TILLOGLOMUS SPECTABILE MARTINS, 1975 (COLEOPTERA, ÇERAMBYCIDAE, , TILLOMORPHINI): _ DESCRIÇAO DA LARVA, PUPA, NOTAS BIOLÓGICAS E DISTRIBUIÇAO*

Édson Possidônio TElXElRA** Ubirajara NOGUElRA***

RESUMO ABSTRACT

Larvas de Tilloglomus spectsbile Larvae of Tilloglomus spectabile Martins, 1975 (Coleoptera, Cerambycidae, Martins, 1975 (Coleoptera, Cerambycidae, Cerambycinae, Tillomorphini) atacando ramos de Cerambycinae, Tillomorphini) were collected Podocarpus lembettii KIotz. (Podocarpaceae) attacking branches of Podocarpus lstnbettii Klotz, foram coletadas em Gonçalves (Cantagalo), Minas (Podocarpaceae) in Gonçalves (Cantagalo), State Gerais, Brasil, e criadas em laboratório. of Minas Gerais, Brazil, and reared in laboratory. Apresenta-se a descrição das formas imaturas com Descriptions of immature forms are provided with ilustração, desenhos do adulto, da genitália do illustrations; the adult habitus, male and female macho e da fêmea e distribuição geográfica. genitalia and the distribution are presented. Adultos de Paramoeocerus barbicornis (Fabricius, Adults of Paramoeocerus betbicomis (Fabricius, 1792) (Coleoptera, Cerambycidae, Cerambycínae, 1792) (Coleoptera, Cerambycidae, Cerambycinae, Compsocerini) também emergiram da mesma Compsocerini) were collected from the same host planta hospedeira. planto

Palavras-chave: Cerarnbycidae, formas imaturas, Keywords: Cerambycidae, immatures forms, Paramoeocerus barbicornis, Paramoeocerus berbicomis, Podocarpus Podocarpus lambertii, Tilloglomus lambertii, Tilloglomus spectabile. spectabiJe.

1 INTRODUÇÃO

Neste trabalho apresentamos a Paramoeocerus, apresentou a relação das descrição e ilustração das formas imaturas de seguintes plantas hospedeiras para P. berbicomis Tilloglomus spectabile, aspectos biológicos, planta Acacia dealbata Link., Acacia decurrens Wild., hospedeira e sua distribuição geográfica. Mimosa scabrella Benth., M. sordida Benth., MARTINS (1975) além da descrição Mimosa sp. (Leguminosae); Schinus terebentifolius da espécie, fez menção apenas da localidade-tipo Raddi (Anacardiaceae); Podocarpus lembettii e do número de exemplares examinados. KIotz. (Podocarpaceae); Pirus communis L. NAPP (1976) em trabalho sobre a (Rosaceae); Salix sp. (Salicaceae); Celtis sp. revisão dos gêneros Compsocerus e (Ulmaceae) e Vitis vínífera L. (Vitaceae).

(*) Aceito para publicação em outubro de 1993.

(**) Instituto Florestal. SP. Caixa Postal 1322 - 01059-970 - São Paulo. SP.

(***) Biólogo. Bolsista da Fundação do Desenvolvimento Administrativo - FUNDAP.

