DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMENTAÇÃO DA MARINHA

REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

(Editada desde 1851)

v. 139 n. 01/03 janeiro/março 2019

FUNDADOR COLABORADOR BENEMÉRITO

Sabino Elói Pessoa Luiz Edmundo Brígido Bittencourt Tenente da Marinha – Conselheiro do Império Vice-Almirante

R. Marít. Bras. Rio de Janeiro v. 139 n. 01/03 p. 1-320 jan./mar. 2019 A Revista Marítima Brasileira, a partir do 2o trimestre de 2009, passou a adotar o Acordo Ortográfico de 1990, com base no Vocabulário Ortográfico da Língua Portugue- sa, editado pela Academia Brasileira de Letras – Decretos nos 6.583, 6.584 e 6.585, de 29 de setembro de 2008.

Revista Marítima Brasileira / Serviço de Documentação Geral da Marinha. –– v. 1, n. 1, 1851 — Rio de Janeiro: Ministério da Marinha, 1851 — v.: il. — Trimestral.

Editada pela Biblioteca da Marinha até 1943. Irregular: 1851-80. –– ISSN 0034-9860.

1. MARINHA — Periódico (Brasil). I. Brasil. Serviço de Documentação Geral da Marinha.

CDD — 359.00981 –– 359.005 COMANDO DA MARINHA Almirante de Esquadra Ilques Barbosa Junior

SECRETARIA-GERAL DA MARINHA Almirante de Esquadra Marcos Silva Rodrigues

DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMENTAÇÃO DA MARINHA Vice-Almirante (RM1) José Carlos Mathias

REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA Corpo Editorial Capitão de Mar e Guerra (RM1) Carlos Marcello Ramos e Silva (Editor) Capitão de Mar e Guerra (RM1) Miguel Augusto Brum Magaldi Jornalista Deolinda Oliveira Monteiro Jornalista Kelly Cristiane Ibrahim

Assessoria Técnica Capitão de Mar e Guerra (RM1-T) Nelson Luiz Avidos Silva Analista de Sistemas Feliciano Rodrigues Ferreira

Diagramação Designer Gráfica Amanda Christina do Carmo Pacheco Designer Gráfica Rebeca Pinheiro Gonçalves Baroni

Assinatura/Distribuição Suboficial-RM1-CN Maurício Oliveira de Rezende Marinheiro-RC André Oliveira Vidal

Departamento de Publicações e Divulgação Capitão de Corveta (T) Ericson Castro de Santana

Impressão / Tiragem CMI – Serviços Editoriais Eireli ME / 8.500 REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA Rua Dom Manuel no 15 — Praça XV de Novembro — Centro — 20010-090 — Rio de Janeiro — RJ  (21) 2104-5493 / -5506 - R. 215, 2524-9460

A REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA (RMB) é uma publicação oficial da M A R I N H A D O BR A SI L de s de 1851, se ndo e d it a d a t r i me st r a l me nt e p ela DI R ETOR I A DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMENTAÇÃO DA MARINHA. As opiniões emitidas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores, não refletindo o pensamento oficial da MARINHA. As matérias publicadas podem ser reproduzidas, com a citação da fonte. A Revista honra o compromisso assumido no “Programa” pelo seu fundador, Sabino Elói Pessoa: “3o – Receberá artigos que versem sobre Marinha... 5o – ... procurará difundir tudo quanto possa contribuir para o melhoramento e progresso da nossa Marinha de Guerra e Mercante; programar ideias tendentes a dar impulso à administração da Marinha e a suas delegações, segundo o melhor ponto de vista a que seja possível atingir...” Ao longo de sua singradura, a RMB busca aperfeiçoar o “Programa” ao se atribuir a “Missão” de divulgar teses, ideias e conceitos que contribuam também para o aprimoramento da consciência marítima dos brasileiros. Como tal, está presente em universidades, bibliotecas públicas e privadas do País, entre outras instituições. Empenha-se em trazer teoria e técnica aplicadas para solver questões que retardam o desenvolvimento social e material da Nação. Divulga ensinamentos a respeito da ética e do trabalho, esclarecendo o que nos cabe realizar na Marinha e no País, respeitando conceitos e fundamentos filosóficos. Mostra como a conquista da honra ocorre na formação militar, analisando a lógica do mercado vis-à-vis com nossa ambiência naval. Atende plenamente à “índole da revista e, confiando no futuro, protestamos indiferença sobre política e prometemos não nos envolver em seus tão sedutores quanto perigosos enleios”.

Na internet: http://www.revistamaritima.com.br

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8 NOSSA CAPA ALMIRANTE DE ESQUADRA ILQUES BARBOSA JUNIOR Passagem de Comando da Marinha do Brasil. Mensagem do Ministro da Defesa. Ordens de Serviço dos Comandantes

  

18 PODER NAVAL – PRESENTE E FUTURO (PARTE 4) – Transferência de Tecnologia Elcio de Sá Freitas – Vice-Almirante (Refo-EN) O marketing da transferência de tecnologia. Geração, absorção e domínio de tecnologias. Modalidades de transferência. Independência tecnológica.

29 LOGÍSTICA BASEADA NO DESEMPENHO – Conceito de difícil aplicação nas nossas Forças Armadas Ruy Barcellos Capetti – Vice-Almirante (Refo) Apoio Logístico Integrado (ALI). Obsolescência do ALI e surgimento do Product Support Analysis (PSA). Viabilidade de aplicação da Performance Based Logistics (PBL)

51 COLAR DE PÉROLAS: a estratégia chinesa para dominar o Mar do Sul da China e a Região do Oceano Índico Reis Friede – Desembargador Federal As “pérolas”. Projeção global do poder nacional chinês. Cenário semelhante ao que deu origem à Guerra Fria?

59 RENOVAÇÃO DO PODER NAVAL II – Uma abordagem incremental Eduardo Italo Pesce – Professor Marinha oceânica. Projetos, programas e recursos. Navio-Aeródromo. Reno- vação de meios

91 QUANTO TEM CUSTADO MANTER A PIRATARIA MARÍTIMA CONTROLADA Henrique Peyroteo Portela Guedes – Capitão de Mar e Guerra (Marinha de Portugal) Pirataria na Somália e no Golfo de Ádem. Custos envolvidos em resgates e repressão em diferentes regiões do planeta. Segurança marítima

97 A CONTINUAÇÃO DA FESTA: Ondas, Corpúsculos e as duas Ranhuras Paulo Roberto Gotaç – Capitão de Mar e Guerra (Refo) Surgimento da Mecânica Quântica. A Interpretação de Copenhague. A dupla ranhura

120 CONTROLE INTERNO NA GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES PÚBLICAS: uma revisão conceitual Jacques Salomon C. Soares Pinto – Capitão de Mar e Guerra (Refo) Função Controle. Instrumento de controle orçamentário pelo Estado. Conceito e Gestão de Riscos 132 10 ANOS DO RECEBIMENTO E DA INCORPORAÇÃO DO NAVIO POLAR ALMIRANTE MAXIMIANO Ali Kamel Issmael Junior – Capitão de Fragata (EN) Obras de adaptação do navio e especificação de equipamentos. Equipe de rece- bimento. A incorporação à Marinha do Brasil

147 O CANIL DO 2oBTLOPRIB Celio Litwak Nascimento – Capitão de Fragata (FN) Daniel Vale Barros – Primeiro-Tenente (RM2-Md) Emprego de cães em combate. O primeiro canil militar. O adestramento e o emprego de cães na Marinha do Brasil

157 BOIAS ARTICULADAS SUBMERSÍVEIS Airton Antonio Rodrigues – Capitão de Fragata (RM1) Sinalização náutica eficaz para operação de portos. Detalhamento das boias e do sistema. Portões duplos. Uso como torres de transmissão. Vantagens

172 INDÚSTRIA NAVAL DE DEFESA: um estudo dos instrumentos de política indus- trial de defesa na Espanha Ana Carolina Aguilera Negrete – Economista Ariela Diniz Cordeiro Leske – Economista A necessidade de ação estruturante do Estado. A criação de capacidades na indústria naval de defesa. Política industrial

191 O FENÔMENO EL NIÑO OSCILAÇÃO SUL Marcus Vinícius Mendes – Capitão-Tenente O El Niño e La Niña. Anomalias de temperaturas e efeitos globais. Influências na fauna e na flora

199 A IMPORTÂNCIA DA INSPEÇÃO NAVAL PARA A PREVENÇÃO DE ACI- DENTES NO MAR Bruna Barreto – 2o Oficial de Náutica Convenções, resoluções e leis aplicáveis à Inspeção Naval. Lesta. Fiscalização. Áreas de incidência

210 CAPOEIRA AO MAR! – Possíveis conexões entre a Marinha e os capoeiras em Pernambuco Verônica de Holanda Santos – Bacharel em Letras Vicente Deodato de Luna Filho – Professor de Educação Física A Marinha do Brasil e a capoeira. Escola de Aprendizes-Marinheiros

221 DOAÇÕES À DPHDM

225 CARTA DOS LEITORES

227 A MARINHA DE OUTRORA 243 NECROLÓGIO

245 ACONTECEU HÁ CEM ANOS Seleção de matérias publicadas na RMB há um século. O que acontecia em nossa Marinha, no País e em outras partes do mundo

255 REVISTA DE REVISTAS Sinopses de matérias selecionadas em mais de meia centena de publicações recebidas do Brasil e do exterior

260 NOTICIÁRIO MARÍTIMO Coletânea de notícias mais significativas da Marinha do Brasil e de outras Marinhas, incluída a Mercante, e assuntos de interesse da comunidade marítima NOSSA CAPA

ALMIRANTE DE ESQUADRA ILQUES BARBOSA JUNIOR

TRANSMISSÃO DE CARGO DE o cumprimento da missão da Força. COMANDANTE DA MARINHA Enfatizou também o estreitamento do re- lacionamento com os poderes Executivo, cerimônia de transmissão de cargo Legislativo e Judiciário, com o Ministé- A de comandante da Marinha do Almi- rio Público e as Marinhas amigas para o rante de Esquadra Eduardo Bacellar Leal aperfeiçoamento da gestão e das decisões. Ferreira para o Almirante de Esquadra O ministro da Defesa, Fernando Ilques Barbosa Junior foi realizada em Azevedo, homenageou o Almirante Leal 9 de janeiro último, em Brasília (DF), Ferreira, lembrando fatos de sua trajetó- presidida pelo Presidente da República, ria profissional, e apontou os principais Jair Bolsonaro. Estiveram presentes no avanços alcançados pela Marinha nos evento o vice-presidente da República, últimos quatro anos. Hamilton Mourão, e a procuradora-geral Em seu discurso de posse, o Almirante da República, Raquel Dodge, além de de Esquadra Ilques afirmou ter consci- outras autoridades militares e civis. ência dos desafios a serem enfrentados Nas palavras de despedida, o Almiran- e assegurou que a Força está preparada te Leal Ferreira ressaltou a importância do para eles. O novo comandante da Marinha trabalho e da dedicação de marinheiros, garantiu que dará continuidade às ações fuzileiros navais e servidores civis para que garantem a permanente prontidão da ALMIRANTE DE ESQUADRA ILQUES BARBOSA JUNIOR

O Presidente da República Jair Bolsonaro presidiu a cerimônia

Força para a defesa dos interesses ma- timento e total dedicação, cada momento rítimos nacionais, por meio do trabalho de seus quase 48 anos de serviço. conjunto com o Exército, a Aeronáutica Nesta quadra que ora se encerra, pude e outros segmentos institucionais. testemunhar, extremamente orgulhoso, o trabalho e a superação dos marinheiros, TRANSMISSÃO DO CARGO fuzileiros navais e servidores civis, abne- PELO ALMIRANTE DE gados brasileiros que, enfrentando todos ESQUADRA LEAL FERREIRA os desafios, vencendo mares bravios e ventos de proa, manobraram com compe- “Inicialmente, saúdo o Presidente da tência o nosso barco, levando-o a cumprir República, que muito nos honra em presidir todas as missões que a Nação nos atribuiu. esta cerimônia, e desejo-lhe todo o sucesso Assim, que sejam minhas primeiras na árdua missão que assumiu, decorrente palavras as de reconhecimento e exaltação de sua eleição pelo povo brasileiro. a esses 80 mil homens e mulheres, por Da mesma forma, agradeço as presen- tudo o que eles realizam na busca de uma ças do vice-presidente, Hamilton Mou- Marinha forte e moderna, compatível com rão, e do ministro da Defesa, Fernando as necessidades do País. São os herdeiros Azevedo e Silva, a quem também auguro de todos os marinheiros e fuzileiros navais sucesso, com a certeza de que o Ministério que ao longo de nossa história escreveram está em excelentes mãos. páginas de glórias e contribuíram para Agradeço e saúdo a todas as autorida- legar-nos um território de dimensões des já nominadas, bem como aos digníssi- continentais, águas jurisdicionais com ri- mos convidados que aqui compareceram. quezas incalculáveis e instituições sólidas. Comandar a Marinha foi, mais do que São brasileiros das mais diversas origens, um privilégio, a realização maior de quem retrato fiel do nosso povo e que, em sua desde cedo descobriu uma bela e fasci- labuta diária, com espírito de sacrifício nante carreira, aprendeu a gostar do mar e comprometimento, comprovam que o e vivenciou, com entusiasmo, comprome- Brasil com o qual sonhamos é viável.

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mo internacional. Assim, torna-se necessário, cada vez mais, manter a capaci- dade de defesa de nossos interesses marítimos, que, com certeza, serão desafia- dos. Grande é a responsabi- lidade da Marinha. No momento em que concluo minha singradura, iniciada com a nomeação pela então Presidente Dil- ma Roussef e posterior- mente ratificada pelo Pre- sidente Temer, aos quais sou reconhecido, há muito e muitos a quem lembrar. Agradeço inicialmente ao Ministro Silva e Luna pela amizade e orientações seguras, frutos de sua enor- me vivência profissional, associada à natural lhane- Almirante Leal Ferreira cumprimenta o Almirante Ilques (à dir.) za, e a seus antecessores, ministros Jaques Wagner, A admiração que hoje sinto por cada Aldo Rebelo e Raul Jungmann, aqui um dos meus comandados traz-me a presente, e cujo apoio nunca me faltou. certeza de que nosso país destina-se a ser Ainda no âmbito do Ministério da Defe- grande, próspero e justo. sa, sou grato ao chefe do Estado-Maior Acredito também que essa grandeza Conjunto, Almirante Ademir Sobrinho, e essa prosperidade dependerão cada e ao secretário-geral, Brigadeiro Amaral, vez mais do bom uso que nós brasileiros bem como aos seus subordinados, pelo viermos a fazer do mar. Este é o chama- permanente empenho em dar o correto do século azul, e, em todo o mundo, a encaminhamento aos problemas da Ma- participação da economia do mar cresce rinha. Ressalto o esforço e o equilíbrio do exponencialmente. Por suas condições Almirante Ademir em prol do aumento geopolíticas únicas, o Brasil é um dos da interoperabilidade e na condução das países com maior potencial de aprovei- diversas operações conjuntas. tamento dessas novas circunstâncias. Destaco a harmonia de relacionamento Aliás, este maior aproveitamento já está que construímos com membros dos pode- acontecendo. Estamos entre os maiores res Executivo, Legislativo e Judiciário e produtores mundiais de petróleo no mar, e com o Ministério Público. Muito pouco as cargas movimentadas em nossos portos teria sido alcançado sem o apoio e a e terminais correspondem, em volume, a compreensão que recebi, tendo por base quase 10% do total do comércio maríti- o convívio cordial e sincero. Logrei poder

10 RMB1oT/2019 ALMIRANTE DE ESQUADRA ILQUES BARBOSA JUNIOR apresentar sempre a posição da Marinha excelência, dedicaram-se com muita em temas de interesse, sedimentado na competência ao trato de todos os estudos certeza de estarmos lutando por causas e documentos trazidos para minha apre- importantes para a Nação. ciação ou assinatura e souberam prestar Os comandantes do Exército, General sincera e profissional assessoria. Cabe- Villas Bôas, e da Aeronáutica, Brigadeiro -me, por dever de justiça, apresentar um Rossato, foram notáveis pares na gestão especial reconhecimento aos três chefes e direção das Forças que lhes eram su- do Gabinete do período: Almirantes Na- bordinadas. Fizemos uma sólida parceria zareth, Cunha e Rocha. Oficiais capazes, e, mais do que isso, uma inquebrantável ponderados e firmes, foram auxiliares amizade. E essa amizade será uma das imprescindíveis e leais. Também faço uma mais marcantes e belas heranças que leva- menção especial ao meu gabinete pessoal, rei do meu período como comandante da composto pelos excepcionais secretários Marinha. Estendo meus agradecimentos militares, assistentes, ajudantes de ordens, às estimadas Senhoras Cida e Rosa, com secretaria, segurança e praças responsá- quem eu e Chris tivemos oportunidade veis pelo apoio nos diversos setores. de grande convivência. Formulo aos no- Aos comandantes das Marinhas e vos comandantes, General Leal Pujol e guarda-costeiras de países amigos com Brigadeiro Bermudez, os votos de muito quem tivemos a oportunidade de ope- êxito na missão. rar e realizar intercâmbios, bem como Menciono, com respeito e admiração, aos embaixadores e adidos navais que os ex-ministros e ex-comandantes da concorreram para aprofundar esses rela- Marinha, Almirantes de Esquadra Karam, cionamentos, manifesto a convicção da Flores, Mauro Cesar, Guimarães Carvalho importância de nossas parcerias. Tenho e Moura Neto, cujos exemplos atemporais certeza de que juntos contribuímos para e conselhos oportunos permitiram-me que os oceanos permanecessem mais amadurecer importantes raciocínios e mini- livres e seguros. mizar a solidão das decisões do Comando. Destaco os nossos veteranos, todos A Marinha é uma instituição que tem sempre conectados com os rumos da no Almirantado seu principal órgão de Marinha, preocupados em contribuir assessoramento superior. O comandante com apoio, sugestões e críticas a este da Marinha deve ouvi-lo em todas as comandante. Em especial, lembro com ocasiões, estabelecendo prioridades e carinho meus queridos companheiros da tomando decisões que sejam resultado Turma Esperança. do consenso obtido naquele colegiado. E Aos soamarinos, parabenizo pela feliz, muito feliz, será o comandante que iniciativa despretensiosa em divulgar tiver a ventura de contar com um Almi- as tarefas executadas pela Força e in- rantado excepcionalmente harmonioso crementar a consciência marítima junto e competente. Eu fui esse comandante. a importantes segmentos da sociedade. Caríssimos almirantes de esquadra, muito Acredito que hoje tenho em cada soama- obrigado! Levarei saudades de nossas reu- rino, mais do que um amigo da Marinha, niões e de tudo o que decidimos juntos. E, um amigo pessoal. acima de tudo, de nossa amizade. Também não posso deixar de citar as Os oficiais e praças do Gabinete do nossas queridas Voluntárias Cisne Bran- Comandante da Marinha, exemplos de co, pelo muito que fazem para dar apoio

RMB1oT/2019 11 ALMIRANTE DE ESQUADRA ILQUES BARBOSA JUNIOR e conforto à família naval, em especial modo que, ao falarmos ou pensarmos àqueles de nós com maiores necessidades. Marinha, o fazemos com o mesmo Chegando perto do final desta mensa- respeito e o mesmo carinho que sen- gem, sou grato a Deus por proporcionar- timos quando pensamos no nosso lar.' -me, ao longo da singradura, saúde física Viva a Marinha! Tudo pela Pátria! e mental, equilíbrio, força de vontade e Muito Obrigado!” suporte. Acima disso, agradeço a Ele por me cercar de pessoas fantásticas, familia- HOMENAGEM DO MINISTRO res e amigos que souberam compreender DA DEFESA FERNANDO minhas angústias, elevaram meu estado AZEVEDO E SILVA de espírito e celebra- ram bons momentos. Muito especialmente, agradeço pelos meus pais, irmãos, filhos, netos e pela Chris, que tanto ilumina a minha vida com seu amor, estímulo e per- manente participação nas atividades impos- tas pelo cargo. Passo a manobra a um notável mari- nheiro, vibrante e honrado, que condu- zirá com firmeza e Ministro Fernando Azevedo e Silva desenvoltura o timão de nossa Marinha. Desejo muitas felici- “Após 48 anos de extrema dedicação dades ao amigo Ilques e a sua querida e excelentes serviços prestados, encerra família e rogo ao Senhor dos Navegan- hoje sua singradura na Marinha do Bra- tes que ilumine suas decisões. Que, ao sil o Almirante de Esquadra Eduardo final de sua jornada, possa sentir-se tão Bacellar Leal Ferreira, concluindo com realizado como me sinto agora. brilhantismo sua missão no cargo mais E encerro esta Ordem do Dia relem- alto da hierarquia da força, comandante brando palavras proferidas por meu pai da Marinha. ao despedir-se da Marinha do Brasil, Nascido no Rio de Janeiro, em 2 de palavras estas que faço minhas no dia junho de 1952, sempre se destacou pela de hoje: 'Servir a Marinha é um privi- educação esmerada, pela atenção e pelo légio. É uma felicidade. De uma paixão fácil trato com todos os que tiveram o inicial, própria do jovem, o sentimento privilégio de com ele conviver. Segura- que temos por ela vai se transformando mente, teve tais características forjadas num amor sempre crescente, que ao ainda no seio familiar, por meio de seus longo do tempo aprimora nossa maneira pais, o Almirante de Esquadra Luiz Leal de ser, nosso caráter, nosso espírito, de Ferreira e a Senhora Lygia.

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Ingressou na Escola Naval em 1971, regime diferenciado, visando assegurar onde teve excepcional desempenho no o adequado amparo social aos militares curso, uma marca do Almirante Leal das Forças Armadas e seus dependentes. Ferreira em todos os cursos que realizou, Honrando o pioneirismo da Marinha no Brasil e no exterior. na inserção da mulher em suas fileiras, Oficial com inegável vocação para o iniciou a ampliação da atuação feminina serviço no mar, permaneceu embarcado em navios e unidades de fuzileiros navais. por mais de 16 anos, possuindo cerca de Um marco nesse processo foi a formatura, 1.300 dias de mar. Exerceu, como capitão- na Escola Naval, das primeiras guardas- -tenente, o comando de seu primeiro -marinha intendentes. Em breve, as mu- navio, o Aviso de Instrução Aspirante lheres passarão a compor as tripulações Nascimento. No mar, comandaria ainda a de nossas unidades operativas. Corveta Frontin e a Fragata Bosísio, além Incorporou à Armada o Navio de Pes- do 2o Esquadrão de Escolta. quisa Vital de Oliveira e o Navio-Doca Promovido a almirante em 2004, Bahia e o Navio Porta-Helicópteros Atlân- comandou o Centro de Instrução Almi- tico, o que aumentou significativamente a rante Alexandrino, a Escola Naval e o capacidade da Força Anfibia. 7o Distrito Naval; presidiu a Comissão No âmbito da Força Aeronaval, deu de Desportos da Marinha e foi diretor de prosseguimento ao processo de moder- Portos e Costas e comandante em chefe da nização das aeronaves de asa fixa e dos Esquadra. Já como almirante de esquadra, helicópteros, conquistas que trarão flexibi- comandou a Escola Superior de Guerra. lidade ao setor operativo no cumprimento Em 6 de fevereiro de 2015, assumiu o de suas tarefas. Comando da Marinha. Seus quatro anos à Visando ampliar as capacidades do frente da pasta foram intensos e de grandes Corpo de Fuzileiros Navais, a Marinha realizações. recebeu novos carros-lagarta anfíbios, Nada mais justo do que começar um que passaram a dar maior mobilidade, balanço dos últimos quatro anos falando proteção e capacidade de projeção de da força de trabalho da Marinha, seu maior poder sobre terra. patrimônio. Uma das prioridades foi o A despeito das limitações orçamentá- aprimoramento da formação e da capa- rias, a Marinha avançou em dois dos prin- citação técnico-profissional de militares cipais programas estratégicos: o Programa e civis. Foi ampliada a participação em Nuclear da Marinha e o Programa de De- cursos no País e no exterior, e conduzidos senvolvimento de Submarinos, o Prosub. estudos para a reestruturação da carreira Este último vivenciou uma importante e das praças. Iniciou a diversificação da significativa vitória, com o lançamento, base geográfica de captação dos interes- em 14 de dezembro, do primeiro dos sados em ingressar na Marinha, buscando quatro submarinos convencionais previs- atrair cidadãos de todas as regiões do País. tos no escopo do projeto – o Submarino Diante das discussões sobre a refor- Riachuelo. Quanto ao futuro submarino ma do sistema de proteção social dos com propulsão nuclear, objetivo maior do militares, foi incansável no esforço de Programa, a certificação do projeto básico comunicar as peculiaridades da nossa produzido pela Marinha é uma demonstra- profissão, que a diferenciam das demais, ção inequívoca da capacidade intelectual e fundamentando a necessidade de um da competência da nossa força de trabalho.

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Durante seu comando, foram dados im- em valores sedimentados, rica tradição e portantes passos no Projeto de Construção comprometimento, e seguindo as águas de Corvetas Classe Tamandaré, que prevê dos grandes vultos navais do passado. quatro navios escolta de médio porte, ca- Desejo que, nessa nova fase da vida, pazes de se oporem a ameaças aéreas, de possa desfrutar mais da companhia de superfície e submarinas, dotadas de alta sua esposa Christiani, dos filhos Paula e complexidade tecnológica e de sistemas Marcos e de seus netos João e Lara. Pa- de combate que serão desenvolvidos e rabéns Almirante Leal Ferreira! Missão fabricados no Brasil. cumprida! Bons ventos e mares tranquilos Enfrentou, com profissionalismo, o nesta nova fase que ora se inicia! desafio de reconstruir a Estação Antártica Aproveito para desejar ao Almirante Il- Comandante Ferraz, um projeto que prio- ques e a sua esposa Leoniza uma excelente rizou a sustentabilidade e a redução dos singradura à frente da Marinha do Brasil! impactos ambientais durante as obras e Tudo pela Pátria! que deve ser concluído ainda no primeiro Brasil acima de tudo!” trimestre de 2019. Em apoio à política externa do Brasil, a ASSUNÇÃO DO CARGO PELO Marinha do Brasil prosseguiu no comando ALMIRANTE DE ESQUADRA da Força Naval das Nações Unidas no ILQUES Líbano e estreitou a cooperação com as Marinhas amigas da África Ocidental. “Em um contexto em que a dinâmica Ao longo desse período, o Almirante das relações internacionais impõe cons- Leal Ferreira estabeleceu um relaciona- tantes aprimoramentos, para o equaciona- mento profícuo, profissional e fraterno com mento de complexos desafios, constatamos o Ministério da Defesa e com os irmãos novas formas de combate e de ameaças, do Exército Brasileiro e da Força Aérea ficando evidente a crescente interação Brasileira, o que se mostrou fundamental entre o presente, o amanhã e o futuro. para a racionalização de esforços, com- Essa interação passa a ser, ainda plementação de capacitações e busca por mais, acentuada quando constatamos soluções conjuntas a problemas comuns. um escasso contraste entre guerra e paz Por fim, gostaria de ressaltar que, dian- e a contínua redução do tempo para o te de grandes desafios que o País viveu, planejamento e a execução de iniciati- o estimado chefe naval, Almirante Leal vas político-estratégicas. Em tempos de Ferreira, soube agir com serenidade, inte- guerra e paz, é imperiosa uma rigorosa ligência e espírito de corpo, confiando na prontidão dos sistemas de Defesa, o que assessoria segura do Almirantado e na atu- envolve tanto as Forças Armadas como ação irretocável dos homens e mulheres os demais segmentos da sociedade brasi- do mar, espalhados por todas as organiza- leira, de modo a ser alcançado o contínuo ções militares deste país continental. Em fortalecimento de todas as vertentes da breve, quando passar o timão ao Almiran- soberania nacional. te de Esquadra Ilques, fica a convicção de Assim, as situações de conflito da que seu sucessor receberá uma tripulação atualidade recomendam a prontidão men- pronta e motivada para atender às ordens cionada, sobretudo quando constatamos de proa do novo comandante, e que nossa a magnitude das riquezas do Brasil. Na Marinha continuará evoluindo, com base Amazônia Azul, que corresponde a 52%

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sob a égide de organis- mos internacionais. Ao assumir o timão da invicta Marinha do Brasil, tenho a plena convicção da magni- tude dos desafios que estamos enfrentando. Na verdade, desde as ori- gens da nossa Marinha, a Escola de Sagres, esses desafios, por envolverem mares fortes e ventos adversos, vêm moldando a formação de marinhei- ros, fuzileiros navais Almirante Ilques e servidores civis de excelência profissional. da nossa área continental, temos imensu- No lema da Marinha de Tamandaré, ráveis bens naturais e complexa e ampla 'Tudo pela Pátria!', temos a absoluta biodiversidade. Nos espaços oceânicos, convicção de que a tripulação da Marinha retiramos 85% do petróleo e 75% do gás do Brasil sempre estará à altura desses natural e por onde são transmitidas pra- desafios, por perseverar na capacitação ticamente toda a comunicação do Brasil, de nosso pessoal, adotar iniciativas estra- através de cabos submarinos. tégicas e operacionais compatíveis com a A nossa economia tem nos portos e estatura político-estratégica do Brasil e, terminais o ponto focal de mais de 95% do continuamente, fortalecer os valores de comércio exterior brasileiro. Desse modal nossa Marinha, representados na Rosa depende a sobrevivência e prosperidade das Virtudes e em uma permanente busca de inúmeros segmentos de nossas ativida- do bem comum. des econômicas; como o agronegócio, que Para mantermos invicto o pavilhão au- corresponde por cerca de 45% da nossa riverde, concito os marinheiros, fuzileiros exportação, seguido pela de minérios, navais e servidores civis a ampliarem as hidrocarbonetos e manufaturados. capacidades da Marinha de bem servir ao Em cenário político-estratégico e nosso Brasil. Na interoperabilidade, temos econômico dinâmico e pleno de ameaças, o rumo a seguir e a força da união, para assume elevada relevância para o preparo e bem cumprir as nossas missões. Asseguro o emprego do Poder Naval: conhecimento, aos nossos irmãos de armas, General de ciência, tecnologia, inovação e engenharia. Exército Edson Leal Pujol e Tenente- A partir desses basilares auxílios à nave- -Brigadeiro do Ar Antonio Carlos Moretti gação, devemos estar sempre prontos a Bermudez, líderes de invictos soldados e atuar, como previsto no ordenamento jurí- aviadores, a continuidade de uma perma- dico nacional, em defesa dos interesses da nente prontidão para aprimorarmos a nos- nossa Pátria, nos espaços oceânicos, pan- sa capacidade de atuarmos em conjunto. taneiro, amazônico e antártico ou, ainda, Atlântico! Selva! Senta a Pua!

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A partir dos belos exemplos de nos- relacionadas ao emprego da força como sos antecessores, que, ao estabelecerem nas imprescindíveis atividades vinculadas matrizes estratégicas, desenvolveram os ao desenvolvimento econômico e social. instrumentos necessários para se lan- Rumo a seguir: 'Pátria Amada Brasil'. çarem ao mar desconhecido, a Marinha Também agradeço a presença do Ex- permanecerá estreitando laços com a celentíssimo Senhor Vice-Presidente da sociedade e contribuindo com o desen- República, General de Exército Antônio volvimento social e econômico do País, Hamilton Martins Mourão, o que fortalece em ações civíco-sociais e na execução o brilho da cerimônia. das atribuições da Autoridade Marítima, Senhor ministro de Estado da Defesa, quais sejam: Segurança da Navegação, General de Exército Fernando Azevedo e Salvaguarda da Vida Humana no Mar, Silva, além de agradecer a indicação para Ensino Profissional Marítimo e Prevenção o Comando da Marinha, asseguro o meu da Poluição Ambiental, assim como, da- compromisso de lealdade e plena coope- quelas vinculadas às atividades portuárias ração. A constelação do Cruzeiro do Sul e aquaviárias. há muito conduz as Forças Armadas do Os programas estratégicos da Marinha Brasil, que têm tradição de vitórias e, sob a do Brasil permitem a autonomia e a pe- orientação do Nosso Senhor dos Navegan- renidade ao ciclo evolutivo tecnológico, tes, estão sempre destinadas ao êxito e ao fortalecendo a Base Industrial de Defesa, pleno cumprimento das missões recebidas. gerando empregos e contribuindo para a Aos ex-ministros e ex-comandantes dissuasão estratégica, além de inserir o da Marinha, que conduziram ciclos de Brasil na vanguarda de sensíveis e diver- crescimentos e aprimoramentos da Mari- sas áreas do conhecimento. nha do Brasil, por meio do Almirante de Como prioridade, temos os programas Esquadra Alfredo Karam, agradeço os estratégicos: Pessoal, Nosso Maior Patri- ensinamentos e as seguras orientações. mônio; Nuclear da Marinha; Desenvolvi- Aos diletos amigos membros do Almiran- mento de Submarinos; e Construção do tado, agradeço, antecipadamente, as per- Núcleo do Poder Naval, em que constam tinentes contribuições para a elaboração a obtenção das corvetas da classe Taman- dos nossos trabalhos. A continuidade da daré e a construção de navios-patrulha, de fidalguia naval, assessoria de alto nível e Capacidade Operacional Plena, de Siste- o apoio dos senhores almirantes ampliam, ma de Gerenciamento da Amazônia Azul em muito, a minha convicção em uma e Segurança da Navegação, entre outros. navegação segura. Ao Excelentíssimo Senhor Presidente Agradeço a presença de embaixadores da República, Jair Messias Bolsonaro, acreditados no Brasil; ministros de Esta- externo minha gratidão pela inequívoca do; ex-ministros de Estado; ministros do confiança pela nomeação para o Co- Supremo Tribunal Federal; parlamenta- mando da Marinha e presto continência, res; chefe do Estado-Maior Conjunto; renovando o compromisso desta Força na membros dos Altos Comandos; ministros defesa da Pátria e na garantia dos poderes do Superior Tribunal Militar e de outros constitucionais e, por iniciativa de qual- tribunais superiores; chefes de ontem, de quer destes, da lei e da ordem. A Marinha hoje e de sempre; oficiais generais; mem- está aprestada para o fiel cumprimento bros do Poder Judiciário e do Ministério de suas determinações, tanto nas missões Público; adidos militares; representantes

16 RMB1oT/2019 ALMIRANTE DE ESQUADRA ILQUES BARBOSA JUNIOR da indústria de Defesa e das comunidades Senhor Almirante, com a devida vênia acadêmica, científica e marítima; soamari- e apoiado nas tradições navais: nos; dos meus especiais amigos das turmas – Sinaleiro! Içar na verga de boreste, Aspirante Conde e Povo Brasileiro; de os sinais! familiares e amigos que vieram de locais – Bravo Zulu! Manobra bem execu- distantes de diversas regiões do Brasil, do tada! Chile e dos Estados Unidos da América. – Alfa Delta 28! Autorizada uma dose Também menciono a presença do repre- de rum! sentante do Almirante John M. Richardson, – Recon Uniforme Whiskey! Boa chefe de Operações Navais da Marinha viagem! dos Estados Unidos da América, o Contra- Sinais que refletem a indelével marca -Almirante Sean S. Buck, comandante da de um timoneiro experimentado e a nossa 4a Esquadra e Forças Navais do Comando gratidão! Sul dos Estados Unidos da América. Nos tempos difíceis, o dileto chefe A cerimônia alcança um brilho es- naval manteve mãos firmes no leme, bra- pecial e próprio devido a essas augustas ceou as vergas, mareou o pano e manteve presenças. o navio no rumo; pois, como sabemos, É necessário, por justiça, agradecer às não existe mar grosso para aqueles que Voluntárias Cisne Branco. Em nome da sabem o porto de destino. De bordo, as Família Naval, externo o reconhecimento, tripulações formadas lhe apresentam pela abnegação, coordenação e integração vivas, desejando continuado sucesso e das múltiplas atividades que aprimoraram felicidades, extensivos à distinta família! a educação, a cultura, o entretenimento e Ao iniciar a manobra, reitero a honra a assistência social complementares aos da confiança do Presidente da República militares, civis e seus dependentes. e da oportunidade de servir à Marinha e Antes de assumir a manobra, devo ao Brasil e agradeço a Deus, aos espíritos render homenagem e agradecer ao Almi- superiores e a minha família pelas orienta- rante de Esquadra Eduardo Bacellar Leal ções e apoios que, certamente, ocorrerão ao Ferreira. No instante que Vossa Exce- longo dessa singradura, que ora tem início. lência arriar seu pavilhão e desembarcar, Geral de Comando, atenção ao início envergando, mais uma vez, o uniforme da manobra. branco que nos distingue, sabemos que Marinha do Brasil: A todo Pano! transborda em seus pensamentos, ao Marinha do Brasil: A todo Pano! mesmo tempo, os excelsos sentimentos Viva a Marinha! de missão cumprida e de saudade. Viva o Brasil!”

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Posse; Comandante da Marinha;

RMB1oT/2019 17 PODER NAVAL – PRESENTE E FUTURO (PARTE 4)* Transferência de Tecnologia

ELCIO DE SÁ FREITAS** Vice-Almirante (Refo -EN)

SUMÁRIO

Introdução Tecnologia, poder naval e o futuro próximo Geração de tecnologia: a cadeia tecnológica Independência tecnológica Questão capital

INTRODUÇÃO TECNOLOGIA, PODER NAVAL E O FUTURO PRÓXIMO ransferência de tecnologia é locução Tque há muito transpôs o campo técnico- Para preservar soberania, patrimônio -científico e chegou ao vocabulário comum. e integridade territorial do Brasil nos Nessa evolução, seu real significado ficou próximos 40 anos é imperativo criar amplo e impreciso, e sua aplicação muito continuamente e manter um poder naval mais geral. Em particular, tornou-se impor- dissuasivo e eficaz, superando grandes tante elemento de marketing em negociações obstáculos ao nosso desenvolvimento de países de vanguarda com os de desen- e defesa [1]. Em todo esse esforço, um volvimento tardio. Neste artigo abordam-se tema sempre estará presente: transferência vários aspectos implícitos em transferência de de tecnologia. Compreendê-lo bem será tecnologia, e princípios básicos para sua ne- indispensável para acerto em decisões que gociação visando desenvolvimento e defesa. determinarão nosso futuro.

a o a o a * A 1 parte desta matéria foi publicada na RMB do 2 trim/2017, a 2 parte no 3 trim/2017 e a 3 parte no 4o trim/2018. ** Serviu no CL Barroso e no CT Mariz e Barros. MSc em Civil Engineering e Naval Engineer, ambos pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT). Foi professor de graduação e pós-graduação na Escola Politécnica da USP e chefe do Escritório Técnico de Construção Naval em São Paulo. Serviu no AMRJ por cinco anos. Entre 1981 e 1990, na Diretoria de Engenharia Naval, exerceu diversas funções e foi seu diretor de 1985 a 1990. Colaborador frequente da RMB, é autor do livro A Busca de Grandeza. PODER NAVAL: PRESENTE E FUTURO (PARTE 4)

Significado e Vulgarização do Termo 8 – A aplicação de ciência, especial- Tecnologia mente para propósitos industriais ou comerciais. A capacidade de criar e desenvolver Das definições acima, algumas são conhecimentos e de aplicá-los para pro- mais abrangentes, como a primeira e a duzir bens materiais sempre foi parte terceira. As outras são mais estritas ou da vida humana. Ainda assim, durante específicas. O conjunto acima, ou um muitos séculos certamente não houve outro equivalente, é que exprime sufi- uma palavra ou expressão para designar cientemente bem o significado da palavra essa capacidade. No mundo ocidental, tecnologia. Deve ser usado em qualquer ela deve ter sido cunhada pelos gregos, exame não superficial do presente tema. combinando os termos technikós (arte, Ainda que muito importante em ativi- ofício) e logos (tratado, estudo). dades diversas de qualquer sociedade, a As palavras têm vida. Vivem no tempo palavra tecnologia nasceu no vocabulário e no espaço, varando séculos e percorren- especializado. Porém, nos últimos 50 do países. Em sua vida, frequentemente anos penetrou no vocabulário popular, transformam-se ou incorporam novos até mesmo fora dos países de vanguarda. significados. Convém examinar algumas Aí aparece mais e mais. Esse processo de definições atuais da palavratecnologia : vulgarização decorreu basicamente de três 1 – Ramo do conhecimento que trata fatores interagentes: o ritmo exponencial da criação e uso de meios técnicos, e de de criação e uso de tecnologia; o rápido sua inter-relação com a vida, a sociedade progresso em telecomunicações; e o co- e o meio ambiente, e que abrange as artes mércio internacional. Este último sempre industriais, a engenharia, a ciência aplica- foi o elemento essencial no intercâmbio de da e a ciência pura. valores culturais e econômicos dos povos. 2 – Um processo, invenção ou método, Nesse processo de vulgarização da científico ou industrial. palavra tecnologia, é inevitável que seus 3 – A soma dos meios com os quais significados mais abrangentes se obscure- grupos sociais conseguem os objetos çam. Predominam outros, mais imediatos materiais de suas civilizações. e perceptíveis, e também convenientes 4 – Produção, modificação, uso e a propósitos comerciais. Tal fato não conhecimento de ferramentas, técnicas, é irrelevante, pois tem consequências engenhos, sistemas e métodos de orga- importantes sobre decisões nacionais de nização para solucionar um problema, países de desenvolvimento tardio, mas melhorar a solução pré-existente de um que buscam recuperar o tempo perdido. problema, atingir um objetivo, manipular uma relação de entrada/saída aplicada ou GERAÇÃO DE TECNOLOGIA: A de realizar uma função específica. CADEIA TECNOLÓGICA 5 – A aplicação prática de conhecimen- to, especialmente numa dada área. Para melhor compreender a natureza 6 – A capacidade dada pela aplicação das questões tecnológicas, não basta prática de conhecimento. examinar um competente conjunto de 7 – Um modo de realizar uma tarefa, definições de tecnologia, como o que se especialmente usando-se processos, mé- alinhou acima. É indispensável considerar todos ou conhecimentos técnicos. como a tecnologia é gerada.

RMB1oT/2019 19 PODER NAVAL: PRESENTE E FUTURO (PARTE 4)

Exceto em casos triviais, tecnologia (technology transfer). Gerada no mundo é uma longa cadeia de conhecimentos e anglo-saxônico, talvez tenha quase um recursos. Vai desde especulações de ciên- século. Quando usada nas relações entre cia pura e técnicas de ciência aplicada até grupos técnico-científicos-industriais em procedimentos, métodos e aparelhagens estágios não muito díspares de desenvol- finais. Entre esses extremos situa-se uma vimento, estes sabem muito bem o que a sequência extensa de intuições, ideias, transferência de tecnologia significa em estudos, tentativas, dados teóricos e ex- cada negociação. O mesmo não ocorre perimentais, métodos lógicos e semi-em- quando há grande defasagem tecnológica píricos, projetos, laboratórios, materiais, entre as partes negociadoras. instrumentos, ensaios, testes, maquinaria, Como quase todas as palavras, trans- fabricações, instalações de prova, resulta- ferência tem várias acepções nas línguas dos, avaliações, alterações, correções etc., inglesa e portuguesa. Porém, todas de- necessários para criar, desenvolver, produ- notam processos relativamente simples, zir, aprovar, operar e completos e qua- manter um sistema, se imediatos. Este processo ou produto. Absorver tecnologia sem caráter da palavra Para ser construída, transferência — a cadeia tecnológica penetrar em sua base aliado à imprecisão requer capital, orga- técnico-científica e daí gerar do significado vul- nização, materiais, tecnologia própria é dar um gar de tecnologia, esforços e talentos ao desconhecimento em vários níveis. passo e novamente estagnar. sobre geração de Não raramente, in- É continuar dependente tecnologia e ao an- clui insucessos. seio por progresso tecnológico — torna Transferência de Tecnologia: Origem, a expressão transferência de tecnologia Expansão e Caráter extremamente sedutora e eficaz em ne- gociações de países de vanguarda com Há 50 anos o termo tecnologia extrava- os de desenvolvimento tardio, e diminui sou-se do vocabulário especializado para os benefícios que esses últimos esperam o popular, mesmo nos países de desenvol- com a pretendida transferência. vimento tardio, impelido pela explosão Transferência de tecnologia não é um tecnológica e pelo rápido progresso nas atalho para obter-se algo que de outra for- telecomunicações e no comércio inter- ma se obteria lentamente e a duras penas. nacional. Uma ou duas décadas depois, Tem forte atração comercial. É apenas uma o mesmo aconteceu com a expressão possibilidade de absorver-se tecnologia, transferência de tecnologia. Nessa nova dependendo das circunstâncias, empenho, invasão, os principais impelidores cer- organização e capacidade de absorvê-la. tamente foram o comércio internacional e os países de desenvolvimento tardio, Transferência Versus Absorção de ansiosos por reduzir seu atraso. Tal ânsia Tecnologia gera procura de soluções rápidas. Não sabemos quando e como se criou Nas transações envolvendo tecnologia a expressão transferência de tecnologia há uma direção e dois sentidos: para a

20 RMB1oT/2019 PODER NAVAL: PRESENTE E FUTURO (PARTE 4) parte detentora da tecnologia trata-se de te só ao receptor interessam. Portanto, transferência; mas para a receptora trata- raramente ocorrem. Dificilmente interes- -se de absorção. sarão à parte que as oferecem, exceto se O que é absorver tecnologia? É obter propiciarem raras oportunidades políticas alguns dos elos da cadeia tecnológica que e estratégicas, e não envolverem tecnolo- a gerou, e em particular os elos finais: pro- gias novas. Por outro lado, o receptor pre- dução, operação, manutenção. Essa absor- cisará ter empenho, capacidade técnica, ção frequentemente é útil e indispensável. organização, capital e estabilidade para Mas não significa geração nem domínio de absorver profundamente uma tecnologia tecnologia. E pode não ser grande impulso importante. Ela terá que ser básica para para ascensão tecnológica. a estratégia do receptor a médio e longo prazo, e para a correspondente política Profundidade de Absorção de tecnológica nacional. Tecnologia O empenho em absorver tecnologia começa por estabelecerem-se cláusulas e Para utilizar repe- especificações con- titivamente um siste- tratuais apropriadas, ma ou processo, ou A capacidade de embora de eficácia fabricar um produto, sempre limitada por basta possuir os elos absorver tecnologia é o conveniências co- finais de sua cadeia capital técnico-gerencial merciais e políticas tecnológica. Nesse acumulado, não desfeito por que existam, mas caso, a absorção de que podem desa- tecnologia será su- desagregação de equipes ou parecer durante um perficial, embora útil perda de memória técnica. longo contrato. e até indispensável. A capacidade de Atenderá a necessi- Esses fatores ocorrem absorver tecnologia dades imediatas. quando o progresso é o capital técnico- Importante é a tecnológico é descontínuo -gerencial acumu- profundidade da lado, não desfeito pretendida absor- por desagregação ção de tecnologia. Se for superficial, não de equipes ou perda de memória técnica. dará ao receptor a possibilidade de evo- Esses fatores ocorrem quando o progresso luir por si mesmo. Essa é a situação que tecnológico é descontínuo. melhor atende aos interesses da parte que Consórcios de firmas nacionais com transfere a tecnologia. Frequentemente estrangeiras e participação estrangeira é aceitável para o receptor, pois sempre em firmas nacionais podem ser meios constitui um avanço. Porém é avanço para importantes de absorver tecnologias. nova estagnação. Podem despertar a iniciativa empresarial Absorver tecnologia sem penetrar em e elevar o nível e a diversidade de pro- sua base técnico-científica e daí gerar dutos de uso civil. Mas também podem tecnologia própria é dar um passo e nova- resultar em pouco mais que montagem de mente estagnar. É continuar dependente. componentes importados. Além disso, há Absorções profundas de tecnologia o risco de alienarem-se realizações nas- reduzem dependências, mas normalmen- centes e inventividade da firma nacional,

RMB1oT/2019 21 PODER NAVAL: PRESENTE E FUTURO (PARTE 4) gradativamente eliminadas da linha de anseiam por conquistar seu domínio. Mas produção. É indispensável grande inte- dominar uma tecnologia é conhecer, pos- resse comercial da firma estrangeira em suir e utilizar todos os elos de sua longa e permitir a absorção de tecnologia, bem complexa cadeia tecnológica. Esta, como como capacidade, conveniência e vontade já vimos, é longa, complexa e dispendio- férrea da firma nacional para realizá-la. sa, empregando organizações e recursos humanos e materiais forjados em décadas Ascensão Tecnológica de progresso técnico-científico-industrial. Dominar tecnologias importantes Outra questão importante é a obsoles- dá o poder de aperfeiçoá-las e possi- cência de tecnologias. Ela tende a ocorrer velmente gerar outras mais novas. É de cada vez mais rapidamente. fato o caminho para independência em Como tecnologia é poder, dificilmente determinados setores de atividades, e para o detentor de uma tecnologia nova per- inteligente dependência mútua com países mitirá sua absorção, de vanguarda. No mesmo que ela não entanto, para países propicie poder avas- Projetos estrangeiros de desenvolvimen- salador. Aos que as- to tardio, apresenta piram a ascender, só excluem inevitavelmente formidáveis desa- resta tentar absorver nosso sistema técnico- fios. Portanto, esses tecnologias madu- científico-industrial. desafios deverão ser ras, mas ainda não judiciosamente sele- obsoletas e, com es- Dominar uma tecnologia é cionados e sequen- forço próprio, partir conhecer, possuir e utilizar ciados. Caso contrá- dessa base para um rio, todo o esforço novo e mais elevado todos os elos de sua longa e de gerar tecnologias patamar. Para isso é complexa cadeia tecnológica importantes poderá necessário articular, fracassar. estimular, utilizar e desenvolver o setor técnico-científico- Modalidades de Transferência de -industrial do País. E o melhor modo de Tecnologia fazê-lo é incluir esse setor em empreen- dimentos de alta densidade tecnológica. Várias modalidades de transferências Aí se destaca a obtenção de produtos e de tecnologia já existiam bem antes de sistemas de defesa com projeto e cons- cunhar-se e vulgarizar-se a expressão trução nacionais. Projetos estrangeiros transferência de tecnologia. Elas ainda excluem inevitavelmente nosso sistema existem e são designadas por termos técnico-científico-industrial. específicos que exprimem claramente seu significado em cada caso. Em certos Domínio de Tecnologias empreendimentos, essas modalidades podem combinar-se vantajosamente. Num mundo materialista, tecnologias Porém nenhuma delas, nem o seu con- são tidas como valores supremos. São junto, é suficiente para contínua ascensão intensamente cultivadas pelos países de tecnológica. Esta só pode ser obtida por vanguarda. Os de desenvolvimento tardio esforço próprio, vontade firme, decisões

22 RMB1oT/2019 PODER NAVAL: PRESENTE E FUTURO (PARTE 4) inteligentes, tempo e continuidade. Po- outras da mesma classe no Brasil. Aí se rém, continuidade é o que mais nos falta. incluiu a instrução e treinamento para a As designações específicas das modali- construção no País, e também o forneci- dades de transferência de tecnologia con- mento de ampla e excelente documentação tinuam a ser usadas, mas em divulgações técnica, base para o projeto nacional das públicas tendem a ser substituídas pela corvetas classe Inhaúma nos anos 1980 e expressão transferência de tecnologia, da corveta Barroso pouco depois. Esses mais abrangente e imprecisa, porém eficaz foram os primeiros e únicos navios de como instrumento de marketing. guerra projetados no Brasil em todo o pe- ríodo republicano. Também usamos essa Licenciamento modalidade de transferência de tecnologia A negociação para conhecer e usar um para construir no Brasil quatro submarinos processo, invenção ou método industrial IKL-209 da classe Tupi, entre 1985 e 2003. denomina-se obtenção de licença do pro- Porém, tanto no contrato para obtenção das prietário. As prováveis vantagens no seu fragatas Niterói como no que assinamos uso, podem ser objetivamente comparadas para obter os submarinos classe Tupi, a com as taxas a pagar, royalties, e as cor- expressão transferência de tecnologia respondentes condições contratuais. Neste raramente foi mencionada [2]. caso, o significado de tecnologia é o do item 2 acima. A obtenção de licenças para Investimento Direto fabricação tem sido um dos modos mais Outra modalidade muito usada de frequentes de transferência de tecnologia. transferir tecnologia é o investimento Entre nós, essa modalidade de transfe- direto. Neste caso, uma empresa tecnolo- rência de tecnologia tornou-se frequente gicamente mais avançada adquire parcial e seu uso foi importante item no total de ou totalmente as ações de uma outra, e pagamentos nacionais ao exterior. nela passa a empregar seus conhecimen- tos, ferramentas, técnicas, engenhos, Instrução e Treinamento sistemas e métodos de organização. Esta A capacitação num modo de realizar modalidade abrange as definições 4 e 7 de uma tarefa, especialmente usando-se tecnologia e também inclui treinamento processos, métodos ou conhecimentos de pessoal. No projeto e construção das técnicos, pode ser obtida de seu possuidor corvetas classe Inhaúma e Barroso, o mediante um contrato de instrução e trei- caso mais importante desse tipo de mo- namento, sendo parte integrante, ou não, dalidade foi a fabricação parcial no Brasil de um outro contrato para obterem-se equi- de engrenagens redutoras principais pelo pamentos ou construir uma fábrica, navios, consórcio teuto-brasileiro Renk-Zanini, etc.. Como no parágrafo logo acima, o que depois transformado na empresa Renk- se negocia é objetivamente perceptível e -Zanini S.A. Equipamentos Industriais. bem avaliável. Este caso corresponde ao Outra ocorrência importante foi a fabri- significado 7 da palavra tecnologia. Na cação nacional de baterias propulsoras Marinha, utilizamos esta modalidade de para submarinos, entre 1985 e 1995. transferência de tecnologia na década de Neste caso, porém, a firma estrangei- 1970, para obter quatro modernas fragatas ra fornecedora de tecnologia acabou da classe Niterói, projetadas e construídas retirando-se do Brasil, provavelmente no Reino Unido, e para construir duas por insuficiência de mercado.

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Assistência Técnica do com um pequeno grupo de engenheiros Assistência técnica pode ser uma das que haviam projetado o Navio-Escola modalidades mais eficazes de transfe- Brasil, jovens em maioria, conseguimos rência de tecnologia quando o propósito assistência técnica estrangeira para os for contínua ascensão tecnológica. Ela primeiros ciclos do projeto das corvetas também se aplica frequentemente a reali- Inhaúma. Daí em diante prosseguimos zações menos ambiciosas. sozinhos até o final do empreendimento Ocorre assistência técnica quando e passamos a um patamar mais complexo: uma unidade do setor técnico-científico- o primeiro projeto nacional de submarino, -industrial de um país recorre a uma denominado SNAC-1. entidade do exterior para superar difi- Iniciamos o projeto SNAC-1 com um culdades específicas ou garantir a quali- núcleo de engenheiros extraído do projeto dade em um ou mais elos de uma cadeia das corvetas Inhaúma. Ele estudou a do- tecnológica em que já esteja atuando cumentação técnica de nossos submarinos ou progredindo por em operação e inte- esforço próprio. ragiu com o Estado- Neste caso, a Assistência técnica pode ser -Maior da Armada parte receptora tem na formulação de conhecimento e ex- uma das modalidades mais requisitos de ope- periência resultante eficazes de transferência ração iniciais para do seu esforço, e de tecnologia quando o o SNAC-1. Daí portanto pode bem passamos a receber avaliar, selecio- propósito for contínua assistência técnica nar e absorver a ascensão tecnológica. para treinamento em capacidade que a projeto de submari- assistência técnica Ela também se aplica nos, inicialmente no promete. Graças ao frequentemente a realizações Brasil e depois na que já realizou, a menos ambiciosas Alemanha. Isso foi equipe receptora de conseguido como tecnologia pode ser parte do contrato essencialmente ativa e bem preparada, para a obtenção dos submarinos IKL de tendendo a extrair o máximo proveito no projeto alemão, dos quais um foi cons- contato com uma fonte tecnologicamente truído na Alemanha e quatro no Brasil. mais avançada. Além disso, o objeto da Terminado o treinamento, iniciou-se transferência de tecnologia mediante formalmente o projeto do submarino assistência técnica, por ser restrito, pode SNAC-1, mas agora com um novo con- ser melhor delineado. Permite avaliar trato em que a assistência técnica passou previamente as vantagens a obter diante a ser seletiva, constando de solicitações do preço a pagar e, durante a pretendida específicas de aconselhamento técnico, à transferência, a ajuda que realmente es- medida em que necessidades importantes tiver sendo obtida. fossem aparecendo. Assim progredimos Na Marinha, utilizamos assistência até a fase em que precisávamos contratar técnica para ascender tecnologicamente sistemas e equipamentos principais, e em projeto de navios de superfície e de consequentemente obter as verbas neces- submarinos entre 1980 e 2000. Começan- sárias. Infelizmente aí se iniciou longo

24 RMB1oT/2019 PODER NAVAL: PRESENTE E FUTURO (PARTE 4) período de crise econômico-financeira Em tecnologias complexas, conhecer nacional e retração obrigatória da Mari- todos os elos de suas cadeias geradoras nha. O projeto foi cancelado. A equipe se já é um grande feito. Possuí-los depende desfez e pouco restou da tecnologia ob- de conhecê-los, mas também de tê-los tida, não utilizada durante longo tempo. como recursos naturais e disponibilida- Felizmente o mesmo não aconteceu com des financeiras. Utilizá-los livremente a tecnologia em navios de superfície, depende de capital para industrializar a graças ao projeto da corveta Barroso, tecnologia e mercados abertos para seus derivado da Inhaúma. produtos. Se estes forem essencialmente estratégicos, a utilização estará sujeita a Assistência Mútua pressões internacionais e será relevante A rigor, não existe uma denominação questão diplomática. Caso não se supere consagrada para este tipo de modali- esse impasse, não se atingirá o propósito dade. Ela ocorre quando duas ou mais final de qualquer grande esforço tecno- instituições, empe- lógico, que é sua nhadas num mesmo utilização prática e tipo de tecnologia e O que é ter independência obtenção de cons- em níveis não muito tantes proveitos. díspares, identificam tecnológica? É conhecer, Quando a tecno- vantagens em traba- possuir e utilizar livremente logia é complexa, lhar conjuntamente mas seus produtos e transferir entre si todos os elos da cadeia não são estratégi- os resultados obti- tecnológica de uma ou de cos, a possibilidade dos. Esta é provavel- várias tecnologias, com de real independên- mente a modalidade cia tecnológica é que melhor corres- todos os seus insumos maior. Mas talvez ponde à denomina- intelectuais e materiais não seja então indis- ção transferência de pensável total inde- tecnologia e facilita pendência, pois há contínua ascensão tecnológica. Ainda as- elos e insumos fornecidos internacio- sim, não se pode esperar que a confluência nalmente. Ainda assim alguns deles são de interesses que a gerou seja suficiente- produzidos por pouquíssimas fontes mente duradoura. e poderão ser negados diante de ques- tões político-econômicas que venham INDEPENDÊNCIA a surgir. TECNOLÓGICA Dominar uma tecnologia e não con- seguir utilizá-la livremente será perda A finalidade de qualquer indepen- de capital, tempo e esforço investidos. dência tecnológica é desenvolvimento E se a utilização for mínima, as equipes e defesa. tenderão a envelhecer e desfazer-se, os O que é ter independência tecnológica? recursos materiais escassearão e a própria É conhecer, possuir e utilizar livremente tecnologia, sem inovações, poderá tornar- todos os elos da cadeia tecnológica de -se obsoleta. Este fenômeno ocorre até uma ou de várias tecnologias, com todos mesmo quando não se chega a dominar os seus insumos intelectuais e materiais. uma tecnologia.

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Independência Tecnológica versus sos e de lenta maturação. No nascedouro redução de dependências da cadeia tecnológica predominam os recursos intelectuais. Mas à medida que Independência tecnológica é propósito a ela avança, são indispensáveis grandes perseguir somente nos casos em que, após investimentos, mesmo diante da possibili- profunda e abrangente análise, concluir-se dade de insucesso. Assim, o nascedouro é que ela é indispensável, viável e financei- normalmente uma instituição de ensino ou ramente sustentável. Se esse propósito for pesquisa, ou uma pequena empresa, mas perseguido imoderadamente, dele poderá o desenvolvimento geralmente ocorre em resultar colapso financeiro e malogro do grandes firmas, laboratórios e instalações desenvolvimento como um todo. Em ge- de testes e avaliações. Há casos em que a ral, o possível e indispensável é uma bem pequena empresa geradora de tecnologia planejada redução de dependências. consegue crescer e permanecer na cadeia Redução bem planejada e contínua tecnológica que gerou. Porém o mais pro- de dependências requer escolhas de ru- vável é que seu controle acionário passe mos e sequências tecnológico-industriais para outra firma com o capital e o por- compatíveis com os te necessários para recursos necessários chegar aos produtos e os previsivelmente Se a empresa for finais e comerciali- disponíveis. Deve ser zá-los. Se esta últi- a prioridade principal exclusivamente de defesa, ma for estrangeira, de um país como o cabe ao Governo – seu ou mesmo uma em- nosso. É impossível presa nacional sem realizá-la sem formar único cliente e responsável vocação tecnológi- e utilizar retaguardas pela defesa do País – ca, haverá natural técnicas em níveis detectar tendências tendência de a tec- crescentes, até os nologia autóctone mais altos escalões desnacionalizantes e tomar gradualmente ser governamentais. providências para evitá-las substituída por outra Com todas essas importada. Para mi- implicações, inde- nimizar este risco, é pendência tecnológica tem que ser um indispensável uma política tecnológico- propósito constante, mas realista. É um -industrial inteligente e atuante. fim que só poderá ser atingido por uma gradual redução de dependências, contínua QUESTÃO CAPITAL geração de desenvolvimento e consequente fortalecimento no cenário internacional. Em termos nacionais, transferência de tecnologia tem dois aspectos distintos: o Nascedouros e Desenvolvimento de primeiro é sua ocorrência frequente como Tecnologias instrumento de marketing e de atualiza- ções de empresas; outro é sua utilização Onde costuma iniciar-se uma cadeia como elemento auxiliar para contínua tecnológica? Como vimos neste artigo, ascensão tecnológica, particularmente em ela é longa e complexa, exigindo recursos grandes programas de desenvolvimento e intelectuais, financeiros e materiais diver- defesa. O segundo aspecto é capital.

26 RMB1oT/2019 PODER NAVAL: PRESENTE E FUTURO (PARTE 4)

A questão mais essencial, urgente e autonomia. Decisões estratégicas sobre complexa em programas de desenvol- nosso desenvolvimento e defesa seriam vimento e defesa é não desnacionalizar feitas no exterior. Por conveniências nossa indústria de defesa e decidir bem políticas ou econômicas, seriamos cer- sobre associações tecnológicas com o ceados – contingência sempre existente exterior. Envolve a indústria e o Governo. – mas sem ter cultivado a capacidade de Requer análises sucessivas de casos, cada superar cerceamentos. Haveria, enfim, uma servindo de base às seguintes, em uma aparência moderna para uma depen- contínua acumulação de conhecimento dência antiga. Todas estas considerações e experiência. também se aplicam, embora abrandadas, Uma empresa tende a falir ou desna- a indústrias de defesa com produtos não cionalizar-se quando a demanda de seus exclusivamente bélicos. produtos e as condições atuais são insu- A desnacionalização da indústria de ficientes para cobrir custos de operação, defesa frustra aspirações de desenvol- fazer investimentos e gerar lucros. Se a vimento e garantia de soberania e patri- empresa for exclusivamente de defesa, mônio. Porém, isolada, nossa indústria cabe ao Governo – seu único cliente de defesa não atingirá altos níveis. São e responsável pela necessárias associa- defesa do País – ções tecnológicas detectar tendências A finalidade de absorver com o exterior. Que desnacionalizantes e tipos de associa- tomar providências tecnologia é progredir ções? Quando são para evitá-las. tecnologicamente por necessárias? Como Para agilidade e realizá-las? Respos- eficiência, a indús- esforço próprio, mesmo tas a essas perguntas tria de defesa deve após cessada a associação demandam análises ser prioritariamente com o exterior em centros civis e privada. Portanto, militares de estudos pode falir ou ser de defesa, mas com vendida a estrangeiros. Se falir, se abrirá participação direta da indústria de defesa. um flanco em nossa defesa, a não ser que Cabe ao Ministério da Defesa solicitá-las. outra nacional a substitua. Vendida a Alguns princípios são claros: estrangeiros, haveria investimento direto Finalidade. A finalidade de absorver do exterior e produtos tecnológicos ini- tecnologia é progredir tecnologicamente cialmente mais avançados. Mas esse pro- por esforço próprio, mesmo após cessada gresso aparente seria um retrocesso real. a associação com o exterior. Para isso Voltaríamos a ter o exterior como nossa é indispensável participação intensa do Base Industrial de Defesa. Tecnologias setor técnico-científico nacional. recentes ficariam no exterior. Em geral, Cautela. Não existem soluções garan- pouco ou nenhum interesse haveria em tidas. Entre nações ou empresas, espere-se projetar ou fabricar aqui componentes crí- apenas cordialidade e interesses convergen- ticos. Embora com produtos inicialmente tes durante algum tempo. Resista-se a slo- mais avançados, mas com participação gans sedutores de marketing (“transferên- nacional sem alta densidade tecnológica, cias de tecnologia”, “saltos tecnológicos”, cessaria nosso esforço para crescente “plataformas de exportação”, “off-set” etc.)

RMB1oT/2019 27 PODER NAVAL: PRESENTE E FUTURO (PARTE 4)

Esforço. Não existem boas soluções Poder Decisório. O real poder de- sem esforço próprio, inteligente e contínuo. cisório não é diretamente proporcional Potencial. Para absorver tecnologia, ao capital financeiro. Depende muito do incluam-se pessoas já com o máximo capital intelectual, sempre maior no país possível de conhecimento, experiência e mais avançado. estabilidade, tanto no setor empresarial Modalidade. A modalidade escolhida como no segmento técnico-científico- deve ser a que melhor atenda ao conjunto -industrial. Mais aprende quem mais sabe. de princípios acima. Há várias modalida- Flexibilidade. É difícil prever as possí- des de associação tecnológica: instrução e veis contingências, favoráveis ou não, de treinamento, assistência técnica ocasional, uma associação tecnológica com o exterior. assistência técnica intermitente, assis- Convém haver cláusulas contratuais que tência técnica constante, fabricação sob permitam flexibilidade para superá-las ou licença, joint venture, assistência mútua explorá-las. Quanto maior o porte, valor e e participação acionária. Nesta última, duração prevista para a associação tecno- há que atentar-se muito à questão do real lógica, mais necessária será a flexibilidade. poder decisório.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Poder Naval; Indústria naval; Defesa; Desenvolvimento; Marinha; Política nacional;

REFERÊNCIAS

[1] FREITAS, Elcio de Sá. Poder Naval – Presente e Futuro (Parte 3). Revista Marítima Brasileira, 4o trim/2018. [2] _____. A Busca de Grandeza (Marinha, Tecnologia, Desenvolvimento e Defesa). Rio de Janeiro: Editora Serviço de Documentação da Marinha, 2014.

28 RMB1oT/2019 LOGÍSTICA BASEADA NO DESEMPENHO – Conceito de difícil aplicação nas nossas Forças Armadas

RUY BARCELLOS CAPETTI* Vice-Almirante (Refo)

SUMÁRIO

Introdução Pano de fundo Recordando o ILS O desenvolvimento nos anos seguintes Finalmente, um relevante estudo externo sobre a questão Em sequência Consequências imediatas Mudança de elementos do ILS para IPS Obsolescência do conceito de ILS e emergência do conceito do Product Support Analysis PSA O que vem acontecendo no Brasil e nas Forças Armadas brasileiras, em especial na Marinha Considerações finais Alguns óbices à aplicação da PBL no âmbito do Ministério da Defesa brasileiro

INTRODUÇÃO com foco na Marinha do Brasil (MB), como abordado em sequência. ste artigo tem como principal propó- O artigo publicado na Revista Marítima Esito rever alguns conceitos básicos Brasileira (VALLE MACHADO DA SIL- sobre logística baseada em desempenho e VA, 2017) descreveu a logística baseada chamar a atenção para as dificuldades de no desempenho (PBL), mas não abordou sua implementação nas Forças Armadas, sua gênese, condições para sua aplicação

* Foi chefe do Departamento Industrial da Base Almirante Castro e Silva, assessor no reparo de submarinos no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro e comandante da Corveta Caboclo, do Submarino Humaitá, da Força de Apoio e dos Centros de Instrução Almirante Alexandrino e Almirante Átila Monteiro Aché. Foi diretor de Ensino da Marinha. Publicou o livro Logística Pura e vários artigos sobre logística. LOGÍSTICA BASEADA NO DESEMPENHO – Conceito de difícil aplicação nas nossas Forças Armadas e resultados alcançados. O texto foi princi- mentará tanto a disponibilidade quanto palmente descritivo no ambiente de origem à confiabilidade dos sistemas de armas, e baseado em documentos didáticos (o que bem como o lucro do contratado. de modo algum depreciou seu conteúdo, apenas mudou o foco analítico de crítico De fato, a ideia subjacente à PBL é o para didático) e não esclareceu as dificul- propósito (em programas de longa dura- dades para sua implementação nos Estados ção) de obter sistema de apoio a um siste- Unidos da América (EUA) e como sofreu ma de armas que resulte em alta prontidão tal estratégia ao longo de sua existência. e disponibilidade, ao menor custo, durante Finalizando tal artigo, o autor propôs a totalidade do ciclo de vida, sem perder estudos para determinar se tal metodo- de vista a plena satisfação dos combaten- logia poderia ser útil para a Marinha do tes (seus utilizadores) e a dos que pagam Brasil. Segundo ele: impostos (o contribuinte) (USA, 2014, Foreward, 3o parágrafo). Diversas instituições têm participa- Oportuno enfatizar, já neste início, do desse esforço, entre elas a Escola que, se ocorrer polarização militar na ob- de Guerra Naval (EGN), responsável servação daquela estratégia (PBL), pode pela condução dos cursos de altos resultar em exageros de interpretação. estudos militares da MB. No âmbito De fato, enquanto o foco da estratégia das pesquisas conduzidas tanto por de gastos públicos é o de minimizar ou docentes quanto discentes da EGN, a reduzir custos, o foco militar pode se logística baseada em desempenho, ou fixar na maximização do desempenho do PBL, tem despontado como objeto de combatente e pode chegar ao ponto em estudo capaz de contribuir para reverter que a estratégia militar tudo justificará. o círculo vicioso vivenciado pela MB. Tal perspectiva foi realçada nos co- mentários do Departamento de Defesa dos Sem esclarecimentos adicionais sobre EUA (DoD) ao relatório do Government a evolução dessa estratégia de obtenção Accountability Office (GAO)1 ante a afir- (principalmente sua origem, aplicação e mativa de que a meta de tal estratégia era resultados), não parece possível estabele- a de minimizar custos e na discordância cer um ponto de vista sobre as possibili- do primeiro no encaminhamento de suas dades de ser utilizada pela MB. Portanto, considerações em resposta, reformulando- acrescentamos algumas considerações -a segundo seu entendimento de que o que possam contribuir para melhor apre- propósito da PBL era o de maximizar o ciação da estratégia e suas possibilidades desempenho e a disponibilidade ao menor de aproveitamento. Antes de quaisquer custo de sustentabilidade do produto mi- considerações, cabe uma ressalva à afir- litar em consideração. mativa, no artigo original, de que: "No entanto, o Departamento dis- A ideia subjacente à PBL é que corda da afirmação de que o propósito minimizar reparos e sobressalentes au- dos PBL é reduzir custos. Em vez

1 Relatório ao Subcommittee on Readiness, Committee on Armed Services, House of Representatives, dez/2008 (GAO-09-41 Defense Logistics. Improved Analysis and Cost Data Needed to Evaluate the Cost-effectiveness of Performance Based Logistics).

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disso, pretende-se, principalmente, de mecanismos apropriados. Desse modo, aumentar a prontidão operacional e a podemos pensar nos EUA como um país disponibilidade, ao mesmo tempo em que pratica técnicas gerenciais aprimoradas que os custos gerais de manutenção de planejamento, execução e controle e a longo prazo são reduzidos."(USA, aperfeiçoados mecanismos de correção. 2008, Apêndice II: Comments from Difícil estabelecer isso como realidade Department of Defense, final do se- sem pesquisa e análise mais aprofundada, o gundo parágrafo do memorando de que não é o escopo do presente artigo, mas encaminhamento). (Tradução do autor) nos valemos aqui dos diversos indícios de acesso público que indicam a propriedade Esse ponto de vista nos parece ser de de tais afirmativas, principalmente a partir suma importância na interpretação da da Segunda Guerra Mundial. PBL, pois enfatiza a relevância da aná- Estendendo tais características ao DoD lise de custo-benefício para justificar as e reforçando o entendimento: obtenções de produtos de emprego militar. As atividades de aquisição do DOD PANO DE FUNDO são regidas por três conjuntos de regu- lamentações do governo federal. O pri- Identificamos a gestão pública nos EUA meiro, que se aplica a todo o governo fe- como eficiente, sem descartar as possibili- deral (incluindo o DoD, salvo indicação dades de corrupção (segundo a organização expressa), encontra-se no Regulamento Transparência Internacional, os EUA, em de Aquisição Federal (FAR); o segundo 2017, ocupavam a 18a posição no Índice de conjunto de regulamentações aplica-se Percepção de Corrupção), os desperdícios somente ao DoD e é encontrado no Su- e outras mazelas típicas da atividade, e isso plemento do Regulamento de Aquisição não está em discussão. Federal de Defesa (DFARS); o terceiro Tendo os EUA uma economia capitalis- aplica-se somente a componentes in- ta mista impulsionada por seus abundantes dividuais do DoD e é encontrado em recursos naturais e alta produtividade, suplementos FAR exclusivos para com- e por evidências explícitas de cultura ponentes. As ações de obtenção no DoD avançada, acreditamos que seus gastos devem seguir as várias regulamentações, governamentais sejam realizados de um inclusive aquelas executadas como parte modo geral, seguindo apuradas técnicas de dos programas de obtenção do DoD, e os planejamento, execução e controle, visando gerentes de programas devem levar em a maior eficiência e evitar desperdícios. conta tais regulamentos durante o plane- Indicador disso é a interação entre as várias jamento e a execução de seus programas instituições executoras das ações em cada (MOSHE, 2010, tradução nossa). política pública, tanto os poderes constituí- dos quanto os órgãos governamentais e não Estão presentes na gestão orçamentária governamentais de controle, além do povo, e nas áreas de despesas militares daquele quase que diretamente envolvido por meio país (sem ser excludente) o Legislativo2,

2 O Congresso bicameral dos EUA, formado pelo Senado e pela Câmara dos Deputados (Senate e House of Representatives), faz lei federal, declara guerra, aprova tratados e tem o poder de controlar o orçamento e julgar impeachment, pelo qual pode remover membros em exercício.

RMB1oT/2019 31 LOGÍSTICA BASEADA NO DESEMPENHO – Conceito de difícil aplicação nas nossas Forças Armadas o Executivo, o Judiciário, os Tribunais de de qual seria o mais eficaz ou a negociação Contas, os diferentes órgãos de controle do entre diversos outros sistemas. orçamento, os stakeholders3 e os cidadãos Na época, contudo, ocorria uma séria americanos de um modo geral. A preocupa- deficiência. Muito embora os custos de ção com a excelência da gestão e a fixação manutenção e de apoio de suprimentos na análise de custo-benefício na gestão dos dos sistemas propostos pudessem ser sig- programas estiveram quase sempre pre- nificativos e, em alguns casos, superiores sentes nas decisões do governo. Exemplo aos custos iniciais de obtenção, eles eram disso, na área que nos interessa observar frequentemente negligenciados. de perto (gastos militares), essas manifes- Uma das principais razões para tanto tações balizaram, em 1965, a criação da era a incapacidade de acumular e relatar metodologia do apoio logístico integrado os custos de manutenção e de apoio de (Integrated Logistics Support – ILS). suprimentos de um sistema de armas ope- A importância de rever o surgimento rativo. Se esses custos reais não pudessem do ILS nas Forças Armadas dos EUA jaz ser relatados, era impossível estimá-los principalmente no realçar as dificulda- no caso da concepção ou proposta de des na sua implementação, ao longo de um novo sistema. Dessa forma, todos os muitos anos, entre as quais se enfatizam custos relevantes não eram considerados, a necessidade de supervisão e orientação e nem sempre eram incluídos planos para do órgão setorial, aprimoramento cultural apoio logístico. Isso para não dizer que o dos profissionais de cada Força Singular planejamento para o apoio logístico era e eliminação dos individualismos e acima inteiramente ignorado. Esse planejamento de tudo da vontade de aprimorar continu- era feito, mas num estágio muito adian- amente os processos envolvidos. tado do ciclo de vida do sistema, sendo executado por especialistas (planejadores RECORDANDO O ILS de suprimentos, manutenção, pessoal e transporte) que trabalhavam isoladamente Origens entre si e sem meios de relacionar as suas decisões ao todo. Segundo Kuhlman (KUHLMAN, Em meados de 1964, o subsecretário 1969), no início dos anos 1960 foi introdu- de Defesa dirigiu sua atenção para essa zida no DoD a análise de custo-benefício deficiência e estabeleceu diretrizes e for- (ou análise de benefício-custo, ou análise mulou objetivos para orientar os serviços de custo-eficácia), o que serviu de base militares no desenvolvimento sistemá- à implantação do programa de Apoio tico e ordenado de um apoio logístico Logístico Integrado. No passado, segun- integrado para sistemas e itens principais do tal ferramenta analítica, os custos de de equipamentos. Tal apoio deveria ser obtenção e de operação de um sistema planejado tanto para modificações como de armas proposto eram relacionados aos para novos projetos. "benefícios" ou "resultados" que poderiam A diretiva 4100.35 do DoD (USA, ser alcançados; e quando esses dados eram 1970) definiu o apoio logístico integrado comparados com valores similares de sis- como “uma composição de elementos temas alternativos, era tomada a decisão necessários para assegurar o apoio eficaz

3 Stakeholders: as partes interessadas ou intervenientes.

32 RMB1oT/2019 LOGÍSTICA BASEADA NO DESEMPENHO – Conceito de difícil aplicação nas nossas Forças Armadas e econômico a um sistema ou equipamen- ída ênfase gerencial igual àquela dada ao to em todos os níveis de manutenção ao processo de obtenção de armas. longo de seu ciclo de vida programado". E chamou a atenção, por notas no docu- Posicionamento das Forças quanto à mento, de que "ele é caracterizado pela implantação e implementação do ILS harmonia e pela coerência obtidas em cada um dos seus elementos e níveis de Muito embora os serviços militares manutenção". tenham sido instruídos, desde 1964, a Os elementos do apoio integrado estabelecer apoio logístico coordenado, listados naquela diretiva foram: 1) a ma- como parte integrante de suas responsabi- nutenção planejada; 2) pessoal de apoio lidades de desenvolvimento e obtenção, a logístico; 3) dados e informações técnicos força-tarefa acima mencionada observou de logística; 4) equipamento de apoio; 5) que tal não era feito efetivamente. Cada partes e peças sobressalentes; 6) instala- serviço estava implementando o programa ções físicas; e 7) manutenção por contrato. no seu próprio ritmo, de diferentes manei- O objetivo primário dos programas de ob- ras e por vários caminhos. O planejamento tenção do DoD era assegurar que o apoio logístico, observou a equipe, era ainda logístico para os sistemas ou equipamen- fragmentado nas tradicionais disciplinas tos fosse planejado, obtido e gerenciado verticais de manutenção, aprovisionamen- como um todo integrado, a fim de obter a to, transporte e assim por diante. máxima prontidão operativa do material A falha em seguir uma abordagem e otimizar a relação custo-benefício pela comum na implementação do conceito minimização dos custos. do ILS, conforme afirmou a força-tarefa, colocava demandas indevidas na indústria Implementação e comportava um imprevidente uso de mão de obra e recursos financeiros, quando Numa revisão do processo de controle o governo contratava e alocava recursos sobre o gerenciamento do sistema de para apoio logístico separadamente do obtenção, a equipe do DoD USA – Joint desenvolvimento e da obtenção. Isso fazia DoD Industry Task Team –, composta incorrer em despesas adicionais, como re- por representantes dos nove maiores sultado de um planejamento inadequado ou contratados, dos três departamentos mi- falta de definição dos problemas logísticos. litares e do Escritório do Secretário de Por outro lado, quando o apoio logístico Defesa, examinou o conceito do ILS e era coberto num contrato sob o conceito de sua implementação e chegou à conclusão pacote total de obtenção (procurement), o que ele bem poderia ser a mais importante contratado tentaria assegurar que o planeja- ferramenta para aprimorar a eficácia das mento logístico fosse feito completamente suas forças militares. Tendo em vista a desde o início do programa pertinente. magnitude da parcela do orçamento de Relegar a logística a uma posição se- defesa necessária para apoio logístico, parada e subordinada durante os estágios como reportou a equipe, demandaria um de pesquisa e desenvolvimento e ao de esforço intensificado para alcançar po- obtenção, frequentemente encontrava os tenciais benefícios operacionais e melhor profissionais de logística atuando como utilização de recursos. A equipe concluiu, num papel de ligação, em vez de membros igualmente, que ao ILS deveria ser atribu- de tempo integral na equipe do gerente do

RMB1oT/2019 33 LOGÍSTICA BASEADA NO DESEMPENHO – Conceito de difícil aplicação nas nossas Forças Armadas projeto. Isso resultava na designação, aos – O Escritório do Secretário de Defesa escritórios de projeto, de pessoas às quais deveria estabelecer um comitê executivo faltava agressividade, influência ou amplo de membros responsáveis do Departa- expertise, que são necessários para obter mento de Defesa, a fim de definir uma atenção apropriada e permitir considera- abordagem para implementar o conceito ção das interações críticas dos conceitos de apoio logístico integrado4. logísticos no design de engenharia. A efetiva integração do apoio logístico, O DESENVOLVIMENTO NOS como concluiu a equipe, resultaria numa ANOS SEGUINTES alta razão de disponibilidade de equipa- mentos no uso operacional. Um aumento Ao longo dos anos que se seguiram, modesto nos gastos do design, para ga- durante a implementação do ILS nas rantir producibilidade e apoio efetivo, Forças, foi sendo observado que: como ainda reportou a equipe, poderia resultar em maior redução no custo total. "Provavelmente, uma das tarefas Era muito importante, afirmava ela, que mais difíceis a serem realizadas durante existisse um ponto de tomada de decisão as fases de planejamento era a de desen- antes que o design e o desenvolvimento volver estimativas realísticas dos custos estivessem completos, a fim de assegurar do apoio; e a falta de informações relati- efetiva producibilidade e apoio. vas às reais necessidades cronológicas e Com base nessas observações, a equipe de itens críticos aplicáveis a​​ cada sistema fez as recomendações seguintes: prejudicava as atividades do gerente de – Os três serviços deveriam entrar num projeto, não permitindo que ele pudesse acordo quanto a definições comuns e li- ajustar e modificar o plano geral de apoio nhas de ação para levar a cabo o conceito logístico e, assim, manter o sistema de do ILS. Isso porque a comunalidade de armas operando com a máxima eficácia abordagem pelos serviços era vantajosa (KUHLMAN, 1969, p. 116 e 117)." para os contratados que trabalhavam para mais de um serviço. A metodologia do ILS ao longo dos – A linha de ação básica do DoD deve- anos seguintes veio sendo aplicada e con- ria ser fortalecida no sentido de abranger tinuamente aprimorada, mas várias eram áreas tais como metodologia para estimar as críticas de que os resultados alcançados custos e gerência de configuração, que na em termos de custo-benefício poderiam época eram excluídos; não ser aqueles esperados. Tais críticas – Pessoal qualificado tecnicamente no geravam continuada pressão para que campo da produção e no apoio logístico fossem conduzidas pesquisas, análises e deveria participar da fase conceitual, da aperfeiçoamentos no processo de obten- preparação e negociação do contrato, do ção dos sistemas de defesa, com vistas ao desenvolvimento de engenharia e da fase alinhamento dos resultados ao planeja- real de produção; mento estratégico do governo/DoD.

4 Essa recomendação reforça o que vem sendo defendido por acadêmicos de engenharia, entre outras coisas, sobre a necessidade de um setor, órgão ou departamento, seja o que for, no Ministério da Defesa para cuidar da Logística de Defesa, embora discordemos que seja atribuição somente para engenheiros militares (Brick et alii; 2016).

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As crises econômicas e períodos de Capabilities Integration and Development desenvolvimento ocorridos principal- System (JCIDS)6, com a finalidade de mente nas décadas de 80 e 90 do século aperfeiçoar o processo de determinação de passado (em 1990 foi observado um requisitos e de planejamento da obtenção longo período de expansão econômica dos sistemas de defesa. dos EUA) contribuíram para o aumento Novo documento da mesma fonte da pressão sobre a necessidade de es- (USA, 2009) avaliava as mudanças até tudos visando aperfeiçoar o sistema de então encetadas e considerava as observa- obtenção do DoD dos EUA. As várias ções do subsecretário adjunto de Defesa questões políticas surgidas no final do sé- para Logística e Prontidão do Material, culo ditavam estratégias voltadas para a que liderara por cerca de um ano um gru- defesa que variavam entre a necessidade po de estudos para identificar medidas de de exacerbar gastos militares e o desin- aprimoramento ao processo de obtenção: teresse em realizá-los, por exemplo, na USNavy, redução de mil para 355 navios À medida que o DoD avança com (como na atual gestão Trump), segundo a reforma do sistema de obtenção de a ótica de cada novo governo. armas, a atenção ao suporte ao produto Dissertação de mestrado de Monterey deve ser aumentada, e o gerenciamento (USA, 1992) dá ideia do que ocorreu com do ciclo de vida deve ser mais bem a construção naval militar no período.5 focado para alcançar os padrões ope- Como resultado das pressões críticas, racionais desejados pelo combatente. várias medidas de correção iam sendo Muitas vezes, no passado, o produto tomadas. As diretivas do DoD da série para apoio ao sistema de armas foi 5.000, que regulavam, como ainda regu- negligenciado nos esforços de ob- lam, o processo de obtenção de sistemas tenção e na logística. Portanto, se o de armas, sofreram várias alterações (pelo Departamento vai realmente reformar menos nove) no período até 1994, em fun- o negócio de fornecer sistemas de ar- ção de estudos visando ao aprimoramento mas ao combatente, ele também deve dos sistemas de obtenção de produtos reformar o gerenciamento dos US$ 132 militares (FERRARA, 1996). bilhões gastos anualmente em apoio Em 2001 foi publicado documento do àquele produto. subsecretário de Defesa para Obtenção, Tal gerenciamento, assim melho- Tecnologia e Logística, orientando quanto rado pelo aprimoramento do apoio ao à estratégia logística a ser seguida para produto e pela obtenção de resultados o século entrante (logística baseada no mais eficazes, em termos de custo, na desempenho) (USA, 2001). prontidão do sistema de armas, requer Entre várias medidas para aprimorar o foco no gerenciamento do ciclo de processo de obtenção, foi criado o Joint vida, liderança comprometida e es-

5 Embora seja uma dissertação de mestrado, acreditamos em sua credibilidade, diante da reputação da instituição de origem (a256446. Naval New Ships Construction cost Analysis and Trends.pdf). 6 O JCIDS foi desenvolvido na gestão do secretário de Defesa Donald Rumsfeld (2001-2006), com a finalidade de corrigir as deficiências no sistema de geração de requisitos do Departamento de Defesa dos Estados Unidos identificadas pelo Estado-Maior Conjunto dos EUA. Essas deficiências foram: não considerar novos programas no contexto de outros programas; considerar insuficientemente os requisitos de serviços com- binados e priorizar de forma ineficaz os requisitos de serviços conjuntos; e realizar análises insuficientes.

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forços cooperativos das comunidades ria economizar bilhões de dólares pela operacionais, de obtenção e de logísti- reengenharia da logística de defesa pelo ca (USA, 2009, tradução nossa). aumento de sua confiança no setor privado para apoio aos sistemas de armas7; Apesar das recomendações e orien- – O DoD aderiu a tal estratégia (embo- tações do subsecretário, as críticas con- ra não mandatória no início), fundamenta- tinuavam, e vários foram os esforços de do em contratos baseados no desempenho correção, conforme discorre o documento (e não em objetos materiais). Em 1990 elaborado pelo Congressional Research declarou sua meta de "reduzir os custos Service dos EUA, em 23 de abril de 2010, de operação e apoio em 20% até 2005", e em pesquisa de Moshe Schwartz (MO- que identificara “30 programas-piloto para SHE, 2010), especialista em Obtenções testar várias iniciativas de reengenharia da para Defesa, intitulado How DoD Acqui- logística", ao mesmo tempo que passava a res Weapon Systems and Recent Efforts to considerar o conceito de "programas com Reform the Process (USA, 2010). contratos de longa duração para apoio logístico aos sistemas de armas, baseados FINALMENTE, UM RELEVANTE em desempenho” (long-term contractor ESTUDO EXTERNO SOBRE A logistics weapon system support with QUESTÃO performance metrics), o que mais tarde denominou de Logística Baseada no Praticamente na mesma época (USA, Desempenho (Performance Based Lo- 2008), o GAO fizera publicar um relatório gistics – PBL). Em 2001, o DoD declarou com recomendações de aprimoramento formalmente que identificara o PBL como do processo do DoD. Tal relatório não a estratégia preferida para a obtenção do fora o primeiro. O GAO já vinha fazendo apoio aos sistemas de armas (Weapon recomendações ao DoD sobre as falhas System Support Strategy). encontradas. Testemunha disso, em 2004 As principais falhas indicadas por questionara a eficiência do Gerenciamen- aquele relatório do GAO foram (Conclu- to da Defesa pelo DoD (GAO-04 -715 sões do GAO-09-41 – Relatório, p. 51/52): 2014), em 2005 passara a cobrar do DoD a necessidade de demonstrar a otimização "– Embora o conceito de usar arran- dos resultados alcançados (GAO-05-966) jos de apoio PBL tenha sido planejado e posteriormente, em 2009, expedira o para ser uma estratégia de redução de GAO-09-3SP "Orientação de como fazer custos, bem como uma que resultaria estimativas", a fim de corrigir uma das em melhor desempenho, a ênfase do falhas encontradas na gestão do DoD. DoD era mais focada no desempenho Do documento (GAO-09-41) extraí- e menos focada no custo. mos as seguintes informações: – O DoD não enfatizava mais a – O DoD, no seu alinhamento com redução de custos como uma meta a estratégia de economia adotada pelo para os programas de PBL, e a imple- governo, antecipou, em 1990, que pode- mentação do PBL, em sua forma atual,

7 Apoio aos sistemas de armas abrange funções tais como gestão de material, distribuição, gerenciamento técnico de dados, manutenção, treinamento, catalogação, gerenciamento da configuração, apoio de en- genharia, gestão da obsolescência, refresco da tecnologia e gerenciamento de sobressalentes (Relatório GAO-9-41, p. 5).

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não garantia que seus acordos de PBL as decisões sobre o tipo de arranjo a ser fossem econômicos. usado no suporte aos sistemas do DoD, – A declaração do DoD na imple- era improvável que o Departamento con- mentação do PBL como a estratégia seguisse obter economias consideráveis​​ preferida de suporte ao sistema de que foram previstas quando o conceito armas enfatizava a importância do PBL foi adotado. desenvolvimento de análises de casos Observava ainda o GAO que a avalia- de negócios8 consistentes, abrangentes ção da relação custo-benefício dos pro- e sólidas para influenciar decisões gramas PBL também requeria a disponi- relativas ao uso de um acordo PBL. bilidade de melhores dados de custo, com Mas embora a orientação do DoD re- um nível de detalhamento que apoiasse a comendasse usar análises de casos de gestão aprimorada dos programas PBL negócios para orientar decisões sobre em andamento, incluindo informações o uso de arranjos de PBL para suporte sobre a concessão de taxas de incentivos ao sistema de armas, a sua atuação não nos contrato, avaliando o desempenho exigia essas análises, e quase metade versus o custo para alcançá-lo e os custos dos programas que analisamos não históricos, determinando se o status quo realizou uma análise de caso de ne- deveria ser mantido ao longo do tempo e gócio ou não reteve a documentação tomando decisões de suporte sobre futuros na sua análise. programas de continuação (follow-on). – Além disso, a qualidade das aná- Esses dados geralmente não estavam lises dos programas que realizaram disponíveis para os programas de PBL, análise de casos de negócios variou limitando a capacidade dos escritórios consideravelmente, uma vez que não do programa de fazerem ajustes neste ou havia elementos de orientação pelos tomarem ações de reestruturação quando quais o DoD recomendasse análises apropriado. No entanto, alguns escritórios econômicas sólidas. Além disso, a de gerência de programas adquiriram maioria das análises que deveriam ter tais dados em elevado nível de qualidade sido atualizadas não o foram." e indicaram que os obtiveram de uma forma eficaz. Assim, e segundo o GAO, o DoD Concluia o GAO que o acesso apri- carecia de uma abordagem sólida para morado a dados detalhados de custos era analisar se os arranjos de PBL propostos outro elemento essencial para melhorar seriam a estratégia mais eficaz em termos a qualidade dos dados disponíveis aos de custos para apoiar sistemas de armas. tomadores de decisão do Departamento Sem instituir um processo mais consis- de Defesa em relação ao custo-eficácia tente, abrangente e sólido, no qual basear dos arranjos de PBL.

8 Análise de Casos de Negócios, de Business Case Analysis (BCA) é uma metodologia e um documento estruturados que auxiliam na tomada de decisões, identificando e comparando alternativas examinando os impactos da missão e dos negócios (financeiros e não financeiros), riscos e sensibilidades. Os BCAs podem ser um pouco diferentes de outras análises de apoio à decisão por meio da ênfase da perspectiva ampla das partes interessadas e dos tomadores de decisão e da avaliação dos efeitos holísticos afetados pela decisão. Outros nomes para um BCA são Análise Econômica e Análise de Custo-Benefício. Em termos gerais, um BCA é qualquer análise de valor objetiva, documentada, que aborda custos, benefícios e riscos ( BCA Guide).

