Avifauna Da Estação Biológica De Canudos, Bahia, Brasil
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Avifauna da Estação ISSN 1981-8874 Biológica de Canudos, 9 771981 887003 0 0 1 5 9 Bahia, Brasil Diego Mendes Lima¹, Edinaldo L. das Neves² & Eurivaldo M. Alves A Estação Biológica de Canudos foi cria- da em 1993 pela Fundação Biodiversitas, que adquiriu uma área de 130 ha com o obje- tivo de proteger Anodorhynchus leari (ara- ra-azul-de-lear) espécie considerada a nível mundial como criticamente ameaçada de extinção (MMA 2003) e toda sua paisagem diferenciada pela presença de paredões de arenito (canyons) que servem de dormitório e área de nidificação da espécie. A reserva está localizada no município de Canudos, região nordeste da Bahia, no domínio da Caatinga (9º56'34”S e 38º59'17”W). A Esta- ção teve seu limite alterado em 2007 quando a Fundação Biodiversitas fez parceria com a Figura 1. Anodorhynchus leari (arara-azul-de-lear) espécie American Bird Conservancy, que ampliou considerada mundialmente como criticamente ameaçada de extinção. sua área para aproximadamente 1.500 ha. cas, vulneráveis e ameaçadas de extinção, a fim de subsidiar a Um levantamento de dados bibliográficos realizado por Pacheco elaboração de Plano de Ação Nacional para conservação destas (2004) registrou 348 espécies de aves para a Caatinga, onde 15 espécies. espécies são consideradas como endêmicas e 20 espécies ameaça- das de extinção. Apesar de alguns autores como Haffer (1985) e Material e Métodos Cracraft (1985) ressaltarem a importância de se realizar mais estu- Área de estudo. Estação Biológica de Canudos (9º56’34”S e dos no bioma por reconhecerem a caatinga como umas das áreas de 38º59’17”W), localizada no município de Canudos, sertão baiano, endemismo para a avifauna, a Caatinga ainda é pouco conhecida a 398 km de Salvador, capital do Estado. A reserva está inserida no pela ciência. Pode-se destacar alguns levantamentos realizados por domínio morfoclimático e fitogeográfico das Caatingas (Ab'Saber, Parrini et al. (1999), Nascimento et al. (2000), Santos (2004), Fari- 1977). Caracterizada por uma caatinga arbustiva densa ou raleada, as et al. (2005), Olmos et al. (2005), Telino-Junior et al. (2005) e de clima tropical semi-árido. As chuvas se concentram entre os Ross et al. (2006). meses de março a junho, quando normalmente a temperatura sofre Contudo, o cenário que se vislumbra para proteção e conserva- uma pequena queda, caracterizando o período mais frio e úmido do ção dos recursos naturais da Caatinga não é nada promissor. Segun- ano, com as mais baixas taxas de precipitação (300 e 800 mm) do Garda (1996) o processo de modificação da Caatinga está bas- (INMET 1961-1990), também, as mais altas taxas de insolação, as tante acelerado. Os fatores de ameaça são a substituição da vegeta- mais altas médias térmicas (entre 27 a 29 ºC) e as mais baixas per- ção natural por culturas e desmatamento para pecuária. Apesar das centagens de umidade relativa do ar (INMET 1961-1990). ameaças à sua integridade, menos de 2% da Caatinga está protegi- Método. O levantamento das espécies foi feito através de obser- da em unidades de conservação de proteção integral (Tabarelli & vações diretas por dois observadores com auxílio de binóculos (8 x Vicente 2004). Se considerarmos ainda que este seja o terceiro bio- 40; 7 x 35) da marca Bushnell e/ou luneta Nikon 60x, combinado ma brasileiro mais alterado pelo homem, estas áreas destinadas à com bioacústica e também com a utilização da técnica de play- proteção integral são insuficientes para conservação (Castelletti et back (Marion et al. 1981) percorrendo trilhas e caminhos existen- al. 2004). tes. Ao longo desses percursos, foram anotados os seguintes dados: Nas ultimas décadas os estudos sobre a avifauna baiana tem reve- visualizações e/ou vocalização e itens alimentares. lado a importância da conservação de grandes áreas florestais para A identificação das espécies de aves foi realizada a partir de con- o manejo de espécies endêmicas e ameaçadas de extinção da Caa- tatos visuais utilizando bibliografia especializada (Ridgely & tinga como, por exemplo, Fiuza (1999) e Lima et al. (2003). Tudor 1989, 1994, Sick 1997, Souza 2004, Sigrist 2009). As expe- Este estudo visou inventariar as espécies de aves existentes na dições ocorreram nos dia 01 a 03/02/05, 03 a 06/01/06, 21 a Estação Biológica de Canudos identificando espécies endêmi- 23/04/06, 26/11/06 e 24 a 27/05/2010, totalizando 105 horas de Atualidades Ornitológicas On-line Nº 159 - Janeiro/Fevereiro 2011 - www.ao.com.br 43 Figura 2. Sakesphorus cristatus (choca-do-nordeste), Figura 3. Megaxenops parnaguae (bico-virado-da-caatinga), considerada endêmica para a caatinga. espécies endêmica e pouco conhecida pela ciência. observações durante as primeiras horas do dia, das 05:00h as restas úmidas, caracterizadas como pequenas manchas de refúgio, 10:00h e durante a noite 19:00h as 21:00h. chamadas localmente de “brejos”. As dietas foram determinadas através de registros de campo e Para a família Thamnophilidae podem ser destacadas as espécies bibliografia (Willis 1979, Motta-Junior 1990). As categorias trófi- Sakesphorus