidores de seu Filho Amado. Fazer memória de alguém, que na obediência à Palavra de Deus, nos deu Jesus Cristo como o autor da vida1

Este fato também se verifica diante das falas dos entrevistados sobre a devoção à Nossa Senhora da Conceição, como direciona o senhor Luciano Silva Santos:

1 Entrevista com Padre Antenor Lourenço dos Santos, 71 anos, reside na rua São José, 568, centro, -Ba, nascido em Jitaúna Ba, é Sacerdote, se declara de cor parda, com nível de ensino Superior.

25

Eu acho que não existe filho sem mãe, eu acredito muito em Jesus Cristo, ele é um só mas que se mostra em várias faces para mostrar o quanto nós podemos nos aproximar dele, e a presença de Maria eu acho indispensável para o processo de salvação, Maria podia ter dito não, podia ter não querido que Jesus nascesse, mas ela disse sim se é verdade ou mentira isso para mim não importa, mais a minha fé diz que para Jesus nascer precisou de uma mulher e essa mulher foi Maria, reconhecer que Maria é uma pessoa santa que Maria exerce uma influência no plano de salvação, pra mim é algo fundamental de fé.2

Assim como reafirma outra entrevistada sobre a sua devoção à Nossa Senhora da Conceição, a senhora Helena Queiroz Santos Costa:

:

A minha fé em Nossa Senhora da Conceição se solidificou aos poucos e diante das graças alcançadas a gente vê a presença de Maria na vida da gente que é assim, um sabor gostoso, uma confiança que a gente tem na mãe de Deus que ele nos deu ao pé da Cruz, então quem tem Maria consigo tem tudo.3

Para os devotos a imagem da Virgem Maria é um modelo de vida cristã a ser imitada por todos. É uma mulher que teve fé, que cooperou com Deus em seu plano de salvação desempenhando o papel verdadeiro de mãe do Salvador. É exemplo de mãe de uma família feliz- a família de Nazaré. (ROSENDAHL,1996, p. 64) diz que:

Em todos os povos, as formas de cultos são rodeadas por uma aura de profunda seriedade moral. Todo lugar sagrado contem em si mesmo um sentido de obrigação intrínseca. Ele não apenas encoraja a devoção, como a exige, não apenas induz a aceitação intelectual, como reforça o compromisso emocional do devoto.

Os festejos comemorativos a Nossa Senhora da Conceição podem ser caracterizado como um evento do cristianismo comunitário, um sinal de compartilhamento e de compromisso na obrigação de reunir os devotos em torno da mensagem de Cristo.

2 Entrevista com o senhor Luciano Silva Santos, Gestor, 47 anos, casado, possui nível superior completo em Administração, negro e residente no loteamento Pôr do Sol nº 80 na Cidade de Conceição do Almeida-Ba. 3 Entrevista de D. Helena Queiroz dos Santos Costa professora aposentada, possui 73 anos, se declara mestiça, reside na praça Edgar Tupinambá centro de Conceição do Almeida-Ba.

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2.3 CONTEXTO HISTÓRICO DA FESTA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO EM CONCEIÇÃO DO ALMEIDA-BA.

Figura 2: Imagem da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, padroeira da cidade de Conceição do Almeida-Ba.

Fonte: Arquivo pessoal do senhor Manoel da Conceição Santos (Nezinho), década de 1970.

A festa de Nossa Senhora da Conceição em Conceição do Almeida é considerada uma festa tradicional, caracterizada por sua singularidade de ritos e celebrações que são distintos dos originais trazidos pelos colonizadores portugueses aqui para o Brasil. Segundo (ROSENDAHL,1996, p.33):

27

“Nos espaços sagrados, a distribuição e disposição das imagens correspondem às necessidades dos cultos e se inspiram em tradições e sentimentos do próprio grupo religioso”.

A imagem de Nossa Senhora da Conceição tem uma significativa importância para os devotos de Conceição do Almeida e principalmente para o catolicismo, já que a santa constitui uma ideia deum ser puro e um exemplo à ser seguido pela humanidade, ela traz consigo valor simbólico para os devotos almeidenses.Para (ROSENDAHL, 1996, p. 72): “Santos são as representações fundamentais do catolicismo popular, como seres, pessoas e espirituais, dotados de poderes sobrenaturais.Os santos apesar de estarem no céu se fazem presente na terra por meio de sua imagem”.Nesta mesma perspectiva direciona o entrevistado Padre Antenor:

[...] A minha devoção a Maria, cujo título é Nossa Senhora da Conceição, se baseia no reconhecimento de que ela foi à mulher que mais colaborou com o projeto da salvação da humanidade ao dizer sim: “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a vossa vontade”. Verdadeiramente Maria é uma mulher fantástica. Ela é portadora de Jesus Cristo que trouxe ao mundo a salvação para toda a humanidade, morrendo numa cruz e ressuscitando para que todos pudessem ter vida [...]4

Desta maneira, verifica-se como a devoção à Nossa Senhora da Conceição representa o ideal simbólico da fé de uma comunidade, sendo a Mãe a representação maior na vida do Salvador (Jesus Cristo) e uma redentora, uma imagem da mulher fiel e perfeita. Contextualizando sobre as origens dos festejos à Nossa Senhora da Conceição que segue o calendário cristão, esta é celebrada sempre entre os dias 29 de novembro ao dia 08 de dezembro, a preparação da festa inicia-se um ano antes com a entrega da Bandeira (símbolo da organização da festa) aos próximos organizadores (Comissão Organizadora) que no ano posterior organiza e ajuda nos preparativos da festa. A organização da festa geralmente fica a cargo de uma diretoria que divide funções administrativas e comissões. Fazem parte das primeiras as funções de: Coordenador administrativo, sempre o vigário da paróquia, presidente, vice-

4 Entrevista com Padre Antenor Lourenço dos Santos. Op. Cit. 28

presidente, um tesoureiro e secretários. Todos os membros da diretoria dividem-se em comissões e subcomissões que são geralmente as seguintes: de eventos, da liturgia, da preparação da Igreja Matriz, de arrecadação das ofertas, de organização da programação da festa, de vendas de camisas e calendários, da organização do leilão de gado, além da Feira da Fé, eventos estes promovidos para arrecadar fundos para os festejos. A festa ainda recebia apoio do poder público, do comércio local e de irmandades da própria igreja. Segundo Padre Antenor:

[...] Toda a comunidade se mobilizava de uma forma ou de outra para angariar recursos para o brilhantismo da festa: ornamentação da Igreja, despesas do pregador (Orador da noite), confecção do andor que refletia a criatividade da Comissão e consequentemente do seu amor a Maria[...].5

Segundo o entrevistado Luciano Silva Santos, “havia e sempre houve uma divisão por grupos para serem responsáveis pela organização do festejo”. Ele relembrou que houve uma transferência de grupos de organizações passando para as ruas organizarem afim de melhorar a interação de toda comunidade almeidense durante as organizações da festa, o padre considerava que desta nova maneira todos poderiam contribuir e assim minimizar uma “certa” disputa que ocorria durante os preparativos e anos passados dos festejos como ressaltou o entrevistado:

[...]Teve uma época que o novenário era dividido por grupos de operários, comerciantes, professores, depois foi dividido por ruas, Fonseca Rocha e São Francisco uma noite, Rua do Murungu e Cicero Sena liderava outra noite, se tirou isso por que achava que era mais uma competição[...].6

5 Entrevista com Padre Antenor Loureço dos Santos. Op. Cit. 6 Entrevista com o Senhor Luciano Silva Santos. Op. Cit. 29

Figura 3: Programação da festa de Nossa Senhora da Conceição.