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Tendo em vista tais considerações, o EM SEQUÊNCIA GAO recomendava que se deveria: – revisar a Diretriz de Aquisição do Em março de 2009, o GAO publicou DoD a fim de exigir o desenvolvimento um guia GAO-09-3SP (GAO Cost Estima- de uma análise de casos de negócios para ting And Assessement Guide: Best Prac- apoiar o processo de tomada de decisão tices for Development and Management com relação às alternativas de suporte do Capital Program Costs), para orientar sistema de armas, incluindo PBL; como fazer estimativas não só para o DoD, – revisar o guia de análise de casos de mas para todo o governo: negócios PBL para definir mais claramente o que deveria ser incluído em uma análise "Como as diretrizes federais são li- de casos de negócios e estabelecer crité- mitadas em processos, procedimentos rios e métodos específicos para avaliar os e práticas para garantir estimativas de arranjos de apoio, incluindo avaliação nos custos confiáveis, o Guia de Custos níveis de subsistema e componente; visa preencher essa lacuna. Sua fina- – revisar o guia de análise de casos de lidade é dupla – abordar as práticas negócios PBL para definir mais claramen- recomendadas geralmente aceitas te quando as análises de casos de negócios para garantir estimativas confiáveis​​ deveriam ser atualizadas durante o ciclo de custo do programa (aplicáveis ao​​ de vida do sistema de armas; governo e à indústria) e fornecer um – exigir que cada serviço revisasse a link detalhado entre a estimativa de orientação para implementar controles in- custos e o EVM. Fornecer esse elo é ternos a fim de garantir que os escritórios especialmente importante porque de- do programa preparassem e atualizassem monstra como ambos os elementos são análises de casos de negócios que fossem necessários para definir referenciais de abrangentes e sólidas; e programa realistas e gerenciar riscos." – exigir que os escritórios do programa (Tradução nossa) coletassem e relatassem dados de custo para os acordos de PBL em um formato padroni- Foram feitas várias revisões da série zado e consistente, com detalhes suficientes 5000 (em dezembro de 2000 expediu-se para apoiar a análise de custo tradicional e o nova diretiva DoD 5000.1; em 2003 nova gerenciamento eficaz do programa. DoD 5000.01 e nova 5000.2 etc. (FER- Neste ponto, parece conveniente re- RARA, 1996). cordar que todas essas considerações e Em novembro de 2009, o DoD pu- recomendações referiram-se à programas blicou um relatório de avaliação do de longa duração (plurianuais) e de altos que deveria ser feito para atender às valores financeiros envolvidos, além de recomendações do GAO e chegou à acontecerem em escalas de encomendas conclusão de que, para alcançar a meta consideráveis no tempo e no volume de de um sistema de Obtenção de Nova Ge- recursos financeiros. Em análise posterior, ração, precisaria encetar várias medidas uma alta autoridade do Departamento de (USA, 2009). Foram identificadas oito Defesa (subsecretário de Defesa) referiu- áreas de interesse para aprimoramento -se à contratos de um ano como conduzin- do processo de obtenção ou da eficácia do o sistema de obtenção do DoD/USA a do apoio (Product Support Effectiviness), uma "espiral da morte". em tradução nossa:

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"Tal documento DoD Weapon de obtenção revisto com o ciclo de vida System Acquisition Reform Product dos sistemas. Support Assessment captura as des- cobertas e recomendações necessárias "Em 21 de abril de 2010, o Comi- para orientar a próxima geração de tê de Serviços Armados da Câmara estratégias de apoio ao produto. votou por unanimidade em apoio à Durante seu estudo ao longo de Implementação de Gestão com vis- um ano, nossa equipe de 65 membros tas ao Desempenho e às Reformas da mais ampla representatividade do Relacionadas, tudo visando a obter setor, liderada pelo Gabinete do Sub- vantagens em cada Fato de Obtenção, secretário de Defesa para Logística datada de 2009 (H.R. 5013). Conquan- e Prontidão do Material, identificou to tais fatos de obtenção tenham foco oito áreas principais que, se desen- principalmente na força de trabalho de volvidas ou aprimoradas, tornarão obtenção, na gestão financeira interna o apoio ao produto mais eficaz e a do DoD e na base industrial, algumas reforma do processo de obtenção mais seções do projeto de lei proposto abrangente: Modelo final de Apoio relacionam-se diretamente com a ob- ao Produto; Estratégia de Integração tenção do sistema de armas." (Defense Industrial; Estratégia Operacional da Acquisitions: How DoD Acquires Cadeia de Suprimentos; Governança; Weapon Systems and Recent Efforts Métricas; Custos Operacionais e de to Reform the Process) Apoio; Ferramentas Analíticas; e Capital Humano." Naquele mesmo ano (2010) foi publi- cado o memorando Better Buying Power CONSEQUÊNCIAS IMEDIATAS (orientação do secretário de Defesa para aprimorar o processo de obtenção). Em Uma das medidas recomendadas, como 23 abril, ainda em 2010, foi publicada acima mencionado, foi a adoção de um a já mencionada pesquisa do Serviço de novo modelo de obtenção do apoio aos Pesquisa do Congresso (MOSHE, 2010), sistemas de armas. que expõe os problemas com detalhes. Os pontos levantados e as recomen- Em sequência, julho de 2011, foi dações desse estudo deram origem à publicado o Logistics Assessement Gui- formalização da postura do DoD9 rela- debook, com o propósito de orientar sobre tiva a sua força de obtenção, sua gestão o Logistics Assessment (LA). A finalidade financeira e sua base industrial. Estava era a de realizar análise do planejamento aí incluído o processo de obtenção dos da apoiabilidade do programa de apoio sistemas de armas (não somente o apoio logístico (embora não tenha o título aos sistemas de armas). de auditoria, na verdade foi, mais ou Tal postura deu origem à revisão de menos, uma auditoria sobre o programa várias publicações em função da adoção de obtenção de apoio logístico), tendo de novo modelo de apoio aos produtos ligações com as orientações do Better e instruções de como casar o processo Buyng Power.

9 Tem reflexos no orçamento da Defesa, tendo em vista a organização das Forças Armadas dos EUA serem regidas pelo 10 Code (Ver nota de rodapé 24).

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Em março 2013, o DoD publicou o sobre logística o façam o mais breve HDBK-502A – Product Support Analy- possível. Embora superficialmente, men- sis, during life-cycle of systems and cionamos a seguir algumas das alterações equipments –, incorporando as conclu- ocorridas no processo de obtenção. sões anteriores (finalidade semelhante à Análise de Apoio Logistico do ILS, mas MUDANÇA DE ELEMENTOS DO com maior abrangência). ILS PARA IPS Em 2014 foi publicado o Product Support Business Commercial Analysis Ao longo de muitos anos de aplica- Guidebook, produzido originalmente em ção, o ILS fixara, em seus fundamentos, 2010, com a finalidade de padronizar dez elementos da Logística, que vieram a estrutura de uma análise de custo- a ser expandidos para 12 na nova gera- -beneficio, a fim de minimizar as falhas ção do processo de obtenção do apoio encontradas nos programas do DoD aos sistemas de armas . No site referido analisados. na nota de rodapé11, podemos constatar Tais mudanças culminaram em tornar que, pelo novo estudo, passaram a ser obsoleto o conceito do ILS10 (com a nossa 12, agora denominados de IPSE (In- ressalva de que muitas atividades dos seus tegrated Product Support Elements). processos, agora aprimorados e adapta- Esses elementos12 são assim discrimina- dos à nova filosofia de obtenções, ainda dos, em tradução nossa: Gerenciamento permanecem válidas, embora sob novas de Apoio ao Produto; Interface de De- denominações. Por exemplo, a Análise sign; Engenharia Sustentável; Apoio de Apoio Logístico evoluiu para Análise de Suprimento; Equipamento de apoio; de Apoio ao Produto. Embalagem, manuseio, armazenamento Em 2016 foi divulgado novo release da e transporte; Recursos de Computador; publicação PBL Guide, de 2015. Mão de obra e Pessoal; Planejamento e Muitas outras publicações foram dis- Gerenciamento de Manutenção; Treina- seminadas no período, principalmente as mento e apoio de Treinamento; Instala- didáticas, mas não serão aqui menciona- ções e Infraestrutura; e Gerenciamento das (muitas já referidas no artigo sobre de Dados Técnicos. PBL publicado, já mencionado). Tais elementos logísticos se cons- Aprofundar-se nessas mudanças é tituem nos fundamentos que geram as um estudo que recomendamos, com funções logísticas, como já acontecia com intenção que nossos centros de estudos os antigos elementos do ILS13.

10 Obsoleto, conforme consulta ao Dicionário do DAU 16a edição, da expressão Integrated Logistics Support. (https://www.dau.mil/tools/Documents/Glossary_16th%20_ed.pdf. Acesso em jan 2019) 11 Dave Floid, da DAU, explica as diferenças ocorridas e a migração dos dez elementos do ILS para esses 12 elementos do IPS. Artigo Integrated Product Support Elements. Acesso em out/2018. (http://public.s1000d.org/Downloads/Documents/2012_UF/Integrated%20Product%20Support%20 Elements.pdf.) 12 Elementos (http://public.s1000d.org/Downloads/Documents/2012_UF/Integrated %20Product%20 Sup- port%20Elements.pdf. Acesso em out/2018). 13 Esses novos elementos são igualmente mencionados no site da DAU. https://www.dau.mil/acquipedia/ Pages/ArticleDetails.aspx?aid=c9b84a4f-b25b-4315-8a66-bd6c37f6ddd) Integrated ProductSupport (IPS) Elements. Acesso em out/2018).

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OBSOLESCÊNCIA DO teando estratégia de dispêndios do setor CONCEITO DE ILS E público e reforçando os princípios funda- EMERGÊNCIA DO CONCEITO mentais que regem a própria administra- DO PRODUCT SUPPORT ção. Economia é um deles. Os problemas ANALYSIS PSA são regulamentação e, principalmente, controle. Sem isso, são apenas letras no Como vimos, o DoD (juntamente com papel (MARINI, 2009). o Congresso) empreendeu uma série de Embora realizando um inventário des- medidas para aprimorar o sistema de sas medidas no período de 2001 a 2009, obtenção, relacionadas no relatório do Marini, consultor contratado para fazê-lo, seu pesquisador. Continuou o Departa- ao final do trabalho traz à baila reflexões mento revendo as Diretivas da série 5000. que podem explicar os fracassos de várias Implementou medidas para aprimorar os das medidas que elencou. Reflete o consul- processos dos quais dependia a eficácia tor que somente a formulação estratégica da estratégica logística baseada no de- não é suficiente para garantir a implantação sempenho – principalmente visando ao das várias medidas. Depois de enfatizar aperfeiçoamento do processo, tais como o papel da liderança política executiva o aprimoramento de como fazer boas chama a atenção para a necessidade de estimativas, a emissão de instruções que que seja encontrado o equilíbrio entre as formalmente uniformizassem a maneira medidas emergenciais e as de natureza de realizar as análises de business case mais estrutural, que promovem de forma (BCA), bem como a adoção de medidas sustentável as transformações desejadas. mandatórias para iniciar qualquer progra- Chama, finalmente, a atenção para ma. Também reviu e formalizou novos procedimentos da logística de defesa, "o desafio de comprometer as ligando-a ao ciclo de vida, além de outras pessoas com o processo de mudança. medidas mais pontuais. Muitas iniciativas de melhoria fracas- sam porque não se estabeleceu uma O QUE VEM ACONTECENDO estratégia eficaz de comprometimento NO BRASIL E NAS FORÇAS dos envolvidos, ou sequer uma estra- ARMADAS BRASILEIRAS, EM tégia de comunicação dos objetivos ESPECIAL NA MARINHA pretendidos e dos meios a utilizar" (MARINI, 2009). O ambiente em que vem se desen- volvendo o estamento militar no Brasil Isso que nos faz lembrar, com preocu- merece algumas considerações, em termos pação, as extensões estadual e municipal comparativos com o dos EUA, a fim de da gestão pública em nosso país. que possamos compreender as dificulda- Existem, portanto, mecanismos de des que teremos de enfrentar para adotar aperfeiçoamento da gestão. O Plano Plu- uma estratégia como a que está em análise. rianual (PPA) de 2000/2003 introduziu Tratando-se do governo federal, en- inúmeras inovações de caráter conceitual, contramos em nossas pesquisas (biblio- gerencial e operacional, dos quais desta- gráficas, documentais e de campo, embora camos duas, dentre as mais significativas: superficiais, mas suficientes para formar – estruturação dos programas orientada juízo) muitos documentos formais nor- para obtenção de resultados e sua ava-

RMB1oT/2019 41 LOGÍSTICA BASEADA NO DESEMPENHO – Conceito de difícil aplicação nas nossas Forças Armadas liação, com definição clara de objetivos, a conceituação de tal estratégia logística, públicos-alvos, valores, prazos, metas ousamos acrescentar algumas considera- físicas, indicadores quantitativos para ções que dizem respeito às "possibilidades mensuração da modificação da situação e limitações da eventual aplicação da PBL proposta pelo programa e fontes de finan- nas nossas Forças Armadas, em particular ciamentos; e por parte da Marinha do Brasil". – adoção de um modelo moderno de A estratégia do "baseado no desempe- gerenciamento, baseado nos princípios nho" requer bom acompanhamento dos da gestão empreendedora, que privilegia gastos: estimativas bem feitas e verificação a obtenção de resultados.14 se o custo final coincide com a estimativa, a fim de identificar as razões dos desvios e Existem outros mecanismos de contro- corrigi-los. Assim também é necessária a le, e instituições dedicadas a esses temas, existência de procedimentos formais para mas que frequentemente atuam de modo formular boas estimativas; de procedimen- inadequado, quando já ocorreram atos que tos formais para verificar a viabilidade agridem a lisura da gestão. Existem leis, econômica17 dos programas e decidir se regulamentos e instituições, mas que não devem ou não prosseguir18; e de procedi- bastam para coibir os desperdícios, desvios mentos formais para qualificar e quantifi- de conduta, abusos e corrupção15; enfim, car requisitos de desempenho (necessário uma série de delitos que comprometem a estabelecer uma métrica adequada). responsabilidade fiscal nos gastos públicos Sendo as Forças Armadas órgãos go- e sua eficácia. A falta de controle adequa- vernamentais e existindo no ambiente go- do, preventivo e proativo, talvez seja uma vernamental uma estratégia estabelecida das principais causas da nossa ineficiente para executar gastos públicos com eficiên- administração pública. cia, embora ineficaz (na opinião pública, Desse modo, é nossa opinião de que até existe a percepção de que esses gastos, uma análise da possibilidade de adotarmos fundamentados numa real necessidade, um política nos moldes do que propõe são usados para abrir frentes de desvios, a PBL deve ser feita considerando esse abusos, desperdícios e corrupção pelos ambiente observado. diferentes atores do poder público), elas Voltemos, então, ao tema em questão, têm que praticar uma gestão mais zelosa como abordado no artigo do Capitão de e cautelosa, a fim de evitar situações que Fragata Marcos Valle Machado da Silva16. podem se tornar embaraçosas. Apesar de considerarmos não serem ne- Embora consideremos inviável as cessários maiores esclarecimentos sobre Forças Armadas como um todo (e isola-

14 O Decreto 2.829 de 28 de outubro de 1998, A Gestão Estratégica (BRASIL, 2009) e o pregão, uma mo- dalidade de licitação (BRASIL, 2000), são algumas iniciativas que contribuíram para a economia, entre outras características da gestão pública. 15 Lembremos do final do governo passado (2018), com as mais 7 mil obras paradas por todo o Brasil, a cor- rupção desenfreada que assolou o País (no Indice de Percepção de Corrupção, a posição do Brasil, que era 98a em 2017, caiu para a 105a em 2018), os incontáveis desvios de verbas e os grandes desperdícios de alimentos, entre tantas outras mazelas que nos afligem. 16 Revista Marítima Brasileira, 1o trim./2017, p.158-172. 17 O Centro de Análises de Sistemas Navais (Casnav) já criou o Núcleo de Estudos de Viabilidade de Projetos. 18 Teria sido a baixa do São Paulo fruto de uma Business Case Analysis, tendo em vista a nota anterior? (BRIGIDO BITENCOURT, 2000).

42 RMB1oT/2019 LOGÍSTICA BASEADA NO DESEMPENHO – Conceito de difícil aplicação nas nossas Forças Armadas damente) aplicarem tal estratégia logística (2005), a Agenda para a Modernização no momento, relembremos algumas das e Melhoria da Gestão Pública (2011) e o iniciativas de aprimoramento da gestão Modelo de Excelência em Gestão Pública pública e das gestões militares que con- (2014), entre outras, orientam essa ativi- tribuíram e ainda contribuem, em parte, dade no âmbito da Administração Federal. para tal possibilidade. Também em nível setorial, o Minis- Em nível federal, as medidas de tério da Defesa aderiu ao Programa da aperfeiçoamento tomaram corpo e foram Gespública, elaborou e disseminou o sistematizadas com maior racionalidade “Manual de Orientação sobre Planeja- a partir da Reforma do Aparelho do Es- mento Estratégico”, e elaborou seu Plano tado (1994/95). Esse talvez tenha sido o Estratégico, nivelando procedimentos a primeiro grande passo do governo para serem seguidos pelas Forças Singulares, reengenheirar a logística e começar a num conjunto de medidas que visam ao contratar com base em desempenho. Pes- aprimoramento da gestão militar. quisamos superficialmente a continuidade Ainda nesse contexto, lembremos a das ações de governo nesse sentido, e os preocupação há muito presente no pla- resultados obtidos demonstraram alguma nejamento militar, qual seja de alinha- economia de recursos. mento ao planejamento governamental Ao longo dos anos seguintes, várias e à sistemática do orçamento. Conforme foram as medidas tomadas visando ao nos lembra o Comandante da Marinha em aperfeiçoamento da gestão pública, e recente declaração: "Há muito as Forças na primeira década deste século foram Armadas contribuem para o equilíbrio do elencadas pelo consultor contratado pelo Orçamento". Ministério do Planejamento, Orçamento Em nível subsetorial (Forças Singula- e Gestão, conforme já citado (MARINI, res), mencionamos a criação do Sistema 2009). Outras medidas se seguiram. do Plano Diretor na Marinha, em 1963, Em 2005 foi lançado o Programa Na- que é um marco notável no aprimoramen- cional de Gestão Pública e Desburocrati- to da gestão pública, alinhando o seu pla- zação (Gespública), visando à excelência nejamento à sistemática do planejamento da gestão. Contudo, esse Programa foi re- governamental e à do orçamento20. vogado a partir da publicação do Decreto Recordemos igualmente que a Marinha, 9.094/2017 (BRASIL, 2017). impulsionada pela necessidade de aspectos Com o propósito de melhorar a gestão gerenciais na sua gestão, valeu-se muito pública, o Governo Federal, por inter- oportunamente da Reforma do Aparelho médio da Secretaria de Gestão Pública do Estado formalizada no Brasil a partir (Segep), subordinada ao Ministério de 1995, buscando melhores condições do Planejamento, Orçamento e Gestão de administração do que as do modelo de (MPOG)19, vem promovendo a excelência gestão burocrático, permitindo-lhe usar na gestão pública. os conceitos subjacentes aos contratos de Iniciativas como o Programa Nacional gestão, e criou as Organizações Militares de Gestão Pública e Desburocratização Prestadoras de Serviços (OMPS). Estas

19 N.R.: Atualmente Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão. 20 SANTOS COUTO. Agostinho. Sistema do Plano Diretor e o aprestamento operacional.RMB 2oT/99. pg. 139 a 142.

RMB1oT/2019 43 LOGÍSTICA BASEADA NO DESEMPENHO – Conceito de difícil aplicação nas nossas Forças Armadas foram instaladas a partir de 1994, com a era praticada mesmo antes da orientação finalidade de (BRASIL, 2001): e supervisão do Ministério da Defesa. Lembremos que a Marinha deu prosse- " – conhecimento dos gastos efeti- guimento à implantação das OMPS. A vos de operação dessas Organizações, limitação dessas ações é que nem toda separados em custos de produção/ a administração naval dela se valeu de prestação de serviços e gastos inerentes imediato (o Casnav veio a ser considerado às atividades administrativas; e OMPS em 1997, por exemplo), e as que – gerência dos ativos, isto é, do- não o fizeram continuaram engessadas nas mínio perfeito das disponibilidades limitações dos orçamentos, impositivos financeiras, conhecimento dos fatu- em sua natureza. ramentos efetuados e da imobilização A legislação referente às obtenções de dos estoques". produtos (materiais e serviços) continuou engessada na Lei de Licitações, que talvez O propósito foi flexibilizar a gestão dos só permitisse flexibilização desse tipo de seus recursos na obtenção de serviços, na contrato com muita dificuldade e, mesmo gestão de pessoal e na gestão do material, que assim pudesse ocorrer, os tipos de entre outras. contrato talvez não permitissem a flexi- Aliás, conforme já mencionamos, o bilidade que os americanos permitem. A alinhamento com o planejamento go- inflação alta (seus índices, mesmo de um vernamental e o orçamento foi uma das dígito e sob controle, no Brasil sempre primeiras preocupações de todas as Forças foram bem maiores que nos EUA) cons- Armadas. Combinado com as técnicas do tituiu-se, normalmente, em fator negativo Planejamento Estratégico, isso resultou para permitir estratégia do tipo da PBL. que, em recente levantamento do Tribunal Os baixos recursos orçamentários de Contas da União (TCU), o Comando alocados às Forças Armadas foram (e da Aeronáutica tenha sido classificado ainda são) fatores de degradação da entre os melhores órgãos públicos na eficiência dos gastos militares, uma governança e gestão de pessoas durante vez que normalmente não contemplam o ano de 2013. O relatório avaliou 305 programas vultosos e plurianuais de organizações da Administração Pública obtenção dos produtos militares. Assim, Federal, entre órgãos e entidades do po- é uma consideração de importância, de der executivo, empresas públicas, Forças cunho negativo, a escala das obtenções. Armadas, Poder Judiciário, Legislativo e Enquanto as Marinhas de países como os Ministério Público da União. EUA estabelecem programas plurianuais O mesmo vem acontecendo no Exér- que abrangem vários navios a serem cito Brasileiro, que vem praticando um construídos ou modernizados (séries Modelo de Excelência na Gestão Pública com razoável número de unidades, uma (MEGP-EB) iniciado muito antes das vez que número pequeno tende a enca- medidas governamentais sistêmicas para recer os processos), na MB a obtenção é aprimoramento da gestão pública. episódica – poucas unidades, raramente A sistemática de Planejamento de um Programa de longo termo. Isso tende Alto Nível da Marinha (SPAN), com a a encarecer a unidade única que, muitas consequente elaboração do PEM, tam- vezes adquirida pronta, possa ser objeto bém é digna de nota. Essa sistemática já de PBL. Além do mais, o overhead de

44 RMB1oT/2019 LOGÍSTICA BASEADA NO DESEMPENHO – Conceito de difícil aplicação nas nossas Forças Armadas um programa como o do submarino temente, aos custos de desenvolvimento nuclear nacional é enorme. Sem follow elevados e imprevisíveis. on, os programas de obtenção tornam-se Por sua vez, a Lei de Licitações na- extremamente dispendiosos. Comparati- cional, apesar das alterações sofridas, vamente, tal obtenção poderá se tornar não provê para que sejam elaborados a mais cara do mundo, implicando in- contratos nos mesmos moldes que a clusive a possibilidade de abandono de legislação americana (tipos diferentes, e tecnologias emergentes para viabilizá-lo. que consideram incentivos, como acima Outro importante ponto a considerar, mencionado), o que não contribui para o segundo um Relatório setorial da Agência propósito da economia de recursos, por Brasileira de Desenvolvimento Industrial meio do estabelecimento de estratégia (ABDI) (BRASIL, 2010, p. 13), diz res- visando à economia. peito ao mercado de produtos de defesa. Quanto à capacidade da Marinha de Este apresenta diversas imperfeições do estabelecer boas estimativas, parece ponto de vista da estrutura de concorrên- muito limitada, se comparada ao que cia. Longe de ser uma concorrência perfei- faz o governo americano, que controla ta, é ao mesmo tempo monopólio/oligopó- o custo final e verifica se está de acordo lio e um monopsônio, visto que o Estado com a estimativa, que controla o custo dos é o único comprador dos equipamentos. processos passo a passo e, se for detectada De economia altamente regulada, opera qualquer tendência de apresentar desvios principalmente na forma de contratos do consideráveis, imediatamente os revê para tipo de repasse de custos (cost-plus)21 e de identificar as causas e corrigir. De fato, a preço fixo (fixed-price)22, parecendo não baixa escala de obtenções prejudica essa haver, na legislação nacional, margem capacidade da Marinha. Isso porque, sem para a flexibilização dos contratos por o histórico da obtenção do sistema ante- meio de incentivos. rior, como estimar o próximo a ser obtido? Uma alternativa para esses tipos de Identificamos algumas determinações contratos seria um tipo intermediário, do comando naval de proceder análises conhecido como contrato de incentivo de custo-benefício para justificar alguma (custos mais prêmio), como adotado na decisão do alto escalão naval (exemplos, organização americana. nas Orcom/2004 e outras), mas, quanto Vale notar que ambos os tipos de con- aos programas de obtenção de material tratos dependem da estimação correta dos militar das Forças Armadas, nada foi iden- custos, o que pode ser algo extremamente tificado, embora acreditemos que existam. complexo na atualidade, devido à revo- Em certas circunstâncias, como no lução tecnológica no setor e, consequen- caso da obtenção de oportunidade do

21 Contratos tipo repasse de custos são uma forma de evitar os lucros excessivos, mas abrem espaço para a maximização dos custos. Neste tipo de contrato, o governo tem o papel de um segurador completo, arcando com todo o risco, ou seja, com qualquer diferença entre o custo estimado e o custo realizado. Caso a firma seja avessa e o governo seja neutro ao risco, os contratos cost-plus representam ótima divisão dos riscos, ainda que ineficiente do ponto de vista de incentivos (Sandler e Hartley, 1995, p. 137,apud BRASIL, 2010). 22 Contratos de preço fixo são contratos em que o governo paga ao agente privado uma quantia fixa, e o agente arca com qualquer diferença entre o custo estimado e o custo realizado. Se o custo realizado for menor que o estimado, o agente aufere lucro econômico. Desta forma, este contrato é incentivo compatível, uma vez que ele induz a firma a operar eficientemente; porém, como os custos são de difícil estimação, pode gerar situações extremas, como o sobrelucro ou a falência. (Idem)

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Navio-Aeródromo São Paulo, e segundo aos sistemas de armas. Porém os resulta- artigo publicado na Revista Marítima dos alcançados não ficaram bem claros, Brasileira (BRIGIDO BITTENCOURT, tanto que somente sete anos depois que o 2000), não encontramos menção à análise DoD primeiro identificou a PBL como a de custo-benefício contrabalançando as estratégia preferida de obtenção do apoio razões estratégicas. Porém, se alguma aná- foi que o GAO cobrou metodologia para lise de custo-benefício ocorreu, qual teria avaliar os resultados (USA, 2008, p. 5). sido a metodologia usada para procedê-la? Algumas medidas como a possibili- Ou o critério estratégico tudo justificou? dade de assumir uma estratégia de gastos Por fim, há que se considerar que, como a PBL já aconteceram no âmbito por melhor e mais honesta que sejam as governamental, como por exemplo a téc- pretensões dos dirigentes militares, suas nica do pregão (BRASIL, 2000), assim ações muitas vezes não correspondem a como na Marinha do Brasil, pelo menos essa postura, pois há casos em que não atu- com a adoção da sistemática das OMPS, alizam a cultura nem praticam a pesquisa e a adoção do Planejamento Estratégico e a leitura com regularidade e não enco- como ferramenta da qualidade para o mendam estudos apropriados às diferentes aperfeiçoamento da gestão (SANTOS situações. Por exemplo, não identificamos DO COUTO, 1994), entre outras, mas documentos orientadores de como fazer que não são por si só, suficientes para uma boa análise de business case23, de vencer os diversos óbices que impedem a identificar a melhor postura ao contratar, adoção da estratégia logística em questão. de como economizar e assim por diante. Alguns desses óbices, de fato, estão fora De um modo geral, as Forças Ar- do controle dos serviços singulares. madas, como órgão da Administração Outras medidas, contudo, que já pode- Pública, deveriam ser avaliadas, para ver riam ter sido efetivadas no âmbito naval como estão sendo submetidas ao controle não resultaram em êxito, principalmente do Congresso, dos stakeholders, dos por falta de atualização de procedimen- Tribunais de Contas e de outros órgãos tos técnicos adequados. Um exemplo competentes para tal. Serão constatadas foi a determinação de implantação e economias? Tendo em vista o compor- implementação do Apoio Logístico In- tamento dos demais órgãos da Admi- tegrado (ALI) nos moldes do ILS, como nistração Pública, como se comporta determinado em orientação do Comando a Marinha nesse ambiente, tratando-se (Orcom), que foi conduzida para outro de otimização de gastos na obtenção de caminho, com relevante desperdício ativos de defesa? de recursos de várias naturezas. Muito embora não seja do escopo do presente CONSIDERAÇÕES FINAIS trabalho, deixamos aqui, de passagem, a sugestão de que as Orcom sejam atendi- O conceito da PBL foi uma iniciativa das na forma de projetos, e os resultados do DoD em reengenharia logística, exten- apresentados ao final a quem as determi- são de uma estratégia de gastos governa- nou, para a competente avaliação. mentais, por meio de um programa piloto A falta de um sistema formal de quali- com a meta de reduzir custos do apoio dade que contemple o desenvolvimento da

23 Conforme nota de rodapé 17, o Casnav já criou o Núcleo de Estudos de Viabilidade de Projetos.

46 RMB1oT/2019 LOGÍSTICA BASEADA NO DESEMPENHO – Conceito de difícil aplicação nas nossas Forças Armadas logística (criação do sistema de logística, ALGUNS ÓBICES À APLICAÇÃO subsistema do primeiro) contribui, com DA PBL NO ÂMBITO DO frequência, para que haja desperdícios MINISTÉRIO DA DEFESA de recursos na gestão técnica da Força. BRASILEIRO Parece ser o caso, por exemplo, das OMPS não acompanharem seus projetos por uma – Antes de ser estratégia do Ministé- ferramenta mais apropriada do tipo, por rio da Defesa, tal deve ser estratégia de exemplo, do Gerenciamento do Valor governo. Agregado (EVM)24. – A PBL só é viável quando aplicada Cabe ainda uma consideração que em programas de longo termo de duração parece ter extrema relevância no contexto (maior um ano); do aprimoramento das gestões militares, – Precisa haver razoável escala de se adaptada às nossas instituições, e que encomendas para ser viável (muito em- deve ser aprofundada. Segundo colabora- bora preconizada para qualquer tipo de ção da Rand Corporation (BLICKSTEIN, obtenção, a PBL só tem sentido quando 2016), os três sistemas principais que aplicada em programas de longa duração garantem a boa execução da gestão militar e elevado valor financeiro); são: o Sistema de Geração de Requisitos, – Insuficiência de legislação que favo- o Sistema de Obtenção e o Sistema de reça e que considere tipos de contrato que Orçamento (p. 23). permitam usar a técnica de incentivos. A visão das Forças Singulares nacio- – As naturais deficiências do mer- nais no passado, provendo seus plane- cado de produtos de defesa e a falta de jamentos para o alinhamento ao plane- flexibilização dos tipos de contrato, por jamento governamental e orçamentário, deficiência da legislação. parece atender aos dois últimos sistemas, – Insuficiente capacidade da Defesa o de Obtenção e o de Orçamento. Mas, em praticar os menores preços com foco salvo estudo mais aprofundado, parece no máximo desempenho (no combatente) carecer, no Ministério da Defesa, a exis- e não somente buscar o menor preço ou tência de uma organização destinada a maximizar o desempenho. estabelecer os requisitos para os ativos – O sistema não ser capaz de produ- de defesa, que contemple a padronização zir boas estimativas e boas análises de e a interoperabilidade desejada (ver nota custo-benefício, não contar com razoável de rodapé 6). histórico de dados de obtenção e outros. As considerações sobre a evolução do – Vale notar que ambos os tipos de sistema de obtenção do DoD-EUA, na pri- contratos acima mencionados dependem meira parte desse texto, estão em sintonia da estimação correta dos custos, o que com o trabalho da Rand, demonstrando pode ser algo extremamente complexo a importância do sistema em questão nos dias de hoje, devido à revolução tec- naquele país. nológica no setor e, consequentemente,

24 O Gerenciamento do Valor Agregado (de Earned Value Management – EVM) é uma ferramenta de gerenciamento de programas que propaga verticalmente dados funcionais de custo, cronograma e escopo de trabalho, a fim de criar um quadro agregado de desempenho. Tal técnica de avaliação do andamento de projetos (EVM) provê um sistema de alerta antecipado para desvios do planejado e quantifica problemas técnicos em termos de custo e cronograma, fornecendo uma base objetiva sólida para considerar ações corretivas.

RMB1oT/2019 47 LOGÍSTICA BASEADA NO DESEMPENHO – Conceito de difícil aplicação nas nossas Forças Armadas aos custos de desenvolvimento elevados Code25 é quem orienta o estabelecimento e imprevisíveis; do orçamento e, assim, o Congresso tem – Não existir um bom sistema de poder de mudar estruturas e processos tan- controle e de apropriação de custos; os to do DoD como das Forças Singulares). custos dos ciclos de vida do material mi- – Ser frouxa a legislação para as Forças litar parecem não ser historicamente bem Armadas (no sentido de ter pouca partici- documentados etc. pação dos órgãos de controle). – Não existir capacidade de proceder a – Não existir um sistema de documen- análise de custo-benefício para justificar tação técnica e administrativa no âmbito programas de longo termo de duração ou, do Ministério da Defesa à altura das suas se houver, parece não ser rotina fazê-lo. necessidades e das Forças Armadas e – Não existir elementos que permi- compatíveis com suas atividades e das tam transformar desejos (necessidades demais Forças. dos clientes e dos contribuintes) em de- – Não acontecer participação proativa sempenhos quantificáveis (ser capaz de do Congresso, dos Tribunais de Conta, e quantificar desempenho e de estabelecer de demais atores, não só com o sentido bons requisitos). de patrocinar a lisura dos processos, mas – Não acontecerem as obtenções em também patrocinar a economia de gastos. ambiente governamental estável economi- Há vários outros óbices a serem levan- camente, no âmbito fiscal e financeiro, sem tados. A lista de óbices mencionados ape- corrupção, desvios, desperdícios, abusos, nas arranha a equação do problema, com crises frequentes (o que nem sempre é pos- vistas a aplicação de semelhante estratégia sível, pois isso foge ao controle setorial). logística no Brasil, mas indica, acima de – Não existir parque industrial de na- tudo, a necessidade de aprofundamento tureza privada ou governamental capaz de desses estudos. executar grandes programas; no caso da A conclusão a que chegamos ao final MB, não existir quantidade de estaleiros deste texto é pela impossibilidade, pelo capazes de executar grandes programas de menos na atualidade, de aplicação de modo competitivo e aceitável – a compe- estratégia semelhante à Logística Basea- tição é fundamental. da no Desempenho nas Forças Armadas – Não existir um bom sistema de brasileiras, muito embora com a convic- controle, com a participação de vários ção de que, se isso fosse viável, muito órgãos de governo (lembrar que nos EUA contribuiria para o aperfeiçoamento de o Congresso é quem dá navios, o US 10 todas as instituições nacionais.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Logística; Poder Militar; Apoio Logístico;

25 US 10 Code: Title 10, United States Code Armed Forces – Publicação feita para uso do Commitee on Armed Services of the House of Representatives. É a lei orgânica que regula as Forças Armadas dos EUA e para a organização do Department of Defense e seus departamentos militares. Repositório de todas as leis em existência que são permanentes e de aplicação geral às Forças Armadas do país.

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50 RMB1oT/2019 COLAR DE PÉROLAS: a estratégia chinesa para dominar o Mar do Sul da China e a Região do Oceano Índico

REIS FRIEDE* Desembargador Federal

Região do Oceano Índico (ROI) e sumem uma condição estratégica, tanto A o Mar do Sul da China (MSC)1 se sob o olhar econômico quanto político, constituem em porções geográficas extre- pois agregam-se àqueles fatores também mamente importantes sob o prisma geo- (e, em contraposição crítica) a impor- político, uma vez que estas são áreas que tância do petróleo para o provimento compreendem, com ênfase na primeira, a energético, sobretudo para a atividade via principal de acesso aos países que, na industrial chinesa; a necessidade dos atualidade, são os maiores produtores de Estados Unidos da América (EUA) petróleo e gás natural do mundo. (sob sua ótica) de continuar ostentando No século XXI já não se lutará só sobre sua hegemonia mundial; e, por fim, a o mar, mas também pelo mar. (HAROLD emergência de novas potências como a J. KEARSLEY; Maritime Power and the China2, no contexto mundial, e a Índia, Twenty-First Century, Aldershot, Dart- no espectro regional. mouth Publishing Company, 1992) Ativos intrínsecos aos espaços ma- Nesse contexto, tanto o Mar do Sul rítimos podem polarizar perigosamente da China (local de passagem de 30% do interesses de atores internacionais se tráfego marítimo internacional e onde não houver esforço dissuasório defen- se encontram grandes e potencialmente sivo e trabalho adequado no âmbito da exploráveis reservas de petróleo e gás política externa. (LUCIANO PONCE natural, comparáveis às da Venezuela) CARVALHO JUDICE e CLEVELAND quanto a Região do Oceano Índico as- MAXIMINO JONES. “Clausewitz e a

* Presidente do Tribunal Regional Federal da 2a Região (biênio 2019/21), professor emérito da Escola de Co- mando e Estado-Maior do Exército e professor Honoris Causa da Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica. É autor do livro Ciência Política e Teoria Geral do Estado e colaborador frequente da RMB. COLAR DE PÉROLAS: a estratégia chinesa para dominar o Mar do Sul da China e a Região do Oceano Índico

Polarização Marítima no século XXI”, 2009, p. 127), “a Região do Oceano Índico Revista Marítima Brasileira, vol. 138, no tem sua importância estratégica baseada 04/06, abr./jun. 2018, p. 99) principalmente no seu posicionamento em Como é de amplo conhecimento, o relação às rotas comerciais”. Aproxima- acelerado crescimento econômico chinês damente 3.500 navios carregando 80% do vem consumindo imensas quantidades comércio do Oceano Índico transitam pe- de petróleo oriundo, sobretudo, do Golfo los estreitos de Málaca e Bab-el-Mandeb Pérsico e da África, orientando aquela e pelo Cabo da Boa Esperança, principal- nação quanto à elevada necessidade de mente para as potências extrarregionais. construir uma força militar, principal- Estas embarcações estão carregadas com mente marítima, capaz de dominar tanto suprimentos vitais de petróleo e materiais o MSC – com sua correspondente e futura estratégicos e, assim, são objeto de sérias possibilidade de exploração de petróleo preocupações para as potências interessa- em plataformas marítimas – como a ROI, das. Mesmo atualmente, 90% do comércio garantindo, através de ambas, o tráfego global e 65% de toda produção petrolífera de navios carregados de petróleo para são transportados pelo mar. abastecer as crescentes necessidades No mesmo sentido, e consoante en- energéticas direcionadas para o contínuo sinamento de ROBERT D. KAPLAN desenvolvimento chinês. (Foreign Affairs; 2009, p. 16), “cerca de O Colar de Pérolas (em inglês String 70% do total de tráfego de derivados de of Pearls), desse modo, é a designação petróleo passa pelo Oceano Índico, em seu nominativa que o Ocidente outorgou à percurso do Oriente Médio para o Oceano estratégia chinesa de cercar o MSC e a Pacífico. Enquanto tais produtos trafegam ROI, por meio da construção de diversas por esta rota, eles passam pelas principais bases navais – inclusive em ilhas artificiais linhas mundiais de transporte marítimo de –, ampliando, desta forma, a presença da óleo e alguns dos principais pontos focais China nestas regiões, com o propósito de do comércio mundial: Bab-el-Mandeb e alcançar (em um futuro próximo) uma po- os estreitos de Hormuz e Málaca. Apro- sição estratégica privilegiada em toda esta ximadamente 40% dos negócios mundiais porção marítima e territorial do planeta. passam pelo Estreito de Málaca; enquanto A construção desse “Colar”, em mui- 40% de todo o petróleo bruto passam pelo tos aspectos, redefine o jogo de poder na Estreito de Hormuz”. região, posto que o aumento da presença Vale registrar que esse processo – ini- chinesa contrasta com a permanência cialmente silencioso – remonta ao início (histórica) do poderio militar naval e do século XXI, mas se tornou público par- aeroespacial norte-americano e com a ticularmente após a chegada ao poder de Xi ascensão militar da Índia – esta última Jinping (2012), quando a China começou a aproximando-se diplomaticamente dos traçar (de forma efetiva e contundente) um EUA, especificamente para contrabalan- audacioso plano estratégico que tem por cear a crescente militarização do Oceano propósito ampliar a sua influência mundial, Índico promovida pela China. utilizando para tanto uma gradual e osten- Segundo lições de Deepak Kumar siva presença no Mar do Sul da China e (“A Competição no Oceano Índico à Luz também na Região do Oceano Índico. do Emergente Triângulo Estratégico”. Os crescentes interesse e influência Revista da Escola de Guerra Naval, RJ; chineses, desde o Mar da China Meri-

52 RMB1oT/2019 COLAR DE PÉROLAS: a estratégia chinesa para dominar o Mar do Sul da China e a Região do Oceano Índico dional até o Oceano Índico e o Golfo do Colar de Pérolas. Então, percebe-se da Arábia, podem ser descritos como que essa política está relacionada com a semelhantes a um Colar de Pérolas. Cada principal Estratégia Nacional da China. pérola, no seu respectivo cordão, é um A China também possui uma ambiciosa nexo da influência geopolítica chinesa proposta, orçada em 20 bilhões de dólares, ou da sua presença militar. As pérolas para a construção de um canal através do importantes são: Ilhas Hainã, com instala- istmo tailandês de Kra, o que permitiria ções militares recentemente aprimoradas; a seus navios um caminho alternativo ao Ilhas Woody, localizadas no Arquipélago Estreito de Málaca e ligaria o Oceano Paracel, a cerca de 300 milhas náuticas a Índico à costa pacífica da China – um leste do Vietnã; porto de Chittagong, em projeto no nível de importância do Canal Bangladesh; o porto de águas profundas do Panamá, e que futuramente pode fazer em Sittwe, Mianmar; e o porto de Gwadar, com que a balança de poder na Ásia penda no Paquistão, que é estrategicamente loca- a favor da China, dando à sua Marinha e lizado nas proximidades do Golfo Pérsico. à sua frota mercante um acesso fácil para (CHRISTOPHER J. PEHRSON; String um vasto e contínuo oceano, expandindo as of Pearls: Meeting ligações marítimas the Challenge of do leste da África ao China’s Rising Po- Projetos de construção de Japão e à península wer, 2006, p. 3) coreana. (ROBERT Desta feita, em portos e campos de pouso, D. KAPLAN; Po- 2013, de forma dis- relações diplomáticas wer Plays in the In- creta (e dissimu- sensíveis e a modernização dian Ocean, Foreign lada), os chineses Affairs, Washington, iniciaram a projeção da força naval formam 2009, p. 22) global de seu poder a essência do Colar de Além disso, a nacional (militar, forte presença da econômico, político Pérolas chinês poderosa Marinha e psicossocial/cul- americana (USN – tural) por meio, entre outras iniciativas, United States Navy) no Oceano Índico da militarização do Mar do Sul da China, constitui, sob a ótica chinesa, uma particularmente pela inusitada estratégia constante ameaça, dado que eventuais de construir ilhas artificiais em uma região bloqueios à frota de navios comerciais que extremamente sensível, na qual circulam transportam recursos naturais para a China cerca de 30% de todo comércio marítimo poderiam acarretar grandes transtornos internacional e que encontra-se provida de para a economia desse país. Assim, esta grandes reservas de petróleo e gás natural. estratégia do Colar de Pérolas, para além Projetos de construção de portos e do propósito de assegurar o transporte campos de pouso, relações diplomáticas marítimo de insumos à economia chinesa, sensíveis (e muitas vezes veladas) e a perpassa também pela ampliação do leque modernização da força naval formam a de opções ao translado, via oceano, com a essência do Colar de Pérolas chinês. A construção de oleodutos e vias de acesso segurança de matérias-primas e energia, a portos de outros países. de modo a dar suporte à política energética Destarte, a China passou, mediante esse da China, é a principal motivação por trás singular expediente, a reivindicar – sem

RMB1oT/2019 53 COLAR DE PÉROLAS: a estratégia chinesa para dominar o Mar do Sul da China e a Região do Oceano Índico qualquer fundamento legal e ignorando cançando, então, posição de alto destaque solenemente todas as críticas e mesmo no cenário político e militar mundial. Em condenações nos tribunais internacionais3 natural reação, contudo, potências como a – áreas a aproximadamente 2 mil quilô- Austrália, o Japão, a Coreia do Sul, a Índia metros de distância de sua costa, mas, em (acuada pela presença chinesa em torno de contrapartida, a apenas poucos quilômetros toda sua costa) e Singapura e países com dos territórios do Vietnã, das Filipinas e da menor grau de desenvolvimento, como a Malásia, e, a partir do estabelecimento (efe- Indonésia e o Vietnã, vêm formando uma tivo) destas bases militares na região, a dar aliança (ainda informal), em conjunto início a um processo de ostensiva conquista com os EUA, contra a presença chinesa do Oceano Índico, atravessando o Estreito no Oceano Índico – e também no Mar do de Málaca e o Istmo de Kra, passando tam- Sul da China –, tornando estas regiões bém, por meio de uma presença econômica um novo ponto de tensão geopolítica e massiva, com a construção de oleodutos, possível cenário para o início (ainda que ferrovias e rodovias, pela Tailândia. embrionário) de uma segunda Guerra Fria. Uma vez estabe- Sob esse aspecto, lecida no Oceano é possível deduzir Índico, a China ini- Replica-se, em certa que a presente am- ciou e conduziu a pliação da inferência construção de um medida, um cenário chinesa replica, em porto marítimo de geopolítico semelhante ao grande medida, o ex- grande porte ao lado da Guerra Fria, ainda que pansionismo sovié- de um gigantesco tico dos tempos da terminal petrolífero desprovido do nítido viés de Guerra Fria, o que, em Mianmar e no confrontação ideológica historicamente, so- vizinho deste, Ban- mente foi contido, no gladesh, ampliando, que se constituiu na tônica contexto continental ainda, as instalações do passado da Europa, com a de um porto e de um criação da Organi- aeroporto civil e mi- zação do Tratado do litar, cercando geopoliticamente, por con- Atlântico Norte (Otan), em 1949, e com a sequência, sua arquirrival, a Índia. Acabou correspondente e forte determinação militar também concebendo instalações no Sri dos EUA, por meio do estabelecimento (e Lanka, nas Maldivas e no Paquistão, onde da manutenção) de tropas e equipamentos os chineses estão construindo uma ligação na região. Vale mencionar que a política por ferrovias e rodovias entre a sua fronteira chinesa de ascensão pacífica (de natureza e o porto de Gwadar. E, por fim, estendeu passiva e não confrontativa), inaugurada sua presença ao nordeste da África, no Dji- por Deng Xiaoping no final dos anos 1970, bouti, no qual implantou uma base militar, e foi substituída, em sua essência, pelo atual no Sudão, no qual ampliou um porto (neste mandatário, que traçou uma nova estratégia país) na fronteira com a Somália. de ascensão pacífica, porém com nítida (e Essas são as chamadas “pérolas” que diferenciada) feição ativa e confrontativa, formam o “colar” chinês no Oceano Índico retornando, em alguma medida, à concep- e por meio das quais a China ambiciona ção estratégica de Mao Tsé-Tung (1949- ter uma presença cada vez mais intensa, al- 78), ainda que sem o viés bélico (ativo)

54 RMB1oT/2019 COLAR DE PÉROLAS: a estratégia chinesa para dominar o Mar do Sul da China e a Região do Oceano Índico que perdurou durante a maior parte de seu liderada pelos EUA, com a necessária governo e que conduziu às guerras da Co- participação do Japão, da Coreia do Sul, reia (1950-53) e do Vietnã (1964-75) e aos da Austrália, da Nova Zelândia, das Filipi- diversos confrontos no Estreito de Taiwan. nas, de Singapura, da Tailândia e da Índia, Nesse contexto analítico, é cediço con- incluindo, ainda, eventuais ex-adversários cluir que, assim como no passado, as novas norte-americanos, como o Vietnã. ameaças, produzidas pelas aspirações glo- Replica-se, dessa feita, em certa me- bais chinesas, somente poderão ser efetiva- dida, um cenário geopolítico semelhante mente contidas, no contexto da denominada ao que originou a Guerra Fria em 1947, deterrência estratégica, por meio da criação com o expansionismo soviético, ainda de uma nova (e inédita) aliança formal de que desprovido do nítido viés de con- segurança e cooperação (por um modelo frontação ideológica que se constituiu na arquitetônico semelhante ao pacto da Otan), tônica do passado.

NOTAS COMPLEMENTARES:

1. Mar da China Meridional, Mar do Sul da China e Sul do Mar da China

O Estudo científico dos mares e oceanos consagrou nomenclaturas técnicas e espe- cíficas para cada porção marítima do planeta, estabelecendo a expressão “Mar da China Meridional” para o mar que banha o sul da China, assim como “Mar da China Oriental” para o mar que banha o leste da China. Todavia, diversos autores – muitas vezes mais preocupados com as questões geopolíticas do que propriamente com a correta nomenclatura geográfico-oceânica – têm utilizado, substitutivamente, a expressão “Mar do Sul da China”, ou mesmo, excepcionalmente, “Sul do Mar da China” para traduzir a parcela oceânica descrita tradicionalmente nas cartas náuticas como “Mar da China Meridional”. “Ao desenvolver o conceito de ‘Combate em Múltiplos Domínios’, o Exército dos EUA busca trilhar o caminho aberto pelos formuladores da Doutrina de Combate Ar-Terra. Deseja evitar passar por uma lição sangrenta e traumática como a vivida pelas AEF (American Expeditionary Force); em 1918. O Combate em Múltiplos Domínios é um conceito movido por uma escolha proativa, que leva em consideração a ameaça de insucesso. É uma evolu- ção do conceito operativo do Exército dos EUA, detalhando uma resposta às observações estadunidenses sobre os acontecimentos no Mar do Sul da China, a Guerra de Nova Geração da Rússia e os desafios em curso no Oriente Médio.” (DAVID G. PERKINS. “Combate em Múltiplos Domínios”, Military Review, 1o trim./2018, p. 6-8) “Um programa de modernização centrado em forças navais e mísseis mudou o equilíbrio de poder no Pacífico de um modo que os EUA e seus aliados estão apenas começando a digerir. Se por um lado a China se arrasta para projetar seu poder de fogo em uma escala global, por outro agora o país pode desafiar a supremacia americana nos lugares que mais lhe importa: as águas no entorno de Taiwan e no disputado Mar do Sul da China (...)” (STEVEN LEE MYERS. “Batalha Naval: China desafia poder dos EUA no Pacífico”,O Globo, 30/8/2018, p. 21) Nesse sentido, vale registrar as considerações do analista em geopolítica Konstantin Sokolov, que, comentando as palavras do Presidente Xi Jinping, em entrevista à Sputnik China, afirmou

RMB1oT/2019 55 COLAR DE PÉROLAS: a estratégia chinesa para dominar o Mar do Sul da China e a Região do Oceano Índico que “(...) os EUA conduzem uma política abertamente provocadora nesta região (Mar da China Meridional) (...) Xi Jinping deixou claro que nenhuma provocação dos Estados Unidos terá efeito sobre a China; em particular, os patrulhamentos marítimos e aéreos norte-americanos nas águas próximas da China, especificamente no Mar do Sul da China.” (“China encerra questão do Mar do Sul da China com os EUA”, Sputnik China, 28/6/2018). A última expressão (Sul do Mar da China), considerada pouco técnica, na medida em que inexiste propriamente um mar territorial chinês transcendente às 12 milhas náuticas de sua costa litorânea, vem sendo, todavia, cada vez mais utilizada, especificamente por alguns analistas, com fundamento em pronunciamentos de autoridades chinesas que, contrariando os tratados internacionais, insistem em afirmar pela efetiva existência de um Mar da China, consagrando, por conseguinte, a expressão “Sul do Mar da China” para designar a área marítima historicamente denominada de “Mar da China Meridional”. Oportuno registrar, em necessária adição, que a expressão “Sul do Mar da China” também tem sido empregada para designar a parte sul do Mar da China Meridional, onde, por exemplo, Brunei reclama, especificamente, quanto à existência de uma zona (própria) de exploração econômica exclusiva. Vale por fim esclarecer que a própria expressão “Mar da China Meridional” é contestada por diversos países, especialmente as Filipinas, que levantam objeções a esta nomenclatura com o argumento que ela implica, indiretamente, o reconhecimento de uma suposta soberania chinesa sobre esta porção marítima que é compartilhada por diversas nações.

2. A Metamorfose da China em Potência Global

Segundo lições de Philip P. Pan (“A Metamorfose da China em Potência Global”, O Globo, 20/11/2018, p. 20), “em 1984, logo após a morte de Mao Tsé-Tung, um grupo de estudantes de economia se reuniu num refúgio nas montanhas nos arredores de Xangai para debater uma questão premente: como a China poderia alcançar o Ocidente? O país se recuperava de décadas de turbulência. Progressos no campo já tinham acontecido, porém mais de 75% da população vivia em extrema pobreza. O Estado decidia onde cada pessoa trabalhava, o que cada fábrica produzia e quanto custava cada item. Os estudantes queriam liberar o mercado, mas temiam que isso fosse derrubar a economia e inquietar os burocratas do partido. Por fim, chegaram a um consenso: as fábricas deveriam cum- prir as cotas estatais, mas poderiam vender qualquer artigo adicional que produzissem, ao preço que escolhessem. Foi uma proposta inteligente, discreta e radical para atenuar a planificação. A economia chinesa cresceu tanto que é fácil esquecer como a metamorfose do país em uma potência era improvável e o quanto sua ascensão foi improvisada e veio do de- sespero. A proposta que saiu das montanhas, logo adotada como política de governo, foi um primeiro passo crucial. A China agora lidera o mundo em índices como número de proprietários de casas, usuários de internet e universitários, entre outros indicadores. A pobreza extrema caiu para menos de 1% da população. Um lugar estagnado e empobrecido tornou-se o maior rival dos Estados Unidos desde o fim da União Soviética. Agora, um desafio histórico tem lugar. O Presidente Xi Jinping promove uma agenda externa mais assertiva, enquanto endurece em casa. Com o Governo Donald Trump tendo lançado uma guerra comercial contra a China, em Pequim, a questão não é mais como alcançar o Ocidente, mas como avançar, em uma era de hostilidade com os EUA.

56 RMB1oT/2019 COLAR DE PÉROLAS: a estratégia chinesa para dominar o Mar do Sul da China e a Região do Oceano Índico

O padrão é recorrente: um poder em ascensão desafia oestabelecido . Uma complicação também é familiar: por décadas, os EUA encorajaram a ascensão da China, construindo a parceria econômica mais importante do mundo. No período, os EUA presumiram que a China um dia cederia às supostas regras de modernização e que a prosperidade alimentaria pedidos por liberdade e democratizaria o país. Ou então que a economia naufragaria, sob o peso da burocracia. Mas nada disso aconteceu. Os líderes chineses abraçaram o capitalismo, mas continuam a se chamar de marxistas. Recorreram à repressão para manter o poder, mas sem sufocar o empreendedorismo. E tiveram mais de 40 anos de crescimento contínuo, com políticas pouco ortodoxas. Em setembro de 2018, a China celebrou 69 anos de governo comunista, superando a União Soviética. A economia do país caminha para, cada vez mais, rivalizar com a esta- dunidense. Os comunistas chineses estudaram com afinco os erros soviéticos. Concluíram que abraçariam “reformas” para sobreviver, mas que isso não incluiria a democratização. A China oscilou desde então entre a abertura e a contenção, entre experimentar a mudança e resistir a ela. Muitos disseram que o partido fracassaria. Mas pode ser por isso mesmo que o país decolou. Os burocratas que eram obstáculos ao crescimento tornaram-se motores dele. Funcionários dedicados ao comunismo começaram a buscar investimentos. Foi uma notável reinvenção. O partido deixou a economia planificada intacta, mas também viabilizou, em paralelo, uma economia de mercado. Permitiu, por exemplo, que os agricultores vendessem as próprias colheitas, mas manteve a propriedade estatal da terra. Suspendeu restrições a investimentos em “zonas econômicas especiais”, mas as preservou no resto do país. Introduziu a privatização, vendendo no começo apenas participações minoritárias em empresas estatais. O longo boom econômico do país seguiu o excesso autocrático da Revolução Cultu- ral, que dizimou o aparato do partido. O sucessor de Mao, Deng Xiaoping, guiou o país em uma direção radicalmente mais aberta. Mandou jovens autoridades chinesas para o Ocidente para estudar como as economias modernas funcionavam. Investiu em educação, expandiu o acesso a escolas e universidades e quase eliminou o analfabetismo. A China agora produz mais graduados em ciência e engenharia por ano do que os Estados Unidos, o Japão, a Coreia do Sul e Taiwan juntos. Outra explicação para as transformações está em mudanças burocráticas. Analistas às vezes dizem que a China abraçou a reforma econômica e resistiu à política, mas o partido fez mudanças após a morte de Mao, que não foram profundas a ponto de gerarem eleições livres, mas ainda assim significativas. Introduziu limites de mandato e idades de aposenta- doria compulsória, o que facilitou a expulsão de funcionários incompetentes. E reformulou os boletins usados para avaliar os líderes locais, concentrando-se quase exclusivamente em metas econômicas concretas. Os ajustes tiveram impacto tremendo, injetando uma dose de prestação de contas e de competição no sistema político. A China criou um híbrido único, uma autocracia com características democráticas; disse Yuen Yuen Ang, cientista política da Universidade de Michigan. Em dezembro de 2018, o Partido Comunista celebrou o 40o aniversário das políticas de “reforma e abertura” que transformaram a China. A propaganda triunfal começou, com Xi Jinping à frente. Ele é o líder mais poderoso do partido desde Deng Xiaoping. Eles se diferenciam de uma maneira importante: Deng encorajou o partido a buscar ajuda e ex- periência no exterior, mas Xi prega a autossuficiência e alerta para as “forças estrangeiras hostis”. Importa-se menos com a “abertura”.

RMB1oT/2019 57 COLAR DE PÉROLAS: a estratégia chinesa para dominar o Mar do Sul da China e a Região do Oceano Índico

Dos muitos riscos que o partido assumiu na busca pelo crescimento, talvez o maior tenha sido permitir investimentos, comércio e ideias estrangeiros. Foi uma aposta excepcional, de um país antes tão isolado quanto a Coreia do Norte, Recompensou: a China aproveitou a onda da globalização e emergiu na fábrica global. A adoção da internet ajudou o país a se tornar líder em tecnologia. E a ajuda externa ajudou a China a reformar seus bancos, a construir um sistema jurídico e a criar corporações modernas. O partido prefere hoje uma narrativa diferente, apresentando o boom como “algo que cresceu a partir do solo chinês”. Mas isso obscurece uma grande ironia, qual seja a de que os antigos inimigos de Pequim ajudaram o país a ser o que é hoje. Os Estados Unidos e o Japão, ambos rotineiramente difamados por dirigentes do partido, tornaram-se importantes parceiros comer- ciais e foram importantes fontes de ajuda, de investimento e de expertise.” (PHILIP P. PAN; “A Metamorfose da China em Potência Global”, O Globo, 20/11/2018, p. 20)

3. As contradições da política norte-americana em relação aos desafios geopolíticos chineses e russos

A reanexação do território da Crimeia, outrora pertencente à Rússia e ‘doado’ à Ucrânia pelo líder soviético Nikita Kruschev em 1954, e o desafio chinês concernente à construção de ilhas artificiais, anexando (direta e ostensivamente) faixas territoriais em plenas águas internacionais1, continuam sem qualquer resposta efetiva por parte do Ocidente, não obs- tante as duras sanções econômicas implementadas contra a Rússia em 2014. O Ocidente, a exemplo de episódios semelhantes durante a Guerra Fria, aparentemente receia uma confrontação direta com Pequim, ainda que não com Moscou. A política externa norte-americana parece ainda não ter compreendido que o verdadeiro adversário dos sistemas democráticos ocidentais deixou há muito de ser representado pelo decadente Império Russo, passando a ser a ascendente candidata a superpotência (China), com sua política (pública) de obter a hegemonia global até 2050. Nesse sentido, os EUA não estão monitorando adequadamente o extraordinário cres- cimento militar chinês, inclusive com o desdobramento de mísseis intercontinentais com base em terra (ICBM) e em submarinos (SLBM), limitando suas atenções para a eventual prorrogação do “novo” Start (Strategic Arms Reduction Talks), assinado, em 2010, entre a Rússia e os EUA e que prevê a limitação do arsenal nuclear operacional dos dois países para o menor nível em décadas, desconsiderando, negligentemente, o crescente arsenal chinês e, em parte, os de outras nações como a Índia, que também passou a integrar o seleto clube das quatro únicas nações que têm ICBM – a Coreia do Norte ainda não possui um dispositivo verdadeiramente funcional desta magnitude, e o Reino Unido, a França, Israel e o Paquistão não contam, em seus arsenais, com este tipo de arma de longo alcance.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Estratégia; Poder Marítimo;

1 Incluindo zonas de exploração econômica exclusiva de outras nações, em afrontoso repto à soberania na- cional destes países de forma muito mais gravosa (posto que sem qualquer respaldo legal, histórico ou de qualquer outra natureza).

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Success is not final, failure is not fatal: it is the courage to continue that counts. (Winston Churchill)1

EDUARDO ITALO PESCE* Professor

SUMÁRIO

Introdução Embrião de uma Marinha oceânica Projetos estratégicos e recursos financeiros Programas prioritários Substituição do navio-aeródromo Uma solução de transição Estimativa do custo de obtenção Visão diacrônica da evolução dos meios Renovação da Esquadra Conclusão

INTRODUÇÃO da Estratégia Nacional de Defesa (END) e do Livro Branco de Defesa Nacional os dias 31 de outubro e 8 de novem- (LBDN), cujos textos foram submetidos Nbro de 2018, a Câmara dos Deputados pelo Presidente da República ao Con- votou o Projeto de Decreto Legislativo no gresso Nacional em março de 2017.2 O 847/2017, que aprova a revisão quadrienal projeto foi remetido ao Senado Federal da Política Nacional de Defesa (PND), em 9 de novembro de 2018, passando a

1 “O sucesso não é final, o fracasso não é fatal: é a coragem para continuar que conta” (tradução do autor). CHURCHILL, Winston L. S. Citações originais em Winston Churchill Quotes. Disponibilizadas em: . Acesso em 11 nov. 2018. * Especialista em Relações Internacionais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), mestre em Estudos Marítimos pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos Marítimos da Escola de Guerra Naval (PPGEM/EGN), professor aposentado do Centro de Produção da Uerj, colaborador permanente do Cen- tro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha do Brasil (Cepe/MB) e colaborador emérito da RMB. 2 BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Decreto Legislativo no 847/2017 – Ficha de tramitação e inteiro teor. Texto do documento disponível em: . Acesso em 13 nov. 2018. RENOVAÇÃO DO PODER NAVAL II – Uma abordagem incremental denominar-se Projeto de Decreto Legisla- elaborar documentos condicionantes de tivo no 137/2018. A matéria teria que ser alto nível se estes não se fizerem acom- aprovada em duas votações, no plenário do panhar por medidas concretas para a sua Senado. Concluído este processo em 13 de implementação plena. dezembro, foi promulgada pela Mesa do Especula-se até que ponto, sob o novo Senado no dia seguinte, por meio do De- governo, as perspectivas imediatas de creto Legislativo no 179/2018, publicado austeridade orçamentária influenciarão ne- no Diário Oficial da União (DOU) de 17 gativamente os projetos de reequipamento de dezembro de 20183. das Forças Armadas. A Marinha ocupa No aspecto geral, as novas versões dos posição particularmente vulnerável neste três principais documentos relacionados à contexto, sobretudo em razão dos custos Defesa Nacional são mais sintéticas e me- comparativamente elevados e dos prazos nos explícitas que as anteriores. Como nas mais longos de execução de seus programas outras, a terceira versão da END também de desenvolvimento ou obtenção de meios. associa desenvolvimento e Defesa, desta- Em novembro, circulou a notícia de que a cando a necessidade de obtenção de auto- Marinha do Brasil (MB) poderia reduzir a nomia tecnológica, com ênfase nos setores prioridade do Programa de Desenvolvimen- espacial, cibernético e nuclear4. Até o final to de Submarinos (Prosub) e do Programa de 2018, deveria estar concluída a revisão Nuclear da Marinha (PNM), em particular do Plano de Articulação e Equipamento quanto aos aspectos ligados ao projeto do da Marinha do Brasil (Paemb), visando a primeiro submarino de propulsão nuclear adequá-lo às prescrições da END 2016. Já brasileiro (SN-BR), a fim de possibilitar foi iniciada, com conclusão prevista para os investimentos na construção de quatro 2020, nova revisão da PND, da END e novas corvetas da classe Tamandaré, bem do LBDN5. Contudo, de pouco adiantará como de outros navios de superfície6.

3 BRASIL. Senado Federal. Projeto de Decreto Legislativo no 137/2018 – Ficha de tramitação e inteiro teor. Disponível em: . Acesso em 26 dez. 2018. Ver também: BRASIL. Senado Federal. Decreto Legislativo no 179/2018 – Aprova a Política Nacional de Defesa, a Estratégia Nacional de Defesa e o Livro Branco de Defesa Nacional, encaminhados ao Congresso Nacional pela Mensagem (CN) no 2 de 2017 (Mensagem no 616, de 18 de novembro de 2016, na origem). Brasília: Congresso Nacional, 14 dez. 2018. Disponível em: . Acesso em 26 dez. 2018. 4 BRASIL. Ministério da Defesa. Política Nacional de Defesa / Estratégia Nacional de Defesa / Livro Branco de Defesa Nacional – Minutas dos textos da revisão realizada em 2016, que foram encaminhados ao Congresso Nacional. Disponível em: . Acesso em 18 set. 2017. 5 PESCE, Eduardo Italo. “Renovação do Poder Naval: Projetar é preciso!” Revista Marítima Brasileira, Rio de Janeiro, v. 138, n. 10/12, p. 30-63, out./dez. 2018. 6 LOPES, Roberto. “Marinha desprioriza submarino nuclear para investir nos meios de superfície”. Poder Naval, 8 nov. 2018. Disponível em: . Acesso em 9 nov. 2018. Ver também: FUOCO, Taís. “Marinha concluirá licitação de US$ 1,6 bi em navios de guerra no 1T19”. Poder Naval, 13 nov. 2018. Disponível em: . Acesso em 13 nov. 2018. Ver ainda: LOPES, Roberto. “Marinha recebe no dia 8 de março as últimas propostas para as corvetas classe Tamandaré”. Poder Naval, 20 fev. 2019. Disponível em: . Acesso em 24 fev. 2019.

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Tais temores foram em parte diluídos forma sustentada, o esforço simultâneo de pelo amplo destaque conferido ao lança- renovação de seus meios e de desenvolvi- mento ao mar do Submarino Riachuelo mento do segmento naval da Base Indus- (S40), primeira unidade de uma classe de trial de Defesa (BID)? Podemos admitir, quatro submarinos com propulsão con- como pressuposto básico, que a resposta vencional.7 Em futuro breve, deve entrar a tal indagação seja afirmativa. Tal pres- em operação no Centro de Instrução e suposto será reforçado ou enfraquecido, Adestramento Nuclear de Aramar (Ciana), com base na análise da documentação e em Iperó (SP), o Laboratório de Geração da bibliografia disponíveis. de Energia (Labgene), que duplicará em terra as instalações do reator da praça de EMBRIÃO DE UMA MARINHA máquinas do futuro SN Álvaro Alberto OCEÂNICA (S10), primeiro submarino brasileiro de propulsão nuclear. Um simulador do O planejamento orçamentário da Labgene já está em funcionamento, no Marinha visa coordenar os esforços de Centro Tecnológico da Marinha em São aplicação de recursos para renovação do Paulo (CTMSP)8. No Natal de 2018, o Poder Naval, de acordo com perspectivas Almirante de Esquadra Alfredo Karam, de curto (na prática, até cinco anos), médio ministro da Marinha no período 1984-85, (cinco a 20 anos) e longo prazo (20 anos reafirmou a necessidade de tais meios, ou mais). Para designar tais perspectivas, defendendo que o Brasil tenha uma “Ma- são empregadas as denominações “Ma- rinha de dissuasão”9. rinha Atual”, “Marinha do Amanhã” e Dando sequência ao trabalho anterior10, “Marinha do Futuro”. O escalonamento este artigo procurará aprofundar – numa de prioridades de planejamento, dentro perspectiva diacrônica – a reflexão sobre a destes três horizontes temporais, é análogo viabilidade de uma abordagem incremen- às metodologias empregadas em outras tal para a política de obtenção de meios Marinhas (inclusive a dos Estados Unidos da MB, visando à progressiva ampliação da América – EUA)11. – por meio de sucessivas etapas – do Poder A imagem (conhecida como “Os Três Naval brasileiro. Em vista da escassez crô- Morrinhos”) mostra de forma ilustrativa nica de recursos financeiros, a questão que tal metodologia de planejamento, visando se impõe é: conseguirá a MB manter, de ao preparo do Poder Naval. As três curvas

7 LANÇAMENTO do Submarino Riachuelo – S40. Poder Naval, 14 dez. 2018. Disponível em: . Acesso em 17 dez. 2018. 8 PRIMEIRA operação da Sala de Controle do Labgene. Poder Naval, 11 nov. 2018. Disponível em: . Acesso em 22 nov. 2018. 9 KARAM diz a Mourão que o Brasil deve ter uma “Marinha de dissuasão”. Poder Naval, 25 dez. 2018. Disponível em: . Acesso em 26 dez. 2018. 10 PESCE. “Renovação do Poder Naval”. Op. cit. 11 PESCE, Eduardo Italo. “Cenários prospectivos: um vislumbre da Guerra Naval do futuro”. Revista da Escola de Guerra Naval, Rio de Janeiro, v. 19, n. 2, p. 435-449, jul./dez. 2013. Ver também: BRASIL. Secretaria-Geral da Marinha. SGM-101 – Normas para a Gestão do Sistema do Plano Diretor, 3a Revisão (Brasília, 2009), p. 41. Disponível em: . Acesso em 18 ago. 2013.

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por um custo de operação razoável, compatível com a realidade orçamentária vigente no País14. Contu- do, deveriam possuir “fol- ga de crescimento” sufi - ciente para permitir novos aperfeiçoamentos, a fi m de acompanhar a evolução tecnológica, procurando reduzir progressivamente a distância que nos separa da tecnologia “de ponta” empregada pelas princi- pais potências marítimas. Esta linha de raciocínio, no gráfi co mostram que os planejamentos aplicável aos navios de superfície, assim de curto, médio e longo prazo devem ser como aos submarinos, pode ser considera- superpostos e integrados, a fi m de assegurar da válida também em relação à aquisição a continuidade do processo. No curto prazo de meios aeronavais e de fuzileiros navais. (forças de hoje), a ênfase será no apresta- Numa perspectiva histórica, a baixa mento dos meios disponíveis ou em vias de prioridade conferida aos investimentos ser incorporados. No médio prazo (forças e gastos com a Defesa Nacional no do amanhã), será nos programas de de- Brasil15, em quase toda a sua vida de senvolvimento ou obtenção de meios. No nação independente, tem dificultado longo prazo (forças do futuro), deve ser em a promoção de seus interesses e a Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I)12. consecução de seus Objetivos Nacionais Cu mpre indagar como tal metodologia, Permanentes (ONP): democracia, paz prescrita no Plano Diretor da Marinha social, progresso, soberania, integração (PDM)13, po de ser compatibilizada com nacional e integridade do patrimônio uma abordagem incremental ao desen- nacional16. Ta l fenômeno, que afeta as três volvimento contínuo de programas de forças singulares, pode vir a comprometer desenvolvimento, visando ao projeto e a credibilidade das Forças Armadas como à construção local de navios de emprego instrumento de dissuasão convencional militar para a MB. Inicialmente, tais meios (não nuclear), na Defesa do Estado deveriam ser caracterizados pela simplici- brasileiro contra ameaças de origem dade, versatilidade e robustez, assim como predominantemente externa.

12 PESCE. “Cenários prospectivos”. Op. cit. 13 BRASIL. Secretaria-Geral da Marinha. Op. cit., p. 41. 14 PESCE. “Renovação do Poder Naval”. Op.cit. Ver também: PESCE. “Cenários prospectivos”. Op. cit. 15 GODOY, Roberto. “Gastos militares precisam de dinheiro e de padrinhos”. Defesanet, 12 jan. 2019. Disponível em: . Acesso em 13 jan. 2019. 16 OBJETIVOS Nacionais Permanentes e as bases da política nacional – Edesg/Cedeppe. Disponível em: . Acesso em 14 nov. 2018.

62 RMB1oT/2019 RENOVAÇÃO DO PODER NAVAL II – Uma abordagem incremental

Em razão do elevado custo em manter Naval brasileiro reforçam a necessidade um Poder Naval diversificado, adequado de possuirmos meios navais com capaci- às necessidades de um país com amplo dade oceânica17. acesso ao mar, a MB tem enfrentado Entre retrair-se e “mostrar a bandeira”, dificuldades crônicas para a obtenção a segunda alternativa é preferível, pois, dos recursos necessários ao seu funciona- em tempo de paz, quando o combate mento e à renovação de seus meios. Em real não ocorre, a capacidade oceânica épocas de orçamento curto, como a que dos meios e a capacidade de presença e estamos vivenciando, é comum emergi- permanência no mar das forças navais rem propostas mais ou menos explícitas de são mais importantes que o seu poder “encolhimento” do Poder Naval brasileiro de fogo18. Para justificar a ampliação da – seja pela obtenção de meios de segunda capacidade oceânica de uma Marinha, é mão, por “compra de oportunidade”, seja preciso que suas unidades – mesmo com pela opção por uma Marinha costeira, limitações – efetivamente operem no ex- integrada por pequenas unidades, sem terior, em defesa dos interesses nacionais. capacidade de atuar em áreas marítimas A MB – que já dispõe de certo número de distantes do litoral brasileiro. unidades com características de emprego De tempos em tempos, ressurge a tese oceânico – vem operando, com frequên- da “Marinha costeira”, supostamente cia cada vez maior, em áreas distantes como embrião de uma verdadeira Mari- do litoral brasileiro (no Atlântico Sul, no nha oceânica no futuro. Tal tese contraria Caribe e até no Mediterrâneo) e reúne as o pensamento estratégico de Armando condições necessárias para tornar-se uma Vidigal, assim como o de Paulo Lafayet- verdadeira Marinha oceânica em meados te Pinto. Com efeito, ambos os autores deste século – desde que, para isso, sejam destacam a relevância do emprego do disponibilizados os recursos técnicos, hu- Poder Naval em apoio à política externa manos e financeiros necessários19. do Estado. Mesmo dispondo de meios com características modestas, uma Ma- PROJETOS ESTRATÉGICOS E rinha de porte médio, como a do Brasil, RECURSOS FINANCEIROS pode dispor da credibilidade necessária ao emprego político do Poder Naval em Embora suas Forças Armadas dispo- tempo de paz – desde que seus meios nham de limitada capacidade de projetar (ou parte destes), ainda que menores e poder, o Brasil pode ser considerado uma mais simples que os da U.S. Navy, sejam potência média, cujos interesses nacionais dotados de capacidade oceânica. Como transcendem o âmbito puramente regional. enfatiza Vidigal, as características da área Segundo J. R. Hill, definir “potência média” marítima de interesse primário do Poder não é tarefa simples, pois esta se encontra

17 VIDIGAL, Armando Amorim Ferreira. “Consequências estratégicas para uma Marinha de águas marrons”. Revista da Escola de Guerra Naval, Rio de Janeiro, v. 16, n. 2, p. 7-20, jul./dez. 2010. Ver também: VIDIGAL, Armando Amorim Ferreira. “Uma Estratégia Naval para o século XXI”. Revista Marítima Brasileira, Rio de Janeiro, v. 121, n. 04/06, p. 53-88, abr./jun. 2001. Ver ainda: PINTO, Paulo Lafayette. O Emprego do Poder Naval em Tempo de Paz. Rio de Janeiro: SDGM, 1989, passim. 18 PINTO. Op. cit., p. 47-52 e 67-71. Ver também: PESCE, Eduardo Italo Pesce. Navios-aeródromo e aviação embarcada na Estratégia Naval brasileira. Dissertação de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Estudos Marítimos da Escola de Guerra Naval. Rio de Janeiro, PPGEM/EGN: 5 abr. 2016, p. 178. 19 PESCE. NAe e aviação embarcada, p. 178.

RMB1oT/2019 63 RENOVAÇÃO DO PODER NAVAL II – Uma abordagem incremental a meio caminho entre a autossuficiência As quatro etapas que antecedem à e a insuficiência de meios. Uma potência formulação do contrato de construção média procurará “criar e manter sob o con- de uma classe de navios para a MB são: trole nacional meios de poder suficientes estudos de exequibilidade, projeto de para iniciar e sustentar ações coercitivas, concepção, projeto preliminar e projeto cujo resultado será a preservação de seus de contrato. Como esclarece Élcio Freitas, interesses vitais” (destaque no original)20. estas etapas representam juntas cerca de A segunda versão do Paemb, cuja re- 10% do custo de obtenção da primeira visão foi concluída em 2013, agrupou os unidade da classe, sendo que as duas Projetos Individualizados da versão ante- primeiras (estudos de exequibilidade e rior (elaborada em 2009) em sete grandes projeto de concepção) correspondem a Projetos Estratégicos, com os respectivos menos de 2% de tal custo. Por sua vez, subprojetos ou programas decorrentes: o preço pago ao estaleiro normalmente 1) Recuperação da Capacidade Opera- corresponde a cerca de 30% do custo cional (RCO); 2) Programa Nuclear da total da obtenção de um navio de guerra24. Marinha (PNM); 3) Construção do Núcleo Cerca de 80% do custo de obtenção do do Poder Naval; 4) Sistema de Gerencia- primeiro navio da classe corresponde ao mento da Amazônia Azul (SisGAAz); projeto de detalhamento (ou de construção) 5) Complexo Naval da 2a Esquadra e 2a e à construção propriamente dita (que inclui Força de Fuzileiros da Esquadra (2a FFE); a plataforma e o sistema de combate), bem 6) Segurança da Navegação; e 7) Pessoal como aos testes de cais e de mar realizados – Nosso Maior Patrimônio.21 até a incorporação do navio e à correção de Em valores estimados de 2012, estes possíveis defeitos. Designa-se como “plata- sete Projetos Estratégicos contavam com forma” o conjunto que inclui o casco com uma previsão de recursos num total de R$ todos os sistemas de bordo, exceto o sistema 211.682,3 milhões.22 Contudo, o agrava- de combate. Este último representa cerca de mento das condições financeiras do País 50% do custo da obra. Como o desembol- nos anos seguintes acabou por transformar so dos recursos, ao longo do processo de tal estimativa numa mera referência. Na aquisição, será realizado paulatinamente, ao nova realidade de austeridade orçamentá- longo de vários exercícios fiscais, o baixo ria, a Construção do Núcleo do Poder Na- custo do projeto básico (até a assinatura do val passou a ter como primeira prioridade contrato de construção) em relação ao custo o Prosub/PNM, seguida pela construção total da obtenção da primeira unidade deixa das corvetas da classe Tamandaré e pelo claro que a opção por um projeto estran- Programa de Desenvolvimento de Navios- geiro pronto não proporcionará economia -Aeródromo (Pronae)23. substancial de recursos25.

20 HILL, J. R. Maritime Strategy for Medium Powers. Annapolis: Annapolis: Naval Institute Press, 1986, p. 21. Tradução do autor do presente trabalho. 21 PESCE. NAe e aviação embarcada, p. 147. 22 Ibidem, p. 147. 23 BRASIL. Centro de Comunicação Social da Marinha. “Desmobilização do NAe São Paulo” – Boletim de Ordens e Notícias de 14 fev. 2017. Brasília, 14 fev. 2017. Disponível em: . Acesso em 15 fev. 2017. 24 FREITAS, Élcio de Sá. A busca de grandeza (Parte I). Revista Marítima Brasileira, v. 134 (Separata 2014), p. 8-21. Ver também: PESCE. “Renovação do Poder Naval”. Op. cit. 25 Ibidem.

64 RMB1oT/2019 RENOVAÇÃO DO PODER NAVAL II – Uma abordagem incremental

Ao longo dos anos, a construção local Seguridade Social (inclusive refinan- de navios para a MB recebeu, em termos ciamento da dívida) é estimado em R$ comparativos, atenção maior que o desen- 3,262 trilhões, e o total de despesas do volvimento de projetos próprios. Segundo Orçamento de Investimentos em R$ 120 o pensamento de Élcio Freitas, renunciar bilhões. O Ministério da Defesa deve ter ao projeto dos meios navais é conformar-se uma dotação orçamentária de R$ 107,7 bi- com a dependência. Tecnologia não se lhões, dos quais R$ 101,1 bilhões oriundos transfere, mas se absorve. Não há Defesa do Tesouro Nacional (Fonte 100) e R$ 6,6 forte se esta não estiver associada ao de- bilhões de outras fontes30. senvolvimento, mas não existe desenvol- Do total de R$ 107.716,8 milhões ini- vimento forte sem o projeto dos próprios cialmente previsto para a Defesa em 2019, meios. Com navios projetados no exterior, R$ 81.137,6 milhões devem ser destina- portanto, não será possível integrar Defesa dos ao pagamento de pessoal (inclusive e desenvolvimento. Como observa aquele inativos, pensionistas e anistiados), R$ autor, historicamente, os ciclos de atraso 13.265,1 milhões às despesas correntes crônicos, que caracterizaram a renova- e R$ 6.591,5 milhões a investimentos, ção dos meios da MB, começaram com sendo o restante destinado às obrigações programas resultantes de financiamentos financeiras e à reserva de contingência.31 estrangeiros, que declinaram quando tais Em 2019, o Comando da Marinha deve recursos começaram a faltar26. Por tal contar com R$ 28.119,3 milhões, dos razão, os rumores que circularam, no final quais R$ 20.433,7 milhões para a folha de de 2018, sobre uma possível desaceleração pagamento de pessoal, R$ 1.649,9 milhões do Prosub27 foram preocupantes. para gastos correntes e R$ 1.746,7 milhões Em 27 de dezembro de 2018, o Orça- para investimentos, além dos recursos mento da União para 2019 foi aprovado no destinados ao pagamento da dívida32. Congresso Nacional.28 Em 15 de janeiro Como vem ocorrendo todos os anos, de 2019, a Lei Orçamentária Anual (LOA) há algum tempo, parte dos recursos orça- para o corrente ano (Lei no 13.808/2019), mentários destinados à Defesa e a outras prevendo um total de arrecadação e gastos áreas do Executivo será provavelmente de R$ 3,382 trilhões, foi sancionada (com contingenciada ou remanejada, pois o apenas dois vetos) pelo novo Presidente Orçamento da União, no Brasil, não tem da República, Jair Bolsonaro29. No texto caráter impositivo. Além disso, a Emen- fnal remetido pelo Congresso, o total da Constitucional no 95/2016 estabelece de despesas nos orçamentos Fiscal e de um teto para o aumento anual dos gastos

26 FREITAS. A busca de grandeza (Partes V e VI). Op. cit., p. 85-118. Ver também: PESCE. “Renovação do Poder Naval”. Op. cit. 27 LOPES. “Marinha desprioriza submarino nuclear”. Op. cit. 28 CONGRESSO aprova Orçamento da União para 2019. Istoé, 19 dez. 2018. Disponível em: . Acesso em 8 jan. 2019. 29 BOLSONARO sanciona Orçamento de 2019 com vetos. Istoé, 16 jan. 2019. Disponível em: . Acesso em 16 jan. 2019. 30 BRASIL. Congresso Nacional. Orçamento da União – Exercício Financeiro de 2019 – Volume I, p. 14-15. Disponível em: . Acesso em 8 jan. 2019. 31 Ibidem – Volume IV, p. 416-417. 32 Ibidem – Volume IV, p. 435.

RMB1oT/2019 65 RENOVAÇÃO DO PODER NAVAL II – Uma abordagem incremental públicos, o qual, até 2035, não deve ex- no Brasil, de pessoal suficiente, com as ceder à inflação do exercício anterior33. qualificações necessárias35. No Orçamento da União de 2019, o valor Contando com recursos e tecnologia permitido para este aumento é de R$ 1,4 resultantes de um acordo binacional trilhão. Mesmo assim, o déficit público, Brasil-França, firmado em 2009, o Prosub este ano, deve ficar em R$ 139 bilhões34. (cujo custo inicial era estimado em € 6,7 bilhões) visa à construção, no Brasil, de PROGRAMAS PRIORITÁRIOS quatro submarinos convencionais (S-BR), dos quais o primeiro foi lançado ao mar no O processo que, apesar das dificuldades dia 14 de dezembro de 2018, e um de pro- que o cercaram, culminou no Prosub (tido pulsão nuclear (SN-BR), cuja entrega está como a prioridade no 1 da Marinha) pode prevista para o final da próxima década36. ser visto como um exemplo de abordagem As quatro unidades convencionais (classe incremental na obtenção de autonomia Riachuelo) estão baseadas no projeto tecnológica, no projeto e na construção de francês da classe Scorpène, enquanto que submarinos. No final dos anos 80 e início o primeiro submarino nuclear brasileiro dos 90 do século passado, apesar das limi- (cujo nome será Álvaro Alberto) terá pro- tações orçamentárias, foram construídos jeto próprio, desenvolvido com assessoria quatro submarinos de projeto alemão da da empresa estatal francesa Naval Group classe Tupi (IKL-209/1400), sendo a pri- (antiga DCNS)37. Observe-se que o citado meira unidade na Alemanha e as outras acordo binacional exclui expressamente a três no Brasil, pelo Arsenal de Marinha do transferência da tecnologia de propulsão Rio de Janeiro (AMRJ). Procurando evitar nuclear, objeto de um programa autóctone que a capacitação obtida fosse perdida, foi e independente38. a seguir construído (e entregue no início Apesar dos atrasos no cronograma, o do século XXI) o Submarino Tikuna, uma Prosub tem conseguido sobreviver graças evolução da classe Tupi, cujo projeto foi ao fluxo razoavelmente regular de recursos modificado no Brasil. Os projetos nacio- garantidos pelo acordo Brasil-França nais dos submarinos SNAC-1 e SNAC-2 (embora o Brasil tenha alguma dificuldade não tiveram prosseguimento por falta de em cumprir os prazos de pagamento das recursos e também por não dispormos, parcelas previstas). Contudo, a perspectiva

33 BRASIL. Presidência da República. Emenda Constitucional no 95, de 15 dez. 2016 – Altera do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, para instituir o Novo Regime Fiscal, e dá outras providências. Brasília, 15 dez. 2016. Disponível em: . Acesso em 27 jan. 2017. 34 CONGRESSO aprova Orçamento da União para 2019. Op. cit. 35 FREITAS. A busca de grandeza (Partes II, III, IV e V). Op. cit., p. 22-93. Ver também: PESCE. “Renovação do Poder Naval”. Op. cit. 36 LANÇAMENTO do Submarino Riachuelo – S40. Poder Naval, 14 dez. 2018. Disponível em: . Acesso em 17 dez. 2018. 37 BARATA, Bernardo Mendes. “A longa parceria entre Marinha e Nuclep”. Defesa Aérea & Naval, 18 jan. 2019. Disponível em: . Acesso em 26 jan. 2019. Ver também: CAPACITAÇÃO adquirida com o SN-BR será uma vitória que vai além do setor militar. Entrevista do Almirante de Esquadra Eduardo Bacellar Leal Ferreira a Vera Dantas, da Revista Brasil Nuclear. Disponível em: . Acesso em 14 jan. 2019. 38 PESCE. “Renovação do Poder Naval”. Op. cit.

66 RMB1oT/2019 RENOVAÇÃO DO PODER NAVAL II – Uma abordagem incremental de cortes e contingenciamentos no classe Inhaúma (quatro unidades projeta- orçamento da Marinha para 2019 poderia das nos anos 80 e entregues até meados da alterar este quadro, comprometendo os década seguinte), passando pela Corveta objetivos e resultados do programa39. Barroso (projetada na década de 90, mas Como afirma Élcio Freitas, o programa entregue só em 2009) e chegando às qua- de projeto e construção de submarinos tro da classe Tamandaré (cujo contrato de no Brasil deve prosseguir e tornar-se construção, no valor aproximado de US$ permanente. Contudo, não podemos nos 1,6 bilhão, deve ser assinado no início de limitar a um só tipo de navio40. O programa 2019), também revelam a adoção de uma de construção (preferencialmente a partir abordagem incremental, ainda que tal de projeto nacional) das corvetas da classe termo não fosse empregado.43 Por sua vez, Tamandaré é a prioridade no 2 da MB para o NpaOc 1800-BR é um projeto básico de construção do núcleo de seu Poder Naval. navio-patrulha oceânico, desenvolvido A Corveta Barroso, resultante do repro- pelo Centro de Projeto de Navios (CPN) jeto da classe Inhaúma, é o primeiro navio a partir do projeto da Corveta Barroso. de guerra que não é protótipo, projetado Neste caso, houve uma simplificação, com e construído no Brasil em todo o período a adoção de armamento e equipamentos republicano. A construção local é, sem dú- mais modestos, adequados ao emprego vida, importante. Entretanto, o verdadeiro do navio em missões de patrulha naval. poder reside na capacidade de projeto e Este projeto, cujo desenvolvimento foi de financiamento. Países desenvolvidos anunciado na Euronaval 2014, não chegou com forte tradição marítima podem até a ser encomendado pela MB44. abrir mão da construção, encomendando Uma vez assegurados os recursos para seus navios, por medida de economia, a o prosseguimento do Prosub/PNM e o estaleiros localizados em outros países. efetivo início do programa de construção Entretanto, jamais abdicam do projeto pró- de corvetas, o atendimento às duas prio- prio41. No Brasil, frequentemente ocorre o ridades iniciais da construção do núcleo contrário, com a contratação de estaleiros do Poder Naval brasileiro estaria enca- locais para a construção de navios de pro- minhado. Seria então a vez de considerar jeto estrangeiro. Dessa forma, prioriza-se a prioridade no 3 da Marinha, a fim de a nacionalização da tecnologia de constru- encurtar, tanto quanto possível, o hiato ção, em detrimento da de projeto42. de capacidade existente na operação com As diversas etapas do processo evoluti- aeronaves embarcadas de asa fixa, a partir vo do projeto das corvetas da MB desde a de NAe ou outros navios dotados de con-

39 Ibidem. Ver também: LOPES. “Marinha desprioriza submarino nuclear”. Op. cit. 40 FREITAS. A busca de grandeza (Parte IV). Op. cit., p. 63-84. Ver também: PESCE. “Renovação do Poder Naval”. Op. cit. 41 FREITAS. A busca de grandeza (Parte V). Op. cit., p. 85-93. Ver também: PESCE. “Renovação do Poder Naval”. Op. cit. 42 PESCE. “Renovação do Poder Naval”. Op. cit. 43 FREITAS. A busca de grandeza (Partes II, III, IV e V). Op. cit., p. 22-93. Ver também: PESCE. “Renovação do Poder Naval”. Op. cit. Ver ainda: FUOCO. Op. cit. 44 BARREIRA, Victor. “Marinha do Brasil revela projeto próprio de NpaOc (OPV) na Euronaval 2014”. Poder Naval, 19 set. 2014. Disponível em: . Acesso em 22 nov. 2018. Ver também: PESCE. “Renovação do Poder Naval”. Op. cit.

RMB1oT/2019 67 RENOVAÇÃO DO PODER NAVAL II – Uma abordagem incremental vés de voo corrido. Em recente entrevista, capacidade para até 40 aeronaves, a MB porém, o ex-comandante da Marinha, poderá optar por navios menores e mais Almirante de Esquadra (RM1) Eduardo simples. Entre as opções na mesa esta- Bacellar Leal Ferreira, teria declarado riam navios de controle de área marítima que a Marinha do Brasil desenvolve os (NCAM) ou de propósitos múltiplos seguintes Programas Estratégicos, com (NPM), capazes de operar com aeronaves o propósito de renovar e fortalecer os de combate STOVL (Short Take-Off/ meios necessários ao cumprimento de sua Vertical Landing), de decolagem curta e missão e, complementarmente, fomentar pouso vertical, além de aeronaves tilt-rotor o desenvolvimento científico e tecnoló- (de rotores basculantes), helicópteros e gico do país e a capacitação da indústria aeronaves remotamente pilotadas (ARP) nacional: PNM, Prosub, Corvetas Classe ou autônomas48. Tamandaré (CCT) e Navios-Patrulha45. Tal declaração sugere que o nível de SUBSTITUIÇÃO DO NAVIO- prioridade anteriormente concedido ao AERÓDROMO Pronae foi reduzido. Os requisitos deste programa, para o tipo de navio que substi- Embora lento (com velocidade máxima tuirá o NAe São Paulo (cuja mostra de de- nominal de 18 nós), o atual Porta-Helicóp- sarmamento ocorreu em 22 de novembro teros Multipropósito (PHM) Atlântico (ex- de 2018)46, foram revistos, sendo agora -HMS Ocean) é um navio funcional, sim- formulados (quanto às dimensões e ao ples e austero, com casco bastante espaçoso, deslocamento, assim como ao sistema de projetado segundo normas de classificação lançamento e recuperação de aeronaves comerciais, o que facilitou a montagem do empregado) de maneira ampla e flexível. casco num estaleiro civil de construção de Tal flexibilidade possibilita que se pense navios mercantes. Tendo custo de operação na adoção de uma solução técnica dife- bem inferior ao de um NAe tradicional, rente daquela originalmente prevista47. este PHM, com deslocamento carregado Assim, em lugar de um ou dois NAe, de 21.578 toneladas, poderá ser de grande com deslocamento carregado de apro- utilidade para a MB, em comissões de ximadamente 50 mil toneladas, dotados presença naval ou de “projeção anfíbia” no de catapultas e aparelho de parada em Atlântico Sul, em áreas distantes do litoral configuração Catobar (Catapult-Assisted brasileiro (como o Golfo da Guiné e outras Take-Off, but Arrested Landing), com áreas do litoral africano)49.

45 CAPACITAÇÃO adquirida com o SN-BR. Op. cit. 46 BRASIL. Diretoria de Comunicações e Tecnologia da Informação da Marinha. Ordem do Dia no 8/2018 – Mostra de Desarmamento do NAe São Paulo. Boletim de Ordens e Notícias (Bono) no 905, de 22 nov. 2018. Brasília, 22 nov. 2018. Disponível em: . Acesso em 22 nov. 2018. 47 ALVARENGA FILHO, José Vicente de. A importância dos navios de propósitos múltiplos para o Poder Naval brasileiro no século XXI. Trabalho de conclusão do Curso de Política e Estratégia Marítima (C- -PEM) da Escola de Guerra Naval (EGN). Rio de Janeiro: EGN, 22 nov. 2018, passim. Ver também: PESCE. “Renovação do Poder Naval”. Op. cit. 48 Ibidem. 49 PESCE, Eduardo Italo. “PHM Atlântico: renovação do ‘conjugado anfíbio’ da Marinha do Brasil”. Revista de Marinha, Lisboa, v. 82, n. 1.007, p. 30-32, jan./fev. 2019. Ver também: PESCE, Eduardo Italo. “Navio Porta-helicópteros Multipropósito: renovação do ‘conjugado anfíbio’ da MB”. Segurança & Defesa, Rio de Janeiro, v. 34, n. 129, p. 24-27, [jan./mar.] 2018.

68 RMB1oT/2019 RENOVAÇÃO DO PODER NAVAL II – Uma abordagem incremental

Isto, porém, não dispensará o “conju- pudesse recuperar a capacidade de operar gado aeronaval”, integrado por um NAe, com aeronaves de combate de asa fixa, com a respectiva dotação de aeronaves a partir de navios dotados de convés de táticas embarcadas. A realização de uma voo (convoo) corrido. Uma das possi- operação anfíbia normalmente requer bilidades cogitadas, inclusive, seria um elevado grau de superioridade aérea sobre Navio de Propósitos Múltiplos (NPM) a área do objetivo, o que indica a necessi- híbrido, semelhante ao BPE Juan Carlos dade de se dispor de um ou mais NAe ou I espanhol51, que poderia ser empregado outro tipo de navio, capazes de operar com tanto como plataforma de controle de área aeronaves de combate de asa fixa. Em paz marítima como de assalto anfíbio. com seus vizinhos há quase 150 anos, o Um navio “faz-tudo”, dotado de Brasil vem participando – inclusive com convoo com rampa ski-jump e doca para meios navais, aeronavais e de fuzileiros embarcações, além de alojamentos ade- navais – de operações multinacionais no quados para uma tropa embarcada, com o exterior (no Caribe, na África e no Oriente respectivo material, teria que ser maior (e Médio), sob os auspícios da Organização mais caro) do que o atual PHM Atlântico. das Nações Unidas (ONU)50. Além disso, tal navio provavelmente não Pode-se afirmar que a questão da plena poderia desempenhar simultaneamente, substituição, em futuro não muito distante, de modo plenamente satisfatório, ambas do NAe que deu baixa recentemente as funções – operar com um Grupo Aéreo – a fim de evitar que a Aviação Naval Embarcado (GAE) de composição diversi- brasileira perca a capacidade de operar ficada, integrado por aeronaves de comba- com aeronaves de asa fixa a partir de te STOVL e helicópteros multipropósito, navios no mar – encontra-se diante de um e apoiar operações anfíbias, transportando impasse. O Pronae supostamente ocuparia um contingente de fuzileiros navais e o terceiro lugar entre as prioridades da operando com helicópteros de transporte Marinha, depois do Prosub/PNM e das e embarcações de desembarque. corvetas da classe Tamandaré. A despeito Em trabalho publicado na RMB do da opção inicial por uma solução Catobar, 1o trimestre de 2016, o engenheiro René a questão do custo (inclusive político) do Vogt apresentou um conceito denominado Pronae teria renovado o interesse da MB “NAe STOVL BR 35000”. Este navio, pela opção STOVL para a substituição do visualmente semelhante ao NAe italiano NAe São Paulo. Cavour, teria um deslocamento carregado Segundo esta linha de pensamento, de aproximadamente 35 mil toneladas. um NAe STOVL – ou, melhor dizendo, Segundo dados e parâmetros ostensivos de um Navio de Controle de Área Marítima procedência norte-americana, o custo total (NCAM) dotado de rampa ski-jump – de obtenção (projeto básico e construção poderia ser uma solução mais simples da primeira unidade) deste navio – numa e econômica para que a nossa Marinha primeira estimativa – seria de 2/3 do custo

50 Ibidem. Ver também: PESCE, Eduardo Italo. “Conjugado aeronaval: uma reflexão”. Revista Marítima Brasileira, Rio de Janeiro, v. 138, n. 01/03, p. 8-43, jan./mar. 2018. Ver ainda: PESCE, Eduardo Italo. “Perspectivas para o ‘conjugado aeronaval’ na Marinha do Brasil”. Segurança & Defesa, Rio de Janeiro, v. 34, n. 130, p. 22-38, [abr./jun.] 2018. 51 UAN CARLOS I – Buque de Proyección Estratégica – GlobalSecurity. Disponível em: . Acesso em 20 jan. 2019.

