DIRETOR - FRANCISCO MADELINO JORNAL BIMEStrAL 3.a SÉRIE • 1€ N.0 9• Jan-fev 2018

Ano Europeu do Património Cultural

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4 8 10 12 16 19 22 Entrevista: Iva Bittová Fotorreportagem A Casa na árvore Entrevista: Viagem: Açores Teatro da Trindade Contos do Zambujal e Paolo Angeli Manteigas Diogo Infante Inatel 6 11 14 17 20 23 Fotorreportagem 9 Memórias de Júlio Desporto: Campeonato Coluna do Provedor | Passatempos | Agenda Ciclo Mundos Viajando com livros Isidro António Raminhos gastronómico Notícias ÍNDICE capa Editorial

FRANCISCO MADELINO Presidente da fundação inatel

património cultural

s comemorações dos anos que simbolizam um tema são ainda uma boa forma de o lembrar e realçar a sua importância. Neste ano de 2018, a União Europeia es- usa Monteiro vive em Beja, cidade colheu o Património Cultural. Se há coisa que a velha onde nasceu. Europa tem mais valiosa é a sua herança cultural, física Estudou Realização Plástica do e imaterial. Uma herança rica, diversa, criativa e huma- Espectáculo na Escola Superior nista. de Teatro e Cinema, e cinema de ANa diversidade está a base da Europa das Nações. No humanis- animação no CITEN. Durante mo e tolerância europeus ao diferente está a base do projeto da alguns anos trabalhou como União Europeia e das suas potencialidades para o diálogo inter- Sfigurinista, caracterizadora e aderecista para cultural e a Paz. o teatro e para o cinema. O ano de 2018 é também o ano em que se comemora um século ilustração Em 2009, com a inauguração da Bedeteca do fim da Primeira Grande Guerra, que atolou a Europa de mor- susa monteiro de Beja e do Festival Internacional de Banda tos e de ódios, no século passado. Os nacionalismos, os imperia- Desenhada de Beja (onde é responsável lismos e as diferenças culturais foram, nesses tempos, fontes de pela linha gráfica e co-organizadora), deixa guerra, e não causas de riqueza e de diálogo. definitivamente as artes do espectáculo e Hoje, a capacidade de dialogar, entender o outro, unir as dife- passa a dedicar-se exclusivamente à banda renças, sem as apagar, e transformá-las em misturas de criação e desenhada e à ilustração. fontes de novas ideias e de liberdade, são grandes desafios para Nos últimos anos ilustrou livros para o Mundo e para a Humanidade. Em tempos de populismos e diversos autores: António Torrado (Pato nacionalismos, a Cultura, agora, mais que nunca, deve e tem de Lógico), Afonso Cruz (Alfaguarra), Susana ser fonte de Paz e Beleza. Cardoso Ferreira (Oficina do Livro), etc. A Inatel sempre esteve, na sua História, nascida entre as Gran- E ilustrou cartazes e panfletos para várias des Guerras do século XX, no centro da divulgação e promoção instituições e projectos (Casa da Música, Palavras Andarilhas, Almarte – Festival de do nosso património cultural, mas também em aprofundar umas Artes na Rua, La Guarimba International mais profundas heranças nacionais, o cosmopolitismo, a nossa Film Festival, entre outros). capacidade de por heranças culturais distintas em diálogo. Publica regularmente ilustrações e bandas A Inatel é ainda consultora da UNESCO para o Património desenhadas em vários álbuns, fanzines, Mundial da Humanidade, reconhecendo assim, esta organização jornais e revistas. das Nações Unidas, as suas competências e vocação culturais. Tem exposto frequentemente o seu Este número do Tempo Livre é assim, também, uma dedicatória trabalho em festivais de Banda Desenhada e àquilo que faz o Homem, a Cultura, evocada neste Ano Europeu galerias, individual e colectivamente. do Património Cultural. Publicou recentemente o livro Sonho pela editora Pato Lógico. E está actualmente a ilustrar dois livros para o público infanto- juvenil, um para a Pato Lógico outro para a Bruáa editora.

Jornal Tempo Livre | email: [email protected] | Propriedade da Fundação Inatel | Presidente do Conselho de Administração Francisco Madelino Vice-Presidente Inês de Medeiros Vogais Álvaro Carneiro e José Alho Sede da Fundação Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 Lisboa Diretor Francisco Madelino Publicidade Tel. 210027000/ [email protected] Impressão Sogapal – Comércio e Indústria de Artes Gráficas, S.A., Estrada de São Marcos, 27 – São Marcos, 2735-521 Agualva-Cacém Tel. 214347100Dep. Legal 41725/90 Registo de propriedade na ERC 114484 Preço 1 € Tiragem deste número 124.422 exemplares Membro da APCT – Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulação | Estatuto editorial publicado em www.inatel.pt 4 TL JAN-FEV 2018

Entrevista Iva Bittová & Paolo Angeli Precisamos de conversar sobre música improvisada

A temporada de 2017 do Ciclo Mundos terminou, no passado dia 12 de dezembro, com um notável e improvisado diálogo entre a checa Iva Bittová e o sardo Paolo Angeli. Um improvável encontro entre uma compositora e violonista avant-garde de múltiplos recursos vocais e um instrumentista e construtor de um cordofone preparado de 18 cordas, híbrido entre guitarra, barítono, violoncelo e bateria que, além de exímio músico, é um ávido conversador

ouco antes do espectáculo no Ambos têm uma forma muito especial Iva Bittová - Sempre. Sou muito um vastíssimo repertório que vai Teatro da Trindade Inatel, o de abordar os concertos. É muito inspirada pela folk, por música autêntica mudando de concerto para concerto. Tempo Livre teve a oportunidade importante interagir com a audiência em de todo o planeta. Gosto de ouvir os Tens composições para cinco ou seis de dialogar informalmente com cada concerto que dão? ornamentos, as frases musicais que horas de espectáculo. A que se deve esse os dois músicos que mantêm Iva Bittová - Preciso de tocar ao vivo. É o usam, como constroem dinâmicas. É desenvolvimento profícuo do teu lado viva a paixão de estudar e de mais importante para filtrar a energia e as como pintar um quadro bonito, ou, como de compositor? descobrir diariamente novas ideias sobre aquilo que pensamos no dia- disse o Paolo, é cozinhar com muitas Paolo Angeli – A improvisação é Pformas musicais. a-dia. Absorvo-as e ponho-as na música, especiarias ao dispor e então, a cada uma forma de explorar o material. Como é que se conheceram? Que ofereço-as à audiência e, geralmente, ela momento, escolhemos aquelas que ficam É como olhar para uma coisa que motivações tinham para trabalhar em duo? devolve-me essa energia. Penso que é o melhor. nos emprestaram. Não faz sentido Iva Bittová - O Paolo tem melhor mais importante. No início dos concertos a Como é que começam a improvisar? estarmos sempre a viajar e tocar em memória. solo, com a banda, com a orquestra ou com Com uma melodia, com um drone? todos os concertos o mesmo repertório. Paolo Angeli - Lembro-me que era o Paolo preciso sentir, a partir do primeiro Paolo Angeli - Depende, se estivermos Normalmente, a minha ideia acerca da um grande fã da sua música e a vi em momento, que as pessoas estão ligadas. num teatro com 30 pessoas em que música é a de tentar surpreender-me concerto em Bolonha num grande Há muitos anos que toca em formato vemos a cara de toda a gente, ou num diariamente. Então autopressiono-me. momento da sua vida artística... de duo com um outro parceiro e grande palco com 1000 pessoas, ou se Há concertos em que o público é muito Iva Bittová - Já não tenho mais desses conterrâneo Vladimír Václavek. O que tivermos tido uma viagem desgastante. receptivo, gostou muito e aplaudiu de momentos… (risos). é que espera dele (ou do Paolo) quando Podemos tocar mais forte, mais intenso, forma efusiva mas para mim foi terrível. Paolo Angeli - Sou mais novo do que a partilham um palco? ou mais soft, mais relaxado. Tocar a solo Não houve nada de novo naquele Iva e, para mim, ela é como uma lenda. Iva Bittová - Preciso de ouvir da parte é diferente de tocar em duo. Podes tocar espectáculo. É como olhar-me ao espelho Vê-la a fazer digressões por Itália, com deles novas ideias para criar algo sempre aquilo que o outro não quer. e não ver mudanças. diferentes projectos: a solo, a duo, com o inesperado, mas musical. Mas o mais Penso que o duo tem uma dinâmica de Iva Bittová - És muito crítico contigo Techno Mit Störungen. importante é tentar encontrar uma comunicação muito intensa. É mais fácil (risos). Ele muda muito e surpreende-me Iva Bittová - Isso foi há muito tempo, há mesma linguagem de forma a oferecer tocar em trio do que em duo, porque em muitas vezes. 20 anos atrás. algo novo à audiência. duo mais facilmente percebes se o teu Paolo Angeli - A sério? Paolo Angeli - Sim, em 92, 93... Como se constrói o alinhamento parceiro está em palco ou não. A energia Iva Bittová - Eu trabalho muitas vezes em Iva Bittová - Já não existe mais. de música improvisada para um não chega se não estiveres disposto a cima dos erros. E tento surpreender-me Paolo Angeli - Era mesmo um grande espectáculo como o vosso? comunicar. Gosto de tocar com a Iva. quando sou bem-sucedida. fã dos projectos da Iva Bittová. Nessa Paolo Angeli - Há diferentes formas Nunca fizemos uma digressão e por isso Paolo Angeli - E como te sentes com isso? altura, organizámos um pequeno festival de ser um improvisador, como esse nunca nos saturámos de tocar as mesmas Iva Bittová - Gosto. É normal. na Sardenha (que agora é grande), Isole não idiomático que não gosta de tocar coisas muitas noites seguidas. É sempre Paolo Angeli - Humano? Che Parlano, e convidámo-la para dar canções que são como um tabu. O que eu uma alegria quando nos juntamos. Iva Bittová - Sim. um concerto a solo. Desde essa altura que gosto na Iva é que tanto pode estar num Estamos na era da globalização. A Iva Paolo Angeli - Perguntam-me sempre. nos mantivemos em contacto e tornou-se registo muito livre, como pode focar-se chegou com a sua história. Não é música Porque é que começaste a improvisar? muito natural começarmos a tocar juntos. numa ideia que pode ser uma canção que da Morávia, é música da Iva Bittová que Aconteceu desta forma. Comecei a tocar a Iva Bittová - Sim. Penso que temos a ela interpreta há mais de vinte anos e ela interpreta. Quando ela canta não sei o solo, toquei muitas composições e cometi mesma abordagem na forma como que está sempre a mudar a forma como a que está a cantar (risos). muitos erros em que era impossível criamos música em palco, sobretudo aborda. Na Sardenha é muito complicado Iva Bittová - Obrigada (risos). tocar de forma correcta muita dessa na forma como improvisamos, como escrever uma composição do princípio Paolo Angeli - Tento digerir toda esta música. Senti que a improvisação põe comunicamos com outros músicos. Muito ao fim. Dividimo-la em pequenas partes, informação e articulá-la na minha cá para fora toda esta energia. E tornei- abstrato mas ao mesmo tempo muito em módulos e mudamos a organização memória. No primeiro concerto estudei me improvisador sem ter decidido real. Tentamos sempre construir uma dos elementos. Com a Iva há sempre uma muito composição. Punha uma nota ser improvisador. Descobri que após narrativa enquanto improvisamos. E sou base de improvisação na forma como as aqui e era ali. No concerto seguinte era exteriorizar a tensão fico mais relaxado muito inspirada pelo temperamento e interpretamos. É mais material, é como diferente. Estava continuamente a ser para tocar a composição. Claro que isto pelas melodias sardas. Também adoro cozinhar. surpreendido. O que é preciso é tocar. era no início, há 20 anos atrás. Hoje o instrumento, a voz e o registo a solo Iva Bittová - É como uma jornada. Como Também tens estado a tocar de forma em dia, em alguns espectáculos, toco do Paolo. Toco violino, não construí ir a um sítio onde nunca estivemos e muito intensa com o teu espectáculo composições que já não tocava há 15 um instrumento complexo, faço coisas tentar construir algo novo. a solo. Ainda agora editaste um duplo anos. Corro o risco de o fazer em palco e simples, mas temos laços muito fortes em Para si, abordar uma canção da Sardenha álbum ao vivo – “Talea” – gravado em se cometer erros assumo que é uma coisa comum. é uma forma de descobrir algo novo? vários continentes em que mostras humana. É bom cometer erros. TL Jan-FeV 2018 5

beatriz maduro Entrevista Iva Bittová & Paolo Angeli Precisamos de conversar sobre música improvisada

