FACULDADE CÁSPER LÍBERO

Rebeca Pinheiro Rodrigues Alves

A Fórmula 1 no Brasil:

Uma análise sobre a transmissão televisiva no país

São Paulo

2020 REBECA PINHEIRO RODRIGUES ALVES

A Fórmula 1 no Brasil: Uma análise sobre a transmissão televisiva no país

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Faculdade Cásper Líbero como requisito parcial para a obtenção do grau de bacharel em Rádio, TV e Internet.

Orientador: Prof. Dr. Renato Tavares Júnior.

São Paulo 2020

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Biblioteca Prof. José Geraldo Vieira

Alves, Rebeca Pinheiro Rodrigues

A formula 1 no Brasil: uma análise sobre a transmissão televisiva no país / Rebeca Pinheiro Rodrigues Alves. -- São Paulo, 2020.

217 f. : il. ; 30 cm.

Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Rádio, TV e Internet) – Faculdade Cásper Líbero, 2020.

Orientador: Prof. Me. Renato Tavares Júnior

Bibliotecária responsável: Ligia Cristina dos Santos Nunes - CRB 8/6923 1. Automobilismo. 2. Fórmula 1. 3. Televisão. 4. Transmissão. 5. Rede Globo. I. Tavares Júnior, Renato. II. Título.

CDD 384.55

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REBECA PINHEIRO RODRIGUES ALVES

A Fórmula 1 no Brasil: Uma análise sobre a transmissão televisiva no país

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Faculdade Cásper Líbero como requisito parcial para a obtenção do grau de bacharel em Rádio, TV e Internet.

Orientador: Prof. Dr. Renato Tavares Júnior.

______Data da aprovação Banca examinadora: ______Prof. Dr. Renato Tavares Júnior Faculdade Cásper Líbero ______Prof. Dr. João Alexandre Peschanski Faculdade Cásper Líbero ______Gabriel Gavinelli Editor-chefe do F1Mania

São Paulo 2020 3

A todos os fãs de Fórmula 1 que saibam apreciar o esporte de maneira saudável.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, por me acompanhar em cada momento e permitir que tudo fosse possível.

A toda a minha família, em especial meus pais, irmãos, avós, tios e primos pelo apoio e confiança.

Ao corpo docente da Faculdade Cásper Líbero, em especial meu orientador Prof. Dr. Renato Tavares Júnior, o Prof. Dr. Marcelo Santos de Moraes pela indicação de livros para a bibliografia, o coordenador do curso de Rádio, TV e Internet Prof. Dr. Marco Antônio Pereira do Vale, e o Prof. Dr. João Alexandre Peschanski por aceitar fazer parte da banca.

Ao jornalista e editor-chefe do F1Mania Gabriel Gavinelli por aceitar o convite de integrar a banca.

À minha amiga holandesa Kim, por me enviar fontes para a bibliografia.

Aos especialistas Danilo Cardoso, Felippe Santos e Sergio Quintanilha por me concederem entrevistas que agregaram informações importantes ao TCC.

Aos torcedores Adriana Perantoni, Anderson de Oliveira, Bruna Andrade, Cleisson Guterres, Elizete Alves, Fernando Meyer, Helena Silva e João Baptista Rossetto por compartilharem suas opiniões nas entrevistas que permitiram a elaboração de uma análise qualitativa no TCC.

À equipe do The Racing Track: Alison Guilherme, provedor, Adriana e Ricardo, colunistas.

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“Os pensamentos são como flechas, uma vez lançadas alcançam o seu alvo. Seja cauteloso ou poderá um dia ser sua própria vítima.” (Provérbio Navajo) 6

RESUMO

A monografia discorre sobre a transmissão da Fórmula 1 no Brasil a partir de uma contextualização histórica e de análise do uso de recursos tecnológicos e audiovisuais da atual transmissão da modalidade, destacando os aspectos comerciais relacionados à grade de programação, aos aplicativos das emissoras, aos formatos publicitários, ao investimento financeiro e ao retorno de audiência. O presente TCC analisa os conteúdos relacionados à narração e aos aspectos visuais de peças autopromocionais (chamadas) e de transmissões de Fórmula 1 a partir de um recorte de quatro corridas de 2019 exibidas em canais brasileiros de televisão.

Palavras-chave: Automobilismo. Fórmula 1. Televisão. Transmissão. Rede Globo.

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ABSTRACT

The monograph discusses the transmission of in Brazil from a historical context and analysis of the use of technological and audiovisual resources of the current broadcasting of the modality, highlighting the commercial aspects related to the programming grid, the applications of the broadcasters, the formats of advertising, financial investment and audience return. This undergraduate thesis analyzes the contents related to the narration and visual aspects of self-promotional pieces (trailers) and Formula One broadcasts from a section of four 2019 races shown on Brazilian television channels.

Keywords: Car racing. Formula One. Television. Broadcasting. Rede Globo.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Simulação de instalação de placas de propriedades de arena para o Autódromo de Interlagos

Figura 2 - Tabela de média de audiência e share das temporadas de Fórmula 1 de 2002 a 2020 (até o dia 16 de agosto)

Figura 3 - Matéria no site da Fórmula 1 que reconhece o primeiro pódio de como histórico

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LISTA DE SIGLAS

F1 Fórmula 1

FIA Federação Internacional de Automobilismo

FOCA Associação dos Construtores da Fórmula 1

FOM Formula One Management

GP Grande Prêmio

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 13

OBJETIVOS 15

JUSTIFICATIVA 16

METODOLOGIA 18

1 HISTÓRIA E EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA DA TRANSMISSÃO DE FÓRMULA 1 NO BRASIL 26

1.1 Histórico de transmissão da Fórmula 1 no Brasil 26

1.2 Narradores e comentaristas das transmissões televisivas da Fórmula 1 no Brasil 30

1.3 A evolução tecnológica das transmissões televisivas no Brasil 32

2 PROGRAMAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DA FÓRMULA 1 36

2.1 Direitos de transmissão e grade programação 37

2.2 Formatos publicitários na transmissão de Fórmula 1 no Brasil 39

2.2.1 Plano comercial da Rede Globo 42

2.3 Audiência da Fórmula 1 no Brasil nas décadas de 2000 e 2010 48

3 LINGUAGEM CONTEMPORÂNEA DA DIVULGAÇÃO E DA TRANSMISSÃO TELEVISIVA DA FÓRMULA 1 NO BRASIL 53

3.1 Análise das peças autopromocionais (chamadas) da transmissão de Fórmula 1 da Rede Globo em 2019 54

3.1.1 Chamada do Grande Prêmio de Mônaco de 2019 54

3.1.2 Chamada do Grande Prêmio da França de 2019 57

3.1.3 Chamada do Grande Prêmio do Japão de 2019 61

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3.1.4 Chamada do Grande Prêmio do Brasil de 2019 66

3.2 Análise das transmissões de Fórmula 1 da Rede Globo em 2019 71

3.2.1 Transmissão do Grande Prêmio de Mônaco de 2019 73

3.2.2 Transmissão do Grande Prêmio da França de 2019 79

3.2.3 Transmissão do Grande Prêmio do Japão de 2019 86

3.2.4 Transmissão do Grande Prêmio do Brasil de 2019 95

4 A NARRAÇÃO DE FÓRMULA 1 NO BRASIL E O RESPEITO ÀS ORIGENS ÉTNICO-RACIAIS 106

CONCLUSÃO 124

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 125

REFERÊNCIAS AUDIOVISUAIS 166

ANEXOS 168

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INTRODUÇÃO

A Fórmula 1 é uma das modalidades esportivas mais populares que existem. Iniciada em 1950, a “categoria máxima do automobilismo mundial” vem atraindo milhões de torcedores pelo mundo. O Brasil já teve três campeões mundiais (Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna) e desde 1972, de forma ininterrupta, transmite ao vivo corridas de Fórmula 1 em emissoras de TV. O país também é o terceiro maior conquistador de títulos da categoria (com oito campeonatos vencidos), atrás apenas da Inglaterra e da Alemanha (VASCONCELLOS, 2013, p. 208)1.

A pergunta central deste trabalho é: “As técnicas narrativas da Fórmula 1 no Brasil acompanharam (ou não) a evolução tecnológica e comercial da categoria?”. Esta hipótese foi levantada a partir de observações da autora em sites esportivos e redes sociais e da constatação que os narradores de 2019 não atendiam às demandas dos torcedores.

O primeiro capítulo contextualiza a evolução histórica da transmissão televisiva da Fórmula 1 no Brasil a partir das características técnicas e do uso dos recursos audiovisuais. Dessa maneira, é revelada a qualidade da exibição das corridas no país e como foi o processo de interação entre o público brasileiro e a Fórmula 1 desde o começo de sua transmissão.

O segundo capítulo aborda o impacto comercial da categoria na grade de programação. Alguns aspectos analisados são as cotas de patrocínio, os formatos publicitários e a audiência, especificamente das quatro corridas utilizadas como recorte. Logo, serão demonstradas as vantagens econômicas da transmissão da Fórmula 1 para as emissoras e patrocinadores.

O terceiro capítulo analisa os aspectos linguísticos e narrativos das peças autopromocionais (chamadas) e do conteúdo verbalizado por narradores e comentaristas durante as corridas. Observa-se se os eventos são descritos corretamente e se o trabalho dos apresentadores atende às expectativas do público.

1 Os dados fornecidos pela edição consultada se referem até a temporada de 2011. No entanto, os títulos vencidos após aquele ano até a época de realização do TCC foram conquistados pelos alemães (2012 e 2013) e Nico Rosberg (2016), e pelo inglês (2014, 2015, 2017, 2018 e 2019), mantendo inalterada a posição do Brasil no ranking (FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE AUTOMOBILISMO, 2012, 2013, 2014, 2015, 2016, 2017b, 2018, 2019a). 13

O quarto capítulo traz um estudo de caso sobre como os pilotos membros de minorias étnicas, principalmente os da temporada de 2019, são tratados pelos narradores e comentaristas durante as transmissões. Analisa-se, portanto, o compromisso da emissora com a ética (do ponto de vista moral e jornalístico) e qual o desdobramento dessa abordagem na percepção do público sobre esses atletas e a própria emissora.

Por fim, são feitas as conclusões do trabalho a fim de apresentar um diagnóstico sobre o modelo de transmissão da Fórmula 1 adotado pela Rede Globo no Brasil em seus aspectos tecnológicos, comerciais, linguísticos e sociológicos. Busca-se, assim, uma contribuição para o estudo aprofundado desta categoria automobilística.

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OBJETIVOS

Este trabalho tem por objetivo principal contextualizar a evolução histórica da transmissão televisiva da Fórmula 1 no Brasil a partir das características técnicas e do uso dos recursos audiovisuais. Com isso, visa-se a:

- Identificar quais públicos o detentor do direito de transmissão (Grupo Globo) e atuais exibidoras (Globo e grupo SporTV) pretendem alcançar;

- Discutir a relevância da Fórmula 1 como modelo de negócio para o mercado televisivo e os impactos comerciais na transmissão e na grade de programação;

- Evidenciar os recursos sonoros e visuais da transmissão de corridas de Fórmula 1;

- Analisar os aspectos linguísticos e narrativos das peças autopromocionais (chamadas) e do conteúdo verbalizado por narradores e comentaristas durante as transmissões das corridas;

- Sugerir mudanças ou adaptações nos formatos de transmissão de corridas de Fórmula 1 por emissoras de TV de modo a atingir públicos de diferentes perfis.

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JUSTIFICATIVA

Durante as décadas de 1970 e 1980, a Fórmula 1 foi considerada o segundo esporte mais apreciado pelos brasileiros, perdendo apenas para o futebol (COELHO, 2017). Pesquisas feitas em 2014 pela FOM (Formula One Management) apontam que o Brasil é o país com maior audiência para a Fórmula 1 (77 milhões de telespectadores em 2013), correspondendo a 17,1% do total de pessoas que acompanharam a competição no mundo e a 39% da população total do país (JORNAL DO CARRO, 2014). Estudos semelhantes realizados em 2019 pela Liberty Media, atual proprietária da Fórmula 1, revelam que o país manteve o primeiro lugar de audiência para os grandes prêmios, seguido por China, Alemanha, Estados Unidos e Itália (ANDRADE, C., 2020), com 115,2 milhões de espectadores em 2018, correspondendo a 23,5% da audiência global (MARSON, 2019; MOTORSPORT, 2019b). Mesmo que segundo alguns especialistas, como Adriano Coelho, o esporte tenha perdido parte da relevância que tinha anteriormente no país, dados fornecidos pelo Kantar Ibope Media por meio do Painel Nacional de Televisão (PNT) revelam que em 2019 houve um crescimento de 13% na audiência da Fórmula 1 no Brasil em relação a 2018, atingindo 98 milhões de telespectadores2 (MOTORSPORT, 2019b). Foram registrados ótimos índices de audiência no início da temporada de 2020 (MOTORSPORT 2020b; PADIGLIONE, 2020; RAMOS, 2020; VAQUER, 2020c), chegando a 689,8 mil telespectadores na Grande São Paulo até o Grande Prêmio da Espanha (PADIGLIONE, 2020), sexta corrida do ano (FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE AUTOMOBILISMO, 2020d).

A justificativa de uma monografia pode evidenciar o sujeito pesquisador de modo a explicitar sua relação com o tema pesquisado e seu respectivo interesse em aprofundá-lo na forma de um trabalho escrito. Acompanho as transmissões de Fórmula 1 profissionalmente desde 2018, quando iniciei o projeto do site “The Racing Track”, no qual sou responsável pela produção de conteúdo especializado em

2 Comparando outros esportes, o Campeonato Brasileiro de Futebol atingiu 170 milhões de telespectadores (LUCAS, 2019a), enquanto a NBA, que voltou a ser exibida pela Rede Bandeirantes após quase 20 anos, atingiu 7 milhões (MKTESPORTIVO, 2019). Não foram disponibilizados dados oficiais sobre a audiência em âmbito nacional de outras categorias automobilísticas, como a MotoGP e a Stock Car. 16 biografias de pilotos, análises de corridas e matérias jornalísticas3. No entanto, como torcedora, passei a acompanhar todas as corridas da categoria a partir de 2016. Leio comentários de torcedores nos sites de notícias e percebo certo descontentamento com o modelo atual de transmissão, principalmente com os narradores. Creio que um estudo sobre o tema pode contribuir para a análise e a discussão a respeito do uso dos recursos sonoros e audiovisuais nas transmissões de corridas de Fórmula 1 por emissoras de TV no Brasil.

3 Uma das postagens do perfil oficial do The Racing Track no Instagram, referente ao artigo biográfico de Lance Stroll (PINHEIRO, 2018b), foi curtida pelo jornalista e fotógrafo oficial da Fórmula 1 Kym Illman. Disponível em: , acesso em 30 ago. 2020 (vide anexo A). Além disso, uma das matérias jornalísticas do site, “O Caso Lance Stroll: Um Indígena na Fórmula 1” (PINHEIRO, 2019l), foi elogiada no perfil pessoal da autora no Facebook pelo professor Vitor Grunvald, que ministrou a disciplina Antropologia do Audiovisual para a classe da autora do TCC no primeiro ano da graduação (vide anexo B). A matéria aborda aspectos teóricos aprendidos nessas aulas, como os conceitos de cultura segundo Edward Tylor (1832-1917) e Franz Boas (1858-1842), para analisar como a sociedade europeia lida com a questão do racismo. 17

METODOLOGIA

Em virtude de esta monografia ser realizada ao longo do ano de 2020 e da pandemia de Covid-19 que causou o adiamento e cancelamento de corridas de Fórmula 1 previstas para os primeiros meses do ano, optou-se por utilizar transmissões do ano anterior (2019) como “recorte” e estudos de caso para análise.

Diante do volume de material das 21 corridas de Fórmula 1 realizadas e transmitidas em 2019, foram definidos os seguintes critérios para a seleção das provas que seriam analisadas no âmbito desta monografia:

- Íntegra da transmissão televisiva das corridas em plataformas de streaming como “Globoplay” e “Globosatplay”, que são gerenciadas pelo mesmo grupo das emissoras “Globo” e “SporTV” que detêm os direitos de transmissão no Brasil. Constatou-se, a partir de pesquisa, que no “Globosatplay” não consta nenhuma corrida na íntegra transmitida pelo SporTV, apenas reportagens, comentários, entrevistas e debates. Já na plataforma “Globoplay” foram disponibilizados vídeos com a íntegra de algumas corridas;

- No mínimo uma corrida transmitida por cada um dos quatro narradores que se revezaram ao longo de 2019 na Rede Globo (Cléber Machado, Galvão Bueno, Luís Roberto de Múcio e Sérgio Maurício), tendo em vista que se pretende analisar os recursos narrativos utilizados. Em relação aos comentaristas, constatou-se por meio da pesquisa que não havia mudanças entre as corridas transmitidas em 2019 pelos canais do Grupo Globo: por este motivo, adotou-se o critério de contemplar na seleção do recorte somente a variedade de narradores, pois os mesmos comentaristas estiveram presentes na transmissão de 20 das 21 corridas (Luciano Burti e Reginaldo Leme4);

- Grande Prêmio do Brasil: por ser o país de origem das emissoras analisadas e de residência da monografista. Sabia-se, de antemão, que possui especificidades na transmissão televisiva da corrida no que tange ao tempo de arte, aos recursos de

4 Leme foi substituído por Felipe Giaffone no Grande Prêmio de Abu Dhabi de 2019, última corrida do ano (TORRALBA, 2019). 18 linguagem audiovisual (vinheta própria, câmeras adicionais) e à quantidade de repórteres;

- Chamadas (peças autopromocionais da empresa para divulgação da transmissão de cada corrida) dos GPs de Fórmula 1 que seriam analisados de modo a pesquisar e avaliar a relação da promessa da chamada com a transmissão. Compreendeu-se que seria coerente que as chamadas analisadas correspondessem às corridas dos mesmos países que fazem parte do recorte da pesquisa. A chamadas originalmente veiculadas pela Rede Globo foram localizadas na internet em canais de terceiros na plataforma “YouTube”.

A partir da definição dos critérios acima elencados, foram selecionados para análise no âmbito desta monografia:

- Chamada veiculada pela Rede Globo para o Grande Prêmio de Mônaco de 2019;

- Transmissão do Grande Prêmio de Mônaco de 2019, realizado em 26/05/2019, pela Rede Globo com narração de Luís Roberto de Múcio;

- Chamada veiculada pela Rede Globo para o Grande Prêmio da França de 2019;

- Transmissão do Grande Prêmio da França de 2019, realizado em 23/06/2019, pela Rede Globo com narração de Cléber Machado;

- Chamada veiculada pela Rede Globo para o Grande Prêmio do Japão de 2019;

- Transmissão do Grande Prêmio do Japão de 2019, realizado em 13/10/2019, pela Rede Globo com narração de Sérgio Maurício;

- Chamada veiculada pela Rede Globo para o Grande Prêmio do Brasil de 2019;

- Transmissão do Grande Prêmio do Brasil de 2019, realizado em 18/11/2019, pela Rede Globo com narração de Galvão Bueno.

Observou-se nas respostas dadas pelos entrevistados durante a pesquisa qualitativa (explicada logo abaixo) realizada em julho de 2020 que algumas afirmações a respeito da narração ocorreram durante transmissões de treinos livres e

19 classificatórios. Como as mesmas não são disponibilizadas online, optou-se por uma gravação de tela da transmissão do SporTV do treino oficial do Grande Prêmio da Hungria de 2020 (ocorrido no dia 18 de julho) para identificar comportamentos típicos dos apresentadores. Levando-se em consideração a dificuldade de acesso aos vídeos das transmissões antigas de Fórmula 1 no Brasil, para o desenvolvimento da monografia também foram pesquisadas reportagens de jornais (Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo) e materiais do arquivo da Rede Globo na internet (encontrados no “Memória Globo” e no portal “Globoesporte.com”) para a elaboração de um breve retrospecto para o entendimento evolutivo da transmissão televisiva de Fórmula 1 no Brasil. Considerou-se também os dados sobre audiência, comercialização e cotas de patrocínio dos direitos de transmissão obtidos por meio de notícias em portais especializados em televisão, propaganda e marketing. Para entender as mensagens passadas pela emissora responsável pela transmissão da Fórmula 1 no Brasil, foram analisados os aspectos audiovisuais e discursivos das narrações e chamadas das corridas selecionadas. Pretende-se usar como referências para a análise vertentes e pensadores relacionados à Escola de Frankfurt, à Teoria das Mediações e aos Estudos de Recepção, bem como as contribuições do autor contemporâneo Ben Shapiro5. Como forma de analisar a recepção das narrações pelos telespectadores brasileiros, optou-se pela realização de pesquisa qualitativa, no segundo semestre de 2020, por meio de entrevistas on-line com perguntas abertas e respostas em texto ou áudio com: - Oito espectadores assíduos de transmissões de Fórmula 1 no Brasil (definidos entre os seguidores do perfil “The Racing Track” no Instagram). Dentre estes optou- se pelo recorte de três que acompanham as transmissões de Fórmula 1 desde a década de 1970 (Elizete Alves, Helena Silva e João Baptista Rossetto), um telespectador desde a década de 1980 (Fernando Meyer) e quatro que assistem às corridas pela TV desde a década de 2010 (Adriana Perantoni, Anderson de Oliveira, Bruna Andrade e Cleisson Guterres);

5 Ben Shapiro é um advogado e radialista norte-americano. Escreveu 13 livros (incluindo cinco bestsellers) entre 2004 e 2020, abordando principalmente o papel da mídia na sociedade dos Estados Unidos. Seu podcast, The Ben Shapiro Show, foi o segundo mais ouvido no país em 2019. 20

- Três jornalistas esportivos com experiência em cobertura e análise de Fórmula 1 (Danilo Cardoso, Felippe Santos e Sergio Quintanilha). Danilo Cardoso dos Santos é o criador do blog Super Danilo F1 Page (no ar desde 2002) e acompanha a Fórmula 1 assiduamente desde 1998, quando se interessou pelo Grande Prêmio da Bélgica. A autora do TCC fez seus primeiros trabalhos jornalísticos sobre Fórmula 1 para essa plataforma: artigos biográficos de Lance Stroll6 e Pierre Gasly7 (ambos em 2017), textos sobre o histórico do Grande Prêmio do México no Autódromo Hermanos Rodríguez8 (em 2017) e do Grande Prêmio da França no Circuito Paul Ricard9 (em 2018), e as matérias especiais “: Um Piloto Mal-Entendido”10 e “Niki Lauda: O Renascimento de Uma Lenda”11 (ambas em 2017). A autora escreveu sua última matéria especial para o blog em 2020: “Emerson Fittipaldi na F1: O Passado e o Futuro”12. Felippe Benhur Ferreira dos Santos é formado em Jornalismo pelas Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) e atualmente trabalha como assessor de imprensa. Acompanha a Fórmula 1 assiduamente desde 1998. Também acompanhou a Copa do Mundo de 2018, na Rússia, in loco. Apesar do sobrenome “dos Santos” em comum, não há relação de parentesco entre Danilo e Felippe.

6 Disponível em: . Acesso em 11 ago. 2020. Os dois últimos parágrafos foram escritos por Cardoso (print, tirado em 14 ago. 2020, no arquivo 3 disponível em: ). 7 Disponível em: . Acesso em 11 ago. 2020. O primeiro parágrafo foi escrito por Cardoso (print, tirado em 14 ago. 2020, no arquivo 4 disponível em: ). 8 Disponível em: . Acesso em 11 ago. 2020. Os três últimos parágrafos foram escritos por Cardoso (print, tirado em 14 ago. 2020, no arquivo 5 disponível em: ). 9 Disponível em: . Acesso em 11 ago. 2020 (print, tirado em 14 ago. 2020, no arquivo 6 disponível em: ). 10 Disponível em: . Acesso em 11 ago. 2020 (print, tirado em 14 ago. 2020, no arquivo 7 disponível em: ). 11 Disponível em: . Acesso em 11 ago. 2020. O parágrafo referente à morte do ex-piloto foi escrito por Cardoso (print, tirado em 14 ago. de 2020, no arquivo 8 em: ). 12 Disponível em . Acesso em 11 ago. 2020. Os últimos dois parágrafos foram escritos por Cardoso (print, tirado em 14 ago. 2020, no arquivo 9 em: ). 21

Sergio Robinson Quintanilha é mestre em Comunicação pela Faculdade Cásper Líbero e doutorando em Comunicação pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Foi editor da revista Grid e é fundador da revista Racing, idealizador da premiação Capacete de Ouro, e atual colunista do Guia do Carro do portal Terra. Acompanha a Fórmula 1 assiduamente desde 1972. Foi professor da autora do TCC no curso livre de Jornalismo Automotivo promovido pela Faculdade Cásper Líbero em abril de 2018. Foram elaboradas duas pautas de perguntas: uma para os torcedores e outra para os especialistas. A todos solicitou-se nome completo, idade, data de nascimento, temporada desde a qual acompanha a Fórmula 1 e veículos de comunicação ou plataformas por meio das quais assistem às corridas. Aos especialistas foram requeridas mais duas informações: formação acadêmica e experiência profissional. Os espectadores responderam perguntas relacionadas a cada um dos quatro narradores brasileiros de Fórmula 1 em 2019 e sobre a transmissão televisiva da categoria no país (algumas questões a respeito deste tema também foram feitas aos especialistas, que ainda responderam sobre audiência e influência da narração no comportamento dos torcedores). As perguntas feitas aos espectadores foram: 1- Qual dos quatro narradores atuais da Fórmula 1 na televisão brasileira - Cléber Machado, Galvão Bueno, Luís Roberto de Múcio e Sérgio Maurício - você prefere? Por quê? 2- Por qual canal - Rede Globo ou SporTV - você prefere assistir às corridas de Fórmula 1? Por quê? Sobre Cléber Machado: 1- Em uma escala de 1 a 5, sendo 1 péssimo e 5 excelente, como você avalia a narração de Cléber Machado? Por quê? 2- Em sua opinião, Cléber Machado dá um tratamento proporcional ou desproporcional aos pilotos e às equipes em sua narração? 3- Você já percebeu algum favorecimento ou desfavorecimento de algum piloto ou equipe na narração de Cléber Machado? Quais? 4- Para você, quais são os pontos fortes e fracos da narração de Cléber Machado? O que poderia ser melhorado? Sobre Galvão Bueno:

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1- Em uma escala de 1 a 5, sendo 1 péssimo e 5 excelente, como você avalia a narração de Galvão Bueno? Por quê? 2- Em sua opinião, Galvão Bueno dá um tratamento proporcional ou desproporcional aos pilotos e às equipes em sua narração? 3- Você já percebeu algum favorecimento ou desfavorecimento de algum piloto ou equipe na narração de Galvão Bueno? Quais? 4- Para você, quais são os pontos fortes e fracos da narração de Galvão Bueno? O que poderia ser melhorado? Sobre Luís Roberto de Múcio: 1- Em uma escala de 1 a 5, sendo 1 péssimo e 5 excelente, como você avalia a narração de Luís Roberto de Múcio? Por quê? 2- Em sua opinião, Luís Roberto de Múcio dá um tratamento proporcional ou desproporcional aos pilotos e às equipes em sua narração? 3- Você já percebeu algum favorecimento ou desfavorecimento de algum piloto ou equipe na narração de Luís Roberto de Múcio? Quais? 4- Para você, quais são os pontos fortes e fracos da narração de Luís Roberto de Múcio? O que poderia ser melhorado? Sobre Sérgio Maurício: 1- Em uma escala de 1 a 5, sendo 1 péssimo e 5 excelente, como você avalia a narração de Sérgio Maurício? Por quê? 2- Em sua opinião, Sérgio Maurício dá um tratamento proporcional ou desproporcional aos pilotos e às equipes em sua narração? 3- Você já percebeu algum favorecimento ou desfavorecimento de algum piloto ou equipe na narração de Sérgio Maurício? Quais? 4- Para você, quais são os pontos fortes e fracos da narração de Sérgio Maurício? O que poderia ser melhorado? Sobre a transmissão em geral: 1- Você percebe alguma diferença entre a narração da Fórmula 1 em canal aberto (Rede Globo) e fechado (SporTV)? Qual(is)? 2- A Rede Globo e o grupo SporTV também transmitem outros esportes. Em sua opinião, a Fórmula 1 tem destaque e cobertura especializada nesses canais?

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3- Em sua opinião, os profissionais responsáveis pelo discurso da transmissão (narradores, comentaristas e repórteres) têm conhecimento adequado sobre a Fórmula 1? Quais profissionais você destaca como os melhores nas coberturas? 4- Em 2019, a Fórmula 1 teve três pilotos pertencentes a minorias étnicas: Lewis Hamilton (negro), Lance Stroll (indígena e judeu) e Alexander Albon (asiático). Em sua opinião algum deles foi favorecido ou desfavorecido nas transmissões de Fórmula 1 da TV brasileira no ano passado? 5- Você já viu algum narrador divulgar fake news sobre algum piloto ou equipe durante a transmissão? Conte como foi. 6- Você acha que uma transmissão esportiva deve ter um perfil sério ou descontraído? Justifique sua resposta. 7- Você acha que as narrações influenciam o comportamento dos torcedores? Justifique sua resposta. 8- Em sua opinião, o narrador deve transmitir imparcialidade ou dizer para qual piloto ou equipe está torcendo? Justifique sua resposta. As perguntas feitas aos especialistas foram: 1- Em sua opinião, a Fórmula 1 possui uma cobertura especializada no Brasil? Justifique sua resposta. 2- Você acha que uma transmissão esportiva deve ter um perfil sério ou descontraído? De que maneira isso pode influenciar a recepção do público? Justifique sua resposta. 3- Você acha que as narrações influenciam o comportamento dos torcedores? Justifique sua resposta. 4- Em sua opinião, o narrador deve transmitir imparcialidade ou dizer para qual piloto ou equipe está torcendo? Justifique sua resposta. 5- Em sua opinião, as transmissões passam as informações de maneira correta para os espectadores? Há equívocos? Se houver equívocos, eles são corrigidos rapidamente? 6- Em sua opinião, quem seria melhor para compor uma equipe de transmissão da Fórmula 1: um ex-atleta ou um jornalista esportivo? Justifique sua resposta. 7- Os valores e interesses da emissora influenciam nas narrações ou os apresentadores têm autonomia de fala?

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8- Caso um narrador não goste de um piloto ou equipe, ele deve induzir o público a ter a mesma opinião? Justifique sua resposta. 9- No final de 2017 especulava-se que a audiência da Fórmula 1 no Brasil diminuiria com a ausência de um piloto brasileiro no grid. No entanto, ela aumentou nos anos seguintes. Em sua opinião, por que isso aconteceu? 10- Normalmente, o que os torcedores absorvem mais facilmente durante as narrações: informações sobre o esporte, pilotos e equipes ou opiniões dos narradores e comentaristas? Justifique sua resposta. Nove das onze entrevistas foram respondidas em texto e duas em arquivos de áudio. A autora do TCC transcreveu as repostas que foram fornecidas em áudio (Felippe Santos e Sergio Quintanilha). A partir das repostas abertas da pesquisa qualitativa, buscou-se analisar e relacionar o conteúdo dos entrevistados com o estudo feito pela autora do TCC das transmissões escolhidas como recorte de modo a tentar escrever um texto que contextualizasse tanto os aspectos da transmissão quanto a percepção do público e de especialistas.

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1 HISTÓRIA E EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA DA TRANSMISSÃO DE FÓRMULA 1 NO BRASIL

1.1 Histórico de transmissão da Fórmula 1 no Brasil

O primeiro campeonato mundial de Fórmula 1 ocorreu entre maio e setembro de 1950. Contando com a participação de 80 pilotos de 11 nacionalidades diferentes13, a temporada foi vencida pelo italiano Giuseppe Farina (também conhecido como Nino Farina), da equipe Alpha Romeo (VASCONCELLOS, 2013, p. 208). Trinta e cinco dos oitenta participantes eram cidadãos dos Estados Unidos14, no entanto a competição se concentrou na Europa, com apenas uma das sete corridas oficiais sendo realizada no continente americano, em Indianápolis15. Havia apenas dois representantes da América do Sul, os argentinos José Froilán González, da Achille Varzi, e Juan Manuel Fangio (vice-campeão naquele ano), da Alpha Romeo16. Fangio tornou-se pentacampeão da categoria nos anos seguintes, vencendo os campeonatos de 1951, 1954, 1955, 1956 e 1957 (Ibid.), por quatro escuderias diferentes: Alfa Romeo, Maserati, Ferrari e Mercedes17.

A interação do Brasil com a nova categoria esportiva ocorreu de maneira tardia. Inaugurada no dia 18 de setembro de 1950, a Rede Tupi do empresário Assis Chateaubriand, primeira emissora de televisão brasileira, entrou no ar 15 dias após o término do campeonato (POLITO, 2017). Porém, nem mesmo a estreia do primeiro piloto brasileiro na Fórmula 1, Chico Landi, no Grande Prêmio da Itália de 1951 (FIGUEIREDO, 2013, p. 19), foi transmitida no país. Durante as décadas de 1950 e 1960, o Brasil teve quatro representantes na Fórmula 1 - Chico Landi, Gino Bianco, Nano da Silva Ramos e Fritz d’Orey - (VASCONCELLOS, 2013, p. 212), no entanto suas atuações não foram exibidas no país. É fundamental ressaltar que antes de 1969

13 Disponível em: . Acesso em 04 jun. 2020. 14 Ibid. 15 Disponível em: (acesso em 04 jun. 2020) e em (acesso em 18 ago. 2020). 16 Idem nota 13. 17 Disponível em: . Acesso em 18 ago. 2020. 26 era impossível transmitir ao vivo no Brasil eventos de outros países porque ainda não havia utilização dos recursos tecnológicos do satélite.

A primeira transmissão da Fórmula 1 para o território brasileiro coincidiu com a estreia de Emerson Fittipaldi na categoria, no Grande Prêmio da Grã-Bretanha de 1970. A Televisão Record, sediada em São Paulo, se encarregou da exibição (O ESTADO DE S. PAULO, 1970). Correndo pela equipe Lotus, Fittipaldi foi o oitavo colocado, ficando sem pontos pelo sistema de contagem da época. A prova foi vencida pelo austríaco Jochen Rindt, também da Lotus, teve o australiano Jack Brabham, da Brabham, como segundo colocado, e o neozelandês Denny Hume, da McLaren, como terceiro18. Apesar da estreia, as emissoras brasileiras preteriram a Fórmula 1 em favor de suas programações próprias. O Grande Prêmio dos Estados Unidos de 1970, vencido por Fittipaldi, marcou a primeira vitória de um piloto brasileiro na competição, mas o evento sequer foi exibido no Brasil. Em 1972, a Record e a TV Rio, ambas pertencentes à Rede de Emissoras Independentes, dividiram a transmissão do Grande Prêmio da Itália, quando Fittipaldi conquistou seu primeiro título19. No dia 30 de março do mesmo ano, a Rede Globo exibiu em cores o Grande Prêmio do Brasil em uma parceria com a TV Gazeta (FRANCFORT, 2010, p. 199). O brasileiro se firmou como bicampeão em 1974 (VASCONCELLOS, 2013, p. 208).

Ainda em 1972, a TV Tupi e a Rede Globo transmitiram algumas corridas em cadeia (ZAMBOM, 2019), como o Grande Prêmio da Bélgica20. Em julho daquele ano, a Globo conseguiu os direitos exclusivos de transmissão por meio de um acordo firmado com a FOCA (Associação dos Construtores da Fórmula 1), que inclusive possibilitou a realização do primeiro Grande Prêmio do Brasil, embora a prova não constasse oficialmente no calendário da temporada, passando a integrar o campeonato a partir do ano seguinte21. Em 1975, a Globo começou a dedicar espaço para a cobertura da categoria em sua programação, porém autorizou algumas emissoras a exibirem provas que coincidiam com certas prioridades da emissora. Este

18 Disponível em: . Acesso em 27 abr. 2020. 19 Disponível em: . Acesso em 01jun. 2020. 20 Disponível em: . Acesso em 01 jun. 2020. 21 Disponível em: . Acesso em 29 mai. 2020. 27 foi o caso dos Grandes Prêmios dos Estados Unidos e do Canadá de 1978, exibidos pela Rede Bandeirantes, que adquiriu os direitos de transmissão no ano seguinte (CARVALHO, 2015). A emissora paulista foi a pioneira na exibição ao vivo e na íntegra de uma temporada completa de Fórmula 1 no país, em 1980, com a TV Cultura exibindo o Grande Prêmio do Brasil em cadeia (RODRIGUES; VAQUER, 2020).

A partir de 1981, a Rede Globo tornou-se a única emissora brasileira responsável pela transmissão da Fórmula 1, o que acarretou a homogeneidade da exibição no país22. O último contrato firmado com a FIA (Federação Internacional de Automobilismo) teve início em 2016 com duração de cinco anos, trazendo vantagens econômicas à emissora, como o faturamento de R$ 494 milhões em publicidade (VAQUER, 2020b). Isso, porém, não significa que o automobilismo seja prioridade. Como a Globo também é detentora dos direitos de transmissão de campeonatos de futebol, como o Campeonato Brasileiro e os estaduais, algumas corridas não foram exibidas em TV aberta, pois seus horários coincidiam com partidas que a emissora considerava capazes de atingirem maiores índices de audiência. Em 1990, a emissora carioca tentou um acordo com a TV Gazeta para que esta transmitisse as corridas que coincidissem com eventos considerados prioridades pela Globo, porém as demais emissoras paulistas repudiaram a ideia, por considerarem que a Globo estaria aumentando seu poder em São Paulo (FRANCFORT, 2010, p. 362). A partir da implementação e consolidação do canal fechado SporTV que depois, em 2003, foi desmembrado em três canais da programadora “Globosat” (DIAS, 2006), a Globo executou a ideia planejada em 1990 e o encarregou de transmitir o Grande Prêmio dos Estados Unidos de 2012 (TERRA, 2012). Desde então os canais SporTV 2 e SporTV 3 providenciam a exibição de corridas preteridas pela Globo e pelas reprises das que a emissora aberta exibe, como as etapas ocorridas de madrugada (exemplos: Austrália, China e Japão). Em 2015, encarregou o SporTV de transmitir os treinos classificatórios (VENDRAMINI, 2020). A partir de 2018, por motivos não esclarecidos, a Globo deixou de transmitir as cerimônias dos pódios (inclusive a do Grande Prêmio do Brasil), delegando ao portal Globoesporte.com a tarefa de exibi-las (STYCER,

22 Disponível em: . Acesso em 29 mai. 2020. 28

2018). Tal decisão já havia sido tomada esporadicamente em anos anteriores, como no Grande Prêmio da Áustria de 2016 (UOL ESPORTE, 2016).

Também em 2018, a Fórmula 1 lançou sua própria plataforma de streaming, a F1 TV, em quatro idiomas - inglês, alemão, francês e espanhol - contendo três opções de pacotes. O mais básico garante comentários, melhores momentos, corridas clássicas e cronometragem ao vivo. O intermediário fornece transmissões ao vivo e na íntegra, treinos livres, classificatórios e visão da câmera acoplada aos carros para obter a visão dos pilotos. Por fim, o pacote avançado oferece câmeras exclusivas e opções de personalização, como o recurso de multicâmera “Picture-in-Picture”. No entanto, o Brasil não foi incluído na lista de países contemplados pelo serviço, cujo preço na época variava de US$ 8 a US$ 12 por mês (BARBOSA, 2018).

Dois anos depois, a Fórmula 1 demonstrou interesse em disponibilizar a plataforma em território brasileiro a partir da temporada de 2021. Para que a narração disponível seja feita em português, a Liberty Media precisa incluir a narração da emissora que detém os direitos de transmissão no país. Com o encerramento e não renovação do contrato da Rede Globo no final de 2020 (CASTRO, T., 2020; GAVINELLI, 2020b; SACCHITIELLO, 2020), a narração disponível seria a feita pelo canal britânico Sky Sports, em inglês, caso não houvesse acordo com outra emissora (BARBOSA, 2020). Em 2020, o valor aproximado que cada assinante da F1 TV paga para ter acesso à plataforma streaming é de US$ 20 por ano. O SBT tentou negociar a compra dos direitos de transmissão (ANDRADE, V.; CASTRO, D.; PERLINE, 2020), que foram também oferecidos à RedeTV, TV Cultura, Disney e Turner (VAQUER, 2020a). Porém, no dia 24 de setembro, foi anunciado que o consórcio Rio Motorsports assinou um acordo de cinco anos com a Liberty Media, prevendo um modelo de transmissão em TV aberta, fechada e streaming (CAMPOS, 2020). O Rio Motorsports também lidera o projeto de construção de um autódromo em Deodoro, no Rio de Janeiro, onde seriam realizadas as futuras edições do Grande Prêmio do Brasil caso Interlagos não renovasse o contrato23, e portanto já havia demonstrado interesse nos

23 Em 06 de outubro de 2020, o CEO da Fórmula 1, Chase Carey, enviou uma carta ao governador em exercício do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, confirmando o acordo para a realização do Grande Prêmio do Brasil na capital do estado, tendo como único impedimento do anúncio oficial a falta de licenças ambientais para a construção do autódromo, que acarretaria no desmatamento da Floresta do Camboatá (FERNANDES, Raphael, 2020). O impacto ambiental do projeto tornou-se motivo de protestos de ambientalistas, políticos e torcedores de Fórmula 1 (LANCE; ISTOÉ, 2020). 29 direitos de transmissão desde o primeiro semestre de 2020 (BARBOSA, 2020; GABRIEL, 2020).

1.2 Narradores e comentaristas das transmissões televisivas da Fórmula 1 no Brasil

De acordo com informações dos portais Motorsport e Torcedores.com, do acervo Memória Globo e do jornal O Estado de S. Paulo, a televisão brasileira teve 13 narradores responsáveis pela cobertura da Fórmula 1. A primeira corrida transmitida no país, o Grande Prêmio da Grã-Bretanha de 1970, foi narrada por Wilson Fittipaldi diretamente dos estúdios da Rádio Jovem Pan, em São Paulo, tendo o áudio veiculado também na transmissão direta da Televisão Record (O ESTADO DE S. PAULO, 1970). Ambas as emissoras pertenciam à família Carvalho, com a Jovem Pan sendo adquirida por Paulo Machado de Carvalho em 194424 e a Record sendo criada em 1953 pelo mesmo juntamente com seu filho Antônio Augusto Amaral de Carvalho, que antes havia comandado a diretoria de esportes do Grupo Record, em 1950 (JOVEM PAN, 2017).

A categoria ganhou espaço na programação do país a partir de 1972, e até o final da década as narrações foram realizadas por Júlio Delamare (titular da Rede Globo em 1972 e 1973)25, Luciano do Valle (titular após a morte de Delamare)26, José Maria Ferreira (narrador do Grande Prêmio da Grã-Bretanha de 1973, etapa seguinte ao falecimento de Delamare)27, Léo Batista e Tércio de Lima, titular da TV Tupi e responsável por narrar o primeiro Grande Prêmio do Brasil de 1972 na Globo (SIMON, 2014). Nos anos 1980, Carlos Valadares (CESAR, 2014) e Luciano do Valle se encarregaram das narrações, porém Galvão Bueno tornou-se o narrador titular após a Copa do Mundo de 1982, quando Valle deixou a Rede Globo (SIMON, 2014). Galvão teve uma breve saída da emissora em 1992, quando assumiu o cargo de diretor de

24 Disponível em: . Acesso em 08 jun. 2020. 25 Disponível em: (acesso em 29 mai. 2020) e (acesso em 29 mai. 2020). 26 Ibid. 27 Ibid. 30 esportes da Rede OM Brasil (FREITAS, 2014), sendo substituído por Oliveira Andrade e Luiz Alfredo de Almeida - filho de Geraldo José de Almeida, que atuou como comentarista na narração do Grande Prêmio do Brasil de 1972 - (SIMON, 2014). No ano seguinte, Galvão voltou à Globo e permaneceu até 2019 como narrador titular da Fórmula 1 (FREITAS, 2014; ANDRADE, V., 2020). Na década de 2000, Cléber Machado e Luís Roberto de Múcio substituíram Galvão em algumas corridas, com Machado se consolidando como o “substituto principal” (SIMON, 2014), como no Grande Prêmio da Áustria de 2002, chegando a ser titular em 200528. No início dos anos 2010, Sérgio Maurício passou a substituir Galvão, Machado e Múcio em corridas transmitidas pela emissora que coincidiam com eventos esportivos considerados prioridades pela Rede Globo, como os jogos da Copa do Mundo de 2014. Nessa época, Múcio tornou-se o “reserva imediato” (Ibid.) de Galvão como narrador dos grandes prêmios. Maurício é o responsável pela narração nos canais do grupo SporTV desde o início das transmissões em TV fechada em 2012 (LIMA, 2016). Em 2020, em virtude da pandemia de Covid-19, a Globo escalou Machado como o narrador titular em seu canal aberto, uma vez que Galvão deveria evitar sair de casa por estar no grupo de risco e Múcio residir no Rio de Janeiro (ANDRADE, V., 2020). No mesmo ano, foi anunciada a contratação do jornalista Everaldo Marques para substituir Maurício na narração dos treinos livres e classificatórios para o Grande Prêmio da Espanha no SporTV2, devido à escalação deste para a transmissão da Copa Truck (MOTORSPORT, 2020a). Marques foi narrador de Fórmula 1 na Rádio Jovem Pan em 2001, repórter correspondente de 2002 a 2004 e novamente narrador na Rádio Estadão/ESPN em 2011 e 2012 (Ibid.). A Globo o escalou para narrar o Grande Prêmio da Toscana, em setembro de 2020, pois Machado ficaria responsável por transmitir o jogo entre Fluminense e Corinthians pelo Campeonato Brasileiro (UOL, 2020a; NA TELINHA, 2020).