RMB1oT/2019 69 RENOVAÇÃO DO PODER NAVAL II – Uma abordagem incremental de obtenção de um NAe Catobar de 45 mãos de um único fornecedor, até que haja mil toneladas52. As estimativas de custo pelo menos uma aeronave concorrente no para este estudo conceitual ainda podem mercado54. Isto sem mencionar os proble- ser refinadas. mas de desenvolvimento e o elevado custo No entender deste autor, uma abor- unitário (atualmente US$ 115,5 milhões, dagem mais prudente para a renovação para a versão STOVL F-35B) da citada do “conjugado aeronaval” da MB seria aeronave55. iniciar o processo pela análise dos tipos de Um programa de desenvolvimento (ou aeronaves embarcadas de asa fixa (e dos de obtenção) de aviões de combate para a sistemas de lançamento e recuperação de MB talvez tivesse custos e prazo incom- tais aeronaves) disponíveis no mercado patíveis com uma conjuntura prolongada que melhor atendessem às necessidades de austeridade econômica, o que condi- de nossa Marinha, para constituir um GAE cionaria sua implementação à recuperação diversificado. Uma vez identificadas as da economia e à melhoria da situação aeronaves e o sistema de operação que fiscal do País. Além do problema das ae- apresentassem a relação custo-benefício ronaves, o prazo e os custos de obtenção mais favorável, a etapa seguinte seria a da(s) plataforma(s), sob os auspícios do obtenção do tipo adequado de plataforma Pronae, seriam complicadores adicionais. (NAe, NCAM ou NPM). Observar que Partindo do “ponto zero”, seriam necessá- tal abordagem difere daquela adotada por rios cerca de dez anos para desenvolver o este autor, em trabalhos anteriores53. projeto básico de uma nova classe de NAe No caso de aeronaves em configuração (ou NCAM), com mais outros sete para Catobar para a Aviação Naval brasileira, construir a primeira unidade, totalizando há várias opções em aberto – inclusive o assim 17 anos. Se o desenvolvimento do Gripen Maritime, uma possível versão projeto tivesse início em 2019, o primeiro embarcada do Saab/Embraer F-39E/F Gri- navio da classe só seria entregue – se não pen, futuro caça multifunção da Força Aé- faltassem recursos e não houvesse inter- rea Brasileira (FAB). Já o problema com rupções – por volta de 2035 ou 2036. Em qualquer opção STOVL, em princípio, se tratando de Brasil, tal estimativa pode seria a obtenção de aeronaves deste tipo até ser considerada otimista56. pelo Brasil, pois atualmente não existe, no Por mais esforços que a Marinha faça mercado internacional, concorrente para o no sentido de manter viva a “cultura” de Lockheed Martin F-35B Lightning II. Isto operação com aeronaves de asa fixa no deixa qualquer potencial comprador nas mar, a partir de um navio dotado de con-

52 VOGT, René. “Evolução do estudo sobre a obtenção de um navio-aeródromo”. Revista Marítima Brasi- leira, Rio de Janeiro, v. 136, n. 01/03, p. 52-76, jan./mar. 2016. Ver também: PESCE, Eduardo Italo. “Navio de controle de área marítima: um conceito válido para a Marinha do Brasil?” Revista Marítima Brasileira, Rio de Janeiro, v. 136, n. 04/06, p. 51-66, abr./jun. 2016. 53 PESCE. “Renovação do Poder Naval”. Op. cit. Ver também: PESCE. “Conjugado aeronaval: uma reflexão”. Op. cit. Ver ainda: PESCE. “Perspectivas para o ‘conjugado aeronaval’”. Op. cit. 54 Ibidem. Ver também: VOGT. Op. cit. Ver ainda: PESCE. NAe e aviação embarcada, p. 35-36 e 183. 55 VALDUGA, Fernando. “Lockheed busca clientes europeus para o F-35 enquanto cai o preço unitário do caça”. Cavok – Asas da informação, 5 fev. 2019. Disponível em: . Acesso em 7 fev. 2019. 56 PESCE. “Renovação do Poder Naval”. Op. cit.

70 RMB1oT/2019 RENOVAÇÃO DO PODER NAVAL II – Uma abordagem incremental voo corrido, esta capacitação dificilmente operar a partir de navios de porte modesto, será preservada sem que se disponha de sem catapultas nem aparelho de parada. uma plataforma apropriada.57 Uma vez Numa primeira abordagem, a di- perdida, sua recuperação – quando a MB ficuldade crítica para nossa Aviação puder novamente contar com um navio Naval seria a substituição dos AF-1B/C capaz de operar com tais aeronaves – de- Skyhawk modernizados, operados pelo 1o mandará um tempo excessivamente longo. Esquadrão de Aviões de Interceptação e E tempo é exatamente o que nossa Mari- Ataque (EsqdVF-1), por uma aeronave de nha nunca teve (ou o que lhe foi repetida- combate razoavelmente moderna, capaz mente negado), em se tratando de aviação de desempenhar as missões previstas. Ao embarcada de asa fixa. A fim de evitar a adquirir aeronaves de asa fixa de segunda extinção deste componente da Aviação mão no Kuwait, em 1998, a preocupação Naval brasileira, será preciso pensar “fora fundamental da MB estava relacionada da caixa”. Para preservar a capacidade de com a defesa aérea no mar. Com efeito, operar com aviões de combate a partir de a missão do EsqdVF-1 é “interceptar e navios no mar, alguma solução de tran- atacar alvos aéreos e localizar, acompa- sição, rápida, simples e (relativamente) nhar e atacar alvos de superfície, a fim barata, é necessária. Mas qual? de contribuir para a defesa aeroespacial e proteção das forças navais”58. Numa UMA SOLUÇÃO DE TRANSIÇÃO perspectiva realista, para que a futura ae- ronave de combate embarcada tenha real De acordo com a metodologia suge- utilidade, esta deverá ser capaz de operar, rida acima, nossas considerações ini- sem restrições, a partir de plataformas de ciais abordarão a questão da dotação de porte modesto e custo razoável. meios aéreos embarcados. Com relação Enquanto perdurarem as restrições ao a helicópteros, os problemas não seriam aumento de gastos públicos, decorrentes demasiadamente complexos. Atualmente, da EC no 95/2016 (com vigência até 2035, além de missões antissubmarino e contra podendo ser objeto de revisão a partir de navios de superfície, assim como de bus- 2026)59, a modernização de aeronaves ca e salvamento (SAR), os helicópteros embarcadas de segunda mão parece ser embarcados também podem, se equipados uma solução aceitável para substituir as com radares de vigilância aérea e maríti- existentes na MB (especialmente para ma, desempenhar missões de alarme aéreo manutenção do adestramento). Isto nos antecipado – designadas como Airborne permite considerar a possibilidade desta Early Warning (AEW) em inglês. No força optar por uma aeronave STOVL futuro, é possível que as missões AEW modernizada, de desempenho satisfatório, venham a ser desempenhadas por ARP- capaz de operar a partir de uma plataforma -E ou por aeronaves tilt-rotor, capazes de de menor porte e custo mais modesto.

57 Ibidem. Ver também: PESCE. “Conjugado aeronaval: uma reflexão”. Op. cit. Ver ainda: PESCE. “Pers- pectivas para o ‘conjugado aeronaval’”. Op. cit. 58 COMANDO da Força Aeronaval – EsqdVF-1. Disponível em: . Acesso em 1 out. 2015. Ver também: PESCE, Eduardo Italo. “Navio-aeródromo para o Brasil, o futuro”. Segurança & Defesa, Rio de Janeiro, v. 33, n. 125, p. 24-35, [jan./mar.] 2017. Ver ainda: PESCE. NAe e aviação embarcada, p. 119-120. 59 BRASIL. Presidência da República. EC no 95/2016. Op. cit.

RMB1oT/2019 71 RENOVAÇÃO DO PODER NAVAL II – Uma abordagem incremental

Num horizonte de tempo compatível substituindo os componentes desgastados com o cronograma da substituição dos por novos – certa quantidade dessas aero- AF-1B/C, uma solução STOVL/NCAM naves (cuja variante AV-8B+ é equipada que empregasse aeronaves de segunda com radar multifunção AN/APG-65)61, mão modernizadas seria a opção mais oferecendo-as no mercado internacional. viável, exceto – o que é extremamente Num segundo momento, caso houvesse improvável – se um desempenho excep- demanda, talvez fosse possível pensar na cionalmente bom da economia eliminasse reabertura da linha de montagem, para as atuais restrições aos investimentos em produção de uma versão mais avançada Defesa no Brasil. Obviamente, para con- (ou de uma aeronave STOVL inteiramente cretizar tal opção, deveria haver aeronaves nova). Em ambos os momentos, algum disponíveis no mercado, que atendessem tipo de parceria com a Embraer (e com às necessidades da MB. A opção imediata outras empresas de países interessados por um programa de desenvolvimento, em tal aeronave) seria uma possibilidade a além de ter custo bem mais elevado, considerar. A Boeing também é detentora demandaria um período de tempo maior. da tecnologia do X-32B, versão STOVL A baixa das aeronaves AV-8B Har- da aeronave que ficou em segundo lugar rier II60 do U.S. Marine Corps, ora em na concorrência para o programa Joint processo de substituição pelo F-35B, vai Strike Fighter (JSF), vencida pelo F-3562. gerar um excedente de conjuntos célula/ Nas décadas de 70 e 80 do século motor, cujos componentes poderiam ser, passado, a tecnologia STOVL era con- em parte, reaproveitados para moderni- siderada promissora.63 Com o fim da zação. É verdade que, em sua maioria, Guerra Fria, porém, diversos projetos de tais aeronaves devem apresentar elevado aeronaves deste tipo, em diferentes con- desgaste estrutural. Além de serem de figurações, tiveram seu desenvolvimento operação mais cara, seu desempenho – por cancelado. Apenas o F-35B, entre as serem subsônicas – é modesto quando aeronaves de combate, sobreviveu. Será comparado ao de aeronaves de combate que a volta das disputas de poder entre de asa fixa de tipo convencional. Apesar grandes potências, no século XXI, ressus- de suas limitações, porém, tais aeronaves citará o interesse por tal tecnologia? Em permanecem em serviço no início do sé- nosso país, esta poderia interessar não só culo XXI, no Corpo de Fuzileiros Navais à Marinha, para operação com aeronaves dos Estados Unidos da América (USMC) de combate a partir de NCAM ou NPM e nas Marinhas espanhola e italiana. de porte relativamente modesto, mas Uma possibilidade instigante seria se também à FAB, mormente para emprego a Boeing (que absorveu a McDonnell na Amazônia. Tal possibilidade, em tese, Douglas) desmontasse e reconstruísse – permitiria obter um elevado grau de in-

60 McDONNELL Douglas AV-8B Harrier II – Wikipedia, the free encyclopedia – Atualiz. 21 dez. 2018. Disponível em: . Acesso em 20 jan. 2019. 61 Ibidem. 62 BOEING X-32 – Wikipedia, the free encyclopedia – Atualiz. 26 dez. 2018. Disponível em: . Acesso em 20 jan. 2019. 63 UNITED STATES OF AMERICA. Office of the Under Secretary of Defense for Research and Engineering. Final Report of the Defense Science Board on V/STOL Aircraft. Washington, DC: DoD, November 1979. Disponível em: . Acesso em 6 abr. 2013.

72 RMB1oT/2019 RENOVAÇÃO DO PODER NAVAL II – Uma abordagem incremental teroperabilidade e padronização entre as diversificado, constituído por cerca de 18 duas forças singulares. aeronaves (uma combinação de STOVL, Com relação ao tipo de plataforma, helicópteros e ARP-E). Para tal navio, podemos buscar inspiração na solução podemos adotar a designação Projeto adotada pelas Marinhas do Reino Unido NCAM 22 – a fim de que este não seja e dos EUA durante a Segunda Guerra confundido com um NAe tradicional nem Mundial: o NAe de escolta (escort car- com um NPM otimizado para atuar como rier), também conhecido como CVE. navio de assalto anfíbio. Convertidos a partir de cascos de tipo A coordenação e (tanto quanto pos- mercante, estes navios empregavam suas sível) a execução do projeto básico de aeronaves na escolta de comboios ou no engenharia deste navio poderiam ficar a apoio a operações anfíbias64. Em princí- cargo do CPN, possivelmente em parce- pio, seria até possível converter o casco ria com a(s) empresa(s) detentora(s) de de um navio Roll-On-Roll-Off (RO-RO) direitos de propriedade intelectual sobre ou porta-contêineres num NCAM austero, o projeto original. No passado, os NAe mas não precisamos chegar a tanto. Não ligeiros britânicos da classe Colossus/ seria técnica e economicamente viável Magestic – à qual pertencia o nosso NAeL converter o PHM Atlântico (ex-HMS Minas Gerais – também foram projetados Ocean britânico) para operar regularmente segundo normas de classificação comer- com aeronaves STOVL. Entretanto, este ciais (do Lloyd’s Register of Shipping), navio, cujo deslocamento a plena carga é a fim de facilitar sua construção em esta- de 21.578 toneladas, teve seu casco cons- leiros civis66. truído no estaleiro Kvaerner Govan, Ltd. Por medida de economia, seriam (KGL), segundo normas de classificação mantidas as mesmas linhas de casco (cujo comerciais civis. Incorporado à MB em projeto já foi validado), com um sistema 2018, é basicamente um RO-RO militari- de propulsão (possivelmente diesel- zado, de operação simples e econômica65. -elétrico) de aproximadamente 40.000 A MB poderia modificar o projeto HP, que permitisse ao navio desenvolver deste porta-helicópteros, originalmente uma velocidade máxima de 24 ou 25 nós desenvolvido pela Vickers Shipbuilding (potência e velocidade semelhantes às do and Engineering, Ltd. (VSEL), hoje parte antigo NAeL Minas Gerais67). O NCAM da BAE Systems, para a construção de 22 seria equipado com rampa ski-jump na um NCAM com cerca de 22 mil tone- proa, e seu convoo seria reforçado (além ladas de deslocamento carregado, capaz de receber revestimento termorrefratário) de embarcar um modesto grupo aéreo para a operação com aeronaves STOVL.

64 ADCOCK, Al; GREER, Don; SEWELL, Joe. Escort Carriers in action. Carrollton, TX: Squadron/Signal, 1996, passim. Ver também: CANADAY, John L. The Small Aircraft Carrier: A Re-Evaluation of the Sea Control Ship. Fort Leavenworth, KN: U.S. Army Command and Staff College, 1990,passim . Disponível em: . Acesso em 6 abr. 2013. 65 PESCE. PHM Atlântico. Op. cit. Ver também: PESCE. “Navio Porta-helicópteros Multipropósito”. Op. cit. 66 1942 DESIGN Light Fleet Carrier – Wikipedia, the free encyclopedia – Atualiz. 9 dez. 2018. Disponível em: . Acesso em 24 fev. 2019. Ver também: BRAZILIAN Aircraft Carrier Minas Gerais – Wikipedia, the free encyclopedia – Atualiz. 29 jan. 2019. Texto disponibilizado em: . Acesso em 7 fev. 2019. 67 Ibidem.

RMB1oT/2019 73 RENOVAÇÃO DO PODER NAVAL II – Uma abordagem incremental

Os armamentos e sistemas eletrônicos de exequibilidade e o projeto de concepção bordo seriam adequados ao emprego do já teriam sido realizados. Recurso análogo navio como plataforma de controle de área já foi utilizado com sucesso na MB, para marítima (com ênfase na defesa aérea). a construção do Navio-Escola Brasil, da A capacidade de transporte de fuzileiros Corveta Barroso e do Submarino Tiku- navais poderia ser reduzida – possivel- na71. Entretanto, a plataforma seria apenas mente pelo remanejamento das áreas de parte do conjugado NCAM/GAE. Não alojamento de tropa e pela integração do seria razoável investir no projeto de uma convés de viaturas ao hangar. Outra opção nova classe de navios dotados de convoo seria eliminar tal capacidade. corrido sem dispor de aeronaves para A exemplo dos antigos NAe de escolta, compor o seu GAE. o NCAM 22 deveria ser um navio simples e austero, cujos custos de operação e ma- ESTIMATIVA DO CUSTO DE nutenção fossem relativamente baixos. A OBTENÇÃO austeridade era a característica fundamen- tal do Sea Control Ship (SCS), um projeto O custo total de obtenção de um cancelado pela U.S. Navy na década de 70 NCAM, baseado no casco do Atlântico, do século XX, que deu origem ao Prín- é de difícil avaliação – inclusive pela cipe de Astúrias espanhol e à sua versão escassez de dados. Em princípio, a opção reduzida, o Chakri Naruebet tailandês68, por um modelo de casco, projetado e cons- bem como de diversas propostas de na- truído segundo especificações comerciais, vios dos anos 70 e 80, que não chegaram sugere um custo de obtenção modesto e a receber encomendas69. Um daqueles uma razoável relação custo-benefício para projetos, o Vickers Light Fleet Carrier tal meio. O contrato para construção do (V-CVL), de 1988, visivelmente utili- HMS Ocean foi assinado em 1993, sendo zava um casco muito semelhante (senão a quilha do navio batida em 1994, o lança- idêntico) ao do HMS Ocean, construído mento realizado em 1995 e a incorporação na década seguinte70. à Royal Navy ocorrida em 1998, a um Se não ocorressem interrupções, cau- custo total de obtenção de £ 154 milhões sadas por problemas técnicos ou (o mais (em torno de £ 188 milhões, a preços de provável) por uma redução no fluxo de re- 2016)72. Da celebração do contrato à en- cursos, a adaptação de um projeto de casco trega do navio, o tempo transcorrido foi de existente permitiria reduzir substancial- cerca de cinco anos. A modernização do mente o tempo de elaboração do projeto Ocean, realizada em 2012-2014, custou básico, assim como o prazo de obtenção £ 65 milhões, enquanto que seu preço de do NCAM 22. Na prática, seria necessário venda ao Brasil, em 2018, foi de £ 84,6 elaborar apenas os projetos preliminar e milhões. O custo anual médio de opera- de contrato, uma vez que os estudos de ção deste navio, em valores referentes ao

68 CANADAY. Op. cit., passim. 69 WARWICK, Graham. “V/STOL shapes tomorrow’s ships”. Flight International, London, v. 78, 12 Jan. 1980, p. 84-86. 70 VICKERS proposes new carrier. Flight International, London, v. 81, 8 Oct. 1983, p. 937. 71 PESCE. “Renovação do Poder Naval”. Op. cit. 72 PESCE. PHM Atlântico. Op. cit. Ver também: PESCE. “Navio Porta-helicópteros Multipropósito”. Op. Cit. Ver também: PESCE. “Conjugado aeronaval: uma reflexão”.Op. cit.

74 RMB1oT/2019 RENOVAÇÃO DO PODER NAVAL II – Uma abordagem incremental ano fiscal 2013-2014, foi estimado em fenômeno do “multiplicador dos 6%” £ 12,345 milhões73. Após servir à Marinha já foi incorporado à técnica de previsão Real por quase 20 anos, o Ocean teve sua orçamentária para a Defesa. Segundo esta baixa antecipada pela necessidade de for- lei empírica, o aumento real dos custos necer pessoal para guarnecer o novo NAe de obtenção (descontados os efeitos da britânico Queen Elizabeth74. inflação), entre uma geração de meios e Na época de sua incorporação, em a seguinte, é, em média, de aproxima- 30 de setembro de 1998, o custo total de damente 6% ao ano. Em alguns casos obtenção (projeto e construção) do Ocean (como a obtenção de novas belonaves), corresponderia, à taxa de câmbio daquele o fenômeno pode ocorrer de forma ainda dia, a aproximadamente US$ 261,1 mi- mais drástica76. lhões (R$ 309,2 milhões). O custo total Este fenômeno pode ser expresso pela da transferência do navio ao Brasil, em 19 fórmula Cn = C0 x 1,06n – na qual Cn é de fevereiro de 2018, seria equivalente, ao o custo após “n” anos, sendo C0 o custo câmbio de 28 de fevereiro do mesmo ano, inicial (ano zero). O custo final estimado, a US$ 119,2 milhões (R$ 388,9 milhões). que será o resultado da multiplicação do À taxa de câmbio de 30 de dezembro de custo inicial por 1,06 elevado à enésima 2016, o custo reajustado de obtenção potência, dobrará a cada 12 anos77. Apli- do Ocean, acrescido dos £ 65 milhões cando esta fórmula para calcular o custo gastos em sua modernização, totalizaria total de obtenção de um NCAM moder- £ 253 milhões (US$ 311,2 milhões, cor- no, porém simples e austero, com casco respondendo a R$ 1.014 milhões)75. Isso semelhante ao do Ocean (atual Atlântico), mostra que, no período 1998-2018, a libra transcorridos 20 anos da incorporação do esterlina, o dólar norte-americano e o real navio original, chegaremos a um valor sofreram os efeitos da inflação. Sugere estimado de £ 493,9 milhões, que corres- ainda que a aquisição do navio pelo Brasil ponde a US$ 607,6 milhões (R$ 2.353,9 foi um ótimo negócio. milhões), ao câmbio de 28 de dezembro Os valores reajustados do custo de de 2018. Tal estimativa pode ser conside- obtenção do Ocean não são indicativos rada conservadora, já que, dependendo da do aumento dos custos da construção sofisticação e da complexidade da obra, o naval no Reino Unido, levando em con- aumento real – descontados os efeitos da sideração apenas a correção da moeda no inflação – do custo de obtenção de novas período. Na Grã-Bretanha e nos demais belonaves pode ser de 8 a 11% ao ano78. países integrantes da Organização do A estimativa acima é condizente com Tratado do Atlântico Norte (Otan), o os custos de obtenção de outras classes

73 Ibidem. Ver também: UNITED KINGDOM. Ministry of Defence. “Revised 2015 Average Costs RN Surface Vessels”. Disponível em: . Acesso em 7 jan. 2018. 74 PHM ATLÂNTICO (A140). Apresentação do CMG Giovani Corrêa, comandante do navio, durante as duas visitas realizadas pelo autor. Rio de Janeiro, 13 set. e 14 dez. 2018. 75 TAXA DE CÂMBIO, Conversor de Moedas. Disponível em: . Acesso em 5 fev. 2019. 76 HILL. Op. cit., 186-188. 77 Ibidem, p. 186-188. 78 TAXA DE CÂMBIO. Op. cit. Ver também: HILL. Op. cit., p. 186-188.

RMB1oT/2019 75 RENOVAÇÃO DO PODER NAVAL II – Uma abordagem incremental de NCAM e NPM. Embora possuam quatro fases de projeto, que antecedem a doca para embarcações de desembar- assinatura do contrato de construção, têm que, os NPM (do tipo LHD) da classe um custo que corresponde a 10% do custo Mistral francesa (cujo casco também foi total de obtenção da primeira unidade projetado e construído segundo normas da classe. Cerca de 2% do custo total classificadoras civis) são navios de ope- correspondem às duas primeiras fases ração simples e econômica, que podem (os estudos de viabilidade e o projeto de servir como parâmetro de comparação. concepção), sendo os outros 8% relativos Segundo estimativas de 2012, as duas às duas seguintes (o projeto preliminar e primeiras unidades desta classe custaram o de contrato). Em geral, o preço pago € 330 milhões (US$ 435 milhões) cada, ao estaleiro é de aproximadamente 30% à taxa de câmbio de 28 de dezembro de do total da obra. Por sua vez, cerca 2012, enquanto que a terceira, à mesma de 80% correspondem ao projeto de taxa de câmbio, custou € 300 milhões detalhamento (ou de construção) e à (US$ 395,5 milhões). A empresa francesa construção propriamente dita. Cerca de Naval Group (antiga DCNS) já construiu 50% do custo da obra corresponde ao cinco unidades desta classe de navio – o sistema de combate do navio82. que lhe confere certo grau de economia Optando pelo reprojeto de um modelo de escala79. Em outubro de 2015, duas de casco já existente, o tempo de elabo- unidades, originalmente construídas para ração do projeto básico de engenharia a Rússia, foram adquiridas pelo Egito seria reduzido, mas a modesta economia pelo preço total, ao câmbio de 30 de de custo assim obtida ficaria por conta do outubro de 2015, de € 950 milhões (US$ treinamento dos engenheiros projetistas, 1.046,6 milhões)80. assim como dos engenheiros e técnicos Considerando a metodologia do estaleiro. Empregando a metodologia apresentada por Élcio Freitas81, é possível citada e admitindo um custo total de estimar o custo das diversas etapas do obtenção de US$ 607,6 milhões, a preço programa de desenvolvimento de um de 28 de dezembro 2018, teríamos: 1) navio com as características do NCAM Qualificação de pessoal e projeto básico 22. Como o propósito seria projetar – US$ 60,8 milhões; 2) Projeto de deta- e construir tal navio no Brasil, tais lhamento e construção no estaleiro – US$ estimativas teriam que incluir os custos 486,1 milhões; 3) Sistema de combate de qualificação do escritório de projeto, do navio (exceto dotação de aeronaves) assim como do estaleiro construtor. – US$ 303,8 milhões; e 4) Preço pago Conforme esclarece o citado autor, as ao estaleiro – US$ 182,3 milhões83. Se

79 TAXA DE CÂMBIO. Op. cit. Ver também: MORE MISTRALS sur La Mer: Dixmude, France’s 3rd LHD. Defence Industry Daily, 15 Jan. 2012. Disponível em: . Acesso em 1 fev. 2019. 80 TAXA DE CÂMBIO. Op. cit. Ver também: VEY, Jean-Baptiste; IRISH, John. “France, Egypt agree 656-million pounds Mistral warship deal” – Reuters, 23 Sep. 2015. Disponível em: . Acesso em 13 fev. 2016. 81 FREITAS. A busca de grandeza (Parte I). Op. cit., p. 8-21. Ver também: PESCE. “Renovação do Poder Naval”. Op. cit. 82 Ibidem. 83 Ibidem.

76 RMB1oT/2019 RENOVAÇÃO DO PODER NAVAL II – Uma abordagem incremental não houver interrupções no programa, territorial provavelmente não excederá devido à falta de recursos ou à escassez os próximos 40 anos84. de pessoal especializado, um prazo de A fim de colocar em prática uma dez a 12 anos (quatro a cinco anos de estratégia que adote uma abordagem projeto e seis a sete de construção) para incremental para a renovação progres- a obtenção de tal navio pode ser consi- siva do Poder Naval brasileiro, torna-se derado viável. Infelizmente, a tendência necessário ter uma visão diacrônica da histórica, em nosso país, é a ocorrência evolução dos meios que constituem tal de problemas políticos, técnicos, logísti- poder – visão esta capaz de analisar o cos e (principalmente) financeiros, que passado e o presente para a formulação dificultam o cumprimento de prazos e do futuro desejável. A distinção entre podem inviabilizar projetos. Até quando sincronia e diacronia, como formas de perdurará tal tendência? lidar com o fator tempo, originou-se da linguística e estendeu-se a outros VISÃO DIACRÔNICA DA campos de estudo. De acordo com EVOLUÇÃO DOS MEIOS Ferdinand de Saussure, linguista suíço de Genebra a quem se atribui tais defi- As diversas iniciativas históricas da nições, sincrônico significa ao mesmo MB para renovar seus meios não ob- tempo, enquanto que diacrônico refere- tiveram pleno sucesso em atingir seus -se a fatos ou fenômenos que ocorrem propósitos de forma progressiva, contí- através do tempo85. nua e ininterrupta, de modo a superar os Se quisermos analisar a relação de sucessivos “ciclos de atraso” que, desde o meios navais, aeronavais e de fuzileiros século XIX, têm prejudicado o desenvol- navais que consta do estudo de neces- vimento do Poder Naval brasileiro. Sem sidades do Paemb (elaborado em 2009 dúvida, a elaboração da PND, da END e e revisto em 2012-2013), segundo uma dos demais documentos de planejamento visão sincrônica, aquela relação fica de alto nível do Ministério da Defesa e parecendo uma “lista de pedidos a Pa- das Forças Armadas representou notável pai Noel” – sem aparente relação com progresso em relação à situação anterior, a realidade da penúria orçamentária da na qual não havia orientações claras para Defesa no Brasil. Uma visão diacrônica o setor de Defesa emanadas do poder do Paemb permitrá visualizar o processo político. No entanto, ao implementar uma de investimento na renovação dos meios, grande estratégia para o Brasil, devemos mediante o desembolso de recursos ser capazes de passar da teoria à prática, num horizonte temporal de 20 anos ou a fim de viabilizar a almejada integração mais. O Paemb de 2009 já escalonava entre Defesa e desenvolvimento. Na vi- as estimativas de recursos para inves- são de Élcio Freitas, o período que nos timento, segundo prioridades de curto resta para resguardar nossa soberania, (2010-2014), médio (2015-2022) e longo nosso patrimônio e nossa integridade prazo (2023-2030). As estimativas para

84 FREITAS, Élcio de Sá. “Poder Naval – Presente e futuro” (Parte 3). Revista Marítima Brasileira, Rio de Janeiro, v. 138, n. 10/12, p. 22-29, out./dez. 2018. 85 NEVES, Flávia. “Estilística – Sincronia e diacronia”. Norma Culta – Língua Portuguesa em bom Português. Disponível em: . Acesso em 28 jan. 2019.

RMB1oT/2019 77 RENOVAÇÃO DO PODER NAVAL II – Uma abordagem incremental o período posterior a 2030 (2031-2047) Marinha, da primeira à segunda cadeia também eram apresentadas86. de ilhas, que poderiam dificultar o acesso Ambas as versões do Paemb incluem da China ao mar aberto, e daí rumo ao vários elementos de uma abordagem Pacífico e ao Índico. A incorporação de incremental à progressiva renovação dos diversos meios de superfície com capaci- meios que constituem o Poder Naval. dade oceânica – inclusive NAe capazes de Contudo, para que tal abordagem esteja de operar com aeronaves embarcadas de asa acordo com a visão deste autor, as diversas fixa – é parte desse processo de transição, etapas do cronograma de investimentos de uma estratégia de “defesa ativa” para devem contemplar conjuntos completos uma estratégia de manobra, na qual a in- de meios operativos, de crescente com- tegração dos meios e a informação terão plexidade. A ampliação da capacidade dos importância fundamental88. meios (assim como de seu quantitativo) Ao analisarmos o processo de evolução deve corresponder à evolução das necessi- naval da China, podemos afirmar que cada dades, ao longo do processo de construção etapa corresponde a um conjunto com- de uma verdadeira Marinha oceânica, pleto de capacitações – que se ampliam capaz de assumir o papel de Poder Naval progressivamente, conforme se estende dominante, entre os países banhados pelo o alcance geográfico (reach)89 do Poder Atlântico Sul. Esta visão estaria de acordo Naval chinês. As disputas nos mares da com o conceito de “núcleos de capacita- China Meridional e Oriental, assim como ção”, defendido por Vidigal, para quem o incremento da presença naval chinesa no o planejamento da Defesa deve levar em Índico, no Pacífico e (mais recentemente) conta as aspirações nacionais e as vulne- no Caribe e no Atlântico Sul, decorrem da rabilidades estratégicas do país, sendo o progressiva ampliação dos objetivos estra- ajuste às disponibilidades orçamentárias tégicos daquele país, que já é a segunda feito a posteriori87. maior economia do mundo e, dentro de A evolução da Marinha chinesa (PLA alguns anos, deverá ser a primeira. Navy), nas últimas décadas, de uma Cabe-nos elaborar estratégia análoga modesta Marinha costeira para um Poder (porém não semelhante) para renovação e Naval oceânico, capaz de atuar nos “mares ampliação do Poder Naval brasileiro. De distantes”, resulta de uma abordagem des- nada adianta aumentar os quantitativos e te tipo, aplicada até agora com sucesso. As a complexidade dos meios, nem o efetivo etapas do processo visaram à progressiva de pessoal, se os demais fatores permane- ampliação da área de operações daquela cerem inalterados. As atribuições e as mis-

86 BRASIL. Coordenação do PRM/Grupo de Trabalho Peamb. Programa de Reaparelhamento da Marinha. Apresentação para Abimaq/Abimde. São Paulo, 5 ago. 2009. Disponível em: . Acesso em 9 jan. 2010. BRASIL. Diretoria-Geral de Material da Marinha. Programa de Obtenção de Meios de Superfície (Prosuper) – Perspectivas para a indústria nacional. Palestra do Contra-Almirante Rodolfo Henrique de Saboia em 25 out. 2011. Disponível em: . Acesso em 9 out. 2015. 87 VIDIGAL. “Consequências estratégicas para uma Marinha de águas marrons”. Op. cit. Ver também: VIDIGAL. “Uma Estratégia Naval para o século XXI”. Op. cit. Ver ainda: PESCE. “Renovação do Poder Naval”. Op. cit. 88 LI, Nan. “The Evolution of China’s Naval Strategy and Capabilities: From ‘Near Coast’ and ‘Near Seas’ to ‘Far Seas’. In: China International Strategy Review 2012. Beijing: Foreign Languages Press, 2012, p. 109-140. Ver também: PESCE. “Renovação do Poder Naval”. Op. cit. 89 HILL. Op. cit., p. 149-153.

78 RMB1oT/2019 RENOVAÇÃO DO PODER NAVAL II – Uma abordagem incremental sões também devem evoluir. Na medida que não produzirão um aumento da capa- do possível, os “núcleos de capacitação” cidade real de Defesa do Brasil91. devem ser ampliados, para fazer frente a Embora o foco do presente trabalho novos e maiores desafios. Mas, para isso, esteja nas plataformas, não podemos deixar a ampliação dos interesses econômicos de abordar os programas de desenvolvi- ligados ao mar no Brasil deve criar a mento de novos armamentos e sistemas de demanda sustentada por um Poder Naval armas, que a MB vem conseguindo manter. forte e favorecer o aumento dos recursos No final de 2018, foi efetuado o primeiro orçamentários destinados à Marinha e à lançamento do Míssil Antinavio Nacional Defesa Nacional. Na construção de tal de Superfície (Mansup), cujo alcance apro- poder, o segmento naval de nossa BID ximado deve ser de 70 km92. Também no terá relevante papel a desempenhar. Como ano passado, o míssil superfície-ar de defe- lembra Élcio Freitas, de nada adianta ela- sa de ponto SeaCeptor, primeiro míssil da borar estratégias para as Forças Armadas família Common Anti-Air Modular Missile se a BID não for valorizada e desenvolvi- (CAMM), com alcance aproximado de 25 da. Só assim será possível associar Defesa km, foi declarado operacional, a bordo das e desenvolvimento no Brasil90. fragatas britânicas Type 23 (classe Duke). A progressiva renovação do Poder Em princípio, este míssil já foi escolhido Naval brasileiro, preferencialmente pelo para armar a futura classe de corvetas da desenvolvimento de meios de concepção MB93. Espera-se que tais mísseis, assim própria, projetados e construídos no País como outros tipos de armamentos que (ainda que, inicialmente, por meio de par- venham efetivamente a ser adotados pela cerias com empresas estrangeiras), exigirá MB, possam dar origem ao desenvolvi- enormes esforços e demandará um longo mento de versões mais avançadas, bem tempo. Num horizonte temporal de até como de projetos novos. 40 anos, o domínio da tecnologia e a dis- As necessidades de curto, médio e lon- ponibilidade de meios de financiamento go prazo para a renovação do Poder Naval deverão garantir o controle deste processo (Marinha atual, do amanhã e do futuro) de renovação permanente. O primeiro as- deverão ser atendidas sequencialmente, pecto exigirá investimentos concentrados mas, a fim de garantir a continuidade na educação (do ensino básico à univer- do processo, o planejamento e os inves- sidade), enquanto que o segundo será timentos, nos três níveis de prioridade, possibilitado pelo crescimento sustentado deverão ser superpostos e integrados94. da economia. Sem unir ambos os aspectos A progressiva renovação dos meios que (conhecimento e recursos), continuaremos constituem o Poder Naval brasileiro a realizar estudos conceituais e teóricos, necessariamente envolverá os diversos

90 FREITAS. “Poder Naval – Presente e futuro” (Parte 3). Op. cit. 91 Ibidem. 92 PRIMEIRO lançamento do Míssil Antinavio Nacional de Superfície (Mansup). Poder Naval, 29 nov. 2018. Disponível em: . Acesso em 30 nov. 2018. 93 PADILHA, Luiz. “SeaCeptor – Míssil escolhido pela Marinha do Brasil entra em serviço na Royal Navy”. Defesa Aérea e Naval, 25 mai. 2018. Disponível em: . Acesso em 15 fev. 2019. 94 PESCE. “Cenários prospectivos”. Op. cit.

RMB1oT/2019 79 RENOVAÇÃO DO PODER NAVAL II – Uma abordagem incremental componentes (operativos e de apoio) da meta o quantitativo de meios de superfície estrutura organizacional da Marinha. A originalmente previsto pelo Paemb para a continuidade da renovação dos meios, 1a Esquadra, acrescido de submarinos96; porém, só será possível se os recursos – Etapa 3 (2032-2039) – Ampliação do humanos, materiais e financeiros para tal efetivo de navios da única Esquadra brasi- estiverem disponíveis. leira, visando a acompanhar a progressiva ampliação do alcance geográfico das suas RENOVAÇÃO DA ESQUADRA operações; e – Etapa 4 (2040-2056) – Prossegui- Como esboço de uma abordagem mento da ampliação, com possibilidade de incremental e sequencial por etapas, duplicação do núcleo principal do Poder conforme propugnado neste trabalho, Naval brasileiro, pela criação – se houver tomaremos como exemplo a renovação condições para tal – de uma 2a Esquadra da Esquadra brasileira – que atualmente em futuro mais distante. enfrenta gravíssimo problema de “obso- A Etapa 1 encontra-se em andamento, lescência em bloco” de seus navios (parti- devendo prosseguir nos próximos anos. cularmente os de escolta). Para tal, vamos Nesta etapa, predominam as prioridades considerar as seguintes etapas: 2019-2023 de curto e médio prazo (Marinha atual e (cinco exercícios fiscais), 2024-2031 (oito do amanhã)97. Inicialmente, será possível exercícios), 2032-2039 (oito exercícios) realizar poucos investimentos. Em tal e após 2039 (17 exercícios no período contexto, é provável que, nos próximos 2040-2056). Manteremos o número de anos, a MB só consiga dar continuidade exercícios fiscais de cada etapa do pro- ao PNM/Prosub e implementar o progra- cesso, que constava dos cronogramas ma de construção de corvetas da classe do Paemb (versões de 2009 e de 2013), Tamandaré, além de viabilizar a obten- alterando apenas os anos de referência. ção de navios-patrulha (para emprego De tal modo, cobriremos um total de 38 em ambiente marítimo e fluvial) e de um anos – ou “quase 40 anos”, como assinala novo navio polar de pesquisas. Entretanto, Élcio Freitas95. Teríamos assim: talvez não haja como fugir das “compras de oportunidade”, como a de um navio- – Etapa 1 (2019-2023) – Substituição -tanque (NT) mais moderno para a Esqua- dos navios que derem baixa por unidades dra. Também é possível que a obtenção de construção nova ou (nos casos mais de meios aeronavais seja afetada pelo urgentes) obtidas por meio de “compra contexto orçamentário desfavorável98. de oportunidade”; A transição para a Etapa 2 – na qual – Etapa 2 (2024-2031) – Recompleta- predominarão as prioridades de médio e mento do efetivo de navios, tomando por longo prazo (Marinha do Amanhã e do

95 PESCE, Eduardo Italo. “Sobrevivendo à austeridade fiscal: perspectivas para a Esquadra”.Revista Marítima Brasileira, Rio de Janeiro, v. 137, n. 04/06, p. 88-113, abr./jun. 2017. Ver também: PESCE. NAe e avia- ção embarcada, p. 219-221. Ver ainda: FREITAS. “Poder Naval – Presente e futuro” (Parte 3). Op. cit. 96 PESCE. “Sobrevivendo à austeridade fiscal”.Op. cit. 97 PESCE. “Cenários prospectivos”. Op. cit. 98 LOPES, Roberto. “Almirante intendente presidirá a Emgepron”. Poder Naval, 8 fev. 2019. Disponível em: . Acesso em 9 fev. 2019.

80 RMB1oT/2019 RENOVAÇÃO DO PODER NAVAL II – Uma abordagem incremental

Futuro)99 – estará condicionada à maior de navios de pequeno e médio porte, nos disponibilidade de recursos no orçamen- quais já temos certa experiência. Todavia, to da Marinha. O teto fixado pela EC no a meta será adquirir a capacidade de pro- 95/2016, para o aumento dos gastos públi- jetar e construir qualquer tipo de navio. cos100, dificultará – mas não impedirá – os No tocante a submarinos (convencionais investimentos na renovação progressiva e de propulsão nuclear), a obtenção de do Poder Naval brasileiro – desde, é cla- tal capacidade é objeto do Prosub, que ro, que não se queira construir aqui uma recentemente ingressou na fase de entre- réplica em menor escala da Marinha da ga das unidades previstas105. O mesmo superpotência. Os requisitos técnicos e deve ocorrer em relação aos navios de operativos dos meios navais, que cons- superfície, inclusive os de grande porte, tituem uma Marinha como a nossa, cuja que constituem Unidades de Maior Valor área primária de interesse estratégico é o (UMV) numa força naval. Assim como o Atlântico Sul, podem ser mais modestos Pronae, o Programa de Obtenção de Meios que os daquela Marinha, que opera em de Superfície (Prosuper) e o Programa de todos os mares do mundo101. Contudo, Obtenção de Navios Anfíbios (Pronanf) nossos navios devem ser de porte oceânico encontram-se em “compasso de espera”, e ter capacidade de permanecer no mar à espera de dias melhores106. por períodos relativamente longos102. A O objetivo do Pronae é o desenvolvi- meta desejável, na Etapa 2, será atingir o mento de, no mínimo, um navio capaz quantitativo de meios de superfície estabe- de substituir o NAe São Paulo (que deu lecido pelo Paemb para a 1a Esquadra (33 baixa recentemente) nas operações com navios), acrescido de certa quantidade de aeronaves de asa fixa embarcadas. Para submarinos (quatro a oito convencionais romper o impasse deste programa (causa- e um de propulsão nuclear)103. do sobretudo pelo custo), será necessário Devemos desenvolver no Brasil o pro- “pensar fora da caixa” e inverter a abor- jeto básico de nossas belonaves, a fim de dagem – começando pelas aeronaves, e eliminar progressivamente a dependência não pela plataforma. Após a seleção das do exterior no projeto e na construção de aeronaves embarcadas (convencionais ou navios de emprego militar104. Inicialmen- STOVL), será possível determinar o tipo te, devemos implementar – empregando de navio adequado à sua operação. tecnologias intermediárias de custo mo- Como alternativa à opção inicial do derado – programas de desenvolvimento Pronae, por uma solução técnica do

99 PESCE. “Cenários prospectivos”. Op. cit. 100 BRASIL. Presidência da República. EC no 95/2016. Op. cit. 101 PESCE. “Renovação do Poder Naval”. Op. cit. Ver também: PESCE. “Perspectivas para o ‘conjugado aeronaval’”. Op. cit. Ver ainda: PESCE. “Conjugado aeronaval: uma reflexão”.Op. cit. 102 VIDIGAL. “Consequências estratégicas para uma Marinha de águas marrons”. Op. cit. Ver também: VIDIGAL. “Uma Estratégia Naval para o século XXI”. Op. cit. 103 PESCE. “Sobrevivendo à austeridade fiscal”.Op. cit. 104 PESCE. “Renovação do Poder Naval”. Op. cit. Ver também: FREITAS. A busca de grandeza (Parte VI). Op. cit., p. 94-118. 105 CRONOGRAMA do Programa de Submarinos (Prosub) para 2019. Poder Naval, 26 jan. 2019. Texto dis- ponibilizado em: . Acesso em 10 fev. 2019. 106 PESCE. “Renovação do Poder Naval”. Op. cit. Ver também: PESCE. “Sobrevivendo à austeridade fiscal”. Op. cit.

RMB1oT/2019 81 RENOVAÇÃO DO PODER NAVAL II – Uma abordagem incremental tipo Catobar, apresentamos acima uma brasileiro, o SN Álvaro Alberto (S10), solução de transição, denominada Projeto entrará em serviço ao final da próxima dé- NCAM 22: um navio simples e austero, cada. Contudo, como os efeitos da EC no dotado de convoo com rampa ski-jump, 95/2016 devem se prolongar até 2035108, capaz de operar, sem restrições, com muitos programas e projetos não poderão aeronaves STOVL de interceptação e ser logo implementados, ficando para as ataque e com helicópteros antissubmarino etapas 3 e 4. Como resultado da economia e de emprego geral, bem como com de escala, espera-se que, na Etapa 3, lotes ARP-E para missões de apoio. É bom adicionais das classes de navios constru- lembrar que, daqui a uma década ou mais ídas anteriormente (como as corvetas da (devido à economia de escala resultante classe Tamandaré e os submarinos da do número de aeronaves produzidas), o classe Riachuelo) apresentem custo de custo de obtenção de aeronaves como obtenção inferior. o F-35B STOVL (ou o V-22 tilt-rotor) Quanto a unidades de assalto anfíbio, poderá ser menor que atualmente107. um NPM do tipo LHD, como os da A fim de reduzir o custo e o prazo classe Mistral francesa (com convoo de obtenção, o NCAM 22 resultaria de corrrido e doca), teria maior capacidade adaptação do projeto do PHM Atlântico, que um PHM do tipo LPH (que não segundo as mesmas linhas de casco, com dispõe de doca), mas seu custo de deslocamento carregado ligeiramente obtenção seria mais elevado109. Este custo superior (cerca de 22 mil toneladas). provavelmente seria menor se comparado Por ter casco projetado segundo normas ao custo total de obtenção de dois navios comerciais de classificação, provavel- distintos: um PHM da classe do Atlântico mente teria custo de operação inferior ao (ex-Ocean britânico) e um Navio-Doca de um navio semelhante, mas de projeto Multipropósito (NDM) da classe do tradicional. Num cenário regional de ní- Bahia (ex-Scirocco francês). Todavia, é vel tecnológico intermediário, com nível possível que a flexibilidade de emprego moderado de ameaça aérea, um navio proporcionada por duas unidades com com tais características apresentaria uma capacidades complementares (em lugar relação custo-benefício razoável. Num de uma de maior capacidade) fosse segundo momento, uma ou mais unidades interessante do ponto de vista financeiro adicionais – inclusive para exportação – (fracionamento dos custos), assim como poderiam ser construídas. do tático (dispersão dos alvos). O menor É possível que, já na Etapa 2, sejam custo unitário destes navios permitiria desenvolvidos projetos como o de fragatas construí-los em maior número. polivalentes (armadas com mísseis super- Na Etapa 4, mais distante no tempo, fície-ar de defesa de área) e o de Navios de predominarão as prioridades de longo Apoio Logístico (NApLog) multiproduto prazo (Marinha do Futuro). No entanto, (capazes de prestar apoio móvel a uma as três etapas de renovação da Esquadra força naval no mar). Provavelmente, o incluem prioridades relacionadas aos três primeiro submarino de propulsão nuclear níveis (Marinha Atual, do Amanhã e do

107 VALDUGA. Op. cit. 108 BRASIL. Presidência da República. EC no 95/2016. Op. cit. 109 MORE MISTRALS sur La Mer. Op. cit. Ver também: VEY, Jean-Baptiste; IRISH, John. Op. cit.

82 RMB1oT/2019 RENOVAÇÃO DO PODER NAVAL II – Uma abordagem incremental

Futuro), que deverão ser devidamente (ARP) de pequeno e médio porte, para contempladas ao longo de todo o caminho, uso embarcado ou em apoio aos fuzileiros pois, para chegar ao fim almejado, será navais. Em breve, tais aeronaves poderão preciso passar pelas etapas anteriores. ser incluídas na dotação de meios aéreos Assim, o adestramento e a manutenção do PHM Atlântico. É possível que, no dos meios existentes devem coexistir futuro, modelos mais avançados de ARP-E com os projetos de desenvolvimento e – inclusive para missões de combate obtenção de novos meios, bem como com a partir de NAe ou NCAM – sejam as pesquisas sobre tecnologias inovadoras objeto de programas de desenvolvimento e novos materiais, cujos resultados serão autóctones, mediante parcerias entre a aplicados aos futuros meios. MB e a indústria aeronáutica brasileira Algumas tecnologias (como lasers de – possivelmente com a participação de alta energia e plataformas não-tripuladas) empresas estrangeiras111. terão aplicação mais imediata – sendo A indisponibilidade de satélites que algumas estão entrando em servi- próprios de reconhecimento e vigilância ço nas Forças Armadas das principais marítima é um óbice à implantação potências. Já outras (inclusive meios plena do SisGAAz. Provavelmente, tal autônomos, dotados de inteligência deficiência – que limita a capacidade artificial) poderão necessitar de um de Consciência Situacional Marítima período de maturação (pelo menos no (CSM) do Brasil – só será superada no caso do Brasil) mais longo110. Em fu- longo prazo. Até lá, outros sistemas de turo previsível, o desenvolvimento de detecção e sensoreamento deverão ser novas tecnologias e sistemas de armas empregados. A MB está acompanhando avançados poderá não estar ao alcance os testes de um novo tipo de radar de potências médias, como ainda será nacional OTH (com alcance superior ao por muito tempo no Brasil. Entretanto, do horizonte), instalado junto ao farol a manutenção de um esforço contínuo de Albardão (RS)112. Para complementar de pesquisa e desenvolvimento (P&D) os radares OTH, a aviação de patrulha será essencial para encurtar a distância marítima e as ARP de média altitude, que nos separa dos países “de ponta” em poderá ser aproveitado – visando relação aos meios de Defesa. substituir (parcialmente) os satélites A MB vem realizando testes com vários – o potencial das ARP estratégicas de tipos de aeronaves remotamente pilotadas grande altitude e longa autonomia (Hale),

110 PESCE. “Cenários prospectivos”. Op. cit. 111 PADILHA, Luiz. “Programa ARP-E da Marinha do Brasil”. Defesa Aérea e Naval, 21 fev. 2014. Disponível em: . Acesso em 17 fev. 2019. Ver também: WILTGEN, Guilherme. “Unifa: II Seminário Nacional sobre Aeronaves Remotamente Pilotadas em Combate”. Defesa Aérea e Naval, 15 jun. 2018. Disponível em: . Acesso em 17 fev. 2019. 112 LOPES, Roberto. “OTH 0100: Almirantado reage com interesse à novidade do radar da IACIT”. Poder Naval, 21 jun. 2018. Disponível em: . Acesso em 23 jun. 2018. Ver também: PADILHA, Luiz. “Radar OTH 0100 – IACIT apresentará o sistema na Exponaval 2018”. Defesa Aérea e Naval, 30 nov. 2018. Disponível em: . Acesso em 30 nov. 2018.

RMB1oT/2019 83 RENOVAÇÃO DO PODER NAVAL II – Uma abordagem incremental chamadas de “pseudossatélites”, por conjuntura de austeridade e escassez de operarem acima do tráfego aéreo113. recursos, conseguirá a Marinha do Brasil, No início do século XXI, plataformas de forma sustentada, renovar seus meios e, navais tradicionais, como NAe, navios de simultaneamente, desenvolver o segmento escolta e submarinos convencionais, perma- naval da BID brasileira? necem válidas, apesar do advento de “novas O planejamento de curto, médio e tecnologias” aplicadas ao Poder Naval. Nas longo prazo da MB deve ser superposto e tarefas de controle de área marítima e de integrado, a fim de garantir sua continui- projeção de poder, um NAe pode ser com- dade. No curto prazo, a ênfase deve ser no plementado ou substituído por outros meios. aprestamento dos meios; no médio prazo, No atual estágio de desenvolvimento da nos programas de desenvolvimento ou tecnologia, porém, o emprego de aeronaves obtenção de novos meios; e no longo prazo, embarcadas em NAe é ainda essencial, para nos programas de CT&I. Entretanto, todos a defesa aérea sobre o mar114. Deve-se estar os níveis de prioridade devem ser adequa- atento à possível evolução do papel deste damente contemplados. É preciso evitar o tipo de navio nas principais Marinhas. A “encolhimento” ou rebaixamento do Poder introdução, por diversas potências rivais, Naval brasileiro, quer pelas “compras de de mísseis balísticos antinavio e outros oportunidade”, quer pela redução da MB à sistemas de armas avançados – associada condição de simples Guarda Costeira. Nossa à adoção, pela Marinha dos EUA, do con- Marinha deve preservar e (posteriormente) ceito de “letalidade distribuída” – poderá ampliar sua capacidade de atuar em áreas mudar o foco do emprego dos NAe dessa marítimas distantes do litoral brasileiro. Marinha para a defesa aérea e a superio- Historicamente, o desenvolvimento de ridade aérea, priorizando a proteção aos projetos próprios de navios de emprego mi- navios lançadores de mísseis ofensivos litar, em nosso país, recebeu atenção muito empregados na projeção de poder115. menor do que a conferida à construção em estaleiros locais. Não há justificativa econô- CONCLUSÃO mica para isso, uma vez que o projeto básico de uma nova classe de navios custa cerca No final de 2018, foram finalmente de 10% do custo total de obtenção da pri- aprovados pelo Congresso Nacional os meira unidade da classe. A fim de eliminar textos das novas versões da PND, da END e a dependência externa, associando Defesa e do LBDN. A próxima revisão destes docu- desenvolvimento, devemos projetar nossos mentos, que já teve início, deve ser subme- próprios navios de guerra. Inicialmente, tida em 2020 à apreciação do Legislativo. devem ser construídos navios simples e Também estava prevista para final de 2018 robustos, cujos custos de obtenção e ope- a conclusão da revisão do Paemb. Numa ração sejam compatíveis com a realidade

113 AIRBUS inaugura primeiro centro operacional do mundo para o Pseudossatélite Zephyr. Defesanet, 4 dez. 2018. Disponivel em: . Acesso em 20 dez. 2018. Ver também: AIRBUS Zephyr. Disponível em: . Acesso em 20 dez. 2018. 114 PESCE. NAe e aviação embarcada, p. 37-39. 115 RUBEL, Robert C. “Use Carriers Differently in a High-End Fight”.USNI Proceedings, Annapolis, MD, v. 144, n. 9 (1,387), p. 34-38, Sep. 2018.

84 RMB1oT/2019 RENOVAÇÃO DO PODER NAVAL II – Uma abordagem incremental orçamentária. O aspecto financeiro constitui rea), com capacidade secundária de apoio um grave limitador de quaisquer iniciativas aerotático a operações anfíbias limitadas. de obtenção de autonomia tecnológica para Com relação às aeronaves STOVL, é a Defesa no Brasil. No Orçamento da União razoável supor que, daqui a uma década para 2019, os recursos destinados à Defesa ou pouco mais (tempo necessário à obten- e a outras áreas vitais devem ser novamente ção da plataforma), seu custo unitário de objeto de contingenciamento. obtenção tenha caído, devido à economia Nos próximos anos, a falta de recursos de escala na produção de aeronaves como poderá forçar a MB a limitar seus inves- o F-35B ou um possível concorrente. timentos, priorizando o PNM e o Prosub, Quanto à plataforma em si, o uso de um assim como corvetas e navios-patrulha. casco projetado segundo normas de clas- Aparentemente, o nível de prioridade atri- sificação comerciais permite que a mon- buído ao Pronae teria diminuído. Numa tagem modular deste seja realizada, por conjuntura de austeridade fiscal e escassez exemplo, num estaleiro com experiência de recursos, será preciso “pensar fora da na construção de navios mercantes porta- caixa”, para evitar a extinção da aviação -contêineres. A adaptação de um modelo embarcada de asa fixa em nossa Marinha. de casco existente simplificaria o projeto e A formulação ampla dos requisitos para permitiria reduzir o custo da obra e o prazo o Pronae permite que se pense numa so- de obtenção. Utilizando a metodologia do lução técnica diferente da opção Catobar, “multiplicador dos 6%”, empregada em prevista originalmente. países da Otan, estima-se em pouco mais Uma das possibilidades seria optar por de US$ 600 milhões (a preços de 2018) o um NPM híbrido (do tipo LHD), capaz de custo total de obtenção de tal navio. atuar tanto como plataforma de controle A renovação progressiva do Poder de área marítima como de assalto anfíbio. Naval brasileiro, segundo uma abordagem Todavia, um navio “faz-tudo”, dotado incremental, deverá inicialmente tirar de convoo corrido (com rampa ski-jump proveito de tecnologias intermediárias, para aeronaves STOVL), assim como de cujo desenvolvimento ou cuja obtenção, doca para embarcações, teria custos de pelo Brasil, não estejam sujeitos a vetos obtenção e operação maiores que os de um e boicotes. A fim de colocar em prática NCAM mais simples (sem doca), otimiza- uma estratégia que adote uma abordagem do para operação com meios aéreos. Em incremental para a renovação dos meios tal contexto, visualizamos uma “solução que constituem o Poder Naval, torna-se de transição” rápída, simples e de custo necessário ter uma visão diacrônica da moderado. Assumindo que a MB optasse evolução de tais meios. Tal visão deverá por substituir seus AF-1B/C por aeronaves ser capaz de analisar o passado e o presen- STOVL (inicialmente um lote de AV- te, para a formulação do futuro desejável. -8B+ modernizados), esta poderia utilizar Numa abordagem incremental à renova- o modelo de casco do PHM Atlântico ção do Poder Naval brasileiro, as diversas para projetar um navio simples e austero etapas do cronograma de investimentos (designado como Projeto NCAM 22), deverão contemplar (em consonância com capaz de operar com aeronaves STOVL, o conceito de “núcleos de capacitação” de helicópteros e ARP-E. Este empregaria Vidigal) conjuntos completos de meios sua dotação de meios aéreos no controle operativos, de crescente complexidade. de área marítima (enfatizando a defesa aé- Cada etapa corresponderá a um conjunto

RMB1oT/2019 85 RENOVAÇÃO DO PODER NAVAL II – Uma abordagem incremental de capacitações, que se ampliarão progres- de submarinos). Tal processo prosseguiria sivamente, conforme se estende o alcance no período 2032-2039, acompanhando a geográfico. A ampliação da capacidade dos progressiva ampliação do alcance geográ- meios acompanhará a evolução das neces- fico das operações. O processo culminaria sidades ao longo do processo de construção no período 2040-2056, com a possibilidade de uma Marinha oceânica, capaz de assu- (caso haja condições) de criação, em futuro mir o papel dominante entre as Marinhas de mais distante, de uma 2a Esquadra. países banhados pelo Atlântico Sul. A abordagem incremental visualizada Além das plataformas, seriam objeto de seria, em princípio, viável. Contudo, ao renovação – preferencialmente por meio de longo do processo de renovação, os efeitos programas autóctones de desenvolvimento limitadores da EC no 95/2016 sobre os in- – os armamentos e sistemas de armas, as- vestimentos em programas de Defesa de- sim como os sistemas de telecomunicações verão ser levados em conta – uma vez que e os diversos equipamentos de bordo. A o teto para o aumento de gastos públicos, renovação dos meios aeronavais – assim fixado por aquela emenda constitucional, como de sistemas de sensoriamento remo- deve ser respeitado. No caso da renovação to – deveria ser feita, sempre que possível, da Esquadra, acima exemplificado, como com a efetiva participação do segmento ae- os efeitos da citada emenda devem se roespacial de nossa BID. Além dos meios prolongar até 2035, muitos programas e navais e aeronavais tradicionais, cuja va- projetos não poderão ser implementados lidade permanece, as “novas tecnologias”, nas duas primeiras etapas, ficando para as cuja aplicação ao Poder Naval constitui etapas finais do processo. fenômeno recente, também deverão ser Diante das múltiplas carências do País, objeto de programas de P&D. a austeridade econômica prolongada pode A necessidade de renovação da Esqua- resultar numa espécie de “moratória” dos dra brasileira – que atualmente enfrenta investimentos em Defesa e em áreas vitais um problema de “obsolescência em bloco” para o desenvolvimento. Limitados ao de seus meios (em particular quanto aos mínimo no curto e médio prazo, tais inves- navios de escolta) – oferece uma excelente timentos se acumularão no longo prazo. Ao oportunidade, para exemplificar (ainda que longo do processo, o principal fator de risco hipoteticamente) o uso de uma abordagem é a imprevisibilidade econômica, com possi- incremental em quatro etapas, cobrindo o bilidade de surgimento de crises a qualquer período 2019-2056 (correspondente a 38 momento. Em vista disso, todos os proje- exercícios fiscais). No período 2019-2023, tos e programas, que constam do Paemb, seria feita a reposição dos navios que derem encontram-se sob permanente ameaça. Tal baixa por unidades novas ou (não havendo constatação talvez seja o principal freio alternativa) por “compras de oportunidade”. à elaboração de qualquer planejamento No período 2024-2031, o efetivo de navios (mesmo modesto) que vise dotar o Brasil da Esquadra seria recompletado, visando de um Poder Naval compatível com as suas atingir o quantitativo de meios previsto aspirações e seus objetivos estratégicos, em pelo Paemb para a 1a Esquadra (acrescido toda a extensão do Atlântico Sul.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Poder Naval; Projeto; Política Nacional; Política Marítima; Construção Naval;

86 RMB1oT/2019 RENOVAÇÃO DO PODER NAVAL II – Uma abordagem incremental

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90 RMB1oT/2019 QUANTO TEM CUSTADO MANTER A PIRATARIA MARÍTIMA CONTROLADA

HENRIQUE PEYROTEO PORTELA GUEDES* Capitão de Mar e Guerra (Marinha de Portugal)

m pleno dealbar do século XXI e foi abordada por piratas. Ao contrário Equando, na sequência dos atentados do que se possa julgar, este não foi o de 11 de setembro de 2001, nos Estados primeiro sequestro deste século naquela Unidos da América (EUA), as maiores região, pois antes já se tinham registrado preocupações internacionais em termos 38 (três em 2002, um em 2003, 15 em de segurança encontravam-se direcionadas 2005, cinco em 2006, 12 em 2007 e dois para a luta contra o terrorismo, eis que surge em 2008, antes do Le Ponant, segundo o uma nova preocupação para a comunidade IMB1). Contudo, foi este episódio com o internacional: a pirataria marítima no iate de luxo que trouxe novamente para Corno de África, mais propriamente nas a ribalta a pirataria marítima, fenômeno águas da Somália e do Golfo de Ádem. que muitos já consideravam extinto há No dia 4 de abril de 2008, um pouco por anos. Na realidade ela nunca deixou de todo o mundo, as televisões começaram os existir, tendo, sim, alguns períodos de seus noticiários com a notícia do sequestro, acalmia ao longo da história, em que por piratas somalis, do iate de luxo francês o número de atos era diminuto e não Le Ponant, com os seus 30 tripulantes a chegava a ser notícia. No caso particular bordo. Esta embarcação encontrava-se da região do Golfo de Ádem, a situação foi navegando no Golfo de Ádem quando evoluindo negativamente, e de forma tão

* N.R.: Autor do livro A Pirataria Marítima Contemporânea: as duas últimas décadas. Colaborador costumeiro da Revista Marítima Brasileira, em especial sobre Pirataria Marítima (2o e 4o trim./2008, 3o trim./2010, 3o trim./2011, 3o trim./2013, 3o trim./2014, 3o trim./2015, 1o trim./2016 e 1o trim./2017). 1 IMB – International Maritime Bureau. QUANTO TEM CUSTADO MANTER A PIRATARIA MARÍTIMA CONTROLADA rápida que se tornou mesmo dramática. A evolução, basta dizer que em 2005, em gravidade da mesma não provinha só do média, para se libertar um navio, teria que quantitativo de navios sequestrados com se pagar cerca de US$ 150 mil. Já o resga- as respetivas tripulações, mas também te do superpetroleiro Sirius Star, de 332 m das exorbitantes quantias pagas pelos de comprimento e 58 m de boca (largura), respetivos resgates, do tempo que levavam sequestrado em 15 de novembro de 2008, as negociações para a libertação destes, custou US$ 3 milhões, enquanto o do dos custos associados a estas, dos maus superpetroleiro Irene SL, com dimensões tratos que as tripulações sofriam enquanto idênticas às do Sirius Star, sequestrado estavam reféns e do aumento do valor dos em 9 de fevereiro de 2011, cerca de dois seguros dos navios. Para piorar a situação, anos e dois meses mais tarde, importou em contribuíram também os custos adicionais cerca de US$ 13,5 milhões. Vemos assim gastos em combustível, quer devido à que, em seis anos, passou-se de um valor necessidade de os navios aumentarem as de resgate por navio de US$ 150 mil para suas velocidades durante o trânsito pelas US$ 13,5 milhões. perigosas águas do Corno de África, quer A One Earth Future Foundation2 estimou pelo fato de terem que alterar as suas rotas, que a pirataria marítima nesta área do glo- percorrendo distâncias muito maiores, de bo, quando estava no seu auge, em 2010, modo a evitar passar por esta região. custou à comunidade internacional entre Para que se tenha uma ordem de gran- US$ 7.000 milhões e US$ 12.000 milhões, deza dos valores pagos para resgatar os montantes resultantes do somatório dos navios/tripulações sequestrados e a sua custos associados aos fatores anteriormente

Superpetroleiro Irene SL Foto: Paralika Irene

2 A One Earth Future Foundation é uma fundação não-governamental, sem fins lucrativos, e que tem se dedicado muito ao estudo da pirataria marítima.

92 RMB1oT/2019 QUANTO TEM CUSTADO MANTER A PIRATARIA MARÍTIMA CONTROLADA abordados, como o pagamento de resgates, a pirataria reduziu substancialmente no o aumento dos seguros, maiores consumos Corno de África, foram ainda gastos entre de combustível etc. Tornou-se, assim, im- US$ 5.700 milhões e US$ 6.100 milhões no perativo atuar para parar toda esta atividade seu combate. Contribuíram decisivamente e repor a segurança das rotas marítimas para esses valores os custos com a segu- do Corno de África. Isso foi conseguido à rança armada – entre US$ 1.150 milhões custa de várias resoluções do Conselho de e US$ 1.530 milhões –, com o consumo Segurança das Nações Unidas, da Organi- adicional de combustível, pela necessidade zação Marítima Internacional (IMO) e de do aumento da velocidade durante a nave- várias ações comuns/ decisões do Conselho gação nesta região – que importou em cerca da União Europeia, que foram adotadas de US$ 1.530 milhões –, com as forças tendo em vista contribuir para a dissua- navais e outras atividades militares – que são, a prevenção e a repressão dos atos rondou os US$ 1.090 milhões –, e com o de pirataria/AMACN3 ao largo da costa acréscimo nos prêmios dos seguros, em que da Somália. Foram estas que legitimaram foram gastos cerca de US$ 550,7 milhões. as atuações da Organização do Tratato do Se tivermos em conta que passaram pelo Atlântico Norte (Otan), da EUNAVFOR4, Oceano Índico cerca de 66.600 navios das CMF5 e de várias Marinhas que, não (OBP6) em 2012, podemos considerar, estando integradas em coligações, estive- de uma forma meramente acadêmica, que ram, ou ainda estão, presentes nas águas garantir a navegação em segurança a cada da Somália e do Golfo de Ádem. A forte navio que passou pela região da Somália presença naval na região e a agilização da naquele ano custou, individualmente, entre troca de informação sobre as atividades US$ 85.585 e US$ 91.591. de pirataria nesta área, quer entre forças Os custos com o combate à pirataria quer entre estas e as organizações em terra, no Corno de África foram reduzidos nos responsáveis por receber e acompanhar últimos anos, tendo sido gastos em 2017 as comunicações dos navios mercantes cerca de US$ 1.400 milhões, ou seja, que tinham sido alvo de ataques piratas, cerca de um quarto do que se estima ter associadas ao fato de a grande maioria dos sido gasto em 2012. Apesar do valor ser navios ter começado a embarcar segurança muito menor, comparativamente, não armada, foram fatores determinantes para deixa, contudo, de ser extremamente se conseguir controlar a pirataria no Corno elevado, tendo em conta que em circuns- de África. Estima-se que em 2012 cerca de tâncias normais, sem pirataria, não devia 50% dos navios que transitaram nesta área ser necessário despender qualquer valor tinham segurança armada a bordo. adicional. No entanto, tendo em conside- A fatura paga pela adoção destas medi- ração que nessa região, em 2017, só houve das, por parte da comunidade internacional, um navio abordado e três sequestrados7, ou seja, de uma forma indireta por todos a comunidade internacional, em geral, e nós, tem sido muito elevada, senão veja-se, o comércio marítimo internacional, em a título de exemplo, em 2012, ano em que particular, só podem estar satisfeitos.

3 AMACN – Assaltos à Mão Armada Contra Navios. 4 Eunavfor – European Union Naval Forces. 5 CMF – Combined Maritime Forces. 6 OBP – Ocean Beyond Piracy. 7 O Navio-Tanque Aris 13 e as Dhows Casayr II e Al Kausar.

RMB1oT/2019 93 QUANTO TEM CUSTADO MANTER A PIRATARIA MARÍTIMA CONTROLADA

Piratas nigerianos Foto: Swat Security Systems

Controlada a situação nas águas da respetivamente, 37 e 52. Os alvos princi- Somália, o problema maior, no presente pais dos sequestradores são normalmente momento, reside na costa oeste de África, os comandantes e os chefes de máquinas. mais precisamente na região do Golfo da Estes dão mais garantias aos piratas de Guiné. Segundo o OBP, nas águas deste que os armadores irão pagar o valor do golfo foram registrados cerca de 97 ata- resgate pedido para a sua libertação, uma ques piratas em 2017, 95 em 2016 e 54 vez que são, juntamente com o imediato, em 2015. O fato de a pirataria, nesta zona os tripulantes mais “valiosos” a bordo, do globo, nunca ter sido muito mediática, não só pelo estatuto que têm, mas também faz com que passe mais despercebida. pelo fato de a maioria ser de europeus. Os Mantém-se, contudo, muito ativa, no- armadores veem-se, assim, na obrigação meadamente, nas águas da Nigéria, mais de os resgatar, o que nem sempre acontece, propriamente na região do delta do Rio pelo menos de imediato, em relação aos Níger – nos Estados de Bayelsa e Rivers restantes marítimos, cuja nacionalidade –, estendendo-se até cerca de 170 milhas não é europeia. No entanto, apesar de (314 km) de terra. Os ataques piratas, continuarem a sequestrar os comandantes cada vez mais, têm como grande objetivo e os chefes de máquinas, ultimamente os sequestrar marítimos para a obtenção de piratas têm sequestrado um número cada resgates. Em 2017 foram sequestrados vez maior de tripulantes por ataque. Em cem tripulantes nas águas do Golfo da 2017, em média, chegaram a ser seques- Guiné, que é praticamente o mesmo que trados cinco elementos de cada tripulação, dizer nas águas da Nigéria, enquanto em embora nem todos os tripulantes dos navios 2015 e 2016 tinham sido sequestrados, atacados sejam alvo de sequestro.

94 RMB1oT/2019 QUANTO TEM CUSTADO MANTER A PIRATARIA MARÍTIMA CONTROLADA

O bunkering, ou seja, o roubo de vidades navais regionais e internacionais combustível aos navios petroleiros para e na partilha de informação entre centros depois ser vendido no mercado paralelo, de coordenação. foi, durante muitos anos, um dos grandes Outra região do globo onde a pirataria objetivos dos piratas nigerianos, por ser continua muito presente é a Ásia9, tendo muito lucrativo. Contudo, o abaixamento ocorrido, segundo o OBP, 99 incidentes10 do preço do crude sentido nos últimos em 2017, nos quais se incluem três atos de anos fez reduzir esta prática, estando os bunkering. Houve 233 marítimos afetados piratas atualmente dedicados quase em diretamente pela pirataria nesta região, exclusividade ao sequestro de tripulantes. ou seja, foram vítimas dos piratas que Os custos do combate à pirataria nesta entraram a bordo dos seus navios. Desses, região do globo foram estimados, em 16 foram sequestrados, tendo alguns deles 2017, em US$ 818,1 milhões. A grande estado em cativeiro durante cerca de oito parcela destes gastos, cerca de US$ 213,7 meses, enquanto 11 foram mortos e um milhões, foi empregue em segurança foi maltratado. As águas das Filipinas, armada embarcada, sendo, nesta região, nomeadamente as dos mares de Sulu e estes serviços habitualmente contratados de Celebes, tornaram-se uma das zonas ao Estado costeiro. Os serviços de patru- mais perigosas de toda a região, existindo lha privados para acompanhar os navios mesmo a possibilidade de os grupos de custaram cerca de US$ 135 milhões. As- piratas que aí operam poderem estar de sim sendo, e somando estas duas parcelas alguma forma ligados ao grupo rebelde relacionadas com a segurança marítima Abu Sayyaf. No entanto, um acordo trila- contratada, foram gastos com esta cerca teral, assinado em junho de 2017, entre a de US$ 348,7 milhões. Outro montante Indonésia, a Malásia e as Filipinas, o In- que merece especial destaque são os domalphi, para o patrulhamento marítimo cerca de US$ 218 milhões gastos com e aéreo destes mares, já começou a surtir o funcionamento da agência nigeriana efeito e, consequentemente, o número de Nimasa8, que tem como missão alcançar incidentes nesta área está sendo reduzido. e sustentar o transporte seguro (safety e Para proteger a navegação da pirataria, foi security), limpar os oceanos e melhorar a criado um corredor de tráfego recomen- capacidade marítima. Os marítimos, pelo dado na região entre o Golfo de Moro e o fato de navegarem numa zona onde existe Estreito de Basilan. risco de pirataria, recebem diariamente Nesta zona do globo, a informação uma quantia adicional enquanto ali per- existente sobre os custos associados ao manecerem, estimando-se que em 2017 combate à pirataria não é ainda muito o montante gasto com estes pagamentos consistente; contudo, apresentam-se tenha rondado os US$ 111 milhões. Os alguns dos valores que estão disponíveis restantes US$ 140,4 milhões que faltam em relação ao ano de 2017: a Malay- mencionar para perfazer os US$ 818,1 mi- sean Maritime Enforcement Agency, lhões gastos na região foram, sobretudo, conhecida como a guarda-costeira da empregues em seguros adicionais, em ati- Malásia, gastou cerca de US$ 23,138

8 Nimasa – Nigerian Maritime Administration and Safety Agency. 9 Desde a costa leste da Índia até ao Mar de Banda, na Indonésia. 10 Não estão incluídos os ataques nos portos.

RMB1oT/2019 95 QUANTO TEM CUSTADO MANTER A PIRATARIA MARÍTIMA CONTROLADA milhões no combate à pirataria; a carga Podemos, assim, considerar que, e os objetos pessoais das tripulações que durante o ano de 2017 e em termos glo- foram roubados importaram em cerca de bais, foram gastos no combate à pirataria US$ 6,320 milhões e o orçamento para marítima cerca de US$ 2.250 milhões. o ReCAAP11 foi de cerca de US$ 2,256 Este montante, à primeira vista, pode milhões. Assim sendo, podemos inferir até parecer muito elevado, contudo, se que foram gastos nesta região cerca de levarmos em conta que, por exemplo, um US$ 31,714 milhões. superpetroleiro do tipo Very Large Crude As águas da América Latina e das Carrier12 totalmente carregado transporta Caraíbas ainda são menos faladas, no que uma carga avaliada em cerca de US$ 119 diz respeito à pirataria marítima, do que milhões (24 de maio de 2017), podemos as da Ásia. Contudo, o número de atos de afirmar que o combate à pirataria marí- pirataria nestas tem aumentado. Segundo tima a nível mundial custou em 2017 o a OBP, houve 71 incidentes em 2017, en- equivalente à carga de 19 navios deste quanto em 2016 só tinha havido 27. Dos gênero. Se tivermos em consideração ataques cometidos pelos piratas em 2017 que só diariamente existem entre 30 a resultaram dois tripulantes mortos e oito 40 navios deste tipo navegando, muitos maltratados. Os atos praticados nesta re- deles em áreas onde a pirataria está ativa gião têm como alvo, normalmente, os iates atualmente, e que o comércio marítimo que se encontram fundeados (ancorados). internacional movimenta bilhões de dó- Os países mais afetados ultimamente, entre lares por ano, pode-se considerar que os outros, têm sido a Venezuela e a Colômbia. cerca de US$ 2.250 milhões empregues Nesta região, os cálculos dos custos a nível mundial no combate à pirataria associados à pirataria só tiveram em conta não têm grande expressão, atendendo ao o valor do material roubado a bordo, que benefício, em termos de segurança marí- rondou os US$ 948.690. tima, resultante do seu emprego.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; África; Pirataria; Segurança;

11 ReCAAP – Regional Cooperation Agreement on Combating Piracy and Armed Robbery against Ships in Asia. 12 Um navio deste tipo tem um comprimento entre 300 e 330 metros e uma boca (largura) de cerca de 60 metros e pode transportar entre 1,9 e 2,2 milhões de barris de petróleo bruto, ou seja, entre 302 e 350 mil m3 de petróleo. Se considerarmos o preço do barril de Brent nos US$ 54,14 (24 de maio de 2017), um navio deste gênero, com 330 m de comprimento, totalmente carregado transporta uma carga avaliada em cerca de US$ 119 milhões.

96 RMB1oT/2019 A CONTINUAÇÃO DA FESTA: Ondas, Corpúsculos e as duas Ranhuras*

Eu acho que posso dizer com segurança que ninguém compreende Mecânica Quântica Richard Feynman, Nobel de Física de 1965

PAULO ROBERTO GOTAÇ** Capitão de Mar e Guerra (Refo)

SUMÁRIO

Introdução Retrospecto A relutância, os raios X e o Efeito Compton O surgimento da Mecânica Quântica Bohr e o espectro do hidrogênio Os saltos quânticos de Heisenberg De Broglie e suas ondas Schrödinger e sua equação O que significa? A Interpretação de Copenhague A dupla ranhura Conclusão

INTRODUÇÃO interessada na explicação dos fenômenos da Física relacionados com a propagação presente trabalho constitui a continu- e natureza da luz e da radiação. Esses fe- O ação de outro [1] em que se imaginou nômenos, ao longo dos séculos, desde que uma festa de salão que, com suas várias o método baseado na observação foi esta- evoluções, deixou recorrentemente sur- belecido por Galileu Galilei (1564-1642) presa a plateia científica especialmente [2], apresentou vários desdobramentos.

* Continuação do artigo "Corpúsculos e Ondas – Uma estranha dança", publicado na RMB do 4o trim/2017. ** Foi declarado Guarda-Marinha em junho de 1963; é graduado em Física (UERJ-1971); docência em Eletromagnetismo (Faculdade Veiga de Almeida - 1974; Universidade Católica de Petrópolis - 1975/76). Foi chefe do Departamento Técnico do Centro de Munição da Marinha (1984/86) e chefe do Departamento de Pesquisa do Instituto de Pesquisas (1986/88). Após sua transferência para a reserva, foi chefe de Projeto do Instituto Nacional de Projetos Especiais (1988-1996) e exerceu atividade docente na Escola Naval em Eletromagnetismo e Física (1996-2008). Vários artigos publicados em revistas sobre Física. A CONTINUAÇÃO DA FESTA: Ondas, Corpúsculos e as duas Ranhuras

primeira forma do que viria a ser conheci- do como Mecânica Quântica, formulada por Niels Bohr em 1913. Citam-se as limitações do Esquema de Bohr que resultaram no estabelecimento, por Heisenberg, de uma teoria quântica mais consistente; em seguida, se apresenta a proposta revolucionária de Broglie, sugerindo propriedades ondulatórias das partículas, a extensão por Schrödinger, com sua equação básica e a interpretação probabilística proposta por Max Born. A exposição encerra-se com uma rápida referência à Interpretação de Cope- nhague e a descrição de um experimento Figura 1 – Galileu Galilei mostrando a perplexidade da Mecânica Como se verá, outras perplexidades Quântica. As referências biográficas dos emergiram, mais sutis, oriundas dos cientistas citados no trabalho anterior não trabalhos dos cientistas que construíram, serão repetidas. durante as quatro primeiras décadas do século XX, o formalismo da Mecânica RETROSPECTO Quântica, extremamente bem-sucedido quando utilizado em desenvolvimentos Inicialmente, os corpúsculos propostos tecnológicos sem os quais a vida moderna em 1704 por Isaac Newton (1643-1727) em não seria como é, embora a sua interpreta- sua obra Opticks [1], escrita em inglês, e em ção, ou seja, seu significado em termos da outros trabalhos (os primeiros ocupantes intuição da escala humana, esteja sujeita do salão até então vazio) serviram de base a debate até hoje. para explicar os vários aspectos ligados às A primeira parte deste artigo será manifestações luminosas, modelo que se dedicada ao resumo da situação até a adaptava perfeitamente à elucidação de um proposta de Einstein para explicar o efeito bom número de situações, como a reflexão, fotoelétrico, ponto em que foi fechado o a refração que ocorre quando passa de conteúdo do trabalho anterior. Em segui- um meio para o outro e a decomposição da, será feita uma análise dando conta da da luz branca nas cores fundamentais ao relutância da comunidade científica em atravessar um prisma, embora esse mo- aceitar a visão corpuscular da radiação, delo fosse omisso em outras situações. finalmente vencida pelos resultados for- Apesar de tal formulação ter sido, desde o necidos, mediante o uso dos raios X, do seu aparecimento, contestada por outros, chamado Efeito Compton. como o holandês Christian Huygens (1629- Será abordada então a inevitável incur- 1695), que sugeria a natureza ondulatória são dos conhecimentos quânticos conso- para interpretar a luz, ela foi aceita por lidados até os primeiros anos do século mais de um século, por conta do prestígio XX, na tentativa de descobrir a estrutura desfrutado pelo cientista britânico no meio atômica dos elementos, estimulada pelos acadêmico. Foi definitivamente desbanca- trabalhos de Rutherford que resultaram na da, no entanto, sendo seus protagonistas

98 RMB1oT/2019 A CONTINUAÇÃO DA FESTA: Ondas, Corpúsculos e as duas Ranhuras corpusculares convidados a se retirar do salão, como resultado das experiências de interferência realizadas pelo inglês Tho- mas Young (1773-1829) e dos trabalhos teóricos do francês Augustin-Jean Fresnel (1788-1827). As ondas reinaram, então, triunfan- tes, e, por meio do trabalho teórico do brilhante cientista escocês James Clerk Maxwell (1831-1879), foi estabelecida a revolucionária unificação da ótica com a eletricidade e o magnetismo, estes úl- timos anteriormente já unificados pelos experimentos e estudos do dinamarquês Figura 3 – Michael Faraday Hans Christian Oersted (1777-1851) e de Michael Faraday (1791-1867) [3], A harmonia ondulatória foi perturbada constituindo o que se entende hoje por pela introdução, no salão de danças, de eletromagnetismo. novas partículas. Eram, porém, de outro A verificação experimental das chama- tipo, mais sofisticadas, dotadas de cargas das ondas eletromagnéticas, previstas por elétricas e capazes de interagir com as Maxwell, que enquadrou a luz, até então radiações eletromagnéticas de modo considerada um fenômeno particular, como particular, como revelado pelo trabalho uma manifestação de oscilações dos chama- do físico Hendrik Antoon Lorentz (1853- dos campos eletromagnéticos, foi realizada 1928), Nobel de Física em 1902. em 1883 por Heinrich Hertz (1857-1894), Sua descoberta foi possibilitada pelo e seu desenvolvimento, abrangendo fre- desenvolvimento das chamadas bombas quências de radiações não visíveis, como de vácuo, às quais era aplicada uma as ondas de rádio, pode ser considerado diferença de potencial, evoluídas para o como um importante motor da revolução que ficou conhecido como tubos de raios industrial que estava em curso na Europa. catódicos, usados nos trabalhos de J. J. Thomson (1856-1940), inglês, Nobel de Física em 1906, responsável por esta- belecer a natureza corpuscular, com os respectivos parâmetros quantitativos, do feixe luminoso resultante da colisão com as poucas moléculas de gás presentes, entre as extremidades do tubo. Além dele, o francês Jean Baptiste Perrin (1870 -1942), mediante os resultados obtidos por Lorentz, dimensionando a interação de cargas elétricas com os campos ele- tromagnéticos, concluiu que a carga da- quelas partículas, que passaram a receber a denominação de elétrons, era negativa, Figura 2 – Hans Christian Oersted com valor exato estabelecido somente

RMB1oT/2019 99 A CONTINUAÇÃO DA FESTA: Ondas, Corpúsculos e as duas Ranhuras em 1909 pelo americano Robert Millikan des discretas, indivisíveis, os quanta de (1868-1953), Nobel de Física em 1923. energia, estranhamente proporcionais à E, assim, a relação entre as ondas já frequência através de uma constante, mais presentes e as partículas recém-desco- tarde promovida a entidade fundamental bertas desenvolveu-se de forma suave e da natureza, que, em homenagem ao sem sobressaltos, com ambas as entidades cientista, ficou conhecida como constante convivendo pacificamente. Mas a harmo- de Planck, representada pela letra h. É na- nia não duraria muito. tural que uma hipótese tão revolucionária não tenha sido imediatamente digerida pela quase totalidade da comunidade científica da época. A ejeção de partículas de uma placa metálica quando sobre ela incide radia- ção de alta frequência, identificadas pelo trabalho do físico alemão Philipp Lenard (1862-1947), Nobel de Física em 1905, como elétrons, fenômeno conhecido por efeito fotoelétrico, foi observado pela primeira vez por Hertz durante seus experimentos para detectar primordial- mente as ondas eletromagnéticas e, por isso, não lhe chamou a devida atenção, e teve frustrada a tentativa, no início do século XX, de uma explicação baseada Figura 4 – Jean Baptiste Perrin na teoria eletromagnética, então no auge de credibilidade. A hipótese revolucionária de Max O impasse não passou despercebido Planck (1858-1947), Nobel de Física em a um jovem funcionário do escritório de 1918, formulada para apagar o incêndio marcas e patentes de Berna, Albert Einstein provocado por uma inconsistência ex- (1879-1955), que, ciente da hipótese quân- perimental ligada à chamada radiação tica de Planck sobre a radiação do corpo do corpo negro, conhecida como a “ca- negro, formulada em 1900, teve a ideia, por tástrofe do ultravioleta” e que, sem que ele mesmo apelidada de heurística, uma es- ele suspeitasse à época, estava abrindo pécie de tentativa de estender o conceito de um panorama novo para a Física, gerou pacotes discretos de energia proporcionais à conclusões surpreendentemente concor- frequência, à própria propagação da luz, ao dantes com os resultados de laboratório. propor, em célebre trabalho de 1905 (o cha- Consistia em interpretar o espectro de mado annus mirabilis, ano milagroso, por energia da radiação do corpo negro, não ser o da publicação de mais dois artigos re- contínuo, como estabelecido na teoria volucionários), a existência de corpúsculos, clássica puramente ondulatória, reconhe- mais tarde conhecidos pela denominação de cidamente bem-sucedida na explicação fótons, que, ao colidirem com os elétrons da de um grande número de fenômenos, placa metálica, expelia-os de lá de acordo embora impotente para elucidar a referida com uma relação matemática simples que contradição, mas composta por quantida- não podia ser deduzida pelos cânones da

100 RMB1oT/2019 A CONTINUAÇÃO DA FESTA: Ondas, Corpúsculos e as duas Ranhuras eletrodinâmica clássica e envolvia a fre- a crença na representação ondulatória da quência da radiação incidente e a constante radiação, sendo tolerada a manifestação de Planck h (ver Figura 5), formando uma discreta somente para a interação da ener- estranha simbiose entre a descrição corpus- gia com a matéria, chancelada por Planck cular e a radiação, geralmente conhecida para elucidar o espectro do corpo negro. por dualidade onda-partícula. Para se ter uma noção da situação, sabe-se que Robert Millikan, na busca de uma comprovação experimental, passou, segundo ele próprio, dez anos de sua vida testando, com base em parâmetros já conhecidos, como a relação e/m entre a carga e a massa do elétron, expressão matemática proposta por Eins- tein, sem encontrar discordância, apesar de, conforme seu registro, Figura 5 – O efeito fotoelétrico – emissão de elétrons por um ela aparentemente violar tudo o material, geralmente metálico, quando exposto a uma radiação eletromagnética que se sabia até então sobre o comportamento da luz [4]. Seus Sem nenhuma conotação de premoni- trabalhos sobre a questão, no entanto, lhe ção que açodadamente se poderia atribuir renderam o Nobel de Física em 1923, a Newton, pois seus corpúsculos possuíam sendo o de Einstein, concedido pela ideia uma natureza completamente diferente da revolucionária, conferido em 1921, quando exibida pelos fótons de Einstein, restau- já era famoso por causa da Teoria da Relati- ravam-se as partículas de luz, sem carga vidade Geral. Teria sido ele laureado se não elétrica, com energias maiores para gran- a tivesse criado e adquirido o decorrente des frequências das radiações associadas, prestígio mundial, por meio da compro- propriedade jamais suspeitada por Newton. vação experimental, obtida mediante os E, assim, o salão de danças hipotético dados coletados durante o eclipse solar de tornou-se caótico, com a introdução de 1919 em Sobral, Ceará? [5]. dançarinos corpusculares agarrados a Outro exemplo ilustrativo sobre a ondas de alta frequência que colidiam com questão refere-se ao fato de que uma banca os elétrons lá previamente estabelecidos, de quatro notáveis, entre eles o próprio podendo expeli-los. Planck, ao propor Einstein, em 1913, para membro da Academia Prussiana de Ciên- A RELUTÂNCIA, OS RAIOS X cias, ressaltou, em sua ata decisória, que E O EFEITO COMPTON não havia, até aquele momento, desenvol- vimento de Física moderna à época que Em que pese a simplicidade da hipóte- não tivesse contado com a participação se e da relação matemática proposta por de alguma ideia do examinando, embora Einstein para explicar o efeito fotoelétrico, a sua proposta dos quanta de luz (fótons) a nova natureza corpuscular da luz que para explicar o efeito fotoelétrico consti- vinha a reboque não foi aceita imediata- tuísse um exagero e que tal ousadia fosse mente pela comunidade científica, tal era perdoada [4]. Seu nome foi efetivado.

RMB1oT/2019 101 A CONTINUAÇÃO DA FESTA: Ondas, Corpúsculos e as duas Ranhuras

Desnecessário ressaltar a importância dos raios X em suas inúmeras aplicações, que vão desde a difração – caráter ondula- tório – em estruturas cristalinas de metais capazes de revelar a disposição de seus átomos até a medicina. Possuem altas frequências, na faixa de 3 x 1016 a 3 x 1019 hertz, bem superiores às do espectro visível, suficientes, portanto, para mani- festar com clareza os aspectos ondulatório, este consagrado à época, e corpuscular imaginados por Einstein, já que a energia dos fótons, estendida a qualquer outro tipo de radiação além da luz, é proporcional à frequência, como já mencionado. A inegável natureza corpuscular, agre- gada, por meio de uma estranha dualidade, Figura 6 – Wilhelm Konrad Röntgen ao modelo ondulatório, só foi, no entanto, Os chamados raios X foram detectados completamente incorporada pela comuni- pela primeira vez pelo físico alemão Wi- dade científica a partir de 1923, quando o lhelm Konrad Röntgen (1845-1923) [5], o físico americano Arthur Holly Compton primeiro a receber um Nobel de Física, em (1892-1962) [8], Nobel de Física em 1901, quando, ao usar uma ampola de vi- 1927, descobriu que, quando um feixe dro contendo gás a baixa pressão e placas de raios X com uma frequência definida submetidas a uma alta tensão, verificou é detectado numa determinada direção, que os elétrons produzidos no catodo, ao após ser refletido pelos elétrons quase se chocarem com o anodo, davam origem estacionários de uma lâmina metálica – a um tipo de raio, dentro do princípio já espalhamento, em linguagem técnica –, a previsto pela teoria eletromagnética de radiação espalhada possui uma frequência Maxwell, segundo o qual cargas elétricas diferente da inicial, sendo a discrepância aceleradas (ou desaceleradas) geravam variável com o ângulo da detecção, fato radiação. A Figura 7 mostra esquema- inconsistente com a visão clássica que ticamente o arranjo experimental usado estabelece a constância da frequência por Röntgen [7]. mesmo depois de espalhada a radiação.

Figura 7 – Formação de raios X

102 RMB1oT/2019 A CONTINUAÇÃO DA FESTA: Ondas, Corpúsculos e as duas Ranhuras

A relação obtida pelo físico harmoni- zou-se com precisão com resultados expe- rimentais, e o fenômeno, hoje conhecido pela denominação de Efeito Compton [9], obrigou os físicos relutantes, que ainda existiam em 1923, a aceitarem a dualidade onda-partícula presente na radiação. Assim, como já assinalado no trabalho anterior [1], o salão onde a dança das on- das e dos corpúsculos se desenvolve passa a apresentar um aspecto estranho. Radia- ções nas quais o aspecto ondulatório se destaca (frequências baixas, menores que as do espectro visível) continuam vivendo em harmonia com os elétrons, partículas puras, com eles interagindo de maneira suave, segundo o modelo de Lorentz, mas são colididos com violência, a ponto de Figura 8 – Arthur Holly Compton poderem ser expelidos [1] por corpúsculos Compton então, assumindo a visão que predominam em radiações mais agi- corpuscular, propôs, como tentativa de tadas (alta frequência), os fótons (efeito explicação, uma possível colisão entre fotoelétrico e Efeito Compton). partículas, em que seriam conservadas, no domínio relativista, a energia e a quan- O SURGIMENTO DA MECÂNICA tidade de movimento, sendo uma delas o QUÂNTICA fóton dos raios X e a outra o elétron quase estacionário, conforme esquematizado na Até 1913, não havia surgido ainda o que Figura 9, onde o ângulo θ indica a direção se convencionou designar por Mecânica de detecção da radiação espalhada. Quântica, dedicada a esclarecer os fenô- menos típicos do átomo e que incorporaria no- vamente a constante de Planck, uma espécie de marca registrada da qual as teorias relacionadas ao mundo microscópico não mais se livrariam. Antes do surgimento da Mecânica Quântica, Max Planck apresen- tou, relutantemente, em 1900, sua hipótese dos quanta de energia pro- porcionais à frequên- Figura 9 – Efeito Compton cia, surpreendentemente

RMB1oT/2019 103 A CONTINUAÇÃO DA FESTA: Ondas, Corpúsculos e as duas Ranhuras bem-sucedida na explicação do espectro quatro unidades menor, estruturalmente, do corpo negro – que desafi ava a teoria portanto, equivalentes a núcleos do átomo clássica –, dando origem ao aparecimento de Hélio [12]. de uma constante, h (que recebeu o seu O propósito era comprovar experimen- nome e mais tarde foi elevada à categoria talmente a validade do modelo do átomo de constante fundamental da natureza). até então aceito, proposto por volta de Nessa época também foi formulada a ex- 1897 por J. J. Thomson, já citado, e que tensão de Einstein, por meio da quantização consistia numa massa esférica homogênea, da própria propagação da radiação, com a carregada positivamente, e em elétrons proposta das partículas de luz, os fótons, negativos nela encravados, formando uma igualmente com energia proporcional à estrutura eletricamente neutra, esquemati- frequência. Neste conceito, a constante de camente representada na Figura 11. proporcionalidade, a mesma de Planck, imagem de demorada aceitação por parte da comunidade científi ca da época, eluci- dava com extrema exatidão, mediante uma relação matemática simples, o chamado efeito fotoelétrico. Em 1911, o cientista neozelandês Ernest Rutherford (1871-1937) [10], Nobel de Química em 1908, conhecido como o pai da Física nuclear, realizou uma série de experimentos envolvendo uma fonte das chamadas partículas Alfa [11], obtidas quando um núcleo instável Figura 11 – Representação esquemática as emite, transformando-o num outro do modelo de Thomson elemento, com um número atômico duas unidades menor e um número de massa Para isso, bombardeou uma fi níssima lâmina de ouro com um feixe de partículas Alfa e observou o espalhamento delas após a colisão com os átomos do ouro [11]. O esquema do experimento é mos- trado resumidamente na Figura 12 [12].