Fonte: Documento cedido pela Paróquia da Igreja Matriz. 1975.

Nos documentos cedidos pela Paróquia como o panfleto da programação da festa aqui retratado foi possível detectar a forma de organização durante os dias do novenário, sempre indicando um direcionamento de dedicatória para cada dia, sendo definidos e organizados em grupos representantes como: primeira noite era patrocinada pelo Apostolado da Oração e Legião de Maria, segunda noite pelas escolas, terceira noite por artistas e motoristas, quarta noite por comerciantes, quinta noite, por enfardadores (operários dos armazéns de fumo), sexta noite pelas Senhoras, sétima noite pelos operários, oitava noite, por funcionários públicos, nona 30

noite, pelos lavradores, fazendeiros e sindicato dos trabalhadores rurais. Visto que a cada dia havia um respectivo grupo responsável para representar os patrocinadores de cada dia ofertado ao novenário. Dona Helena Queiróz relembrou que “A gente também participando e colaborando, naquele maior carinho inclusive teve um ano que eu fiz parte da comissão da festa”.7

Um documento da paróquia do ano de 1974 anunciou a festa dizendo que:

Nossa paroquia se prepara mais uma vez para celebrar a festa de sua padroeira – Nossa Senhora da Conceição. É mais uma oportunidade de que tem a comunidade para a renovação espiritual, um contato mais direto da palavra de Deus. Peçamos a Deus que estes dias de reflexão em torno de Maria sejam ricos para a nossa comunidade paroquial.8

Os festejos tinham inicio com as novenas que eram realizadas durante nove dias e contava com uma programação extensa de atividades. Dentre elas destacavam-se: as novenas, missas, lavagem, sacramentos como o batismo, primeira Eucaristia, matrimônios comunitários, e o encerramento se dava com a procissão em louvor a Nossa Senhora. Ainda segundo o entrevistado Luciano Silva Santos, a cidade toda se mobilizava envolvida com a festa de Nossa Senhora da Conceição, que era o maior evento ocorrido na cidade. Ele relembrou que

Durante o festejo a Nossa Senhora a cidade vivia para o festejo de Nossa Senhora durante a minha infância, tudo acontecia neste período inclusive as primeiras eucaristia, fiz a primeira eucaristia om 12 anos, então nessa minha primeira eucaristia que foi no dia 8 de dezembro.9

7 Entrevista com Dona Helena Queiroz. Op. Cit. 8Documento encontrado na Secretaria Paroquial de Conceição do Almeida- Ba, 1974. Cartaz 9 Entrevista com Luciano Silva Santos, Op. Cit. 31

Figura 4: Imagem da Festa de Nossa Senhora da Conceição, referente a Primeira Eucaristia.

Fonte: Arquivo pessoal do senhor Manoel da Conceição Santos (Nezinho), década de 1970.

Figura 5: Imagem da Festa de Nossa Senhora da Conceição, referente a Primeira Eucaristia. 32

Fonte: Arquivo pessoal do senhor Manoel da Conceição Santos (Nezinho), década de 1970.

As imagens acima são registro da primeira comunhão de muitos adolescentes que nos anos setenta receberam pela primeira vez o sangue de Cristo. Este é um dos sacramentos mais importante da Igreja Católica Apostólica Romana que aconteciam durante os festejos a Santa padroeira do município, sempre no dia dedicado a festa de Nossa Senhora da Conceição. Durante as noites, além dos atos litúrgicos e religiosos que ocorriam na Igreja Matriz, concomitantemente acontecia também no centro da cidade, o funcionamento dos bares, barracas com venda de comidas tradicionais da região, parques de diversão, apresentação de cantores regionais e religiosos e um movimento intenso de pessoas circulando pelas proximidades da Igreja Matriz, constituindo assim aquele espaço como um lugar religioso e cultural. A partir da análise de alguns documentos sobre a programação e organização da festa de Nossa Senhora da Conceição, compreende-se que a mesma não era um evento isolado, pois promovia sociabilidades, dinamizando um ritmo para a cidade principalmente para a comunidade Católica, além de ali se imbricar aspectos culturais, políticos e econômicos. Neste aspecto se percebe o valor histórico, religioso, cultural e identitário que 33

grande parte desta comunidade expressava a partir da devoção e organização daquele festejo. Sendo assim, as mudanças não aconteciam aleatoriamente nem partia da decisão de uma só pessoa. Era experimentada opinião de um grupo e para resolver algumas situações se tentava ver mecanismo que pudessem contribuir para um melhoramento da organização e interação da comunidade nos festejos. Ao perceber uma concorrência entre comissão de organizadores, o Padre Antenor decidiu junto com outros membros modificar a dinâmica da organização, introduzindo as comissões integradas por ruas e membros de apostolados e pessoas da comunidade, a fim de facilitar a interação e participação de todos nos eventos. Cabe salientar que a concorrência entre comissão de organizadores revelava disputas e relações de poder que se manifestavam nos festejo à Nossa Senhora da Conceição.

3 PECULIARIDADES DA FESTA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO.

3.1 O LEILÃO E FEIRA DA FÉ

A Igreja como qualquer outra instituição necessita de amparo financeiro para manter-se. No que tange à Igreja Católica, designadamente o dízimo foi constituído como principal alternativa para tal fim. O dízimo é um dogma bíblico, podemos encontrar várias referências sobre o mesmo, tanto no Velho quanto no Novo Testamento. Algumas passagens bíblicas enfatizam a importância e o compromisso para com o dízimo. No livro Gênese uma passagem revela que: “E esta pedra que ergui aqui como estrela será uma casa de Deus, e eu te darei a decima parte de tudo que me deres”. (GÊNESIS, 28,22). Mas durante a festa além do dizimo, a população se empenhava em arranjar uma outra forma de contribuição para realização da festa religiosa. Em meio aos preparativos para os festejos à Nossa Senhora da Conceição, acontecia um leilão denominado pelos organizadores da festa e pela população da cidade de “leilão de gado”. 34

Deu-se este nome ao leilão porque era um leilão com características de doações feitas na sua maioria por fazendeiros da Cidade de Conceição do Almeida- Ba. No período de preparação os moradores doavam além de gados outras coisas para a composição do leilão. Sobre essa questão, em uma das passagens da escrituras sagradas afirma. (LEVITICO 27, 32): “Os dízimos de animais, boi ou ovelhas, isto é, a decima parte de tudo que passa sobre o cajado do pastor, é coisa consagrada a Javé”. Como relatou o morador Luciano Silva Santos e também membro das organizações do festejo em determinados períodos, os leilões da Igreja Católica da Cidade de Conceição do Almeida-Ba aconteciam sempre com um mês de antecedência na praça municipal, em frente à Igreja Matriz. Neste período tem-se a impressão de que o evento atraía uma grande aglomeração de pessoas para a cidade e consequentemente, maiores chances de sucessos financeiros para a festa.

