UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE BIOLOGIA ROBERTO ALCANTARA GOMES

DEPARTAMENTO DE ZOOLOGIA

A comunidade de moluscos terrestres retrata a alteração ambiental da Vila Dois Rios, Ilha Grande,

Angra dos Reis, Rio de Janeiro

Gleisse Kelly Meneses Nunes

Rio de Janeiro

Setembro - 2009 ii

Gleisse Kelly Meneses Nunes

A comunidade de moluscos terrestres retrata a alteração ambiental da Vila Dois Rios, Ilha Grande,

Angra dos Reis, Rio de Janeiro

Orientadora: Profa. Dra. Sonia Barbosa dos Santos

Monografia apresentada ao Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Bacharel em Ciências Biológicas.

Rio de Janeiro

Setembro - 2009 iii

FICHA CATALOGRÁFICA :

iv

Gleisse Kelly Meneses Nunes

A comunidade de moluscos terrestres retrata a alteração ambiental da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro

Resultado: ______com grau ______

Monografia de Bacharelado submetida como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Biológicas, pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, avaliada pela comissão formada pelos professores:

Orientadora: ______Dra. Sonia Barbosa dos Santos (UERJ)

1° Examinador ______Dr. José Ricardo Miras Mermudes (U ERJ )

2° Exami nador ______Msc. Amilcar Brum Barbosa (UERJ)

3° Examinador ______Msc . Claudia Leal Rodrigues (UERJ )

Suplentes: ______Dr. Sandra Aparecida Magal hães -Fraga (Fiocruz )

______Dr. Oscar Rocha Barbosa (UERJ)

Rio de Janeiro, 21de setembro de 2009. v

À minha família por todo apoio e carinho.

vi

AGRADECIMENTOS

À minha orientadora, Professora Dra. Sonia Barbosa dos Santos.

À minha família, Neusa, Hudson, Gleidson, Gleivid e Luiz Eduardo pelo conforto, carinho e apoio ao longo da minha jornada. Aos meus familiares pelo incentivo.

A toda equipe do Laboratório de Malacologia da UERJ: Amilcar Brum

Barbosa, Claudia Leal Rodrigues, Francielle Cardoso Fonseca, Igor Christo Miyahira,

Isabela Cristina B. Gonçalves, Luciane Guilhermino, Jaqueline Lopes de Oliveira,

Luiz Eduardo Macedo de Lacerda, Patrícia do Socorro da Silva, Renata Ximenes e

Tiago Abreu Viana.

A todos os meus professores que foram sempre grandes educadores e incentivadores.

A todos os funcionários do Centro de Estudos Ambientais e Desenvolvimento

Sustentável (CEADS) pelo grande apoio prestado durante os trabalhos de campo.

Aos funcionários do Departamento de Zoologia e da Secretaria do Instituto de

Biologia Roberto Alcantara Gomes.

Ao Instituto Estadual do Ambiente pela concessão da licença de coleta.

Ao Sr. Getúlio Cantuária por sua contribuição sobre a história de ocupação da região da Vila Dois Rios.

Aos bibliotecários das Bibliotecas da Universidade do Estado do Rio de

Janeiro, de Museu da Universidade de São Paulo e do Museu Nacional do Rio de

Janeiro. vii

A todos que contribuíram de forma direta ou indireta para a realização deste trabalho.

À Universidade do Estado do Rio de Janeiro e ao Instituto de Biologia Roberto

Alcantara Gomes pela infra-estrutura.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa de Iniciação Científica concedida.

viii

SUMÁRIO

página

LISTA DE TABELAS ...... x

LISTA DE FIGURAS ...... xi

RESUMO ...... xiii

ABSTRACT ...... xv

INTRODUÇÃO ...... 01

OBJETIVOS ...... 04

MATERIAL E MÉTODOS ...... 05 Caracterização da área de trabalho...... 05 Ilha Grande...... 05 Vila Dois Rios...... 06 Coleta dos moluscos terrestres...... 07 Curadoria...... 11 Coleta de dados ambientais...... 11 Identificação dos moluscos terrestres...... 12

RESULTADOS E DISCUSSÃO ...... 13 Características das espécies coletadas...... 14 Alcadia Gray, 1840...... 14 Neocyclotus prominulus (d’Orbigny, 1835)...... 14 Succinea meridionalis d’Orbigny, 1837...... 15 Gastrocopta servilis (Gould, 1843) ...... 16 Bulimulus tenuissimus (d’Orbigny, 1835)...... 17 Beckianum beckianum (Pfeiffer, 1846)...... 18 Subulina octona (Bruguière, 1789)...... 19 Lamellaxis gracilis (Hutton, 1834)...... 22 unilamellata (d’Orbigny, 1 835)...... 23 Obeliscus Beck 1837...... 25 Miradiscops Baker, 1925...... 26

ix

página Happiella Baker, 1925...... 26 Tamayoa Baker, 1925...... 26 Ptychodon Ancey, 1888...... 26 Ptychodon schuppi (Suter, 1900)...... 27 Stephanoda Albers, 1860...... 28 Habroconus semenlini (Moricand, 1846)...... 28 Bradybaena similaris (Férussac, 1821)...... 29 Área urbana da Vila Dois Rios...... 31 Encosta da Vila Dois Rios a 350 metros de altitude...... 33 Encosta da Vila Dois Rios a 450 metros de altitude...... 35 Dados ambientais...... 38

CONCLUSÕES ...... 47

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...... 48

x

LISTA DE TABELAS

Página

Tabela I. Famílias e espécies coletadas na Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro...... 13 Tabela II: Análise de Variância com os dados ambientais da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro e teste Tukey...... 44 Tabela III. Sugestão para diagnóstico de ambientes de Floresta Atlântica degradados/ recuperados, utilizando a proporção de espécies de moluscos sinantrópicas e nativas, para cada estágio de recuperação...... 46

xi

LISTA DE FIGURAS

Página

Figura 1. Localização da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de 8 Janeiro...... Figura 2. Rua da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro...... 8 Figura 3. Canteiros gramados na parte central da Vila Dois Rio, Ilha Grande, Angra 9 dos Reis, Rio de Janeiro e encosta ao fundo...... Figura 4. Encosta da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro.... 9 Figura 5. Vista aérea da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reia, Rio de Janeiro com localização dos pontos de coleta ...... 10 Figura 6. Neocyclotus prominulus (d’Orbigny, 1835)...... 15 Figura 7. Succinea meridionalis d´Orbigny, 1837...... 16 Figura 8. Gastrocopta servilis (Gould, 1843)...... 17 Figura 9. Bulimulus tenuissimus (d´Orbigny, 1835)...... 18 Figura 10. Beckianum beckianum . (Pfeiffer, 1846)...... 19 Figura 11. Subulina octona (Bruguière, 1789)...... 21 Figura 12. Lamellaxis gracilis (Hutton, 1834)...... 23 Figura 13. Leptinaria unilamellata (d’Orbigny, 1835)...... 25 Figura 14. Ptychodon schuppi (Suter, 1900)...... 28 Figura 15. Habroconus semenlini (Moricand, 1846)...... 29 Figura 16. Bradybaena similaris (Férussac, 1821)...... 31 Figura 17. Representação das famílias de moluscos terrestres coletadas na área urbana da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro...... 32 Figura 18. Abundância dos moluscos terrestres coletados na Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro...... 33 Figura 19. Representação das famílias de moluscos terrestres coletadas na encosta da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro, a 350 metros de altitude...... 34 Figura 20. Abundância das espécies coletadas na encosta da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro, a 350 m de altitude...... 35 xii

Figura 21. Representação das famílias de moluscos terrestres coletadas na encosta da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro, a 450 metros de altitude...... 36 Figura 22. Abundância das espécies coletadas na encosta da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro, a 450 m de altitude...... 36 Figura 23. Percentual de espécies coletas na Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro. 0m: área urbana; 350m: encosta a 350m de altitude; 450m: encosta a 450m de altitude...... 37 Figura 24. Temperatura ambiente e do solo (ºC) da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro...... 39 Figura 25. Percentual de umidade ambiente da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro...... 40 Figura 26. Luminosidade (Lux) da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro...... 41 Figura 27. Profundidade da serapilheira (cm) da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro...... 42 Figura 28. Percentual de umidade da serapilheira da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro...... 43

xiii

RESUMO

Este trabalho teve como objetivo comparar a composição da comunidade de moluscos terrestres em três diferentes locais da Vila Dois Rios (VDR), que se apresentam segundo um gradiente, no qual a luminosidade e a temperatura do ambiente e do solo diminuem e a umidade do ambiente, a profundidade e a umidade da serapilheira aumentam, conforme passamos da área urbana para a floresta secundária e depois, para a floresta climáxica, para construir índices utilizando a proporção de espécies sinantrópicas de moluscos presentes nas comunidades, como indicadores de alterações ambientais. Os locais de coleta foram: 1) área urbana (AU) onde existe influência antrópica; 2) encosta da VDR a 350 m de altitude (VDR 350), onde cessou a influência antrópica em 1975; 3) encosta da VDR a 450 m de altitude

(VDR 450), onde não houve influência antrópica. Em cada local foram utilizados dez quadrats de 25x75 cm, de forma aleatória, para recolher a serapilheira, que foi transportada até o laboratório, onde foi triada, buscando conchas e animais vivos.

Dados ambientais como profundidade da serapilheira, temperatura ambiente e do solo, umidade relativa do ar e luminosidade foram aferidos em cada quadrat . No total, foram coletadas 20 espécies, em 17 gêneros e 10 famílias. Na AU todas as espécies são sinantrópicas, sete foram exclusivas. A família Subulinidade (91,5 %) foi dominante, em especial a espécie Beckianum beckianum (Pfeiffer, 1846) (67 %). Na

VDR 350 quatro espécies foram exclusivas, a família Systrophiidae (61%) foi dominante. Na VDR 450 quatro espécies foram exclusivas, a família Systrophiidae

(53%) foi dominante. Houve redução da proporção da família Subulinidae da AU para

VDR 350, até sua ausência na VDR 450. Concluímos que a comunidade de moluscos terrestres respondeu ao gradiente ambiental através de sua composição. A partir destes xiv

dados, sugerimos a utilização da proporção de espécies de moluscos sinantrópicas para fazer o diagnóstico de ambientes de Floresta Atlântica degradados/recuperados, da seguinte forma: ambiente com grande influência antrópica terá de 90 a 100% de espécies sinantrópicas; ambiente que se recupera a pelo menos 35 terá de 50 a 60% de espécies sinantrópicas; já uma floresta a pelo menos 50 anos sem influência antrópica terá de 0 a 10% de espécies sinantrópicas. Este trabalho permitiu estabelecer uma metodologia rápida, de pouco impacto e principalmente de baixo custo para classificar ou diagnosticar o estado de conservação ou modificação de fragmentos florestais na

Ilha Grande.

xv

ABSTRACT

The aim of this study was to compare the community composition of land snails in three different localities in the Vila Dois Rios (VDR), to build indexes using the proportion of synanthropic species of molluscs ocurring in communities, as indicators of environmental change. The localities appear as a gradient in which the luminosity, atmospheric and soil temperature decreases; in the other hand, relative air humidity, depth and moisture content of litter increases from the urban area to the secondary forest and then to the climax forest. The sampling sites were: 1) urban area

(UA) where there is human influence; 2) VDR’s mountain slope at 350 m als (VDR

350), where human influence ceased in 1975; 3) VDR’s mountain slope at 450 m als

(VDR 450), where there were no human influence. At each area we used ten quadrats of 25x75 cm, to collect the litter. The samples, collected at random, were transported to the laboratory where they were searched for shells and live . Environmental data such as litter depth, atmospheric and soil temperature, relative air humidity and luminosity were measured in each quadrat. In UA all species were synanthropic being seven exclusive. Family Subulinidae (91.5%) was dominant, especially the species

Beckianum beckianum (Pfeiffer, 1846) (67%). In VDR 350 four species were exclusive and Systrophiidae (61%) was dominant. In VDR 450 four species were exclusive and, one more time, Systrophiidae (53%) was dominant. There was a reduction in the Subulinidae proportion from UA to VDR 350 and total disappearance in VDR 450. We concluded that the composition of terrestrial molluscs responds to environmental gradients. From these data, we suggest the use of the proportion of synanthropic mollusc species as a index to the diagnosis of Atlantic Forest environments as follows: environments with large human influence will have 90 to xvi

100% of synanthropic species; environments that are recovering for at least 35 years will have 50 to 60% of synanthropic species; and a forest that is recovering for at least

50 years with no human influence will have 0 to 10% of synanthropic species. The aim of this work was to establish a rapid method of low impact and low cost to classify or evaluate the stage of conservation of forest fragments in the Ilha Grande.

INTRODUÇÃO

A distribuição das espécies nos ecossistemas é influenciada por diversos fatores bióticos e abióticos, os quais operam como filtros para a dispersão. Os antigos processos de colonização e migração humana e a recente tendência de globalização são os principais responsáveis pela transposição das barreiras geográficas e introdução de espécies em regiões fora de sua distribuição original (ESPINOLA & JUNIOR 2007).