Figura 12 – Esquema do experimento de Figura 10 – Ernest Rutherford Rutherford com partículas Alfa

104 RMB1oT/2019 A CONTINUAÇÃO DA FESTA: Ondas, Corpúsculos e as duas Ranhuras

O padrão de espalhamento invalidou que, ao colocar um prisma diante da luz o modelo de J. J. Thomson e evidenciou visível, ela se decompunha em cores, o com clareza que o átomo não era com- chamado espectro (Figura 14). posto de uma massa de carga positiva, em que os elétrons estariam inseridos, mas de uma minúscula estrutura de car- ga positiva, e o núcleo com os elétrons negativos orbitando em torno dele a uma grande distância relativa, assemelhando- -se a um minissistema solar, conforme esquematizado na Figura 13 [13].

Figura 14 – Decomposição da luz

Átomos de gases confinados em am- polas, ao serem submetidos a descargas elétricas, são excitados e emitem luz ca- racterística que, quando decomposta por um espectrômetro (prisma), apresentam uma distribuição praticamente discreta de frequências, situação que não encontra ex- plicação nas teorias clássicas que previam um espectro contínuo. Assim, uma lâm- pada de vapor de mercúrio, por exemplo, Figura 13 – Modelo atômico de Rutherford possui seu espectro característico, uma espécie de impressão digital do elemento A representação atômica evidenciada mercúrio. Desnecessário acrescentar que o pelos trabalhos de Rutherford, no en- gradativo avanço tecnológico das técnicas tanto, apresentavam uma inconsistência de espectroscopia foi de extrema impor- básica, segundo a qual os elétrons, cargas tância no desenvolvimento de setores elétricas, em órbita, por conseguinte fundamentais, tais como a astronomia e aceleradas, deveriam, como já era de a medicina. conhecimento geral, emitir radiação, O átomo mais simples é o do hidro- dissipando energia até caírem no núcleo, gênio (H), com somente um próton e o que faria com que o mundo atômico es- um elétron orbitando. Não surpreende, tável como o conhecemos não existisse. portanto, que seu espectro seja dos mais simples. Na Figura 15 e na Tabela I BOHR E O ESPECTRO DO [15] são observados os comprimentos de HIDROGÊNIO

A ciência da es- pectroscopia pra- ticamente se ini- ciou quando Isaac Newton observou Figura 15 – Comprimentos de onda

RMB1oT/2019 105 A CONTINUAÇÃO DA FESTA: Ondas, Corpúsculos e as duas Ranhuras

mentos de espalhamento de partículas Alfa de Rutherford e a sua incompatibilidade com a realidade física de que os átomos, afinal, são estáveis e não irradiam continuamente, o que tornaria o mundo im- possível de existir, levaram Tabela I – Frequências de raias um jovem físico dinamarquês, Niels Bohr (1885-1962) [18], onda (frequências) das principais raias que em 1911 deixou Copenhague para (há muitas outras, para comprimentos de trabalhar com Rutherford e J. J. Thomson onda menores – frequências maiores), os na Inglaterra, a formular, em um brilhante seus valores em Angstroms (10-10 m) e insight, três hipóteses ousadas que mis- os correspondentes valores discretos (n). turavam conceitos até então inusitados Tal relativa simplicidade não passou em confronto com a física clássica, com despercebida a um professor de matemá- princípios consagrados por esta última e tica suíço, Johann Jakob Balmer (1825- que inauguraram o que se convencionou 1898) [16], que conseguiu estabelecer, designar como Mecânica Quântica. São talvez por tentativa e erro, uma relação elas, resumidamente: geral muito bem-sucedida para os princi- – Os elétrons orbitam sob ação da pais comprimentos de onda do espectro, força de Coulomb em torno do núcleo, so- em função dos valores consecutivos dos mente em órbitas permitidas, quantizadas, valores discretos (n) [17]. que não irradiam, mantendo, portanto, os O estabelecimento indiscutível do átomos estáveis. Nestas órbitas, a energia modelo atômico deduzido dos experi- dos elétrons é constante.

Figura 16 – Johann Jakob Balmer Figura 17 – Niels Bohr

106 RMB1oT/2019 A CONTINUAÇÃO DA FESTA: Ondas, Corpúsculos e as duas Ranhuras

– Os valores do momento angular gados às propostas originais, inclusive (produto da quantidade de movimento, mv com a introdução de outros números – massa x velocidade – dos elétrons, pela quânticos além do principal, n. O cientista sua distância ao núcleo) (componentes que mais contribuiu para essa atividade de clássicas) dos elétrons também são quan- correção de rumo foi Arnold Sommerfeld tizados, restritos às órbitas permitidas. (1868-1951) [20]. – Quando o átomo é excitado, o elétron sobe seu nível de energia e decai para outro menor, numa espécie de “salto quântico”, emitindo um fóton com energia igual a hν (ν, frequência e h, a constante de Planck, da qual a mecânica quântica em seus desenvolvimentos posteriores até a atualidade jamais se livraria, ou seja, o mundo microscópico incorpora o seu valor, pequeno, porém finito – na física clássica, h tende para zero), a mesma dos fótons de luz postulados por Einstein para explicar o efeito fotoelétrico. A Figura 18 resume melhor [19].

Figura 19 – Arnold Sommerfeld

No entanto, no início da década de 20 do século passado, o modelo atômico de Bohr começou a apresentar sinais de esgotamento, evidenciados pelas constan- tes necessidades de atualizações que, de certa forma, desfiguravam a formulação original. Uma das limitações consistia na dificuldade de aplicá-lo a átomos mais complexos que o de hidrogênio. Mesmo assim, ao ser empregado na explicação da estrutura eletrônica dos Figura 18 – Modelo de Mecânica Quântica elementos, mediante associação ao cha- mado Princípio da Exclusão – um dos As deduções teóricas obtidas destas pilares básicos da estabilidade dos átomos, hipóteses harmonizam-se com os va- descoberto pelo notável Físico Wolfgang lores da série de Balmer, para alguns Pauli (1900-1958) [21], que estabelecia números quânticos, das raias espectrais um limite para o número de elétrons que do hidrogênio. podia ocupar os vários níveis de energia –, Em face, porém, do seu caráter quase o receituário de Bohr ainda hoje constitui que ad hoc, experimentos posteriores a base que permite entender as particulari- mais precisos tornaram necessários alguns dades da tabela periódica e o mecanismo “penduricalhos” que tiveram que ser agre- das reações químicas.

RMB1oT/2019 107 A CONTINUAÇÃO DA FESTA: Ondas, Corpúsculos e as duas Ranhuras

de Bohr, Werner Heisenberg (1901-1976) [23], que, com menos de 25 anos, lançou os pilares teóricos da Mecânica Quântica, válidos até hoje, baseando-se exclusiva- mente em fenômenos observáveis – as raias espectrais – modelados matematica- mente por uma não-comutatividade iden- tificada com o então meio desconhecido cálculo de matrizes. Pelo seu trabalho no estabelecimento das fundações da nova ciência e pela publicação de outro no qual formulou o famoso Princípio da Incerteza [24], que estabelece a magnitude da per- turbação que o ato de observar um parâ- metro do sistema quântico (sua posição, por exemplo) impõe sobre seu conjugado Figura 20 – Wolfgang Pauli (a quantidade de movimento), Heisenberg recebeu o Nobel de Física em 1932. Bohr, por seu trabalho ligado à estru- tura atômica, recebeu o Nobel de Física em 1922, mesmo ano que Einstein recebeu o seu, de 1921, pela descoberta do efeito fotoelétrico. Pauli foi laureado em 1945 pela descoberta do Princípio da Exclusão.

OS SALTOS QUÂNTICOS DE HEISENBERG

Em meados da década de 20 do século XX, portanto, a Mecânica Quântica se encontrava num impasse, pois exibia uma formulação baseada em regras semi- clássicas, com a presença da inexorável e finita, porém pequena, constante de Planck, e “saltos quânticos”, admiravel- mente confirmados para algumas raias do espectro do átomo de hidrogênio e para a Figura 21 – Werner Heisenberg constituição da tabela periódica, mas dan- do sinais de fragilidade para problemas DE BROGLIE E SUAS ONDAS ligeiramente mais complexos, obrigando alguns físicos dedicados a introduzirem Mas outras visões começavam a se “remendos” nas hipóteses originais. delinear. Nem todos os físicos daquela A situação só chegou a um porto segu- época, que se prenunciava frenética, viam ro com a publicação, em 1925, de célebre com bons olhos a complexidade mate- trabalho [22] organizado por um discípulo mática da nova teoria e muito menos os

108 RMB1oT/2019 A CONTINUAÇÃO DA FESTA: Ondas, Corpúsculos e as duas Ranhuras estranhos saltos quânticos cuja origem e constituição ninguém explicava. Foi dentro deste ambiente de certa per- plexidade que surgiu um príncipe francês formulando uma hipótese que iria ameaçar a relativa estabilidade do salão de festas, onde já evoluíam partículas reais, como os elétrons, ondas puras, capazes de exibir interferências e difrações, e corpúsculos a elas associados e evidenciados nas mais agitadas – frequências maiores – que surgiram na esteira de uma explicação do chamado efeito fotoelétrico. Louis Victor Pierre Raymond de Broglie, mais conhecido entre os físicos como Louis de Broglie (1892-1987) [25], pertencia, como se pode concluir da estrutura de seu nome completo, a uma família de longa linhagem de nobres Figura 22 – Louis de Broglie franceses. Inicialmente, por sutil imposi- elétrico – a palavra “fóton” só apareceu ção da família no sentido de consolidar a pela primeira vez em 1926, em trabalho influência do clã no governo da França, do químico Gilbert Newton Lewis (1875- foi orientado para estudar e seguir carreira 1946) [27] – e considerou o conteúdo de Direito. Com a morte prematura de revolucionário da Teoria da Relatividade seu pai, quando contava com somente por ele, Einstein, também formulada para 14 anos de idade, sua educação ficou a solucionar as inconsistências ligadas às cargo do irmão mais velho, Maurice, medidas de tempo e espaço e à constância oficial de Marinha, que, conseguindo da velocidade de propagação no vácuo graduar-se em Física, passou a dedicar- das radiações eletromagnéticas previstas -se, com o abandono da carreira militar, na teoria do eletromagnetismo criada ao trabalho científico [26], interagindo por Maxwell [28]. Num rasgo de rara com os pioneiros do mundo quântico intuição e insight, De Broglie imaginou, que começavam a surgir, como Einstein, então, uma situação segundo a qual par- Planck, Bohr e outros. Durante o tempo tículas, especialmente elétrons, quando em que trabalhou com o irmão, o jovem em movimento, poderiam apresentar príncipe adquiriu o interesse pela Física, características ondulatórias, e suas órbitas que teve que ser descontinuado por causa nos átomos, idealizadas por ondas esta- da eclosão da Primeira Guerra Mundial cionárias cujos números de nós se ajus- (1914-1918), durante a qual atuou na tavam ao perímetro da órbita permitida área de comunicações, ocupando posto pelo critério de Bohr, mudando de níveis na Torre Eiffel. quando decaiam, apresentavam novos A partir de 1923, De Broglie refletiu números inteiros de nós, contornado sobre a dualidade onda-partícula repre- assim os enigmáticos “saltos quânticos”. sentada pelas partículas de luz propostas A situação é esquematicamente mostrada por Einstein para explicar o efeito foto- nas figuras 23 e 24.

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foi inicialmente muito bem recebida por um bom grupo de físicos, entre os quais Einstein, que ansiavam por uma alternativa à estranha, à época, descrição matricial e aos saltos quânticos, além do fato que as ondas consti- tuíam um modelo bem mais Figura 23 – Partículas em movimento familiar. A verificação experimen- tal veio por meio dos traba- lhos dos americanos Joseph Davisson (1881-1958) e Lester Germer (1896-1975) [30] quando eles, em 1927, lançaram um feixe de elé- trons que, ao ser refletido por uma fina lâmina de cristal de níquel, produziu um padrão de difração, típico de fenô- menos ondulatórios, fazendo prever um comprimento de onda de acordo com o que era estipulado pela análise de De Broglie, o que atestava a consistência da sua hipótese. Figura 24 – Comprimento de onda No mesmo ano, o físico Ao desenvolver sua ideia, De Broglie inglês G. P. Thomson (1892-1975) [31], conseguiu determinar o comprimento de filho de J. J. Thomson, já citado, desco- onda correspondente, λ, em função da quantidade de movimento (produto da massa pela velocidade), p, da partícula, simetricamente aos fótons de Einstein, em relação à radiação. A relação obtida, evidentemente com a participação da constante de Planck, h, foi:

Sua tese apresentando a proposta foi submetida em 1924 [29], sendo laureado com o Nobel de Física em 1929. Apesar de não estar ainda apoiada em comprovação experimental, sua formulação Figura 25 – Davisson e Germer

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SCHRÖDINGER E SUA EQUAÇÃO

A proposta de De Broglie, no entan- to, adquiriu toda a sua plenitude para o desenvolvimento da Mecânica Quântica quando o polímata austríaco Erwin Schrödinger (1887-1961) [32] – notável físico, interessado em pessoas, ideias e fi- losofia e autor de uma das mais influentes obras de biologia molecular, What Is Life [33] – apresentou à comunidade científica dedicada, em 1926 [34], uma equação capaz de descrever a propagação da onda associada à partícula, por meio de uma entidade à qual deu o nome de “função Figura 26 – G. P. Thomson de onda”, tradicionalmente representada bridor do elétron, partícula material por pela letra grega ψ (Psi), a hoje conhecida excelência, realizou experiências seme- Equação de Schrödinger. Embora restrita lhantes e comprovou a realidade das ondas a situações não relativistas (velocidades associadas, com parâmetros coincidentes pequenas em relação à velocidade da luz com os propostos pelo físico francês. no vácuo), essa equação ainda faz parte de Pelos seus trabalhos, Davisson e Thom- boa parcela dos livros textos introdutórios son receberam o Nobel de Física em 1937. do assunto, equivalendo, para a explicação É um notável fato histórico que pai, J. J. de fenômenos do domínio atômico, às leis Thomson, e filho, G. P. Thomson tenham de Newton, para a mecânica clássica. sido laureados com o Nobel de Física no Por mera curiosidade, sem a pretensão espaço de 31 anos (o pai em 1906 e o filho de entrar em detalhes sobre os símbolos e em 1937) por trabalhos sobre característi- operações matemáticas, ela é apresentada cas opostas exibidas pelo elétron. abaixo, na forma unidimensional: A Figura 27 mostra um padrão típico de difração obtido por um feixe de elétrons.

onde ψ(x,t) é a função de onda, ħ = , h, a constante de Planck, x, a coordenada de posição da partícula, t, o tempo; V (x,t), a sua energia potencial e i, o indicativo dos números complexos, sugerindo que as soluções podem ser complexas. Tais soluções, para as várias situações, são, sob o ponto de vista matemático, formalmente equivalentes às obtidas pelos métodos matriciais de Heisenberg, conforme provado em trabalho elaborado Figura 27 – Padrão de difração

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(1902-1984) [35], responsável, entre ou- tras realizações, pela extensão da teoria do cientista austríaco, por meio da qual foi possível incluir situações relativistas, além de permitir a dedução lógica, propi- ciada pela sua formulação, da realidade do chamado spin, propriedade puramente quântica exibida por algumas partículas, no caso pelo elétron também, seu objeto de estudo – sem associação, no entanto, à rotação em torno do próprio eixo sugerida pelo senso comum –, e já antecipada por Wolfgang Pauli quando este formulou o seu Princípio da Exclusão, e de propor a existência de uma notável entidade nova, mais tarde comprovada experi- mentalmente, o pósitron, um equivalente Figura 28 – Erwin Schrödinger em 1933 positivo do elétron. É interessante assinalar que, ao contrá- pelo próprio Schrödinger, além de serem rio do que se poderia supor, Schrödinger de mais fácil obtenção por lidarem com obteve sua equação – hoje pilar básico entidades, as ondas, com as quais os físi- para qualquer consideração de Mecânica cos estavam mais familiarizados. Quântica no que diz respeito a cálculos, Pela sua contribuição para o avanço do aplicações tecnológicas e estudos interpre- conhecimento ligado ao domínio atômico, tativos – quando se enclausurou em retiro, Schrödinger recebeu o Nobel de Física em de modo a se dedicar exclusivamente à 1933, dividido com o inglês Paul Dirac questão, e que chegou à sua forma final não por dedução de algum outro princípio matemático ou mesmo físico, mas por pura intuição e imaginação, embora guia- do por fundamentos bem estabelecidos, ligados à Física clássica, que dominava perfeitamente. Todo o processo parece confirmar que, mais do que em qualquer outra área da Física, no desenvolvimento da Mecânica Quântica, tipificado não só pelo trabalho de Schrödinger como pelo de seus contemporâneos funda- dores – Bohr formulou suas hipóteses para explicar as órbitas do átomo de Rutherford, sem se basear também em deduções matemáticas –, a criatividade na ciência depende de algo mais que a Figura 29 – Paul Dirac razão pura [36].

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Mas, afinal, o que são essas ondas imaginadas por De Broglie e formalizadas matematicamente por Schrödinger? O que “ondula”? O físico Max Born (1882-1970) [37] – o mesmo que, ao examinar a formu- lação de Heisenberg, baseada somente em fatos observáveis, exibindo uma incomum não-comutatividade, sugeriu, em 1926, a analogia do formalismo com o cálculo matricial – propôs, ao refletir sobre fenômenos ligados à colisão de partículas e, com base no Princípio da Incerteza de Heisenberg, que a função de onda de Schrödinger ψ consistia numa entidade cuja amplitude (o qua- drado do seu valor num determinado ponto) expressava a probabilidade da Figura 30 – Max Born partícula (o elétron, por exemplo), princípios, criados basicamente até mea- se observada, ser encontrada naquele dos da década de 30 do século passado, ponto. A ironia é que o mesmo cien- quando foi praticamente concluída –, até tista que ajudou a edificar uma teoria os nossos dias, por uma transformação baseada no que podia ser observado nunca vista, em período comparável, tenha sido o criador de uma entidade ao longo da história da humanidade, do que nunca pôde sê-lo, a função de onda, comportamento das pessoas e dos avanços como agente de probabilidade. Pela sua em vários outros setores, como a medicina contribuição, Born recebeu o Nobel de e as telecomunicações. Para um cidadão Física em 1954. nascido nos últimos 30 anos é difícil ima- A Mecânica Quântica – termo formal- ginar a vida sem celulares, computadores, mente criado por Born somente em 1924 lasers e recursos de diagnóstico como –, com o formalismo esquematicamente tomografias e ressonâncias magnéticas, aqui delineado, baseado na equação de entre outros do dia a dia. Schrödinger, fruto de uma notável intui- ção visando descrever a propagação das O QUE SIGNIFICA? A ondas imaginadas por De Broglie (outro INTERPRETAÇÃO DE insight milagroso), e nas consequências COPENHAGUE das suas respectivas soluções, aliadas à visão probabilística (mais uma ousadia de Em que pese o estrondoso sucesso imaginação lastreada pelo conhecimento do formalismo matemático da Mecânica teórico de seu proponente), constitui a Quântica no confronto experimental, ca- base de um ramo do conhecimento hu- paz de desencadear toda essa revolução mano notável pela precisão dos resultados tecnológica, suas conclusões agridem o previstos pela teoria. É responsável – por chamado senso comum. meio dos desdobramentos tecnológicos Foi natural então que seus próprios possibilitados pela aplicação dos citados criadores, não somente os filósofos,

RMB1oT/2019 113 A CONTINUAÇÃO DA FESTA: Ondas, Corpúsculos e as duas Ranhuras passassem a questionar, desde as suas Física não tem por propósito descobrir fundações, o que significava tudo isso, como a natureza funciona, mas simples- que tipo de realidade a teoria estava ten- mente descrevê-la. O debate entre os dois tando transmitir. talvez constitua uma das mais expressivas Surgiram perguntas tais como: o que, disputas intelectuais da história, somente afinal, significa a função ψ que ninguém comparável, talvez, ao ocorrido entre nunca conseguiu detectar? A que tipo de Newton e Leibniz (1646-1716), em torno probabilidade ela se refere? Como se com- do Cálculo Infinitesimal [38]. portam as entidades quânticas descritas Não serão apresentadas considerações pela matemática correspondente? Será que sobre as várias interpretações desenvolvi- a incapacidade de responder a estas e ou- das ao longo da existência da Mecânica tras indagações decorre da inadequação da Quântica, pois tal tarefa extrapola os limi- linguagem humana, habituada a descrever tes estabelecidos para o presente trabalho. bem a experiência da escala humana, não Menciona-se, no entanto, o fato de que a se prestando, no entanto, para descobrir a mais aceita ainda hoje pela maioria dos sutileza do microcosmo? físicos é a conhecida como Interpretação Investigações como essas fazem parte de Copenhague, formulada sob a liderança de um campo do conhecimento na Física de Bohr e que atribui ao ato da observação designado genericamente como “Interpre- (measurement) não um papel independen- tações da Mecânica Quântica”, ao qual te do sistema a ser observado, incapaz inicialmente poucos se dedicaram – por de perturbá-lo, como ocorre no caso dos influência da postura ainda dominante no sistemas clássicos, mas de elemento ativo ambiente de trabalho de muitos físicos, e influente na obtenção dos resultados configurada pelo lema “cale-se e limite-se de medidas em entidades quânticas. Ou a calcular” –, mas que atualmente vem seja: diferentes montagens de observação sendo alvo de um número cada vez maior revelam faces diferentes e até antagônicas de pensadores. do mesmo sistema quântico. Na verdade, são várias, atualmente, Além disso, o ato de observar apresenta as interpretações, com pontos de vis- aspectos incluídos na sua interpretação que ta antagônicos, que se encontram na o próprio Bohr se esquivou de elucidar, disputa pela tentativa de desvendar o como o chamado “colapso da função de mistério da realidade física, cada uma onda”, que ocorre quando se realiza uma delas defendida com empenho pelos observação que tem que dar um resultado seus proponentes, mas nenhuma ainda determinado e acessível a quem observa com aceitação geral. (a posição de um ponteiro, por exemplo, Um dos mais notáveis confrontos num medidor), com uma determinada pro- iniciou-se já na década de 1920, envolven- babilidade – não porque haja ignorância do dois gigantes da nova visão, Einstein sobre os dados, como na probabilidade e Bohr, e se estendeu até 1955, ano da da previsão do tempo, por exemplo, mas morte do primeiro [4]. Einstein defendia porque eles “só passam a existir após a um ponto de vista denominado realista, se- observação” –, entre os muitos que estão gundo o qual existe uma grande realidade contidos na função de onda. Trata-se de um independente do formalismo matemático, processo não contemplado pelas proprie- cuja descoberta deve constituir a missão dades da equação de Schrödinger, sobre a principal da ciência; Bohr insistia que a qual a interpretação é construída.

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Na verdade, há, segundo Bohr, uma detecção, exibem franjas claras e escuras, dificuldade de linguagem, pois a que se mostradas na imagem ao lado, como apa- usa no mundo normal, consistente com a recem num filme revelado, no caso da luz, chamada “intuição” convencional, talvez as claras correspondendo à soma de dois não se adapte à descrição do que realmente máximos das ondas e as escuras a de um ocorre no mundo quântico. máximo com um mínimo. O padrão de franjas, denominado interferência, é ca- A DUPLA RANHURA racterístico de qualquer encontro de duas ondas, sejam elas sonoras, luminosas ou Para ilustrar tal perplexidade tentar-se-á as provocadas por agitações na superfície descrever um experimento famoso apre- de um lago. É importante notar que, devi- sentado em muitos cursos introdutórios de Mecâni- ca Quântica, inicialmente gendanken (de pensamen- to), mas recentemente já realizado em laboratório, cujos resultados são pre- vistos pelo formalismo, afi- nados com a Interpretação de Copenhague, mas intei- ramente em contraposição ao senso comum [36]. É denominado experimento da dupla ranhura (double slit experiment, em inglês) e prescinde, para seu en- Figura 31 – Experimento da dupla ranhura tendimento, de qualquer Fonte: https://www.google.com.br/search?q=double+slit+experiment&tbm=is conhecimento de matemá- ch&tbo=u&source=univ&sa=X&ved=2ahUKEwiZ0r6X9fjaAhUHfZAKHbi PCfAQsAR6BAgAEEQ&biw=1366&bih=637#imgrc=VLSS6wztFQDesM tica superior. As figuras 31, 32 e 33 o ilustram. A Figura 31, repetição de uma já apresentada no trabalho anterior [1] para ilustrar propriedades típi- cas de ondas, representa uma fonte (de luz ou de som, por exemplo) cuja frente, após passar por uma primeira ranhura, forma outras que vão atin- gir o anteparo de duplas ranhuras. A partir daí, são criadas duas outras, que, ao atingirem a tela de Figura 32 – Partículas e elétrons lançados em dupla ranhura

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A Figura 33 [36] cons- titui a foto de um experi- mento real realizado em 2016 pelo grupo do físico Akira Tonomura [39], em que a tela posterior é foto- grafada em vários instantes progressivos, mostrando os pontos luminosos marcando a chegada gradativa dos elétrons, até que um núme- ro suficiente deles permita distinguir as franjas de interferência. Figura 33 – Experimento real em tela Mas a perplexidade não para por aí. Se, com um do ao fato de que a influência das ondas aperfeiçoamento do arranjo experimen- abrange uma região extensa do espaço, tal, for possível colocar um detector de uma mesma frente passa simultaneamente elétrons numa ou nas duas ranhuras de pelas duas ranhuras. modo a permitir determinar por qual delas A Figura 32 [36] mostra, na parte o elétron passou (ou mesmo se uma das superior, um jato de partículas clássicas ranhuras fosse obstruída de modo a se ter (grãos de areia, por exemplo) lançadas ao certeza que o elétron passou pela não obs- anteparo com as duas ranhuras e recolhi- truída), isto é, se for possível determinar das numa tela (um quadro impregnado a sua trajetória, as franjas desaparecem de cola, por exemplo) que formará então e o aspecto passa a ser o de partículas a configuração aproximada delineada. A clássicas mostradas na parte superior da parte inferior apresenta um canhão de segunda figura, como se o fato da obser- elétrons que os emite um a um, não em vação do caminho do elétron, indique que forma de feixe como nos experimentos seu comportamento mude de ondulatório já citados de Davisson e Germer [30], para corpuscular. Tudo parece indicar que, ao atravessarem as duas ranhuras, que o elétron participa, com o aparato de aparecerão no detector posterior (um tubo observação, de uma espécie de esconde- de TV, por exemplo), que se iluminará no -esconde no qual adivinha as intenções ponto onde cada elétron chegar. O surpre- do observador. endente é que o padrão apresentado é típi- É nesse sentido que a Interpretação de co de interferência ondulatória, como se Copenhague assevera que o sistema a ser cada ponto luminoso que indica a chegada observado e o esquema experimental usado na tela, formando as franjas lentamente, para tal formam um só conjunto e que, de- configurasse um elétron passando pelas pendendo de cada montagem, são obtidos duas ranhuras ao mesmo tempo, uma resultados diferentes e até antagônicos. inconsistência para os padrões normais As conclusões delineadas esque- de senso comum, já que este não admite maticamente acima são previstas pelo que um corpo ocupe o mesmo lugar no formalismo matemático da Mecânica espaço simultaneamente. Quântica, que permitiram um enorme

116 RMB1oT/2019 A CONTINUAÇÃO DA FESTA: Ondas, Corpúsculos e as duas Ranhuras avanço tecnológico e se afinam com a interpretação proposta pelo grupo dina- marquês. Desnecessário advertir ao leitor que é inútil tentar tal experimento em casa, pois as condições para sua execução são extremamente críticas, só obtidas, até agora, em laboratório. Mas a pergunta que não cala é: o que acontece na realidade com o elétron? Bohr responde que tal pergunta não faz senti- do, pois a função da Mecânica Quântica não é afirmar como funciona a natureza, mas simplesmente investigar o que se pode dizer sobre ela. Na verdade, não há Figura 34 – Richard Feynman resposta até hoje que permita descobrir tal realidade e, segundo o lendário físico partículas autênticas, como os elétrons, Richard Feynman (1918-1988) [40], No- dos corpúsculos de luz, os fótons, que bel de Física em 1965 pelo seu trabalho às vezes se manifestam nas radiações, no campo denominado “Eletrodinâmica numa estranha dualidade vislumbrada Quântica”, as estranhas conclusões es- por Einstein para explicar o efeito foto- quematizadas acima constituem o único elétrico), constata-se mais uma perplexi- grande mistério para o qual o atual estágio dade, diante de outra dualidade, de certa da Mecânica Quântica é incapaz de escla- forma simétrica em relação à primeira, recer o que ocorre e só consegue contar imaginada por De Broglie, formalizada como ocorre [41]. e estendida por Schrödinger, com pi- tadas de probabilidade acrescentadas CONCLUSÃO por Born, na qual entidades até então pensadas como partículas indiscutíveis Voltando ao recinto onde ocorrem as podem apresentar associações ondulató- evoluções envolvendo ondas e corpúscu- rias, sem que se tenha ideia do que “on- los, vê-se que o panorama foi modificado dula” nestas ondas de probabilidade, e de maneira desconcertante em relação à exibem comportamentos contraditórios, configuração que fechou o trabalho ante- dependendo de como são observadas, às rior a este [1]. vezes apresentando interferência quando Agora, além das ondas puras, como, lançadas uma a uma num anteparo de por exemplo, as sonoras (nas quais o duas ranhuras e noutra configuração, ao que “ondula” é o meio onde ocorrem) tentar-se observar o caminho adotado e as eletromagnéticas (nas quais o que pela partícula, se manifestam como oscila é o campo eletromagnético, das partículas clássicas.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Ciência; Energia; Mecânica; Estudo;

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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RMB1oT/2019 119 CONTROLE INTERNO NA GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES PÚBLICAS: uma revisão conceitual

Aquilo que não puderes controlar, não ordenes. Sócrates

JACQUES SALOMON C. SOARES PINTO* Capitão de Mar e Guerra (Refo)

SUMÁRIO

Generalidades O uso do adjetivo “interno” para a função controle Risco e o seu atual papel como instrumento do controle orçamentário pelo Estado A atualidade do conceito de riscos no primeiro setor Discussão conceitual Uma aplicação da gestão de riscos em favor do controle interno Considerações finais

GENERALIDADES nidade desde tempos imemoriais, sem, no entanto, estar ligada à atividade fiduciária trato do tema "Controle" não é novo ou contábil. Em princípio controle é uma O na atividade estatal de gestão nem função administrativa. Na verdade o Es- na nossa própria organização. E que tado, lato sensu, vale-se do conceito de fique claro que este artigo não trata de controle para estabelecer seus parâmetros assuntos de controle interno. A atividade conceituais no tratamento de suas ques- de controle vem acompanhando a huma- tões orçamentário-jurisdicionais.

* Mestre em Administração (Políticas Públicas) e doutor em Ciências Sociais (Estudos Comparados das Amé- ricas), ambos pela Universidade de Brasília (UnB). Profissional de Projetos pelo Project Management Institute (PMI – USA) em 2013. Membro filiado ao PMI Internacional e do Chapter (Agência) do PMI do Distrito Federal. CONTROLE INTERNO NA GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES PÚBLICAS: uma revisão conceitual

O USO DO ADJETIVO concentrando-se excessivamente nos “INTERNO” PARA A FUNÇÃO meios e nos processos, sem falar da falta CONTROLE de autonomia político-institucional e da incapacidade de avaliar a gestão dos pro- Na acepção de controle do Estado gramas e projetos governamentais quanto sobre o erário, é possível observar esse a seus resultados efetivos. controle no Brasil desde os idos de 1680, Registre-se que o Decreto no 85.234, com a criação de Juntas das Fazendas das de 6/10/1980, aprovou o regulamento do Capitanias e da Junta da Fazenda do Rio órgão central (a Secretaria Central de Con- de Janeiro, jurisdicionadas a Portugal, trole Interno (Secin)), dos órgãos setoriais pelo Código Pombalino de 1761 e pela (Cisets) e das Delegacias Regionais de Carta Régia de 1764, com a criação do Contabilidade e Finanças (Decof), sendo Conselho de Fazenda em 1808. as siglas oficializadas. Em dezembro de 1921, o Decreto no Um pouco mais tarde, com a criação 15.21 criou a Diretoria Central de Conta- da Secretaria do Tesouro Nacional (STN), bilidade Pública, que teve seu nome alte- por meio do Decreto no 92.452/86, este rado pelo Decreto no 4.555, de 10/8/1922, passa a ser o órgão central dos Sistemas de para Contadoria Central da República; Administração Financeira, Contabilidade finalmente, o Decreto-Lei on 1.990, de e Auditoria, sendo extinta a Secin. 31/01/1940, deu-lhe nova organização e Com a Constituição de 1988, o tema novo nome: Contadoria-Geral da Repú- "controle" na administração pública blica, com a atribuição principal de ser passa a ser tratado com mais assiduidade responsável pela direção-geral dos ser- e força. Coube à STN, ter “papel econô- viços contábeis da União, sendo dirigida mico-financeiro, especialmente quanto por um contador-geral e subordinando-se ao controle das operações realizadas por diretamente ao ministro da Fazenda. conta e ordem do Tesouro Nacional, dos A Constituição Federal de 1946 atribui pagamentos relativos aos respectivos o controle administrativo e o controle compromissos financeiros, valores mo- prévio sobre atos de gestão do executivo biliários, contratação de operações de ao Tribunal de Contas da União, ficando crédito externo etc.”, além do exercício o controle contábil a cargo do Ministério da orientação normativa, supervisão téc- da Fazenda. nica e a fiscalização específica dos órgãos O controle interno do Executivo Fede- setoriais do Sistema de Auditoria, e das ral passou a existir como sistema desde atividades de auditoria, que passaram a 1967, quando foi criado pelo Decreto-Lei ser feitas quase na totalidade pelas Cisets. 200, baseado nas Secretarias de Con- Foi então que o assunto passou a ter trole Interno (Cisets)1, dos ministérios. maior destaque, especificidade e profun- Esta iniciativa, entretanto, mostrou-se didade, pelo estabelecimento, de forma pouco efetiva, pois o sistema criado clara, da abrangência de dois tipos de estruturou-se em bases muito formalistas, controle: o externo e o interno. O primei-

1 As Cisets estavam subordinadas aos ministros que deveriam controlar, o que tornava, na prática, o órgão controlador dependente do agente controlado. Além disso, o órgão central do sistema, a Coordenação de Auditoria (Coaudi), tinha uma posição institucional fraca (era uma Coordenação dentro da Secretaria do Tesouro Nacional do Ministério da Fazenda), ou seja, um órgão de terceiro escalão que tinha a função de coordenar a atuação de órgãos de primeiro escalão.

RMB1oT/2019 121 CONTROLE INTERNO NA GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES PÚBLICAS: uma revisão conceitual ro exercido pelo Tribunal de Contas da modelo da Secretaria Federal de Controle. União (TCU), e o segundo com coorde- A outra mudança foi a reconfiguração nação e orientação materializada hoje pela das atividades de auditoria e fiscalização, Controladoria-Geral da União (CGU). envolvendo dois grandes processos: 1) a Ressalte-se que a administração pública criação da fiscalização como técnica de usa, neste campo, o conceito de controle auditoria e 2) a criação do programa de para fiscalizar o uso de recursos públicos. fiscalização nos municípios.4 Mesmo com todo este destaque, a Carta Bom lembrar que o adjetivo "interno" Magna de 1988 não definiu Controle Inter- não qualifica o local de onde o Estado no, apenas estabelecendo seu âmbito, ten- exerce sua competência orçamentário-ju- do o Estado, de certa forma, recepcionado, risdicional, mas apenas o âmbito conceitual para a sua operacionalização/aplicação2, deste mandato, que, no caso, se exerce por a definição da Organização Internacional fora das organizações e de forma reativa. das Entidades Superiores de Fiscalização Na realidade, o fato é que é um controle (Intosai)3 que descreveu Controle Interno externo do Executivo. Assim, é possível como sendo: afirmar que os dois controles constitucio- nais são externos: o externo é externo aos um processo integral realizado pela três poderes, e o interno é externo ao Poder gerência e pelos funcionários de uma Executivo – embora esteja dentro dele entidade, desenhado para enfrentar os fisicamente, ambos têm idêntica natureza. riscos e para garantir razoável seguran- Assim, enquanto, pelo lado do Estado, ça de que, na consecução da sua missão as visões de aplicação da função admi- institucional, os seguintes propósitos nistrativa "Controle" aprimoram-se ao serão alcançados: 1) execução correta, longo do tempo, nos setores produtivos ética, econômica, eficiente e efetiva das nacional e internacional também ocorre operações; 2) cumprimento das presta- evolução significativa, e, neste sentido, ções de contas; 3) cumprimento das leis emergem novas metodologias de controle e regulamentações; e 4) garantia contra "por dentro", interno às estruturas organi- perdas, abuso ou dano dos recursos zacionais, especificamente relacionados (Intosai, 2004, tradução da autora). com projetos e processos, sem o foco em auditoria, voltado diretamente para a ges- Foi a partir de 1994, com a criação da tão ou para o desempenho. Claro, é muito Secretaria Federal de Controle Interno mais barato e efetivo exercer o controle de (SFC) e a reforma do sistema ao longo forma proativa do que esperar que alguém da década de 90, que o controle interno de fora constate seus efeitos para só então passou a ter maior capacidade política e tomar providências. Lembrando que o uso institucional para monitorar os resultados da função administrativa "Controle" foi das políticas públicas. originalmente usado bem antes da criação As fragilidades do modelo Ciset le- do Estado como o conhecemos. varam ao seu esgotamento, e em 2000 as A recepção moderna deste conceito pelo Cisets foram extintas em favor do novo Estado trouxe a necessidade de obter me-

2 OLIVIERI, Cecília. "Política e burocracia no Brasil: o controle sobre a execução das políticas públicas". Tese de Doutorado em Administração Pública e Governo. Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, 2008. 3 Organização não governamental que reúne entidades de fiscalização político-administrativa. 4 Idem.

122 RMB1oT/2019 CONTROLE INTERNO NA GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES PÚBLICAS: uma revisão conceitual lhor desempenho a partir do uso adminis- que utilizam esses termos “concomitan- trativo ou gerencial, stricto sensu, visando temente ou intercambiados”, mas que ao estabelecimento de iniciativas prévias, não deixam definidas as diferenciações concomitantes e posteriores a eventos existentes entre eles. O cerne da questão planejados de risco, que possam afetar pode ser semântico, já que, na língua diretamente a gestão das organizações, portuguesa, risco e perigo por vezes são no afã de alcançar seus objetivos estraté- tratados como sinônimos, ainda que não gicos, táticos e operacionais. É deste tipo o sejam. de controle, o administrativo, o proativo, e da sua inserção nos projetos, processos "Em 1976, no Congresso do PMI e atividades que trata a presente revisão. em Montreal, no Canadá, surgiu a ideia de que as práticas em gerenciamento de RISCO E O SEU ATUAL PAPEL projetos deveriam ser documentadas. COMO INSTRUMENTO DO Cinco anos após, a diretoria do PMI CONTROLE ORÇAMENTÁRIO aprovou um projeto para desenvolver PELO ESTADO procedimentos na área de gerencia- mento de projetos, estruturando o Mais recentemente, o Estado vem se conhecimento existente. Em 1983, valendo também da área de conhecimento surgiu o embrião do Project Manage- "riscos" para o bom funcionamento da sua ment Body of Knowledge (PMBOK), função administrativa, também importa- com seis áreas de conhecimento: da, "Controle". gerenciamento do escopo, tempo, Os primeiros estudos técnicos sobre custos, qualidade, recursos humanos "risco e incerteza" surgiram na literatura e comunicação. Em 1986, uma versão em 1921, por meio do trabalho clássico revisada incluía o gerenciamento das intitulado Risk, uncertainty and profit, de aquisições e de riscos."7 Frank Knight, que referiu: “Se você não sabe ao certo o que vai acontecer, mas as A primeira edição do PMBOK define chances existem, isso é risco. Caso você riscos como sendo a discrete occurrence não saiba quais são as chances, então é that may affect the project for better or incerteza” (Adam, 1995, apud Castro e worse, e que não se traduza a palavra Cleber, 20055).6 discrete como discreta, mas sim compre- Entretanto, com o tempo, o uso des- enda-se a mesma no contexto de variável cuidado das expressões risco e perigo discreta ou contínua. Além disso, é possí- causou, e ainda causa, alguns equívocos, vel observar que a definição já explicita o perceptíveis em publicações de artigos contexto de risco positivo, ou bom. Claro

5 Castro, M. Cleber et al. (2005). "Riscos Ambientais e Geografia: conceituações, abordagens e escalas". Anuário do Instituto de Geociências. UFRJ, Vol. 28, Rio de Janeiro, p. 11-30. 6 SOUZA, Kátia Regina Góes; e LOURENÇO, Luciano. "A evolução do conceito de risco à luz das ciências naturais e sociais". 2015. Revista Territorium, no 22, 2015, p 31-44. Disponível em: Acesso em 9 de outubro de 2018. ISSN: 0872-8941. RISCOS – Associação Portuguesa de Riscos, Prevenção e Segurança. 7 TERRIBILI FILHO, Armando. PMBOK: a Bíblia do Gerenciamento de Projetos. Disponível em: . Acesso em 8 de outubro de 2018. www.impariamo.com.br

RMB1oT/2019 123 CONTROLE INTERNO NA GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES PÚBLICAS: uma revisão conceitual que, dependendo a que contexto você asso- cínio sobre a evolução do conceito: no cia a ideia de riscos, ele poderá ter apenas primeiro momento, de 1990 até 2010, as efeitos negativos, como os desastres natu- questões de riscos estão associadas ao rais, por exemplo, o que já não ocorre na uso de matrizes em definições de escopo ação administrativa ou gerencial, onde o de auditorias e avaliações; no segundo conceito pode assumir aspectos negativos, momento, a partir de 2010, o conceito mas também positivos. passa a estar incorporado aos processos O conceito de risco na atualidade, asso- de gestão, com foco nos aperfeiçoamentos ciado a uma probabilidade de ocorrência dos métodos de gestão e na revalorização e ao seu respectivo impacto, só aparece dos controles internos prévios, concomi- nos idos dos anos de 1970 e se consagra tantes e posteriores.10 como fenômeno social com a emergência Em 2013, o setor público brasileiro do conceito de sociedade de riscos.8 passa a contar com um documento do Há uma discussão teórica sobre a ori- Tribunal de Contas da União, o Acór- gem do termo risco e seu uso social. E é na dão 3.390, que resolve: em seu item 14 Itália que comprovadamente é usado pela b), aprovar o plano anual de auditoria primeira vez, em relação às rotas comer- (idealmente baseado na identificação ciais usadas pelo poder militar e econô- de riscos); em seu item 19 a), fazer a mico de Gênova pelos idos do século XII. conexão da gestão de riscos com áreas Dando um pequeno salto, vemos seu uso, abrangidas na sua missão e escopo de no século XVII, associado às atividades trabalho; e ressalta, no seu artigo 38, que do comércio, mais especificamente ao a não-realização de gestão de riscos nas seguro marítimo. entidades fragiliza o planejamento efeti- Mas é no século XX que este uso se tor- vado, sendo necessário determinar-se à na comum, associado ao verbo arriscar, e entidade a efetivação da atividade. também à utilização do termo nas ciências Em 2016, com a Instrução Norma- naturais, biológicas, sociais e nesta área, tiva (IN) conjunta MP/CGU no 1 de 16 a gestão especificamente. de maio, passa-se a dispor de forma mais aprofundada e impositiva sobre o A ATUALIDADE DO CONCEITO assunto, no âmbito do Poder Executivo DE RISCOS NO PRIMEIRO Federal, base para todo o movimento SETOR9 de implantação da gestão de riscos nas organizações de governo. Esta apresenta Sobre o tema "riscos", é necessário um conceito novo para a administração ressaltar alguns momentos e faixas de pública brasileira, o "controle interno da tempo próximas para organizar o racio- gestão", como primeira linha ou camada

8 BECK, Ulrich. Vivendo na Sociedade de Risco: aspectos gerais do risco no pensamento de Ulrich Beck. Capítulo I. Disponível em: < http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/1730/6/21816_ulfl061014_tm_cap1. pdf >. Acesso em 3 de outubro de 2018. 9 Esta taxonomia é sociológica. Neste ambiente, o setor público é o primeiro setor; as empresas ou o mercado, o segundo setor; e as organizações da sociedade civil organizada, as ONG, o terceiro setor. NEVES, Alice Santos Veloso. "Entidades da Administração Pública e do Terceiro Setor". Conteúdo Jurídico, Brasília-DF: 21 fev. 2018. Disponível em: . Acesso em: 26 jul. 2018. 10 Por controle prévio entendam-se as ações que antecedem a ocorrência dos eventos de risco, os conco- mitantes durante a ocorrência e os posteriores, como o nome já diz, depois da ocorrência dos eventos.

124 RMB1oT/2019 CONTROLE INTERNO NA GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES PÚBLICAS: uma revisão conceitual de defesa11 a ser executada por todos os Para os efeitos deste trabalho, visando níveis operacionais12, dentro do ambiente situar o leitor quanto ao tema "controles interno das organizações. Ainda assim tem internos da gestão", o discutiremos no surgido certa dificuldade de compreensão, escopo da gestão de riscos na adminis- e até mesmo sobre o conceito de controle tração pública, que trata especificamente interno13, que é uma atribuição constitu- do enfrentamento de riscos estratégicos, cional prevista no Artigo 74 da CF 1988 táticos e operacionais no contexto do de- diferente da mencionada na IN. sempenho das organizações de governo Em novembro de 2017, em sequência à em geral, associado, portanto, diretamente IN, que tem força de lei, foi publicado o De- ao processo de planejamento. Tal escolha creto 9.203 estabelecendo um processo de se pauta especificamente no escopo do governança mais amplo/diferenciado que Artigo 7o da referida Instrução Normativa: o previsto na IN, dispondo sobre a política "Os controles internos da gestão tratados de governança da administração pública neste capítulo não devem ser confundidos autárquica, fundacional e federal direta com as atividades do Sistema de Contro- (onde se encontram as Forças Armadas). le Interno relacionadas no artigo 74 da Constituição Federal de 1988, nem com DISCUSSÃO CONCEITUAL as atribuições da auditoria interna, cuja finalidade específica é a medição e avalia- Controle ção da eficácia e eficiência dos controles internos da gestão da organização". A palavra "Controle", stricto sensu, é usada para explicar ou definir o domínio O atual estamento de controle no Brasil para fiscalizar e administrar determinada coisa, questão ou situação, considerando Controle externo, controle interno15, que ter o controle da situação é dominar controles internos e sistema ou estrutura ou ter o poder sobre o que está aconte- de controle(s) interno(s) são expressões cendo. O vocábulo também é aplicado aparentemente sinônimas, utilizadas para em múltiplos contextos, com significados se referir ao processo composto pelas semelhantes: administrar, organizar ou regras de estrutura organizacional e pelo dominar alguma coisa ou situação.14 conjunto de políticas e procedimentos

11 Os conceitos de primeira, segunda e terceira linha de defesa estão apresentados em: BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão e Controladoria-Geral da União. Instrução Normativa Conjunta MP/CGU no 01, de 2016. Dispõe sobre controles internos, gestão de riscos e governança no âmbito do Poder Executivo Federal. 12 No contexto do processo de gestão e do planejamento das organizações, os níveis de planejamento são, do mais alto para o mais baixo: estratégico, tático e operacional. Disponível em: https://portal.tcu.gov.br/ planejamento/planejamento-institucional/. Acesso em 3 de agosto de 2018. 13 Conjunto de atividades, planos, métodos, indicadores e procedimentos interligados utilizado com vistas a assegurar a conformidade dos atos de gestão e a concorrer para que os objetivos e as metas estabelecidos para as unidades jurisdicionadas sejam alcançados. IN TCU 63/2010, Art. 1o, inciso X. 14 https://www.significados.com.br/controle/ 15 Controle interno é o conjunto de políticas, procedimentos e atividades que a administração de uma orga- nização adota para gerenciar seus objetivos, mediante o tratamento dos riscos a eles associados. Espe- cificamente no setor público, a expressão é utilizada para designar os órgãos e as unidades responsáveis por avaliar aquele conjunto de políticas, procedimentos e atividades. Para dirimir qualquer dúvida é importante distinguir controle interno administrativo de controle interno avaliativo.

RMB1oT/2019 125 CONTROLE INTERNO NA GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES PÚBLICAS: uma revisão conceitual adotado por uma organização para a financeira e patrimonial.18 Neste caso, é vigilância, fiscalização e verificação, exercido por fora das organizações dos que permitem prever, observar, dirigir poderes executivos dos três poderes e é, ou governar os eventos que possam im- portanto, avaliativo. Ambos, aliás, são pactar na consecução de seus objetivos. externos às organizações. Na realidade, É um processo de responsabilidade do ele é reativo. Age verificando se o erro próprio gestor, adotado para assegurar ocorreu e depois da ocorrência. uma razoável margem de garantia de que os propósitos nos três níveis – estratégico, O estado da arte da base legal tático e operacional – sejam atingidos.16 A Carta de 1988 estabelece dois tipos A IN 01 vem com um novo conceito, ou ambientes de controle: o externo, a que faz a conexão do "Controle", lato ser exercido pelo Congresso Nacional sensu, com a área de riscos, o "controle e operado pelo TCU; e o interno, a ser interno da gestão", e o define como um exercido pelo sistema de controle interno conjunto de normas em geral, trâmites de da cada poder, operado pela CGU, tendo documentos e informações, entre outros, ambos, como objeto, a fiscalização contá- operacionalizados de forma integrada bil, financeira, orçamentária, operacional pela direção e pelo corpo de servidores e patrimonial.17 das organizações, destinados a enfrentar O TCU é o órgão que auxilia o Legis- os riscos e a fornecer segurança razo- lativo no controle externo, na comprova- ável de que, na consecução da missão ção da probidade da administração, na da entidade, os objetivos estratégicos, regularidade da guarda e emprego dos táticos e operacionais sejam alcançados. bens, valores e dinheiros públicos e na Observa-se aí que esse conjunto de regras fiel execução do orçamento, exercendo o cuida, especificamente, de gestão de ris- controle por fora dos três poderes. cos voltados para apoiar o desempenho O controle interno, apoiado pelo Sistema organizacional. de Controle Interno, é exercido pelos três A acepção aparentemente concorrente poderes, individual e separadamente, mas dos conceitos fica pacificada pelo Artigo de forma integrada, e, no Executivo, antes 7o da IN, já mencionado, que estabelece – até 2003 –, pela Secretaria Federal de definitivamente uma separação concei- Controle e desde então pela Controladoria tual entre as duas expressões: “controle Geral da União, em apoio ao controle ex- interno”, que é exercido no escopo do terno. O controle interno tem como objetos, sistema de controle interno estatuído pela dentre outros: a comprovação da legalidade CF 1988, e “controle interno da gestão”, e a avaliação dos resultados, quanto à efi- exercido pela própria administração públi- cácia e eficiência, da gestão orçamentária, ca no apoio ao processo de avaliação de

16 BRASIL. Tribunal de Contas da União. Diretoria de Métodos de Procedimentos de Controle. Critérios Gerais de Controle Interno na Administração Pública: um estudo dos modelos e das normas disciplina- doras em diversos países. 2009. Disponível em: . Acesso em 1 de agosto de 2018. 17 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: . Acesso em 01 de agosto de 2018. Arts 70 e 71. 18 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: . Acesso em 1 de agosto de 2018. Art. 74.

126 RMB1oT/2019 CONTROLE INTERNO NA GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES PÚBLICAS: uma revisão conceitual desempenho e à realização dos objetivos Principais definições organizacionais nos três níveis de plane- jamento do Estado. A Controladoria-Geral É importante, neste momento, apresen- da União, por seu turno, fica responsável tar algumas definições mais tradicionais pela coordenação, pela implementação e discuti-las para fins de utilização nesta e pela supervisão do controle interno, revisão. A ISO 31000:2018 afirma que ris- stricto sensu. co é o efeito da incerteza nos objetivos.19 O Controle Interno da Gestão congrega Já o Coso20 defne risco como um evento as iniciativas de controle que devem ser que ocorre e provoca impactos negativos, empregadas por toda a organização, em mas os eventos que provocam impactos todos os níveis e em todas as funções, positivos são chamados de oportunidades. incluindo uma gama de respostas preven- O Project Management Institute (PMI)21 -tivas, concomitantes e detectivas sobre defne risco como um "evento ou uma con eventos que possam afetar os objetivos dição incerta que, se ocorrer, terá efeitos das organizações com base na gestão em pelo menos um objetivo do projeto", dos riscos, ligada, portanto, à atividade coerente com a primeira definição apre- de planejamento nas esferas estratégicas, sentada na primeira edição do PMBOK. táticas e operacionais. Podem incluir escopo, cronograma, custo, É possível depreender, então, que, qualidade ou outra qualquer dimensão. Um enquanto o foco dos controles externo e risco pode se manifestar a partir de várias interno operando em parceria é, de forma causas e pode ter um ou mais impactos e geral, fiduciário e avaliativo e, por força também relação com outros riscos (coline- de lei, externo às organizações e, por aridade). Esta última definição corrobora a conseguinte, “reativo”, o foco do controle da ISO 31000, tanto na sua versão original interno da gestão é administrativo, em como na mais recente, de 2018. apoio ao planejamento organizacional em Quanto aos conceitos de monitora- todos os níveis já mencionados, a partir mento e controle, a ideia de monitorar da implementação de controles prévios, "pressupõe a existência de algum meca- concomitantes e posteriores aos eventos nismo de acompanhamento que permita de risco, naturalmente associados aos ob- corrigir desvios para assegurar que a jetivos estratégicos, táticos e operacionais execução corresponda ao que foi plane- e, por conseguinte, “proativo”. jado"22. Esta concepção do TCU, de certa

19 Considera ainda, para esta definição, que: um efeito é um desvio em relação ao esperado – positivo e/ou negativo (normalmente tratados de riscos as ameaças e as oportunidades); os objetivos podem ter dife- rentes aspectos (tais como metas financeiras, de saúde e segurança e ambientais) e podem aplicar-se em diferentes níveis (tais como estratégico, em toda a organização, de projeto, de produto e de processo); e pode ser muitas vezes caracterizado pela referência aos eventos potenciais e às consequências. É possível observar que há um alinhamento na conceituação da ISO com o PMI. 20 COSO. Gerenciamento de Riscos Corporativos – Estrutura Integrada. Committee of Sponsoring Organiza- tion of the Treadway Commission (COSO); AUDIBRA; e PricewaterhouseCoopers.Copyright © 2007. Disponível em: . Acesso em 21 de fevereiro de 2018. 21 Fundado em 1969, o Instituto de Gerenciamento de Projetos (Project Management Institute – PMI), é uma das maiores associações para profissionais de gerenciamento de projetos. https://www.pmi.org/ 22 BRASIL. Tribunal de Contas da União. Glossário de Governança Pública. 2014. Disponível em: < https:// portal.tcu.gov.br/governanca/governancapublica/organizacional/levantamento-2014/glossario.htm >. Acesso em 21 de agosto de 2018.

RMB1oT/2019 127 CONTROLE INTERNO NA GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES PÚBLICAS: uma revisão conceitual forma, vai ao encontro das abordagens da é realizado por dentro do processo de ISO 31000 e do PMI. planejamento da organização. O ISO 31000:2018 não define especifi- camente nem com a profundidade neces- UMA APLICAÇÃO DA GESTÃO sária o conceito de monitoramento na sua DE RISCOS EM FAVOR DO parte de termos e definições, comentando CONTROLE INTERNO de forma conjunta sobre "avaliação". Há uma total convergência entre os conceitos Como a IN usa como base conceitual de avaliação e monitoramento – na reali- a ISO 31000, passamos a considerar dade, são a mesma coisa. Já o PMI, na 6a aquela metodologia como base para este edição do seu corpo de conhecimentos, trabalho. É senso comum considerar a PMBOK, apresenta de forma clara a identificação dos riscos como a primeira distinção entre os conceitos de monito- etapa do processo, mas, na realidade, são ramento e de controle, que valem para a oito etapas para entrar em feedback de- área de projetos, mas que também podem pois de pronto o plano de gestão de riscos ser aplicados na área da gestão em geral. e estando em execução: 1) comunicação Para o PMI, monitorar é coletar da- e consulta; 2) estabelecimento do escopo, dos de desempenho do projeto, produzir do contexto e dos critérios; 3) processo medições do desempenho e relatar e di- de avaliação de riscos, que compreende: vulgar informações sobre o desempenho; 3.1) identificação, 3.2) análise e 3.3) ava- e monitorar riscos é monitorar a imple- liação dos riscos propriamente ditos; 4) mentação de planos acordados de resposta tratamento dos riscos; 5) monitoramento a riscos que visam ao rastreamento de e análise crítica; e 6) registro e relato. A riscos identificados, na identificação e Figura 1 apresenta um framework para análise de novos riscos e na avaliação da aplicação e preparo de um Plano de eficácia do processo de gestão destes du- Gestão de Riscos. rante todo o projeto (aqui se leia também Existem diversos frameworks para processo ou atividade). aplicação empírica dos conjuntos concei- Nesta revisão, consideramos para os tuais na elaboração de planos de gestão dois conceitos, monitoramento e controle, as definições mais atuais do PMBOK, pela sua clareza, assertividade e com- pletude, com as devidas adaptações para o corpo conceitual da gestão de riscos: monitoramento é a análise contínua do progresso de qualquer iniciativa planeja- da, comparando o que foi planejado com o que foi entregue; e controle envolve a utilização das informações do moni- toramento para direcionar a tomada de decisões de atuação sobre entregas, de forma que as mesmas se alinhem com o planejado. É nesta acepção de controle que se enquadra o trabalho do controle Figura 1 – Framework ISO 31000:2018 da gestão, chamado de interno porque Fonte: ABNT NBR 31000:2018 (adaptação)

128 RMB1oT/2019 CONTROLE INTERNO NA GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES PÚBLICAS: uma revisão conceitual de riscos: o da ISO 31000:201823, o do atuação, visando captar informações sobre Coso de 2017, o do PMI e outros. Na a organização e a sua própria identidade realidade, todos são baseados na mesma estratégica26. Que fique claro que a cada linha geral: um diagnóstico, uma etapa etapa este conjunto de ações deverá ser de planejamento consistindo em identi- realimentado e repetido. ficação dos riscos, análise (lato sensu), Na segunda etapa, chamada de "Esco- avaliação, tratamento, monitoramento e po, Contexto e Critério", o grupo define o controle, e uma de feedback. A Figura 1 escopo do processo27 e procede ao diag- apresenta um framework baseado no que nóstico organizacional, que pode ser uma estabelece a ISO 31000. análise SWOT, por exemplo. Neste mo- O framework mais recente apresen- mento são captados, nos ambientes interno tado pelo Coso é menos detalhado que e externo, os fatores SWOT, e é deles que o o do PMBOK, que se alinha mais com planejador se vale para formular a primeira o framework da ISO 31000:2018.24 Na lista de riscos. Fatores SWOT internos são realidade, o framework da ISO é que se os que estão sob o controle do planejador, alinha com o do PMI, dado que este é são as forças e as fraquezas; e os externos, bem mais antigo do que o da ISO na sua não sob o controle do planejador, são as primeira versão de 2009. oportunidades e as ameaças. Os fatores A ISO 31000:2018 recomenda que internos não são riscos, mas poderão ser atividades de comunicação25 e de consulta fonte ou causa deles. No terceiro processo com as partes interessadas apropriadas ex- acontece a "Identificação dos Riscos", ternas e internas ocorram no âmbito de cada que tem por base considerar as premissas etapa e ao longo de todo o processo de ges- eventualmente formuladas em etapas tão de riscos, donde é possível depreender pretéritas e as oportunidades e ameaças que, antes da primeira etapa, este conjunto já arroladas. É conveniente já separar os de recomendações ocorra também. riscos listados, por objetivo estratégico O primeiro processo da construção do previamente apreciado e, se possível, Plano de Riscos é, então, a "Comunica- também fazer uma primeira associação ção e Consulta". Nele o responsável pela com as forças e fraquezas listadas no diag- elaboração do plano, juntamente com sua nóstico. Essas duas etapas fazem parte do equipe, consulta as partes interessadas, processo e precedem obrigatoriamente as preferencialmente de diferentes áreas de seis seguintes, já mencionadas.

23 De forma geral é possível dizer que as normas da série ISO 31000 são normas “guarda-chuva” considerando que pretendem harmonizar/equilibrar os processos de gestão de riscos, tanto no contexto de hoje como em futuras atualizações, apresentando uma abordagem comum e ampla para apoiar Normas que tratem de gestão de riscos nas organizações como um todo. Estão em contínua atualização pelo CB respectivo. 24 ABNT NBR ISO 31000:2018. 25 Comunicação é uma área gerenciável como qualquer outra, em qualquer estágio, fase ou mesmo processo ou atividade. É comum a confusão na aplicação dos conceitos de comunicação e comunicação social. O PMI, no seu Guia de Melhores Práticas, Capítulo X, deixa isto bem claro. 26 Identidade estratégica é composta: pela missão, pela visão e pelos valores da organização. Os valores são o alicerce ético da organização. 27 Por escopo do processo entenda-se aqui a identificação dos resultados esperados, das molduras temporal e espacial a serem consideradas, das ferramentas e técnicas escolhidas para cada fase ou subprocesso, dos recursos requeridos e de responsabilidades e requisitos, bem como de eventuais premissas assumidas e relacionamentos com outros projetos ou processos. Este conjunto de informações deve compor um item nominado por "Metodologia".

RMB1oT/2019 129 CONTROLE INTERNO NA GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES PÚBLICAS: uma revisão conceitual

Na etapa seguinte, realiza-se a "Aná- o do controle interno e o do controle lise de Riscos", em que o grupo precisa interno da Gestão, o primeiro ligado estabelecer parâmetros analíticos sobre a ao sistema de controle interno estabe- probabilidade da ocorrência, o impacto lecido na CF 1988, Art. 74, de caráter esperado e o próprio limite dos riscos a reativo, e o segundo ligado à gestão de ser considerado, além de outros fatores, riscos operada em favor dos objetivos de e tem como produto uma lista de riscos desempenho propriamente ditos, corro- priorizada, que será a entrada para a etapa borando o estatuído no Artigo 7o da IN de "Avaliação de Riscos". Na avaliação, 01/2016, de caráter proativo. A acepção o grupo faz a comparação do conjunto de de controle interno da gestão está calcada riscos priorizados com os critérios de risco na ideia de enfrentamento de riscos no (limites) preestabelecidos, para determi- exercício da gestão estratégica, na ação nar ações e análises adicionais, manter administrativa do dia a dia e no exercício ou alterar os controles previstos, ou até dos controles administrativos: prévios, mesmo reconsiderar os objetivos estraté- concomitantes e posteriores. gicos estabelecidos no Plano Estratégico. A acepção de controle interno da ges- Na etapa seguinte, o "Tratamento de tão se prende aos âmbitos do controle a Riscos", são formuladas e selecionadas as serem implementados na gestão de riscos ações de enfretamento dos riscos escolhidos; da atividade organizacional. Este controle é avaliado se, durante a execução do plano, é totalmente diferente, portanto, dos ou- os riscos remanescentes são aceitáveis; e são tros dois anteriormente apresentados, os selecionadas as estratégias de enfrentamento controles externo e interno, ambos cons- dos riscos28 positivos ou negativos. titucionais e exercidos por fora das orga- Na etapa "monitoramento e análise nizações. Estes três tipos de controle estão crítica", o plano já estará em execução e dentro do contexto do exercido dentro da estarão acontecendo o monitoramento e o ação administrativa de cada organização e controle. Já deverá existir um conjunto de que caracterizam o controle interno admi- planos contingentes para enfrentar: antes, nistrativo29. O Sistema de Controle Interno na ocorrência; concomitantes e posteriores e o Controle Externo caracterizam-se pelo à materialização do evento. Controle Avaliativo, por fora das organi- zações – reativo, portanto. CONSIDERAÇÕES FINAIS A facilidade de misturar conceitos pode advir: de um ambiente de baixa ma- É possível depreender, desta apertada turidade ou cultura organizacional sobre a síntese, a diferença de âmbitos de ação: aplicação dos conceitos de controle inter-

28 O PMBOK, 6a edição, explica didaticamente que, para enfrentar riscos individuais positivos ou oportuni- dades, podem ser adotadas as estratégias de escalar, explorar, compartilhar, melhorar e aceitar; para os riscos individuais negativos ou ameaças, podem ser usadas as estratégias de escalar, prevenir, transferir, mitigar e aceitar. A ISO não tem a mesma clareza e a mesma didática que o PMBOK. 29 Conjunto de atividades, planos, métodos e procedimentos interligados, utilizado com vistas a assegurar que os objetivos dos órgãos e entidades da administração pública sejam alcançados, de forma confiável e concreta, evidenciando eventuais desvios ao longo da gestão, até a consecução dos objetivos fixados pelo Poder Pú- blico. Departamento do Tesouro Nacional IN-DTN 16/91, incorporado no Manual do Sistema de Controle Interno IN SFC 01/2001, Cap. VII, Seção VIII. Tem por finalidade mitigar riscos para assegurar que os objetivos da organização sejam alcançados. É, portanto, uma responsabilidade dos gestores. A alta adminis- tração é, em última instância, responsável pela implantação e pela eficácia do sistema de controle interno.

130 RMB1oT/2019 CONTROLE INTERNO NA GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES PÚBLICAS: uma revisão conceitual no e gestão de riscos; da falta de institui- Basicamente, não se considerou a ção de camadas de defesa apropriadas; e abordagem do Coso porque esta veio da própria novidade do uso do tema em si. para enfrentar problemas de governança Quanto ao modelo de aplicação em organizações do setor produtivo, empírica da gestão de riscos da ISO embora partes do seu corpo conceitual 31000:2018, a construção do Plano de tenham sido recepcionadas pelas ISO da Gestão de Riscos e a sua própria execu- série 31000, como, por exemplo, a ideia ção, é possível afirmar que não há um de primeira, segunda e terceira camada. modelo ótimo e que melhor será o plano Por fim, é preciso frisar que o papel que estiver em execução e produzindo aceita tudo e nele tudo dá certo. O em- resultados, sendo monitorado, controla- prego de corpos conceituais em modelos do, corrigido e ajustado por processos de reais é que irá definir se o modelo é bom realimentação contínua e programada a ou mau. É a execução realimentada partir de lições aprendidas anteriores. Os que permitirá evidenciar a correção do devidos ajustes e as devidas correções se planejamento e o seu aprimoramento, darão pelo próprio feedback. Os conceitos capitaneado pelos corpos dirigentes, estão dados, mas a arte na aplicação é do conferindo importância às iniciativas de planejador e da sua equipe. aplicações conceituais.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Controle; Gestão;

RMB1oT/2019 131 10 ANOS DO RECEBIMENTO E DA INCORPORAÇÃO DO NAVIO POLAR ALMIRANTE MAXIMIANO*

ALI KAMEL ISSMAEL JUNIOR** Capitão de Fragata (EN)

SUMÁRIO

Introdução O início da missão – fase de delineamento das obras de adaptação e especificação de equipamentos Execução das obras de adaptação e instalação de equipamentos O grande dia: a incorporação à MB Conclusão

INTRODUÇÃO trados os momentos mais importantes, motivei-me a escrever este artigo com o m 3 de fevereiro de 2019 completa- humilde intuito de poder passar aos leito- Eram-se os dez anos do recebimento e res, principalmente às novas gerações de da incorporação do Navio Polar Almirante oficiais e praças da MB, as experiências Maximiano pela Marinha do Brasil (MB), profissionais e pessoais que tive com o pri- e essa data traz boas recordações à mente vilégio de poder participar dessa missão. deste autor, participante do Grupo de Posso citar, como exemplo, a oportunidade Apoio Técnico (GAPT) para o recebimen- única de vivenciar, compreender e assi- to deste meio à época. milar os desafios inerentes ao ambiente Em face da necessidade, premente a operativo, que muitas vezes nos esque- todo ser humano, de querer deixar regis- cemos ao exercermos nossa profissão de

*N.R.: O NPo Almirante Maximiano comemorou, em 3 de fevereiro último, nas proximidades da Estação An- tártica Comandante Ferraz, seu 10o aniversário de incorporação à Marinha do Brasil. Em 14 de fevereiro, em Punta Arenas, no Chile, em meio à XXXVII Operantar, assumiu o comando do navio o Capitão de Mar e Guerra João Candido Marques Dias. ** Serve no Instituto de Pesquisas da Marinha, como Encarregado do Grupo de Sistema de Armas. Mestre em Engenharia Elétrica pelo Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet-RJ), especialista em Análise do Ambiente Eletromagnético pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e engenheiro elétrico com ênfase em Sistemas Eletrônicos pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). 10 ANOS DO RECEBIMENTO E DA INCORPORAÇÃO DO NAVIO POLAR ALMIRANTE MAXIMIANO engenheiro na MB, em nossas mesas de navio escolhido, a fim de atender aos requi- escritório ou em laboratórios e oficinas. sitos necessários para apoiar o Programa Antártico Brasileiro (Proantar). Nessa O INÍCIO DA MISSÃO – FASE inspeção, da qual o autor não participou, DE DELINEAMENTO DAS realizada em abril de 2008, o navio já se OBRAS DE ADAPTAÇÃO encontrava atracado no Estaleiro Bredo E ESPECIFICAÇÃO DE (Bremerhavener Dock GmbH), em Bre- EQUIPAMENTOS merhaven, Alemanha, onde seriam realiza- das as demais tarefas para a conclusão do Conforme explanado pelo blog Base projeto. Após a escolha, o navio foi adquiri- Militar Web Magazine (2009), em fe- do por meio de convênio assinado em 2008 vereiro de 2008, o então Presidente da entre a Marinha do Brasil; a Financiadora República, durante visita ao Continente de Estudos e Projetos (Finep), empresa Antártico, decidiu pela obtenção de um pública vinculada ao então Ministério da navio para, juntamente com o Navio de Ciência e Tecnologia (MCT); e a Fundação Apoio OceanográficoAry Rongel, apoiar de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep) as pesquisas brasileiras no continente (BASE MILITAR, 2009). gelado. Com isso, iniciou-se o processo Após a seleção, conforme a Portaria no de seleção de um navio de pesquisa com 178/MB, de 15 de maio de 2008 (BRA- capacidade de operar na região, tendo sido SIL, 2008a), o comandante da Marinha selecionado o navio Ocean Empress, por designou para o GAPT ao recebimento uma comissão composta por engenheiros do futuro navio polar os então Capitão navais e oficiais, com relevante experiên- de Mar e Guerra Fuad Gatti Kouri, da cia em operações antárticas. Diretoria Geral do Material da Marinha Em relação ao histórico do navio, o (DGMM) e gerente do Projeto Navio referido blog cita: Polar; Capitão de Fragata José Manuel da Costa Nunes, da Diretoria de Hidrografia O navio, construído em 1974 no da Marinha (DHN) e do Grupamento de estaleiro Todd (EUA), foi comissionado Navios Hidrográficos (GNHo), responsá- como navio de apoio (Supply Vessel) às vel pelos aparelhos de Hidroceanografia plataformas de petróleo no Mar do Norte e Geologia Marinha; Capitão de Fragata e, posteriormente, em 1988, no Estaleiro André Schumann Rosso, da Secretaria Aukra (Noruega), foi convertido em na- Interministerial para os Recursos do Mar vio pesqueiro (Stern Factory/Processing (Secirm), responsável pelas vestimentas Trawler), quando obras de grande vulto antárticas de sobrevivência e coletes foram executadas, a ponto de ter sido salva-vidas; Capitão de Corveta (EN) preservada apenas a quilha como parte Rogério Corrêa Borges, do Arsenal de original, o que, segundo a classificadora Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ), Llodys Register, torna o ano de 1988, responsável pelos sistemas mecânicos; na prática, como o seu novo ano de Capitão-Tenente (EN) José Francisco de construção (BASE MILITAR, 2009). Andrade Junior, da Diretoria de Comu- nicações e Tecnologia da Informação da Na inspeção que selecionou o futuro Marinha (DCTim), responsável pelo sis- navio polar, foi verificada a necessidade tema de comunicações; Capitão-Tenente da realização de alterações estruturais no (EN) Eberth Fontenelle Lôbo, da Diretoria

RMB1oT/2019 133 10 ANOS DO RECEBIMENTO E DA INCORPORAÇÃO DO NAVIO POLAR ALMIRANTE MAXIMIANO de Engenharia Naval (DEN), responsável conforme a Portaria no 180/MB, de 20 de pelo sistema elétrico; eu, Capitão-Tenente maio de 2008 (BRASIL, 2008b), sendo (EN) Ali Kamel Issmael Junior, da Dire- ambos, à época, da Diretoria de Aeronáu- toria de Sistemas de Armas da Marinha tica da Marinha (DAerM). As Figuras 1(a) (Dsam), responsável pelos sensores de e 1(b) apresentam a equipe envolvida. navegação e escoteria; e Capitão-Tenente Na chegada em Bremerhaven, fomos (EN) André Ricardo Mendonça Pinheiro, recebidos por Tore Thorsen (Figura 2(a)), do AMRJ, responsável pela área de esta- diretor-gerente (managing director) e bilidade e estrutura do navio. Em função acionista da empresa norueguesa ASK da necessidade de se adaptar um convoo Subsea Ltd, operadora e proprietária do para pouso de helicópteros no futuro navio navio, que intermediou os entendimentos polar, o comandante da Marinha também entre a equipe da MB e os representantes designou os então Capitão de Corveta Luis do Estaleiro Bredo e das empresas estran- Eduardo Soares Fragozo, responsável geiras subcontratadas para a realização da pelas facilidades de aviação, e Segundo- missão. O aspecto externo do navio quan- -Sargento (AV-RV) André Matos Pereira, do chegamos é apresentado na Figura 2(b).

(a) (b)

Figura 1 – (a) O Capitão de Mar e Guerra Kouri, chefe da primeira missão; (b) Grupo de Apoio Técnico do Navio Polar de Apoio à Pesquisa (fotos do arquivo pessoal do autor)

(a) (b)

Figura 2 – (a) Tore Thorsen, diretor-gerente da ASK Subsea Ltd; (b) Aspecto externo do navio Ocean Empress, quando da chegada do GAPT (arquivo pessoal do autor)

134 RMB1oT/2019 10 ANOS DO RECEBIMENTO E DA INCORPORAÇÃO DO NAVIO POLAR ALMIRANTE MAXIMIANO

O propósito dessa primeira etapa era auxiliaram o trabalho de levantamento integrar o GAPT no delineamento dos dos manuais, bem como da localização projetos atinentes às obras de adaptação dos diversos itens componentes a bordo executadas no navio polar, para atendi- do navio. No âmbito deste trabalho, de mento dos requisitos da MB; especifica- forma resumida, foi levantada a Lista de ção de equipamentos a serem adquiridos Equipamentos e Equipagens (LEE), con- e instalados; levantamento de informações tendo as informações mínimas para que se dos equipamentos e sistemas, visando iniciasse o cadastramento da configuração ao estabelecimento das dotações de so- de equipamentos do meio no Sistema bressalentes (bordo e base); e coleta de Logístico da MB, bem como a coleta da dados necessários ao início do processo documentação de suporte e dos manu- de catalogação de itens. ais existentes a bordo, tomando como Como representante da Dsam, meu base a Estrutura de Divisão de Produto enfoque foi atuar nos equipamentos de (Product Breakdowm Structure – PBS) navegação, na escoteria – local onde se dos Sistemas e Equipamentos existentes. guarda o armamento de serviço e materiais Esta tarefa, considerando que o meio foi fumígenos e pirotécnicos para sinaliza- uma compra de oportunidade, é de vital ção – e no Sistema de Posicionamento importância, já que é a primeira obtenção Dinâmico, tendo travado contato com dos insumos logísticos fundamentais para os técnicos contratados pelo Estaleiro a futura manutenção do navio. Nas Ta- Bredo para a instalação dos equipamentos belas 1 e 2 são apresentados os modelos de navegação de bordo, que em muito adotados para a LEE e para a Lista da

LISTA DE QTD de itens EQUIPAMENTOS E Part Localização DOTAÇAO DOTAÇAO QTD SWIBS Descrição existentes no OBS. EQUIPAGENS Number a Bordo DE BASE DE BORDO Equipamento. SISTEMA EQPTO

Tabela 1 – Lista de Equipamentos e Equipagens (LEE) Legendas: SWBS – Ship or System Work Breakdown. É a codificação utilizada para identificação do item em termos de sua utilização sistêmica ou funcional no navio. QTD. – Quantidade. Part Number – Código normalmente adotado por fornecedores dos itens para identificação para aquisição. Dotação de Base – Quantidade mínima recomendável do item em estoque em terra. Dotação de Bordo – Quantidade mínima recomendável do item em estoque a bordo do navio.

SISTEMA EQUIPAMENTO MANUAL OBS. SERVIÇO ATÉ OPERAÇÃO INSTALAÇÃO 1o ESCALÃO NO MÍNIMO VERSÃO VERSÃO VERSÃO VERSÃO VERSÃO VERSÃO DIGITAL FÍSICA DIGITAL FÍSICA DIGITAL FÍSICA (SIM/NÃO) (SIM/NÃO) (SIM/NÃO) (SIM/NÃO) (SIM/NÃO) (SIM/NÃO)

Tabela 2 – Lista da Documentação Existente a Bordo (LDEB)

RMB1oT/2019 135 10 ANOS DO RECEBIMENTO E DA INCORPORAÇÃO DO NAVIO POLAR ALMIRANTE MAXIMIANO

Documentação Existente a Bordo (LDEB) adotados, de forma a ras- trear e registrar esses dados. Em linhas gerais, para os sis- temas que ainda não estavam instalados, como o Sistema de Posicionamento Dinâmico, ou parcialmente instalados, como o Circuito Fechado de TV (CFTV), levantou-se o que já havia disponí- vel e delinearam-se requisitos para as futuras instalações, em conjunto tanto com os membros do Setor Operativo do GAPT como com a Assessoria Técnica da Dsam, no Brasil, realizando contatos hori- zontais pelo portal da Marinha e por Skype, utilizando na época uma rede 3G de internet bastante lenta para os padrões de hoje, diga-se de passagem, de forma a minimizar riscos de erros nas defi- nições das especificações que iriam Figura 3 – Inspeção de antenas no tijupá do navio (foto do nortear o escopo dos trabalhos para arquivo pessoal do autor) a fase de execução seguinte. Para os equipamentos já instalados, Em função disso, tornaram-se necessá- procurou-se verificar a existência dos rias, durante o período interregno para a manuais de operação e manutenção, bem segunda etapa, a preparação de planilhas como avaliar se já havia sobressalentes, de testes de porto e de mar pelo setor o grau de obsolescência e a necessidade técnico da Dsam para todos os equipa- ou não de se substituir eventualmente na mentos envolvidos e a solicitação à ASK próxima etapa. É importante frisar que dos serviços de calibração e aferição na também foram realizados testes prelimi- segunda etapa da missão ou a apresenta- nares nos equipamentos prontificados, ção de certificados de que estes serviços especialmente os que já possuíam manuais foram realizados previamente. Ao final de operação. Entretanto, esses testes não da primeira etapa, foi entregue ao Senhor levaram em consideração a verificação de Tore Thorsen, representante da ASK, calibração e aferição dos mesmos, pela uma relação com os equipamentos que falta de condições técnicas e por não ter deveriam ser mantidos e os novos que sido apresentado, até aquele momento, deveriam ser adquiridos e instalados no nenhum certificado de calibração/aferição navio, respeitados os valores negociados. dos equipamentos por parte da ASK. Na A visita antes das obras do GAPT Figura 3 é apresentada uma fotografia du- permitiu o trabalho interativo com a ASK rante uma inspeção de antenas, realizada na busca de soluções contempladas de pelo autor, no tijupá do navio. maneira genérica pelo MOA (Memoran-

136 RMB1oT/2019 10 ANOS DO RECEBIMENTO E DA INCORPORAÇÃO DO NAVIO POLAR ALMIRANTE MAXIMIANO dum of Agreement), documento que nortearia os trabalhos de adaptação do navio, bem como na catalogação preliminar de vários sistemas de bordo. A esta altura, a MB já havia defi nido o nome do navio como Navio Polar Almirante Maxi- miano, fazendo justa homena- gem ao Almirante Maximiano Eduardo da Silva Fonseca, como (a) (b) bem explana o blog Base Militar Web Magazine (2009): Figura 4 – (a) Almirante de Esquadra Maximiano Eduardo da Silva Fonseca (Soamar Santos. Acesso em 27/1/2019); e (b) brasão do navio polar (Navios de Guerra Brasileiros. Acesso em 24/1/2019) O nome “Almirante Ma- ximiano” é uma justa home- nagem ao insigne Almiran- te de Esquadra Maximiano Eduardo da Silva Fonseca, que, como comandante da Marinha, ao adquirir o Na- vio de Apoio Oceanográfi co (NApOc) Barão de Teffé (1982, ex-Thala Dan), abriu o caminho para a presença do Brasil na Antártica, permitin- do a realização da Primeira Expedição Antártica Brasilei- Figura 5 – Dia do regresso da Alemanha de alguns dos membros ra e o estabelecimento da Es- do GAPT (arquivo pessoal do autor) tação Antártica Comandante Ferraz. Esta estação, a partir de então, EXECUÇÃO DAS OBRAS DE marca a presença de nosso país naquele ADAPTAÇÃO E INSTALAÇÃO continente, na condição de membro DE EQUIPAMENTOS do Tratado Antártico, e nos dá direito a voto nas decisões atinentes àquela Conforme a Portaria no 39/DGPM, de região (BASE MILITAR, 2009). 5 de março de 2009 (BRASIL, 2009), o diretor-geral de Pessoal da Marinha de- As Figuras 4(a) e 4(b) apresentam a fi niu as equipes integrantes da Missão de imagem do insigne chefe naval Almirante Recebimento do Navio Polar Almirante de Esquadra Maximiano Eduardo da Silva Maximiano, compostas pela primeira Fonseca e o brasão do navio polar. tripulação do novo meio e pelo Grupo A Figura 5 apresenta parte do Grupo de Apoio Técnico (GAPT). Na Tabela 3 de Apoio Técnico em frente ao Estaleiro são citados os integrantes dessa jornada, Bredo, no dia de seu regresso ao Brasil com seus postos e graduação à época, e dessa primeira etapa. os respectivos períodos de participação.

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GRUPO MILITARES INTEGRANTES PERÍODO

CMG SÉRGIO RICARDO SEGÓVIA BARBOSA (Encarregado do Grupo de Recebimento e primeiro comandante do navio) CC JOSUÉ FONSECA TEIXEIRA JÚNIOR (primeiro chefe do Departamento de Máquinas do navio) CT (IM) UBIRAJARA DE JESUS SANTANA FERREIRA (primeiroc do Departamento de Intendência do navio) CT HUGO LEONARDO FERNANDES DA COSTA 1o SG-MR REGINALDO SOARES VELASCO 1o SG-MO CEZAR AUGUSTO CHAGAS DE MIRANDA ALFA 29/9/2008 a 16/3/2009 1o SG-ES ANTONIO ROZA NETO 2o SG-CI ANTONIO CARLOS BATISTA 2o SG-EL JORGE RAMOS GUIMARÃES 2o SG-ET RAELSON DANTAS DE SOUSA 2o SG-HN SÉRGIO DA SILVA SANTOS 3o SG-CN ANDRE LUIZ RODRIGUES COSTA CB-CO JOAO BATISTA DE SOUSA CB-CP CRISTOFERSON MAX FELIPE CB-PL JADSON PEREIRA DA SILVA CF HORÁCIO LOPES SENIOR (primeiro imediato do navio) CC SIDNEI DA COSTA ABRANTES (primeiro chefe do Departamento de Operações do Navio) CT (Md) VITOR DE ANDRADE MELLO GALLO CT (CD) FERNANDO CÉSAR PARAIZO BORGES CT RAFAEL TEIXEIRA CERQUEIRA CT RICARDO VILHENA MOREIRA CT (IM) BRUNO SANTA RITA MOREIRA 2o SG-EL FERNANDO GONÇALVES DE BARROS 3o SG-ME JACKSON BARBOSA SILVA 3o SG-ES ALEXANDRE NICK BARRETO 3o SG-MO JOSUÉ SILVESTRE DA SILVA 3o SG-MO CARLOS RENATO OLIVEIRA COUTO 3o SG-MR CARMO NETO MARTINS DE SOUZA CB-AR MARCIO RODRIGUES MAGALHÃES DE JESUS CB-AR RENATO FONSECA DOS SANTOS PINTO CB-AR JÁDERSON MEDEIROS BARBOZA CB-AR EDUARDO FERREIRA DOS SANTOS CB-BA RAFAEL RODRIGUES MARTINS BRAVO 28/10/2008 a 16/3/2009 CB-CN RODRIGO DE PAULA CRUZ CB-CN MARCIO FERNANDO DE SOUZA LUZ CB-CO CLOVIS FERNANDO BRAGANÇA DA SILVA CB-EF AILTON FERREIRA DA SILVA CB-EL MARCUS AURELIUS SAMPAIO DA SILVA CB-ET LIVIO SALINAS DE PAIVA CB-HN PABLO FREITAS DA SILVA CB-MC RAFAEL NASCIMENTO VIANNA CB-MO RENATO DE ARÁUJO MARINHO CB-MO VALDIR DA TRINDADE PEREIRA CB-MR PAULO CESAR CORREA OLIVEIRA CB-MR SALEZIO RIBEIRO PASSOS CB-MR VANILSON JORGE LENCI CB-MT FERNANDO BARBOSA DOS SANTOS CB-PL WAGNER GABRI BARTOLAZI CB-MA CARLOS FERREIRA CECIM CB-MO EDMAR QUEIROZ DA CONCEIÇÃO CB-CO RENATO JOSÉ DA COSTA CB-ES VILSON CARVALHO VERAS CB-AR EDSON DA SILVA MARQUES CHARLIE 1o Ten LEANDRO DOS SANTOS NOVAES 10/12/2008 a 16/3/2009 DELTA CT ALEXANDRE E MOTA E PINTO 29/9/2008 a 15/11/2008 CC (EN) ROGÉRIO CORRÊA BORGES GRUPO DE APOIO TÉCNICO 1 29/9/2008 a 16/3/2009 (chefe do Grupo de Apoio Técnico) CT (EN) EBERTH FONTENELLE LÔBO CT (EN) ANDRÉ RICARDO MENDONÇA PINHEIRO GRUPO DE APOIO TÉCNICO 2 29/9/2008 a 19/2/2009 CT (IM) KLEBER SOARES MOURA 1o SG-PL CARLOS ALBERTO LIMA GRUPO DE APOIO TÉCNICO 3 CT (EN) ALI KAMEL ISSMAEL JUNOR 1/11/2008 a 16/3/2009 CT (EN) JOSÉ FRANCISCO DE ANDRADE JUNIOR GRUPO DE APOIO TÉCNICO 4 1/11/2008 a 19/2/2009 1o SG-ET JOSÉ DE RIBAMAR CASTRO LOPES CC LUIS EDUARDO SOARES FRAOZO GRUPO DE APOIO TÉCNICO 5 25/10/2008 a 9/12/2008 1o SG-AV-CV ANTÔNIO CLÁUDIO MOREIRA

Tabela 3 – Equipes integrantes da Missão de Recebimento do Navio Polar Almirante Maximiano (BRASIL, 2009)

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Faz-se aqui justiça também à participação do Engenheiro Celso Di Domenico (vide Figura 6), na época responsável pelo Setor de Análise de Choques e Vibração do Centro de Projeto de Navios (CPN), que também contribuiu em importantes análises durante a preparação do navio polar, entre os meses de no- vembro de 2008 e janeiro de 2009. Dentro do espírito solidário ne- cessário a esse tipo de missão, todos os membros do GAPT, bem como do navio, procuraram colaborar Figura 7 – Pausa na faina de inspeção de obras mortas com no que fosse possível, mesmo em o navio polar docado no dique do Estaleiro Bredo (arquivo outras áreas de atuação, ajudando na pessoal do autor) catalogação de itens e mesmo auxi- liando em inspeções e até em manutenções união de experiências em um trabalho corretivas de pequena monta, de sistemas multidisciplinar que em muito colabo- elétricos, mecânicos e de comunicações rou para o bom andamento da missão, que passassem por dificuldades. Uma bem como para a evolução profissional de todos os envolvidos. Por exemplo, mesmo sendo engenheiro eletrônico, pude colaborar com as inspeções de obras mortas dos transdutores do navio e auxiliar os oficiais da área de máquinas na observação do estado do casco do navio, conforme a Figura 7. Sempre é importante lembrar que a missão realizou-se durante um rigoroso inverno no norte da Europa, onde tempe- raturas oscilavam entre -10º e -5º Celsius e, especialmente em dezembro, praticamente ou nevava ou chovia, com fortes ventos (Figuras 8(a) e 8(b)). Longe do calor do nosso Brasil e enfrentando um clima tão diferente e frio, vivenciando também um país com uma cultura bem diversa da nos- sa, o espírito de camaradagem mencionado anteriormente nas fainas mostrou-se mais intenso ainda nos momentos sociais de lazer e, com isso, grandes amizades foram Figura 6 – Engenheiro Celso Di Domenico, na ali forjadas nas dificuldades, tanto entre os época responsável pelo Setor de Análise de Choques oficiais, como com as praças e entre todos e Vibração do CPN (arquivo pessoal do autor) os membros do Grupo de Recebimento.

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(a)

(a)

(b)

Figura 8 – (a) Rio Weser congelado, nas proximidades do Estaleiro Bredo, durante um dia de expediente; e (b) Neve caindo no “Tio Max”, dificultando as obras do hangar e do convoo (arquivo pessoal do autor) (b)

As Figuras 9(a), 9(b) e 9(c) dão uma ideia da evolução dos trabalhos, bem como do clima vivido durante as fainas. Esse entrelaçamento e a proximidade de todos os envolvidos acabaram por criar o tradicional e conhecido “espírito do navio”, que, por consequência, ganhou o (c) carinhoso apelido de “Tio Max”. Após a saída do navio do dique, em Figura 9 – (a) Aspecto do navio polar docado no dique dezembro de 2008, com as obras pratica- do Estaleiro Bredo para faina de pintura. Já era possível mente prontas, fez-se o primeiro teste de ver o seu indicativo H41; (b) faina de colocação do brasão do navio e pintura do lema dos hidrógrafos; e mar do navio polar, enfrentando mar com (c) “Tio Max” saindo do dique do Estaleiro Bredo pela Escala Beaufort1 entre 7 e 9, de todos os primeira vez (arquivo pessoal do autor)

1 A Escala de Beaufort classifica a intensidade dos ventos, tendo em conta a sua velocidade e os efeitos resultantes das ventanias no mar e em terra. Foi concebida pelo meteorologista anglo-irlandês Francis Beaufort, no início do século XIX. Na década de 1830, a Escala de Beaufort já era amplamente utilizada pela Marinha Real Britânica (Wikipedia. Acesso em 27/1/2019).

140 RMB1oT/2019 10 ANOS DO RECEBIMENTO E DA INCORPORAÇÃO DO NAVIO POLAR ALMIRANTE MAXIMIANO

(a) (b)

Figura 10 – (a) Tio Max saindo do Porto de Bremerhaven, em dezembro de 2008, para o seu primeiro teste de mar, e (b) voltando de Kristiansand, na Noruega, após a verificação de sistemas e preparação para a travessia de volta ao Brasil (fotos do arquivo pessoal do autor) sistemas, que estavam praticamente con- ao então Centro de Armas da Marinha cluídos. O autor deste artigo, conforme já (CAM) e outra à Dsam. explanado na Introdução, participou dessa Ao término dos serviços, o navio polar comissão, inspecionando e testando os sis- sofreu diversas modificações estruturais, temas que lhe eram afetos, especialmente como a inclusão de um hangar climatizado o Sistema de Posicionamento Dinâmico, e convoo para operações com helicópteros, já nas águas tranquilas da costa de Kris- com capacidade para receber duas aero- tiansand, na Noruega. As Figuras 10(a) e naves, novas e ampliadas acomodações 10(b) apresentam a saída e a volta do Tio e instalações de pesquisas e laboratórios. Max dessa comissão. Essas obras de conversão andaram em Após este teste de mar, em janeiro ritmo acelerado, devendo-se isso em parte de 2009, encerraram-se o levantamento aos recursos disponibilizados pelo Minis- da Lista de Equipamentos e Equipagens tério de Ciência e Tecnologia, por meio (LEE), a verificação de sobressalentes da Finep, e ao esforço e à competência do existentes e a aquisição na Alemanha Grupo de Recebimento comandando pelo dos faltantes para a travessia ao Brasil, a então Capitão de Mar e Guerra Sérgio coleta final dos certificados de conformi- Ricardo Segóvia Barbosa. dade e calibração, manuais de operação, instalação e manutenção existentes em O GRANDE DIA: A meio digital e a digitalização dos que INCORPORAÇÃO À MB só se encontravam em meio físico. Em relação aos sistemas sem manuais, foram Conforme o blog Kemp Tecnologia efetuados contatos com os fabricantes, (2009), a incorporação ocorreu no dia 3 de que prontamente forneceram a documen- fevereiro de 2009, em cerimônia presidida tação necessária. Toda esta documen- pelo chefe do Estado-Maior da Armada, tação foi organizada em meio digital e Almirante de Esquadra Aurélio Ribeiro gravada em quatro CDs, com uma cópia da Silva Filho, na cidade de Bremerhaven, entregue ao navio e, posteriormente à Alemanha. Também compareceram ao chegada ao Brasil, uma ao então Centro evento o comandante da 2a Força Opera- de Eletrônica da Marinha (CETM), uma cional da Marinha alemã e representante

RMB1oT/2019 141 10 ANOS DO RECEBIMENTO E DA INCORPORAÇÃO DO NAVIO POLAR ALMIRANTE MAXIMIANO daquela Força no evento, Comodoro Curso Andreas Mai; e do adido de Defesa e Karl-Wilhelm Bollow, além do diretor de Naval na República Federal da Alemanha Hidrografia e Navegação, Vice-Almirante e Holanda, Capitão de Mar e Guerra Carlos Luiz Fernando Palmer Fonseca; do co- Frederico Carneiro Primo, e outras autori- mandante da Escola de Operações Navais dades militares e civis locais (Figura 11). – Bremerhaven, Capitão de Mar e Guerra A cerimônia foi iniciada com o desem- Gerd Kiehnle; do capitão dos Portos de barque da antiga tripulação do ex-MV Bremen-Bremerhaven, Capitão de Longo Ocean Empress. A seguir, sob o coman- do do imediato, o Capitão de Fraga- ta Horácio Lopes Senior, a primeira tripulação do Navio Polar (NPo) Almi- rante Maximiano e o GAPT embarcaram no navio (Figuras 12(a) e 12(b)). Impossível não destacar também a tocante homenagem e o simbolismo da participação na ce- rimônia do Vice- -Almirante Luiz Figura 11 – Autoridades presentes à cerimônia (KEMP TECNOLOGIA, 2009) Fernando Palmer

(a) (b)

Figura 12 – (a) Capitão de Fragata Horacio Lopes Senior; e (b) Embarque da primeira tripulação do NPo Almirante Maximiano e o GAPT (fotos obtidas com o oficial de Relações Públicas do navio à época)

142 RMB1oT/2019 10 ANOS DO RECEBIMENTO E DA INCORPORAÇÃO DO NAVIO POLAR ALMIRANTE MAXIMIANO

Fonseca, filho do Almirante Maximiano, convidado a hastear pela primeira vez o Pavilhão Nacional no navio (Figura 13). Ao fim do Cerimonial à Bandeira, foi empossado pelo chefe do Estado-Maior da Armada o primeiro co- mandante do NPo, Capitão de Mar e Guerra Sérgio Ri- cardo Segóvia Barbosa, que foi recebido em seguida, com honras de portaló, a bordo de seu navio. Após o embarque das autoridades presentes, foi assinado o Termo de Armamento e descerrada a Figura 13 - Vice-Almirante Luiz Fernando Palmer Fonseca realizando o primeiro cerimonial da bandeira do NPo, simbolizando placa alusiva à incorporação a incorporação do navio à MB (foto obtida com o oficial de Relações do navio à Armada (Figuras Públicas do navio à época) 14(a) e 14(b)).