Geralmente havia a presença do Pároco da Igreja que fazia uma celebração litúrgica para abençoar o evento, essa era uma fase de caráter preparatório para realização dos festejos seguintes. Como reafirma o senhor Luciano:

O leilão era realizado um mês antes da festa, fazendeiros doavam garrotes para o leilão, e o leilão tinha maior contribuição, mais depois foi decaindo, por conta mesmo das doações, os comerciantes não doam tanto como em outras cidades.10

O objetivo do “leilão de gado” era de angariar fundos para os custeios com a reforma da Igreja Matriz, ornamentação, contratação de bandas musicais e todos outros custos que pudessem surgir durante os dias de festa.Pode-se identificar que a Igreja Católica criou alternativas de sobrevivência que contribuíssem para a manutenção física desta Instituição, como quermesses, leilões, bingos, feiras, barracas, etc. e este não é um caso isolado ou especifico da Igreja Católica de Conceição do Almeida, tornando assim práticas comuns entre as Igrejas Católicas brasileiras. Segundo (COUTO; DIAS, 2009, p. 5):

Uma das maiores formas de divertimentos eram os leilões e jogos realizados em frente à Igreja em dias festivos. Os rendimentos alcançados com a venda de produtos alimentícios, flores, frutas e brinquedos eram doados à Igreja para o custeio de ornamentação e iluminação.

10 Entrevista com Luciano Silva Santos. Op. Cit. 35

Ao estimular as memórias dos entrevistados com questões sobre os leilões, pude sentir os sujeitos almeidenses muito predispostos para falar, pois as recordações acerca do mesmo são espontâneas, cujos relatos e recordações muito traduzem deste amplo universo cultural. Segundo Antônio Torres Montenegro (1994, p.151):

A história Oral tem como matéria a memória, que pode vir à tona através de estímulos diretos, que comumente denominamos de memória voluntaria. No entanto, a própria experiência de entrevistar aponta a força da memória involuntária. Estímulos os mais diversos desencadeiam processos de associação e de rememoração que fogem ao controle efetivo do entrevistador. Neste sentido é que desenvolver sempre a entrevista a partir da história de vida possibilita um extenso campo de estímulos involuntários de associações.

Assim cabe ao entrevistador respeitar e valorizar cada história e individuo, porque ele invade a privacidade dos sujeitos, e gradualmente vai percebendo representações do cotidiano que estão inseridas dentro de uma conjuntura histórica, de uma memória social e cultural que refletem intenções, conflitos, desejos de adequações e mudanças.

Segundo (MICHEL POLLAK, 1992, p.200):

A memória coletiva de um determinado grupo se define como “uma memória estruturada com suas hierarquias e classificações, uma memória também que, ao definir o que é comum a um grupo e o que diferencia dos outros, fundamenta e reforça os sentimentos de pertencimento e as fronteiras socioculturais”.

Sendo assim, na medida em que acentuam contradições e ambiguidades em torno da memória, emerge-se enquanto um espaço de reconstituição, no qual os sujeitos expressam e reconhecem suas experiências, diante de relações que travam entre si e no convívio com o outro.Neste sentido destaca-se a entrevista do Senhor Luciano Silva dos Santos que falou um pouco sobre a organização do leilão:

Geralmente era assim: estabelecia uma data que já era decidida um ano antes para o acontecimento do leilão, na verdade a preparação começava um ano antes da festa, a comissão organizadora da festa naquele ano tinha responsabilidade de procurar os comerciantes, fazendeiros, políticos e toda população para fazer as doações, a comissão se dividia e saiam em equipes pedido as contribuições nas localidades do município, a 36

responsabilidade de organizar o leilão era da comissão organizadora de cada ano.11

Segundo o Senhor Luciano as pessoas já se preparavam com antecedência para os eventos. Um ano antes já reservavam algo para ser doado ao leilão assim é também para a “Feira da Fé”, um outro evento que também compõe esse cenário e sua realização antecedia o festejo a Nossa Senhora da Conceição na cidade de Conceição do Almeida-Ba. A Feira da Fé também era utilizada como instrumento de preparação e arrecadação de fundos para custeio e manutenção da festa dedicada a padroeira do município. Reforçando a afirmativa do entrevistado relacionando-o a organização dos eventos preparativos a festa de Nossa Senhora da Conceição, assim como em Conceição do Almeida haviam tais práticas de antecipação para organização da festa, tais práticas vinham e eram reflexo de outros eventos religiosos que já ocorriam na Bahia no século XIX. Segundo (COUTO; DIAS 2009, p.5):

“No final de novembro os comerciantes da Cidade Baixa já se preparavam para homenagear Nossa Senhora da Conceição, padroeira do império português e do Brasil até 1930, quando foi substituída por outra inovação mariana, Nossa Senhora Aparecida.

Através das entrevistas realizadas pode-se perceber que a “Feira da Fé” atraía um maior número de doadores que o próprio leilão, talvez por ter um caráter que mais se identificava com a população da zona rural, já que, em sua maioria eram feirantes e devotos a Nossa Senhora da Conceição. Para a feira dedicada ao festejo seus organizadores recebiam contribuições de pessoas de todas as comunidades rurais pertencentes ao município, que por sua vez já se preparavam antes do evento acontecer. Assim como no leilão havia também uma organização da comissão festiva para a arrecadação das coisas doadas, para a feira, novamente, grupos da comissão saiam para as comunidades rurais, pontos comerciais e instituições políticas para fazer o recolhimento dos objetos e animais que eram doados pelos sujeitos fiéis à santa ou não, que faziam parte daquela sociedade.