A introdução de espécies exóticas tem sido amplamente discutida na comunidade científica, devido aos problemas que causam. Representam uma ameaça à biodiversidade local, por ter forte influência sobre as espécies nativas, via predação ou competição, e também destruição ou modificação do hábitat, podendo inclusive levar à extinção de outras espécies

(C OWIE 2001, PRIMACK & RODRIGUES 2001, AUBRY et al . 2005). As espécies introduzidas podem ainda se tornar pestes na agricultura e ecossistemas naturais (BARKER & MAYHILL

1999).

Diversos trabalhos relatam a introdução de espécies de moluscos terrestres em várias partes do mundo; geralmente, a distribuição dessas espécies está relacionada à ocupação humana e sua consequente modificação de hábitat (COWIE 1998, CAMERON 2002). Algumas, cuja origem não pode ser identificada, são denominadas espécies sinantrópicas, possuindo ampla distribuição geográfica, ocorrendo em diversos países. Muitas das introduções recentes foram provavelmente acidentais através de plantas de horticultura e ornamentação (COWIE

2001), sendo que a destruição ou modificação do hábitat facilita o estabelecimento de espécies não nativas (COWIE 1998). Os impactos de espécies exóticas são uma das maiores ameaças a muitos ecossistemas, especialmente ilhas (COWIE 2000b).

Um modo de detectar e monitorar os padrões de mudança na biodiversidade provocados por ações humanas é utilizar espécies, ou grupo de espécies, que funcionam como

1 bioindicadoras de degradação ambiental (SANTOS et al . 2006). SCHILTHUIZEN & RUTJES

(2001) defendem que os moluscos têm várias características que permitem ter sucesso como indicadores para avaliação da diversidade. Segundo os autores, a malacofauna pode ser coletada facilmente de forma não destrutiva, por coleta de conchas vazias da serapilheira; além disso, qualquer grupo de molusco terrestre pode ser coletado na serapilheira, mesmo os arborícolas, porque suas conchas caem no chão.

Enquanto o declínio ou desaparecimento de vertebrados chama a atenção do público, a homogeneização global de plantas e invertebrados é menos divulgada, embora, mais preocupante, já que constitui uma maior perda de biodiversidade (COWIE 2001). Por isso é importante estudar a malacofauna terrestre tanto em ambientes florestados como em ambientes antrópicos, para conhecer a composição de gastrópodes terrestres nesses diferentes ambientes e verificar se a introdução de espécies está sendo restrita aos ambientes urbanos, ou se há risco de introdução em ambientes florestados, o que potencialmente traria diversos prejuízos para as espécies nativas.

Em outras partes do mundo, existe a preocupação de relatar a ocorrência de espécies exóticas ou sinantrópicas, por exemplo, República Checa (JUŘIČKOVÁ 2006), Israel (MIENIS

1977), Nova Zelândia (BARKER 1982), Austrália (HOLLAND et al. 2007), São Tomé e Príncipe

(GASCOIGNE 1994), Ilhas de Tristão da Cunha (PREECE 2001), México (CORREA 1999), Havaí

(COWIE 1998, 2000a,b, 2001), Argentina (MIQUEL & PARENT 1996), Uruguai (OLAZARRI

1986), Colômbia (HAUSDORF 2002) e Peru (RAMÍREZ et al. 2001).

Devido à relevância do tema, no Brasil podemos apontar algumas iniciativas do governo brasileiro, desde 2001, com a realização em Brasília da “Reunião de Trabalho sobre

Espécies Exóticas Invasoras”, por meio de parceria entre o Ministério do Meio Ambiente -

MMA e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, onde se discutiu as linhas gerais do problema e as principais estratégias para amenizá-lo, uma delas foi a produção de

2 um Informe Nacional sobre Espécies Exóticas Invasoras no país, visando sistematizar e divulgar a informação já existente sobre o tema (MMA 2006).

Todavia, apesar dos esforços, ainda não existe uma listagem completa para espécies de moluscos terrestres em ambientes antrópicos no território nacional, mas alguns trabalhos, mesmo com resultados parciais ou incompletos, já foram realizados no Rio Grande do Sul (C.

OLIVEIRA 2002, SILVA 2007), no Paraná (CAMPOS et al . 2005) e na Ilha Grande (HAAS 1953,

NUNES et al . 2003, NUNES & SANTOS 2006, FONSECA et al . 2007, FONSECA et al . 2009).

O problema é ainda maior, porque parte considerável da produção científica recente sobre florestas tropicais tem sido descritiva e fragmentada. Desse modo, apesar do crescente interesse pela questão ambiental, pode-se observar que a importância da presença e da influência humanas sobre o meio natural não é geralmente considerada em toda sua extensão

(HADLEY 1991 apud OLIVEIRA & NETTO 2006).

3

OBJETIVOS

O objetivo deste trabalho foi comparar a composição da comunidade de moluscos terrestres em três diferentes locais da Vila Dois Rios, que constituem um gradiente ambiental, visando construir índices utilizando a proporção de espécies sinantrópicas de moluscos terrestres presentes nas comunidades malacológicas como indicadoras de alterações ambientais.

4 MATERIAL E MÉTODOS

Caracterização da área de trabalho

ILHA GRANDE

A Ilha Grande está localizada ao sul do Estado do Rio de Janeiro, no município de

Angra dos Reis, entre a latitude 23º05' e 23º15' S e a longitude 44º05' e 44º23' O. Por ser um importante remanescente de Floresta Atlântica do Estado, faz parte da Área de Proteção

Ambiental dos Tamoios. Além disso, abriga o Parque Estadual da Ilha Grande, a Reserva

Biológica da Praia do Sul e o Parque Estadual Marinho da Praia do Aventureiro. Situada no domínio da Floresta Atlântica, predominando floresta ombrófila densa de encosta com variados graus de influência antrópica (ALHO et al. 2002, R. OLIVEIRA 2002, ALVES et al.

2005), em diversas etapas de recomposição, além de ambientes como mangues, restingas, lagoas, rios, etc. (SANTOS & MONTEIRO 2001).

Os sinais de ocupação da Ilha Grande datam de três mil anos atrás, com uma população de pescadores primitivos e coletores de mariscos que provavelmente praticavam canibalismo, é possível que a atuação nas florestas se limitasse à caça e à derrubada de grandes árvores com machado (com preferência por certas espécies) para a construção de canoas de madeira (TENÓRIO 1999 apud WUNDER 2006). Inicialmente a Ilha Grande foi habitada por índios goianás. Após a fase de ocupação indígena, durante todo o século XIX, a

Ilha Grande foi um significativo centro agrícola. A demanda por terra multiplicou e grandes posses de terras agrícolas (fazendas) foram estabelecidas em diversos locais, como o Abraão,

Dois Rios e Parnaioca (WUNDER 2006), de forma que, na primeira metade do século XIX, o café era produzido em abundância, tornando-se o elemento principal da sua lavoura (MELLO

1987).

Mais tarde, as fazendas de Dois Rios e do Abraão tornaram-se pontos de desembarque de escravos vindos da costa da África (MACIEL et al . 1984). Às vezes, o desmatamento

5 causava uma degradação permanente da terra cultivada, mas esses impactos se restringiam a terrenos próximos à costa que não eram inclinados demais para plantações (OLIVEIRA &

COELHO NETTO 1996 apud WUNDER 2006). Na passagem para o século XX, as plantações haviam decaído e as florestas estavam se recuperando, uma tendência que foi reforçada ao longo desse século. A antiga fazenda de Dois Rios foi convertida em prisão no período de

1893 a 1903, quando a Ilha Grande teve sua história associada a instituições carcerárias, com a criação da Colônia Correcional de Dois Rios, que perdurou até 1994, quando houve a implosão do Instituto Penal Cândido Mendes e, desde então, o local e seu entorno passaram por várias mudanças.

O impacto resultante dessa sequencia histórica de intervenções na Ilha Grande é que atualmente, nas regiões onde cessou a atividade agrícola, as florestas se recuperam amplamente, graças à predominância de ciclos neutros durante quase um século (W UNDER

2006). O que não ocorreu nas regiões da baixada da Vila Dois Rios, que durante as atividades do presídio, continuaram sendo utilizadas para plantação de diversos produtos agrícolas, que serviam para a população carcerária, funcionários do presídio e seus familiares. Dentre os principais produtos, podemos destacar banana, aipim, milho, capim, hortaliças, etc., além da retirada de madeira para servir de lenha aos fornos.

VILA DOIS RIOS

Atualmente as áreas ocupadas pelas fazendas apresentam mata secundária em processo de sucessão ecológica. A vegetação da área urbana da Vila Dois Rios (23º 05’ – 23º

15’S; 44º 05’ – 44º 23’ O) é constituída por grandes jardins e gramados, algumas árvores introduzidas de grande porte e arbustos de médio porte. Ao redor temos floresta secundária em regeneração há cerca de 20 anos. Em geral, os topos dos morros se mantiveram

6 razoavelmente preservados, ocorrendo apenas cortes seletivos de árvores de grande porte. A

Vila Dois Rios faz parte do Parque Estadual da Ilha Grande.

A equipe do Laboratório de Malacologia da UERJ vem realizando coletas na Vila

Dois Rios e região de entorno desde 1995, quando a Vila Dois Rios passou a ser administrada pela UERJ, que se tornou um campus avançado. Atualmente, na referida vila, está instalado o

Centro de Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentável (CEADS), que é utilizado por pesquisadores e alunos que contam com uma boa infra-estrutura para desenvolver suas atividades de campo.

Buscando comparar locais com diferentes fases de regeneração da mata, foram realizadas coletas em três localidades da Vila Dois Rios que representam um gradiente ambiental:

1) Área urbana da Vila Dois Rios, onde atualmente moram aproximadamente 115 moradores. Esta vila foi estabelecida junto com a implantação do Complexo Penal, em 1894, antes disso, o local fazia parte da fazenda de Dois Rios. Nível do mar (23º 11.106’ S; 44º

11.547’ O) (Fig. 2 e 3).

2) Encosta voltada para a Vila Dois Rios a 350 metros de altitude (23º 10.410’ S; 44º

11.746’ O), onde ocorreu cultivo de capim para alimentação de bois até o ano de 1975 (Fig.

4).

3) Encosta voltada para a Vila Dois Rios a 450 metros de altitude (23º 10.339’ S; 44º

11.812’ O), onde não ocorreu cultivo Fig. 4).

Coleta dos moluscos terrestres

As coletas foram realizadas em 24/10/2003 (região de encosta) e 01/04/2004 (área urbana) na Vila Dois Rios, Ilha Grande, no município de Angra dos Reis, ao sul do estado do

Rio de Janeiro (Fig. 1).

7

Figura 1. Localização da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro.

Figura 2. Rua da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro.

8

Figura 3. Canteiros gramados na parte central da Vila Dois Rio, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro e encosta ao fundo.

Figura 4. Encosta da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro. Foto: Luiz Eduardo M. de

Lacerda.

9 Em cada local foram utilizados dez quadrats de 25 x 75 cm (Fig. 5), de forma aleatória, para coletar a serapilheira, que foi recolhida com ancinhos e as mãos até que o solo ficasse exposto e, acondicionada em sacos plásticos identificados, para transporte até o laboratório (NUNES 2007).

*

* * * * * * * * *

Figura 5. Vista aérea da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro com localização dos pontos de coleta marcados com asteriscos vermelhos .

No Laboratório do CEADS, a serapilheira foi triada, minuciosamente, a olho nu, com o auxílio de bandejas e pincéis. Os moluscos encontrados em cada ponto de coleta foram mantidos em placas de Petri, separados, identificados, contados e tabulados para posterior identificação ao menor nível taxonômico possível.

10 Curadoria

Para limpar as conchas vazias coletadas, elas foram separadas e identificadas, colocadas em placas de Petri, imersas em água por aproximadamente 48 horas, e escovadas com pincéis macios para retirar o excesso de sujeira. Conchas maiores ou mais sujas demoraram mais tempo de molho. Quando as conchas estavam limpas, elas foram colocadas para secar sobre papel absorvente em placa de Petri por aproximadamente 96 horas, ou até que ficassem completamente secas.

Os animais encontrados vivos foram mantidos imersos em água previamente fervida e resfriada, até o relaxamento total (THOMÉ & LOPES 1973, THOMÉ 1975), depois foram fixados com álcool a 96° GL, para futuros estudos taxonômicos e moleculares.

Tanto as conchas como os animais coletados com a parte mole foram armazenados em frascos plásticos de diversos tamanhos, potes de vidro ou ependorfes, receberam um número de tombo, uma etiqueta contendo os dados de coleta e foram depositados na Coleção de

Moluscos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Col. Mol. UERJ).

Coleta de dados ambientais

Em cada ponto de coleta ( quadrat ) foram coletadas as seguintes variáveis ambientais, de acordo com propostas da literatura (MENEZ 2002):

a) Profundidade da serapilheira: foi medida em seis pontos dentro do quadrat de 25 X

75 cm, afundando um palito graduado em centímetros na serapilheira até que fosse percebida a resistência oferecida pelo solo. Utilizou-se a média de cada ponto de coleta nas análises estatísticas.

b) Temperatura ambiente (máxima, média e mínima): foi medida com uso de higrotermômetro digital TFA da marca Biocristal que ficou em repouso no quadrat durante a coleta da serapilheira.

