Férvedes Vilalba (Lugo) Número 7 Año 2011 Pp.: 235 - 242 ISSN 1134-6787

A MINERAÇÃO EM ÉPOCA ROMANA NO CONCELHO DE VILA VERDE (, ).

ROMAN MINING IN THE MUNICIPALITY OF VILA VERDE (BRAGA, PORTUGAL).

Recibido: 03/06/2011 1 Aceptado: 13/06/2011 Carla Maria BRAZ MARTINS CITCEM-Universidade do Minho [email protected] Vítor Manuel FONTES Universidade do Minho [email protected] Ana Catarina GOMES BRAGA Universidade do Minho [email protected]

RESUMO

Este trabalho pretende mostrar a importância da exploração mineira no concelho de Vila Verde, distrito de Braga, Portugal, procurando identificar as transformações operadas na paisagem deste concelho, inserido no Convento Bracarense, num período cronológico ainda mal estudado (séc. I a.C. - séc. I d.C.), ou seja, a passagem dos grandes povoados da Idade do Ferro à Romanização. O reconhecimento e localização das grandes áreas mineiras auríferas e estaníferas em co-articulação com os povoados permitem averiguar se as primeiras foram ou não causa directa das mudanças sofridas na paisagem, e qual a projecção da via XIX do Itinerário de Antonino.

ABSTRACT

This study aims to show the importance of mining in the Municipality of Vila Verde, , Portugal, trying to identify the transformations in the landscape of this county within the Bracara Augusta Conventus, in a chronological period still poorly characterized (Ist century BC-Ist century AD), in other words, the passage of the large fortified settlements of the Iron Age to the Romanization. The recognition and location of the major gold and tin areas in connection with the settlements allow verifying if the former were the direct cause of the changes that took place in the landscape, taking into con- sideration the main road that crosses this county (via XIX).

Palavras-chave: Exploração mineira, ouro, estanho, povoamento. Keywords: Mining exploitation, gold, tin, settlement.

1.- Introdução. jam os carvalhos e castanheiros (Martins, M., 1990: 51), assim como os pinheiros silvestres, vidoeiros, O Concelho de Vila Verde insere-se na região teixos, e perto das linhas de água os amieiros, sal- Norte de Portugal, distrito de Braga, antiga provín- gueiros e freixos (Lemos, F., 2009: 140). cia do Minho. Encontra-se delimitado pelos conce- Com uma boa rede hidrográfica, tendo em lhos de Ponte da Barca a Norte, a conta o rio Neiva, Homem e Cávado, assim como Este, a Sudeste, Braga a Sul e Barcelos a os seus afluentes, e recursos económicos explorá- Oeste do distrito de Braga, e Ponte de Lima a No- veis, nomeadamente a agro-pastorícia e a minera- roeste de Viana do Castelo (Fig.: 1). ção, propiciou desde os tempos pré-históricos o po- Apresenta uma área de 228.67 km2, sendo a voamento, quer em altura quer nos vales férteis. sua geologia típica desta região, composta por um Na Idade do Ferro a rede de povoamento pau- mosaico de relevos montanhosos, planaltos des- tou-se essencialmente por povoados em altura, com contínuos, por entre um conjunto de vales dese- uma ou mais linhas de muralhas. A disputa de lo- nhados na paisagem pela drenagem fluvial alinhada cais estratégicos e a necessidade de defesa numa predominantemente na direcção de ENE-WSW e época de constantes mutações políticas e económi- N-S (, E., 1992: 7). Em relação à vegetação cas, assim como a emergência de lugares centrais, predominam as árvores de folha caduca como se- dividiu este actual concelho segundo os acidentes

E. Ramil Rego & C. Fernández Rodríguez (Ed.): 2 Congreso Internacional de Arqueoloxía de Vilalba (Vilalba, 2011). 236 C.M. BRAZ MARTIN - V.M. FONTES SILVA - A.C. GOMES BRAGA

