Edição especial - Sociedade e ambiente no Semiárido: controvérsias e abordagens Vol. 55, p. 721-741, dez. 2020. DOI: 10.5380/dma.v55i0.73073. e-ISSN 2176-9109

DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE

Geopoética do Semiárido brasileiro: a Estação Ecológica do Raso da Catarina em Arquitetura & Canção

Geopoethics of the Brazilian Semiarid: The “Raso da Catarina” Ecological Station in Architecture & Song

Francisco Fernando Livino de CARVALHO1,2*, Luiza Corral Martins de Oliveira PONCIANO1

1 Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 2 Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Brasília, DF, Brasil. * E-mail de contato: [email protected]

Artigo recebido em 22 de abril de 2020, versão fnal aceita em 4 de setembro de 2020, publicado em 18 de dezembro de 2020.

RESUMO: A Geopoética oferece uma abordagem de construção do conhecimento que é ao mesmo tempo científca, flosófca e poética, sendo um campo pertinente para alicerçar novos produtos interpretativos para as unidades de conservação (UC) federais. O estudo preliminar para uma base de apoio à pesquisa na Estação Ecológica do Raso da Catarina (região de -BA) ilustra uma postura projetual que se contrapõe à corriqueira tendência arquitetônica de implantação de edifcações, que buscam se confgurar como uma “marca” na paisagem. Ao contrário, agindo geopoeticamente, desejamos que a edifcação venha a se materializar como uma “eclosão” das forças expressivas da Natureza daquele lugar, da paisagem que a receberá, concebendo uma edifcação o mais possível integrada ao local. Tal eclosão Geopoética vai além e entrelaça a Arquitetura com poemas e canções, por serem linguagens que se complementam e se retroalimentam na tradução das paisagens do semiárido brasileiro, com o intuito de promover um encantamento social pelas nossas áreas protegidas. Fazer da Arte uma ferramenta de gestão ambiental e estruturar a promoção do encantamento como uma política pública são os caminhos sugeridos aqui para se reconciliar a sociedade contemporânea com os ambientes naturais. Palavras-chave: geopoética; interpretação ambiental; arquitetura; unidades de conservação.

ABSTRACT: Geopoetics ofers a scientifc, philosophical and poetic unifed approach to knowledge construction, being a pertinent feld to support new interpretative products for federal protected areas (UC) in . The preliminary study for a research base in the “Raso da Catarina” Ecological Station (Paulo Afonso - BA region) illustrates

Desenvolv. e Meio Ambiente usa uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional 721 a design stance that opposes the current architectural trend that leads to the implantation of buildings which seeks to confgure themselves as a “brand” in the landscape. On the contrary, acting geopoetically, we want to materialize the building as an “outbreak” of the expressive forces of Nature in that place, the landscape that will receive it, conceiving a building integrated with the place as much as possible . Such a Geopoetics outbreak goes beyond and interweaves Architecture with poems and songs, as languages that complement and nurture themselves as translations of the Brazilian semiarid landscapes, with the aim of promoting a social enchant- ment for our protected areas. Making Art an environmental management tool and structuring the promotion of enchantment as a public policy are ways suggested here to reconcile contemporary society with the natural environments. Keywords: geopoetics; environmental interpretation; architecture; protected areas.

1. Introdução: interpretando a paisagem a provocar e sensibilizar o visitante em relação aos atributos naturais protegidos pelas unidades de conservação (ou outras áreas especialmente A prática da visitação em unidades de con­ protegidas), se valendo de variadas linguagens para servação (UC) carrega a responsabilidade e o comunicar os encantos da Natureza e a importância potencial de ser um dos caminhos onde encontramos de sua conservação. “É uma arte que combina estímulos, (re)conhecimentos e afetos pela Natureza, muitas artes” (Tilden, 1977): painéis e banners contribuindo para uma necessária e urgente interpretativos, documentários audiovisuais, trilhas reconciliação entre a sociedade contemporânea e o guiadas, performances, dioramas, dentre outros nosso berço natural (Cabrita, 2017). Muitas vezes, produtos que buscam aproximar o público visitante entretanto, pode ser essencial provocar o visitante das UC às mensagens da Natureza. para que ele se aprofunde nessa imersão, por meio A Arte aplicada como uma ferramenta de de atividades de sensibilização que visam (re)criar gestão é o que propomos neste artigo, propiciando as memórias e conexões afetivas entre o ser humano a formação de uma postura crítica, pautada na e a Natureza selvagem (Hanai & Netto, 2006). Para Geopoética, frente à crise socioambiental do nosso tal, faz-se importante investir no desenvolvimento de tempo (Leme & Neves, 2007). Em um contexto formas de interlocução múltiplas e complementares, global no qual a qualidade de vida é muito vinculada incluindo estímulos sensoriais diversos (ICMBio, com a capacidade de consumo e a sociedade 2018). confunde o “bem viver” com um “viver para ter”, A interpretação dos atributos e fenômenos da tem-se as justifcativas para a assimetria entre as Natureza é atividade humana desde tempos ime- dinâmicas social e ecológica que caracterizam a moriais. Ela nasce da necessidade de expressão e contemporaneidade (Sampaio, 2018). da sociabilidade do homem, sua capacidade atávica Se no tocante aos recursos naturais vivencia- de traduzir e transmitir conhecimentos e sensações mos uma realidade de sobre-exploração e esgota- (ICMBio, 2018). A Interpretação Ambiental, por mento, no campo das artes e da cultura vive-se hoje sua vez, é uma prática gerencial que se propõe