11 c) Temperatura do solo: foi medida com um termômetro Incotherm (graduação -35 a 55 °C) que foi parcialmente enterrado no solo, imediatamente ao lado do quadrat , por alguns minutos durante a coleta da serapilheira. d) Umidade relativa do ar (máxima, média e mínima): foi medida com uso de higrotermômetro digital TFA da marca Biocristal que ficou em repouso ao lado do quadrat durante a coleta da serapilheira.

e) Luminosidade: foi medida através de luxímetro digital LDR- 208 da marca Instrutherm posicionado cerca de 50 cm acima do quadrat .

No momento da triagem, a serapilheira foi separada em folhas e galhos, e estes foram acondicionados em sacos de papel com peso conhecido, e pesados com a intenção de obter o peso úmido. Depois foram colocados em estufa a 55ºC até a secagem total do material, que foi novamente pesado, para obter o peso seco. O processo foi repetido para cada amostra até que fosse verificada a estabilização do peso. Calculando a diferença entre o peso úmido e o peso seco, é possível calcular o percentual de umidade da serapilheira por regra de três simples. Foi verificada a normalidade para cada variável ambiental antes da realização da Análise de Variância através do programa Systat 11.0, com o objetivo de verificar se existia diferença estatisticamente significativa entre as médias das áreas (UNDERWOOD 1997), posteriormente, foi realizado teste de Tukey para verificar entre quais áreas há diferença estatisticamente significativa.

Identificação dos moluscos terrestres Ainda no CEADS, todos os animais foram observados sob microscópio estereoscópio da marca Leica modelo MZ6, separados por morfotipos e tabulados. Depois, no Laboratório de Malacologia da UERJ, foram novamente analisados e determinados até o menor nível taxonômico possível. Um representante de cada espécie ou morfotipo foi selecionado e desenhado em câmara clara acoplada ao microscópio Olympus, modelo SZH10, para facilitar a observação de caracteres de importância taxonômica.

12 RESULTADOS E DISCUSSÃO

No total foram coletadas 20 espécies, 17 gêneros e 10 famílias, como mostra a tabela I.

Tabela I. Famílias e espécies coletadas na Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro. 0m: área urbana; 350m: encosta a 350m de altitude; 450m: encosta a 450m de altitude.

Família Espécie 0m 350m 450m Helicinidae Alcadia sp. 1 Neocyclotidae Neocyclotus prominulus (d’Orbigny, 1835) 1 Succineidae Succinea meridionalis d´Orbigny, 1837 3 Pupillidae Gastrocopta servilis (Gould, 1843) 1 Bulimulidae Bulimulus tenuissimus (d´Orbigny, 1835) 15 Bulimilidae sp.3 1 Subulinidae Beckianum beckianum (Pfeiffer, 1846) 182 Subulina octona (Bruguière, 1789) 32 Lamellaxis gracilis (Hutton, 1834) 24 Leptinaria unilamellata (d`Orbigny, 1835) 10 1 Obeliscus sp. 2 Systrophiidae Miradiscops sp. 2 5 Happiella sp. 12 3 Tamayoa sp. 1 Ptychodon schuppi (Suter, 1900) 1 2 Ptychodon sp.1 1 2 Ptychodon sp.2 1 Stephanoda sp. 2 Euconulidae Habroconus semenlini (Moricand, 1846) 2 Bradybaenidae Bradybaena similaris (Férussac, 1821) 4 Riqueza 8 9 8 Abundância 271 23 17

13 Características das espécies coletadas

Uma breve busca bibliográfica foi realizada, procurando a localidade tipo, as características das espécies ou gênero (para aqueles que não foram identificadas até a categoria específica), a distribuição geográfica e os trabalhos que foram realizados no país abordando as espécies encontradas neste trabalho.

Família Helicinidae Alcadia Gray, 1840

Concha heliciforme, enrolada, subglobosa ou ligeiramente deprimida, apresenta

“pêlos”, com calo perto da columela, que é achatada, quase retilínea. Perióstraco muitas vezes coberto com linhas de “pêlos”. Abertura semioval, quase triangular. Perístoma mais ou menos expandido, separado da columela, na maior parte curvo; opérculo sólido, semioval (GRAY

1857).

Família Neocyclotidae Neocyclotus prominulus (d’Orbigny, 1835) (Fig. 6)

Localidade-tipo : Rio de Janeiro (D’O RBIGNY 1837). Espécie nativa, encontrada em ambientes florestados.

Concha dextrógira, helicoidal, deprimida, de cor marrom, apresenta estrias unilamelares regulares entre as quais existem microestrias. Abertura é circular e o opérculo também. Espira apresenta-se cônica com ápice obtuso e convexo; linha de sutura profunda.

Protoconcha é elevada, lisa e possui, em média, 1 ½ voltas sem estrias ou pontuações.

MONTEIRO (2005) comparou a morfologia da concha desta espécie em três diferentes regiões da Ilha Grande e concluiu que a concha dessa espécie não sofre interferência das alterações ambientais, nas áreas estudadas, o que poderia ser explicada pela presença do

14 opérculo, que auxiliaria na manutenção das condições hidroeletrolíticas, minimizando a influência do ambiente sobre o .

Ocorrência: Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná (MORRETES 1949). Ilha

Grande, Angra dos Reis Rio de Janeiro (HAAS 1953), nas trilhas da Parnaioca, Caxadaço e

Jararaca (MONTEIRO 2005), na trilha da Jararaca de 100 a 400 m de altitude e na trilha do Pico do Papagaio de 200 a 400 m de altitude (NUNES 2007).

Figura 6. Neocyclotus prominulus (d’Orbigny, 1835). Escala 5 mm. Foto: Amilcar B. Barbosa.

Família Succineidae

Succinea meridionalis d´Orbigny, 1837 (Fig. 7)

A localidade-tipo desta espécie não foi encontrada no material pesquisado.

Concha de forma oval, brilhante, geralmente translúcida e muito frágil; existem

1 1 conchas opacas e relativamente fortes. O número de voltas varia de 2 /6 a 3 /6 e as conchas atingem o comprimento de 13,1 mm. As voltas são convexas. As linhas de sutura ligeiramente inclinadas, são bem marcadas e profundas. As linhas de crescimento são relativamente acentuadas. Abertura ovalada, vertical e bem arredondada na base. Columela arqueada, suboblíqua. Perístoma delgado e sem sinuosidade (LANZIERI 1965). Espécie sinantrópica.

A espécie é muito higrófila e pode abrigar parasitas. LANZIERI (1965) relatou o encontro de dois exemplares com esporocisto de Trematoda no tentáculo.

Distribuição: Rio de Janeiro, Curitiba e Paraná (MORRETES 1949). Maceió, Rio de

Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, Uruguai, Argentina, Peru e Chile (LANZIERI 1965). Ilha

15 Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro (HAAS 1953). Do Rio de Janeiro à Patagônia ( SIMONE

2006).

Figura 7. Succinea meridionalis d´Orbigny, 1837. Desenho copiado de LANZIERI (1965).

Família Pupillidae

Gastrocopta servilis (Gould, 1843) (Fig. 8)

Localidade-tipo: Matanzas, Cuba (SOLEM 1961), México (BIELER & SLAPCINSKY

2000), espécie neotropical (CHRISTENSEN & KIRCH 1986, COWIE 1998). Espécie sinantrópica.

Concha alongada; ápice agudo, cor castanho pálido; cinco voltas, muito delicada, sutura bem definida. Abertura semioval, perto do eixo da concha, a porção transversa ligeiramente oblíqua. Um dente lamelar perto da junção do lábio externo, um grande dente columelar cônico, na base um dente pequeno, e próximo, um outro dente, colocado de modo a formar um tripé regular com os outros dois, e acima deste em quinto dente inconspícuo. Lábio ligeiramente evertido, não achatado, às vezes um pouco flexionado à direita; umbílico pequeno (GOULD 1843 apud PISBRY 1916-1918). O número e a forma dos dentes da abertura são característicos da espécie (PILSBRY 1926).

Distribuição: do México à Argentina (PILSBRY 1926). Levada para o Havaí desde o século XIX através do comércio (C HRISTENSEN & KIRCH 1986). Ceará (MORRETES 1949). Ilha

Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro (HAAS 1953).

16

Figura 8. Gastrocopta servilis (Gould, 1843). Imagem disponível em: www.jaxshells.org/gast20.jpg; Imagem do Dr. Wayne Van Devender do

Departamento de Biologia, Appalachian State University, EUA.

Família Bulimulidae

Bulimulus tenuissimus (d´Orbigny, 1835) (Fig. 9)

Localidade-tipo: Rio de Janeiro (PILSBRY 1897-1898). Espécie nativa, sinantrópica.

Concha umbilicada, oval-cônica, muito fina, transparente, pouco brilhante, decussada pelo crescimento de estrias e linhas espirais delicadas; pálida córnea, algumas vezes fulvo.

Espira conóide, ápice bastante agudo, sutura simples. Seis voltas, ligeiramente convexas, aumentando com velocidade moderada; a última volta convexa, não descendente na frente, ligeiramente atenuada na base. Columela suboblíqua, algumas vezes quase vertical. Abertura oval, perístoma simples, não expandido, agudo; margem columelar refletida na parte superior

(PILSBRY 1897-1898).

ARAÚJO et al . (1960) caracterizam a concha com comprimento total de 12 a 20 mm, com 5 a 6 voltas da espira. Concha embrionária ornamentada em zig-zag na primeira volta da espira e até a metade da segunda volta. O resto da concha apresenta apenas estrias de crescimento mais visíveis nas suturas.

DUTRA (1988) observou que os indivíduos desta espécie ocorrem verticalmente nos ramos e talos de ervas; eventualmente foram encontrados no solo, em locomoção sobre folhas caídas; possuem excepcional habilidade de adaptação às condições ambientais.

SILVA et al. (2008) ao estudarem aspectos do desenvolvimento e reprodução em laboratório, relataram que este molusco tropical, que é amplamente distribuído no Brasil, é a

17 única espécie de sua família com importância parasitológica. MEIRELES et al. (2008) estudaram a influência da dieta e do isolamento no crescimento dos indivíduos desta espécie em condições de laboratório, verificaram a influência da densidade populacional no crescimento e que a dieta oferecida exerceu grande influência na biologia dos animais.

Distribuição : Natal, Maranhão e Pará (B AKER 1913). Rio de Janeiro, Bahia,

Pernambuco e Mato Grosso (MORRETES 1949). Pernambuco (DUTRA 1988). Espírito Santo e

São Paulo ( SIMONE 2006).

Figura 9. Bulimulus tenuissimus (d´Orbigny, 1835). Desenho

copiado de ARAÚJO et al . (1960).

Família Subulinidae Beckianum beckianum (Pfeiffer, 1846) (Fig. 10)

A localidade-tipo desta espécie não foi encontrada, no material pesquisado. PILSBRY

(1906) relata que esta espécie está presente em várias partes do mundo. Segundo o autor, algumas formas de Opeas (atualmente Beckianum e Lamellaxis ), nenhuma delas bem conhecidas, foram descritas a partir da Índia Ocidental, em geral são espécies bem distribuídas, como: O. beckianum , O. gracilis , O. micra e O. goodalli . Por outro lado, COWIE

18 (1998) afirma que a região de origem desta espécie é América Central e do Sul. Espécie sinantrópica.

Concha umbilicada, oval-oblonga, ápice aguçado, fina, translúcida, hialina esverdeada, densamente costelada e estriada. Nove voltas, convexa, a última sobre um quarto final do comprimento total, base arredondada, columela curta. Abertura ampla, semioval; perístoma simples, agudo, margem columelar estendida. (P FEIFFER 1846 apud PILSBRY 1906). Mede cerca de 8 mm, tem 8 ½ voltas fortemente convexas, apresenta estriação (PILSBRY 1926).

Distribuição: Índia Ocidental PILSBRY (1906). Do México ao Brasil (PILSBRY 1926).

Pará, Rio de Janeiro e São Paulo (MORRETES 1949). Do México ao Rio de Janeiro (TILLIER

1980). Rio Grande do Norte e Roraima (SIMONE 2006). Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de

Janeiro (HAAS 1953), nas trilhas do Caxadaço e da Jararaca (SANTOS & MONTEIRO 2001), nas trilhas do Pico do Papagaio e da Jararaca apenas em 100m de altitude (NUNES 2007).

Figura 10. Beckianum beckianum . (Pfeiffer, 1846). Foto retirada de

SIMONE (2006), exemplar com 6 mm.

Subulina octona (Bruguière, 1789) (Fig. 11)

Localidade-tipo: Guadalupe, Índias Ocidentais (SOLEM 1961). Antilhas (BIELER &

SLAPCINSKY 2000). THOMÉ et al . (2006) consideram a espécie nativa no Brasil tropical, embora afirme que a localidade tipo e holótipo são desconhecidos. TILLIER (1980) afirma que a espécie é introduzida em toda a região intertropical, sendo impossível determinar com

19 precisão seu local de origem. Por outro lado, COWIE (1998) relata o Neotrópico como região de origem. SIMONE (2006) destaca esta espécie como introduzida e relata sua ocorrência na

África, mas com um ponto de interrogação. BESSA et al . (2000) afirmam que esta espécie é encontrada em várias partes do mundo, sempre associadas a ambientes antrópicos. Pelo exposto, é possível perceber que a origem desta espécie é muito controversa, embora a maioria dos autores pesquisados indique a região Neotropical. Espécie sinantrópica.