11 Entrevista com o Senhor Luciano Silva Santos. Op. Cit. 37

Tudo era organizado detalhadamente, para que a “Feira da Fé” e o Leilão fossem atrativos e tivessem sucesso, e, se Nossa Senhora da Conceição ajudasse com um lindo e bom dia de sol, a feira e o leilão teria ainda mais progresso. Segundo entrevista realizada com a senhora Marinalva dos Santos:

A “Feira da Fé” era a oportunidade de todos contribuir para a festa minha filha! Porque no leilão nem todo mundo tinha como participar, a gente mesmo que era pobre não podia concorrer um os fazendeiros que davam bezerras, então assim com a feira todo mundo dava o que podia para a festa de Maria que é nossa mãe!12

A feira acontecia e acontece atualmente, num sábado que antecede o dia do festejo a Nossa Senhora da Conceição, no caso dia 08 de dezembro, a realização da feira se concretiza em um sábado por ser o dia costumeiro que acontecer a feira municipal e por ter um fluxo maior de pessoas na cidade. Utilizando o sábado dedicado para feira livre do município, a “Feira da Fé” instalava-se no mercado municipal, em conjunto com feirantes tradicionais, nos espaços destinados a feira livre, alargando-se por um extenso pavilhão do mercado. Ali fazia-se a exposição de toda a diversidade de objetos adquiridos para venda.Conforme lembrou Luciano Silva dos Santos:

A feira da fé no tempo de Antenor acontecia assim mesmo: primeiro lugar existia a feira a gente tomava dois pavilhões de feira, atrás do mercado tendo feira a gente ver que a cidade está viva tem movimento a feira foi acabando então a feira da fé gradativamente foi minguando.13

Os objetos doados para a composição da feira eram diversos, dentre eles destacam-se: comidas, animais, flores, frutas e vários objetos distintos.Como relatou o entrevistado Luciano Silva dos Santos: “A Feira da Fé no início também vinha com todo tipo de coisas, artesanatos, produtos cultivados, criação, tinha bode, carneiro, todos doavam essas coisas para acontecer a feira da fé.”14 A “Feira da Fé” ao contrário do leilão não foi extinta do contexto festivo, permanece como preparativo que antecipa o festejo, mas sofreu algumas alterações no decorrer dos anos que se passaram em função das dificuldades enfrentadas

12 Entrevista com Dona Marinalva dos Santos, operaria aposentada, negra, com 77anos de idade, alfabetizada até a 3ª serie do ensino fundamental I, residente na rua José Campos nº 145 na cidade de Conceição do Almeida-Ba. 13 Entrevista com senhor Luciano Silva Santos. Op. Cit. 14 Entrevista com senhor Luciano Silva Santos. Op. Cit. 38

tanto por moradores quanto pelos organizadores do evento. Todavia, permanece viva até os dias atuais. A realização dos leilões e feiras eram durante um longo período praticas costumeiras utilizadas pela Igreja Católica de Conceição do Almeida-Ba, mas que com o passar dos anos e por causa da paulatina diminuição das doações, foram tomando rumos distintos chegando a seu fim. No passado era forte a presença de leilões e feiras, algo tradicional nas festas religiosas da cidade.Neste sentido, os leilões e feiras são marcas singulares das práticas culturais daquela localidade, sendo importante para a memória social dos almeidenses.

3.2 NOVENAS E BARRACAS

As novenas religiosas se constituíam obviamente em nove noites com celebração de missas, como já foi dito anteriormente. Estas eram destinadas ou em ação de graças primeiramente, a diversos grupos da cidade e posteriormente, em nome das ruas com seus respectivos moradores. Com o passar tempo as novenas passaram a ser dedicadas apenas aos grupos, estes mesclados entre moradores e membros de irmandades, e aos grupos atuantes dentro da Igreja como: escalada, jovem, senhoras, catequese, etc... O novenário se inicia com uma alvorada as cinco horas da manhã representando o despertar para o começo do dia e dos festejos que homenageiam Maria. Para acordar a cidade era tocado o sino anunciando o início das festas religiosas. Segundo a entrevistada Ivone Francisco da Cruz:

“Daqui a gente exultava o sino tocando, anunciando que a festa de Nossa Senhora já estava começando, mais a noite que mais interessava mesmo era a do lavrador, que a gente da roça se sentia importante, era uma alegria que só! Agente fazia todo esforço para ir nesse dia, ia andando que na época não tinha o luxo que tem hoje, “carro” era só para os fazendeiros que iam com a família a gente ia mesmo era andando, e mesmo assim a gente participava e se divertia”.15

15 Entrevista com a Senhora Ivone Francisco da Cruz. negra, agricultora aposentada, com 62 anos e idade, viúva, alfabetizada até a 2ª serie do ensino fundamental, residente da zona rural do Coirão no município de Conceição do Almeida-Ba.

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A partir do contato com as fontes pude perceber que durante as novenas havia indicadores de poder dos grupos dentro desse evento. Pois ao inicio e termino das novenas, tinham queimas de fogos e nesse caso a quantidade de foguetes que estouravam e iluminavam o céu, indicava a dimensão de poder dos grupos ao longo das noites. Segundo relato da Entrevistada dona Antônia Carvalho Lopes, 73 anos de idade, ensino magistério, professora aposentada, negra, residente na Praça Edgar Tupinambá nº 191 na cidade de Conceição do Almeida-Ba:

As noites patrocinadas pelos operários era considerada a noite mais animada, eram muitos fogos que se tocavam e muito animada mesmo, os operários eram por tradição, já ia economizando dinheiro para contribuir com essa festa, não era somente na última hora toma aqui esse dinheiro eles já vinham se preparando faziam caixinhas no armazém e o pessoal que já ira recebendo depositava ali a sua contribuição mensal.16

Ocasião parecida foi descrita por (COUTO,2006, p.277), em sua obra Festejar os Santos em Salvador: Tentativas de reforma e civilização dos costumes (1850- 1930), sobre as festas religiosas em Salvador no início do século XX ela afirmou que:

“A queima de fogos é a única ação que pode ser um marco divisório entre a liturgia e os festejos profanos. Servia como demonstração de Status, poder e propaganda governamental, quando marcava os acontecimentos da vida familiar imperial”.

Antigamente, a primeira noite da novena era dedicada as crianças, a segunda às moças e a terceira as senhoras. Com o passar dos anos novos grupos passaram a terem destaques e os nomes das noites mudaram. De acordo com o contexto social da cidade, algumas noites permaneceram como destaques mas outras foram substituídas de acordo com as necessidades de mudanças e adaptações. Como descreveu dona Helena :

“E aí fui fazendo parte das coisas da cidade inclusive a novena que tinha a novena das crianças, participei logo na comissão, já tinha feito sete anos oito anos que eu já fiz e vim para aqui ai fui participando da vida da igreja nesse sentido, a festa de nossa Senhora da Conceição era aquela alegria toda noite tinha gente ali, participando da novena da festa toda né!”

16 Entrevista com a Senhora Antônia Carvalho Lopes. 40

No relato da Senhora Helena fica claro o quanto era e é para ela, estar presente nestas noites, que ganhavam significados especiais nas vidas dos moradores, que esperavam com grandes expectativas. Conforme afirmou (SANTOS, 2012, p.34):

“Os nomes das noites são colocados como parte da tradição da festa do Senhor dos Passos, isto significa dizer que aqueles modos instalados faz parte da vida das pessoas, a perda destes elementos faria com que as pessoas perdessem as referências construídas ao longo do tempo”.