José Maria Ferreira (também conhecido como Giu Ferreira) foi o primeiro comentarista de Fórmula 1 nas transmissões televisivas para o Brasil, atuando de

28 Disponível em: . Acesso em 29 mai. 2020. 31

1972 a 1974 na Rede Globo29. A partir de 1975, foi substituído por Ciro José30, que ocupou o cargo até 197731. No ano seguinte, o jornalista Reginaldo Leme, que trabalhou de 1972 a 1978 na cobertura da Fórmula 1 no jornal O Estado de S. Paulo (onde atuava desde 1968) assumiu o posto de comentarista principal32 e permaneceu até o final de 2019 (TORRALBA, 2019). Em 2004, o ex-piloto Luciano Burti (que correu oficialmente na Fórmula 1 de 2000 a 2001) se juntou à equipe da Globo como comentarista ao lado de Leme (SABINO, 2020b). Segundo o portal Memória Globo, o ex-piloto Rubens Barrichello (que correu na Fórmula 1 de 1993 a 2011) chegou a comentar as corridas de 2013 e 201433.

O grupo de canais SporTV teve Lito Cavalcanti como seu primeiro comentarista de Fórmula 1, permanecendo no cargo até 2018 (NA TELINHA, 2018). O piloto de Stock Car Max Wilson ingressou como comentarista na segunda metade de 2014 (LIMA, 2016). Wilson ficou na função até 2018 (OLIVEIRA, A., 2018), quando passou a fazer participações esporádicas (MOTORSPORT, 2019b) enquanto Reginaldo Leme e Luciano Burti tornaram-se os titulares tanto na TV aberta quanto na fechada. No ano seguinte, o SporTV contratou Felipe Giaffone como comentarista (MOTORSPORT, 2019a), ocupando o lugar de Leme em algumas provas até substituí-lo definitivamente no Grande Prêmio de Abu Dhabi de 2019, última etapa do campeonato, após a saída do veterano da Rede Globo (TORRALBA, 2019). Giaffone havia trabalhado como comentarista na cobertura da Fórmula Indy de 2009 a 2018 na Rede Bandeirantes (MOTORSPORT, 2019b). Em 2020, Rafael Lopes se juntou ao time de comentaristas do SporTV ao lado de Burti (FOLHAPRESS, 2020).

1.3 A evolução tecnológica das transmissões televisivas no Brasil

29 Disponível em: (acesso em 29 mai. 2020), (acesso em 29 mai. 2020) e (acesso em 29 mai. 2020). 30 Disponível em: . Acesso em 29 mai. 2020. 31 Disponível em: . Acesso em 29 mai. 2020. 32 Disponível em: . Acesso em 29 mai. 2020. 33 Disponível em: (acesso em 29 mai. 2020) e (acesso em 29 mai. 2020). 32

A primeira experiência similar a uma transmissão televisiva no Brasil ocorreu na Feira de Amostras do Rio de Janeiro, em 1939, com o patrocínio do governo federal. As primeiras imagens exibidas foram cenas com artistas de rádio, a apresentação do videofone (aparelho de televisão por cabos telefônicos) e um filme propagandista realizado em 1938 (HINGST, 2004). Os aparelhos utilizados tinham áudio fora de sincronia e imagens em preto e branco, exibidas por telas de aproximadamente cinco polegadas (CAMARGO, 2009).

Porém, apenas em 1950 foi inaugurada a primeira emissora de televisão do país, a TV Tupi. Através de um acordo com quatro empresas (Seguradora Sul América, Companhia Antarctica Paulista, Moinho Santista e Laminação Pignatari), Assis Chateaubriand importou 200 aparelhos de televisão da Radio Corporation America para realizar seu experimento, além de enviar profissionais para se especializarem nos Estados Unidos dois anos antes (HINGST, 2004). Os primeiros programas exibidos eram ao vivo e restritos a São Paulo, devido à inexistência de satélites (BEZERRA, 2020). Um ano depois, a marca Invictus passou a fabricar receptores no Brasil (SALATIEL, 2020) e uma filial da TV Tupi foi inaugurada no Rio de Janeiro (BEZERRA, 2020). Ainda em 1951, foi fabricado o primeiro aparelho televisor no país pela Sociedade Eletromercantil Paulista (SEMP), hoje ligada à Toshiba (PIXININE, 2015). A Copa de 1970 impulsionou a venda de aparelhos no Brasil, e mesmo sendo o primeiro mundial de futebol a ser gravado em cores, os brasileiros só tiveram acesso a televisões coloridas dois anos depois (SALATIEL, 2020).

Já na segunda metade da década de 1990, começou a introdução dos televisores de tela plana no mercado brasileiro (nos modelos de plasma e LCD), que com o tempo substituíram os aparelhos com retroprojetor embutido. Nos anos 2000 houve a popularização dos conteúdos em HD (1.280 colunas de pixels por 720 linhas), além da criação das primeiras televisões conectadas aos aplicativos que obtinham conteúdo direto da internet (FERRARI, 2018). De acordo com consultoria GfK, cerca de 40% dos televisores vendidos no Brasil em 2013 apresentavam resolução em HD, 58,9% a ofereciam em Full HD (1.920 colunas de pixels por 1.080 linhas) e menos de

33

1% em Ultra HD (3.840 colunas de pixels por 2.160 linhas) ou 4K34 (TOZETTO, 2014). A partir de 2014, motivada pela Copa do Mundo realizada no Brasil, a indústria consolidou as telas de tecnologia LED e a resolução Full HD para as exibições. A tecnologia 4K e as SmarTVs começaram a se destacar no final da década de 2010 (FERRARI, 2018).

Em seu início, na década de 1950, a filmagem das corridas era feita de maneira precária. As câmeras eram posicionadas em dois ou três cantos do circuito, incluindo os boxes, único lugar onde era possível ver os pilotos de perto. Nos anos 1960, com a adoção de mais câmeras, que continham lentes mais evoluídas, foi possível gravar mais momentos das provas, como as disputas por posições. As transmissões ao vivo começaram em 1970, e até 1981 as câmeras tinham total atenção aos líderes, exceto em casos de acidentes35. No dia 30 de março de 1972, o Grande Prêmio do Brasil foi a primeira corrida a ser transmitida em cores no país, exibida pela Rede Globo em conjunto com a TV Gazeta, referência na época em transmissões a cores. A equipe responsável pela transmissão do evento contou com apoio tecnológico da Radio Corporation of America (FRANCFORT, 2010, p. 202). A corrida foi reprisada no dia 2 de abril (Ibid., p. 205). Também na década de 1970, o recurso do VT (videotape) que viabilizou a gravação e a edição de vídeos e programas de TV garantiu maior interesse do público pelas transmissões televisivas da Fórmula 1 (FIGUEIREDO, 2013, p. 27).

Na década de 1980, a Rede Globo passou a utilizar câmeras próximas ao chão para dar ao telespectador a sensação da visão obtida dentro do autódromo. Segundo o acervo Memória Globo, a ideia foi seguida posteriormente por emissoras europeias e norte-americanas, e em 1983 a cobertura da emissora tornou-se referência de qualidade na mídia internacional36. De 1997 a 1999, a FOM se responsabilizou pela transmissão do Grande Prêmio do Brasil, que antes era encarregada à Rede Globo, porém adotou o modelo da rede para realizar as gravações. A emissora comprou as imagens nessa época, voltando a ter controle sobre a transmissão da prova logo depois37. Na década de 2000, começou-se a distribuir mais câmeras em diversos pontos dos circuitos para garantir a visualização da prova como um todo, exibindo

34 “Resolução de 3.840 pixels horizontais por 2.160 pixels verticais” (SALUTES, 2019) 35 Disponível em: . Acesso em 28 mai. 2020. 36 Idem nota 35. 37 Ibid. 34 imagens dos boxes e da torcida (FIGUEIREDO, 2013, p. 50). Estima-se que na década de 2010 foram utilizadas cerca de 40 câmeras por transmissão de corrida (Ibid., p. 51). A partir de 2011, começou a ser empregada a tecnologia Full HD para as captações de pista enquanto que as câmeras onboard (acopladas nos carros) mantiveram definição de 480p até 2012 (MORENO, 2012).

Os primeiros testes com câmeras onboard na Fórmula 1 foram realizados em 1957 (no carro de Juan Manuel Fangio), em 1961 (no de Sterling Moss), em 1966 (para os registros do filme “Grand Prix”, de John Frankenheimer) e em 1973 (para gravar as voltas da última corrida de Jackie Stewart38). As câmeras eram pesadas e os tripés fixos nos carros para suas instalações (SULTANA, 2019). Em 1985, com os avanços tecnológicos que permitiram maior leveza e menor espessura dos equipamentos, o recurso foi oficialmente adotado na categoria, estreando no carro de François Hesnault, da Renault, no Grande Prêmio da Alemanha. Suas gravações eram enviadas para a central da FOM via helicóptero, e depois editadas e usadas em programas televisivos posteriores às corridas (Ibid.). A partir de 1998, a câmera onboard se consolidou como parte integral das transmissões da Fórmula 1, com o sinal sendo emitido instantaneamente para a central da FOM. Pesando 1,8 kg e contando com tecnologia antivibração, as câmeras onboard são posicionadas atualmente em quatro cantos estratégicos dos carros: na parte superior do cockpit (próximo ao capacete dos pilotos), pouco abaixo desse ponto (garantindo a visão do que está atrás do carro), próximo ao volante (voltada para o piloto) e na asa dianteira (Ibid.).

38 Campeão em 1969, 1971 e 1973 (VASCONCELLOS, 2013, p. 208) 35

2 PROGRAMAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DA FÓRMULA 1

Comprada pelo grupo americano de comunicações Liberty Media no final de 2016 por US$ 4,4 bilhões39 (BBC NEWS, 2016), a Fórmula 1 tem seu faturamento resultante de diversas atividades, como patrocínio direto de empresas, venda de ingressos e artigos oficiais, taxas pagas pelos organizadores das corridas e acordos com emissoras de televisão para transmissões (GAVINELLI, 2020a). Em 2018, lançou sua própria plataforma de streaming, a F1 TV, garantindo mais uma fonte de arrecadação (BARBOSA, 2018). Os acordos de transmissão são firmados pelas emissoras diretamente com a FIA (VAQUER, 2020b).

De acordo com dados fornecidos pela Liberty Media, a receita total da Fórmula 1 subiu de US$ 1,82 bilhões para US$ 2,2 bilhões em 2019. Comparando com a arrecadação de 2018, houve aumento de 38% da taxa de transmissão, 15% de patrocínio, 2% de comparecimento às corridas, 33% de seguidores nas redes sociais e 9% de audiência televisiva, embora houvesse um declínio de 30% da taxa paga pelos organizadores das corridas (GAVINELLI, 2020a).

Um fim de semana de corrida de Fórmula 1 tem um custo médio na casa dos milhões de euros devido às despesas com estrutura, recursos humanos e segurança. Estão inclusos no orçamento elementos como alimentação, serviços hospitalares, acomodação dos funcionários e jornalistas e salários (MOURÃO, 2017, p. 47). Outros setores também são beneficiados com a realização das corridas, como o de turismo e de combustíveis (Ibid., p. 48). De maneira geral, os grandes prêmios são pagos por três agentes: os pagadores de impostos, os fãs do esporte e os patrocinadores (Ibid., p. 47). A tendência até 2017 era que as empresas pagassem cerca de US$ 180 milhões por anúncios nas pistas, com a exceção do Grande Prêmio de Mônaco, cuja receita publicitária vai para seus organizadores (COLLANTINE, 2010 apud MOURÃO, 2017, p. 79).

Segundo Paulo Mourão (2017, p. 77), a transmissão televisiva é interessante para qualquer esporte, pois esta garante os investimentos dos patrocinadores nas

39 O proprietário anterior era o empresário Bernie Ecclestone (BBC NEWS, 2016), que comandava a categoria desde 1978 (GREVE, 2008, p. 5). 36 emissoras, e a audiência influencia diretamente os contratos e está ligada à competitividade da categoria. Estima-se que na primeira metade da década de 2010, as empresas ligadas à Fórmula 1 arrecadaram cerca de US$ 500 milhões apenas com direitos de transmissão televisiva (SYLT, 2015 apud MOURÃO, 2017, p. 77).

2.1 Direitos de transmissão e grade programação

A Rede Globo foi a detentora dos direitos de transmissão da categoria no Brasil com exclusividade de 1981 a 2020, e seu faturamento é decorrente da veiculação de conteúdos publicitários em diferentes formatos. Estima-se que em 2019, a emissora carioca arrecadou R$ 494 milhões com a Fórmula 1. O contrato vigente na época foi assinado em 2016 e tinha validade de cinco anos (VAQUER, 2020b). Em 2020, o consórcio Rio Motorsports demonstrou interesse em adquirir os direitos de transmissão, com a Fórmula 1 podendo ser exibida nos canais FOX Sports (BARBOSA, 2020). Um dos fatores que levam ao sucesso comercial da categoria no país é o poder aquisitivo de boa parte de sua audiência, com 35% dos telespectadores detectados pelo Kantar Ibope Media pertencendo às classes A e B (SARUBO, 2020). De acordo com a jornalista Bárbara Sacchitiello, do portal Meio & Mensagem:

Profissionais do mercado publicitário costumam destacar que um dos maiores atrativos do pacote da Fórmula 1 é a entrega de mídia que ele proporciona ao longo de todo o ano. Além de aparecem nas provas, as marcas apoiadoras também são citadas em toda a programação da Globo, sempre em que é exibida alguma reportagem relacionada à competição (SACCHITIELLO, 2020).

As corridas de Fórmula 1 são realizadas aos domingos (desde 197540), porém o Brasil possui cobertura para os eventos preparatórios dos grandes prêmios, que são feitos dois dias antes. Os primeiros dois treinos livres (ocorridos às sextas-feiras), assim como os terceiros treinos livres e os classificatórios (aos sábados) são exibidos pelos canais SporTV 2 e SporTV 3. Em casos excepcionais, como as corridas disputadas de madrugada (por exemplo o Grande Prêmio do Japão), a Globo chega

40 Disponível em . Acesso em 29 mai. 2020. 37 a exibir os treinos classificatórios. Os dias e horários de cada corrida são definidos pelos organizadores em conjunto com a FOM. O calendário para a temporada costuma ser divulgado no ano anterior.

O site Propmark anunciou em outubro de 2019 que todos os patrocinadores daquele ano haviam renovado a parceria para a transmissão da temporada de 2020 e um valor de aproximadamente R$ 600 milhões foi dividido em seis cotas iguais (valendo R$ 98,95 milhões cada uma). A Rede Globo se comprometeu a entregar 1170 inserções perante investimento de R$ 93,15 milhões, enquanto o SporTV entregará 721 inserções ao custo de R$ 2,5 milhões e o Globoesporte.com promete 360,5 milhões de impressões mediante o valor de R$ 3,3 milhões. Ainda segundo o site, a Globo faria investimentos maiores nos telespectadores das gerações X41, Y42 e Z43, enquanto o SporTV priorizaria os Baby Boomers44 e as gerações X e Y (MACEDO, 2019). Em novembro de 2019, foi divulgado pelo portal Observatório da Televisão que cinco das seis cotas foram vendidas pelo valor de R$ 98,8 milhões cada, e que a Globo garantia faturamento de R$ 494 milhões com a Fórmula 1 em 2020. A NET, que passou a adotar a bandeira Claro, foi a única patrocinadora de 2019 a não renovar o acordo (MAKING OF, 2020; SACCHITIELLO, 2019).

No dia 27 de agosto de 2020, foi anunciado que o Grupo Globo não renovou os direitos de transmissão da Fórmula 1 no Brasil com a Liberty Media (CASTRO, T., 2020; SACCHITIELLO, 2020), deixando de exibir a categoria tanto em seu canal aberto quanto nos fechados do SporTV a partir de 2021 (GAVINELLI, 2020b). A alta do dólar e a pandemia de Covid-19 que afetou o calendário da Fórmula 1 em 2020 - causando, inclusive, o cancelamento do Grande Prêmio do Brasil (G1 SP, 2020) - foram apontadas por especialistas como os principais motivos pela decisão da Rede Globo de não renovar os direitos de transmissão apesar do aumento da média de audiência, pois o cenário não é favorável para “manobras financeiras” e o faturamento não consegue cobrir os gastos com a transmissão e o valor dos direitos (PADIGLIONE, 2020; SACCHITIELLO, 2020; SARUBO, 2020). A emissora carioca

41 Nascidos entre 1960 e 1979. 42 Nascidos entre 1980 até a segunda metade da década de 1990. 43 Nascidos entre a segunda metade da década de 1990 até o ano de 2010. 44 Nascidos entre 1946 e 1959. 38 havia feito vários cortes em sua programação devido a uma crise gerada pela pandemia (CASTRO, T., 2020; SARUBO, 2020).

O jornalista Paulo Pacheco apontou um certo desinteresse da Globo pela Fórmula 1 desde a aposentadoria de Felipe Massa em 2017 (PACHECO, 2020), embora a audiência da categoria tenha aumentado nos anos subsequentes à saída do piloto brasileiro (CHAGURI; FRANÇA, 2020; LUCAS, 2019b; MOTORSPORT, 2019c; 2020b; PADIGLIONE, 2020; RAMOS, 2020; VAQUER, 2020c)45. O consórcio Rio Motorsports manteve o interesse em comprar os direitos de transmissão, especulando-se que esta seria feita pelos canais Record e Bandeirantes - abertos - ou FOX Sports - fechado (GABRIEL, 2020). O SBT entrou nas negociações pela transmissão da categoria no Brasil em setembro (ANDRADE, V.; CASTRO, D., PERLINE, 2020). RedeTV, TV Cultura, Disney e Turner também receberam propostas (VAQUER, 2020a). No dia 24 daquele mês, a Liberty Media fechou acordo com o Rio Motorsports, que prevê um faturamento de cerca de R$ 3 bilhões, baseado no valor de R$ 600 milhões por ano que a Globo teve no último acordo (CAMPOS, 2020)46.

2.2 Formatos publicitários na transmissão de Fórmula 1 no Brasil

Desde 1950, a principal fonte de renda das emissoras de televisão aberta é formada pelos conteúdos publicitários veiculados nos intervalos e nos programas - incluindo transmissões esportivas - (MARTINS, 2015). Para financiar a transmissão da Fórmula 1 para o Brasil, a Rede Globo vendeu, em 2019, cotas de patrocínio recebe para as empresas Renault, TIM, Itaipava, Nivea, Santander e NET, que garantiram seu espaço de visibilidade na exibição das corridas47.

45 Foram contabilizados os dados de audiência das temporadas de 2018 e 2019 (que seguiram a aposentadoria de Massa) e as seis primeiras corridas da temporada de 2020 (Áustria, Estíria, Hungria, Grã- Bretanha, 70.º Aniversário e Espanha), que foram as últimas concluídas até a divulgação da notícia da não renovação do contrato da Globo, lançada dias antes do Grande Prêmio da Bélgica (FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE AUTOMOBILISMO, 2020a; PERANTONI; PINHEIRO, 2020a). 46 Até a data de finalização do TCC, não foram divulgadas mais informações sobre o acordo e os projetos de transmissão para 2021. 47 Disponível em: . Acesso em 01 jun. 2020. 39

O campeonato de Fórmula 1 e suas equipes têm seus próprios patrocinadores48. Seus logotipos são visíveis em faixas coladas em certos lugares dos circuitos, nos carros e uniformes dos pilotos. Há casos de empresas que patrocinam a transmissão que são concorrentes das que patrocinam as corridas e equipes, por exemplo a TIM e a Claro (patrocinadora da equipe Racing Point49), da Itaipava e da Heineken (patrocinadora dos grandes prêmios (OLIVEIRA, P., 2017)) e da Renault (também dona de uma escuderia homônima) e o grupo Fiat (ao qual pertence a equipe Alfa Romeo (SCHANCHE, 1986) e que englobava a Ferrari até 2016 (JOSEPH, 2016)). Entre casos anteriores destaca-se o entre a Petrobras, que deixou de patrocinar a McLaren em 2019 (REUTERS, 2019; BRITO, 2019), a Petronas (fornecedora da equipe Mercedes50) e a Shell (fornecedora da Ferrari51). Além disso, devido a questões de naming rights, os apresentadores tanto da Globo quanto do SporTV evitam chamar a escuderia por seu nome, optando pela sigla RBR (CASTRO, L., 2020), embora algumas vezes o nome seja mencionado (principalmente nas narrações de Galvão Bueno).

De acordo com Ana Souza, conselheira da Apsis Consultoria, naming rights consistem na

prática entre empresas que compram ou alugam o nome de algum estabelecimento, que pode ser de diversos setores tais como de espetáculos culturais, eventos esportivos, etc. Esses estabelecimentos são então batizados com o nome da própria empresa ou de algum produto relacionado a ela (SOUZA, 2015).

Os formatos publicitários atrelados à transmissão da Fórmula 1 na TV, de acordo com nossa análise da programação e com materiais promocionais do Grupo Globo distribuídos ao mercado anunciante52 são:

- Chamadas “caracterizadas” ou “integradas”: peça autopromocional produzida pela emissora para divulgação das transmissões de treinos e corridas. A marca dos patrocinadores é mostrada ao longo da chamada ou em forma de oferecimento colado ao final da chamada;

48 Disponível em: . Acesso em 17 mai. 2020. 49 Disponível em: . Acesso em 05 jun. 2020. 50 Disponível em: . Acesso em 25 out. 2020. 51 Disponível em: . Acesso em 25 out. 2020. 52 DEPARTAMENTO DE MARKETING DA REDE GLOBO, 2017, p. 49-55 40

- Comerciais: peças audiovisuais publicitárias veiculadas no break/intervalo de programas ou transmissões;

- Break exclusivo: “break/intervalo no qual é veiculado apenas o comercial de um anunciante. Não há exibição de peças autopromocionais da emissora” (TAVARES JUNIOR, 2019, p. 264);

- Top de 5 segundos: “contagem regressiva patrocinada para chamar a exibição do próximo programa” (PALACCE, 2016, p. 39)

- Vinheta integrada: inserção das marcas dos patrocinadores na vinheta de abertura da transmissão de cada corrida;

- Insert de vídeo com locução: durante a transmissão da corrida, são veiculados a marca e o slogan de cada patrocinador por meio de áudio do locutor da emissora (voz padrão institucional e não do narrador da corrida) acompanhados de um logotipo, uma arte ou grafismo visual relacionado ao anunciante;

- Oferecimento de vinheta de bloco: Consiste em uma “vinheta exibida no intervalo comercial do próprio programa ou evento que está sendo patrocinado, com o objetivo de reforçar o envolvimento do cliente” (DIREÇÃO GERAL DE NEGÓCIOS DA REDE GLOBO, 2005);

- Propriedades de arena do GP do Brasil: inserção física no Autódromo de Interlagos de placas que variam de 3 a 15 metros para ampliar a visibilidade das marcas durante a transmissão.

2.2.1 Plano comercial da Rede Globo

De acordo com o pré-plano comercial da temporada de 2017 de Fórmula 1 divulgado pela Rede Globo ao mercado publicitário, o Kantar Ibope Media registrou audiência média de 7,4 milhões de espectadores por minuto e alcance médio53 de 16,8 milhões de pessoas por corrida, em 2016, entre 1º de janeiro e 25 de setembro.

53 Segundo o Manual Básico de Mídia da Rede Globo, “alcance é o número total de pessoas diferentes atingidas com o conjunto de veiculações do comercial” (DIREÇÃO GERAL DE NEGÓCIOS DA REDE GLOBO, 2015, p. 15). 41

O pré-plano também contemplava a média de audiência e alcance de programas esportivos da emissora (Auto Esporte, Esporte Espetacular e Globo Esporte), de telejornais e programas que abordam a categoria (Jornal Nacional, Jornal da Globo e Fantástico), e de programas considerados estratégicos (Bom Dia Brasil, Sessão da Tarde, Globo Repórter, Altas Horas e Encontro com Fátima Bernardes) para a veiculação das inserções comerciais (DEPARTAMENTO DE MARKETING DA REDE GLOBO, 2017, p. 5). Todos os programas mencionados são exibidos em rede nacional.

Para contextualizar o potencial de consumo dos espectadores da Fórmula 1 na Globo, o Kantar Ibope Media definiu o target “Fãs F1” como “pessoas que assistem às corridas pessoalmente ou pela TV” e que são também “telespectadores frequentes da Globo e/ou usuários da Globo.com” (DEPARTAMENTO DE MARKETING DA REDE GLOBO, 2017, p. 10). Uma pesquisa foi feita entre fevereiro de 2015 e janeiro de 2016 e revelou que 71% dos integrantes do target são “otimista sobre as finanças”, 63% trabalham, 60% têm filhos, 58% são chefes de família e a renda média é 49% maior que a média da população brasileira (Ibid.). Esses fãs dedicaram em média 13 horas por semana à televisão em 2015, sendo sete delas sintonizadas na Globo (Ibid.).

O mesmo levantamento constatou o uso de mais de uma tela de exibição pelos espectadores: 100% deles assistiram à Fórmula 1 pela televisão, 78% pelo computador, 68% pelo celular e 11% pelo tablet (DEPARTAMENTO DE MARKETING DA REDE GLOBO, 2017, p. 7). Além disso, a quantidade de telas disponíveis pelos espectadores tem uma relação direta com a sintonia em transmissões esportivas e o convencimento de terceiros sobre os produtos que opinam. A pesquisa apontou que 59% dos fãs possuem três ou mais telas, e estes são 65% “mais ligados” nas transmissões e têm 67% de chance de “convencer outras pessoas sobre os produtos que comentam” (Ibid., p. 8). Segundo os dados obtidos, 95% dos fãs da Fórmula 1 “falam com outras pessoas sobre diversos produtos” (a pesquisa também incluiu informações sobre opiniões a respeito de serviços), sendo que 83% comentavam sobre telefonia, 78% sobre bebidas alcoólicas, 77% sobre automóveis, 75% sobre higiene pessoal, 74% sobre viagens e 71% sobre finanças (Ibid., p. 9).

A previsão para a semana dos dias 7 e 12 de julho, do Grande Prêmio da Grã- Bretanha de 2016, foi de alcance de 89 milhões de espectadores, sendo 48 milhões

42 de mulheres e 41 milhões de homens. O maior alcance se encontraria na classe C - 45 milhões - e na faixa etária acima de 50 anos - 33 milhões - (DEPARTAMENTO DE MARKETING DA REDE GLOBO, 2017, p. 25).

Entre 25 e 31 de julho de 2016, o Kantar Ibope Media avaliou o potencial consumidor dos espectadores da Fórmula 1 em relação a produtos anunciados pelas empresas patrocinadoras da transmissão (que naquele ano eram Cervejaria Petrópolis, Renault, Santander, Tim, Unilever e Zap Imóveis). Segundo os dados obtidos, 45,6 milhões possuíam ou pretendiam comprar um carro, 51 milhões possuíam conta corrente, 71,5 milhões possuíam telefone celular, 71,5 milhões eram consumidores dos produtos para higiene bucal, 27,1 milhões eram consumidores de cerveja, 46,5 milhões possuíam conta poupança, 68 milhões eram usuários de desodorante e antitranspirante, 43,2 milhões possuíam cartão de crédito e 20,5 milhões possuíam imóveis (DEPARTAMENTO DE MARKETING DA REDE GLOBO, 2017, p. 26).

A Globo listou cinco destaques do projeto para a temporada de 2017 para as empresas anunciantes54: cobertura (presença semanal na programação da emissora, alcance de 99,6% dos municípios do Brasil, 64,4 milhões de domicílios com TV e mais de 199 milhões de espectadores potenciais), frequência (visibilidade devido às inserções de anúncios na Globo e Globo.com de fevereiro a dezembro junto a seu público-alvo), associação à Fórmula 1, exclusividade (nas transmissões e breaks exclusivos na programação) e horizontalidade (presença das marcas em diferentes dias da semana totalizando 1110 inserções distribuídas ao longo dos onze meses contemplados pelo projeto55). O esquema comercial foi dividido em seis categorias para o planejamento das inserções: “Envolvimento”, “Transmissões”, “Cobertura Jornalística”, “Semana de Envolvimento GP Brasil”, “Mídia Complementar nas Semanas sem GP” e “Mídia de Apoio”.

A etapa de “Envolvimento” se referia aos meses de fevereiro e março, antes do início da temporada. Nela estavam previstas nove inserções, sendo sete vinhetas de bloco e dois comerciais de 30 segundos durante a exibição do programa Auto Esporte56, programa que contempla as notícias sobre os testes e performances dos

54 DEPARTAMENTO DE MARKETING DA REDE GLOBO, 2017, p. 32 55 Ibid., p. 53 56 Ibid., p. 36 43 carros e pilotos durante a cobertura da pré-temporada (DEPARTAMENTO DE MARKETING DA REDE GLOBO, 2017, p. 19). A média de audiência do Auto Esporte foi estipulada em 8,6 milhões e alcance médio de 13,8 milhões pelo levantamento do Kantar Ibope Media realizado entre 1º de janeiro e 25 de setembro de 2016 nas 15 regiões que compõem o PNT (Painel Nacional de Televisão)57.

A etapa de “Transmissões” se referia à cobertura das corridas da temporada, que são realizadas entre março e novembro. Estavam previstas 569 inserções nesta fase, divididas entre seis contextos diferentes58. O primeiro estava relacionado ao programa Sinal Verde, um boletim semanal exibido aos sábados e apresentado pelo comentarista Reginaldo Leme, com informações sobre os circuitos, histórico das provas e resultados dos treinos classificatórios (DEPARTAMENTO DE MARKETING DA REDE GLOBO, 2017, p. 19). Para o Sinal Verde estavam disponibilizadas 19 vinhetas de encerramento e 19 comerciais de 30 segundos. O segundo contexto se tratava das chamadas de transmissão, totalizando 300 chamadas caracterizadas. O terceiro contemplava as chamadas de envolvimento, contabilizando 35 chamadas integradas. O quarto se referia aos flashes caracterizados, dispondo de 25 vinhetas de encerramento. O quinto se relacionava com os resumos dos treinos, com 19 vinhetas de encerramento. O sexto e último contexto contemplava as transmissões das provas, dispondo de 19 vinhetas de abertura, 38 comerciais de 30 segundos, 38 inserts de vídeo com locução, 38 replays e 19 vinhetas de encerramento (Ibid., p. 36).

A etapa de “Cobertura Jornalística” se referia aos meses de março a novembro e contemplava 315 inserções em sete programas jornalísticos de horários diferentes: Bom Dia Brasil, Globo Esporte, Jornal Nacional, Jornal da Globo, Esporte Espetacular, Fantástico e Hora Um (DEPARTAMENTO DE MARKETING DA REDE GLOBO, 2017, p. 37). O Bom Dia Brasil (cuja média de audiência estipulada pelo Kantar Ibope Media na pesquisa citada anteriormente era de 7,9 milhões com alcance médio de 16,8 milhões59) se disporia de 19 vinhetas de bloco às segundas-feiras e 19 comerciais de 30 segundos às terças. O Globo Esporte (média de audiência de 13 milhões e alcance médio de 20,1 milhões60) teria 38 vinhetas de bloco às sextas e sábados e 38

57 Ibid., p. 5 58 Ibid., p. 36 59 Ibid., p. 5 60 Idem nota 59. 44 comerciais de 30 segundos às quintas e segundas. O Jornal Nacional (média de audiência 26,2 milhões e alcance médio de 42,7 milhões61) apresentaria 38 vinhetas de bloco às sextas e segundas e 19 comerciais de 30 segundos às sextas. O Esporte Espetacular (média de audiência de 9,5 milhões e alcance médio de 28,8 milhões62) teria 15 vinhetas de bloco e 15 comerciais de 30 segundos em dias alternados. O Fantástico (média de audiência de 19,7 milhões e alcance médio de 47 milhões63) disporia de 19 vinhetas de bloco aos domingos de fins de semana com GP’s. Por fim, o Hora Um teria 16 vinhetas de bloco às sextas e 19 comerciais de 30 segundos às segundas (Ibid., p. 37).

A etapa da “Semana de Envolvimento GP do Brasil” estava programada para mês de novembro e englobava as estratégias adotadas para o Grande Prêmio do Brasil. Estavam previstas seis inserções: um insert de marca no clipe de abertura da corrida em questão, duas vinhetas de bloco no Globo Esporte, e três comerciais de 30 segundos: um durante a “Novela II”, um no “Show de Quinta II” e um no programa Caldeirão do Huck (DEPARTAMENTO DE MARKETING DA REDE GLOBO, 2017, p. 38).

A etapa de “Mídia Complementar nas semanas sem GP” correspondia a breaks exclusivos para os patrocinadores da transmissão em semanas sem corridas entre os meses de março a dezembro. No total seriam disponibilizadas 95 inserções na forma de 19 comerciais de 30 segundos para cada um dos seguintes programas: Encontro com Fátima Bernardes (média de audiência de 8,2 milhões e alcance médio de 17,3 milhões64) às segundas-feiras, Sessão da Tarde (média de audiência de 10,8 milhões e alcance médio de 23,8 milhões65) às quintas, Show de Sexta Feira II, Altas Horas (média de audiência de 10,1 milhões e alcance médio de 23,5 milhões66) aos sábados e Fantástico aos domingos. Tais inserções estavam livres de alterações por parte da emissora (DEPARTAMENTO DE MARKETING DA REDE GLOBO, 2017, p. 38).

A última etapa, de “Mídia de Apoio”, contemplava 116 inserções na forma de comerciais de 30 segundos para utilização em mercado nacional durante o primeiro

61 Ibid. 62 Ibid. 63 Ibid. 64 Ibid. 65 Ibid. 66 Ibid. 45 semestre de 2017 (DEPARTAMENTO DE MARKETING DA REDE GLOBO, 2017, p. 39). Este total estaria dividido em 18 comerciais na Novela I, oito na Novela II e nos programas Tela Quente, Show de Terça-feira I, Globo Repórter (média de audiência de 20,2 milhões e alcance médio de 35,4 milhões67), Jornal Hoje, Show de Sexta-feira II e Auto Esporte, e 14 nos programas Mais Você, É de Casa e Pequenas Empresas (DEPARTAMENTO DE MARKETING DA REDE GLOBO, 2017, p. 39).

Os comerciais das marcas poderiam citar linhas de produtos, porém sem destaque para um produto específico, além de serem permitidas trocas de materiais a cada 10 dias. Os preços não poderiam ser divulgados em áudio, porém em vídeo desde que ocupassem até 1/8 da tela. As aberturas, encerramentos, chamadas, vinhetas de bloco e inserts de vídeo com locução teriam cinco segundos de duração e os flashs jornalísticos três segundos e contemplariam apenas a marca (DEPARTAMENTO DE MARKETING DA REDE GLOBO, 2017, p. 58).

O recurso de vinheta integrada é utilizado pela Rede Globo como maneira de introduzir o evento esportivo a ser exibido e destacar as marcas responsáveis por sua transmissão no Brasil. No caso da Fórmula 1, ela precede a vinheta oficial elaborada pela Liberty Media, na qual os destaques são os pilotos68. A vinheta integrada é um

formato em que o logotipo do anunciante aparece na vinheta de abertura e/ou nas vinhetas de passagem (ida e volta para break/intervalo) do programa ou transmissão esportiva. Geralmente, apenas anunciantes que adquirem uma cota de patrocínio do programa conseguem ter sua marca exposta na vinheta. Trata-se de um formato que não pode ser adquirido de maneira avulsa (TAVARES JUNIOR, 2019, p. 274)

A vinheta de abertura elaborada pela Rede Globo para o ano de 2019 é constituída por uma animação gráfica em 3D. Nela aparecem detalhes de partes dos carros (asa dianteira, asa T, lateral, luva do piloto, entre outras) contendo logotipos dos patrocinadores da transmissão: Renault, TIM, Itaipava, Nivea, Santander, NET69. Em seguida, um motor de carro é coberto por vasos sanguíneos e se transforma num coração pulsante70. Por fim, surge um painel de luzes, corta para um plano detalhe no

67 Ibid. 68 Disponível de 00’00’’ a 00’35’’ em: . Acesso em 05 jun. 2020. 69 Disponível de 00’00’’ a 00’21’’ em: . 70 Disponível de 00’22’’ a 00’28’’ em: . 46 olho de um piloto, depois em outro abaixando a viseira do capacete e para um plano geral dos carros sendo vistos de costas71 antes do surgimento do logotipo da Fórmula 1 enquanto programa televisivo (transmissão esportiva), que se difere do logotipo da Fórmula 1 enquanto entidade e categoria automobilística72.

De acordo com o pré-plano da Globo para a temporada de Fórmula 1 de 2017, os patrocinadores marcariam presença no Autódromo de Interlagos através de uma placa Jumbo (8x5m) e uma placa sênior (15x3m) para cada um, disponibilizadas em fila, visando destaque na arena e nos vídeos de transmissão, além de impacto nacional e internacional. Para esta divulgação é dada o nome de “propriedades de arena” (DEPARTAMENTO DE MARKETING DA REDE GLOBO, 2017, p. 49).

Figura 1 - Simulação de instalação de placas de propriedades de arena para o Autódromo de Interlagos

Fonte: Pré-plano comercial de Fórmula 1 da Rede Globo (2017)

A Globo ainda disponibilizaria duas “propriedades promocionais”: o Premium Paddock Club e a Tribuna VIP. Cada cotista teria direito a 30 convites para o primeiro, que consiste em uma área exclusiva sobre os boxes das equipes. Também contariam com 70 convites para a segunda, uma arquibancada localizada na final da reta oposta, podendo assistir aos treinos livres, classificação e corrida (DEPARTAMENTO DE MARKETING DA REDE GLOBO, 2017, p. 50).

O plano de 2017 para a cobertura da Fórmula 1 previa seis cotas nacionais e preço de R$ 87,2 milhões de reais (DEPARTAMENTO DE MARKETING DA REDE GLOBO, 2017, p. 53). As patrocinadoras de 2016 disporiam de prioridade na compra

71 Disponível de 00’29’’ a 00’37’’ em: . 72 Disponível de 00’38’’ a 00’42’’ em: . 47 até o dia 7 de novembro do mesmo ano e o pagamento deveria ser feito em até dois dias depois desta data (Ibid., p. 57).

2.3 Audiência da Fórmula 1 no Brasil nas décadas de 2000 e 2010

A medição de audiência televisiva no Brasil começou por meio de pesquisas de metodologia flagrante (quando o pesquisador comparecia sem aviso prévio às residências de alguns espectadores para fazer perguntas sobre o consumo televisivo). Posteriormente foram implementadas tecnologias de mensuração de audiência por meio de equipamentos: em 1969, por meio de um aparelho chamado TVmetro (que teve dois modelos durante sua implementação), instalado em 220 casas em São Paulo pela empresa Kantar Ibope Media (PEZZOTTI, 2019). Em 1983 foi criado o TVTron, um aparelho com memória semelhante à dos computadores e que gravava as informações de audiência em fitas (recolhidas em domicílio pelo instituto responsável pela pesquisa). Em 1988 foi implementada na Grande São Paulo a medição de audiência em tempo real por meio de aparelho peoplemeter. A partir de 1992 foi possível medir a audiência individual por meio do uso de um controle remoto do Ibope no qual cada morador da residência deveria se identificar. O quarto modelo do DIB entrou em uso em 1995, trazendo inovações tecnológicas como um sintetizador interno que comparava os áudios de cada um dos canais com o do televisor, além de identificar o sistema de TV por assinatura, videogames e DVDs. Desde 2012 é utilizada a sexta versão do DIB, que consegue identificar o canal sintonizado por meio do reconhecimento do áudio (Ibid.).

É importante destacar que a coleta de dados de audiência televisiva é feita por amostragem, ou seja, não são todos os aparelhos de televisão que são monitorados pelo Kantar Ibope Media. Esse instituto realiza um levantamento socioeconômico com base nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para definir as regiões mais indicadas para a pesquisa e os domicílios participantes. O acordo entre os moradores das residências contabilizadas na pesquisa e o Kantar Ibope Media é firmado com um pacto de confidencialidade, sendo vetada a identificação dos participantes e funcionários da pesquisa (PEZZOTTI, 2019).

48

No âmbito desta monografia optou-se por analisar os dados relacionados às décadas de 2000 e 2010, além da audiência das corridas da temporada de 2020 realizadas durante a elaboração do TCC.

De acordo com a jornalista Cristina Padiglione, analisando o período entre 2002 e o dia 16 de agosto de 2020 - data da realização do Grande Prêmio da Espanha (FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE AUTOMOBILISMO, 2020c; PERANTONI; PINHEIRO, 2020b) -, o ano de 2002 registrou média de audiência de 19,4 pontos e 54% de share73. A média de audiência refere-se ao percentual de domicílios com pelo menos um aparelho de TV sintonizado na emissora (cada ponto equivale a 1% das residências da região pesquisada). O share corresponde à audiência de um canal em relação ao total de domicílios com TV ligada no mesmo horário. O ano seguinte apresentou a maior audiência do período analisado, com 21 pontos e 58% de share, enquanto que 2013 teve o pior desempenho, com 8 pontos e 30% de share. Até o dia 16 de agosto, tendo sido realizadas seis corridas, a média de audiência registrada para 2020 foi de 9,2 pontos (cada ponto equivalente a 74.987 domicílios na Grande São Paulo) e 25,3% de share (PADIGLIONE, 2020). De acordo com o jornalista Leandro Sarubo, mais de 36 milhões de espectadores foram registrados em 2020 pelo Kantar Ibope Media nas 15 regiões que compõem o Painel Nacional de Televisão (PNT)74, sendo que 13 milhões desse total se encontram nas classes A e B (SARUBO, 2020).

Figura 2 - Tabela de média de audiência e share das temporadas de Fórmula 1 de 2002 a 2020 (até o dia 16 de agosto)

73 Na definição de Leandro Sarubo, “share representa, em porcentagem, a participação de determinado programa ou emissora no total de televisores ligados dentro de uma faixa horária” (SARUBO, 2018). 74 Regiões metropolitanas de Belém, Belo Horizonte, Brasília, Campinas (SP), Curitiba, Florianópolis, Fortaleza, Goiânia, Manaus, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Vitória (MORAIS, 2018). 49

Fonte: TelePadi, 2020

Para o jornalista esportivo Felippe Santos, o aumento na competitividade da Fórmula 1 enquanto categoria esportiva possibilitou a elevação da audiência. Segundo ele, mesmo sem um piloto brasileiro, as corridas são atrativas para o público do Brasil porque a modalidade permite mais disputas pela vitória entre diferentes equipes e pilotos em relação a anos atrás, embora haja uma predominância da equipe Mercedes e do piloto Lewis Hamilton - campeão em 2008, 2014, 2015, 2017, 2018 e 2019 (FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE AUTOMOBILISMO, 2014, 2015, 2017b, 2018, 2019a; VASCONCELLOS, 2013, p. 208)75.

Eu acho que há uns anos atrás, cerca de 10 anos atrás, [...] faltava emoção nas corridas. Quem ganhava geralmente ganhava com muita facilidade. Hoje acontece isso ainda com o [Lewis] Hamilton, mas porque ele é muito acima da média, tanto ele quanto o carro que ele tem. Mas há uns tempos atrás eu acho que era muito difícil você ver muita ultrapassagem, por exemplo. Não era algo competitivo que te fazia atrair, ficar na frente de uma TV, para ver uma corrida, sabe? Eu acho que de uns três, quatro anos para cá, isso voltou a ter. As corridas voltaram a ser emocionantes. Voltou a ser legal ver uma corrida de Fórmula 1, mesmo não tendo um piloto brasileiro. Eu acho que a competitividade da categoria acabou fazendo com que isso acontecesse.

75 Até a data de finalização do TCC, Hamilton era o líder do campeonato de 2020, com 256 pontos (COLLANTINE, 2020). 50

De acordo com o jornalista automotivo Sergio Quintanilha a ideia de que os brasileiros se desinteressaram da Fórmula 1 devido à falta de um piloto conterrâneo na categoria não procede, pois os torcedores do esporte o acompanham independentemente da nacionalidade dos atletas. Quintanilha afirma que só há um desinteresse entre os torcedores que acompanhavam a Fórmula 1 unicamente pelos pilotos brasileiros, não pelo esporte em si, e que a tendência é que a categoria conquiste mais torcedores devido aos investimentos em divulgação nas redes sociais, atraindo atenção de jovens e mulheres.

Aconteceu [aumento da audiência no Brasil após a aposentadoria de Felipe Massa mesmo sem mais pilotos brasileiros no grid] porque, na verdade, as pessoas que gostam de Fórmula 1 nunca abandonaram a Fórmula 1. E pelo contrário, vem aumentando, vem aumentando o número de mulheres que gostam de automobilismo. Então aquela ideia de que da Fórmula 1 o brasileiro não gosta mais: as pessoas não gostam [mais] porque torciam para o [Nelson] Piquet e para o [Ayrton] Senna. Quem gosta de Fórmula 1 continua gostando e aos poucos [a audiência] vem aumentando sim porque vai se formando um novo público. E esse novo público está se formando também porque a Fórmula 1 se modificou: ela está mais próxima das redes sociais e isso trouxe uma melhoria, um aumento no público, inclusive um público mais jovem, e feminino também.

O argumento de Sergio Quintanilha é comprovado por um estudo realizado pela Liberty Media (divulgado em 21 de janeiro de 2020), que apontou o crescimento de 32,9% da Fórmula 1 nas redes sociais em 2019 em relação ao ano anterior. Nos últimos dois anos foi registrado um aumento de 62% dos seguidores com menos de 35 anos, sendo o Brasil o segundo país com o maior número de seguidores (54,7 milhões), ficando apenas atrás da China, com 81,3 milhões (ANDRADE, C., 2020).