722 CARVALHO, F. F. L. de; PONCIANO, L. C. M. de O. Geopoética do Semiárido brasileiro: a Estação Ecológica do Raso da Catarina... uma crise estética e subjetiva decorrente de uma espaço. Amadurecendo o conceito, Kozel (2012) massifcação cultural globalizada, que molda as descreve a paisagem como “o resultado da con- preferências populares por meio de fórmulas padro- templação, primeiramente no sentido ótico e em nizadas, repetitivas e alheias às referências culturais seguida espiritual da Natureza, correlacionando os das comunidades. Arte e cultura são transformadas diversos objetos e a imaginação subjetiva dos mes- em objetos de consumo como outros quaisquer, e mos”. Ou seja, muito além dos elementos visíveis seu público “consumidor” se torna alienado ao bem e concretos, se entrelaçam o empírico, a criativi- cultural e à própria vida (Oliveira, 2018). dade e a sensibilidade, que, por sua vez, estarão Em vista desse cenário, acreditamos na fer- sempre relacionados aos aspectos culturais de um tilidade do solo brasileiro (representado por suas espaço-povo-tempo. Embora a autora nos descreva paisagens, ecossistemas e espécies) para rebrotar a “contemplação no sentido ótico”, a percepção uma semente de sustentabilidade, pautada em pro- da paisagem vai além e toca os demais sentidos, fundas raízes culturais, capazes de sustentar copas o que nos leva ao conceito de paisagem sonora, abertas ao mundo. explorado por Kozel (2012) sob a tríade “olhar, Desse modo, entrelaçamos Arquitetura, poe- sentir e ouvir” a Natureza. Nesse entrelaçamento mas e canções que se complementam e se reforçam entre as linguagens plásticas e sonoras, focamos no discurso de louvação à paisagem (no caso a aqui na materialização de uma síntese da paisagem ) e na mensagem da conservação e da pela Arquitetura e canções. valorização de nosso patrimônio natural e cultural. Assim, as linguagens (geo)poéticas se mate- As canções, associadas (ou não) a outras rializam visando alcançar subjetividades e provocar formas de mídia, tais como audiovisuais ou perfor- intersubjetividades construtoras de uma postura so- mances, tanto podem se conjugar com as edifcações cial em relação ao ambiente (Andrade & Sorrentino, (como, por exemplo, sendo atrações em exposições 2013), pautadas pelo respeito e pelo encantamento. interpretativas de centros de visitantes), como po- É fundamentalmente no que se acredita e se aposta: dem mirar um público urbano, inicialmente distante um novo olhar, capaz de promover outras práticas das UC, pelas inúmeras plataformas de divulgação sociais, um novo sentir que influenciará outro atualmente disponíveis. O objetivo é oferecer len- pensar e agir. tes sensitivas aos visitantes e levar as paisagens O foco na Estação Ecológica do Raso da protegidas para muito além de seus perímetros Catarina, UC federal localizada na região de Paulo legais, por meio das “asas” que a música oferece Afonso, na caatinga baiana, se apresenta como uma em seus variados meios de veiculação, indo além proposta piloto, capaz de ilustrar uma postura proje- dos ecoturistas. tual e compositiva que se aplica e pode ser adaptada O conceito de Paisagem entrelaça o tangível para qualquer outro bioma brasileiro. Buscando uma e o intangível, no sentido de se encontrar a “alma uniformidade conceitual e metodológica baseada do lugar” (Mendonça & Neiman, 2000; Kozel, na Arquitetura e nas Artes, o intuito é refetir a 2012). Mais que um espaço físico em si, o conceito diversidade biológica, geológica e cultural do país de Paisagem retrata a forma de se perceber aquele numa heterogeneidade de expressões unificada

Desenvolv. Meio Ambiente, v. 55, Edição especial - Sociedade e ambiente no Semiárido: controvérsias e abordagens, p. 721-741, dez. 2020. 723 pelo espelhamento da paisagem local nos projetos uma área natural vá além de um mero “consumo” da realizados. Embora aplicada aqui em uma categoria paisagem (Mendonça & Neiman, 2000), ou, como de UC que não permite a visitação com fins afrma Tuan (2012), uma “coleção” de carimbos recreativos, a metodologia proposta a seguir pode de parques nacionais no passaporte. Este costume, ser replicada para as demais categorias, em especial muito comum nos EUA, pode ser encontrado aqui os parques nacionais, cujos objetivos principais no Brasil, por exemplo, no programa de Passaporte incluem a recreação, com o claro propósito de de Trilhas do Estado de São Paulo, da Fundação aproximar sociedade e conservação ambiental. Florestal. Os resultados que aqui se apresentam são, portanto, propostas para estimular e aperfeiçoar a interlocução do visitante urbano com as paisagens 2. Uma abordagem geopoética naturais, ofertando novas traduções e sínteses dessas paisagens, em variadas linguagens (Hanai A Geopoética, que abrange as diversas formas & Netto, 2006). de relação dos seres humanos com o planeta Terra, A Geopoética oferece um terreno de encontros seguindo a linha mais abrangente proposta por e estímulos recíprocos entre Turismo, Ciências Kenneth White em 1979 (Ponciano, 2018), responde Ambientais, Arquitetura, Geociências, Artes, pelo amálgama de uma abordagem ao mesmo Biologia, Física, Química e outras disciplinas tempo científca, flosófca e poética, que alicerça diversas, desde o momento em que se trabalhe expressões técnico-artísticas (arquitetura, poesia, com estas sem se prender a seus espaços isolados, imagens, canções...) cuja fonte dos seus elementos abrindo-se a encontros inusitados, em uma de linguagem é a própria paisagem natural pro- transdisciplinaridade amplifcada (Ponciano, 2018). tegida, à qual devem servir. Ponciano (2018), ao Esta procura refete as preocupações de White relacionar o fazer poético com a investigação cien- (2014), quando o autor destaca que “se o ‘meio tífca, afrma que a pesquisa acadêmica possibilita a ambiente’ [...] não é preservado e mantido em toda “criação e a partilha de performances vivas, visce- sua complexidade, a existência, em breve, não terá rais e profundas”, decorrentes da intimidade que a mais base, a cultura não terá mais fundamento, e as investigação oferece ao criador que se aprofunda no práticas particulares, mais nenhum sentido”. conhecimento relacionado ao tema de sua criação. Diversos autores visitam a fonte talhada Cada vez mais, a noção de fruição e relação inicialmente por Kenneth White para ampliar este existencial com o espaço vem ganhando valor conceito e saciar a sede de suas jornadas, como (Crapez, 2017), sendo necessário promover uma Kozel (2012), quando nos é sugerida a tríade ressignificação das experiências, oferecendo entre olhar, sentir e ouvir como proposta para vivências nos ambientes naturais e trabalhando apreender a Geopoética. Já Crapez (2015) afrma a oferta de linguagens inteligíveis (Tuan, 2013a) que “a Geopoética, mais que uma poética nascida a um público crescentemente citadino. Portanto, das relações entre Arte e meio ambiente, é uma é responsabilidade do planejamento ecoturístico poética que emerge dessa consciência aguçada da propor estratégias que façam com que a visita a consubstancialidade do ser humano com seu meio”.

