Redalyc.Political and Cultural Endeavors of Paulo Emilio Salles Gomes: 1935-1945
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Revista de Sociologia e Política ISSN: 0104-4478 [email protected] Universidade Federal do Paraná Brasil Zuin Soares, João Carlos Political and cultural endeavors of Paulo Emilio Salles Gomes: 1935-1945 Revista de Sociologia e Política, núm. 17, noviembre, 2001 Universidade Federal do Paraná Curitiba, Brasil Available in: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=23801709 How to cite Complete issue Scientific Information System More information about this article Network of Scientific Journals from Latin America, the Caribbean, Spain and Portugal Journal's homepage in redalyc.org Non-profit academic project, developed under the open access initiative ARTIGOS REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA Nº 17: 107-125 NOV. 2001 EMPENHO POLÍTICO E CULTURAL EM PAULO EMÍLIO SALLES GOMES: 1935-1945 João Carlos Soares Zuin Universidade Estadual de Londrina RESUMO Este artigo propõe-se a fornecer elementos para estudar o papel intelectual desempenhado por Paulo Emílio Salles Gomes nos anos trinta e quarenta, especialmente na revista Clima. Por meio de um relato biográfico, analisamos o processo de formação de um intelectual crítico em meio às lutas políticas e sociais que caracterizaram o período, tanto no Brasil quanto em nível mundial. O relato esclarece o esforço de Paulo Emílio em constituir e difundir a noção de um socialismo independente no Brasil, contrapondo-se tanto ao fascismo e à ditadura de Getúlio Vargas quanto ao stalinismo e ao trotskismo, favorável à emancipação do homem e à revolução social, e mantendo como valores básicos a liberdade individual e a civilização ocidental. PALAVRAS-CHAVE: Paulo Emílio Salles Gomes; intelectual; empenho político e cultural; socialismo independente; democracia. I. INTRODUÇÃO a cultura e a política num riacho que tenha movimento próprio, autonomia, enfim: vida. Empenhado em combater o avanço da corrente Buscaremos, aqui, demonstrar que não outro foi de idéias nostálgicas celebradas pelos filósofos e outro o alvo do empenho político do jovem Paulo escritores alemães avessos à marcha da liberdade Emílio Salles Gomes. Com a categoria “empenho do mundo moderno, o filósofo alemão Hegel político” pretendemos caracterizar o modo como afirmava que “os cursos de água que não são o jovem Paulo Emílio buscou orientar-se e agir na movidos pelo vento tornam-se pântanos” (apud rarefeita atmosfera ideológica das décadas de trinta LOSURDO, 1983, p. 159). Exprimia, assim, todo e quarenta, período dos mais vivos e dramáticos desconforto e aversão que sentia no cenário da da civilização moderna. vida cultural e política da sociedade alemã estagnada e imóvel, bem como criticava a forte Seguimos, aqui, as observações do filósofo tendência de evasão da realidade presente nas italiano Domenico Losurdo que contrapõe a idéias que glorificavam o espírito teutônico e os categoria empenho, ou melhor, o termo valores do passado, sobremodo expressa nos “engagement objetivo” desenvolvido por Arturo desejos de volta à “idade de ouro” medieval. Tomo Massolo, ao termo francês engagement. Por de empréstimo a sentença de Hegel para empenho ou “engagement objetivo” Losurdo demonstrar o profundo empenho político e cultural compreende que “se Hegel tem ensinado a de Paulo Emílio Salles Gomes na sociedade inevitabilidade da situação histórica, Marx ensina brasileira dos anos quarenta. Desse modo, a inevitabilidade, no interior da situação histórica, procuramos usar a expressão de Hegel para tentar dos conflitos político-sociais. É essa dupla radical entender um dilema caro na vida cultural brasileira: imanência que define a nova qualidade do discurso a profunda sensação de mal-estar e debilidade do filosófico. Após Marx, acrescenta Massolo, o pensamento em orientar-se na problemática filósofo ‘sabe que está objetivamente engagé’” realidade brasileira. Não seria de todo errado dizer (idem, p. 128). Se o empenho político ou o que um sentimento de mal-estar e desconforto “engagement objetivo” possui raízes na tradição atravessa a história das idéias no Brasil. Usando a que vai de Hegel a Marx, o termo francês sentença de Hegel, podemos dizer que o intelectual engagement “pressupõe a imaculabilidade do deve contribuir objetivamente para transformar a processo de produção intelectual [...]