Associativismo Negro Em Pelotas No Pós-Abolição: Membros Dos Clubes Sociais Negros, Articulistas Do a Alvorada E Militantes Da Frente Negra Pelotense (1933-1937)

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Associativismo Negro Em Pelotas No Pós-Abolição: Membros Dos Clubes Sociais Negros, Articulistas Do a Alvorada E Militantes Da Frente Negra Pelotense (1933-1937) ASSOCIATIVISMO NEGRO EM PELOTAS NO PÓS-ABOLIÇÃO: MEMBROS DOS CLUBES SOCIAIS NEGROS, ARTICULISTAS DO A ALVORADA E MILITANTES DA FRENTE NEGRA PELOTENSE (1933-1937) Fernanda Oliveira da Silva1 Os anos 30 no Brasil representaram um marco para o associativismo negro no Brasil. Estes anos puderam observar a fundação das associações com maior visibilidade social e política, mantendo-se ainda as associações voltadas ao lazer, mas que incluíam em suas atividades a preocupação com a situação social dos negros. As discussões estavam permeadas pela propalada democracia racial brasileira e o ideário de branqueamento. Nesse sentido, destacamos que as associações negras desse período permitiram a visualização de uma rede de movimentação em prol de melhorias sociais, políticas e econômicas aos negros brasileiros, ou seja, em busca da cidadania. O tema da presente comunicação concentra-se no associativismo negro em Pelotas no pós- Abolição. Pelotas é uma cidade localizada no extremo sul do Rio Grande do Sul e se caracterizou pela grande presença da mão-de-obra negra durante a escravidão em virtude das charqueadas locais e a manutenção destes trabalhadores no pós-Abolição. Esta concentração elevada somada ao preconceito racial fez com que estes negros buscassem espaços para conviver com os seus, tendo inicio com as Irmandades leigas no Império, seguidas pelas associações beneficentes nas últimas décadas do século XIX, e desenvolvendo-se no pós-Abolição uma complexa rede de movimento social2. Buscamos expor que a Frente Negra Pelotense (1933-1937) representou um momento de tensão dentro do meio negro pelotense, a partir da participação efetiva dos clubes sociais negros e também dos reflexos junto aos grupos negros pelotenses no sentido de colocarem-se todos como negros, sem diferença de tonalidade da pele ou classe social. A época em que vigorou a Frente Negra Pelotense na cidade de Pelotas contava com a existência de cinco clubes negros – Depois da Chuva (1916-meados da década 1980); Chove Não Molha (1919- em funcionamento); Fica Ahí P’ra Ir Dizendo (1921- em funcionamento); Está Tudo Certo (1931-década de 1930) e Quem Ri de Nós Tem Paixão (1921-1940). A análise está focada sobre os membros que formavam as associações negras − clubes sociais negros (diretório), A Alvorada e Frente Negra Pelotense − ao 1 Mestranda em História pela PUCRS (bolsista CAPES). [email protected] 2 Estas associações foram abordadas na íntegra na dissertação de mestrado intitulada “Os negros, a constituição de espaços para os seus e o entrelaçamento desses espaços: associações e identidades negras em Pelotas (1820-1943)”. Defendida em março de 2011 na PUCRS. O artigo aqui desenvolvido é parte dessa dissertação. 1 longo da década de 1930. Ele visa através da analise de práticas sociais, culturais e políticas, dessas pessoas identificar posturas para com a formação de uma identidade étnica. A experiência acumulada com a manutenção de associações negras desde a época da escravidão permitiu uma organização mais complexa. Isto ficou evidenciado principalmente através da constituição e/ou manutenção de associações que manifestavam abertamente a preocupação com uma identidade negra positiva. Estas se pretendiam capazes de unificar todos os membros da raça, distinção evidenciada na descaracterização de uma inferioridade que seria inerente aos negros. Porém, se faz necessário destacar que havia inúmeras divergências entre as diferentes associações, assim como no interior destas, entre os membros diretivos e os associados. Nesta pesquisa dispomos de fontes concernentes apenas aos ideais propalados pelos membros diretivos o que não nos permite afirmar que tenham sido seguidos em totalidade pelos associados. É nesse sentido que destacamos os ideais e as ideias pretendidos pelas lideranças negras em Pelotas, as quais atuavam nos anos 30 em diferentes espaços. Tomamos, no entanto, a Frente Negra Pelotense (1933-1937) como a grande interlocutora com os clubes sociais negros da cidade, até então os principais locais de sociabilidade, mas principalmente de vivência dos negros locais. A década de 1930 foi marcada pela Revolução de 1930, seguida pela esperança de uma país com menos preconceito racial. Esta esperança demonstrou-se uma ilusão. Foi nesse período que surgiu a organização política negra de maior alcance no país: a Frente Negra Brasileira (DOMINGUES, 2008). A entidade fundada em São Paulo encontrou adeptos em Pelotas, dentre os quais muitos pertencentes aos quadros dos clubes sociais negros existentes então na cidade e membros do corpo editorial do jornal A Alvorada (1907-1965 com pequenas interrupções). A