724 CARVALHO, F. F. L. de; PONCIANO, L. C. M. de O. Geopoética do Semiárido brasileiro: a Estação Ecológica do Raso da Catarina... Esta relação entre tangível e intangível é algo 3. As trilhas percorridas (metodologia) que requer necessariamente a transdisciplinaridade à qual se refere Ponciano (2018), justamente por Para traduzir o semiárido brasileiro numa não ser possível abarcá-la plenamente pela Ciência abordagem geopoética, de modo a construir as tradicional e a sua especialização. A reflexão, linguagens que serão expostas no presente artigo, nesses casos, nasce exatamente “entre a terra dos diversas trilhas metodológicas foram percorridas. pensamentos e sentimentos” (Guimarães, 2002). Os caminhos que veremos a seguir, embora rela- Esta autora demonstra as diferentes formas pelas tem especifcamente os que foram trilhados para a quais a geografa humanista estuda a paisagem, concepção dos produtos que compõem este artigo, “segundo nossas experiências e percepções”, se prestam à materialização de uma metodologia ultrapassando os limites específcos da Ciência e que pretende orientar a elaboração de produtos legitimando as Artes plásticas e literárias como interpretativos (inclusive a Arquitetura), indepen- expressões dessa percepção e, portanto, dessa cons- dentemente do bioma ou categoria de manejo das trução de conhecimento. UC analisadas. Conceitos que inspiram o fazer aqui relatado, tais como a transdisciplinaridade, a geografa huma- nista e a Geopoética, embora relativamente recentes, 3.1. Levantamento bibliográfco e documental já eram realizados pelos grandes naturalistas do século XVIII, quando retratavam e descreviam o Constituindo as lentes de análise para as sentimento de encantamento diante da grandeza da questões investigadas, foram realizadas pesquisas Natureza: “mais do que um objeto da Ciência, uma nos campos da Geopoética, Geografa, Ecologia, verdadeira obra de Arte” (Roncaglio, 2009). Arquitetura, Interpretação Ambiental e Ecoturismo, Apostamos, portanto, numa pluralidade de dentre outros, além de documentos oficiais linguagens complementares capazes de estimular produzidos pelos órgãos gestores das UC enfocadas, sentidos e ideias variadas no praticante do Ecotu- tais como: planos de manejo, mapas, relatórios rismo (e também no ecoturista virtual), sugerindo e gráficos. Sempre que possível, destacamos a a adoção de uma política pública de encantamento importância da inclusão de dados não publicados pela Natureza, que encontrará seus porta-vozes nos (cadernetas de campo, fotografas, flmes, ilustra- profssionais da Interpretação Ambiental, sejam ções, mapas, perfs estratigráfcos, etc.), e das co- eles biólogos, geógrafos, arquitetos, educadores leções de museus, universidades e outros institutos ou oriundos de qualquer outra formação acadêmica de pesquisa que contenham exemplares biológicos, ou técnica, estimulando uma reconciliação entre a geológicos e culturais coletados no local, conside- sociedade contemporânea e o nosso berço natural, rando a possibilidade de alguns destes não serem palco dos dramas encenados no planeta. mais encontrados in situ (no seu lugar de origem).

Desenvolv. Meio Ambiente, v. 55, Edição especial - Sociedade e ambiente no Semiárido: controvérsias e abordagens, p. 721-741, dez. 2020. 725 3.2. Visitas de campo maldade, contra o santo guerreiro (Rocha, 1969); os cordelistas e gravadores do sertão; o mestre xi- As percepções das particularidades que logravurista Gilvan Samico (Samico, 1998) como compõem a essência paisagística da Estação Eco- referência especial; poetas sertanejos, tais como lógica (ESEC) do Raso da Catarina (BA), a “alma Jessier Quirino (Quirino, 1998 2005), Amazan do lugar” (Mendonça & Neiman, 2000; Kozel, (Amazan, 1994) e Chico Pedrosa (Pedrosa, 2001) 2012), foram colhidas em uma visita de campo foram fundamentais para absorver o espírito cultural realizada no ano de 2007. Nessa ocasião se fez do sertão nordestino a fm de apreender as cores e diversos registros fotográfcos e ainda mais registros os traços a serem aplicados nas obras resultantes imateriais, colhidos na retina e no espírito. A UC (a poesia escrita e a construída). Tais obras de arte foi percorrida tanto por meio terrestre, em veículos foram absorvidas de forma empírica ao longo da motorizados e trilhas a pé, quanto por helicóptero, vida dos autores, um pensar-sentindo, conforme de onde se pôde perceber, por sobrevoo, toda a exposto em um seminário de cultura luso-brasileira, magnitude da biodiversidade e geodiversidade da na Faculdade de Letras da Universidade Federal região. Consideramos que os trabalhos de campo Fluminense, nos anos 1990. Todas essas referências são essenciais para uma “incorporação” da paisa- (e tantas outras) foram absorvidas com o tempo, gem de cada local, mas a forma, a duração e o foco sendo revisitadas sob uma ótica acadêmica ao longo nos elementos locais podem variar de acordo com a da pesquisa para a concepção deste trabalho. Assim, formação acadêmica e vivências anteriores de quem indicamos que, de acordo com as peculiaridades estiver realizando a pesquisa. Sugerimos que a visita do local, essa fase da pesquisa inclui, tanto quanto de campo contemple a maior diversidade possível possível, referências nas várias Artes, aproveitan- de elementos biológicos, geológicos e culturais, do correlações prévias com o bioma enfocado por além dos diferentes períodos do dia e se possível meio das memórias afetivas que brotam no corpo, as variações pelas estações do ano. integrando a “entidade artista” ao “ser” pesquisador acadêmico. 3.3. Absorção artística 3.4. Composições geopoéticas A leitura de autores como Euclides da Cunha (Cunha, 2016) e Rachel de Queiroz (Queiroz, 2006); As composições textuais e musicais buscam a audição atenta e devota da obra do cancioneiro de empatia com o público por meio da mensagem e da Elomar Figueira (Mello, 1973; 1981), bem como forma, sendo tão importante o “que” se diz quanto outros artistas oriundos da caatinga, como Xangai o “como” se diz. As rimas e a poética se oferecem (1997), Mestre Ambrósio (1998; 2001) e Cordel do sedutoras, ampliando a atratividade da mensagem Fogo Encantado (2002); flmes como Árido Movie conservacionista, enquanto as características típicas (Ferreira, 2005), Central do Brasil (Salles, 1998), A dos ambientes protegidos (suas espécies, geologia, Noite do Espantalho (Ricardo, 1974) e O dragão da culturas e paisagens) compõem a narrativa das