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2 MATERIAL E MÉTODO do protórax: 2,0 mm. Ortossomática. Creme com região anterior da cápsula celálica e mandibular Ramos de Poâocetpus lsmbettii castanho-escuras. Segmentos abdominais sem am- (pinheiro-bravo) amputados por serrador polas. Pilosidade curta. Cabeça (FIGURAS 16, (Oncideres ?) (Coleoptera, Cerambycidae) foram 17) prognata, esclerotizada, levemente deprimida coletados no solo em outubro de 1989, no atrás das antenas. Sutura frontal ausente. Região município de Gonçalves (Cantagalo), 2Z040'S da sutura coronal estreita, com um sulco onde se 45°51'W. Em laboratório, foram cortados em inserem os músculos retratores superiores da ca- pedaços de 40 em e colocados em cilindros de beça. Estemas ausentes. Sutura epistomal distinta. vidro (35,5 em de altura x 22,0 em de diâmetro), Clípeo reduzido, transverso, subtrapezoidal e tampados com tela de náilon, no fundo dos quais membranoso. Labro (FIGURA 9) pequeno, leve- colocou-se uma camada de dois centímetros de mente estreitado na base, com margem anterior areia grossa a qual era umedecida arredondada e com muitas cerdas. Epifaringe (FI- periodicamente. GURA 8): região anterior com várias cerdas pró- Os adultos emergiram no período de ximas à margem, área central com cinco cerdas julho a setembro de 1990. Foram separados 3 Ô dirigidas para a região posterior, áreas laterais e 1 '} que foram mantidos em gaiolas teladas de com número variável de cerdas; regiões médio-la- 40 x 40 x 40 em com ramos da planta-hospedeira terais até a base com espículas e dois botões e alimentados com solução açucarada embebida sensoriais; região basal com três cerdas longas, em algodão. Após a morte, os adultos foram três grupos de botões sensoriais, sendo um grupo fixados em álcool 70%. A emergência de novos com dois. Suturas guIares e gula presentes. Has- adultos foi observada entre junho e agosto de tes hispostomais curtas. Antena (FIGURA 20) 1991. Estes adultos foram mantidos em condições curta, 3-segmentada; antenífero membranoso e semelhantes e a emergência de nova geração foi alongado; 1° segmento mais longo que o 2° e 3°, verificada entre maio e julho de 1992. glabro; 2° segmento mais longo que o 30, com A descrição das formas imaturas foi quatro cerdas subapicais longas' e um cone senso- feita a partir do material fixado (1 larva, 1 rial membranoso distal; 3° segmento diminuto pupa), em julho de 1990. com cinco cerdas distais, sendo três longas e duas As larvas são encontradas em galerias medianas curtas. Peças bucais protraídas. Mandí- subcorticais irregulares e não ultrapassam 1 mm bulas (FIGURAS 13, 14) móveis, simétrícas, ro- de altura. bustas e fortemente esclerotinizadas; ápice largo e Além de T. spectsbile; emergiram chanfrado, com uma cerda látero-basal. Maxila exemplares de Paramoeocerus barbicornis (FIGURA 10) parcialmente esclerotinizada; mala (Fabricius, 1792) (Coleoptera, Cerambycidae, com ápice arredondado e com várias cerdas, dor- Cerambycinae, Compsocerini). sal e ventralmente com inúmeras espículas; palpí- O material examinado encontra-se fero aproximadamente retangular, com três cerdas depositado na coleção entomológica do Instituto longas e ápice com duas fileiras de espículas; pal- Florestal de São Paulo (CEIF) (3 larvas, 5 pupas, pos maxilares 3-segmentados, 1° segmento com 20 machos e 20 fêmeas) e na coleção do Museu cerdas curtas e longas e com espículas no ápice, de Zoologia da Universidade de São Paulo 2° com duas cerdas longas e duas curtas, 3° com (MZUSP) (2 machos e 1 fêmea). uma cerda e ápice com espículas; estipe com nu- merosas espículas e com várias cerdas longas. 3 FORMAS IMATURAS (FIGS.: 2, 5-11, 13-20) Cardo bem desenvolvido, transverso e subtriangu- lar. Lábio (FIGURA 11): lígula curta, lobada, 3.1. Larva Madura (FIG. 2) com uma cerda longa e uma curta; pré-mento Comprimento: 7,0 mm; maior largura transverso, levemente bilobado na frente, late

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TEIXEIRA, P. E. & NOGUEIRA, U. TiJloglomus spectabile Martins, 1975 (Coleoptera, Cerambycidae, Cerambycinae, Tillomorphi- ni): descrição da larva, pupa, notas biológicas e distribuição. ralmente espiculoso, com cinco pares de cerdas biais 2-segmentados, 10 segmento com três longas sendo as medianas menores; mento transverso, cerdas distais, 20 com grupo de sensórios apicais. membranoso, com cerdas longas e curtas; sub- Hipofaringe com inúmeras espículas e cerdas mento transverso, membranoso, com algumas cer- longas. das longas, sendo duas látero-distais; palpos la-

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FIGURAS 1-6 - Tilloglomus spectebile 1, adulto o; 2, larva, 3, antena o; 4, antena o; 5, pupa vista dor- sal; 6, pupa vista ventral. Figuras 1; 2, 3, 4; 5, 6, respectivamente, na mesma escala.