Iva, continua a viver nos Estados num estúdio, numa igreja com uma boa Unidos? Que oportunidades tem para acústica que nos motive a gravar. evoluir na forma como improvisa? “Sou muito Para vocês, parece-me que não é “Gosto de tocar Costuma tocar muito com os músicos de necessário ter um disco para vender jazz da “downtown” nova-iorquina? inspirada pela concertos. Os programadores confiam com a Iva. Nunca Iva Bittová - Desde 2007 que tenho uma nos vossos nomes, certo? casa na floresta [em Hudson Valley no folk, por música Paolo Angeli - Sim, não enviamos fizemos uma Estado de Nova Iorque]. Vivo lá porque material. Eles têm muita curiosidade em quero aprender mais sobre música e este autêntica de ver que estamos a fazer e confiam em nós. digressão e por é um óptimo sítio para tocar e conhecer O promotor assume esse risco. Tenho uma músicos. Há muita competição, grandes todo o planeta. questão para a Iva: Disseste que gostas de isso nunca nos músicos. Tens de trabalhar muito ensinar técnicas vocais. Neste momento afincadamente para lá estar, para tocar Gosto de ouvir os qual é a tua relação com o violino? saturámos de com regularidade. Para mim é como Iva Bittová - Paolo, neste momento frequentar uma universidade. Conheço ornamentos, as estou mais focada no canto. Continuo a tocar as mesmas pessoas que gostam da minha música. ensaiar mas neste momento não estou Recebo muitos convites e toco com muitos frases musicais a conseguir cumprir o tempo de prática coisas muitas grupos variados: duos, trios, bandas. Mas necessário como 4 ou 5 horas diárias. continuo a viajar frequentemente até à que usam, como Mas, por exemplo, no último ano em noites seguidas. Europa onde há muita inovação. A minha que estive no Rajastão, comprei um ideia agora, porque estou a ficar mais constroem violino belíssimo local. E também há É sempre uma velha (risos), é abrir uma escola de voz nos uns anos atrás estudei violino barroco. Estados Unidos. dinâmicas” Agora tenho uma maior variedade de alegria quando nos Para ensinar técnicas de canto? sons para criar nova música. Estou Iva Bittová - Para desenvolver a Iva Bittová focada em escrever nova música porque juntamos” capacidade de improviso, de se quero terminar os estudos universitários expressarem. Há muitos estudantes e, então, começar a compilar todas as Paolo Angeli que nunca cantaram, tenho cantores técnicas e sons de violino. Penso que isso profissionais de ópera que querem Decidi gravar uma só composição e o afecta a minha voz e a muda um pouco. deixas de ter tempo para te focares na aprender como mudar e criar outra produtor dividiu-a em 12, 9 ou 7 partes. Falou no violino do Rajastão. Também tua música. O meu sonho é continuar a expressão, usar a voz de outra forma. Os números são importantes. Estou toca sentada e a fazer glissandos desenvolver ideias na guitarra mas nem Uma enorme variedade de estudantes sempre ligada a notas. Desde os tempos contínuos? sempre é possível. É muito delicada. que gosto de satisfazer. Também sou ancestrais os números sempre foram Iva Bittová - Nunca me sento. Toco à O público é um espelho perigoso. muito inspirada pela forma como eles importantes. minha maneira. Preciso de estar a andar. Muitas vezes o público espera que trabalham e pelo que eles extraem das Há intenção de gravar um disco a duo? Depende da minha saúde. Satisfeito, Paolo? te mantenhas igual, que toques esta minhas aulas. Paolo Angeli - Ainda não decidimos. Paolo Angeli - Sim. Tinha curiosidade canção, aquela composição. Mas se Um dos álbuns mais recentes que lançou Como também não decidimos tocar em fazer esta pergunta porque sempre pretenderes ser músico durante toda é “Fragments” (2013) dividido em doze juntos. Aconteceu. É algo que poderá foste uma violinista excepcional com uma a vida, precisas de descobrir coisas fragmentos numerados. O 12 é um acontecer mas que não será planeado. personalidade incrível e, nos últimos 10 novas diariamente. Senão a profissão número importante neste disco. É uma Iva Bittová - Não fazemos pressão para anos, pareces mais focada na voz. de músico é como qualquer outra. Mais forma cabalística de fazer as coisas? entrar em estúdio. Apenas gostamos de Iva Bittová - Sim, porque há mais um dia no escritório. A minha ideia é ter Iva Bittová - Os números sempre tocar juntos. Talvez um dia surgirá. liberdade e porque toco com muitos oportunidade, estudar e descobrir música foram importantes para mim. Guardam Mas poderão editar um disco ao vivo… músicos diferentes. continuamente. segredos. O meu número mais divertido Paolo Angeli - Ao vivo é o meu formato Paolo Angeli - Quando improvisamos Iva Bittová - Podes fazer isso. Tudo tem é o 7. de disco preferido. com alguém é muito importante a ver com a forma como organizamos o Paolo Angeli - 12? Também é o meu Iva Bittová - Quando improviso, conversar, descobrir coisas novas, muito tempo. número. Fui guarda-redes. Se vires os construo o momento certo, a magia mais do que tocar juntos. Quando vais meus CD, verás que todos eles têm 12 com a audiência. É como uma fotografia tocar já és amigo e aí tocas de forma Luís Rei faixas. daquele momento. diferente. Gostei do que ela disse: [O autor escreve de acordo com a antiga Iva Bittová - Mas não foi combinado. Paolo Angeli - Mas poderá acontecer Quando fazes demasiados concertos ortografia] 6 TL JAN-FEV 2018

Francisco Madelino, presidente da Fundação Inatel, Carlos Seixas, programador e diretor artístico do Ciclo Mundos e do Festival Músicas do Mundo, Elida Almeida, cantora cabo-verdiana, Diogo Infante, diretor artístico do Teatro da Trindade, e Nuno Mascarenhas, presidente da Câmara Municipal de Sines, na apresentação da programação da 3.ª edição do Ciclo Mundos.

fotorREPORTAGEM Apresentação da 3.a edição do Ciclo Mundos

Dez concertos arranque da 3.ª edição começou Francisco Madelino, o terceiro ano tão inovadores, mas isso não corresponde com Zap Mama, dia 9 de do Ciclo Mundos vem mostrar ao à realidade da nossa ação, e este projeto da world music, fevereiro, depois da apresentação público que “é possível ter projectos é muito mobilizador e ilustrativo disso dos espetáculos programados multiculturais e interculturais, que mesmo.” Um projeto que cresce em de fevereiro a para este ano, no Trindade. Nos façam das diferenças entre os povos parceria com o Festival Músicas do Odias seguintes, 10 e 11 de fevereiro, foi a um motivo de união e de criatividade Mundo de Sines, com quem nasceu há novembro, no vez de Elida Almeida subir ao palco, com artística”. E acrescenta: “A Fundação três anos. concertos esgotados. Inatel é vista como uma coisa ligada a Maria João Costa (texto) Teatro da Trindade Para o presidente da Fundação Inatel, públicos ou movimentos culturais não Beatriz Maduro (Fotos)

Atuações do grupo Coral de Beja, e da companhia de dança Pálinka, formada por cinco Concerto de Zap Mama, 9 de fevereiro. Zap Mama é um projeto de Marie artistas que vivem a dança cigana/romani, no átrio do Teatro da Trindade. Daulne, a diva belga-congolesa, com outros músicos, que levam ao palco influências musicais que vão desde o R&B, hip-hop, jazz a sons tribais.

Zap Mama, no camarim, após o concerto da sessão de abertura da 3.ª edição do Ciclo Mundos.

Concerto de Elida Almeida, 10 e 11 de fevereiro. Com uma voz suave e quente, a jovem cabo-verdiana apresentou o segundo álbum, “Kebrada”, lançado no final de 2017, onde afirma a sua identidade africana, a energia latina e os ritmos cabo- Os concertos do Ciclo Mundos, Zap Mama e Elida Almeida, verdianos do batuque, funaná, coladera e entre 9 e 11 de fevereiro, levaram ao Trindade 1250 pessoas. tabanka. Elida Almeida, numa sessão de autógrafos após o concerto.

8 TL JAN-FEV 2018 fotorREPORTAGEM

Cerimónia de descerramento da placa de inauguração da unidade hoteleira requalificada Fachada principal da unidade hoteleira de Manteigas INATEL MANTEIGAS Porta aberta para saúde Fundação Inatel inaugurou a requalificada unidade hoteleira de Manteigas, em novembro, com a pre- bem-estar e natureza sença do ministro do Trabalho, Solidariedade e Se- gurança Social, Vieira da Silva. Já é possível usufruir de um edifício completa- Amente remodelado, com a construção do novo passadiço, que consiste numa ligação climatizada entre o edifício principal e o termal, permitindo a comodidade aos hóspe- des de usufruírem da totalidade dos serviços das Termas sem se deslocarem pelo exterior; e melhoramentos no edi- fício termal, tanto a nível de circulação de pessoas, como para conforto de quem procura a unidade. O objetivo é promover o turismo de saúde e bem-estar, e o turismo de natureza será outra das prioridades, asso- ciando-se aos programas do Natural.pt, uma marca do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, e não é indiferente que do ponto de vista paisagístico, o ho- tel dispõe de uma localização extraordinária, perfeita em qualquer época do ano. Maria João Costa (texto) Beatriz Instalações das Termas Exterior jardim Maduro (Fotos)

Sala de estar, Bar e Restaurante

Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Visita à unidade hoteleira e complexo termal de Manteigas, pelo ministro do Trabalho, Vieira da Silva, junto à placa da inauguração Solidariedade e Segurança Social, Vieira da Silva, presidente e vogais da Fundação Inatel, Francisco Madelino, José Alho e Álvaro Carneiro, presidente da câmara municipal de Manteigas, Esmeraldo Carvalhinho, presidente da junta de freguesia de Fornos de Algodres, Manuel Fonseca, entre outras entidades convidadas, e dirigentes da fundação. TL Jan-FeV 2018 9

Viajando com livros

Sena, Alfredo Margarido e Mário Cesariny. Sophia de Mello Breyner, em 1953, no número dos Cadernos de Poesia dedicado a Pascoaes – que falecera em dezembro de 1952 – deixou um depoimento que es- Pascoaes: a terra, clarece algumas das objeções que já se formulavam. «É um poeta – escreveu So- phia – à margem de tudo quanto não seja a própria Poesia. Poucas obras sustentam um confronto com a sua. É uma obra inteira- mente colocada em frente da eternidade. o rio, a casa Uma obra que passa para além de todas as negações. Mesmo os grandes poetas, se os lemos depois de Pascoaes, nos parecem ter-