ARAÚJO & BESSA (1993) caracterizam a concha como pequena, medindo entre 13 x

4mm, com espira muito longa, graças ao número de voltas que apresenta (oito). A amplitude das voltas aumenta progressivamente até a volta corporal. Não apresenta nenhuma ornamentação característica, evidenciando de forma não muito marcada, as linhas de crescimento. A abertura é de forma ovalada sem dentes ou lamelas e com perístoma cortante.

O bordo columelar apresenta uma leve projeção no sentido do eixo, mais alargada em sua metade. As suturas são evidentes, porém muito profundas. THOMÉ et al . (2006) caracterizam a espécie da seguinte forma: concha alongada, amarelada, lisa, levemente estriada e com protoconcha lisa.

É hospedeira intermediária de parasitos. BESSA et al . (2000) relataram a infecção por

Angiontrongylus vasorum (Baillet, 1866). Em laboratório, já foi verificada a influência do substrato na reprodução (D’ ÁVILA & BESSA 2005a, BESSA & ARAÚJO 1995b) e no crescimento

(D’ ÁVILA & BESSA 2005b) desta espécie.

DUTRA (1988) relatou o encontro de indivíduos desta espécie no solo e também abaixo do entrelaçado de ramos e raízes sobre o solo, segundo o autor, a espécie tem excepcional habilidade de adaptação às condições ambientais. D’ÁVILA et al . (2006) verificaram a presença de comportamento agregativo.

Segundo BESSA & ARAÚJO (1995a), são capazes de fazer autofecundação, o que aumentaria seu sucesso em colonizar novos ambientes (SANTOS & MONTEIRO 2001).

20 D’ ÁVILA et al. (2004) estudaram a resistência à dessecação de S. octona e verificaram que, depois de 36 horas em câmara climatizada à 35ºC e 80% de umidade relativa do ar, todos os indivíduos morreram, contudo, os indivíduos desta espécie podem se enterrar no substrato para superar períodos desfavoráveis. Esse comportamento é muito frequente para esta espécie, observado mesmo em períodos favoráveis, ele reduz o risco de dessecação já que o substrato fornece a umidade necessária à sobrevivência destes moluscos e pode funcionar como uma barreira física à evaporação de água corporal.

Distribuição: Ceará e Pará (B AKER 1913). Do México ao

Brasil e Equador (PILSBRY 1926). Pernambuco, Rio de Janeiro

e Paraná (MORRETES 1949). Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio

de Janeiro (HAAS 1953). Amapá, Amazonas, Pará, Ceará,

Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Rio

Grande do Sul e Rondônia (ARAÚJO & BESSA 1993). Rio

Grande do Sul (THOMÉ et al . 2006). Amplamente distribuída

em regiões tropicais (BIELER & SLAPCINSKY 2000). Sua

presença é assinalada em várias partes do mundo, vivendo em

jardins próximos aos domicílios humanos (BESSA et al .

2000).

Figura 11. Subulina octona (Bruguière, 1789). Desenho copiado de ARAÚJO & BESSA (1993).

21 Lamellaxis gracilis (Hutton, 1834) (Fig. 12)

Localidade-tipo: Mirzapur, Ceylon, Índia, China, Formosa e Japão (PILSBRY 1906).

Embora ROTH (1997) relate que a origem desta espécie é incerta, COWIE (1998) relata sua origem como desconhecida, mas sugere que possa ser Neotropical. Espécie sinantrópica.

Concha dextrógira, heliciforme, nos indivíduos jovens e cônica-alongada com ápice obtuso nos adultos, branca, translúcida; com duas a sete voltas moderadamente convexas; a protoconcha é lisa com 1 ½ voltas e apresenta crenulações junto à sutura, observáveis apenas ao Microscópio Eletrônico de Varredura; sutura profunda; a abertura é oval alongada, com margem columelar lisa, reta e refletida junto à base e margem parietal lisa; o umbílico é parcialmente encoberto pela margem columelar (C. OLIVEIRA 2002). A altura da abertura ocupa cerca de um quarto da altura total da concha; espira elevada, lábio simples, perióstraco translúcido, com menos brilho que os outros Subulinídeos (OLAZARRI 1986).

São capazes de fazer autofecundação (O LIVEIRA et al . 1971). São herbívoros, se protegem embaixo de talos e folhas em épocas secas (OLAZARRI 1986). São encontrados em ambientes muito variados, embaixo de pedras, enterrados entre raízes e em solos arenosos

(MIQUEL & PARENT 1996). Habitam a serapilheira de muitos lugares (ROTH 1997).

Distribuição: Regiões temperadas dos dois hemisférios, provavelmente introduzida pelo comércio (OLAZARRI 1986, ROTH 1997, BIELER & SLAPCINSKY 2000). Na América tem vasta distribuição: nas Antilhas, na América Central e na América do Sul. Pará e São Paulo

(MORRETES 1949). Regiões tropicais de ambos os hemisférios (PILSBRY 1926, BERG 1994).

Distribuição mundial (MIQUEL & PARENT 1996). CHRISTENSEN & KIRCH (1986) relatam sua ocorrência no Havaí em período pré-histórico. Na Ilha Grande (HAAS 1953), ocorre na trilha do Pico do Papagaio (400 e 500 m de altitude) e na trilha da Jararaca, em altitudes (100, 400 e

500m de altitude) (NUNES 2007).

22

Figura 12. Lamellaxis gracilis (Hutton, 1834). Escala 1 mm. Foto: Amilcar B. Barbosa.

Leptinaria unilamellata (d`Orbigny, 1835) (Fig. 13)

A localidade-tipo desta espécie não foi encontrada no material pesquisado. Segundo

PILSBRY (1906), Leptinaria é um gênero da América tropical amplamente distribuído, principalmente na América do Sul. Espécie encontrada em ambientes antrópicos e também em ambientes florestados, mas com densidade baixa.

Segundo ARAÚJO & KELLER (1993) a concha é pequena, com 4,5 mm e cerca de 6,5 voltas de espira, com a superfície mostrando as linhas de crescimento não muito marcadas, suturas bem evidentes, mas não muito profundas. Volta corporal com comprimento equivalente a pouco mais que as demais. Abertura ovalada com perístoma cortante, bordo não refletido e desprovido de dentes ou lamelas no bordo externo. Bordo columelar com uma lamela lisa, triangular, baixa e projetada para a abertura. Bordo parietal com uma lamela transversal à abertura e situada a meia distância entre o término da lamela columelar e a inserção da última volta.

Apresenta peristômio simples, lamela parietal e columela truncada desde o embrião

(P ILSBRY 1906), não dando assim indicativo conquiliológico externo do seu grau de desenvolvimento (DUTRA 1988).

23 Considerada espécie cosmopolita, tem sua distribuição ampliada principalmente por ação antrópica (DUTRA 1988). ALMEIDA & BESSA (2001b) estudaram o crescimento e a reprodução desta espécie em laboratório e verificaram que ela pode fazer autofecundação.

ARAÚJO (1982) apud (DUTRA 1988) cita uma constante simpatria dessa espécie com espécies de Opeas (Lamellaxis ) e Subulina octona .

DUTRA (1988) estudou aspectos da ecologia e reprodução e observou que essa espécie ocorre junto com Bulimulus tenuissimus e Sarassinula sp., mas raramente com Subulina octona . Essa espécie habita o solo, sobre e sob talos e folhas caídas, abaixo do entrelaçado de ramos e raízes; apresentou grande densidade populacional, superando as outras espécies de moluscos terrestres associadas.

Estudos fisiológicos foram realizados por ALMEIDA & BESSA (2000) e verificaram que a densidade populacional influenciou o crescimento em L. unilamellata.

D’ ÁVILA et al . (2004) estudaram a resistência à dessecação de L. unilamellata e verificaram que, depois de 36 horas em câmara climatizada à 35ºC e 80% de umidade relativa do ar, todos os indivíduos morreram, contudo, os indivíduos desta espécie podem se enterrar para superar períodos desfavoráveis.

L. unilamellata é hospedeiro intermediário de Postharmostomum gallinum Witenberg,

1923 (DUARTE 1980 apud ALMEIDA & BESSA 2000) e de Paratanaisia bragai Santos, 1934

(ARAÚJO & KELLER 1993).

Distribuição: Peru (HAAS 1949). Pernambuco (DUTRA 1988). Bahia, Curitiba, Paraná

(MORRETES 1949). Mato Grosso, Amazonas, Roraima, Minas Gerais, Bahia, Rio de Janeiro,

São Paulo e Paraná ARAÚJO (1982) apud DUTRA (1988). Amazonas, Pará, Pernambuco,

Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso, Rondônia (ARAÚJO & KELLER

1993). Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro (HAAS 1953), na trilha do Pico do

24 Papagaio nas altitudes de 100, 300 e 500m, e trilha da Jararaca a 200m de altitude (NUNES

2007).

Figura 13. Leptinaria unilamellata (d’Orbigny, 1835). Desenho retirado de ARAÚJO & KELLER (1993).

Obeliscus Beck, 1837

Concha sem umbílico, subcilíndrica ou afunilada, usualmente grande, sólida e opaca; de nove a 18 voltas, um pouco convexa, não carenada. Voltas embrionárias suaves ápice obtuso. Abertura oval, lábio simples e curto, columela côncava ou vertical, truncada na base, a protoconcha é globosa ou oblonga, com cerca de três voltas, e muito pequena se comparada com um exemplar adulto; são animais vivíparos (PILSBRY 1906-1907).

Distribuição: América do Sul e Antilhas (PILSBRY 1906-1907).

Os três gêneros a seguir são da família Systrophiidae, que é endêmica da Região

Neotropical (RAMÍREZ 1993).

25 Família Systrophiidae Miradiscops Baker, 1925

Concha subdiscoidal, pequena, hialina, umbílico aberto, linhas de crescimento fracamente marcadas, espira minimamente levantada, voltas com incremento lento, a última volta não é maior que a anterior; sem dentes; a forma da última volta é arredondada, perístoma afiado; dente radular em forma de garra, dente central vestigial ou ausente, dente com cúspides longas e delgadas (RAMÍREZ 1993).

Distribuição: Bolívia, Brasil, Peru, Venezuela, Costa Rica, Guatemala, Panamá,

México, Porto Rico, Providence e Trinidade (RAMÍREZ 1993).

Happiella Baker, 1925

Concha com espira muito baixa e umbílico reduzido a uma pequena perfuração

(BAKER 1925). Concha sem carena no umbílico, dentes central e laterais fimbriados (RAMÍREZ

1993).

Distribuição: da Colômbia até as Guianas, Brasil, Paraguai e Trinidad (RAMÍREZ

1993).

Tamayoa Baker, 1925

Concha com carena no umbílico, estendendo até o ápice; pequeno dente central radular, tricúspide (RAMÍREZ 1993).

Distribuição: Peru, Brasil, Venezuela e Trinidade (RAMÍREZ 1993).

Família Charopidae Ptychodon Ancey, 1888 Concha pequena, aproximadamente três milímetros de diâmetro máximo e altura de dois milímetros, deprimida, discoidal, com espira às vezes praticamente oculta pela última

26 volta, de cor ambarina, parede muito fina e opaca ou semitransparente, coberta por perióstraco geralmente fino e brilhoso. Apresenta até cinco voltas e meia, convexas, de crescimento lento, regular e levemente comprimidas. A protoconcha é lisa. As voltas pós-embrionárias são dotadas de costelas radiais ripiformes, finas, convexas e baixas de traçado perfeitamente sigmóide. Os espaços intercostelares apresentam linhas de crescimento, podendo ocorrer também estrias. A abertura é reniforme, comprimida palatalmente, com perístomo de borda

1 1 simples e cortante. O umbílico tem cerca de /3 a /4 do diâmetro máximo da concha, é amplo e perspectivo. Apresenta barreiras peristomais (FONSECA & THOMÉ 1993).

Ptychodon schuppi (Suter, 1900) (Fig. 14)

Localidade-tipo: São Leopoldo, Rio Grande do Sul (SUTER 1900). Espécie nativa, encontrada em ambientes florestados.

Concha exígua, discoidea, umbilicada, estriada, não lustrosa, fulva; espira quase plana, de 4 voltas, aumentando paulatina e regularmente, convexas, com costelas finas, direitas equidistantes, em número mais ou menos de 14 por milímetro; entre estas existem linhas microscópicas de incremento, cruzadas por linhas espirais. A protoconcha é lisa de 1 ½ voltas.

A sutura é muito profunda, a abertura subvertical, estreita e redondamente lunar com margens simples, e extremidades distantes, convergentes. O lábio columelar é curto, vertical, não reflexo, o umbigo bem largo, perspectivo, mostrando todas as voltas. A base é convexa

(SUTER 1900).