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Protórax (FIGURA 2) mais longo que segmento distal unguiculado. mesa e metatórax reunidos; bordo anterior com Abdômen, vista de cima, lO-segmenta- uma faixa transversa amarelada; muitas cerdas, do; 5° segmento o dobro da largura do 4°; 6° com maior número lateralmente. Espíráculos elíp- uma vez e meia mais largo que o 5°; 7° tão lon- ticos (FIGURA 15), laterais, esclerotinizados, go quanto o 6° e ligeiramente mais largo; 1°_80 grandes e localizados anteriormente no mesa tórax. segmento com um par de espiráculos laterais, Pernas (FIGURA 18) curtas e subiguais; as pro- elípticos, esclerotinizados, os do 1° par maiores; totorácicas inseridas no esternelo; 3-segmentadas; 9° segmento estreito; 10° com três lobos distais, 1° segmento com uma cerda basal longa; 2° com entre os quais se observa a abertura anal, em duas cerdas basais sendo uma longa e uma curta; forma de y (FIGURA 19).

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FIGURAS 7-11 - Tilloglomus spectebile 7, lábio e maxila ventral; 8, hepifaringe; 9, labro; 10, maxila; 11, lábio. Figuras 7, 9; 10, 11; 8, respectivamente na mesma escala.

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3.2. Pupa (FIGS.: 5, 6) Olhos convexos, glabros; região basal com um par de espículas grandes, castanhas e pilosas. Antenas Adética e exarata. Comprimento: 7,0 delgadas, lisas, recurvadas nas pontas e es- mm; maior largura do prot6rax: 1,5 mm. Creme. tendendo-se até o terceiro segmento abdo- Cabeça com vértice visível de cima, lateralmente minal; escrobos com duas espículas castanhas, com algumas espículas castanhas e setosas; fronte sendo a anterior maior, cada uma com uma lisa e com dois a três pares de espículas pilosas. cerda basal. Região labral triangular, glabra.

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FIGURAS 12-20 - Tilloglomus spectebile 12, asa o; 13, mandíbula esquerda ventral; 14, mandíbula direi- ta dorsal; 15, espiráculo metatoráxico; 16, cabeça dorsal; 17, cabeça ventral; 18, perna protoráxica, 19, abertura anal; 20, antena. Figuras 12; 13, 14; 16, 17, 19; 15; 18; 20, respectivamente, na mesma escala.

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FIGURAS 21-26 - Tilloglomus spectebile genitalia o; 21 e 22, distendida; 23, detalhe da regiao interna do VIII urosternito; genitália o: 24, aedeagus lateral; 25, tégmen ventral; 26, lobo-mé- dio e saco-interno. Figuras 21; 22; 23; 24; 25, 26, respectivamente, na mesma escala.

