Ministério da Ciência e Tecnologia – MCT Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA Programa de Pós Graduação Genética, Conservação e Biologia Evolutiva
Análises moleculares em Ageneiosus (Siluriformes: Auchenipteridae): limites taxonômicos e relações intragenéricas
SHIZUKA HASHIMOTO
Manaus – AM Junho de 2015 SHIZUKA HASHIMOTO
Análises moleculares em Ageneiosus (Siluriformes: Auchenipteridae): limites taxonômicos e relações intragenéricas
ORIENTADORA: JACQUELINE DA SILVA BATISTA, Dra. CO ORIENTADORA: LÚCIA H. RAPP PY DANIEL, Dra.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós graduação em Genética, Conservação e Biologia Evolutiva do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia como parte dos requisitos para obtenção do título de mestre
Fonte financiadora: FAPEAM/CNPq Sisbiota81762/2013 0 Br BOL564953/2010 5
Manaus – AM Junho de 2015
ii Shizuka Hashimoto
Análises moleculares em Ageneiosus (Siluriformes: Auchenipteridae): limites taxonômicos e relações intragenéricas
Banca Examinadora:
Prof. Dr. Igor Luis Kaefer Universidade de Federal do Amazonas UFAM
Prof. Dr. Alessandro Gaspareto Bifi Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia INPA
Prof. Dr. Santiago Linório Ferreyra Ramos Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/ Universidade de São Paulo ESALQ/USP
iii FICHA CATALOGRÁFICA
H346 Hashimoto, Shizuka Análises moleculares em Ageneiosus (Siluriformes: Auchenipteridae): limites taxonômicos e relações intragenéricas / Shizuka Hashimoto. Manaus: [s.n.], 2015. x, 64 f. : il. color.
Dissertação (Mestrado) INPA, Manaus, 2015. Orientador : Jacqueline da Silva Batista. Coorientador: Lúcia H. Rapp Py Daniel. Área de concentração : Genética, Conservação e Biologia Evolutiva.
1. Ageneiosus . 2. Bagre. I. Título.
CDD 597.52
SINOPSE
Dados moleculares são ferramentas muito utilizadas para trabalhos que incluem a taxonomia e filogenia para responder questões relacionadas à conservação, distribuição e história natural de grupos taxonômicos. Foram amostradas18 espécies do gênero Ageneiosus e utilizado marcador molecular mitocondrial Citocromo Oxidase da subunidade I (COI) para discriminar as espécies de peixes através dos valores de variação genética intra e interespecífica.Foram geradas ainda hipóteses filogenéticas quanto a posição dentro do gênero Ageneiosus da Bacia Amazônica utilizando os genes mitocondriais COI e ATPase.
AVISO
Esta dissertação faz parte dos requisitos necessários para obtenção do título de mestre em Genética, Conservação e Biologia Evolutiva e, para fins nomenclaturais não deve ser vista como publicação. Dessa forma, informações inéditas, bem como nomes atribuídos a possíveis novas espécies e hipóteses apresentados aqui aindanão estão disponíveis na literatura zoológica. Apesar de disponível publicamente, pessoas interessadas devem estar atentas e cientes a essa informação ao referenciar publicamente conteúdo deste estudo.
NOTICE
This dissertation is presented as partial fulfillment of the dissertation requirement for the Master degree in Genética, Conservação e Biologia Evolutiva and, as such, is not intended as a publication. Therefore, new data, new names and hypothesis expressed here in are not available in the zoological literature. Althoughavaiable in public, readers are advised to this study should be attended and aware that information content to public reference.
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Aos meus pais
vi
“Os problemas nunca vão desaparecer, mesmo a mais bela existência. Problemas existem para serem resolvidos, e não para perturbar nos.”