Fig.: 1. Localização do concelho de Vila Verde no contexto do Noroeste Peninsular. geográficos. 2.- Caracterização geológica e mineralógi- Assim, poder-se-á considerar três núcleos ca. principais, um em torno da nascente e vale do rio Neiva, cujos povoados se poderão inserir dentro de Genericamente a geologia regional afigura-se uma mesma identidade étnica, designadamente os segundo a orientação varisca NW-SE a NNW-SSE, Naebisoci, sendo a Citânia de Carmona, já locali- sendo os volumes montanhosos anteriores ao Plio- zada no concelho de Viana do Castelo (distrito de cénico (Superior?), predominando os granitos porfi- Viana do Castelo), a sua capital (Maciel, T., 1997: róides de duas micas e biotíticos, manifestando-se 2); um segundo, na parte Este do concelho, em que também áreas de depósitos arenosos como os exis- a Citânia de S. Julião adquire uma dimensão expo- tentes em Prado (Pereira, E., 1992: 7-8). Estão tam- nencial principalmente nos fins da IIª Idade do Fe- bém presentes depósitos aluviais modernos na regi- rro, tendo em conta o aparecimento de uma estátua ão de Duas Igrejas e ao longo do leito do rio Ho- de guerreiro (Museu D. Diogo de Sousa, Braga); e mem, depósitos Plistocénicos com 5 a 10 m de altu- finalmente o terceiro mais a Sul, em torno da poste- ra em Goães, entre a capela da Nª Sª da Nazaré e o rior via XIX, e em que o Castro de Barbudo parece rio Neiva, e com 50 a 70 m entre Vila Verde e La- ter tido uma funcionalidade assaz importante. nhas (Medeiros, A. C., et al., 1975: 15). Ambas as Citânias, Carmona e S. Julião, po- Algumas das formações de época Silúrica fo- derão ter tido funções de receptores e posterior- ram perturbadas por metamorfismos de contacto mente redistribuidores de riqueza e /ou produtos. justificando o aparecimento de corneanas, xistos lu- No período romano sem dúvida que o povoa- zentes, andaluzíticos e granitíferos (Viegas, L.F.S., mento é condicionado pela riqueza aurífera de toda et al., 1991: 5). esta área. A par da romanização dos povoados em As mineralizações auríferas ocorrem em filões altura, que poderão também funcionar como pontos quartzosos e/ou aplitopegmatíticos, encaixados nas de controlo sobre as áreas mineiras, aparecem tam- rochas metassedimentares no exocontacto de for- bém os povoados em vale e os povoados mineiros mações graníticas; a associação mineralógica mais directamente ligados à exploração mineira e à via frequente é As-Fe-Bi-Pb-Ag-Au-(W-Cu), ou seja XIX do Itinerário de Antonino, cujo traçado poderá arsenopirite - pirite - bismutinite - ouro nativo - também ele ter sido condicionado por aquela acti- electrum - bismuto nativo - (tungstite - calcopirite - vidade económica. sulfossais de bismuto e prata) (Pereira, E., 1992: 62).

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 Marrancos / .

Sem dúvida que esta é a área mais conhecida de Vila Verde, inserida numa faixa de metassedi- mentos orientados NW-SE da idade Silúrica, e deli- mitada pelos granitos de Parada de Gatim a Oeste e de Braga a Este; por vezes manifestam-se granitos aplitopegmatíticos (Viegas, L.F.S., et al., 1991: 21). A mineração romana incidiu sobre um filão quartzo-argiloso orientado N40ºE, com inclinação 70º-75º para NW, e mineralizado com pirite e arse- nopirite aurífera (Viegas, L.F.S., et al., 1991: 22). Os teores máximos de ouro que aqui poderão ser detectados são de 34.8 g/t (Viegas, L.F.S., et al., 1991: 21).

 Cervães.