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Pronoto alongado, com margens laterais arredon- base no número de exemplares conhecidos (um dadas e ângulos posteriores proeminentes; ante- no MZUSP, holótipo macho, e dois na Coleção riormente, levemente projetado no meio; região Plaumann de Santa Catarina (CPSC, parátipos do disco com espículas castanhas, cada uma com fêmeas). uma cerda basal. Meso- e metanoto com dois pa- Embora seja prematuro afirmar, é de res de cerdas pequenas; metanoto com linha lon- se supor que a distribuição da espécie gitudinal mediana ao longo de toda a sua exten- acompanhe a distribuição do hospedeiro (também são; linha de contorno do escutelo presente. Pte- RS, SP, RJ) (CORREA, 1984; REITZ & KLEIN, roteca estendendo-se até o 3° segmento abdomi- 1966; REITZ, KLEIN & REIS, 1978; REITZ, nal. Pernas glabras, com fêmur posterior atingindo KLEIN & REIS, 1983), considerando-se o único o 5° segmento abdominal e projetado externa- até então conhecido. mente; tíbias posteriores acentuadamente curvadas As câmaras pupais, elaboradas no e com dois esporões tibiais no ápice. Abdômen lenho, são alongadas, apresentando-se ora longo, estreitado no ápice, urostergitos com faixa paralelas ao eixo longitudinal dos ramos, ora transversal de espículas setosas, sendo as dos dois levemente oblíquas. últimos segmentos maiores e em menor número; A larva de Tilloglomus spectebiie 1°_6° segmento com um par de espiráculos late- foi comparada com Epropetes latifascia (White, rais elípticos, funcionais, sendo o 1° par maior e 1855) e Acyphoderes aurulenta Kirby, 1818, dorsolateral. Esternitos glabros, com projeções es- ambas espécies americanas (Brasil) e descritas, piniformes setosas laterais; pleura moderadamente respectivamente, por DUFFY (1960) e COSTA et protuberante, lisa. aI. (1988). As principais diferenças observadas foram: ampolas abdominais presentes em Acyphoderes e Epropetes e ausentes em 4 ADULTO (FIGS.: 1, fêmea; antenas: 3, ~; 4, Tílloglomus palpífero palpiforme em Acyphoderes d; 12, asa; 21, 22, 23, genitália fe- e aproximadamente retangular em Tilloglomus. minina; 24, 25 e 26, genitália mas- culina). 7 AGRADECIMENTOS O macho de T. spectabile caracteriza-se por apresentar escapo bem espesso Ao Dr. Ubirajara Ribeiro Martins de (FIGURA 4) em relação ao da fêmea (FIGURA Souza (MZUSP) pela identificação do material de 3), que é quase retilíneo, carácter este não T. spectabíle. anotado por MARTINS (1975) quando da A Sérgio Ide (MZUSP) pela leitura, descrição da espécie. críticas e sugestões ao trabalho.

5 DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA REFElillNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Minas Gerais: Gonçalves (Cantagalo). CORRÊA, M. PIO. 1984. Dicionário das Santa Catarina: Nova Teutônia. plantas úteis do Brasil e das exóticas cultivadas. Rio de Janeiro, IBDF. v. 5, 687p. COSTA, c., S. A. VANIN & S. A. 6 DISCUSSÃO CASARI-CHEN. 1988. Larvas de Coleoptera do BrasiL Museu de Zoologia - Universidade T. spectabile era até o presente, de São Paulo, São Paulo. 282p., 165 est., considerada como espécie rara nas coleções, com front.

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DUFFY, E. A. J. 1960. A monography of tbe immature stages of neotropical timber beatles (Cerambycidae). British Mus. (Nat. Hist.) Lond. 327p., 13 pl., front., 176 figs. MARTINS, U. R. 1975. Longic6rnios da coleção Hüdepohl, III (Coleoptera, Cerambycidae). Papéis Avulsos de Zoologia, 29 (2): 7-20, 2 pIs. NAP, D. S. 1976. Revisão dos gêneros Compsocerus Lepeletier & Serville, 1830 e Paramoeocerus Gounelle, 1910 (Coleoptera, Cerambycidae). Revta bras. ent. 20 (1): 1-64. REITZ, P. R. & KLEIN, R. M. 1966. FIora ilustrada catarinense: Araucariácea Santa Catarina, Herbário "Barbosa Rodrigues". 62p. (1 parte: As plantas; Fascículo: Arau). & REIS, A. 1978. Projeto madeira de Santa Ceuuina: Santa Catarina, Herbário "Barbosa Rodrigues". 320p. (Sellowia, 30 (28-30). 1983. Projeto Madeira do Rio Grande do SuL Santa Catarina, Herbário "Barbosa Rodrigues". 525p. (Sellowia, 34-35).

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