Em relação à audiência das quatro corridas de 2019 analisadas no TCC, realizou-se um levantamento dos índices aferidos pelo Kantar Ibope Media na média de cada transmissão na Grande São Paulo. De acordo com o instituto de pesquisa, em 2019 cada ponto representava cerca de 73 mil domicílios. O Grande Prêmio de Mônaco registrou 10,5 pontos (PORTAL O PLANETA TV, 2019c; SARUBO, 2019). Houve um aumento de 1,2 pontos em relação à etapa do ano anterior (SIMON, 2019). O Grande Prêmio da França obteve 9,5 pontos (PORTAL O PLANETA TV, 2019b; SIMON, 2019), o do Japão marcou 6,0 pontos (PORTAL O PLANETA TV, 2019d; NOTÍCIAS DA TV, 2019) e o do Brasil teve média de 12 pontos, a maior do ano

51

(PORTAL O PLANETA TV, 2019a; LUCAS, 2019b). A média da temporada de 2019 na Globo foi de 9,0 pontos, o melhor desempenho em oito anos (LUCAS, 2019b). Estima-se que 98,3 milhões de brasileiros acompanharam pelo menos uma corrida na TV aberta (LUCAS, 2019b; MOTORSPORT, 2019b).

52

3 LINGUAGEM CONTEMPORÂNEA DA DIVULGAÇÃO E DA TRANSMISSÃO TELEVISIVA DA FÓRMULA 1 NO BRASIL

Em 2019 a Fórmula 1 foi narrada por quatro apresentadores: Cléber Machado, Galvão Bueno, Luís Roberto de Múcio e Sérgio Maurício. Os três primeiros foram encarregados de apresentar corridas exibidas no canal aberto da Rede Globo, enquanto Maurício narrou as edições transmitidas pelo SporTV (com exceção do Grande Prêmio do Japão, apresentado em rede aberta). Os comentários ficaram ao cargo de Reginaldo Leme e Luciano Burti, além de participações esporádicas de Felipe Giaffone (que substituiu Leme após a demissão deste antes do Grande Prêmio de Abu Dhabi). Entre os quatro narradores, apenas dois possuem formação acadêmica76: Machado é graduado em Jornalismo pela FMU (FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS, 2011) e Múcio é graduado em Jornalismo pela Universidade Católica de Santos - UniSantos (BRAGA, 2018). Há diferenças e peculiaridades no modo narrativo de cada apresentador, mas uma característica notada em todos é certa informalidade para aproximar o telespectador do evento e criar uma atmosfera descontraída, com ar de entretenimento, mais do que jornalístico.

Para analisar a temporada de 2019 foram escolhidas quatro corridas como objeto de estudo, cada uma narrada por um apresentador diferente: os Grandes Prêmios de Mônaco, da França, do Japão e do Brasil. A primeira prova foi escolhida devido à sua relevância para a categoria: tendo Ayrton Senna (1960-1994), campeão em 1988, 1990 e 1991 (VASCONCELLOS, 2013, p. 208), como seu maior vencedor (conquistou-a seis vezes77), a etapa de Mônaco é apelidada de “a joia da coroa da Fórmula 1”, formando a “tríplice coroa do automobilismo” junto com as 500 Milhas de Indianápolis e as 24 Horas de Le Mans; seu prestígio se deve ao traçado estreito e de difícil ultrapassagem do Circuito de Monte Carlo, além de ser uma das corridas mais rentáveis economicamente da Fórmula 178 (CHILLINGSWORTH, 2017). A segunda prova foi a única narrada por Cleber Machado em 2019, logo teve de ser escolhida

76 A falta de curso superior de Galvão Bueno já foi satirizada na internet (MESQUITA, 2009). 77 Senna venceu o Grande Prêmio de Mônaco em 1987, 1989, 1990, 1991, 1992 e 1993. Disponível em: . Acesso em 18 out. 2020. 78 Como relatado no capítulo 2, Mônaco é a única etapa da Fórmula 1 cuja receita publicitária é destinada totalmente a seus organizadores (COLLANTINE, 2010 apud MOURÃO, 2017, p. 79). 53 para a análise de seu trabalho. A terceira prova foi a única narrada por Sérgio Maurício disponibilizada no Globoplay, portanto teve de ser selecionada pelos mesmos motivos do Grande Prêmio da França. Pelas especificidades no tratamento do Grande Prêmio do Brasil na Rede Globo em relação às demais etapas (por se tratar do mesmo país da emissora), a quarta prova foi escolhida para compor o recorte do TCC.

3.1 Análise das peças autopromocionais (chamadas) da transmissão de Fórmula 1 da Rede Globo em 2019

Ao elaborar uma análise das peças autopromocionais da transmissão de cada uma das corridas de Fórmula 1 selecionadas para estudo de caso, levam-se em consideração seus elementos visuais e sonoros. Nota-se que todas as chamadas utilizam trechos das transmissões de corridas anteriores para destacar o desempenho de alguns pilotos e passar a emoção do esporte para o espectador. Trechos de narrações correspondentes às corridas exibidas nas chamadas são usados como elemento de união entre informações das etapas anteriores e expectativas da emissora para a corrida relativa à chamada.

Com a análise das peças autopromocionais, pretende-se identificar a mensagem que a emissora responsável (Rede Globo) pretende passar ao público e de que forma ela pode influenciar a opinião dos torcedores. Ao estudar os aspectos audiovisuais e linguísticos das chamadas e das transmissões são apontadas concordâncias e discrepâncias entre seus discursos e se reflete sobre o posicionamento dos profissionais da emissora sobre o campeonato.

3.1.1 Chamada do Grande Prêmio de Mônaco de 2019

Com duração de 35 segundos, a chamada do Grande Prêmio de Mônaco de 2019 veiculada pela Rede Globo começa com imagens de Lewis Hamilton cruzando a linha de chegada em primeiro lugar na etapa anterior, ocorrida na Espanha, com

54 trechos da narração de Galvão Bueno (“lá vem ele, lá vem ele”79). Em seguida, surge um painel digital de fundo azul e preto com informações sobre os feitos de Hamilton nessa prova escritas em preto e vermelho (“ele venceu a corrida, fez a volta mais rápida, voltou a ser o líder”80). Depois são mostradas imagens do piloto em seu carro e logo cumprimentando seu companheiro de equipe, , com a narração de Galvão ao fundo (“retoma a liderança do campeonato mundial”81). O painel indica as expectativas para a corrida seguinte (“e nas ruas de Mônaco quer ser o príncipe da velocidade”82), intercalando-as com dois comentários de Galvão: “dominou a corrida inteira”83 (acompanhando uma imagem de Hamilton no pódio) e “ninguém segura o inglês”84 (fundo para um plano detalhe de um celular filmando o piloto e depois um corte para Hamilton ajeitando o cabelo). Após essa retrospectiva, o painel indica, com letreiros em vermelho e narração com a “voz padrão” do locutor da emissora “domingo, 10 da manhã”85, seguido de um corte para planos detalhes de Hamilton fazendo um sinal com as mãos, as traseiras dos carros da Ferrari, o carro de fazendo uma curva, torcedores de Hamilton na arquibancada e de uma vista frontal de virando seu volante, com um comentário de Galvão ao fundo (“quem vence em Mônaco entra ‘pra’ (sic) história, sim senhor”86). Em seguida, o painel apresenta uma foto de uma fila de carros de Fórmula 1, desenhos de velocímetros e do Circuito de Monte Carlo, e uma imagem em 3D de um carro de Fórmula 1 visto de cima, além de um letreiro em branco e vermelho escrito “GP de Mônaco” contendo uma bandeira de Mônaco. A narração padrão diz “Grande Prêmio de Mônaco”87. Logo depois, aparecem imagens do carro de Lance Stroll sendo

79 Disponível de 00’00’’ a 00’01’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 80 Disponível de 00’01’’ a 00’06’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020 81 Disponível de 00’06’’ a 00’10’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 82 Disponível de 00’10’’ a 00’20’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 83 Disponível de 00’12’’ a 00’14’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 84 Disponível de 00’16’’ a 00’18’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 85 Disponível de 00’20’’ a 00’22’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 86 Disponível de 00’22’’ a 00’26’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 87 Disponível de 00’26’’ a 00’28’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 55 atingido por com uma afirmação de Galvão Bueno ao fundo (“isso é Fórmula 1, gente”88). Por fim, surge o logotipo da transmissão da categoria na Globo89, três planos detalhes de carros correndo pela pista com o som ambiente da corrida90, e o logotipo da Rede Globo em branco sobre um fundo azul escuro com linhas e pontos simulando constelações91. Durante toda a chamada, há uma música de fundo em inglês92.

Pelas imagens de Lewis Hamilton e trechos de narração de Galvão Bueno utilizados nos primeiros segundos da chamada, percebe-se uma exaltação da vitória do piloto inglês na corrida anterior e uma insinuação de que ele poderia ser um dos principais candidatos a vencer o Grande Prêmio de Mônaco. Os planos detalhes nos carros da Ferrari e no de Max Verstappen buscam indicar que estes pilotos também se destacaram na temporada até então. Porém, o então segundo colocado no campeonato, Valtteri Bottas (COLLANTINE, 2019), só aparece na chamada cumprimentando o companheiro Hamilton pela vitória, desvalorizando seu lugar na classificação. Como elemento instigante, a Globo optou por mostrar a colisão causada por Lando Norris em Lance Stroll, que retirou os dois da prova (COBB, 2019; GEORGE, 2019; PINHEIRO, 2019c), em vez da disputa entre Sebastian Vettel - campeão em 2010, 2011, 2012 e 2013 (FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE AUTOMOBILISMO, 2012, 2013; VASCONCELLOS, 2013, p. 208) -, da Ferrari, e a dupla da Mercedes (FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE AUTOMOBILISMO, 2019c; PINHEIRO, 2019c), formada por Hamilton e Bottas, que poderia exaltar a disputa acirrada pelo campeonato daquele ano. Ao optar pela colisão, a Globo exibe um embate presente não apenas na parte esportiva da Fórmula 1, como também na parte sociológica, uma vez que Stroll - piloto de etnia judaica e indígena (GROO, 2016; JEW OF THE WEEK, 2016; PINHEIRO, 2018b, 2019l; TEIXEIRA, 2017) - é um dos pilotos

88 Disponível de 00’28’’ a 00’30’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 89 Disponível de 00’30’’ a 00’31’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 90 Disponível de 00’31’’ a 00’33’’ em: . Acervo em 25 mar. 2020. 91 Disponível de 00’33’’ a 00’35’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 92 Disponível de 00’00’’ a 00’35’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 56 que mais sofrem discriminação racial por parte dos torcedores93 e da imprensa e Norris é muitas vezes utilizado como escudo para ocultar o racismo presente nas ofensas proferidas a Stroll94 (GOMES, L. 2019; PINHEIRO, 2019l).

3.1.2 Chamada do Grande Prêmio da França de 2019

A chamada televisiva para o Grande Prêmio da França de 2019 veiculada pela Rede Globo tem duração de 30 segundos e recorda alguns momentos da corrida anterior, no Canadá. Durante toda a peça autopromocional há uma música de língua inglesa ao fundo, que se mistura aos trechos de narração e impede o silêncio nos momentos sem comentários. As primeiras imagens exibidas são do carro de Sebastian Vettel passando pelo gramado da curva 4 do Circuito Gilles Villeneuve, seguido por Lewis Hamilton, com a voz do narrador Sérgio Maurício ao fundo dizendo “Olha o Vettel aí. Punido com cinco segundos”95. Logo após, surge um letreiro com o título “Uma decisão polêmica”, destacando a palavra “decisão” com a cor vermelha (em contraste com as outras, grafadas em preto) sobre um painel digital preto com uma faixa central azul clara, na qual é possível ver uma imagem de motor de carro96. Após um corte seco, tem início uma série de imagens com ênfase em Vettel, que

93 Um exemplo de ataque racial contra Stroll ocorreu no dia 11 de abril de 2020, durante o feriado judaico de Pessach, quando um internauta identificado como “offical_alexalbon” fez um comentário com apologia ao Holocausto em uma publicação do perfil oficial do The Racing Track no Instagram (disponível em: , acesso em 18 out. 2020). No dia 06 de maio de 2020, um internauta fez uma piada com a etnia indígena de Stroll no Twitter (disponível em: , acesso em 21 out. 2020). No dia 25 de maio de 2020, também no Twitter, em resposta à indagação “Fale uma verdade que ninguém aceita”, um internauta escreveu “Stroll sofre preconceito por ser índio” (disponível em: , acesso em 21 out. 2020). No dia 29 de setembro de 2019, a escuderia Red Bull Racing fez um tweet comparando o cabelo de Stroll (e, consequentemente, seu biotipo indígena) com um gorro russo, o que pode ser interpretado como uma piada de cunho racial (disponível em: , acesso em 19 out. 2020). Prints nos arquivos 10, 11, 12 e 13 disponíveis em: . 94 Tanto a autora do TCC (PINHEIRO, 2019l) quanto Nuno Sousa Pinto (GOMES, L., 2019) percebem uma tendência entre os detratores de Stroll de desmerecer seu talento e trajetória (creditando esta à sua condição financeira) e exaltar Norris, que possui menos conquistas na carreira e também provém de família rica. No entanto, Norris é branco e inglês, logo a fortuna de sua família não é vista de maneira negativa pela imprensa. Isso será abordado no capítulo 4. 95 Disponível de 00’00’’ a 00’05’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 96 Disponível de 00’06’’ a 00’08’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 57 aparece apontando o dedo para cima enquanto ainda está em seu carro97, depois gravações de sua câmera onboard em seu capacete no momento em que cruza a linha de chegada (a voz de Sérgio Maurício surge ao fundo, afirmando “E lá vem o Vettel...”98), uma vista frontal do piloto dirigindo99, e por fim Vettel percorrendo um trecho da pista com a câmera se aproximando de sua asa traseira (Sérgio Maurício narra “...ultrapassando a linha de chegada...”100). Em seguida, aparece um plano aberto em que Lewis Hamilton finaliza sua prova e o narrador afirma “..., mas a vitória é dele...”101. Sérgio Maurício complementa “É do inglês” enquanto surge o painel digital com os dizeres “Uma vitória inesperada” (com destaque para a última palavra102). Logo após há um plano fechado no carro de Hamilton e o narrador afirma “Brilha a estrela de Lewis Hamilton”103. Aparece a primeira imagem de um dos pilotos fora do carro: Hamilton, de celular na mão, tira o fone de ouvido enquanto é seguido por um operador de câmera do Canal +, e então vem um plano detalhe no perfil de seu rosto104. O foco volta para Vettel, com uma imagem da vista aérea do piloto empurrando seu carro estacionado105. Logo após, o painel digital, cuja faixa azul claro revela imagens de carros perto de largar, indica quando será a próxima corrida por meio de um letreiro em preto e vermelho com as palavras “próximo domingo”, e o horário “10:00” escrito em vermelho (a narração padrão afirma “próximo domingo, 10 da manhã”106). Entra um plano fechado do carro de passando rente ao muro (primeiro em uma perspectiva frontal e depois um foco em sua asa

97 Disponível de 00’08’’ a 00’09’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 98 Disponível de 00’09’’ a 00’10’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 99 Disponível de 00’10’’ a 00’11’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 100 Disponível de 00’11’’ a 00’12’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 101 Disponível de 00’12’’ a 00’14’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 102 Disponível de 00’14’’ a 00’16’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 103 Disponível de 00’16’’ a 00’18’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 104 Disponível de 00’18’’ a 00’19’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 105 Disponível de 00’19’’ a 00’20’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 106 Disponível de 00’20’’ a 00’22’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 58 traseira107), cortando para as imagens de sua câmera onboard acima do capacete no momento de sua batida contra o muro dos boxes, bem como um plano geral deste mesmo instante108. Um novo painel digital surge, com uma imagem em 3D de um carro de Fórmula 1 visto de cima, dois velocímetros, uma foto de carros em fila em uma corrida e o traçado do Circuito Paul Ricard (também conhecido como Le Castellet). Um letreiro abaixo da imagem do carro indica “GP da França”, destacando o nome do país-sede do evento em vermelho em contraste com a cor azul clara das demais palavras. Uma bandeira francesa é posicionada ao lado dos dizeres “GP da” e em cima do nome “França”. A narração padrão anuncia “Grande Prêmio da França”109. Entra a gravação de Charles Leclerc percorrendo um trecho da pista (com planos semelhantes aos da gravação de Magnussen110), uma visão frontal do carro de Valtteri Bottas seguida imediatamente de um plano detalhe de Vettel apontando o dedo indicador para cima enquanto dirige, e um close na asa traseira de Magnussen (ao fundo, a voz de Galvão Bueno diz “Fórmula 1 na Globo, emoção na pista”111). Encerrando a chamada, o logotipo da Rede Globo surge em branco sobre um fundo escuro simulando um céu estrelado112.

A escolha de imagens e palavras para descrever os acontecimentos do Grande Prêmio do Canadá insinua que não havia expectativas para a vitória de Lewis Hamilton e infere a Sebastian Vettel grandes habilidades nas pistas. Quando Sérgio Maurício afirma que o piloto alemão recebeu uma punição, há um tom de indignação em sua voz. A chamada não mostra as cenas do incidente que levou à penalidade de Vettel: este havia espremido Hamilton contra o muro ao voltar para a pista depois de perder o controle do carro e passar pelo gramado da curva 4 (BENSON, 2019b; PINHEIRO, 2019e; UOL, 2019). Ao omitir este fato, a chamada sugere que a decisão dos comissários foi arbitrária e feita unicamente para beneficiar o rival do então piloto

107 Disponível de 00’22’’ a 00’23’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 108 Disponível de 00’23’’ a 00’24’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 109 Disponível de 00’24’’ a 00’26’’ em :. Acesso em 25 mar. 2020. 110 Disponível de 00’26’’ a 00’28’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 111 Disponível de 00’28’’ a 00’30’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 112 Disponível de 00’30’’ a 00’31’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 59 ferrarista. Segundo a espectadora Elizete Alves, que acompanhou a transmissão da prova pelo SporTV, Sérgio Maurício não gostou do resultado da corrida, negou que houve erro por parte de Vettel e ainda amenizou a gravidade do comportamento pós- corrida do atleta e de seus torcedores.

[Sebastian] Vettel espremeu Lewis Hamilton contra o muro e recebeu uma punição de cinco segundos, perdendo a vitória. Vettel invadiu a garagem da Mercedes, intimidando a equipe de Hamilton, trocou as placas de primeiro e segundo lugar das vagas do pódio, e isso foi classificado por Sérgio Maurício como um “nervosismo”, “que não foi por mal”. Também justificou as vaias e desrespeito da torcida ferrarista contra Hamilton113 (Elizete Alves, 60 anos, torcedora de Fórmula 1 desde 1972).

Diante dos fatos, nota-se um caráter persuasivo da chamada, pois a mesma tenta convencer o espectador do ponto de vista do narrador da prova ao destacar a figura de Sebastian Vettel e ocultar seus erros, principalmente a manobra que gerou a punição. Seis dos oito torcedores entrevistados afirmam que alguns narradores da Fórmula 1 no Brasil tendem a favorecer a Ferrari, o que pode levar ao questionamento de que se trata de uma escolha individual de cada um ou de uma pressão da emissora. O especialista Sergio Quintanilha afirma que os interesses da emissora têm influência direta no discurso adotado pelos narradores e comentaristas: “liberdade de imprensa é um mito. [Ela] existe até um certo momento. Sempre os interesses de uma emissora, de um canal, de um jornal, vão influenciar sim de alguma forma a cobertura”.

Segundo o especialista Danilo Cardoso, os profissionais da Globo “escolhem um ‘herói’ para fazer as pessoas torcerem por aquela pessoa e segurar a audiência”114, apesar de não ser uma postura muito ética. O especialista Felippe Santos não acredita que os valores da emissora influenciem diretamente o discurso narrativo das transmissões, exceto em questões comerciais (como no caso de não mencionar o nome da Red Bull, optando por RBR). Porém, declara que os jornalistas

113 A defesa de Maurício à atitude de Vettel relatada por Elizete também foi notada por internautas (vide anexo C) que comentaram na matéria do portal UOL disponível em: . Acesso em 31 ago. 2020. 114 Cardoso cita como exemplos a cobertura favorável da Globo a Leclerc em 2019 e desfavorável a Mark Webber durante o tempo que este correu na Fórmula 1, de 2002 a 2013 (disponível em: , acesso em 24 out. 2020). 60 devem ser sinceros com o público e admitir quando há parcialidade favorável a uma equipe, embora não seja o que ocorre na realidade.

Eu acho que em relação não só à Fórmula 1 como outros esportes, eu acho que ele [o narrador ou comentarista] pode ter até a escuderia dele, mas na hora de passar a informação ele não pode distorcer. A não ser que ele deixe isso muito bem claro para o público: “eu sou parcial, eu gosto dessa escuderia, eu gosto desse time, e quando for envolver esse time eu vou tender mais para ele”. Mas nenhum jornalista faz isso [admitir parcialidade], mesmo os que acabam fazendo isso sem falar.

Por meio da narrativa da chamada do Grande Prêmio da França de 2019, a Rede Globo adota a visão de Sérgio Maurício e ignora a imparcialidade esperada de uma emissora, pois não dá a liberdade para o público analisar os fatos e tirar suas próprias conclusões sobre o resultado do Grande Prêmio do Canadá.

3.1.3 Chamada do Grande Prêmio do Japão de 2019

A chamada do Grande Prêmio do Japão de 2019 veiculada pela Rede Globo possui duração de 50 segundos. Diferente das chamadas para os Grandes Prêmios de Mônaco e da França, esta peça autopromocional começa com uma imagem do painel de luzes vermelhas que dá início à corrida ao lado de um monitor que projeta a bandeira russa115. A imagem é, seguida imediatamente pelo registro da câmera onboard do capacete de Charles Leclerc no momento de sua largada no Grande Prêmio da Rússia de 2019116, um plano geral de alguns carros seguindo o traçado do Autódromo de Sochi117, novamente uma tomada da câmera onboard de Leclerc que mostra a tentativa de ultrapassagem de Sebastian Vettel118, uma vista aérea dos carros disputando posições, principalmente Leclerc e Vettel119, e outra dos dois pilotos

115 Disponível de 00’00’’ a 00’01’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 116 Disponível de 00’01’’ a 00’02’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 117 Disponível de 00’02’’ a 00’03’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020 118 Disponível de 00’03’’ a 00’05’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 119 Disponível de 00’05’’ a 00’06’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 61 ferraristas duelando na curva 4, próximo à Tribuna Daniil Kvyat120. Do momento 00’02’’ até o 00’07’’ ouve-se a narração de Luís Roberto de Múcio (“E já passou o Sebastian Vettel, pegou a primeira posição do Leclerc. O Hamilton é terceiro, o Leclerc é segundo”121). Surge então um painel digital escuro, com uma faixa central azul clara contendo uma imagem de motor de carro e um letreiro em preto e vermelho com título lido pela narração padrão: “não basta largar bem” (há um destaque para a palavra “largar”, grafada em vermelho122). Depois entra uma imagem captada pela câmera onboard do capacete de Vettel no momento que o piloto é forçado a parar o carro próximo ao muro123, seguida por uma vista aérea de Vettel pulando para fora do veículo (ao fundo, a voz de Múcio narra “Estacionou, ‘tá’ (sic) fora o Vettel”124). O painel digital ressurge, dessa vez com uma imagem de um manequim de rosto humano feito de gesso e um letreiro lido pela narração padrão: “não basta estar em alta” (com ênfase na última palavra125). Logo depois, surge um plano aberto do carro de Valtteri Bottas sendo perseguido pelo de Leclerc126, uma vista aérea dos dois carros127 e um plano fechado com visão frontal do veículo do piloto monegasco128. Durante todo esse trecho, Múcio afirma “Agora o Leclerc bota de lado. ‘‘Tô’ (sic) aqui, preciso passar’”129. O painel digital ressurge, com a foto de uma lateral de carro de Fórmula 1 na faixa azul clara, e o título “tem que derrotar a lenda” lido pela narração padrão, contendo um duplo destaque na palavra “lenda” (escrita em vermelho e sublinhada130). O foco da chamada muda para Lewis Hamilton, mostrando um plano

120 Disponível de 00’06’’ a 00’07’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 121 Disponível de 00’02’’ a 00’07’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 122 Disponível de 00’07’’ a 00’09’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 123 Disponível de 00’09’’ a 00’10’’ em . Acesso em 25 mar. 2020. 124 Disponível de 00’10’’ a 00’11’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 125 Disponível de 00’11’’ a 00’13’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 126 Disponível de 00’13’’ a 00’14’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 127 Disponível de 00’14’’ a 00’15’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 128 Disponível de 00’15’’ a 00’16’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 129 Disponível de 00’13’’ a 00’16’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 130 Disponível de 00’16’’ a 00’18’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 62 geral de sua chegada em primeiro lugar (com sua equipe comemorando nas grades dos boxes e a bandeira quadriculada sendo balançada131), depois uma imagem frontal do piloto mexendo em seu volante e comemorando a vitória132, uma do mesmo em pé sobre seu carro festejando o resultado133, em seguida abraçando os membros de sua equipe134, beijando a taça de vencedor135, e participando da celebração no pódio, com Bottas o molhando com a champagne136. Neste trecho, Múcio narra “Lewis Hamilton! Vitória de número 83 na carreira”137. Com o retorno do painel digital, que apresenta os carros disponibilizados em um grid de largada, surge um letreiro preto e vermelho com o título “madrugada de sábado para domingo” (com destaque nas últimas três palavras) e o horário “2:00”. Ouve-se ao fundo a narração padrão indicando: “na madrugada de sábado para domingo, duas da manhã”138. Há um corte para um plano fechado contendo o carro de Max Verstappen ultrapassando o de Lando Norris (primeiro uma visão frontal de ambos e depois uma perspectiva traseira da ultrapassagem139), depois uma imagem de Alexander Albon percorrendo um trecho da pista140, um plano geral de Sergio Pérez ultrapassando Kevin Magnussen e a equipe da Racing Point aplaudindo do paddock o feito de seu piloto141. Neste trecho, Múcio afirma “’Tá’ (sic) linda a briga na Fórmula 1! É uma nova corrida”142. Surge um painel escuro contendo um carro de Fórmula 1 em 3D no centro do quadro, dois velocímetros, uma foto de um grid de largada e um título em azul e vermelho escrito

131 Disponível de 00’18’’ a 00’19’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 132 Disponível de 00’19’’ a 00’21’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 133 Disponível de 00’21’’ a 00’22’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 134 Disponível de 00’22’’ a 00’24’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 135 Disponível de 00’24’’ a 00’25’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 136 Disponível de 00’26’’ a 00’25’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 137 Disponível de 00’18’’ a 00’25’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 138 Disponível de 00’25’’ a 00’30’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 139 Disponível de 00’30’’ a 00’31’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 140 Disponível de 00’31’’ a 00’32’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 141 Disponível de 00’32’’ a 00’33’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 142 Disponível de 00’30’’ a 00’33’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 63

“GP do Japão”, com destaque para o nome do país-sede e uma bandeira japonesa em cima da letra J. A narração padrão anuncia “Grande Prêmio do Japão”143. Logo após, são exibidas imagens de Max Verstappen dirigindo144, de Leclerc passando pelos boxes145, dos dois carros da Toro Rosso se enfrentando146 e de sendo ultrapassado por Magnussen147. Após anunciar a corrida, a narração padrão continua por todo o trecho descrito: “E a Globo entra na pista com uma equipe de grandes marcas”148. Um fundo escuro aparece, com os logotipos das empresas patrocinadoras da transmissão no Brasil sendo exibidos um a um enquanto seus nomes são anunciados pela narração padrão: “NOW, Renault, TIM, Itaipava, Nivea Men, Santander”149. Há um corte para uma gravação feita pela câmera onboard do capacete de no momento em que seu carro é atingido pelos de Grosjean e Daniel Ricciardo150, depois um plano aberto do carro de contornando uma curva151, e finalmente o logotipo da transmissão da Fórmula 1 no Brasil152. Do momento 00’47’’ ao 00’50’’, Múcio diz o lema que normalmente é dito por Galvão Bueno: “Fórmula 1 na Globo, emoção na pista”153.

Percebe-se que a chamada do Grande Prêmio do Japão de 2019 distribui o foco entre os pilotos da Ferrari, que começaram liderando a prova e depois um deles - Sebastian Vettel - foi forçado a abandonar, e Lewis Hamilton, vencedor da etapa e líder do campeonato até então. Alguns momentos marcantes do Grande Prêmio da Rússia (corrida anterior à anunciada pela peça autopromocional), como o acidente

143 Disponível de 00’33’’ a 00’35’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 144 Disponível de 00’35’’ e 00’36’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 145 Disponível de 00’36’’ a 00’38’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 146 Disponível de 00’38’’ a 00’39’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 147 Disponível de 00’39’’ a 00’40’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 148 Disponível de 00’35’’ a 00’40’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 149 Disponível de 00’40’’ a 00’47’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 150 Disponível de 00’47’’ a 00’48’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 151 Disponível de 00’48’’ a 00’49’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 152 Disponível de 00’49’’ a 00’50’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 153 Disponível de 00’47’’ a 00’50’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 64 entre Antonio Giovinazzi, e Romain Grosjean, foram escolhidos para ilustrar o quão emocionante pode ser um Grande Prêmio de Fórmula 1. O narrador Luís Roberto de Múcio utiliza adjetivos - como “linda” e “nova” - para cativar o espectador a se interessar pela categoria, além de simular um pensamento de Charles Leclerc para que o público acompanhe o suposto sentimento do monegasco (“‘Tô’ (sic) aqui, preciso passar”). Ao comentar uma experiência semelhante protagonizada por Galvão Bueno, Nelson Piquet - campeão de Fórmula 1 em 1981, 1983 e 1987 (VASCONCELLOS, 2013, p. 208) - criticou essa tentativa de descobrir o que o piloto está pensando no momento, pois isso pode induzir o espectador ao erro.

O maior problema dos comentários nas televisões [...] é tentar adivinhar o que ‘tá’ (sic) acontecendo. Outra coisa é adivinhar o que o piloto ‘tá’ (sic) pensando, o que que ele vai fazer, o que ele planejou fazer. Isso não existe. O Galvão toda vez faz esse negócio. No meu caso [...] que eu chegava de festa, que ‘tava’ (sic) dormindo dentro do carro, cansado, ‘tava’ (sic) nos últimos 10, 15 minutos de cochilo, porque eu durmo em qualquer lugar, e ele falou ‘Olha a concentração do Piquet’. Não é que ele quer falar mal de mim, ele quer falar bem de mim, que eu era concentrado. Isso nada... eu ‘tava’ (sic) dormindo, morrendo de sono. [...] Ele quer adivinhar. Mas se ele perguntasse para mim eu ‘falava’ (sic) ‘bicho, cheguei cinco horas da manhã lá do hotel, ‘tava’ (sic) dormindo lá’. Ele inventa uma coisa atrás da outra (PIQUET, 2008)154.

Charles Leclerc, de fato, teve um bom resultado na prova (terceiro lugar), havendo largado da , e mesmo perdendo duas posições em relação ao início, demonstrou habilidades suficientes para manter-se entre os primeiros pilotos e chegar ao pódio (ROBERTS, J. W., 2019; PINHEIRO, 2019g), logo, a ênfase dada a ele é justificável. No entanto, outro piloto que se destacou na prova foi Alexander Albon, que largou dos boxes por causa de um acidente no treino classificatório e conseguiu terminar a corrida em quinto lugar (Ibid.), mas este não recebeu a mesma atenção que Leclerc na chamada. É certo que quando uma corrida apresenta tantos acontecimentos marcantes, deve-se fazer uma seleção para criar um resumo da prova que caiba no tempo definido para a chamada. A Globo adotou critérios ao optar por exaltar Leclerc mais do que Albon, e estes estão sujeitos a um questionamento (se a intenção da emissora foi apelar à torcida da Ferrari e por que priorizá-la em detrimento

154 Disponível de 00’00’’ a 00’52’’ em . Acesso em 25 mar. 2020. 65 das outras). Dos oito torcedores entrevistados, cinco apontaram uma certa predileção de Múcio por Leclerc ao narrar as corridas, o que pode ter contribuído para a escolha de imagens desta chamada. Para a espectadora Helena Silva, Múcio apresenta duplo padrão em seu trabalho, pois enquanto elogia os pilotos da Ferrari, não reconhece os feitos de Max Verstappen.

Luís Roberto [de Múcio] privilegia os pilotos ferraristas, fechando os olhos para seus erros e exaltando seus feitos mais do que o de outros pilotos na mesma situação. Por outro lado, este narrador persegue Max Verstappen de um jeito anormal: coloca sobre ele a culpa por qualquer incidente que acontece nas corridas e se recusa a reconhecer seu mérito em casos de vitórias, pódios e recuperações (Helena Silva, 58 anos, torcedora de Fórmula 1 desde 1972).

Outro fato importante de ser notado é que o horário do Grande Prêmio do Japão era de madrugada no Brasil, e é esperada a opção de muitos torcedores por assistir a reprise da corrida no SporTV em horário alternativo em vez de acordar às 2h da manhã para vê-la ao vivo. Com menos telespectadores, a visibilidade das marcas patrocinadoras cai, logo o espaço dedicado a elas durante a chamada tenta compensar essa perda, pois a peça é veiculada no período diurno da programação da Globo155.

3.1.4 Chamada do Grande Prêmio do Brasil de 2019

Diferente das chamadas anteriores, a do Grande Prêmio do Brasil de 2019, cuja duração é de 45 segundos, contém apenas uma passagem do painel digital de fundo escuro (no final, anunciando a prova). A peça autopromocional contém uma encenação na qual alguns narradores se passam pelos pilotos. O vídeo começa com um painel de luzes vermelhas feito por computação gráfica156, cortando logo em seguida para um plano detalhe de um pneu duro girando, um plano aberto dos carros

155 Como indicado no capítulo 2. 156 Disponível de 00’00’’ a 00’01’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 66 largando157 e uma vista aérea dos primeiros instantes da corrida158. Logo após, surge um plano fechado no carro de Lewis Hamilton e um pequeno quadro indicativo igual ao utilizado para reproduzir o áudio da conversa entre piloto e equipe durante a corrida (com a diferença que a linha de áudio no quadro da chamada é vermelha, enquanto que nas transmissões ela adquire a cor do carro de cada piloto). A faixa de cima do quadro indica a equipe e a de baixo o sobrenome do piloto. Surge a voz de um ator chamando “Vettel...” como se fosse o próprio Hamilton falando159. Depois entra um plano fechado no carro de Sebastian Vettel fazendo uma curva enquanto o quadro indicativo entra160, mas o áudio só se inicia após uma imagem captada pela câmera onboard de frente para o volante, destacando a cabeça do piloto. O ator que interpreta Vettel diz “Fala rápido, Hamilton, eu ‘tô’ (sic) sem tempo”161. Há um corte para um plano geral de alguns carros passando enquanto a torcida filma e apoia, e depois para um plano fechado dos carros de Hamilton e de Charles Leclerc disputando pela liderança, seguidos pelos de Vettel e de Valtteri Bottas162. Em seguida entra um plano detalhe do capacete de Hamilton captado pela câmera onboard de seu carro de frente para o volante, com o quadro indicativo e a voz do ator dizendo “Dia 17 é no Brasil, hein?”163. Logo após, surge uma imagem de vista do carro de Hamilton percorrendo um trecho do circuito e depois um plano aberto de um carro da Renault e um da Toro Rosso atrás do de Hamilton, que persegue o de Vettel164. Entra um plano fechado do piloto inglês buscando ultrapassar o alemão165, depois um aberto de Vettel tomando distância e por fim um detalhe no capacete deste166 (durante este trecho, o quadro

157 Disponível de 00’01’’ a 00’02’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 158 Disponível de 00’02’’ a 00’04’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 159 Disponível de 00’04’’ a 00’05’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 160 Disponível de 00’05’’ a 00’06’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 161 Disponível de 00’06’’ a 00’08’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 162 Disponível de 00’08’’ a 00’09’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 163 Disponível de 00’09’’ a 00’10’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 164 Disponível de 00’10’’ a 00’12’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 165 Disponível de 00’12’’ a 00’14’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 166 Disponível de 00’14’’ a 00’15’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 67 indicativo aparece com o áudio do ator de Vettel dizendo pausadamente “Ah, nem tenta. Interlagos não é ‘pro’ (sic) seu bico”167). O foco muda para o carro de Leclerc168 e em seguida para uma imagem captada pela câmera acima do capacete de Max Verstappen169. Há um corte para um plano fechado no carro do monegasco com vista no sentido da direção do piloto170. Durante um plano aberto revelando uma disputa por posição entre os carros da Ferrari, surge o quadro indicativo com a voz do ator de Leclerc dizendo “Senhores, vocês se acham, né?”171. Em seguida vem um corte para uma vista frontal dos dois carros se enfrentando172, um plano fechado no carro de Leclerc e um detalhe no capacete do piloto (captado pela câmera onboard próxima ao volante). Durante este trecho, o áudio segue ininterrupto, dizendo “Licença que o Leclerc aqui vai mostrar como é que se anda”173. Um som de bateria acompanha um close no carro do monegasco174. Depois, há uma vista aérea de um confronto entre Leclerc e Verstappen175 e depois planos fechados da disputa entre os dois, com o quadro indicativo surgindo juntamente com a voz do ator de Verstappen, que diz freneticamente “Sai, sai, sai, sai, sai, sai, sai”176. Uma vista aérea mostra o piloto holandês ultrapassando enquanto o monegasco sai da pista, seguido por um plano detalhe do capacete de Verstappen captado pela câmera onboard próxima ao volante (o ator continua a fala, mas agora em tom mais calmo: “Eu ouvi Verstappen aí?”177). Em seguida há um plano fechado no carro de Verstappen percorrendo um trecho da

167 Disponível de 00’12’’ a 00’15’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 168 Disponível de 00’15’’ a 00’16’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 169 Disponível de 00’16’’ a 00’17’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 170 Disponível de 00’17’’ a 00’18’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 171 Disponível de 00’18’’ a 00’19’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 172 Disponível de 00’19’’ a 00’20’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 173 Disponível de 00’20’’ a 00’22’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 174 Disponível de 00’22’’ a 00’23’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 175 Disponível de 00’23’’ a 00’24’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 176 Disponível de 00’24’’ a 00’26’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 177 Disponível de 00’26’’ a 00’28’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 68 pista178 e um aberto de um carro da Red Bull ao lado de um da Racing Point179. Diante de uma visão captada da câmera próxima ao capacete de um dos pilotos da Alfa Romeo, surge o quadro indicativo com a faixa de cima escrito “Globo” e a de baixo “locutor”, como se o narrador da chamada fosse um piloto e a emissora sua equipe. No meio há um letreiro com o título “Dia 17”180, que depois muda para “2:00” (com a imagem de fundo sendo um carro da Toro Rosso181), lido pela narração padrão como “Dia 17, duas da tarde”182. Há um corte para a cena do acidente entre Daniel Ricciardo e Romain Grosejan captada pela câmera superior do carro de Antonio Giovinazzi mostrada na chamada do Grande Prêmio do Japão183. Em seguida entra um plano fechado do carro de Verstappen com o pneu traseiro direito estourado, um de uma disputa entre Vettel e Bottas, um plano geral do início de uma prova, um contraplongé dos carros passando por um trecho da pista onde está a câmera e um close em um carro da Mercedes184. Durante este trecho, a narração padrão afirma “A briga de gerações vem para o asfalto brasileiro”185. Surge um painel digital de fundo escuro com um carro de Fórmula 1 em 3D visto de cima, imagens de dois velocímetros e de carros em fila em uma corrida, além de um título escrito “GP do Brasil”, com uma bandeira brasileira em cima do nome do país-sede. A narração padrão diz: “Grande Prêmio do Brasil”186. O vídeo corta para uma vista aérea do carro de Leclerc espremendo Hamilton contra o muro, e depois um plano fechado com vista terrestre deste acontecimento. O painel indicativo surge com a voz do ator de Leclerc dizendo em tom de deboche “Senti um medinho aí, ‘tiozinho’”187. Entra um plano aberto com

178 Disponível de 00’28’’ a 00’29’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 179 Disponível de 00’29’’ a 00’30’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 180 Disponível de 00’30’’ a 00’31’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 181 Disponível de 00’31’’ a 00’32’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 182 Disponível de 00’30’’ a 00’32’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 183 Disponível de 00’32’’ a 00’33’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 184 Disponível de 00’33’’ a 00’36’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 185 Disponível de 00’32’’ a 00’36’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 186 Disponível de 00’36’’ a 00’38’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 187 Disponível de 00’38’’ a 00’40’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 69 vista frontal dos dois carros, depois uma vista do carro de Vettel sendo ultrapassado pelo de Hamilton e uma de Leclerc perseguindo Bottas ao som de bateria188. Um close no piloto inglês acenando para a plateia ainda dentro do carro é seguido pelo quadro indicativo com o áudio do ator de Hamilton: “Te vejo no retrovisor, ‘novinho’”189. Por fim, aparece o logotipo da transmissão da Fórmula 1 na Rede Globo190.

A chamada do Grande Prêmio do Brasil de 2019 possui um modelo único, pois a emissora aposta em sua audiência como a maior entre todas as corridas do calendário. Embora as vozes dos atores não se pareçam com as dos pilotos que pretendem interpretar, o recurso ficcional adotado na peça autopromocional busca retratar uma característica da temporada de 2019: o desempenho de pilotos veteranos e campeões (como Lewis Hamilton e Sebastian Vettel) e o de atletas jovens com pouca experiência, mas com resultados notáveis (como Charles Leclerc e Max Verstappen). Outra diferença é a utilização de trechos de diversas corridas, não apenas a da etapa anterior à da divulgada pela chamada. Entre os grandes prêmios identificados no vídeo encontram-se os da Bélgica, da Áustria, da Rússia e da Itália. Este último é notado na cena em que Leclerc espreme Hamilton contra o muro. Porém, a manobra do monegasco gerou polêmica na época, pois os comissários da prova optaram por dar-lhe uma bandeira preta e branca de advertência191 em vez de puni-lo (AGENCE FRANCE-PRESSE, 2019; BENSON, 2019a). Logo, duas hipóteses podem se levantar a respeito da decisão da Rede Globo em usar a cena em sua chamada: exaltar a disputa entre um piloto veterano e um jovem ou comemorar a vitória devido à manobra impune de Leclerc. Como mencionado nas análises das chamadas anteriores, alguns torcedores entrevistados notaram favorecimentos da Ferrari no discurso de três dos quatro narradores de Fórmula 1 da Rede Globo, o que pode favorecer a segunda hipótese. No entanto, foi escolhido um momento desfavorável para o monegasco: a ultrapassagem que deu a vitória a Verstappen sobre Leclerc no Grande Prêmio da Áustria. Este trecho foi usado para exaltar as habilidades do

188 Disponível de 00’40’’ a 00’42’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 189 Disponível de 00’42’’ a 00’44’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 190 Disponível de 00’44’’ a 00’45’’ em: . Acesso em 25 mar. 2020. 191 A bandeira preta e branca é utilizada para advertir o piloto que apresenta conduta antidesportiva durante a prova, semelhante ao cartão amarelo no futebol. Caso o mesmo piloto infrinja o regulamento pela segunda vez, é acionada a bandeira preta e o mesmo é desclassificado (ANDRADE, G., 2019). 70 holandês, que foi o pioneiro da chamada “nova geração da Fórmula 1” (FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE AUTOMOBILISMO, 2017d).

Outra diferença em relação às demais chamadas é a ausência da voz dos narradores da emissora, utilizando apenas a narração padrão e os atores que interpretam os pilotos. Este recurso parece ser usado para “contar uma história” aos espectadores ao convidá-los para assistir ao Grande Prêmio do Brasil de 2019, indicando que haverá uma disputa entre pilotos de diferentes gerações. Por meio de uma linguagem audiovisual única em relação às demais, esta chamada pretende ressaltar que a prova realizada em Interlagos é especial e, para a emissora, a mais importante do calendário da Fórmula 1.

3.2 Análise das transmissões de Fórmula 1 da Rede Globo em 2019

Para a realização de uma análise das transmissões das corridas de Fórmula 1 leva-se em conta a linguagem audiovisual utilizada (enquadramentos, movimentos de câmera e de lente, entre outros elementos relacionados à gravação) e a narrativa empregada pelos apresentadores (comentaristas e narradores). Percebe-se que a FOM segue um padrão de registro de imagem em todas as corridas, unificando sua linguagem audiovisual. Cada narrador tem seu estilo de desempenhar sua função, porém são notadas semelhanças em pontos críticos das provas.

De maneira similar à análise das chamadas, o estudo da linguagem das transmissões das corridas de Fórmula 1 visa identificar as mensagens passadas aos telespectadores, seus significados e impactos na opinião dos torcedores. O poder persuasivo dos meios de comunicação em massa (como o rádio e a televisão) foi estudado por diferentes profissionais ao longo dos séculos XX e XXI, como sociólogos, filósofos e teóricos da comunicação, indo desde conceitos de dominação dos espectadores por parte dos controladores dos meios de massa, passando estudos culturais e teorias das mediações que defendem a capacidade do espectador de ressignificar mensagens de acordo com seu contexto de vida e sua relação com instituições sociais, como escola, igreja e família.