Esta área corresponde predominantemente à envolvência da Serra da Gatanha, com preponde- rância de granitos de grão médio, de duas micas, muito alterados na zona de encosto com o filão; es- te último é quartzoso e mineralizado com pirites ar- senicais, podendo-se detectar os seguintes ele- Fig.: 2. Carta geológica do concelho de Vila Verde com a mentos químicos: Au, Sn, Cu, Ti, Sr. Os teores de localização das três principais áreas de mineralização. ouro são muito variáveis podendo ir de 0.5 g/t a 120 g/t, sendo que este último valor singular poderá Em termos de ocorrências mineiras interessa corresponder a uma pepita sobre a qual terá incidi- caracterizar três áreas particulares tendo em conta a do a análise (Inglez, A.L.d’A., 1938). sua exploração em época romana (Fig.: 2). Também na região de Prado, que compreen- deu trabalhos romanos, as percentagens de ouro são elevadas, com valores da ordem de 89 g/t e 184 g/t,  Godinhaços. em amostras de cassiterite onde foi feita uma tritu- Geologicamente dominam os granitos, nomea- ração e separação gravítica (análises realizadas no damente o de Braga, porfiróide de grão médio a fi- Laboratório de Fomento Mineiro, Porto, a no, calco-alcalino, o de Vila Verde não porfiróide 28/06/1946, Boletins 605 e 606 respectivamente). de grão médio a grosseiro, calco-alcalino, e o de Parada de Gatim, também ele não porfiróide mas de grão fino e alcalino, podendo-se encontrar em toda 3.- A mineração romana e seu enquadra- a área diversos filões quartzosos com uma mine- mento com o povoamento e rede viária. ralização de arsenopirite e/ou pirite, com orientação principal de N60º-70ºE (Viegas, L.F.S., et al., Numa Carta ao Sr. Presidente do Conselho de 1991: 51). Ministros, datada de 30 de Junho de 1938, António Os trabalhos romanos incidiram sobre a área Quirino Torres Souza Lima refere «Os romanos dos granitos de Vila Verde, desmontando filões vá- não poderam levar o ouro todo, deixando ainda rios, o que se traduziu em várias trincheiras com muita coisa por explorar» (arquivo do LNEG, S. uma direcção de NE-SW, e numa galeria orientada Mamede de Infesta). N40ºW com cerca de 12 m de comprimento (Vie- De facto, e felizmente para nós hoje em dia, é gas, L.F.S., et al., 1991: 51). verdade. Mas também há a certeza de que os filões Uma amostra retirada de um filão de quartzo mais ricos nos teores que lhes interessavam, neste N60ºE revelou uma constituição mineralógica de caso o ouro, foram explorados. arsenopirite, pirite, calcopirite, blenda e galena, a- A exploração mineira de época romana encon- cusando um teor excepcional de 60 g/t de Au, sen- tra-se disseminada por todo o concelho, embora do o valor mais aceitável de 52.3 g/t (Viegas, com maior incidência nas áreas já referidas no pon- L.F.S., et al., 1991: 21 e 51). to anterior. A inventariação efectuada teve como objecti- vo a articulação com o povoamento e rede viária (Fig.: 3 e Quadro: 1), pelo que ainda há muito tra- balho pela frente. Nas áreas de mineração romana procurou re-

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Fig.: 3. Povoamento, minas e rede viária no concelho de Vila Verde. colher-se amostras de encosto e/ou filão quartzo-so, Assim apresenta-se sumariamente os trabalhos de modo a concretizarem-se análises para iden- observados no terreno. tificação dos elementos químicos dominantes atra- vés do método de fluorescência de raios X (XRF).  Cova dos Mouros, Marrancos (ID 1), apre- As mesmas foram levadas a cabo na Con-trastaria senta uma exploração de grandes di- do Porto, utilizando-se o Spectro X-Test com uma mensões, extensiva, compreendendo traba- profundidade de campo de 3 µm. lhos a céu aberto de que constam 14 trin-

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ID Designação Tipo subsistem o fundo de duas galerias, são se- 1 Cova dos Mouros Marrancos mina lectivos, concentrando-se numa área de 2 Arca Turiz povoado contacto de xistos com granitos. As análi- 3 Cabanelas Cabanelas povoado ses revelaram os seguintes elementos quí- Escariz (S. Mar- 4 Castro de Escariz povoado micos: Fe, Co, K, Au, In, Cs, Ba, Ag, Ti, tinho) 5 Castro de Sobradelo Duas Igrejas povoado Pb e Ca. 6 Castro do Barbudo Moure povoado  Minas de Monte Grou, Rio Mau (ID 34), Castro de S. Miguel o 7 Oriz (S. Miguel) povoado nas imediações do castro com o mesmo Anjo 8 Castro de S. Julião Ponte povoado nome, existem desmontes superficiais num 9 Coto Dossãos povoado substrato granítico, profundamente altera- 10 Pedregais povoado do, com filões quartzosos. Trata-se de uma 11 Eiras Duas Igrejas povoado exploração a céu aberto que não se poderá 12 Leira da Cachada Travassós necrópole sequer considerar selectiva, dado o seu ca- 13 Moega Coroas Rio Mau povoado rácter incipiente. As análises revelaram os 14 Monte Grou Rio Mau povoado 15 Monte de Sabroso Godinhaços povoado seguintes elementos químicos: Fe, K, Au, 16 Monte da Cheira Mós povoado Cs e Ba. 17 Monte de Santa Engrácia Geme povoado  Mina de Sabroso, Godinhaços (ID 35), lo- 18 Monte de S. Tomé Oriz (S. Miguel) povoado calizada no sopé de um castro de igual 19 Moure Moure necrópole nome com uma via romana flanqueando-o, 20 Santa Cruz Lage povoado 21 S. Sebastião Atiães povoado onde foi detectado um trabalho subterrâ- 22 Castelhão Barbudo povoado neo de carácter selectivo, nomeadamente 23 Lugar de Gaião Cabanelas povoado uma galeria trapezoidal com tecto aboba- 24 Veiga de Cabanelas Cabanelas necrópole dado e mais de 35 m de comprimento Portela das Ca- 25 Penedos da Portela povoado (Fig.: 4); a sua entrada tem 0.72 m de altu- bras 26 Prado Vila de Prado povoado ra e larguras de 0.24 m no topo e 0.50 m 27 Lugar do Barreiro Vila de Prado povoado na base. O interior tem uma altura e largu- 28 Turiz Turiz povoado ra médias de 1.40 m e 0.60 m respec- 29 Outeirinho Vila Verde povoado tivamente, exibindo marcas de picos e pe- 30 Soutelino Godinhaços povoado quenos nichos para colocação de lucernas. 31 Castro Mau Gondiães povoado 32 Castelo Aboim da Nóbrega povoado  Minas de Penedos da Portela, Portela das 33 Fontainhas Duas Igrejas mina Cabras (ID 36), no monte de um castro 34 Minas de Monte Grou Rio Mau mina romanizado, foram detectados trabalhos a 35 Mina de Sabroso Godinhaços mina céu aberto, designadamente uma trincheira Minas de Penedos da Portela das 36 mina Portela Cabras com 12 m de comprimento e 1.70 m de 37 Monte Cardal Moure mina largura, e subterrâneos - uma galeria, de 38 Minas de Stª Mª do Prado Vila de Prado mina índole selectiva; esta última apresenta à 39 Minas de Oleiro Oleiros mina Minas da Serra da 40 Cervães mina Gatanha 41 Mina da Urtiga Atães mina 42 S. Miguel o Anjo Oriz (S. Miguel) mina