Augusto Cury
vii AGRADECIMENTOS
À minha família Hashimoto, meus pais Shoji e Miyoko e aos meus irmãos Kyosuke e Naosuke. Ao Sonny,meu companheiro por estar ao meu lado sempre. Às minhas orientadoras,Prof a. Dr a. Jacqueline da Silva Batista e a Prof a. Dr a. Lúcia H. Rapp Py Daniel, pelas sugestões, correções do plano e da dissertação, e que me acolhem cada uma em seus respectivos laboratórios,o Laboratório Temático de Biologia Molecular(LTBM) e a Coleção de Peixes do INPA. Ao Christian Cramer, pelo contato com a Universidade de Rondônia (UNIR). ÀBarbara Calegari (PUCRS), Carolina Doria (UNIR), Mark Sabaj (ANSP), Celeste Nakayama (INPA)e Jansen Zuanon (INPA) peloempréstimo das amostras. À Maria (UNIR) que gentilmente fotografou as espécimes com os vouchers da Instituição. À Marlene (INPA) que me auxiliou no banco de tecidos da Instituição. Ao Efrem Ferreira (INPA) pela oportunidade de obter amostras do Rio Negro. Aos Carlos Scheider, Cristina Bürhein, Gislene Gilse pelas contribuições na aula de qualificação. Ao colaborador, Frank pela ajuda na identificação dos espécimes e questionamentos que me fez este trabalho. Aos colegasda coleção de peixes Madoka, Rafa, Isabel, Ronna, Renildo e Andressapela deposição das espécies,mesa redonda e pelos cafés da manhã, no almoço e no final da tarde. Ao grupo Pirada e LTBM Giselle, Denise, Kyara, Kátia, Paula, Mateus, Romina, Crysa, Glauco, Érico e Erik pelo convívio no laboratório. As amigas de mestrado Camila, Érica, Jéssica e Nayara pelo apoio em discussõesmetodológicas, psicológico em todas as horas do dia. Aos amigos em geral, Breno, Mie Jaque pelo apoio moral. Ao programa de Pós Gradução de Genética, Conservação e Biologia Evolutiva(GCBEv) pela oportunidade do mestrado. ÀFAPEAM e ao CNPq pelo financiamento dos projetos Sisbiota e BrBol. ÀCapes pelo financiamento da bolsa de mestrado. E agradeço a todos que não pude citar mas contribuíram diretamente e indiretamente, não tem o espaço suficiente para escrever aqui mas está na minha memória. Muito obrigada!
viii RESUMO
A Bacia Amazônica se destaca por possuir uma das mais extensas, complexas e diversificadas redes fluviais do mundo. Esta vasta região inclui o rio Orinoco e as Guianas e se estende desde as nascentes dos Andes peruanos até sua foz no Oceano Atlântico.Dentro da ordem Siluriformes, a família Auchenipteridae possui uma distribuição nos rios da América do Sul e Panamá. Dentreos auquenipterídeos, Ageneiosus se destaca pela diversidade de espécies e ampla distribuição nesses rios. Esse estudo foi dividido em dois tópicos: a delimitação taxonômica das espécies de Ageneiosus e o posicionamento filogenéticodas espécies dentro do gênero.A metodologia do DNA barcode foi utilizadapara determinar os grupos taxonômicos,a variação intra e interespecífica através do modelo de evolução molecular o Kimura 2 parâmetros (K2P) e a árvore de Neighbour-Joining com suporte de bootstrap de 10.000 réplicas. Foram examinados no total 18 espécies de Ageneiosus , utilizando como grupo externo as espécies Auchenipterichthys punctatus e A. longimanus . A análise molecular delimitou algumas das espécies e encontrouum grupo que formou um complexo de espécies. Sequências nucleotídicas de dois marcadores de DNA mitocondrial(COI e ATPase) foram utilizados parainferências das relações filogenéticas dentro do gênero.A relação filogenética foi investigada utilizando análises de verossimilhança e de inferência bayesiana que possibilitaram recuperarrespostas evolutivas distintas. Essas 18 espécies formam um grupo monofilético dentro dogênero Ageneiosus e as espécies Ageneiosus sp. n. “anal curta”, A. dentatus, A. ucayalensis , A. uranophthalmus , A. sp. n. “projetada” e A. vittatus mostraram relações complexas. Há evidência da existência do “clado Tympanopleura ” que representa o agrupamento das espécies proposta por Ribeiro (2011).
Palavras-chaves: DNA barcode, sistemática molecular, Bacia Amazônica, bagre, peixes neotropicais.