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As imagens oficiais de cada corrida de uma temporada de Fórmula 1 são de responsabilidade da FOM, que as disponibiliza para as emissoras contratadas para exibi-las em seus países. A exceção é o Grande Prêmio do Brasil, cujas captações são feitas pela Rede Globo (apenas no período entre 1997 e 1999 é que a FOM também se responsabilizou pela transmissão da prova192). A partir de 1980, começou- se a utilizar câmeras próximas ao chão para que os telespectadores vissem as corridas de diferentes ângulos e se aproximassem da visão que teriam dentro do autódromo193. As narrações ficam a critério da equipe escolhida por cada emissora, exceto o áudio do rádio dos pilotos, que também é fornecido pela FOM (BARBOSA, 2020).

Observando-se as quatro corridas utilizadas para estudo de caso, nota-se um predomínio de planos fechados nos trechos das pistas e nas imagens das equipes. Planos gerais são empregados principalmente nas vistas aéreas. Planos detalhes são usados para reprisar toques, acidentes, causas de bandeira amarela194 e ultrapassagens195. Há um predomínio de planos fechados nos trechos das pistas e nas imagens das equipes. Planos gerais são empregados principalmente nas vistas aéreas. Painéis digitais em formato de quadros são empregados para fornecer informações sobre as corridas e participantes, comparar as velocidades entre dois pilotos, informar a posição dos carros no grid (e suas distâncias em relação ao líder ou ao piloto à frente) e anunciar os diálogos do rádio entre piloto e equipe, sempre traduzidos por Luciano Burti (que também traduz as entrevistas com os pilotos que largam das três primeiras posições do grid após os treinos classificatórios).

Em alguns momentos da transmissão, para cumprir o plano comercial, os narradores interrompem brevemente suas falas com a deixa “Fórmula 1 na Globo: emoção na pista” para que sejam colocados os inserts de vídeo de cada marca patrocinadora, acompanhados com locução da voz padrão da emissora informando o nome da marca e seu slogan. Durante a transmissão, os narradores também divulgam

192 Disponível em: . Acesso em 28 mai. 2020. 193 Ibid. 194 A bandeira amarela é acionada quando há uma situação perigosa na pista (como detritos de carros resultantes de batidas). Os pilotos são obrigados a reduzir a velocidade e não são permitidas ultrapassagens (GREVE, 2008, p. 19). 195 Disponível em: (acesso em 12 mar. 2020), (acesso em 12 mar. 2020), (acesso em 12 mar. 2020) e (acesso em 12 mar. 2020). 72 programas e atrações da emissora de acordo com as orientações previamente combinadas com o departamento de programação.

3.2.1 Transmissão do Grande Prêmio de Mônaco de 2019

O Grande Prêmio de Mônaco de 2019 ocorreu no dia 26 de maio e foi narrado por Luís Roberto de Múcio. Após a abertura da transmissão do evento na Globo, a voz do apresentador surge ao fundo de uma vista em plano geral do Porto de Mônaco, por onde passa uma parte do Circuito de Monte Carlo. Com as câmeras mostrando o estúdio, Múcio relembra a morte do tricampeão e acionista da Mercedes Niki Lauda196, que havia ocorrido seis dias antes, e são mostradas imagens de um minuto de silêncio e homenagens ao austríaco antes do início da prova197. Reginaldo Leme foi o segundo a falar, ressaltando o legado de Lauda para a Fórmula 1198. Depois, Múcio passa a palavra para Luciano Burti, que comenta o respeito que o falecido tinha entre os pilotos e os desafios enfrentados por ele desde o acidente no Grande Prêmio da Alemanha de 1976, quando seu carro pegou fogo e o atleta teve de ser hospitalizado devido a queimaduras e intoxicações pulmonares199. Algumas imagens da preparação da corrida são mostradas antes da retomada do grid de largada, incluindo um áudio de Lewis Hamilton falando com sua equipe, mas este foi misturado ao comentário de Burti. Durante a volta de apresentação foram mostrados trechos de uma entrevista com o piloto monegasco Charles Leclerc.

Em termos linguísticos, Múcio emprega generalizações ao descrever a atmosfera da corrida e da torcida, como

E o Leclerc? A expectativa ‘pra’ (sic) corrida do Charles Leclerc, 14ª posição ‘pro’ (sic) Charles Leclerc que ganhou, portanto, uma [posição] na largada. O piloto da casa e toda expectativa em cima de uma possibilidade de vitória pela primeira vez no mundial de Fórmula 1 de um piloto nascido em Mônaco (GLOBOPLAY, 2019b)200.

196 Lauda (1949-2019) foi campeão de Fórmula 1 em 1975, 1977 e 1984 (VASCONCELLOS, 2013, p. 208). 197 Disponível de 00’49’’ a 03’37’’ em: . 198 Disponível de 04’15’’ a 04’40’’ em: . 199 Disponível de 04’45’’ a 05’18’’ em: . 200 Disponível de 10’55’’ a 11’13’’ em: . 73

Ao empregar a palavra “toda”, acredita-se que todos os espectadores estavam torcendo para a vitória de Leclerc, o que se trata de um equívoco, pois não se via indícios dessa suposta grande torcida201, e muitos torcedores estavam cientes da condição de Leclerc como segundo piloto da Ferrari (escuderia conhecida pelas ordens de equipe). Sebastian Vettel, à época primeiro piloto, estava várias posições à frente do monegasco e, pelo que se observou nos Grandes Prêmios da Austrália (COLLANTINE; RENCKEN, 2019; PINHEIRO, 2019a) e China (FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE AUTOMOBILISMO, 2019d; PINHEIRO, 2019b) daquele ano, dado o histórico da Ferrari em não permitir que o segundo piloto ultrapasse o primeiro (COLLANTINE; RENCKEN, 2018; JOVEM PAN, 2016; PINHEIRO, 2018a, 2020a; SABINO, 2020a), era praticamente impossível que Leclerc terminasse aquela corrida à frente do companheiro202. Portanto, a fala de Múcio reflete muito mais um desejo do narrador do que da torcida em si.

Ao ignorar os fatos e expor sua opinião como se fosse uma verdade incontestável, o comunicador põe em risco sua imparcialidade (teoricamente esperada em veículos de comunicação, embora não vista na prática). Deixa-se de passar uma informação para que prevaleça uma narrativa. Ao comentar o caso Duke lacrosse, no qual dois alunos do time de lacrosse da Universidade de Duke, Carolina do Norte, foram presos após uma falsa acusação de estupro, Ben Shapiro (2013, p. 18-21) critica a cobertura da imprensa americana referente ao assunto, apontando a tendência dos jornalistas em tratar os suspeitos como culpados antes que o caso fosse averiguado pela justiça, supostamente para agradar a setores influentes da sociedade americana. Trata-se de um exemplo de como ignorar os fatos e impor uma narrativa para fins ideológicos e pessoais compromete a credibilidade do veículo.

Porque eles queriam que fosse verdade. Eles precisavam que fosse verdade. Eles tinham uma agenda. E eles estavam garantindo que a história saísse do jeito que eles queriam. Os fatos eram irrelevantes (SHAPIRO, 2013, p. 21, tradução nossa)203.

201 Um exemplo é a pouca quantidade de faixas em apoio a Leclerc no Circuito de Monte Carlo. 202 O tratamento dado a Leclerc pela Ferrari no começo de 2020 lhe rendeu comparações à personagem de contos de fada Cinderela (PINHEIRO, 2019abj). 203 “Because they wanted it to be true. They needed it to be true. They had an agenda. And they were going to ensure that the story played out the way they wanted it to. The facts were irrelevant”. 74

Um fenômeno semelhante é observado na narração de Luís Roberto de Múcio. Ao afirmar que “toda” a expectativa está em cima de uma provável vitória de Leclerc, o narrador ignora os fatos (política da Ferrari de disputas por posição entre companheiros de equipe, distância entre Leclerc e Vettel e dificuldade de ultrapassagem em Mônaco), e parece torcer pelo triunfo do piloto monegasco, mas projeta esse desejo na torcida local de maneira a incutir no telespectador a ideia que Leclerc era o favorito à vitória. Um provável objetivo seria atrair torcedores para o piloto ferrarista, de quem possivelmente Múcio é torcedor. Outro seria a vantagem mercadológica da audiência dos fãs da escuderia italiana.

Para Theodor Adorno (1903-1969), teórico da Escola de Frankfurt, a comunicação é uma “categoria ideológica cuja dinâmica, em última instância, remete à lógica da troca mercantil” (COHN, 2014 In. CITELLI, 2014, p. 161), e a comunicação de massa (como as transmissões televisivas) “servem para codificar mercantilmente as relações sociais e, assim, elaborar ideologicamente as estruturas econômicas que separam os seres humanos uns dos outros, sujeitando-os à competição individual e à disputa por bens” (Ibid., p. 161-162). Alguns narradores da Globo, como Múcio e Galvão Bueno, apontam o desempenho de Leclerc como um dos fatores que contribuíram para o aumento na audiência da Fórmula 1 no Brasil (ANDRADE, V., 2019), portanto, mais do que uma preferência pessoal, uma narrativa pró-Ferrari poderia refletir os interesses financeiros da emissora (entre eles o de estimular a competição entre torcedores).

Após fazer uma observação sobre as homenagens da Mercedes a Niki Lauda, o narrador passa um bom tempo conversando com Reginaldo Leme sobre corridas disputadas em Mônaco204, chegando a intercalar a narração de uma disputa entre Charles Leclerc e Romain Grosjean com essas lembranças. Para a torcedora Elizete Alves, que também percebe esse comportamento nas narrações de Galvão Bueno, o hábito de “contar histórias longas sobre pilotos que não fazem mais parte do grid tira o foco da corrida” e “esse assunto poderia ser abordado em outro programa, não durante” a mesma.

204 Disponível de 15’07’’ a 16’04’’ em: . 75

Na volta 10, um toque com Nico Hulkenberg furou o pneu de Charles Leclerc. Luís Roberto de Múcio lamenta o dano no carro do monegasco, dizendo “Que pena! Que pena!”205. Esta postura pode ser interpretada de duas formas. Por um lado, o narrador pode sugerir apoio aos torcedores de Leclerc, obviamente descontentes com o ocorrido. Por outro, Múcio pode expressar um sentimento pessoal, pois o mesmo tinha grandes expectativas para a vitória do monegasco (as quais o narrador projetou na torcida). A primeira hipótese não indica, necessariamente, parcialidade, pois se Múcio lamentasse cada abandono na prova, estaria aproximando o sentimento dos respectivos torcedores da transmissão, insinuando que o público teria um “amigo” para compartilhar a dor. A segunda hipótese, porém, indicaria claramente um favorecimento a Leclerc, a quem o narrador estaria apresentando como um piloto de tanta importância para a Fórmula 1 que sua ausência tornaria a prova menos atrativa. Essa teoria ganha embasamento no comentário de Múcio após a parada de Leclerc para a troca de pneus: “Uma pena! A gente perde o menino que vinha tentando dar um espetáculo nas ruas de casa”206. Todos os pilotos tentam fazer o melhor desempenho possível em qualquer prova disputada, mas quando o narrador afirma que Leclerc tentava “dar um espetáculo nas ruas de casa”, o mesmo tenta justificar sua torcida pelo monegasco pela corrida se passar no país natal do piloto, além de destacar que o mesmo seria capaz de fazer a melhor performance entre os competidores. Minutos depois, Múcio lamenta o abandono de Leclerc, dizendo que o mesmo “tinha carro para brigar pelas primeiras posições”207, ressaltando o bom desempenho do carro da Ferrari, mas ignorando a dificuldade de ultrapassar no Circuito de Monte Carlo, que é lembrada em vários momentos por Luciano Burti e pelo próprio narrador.

O narrador também comete um erro linguístico constantemente: chama o piloto Lewis Hamilton de “Luís”. Gramaticalmente, só é recomendável a tradução de nomes próprios caso se trate de pessoas mencionadas em textos sagrados (como a Bíblia) ou de monarcas estrangeiros. O piloto inglês não se encaixa em nenhum desses casos, portanto, apesar de “Luís” e “Lewis” serem variações linguísticas do mesmo nome, é um erro traduzir seu nome para “Luís Hamilton”. Nesta situação, há duas

205 Disponível de 20’52’’ a 20’56’’ em: . 206 Disponível de 21’50’’ a 21’55’’ em: . 207 Disponível de 36’42’’ a 36’44’’ em: . 76 explicações possíveis: um erro de pronúncia do narrador ou uma tentativa de apelidar o piloto. Nota-se que o erro persiste sempre que Luís Roberto de Múcio fala sobre Hamilton, o que poderia ser evitado com um treino fonético antes das narrações. O apresentador não tem relações de amizade com o piloto, logo não seria indicado dar- lhe apelidos, principalmente quando estes podem levar à confusão sobre a pronúncia de seu nome. Uma possível estratégia de Múcio seria criar no imaginário do público uma figura de Hamilton mais próxima da torcida brasileira, já que “Luís” é um nome bem comum no Brasil (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010). Desta forma, o narrador buscaria exaltar o talento do piloto inglês e convencer uma parcela da torcida brasileira a apoiá-lo. Uma estratégia semelhante foi utilizada pela Rede Globo para que Ayrton Senna fosse considerado um “mito” pelos torcedores brasileiros, utilizando seu último sobrenome, “da Silva”, e sua religião católica como características que aproximariam o piloto do cidadão brasileiro comum (TARTAS, 2019, p. 26-62).

O Grande Prêmio de Mônaco foi vencido por Lewis Hamilton, com Valtteri Bottas em segundo lugar e Sebastian Vettel em terceiro. O resultado da corrida teria contrariado as expectativas do narrador Luís Roberto de Múcio, que no início da prova havia projetado nos torcedores seu desejo de que a vitória fosse de Charles Leclerc. Percebe-se que após o abandono do piloto monegasco, muito elogiado pelo narrador durante a corrida, a narração de Múcio adquire um tom mais neutro, não destinando elogios exaltados a nenhum piloto ou time específico, mas empregando entonação na voz ao narrar ultrapassagens e tentativas. Como analisado anteriormente, a insistência de Múcio em chamar Hamilton de “Luís” em vez de “Lewis” pode ser interpretada como uma maneira sutil de convencer os torcedores brasileiros a apoiarem o piloto inglês, criando uma figura imaginária em torno do atleta que se aproximaria à de um cidadão brasileiro comum. No entanto, o “apelido” também pode ser visto como um mero erro de pronúncia que o narrador comete repetidas vezes. De acordo com os relatos dos espectadores entrevistados, a hipótese de erro de pronúncia parece mais condizente com o perfil do apresentador.

Entre os oito torcedores consultados, seis conhecem Luís Roberto de Múcio e dois o desconhecem. Entre os seis que já assistiram a corridas narradas por ele, uma o considera um narrador “regular” e cinco o desaprovam. Para a espectadora Adriana

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Perantoni208, Múcio tem uma postura de “narrador de futebol” e “não emprega emoção suficiente ao narrar alguns lances”. Cinco espectadores apontaram uma certa tendência do narrador em torcer para a Ferrari e desfavorecer Max Verstappen. Bruna Andrade relembra dois episódios dessa postura.

Tem umas vezes que ele [Luís Roberto de Múcio] tenta culpá-lo [Max Verstappen] por acidentes que não foram culpa dele, como no GP de Singapura de 2017, que ele ficou insistindo que era culpa do Verstappen mesmo o Reginaldo Leme provando que era culpa do Kimi Raikkonen209 e do Sebastian Vettel. Ele nem pediu desculpas para os telespectadores [...], só ficou quieto e fingiu que o assunto nunca existiu. No GP da Hungria de 2019 ele não se conformou com a pole position do Verstappen e ficou torcendo descaradamente para o Lewis Hamilton ganhar dele, sendo que em corridas que o Hamilton tem claras chances de ganhar, ele torce para alguém da Ferrari vencer (Bruna Andrade, 24 anos, torcedora de Fórmula 1 desde 2016).

Elizete Alves menciona o Grande Prêmio do Azerbaijão de 2017, no qual Sebastian Vettel bateu propositalmente em Lewis Hamilton após ter colidido com a traseira do piloto inglês durante o (VEJA, 2017a), como um exemplo da parcialidade de Luís Roberto de Múcio em benefício da Ferrari. Segundo a espectadora, o narrador tenta induzir o público a não confiar no talento de Max Verstappen apesar de seus feitos na Fórmula 1.

Ele [Luís Roberto de Múcio] perdoou o piloto da Ferrari Sebastian Vettel quando este bateu propositalmente no carro de Lewis Hamilton porque este estava em sua frente e andava muito devagar, acompanhando o safety car. Luís Roberto disse que a atitude de Vettel traduzia o quanto ele estava nervoso e que Vettel não tinha feito aquilo por mal. [...] Luís Roberto subestima a capacidade do espectador com uma narrativa tendenciosa, mostrando que é torcedor e não narrador. Sua constante maledicência referente a Max Verstappen no início de carreira provocava o espectador a não acreditar no potencial desse jovem piloto que atualmente é um dos melhores pilotos do grid. Seria melhor narrador caso respeitasse a opinião dos comentaristas contrários à sua visão e parasse de “bajular” a Ferrari.

208 Adriana Teixeira Perantoni, formada em Jornalismo pela Universidade Paulista (UNIP), foi entrevistada em julho de 2020, antes de sua estreia no mesmo mês como colunista no site The Racing Track, sua primeira experiência com cobertura da Fórmula 1. 209 Raikkonen foi campeão em 2007 (GREVE, 2008, p. 10; VASCONCELLOS, 2013, p. 208). Em 2017, corria pela Ferrari (FREEMAN, 2017). 78

Para o especialista Sergio Quintanilha, os narradores devem se limitar a criticar pilotos quando os mesmos não possuem condutas éticas na pista e o mesmo vale para escuderias que utilizam jogos de equipe como estratégia para a vitória. No caso de preferências individuais, os narradores não devem induzir o público a compartilhar da mesma visão.

Se o narrador não gosta de um piloto porque ele acha que o piloto não tem um comportamento ético na pista, por exemplo, ou porque é um piloto que não tenha qualificação para estar na situação que ele está, ou que uma equipe também não tenha competência ou age de forma errada eticamente eu acho que ele deve sim, não induzir o público, mas ele deve deixar muito claro sua opinião. Por exemplo, acho muito lícito que um jornalista critique jogos de equipe. Agora não tem que forçar também a barra. Dá a opinião e pronto, está dada. Não tem que que ficar querendo enfiar na cabeça do público aquilo que o narrador pensa.

Conclui-se que a narração de Luís Roberto de Múcio apresenta uma notável predileção pela equipe da Ferrari, principalmente pelo piloto monegasco Charles Leclerc. O narrador procura justificar suas preferências ao projetar sobre o público seu desejo de que a vitória seja de seu piloto ou time favorito. Sua insistência em exaltar Leclerc e a Ferrari expõe o que é criticado por Sergio Quintanilha: pressão para que o público concorde com o narrador. Segundo Bruna Andrade, “fica difícil para quem não é ferrarista assistir a uma corrida com essa narração tendenciosa”, pois é “um desrespeito com os torcedores das outras equipes e pilotos”. O argumento dos torcedores se comprova na postura adotada por Múcio após o abandono de Leclerc: antes o narrador torcia por sua vitória, depois passou a tratar a disputa de maneira isenta.

3.2.2 Transmissão do Grande Prêmio da França de 2019

Narrado por Cléber Machado, o Grande Prêmio da França de 2019 ocorreu no dia 23 de junho. Após a abertura padrão da Fórmula 1, surgem imagens do Circuito Paul Ricard e em seguida o narrador conversa com Reginaldo Leme e Luciano Burti sobre as expectativas para a corrida. Leme comenta sobre o domínio da equipe

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Mercedes na temporada e alguns pilotos jovens do grid e Burti chama atenção para a primeira curva, local onde houve um toque entre Valtteri Bottas e Sebastian Vettel em 2018210. Antes da largada, Machado faz menções à torcida da Renault, escuderia francesa com muitos fãs presentes nas arquibancadas, e aos quatro primeiros pilotos do grid: Lewis Hamilton, Valtteri Bottas, Charles Leclerc e Max Verstappen211. Percebe-se então que há um cuidado da equipe de apresentadores de dar um destaque variado a algumas equipes e pilotos, sem incitar favoritismo a nenhum competidor específico.

Durante a primeira volta após a largada, Cléber Machado narra precisamente os movimentos dos pilotos que buscaram oportunidades de ultrapassar, além da escapada de Sergio Pérez para fora da pista212. O mexicano havia largado da 14ª posição e sua saída momentânea do traçado tinha indícios de manobra para evitar acidentes, não de resultado de uma colisão. Muitas vezes, escapadas na primeira volta feitas por pilotos que se encontram nas últimas posições do grid tendem a ser ignoradas nas narrações, mas a opção de Machado por relatar o ocorrido demonstra um olhar profissional para a corrida e um respeito a Pérez, dando-lhe um tratamento igualitário em relação aos demais pilotos. Também se nota uma intercalação entre as descrições de Machado dos acontecimentos da prova e os comentários de Reginaldo Leme e Luciano Burti. O narrador estimula a participação dos companheiros de bancada, fazendo-lhes perguntas sobre algumas questões de interesse do público, como o papel do piloto no desempenho do carro e a influência do motor e das curvas da pista na performance do atleta. Leme se refere principalmente ao histórico dos pilotos e equipes, enquanto que Burti analisa a mecânica dos carros e faz previsões sobre o desempenho destes em determinadas circunstâncias. Três dos oito espectadores entrevistados elogiam o conhecimento técnico demonstrado nos comentários de Burti, embora quatro apontem um perfil de torcedor no comentarista.

Durante os replays, Cléber Machado comenta sobre algumas tentativas de ultrapassagens, como a disputa entre Max Verstappen e Charles Leclerc e entre Sebastian Vettel e Lando Norris. Há elogios àqueles que conseguem a melhor posição, seja ultrapassando ou se defendendo dos ataques dos adversários, porém

210 Disponível de 00’47’’ a 01’56’’ em: . 211 Disponível de 05’47’’ a 06’12’’ em: . 212 Disponível de 06’35’’ a 06’55’’ em: . 80 sem humilhar os pilotos vencidos. Machado fala com ânimo sem aumentar muito o tom de voz, mantendo uma certa neutralidade para fazer justiça ao feito do piloto vencedor da disputa, agradar a seus torcedores e não chatear os fãs do piloto rival, que devem se frustrar com o resultado.

Essa ação que você vai ver aí agora, ali ‘ó’ (sic), do [Valtteri] Bottas pra cima do [Charles] Leclerc acabou ajudando, ‘ó’ (sic). O [Carlos] Sainz [Jr.] já ‘tava’ (sic) passando lá. Aí acabou ajudando o [Max] Verstappen, que ele recuperou um espaço, quase pegou a terceira posição. Aí valeu o braço, ousadia, motor da Ferrari, e eles mantiveram praticamente as mesmas posições da largada. Agora no ângulo do [Sebastian] Vettel, ‘ó’ (sic)... chegou a ser ultrapassado, e foi buscar de novo a sétima posição (GLOBOPLAY, 2019a)213.

Outra amostra de tentativa de imparcialidade da narração de Cléber Machado se encontra no anúncio de uma enquete realizada no portal Globoesporte.com, no qual os espectadores votariam em qual piloto venceria a corrida de acordo com suas opiniões. Machado destaca que está é uma medida adotada pela Globo para incentivar a participação do público, mas se recusa a dizer seu palpite para não induzir a escolha dos torcedores. Em suas palavras: “Vai lá e diga quem vence a corrida. Não sei se é... não, não, não vou influenciar voto nenhum”214. Desta forma, o narrador respeita a imprevisibilidade da corrida e os espectadores podem assistir à narração sem desconfiança de favorecimentos. A atitude de Machado se difere do costume das transmissões dos treinos classificatórios no SporTV, nas quais o narrador titular Sérgio Maurício faz uma aposta com os comentaristas sobre quem conseguirá a pole position.

Na teoria latino-americana das Mediações, elaborada por Jesús Martin-Barbero na década de 1990, a cultura de cada indivíduo é tratada como “lugar de identidade, de diferença e de resistência” (TONDATO, 2014 In. CITELLI, 2014, p. 310). Durante a narração, Cléber Machado interpreta que, em sua posição de comunicador, não seria adequado induzir a opinião da audiência, pois esta também absorve e interpreta a corrida à sua maneira. Percebe-se que o narrador desempenha dois papeis nesse processo de comunicação: o de receptor (já que precisa ver a corrida para narrá-la) e o de remetente (ao explicar os acontecimentos ao público). Com isso, identificando-

213 Disponível de 13’01’’ a 13’31’’ em: . 214 Disponível de 26’40’’ a 26’45’’ em: . 81 se como autoridade no assunto e potencial influenciador, respeita a diversidade de ideias resultante das variadas maneiras como cada espectador pode entender o Grande Prêmio da França e opta por deixar a critério do público, e somente deste, a decisão sobre qual piloto teve o melhor desempenho.

Na volta 38, Cléber Machado conversa com os comentaristas sobre o áudio de Lando Norris, que segundo Luciano Burti havia pedido à McLaren para dar ordens para que o companheiro Carlos Sainz Jr. lhe desse passagem215. O narrador ironiza a maneira como Norris se dirigiu à equipe (“delicadamente”216) e em seguida analisa a situação dos dois pilotos com Reginaldo Leme, que conclui que apesar de estar em um ritmo mais veloz nos três primeiros setores, Norris ainda não estava próximo de Sainz o suficiente para sentir alguma turbulência do carro do adversário ou ser autorizado a abrir a asa móvel217. Percebe-se que, embora Machado discorde do julgamento que o piloto inglês faz de sua situação (estar “parado” atrás do companheiro), o narrador não trata Norris com desprezo e nem afirma que o mesmo não tem capacidade de superar essa dificuldade218, pois antes da observação de Leme, Machado aponta que Norris pode tentar superar Sainz sem ordens de equipe.

Cada um tem o seu jeito de pensar. ‘Ô, fala pra ele que eu ‘tô’ (sic) aqui atrás, não posso fazer nada’. Pode! Acelera, tenta ultrapassar. É uma possibilidade. Se consegue eu não sei, mas é uma chance, não é? (GLOBOPLAY, 2019a)219

O Grande Prêmio da França de 2019 foi vencido por Lewis Hamilton, tendo Valtteri Bottas como segundo colocado e Charles Leclerc no terceiro lugar. A narração de Cléber Machado se mostra homogênea durante toda a transmissão: destacando todos os acontecimentos em tempo real, elogiando pilotos com boa performance sem fazer comentários depreciativos aos atletas superados pelos rivais, e respeitando o direito de escolha dos torcedores. Logo, a transmissão facilita ao espectador tirar suas próprias conclusões sobre a prova. O único a demonstrar um lado mais torcedor durante a exibição da corrida é Reginaldo Leme, que ao ter sua perseguição pessoal

215 Disponível de 01h05’54’’ a 01h07’28’’ em: . 216 Disponível de 01h06’24’’ a 01h06’25’’ em: . 217 Disponível de 01h06’30’’ a 01h07’28’’ em: . 218 A conduta de Machado neste caso condiz com a opinião de Quintanilha de que os narradores devem opinar sobre condutas antiéticas no esporte, sem que isto extrapole para uma esfera pessoal. 219 Disponível de 01h07’01’’ a 01h07’14’’ em: . 82 contra Lance Stroll revelada por Machado220, tenta explicar seu ponto de vista, porém sem argumentos convincentes221, atraindo suspeitas de que o comentarista espera que todos os pilotos jovens tenham os mesmos resultados de Max Verstappen (o qual muitos internautas apontam como o ídolo de Leme222).

A retórica do comentarista - que utiliza comparações entre o canadense e seu companheiro de equipe, que está na Fórmula 1 desde 2011223 (PINHEIRO, 2019m), seis anos antes da estreia do jovem (FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE AUTOMOBILISMO, 2017c) - é pautada na acusação de compra de vaga e de equipe por parte de Lance Stroll e de seu pai, uma falácia desmentida pelas conquistas do atleta na categoria (AUTOSPORT, 2017; BERTO, 2017; BRADLEY, 2017; GAZETA ESPORTIVA, 2017; FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE AUTOMOBILISMO, 2017cd; MOTORSPORT, 2017; THORN, 2019) e por especialistas, como Jenson Button (GOUVÊA, 2020), campeão de Fórmula 1 em 2009 (VASCONCELLOS, 2013, p. 208), e o diretor esportivo Nuno Sousa Pinto (GOMES, L., 2019). Com a saída após a temporada de 2018 do piloto francês da escuderia Racing Point, comprada por um consórcio liderado pelo pai de Stroll em agosto daquele ano quando ainda se chamava Force India (BROOKS, 2018), a acusação de compra de vaga e de equipe ganhou forças na imprensa. No entanto ela não possui fundamentos, uma vez que Ocon já cogitava sair da equipe no ano seguinte (WINGERDEN, 2018) e a Racing Point o manteve como piloto titular até o fim do ano (FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE AUTOMOBILISMO, 2018; PINHEIRO, 2019k). Ocon ficou fora do grid de 2019 não pela compra da equipe pelo pai de Stroll, mas pelos laços do francês com a Mercedes - já que o chefe de equipe desta, Toto Wolff, é seu padrinho esportivo (FATUROS, 2017; OSTEN, 2017) - que geraram desconfianças de dupla lealdade (COOPER, 2018; PINHEIRO, 2019k). Com isso, não se descarta uma hipótese de conteúdo racial em sua fala224, tendo em mente de que Stroll é judeu e este povo é vítima, entre outras mentiras, de um boato de controle das finanças mundiais, além de Reginaldo Leme

220 Disponível de 37’57’’ a 38’07’’ em: . 221 Disponível de 39’14’’ a 39’38’’ em: . 222 Como verificado na sessão de comentários da matéria assinada por Glenn Freeman disponível em: . Acesso em 05 out. 2020. 223 Também disponível em: . Acesso em 29 ago. 2020. 224 O tratamento dado a Stroll e outros pilotos pertencentes a minorias étnicas nas transmissões será abordado no capítulo 4. 83 ter posteriormente negado a existência de racismo na Europa durante os treinos do Grande Prêmio do México de 2019225.

Entre os oito espectadores entrevistados, uma considera “regular” e sete aprovam a narração de Cléber Machado. Adriana Perantoni reforça que o bordão “hoje sim, hoje não”, criado por ele226, é o “mais memorável da Fórmula 1 no Brasil”, mas opina que o narrador poderia empregar mais emoção ao descrever os lances das corridas.

Por outro lado, os sete torcedores que aprovam o trabalho de Machado são unânimes em apontar sua imparcialidade como seu ponto mais forte. Elizete Alves classifica sua narração como “light”, pois “ao narrar sem torcer por pilotos ou equipes”, “deixa aquele que está assistindo livre para escolher seu preferido e torcer para quem melhor lhe aprouver”, e nota que Machado “limita-se a contar o que acontece de bom ou ruim sobre pilotos e equipes, não privilegiando ninguém”. Helena Silva elogia o estímulo do narrador à participação dos comentaristas, “para que eles acrescentem informações úteis aos telespectadores”, lamenta que Machado não foi muito presente nas transmissões da Fórmula 1 em 2019, e aprova a escolha da Globo em colocá-lo como narrador titular da temporada de 2020. João Baptista Rossetto avalia Machado como um “jornalista bem informado, que transmite com imparcialidade, tem boa dicção, dá ênfase aos fatos importantes, consegue empolgar o telespectador nos momentos críticos das corridas e não favorece nenhum piloto em suas narrações”. Fernando Meyer afirma que a narração de Machado não requer mudanças, pois o apresentador é “bem ponderado”.

Cleisson Guterres avalia que, embora sua narração não seja “perfeita”, Cléber Machado não apresenta questões “problemáticas” em seu trabalho em relação aos demais narradores de 2019, portanto, o classifica como o melhor entre os quatro. Bruna Andrade aponta alguns erros cometidos por Machado ao pronunciar nomes e

225 Acontecimento identificado por espectadores e internautas, como nos tweets disponíveis em (acesso em 12 ago. 2020) e em (acesso em 12 ago. 2020). Prints nos arquivos 21 e 22 em: . 226 O jargão foi criado de maneira espontânea por Machado enquanto narrava o Grande Prêmio da Áustria de 2002, no momento em Barrichello acatou as ordens da Ferrari e deixou o companheiro de equipe - campeão em 1994, 1995, 2000, 2001, 2002, 2003 e 2004 (VASCONCELLOS, 2013, p. 208) - ultrapassá-lo (JOVEM PAN, 2016). 84 lembrar acontecimentos227, mas que o mesmo os corrige rápido. A torcedora sugere que o narrador poderia fazer uma breve pesquisa sobre as curiosidades que pretende dizer na narração antes de entrar no ar para evitar equívocos. Machado foi apontado pela maioria dos entrevistados como o melhor profissional das transmissões da Fórmula 1 no Brasil, e que estes preferem assistir as corridas na Rede Globo para acompanhá-las com sua narração.

Os especialistas Danilo Cardoso, Felippe Santos e Sergio Quintanilha afirmam que a presença de um jornalista esportivo, como é o caso de Cléber Machado, na transmissão é desejada pois o mesmo garante uma autoridade no assunto. Além disso, os três avaliam a imparcialidade como um fator decisivo para uma transmissão profissional, e se o narrador tenha preferências, deve deixá-las bem claras ao público. Santos aponta algumas características notadas em Machado pelo torcedor João Baptista Rossetto como fundamentais em um narrador, como boa dicção e comunicação verbal, e que muitos ex-atletas de diferentes modalidades procuram cursos de comunicação para ingressar na carreira jornalística. Ainda segundo Santos, o impacto da narração no entendimento do público está relacionado com a maneira como o narrador descreve os lances, e cita Luciano do Valle como um destaque na televisão brasileira.

Então a narração, com certeza, quando o ‘cara’ (sic) é acima da média ele acaba impactando. O próprio Luciano do Valle, [que também] narrou Fórmula Indy, também era um ‘cara’ (sic) sensacional. Era um ‘cara’ (sic) que marcava pelas narrações dele. Eu acho que depende muito do comunicador, do narrador que está falando. Se o ‘cara’ (sic) for bom ele vai ser marcante para quem está assistindo.

Conclui-se que a narração de Cléber Machado se caracteriza pela descrição imparcial dos acontecimentos, tratamento igualitário a todos os pilotos e equipes do grid e busca por não interferir no julgamento particular dos torcedores a respeito da corrida. Aprovado por sete dos oito espectadores entrevistados, o narrador se mostra atento aos fatos e procura não fazer comentários humilhantes contra os competidores,

227 Isso foi criticado por alguns internautas, que inclusive chegaram a comparar Machado com o personagem Charles Henriquepédia (vide anexo D), vivido pelo humorista Carlos Henrique de Andrade Adão no extinto programa Pânico na TV (UOL, 2013). Disponível em: . Acesso em 12 ago. 2020. 85 pois o mesmo critica essa atitude em seus colegas de trabalho. Consequentemente, os torcedores de todos os pilotos e escuderias podem apreciar a transmissão sem a decepção de ter seu atleta ou time preferido criticado injustamente. Seu ponto fraco se revela unicamente como seus equívocos pontuais nos relatos de eventos passados do esporte e na pronúncia dos sobrenomes dos pilotos, mas estes são corrigidos assim que notados. Portanto, percebe-se que Machado realiza suas narrações com profissionalismo e dedicação.

3.2.3 Transmissão do Grande Prêmio do Japão de 2019

Narrado por Sérgio Maurício, o Grande Prêmio do Japão de 2019 ocorreu no dia 13 de outubro. A gravação disponibilizada pelo Globoplay começa com os últimos instantes da volta de apresentação no Circuito de Suzuka. Sérgio Maurício faz comentários sobre as condições meteorológicas da corrida devido à passagem do tufão Hagibis naquela semana228. Logo após a largada, Maurício descreve as primeiras ações da corrida com voz animada em volume alto, contrastando com o tom sereno de Reginaldo Leme e Luciano Burti. Por três vezes, o narrador chama a largada de Valtteri Bottas de “espetacular”229, pois o finlandês assumiu a liderança da prova, revelando escassez de vocabulário. Mais adiante, ele repete um vício linguístico (no caso, a redundância), afirmando que Bottas “passou de passagem”230 sobre Sebastian Vettel. Devido ao toque entre Charles Leclerc e Max Verstappen ainda na primeira volta, Maurício opina sobre as futuras estratégias dos pilotos, mas a escolha de palavras incita obrigatoriedade, como em “ah, mas tem que ir ‘pro’ (sic) box”231. No entanto, a expectativa do narrador não se concretizou, pois Leclerc continuou na pista. Entende-se que diante das circunstâncias, Maurício usa o verbo “ter” na descrição da possível estratégia de Leclerc como forma de se apresentar como um especialista no assunto, mesmo nunca tendo atuado em uma escuderia de Fórmula 1. Sua fala se difere da colocação de Burti, que diz “pode ser até que [os

228 Disponível de 00’00’’ a 00’33’’ em: . 229 Disponível de 01’22’’ a 01’23’’, de 01’41’’ a 01’45’’ e de 01’49’’ a 01’53’’ em: . 230 Disponível de 07’23’’ a 07’36’’ em: . 231 Disponível de 02’47’’ a 02’48’’ em: . 86 comissários] deem bandeira branca e preta, de problema no carro; ele vem pro box porque isso é perigoso, pode escapar, pode atingir outro carro, pode furar o pneu”232. O comentarista usa o verbo “poder”, indicando probabilidade, pois não é possível prever com certeza absoluta qual será a decisão dos comissários de prova (que optaram por não investigar o toque, mas mudaram de ideia algumas voltas depois). Nota-se que a fala de Burti é mais condizente com a realidade do evento do que a de Maurício. Leclerc foi chamado aos boxes na volta 3, mas só fez a parada na volta 4, acreditando que seu carro não tinha muitos danos.

A narração de Sérgio Maurício é repleta de gírias, expressões populares (como quando afirma que Sebastian Vettel, investigado por queima de largada, “quis dar o pulo do gato”233) e trocadilhos, que o mesmo considera inevitáveis (ao dizer, por exemplo, que Valtteri Bottas está “mandando a bota”234). Também há presença de juízos de valor. Um exemplo é seu elogio à ultrapassagem de Daniel Ricciardo sobre Antonio Giovinazzi: “Linda a manobra em cima do Giovinazzi. Linda manobra”235. Por mais que o talento de um piloto mereça ser destacado, o adjetivo “linda” tem interpretação relativa, já que a ultrapassagem pode ser agradável para os fãs de Ricciardo, mas não para os de Giovinazzi. A fala de Maurício se coloca do lado dos torcedores do piloto australiano, desprezando os do italiano. Além disso, o narrador faz algumas piadas durante a transmissão. Comentando sobre uma disputa de posição entre Max Verstappen e Charles Leclerc, Maurício afirma que é “melhor não convidar os dois para a mesma mesa de sushi hoje à noite”236. O especialista Felippe Santos opina que uma transmissão esportiva deve ter um perfil misto de seriedade e descontração, para que o público compreenda as informações facilmente.

Eu acho que tem o momento de o ‘cara’ (sic) falar sério, de o ‘cara’ (sic) ser mais técnico, de o ‘cara’ (sic) passar para quem está assistindo o que está acontecendo, e ele pode fazer isso sem ser um ‘cara’ (sic) chato, sem ser uma coisa maçante, uma coisa muito técnica, muito ‘seriona’ (sic). Ele pode passar isso de uma maneira mais, não digo mais alegre, mas de um jeito mais simples que não seja tão complicado para o grande público entender o que ele está querendo dizer. E também tem as horas de descontração, eu acho importante. Acho que uma transmissão muito séria, muito ‘fechadona’ (sic), acaba até

232 Disponível de 03’10’’ a 03’24’’ em: . 233 Disponível de 15’37’’ a 15’42’’ em: . 234 Disponível de 16’00’’ a 16’07’’ em: . 235 Disponível de 11’12’’ a 11’16’’ em: . 236 Disponível de 15’13’’ a 15’17’’ em: . 87

espantando o público. Acho que tem que ter um misto, acho que tem que ter a parte da seriedade, da informação, e tem que ter a parte da descontração.

Por outro lado, o especialista Sergio Quintanilha defende que uma transmissão esportiva deve ter sempre um caráter sério, pois os espectadores podem não encarar o esporte em sua verdadeira natureza se for tratado com muita informalidade. Em suas palavras:

Para mim, a transmissão esportiva deve ser sempre séria. Eu não sei de onde que vem essa ideia de que o esporte tem que ter uma cobertura descontraída, eu sou contra isso. O esporte é uma coisa séria. É preciso tratá-lo de maneira séria. Então, a recepção do público é isso: se você trata uma coisa de maneira séria, o público vai levar a sério; se você quer fazer gracinha, o público não vai levar muito a sério.

Nota-se durante a transmissão alguns elogios à performance de Lance Stroll, como quando Sérgio Maurício afirma que na volta 6 ele estava “em um ótimo sétimo lugar”237, e narra com empolgação sobre a posição do piloto na volta 29 (em oitavo lugar), seguido por um comentário de Reginaldo Leme de que “Stroll está indo bem, é nova geração está mostrando”238. Esses elogios podem ser interpretados como uma maneira do narrador e do comentarista se redimirem com o piloto canadense. Como identificado na análise da transmissão do Grande Prêmio da França de 2019, Leme realizou críticas a Stroll com base em acusações infundadas e falaciosas, sendo uma das ocasiões, como relatado por Cléber Machado, a transmissão dos treinos classificatórios da mesma corrida, ao lado de Maurício e de Felipe Giaffone. O narrador, por sua vez, possui um histórico de críticas ao canadense de caráter pessoal, e há relatos de um caso de piada de cunho racial contra o pai de Stroll nos treinos livres para a corrida em questão239.

Diferente de Cléber Machado, Sérgio Maurício procura expor suas opiniões sobre quem será o vencedor e quem pode ser considerado um destaque na corrida, além de incentivar os comentaristas a fazer o mesmo. Pela teoria latino-americana das Mediações, o narrador tem suas impressões pessoais da corrida e em seguida as

237 Disponível de 10’03’’ a 10’05’’ em: . 238 Disponível de 45’59’’ a 46’07’’ em: . 239 Isso será abordado no capítulo 4. 88 passa ao público podendo influenciar a opinião dos torcedores, mesmo que não condigam exatamente com a realidade. De acordo com Ben Shapiro (2013, p. 21), corre-se o risco de distorcer os fatos. Reginaldo Leme e Luciano Burti apostam na vitória de Valtteri Bottas, mas elegem, respectivamente, Alexander Albon e Lewis Hamilton como os melhores pilotos da prova240. Seus julgamentos são feitos com base no desempenho dos pilotos durante a corrida, e Leme toma o cuidado de dizer que discorda da opinião dos internautas, que votaram em Bottas como o melhor piloto da prova no portal Globoesporte.com. Além disso, Maurício também incentiva seus colegas de trabalho a elegerem o pior piloto, chamado por ele de “pé de breque”, mas embora Leme tenha começado seu comentário, afirmando que não classificaria assim o então último colocado , um diálogo entre Charles Leclerc e sua equipe muda o foco da transmissão, impedindo-os de manter a votação241. Caso esta tivesse se concretizado, Maurício e Leme correriam o risco de decepcionar os fãs do piloto criticado. Para Felippe Santos, os narradores e comentaristas podem ter seus pilotos e equipes favoritos, desde que sejam francos com o público e assumem sua parcialidade em vez de exercê-la enquanto se afirmam como imparciais.

Eu acho que o público nem liga de o ‘cara’ (sic) ter uma escuderia que ele gosta, se ele gosta da Ferrari, se ele gosta da McLaren, da Mercedes, ou se ele torce para o Corinthians, para o Palmeiras ou para o Santos. Eu acho que o que o público não gosta é de desonestidade e de o ‘cara’ (sic) dizer que está sendo imparcial e não está sendo.

O Grande Prêmio do Japão de 2019 foi vencido por Valtteri Bottas, com Sebastian Vettel em segundo lugar e Lewis Hamilton em terceiro, correspondendo às apostas de Luciano Burti e Reginaldo Leme. Sérgio Maurício emprega em sua narração uma linguagem bastante informal e descontraída, utilizando-se de recursos coloquiais e humorísticos. Entre os narradores de 2019, Maurício é o único que adota o humor como característica marcante em suas descrições de corridas, porém este é utilizado em carga menor nas transmissões de corridas do que nas de treinos livres e classificatórios. A informalidade do narrador nas exibições do SporTV é percebida

240 Disponível de 01h14’50’’ a 01h15’15’’ em: . 241 Disponível de 01h17’34’’ a 01h17’47’’ em: . 89 claramente por três dos oito torcedores entrevistados. Para o espectador Cleisson Guterres,

A linguagem usada no SporTV é geralmente mais popular e informal que a linguagem usada na Globo, o que parece um pouco contraditório, afinal, seria esperado que a Globo, como canal de TV aberta assistido por todos os públicos, apresentasse uma linguagem mais informal do que o SporTV, que é um canal de TV fechada disponível apenas para o público de maior renda e com mais interesse no esporte (Cleisson Guterres, 26 anos, torcedor de Fórmula 1 desde 2011).

O perfil descontraído das narrações de Sérgio Maurício divide opiniões. Entre os oito espectadores entrevistados, seis conhecem o narrador e dois o desconhecem242. Entre os que já assistiram a corridas narradas por ele, uma aprova e cinco reprovam seu trabalho. Adriana Perantoni elogia o tom humorístico empregado nas falas de Maurício, e afirma que a informalidade de seu discurso facilita na compreensão dos acontecimentos das corridas (opinião partilhada pelo especialista Danilo Cardoso243).