Distribuição: Rio Grande do Sul (SUTER 1900). Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de

Janeiro, nas trilhas da Jararaca e do Caxadaço (SANTOS & MONTEIRO 2001), na trilha da

Jararaca nos 300 e 500 m de altitude e na trilha do Pico do Papagaio de 200 a 300 m de altitude (NUNES 2007).

27

Figura 14. Ptychodon schuppi (Suter, 1900). Foto: Carla W. Gabriel.

Stephanoda Albers, 1860

Concha deprimida, de paredes finas, espira baixa e plana, até sete voltas convexas de sutura profunda e não escavada, abertura reniforme e obliqua de perístomo simples, umbílico muito amplo (ALBERS 1860 apud FONSECA & THOMÉ 1993).

Família Euconulidae

Habroconus semenlini (Moricand, 1846) (Fig. 15)

Localidade-tipo: Bahia (MORICAND 1846). Espécie nativa encontrada em ambientes antrópicos e florestados.

Micromolusco de concha dextrógira, discóide, frágil; amarela, translúcida; número de voltas variando de 2 ½ a 4 ½; sutura pouco profunda; a protoconcha com 1 ½ voltas apresenta linhas finas, espirais e contínuas, que se estendem por toda a superfície da concha e aumentam o espaçamento entre as mesmas à medida que a concha cresce; em vista dorsal e ventral são em número de 19 a 20 linhas na volta do corpo; abertura em formato de meia lua; perístomo fino; umbílico oval encoberto parcialmente ou totalmente (C. OLIVEIRA 2002). A concha vista pelo microscópio é claramente decussada. A protoconcha apresenta miúdas estrias radiais, tendo linhas espirais visíveis apenas nas proximidades da sutura. A perfuração umbilical é muito estreita e quase completamente coberta pela dobra columelar (SUTER 1900).

28 Distribuição: Uruguai, Argentina, Paraguai, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul (C.

OLIVEIRA 2002). São Paulo (SUTER 1900). Bahia (MORICAND 1846). Na Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro (HAAS 1953), na trilha da Jararaca de 100 a 500 m de altitude e na trilha do Pico do Papagaio de 200 a 400 m de altitude (NUNES 2007).

Figura 15. Habroconus semenlini (Moricand, 1846). Escala 1 mm. Foto: Antônio C. Freitas.

Família Bradybaenidae

Bradybaena similaris (Férussac, 1821) (Fig. 16)

Localidade-tipo: Timor (Indonésia) (SOLEM 1961). Várias localidades (BIELER &

SLAPCINSKY 2000). COWIE (1998) relata sua origem na Ásia. THOMÉ et al . (2006) afirmam que esta espécie possui localidade tipo e holótipo desconhecidos. BURCH (1962) e BERG

(1994) são mais precisos, afirmando que é nativa da China, a partir de onde se expandiu pelo comércio a todas as partes do mundo onde houve cultivo de café, podendo ser uma praga grave para a floricultura e horticultura (BOFFI 1979, THOMÉ et al . 2006). Espécie sinantrópica, encontrada exclusivamente em ambientes modificados, esta espécie não é encontrada em ambientes florestados.

A concha mede de 9 a 13 mm de diâmetro, sub-heliciforme, com perfil das voltas convexo, base arredondada, translúcida e lisa. Cor castanho clara, com ou sem uma faixa espiral castanha na altura da sutura e no seu prolongamento imaginário pela volta do corpo; lábio e interior da abertura brancos e brilhantes, região parietal castanha. Abertura luniforme, lábio refletido e umbílico estreito. Escultura de estrias espirais; linhas de crescimento finas e oblíquas (BOFFI 1979).

29 De acordo com ARAÚJO (1989), a concha tem aspecto geral heliciforme, com parede espessa e forte, constituída de cinco a seis voltas da espira. Mostra duas suturas evidentes porém não muito profundas, acompanhadas no seu limite superior por uma linha de coloração castanha que se estende na volta corporal até o bordo da abertura e é visível também pela face interna da concha. As linhas de crescimento são mais pronunciadas na volta corporal, dando um aspecto levemente rugoso à superfície da concha. O umbílico é aberto, com os bordos se abrindo amplamente sem, contudo, ser muito profundo. A abertura é semilunar, com os bordos refletidos largamente, sem lamelas ou dentes.

THOMÉ et al . (2006) caracterizam a espécie como pequeno caracol herbívoro, com concha arredondada, castanho clara, em geral, apresenta uma banda espiral avermelhada.

Espécie invasora, provavelmente asiática, comum em hortas e jardins.

ALMEIDA & BESSA (2001a) estudaram o crescimento e a reprodução desta espécie em laboratório, verificando que é capaz de fazer autofecundação. Pode ser infectada por

Postharmostum gallinum Witenberg, 1923 e Eurytrema coelomaticum (Giard & Biliet, 1892), ambos com ciclos de vida associados a animais domésticos (AMATO & BEZERRA 1992).

D’ ÁVILA et al . (2004) relataram a formação de epifragma em alguns indivíduos e uma grande resistência à dessecação, o que poderia ser explicado por seu tropismo positivo por superfícies verticais sendo, então, menos dependente do substrato e possivelmente tem menor exposição à luz e ao calor.

No Brasil, alguns trabalhos já foram realizados com a espécie, abordando reprodução, fisiologia e parasitologia, por exemplo: AMATO & BEZERRA (1992), PASCHOAL & AMATO

(1996), ALMEIDA & BESSA (2000), LIRA et al . (2000), BRANDOLINI & AMATO (2001),

PINHEIRO et al. (2001), MOREIRA et al . (2003), FURTADO et al. (2004), ARÉVALO et al . (2006),

NASCIMENTO et al . (2006), GARCIA & PINHEIRO (2007), LUSTRINO et al . (2008) e DE OLIVEIRA et al . (2008).

30 Distribuição: Um dos moluscos mais amplamente distribuídos pelo mundo (SOLEM

1961). HAAS (1955) relatou que esta espécie oriental estava rapidamente se espalhando no

Peru. Curitiba, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro (MORRETES 1949). Cincuntropical, introduzida nas Américas (BOFFI 1979). É encontrada em quase todos os estados do Brasil

(ARAÚJO 1989). Rio Grande do Sul (THOMÉ et al. 2006). Encontra-se distribuído principalmente nas regiões tropicais, disseminado pelo comércio de plantas; ocorre na

América do Norte, Central e do Sul; no Brasil, é encontrado desde o Amapá até o Rio Grande do Sul (ALMEIDA & BESSA 2001a).

Figura 16. Bradybaena similaris (Férussac,

1821). Desenho retirado de ARAÚJO (1989).

Área urbana da Vila Dois Rios

Na área urbana foram coletados 271 indivíduos, distribuídos em cinco famílias e oito espécies (Tab. I) (Col. Mol. UERJ Nº 7691-7723). Destas, uma espécie é nativa, cinco espécies são exóticas, uma espécie não conseguimos localizar a origem, mas todas estão sempre associadas a ambientes antrópicos.

A família dominante foi Subulinidae com 91,50 % do total coletado, seguido por

Bulimulidae (5,54%), Fruticolicidae (1,48%), Succineidae (1,11%) e Pupillidae (0,37%), como mostra a figura 17.

31 Famílias

Subulinidae Bulimulidae Fruticicolidae Succineidae Pupillidae

Figura 17. Representação das famílias de moluscos terrestres coletadas na área urbana da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro.

Podemos observar que nesta comunidade existe a dominância da espécie Beckianum beckianum (Pfeiffer, 1846), com 67% de exemplares (Fig. 18). Embora a origem geográfica desta espécie seja desconhecida, vários autores relatam a ocorrência dela em diversas partes do mundo, sempre associadas a ambientes modificados pelo homem, seja pela agricultura, por canteiros de hortas ou jardins. Esta espécie apresenta elevada abundância em ambientes antrópicos, mas em ambientes onde a influência humana foi muito tênue, ela não é encontrada.

32 200

180

160

140

120

100

80 Abundância 60

40

20

0

s ta s lis s na lis u ri a li num o ci im lla la a ct on o gra me i servi . uiss . ecki S. L ila simi B. erid G b ten un m B. . B. L S.

Figura 18. Abundância dos moluscos terrestres coletados na Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro.

Encosta da Vila Dois Rios a 350 metros de altitude

Na encosta da Vila Dois Rios, a 350 m de altitude, foram coletados 23 indivíduos, de nove espécies diferentes, compreendidos em seis famílias (Tab. I) (Col. Mol. UERJ Nº 7677-

7690, 7724).

A família Systrophiidae (61%), endêmica do neotrópico (RAMÍREZ 1993), foi dominante, seguida respectivamente pelas famílias Subulinidae (13%), Euconulidae e

Charopidae (8, 7% cada) e Helicinidae e Neocyclotidae (4,3% cada) (Fig. 19).

33 FamíliasFamílias

Helicinidae Neocyclotidae Subulinidae Systrophiidae Charopidae Euconulidae

Figura 19. Representação das famílias de moluscos terrestres coletadas na encosta da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro, a 350 metros de altitude.

Observando a figura 20, percebemos que a espécie dominante foi Happiella sp, seguida por Obeliscus sp., Miradiscops sp. e H. semenlini . As espécies Alcadia sp., N. prominulus , L. unilamellata , Ptychodon sp.1 e P. schuppi foram coletados com apenas um indivíduo cada, representam espécies singletons que refletem a raridade e/ou a pequena abundância da maioria das espécies dentro de uma comunidade, padrão comumente observado, principalmente em regiões tropicais (WHITTAKER 1975, MAGURRAN 1988, ODUM

1988, KAGEYAMA & LEPSCH -CUNHA 2001, RICKLEFS 2003).

Das espécies coletadas, quatro foram identificadas até a categoria específica, três das quais possuem localidade tipo no país e uma com localidade tipo descrita para a América

Tropical.

As espécies Obeliscus sp., H. semenlini , Alcadia sp. e N. prominulus foram exclusivas desta localidade.

34

Figura 20. Abundância das espécies coletadas na encosta da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro, a 350 m de altitude.

3) Encosta da Vila Dois Rios a 450 metros de altitude

Na coleta quantitativa da encosta da Vila Dois Rios, a 450 m de altitude, foram coletados 17 indivíduos, divididos em oito espécies diferentes, e três famílias (Tab. I) (Col.

Mol. UERJ Nº 7662-7669, 7671-7674).

A família Systrophiidae foi dominante, com 53% do total de indivíduos coletados, seguido pela família Charopidae, que representou 41% do total de indivíduos.

35 Famílias

Bulimulidae Systrophiidae Charopidae

Figura 21. Representação das famílias de moluscos terrestres coletadas na encosta da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro, a 450 metros de altitude.

Observando a figura 22, percebemos que a espécie dominante foi Miradiscops sp., seguida por Happiella sp. Das espécies coletadas, apenas uma foi identificada até a categoria específica, sendo ela nativa.

As espécies Bulimulidae sp.3, Tamayoa sp., Ptychodon sp.2 e Stephanoda sp. foram exclusivas desta localidade.

Figura 22. Abundância das espécies coletadas na encosta da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro, a 450 m de altitude.

36 Na figura 23 é possível observar que nas amostras coletadas existem espécies exclusivas da área urbana da Vila Dois Rios: Beckianum beckianum , Subulina octona ,

Lamellaxis gracilis , Bulimulus tenuissimus , Bradybaena similaris , Succinea meridionalis ,

Gastrocopta servilis . A espécie Leptinaria unilamellata , também foi coletada na área de floresta a 350 m de altitude, apenas um indivíduo.

100%

80%

60% 450m 350m 40% 0m

20%

0% . . a s s p i 3 2 p. at i i p. ini us sp sp. p s mus ll s s sp. i e onalis rvil inul a ss milar us ell oa am i di se cops on il isc semenl om s S. octonaL. gracilisnui G. Alcadia spr may hanoda te un B. s P. schuppchodon sp.1 chod H. Happi radi Ta y ep B. beckianum B. L. S. meri Obel N. t Pty Mi Bulimilidae sp. P St

Figura 23. Percentual de espécies coletas na Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro. 0m: área urbana; 350m: encosta a 350m de altitude; 450m: encosta a 450m de altitude.

De acordo com a nossa experiência na região (NUNES et al. 2003) observamos que algumas espécies são encontradas somente em ambientes não florestados, fortemente influenciados pelo homem, tais como gramados, jardins e hortas: Bulimulus tenuissimus ,

Bradybaena similaris , Succinea meridionalis e Gastrocopta servilis , estas espécies não são encontradas onde a vegetação está se estabelecendo, apresentando um dossel razoavelmente fechado, constituído por árvores e arbustos de várias alturas. Contudo, outras espécies conseguem viver tanto no ambiente antrópico, bem alterado, e também em ambientes onde a influencia antrópica cessou e o ambiente está se recuperando, são elas B. beckianum , S. octona , L. gracilis e L. unilamellata . A espécie B. beckianum, em ambientes florestados em

37 recuperação, também apresenta abundância e dominância com valores bastante elevados

(NUNES et al . 2003).

Nas regiões florestadas da Ilha Grande, onde a influência antrópica se restringiu a entrada do homem para realizar cortes de madeira, ou realizar caça, por exemplo, eventualmente encontramos um ou dois exemplares de Lamellaxis gracilis e Leptinaria unilamellata .