partir de então foi possível perceber uma grande interlocução entre membros do referido jornal, dos clubes e da associação negra que fundaram – A Frente Negra Pelotense (1931-1937). A utilização dessa perspectiva foi uma estratégia para ter acesso a três aspectos em especial. Primeiro, ter acesso à rede de relações estabelecida entre a FNP, clubes sociais negros e demais órgãos ou pessoas consideradas. Segundo, perceber a busca de uma identidade negra que unificasse os negros pelos redatores das fontes produzidas. Terceiro, perceber, com maior clareza, a recepção às ideias da entidade em outros locais que não apenas Pelotas, através dos assuntos que julgavam concernentes à mobilização e unificação negra em prol de uma causa única e própria veiculada nos artigos dos redatores membros, ou seja, determinando assim o campo cultural do qual a FNP em conjunto com os clubes sociais negros faziam parte. 2 A(s) identidade(s) negra(s) é concebida aqui como uma identidade de base racial, de afirmação da sua origem e consequentemente, sua raça, nesse sentido nos foi importante na construção do argumento que da sustentação a essa pesquisa a reflexão presente em Guimarães (2005, p. 67) para o qual: [...] é justo ai [na tensão existente entre os ideários que por um lado negavam a existência biológica das raças e por outro negavam a existência de um racismo e discriminação racial] que aparece a necessidade de teorizar as “raças” como elas são, ou seja, construtos sociais, formas de identidade baseadas numa ideia biológica errônea, mas socialmente eficaz para construir, manter e reproduzir diferenças e privilégios. Se as raças não existem num sentido estrito e realista de ciência, ou seja, se não são do mundo físico, elas existem, contudo, de modo pleno, no mundo social, produtos de formas de classificar e de identificar que orientam as ações humanas (grifos do autor). A rede se consolida: membros dos clubes, articulistas do A Alvorada e militantes da Frente Negra Pelotense Pedras Altas José Peny e Vargadas, Duas penas cintilantes Servis em todas cruzadas, Com seus artigos brilhantes. João Bueno, de Cacimbinhas Outro valor que vai ser Escreverá muitas linhas Para aquele povo ler. Demetrio Silva, também Lutador e abnegado, Conduz a sua pena bem E aqui fica convidado. Frente Negra Pelotense, Orgulho de nossa raça, O negro Pedrasaltense Aqui te saúda e te abraça. As tuas finalidades, É [sic] a nossa aspiração Abrange todas [sic] cidades Buscando coordenação. Nas vilas, nos povoados, Teu desejo há de chegar Para a que a raça orientada 3 Possa forte triunfar. Miguel Barros, animador Da cultura e da união, Humberto de Freitas, o batalhador De valor e vibração. (A Alvorada, 30/09/1934, p.7). Os artigos veiculados no A Alvorada assim como nos demais jornais locais e com o auxilio das atas de diretoria dos clubes Chove Não Molha e Fica Ahí P’ra Ir Dizendo fornecem indícios da participação de membros que atuavam em diferentes associações negras. Essa participação se intensificou na década de 30. Neste período, a FNP aparece como a associação unificadora da raça na cidade e já com respaldo não apenas regional como também nacional. No poema intitulado Pedras Altas encontramos alguns dos nomes que se enquadram nessa afirmativa. Alerta ainda para a abrangência, no caso regional, que a Frente vinha alcançando. O redator apela para os negros de Cacimbinhas (atual cidade de Pinheiro Machado) e Jaguarão na empreitada em prol da instrução e cultura. A primeira estrofe do poema anterior referencia dois redatores e membros da Frente Negra Pelotense. José Penny foi, o idealizador da Campanha Pró-Educação, a qual seria a bandeira da FNP, este era filho do proprietário do jornal, Juvenal Penny3, e na época estudava Engenharia na capital do Estado, Porto Alegre, cidade na qual era o representante do jornal A Alvorada. Durante a manutenção da Campanha ocupou os cargos de diretor e redator do referido jornal. Esteve entre o grupo fundador da Frente, ao lado de José Adauto Ferreira da Silva, Carlos Torres, Miguel Barros e Humberto de Freitas. Em seus artigos, manifestava os ideais de unificação da raça negra em torno do ideal da instrução e se auto-identificava como negro. Em conjunto com José Penny, o poema evoca Armando Vargas, ao referenciar a assinatura adotada por este na coluna Pedacinhos... que interessam. Este era tipógrafo, envolvido com o movimento operário da região e um dos fundadores do jornal A Alvorada e se mantendo entre os articulistas até a extinção do hebdomadário. Armando esteve no conselho consultivo da Frente Negra Pelotense, momento em que era também sócio do clube negro Fica Ahí P’ra Ir Dizendo e neste se mantendo durante todo o período abrangido por esta pesquisa. A ata de 23 de março de 1938 do Clube Fica Ahí demonstra a importância, ou reconhecimento, para com o mesmo pela 3 Juvenal Penny foi o proprietário do jornal entre a fundação, 1907 até 1945, sendo que no ano seguinte o noticiário
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