JANUS 2017

2.3.2 • A comunicação mundializada • Utilizações e manipulações da informação e da comunicação Célia Quintas Grupos de comunicação social em e desafios Georg Dutschke da globalização Isabel Silva

OS PRINCIPAIS GRUPOS de comunicação so- Na análise dos outros grupos aparece desta- face ao ano anterior, com destaque para o grupo cial portugueses são o mote para a reflexão cada a RTP, que detém um volume de negó- Renascença, com uma perda de 21,1% em rela- sobre os grandes desafios que estas empresas cios de 234 milhões de euros, dos quais “194 ção a período homólogo. A situação apresenta- enfrentam, tendo em conta que operam em milhões de euros têm origem em receitas de da levanta uma reflexão sobre as estratégias e mercados globais, internacionalizados, de base fundos públicos provenientes da concessão desafios que se colocam a estas empresas. profundamente tecnológica, onde a revolução de Serviço Público, 42 milhões de euros de in- digital se pode constituir simultaneamente demnização compensatória e 152 milhões de Desafios e estratégias das empresas como uma oportunidade e como uma fraque- euros de contribuição audiovisual. A partir de media za. Tal depende fundamentalmente das suas 2014 a RTP deixou de receber indemnizações De acordo com dados constante no relatório opções estratégicas e da sua capacidade de compensatórias, passando o serviço público a do Banco de Portugal (2014), Análise do Setor adaptação e para isso convém caracterizar os ser financiado na totalidade pela contribuição das Atividades de Informação e Comunica- seus indicadores económicos. audiovisual” (Martins, 2015:7). ção, os grupos de comunicação social operam, cada vez mais, a nível transnacional, quer em Comunicação social em Portugal: termos de produção, quer de criação e difusão principais grupos de conteúdos (com os respetivos direitos de A Entidade Reguladora para a Comunicação O desafio consiste também autor), numa lógica de integração vertical, o Social (ERC) disponibiliza o relatório Caracte- na capacidade de marcar a que foi potenciado largamente pelo desenvol- rização dos principais grupos económicos da diferença num mundo repleto vimento da tecnologia digital que permite, i) comunicação social, elaborado por Guilherme de informação e de conteúdos, explorar a interatividade entre consumidores, d’Oliveira Martins, agregando informações dis- canais de difusão e fornecedores de conteúdos ponibilizadas online pelos referidos grupos. cuja facilidade de acesso e publicidade; ii) transmitir os mesmos con- Com data de 2015, os dados reportam-se a se torna quase ilimitado. teúdos através de uma variedade de platafor- 2013 e a ERC (2016) esclarece que: “Não foram mas de distribuição. objeto de análise os grupos Controlinveste e Esta lógica pretende responder à crise finan- Ongoing, uma vez que os respetivos documen- Com exceção da ZON/Optimus e da Sonaecom, ceira e aos crescentes desafios que se colocam tos de prestação de contas relativos a 2013 não todos os grupos de comunicação social apresen- ao setor, designadamente no que respeita ao estavam disponíveis à data de elaboração deste tam quedas no seu volume de negócios em 2013 processo dual branding que implica, por parte relatório. O grupo Portugal Telecom também não foi objeto de análise, pois é a área de ne- gócio MEO”. Assim, a caraterização de alguns indicadores económicos (empresas dos grupos, volume 1200 981 de negócios e número médio de pessoas ao 1000 serviço) apresenta-se para os grupos ZON Mul- 800 timédia, , , RTP, , 600 Renascença e Sonaecom. 400 Identifica-se um funcionamento em rede, com 226 234 200 122 91 117 fortes parcerias internacionais, de acordo com 17 0 uma lógica de aglomeração vertical. Tal ideia ZON Impresa Media RTP Cofina Renascença Sonaecom corresponde ao exposto por Rebelo (2010) ao Optimus Capital referir que as empresas dos grupos media têm respondido ao processo de globalização evo- Volume de negócios (M€). luindo para uma estratégia de concentração Fonte: Martins (2015:7). Em 2013 a fusão entre a ZON e a Optimus deu origem ao aparecimento da NOS. vertical, o que significa que dominam várias fases de produção e distintas áreas de negócio, numa lógica de redes internacionais. Constata-se que o grupo ZON/Optimus, em resul- 30 25,4 tado da fusão que originou a atual empresa NOS, 20 apresenta o volume de negócios mais elevado em 12,2 10 2013, aparecendo neste campo claramente desta- 0 cado dos congéneres. Verifica-se também que o -10 grupo público RTP apresenta, nesta data, o maior -10,1 -9 -8,3 -20 número de pessoas ao serviço. -21,1 -30 A análise do volume de negócios identifica a ZON Impresa Media RTP Cofina Renascença Sonaecom ZON/Optimus como o grupo com maior volu- Optimus Capital me de facturação que, de acordo com o rela- tório da ERC (Martins, 2015), se justifica pelo Taxa de crescimento do volume de negócios (Var. 13/12). negócio dominante, as telecomunicações. Fonte: Martins (2015: 8). Em 2013 a fusão entre a ZON e a Optimus deu origem ao aparecimento da NOS.