DR rivelmente homens de letras. A sua poesia ascoaes e a sua obra enquadram-se gulho em confessar: «Sem esta terra funda é a Poesia – por isso se falou sempre pouco num país de névoas e de chuvas, e fundo rio/ que ergue as asas e sobe em e mal da obra de Pascoaes» (...) «Pode-se tão diferente do solar, claro vôo;/ sem estes ermos montes e arvo- dizer – observou ainda Sophia – que havia o Portugal das claridades do sul, redos/ eu não era o que sou» (Vida Etérea). em Pascoaes falta de sentido crítico. Mas o do Alentejo escaldante de Fialho Será possível, no século XXI, continuar sentido crítico é sempre o sentido crítico e Manuel da Fonseca; e do Algar- a ler Pascoaes e motivar as gerações atuais duma época e, por isso, envelhece e enve- ve luminoso de Teixeira Gomes, a para a sua poesia e para as obras de inter- lhecendo engana-se». Pirradiar Agosto Azul. Pascoaes caracterizou pretação biográfica que dedicou a grandes A obra de Pascoaes que descobre e re- esse outro Portugal de brumas opressivas: figuras universais? A interrogação não é de cupera não apenas o valor e o sentido de «Nuvens, rochedos, fontes murmurosas, / hoje. Quando, em 1977, se comemorava o cada coisa, por mais comum ou mais trans- eu sou, na vossa noite, a luz do amor. / Em centenário do nascimento de Pascoaes e cendente que sejam, é uma poesia aberta, mim, o luar é sonho que alvorece,/ em mim que reuniu personalidades tão diferencia- sem um circuito fechado. Corresponde, na a fria terra é sentimento / e nos meus ver- das, mas unânimes no reconhecimento do torrencialidade do seu ímpeto, à definição sos chora a voz do vento» (Cantos Indecisos). génio de Pascoaes, Eugénio de Andrade de Rimbaud: «Liberdade livre». Ou, então: «As coisas que me cercam silen- avançou com esta afirmação que procu- A casa de São João de Gatão onde escre- ciosas, / são almas a chorar que me pro- rava ser perentória: «Dentro dos nossos veu quase toda a obra agarrou-o à terra, curam» (Vida Etérea). E ainda: «Eu sei tirar conceitos de poesia Pascoaes é, entre todos para dialogar com a água, o sol, a escuridão das cousas o seu íntimo/ sinal harmonio- os nossos grandes poetas, o mais difícil de e o vento. Representou o centro, o eixo, o so e transcendente./ A espiritual imagem recuperar». rosto mais visível de inquietações íntimas. desprendida/ das formas e das cores, vem Apesar da profunda transformação que Foi o espaço de confronto no seu labirinto: morrer/ nos meus ouvidos de alma... e ali se verificou na poesia, da erradicação im- «Em mim as cousas vagas têm um nome; renasce» (O doido e a morte). placável de obras e autores que se julgavam diante de mim as almas tomam vulto» Têm dentro de si o Marão, o Tâmega e, com lugar cativo na posteridade, Pascoaes (Terra Proibida). Para concluir: «o sonho e o mais ainda, a casa de São João de Gatão. O não foi atingido. Manteve os seus adeptos amor/ são tão reais que, às vezes, nos pa- Há em cada região do pequeno grande mundo familiar é um dos e conquistou admiradores nas várias gera- recem tangíveis e palpáveis; pode ver-se!/ seus mais fortes vínculos: «misteriosa casa,/ ções atuais. Muitas vezes, em consequência E quase choram, sim, quase entristecem,/ País poetas, escritores onde tu, ó sombra minha esvoaças!/ E en- da reação a um certo excesso de imposição numa vaga lembrança do que foram.../ Ah! e artistas, cuja obra tremostrando vai teu esqueleto/ de pedra de Fernando Pessoa e da sua obra ortónima O espírito existe; existe e vive!/ E tudo o e teus postigos sem vidraças.../ Negros fun- e heterónima. que o espírito criou,/ em sua alegria ou dor interpreta e representa dos buracos que parecem/ esse olhar das Entre outros contributos houve a ree- amarga/ na terra e céu, estático, ficou» (As o espírito do lugar. caveiras, insondável/ e sempre fixo em nós, dição (Assírio e Alvim) de quase todas as Sombras). com a insistência/ da quietação, da inércia obras de Pascoaes; surgiram numerosos A memória do poeta perdura na velha Teixeira de Pascoaes imperturbável» (As Sombras). Este local de estudos de investigação literária, muitos casa como ele próprio desejava: «Ó velha é um deles. Mas pela Amarante distingue-se das próprias re- dos quais no âmbito universitário e que casa, depois da minha morte, vaguearei, giões vizinhas. Na paisagem física, na flora, abriram novas pistas e reflexões em tor- nos teus corredores, nas tuas salas, quando sua dimensão cósmica na fauna e na ocupação humana. Reflete-se no da criação de Pascoaes como poeta a sombra e o silêncio invadem tudo... De- transcende o regional em toda a criação literária de Pascoaes. In- e, também, como biógrafo de São Paulo, bruçar-me-ei nas tuas janelas, abertas, sem corpora o espírito do finisterra ibérico que, de São Jerónimo, de Santo Agostinho, de ruído, vendo o luar encoberto das horas e ganha amplitude ao longo dos séculos, definiu um modo de Napoleão e de Camilo Castelo Branco. O mortas. Vaguearei no teu jardim; e entre nacional e universal vida e uma expressão de cultura. Isto lhe empenhamento de ensaístas e críticos tem as sombras das árvores, serei uma sombra bastou para aprofundar a relação do ho- decorrido, enquanto também se verificou mais...» (Verbo Escuro). mem com o universo, o enigma do ser, o a publicação de antologias da obra poéti- Pascoaes coloca-nos perante um hori- Por António Valdemar sentido mágico e trágico da vida. Tinha or- ca organizadas e prefaciadas por Jorge de zonte que o levava a surpreender, nas me- tamorfoses da luz e na opacidade da noite, seres fantásticos que coabitam em ambien- tes naturais e universos oníricos. «O ser imaginário espiritual – afirmou –, existe, sim;/ é vivo e verdadeiro:/ tem existência cósmica e real/ como o rochedo e o fogo. É a essência mãe./ Sombra originária, a luz escura/ que depois de encarnar em corpo trágico,/ nesse corpo se exalta e transfigu- ra,/ em sentimento eterno» (As Sombras). Tão próximo e distante dos que o rodea- vam, debatendo-se com a impossibilidade de vencer inibições que o angustiavam, Pascoaes, ao longo de uma existência im- placavelmente solitária, faltou-lhe a outra vida. E assim procurou que a poesia fosse maior do que o poeta. 10 TL JAN-FEV 2018

A Casa na árvore

A história de uma aroeira monumental no concelho de Avis envolve mártires, papas, resina e virtude Por Susana Neves

A grande fazedora de chuva

empre que a seca ameaçava os de tronco), somos levados a pensar que garantir a sua singularidade dendrológica condenada à morte. De modo análogo, rios e ribeiros do montado de so- o rito ancestral, propiciador da chuva, foi e importância histórica a nível mundial, num mito grego, a ninfa Diktina, longa- bro, e os baldes descendo ao fun- abandonado e já não há quem faça as pa- uma vez que é comum apresentar-se ape- mente perseguida pelo rei Minos, decide do do poço regressavam quase pas. Mas há ainda quem se lembre de as nas na forma arbustiva e nem mesmo na preservar a sua integridade – aqui enten- vazios, a população de Valongo comer e de as cozinhar. ilha de Quios, na Grécia, onde há espé- dida como virgindade –, atirando-se ao (concelho de Avis), unida numa Numa gravação sonora, captada mui- cimes muito antigos, usados na produ- mar. E também ainda no martirológio ro- mesma aflição, ia à igreja, virava to recentemente por José Grilo, ex-pre- ção de resina – as célebres “lágrimas de mano, santo Isidoro de Quios, marinheiro Sa estátua de São Saturnino de costas para sidente da Freguesia de Valongo (desde Quios” ou mástique – chega a atingir tais da frota imperial de Roma, é decapitado a porta, e depois cozinhava papas debai- 2013, integra a União das Freguesias de proporções. por não querer voltar à idolatria pagã. xo da aroeira (Pistacia lentiscus L.) secular, Benavila e Valongo), ouve-se Luísa Nu- A utilização da aroeira de Valongo num Nestes três exemplos, a aroeira está sem- que ainda hoje se encontra junto à igre- nes Cordeiro e José Inácio Coutinho, am- culto que envolve São Saturnino, mis- pre presente como “cúmplice” da virtude. ja. Por vezes, mal se acabavam de comer bos nascidos na década de 30 do século sionário romano cristão assassinado por Senão vejamos: Susana não chega a ser as papas (eram sobretudo destinadas às passado, assegurarem a eficácia do ritual não querer renunciar a Cristo, acrescen- condenada à morte por apedrejamento crianças), começava logo a chover, talvez desde que todos os procedimentos fossem ta-lhe uma mais-valia por a fazer partici- porque o profeta Daniel, ainda criança, se por bondade do santo mártir padroeiro cumpridos. “Os condimentos eram dados par numa tradição simbólica que desde dispõe a interrogar os velhos juízes, que de Valongo, ou da árvore (da família das por sete Marias, virgens”, sublinha Luísa a antiguidade greco-romana, através de por despeito e vingança a acusavam de Anacardiáceas, à qual pertencem também Nunes Cordeiro. As papas eram cozinha- um conjunto de mitos, histórias e lendas, trair o marido com um jovem. Ao pergun- o cajueiro e a mangueira), ou resultado da das “debaixo das pernadas da aroeira, que associa a aroeira à integridade. Vejamos tar qual era a árvore junto da qual Susana boa conjunção das energias de todos. de tão longas tocavam o chão”, conta José como a lenda de São Saturnino evoca ou- cometera adultério, Daniel obtém respos- Tendo em conta a dramática descida Inácio Coutinho. Dois dias depois do ri- tros textos, desde logo o texto bíblico (Da- tas discordantes. O primeiro juiz inquiri- do nível da água da barragem do Mara- tual, a estátua de São Saturnino voltava à niel 13, versos 22-23), referente à história do refere uma aroeira (lentisco), o segun- nhão, observada no final do ano passado, sua posição costumeira, de frente para a de Susana e os velhos. Ameaçada por dois do, aponta um carrasco (ou carvalho). Do e o excelente estado de conservação da porta da Igreja. velhos juízes que a desejam sexualmente, que se conclui que ambos mentem. aroeira (classificada de interesse público O facto da aroeira de Valongo ter com- a bela e delicada Susana prefere rejeitá-los Por seu turno, a ninfa Diktina não che- desde 1995, mede actualmente 10,5 me- provadamente mais de 600 anos e um por- e ser fiel ao marido (honrando a Deus), ga a morrer afogada mas, por intermédio tros de altura, e tem 5 metros de largura te de árvore gigante seria suficiente para sabendo de antemão que ao fazê-lo será da deusa Artemisa, é transformada numa aroeira para que a sua virgindade seja intocável. E por fim, segundo as lendas de santos, as muitas torturas infligidas a Isidoro de Quios, antes de ser decapita- do, provocam a compaixão das aroeiras, fazendo-as chorar. Estas lágrimas evocam as referidas “lágrimas de Quios”, gotas de resina que saem de pequenos golpes feitos nos ramos de aroeira. Já em 1566, o sultão de Constantinopla, ávido por essas mesmas gotas de resina, conquista a ilha grega de Quios somente para controlar o comércio de mástique e proporcionar às mulheres do seu harém a “pastilha” que mastigavam diariamente para protegerem as gengivas e conservarem o bom hálito.

Aroeira monumental situada junto à igreja de Valongo (concelho de Avis) e pormenor das folhas e tronco. [A autora escreve de acordo com a antiga ortografia] TL Jan-FeV 2018 11

MEMÓRIAS DE JÚLIO ISIDRO

SIMONE – 80DR e degrau em degrau, Simone foi subindo a escada da vida. Sempre em frente, sempre para cima, mesmo que por vezes parada numa curva apertada, mas de cabeça erguida porque esta mulher que se define como D“chamo-me Simone e canto cantigas” não veio a este mundo para se passear por jar- dins floridos. estreou-se em pú- blico no primeiro Festival da Canção Por- tuguesa, realizado no cinema Império em 1958. Ainda não era o da RTP, apenas o da rádio com transmissão directa através da Emissora Nacional. Adivinho que nesse dia terá dito no ca- marim, “eu não entro”, tal como passados estes anos todos, ainda hoje o diz, mas não faz. Entra, empurrada por uma alma mais forte do que ela própria imagina, canta, encanta e enche o palco de sentimentos e emoções. Antes do nosso, vence nos anos seguin- tes, o Festival da rádio. E depois grava um disco de quatro canções, repartidas por quatro caloiros. Canta, “Sempre que Lis- boa canta” e é da cidade que a viu nascer que parte, país fora, em espectáculos onde agarrava o público com aquelas mãos que DR de forma voluptuosa nos cativam e fasci- Simone canta no nam. seu Musical. Simone entra no mundo da canção de Em baixo, uma forma avassaladora, vence o Festival Simone, Júlio da Figueira da Foz, e em 1964 dá um ar Isidro e Nuno do seu trajecto dramático com canções de Nazareth amor sofrido, como “Sempre tu amor” e Fernandes, autor “Alguém que teve coração”. da “Desfolhada Nesse mesmo ano participa no 1.º Gran- Portuguesa” de Prémio TV da Canção Portuguesa na RTP, e interpreta mais dois temas de amor, “Olhos nos olhos” e “Amar é ressurgir”. Não ganha, porque a “Oração “ de An- tónio Calvário apela ao nosso sentido mís- tico, mas promete a si própria que um dia a medalha de ouro iria pertencer-lhe. Foi no ano seguinte, 1965 que o “” aquece a alma dos jurados, espa- lhados pelas capitais de distrito. Bela, sensual, aparentando uma força, que supera a sua fragilidade, Simone é eleita Rainha da Rádio e voa para o Brasil Em 1969 volta a ganhar o Festival RTP Simone deita a mão a tudo e de tudo faz melhor, e a subir mais degraus, agora com onde participa no primeiro Festival Inter- da Canção com a “Desfolhada portugue- bem, jornalismo, rádio, apresentação de algum esforço, desta escada que não que- nacional da Canção do Rio de Janeiro para sa”, música de Nuno Nazareth Fernandes espectáculos e teatro. ro, não queremos que tenha fim à vista. cantar do poeta David Mourão Ferreira, e poema de José Carlos . Ganha a voz, quando alguém lhe diz, Simone tem 80 anos e as rugas que o “Começar de novo”. Aquele verso, “quem faz um filho, fá-lo “Simone tu és capaz”, tempo lhe trouxe, as amarguras, as ale- Os nomes das suas canções são o reflexo por gosto”, é considerado quase pecado. com quem ela interpreta um dueto, de- grias, as derrotas, as vitórias, as mãos, da sua forma de viver e amar, “Nos meus A resposta vem do público que é sem- certo depois de ter dito mais uma vez, “eu sempre aquelas mãos que nos envolvem braços outra vez” “Pingos de Chuva” ou pre quem mais ordena. não entro”. e cativam. “Fúria de viver”. A chegada a Portugal vinda do Eurofes- Esta crónica não é nem pretende ser a Está no palco a fazer de si própria no es- Expõe-se, e a sua vida íntima é prato de tival é uma das maiores manifestações de biografia de Simone de Macedo e Olivei- pectáculo “Simone, o Musical” e aquelas substância da coscuvilhice nacional, a in- que há memória por causa de uma canto- ra, nascida no dia 11 de Fevereiro de 1938. sete letras da palavra saudade, provocam veja, o despeito, a ‘moralidadezinha’, vão ra e de uma canção. Com a sua segunda voz, chegou aos lágrimas que escondemos recatadamente corroendo a sua imagem, mas Simone é Uma cantora que perde a voz logo a se- nossos dias, continua a lutar, a dizer o que numa “Conversa de camarim”. ela própria no direito de viver a sua vida guir. lhe vai na alma, a amar com a mesma força como quer. Parada entre dois degraus da escada, com que detesta, a acreditar num mundo [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia] 12 TL JAN-FEV 2018

