Nzinga Mbandi E As Guerras De Resistência Em Angola. Século XVII

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Nzinga Mbandi E As Guerras De Resistência Em Angola. Século XVII UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA SOCIAL Mariana Bracks Fonseca Nzinga Mbandi e as guerras de resistência em Angola. Século XVII. São Paulo 2012. 1 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA SOCIAL Mariana Bracks Fonseca Nzinga Mbandi e as guerras de resistência em Angola. Século XVII. Dissertação apresentada para obtenção do título de Mestre em História Social, à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), sob a orientação da Profa. Dra. Marina de Mello e Souza. São Paulo 2012. 2 Agradecimentos A Deus primeiro, Nzambi-a-mpungo. O meu mais profundo muito obrigada à minha orientadora, Profa. Dra. Marina de Mello e Souza, por toda a dedicação que tem com os estudos da História da África, pela generosidade em disponibilizar as principais referências bibliográficas aqui utilizadas, por todo o carinho com que sempre corrigiu e criticou meus textos, e principalmente, pela oportunidade de realizar este trabalho. Agradeço à Profa. Dra. Maria Cristina Wissenbach, pelas preciosas sugestões feitas durante o exame de qualificação e durante os simpósios e encontros que organizou, favorecendo o amadurecimento dos pesquisadores em História da África. À Profa. Dra. Silvia Hunold Lara, pelas críticas e reflexões compartilhadas na banca de qualificação e pelo empréstimo do livro “Fontes para a história de Angola", fundamental neste trabalho. E ao Prof. Dr. Carlos Zeron, pelas lições sobre os jesuítas e colonização. Obrigada à Eliane, da Casa de Portugal, que disponibilizou a consulta de todo a coleção Monumenta Missionária Africana. Muito obrigada à FAPESP pela concessão da bolsa de pesquisa e dos recursos da reserva técnica. Gostaria de agradecer minha família, em especial minha mãe, Fátima, por sempre me apoiar e possibilitar a realização dos meus sonhos, e a tia Tereza, pelo carinho e hospedagem. Muito obrigada ao meu companheiro Paulo, por me inspirar e ser o maior ouvinte das fabulosas histórias da rainha. Obrigada aos meus filhos, Indala e Uiran, que nasceram junto com este mestrado e que cresceram junto com minha imaginação. Agradeço à Dona Mercês e à comunidade do Açude, onde pela primeira vez conheci o valor da nossa cultura africana. Enormemente, agradeço ao Mestre João e Dona Lena por terem me apresentado à rainha Nzinga, exaltada no espetáculo da Companhia Primitiva, e a todo o grupo “Eu sou angoleiro” por realiazem, a cada dia, a ginga de Angola. Obrigada a Mametu d‟inkisse Muiandê, por manter aceso o Ngunzo, a rainha conga Isabel Casemiro e a outros tantos mestres da cultura popular que mantém as histórias da África vivas. 3 Resumo: Nzinga Mbandi é a mais famosa e controversa personagem da história de Angola no século XVII. Pretendemos neste trabalho, analisar a trajetória política de Nzinga tendo em vista o conturbado contexto da expansão da colonização portuguesa na África Central e da instituição do tráfico negreiro, principalmente durante o período em que representou maior oposição aos portugueses, nas décadas de 1620 e 1630. Buscamos compreender as estruturas de poder que haviam no reino do Ndongo antes da chegada dos portugueses e como o povo Mbundo se organizava política e economicamente. Entramos no debate historiográfico sobre quem eram os Jagas, como lutaram a favor dos portugueses e contra eles, ao lado de Nzinga. Buscamos entender como Portugal criou a colônia de Angola através do avassalamento dos sobas, construção de presídios, controle das feiras e composição de um exército africano que servia a seus interesses. Nzinga Mbandi desempenhou diferentes papéis durante sua trajetória: cristã, Ngola, Tembanza, rainha de Matamba, etc. Buscamos compreender estes papéis face à disputa pelo controle do Ndongo, em que os portugueses a destituíram do trono e instituíram um novo rei em 1626, para isto, analisamos a questão da legitimidade e do poder feminino no reino do Ndongo. Entendemos Nzinga como a principal líder da resistência contra a presença portuguesa em Angola no período, pois além de dar asilo a centenas de escravos fugidos dos portugueses, impediu feiras e desorganizou a cobrança dos impostos. Palavras-chave: Nzinga Mbandi, Angola, tráfico negreiro, resistência negra 4 Abstract: Nzinga Mbandi is the most famous and controversial character in the history of Angola in the 17th century. We intend, in this dissertation, to analyze the political trajectory of Niznga in the trouble contex of expanding Portuguese colonization in Central Africa, ando f the slave trade, principally in the 1620‟s and 1630‟s, during which Nzinga represented the major opposition to the Portuguese. We attempt to understand