98 Grupos Empresas do grupo 100,000 ZON TV Cabo Portugal S.A.; 80,000 Optimus – Comunicações, S.A. ZON OPTIMUS ZON TV Cabo Açoreana, S.A. 60,000 (NOS) ZON TV Cabo Madeirense, S.A.; 40,000 ZON Televisão por Cabo, Volume ZON Conteúdos, S.A. 20,000 de negócios ZON Lusomundo TV, Lda 0 € 981 milhões ZON Lusomundo Audiovisuais,S.A.; 9.323 | 23.602 88.488 | 76.034 765 | 5.500 38.676 | 36.161 842 | 3.395 58.852 | 58.479 Sport TV Portugal, S.A.; Nº médio Dreamia Livros digitais Livros Revistas Revistas Jornais digitais Jornais de pessoas Finstar, S.A. (com sede em Luanda) impressos digitais impressas impressos ao serviço 1781 MSTAR, S.A. (com sede em Maputo) Be Towering, S.A. 2012 2017 Be Artis

Impresa Publishing, S.A. Evolução esperada dos gastos globais em livros, revistas e jornais (M€). Medipress, Lda Fonte: PWC, PricewaterhouseCoopers (2013: 15). IMPRESA SIC, S.A. GMTS, Lda Volume Office Share, S.A. destas empresas, a capacidade de desenvolver analisar as principais tendências que se irão de negócios Impresa serviços II, Lda € 226 milhões Olhares.com, S.A. uma resposta dual que satisfaça os dois públi- operar no setor próximos anos, cerca de Infoportugal, S.A. cos clássicos deste setor: os consumidores e os 66% da classe média situar-se-á, em 2030, no Nº médio Lusa, S.A. de pessoas VASP, Lda publicitários (Albarran, 2010). sudoeste asiático. Tal situação, a verificar-se, ao serviço 1134 GESCO, S.A. As perspetivas de enfrentar os desafios da poderá conduzir a uma reorientação estratégi- ISM, Unipesoal, Lda. Visapress, C.R.L globalização situam-se atualmente, de acordo ca destas empresas em termos de segmentação com o Relatório da PWC (2013), na capacidade do mercado e de produção de conteúdos, com MEGLO, SGPS, S.A. o intuito de acompanhar as alterações econó- MC Serviços, S.A. de responder à crescente procura de produ- MEDIA CAPITAL Média Capital Rádios, S.A. tos online. Veja-se a evolução prevista para a micas e culturais (PWC, 2013). n MCME, S.A. Volume venda de livros, revistas e jornais, cuja análi- CLMC, S.A. de negócios MC Multimédia, S.A. se permite identificar uma tendência para a € 122 milhões IOL Negócios, S.A. crescente aquisição de produtos online, que MCP, S.A. Nº médio TVI, S.A. se destaca mais claramente no segmento dos de pessoas Plural Entertainment España, SL ao serviço 1203 livros. Esta alteração levanta um novo desafio Plural Entertainment Brasil, LDA Plural Entertainment Portugal, S.A. a estas empresas, que reside na capacidade de operar a migração dos produtos físicos para RTP NP – Notícias de Portugal, produtos digitais. Volume Coop. Inform. Segundo a PWC, os desafios colocam-se, ain- Editorial de negócios da, na escolha, produção e distribuição desses € 234 milhões ALusa – Agência de Notícias de Portugal, S.A. (0,03%) Multidifusão – Meios e Tecnologia mesmos conteúdos online: conhecer o perfil Nº médio de Cooperativa Sinfonia do consumidor é crucial, pois este cada vez de pessoas Cooperativa do pessoal da TAP ao serviço 1818 utiliza mais a internet em aparelhos móveis, tem mais liberdade de acesso e de escolha de Cofina Media, SGPS Metronews, S.A. produtos/serviços/conteúdos mas sente-se, Mediafin, SGPS, S.A. COFINA Grafedisport, S.A. por isso, confuso e indeciso perante a grande Webworks, S.A. quantidade de material à sua disposição. Volume Presselivre, S.A. de negócios Edisport, S.A. Mass media é, cada vez mais, personal media € 91 milhões Edirevistas, S.A. Transjornal, S.A. (PWC, 