Entrevista diogo infante UM HOMEM DE TEATRO NO TRINDADE

Aceitou de imediato a ideia de dirigir e programar o Teatro da Trindade. A Fundação Inatel quer ter um navio de muitas histórias a navegar nestas águas da cidade. É Diogo Infante que vai ao leme deste teatro, lugar de afetividades. Foi ali que se estreou como encenador, e tanto a sala Eça de Queiroz, que respira essa patine antiga, como o ressoar das palavras de hoje fazem do Trindade um lugar, no coração da cidade, e Lisboa hoje, vive muito deste bairro, alto, e Diogo Infante quer fazer parte deste corpo de criatividade

que o levou a aceitar o convite teatrais tenham o mesmo tipo de visão e variar? criando um pacote de contrapartidas para este cargo de director de ambição. Tentarei, sobretudo, que o teatro tenha atrativo para os nossos parceiros, com artístico e programador do A programação do Trindade vai ser mais uma identidade artística própria, que se o objetivo de dotarmos o teatro de Teatro da Trindade? mainstream, ou que estilo vai impor ao projete nos conteúdos mas também na melhores condições financeiras para que Há em primeiro lugar teatro? imagem do Trindade, na forma como nos possamos dar uma expressão ainda maior uma questão afetiva. Se entenderem Shakespeare como projetamos e como comunicamos. Quero à missão que abraçámos. Já estabelecemos Tenho por este teatro uma mainstream, certamente que sim. O promover uma relação de proximidade e vários contactos e aguardamos respostas. Oenorme ternura, não só porque foi critério passará sempre por textos de confiança com os nossos públicos, fazê- Estou optimista que consigamos esse aqui que me estreei como encenador, qualidade, clássicos ou não, capazes los sentir que o Trindade é deles, é nosso, reforço que nos permita materializar mas porque a configuração da sala de despertar no grande público a é de todos nós. Sobretudo acredito na ainda mais projetos e com mais impacto. principal, a relação palco/plateia, a curiosidade, o impulso que os leve a sair democratização do acesso à cultura e este É ator sempre e já em março vai estar acústica e sobretudo, a energia que de casa e vir ao teatro passar um serão. projeto procura devolver ao Trindade em palco, não quer deixar também essa emana do espaço, fazem do Trindade, Já disse que não quer um teatro vazio, esse espaço privilegiado de contacto com marca? na minha opinião, a melhor sala de mas que programação está a pensar? o grande público, com uma oferta regular Quero também dar o meu contributo teatro de Lisboa. Depois, é claro, Essencialmente uma programação de produção teatral, tirando partido da enquanto ator a um projeto que me é porque acreditei e acredito, que posso teatral, diversificada, capaz de atrair sua localização única e de um legado muito querido. Não consigo dissociar desenvolver um projeto artístico que públicos diversificados. Da comédia, histórico com 150 anos. em absoluto, o ator do diretor artístico. sirva o Trindade e . à tragédia, passando pelo musical e Também já disse que quer deixar uma Nem sei se é desejável. Creio que essas A programação ainda tem a marca da pelo teatro para a infância, creio que é marca, onde, no teatro, no cinema, na valências também me definem e podem, anterior diretora, só em setembro vai possível, dentro dos limites orçamentais televisão? em certo momento, constituir uma tudo mudar o que espera de facto mudar disponíveis, chegar a mais gente. Creio que me referia a uma ambição mais-valia, que não hesitarei em usar se no Trindade? Gostaria que o Trindade mantivesse um pessoal de sentir que o meu contributo entender que podem ajudar o projeto O paradigma. Quero implementar uma cunho de abrangência de públicos e que como artista, seria válido e consequente, que agora abracei. nova lógica de programação, assente estes se pudessem contaminar. Haverá se possível, em todas as áreas que Sei que tem projetos já pensados e essencialmente em temporadas teatrais ainda espaço para concertos e outros mencionou. prontos para o cinema, primeiro em com espetáculos, com carreiras de longa géneros de artes performativas, mas que A Fundação Inatel aumentou o curta metragem depois em longa, duração. O Trindade deixará de ser um ocuparão um espaço mais reduzido neste orçamento para o Teatro da Trindade, no quando é que poderemos ver o que está espaço essencialmente de acolhimento, projeto. O Trindade dispõe ainda de entanto, é o orçamento mais baixo com a fazer ou a pensar fazer? para passar a ser um centro de produção uma sala Estúdio, cuja escala se presta a que trabalhou, o que pode fazer? A curta metragem terminei-a apenas teatral. Claro que isto só será possível projetos mais intimistas, mais jovens e Estou, juntamente com o presidente do há duas semanas, está neste momento através de parcerias e sinergias que se mais contemporâneos. conselho de administração da fundação, em montagem. Depois há que fazer materializam em projetos e espetáculos, O teatro deve ter uma programação Francisco Madelino, empenhado em as misturas e a música, e esperar pelo de e com criadores, cujas estruturas própria, para que se identifique ou deve tentar captar financiamento privado, melhor. A verdade é que estou muito TL Jan-FeV 2018 13

Carlos Ramos

orgulhoso, não poderia ter pedido uma oportunidade de partilhar muitas das de público. São um público mais melhor estreia como realizador, com Nada me deixa tão ideias que aqui expus e que mereceram erudito ou nichos de público que se um elenco de notáveis que confiaram um franco acolhimento e apoio. As nossas esgotam rapidamente. A outra realidade em mim e na história que escrevi. Creio orgulhoso quando relações têm sido próximas e cúmplices, paralela é que algumas estruturas do que, conforme o resultado final, o e creio que há um entendimento claro teatro independente têm vindo a ser produtor Tino Navarro, irá definir uma ouço dizer que daquilo que me proponho fazer, dentro progressivamente penalizadas, numa estratégia, passe ela por fazer um circuito dos recursos disponíveis. política cultural pouco clara, cujo de festivais de cinema ou uma eventual sou um homem A sala Estúdio tem sido como que um exemplo máximo foi o encerramento da e pouco provável carreira comercial. viveiro de novas experiências, é assim Cornucópia. Vivemos por isso tempos Para já temos garantido o apoio da RTP, do teatro e por que vai continuar? de alguma turbulência no meio e há que inclui a exibição do filme em data Não me esqueço que foi lá que me estreei um clima de inquietação. Pessoalmente a anunciar. Quanto à longa metragem, enquanto sou como encenador. Dou muita importância creio que é possível uma convivência aguardo a abertura dos concursos para aos novos talentos e naturalmente que saudável entre uns e outros, sendo que primeiras obras, onde irei concorrer. do Teatro mas a sala estúdio tem essa vocação. Vamos, quando gerimos dinheiros públicos não O Teatro da Trindade está no coração da juntamente com a Inatel, relançar um nos podemos esquecer de que a ideia de cidade de Lisboa, o que pode ser a partir da Trindade! prémio de dramaturgia, cujo texto serviço público implica uma reflexão séria de agora? vencedor será produzido por nós e e altruísta. Idealmente, um ponto incontornável encenado por um criador convidado para Até onde acha que pode chegar como no panorama teatral lisboeta, onde as o efeito. diretor do Teatro da Trindade? pessoas se habituem a ir com frequência, Como é que está o teatro nacional, esta Não consigo nem quero fazer futurismo. com a garantia de que seja que espetáculo ideia de sucesso é apenas uma visão Para já tenho um contrato de três for, será certamente memorável. irrealista da real situação? anos que tenciono honrar com muito Não quer um teatro de acolhimento, até Creio que de um ponto de vista criativo entusiasmo, depois se verá. onde pode ir com esta ideia de teatro estamos muitíssimo bem servidos. Há Quer deixar uma marca no teatro e na e acha que vai ter apoio da Fundação uma série de plataformas criativas que vida artística portuguesa, hoje com Inatel? finalmente tiveram acesso a meios de 51 anos, como é que um dia quer ser Já conto com o apoio do conselho de produção sérios. A generalidade das lembrado? administração da Inatel, na pessoa do estruturas/teatros com capacidade de Não que faça muita diferença, mas seu presidente, que me deu liberdade e produção própria tem investido em ainda só tenho 50! Nada me deixa tão autonomia para desenvolver um projeto projetos e criadores contemporâneos, orgulhoso quando ouço dizer que sou artístico que entendesse adequado. Creio cujos espetáculos/performances tem um homem do teatro e por enquanto sou que reconheceram em mim a experiência carreiras tendencialmente mais curtas, do Teatro mas da Trindade! necessária para abraçar esse desafio. Tive não chegando a sedimentar correntes José Carlos Barreto 14 TL JAN-FEV 2018 desporto “Nunca houve confusões nos nossos jogos da Inatel”