Ele é o meu narrador favorito. [...] Gosto do jeito que ele comenta sobre os pilotos e as expressões que ele usa são muito engraçadas. Ele fala sobre a parte técnica de uma maneira simples, explicando sobre o regulamento e regras da F1 de uma maneira fácil de ser compreendida. [...] Gosto do humor dele e de como ele aborda os lances nos treinos e na corrida. Acho sensacional o jeito que ele é despojado e mais engraçado, comparado aos outros [narradores] (Adriana Perantoni, 25 anos, torcedora de Fórmula 1 desde 2011)244.

Por outro lado, os espectadores que não apreciam a narração de Sérgio Maurício apontam que o mesmo acaba por exagerar na descontração245, revelando um lado torcedor e fazendo comentários humilhantes sobre pilotos e equipes com os

242 Os dois torcedores que não conhecem Maurício relatam não possuírem TV por assinatura e, portanto, não acompanham suas narrações no SporTV. Embora exibido em TV aberta, o Grande Prêmio do Japão de 2019 foi transmitido de madrugada no Brasil. 243 Cardoso afirma que “A transmissão no SporTV descontraída dos treinos ajuda muito para assistir os treinos inteiros”. 244 No dia 25 de outubro de 2020, Adriana contatou a autora do TCC para informar que soube da piada de Maurício sobre Lawrence Stroll (descrita no capítulo 4) e que repudia este ato. No dia de sua entrevista, ela não estava ciente do ocorrido. 245 Maurício já foi apelidado por internautas de “tio do pavê” devido a isso (vide anexo E). Disponível em: . Acesso em 12 ago. 2020. 90 quais não simpatiza. Segundo Elizete Alves, o apresentador “melhoraria sua narração se não tentasse adivinhar o futuro de pilotos e equipes, e baseasse sua narração em fatos reais. Também deve diminuir as piadinhas infames que só empobrecem a narração”. Bruna Andrade avalia que Maurício tem muitos fãs “porque algumas pessoas se divertem com esse tom”, mas que estas “obviamente não são torcedores dos pilotos que ele persegue”. Bruna não vê “profissionalismo” na narração de Maurício, mas sim “um torcedor fazendo no público o que ele faz no privado” e opina que o mesmo “precisa mudar urgentemente justamente essa postura”, pois “transmissão esportiva não é programa de humor para ficar zombando dos outros”.

Anderson de Oliveira e Helena Silva ponderam que Sérgio Maurício incentiva que seus colegas de trabalho também adotem o humor jocoso em seus comentários, o que pode influenciar a percepção do público sobre os pilotos e equipes246. Segundo Oliveira,

Tem torcedores fanáticos que se sentem no direito de atacar pilotos que eles detestam, e esse ódio eles absorvem dos narradores. Ainda por cima aproveitam o anonimato da internet até para ameaçar os pilotos de morte. Tudo isso porque as piadas e comentários que os narradores fazem colocam na cabeça deles que tal piloto é um inimigo mortal e merece ser detido. É ruim para um fã entrar no Instagram de seu piloto favorito e ver um monte de vagabundos ‘xingando ele’ (sic) sem motivo em vez de estarem trabalhando para sustentar suas famílias. É uma vergonha ver homens na casa dos 40 anos agindo feito crianças e sentindo orgulho disso, perseguindo atletas jovens, que têm família e sentimentos, para preencher suas vidas. É por causa dessa irresponsabilidade da mídia que temos tantos casos de violência nas torcidas de futebol, por exemplo (Anderson de Oliveira, 24 anos, torcedor de Fórmula 1 desde 2014).

Para Helena Silva, a postura de Sérgio Maurício diante das câmeras não é compatível com uma transmissão esportiva, pois sua linguagem vai de encontro aos valores do espírito esportivo e coloca em risco a reputação de atletas rivais dos que o narrador defende. Em sua avaliação,

O mesmo usa uma linguagem muito informal, típica de uma conversa de amigos no bar, que apesar de aproximar o público, tira o caráter sério do esporte. Além do mais, algumas piadas feitas por Sérgio se assemelham ao comportamento de bullying

246 Esse argumento é comprovado no capítulo 4. 91

escolar, incentivando os internautas a agirem como tal perante os pilotos e equipes que eles não simpatizam, em vez de promover o respeito e o espírito esportivo. Sérgio usa padrão duplo para julgar os pilotos, como se tentasse manchar a imagem de alguns e endeusar a de outros. Cabe ao torcedor fazer esses julgamentos, não ao narrador. Recomendo que Sérgio Maurício reveja seu comportamento perante as câmeras, pois o mesmo não está nem em posição nem em idade para agir como um adolescente num ambiente de trabalho.

O comportamento agressivo de alguns torcedores, que chegam a atacar pilotos na internet247, diante das narrações se enquadra na proposta da Teoria Hipodérmica, ou Teoria da Bala Mágica, elaborada pelo psicólogo Harold Lasswell (1902-1978) na década de 1930248 com base no poder persuasivo da mídia (SANTOS, 2003; TONDATO, 2014 In. CITELLI, 2014, p. 307). Segundo esta teoria, os receptores das mensagens veiculadas pela comunicação de massa são totalmente passivos, pois o efeito destas é instantâneo (SANTOS, 2003). Alguns dos objetivos da linguagem propagandista, de acordo com a teoria de Lasswell, são “mobilizar o ódio contra o inimigo” e “desmoralizá-lo”, influenciando a ação humana “através da manipulação das representações, como símbolos, por meio de rumores, relatos, imagens e outras formas de comunicação social” (Ibid.). Já o argumento do frankfurtiano Theodor Adorno da incitação da mídia à competição e disputa entre os indivíduos que resultaria em ganhos mercadológicos ajuda a explicar a persuasão do discurso das narrações a favor de alguns pilotos ou equipes e contra outros (COHN, 2014 In. CITELLI, 2014, p. 161).

Por outro lado, a existência de torcedores que têm uma postura crítica ao que é dito nas transmissões (como os entrevistados249) comprova a tese de Jesús Martín- Barbero de que a recepção é transformada com o surgimento de novas tecnologias, e as audiências são “cada vez menos controladas, com um poder de escolha

247 Como relatado por Oliveira e Helena e também revelado no capítulo 4. 248 O próprio Lasswell reconheceu anos depois que a Teoria Hipodérmica ignora o contexto no qual a comunicação de massa é feita (SANTOS, 2003). No entanto, percebe-se que seu argumento pode ser usado para explicar a agressividade de alguns torcedores para com os atletas e equipes que não simpatizam, mesmo tendo meios de averiguar os fatos (pois se usam a internet para atacar, podem usá-la para investigar se o discurso do narrador ou comentarista procede ou não). 249 Sete dos oito torcedores entrevistados fizeram elogios e críticas aos narradores, enquanto um não fez nenhum questionamento, pois desconhece Maurício e Múcio e aprova o trabalho de Galvão e Machado. Além disso, houve internautas que criticaram a tentativa de Maurício de convencer o público a concordar com sua opinião (vide anexo F). Disponível em: . Acesso em 12 ago. 2020. 92 aumentado” (TONDATO, 2014 In. CITELLI, 2014, p. 312). Além disso, a cultura e as visões de mundo implicam nas estratégias de comunicação comerciais e industriais (Ibid.). Seguindo esta lógica, confirmada pela opinião do especialista Sergio Quintanilha, os valores morais e interesses financeiros da emissora têm influência direta na maneira como a Fórmula 1 é narrada, e os espectadores, com base em suas culturas e dotados de meios tecnológicos, terão diferentes recepções a respeito disso.

De acordo com Ben Shapiro (2012, p. 347-348), a televisão permite uma união entre as pessoas através de sua programação, mas ao apresentar apenas uma visão acerca de um fato acaba por criar um clima de intolerância, desrespeito e incompreensão entre aqueles que têm pensamentos divergentes. Logo, se o narrador assume uma postura de torcedor, os fãs de seu piloto ou equipe preferidos se identificarão com seu trabalho. Por outro lado, se forem feitas críticas árduas a algum atleta sem que o outro lado seja ouvido, alguns apreciadores do narrador poderão expressar ódio na internet e entrar em conflito com os apoiadores do piloto criticado. Em 2010, quando era goleiro do Palmeiras, o jogador Marcos criticou a promoção da discórdia entre torcedores por parte de jornalistas e comentaristas esportivos: “acho que o microfone é para quem tem ética, não para quem quer ficar jogando uns contra os outros”250.

Na opinião de Sergio Quintanilha, o narrador deve se limitar a fazer críticas a atitudes antiéticas de pilotos e escuderias, como os jogos de equipe, e não é correto insistir para que os espectadores concordem com seu julgamento. Críticas a atletas simplesmente por serem concorrentes daqueles que o narrador aprecia não seriam apropriadas eticamente no contexto da transmissão. Felippe Santos defende a transparência dos apresentadores com o público, embora entenda que isso não é observado na prática. Danilo Cardoso afirma que os narradores são considerados “autoridades no assunto”, porém não devem agir como influenciadores, pois precisam respeitar a preferência de cada espectador.

Alguns dos pilotos apontados pelos entrevistados como os “favoritos” de Sérgio Maurício são Charles Leclerc, Esteban Ocon, George Russell, Lando Norris e

250 Declaração feita em uma entrevista para o programa Jogo Aberto da Rede Bandeirantes, na qual Marcos criticou o comentarista e ex-jogador Neto por fazer comparações entre ele e Rogério Ceni, na época goleiro do São Paulo. O trecho transcrito encontra-se de 02’05’’ a 02’11’’ em: . Acesso em 18 out. 2020. 93

Sebastian Vettel251, além dos atualmente aposentados Fernando Alonso252 - bicampeão em 2005 e 2006 (VASCONCELLOS, 2013, p. 208) - e Stoffel Vandoorne. Entre as equipes, a Ferrari é mencionada como favorecida em suas narrações. Por outro lado, é percebido um certo desprezo a Alexander Albon e Lance Stroll, com relatos de piadas de motivação pessoal253 e cunho racial. As suspeitas da motivação aos ataques a esses dois pilotos são baseadas na diferença em relação ao tratamento favorável a pilotos brancos com menos feitos na Fórmula 1. Bruna Andrade, Elizete Alves e Helena Silva apontam uma discrepância na atual defesa de Maurício a pilotos jovens como Leclerc, Norris, Ocon e Russell, sendo que entre 2015 e 2017, com o ingresso, respectivamente, de Max Verstappen e de Stroll na categoria, o mesmo fez duras críticas às idades de ambos, apesar de seus feitos. Também recordam que os critérios adotados pelo narrador ao avaliar a conduta dos pilotos não são fixos, pois enquanto criticou uma resposta “dura” de Verstappen a uma pergunta indelicada de um jornalista na coletiva de imprensa do Grande Prêmio do Canadá de 2018 (BROWN, 2018), e ironizou a defesa dos fãs do holandês a isto, o narrador defendeu a conduta antiesportiva de Sebastian Vettel após o Grande Prêmio do Canadá de 2019, no qual o alemão estacionou seu carro fora da vaga destinada ao segundo lugar, invadiu a garagem da Mercedes e trocou as placas de primeiro e segundo colocado nas vagas do pódio (BENSON, 2019b; PINHEIRO, 2019e; UOL, 2019), além de Maurício ter justificado as vaias e desrespeito da torcida ferrarista contra o vencedor Lewis Hamilton.

Conclui-se que a narração de Sérgio Maurício apresenta fácil compreensão para os espectadores devido à linguagem informal e descontraída. No entanto, a carga humorística empregada pelo narrador, embora proporcione divertimentos para alguns torcedores, gera desconforto para outros, pois algumas de suas piadas ridicularizam alguns pilotos sem que haja um motivo concreto que justifique a crítica. Logo, seus fãs sentem-se desrespeitados pela narração. O excesso de humor, na

251 Alguns internautas também notaram uma predileção de Maurício por Leclerc e Russell, que os apelidou de “Charlinho” e “Jorjão” (vide anexo G), além de ter dito equivocadamente que o atual piloto da Williams é filho do ex-piloto Jacques Laffite (vide anexo H). Disponível em: . Acesso em 12 ago. 2020. 252 Em julho de 2020, a equipe Renault anunciou a contratação de Alonso para a temporada de 2021. O espanhol havia deixado a Fórmula 1 no final de 2018, quando corria pela McLaren (UOL, 2020d). 253 Segundo Bruna e Elizete, Maurício fez comentários depreciativos contra a mãe de Albon, Kankamol, por esta ter sido presa por estelionato (STUBBINGS, 2020), atitude considerada imprópria pelas torcedoras. 94 visão dos especialistas e torcedores entrevistados, pode levar o público a não encarar o esporte de maneira séria, além de manchar injustamente a reputação dos atletas e causar um aumento no radicalismo das torcidas, pois em alguns casos os internautas tomam para si o sentimento de antipatia do narrador a um determinado piloto ou equipe e adotam medidas antiéticas no ambiente online (algumas vezes, segundo Cleisson Guterres, sem perceberem a gravidade de seus atos e a motivação por trás dos mesmos). Nota-se que Maurício procura engajamento em suas narrações, tanto de seus colegas de trabalho quanto dos torcedores, garantindo um caráter persuasivo às transmissões.

3.2.4 Transmissão do Grande Prêmio do Brasil de 2019

O Grande Prêmio do Brasil de 2019 ocorreu no dia 17 de novembro e foi narrado por Galvão Bueno. As primeiras imagens são de uma vista aérea do Autódromo de Interlagos, e o narrador faz questão de exaltar a pista, que segundo o mesmo, proporcionam corridas que são “um grande barato”254. Galvão exalta quatro pilotos: Lewis Hamilton (hexacampeão), Max Verstappen (pole position), Sebastian Vettel (cujo carro, segundo Galvão, é “mais rápido de reta”255), Valtteri Bottas (vencedor da etapa anterior, o Grande Prêmio dos Estados Unidos) e Charles Leclerc (punido com 10 posições). O narrador anuncia uma entrevista da repórter Mariana Becker com o piloto monegasco, que elogia o falecido tricampeão Ayrton Senna. Mariana sorri enquanto conversa com Leclerc, e encerra a entrevista afirmando que “nós estaremos torcendo por você” e lhe desejando boa sorte.256 Após a repórter traduzir a resposta do piloto, Galvão faz uma brincadeira com ela, dizendo para que da próxima vez entreviste-o em francês ou italiano, e em seguida revela uma cerimônia antes da corrida, na qual Bruno Senna, sobrinho de Ayrton e ex-piloto de Fórmula 1, fez uma volta com um modelo igual ao com o qual o tio foi campeão pela primeira vez, em 1988. Poucos momentos após o fim do VT de Bruno, Galvão anuncia com pesar a morte de Tuka Rocha, vítima de um acidente aéreo três dias antes. Um

254 Disponível de 00’27’’ a 00’33’’ em: . 255 Disponível de 00’55’’ a 00’57’’ em: . 256 Mariana diz “We’ll be cheering for you. Good luck!”, disponível de 01’39’’ a 01’41’’ em: . 95 quadro de Rocha em um fundo azul com o ano de nascimento e de falecimento é o último momento antes da transmissão começar.

Nota-se que antes mesmo da transmissão começar, já há uma tendência pró- Leclerc por parte da emissora. Quando Mariana Becker diz que “nós estaremos torcendo por você”, não esclarece a quem “nós” se refere: se ela fala pela equipe da Globo ou em nome de toda a torcida do Grande Prêmio do Brasil. Neste caso, ambas as possibilidades são desvantajosas para a transmissão. A emissora não deveria assumir a torcida por nenhum piloto ou equipe especificamente, já que sua audiência é composta por torcedores de todos os 20 pilotos e 10 equipes do grid, e alguns podem se incomodar com uma narração tendenciosa para os rivais. Mariana não tem provas de que toda a torcida brasileira espera pela vitória de Charles Leclerc, até porque trata-se de uma inverdade. Nas arquibancadas se veem torcedores com bonés, camisas e bandeiras de diversas equipes, não apenas da Ferrari, assim como na audiência televisiva. Consequentemente, ocorre uma distorção dos fatos em favor de uma narrativa, como contextualizado por Ben Shapiro (2013, p. 21). Percebe-se que o comportamento de Mariana e Galvão isola os torcedores de outros pilotos e equipes como se estes não fossem bem-vindos e a transmissão fosse apenas para os ferraristas, especialmente os fãs de Leclerc. Seria mais aconselhado à repórter desejar apenas boa sorte ao piloto em vez de lhe prometer uma torcida que ela não tem como garantir.

A transmissão de fato começa depois desde bloco, que dura quatro minutos. Galvão Bueno começa comentando do tempo, opinando que possa chover, e anuncia os patrocinadores da transmissão. Imagens se intercalam entre a vista aérea do autódromo e das arquibancadas da torcida. Então há um corte para Galvão e os comentaristas: Luciano Burti e Reginaldo Leme. Os três estão em uma sala especial localizada no próprio autódromo, diferente das outras corridas, que são narradas e comentadas diretamente dos estúdios da Globo. Leme comenta que o traçado de Interlagos faz com que o maior peso do desempenho recaia sobre o piloto em vez do carro. Ao responder a uma pergunta de Galvão, Burti admite, entre risos, que não teve oportunidade de garantir um título antes do fim da temporada (situação em que Lewis Hamilton se encontrava). Ao anunciar o grid de largada, Galvão perde muito tempo comentando a volta de Max Verstappen no ano passado e se atrapalha em informar qual será a ordem de partida dos carros. Lembrando que Leclerc largaria da 14ª 96 posição, o narrador opina que o monegasco daria emoção à corrida devido à potência de seu carro. Leme afirma “vai ser o grande nome da corrida” e que fará o público “levantar e vibrar” ainda que a vitória seja de Verstappen ou Hamilton257. Burti contraria a opinião dos dois, apostando em Verstappen, mas admitindo que não há garantias sobre quem será o vencedor da prova.

Mais uma vez, observa-se que Galvão tenta convencer o público a torcer por Charles Leclerc, e Reginaldo Leme se arrisca a prever o fim da prova antes mesmo do começo desta. Luciano Burti procura fazer uma análise mais isenta, atendo-se aos fatos (imprevisibilidade da corrida e talento dos pilotos que estão à frente).

Após a largada, Lewis Hamilton ultrapassa Sebastian Vettel, mas Galvão ainda torce pela virada do alemão, percebendo que a conquista de posição do inglês contradiz os elogios do narrador ao carro da Ferrari. Galvão apostava em Vettel na curva S do Senna, mas Hamilton continuou à frente. Sem mais esperanças no alemão, o narrador volta suas atenções para Charles Leclerc, narrando com entusiasmo sua disputa com Lando Norris, comentando “e vai ‘pra’ (sic) cima, o menino é bom demais!”258. Este é apenas um exemplo dos elogios que Galvão faz ao monegasco durante toda a transmissão da corrida. O narrador ignora outros competidores para focar em Leclerc, apostando até que o mesmo será líder devido à escolha de pneus. Luciano Burti insiste que pela situação da corrida, a vitória será ou de Max Verstappen ou de Lewis Hamilton. Reginaldo Leme segue a torcida de Galvão, inclusive dizendo que a torcida apoia Leclerc como se ele fosse Ayrton Senna (mesmo sem provas). Momentos antes, Galvão afirma:

Existe a torcida individual. Existe hoje, claro, uma grande torcida pelo [Lewis] Hamilton. Existe ‘as Vettel’ (sic), vem com camisa do [Sebastian] Vettel. Sempre existiram torcidas individuais. A única equipe que tem torcida grande no mundo inteiro é a Ferrari. São os tifosi, que torcem pela Ferrari no mundo inteiro (GLOBOPLAY, 2019c).259

Em outras palavras, Galvão afirma que apenas a torcida ferrarista importa para a Fórmula 1, diminuindo o apoio dos torcedores de outros pilotos e equipes como

257 Disponível de 07’15’’ a 07’24’’ em: . 258 Disponível de 12’08’’ a 12’11’’ em: . 259 Disponível de 18’18’’ a 18’40’’ em: . 97

“torcidas individuais” como se fossem casos isolados. O apresentador não informa dados ou fontes de onde ele poderia ter tirado essa “conclusão”, além de ignorar fatos importantes, como o papel da torcida por Max Verstappen na volta do Grande Prêmio da Holanda para o calendário da Fórmula 1 no ano seguinte (FALDON, 2019; GAZETA ESPORTIVA, 2020). O apoio maciço dos torcedores do piloto holandês, que lotaram arquibancadas na Alemanha, Áustria e Bélgica (ESTADÃO CONTEÚDO, 2018b), e também marcaram presença na Austrália e no Japão (CURTY, 2019), despertou o interesse de alguns executivos para reincluir uma corrida realizada em território holandês na categoria, que seria realizada no Circuito de Zandvoort (FALDON, 2019). A edição só foi cancelada em 2020 devido à pandemia de Covid-19 que impossibilitaria a presença de público no local (COOPER, 2020a). Logo, é infundada a declaração de Galvão Bueno de que somente a Ferrari tem um grande apoio pelo mundo, já que a torcida de Verstappen fez a Fórmula 1 reincluir em seu calendário uma prova que não era disputada desde 1985 (GAZETA ESPORTIVA, 2020).

Além de não corresponder à realidade, as declarações de Galvão Bueno a respeito de uma suposta “superioridade” da torcida da Ferrari em comparação às demais escuderias participantes inferem que a preferência da emissora seja os telespectadores ferraristas. Em termos comerciais, embora uma grande torcida resulte em muitos consumidores, ela isolada gera uma receita menor do que se somada às demais, logo os torcedores das outras equipes não deveriam ser ignorados ou menosprezados nas narrações. Na fala de Galvão, os apoiadores de Lewis Hamilton têm sua relevância diminuída em relação aos da Ferrari (os de Max Verstappen são, inclusive, ignorados), caracterizando um comportamento midiático delatado por Ben Shapiro (2012, p. 348) de omitir um lado e exaltar outro, o que gera conflitos e divisões entre os torcedores.

Ao exaltar Charles Leclerc, Galvão não apenas reduz a importância dos torcedores dos outros pilotos e escuderias, como também dos próprios concorrentes do monegasco. Após narrar a ultrapassagem de Leclerc sobre , que corria pela Toro Rosso260, o narrador afirma “então só tem o Albon por ali”261. Esta declaração infere que Alexander Albon não teria qualificações para vencer Leclerc em

260 Para a temporada de 2020, ano de elaboração do TCC, a Toro Rosso mudou seu nome para AlphaTauri (SPENCER, 2019). Gasly se manteve como um de seus pilotos. 261 Disponível de 22’12’’ a 22’14’’ em: . 98 uma disputa por posições. Galvão ignora que o desempenho de Albon foi reconhecido pelos próprios executivos da Red Bull Racing quando escolheram o tailandês para substituir Gasly na equipe devido ao desempenho abaixo do esperado do piloto francês (ANSA, 2019; KHOROUNZHIY, 2019). Albon se destacou em algumas corridas até então, como no Grande Prêmio da Rússia, no qual largou do pit lane, conseguiu superar seus adversários e terminou a prova no quinto lugar (ROBERTS, J. W., 2019; PINHEIRO, 2019g). Desvalorizar o talento de Albon para destacar o de Leclerc não é apenas um desrespeito com a carreira do tailandês (estreante naquele ano), como também uma desinformação seletiva. Tal afirmação pode ser incômoda para os torcedores de Albon e da Red Bull que estariam assistindo à corrida. Alguns momentos depois, Galvão volta a desvalorizar o piloto e sua equipe, torcendo claramente para que a diferença entre Albon e Leclerc diminuísse, chegando até a dizer impacientemente “Quer ver baixar? Quer ver baixar? Vamos lá, baixa aí!”262. Como a diferença não diminuiu no momento desejado, Galvão tenta reduzir o constrangimento de sua torcida pessoal ao afirmar que “a tendência é baixar essa diferença do Albon para o Leclerc para que aí nós tenhamos aquilo que é a normalidade, né? A Ferrari um pouquinho mais à frente com o Leclerc”263. Embora se refira a Leclerc e Albon, está claro que ao chamar de “normalidade” uma situação na qual a Ferrari se encontraria “um pouquinho mais à frente” Galvão tenta dizer que a Red Bull é consideravelmente inferior à equipe italiana. Observa-se que não seria justo fazer uma comparação a nível geral entre as duas escuderias, pois a Ferrari foi uma das equipes a estrear a Fórmula 1 enquanto categoria esportiva, em 1950264, enquanto que a Red Bull só ingressou como escuderia em 2004, após a venda da equipe Jaguar para a empresa de energéticos homônima, dirigida por Dietrich Mateschitz (SABINO, 2019). Mesmo a Ferrari vencendo 15 campeonatos de pilotos e 16 de construtoras (ANDRADE, G., 2020) e a Red Bull apenas quatro de cada tipo (SABINO, 2019), deve se levar em conta que a primeira tinha 69 anos de Fórmula 1 na época de realização da prova, enquanto a segunda somente 15. A comparação é desleal e tendenciosa. Além disso, a Red Bull venceu a Ferrari durante os anos de 2010 e 2013 (Ibid.), e em 2019 a escuderia italiana estava desde 2007 sem ganhar o

262 Disponível de 23’51’’ a 23’55’’ em: . 263 Disponível de 23’56’’ a 24’06’’ em: . 264 Disponível em . Acesso em 18 ago. 2020 99 campeonato de pilotos e desde 2008 sem vencer o de construtoras (ANDRADE, G., 2020). Logo, não se pode afirmar com certeza absoluta que é “normalidade” a Ferrari estar à frente da Red Bull, já que vários foram os anos em que a situação se inverteu. Além disso, as vitórias e pódios de Max Verstappen naquele ano o colocaram no terceiro lugar do campeonato de pilotos, superando a dupla ferrarista e perdendo apenas para Lewis Hamilton e Valtteri Bottas, da Mercedes (ANSA, 2019). A Red Bull estava atrás da Ferrari no campeonato de construtoras porque os resultados de Gasly, companheiro de Verstappen até a metade da temporada, não se aproximavam dos do holandês e eram superados pelos de Leclerc e Sebastian Vettel (Ibid.), o que levou à sua troca por Alexander Albon. Uma vez que Verstappen, da Red Bull, estava à frente de Leclerc e Vettel, da Ferrari, no campeonato daquele ano, o “argumento” de Galvão é refutado mais novamente.

Outro equívoco de Galvão foi traduzir o cargo de Günther Steiner na equipe Haas, “team principal”, como “diretor principal”, quando na verdade a tradução correta seria “chefe de equipe”. O narrador decidiu comentar sobre Steiner quando uma das câmeras o centralizou minutos após o replay de um toque de Daniel Ricciardo, da Renault, em Kevin Magnussen, da Haas. Galvão comentou em linguagem informal que os desempenhos de Magnussen e de seu companheiro Romain Grosjean não satisfaziam a Haas, mas que ambos tiveram seus contratos renovados. Reginaldo Leme insinua que Steiner foi o responsável pela renovação mesmo não gostando da performance dos pilotos, enquanto Galvão teoriza que o dono da equipe, Gene Haas, obrigou Steiner a manter Grosjean e Magnussen na equipe265. Um chefe de equipe cuida da organização do time de estrategistas, engenheiros e mecânicos para comandar os pilotos durante as corridas. Contratar atletas não está entre suas funções. Os comentários de Galvão e Leme, que demonstram falta de conhecimentos linguísticos esperados para seus cargos, acabam por confundir o espectador, que fica sem entender quem de fato comanda a Haas e é o responsável pela renovação de contrato de Magnussen e Grosjean, além de ficar com dúvidas sobre o poder de Steiner na Haas.

265 O diálogo entre Galvão e Leme é encontrado de 22’43’’ a 23’23’’ em: . 100

Um erro grosseiro da narração é quando Galvão confunde os dois carros da Red Bull. Max Verstappen havia sido ultrapassado por Lewis Hamilton, que fez sua troca de pneus antes, após ser atrapalhado na saída dos boxes por Robert Kubica, da Williams, porém ultrapassou o inglês na pista. Após um replay do incidente entre Verstappen e Kubica, a direção de imagem volta a exibir a prova ao vivo, mostrando Hamilton ultrapassando um carro da Red Bull. Galvão narra como se o piloto da Mercedes tivesse “dado o troco” no holandês266, e menciona que há torcedores de ambos os atletas267, então Luciano Burti o corrige, afirmando que Hamilton na verdade havia ultrapassado Alexander Albon268. Nota-se que Galvão não prestou atenção ao painel indicativo do lado esquerdo da tela, que indicava que era Albon logo à frente de Hamilton, não Verstappen. O narrador teria persistido no erro se não fosse a interferência do comentarista, o que mostra a importância de se ter uma equipe trabalhando à frente das câmeras em uma transmissão em vez de apenas uma pessoa. O elenco de apresentação das corridas foi elogiado pelo especialista Sergio Quintanilha, que inclusive notou uma rapidez da correção de erros nas transmissões ao vivo. Em suas palavras:

A fórmula da Globo que tinha o Galvão narrando, o Reginaldo Leme comentando e o Luciano Burti comentando para mim era perfeita. [...] Há vários equívocos, mas eu acho que sempre que os jornalistas conseguem identificar os equívocos, eles são corrigidos sim de forma rápida.

Além da subestimação de Alexander Albon (que depois de muito tempo foi elogiado pelo narrador), Galvão admite o tratamento desigual aos pilotos ao comentar que a investigação a Nico Hulkenberg, então piloto da Renault, deveria ser ignorada pois o piloto estava “lá atrás”269. É compreensível que a narração queira focar nos pilotos que disputam a vitória, porém, informações sobre as penalidades são importantes para que o público entenda as regras do esporte. Hulkenberg estava sendo investigado por ultrapassar Kevin Magnussen durante a passagem do safety car, o que é proibido pelo regulamento da Fórmula 1. Além de desapontar os torcedores de Hulkenberg e da Renault, Galvão desperdiça uma oportunidade de

266 Disponível de 39’09’’ a 39’22’’ em: . 267 Disponível de 39’22’’ a 39’24’’ em: . 268 Disponível de 39’24’’ a 39’27’’ em: . 269 Disponível de 01h31’10’’ a 01h37’38’’ em: . 101 ensinar o funcionamento da categoria aos torcedores que começaram a ver o esporte há pouco tempo, o que aperfeiçoaria seu trabalho e lhe garantiria um status de especialista no assunto.

Na volta 66, com os elogios de Galvão Bueno e Reginaldo Leme ao fundo, Sebastian Vettel e Charles Leclerc tiveram um toque que tirou ambos da corrida. Com esse desfecho, as expectativas de Galvão, Leme e de Mariana Becker são frustradas. Em vários momentos da prova, os apresentadores tentaram passar a impressão que o monegasco tinha apoio incondicional, com Leme até arriscando a dizer que Leclerc seria o maior destaque da prova. O incidente com os pilotos ferraristas mostra que não cabe aos narradores, comentaristas ou repórteres “prever” o resultado da corrida. A opinião de Luciano Burti de que a prova seria “imprevisível” embora fosse provável uma vitória de Max Verstappen ou Lewis Hamilton se mostrou mais condizente com a realidade. Com este palpite, Burti assume que ninguém pode adivinhar como uma corrida vai acabar e mantém um perfil imparcial esperado de uma emissora de televisão.

O Grande Prêmio do Brasil de 2019 foi vencido por Max Verstappen. Pierre Gasly foi o segundo colocado. Embora Lewis Hamilton tenha participado da cerimônia de premiação do pódio como o terceiro lugar, uma investigação feita após a corrida lhe deu uma punição de cinco segundos por ter colidido com Alexander Albon, caindo para o sétimo lugar e promovendo Carlos Sainz Jr. à terceira colocação (MENDES, 2019; PINHEIRO, 2019i). O resultado provou que a postura de Luciano Burti estava mais adequada à sua posição como apresentador do que a de Galvão Bueno e de Reginaldo Leme. Uma diferença particular entre o Grande Prêmio do Brasil e as outras provas do calendário é a presença de dois repórteres da Globo. Guilherme Pereira e Mariana Becker se revezam na função de correspondente em corridas no exterior, mas em Interlagos os dois fazem a cobertura. Pereira teve uma participação menor na transmissão da corrida analisada, mas também fez comentários sobre Charles Leclerc. Mariana, por outro lado, chegou a entrevistar o piloto antes da corrida, lhe desejou boa sorte e lhe garantiu que ele teria apoio por parte da emissora ou da torcida brasileira. As declarações de Galvão, que maximizam o desempenho de Leclerc e desvalorizam a performance de outros pilotos, como Albon, além de desdenhar das torcidas dos outros atletas e equipes, inferiorizando-os em relação à torcida da Ferrari, podem agradar os apoiadores da equipe italiana, mas incomodam os das demais 102 escuderias. O esperado para um narrador de Fórmula 1 é que o mesmo valorize cada torcedor que integra a audiência, mas Galvão usa dados inexistentes para justificar sua predileção pela torcida ferrarista. Nota-se que o narrador projeta seus desejos no público para dar a falsa impressão de que está certo em seus comentários, usando uma estratégia semelhante à de Luís Roberto de Múcio no Grande Prêmio de Mônaco do mesmo ano.

A torcida de Galvão Bueno para Charles Leclerc também foi notada no Grande Prêmio do Bahrein de 2019, no qual o monegasco largou da pole position (ANDRADE, V., 2019). Em um áudio vazado, Galvão diz que a audiência da prova aumentou em relação à edição do ano anterior, e que isso se deve à pole position de Leclerc270. Porém, não houve sequer pesquisas sobre as motivações do público em assistir à corrida (Ibid.). Novamente, Galvão transmite sua opinião pessoal como um fato concreto para convencer os espectadores a torcerem pelo mesmo piloto que ele, seja por uma razão pessoal, ideológica - como percebida na análise de Ben Shapiro (2013, p. 21) - ou mercadológica - como teorizado por Theodor Adorno (COHN, 2014 In. CITELLI, 2014, p. 161). Elogios a Leclerc são válidos devido ao seu desempenho durante o ano, no qual obteve duas vitórias271, dez pódios272 e sete pole positions, sendo o piloto que largou mais vezes do primeiro lugar em 2019 (GOUVÊA, 2019a; PINHEIRO, 2019j). No entanto, o narrador deveria se ater aos fatos da corrida em questão e não privilegiar nenhum piloto específico, principalmente quando há outros com boas performances, inclusive com grandes chances de vitória (como eram os casos de Lewis Hamilton e Max Verstappen).

Entre os oito torcedores entrevistados, sete desaprovam a narração de Galvão Bueno, que é elogiada apenas por um. A parcialidade em favor de certos pilotos e equipes e desvios de assunto na narração foram os principais motivos das queixas. Segundo o torcedor Fernando Meyer, Galvão é “meloso e escandaloso demais” e “deveria controlar as emoções durante a narração”. Para o espectador Cleisson Guterres, as emissoras devem sempre transmitir as corridas com imparcialidade. Ele também aponta que a falta de opções para se assistir à Fórmula 1 na televisão

270 Vide anexo I. 271 Leclerc venceu o Grande Prêmio da Bélgica (RICHARDS, 2019; PINHEIRO, 2019fj) e o da Itália (BENSON, 2019a; PINHEIRO, 2019j) em 2019. 272 Na data de realização do Grande Prêmio do Brasil, Leclerc estava com nove pódios. Seu décimo ocorreu no Grande Prêmio de Abu Dhabi, duas semanas depois (MCLAUGHLIN, 2019; PINHEIRO, 2019h). 103 brasileira, devido ao monopólio da Rede Globo, obriga os torcedores de pilotos que não são os favoritos do narrador a passar por uma situação desconfortável.

Há 20 pilotos e milhões de fãs. É óbvio que se um narrador deixar transparecer durante a transmissão que está torcendo por pilotos específicos ou torcendo contra pilotos específicos, tornará a sua narração extremamente desagradável para uma enorme parcela dos fãs. Infelizmente, é provável que esses fãs não tenham outras opções para assistir à corrida e sejam forçados a suportar a experiência de uma narração tendenciosa como único meio de assistir, mas com certeza se houvesse um meio alternativo com uma narração imparcial, a maioria dos fãs naturalmente optaria por esse meio alternativo.

Durante a transmissão da prova, nota-se que Galvão Bueno se atrapalha em vários momentos, pois sua fala é muito rápida. Ao mesmo tempo, a voz do narrador expõe entusiasmo diante de alguns acontecimentos, principalmente quando está falando de Charles Leclerc. Para o torcedor João Baptista Rossetto, a maneira como Galvão narra as corridas provoca emoções no público, e as preferências do narrador influenciam seu trabalho.

Ele é um torcedor transmitindo a corrida, sua transmissão é totalmente parcial. Ele não faz questão de esconder suas preferências, [...], cria um clima de “discussão de boteco”. É impossível assistir uma corrida narrada pelo Galvão sem ficar tenso, alegre, com raiva, apreensivo, ou seja, ele passa mesmo muita emoção. Um exemplo de sua parcialidade era quando o Ayrton Senna corria, ele era declaradamente um torcedor narrando, até porque ele convivia muito com o Ayrton, os dois tinham muita amizade pessoal (João Baptista Rossetto, 58 anos, torcedor de Fórmula 1 desde 1972).

A espectadora Elizete Alves relembra a campanha “Cala a boca, Galvão” lançada durante a Copa do Mundo de 2010 ao comentar que muitos torcedores brasileiros não gostam da narração tendenciosa de Galvão Bueno e da insistência do mesmo em chamar a atenção para si, muitas vezes interrompendo seus colegas de trabalho que passam informações importantes. Elizete também nota que Galvão tende a relembrar histórias passadas no meio das narrações, desconcentrando os espectadores.

Não admiro a narração de Galvão Bueno, pois a forma como ele induz o torcedor a gostar dos mesmos pilotos e equipes que ele gosta torna sua narrativa monótona, cansativa e tensa. Eu

104

gostaria que ele não ficasse retornando ao passado, contando histórias longas sobre pilotos que não fazem mais parte do grid, pois isso tira o foco da corrida. Esse assunto poderia ser abordado em outro programa, não durante a corrida. Com essas histórias, ele deixa de atender a outros repórteres que estão participando do evento, como vi várias vezes a Mariana Becker chamá-lo para narrar algum fato e ele não lhe dá a palavra273, continua a sua história descabida, perdendo lances de corrida que ela gostaria de comentar. Desta maneira, os torcedores retomam a campanha “Cala a boca, Galvão” da Copa de 2010 e é bem merecido.

Conclui-se que a narração de Galvão Bueno favorece a interação do público, seja com uma reação positiva ou negativa. Devido à sua clara preferência pela Ferrari e por Charles Leclerc, os torcedores dessa equipe e piloto podem se sentir representados na narração, enquanto que os demais podem se ver preteridos pelo apresentador. Mesmo com muita experiência em narração esportiva, Galvão passa uma impressão de amadorismo ao tentar prever o resultado das corridas, passar informações falsas para exaltar seus pilotos favoritos e diminuir seus rivais, cometer erros grosseiros de tradução, se confundir com os atletas e trazer para a transmissão assuntos que não são relacionados com o campeonato em curso.

273 Um exemplo desse acontecimento foi no Grande Prêmio da Bélgica de 2019, quando Mariana pediu a palavra para entrevistar Verstappen, que havia abandonado após um choque com Raikkonen (CHOKHANI, 2019; PINHEIRO, 2019f), e Galvão não lhe concedeu o momento, preferindo narrar as velocidades instantâneas de Gasly. Um tweet que comprova o ocorrido se encontra em: . Acesso em 19 ago. 2020. Print no arquivo 23 disponível em: . 105

4 A NARRAÇÃO DE FÓRMULA 1 NO BRASIL E O RESPEITO ÀS ORIGENS ÉTNICO-RACIAIS

Este último capítulo da monografia não estava previsto no planejamento inicial, mas se mostrou necessário para a autora do TCC a partir da análise qualitativa das respostas dos espectadores e jornalistas entrevistados.

Entre os oito espectadores consultados, cinco afirmam ter ouvido Sérgio Maurício fazer uma piada de cunho racista contra o empresário Lawrence Stroll, pai de Lance e um dos donos da equipe Racing Point, durante os treinos livres do Grande Prêmio do Japão de 2019. Maurício teria dito, entre risos, que “Stroll comprou o tufão274, para colocar em uma caixa de sapato e trocar por um espelho”. Segundo relatos desses torcedores, na reprise da transmissão, o trecho que menciona a troca foi cortado na edição275, mas houve internautas que se manifestaram contra a piada.

O Código Penal Brasileiro prevê o crime de injúria racial no artigo 140, § 3, “Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência”. A pena prevista é de “reclusão de um a três anos e multa”. Já o artigo 20 da Lei n. 7.716/1989 classifica o crime de racismo como “Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”. O item II do § 3 prevê “a cessação das respectivas transmissões radiofônicas, televisivas, eletrônicas ou da publicação por qualquer meio”. De acordo com o Conselho Nacional de Justiça (2015), “o crime de injúria está associado ao uso de palavras depreciativas referentes à raça ou cor com a intenção de ofender a honra da vítima”. O torcedor Anderson de Oliveira reflete sobre a posição da justiça brasileira em casos de racismo envolvendo brasileiros contra estrangeiros.

Me pergunto onde está a justiça desse país, que multou o Júlio Cocielo por fazer piada contra o Mbappé276, que nem brasileiro

274 Referindo-se ao tufão Hagibis, que provocou intensas chuvas em território japonês e mudanças nas preparações para a corrida no Circuito de Suzuka (FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE AUTOMOBILISMO, 2019b). 275 Corte seco no áudio enquanto as imagens de fundo continuam as mesmas do momento da piada. 276 Oliveira se refere ao processo movido pela Promotoria de Direitos Humanos do Ministério Público de São Paulo contra o youtuber brasileiro Júlio Cocielo em 2018. O motivo da ação foi um tweet de Cocielo afirmando que o jogador francês Kylian Mbappé “conseguiria fazer uns arrastão (sic) top na praia”. A ação pediu multa de R$7 milhões por “dano social coletivo” (VEJA, 2018). 106

é e nem conhece o Cocielo, e ‘deixa rolar’ (sic) piadinha racista com o Lance Stroll na transmissão da Fórmula 1. Acho que a justiça devia ser igual para todos. Pilotos brancos com menos feitos que ele, o Sérgio Maurício aplaude muito, mas quando é o Stroll quem faz algo brilhante, o Sérgio age da mesma maneira como o Luiz Roberto [de Múcio] age com o [Max] Verstappen.

A espectadora Bruna Andrade afirma que Sérgio Maurício já esteve envolvido em outros episódios polêmicos envolvendo o racismo na Fórmula 1. Foi o caso dos treinos livres do Grande Prêmio do México de 2019, no qual Sérgio Maurício e Reginaldo Leme negaram que houvesse racismo na Europa, principalmente na Inglaterra e na Alemanha.

Ele [Sérgio Maurício] e o Reginaldo Leme disseram que na Europa não existe racismo e que Alemanha e Inglaterra são os países menos racistas do mundo. No Twitter teve um internauta que ficou revoltado, porque na mesma semana que os dois disseram isso houve um ataque neonazista contra uma sinagoga277. Ou seja, a fala deles foi um desrespeito aos judeus. Outros também protestaram contra a fala278. Mas a maioria dos tweets daquela hashtag eram comentários repetidos e rasos como ‘ligado no SporTV’, ‘muito bom’, etc. Eles nunca pediram desculpas por essas declarações.

Elizete Alves relembra este caso ao comentar sobre os ataques raciais sofridos por Lewis Hamilton na Fórmula 1. Para a torcedora, o piloto inglês provou seu valor na categoria, mas ainda sofre com a discriminação por parte dos torcedores rivais, que não é levada a sério pela mídia como deveria.

O piloto Lewis Hamilton [...], vez por outra, foi vaiado e chamado de “macaco” pela torcida ferrarista (atitude que alguns narradores e comentaristas amenizam, como quando Sérgio Maurício disse que “não há racismo na Europa” e Reginaldo Leme, concordando, afirmou que os fãs de Fernando Alonso “não chamavam Hamilton de ‘macaco’ por racismo, mas sim por amarem Alonso”279).

277 Bruna se refere ao tiroteio perto de uma sinagoga na cidade alemã de Halle, matando duas pessoas. O responsável pelo ataque tinha inclinações neonazistas e também fez um atentado contra um cemitério judaico. Os ataques ocorreram no dia 09 de outubro de 2019, durante o feriado judaico de Yom Kippur (EFE; R7, 2019). 278 Alguns dos tweets encontrados que comprovam o episódio estão disponíveis na nota 225. 279 Uma evidência de que a torcida de Alonso agiu de maneira discriminatória foram os torcedores que fizeram blackface e usaram camisas escrito “Hamilton’s family” - “família do Hamilton”, em inglês - na pré-temporada de 2008 em Barcelona, na Espanha (TAYLOR; TREMLETT; WRAY, 2008). 107

De acordo com os espectadores entrevistados, Sérgio Maurício tem uma perseguição nítida a Lance Stroll, utilizando a fortuna da família deste como justificativa para as críticas, imputando a ele o título infame de “piloto pagante”280. Tal perseguição também foi notada pelo narrador Cléber Machado, que mencionou o fato durante a transmissão do Grande Prêmio da França de 2019: “Ontem eu vi o Reginaldo [Leme] dar uma ‘cornetada’ (sic) no Stroll, hein, Reginaldo? Reginaldo tava fazendo treino com o Sérgio Maurício e o Felipe Giaffone lá no SporTV”281. No entanto, para que tal alcunha seja atribuída, é preciso analisar o histórico do piloto na Fórmula 1 e concluir que seus resultados no esporte não justificam o investimento em sua carreira. No caso de Stroll, isso não ocorre.

