Artigo Peixoto, Ricardo C
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Revista Brasileira de Farmacognosia Brazilian Journal of Pharmacognosy 18(3): 415-429, Jul./Set. 2008 Recebido 11 Abril 2008; Aceito 29 Agosto 2008 Considerações anatômicas e análise de óleo essencial do hipanto e do fruto de Hennecartia omphalandra J. Poisson (Monimiaceae) Carlos A. Marques,*,1,2 Gilda G. Leitão,3 Humberto R. Bizzo,4 Walter M. Kranz,5 Ariane L. 6 1 Artigo Peixoto, Ricardo C. Vieira 1Laboratório de Morfologia Vegetal, Departamento de Botânica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Av. Brigadeiro Trompowsky, s/n, Ilha do Fundão, 21941-590 Rio de Janeiro-RJ, Brasil, 2Centro Federal de Educação Tecnológica de Química de Nilópolis, R. Lúcio Tavares, 1045, Centro, 26530-060 Nilópolis-RJ, Brasil, 3Núcleo de Pesquisas de Produtos Naturais, Bloco H, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Av. Brigadeiro Trompowsky, s/n, Ilha do Fundão, 21941-590, Rio de Janeiro-RJ, Brasil, 4Centro Nacional de Pesquisa de Tecnologia Agroindustrial de Alimentos, EMBRAPA, Av. das Américas, 29501, Guaratiba, 23020-470 Rio de Janeiro-RJ, Brasil, 5Instituto Agronômico do Paraná, Rodovia Celso Garcia Cid, Km 375, Três Marcos, 86047-902 Londrina-PR, Brasil, 6Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, R. Jardim Botânico, 1008, Jardim Botânico, 22460-070 Rio de Janeiro-RJ, Brasil RESUMO: Descreve-se o estudo morfo-anatômico e a análise de óleo essencial do fruto de Hennecartia omphalandra J. Poisson (Monimiaceae), uma planta tóxica. A ocorrência de feixes recurrentes e de um anel descontínuo de braquiesclereides no hipanto; assim como a presença de células oleíferas no mesocarpo, de “idioesclereídes” formando o endocarpo e de células com espessamento parietal em rede, constituindo a testa da semente, foram considerados caracteres importantes que podem auxiliar na sua morfo-diagnose. A análise do óleo essencial dos frutos revelou a presença de monoterpenos, sesquiterpenos e álcoois sesquiterpênicos, sendo este o grupo mais signifi cativo. Os componentes majoritários identifi cados foram o biciclogermacreno (19,6%) e o ß-felandreno (8,7%), além do germacreno D (5,3%), Į-bulneseno (5,1%) e valerianol (4,9%). Unitermos: Hennecartia omphalandra, Monimiaceae, plantas tóxicas, fruto múltiplo, óleo essencial. ABSTRACT: “Anatomical considerations and essential oil analysis of the hypanthium and the fruit of Hennecartia omphalandra J. Poisson (Monimiaceae)”. The morphological and anatomical aspects of fl ower and fruit and the essential oil analysis of fruits of Hennecartia omphalandra J. Poisson (Monimiaceae), a toxic plant, are described in this paper. The presence of vascular recurrent bundles and of a ring of brachysclereids in the hypanthium; the oil cells in the mesocarp, the “idiosclereids” that constitutes the endocarp and cells with reticulated thick walls, shaping the seed coat were described as characters that may help in its diagnosis. The analysis of the essential oil of fruits showed the presence of monoterpenes, as well as sesquiterpenes hydrocarbons and alcohols, being the latter the most signifi cant group. The major identifi ed compounds were bicyclogermacrene (19.6%); ß-felandrene (8.7%); germacrene D (5.3%); Į - bulnesene (5.1%) and valerianol (4.9%). Keywords: Hennecartia omphalandra, Monimiaceae, toxic plants, multiple fruit, fruit anatomy, essential oil. INTRODUÇÃO de identifi car constituintes químicos capazes de exercer ação tóxica, pode ainda fornecer substâncias ativas para Desde épocas remotas as plantas tóxicas o desenvolvimento de fármacos e inseticidas (Vieira et exercem um papel importante, seja através do uso como al., 2002). veneno de fl echas ou como recurso em envenenamentos Neste contexto, a anatomia vegetal constitui- intencionais com fi ns políticos, militares ou pessoais se em um instrumento efi caz, pois, além do aspecto (Schenkel et al., 2002). O estudo dessas plantas descritivo, também pode contribuir através dos dados vem ganhando importância pois, além de esclarecer fornecidos pelo estudo de estruturas secretoras, diferentes aspectos relativos aos casos de intoxicações e possibilitando a elucidação de aspectos relativos ao 415 * E-mail: [email protected] ISSN 0102-695X Considerações anatômicas e análise de óleo essencial do hipanto e do fruto de Hennecartia omphalandra J. Poisson (Monimiaceae) armazenamento e secreção de metabólitos secundários. morfológico e anatômico do fruto de Hennecartia Contudo, os estudos sobre anatomia de plantas tóxicas omphalandra J. Poisson, a fi m de fornecer dados para ainda são escassos. Mencionam-se os trabalhos de Panizza a sua morfo-diagnose. Também foi realizado um estudo et al. (1982), pela constatação de que os pêlos constituem visando acompanhar o desenvolvimento do hipanto, os elementos mais