. É uma sociedade brasileira do pântano em que está inserida forma de idealismo subjetivo que configura um Rev. Sociol. Polít., Curitiba, 17, p. 107-125, nov. 2001 107 EMPENHO POLÍTICO E CULTURAL EM PAULO EMÍLIO SALLES GOMES: 1935-1945 retorno aquém de Marx, e ainda de Hegel, em procuraram “desperrepizar o Brasil” e do última análise encontra-se em Fichte” (idem, p. marxismo. Nos ensaios do jovem Paulo Emílio 129). podemos observar a presença das duas fases que marcam o modernismo paulista: a ironia contida II.PRIMEIRA ENTRADA NA MODERNIDADE: nas sentenças que buscavam livrar a literatura O DESEJO DE SER MODERNO nacional do “último heleno” Coelho Neto e a No início dos anos trinta o jovem Paulo Emílio participação dos modernistas nos movimentos Salles Gomes cultivava um forte desejo de ser políticos que procuraram renovar o Brasil no início moderno. Conforme expôs no artigo Um discípulo dos anos 30. Décio de Almeida Prado acentua esses de Oswald em 1935, resultado de um exercício de dois traços principais da personalidade juvenil de volta ao passado que tanto lhe era caro (como Paulo Emílio, afirmando ainda que “é provável que atesta Décio de Almeida Prado), tal desejo tomava no seu espírito os dois movimentos, o artístico e forma “em 1935, pois aderia a tudo que me parecia o político, corressem paralelos”, pois “os dois moderno: comunismo, aprismo, Flávio de significavam um começo, não um apogeu, muito Carvalho, Mário de Andrade, Lasar Segall, Gilberto menos um fim de jornada” (PRADO, 1986, p. 21). Freyre, Anita Malfati, André Dreyfus, Lenine, Logo, no início dos anos trinta, o jovem acadêmico Stálin e Trotski, Meyerhold e Renato Viana. A extraía do modernismo e do marxismo os argu- confusão era maior ainda. Quando fui ao Rio mentos e modelos de orientação no interior da recolher artigos para a revista que estava fundando sociedade brasileira. com Décio de Almeida Prado, Movimento, visitei Sua concepção de mundo juvenil era Lúcia Miguel Pereira, Gilberto Amado, Pontes de constituída pelos valores e normas oriundos do Miranda e Maurício de Medeiros...” (GOMES, comunismo romântico dos anos vitoriosos da 1982a, p. 440). Um arrebatador impulso de adesão Revolução de Outubro. Uma verdadeira “paixão às idéias e aos autores que fossem ou pela Rússia” (GOMES, 1982c, p. 358) norteava estimulassem alguma expressão do moderno, tal todo o seu modo de agir e sentir o mundo moderno. era o sentimento que dirigia os esforços do jovem Numa passagem escrita nos anos sessenta sobre acadêmico na vida cultural e política na a sua ação política na tumultuada década de 30, provinciana cidade de São Paulo. Muito impulso e Paulo Emílio traçou um importante auto-retrato: pouco senso, como não poderia deixar de ser, “a Rússia foi o país que mais me interessou e emanavam de seu desejo de adesão ao moderno. durante mais tempo. O motivo era político, mas Na descrição de sua eclética imagem do moderno, eu me pergunto se esta expressão é a mais cuja discrepância e confusão não foram ocultadas adequada para resumir o estado de espírito dos trinta anos mais tarde, Paulo Emílio retratou a sua jovens brasileiros que abordavam os problemas procura por orientação no interior da sociedade russos nos anos imediatamente anteriores e brasileira. posteriores a 1930. Durante os últimos cento e Paulo Emílio viveu e refletiu profundamente a tantos anos não houve país que suscitasse, como desventura de crescer e envelhecer na atmosfera a Rússia, tanta paixão. Para encontrar algo de rarefeita de uma sociedade autoritária, elitista e semelhante é preciso reportar aos fins do século golpista. Dilema que se iniciou em dezembro de dezoito e início do dezenove, à França nova e 1935, quando então completara dezenove anos e modelada pela Revolução. Os estímulos afetivos era membro da Juventude Comunista paulistana. provocados pela transformação da Rússia em O jovem estudante preso na onda de repressão ao União Soviética ultrapassaram amplamente o que movimento comunista era conhecido pela polícia se designa por política. Ou melhor, a política por suas participações políticas nos comícios da naquele tempo aparecia para muitos como a Aliança Nacional Libertadora e pelos artigos atividade humana mais completa que se pudesse publicados nos periódicos de esquerda como imaginar, envolvendo todas as preocupações, das Vanguarda estudantil, A platéia e no jornal Correio morais às estéticas. Era difícil encontrar pessoas paulistano. Seus artigos de juventude resultavam com o sentimento de estarem sacrificando à de uma mistura fina formada pelo uso do humor e política o desenvolvimento destas ou daquelas da piada originários do primeiro momento do facetas de sua personalidade. O comunismo modernismo paulista (o da “descoelhonização” da oferecia uma concepção de mundo e normas de literatura nacional), por uma disposição ideológica comportamento” (idem, p. 357). proveniente dos modernistas paulistas que 108 REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA Nº 17: 107-125 NOV. 2001 Na narração de Paulo Emílio sobre os dilemas 446). Nosso autor passou quase dois anos nos políticos de sua juventude e de sua geração, é claro presídios Maria Zélia e Paraíso, nomes sutis para o sentido originário de sua adesão ao comunismo. cenários de crueldade e violência. Uma experiência Paulo Emílio concebia o comunismo como um que será permanentemente