726 CARVALHO, F. F. L. de; PONCIANO, L. C. M. de O. Geopoética do Semiárido brasileiro: a Estação Ecológica do Raso da Catarina... canções. Estas se estruturam sob tessituras musi- terpretativos para as áreas protegidas se valendo cais afns aos territórios, por meio de melodias, da Geopoética. Uma postura referenciada nas harmonias e ritmos que, apesar de coerentes com práticas dos antigos pintores chineses, que, em vez as suas paisagens sonoras (Torres & Kozel, 2012) de irem para o campo com suas tintas e cavaletes, originárias, acabam por se confgurar numa lingua- preferiam fanar livremente um longo tempo pelas gem abstrata de leitura universal. Como exemplo, paisagens para depois exprimi-las, fltradas por suas pode-se citar a estrutura métrica do martelo aga- emoções (Tuan, 2012). Os resultados que ilustram lopado, estilo de poema utilizado por cordelistas o presente trabalho são fruto de quase duas décadas e cantadores nordestinos, que serve de condutor de vivências nas UC brasileiras, tanto em atividade para o poema musicado “Festa fresca, chuva boa”, profssional quanto em atividades de lazer, ocasiões que retrata a caatinga, como referência e reverência nas quais as duas formas de estar acontecem de ao Raso da Catarina. Lembramos aqui que essas maneira indissolúvel: mesmo durante o lazer não é composições podem ser realizadas por meio de possível conseguir se desvencilhar do olhar crítico parcerias com músicos, poetas, projetos de extensão de gestor e pesquisador, assim como o analista de universidades e várias outras possibilidades, no em exercício profssional não consegue abstrair intuito de conceber tais produtos. seu sentir passional de amante da Natureza. Desse modo, as “almas” dos lugares vividos se mesclaram 3.5. Concepção geopoética de Arquitetura e são, hoje, parte integrante do espírito “geopoeta” dos autores, que se traduzem em cada uma das obras apresentadas. Tal projeto se confgurou como uma mescla de Cabe, por fm, esclarecer que as duas últimas laboratório e campo, em que se buscou correlacionar etapas descritas (3.4 e 3.5) se referem aos produtos as referências paisagísticas (colhidas na unidade de específcos que compõem este artigo, no caso aos conservação, na literatura, em fotografas, iconogra- poemas e canções e à Arquitetura. O desafo de pro- fa, músicas, etc.) com a linguagem arquitetônica duzir produtos interpretativos, entretanto, poderá re- resultante, materializada pelas técnicas construtivas querer linguagens diferentes destas, já que são inú- escolhidas, privilegiando as técnicas consagradas meras as suas formas de expressão. As três primeiras como bioconstrução. Novamente esta fase também etapas descritas nesta metodologia são necessárias e pode ser efetivada por meio da formação de uma devem ser adotadas independentemente do tipo de equipe transdisciplinar, na qual cada pessoa con- produto que nos seja requerido. Linguagens outras, tribui com as suas experiências e aprende novos que não poemas, Arquitetura e canções, poderão talentos ao longo do processo. requerer a adoção de outras etapas específcas, que O que queremos destacar nessa metodologia poderão ser adicionadas conforme o caso. é a postura geral no ato de conceber produtos in-

Desenvolv. Meio Ambiente, v. 55, Edição especial - Sociedade e ambiente no Semiárido: controvérsias e abordagens, p. 721-741, dez. 2020. 727 4. Os destinos alcançados: mirantes do Em vista desta relação – poética versus lastro semiárido (produtos interpretativos) instrumental investigativo –, destrincharemos a seguir de maneira pormenorizada os motes e os resultados das canções que utilizamos para exaltar 4.1. Geopoética do semiárido brasileiro em a Geopoética das áreas protegidas brasileiras, en- canções focando, para este artigo, suas referências e suas reverências ao semiárido brasileiro. Não nos situamos mais no psiquismo, nem na A primeira canção, intitulada “Cadê!?”, é um senti­mentalidade, mas na instrumentalidade e na investigação. O poeta não “se exprime” mais, ele misto de ode e grito de alerta. Não retrata espe­ é o estrategista de um tema, o protagonista de uma cifcamente um bioma ou uma unidade de conser­ poética (White, 1999). vação em particular, mas perpassa diversas reservas e paisagens brasileiras. Como afrma White (1999) na citação que Como referência musical da composição tem- ilustra a epígrafe acima, a nossa poética se vale da -se a última faixa do álbum Fantasia leiga para um investigação para promover o tema da conservação rio seco (Mello, 1981), que ocupa todo o seu “lado ambiental. Assim sendo, o poema bate asas, sem, B”. Só a ilustração do encarte (Figura 1) já é uma no entanto, perder de vista o chão que lhe serve de obra de enorme expressividade Geopoética, pelos suporte. traços do artista Juraci Dórea! Intitulada “Amarra-

FIGURA 1 – Encarte do álbum Fantasia Leiga para um Rio Seco. FONTE: Fotografa do primeiro autor.

728 CARVALHO, F. F. L. de; PONCIANO, L. C. M. de O. Geopoética do Semiárido brasileiro: a Estação Ecológica do Raso da Catarina... ção”, a letra compõe-se apenas dos seguintes versos: iniciais da canção que apresentamos, materializando “Cadê os pé dos imbuzêro/ qui forava todo ano/ nas um forte desejo (que guia todo o presente trabalho) baxada e nas vereda mana mia/ cadê os pé d’imbu de propagar tal encanto, de expandir subjetividade meu mano/ adeus pé dos imbuzêro”. Sob a aura de visando provocar “intersubjetividade” (Andrade & um envoltório orquestral diversifcado, os versos se Sorrentino, 2013). repetem em variadas entonações sentimentais. Ao longo de seus mais de vinte minutos, alerta para uma “Cadê!? Nos céus de brigadeiro/ as formações em destruição ambiental que desde os tempos do Brasil “vê”/ dos bandos de colhereiros/ asas rosas em colônia vem agravando as condições climáticas do buquê/ cadê!?” semiárido nordestino (Cunha, 2016). Foi com essa A ornitologia se vale de fotografas, grava- obra ecoando no subconsciente que surgiram os ções de cantos, coletas de espécimes, dentre outras versos musicados de “Cadê!?”1. técnicas de registros que descrevem e comunicam Apresentamos a seguir as inspirações e corre- os hábitos e particularidades das espécies. Não se lações realizadas em cada trecho da música. pode, certamente, caracterizar o verso acima como um registro científco, entretanto, a frase descreve “Cadê!? No fm da tarde voam/ na beira da lagoa/ e “registra” uma pequena “migração” em que cerca as nuvens de irerê/ cadê!?” de dez ou quinze indivíduos de colhereiros (Platalea No início da década de 1980, a região oceâni- ajaja) atravessavam a enseada de Itacoatiara, Ni- ca de Niterói-RJ era ainda uma área relativamente terói, colorindo um céu particularmente azul com remota, com características suburbanas, bem suas plumagens reprodutivas de um rosa intenso. diferentes da efervescência expansionista que Tal comportamento, típico de outras espécies de atingiu a região nas três últimas décadas. Naquela aves, quando em voos coletivos, parece não ser época, as lagoas presentes na região ainda abrigavam comum em colhereiros (Figura 2), não tendo sido grandes populações de aves silvestres, o que se encontrados registros de tal comportamento na li- fazia perceber, por exemplo, pelas constantes teratura especializada. A canção, portanto, poderia vocalizações de bandos de marrecos irerê (Dendro- bem representar um inédito registro geopoético cygna viduata) que, à noite, cruzavam os céus da para a espécie. região. Em determinada ocasião pôde-se registrar a chegada de incontáveis bandos dessas aves que “Cadê!? As matas de restinga/ praia, Piratininga o praticamente nublaram os céus enquanto chegavam voo sangue do tiê/ cadê!?/ Não mais se vê.../” para pernoitar na Lagoa de Piratininga. O impacto O tiê-sangue (Ramphocelus bresilius), es- sensível deste episódio reverbera até os dias de hoje pécie endêmica da Mata Atlântica do litoral leste e fortalece o encantamento pela vida selvagem, vin- brasileiro (Castiglioni, 1998), era comum na região do a forescer, várias décadas mais tarde, nos versos oceânica de Niterói, emprestando sua beleza