cristatus (Figura 2), considerada endêmica para a caa- cas consideradas foram: Carnívoro (CAR), Detritívoro (DET), Fru- tinga por Haffer (1985), Sick (1997) e Pacheco (2004) e Herpsi- gívoro (FRU), Granívoro (GRA), Insetívoro (INS), Nectarívoro lochmus pectoralis, indicada com status de ameaça vulnerável pela (NEC), Onívoro (ONI). Instrução Normativa nº 3 do Ministério do Meio Ambiente (MMA A sequência taxonômica e sistemática segue as recomendações 2003) e pela União Mundial para a Natureza (IUCN 2007). do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO 2011). Da família Furnariidae foram registradas duas espécies endêmi- Para indicação das espécies ameaçadas, utilizou-se a Lista Nacio- cas: Gyalophylax hellmayri, registrada em fitofisionomia com nal das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção vegetação agrupada, com cactáceas, bromeliáceas e arbustos rami- (MMA 2003) e União Nacional para Natureza - Red List (IUCN ficando, alcançando arvores mais altas, ambientes comumente cha- 2007) e Convención sobre el Comercio Internacional de Espécies mados de “carrasco” e Megaxenops parnaguae (Figura 3), que em Amenazadas de Fauna y Flora Silvestres (CITES 2010). Espécies muitos contatos foi avistado juntamente com G. hellmayri. Ambas endêmicas da caatinga foram relacionadas segundo Pacheco são pouco conhecidas pela ciência, apresentando estudos realiza- (2004) e Haffer (1985). dos por Whitney & Pacheco (1994) que priorizaram suas observa- ções no comportamento e vocalização dos dois gêneros, bem como Resultados e Discussão o estudo de Lima et al. (2008) que documentou através de fotos a Foram registradas 179 espécies de aves (Tab. 1). Destas, 14 espé- reprodução de G. hellmayri. cies são endêmicas da Caatinga. Registraram-se Penelope jacuca- Foram identificadas sete espécies cinegéticas: Crypturellus par- ca, Anodorhynchus leari, Herpsilochmus pectoralis, Sporagra yar- virostris, Crypturellus tataupa, Rhynchotus rufescens, Nothura rellii como espécies citadas nas listas de espécies ameaçadas de boraquira, Nothura maculosa, Ortalis guttata e Penelope jacuca- extinção, de acordo com MMA (2003), IUCN (2007) e CITES ca. Dentre estas, pode-se destacar Penelope jacucaca, espécie que (2010). As espécies identificadas distribuem-se em 44 famílias, apresenta dieta especializada e necessita de grandes fragmentos flo- sendo as mais representativas Tyrannidae (n=27), Thraupidae restais para realizarem seus processos biológicos, sendo mais sen- (n=13), Columbidae, Thamnophilidae e Furnariidae (n=9, cada), síveis às alterações de hábitats. A espécie é indicada com status de Emberezidae (n=8). vulnerável de extinção pelo MMA (2003) e IUCN (2007). A pre- A riqueza de espécies amostrada na Estação Biológica de Canu- sença de P. jacucaca para a localidade é um bom indicativo de qua- dos é considerado alta, quando comparada com o levantamento rea- lidade ambiental (Silva et al. 2003). lizado por Sick et al. (1987) na região de endemismo da Ano- A maioria das espécies das famílias Emberizidae e Frigilidae são dorhynchus leari (Figura 1), no Raso da Catarina, onde identificou caracterizadas como xerimbabos (aves criadas em gaiolas) (Sick, 132 espécies de aves. Contudo, foi ligeiramente mais baixo do que 1997). Sendo assim espécies susceptíveis a este tipo de pressão o levantamento de Lima et al. (2003) que registrou 191 espécies em antrópica. Identificou-se Sporophila albogularis e Paroaria domi- uma área de 20.000 ha, também no Raso da Catarina. nicana, consideradas endêmicas para o bioma da Caatinga e o O número elevado de espécies da família Tyrannidae é refe- registro de Sporagra yarrellii espécies indicada com status de vul- rente à ampla distribuição do grupo, podendo ocupar diferentes nerável de extinção pelo MMA (2003) e IUCN (2007) e citada no tipos de paisagens, bem como pela sua dieta insetívora, onde anexo II da CITES (2010). Sporagra yarrellii foi avistado em vege- este recurso alimentar no bioma da caatinga é o de maior abun- tação arbustiva espaçada em um bando de oito a dez indivíduos que dância para as aves, tais aspectos lhes oferecem maiores vanta- desciam para forragear e empoleirar no “velame” (Croton campes- gens (Sick 1997). Para a família Tyranidae destaca-se o registro tris St. Hil., Euphorbiaceae). de Suiriri suiriri, como novo registro para região de Canudos e Raso da Catarina. Conclusão Neste levantamento destacamos o registro de Thlypopsis sordida Trabalhos de inventário avifaunístico fornecem informações e Conirostrum speciosum, espécies encontradas em enclaves de flo- relevantes para a seleção de áreas prioritárias para a conservação. 44 Atualidades Ornitológicas On-line Nº 159 - Janeiro/Fevereiro 2011 - www.ao.com.br Apesar dos estudos com aves serem bem difundidos no Brasil, há Nascimento, J. L. X., I. L. S. do Nascimento & S. M. Azevedo-Junior (2000) ainda grandes lacunas sobre a distribuição, ecologia e biologia Aves da Chapada do Araripe (Brasil): biologia e conservação. Ararajuba, das aves da Caatinga. A presente pesquisa colabora com a identi- Londrina, 8(2): 115-125. ficação das espécies de aves da Estação Biológica de Canudos, Ministério do Meio Ambiente.