(a) (b)

(c)

Figura 14 – (a) Assinatura do Termo de Armamento do Navio Polar; (b) Descerramento da placa alusiva à incorporação pelo Almirante de Esquadra Aurélio Ribeiro da Silva Filho; e (c) Placa alusiva à incorporação do navio polar (fotos obtidas com o oficial de Relações Públicas do navio à época)

RMB1oT/2019 143 10 ANOS DO RECEBIMENTO E DA INCORPORAÇÃO DO NAVIO POLAR ALMIRANTE MAXIMIANO

Confesso, com indis- farçável orgulho, que esta missão foi uma das que me trouxeram mais satisfação na carreira, não só como militar, mas como enge- nheiro. Em primeiro lugar, por poder ter participado, durante cerca de seis meses, de todo o processo de deli- neamento das obras de con- versão e da posterior execu- ção delas no estaleiro naval escolhido para a tarefa, em Figura 15 – Almirante de Esquadra Aurélio Ribeiro da Silva Filho, Bremerhaven, Alemanha. Vice-Almirante Luiz Fernando Palmer Fonseca e Capitão de Mar e Guerra Sérgio Ricardo Segóvia Barbosa, no descerramento do quadro Depois, a participação nos do Almirante de Esquadra Maximiano Eduardo da Silva Fonseca, na testes de mar nas dangerous praça-d’armas do navio polar (KEMP TECNOLOGIA, 2009) waves, segundo as cartas

Em seguida, as autoridades fo- ram convidadas a visitar o navio, em especial seus novos compar- timentos, como os laboratórios, o convoo e hangar, escritórios e academia de ginástica, passadiço e o sistema de posicionamento dinâmico. Na praça-d’armas, prestou-se uma homenagem ao Almirante de Esquadra Maxi- (a) miano Eduardo da Silva Fonseca, com o descerramento de um quadro gentilmente cedido pela família (Figura 15).

CONCLUSÃO

O dia 3 de fevereiro de 2009 mar- cou profundamente todos os en- volvidos no recebimento no Navio Polar Almirante Maximiano, seja pela sensação de dever cumprido, (b) seja pelas homenagens recebidas pela população local de imigrantes Figura 16 – (a) Navio polar atracado no centro de Bremerhaven brasileiros que vieram nos presti- para a Cerimônia de Incorporação à MB (NORDSEE- ZEITUNG, 2009); e (b) Imigrantes brasileiros prestigiando a giar (Figuras 16(a) e 16(b)). Cerimônia de Incorporação (NORDSEE-ZEITUNG, 2009)

144 RMB1oT/2019 10 ANOS DO RECEBIMENTO E DA INCORPORAÇÃO DO NAVIO POLAR ALMIRANTE MAXIMIANO náuticas relativas à derrota escolhida no profissionais estrangeiros que nos acom- Mar do Norte. panharam durante a preparação do navio. Este orgulho só aumentou, após a Devo este artigo aos meus chefes à época incorporação, também por ter tido a opor- na Dsam e na DGMM, que confiaram em tunidade ímpar na carreira, especialmente mim para participar desta missão, aos ami- a de um oficial do Corpo de Engenheiros, gos da tripulação do navio e do GAPT que de se fazer ao mar com o meio por exatos participaram desta aventura, ao querido “Tio 29 dias, apoiando a primeira tripulação, de Max”, o Navio Polar Almirante Maximiano, seu primeiro porto até a chegada exultante à minha querida família, que, mesmo de ao nosso querido Brasil e para os nossos longe, me apoiou em mais este desafio, e à familiares. Foi o clímax da construção de instituição à qual escolhi me dedicar, torcen- amizades que perduram até hoje, forjadas do para que, com este relato, eu colabore de nas dificuldades e superações divididas forma efetiva para alimentar o fogo sagrado com aquele seleto grupo de oficiais e que todo militar da Marinha do Almirante praças (Figura 17) e também com os Tamandaré deve cultivar e preservar.

Figura 17 – Foto da primeira tripulação e do GAPT em frente ao passadiço do “Tio Max” (foto obtida com o Oficial de Relações Públicas do navio à época)

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Navio-Polar;

RMB1oT/2019 145 10 ANOS DO RECEBIMENTO E DA INCORPORAÇÃO DO NAVIO POLAR ALMIRANTE MAXIMIANO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BLOG BASE MILITAR. Marinha apresenta o seu novo navio polar. Brasil, 2009. Disponível em: . Acesso em 24 jan. 2019. BLOG KEMP TECNOLOGIA. Almirante Maximiano é incorporado à Marinha do Brasil. Brasil, 2009. Disponível em: . Acesso em 24 jan. 2019. SOAMAR SANTOS. Patrono da Soamar. Brasil. Disponível em: < http://www.soamarsantos. com.br/patrono-da-soamar//>. Acesso em 24 jan.2019. BRASIL. Ministério da Defesa. Marinha do Brasil. Portaria no 178/MB, de 15 de maio de 2008. Diário Oficial da União. Brasília, DF, no 94, 19 maio 2008. Seção II, p. 10. BRASIL. Ministério da Defesa. Marinha do Brasil. Portaria no 180/MB, de 20 de maio de 2008. Diário Oficial da União. Brasília, DF, no 94, 23 maio 2008. Seção II, p. 9. BRASIL. Ministério da Defesa. Marinha do Brasil. Portaria no 39/DGPM, de 5 de março de 2009. NAVIOS DE GUERRA BRASILEIROS. NPo Almirante Maximiano – H 41. Disponível em: < https://www.naval.com.br/ngb/A/A128/A128.htm/>. Acesso em 24 jan. 2019. NORDSEE-ZEITUNG. Von Bremerhaven über Brasilien in die Antarktis. Section Region. Bre- merhaven. Alemanha. 5 fev 2009. Disponível em: . Acesso em 5 fev. 2009. WIKIPEDIA. Escala Beaufort. Disponível em: . Acesso em 27 jan. 2019.

146 RMB1oT/2019 O CANIL DO 2oBTLOPRIB

CELIO LITWAK NASCIMENTO* Capitão de Fragata (FN)

DANIEL VALE BARROS** Primeiro-Tenente (RM2-Md)

SUMÁRIO

Introdução Breve histórico Cães militares na MB O canil militar no 2oBtlOpRib Terapia assistida por animais O adestramento e emprego das equipes da seção de cães de guerra do 2oBtlOpRib Conclusão

INTRODUÇÃO de Operações Ribeirinhas (2oBtlOpRib), localizado em Belém (PA). Entre as ste artigo tem o propósito de apresen- diversas possibilidades de emprego do Etar sucintamente a evolução do em- cão em parceria com o militar condutor, prego dos cães nas atividades tipicamente que potencializa os resultados das ati- militares, que remontam da Antiguidade vidades desempenhadas pelos militares até a história recente das Grandes Guer- do 2oBtlOpRib, têm-se as atividades de ras Mundiais, com a particularidade da patrulhas, faro, guarda e proteção. Neste ativação do canil militar do 2o Batalhão artigo serão apresentadas as capacidades

* Comandante do 2o Batalhão de Operações Ribeirinhas. ** Mestre em Ciências Animais e pós-graduado em Clínica Médica e Cirúrgica em Pequenos Animais. Graduado em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural da Amazônia. Médico veterinário do 2oBtlOpRib desde 2014. O CANIL DO 2oBTLOPRIB desenvolvidas atualmente no canil militar internacional, as Forças Armadas, Auxi- do 2oBtlOpRib, destacando ainda as ati- liares e as Guardas Municipais estão sendo vidades voltadas para a Terapia Assistida dotadas de canis, com distintos plantéis por Animais (TAA). de cães, com a finalidade de atender às especificidades destas organizações BREVE HISTÓRICO no cumprimento de suas atribuições (CGCFN-3170; 2016; p. 1-4). O emprego de cães em combate re- O cão de emprego militar deve ser monta à Antiguidade, tendo sido utilizado enfocado, essencialmente, como cão por egípcios, gregos, persas, eslavos, de serviço policial, quer na paz ou na britânicos e romanos. Quando se tornou guerra. As características básicas a serem sistemática a criação de cães para este fim, observadas neste cão devem englobar a seu adestramento para executar tarefas presença de fortes impulsos de agressão e especializadas passou a ser uma meta a de presa, aliados a uma alta treinabilidade ser atingida. Assim, os cães recebiam e grande estabilidade nervosa, sendo esta treinamento para atuarem como escudei- última responsável por permitir a plena ros e sentinelas, compondo patrulhas, e expressão das características anteriores como rastreadores, sendo sua utilização em diferentes níveis de pressão do comba- uma realidade na vida militar moderna te e estresse (CGCFN-3170; 2016; p. 1-5). (CGCFN-3170; 2016; p. 1-1). Nos séculos XVIII e XIX, os cães fo- CÃES MILITARES NA MB ram utilizados pela polícia americana para vigiar detentos nos campos de trabalhos Na Marinha do Brasil (MB), designa- forçados e também para rastrear fugitivos. -se como cão de guerra todo canino dotado Durante a Primeira Grande Guerra Mun- de características zootécnicas adequadas dial (1914-1918), esses animais foram ao uso militar, possuidor de condições utilizados como sentinelas, batedores e de saúde, resistência, força, capacidade nas equipes de resgate, entregando mensa- de treinamento, vivacidade e estabilidade gens aos escalões avançados, dando alerta comportamental, o que, em associação sobre ataques químicos e transportando com o adequado adestramento e a condu- pequenas quantidades de suprimentos ção do animal por um militar capacitado, por meio de tracionamento de pequenas permitirá o seu emprego nas operações carroças, além de diversas outras funções militares (CGCFN-3170; 2016; p. 4-1). (CGCFN-3170; 2016; p. 1-1). As atividades que permitem o emprego Na Segunda Guerra Mundial (1939- do cão de guerra na MB têm como funda- 1944), a ex-União Soviética empregou cães, mentação doutrinária o emprego do Poder com explosivos amarrados a seus corpos, Naval nas operações de guerra naval, nas para fazer face a investidas de blindados atividades de emprego limitado da força alemães (CGCFN-3170; 2016; p. 1-1). e nas atividades benignas detalhadas na No Brasil, o emprego de cães em ativi- publicação EMA-305 (Doutrina Militar dades policiais teve início no começo do Naval – DMN) (CGCFN-17; 2016; p. 2-1). século XX. O emprego sistematizado nas São enumeradas a seguir as atividades atividades militares só veio a acontecer que permitem o emprego do cão de guer- na década de 1950. Atualmente, devido ra na MB: controle de distúrbios, detec- a eventos de grande importância e vulto ção de artefatos explosivos, detecção de

148 RMB1oT/2019 O CANIL DO 2oBTLOPRIB minas, detecção de narcóticos, guarda, mais de 30 anos, atualmente o canil do operações especiais, patrulha operativa, GSD-BE conta com oito cães, sendo sete patrulha ostensiva, resgate em região de pastores belgas malinois e um labrador. conflito, salvamento em desastres, segu- O Grupamento de Ações Táticas com rança de área de retaguarda, vigilância e Cães (GATC), da Guarda Municipal de alarme administrativo, vigilância e alar- Belém, criado em 27 de junho de 2007, me operativo, terapia contra o estresse dispõe de cerca de 11 cães adestrados das em combate e terapia ocupacional contra raças rottweiler, pastor belga, pastor ale- o estresse pós-combate (CGCFN-17; mão, labrador e golden retreiver, para faro 2016; p. 2-1 a 2-4). de entorpecentes e armas e cinoterapia.3 O canil da Polícia Rodoviária Federal O CANIL MILITAR NO (PRF) localizado na cidade de Benevides 2oBTLOPRIB (PA) conta com dois cães da raça pas- tor belga malinois, cujo emprego é de O primeiro canil militar a ser ativado combate ao tráfico de entorpecentes nas no estado do Pará foi o Canil da Polícia rodovias federais. Militar do Estado do Pará (PMPA), ou A 15a Companhia de Polícia do Exérci- Companhia Independente de Policia- to (15aCiaPE), organização militar (OM) mento com Cães (CIPC), subordinada ao do Exército Brasileiro (EB) subordinada Comando de Missões Especiais (CME) diretamente ao Comando Militar do Norte da PMPA. Ativo desde 12 de outubro de e localizada em Belém, originalmente 5a 1974 (cerca de 44 anos de existência), Companhia de Guardas, transformada possui cães policiais farejadores, de guar- em unidade especializada nas atividades da e proteção. As raças presentes no canil de Polícia do Exército pela Portaria no são: pastor alemão, pastor belga malinois, 852, de 7 de agosto de 2014, dispõe de rottweiler, labrador e cocker spaniel.1 um canil militar com seis cães, sendo Atualmente, o plantel da PMPA conta cinco da raça pastor alemão e um da raça com cerca de 30 cães. pastor belga malinois. Além da 15aCiaPE, O canil da Força Aérea Brasileira o 8o Depósito de Suprimentos (8oDSup), (FAB), conhecido como Canil Marajó, outra organização militar do EB sediada pertencente ao Grupo de Segurança e De- em Belém, também possui um canil fesa de Belém (GSD-BE), antigo Binfae, militar, com 11 cães, dos quais nove da unidade militar da Força Área Brasileira raça pastor alemão e dois da raça pastor (FAB) de infantaria subordinada à Ala belga malinois. 9, possuía 11 cães que lá atuavam: seis No ano de 2015 foi ativado o canil do pastores belgas malinois, um rottweiler, 2oBtlOpRib, reconhecendo o incremento dois pastores alemães e um labrador, de poder de combate que um cão pode adestrados para guarda e proteção, além dar na atuação de militares, tanto nas de faro de entorpecentes.2 Existente há operações e ações de guerra naval quan-

1 Disponível em: 2 Disponível em: . 3 Disponível em: e .

RMB1oT/2019 149 O CANIL DO 2oBTLOPRIB to nas atividades de emprego limitado tem aderência com a atividade de terapia da força, em se tratando de atuação das contra o estresse, sendo os mesmos ani- Forças Armadas nas atividades de guarda mais a serem eventualmente empregados e proteção às instalações navais e civis em tratamento de militares que vierem a de interesse da Marinha e atividades ilí- ser acometidos de algum transtorno ou citas fiscalizadas pelas Patrulhas Navais estresse pós-combate. (Patnav) e patrulhamentos cujas atribui- O canil, ou Seção de Cães de Guerra, ções subsidiárias passaram a fazer parte do 2oBtlOpRib está atualmente subordi- das atividades da MB pelas LC no 97/1999 nado à Companhia de Apoio ao Combate e LC no 136/2010. (CiaApCmb) e conta em sua estrutura administrativa com um oficial veterinário que é responsável pela supervisão téc- nica da seção de cães. A Seção está subdivi- dida em: Equipe de Guarda e Proteção, Equipe de Faro de Narcóticos e Arma de Fogo e Equipe de Cinoterapia. Existem também cães que rea- lizam dog show (ati- Finalização das obras do prédio administrativo e dos boxes dos cães vidades interativas com o público). Cada Em funcionamento desde setembro de equipe possui um encarregado (cabo ou 2015, o canil militar do 2oBtlOpRib conta sargento), que é capacitado para emprego com um plantel de 14 cães, das seguintes e adestramento dos cães e de sua equipe. raças: labrador retriever, rottweiler e Para o desempenho das atividades, o pastor belga malinois. Estes caninos estão cão e o condutor precisam estar sinto- adestrados para as seguintes atividades: nizados para criar um laço de confiança controle de distúrbios, detecção de narcóti- cos, guarda, patrulha operativa, patrulha os- tensiva, vigilância e alarme administrativo, vigilância e alarme operativo e terapia as- sistida por animais. Esta última atividade, em que pese não cons- tar no portfólio doutri- nário de atribuições, Canil Militar do 2oBtlOpRib

150 RMB1oT/2019 O CANIL DO 2oBTLOPRIB

Adestramento de Faro de Narcóticos Esses cães podem e devem ser usados de forma adequa- da e com o menor potencial ofensivo, servindo mais como uma forma de defesa em uma atuação operacional. Seu con- dutor deve sempre estar atento para que o seu cão respeite os padrões estabelecidos para o uso proporcional da força, ou seja, adequar o emprego do cão de acordo com o risco empregado. O agility é um esporte pra- ticado por cães e seus conduto- Adestramento de Controle de Distúrbios res, sempre em dupla, em que o animal deve concluir o trajeto (cinófilo x cão). Esse binômio é uma arma no menor tempo possível e somente sendo poderosa, pois o intenso adestramento conduzido por comandos verbais. Os cães e a constante convivência estabelecem do 2oBtlOpRib não participam de campeo- vínculos que podem durar a vida inteira, natos, porém realizam apresentações em fazendo com que o cão jamais deixe de diversos espaços onde a OM consegue obedecer aos comandos de seu condutor, montar sua própria pista de agility. Dentre chegando até as últimas consequências os locais que já foram realizadas apresen- para proteger seu amigo. tações, destacam-se a Fundação Pestalozzi Os cães de Controle de Distúrbios e do Estado do Pará, o Shopping Center Guarda são empregados em situações em Bosque Grão-Pará e a Área Recreativa, que se necessite imobilizar um suspeito. Esportiva e Social Veleiro.

RMB1oT/2019 151 O CANIL DO 2oBTLOPRIB

mente ignoradas pela sociedade, como no caso de pacientes com deficiências físicas, sensoriais, mentais e motoras, além daqueles que se encontram nos centros penitenciários (ABELLÁN, 2009).4 Em 30 de novembro de 2017, a Universidade Federal Rural da Ama- zônia (Ufra), por meio do Projeto Entrelaço, do Núcleo Amazôni- co de Acessibilidade, Adestramento de agility Inclusão e Tecnologia (Acessar), assinou um TERAPIA ASSISTIDA POR convênio de cooperação técnica com o ANIMAIS 2oBtlOpRib. A parceria visa desenvolver Intervenções Assistidas por Animais (IAA) A Terapia Assistida por Animais no âmbito de ensino, pesquisa e extensão.5 (TAA), também conhecida por pet tera- O Projeto Entrelaço foi criado em 2014 pia, zooterapia ou terapia facilitada por e faz parte do Acessar. Suas principais animais (GARCIA & BOTOMÉ, 2008), é ações são voltadas para as pessoas com uma prática realizada por profissionais da deficiência, em que os animais são os prin- área de saúde com o propó- sito de promover o desen- volvimento físico, psíqui- co, cognitivo e social dos pacientes (DOTTI, 2005; MORALES, 2005). Não se trata de uma prática para substituir terapias e tra- tamentos convencionais, mas um complemento, uma nova linha de pesquisa em atenção à diversidade, para melhorar a qualidade de vida de pessoas comu- Equipes do 2oBtlOpRib e do Projeto EntreLaço da Ufra

4 Disponível em: < https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/veterinaria/terapia-assistida-por- animais-beneficios-e-responsabilidades/57020>. Acesso em: 14 abr. 2018. 5 Disponível em: < https://novo.ufra.edu.br/index.php?option=com_content&view=article&id=13 65:ufra-assina-convenio-de-cooperacao-tecnica-com-o-quarto-distrito-naval-da-marinha-do- brasil&catid=17&Itemid=121>. Acesso em: 14 abr. 2018.

152 RMB1oT/2019 O CANIL DO 2oBTLOPRIB

desse tipo de tratamento, os quais demonstram, após um ciclo de terapia, melhoras e evoluções na parte de interação e desen- volvimento mental, o que, sem a contribuição desses animais, não ocorria.

O ADESTRAMENTO E EMPREGO DAS EQUIPES DA Assinatura de Convênio entre Ufra e MB visando desenvolver SEÇÃO DE CÃES Intervenção Assistida por Animais (IAA) DE GUERRA DO cipais responsáveis nas terapias desen- 2oBTLOPRIB volvidas, melhorando o desenvolvimento físico, mental e social dos indivíduos.6 Mantendo estreita ligação com as Desde o início de 2018, o Núcleo de unidades militares sediadas em Belém Assistência Social (NAS), subordinado que também dispõem de canil militar, ao 4o Distrito Naval, desenvolve ações tais como a 15a Companhia de Polícia do do Programa de Atendimento Especial Exército (CiaPE), e a CIPC da PMPA, as (PAE), atendendo, atualmente, 24 pessoas equipes da Seção de Cães de Guerra do com diagnóstico de autismo. O trabalho 2oBtlOpRib (Equipe de Guarda e Pro- mais recente do PAE é a TAA, ou cino- teção e Equipe de Faro de Narcóticos e terapia, desenvolvida nas dependências Arma de Fogo) mantêm-se prontas para do Ares Veleiro, por meio do Projeto as atribuições impostas por meio de de Cinoterapia “Meu amicão VCB”. Os adestramentos e capacitações de militares participantes recebem tratamento com em condução e adestramentos de cães, auxílio de cachorros para provocar res- quer seja a bordo ou em instalações das postas que a terapia convencional não unidades militares supracitadas. alcançou. A TAA conta com parceria Com uma Área de Responsabilidade do 2oBtlOpRib e das Voluntárias Cisne (Tombo) de cerca de 135 hectares (1,35 Branco – Seccional Belém.7 km2), regularmente patrulhas a pé são rea- Uma parcela do plantel de cães de lizadas, visando à manutenção dissuasória guerra do 2oBtlOpRib é vocacionada da integridade do terreno do 2oBtlOpRib. para a Terapia por Animais, o que traz Nesse contexto, eventualmente essas pa- uma importante e prazerosa oportuni- trulhas são reforçadas por cães de guerra dade de contribuir para a assistência de da Equipe de Guarda e Proteção do canil dependentes de militares que necessitam do 2oBtlOpRib, o que traz mais efetivida-

6 Disponível em: . Acesso em: 14 abr. 2018. 7 Disponível em: < https://www.marinha.mil.br/noticias/comando-do-4o-distrito-naval-se-solidariza-com-o- dia-mundial-de-conscientizacao-do-autismo>. Acesso em: 14 abr. 2018.

RMB1oT/2019 153 O CANIL DO 2oBTLOPRIB

Militares em operação com cão de faro de no vasculhamento da área patrulhada, Reforçando as atividades de Patru- com atuação e emprego dos cães nas capa- lha Naval levadas a cabo pelos meios cidades de patrulha ostensiva, vigilância navais do Comando do Grupamento e alarme administrativo. de Patrulha Naval do Norte, particular- Com um Pelotão de Polícia – fração mente no combate ao tráfico ilícito de tática do 2oBtlOpRib adestrada para atuação estupefacientes – ou entorpecentes – e em atividades de Controle de Distúrbios, substâncias psicotrópicas, é necessária a além de outras, tais como segurança de permanente prontidão de cães da Equipe instalações e comboios –, o estabelecimento de Faro de Narcóticos e Arma de Fogo de postos de controle de trânsito e trato com adestrados na detecção de narcóticos. os prisioneiros de guerra, a existência de Eventualmente, pode-se reforçar as cães adestrados na atividade de Controle de atividades de patrulhamento conduzidas Distúrbios é fundamental para a garantia da pelas Capitanias dos Portos subordina- dissuasão diante de um emprego real nessa das ao 4o DN (Capitania dos Portos da atividade, que pode se concretizar desde Amazonia Oriental, Capitania dos Portos uma atuação em intervenção em portos e do Maranhão, Capitania Fluvial de San- instalações de interesse da MB. Desta forma, tarém, Capitania dos Portos do Amapá parcela do plantel do canil do 2oBtlOpRib e Capitania dos Portos do Piauí), para (Equipe de Guarda e Proteção) encontra-se atuação na repressão direta aos crimes permanentemente habilitada para atuar nas transfronteiriços e ambientais, nas águas capacidades de controle de distúrbios. interiores e no mar territorial.

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força e em atividades benignas”, o aprestamento contínuo e a per- manente ligação com os players – organizações militares da região que possuem canil militar – que compõem o ecossistema regional, contribuem para a credibilidade e a dissuasão da Marinha do Brasil.

CONCLUSÃO

Alguns de temperamento dó- cil, outros de temperamento mais agressivo, cada cão pertencente ao Demonstração dos cães do 2oBtlOpRib canil militar do 2oBtlOpRib pos- sui o seu emprego bem definido A Equipe de Cinoterapia, super- e contribui decisivamente nas atribuições visionada pelo médico veterinário do impostas ao Batalhão. Sem a exclusivi- 2oBtlOpRib, atua periodicamente em dade de emprego para ações de ataque, apoio à Ufra na condução do Projeto En- ou em incremento às ações de combate, trelaço, com uma frequência de duas vezes as atividades voltadas para a Terapia na semana, em ciclos de tratamentos que Assistida por Animais tem um viés social duram em média três meses, atendendo importante, tanto pelo fato de poder con- um público de pacientes na ordem de 14 tribuir com instituições respeitadas – tais crianças. Em paralelo ao apoio à Ufra, a como a Ufra – no desenvolvimento da mesma equipe apoia semanalmente, com Intervenção Assistida por Animais quan- uma frequência de duas vezes na semana, to na contribuição ao importante projeto as Voluntárias Cisne Branco-Belém na social “Meu amicão VCB”. condução do Projeto “Meu amicão VCB”, Em que pese a jovialidade de sua que assiste a 24 dependentes de militares construção e a incorporação aos ativos da MB, em tratamentos cíclicos com du- do 2oBtlOpRib, o canil militar tem con- ração aproximada de tês meses, realizados quistado a cada dia a sua importância na nas dependências da Ares Veleiro. aplicação do Poder Naval para as ações Tendo como visão de futuro “dispor de Guerra Naval e atividades de em- de cães e condutores capazes de reforçar prego limitado da força, como também e incrementar o poder de combate dos nas atividades benignas, fortalecendo a meios navais e de fuzileiros navais, na confiança e a imagem da MB perante a aplicação do Poder Naval e nas atividades sociedade local e contribuindo para o de Guerra Naval, no emprego limitado da bem-estar da família naval.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Corpo de Fuzileiros Navais; Operações Ribeirinhas;

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REFERÊNCIAS

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AIRTON ANTONIO RODRIGUES* Capitão de Fragata (RM1)

SUMÁRIO

Introdução Boia Articulada Submersível Alinhamento por portões duplos usando boias articuladas Utilização de boias articuladas submersíveis como “torres de transmissão” de dados meteoceanográficos Vantagens na substituição das boias luminosas flutuantes por Boias Articuladas Submersíveis Conclusão

INTRODUÇÃO extensa costa brasileira e nas margens das muitas bacias hidrográficas descobertas. formação do sistema portuário brasi- Entre os anos de 1840 e 1870, pre- A leiro está historicamente relacionada dominou no Brasil a navegação fluvial com a ocupação e o povoamento do terri- a vapor, melhorando a utilização dos tório, pois o mar constituía a única ligação rios como vias de comunicação. A na- entre a Colônia e a Coroa Portuguesa, bem vegação ainda conviveu, principalmente como entre as vilas fundadas ao longo da em longas distâncias, com as ferrovias,

* Hidrógrafo. Fundador da UMI SAN – Serviços de Apoio à Navegação e Engenharia Ltda, empresa que atua em Hidrografia, Sinalização Náutica e gerenciamento de obras portuárias. BOIAS ARTICULADAS SUBMERSÍVEIS que tiveram seu período áureo entre as novos portos em águas abrigadas, se décadas de 1870 e 1940. A partir de disponíveis, ou em mar aberto (offshore), 1940, desenvolveu-se no País o siste- se necessário. ma rodoviário, que se tornou o modal Para a implantação de um novo integrador de todo o território nacional, porto são necessários muitos estudos permitindo a mudança da Capital Federal e levantamentos hidro-oceanográficos, para o Centro-Oeste e sendo maximizado buscando-se a melhor solução técnica, por este fato. ambiental e econômica para o projeto, Atualmente, com o intenso desenvol- que, via de regra, consome centenas de vimento do agronegócio em todo o terri- milhões de reais. tório, com a grande exploração de minério Também se contextualiza a importân- de ferro e com a expansão da fronteira cia de um sistema eficaz de sinalização agrícola para o Oeste e Norte, o sistema náutica para a operação de um porto, portuário nacional, com a estrutura insta- lembrando que esta sinalização define a lada, não atende à costa litorânea de 8,5 hidrovia onde os navios trafegam, garan- mil quilômetros de águas navegáveis e a tindo a segurança dos mesmos, das pes- mesma distância na navegação interior da soas envolvidas e do meio ambiente, pois região amazônica. sem a sinalização náutica apropriada na O sistema portuário brasileiro foi no área de acesso e manobra do porto (canal passado, continua a ser e será no futuro de acesso, bacia de evolução e bacia do o motor da expansão socioeconômica do berço), por melhor que sejam as instala- Brasil, possibilitando o incremento do ções portuárias (shiploaders, defensas, comércio internacional de mercadorias, cais de acostagem, retroárea, quebra-mar que é responsável por mais de 90% das etc.), o porto não cumprirá sua finalidade exportações brasileiras. precípua, que é receber, carregar e/ou Para a continuidade dessa expansão descarregar navios com segurança. socioeconômica, faz-se necessária a im- No desenvolvimento de um projeto de plantação de novas estruturas portuárias sistema de sinalização náutica para um ao longo dessa extensa costa, pois as porto, devem-se considerar todas as condi- existentes, normalmente localizadas em ções meteoceanográficas e hidrográficas, águas abrigadas (baías e rios), estão che- buscando o melhor tipo de sinal náutico gando ao limite em profundidade e área que atenda àquelas condições. Este artigo de manobra para atender ao aumento nas se propõe a considerar e analisar estes dimensões dos navios que tem ocorrido aspectos e propor uma solução eficaz. nas últimas décadas. Além disso, elas são insuficientes e inadequadamente locali- BOIA ARTICULADA zadas para atender à demanda gerada nas SUBMERSÍVEL últimas décadas com o desenvolvimento da exportação de commodities (agrícolas Em 1999 aconteceu em Vitória (ES) e minérios) produzidas no País. um acidente gravíssimo, que foi o encalhe Portanto, o Brasil necessita buscar o do VLOC Weser Ore na margem do canal desenvolvimento de sua infraestrutura de acesso ao porto de Tubarão, defendida portuária, maximizando o uso dos portos por uma boia flutuante (ver Figura 1). existentes, por meio de dragagens e derro- Este acidente poderia ter sido muito camentos e, principalmente, construindo pior caso houvesse ocorrido vazamen-

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Figura 1 – Encalhe do VLOC Weser Ore no porto de Tubarão, em 4 de outubro de 1999 to de óleo para a Baía de Vitória. O No croqui (Figura 2), verifi ca-se que, acidente foi emblemático, pois o navio tanto em canais dragados como em na- estava defendido por um sinal fl utuante turais, a incerteza devido à derivação do e sofreu o encalhe ainda nesta condição. sinal fl utuante sempre confi gura-se como Isto confi gura-se como a quebra de um um risco potencial, gerando dúvidas para paradigma da navegação, pois, inde- o navegante, que pode levá-lo a um aci- pendentemente das causas do encalhe, dente de graves consequências. um sinal lateral fundeado num canal Cônscio da importância da confi abili- não pode deixar de demarcar a margem dade de um sinal fl utuante, que não sujeite deste canal em nenhuma condição me- o navegante às incertezas da oscilação em teoceanográfi ca. função das correntes e dos ventos, e também

Figura 2 – Croqui do posicionamento de boias fl utuantes em canal Fonte: Manual de Sinalização Náutica, Vol. I – Fundamentos da Sinalização Náutica Visual

RMB1oT/2019 159 BOIAS ARTICULADAS SUBMERSÍVEIS entendendo que esse sinal necessita que A seguir, apresenta-se uma análise das sua implantação e manutenção possam ser opções de sinalização náutica a serem uti- executadas de forma simples e sem o uso lizadas em um canal de acesso hipotético, de grandes equipamentos, desenvolveu-se dragado numa área originalmente com o conceito de uma Boia Articulada Sub- profundidade de 18 metros. Este canal mersível (BAS), que pode ser implantada teria largura de 285 metros, profundidade e retirada com o apoio de mergulhadores, mínima de 24,5 metros e comprimento bastando alagar o seu fl utuador. Além da de 12 mil metros; portanto, seriam dra- vantagem de não necessitar de equipamen- gados 6,5 metros de material ao longo de tos para manusear grandes quantidades de 12 km. O principal propósito é verifi car correntes, a BAS apresenta muitas outras qual o tipo de sinal lateral (BAS ou boia vantagens sobre as boias fl utuantes, confor- fl utuante) seria adequado para instalação me será aqui exposto. A BAS é apresentada neste canal hipotético. esquematicamente na Figura 3. A boia fl utuante é fundeada usando- -se uma linha de fundeio (corrente) que necessita ter comprimento igual a, no mínimo, duas vezes a profundidade local, conforme defi nido na Nortec 17 (Norma Técnica para Sinalização Náutica no 17) do Centro de Auxílios à Navegação Almi- rante Moraes Rego (CAMR), da Marinha do Brasil, abaixo transcrita:

“4. CONDIÇÕES GERAIS 4.1. Dimensionamento de uma Li- nha de Fundeio No dimensionamento de uma linha de fundeio, o fator correnteza deve ser con- siderado nos sinais a serem posicionados em profundidades pequenas e médias. Preconiza a Iala [Associação Inter- nacional de Autoridades de Auxílios à Navegação Marítima e Faróis] que o Figura 3 – Croqui da Boia Articulada Submersível comprimento mínimo para as linhas de Fonte: UMI SAN, 2017 fundeio seja igual a três vezes a profundi- dade, aumentando-se de um comprimen- A BAS possui, em seu flutuador, to igual à profundidade para cada dois nós compartimentos estanques capazes de de velocidade da corrente no local. propiciarem a sua submersão por meio Observação: A regra acima exposta do alagamento desses compartimentos, somente é aplicável para sinal cuja fi - aliviando assim a tensão exercida pelo nalidade consista em assinalar perigos empuxo no sistema de fundeio e per- isolados. Quando o objetivo do baliza- mitindo que a equipe de mergulhadores mento consistir na demarcação de um possa realizar a liberação das manilhas e canal navegável, a Iala recomenda a a substituição ou retirada da boia. redução do comprimento da linha de

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fundeio até um valor igual a duas vezes ventos causa a deriva da boia fl utuante em a profundidade do canal.” relação à sua poita até o limite de sua linha de fundeio. Assim, quando se utilizam boias As Normas da Autoridade Marítima fl utuantes, para manter a segurança, deverá para Auxílios à Navegação (Normam 17), ser considerada uma distância à margem (so- no Capítulo 3, item 0301, abaixo transcri- brelargura) com dimensões tais que garan- to, apresenta a defi nição de Sinais Laterais: tam que, em qualquer condição de corrente e vento, a boia, mesmo derivando, continue “0301 – Sinais Laterais delimitando a profundidade mínima do São aqueles empregados para canal. Para o cálculo dessa sobrelargura, defi nir as margens de um canal ou uma considera-se hipoteticamente que toda a via navegável recomendada, segundo a ação do mar sobre a boia fl utuante esticaria direção convencional do balizamento. ao máximo a linha de fundeio. Como esta a) sinal lateral de bombordo, para ser deverá ter no mínimo 49 metros de compri- deixado por bombordo pelo navegante; mento (duas vezes a profundidade mínima b) sinal lateral de boreste, para ser de 24,5 metros), no cálculo seguinte chega-se deixado por boreste pelo navegante; à sobrelargura necessária: sobrelargura = c) sinal lateral de canal preferencial (49² - 24,5²)½ = 42,4 metros. a bombordo, indica ao navegante que o Ao se utilizarem BAS como sinais canal preferencial, em uma bifurcação, laterais, eliminamos a necessidade de está a bombordo; e sobrelargura, pois estas podem ser ins- d) sinal lateral de canal preferencial taladas exatamente no sopé do talude do a boreste, indica ao navegante que o canal e não utilizam linha de fundeio. canal preferencial, em uma bifurcação, Na Figura 4, demonstra-se o conceito da está a boreste.” sobrelargura ocasionada pelo uso de boias fl utuantes em comparação ao uso de boias Assim sendo, para definição precisa articuladas submersíveis. da margem do canal de acesso e para ga- rantir a segurança da navegação em qualquer condição de maré, cor- rente, vento e ondas, as boias, atuando como Sinais Laterais, devem apresentar-se para o navegante sempre na margem do canal, po- rém, quando se utili- zam boias flutuantes, as poitas não podem ser instaladas no sopé do talude do canal, pois Figu ra 4 – Demonstração do deslocamento de boia fl utuante comparado com a ação das correntes BAS sob intensa corrente e vento perpendicular ao eixo do canal marítimas, ondas e/ou Fonte: UMI SAN, 2017

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Portanto, a boia articulada submersível relação à poita, motivada por situação diminui muito o volume a dragar, pois ambiental extremamente adversa com elimina a necessidade de se dragar uma forte corrente, onda e/ou vento perpen- sobrelargura nas duas margens do canal, dicular ao canal. já que ambas estão sujeitas às mesmas Numa situação menos adversa, com variações de vento, corrente e ondas. corrente perpendicular ao canal menos Sendo assim, no nosso canal de acesso intensa, pode-se supor que a boia fl u- hipotético, a sobrelargura somada neces- tuante derivaria sob a ação da corrente, sária aos sinais de bombordo e boreste se- ondas e/ou vento para fora do canal ria = 42,4 + 42,4 = 84,8 metros, conforme estendendo seu fi lame pelo talude e pelo demonstrado na Figura 5. fundo não dragado. Assim, considerando O volume de material a ser dragado o mesmo canal anteriormente analisado, na sobrelargura das margens ao longo de mas acrescendo que ele teria um talude todo o canal de acesso (12 mil metros), de 4:1, portanto, 6,5 metros de aprofun- considerando um desnível de 6,5 metros, damento na dragagem geram 6,5m x 4 é abaixo apresentado: = 26 metros de extensão do talude e os – Volume na sobrelargura a BE = 42,4 49 metros de fi lame, descontados os 18 x 6,5 x 12.000 = 3.307.200 m³; metros na vertical para atingir a super- – Volume na sobrelargura a BB = 42,4 fície este se estenderia por 31 metros ao x 6,5 x 12.000 = 3.307.200 m³; e longo do fundo distribuídos da seguinte – Volume total da sobrelargura em todo forma: (6,5² + 26²)½ = 26,8 metros na o canal de acesso: 6.614.400 m³. encosta do talude e 4,2 metros no fundo Este volume aumentaria o custo total não dragado, desta forma a sobrelargura da dragagem, considerado R$12,00/m³ seria de 26 + 4,2 = 30,2 metros em cada para fundo de areia ou lama, em astronô- margem do canal, conforme apresentado micos 79 milhões de reais. na Figura 6. Esta análise apresenta a pior situação Considerando que a corrente ocorrerá possível de afastamento da boia em em períodos distintos na mesma direção

Figu ra 5 – Demonstração do deslocamento de boia fl utuante comparado com BAS em ambas as margens Fonte: UMI SAN, 2017

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6,5 metros e sujeito a correntes e ventos de intensidade modera- da e perpendiculares ao seu eixo, é abaixo apresentado: – Volume na so- brelargura a BE = 30,2 x 6,5 x 12.000 = 2.355.600 m³; – Volume na so- brelargura a BB = 30,2 x 6,5 x 12.000 = 2.355.600 m³; e – Volume total da Figura 6 – Demonstração da sobrelargura necessária quando se utiliza boia sobrelargura em todo fl utuante em comparação ao uso de boia articulada submersível o canal de acesso: Fonte: UMI SAN, 2017 4.711.200 m³. Este volume au- e com a mesma intensidade, mas com mentaria o custo total da dragagem, con- sentidos inversos, têm-se que ambas as siderando R$12,00/m³ para fundo de areia margens necessitariam da mesma sobre- ou lama, em igualmente astronômicos 56 largura que perfaz para ambas as margens milhões de reais. = 30,2 + 30,2 = 60,4 metros, conforme Qualquer dragagem de sobrelargura demonstrado na Figura 7. visando garantir que o navio nunca co- O volume de material a ser dragado na lida com a margem defendido por uma sobrelargura das margens ao longo desse boia também aumentará muito e desne- canal de acesso hipotético, com talude de cessariamente o impacto ambiental com 4:1, comprimento de 12 km, desnível de a obra de dragagem.

Figura 7 – Demonstração das sobrelarguras em ambas as margens Fonte: UMI SAN, 2017

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É praticamente impossível estabelecer alto (quase vertical), pois acontece pou- valores de sobrelargura menores que estes ca acomodação natural do material das apresentados e continuar a garantir a se- margens (desbarrancamento). A escava- gurança do navio, já que a deriva da boia ção de hidrovias em solos consistentes flutuante depende de fatores ambientais e tem elevado custo, tornando o uso de se alterará com o tempo, pois até a incrus- boias articuladas a melhor solução para tração na amarra poderá alterar essa deri- demarcação da hidrovia, pois elimina a va. As análises acima apresentadas foram necessidade de escavação de sobrelargura baseadas nas normas existentes. Portanto, no canal (de elevado custo) e minimiza o pode-se afirmar que a implantação de risco de encalhe do navio devido à indefi- boias flutuantes no sopé do talude ou pró- nição dos limites da hidrovia ocasionado ximo a este, diminuindo a sobrelargura, por boia flutuante; acidente cujos danos pode expor o navegante em tráfego pelo seriam potencializados pela verticalidade canal a uma situação de risco de encalhe do talude e resistência à penetração do ou colisão com o fundo, pois, ao confiar material do fundo, que aumenta as pos- na posição dos sinais laterais, deslocados sibilidades de rasgar o casco em colisão pela corrente, ondas e/ou vento para fora com a margem. da margem do canal, pode ser induzido Nas imagens das Figuras 8, 9 e 10, a acreditar que dispõe de águas seguras obtidas durante levantamento hidrográfico nas proximidades da boia, que defende a (dados batimétricos) multifeixe, consta- margem do canal e vir a encalhar em águas ta-se a adequabilidade do uso de boias pouco profundas no talude. articuladas submersíveis no balizamento No caso de hidrovias escavadas em de uma hidrovia escavada em fundo muito fundo mais consistente, como argila dura consistente, pois que estas demarcam (tabatinga) ou arenitos (canga laterítica), conspicuamente a margem, eliminando o gradiente do talude tende a ser muito indefinições na delimitação desta e con-

Figura 8 – Foto da tela de ecobatímetro multifeixe, com BAS ao fundo Fonte: UMI SAN, 2017

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Figura 9 – Croqui com a posição da BAS e detalhe obtido em levantamento hidrográfi co multifeixe Fonte: UMI SAN, 2017

Figura 10 – Croqui obtido a partir de levantamento hidrográfi co multifeixe Fonte: UMI SAN, 2017 tribuindo para a segurança da navegação pelos sinais de alinhamento. Porém estes ao deixar perfeitamente defi nido o limite sinais, conforme conceituado na Normam da hidrovia, que, se ultrapassado, sujeitará 17, Capítulo 2, item 0207, transcrito a o navio a grandes avarias. seguir, defi nem uma direção, um rumo a O risco de encalhe apresentado nos le- ser seguido e não delimitam uma área de vantamentos hidrográfi cos é minimizado navegação segura.

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“0207 – Alinhamento ALINHAMENTO POR PORTÕES Conjunto composto por dois sinais DUPLOS USANDO BOIAS fixos, de coordenadas conhecidas, ARTICULADAS luminosos, e, neste caso, com luzes de mesma cor, ou cegos, dotados ou Para navegação em canais de acesso não de placas de visibilidade, que, offshore e dragado, que são normalmente associados, definem para o navegante estreitos e longos, o navegante necessita, uma direção que coincide com o eixo além da sinalização lateral, que estabelece de um canal, um rumo a ser seguido ou os limites da navegação segura, também uma referência para manobra.” de uma referência de alinhamento que lhe permita verificar o seu segmento dentro Portanto, o alinhamento é uma referên- da área do canal e estimar os efeitos de cia, uma orientação, e todo navegante sabe ventos, ondas, correntes e alterações de que é praticamente impossível manter-se rumo na derrota seguida, permitindo, as- todo o tempo no alinhamento sob a ação sim, corrigir excessos ou comedimentos do vento, correntes e ondas, pois que a nas ordens de manobra. O alinhamento é navegação é a interação entre o homem, uma referência e se tornaria muito difícil e o navio, os rebocadores e o ambiente, e arriscado navegar em canais extensos e es- durante todo o tempo o responsável pela treitos com correntes, ondas e ventos pelo manobra está interferindo para corrigir os través sem a referência de alinhamento e efeitos verificados na derrota do navio de- não podendo ziguezaguear muito devido vido às ações anteriormente determinadas. à pouca largura. O navio necessita de espaço para Porém canais de acesso offshore ex- navegar, e o responsável pela manobra tensos, estreitos e retilíneos apresentam tem que ver perfeitamente os seus limites grandes dificuldades na implantação de segurança estabelecidos pelos sinais de um alinhamento central que sirva de laterais, para evoluir interagindo com os referência ao navegante, principalmente recursos que tem à disposição. se o terminal a que o canal dá acesso fica Assim sendo, os sinais laterais, em afastado da costa. Neste caso, o uso de hipótese alguma, podem induzir o nave- faroletes de alinhamento apresenta-se gante ao risco, pois neste caso é melhor com grandes restrições, pois o projeto do que os sinais não estejam instalados e o alinhamento indicará a necessidade de navegante fique somente com a referência construção no mar de estruturas elevadas do alinhamento, estimando o seu distan- e dispondo de grandes placas de visibili- ciamento do mesmo. dade diurna (dayboard) que possibilitem Por outro lado, no caso de o navio en- ao navegante uma adequada percepção do calhar ou colidir com o fundo em posição alinhamento desde o início do canal, sob defendida por um sinal lateral, o navegante, condição de visibilidade diurna normal, tendo confiado na sinalização estabelecida, ainda que com alguma neblina, chuva fica com a responsabilidade pelo sinistro ou reverberação atmosférica, condições muito atenuada ou isenta, podendo ser a estas que normalmente não impediriam autoridade responsável pelo balizamento a navegação segura, mas que, devido à totalmente responsabilizada pelo sinistro grande distância, tornam impossível a em todos os seus efeitos para o navio, a car- percepção das faixas existentes nas placas ga, o meio ambiente ou as vidas humanas. de visibilidade diurna. Assim, estas seriam

166 RMB1oT/2019 BOIAS ARTICULADAS SUBMERSÍVEIS ineficazes, podendo gerar uma condição ticas, a eficácia da solução de implantação de impraticabilidade com bom tempo. dos faroletes de alinhamento centrais só po- Além disso, construir e manter um farolete derá ser verificada pelo usuário (navegante) no mar tem custo elevado, devido à altura após a conclusão das obras, e este pode ser necessária em função da distância. um risco inaceitável em face do esforço, No Iala Guideline – For the design of dos recursos alocados e das necessidades Leading Lines, em que são apresentados prementes de operação do porto. os cálculos de um alinhamento fictício Uma solução mais eficiente, mais para um canal com 8 km de extensão e eficaz e, sobretudo, mais exequível para 175 metros de largura, verifica-se que o permitir a orientação do navegante e a farolete posterior deverá ter 15,5 metros percepção da derrota seguida dentro dos de altura e suportar uma placa de visibili- canais é encontrada no livro Manual de dade diurna de 10,2 metros de altura, e o Sinalização Náutica, Volume I – Funda- farolete anterior deverá ter 39 metros de mentos da Sinalização Náutica Visual, altura e suportar uma placa de visibilidade do engenheiro Paulo Maurício Barros de diurna de 12,2 metros de altura. Abreu Rego, publicado pela Diretoria de Verifica-se, portanto, que o estabe- Hidrografia e Navegação, sob o conceito lecimento de faroletes com placas de de “alinhamento por portões duplos”. O visibilidade diurna para materialização referido autor apresenta a utilização de fa- dos eixos dos canais, por meio de alinha- roletes fixos como sinais laterais em pares mentos centrais, apresenta-se como uma (BB – BE), mantendo-se a distancia entre solução de muito risco, pelos motivos a eles e o espaçamento entre os pares; com seguir expostos: isso, o navegante teria sempre a percepção – As construções das torres serão do deslocamento lateral do navio para no mar, ou pelo menos as dos faroletes qualquer um dos bordos (como acontece anteriores (isto se for possível construir quando dirigimos numa rodovia sinali- faroletes posteriores na praia), e terão zada com faixas laterais) e prescindiria grandes dimensões, para suportar placas do alinhamento central. Portanto, o ali- de visibilidade diurna adequadas e resistir nhamento por portões duplos, usando-se aos esforços da área vélica gerada. faroletes, é uma solução para referência – Haverá uma grande dependência da de navegação em canais, mas a construção visibilidade atmosférica, pois a referência de faroletes nas margens dos canais traria citada acima estabelece uma placa de visi- grandes dificuldades de implantação e bilidade diurna de 12 metros de altura por manutenção, além do custo muito elevado. 8 metros de largura, na situação extrema Para solucionar o problema da implanta- do farolete posterior estar posicionado ção, da manutenção e do custo elevado dos a 12 km do início do alinhamento, para faroletes laterais, concebeu-se utilizar-se uma visibilidade excelente de 10 milhas as boias articuladas submersíveis (BAS) náuticas; assim, o alinhamento só é eficaz em lugar dos faroletes laterais, pois estas em condições de visibilidade atmosférica têm comportamento muito similar ao dos excelente (excetuando-se, portanto, dias faroletes, não derivando e tendo oscilação chuvosos, com neblina ou muita rever- mínima (menor que 1 metro). beração devido ao sol intenso). O distanciamento entre as boias articu- – Devido ao empirismo dos cálculos ladas deve ser tal que possibilite manter extrapolados de situações muito menos crí- sempre, no mínimo, três pares de boias

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Com o advento de novas tecnologias na fabricação de lanternas de sinalização náutica, que as tornaram “in- teligentes”, dispondo de Automatic Identifi - cation System (AIS) e comunicação com um centro de controle in- formando sua posição e condições de operação e, principalmente, pos- sibilitando que todas as lanternas de um canal sejam sincronizadas Figura 11 – Vista esquemática do alinhamento com portões duplos para acenderem ao mes- Fonte: NORB2D mo tempo, o uso de pares de boias articula- no visual, o que permitirá ao navegante das como portões duplos no balizamento orientar-se perfeitamente no eixo do de um canal extenso tornou a navegação canal, inclusive com mais precisão e muito segura à noite, pois, com lampejos confi abilidade do que aquelas obtidas com sincronizados, delimitam claramente o faroletes de alinhamento central de difícil canal de acesso e fornecem a percepção visualização, principalmente a ré. do eixo do canal para o navegante.

Figura 12 – Vista do passadiço do navio e do alinhamento com portões duplos durante o dia Fonte: NORB2D

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Figura 13 – Vista do passadiço do navio e do alinhamento com portões duplos à noite, com lampejo sincronizado Fonte: NORB2D

A estrutura em aço da haste e da UTILIZAÇÃO DE BOIAS plataforma de serviço da boia articulada ARTICULADAS SUBMERSÍVEIS submersível é claramente visível no radar, COMO “TORRES DE possibilitando uma navegação indexada TRANSMISSÃO” DE DADOS e a medição das distâncias às boias com METEOCEANOGRÁFICOS boa precisão e permitindo, assim, que se conheça a exata posição do navio. A observação em tempo real de da- dos meteoceanográficos, como ondas, correntes e marés, tem se revelado muito superior à utilização de dados estáticos, pois permite garantir que os dados medi- dos estão dentro do limite dos parâmetros considerados no projeto do canal e/ou na simulação da manobra. Também possibili- ta que se possa variar o limite do calado do navio em função dos dados de maré obser- vados, garantindo assim, a confi abilidade da hidrovia e a segurança da navegação, com dados fi dedignos realmente medidos. Estes dados, para atenderem ao na- vegante, precisam estar disponíveis em tempo real. Neste aspecto, a utilização da BAS como “torre de transmissão” para instalação de transmissores desses dados Figura 14 – Vista da tela do radar do navio, do alinhamento com portões duplos possibilita instalar o sensor de medição Fonte: NORB2D (ADCP, CTD ou outro) na haste da BAS, na sua poita ou nas proximidades desta, a depender do sensor e, por meio de cabo,

RMB1oT/2019 169 BOIAS ARTICULADAS SUBMERSÍVEIS levar os dados até uma antena instalada na efetivamente ulilizado para compensar a plataforma de serviço da boia, onde serão deriva normal em uma boia fl utuante. disponibilizados por ondas eletromagné- – Redução do impacto ambiental ticas. Isto não seria possível numa boia devido à dragagem. Reduzindo-se a área fl utuante, pois esta, ao deslocar-se pela de sobre dragagem, reduz-se a área onde ação dos ventos e/ou correntes, enrolaria existe interferência no fundo e, assim, o o seu equipamento de fundeio com o cabo impacto ambiental. transmissão, danifi cando-o. Além disso, – Redução do risco ambiental devido a BAS, tendo maior altura, apresenta um a encalhe do navio motivado ou poten- alcance geográfi co maior e um ambiente cializado por indefi nição dos limites da menos sujeito à ação das ondas. navegação segura na hidrovia. No croqui (Figura 15), apresenta-se a – Maior precisão na posição da BAS, BAS sendo utilizada como sensor de um pois esta comporta-se como um farolete, CTD e de um ADCP. podendo ser marcada pelo navegante e servir como apoio à navegação em águas restritas, visual ou por radar. – Maior conspicuidade do sinal devido à maior altura da BAS, que pode ser até três vezes a altura de uma boia fl utuante. – Maior alcance geográfi co da BAS, pois, devido à maior altura, obtém-se maior altitu- de e, por conseguinte, maior alcance geográfi co. – Maior precisão na deli- mitação das margens do canal, pois a haste, o fl utuador e a poita formam um conjunto rígido e, portanto, a parte vi- sível do sinal (lanterna, haste, Figura 15 – Utilização da BAS como suporte e torre de transmissão refl etor radar, plataforma de para CTD e ADCP serviço e marca de top) está Fonte: UMI SAN, 2017 na mesma posição geográfi ca da poita (margem do canal). VANTAGENS NA SUBSTITUIÇÃO – Possibilidade de utilização da BAS DAS BOIAS LUMINOSAS como alinhamento lateral com portões FLUTUANTES POR BOIAS duplos, eliminando a necessidade de ARTICULADAS SUBMERSÍVEIS faroletes de alinhamento central e permi- tindo estabelecer alinhamento em canal – Redução do volume a dragar, eliminan- retilíneo extenso. do a necessidade de áreas de sobre dragagem – Utilizada como alinhamento lateral em ambas as margens para fora do canal com portões duplos, permite alteração do

170 RMB1oT/2019 BOIAS ARTICULADAS SUBMERSÍVEIS eixo do canal, no caso da necessidade de confiável como sinal náutico, inclusive alargamento para uma margem apenas, sem sob severas condiçoes de mar e vento.1 despesas com desativação de faroletes de A BAS foi concebida com foco na alinhamento central (anterior e posterior) operação e manobra de navios para pos- e o reposicionamento para o novo eixo. sibilitar que a Autoridade Portuária e/ou a – Menor custo de manutenção, visto Administração Portuária disponha de um que uma pequena área fica na linha- equipamento de sinalização náutica que -d’água, onde ocorre a maior corrosão. minimize as possibilidades de ocorrerem – Utilização da BAS como “torre de encalhes de navios nas margens de suas transmissão” para instalação de transmis- hidrovias (canais de acesso e bacias de sores de dados meteoceanográficos. evolução) e também os impactos ambien- – Elimina a possibilidade de a poita tais e as despesas com obras de dragagem, se deslocar da posição devido ao maior servindo, ainda, como sinalização de ali- peso da poita da BAS (maior que 15 nhamento pelas laterais e também como toneladas) em comparação com o peso torre para instalação de sensores que de poitas de boias flutuantes (menor que medem ondas, correntes e ventos. 3 toneladas). A redução de custo e de impacto am- biental e, principalmente, o incremento na CONCLUSÃO Segurança da Navegação que proporcio- nam fazem da BAS uma excelente opção A Boia Articulada Submersível (BAS) para a sinalização náutica flutuante de é, conforme demonstrado, extremamente canais de acesso e bacias de evolução.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Sinalização Náutica; Sondagem;

REFERÊNCIAS

NORMAM-17, Normas da Autoridade Marítima para Auxílios à Navegação. Marinha do Brasil. Diretoria de Hidrografia e Navegação. a3 ed., 2008. IALA Guideline – For the design of Leading Lines, International Association of Marine Aids to Navigation and Lighthouse Authorities, ed. 1.1 - December 2005. NORTEC 17, Norma Técnica para Sinalização Náutica no 17, Centro de Sinalização Náutica Almirante Moraes Rego – CAMR, 2003. REGO, P. M. B. A. Manual de Sinalização Náutica, Vol. I – Fundamentos da Sinalização Náutica Visual. Diretoria de Hidrografia e Navegação, a1 ed., 2005.

1 Encontram-se implantadas 90 BAS nos seguintes portos: Terminal de Ponta de Ubu – Anchieta (ES): 10 BAS; Barra do Riacho – Aracruz (ES): 14 BAS; Vitória – Vitória (ES): 23 BAS; Terminal de Barcaças Oceânicas – Serra (ES): 3 BAS; e Açu (T1 e T2) – São João da Barra (RJ): 40 BAS.

RMB1oT/2019 171 INDÚSTRIA NAVAL DE DEFESA: um estudo dos instrumentos de política industrial de defesa na Espanha

ANA CAROLINA AGUILERA NEGRETE* Economista

ARIELA DINIZ CORDEIRO LESKE** Economista

SUMÁRIO

Introdução Política industrial de defesa espanhola As implicações da política industrial de defesa na Espanha no âmbito do sistema de inovação naval militar Considerações finais

INTRODUÇÃO tir da sua segmentação. No trabalho mais recente sobre a ID brasileira, o Ipea (2016) indústria de defesa (ID) nacional tem dividiu a análise em oito segmentos con- A sido alvo de constante debate, princi- siderados estratégicos: armas e munições palmente em relação a sua estrutura atual leves e pesadas; plataforma naval militar; e suas possibilidades de desenvolvimento. plataforma aeronáutico-militar; sistemas Instituições como o Instituto de Pesquisa espaciais voltados para defesa; propulsão Econômica Aplicada (Ipea) e a Agência nuclear; plataforma terrestre militar; equi- Brasileira de Desenvolvimento Industrial pamentos de uso individual; e sistemas (ABDI) têm analisado essa indústria a par- eletrônicos de comando e controle.

* Professora Adjunta III de Ciências Econômicas da Escola Naval. Pós-Doutora em Economia da Indústria e da Tecnologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Mestre e graduada em Economia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). ** Professora e pesquisadora na Escola Superior de Guerra. Doutora em Economia da Indústria e da Tecnologia pela UFRJ. Mestre e graduada em Economia pela Universidade Federal da Paraíba. INDÚSTRIA NAVAL DE DEFESA: um estudo dos instrumentos de política industrial de defesa na Espanha

Partindo dessa segmentação, a presente sistêmico e, a partir daí, elaborar políticas pesquisa terá como foco a plataforma na- que considerem todos os agentes deste val militar, que aqui é chamada de Indús- sistema, suas interações, especificidades tria Naval de Defesa (IND). Pretende-se, a e contextos, a fim de mobilizá-los ade- partir de uma perspectiva sistêmica, iden- quadamente, estimulando todo o sistema tificar instrumentos de política industrial a buscar, de forma integrada e coordenada, que possam ser úteis ao desenvolvimento a inovação adequada ao contexto local da indústria naval de defesa brasileira, (CASSIOLATO; LASTRES, 2008). tendo como referência o caso espanhol. Molas Gallart (2011) define “sistema Assim, são descritas as principais políticas de inovação militar” como o conjunto de realizadas na Espanha, principalmente no instituições e outros atores (principalmen- período entre 2011 e 2015, tanto em rela- te a indústria relacionada à defesa) e as ção aos aspectos institucionais quanto aos relações entre os mesmos, que possuem industriais, à luz da abordagem sistêmica um papel direto no desenvolvimento de e sua aplicação em termos de políticas. tecnologias militares, ou seja, tecnologias A abordagem sistêmica considera o desenvolvidas ou adaptadas para utiliza- processo produtivo e inovativo complexo ção pelas Forças Armadas. Considera que e, por isso, para uma política ser desen- o sistema de inovação militar encontra-se volvida para locais e instituições especí- em um processo profundo de mudança, e ficas, é preciso compreender os processos as políticas industriais devem responder interativos entre os principais agentes, a essa mudança “sistêmica”. Utiliza o analisando e, se necessário, redesenhando argumento de que o sistema está se “am- as relações entre as diversas partes do pliando”: as estreitas e estáveis relações sistema. Assim, a política de inovação na que conectavam uma rede relativamente abordagem sistêmica deve ter como um pequena de agências militares e empre- de seus pilares as políticas de estímulos sas especializadas na produção militar à interação e integração entre os diversos estão dando lugar a novos atores e novas agentes do sistema (LUNDVALL, BOR- instituições dentro de um amplo campo RAS, 2005). O referencial de sistemas de que se define como “defesa e segurança”. inovação tem, portanto, o duplo papel de Resume essas mudanças reforçando, em auxiliar na compreensão dos determinan- primeiro lugar, as dinâmicas tecnológicas tes do processo de inovação e contribuir e, posteriormente, analisando como a mu- com a análise e a elaboração de políticas dança estratégica influencia uma transição que estejam relacionadas ao desenvolvi- no sistema de inovação militar. mento dos países (PODCAMENI, 2014). Uma parte crucial do sistema de inova- As políticas devem ser continuamente ção militar está formada pelas indústrias ajustadas e reformuladas à medida que as relacionadas à defesa, aquelas que orien- tecnologias evoluem, evitando a retração tam ao menos uma parte de sua atividade, ou destruição do escasso potencial produ- produção e/ou prestação de serviços que tivo e inovativo dessas nações. É crucial em parte ou em sua totalidade devem se perceber a inovação como um elemento adaptar ou ser desenhadas especialmente dinamizador e resultante de um processo para o uso de clientes militares1. O grupo

1 Para uma análise detalhada das diferentes formas de definir a “indústria militar” e as implicações de selecio- nar uma ou outra definição, ver Molas-Gallart, J. (1992).Military Production and Innovation in Spain. Chur, Harwood Academic Publishers.

RMB1oT/2019 173 INDÚSTRIA NAVAL DE DEFESA: um estudo dos instrumentos de política industrial de defesa na Espanha de empresas que o forma é muito amplo e endogenamente para equipar e apoiar os diverso, não constitui um setor industrial elementos da força? claramente definido. Segundo Schmidt et al (2013), as es- Markowski e Hall (1998) afirmam tratégias de longo prazo da indústria dos que os processos são caracterizados por países da Organização das Nações do Tra- desafios tais como a complexidade, a tado do Atlântico Norte (Otan) parecem natureza intensiva em tecnologia dos sis- ter recaído em duas categorias: algumas temas, os longos períodos envolvidos nas companhias estreitaram o escopo de seu compras e a sua incerteza. De todo modo, envolvimento militar para se concentrar a aquisição de materiais de defesa sempre em menos produtos de defesa, enquanto estará circunscrita à política nacional de outras diversificaram sua produção, am- defesa e às escolhas estratégicas de cada pliando as capacidades ligadas à defesa país2. Ainda de acordo com os autores, a e reduzindo a sua dependência de algum utilização de fontes domésticas para for- produto particular. Essas estratégias em- necimento de equi- presariais refletiram pamentos e bens de um entendimento consumo de defesa Encorajar “campeãs compartilhado do há tempos é enco- novo contexto, em rajada em grande nacionais” à custa da que a ênfase mudou parte dos países sob competição pode reprimir de um alto volu- o argumento de self me de produção de reliance, mas ques- o dinamismo da indústria novos sistemas de tionam o quanto ela doméstica defesa para a manu- é desejável em paí- tenção da superio- ses pequenos, uma ridade tecnológica vez que encorajar “campeãs nacionais” por meio de pesquisa e desenvolvimento à custa da competição pode reprimir o (P&D) e tecnologias de demonstração. dinamismo da indústria doméstica. O Os autores destacam que surgiram mais ponto defendido pelos autores é que, para desafios para a especificação das propos- atingir um nível desejado de self reliance, tas e sua avaliação, exigindo inovação no o planejamento de defesa não deve apenas próprio processo de compra. contemplar as exigências de estrutura das De fato, em um contexto no qual a Forças Armadas, mas também determinar produção das principais plataformas e o que realmente significa “capacidades sistemas de armas é uma opção econo- industriais ligadas à defesa”, por meio da micamente viável para um grupo restrito atenção a questões como: que serviços de países, em virtude das demandas e setores de manufatura são necessários pequenas e/ou pouco frequentes, mui-

2 Molas-Gallart (1998) faz uma distinção entre as possibilidades de uso do poder de compra de equipamentos militares entre diferentes países. Para os grandes países desenvolvidos que estão na fronteira do desen- volvimento tecnológico militar, as compras seriam ligadas ao desenvolvimento e à produção de novos sistemas, e a política de compras deveria trazer as melhores formas de financiar, monitorar e, possivel- mente, gerenciar o desenvolvimento de novas tecnologias e produtos. Países menores e sem condições de adquirir a última geração de sistemas militares, por seu turno, deveriam fazer uma opção: decidir adquirir sistemas externos pelos melhores termos econômicos ou, alternativamente, usar as compras para construir uma base industrial e tecnológica doméstica.

174 RMB1oT/2019 INDÚSTRIA NAVAL DE DEFESA: um estudo dos instrumentos de política industrial de defesa na Espanha tos países podem apenas sustentar uma Em termos de estrutura, o presente massa crítica industrial e tecnológica trabalho é organizado da seguinte forma: a pela exportação ou pela participação próxima seção contextualiza e caracteriza e consórcios de outras nações, em um os principais propósitos e instrumentos processo que, segundo Markowski e Hall de política industrial de defesa na Espa- (1998), transfere a ênfase da self reliance nha. Na seção seguinte, são analisadas da efetiva produção para a capacidade de as implicações da política industrial de manutenção endógena por meio de atu- defesa na Espanha no âmbito do sistema alização, de suporte logístico e controle de inovação naval militar e as principais das armas e da inteligência dos sistemas lições que possam contribuir para o desen- embarcados. Diante de uma demanda volvimento da indústria naval de defesa muito pequena ou mesmo infrequente no Brasil. Por último, serão apresentadas para induzir a indústria a investir em tais as conclusões gerais da pesquisa. capacidades, governos têm buscado ofe- recer incentivos para encorajar as firmas POLÍTICA INDUSTRIAL DE a fazer tais investimentos, reconhecendo DEFESA ESPANHOLA o amplo componente de custo que isso envolve. Nesse contexto, cabe à política De acordo com o Informe de La In- industrial de defesa a identificação destas dústria de Defensa en España (2015), o atividades e indústrias e sua importância registro de empresas da DGAM compre- relativa dentro do grupo bem mais amplo ende 543 empresas inscritas e atualizadas. de indústrias relevantes para a defesa e Destas, 381 declararam vendas ao setor a segurança. de defesa, sejam como vendas diretas ou Assim, tendo como foco as políticas indiretas ao Ministério da Defesa ou como industriais para a defesa desenvolvidas exportações de defesa. As 168 restantes recentemente na Espanha, o presente são empresas que apenas realizaram ven- trabalho pretende identificar as ações das no âmbito civil, mas que se conside- relevantes e seus resultados, a fim de ram potenciais fornecedoras de produtos fomentar o debate relacionado à política para defesa, motivo pelo qual solicitaram industrial para defesa no Brasil. Para ter inscrição neste registro. Entre estas, cem acesso a uma perspectiva interna da políti- atuam na indústria naval e 36 possuem ca industrial de defesa na Espanha, foram potencial de atuação. No setor naval da realizadas entrevistas semiestruturadas3 indústria de defesa espanhola são incluídos junto aos três atores principais do sistema navios, plataformas navais, propulsadas ou naval militar espanhol: uma subdiretoria não, e submarinos. Também são incluídos da Dirección General de Armamento e os sistemas principais e elementos espe- Material (DGAM); um responsável co- cíficos que os compõem (subsistemas). mercial da empresa Navantia; e um con- Os subsetores que compreende são: sultor do Isdefe4 (Ingenería de Sistemas plataforma-base, sistemas auxiliares e/ para la Defensa de España). ou de apoio logístico, estrutura de casco,

3 No entanto, é importante ressaltar que todo conteúdo apresentado é de inteira responsabilidade das autoras, que, com base nas informações obtidas, realizaram sua análise. 4 O Isdefe é uma empresa pública de consultoria e engenharia que realiza estudos e análises para o Ministério da Defesa, mas não produz equipamentos militares.

RMB1oT/2019 175 INDÚSTRIA NAVAL DE DEFESA: um estudo dos instrumentos de política industrial de defesa na Espanha planta propulsora, planta elétrica, mando e total de vendas ao órgão, um aumento de exploração, sistemas auxiliares, habitabili- 10,9%, se comparado com o ano de 2014, dade e equipamento geral e armas. caracterizando uma mudança de tendência As condições econômicas vivenciadas nessas vendas. Esta mudança de tendência a partir de 2009 acabaram diminuindo a contrasta com o ocorrido nas exportações de demanda mundial, e a indústria naval de defesa, que continuaram a cair desde 2010. defesa teve redução na sua participação no Estas exportações dividem-se assim: 181,1 mercado de defesa a partir de 2010, que milhões de euros destinados a exportações se manteve moderada de 2015 em diante, diretas; 25,8 milhões de euros destinados a devido principalmente ao aumento das programas internacionais de defesa; e 5,1 vendas ao Ministério da Defesa espanhol. milhões de euros a acordos de cooperação. Entre as cem empresas identificadas, 78 As vendas de defesa do setor naval realizam vendas diretas, com destaque associadas a Programas de Especiais de para a Navantia, e outras como Indra Aquisições (PEAs) representaram 2,87% (empresa “sistemista”), Construcciones do total destinado a estes programas no Navales P. Freire, Saes, Gauzon Ibérica, ano de 2015. O Programa Submarino Fluidmecanica Sur, Detegasa, Black Bull S-805 concentra 81,8% do importe to- Military, Camar Industrial e Astilleros tal de PEAs destinados a este setor. O Canarios. A empresa líder Navantia repre- programa F-100/F-105 concentra 9,7%, senta 80,3% do mercado de defesa. Segue enquanto que o F-1106 compreende a Indra, com 8,8% de quota de mercado 7,4%. Outros programas representados do setor naval de defesa. As empresas nos PEAs para este setor são o Buque de restantes somente representam 10,9% das Aprovisionamento de Combate (BAC)7 e vendas deste setor. o Programa de atualização CIS. De acordo De toda produção naval das empresas com o Informe de La Indústria de Defensa com participação em defesa, 62,3% (685 en España (2015), o setor naval aporta milhões de euros) é destinada ao mercado 7,4% de todas as vendas de defesa (415 civil e os 37,7% restantes ao mercado de milhões de euros) e 18,5% do emprego defesa. As vendas ao Ministério da Defesa total do setor de defesa (3.178 trabalha- neste setor alcançam uma cifra de 203 mi- dores diretos). Dos 415 milhões de euros, lhões de euros, o que representa 22,2% do 51% destinam-se a clientes estrangeiros,

5 Este programa refere-se à construção de quatro submarinos diesel-elétrico com sistema de propulsão AIP (Air Independent Propulsion) e capacidade de lançamento de mísseis de ataque a terra. O submarino deverá ser capaz de responder às seguintes missões: projeção do poder naval sobre terra, guerra naval especial, proteção de uma Força desembarcada, vigilância e proteção da Força Naval e dissuasão. 6 Este programa de obtenção é o primeiro propósito da Armada espanhola para o período de 2017-2025. Reflete a necessidade de cinco fragatas F-110 que serão escoltas polivalentes, desenhadas para cenários de alta intensidade, com uma importante capacidade de combate em todas as áreas principais de guerra, necessária especialmente para os objetivos de proteção da força e de projeção do poder naval diante das ameaças con- vencionais e assimétricas cada vez mais complexas. As F-110 também buscam desempenhar objetivos rela- cionados à segurança marítima e de apoio a autoridades civis, normalmente em cenários de baixa intensidade. 7 Este programa refere-se à construção de dois navios de ação marítima, incluídos o desenho e o apoio logístico correspondente, continuando a primeira série de quatro navios de ação marítima atualmente a serviço da Armada. Com estes novos navios, pretende-se continuar a substituição progressiva dos diferentes navios tipo “patrulheiro” existentes, de tamanhos e características muito heterogêneas, e que estão próximos a finalizar sua vida útil. A missão principal destes navios será o controle da Zona Econômica Exclusiva (ZEE), assim como a defesa contra ameaças assimétricas e convencionais de pequeno impacto.

176 RMB1oT/2019 INDÚSTRIA NAVAL DE DEFESA: um estudo dos instrumentos de política industrial de defesa na Espanha enquanto o restante ao mercado interno. com os franceses, mas agora o S-80 está Esse volume de exportação demonstra a sendo feito totalmente na Espanha, e não capacidade competitiva da indústria. será feita oferta a nenhum país, até que A atividade deste setor concentra-se tenha sido testado. fundamentalmente em desenvolvimentos De acordo com Méndez et al (2013), dentro dos subsetores “plataforma-base”, a indústria de defesa espanhola tem ex- “armas” e “mando e exploração”. O pri- perimentado importantes transformações meiro subsetor concentra 52,7%, enquanto nos últimos 25 anos, como resultado da os demais representam 14,8% cada, no que concentração de ativos industriais pela se refere às vendas de defesa no setor naval. fusão de certas empresas, da implantação As compras realizadas pela Base In- de empresas estrangeiras na Espanha e da dustrial e Tecnológica de Defesa (BITD) criação de um importante número de in- ao setor naval representam 26,6% das dústrias auxiliares (basicamente Pequenas compras de defesa (123,4 milhões de e Médias Empresas – PMEs), assim como euros). Destas, 47,1% (58,2 milhões de da criação de vários clusters tecnológico- euros) são provenientes de compras na- -industriais. Nesta transformação, tem cionais, enquanto os 52,9% restantes são sido determinante o esforço de moderni- de importações. O valor agregado bruto de zação dos grandes sistemas, não somente defesa do setor naval é de 292 milhões de porque permitiram mobilizar recursos que euros, sendo que as empresas com maior deram lugar a uma renovação e amplia- participação são a Navantia (81%), a ção dos ativos industriais, mas também Indra (11%) e a Construcciones Navales porque permitiram o acesso a tecnologias P.Freire (3%). A Navantia8 possui produ- relevantes, desenvolvidas como base de ção própria, muitas vezes sob licenças. A conhecimento do setor. relação mais próxima com o Ministério A Espanha conta com uma importante da Defesa teve como resultado a evolução rede de indústrias auxiliares fornecedoras dos navios de superfície a partir da obten- de produtos de defesa e segurança – a ção de maior autonomia nos desenhos de maior parte delas PMEs – para as gran- projetos de navios9. Desenvolveu, assim, des empresas fornecedoras das Forças grande capacidade de adaptar tecnologias Armadas e companhias internacionais de terceiros. Os projetos tiveram início a (MÉNDEZ et al, 2013). Os contratos de partir das encomendas da Armada Espa- fornecedores destas últimas devem-se, nhola10, e todas as vendas ao exterior são em boa parte, aos Acordos de Cooperação precedidas por vendas à Espanha. No caso Industrial e Compensações – associados dos submarinos, os Scorpènes eram feitos aos contratos de fornecedores estrangeiros

8 Representa os Estaleiros Bazan, ou a antiga Construções Navais, antes responsável histórico pela produção de navios de guerra. Em 1915, a Lei Miranda criou a arma secreta submarina, e os estaleiros de Navantia começam a produzir submarinos coproduzidos ou sob licença, normalmente com os norte-americanos nos primeiros anos. Logo, com a ajuda dos norte-americanos, nos anos 40, 50 e 60 também a Navantia e seus estaleiros foram os responsáveis pela adaptação às novas exigências. 9 Desde as F-100, exemplo emblemático, foi introduzido o sistema Aegis, com transferências de tecnologias da Marinha norte-americana por meio da empresa Lockheed Martin, uma fragata pequena comparada com as americanas, mas foi possível colocar em uma fragata de 6 mil toneladas, e a partir daí fazer adap- tações para fragatas ainda menores de 4 mil toneladas, assim como para as australianas e norueguesas, que são um pouco maiores. 10 Informação obtida em entrevista realizada em Madri, 3 de julho de 2017.

RMB1oT/2019 177 INDÚSTRIA NAVAL DE DEFESA: um estudo dos instrumentos de política industrial de defesa na Espanha com o Ministério da Defesa, o que contri- Os principais fundamentos da Política bui para a consolidação, o fortalecimento Industrial de Defesa e a internacionalização dessa rede. Esse círculo virtuoso de ativos indus- Na Espanha, a Secretaria de Estado triais e de potencialidades disponíveis na da Defesa é o órgão responsável pela Espanha tem possibilitado maior dinâmica política de armamento e material, à qual tecnológica. A base tecnológica espanhola se enquadra a política industrial de defe- dispõe de alguns nichos de excelência em sa. Seu propósito principal é equipar as campos como as aeroestruturas, a simula- Forças Armadas de meios e capacidades ção tática e operativa, a optoeletrônica, a necessários para o desenvolvimento das microeletrônica, os sistemas automáticos missões que lhes são exigidas. As atu- de provas e diagnósticos, os sistemas de ações mais significativas no período de guerra eletrônica, os sistemas de identifi- 2011 a 2015 são aquelas de caráter nor- cação A/E, os sistemas de guias de mísseis, mativo e que têm impactado diretamente os sistemas de combate para plataformas a estrutura organizacional do Ministério navais e terrestres, os equipamentos para da Defesa e as competências da DGAM12, ensaios não destrutivos e a telemedicina. como principal interlocutor da indústria Comparativamente com países mais de defesa. Essas referências culminaram fortes nos planos tecnológicos e indus- na centralização de determinados Pro- triais, que oferecem uma ampla gama de gramas de Armamento e Material e seus sistemas de defesa completos, a Espanha Escritórios de Programas na DGAM e no oferece um número substancialmente desenvolvimento da estrutura organiza- menor, que integra muitos subsistemas cional básica do Ministério da Defesa, e componentes procedentes dos países que respondem fundamentalmente aos fortes da União Europeia (UE), mas que seguintes propósitos: dispõe também de empresas, a maioria – favorecer a continuidade integral dos PMEs, capazes de fornecer bens alternati- programas de aquisição, reforçando a ges- vos com níveis comparáveis de qualidade tão dos escritórios de programas e avanços e possivelmente com preços mais com- para a centralização e especialização; petitivos. Longe de ser uma debilidade, – concentrar a planificação e o controle deve ser convertido em um ponto forte. da política de P&D; Por isso, no contexto da UE, a Espanha, – apoiar a atividade da indústria no como país membro, deverá velar pela per- exterior, facilitando o acesso a novos manência e potencialização não somente mercados; e de seus ativos industriais, mas também, – centralizar as principais competên- e especialmente, de suas tecnologias de cias necessárias para o desenvolvimento excelência (Méndez et al, 2013)11. da política industrial de defesa.

11 A Navantia, com suas fragatas e diversos navios militares de desenvolvimento e projeto próprio, que também foram exportados para a Noruega e a Austrália. Também pode ser citada a Airbus Military, que oferece três produtos próprios, os aviões de transporte militar C-212, CN-235 e C-295, a serviço de muitos países da UE e do resto do mundo, e oferta o avião de transporte A400M, desenvolvido e produzido em colaboração com vários países e cuja linha de montagem está localizada em San Pablo (Sevilla). Também é responsável pelo avião de reabastecimento do voo MRTT, baseado no Airbus 330 e com um sistema de fornecimento de combustível de voo de projeto e produção espanhóis. 12 A DGAM é o órgão diretivo ao qual corresponde o planejamento e o desenvolvimento da política de arma- mento e material do Departamento, assim como a supervisão e a direção de sua execução.

178 RMB1oT/2019 INDÚSTRIA NAVAL DE DEFESA: um estudo dos instrumentos de política industrial de defesa na Espanha

De acordo com Montaño (2015), ao alcance dos principais programas, ma- potencializar a capacidade de gestão da terializado no Acordo do Conselho de DGAM, facilitam-se a coordenação e a Ministros de agosto de 2013. continuidade nas aquisições. O novo mo- Este plano de atuação, em consenso delo e o marco normativo que o sustenta com as empresas, atendendo a critérios diferenciam as esferas de atuação entre os de mínimo impacto, tanto operativo como Exércitos e a Armada e os responsáveis industrial, tinha como finalidade, por um pela aquisição, de tal forma que os primei- lado, a reprogramação dos principais ros assumem o papel de cliente-usuário, sistemas de armas, de tal forma que se demandando os sistemas de armas ne- ampliou o horizonte de pagamentos a cessários para desempenhar as missões serem efetuados pelo Ministério e, por encomendadas, enquanto que os segundos outro, a recondução desses programas desempenham o papel de fornecedores, de armamento adaptados à nova situação dotando os quartéis gerais dos meios mate- econômica, o que supôs uma redução riais demandados, com a qualidade exigida das solicitações iniciais de materiais. Os e nos prazos determinados, em coerência esforços realizados permitiram a abertura com a capacidade financeira da DGAM. de um novo cenário financeiro, no centro Ainda de acordo com Montaño (2015), do Ministério, que tende a propiciar o quanto à indústria, a configuração da lançamento de novos programas a favor DGAM, como figura única na gestão e da base provedora nacional. aquisição dos programas de obtenção dos De acordo com documentos oficiais diferentes sistemas de armas, reforça a do Ministério de Defesa espanhol, são construção da desejada relação estratégi- estabelecidas como áreas de conhecimento ca com a base provedora, facilitando ao que afetam aos interesses essenciais da se- Ministério sua aplicação, desde o rol de gurança e defesa aplicados aos setores ter- clientes e reguladores, de atuações que, restre, naval, aéreo e espacial as seguintes: por um lado, podem contribuir para uma – comando e controle, comunicações maior eficiência e competitividade nas e informação; empresas e, de outro, podem favorecer – defesa cibernética; o necessário alinhamento destas com os – vigilância, reconhecimento, inteli- interesses estratégicos da defesa. gência e aquisição de objetivos (Istar); Outro aspecto que merece destaque – controle de tráfego e de ajuda à nesse período é a garantia de viabilidade navegação; nos principais programas de armamento e – sistemas críticos embarcados em material. O complexo contexto orçamen- plataformas; tário vivenciado pelo Ministério da Defesa – sistemas espaciais, de tratamento de desde o ano de 2008 e os elevados custos dados e de missão; decorrentes dos principais programas le- – simulação de equipamentos e sistemas varam, em grande medida, à insuficiência de armas para treinamento avançado; e financeira do Departamento para fazer – sistemas de navegação, controle de frente aos compromissos de pagamento guia e carregamento de mísseis e muni- assumidos com a indústria. Assim, foi ções complexas. necessário elaborar medidas conjunturais Uma vez determinadas as áreas de urgentes, que resultaram na aprovação conhecimento e as capacidades industriais de um plano de recondução e ajuste de estratégicas que devem ser preservadas

RMB1oT/2019 179 INDÚSTRIA NAVAL DE DEFESA: um estudo dos instrumentos de política industrial de defesa na Espanha em nível nacional, a indústria é orientada vinculadas aos interesses essenciais para para obtenção ou potencialização a curto a soberania nacional. e médio prazo. Por meio desta iniciativa, A Estratégia Industrial de Defesa almejam-se o alinhamento das empresas (2015) tem como propósito estabelecer, com os interesses industriais da defesa e no marco da política de armamento e ma- o fomento à sua sustentabilidade e com- terial, as linhas de atuação e instrumentos petitividade. A definição das capacidades necessários a médio e longo prazos, em industriais estratégicas possibilita invocar um horizonte temporal de dez anos. O o artigo 34613 do Tratado de Funciona- quadro abaixo apresenta os três grandes mento da União Europeia (TFUE) para propósitos desta estratégia, assim como os a tentativa de proteção de informações eixos estratégicos e suas linhas de atuação.

13 De acordo com o artigo 346: As disposições dos tratados não prejudicam a aplicação das seguintes regras: a) nenhum Estado-membro é obrigado a fornecer informações cuja divulgação considere contrária aos interes- ses essenciais da sua própria segurança; e b) qualquer Estado-membro pode tomar as medidas que considere necessárias à proteção dos interesses essenciais da sua segurança e que estejam relacionadas com a produção ou o comércio de armas, munições e material de guerra; tais medidas não devem alterar as condições de con- corrência no mercado interno no que diz respeito aos produtos não destinados a fins especificamente militares.

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Os primeiros quatro eixos são de dades produtivas mencionadas. Segundo responsabilidade do Ministério da De- Montaño (2015), há uns quatro anos fesa, enquanto os três últimos seriam pode-se falar de uma autêntica coope- de responsabilidade empresarial, sendo ração industrial entre empresas estran- compromisso do Ministério da Defesa geiras e a indústria de defesa espanhola. incentivar e facilitar sua aplicação (EID, Os esforços realizados pela indústria 2015). As propostas de atuações estra- nacional possibilitaram que as empresas tégicas que afetam o setor industrial de espanholas se integrassem em programas defesa precisam estar alinhadas com as cooperativos com outros países para o de- recomendações e ações que aparecem senvolvimento e a aquisição de sistemas refletidas nos diversos documentos e ini- de armas completos, por meio dos quais ciativas lançados no âmbito institucional a indústria espanhola se responsabiliza durante esses últimos anos. pelo desenvolvimento e pela produção Neste contexto, a aprovação pelo de partes dos subsistemas completos de Acordo do Conselho de Ministros de 29 de tal sistema. Inclusive, esses esforços po- maio de 2015 e a publicação da Resolução derão contribuir para que esta seja capaz 420/381/2015 de 30 de julho orientam as de desempenhar o papel de contratante iniciativas que o Ministério de Defesa está principal no fornecimento de sistemas desenvolvendo, na atualidade, relaciona- de armas completos, desenvolvimento das com o setor. Entre essas, cabe citar: a de seus próprios sistemas de armas e identificação de ativos e capacidades das integração de componentes e sistemas. principais empresas provedoras; a poten- Assim, observa-se a adoção de medi- cialização e a melhora de seu Sistema das como a centralização de programas de Gestão de Conhecimento Industrial de aquisições e materiais, a implantação e a revisão estratégica dos Acordos de da estratégia industrial e tecnológica de Cooperação Industrial e Controle das defesa, assim como a identificação das Transferências Tecnológicas. capacitações industriais estratégicas. De acordo com Montaño (2015), na Esse processo vem acompanhado pela Espanha, os acordos de cooperação indus- transformação da indústria, seja por meio trial relacionados às aquisições de defesa da diversificação da sua produção entre os têm estado tradicionalmente orientados a mercados civis e militares, seja exportan- incrementar as capacidades da indústria do sua produção a partir de uma postura de defesa nacional. Desta forma, foi po- competitiva. Os reflexos dessas ações são tencializada a coprodução dos sistemas abordados na próxima seção. de armas, a produção dos sistemas sob licenças e acordos, a integração de subsis- AS IMPLICAÇÕES DA temas espanhóis nos sistemas adquiridos, POLÍTICA INDUSTRIAL DE a fabricação de partes, a montagem, inte- DEFESA NA ESPANHA NO gração e provas finais e a capacidade para ÂMBITO DO SISTEMA DE dar apoio logístico necessário ao longo de INOVAÇÃO NAVAL MILITAR todo ciclo de vida. A cooperação industrial ressaltada De forma geral, as diferentes me- implica, em alguns casos, transferência didas que o Ministério da Defesa vem de tecnologia e know how à indústria aplicando nos últimos anos em matéria nacional, que permite realizar as ativi- de política industrial e tecnológica de

RMB1oT/2019 181 INDÚSTRIA NAVAL DE DEFESA: um estudo dos instrumentos de política industrial de defesa na Espanha defesa foram centradas em diferentes o desenvolvimento de sistemas de armas âmbitos de atuação. Foram promovidas com créditos reembolsáveis. A DGAM, a reorganização da DGAM como inter- como figura única na gestão e aquisição locutor único a respeito da indústria de de programas de obtenção dos diferentes programas de Armamento e Material, a sistemas de armas, reforça a construção integração dos centros tecnológicos de da desejada relação estratégica com a base defesa no Instituto Nacional de Técnica provedora, na medida em que facilita ao Aeroespacial (Inta) e a potencialização da Ministério sua aplicação, desde o rol de Oficina de Apoio Exterior (Oficaex). Em clientes e reguladores, que favorecem a termos normativos, foi priorizada a regu- alienação destas com os interesses estra- lação da contratação governo a governo tégicos da defesa14. e a elaboração do Código de Conduta Assim como tem ocorrido após a crise para contratantes e subcontratantes. Os econômica de 2008 em vários países, a programas adotados buscam assegurar Espanha tem enfrentado significativas a viabilidade econômica dos projetos restrições orçamentárias. Essa situação em curso e a preparação de um novo tem limitado as possibilidades de avançar ciclo de investimento. Nesse âmbito, as em programas de aquisições, com algu- capacidades industriais e áreas de conhe- mas exceções, como no caso da segunda cimento que dizem respeito aos interesses série dos Buques de Acción Marítima essenciais da Defesa e Segurança são (BAM) lançados em 2012/2013. Tam- determinadas como a principal referência bém foi lançado o programa de redução para guiar os esforços das empresas e da de riscos tecnológicos dos F-110. Este é Administração em torno do componente considerado um programa bem ambicioso, industrial de defesa. pois envolve muitos subprogramas de Nesse sistema, ao Ministério da Defesa desenvolvimento técnico (ex: fabricação cabe ainda a definição e a execução das de radar em banda S, sistema de teste de políticas de compras de armamento e o sistemas em terra) com aplicação civil15. financiamento das atividades de P&D Para viabilizar os programas de aquisi- realizadas por empresas e organismos de ções na Espanha, foi desenvolvido um pesquisas governamentais. Suas ações são sistema de financiamento por meio de coordenadas e executadas com o auxílio créditos do Ministério da Indústria. A do Ministério de Economia e Fazenda, partir do convênio com o Ministério da por meio de sua holding industrial Sepi, Defesa, os primeiros anos dos contratos que controla a participação estatal em foram financiados, com o repasse dos empresas militares, e do Ministério da In- recursos aos contratantes selecionados dústria, Comércio e Turismo, que financia pelo Ministério da Defesa, para estes que

14 Informação obtida em entrevista realizada em Madrid, 3 de julho de 2017. 15 Por exemplo, na fabricação de um radar em banda S, a Navantia como contratante principal e a Indra como empresa sistemista espanhola, se confiará bastante no negócio/empreendimento civil de tráfego aéreo, com ramificações importantes que inicialmente nem foram imaginadas. Além disso, muitos programas são também peculiares pela relação transatlântica com os EUA, parceiro tecnológico de primeira qualidade, e esta relação é uma peculiaridade espanhola diante dos países europeus (claro que Inglaterra, Alemanha, França estão a frente). Depois vem a Espanha , como elemento diferencial no setor naval, Navantia e as sistemistas Fava e Indra, que conseguiram uma série de capacidades ao longo do tempo para adaptar as tecnologias espanholas, o que, de outra forma, teria sido muito mais complicado.

182 RMB1oT/2019 INDÚSTRIA NAVAL DE DEFESA: um estudo dos instrumentos de política industrial de defesa na Espanha tivessem recursos para desenvolver linhas lização de material, adaptação dos mate- de produtos e seguros16. riais às normas militares e adaptação às Conforme mencionado anteriormente, exigências da Otan. A Secretaria também o acesso às perspectivas internas sobre é responsável pela visão mais estratégica política industrial de defesa na Espanha relacionada à indústria de defesa, man- foi viabilizado por meio de entrevistas tendo aberta uma base de dados na qual semiestruturadas17 junto a três represen- tenta-se obter uma visão de todos os for- tantes dos principais atores do sistema necedores de defesa, analisando aspectos naval militar espanhol: uma subdiretoria econômicos e financeiros, mas também da Dirección General de Armamento em termos de capacidades de P&D. e Material (DGAM); um responsável Na subdiretoria de Gestão de Progra- comercial da empresa Navantia; e um mas, há dois anos foram centralizados consultor do Isdefe. Para fins de análise, todos os programas de terra, mar e ar das os dados obtidos estão organizados por Forças Armadas espanholas18. Também temas, conforme segue: centralização foram juntados outros programas de das políticas de compras; implementação satélites e centralizados os principais pro- da estratégia industrial e tecnológica gramas que estavam nos quartéis gerais19. de defesa na Espanha; importância das Dessa forma, houve um processo de cen- PMEs para a indústria naval de defesa; tralização da gestão dos programas porque e as principais lições do programa do antes o secretário de Estado de Defesa era submarino S-80. o máximo responsável político em maté- ria de obtenção, e também autoridade no Centralização das políticas de compras planejamento das capacidades militares, e as subsecretarias eram responsáveis pela Na estrutura organizacional do Minis- gestão de pessoas. Antes havia uma estru- tério da Defesa espanhol, quanto à política tura organizacional para os compradores industrial de defesa, cabe à Secretaria de se reportarem às autoridades dos ministé- Estado de Defesa a regulação técnica do rios, e a gestão estava sob o controle dos setor de defesa, como qualidade, norma- comandos de apoio logístico20.

16 A coordenação desse processo é realizada entre os dois ministérios, o seguimento/continuidade do programa é feito pelo Ministério da Defesa; o Ministério da Indústria, que adiantou o dinheiro, fiscaliza o andamento das obras; e as empresas precisam apresentar informes que são avaliados pelos dois ministérios para a realização dos pagamentos. Também há uma comissão mista dos dois ministérios, que se reúne periodica- mente para avaliar as condições técnicas desses programas, sem prejuízo da responsabilidade que cabe a cada um nos trâmites e expedientes financeiros e contratuais. Esse é um sistema alemão de adiantamento de dinheiro, que logo é restituído, à medida que vão sendo feitas as entregas. Os prazos são alinhados de acordo com a evolução dos programas, que neste setor sempre apresentam atrasos. Essas são as principais medidas realizadas até o momento, mas é necessário seguir trabalhando e dando continuidade ao processo. A questão orçamentária é muito importante. O programa F-110 é muito potente neste sentido e ambicioso industrialmente, buscando proporcionar mais autonomia tanto para a Navantia quanto para a Indra. 17 No entanto, é importante ressaltar, que todo conteúdo apresentado é de inteira responsabilidade das autoras, que com base nas informações obtidas, realizaram sua análise. 18 Dentro da secretaria, tem-se a DGAM, que engloba as subdiretorias de gestão de programas (inspeção, regulação e estratégia industrial de defesa); de planificação de tecnologia e inovação; de relações inter- nacionais e a de aquisição de armamento e material. 19 Foram alocados nesta secretaria programas como o Eurofighter; A-400; alguns programas de helicópteros; S-80; F-110 e a extensão do BAM; o Programa Pizarro, do Exército; os programas novos de compras de cascos etc. 20 Informação obtida em entrevista em Madrid, 3 de julho de 2017.