1 https://www.facebook.com/1578225595597895/videos/676984366367459

Desenvolv. Meio Ambiente, v. 55, Edição especial - Sociedade e ambiente no Semiárido: controvérsias e abordagens, p. 721-741, dez. 2020. 729 FIGURA 2 – Colhereiro na Lagoa de Piratininga. FONTE: Fotografa do primeiro autor. inconfundível às paisagens do município. Hoje Propor inovações, tais como a utilização da música praticamente desapareceu, junto com as restingas, e da poesia como proposta de engajamento social, que deram espaço à expansão urbana.2 faz parte das estratégias de superação de tão vastos “Hoje o que voa é a esperança/ daquilo que obstáculos. ainda trago de criança/ aos flhos poder dar como “As matas da Bocaina/ banhados do Taim/ herança/ e a vida que resiste ser capaz de proteger:/” cerrados pantaneiros/ variedades de sauim/ o rio O desafio que se impõe ao serviço públi- Juruena/ águas do Japurá/ as aves de Noronha/ co, particularmente em uma agenda de notória muriqui, tamanduá.../ Serra da Capivara/ Serra das fragilidade ante a arena política do país (Frey, Confusões/ Raso da Catarina/ variedades de sertões/ 2000), é criar condições para superar limitações veredas e chapadas/ Veadeiros, Diamantina/ a água estruturais que criam um abismo entre a missão cristalina que não cessa de verter/” imposta e as condições disponíveis para enfrentá-la.

2 Recentemente, durante a produção desse artigo, tive o júbilo de rever a espécie no Parque Natural Municipal da Ilha do Pontal, no limite norte da Lagoa de Piratininga, em Niterói-RJ.

730 CARVALHO, F. F. L. de; PONCIANO, L. C. M. de O. Geopoética do Semiárido brasileiro: a Estação Ecológica do Raso da Catarina... UC dos variados biomas nacionais são citadas Ecológica do Taim, impressionante berço de vida num misto de adoração e convite, alertando para a que rivaliza em abundância com o Pantanal. Este responsabilidade em protegê-las. A Mata Atlântica, último, por fm, se junta ao Cerrado, bioma que o personifcada pelo grandioso Parque Nacional da abraça, ilustrado pelo consagrado destino turístico Serra da Bocaina (Rio de Janeiro e São Paulo); protegido pelo Parque Nacional da Chapada dos os imensos rios Juruena e Japurá, representando o Veadeiros. Ponteados com espécies da fauna sil- bioma amazônico, que têm trechos de seus cursos vestre, os versos destacam os serviços ambientais, protegidos respectivamente pelo Parque Nacional numa alusão mais pragmática da importância do Juruena-AM/MT e pela Estação Ecológica Jua- desses territórios para a vida humana, além de seu mi-Japurá-AM (Figura 3); a Caatinga, ilustrada valor imanente, nem sempre percebido. Talvez pelos Parques Nacionais da Serra da Capivara, o mais cristalino dentre os serviços ambientais da Serra das Confusões, ambos no Piauí, além – explorando o duplo sentido da palavra – seja do Parque Nacional da Chapada Diamantina e da a proteção dos mananciais de água limpa que Estação Ecológica do Raso da Catarina-BA, foco abastecem as populações Brasil afora. Vida que do presente trabalho, ambos em território baiano; promove a vida e que se faz necessário proteger: enfm, a canção viaja pelo Brasil para ilustrar a “a vida nos ensina/ é tempo de aprender/ que a megadiversidade do nosso cenário. As aves do vida que resiste/ é necessário proteger/ pra os flhos Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha de outros flhos/ termos como responder:/ Cadê!?” trazem o nosso bioma marinho-costeiro. Da região A canção se conclui com uma entonação tônica sul, nos Pampas gaúchos, citamos a Estação sobre a pergunta título: “Cadê!?”. Do mesmo modo

FIGURA 3 – Estação Ecológica Juami-Japurá. FOTO: Fernando Mendonça-INPA.