As críticas ao canadense começaram na pré-temporada de Fórmula 1 de 2017, na qual o piloto teve algumas batidas devido à dificuldade inicial em dirigir o carro, diferente em relação ao modelo da Fórmula 3 Europeia (ABREU; FERNANDES, Rodrigo, 2017) - Stroll havia sido campeão da categoria no ano anterior (MOTORSPORT, 2016). O piloto foi defendido pelo então tricampeão Lewis Hamilton, que admitiu a dificuldade em dirigir o modelo de 2017 em relação ao do ano anterior e que deve se levar em consideração que aquele era o primeiro contato de Stroll com um carro de Fórmula 1. Em suas palavras: “Você não chega a um monoposto e pilota consistentemente sem ter nenhuma experiência passada”282 (ABREU; FERNANDES, Rodrigo, 2017). Ressalta-se que, apesar deste começo difícil, as conquistas de Stroll no mesmo ano reforçam a opinião de Hamilton e desqualificam qualquer tentativa de lhe negar um merecimento à vaga na categoria. Ainda, de acordo com o diretor esportivo Nuno Sousa Pinto, Stroll foi o primeiro piloto que cumpriu o pré-requisito da FIA de ter 40 pontos da Superlicença para entrar na Fórmula 1, logo ele estava de acordo com a regra criada para impedir o ingresso de “pilotos pagantes” na categoria. Em suas palavras:

A FIA criou os 40 pontos da Superlicença para não deixar que um piloto sem qualquer tipo de resultados e currículo pudesse comprar um lugar na F1. E esses 40 pontos não se compram,

280 Na Fórmula 1, um atleta é considerado um “piloto pagante” (“pay driver”, em inglês) quando o mesmo injeta altas quantias de dinheiro em sua escuderia por meio de seu patrocínio sem ter resultados que justifiquem sua permanência no esporte. 281 Disponível de 37’57’’ a 38’07’’ em . Acesso em 12 mar. 2020. 282 Adaptado para o português brasileiro do original do site de Portugal “não chegas a um monolugar e pilotas consistentemente, sem ter nenhuma experiência passada”. 108

ganham-se nas pistas. O Lance [Stroll] ganhou tudo em que participou, ganhou três campeonatos em quatro anos. Toda a gente critica o Lance quando ele chega à Williams e eu pergunto: porque é que ele não merece lá estar? O Lance quando chegou à Fórmula 1 tinha mais currículo que o Max Verstappen. O Lance chega com um currículo semelhante ao do Lando Norris e o Lando nunca foi criticado. Aqui se vê a imparcialidade da imprensa que acompanha a Fórmula 1, não existe. Dizer que um piloto lá porque é rico não tem talento mostra injustiça e o pior do ser humano, que é a inveja (GOMES, L., 2019).

Lance Stroll, que estreou no Grande Prêmio da Austrália de 2017 (consagrando-se o segundo estreante mais jovem da modalidade, aos 18 anos e 148 dias), conquistou seus primeiros pontos em sua sétima corrida, no Grande Prêmio do Canadá283, tornando-se o segundo piloto mais jovem da história a pontuar na Fórmula 1, aos 18 anos e 225 dias (FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE AUTOMOBILISMO, 2017c). Conseguiu seu primeiro pódio na etapa seguinte, no Grande Prêmio do Azerbaijão, firmando-se como o segundo piloto mais jovem da categoria a chegar entre os três primeiros lugares, bem como o mais jovem estreante a obter um pódio, aos 18 anos e 239 dias. Sua conquista foi reconhecida como “histórica” pelo site oficial da Fórmula 1 (FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE AUTOMOBILISMO, 2017d) e foi fundamental para que sua escuderia na época, a Williams, passasse a Toro Rosso no ranking e assumisse o quinto lugar do campeonato mundial de construtoras (BERTO, 2017). Os torcedores o elegeram “Piloto do Dia” em votação realizada pela Fórmula 1 (Ibid.). De acordo com o portal Gazeta Esportiva, Stroll e Max Verstappen “são os únicos adolescentes a atingir resultados tão bons dentro da competição” (GAZETA ESPORTIVA, 2017)284. Cinco etapas depois, no Grande Prêmio da Itália, Stroll quebrou o recorde de mais jovem piloto a largar da primeira fila, aos 18 anos e 310 dias, superando a marca anterior de Verstappen (BRADLEY, 2017). O canadense se classificou em segundo lugar, em um treino realizado debaixo de chuva (GAVINELLI, 2017). Stroll terminou sua temporada de estreia com 40 pontos, na 12ª colocação do

283 Stroll foi o nono colocado, recebendo dois pontos pelo sistema de pontuação vigente no ano. 284 Embora a matéria date de 2017, Stroll e Verstappen ainda são considerados os únicos adolescentes com grandes conquistas na Fórmula 1 (até o ano da publicação do TCC). No Grande Prêmio do Brasil de 2019 foi quebrado o recorde de menor média de idade de pilotos que chegaram ao pódio (23 anos, 08 meses e 13 dias) no entanto os três finalistas do pódio (Verstappen, Gasly e Sainz) já estavam em idade adulta (disponível em: , acesso em 12 ago. 2020). Norris teve seu primeiro pódio no Grande Prêmio da Áustria de 2020, mas também já estava em idade adulta (DUNCAN; SMITH, 2020). 109 campeonato mundial de pilotos, à frente de 11 competidores, entre eles o bicampeão Fernando Alonso (FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE AUTOMOBILISMO, 2017b). A Williams terminou o ano no quinto lugar entre as construtoras, com 83 pontos, sendo que seu único pódio do ano, conquistado por Stroll, foi também o único de uma equipe não considerada “de ponta”285 (FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE AUTOMOBILSIMO, 2017a). O canadense ainda foi condecorado pela revista GP Racing com o prêmio “Estreante do Ano” no F1 Racing Awards (AUTOSPORT, 2017; MOTORSPORT, 2017). Segundo o jornalista Dan Thorn, Stroll é considerado oficialmente o segundo adolescente mais bem-sucedido da Fórmula 1 (THORN, 2019).

Figura 3 - Matéria no site da Fórmula 1 que reconhece o pódio de Lance Stroll como histórico

Fonte: Site oficial da Fórmula 1, 2017

Os fatos acima elencados são suficientes para mostrar que não procede atribuir o título de “piloto pagante” a Lance Stroll, já que seus feitos logo em seu ano de estreia foram capazes de quebrar recordes, deixar marcas na história da Fórmula 1 e ajudar sua equipe a conseguir uma boa posição no campeonato mundial de construtoras, portanto, o investimento financeiro em sua carreira é justificado. Porém, mesmo diante destes fatos, os entrevistados relatam que Sérgio Maurício se recusa a reconhecer o talento de Stroll. O jornalista Danilo Rocha revela que em 2018, segundo ano do canadense na Fórmula 1, a imprensa acusou o piloto, juntamente com seu companheiro de equipe Sergey Sirotkin (estreante naquele ano), de ser o responsável

285 Em 2017, as equipes consideradas “de ponta” eram Mercedes, Ferrari e Red Bull. 110 pelo fraco desempenho da Williams na temporada, mesmo que as dificuldades fossem devido aos carros, competência do departamento de engenharia e não dos pilotos (ROCHA, 2018). O site Motor Sport Magazine aponta que Paddy Lowe, diretor técnico da Williams de 2017 a 2019, falhou em desenvolver os carros para as temporadas de 2018 e 2019 (respectivamente os modelos FW41 e FW42), comprovando a inocência de Stroll e Sirotkin em 2018, bem como a de George Russell e Robert Kubica em 2019286. O trabalho decepcionante do departamento de engenharia do time ficou ainda mais evidente em 2019, quando o volante adaptado para o carro de Kubica foi disponibilizado somente na segunda metade da temporada (NOBLE; STRAW, 2019). Lowe se afastou das atividades na Williams após o fracasso do modelo FW42 na pré- temporada de 2019, que contou ainda com um atraso na finalização do carro (COOPER; MITCHELL, 2019; GAVINELLI, 2019).

O desempenho da Williams em 2019, que marcou apenas um ponto na temporada com o décimo lugar de Robert Kubica no Grande Prêmio da Alemanha (CODLING; ROBERTS, J. 2019), confirmou que os problemas enfrentados pela escuderia nada tinham a ver com Lance Stroll, que já havia revelado a dificuldade dos engenheiros em consertar o carro no ano anterior (GOUVÊA, 2019b). Guiando pela Racing Point, o canadense teve um grande avanço em seus resultados em relação a temporada antecedente, subindo três posições no campeonato de pilotos (FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE AUTOMOBILISMO, 2018, 2019)287. Seu melhor resultado foi o quarto lugar no Grande Prêmio da Alemanha, o qual chegou a liderar por alguns momentos (ELIZALDE; STRAW, 2019; GOUVÊA, 2019c). Porém, não se ouviu Sérgio Maurício fazendo nenhuma menção a esse resultado ou à resiliência do piloto.

Alguns dos episódios de desrespeito de Sérgio Maurício para com Lance Stroll relatados pelos torcedores entrevistados se encontram nos treinos livres do Grande Prêmio de Abu Dhabi de 2017 e do Grande Prêmio da Estíria de 2020. No primeiro, Maurício teria afirmado que “cada membro da família do Lance Stroll possui um

286 Disponível em: . Acesso em 12 ago. 2020. 287 Devido ao fraco desempenho do modelo FW41 da Williams, Stroll foi o 18º colocado em 2018, com seis pontos (FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE AUTOMOBILISMO, 2018). No ano seguinte, com a equipe Racing Point, subiu para a 15ª posição, com 21 pontos (FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE AUTOMOBILISMO, 2019a). 111 jatinho”, uma informação falsa. No segundo, o narrador teria dito que Stroll havia pedido à equipe para trocar de carro com o companheiro Sergio Pérez, outro inverídico. Nos treinos classificatórios do Grande Prêmio da Hungria de 2020, Maurício confessa ter feito críticas ácidas a Stroll288, juntamente com a equipe de comentaristas do SporTV. Algumas hipóteses são levantadas em torno dos motivos pelos quais o narrador nutre antipatia pelo piloto canadense.

A priori, uma das razões seria um desentendimento entre Lance Stroll e Felipe Massa, que foi seu companheiro de equipe na Williams em 2017 (REUTERS, 2017). O canadense foi questionado sobre sua relação com o brasileiro durante a temporada, e declarou que Massa não foi como seu mentor, mas que o mesmo buscava fazer o melhor pela escuderia, “tentando pilotar o mais rápido possível” (GLOBOESPORTE, 2018e). Em momento algum Stroll negou a contribuição de Massa para a equipe ou que o brasileiro tivesse talento, pois além de fazer o elogio citado anteriormente, o piloto havia declarado em uma entrevista no Grande Prêmio do Azerbaijão de 2017 que lamentava o abandono do companheiro na prova, pois gostaria que ambos tivessem conseguido o pódio: “Eu sinto muito que eu não pude comemorar com Massa. Tenho certeza que se não tivesse tido problemas com o carro, ele estaria lá em cima comigo” (GAZETA ESPORTIVA, 2017). Além disso, em uma entrevista para o site Formula Passion em 2018, Stroll afirmou que Massa “teve uma ótima carreira, ganhou várias corridas” e que “realmente gostou de nossa relação de trabalho” (SAIU; SARDINA, 2018). No entanto, mesmo com comentários positivos a seu respeito, Massa reagiu negativamente à declaração de Stroll, primeiro com uma postagem desrespeitosa no Twitter (GLOBOESPORTE, 2018e), depois acusando o canadense de compra de vaga (GLOBOESPORTE, 2018a), mesmo com os resultados de Stroll no primeiro ano desmentindo essa acusação, e culpando-o pela má performance da Williams em 2018 (GLOBOESPORTE, 2018b). O canadense se defendeu das afirmações caluniosas, apontando o fraco desempenho do carro como a causa da crise vivida pela equipe (GLOBOESPORTE, 2018f). Na matéria do Globoesporte.com que revela essa informação se nota um caráter persuasivo contra Stroll, a começar pelo título “Stroll rebate críticas de Massa a pilotos pagantes na Williams”, que infere

288 Em gravação feita pela autora, Maurício declara “A gente falou já tão mal aqui... já metemos o bedelho aqui já, metemos o pau aqui no Lance Stroll”. Disponível de 02’53’’ a 03’00’’ no arquivo “Vídeo 1” em: . 112 que os dois pilotos da escuderia inglesa naquele ano eram pagantes, ignorando os feitos do canadense que comprovam que ele não se encaixa no perfil desse título. No desenvolvimento do texto, um dos parágrafos começa com “Lance Stroll não costuma aceitar nada bem as críticas, e com Massa não foi diferente”289, desdenhando do direito de resposta do piloto às afirmações caluniosas do brasileiro, bem como de seu direito de preservar sua imagem e honra. Somente depois dessa afirmação que o texto relembra os feitos de Stroll em seu ano de estreia, considerados notáveis por jornalistas esportivos e pela própria Fórmula 1. Outras matérias que trataram dos relatos de Stroll tem uma abordagem tendenciosa contra o canadense, chegando a lhe atribuir verbos como “choramingar”290 (GLOBOESPORTE, 2018c). Mesmo aquelas que focam na avaliação do piloto sobre o carro e a equipe, sem qualquer menção ao ex-companheiro, procuram exaltar os feitos de Massa para diminuir os de Stroll (GLOBOESPORTE, 2018d), ignorando também que o brasileiro tinha 16 anos de carreira na categoria291 e o canadense, até o momento, tinha apenas um. Nota-se que na sessão de comentários de todas as matérias assinadas pelo Globoesporte.com mencionadas nesse parágrafo (com exceção da última, datada de 2020) há centenas de comentários ofensivos e caluniosos contra o piloto canadense, escritos por internautas induzidos ao erro e incitados por fanatismo e ódio, pois desconsideram a cortesia de Stroll para com Massa e as conquistas do canadense na Fórmula 1 para tratá-lo como um inimigo pessoal. O site de notícias do grupo Globo ignorou uma informação importante que seria decisiva para o entendimento desta questão: Stroll desmentiu as declarações de Massa de que teria dado todo o apoio alegado, já que depois de sua aposentadoria, não voltou a contatar o canadense para discutir sobre sua carreira (SMITH, 2018). Logo, o comportamento da Globo diante deste caso reforça a observação do especialista Sergio Quintanilha: “Sempre os interesses de uma emissora, de um canal, de um jornal, vão influenciar sim de alguma forma a cobertura”.

Este desentendimento, porém, não durou por muito tempo. Ainda em 2018, quando Lance Stroll participou das 24 Horas de Daytona (BETTING, D., 2017), Felipe

289 Print, tirado em 15 ago. 2020, no arquivo 24 em: . 290 Print, tirado em 15 ago. 2020, no arquivo 25 em: . 291 Massa correu na Fórmula 1 de 2002 a 2017 (O ESTADO DE S. PAULO, 2017). 113

Massa tirou uma foto com o canadense e sua equipe292, mesmo o brasileiro não estando envolvido em nenhuma parte da competição. Em maio do ano seguinte, Massa provou que suas declarações estavam erradas, atribuindo a Paddy Lowe a responsabilidade pelo fracasso dos carros da equipe inglesa em 2018 (MOTORSPORT, 2020d). Meses depois, em julho, Massa elogiou a Racing Point, escuderia fundada por Lawrence Stroll, e revelou sua expectativa para que o time se torne a “segunda força” em 2020 (MOTORSPORT, 2020c). No mesmo ano, o Globoesporte.com enfim assinou uma matéria positiva sobre o piloto canadense (embora seu nome não apareça no título) no Grande Prêmio da Hungria, afirmando que o mesmo “fez boa corrida e terminou na quarta colocação, seu melhor resultado na temporada”293 (GLOBOESPORTE, 2020a).

Percebe-se nas matérias produzidas pelo Globoesporte.com uma tentativa de prejudicar a reputação de Lance Stroll somente por este relatar uma experiência pessoal. Quando indagado sobre se um narrador deve induzir o público a não gostar de um piloto por quem o mesmo não tem simpatia, o especialista Danilo Cardoso afirma que “nunca deveriam fazer isso. Eles não devem ser influenciadores, mas fica claro que a Globo sempre tentou fazer isso”. Cardoso também aponta que os narradores e comentaristas dessa emissora “escolhem um ‘herói’ para fazer as pessoas torcerem por aquela pessoa”. Para a torcedora Helena Silva, na tentativa de “heroificar” Felipe Massa, piloto favorecido principalmente por Galvão Bueno e Sérgio Maurício, a Globo e o SporTV optam por “vilanificar” pilotos para os quais os canais criam rivalidades imaginárias. Segundo a mesma, foram os casos de Lance Stroll e de Kamui Kobayashi, piloto japonês que correu na Fórmula 1 de 2009 a 2014 (GLOBOESPORTE, 2016).

Há torcedores fanáticos [...], principalmente de Massa, que inclusive chegaram a atacar covardemente pilotos que Galvão indicava que seriam rivais dele294, como Lance Stroll (que foi seu companheiro na Williams e com quem nunca teve confrontos

292 A foto foi postada no perfil oficial de Massa no Instagram e o perfil de Stroll é marcado na publicação (vide anexo J). Disponível em: . Acesso em 13 ago. 2010. 293 Este resultado, porém, foi superado posteriormente pelo pódio de Stroll no Grande Prêmio da Itália de 2020, o qual terminou em terceiro lugar (GAZETA ESPORTIVA, 2020; GLOBOESPORTE, 2020b; PERANTONI; PINHEIRO, 2020c). 294 As seções de comentários nas matérias assinadas pelo Globoesporte.com mencionadas na matéria comprovam o argumento de Helena. Prints, tirados em 15 ago. 2020, nos arquivos 27, 28, 29, 30 e 31 em: . 114

como os que teve com Fernando Alonso) e Kamui Kobayashi295 (a quem os fãs de Massa chegaram a usar termos racistas para atacar, como ‘kamikaze’). Nesse último caso, é triste que um narrador que dá nome a uma rua em um bairro conhecido pela comunidade japonesa habitante (Liberdade) esteja por trás do incentivo a um fanatismo que feriu a imagem de um piloto japonês no Brasil.

Helena não crê que o favorecimento de Felipe Massa por parte de Galvão Bueno e Sérgio Maurício seja devido à nacionalidade do piloto, pois Nelson Piquet, também brasileiro, é desprezado nas transmissões. Rafael Plastina, especialista em marketing esportivo, reforça essa opinião ao apontar que a Globo imputou a Rubens Barrichello a fama de “pé-frio” (KRIEGER, 2012), mesmo este tendo mais pódios e voltas mais rápidas que Massa, além da mesma quantidade de vitórias (MOTORSPORT, 2016)296. Helena afirma:

Ele [Galvão Bueno] também demonstrava antipatia por Nelson Piquet, que é tricampeão como [Ayrton] Senna. Por causa da narração tendenciosa, boa parte dos torcedores no Brasil acham que Piquet era apenas um “rico esnobe” e que Senna era “humilde”, mesmo que Senna também fosse de família rica e com vários relatos de antipatia por parte dele297.

Analisando o relato da torcedora, nota-se que a comparação entre o tratamento dado a Ayrton Senna e a Nelson Piquet se assemelha em partes com a forma que a Globo apresenta Lance Stroll e Felipe Massa. Há fortes menções à fortuna do primeiro, mas nenhuma à do segundo. O comendador José Massa, bisavô do piloto, fundou a empresa de ônibus CAIO (VALOR ECONÔMICO, 2007), que desde a década de 1980 é a maior fabricante de carrocerias do país298. Há, inclusive, uma estátua em homenagem ao bisavô de Felipe Massa em Cerignola, na Itália

295 Há relatos na sessão de comentários de uma matéria assinada pelo portal UOL (disponível em: , acesso em 13 ago. 2020) que comprovam o comentário de Helena (vide anexo K). 296 Os dados apresentados pela reportagem contam apenas até o Grande Prêmio da Bélgica de 2016. No entanto, Massa não obteve pódio, volta mais rápida ou vitória depois dessa prova. Barrichello já estava aposentado, tendo completado 19 temporadas de Fórmula 1 em 2011, enquanto Massa estava em sua décima quinta na categoria. 297 A preferência da Globo, e principalmente de Galvão Bueno, por Senna em relação a Piquet também foi notada por Quintanilha em entrevista concedida à autora do TCC. 298 Disponível em: . Acesso em 13 ago. 2020. 115

(ORICCHIO, 2006). Duas hipóteses podem ser levantadas a respeito dessa tendência do Grupo Globo a desfavorecer Stroll e exaltar Massa. A primeira é a que se trata de uma tentativa de tornar um atleta brasileiro, da mesma nacionalidade das emissoras, um “herói” (como apontado por Danilo Cardoso). A outra seria a intenção de reforçar o estereótipo falacioso do “controle financeiro mundial dos judeus”.

A primeira hipótese parece provável até a percepção de um detalhe importante: o tratamento dado a Fernando Alonso e Sebastian Vettel na Globo e no SporTV. O piloto espanhol foi companheiro de Felipe Massa na Ferrari entre 2010 e 2013 (ESPN, 2015) e protagonizou no Grande Prêmio da Alemanha de 2010 o momento mais humilhante da carreira do brasileiro na Fórmula 1. A escuderia italiana ordenou a Massa para que deixasse Alonso passar a sua frente. O episódio ficou conhecido pela frase do engenheiro Rob Smedley no rádio: “Fernando is faster than you” - “Fernando é mais rápido que você”, em inglês - (SABINO, 2020a). Apesar de um tom crítico à ordem, de acordo com os relatos dos espectadores, a Globo e o SporTV jamais trataram Alonso como um rival de Massa. Pelo contrário, o espanhol é elogiado constantemente por Galvão Bueno e Sérgio Maurício, que o apelidou carinhosamente de “Don Fernando”. O piloto alemão, por sua vez, chegou a mostrar o dedo do meio para o brasileiro no Grande Prêmio da Rússia de 2017, pois Massa havia demorado para obedecer a bandeira azul299 e lhe deixar passar. A reação do brasileiro a esta atitude foi bem menos acalorada que a que teve à opinião de Lance Stroll sobre o trabalho de ambos na Williams, limitando-se apenas a repudiar o gesto (GLOBOESPORTE, 2017a). Vettel também é bem conceituado na opinião dos narradores da Globo e do SporTV, inclusive tendo seus erros omitidos em chamadas de corridas para persuadir o público a torcer por ele300. Meses depois desse caso, Massa elogiou Alonso e Vettel, classificando-os entre os cinco pilotos que o brasileiro considera os melhores de sua geração - Massa, inclusive, disse que Alonso está “em outro nível” (GLOBOESPORTE, 2017b).

Ao analisar os fatos, percebe-se que houve uma tentativa de glorificar a imagem de Felipe Massa, tanto pelo Grupo Globo (através das narrações e de matérias no portal Globoesporte.com) quanto pelo próprio piloto, prejudicando a

299A bandeira azul é acionada quando um piloto retardatário deve abrir passagem para o piloto que está abrindo a volta (GREVE, 2008, p. 19). 300 Como demonstrado na análise da chamada do Grande Prêmio da França de 2019 no capítulo 3. 116 reputação de Lance Stroll como método, omitindo suas conquistas e verdadeiras declarações e ao mesmo tempo exaltando negativamente a fortuna de sua família enquanto omite a de Massa - que, inclusive, vive no Principado de Mônaco, um dos lugares mais caros do mundo (QUEVEDO, 2019). Fernando Alonso e Sebastian Vettel, que protagonizaram episódios lamentáveis na carreira de Massa, são poupados de críticas e exaltados pelos narradores. A reconciliação entre Massa e Stroll não foi abordada pelo portal Globoesporte.com, que também não mencionou devidamente os cumprimentos do canadense ao brasileiro, mantendo a indução de internautas fanáticos a atacá-lo (caracterizando a “mobilização do ódio e desmoralização do inimigo através de boatos301” e a passividade do receptor apontada pela Teoria Hipodérmica de Harold Lasswell (SANTOS, 2003), bem como a indução à competição e disputa indicada por Theodor Adorno (COHN, 2014 In. CITELLI, 2014, p. 161))302. Diante das experiências vividas por Massa com os três pilotos citados, conclui-se que se as narrações nos canais Globo e SporTV tivessem por real interesse heroificar o brasileiro, seria mais lógico vilanificar Alonso e Vettel do que Stroll. Percebe-se que sim, há uma tendência em glorificar a imagem de Massa, mas que esta não é a explicação para a perseguição de Sérgio Maurício contra Stroll.

Outro ponto a ser considerado é que a defesa incansável de Galvão Bueno a Felipe Massa foi notada por jornalistas esportivos. Uma matéria da revista Veja destaca uma briga em 2017 do narrador com fãs da categoria que não torcem pelo brasileiro. Galvão os chamou de “chatos”, irritando alguns torcedores, que reagiram nas redes sociais, alegando o fraco desempenho de Massa na década de 2010 e a liberdade de escolha como as razões para não apoiar o piloto elogiado por Galvão (VEJA, 2017b). Nota-se que o narrador não agiu com imparcialidade e respeito ao público esperado para seu cargo, pois a audiência das corridas é formada por torcedores de todos os pilotos e equipes, não apenas daqueles que o apresentador gosta. O comportamento de Galvão e a influência da Globo na formação de opinião de parte dos torcedores pode ser uma das causas pelas especulações no final de 2017 de que, sem a presença de um piloto brasileiro, a audiência da categoria

301 Um dos recentes boatos lançados pelos detratores de Stroll foi o de que a Racing Point teria sacrificado a vaga de Pérez em favor de Vettel para 2021 unicamente pelo canadense ser filho de um dos acionistas. A decisão da equipe foi tomada levando em consideração não laços familiares, mas sim projeções de negócios, inclusive a compra de ações da Aston Martin (futura detentora da Racing Point em 2021) por Vettel (COOPER, 2020b; MEYER, 2020). 302 Como explicado no capítulo 3. 117 diminuiria no Brasil303. Entretanto, observou-se que houve um aumento na audiência em 2019 e 2020 em relação a 2018 (LUCAS, 2019b; MOTORSPORT, 2019b; 2020b; PADIGLIONE, 2020). Já no começo década de 2010, época em que Massa corria na categoria, houve uma queda considerável na audiência, sendo o desempenho abaixo da média do piloto brasileiro apontado como um dos fatores que contribuiu para o fato (ANDRADE, V., 2019; BETTING, E., 2015; CARUSO, 2014; FELTRIN, 2012; LANCEPRESS, 2013; NOTÍCIAS DA TV, 2014; QUINTANILHA, 2017; ROVADOSCHI, 2016). A última vitória de Massa ocorreu no Grande Prêmio do Brasil de 2008304, 10 temporadas antes de sua última participação na Fórmula 1, em 2017 (CHAGURI; FRANÇA, 2020). O brasileiro também revoltou muitos torcedores ao declarar seu apoio a Jair Bolsonaro no Twitter em 2018305, e foi intensamente rebatido por internautas ao opinar negativamente sobre a época de Ayrton Senna na Fórmula 1 em 2015 e 2017 (GLOBOESPORTE, 2015; MOTORSPORT, 2017).

Os torcedores entrevistados também mencionam uma parcialidade de Sérgio Maurício a favor dos pilotos ingleses Lando Norris e George Russell. O primeiro é filho do empresário do setor de investimentos Adam Norris, 501º homem mais rico do Reino Unido com uma fortuna pessoal de £205 milhões (WILKES, 2019). Seu primeiro ano na Fórmula 1 foi marcado por pontuações constantes, porém sem vitórias ou pódios. Logo, pela lógica, seria mais racional caracterizar Norris como um “piloto pagante” do que Lance Stroll. O segundo foi o único piloto da temporada de 2019 que não foi capaz de pontuar (FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE AUTOMOBILISMO, 2019a). Apesar disso, segundo os relatos dos espectadores, Sérgio Maurício trata os dois pilotos ingleses como talentos promissores306. De acordo com Elizete Alves, a maneira como Maurício de refere ao pai de Stroll se difere muito da qual se refere ao de Norris.

303 Para Fittipaldi, a Globo tem responsabilidade pela falta de pilotos brasileiros na Fórmula 1 após a saída de Massa, pois como detentora dos direitos de transmissão até 2020 e uma das organizadoras do Grande Prêmio do Brasil, deveria se interessar na formação de pilotos no país, investindo nas categorias de base como o kart (ESTADÃO CONTEÚDO, 2020). 304 Esta, no entanto, não foi a última vitória de um piloto brasileiro na Fórmula 1, que foi conquistada por Barrichello no Grande Prêmio da Itália de 2009 (ESTADÃO CONTEÚDO, 2019). 305 Disponível em: . Acesso em 13 ago. 2020. Print no arquivo 33 em: . 306 Também foram relatadas predileções em temporadas passadas a Ocon e Vandoorne, pilotos brancos e europeus que também não possuem pódios ou vitórias, na carreira. Maurício afirmou que ambos seriam campeões, mas os dois pilotos foram demitidos de suas escuderias por não apresentar resultados satisfatórios (ESTADÃO CONTEÚDO, 2018a; GAZETA ESPORTIVA, 2019). Ocon foi contratado pela Renault dois anos depois (GAZETA ESPORTIVA, 2019), mas permaneceu sem grandes conquistas. 118

O mesmo narrador [Sérgio Maurício] constantemente faz comentários maldosos sobre a fortuna do pai de Lance, o empresário Lawrence Stroll, remetendo ao estigma de que judeus “ganham muito dinheiro” e “controlam a economia” (pois Sérgio Maurício sempre trata de Lawrence como um “cartola” que influencia o esporte por seu dinheiro), mas não menciona ou critica o pai de Lando Norris, Adam Norris, que é tão rico quanto Lawrence Stroll, e também investe na carreira do filho. É no mínimo estranho criticar a fortuna de uma família judia e não fazer o mesmo com uma família branca (já que os resultados de Lance ainda são melhores que os de Lando).

Ainda de acordo com os torcedores entrevistados, Sérgio Maurício utiliza comentários jocosos contra Lance Stroll e sua família307 (chamando Lawrence Stroll debochadamente de “Papai Stroll”). O narrador demonstra poucos conhecimentos do piloto canadense, mas insiste em trazer sua vida pessoal para as transmissões em vez de falar de seus feitos na carreira, o que seria mais atraente para o público. Um exemplo relatado foi quando Maurício afirmou que Stroll “só está na Fórmula 1 porque é filho daquele famoso bilionário: o... o... o... papai Stroll”. Ressalta-se que criticar a fortuna da família de Stroll por si só é impróprio para um trabalho de jornalismo esportivo, pois a mesma não foi obtida de maneira ilegal (CEVALLOS, 2018; JEW OF THE WEEK, 2016; ORICCHIO, 2017; SHUKLA, 2020). Somado a isso, o canadense é um dos pilotos mais engajados em ações de caridade, tendo visitado o Montreal Children’s Hospital em 2017 (MONTREAL CHILDREN’S HOSPITAL, 2017), participado de uma campanha pela perfuração de poços d’água na Gâmbia em 2020 (COMUNICAFFE, 2020), e feito uma doação pessoal para a Los Angeles Fire Department Foundation para combater os incêndios na Califórnia, também em 2020 (LOS ANGELES FIRE DEPARTMENT FOUNDATION, 2020)308, invalidando o estereótipo de “rico egoísta”309. Essas informações, contudo, não são divulgadas pela

Maurício disse ainda que Stroll não seria campeão, pois só estaria na Fórmula 1 graças a seu pai, ignorando as conquistas históricas do canadense mencionadas anteriormente. 307 Um dos comentários de Maurício relatados por Guterres e também gravado pela autora foi o de que Stroll deveria “agradecer ao ‘papai’ pelo carro”, desmerecendo sua conquista do terceiro lugar do grid de largada do Grande Prêmio da Hungria de 2020. Disponível de 02’33’’ a 02’38’’ no arquivo “Vídeo 2” em: . 308 A autora do TCC também se engajou nesta campanha e doou US$ 10 para a Los Angeles Fire Department Foundation (PINHEIRO, 2020b). 309 Além das ações citadas anteriormente, Stroll participou de uma campanha contra o cyberbullying em 2019 (vide anexos L, M e N), e de manifestações contra o racismo em 2020, como a Black Out Tuesday (disponível em: , acesso em 21 out. 2020) - vide anexo O -, e se ajoelhou junto com outros 13 pilotos, liderados por Lewis Hamilton, antes das primeiras corridas da temporada (AGENCE FRANCE-PRESSE, 2020; UOL, 2020bc). O vídeo do ato antes do Grande Prêmio 119

Globo ou pelo SporTV nas narrações. A doação de Stroll à LAFD Foundation foi relatada em uma matéria no Globoesporte.com, disponível apenas na internet (GLOBOESPORTE, 2020c). Outro caso de perseguição mencionado pelos entrevistados foi quando em 2018, o narrador mencionou que não havia mais pilotos brasileiros no grid, mas havia um representante do continente americano, o mexicano Sergio Pérez, e ao ser corrigido por um dos comentaristas, que mencionou que Stroll também é representante da América, por ser canadense, Maurício afirmou que “estamos falando de pilotos; Stroll é no máximo um ser humano”. Percebe-se não só uma relutância em admitir a presença de Stroll na Fórmula 1, como também uma tentativa de o desvalorizar como atleta profissional. Cabe neste caso uma interpretação como uma referência ao estereótipo dos “índios selvagens”, que segundo Helena Silva, é bem presente na mídia brasileira.

Como impera no Brasil os boatos racistas da Idade Média europeia de que “os judeus controlam o dinheiro mundial” e que “os índios precisam se submeter ao homem branco”, alguns narradores, principalmente Sérgio Maurício, o tratam [Lance Stroll] como um pária dentro da Fórmula 1. Seus feitos, mesmo impressionantes, são propositalmente ignorados, e a condição financeira de sua família é tratada com deboche como se fosse inconcebível um indígena ser rico (como os demais pilotos) ou como se um judeu só conseguisse chegar ao esporte se pagasse por sua participação.

O espectador Cleisson Guterres suspeita de discriminação na postura de Sérgio Maurício em relação a Lance Stroll, pois o narrador já tentou atribuir-lhe características que cabem a Lando Norris. Enquanto o piloto inglês tem seus maus comportamentos relevados, o canadense é difamado nas transmissões.

Sérgio Maurício maliciosamente alegou que Lance Stroll pediu para trocar o carro dele pelo do companheiro de equipe, Sergio Pérez, durante a transmissão dos treinos de sexta-feira do GP da Estíria. Isso foi uma tentativa do narrador de sutilmente (ou não tão sutilmente) induzir os telespectadores a ter a falsa impressão de que Lance Stroll é um piloto mimado, cheio de vontades, e invejoso dos colegas (Lando Norris, piloto que se adequa justamente a esse perfil310, nunca é criticado pelo da Áustria pode ser visto em: . Acesso em 21 out. 2020. 310 Houve seis ocasiões em que Norris agiu inadequadamente com sua equipe ou outros pilotos. Em 2019, desferiu ofensas a Stroll após um acidente no Grande Prêmio da Espanha que não foi causado pelo canadense (COBB, 2019; PINHEIRO, 2019c) - antes o inglês havia se desculpado com a McLaren pela batida (GEORGE, 2019) -, exigiu da escuderia uma ordem para que o companheiro de equipe Sainz lhe 120

mesmo. Será porque Norris é branco e não índio?). Percebe-se a perseguição nítida que esse narrador tem com Stroll.

Para Ben Shapiro (2012, p. 3), a mídia televisiva tende a classificar o sucesso como um produto da sorte, ignorando os fatores sistemáticos por trás do desempenho de um trabalho, e busca ensinar ao público que a sociedade se divide entre os com “mais” e “menos” sorte, glorificando organizações e caracterizando o empreendedorismo como algo corrupto. No caso da Fórmula 1, não cabe creditar à sorte o desempenho do piloto, pois este depende de sua habilidade como atleta e da performance do carro (MATSUBARA, 2013). No entanto, Sérgio Maurício parece tentar convencer os espectadores de que as condições financeiras da família de Lance Stroll (ou seja, uma “sorte” do canadense) é a única explicação para seu ingresso no esporte, e apesar de Lando Norris ter a mesma “sorte” e menos conquistas, sua fortuna e vaga na categoria não são abordadas da mesma maneira. A mensagem passada nas narrações acaba sendo de que algumas fortunas são toleráveis, outras não (para Shapiro, mesmo tais fortunas sendo legais, os objetivos da mídia interferem na maneira como elas serão tratadas na televisão). Por esta lógica, o que aparentemente seria um caso de narrativa de promover uma luta de classes (entre o piloto “sortudo por ser rico” e os torcedores “sem a mesma sorte”311) acaba por se revelar um discurso reacionário que reforça um sistema de opressão de

abrisse passagem no Grande Prêmio da França (GLOBOPLAY, 2019a; PINHEIRO, 2019d), e chorou e desmereceu o trabalho de Pérez após ser ultrapassado pelo mexicano no Grande Prêmio de Abu Dhabi (KHOROUNZHIY; STRAW, 2019; PINHEIRO, 2019h). Em 2020, gritou com o engenheiro (usando palavras de baixo calão) quando este o alertou sobre exceder os limites da pista no Grande Prêmio da Bélgica (GPBLOG, 2020; PERANTONI; PINHEIRO, 2020a), fez ataques descabidos a Stroll por cumprir o regulamento durante a bandeira vermelha - pausa temporária da corrida, com o recolhimento dos carros (ANDRADE, G., 2019; GREVE, 2008, p. 19) - no Grande Prêmio da Itália (BANERJEE, 2020; PERANTONI; PINHEIRO, 2020c), e foi grosseiro com a equipe no Grande Prêmio do Eifel (FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE AUTOMOBILISMO, 2020b; PERANTONI; PINHEIRO 2020d). Ressalta-se que no Grande Prêmio da Itália, Norris foi investigado por dirigir desnecessariamente lento no pit stop, o que violaria as regras (COLLANTINE; RENCKEN, 2020; PERANTONI; PINHEIRO, 2020c), mas o piloto omitiu esse fato e criticou o concorrente por seguir as normas - supõe-se por suas próprias palavras (BANERJEE, 2020) que Norris estava insatisfeito por Stroll ter conseguido um pódio e ele ter terminado a corrida em quarto lugar. O comportamento do piloto da McLaren lhe rendeu comparações a Raikkonen (GPBLOG, 2020) e aos personagens Veruca Salt, do livro infantil “A Fantástica Fábrica de Chocolate” (PINHEIRO, 2019d), e Quico, do seriado “Chaves” (disponível em: , acesso em 20 out. 2020). 311 Vale lembrar que embora o pré-plano comercial da Rede Globo analisado no capítulo 2 aponta que o maior alcance das transmissões da Fórmula 1 se encontra nos espectadores da classe C, dados do Kantar Ibope Media revelam que a maior parte audiência da categoria esportiva pertence às classes A e B (SARUBO, 2020), o que invalidaria ideologicamente a tentativa de colocar o público como “pobre” e contra o piloto “rico”. Ressalta-se que emissoras de TV abertas generalistas costumam vislumbrar atingir diferentes públicos durante uma transmissão ou programa. 121 minorias, pois nega o direito de fortuna ao atleta de etnias historicamente perseguidas (judeus e indígenas) ao mesmo tempo que permite ao que pertence ao grupo dominante (europeus brancos)312.

Pela maneira humilhante como Sérgio Maurício trata Lance Stroll, bem como sua família, e segundo a confissão do próprio narrador (tendo-se antes provando a inveracidade da primeira hipótese), conclui-se que a perseguição ao piloto canadense é feita por razões pessoais. Entretanto, como Maurício não conhece Stroll pessoalmente, não haveria razões que justificassem uma antipatia natural pelo atleta. Percebe-se que o narrador tenta forçar a ideia de que Stroll é um “piloto pagante”, mesmo seus resultados e conquistas em quatro anos de carreira (principalmente no ano de estreia) comprovando que o título não lhe serve, uma vez que seu desempenho justifica o investimento em seu trabalho. Nota-se que há uma predileção inexplicada de Maurício por Lando Norris e George Russell, pilotos brancos e europeus cujos resultados não se aproximam dos de Stroll (no caso de Russell, a predileção se torna ainda mais injustificada, já que o mesmo não havia marcado pontos na carreira313). No âmbito desta pesquisa, identificou-se que o Globoesporte.com tem ciência de que Stroll é judeu, pois em 2017 foi divulgada no portal uma matéria assinada por Lívio Oricchio contendo uma entrevista com o piloto na qual o entrevistador faz perguntas se referindo a sua fé judaica314 (ORICCHIO, 2017). Além disso, algumas características físicas de Stroll revelam sua etnia indígena315 (GROO, 2016;

312 Constatação feita a partir do conceito de que “uma análise do processo de recepção deve buscar o trabalho ideológico dos meios deste ou daquele grupo hegemônico” (TONDATO, 2014 In. CITELLI, 2014, p. 312). 313 Até a data de finalização do TCC, nenhum dos pilotos da Williams em 2020 (Russell e Latifi) havia conseguido pontos devido ao desempenho insatisfatório do carro (COLLANTINE, 2020). 314 O entrevistador pergunta “Você é religioso?”, e Stroll responde “Religioso? Não diria que sou um religioso, mas sou uma pessoa de fé, tenho as minhas crenças” (na visão judaica, ser “religioso” significa seguir uma vida de acordo com todos os preceitos da Torá, não necessariamente apenas acreditar em Deus (SACKS, 2018)). Logo em seguida, o repórter indaga “Como judeu, segue a rotina do seu povo?”, e Stroll responde “Com certeza. Não sou ortodoxo, não sou extremista, mas nossa família cultiva a rotina básica de nossa religião”. Disponível em: . Acesso em 12 ago. 2020. Print no arquivo 38 em: . 315 Algumas dessas características são a pele levemente avermelhada (devido à miscigenação), cabelo liso, escuro e grosso, olhos amendoados, lábios grossos e pouco pelo facial, traços típicos de etnias indígenas das Américas (GOMES, M., 2015), embora nem todas tenham exatamente este fenótipo (MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, 2017). Foram notadas semelhanças físicas de Stroll com o ex-presidente da Bolívia Evo Morales (PINHEIRO, 2019l), o ator Taylor Lautner (GROO, 2016; PINHEIRO, 2018b, 2019l) - descendente de índios Ottawa e Potawatomi (GUERRA, 2011) - e o personagem inuíte Kenai, do filme “Irmão Urso” (disponível em: , acesso em 21 out. 2020). Print da comparação com Lautner, que atuou na saga “Crepúsculo” (CARROLL, 2008; GROO, 2016; 122

PINHEIRO, 2019l). Logo, torna-se infundada qualquer hipótese de o narrador não saber que o piloto é indígena e judeu. A narração persecutória de Maurício acaba por negar a Stroll o direito de resposta, já que o piloto não mora no Brasil, não fala o idioma português, e tem sua reputação atacada no país sem seu conhecimento acerca disso, tornando-o suscetível a ataques raivosos online, inclusive de teor racista.

Diante dos fatos elencados conclui-se que há fortes evidências de um componente racial nas críticas de Sergio Maurício ao piloto Lance Stroll pelo duplo padrão adotado em sua narração, que admite diminuir os feitos de Stroll, exaltar os de pilotos brancos com menos conquistas que o canadense, além de glorificar atletas que renderam acontecimentos vexatórios à carreira de Felipe Massa e tratar a família de Stroll com inverdades e comentários que reforçam estereótipos.

GUERRA, 2011; PINHEIRO, 2019l), no arquivo 39 em: . 123

CONCLUSÃO

Embora tenha chegado ao público brasileiro duas décadas após sua criação, a Fórmula 1 foi acolhida no país a ponto de despertar, em muitos espectadores, uma paixão nacional, que beneficia não apenas os torcedores, mas também as emissoras responsáveis por sua transmissão. Além da audiência, a Rede Globo obtém lucro com a categoria por meio de patrocínios de empresas, que têm sua visibilidade garantida na grade de programação e atingem uma grande quantidade de pessoas que se tornam potenciais consumidores.

A competitividade da Fórmula 1 torna o esporte mais atrativo para os telespectadores, que escolhem para qual piloto e equipe torcer baseados em suas convicções e preferências. No entanto, três dos quatro narradores da Rede Globo em 2019, de acordo com esta monografia, demonstraram parcialidade ao narrar e adotaram táticas persuasivas para convencer o público a apoiar os mesmos que eles (principalmente os pilotos da Ferrari). Sob o pensamento de que a escuderia italiana pode ser a principal responsável pelo sucesso televisivo e comercial da Fórmula 1, os profissionais da Rede Globo e do grupo SporTV acabam decepcionando os torcedores dos times concorrentes, que se sentem desrespeitados e enganados. Identificamos na pesquisa que algumas vezes, o discurso persuasivo extrapola os limites da ética e desfavorece pilotos de minorias étnicas ao omitir seus feitos e exaltar os de pilotos brancos com menos conquistas, porém de agrado dos narradores. Estes, por sua vez, descrevem os eventos e transmitem suas opiniões como verdades absolutas, demonstrando suas preferências pessoais e possíveis interesses da emissora.

Conclui-se que os fãs de Fórmula 1 no Brasil ainda amam a categoria, mesmo sem pilotos compatriotas, pois a mesma se demonstra um espetáculo emocionante independentemente da nacionalidade dos atletas. Houve avanços tecnológicos, mas não narrativos. A experiência televisiva seria mais agradável aos torcedores se a Rede Globo tratasse a todos os pilotos e equipes com respeito e acolhesse a pluralidade de opiniões em vez de privilegiar os ferraristas. Dessa forma, cria-se um ambiente mais democrático e combate-se algumas mazelas da sociedade atual, como o a violência, o racismo e a intolerância.