RMB1oT/2019 183 INDÚSTRIA NAVAL DE DEFESA: um estudo dos instrumentos de política industrial de defesa na Espanha

Essa centralização contribui para o os programas referentes aos investi- processo de aquisição de materiais. A mentos do Ministério da Defesa, com DGAM busca referência em países como instrumentos que permitem a continui- Alemanha, França e Inglaterra, que têm dade da identificação das capacidades ao se destacado na organização da gestão planejamento dos recursos financeiros. O dos programas de aquisição militar. A orçamento sendo plurianual, não depende carreira militar e civil dos funcionários do pressuposto ordinário de defesa, vai é orientada para os processos de aquisi- por outra linha de aprovação parlamentar. ções. Este é um processo contínuo, que Essa é uma velha aspiração do governo considera como referência as diretorias de espanhol, que ofereceria maior cobertu- aquisições de material alemã, britânica e ra financeira e protegeria a indústria de francesa, e que melhorou os processos de defesa de votações de curto prazo oca- definição e, sobretudo, de relação com os sionadas por questões políticas.21 usuários, por meio de feedback, fato Implementação destacado na pers- Manter o impulso da Estratégia pectiva sistêmica Industrial e como fundamental tecnológico ao longo do Tecnológica de para aprimoramento tempo é mais complicado defesa na Espanha do conhecimento e e mais custoso porque das rotinas internas Por meio do (NELSON, WIN- requer que distintos Acordo do Conse- TER, 2006). Esse governos mantenham a lho de Ministros processo de con- aprovado em 2015, centração permite mesma visão estratégica foram definidas também melhor in- concretamente al- terlocução com a indústria, aperfeiçoando gumas capacidades industriais estratégi- a interação entre os agentes. cas (Cies) e foi definido que as empresas A subdiretoria de Gestão de Progra- de participação pública teriam direção es- mas busca estabelecer processos únicos tratégica especial por parte do Ministério para a gestão, a chamada Doutrina Única. da Defesa. Esta definição das Cies foi um Com isso, busca-se obter as melhores exercício, exigido pela lei de contratos de práticas, que, apesar de uma doutrina segurança do setor público, na qual havia comum, considerem a singularidade de uma disponibilidade adicional que exi- cada programa, tendo em vista que um gia essa identificação das Cies ou áreas programa de manutenção de um carro de estratégicas principais. “Esse exercício combate não é o mesmo de uma fragata. terminou há dois anos, e levou-se em Contudo, embora se observe que todos consideração critérios industriais, mas esses contratos são plurianuais, ainda também operativos. Depois de muita aná- falta uma lei de programação militar lise, foram defininidas certas capacidades como já existe na França, que diferencia mais concretas, que permitem invocar o

21 Também na França há a impressão de que os conceitos de defesa estão muito enraizados e interiorizados no que diz respeito à população. Não é uma questão política, sempre ocorre essa discussão. Naquele país há maior unidade nacional, ainda que existam discussões, como em toda democracia.

184 RMB1oT/2019 INDÚSTRIA NAVAL DE DEFESA: um estudo dos instrumentos de política industrial de defesa na Espanha

Tratado 346 e justificar o investimento e na fabricação de quatro ou cinco para realizado em certos setores. Ainda que o próprio país; em um cenário favorável seja relativamente fácil lançar um pro- podem ser exportados uns cinco a dez e grama importante, como o das fragatas já é preciso pensar no modelo seguinte). F-100, manter o impulso tecnológico A correta verificação das capacidades ao longo do tempo é mais complicado e tecnológicas e industriais contribui para a mais custoso porque requer que distintos inclusão da indústria, tornando a política governos mantenham esta visão estraté- mais sistêmica. gica”22. Logo, o setor naval é essencial, um nicho diferenciado na União Europeia Importância das PMEs para a que permite a integração da Espanha nos indústria naval de defesa processos da UE com voz própria. O setor de defesa lida com uma espécie A Navantia, líder nacional, possui uma de obsolescência tecnológica programada, grande cadeia de fornecedores devido a isto é, o próximo navio ou submarino sua demanda por diversas tecnologias, fabricado terá que possuir desempenhos sendo esta cadeia composta por aproxi- melhores que o anterior; logo, no setor madamente 5 mil PMEs24. Em alguns pro- de defesa é necessário que se passe por gramas, o Ministério tenta assegurar que uma longa fase de P&D para o desen- alguns fornecimentos sejam realizados por volvimento de novos produtos com as essas PMEs, em particular nos sistemas de capacitações exigidas pelos militares. Se comunicação e sistemas de propulsão, ou essas capacidades são muito complexas, seja, naqueles elementos mais críticos da a tecnologia não está madura e não existe estrutura de um navio. Para isso, existem uma rede de fornecedores apropriados, mecanismos de definição estratégica, con- então um desenvolvimento previsto para tratual, invocando o artigo 346 do Tratado dois anos durará entre cinco e dez anos, da UE, que permite uma excepcionalidade gerando aumento de custos e alteração no de mecanismos de cancelamento con- cronograma dos programas. E, durante tratual, quando o Governo estima que é esse período, outras nações podem ter necessário realizá-lo. Essas PMEs acabam desenvolvido produtos melhores, o que se tornando essenciais para a indústria inviabilizará as exportações23. Diante naval de defesa e para o desenvolvimento deste cenário de incerteza, elaborar um industrial do país25. segundo produto é ainda mais custoso e No entanto, ainda falta potencial arriscado, tanto no caso de submarinos comercial, administrativo e contratual. quanto no de fragatas (como exemplo, Nesse sentido, estão surgindo empre- pode-se pensar no projeto de um navio sas que aportam certas capacidades às

22 Informação obtida em entrevista realizada em Madrid, 3 de julho de 2017. 23 Informação obtida em entrevista realizada em Madrid, 3 de julho de 2017. 24 Seria importante que o Ministério da Defesa tivesse maior capacidade de controlar como as PMEs são tratadas pelas empresas, colocando nos contratos principais o que se deve fazer, mas isso é muito difícil com a capacidade existente no Ministério. Novamente, citando a França como referência, na DGAM existe uma unidade dedicada a PMEs com 80 pessoas responsáveis pelo conhecimento do tecido indus- trial. Também assegura-se que as grandes empresas integradoras (DCNS, Thales) coloquem condições justas, e, consequentemente, essas empresas, por delegação do Ministério, amparem esse tecido industrial e o produzam, porque realmente a Navantia não poderia sobreviver sem suas empresas fornecedoras. 25 Informação obtida em entrevista realizada em Madrid, 3 de julho de 2017.

RMB1oT/2019 185 INDÚSTRIA NAVAL DE DEFESA: um estudo dos instrumentos de política industrial de defesa na Espanha

PMEs, em termos de gestão adminis- as já mencionadas medidas implementa- trativa e que entram no capital dessas das pelo Ministério da Defesa. PMEs com um percentual pequeno de controle e de certa forma suprem esta Principais lições do programa do deficiência. Ações como essas, em que submarino S-80 uma empresa de capital privado auxilie na gestão dos riscos, são importantes A principal motivação do programa de para a superação de gargalos, diante da aquisição no âmbito naval, o submarino inexperiência das PMEs26. S-80, surge da necessidade de modernização Para a Navantia, a relação com seus da frota de submarinos das classes Delfín fornecedores (PMEs) tradicionais é (S-60) e Galerna (S-70). O principal pro- fundamental, princi- pósito era dotar este palmente em termos meio naval de maior da ajuda mútua que Para atender ao desejo autonomia de imer- pode ocorrer. Essa são e automatização interação advém do da Armada espanhola, de muitas funções de intercambio de con- foi escolhida a propulsão controle, para operar tatos e parcerias em denominada Air com uma tripulação novos mercados e reduzida. Sua defi- também da proteção Independent Propulsion nição conceitual foi dos seus fornecedo- (AIP), devido à realizada entre os res em períodos de anos 1997 e 2003, e poucos contratos. A complexidade técnica e a ordem de execu- relação da Navantia aos elevados custos da ção para produção com os estaleiros propulsão nuclear de quatro unidades privados da Espa- foi dada em março de nha tem avançado a 2004, esperando-se partir do momento em que passaram a se receber a primeira unidade em 2012. reconhecer como parceiros e não apenas Para atender ao desejo da Armada competidores. Isso foi possível devido espanhola, foi escolhida a propulsão à segmentação do mercado, já que esses denominada Air Independent Propulsion estaleiros normalmente produzem apenas (AIP), devido à complexidade técnica navios pequenos, como patrulheiros27. Essa e aos elevados custos da propulsão nu- melhora na relação tem a ver também com clear28. Ainda assim, o programa S-80

26 Informação obtida em entrevista realizada em Madrid, 3 de julho de 2017. 27 Existem países que solicitam uma fragata com quatro patrulheiros pequenos e dois grandes. Por exemplo, a Navantia não tem o pequeno e o estaleiro que tem o pequeno não possui o grande, logo as duas em- presas podem caminhar juntas e dar a imagem de marca Espanha, do governo espanhol. Essa relação melhorou muito, e atualmente, quando chega um pedido de um navio que não existe no catálogo da Navantia, passam para esses estaleiros; assim como eles fazem o mesmo quando demandados em algo que não possuem (fragata e patrulheiro). O patrulheiro pode ser feito pela Navantia, mas na fragata as duas empresas caminham juntas. 28 Com este propósito foi iniciado um projeto de pesquisa com a empresa Hynergreen (atualmente Abengoa Hidrógeno) para desenvolver um reformador de bioetanol (CH3CH2OH) capaz de produzir hidrogênio com a suficiente pureza para, combinado com o oxigênio armazenado, alimentar uma bateria de com- bustível (fuel cell), fornecida pela empresa UTC Power, que proporcione a energia necessária.

186 RMB1oT/2019 INDÚSTRIA NAVAL DE DEFESA: um estudo dos instrumentos de política industrial de defesa na Espanha era muito ambicioso do ponto de vista ter sido avaliado corretamente o risco do industrial, pois, como a Navantia já vinha empreendimento e seguirem avançando, realizando coprodução anterior nos sub- até que o problema veio à tona. marinos S-60 e S-70 para a coprodução Quando um projeto não atender as de submarinos franceses na Espanha sob expectativas, será necessário revisá-lo, licença da empresa DCNS, foi considerado desenvolver um novo protótipo e voltar a que, assim como conseguiu-se obter a linha avaliar, até que esse processo lentamente de submarinos e ganhou-se autonomia por satisfaça um conjunto razoável de requisi- meio dos programas das fragatas F-100, o tos que garantam uma utilidade operativa mesmo aconteceria com o programa S-80. superior. Nesse processo, ocorre com No entanto, a produção de submarinos é frequência que algumas das capacitações mais complexa do que a de navios de super- desejadas não chegam a ser obtidas, por fície. No momento em que o programa foi imaturidade das tecnologias atuais ou lançado, em 2004, subestimou-se o esforço porque seu custo não é coberto pelos necessário, tanto quanto à ambição indus- financiadores e futuros compradores do trial quanto à relacionada ao orçamento e sistema. A retrospectiva dos processos de ao cronograma de execução29. reprojeto e os ensaios para corrigir os erros Este programa vem apresentando encontrados podem ser vistos como gas- dificuldades relacionadas a capacidades tos desnecessários que poderiam ter sido técnicas, que obrigaram a interrupção da evitados, mas a situação não é realmente construção em estágio muito avançado, assim, pois esse processo é fundamental em 2013. Foi necessário então solicitar para que se adquira o conhecimento neces- assistência técnica à empresa norte- sário para lograr uma solução adequada -americana General Dynamics Eletric que satisfaça razoavelmente às necessi- Boat para a resolução do problema, sendo dades das Forças Armadas. redesenhado o casco e prolongado o seu Estas características do processo de comprimento30. Os problemas mencio- inovação fazem com que, em alguns ca- nados, mais os relacionados ao sistema sos, se produzam resultados satisfatórios, AIP, fizeram com que a Secretaria de enquanto que em outros conduzem a des- Estado solicitasse à Navantia, em 2016, a concertantes fracassos, inclusive quando concentração para finalização de um único são aplicadas as mesmas políticas e práti- e primeiro submarino com o propósito de cas já utilizadas em outros programas de certificar seu projeto, antes de continuar inovação exitosos. A lição mais impor- com os outros da série. A revisão crítica tante que se pode extrair deste programa do projeto, que estabelece a linha de refe- é a necessidade de entender o processo rência do produto, foi realizada em julho de inovação e valorar com comedimento de 2016. A elaboração de um protótipo o esforço associado na hora de planejar de navio, principalmente de um subma- futuras aquisições para evitar decisões rino, é uma tarefa complicada. No caso precipitadas. Apesar de não ser condição do submarino S-80, muitos erros foram suficiente, o conhecimento aportado pela cometidos em diversos aspectos por não engenharia de sistemas, pela economia

29 Informação obtida em entrevista realizada em 3 de julho de 2017. 30 Esta modificação desencadeou outras mudanças, como uma nova hélice, dadas a maior fricção dos cascos e do sistema hidráulico e a maior longitude dos condutores usados.

RMB1oT/2019 187 INDÚSTRIA NAVAL DE DEFESA: um estudo dos instrumentos de política industrial de defesa na Espanha industrial e, em particular, pela aborda- por uma tecnologia intermediária, em gem sistêmica de inovação tem muito que detrimento da convencional e da nuclear, contribuir neste assunto. mas ainda assim os resultados não foram satisfatórios, incorrendo em desperdícios. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ainda que o casco de um submarino possa ser elaborado, não é possível ter certeza Na Espanha, a indústria de defesa tem se o sistema nuclear que vai integrá-lo se sido estimulada por meio de uma sólida ajustará adequadamente, por exemplo. estratégia de desenvolvimento. Observa- Diante da estrutura atual da indústria -se que a estrutura organizacional do Mi- naval de defesa brasileira e das relações nistério da Defesa, que concentra os prin- estabelecidas entre seus atores, destaca-se cipais programas de aquisição sob única a forte dependência da demanda militar subdiretoria, concede maior eficiência e como incentivo à inovação. Essa deman- agilidade aos processos e evita atrasos que da, por sua vez, depende da doutrina e prejudiquem o sistema, aprimorando seu da atualização das Forças Armadas. Em processo de gestão. Além disso, medidas termos de política industrial de defesa, adotadas em termos normativos, estratégi- percebe-se que um dos grandes proble- cos e de garantia de viabilidade econômica mas é a falta de uma linha governamental dos projetos em curso oferecem uma visão compartilhada, ou seja, uma estrutura ade- mais sistêmica à política, na medida em quada de financiamento (LESKE, 2016). que possibilita maior garantia de poder Esta situação aumenta a vulnerabilidade de compra à indústria. As ações listadas da realização de investimentos e desen- podem ser úteis para países que, como o volvimento de capacidades tecnológicas Brasil, lidam com restrição de recursos e com perspectivas de longo prazo. vulnerabilidades nos contratos de defesa Na percepção de Erber (1992) e Fre- (LESKE, 2015 e 2016; NEGRETE, 2015). eman (1995), a ação política é indispen- Ainda, as estratégias industriais e tec- sável em países como o Brasil, tendo em nológicas para a defesa na identificação vista dois fatores principais. Primeiro, das capacidades industriais estratégicas porque as situações de atraso vigentes nes- têm orientado a indústria para potenciali- ses países são caracterizadas pela ausência zação a curto e médio prazo, possibilitan- de elos centrais na estrutura produtiva do o alinhamento das empresas com os in- e institucional, o que requer uma ação teresses industriais da defesa e o fomento estruturante do Estado para induzir – ou à sua sustentabilidade e competitividade. mesmo assumir a responsabilidade direta Essa dinâmica não fica restrita às grandes via empresas estatais – a montagem de empresas; as pequenas e médias empresas determinados setores na matriz produtiva, (PMEs) possuem um papel fundamental envolvendo uma ruptura radical das roti- neste processo. nas preexistentes. Em segundo lugar, e à Quanto ao programa do submarino semelhança dos países avançados, mostra- S-80, cabe destacar a necessidade de -se necessário criar capacitações naquelas entender o processo de inovação e valo- atividades essenciais para a existência da rar com cuidado o esforço associado no produção industrial. momento de planejamento das futuras Por fim, considerando os aspectos aquisições, a fim de evitar decisões pre- identificados na indústria naval de defesa cipitadas. No caso espanhol, optou-se (NEGRETE, 2015), cabe reforçar a abran-

188 RMB1oT/2019 INDÚSTRIA NAVAL DE DEFESA: um estudo dos instrumentos de política industrial de defesa na Espanha gente atuação dessa indústria no Brasil, o manter uma perspectiva sistêmica e am- que demanda adequada compreensão e pliar a interação entre as ações previstas disposição dentro da Política de Defesa para a Base Industrial de Defesa (BID) e Nacional e da Estratégia Nacional de as políticas nacionais, sejam as industriais, Defesa, com vistas a incluir propostas de fiscais ou monetárias, considerando assim ações concretas, em termos de política o contexto mais vasto no qual a área de industrial. Nesse processo, é fundamental defesa está inserida.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Forças Armadas da Espanha;

REFERÊNCIAS

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190 RMB1oT/2019 O FENÔMENO EL NIÑO OSCILAÇÃO SUL (Versão corrigida pelo autor e publicada on-line em outubro de 2020.)

MARCUS VINÍCIUS MENDES* Capitão-Tenente

SUMÁRIO

Introdução Teleconexão em eventos El Niño Oscilação Sul O Índice Oscilação Sul Efeitos globais do fenômeno El Niño Oscilação Sul Conclusão

INTRODUÇÃO fases positiva e negativa referem-se às anomalias na Temperatura da Superfície fenômeno El Niño Oscilação Sul do Mar (TSM) no Pacífico Equatorial. O (Enos) é definido pelo aquecimento Durante o El Niño, ocorrem anomalias ou resfriamento das águas do Oceano positivas de TSM, sendo essas anomalias Pacífico em sua porção equatorial, sendo negativas na ocorrência da La Niña. dividido nas fases positiva (El Niño), A medida de intensidade dos eventos negativa (La Niña) e neutra (anos sem a Enos é calculada por meio de índices ocorrência de El Niño ou La Niña). As atmosféricos e oceânicos, como o Índice

* Hidrógrafo. Serve no Centro de Coordenação de Estudos da Marinha em São Paulo. Mestrando em Mete- orologia no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo. Comandou o Navio Balizador Tenente Boanerges. O FENÔMENO EL NIÑO OSCILAÇÃO SUL de Oscilação Sul (IOS), os índices Niño dade convectiva tropical, que ocorrem em (Niño 1+2, Niño 3.4, Niño 3, Niño 4), o associação com a Oscilação Quase-Bia- Índice Niño Oceânico e o Índice Enos nual (QBO) do vento zonal e anomalias Multivariado. O IOS é calculado pela de temperatura na estratosfera equatorial diferença de pressão atmosférica ao nível (GRAY; SHEAFFER; KNAFF, 1992). do mar entre duas estações distintas: Taiti A visão predominante do sinal climá- e Darwin. Os índices Niño (Niño 1+2, tico atmosférico global associado ao El Niño 3.4, Niño 3, Niño 4) são regiões Niño Oscilação Sul é de uma resposta retangulares do Oceano Pacífico onde linear, porém, devido às assimetrias ocorrem anomalias de TSM. O Índice zonais das TSM climatológicas, mesmo Niño Oceânico é calculado na região do pequenos desvios da temperatura do mar Niño 3.4, com uma média trimestral de em relação ao seu valor climatológico anomalias. E o índice Enos multivariado podem provocar grandes desvios de é obtido pela função ortogonal empírica precipitação na periferia da região de das variáveis de vento zonal e meridional, piscinas quentes do Pacífico Oeste; assim pressão ao nível médio do mar, TSM e sendo, a componente não linear deve ser radiação de onda longa. considerada (HOERLING; KUMAR; O sinal mais proeminente na variabi- ZHONG, 1997). lidade climática interanual é a oscilação Yeh et al. (2009) sugeriram que a re- sul, que está associada a flutuações na cente mudança de frequência do tipo de pressão atmosférica ao nível do mar nos evento El Niño pode ser devida a causas trópicos, chuvas de monção e circulação antropogênicas. No entanto, as mudanças no inverno sobre a América do Norte e de frequência do tipo Enos observadas outras partes da região extratropical. Em- desde a década de 1990 fazem parte de bora os meteorologistas tenham conheci- um ciclo natural (MCPHADEN; LEE; mento da oscilação sul desde a década de MCCLURG, 2011; NEWMAN; SHIN; 30, sua relação com o fenômeno oceânico ALEXANDER, 2011; YEH et al., 2009). El Niño não foi reconhecida até o final Com relação às mudanças em outras dos anos 60, e uma compreensão teórica características da variabilidade do Enos, destas relações só começou a surgir existe uma grande dificuldade em separar por volta dos anos 80 (RASMUSSON; o sinal antropogênico da variabilidade WALLACE, 1983). natural do sistema climático, já que o A fase negativa da oscilação sul ocorre registro instrumental cobre um período durante os episódios de El Niño e refere-se inferior a 150 anos, que é muito breve à situação em que a pressão atmosférica para caracterizar com segurança o longo está abaixo da média no Taiti e acima da espaço de tempo, a magnitude e a dura- média em Darwin. Em contrapartida, a ção do Enos, bem como esse período de fase positiva da oscilação sul ocorre du- 150 anos não foi suficiente para abordar rante os episódios de La Niña e refere-se adequadamente a questão de quais meca- à situação quando a pressão atmosférica nismos podem estar impulsionando essas está acima da média no Taiti e abaixo da mudanças (TIMMERMANN; MCGRE- média em Darwin. GOR; JIN, 2010). Estudos de modelagem Gray et al. (1992) sugeriram que o sugerem que são necessários 500 anos ciclo Enos possa ser significativamente para analisar toda a variação natural do influenciado por tendências sutis na ativi- Enos (WITTENBERG, 2009).

192 RMB1oT/2019 O FENÔMENO EL NIÑO OSCILAÇÃO SUL

TELECONEXÃO EM EVENTOS na alternância de anomalias de baixa e alta EL NIÑO OSCILAÇÃO SUL pressão que seguem uma grande rota cir- cular e exibem alguma simetria em relação O termo teleconexão refere-se a uma ao equador. Durante os meses de dezem- resposta atmosférica numa região remota, bro, janeiro e fevereiro, a teleconexão é influenciada por uma forçante local. mais forte no hemisfério norte e, durante O fenômeno Enos causa efeitos na va- os eventos quentes, é caracterizada por riabilidade climática global, impactando alta e baixa pressão aleutiana deslocada na circulação geral atmosférica, produzin- para o sudeste, sobre o Canadá, e por baixa do alterações nas regiões tropicais e extra- pressão sobre o Golfo do México. Cerca tropicais. Diversos estudos no século XX de 25% da variação sazonal da altura de empenharam-se em explicar as respostas 500 hPa é explicada pelo Enos dentro des- remotas (teleconexão) oceânico-atmos- ses centros de ação (DIAZ et al., 2000). féricas associadas às flutuações de TSM Hoerling e Kumar (2000) mostraram e à pressão ao nível do mar na região do as teleconexões relacionadas ao Enos por Pacífico Equatorial, bem como a variabi- meio de duas perspectivas principais: res- lidade espacial e temporal da precipitação posta tropical devido a chuvas produzidas através do globo, associadas ao Enos por nuvens cumulonimbus e a comunica- (DIAZ; HOERLING; EISCHEID, 2001). ção horizontal da presença do El Niño. A O critério da pressão a nível do mar primeira perspectiva relaciona-se com o utilizado para correlacionar o Enos com fato de essas nuvens serem os principais a oscilação sul pode ser citado como o agentes de troca de calor da superfície mais eficaz, atualmente, para definir a terrestre, conectando, assim, a presença teleconexão dos eventos Enos. Estudos do El Niño com a atmosfera. A segunda sobre a oscilação sul descrevem que suas perspectiva ocorre devido à sensibilida- diferenças de pressão estão associadas a de atmosférica a alterações nas chuvas anomalias climáticas marcantes em ambos tropicais. Observações revelam que um os trópicos e subtrópicos. trem de ondas alternando baixas e altas Kiladis e Van Loon descreveram que, pressões segue uma rota na alta troposfera, durante a fase quente do Enos, a Zona emanando energia da região do Pacífico de Convergência Intertropical (ZCIT) Equatorial (DIAZ et al., 2000). e a Zona de Convergência do Pacífico Padrões consistentes de teleconexão Sul (ZCPS) alteram suas direções rumo Enos/precipitação foram documentados por à região equatorial, aumentando, assim, Stoeckenis (1981), Ropelewski e Halpert as evidências das teleconexões do Enos (1986, 1989 e 1989), Lau e Sheu (1988) e (KILADIS; VAN LOON, 1988). Kiladis e Diaz (1989). Eles utilizaram as Duas características marcantes estão técnicas de correlação, Funções Ortogonais presentes na resposta de circulação da Empíricas (FOE) da precipitação global, e atmosfera ao Enos: uma elevação da estabeleceram relações importantes em uma superfície de 500 hPa em todas as longi- escala global e local (DIAZ et al., 2000). tudes em latitudes tropicais e subtropicais durante eventos quentes indicativos de O ÍNDICE OSCILAÇÃO SUL um aquecimento troposférico e um trem de ondas regional que abrange o setor O Índice Oscilação Sul (IOS) é um Pacífico-Americano. Este último consiste índice obtido por meio das diferenças

RMB1oT/2019 193 O FENÔMENO EL NIÑO OSCILAÇÃO SUL

A interação oceano-atmosfera é um fator para compreendermos o funcionamento das fases do Enos e suas consequências globais observadas na pressão do nível do mar A fase negativa da oscilação sul, em entre Taiti e Darwin, na Austrália. Walker que o sistema de alta pressão e o de e Bliss (1932, 1937) documentaram as baixa pressão estão menos intensos que características e a extensão desta oscilação o normal, resulta numa baixa atividade de pressão e as nomearam como oscilação convectiva na Indonésia e no norte da sul, observando que, quando a pressão é Austrália, devido ao enfraquecimento dos alta sobre o Pacífico, ela tende a ser bai- ventos alísios de sudeste. xa na região do Oceano Índico Oriental/ O posicionamento da Zona de Con- Indonésia (KOUSKY; KAGANO; CA- vergência Intertropical (ZCIT) e da Zona VALCANTI, 1984). de Convergência do Pacífico Sul (ZCPS) Existem dois centros de ação que afe- altera-se de acordo com a fase da oscilação tam o índice de oscilação e que são utiliza- sul: quando esta encontra-se na fase po- dos como estações-base para o cálculo do sitiva (negativa), a ZCIT desloca-se mais índice de oscilação sul: a região de baixa ao norte (sul) de sua posição normal no pressão do Oceano Índico Leste próximo Pacífico Oriental; no caso da ZCPS, a sua da Indonésia e a alta pressão no Pacífico posição desloca-se para oeste (leste) de Sul em sua região centro-leste. A diferença sua posição média durante a fase positiva de pressão entre os dois centros principais (negativa) da oscilação sul. de ação define as fases da oscilação sul. Walker (1928b) considerou que a pre- A fase positiva da oscilação sul, em cipitação anômala no Nordeste brasileiro que o sistema de alta pressão e o de baixa estava relacionada com a oscilação sul. pressão estão mais fortes que o normal, Caviedes (1973) mostrou que o período relaciona-se com uma atividade convecti- de seca no Nordeste estava associado a va e com o fortalecimento da precipitação eventos de El Niño (CAVIEDES, 1973; sobre a região da Indonésia, devido ao fato WALKER, 1928). Kousky et al. (1984) de os ventos alísios de sudeste estarem destacaram uma forte tendência de o El mais fortes que o normal. Niño ocorrer simultaneamente ou no

194 RMB1oT/2019 O FENÔMENO EL NIÑO OSCILAÇÃO SUL mesmo ano de seca no Nordeste brasi- Pacífico Equatorial Central, no noroeste leiro, sendo que o índice de oscilação sul dos Estados Unidos, na região central mostra um relacionamento similar para do Chile, no sul do Brasil e no Uruguai; as anomalias de precipitação brasileiras. anomalias negativas de precipitação Kiladis e Van Loon (1988) usaram são registradas na Índia, na Indonésia, o IOS combinado com um índice de no norte e centro-leste da Austrália, no anomalias de TSM para o Pacífico Tro- norte da América do Sul e no leste da pical Oriental (dentro de 4° de latitude América Central. do equador e de 160° W para a costa Anomalias de temperatura também são sul-americana) para definir um evento registradas durante a fase quente do Enos de El Niño e exigiram que a anomalia de nos meses de junho a agosto, e anoma- TSM fosse positiva por pelo menos três lias positivas de temperatura podem ser estações e estivesse pelo menos 0,5° C observadas nos extremos norte e oeste da acima da média, enquanto o IOS tinha América do Sul e nas regiões Sudeste e que permanecer negativo e abaixo de -1,0 Sul e em partes das regiões Centro-Oeste para a mesma duração. Eles forneceram e Nordeste do Brasil. Entre dezembro e fe- uma lista de eventos quentes e frios de vereiro, anomalias positivas de temperatu- 1877 a 1982. ra são identificadas no Pacífico Equatorial, sudeste da Austrália, centro-leste da Ásia, EFEITOS GLOBAIS DO noroeste e nordeste da América do Norte FENÔMENO EL NIÑO e na Região Sudeste do Brasil; por outro OSCILAÇÃO SUL lado, anomalias negativas de temperatura podem ser verificadas na região sul dos A componente oceânica do fenômeno Estados Unidos. (aquecimento das águas do Pacífico Equa- Quando a fase fria do Enos está de torial), aliada à componente atmosférica dezembro a fevereiro, anomalias positi- (variações de pressão entre estações nos vas de precipitação ocorrem no Pacífico oceanos Pacífico e Índico), gera efeitos Tropical Oeste (região da Indonésia e do que podem ser observados em diversas norte da Austrália), em parte do Pacífi- regiões do planeta. co Tropical Central, no norte e leste da Quando a fase quente do Enos está Amazônia, no norte da região nordeste e ativa durante os meses de dezembro a sudeste da África; anomalias negativas de fevereiro, anomalias positivas de precipi- precipitação são verificadas no Pacífico tação ocorrem no centro-leste da África, Central e Oriental e no sul dos Estados no Uruguai, na Região Sul do Brasil, no Unidos. Nos meses de junho a agosto, há sul do Paraguai e no nordeste da Argen- anomalias positivas de precipitação na tina; anomalias negativas de precipitação Índia, na Indonésia, no sul da Austrália, na são verificadas em grandes áreas do América Central e no norte da América do Pacífico Equatorial Central e em parte Sul; anomalias negativas de precipitação do Ocidental, em ambos os hemisférios, podem ser observadas no centro-oeste e no norte da Austrália, na Indonésia, no em partes do norte/noroeste da África, no norte da Região Nordeste do Brasil e no Pacífico Equatorial Central, sul do Brasil, norte e no leste da Amazônia. Nos meses nordeste da Argentina e sul do Paraguai. de junho a agosto, anomalias positivas de Anomalias de temperatura também são precipitação podem ser observadas no observadas durante a fase fria do Enos, de

RMB1oT/2019 195 O FENÔMENO EL NIÑO OSCILAÇÃO SUL junho a agosto, sendo as anomalias positi- um padrão característico a ser destacado; vas no norte e nordeste da Austrália e em na Região Sudeste, foram observadas latitudes subtropicais do Pacífico Central. anomalias negativas de temperatura; e Quando ocorrem de dezembro a fevereiro, na Região Sul houve anomalias negativas anomalias positivas de temperatura são de precipitação. identificadas no sul dos Estados Unidos; por outro lado, anomalias negativas de CONCLUSÃO temperatura podem ser verificadas no cen- tro-oeste e sudeste da África, centro-leste O fenômeno Enos é responsável por da Ásia, noroeste da América do Norte, uma redistribuição global em larga escala sudeste do Brasil e Pacífico Equatorial de calor no sistema oceano-atmosfera. Central e Oriental. Seus valores anômalos causam desvios As fases do Enos atuam de forma dis- nas médias de temperatura e precipitação tinta nas regiões brasileiras. Durante o El da climatologia mensal, sazonal e anual Niño, na Região Norte há a ocorrência em diversas partes do mundo. de anomalias negativas de precipitação, As características desse fenômeno aumentando a incidência de incêndios influenciam a fauna e a flora e, consequen- florestais; na Região Nordeste, também temente, a população humana. As varia- ocorrem anomalias ções nos padrões de negativas de preci- temperatura e pre- pitação; na Região As anomalias climáticas cipitação provocam Sudeste, registra- consequências em ram-se anomalias do Enos provocam atividades humanas positivas de tem- alterações como inundações como agricultura, peratura; na Região pesca e geração de Centro-Oeste, não ou secas prolongadas, energia elétrica, en- houve um padrão influenciando de forma tre outras. Cabe res- característico a ser negativa a economia e a saltar a importância destacado, somente do estudo conjunto anomalias de tem- saúde da população das entre diversas áreas peratura e precipi- áreas afetadas de conhecimento tação em diferentes com o intuito de re- regiões; e na Região lacionar os efeitos Sul foram documentadas anomalias do El Niño e da La Niña nessas áreas, positivas de precipitação e aumento da minimizando suas consequências. temperatura média. A interação oceano-atmosfera é um Durante a La Niña, na Região Norte fator fundamental para compreendermos ocorre o aumento da vazão de alguns rios, o funcionamento das fases do Enos e além de uma tendência de precipitação suas consequências globais, contudo o elevada no norte e leste da Amazônia; na mecanismo que desencadeia o fenômeno Região Nordeste, ocorre precipitação aci- ainda não é conhecido. ma da média na região semiárida, porém O Enos é um modo global de variabi- é necessário levar em consideração as lidade de tempo e clima, e seus efeitos condições da TSM no Atlântico Tropical vêm acompanhados de eventos extremos Sul; na Região Centro-Oeste, não houve de secas e inundações em diversas par-

196 RMB1oT/2019 O FENÔMENO EL NIÑO OSCILAÇÃO SUL tes do globo. As mudanças climáticas com as crescentes melhorias na qualidade associadas ao Enos são provocadas por das previsões meteorológicas. alterações nas forçantes locais e afetam Outros fenômenos devem ser analisa- a dinâmica e a termodinâmica da atmos- dos em conjunto com o Enos, como, por fera terrestre. exemplo, a Oscilação de Madden Julian, As anomalias climáticas do Enos com o propósito de aprimorar a previsão provocam alterações como inundações a longo prazo. Estudos mostram que as ou secas prolongadas, influenciando de anomalias de precipitação e temperatura forma negativa a economia e a saúde da durante eventos Enos podem ser fortale- população das áreas afetadas. Os me- cidas ou enfraquecidas quando ocorrem teorologistas não conseguem modificar simultaneamente com a Oscilação de a ocorrência desses eventos anômalos, Madden Julian, sobretudo durante o verão entretanto podem minimizar seus efeitos austral (SHIMIZU; AMBRIZZI, 2016).

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Meteorologia; Previsão;

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198 RMB1oT/2019 A IMPORTÂNCIA DA INSPEÇÃO NAVAL PARA A PREVENÇÃO DE ACIDENTES NO MAR

BRUNA BARRETO* 2o Oficial de Náutica

SUMÁRIO

Introdução Convenções, resoluções e leis aplicáveis na Inspeção Naval Lei de Segurança do Tráfego Aquaviário e Lei do Óleo Fiscalização do Tráfego Aquaviário pelo Departamento de Segurança do Tráfego Aquaviário das CP/DL/AG e pelos Grupos de Vistorias e Inspeções das CP/DL Fiscalização nas embarcações e nos estabelecimentos de treinamento de esporte e recreio Áreas com maior incidência de acidentes e embarcações irregulares Conclusão

INTRODUÇÃO normas e dos regulamentos dela decorren- tes, e dos atos e resoluções internacionais primeiro passo para compreender a ratificados pelo Brasil, no que se refere O Inspeção Naval é por meio de sua exclusivamente à salvaguarda da vida definição encontrada na Lei no 9.537/97, humana e à segurança da navegação, no Lei de Segurança do Tráfego Aquaviário mar aberto e em hidrovias interiores, e à (Lesta), em que se diz: é a atividade de prevenção da poluição ambiental por parte cunho administrativo que consiste na fis- de embarcações, plataformas fixas ou suas calização do cumprimento desta Lei, das instalações de apoio (BRASIL,1997).

* Bacharel em Ciências Náuticas pela Escola de Formação de Oficiais da Marinha Mercante (Centro de Instrução Almirante Graça Aranha). Pós-graduanda em Shipping e Modernização, Infraestrutura e Gestão Portuária. A IMPORTÂNCIA DA INSPEÇÃO NAVAL PARA A PREVENÇÃO DE ACIDENTES NO MAR

Em outras palavras, pode-se dizer como em embarcações de esporte e recreio que a inspeção naval é uma atividade de nas áreas adjacentes a praias, rios, lagos, caráter fiscalizatório para a manutenção enseadas etc. do cumprimento dos diversos requisitos Outra questão que precisa ser abordada estabelecidos pela legislação nacional e é que Inspeção Naval diferencia-se de internacional, que determinam as condi- Vistoria Naval. Esta última é uma perícia ções de segurança operacional das embar- técnica de verificação programada, pelo cações. É uma ação realizada de maneira agente da Autoridade Marítima, com o inopinada e sem aviso prévio. armador ou representante da embarcação A Autoridade Marítima Brasileira é a fim de constatar que a embarcação esteja exercida pelo Comando da Marinha, ou cumprindo normas nacionais e interna- seja, pela Marinha do Brasil (MB). Cabe a cionais, convenções e códigos ratificados esta promover a implementação e a execu- pelo País. Em caso afirmativo, são emiti- ção de leis e normas de diferentes assuntos dos os certificados ou atestados correspon- relacionados, o que resultou nas Normas dentes. Já a Inspeção Naval possui caráter da Autoridade Marítima (Normam). fiscalizatório e inopinado, isto é, um A Marinha é dividida em diversas inspetor visitará o navio inadvertidamente Organizações Militares, entre as quais para fiscalizar o cumprimento das normas, a Diretoria de Portos e Costas (DPC), anotando todas as não-conformidades e responsável pela elaboração e atuali- emitindo um relatório de inspeção que zação das Normam e representante da lista todas as deficiências, garantindo pra- Autoridade Marítima em diversas situ- zos para que as pendências sejam sanadas ações relativas à Segurança do Tráfego pelo armador. Aquaviário e para ao meio ambiente. A O exercício da força naval de fiscaliza- Marinha conta também com capitanias, ção nas embarcações em todo o território delegacias e agências (CP/DL/AG), as nacional tem se mostrado significativo quais atuam nas atividades de Inspeção para a redução de acidentes. No entanto, Naval. Essa fiscalização é realizada a ainda é necessário melhorar o nível de partir de inspetores navais que formam segurança da navegação em algumas das o Grupo de Vistorias e Inspeções (GVI) principais bacias hidrográficas, onde é e os departamentos da Segurança do Trá- constatada uma grande porcentagem de fego Aquaviário. Faz parte da estrutura embarcações irregulares e acidentes. organizacional da DPC a Gerência de Vistorias, Inspeções e Perícias Técnicas CONVENÇÕES, RESOLUÇÕES (GVI), composta por inspetores e visto- E LEIS APLICÁVEIS NA riadores navais de nível superior. Essa INSPEÇÃO NAVAL estrutura atua diretamente com as capita- nias e delegacias, realizando a supervisão Após o acidente com o navio Titanic, funcional sobre as atividades dos GVI. em 1912, foram levantadas muitas ques- A Inspeção Naval é feita em embarca- tões sobre a segurança da navegação. ções, plataformas e obras irregulares sobre Logo após, em 1914, foi realizada a as margens das águas e contra a entrada primeira convenção internacional para ilegal de embarcações estrangeiras nas discutir sobre a salvaguarda da vida hu- Águas Jurisdicionais Brasileiras (AJB), na mana no mar, que resultou na formação da forma de Patrulha Naval (Patnav), assim Convenção Solas (Safety of Life at Sea).

200 RMB1oT/2019 A IMPORTÂNCIA DA INSPEÇÃO NAVAL PARA A PREVENÇÃO DE ACIDENTES NO MAR

Em 1945, ao término da Segunda Guerra leis marítimas nacionais, as Normam. Para Mundial, o clima de cooperação global le- garantir o cumprimento do seu propósito vou à criação da Organização das Nações como agência, a IMO é responsável pela Unidas (ONU); posteriormente, em 1948, publicação e atualização de Convenções e foi instituída, na Conferência de Genebra, Códigos, apresentando padrões e normas a Organização Marítima Internacional a serem cumpridos, bem como melhorias (IMO, sigla em inglês), agência especia- no modo de operar os diversos tipos de lizada das Nações Unidas para proteção e embarcações e unidades à medida que segurança da navegação e prevenção da novos problemas se apresentam. De forma poluição marinha por navios. No mesmo complementar, as convenções e os códi- ano da criação da IMO, foi divulgada a gos apresentam numerosas resoluções dos primeira publicação da Convenção Solas mais variados escopos. (terceira revisão da versão anterior, de Dentre as diversas publicações da 1914), revista mais duas vezes até sua IMO, destacam-se as convenções e resolu- versão atual, datada de 1974. Em 1958, a ções internacionais de maior importância Convenção da IMO entrou em vigor, e a aplicáveis na execução de Inspeção Naval: nova Organização reuniu-se pela primeira – Convenção Internacional sobre Li- vez no ano seguinte. nhas de Carga, 1966 (LL 66); A IMO é composta hoje por mais de – Convenção Internacional sobre Me- 170 Estados membros, que assinam seus dida de Arqueação de Embarcações, 1969 termos e ratifi cam suas publicações. O (Tonnage 69); Brasil tornou-se Estado membro da IMO – Regulamento Internacional para em 1963, internalizando normas, padrões Evitar Abalroamentos no Mar (Colreg), e recomendações internacionais em suas 1972 (RIPEAM-72);

Figura 1 – Organograma de agentes regulamentários

RMB1oT/2019 201 A IMPORTÂNCIA DA INSPEÇÃO NAVAL PARA A PREVENÇÃO DE ACIDENTES NO MAR

– Convenção Internacional sobre Res- tatada uma infração em desacordo com a ponsabilidade Civil em Danos Causados Lesta, a embarcação será notificada, e não por Poluição por Óleo, 1969 (CLC-69); autuada, recebendo uma notificação de – Convenção Internacional para Pre- comparecimento à Capitania, Delegacia venção da Poluição por Navios, 1973, ou Agência de jurisdição para prestar os como emendada pelo seu Protocolo de devidos esclarecimentos e obter orienta- 1978 (MARPOL 73/78); ção nos casos de infringência à legislação – Convenção Internacional para Sal- vigente afeta à segurança da navegação, vaguarda da Vida Humana no Mar, 1974, salvaguarda da vida humana no mar aberto como emendada pelo seu Protocolo de e em hidrovias interiores, antes de lavra- 1978 (Solas 74/78); tura do auto de infração. – Convenção Internacional sobre Além da Lesta e do RLesta, outra lei de Normas de Treinamento de Marítimos, grande importância aplicada na realização Expedição de Certificados e Serviço de de Inspeção Naval é a que se refere a pre- Quarto, 1978 (STCW-78); venção, controle e fiscalização da poluição – Resolução A.1052 (27) da Organi- causada pelo lançamento de óleo e outras zação Marítima Internacional “Procedi- substâncias nocivas ou perigosas em águas mentos para Port State Control”, de 20 de sob jurisdição nacional e dá outras provi- dezembro de 2011; dências, a Lei no 9.966/00 (Lei do Óleo), e – Acordo Latino-Americano sobre seu respectivo Decreto no 4.136/02. Controle de Navios pelo Estado do Porto A Lei do Óleo representou um enorme (Acordo de Viña del Mar), de 5 de no- avanço no que se concerne à preocupação vembro de 1992; e com a degradação do meio ambiente – Regras para Vistorias e Inspeções e marinho. Ao longo dos anos, o aumento Certificados de Segurança para Embarca- do fluxo do tráfego de embarcações que ções da Hidrovia Paraguai-Paraná. cruzam diariamente as águas jurisdicio- nais brasileiras, assim como as instala- LEI DE SEGURANÇA DO ções/estruturas marítimas de perfuração TRÁFEGO AQUAVIÁRIO E e exploração e de operação de petróleo LEI DO ÓLEO nas diversas bacias petrolíferas, repre- senta um sério risco ao meio ambiente Na execução da perícia de fiscalização, hídrico, pela grande possibilidade de um leva-se em conta o atendimento da Lei de incidente causado por poluição de óleo Segurança do Tráfego Aquaviário (Lesta) em grandes proporções. e do seu respectivo decreto, o Regulamen- Vale frisar que qualquer incidente que to da Lei de Segurança do Tráfego Aqua- possa provocar poluição das águas sob ju- viário (RLesta), em que se encontram as risdição nacional, ocorrido nas instalações atribuições da Autoridade Marítima e os portuárias ou em navios, deve ser comuni- mais variados tipos de infrações, com cado o mais rápido possível por entidades suas penalidades correspondentes. De exploradoras dos portos organizados, ins- acordo com o RLesta, a infração poderá talações portuárias, terminais, operadores ser constatada no momento em que for de plataformas com suas instalações de praticada, mediante apuração posterior ou apoio, navios ou responsáveis por dutos por inquérito administrativo. Importante não associados à plataforma. A comunica- ressaltar que, todas as vezes que for cons- ção deve ser feita à Capitania dos Portos

202 RMB1oT/2019 A IMPORTÂNCIA DA INSPEÇÃO NAVAL PARA A PREVENÇÃO DE ACIDENTES NO MAR ou à Capitania Fluvial de jurisdição do cesso seletivo ou no curso para formação incidente, ao órgão ambiental competente de inspetores navais; e os oficiais prestando e ao órgão regulador da indústria de pe- serviço militar voluntário como oficial da tróleo, independente das medidas tomadas 2a Classe da Reserva da Marinha (RM2). para o seu controle. De acordo com o Os do Nível 2 são oficiais e praças da MB, Decreto 4.136/02, o responsável que não da ativa ou da reserva remunerada, lotados fizer a comunicação estará sujeito a mul- nas CP/DL/AG, que cumpriram os estágios tas, aplicadas pelo órgão competente não preparatórios para oficiais e praças e que irão informado. No caso de impossibilidade de servir em CP/DL/AG. Por fim, os do Nível se efetuar a comunicação do incidente, a 3 que são os oficiais e praças componentes data e a hora da tentativa da comunicação das tripulações dos navios da MB. Os inspe- deverão ser lavradas em livro de registro tores de Nível 1 poderão realizar inspeções e próprio. A forma da comunicação do inci- perícias em embarcações de diversos portes; dente encontra-se no Anexo II do Decreto. os de níveis 2 e 3 poderão lavrar notificações e elaborar relatos de ocorrência, a serem transformados em autos de infração nas capitanias, delegacias ou agências. A fiscalização efetuada pelo Departamen- to de Segurança do Tráfego Aquaviário das capitanias, delegacias e agências normal- mente é efetuada por inspetores navais de Nível 2 em embarcações de bandeira brasi- leira e bandeiras estrangeiras com Atestado de Inscrição Temporária (AIT), documento este que toda embarcação de bandeira Figura 2 – Poluição por óleo estrangeira precisa portar para que possa Fonte: https://escolakids.uol.com.br/poluicao-da- operar em águas jurisdicionais brasileiras. agua-causada-pelo-derramamento-de-petroleo.htm Essa fiscalização tem como escopo principal a verificação de documentos relativos aos FISCALIZAÇÃO DO tripulantes, como a Carteira de Habilitação TRÁFEGO AQUAVIÁRIO de Amador (CHA) ou, em caráter comercial, PELO DEPARTAMENTO DE a Carteira de Inscrição e Registro (CIR), o SEGURANÇA DO TRÁFEGO Cartão de Tripulação de Segurança (CTS), AQUAVIÁRIO DAS CP/DL/AG E e de documentos relativos à embarcação e PELOS GRUPOS DE VISTORIA das reais condições do material e dos equi- E INSPEÇÕES DAS CP/DL pamentos, em conformidade com as normas. A fiscalização por parte do Grupo de Antes de proceder à apresentação destes Vistorias e Inspeções das capitanias e dele- tipos de fiscalização, é importante saber- gacias se dividem em dois tipos: Inspeção mos que existem três níveis de inspetores de Controle pelo Estado de Bandeira (Flag navais. Os inspetores Nível 1 são oficiais State Control) e Inspeção de Controle pelo da reserva remunerada ou reformados da Estado do Porto ( Port State Control). Marinha contratados, aprovados no curso A Inspeção de Controle pelo Estado de de formação de inspetores navais; oficiais Bandeira é realizada a bordo por inspetores da Marinha Mercante aprovados no pro- navais de Nível 1 em embarcações de ban-

RMB1oT/2019 203 A IMPORTÂNCIA DA INSPEÇÃO NAVAL PARA A PREVENÇÃO DE ACIDENTES NO MAR deira brasileira e de bandeira estrangeira cumprem as convenções e resoluções e os com atestado de inscrição temporária. É uma atos ratificados pelo Brasil ou se houver atividade administrativa relativa ao controle ausência de certificados ou documentos, a do estado de bandeira, com a fiscalização dos inspeção deverá ser mais detalhada. É im- requisitos legais de segurança, contidos nos portante destacar que navios que arvorem diversos instrumentos obrigatórios da IMO, bandeira de um Estado que não seja parte em acordos internacionais ratificados pelo de uma das convenções internacionais, Brasil e na legislação nacional. com suas respectivas emendas aplicáveis A Inspeção de Controle pelo Estado a inspeções, consequentemente, não pos- do Porto também será efetuada por ins- suirão certificados que permitam constar petores navais Nível 1 em embarcações a sua condição satisfatória e deverão ser de bandeira estrangeira que adentrem objeto de uma inspeção minuciosa. nos portos brasileiros. Da mesma forma, O estado do navio e de seus equi- é uma atividade que visa à fiscalização pamentos, a certificação, o número e a dos requisitos legais de segurança, em composição de sua tripulação deverão conformidade com as convenções inter- ser compatíveis com as convenções in- nacionais ratificadas pelo Brasil e resolu- ternacionais e suas respectivas emendas ções pertinentes emitidas pela IMO, bem em vigor conveniente. Caso contrário, como as orientações adotadas pelo Acordo deverão ser prescritas para o navio todas Latino-Americano sobre Controle de as medidas que lhe permitam atingir um Navios pelo Estado do Porto (Acordo de nível de segurança equivalente. Viña del Mar), do qual o Brasil faz parte. Antes de embarcar, o inspetor naval deve A entrada do inspetor a bordo é sempre verificar em que condições se encontram as precedida da autorização emitida pela marcas de borda-livre e calado e guardar as autoridade da saúde do porto (Agência iniciais da Sociedade Classificadora mar- Nacional de Vigilância Sanitária – An- cadas no disco de Plimsoll, para posterior visa), Polícia Federal e Receita Federal. comparação destas com as do Certificado O inspetor precisa levar em conta que o Internacional de Linhas de Carga. período de permanência a bordo deverá ser o mais curto possível e adequado ao tipo e grau de inspeção em causa. A inspeção inicia-se pela verificação dos certificados e da documentação adequada ao navio e à tripulação. Logo após essa etapa, o inspetor procede à verificação do estado geral de conservação, manu- tenção e funcionamento da embarcação e dos seus equipamentos e à verificação da capacidade da tripulação para a execução dos procedimentos operacionais que se enquadram nas suas funções a bordo, de acordo com o CTS. Se durante a inspeção forem encon- Figura 3 – Disco de Plimsoll e marcas de calado trados indícios de que a embarcação, Fonte:http://salvador-nautico.blogspot.com/2009 seus equipamentos ou sua tripulação não /12/plimsoll.html

204 RMB1oT/2019 A IMPORTÂNCIA DA INSPEÇÃO NAVAL PARA A PREVENÇÃO DE ACIDENTES NO MAR

FISCALIZAÇÃO NAS a Autoridade Marítima poderá estabelecer EMBARCAÇÕES E NOS um convênio com a prefeitura para delegar ESTABELECIMENTOS DE a execução de fiscalização por parte do TREINAMENTO DE ESPORTE município, de acordo com o disposto no E RECREIO Art. 6o da Lei no 9.537, de 11 de dezembro de 1997, a Lesta (BRASIL,1997). Qualquer embarcação está sujeita a Com o propósito de evitar acidentes, Inspeção Naval, para assegurar o cum- harmonizando a convivência entre ba- primento do compromisso assumido pelo nhistas e praticantes de esportes aquáticos proprietário da embarcação por meio do (surf e windsurf) e náuticos (vela e remo), Termo de Responsabilidade assinado no o município e o agente da autoridade ma- momento da inscrição e para constatar que rítima poderão estabelecer entendimentos as suas condições de segurança estejam de no convênio de modo a disciplinar o uso acordo com as normas. de espaços marítimos, fluviais e lacustres Os estabelecimentos de treinamento específicos. Além disso, as CP/DL/AG náutico ou pessoas físicas cadastrados criam conselhos de assessoramento cons- para treinamento poderão ser fiscali- tituídos por representantes de autoridades zados a qualquer momento por ações estaduais e municipais, marinas, clubes, desempenhadas por equipes de Inspeção entidades desportivas e associações náu- Naval das CP/DL/AG responsáveis pelo ticas e outros segmentos da comunidade, cadastramento, com o principal propósito que se reunirão semestralmente, ou a de verificar, sempre que possível, a pres- critério dos capitães dos portos, delega- tação do serviço, em prol da melhoria na dos ou agentes, para estabelecer ações a qualidade do treinamento executado. serem implementadas com o propósito No interesse da garantia da integridade de desenvolver elevados padrões de com- física de banhistas nas áreas das praias, portamento nos navegantes, contribuindo, quer sejam marítimas, fluviais ou lacustres, assim, para a prevenção de acidentes.

Figura 4 – Ações para prevenção de acidentes

RMB1oT/2019 205 A IMPORTÂNCIA DA INSPEÇÃO NAVAL PARA A PREVENÇÃO DE ACIDENTES NO MAR

Alguns dos tópicos abordados nesse tico) em férias e feriados prolongados. conselho de grande importância são: a rea- De acordo com a Diretoria de Portos e lização de campanhas educativas, dirigidas Costas, a maior causa de acidentes em aos praticantes de esportes e entretenimen- embarcações de esporte e recreio é a falha to aquático, ressaltando a obrigatoriedade humana, o que, por vezes pode resultar de seus condutores quanto à habilitação e em consequências irreversíveis. dando instruções para obtenção do docu- A campanha informa sobre a impor- mento; as áreas seletivas autorizadas; e as tância de se adotar atitudes conscientes ações para conscientizar os usuários quanto para prevenir acidentes e garantir a ao uso do material de salvatagem a bordo. integridade física dos tripulantes, dos A Marinha também realiza a Operação passageiros e dos banhistas, promoven- Verão, realizada todos os anos por meio do a divulgação das principais regras de dos distritos navais e das capitanias dos navegação e mostrando as áreas seletivas portos, delegacias e agências. A Operação para navegar, a obrigatoriedade da certifi- acontece de dezembro a fevereiro nas áre- cação do condutor e a importância do seu as de maior concentração de embarcações. cumprimento. Segundo a Superintendên- Particularmente, no Distrito Federal, em cia de Segurança do Tráfego Aquaviário Goiás, no Tocantins, no Amazonas, em da DPC, as lanchas e motos aquáticas Roraima, em Rondônia, no Acre e no somam o maior número de acidentes. Nos Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, a últimos três verões, elas representaram Campanha é realizada a partir do meio mais de 74% dos casos registrados com do ano, tendo em vista a sazonalidade do embarcações de esporte e recreio. tráfego de embarcações e as atividades turísticas nessas regiões. ÁREAS COM MAIOR A Operação Verão é uma campanha INCIDÊNCIA DE ACIDENTES E que visa intensificar ações de fiscalização EMBARCAÇÕES IRREGULARES por parte das equipes de Inspeção Naval e de conscientização nas áreas que mais Cerca de 40 mil embarcações irregula- concentram embarcações (sobretudo as res navegam nos rios do Pará, segundo a de esporte e recreio e de turismo náu- Capitania dos Portos da Amazônia Oriental

Figura 5 – Banner ilustrativo para Segurança no Mar Fonte: https://www.dpc.mar.mil.br/pt-br/comunicacao-social/op_verao17_18

206 RMB1oT/2019 A IMPORTÂNCIA DA INSPEÇÃO NAVAL PARA A PREVENÇÃO DE ACIDENTES NO MAR

(CPAOR). Isto é quase o dobro da frota como por exemplo, o apito. Depoimentos regular do estado. Com uma fiscalização citados dão conta de práticas irregulares, insuficiente, várias embarcações clan- como, por exemplo, a remoção de amarra destinas ainda persistem em transportar de boia salva-vidas para usar com exten- passageiros de forma ilegal. Passageiros são para amarrar redes. Outro aspecto que utilizam frequentemente embarcações que prejudica o salvamento em caso de nessas áreas relatam péssimas condições acidente é a falta de preparo da tripulação na estrutura dos barcos e nos equipamen- para dar esclarecimento de procedimentos tos de salvatagem oferecidos, como, por simples de salvatagem, como, por exem- exemplo, os coletes salva-vidas. plo, o modo de vestir o colete salva-vidas. Para o transporte de passageiros na Em 2018, 28 inquéritos foram abertos região, são utilizadas embarcações de pela CPAOR para apurar acidentes envol- médio ou grande porte, conhecidas como vendo embarcações no Pará. Doze pessoas “gaiolas”. Estas embarcações têm até dois já morreram este ano nos rios do estado. conveses, visando ao aumento da capaci- O acidente mais recente ocorreu no Rio dade de carga, o que, consequentemente, Guajará-Mirim, em Colares, nordeste do diminui a estabilidade. A grande maioria Pará, onde uma embarcação que transpor- é de embarcações mistas de passageiros tava 15 passageiros naufragou, resultando e carga, as quais foram construídas em na morte de um jovem. O condutor não estaleiros da região. era habilitado, e a embarcação não tinha O fato de serem construídas de ma- autorização para navegar e ainda o fazia deira revela a situação econômica da em área proibida. população no Estado, pois o custo mais A Capitania dos Portos enfrenta uma baixo de fabricação dos barcos assegura grande dificuldade na fiscalização de em- um custo menor no preço das tarifas de barcações irregulares devido ao número de passagem para uma população de baixa municípios da Amazônia Oriental (101), à renda. Os passageiros são geralmente carência de meios e à enorme quantidade acomodados em suas próprias redes, de embarcações, e isso só piora a situação. além de estarem sujeitos a problemas de Em 2017 foi criado o Fórum Permanente conforto e higiene. Em geral, as embar- de Segurança do Tráfego Aquaviário da cações têm capacidade prevista em torno Amazônia Oriental, com o propósito ini- de 100 a 180 passageiros. Os acidentes cial de reduzir a ocorrência e a intensidade são frequentes e com grande número de de acidentes de navegação em áreas que vítimas fatais, devido ao grande número englobam as águas interiores do arquipéla- de passageiros envolvidos. go do Marajó e da região lindeira dos rios Schachter e Pires (2008) citam que um Pará e Guamá. Neste fórum conta-se não problema importante a ser solucionado só com a atuação da Marinha, mas tam- sobre a segurança durante a navegação bém da Secretaria de Segurança Pública refere-se ao comportamento inadequado do Pará, do Ministério Público (federal e dos passageiros com relação aos coletes estadual), da Agência Nacional de Trans- salva-vidas, que, por regra, precisam estar portes Aquaviários (Antaq), da Agência de disponíveis e facilmente alcançáveis, po- Regulação e Controle de Serviços Públicos rém muitos passageiros os utilizam como do Estado do Pará (Arcon) e do Corpo de travesseiros, removendo-os do local, Bombeiros. Cada órgão tem suas respec- extraviando-os ou retirando partes destes, tivas atribuições para identificar, mapear

RMB1oT/2019 207 A IMPORTÂNCIA DA INSPEÇÃO NAVAL PARA A PREVENÇÃO DE ACIDENTES NO MAR e monitorar riscos, ameaças e vulnera- dentes, fornecendo dados para auxiliar bilidades locais, incluindo a capacitação no trabalho da Capitania dos Portos e da sociedade em ações e atividades de denunciando embarcações irregulares. Segurança do Tráfego Aquaviário. Qualquer pessoa pode denunciar, forne- Esse Fórum teve como metas iniciais: cendo dados como nome, características – conscientizar a população ribeirinha, e número de inscrição da embarcação, entre outros aspectos, sobre o uso de coletes bem como, se possível, enviando fotos ou salva-vidas e sobre a cobertura de eixos; vídeos que possibilitem melhor apuração – inclusão do tema no currículo escolar dos fatos. do Ensino Fundamental; – formar uma rede de representantes CONCLUSÃO das comunidades locais; – interoperabilidade com as prefeituras; A conscientização e a responsabilida- – disseminar as responsabilidades de de de cada indivíduo, tanto daquele que cada órgão; conduz quanto do que é transportado pela – identificar e regulamentar o apoio de embarcação, são tão importantes quanto um órgão aos outros; a fiscalização a bordo para a prevenção – implementar a exigência da lista de de acidentes no mar. Cada embarcação passageiros; e tem o dever de apresentar condições – regularizar os portos e terminais de satisfatórias de operação e manutenção, passageiros. extensivas à carga, aos tripulantes e às Outro trabalho desenvolvido para demais pessoas a bordo. Seu respectivo ações de prevenção de acidentes foi a comandante (que pode ser chamado de Operação Paratins, realizada pelo grupo mestre, arrais ou patrão) deve cumprir e de Inspeção Naval da Capitania Fluvial fazer cumprir a bordo os procedimentos de Santarém, no oeste do Pará, com a estabelecidos para a salvaguarda da vida fiscalização de embarcações que saem humana, para a preservação do meio am- do município com destino a Parintins, no biente e para a segurança da navegação, da Estado do Amazonas, em conjunto com a própria embarcação e da carga, de acordo Capitania Fluvial da Amazônia Ocidental. com o preconizado na Lei no 9.537/97 A Operação realiza-se com cerca de 400 (BRASIL.1997). militares e navios de assistência hospitalar A atividade de Inspeção Naval, além da Marinha, com o propósito de garantir de ajudar na prevenção de acidentes, con- a segurança da navegação, a salvaguarda tribui, de forma particular, para que cada da vida humana e a prevenção da poluição cidadão tenha comprometimento com hídrica no período do Festival Folclórico os mais elevados ideais de verdade e de de Parintins, quando há grande aumento responsabilidade social, que caminham na de embarcações de passageiros e de re- direção da solidariedade, da tolerância e creio no Rio Amazonas. do respeito mútuo, fazendo com que seja Importante destacar que a população cumprido o lema “Segurança da Navega- pode colaborar com a prevenção de aci- ção, todos somos responsáveis!”.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Acidentes; Portos e Costas; Capitania dos Portos; Inspeção; Política; Segurança Internacional;

208 RMB1oT/2019 A IMPORTÂNCIA DA INSPEÇÃO NAVAL PARA A PREVENÇÃO DE ACIDENTES NO MAR

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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RMB1oT/2019 209 CAPOEIRA AO MAR! – Possíveis conexões entre a Marinha e os capoeiras em Pernambuco

VERÔNICA DE HOLANDA SANTOS* Bacharel em Letras

VICENTE DEODATO DE LUNA FILHO** Professor de Educação Física

SUMÁRIO

Um pouco da história da capoeira A capoeira de/em Pernambuco A Escola de Aprendizes-Marinheiros x a capoeira Mestre Pirajá: uma vida dedicada à Marinha e à capoeira pernambucana

UM POUCO DA HISTÓRIA DA p. 45), “entender a etimologia da palavra CAPOEIRA Capoeira pode contribuir para compreen- são das construções feitas acerca do seu aldeloir do Rego realizou o primei- significado”. Wro ensaio socioetnográfico sobre É na versão dada à origem indígena, ou a capoeira no ano de 1968, em que faz seja, na acepção dada ao signo linguístico uma análise etimológica da expressão "capuera", que temos o significado de: “capoeira” e aponta três versões: a origem "[...] mato virgem que já não é, que foi africana, a brasileira e a indígena. Desse botado abaixo e em seu lugar nasceu modo, verificamos o caráter polissêmico mato fino e rasa. Neste local os escravos do termo “capoeira”. Em BARÃO (1999, se escondiam para a emboscada”.

* Pós-graduada em Ensino de História das Artes e das Religiões pela Universidade Federal Rural de Pernam- buco. Mestranda em Ciências da Linguagem – Universidade Católica de Pernambuco. ** Licenciatura em Educação Física pela Universidade Norte do Paraná (UNOPAR). Chefe de Divisão de Esporte do Centro Comunitário da Paz Eduardo Campos em Recife (PE). CAPOEIRA AO MAR! – Possíveis conexões entre a Marinha e os capoeiras em Pernambuco

Já no significado seguinte temos a ciumento e por isso trava lutas tremendas seguinte passagem: "[...] espécie de cesto com o rival que ousa entrar em seus domí- onde se metem as galinhas. Os escravos nios. Partindo dessa premissa, os passos que traziam capoeiras de galinhas para de destreza desta luta, as negaças, foram vender no mercado, enquanto não abria, comparados com os homens que, na luta divertiam-se jogando capoeira. Por uma simulada para divertimento, lançavam metonímia, o nome da coisa passou para mão apenas da agilidade”. o nome da pessoa com ela relacionada” Há ainda a relação dos praticantes de (WALDELOIR, 1968). De acordo com a capoeira com “vadios”, e isso pode ser explicação de Waldeloir no que concerne confirmado no Código Penal de 1890, no à origem africana, temos a seguinte pas- artigo 402, que considera a atividade como sagem de BARÃO (1999, p. 48): “[...] crime – seus praticantes receberam forte Esta colocação apresenta o cenário em repressão ao serem pegos jogando capoeira que o jogo da capoeira possivelmente pelas ruas, sendo presos e enviados a Fer- se desenvolveu. O sentido da origem da nando de Noronha para cumprirem pena. capoeira enquadrando-se numa situação Somente na década de 30 é que a Capoeira de escravidão urbana e relacionada às foi descriminalizada, sendo, inclusive, valo- atividades dos escravos de ganho”. rizada pelo então Presidente da República, Ainda com relação a esta acepção Getúlio Vargas. Em 1937, Vargas, ao as- (BARÃO, 1999, apud Marcos Bretas), a sistir uma apresentação feita por alunos do autora informa que Mestre Bimba, disse Bretas realizou um a seguinte frase, até estudo sobre as pro- A capoeira é o único esporte hoje consagrada por fissões de presos que praticantes: "A ca- jogavam capoeira genuinamente nacional poeira é o único es- no final do século Getúlio Vargas porte genuinamente passado, de acordo nacional" (BARÃO, com os processos 1999, p. 60). policiais da Casa de Detenção do Rio de Inúmeras pesquisas tentam buscar a Janeiro. O estudo aponta que os índices, em origem da capoeira, posto que, por mais primeiro lugar, são dos presos identificados que se debata a respeito, não é tarefa como "trabalhadores", de forma genérica; simples ou fácil, mesmo que alguns pes- em segundo lugar estão os "vendedores de quisadores afirmem ter a capoeira surgido folhas", referindo-se àqueles que levavam no período escravocrata brasileiro. Esta é as cestas, denominadas “capoeiras”. Sendo uma via da origem, mas não a única. assim, entende-se que os personagens cha- mados de “capoeiras” eram trabalhadores, [...] Essa expressão [capoeira] ga- escravos de ganho, que no período de nha novos sentidos em Portugal, onde não-trabalho jogavam capoeira. possui o significado não só de cesto de Em outra acepção do termo, temos a se carregar galinhas, como do próprio versão de que seria uma possível “imita- galinheiro. (...) Uma aproximação entre ção da natureza”, como escreveu WAL- a capoeira onde se carregavam galinhas DELOIR (1968): “[...] uma espécie de e capoeiras de bandidos, grupo de ban- perdiz pequena, anda sempre em bandos didos, grupo de escravos fugidos, malta e no chão, o macho da capoeira é muito de capoeiras. (BARÃO, 1999, p. 49)

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Segundo BARÃO (1999, p. 11), “pes- manifestação e, consequentemente, resga- quisar a capoeira é sempre um empreendi- tar seletivamente os seus valores culturais, mento ambicioso, pois esta é uma prática não no sentido de retornar aos “velhos e polissêmica, que traz diversas possibili- bons tempos”, pois qualquer coisa neste dades de interpretações, considerada, ao sentido seria um “retorno transformado”, mesmo tempo, como luta, arte, esporte e mas no sentido de compreendê-la melhor religião, entre outras definições”. A autora e implementar novos horizontes para a desperta, ainda, para a seguinte definição mesma. Afinal, a capoeira é um palco sobre a capoeira: “A origem da capoeira de tensões em que forças reprodutoras como ‘luta de libertação’ aponta para o e transformadoras coexistem dinamica- seguinte aspecto: a força daqueles que estão mente (FALCÃO, 1996, p. 25-26 apud em situação de opressão, abaixo e à margem KOHL, 2012, p. 45). da estrutura. Podemos perceber esta carac- Devemos ressaltar que no início a ca- terística desde a origem desta prática entre poeira era uma prática que caminhava sem- africanos trazidos como escravos ao Brasil, pre de mãos dadas com uma outra. Como assim como em grande parte dos seus prati- bem nos exemplificaBARÃO (1999, p. 59): cantes contemporâneos, os ‘sobreviventes da periferia’, que vivem numa situação de “[...] a capoeira parece ser uma práti- opressão” (BARÃO, 1999, p. 31). ca realizada conjuntamente com outras, Foi com Annibal Burlamaqui, o Conde assim, onde houvesse batuque podiam Zuma, no livro intitulado Gymnastica estar os capoeiras, onde tivesse o samba, Nacional – Capoeiragem Metodotizada a folia de reis e até mesmo o frevo, em e Regrada (1928), que se deu início a um Pernambuco, é possível que os mesmos pensamento da capoeira enquanto esporte personagens estivessem presentes. Por nacional. O livro traz em seu prefácio a isso a prática da capoeira foi conside- seguinte frase: “É tempo já de nos liber- rada como generalizada nas principais tarmos dos sports extrangeiros e darmos cidades do país, como Recife, Salvador um pouco de attenção ao que é nosso, ao e Rio de Janeiro, no final do século que é de casa. E depois vale a pena isso, passado. Entretanto, devido ao menor pois a gymnastica brasileira vale por todos grau de repressão policial, o Nordeste os sports extrangeiros, supera-os até”. Ba- brasileiro ficou consagrado como terri- rão nos revela algo a mais sobre Annibal tório da velha guarda da capoeiragem, Burlamaqui: No pioneiro trabalho, Conde enquanto a capoeira do Rio de Janeiro Zuma faz um breve panorama histórico passou por um processo de esquecimen- da “evolução da capoeira, tomando sua to, reinventando-se numa tradição da origem nas lutas quilombolas e apresenta, capoeira relacionada à Bahia”. então, os golpes e propõe um método de treinamento. Alguns autores percebem A CAPOEIRA DE/EM uma nítida influência de Zuma na siste- PERNAMBUCO matização de ensino que Mestre Bimba cria”. (BARÃO, 1999, p. 59) Os capoeiristas recifenses eram chama- Revisitar o contexto histórico em que dos de brabos e valentões, como nos infor- a capoeira surgiu e se sedimentou é mais ma BELTRÃO (2011, p. 8): “a capoeira do que uma necessidade, é a possibilidade de Recife, sinônimo de autenticidade e de fazer uma leitura histórico-crítica desta destreza com brabos, valentes, capoeiras,

212 RMB1oT/2019 CAPOEIRA AO MAR! – Possíveis conexões entre a Marinha e os capoeiras em Pernambuco denominações de vocábulos diferenciados capoeira armados de facas de ponta e ca- em meio a uma discussão mais ampla da cete na Campina do Bodé, bairro de São capoeira em berços do Leão do Norte”. José (MARQUES, 2012, p. 35). Assim nos informa COSTA (2013, Segundo Beltrão (2011), na província p. 103): pernambucana, os atos da capoeiragem foram compreendidos por José César de “O crescimento da população livre Menezes, governador, como sendo uma e liberta, sobretudo na segunda metade prática de bandidos maior do que as da do século XIX, refletiu-se na expansão fome, da peste e a da guerra. Sendo assim, urbana sem ordenação social. Egressos em 1776 foi decretada a prisão dos capoei- do cativeiro, negros livres se aglome- ras pelo delegado do 1o Distrito, Casado ravam na cidade, formando, junto com Lima. As ações da capoeiragem e de lutas os brancos pobres, a massa do ‘pro- dos valentes estiveram fortemente presentes letariado de cortiço e de mocambo’, no século XIX: “Sexta-feira, 4 de novembro sem melhores oportunidades de vida. de 1881, Revista Diária – Campo Verde – Os meios de sobrevivência irregulares Desta localidade, na Boa Vista, nos pedem, se tornavam cada vez mais precários, em um bilhete postal, para reclamar da e a habitação degradava as pessoas. Os autoridade competente alguma providência mocambos eram associados a pobreza, que ponha termo a um constante exercício infelicidade, crimes e miséria. Eram de capoeiragem que ali se faz especialmente vistos, ainda, como perigo social, nos domingos e dias santificados. Fica feita pois constituíam redutos não só de a reclamação. A autoridade que cumpra o doenças, mas também de indivíduos seu dever” BELTRÃO (2011, p. 13). marginalizados pela sociedade, como Infelizmente, por vezes o termo capoei- os malandros de cais, os capoeiras, ra era dado como qualidade pejorativa aos ladrões, prostitutas e até assassinos – indivíduos qualificados como capoeiras na classificados por Gilberto Freyre como metade do século XIX. Talvez um desses ‘o terror da burguesia de sobrados’.” capoeiras que tenham sido incorporados nas Forças Armadas seja Jovino Pedro de O início da história da capoeira no Alcântara, vulgo Jovino dos Coelhos, per- Recife está, pode-se dizer, mais para san- nambucano, nascido em 1870, capoeira, grenta do que para arte ou jogo. De acordo marinheiro nacional e “conhecido desor- com MARQUES (2012), os crimes com deiro” das ruas do Recife. Estas ligações os quais a capoeira estava correlacionada também não deveriam durar muito, ou eram quase sempre lesões corporais leves ao menos duravam o tempo que esses ou graves, portes de armas, “distúrbios”, personagens achavam necessário, pois “arruaças”, “vagabundagens” e homicí- Jovino dos Coelhos seria procurado como dios. A utilização de facas pelos capoeiris- desertor. De qualquer forma, o fato de tas e outros criminosos no Recife fez com capoeiras serem integrados na Marinha ou que os jornais noticiassem verdadeiros no Exército revela que o chefe de polícia duelos à base da bicuda e do cacete. Em da Capital Federal estava sendo “traído” 1904, o Correio do Recife1, por exemplo, por parte de sua corporação (MARQUES, citava que diversos “moleques” jogavam p. 146-147, 2012). E ainda MARQUES:

1 Edição de 17 de agosto de 1904.

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[...] As teias de capoeiragem tecidas a 1888, foram recrutados à força 6.271 entre os capoeiras e as Forças Armadas homens para o Corpo de Imperiais podem ser vistas em Recife, sobretudo Marinheiros e recebidos somente quando os diversos batalhões no Recife 460 voluntários. Essa diferença com saíam ou regressavam de seus exercí- certeza asseverava o dito por vários cios, marchas e desfiles. (MARQUES, ministros da Marinha ao longo do sé- 2012, p. 47) culo XIX e início do XX, isto é, a falta de voluntários levava ao imediatismo A ESCOLA DE APRENDIZES- do recrutamento forçado. [...] Nesse MARINHEIROS x A CAPOEIRA sentido, todo homem pego pela malha como recruta, suspeito de deserção, A Marinha é a mais antiga das três vadio, arruaceiro, gatuno, capoeira Forças Armadas. É uma instituição tradi- ou órfão poderia ser enviado para a cional e, como não poderia ser diferente, Marinha ou para o Exército”. privilegia o passado de sua historicidade, bem como valoriza as experiências, os A Guerra do Paraguai foi um conflito símbolos e as práticas sociais desde sua militar que ocorreu na América do Sul, constituição, em 1615, para defender o entre os anos de 1864 a 1870. Nesta Brasil por via marítima, quando este era guerra, o Paraguai lutou contra a Tríplice colônia portuguesa. Aliança, formada por Brasil, Argentina e Esse órgão marítimo tem como prerro- Uruguai. O Brasil enviou em torno de 150 gativa fiscalizar, policiar, orientar e defen- mil homens à guerra, e cerca de 50 mil der de forma organizacional o Estado brasi- não voltaram. Muitos desses homens eram leiro de ataques por via marítima. Segundo negros – escravos e libertos e capoeiras. A LINS (2012): “E, para exercer esse papel, guerra significou para os negros escravos a acredita no investimento em recursos hu- oportunidade da liberdade; para os negros manos através do preparo e da formação de libertos, a chance de ascensão e reconhe- seu pessoal, pois, para a Marinha, o ensino cimento social. Entretanto, os capoeiras é o alicerce do profissionalismo. Esse é um nem sempre iam como voluntários; muitos processo contínuo e progressivo ao longo eram, segundo Nestor Capoeira (1999), de toda uma carreira tanto de oficiais como “recrutados nas prisões, outros foram de praças. Essa formação constante procura agarrados a força nas ruas do Rio e das desenvolver a aquisição do saber formal, outras províncias”. porém visa, ainda, cultuar as qualidades É com a criação da antiga Compa- morais, cívicas e físicas do ‘homem do nhia de Aprendizes-Marinheiros, que mar’, dando ênfase vocacional para apri- funcionava precariamente a bordo de morar os conhecimentos essencialmente navios, que se iniciou a formação de militares e navais” (LINS, 2012, p. 18). praças na época do Império, em 1840. Há muito tempo que a capoeira e/ou os LINS (2012) informa que, de lá para os capoeiras têm ligação com a Marinha do dias atuais, o ensino e o aprimoramento Brasil. Para se ter uma ideia, e de acordo são uma realidade das quatro Escolas de com NASCIMENTO (1997, cap. 2): Aprendizes-Marinheiros que funcionam estrategicamente pelo território nacional. “[...] no Relatório do Ministro da Muitos jovens são beneficiados a cada ano Marinha de 1888, nota-se que, de 1840 quando selecionados para fazerem parte

214 RMB1oT/2019 CAPOEIRA AO MAR! – Possíveis conexões entre a Marinha e os capoeiras em Pernambuco do curso de formação de marinheiros. O regenerador e gerador de tempo útil curso tem duração de 11 meses e nele para os “menores” produziram os são ministradas várias disciplinas com sentidos das propostas formativas base humanística, filosófica e científica e direcionadas aos filhos da população as específicas da profissão marítima, que pobre. Uma instituição como a Marinha são as do ensino militar naval, em que se poderia torná-los ‘cidadãos úteis à propaga a doutrina naval. Pátria’ através das Companhias e De acordo com LINS (2012, p. 17), as Escolas de Aprendizes-Marinheiros. Escolas de Aprendizes-Marinheiros eram, Porém, durante todo esse período, havia para muitos meninos, o pão do corpo e do um problema específico da instituição espírito, além de abrigo. Cabe ressaltar que a ser enfrentado: preencher o efetivo essa ação da Marinha não era de cunho dos Corpos de Imperiais Marinheiros caritativa, mas de teor puramente político e depois, na República, o Corpo de do Estado, que efetuava o recrutamento Marinheiros Nacionais, quantitativo forçado dos pequenos e jovens aprendi- quase sempre abaixo do estabelecido zes, haja vista serem vistos, em alguns pelas leis anuais de fixação dos efetivos. momentos, como “sementes do futuro” e, (LINS, 2012, p. 18). em outros, como “problema social”. Para VIANNA, 1999, apud LINS, Uma população era educada para “as 2012, o “problema da menoridade” vem grandes coisas”, e a outra “embrutecida para desde o final do século XIX e segue nas o cativeiro”. Na Marinha, a realidade não primeiras décadas do século XX. Naquela foi diferente: uns meninos eram educados época, essas crianças “menores” faziam para o oficialato e os mais pobres educados parte de uma massa diversificada de crian- para a marinhagem (LINS, 2012, p.113). ças pobres em situação de anormalidade, A história da Marinha está inserida em detrimento do modelo de infância no contexto político, cultural e social do adotado para a época. E, então, seria Brasil. Sendo assim, história não difere tirando esses menores das ruas e dando muito da história do Brasil, em que alguns trabalho, ocupação e disciplina que eles nasceram para a “casa grande” e outros teriam uma vida digna. para a “senzala”. Isto é fato indiscutível O signo linguístico “aprendiz” nos re- em nossa história desde a chegada dos mete ao lugar de principiante, e a palavra europeus em território nacional. Assegura aluno tem significado de “discípulo”, ou LINS (2012, p. 14) que: seja, aquele que segue com capacidade e destreza o aprendizado. “O Brasil, desde quando era colônia, tinha os chamados ‘escravos da Nação’, e “A dualidade do sistema estava na Marinha eles serviam principalmente demarcada nas nomenclaturas que lhes nos Arsenais. Eram homens e mulheres eram atribuídas nas escolas, no que era ‘doados’ ou comprados pelo Estado, ensinado, nas formas de trabalho, nos que, muitas vezes, levavam junto os dispositivos de disciplinamento, nos seus filhos, ainda muito pequenos. mecanismos de punição e na projeção Alguns escravos eram trazidos pelos do que se queria de cada um no futuro. seus senhores para o aprendizado de [...] O contexto de criminalização da ofícios, ou para serem punidos por pobreza e o ideário do trabalho como faltas cometidas com trabalho para

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serem aprisionados nas presingangas2 MESTRE PIRAJÁ: UMA VIDA ou serem deixados, quando inválidos, DEDICADA À MARINHA E À para o sustendo do Estado.” CAPOEIRA PERNAMBUCANA

Sendo assim, a história naval não difere A história da capoeira e da Marinha em muito da história da capoeira no Brasil, Pernambuco é feita de momentos ímpares onde houve muita resistência por parte dos e de homens que fizeram ponte entre a menos favorecidos da sociedade. capoeira e a Marinha. Um deles é Ferreira A Escola de Aprendizes-Marinheiros Silva Marcondes Luiz, marujo responsá- de Pernambuco teve início em 27 de agos- vel pela propagação da capoeira em solo to de 1840, com a criação da 1a Compa- pernambucano. Ele é conhecido no mundo nhia de Aprendizes-Marinheiros, por meio capoeirístico como Mestre Pirajá. da Lei no 148, quando da administração Assim nos afirmaFONSECA (2009): de Antônio Francisco Paula Hollanda Cavalcante de Albuquerque, o Visconde “Não é novidade, na realidade, de Albuquerque. que um membro das Forças Armadas Em 24 de outubro de 1857, ou seja, Brasileira esteja inserido com questões 17 anos após a criação da 1a Companhia relativas à capoeira, principalmente de Aprendizes-Marinheiros, o Imperador no intento de enquadrá-la enquanto Dom Pedro II, por meio do Decreto no atividade esportiva. No início do século 2003, determina a criação da Escola de XX, como demonstrado anteriormente, Aprendizes-Marinheiros de Pernambuco setores militares defenderam a criação de (Eampe), fazendo com que aquela compa- um Método Nacional de Educação Física nhia se transformasse em Escola. Como a baseado na capoeira, além de serem Eampe não tinha sede própria, funcionou, feitas as primeiras propostas acerca da nos primeiros anos, no Navio-Brigue regulamentação enquanto esporte”. Cearense, quando sofreu sua primeira ins- peção, realizada pelo próprio Imperador O Mestre Pirajá nasceu no Recife, no Dom Pedro II. Anos mais tarde, a Eampe bairro denominado Morro da Conceição. passou por várias transferências da sede. Militar por profissão, ingressou na Mari- “Teve sua instalação em um dos telheiros nha para completar sua formação moral do velho Arsenal de Marinha do Recife, e humanística e juntá-la aos seus conhe- no Vapor Misto Recife e no prédio onde cimentos capoeirísticos. Ele é, conforme hoje funciona a Capitania dos Portos de seu blog, o mestre capoeirista mais velho Pernambuco” (MARINHA). do Recife. Foi com seu tio, Luiz Naval, Tendo sua missão para com o Estado que ele tomou conhecimento da capoeira, crescido e estando contribuindo para o cujos conhecimentos lhe foram dados por Poder Naval do Brasil, a Eampe, no ano alguns descendentes de negros que tinham de 1948, foi transferida para sua sede sido escravizados. Mestre Pirajá é, desse atual, no Complexo de Salgadinho, em modo, uma fonte importantíssima para a Olinda (PE). memória da capoeira pernambucana.

2 Navios que serviam como presídios flutuantes da Marinha do século XIX. Essas embarcações ou haviam recebido baixa da Armada ou estavam aguardando algum concerto.

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Ainda em seu blog, o mestre conta o que ele vira e ouvira nos locais em que, no ano de 1966, saiu do Recife para que esteve aprendendo outros modos Salvador, onde passaria alguns meses, de “capoeirar”. já que faria ali um curso de iniciação no [...] conceituação que retrata bem a Corpo de Fuzileiros Navais. Foi na capital teia relacional vivenciada pelo mestre baiana que teve a grande prerrogativa enquanto valência de referência da de ampliar os conhecimentos na prática capoeira praticada em movimento capoeirística com nomes locais importan- na cidade do Recife. Valência que, tes tanto da capoeira regional quanto da inicialmente, ensinou a capoeira capoeira de Angola. que praticava para 16 amigos de sua No ano posterior da ida a Salvador, infância” (KOHL, 2012, p. 128). em 1967, o Rio de Janeiro tornou-se seu novo local de morada. Na antiga capital De acordo com o mestre, ainda em seu do Brasil, Mestre Pirajá fez contato com blog, ele retorna definitivamente para o capoeiristas locais e, ao lado dos mestres Recife em 1972. E é nos morros e nos altos Travassos e Veludo, dá início ao Grupo da Casa Amarela que ele passa a divulgar Pequeno Mestre. Dois anos depois de e a ensinar a capoeira que aprendera para sua ida para o Rio de Janeiro, ou seja, pessoas de faixa etária diversas e para em 1969, estando de férias no Recife, vários fins: como terapia, para lazer ou aproveita para fundar o Grupo Senzala como formação social. “Fins que mostram de Capoeira de Pernambuco, nome em uma intencionalidade pedagógica desen- homenagem ao livro Casa Grande e volvida em âmbito não formal” (KOHL, Senzala, de Gilberto Freyre. 2012, p. 128). Nas palavras do próprio De acordo com KOHL (2012, p. 128 mestre, em entrevista: apud PIRAJÁ, 2009): “No final do ano de 1972, voltei “Segundo o mestre, ampliou a para o Recife, e aqui não havia mestre capoeira que aprendera com seu tio de capoeira. Eu só havia escutado falar incorporando outros golpes, elementos de Mestre Bimba e Mestre Pastinha. As da capoeira de Angola (por exemplo, demais referências eram chamadas de a mandinga, entre outros) e da ca- ‘Seu’ ou ‘Senhor’, como eram os casos poeira regional (por exemplo, cintura de Canjiquinha, Caiçara, eu e outros. desprezada,) e, também, aspectos da Era uma referência que demonstrava capoeira carioca. Uma valência local respeito em relação a nossa idade. Cha- articulada com outras valências como mavam-nos de ‘seu’ ou ‘senhor’ e não as seguintes: capoeira ensinada por de ‘Mestre’. Quando o Mestre Bimba negros que foram escravizados, ex- morreu, houve uma articulação entre os periência militar, difíceis condições grupos de capoeira para ver tal questão de vida, capoeira praticada noutras sobre as graduações da capoeira, e eu, localidades, entre outras. que tinha o Grupo Senzala de Capoeira Um ponto muito importante a escla- de Pernambuco, fui convocado. Nosso recer é que a capoeira ensinada e defi- grupo foi fundado em 1969. Logo, até nida por Mestre Pirajá é denominada que se prove o contrário, fomos o pri- de “Anglo-Regional”, ou “Capoeira meiro grupo fundado em Pernambuco, Pernambucana”, uma junção de tudo considerando as referências que se

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apresentam como pioneiras no estado olho dele. Depois de ter visão de jogo, (KOHL, 2012, p. 128-129). deve-se ter a disciplina, que nos leva ao respeito hierárquico, como o Mestre Sabemos que a capoeira requer algu- Bimba ensinava (KOHL 2012, p. 135). mas técnicas e alguns valores, e um deles é a disciplina, disciplina esta que, segundo No início deste trabalho, dissemos o próprio Mestre Pirajá, lhe fora dada na que os significados do termo “capoeira” vida militar, já que ele fazia parte da Ma- são vários, sendo esta, deste modo, uma rinha do Brasil desde os 17 anos. KOHL palavra polissêmica, o que não poderia (2012, p. 135) nos conta: “Segundo o ser diferente ao longo de toda a história e Mestre Pirajá, no início de 1975 ocorreu trajetória da capoeira. Mesmo que atual- uma reunião no Clube das Asas, na Ilha mente o significado nos remeta a uma do Governador, bairro do Rio de Janeiro. arte genuinamente brasileira, ainda assim O mestre foi convidado para tal reunião e existirão conflitos internos de emoções e compareceu junto com o Grupo Pequenos situações diversas e adversas. Corrobora Mestres. Referências da capoeira, oriun- conosco a seguinte passagem de KOHL das de diferentes localidades brasileiras, (2012, p. 139-140): como Travassos, Veludo, Manoel, João Pequeno, João Grande, Acordeon, Traíra, [...] jamais irá se unificar, ela não Joel, Suassuna e outras, estiveram presen- tem como se unificar, ela é tribal. Por tes para a discussão referente à possibili- mais formadora, cidadã, educadora que dade de adoção de um novo sistema de ela seja, tem um lado tribal, porque graduação para a Capoeira. Na reunião, ela é afrodescendente. É conforme na não se chegou a nenhum acordo. [...] O África, você chega a alguns países da mestre afirma que teve facilidade em África, onde existem 50, 60 tribos com se adaptar na graduação e na hierarquia dialetos diferentes brigando entre si. preconizada, pois já era militar desde os Nós herdamos isso no sangue de negro 17 anos, quando se incorporou ao Corpo que temos, herdamos isso também, de Fuzileiros Navais. Adaptação que evi- temos raiva, revanchismo, uma série dencia a teia relacional da capoeira vivida de sentimentos. Hoje procuramos pelo mestre, que se articulou a diferentes dominar esses sentimentos maus, não valências de controle por meio de hierar- os levando justamente para roda da quias preconizadas pelas figurações com capoeira (informação verbal). as quais teve relações”. [...] A Capoeira do Recife revela Mestre Pirajá ainda completa: um habitus agregador e produtor de conhecimentos repassados por suas “Sempre tive a facilidade de referências em diferentes vieses, tais obedecer e de me fazer obedecer, a ter como o gestual, o ritualístico, o musical, voz de comando. Sempre passei isso o artesanal e outros, acumulados aos meus alunos da capoeira. Dizia para historicamente” (KOHL, 2012). eles que temos que ter visão primeiro para poder jogar na roda de capoeira. De acordo com o Mestre Jogo de Den- Não tendo visão, a pessoa apanha, pois tro, em seu blog “École de capoeira angola não sabe sair dos golpes. É preciso ver de Paris”, muitos capoeiras trabalhavam o jogo do seu adversário e olhar no nos portos como estivadores, marujos e

218 RMB1oT/2019 CAPOEIRA AO MAR! – Possíveis conexões entre a Marinha e os capoeiras em Pernambuco pescadores. E até mesmo por habitarem Pessoa Bababá era marinheiro da Marinha em cidades litorâneas, compartilhavam Mercante. Discípulo de Mestre Pastinha, uma cultura portuária, que foi incorporada ingressa em sua academia em 1969”. à cultura da capoeira que os mestres do Ainda segundo o autor, “em meados dos início do século XX estavam construindo. anos 2000, a Marinha do Brasil realizou VAZ (2014) encontrou material pro- uma parceria com algumas ONG, num duzido no século XIX que pode ser elu- projeto social chamado Cidadão do Ama- cidador sobre a questão dos contramestres nhã, coordenado pela ONG Ativa, com o na Capoeira de Angola. Trata-se da obra Grupamento dos Fuzileiros Navais, em Princípios de Direito Mercantil e Leis da que se realizavam atividades de recreação Marinha para o Uso da Mocidade Portu- e ensino de capoeira”. guesa, Destinado ao Comércio, de 1819, Como se pôde verificar neste artigo, impresso em Lisboa. Tem-se notícias ali a capoeira e a Marinha têm muito mais de homens do mar que utilizavam a ca- conexões e ligações ao longo de toda sua poeira como defesa, em suas brigas pelos história do que poderíamos imaginar. Tal- portos afora: “[...] A folha cita um marujo vez seja pela questão de o grande mar ter brasileiro, um tal ‘Boi’, que, num porto sido palco de tantas lutas entre os seres que francês, resistiu a uma escolta numerosa tiveram seus corpos escravizados e seus só se utilizando da cabeça e dos pés. Tam- algozes. O que podemos tirar de tudo o que bém acrescenta VAZ: “[...] Luciano Mi- foi dito é que esses dois símbolos nacionais, lani, em entrevista com Mestre Bola Sete, além de se conectarem, se completam: a divulgada pelo Jornal do Capoeira, traz capoeira como arte de resistência e a Ma- a informação de que o grande capoeirista rinha como propagadora e incentivadora.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Cultura;

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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RMB1oT/2019 219 CAPOEIRA AO MAR! – Possíveis conexões entre a Marinha e os capoeiras em Pernambuco

CAPOEIRA, Nestor. O pequeno manual do jogador. Rio de Janeiro, Record, 1999. COSTA, Valéria Gomes. Trajetórias negras: os libertos da Costa d´África no Recife, 1846-1890. Tese de Doutorado. Universidade Federal da Bahia. 2013. 251 p.:il. FONSECA, Vivian Luiz. Capoeira sou eu: memória, identidade e conflito. Rio de Janeiro: GFV/ CPDOC, 2009. IPHAN – Dossiê IPHAN 12 - Roda de Capoeira e Ofício dos Mestres de Capoeira. 2006-2007. KOHL, Henrique Gerson. Educação e capoeira: figurações emocionais na cidade do Recife-PE- -Brasil. Tese de Doutorado na Universidade Federal de Pernambuco. 2012, 390 f. LIMA, Manu. Dicionário de Capoeira. Brasília: Conhecimento Editora, 2007. LINS, Mônica Regina Ferreira. Viveiros de “homens do mar”: escolas de aprendizes-marinhei- ros e as experiências formativas na Marinha militar do Rio de Janeiro. Tese (Doutorado). Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2012. 283 f. MARQUES, Carlos Bittencourt Leite. “Brinquedo, luta, arruaça”: o cotidiano da capoeira no Recife de 1880 a 1911. Dissertação e História Social da Cultura – Universidade Federal Rural de Pernambuco, 2012. 202 f. NASCIMENTO, Álvaro Pereira do. “Do cativeiro ao mar: escravos na Marinha de Guerra”. Revista Estudos Afro-Asiáticos, no 38, Rio de Janeiro, dezembro de 2000. Disponível em: http:// dx.doi.org/10.1590/S0101-546X2000000200005 NASCIMENTO, Alcileide Cabral do. “A Sorte dos Enjeitados no Recife (1789-1832)”. Anais do XXIV Simpósio Nacional de História. São Leopoldo, 2007. PIRAJÁ. O mestre. Recife, 2009. Disponível em: . Acesso em: 22 outubro, 2018. REGO, Waldeloir. Capoeira Angola: um ensaio socioetnográfico. Salvador: Itapuã, 1968. REIS, L. O mundo de pernas para o ar: a capoeira no Brasil. São Paulo: Publisher Brasil, 1997. SILVA, Wandoberto Francisco da. “O destino dos filhos pobres, órfãos e enjeitados de Pernam- buco: As companhias de aprendizes da Marinha (1847-1857)”. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História, ANPUH, São Paulo, julho/2011. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Crônica da capoeiragem. São Luís: Edição do Autor, 2014. Disponível em http://issuu.com/ leovaz/docs/cronica_da_capoeiragem_-_issuu/1. http://www.angola-ecap.org/matieres-a-penser/em-portugues/87-o-que-e-um-contramestre.