the Power structures in the Kingdon of Ndongo before the Portuguese arrived, and how the Mbundo people organized themselves political and economically. We consider the historiographical discussion abou Who the Jagas were, and how they fougth beside the Portuguese and agaist them. We also seek to understand how Portugal created the colony of Angola by the subjulgation of sobas, by building prisions, controlling markets and organizing na African army to serve their interests. Nzinga Mbandi played different roles during her trajectory: Christian, Ngola, Tembanza Jaga, Queen of Matamba, etc. We analyze these roles in the contexto f the struggle to control Ndongo, when the Portuguese ousted her from the throne and replaced her with a new king in 1626. We considered the questiono f legitimacy and feminin Power in the Ndongo and Matamba kingdons. We understand that Nzinga Mbandi was the most important leader of the resistance agains the Portuguese presence in Angola in this period, because she gave asylum to many fugitives slaves, obstructed markets and disrupted tax collection. Key-words: Nzinga Mbandi, Angola, slave trade, Black resistance. 5 “Ê Nzinga A rainha que veio de lá Resistiu com seu povo na dança E hoje a terra é do samba” Lena Santos. Poethorias Afro- Companhia Primitiva de Arte Negra 6 Nzinga Mbandi e as guerras de resistência em Angola. Século XVII. Sumário: Introdução..............................................................................................08 Capítulo 1. O reino do Ndongo. 1.1 Ngola e Ndongo.......................................................................................................23 1.2 Os Mbundo...............................................................................................................33 1.3 Jagas ou Mbangalas? ...............................................................................................37 Capítulo 2. Angola portuguesa: Conquista e resistência 2.1. Formação da colônia portuguesa de Angola.................................................54 2.2 Submissões dos sobas, baculamentos e “instituição dos Amos”...................63 2.3 As guerras angolanas: “Guerra Preta”, Jagas mercenários............................76 2.4 Itinerários do tráfico negreiro: feiras e presídios...........................................95 Capítulo 3. Nzinga Mbandi e a luta pelo Ndongo 3.1 A guerra contra o Ndongo ............................................................................108 3.2 Dona Anna de Sousa: batismo e paz ............................................................113 3.3 Nzinga Mbandi, senhora de Angola..............................................................121 3.4 As fugas para o kilombo de Nzinga...........................................................126 3.5 O golpe político de Fernão de Sousa ........................................................131 3.7. Nzinga Tembanza .......................................................................................137 3.7 Ilegitimidade de Ngola Are............................................................................146 3.8. Poder feminino e legitimidade no Ndongo e em Matamba...........................154 Conclusões...............................................................................................164 Fontes e referências bibliográficas............................................................171 7 Introdução: Nzinga na literatura e na historiografia Nzinga Mbandi é uma das mais famosas personalidades da história centro-africana e a mais bem documentada rainha de Angola. Muito se escreveu sobre Nzinga, desde o século XVII, com diferentes matizes e abordagens. A literatura europeia a descreveu como uma tirana selvagem, de comportamento bizarro e hábitos canibais. No século XVIII, Castilhon destacou seu posicionamento político contraditório e sua personalidade ambivalente, afirmando que ela buscou alianças com os portugueses para destruir seus inimigos africanos e para se enriquecer com o tráfico de escravos, efetuando uma política colaboracionista, alheia a ética e a acordos. 1 Na visão de mundo iluminista, os governantes africanos eram ambiciosos, usurpadores, infiéis e foram responsabilizados pela existência da escravidão e pela crueldade que se abatia sobre o povo. Os rituais africanos, sobretudo dos Jagas, aparecem como “açougues públicos de carne humana”, em que a matança indiscriminada e as orgias sexuais foram narradas para mostrar ao leitor europeu como os brancos eram civilizados diante dos bárbaros negros, tudo isso com a seleção de uma linguagem pintada de sangue a fim de provocar choque, asco e estranhamento ao leitor. As religiões africanas foram associadas a atos satânicos, assim Nzinga, enquanto viveu como Jaga, teria
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