orque é que as pessoas têm esta a malta mais gosta no basquetebol é de contrário. António Raminhos, ideia da Inatel ser para os mais bater a bola. E tu, nunca te meteste em confusões? velhos? Sentes-te forçado/pressionado a ter Eu não. Eu faço sempre uma coisa supra 36 anos, pai Talvez porque havia aquelas piada na tua equipa? Os teus colegas irritante, não reajo. Uma vez consegui das Marias e excursões para os idosos. Mas eu estão à espera que tenhas piada? expulsar um jogador com quatro ou cinco acho que isso é muito uma ideia Não, é malta tranquila. Eu gozo com faltas porque eu estava sempre em cima humorista, trabalha dos anos 90, 2000, já não é tanto eles, eles gozam comigo, é mesmo muito dele – que é uma coisa que eu faço bem em televisão, Passim. tranquilo. Há aqueles jogadores que eram no basquete, defender – e ele fazia-me Costumam implicar contigo por jogares federados antes de jogarem na Inatel e tudo, pisava, dava cotoveladas, e eu rádio e teatro, e na Inatel? Fazem alguns comentários? que jogam, obviamente, melhor do que ria-me e ele ainda ficava pior. E faço o Claro que sim, mas isso é malta que eu e que estão sempre a gozar, mas eu mesmo no trânsito, as pessoas buzinam e ainda tem tempo nunca veio cá, nunca jogaram na Inatel, não digo nada, tenho que me aguentar, eu rio-me e pronto, ficam piores do que se viessem experimentar é que viam o que remédio. Se eu gozo com os outros, estragadas. para encestar que custa, porque a malta aqui leva isto quem sou eu para não deixar que gozem Estás sempre a dizer que és parvo, e que no campeonato muito a sério. comigo? só dizes coisas parvas… Eu sou igual aqui como sou noutros Quantos treinos têm por semana? Mas são coisas parvas estudadas e de basquetebol sítios. Eu disse, “vou jogar na Inatel e Teoricamente dois, mas eu tento ir pelo pensadas. quero lá saber se as pessoas me conhecem menos a um treino. Isso tento sempre. O que é que te diferencia em relação aos da Inatel com ou não”, e fico mais nervoso quando Como faço muito desporto, em termos outros humoristas? os “Lobos da estou a jogar do que quando estou num físicos estou tranquilo, e termos técnicos Somos todos diferentes no sentido em espetáculo, mesmo que sejam só três já estive pior, não está mau. que cada um tem o seu estilo e desde que Malveira” pessoas a ver na bancada. Quantos cestos por jogo? se seja genuíno… o que eu acho que as A sério, porquê? Tendo em conta que são períodos de pessoas se identificam mais comigo é que Porque não estou na minha zona de 8 minutos, faço 2 a 3 cestos e 2 a 3 eu não sou diferente do que eu sou aqui, conforto. Jogo e até tenho feito umas assistências, normalmente. fora daqui ou nos palcos. A forma como exibições porreiras, mas é engraçado E o que é a tua mulher diz sobre reajo num palco é exatamente igual se for porque sinto-me sempre mais nervoso. quereres jogar basquetebol, de passares na rua ou noutro sítio. No início desta época aconteceu um ainda mais tempo fora de casa? Eras jornalista no A Capital. Quando o episódio engraçado, fizemos um jogo de Ela acha bem que eu me entretenha, jornal fechou viste aí uma oportunidade treino e na bancada começaram todos a desde que continue a dar apoio lá em de fazer humor? filmar. O meu pensamento foi “fogo, isto casa. Aliás, isso é uma das desvantagens Fui para o mundo do desemprego, é mesmo para ver se eu faço asneira e da Inatel, porque os jogos e treinos são comecei a ver muita comédia, programas partilharem nas redes sociais”. Mas isto sempre às 8h da noite. como o “Levanta-te e ri” e comecei a é bom para mim, este receio, ajuda-me Ela já assistiu a algum jogo? escrever umas coisas na mesma altura a trabalhar esta área, a capacidade de Ela nunca viu nenhum jogo. Mas houve do boom dos blogues. Foi nessa altura relaxar. um jogo na Malveira que teve a maior que comecei a escrever mais, comecei Já ouviste alguma coisa da bancada que audiência de sempre. Eu fiz um anúncio, a interessar-me muito por comédia e não gostaste? uma brincadeira/pomo ao nosso jogo com naturalmente surgiu. O Carlos Moura foi Não, não, até pedem para tirar fotos no o Carlos Andrade, jogador do Benfica, o meu mestre, atuamos um ano juntos e final. Às vezes até me sinto constrangido onde eu brinco com um vídeo e digo: a partir daí comecei a ter mais propostas. porque os outros jogadores, das equipas “Fizeste muita coisa, mas nunca jogaste E se é para ganhar o mesmo que ganhava adversárias podem pensar que sou no Inatel, isso é que devias de ter feito.” como jornalista, optei por fazer o que eu vedeta, mas não é nada disso. Foi num jogo contra Queluz, há dois anos gosto. Mas afinal, onde é que podemos ver o (2016). O vídeo foi muito partilhado. Já O que é que ainda queres fazer? teu talento para o basquetebol? pensei em fazer mais. Esta vida é muito instável, não posso Eu jogo no clube hiperativo da Malveira, As filhas, as tuas Marias, interessam-se pensar muito no que ainda vou fazer. somos os Lobos da Malveira, os “Malveira pelo basquetebol? Tenho isto agora, e depois logo se vê. Não Wolves”, para internacionalizar a coisa. Gostam mais de natação. Já assistiram a posso pensar muito, nem fazer muitos Comecei a treinar lá em 2011/2012, ainda um jogo mas estavam mais entretidas em planos. eles estavam no campeonato federado, subir e descer escadas da bancada. Por exemplo, agora sei que até abril tenho em 2014 decidimos vir para a Inatel, e Na Inatel há muito esta relação familiar a minha vida orientada (RTP, Teatro, este ano já temos duas equipas na Inatel. dentro das equipas, sentes isso nos Rádio), depois de abril tenho ideia de Já foram campeões? Lobos da Malveira? alguns projetos online que quero fazer, Não, isso não. Nós levamos a sério em Nós somos muito gozões uns com os coisas que ainda só estão na minha termos de atitude, não significa que outros, isso tem a ver com a nossa união. cabeça. Mas pronto, funciona muito sejamos campeões. Eu pelo menos levo É tudo malta que se dá bem, então assim. isto mesmo a sério e ralho com a malta gozamos muito uns com os outros. Arrastaste a família contigo nesta que não leva. Acabam os jogos e vamos logo estragar aventura de fazer humor… Como é que surge o teu interesse pelo tudo a comer hambúrguer ou outras Já estávamos juntos, eu já era casado, basquetebol? coisas, fazemos sempre jantares de Natal, com a minha mulher foi natural. Ela Eu nunca cheguei a ser federado no fim de época, é fácil estarmos juntos e sempre me apoiou. basquetebol, joguei basquete e vólei reunimos sempre muita gente. Usa-la como cobaia nas tuas piadas? no Sporting quando era miúdo, tinha Como é que reagem os jogadores das Sim, eu digo-lhe: “Ouve lá esta…”, e ela obviamente a ver com a altura, e aos outras equipas quando te vêem no outro diz: “Sim, está giro.” Já sei que não tem 18, 19 anos comecei a meter-me com as lado do campo? piada. miúdas e deixei o desporto. Quando Eu às vezes encontro malta amiga nas Quando começaste com as Marias tiveste voltei ao basquetebol, voltei a recuperar outras equipas com quem joguei, como muitos comentários negativos. Ainda te todo o interesse que tinha no desporto, a malta da RTP, e vão sempre mandando incomodam esses comentários? de ver jogos até às tantas da manhã, de bocas, mas é tranquilo, e nunca houve Os comentários negativos já não me treinar e acompanhar mais a modalidade, confusões nos nossos jogos da Inatel, afetam como afetavam antes, no início e de agarrar a bola, porque aquilo que apesar da Liga Inatel ter fama do afetavam muito, agora nem por isso. TL Jan-FeV 2018 15

“Nunca houve confusões nos nossos jogos da Inatel”

Lês os comentários das redes sociais? os meus pais e isso ajuda-me a pensar Quando são muitos, passo os olhos e nisso”; “Quando for pai quero ter as comento um ou outro. Mas antes, quando mesmas brincadeiras, quero ser assim”. comecei a fazer os vídeos, os comentários “As Marias” vão acabar? negativos incomodavam mais. Os vídeos É possível. Tem que ser, faz parte da surgiram por acaso e sem maldade, são vida. Os vídeos são sempre feitos com o um reflexo daquilo que já fazíamos… consentimento delas, mais agora porque Eu estou sempre a fazer asneira com as estão mais crescidas. Sempre que tenho miúdas, mas são coisas partilhadas entre uma ideia pergunto se elas concordam. nós, são brincadeiras que elas fazem Há pouco partilhei no instagram um comigo e eu com elas; e quando começo vídeo delas a correr à frente de um carro, a receber comentários negativos sobre algo que já fazíamos, porque eu não crio isso fez-me muita confusão, porque as as situações para o vídeo, as situações “Fico mais pessoas não estavam a perceber o que eu já existiram, o que faço é gravar quando queria fazer, e eu sei o que tenho em casa, voltamos a fazer. E com este vídeo foi o nervoso quando sei a relação que eu tenho com as miúdas, que aconteceu, perguntei: “Querem fazer e então isso fazia-me confusão. aquela brincadeira de correr na estrada? estou a jogar do Mas ao mesmo tempo tinha muitas E posso gravar?”... “Podes”, e pronto. reações contrárias, comentários como: “Os Quando eram pequenas… que quando estou teus vídeos fazem-me lembrar a relação Fazia câmara oculta senão não tinha que eu tinha com o meu pai”; “Quem me uma reação espontânea. E hoje as num espetáculo” dera que eu tivesse tido essa relação com miúdas pedem-me para ver os vídeos delas quando eram mais pequenas, e isso responde ao objetivo que eu tinha quando comecei a fazer os vídeos. Eu não tenho muitas recordações da minha infância, e criei os vídeos para isso, para elas se verem, para verem como eram. E quando elas estão a ver os vídeos eu estou a olhar para elas, estou com aquele sorriso, e isso para mim é o suficiente. Já te arrependeste de alguma coisa que tenhas publicado? Sim, já aconteceu, mas mais eu do que quem está à minha volta que dizem sempre que não devia ter apagado, mas isso só aconteceu duas vezes e já não me lembro muito bem o que foi. Hoje tenho mais atenção com aquilo que publico, mas nos espetáculos ao vivo digo tudo como os malucos, aí não poupo ninguém. Qual a importância que o humor tem na tua vida, e o impacto do teu humor na vida de quem te acompanha? No outro dia recebi um dos maiores feedbacks que podia ter recibo. Estava no ginásio e uma senhora veio ter comigo e disse-me: “Eu tenho um filho com síndrome de Asperger”, e eu pensei, “Bem o que é que eu já disse sobre isto que já vou levar na cabeça”. Respondi que sabia porque tenho um primo que também tem, estava familiarizado. E ela contou-me: “O meu filho nunca quer ir para a escola, nunca quer sair do carro, e agora, desde que te ouve na RFM, ele entra no carro, vai para escola e assim que terminas de falar ele sai do carro para ir para as aulas.” Isto para mim foi incrível. Uma pessoa uma vez disse-me que eu fazia comédia para mostrar o outro lado, para dar a outra perspetiva da realidade e isso faz sentido. Eu tenho a tendência de numa má situação dizer uma parvoíce, e com isso não pretendo magoar, nem ofender, é só desconstruir, aligeirar, dar outra perspetiva da realidade. Há quem goste e há quem não goste. Maria João Costa 16 TL JAN-FEV 2018

DR hegamos ao Inatel Flores hotel. Do quarto virado para o mar, quando os dias são luminosos, Viagem avista-se a ilha do Corvo. Ali lem- bramos o que disse Raul Bran- dão, no livro que resultou da sua viagem, em 1924, aos Açores: “Já Cpercebi que o que as ilhas têm de mais belo e as completa é a ilha que está em frente”, (As Ilhas Desconhecidas). Em poucos dias percorremos uma das mais pequenas ilhas do arquipélago açoria- no. O programa inclui passeios por vários miradouros, onde se podem contemplar paisagens de uma beleza em estado puro. Ao longo do percurso podem contar-se de- zenas de cascatas. Na zona central da ilha encontramos as misteriosas sete Lagoas: Funda, Branca, Seca, Rasa, Comprida, Lom- ba, e Negra, a mais profunda da região. Seguimos para a Aldeia da Cuada, depois vamos em direção à freguesia mais oci- dental da Europa, Fajã Grande. Visita-se a cascata do Poço do Bacalhau. Continuamos rumo à Rocha dos Bordões, um dos monu- mentos naturais mais famosos dos Açores, que resulta de um fenómeno geológico caracterizado por um conjunto regular de altas colunas basálticas. No regresso percor- Açores: Flores e São Miguel remos a parte sul das Flores, com passagem pelo concelho das Lajes, onde se situa o porto que serve toda a ilha. Para os amantes de caminhadas na na- Duas encantadoras ilhas tureza há uma grande variedade de trilhos pedestres. Para os mais aventureiros há imensas atividades: passeios de jipe, caça Do profundo azul do Atlântico à paisagem verdejante, o vento murmura submarina, mergulho subaquático, canyo- ning, expedições ao Corvo. Uma viagem um verso camoniano: “Verdes são os campos”. Entre florestas de Laurissilva, de barco à volta da ilha pode permitir, de- flores diversas, prados, rochas, cascatas e lagoas, descobrimos uma nascente pendendo das condições meteorológicas, observar golfinhos ou baleias, habituais vi- de encantos naturais que despertam a plenitude dos sentidos sitantes destas paragens. FOTOS: JOSÉ FRADE/ARQUIVO TL

Lagoas, crateras e poetas Aterramos em Ponta Delgada, cidade onde Natália Correia teve o seu primeiro contacto com a “mátria”, em 1923. Lembramos tam- bém, entre outros ilustres micaelenses, Ante- ro de Quental, que ali nasceu em 1842. Duas grandes vozes insulares da literatura portu- guesa, cujas obras podem ser revisitadas a qualquer momento. Sem marcação prévia. Iniciamos a nossa aventura pela costa sul da ilha de São Miguel, em direção às Fur- nas. Visitamos Lagoa e Caldeiras, onde se prepara o afamado cozido das Furnas. De- pois de provar este prato, num restaurante da região, segue-se um passeio pelo jardim botânico do parque Terra Nostra. Conti- nuamos pela costa norte com paragem na plantação de chá e fábrica Gorreana. Re- gressamos pela Serra de Água de Pau, com subida até à Lagoa do Fogo, onde podemos apreciar um dos mais belos cenários da ilha. No dia seguinte subimos ao maciço mon- tanhoso das Sete Cidades. Paragem nos mi- radouros do Pico de Carvão e Vista do Rei para ver os lagos verde e azul que formam a Lagoa das Sete Cidades. Descida ao vale CIRCUITO FLORES E SÃO MIGUEL onde é possível visitar esta emblemática 15 a 21 de julho | 5 a 11 de setembro | freguesia no interior da cratera. Continua- 6 a 12 de outubro mos pela costa norte, contornando a ilha a Informações: Tel. 211155779 | partir do extremo ocidental, passando pelas [email protected] | www.inatel.pt freguesias Ferraria, Mosteiros e Capelas. De tarde, no regresso a Ponta Delgada, visita- mos uma plantação de ananases em estufa. Antes de partir da ilha de São Miguel ain- da passeamos pelo centro histórico de Pon- ta Delgada, acompanhados por um guia local, para conhecer os monumentos e lo- cais mais emblemáticos: Portas da Cidade, do século XVIII, Portas do Mar, Igreja Ma- triz de São Sebastião, de estilo gótico, Igreja de São Pedro, Mercado da Graça, Igreja de Nossa Senhora da Conceição, Santuário do Santo Cristo, Campo de São Francisco. TL Jan-FeV 2018 17

CAMPEONATO GASTRONÓMICO INATEL Os melhores pratos campeonato gastronómico põe um formulário entregue antes da refeição. à prova iguarias e especialida- O campeonato é disputado em três fa- des regionais e os cozinheiros ses. Na primeira fase a nível regional são dos diferentes hotéis Inatel, aos apurados os dois melhores participantes fins de semana, até 26 de maio. de cada região que seguem para a segun- As próximas provas serão da fase, onde se decidem os três finalistas. disputadas entre as unidades A prova final decorre no hotel da Foz Ohoteleiras de Cerveira/Entre-os-Rios, São do Arelho, 25 e 26 de maio, com a parti- Pedro do Sul/Entre-os-Rios, e Albufeira/ cipação de duas equipas convidadas, as Foz do Arelho, Castelo de Vide/Albufeira, unidades hoteleiras das Flores e de Porto 9 e 10; Foz do Arelho/Albufeira, Foz do Santo. Arelho/Castelo de Vide, 23 e 24 de março. Nas próximas edições do Tempo Livre A avaliação dos pratos é feita pelos publicaremos mais receitas dos vários ho- clientes, mediante o preenchimento de téis Inatel.