220 RMB1oT/2019 DOAÇÕES À DPHDM JANEIRO A MARÇO DE 2019

DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECA DA MARINHA

DOADORES

Almirante de Esquadra Alípio Jorge Rodrigues da Silva Almirante de Esquadra (Refo) José Alberto Accioly Fragelli Vice-Almirante (RM1) José Carlos Mathias Contra-Almirante Marco Antônio Ismael Trovão de Oliveira Capitão de Mar e Guerra (Refo) Claudio Barreto Moraes Capitão de Fragata (T) Leniza de Faria Lima Glad Capitão de Corveta (T) Patricia Miquilini Gomes Cabo Carolina Oliveira Ministro Enrique Ricardo Lewandowski Desembargador Federal Reis Friede Samuel Costa Mauro Piccolotto Dottori Arquivo Nacional Academia de Marinha Portuguesa Petrobras Transporte S.A. (Transpetro) Fundação Nacional de Artes (Funarte) Centro de Instrução e Adestramento Almirante Átila Monteiro Aché (Ciama) Comando de Operações Navais (ComOpNav) Clube Naval (CN)

LIVROS E PERIÓDICOS RECEBIDOS

PORTUGAL Bicentenário da partida da Família Real para o Brasil, 2011 Brasil e Portugal unindo as duas margens do Atlântico, 2013 Ceuta e a expansão portuguesa, 2016 A formação da Marinha portuguesa dos primórdios ao infante: XII Simpósio de História Marítima, 2015 A Marinha em África: as campanhas portuguesas em águas interiores de 1961 a 1974, 2014 Memórias 2005, vol. 35, vol. 36, vol. 37, 2012 Memórias 2008, vol. 38, vol. 39, 2013 DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDOS

Memórias 2010, vol. 40, 2014 Memórias 2011, vol. 41, vol. 42, vol. 43, 2015 Memórias 2014, vol. 44, vol. 45, 2016 Memórias 2016, vol. 46, 2017 Navios, marinheiros e arte de navegar: 1500-1668, 1668-1823, 2012 Nos mares da China: a propósito da chegada de Jorge Álvares, em 1513, 2016 A peregrinação de Fernão Mendes Pinto: 400 anos da sua publicação, 2016 O poder do Estado no mar e a história: actas XI Simpósio de História Marítima, 2013 Raízes medievais do Brasil moderno: do reino de Portugal ao Reino Unido de Por- tugal, Brasil e Algarves, 2016 Anais do Clube Militar Naval, Jan/Jun. 2018

BRASIL 50 máquinas que mudaram o rumo da história, 2014 1565 – enquanto o Brasil nascia: a aventura de portugueses, franceses, índios e negros na fundação do País, 2012 Achieve: exam companion, 2016 Achieve: student book & workbook, 2014 Angry bird: aves, 2013 Angry birds Star Wars: a ciência por trás da saga, 2014 Aproximando pessoas, 2013 Authentic games: vivendo uma vida autêntica, 2016 Biblioteca Sul-Americana Barroco, 2015 Bruxas da noite: as aviadoras soviéticas na Segunda Guerra Mundial, 2018 Cartas de João do Rio a João de Barros e Carlos Malheiros Dias, 2012 Coleção Memória do Mundo da Biblioteca Nacional, 2016 Curso de Ciência Política e Teoria Geral do Estado: teoria constitucional e relações internacionais, 2019 Dante: poeta de toda vida, 2016 Desenho geométrico: ideias e imagens, 2012 Diálogos em direitos humanos, estado e cidadania, 2018 Dimensões da participação política indígena: estado nacional e revoltas em Pernam- buco e Alagoas, 1817–1848, 2018 Ditadura e corrupção: a comissão geral de investigações e o confisco de bens de acusados de enriquecimento ilícito no Brasil, 1968-1978, 2018 Do hábito à resistência: freiras em tempos de ditadura militar no Brasil, 2018 Enfrentando o dragão: uma aventura não oficial de Minicraft, 2015 Fleet tactics and naval operations, 2018 Flupp Brasil – novos autores, 2014 Geopolítica mundial e do Brasil no século XXI: o improvável é possível, 2018 Giorgio Vasari: a invenção do artista moderno – 500 anos, 2012 Guia do mestre em Pokémon go, 2016 Guide to port entry Albania to Jordan plans, A – J, vol. 3, 2011/2012 Guide to port entry Albania to Jordan text, A – J, vol. 1, 2011/2012 Guide to port entry Albania to Kuwait plans, A – K, vol. 3, 2013/2014

222 RMB1oT/2019 DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDOS

Guide to port entry Albania to Kuwait text, A – K, vol. 1, 2013/2014 Guide to port entry Kenya to Yemen plans, K – Y, vol. 4, 2011/2012 Guide to port entry Kenya to Yemen text, K – Y, vol. 2, 2011/2012 Guide to port entry Latvia to Yemen plans, L – Y, vol. 4, 2013/2014 Guide to port entry Latvia to Yemen text, L – Y, vol. 2, 2013/2014 A indústria naval no Rio de Janeiro, 2012 O império da escravidão: o complexo Breves no vale do café no Rio de Janeiro, c. 1850-c. 1888, 2018 Invasão do mundo da superfície, 2015 Jony entre dois mundos à procura da mesma coisa, 2012 Lista de faróis Brasil, 34a ed, 2014-2015, 2015 Los cuatro jinetes del apocalipsis, 2014 Ludi na Floresta da Tijuca, 2016 Mapeamento de residências artísticas no Brasil, 2014 Memória del X Encuentro Internacional de História sobre la Guerra de la Triple Alianza, 2018 Missão pré-sal 2025, 2015 No fundo de doze histórias corre um rio, 2017 Nossa Senhora da Açoteia, 2014 Patrimônio arqueológico subaquático na Marinha do Brasil, 2015 Poemas que escolhi para as crianças, 2013 Políticas para as artes práticas e reflexão,vol. 2, 2014 Praticando a generosidade em sala de aula, 2013 Pressupostos materiais e formais da intervenção federal no Brasil, 2018 O príncipe, 2017 Psicologia militar: sob tensão, estresse e emoção, 2017 Repressão a militares na ditadura pós-1964, 2018 Ressurgimento da indústria naval no Brasil, 2000-2013, 2014 Revisão da Lei da Anistia: um contraponto, 2018 Tanques de armazenamento, 2017 Teoria do Direito, 2018 Todo aquele imenso mar de liberdade, 2015 O velho marinheiro: a história da vida do Almirante Tamandaré, 2018 Villa Aymoré: cidade, patrimônio e desenvolvimento, 2018 Almanaque carioquice: um Rio surpreendente, 2018 Almanaque de Petrópolis: os imigrantes e a formação de Petrópolis, v. 4, Mai. 2018 Aprama: Associação Almirante Prado Maia, v. 17, n. 98, Set/Jan. 2018/2019 Arquivos brasileiros de Medicina Naval, v. 79, n. 1, Jan/Dez. 2018 Aviação Naval, v. 47, n. 77, Nov. 2017 Aviação Naval, v. 48, n. 78, Nov. 2018 Educação Física, v. 17, n. 69, Out/Nov/Dez. 2018 Informativo Marítimo (DPC), v. 28, n. 1, Fev/Jul. 2018 Informativo naval do cerrado, v. 18, n. 2, Out. 2018 JMPMG Júrídico: Revista do Ministério do Estado de Minas Gerais, Set. 2018 Mare Nostrum, v. 20, n. 81, Set. n. 82, Dez. 2018

RMB1oT/2019 223 DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDOS

Navires & Histoire, n. 69, Dez/Jan. 2011/2012; n. 70, Fev/Mar; n. 71, Abr/Jun; n. 72, Jun/Jul; n. 73, Ago/Set; n. 74, Out/Nov; n.75, Dez/Jan.2012/2013 Navires & Histoire, n. 76 Fev/Mar. 2013; n. 77, Abr/Mai; n. 78, Jun/Jul; n. 79, Ago/ Set; n. 80, Out/Nov; n. 81, Dez/Jan. 2013/2014 Navires & Histoire, n. 82, Fev/Mar. 2014; n. 83, Abr/Mai; n. 84, Jun/Jul; n. 85, Ago/ Set; n. 86, Out/Nov; n. 87, Dez/Jan. 2014/2015 Navires & Histoire, n. 88, Fev/Mar. 2015; n. 89, Abr/Mai; n. 90, Jun/Jul; n. 91, Ago/ Set; n. 92, Out/Nov; n. 93, Dez/Jan. 2015/2016 Navires & Histoire, n. 94, Fev/Mar. 2016; n. 95, Abr/Mai; n. 96, Jun/Jul; n. 97, Ago/ Set; n. 99, Dez/Jan. 2016/2017 Nomar, v. 54, n. 920, Dez. 2018 Notanf: notícias e eventos do Corpo de Fuzileiros Navais. Out/Nov/Dez. 2018, O Periscópio, v. 69, n. 69, 2018. Portos e Navios, v. 57, n. 654, Jun; n. 656, Set. 2015 Portos e Navios, v. 58, n. 667, Ago; n. 669, Out; n. 670, Nov. 2016, Portos e Navios, v. 59, n. 674, Mar; n. 677, Jun; n. 678, Jul. 2017, Portos e Navios, v. 60, n.686, Mar; n. 687, Abr; n. 688, Mai. 2018, Publicações da escola da AGU: a nova Lei do Cade, n. 19, Jul. 2012 Relatório de atividades, 2018 A ressurgência, n. 6, 2012 Revista Adseg: Defesa e Desenvolvimento, v. 40, n. 289, Jan/Abr. 2015 Revista Adseg: Defesa e Desenvolvimento, v. 43, n. 292, Set. 2018 Revista Assist, v. 18, n. 89, Jul/Ago. 2018 Revista do Clube Naval, v. 126, n. 386, Abr/Mai/Jun; n. 387, Jul/Ago/Set. 2018 Revista de Direito Upis, v. 11. 2013 Revista Escola da Magistratura Regional Federal 2a Região, v. 16, n. 1, Out. 2012 Revista Escola da Magistratura Regional Federal 2a Região, v. 17, n. 1; v. 18, n. 1, Jul. 2013 Revista Escola da Magistratura Regional Federal 2a Região, v. 21, n. 1, Nov/Abr. 2014/2015 Revista Jurídica de Seguros, n. 1, 2014 Revista Seção Judiciária do Rio de Janeiro, v. 19, n. 35, Dez. 2012 Revista Seção Judiciária do Rio de Janeiro, v. 20, n. 37, Ago; n. 38, Dez. 2013 Revista Seção Judiciária do Rio de Janeiro, v. 21 n. 39, Abr; n. 40, Ago; n. 41, Dez. 2014 Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 9a Região, v. 40, n. 72, Jan/Dez. 2015 Vingadoidos – a era de Sanson, n. 56, Mai. 2017

224 RMB1oT/2019 CARTAS DOS LEITORES

Esta seção destina-se a divulgar ideias e pensamentos e incentivar de- bates, abrindo espaço ao leitor para comentários, adendos esclarecedores e observações sobre artigos publicados. As cartas deverão ser enviadas à Revista Marítima Brasileira, que, a seu critério, poderá publicá-las parcial ou integralmente. Contamos com sua colaboração para realizar nosso pro- pósito, que é o de dinamizar a RMB, tornando-a um eficiente veículo em be- nefício de uma Marinha mais forte e atuante. Sua participação é importante.

Recebemos correspondências eletrô- uma forte e valiosa amizade, assentada nicas aqui transcritas, em homenagem ao sobre fértil afinidade de ideias e de Capitão de Mar e Guerra (Refo) Milton filosofia de vida. Sérgio Silva Corrêa, que na edição do 4o Quantos e quantos diálogos tive- trimestre/2018, despediu-se do cargo de mos nas revisões de meus artigos, na diretor da Revista Marítima Brasileira: montagem do meu livro A Busca de Grandeza, em apreciações sobre outras Caro Milton, obras e em lembranças e análises sobre É hora de repetir por escrito coisas que fatos e personalidades marcantes, tanto muitas vezes lhe disse oralmente. Devo civis como militares! E também sobre fazê-lo, pois referem-se a fase importante de sua vida naval e civil, esta resultante sua vida profissional, e também da minha. de fortes raízes genealógicas que lhe Palavras escritas são perduráveis. transmitiram precioso DNA empresa- Contemporâneos na Escola Naval, só rial, que você tão bem utilizou durante na reserva nos reencontramos. Lembro- todo o seu período de editor da Revista -me ainda que, no gabinete do diretor do Marítima Brasileira. Patrimônio Histórico e Documentação Mais uma vez reafirmo admiração da Marinha, surgiu você, chamado para por sua figura de editor de uma revista atender a uma proposta de artigos na de elevado nível como a RMB. Obser- RMB, que eu esperava mais tarde trans- vando seu trabalho, percebi melhor formar em livro. Após anos sem vê-lo, por que, nos EUA, são tão venerados mal o reconheci. Nunca imaginei, en- os editores de revistas ilustres, como tão, quanto trabalho conjunto teríamos a Atlantic Monthly Magazine e a New daí em diante, nem que ali se iniciava Yorker. CARTAS DOS LEITORES

Após você deixar a RMB, gostaria de râneo CMG(Refo) Milton Sérgio Silva vê-lo editor de uma publicação da Mari- Corrêa nos brindou sempre com excelentes nha do Brasil de nível cultural ainda mais edições, que colocaram, principalmente os alto. Porém ela não existe. leitores já distantes das atividade navais, Devo agradecer-lhe por todo o tempo a par do que se passava na nossa e em que dedicou aos meus escritos para a outras Marinhas, de Guerra e Mercante, RMB. Eles foram e são parte importante publicando textos de elevadas qualidades, de minha vida. Sem eles, minha missão cumprindo com excelência a “Missão” de na Marinha ficaria incompleta. divulgar teses, ideias e conceitos que muito Receba meus melhores votos de paz e contribuíram para o aprimoramento da sucesso. Espero continuar contando com consciência marítima de nosso povo. sua amizade e seus valiosos juízos. Permitam-me, mesmo como mais Abraço, moderno, dar um Bravo Zulu ao Co- mandante Corrêa e desejar a ele que Elcio de Sá Freitas continue gozando de felicidade junto a Vice-Almirante (Refo-EN) sua dileta esposa Maria do Rocio e aos demais entes queridos. Há mais de 30 anos como assinante da RMB, não posso e nem me cabe comparar Paulo Marcos Gomes Lustoza editores, mas certamente o meu conter- Capitão de Mar e Guerra (Refo)

Recebemos a seguinte correspondência para publicá-lo na página da Fenavega e eletrônica encaminhada a Luiz Antônio para sugerir a publicação do mesmo na Fayet, autor do artigo “ Navegação Nacional Revista da CNT. – Buscando o rumo certo”, publicado na Re- Do mesmo modo, com a autorização vista Marítima Brasileira, 4o trimestre/2018, sua, tenciono encaminhar o artigo para ar- da qual ressaltamos os seguintes trechos: madores, empresas de navegação, diretores de empresas e dirigentes de entes públicos e Boa tarde, Dr. Fayet, privados ligados à atividade de navegação1. Brilhante o artigo da vossa autoria, posto Meus cumprimentos pela publicação que lança luzes em um setor no qual ainda na RMB. existem aspectos obscuros ou mal explica- Atenciosamente, dos, como é o caso da reserva de marcado que beneficia alguns poucos em detrimento Raimundo Holanda da liberdade de uma economia de mercado, Cavalcante Filho em que deve imperar a livre concorrência. Presidente da Federação Nacional Pela excelência da exposição da matéria das Empresas de Navegação Aquaviária de que tratou o artigo, peço-lhe autorização (Fenavega)

1 N.R.: Conforme as normas de publicação da Revista Marítima Brasileira, as matérias publicadas podem ser reproduzidas com a citação da fonte.

226 RMB1oT/2019 A MARINHA DE OUTRORA

AS LIÇÕES DE ONTEM PARA A MARINHA DE HOJE E DE AMANHÃ

– Comemorações dos 500 anos do nascimento de Pedro Álvares Cabral 50 anos depois (1968 – 2018) A MARINHA DE OUTRORA

COMEMORAÇÕES DOS 500 ANOS DO NASCIMENTO DE PEDRO ÁLVARES CABRAL – 50 ANOS DEPOIS (1968 - 2018)

INTRODUÇÃO da Vila e do Castelo onde nasceu nosso personagem central das comemorações, No ano de 1968, nos meses de junho em 1968 e em 2018. A intenção não é e julho, comemorou-se o Quinto Cente- me aprofundar na História, pois os com- nário do Nascimento de Pedro Álvares pêndios existentes descrevem toda ela Cabral, o “Descobridor do Brasil”. perfeitamente. Meu propósito é focar na As festividades foram levadas a cabo Viagem de Representação às festividades na cidade de Lisboa e Vila de Belmon- cabralinas, em Portugal. te, no Castelo da Família Cabral, em Portugal. VILA E CASTELO DE O Brasil, como não podia deixar de BELMONTE ser, foi convidado para as comemorações, sendo o Governo brasileiro representado Situados na Província de Beira Baixa, pelo ministro das Relações Exteriores, região do Centro e sub-região da Cova da José de Magalhães Pinto, pelos três Beira. Sua história remonta ao século XII, ministros das Forças Armadas – Almi- quando o Conselho Municipal recebeu, rante de Esquadra Augusto Hamann em 1211, o fórum de D. Sancho I. Rademaker Grünewald, General de Belmonte, apesar de situada no Exército Aurélio de Lira Tavares e interior de Portugal, está muito rela- Tenente-Brigadeiro Marcio de Sousa cionada aos descobrimentos marítimos Melo – e por uma delegação formada portugueses, sendo o berço do navega- por aspirantes da Escola Naval, cadetes dor Pedro Álvares Cabral, nascido no da Academia Militar das Agulhas Negras Castelo de Belmonte. e cadetes da Escola de Aeronáutica (esta ainda não se chamava Academia da Força Aérea – AFA). Como parte dessa volta ao passado, decidi, com minha esposa, viajar de férias para Portugal, em maio/junho de 2018, e retornar a Belmonte para visitar o castelo onde nasceu nosso Descobridor, 50 anos depois daquela significativa visita de 1968. O presente artigo narra este grande evento comemorativo de acordo com as lembranças que me restaram e minha visita, após 50 anos, com os três minis- tros militares já falecidos e os aspirantes e cadetes já na faixa acima de 70 anos. Vista da pequena igreja e de prédios a partir do Inicialmente, farei uma breve descrição Castelo. Ao fundo, a zona rural da cidade – 1968

228 RMB1oT/2019 A MARINHA DE OUTRORA

Castelo de Belmonte, em 1968 (esquerda) e em 2018 (direita)

cas de guerra, ministrados por professores-doutores da Corte de Dom Afonso V. Foi nomeado “fidalgo” por D. João II ainda com 16 anos. Após ter descoberto as novas terras que viriam a ser o Brasil, ao que tudo indica intencional- mente, com base na suposição de sua existência, Cabral pros- seguiu para cumprir sua missão principal: demandou as Índias, seguindo correntes e ventos já Castelo de Belmonte, em 2018, e sua capela externa bem conhecidos pelos navegan- tes portugueses que o precede- PEDRO ÁLVARES CABRAL, O ram, notadamente Vasco da Gama. Lá DESCOBRIDOR DO BRASIL chegando, foi inevitável que entrasse em confronto com comerciantes e navega- Nasceu no seio de uma família nobre dores árabes, que dominavam as rotas portuguesa, a família Cabral, entre os do Índico. Enérgico e ousado, fez severa anos de 1467 e 1468, em data que foi per- guerra de corso contra navios muçul- dida no tempo, no Castelo de Belmonte, manos na costa ocidental da atual Índia no minúsculo vilarejo de Belmonte. e consolidou a presença portuguesa na Foi um dos 11 filhos (cinco homens e região pela força das armas, notadamente seis mulheres) do casamento de Fernão sua artilharia. Cabral, fidalgo do Conselho e o1 regedor Quando retornou a Portugal, com das Justiças da Beira, e sua mulher Dona sete dos 13 navios que partiram do Tejo Isabel Gouveia, filha de João, Senhor em 9 de março de 1500, o estado de de Gouveia. paz instável do Índico havia se trans- Sua educação foi esmerada. Estudou formado em conflito permanente. Isto temas como ciências humanas e táti- obrigou os portugueses a reforçarem

RMB1oT/2019 229 A MARINHA DE OUTRORA

te da 2a Companhia, (hoje vice-almirante [Refo]) e chefe da delegação e pelos seguintes aspirantes: 1o ano – Eduardo Je- suíno; 2o ano – Pedro Paulo Fontes Couti- nho e Fernando An- tonio Borges Fortes de Athayde Bohrer; 3o ano – Eduardo Bastos, Francisco Luiz Gallo (falecido), Antonio Jannuzzi e Derrota de Cabral ao Brasil e à Índia Antonio Eduardo Santa Cruz Abreu; sua presença militar e empreender uma e 4o ano – José Raimundo Lopes de Oli- campanha naval vigorosa, com constru- veira, Afonso Barbosa, Vitor Wolowski ção de fortes e consolidação de pontos Kenski, Paulo Afonso Barbosa da Silva, de apoio desde a costa oriental africana Fausto Calazans de Toledo Ribas Junior, até a península malaia. Álvaro Augusto Dias Monteiro e Sérgio Enfim, Pedro Álvares Cabral, com Jamil Muhäre. suas ações, mudou a história de Portugal, Para que obtivéssemos um bom nível pelo menos até a metade do século XVI. de conhecimento sobre Pedro Álvares Após se retirar da vida no mar, casou- Cabral e o Descobrimento do Brasil, -se com Dona Isabel de Castro e foi tivemos algumas palestras no então residir na cidade de Santarém, onde veio Serviço de Documentação da Marinha a falecer, em 1520. (SDM), situado na Rua Dom Manuel, no

PREPARAÇÃO PARA A VIAGEM

Escola Naval

No mês de maio de 1968, a Escola Naval, atendendo a determi- nação do Gabinete do Ministro da Marinha, designou a sua dele- gação para o evento, composta pelo Capi- tão-Tenente José Luiz Feio Obino, comandan- Livro A Náutica dos Descobrimentos

230 RMB1oT/2019 A MARINHA DE OUTRORA

Delegação da Escola Naval. Da esquerda para a direita: aspirantes Calazans, Fontes Coutinho, Bastos, Muhäre, Monteiro, Jannuzzi, Jesuíno, Afonso Barbosa, Raimundo, Athayde, Santa Cruz, Kenski, Gallo, Paulo Afonso, oficial de ligação da Marinha portuguesa, CT Obino e cadete português. Visita ao Museu da Marinha no Mosteiro dos Jerônimos Centro do Rio de Janeiro, proferidas pelo Os cadetes designados para compor a então diretor, Capitão de Mar e Guerra delegação da Aman foram todos do 4o ano, Max Justo Guedes, profundo conhece- sendo dois de cada arma, quadro e serviço: dor do assunto. Recebemos, naquela chefe da Delegação – Primeiro-Tenente oportunidade, os dois volumes do livro de Infantaria Aderbal Waltenberg Silva; A Náutica dos Descobrimentos, coletânea Infantaria – cadetes Jarbas Bueno da Costa de artigos, conferências e trabalhos inédi- e Elbert Alves Barbosa; Cavalaria – cadetes tos do Almirante Gago Coutinho, edição Ayrton Cunha da Cunha (falecido) e Wla- comemorativa do Primeiro Centenário do demir Martins Padilha; Artilharia – Paulo Nascimento de Gago Coutinho. Roberto de Souza e Carlos Roberto Reis de Considerávamo-nos, então, preparados Moraes; Engenharia – Miguel de Almeida intelectualmente para a missão recebida. Lira (falecido) e Fernando Antônio Neves da Rocha (falecido); Intendência – Guilher- Academia Militar das Agulhas me Carvalho Barbosa (falecido) e Elbio Negras (Aman) Gonçalves de Vargas; Comunicações – Sérgio Lineu de Vasconcelos Rosário e José Igualmente na Aman, os cadetes ti- Fernando Luz; e Material Bélico – Rubens veram uma preparação esmerada, com Silveira Brochado e José Mauro Napoleone. aulas de etiqueta e jantares, realizados no cassino dos oficiais, no mês que ante- Escola de Aeronáutica (EAer) cedeu a viagem. O Manual de Etiquetas utilizado foi escrito pelo antigo mestre Chefe da Delegação: Primeiro-Tenente Coronel Paquet. Aviador Zilson Luiz Pereira Cunha (hoje

RMB1oT/2019 231 A MARINHA DE OUTRORA

Delegação da Academia Militar das Agulhas Negras. Da esquerda para a direita: cadetes Guilherme, Jarbas, Rosário, Reis, Souza, Brochado, Napoleone, Lira, Vargas, Elbert, Neves da Rocha, Ayrton, José Fernando e Padilha, em visita à Vinícola Real Companhia Velha

Parte da Delegação da Escola de Aeronáutica. Da esquerda para a direita: cadete português, cadetes (Av) Celso, Vilarinho, Albernaz, Gabriel, cadete português, cadetes (Av) Chagas, Cadete (Int) Júlio, cadete português, cadete (AV) Ferreira, Azevedo, Suzuki e mais dois cadete portugueses. Abaixados: Cadete (Av) Silva Junior e cadete português.

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Brigadeiro do Ar (Refo); e os seguintes Quando nela pousamos, era madrugada, e cadetes (Av): Turma de 1965 – Chagas; o aeroporto estava deserto, sem um bar ou Turma de 1966 – Paulo Roberto Cardoso cantina abertos para fazermos um lanche. Vilarinho, José Luiz de Albernaz Rosa, Ficamos vagando pelo pequeno aero- Wander Azevedo (falecido), Múcio Agos- porto enquanto o avião era reabastecido. tinho Henriques Guimarães (falecido); e Finalmente, amanhecendo aterrissamos Turma de 1968 – Celso Barboza, Enio em Lisboa. Barroso Ferreira, Hiroshi Suzuki, Gabriel Domingos Barreto Soares, Francisco da A ESTADIA EM PORTUGAL Costa e Silva Junior e Júlio Sérgio Kis- E OS EVENTOS termarcher do Nascimento. COMEMORATIVOS

A VIAGEM TRANSATLÂNTICA Pousamos no Aeroporto Internacio- nal de Lisboa no início da manhã. Uma No final de junho de 1968, os as- comitiva de cadetes das três armas de pirantes apresentaram-se na Escola Portugal nos aguardava e nos recebeu Naval e foram levados à Base Aérea do com muita gentileza. A Delegação de Galeão (BAGL), sede do 2o/2o Grupo de Aspirantes ficou alojada na Escola Naval Transporte, ao qual pertencia a aeronave portuguesa, no Alfeite, do outro lado do C-118, número de série 2413, que nos Rio Tejo, e para lá nos dirigimos em um levou do Oceano Atlântico até Lisboa. micro-ônibus da Marinha de Portugal, Foi um voo histórico para a Força Aérea chamado de “carrinha” por seu motorista, Brasileira (FAB). Por essa razão, deterei- um cabo de “esquadra”. -me um pouco para descrever este episódio. A Delegação dos Cadetes da Aman fi- A FAB havia recém-recebido da Varig cou hospedada, em Lisboa, na Academia os aviões DC-6, que foram designados Militar Gomes Freire; e, em Lamego, no como C-118. Aeronave confortável para Centro de Instrução das Forças Especiais. a época, teve seu voo inaugural para o A estadia foi muito bem planejada estrangeiro, primeira travessia transatlân- e todos os dias os aspirantes e cadetes tica como avião militar, para cumprir a tinham eventos a cumprir. Destacarei missão de transportar as delegações de as- alguns deles. pirantes e cadetes para as Comemorações A programação dos cadetes da Aman do Quinto Centenário do Nascimento do foi muito intensa e realizada nas cidades “Descobridor do Brasil”. Foi um voo de de Lisboa, Porto, Sintra, Cascais, Santa- duração longa (18 horas), realizado em rém e Lamego. três pernadas: Rio de Janeiro a Recife, O ponto alto das Comemorações Ca- Recife a Ilha do Sal (Arquipélago do bralinas foi a Cerimônia Militar, com a Cabo Verde) e Ilha do Sal a Lisboa. O presença de altas autoridades portuguesas comandante da aeronave era o Major e dos ministros brasileiros, junto à Torre Aviador Marinho, depois Brigadeiro do de Belém. Foi um belo e tocante evento, Ar, já falecido. em uma manhã ensolarada na capital, Lis- Decolamos da BAGL e nosso primeiro boa. A Delegação brasileira de aspirantes reabastecimento foi em Recife. De Reci- e cadetes estava muito bem apresentada, fe, decolamos com destino à Ilha do Sal em seus uniformes tradicionais e portan- para fazer o segundo reabastecimento. do seus espadins.

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Em uma das datas, uma recepção de militares para observar a preparação e gala, à noite, foi oferecida em um hotel, os treinamentos do Exército e dos Fu- onde novamente estavam presentes as zileiros Navais (Infantaria de Marinha), autoridades portuguesas e brasileiras. que, à época, combatiam nas “províncias Nossos anfitriões da Marinha portu- ultramarinas”, na realidade as colônias guesa programaram uma visita ao Museu portuguesas na África. da Marinha, no Mosteiro dos Jerônimos, Assim, os cadetes da Aman visita- onde passamos uma tarde admirando um ram o Centro de Instrução de Forças interessante acervo naval. Especiais, em Lamego, onde puderam Fiz questão, na minha viagem em presenciar exercícios com munição real, 2018, de retornar ali e revisitá-lo, 50 anos e instalações fabris militares em Lisboa; depois. Foi uma bela volta ao passado. em Sintra, participaram de um exercício O Museu continua impecável, amplia- militar da Academia, na Floresta de do, mas com o mesmo esmero de cinco Sintra, constante do calendário de sua décadas atrás. instrução naquele ano. Aproveitando E os eventos se seguiam, todos eles a estadia, visitaram o famoso Castelo muito agradáveis. Em uma bonita tarde de Sintra. da primavera portuguesa, nos proporcio- As atividades sociais e turísticas eram naram um agradável passeio ao Estoril, muitas, e os cadetes da Aman participa- praia famosa nos arredores de Lisboa. ram de um excelente coquetel na Acade- Este passeio encerrou-se no Hotel Estoril mia Militar Gomes Freire e de um jantar Sol, na orla marítima, com mais um sim- no bairro de Alfama. Muito interessante pático e acolhedor coquetel. foi o passeio turístico que fizeram à Vila Uma visita muito apreciada, por to- Nova de Gaia (margem oposta do Rio dos, cadetes e aspirantes, foi ao Museu Douro, da cidade do Porto), visitando Militar, em Lisboa. O período também pontos em torno da Ponte Dom Luís I; e foi utilizado para visitas a instalações a Real Companhia Velha, a mais antiga vinícola de Portugal e uma das mais anti- gas do Mundo. A Delegação da Aman fez seus deslocamentos em Portugal predomi- nantemente via ro- doviária. Somente a viagem ao Porto foi feita em um C-47 (DC-3), da Força Aérea Portuguesa (FAP). Mas a visita que estávamos aguar- dando com ansieda- Torre de Belém, em 2018 de estava por vir. E

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1968 - Museu da Marinha, no Mosteiro dos Jerônimos. Delegação de Aspirantes, da esquerda para direita: Monteiro, cadete português, Muhäre, Raimundo, Afonso Barbosa, Santa Cruz, Gallo, Calazans, Athayde, Jesuíno, Kenski, Paulo Afonso e Jannuzzi. O Grupo está à frente do aeroplano Fairey II-D Santa Cruz, no qual Gago Coutinho e Sacadura Cabral realizaram o seu célebre primeiro voo de travessia do Atlântico – Rio de Janeiro-Lisboa, em 1922 chegou o dia de irmos à Vila de Belmon- Em minha viagem em maio de 2018, te, no centro de Portugal, visitar o Castelo retornei ao Castelo de Belmonte e, com da Família Cabral. A FAP transportou as muitas recordações passadas, visitei-o autoridades e delegações de aspirantes e inteiramente em uma ensolarada manhã cadetes em dois de seus aviões, um No- de primavera. Tive oportunidade de ratlas e um C-47, até a cidade de Viseu conhecer o administrador daquele monu- e, de lá, em ônibus especiais (cerca de 60 mento histórico do patrimônio português, km) até Belmonte. o Senhor Cláudio Rodrigues. Muito gentil e simpático, ao saber da história das delegações brasileiras que estiveram no Castelo, em 1968, abriu-me à visita todas as dependências, inclusive aquelas sem acesso ao público. Relatei que, em 1968, tínhamos colocado uma placa alusiva aos 500 anos de Pedro Álvares Cabral na entrada do Castelo. E pude conferir que ela continuava no mesmo lugar. Foi muito profícua a minha visita a Belmonte em 2018, quando afloraram recordações muito alegres da minha O avião de fabricação francesa Noratlas (Nord 2501) juventude na Escola Naval.

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Foto feita em 2018, mostrando a placa que foi colocada em 1968 Os cadetes da Aman visitaram, em Santarém, a Igreja onde repousam os restos mortais de Cabral e, aproveitando a estadia, almoçaram em um típico restau- rante português. Durante a nossa estadia na Escola Naval portuguesa, em 27 de junho, em reunião formal com o 1o comandante, Comodoro Paulino, em seu salão nobre, fomos presen- teados, individualmente, com dedicatórias e com dois belos livros: Os Lusíadas, edição da Escola Naval no ano das Comemorações Henriquinas, 1960, edição de luxo com capa de couro, ofertado pelo ministro da Marinha portuguesa; e Infante D. Henrique, edição impressa do ano das Comemorações do Quinto Centenário da Morte do Infante Dom Henrique, Lisboa – 1960, ofertado pelo 1o comandante da Escola Naval.

ALGUNS EPISÓDIOS INTERESSANTES OCORRIDOS EM NOSSA ESTADIA

Não podem deixar de ser mencionadas Igreja Nossa Senhora das Graças, em Santarém, algumas histórias de fatos que ocorre- com o túmulo de Pedro Álvares Cabral ram em nossa estadia, pois, contadas Fotos: Wikipedia

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Livro Os Lusíadas, com dedicatória do ministro da Marinha, ofertado ao Aspirante Athayde, e livro Infante D. Henrique, com dedicatória do 1o comandante da Escola Naval portuguesa, ofertado ao Aspirante Athayde, em 27/6/1968

Delegação da Aman, com oficiais e cadetes portugueses, nos exercícios militares na Floresta de Sintra

Uma das cerimônias de que os cadetes da Aman participaram, com oficiais e cadetes portugueses

RMB1oT/2019 237 A MARINHA DE OUTRORA por nossos próprios colegas, elas são recebeu: ‘Mas vocês querem tomar dignas de registro e dão a dimensão da banho de novo? Não foram todos que informalidade com que essa narrativa é se banharam à tarde?’ ‘Sim’, respon- apresentada aos leitores. deu o cadete. ‘Está muito calor!’ Só Vou, nesta parte, reproduzir, ipsis assim recebeu a chave. No dia seguin- litteres, como a estória foi contada, agora te, na alvorada, nova incursão para 50 anos depois. obtenção da chave. Agora um grupo O Coronel Napoleone narrou o se- de cadetes. Para dar mais convicção guinte episódio, que ficou gravado em ao pedido. O responsável pela chave sua mente por todos esses anos: não aguentou e perguntou: ‘De novo? Vocês querem tomar banho todo dia?’ “A Academia Militar havia aca- Foi difícil convencer que tomávamos bado de receber reformas nos alo- mais de um banho por dia. jamentos, à nossa espera. Um fato engraçado que ocorreu: quando fomos O Capitão de Mar e Guerra Raimun- recebidos, fomos encaminhados para do narrou a aventura de que participou, os quartos, que, se não me engano, juntamente com os cadetes portugueses, acomodavam três cadetes. Logo que em Alfama, o salto: adentramos os quartos, quase que una- nimemente todos tiraram a roupa para “Um episódio interessante que correr para o chuveiro, à procura de ilustra essa camaradagem foi o convite um banho, pois a temperatura beirava que me fizeram para ‘o salto’. Nada os 40 graus. Entramos correndo no mais era que sair do pavilhão onde banheiro, todo revestido de mármores estávamos alojados por uma janela e granitos, e ninguém encontrou os do 1o andar, pular um ponto pouco chuveiros! Só havia, na área em que vigiado do muro e pegar o ferry para ficavam os vasos sanitários, uma sé- atravessar o Tejo. Naturalmente, tudo rie de banquinhos de louça sanitária, isto de paletó e gravata (mesmo para que eram acoplados a uns pequenos dar um golpe, nossos amigos de além- tanques com uma torneira. Eram os -mar não abriam mão da formalidade). chamados lava-pés. Para utilização Um dos organizadores da ‘fuga’, pelo diária! Banho de chuveiro, só na casa visto uma prática corrente, foi o Ca- de banhos, que ficava distante dos dete Fernandes, tipo engraçadíssimo. alojamentos, e era fechada a chave. Cheguei a avaliar cuidadosamente se Só com autorização do oficial de dia deveria me engajar na aventura; afinal, poderia ser utilizada. Com a posse da estávamos em missão oficial e, além chave, corremos todos para o local, de tudo, em delegação chefiada pelo depois de recolocar as roupas. Isso CT ‘Obino. Ele acabou me convencen- era um final de tarde. À noite, quando do: Ó pá; vais perder as festas de São retornamos do primeiro passeio, todos Pedro na Alfama. Não vou permitir queriam amenizar o calor com novo isto!’. Finalmente decidi seguir com o banho. Sabendo da regra, um cadete grupo; não ficaria bem, até mesmo em foi designado para pegar a chave da termos de representação, demonstrar casa de banhos. Qual não foi a surpre- temor que empanasse nossos brios sa que ele teve com a indagação que verde e amarelos.

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Passado meio século, o pequeno anterior mal dormida, fomos derrotados pecado já prescreveu, e é possível que por 5 x 2. Como me lembro desse fato? até o prezado Almirante Obino ache Eu era o goleiro da equipe. graça (espero), caso saiba. Devo dizer que valeu a pena: uma multidão nas O FINAL DA REPRESENTAÇÃO ladeiras da Alfama, onde os moradores ÀS COMEMORAÇÕES montavam mesas com comes e bebes CABRALINAS abundantes, regados a vinho tinto, dentro da melhor hospitalidade portu- E eis que chega o dia do retorno ao guesa. Foram muitas as brincadeiras Brasil e às nossas Escolas e Academia. A portuguesas e irreverências pelo bairro; Escola Naval nos esperava com as provas poucas vezes me senti tão em casa. A de meio de ano, algumas perdidas teriam volta foi tranquila, com uma rápida que ser feitas em segunda chamada. Mas corrida por trás de um posto de guarda. os dez dias que nós passamos neste mara- Até acredito que a sentinela nos viu, vilhoso país que é Portugal, com anfitriões mas fingiu que não. Provavelmente fidalgos e gentis e uma agenda cultural de o ‘salto’ já deveria estar incorporado festividades militares e sociais, valeram aos usos, aos costumes e ao folclore para nós como uma bela experiência, além do alfeite. Devo admitir que a única de representarmos o nosso País nas Co- dificuldade foi entrar pela janela, após memorações dos 500 anos do nascimento a comilança e a libação alcoólica; mas do “Descobridor” da Ilha de Vera Cruz, nada que aos 22 anos não se pudesse Terra de Santa Cruz e ... Brasil. Foi uma superar. Lembro que passamos por realização importante para jovens que, em uma capela, ao fundo de um corredor, breve, se tornariam oficiais. e enfim chegamos à segurança.” O retorno se deu da mesma maneira, em voo do C-118 da FAB, a partir do Alguns eventos internos, na Escola Na- Aeroporto Internacional de Lisboa, com val portuguesa, nos foram proporcionados. escalas novamente na Ilha do Sal e no A visita às suas instalações terminou Recife, para reabastecimento. Lembrou- com um grande almoço no refeitório, -me o Almirante Obino que, na Ilha do com direito a vinho, com todos os ofi- Sal, nesse regresso, nos ofereceram um ciais da Escola e os cadetes, presentes. almoço em que foi servido “percebos” Ao final, uma tradição deles quando há (algas marinhas), “cracas” (mexilhões) visitantes ilustres: a famosa guerra de e lagostas. Bem diferente da parada no pães, iniciada por eles e que nos pegou trajeto de ida, em uma madrugada deserta. de surpresa. Mas não nos intimidamos Após a decolagem de Lisboa, depois e participamos do tradicional combate, de 18 horas de voo, estávamos pousando como ilustres visitantes. na BAGL, onde muitos dos nossos paren- Outro evento interessante foi o desafio tes nos aguardavam. que recebemos para uma partida de fute- Após minha visita a Portugal em bol indoor, com as equipes formadas por 2018, quando tive a oportunidade de sete jogadores. Novamente fomos pegos rever todos os locais que havíamos de surpresa e, após uma noite em que es- visitado em 1968, achei que valeria a tivemos livres de programação, aceitamos pena escrever algumas palavras sobre o embate e, com os resquícios da noite essa representação, quando aspirantes da

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Momento da partida em Lisboa. Cadetes portugueses, Aspirante Athayde e Cadete Neves da Rocha, no alto da escada e o Cadete (Av) Mucio na parte inferior da escada. A foto mostra o nível de amizades que fizemos nesses dez dias em Portugal. Foram todos apresentar as despedidas no nosso embarque

Escola Naval, cadetes da Aman e cade- AGRADECIMENTOS tes da EAer puderam conviver juntos e estreitar amizades, de modo a perenizar Primeiramente desejo registrar meus esse evento tão importante para nós e agradecimentos ao Senhor Cláudio para o Brasil e Portugal. Rodrigues, administrador do Castelo de Belmonte, que gentilmente me recebeu HOMENAGEM PÓSTUMA naquele Monumento Histórico do Patri- mônio português, facilitando-me a visita Finalizando essas palavras, não pode- a todas as instalações do Castelo. ria deixar de prestar uma última homena- Este trabalho que ora concluo não gem, em nome de todos nós integrantes teria sido possível se não fosse o au- das delegações da Escola Naval, Acade- xílio prestimoso dos seguintes colegas mia Militar das Agulhas Negras e Escola e amigos: de Aeronáutica aos nossos colegas que – Tenente-Brigadeiro Paulo Roberto conosco participaram da representação e Cardoso Vilarinho e Coronel Aviador que não estão mais conosco: Francisco da Costa e Silva Júnior, que Contra-Almirante (Refo) Francisco me prestaram todas as informações e Luiz Gallo, Coronel (Refo) Guilherme me cederam fotos sobre a Delegação da Carvalho Barbosa, Coronel (Refo) Ayr- Escola de Aeronáutica, além dos dados ton Cunha da Cunha, Coronel Fernando sobre a aeronave C-118, cujo voo sobre Antonio Neves da Rocha, Coronel Miguel o Atlântico nos levou a Portugal; de Almeida Lira, Tenente-Coronel Avia- – Almirante de Esquadra Álvaro Au- dor (Refo) Múcio Agostinho Henriques gusto Dias Monteiro, que me auxiliou na Guimarães e Primeiro-Tenente Aviador revisão do trabalho e me prestou informa- Wander Azevedo (falecido em acidente ções sobre o paradeiro de alguns nomes aéreo em 1973). da Representação da EN;

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– General de Brigada Rubens Brocha- na revisão deste trabalho e nas narrativas do, pela minúcia de detalhes dos eventos de fatos da viagem e pelas citações refe- da Delegação da Aman em Portugal, rentes à vida de Pedro Álvares Cabral, narrados por ele; indicando-me importante bibliografia do – Coronel Luiz Depine de Castro e “Descobridor”. Além disso, melhorou Coronel Marco Antonio Esteves Balbi, a nitidez das fotos antigas, dando-lhes que, com suas buscas e seus conheci- novo aspecto; mentos, permitiram-me chegar aos nomes – Tenente-Coronel (AV) e Luiz Alber- dos participantes da delegação da Aman; to Borges Fortes de Athayde Bohrer, meu – Coronel José Mauro Napoleone, por ter irmão, que sempre me auxilia em meus sido o responsável por me ceder fotos e me trabalhos com suas críticas, observações narrar alguns fatos pertinentes à Delegação e correções pertinentes. da Aman, preenchendo uma lacuna que eu havia perdido ao longo desses 50 anos; Fernando Antônio Borges Fortes – Capitão de Mar e Guerra José Rai- de Athayde Bohrer* mundo Lopes de Oliveira, pelo auxílio Capitão de Mar e Guerra (Refo)

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; História Militar; História do Brasil;

REFERÊNCIAS https://pt.wikipedia.org/wiki/Belmonte, acesso em 17/4/2018. https://www.pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_Alvares_Cabral, acesso em 28/6/18. CROWLEY, Roger. Conquistadores. Editora Planeta do Brasil Ltda. https://www.pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_da_Santa Graça_(Santarem), acesso em 4/12/18.

* Membro-Colaborador do Centro de Estudos de Política e Estratégia da Marinha do Brasil (Cepe). Foi comandante do Aviso de Instrução Guarda-Marinha Jansen e da Corveta Jaceguai. Possui o Curso de Política e Estratégia Marítima (C-PEM).

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ANEXO 1 OS ASPIRANTES E CADETES DE 1968, 50 ANOS DEPOIS

ESCOLA NAVAL

Almirante de Esquadra (Refo) Álvaro Augusto Dias MONTEIRO Vice-Almirante (Refo) AFONSO Barbosa Contra-Almirante (Refo) Francisco Luiz GALLO (falecido) Capitão de Mar e Guerra (Refo) José RAIMUNDO Lopes de Oliveira Capitão de Mar e Guerra (Refo-EN) Vitor Wolowski KENSKI (Engenheiro Naval) Capitão de Mar e Guerra (Refo) PAULO AFONSO Barbosa da Silva Capitão de Mar e Guerra (Refo) Fausto CALAZANS de Toledo Ribas Júnior Capitão de Mar e Guerra (Refo-IM) Sérgio Jamil MUHARRE Capitão de Mar e Guerra (Refo-FN) Antonio Eduardo SANTA CRUZ de Abreu Capitão de Mar e Guerra (Refo) Pedro Paulo FONTES COUTINHO Capitão de Mar e Guerra (Refo) Fernando Antônio Borges Fortes de ATHAYDE Bohrer Capitão-Tenente (RNR-EN) Antonio JANNUZZI (Engenheiro Naval) Segundo-Tenente (RNR) Eduardo BASTOS (Engenheiro) Doutor Eduardo JESUÍNO (Médico)

ACADEMIA MILITAR DAS AGULHAS NEGRAS

General de Exército (Refo) JARBAS Bueno da Costa General de Divisão (Refo) Rubens Silveira BROCHADO General de Brigada (Refo) Sérgio Lineu de Vasconcelos ROSÁRIO Coronel (Refo) ELBERT Alves Barbosa Coronel (Refo) AYRTON Cunha da Cunha (falecido) Coronel (Refo) Wlademir Martins PADILHA Coronel (Refo) Paulo Roberto de SOUZA Coronel (Refo) Carlos Roberto REIS de Moraes Coronel (Refo) Miguel de Almeida LIRA (falecido) Coronel (Refo) Fernando Antônio NEVES DA ROCHA (falecido) Coronel (Refo) GUILHERME Carvalho Barbosa (falecido) Coronel (Refo) Élbio Gonçalves de VARGAS Coronel (Refo) JOSÉ FERNANDO Luz Coronel (Refo) José Mauro NAPOLEONE

ESCOLA DE AERONÁUTICA

Tenente-Brigadeiro (Refo) Paulo Roberto VILARINHO da Costa Coronel Aviador (Refo) CHAGAS Coronel Aviador (Refo) José Luiz de ALBERNAZ Rosa Coronel Aviador (Refo) CELSO Barbosa Coronel Aviador (Refo) Ênio Barroso FERREIRA Coronel Aviador (Refo) Hiroshi SUZUKI Coronel Intendente (Refo) GABRIEL Domingos Barreto Soares Coronel Aviador (Refo) Francisco da Costa e SILVA JÚNIOR Coronel Intendente (Refo) JÚLIO Sérgio Kistermarcher do Nascimento Tenente-Coronel Aviador (Refo) MÚCIO Agostinho Henriques Guimarães (falecido) Primeiro-Tenente Aviador (Refo) WANDER AZEVEDO (falecido)

242 RMB1oT/2019 NECROLÓGIO

A RMB expressa o pesar às famílias pelo falecimento dos seguintes colaboradores e assinantes:

AE Walter Faria Maciel  16/04/1927 † 21/10/2018 CMG Geraldo Ornellas de Souza  05/05/1927 † 21/11/2018 CMG (IM) Rucemah Leonardo Gomes Pereira  20/03/1933 † 30/12/2018 CMG (EN) Sergio Caldas Restier Gonçalves  06/01/1939 † 11/11/2018 CMG Luiz Vicente Franco  27/04/1940 † 26/12/2018 CF Claudio Barreto Moraes  31/08/1926 † 06/12/2018 SO Cesar Brum  04/01/1942 † 20/11/2018

Nascido no estado do Rio de Janeiro, filho de Almir Affonso Brandão Maciel e de Gilza de Faria Maciel. Declarado GM em 09/01/1950; no- meado 2oTen em 29/12/1950; promo- vido a 1oTen em 29/06/1952; a CT em 13/12/1955; a CC em 19/08/1960; a CF em 16/11/1965; a CMG em 01/12/1969; a CAlte em 31/03/1976; a VAlte em 31/03/1981 e a Alte Esq em 31/03/1985. Foi transferido para a Reserva em 31/03/1988 e Reformado em 16/04/1995. Em sua carreira exerceu sete coman- dos: Contratorpedeiro Pernambuco, Co- mando em Chefe da Esquadra, Comando Naval de Brasília, Comando da Força de Contratorpedeiros, 1o Distrito Naval e Comando de Operações Navais. WALTER FARIA MACIEL Exerceu quatro direções: Chefia do Almirante de Esquadra Estado-Maior das Forças Armadas, Di- NECROLÓGIO retoria do Pessoal Militar da Marinha, Em reconhecimento aos seus serviços, Secretaria-Geral da Marinha e Diretoria- recebeu inúmeras referências elogiosas e -Geral de Navegação. as seguintes condecorações: Outras comissões: Gabinete do Co- Ordem do Mérito Naval – Grã-Cruz; mando da Marinha, Escola Naval, Navio- Ordem do Mérito da Defesa – Grande- -Escola Almirante Saldanha, Encoura- -Oficial; Ordem do Mérito Militar – çado Minas Gerais, Contratorpedeiro Grande-Oficial; Medalha de Serviço de Acre, Contratorpedeiro Marcílio Dias, Guerra; Ordem do Mérito Aeronáutico Rebocador Tritão, Centro de Instrução – Comendador; Ordem de Rio Branco – Almirante Wandenkolk, Cruzador Bar- Grã-Cruz; Ordem do Mérito Judiciário roso, Centro de Adestramento Almirante Militar – Distinção; Medalha Militar e Marques de Leão, Cruzador Tamandaré, Passador Platina – 4o Decênio; Medalha Contratorpedeiro Araguaia, Comissão Naval dos Serviços Distintos; Medalha Naval Brasileira em Washington, Con- Mérito Tamandaré; Medalha Mérito Ma- tratorpedeiro Pará, Contratorpedeiro rinheiro – 2 Âncoras; Medalha do Pacifi- Paraíba, Contratorpedeiro Paraná, Base cador; Medalha Mérito Santos Dumont; Naval de Natal, Centro de Instrução e Pt-M2 Portugal – Medalha do Mérito Almirante Tamandaré, Escola de Guerra Militar de 2a Classe. Naval, Escola Superior de Guerra e Co- À família do Almirante Walter Faria Ma- légio Interamericano de Defesa. ciel, o pesar da Revista Marítima Brasileira.

244 RMB1oT/2019 ACONTECEU HÁ CEM ANOS

Esta seção tem o propósito de trazer aos leitores lembranças e notícias do que sucedia em nossa Marinha, no País e noutras partes do mundo há um século. Serão sempre fatos devidamente reportados pela Revista Marítima Brasileira. Com vistas à preservação da originalidade dos artigos, observaremos a grafia então utilizada.

THESES DA ESCOLA NAVAL DE GUERRA (RMB, jan/fev 1919, p. 471) Primeira these A politica e suas relações com a guerra – Apresentada em 31 de maio de 1918 pelo Official-Alumno Capitão de Fragata Armando Burlamaqui

Politica é a sciencia de gover- que os de dependencia da poli- nar povos e conduzir nações. tica á guerra. Guerra é o meio de que usa Para que, porém, possamos a politica para obter a solução apprehender a natureza destas que não poude conseguir de ou- relações, devemos, primeiramen- tra fórma. te, considerar a politica em seus Por estas simples definições campos de acção. desde logo se verifica que entre A politica sendo a sciencia do a politica e a guerra existem es- governo dos povos e conducta treitas e intimas relações. das nações, é, no primeiro caso, A politica prepara a guerra, uma questão privativa do pro- determina-a, e egualmente a prio povo, é a politica interna, e, acciona, podendo, por sua vez, porque trata, como no segundo a guerra pelos seus resultados, caso, da conducta da nação en- produzir alterações na politica, tre nações, é a politica externa. fazendo inversão dos seus ter- As caracteristicas de uma e mos e mesmo designios . outra derivam-se do seu campo As relações estreitas e inti- de acção, mas, posto que se exer- mas entre as duas são, portan- cendo em campos diversos, exis- to, reciprocas, muito embora os tem entre ellas grandes laços de laços de subordinação da guer- união e harmonia, que influem ra á politica sejam mais fortes poderosamente sobre as relações ACONTECEU HÁ CEM ANOS directas da politica com a guer- politica relativa, em opposição á ra e desta com aquella. interna que consideraremos como A politica interna deve ser as- politica absoluta, porque diz res- sumpto da exclusiva competencia peito somente ao proprio povo. dos povos; nada lhes deve impedir O absolutismo desta ultima de escolher livremente o regimen politica tem os seus limites na politico, porque entendem ser go- vontade e aspirações do povo, vernados: só a elles, no exercicio emquanto que a relatividade de uma legitima soberania e que da primeira é variavel com a constitue a sua melhor caracteris- marcha dos acontecimentos in- tica de existencia politica, cabe a ternacionaes, o que determina decisão sobre o modo porque os uma influencia maior ou menor seus interesses devem ser guia- sobre a guerra, isto é, sobre a dos, e as suas necessidades mate- politica de guerra ou melhor – riaes e moraes ser attendidas. politica militar. Esta liberdade de acção, na Evidentemente desde que a si- politica interna, de que de- tuação internacional se altera, vem gozar todos os povos, mas alterada no mesmo sentido deve de que, de facto, digamos des- achar-se a politica militar que de logo, nem todos gozam, não della depende, a ellla está presa, subsiste integral com relação à por ser filha da necessidade de am- politica externa, que deve ser a parar a acção do paiz no convivio resultante de factores diversos, com os outros paizes, amparo que operando sob um conjuncto de até o presente é unicamente efficaz circumstancias especiaes que se quando secundado pela força. formam de condições particula- Se bem que uma deva ser filha res que se criam, e que indepen- de livre manifestação e a outra dem da exclusiva vontade ou do tenha de estimar factores sobre livre arbitrio das nações. sobre os quaes não tem acção, as A politica externa, portanto, relações entre ambas se mantêm move-se em uma área de interes- inalteraveis, presas à mesma or- ses diversos, independentes uns dem de sujeição, sem diminui- dos outros, e tem de attender á ção na intensidade do interesse situação de cada um destes inte- que as une. resses, sem sacrificar suas conve- A influencia da politica inter- niencias, a menos que o desprezo na sobre a externa é real. pelos direitos dos outros não en- Independente, entretanto, do tre em seus calculos previos. seu regimen politico, a menos A politica externa é uma poli- que a sua pratica não venha tica de acção relativa ou é uma pertubar o regimen dos outros

246 RMB1oT/2019 ACONTECEU HÁ CEM ANOS paizes, como vimos outrora com Não póde haver bôa politica a revolução franceza e agora pre- exterior sem bôa politica inte- senciamos com as tendencias da rior, sem que seja uma politi- autocracia prussiana. Os efeitos ca estavel, segura de seus fins de uma má politica interna pe- e prestigiada pelo resultado de sam sensivelmente na marcha suas acções. e até na solução dos problemas internacionaes do paiz. (...)

A TUBERCULOSE NA MARINHA (RMB, jan/fev 1919, p. 579)

Uma vez, ha já algum tempo, crença supersticiosa nessa coin- escrevi nesta Revista um artigo cidencia. E embalando a doce commentando impressões que esperança de que tal coincidencia recebera em visitas feitas ás me- se podesse repetir, foi que, ainda lhores escolas de enfermeiros de mal alinhavadas as presentes França, Inglaterra e Allemanha. linhas, me dirigi pressuroso á Por esses tempos, que não vão as- redacção desta conceituada Re- sim tão longe, não havia na Ma- vista, cujo acolhimento, sempre rinha, nem se conhecia no Bra- benevolo e generoso, permitte que zil, escolas onde se ministrasse qualquer leitor se arvore em arti- essa instrucção profissional; taes culista e, a modo de cathedratico, funcções eram pois exercidas en- emitta opiniões e conceitos em as- tre nós por curiosos, prestativos, sumptos que estão muito acima aparadeiras, etc. de sua acanhada competencia. Depois desse artigo, que não foi Peço, pois, aos mui distinctos muito divulgado, mesmo o não collegas que perdoem vir tomar mereceria, surgiu no Hospital da a palavra neste assumpto, em Marinha um simulacro de escola que, de reconhecida proficiencia, para enfermeiros, com um regu- são tambem por demais versa- lamento e um professor, a qual dos, quem talvez venha assim vai fazendo progressos sensiveis mais uma vez perder uma opti- com a nova orientação actual. ma occasião de guardar o mais Minha pretenciosa vaidade profundo e respeitoso silencio. não attinge ao exaggero de acre- Mas ha nisto uma justifica- ditar que tenha havido uma rela- tiva acceitavel, com que certa- ção de causa a effeito, entre meu mente conseguirei perdão segu- modesto artigo e a benemerita ro: trabalhando no Laboratorio fundação de tal Escola; mas me de Analyses Clinicas do Hospi- ficou, não sei bem porque, uma tal Central da Marinha, me foi

RMB1oT/2019 247 ACONTECEU HÁ CEM ANOS dada a opportunidade, durante samente os conceitos que aqui o anno que se acaba de extin- ficam, e que si acaso têm algum guir, de fazer 230 pesquizas de valôr não é de certo pelas novas bacillos de Koch em escarros, idéas que encerram, mas pelas sendo que, em 65 vezes, 28,2%, boas intenções, as quaes talvez foram encontrados esses ba- possam inspirar a quem de di- cillos. Isso, ao simples exame reito em pról de uma porção de bacterioscopico; portanto é bem gente que soffre, por falta de de crer que muitas outras vezes quem advogue sua causa justa. teriam sido elles revelados, si se Era meu intento, antes de houvera feito a homogenização qualquer referencia ao problema e a inoculação systematicas do em questão, fazer um pequeno material suspeito. Consideran- proemio para evitar que o leitor do bem, já é uma porcentagem amavel se perca em considera- respeitavel. ções pessoaes relativamente ao Attendendo a essas conside- modesto autor, guardando as- rações, foi que, rompendo todas sim todo seu precioso e escasso as difficuldades que me tolhem, tempo para considerar apenas o resolvi expremer minha massa problema que pretendo suggerir. cinzenta, fazendo escorrer peno- (...)

OS PROBLEMAS NAVAES NA CONFERENCIA DA PAZ (RMB, jan/fev 1919, p. 591)

Os problemas navaes de que nha lhe foi a responsabilidade vai dentro em breve cuidar a no assegurar à grande campa- Conferencia da Paz, se lhe não nha occidental a sua finalida- constituirem a materia mais de victoriosa, que os problemas séria, hão de, por certo, appare- da Conferencia da Paz, aparte o cer, entre os a que ella porven- contigente das restituições ma- tura se entregar, como os mais teriaes e geographicas, podem delicados. se resumir, em summa, n’uma O mar adquiriu com esta guer- questão naval: a de saber se de ra cujas cruezas inauditas ain- par com os novos valores trazi- da se não extinguiram de todo, dos á civilização pelo evoluir, a tão ampla significação estrate- um lado, das actividades indus- gica, soffreu tantas transgres- triaes, que transformaram o sub- sões nos principios fontanarios mersível e o aeroplano em armas da sua jurisprudencia, e tama- positivas de combate, e a outra,

248 RMB1oT/2019 ACONTECEU HÁ CEM ANOS das juridicas que proclamaram A guerra apurou-a a civi- durante a guerra os direitos dos lização de tal arte, que sobre neutros, o mar conservará as res- a fazer tributaria de todas as tricções que se lhe oppunham, ou industrias, a algumas gerou se, abolindo-se o contrabando de para advertir, que é mais na guerra e as limitações existentes paz que ella se collige e avia-se no principio da inviolabilidade do que mesmo no seu transcor- da propriedade particular, elle rer, onde tudo são applicações. entra de facto a ser livre. O seu “processus” pelo exigir o Do ponto de vista exclusivo concurso de todas as funcções da estrategia, a extincção do sociaes, em actos espontaneos contrabando de convergentes, guerra não viria requere uma restringir a acti- A guerra apurou-a a coordenação vidade guerrei- civilização de tal arte, que que só se vinga atravéz às lon- ra das nações, sobre a fazer tributaria embora, sob o gas treguas da conspecto juri- de todas as industrias, acalmia, n’um dico, Sorimer e a algumas gerou para trabalho conti- Westlake – duas advertir, que é mais na paz nuo e profundo, autoridades que ella se collige e avia- de construir e precipuas – nol- se do que mesmo no seu armasenar ma- teriaes, ins- -a tenham de- transcorrer, onde tudo monstrado bri- truir e exercitar lhantemente em são applicações tropas, desen- contrario. volver e fomen- tar recursos, de As organizações militares mobilizar a nação, desde a gente contemporaneas tornaram-se ás suas industrias, á sua scien- sobremodo complexas por que cia, ás suas artes, de girar os se lhes expurgue o contrabando planos de campanha e analy- de guerra sem que, ao mesmo sar as situações estrategicas possa, nos processos da guerra, que porventura esses compor- aterem-se e para peior as condi- tem, catalogar, computar, me- ções moraes e amoraes em que ditar, castramentar e prever. elles a estas horas se tramam. Ainda mesmo, materialmente, Cumpre até salientar, pelo a tarefa será complicada e ain- contrario, que tudo leva a crer da demorada e multifacea. recrudesçam assim na frequen- cia como na brutalidade. (...)

RMB1oT/2019 249 ACONTECEU HÁ CEM ANOS

O CAMPO, A ESCOLA E A CASERNA CONFERENCIA CIVICA (RMB, jan/fev 1919, p. 603) Realizada em Miracema, Estado do Rio, em 26 de Setembro de 1918, pelo 1o Tenente da Armada Oscar Barbosa Lima

Senhores: perdurar esta modestissima pa- Não fôra molestia séria e di- lestra minha. fficilmente estaria hoje ao vosso Certo, em vossa consciencia se lado, n’esta boa terra de Mira- firmará uma pergunta: porque cema, onde em face do aspecto motivo vem esse moço realisar encantador da natureza está o esta palestra? coração bondoso do povo. Sim, tendes demasiada razão. E’, portanto, Accredito, po- de maxima satis- rém, que depois fação para mim No campo, encontramos de me ouvirdes, sentir, por mais o pão do corpo; na escola, regressareis ao alguns dias, esse o pão do espirito, e na vosso lar, meio fa- dôce convivio de tigados de minha vossa terra, onde caserna, o pão do civismo. E’ portanto destes tres pouca lucidez de o verde expressivo espirito, mas des- de suas monta- alimentos, que fazem da de já confesso que nhas é o eterno criança, homem; do homem, me restará um symbolo da es- intellectualidade; e da consolo, o de ter perança. intellectualidade, moral. concorrido com Natureza capri- O campo é a aurora mais uma peque- chosa! sêde sempre nina parcella de complacente com brilhante do futuro trabalho em pról a gente de Mirace- economico do dessa grandiosa ma! Ella precisa patria amada. sempre do vosso A sinceridade concurso, para poder engrandecer e é uma das virtudes mais expres- prosperar. sivas do coração; e sendo assim, Não vos esqueçaes de Mirace- desde já vos asseguro que não ma; neste momento, porém, em ides ouvir palavras brilhantes, que me vejo cercado da èlite so- como certamente estaes acostu- cial, vos peço tambem não m’o mados a ouvi-las, porém vereis recuseis durante o tempo que que mesmo na pobreza da ex-

250 RMB1oT/2019 ACONTECEU HÁ CEM ANOS pressão se poderá sentir a gran- natureza; aqui, ao contrario, deza da alma. campos tambem vastissimos vi, mas, esquecidos da piedosa mão O assumpto que escolhi para do homem, quasi que entregues motivo desta conferencia é o completamente a si mesmos. Campo, a Escola e a Caserna. E se não fôra talvez a guerra, Assumpto vastidissimo! o descaso e o descuido pela agri- Centenas de paginas têm sido cultura em nosso paiz continu- escriptas, e certamente ainda o aria no mesmo pé de outr’ora, serão por todo o futuro da hu- época em que milhares e milha- manidade! res de contos sahiam dos cofres No campo, encontramos o publicos para beneficiamento, pão do corpo; na escola, o pão não da lavoura, porém de meia do espirito, e na caserna, o pão duzia de apaniguados, que em do civismo. breve se tornaram senhores de E’ portanto destes tres ali- fortuna. mentos, que fazem da criança, Justo seja confessar que, ao homem; do homem, intellectu- lado de tudo isso, algum traba- alidade; e da intellectualidade, lho productivo ficou, e creio não moral que, permitta Deus possa errar citando o nome de Miguel eu, dentro dos limites compati- Calmon, como d’aquelles que veis com a opportunidade, vos mais se interessaram, e ainda expôr tão claramente o assump- hoje se interessam, pela causa do to, quanto o desejo extraordina- Brazil agricola d’amanhã. rio que me animou a tanto. Convençamo-nos todos nós Acostumado aos caprichos do brazileiros, de que o futuro do oceano vagueando d’aqui p’ra Brazil está no Campo. ali e d’ali pr’além, mares longi- E’ delle que surgirá a fonte quos da patria, aspectos diver- inesgotavel da riqueza nacional. sos me têm empolgado os olhos Não se me torna preciso recor- e deliciado o espirito; mas com dar comvosco o aspecto physico franqueza, nenhum talvez tanto do Brazil: basta que vos lembre quanto o que me tem dado vêr a que se de um lado está a grande vossa terra: o aspecto dos cam- bacia hydrographica, do outro pos fluminenses! encontra-se desde as alterosas E’ que por toda parte vi cam- montanhas, que se ramificam pos vastissimos, a perder mesmo em differentes cadeias, até os de vista, cultivados, plantados, monticulos que se formam na cuidados a esmero pelo homem, região do sul, findando tudo na porém pouco protegidos pela vasta planicie riograndense.

RMB1oT/2019 251 ACONTECEU HÁ CEM ANOS

D’ahi, a diversidade de climas ducção que existe em todos os de- que se encontram no Brazil, des- mais. de a zona equatorial do Amazo- Não é intuito meu, e isso já vos nas até as zonas gelidas do Rio disse ha pouco, nem siquer de Grande. leve, tratar do aspecto physico do Da diversidade de climas, Brazil: tem isto sido assumpto de resulta a diversidade de pro- obras valiosas que facilmente os ducções. estudiosos encontrarão; o que se Pouca talvez seja a producção firma no plano de minha exposi- do mundo que se não encontre ção é mostrar, em linhas geraes, no Brazil! e Estados ha, como como o campo é a aurora brilhan- por exemplo a Bahia, em que se te do futuro economico do Brazil. encontra quasi que de toda pro- (...)

NOTICIARIO MARITIMO

NOTICIARIO MARITIMO travessia com destino ao porto desta Capital. ELOGIOS – Foi mandado O Snr. Ministro da Marinha elogiar nominalmente em or- mandou tambem elogiar o Ca- dem do dia do Estado Maior da pitão de Mar e Guerra Raul Os- Armada, o commandante do re- car de Faria Ramos, “pelo seu bocador “Laurindo Pitta” Capi- muito zelo, actividade, espirito tão-Tenente Clodoveu Celestino organizador com que se hou- Gomes e demais officiaes pelo esforço, dedicação e competen- ve no desempenho de dirigir e cia com que se conduziram du- superintender os serviços inhe- rante o tempo em que a citada rentes aos internados allemães unidade permaneceu a serviço na ilha das Flores, durante um da divisão naval em operações anno e dias em que foi o com- de guerra e o em que realizou a mandante da referida ilha”.

MARINHAS ESTRANGEIRAS INGLATERRA e dos inventos mecanicos feitos no correr da guerra o “Manchester INVENTOS DE GUERRA – Guardian” diz que de um lado e Referindo-se aos progressos reali- do outro dos belligerantes se fize- zados pelas sciencias applicadas ram dessas descobertas, mas a cir-

252 RMB1oT/2019 ACONTECEU HÁ CEM ANOS cumstancia de que durante toda a ca que fôra religiosamente con- guerra e particularmente nas suas servado em segredo, acaba de ser ultimas phases, foi aos Alliados revelado. que couberam quasi todas as hon- Refere-se a um verdadeiro ras dessas descobertas, bem como cruzador submarino capaz de se a grande maioria dos progressos medir com o maior contra-torpe- realizados, parece indicar patente- deiro existente actualmente e de mente uma diminuição de energia travar combate até com os cru- de parte dos Allemães. zadores modernos. Os aeroplanos britannicos, por Esses navios, designados pelo exemplo, communicavam-se entre nome de “Typo K”, revolucionam si por um systema de telephone a guerra maritima. sem fio de que os Allemães não O segredo que se guardava dispunham, e cujo segredo, a des- sobre esses navios residia na peito de todos os seus esforços, não não revelação de dados relati- lograram achar em nenhum dos vos às suas grandes dimensões apparelhos britannicos que captu- e á sua velocidade, assim como raram. Da mesma maneira, pro- no facto de, na superficie das segue o “Manchester Guardian”, aguas, navegarem a vapor e se- possuimos certas vantagens no rem munidos de duas chaminés que respeita ao emprego dos appa- como o são os navios de guerra relhos photographicos. No correr ordinarios. dos ultimos mezes de guerra, o Real Corpo de Aviação fez na fren- Os cruzadores submarinos te occidental cerca de um quarto britannicos a que nos referimos de milhão de clichês, de que se são os maiores e melhores sub- tiraram seis milhões de copias. marinos do mundo. Cada um Não sabemos quantos terão feito delles tem um deslocamento de os Allemães, mas os britannicos duas mil toneladas, quando na- tinham em seu favor uma grande vegam a superficie das aguas, e vantagem: é que os seus appare- de duas mil e setecentas tonela- lhos eram construidos de modo tal das, quando submersos. que lhes bastava accionarem uma Seu comprimento é de trezen- alavanca para obterem immedia- tos e quarenta pés e tem de base tamente a mudança da chapa, por vinte e sete pés e meio. um simples systema automatico. Podem, na superficie das aguas, manter uma velocidade NOVO TYPO DE SUBMARI- média de vinte e quatro nós, e, NOS – Um dos grandes segredos quando submersos, uma veloci- de guerra da Marinha britanni- dade de dez nós por hora.

RMB1oT/2019 253 ACONTECEU HÁ CEM ANOS

Tem um raio de acção de tres O armamento deste submari- mil milhas. Transporta cada um no consiste em oito ou dez tubos delles, entre marinheiros e offi- lança-torpedos. ciaes, cincoenta e cinco homens. A principio o armamento com- E’ este o único typo de subma- prehendia dous ou tres canhões rino a cujo bordo a equipagem de tres e quatro pollegadas, mas pôde viver constantemente. as ultimas unidades do “typo K” Não é também necessario possuem actualmente canhões comboial-o. muito mais poderosos.

254 RMB1oT/2019 REVISTA DE REVISTAS

Esta seção tem por propósito levar ao conhecimento dos leitores matérias que tratam de assuntos de interesse marítimo, contidas em publicações recebidas pela Revista Marítima Brasileira e pela Biblioteca da Marinha. As publicações, do Brasil e do exterior, são incorporadas ao acervo da Biblioteca, situada à Rua Mayrink Veiga 28 – Centro – RJ, para eventuais consultas.

SUMÁRIO (Matérias relacionadas conforme classificação para o Índice Remissivo)

FORÇAS ARMADAS OPERAÇÃO Relações de trabalho (256)

HISTÓRIA HISTÓRIA DOS EUA A Crise dos Mísseis de Cuba e os Joint Chiefs (257)

PSICOSSOCIAL REVISTA Fragatas Niterói – 25 ou 40 anos? (257)

SAÚDE ALIMENTAÇÃO As algas na alimentação humana (258) REVISTA DE REVISTAS

RELAÇÕES DE TRABALHO Santiago Rivas* (Naval Forces, no VI/2018, p. 46-48)

Este detalhado artigo aborda os exer- navios de outros países exemplificam cícios realizados por Marinhas latinas como isso se materializou. Para Rivas, por mais de meio século com o propósito essas atividades são instrumentais para de aprendizado entre elas e também para o desenvolvimento de doutrinas comuns incrementar a eficiência na proteção de entre os diversos poderes regionais. suas águas jurisdicionais. Santiago Rivas cita e analisa os di- O autor trata inicialmente do lança- versos exercícios liderados pelos EUA, mento da série de exercícios Unitas, que, além da Unitas, como as séries Panamax, segundo ele, se deu após a detecção de Tradewinds e Rimpac. Ele aborda também submarinos, provavelmente soviéticos, exercícios dos quais os EUA não partici- na costa argentina, em 1959, e que deu pam e que buscam atender ao imperativo origem à perseguição por navios argenti- de controle de tráfico de drogas, envol- nos, com apoio da Marinha dos Estados vendo, em especial, Marinhas da região Unidos da América (EUA). do Caribe. Naquela fase, ocorreu também a mu- O autor conclui que o incremento de dança do escopo da ameaça no Caribe problemas de segurança e a melhora das após a revolução cubana, com apoio relações entre países têm contribuído para soviético. O propósito das operações o aumento da cooperação entre as Mari- Unitas era o de treinar as Marinhas latinas nhas da região. A troca de experiências, em guerra antissubmarino e contra outras intercâmbios, treinamentos e a realização ameaças possíveis do bloco soviético. de operações conjuntas têm cumprido Buscava também prontidão para agir em o propósito de melhorar o controle dos Cuba, em caso de necessidade. A primeira mares, de dificultar o tráfico de drogas Unitas ocorreu na Venezuela, em agosto e de aumentar a cobertura para Busca e de 1960, e elas continuam até hoje. A Salvamento (SAR, Search and Rescue). próxima edição, a 60a, será realizada em A experiência recente de busca do 2019. ARA San Juan e a necessidade de se Na medida em que, com o passar do controlar o Caribe e o Oceano Pacífico tempo, a percepção das ameaças mudou, Central demonstram, para Rivas, a impor- a cooperação entre forças armadas do tância de se trabalhar em conjunto quando continente aumentou seu espectro. O a capacidade de cada força individual é intercâmbio de oficiais e o embarque em insuficiente para o cumprimento da tarefa.

* Jornalista de Defesa residente na Argentina. Colaborador regular de mídias internacionais, como Tecnologia Militar e Naval Forces.

256 RMB1oT/2019 REVISTA DE REVISTAS

A CRISE DOS MÍSSEIS DE CUBA E OS JOINT CHIEFS Capitão de Fragata (EUA) Dan Martins* (Naval War College Review, EUA, outono 2018, volume 71, número 4, pág. 91-110)

A participação dos Joint Chiefs of Staff1 recomendações, e a crise foi solucionada (JCS) na Crise dos Mísseis de Cuba, em por outros meios. 1962, é analisada detalhadamente neste O autor apresenta relato cronológico artigo, que extrai lições sobre conciliação baseado em extensa pesquisa e, dentre de objetivos políticos com soluções mili- suas inúmeras conclusões, se destaca a tares expeditas. importância dos militares como a “arma As recomendações dos JCS então feitas mais afiada da diplomacia”. Segundo ele, ao Presidente John F. Kennedy foram as operações militares devem ser conduzi- consistentes com décadas de experiência das com objetivos claramente definidos e militar, bem como com a doutrina adotada as soluções militares servem como opções para manter os soviéticos sob pressão por para sua consecução e como dissuasoras meio de dissuasão, afirma Dan Martins. para assegurar a continuidade do discurso No entanto, Kennedy não adotou aquelas político e da diplomacia.

FRAGATAS NITERÓI – 25 OU 40 ANOS? Capitão de Mar e Guerra (Refo) Fernando Moraes Baptista da Costa (Publicação do Clube Naval, 2019)

O Departamento Cultural do Clube O documento, de agradável leitura, traz Naval lançou suplemento que registra a histórias e fatos que aconteceram durante história e fatos da construção das fragatas o planejamento e a execução do projeto classe Niterói na Inglaterra. O autor con- para construção e nacionalização daqueles sidera que essas informações podem ser navios. Após escolha de estaleiro, fecha- úteis para a Marinha do Brasil. mento de contratos e demanda de pessoal, A publicação é composta por 15 pá- passou-se à execução – das seis fragatas, ginas e foi escrita e editada pelo Capitão quatro foram construídas no estaleiro Vos- de Mar e Guerra (Refo) Fernando Moraes per Thornicroft, na Inglaterra, e as outras Baptista da Costa, encarregado do Grupo duas no Arsenal de Marinha do Rio de de Fiscalização e Recebimento de Fraga- Janeiro. Na Inglaterra foram construídas tas na Inglaterra e delegado do Governo as fragatas Niterói, Defensora, Consti- brasileiro durante o Projeto Fragatas tuição e Liberal, e, no Brasil, a União e a (1974-1977). Independência.

* Aviador Naval. Imediato do Esquadrão de Helicópteros de Ataque Marítimo (HSM) 37. Possui mais de 2.300 horas de voo em aeronaves SH-60B e MH-60R e serviu embarcado no USS George Washington. É formado em História pela Universidade George Mason. 1 O equivalente na estrutura das Forças Armadas brasileiras que mais se aproxima é o Estado-Maior Conjunto das FFAA.

RMB1oT/2019 257 REVISTA DE REVISTAS

Finalizando o relato, o autor registra vivência entre os conveses de aço e o alu- sua satisfação em ver que esses navios, mínio das superestruturas), já superaram cuja “vida” prevista pelo idealizador do a marca de 40 anos de serviços prestados Projeto, Engenheiro Usher, seria de 25 à Esquadra brasileira e seguem operando anos (devido à imprevisibilidade da con- até os dias de hoje.

Fragatas Niterói e Defensora

AS ALGAS NA ALIMENTAÇÃO HUMANA Leonel Pereira1 (Revista de Marinha, Portugal, setembro/outubro de 2018, p. 36-37)

Neste artigo, o autor descreve a impor- e gorduras saturadas, que suprem nossas tância das algas marinhas como fonte de necessidades energéticas imediatas mas não alimentação e como alternativa para suprir as nutrem. Segundo Leonel Pereira, estudos carências nutricionais da alimentação atual mostram que o consumo desse tipo de co- em nível mundial. mida em relação a uma alimentação caseira O ritmo frenético da vida urbana afetou ou melhor elaborada gera uma deficiência de os hábitos e costumes da sociedade, que nutrientes, ocasionando, no futuro, doenças viu nas chamadas fast foods a solução para como obesidade, diabetes e arteriosclerose, ganhar tempo e poupar trabalho na elabora- entre outras. ção de refeições, o que resultou no consumo Como contrapartida, pesquisas revelam desenfreado de comidas ricas em calorias uma melhor forma de corrigir as carências

1 Centro de Ciências do Mar e do Ambiente e Departamento de Ciências da Vida da Universidade de Coimbra.

258 RMB1oT/2019 REVISTA DE REVISTAS nutricionais da população com a introdução de algas marinhas no cardápio dos países ocidentais. As algas marinhas são pobres em gorduras e possuem um vasto leque de compostos essenciais, como minerais, proteínas, vitaminas e fi- bras, necessários ao nosso metabolismo. Outro fator importante é a existência de milhares de espécies de algas no planeta, já que podem ser encontradas em águas marinhas, lagos, rios As algas na alimentação humana e paisagens rochosas. O autor apresenta, ainda, perfis nutri- nos Açores e apresenta receitas típicas para cionais das algas, cita seu uso tradicional culinária com algas.

RMB1oT/2019 259 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Esta seção destina-se a registrar e divulgar eventos importantes da Marinha do Brasil e de outras Marinhas, incluída a Mercante, dar aos leitores informações sobre a atualidade e permitir a pesqui- sadores visualizarem peculiaridades da Marinha. Colaborações serão bem-vindas, se possível ilustradas com fotografias.

SUMÁRIO (Matérias relacionadas conforme classificação para o Índice Remissivo)

ADMINISTRAÇÃO ATIVAÇÃO Ativação do Centro Integrado de Segurança Marítima – Cismar (264) COMEMORAÇÃO 10o Aniversário do Centro de Medicina Operativa da Marinha (265) 75 Anos do desembarque na Itália (267) Dia da Marinha Mercante brasileira (268) Hospital Naval de Belém comemora 60 anos (269) Hospital Naval de Brasília celebra 50 anos (270) CONDECORAÇÃO Militar da MB recebe comenda da Unmiss (270) Militares da MB recebem a Peacekeeping Medal da ONU (271) Presidente da República e Ministro da Defesa recebem a Ordem do Mérito Naval (271) CRIAÇÃO Implantação de Parque Tecnológico da MB no RJ (272) INAUGURAÇÃO 6o DN inaugura canil no GptFNLa (273) ComForSup inaugura Praça do Fogo Sagrado (274) Farol de Ponta de Pedras é reinaugurado (275) Praça da Marinha é inaugurada em Palmas (275) NOTICIÁRIO MARÍTIMO

POSSE Assunção de cargos por almirantes (276) MB assume a direção do CAE/CPLP (277) Transmissão do cargo de Cema (278) PRÊMIO CPAOR encerra Programa de Segurança da Navegação na Amazônia 2018 (285) Operação Cisne Branco 2018 (285) Prêmio Eficiência 2018 do ComForSup (286) Prêmio Qualidade Rio (287) Troféus Dulcineca, Operativos e Positicon (288) USP premia militar da MB como melhor aluno em Engenharia Naval (288) TRANSFERÊNCIA DE SETOR Transferência do Núcleo de Inteligência Tecnológica (289)

ATIVIDADES MARINHEIRAS BUSCA E SALVAMENTO 5o DN realiza Evam em navio de cruzeiro (289) 6o DN resgata militar boliviano (290) DelItajaí resgata dois náufragos (290) Fragata Rademaker realiza Evam (291) HS-1 realiza Evam no navio Amelia Pacific (291) MB resgata paciente em Taquari (292) HIDROGRAFIA AvHoFlu Rio Xingu conclui comissão Adecom-H13/Recon I (292) OCEANOGRAFIA Alunos da Uerj embarcam no NHo Cruzeiro do Sul (293) PREVISÃO METEOROLÓGICA Noc Antares realiza pesquisa em parceria com a USP (293) NPqHo Vital de Oliveira estuda fenômeno atmosférico no Atlântico Sul (294) SINALIZAÇÃO NÁUTICA MB reconstrói o Farolete Moronas no Rio Amazonas (295)

CIÊNCIA E TECNOLOGIA (C&T) ENERGIA NUCLEAR MB e CNEN assinam protocolo de intenções (296) PROJETO Sispag 2 desenvolve novos módulos (296)

CONGRESSOS CONFERÊNCIA XIII Conferência Naval Interamericana Especializada em CNTM (297) REUNIÃO MB participa de reunião sobre tráfego marítimo no Pacífico e Índico (297)

RMB1oT/2019 261 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

EDUCAÇÃO ESCOLA DE GUERRA NAVAL Curso de doutorado PPGEM (298) EGN e Cebri firmam parceria (299) ESPORTE Resultados esportivos (299)

FORÇAS ARMADAS ADESTRAMENTO MB e FAB operam em conjunto em Manaus (301) AERONAVE EsqdHA-1 recebe aeronaves AH-11B (301) MB assina contrato para aquisição de três aeronaves (302) Super Cougar é transferido para o setor operativo (303) EXERCÍCIO Navios do GptPatNavL realizam exercícios (304) OPERAÇÃO FFE encerra participação nas operações de GLO e faz balanço (304) PATRULHA NAVAL CFT realiza Inspeção Naval na Tríplice Fronteira (306)

GUERRAS GUERRA NBQR MB recebe grau máximo no teste da Opaq (306)

PODER MARÍTIMO APRESAMENTO NPa Guarujá apreende embarcações irregulares (307) NPa Pampeiro apreende duas balsas (307) PATRULHA NAVAL NPa Guaíba apresa barco de pesca (308) PLATAFORMA CONTINENTAL Brasil submete à ONU definição da Plataforma Continental (309) NPqHO Vital de Oliveira apoia o Leplac (310) SEGURANÇA DA NAVEGAÇÃO CPAOR divulga segurança da navegação e prevenção ao escalpelamento (310)

POLÍTICA SEGURANÇA MB e Ministério da Segurança Pública assinam protocolo de intenções (311)

PSICOSSOCIAL AJUDA HUMANITÁRIA 9o DN apoia vítimas de incêndio em Manaus (312) MB participa de apoio a Brumadinho (MG) (312)

262 RMB1oT/2019 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

ASSISTÊNCIA SOCIAL AgCaracaraí realiza primeira comissão no Rio Branco (313) Asshop atende comunidades indígenas (313) MB e Caixa ampliam atendimento a ribeirinhos (314) MB e EB realizam parto de emergência na Operação Acolhida (315) CINEMA Lançamento do filme em homenagem ao Patrono da CT&I na MB (316) LANÇAMENTO DE LIVRO DPHDM lança versão digital de livro (317) RELAÇÕES PÚBLICAS Museu em Férias (318) Portões Abertos 2018 (319) SOAMAR Curitiba recebe a mais nova Soamar (320)

RMB1oT/2019 263 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

ATIVAÇÃO DO CENTRO INTEGRADO DE SEGURANÇA MARÍTIMA – CISMAR

Foi realizada, em 17 de dezembro úl- nacional, atuando permanentemente e timo, a ativação do Centro Integrado de de forma coordenada com as agências Segurança Marítima (Cismar). O Centro, governamentais e elementos do Poder que funciona no Edifício Almirante Marítimo, principalmente em Águas Tamandaré, Rio de Janeiro (RJ), é o Jurisdicionais Brasileiras (AJB). antigo Comando do Controle Naval Nasce o Cismar. do Tráfego Marítimo (Comcontram). As tarefas exercidas pelo Comcontram O comandante de Operações Navais, ao longo de seus 50 anos de existência Almirante de Esquadra Paulo Cezar de continuarão a ser realizadas pelo Cismar, Quadros Küster, emitiu a seguinte Ordem porém o novo Centro terá a capacidade do Dia alusiva à ativação: de coletar, integrar e analisar dados, “De acordo com a Portaria no 326/MB, produzindo conhecimentos de interesse de 31 de outubro de 2018, foi alterada a não só para a MB, mas também para outros denominação do Comando do Controle órgãos governamentais, na prevenção e no Naval do Tráfego Marítimo (Comcon- combate de crimes transnacionais por meio tram) para Centro Integrado de Segurança do compartilhamento de informações e Marítima (Cismar). consequentes ações de interoperabilidade Em 2016, durante os Jogos Olímpicos e entre todos os envolvidos. Paralímpicos do Rio de Janeiro, a Marinha Continuará exercendo as tarefas de do Brasil (MB) alcançou uma expertise Comando Local do Controle Operativo em Consciência Situacional Marítima (Colco) na Área Marítima do Atlântico (CSM), conquistada com a utilização de Sul (Amas), composta por Argentina, novas ferramentas de monitoramento e Brasil, Paraguai e Uruguai, além de gerenciamento do tráfego marítimo pelo operar o Centro de Dados Regional órgão centralizador, o Comcontram. LRIT (CDRL) Brasil, reconhecido pela A partir de uma visão estratégica, foi Organização Marítima Internacional identificada a necessidade de aperfeiçoar (IMO) como parte do Sistema de o gerenciamento da segurança marítima Identificação e Acompanhamento de e da consequente atualização da estrutura Navios a Longa Distância, sendo uma organizacional da MB. eficiente ferramenta de acompanhamento As resoluções advindas dessas do tráfego marítimo e de apoio aos necessidades formataram adequações nas eventos de busca e salvamento (SAR). instalações do Comcontram, mudanças O Cismar, além de atuar como em sua atual organização administrativa Organização Militar de Orientação e uma maior integração com os demais Técnica (Omot) para os assuntos de órgãos governamentais que possuíssem Controle Naval do Tráfego Marítimo interesses afetos ao tráfego marítimo, (CNTM), será responsável por ensinar e buscando alcançar um ambiente solidificar os conhecimentos adquiridos baseado na cooperação, confiança e com a implementação da doutrina Naval compartilhamento de informações Cooperation and Guidance for Shipping para preservar a segurança marítima (NCAGS), já utilizada há alguns anos

264 RMB1oT/2019 NOTICIÁRIO MARÍTIMO pelas Marinhas dos países pertencentes à Azul (SISGAAz), importante sistema de Organização do Tratado do Atlântico Norte Comando, Controle e Inteligência que (Otan), como ferramenta de auxílio aos produzirá dados e informações essenciais navios mercantes que porventura tenham para a manutenção de nossa segurança que trafegar em áreas de risco, contribuindo marítima, particularmente em nosso para a segurança do tráfego marítimo. entorno estratégico. Além de uma nova organização Aproveito a oportunidade para administrativa, o Cismar abriga uma Sala agradecer o apoio dos Ministérios da de Crise Interagências, dimensionada para Defesa e da Segurança Pública, traduzido acomodar os representantes das agências no recente aporte de recursos necessários governamentais que se apresentaram como à implementação do projeto piloto do parceiras deste ambicioso projeto nacional SISGAAz na Baía de Guanabara. de segurança marítima, dentre as quais Por fim, exorto os marinheiros do eu destaco: o Departamento de Polícia Cismar, oficiais e praças que trabalharam Federal (DPF); a Secretaria de Receita diuturnamente para a ativação desta OM, a Federal do Brasil (SRFB); a Agência manterem inabaláveis seu profissionalismo, Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa); seu entusiasmo e sua dedicação, pois a Comissão Nacional de Segurança Pública estamos diante de um nível de exigência dos Portos, Terminais e Vias Navegáveis cada vez maior, em que futuros desafios (Conportos); a Agência Nacional de exigirão comprometimento, capacidade Transportes Aquaviários (Antaq); o e adestramento, indispensáveis para a Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e manutenção da elevada confiabilidade e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) prestígio que a Marinha do Brasil desfruta e o Instituto Chico Mendes de Conservação perante a comunidade marítima nacional da Biodiversidade (ICM-Bio). e internacional no que diz respeito à É, portanto, com grande satisfação segurança da navegação e à proteção de que ativamos o Centro Integrado de nossa pátria. Segurança Marítima, atuando como órgão Nosso lema: “Monitorando águas, centralizador das possíveis ameaças vindas resguardando vidas”. do mar e, principalmente, como núcleo do (Fonte: Bono Especial no 971, de Sistema de Gerenciamento da Amazônia 17/12/2017)

10o ANIVERSÁRIO DO CENTRO DE MEDICINA OPERATIVA DA MARINHA

Foi comemorado, em 28 de janeiro últi- e nossos corações transbordam de júbilo mo, o aniversário de dez anos do Centro de por mais um ano de comprometimento, Medicina Operativa da Marinha (CMOpM). lealdade, trabalho, amor e dedicação Transcrevemos abaixo a Ordem do Dia alu- de nossa aguerrida tripulação nesta siva ao evento, emitida pelo diretor daquela dura jornada, que tem sido vencida Organização Militar, Contra-Almirante com perseverança e tenacidade. Nossas (Md) Humberto Giovanni Canfora Mies. vitórias foram muitas desde a criação “Hoje o CMOpM completa dez anos deste Centro pela Portaria no 27/MB, de existência e, nesta data, nossas almas de 27 de Janeiro de 2009.

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Continuamos participando do plane- No que tange à capacitação de pes- jamento e da execução das principais soal, foram realizados 26 cursos e ades- operações da Esquadra e de Fuzileiros tramentos que se valeram dos recursos Navais com grande sinergia. Destaca-se do Setor de Simulação Realística – entre a Operação Atlântico, primeira operação eles o Curso Expedito de Medicina de conjunta com a participação das três Superfície e o Curso Especial de Unidade Forças Singulares atuando no Complexo Médica Nível 2 (UNMD) –, os quais, Hospitalar do Navio Doca Multipropósito em conjunto, perfizeram um total de Bahia, em um ambiente profícuo, em bus- 355 militares qualificados somente no ca da manutenção da interoperabilidade e ano de 2018. do aprestamento das Forças. Como materialização do seu de- Ressalta-se, ainda, não só a preparação sempenho institucional, o CMOpM de militares em Atendimento Pré-Hospitalar foi agraciado com a Medalha Ouro no Tático (APH) e Suporte Básico de Vida PQ-Rio/Ciclo 2018 e elevado do Nível (SBV) para uma iminente participação de Gestão 3 diretamente ao 5 brasileira na Missão Multidi- pelo Núcleo de Qualidade mensional Integrada das Na- e Excelência em Gestão do ções Unidas para a Estabilização Rio de Janeiro. Tais fatos da República Centro-Africana servem como indicadores da (Minusca), como também o rápida evolução desta OM inovador trabalho desenvol- no que diz respeito às suas vido em parceria com o Co- práticas de gestão e ao seu mando da Força de Fuzileiros alinhamento aos objetivos da Esquadra, o Comando do do Programa Netuno. Pessoal de Fuzileiros Navais, a Ao completar sua pri- Diretoria de Saúde da Marinha, meira década, o CMOpM o Comando da Divisão Anfíbia, demonstra, pelos exemplos o Centro de Instrução Almirante citados, a flexibilidade para Sylvio de Camargo, a Unidade adaptação e a capacidade de Integrada de Saúde Mental e o Brasão do Centro de antecipar-se aos desafios, Serviço de Seleção do Pessoal Medicina Operativa da atributos indispensáveis ao da Marinha para prevenção do Marinha (CMOpM) cumprimento de sua missão, desenvolvimento do transtorno contribuindo assim para o es- de estresse pós-traumático no contingente tabelecimento de uma Marinha à altura selecionado, uma aspiração de longa data, de suas demandas constitucionais e alcançada com resultados impressionantes. compatível com a relevância geopolí- A recente aquisição da atual nau capi- tica do Brasil no concerto das nações. tânia da Esquadra, o Porta-Helicópteros Parabéns ao Centro de Medicina Multipropósito Atlântico, demandou novos Operativa da Marinha, a todos os que estudos sobre o guarnecimento de pessoal participaram da sua história e aos que e material para que o Complexo de Saúde hoje constroem os alicerces do seu futuro. preste o apoio necessário à execução das Viva a Marinha!” tarefas desse novo meio de superfície. (Fonte: Bono Especial no 80, de 28/1/19)

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75 ANOS DO DESEMBARQUE NA ITÁLIA

Foi comemorado, em 27 de janeiro último, o aniversário de 75 anos do desem- barque das tropas brasileiras na Itália. A comemoração aconteceu no Monumento aos Mortos da Segunda Guerra Mundial (Monumento dos Pracinhas), no Parque do Flamengo, cidade do Rio de Janeiro. O evento foi promovido pela Con- fereração Israelita do Brasil (Conib) e Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro (Fierj), com apoio da Administra- ção do Monumento, da Diretoria do Pa- Cerimônia no Monumento dos Pracinhas trimônio Histórico e Cultural do Exército, do Museu Histórico do Exército (Forte Copacabana), do Comando Militar do Leste, do 1o Distrito Naval e do Comando da Aeronáutica. Além do governador do Estado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, e prefeito do Rio, Marcello Crivela, compareceram oficiais-generais das três Forças, ex- -combatentes da Segunda Guerra Mundial – brasileiros, franceses, russos e polo- neses – e sobreviventes do Holocausto. Estiveram presentes também deputados, vereadores, embaixadores e cônsules de Aposição de flores em memória aos soldados desconhecidos diversos países. Associações de vetera- nos e pesquisadores de história militar mirante de Esquadra Leonardo Puntel e pelo participaram, envergando fardas de época. Coronel Amerino Raposo, ex-combatente A solenidade foi aberta com a entrada dos mais antigo. Foi apresentado áudio com estandartes de todas as unidades terrestres, mensagem do Presidente da República, navais e aéreas brasileiras que participaram Jair Bolsonaro, e, após toque de silêncio, a do conflito mundial. Na ocasião, a Academia cerimônia foi encerrada com a execução do de História Militar concedeu a Plaqueta Hino dos Partisans e da Canção do Expedi- General Moyses Chahon (herói da Força cionário, pela Banda de Música da Escola de Expedicionária Brasileira – FEB), a ex- Sargentos de Logística, acompanhada pelo -combatentes e autoridades. Velas foram Coral Israelita Brasileiro, sob a regencia do acesas por representantes das comunidades Maestro Abrahão Rumschinski. vitimadas no holocausto e foi feita aposição À saida, o público cobriu os quase de flores sobre túmulos de soldados des- 500 túmulos de soldados brasileiros com conhecidos e de coroas em memória dos pétalas de flores, lembrando aqueles que soldados que tombaram na guerra, pelo Al- não voltaram da guerra.