Desenvolv. Meio Ambiente, v. 55, Edição especial - Sociedade e ambiente no Semiárido: controvérsias e abordagens, p. 721-741, dez. 2020. 731 que se quer promover o encantamento, se alerta para Não à toa, a canção da banda pop mineira Skank o rápido desaparecimento de paisagens e espécies quer inventar o “Antitelejornal”4 para “mostrar só promovido pelo nosso modelo de desenvolvimento o que é belo, para mostrar o essencial”. Pois bem, e urbanização. Exclama-se a importância e a ur- o que a canção retrata é justamente a festa da vida gência de uma mudança de atitude de nossa socie- na qual se transmuta a Caatinga, durante o período dade contemporânea em relação às áreas naturais das chuvas. Durante o “inverno”5 e pelo período remanescentes, protegidas ou não. subsequente de sua infuência, a região do semiárido A canção “Festa da Vida”3 é inspirada pela é extremamente abundante em vida, refetindo uma grandiosidade do Parque Nacional da Serra da Capi- riqueza fsiológica comovente que não encontra vara, no município de São Raimundo Nonato, Piauí. paralelo nas áreas de forestas mais úmidas do país Foi nessa ocasião, em meio ao coração seco do país, (Cruz, 2018). Face à sazonalidade que, fatalmente, que se deu início a uma fértil nascente de canções, trará novo período de escassez, fauna e fora assu- dentre as quais algumas são expostas neste artigo. mem um ritmo frenético de reprodução e fartura, “É a festa da vida/ É a vida com pressa/ Que enquanto as águas assim permitem (“enquanto São bebe a chuva bem-vinda/ Anseia a chuva que resta/ Pedro rega a semente”). Imediatamente após as E enquanto Deus quer e São Pedro instrumenta a primeiras chuvas, o ocre pardacento da paisagem orquestra/ A Caatinga se enfeita e se faz de rica se transmuta como mágica num verde intenso que foresta/ O Sertanejo se ameiga/ Em um sorriso esconde o tom do solo exposto e das rochas. As crescente/ Minha cabocla morena/ Me adocica a mais variadas espécies da fauna aparecem “não se sabe” de onde, sob a regência dos grandes bandos aguardente/ E enquanto Deus quer e São Pedro rega de pombas asa-branca (Patagioneas picazuro) e a semente/ Tem fartura na feira, tem festa, cordel e avoantes (Zenaida auriculata). “E não é à toa que repente/ “A vida aqui só é ruim, quando não chove as Djaniras no campo em for são flhas do menor no chão”/ É o chão do vaqueiro eô.../ É cancão chuvisco” (França, 1979)6, diz geopoeticamente a no facheiro/ Nuvens de passaredo/ Tem ninho no compositora paraibana Catia de França, citando as juazeiro/ É o cavalo e o gibão eô, eô.../ É o luar do fores que tornei a colher (bem depois de conhecer sertão/ É a festa da vida/ No coração brasileiro!” a canção) na obra literária que a inspirou: Grande Único bioma exclusivamente brasileiro, a Sertão: Veredas (Rosa, 2019). A imagem da bela e Caatinga costuma habitar a intersubjetividade ruidosa gralha-cancã, ou cancão (Cyanocorax cya- do país sendo exclusivamente relacionada à seca nopogon), pousada sobre o facheiro (Pilosocereus e à miséria, fruto da nossa perniciosa lógica pachycladus), sintetiza a beleza e a singularidade telejornalística de priorizar os fatos negativos. da paisagem do semiárido brasileiro.

3 https://www.palcomp3.com.br/chicolivino/festa-da-vida/ 4 https://www.youtube.com/watch?v=Ghyy7zfILtI 5 Refere-se ao “inverno” em boa parte do país como o período das chuvas, que normalmente é inverso aos meses correspondentes ao inverno ofcial. 6 https://www.youtube.com/watch?v=Op4fDScR2F0

732 CARVALHO, F. F. L. de; PONCIANO, L. C. M. de O. Geopoética do Semiárido brasileiro: a Estação Ecológica do Raso da Catarina... FIGURA 4 – O autor no Parque Nacional da Serra da Capivara-PI. FOTO: Rudolf Schwark.

A canção “Festa fresca, chuva boa!”7, última “Sentinela no alto dos garranchos/ Estala o dentre as que ilustram este trabalho, se constrói sob açoite do galo de campina/” a métrica decassílaba do martelo agalopado, estilo Conhecido também como cardeal-do-nordeste de poema utilizado por cordelistas e cantadores, (Paroaria dominicana), o galo-de-campina é das o que, por si só, já introduz a ambiência regional, espécies mais características do semiárido nordes- contribuindo para o retrato da “paisagem sonora” tino, seja por sua abundância (apesar da grande (Torres & Kozel, 2012). Diferentemente da canção pressão do comércio ilegal), seja por sua beleza, anterior, que festeja a vida, esta composição contra- destacada principalmente pelo vermelho vivo que ponteia a dialética de morte e vida, valendo-se desta ostenta na cabeça (Ferreira, 2012). A imagem do para ressaltar a força e a resiliência dos habitantes pássaro cantando forte no alto das galhadas remete da região, incluindo elementos vegetais, animais e à vivacidade da fauna quando chega o período de culturais: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte” chuvas, transmutando a paisagem catingueira. (Cunha, 2016).

7 https://www.youtube.com/watch?v=nlqO9M0bqpA

Desenvolv. Meio Ambiente, v. 55, Edição especial - Sociedade e ambiente no Semiárido: controvérsias e abordagens, p. 721-741, dez. 2020. 733 “Meu cavalo, renasce, encharca a crina/ Volta concriz, ou corrupião (Icterus jamacaii), com sua a vida alegrando o meu roçado/” vistosa plumagem do amarelo pálido ao laranja Destaca-se a ideia de renascimento. Impressão forte, contrastando com o negro da cabeça, asas e que povoa o cotidiano das populações expostas aos cauda, que marca a paisagem visual e sonora do rigores das secas sazonais. A chegada das chuvas é o sertão, dono de forte e melodiosa voz. O contraste retorno da vida, interrompendo o ciclo de privações entre o “pão” e a “cova” sintetiza as duas faces de anuais que se abate sobre o território. uma mesma terra, em um bioma singular. Vida e “Gota a gota... o piano em meu telhado/ Vai morte, aliás, não são mais do que vida. É na morte se a morte, a tristeza, a fome e a sede/” que a vida se transmuta em outra, no incessante A metáfora das gotas como teclas de piano fuxo energético da cadeia alimentar. vem do relato comovente de um fazendeiro que, “Nem se lembra de ontem a terra palha/ Pasto depois de criado na Zona da Mata de , bom, meu pé duro veste o osso/” se transferiu para o município de Canto do Buri- “A paisagem, espantosamente, se transmuta ti-PI, em pleno semiárido. Seu relato da primeira praticamente do dia para a noite!” (Barros, 2003). chegada de chuva que presenciara, após as agruras A Caatinga verde e viçosa nem de longe faz lembrar de conviver com privações e mortes em seu rebanho, a paisagem cinza de poucos dias antes. O rústico é comovente e, de certo modo, tornou-se um mote gado “pé duro”, que colonizou o interior do país a para essa composição. Contou-me acordar no meio partir do Piauí, é trazido das chapadas, por onde da madrugada, ao ouvir os primeiros pingos grossos campeou asselvajado durante o estio, para o manejo sobre a cobertura de telha vã de sua fazenda. Sem do fazendeiro nas pastagens renascidas. que fosse necessário chamar, um a um todos os “Sol de hoje é suave, é amigo nosso/ Sapo ou membros de sua família foram acordando e indo homem, faz festa, ri e trabalha/” para o terreiro dançar sob a chuva, agradecendo a Parecendo surgir do nada, os sapos aparecem dádiva recebida, que reabasteceria as forças para em profusão. Na verdade, têm o hábito de passar o os desafos cotidianos do viver. Retrato comovente período de seca enterrados em hibernação, de modo de uma região na qual os ciclos da Natureza ainda a proteger a umidade de seus corpos, fenômeno co- ditam os ciclos do homem, ao contrário das grandes nhecido como “estivação” (Pereira, 2016). Tais “mi- metrópoles, nas quais as estações do ano e mesmo lagres” enriquecem o lado mítico da relação entre o dia e a noite já foram “domesticados”, afastando ser humano e Natureza, favorecendo a Geopoética. o ser humano de seu berço (Tuan, 2013b). O conhecimento – no formato eurocentrado, ociden- “Vem cancão, vem concriz, na rama verde/ tal e acadêmico – desconstrói mitos, e ao descons- Chuva veio encobrindo a lua nova/ Hoje o chão é truí-los se esvanece a poesia (Tuan, 2012). Apesar de pão ao invés de cova/ Festa fresca é a manhã, de serem entendidos atualmente por muitas pessoas balança a rede/” apenas como sinônimo de mentiras, os mitos, assim Aos já citados cancão e galo-de-campina, outra como a Literatura, a Arte, a Filosofa e a Ciência, são vistosa ave típica da caatinga se junta sobre a “rama na verdade formas diferentes de se fazer uma leitura verde” que reveste agora a vegetação. Trata-se do da realidade e “pensar o mundo” (Ponciano, 2015).