importantes para o diagnóstico de desde o botão fl oral até o estágio de completa expansão Cannabis sativa L. (Cannabinaceae); de Milanez & das fl ores para melhor compreensão da estrutura dos Monteiro-Neto (1956) sobre os laticíferos de Euphorbia frutos múltiplos. Foi feita a análise de óleo essencial pulcherrima Willd. (Euphorbiaceae) e de Guimarães dos frutos, como parte integrante do estudo fi toquímico et al. (1979) que caracterizaram anatomicamente a e de atividade biológica desta espécie, na busca de folha de Cestrum sendtnerianum Sendt. (Solanaceae) constituintes químicos que possam corroborar, inclusive, e verifi caram a presença de alcalóides, através de com a atividade tóxica relatada. testes histoquímicos. Já em Dieffenbachia picta Schott (Araceae), o estudo das células secretoras na folha foi MATERIAL E MÉTODOS determinante no esclarecimento do seu mecanismo de ação (Carneiro et al., 1989; Ferreira et al., 2006). Cabe Material botânico - Flores femininas e frutos ainda ressaltar que, no Brasil, a descrição da morfologia dos indivíduos estudados foram coletados na Chácara externa e interna de espécies vegetais que servem como Recanto Beija-Flor, uma propriedade particular base para o desenvolvimento de fármacos, é determinada localizada no bairro Aviação Velha em Londrina, PR. A pela RDC no 48 da ANVISA, de 16/03/2004 (Anvisa, propriedade contém, dentro dos seus limites, um trecho 2005). remanescente de mata que Veloso et al. (1991) e Soares- Em espécies de Monimiaceae os estudos Silva & Barroso (1992) classifi cam como Floresta anatômicos também são restritos e resumem-se, na Estacional Semidecidual, onde se realizou a coleta de sua grande maioria, à descrição dos órgãos vegetativos três indivíduos aleatoriamente escolhidos. Após a coleta aéreos (Occhioni & Lira, 1948; Metcalfe, 1987; Fischer e subseqüente identifi cação, o material botânico foi et al., 1998; Palma et al., 2002). depositado e registrado no Herbário do Departamento Espécies pertencentes às famílias Monimiaceae, de Botânica da Universidade Federal do Rio de Janeiro bem como de famílias próximas como Siparunaceae, (RFA), sob o número 30.840. são citadas pelo seu uso em medicina popular, como Estudo morfo-anatômico - Para realização Siparuna apiosyce (Mart. ex Tul.) A.DC. (Siparunaceae), deste estudo foram processados botões fl orais, o vulgarmente conhecida como limão-bravo, utilizada no hipanto nas fl ores femininas em antese, além de frutos tratamento de distúrbios gastrointestinais, febres, gripes recém fecundados, em estádios intermediários do e outros tipos de afecções (Brandão et al., 2006; Brandão desenvolvimento e frutos completamente desenvolvidos. et al., 2008). Mollinedia brasiliensis Schott ex Tul. As amostras foram fi xadas em FPA preparado com etanol (Monimiaceae), é considerada um forte antiespasmódico 70% e os fragmentos emblocados em Historesina Leica, (Leitão et al., 1999) e Siparuna paucifl ora (Beurl.) sendo posteriormente seccionados ao micrótomo rotativo A. DC. (Siparunaceae), demonstrou atividade contra com espessura de 6-10 Pm. A coloração dos cortes foi Plasmodium falciparum (Jenett-Siems et al., 2003). feita utilizando-se Azul de toluidina 0,05%, sendo Estudos fi toquímicos em espécies de Monimiaceae montados entre lâmina e lamínula, usando-se bálsamo têm destacado a presença de uma grande variedade do Canadá sintético como meio de montagem. Os testes de constituintes químicos, justifi cando a atividade histoquímicos foram feitos em cortes de material fresco, biológica e o uso dessas espécies na medicina popular utilizando-se fl oroglucina para identifi cação de lignina; (Mendes et al., 2006; Ruiz et al., 2008). Peumus boldus lugol para identifi car amido; sudan IV para substâncias Molina (Monimiaceae) é a espécie mais conhecida, de natureza lipofílica (Johansen, 1940) e, para a detecção sendo mencionada em diversas farmacopéias pelo seu de substâncias fenólicas, foi utilizada a mistura ácido uso contra dispepsias, náuseas e constipação intestinal, acético glacial/ formaldeído/ FeSO4 (Ruzin, 1999). Para conforme mencionam Leitão et al. (1999) e Agra et a dissociação do pericarpo, foi utilizado o reagente al. (2007). Nessa espécie, encontram-se alcalóides de Jeffrey (Johansen, 1940). As observações relativas benzilisoquinolínicos como boldina, isocordina e N- à morfologia externa foram feitas ao microscópio metillaurotetanina (Pietta et al., 1988). estereoscópio Nikon SMZ 800 e as fotografi as dos Hennecartia omphalandra J. Poisson. frutos foram obtidas através da captura de imagens em (Monimiaceae), popularmente conhecida como máquina fotográfi ca digital Canon. As fotomicrografi as “canemeira”, “pimenteira-do-mato” ou “arreganha” é foram obtidas ao Fotomicroscópio III da Zeiss. considerada uma espécie tóxica, segundo o Centro de Extração e análise do óleo essencial -