ix ABSTRACT
The Amazon Basin remains one of the most extensive, complex and diversifiedfluvial networks of the world. This vast region includes the Orinoco river and the Guyana watersheds, extending from headwaters of the Peruvian Andes tomouth of the Atlantic Ocean.Within Siluriformes, Auchenipteridae family is distributed in the rivers of South America and Panama.Among auchenipterids, Ageneiosus stands out for its diversity of species and wide distribution in these rivers.This study was divided into two topics:the taxonomic delimitation of the species of Ageneiosus and, the phylogenetic position of species within genus.The DNA barcode methodology was used to definegroups within and between speciesthrough the molecular evolution model Kimura 2 parameter (K2P) and the construct Neighbour-Joining tree with 10.000 bootstrap.Eighteen species of Ageneiosus were examinedin total with Auchenipterichthys punctatus and A. longimanus as outgroups.The molecular analysis delimited some of the species and pointed to one complex of species.The inference of phylogenetic relationship within the genus was used based on mitochondrial DNA sequences, COI and ATPase. Phylogenetic relationshipswere investigated using Maximum Likelihood and Bayesian Analysis that provided different evolutionary answers.Those species formeda monophyletic group within Ageneiosus genus and shows complex relationships between species Ageneiosus sp. n. “anal curta”, A. dentatus, A. ucayalensis , A. uranophthalmus , A. sp. n. “projetada” and A. vitattus .There is evidence of the existence of a “clade Tympanopleura ” wich represents the group of speciesproposed by Ribeiro (2011).
Keywords: DNA barcode, phylogeny, Amazon Basin, catfish, Neotropical fishes.
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SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS ...... xii LISTA DE FIGURAS ...... xiii 1. INTRODUÇÃO GERAL ...... 1 1.1. Aspectos gerais ...... 1 1.2. Histórico do gênero Ageneiosus ...... 1 1.3. Biologia ...... 3 1.4. Marcadores moleculares mitocondriais ...... 3
2. OBJETIVO GERAL ...... 6
2.1. Objetivos específicos ...... 6
Capítulo 1:Delimitação molecular das espécies do gênero Ageneiosus (Siluriformes: Auchenipteridae) com o uso do DNA Barcoding ...... 7
Capítulo 2: Relaçõesfilogenéticas dentro do gênero Ageneiosus com marcadores mitocondriais ...... 29
3. CONCLUSÃO GERAL ...... 51 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...... 52 ANEXO 1 ...... 58 ANEXO 2 ...... 61
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LISTA DE TABELAS
Capítulo 1
Tabela 1 – Valores de variação a posteriori da distância genética intra e interespecífica das espécies de Ageneiosus ...... 14
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LISTA DE FIGURAS
Capítulo 1
Figura 1 – Mapa das espécies 18 espécies examinadas: A – A. atronasus ; B – A. brevis ; C – A. dentatus ; D – A. inermis ; E – A. militaris ; F – A. piperatus ; G – A. polystictus ; H – A. rondoni ; I – Ageneiosus sp. J – A. sp. n. “anal curta” K – A. aff. atronasus ; L – A. aff. brevis ; M – A. sp. n. “projetada”; N – A. sp. n. vittatus ; O –A. sp. n. “Walsh”; P – A. ucayalensis ; Q – A. uranophthalmus ; R – A. vittatus ...... 11
Figura 2 – Visão geral da árvore de agrupamento de vizinhos (NJ) construída com 210 exemplares distribuídos em 18 espécies de Ageneiosus ...... 16
Figura 3 –Lado esquerdo, árvore de agrupamento de vizinhos e lado direito destacando o grupo 1 Ageneiosus inermis e grupo 2 Ageneiosus polystictus com as respectivas localidades: T – rio Tapajós; W rio Waini; AS Alto Solimões; MS – Médio Solimões; P rio Purus; M rio Madeira; BS – Baixo Solimões; J – rio Juruá; Tr – rio Trombetas; A – rio Araguaia; X rio Xingu; L – rio Litaine; N – rio Negro...... 17
Figura 4 –Lado esquerdo, árvore de agrupamento de vizinhos e lado direito destacando o grupo 3 que representa seis espécies: Ageneiosus sp. n. “anal curta”, A. dentatus , A. sp. n. “projetada”, A. ucayalensis , A. uranophthalmus e A. vittatus com as respectivas localidades: P – rio Purus; N – rio Negro MS – Médio Solimões; M – rio Madeira; U – rio Uruguai...... 19