As espécies do ambiente florestado, provavelmente são mais sensíveis a variações dos fatores ambientais, por isso não são encontradas em ambientes antrópicos, onde existe uma grande variação de condições ambientais ao longo do dia.

Dados ambientais

Podemos considerar que existe um gradiente ambiental, que vai desde a região mais alterada, a área urbana da Vila Dois Rios, para a região menos alterada, a encosta da Vila

Dois Rios a 450 m de altitude, passando pela região intermediária, a encosta da Vila Dois

Rios a 350 m de altitude. Visualmente é fácil perceber este gradiente e os dados ambientais coletados corroboram a existência deste gradiente.

38 32

30

28

26

24

Temperatura (ºC) 22

20

18 Tmax Tmed 16 Tmin 1 2 3 Tsolo Área

Figura 24. Temperatura ambiente e do solo (ºC) da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro. 1: área urbana; 2: encosta a 350m de altitude; 3: encosta a 450m de altitude.

A área urbana apresentou temperaturas mais elevadas que as outras áreas, o que é justificado pelo fato desta área ser aberta e, portanto, receber forte incidência luminosa do sol.

A região florestada a 450 m de altitude possui temperaturas mais baixas devido ao seu dossel que é mais fechado quando comparada com a região de 350 m de altitude. A ausência de cobertura vegetal favorece a elevação da temperatura na área urbana da Vila Dois Rios (Fig.

24). A diminuição de temperatura de acordo com o aumento da altitude é um evento bem conhecido (RICKLEFS 2003, BEGON et al. 2006).

39 85

80

75

70

65

60

Umidade ambiente (%) 55

50

45

Umax 40 Umed 1 2 3 Umin Área

Figura 25. Percentual de umidade ambiente da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro. 1: área urbana; 2: encosta a 350m de altitude; 3: encosta a 450m de altitude.

A umidade foi menor na área urbana da Vila Dois Rios, devido principalmente a sua elevada temperatura, que associada à estrutura da vegetação, constituída por algumas árvores de grande porte e muitas plantas herbáceas, principalmente gramíneas, o que não contribui para reter a umidade no local. Na região florestada, a umidade média aumentou conforme o gradiente ambiental e altitudinal, mas a umidade mínima e máxima reduziu com a elevação da altitude (Fig. 25). A diminuição de umidade de acordo com o aumento da altitude já foi relata na literatura (RICKLEFS 2003, BEGON et al. 2006).

40 20000

18000

16000

14000

12000

10000

8000

6000

Luminosidade (Lux) Luminosidade 4000

2000

0

-2000

-4000 1 2 3 Área

Figura 26. Luminosidade (Lux) da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro. 1: área urbana; 2: encosta a 350m de altitude; 3: encosta a 450m de altitude.

A luminosidade na área urbana da Vila Dois Rios teve uma enorme variação, e apresentou valores muito elevados, pelos mesmos motivos apresentados anteriormente. A localidade de encosta a 350m de altitude apresentou valores de luminosidade mais baixos e mais homogêneos, embora o esperado fosse que a área de 450 m de altitude apresentasse valores comparativamente mais baixos que as outras localidades (Fig. 26). Mas se tratando de uma região íngreme, a vegetação apresenta várias alturas de dossel, que associado ao ângulo do sol, poderia ocasionar um aumento de possibilidades de entrada de luz solar, aumentando assim a luminosidade no local.

41 7

6

5

4

3

2 Profundidadedaserapilheira (cm)

1

0 1 2 3 Área

Figura 27. Profundidade da serapilheira (cm) da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro. 1: área urbana; 2: encosta a 350m de altitude; 3: encosta a 450m de altitude.

A profundidade da serapilheira aumentou conforme o gradiente ambiental (Fig. 27). O mesmo ocorreu para o percentual de umidade de folhas da serapilheira (Fig. 28). Quanto maior for a profundidade do folhiço, maior são as suas chances de reter umidade nas folhas da serapilheira. Por outro lado, o percentual de umidade de galhos da serapilheira não apresentou valores que diferenciem as localidades de maneira significativa (p = 0,057) (Tab. II).

42 90

80

70

60

50

40

30 Umidade da serapilheira (%)

20

10

0 Folha 1 2 3 Galho Área

Figura 28. Percentual de umidade da serapilheira. da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro. 1: área urbana; 2: encosta a 350m de altitude; 3: encosta a 450m de altitude.

Na análise de variância, com exceção do percentual de umidade de galhos presentes na serapilheira, todos os outros dados ambientais quantificados diferiram estatisticamente entre as três localidades (Tab. II). Em relação ao teste Tukey, para os dados ambientais que na análise de variância diferiram significativamente, a área urbana da Vila Dois Rios difere estatisticamente das outras duas localidades florestadas da encosta. Em contrapartida, essas

áreas florestadas de encosta são mais semelhantes entre si, já que quase todos os dados ambientais não foram estatisticamente diferentes para essas localidades, apenas a temperatura do solo e umidade relativa mínima do ar diferiram significativamente essas duas localidades.

De forma simplificada, os dados ambientais indicam que as duas localidades de encosta da Vila Dois Rios (350 e 450 m de altitude) são mais semelhantes entre si e completamente diferentes da área urbana da Vila Dois Rios.

43 Tabela II: Análise de Variância com os dados ambientais da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro e teste Tukey. 1: área urbana; 2: encosta a 350m de altitude; 3: encosta a 450m de altitude.Valores em negrito indicam p < 0,05; ou seja, diferença significativa entre as localidades consideradas.

Dados ambientais Anova teste Tukey

1 X 2 1 X 3 2 X 3 Temperatura máxima do ambiente 0,000 0,000 0,000 0,056 Temperatura média do ambiente 0,000 0,000 0,000 0,079 Temperatura mínima do ambiente 0,000 0,000 0,000 0,061 Temperatura do solo 0,000 0,000 0,000 0,000 Umidade relativa máxima do ar 0,000 0,000 0,000 0,065 Umidade relativa média do ar 0,000 0,000 0,000 0,130 Umidade relativa mínima do ar 0,000 0,000 0,000 0,001 Luminosidade 0,001 0,000 0,023 0,266 Profundidade da serapilheira 0,000 0,000 0,000 0,268 Umidade de folhas da serapilheira 0,001 0,009 0,002 0,589 Umidade de galhos da serapilheira 0,507 0,706 0,915 0,517

A composição encontrada na comunidade da área urbana é totalmente diferente da comunidade dos ambientes florestados de encosta, o que também ocorre para as condições ambientais que são totalmente diferentes. A Vila Dois Rios apresenta elevada intensidade luminosa, temperatura ambiente e do solo; baixa umidade do ar e pouca serapilheira, condições completamente opostas às encontradas no ambiente florestado. Como as condições ambientais se apresentam segundo um gradiente, no qual a luminosidade e a temperatura do ambiente e do solo diminuem; e a umidade do ambiente, a profundidade e a umidade da serapilheira aumenta, conforme passamos de uma área completamente alterada, para a floresta secundária e depois para a floresta primária, a comunidade de moluscos terrestres responde a este gradiente através de sua composição (Fig. 23).

A fauna urbana atual da Vila Dois Rios é constituída apenas por espécies sinantrópicas, as quais em geral, possuem ampla distribuição geográfica, mas estão associadas

44 a ambientes modificados pela ação do homem. A introdução dessas espécies provavelmente se deu pela ocupação humana e pela modificação do hábitat, principalmente pela agricultura.

A introdução de plantas ornamentais e para o cultivo através de mudas, permitiu a entrada na

Ilha Grande de ovos e indivíduos de moluscos presentes na terra das mudas de plantas, HAAS

(1953) já tinha citado a ocorrência destas espécies na Ilha Grande, elas devem estar nesta ilha desde a época das lavouras de café, na primeira metade do século XIX.

É interessante observar que muitas destas espécies sinantrópicas ficam restritas ao ambiente antrópico, como jardins, hortas e gramados. Enquanto que algumas outras espécies sinantrópicas conseguem estabelecer-se também em um ambiente que está iniciando seu processo de recuperação.

Observamos uma tendência de que o ambiente uma vez modificado, a paisagem consegue se recuperar, mas durante este processo, a malacofauna modifica sua estrutura, com perda de espécies nativas e introdução de espécies sinantrópicas. Com o passar do tempo e o fim da influência humana no ambiente, a malacofauna nativa consegue se restabelecer, e as espécies sinantrópicas vão aos poucos desaparecendo, por isso a abundância delas é reduzida em ambientes intermediários.

Tendo os moluscos terrestres características que os tornam potencialmente excelentes bioindicadores (SCHILTHUIZEN & RUTJES 2001) e tendo como base tudo que aqui foi exposto, queremos propor um índice de diagnóstico de alteração/degradação ambiental.

45 Tabela III. Sugestão para diagnóstico de ambientes de Floresta Atlântica degradados/ recuperados, utilizando a proporção de espécies de moluscos sinantrópicas e nativas, para cada estágio de recuperação.

Ambiente Floresta Floresta climáxica

urbano intermediária (OLIVEIRA 2002) Tempo de recuperação (anos) 0 anos 35 anos Mais de 50 anos sem interferência antrópica Riqueza e abundância das 90 a 100 % 50 a 60 % 0 a 10 % espécies sinantrópicas Riqueza e abundância das 0 a 10 % 40 a 50 % 90 a 100 % espécies nativas

Os moluscos são animais extremamente sensíveis a mudanças no micro-habitat e podem ser bons indicadores de alteração ambiental, por isso, o estudo comparativo de comunidades sinantrópicas e nativas, juntamente com suas tolerâncias ambientais foi necessário e permitiu estabelecer uma metodologia rápida, de pouco impacto e principalmente de baixo custo para classificar ou diagnosticar o estado de conservação ou modificação de fragmentos florestais na Ilha Grande. Estes dados poderão ser utilizados para estudos de conservação e manejo da vida silvestre. Contudo, mais estudos utilizando gradientes ambientais em outras localidades devem ser realizados com a finalidade de estabelecer proporções de espécies sinantrópicas/nativas para cada fase de regeneração florestal em diferentes ambientes.

46 CONCLUSÕES

A comunidade de moluscos terrestres retrata a alteração ambiental da Vila Dois Rios,

Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro.

Com a reestruturação da floresta, a composição da malacofauna vai se modificando, com a redução do númeor de espécies sinantrópicas e aumento do número de espécies nativas.

A realização de mais estudos deste tipo é necessária e permitirá estabelecer intervalos mais precisos para diagnósticos de fragmentos de Floresta Atlântica usando uma metodologia rápida e barata.

Esta metodologia pode auxiliar estudos de escolha de áreas prioritárias para conservação de ambientes de Floresta Atlântica.

47 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBERS , J.C. 1860. Die Heliceen nach natürlicher Verwandtschaft systematisch

gerodnet. 2. Ed. Leipzig: W. Engelmann. p.80-98.

ALHO , C.J.R.; M. SCHNEIDER & L.A. VASCONCELLOS . 2002. Degree of threat to the biological

diversity in the Ilha Grande State Park (RJ) and guidelines for conservation. Brazilian

Journal of Biology 62 (3): 375-385.

ALMEIDA , M.N. & E.C.A. BESSA . 2000. Efeito da densidade populacional sobre o crescimento

e a reprodução de Bradybaena similaris (Férussac, 1821) (, Xanthonychidae) e

Leptinaria unilamellata (Mollusca, Subulinidae). Revista Brasileira de Zoociências 2

(2): 97-104.

ALMEIDA , M.N. & E.C.A. BESSA . 2001a. Estudo do crescimento e da reprodução de

Bradybaena similaris (Férussac) (Mollusca, Xanthonychidae) em laboratório. Revista

Brasileira de Zoologia 18 (4): 1115-1122.

ALMEIDA , M.N. & E.C.A. BESSA . 2001b. Estudo do crescimento e da reprodução de

Leptinaria unilamellata (d’Orbigny) (Mollusca, Subulinidae) em laboratório. Revista

Brasileira de Zoologia 18 (4): 1107-1113.

ALVES , S.L.; A.S. ZÁU , R.R. OLIVEIRA , D.F. LIMA & C.J.R. MOURA . 2005. Sucessão florestal e

grupos ecológicos em Floresta Atlântica de encosta, Ilha Grande, Angra dos Reis/ RJ.

Revista Universidade Rural, Série Ciências da Vida 25 (1): 26-32.

AMATO , S.B. & J.C.B. BEZERRA . 1992. Concurrent infection of Postharmostum gallinum

(Digenea, Brachylaimidae) and Eurytrema coelomaticum (Digenea, Dicrocoeliidae in

Bradybaena similaris (, Xanthonichidae). Memórias do Instituto

Oswaldo Cruz 87 (2): 309-311.

ARAÚJO , J.L.B. 1982. Alguns moluscos terrestres como hospedeiros intermediários de

parasitas de animais domésticos, no Brasil: estudos sobre a anatomia, sistemática e

48 participação em helmintoses. Itaguaí, 103 pp. Tese de Doutorado , Universidade Federal

Rural do Rio de Janeiro.