Ao se nomear as noites e entregá-la a determinados grupos ou ruas, tal prática se constitui na identificação daquele grupo de pessoas com o Santo, ajudando na formulação da identidade dos sujeitos. Durante as noites da novena aconteciam também montagens de barracas na praça da cidade para comercialização de comidas, inicialmente essas barracas foram introduzidas pelas organizações da festa, mas posteriormente tomou uma proporção maior quando os demais moradores instalaram suas barracas que vendiam diversos tipos de bebidas alcoólicas, comidas e jogos. As instalações destas barracas se caracterizaram como mais uma das partes profanas da festa religiosa, dedicada a Nossa Senhora da Conceição. Ainda segundo o entrevistado Luciano que teve também a experiência de ser membro da organização do festejo:

[...] “As barracas já estava tendo mais bebedeiras, a festa profana era maior que a festa religiosa, as pessoas não diziam assim: eu vou para o novenário, diziam: vai começar o novenário eu vou para a barraca do ‘João” lá é ótimo lá sai um sarapatel gostoso, lá a cerveja sai geladinha, então ia não em função da festa religiosa mais somente em questão da festa profana”.17

Através das entrevistas constatei que as novenas por terem a disponibilidades de barracas ao redor da Igreja Matriz, as pessoas devotas e não devotas a Nossa Senhora da Conceição, tinham mais disposição para frequentarem a praça da cidade, quer seja para participar da novena, quer seja para simplesmente divertir-se nas diversificadas barracas que ofereciam vários atrativos. Foi possível perceber que as barracas estavam sendo mais frequentadas que o próprio novenário, tornando assim difícil a comunicação do padre com os fiéis. Luciano Silva narrou que:

17 Entrevista com Senhor Luciano Silva dos Santos. Op. Cit. 41

Estava tendo mais a preocupação com profano do que com o religioso, e o que é que acontece era uma coisa que não era só aqui era geral, em todas as cidades porque é uma preocupação da diocese é valorizar o lado religioso e não o lado profano, ai entra em choque religião e economia para donos de barracas para o comercio em si era uma maravilha era dinheiro em caixa, para a Igreja não, embora a Igreja recebesse doações mais não era essa sua intenção.18

Com a fala do senhor Luciano, percebe-se a preocupação da Igreja ao ver que estava perdendo sua força para as barracas identificando que era um problema não apenas da cidade de Conceição do Almeida, mas de toda a diocese 19 de Amargosa, responsável pela paroquia do município. Como aponta (COUTO; DIAS, 2009, p.10):

“Por conta do ambiente descontraído no qual se desenrolava a cerimonia, do entrelaçamento entre o sagrado e o profano, o visitante não conseguia distinguir o culto cristão da festa popular, supondo que o sentimento religioso não era a principal motivação dos fiéis”.

Ainda foi possível detectar a relação de poder instituído pelo pároco que ao perceber que a Igreja estava medindo forças com as famosas barracas, comunicou- se com sua diocese e decidiu recorrer ao poder público para intervenção e proibição das barracas. Segundo o senhor Luciano:

“Então o padre pediu que retirassem as barracas das ruas, mostrando que ele também tinha influência nas decisões tomadas na cidade, ele também tinha poder, a Igreja tem muito poder, porque é onde concentra a maioria então o padre tinha esse poder”.20

Nesta entrevista fica evidente a forte influência da Igreja Católica nas decisões tomadas perante a sociedade almeidense, que assim como diversas cidades brasileiras, vivem este contexto no qual relações de poder penetram e fazem parte do cenário religioso. Conforme (SILVA; ADÃO; MELO, 1999.p.211):

Considerando o estudo da cultura popular através da festa é um importante objeto para se compreender não só a identidade cultural de um determinado grupo social mas também, as relações sociais e econômicas estabelecidas por esses grupos historicamente.

18 Entrevista com Senhor Luciano Silva dos Santos, Op. Cit. 19 Diocese é uma ordem Católica responsável pelas organizações paroquiais definida por regiões, a paroquia de Conceição do Almeida-Ba faz parte da diocese de Amargosa-Ba. 20 Entrevista com senhor Luciano. Op. Cit. 42

Sendo assim, a festa torna-se um material de investigação riquíssimo para compreensão do contexto político, econômico, social e cultural das localidades, ela constitui-se num rico víeis de análise da identidade e da cultura, pois nela percebemos costumes e tradições criadas e recriadas nos espaços e temporalidades em que muitos homens e mulheres vivenciam suas experiências.

3.3 A LAVAGEM

As lavagens que faziam parte dos festejos da padroeira do município aconteciam na frente da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição sempre num domingo ates do dia 08 de dezembro. O cortejo era feito por um grupo de baianas representadas por mulheres da própria cidade e organizado pela comissão de cada ano festivo. Por muito tempo a lavagem se constituiu como um evento especial, principalmente pelas apresentações das baianas. (HABSBURGO, 1982, p. 131-132) diz que:“Lavar o interior da igreja significa limpeza e purificação do espaço físico e dos corpos, com água perfumada de flores e folhas, para pedir benção a Cristo e Oxalá”. A lavagem constituinte do festejo a Nossa Senhora da Conceição em Conceição do Almeida, passou por um processo de modificações por causa dos custos considerado abusivos para o evento, já que toda estrutura da lavagem era patrocinada pela igreja, que propôs aos participantes da lavagem como as baianas e outras pessoas envolvidas, que elas arcassem com suas próprias despesas. A senhora Marinalva dos Santos relembrou que:

[...] “Acidade não suportava isso então era todo ano uma roupa completa, então ficava dispendioso aí foi tirando, tirou mais mesmo assim pensou em fazer, as pessoas que queriam iam lá e lavavam”.21

Iniciava com a lavagem das escadas da Igreja, a seguir partia para um desfile nas principais ruas da cidade com um jegue puxando uma carroça carregada de bebidas alcóolicas. Durante o percurso o cortejo fazia algumas paradas, que eram

21 Entrevista com a senhora Marinalva dos Santos. Op. Cit. 43

paradas intencionais em casas de membros da organização do evento. Na casa dessas pessoas ficava mais barris de bebidas que eram oferecidos aos participantes do cortejo.Segundo o senhor Luciano:

Não se fazia com 5 nem 10 litros de bebidas eram barris de bebidas, batida de caju, de limão de tamarindo, as bebidas iam na carroça e bebidas ficavam nas casas de alguns membros da comissão em locais estratégicos a lavagem ia percorrendo as ruas e quando chegava na casa dos membro de cada rua tinha parada e mais bebidas.22

Outra lavagem acontecia um domingo depois do dia da festa dedicada a Nossa Senhora da Conceição. Esta outra lavagem fazia o mesmo percurso da primeira, mantendo as mesmas intenções e objetivos, o que tinha de diferente nessa outra lavagem, era a entrega da “bandeira”, um dos símbolos que anunciava quem seria os próximos organizadores do festejo no ano seguinte. Ao longo dos anos na lavagem da calçada, da Igreja de Nossa Senhora da Conceição em Conceição do Almeida-Ba foi passando por transformações até chegar a sua total extinção. De acordo com as entrevistas tudo leva a crer que o fim da lavagem se deu por conta das bebedeiras ocorridas durante o cortejo e também por sua despesa ser bastante onerosa para o custeio da igreja. Pode-se afirmar que a igreja não poderia arcar com tantos gastos, então optou-seque a lavagem acontecesse de forma mais simples, evitando prejuízo orçamentário. A direção da paróquia ressaltou que a intenção da lavagem não era o consumo excessivo de bebidas alcoólicas como costumava a ocorrer, mas sim a interação da comunidade com a igreja e a purificação das pessoas e objetos perante o cortejo.Dona Helena lembrou que:

“[...] Assim não tem uma explicação definida de repente foi se esquecendo e transformando e acabou, são tantas coisas que colaboram para algumas serem substituídas né! o mundo moderno hoje, todo canto tem uma modificação né! [...]”23

Não há uma explicação definitiva para o desaparecimento deste elemento constituinte do festejo da padroeira da cidade.Atualmente não há mais a lavagem dentro do festejo dedicado a padroeira, ela um dia fez parte do contexto festivo de

22 Entrevista com senhor Luciano Silva dos Santos. Op. Cit. 23 Entrevista com Dona Helena. Op. Cit. 44

Nossa Senhora da Conceição em Conceição do Almeida-Ba, mas agora está fazendo parte apenas das memorias dos almeidenses e visitantes.

Mas há controvérsias a respeito desse tal desaparecimento ou fim de alguns elementos constituintes dos festejos a padroeira da cidade de Conceição do Almeida-Ba. Numa entrevista com o Padre da paroquia que presidia as missas e eventos no período, relatou que os eventos foram extintos por conta do afastamento da religiosidade, então decidiu-se que seria propicio dá um determinado fim aos eventos considerados profanos. Ainda de acordo com o padre Antenor:

[...] “Todo o essencial permaneceu, apenas a festa de rua: barracas armadas que vendiam bebidas durante a festa; bandas de músicas, mulheres sambistas caracterizadas de baianas e na lavagem, muita bebida carregada por um animal. Isso se perdeu, uma vez que o profano estava prejudicando o religioso.” [...]24

Nesse contexto, vários elementos que faziam parte dos festejos a Nossa Senhora da Conceição não possuem mais a mesma dimensão que antes. Com as entrevistas colhidas se tornou possível compreender como se deu as modificações dentro do festejo de Nossa Senhora da Conceição, que teve período marcante na vida dos almeidenses e com o passar do tempo e conforme várias decisões tomadas pela própria igreja, perderam sua força e o vigor que tinha em tempos de outrora. O festejo a padroeira da cidade era uma festa agitada, animada e alegre e ficou registrada na memória de cada almeidense e visitantes, tendo em vista que a memória de cada um guarda consigo lembranças e recordações que para eles muito significam e revelam momentos marcantes de suas experiências de vida.

3.4 PROCISSÃO E SHOWS MUSICAIS

Na programação da festa de Nossa Senhora da Conceição, no dia 08 de dezembro acontecia uma carreata às 5 horas e uma missa as dez horas da manhã, e já a tarde acontecia uma procissão e outra missa.

24 Entrevista com o Padre Antenor Lourenço dos Santos. Op. Cit. 45

Figura 06: Imagem da procissão em homenagem a Nossa Senhora da Conceição, padroeira da cidade de Conceição do Almeida-Ba.

Fonte: Arquivo pessoal do senhor Manoel da Conceição Santos (Nezinho), década de 1970.

Figura 07: Imagem da procissão em homenagem a Nossa Senhora da Conceição, padroeira da cidade de Conceição do Almeida-Ba. 46

Fonte: Arquivo pessoal do Senhor Manoel da Conceição Santos (Nezinho), década de 1970.

As imagens evidenciam a procissão dedicada a Santa protetora da cidade. Ocorria sempre ao final da tarde do dia 08 de dezembro, tendo como participantes todas as pessoas devotas e também aquelas que não comungavam dessa devoção, mas tinham um laço de identificação com tal evento.A procissão de Nossa Senhora da Conceição era a ocasião em que todos os moradores da cidade compartilham da devoção e cumpria suas promessas a Santa padroeira do município. Como escreve (DEL PRIORI, 1994, p. 36):

“Em meio a pluralidade de eventos que tem lugar regrado dentro da festa ( percebemos que há um ritmo entre o desfilar da procissão, a passagem dos carros alegóricos e os dançarinos, o momento da queima de fogos ou da cavalhada), ocorrem fatos menores cujo a função deve ser interprestada, quer salientando o momento de interação entre diferentes seguimentos sociais, quer apontado suas maneiras especificas de usar a festa como um espaço de diversão; tais partes do todo comemorativo são igualmente importantes para qualquer dos grupos sociais que deles participam”.

47

Fica nítido na imagem acima que, as pessoas participantes do evento eram em sua maioria negras e pobres, que viam no ato de acompanhar a procissão mais uma forma de agradecer graças alcançadas. Na procissão, pessoas que não acompanhavam o trajeto permaneciam nas frentes de suas casas para prestigiar o evento religioso, pedir bênçãos e graças almejadas. A preparação e concentração para a procissão se iniciava como até os dias atuais, na praça da cidade em frente a Igreja Matriz, enquanto aguardavam a procissão sair, as pessoas se encontravam, conversavam, matavam a saudade dos amigos e familiares que eles viam apenas no dia da procissão. (ROSENDAHL,1996, p. 49): diz que “O circuito de uma procissão no interior de um centro de peregrinação pode ser visto como parte da vivência do espaço sagrado”. Durante a procissão os participantes poderiam chegar mais perto da Santa, que ficava no andor na frente da igreja, tocar na imagem, agradecer a graças alcançadas e até mesmo fazer seus pedidos. (DEL PRIORI, 1994, p. 64) diz que “O milagre tem função sacralizadora atuando como perenizadorda festa nos quadros mentais. A festa passa a distinguisse de tal qual milagre”. Para a entrevistada dona Ivone a procissão tinha sentido de aproximação com Deus. Para ela,

[...] “O momento da festa de Nossa Senhora é o momento de reconhecer, é o momento de agradecer, estar participando desta festa de Nossa Senhora é um reconhecimento de o quanto Deus é importante para mim, e Nossa Senhora como mãe é para comunidade perante Deus”[ ...].25

A procissão tinha suas características e preocupações que iam desde a arrumação à organização no que diz respeito à ordem da mesma dentro do cortejo. A sequência era a seguinte: primeiro estava o Andor com a imagem de Nossa Senhora da Conceição, depois a Cruz, as autoridades religiosas, apostolado da oração, irmandades, comissão da festa, a filarmônica e os demais participantes. O mais especial da procissão era a saída do andor com a Santa. Saía da frente da igreja aos sons dos sinos e hino de Nossa Senhora da Conceição que era cantado por todos os participantes. Um outro momento de destaque durante o percurso, era a interação de pessoas de diferentes idades que frequentavam o

25 Entrevista com Dona Ivone Francisco da Cruz. Op. Cit. 48

evento: crianças, jovens, adultos e idosos, fator indicativo da existência de/para a continuidade da devoção.Para (ROSENDAHL, 1996, p.73):

[...] “Não existe um conhecimento sistematizado e, sim, um conjunto de mitos e práticas do sagrado que se constitui em um saber oral, um repertorio de crenças e ritos recriados na memória coletiva popular” [..].