Quadro 1.: Inventário do concelho de Vila Verde.

cheiras de grandes e médias dimensões, e trabalhos subterrâneos nomeadamente com galerias. Destas últimas apenas se tem um mero vislumbre, já que este local foi alvo de mineração no séc. XX, tendo destruído muitos dos vestígios existentes; exibem nuns casos secções rectangulares com tec- to plano e noutros secções semi-circulares com tectos abobadados. As análises reve- laram os seguintes elementos químicos: Fe, As, Au, Co, Ag, Sb, Pb, K, Cd e In.  Fontainhas, Duas Igrejas (ID 33), sobre uma via e a ela perpendicular existem desmontes superficiais e trincheiras várias de pequenas dimensões, com uma média de largura de 5 m. Os trabalhos a céu aber- to e também subterrâneos, de que apenas Fig.: 4. Galeria no sopé do Monte de Sabroso.

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entrada 0.60 m de altura e 0.60 m de largu- ra, enquanto o seu interior tem uma altura de 1.20 m e largura de 0.58 m, com vestí- gios das marcas de pico.  Monte Cardal, Moure (ID 37), onde foram localizados trabalhos a céu aberto, especi- ficadamente cortas de grandes dimensões, denotando um cunho extensivo dos labo- res.  Minas de Santa Maria do Prado, Vila de Prado (ID 38), com trabalhos a céu aberto extensivos, que se podem observar em oito trincheiras ovaladas de grandes dimensões.  Minas de Oleiros, Oleiros (ID 39), com trabalhos selectivos a céu aberto, mormen- te pequenas trincheiras, e subterrâneos com quatro galerias. Galeria 1 tem uma secção trapezoidal com tecto plano, 1.13 m de altura e larguras de 1.02 m no topo e 1.50 m na base, ostentando marcas de pi- cos. Galeria 2 encontra-se articulada com a Fig.: 5. Galeria da Urtiga, Atães. primeira através de uma trincheira, tendo uma secção trapezoidal e tecto abobadado. Neiva, que também é um importante jazigo secun- Em relação à galeria 3 foi im-possível e- dário. Neste período cronológico salienta-se dois fectuar qualquer descrição, visto situar-se castros o de Monte Grou e o de Sobradelo também abaixo do nível de circulação e encontrar- conhecido por Reduto. se entulhada. Galeria 4 tem aspecto inca- O primeiro porque aparentemente não denota racterístico com 0.90 m de altura e 0.28 m indícios de romanização e apresenta desmontes su- de largura. perficiais dos filões, o que poderá ser indicador de  Minas da Serra da Gatanha, Cervães (ID uma exploração pré-romana. A própria constitui- 40), com uma exploração extensiva a céu ção geológica de grande deterioração do substrato aberto identificando-se várias trincheiras. granítico permite a fácil remoção dos filões, para A área encontra-se muito descaracterizada além de que os testemunhos observados são muito devido às explorações de época contempo- incipientes. rânea e à implantação de uma pedreira de O segundo porquanto foram exumados objec- grandes dimensões. As análises revelaram tos diversos aquando uma construção no local. O os seguintes elementos químicos: Fe, Co, proprietário do terreno reuniu um conjunto signifi- Pb, Ir, Au, Ag e Cr. cativo de mós da Idade do Bronze, assim como um  Mina da Urtiga, Atães (ID 41), onde se de- peculiar pico em pedra (Fig.: 6) e um vaso cerâmi- tectou um labor subterrâneo, selectivo, co de pequenas dimensões (Fig.: 7) que se encontra mormente uma galeria de secção ovalada depositado no Grupo de Estudos Históricos do Vale com tecto abobadado, que em certas zonas do Neiva em Durrães, Barcelos, que pelas caracte- passa a plano (Fig.: 5); as sua dimensões rísticas apresentadas poderá ter servido como cadi- são de 1.75 m de altura e 0.91 m de lar- nho (Maciel, T., 1997: 77). gura. Recentemente houve um aprovei- tamento e canalização das suas águas, ten- do-se corrompido a original traça.  S. Miguel o Anjo, Oriz (S. Miguel) (ID 42), onde foi detectado nas imediações do castro vários desmontes superficiais. As análises revelaram os seguintes elementos químicos: Fe, Au e Ag.