ARAÚJO , J.L.B. 1989. Moluscos de importância no Brasil. I. Xanthonychidae: Bradybaena

similaris (Férussac, 1821). (Mollusca, , , Stylommatophora).

Revista Brasileira de Zoologia 6 (4): 583- 592.

ARAÚJO , J.L.B. & D.G. KELLER . 1993. Moluscos de importância econômica no Brasil. III.

Subulinidae, Leptinaria unilamellata (Orbigny) (Mollusca, Gastropoda, Pulmonata,

Stylommatophora). Revista Brasileira de Zoologia 10 (3): 499-507.

ARAÚJO , J.L.B. & E.C.A. BESSA . 1993. Moluscos de importância econômica no Brasil. II.

Subulinidae, Subulina octona (Bruguiére) (Mollusca, Gastropoda, Pulmonata,

Stylommatophora). Revista Brasileira de Zoologia 10 (3): 489-497.

ARAÚJO , J.L.B.; H.E.B. RESENDE & P.A.F. RODRIGUES . 1960. Sobre “ Bulimulus tenuissimus ”

(Orbigny, 1835) (Gastropoda, Pulmonata). Revista Brasileira de Biologia 20 (1): 33- 42.

ARÉVALO , E.G; F.O. JUNQUEIRA ; G.L.G. SOARES & E.C.A. BESSA . 2006. Atividade

fagoinibidora do ácido salicílico sobre Bradybaena similaris (Férussac, 1821) (Mollusca,

Bradybaenidae) em condições de laboratório. Revista Brasileira de Zoociências 8 (2):

111- 115.

AUBRY , S.; F. MAGNIN ; V. BONNET & R. C. PREECE . 2005. Multi-scale altitudinal patterns in

species richness of communities in south-eastern France. Journal of

Biogeography 32 : 985-998.

BAKER , F. 1913. The land and fresh-water mollusks of the Stanford Expedition to Brazil.

Proceedings of the Academy of Natural Sciences of Philadelphia 65 : 618-675.

BAKER , H.B. 1925. Agnathomorphous Aulacopoda. Nautilus 38 : 86-89.

BARKER , G.M. 1982. Notes on the introduced terrestrial Pulmonata (Gastropoda: Mollusca) of

New Zealand. Journal of Molluscan Studies 48 : 174- 181.

49 BARKER , G.M. & P.C. MAYHILL . 1999. Patterns of diversity and habitat relationships in

terrestrial mollusc communities of the Pukeamaru Ecological District, northeastern New

Zealand. Journal of Biogeography 26 : 215-238.

BEGON , M.; C.R. TOWNSEND & J.L. HARPER . 2006. Ecology: from individuals to

ecosystems. Oxford, Blackwell Publishing. XII+738 p.

BERG , G.H. 1994. Caracoles y babosas de importância cuarentenaria, agrícola y medica

para America Latina y el Caribe . San Salvador, Organismo Internacional Regional de

Sanidad Agropecuaria, 132p.

BESSA , E.C.A. & J.L.B. ARAÚJO . 1995a. Ocorrência de autofecundação em Subulina octona

(Bruguiére) (Pulmonata, Subulinidae) sob condições de laboratório. Revista Brasileira de

Zoologia 12 (3): 719-723.

BESSA , E.C.A. & J.L.B. ARAÚJO . 1995b. Oviposição, tamanho de ovos e medida do

comprimento da concha em diferentes fases do desenvolvimento de Subulina octona

(Bruguiére) (Pulmonata, Subulinidae) em condições de laboratório. Revista Brasileira de

Zoologia 12 (3): 647-654.

BESSA , E.C.A.; W.S. LIMA ; E. DAEMON ; M.C. CURY & J.L.B. ARAÚJO . 2000.

Desenvolvimento biológico de Angiostrongylus vasorum (Baillet) Kamensnky

(Nematoda, Angiostrongylidae) em Subulina octona (Bruguière) (Molusca, Subulinidae)

em condições de laboratório. Revista Brasileira de Zoologia 17 (1): 29-41.

BIELER , R. & J. SLAPCINSKY . 2000. A case study for the development of an Island fauna:

recent terrestrial mollusks of Bermuda. Nemouria 44 : 2-99.

BOFFI , A.V. (1979). Moluscos de brasileiros de interesse médico e econômico. São Paulo.

HCITEC. 182p.

50 BRANDOLINI , S.V.P.B. & S.B. AMATO . 2001. Desenvolvimento de Eurytrema coelomaticum

(Giard & Billet) (Digenea, Dicrocoeliidae) em Bradybaena similaris (Férussac)

(Gastropoda, Xanthonychidae). Revista Brasileira de Zoologia 18 (2): 499- 510.

BURCH , J.B. 1962. How to Know the Eastern Land Snails . Iowa, WM. C, Brown Company

Publishers. 215p.

CAMERON , R.A.D. 2002. The land molluscs of North Ronaldsay, Orkney: human intervention

and island faunal diversity. Journal of Conchology 37 (5): 445-453.

CAMPOS , J.B.; M.G.O. TOSSULINO & C.R.C. MÜLLER (org.). 2005. Unidades de Conservação

– Ações para valorização da biodiversidade. Paraná, Instituto Ambiental do Paraná.

348p.

CHRISTENSEN , C.C. & P.V. KIRCH . 1986. Nonmarine mollusks and ecological change at

Barbers Point, O’ahu, Hawai´i. Bishop Museum Occasional Papers 26 : 52-80.

CORREA , A.S. 1999. Zoogeografía de los gastrópodos terrestres de la region oriental de San

Luis Potosí, México. Revista de Biologia Tropical 47 : 493-502.

COWIE , R.H. 1998. Patterns of introduction of non-indigenous non-marine snails and slugs in

the Hawaiian Islands. Biodiversity and Conservation 7: 349-368.

COWIE , R.H. 2000a. New records of alien land snails and slugs in the Hawaian Islands.

Bishop Museum Occasional Papers 64 : 51-53.

COWIE , R.H. 2000b. Non-indigenous land and freshwater mollusks in the islands of the

Pacific: conservation impacts and threats, p. 143-172. In : G. SHERLEY (ed.). Invasive

species in the Pacific: a technical review and draft regional strategy . South Pacific

Regional Environment Programme, Apia. 190p.

COWIE , R.H. 2001. Invertebrate invasions on Pacific Islands and the replacement of unique

native faunas: a synthesis of the land and freshwater snails. Biological Invasions 3 : 119-

136.

51 D’ ÁVILA S. & E.C.A. BESSA . 2005a. Influência do substrato sobre a reprodução de Subulina

octona (Brugüière) (Mollusca, Subulinidae), sob condições de laboratório. Revista

Brasileira de Zoologia 22 (1): 197–204.

D’ ÁVILA S. & E.C.A. BESSA . 2005b. Influência do substrato sobre o crescimento de Subulina

octona (Brugüière) (Mollusca, Subulinidae), sob condições de laboratório. Revista

Brasileira de Zoologia 22 (1): 205–211.

D’ ÁVILA S.; R.J.P. DIAS & E.C.A. BESSA . 2006. Comportamento agregativo em Subulina

octona (Brugüière) (Mollusca, Subulinidae). Revista Brasileira de Zoologia 23 (2): 357–

363.

D’ ÁVILA S.; R.J.P. DIAS ; E.C.A. BESSA & E. DAEMON . 2004. Resistência à dessecação em três

espécies de moluscos terrestres: aspectos adaptativos e significado para o controle de

helmintos. Revista Brasileira de Zoociências 6 (1): 115-127.

DE OLIVEIRA , C.S.; M.C. VASCONCELLOS & J. PINHEIRO . 2008. The population density effects

on the reproductive biology of the snail Bradybaena similaris (Férussac, 1821) (Mollusca,

Gastropoda). Brazilian Journal of Biology 68 (2): 367-371.

D’O RBIGNY , A. 1837. Voyage dans l’Amerique Meridionale... Mollusques . P. Bertarnd,

Paris V. Levrault, Strasbourg. 5 (3): 185-376.

DUARTE , M.J.F. 1980. O ciclo evolutivo de Postharmostomum gallinum Witenberg, 1923, no

estado do Rio de Janeiro, Brasil (Trematoda, Brachylaemidae). Revista Brasileira de

Biologia 40 (4): 793-809.

DUTRA , A.V.C. 1988. Aspectos da ecologia e da reprodução de Leptinaria unilamellata

(Orbigny, 1835) (Gastropoda, Subulinidae). Revista Brasileira de Zoologia 5 (4): 581-

591.

ESPINOLA , L.A.E & H.F.J. JUNIOR . 2007. Espécies invasoras: conceitos, modelos e atributos.

Interciência 32 (9): 580-585.

52 FONSECA , A.L.M. & J.W. THOMÉ . 1993. Classificação das espécies neotropicais de

micromoluscos dos gêneros Stephanoda Albers, 1860, Stephadiscus Scott, 1981 e

Ptychodon Ancey, 1888 (Charopidae: Endodontoidea: Stylommatophora: Gastropoda).

Acta Biologica Leopoldensia 15 (2): 65-76.

FONSECA , F.C., G.K.M. NUNES & S.B. SANTOS . 2007. Lista preliminar da malacofauna

“urbana” da Vila Dois Rios, Ilha Grande, Brasil. In : XX Encontro Brasileiro de

Malacologia, 2007, Rio de Janeiro Resumos... Rio de Janeiro: UERJ. p. 231.

FONSECA , F.C., G.K.M. NUNES & S.B. SANTOS . 2009. Malacofauna urbana da Vila Dois Rios

e da Vila do Abraão, Ilha Grande, Angra dos reis, Rio de Janeiro. In : XXI Encontro

Brasileiro de Malacologia, 2009, Rio de Janeiro Cd de Resumos... Rio de Janeiro: UERJ.

p. 250.

FURTADO , M.C.V.; E.C.A. BESSA & M.C.M.N. CASTANÕN . 2004. Ovoteste de Bradybaena

similaris (Férussac, 1821) (Molusca, Xanthonychidae): histologia e produção de gametas.

Revista Brasileira de Zoociências 6 (1): 7-17.

GARCIA , T.A. & J. PINHEIRO . 2007. The photoperiod may modulate the carbohydrate

metabolismo of Bradybaena similaris (Férussac, 1821) (Molusca, Bradybaenidae).

Revista Brasileira de Zoociências 9 (1): 7-12.

GASCOIGNE , A. 1994. The dispersal of terrestrial gastropod species in the Gulf of Guinea.

Journal of Conchology 35 (1): 1-7.

GOULD , A.A. 1843. Monograph of the species of Pupa found in the United States, with

figures. Boston Journal of Natural History 4:350-360.

GRAY , J. E. 1857. Guide to the systematic distribution of Mollusca in the British Museum

– Part I. London, British Museum. 230p.

HAAS , F. 1949. Land and fresh-wather Mollusks from Peru. Fieldiana: Zoology 31 (28):

235-250.

53 HAAS , F. 1953. Mollusks from Ilha Grande, Rio de Janeiro, Brazil. Fieldiana: Zoology 34

(20): 203-209.

HAAS , F. 1955. On some small collections of inland shell from South America – Land and

fresh-wather Mollusks from Peru. Fieldiana: Zoology 34 (35): 361-387.

HADLEY , M. 1991. Rain Forest regeneration and manegement: strengthening the Research

Management Connection. In : GOMES -POMBA , A.; HADLEY , M. & WHITMOR , T. C. (Orgs.).

Rain Forest regeneration and manegement. Man and Biosfere Series. Londres: Unesco &

The Parthenon, Publ. Group.

HAUSDORF , B. 2002. Introduced land snails and slugs in Colombia. Journal of Molluscan

Studies 68 : 127-131.

HOLLAND , K.D.; M.J. MCDONNELL & N.S.G. WILLIAMS . 2007. Abundance, species richness

and feeding preferences of introduced mollusks in native grasslands of Victoria, Australia.

Austral Ecology 32 : 626-634.

JUŘIČKOVÁ , L. 2006. Subulina octona (Bruguière, 1798) – a new greenhouse species for the

Czech Republic (Mollusca: Gastropoda: Subulinidae). Malacologica Bohemoslovaca 5 :

1–2.

KAGEYAMA , P. & N.M. LEPSCH -CUNHA . 2001. Singularidade da biodiversidade nos trópicos,

p. 199-214. In : I. GARAY & B. DIAS . Conservação da biodiversidade em ecossistemas

tropicais : avanços conceituais e revisão de novas metodologias de avaliação e

monitoramento . Petrópolis, Editora Vozes. 430 p.

LANZIERI , P.D. 1965. Sobre a cópula e constituição do aparelho genital de Succinea

meridionalis Orbigny, 1846 (Gastropoda, Pulmonata, Succineidae). Memórias do

Instituto Oswaldo Cruz 63 : 207-228.

54 LIRA , C.R.S.; E. M. GOMES ; G.M. CHAGAS & J. PINHEIRO . 2000. Influência do jejum severo

sobre o conteúdo de proteínas totais e de amônio na hemolinfa de Bradybaena similaris

(Férussac). Revista Brasileira de Zoologia 17 (4): 907- 913.