Figura 5 –Lado esquerdo, árvore de agrupamento de vizinhos e lado direito destacando o grupo 4 – Ageneiosus atronasus , grupo 5 – A. aff. brevis , grupo 6 – A. piperatus , grupo 7 – A. rondoni e grupo 8 – A. sp. n. “Walsh” com as respectivas localidades: R rio Rupununi; P – rio Purus; M – rio Madeira; N – rio Negro; J – rio Juruá; T – rio Tapajós...... 21
Figura 6 – Exemplar da UNIR (UFRO I 016312), identificado como Ageneiosus brevis ...... 22
Figura 7 Exemplar do INPA (INPA 41635), representando Ageneiosus rondoni ...... 22
Figura 8 – Exemplar da UNIR (UFRO I 007660), identificado como Ageneiosus sp. n. vittatus ...... 23
xiii Figura 9 –Exemplar do INPA (INPA 41761), representando, Ageneiosus sp. n. “Walsh”...... 23
Capítulo 2
Figura 1 – Filogenia de caracteres morfológicos proposta por Ribeiro (2011) para o gênero Ageneiosus ...... 32
Figura 2 – Mapadas drenagens onde os exemplares distribuídos em 16 espécies de Ageneiosus foram amostradas: 1 Alto rio Amazonas; 2 rio Juruá; 3 rio Purus; 4 rio Negro; 5 Médio Amazonas (Manaus); 6 rio Madeira; 7 rio Trombetas; 8 rio Tapajós; 9 Baixo Amazonas (Santarém); 10 rio Xingu; 11 rio Araguaia; 12 rio Waini; 13 rio Rupununi; 14 rio Litani; 15 rio Uruguai...... 34
Figura 3– Árvores filogenéticas de máxima verossimilhança (lado esquerdo) e deInferência Bayesiana (lado direito) do gênero Ageneiosus geradas com as sequencias nucleotídicas de COI...... 37
Figura 4 – Árvores filogenéticas de máxima verossimilhança (lado esquerdo) e de Inferência Bayesiana (lado direito) do gênero Ageneiosus geradas com as sequencias nucleotídicas de ATPase...... 38
Figura 5 – Árvores filogenéticas de máxima verossimilhança (lado esquerdo) e de Inferência Bayesiana (lado direito) do gênero Ageneiosus gerada com os marcadores moleculares COI e ATPase concatenados...... 39
Figura 6 – Árvore de Inferência Bayesiana com marcador ATPase em detalhe do ramo contendo as espécies: A. sp. n. “anal curta”, A. dentatus , A. ucayalensis ,A. uranophthalmus , A. sp. n. “projetada” e A. vittatus ...... 42
xiv 1. INTRODUÇÃO GERAL 1.1. Aspectos gerais
Os Siluriformes, popularmente conhecido como bagres, compõem uma das mais diversas ordens dentre os Ostariophysi e estão amplamente distribuídos,ocorrendo nas águas marinhas e continentais. A ordem é composta por 36 famílias, 477 gêneros e 3.088 espécies distribuídas pelo mundo (Ferraris, 2007). Na região Neotropical, os Siluriformes estão representados por 15 famílias e 1.650 espécies válidas, e estima se que existam mais de 600 espécies ainda não descritas (Reis et al., 2003).
Dentro desta ordem, a família Auchenipteridae apresenta uma distribuição restrita aos rios da América do Sul e Panamá, possui 20 gêneros e 94 espécies válidas(Ferraris, 2007).Esta compreende espécies de peixes de pequeno a médio porte (Ferraris, 2003)e algumas espécies de grande porte que realizam migrações reprodutivas (Goulding, 1980) e tem importância comercial (Barthem e Goulding, 1997).
O gênero Ageneiosus ocorre por toda a região Neotropical.Entre as espécies, Ageneiosus inermis é a mais amplamente distribuída nos rios da América do Sul, e é a espécie que atinge maior tamanho entre os auchenipterídeos(cerca de 50 cm Ribeiro, 2011). A maioria das espécies do gênero Ageneiosus se distribui na bacia do rio Amazonas, mas há espécies como A. millitaris e A. ucayalensis que ocorrem na bacia dos rios Paraná Paraguai (Júnior et al ., 2009) e,A. pardalis,é a única espécie trans Andina do gênero.
1.2. Histórico do gênero Ageneiosus
La Cépède (1803) propôs o gênero Ageneiosus ,Eigenmann e Eigenmann(1890), revisando os Nematognathi da América do Sul, reconheceram onze espécies válidas para Ageneiosus dentro da família Siluridae . O gênero foi consideradopertencente à família Doradidae no trabalho deRegan (1911) e, mais tarde,no trabalho de Jordan (1923), enquanto que Miranda Ribeiro (1911) considerou Ageneiosus no nível de família,Ageneiosidae. Eigenmann em 1912, propôs o gênero Tympanopleura para alocar a espécie T. piperata e outras duas espécies T. alta e T. nigricollis dentro de Siluridae.