De modo geral a procissão saia da frente da igreja Matriz, percorrendo as principais ruas da cidade, durante o percurso muitos fogos, ao chegar novamente na frente sons do sino e do hino de Nossa Senhora da Conceição, para terminar a procissão era presidida uma missa campal na praça, com muita animação.Depois da missa campal a imagem de Nossa Senhora da Conceição era levada de volta para o altar da igreja, este seria no caso o fim da procissão, mas outros eventos de destaques continuavam a acontecer durante o resto da noite que encerrava a festa. Na medida em que a missa campal terminava os shows musicais começavam, as comissões organizadoras tinham a responsabilidade de contratar bandas para finalizar os festejos de Nossa Senhora da Conceição, bandas famosas eram contratadas para comemorar a festa da padroeira.Ainda como escreve (COUTO; DIAS, 2009,p. 10):

“Neste sentido, os eventos perdiam sua função religiosa e passavam a ser contemplados como um espetáculo, uma curiosidade local. Cabendo ressaltar que o catolicismo praticado pelos baianos floresceu dentro de uma sociedade com influências culturais variadas e era expresso de forma espetacularização”.

Este momento era talvez o mais esperado pelos indivíduos, até por que a cidade era pouco movimentada e durante estes festejos era período de maior movimentação, vinham visitantes de diversas cidades, inclusive autores e atores famosos para prestigiar o evento que ganhou proporção relevante.O senhor Luciano relatou que:

[...] Quando era assim era mais animado, quando era assim a gente tinha mais alegria, então fica uma coisa mais complicada de si entender, vem mudado tentando minimizar a questão da competição para a Igreja não é importante a competição, o importante é reconhecer todos iguais perante Jesus [...].26

26 Entrevista com Senhor Luciano Silva dos Santos, Idem. 49

Figura 08: Jornal da Bahia, Correspondência especial direcionada a Festa de Nossa Senhora da Conceição, em Conceição da Almeida-Ba

Fonte: Cedido pela secretária da paroquia de Nossa Senhora da Conceição.Datada de 13 d3 dezembro de 1977 na cidade de Salvador.

O jornal acima aponta a festa de Nossa Senhora da Conceição como um festejo movimentado em todo seu ciclo festivo, sobretudo, no último dia que era dedicado ao encerramento dos festejos, com várias surpresas e fogos de artifícios que tornava a festa um forte acontecimento na cidade. Esta festa por ser tão marcante atraia famosos, escritores e artistas para visitar a cidade de Conceição do Almeida-Ba, que já contou com a presença de Graça Ramos, Izanéia Fiterman, Aurivaldina Glayser, Vivaldo Lima, que ao visitar a cidade em época de festejos a padroeira se encantaram e vibraram com as 50

peculiaridades encontradas nas celebrações da festa de Nossa Senhora da Conceição.

Na edição do jornal fica explicito que o povo almeidense gostava de alegria, animação e agitação. Em uma passagem do jornal acima o escritor fala da comemoração dos 70 anos de fundação da paroquia no ano de 1977, com bandas musicais, charolas, luzes e barracas. Escreve também sobre a organização do evento e a presença significativa do padre Antenor Lourenço dos Santos ao ajudar a compor a organização do festejo, além de fieis que para homenagear a santa padroeira do município marcam sua participação de várias formas. No ano de 1977a festa se mostrou ainda mais movimentada também por influência de artistas do município, que trouxeram seus trabalhos para serem conhecidos pelos almeidenses, tornando o festejo a Nossa Senhora da Conceição naquele ano o maior acontecimento da cidade. Conhecendo o contexto festivo dedicado a Nossa Senhora da Conceição, esta festa tornou-se uma expressão da vivencia social, constituindo-se numa rica possibilidade de analise acerca da cultura, como já salientei, pois nela apreendemos tradições e costumes criados e recriados em espaços e temporalidades. Conforme afirmou o Padre Antenor ao falar da contribuição cultural dos festejos para os almeidenses:

A contribuição dos festejos para a formação da cultura religiosa no Município de Conceição do Almeida foi muito forte.Havia demonstrações folclóricas como o bumba meu boi, samba de roda, a apresentações folclóricas, após às novenas, com a finalidade de manter o povo na praça.27

Acredita-se que esta tradição desta localidade, mesmo com todas as alterações e modificações, esteja um pouco longe de chegar ao seu fim. Existem pessoas daquele período que ao se recordar de como eram os festejos dedicados a Nossa Senhora da Conceição antigamente, demonstram a vontade de contar a seus familiares um pouco da dinâmica festiva da referida localidade. Assim a festa da padroeira tornava-se um momento em que as pessoas podiam reconstruir, simbolicamente, a formação da identidade da população almeidense.

27 Entrevista com Padre Antenor Lourenço dos Santos. Op. Cit. 51

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A cidade de Conceição do Almeida-Ba, surgiu em torno de uma capela no centro de uma Vila denominada de Capela d’ Almeida, combinação de um topônimo de cunho religioso e político, o que dimensionou relações e esferas de poder, que se concretizaram naquele período histórico na região e ao redor disso surgiram suas principais manifestações culturais e religiosas, a exemplo de todo ciclo festivo dedicado a Nossa Senhora da Conceição, santa protetora da cidade. A festa de Nossa Senhora da Conceição incorpora elementos constituintes da sociedade, no qual, possuem tanto aspectos religiosos como sociais em suas bases. Conhecer o contexto festivo da padroeira, assim como também ouvir as histórias e causos de participantes do festejo, contribuiu para um pensamento crítico e analítico sobre sua história. Fiquei surpresa ao descobrira história religiosa da localidade, despertando-me para perceber a necessidade de lançar novos olhares acercadas modificações ocorridas na festa de Nossa Senhora da Conceição. Lembro-me vagamente quando frequentávamos os festejos, na época íamos a pé para a cidade com o intuito de festejar Nossa Senhora, que para nós era também um momento de diversão, já que este era o único evento que a cidade possuía em grande porte. Caminhávamos eu, minha mãe e meus irmãos e, ao longo do caminho encontrávamos conhecidos e seguíamos conversado, eu na época ainda criança ia brincando ao longo da estrada de barro, tempo que não se tinha violência constante no município e região, o que favorecia para as comunidades rurais participarem com maior frequência dos festejos. Esta pesquisa permitiu adentrar no mundo de homens e mulheres daquela cidade e perceber a reconstrução de valores, costumes e tradições, criadas e recriadas nos espaços sociais de Conceição do Almeida-Ba. Possibilitou-me conhecer pessoas humildes que antecipadamente diziam não saber nada e não ter nada de significativo para falar, pois diziam “não sai nada minha fia”. Mas gradativamente e com instigações iam surgindo uma ampla rede de informações, conhecimentos e relações inscritas na memória e na vivenciadas pessoa que nas últimas décadas do século XX puderam vivenciar várias e múltiplas experiências sociais, e estas me permitiram entender sentidos e significados de suas histórias. Elas eram pessoas atarefadas, mas atenciosas e colaboraram com suas disposições para relatar suas lembranças sobre as vivencias e elementos 52