LUSTRINO , D.; V.M. TUNHOLI -ALVES ; V.M. TUNHOLI ; E.C.A. BESSA & J. PINHEIRO . 2008.

Allamanda catartica L. (Apocynacea) seeds induces changes on carbohydrates deposits of

Bradybaena similaris (Férussac, 1821) (Mollusca, Bradybaenidae). Revista Brasileira de

Zoociências 10 (1): 23-27.

MACIEL , N.C.; D.S.D. ARAUJO & A. MAGNANINI . 1984. Reserva Biológica da Praia do Sul

(Ilha Grande, Angra dos Reis, RJ): Contribuição para conhecimento da fauna e da flora.

Boletim da Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza 19 : 126-148.

MAGURRAN , A.E. 1988. Ecologycal diversity and its measurement . Cambridge, University

Press. 179p.

MEIRELES , L.M.O.; L.C. SILVA ; F.O. JUNQUEIRA & E.C.A. BESSA . 2008. The influence of diet

and isolation on growth and survivalin the land snail Bulimulus tenuissimus (Mollusca:

Bulimulidae) in laboratory. Revista Brasileira de Zoologia 25 (2): 224–227.

MELLO , C.E.H.V. 1987. Apontamentos para servir à história fluminense (Ilha Grande)

Angra dos Reis . Angra dos Reis, Conselho Municipal de Cultura de Angra dos Reis.

115p.

MENEZ , A. 2002. The standardization of abiotic variable data collection in land mollusc

research. Journal of Conchology 37 (5): 581- 583.

MIENIS , H.K. 1977. North American land snails in Israel. The Nautilus 91 (1): 30-31.

MIQUEL , S.E. & H. PARENT . 1996. Moluscos gasteropodos de la Provincia de Santa Fe,

Argentina. Malacological Review 29 : 107- 112.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE - MMA. 2006. Espécies exóticas invasoras: Situação

Brasileira / Ministério do Meio Ambiente, Secretaria de Biodiversidade e Florestas. 24p.

55 MONTEIRO , D. P. 2005. Morfologia da concha de Neocyclotus prominulus (d’Orbigny, 1835)

de três áreas de floresta na Ilha Grande, Rio de Janeiro. Dissertação de Mestrado ,

Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes, Universidade do Estado do Rio de

Janeiro. 97 p.

MOREIRA , C.S.D.R.; E.M.G OMES ; G.M. CHAGAS & J. PINHEIRO . 2003. Calcium changes in

Bradybaena similaris (Férussac, 1821) (Mollusca, Xanthonychidae) under starvation.

Revista Brasileira de Zoociências 5 (1): 45-54.

MORICAND , S. 1846. Troisième supplément au mémoire sur les coquilles terrestres e

fluviatiles de la province de Bahia, envoyeés par M. Blanchet. Memóire de la Societé

Physique et d’Histoire Naturelle de Genève 11 : 147-160.

MORRETES , F.L. 1949. Ensaio de Catálogo dos Moluscos do Brasil. Arquivos do Museu

Paranaense 7 : 5- 216.

NASCIMENTO , C.A.A.; E. ARÉVALO ; I.S. AFONSO -NETO ; E.C.A. BESSA & G.L.G. SOARES .

2006. Efeito do extrato aquoso de folhas de Allamanda cathartica L. (Apocynaceae) sobre

Bradybaena similaris (Férussac, 1821) (Mollusca, Bradybaenidae) em condições de

laboratório. Revista Brasileira de Zoociências 8 (1):77-82.

NUNES , G.K.M. 2007. Comparação da diversidade da malacofauna terrestre em duas

vertentes, oceânica e continental, da Ilha Grande, Angra dos reis, Rio de Janeiro, Brasil.

Dissertação de Mestrado , Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes, Universidade

do Estado do Rio de Janeiro. 148 p.

NUNES , G.K.M.; M.A. EZEQUIEL & S.B. SANTOS . 2003 Composição da malacofauna em dois

sub-ambientes em uma área de mata secundária na Ilha Grande, Rio de Janeiro. In : XVIII

Encontro Brasileiro de Malacologia, 2003, Rio de Janeiro. Resumos... Rio de Janeiro:

UERJ. p. 196.

56 NUNES , G. K. M & S. B. SANTOS . 2006. Levantamento prévio da malacofauna urbana da Vila

Dois Rios, Ilha Grande, Angra dos Reis, Brasil. In: XXVI Congresso Brasileiro de

Zoologia, 2006, Londrina. CD de Resumos ... Londrina: UEL.

ODUM , E.P. 1988. Ecologia . Rio de Janeiro, Guanabara Koogan S. A., 434p.

OLAZARRI , J. 1986. Lamellaxis gracilis (Hutton, 1834) (Gastropoda: Subulinidae) en el

Uruguay. Comunicaciones de la Sociedad Malacologica del Uruguay VI (50): 361-364.

OLIVEIRA , C.R.P. 2002. Estudo bionômico de uma espécie de Gastrocopta (Gastropoda;

Vertiginidae; Gastrocoptinae) e caracterização da malacofauna acompanhante do Parque

Moinhos de Vento, Porto Alegre e do Sistema Arroio-Lagoa Bolaxa, Rio Grande, Rio

Grande do Sul. Dissertação de Mestrado , Instituto de Biociências, Universidade Federal

do Rio Grande do Sul. 127 p.

OLIVEIRA , M.O.; I. VIEIRA & M.H.R. OLIVEIRA . 1971. Sobre Bradybaena similaris Férussac

(Gastropoda, Pulmonata, Stylommatophora, Fruticicolidae) copula y funcionamiento del

oviducto durante el período de fecundacion y formacion del huevo. Comunicaciones de

la Sociedad Malacologica del Uruguay III (21): 155-161.

OLIVEIRA , R.R. 2002. Ação antrópica e resultantes sobre a estrutura e composição da Mata

Atlântica na Ilha Grande, RJ. Rodriguésia 53 (82): 33-58.

OLIVEIRA , R.R. & A. L. COELHO NETTO . 1996. O rastro do homem na floresta. A construção

da paisagem da Reserva Biológica Estadual da Praia do Sul (Ilha Grande, Rio de Janeiro)

a partir das intervenções antrópicas. Alberoa 4 (10): 110-118.

OLIVEIRA , R.R. & NETTO , A.L.C. 2006. O rastro do homem na floresta: a construção da

paisagem da Reserva Biológica Estadual da Praia do Sul (Ilha Grande, Rio de

Janeiro) a partir das intervenções antrópicas : 39 – 58. In : PRADO , R.M. (Org.). 2006.

Ilha Grande: do sambaqui ao turismo. Garamond, EDUERJ, 288p.

57 PASCHOAL , S.V. & S.B. AMATO . 1996. Eurytrema coelomaticum (Giard & Billet) (Digenea,

Dicrocoeliidae) em Bradybaena similaris (Férussac) (Gastropoda, Xanthonychidae):

Alterações nos depósitos de cálcio e na função reprodutiva do primeiro hospedeiro

intermediário. Revista Brasileira de Zoologia 13 : 411-418.

PFEIFFER , L. 1846. Symbolae ad historiam heliceorum. Casselis: 1-100.

PILSBRY , H.A. 1897-1898. American Bulimulidae: Bulimulus, Neopetraeus, Oxychona,

and South American Drymaeus. In TRYON , G.B. Manual of Conchology, Second

Series: Pulmonata 11 . Philadelphia, The Academy of Natural Sciences of Philadelphia,

339p + 51 pls.

PILSBRY , H.A. 1906-1907. : Stenogyrinae and Coeliaxinae. In TRYON , G.B .

Manual of Conchology, Second Series: Pulmonata 18 . Philadelphia, The Academy of

Natural Sciences of Philadelphia, 357p + 51 pls.

PILSBRY , H.A. 1916 -1918. Pupillidae (Gastrocoptinae). Manual of Conchology, Second

Series: Pulmonata 24 . Philadelphia, The Academy of Natural Sciences of Philadelphia,

380p + 49 pls.

PILSBRY , H.A. 1926. The land mollusks of the republic of Panama and the Canal Zone.

Proceedings of the Academy of Natural Sciences of Philadelphia 78 : 57-127.

PINHEIRO , J.; E.M. GOMES & G.M. CHAGAS . 2001. Aminotransferases activity in the

hemolymph of Bradybaena similaris (Gastropoda, Xanthonychidae) under starvation.

Memórias do Instituto Oswaldo Cruz 96 (8): 1161-1164.

PREECE , R.C. 2001. Introduced land mollusks on the Island of the Tristan da Cunha – Gough

Group (South Atlantic). Journal of Conchology 37 (3): 253-259.

PRIMACK , R.B. & E. RODRIGUES . 2001. Biologia da Conservação . Londrina, Editora Vida,

328p.

58 RAMIREZ , R. L. 1993. A generic analysis of the family Systrophiidae (Mollusca: gastropoda):

taxonomy, phylogeny and biogeography. Dissertação de Mestrado , Faculty of the

Graduate School, University of Kansas, 218 p.

RAMIREZ , R.L.; S. CÓRDOVA & K. CARO . 2001. Diversity of land mollusks in the bamboo-

dominated Forest of the Lower Urubamba Region, Peru, p. 49-53. In : A. ALONSO ; F.

DALMEIR & P. CAMPBELL (eds). Urubamba: the biodiversity of a Peruvian rainforest.

Smithsonian Institution, SI/MAB Biodiversity Program, 216pp.

RICKLEFS , R.E. 2003. A economia da natureza. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 5ª.ed.,

503p.

ROTH , B. 1997. “Aclis” californica Bartsch, 1997: a land snail misintrepeted (Gastropoda:

Pulmonata: Subulinidae). The Veliger 40 (4): 364-366.

SANTOS , S.B. & D.P. MONTEIRO . 2001. Composição de gastrópodes terrestres em duas áreas

do Centro de Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentado (CEADS), Vila Dois

Rios, Ilha Grande, Brasil – um estudo piloto. Revista Brasileira de Zoologia 18 (supl.1):

181-190.

SANTOS , M. S.; J. N. C. LOUZADA ; N. DIAS ; R. ZANETTI ; J. H. C. DELABIE & I. C.

NASCIMENTO . 2006. Riqueza de formigas (Hymenoptera, Formicidae) da serapilheira em

fragmentos de floresta semidecídua da Mata Atlântica na região do Alto do Rio Grande,

Minas Gerais, Brasil. Iheringia, Série Zoologia 96 (1): 95-101.

SCHILTHUIZEN , M. & H. A. RUTJES . 2001. Land snail diversity in a square kilometre of

tropical rainforest in Sabah, Malaysian Borneo. Journal of Molluscan Studies 67 : 417-

423.

SILVA , A.L. 2007. Habroconus (Pseudoguppya) semenlini (Moricand, 1845) (Gastropoda,

Stylommatophora, Euconulidae) e malacofauna acompanhante de um fragmento de

floresta nativa alterada, no Campus do Vale da Universidade Federal do Rio Grande do

59 Sul, Porto Alegre, Brasil. Dissertação de Mestrado , Instituto de Biociências,

Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 118 p.

SILVA L.C.; L.M.O. MEIRELES ; F.O. JUNQUEIRA & E.C.A. BESSA . 2008. Development and

reproduction in Bulimulus tenuissimus (Mollusca: Bulimulidae) in laboratory. Revista

Brasileira de Zoologia 25 (2): 220–223.

SIMONE , L. R. L. 2006. Land and freshwater molluscs of Brazil. São Paulo, EGB, Fapesp,

390p.

SOLEM , A. 1961. New Caledonian land and fresh-water snails an annotated check list.

Fieldiana Zoology 41 (3): 412-501.

SUTER , H. 1900. Observações sobre alguns caracoes terrestres do Brazil. Revista do Museu

Paulista 4 (3): 329-337.

TENÓRIO , M.C. 1999. Os fabricantes de machado da Ilha Grande. In : TENÓRIO , M.C. (Org.).

Pré-história da Terra brasilis . Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 380 p.

THOMÉ , J.W. 1975. Distensão de moluscos terrestres para fixação, com comentários sobre

coleta e transporte. Nota prévia. Arquivos do Museu Nacional do Rio de Janeiro 55 :

153-154.

THOMÉ , J.W.; S.R. GOMES & J.B. PICANÇO . 2006. Guia ilustrado: Os caracóis e as lesmas

dos nossos bosques e jardins . Pelotas, USEB. 123p.

THOMÉ , J.W. & V.L.R. LOPES . 1973. Aulas práticas de zoologia, I. Dissecação de um molusco

gastrópode desprovido de concha. Iheringia 3: 34- 45.

TILLIER , S. 1980. Gastéropodes terrestres et fluviatiles de Guyane Française. Mémoires du

Muséum National d’histoire naturelle Série A, Zoologie 118 : 1- 189.

UNDERWOOD , A. J. 1997. Experiments in ecology. Cambridge, Cambridge University Press.

504p.

60 WHITTAKER , R. H. 1975. Communities and ecossistems. New York, Macmilian Publishing

CO., Inc., 385p.

WUNDER , S. 2006. A história do uso do solo e da cobertura florestal. 105-130. In: PRADO ,

R.M. (Org.). Ilha Grande: do sambaqui ao turismo . Garamond,

61