Britski (1972), estudando Auchenipteridae e Ageneiosidae, propôs que Auchenipteridae fosse subdividida em 4 sub famílias e que a família Ageneiosidae fosse retirada.As espécies de Ageneiosidae, então, foram transferidas para os gênerosAgeneiosus e
1 Tetranematichthys.O autor considerou também o gênero Tympanopleura como sinonímia de Ageneiosus,aumentando para mais de 33 as espécies reconhecidas para o gênero.Ferraris (1988) estudou as relações dos gêneros da família Auchenipteridae e lançou a hipótese de que os gênerosAgeneiosus e Tetranematichthys estariam dentro da família Auchenipteridae. No ano seguinte, Curran (1989) também estudou a família Auchenipteridae porém não incluiu em seus estudos os gêneros Ageneiosus e Tetranematichthys.Portanto, o estudo de Ferraris foi considerado o mais bem fundamentado.
Em 1990, Walsh em sua tese,relizou a segunda revisão de Ageneiosus e considerou os gêneros Ageneiosus e Tetranematichthys ainda comogrupo válido dentro de Ageneiosidae, e Auchenipteridae como família distinta.Neste estudo, o autor reconheceu 10 espécies válidas (A. brevis, A. piperatus, A. atronasus, A. pardalis, A. vittatus A. valenciennesi, A ucayalensis, A polystictus, A. brevifilis e A. marmoratus ) e uma não descrita. Em 1993, de Pinna, estudando as famílias Doradidae e Auchenipteridae, considerou Ageneiosus e Tetranematichthys como parte da família Auchenipteridae corroborando a hipótese de Ferraris (1988).Os trabalhos filogenéticos subsequentes também demonstraram que Ageneiosus está dentro da família Auchenipteridae tanto em análises com caracteres morfológicos (Diogo 2003; Akama 2004; Birindelli, 2014) comocom dados moleculares (Sullivan et al. , 2006; Arce et al., 2013).
A terceira revisão do gênero, feita por Ribeiro(2011) com base em caracteres morfológicos, corroborou a monofilia do gênero Ageneiosus,considerando 19 espécies, das quais 13 espécies de Ageneiosus válidas( A. atronasus, A. brevis, A. dentatus, A. inermis, A. magoi, A. militaris, A. pardalis, A. piperatus, A. polystictus, A. rondoni, A. ucayalensis ,A.uranophthalmus e A. vittatus ) e seis não descritas formalmente(Ageneiosus sp. n. “anal curta”, A. aff. atronasus , A. aff. brevis , A. sp. n. “projetada”, A. sp. n. “Teles Pires” e A. sp. n. “Walsh”).Ainda dentro de Ageneiosus , o autor observou dois clados bem distintos e nomeou informalmente de “clado Ageneiosus ” (Ageneiosus sp. n. “anal curta”, A. dentatus,A. inermis,A. magoi, A. militaris, A. pardalis,A. vittatus, A. polystictus,A. sp. n. “projetada”, A. sp. n. “Teles Pires”, A. ucayalensis ,A.uranophthalmus e A. sp. n. “Walsh”) e “clado Tympanopleura ” (A. atronasus, A. aff. atronasus , A. brevis,A. aff. brevis , A. rondoni eA. piperatus ).
2 1.3. Biologia
Uma característica marcante na família é a presença de dimorfismo sexual em machos sexualmente maduros tais como:o barbilhão maxilar mais longo, desenvolvendo fileiras de espinhos, acúleo na nadadeira dorsal ossificado, e desenvolvimento de um órgão intromitentepara inseminação interna (Ferraris, 1988; de Pinna 1993; Rapp Py Daniel e Cox Fernandes, 2005).
De acordo com Smith (1981) Ageneiosusucayalensis realiza migrações reprodutivas na bacia Amazônica, entretanto, A. inermis não apresenta comportamento migrador comparado com outras espéceis da sua família, mesmo tendo uma distribuição ampla (Rapp Py Daniel, com. pess.).Estes peixes vivem no fundo dos rios e os juvenis nas calhas dos rios principais (Britski, 1972; Walsh 1990;), tem hábito noturno e alimentam se de microcrustáceos e peixes (Fréry et al. , 2001; Hahn et al. , 2004; Sá Oliveira, 2014).Algumas espécies de Ageneiosus são fonte de subsistência, apresentando potencial econômico e de fonte de proteínas para populações ribeirinhas (MPA/MMA, 2011; Batista et al. , 2012).
1.4. Marcadores moleculares mitocondriais
Embora estejam disponíveis muitos trabalhos de revisão taxonômica, no momento existe apenas dois trabalhos com o uso de dados moleculares em Doradoidea, mais especificamente membros da família Doradidae (Arce et al ., 2013; Moyer et al ., 2004) e nenhum estudo específico para a família Auchenipteridae ou Ageneiosus .