constituintes do festejo de Nossa Senhora da Conceição. Os contatos com as fontes e as leituras teóricas gradualmente foram dando formas as primeiras ideias, sustentando uma rede de significados que mim envolveram e animaram-me a continuar, pois durante o andamento da pesquisa os sentimentos de dúvidas, ansiedade, inquietação, desespero e desânimo, acabou ganhando um novo sentido, o impulso para dar continuidade a este trabalho. A elaboração desta pesquisa foi criando gradativamente um laço carregado de afetividade, simpatia e defesa. Nesta perspectiva as críticas se tornaram significativas, pois através dos incansáveis diálogos, o tema ia sempre tomando dimensões ainda maiores e desafiadoras, que pouco a pouco atribuíram um legue de possibilidades de discussões referentes ao tema. Ao longo do trabalho lidei com diversas fontes: orais, iconográficas e escritas, com sentido de fazer uma análise mais contendente sobre a temática em foco. A gratuidade de homens e mulheres me permitiu apreender experiências e vivencias destes sujeitos simples e anônimos, que passam a ter vozes e que a partir desse novo olhar historiográfico, podem dialogar suas pluralidades socioculturais com outras pessoas. Ao longo da pesquisa ficou evidente que a religiosidade é uma peculiaridade presente e forte nas vivencias dos sujeitos almeidenses que, ao longo de décadas, tradições, hábitos e costumes ligados a tal religiosidade foram reinventados por gerações. Nota-se que as tensões e competitividades no processo de organizações dos festejos eram evidentes e refletiam nos festejos. Porém a introdução e massificação dos símbolos da modernidade que foram introduzidos naquela sociedade como a televisão, possibilitou ao acesso a informações cientificas, juntamente com novos meios de transportes mais eficazes, permitindo assim o intercâmbio com outras realidades sócio-culturais. E talvez, os festejos não apresentem mais a pompa e sejam algo atrativo, pelo menos para algumas pessoas. Deu-se ao longo do trabalho especial atenção às pessoas envolvidas no contexto festivo a Nossa Senhora da Conceição, Já que, a maioria da população almeidense era e é devota a padroeira da cidade. As modificações processadas neste espaço sócio-cultural foram determinantes para a (re)elaboração de costumes que acabaram promovendo rupturas com algumas tradições. 53

Nesse sentido, a tradição e simplicidade dos festejos religiosos a Nossa Senhora da Conceição, parece não ter mais significados tão representativos para a nova geração, que contam com serviços modernos e científicos ressignificando a própria relação de devoção com Nossa Senhora da Conceição. Esse fato levou ao desenvolvimento de um novo trabalho eclesial que o padre Antenor Lourenço dos Santos iniciou na década de 90 d0 século passado. O objetivo era minimizar as tensões em torno das disputas de comissões organizadoras que aconteciam dentro das festividades. Foi possível notar que a religiosidade e a devoção com o passar do tempo assumiram outros significados para as novas gerações, contribuindo com atividades educativas contra a violência, desemprego, e outros problemas dessa nova época. Essa ressignificação das práticas devocionais religiosas reafirmam a sua permanência no lugar, indicando a necessidade dos sujeitos manterem vivas sua festa, sua fé, suas memorias e sua cultura.

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FONTES

Fontes Orais

1- Padre Antenor Lourenço dos Santos,71 anos, reside na Rua: São José, nº 568, centro, Itatim-Ba. Jitaúna Ba. Sacerdote, parda, Superior. Entrevista realizada em de 30 outubro de 2015. Duração: 30min.

2- Antônia Carvalho Lopes, 73 anos, reside na Rua: Rui Barbosa, nº 191, no município de Conceição do Almeida-Ba, negra, com Magistério completo, professora aposentada. Entrevista realizada em 16 de outubro de 2015. Duração: 34min.

3- Helena Queiroz dos Santos Costa, 74 anos, reside na Rua: Rui Barbosa, nº 12, município de Conceição do Almeida-Ba, mestiça, Magistério completo, professora aposentada. Entrevista realizada em 16 de outubro de 2015. Duração: 44min.

4- Ivone Francisco da Cruz, negra, agricultora aposentada, com 62 anos e idade, viúva, alfabetizada até a 2ª série do ensino fundamental, residente da zona rural do Coirão no município de Conceição do Almeida-Ba. Entrevista realizada em 06 de novembro de 2015. Duração de 42min.

5- Luciano Silva Santos, 47 anos, casado, reside no bairro: Loteamento Pôr do Sol, nº 80, no município de Conceição do Almeida-Ba. Entrevista realizada em 05 de novembro de 2015.Duração de 53min.

6- Marinalva dos Santos, operaria aposentada, negra, com 77anos de idade, alfabetizada até a 3ª série do ensino fundamental I, residente na rua José Campos nº 145 na cidade de Conceição do Almeida-Ba. Entrevista realizada em 09 de outubro de 2015. Duração: 49min.

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Fontes Iconográficas

1- Imagem 01: Mapa do Município de Conceição do Almeida-Ba – Fonte: site do IBGE.

2- Imagem 02: Santa padroeira: Nossa Senhora da Conceição. Autor; Manoel da Conceição Santos.

3- Imagem 03: Programação da festa de Nossa Senhora da Conceição, documento cedido pela Paróquia da Igreja Matriz.

4- Imagem 04: Festa de Nossa Senhora da Conceição, Primeira Eucaristia, Autoria: Manoel da Conceição Santos.Década de 70.

5- Imagem 05: Festa de Nossa Senhora da Conceição, Primeira Eucaristia, Autoria: Manoel da Conceição Santos.Década de 70.

6- Imagem 06: Procissão em homenagem a Nossa Senhora da Conceição. Autoria: Manoel da Conceição Santos. Década de 70.

7- Imagem 07: Procissão em homenagem a Nossa Senhora da Conceição. Autoria: Manoel da Conceição Santos. Década de 70.

8- Imagem 08: Jornal da Bahia no ano de 1977, Correspondência especial direcionada a Festa de Nossa Senhora da Conceição, cedido pela secretária da paroquia.

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Fontes Impressas

1- Bíblia Sagrada.

2- Convite festivo dos anos de 1974 a 1995.

3- Jornal da Bahia no ano de 1977, Correspondência especial direcionada a Festa de Nossa Senhora da Conceição, cedido pela secretária da paroquia.

4- Livro “Conceição do Almeida: Minha Terra Minha Gent Geraldo Coni Caldas escrito em 1974. Cedido trechos do livro por Margarete Nunes dos Santos.

5- Programa da Festa no ano de 1974 até 1995.

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REFERENCIAS

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