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167

ANEXOS

ANEXO A – Print da curtida de Kym Illman na postagem do The Racing Track no Instagram

ANEXO B – Print do elogio do professor Vitor Grunvald à matéria do The Racing Track no perfil pessoal da autora no Facebook

ANEXO C – Comentário de internautas em matéria do portal UOL afirmando que a equipe do SporTV defendeu a atitude de Sebastian Vettel no Grande Prêmio do Canadá de 2019

ANEXO D – Comentário de internauta em matéria do site Motorsport comparando Cléber Machado ao personagem Charles Henriquepédia

ANEXO E – Comentário de internauta em matéria do site Motorsport apelidando Sérgio Maurício de “tio do pavê”

ANEXO F – Comentário de internauta em matéria do site Motorsport protestando contra o modo de narrar de Sérgio Maurício, que estaria tentando obrigar os espectadores a concordar com ele

ANEXO G – Comentário de internauta em matéria do site Motorsport afirmando que Sérgio Maurício apelida Charles Leclerc e George Russell de “Charlinho” e “Jorjão” durante as transmissões

ANEXO H – Comentário de internauta em matéria do site Motorsport afirmando que Sérgio Maurício disse que Nicholas Latifi é filho de Jacques Laffite

ANEXO I – Matéria do site Notícias da TV que afirma que Galvão Bueno havia revelado em áudio vazado que a Globo torce por Charles Leclerc

ANEXO J – Postagem no perfil oficial de Felipe Massa no Instagram em que Lance Stroll é marcado

ANEXO K – Comentário de internauta em matéria do portal UOL denunciando postura antiética de Felipe Massa e Galvão Bueno com Kamui Kobayashi

ANEXO L – Print do stories de Lance Stroll no Instagram participando de uma campanha contra o cyberbullying

ANEXO M – Print da explicação do selo anti-bullying no stories de Lance Stroll 168

ANEXO N – Print da data e horário quando a captura de tela do stories de Lance Stroll contra o cyberbullying foi tirada

ANEXO O – Print do stories de Lance Stroll no Instagram participando da campanha Black Out Tuesday contra o racismo

ANEXO P – Entrevistas com os especialistas

ANEXO Q – Entrevistas com os torcedores

169

ANEXO A:

ANEXO B:

ANEXO C:

170

ANEXO D:

ANEXO E:

ANEXO F:

ANEXO G:

171

ANEXO H:

ANEXO I:

ANEXO J:

172

ANEXO K:

ANEXO L:

173

ANEXO M:

174

ANEXO N:

175

ANEXO O:

176

ANEXO P:

Em sua opinião, a Fórmula 1 possui uma cobertura especializada no Brasil? Justifique sua resposta.

Danilo Cardoso: Acredito que no passado tínhamos uma boa cobertura da F1 com pessoas muito experiente tanto na TV como no Rádio. Hoje a coisa ficou bem fraca.

Felippe Santos: Acho que sim. Ainda a Globo faz um trabalho, Globo e SporTV, que no caso são a mesma emissora, fazem um trabalho bem legal sobre isso. Sobre a Fórmula 1 eles fazem uma cobertura bem interessante. Os veículos alternativos, canais no YouTube, os próprios sites especializados em automobilismo também ainda fazem um trabalho bem legal de cobertura da Fórmula 1. Só acho que não é o mesmo que a gente teve nos anos 80, nos anos 90, e até o começo da década passada ainda, porque a gente não tem hoje um grande piloto brasileiro, ou grandes pilotos brasileiros. 177

A gente tinha Ayrton Senna, a gente teve Nelson Piquet, a gente teve o Rubinho, que foi um ótimo piloto, teve o Felipe Massa também bons momentos na década passada. Então, eu acho que se investia mais nessas épocas, principalmente nos anos 80 e 90, com o Ayrton e o Piquet. Hoje em dia eu acho que não é a mesma cobertura que tinha nessa época, mas ainda acho que é uma cobertura bem honesta, bem interessante.

Sergio Quintanilha: Sim, a Fórmula 1 possui uma cobertura especializada em várias áreas: na internet, como nos sites Motorsport e Grande Prêmio, e os portais também; ela possui na rádio, Rádio Bandeirantes, por exemplo, com uma equipe muito boa; e na televisão, na Globo e no SporTV.

Você acha que uma transmissão esportiva deve ter um perfil sério ou descontraído? De que maneira isso pode influenciar a recepção do público? Justifique sua resposta.

Danilo Cardoso: Eu acredito que equilibrar a seriedade e o descontraído é o melhor caminho. A transmissão no SporTV descontraída dos treinos ajuda muito para assistir os treinos inteiros.

Felippe Santos: Eu acho que cabem as duas coisas numa transmissão esportiva. Eu acho que tem o momento de o cara falar sério, de o cara ser mais técnico, de o cara passar para quem está assistindo o que está acontecendo, e ele pode fazer isso sem ser um cara chato, sem ser uma coisa maçante, uma coisa muito técnica, muito seriona. Ele pode passar isso de uma maneira mais, não digo mais alegre, mas de um jeito mais simples que não seja tão complicado para o grande público entender o que ele está querendo dizer. E também tem as horas de descontração, eu acho importante. Acho que uma transmissão muito séria, muito fechadona, acaba até espantando o público. Acho que tem que ter um misto, acho que tem que ter a parte da seriedade, da informação, e tem que ter a parte da descontração, não acho problema.

Sergio Quintanilha: Para mim, a transmissão esportiva deve ser sempre séria. Eu não sei de onde que vem essa ideia de que o esporte tem que ter uma cobertura descontraída, eu sou contra isso. O esporte é uma coisa séria. É preciso tratá-lo de maneira séria. Então, a recepção do público é isso: se você trata uma coisa de maneira séria, o público vai levar a sério; se você quer fazer gracinha, o público não vai levar muito a sério.

178

Você acha que as narrações influenciam o comportamento dos torcedores? Justifique sua resposta.

Danilo Cardoso: Com certeza! O narrador é como um influenciador digital, visto que a gente o considera como uma autoridade no assunto. Me lembro quando o Galvão vivia reclamando do Webber nos anos 2000. Dava a entender que ele era um cara muito chato.

Felippe Santos: Eu acho que com certeza a narração influencia quem está assistindo. O maior exemplo, eu acho, de todos, a gente nem precisa falar é o Galvão Bueno, que está aí na estrada há 40 anos, e o tanto de bordões... tudo bem que ele é um gênio, é um cara acima da média da profissão, mas ele é o cara que influenciou toda uma geração. Gerações, né? Não só uma, de narradores, de comentadores. Então a narração, com certeza, quando o cara é acima da média ele acaba impactando. O próprio Luciano do Valle, narrou Fórmula Indy, também era um cara sensacional. Era um ‘cara’ que marcava pelas narrações dele. Eu acho que depende muito do comunicador, do narrador que está falando. Se o cara for bom ele vai ser marcante para quem está assistindo.

Sergio Quintanilha: De alguma forma sim, talvez nem tanto como antes. Eu acho que ao longo dos anos, principalmente nos anos 80, havia uma preferência, digamos assim, da Rede Globo, do Galvão Bueno, pelo Ayrton Senna. Isso influenciou que as pessoas brasileiras passassem a ver o Ayrton como um deus, como uma pessoa quase perfeita, e não tivessem a mesma imagem do Nelson Piquet. Então eu acho que, de alguma forma, influencia sim. Mas, tem limites para isso.

Em sua opinião, o narrador deve transmitir imparcialidade ou dizer para qual piloto ou equipe está torcendo? Justifique sua resposta.

Danilo Cardoso: Eu acho que deve ser imparcial sim. Ainda porque puxar saco demais de alguém como estavam fazendo com o Leclerc ou o oposto como o Webber, torna os comentários muito maçante. Ele precisa ser profissional, assim como qualquer jornalista e suas posições políticas. Além do mais cada pessoa tem seu piloto preferido, então acho que essa preferência deve ser respeitada.

Felippe Santos: Falando sobre a imparcialidade na narração, eu acho que a Fórmula 1 não tem tanto disso. Por mais que o cara assim tenha mais simpatia por uma

179 escuderia do que outra... por exemplo, no futebol isso tem muito, e eu acho que em relação não só à Fórmula 1 como outros esportes, eu acho que ele pode ter até a escuderia dele, mas na hora de passar a informação ele não pode distorcer, se ele é um jornalista. A não ser que ele deixe isso muito bem claro para o público: eu sou parcial, eu gosto dessa escuderia, eu gosto desse time, e quando for envolver esse time eu vou tender mais para ele. Mas nenhum jornalista faz isso, mesmo os que acabam fazendo isso sem falar. Mas o correto mesmo é o cara poder torcer para quem ele quiser, para a escuderia que ele quiser, mas na hora de passar a informação, o cara tem que tentar ser isento, ou então jogar limpo com o público dele, que é o que eu acho que falta acontecer. Eu acho que o público nem liga de o cara ter uma escuderia que ele gosta, se ele gosta da Ferrari, se ele gosta da McLaren, da Mercedes, ou se ele torce para o Corinthians, para o Palmeiras ou para o Santos. Eu acho que o que o público não gosta é de desonestidade e de o cara dizer que está sendo imparcial e não está sendo. Isso daí é o que eu acho que mais pega. Se o comentarista, se o jornalista jogar limpo com o público, vai ter quem goste, vai ter quem não gosta, mas eu acho que ele está fazendo o correto.

Sergio Quintanilha: Eu acho que o narrador deve sempre transmitir imparcialidade. Sou contra, inclusive, narradores que torcem para pilotos brasileiros porque são brasileiros. Isso tira um pouco a credibilidade da narração. Uma coisa é você passar a emoção, destacar a importância de uma conquista de um piloto brasileiro, agora torcer por quê? O papel do jornalista não é torcer, o papel do jornalista é narrar o que está acontecendo e interpretar.

Em sua opinião, as transmissões passam as informações de maneira correta para os espectadores? Há equívocos? Se houver equívocos, eles são corrigidos rapidamente?

Danilo Cardoso: Nem sempre eles falam a verdade. Principalmente assistindo as corridas do passado a gente vê quantos erros o Galvão comete em suas interpretações. Talvez eles poderiam não dizer nada quando não sabem, ou deixar claro que é a opinião dele. Errar algumas coisas, como nomes e outros detalhes eu acho difícil não acontecer porque as corridas são coisas muito dinâmicas.

Felippe Santos: Sobre a transmissão passar as informações de forma correta eu acho que sim. Lógico que existem erros, isso acontece em qualquer área, não só no 180 esporte. Pode acontecer de o cara errar uma informação, passar alguma coisa errada, mas de modo geral assim eu não vejo tanto erro não, vejo as informações. Até porque como Fórmula 1 é algo muito específico, e de um público e nicho de um esporte muito específico, geralmente quem acompanha já tem uma ideia das coisas que são faladas. Então eu não vejo muito erro. Erro existe, mas geralmente eu acho que é consertado rapidamente e não vejo grandes problemas nisso na transmissão da Fórmula 1.

Sergio Quintanilha: Sim, eu acho que a maioria das transmissões passa as informações, corretas. E sim, há vários equívocos, mas eu acho que sempre que os jornalistas conseguem identificar os equívocos eles são corrigidos sim de forma rápida.

Em sua opinião, quem seria melhor para compor uma equipe de transmissão da Fórmula 1: um ex-atleta ou um jornalista esportivo? Justifique sua resposta.

Danilo Cardoso: Eu gosto desse modelo, utilizar um jornalista esportivo e um ex- piloto.

Felippe Santos: Eu acho que pode ter os dois. Pode ter tanto o jornalista esportivo quanto o ex-piloto, no caso eu acho que um acaba complementando o outro. E muitos ex-pilotos até acabam fazendo curso de comunicação. Isso também não vale só para a Fórmula 1, vale para o futebol, para o basquete, para o vôlei. Muitos comentaristas que estão aí estão fazendo curso de comunicação, eram ex-atletas, ex-jogadores de futebol, ex-jogadores de basquete, ex-jogadores de vôlei, e que geralmente tem uma boa dicção, uma boa comunicação com as pessoas, porque também isso é fundamental. Às vezes o cara é ex-atleta e ele não fala bem, não tem uma boa comunicação verbal. Isso daí não é todo mundo que tem, aliás é bem raro. Eu acho que cabe os dois, se os dois entenderem do assunto, tiverem boa comunicação com o público, se eles forem claros e tal, acho que vale ter os dois. Tem espaço para todo mundo, desde que tenha competência.

Sergio Quintanilha: Se puder ter os dois, eu acho melhor. A fórmula da Globo que tinha o Galvão narrando, o Reginaldo Leme comentando e o Luciano Burti comentando para mim era perfeita. Se tiver que escolher só um deles, para mim tem que ser um jornalista esportivo.

181

Os valores e interesses da emissora influenciam nas narrações ou os apresentadores têm autonomia de fala?

Danilo Cardoso: Tudo indica que sim. Eles escolhem um “herói” para fazer as pessoas torcerem por aquela pessoa e segurar a audiência. Outra coisa é a questão das marcas como a Red Bull que eles eram proibidos de citar nas transmissões além de muitas outras frescurinhas que eu não estou lembrado agora.

Felippe Santos: Eu acho que os valores da emissora não influenciam. O que pode influenciar é um patrocinador. Por exemplo, tem a equipe Red Bull na Fórmula 1 que a Globo fala que é a Red Bull, é a RBR. E esse tipo de conflito ainda tem, e eu não acho legal, acho que deveria ser falado o nome da marca. Mas aí entra aquele conflito. Às vezes a Globo tem algum patrocinador que é rival dessa marca e ela tem como norma dentro da casa não falar o nome dessas marcas. Eu não acho certo, mas é um padrão que a Globo usa e é um direito dela. Eu não gosto. Mas acontece mais nessa situação de patrocínio, eu acho. Agora de valores da emissora assim, eu não vejo muito não.

Sergio Quintanilha: Influencia. A liberdade de imprensa é um mito. Existe até um certo momento. Sempre os interesses de uma emissora, de um canal, de um jornal, vão influenciar sim de alguma forma a cobertura. Não é sempre, mas existe.

Caso um narrador não goste de um piloto ou equipe, ele deve induzir o público a ter a mesma opinião? Justifique sua resposta.

Danilo Cardoso: Nunca deveriam fazer isso. Eles não devem ser influenciadores, mas fica claro que a Globo sempre tentou fazer isso.

Felippe Santos: (Não deu uma resposta específica para esta pergunta, mas sua opinião está explícita na quarta pergunta).

Sergio Quintanilha: Depende. Se o narrador não gosta de um piloto porque ele acha que o piloto não tem um comportamento ético na pista, por exemplo, ou porque é um piloto que não tenha qualificação para estar na situação que ele está, ou que uma equipe também não tenha competência ou age de forma errada eticamente eu acho que ele deve sim, não induzir o público, mas ele deve deixar muito claro sua opinião. Por exemplo, acho muito lícito que um jornalista critique jogos de equipe. Agora não

182 tem que forçar também a barra. Dá a opinião e pronto, está dada. Não tem que que ficar querendo enfiar na cabeça do público aquilo que o narrador pensa.

No final de 2017 especulava-se que a audiência da Fórmula 1 no Brasil diminuiria com a ausência de um piloto brasileiro no grid. No entanto, ela aumentou nos anos seguintes. Em sua opinião, por que isso aconteceu?

Danilo Cardoso: Eu não sei explicar. Confesso que eu também fiquei surpreso. Talvez a gestão da Liberty com as mídias sociais esteja contribuindo.

Felippe Santos: Por que a audiência da Fórmula 1 aumentou nos últimos três, quatro anos? Eu acho [que é porque] aumentou a competitividade da categoria. Eu acho que há uns anos atrás, cerca de 10 anos atrás, a categoria estava muito... faltava emoção nas corridas. Quem ganhava geralmente ganhava com muita facilidade. Hoje acontece isso ainda com o Hamilton, mas porque ele é muito acima da média, tanto ele quanto o carro que ele tem. Mas há uns tempos atrás eu acho que era muito difícil você ver muita ultrapassagem, por exemplo. Não era algo competitivo que te fazia atrair, ficar na frente de uma TV, para ver uma corrida, sabe? Eu acho que de uns três, quatro anos para cá, isso voltou a ter. As corridas voltaram a ser emocionantes. Voltou a ser legal ver uma corrida de Fórmula 1, mesmo não tendo um piloto brasileiro. Eu acho que a competitividade da categoria acabou fazendo com que isso acontecesse.

Sergio Quintanilha: Aconteceu porque, na verdade, as pessoas que gostam de Fórmula 1 nunca abandonaram a Fórmula 1. E pelo contrário, vem aumentando, vem aumentando o número de mulheres que gostam de automobilismo. Então aquela ideia de que da Fórmula 1 o brasileiro não gosta mais: as pessoas não gostam porque torciam para o Piquet e para o Senna. Quem gosta de Fórmula 1 continua gostando e aos poucos vem aumentando sim porque vai se formando um novo público. E esse novo público está se formando também porque a Fórmula 1 se modificou: ela está mais próxima das redes sociais e isso trouxe uma melhoria, um aumento no público, inclusive um público mais jovem, e feminino também.

Normalmente, o que os torcedores absorvem mais facilmente durante as narrações: informações sobre o esporte, pilotos e equipes ou opiniões dos narradores e comentaristas? Justifique sua resposta.

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Danilo Cardoso: Eu gosto de absorver as informações para aprender mais. Mas acho que na minha opinião as pessoas absorvem mais os erros e as gafes.

Felippe Santos: Eu acho que depende muito - sobre essa questão de o que o público absorve mais durante uma corrida - eu acho que varia muito de quem está assistindo. Tem gente que acaba prestando mais atenção em coisas técnicas da corrida. Tem gente que fica de olho nos carros, acha bonito, acha diferente. Tem gente que fica prestando atenção no que o narrador e o comentarista falam. Acho que cada pessoa tem uma característica, tem um jeito de interagir com uma corrida e de buscar informação. Eu acho que isso varia muito de pessoa para pessoa. Não tem um padrão, não vejo um padrão, acho que varia mesmo.

Sergio Quintanilha: Eu acho que depende muito de quem são os narradores e comentaristas e qual a plataforma que ele lê. Acho que num texto escrito é mais fácil as pessoas absorverem informações sobre o esporte, sobre os pilotos, sobre as equipes. Na parte de rádio, ou de televisão, principalmente de rádio, fica mais marcante a opinião dos comentaristas e narradores, porque no caso do rádio, os torcedores não têm acesso à imagem. Mas talvez seja equilibrado isso.

ANEXO Q:

Qual dos quatro narradores atuais da Fórmula 1 na televisão brasileira - Cléber Machado, Galvão Bueno, Luís Roberto de Múcio e Sérgio Maurício - você prefere? Por quê?

Adriana Perantoni: Eu prefiro o Sérgio Maurício por dar um ar mais descolado às transmissões. Gosto do jeito que ele comenta sobre os pilotos e as expressões que ele usa são muito engraçadas. Ele fala sobre a parte técnica de uma maneira simples, explicando sobre o regulamento e regras da F1 de uma maneira fácil de ser compreendida.

Anderson de Oliveira: Gosto mais do Cléber Machado porque ele fala de uma maneira que agrada todos os torcedores, não importa para qual piloto eles torcem.

Bruna Andrade: Prefiro Cléber Machado porque ele narra as corridas sem torcer para ninguém.

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Cleisson Guterres: Eu prefiro o narrador Cléber Machado.

Elizete Alves: Dos quatro narradores atuais de Fórmula 1, prefiro o Cléber Machado, pois é imparcial e realmente narra os fatos.

Fernando Meyer: Cléber Machado, pois ele faz uma narração isenta de torcidas.

Helena Silva: Meu narrador preferido é o Cléber Machado, um exemplo de imparcialidade no jornalismo esportivo brasileiro.

João Baptista Rossetto: Dentre os narradores eu prefiro o Galvão Bueno.

Por qual canal - Rede Globo ou SporTV - você prefere assistir às corridas de Fórmula 1? Por quê?

Adriana Perantoni: Eu prefiro assistir pela SporTV por causa dos narradores e comentaristas (menos o Burti) e por serem imparciais e mais descolados.

Anderson de Oliveira: Eu acho que a transmissão da Rede Globo é melhor, porque o SporTV não tem variedade de narradores.

Bruna Andrade: Prefiro assistir na Globo porque no SporTV os apresentadores ficam jogando conversa fora e tira o foco da corrida.

Cleisson Guterres: Prefiro acompanhar pela Globo, por causa da narração do Cléber Machado.

Elizete Alves: Prefiro assistir a Fórmula 1 pela Rede Globo porque o Cléber Machado analisa as corridas com isenção.

Fernando Meyer: Assisto pela Rede Globo. Não tenho TV paga.

Helena Silva: Gosto das duas transmissões. O SporTV exibe o chamado ‘pré-vivo’, que mostra o desfile dos pilotos antes das corridas. Porém, seu narrador principal peca em apresentar uma narração agradável. A Globo não mostra a preparação para a corrida, mas seus narradores são melhores.

João Baptista Rossetto: Eu assisto pela Globo aberta, não tenho a SporTV no meu pacote de assinatura de TV a cabo.

Sobre Cléber Machado:

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Em uma escala de 1 a 5, sendo 1 péssimo e 5 excelente, como você avalia a narração de Cléber Machado? Por quê?

Adriana Perantoni: 3. Ele é um bom narrador, mas ainda sinto muito dos trejeitos da narração de futebol em alguns momentos.

Anderson de Oliveira: 5, porque ele descreve o que está acontecendo, sem fazer torcida para ninguém, logo qualquer torcedor pode aproveitar a corrida.

Bruna Andrade: Dou nota 4 porque apesar de ele cometer algumas gafes, dá para ver que ele entende bem o esporte e narra os acontecimentos sem torcida.

Cleisson Guterres: Nota 5, excelente. Não é perfeito, mas não há nada de problemático com ele, então, comparado aos outros, recebe a nota máxima aqui.

Elizete Alves: Avalio a narração de Cléber Machado com 5, pela excelente maneira de expressar exatamente o que acontece no grid, sem torcer para pilotos ou equipes. Assim ele permite que o espectador possa tirar suas próprias conclusões a respeito de pilotos e equipes, escolhendo assim aquele que mais lhe agrada, sem interferência.

Fernando Meyer: 4.

Helena Silva: Sua narração merece 5, pois como mencionei antes, Cléber Machado narra os grandes prêmios com uma imparcialidade notável.

João Baptista Rossetto: Nota 4 - ele narra bem, trata-se de um jornalista bem informado, transmite com imparcialidade, tem boa dicção dá ênfase aos fatos importantes, consegue empolgar o telespectador nos momentos críticos das corridas, não favorece nenhum piloto em suas narrações. Não é perfil dele, mas talvez se ele fosse um pouco mais passional a narração ficaria mais empolgante.

Em sua opinião, Cléber Machado dá um tratamento proporcional ou desproporcional aos pilotos e às equipes em sua narração?

Adriana Perantoni: Sinto que ele seja o representante do “senso comum” na banca de comentaristas. É claro que ele prefira o Hamilton e sempre o elogie, mas ele segue a tendência do público, tanto para elogiar como para criticar.

Anderson de Oliveira: Proporcional.

Bruna Andrade: Proporcional. 186

Cleisson Guterres: Proporcional.

Elizete Alves: Como falei anteriormente Cléber Machado dá tratamento proporcional a pilotos e equipes. Ele não tenta influenciar o espectador a torcer para quem ele admira. Limita-se a contar o que acontece de bom ou ruim sobre pilotos e equipes, não privilegiando ninguém.

Fernando Meyer: Proporcional.

Helena Silva: O tratamento é proporcional.

João Baptista Rossetto: (Não deu uma resposta específica para esta pergunta, mas sua opinião é explícita na primeira pergunta sobre Cléber Machado).

Você já percebeu algum favorecimento ou desfavorecimento de algum piloto ou equipe na narração de Cléber Machado? Quais?

Adriana Perantoni: Só me lembro do Hamilton e da Mercedes.

Anderson de Oliveira: Acho que ele dá atenção a todos os pilotos sem privilegiar nenhum.

Bruna Andrade: Não percebi ele favorecendo ou desfavorecendo ninguém. Acho que ele trata a todos igualmente.

Cleisson Guterres: Não, pelo que eu percebo, trata a todos de forma igual.

Elizete Alves: Não, fala de maneira cordial sobre todos, mesmo quando não concorda com alguma atitude do piloto ou equipe, se refere ao fato sem utilizar maneira jocosa.

Fernando Meyer: Não.

Helena Silva: Nunca o vi beneficiando ou desfavorecendo indevidamente nenhum piloto ou equipe. Acho louvável que Cléber Machado sempre dá o devido destaque ao piloto que está apresentando um bom desempenho, independentemente de sua equipe ou nacionalidade.

João Baptista Rossetto: (Não deu uma resposta específica para esta pergunta, mas sua opinião é explícita na primeira pergunta sobre Cléber Machado).

Para você, quais são os pontos fortes e fracos da narração de Cléber Machado? O que poderia ser melhorado?

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Adriana Perantoni: Ele tem todos os trejeitos de um narrador de futebol. Mesmo que prefira a narração dele comparada ao Galvão, acho que ainda falta um pouco mais de emoção e investimento nos lances mais emocionantes nas corridas. Claro que ele é o dono do bordão mais memorável da F1 no Brasil, mas sinto falta dessa empolgação em alguns momentos.

Anderson de Oliveira: Pontos positivos: não torce para ninguém, fala com clareza e permite aos comentaristas falarem também. Não tem pontos negativos.

Bruna Andrade: O ponto forte dele é que Cléber Machado narra as corridas com frieza. Ele não fica torcendo para um piloto e desprezando os outros. Ele tem uma postura de narrador, não de torcedor como têm outros. O ponto fraco é que às vezes ele se atrapalha com os nomes e acontecimentos, mas depois ele se corrige. Acho que o Cléber podia pesquisar sobre as curiosidades que a Globo pretende dizer ao vivo para que ele não cometa mais esses erros.

Cleisson Guterres: Ponto positivo é uma narração neutra e imparcial. Não há nada gritante de negativo para ser destacado.

Elizete Alves: Acredito que a narração de Cléber Machado é “light”, pois ao narrar sem torcer por pilotos ou equipes deixa aquele que está assistindo livre para escolher seu preferido e torcer para quem melhor lhe aprouver.

Fernando Meyer: Ele é bem ponderado. Não precisa mudar nada.

Helena Silva: Seu maior ponto forte é a imparcialidade, o bom entendimento do assunto e as oportunidades que Cléber Machado dá aos comentaristas para que eles acrescentem informações úteis aos telespectadores. O ponto negativo é que ele anda aparecendo menos como narrador de Fórmula 1 nos últimos anos. Já acompanhei seu trabalho como substituto de Galvão Bueno e foram experiências agradáveis. Fiquei feliz de ver que ele está narrando as corridas de 2020, com uma presença maior do que no ano passado.

João Baptista Rossetto: (Não deu uma resposta específica para esta pergunta, mas sua opinião é explícita na primeira pergunta sobre Cléber Machado).

Sobre Galvão Bueno:

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Em uma escala de 1 a 5, sendo 1 péssimo e 5 excelente, como você avalia a narração de Galvão Bueno? Por quê?

Adriana Perantoni: 2. Ele é o maior narrador esportivo do Brasil, mas acho que o tempo dele já passou e a cada temporada que passa, ele fica mais chato do que já é.

Anderson de Oliveira: 1, porque ele quer ser o centro das atenções, fala demais e não entende de Fórmula 1.

Bruna Andrade: Dou nota 1 porque ele passa as informações erradas para o público, fica puxando o saco de alguns pilotos e desviando o foco da corrida para assuntos pessoais.

Cleisson Guterres: Nota 2, ruim. Comparativamente, é menos pior do que Sérgio Maurício, por isso recebeu uma nota superior a ele.

Elizete Alves: Avalio a narração com 1, pois é extremamente tendencioso. Torce abertamente para a Ferrari e seus pilotos. Não encontra nenhum defeito nos mesmos, e quando estes recebem alguma punição ele fica contrariado.

Fernando Meyer: 2.

Helena Silva: Sua narração merece 1, pois Galvão Bueno deixa suas emoções pessoais se sobreporem aos acontecimentos das corridas e atua mais como líder de torcida do que como um narrador esportivo.

João Baptista Rossetto: Nota 5 - é disparado o melhor narrador de Fórmula 1 do Brasil, o Galvão trabalha a muitos anos nesse tipo de transmissão, é profundo conhecedor de todas regras do esporte, conhece os bastidores das corridas, pilotos equipes engenheiros figuras influentes no meio, tem relacionamento pessoal com alguns pilotos, e dirigentes, frequentemente ele fica na Europa acompanhando e convivendo com pessoas envolvidas nesse esporte.

Em sua opinião, Galvão Bueno dá um tratamento proporcional ou desproporcional aos pilotos e às equipes em sua narração?

Adriana Perantoni: Na época em que ainda tínhamos pilotos brasileiros no grid, o seu tratamento a eles era extremamente parcial. Mesmo que alguns deles cometesse algum erro, a culpa nunca era dele. Sempre bolava umas ideias e teorias malucas no

189 ar que nem sentido faziam. Sem contar que quando ele gosta do piloto, ele puxa muito saco e quando não gosta, corneta tudo o que ele faz e até aumenta algumas coisas.

Anderson de Oliveira: Desproporcional.

Bruna Andrade: Desproporcional.

Cleisson Guterres: Desproporcional.

Elizete Alves: Galvão Bueno dá tratamento desproporcional a pilotos e equipes, pois tudo depende de ele gostar ou não dos mesmos, justificando erros de pilotos que gosta e crucificando aqueles que ele não gosta.

Fernando Meyer: Desproporcional.

Helena Silva: O tratamento é desproporcional.

João Baptista Rossetto: Ele é um torcedor transmitindo a corrida, sua transmissão é totalmente parcial, ele não faz questão de esconder suas preferências, eu acho isso bom, cria um clima de “discussão de boteco” é impossível assistir uma corrida narrada pelo Galvão sem ficar tenso, alegre, com raiva, apreensivo, ou seja ele passa mesmo muita emoção, na Fórmula 1 ele é muito bom.

Você já percebeu algum favorecimento ou desfavorecimento de algum piloto ou equipe na narração de Galvão Bueno? Quais?

Adriana Perantoni: Só com os pilotos brasileiros, quando ainda corriam. Era nítido o favorecimento dele a favor do Massa, mesmo em suas piores fases.

Anderson de Oliveira: Favorece: Felipe Massa, Felipe Nasr, Fernando Alonso (quando esses três corriam) e Ferrari (até hoje). Desfavorece: qualquer piloto estreante ou com pouca experiência.

Bruna Andrade: Na época que o Felipe Massa era piloto, o Galvão sempre puxou o saco dele, mesmo o Massa não tendo bons resultados. Qualquer piloto que rivalizasse com o Massa virava inimigo do Galvão. Depois eu soube que eles são amigos, mas mesmo assim acho errado misturar sentimento com trabalho. Hoje que não tem mais o Massa, ele fica favorecendo a Ferrari. Ele nunca critica os erros do Sebastian Vettel e do Charles Leclerc como ele critica o dos outros. Teve um tempo que ele ficou falando mal do Lance Stroll e do Max Verstappen, mas depois que o Verstappen voltou

190 a ganhar, o tratamento mudou. Com o Stroll ele continuou implicando por um tempo, mas hoje é menos. E quando tem briga entre o Lewis Hamilton e o Vettel por posição, dá para ver que ele torce pelo Vettel.

Cleisson Guterres: Sim. Por exemplo, favorecia constantemente Felipe Massa, relevando seus erros mais grotescos, ao mesmo tempo em que criticava jovens que cometiam exatamente os mesmos erros por falta de experiência. Além disso, criticava pilotos rivais de Massa como se fossem seus inimigos pessoais. Notável exceção é que Galvão também tinha como um de seus favoritos Fernando Alonso, embora este fosse um grande rival de Massa.

Elizete Alves: Notei que favorece os pilotos da Ferrari e da Williams (principalmente o Felipe Massa quando ele estava nessa equipe). Galvão sempre protegia Felipe mesmo este não sendo um piloto muito talentoso, e tecia imensos elogios ao piloto Fernando Alonso, que já não apresentava bom desempenho no fim de sua carreira. Porém, Galvão não tinha a mesma tolerância com pilotos jovens, como Lance Stroll e Max Verstappen, e os criticava ferrenhamente quando estes cometiam erros naturais de sua falta de experiência. Quando os mesmos eram cometidos por pilotos mais velhos, Galvão justificava.

Fernando Meyer: Sim, principalmente para pilotos da Ferrari. Também dava maior atenção a Felipe Massa e Fernando Alonso quando estes estavam na Fórmula 1.

Helena Silva: Galvão Bueno sempre buscou destacar os pilotos brasileiros, independentemente se eram bons ou não. Creio que ele foi um grande nome por trás do endeusamento de Ayrton Senna que vemos hoje no Brasil, ao ponto de que certos torcedores não admitem nem comparações de outros pilotos com ele, principalmente com pilotos estrangeiros. Além disso, tratava os rivais de Senna, como Alain Prost, com desdém, incentivando a torcida brasileira a ter a mesma opinião. Esse comportamento permanece, pois Galvão também incentivou os brasileiros a idolatrarem Rubens Barrichello e Felipe Massa, mas estes dois não são endeusados porque não tiveram os mesmos resultados de Senna (não faltaram tentativas de Galvão de torná-los mitos do automobilismo no imaginário brasileiro). Mesmo assim, há torcedores fanáticos desses dois, principalmente de Massa, que inclusive chegaram a atacar covardemente pilotos que Galvão indicava que seriam rivais dele, como Lance Stroll (que foi seu companheiro na Williams e com quem nunca teve 191 confrontos como os que teve com Fernando Alonso) e Kamui Kobayashi (a quem os fãs de Massa chegaram a usar termos racistas para atacá-lo, como ‘kamikaze’). Nesse último caso, é triste que um narrador que dá nome a uma rua em um bairro conhecido pela comunidade japonesa habitante (Liberdade) esteja por trás do incentivo a um fanatismo que feriu a imagem de um piloto japonês no país. Mas não são todos os pilotos brasileiros que Galvão idolatra, pois ele também demonstrava antipatia por Nelson Piquet, que é tricampeão como Senna. Por causa da narração tendenciosa, boa parte dos torcedores no Brasil acham que Piquet era apenas um “rico esnobe” e que Senna era “humilde”, mesmo que Senna também fosse de família rica e com vários relatos de antipatia por parte dele. Também me estranha as tentativas passadas de aumentar o ‘mito’ por trás de Massa, atribuindo-lhe rivais que nunca o viram como tal, sendo que Galvão também admirava muito Fernando Alonso, que protagonizou uma das maiores humilhações da carreira de Massa (“Fernando is faster than you”). Nunca vi Galvão destilar sobre Alonso a fúria que ele destila aos pilotos com quem não simpatiza, mesmo com este episódio vergonhoso dos anos de Massa na Fórmula 1. Nos últimos tempos, sem Massa e sem Alonso, percebi que Galvão tende a elogiar Charles Leclerc, inclusive a compará-lo com Senna, como no GP do Brasil do ano passado. Max Verstappen teve momentos bem melhores, e até ganhou a corrida, mas Galvão o elogiou modestamente. Também gosta de elogiar Sebastian Vettel, e nunca critica seus erros, mesmo cometendo vários, imperdoáveis para um piloto com tanta experiência. Concluo que Galvão é um torcedor ferrarista e que tenta influenciar a torcida brasileira a gostar de pilotos conterrâneos ou da Ferrari.

João Baptista Rossetto: Um exemplo de sua parcialidade era quando o Ayrton Senna corria, ele era declaradamente um torcedor narrando, até porque ele convivia muito com o Ayrton, os dois tinham muita amizade pessoal. ele também sempre favoreceu o Barrichello, mesmo quando visivelmente ele não ia bem o Galvão dava um jeito de “encher a bola dele”.

Para você, quais são os pontos fortes e fracos da narração de Galvão Bueno? O que poderia ser melhorado?

Adriana Perantoni: Deveria ser menos chato, sem sempre considerar sua opinião a mais importante de todas e comentar sobre coisas que façam sentido em relação à

192 corrida. Mas seu ponto forte é a emoção que pode dar em certos momentos nas corridas, como uma disputa por posições.

Anderson de Oliveira: Pontos positivos: não tem. Pontos negativos: fala demais, não conhece o assunto, tenta forçar o público a torcer para o piloto que ele torce e detestar o piloto que ele detesta.

Bruna Andrade: O ponto forte do Galvão é a emoção que ele coloca na voz, mas isso só é bom para quem está torcendo para o mesmo piloto que ele, que se sente acompanhado na torcida. O ponto fraco é a parcialidade dele. Para quem torce por exemplo para o Hamilton é chato ouvir o Galvão dizendo com aquela empolgação que é o Vettel ou o Leclerc que vai ganhar. Também é horrível ouvir ele falando mal de pilotos que ele não gosta, porque na audiência tem torcedor de todos os pilotos. Não cabe ao Galvão dizer quem é o melhor ou o pior. Ele tem que narrar a corrida, não torcer. Para a narração dele melhorar, ele precisa separar o lado torcedor do lado apresentador e tratar todos os pilotos e equipes igualmente. Também deveria parar de falar de vidas pessoais, tanto dele quanto dos pilotos (esse é um problema que o Sérgio Maurício também tem). Tenho amigos que não assistem mais os esportes na Globo porque eles dizem que virou programa de fofoca.

Cleisson Guterres: O ponto positivo é que, quando quer, ele sabe fazer uma narração empolgante. O ponto negativo é que ele constantemente atropela e interrompe a fala dos outros participantes (comentaristas e repórteres) e às vezes se perde falando sobre assuntos banais não relevantes à corrida.

Elizete Alves: Não admiro a narração de Galvão Bueno, pois a forma como ele induz o torcedor a gostar dos mesmos pilotos e equipes que ele gosta torna sua narrativa monótona, cansativa e tensa. Eu gostaria que ele não ficasse retornando ao passado, contando histórias longas sobre pilotos que não fazem mais parte do grid, pois isso tira o foco da corrida. Esse assunto poderia ser abordado em outro programa, não durante a corrida. Com essas histórias, ele deixa de atender a outros repórteres que estão participando do evento, como vi várias vezes a Mariana Becker chamá-lo para narrar algum fato e ele não lhe dá a palavra, continua a sua história descabida, perdendo lances de corrida que ela gostaria de comentar. Desta maneira, os torcedores retomam a campanha “Cala a boca, Galvão” da Copa de 2010 e é bem merecido. 193

Fernando Meyer: Galvão é meloso e escandaloso demais. Deveria controlar as emoções durante a narração.

Helena Silva: Aparentemente a intenção de Galvão em exaltar os pilotos brasileiros é valorizar o esporte nacional, porém o tratamento que deu a Piquet, desfavorável em relação a pilotos que não foram campeões, como Barrichello e Massa, indica razões pessoais nas escolhas sobre qual piloto engrandecer. Galvão presta um desserviço ao criar rivalidades artificiais, omitir feitos de alguns pilotos e aumentar os de outros para que o público concorde com ele, pois assim não age como jornalista e sim como storyteller. Por essa dúvida que surge em torno de seus objetivos ao narrar, não posso apontar nenhum ponto positivo em suas narrações. A sugestão que dou é que Galvão seja sincero com seu público, e se não for capaz de tratar os pilotos e equipes com isonomia, que admita que não tem o perfil requerido para ser narrador de Fórmula 1. A transmissão é uma combinação de imagem e som, e com o som informando equívocos, as pessoas podem estar vendo um fato, mas vão acreditar na versão e interpretá-lo erroneamente. Galvão induz o público ao erro, não dá oportunidade para opiniões contrárias, cria um ambiente ditatorial no estúdio, e sua narração se torna insuportável

João Baptista Rossetto: Sua narração além de emotiva, também é extremamente técnica, ele conhece tudo do esporte e quando surge algum acontecimento duvidoso ele consegue rapidamente entender o fato e passar informações sobre o que está ocorrendo, esclarecendo o espectador.

O fato dele ser muito parcial talvez seja um ponto negativo, mas na minha opinião isso apimenta a transmissão, eu brigo com ele o tempo, tudo e isso é legal.

Sobre Luís Roberto de Múcio:

Em uma escala de 1 a 5, sendo 1 péssimo e 5 excelente, como você avalia a narração de Luís Roberto de Múcio? Por quê?

Adriana Perantoni: 3. Pelos mesmos motivos do Cléber Machado.

Anderson de Oliveira: 1, porque a narração dele é parecida com a do Galvão.

194

Bruna Andrade: Dou nota 2 porque ele também fica puxando o saco de alguns pilotos e não faz uma narração imparcial, mas ele tem menos emoção de torcedor que o Galvão Bueno.

Cleisson Guterres: Nota 2, ruim. Assim como Galvão Bueno, comparativamente, é menos pior do que Sérgio Maurício, por isso recebeu uma nota superior a ele.

Elizete Alves: Avalio a narração de Luís Roberto de Múcio com 2, pois também não consegue fazer uma narração isenta.

Fernando Meyer: Não conheço este narrador.

Helena Silva: Sua narração merece 1, pois Luís Roberto tem o mesmo defeito de Galvão: não admite opiniões contrárias e tenta impor sua opinião como verdade absoluta.

João Baptista Rossetto: Quanto a Luís Roberto de Múcio eu não tenho informação, pois não acompanho a transmissão dele.

Em sua opinião, Luís Roberto de Múcio dá um tratamento proporcional ou desproporcional aos pilotos e às equipes em sua narração?

Adriana Perantoni: Pelo o que eu me lembre, não desfavorece ninguém.

Anderson de Oliveira: Desproporcional.

Bruna Andrade: Desproporcional.

Cleisson Guterres: Desproporcional.

Elizete Alves: Seu tratamento é desproporcional com pilotos e equipes. Visivelmente torcedor da Ferrari e, principalmente, de Charles Leclerc. Lembro que no Grande Prêmio de Mônaco, em 2019, ele declara “toda a expectativa em cima da vitória do piloto monegasco”, e nessa corrida não lembro de ter visualizado nenhuma faixa com o nome desse piloto. Nessa mesma corrida, Leclerc errou a manobra e entrou na área de escape, e Luís Roberto culpou o piloto Hulkenberg pelo erro do Leclerc.

Helena Silva: O tratamento é desproporcional.

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Você já percebeu algum favorecimento ou desfavorecimento de algum piloto ou equipe na narração de Luís Roberto de Múcio? Quais?

Adriana Perantoni: Não.

Anderson de Oliveira: Favorece: Ferrari. Desfavorece: Max Verstappen.

Bruna Andrade: Parece que ele não gosta do Max Verstappen. Toda corrida que o Verstappen está liderando ele fica induzindo o espectador a pensar que algum dos pilotos de trás vai ganhar dele. Se o Verstappen vence, ele não comemora. E tem umas vezes que ele tenta culpá-lo por acidentes que não foram culpa dele, como no GP de Singapura de 2017, que ele ficou insistindo que era culpa do Verstappen mesmo o Reginaldo Leme provando que era culpa do Kimi Raikkonen e do Sebastian Vettel. Ele nem pediu desculpas para os telespectadores por ter falado besteira, só ficou quieto e fingiu que o assunto nunca existiu. No GP da Hungria de 2019 ele não se conformou com a pole position do Verstappen e ficou torcendo descaradamente para o Lewis Hamilton ganhar dele, sendo que em corridas que o Hamilton tem claras chances de ganhar, ele torce para alguém da Ferrari vencer. A equipe que ele mais gosta é a Ferrari, principalmente do Charles Leclerc. Aí fica difícil para quem não é ferrarista assistir a uma corrida com essa narração tendenciosa. Acho um desrespeito com os torcedores das outras equipes e pilotos.

Cleisson Guterres: Sim. Torce abertamente pelos pilotos da Ferrari durante as narrações, e tem uma forte aversão a Max Verstappen, principalmente.

Elizete Alves: Sim, ele perdoou o piloto da Ferrari Sebastian Vettel quando este bateu propositalmente no carro de Lewis Hamilton porque este estava em sua frente e andava muito devagar, acompanhando o safety car. Luís Roberto disse que a atitude de Vettel traduzia o quanto ele estava nervoso e que Vettel não tinha feito aquilo por mal.

Helena Silva: Luís Roberto privilegia os pilotos ferraristas, fechando os olhos para seus erros e exaltando seus feitos mais do que o de outros pilotos na mesma situação. Por outro lado, este narrador persegue Max Verstappen de um jeito anormal: coloca sobre ele a culpa por qualquer incidente que acontece nas corridas e se recusa a reconhecer seu mérito em casos de vitórias, pódios e recuperações.

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Para você, quais são os pontos fortes e fracos da narração de Luís Roberto de Múcio? O que poderia ser melhorado?

Adriana Perantoni: Assim como o Cléber Machado, acho que deveria ter mais emoção em alguns lances nas corridas.

Anderson de Oliveira: Pontos positivos: não tem. Pontos negativos: discute com os comentaristas para ter razão, não reconhece os feitos do Verstappen e torce descaradamente para a Ferrari.

Bruna Andrade: Eu não sei qual seria o ponto forte do Luís Roberto porque a narração dele além de tendenciosa é bem monótona, como se ele não estivesse gostando de estar ali. Ele só se empolga quando a Ferrari está vencendo ou quando alguém ultrapassa o Verstappen. Eu diria então que o ponto forte dele é não agir como torcedor durante toda a corrida, mas quando age é insuportável. E esse é o ponto negativo: a torcida pela Ferrari e anti-Verstappen. Ele deveria parar com isso e tratar todos os pilotos e equipes como iguais. É a audiência de todo mundo que faz a Globo ganhar, mas parece que ele só se preocupa em agradar os torcedores da Ferrari.

Cleisson Guterres: Ponto negativo é a parcialidade mencionada acima. Ponto positivo é que ele respeita o tempo dos repórteres e comentaristas sem interrompê- los.