Castelo de Vide Piódão Hotel Jardim Hotel

POEJADA DE BACALHAU CABRITO ASSADO NO FORNO COM MIGAS SERRANAS

Ingredientes Cabrito Assado Ingredientes (10 pessoas) 4 postas de bacalhau demolhado; 500 3,5 kg cabrito; 50 gr alho; 100 gr sal grosso; g pão de trigo caseiro; 1,50 dl azeite; 1 200 ml azeite; 30 gr pimentão ; molho de poejos; 4 ovos; 1 queijo de 250 ml vinho branco; 20 gr ervas aromáti- ovelha; sal q.b. cas; 300 gr cebola; 3 folhas de louro; 100 gr banha. Preparação -frade (800 gr); 1 broa de milho; 50 gr Corte o pão às fatias. Corte o queijo Preparação: Cortar o cabrito em pedaços. alho; (meia cura ou fresco) aos quartos. Lave Num recipiente coloque o alho, um fio de 50 ml azeite; 20 gr sal grosso; 250 ml vina- os poejos, corte as partes tenras e pise- azeite, pimentão doce, ervas aromáticas, gre vinho branco. as ligeiramente. Num tacho, aloure sal, louro e vinho branco. Esmague tudo os poejos no azeite acrescente água para que fique uma massa. Com essa Preparação: Coza o caldo verde em água temperada com sal e coza o bacalhau. para escalfarem. Por cima disponha massa barre o cabrito, deixando a marinar temperada com sal. Depois de cozido, Depois de cozido retire-o. o queijo e deixe cozer um pouco. de um dia para o outro. Coloque num escorra bem e reserve. Num tacho, coloque Leve novamente ao lume o tacho e Coloque o bacalhau na poejada e sirva tabuleiro o cabrito com um pouco de o azeite, o alho picado e deixe alourar, deite no caldo o pão e esmigalhe-o, imediatamente. banha e leve ao forno a assar. depois junte o feijão-frade e misture o deixando o preparado sobre o grosso. preparado anterior. Coloque o caldo verde Momentos antes de servir, parta os ovos Migas Serranas Ingredientes (10 pessoas) juntamente com o miolo da broa. Envolva e coloque-os um a um dentro do tacho 2 kg caldo verde fresco;1 lata de feijão- tudo muito bem e tempere por fim com

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Os próximos tempos nos palcos do Teatro da Trindade

Carlos Ramos Neste período de transição para a atual direção artística de Diogo Infante, destacam-se duas produções na sala Eça de Queiroz, principal palco do Trindade: O Deus da Carnificina, uma comédia negra de Yasmina Reza, e um musical baseado na obra O Principezinho, de Saint-Exupéry. Em paralelo, na sala Estúdio, são apresentados o espetáculo-instalação Conversas de Corpo e, um projeto educativo que liga as escolas ao Teatro e à Literatura, Ulisses – Uma Odisseia Sonora

no espaço, em nós. O chão é coberto por O DEUS DA diferentes texturas e podia ser o chão da casa, do quarto, do parque… CARNIFICINA O espetáculo-instalação Conversas de Corpo é uma criação de Clara Bevilaqua A 1 de março estreia O Deus da Carnificina, e Guilherme Calegari, que asseguram texto de Yasmina Reza, com adaptação, também a interpretação. A direção artís- tradução e encenação de Diogo Infante. tica está a cargo de Fernanda Bevilaqua. Uma comédia negra centrada na natureza Uma coapresentação Teatro da Trindade violenta da condição humana. Inatel e Lagoa Coletivo. «O Deus da Carnificina é uma tragédia cómica ou uma comédia trágica se pre- ferirem, onde a natureza humana e toda a sua evolução social, intelectual e psico- ULISSES – UMA lógica se desmorona quando impulsos primários e básicos são despoletados por ODISSEIA SONORA uma discussão parental. Nada nos tira do sério ou potencia o nosso lado animalesco De 29 março a 28 abril na sala Estúdio, e protetor como uma investida contra os pela mão de Teresa Sobral, apresenta-se nossos filhos. um espetáculo pensado para os jovens, Este espetáculo constitui uma oportu- onde a história-poema sobre Ulisses é nidade para explorar vários registos de contada de forma clara e estimulante, e comédia negra onde o sarcasmo, a ironia que pretende criar uma aproximação à e o cinismo são instrumentos a que o tex- “Odisseia” de Homero, obra recomenda- to recorre e que os atores naturalmente Yuji Kodato da no Plano Nacional de Leitura. integram no jogo, e que, no combate que Sófocles fez dele um cínico, Eurípides se adivinha, provocam risos. Alguns são um demagogo, Platão o protótipo do risos nervosos, descontrolados por vezes, mentiroso, Shakespeare o modelo do po- como quem assiste a um funeral e se ri pe- lítico e Giraudoux o ancestral de todos rante uma situação trágica, mas que aos os embaixadores céticos e indiferentes. nossos olhos resulta, involuntariamente, Dante fê-lo chegar ao canto XXVI do In- caricata, ridícula até. ferno. Quando olhamos ao espelho, por vezes, Nós, fazemos dele um rei punk e con- o nosso reflexo é adulterado pelo nosso tamos as suas aventuras e desventuras cérebro, de modo a que a perceção dos numa Odisseia sonora que deixa todos nossos receios mais profundos, seja suavi- agarrados à cadeira. zada, como que nos preparando para uma Ulisses – Uma Odisseia Sonora conta no realidade não desejada. O Deus da Carni- elenco com José Raposo, Miguel Curado ficina tem esse mesmo efeito em nós. No e Teresa Sobral e música de Miguel So- fundo desejamos não ser nenhuma das bral Curado. Uma produção do Teatro da personagens aqui retratadas, mas não nos Trindade Inatel. conseguimos impedir de identificar deter- minados comportamentos, que embora condenemos nos são demasiadamente fa- mads schmidt rasmussen miliares», Diogo Infante. O Deus da Carnificina está em cena até 29 de abril, conta, no elenco, com Diogo virtuais em 3D e efeitos visuais de vídeo Music com Àngel Llàcer, Manu Guix e La Infante, Jorge Mourato, Patrícia Tavares e mapping criam uma cenografia que nos Perla 29 (Espanha). Rita Salema. Uma coprodução Teatro da transporta para o mundo fantástico d’O Trindade Inatel e Plano 6. Principezinho: do deserto, às paisagens verdejantes, passando pelo asteroide B612, pelo planeta do rei ou pelo mundo CONVERSAS do geógrafo. O PRINCIPEZINHO Estreado originalmente em Espanha, DE CORPO onde foi um enorme sucesso, este musi- Musical em cena a partir de 10 de março cal conta em Portugal com a encenação e Até 31 de março está em cena na sala Estú- até 29 de abril que nos transporta pelos adaptação de Pedro Penim (membro fun- dio um espetáculo-instalação para e com vários imaginários da famosíssima obra dador do Teatro Praga e vencedor de um crianças dos 0 aos 3 anos, as suas famílias de Saint-Exupéry. A história encantadora Globo de Ouro e do Prémio SPA Autores) e e amigos. de um rapazinho com cabelos cor de ouro a interpretação de Mariana Pacheco, Pau- Ao longo de 45 minutos acompanha- e de um piloto perdido no deserto. lo Vintém, Joana de Brito Silva, José Lobo mos o encontro e as peripécias de dois Música, canções, atores, personagens e Diogo Bach, numa produção Universal performers e a sua ressonância no tempo, 20 TL JAN-FEV 2018