734 CARVALHO, F. F. L. de; PONCIANO, L. C. M. de O. Geopoética do Semiárido brasileiro: a Estação Ecológica do Raso da Catarina... Essa aversão aos mitos dos povos tradicionais foi 2003) são aqui comparados às goivas que entalham reforçada por muito tempo, estando correlacionada a madeira para ilustrar os livretos de cordel com com a valorização da Ciência e da “racionalidade”. expressividade única (Carvalho, 1995). Versos e O que talvez não tenha sido percebido pelos pes- ilustrações se unem para retratar a paisagem, Geo- quisadores é que parte da nossa ancestralidade foi poética empírica e onipresente. apagada junto com essa negação da importância dos “Pois vencer no Sertão é ter coragem/ E da luta mitos, além de desperdiçar o acesso a uma maneira é que vem a recompensa/ Minhas armas eu trago de muito mais “sustentável” de conservar a Natureza. nascença/ São heranças de irmão, de pai, de avô/ Conforme os povos tradicionais nos alertam em seus Nessa vida eu me formei cantador/ Canto a chuva, mitos, estamos conectados a todos os elementos que a beleza, a vida intensa!” nos cercam, bióticos e abióticos. As “armas”, Arte e Ciência, estão postas para “Sulca o chão, põe semente, colhe a calha/ lutar pela vida. Sensibilidade e conhecimento a ser- Água boa, sem barro de cacimba/” viço das UC brasileiras, entrelaçando Geopoética, As cacimbas barrentas, muitas vezes longe ecoturismo e conservação da Natureza. das casas, são, nos momentos de maior escassez, as únicas fontes possíveis de água para tantas famílias 4.2. Geopoética em Arquitetura: Estação sertanejas. Beber uma água cristalina, colhida da Ecológica do Raso da Catarina calha da cobertura, pode ser um prazer tão intenso quanto simples. “Se a coisa não complica,/ Talvez Morte e vida... Severina e animal... (Melo Ne- eu seja uma bica/ Pela próxima invernada./ E in- to, 2007). O ciclo constante de seca e renascimento verno é chuva, é água,/ E eu encherei outras latas/ é o drama anual encenado no anfteatro guardado Cumprindo minha jornada” (Quirino, 1998). pelas ocres escarpas de arenito, nicho especial que “Tempo bom, na lavoura tudo vinga/ Garrafa- se desenha ao sul da chapada sem fm do Raso da da pra festa e não doença/ O amor e o labor renovam Catarina. a crença/ Hoje é vida e não morte na caatinga/” Assim como nas altas latitudes de longos É tempo de festa no sertão! As ervas medici- invernos nevados, para as quais a nossa xenoflia nais agora se prestam somente à celebração, dando distante costuma ser mais complacente ao drama, sabor à aguardente. Celebração da vida, do amor, do a vida aqui, quando permitido pelo clima, pulsa em trabalho, da terra que, mesmo sujeita a privações, extasiante intensidade. “É a festa da vida! É a vida oferece sustento e autenticidade ao seu povo. com pressa... que bebe a chuva bem-vinda e anseia “Xique-xique e o facheiro cortam a carne/ a chuva que resta”. Rasgam veios tal qual xilogravura/ Retratando Portentosos paredões de arenito, formados por as histórias de aventura/ Que aqui não se dão por cânions, escarpas e vertentes, marcam o contato en- pabulagem/” tre os dois grandes domínios geomorfológicos dessa A metáfora coloca frente a frente a rispidez da estação ecológica: o planalto Marizal e a formação fora catingueira com a arte sertaneja. Os espinhos São Sebastião, ao sul da unidade. Sítio de dormitório onipresentes na vegetação do semiárido (Prado,

Desenvolv. Meio Ambiente, v. 55, Edição especial - Sociedade e ambiente no Semiárido: controvérsias e abordagens, p. 721-741, dez. 2020. 735 e nidifcação das araras-azuis-de-lear (Anodorhyin- odisseia de e do cangaço brasileiro, ten- chus leari) – espécie ameaçada e endêmica dessa do servido de refúgio por diversas vezes para os região da caatinga, importante “espécie-bandeira” guerreiros de Lampião, dentre outros combatentes da ESEC – esta região apresenta beleza cênica sertanejos. Desse modo, a ESEC Raso da Catarina impressionante, por suas características naturais. representa um importante patrimônio cultural bra- Guarda ainda em suas entranhas as histórias da sileiro (Cunha, 2016; Paes & Dias, 2008).

FIGURA 5 – Paredões de arenito, com detalhe à esquerda de ninho de arara. FOTOS: Primeiro autor.

FIGURA 6 – Anodorhynchus leari no Raso da Catarina. FONTE: https://pt.wikipedia.org/wiki/Arara-azul-de-lear.