2013:2) pelo que o papel dos outros Nº médio Cofina Eventos e Comunicação, S.A. stakeholders (indústria publicitária, criadores de pessoas Adcom Media – Anúncios e Publicidade, S.A. e distribuidores de conteúdos) assume cres- Referências ao serviço 883 VASP cente relevância na selecção da oferta mais Destak Brasil, S.A. Albarran, A. B. (2010) Media economics. New York, Routledge. Mercados Globais, S.A. adequada ao consumidor individual, simulta- Banco de Portugal (2014). Análise do setor das atividades de RENASCENÇA neamente atraído por conteúdos adequados informação e comunicação. Estudos da Central de Balanços, Cape Technologies Limited aos seus desejos e preocupado com as ques- (Abr), disponível em https://www.bportugal.pt/pt-PT/ Intervoz Publicidade, S.A. Volume tões de privacidade e de legalidade. ServicosaoPublico/CentraldeBalancos/Biblioteca%20de%20 de negócios Rádio Metropolitana – Comunicação Tumbnails/Estudos%20da%20CB%2016_2014.pdf. € 117 milhões Social, Lda. À indústria de E&M (entertainment & media) Génius e Meios – Soc. Unipessoal, Lda. ERC, Entidade Reguladora para a Comunicação Social (2016). Rádio Pal – Soc. Unipessoal, Lda. é pedido não só que forneça conteúdos ade- Grupos económicos: Stakeholders, Lisboa, ERC, disponível Nº médio Moviface – Meios Publicitários, Lda. em http://www.erc.pt/pt/estudos-e-publicacoes/grupos- de pessoas Rádio Regional de Aveiro, Lda. quados aos consumidores mas que também ao serviço ---- economicos-stakeholders/caracterizacao-dos-principais- providencie plataformas digitais que permitam grupos-economicos-da-comunicacao-social. Cape Technologies Limited experiências de qualidade, com o protagonis- Martins, G. O. (2015). Relatório dos principais grupos Digitmarket – Sistemas de mo da inovação tecnológica que assume um económicas da comunicação. Lisboa, ERC, disponível Informação, S.A. em http://www.erc.pt/pt/estudos-e-publicacoes/grupos- SONAECOM Lugares Virtuais, S.A. papel primordial na resposta ao desafio lança- Mainroad – Serviços em Tecnologias economicos-stakeholders/caracterizacao-dos-principais- Volume de Miauger, S.A. do, pois os consumidores, cada vez mais liga- grupos-economicos-da-comunicacao-social. de negócios PCJ, S.A. dos à Internet, exigem conteúdos adequados PWC, PricewaterhouseCoopers (2013). Portugal € 117 milhões Praesidium Services Limited Público – Comunicação Social, S.A. às diferentes plataformas. entertainment and media outlook 2013-2017, Lisboa, Saphety Colômbia PWC, disponível em https://www.pwc.pt/pt/publicacoes/ Nº médio Saphety Brasil, Ltda. O desafio consiste também na capacidade de global-entertainment-media-outlook/images/pwc-global- de pessoas Sonaecom – Serviços Partilhados, S.A. marcar a diferença num mundo repleto de in- entertainment-media-outlook2013.pdf. ao serviço 912 Sonaecom – Sistemas de Informação We Do Technologies formação e de conteúdos, cuja facilidade de Rebelo, J. (2010). Os grandes grupos de informação Sonaecom BV acesso se torna quase ilimitado; nesta perspe- e de comunicação no mundo. JANUS.NET e-journal Sonaetelecom BV of International Relations, v.1, n.1, (Outono). Disponível tiva, atendendo à análise prospetiva avançada Caraterização dos grupos. em http://observare.autonoma.pt/janus.net/images/stories/ Fonte: Martins (2015:5). no relatório da PWC (2013: 20), que procurou PDF/vol1/portuguese/pt_vol1_n1_art5.pdf.

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