BTT INATEL Coluna Inatel no DO provedor Circuito Nacional de volta aos trilhos Campeonato das circuito nacional de BTT Fundação Inatel percorre o país de norte a sul, de profissões Omarço a outubro, com passagem por eja foi palco de mais uma 11 etapas. edição do Campeonato das A primeira partida em Grândola e Olivei- BProfissões, entre 25 de fevereiro ra do Hospital, agendada para 11 de março, e 2 de março, com o objetivo de na 4.ª Maratona BTT “Serras de Grândola”, apurar o campeão nacional em cada organização Clube BTT Grândola, e na 12.ª uma das profissões a concurso, Maratona de BTT – Oliveira do Hospital, que poderá vir a assegurar a Manuel Camacho organização BTT Lazer da ARCC. representação de Portugal na 6.ª [email protected] Mais tarde seguem-se os distritos de Beja, amigos, ou individual, sem limites de ida- edição do Campeonato Europeu Setúbal, Leiria, Coimbra, Vila Real, Viseu e de e de vontade de pedalar. das Profissões, que decorrerá na Guarda. O circuito de BTT pretende levar Este circuito reúne as melhores provas Hungria, em setembro deste ano, e xcuse Me” – assim se chama o desporto e o turismo de natureza a todos, de BTT do país em parceria com os CCD na 45.ª edição do Campeonato do o primeiro álbum lançado aos mais competitivos e aos que procuram (Centros Culturais e Desportivos) da Fun- Mundo, que terá lugar na Rússia em “ por , no dia apenas um momento de lazer, com família, dação Inatel. agosto de 2019. 2 de agosto de 2016. Estas provas dirigem-se a No entanto, até março jovens entre os 17 e os 25 anos, de 2017, salvo alguns que concluíram ou se encontram círculos mais interessados a frequentar um percurso de e bemE informados, poucos sabiam qualificação, em modalidades de dos conteúdos, qualidade e mesmo o educação e formação profissional. género deste álbum. Durante cinco dias são colocados Acontece que a 5 de março de 2017, à prova nas mais diferentes áreas e a canção de Luísa Sobral “Amar pelos profissões a concurso, avaliados e Dois”, cantada por Salvador Sobral, qualificados à próxima fase. vence o Festival da RTP da Canção. Os campeonatos têm lugar de 2 Indiscutivelmente a canção era em 2 anos e reúnem os classificados e é linda; mas ainda assim muitos com as melhores pontuações na fase opinavam que “não era festivaleira”, de pré-seleção, que disputam entre que o “rapaz” parecia estranho, que era si o título de campeão nacional demasiado simples para as sofisticadas em cada profissão. Os campeões coreografias do Euro festival… Enfim, da fase nacional candidatam-se a aquela atitude muito habitual de quem uma participação nos Campeonatos não entende e por isso põe em dúvida Europeu e Mundial das Profissões, quase tudo. organizados, respetivamente, pela Mas em 13 de maio a representação Entrega de Prémios Composição Acordeão WorldSkills Europe e pela WorldSkills portuguesa, com a canção “Amar pelos International. Dois” cantada por Salvador Sobral, Fundação Inatel e a Associação Fole- para o desenvolvimento do instrumento A Fundação Inatel tem estado ganhou o Festival da Eurovisão. E não fest juntaram-se na promoção e de- e, mais nomeadamente, para o reportório cada vez mais presente e ativa na foi de qualquer maneira: Portugal teve Asenvolvimento do acordeão e do re- português e para o acordeão”. Após a en- qualificação e certificação escolar a mais alta classificação da história portório português. trega de prémios, Jorge Ferreira interpre- e profissional, sendo esta uma das do Festival, foi uma das três únicas No passado dia 7 de fevereiro mais de tou as obras dos laureados numa estreia missões a que se propõe cumprir canções interpretadas na língua oficial 150 pessoas marcaram presença no Teatro emitida em direto para a Antena 2. diariamente. O Campeonato das do país, e o Salvador apresentou-se da Trindade para assistir à entrega de pré- Durante a entrega de prémios, Francis- Profissões faz parte da ‘caminhada’ em palco apenas acompanhado de um mios da 1.ª edição do Prémio Composição co Madelino, presidente da Fundação Ina- a percorrer, apoiando a formação, microfone. para Acordeão. tel, realçou a importância de promover a não apenas dos mais jovens, mas A sua qualidade musical, emocional e O 1.º prémio não foi atribuído por se cultura popular portuguesa: “O acordeão a formação contínua, ao longo da interpretativa foi suficiente para deixar tratar de um júri muito exigente, o 2.º está muito ligado a esse imaginário, mas vida que ‘estes jovens’ terão que rendida toda uma plateia, a Europa prémio foi atribuído ao compositor Hugo não ficamos por aqui – sublinhou –, a fun- continuar a praticar. e o mundo. E tudo de uma maneira Vasco Reis, pela obra Metamorphosis and dação quer continuar a apoiar outros pro- simples, despretensiosa e autêntica. Resonances for accordion solo, e o 3.º pré- jetos que se desenvolvem em Portugal e Não foram necessários efeitos mio coube a Gerson de Sousa Batista, pela que fazem esta ligação entre a tradição e especiais, cenários psicadélicos, nem obra Os Suspiros de Dédalo. a inovação.” sequer elevar os decibéis. Apenas O diretor da Associação Folefest, músico A 2.ª edição do Prémio Composição Concurso uma melodia harmoniosa, vestida de e compositor, Jorge Paulo Ferreira, espera para Acordeão já está a decorrer e termina palavras contidas e fáceis de entender, que esta primeira edição do prémio de no próximo dia 31 de maio, com a revela- “Novos Textos” apoiadas por uma orquestração muito composição “seja um marco importante ção dos vencedores. Vencedores anunciados bem conseguida. no Dia Mundial do Teatro Era a confirmação de que, quando há qualidade e conteúdo, qualquer obra de o próximo dia 27 de março são arte será sempre tanto mais rica quanto POPular – Inatel na Rua anunciados os vencedores da mais simples e genuína. Em Viana do Castelo, Funchal, Viseu, Leiria, Bragança, Faro, Lisboa e Braga NXXI edição do “Novos Textos”, A partir daí não foram poucos no Teatro da Trindade. A concurso os elogios e prémios atribuídos a terceira edição do POPular decorre estão 27 textos. O júri é constituído Salvador Sobral, quer a nível nacional em Viana do Castelo, 5 a 7 de abril, pela atriz e encenadora Cucha quer internacional. Mas ele ali AFunchal, 19 a 21 de abril, Viseu, 29 de Carvalheiro, pela diretora artística estava, como se nada fosse com ele; abril a 1 de maio, Leiria, 24 a 26 de maio, da companhia de “Teatro da Terra” com a naturalidade daqueles que Bragança, 7 a 9 de junho, Faro, 21 a 23 de Maria João Luís e pelo dramaturgo simplesmente sentem o prazer que junho, Lisboa, 12 a 14 de julho, e em Bra- Rui Pina Coelho. a sua arte e talento lhes dá e por isso ga, 26 a 28 de julho. A Fundação Inatel, com o intuito mesmo não se sentem o centro do Do teatro à dança, da música à etnogra- de estimular a escrita dramatúrgica mundo, nem de coisa nenhuma. fia, o POPular – Inatel na Rua conta com e aparecimento de novos autores, Obrigado Salvador pelo grande a participação dos Centros de Cultura e criou em 1991 o Concurso Inatel artista de referência que és no meu País Desporto (CCD). Esta iniciativa, organi- | Teatro Novos Textos. É um dos e espero em breve ver-te no velhinho zada pela Fundação Inatel, com a parceria concursos mais antigos na área Teatro da Trindade como estava das câmaras municipais locais, pretende da escrita para teatro, tendo duas previsto. divulgar as práticas culturais tradicionais vertentes, Grande Prémio Inatel e Quando chegares de novo aos palcos, apoiadas pela fundação, no cumprimento Prémio Miguel Rovisco, destinado a era bonito que alguns te dissessem... da sua missão e enquanto entidade con- jovens dramaturgos até aos 25 anos. Excuse me! sultora da Unesco para a salvaguarda do património cultural imaterial. TL Jan-FeV 2018 21

O Ciclo Mundos regressa ao Trindade, com artistas de diferentes nacionalidades que trazem o melhor da música do mundo ao coração de Lisboa. A Fundação Inatel, em parceria com o Festival Músicas do Mundo de Sines, apresentou a programação da 3.ª edição do Ciclo Mundos, a começar com Zap Mama e Elida Almeida, em fevereiro, anunciando o regresso de Bachar Mar-Khalifé, mas agora em Trio, em maio, Alibombo, Yazz Ahmed, Las Maravillas de Mali, e Tank & The Bangas, em junho. No mês de setembro, Gaye Su Akyol, outubro, Park Jiha, e Mamadou Diabaté, em novembro.

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Heróis e amantes Uma mão cheia de filmes de cineastas de culto, como Steven Spielberg, Eastwood, Guillermo del Toro, Paul Thomas Anderson, entre outros. Obviamente, imperdíveis cinema relação entre Reynolds Woodcock, o célebre The Post, de Steven Spielberg | EUA, 2017 costureiro londrino da realeza, actrizes e da Com: Tom Hanks, Meryl Streep, Alison Brie, “socialite” dos anos 50 e Alma, uma jovem David Cross, Sarah Paulson. mulher de carácter forte que rapidamente •O cinema de ascenderá à condição de musa e amante. Do Spielberg não é, mesmo autor do megalómano “Magnolia” e como se sabe, só do prodigioso “Haverá Sangue”. “aventura” e aparato tecnológico é também 15:17 Destino Paris, de Clint Eastwood | revisitação histórica, EUA, 2017 como o comprovam Com: Anthony Sadler, Alex Skarlatos, “Amistad”, “A Lista de Specen Stone, Jenna Fischer, Judy Greer Schindler”, “O Resgate •Seja qual for o género e as personagens, do Soldado Ryan” e a obra de Eastwood continua, sobretudo “How does it feel, “Lincoln”. Em “The nos últimos anos, a pisar os terrenos da Post”, a sua mais recente obra, é o poder da morte e dum certo “voyeurismo”. Último imprensa norte-americana nos idos anos tomo da trilogia do “herói americano”, to be on your own”? 70 que vem à baila, através da denúncia (“American Sniper”, do real envolvimento político e militar do “Sully – Milagre ntrou 2018 em força e já marcadas para 13 de março no Coliseu Pentágono na guerra do Vietname. no rio Hudson”) o com uma agenda repleta de do Porto e a 15 de março no Convento novo filme do autor concertos de qualidade a de São Francisco em Coimbra. Com A Forma da Água, de Guillermo del Toro | de “Imperdoável” nível nacional. No entanto, uma estética intimista, o músico Canadá / EUA, 2017 aparece centrado no em janeiro tivemos notícias francês multi-instrumentista iniciou a Com: Sally Hawkins, acto de coragem de devastadoras: a morte de Ray sua carreira discográfica no início dos Octavia Spencer, três norte-americanos Thomas, flautista, vocalista, anos 90 e é sobejamente conhecido Michael Shannon, que evitaram, em 21 Ecompositor e fundador da banda do público português através das Richard Jenkins de agosto de 2015, um britânica progressiva Moody Blues; bandas sonoras para as películas “O •Mais do que uma ataque terrorista num Dolores O’Ryan vocalista do grupo Fabuloso Destino de Amélie Poulain”, fábula de amor ao comboio que ligava Bruxelas a Paris. pop/rock Irlandês Cranberries, que ou “Goodbye Lenin”. O Londrino jeito de a “bela e o conheceu sucesso nos anos 90 e ainda Benjamin Clementine regressa aos monstro”, – entre Maria by Callas, de Tom Volf | França, 2017 Madalena Iglésias. Esta última ligada nossos palcos para apresentar o seu uma empregada de Documentário. Estreia a 22/2. à história da música portuguesa com a mais recente álbum “I Tell a Fly” a 26 um complexo militar •Uma homenagem bastante interessante a interpretação do conhecido “”, de março no Centro Cultural de Viana científico e uma criatura anfíbia humanóide esse grande ícone feminino de voz única, composição vencedora do Festival da do Castelo, 27 de março no CAE da aí enclausurada para estudo – del Toro produzido quarenta anos depois da sua Canção em 1966, de Marco Canelhas. Figueira da Foz e a 29 de março no filmou a revelação do lado negro do ser morte. Excelentes são É com pesar que presto neste espaço Campo Pequeno em Lisboa. Com o seu humano. Subtil e poderoso. as imagens (algumas a minha sentida homenagem a todos primeiro álbum “At Least For Now” raras) de arquivo onde eles. Depois do sincero e justo tributo conquistou uma legião de fãs e ganhou Todo o Dinheiro do Mundo, de Ridley Scott pontificam Onassis, iniciamos a nossa viagem sonora por em 2015 o Prémio Mercury Prize. O | EUA, 2017 Marilyn Monroe, Alain terras americanas com a esperada último destaque vai para a banda de Com: Mark Wahlberg, Christopher Delon, Yves Saint- visita do grande músico e poeta Bob rock alternativo que conquistou o Plummer, Michelle Laurent, J.F. Kennedy, Dylan. O cantautor controverso de nosso público, os canadienses Arcade Williams, Olivia Grant, Luchino Visconti, estética folk, country, blues and rock, Fire. O concerto será a 23 de abril no Charlie Plummer Winston Churchill, que deu voz à geração dos anos 60 na Campo Pequeno em Lisboa. A banda •Um thriller Grace Kelly e Liz Taylor, escolha do caminho da liberdade, vem nasceu e cresceu na primeira década psicológico, baseado entre outros. a Lisboa no dia 22 de março ao Altice do século XXI e conseguiu criar uma em factos reais, – Arena. Considerado pela revista Rolling identidade muito própria tendo vindo a que é também uma Televisão Stone como o maior representante reinventar-se ao longo do tempo. Vêm reflexão sobre o poder Literatura aqui e em toda a parte | Série das canções de protesto de todos os apresentar, neste concerto, o quinto do dinheiro – à volta magazine, terças, à noite na RTP-2 tempos foi vencedor do Prémio Nobel álbum “Everything is now”, lançado do sequestro do neto Apresentação de Pedro Lamares e Filipa Leal. da Literatura em 2016 pela sua poesia. em 2017. Como já é hábito nesta coluna, de um magnata do petróleo na Roma da É por causa deste programa, raro na Detentor de uma expressão poética em alternativa à rotina, convido os década de 70 Roma, 1973. fórmula, – que faz apetecer gostar da leitura sem igual, Dylan escreve sobre política, leitores a novas ou já conhecidas – que vamos tendo orgulho na televisão emoções, relações, ideias e embala- experiências auditivas. O que não Linha Fantasma, de Paul Thomas Anderson pública e nos pequenos “milagres” que nos nas suas canções que revelam a faltam são bons motivos para uma noite | EUA, 2017 ela ainda nos pode dar. Benditos sejam os sua arte e genialidade. A não perder! diferente. “How does it feel, to be on Com: Daniel Day-Lewis, Lesley Manville, livros. Há muitos para descobrir e amar. Ainda em março, Yann Tiersen revisita your own/ with no direction home. /A Camilla Rutherford, Vicky Krieps Joaquim Diabinho o nosso país para apresentar o seu complete unknown, like a rolling stone” •A essência dramática do filme joga-se na [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia] mais recente álbum, “Eusa”. Com datas (Bob Dylan). Susana Cruz 22 TL JAN-FEV 2018