Do que pode ser analisado, em termos de cor- relação das áreas mineiras com o povoamento, foi que este teve em consideração desde pelo menos a Idade do Ferro a exploração de um recurso econó- mico abundante na região que é o ouro, com uma implantação estratégica que também controla as á- reas mineiras, como por exemplo a nascente do rio Fig.: 6. Pico em granito encontrado no Castro de Sobradelo.

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Uma vez mais a distribuição do povoamento prende-se com a exploração mineira, agora de uma forma mais extensiva, que por uma questão lo- gística de transporte, acesso e escoamento de pro- dutos, necessita de uma boa rede viária. Assim, a via XIX do Itinerário de Antonino articulada com uma rede de vias secundárias poderá servir os propósitos das grandes áreas de mine- ração, preferindo-se como tal o traçado defendido por A. Cunha (2006), em detrimento do de A. Ro- dríguez Colmenero (Rodríguez Colmenero, A., et al., 2004), já que o primeiro se aproxima mais da Fig.: 7. Possível cadinho encontrado no Castro de Sobra- delo. importante área mineira de Marrancos, e o segundo parte do pressuposto de que os miliários encontra- dos estão na sua original localização, o que poderá De vinte e dois povoados da Idade do Ferro, não corresponder à realidade. treze foram romanizados: Castro de Escariz, Bar- O povoado de Prado terá uma relevância mai- budo, S. Miguel o Anjo, S. Julião, Coto, Moegas or em relação aos restantes, sendo que poderá ser Coroas, Monte de Sabroso, Santa Cruz, S. Sebas- um vicus ligado à rede viária (Carvalho, H.P.A., tião, Lugar de Gaião, Penedos da Portela, Outei- 2008; esta autora coloca também a hipótese de rinho e possivelmente o do Monte de Stª Engrácia. mansio) e à exploração mineira. A crescente complexificação e hierarquização S. Julião e o Castro do Barbudo poderão ter da sociedade, principalmente ao longo da segunda tido uma função de receptores da matéria-prima e Idade do Ferro, conduz também a uma hierarquia redistribuidores de metal, tendo em conta os indí- no povoamento conduzindo à emergência de luga- cios metalúrgicos existentes (Martins, M., 1990). res centrais como seja S. Julião (Martins, M., 2009: 218). 4.- Considerações finais. Paralelamente surgem novos povoados, como o da Arca, Cabanelas, Lugar do Barreiro, Turiz e Este trabalho pretende de algum modo contri- Soutelinho. buir para um melhor entendimento do vasto territó- Cabanelas e Lugar do Barreiro poderão estar rio do concelho de Vila Verde. directamente articulados com a exploração mineral A articulação da exploração mineira aurífera de ouro, mas também de argilas no segundo caso, com a distribuição do povoamento e rede viária re- podendo ser considerados povoados mineiros. O lança novas hipóteses de classificação dos povoa- mesmo se sugere para Soutelinho que poderá ser dos, permitindo também uma melhor compreensão um povoado mineiro de apoio à mineração na área do traçado da via XIX do Itinerário de Antonino. de Godinhaços.

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6.- Notas.

1 Carla Maria Braz Martins, bolseira de pós-doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT); colaboradora externa da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP).

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Férvedes Revista de Investigación

Nº 7

2011

E. RAMIL REGO & C. FERNÁNDEZ RODRÍGUEZ (ED.): 2 CONGRESO INTERNACIONAL DE ARQUEOLOXÍA DE VILALBA