Dados moleculares são ferramentas muito utilizadas para trabalhos que incluem a taxonomia, filogenia e filogeografia para responder questões relacionadas à conservação, distribuição e história natural de grupos taxonômicos. A molécula fundamental é o DNA (ácido desoxirribonucléico), conhecida como a molécula da hereditariedade em todos os organismos (Stryer, 1988) por ser o reservatório de informações genéticas, e ocupa uma posição central entre as macromoléculas biológicas (Lehninger et al ., 1995). O fragmento de DNA mais utilizado é o DNA mitocondrial (DNAmt) encontrado nas células somáticas do organismo, mais precisamente nas mitocôndrias, e é largamente utilizado (Avise, 1994).
(Função do genoma mitocondrial) Estudos realizados com o genoma mitocondrial de peixes têm mostrado que este é constituído por cerca de 17.000 pares de bases (pb), sendo que nesse genoma encontram se os genes 12S e 16S do rRNA, 22 genes de tRNA, as subunidades
3 I, II e III do citocromo coxidase,as subunidades 6 e 8 da ATP sintetase, o citocromo b e genes para seis subunidades da NADH (Meyer, 1993; Garesse et al., 1997; Miya et al ., 2003; Ballard e Withlock, 2004). Entre os Siluriformes, análises do DNA mitocondrial explicaram a monofilia de Doradidae e Astrodoradinae utilizando os genes 12s e 16s (Moyer et al., 2004) e a relação filogenética da família Ictaluridae com o citocromo b (Hardman, 2005), bem como na resolução ou na identificação de grupos com conflitos taxonômicos (Martin e Bermingham, 2000).
O DNAmitocondrial é geneticamente mais eficiente do que o DNA nuclear(Attardi, 1985; Gray, 1989), pois esta organela possui um genoma próprio, composto por uma única molécula circular e com o tamanho variando entre 15 a 20 kilobases (KB), quando se considera que não contem seqüências duplicadas, não possui íntrons e os genes são geralmente separados por menos do que 10 pares de bases (Wolstenholme e Clary, 1985).O DNA mitocondrial é um eficiente marcador molecular para análises intra e inter específicas, podendo ter aplicações em diversos tipos de estudos, tais como em biogeografia histórica (Eberhard e Bermingham, 2005), análises de zonas de hibridação, estimativas do grau de variabilidade genética (Ward e Holmes, 2007), caracterização de estrutura populacional, relações filogenéticas (Bromhaam et al ., 2002) e estudos de conservação genética (Bickford et al ., 2007; Ardura et al ., 2010).
O gene citocromo c oxidase subunidade I é o gene que ajuda a diferenciar as espécies e tem sido utilizado como DNA barcode (ou código de barras de DNA). Este gene foi escolhido pelo seu papel central no metabolismo e, portanto, sua presença em quase todos os eucariontes; por apresentar maior taxa evolutiva comparada aos genes codificados pelo núcleo; e,finalmente, por ser mais adequado para descriminar táxons estreitamente relacionados (Hebert et al. 2003). Desta forma, o DNA barcode é um gene que pode ser uma ferramenta padronizada e única para identificação de espécies, servindo tanto na identificação de espécies já descritas como também inferena descoberta de espécies novas.
O gene ATP sintetase (ATPase) de subunidades 6 e 8 é responsável pela codificação de uma enzima que hidroliza o ATP e funciona como um transportador de energia em todos as atividades básicas das células que requerem energia. Estes genes são conservados em relação a outros genes mitocondriais, por isso são ferramentas utilizadas para determinar relações filogenéticas, filogeografia (Habib et al. , 2012; Borba et al. , 2013) e também estimar divergências intra específicas (Frederico et al., 2012).
4 A possibilidade de obtenção de uma quantidade relativamente grande de dados em um tempo relativamente curto tem estimulado muitos pesquisadores a incluir em seus projetos de estudo análises de sequências de DNA. Assim, por exemplo, no conjunto de trabalhos publicados pode se observar o amplo e versátil emprego das análises moleculares na elaboração de hipóteses de relacionamento em diversos níveis taxonômicos, variando de populações locais até grandes grupos taxonômicos.
5 2. OBJETIVO GERAL
Delimitar as espécies do gênero Ageneiosus esua a relação filogenética utilizando os marcadores mitocondriais do Citocromo Oxidase da subunidade I (COI) e ATP sintetase (ATPase).
2.1. Objetivos específicos