Elizete Alves: Luís Roberto subestima a capacidade do espectador com uma narrativa tendenciosa, mostrando que é torcedor e não narrador. Sua constante maledicência referente a Max Verstappen no início de carreira provocava o espectador a não acreditar no potencial desse jovem piloto que atualmente é um dos melhores pilotos do grid. Seria melhor narrador caso respeitasse a opinião dos comentaristas contrários à sua visão e parasse de “bajular” a Ferrari.

Helena Silva: Não consigo encontrar pontos positivos no trabalho de Luís Roberto, pois o mesmo demonstra falta de conhecimento do esporte e parece não gostar de ser corrigido pelos comentaristas. Lembro que quando o Reginaldo Leme o corrigia e se provava certo, Luís Roberto ignorava a explicação e fingia que nada havia acontecido. Este é um comportamento infantil e incabível para um jornalista esportivo. Seus pontos negativos são a parcialidade em favor de Leclerc e Vettel e contra Verstappen e sua relutância em admitir seus próprios erros. Para melhorar o trabalho,

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Luís Roberto deveria treinar suas habilidades jornalísticas e deixar para trás sua emoção de torcedor, caso contrário deveria abandonar as transmissões da Fórmula 1.

Sobre Sérgio Maurício:

Em uma escala de 1 a 5, sendo 1 péssimo e 5 excelente, como você avalia a narração de Sérgio Maurício? Por quê?

Adriana Perantoni: 5. Ele é o meu narrador favorito. Gosto do humor dele e de como ele aborda os lances nos treinos e na corrida. Acho sensacional o jeito que ele é despojado e mais engraçado, comparado aos outros citados na pesquisa.

Anderson de Oliveira: 1, porque ele trata a transmissão como se fosse o canal particular dele no YouTube.

Bruna Andrade: Se eu pudesse, daria um 0, mas como o mínimo é 1, dou 1. A narração dele não é nada profissional, cheia de piadas e comentários ofensivos e inconvenientes.

Cleisson Guterres: Nota 1, péssimo. Os motivos serão esclarecidos nas próximas respostas.

Elizete Alves: Avalio da narração de Sérgio Maurício com 1, pois não existe a opção 0. Pior que o Galvão. Também, sem dúvida nenhuma, torce pela Ferrari, onde não vê defeitos em seus pilotos e justifica todos os erros que cometem.

Fernando Meyer: Não conheço este narrador.

Helena Silva: Sua narração merece 1, pois Sérgio Maurício não encara o trabalho de narrador como sério, fazendo piadas infames durante a transmissão, que é tratada como seu diário pessoal.

João Baptista Rossetto: Quanto a Sérgio Maurício eu não tenho informação, pois não acompanho a transmissão dele.

Em sua opinião, Sérgio Maurício dá um tratamento proporcional ou desproporcional aos pilotos e às equipes em sua narração?

Adriana Perantoni: Não, acho que ele brinca na mesma medida com todos os pilotos e equipes. 198

Anderson de Oliveira: Desproporcional.

Bruna Andrade: Definitivamente desproporcional.

Cleisson Guterres: Desproporcional.

Elizete Alves: Desproporcional.

Helena Silva: O tratamento é desproporcional.

Você já percebeu algum favorecimento ou desfavorecimento de algum piloto ou equipe na narração de Sérgio Maurício? Quais?

Adriana Perantoni: Não, acho ele o mais imparcial de todos.

Anderson de Oliveira: Favorece: Fernando Alonso (quando ele corria), Lando Norris e Ferrari. Desfavorece: Lance Stroll (a quem ele persegue descaradamente).

Bruna Andrade: Não tenho a menor dúvida que o Sérgio seja torcedor da Ferrari. Ele delira quando é piloto da Ferrari que vence, principalmente o Sebastian Vettel. Além disso, ele nunca culpa o Vettel pelos acidentes que causa. A culpa é sempre do outro. Por outro lado, ele parece ter um ódio descontrolado do Lance Stroll. Em qualquer oportunidade ele fica fazendo chacota com o Stroll e com a família dele. Chega a ser doentia essa obsessão de falar mal dele, que nem tem como se defender. Aí estimula os torcedores a fazerem esse bullying sem sentido com o piloto. Teve um tempo que ele também perseguia o Max Verstappen, mas depois que o mesmo começou a ganhar e a se destacar na Fórmula 1, ele parou e até elogia o Verstappen, chamando ele de menino de ouro (ele disse isso nos treinos livres do GP do Bahrein de 2017). Nem parece que antes ficava falando que ele era muito novo e imaturo para o esporte. Uma falsidade sem tamanho. E enquanto ele ignora os feitos do Stroll, chamando ele de fraco para baixo, o Sérgio fica puxando o saco de pilotos que não fizeram nem metade do que o Stroll fez, como o Esteban Ocon e o Stoffel Vandoorne (este nem está mais na Fórmula 1). Ficava dizendo que esses dois iam ser campeões. Os dois foram demitidos. O Ocon depois foi readmitido, mas está numa equipe pouco competitiva, e o Sérgio insiste em puxar o saco dele. No último treino livre que eu vi, chamou até ele de belo.

Cleisson Guterres: Sim, favorece aos que ele torce, e “mete o pau” (como ele mesmo diz) nos que ele não gosta. Por exemplo, já confessou sua perseguição ao piloto Lance 199

Stroll (que também se caracteriza como racismo, já que Stroll é judeu e índio), “A gente já falou tão mal dele aqui, já metemos o pau no Lance Stroll” e quando Lance tem um excelente desempenho e caberia a ele elogiar o piloto, sua reação é fazer piadinhas de mal gosto, como afirmar que Lance deveria dizer “Obrigado, papai, por me dar esse carro” (desmerecendo o mérito pessoal do piloto e atribuindo ao carro e ao pai a conquista de Lance).

Elizete Alves: Percebi que favorece os pilotos da Ferrari, principalmente Sebastian Vettel. Um exemplo foi no Grande Prêmio do Canadá de 2019, quando Vettel espremeu Lewis Hamilton contra o muro e recebeu uma punição de cinco segundos, perdendo a vitória. Vettel invadiu a garagem da Mercedes, intimidando a equipe de Hamilton, trocou as placas de primeiro e segundo lugar das vagas do pódio, e isso foi classificado por Sérgio Maurício como um “nervosismo”, “que não foi por mal”. Também justificou as vaias e desrespeito da torcida ferrarista contra Hamilton. Atualmente protege Lando Norris, que no seu primeiro ano de carreira (2019) não conquistou nada, e critica fortemente Lance Stroll, que no primeiro ano de carreira (2017) teve pódio e três recordes. Também criticava, não dando qualquer possibilidade de evolução na carreira, o piloto Max Verstappen, culpando-o pelos acidentes de outros pilotos e criticando sua juventude, dizendo que era piloto ruim. Hoje, o narrador oculta esse passado, elogiando Max. Sérgio Maurício também costuma fazer apostas com os comentaristas sobre quem será o pole position, e sua aposta quase sempre é Sebastian Vettel ou Charles Leclerc. Quando Fernando Alonso ainda fazia parte da Fórmula 1, Sérgio Maurício o chamava carinhosamente de “Dom Fernando”, bajulando-o em qualquer situação.

Helena Silva: Percebo que Sérgio tenta se emplacar como um defensor dos talentos jovens, mas não são todos os pilotos jovens que ele defende. Noto que enquanto Sérgio defende Lando Norris, Esteban Ocon e George Russell, ele ataca Lance Stroll e Alexander Albon, que possuem mais feitos em suas carreiras que os três mencionados anteriormente. O mais grave é que os ataques feitos contra Stroll são de caráter pessoal, com piadas e inverdades sobre o piloto e sua família e omissão quando o mesmo tem bons resultados. Acredito que esse recente apoio aos pilotos jovens seja uma farsa, pois quando Max Verstappen, o primeiro da nova geração da Fórmula 1, estreou no esporte, o mesmo Sérgio Maurício vivia tecendo críticas infundadas sobre o piloto. Por outro lado, os pilotos mais velhos nunca são criticados 200 por este narrador, que tinha uma predileção indiscreta por Fernando Alonso. Outros pilotos favorecidos são os dois da Ferrari, pois percebo que ele torce muito pelas vitórias de Leclerc e nunca critica os acidentes de Vettel com a mesma ferocidade que critica o de outros pilotos. Uma prova da incoerência de Sérgio ao tratar os pilotos foi quando criticou a resposta raivosa de Verstappen a uma pergunta indelicada de um jornalista, mas defendeu o comportamento vergonhoso de Vettel ao trocar as placas de primeiro e segundo lugar do Grande Prêmio do Canadá de 2019 por não concordar com a punição que levou.

Para você, quais são os pontos fortes e fracos da narração de Sérgio Maurício? O que poderia ser melhorado?

Adriana Perantoni: O ponto forte dele é a proximidade que sua abordagem nos comentários dá ao telespectador. O ponto fraco dele é ficar condicionado apenas ao SporTV.

Anderson de Oliveira: Pontos positivos: não tem. Pontos negativos: faz piadas de mau gosto (algumas até de cunho racista) com os pilotos que ele não gosta (principalmente o Stroll), fica rindo ao vivo dessas mesmas piadas para forçar os comentaristas a concordarem com ele, quer falar mais mesmo não sabendo do assunto, conta histórias pessoais como se fosse do interesse do público e incentiva o fanatismo e a violência dos torcedores.

Bruna Andrade: Acho que não tem pontos positivos na narração do Sérgio. Para mim, ela é bem pior que a do Galvão. Mas pelo que eu vejo na internet, tem gente que gosta da informalidade dele, porque algumas pessoas se divertem com esse tom (obviamente não são torcedores dos pilotos que ele persegue). Os pontos negativos são a perseguição que ele tem com o Lance Stroll (sendo que, creio eu, ele e o Stroll nem devem se conhecer pessoalmente), a torcida exagerada dele pela Ferrari e a maneira como ele narra e interage com os comentaristas (que muitas vezes participam da zombaria) parece que ele está na casa dele. Não vejo profissionalismo nessa narração. Vejo um torcedor fazendo no público o que ele faz no privado. O que ele precisa mudar urgentemente é justamente essa postura. Transmissão esportiva não é programa de humor para ficar zombando dos outros.

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Cleisson Guterres: O ponto negativo é que ele é extremamente tendencioso e escancara suas preferências pessoais nas narrações. O ponto positivo é que pelo menos ele não tenta (ou não consegue) esconder isso do telespectador e por várias vezes deixa nítida sua parcialidade.

Elizete Alves: Não vejo pontos fortes em sua narração, pois ela é muito tendenciosa. Um exemplo foi em 2017, quando disse que Esteban Ocon e Stoffel Vandoorne seriam campeões e que Lance Stroll não seria, porque “só está na Fórmula 1 porque é filho daquele famoso bilionário: o... o... o... papai Stroll” (palavras dele próprio). Nota-se que além de negar o mérito de Stroll, que foi campeão nas categorias de acesso à Fórmula 1 e ainda foi o primeiro piloto do Canadá a vencer a Fórmula 3 Europeia, Sérgio Maurício trata o jovem piloto com comentários jocosos e piadas sobre sua família sem ao menos conhecê-la para tal, demonstrando falta de profissionalismo e uma perseguição infantil contra este piloto. Lembrando que Vandoorne foi demitido no mesmo ano por não apresentar desempenho satisfatório, e o mesmo ocorreu com Ocon no ano seguinte. Acho que Sérgio Maurício melhoraria sua narração se não tentasse adivinhar o futuro de pilotos e equipes, e baseasse sua narração em fatos reais. Também deve diminuir as piadinhas infames que só empobrecem a narração.

Helena Silva: Assim como na narração de Luís Roberto, não encontro pontos positivos na de Sérgio Maurício. O mesmo usa uma linguagem muito informal, típica de uma conversa de amigos no bar, que apesar de aproximar o público, tira o caráter sério do esporte. Além do mais, algumas piadas feitas por Sérgio se assemelham ao comportamento de bullying escolar, incentivando os internautas a agirem como tal perante os pilotos e equipes que eles não simpatizam, em vez de promover o respeito e o espírito esportivo. Sérgio usa padrão duplo para julgar os pilotos, como se tentasse manchar a imagem de alguns e endeusar a de outros. Cabe ao torcedor fazer esses julgamentos, não ao narrador. Recomendo que Sérgio Maurício reveja seu comportamento perante as câmeras, pois o mesmo não está nem em posição nem em idade para agir como um adolescente num ambiente de trabalho.

Sobre a transmissão:

Você percebe alguma diferença entre a narração da Fórmula 1 em canal aberto (Rede Globo) e fechado (SporTV)? Qual(is)?

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Adriana Perantoni: Sim. Acho a narração do SporTV muito melhor e despojada comparada à Globo, que parece ter um padrão de exibição voltada totalmente ao Galvão.

Anderson de Oliveira: A transmissão só é diferente quando o Cléber Machado é quem narra (na Globo). Com os outros narradores e o SporTV a transmissão é praticamente a mesma.

Bruna Andrade: Teoricamente era para o SporTV ter uma cobertura melhor porque é um canal fechado, e teria de ser especializado. Mas no final a narração no SporTV (sempre feita pelo Sérgio Maurício) acaba sendo mais informal, não tem jeito de especialista.

Cleisson Guterres: Sim. A linguagem usada no SporTV é geralmente mais popular e informal que a linguagem usada na Globo, o que parece um pouco contraditório, afinal, seria esperado que a Globo, como canal de TV aberta assistido por todos os públicos, apresentasse uma linguagem mais informal do que o SporTV, que é um canal de TV fechada disponível apenas para o público de maior renda e com mais interesse no esporte.

Elizete Alves: Não vejo muita diferença, pois são os mesmos narradores no canal aberto e no fechado. Apesar de Sérgio Maurício ser o titular do SporTV, Galvão Bueno narra algumas corridas na TV fechada quando se trata de uma prova cujo horário coincide com um jogo de futebol que a Globo transmite. Portanto, não há muita variedade de profissionais entre os dois canais.

Fernando Meyer: Não sei, pois não tenho TV a cabo.

Helena Silva: O modelo de exibição é praticamente o mesmo, mudando apenas a postura dos narradores.

João Baptista Rossetto: Referente as diferenças entre Globo aberta e SporTV eu não tenho opinião formada pois só assisto na Globo.

A Rede Globo e o grupo SporTV também transmitem outros esportes. Em sua opinião, a Fórmula 1 tem destaque e cobertura especializada nesses canais?

Adriana Perantoni: Não, sem dúvidas, o futebol ainda é o esporte que tem mais destaque. Algo fácil de se notar é a facilidade que a Globo tem em cortar o treino 203 classificatório da grade no sábado e não exibir o pódio, o que eu acho um desrespeito com quem acompanhou a corrida até o fim.

Anderson de Oliveira: Não. São poucos os profissionais que conhecem o assunto. Na transmissão do futebol eles são mais profissionais.

Bruna Andrade: A Fórmula 1 tem destaque, mas acho que a cobertura não é muito especializada. Às vezes os apresentadores querem contar todos os fatos sobre a Fórmula 1 e acabam se confundindo ou esquecendo a informação.

Cleisson Guterres: A Fórmula 1 tem destaque sim, a exibição em si não deixa a desejar em nada, corridas e treinos são exibidos ao telespectador. No entanto, a cobertura não é muito especializada, deixando a desejar em quesitos técnicos e imparcialidade.

Elizete Alves: Acredito que não. Existe uma equipe muito grande falando de futebol e um grupo menor que fala sobre Fórmula 1. Dentre estes, alguns falam de maneira especializada, como Luciano Burti, que comenta bem sobre a mecânica dos carros. Porém, entre os narradores, não há um especialista em Fórmula 1. Galvão Bueno, Cléber Machado e Luís Roberto de Múcio são especialistas em futebol e Sérgio Maurício em vôlei.

Fernando Meyer: Sim.

Helena Silva: Não. A Fórmula 1 é deixada em segundo plano no Brasil. A maior prova disso é a Globo não exibir mais os pódios em TV aberta, preferindo antecipar o Esporte Espetacular, que poderia muito bem começar mais tarde. No SporTV, o narrador perde muito tempo comentando sobre outras provas de automobilismo, como Stock Car e Fórmula 2, e deixam de trazer informações importantes para o público.

João Baptista Rossetto: Quanto a equipe de jornalistas eu considero o Reginaldo Leme como melhor de todos, acompanha a Fórmula 1 a décadas e a exemplo do Galvão conhece muito bem todos bastidores do esporte, também tem envolvimento pessoal com pilotos engenheiros e chefes de equipes, está sempre no lugar certo quando precisa, ótimo jornalista.

Em sua opinião, os profissionais responsáveis pelo discurso da transmissão (narradores, comentaristas e repórteres) têm conhecimento adequado sobre a

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Fórmula 1? Quais profissionais você destaca como os melhores nas coberturas?

Adriana Perantoni: Para mim, o melhor profissional é o Sérgio Maurício. Detesto os comentários do Burti e preferia que o piloto da bancada fosse o Rubinho, por toda a sua história na F1 e por ser menos chato que nem o Burti. Acho alguns comentários extremamente sem noção e sem dizer que sua carreira na F1 sequer é lembrada (ou digna de ser lembrada). As cornetadas que ele dá em alguns pilotos são desnecessárias e não o acho capacitado para o cargo. Acho também que a Mariana Becker deveria ser mais valorizada nas transmissões e não apenas ser deixada como a repórter no grid. Talvez, poderia ter uma função parecida com a de Ted Kravitz na Sky Sports, com um quadro só seu contando o que observa no paddock (mesmo que ainda falte um pouco de carisma à Becker).

Anderson de Oliveira: Só o Cléber Machado e o Guilherme Pereira se destacam. Os outros não tratam a Fórmula 1 como um esporte e sim como um evento de celebridades.

Bruna Andrade: Acho que no geral eles têm conhecimento, mas não diria adequado. Existem muitas falhas na transmissão. Dos repórteres correspondentes, Mariana Becker e Guilherme Pereira, não gosto muito do trabalho (vi um vídeo que ela até dá um empurrão no Martin Brundle para fazer uma entrevista, envergonhando a imagem do Brasil no exterior). O Guilherme tenta falar de um jeito descontraído e tudo, mas acaba dando um ar de programa de humor na transmissão que não combina com o esporte. Também não sou muito fã dos comentaristas. Acho que o Luciano Burti tenta posar de especialista porque ele mesmo foi piloto por um ano, mas ele se sente no direito de julgar os pilotos como se ele fosse um campeão (sendo que ele não fez um ponto sequer na carreira). O Reginaldo Leme era mais profissional, mas nos últimos dois anos dele como comentarista a qualidade do trabalho dele caiu muito, agindo mais como torcedor. O Felipe Giaffone eu não vi muito do trabalho dele como comentarista de Fórmula 1, então não posso opinar sobre ele. Acho que, no geral, o único profissional que se destaca lá é o Cléber Machado.

Cleisson Guterres: Os narradores em geral não têm conhecimento adequado. Como disse o piloto Nelson Piquet em uma entrevista, “Dá muito desgosto ver o Galvão Bueno falar tanta besteira técnica.” Em minha opinião, a culpa é da emissora, que tem 205 o mesmo time de narradores para narrar todo e qualquer esporte (Futebol, Basquete, Vôlei, Fórmula 1, …). Comparativamente, é inimaginável que em uma escola de Ensino Médio um mesmo professor dê aula de Química, Física, Biologia, Matemática, Português, História e Geografia, por que não será possível esse único professor ter conhecimento especializado em todas essas áreas, o natural é que cada disciplina tenha um professor diferente. Da mesma forma, a emissora deveria fazer escolha de narradores específicos para cada esporte.

Elizete Alves: Percebo que, no geral, a equipe da Globo e do SporTV não têm muito ânimo em tratar da Fórmula 1 como fazem com outros esportes. Mesmo assim, destaco Cléber Machado como um bom narrador de Fórmula 1. Outros colaboradores, como Mariana Becker e Guilherme Pereira, têm pouco destaque nas narrações, pois competem com as “histórias da carochinha” de Galvão e Sérgio Maurício e não conseguem atenção necessária para seus comentários.

Fernando Meyer: Sim. Acho que todos fazem um bom trabalho.

Helena Silva: A equipe é bem mista em termos de conhecimento. Entre os narradores, apenas Cléber Machado e Galvão Bueno conhecem bem o esporte (embora Galvão desperdice esse potencial em sua missão de criar lendas do automobilismo no imaginário do público). Já entre os comentaristas, Luciano Burti conhece bem a parte técnica dos carros, mas também apresenta um lado torcedor em seus comentários. Reginaldo Leme fez um bom trabalho como comentarista devido aos anos de experiência, mas nos últimos tempos também agiu como torcedor. Os repórteres não demonstram muito conhecimento do esporte.

João Baptista Rossetto: Fórmula 1 e Futebol sempre tiveram prioridade e destaque nas transmissões esportivas da emissora, o futebol nem precisa dizer e a Fórmula 1 porque sempre tivemos pilotos brasileiros em posição de destaque no esporte, nos últimos anos com a falta de brasileiros perdeu um pouco a graça, mas mesmo assim eu assisto as corridas só que sem nenhum piloto preferido, eu gosto mesmo de ver os “pegas”.

Em 2019, a Fórmula 1 teve três pilotos pertencentes a minorias étnicas: Lewis Hamilton (negro), Lance Stroll (indígena e judeu) e Alexander Albon (asiático).

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Em sua opinião algum deles foi favorecido ou desfavorecido nas transmissões de Fórmula 1 da TV brasileira no ano passado?

Adriana Perantoni: Os comentários do Burti em relação ao Lance me incomodam porque ele não é um piloto falível como ele o pinta. Ele é um piloto consistente, talentoso e que entrega o que consegue com as condições e carro que tem. Já em relação ao Albon e Hamilton, sinto que os comentaristas reconhecem seus talentos e como o Albon foi condicionado ao posto de 2º piloto na Red Bull, eles têm compaixão com o tailandês, sabendo de como a Red Bull tende a tratar seus segundos pilotos. Apenas sinto uma implicância com o Stroll, sempre comentando sobre sua riqueza - o que não faz o menor sentido - e por já ter sido companheiro de equipe de Massa na Williams e ter superado o brasileiro na maioria das corridas.

Anderson de Oliveira: Infelizmente, eu já vi muitos casos em que os narradores extrapolaram ao falar deles, principalmente do Lance Stroll. Em 2017, quando ele estreou, o Sérgio Maurício chegou ao cúmulo de dizer que o Stoffel Vandoorne seria campeão e o Stroll não, sendo que o Stroll tem muito mais feitos na Fórmula 1 (Vandoorne foi até demitido e o Stroll continua até hoje). Um dia no ano passado eu até ouvi ele fazendo uma piada de que o Stroll ia trocar o tufão que ia passar por um espelho (querendo dizer que os índios trocam as riquezas naturais por espelhos) e dando risada ainda por cima. Depois na reprise dos treinos cortaram essa parte do áudio, mas teve gente que lembrou dessa piada na internet. Me pergunto onde está a justiça desse país, que multou o Júlio Cocielo por fazer piada contra o Mbappé, que nem brasileiro é e nem conhece o Cocielo, e ‘deixa rolar’ (sic) piadinha racista com o Lance Stroll na transmissão da Fórmula 1. Acho que a justiça devia ser igual para todos. Pilotos brancos com menos feitos que ele, o Sérgio Maurício aplaude muito, mas quando é o Stroll quem faz algo brilhante, o Sérgio age da mesma maneira como o Luiz Roberto age com o Verstappen. Outro exemplo foi quando ele disse que não tinha mais brasileiro na Fórmula 1, mas tinha o Perez de piloto do continente americano, aí quando um dos comentaristas corrigiu ele (não lembro se foi o Burti ou o Reginaldo Leme), ele disse que o Stroll era piloto, mas no máximo um ser humano. Uma fala típica de gente ignorante.

Com o Lewis Hamilton, os narradores são obrigados a falar dos feitos dele porque ele é hexacampeão e pode ser hepta este ano, mas quando um piloto da Ferrari tem

207 chances de vencer, eles torcem para o piloto da Ferrari. E entre o Hamilton e o Valtteri Bottas, que é branco, eles torcem para o Bottas.

O Alexander Albon é tratado como piloto de segunda classe pelos narradores. Nunca elogiam os feitos dele, e ainda por cima tratam o piloto como se ele fosse um escudeiro do Verstappen.

Bruna Andrade: Esses três são alguns dos pilotos mais atacados nas transmissões. O Lance Stroll é a maior vítima dos ataques do Sérgio Maurício, que insiste em zombar dele e de sua família. Mas um caso que me chamou muito a atenção foi nos treinos livres do GP do Japão do ano passado. Eu ouvi ele dizendo que o pai do Stroll havia comprado o tufão que ia passar pelo Japão naquela semana, e que depois ia guardar numa caixa de sapato e trocar por um espelho. Eu fiquei chocada com aquilo, até entrei na internet para ter certeza se ouvi direito, e vi que tinha outros que também ouviram. Achei essa fala uma falta de respeito com o Stroll, com a família dele, com os torcedores e com os índios, pois na época da colonização os índios eram forçados pelos europeus a trocar riquezas naturais das terras indígenas por espelhos. Falar uma coisa dessas é humilhar a pessoa por ela ser indígena. Eu soube que o Stroll é uma das maiores vítimas de racismo na Fórmula 1 e acho que as emissoras deveriam combater isso, não incentivar. Foi parecido com os treinos do GP do México de 2019, que ele e o Reginaldo Leme disseram que na Europa não existe racismo e que Alemanha e Inglaterra são os países menos racistas do mundo. No Twitter teve um internauta que ficou revoltado, porque na mesma semana que os dois disseram isso houve um ataque neonazista contra uma sinagoga. Ou seja, a fala deles foi um desrespeito aos judeus. Outros também protestaram contra a fala. Mas a maioria dos tweets daquela hashtag eram comentários repetidos e rasos como ‘ligado no SporTV’, ‘muito bom’, etc. Eles nunca pediram desculpas por essas declarações.

O Lewis Hamilton também não escapa desse tipo de situação. Várias vezes ouvi o Sérgio Maurício, que é branco, chamando ele de ‘negão’. Isso para mim foi outro ato racista, porque o Hamilton não autorizou ninguém a chamá-lo dessa maneira e o narrador está se referindo a um piloto pela cor da pele dele em vez do seu talento. Desses três pilotos, ele é o único favorecido, mas só em certas ocasiões. Luís Roberto só torce para ele se for contra o Verstappen. Quando é contra outro piloto, torce para

208 o outro. O Galvão também só exalta o Hamilton quando lembra que ele é fã do Senna. Na corrida, o Galvão sempre torce para alguém da Ferrari ganhar do Hamilton.

No ano passado, também nos treinos do GP do Japão, o Sérgio Maurício resolveu atacar a mãe do Alexander Albon porque ela já foi presa. Ele falava dela como se ela fosse uma mulher da vida. Além de machista, essa fala foi desrespeitosa com o Albon, que não tem culpa pelas ações da mãe. Além disso, o Sérgio não é juiz para julgá-la e todos temos o direito de recomeçar a vida. Não sei o que falar da prisão da mãe de um piloto acrescenta na transmissão do esporte. Só demonstra o quão amadora é a transmissão do SporTV.

Cleisson Guterres: Felizmente há uma conscientização contra o racismo e certos comportamentos foram abolidos, porém infelizmente essa conscientização ainda não abrange todas as minorias e tem um longo caminho a percorrer. Hoje em dia, seria inaceitável e motivo de demissão um narrador fazer uma piada racista com relação a Lewis Hamilton (negro), porém ainda são feitas piadas com relação a dinheiro (estereótipo do judeu rico) e espelhos (estereótipo do índio ingênuo) em relação a Lance Stroll. Os narradores destacam Hamilton, o que é justo e certo, porém deixam de destacar que Alexander Albon e Lance Stroll também representam minorias étnicas e sua presença na Fórmula 1 também são conquistas contra o racismo.

Elizete Alves: Devido ao seu destaque e competência na Fórmula 1, o piloto Lewis Hamilton conseguiu superar o racismo, muito embora, vez por outra, foi vaiado e chamado de “macaco” pela torcida ferrarista (atitude que alguns narradores e comentaristas amenizam, como quando Sérgio Maurício disse que “não há racismo na Europa” e Reginaldo Leme, concordando, afirmou que os fãs de Fernando Alonso “não chamavam Hamilton de ‘macaco’ por racismo, mas sim por amarem Alonso”). Quanto a Lance Stroll, é nitidamente perseguido por Sérgio Maurício. Nos treinos no Grande Prêmio do Japão de 2019, quando um tufão ameaçava o andamento do fim de semana, ouvi o narrador afirmando que “dizem que o Papai Stroll comprou o tufão, ele comprou para colocar numa caixa de sapato e trocar por um espelho”. Na reprise dos treinos, uma parte dessa piada foi editada. Internautas também ouviram essa narração e protestaram nas redes sociais, mas não houve pronunciamento da emissora. Não acho correto em uma transmissão a nível nacional associar um atleta indígena a uma prática deplorável do colonialismo, que exterminou milhares de tribos

209 nativas do continente. O mesmo narrador constantemente faz comentários maldosos sobre a fortuna do pai de Lance, o empresário Lawrence Stroll, remetendo ao estigma de que judeus “ganham muito dinheiro” e “controlam a economia” (pois Sérgio Maurício sempre trata de Lawrence como um “cartola” que influencia o esporte por seu dinheiro), mas não menciona ou critica o pai de Lando Norris, Adam Norris, que é tão rico quanto Lawrence Stroll, e também investe na carreira do filho. É no mínimo estranho criticar a fortuna de uma família judia e não fazer o mesmo com uma família branca (já que os resultados de Lance ainda são melhores que os de Lando). Sobre Alexander Albon, este é considerado “escudeiro” de Max Verstappen. Falam de sua mãe de maneira vexatória, pois a mesma havia sido presa, mas este detalhe não diz respeito à corrida. Preferem dizer que Albon é inglês, já que tem dupla-cidadania, a mencionar que o mesmo corre pela Tailândia, omitindo sua contribuição para a diversidade étnica no esporte.

Fernando Meyer: Não vi favorecimentos a nenhum dos três. Hamilton é tratado como os outros pilotos das equipes líderes. Stroll e Albon são bem desprezados nas narrações.

Helena Silva: Sim, consigo identificar racismo no tratamento dado aos três pilotos.

Por ser campeão, e mais de uma vez, Lewis Hamilton ganha certo respeito dos narradores, mas ainda sim, é chamado de “negão” por Sérgio Maurício, e quando sofre alguma injustiça estas tendem a ser perdoadas pelos narradores.

Com Lance Stroll, a perseguição é ainda maior. Como impera no Brasil os boatos racistas da Idade Média europeia de que “os judeus controlam o dinheiro mundial” e que “os índios precisam se submeter ao homem branco”, alguns narradores, principalmente Sérgio Maurício, o tratam como um pária dentro da Fórmula 1. Seus feitos, mesmo impressionantes, são propositalmente ignorados, e a condição financeira de sua família é tratada com deboche como se fosse inconcebível um indígena ser rico (como os demais pilotos) ou como se um judeu só conseguisse chegar ao esporte se pagasse por sua participação. O episódio mais lamentável que já ouvi foi a piada de Sérgio Maurício de que o pai de Stroll “comprou o tufão para trocar por um espelho”.

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Um tratamento semelhante, mas em menor escala, é dado a Alexander Albon. Percebo que os narradores omitem a etnia de Stroll e Albon para não que não e corra o risco de se identificar o racismo, mas quem pesquisa sobre os pilotos, e principalmente vê como são seus rostos por trás do capacete, percebe que eles são de grupos étnicos minoritários. Logo é possível questionar porque a televisão trata tão bem os pilotos brancos e tão mal os não-brancos.

João Baptista Rossetto: No que se refere a minorias étnicas eu não vi nenhum tipo de favorecimento ou desfavorecimento nas transmissões. O Hamilton corre por uma equipe de ponta e tem muito patrocínio, é um grande vencedor. Ouvi dizer que na tv fechada tem uma perseguição contra os outros dois, mas como não tenho a SporTV, não vi nenhum momento desses.

Você já viu algum narrador divulgar fake news sobre algum piloto ou equipe durante a transmissão? Conte como foi.

Adriana Perantoni: Não. Só acho que o Galvão é muito bajulador com seus pilotos favoritos e a implicância com alguns pilotos que são conhecidos pela barbeiragem durante as corridas.

Anderson de Oliveira: Já. O Sérgio Maurício uma vez falou que cada membro da família do Lance Stroll tem um jatinho particular. E não falou isso em tom de piada, mesmo sendo uma mentira. Isso foi nos treinos de sábado do Grande Prêmio de Abu Dhabi, em 2017. Acho que isso põe em risco até a segurança dele, porque se algum bandido ouvir uma informação dessas, pode tentar algo contra o piloto. A mídia não pode fazer uma coisa dessas, porque as fake news já custaram a vida de muita gente, como aquela moça que foi linchada no Guarujá porque os vizinhos achavam que ela sequestrava crianças. Não entendo como que um jornalista contratado por uma emissora de TV consegue dormir tranquilo à noite sabendo que ele pode colocar em risco a segurança de uma pessoa que ele nem conhece.

Bruna Andrade: Sim. Uma que eu me lembro bem foi nos treinos do GP de Abu Dhabi de 2017. Sérgio Maurício falou que a família do Lance Stroll tinha um jatinho por integrante, o que é uma grande mentira. Lembro também do Galvão falando em 2016 que o Felipe Nasr iria para a Force India, mas ele acabou saindo da Fórmula 1. E ele

211 não falou como hipótese, falou como certeza. Com o passar do tempo, os narradores foram diminuindo um pouco esse lado de contar fake news.

Cleisson Guterres: Sim. Sérgio Maurício maliciosamente alegou que Lance Stroll pediu para trocar o carro dele pelo do companheiro de equipe, Sergio Pérez, durante a transmissão dos treinos de sexta-feira do GP da Estíria. Isso foi uma tentativa do narrador de sutilmente (ou não tão sutilmente) induzir os telespectadores a ter a falsa impressão de que Lance Stroll é um piloto mimado, cheio de vontades, e invejoso dos colegas (Lando Norris, piloto que se adequa justamente a esse perfil, nunca é criticado pelo mesmo. Será porque Norris é branco e não índio?). Percebe-se a perseguição nítida que esse narrador tem com Stroll.

Elizete Alves: Sim. Sérgio Maurício declarou em mais uma de suas intermináveis perseguições contra Lance Stroll, nos treinos classificatórios do Grande Prêmio de Abu Dhabi de 2017, que “cada membro da família Stroll tem um jatinho”, fazendo referência ao fato de ser família bilionária (porém não existe comprovação deste “fato”). Também nos treinos livres do Grande Prêmio da Estíria de 2020, declarou após Sergio Pérez estar à frente de Lance que este pediria ao seu pai para trocar de carro com o companheiro.

Fernando Meyer: Não.

Helena Silva: Já ouvi duas fake news, ambas ditas por Sérgio Maurício: a de que cada membro da família Stroll teria um jatinho e que este piloto pediu para trocar de carro com o companheiro de equipe.

João Baptista Rossetto: Também não me lembro de fake news nas transmissões, as corridas são sempre ao vivo, logicamente no calor da transmissão pode surgir algum equívoco, mas sempre corrigido em tempo hábil, eu não vejo maldade pairando no ar.

Você acha que uma transmissão esportiva deve ter um perfil sério ou descontraído? Justifique sua resposta.

Adriana Perantoni: Prefiro um perfil mais descontraído. Acredito que isso aproxima o espectador ao comentarista, dando a impressão que ele pode sentar e conversar com quem acompanha as corridas de casa sem qualquer problema. Acho que seria

212 legal se houvesse algum tipo de interação com o público através das redes sociais, tudo com filtro, óbvio.

Anderson de Oliveira: Sério, da mesma maneira que eles tratam os outros esportes. Eu nunca vi nenhum narrador ou comentarista fazendo piada sobre jogador de futebol durante a transmissão. Não entendo porque alguns resolvem fazer com pilotos de Fórmula 1.

Bruna Andrade: Acho que tem que ter um perfil sério. Não precisa falar com palavras muito rebuscadas, mas também não precisa fazer piada ou falar gíria. Eu sei que muitos veem o esporte como divertimento, mas ele não é um programa de humor. É um evento sério, então precisa de uma cobertura séria. Tem sempre o tipo de fala para cada tipo de programa. Eu não consigo imaginar, por exemplo, o William Bonner fazendo piada no Jornal Nacional. Por que então os narradores da Fórmula 1 precisam fazer? A Globo devia deixar as piadas para o Zorra Total.

Cleisson Guterres: Acho que ou deve ser sério, ou estar num meio-termo entre sério e descontraído. É aceitável que os narradores tenham seus bordões e falem de forma descontraída, desde que não percam de vista a abordagem dos aspectos técnicos. Se quiser usar de humor, o narrador deve ter muito cuidado para não soar ofensivo a algum piloto, porque com certeza não será nada engraçado para os fãs daquele piloto.

Elizete Alves: Ela deve ser descontraída para se tornar mais agradável para o espectador. Porém, não tem a mínima necessidade de perseguir, humilhar e contar mentiras para atrair a audiência. Isso muitas vezes afasta o público, que já está cansado de falsas informações.

Fernando Meyer: Descontraído, pois faz parte da indústria do entretenimento.

Helena Silva: Deve ser séria, pois o esporte é um evento profissional. Linguagem informal é mais apropriada para espetáculos circenses, não para eventos sérios.

João Baptista Rossetto: Na minha opinião, todo esporte envolve emoção, as pessoas identificam-se com os competidores, a narração deve explorar esses sentimentos, essa é a fórmula do sucesso, todo espectador que acompanha um esporte tem suas opiniões próprias a respeito dos competidores e de situações polêmicas envolvendo o decorrer das provas, eu acredito que descontração e seriedade devem ser dosados ao longo das transmissões conforme o momento exige, 213 seriedade no trato da informação quando o momento exige, um acidente ou uma conduta inadequada de algum piloto por exemplo e descontração e comentários cômicos em momentos de grandes ultrapassagens ou manobras inusitadas e criativas durante a corrida, seriedade e descontração são ingredientes que se completam, não podem ser excludentes.

Você acha que as narrações influenciam o comportamento dos torcedores? Justifique sua resposta.

Adriana Perantoni: Acho que isso depende muito de quem assiste às corridas. Como leio as notícias sobre o que está acontecendo, raramente me deixo influenciar pelo o que os comentaristas dizem porque tenho minha própria opinião sobre os acontecimentos. Pelo o que vejo nos comentários em portais e em redes sociais, acho que o público tem sua opinião própria sobre seu piloto favorito ou aquele que ele não gosta também, sem qualquer tipo de influência dos comentadores.

Anderson de Oliveira: Totalmente. Tem torcedores fanáticos que se sentem no direito de atacar pilotos que eles detestam, e esse ódio eles absorvem dos narradores. Ainda por cima aproveitam o anonimato da internet até para ameaçar os pilotos de morte. Tudo isso porque as piadas e comentários que os narradores fazem colocam na cabeça deles que tal piloto é um inimigo mortal e merece ser detido. É ruim para um fã entrar no Instagram de seu piloto favorito e ver um monte de vagabundos xingando ele sem motivo em vez de estarem trabalhando para sustentar suas famílias. É uma vergonha ver homens na casa dos 40 anos agindo feito crianças e sentindo orgulho disso, perseguindo atletas jovens, que têm família e sentimentos, para preencher suas vidas. É por causa dessa irresponsabilidade da mídia que temos tantos casos de violência nas torcidas de futebol, por exemplo.

Bruna Andrade: Influencia muito, porque os torcedores absorvem a raiva ou o amor do narrador pelo piloto e resolvem provocar brigas nas redes sociais e comentários de sites de notícias. O Sérgio Maurício vive implicando com o Lance Stroll e sua família, principalmente zombando do dinheiro deles. E o pior é que ele fala da fortuna dos Strolls como se eles fossem bandidos ou como se os outros pilotos também não fossem ricos. O salário do Hamilton é bem maior que o dele. Aí isso impõe na cabeça dos torcedores que índio não pode ser rico, que judeu não pode ser rico. Parece que as minorias não têm lugar nesse esporte. Alguns nem percebem que estão sendo 214 racistas, mas não deixam de ofender. E quando algum torcedor vai falar a verdade ou um fã do outro piloto vai defender o ídolo, os haters partem para baixaria. Com isso, em vez de unir, a narração divide a torcida do esporte e dá continuidade ao racismo, que hoje em dia o próprio esporte quer combater. O que eu acho esquisito é que nas novelas da Globo ela sempre tenta se mostrar contra o racismo, mas não faz nada quando seus narradores perseguem pilotos negros e indígenas. É uma grande contradição.

Cleisson Guterres: Depende do torcedor. Aquele torcedor que busca se informar mais profundamente por múltiplas fontes não será influenciado pelas opiniões dos narradores e terá suas próprias preferências independente das deles. Porém aquele torcedor mais casual, que apenas assiste às transmissões, sim, infelizmente é induzido a aceitar as opiniões dos narradores e aceitar tudo que falam como verdade, e acabam torcendo pelos pilotos que eles torcem e desprezando os pilotos que eles desprezam sem nem perceber às vezes.

Elizete Alves: A narração é muito perigosa quando manipula os espectadores através de informações mentirosas, pois estes acreditam na pessoa que fala. O narrador é alguém que passa credibilidade, portanto ele jamais pode ser leviano.

Fernando Meyer: Não. Acho que cada torcedor tem capacidade de pensar por conta própria e pode discordar do narrador.

Helena Silva: Infelizmente, a narração influencia muito os torcedores, que tendem a agir como o induzido pelos narradores. Vemos muitos casos na internet de pessoas debochando dos atletas que são de minorias étnicas, desvalorizando o trabalho daqueles que se recusam a persegui-los e elogiar os perseguidores, pois estes lhes proporcionam esses momentos de prazer maléfico. É lamentável que a televisão instigue o mal caráter e a violência a troco de nada em seu público.

João Baptista Rossetto: Eu não acho que a narração influencie os torcedores, pois como já havia dito o espectador principalmente de Fórmula 1 tem suas opiniões próprias, é muito comum espectadores discordarem de posições do narrador e inclusive discutirem entre si quando algum lance polêmico ocorre.

Em sua opinião, o narrador deve transmitir imparcialidade ou dizer para qual piloto ou equipe está torcendo? Justifique sua resposta.

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Adriana Perantoni: Acho que deve ser imparcial para respeitar a preferência de cada torcedor que está assistindo a corrida. Eu gosto da tradicional aposta de quem vai ficar com a pole, mas do contrário, acho chato ter que escutar um comentarista favorecendo uma equipe ou um piloto ao invés de comentar algo sobre a corrida.

Anderson de Oliveira: Eu acho que quem não consegue segurar sua torcida não deve ser narrador. Um narrador fala para milhares de pessoas, que torcem para todos os pilotos. Não é justo agradar só uma parte do público. É melhor ser imparcial e agradar a todos.

Bruna Andrade: Ele deve transmitir imparcialidade porque ele vai narrar um evento. Acho que se a pessoa não consegue se controlar como torcedor, não deve trabalhar como narrador. Narrações tendenciosas afastam as pessoas que não torcem para o mesmo piloto que o narrador. Quando você assiste a Fórmula 1, quer entender o que está acontecendo. Se o narrador fica torcendo para o rival do piloto que você gosta, é como se tivesse um torcedor rival do seu lado secando o seu piloto ou a sua equipe.

Cleisson Guterres: Imparcialidade. Há 20 pilotos e milhões de fãs. É óbvio que se um narrador deixar transparecer durante a transmissão que está torcendo por pilotos específicos ou torcendo contra pilotos específicos, tornará a sua narração extremamente desagradável para uma enorme parcela dos fãs. Infelizmente, é provável que esses fãs não tenham outras opções para assistir à corrida e sejam forçados a suportar a experiência de uma narração tendenciosa como único meio de assistir, mas com certeza se houvesse um meio alternativo com uma narração imparcial, a maioria dos fãs naturalmente optaria por esse meio alternativo.

Elizete Alves: O narrador deve ser imparcial, pois narra para diferentes torcedores. O torcedor não deve sentir que o narrador não torce pelo mesmo piloto que ele, já que assim ele observa o narrador como um rival. Quando o narrador torce, ele está competindo com o público. Creio que o fato da Fórmula 1 ter exclusividade de transmissão pela Rede Globo e SporTV impossibilita o torcedor de escolher a emissora que mais lhe agrada. O monopólio dá aos narradores segurança para torcer e dizer o que bem entendem, não se preocupando com o sentimento de quem assiste.

Fernando Meyer: Imparcialidade, afinal é um narrador, não torcedor.

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Helena Silva: O narrador deve ser imparcial como um apresentador de telejornal. Ao emitir sua opinião, ele se torna um torcedor, e seleciona qual público é mais bem- vindo do que outro.

João Baptista Rossetto: Referente a imparcialidade, seria impossível qualquer narrador não demonstrar que estava torcendo pelo Ayrton quando ele estava na pista, mas para mim é uma questão de estilo, o Cléber tem um perfil mais imparcial, o Galvão é totalmente passional, quando você assiste uma corrida já sabe como será a transmissão dependendo do narrador, cada um tem seu estilo, o narrador pode sim demonstrar sua preferência, mas não pode deixar de dar ênfase a quem está na frente e aos pilotos que fazem boas manobras, ultrapassagens empolgantes, Pegas disputados etc. O esporte é emocionante e frequentemente surgem momentos em que eu levanto pra ver mais de perto, nessa hora o narrador é fundamental para completar a emoção do lance.

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