736 CARVALHO, F. F. L. de; PONCIANO, L. C. M. de O. Geopoética do Semiárido brasileiro: a Estação Ecológica do Raso da Catarina... A base de pesquisa foi projetada ao sul desse aos materiais e técnicas disponíveis localmente anfteatro de arenito, inicialmente no ano de 2007. e, portanto, a um menor custo, tanto econômico Este projeto foi revisitado atualmente, junto a outros quanto ambiental. projetos, sob as lentes da Geopoética. Este edifício, Forma e função flertam entre si a todo o em vez de ser implantado, isto é, como algo de fora momento, sempre objetivando materializações imposto ao lugar, se pretende como uma “eclosão” plásticas resultantes das técnicas utilizadas e que das forças expressivas da paisagem natural de seu se refetirão na vivência do edifício, priorizando as sítio (Crapez, 2015). técnicas passivas de conforto térmico. Cada detalhe expressivo da edificação foi As paredes executadas em tijolos de solo-ci- pensado como uma tradução das cores e formas da mento, por exemplo, trazem a tonalidade do solo exuberante Caatinga local, buscando-se técnicas local para as fachadas, mimetizando-as no contexto construtivas adequadas para a materialização das paisagístico local. Nelas foram projetados peque- ideias concebidas sob tal inspiração. Referências nos vãos irregulares que provocam uma ventilação nas práticas de “construção natural” (Soares, 2007) cruzada, aproveitando o microclima ameno que o foram as principais fontes utilizadas, no sentido de frondoso umbuzeiro (Spondias tuberosa) oferece no minimizar os impactos ambientais da construção e pátio central da edifcação (Figura 7). “É a árvore do uso da edifcação, buscando adaptar o projeto sagrada do sertão. Sócia fel das rápidas horas feli-

FIGURA 7 – Edifcação voltada “para dentro” em torno do umbuzeiro. FONTE: desenho do primeiro autor.

Desenvolv. Meio Ambiente, v. 55, Edição especial - Sociedade e ambiente no Semiárido: controvérsias e abordagens, p. 721-741, dez. 2020. 737 zes e longos dias amargos dos vaqueiros” (Cunha, dosagem de cimento no traço) não requer a queima, 2016). Sob os rigores do semiárido nordestino, a o que ajuda a proteger a madeira nativa, tantas vezes Arquitetura se associa à fora e se fortalecem como utilizada irregularmente em olarias pelo país. abrigo. Emolduradas pelos terraços-jardim que Outra técnica de baixo impacto ambiental é a abrigam plantas típicas da localidade, as citadas pa- utilização de banheiros secos (compostáveis), que redes respondem integralmente pela volumetria da se valem da intensa insolação local para produzir edifcação, que se oferece como discreta e pequena compostos dos dejetos, que podem inclusive servir louvação aos portentosos paredões que desenham de adubo depois de completado o processo. Sendo o horizonte. Face ao reduzido porte geral da fora a região do Raso da Catarina uma das mais secas do semiárido, o terraço da edifcação torna-se um do país, reduz-se signifcativamente a demanda por privilegiado posto de observação, um convite para água na edifcação, uma vez que esta não é usada a contemplação das noites ímpares na Caatinga, sob em descargas de vasos sanitários. o célebre “luar do sertão”. Aspectos referentes ao programa de neces- Os pequenos vãos citados, construídos com sidades da edifcação e outras questões técnicas o fm de promover conforto térmico à edifcação, não são aqui abordados, uma vez que o cerne da resultam em releituras dos ninhos das araras que discussão é a interface edifcação/paisagem, nosso ponteiam os paredões em redor. A técnica do so- foco (Figura 8). lo-cimento (blocos prensados com uma pequena

FIGURA 8 – Perspectiva ilustrando a inserção da edifcação na paisagem. FONTE: ilustração do primeiro autor.

738 CARVALHO, F. F. L. de; PONCIANO, L. C. M. de O. Geopoética do Semiárido brasileiro: a Estação Ecológica do Raso da Catarina... Atendo-se ao aspecto geral do prédio propos- 5. Considerações fnais to, não se reconhecem as linhas comuns das águas de telhados, paredes lisas pintadas, esquadrias A vida que pulsa nas áreas naturais protegidas industriais e outras tantas convenções comumente é, ao mesmo tempo, o motivo e a recompensa daque- presentes nas edifcações que estruturam nossos les que trabalham por elas. Tal motivo é traduzido bairros residenciais e, surpreendentemente, também neste artigo, no objetivo de promover o encanta- as nossas UC. mento por meio da Arte, seja ela construída com A edificação que propomos, ao contrário, terra e cimento, seja ela construída com palavras e aproximar-se-ia muito mais das taperas de taipa sons. Em ambos os casos buscamos o encontro, a ou adobe que resultam da prática vernacular do escuta e a propagação da linguagem da Terra, por homem sertanejo. Em virtude de sua volumetria meio da Geopoética. ortogonal, entretanto, se diferencia das linhas clás- Entrelaçamos Arquitetura e canção, re- sicas dos abrigos humanos, nitidamente marcados troalimentando-se, mirando a sensibilidade do pelas paredes verticais guarnecidas pelos planos interlocutor por sentidos variados e integrando os inclinados dos telhados ou palhoças. Pode-se dizer, sentimentos com a razão. olhando a perspectiva aqui exposta, que a base de No trabalho que aqui se conclui, técnica e pesquisa da ESEC Raso da Catarina estaria mais poética se complementam, com o intuito de desper- para uma “germinação”, um “broto” de uma das tar o (re)encantamento das pessoas pela Natureza escarpas rochosas que a rodeiam, do que para uma (enfocando as UC brasileiras) por meio da inter- intervenção humana na paisagem, tal qual o desejo pretação ambiental, divulgando e promovendo a ilustrado pelo poema que dá nome à dissertação da importância da conservação da biodiversidade, da qual se extrai o presente trabalho: “Quero então, geodiversidade e da cultura local de forma integrada como miragem, Mimetismo que se mostra e quase e transdisciplinar. engana/ Que se quer fazer parte da paisagem/ Va- É pela força desta relação dialética e dialógica randa não, Varandarana”. que se quer construir – com paredes, vãos, pisos e A estrutura da edifcação se inicia na concep- coberturas unidas com versos, prosas, melodias, ção daquilo que se quer expressar e nas escolhas ritmos e imagens – uma Geopoética dos biomas (tecnológicas, sociais, plásticas, etc.) que se fazem brasileiros, enfocando aqui o semiárido, a Caatinga, necessárias. Assim nasce a Arquitetura. nosso único bioma 100% nacional.

Referências

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