Os contos do zambujal

NOITES REVOLTAS Mário Zambujal

meu problema, senhor doutor, Quinze dias depois. Quinze dias depois. é um problema terrível: a insó- nia. Não uma insónia trivial, m cheio, senhor doutor, em a mouche, senhor doutor, na aborrecimento de uma noite, cheio. Durmo como uma pedra, mouche. Acabaram-se os pe- mas insónia contínua, prolon- mas começo a ter saudades das sadelos e durmo alegremente ga-se por sucessivas noites, é noites de insónia. Por causa dos toda a santa noite. Vejo-me a desesperante. Já tomei, sem pesadelos. Adormeço cedo mas passear junto a um mar azu- Onenhum sucesso, todos os comprimidos logo sou atacado por pesadelos linho e calmo, as pessoas são e pastilhas recomendadas pelos amigos horríveis, talvez derivados dos carinhosas para mim, as recor- e familiares que têm ou tiveram dificul- Enoticiários quanto ao que acontece no Ndações são sempre de momentos felizes. dade em adormecer. Tudo em vão. A mundo. O aquecimento global, o degelo Tanta felicidade, porém, leva a manifes- insónia persiste, noites e noites de olho no Ártico, a subida dos níveis do mar, de tar-me em voz alta incomodando a Zilda, arregalado. Depois, o senhor doutor sabe repente é como se tudo estivesse a acon- num sonho recente eu quase gritei “olha como é: o que nos ocupa a cabeça são os tecer na minha rua, agito-me num pesa- que lindo dia!” e ela berrou “estamos a maus pensamentos. Existem longínquos, delo de inundações que me arrastam. É a meio da noite, estúpido.” que julgávamos já ter esquecido, erros incerteza da economia e os estoiros finan- Sonho com primaveras, flores, gente antigos e o avolumar de pequenas falhas ceiros, a ameaça do desemprego, tudo se contente, paz no mundo, mesas postas de comportamento às quais nunca de- desenha nos meus pesadelos como reali- com os acepipes da minha preferência, mos importância. Mas na noite de insó- dades que tombassem em cima de mim. também já surpreendi Zilda com o grito nia chegam, dos confins do tempo, as ou- As guerras, os terrorismos, vejo-me no “olha, olha, açorda de poejos com ovo es- tras recriminações e, na inversa, acessos meio e vítima desses horrores. Natural- calfado!” de raiva contra bons amigos, por isto ou mente, os pesadelos tornam-me inquieto Não foi o mais grave. O problema por aquilo, lá vem a lembrança de uma e irrequieto. Dou voltas e reviravoltas na aconteceu quando eu, passeando num desconsideração. cama como se quisesse livrar-me e lá está laranjal em dia de sol luminoso, apertei Às vezes tento reagir, levanto-me e vou a Zilda com insultos. “É impossível dor- as mãos que se me estendiam e disse, alto para a sala com um livro ou uma revista. mir com alguém como tu” – diz ela. Terá e bom som: “Adoro-te, Laura.” Mas isso não é reagir, é aceitar a insónia alguma razão mas tudo seria diferente se Esse foi o momento em que Zilda pu- como uma fatalidade. Mais tarde volto eu dormisse com a Laura, a Laura é dife- lou na cama e sentada, lívida, de dedo es- à cama, Zilda, a minha mulher, dorme a rente, a companhia dela garante a paz, de petado, gritou: “Desaparece! Fora desta sono solto, então invejo-a, mas logo me dia ou de noite. Sem insónias nem pesa- casa.” censuro, eu não devia invejar, nunca fui delos. Entretanto vou padecendo em so- De pronto lhe fiz a vontade. A casa é invejoso, mas apetecia-me roubar para nhos maus, o último foi eu ter perdido as dela e eu estava arrependido de alguma mim aquele sono dela. chaves do carro e andar numa azáfama vez ali ter entrado, todos os meus sonhos Não roubo, mas quase. Como o senhor a ver se as encontrava, por fim consegui, doces corriam para a Laura, e agora tam- doutor deve saber, um sujeito a contas apressei-me a caminho de carro e já ia bém as pernas queriam correr, mas es- com uma insónia dificilmente se mantém chegar tarde ao escritório, corri como um tava-se pelas quatro e meia da manhã, imóvel. Dou voltas e voltas na cama, en- louco e quando cheguei ao local, nada, hora imprópria para tocar à campainha tão a Zilda incomoda-se, reage com aze- tinham-me roubado o carro. Acordei a e bradar: “Sou eu, amor, finalmente che- dume e egoísta como é, barafusta pela transpirar. guei.” De modo que me sentei no degrau quebrazinha no sono dela e despreza a Veja bem, senhor doutor, o problema e adormeci com a cabeça encostada à minha total ausência de sono. Nessa al- agora é dos pesadelos. ombreira. Veja, senhor doutor, como dor- tura os pensamentos dão mais um salto, mir é fácil quando não temos o peso das que erro meu Deus, que erro eu cometi preocupações. E para meu regozijo foi a ao ter-me enamorado por ela voltando as Laura que me acordou, passeando aquela costas à terna Laura. Com a Laura seria “Às vezes tento reagir, mãozinha terna pelos meus cabelos. De diferente, dar-me-ia toda a atenção, acre- um pulo me perfilei na frente dela e a mi- dito que me cantasse canções de embalar. levanto-me e vou para a nha voz ganhou um tom solene: “Juntos, Pensando na Laura a minha insónia agu- sala com um livro ou uma e para sempre, Laura.” Ela retirou a mão diza-se pelo arrependimento de a ter tro- da minha cabeça mas manteve aquele cado por esta Zilda impiedosa, egocêntri- revista. Mas isso não é sorriso de imensa ternura quando falou: ca. E então revivo as horas passadas com reagir, é aceitar a insónia “É tarde, Virgolino. Já não és o homem Laura e isso, em vez de me tranquilizar, dos meus sonhos.” mais faz rodopiar a mente no parafuso da como uma fatalidade. insónia. Mais tarde volto à cama, E é isto, senhor doutor. Haverá remé- dio para este sofrimento? Zilda, a minha mulher, dorme a sono solto, então invejo-a” TL Jan-Fev 2018 23

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Palavras cruzadas POR josé lattas 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 ATIVIDADES CULTURAIS 1 E DESPORTIVAS 2 BRAGANÇA PORTO Teatro – 17 de março, às 21 h, espetáculos: Exposição de 3 “A Mandrágora”, de Nicolau Maquiavel, Fotografia – “kinani”, adaptação do Grupo de Teatro Alma de de Yassmin Forte, 6 de 4 Ferro, de Moncorvo, em Vila Flor; “8 dias”, abril a 4 de maio, na autoria e encenação de Acácio Pradinhos, Galeria Inatel, Rua do 5 pela Associação dos Artistas Macedenses, Bonjardim. em Moncorvo. Mostra de Teatro 6 Amador, até 28 de ÉVORA abril. Programa: “El- 7 Rei Seleuco”, Juventude Unida de Mosteiró, 17 de março, no Auditório 8 d’Os Plebeus; “Viúva, Porém Honesta”, Grupo Teatral Freamundense, 24 de março, na 9 Associação Recreativa de Canidelo; “Palcos da Vida”, Grupo Dramático e Musical Flor de Infesta, 27 de março, no Auditório de 10 Exposições, 19 abril a 19 maio, na Galeria Gondomar; “Que Vida, Zé!”, Companhia Inatel, Palácio do Barrocal: “Áureas de Teatro de Santo Tirso, 7 de abril, no 11 – Reflexões duma Cegonha”, de Gaëlle auditório de Marco de Canavezes; “Os Pires Pelachaud (França). Livros de artistas, de Sacavém”, Teatro Amador Independente, HORIZONTAIS: 1-Proscrito. 2-Clarões; VERTICAIS: 1-Doutor (abrev.); Segada; com ênfase no estudo sobre cegonhas. 14 de abril, no auditório da Associação Manto. 3-Ventos que sopram na costa Zinco (s.q.). 2-Apelido do navegador Contribuição poética de Maria Sarmento; de Socorros Mútuos Freamundense; “Do de Portugal do Norte a Noroeste; português, que dobrou o Cabo Bojador; “Love letters between my grandparents”, Céu Cai um Anjinho”, Associação Social Pronome. 4-Cério (s.q.); Gorda. 5-Ci- Advérbio. 3-Género de plantas umbe- de Andrea Brasch (Dinamarca), composta Recreativa Cultural e Bem Fazer Vai Avante, dade alemã, nas margens do Rio Reno; líferas; Escoadouro. 4-Rojões. 5-O mais por vídeos, colagens e jogos de 21 de abril, no Espaço Social e Cultural de Finório. 6-Estúpido. 7-Estilo; Manifes- pequeno, dos países bálticos; Conve- computador. Mosteiró; “O Crime da Aldeia Velha”, grupo tes. 8-Querubim; Fruto da tamareira e niência. 6-Ástato (s.q.); Aparelho ou má- Artamega, 28 de abril, no auditório do de outras palmeiras. 9-Gasto; Mende- quina, para fabricar tecidos. 7-Diminu- LISBOA Centro Paroquial de São Bartolomeu de lévio (s.q.). 10-Epiderme (inv.); Rádio tas. 8-Não indicar o nome, para não ser Domingos com Música – Almost6 apresenta Fontiscos. (s.q.); Delata. 11-Em mineralogia, diz-se identificado. 9-Nota musical; Bagatela; a obra “Pedro e o Lobo”, de Sergei Prokofiev, dos sólidos, cujos átomos ou moléculas Estrôncio (s.q. – inv.). 10-Escolher; Expe- no salão nobre do Teatro da Trindade, 6 de SANTARÉM oferecem uma disposição irregular. diente. 11-Ouro (s.q.); Arrojo. maio, às 11h30. Dia Mundial da Poesia – O grupo Almost6 surgiu em 2007, com “Consultório Poético”, o objetivo de interpretar música numa 21 de março, nos espaços comerciais da cidade, entre as Soluções: 10h30 e 14h30. A poesia

N; AMORFOS; A. AMORFOS; N; enquanto terapia para

9-DESPESA; MD. 10-ZET; RA; TRAI. 11- TRAI. RA; 10-ZET; MD. 9-DESPESA; os males da alma.

7-FORMA; DIGAS. 8-ANJO; TÂMARA. TÂMARA. 8-ANJO; DIGAS. 7-FORMA; Os atores vestidos

5-ESSEN; ZORRO. 6-I; ASININO; U. U. ASININO; 6-I; ZORRO. 5-ESSEN; de terapeutas

3-NORTADA; TU. 4-CE; ROTUNDA. ROTUNDA. 4-CE; TU. 3-NORTADA; vão ao encontro dos cidadãos, fazem

1-DESTERRADO. 2-RAIOS; E; OPA. OPA. E; 2-RAIOS; 1-DESTERRADO. o diagnóstico e prescrevem a receita correta, neste caso, o poema certo para cada pessoa. “Entre Idades”. Centro de Apoio Social Sudoku POR Jorge Barata dos Santos da Carregueira, 19 de março, às 14 h; formação pouco usual em Portugal, Associação Cultural e Recreativa de Problema n.0 7 explorando as potencialidades do Alburitel, 23 de abril, às 15 h. Projeto Prencha a grelha com trompete nos seus vários registos. São intergeracional baseado na música os algarismos de 1 a 9 membros do grupo e mentores do projeto tradicional portuguesa, com o objetivo sem que nenhum deles Festival Internacional de Trompete, Sérgio de promover o envelhecimento ativo e se repita em cada linha, Charrinho, trompetista na Orquestra a inclusão de cidadãos portadores de coluna ou quadrado. Metropolitana de Lisboa, professor na deficiência. Academia Nacional Superior de Orquestra; Ricardo Carvalho, trompetista na Banda VIANA DO CASTELO Sinfónica da GNR; Filipe Coelho, professor POPular – Inatel na Rua, 5 a 7 de abril. na Escola Profissional da Metropolitana Concertos, cinema ao ar livre, teatro, e no Conservatório Nacional; Carlos documentários, arruadas e baile popular, Silva, trompetista na Banda Sinfónica da no centro histórico da cidade. GNR, professor na Escola profissional de Artes da Beira Interior e Conservatório VILA REAL Metropolitano de Lisboa; Óscar Carmo, Comemorações Dia Mundial do Teatro, trompetista na Orquestra de Câmara 23 a 25 de março. Programa: “O Chá de Portuguesa; João Duarte, músico associado São Cornélio” (adaptação da peça “A (percussão). Mandrágora”, de Maquiavel), pelo grupo do Soluções: Centro Cultural Lordelense, 23, 21h30, na PORTALEGRE Casa do Povo do Pinhão; “Alice no País das Espetáculo Solidário a favor da Associação Maravilhas”, de Lewis Carrol, adaptação dos Bombeiros Voluntários de Portalegre – pela Associação Cultural Fórum Boticas, participação da Sociedade Musical Euterpe, 24, 21h30, no Teatro Auditório Municipal de Orfeão de Portalegre e Grupo de Cante “Os Alijó; “Hotel Paraíso”, de António Torrado, Lagóias”, 8 de abril, às 16 h, no Centro de adaptação pela Associação Vale D’Ouro, Artes do Espetáculo/Câmara Municipal de do Pinhão, 25, 15h30, no Teatro António Portalegre. Augusto de Assunção, em Favaios. Imp Catalogo 17_18_259x393,7mm.indd 1 13/10/17 09:55