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DIA DA MARINHA MERCANTE BRASILEIRA

Foi comemorado, em 28 de dezembro Nação brasileira incólumes e escreveram último, o Dia da Marinha Mercante brasilei- uma importante página na história da nossa ra. O diretor de Portos e Costas da Marinha, Marinha Mercante, marcada por muitos Vice-Almirante Roberto Gondim Carneiro atos de bravura e que jamais deixaram de da Cunha, expediu a seguinte Ordem do Dia suspender para cumprir sua nobre missão alusiva à data: de transportar os insumos indispensáveis “Hoje, na data do natalício de Irineu à nossa sociedade e ao nosso esforço de Evangelista de Souza, o Visconde de Mauá, guerra. Suas perdas nos fazem refletir sobre comemoramos o glorioso dia da nossa Ma- a importância do transporte marítimo como rinha Mercante brasileira! Considerado seu fator de segurança nacional nos momentos patrono, por dedicar seus investimentos e de crises e conflitos, nos quais os setores incentivos, durante o Império, ao transporte nacionais, sejam políticos, estratégicos ou marítimo brasileiro de forma pioneira, Mauá econômicos, são afetados, uma vez que a era sabedor que o destino marítimo é nossa circulação de bens e mercadorias é feita, marca de nascença e que o Brasil, desde suas majoritariamente, por via marítima. Todavia, origens, é herdeiro de uma das mais ricas em tempos de paz, sua presença simbiótica tradições marinheiras, apostando, desta for- junto à atividade econômica do Comércio ma, seus esforços na prática do intercâmbio Marítimo desempenha ação direta na garan- comercial e cultural com o resto do mundo, tia da estabilidade e na prosperidade da nossa como fonte para ampliação e crescimento da economia, garantindo o funcionamento economia do País. do nosso comércio exterior e contribuindo Adentrando na República, o progresso para o seu equilíbrio interno, bem como na desta mais que centenária instituição se deu promoção da infraestrutura, eficiência por- por meio de três eventos que foram decisi- tuária e geração de emprego e na produção vos, em particular, na navegação de cabota- de bens e serviços. gem: em 1890, na fundação da Companhia Isso posto, a importância estratégica de Navegação Lloyd Brasileiro, estatal que da existência de uma frota mercante sig- ancorou o setor por quase um século, e os nificativa é indiscutível, sendo a Marinha fortalecimentos da Companhia Nacional Mercante brasileira um dos mais importantes de Navegação Costeira, criada em 1891, e segmentos do Poder Marítimo brasileiro. da Companhia de Comércio e Navegação, Destarte sua relevância para o nosso país, fundada em 1905. ressalto dados recentes, trazidos pela Antaq, Em sua participação nos dois conflitos sobre o último trimestre, dos quais enalteço mundiais, tanto na Primeira Guerra Mun- as cargas de longo curso, que apresentaram dial, que comemora, este ano, o centenário movimento de 221 milhões de toneladas, o da assinatura do seu Armistício, quanto que representa, no geral, aumento de 4,1%, a Segunda Guerra Mundial, por dever de quando comparado ao terceiro trimestre justiça, devemos reverenciar com orgulho e de 2017, sendo 39,9 milhões de toneladas gratidão todos os valentes oficiais e tripulan- de cargas de importação e 181,1 milhões tes de nossos navios mercantes que, perma- de toneladas de cargas de exportação; e a nentemente ameaçados de torpedeamento, navegação de cabotagem que obteve, no demonstraram denodo, coragem e compe- terceiro trimestre de 2018, crescimento de tência para manter a honra e a dignidade da 1,7% na movimentação, quando comparado

268 RMB1oT/2019 NOTICIÁRIO MARÍTIMO ao mesmo período do ano anterior. Esse tradicional Distintivo de Comodoro, assim percentual corresponde a 940 mil toneladas como a recente Medalha Mérito Marítimo, acrescidas no trimestre, perfazendo um total criada por meio de decreto e destinada aos de 57,6 milhões de toneladas movimentadas aquaviários que se destacam, entre seus de peso bruto por esse tipo de navegação. pares, pela quantidade de dias de mar e por A movimentação portuária na navegação pré-requisitos de ordem moral, e que fora interior correspondeu a 15,5 milhões de entregue a 45 aquaviários da Marinha Mer- toneladas, representando aumento de 5,1% cante brasileira, oficiais e subalternos, em no comparativo dos terceiros trimestres de cerimônia alusiva ao Dia Marítimo Mundial, 2017/2018. realizada em setembro deste ano, em plena Nesta oportunidade, externo com orgu- Praça Mauá, centro do Rio de Janeiro, de lho que esta Diretoria de Portos e Costas forma inédita e repleta de simbolismo. é sabedora de suas responsabilidades, que Por fim, é mister parabenizar e engrande- norteiam sua missão de contribuir para a cer todos estes notáveis profissionais, mulhe- orientação e o controle da Marinha Mercante res e homens, por transformarem, diuturna- e suas atividades correlatas, no que interessa mente, seu suor e sua abnegação na irrefutá- à Defesa Nacional. Para tanto é sua priori- vel pujança para nossa Marinha Mercante e, dade não só prover segurança, formação e consequentemente, para a soberania nacional. capacitação, mas também alcançar outros Viva a Marinha Mercante! valorosos aspectos de ordem motivacional Viva a Marinha!” e reconhecimento profissional ao aquavi- (Fonte: Bono Especial no 990, de ário deste segmento. Não obstante, cito o 20/12/2018)

HOSPITAL NAVAL DE BELÉM COMEMORA 60 ANOS

O Hospital Naval de Belém (HNBe) promoveu, em 16 de janeiro último, cerimônia em alusão ao seu 60o aniver- sário. Em seguida à solenidade militar, autoridades, instituições e personalidades civis e militares que prestaram relevantes e destacados serviços ao HNBe foram agraciadas com o título de “Amigo do HNBe”. Na ocasião, também foi lançado o selo comemorativo da data. Estiveram presentes o comandante Militares da Marinha e personalidades o do 4 Distrito Naval, Vice-Almirante agraciadas com título “Amigo do HNBe” Edervaldo Teixeira de Abreu Filho; o diretor do HNBe, Capitão de Mar e Saúde da Marinha presentes no HNBe. Guerra (Md) Klbherwal Melo Farias; e Eles participaram da palestra “A impor- a vice-diretora, Capitão de Mar e Guerra tância da Saúde Mental”, proferida pelo (S) Ana Beatriz de Alcantara Menezes. Primeiro-Tenente (Md) Arthur Vinícius No dia 17, foi realizada comemora- Cardoso Silva. ção voltada aos usuários do Sistema de (Fonte: www.marinha.mil.br)

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HOSPITAL NAVAL DE BRASÍLIA CELEBRA 50 ANOS

O Hospital Naval de Brasília (HN- mo, seu 50o aniversário. A cerimônia Bra) celebrou, em 21 de janeiro últi- foi presidida pelo comandante do 7o Distrito Naval, Vice-Almirante Sérgio Nathan Marinho Golds- tein, e contou com a presença de ex-diretores do HNBra, que foram homenageados. Na ocasião, como parte das comemorações, foi anunciada a edição da revista HNBra Informa, com matérias que descrevem e ilustram passagens do primeiro cinquentenário do hospital. Diretor do HNBra discursa durante solenidade (Fonte: www.marinha.mil.br)

MILITAR DA MB RECEBE COMENDA DA UNMISS

O Capitão de Corveta (FN) Tarick Turidu da Silva Nunes Taets foi agra- ciado com a Comenda do Force Com- mander ao final de sua participação na Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul (Unmiss) no período de 6 de agosto de 2017 a 5 de agosto de 2018. O CC (FN) Taets foi o terceiro militar da Marinha do Brasil (MB) a participar da Unmiss e integrou o Sector North Forward (SNF) Head Quarter (HQ). A Unmiss é a mais recente missão de paz da Organização das Nações Capitão de Corveta (FN) Taets (segundo da esq. p/ dir.) Unidas (ONU), tendo sido criada pela durante recebimento da medalha da Unmiss Resolução no 1.996, do Conselho de Segurança da ONU, de 8 de julho de 12.500 militares e 1.323 policiais, além de 2011, um dia antes da proclamação da um contingente de funcionários civis. A independência da República do Sudão do participação da MB na Unmiss ocorre por Sul. Ao ser criada, a missão foi autorizada meio do envio de um oficial superior para a empregar até 7 mil militares e 900 poli- exercer função de oficial de estado-maior ciais civis. Em 2014, a Resolução no 2.155 do SNF HQ, desde meados de 2015. ampliou o contingente autorizado para até (Fonte: www.marinha.mil.br)

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MILITARES DA MB RECEBEM A PEACEKEEPING MEDAL DA ONU

Militares integrantes do 16o Contin- Após a imposição das medalhas, o gente Brasileiro da Força Interina da General Del Col destacou a participa- Organização das Nações Unidas no Lí- ção da FTM na garantia da segurança bano (Unifil) receberam a United Nations das águas libanesas e na estabilidade Peacekeeping Medal, em 14 de janeiro da região, bem como sua contribuição último, em cerimônia realizada a bordo para o desenvolvimento da Marinha do da Fragata Liberal, Líbano. Ressaltou, navio capitânia da também, o evento Força-Tarefa Ma- SAR (Search And rítima (FTM) da Rescue) em que a Unifil. Fragata Liberal, no A solenidade foi dia 11 de outubro presidida pelo Head de 2018, resgatou of Mission and For- 31 sírios que ten- ce Commander da tavam chegar ao Unifil, General de Chipre, e estavam Divisão Stefano Del há três dias à deriva Col, e contou com a no mar. presença do Ministro- Comandante da Marinha Libanesa, Contra- Sob o comando Almirante Hosni Daher, condecora militar da -Conselheiro da Em- Fragata Liberal da Marinha brasi- baixada do Brasil no leira desde feve- Líbano, Jandyr Ferreira dos Santos Júnior; reiro de 2011, a FTM-Unifil possui do comandante da FTM-Unifil, Contra- um Estado-Maior multinacional, seis -Almirante Eduardo Machado Vazquez; navios e dois helicópteros, de seis do comandante da Marinha Libanesa, diferentes nacionalidades: Alemanha, Contra-Almirante Hosni Daher; e de Bangladesh, Brasil, Grécia, Indonésia diversas personalidades civis e militares e Turquia. locais e de países integrantes da missão. (Fonte: www.marinha.mil.br)

PRESIDENTE DA REPÚBLICA E MINISTRO DA DEFESA RECEBEM A ORDEM DO MÉRITO NAVAL

O Presidente da República, Jair Bol- Esquadra Leal Ferreira, durante cerimônia sonaro, e o Ministro da Defesa, Fernando realizada no Clube Naval, em Brasília. Azevedo, receberam, em 8 de janeiro Também estiveram presentes no evento o último, a Medalha da Ordem do Mérito vice-presidente da República, General Ha- Naval, no grau Grã-Cruz, o mais elevado milton Mourão; o comandante da Marinha da Ordem. nomeado, Almirante de Esquadra Ilques A condecoração foi imposta pelo Barbosa Junior; o ministro de Minas e comandante da Marinha, Almirante de Energia, Almirante de Esquadra Bento

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Ambos já possuíam a condecoração no grau anterior – Grande Ofi- cial – por terem presta- do relevantes serviços à Marinha. Na ocasião, o co- mandante da Marinha afirmou que, apesar de simples em sua exe- cução, a solenidade se revestia de um caráter especial, não somente pela importância histó- rica da Medalha, mas Presidente recebe cumprimentos do comandante da Marinha também pelas circuns- tâncias especiais que Costa Lima Leite de Albuquerque Junior; envolveram os agraciados. Segundo além de outras autoridades. ele, mais do que agradecer os feitos do O grau Grã-Cruz da condecoração passado, a homenagem externaliza os refere-se aos cargos assumidos – Presi- sentimentos de esperança e de confiança. dente da República e ministro da Defesa. (Fonte: www.marinha.mil.br)

IMPLANTAÇÃO DE PARQUE TECNOLÓGICO DA MB NO RJ

O diretor-geral de Desenvolvimento (CT&I), possui expertise na modelagem Nuclear e Tecnológico da Marinha, Vice- e implantação de parques tecnológicos -Almirante Marcos Sampaio Olsen, e co- e, atualmente, auxilia no planejamento e mitiva visistaram, em 18 e 19 de fevereiro implantação de 26 destes parques, distri- último, a Fundação Centros de Referência buídos pelo território nacional. em Tecnologias Inovadoras (Certi) e seus O propósito da criação do Parque ambientes promotores de inovação, em Tecnológico é concentrar, em uma mesma Florianópolis (SC). A visita teve como área geográfica, empresas; universidades; propósito apresentar ao diretor-geral as instituições científicas, tecnológicas e instalações da Fundação e o trabalho de inovação (ICT); incubadoras e ace- desenvolvido por ela, que recentemente leradoras para que, de forma sinérgica, assinou contrato com a Marinha do Brasil promovam um ambiente propício à (MB) para a implantação de um Parque inovação tecnológica com soluções que Tecnológico da Marinha no Rio de Ja- impactem positivamente os projetos da neiro, no Complexo da Ribeira, na Ilha Marinha e a sociedade. A expectativa do Governador. é de que futuras comercializações das A Certi, entre as várias áreas de atuação tecnologias de caráter “dual”, produzidas no setor de Ciência, Tecnologia e Inovação neste empreendimento, possibilitem, além

272 RMB1oT/2019 NOTICIÁRIO MARÍTIMO do contínuo aprimoramento da CT&I, a Por meio destes passos, a Diretoria- formação de novas capacitações nacionais -Geral de Desenvolvimento Nuclear e e o recolhimento de royalties sobre os Tecnológico da Marinha (DGDNTM) produtos desenvolvidos. inicia o processo de criação de um Ecos- A implantação do Parque Tecnológico sistema de Inovação, ambiente no qual or- na Ilha do Governador ocorrerá em cinco ganizações irão interagir de forma harmô- fases, compreendendo: Estudo de Viabi- nica e sustentável, buscando desenvolver lidade (Fase 0), De- projetos conjuntos, senvolvimento (Fase aprendizado mútuo e 1), Pré-implantação criações inovadoras. (Fase 2), Implanta- A iniciativa pos- ção (Fase 3) e Ope- sibilitará condições ração (Fase 4). Como para que se tenha, parte das obrigações em breve, a integra- contratuais das Fa- ção do Parque Tec- ses 0 e 1, previstas nológico na Ilha do no atual escopo do Governador com projeto, uma equipe Diretor-geral e comitiva em visita atividades científi- da MB está sendo ca- técnica à Fundação Certi cas e tecnológicas pacitada no tema "Parques Tecnológicos" do Centro Experimental de Aramar, do e também será realizada uma reunião de Complexo Naval de Itaguaí e de outros kick-off, na qual serão detalhadas estas demandantes do Setor de CT&I da Força fases do contrato. Após, ocorrerá um Naval, em prol de soluções inovadoras e workshop de nivelamento direcionado colocando a DGDNTM na fronteira do aos principais interlocutores do Setor de conhecimento para revolucionar e melhor CT&I que, futuramente, poderão se ins- atender às necessidades da MB. talar no Parque Tecnológico da Marinha. (Fonte: www.marinha.mil.br)

6o DN INAUGURA CANIL NO GptFNLa

O Comando do 6o Distrito Naval ansiosos para que os cães tenham, de fato, (Ladário-MS) inaugurou, em 23 de janeiro plena condição de emprego operativo, o último, a Seção de Cães de Guerra e o Ca- que é fundamental para as atividades da nil Lobão, no Grupamento de Fuzileiros Marinha do Brasil aqui na região.” Navais de Ladário (GptFNLa). A nova O comandante do GptFNLa, Capitão instalação tem o propósito de empregar de Fragata Cláudio Zupo Valente, expli- cães detectores de entorpecentes nas cou que os cães serão empregados nas instalações e operações de interesse da operações de Garantia da Lei e da Ordem Marinha do Brasil (MB) na região sob e nas operações conjuntas, podendo haver jurisdição do 6o DN. participação dos órgãos de segurança O comandante do 6o DN, Contra-Almi- pública e fiscalização, executadas sob a rante Carlos Eduardo Horta Arentz, presi- coordenação do Ministério da Defesa. diu a cerimônia e destacou a importância “Dessa forma, cumpriremos as atribuições do canil na Fronteira Oeste. “Estamos subsidiárias por meio de ações preventivas

RMB1oT/2019 273 NOTICIÁRIO MARÍTIMO e repreensivas na faixa de fronteira terrestre e nas águas interiores.” As instalações do Canil Lobão foram construídas em 2018 e contam, atualmen- te, com cães das raças pastor belga, malinois, e border collie, ainda em fase Inauguração do Canil Lobão no GptFNLa de adestramento. O nome é uma homena- mento profissional. O Capitão-Tenente Lo- gem ao Capitão-Tenente (AFN) Rogério bão morreu em outubro de 2016. A família Lobão de Oliveira, que serviu na MB por do militar homenageado foi representada quase 27 anos e demonstrou, durante toda a por sua viúva, Ana Elisabeth Lobão. sua carreira, notável interesse no aprimora- (Fonte: www.marinha.mil.br)

COMFORSUP INAUGURA PRAÇA DO FOGO SAGRADO

A Praça do Fogo Sagrado foi inaugurada em 12 de dezembro último, no Comando da Força de Superfície (ComForSup), Ilha de Mocanguê (RJ). A cerimônia foi presidida pelo comandante de Operações Navais, Almiran- te de Esquadra Paulo Cesar de Quadros Küster, e contou com a presença do comandante em chefe da Esquadra, Almirante de Esquadra Alipio Jorge Rodri- gues da Silva, e dos almirantes Inauguração do Monumento ao Fogo Sagrado do Comando de Operações Na- vais (ComOpNav) e da Esquadra, além aprestamento dos meios subordinados. dos comandantes dos esquadrões e navios Para acessar a praça, os visitantes e da Força de Superfície. tripulantes percorrem a Alameda das Na ocasião, foi inaugurado também o Virtudes, onde estão dispostos 16 totens, Monumento ao Fogo Sagrado, composto que representam a proa de um navio de por símbolos integrantes do Brasão da guerra, cada um simbolizando uma virtude Força de Superfície. A coluna jônica, de da Rosa das Virtudes. 1,70 m, representa a atividade básica de (Fonte: www.marinha.mil.br)

274 RMB1oT/2019 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

FAROL DE PONTA DE PEDRAS É REINAUGURADO

Após obras de reconstrução, a Capitania dos Portos de Pernambuco reinaugurou, em 5 de dezembro último, o Farol de Ponta de Pedras, no município de Goiana (PE). Durante a solenidade, foram en- tregues certificados de agradecimento ao vice-prefeito de Goiana, Eduardo Honório, e a moradores de Ponta de Pedras, como reconhecimento pelos relevantes serviços prestados em apoio à reconstrução do farol. Cerimônia de reinauguração do farol Em seu discurso, o capitão dos Por- tos de Pernambuco agradeceu àqueles que contribuíram para a execução da obra, destacando, em especial, a im- portância histórica de Benedicto José Vellozo César, ex-proprietário da área em que foi construído o farol. “Somos muito gratos ao Senhor Benedicto, que era um admirador e entusiasta da nossa Marinha. Foi atendendo a um desejo Vice- prefeito e moradores receberam certificados dele que, em 1979, seus herdeiros pela reconstrução do Farol de Ponta de Pedras cederam este terreno para a Marinha do Brasil, permitindo nossa atuação na Além de servir como ponto de referên- garantia da segurança da navegação e na cia luminosa para as embarcações, o farol salvaguarda da vida humana no mar”, é mais um atrativo turístico para a região. afirmou o capitão dos Portos. (Fonte: www.marinha.mil.br)

PRAÇA DA MARINHA É INAUGURADA EM PALMAS

Foi inaugurada em Palmas (TO), em 28 foi agraciada com a Medalha Amigo da de janeiro último, a Praça da Marinha do Marinha, em reconhecimento ao apoio Brasil. A praça fica na Avenida das Forças que tem sido prestado pelo município Armadas, e compõem seu paisagismo uma às diversas ações realizadas pela Capi- lancha de apoio ao ensino e patrulha de 7 tania Fluvial do Araguaia-Tocantins. metros (Laep-7) – que encerrou seu ciclo A solenidade contou, ainda, com a operativo na Marinha do Brasil – posi- presença do comandante do 7o Distrito cionada sobre o desenho de uma âncora Naval, Vice-Almirante Sérgio Nathan e as bandeiras do Brasil, do Tocantins e Marinho Goldstein; do capitão dos da cidade de Palmas. Portos do Araguaia-Tocantins, Capitão Durante a cerimônia de inauguração, de Fragata Cláudio Alberto Teixeira a prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro, Ramos; da presidente da Sociedade

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Amigos da Marinha – Palmas, Valquíria Moreira Rezende; e do deputado federal Vi- centinho Júnior, além de autoridades civis e militares e de represen- tações de alunos da Es- cola de Tempo Integral Almirante Tamandaré (da qual a Marinha é parceira institucional) e do Programa Forças nos Esportes. (Fonte: www.mari- Praça da Marinha do Brasil nha.mil.br)

ASSUNÇÃO DE CARGOS POR ALMIRANTES

– Contra-Almirante Sérgio Lucas da – Almirante de Esquadra Ilques Bar- Silva, diretor do Pessoal Civil da Marinha, bosa Junior, comandante da Marinha, em 17/12; em 9/1; – Contra-Almirante Alan Guimarães – Vice-Almirante Valter Citavicius Azevedo, diretor de Obras Civis da Filho, diretor do Departamento de Marinha, em 18/12; Promoção Comercial da Secretaria de – Contra-Almirante (FN) Renato Rangel Produtos de Defesa do Estado-Maior Ferreira, comandante do Centro de Instrução Conjunto das Forças Armadas, em 14/1; Almirante Sylvio de Camargo, em 20/12; – Almirante de Esquadra Almir – Contra-Almirante Antônio Capis- Garnier Santos, secretário-geral do trano de Freitas Filho, secretário de Co- Ministério da Defesa, em 15/1; ordenação de Sistemas do Gabinete de – Contra-Almirante (EN) José Luiz Segurança Institucional da Presidência Rangel da Silva, diretor do Arsenal de da República, em 27/12; Marinha do Rio de Janeiro, em 17/1; – Almirante de Esquadra Liseo Zam- – Contra-Almirante (IM) Marcos pronio, chefe do Estado-Maior da Arma- Inoi de Oliveira, coordenador do Or- da, em 4/1; çamento da Marinha, em 18/1; – Vice-Almirante (EN) Mario Ferreira – Vice-Almirante (IM) Jayme Tei- Botelho, diretor de Engenharia Naval, em 7/1; xeira Pinto Filho, diretor do Centro de – Vice-Almiramte Noriaki Wada, di- Apoio a Sistemas Logísticos de Defesa retor do Centro Tecnológico da Marinha do Estado-Maior Conjunto das Forças em São Paulo, em 7/1; Armadas, em 21/1; – Contra-Almirante Rogerio da – Vice-Almirante Marcelo Francisco Rocha Carneiro Bastos, diretor de As- Campos, comandante do 2o Distrito sistência Social da Marinha, em 7/1; Naval, em 23/1;

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– Vice-Almirante (EN) Liberal Enio Marítima da Força Interina das Nações Zanelatto, diretor Industrial da Marinha, Unidas no Líbano, em 28/2; em 23/1; – Contra-Almirante Gilberto Santos Kerr, – Vice-Almirante (RM1-IM) Edesio comandante da 1a Divisão da Esquadra, em 8/3; Teixeira Lima Junior, diretor-presiden- – Vice-Almirante Marcos Silva Rodri- te da Empresa Gerencial de Projetos gues, secretário-geral da Marinha, em 14/3; Navais, em 18/2; – Contra-Almirante Paulo César – Contra-Almirante Arthur Fernando Colmenero Lopes, comandante do 9o Bettega Corrêa, vice-chefe do Estado- Distrito Naval, em 14/3; -Maior da Armada, em 27/2; – Vice-Almirante Newton de Al- – Vice-Almirante Flavio Macedo Bra- meida Costa Neto, comandante do 4o sil, chefe do Estado-Maior do Comando Distrito Naval, em 15/3; e de Operações Navais, em 28/2; – Almirante de Esquadra Marcus – Contra-Almirante Eduardo Augusto Vinicius Oliveira dos Santos, presidente Wieland, comandante da Força-Tarefa do Superior Tribunal Militar, em 19/3.

MB ASSUME A DIREÇÃO DO CAE/CPLP

A Marinha do Brasil as- sumiu a direção do Centro de Análise Estratégica da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CAE/ CPLP). O Capitão de Mar e Guerra Francisco Evandro Rodrigues Camelo recebeu o cargo, em 21 de fevereiro último, do Tenente-General Luís Diogo de Carvalho, de Angola, que o exercia desde 2016. CMG Francisco Evandro Rodrigues Camelo A solenidade de trans- (à esq.), Atanásio Salvador M'tumuke e Tenente-General Luís Diogo missão ocorreu nas insta- de Carvalho lações do CAE/CPLP, em Maputo, capital de Moçambique, e foi Conselho Consultivo do CAE/CPLP e presidida pelo ministro da Defesa Na- oficiais generais e oficiais superiores cional daquele país, Atanásio Salvador das Forças Armadas de Defesa de M'tumuke. Participaram da cerimônia o Moçambique, entre outros convidados. embaixador do Brasil em Moçambique; A direção do CAE/CPLP obedece o diretor nacional de Política de Defesa ao critério de rotatividade pelos países de Moçambique; os adidos militares da membros, com mandato de três anos. CPLP em Moçambique; os membros do (Fonte: www.marinha.mil.br)

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TRANSMISSÃO DO CARGO DE CEMA

O Almirante de Esquadra Liseo Zam- guarnecem as organizações militares em pronio assumiu, em 4 de janeiro último, o terra da invicta Marinha de Tamandaré, cargo de chefe do Estado-Maior da Arma- assim como, a contribuição para o for- da (Cema), em substituição ao Almirante talecimento das relações instituições da de Esquadra Ilques Barbosa Junior. A Marinha do Brasil. cerimônia foi realizada no Grupamento de Para o aprimoramento executado pelo Fuzileiros Navais de Brasília e presidida Estado-Maior da Armada, pontuaram, pelo comandante da Marinha, Almirante entre tantas, as significativas participações de Esquadra Eduardo Bacellar Leal Fer- da Casa Civil da Presidência da República; reira. O evento contou também com a Ministério da Justiça e Segurança Públi- presença do ministro da Defesa, General ca; Ministério das Relações Exteriores; Fernando Azevedo e Silva. Ministério da Economia; Ministério de Minas e Energia; Ministério do Meio DESPEDIDA E Ambiente; Ministério da Transparência e AGRADECIMENTO DO Controladoria-Geral da União; Gabinete ALMIRANTE ILQUES de Segurança Institucional da Presidência da República; Ministério Público Federal; “Após um ano e três meses de singradu- Ministério Público Militar; Academia Bra- ra, demando o porto com a flâmula de fim sileira de Letras; Academia Brasileira de de comissão içada, certo de que em breve Ciências; Petróleo Brasileiro S.A.; Agên- esta nau largará as espias, caçará o pano cia Nacional do Petróleo, Gás Natural e e voltará ao mar, lugar que lhe pertence. Biocombustíveis; Polícia Federal; Receita Entre os apitos longos, que marcam o Federal; Empresa Gerencial de Projetos encapelar da primeira espia e o 'largar' da Navais; Companhia de Pesquisa de Recur- última, intensa foi a preparação para a nova sos Minerais; Amazônia Azul Tecnologias jornada e com um novo timoneiro que, de Defesa; Fundação de Estudos do Mar; certamente, saberá ampliar, ainda mais, as Fundação Getúlio Vargas; Fundação capacidades do Estado-Maior da Armada. Alexandre de Gusmão; Fundação Ezute; Na Era do Conhecimento, quando ca- Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada pacitar, qualificar e adestrar sempre orien- e diversas instituições vinculadas às atri- tam as 'ordens em vigor', quero expressar buições da Autoridade Marítima. a minha gratidão pois, os eventuais êxitos Adicionalmente, sempre será impor- alcançados envolvem a contribuição para tante agradecer as participações nos tra- o aprimoramento de matrizes estratégicas balhos do Estado-Maior da Armada, que relacionadas às atribuições do Estado- decorrem de proveitosos relacionamentos -Maior da Armada. com os embaixadores e adidos de Defesa e As matrizes estratégicas envolvem o Naval dos países com os quais a Marinha aprimoramento na elaboração de planos, do Brasil mantém estreitos laços profis- doutrinas, procedimentos e processos, a sionais, de amizade e confiança mútua. capacitação das tripulações dos meios Ao ex-ministro da Defesa, General de navais, aeronavais e de fuzileiros na- Exército Joaquim Silva e Luna, especial vais e dos servidores civis, que também amigo, minha gratidão pelos produtivos

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Cerimônia de Transmissão de Cargo diálogos, em que pude aprimorar o meu ex-comandantes da Marinha; e também saber pessoal e profissional. Também aqueles prestados por distintos chefes agradeço a gentileza e a honra das pre- navais, com quem tive a honra de servir senças do ministro da Defesa, General de ao longo de minha carreira. Exército Fernando Azevedo e Silva, e do Ao General de Exército Eduardo Dias ministro-chefe do Gabinete de Segurança da Costa Villas Bôas, comandante do Institucional da Presidência da República, Exército, e ao Tenente-Brigadeiro do Ar General de Exército Ri- Nivaldo Luiz Rossato, ex-comandante beiro Pereira, o que empresta um brilho da Aeronáutica, agradeço o apoio e as especial à cerimônia. inúmeras demonstrações de apreço e Ao Almirante de Esquadra Eduardo consideração. Da mesma forma, agradeço Bacellar Leal Ferreira, comandante da a presença do Tenente-Brigadeiro do Ar Marinha, agradeço as diretrizes para Antonio Carlos Moretti Bermudez, co- bem exercer a honrosa direção-geral e mandante da Aeronáutica, e do General o relacionamento, pautado em elevado de Exército Edson leal Pujol, comandante profissionalismo e fidalguia naval. Ao nomeado do Exército Brasileiro. dileto chefe naval, expresso a honra e o Ao chefe do Estado Maior-Conjunto privilégio de há muito compartilhar inú- das Forças Armadas, Almirante de Es- meras navegações. quadra Ademir Sobrinho, e ao secretário- Agradeço os exemplos e os apoios do -geral do Ministério da Defesa, Tenente- Almirante de Esquadra Alfredo Karam e -Brigadeiro do Ar Carlos Augusto Amaral do Almirante de Esquadra Mauro Cesar Oliveira, agradeço a fidalguia e imparcia- Rodrigues Pereira, ex-ministros da Mari- lidade no trato dos assuntos relativos aos nha; do Almirante de Esquadra Roberto temas conjuntos, o que permitiu significa- de Guimarães Carvalho e do Almirante tivo aprimoramento na interoperabilidade de Esquadra Julio Soares de Moura Neto, das Forças Armadas.

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Aos chefes do Estado-Maior do Exér- Brasília, o reconhecimento pelo desempe- cito e da Aeronáutica, com os quais traba- nho nos inúmeros apoios e na preparação lhei durante meu período no Estado-Maior e execução de diversos eventos. da Armada, efetuo um agradecimento Sem dúvida, uma honra ter a oportu- especial por meio do General de Exér- nidade de desfrutar de bons momentos cito Paulo Humberto Cesar de Oliveira, de ordem profissional e pessoal. A uma chefe do Estado-Maior do Exército, e do tripulação que não poupa esforços para Tenente Brigadeiro do Ar Raul Botelho, bem cumprir sua missão, determino içar, chefe do Estado-Maior da Aeronáutica. na adriça de boreste, o sinal de manobra Também destaco o sadio espírito de corpo bem executada: Bravo Zulu! observado em diversas ocasiões e reitero, Ao Almirante de Esquadra Liseo Zam- como sempre, o privilégio de estar entre pronio, companheiro em diversas jornadas os bravos dos invictos Exército Brasileiro em nossa Marinha, e a quem tenho a honra e Força Aérea Brasileira. de passar o timão, desejo continuado êxito Aos distintos amigos membros do Al- em sua brilhante carreira e felicidades, mirantado, atuais e aqueles que também extensivas a sua distinta família. tiveram a honra de compor este excelso Finalmente, agradeço a Deus, aos colegiado, agradeço o irrestrito apoio e espíritos superiores, nossos guardiões, e as pertinentes contribuições apresentadas a minha família pelas constantes orienta- durante a elaboração dos nossos trabalhos. ções ao longo dessa singradura, rogando Aos insignes chefes da Marinha, do que permaneçam na vigilância desse ma- Exército e da Aeronáutica, de ontem, rinheiro, ainda iniciante nas lides do bem. hoje e de sempre, agradeço os importantes Tudo pela Pátria! auxílios à navegação, caracterizados pelos Viva a Marinha!” exemplos de profissionalismo e de busca constante pelo aprimoramento moral. AGRADECIMENTO E BOAS- Agradeço a excelência do apoio, da -VINDAS DO COMANDANTE DA amizade e do profissionalismo observa- MARINHA dos nos prezados almirantes que, durante nossa navegação, exerceram a direção do “Transmite hoje o cargo de chefe do Centro de Estudos Político-Estratégicos Estado-Maior da Armada o Almirante de da Marinha, bem como da Representação Esquadra Ilques Barbosa Junior, para, no Permanente do Brasil junto à Organiza- próximo dia 9, assumir o Comando da ção Marítima Internacional e da Escola Marinha. de Guerra Naval. Oficial de reconhecida competência, À valente tripulação do Estado-Maior inteligência e motivação, desempenhou o da Armada, liderada pelo Vice-Almirante cargo com exemplar proficiência, traba- Marcos Silva Rodrigues, vice-chefe do lhando na formulação de políticas de alto Estado-Maior, e aos subchefes, destaco nível, dirigindo, coordenando e acompa- o espírito de praça-d´armas; o apoio, so- nhando a execução dos esforços de interes- bretudo em momentos difíceis; o elevado se estratégico da instituição e assessorando profissionalismo e sempre oportuno e o comandante da Marinha no que tange correto assessoramento, com um agrade- ao preparo e emprego do Poder Naval e cimento especial. Ao gabinete do chefe do às atribuições da Autoridade Marítima. Estado-Maior da Armada, Rio de Janeiro e Durante o período na função, de um ano e

280 RMB1oT/2019 NOTICIÁRIO MARÍTIMO quatro meses, profícuo foi o seu trabalho e buscando que as premissas básicas refe- relevantes os resultados alcançados, o que, rentes às atividades de Defesa Nacional, à vista de suas incontestes qualidades, não Autoridade Marítima e preservação dos poderia ser de outra forma. biomas locais fossem preservadas. Em meio ao difícil cenário político- No âmbito da Organização Marítima -econômico, o Almirante Ilques orientou, Internacional, participou ativamente das de forma segura, os Órgãos de Direção negociações para a reeleição do Brasil ao Setorial, contribuindo para a manutenção Conselho daquele órgão e na elaboração do equilíbrio entre valores destinados à da posição brasileira frente aos importan- Marinha do presente e investimentos para tes temas lá tratados. a Marinha do futuro. Com sua visão, foi Avançou nos estudos e nas medidas possível viabilizar recursos para a incor- referentes à preservação da capacitação em poração do Porta-Helicópteros Multipro- projeto, construção e manutenção de sub- pósito Atlântico e de três navios de apoio marinos no Complexo Naval de Itaguaí. oceânico, sem prejudicar o atendimento de Realizou o workshop 'O Poder Naval: compromissos anteriormente assumidos. presente e futuro da Marinha do Brasil', Foi incansável nos entendimentos visando aprimorar a metodologia aplicada junto ao Ministério da Defesa, aos demais na elaboração dos requisitos de alto nível ministérios e órgãos governamentais e de sistemas e requisitos de Estado-Maior a empresas públicas, para defender a no processo de obtenção dos meios navais. posição da Marinha nos problemas rela- Por fim, avançou, em conjunto com cionados com a Autoridade Marítima, a o Ministério da Defesa e demais Forças, segurança da navegação, a salvaguarda nas medidas, que já estão se consolidando, dos interesses marítimos nacionais e o para o emprego de aeronaves de asa rotati- Poder Naval. va do Exército Brasileiro e da Força Aérea Com vistas a manter a presença de nos- Brasileira a partir do Porta-Helicópteros sa Força Naval no cenário internacional, Multipropósito Atlântico e do Navio-Doca bem como incrementar a capacitação do Multipropósito Bahia. pessoal, promoveu reuniões de Estado- Almirante Ilques, sua escolha para o -Maior com as Marinhas da Colômbia, Comando da Marinha é quase que uma da França, da Itália, de Moçambique, do consequência natural da exemplar car- Paquistão e do Paraguai e proporcionou reira que construiu ao longo de mais de o embarque de militares em navios das 45 anos de serviço. Marinhas da Alemanha, da Argentina, A singradura, que teve início em do Chile, da Colômbia, da Espanha, dos 1973, quando ingressou na Escola Naval, Estados Unidos da América, da França, caracterizou-se pela profunda ligação com da Itália, do Japão, do México, do Peru, a vida no mar. Não existe maior atestado de Portugal e da Suécia. de seu pendor marinheiro que os 18 anos Coordenou a elaboração, em conjunto embarcados e 1.311 dias de mar a bordo com o Instituto Chico Mendes de Conser- do Navio-Escola Custódio de Mello, dos vação da Biodiversidade, das minutas dos Contratorpedeiros Maranhão e Pernam- decretos que criaram, respectivamente, as buco, do Navio-Varredor Atalaia, das Áreas de Proteção Ambiental do Arqui- Fragatas União e Defensora; da Força de pélago de Trindade e Martim Vaz e do Fragatas, da Força de Contratorpedeiros e Arquipélago de São Pedro e São Paulo, da Força de Minagem e Varredura, além

RMB1oT/2019 281 NOTICIÁRIO MARÍTIMO dos comandos do Aviso de Apoio Costeiro ma de tudo, agradecer-lhe pela amizade, Almirante Hess, Rebocador de Alto-Mar pela lealdade e pelo comprometimento e Tritão, Navio-Escola Brasil, Centro de desejar-lhe muitas felicidades, extensivas Adestramento Almirante Marques de à sua estimada esposa Leoniza e às suas Leão, 2a Divisão da Esquadra e Comando filhas Larissa e Christina. em Chefe da Esquadra. Muito obrigado! No entanto, não foi só no mar que Vos- Ao Almirante de Esquadra Liseo sa Excelência se destacou. Não podemos Zampronio, apresento as boas-vindas ao deixar de citar sua atuação em terra, na Estado-Maior da Armada, certo de que a Diretoria-Geral do Pessoal da Marinha, assunção de tão nobre cargo representa um na Escola de Guerra Naval, na Diretoria devido reconhecimento da Marinha pela de Informática da Marinha, no Gabinete excelência dos seus 45 anos de serviço do Comandante da Marinha, no Comando ativo, em que perfez cerca de 1.000 dias de Operações Navais e no Comando do Controle Naval do Tráfego Marítimo. Fruto desse de- sempenho, sua pro- moção aos diversos postos de oficial- -general foi natu- ral. Neles, além de comandante da 2a Divisão da Esquadra e comandante em Chefe da Esquadra, já citados, ocupou os Almirante Liseo faz a leitura do seu discurso de posse cargos de assistente de Marinha na Escola Superior de Guer- de mar e angariou ampla e diversificada ra; secretário de Ciência, Tecnologia e experiência profissional, permeada de Inovação da Marinha; diretor de Portos e grandes realizações, dentre as quais des- Costas; comandante do 1o Distrito Naval; taco os cargos de comandante do Aviso diretor-geral do Pessoal da Marinha e, por de Instrução Guarda-Marinha Jansen, fim, chefe do Estado-Maior da Armada. do Rebocador de Alto-Mar Triunfo, do Estimado Almirante Ilques, enorme é Grupamento de Patrulha Naval do Su- o conceito que Vossa Excelência adqui- deste e do Centro de Apoio a Sistemas riu entre seus pares e entre os brasileiros. Operativos, bem como os de diretor do Já falando como um saudoso veterano, Pessoal Civil da Marinha, do Centro de expresso a minha enorme confiança de Análises de Sistemas Navais e de Obras que a Marinha será entregue a um ex- Civis da Marinha, além de comandante da celente timoneiro e a grande esperança Força Aeronaval e do 8o Distrito Naval e de, mercê de sua liderança, vê-la cada de comandante em Chefe da Esquadra, vez mais forte e pronta para cumprir sua e, no posto de almirante de esquadra, de missão. Mas, neste momento, quero, aci- secretário-geral da Marinha.

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Formulo votos de que, no desempenho os seus objetivos constitucionais e que desta desafiante missão, possa ampliar o galgue efetividade, indo ao encontro dos legado de conquistas e assessoramento anseios da sociedade brasileira. preciso dos brilhantes oficiais que lhe an- O cenário orçamentário restritivo, pre- tecederam, utilizando-se de sua irrefutável sentemente vivenciado, continuará a nos competência e seus inúmeros atributos.” impor esforços administrativos, de me- lhoria de gestão, aplicação parcimoniosa PALAVRAS INICIAIS DO da dotação orçamentária e capacidade de ALMIRANTE LISEO inovação, sempre alicerçada em preceitos legais, para a captação de recursos adicio- “A missão do Estado-Maior da Armada nais, com vistas a permitir a continuidade se reveste de especial relevância para a dos importantes programas e projetos na- Marinha do Brasil, não só pela comple- vais em andamento e a sua correta gestão xidade das tarefas a ele atribuídas, mas de ciclo de vida. também pela qualidade e profundidade Ao iniciar a minha singradura como que o conhecimento chefe do Estado-Maior dos assuntos exige da Armada, gostaria para a prestação de de expressar alguns uma assessoria de agradecimentos. alto nível, compatí- Ao ministro de vel com as deman- Estado da Defesa, das de uma Marinha General de Exército que se preocupa não Fernando Azevedo somente com o pre- e Silva; ao ministro sente, mas também do Meio Ambiente, com os destinos de Ricardo de Aquino seu futuro. Salles; e ao ministro Neste ano, espe- da Infraestrutura, Tar- cialmente no primei- cisio Gomes De Frei- ro semestre, será fun- tas, por nos honrarem damental a atuação com suas presenças. do EMA na conver- Almirante Liseo Agradeço as pre- gência e na inserção senças do Almirante dos projetos estratégicos da Marinha, jun- de Esquadra Mauro Cesar Rodrigues tamente com os das demais Forças e sob Pereira, ex-ministro da Marinha, e do a coordenação do Ministério da Defesa, Almirante de Esquadra Julio Soares de no novo conceito de Estratégia Nacional Moura Neto, ex-comandante da Marinha. de Desenvolvimento Econômico e Social Ao deslocarem-se do Rio de Janeiro para (Endes), base para a confecção do próxi- estar aqui, denotam a importância do mo Plano Plurianual, a vigorar a partir de cargo ora transmitido e muito nos honram 2020, e que propiciará o realinhamento pela deferência. de planejamentos e a pavimentação de Aos membros do Almirantado e dos ações com fito na Marinha que se pretenda Altos Comandos do Exército e da Força possuir em 2031, focando numa Força Aérea, presidente e ministros do Superior moderna, balanceada, capaz de cumprir Tribunal Militar, aos membros dos Poderes

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Legislativo e Judiciário, aos procuradores do Marinha sempre a melhor assessoria sobre Ministério Público da União, aos ex-Cema, o preparo e o emprego do Poder Naval e aos ilustres chefes navais, aqui presentes, sobre as atribuições da Autoridade Ma- sou-lhes grato pelo prestígio que trazem a rítima, na Direção-Geral da Marinha do este momento de minha carreira, pedindo Brasil, no Conselho Financeiro e Admi- desculpas por não os nominar, em função da nistrativo da Marinha, na presidência dos desejada celeridade desta cerimônia. diversos Conselhos Técnicos da Marinha Aos chefes do Estado-Maior Conjunto e na coordenação e acompanhamento das das Forças Armadas e chefes dos Estados- atividades dos Órgãos de Direção Setorial. -Maiores do Exército e da Aeronáutica Gostaria, neste momento singular, de e ao secretário-geral do Ministério da aproveitar a oportunidade para expressar Defesa, ratifico a firme posição de buscar em público não somente o agradecimento os interesses comuns e de aprimorar as ao comandante da Marinha, Almirante de atuações em conjunto, tanto nas atividades Esquadra Eduardo Bacellar Leal Ferreira, operativas quanto nas administrativas. pela confiança na indicação para tão hon- De forma especial, agradeço aos em- roso cargo, mas também o reconhecimento baixadores e adidos navais das nações por sua gestão à frente da Marinha. Nossa amigas, às autoridades civis e militares amizade de décadas foi forjada e construída presentes ou representadas, aos compa- na confiança do trabalho em equipe, que é nheiros da Turma Humaitá e da Turma característico de nossa Força, nos conveses Consciência Nacional, da Escola Superior da querida Fragata União. Ao se aproximar de Guerra, aos membros das Sociedades a hora de passar o timão da Marinha, tes- Amigos da Marinha, aos amigos, amigas, temunho que vivi esse trabalho em equipe senhoras e senhores, por terem se desloca- aplicado no mais alto nível, no Almirantado, do, de diversas regiões do Brasil, a Brasí- sob a sua tranquila e segura condução. Foi lia, e que me honram com suas presenças, uma honra para mim nossa convivência abrilhantando, em muito, esta cerimônia. profissional, em que aprendi todos os dias. Aos meus familiares e, em especial, à Nossa convivência pessoal e familiar conti- minha querida esposa Lenita, parceira de nuará, onde quer que estejamos. Desejo-lhe todas as horas, aos meus filhos Gustavo, muitas felicidades, extensivas à querida Guilherme e netos, à minha irmã Léia, agra- Chris, na nova etapa que se avizinha. deço o apoio que sempre me dispensaram e Por fim, ao dirigir-me à tripulação do externo minha gratidão pelo amor e carinho Estado-Maior da Armada, enfatizo que a e pelos constantes incentivos ao longo de missão que nos é imposta requer muito minha carreira. Estou muito feliz em poder trabalho e dedicação. Honremos o legado compartilhar com todos vocês este momento deixado por nossos antecessores. Reitero de felicidade e realização profissional. a satisfação que tenho em integrar e co- Ao Almirante de Esquadra Ilques mandar esta equipe, que terá como farol a Barbosa Junior, caro amigo e nosso futuro confiança mútua, a qualidade do trabalho e Comandante, sou grato pela maneira clara o foco nas questões de maior importância e objetiva com que me transmitiu o cargo para a Marinha do Brasil. e asseguro-lhe que não medirei esforços Que Deus ilumine nossas ações. em continuar o exitoso trabalho realizado Tudo pela Pátria! em sua gestão. Reitero-lhe meu total e am- Viva a Marinha!” plo empenho em prestar ao Comando da (Fontes: EMA e www.marinha.mil.br)

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CPAOR ENCERRA PROGRAMA DE SEGURANÇA DA NAVEGAÇÃO NA AMAZÔNIA 2018

A Capitania dos Portos da Amazônia jeto teve como propósito desenvolver Oriental (CPAOR) realizou, em 28 de campanhas voltadas para a segurança novembro último, o encerramento e a da navegação, a salvaguarda da vida hu- premiação do Programa de Segurança mana e a prevenção da poluição hídrica da Navegação na Amazônia 2018, no junto à comunidade marítima e fluvial. auditório da Federação das Indústrias Estiveram presentes o comandante do Estado do Pará, em Belém. O pro- do 4o Distrito Naval, Vice-Almirante Edervaldo Teixeira de Abreu Fi- lho; o capitão dos Portos da Ama- zônia Oriental, Capitão de Mar e Guerra José Alexandre Santiago; e diversas autoridades represen- tantes de empresas de navegação, de órgãos federais e estaduais, de serviços de praticagem e de sindicatos da área fluvial. Nesta edição, foram premia- das empresas ligadas ao setor de transporte de passageiros e cargas e pessoas físicas que contribuíram na divulgação e sedimentação da mentalidade de segurança da nave- Premiação do Programa de Segurança da gação na região amazônica. Navegação na Amazônia (Fonte: www.marinha.mil.br)

OPERAÇÃO CISNE BRANCO 2018

O concurso de redação Operação Cisne Branco, cujo propósito é desper- tar na comunidade escolar o interesse pelos assuntos relacionados à Marinha do Brasil e às coisas do mar, apresentou, em 2018, dois temas para as redações de alunos do Ensino Fundamental e Médio. O tema “No mar, segurança em primeiro lugar” foi direcionado ao Nível Fundamental. Para o Nível Mé- dio, o tema escolhido foi “Marinha do Brasil: mais do que uma carreira, uma Vencedora nacional recebe prêmio opção de vida”. do comandante do 3o DN

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Sagraram-se vencedores no concurso, em âmbito nacional, os trabalhos dos estudantes Wendy Gomes Carneiro, do Ensino Médio do Colégio Militar de Fortaleza (CE), e Severgnini Vargas, do Ensino Fundamental do Colégio Militar de Porto Alegre (RS). A cerimônia de premiação da vence- dora nacional, Wendy Gomes Carneiro, foi realizada em 7 de dezembro último, a bordo do Navio-Escola Brasil, atracado em Fortaleza. A autora da melhor redação do Ensino Médio recebeu seu prêmio do comandante do 3o Distrito Naval de Natal (RN).

Em 18 de janeiro, foi a vez do estudan- te Severgnini Vargas, vencedor nacional do Ensino Fundamental, receber o seu prêmio, em cerimônia realizada pela Capitania Fluvial (CF) de Porto Alegre (RS). Na ocasião, o aluno leu a redação vencedora para os presentes. o Vencedor nacional lendo a redação (Fonte: Bono n 915, de 26/11/2018, premiada na CF de Porto Alegre e www.marinha.mil.br)

PRÊMIO EFICIÊNCIA 2018 DO COMFORSUP

O Comando da Força de Superfí- passadiço, até a próxima premiação. Já o cie (ComForSup) anunciou, em 28 de NDM Bahia, premiado consecutivamente fevereiro último, a relação dos navios em 2017 e 2018, poderá ostentar o sím- agraciados com o Prêmio Eficiência bolo “E”, com uma barra pintada abaixo 2018. São eles: Corveta Barroso, do deste símbolo. 2o Esquadrão de Escolta; Navio-Doca O Prêmio Eficiência do ComForSup Multipropósito (NDM) Bahia, do 1o foi criado em 4 de janeiro de 2013 e tem Esquadrão de Apoio; e Fragata União, como propósito premiar anualmente os do 2o Esquadrão de Escolta. navios que mais se destacaram nos níveis Com a premiação, a Corveta Barroso e de aprestamento e de comprometimento a Fragata União poderão ostentar o símbo- com a sua prontificação para o combate. lo “E”, pintado na cor branca nas asas do (Fonte: Bono no 168, de 28/2/2019)

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PRÊMIO QUALIDADE RIO

O Prêmio Qualidade Rio (PQRio), lançado em 1999 pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro e operacionalizado pela iniciativa privada, por intermédio do Núcleo de Qualidade e Excelência em Gestão-RJ, realizou, em 5 de dezembro últi- mo, a premiação do VIII Seminário de Boas Prá- ticas e a solenidade de Reconhecimento de Nível de Gestão das Melhores Entrega de prêmios à BHMN, premiada com a categoria Diamante Organizações Públicas do Rio de Janeiro − ciclo 2018. Os eventos Centro de Medicina Operativa da aconteceram no auditório da Caixa Eco- Marinha nômica Federal, Centro do Rio de Janeiro. Centro Médico Assistencial da Marinha O seminário tem o propósito de cons- Centro Tecnológico do Corpo de Fu- cientizar e divulgar metodologia para zileiros Navais diagnosticar o estágio de desenvolvimento Escola Naval gerencial, permitindo estabelecer planos Odontoclínica Central da Marinha de melhoria contínua do desempenho or- Pagadoria de Pessoal da Marinha ganizacional de acordo com os conceitos, Serviço de Identificação da Marinha princípios e fundamentos da excelência − Diploma - Categoria Ouro em gestão aplicados no Programa Netuno. Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro O evento contou com a presença do Diretoria de Abastecimento da Marinha diretor de Administração da Marinha, Diretoria de Portos e Costas Contra-Almirante Luiz Roberto Basso, Diretoria de Finanças da Marinha que fez a entrega dos prêmios, e teve a Sanatório Naval de Nova Friburgo participação de 21 organizações militares Unidade Integrada de Saúde Mental (OM) da Marinha, as quais foram agracia- − Diploma - Categoria Prata das por suas boas práticas em gestão, pro- Base Naval do Rio de Janeiro duzindo resultados relevantes para a Força Capitania dos Portos do Rio de Janeiro e para sociedade. Foram premiadas as Centro de Instrução e Adestramento seguintes OM, nas respectivas categorias: Almirante Newton Braga − Diploma - Categoria Diamante Centro de Instrução Almirante Milcí- Base de Hidrografia da Marinha em ades Portela Alves Niterói Centro de Obtenção da Marinha no − Medalha Ouro e Certificado Rio de Janeiro Caixa de Construções de Casas para o Depósito de Material de Saúde da Pessoal da Marinha Marinha no Rio de Janeiro.

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O Núcleo de Qualidade e Excelência esforços efetivos para melhoria da em Gestão do Rio de Janeiro promove qualidade da gestão rumo à excelência a premiação para reconhecer organi- do seu modelo. zações fluminenses que demonstram (Fonte: www.marinha.mil.br)

TROFÉUS DULCINECA, OPERATIVOS E POSITICON

O Centro de Adestramento Almirante adestramentos de operações navais em Marques de Leão (CAAML) divulgou simuladores de Guerra Eletrônica: Fra- os vencedores dos Troféus Dulcineca, gata União; Operativos (Alfa Mike, Fixo Mage e – Troféu Operativo Uno Lima – Ins- Uno Lima) e Positicon no ano de 2018. tituído em 2005, destina-se ao navio Foram eles: da Esquadra que mais se destacou nos – Troféu Dulcineca – Instituído em adestramentos de operações navais em 1978, destina-se ao navio da Esquadra simuladores de Guerra Antissubmarino: que mais se destacou nos cursos e ades- Fragata Greenhalgh; e tramentos de Combate a Incêndio (CBinc) – Troféu Positicon – Instituído em 2006, e Controle de Avarias (CAV): Fragata destina-se ao militar da Esquadra que mais Constituição; se destacou no exercício da função de – Troféu Operativo Alfa Mike – Ins- controlador aéreo tático, em controle real tituído em 2005, destina-se ao navio no mar e em adestramentos realizados no da Esquadra que mais se destacou nos CAAML: SO-OR Jorlene Gomes Ferreira, adestramentos de operações navais em da Fragata Independência. simuladores de Guerra Acima d'Água: A contagem final de pontos referen- Corveta Julio de Noronha; tes aos navios e militares que concorre- – Troféu Operativo Fixo Mage – ram aos troféus encontra-se no sítio do Instituído em 2005, destina-se ao navio CAAML na Intranet. da Esquadra que mais se destacou nos (Fonte: Bono no 52, de 18/1/2019)

USP PREMIA MILITAR DA MB COMO MELHOR ALUNO EM ENGENHARIA NAVAL

O Capitão-Tenente Guilherme Trin- dos de 2018 Na ocasião, também foram dade Vilela, da Marinha do Brasil entregues outros prêmios. (MB), recebeu, em 6 de fevereiro últi- A cerimônia foi presidida pela dire- mo, o Prêmio Marinha do Brasil, como tora da Escola Politécnica da USP, Pro- melhor aluno em Engenharia Naval fessora Doutora Liedi Legi Bariani Ber- entre os formandos de diversas áreas nucci. Estiveram presentes na solenida- de Engenharia da Escola Politécnica de o diretor do Centro Tecnológico da da Universidade de São Paulo (USP). Marinha em São Paulo, Vice-Almirante A premiação aconteceu no Centro de Noriaki Wada; o diretor da Diretoria de Difusão Internacional (CDI) da USP, Desenvolvimento Nuclear da Marinha, durante a colação de grau dos forman- Contra-Almirante Guilherme Dionízio

288 RMB1oT/2019 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Alves; o Vice-Almirante (RM1- -EN) Francisco Roberto Portella Deiana; o diretor do Centro de Coordenação de Estudos da Marinha em São Paulo, Capitão de Mar e Guerra Rogério Prado Lima de Souza; e o diretor do Centro de Desenvolvimento de Submarinos, Capitão de Mar e Guerra (EN) Flavio Antoun Netto, além dos familiares dos formandos. O VA Noriaki Wada entregou o Prêmio Marinha do Brasil ao O Prêmio Marinha do Brasil CT Guilherme Trindade Vilela foi instituído em 1983, por inicia- tiva do diretor de Ensino da Marinha, Naval realizado na Escola Politécnica e destina-se a premiar anualmente o da Universidade de São Paulo. melhor aluno do Curso de Engenharia (Fonte: www.marinha.mil.br)

TRANSFERÊNCIA DO NÚCLEO DE INTELIGÊNCIA TECNOLÓGICA

O Núcleo de Inteligência Tecnológica A atribuição do órgão é centralizar e da Marinha do Brasil passou a ser subor- produzir conhecimentos de Inteligência dinado, desde 20 de novembro último, à Tecnológica, disseminando-os aos de- Diretoria-Geral de Desenvolvimento Nu- mais órgãos que conformam o Sistema clear e Tecnológico da Marinha do Brasil. de Ciência, Tecnologia e Inovação da O Núcleo foi criado e implementado no Marinha do Brasil e sua rede de pesquisas Estado-Maior da Armada (EMA) em 26 e relacionamento. de fevereiro de 2018. (Fonte: Bono no 975, de 18/12/2018)

5o DN REALIZA EVAM EM NAVIO DE CRUZEIRO

O 5o Distrito Naval (5oDN) realizou, em 9 de dezembro último, Evacuação Aeromédica (Evam) resgatando uma tripulante brasileira, de 68 anos, que necessitava de apoio médico devido a fortes dores estomacais. A enferma es- tava a bordo do navio de cruzeiro MSC Fantasia, de bandeira Panamenha, que navegava no litoral catarinense. O resgate foi realizado pelo 5o Es- quadrão de Helicópteros de Emprego Geral (EsqdHU-5) a aproximadamente EsqdHU-5 em operação de resgate

RMB1oT/2019 289 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

60 quilômetros a sudeste da ilha de Flo- de ressuscitação cardiopulmonar, por rianópolis (SC). consequência de uma parada cardior- Em 13 de janeiro, aeronave do mes- respiratória. mo esquadrão realizou mais uma Evam, Nos dois resgates a aeronave pousou também no MSC Fantasia, durante outro no Aeroporto Internacional Hercílio Luz cruzeiro no litoral catarinense. Desta vez, de Florianópolis (SC) e os enfermos foram o resgate foi de um passageiro argentino transferidos para o hospital do município. de 84 anos, que necessitou de manobras (Fonte: www.marinha.mil.br)

6o DN RESGATA MILITAR BOLIVIANO

A Marinha do Brasil, por meio do 6o Distrito Naval (Ladário- -MS), resgatou, em 1o de feve- reiro, um militar boliviano na região de Porto Índio, cerca de 146 quilômetros de Corumbá (MS). A pedido da Armada da Bolívia, o transporte foi reali- zado de Porto Índio até o Aero- porto Internacional de Corumbá com o auxílio de aeronave do 4o Militar foi transferido da aeronave do EsqdHU-4 para ambulância no Aeroporto de Corumbá Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral (EsqdHU-4), subordi- ambulância boliviana até a cidade de nado ao 6o DN. Puerto Suarez, onde recebeu atendi- O militar, que apresentava ferimento mento médico especializado. na cabeça, foi encaminhado por uma (Fonte: www.marinha.mil.br)

DelItajaí RESGATA DOIS NÁUFRAGOS

A Delegacia da Capitania dos Portos em Itajaí (DelItajaí) resgatou, em 1o de fevereiro último, dois homens nas proximidades da Ponta de Taquaras, em Balneário Camboriú (SC). Militares da DelItajaí estavam na Barra Sul, realizando Inspeção Naval, quando tomaram conhe- cimento de um incidente próximo a eles e, de imediato, iniciaram os procedimentos de busca e salvamento. Dois homens estavam pescando e, no DelItajaí resgatou dois homens nas proximidades momento em que deixariam o local, o da Ponta de Taquaras

290 RMB1oT/2019 NOTICIÁRIO MARÍTIMO motor da embarcação falhou, o remo da perderam um ao outro de vista e se embarcação caiu no mar e, na tentativa afastaram da embarcação. de recuperá-lo, um dos tripulantes se Os dois homens foram localizados lançou ao mar, não conseguindo retor- em boas condições físicas e conscien- nar à embarcação. O outro tripulante, tes, sendo levados pela embarcação da no intuito de prestar socorro ao colega, DelItajaí para o Molhe da Barra Sul, em também se lançou ao mar (ambos sem Balneário Camboriú. coletes salva-vidas); no desespero, (Fonte: www.marinha.mil.br)

FRAGATA RADEMAKER REALIZA EVAM

A Fragata Rademaker foi acionada, em 23 de novembro último, para realizar a Evacuação Aeromédica (Evam) de um tripulante com suspeita de apendicite do Navio-Tanque (NT) Aiolos, de bandeira das Ilhas Marshall. O mercante navegava de Buenos Aires para a África do Sul e estava a 840 milhas (cerca de 1.600 km) do Rio de Janeiro (RJ). O resgate teve apoio da aeronave de serviço da Esquadra, um helicóptero Super-Lynx, que na manhã do dia 25 de novembro executou o transbordo do tripu- Tripulantes da Rademaker embarcam lante enfermo, por guincho (pick-up), do o enfermo na aeronave navio mercante para a Rademaker. Ao fi- uma ambulância aguardava o socorrido nal do mesmo dia, a aeronave seguiu para para transferi-lo a um hospital. o Aeroporto Santos Dumont (RJ), onde (Fonte: www.marinha.mil.br)

HS-1 REALIZA EVAM NO NAVIO AMELIA PACIFIC

O 1o Esquadrão de Helicópteros An- suspeita de AVC, sendo solicitada sua tissubmarino (HS-1) realizou, em 14 de remoção e transporte para o Aeroporto dezembro último, a Evacuação Aeromé- Santos Dumont (RJ). dica (Evam) de um tripulante do navio A aeronave Guerreiro N-3036, com- Amelia Pacific, que estava cerca de 150 posta por tripulação de sete militares – os milhas náuticas (aproximadamente 277 pilotos, (Capitão-Tenente Astor Blanco e quilômetros) da Base Aérea Naval de São Capitão-Tenente Lailton), os operadores, Pedro da Aldeia (RJ). (Sargento Anderson Furriel e Sargento Segundo informação repassada ao Consule), os resgatistas, (Sargento Car- Serviço de Busca e Salvamento da Ma- valho e Sargento Cáfaro), e a médica rinha (Salvamar), Melnichenko Vadym, (Capitão-Tenente (Md) Carina Dornelles) de nacionalidade ucraniana, apresentava – dirigiu-se à posição reportada do navio.

RMB1oT/2019 291 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Foi realizado o pick-up (içamen- to pelo guincho da aeronave) do tripulante por maca, pois se tratava de um navio-tanque, que não possui estação para opera- ções com aeronave. Finalizado o resgate, o he- licóptero dirigiu-se para o Aeroporto Santos Dumont, e o enfermo foi transferido para a equipe médica que ali o aguardava. Tripulação da aeronave que realizou a Evam (Fonte: www.marinha.mil.br)

MB RESGATA PACIENTE EM TAQUARI

Equipe do 6o Distrito Naval resgatou, fortes dores abdominais, na região do em 5 de janeiro último, uma mulher com Taquari. A operação aconteceu a cerca de180 km do centro de Corumbá (MS). A paciente foi resgatada por aerona- ve do 4o Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral (EsqdHU-4), subordina- do ao 6o DN. O voo foi acompanhado por médico do Hospital Naval de La- dário (HNLa), que prestou os primeiros socorros. Na chegada ao heliponto do HU-4, uma ambulância do HNLa seguiu com a pa- A paciente durante transferência para o Pronto ciente para o Pronto Socorro de Corumbá. Socorro de Corumbá (Fonte: www.marinha.mil.br)

AvHoFlu RIO XINGU CONCLUI COMISSÃO ADECOM-H13/RECON I

O Aviso Hidroceanográfico Fluvial (AvHoFlu) Rio Xingu, subordinado ao Centro de Hidrografia e Navegação do Norte, realizou, de 11 a 20 de janeiro último, no Rio Pará, a comissão Adecom- -H13/Recon I, de Adestramento de Co- mando e de Reconhecimento de Área. Durante a comissão, foram realizados os restabelecimentos das estações fluvio- AvHoFlu Rio Xingu em trânsito no Rio Pará

292 RMB1oT/2019 NOTICIÁRIO MARÍTIMO métricas das cidades de Curralinho e São redução mais condizentes com a rea- Sebastião da Boa Vista, no estado do Pará. lidade atual do Rio Pará, contribuindo Em paralelo às atividades hidrográ- com o planejamento e a execução de ficas, foram conduzidos adestramentos levantamentos hidrográficos previstos práticos. Os dados coletados serão para o ano de 2019. utilizados para o cálculo de níveis de (Fonte: www.marinha.mil.br)

ALUNOS DA UERJ EMBARCAM NO NHo CRUZEIRO DO SUL

Doze alunos da Universidade Esta- dual do Rio de Janeiro (Uerj) embarca- ram, em 22 de janeiro último, no Navio Hidroceanográfico Cruzeiro do Sul, rumo ao porto de Fortaleza (CE). Eles integraram a Comissão Oceano Norte V (Verão), da Marinha do Brasil, na qual serão adquiridos dados físico-químicos na região compreendida entre o Ceará e o Amapá, conforme o Plano de Coleta de Dados Oceanográficos da Diretoria de Hidrografia e Navegação. Alunos da Uerj em instrução teórica de sobrevivência no mar e abandono do navio Os alunos participaram não só de adestramentos de coleta de dados oce- procedimentos de sobrevivência no mar anográficos, mas também receberam e abandono do navio. instruções sobre o guarnecimento e (Fonte: www.marinha.mil.br)

NOc ANTARES REALIZA PESQUISA EM PARCERIA COM A USP

O Navio Oceanográfico (NOc) Antares navegou, de 15 de janeiro a 7 de fevereiro, 3087,6 milhas náuticas em 23 dias de mar ininterruptos, rea- lizando etapa da comissão Samoc, em parceria com o Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (Iousp). A comissão e o Projeto Samoc/Sambar têm como propósito melhorar o entendi- mento das variabilidades interanuais de calor e transportes meridionais em torno Lançamento de boia C-Pies na da latitude 34,5ºS, a fim de investigar Cadeia Mesoatlântica

RMB1oT/2019 293 NOTICIÁRIO MARÍTIMO os impactos das mudanças globais nos oceanos, as alterações na circulação das correntes do Atlântico Sul sobre o clima regional e a estabilidade da circulação de revolvimento meridional. Entre as tarefas realizadas, destaca- ram-se o lançamento de boias C-Pies e modernos equipamentos oceanográficos no Canal Hunter (900 milhas náuticas ao sul da Ilha da Trindade) e na Cadeia Mesoatlântica, situada 1.380 milhas Fundeio de correntômetro e micro náuticas a sudeste do litoral brasileiro CAT no Canal Vema (300 milhas náuticas do Arquipélago de elevação do Rio Grande) e coletados da- Tristão da Cunha). Também foi realiza- dos ambientais adicionais, em parceria do um fundeio de correntômetro e micro com o Iousp. CAT no Canal Vema (proximidades da (Fonte: www.marinha.mil.br)

NPqHo VITAL DE OLIVEIRA ESTUDA FENÔMENO ATMOSFÉRICO NO ATLÂNTICO SUL

O Navio de Pesquisa Hidroceanográ- norte do estado do Paraná, alongando-se fico Vital de Oliveira, em conjunto com em direção ao Oceano Atlântico Sul. A pesquisadores do Instituto Nacional de monitoração da ZCAS deve se intensificar Pesquisas Espaciais (INPE), realizou ao longo dos próximos anos, visando a pela primeira vez, em outubro último, melhor compreensão da física envolvida análise de processos dinâmicos e termo- nos processos de interação oceano- dinâmicos em médias -atmosfera que ocorrem latitudes. O propósito nesta região. foi estudar o fenômeno Os dados são coleta- atmosférico conhecido dos por meio de lança- como Zona de Conver- mentos simultâneos de gência do Atlântico Sul radiossondas atmosfé- (ZCAS), responsável ricas, batitermógrafos pela ocorrência de altos e perfiladores de con- índices pluviométricos dutividade e temperatu- nas regiões afetadas. ra, contribuindo para a A ZCAS pode ser Lançamento de radiossondas atmosféricas melhoria das simulações caracterizada por uma e previsões de tempo acentuada região de concentração de e clima, auxiliando na redução de da- vapor d’água e pela persistência de uma nos, como enchentes, deslizamentos de banda de nebulosidade, com orientação encostas, granizo, alagamentos, queda noroeste-sudeste, que se estende desde o no fornecimento de energia, descargas centro-sul da Amazônia, regiões Centro- elétricas e interrupção de ruas e estradas. -Oeste e Sudeste, centro-sul da Bahia, (Fonte: www.marinha.mil.br)

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MB RECONSTRÓI O FAROLETE MORONAS NO RIO AMAZONAS

O Serviço de Sinalização Náutica de Iquitos. O fato chegou a Manaus na do Noroeste, subordinado ao 9o Distrito noite de 27 de outubro de 1862, e o então Naval (Manaus-AM), finalizou, em 14 de Capitão-Tenente José da Costa Azevedo, dezembro último, a reconstrução do Faro- depois Barão de Ladário, foi ao encontro lete Moronas, situado nas proximidades da do Morona, no Vapor Inca, mas retornou margem direita do Rio Amazonas, região com a notícia de que o navio teria batido e do Encontro das Águas, em Manaus. encalhado nas pedras nas proximidades do Puraquequara, onde está situado o farolete. O navio peruano ficou seriamente avariado e foi apresado e rebocado pela Canhoneira Ibicuhy para Manaus, e depois para Belém. O Moronas não foi o primeiro farole- te a ser instalado na localização, sendo importante para a navegação segura na região. Em conjunto com o Farolete Ja- caré, é utilizado para balizar e orientar área, com grande quantidade de pedras que afloram na seca, e orienta a rota mais segura aos navegantes que demandam este trecho do Rio Amazonas.

Farolete Moronas na seca, em 2010

A reconstrução do sinal náutico teve início em novembro de 2018, com o apoio logístico do Navio Hidroceanográfico Fluvial Rio Branco. As atividades ocor- reram em área de difícil acesso, em um período do ano caracterizado por altos índices pluviométricos e início de cheia do Rio Amazonas. O nome Moronas surgiu em referência Farolete Moronas após reconstrução, ao vapor peruano Morona, que em 1862, em dezembro de 2018 subiu o Rio Amazonas sem permissão brasileira, com o intuito de chegar à cidade (Fonte: www.marinha.mil.br)

RMB1oT/2019 295 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

MB E CNEN ASSINAM PROTOCOLO DE INTENÇÕES

A Agência Naval de Segurança Nucle- ções Mútuas, em 12 de dezembro último, ar e Qualidade (AgNSNQ), organização nas instalações da AgNSNQ (RJ). militar diretamente subordinada à Direto- O propósito do protocolo é a articula- ria-Geral de Desenvolvimento Nuclear e ção de esforços, a formação de parcerias Tecnológico da Marinha (DGDNTM), e estratégicas e a definição de diretrizes a Comissão Nacional de Energia Nuclear em comum, de forma a contribuir para (CNEN) assinaram Protocolo de Inten- o processo de licenciamento de insta- lações e meios navais com planta de propulsão nuclear, da Marinha do Brasil (MB), e para a implementação de ações que assegurem a regulação necessária. O acordo abrange a transferência de conhecimento, com a capacitação de téc- nicos e especialistas da MB e da CNEN, a elaboração de normas regulatórias e o aproveitamento de códigos computacio- nais da área nuclear, racionalizando os Representantes da MB e da CNEN na recursos disponíveis no País. assinatura do protocolo (Fonte: www.marinha.mil.br)

SISPAG 2 DESENVOLVE NOVOS MÓDULOS

O Projeto de Modernização do Sistema conclusão dos testes de integração e dos de Pagamento de Pessoal da Marinha (Sis- testes paralelos, quando os lançamentos pag2), gerenciado pela Pagadoria de Pessoal serão realizados tanto no módulo novo da Marinha (Papem), com a assessoria técni- quanto no antigo, a fim de comparar ca do Centro de Análises de Sistemas Navais resultados e validar o funcionamento do (Casnav), alcançou um importante marco ao sistema. Cada etapa desse processo de concluir o desenvolvimento dos seguintes implantação será divulgada em Bono e/ módulos previstos no escopo da segunda ou quadro de avisos do Sispag2, prepa- etapa do projeto (Etapa 2): Pagamento no rando os usuários para a mudança. Exterior, Programa de Formação do Patri- A conclusão da Etapa 2, com prazo para mônio do Servidor Público (Pasep), Relação o final do ano, possibilitará a substituição Anual de Informações Sociais (Rais), Decla- completa das funcionalidades, ainda basea- ração do Imposto de Renda Retido na Fonte das nas linguagens de programação Cobol e (Dirf), Repasse de Benefícios (RBEN), Delphi, bem como permitirá o desligamento Cadastro Geral do Sispag2 (CGS2), Bilhete do ambiente mainframe IBM, o que reduzirá Pagamento, Crédito Bancário, Bloqueio de consideravelmente o custo operacional do Pagamento, Sistema Digital de Consigna- sistema, possibilitando maior flexibilidade ções (e-Consig) e Ficha Financeira. para futuras alterações e reduzindo riscos Para o ano de 2019, está prevista a relativos à segurança da informação. implantação desses módulos, após a (Fonte: Bono no 3, de 3/1/2019)

296 RMB1oT/2019 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

XIII CONFERÊNCIA NAVAL INTERAMERICANA ESPECIALIZADA EM CNTM

Foi realizada, no período de 10 a 12 participantes do Plano para a Coorde- de dezembro último, nas dependências nação da Defesa do Tráfego Marítimo do Comando de Operações Navais Interamericano (Codeftrami), além de (ComOpNav), a XIII Conferência Na- representantes do Coordenador da Área val Interamericana Especializada em Marítima do Atlântico Sul (Camas) e da Controle Naval do Tráfego Marítimo Rede Naval Interamericana de Teleco- (CNTM), sob a coordenação do Cen- municações (RNIT). tro Integrado de Segurança Marítima O chefe do Estado-Maior do ComOp- (Cismar). O evento contou com a pre- Nav, Vice-Almirante Wladmilson Borges sença de representantes das Marinhas de Aguiar, abriu o evento e ofereceu as boas-vindas aos oficiais representantes do Brasil e das Marinhas dos Estados Unidos da América, e do Equador, México, Para- guai, Peru e Uruguai. A conferência tem o propósito de aperfeiçoar os aspectos doutrinários de CNTM, aprimorar os sistemas de inter- câmbio de informações sobre o Tráfego Marítimo entre os países participantes e verificar ajustes a serem feitos no Plano Abertura da XIII da Conferência Naval Codeftrami. Interamericana especializada em CNTM (Fonte: www.marinha.mil.br)

MB PARTICIPA DE REUNIÃO SOBRE TRÁFEGO MARÍTIMO NO PACÍFICO E ÍNDICO

Oficiais do Centro Integrado de Segu- A reunião teve os seguintes propósitos: rança Marítima (Cismar) representaram a compartilhar informações que visem à Marinha do Brasil (MB) no encontro anual melhoria da segurança do Tráfego Ma- do Grupo de Trabalho sobre o Tráfego rítimo e realizar a avaliação crítica do Marítimo nos Oceanos Pacífico e Índico exercício BellBuoy 2018 e o planejamento (PaciosWG), realizado de 3 a 8 de fevereiro final do BellBuoy 2019 ( a ser realizado último, em Sidney (Austrália). Estiveram na Austrália, em maio deste ano), bem presentes também representantes dos se- como estreitar o relacionamento entre os guintes países: Austrália, Equador, Estados órgãos internacionais responsáveis por Unidos da América, França, México, Nova essa atividade. Zelândia, Peru, Reino Unido, República da A reunião é um importante foro para Coreia do Sul e Singapura, além do diretor a MB, pela oportunidade de a instituição do Nato Shipping Center (NSC). acompanhar as evoluções da doutrina

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Naval Cooperation and Guidan- ce for Shipping, que é a doutrina de Controle Naval de Tráfego Marítimo aplicada pela Organi- zação do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Ao fim da reunião, o Brasil, como membro permanente do grupo, assumiu o compromisso de exercer as funções de chair e secretariat durante o biênio Grupo de Trabalho sobre o Transporte Marítimo nos 2019/2020. Oceanos Pacífico e Índico (Fonte: www.marinha.mil.br)

CURSO DE DOUTORADO PPGEM

O Programa de Pós-Graduação em Es- tudos Marítimos (PPGEM) da Escola de Guerra Naval (EGN), passará a ministrar cursos de mestrado e doutorado profissio- nais, com nota 5 no Sistema de Avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). A aprovação da proposta de criação do curso foi publicada no Portal da Capes, como resultado da 181a Reunião do Conselho Técnico-Científico da Educação Superior. O PPGEM da EGN, além do curso de mestrado, em funcionamento desde 2014, também passa a contar com o de doutorado. A modalidade de doutorado profissional foi instituída no âmbito da pós-graduação stricto sensu, pela Por- taria no 389, de 23 de março de 2017, do Ministério da Educação. O PPGEM em Ciência, Tecnologia e Inovação no é composto pela área de concentração Ambiente Marítimo. “Defesa, Governança e Segurança Ma- O curso para a primeira turma de rítimas”, com três linhas de pesquisa: doutorado do PPGEM-EGN tem início Política e Estratégia Marítimas; Regula- previsto para o primeiro semestre de 2019. ção do Uso do Mar, Processo Decisório e (Fonte: www.marinha.mil.br e Bono Métodos Prospectivos; e Política e Gestão no 953, de 10/12/2018)

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EGN E CEBRI FIRMAM PARCERIA

A Escola de Guerra Naval (EGN) e o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) firmaram parceria, em 22 de novembro último, com a assinatura de Protocolo de Cooperação, em encontro realizado na EGN, no Rio de Janeiro. O do- cumento foi assinado pelo diretor da EGN, Contra-Almirante Sergio Fernando de Amaral Chaves Junior, Parceiros do Cebri e da MB reunidos na EGN e pelo presidente do Cebri, Embai- xador Pio Borges. Participaram da solenidade o presiden- te do Centro de Estudos Político-Estraté- gicos da Marinha (Cepe-MB), Almirante de Esquadra (Refo-FN) Alvaro Augusto Dias Monteiro; colaboradores do Cepe- -MB e os embaixadores Pedro Fernando Brêtas, Oswaldo Portela e Dante Coelho. A parceria visa à promoção de inter- câmbio e cooperação para a realização de atividades, projetos e programas voltados à produção de pesquisas científicas, publi- cações conjuntas de trabalhos acadêmicos e eventos, como palestras, simpósios, seminários, congressos e workshops, em Presidente do Cebri e diretor da áreas temáticas afins das instituições. EGN assinam Protocolo de Cooperação (Fonte: www.marinha.mil.br)

RESULTADOS ESPORTIVOS

STAR SAILORS LEAGUE melhor equipe de vela do mundo. Também se destacaram os brasileiros Robert Scheidt A competição de Vela aconteceu entre os e o Sargento (RM2) Henry Boening, com o dias 4 e 8 de dezembro de 2018, em Nassau, segundo lugar; e o 3oSG Samuel Gonçalves Bahamas, contando com a participação de e Lars Grael, com o nono lugar. 25 equipes de elite da vela mundial. O 3oSG Jorge Zarif e seu companheiro de barco, TORNEIO INTERNACIONAL Pedro Trouche, conquistaram o título após MILITAR DE SALVAMENTO triunfarem em todas as etapas das eliminató- AQUÁTICO LIFESAVING rias. Pela primeira vez na história do evento, uma tripulação com menos de 40 anos Realizado de 7 a 10 de dezembro de obteve a vitória na competição, que elege a 2018 em São Petersburgo, Rússia. O

RMB1oT/2019 299 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Brasil sagrou-se campeão geral da dis- Almeida (bronze nos 400 m medley), Sar- puta após conquistar seis medalhas de gento Etiene Medeiros (bronze nos 50 m ouro, oito de prata e duas de bronze. A livre), Sargento Daiene Dias (bronze nos modalidade utilitária, que simula situa- 100 m borboleta) e Sargento João Gomes. ções semelhantes às de um salvamento aquático real, propicia o aprimoramento MARATONA AQUÁTICA do condicionamento físico e da técnica empregada nessas ações. O evento, or- A 3oSG-RM2-EP Ana Marcela Cunha ganizado pela Conselho Internacional recebeu em 16 de dezembro, em Han- do Esporte Militar (Cism), contou com a gzhou, China, o prêmio de Melhor Na- participação de diversos países além do dadora de Águas Abertas do Mundo de Brasil, entre os quais Alemanha, Espanha, 2018, pela Federação Internacional de Rússia e Suíça. Natação (Fina). A atleta foi novamente a melhor maratonista aquática da tempo- 14o MUNDIAL DE NATAÇÃO EM rada, após garantir o tetracampeonato do PISCINA Circuito Mundial ao completar a última etapa do calendário na terceira coloca- Realizado em Hangzhou, China, entre ção. A brasileira já havia sido campeã 11 e 16 de dezembro de 2018. A prova de em 2012, 2014, 2017 e 2018. O Circuito revezamento 4 x 200 m livre foi vencida teve oito etapas na temporada, e a militar pela equipe brasileira, que contou com esteve em sete delas, vencendo em Lac a participação do 3oSG (RM2-EP) Luiz Saint-Jean, Canadá, e em Balatonfüred, Altamir, estabelecendo o novo recorde Hungria. Em Seicheles, foi prata e em mundial da prova. O militar também foi Chun'an (China), ganhou o bronze. No o sexto colocado nos 200 m borboleta. total, ela obteve cinco pódios e um quarto A Marinha foi representada, ainda, pelos lugar. Mediante os excelentes resulta- seguintes atletas: Sargento Brandonn dos alcançados, a sargento está com a participação garantida no Mundial de Esportes Aquáticos do ano que vem, a ser realizado na Coreia do Sul, onde estarão em disputa dez vagas para as Olimpíadas de Tóquio 2020.

WORLD SAILING CUP

Entre 29 de janeiro e 3 de fevereiro, foi realizada em Mia- mi (EUA) mais uma etapa do mundial. A competição marcou o início da temporada da Vela nas classes olímpicas da moda- lidade. A 3oSG Kahena Kunze A Sargento Ana Marcela Cunha e a sua parceira de barco, Mar- recebe o prêmio da Fina tine Grael, obtiveram o ouro na

300 RMB1oT/2019 NOTICIÁRIO MARÍTIMO classe 49erFX; os 3oSG Samuel Albrecht entre as dez equipes mais bem pontuadas e Gabriela Nicolino ganharam a prata na da competição, a dupla partiu para a Nacra 17; e a 3oSG Ana Barbachan e sua última disputa na quarta colocação geral companheira de equipe, Fernanda Olivei- e concluiu a prova na segunda posição, ra, conquistaram mais um pódio na 470 obtendo pontos suficientes para garantir feminina – após uma semana mantendo-se o bronze.

MB E FAB OPERAM EM CONJUNTO EM MANAUS

O 3o Esquadrão de Helicópteros de na segunda, foram realizadas visitas aos Emprego Geral (EsqdHU3), subordinado navios do Comando da Flotilha do Ama- ao 9o Distrito Naval, participou do trei- zonas; na terceira, foram realizados voos namento de busca, resgate e salvamento na aeronave UH-12 Esquilo, do EsqdHU3, entre um helicóptero H-60 Black Hawk, com a participação dos aeronavegantes do Esquadrão Har- do Esquadrão Harpia pia (7o/8o Grupo de como observadores; e Aviação da Força a última etapa incluiu Aérea Brasileira- voos com a aerona- -FAB), e o Navio- ve H-60 Black Hawk, -Patrulha Fluvial com um aeronavegan- Raposo Tavares. te do EsqdHU3 como Iniciado em 26 de observador. novembro último, Este treinamento o treinamento foi a possibilitou a con- fase final do proces- clusão da adaptação so de familiarização de 24 aeronavegantes dos aeronavegantes Operação conjunta entre navio da da FAB em Opera- da Ala 8 em Opera- MB e aeronave da FAB ções de Convés com ções de Convés com navios da Marinha navios da MB, o que representa um do Brasil (MB). incremento operacional e a elevação da A operação foi realizada em quatro fases: interoperabilidade entre as Forças na na primeira, foram abordados os procedi- Amazônia Ocidental. mentos para operações em navios da MB; (Fonte: www.marinha.mil.br)

EsqdHA-1 RECEBE AERONAVES AH-11B

O 1º Esquadrão de Helicópteros de e retornaram, após dois anos e sete meses, Esclarecimento e Ataque (EsqdHA-1), da empresa Leonardo Marconi Westland recebeu, em 22 de janeiro último, os (LMW), em Yeovil, Reino Unido. dois primeiros helicópteros Super Lynx Fruto de contrato celebrado entre a (AH-11B), no Complexo Aeronaval de Diretoria de Aeronáutica da Marinha São Pedro da Aldeia (RJ). As aeronaves (DaerM) e a LMW, os helicópteros passaram por processo de modernização receberam novos motores LHTEC

RMB1oT/2019 301 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

CTS800-4N, Glass Cockpit compatível com Night Vision Goggles, novo sistema tático e de navegação, sistema de auto- defesa que inclui lançadores de chaff e flare e novo equipamento Mage-RWR, que possibilitarão um grande salto tecno- lógico e de conhecimento ao EsqdHA-1. Em 12 de fevereiro, foi realizado o primeiro voo de um AH-11B moder- Chegada dos Super Lynx no Esquadrão HA-1 nizado em solo brasileiro, dando con- tinuidade ao processo de incorporação desses helicópteros ao Setor Operativo da Marinha. O programa de modernização prevê a entrega, ainda este ano, de mais uma das oito aeronaves a serem modernizadas. Em breve, esses helicópteros estarão dispo- níveis para realizar diversas missões na Amazônia Azul. Aeronave AH-11B no primeiro (Fonte: www.marinha.mil.br) voo em solo brasileiro

MB ASSINA CONTRATO PARA AQUISIÇÃO DE TRÊS AERONAVES

A Marinha do Brasil (MB) assinou, em 20 de fevereiro último, contrato com a empresa Helibrás para aquisição de três aeronaves modelo H-135, para substituir os UH-13, Esquilo biturbina, do 1o Esqua- drão de Helicópteros de Emprego Geral (HU-1). As aeronaves serão entregues entre setembro deste ano e novembro de 2020. Elas são dotadas com dois motores, um sistema integrado de navegação e piloto automático, assim como aviônicos Assinatura do contrato entre a MB e a Helibrás e telas digitais. O painel permite realizar voo com Night Vision Goggles (NVG), e seus kits de remo- ção aeromédica ampliarão as capacidades existentes nas instalações médicas do Porta- -Helicópteros Multipropósito Atlântico e do Navio-Doca Multipropósito Bahia durante Imagem estilizada da aeronave modelo H-135

302 RMB1oT/2019 NOTICIÁRIO MARÍTIMO as comissões da Esquadra realizando A aquisição traz importante inovação Operações Anfíbias e em missões huma- para a MB na gestão do ciclo de vida nitárias ou de paz. As novas aeronaves dos meios aeronavais, por meio de con- também poderão compor os Destaca- tratos de apoio logístico para atender às mentos Aéreos Embarcados (DAE) dos aeronaves e seus motores nos próximos navios que apoiam à Estação Antártica cinco anos. Comandante Ferraz. (Fonte: www.marinha.mil.br)

SUPER COUGAR É TRANSFERIDO PARA O SETOR OPERATIVO

Foi concluído, em 27 de dezembro último, na sede da Helibras, Itajubá (MG), o recebimento do Super Cougar N-7203, terceira aeronave na versão UH-15A recebida pela Marinha do Brasil (MB) como parte do Programa H-XBR. A versão UH- -15A possui, além dos equipamentos já incorpo- rados na versão UH-15, o sistema EWS (Eletronic Warfare System), conjunto de equipamentos auxiliares Aeronave Super Cougar N-7203 (UH-15A) de defesa, composto por sensores que alertam, com antecedência, as (Personnel Locator System), que permite tripulações sobre ameaças de radares (RWR a localização precisa das tripulações a – Radar Warning Receiver), emissão laser serem resgatadas, sendo a troca de in- (LWS – Laser Warning Subsystem) e mísseis formações criptografadas, possibilitando hostis (MWS – Missile Warning Subsystem). segurança no cumprimento da missão. Complementando o sistema EWS, as O recebimento do N-7203 amplia a aeronaves contam ainda com o Supressor capacidade da MB para o emprego em de Radiação Infravermelho (JDD – Jet operações noturnas e, em particular, no Dilution Device), dispositivo instalado resgate de tripulações e de tropas infiltra- na saída de gases do motor com o pro- das em ambiente hostil, como é o caso de pósito de diminuir a assinatura térmica, algumas Operações Especiais, a partir do e também com o dispenser de contrame- Porta-Helicópteros Multipropósito Atlânti- didas Chaff/Flare. Outro equipamento co e do Navio Doca Multipropósito Bahia. incorporado à versão UH-15A é o PLS (Fonte: www.marinha.mil.br)

RMB1oT/2019 303 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

NAVIOS DO GptPatNavL REALIZAM EXERCÍCIOS

O Grupo-Tarefa formado pela Cor- e do 3o Distrito Naval. O propósito veta Caboclo e pelos Navios-Patrulha foi patrulhar a área e elevar o nível de Gravataí e Guaratuba, sob o comando aprestamento dos meios subordinados, do Grupamento de Patrulha Naval com vistas a contribuir para a prevenção do Leste (GptPatNavL), realizou, de e repressão de delitos transfronteiriços 9 a 15 de janeiro último, exercícios e ambientais. militares em área de jurisdição do 2o Durante a comissão, foram intercala- dos adestramentos internos (exercícios de Controle de Avarias, Avarias Opera- cionais, Transferência de Óleo no Mar, Manobras Táticas e Problemas de Bata- lha) com atividades de Patrulhamento e Inspeção Naval na parcela norte do mar territorial sob a jurisdição do 2o Distrito Naval – litoral norte da Bahia e litoral de Sergipe – e ao sul da área marítima sob a jurisdição do 3o Distrito Naval, até Maceió (AL). Durante a ação de presença, foram abordadas embarcações Exercício de transferência de óleo no mar entre a Corveta Caboclo e o Navio-Patrulha Gravataí pesqueiras e interrogadas embarcações offshore e plataformas. Os navios permaneceram atracados no porto de Maceió entre os dias 12 e 13 de janeiro. Neste período, foram abertos a visitação pública. Aproxi- madamente 2.500 pessoas visitaram a Caboclo; 1.500, o Guaratuba; e 1.250, o Gravataí. Aos visitantes foi apre- sentado o conceito “Amazônia Azul” e foram divulgadas informações sobre as atividades realizadas pelos navios e pela Marinha do Brasil. Visitação pública aos navios (Fonte: www.mar.mil.br)

FFE ENCERRA PARTICIPAÇÃO NAS OPERAÇÕES DE GLO E FAZ BALANÇO

A participação da Força de Fuzileiros Decreto Presidencial), foi finalizada com da Esquadra (FFE) nas Operações de a cerimônia de encerramento, em 28 de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), na dezembro último, no Campo de Parada cidade do Rio de Janeiro, realizadas pelo General Zenóbio da Costa, na Vila Militar, Comando Conjunto (estabelecido por bairro de Deodoro (Rio de Janeiro-RJ).

304 RMB1oT/2019 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Durante o evento, os mili- tares das Forças Armadas que participaram das Operações de GLO foram homenageados pelo interventor federal na Segurança Pública do Rio de Janeiro e comandante militar do Leste, General de Exército , que destacou a postura exemplar e o espírito de cumprimento de missão da tropa em todas as operações, que ocorreram a partir de julho de 2017 e se estenderam até o Vista aérea da cerimônia na Vila Militar final de 2018. A solenidade reuniu cerca de 3 mil mi- Em 2018, foram realizadas 61 ope- litares da Marinha do Brasil, do Exército rações com tropas da FFE, incluindo os Brasileiro e da Força Aérea Brasileira, além patrulhamentos permanentes na Ilha do de mais de 200 veículos e equipamentos Fundão e nos bairros da Zona Sul do Rio, utilizados nas operações. Os militares em contemplando as comunidades da Babi- formatura e os meios reunidos representa- lônia, do Chapéu Mangueira, do Pavão ram apenas 20% do pessoal e dos meios Pavãozinho e do Cantagalo, além da orla empregados durante as operações. da cidade, desde o Boulevard Olímpico A FFE começou a atuar já na primeira até o Mirante do Leblon. edição da Operação Furacão, no período A FFE empregou, no Grupamen- de 28 de julho a 2 de agosto de 2017, mo- to Operativo de Fuzileiros Navais bilizando militares da Força e 33 viaturas (GptOpFuzNav), tropas e meios da Di- operativas, que fizeram patrulhamentos visão Anfíbia, da Tropa de Reforço, do na orla carioca desde o bairro do Caju Comando da Tropa de Desembarque, até São Conrado. do Batalhão de Operações Especiais de Fuzileiros Navais e da Base de Fuzileiros Navais do Rio Meriti, tendo realizado um total de 69 operações de GLO. A Operação Furacão teve como propósito o combate à violência e ao crime organi- zado no Rio de Janeiro. Até o término da intervenção fede- ral, ocorreram 234 edições da operação, sendo 69 delas com a participação dos Fuzileiros Navais. Tropa da FFE formada na cerimônia em Deodoro (RJ) (Fonte: www.marinha.mil.br)

RMB1oT/2019 305 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

CFT REALIZA INSPEÇÃO NAVAL NA TRÍPLICE FRONTEIRA

A Capitania Fluvial de Tabatinga (CFT), subordinada ao 9o Distrito Naval (Manaus-AM), realizou, de 15 a 31 de janeiro último, a campanha “Travessia Segura”, na região da tríplice fronteira Brasil-Colômbia-Peru. Na ocasião, foram intensificadas as ações de Inspeção Naval, principalmente em embarcações de trans- porte de passageiros. Até o dia 25 de janeiro, foram efetua- das 164 abordagens de embarcações, que resultaram em oito notificações e duas Militar orienta condutores sobre o uso do embarcações apreendidas por não cum- colete salva-vidas prirem o previsto na Lei de Segurança denúncias à CFT pelo disque “Segurança do Tráfego Aquaviário (Lesta). A maior da Navegação” (0800-280-6162) e a atuar ênfase da campanha foram os passageiros, como fiscais em parceria com a Marinha do que foram orientados a sempre usar colete Brasil, exigindo um transporte mais seguro. salva-vidas, a encaminhar sugestões e (Fonte: www.marinha.mil.br)

MB RECEBE GRAU MÁXIMO NO TESTE DA OPAQ

A Marinha do Brasil (MB) participou ta eficaz para avaliar o desempenho do do 7o Teste de Competência em Análises laboratório e promover conhecimento e de Compostos Químicos da Organização expertise nas técnicas analíticas. para Proibição de Ar- As amostras envia- mas Químicas (Opaq), das pelo Laboratório em novembro e em da Opaq, em Haia, 8 de janeiro último, Holanda, foram pre- conquistando pela pri- paradas e analisadas meira vez o grau Very pelo Laboratório Fixo Good, o mais alto nes- de Análises Químicas ta modalidade de teste. (LFAQ) do Centro O Teste de Compe- de Defesa Nuclear, tência em Análises de Biológica, Química e Compostos Químicos Radiológica da MB destina-se a ser um (CDefNBQR-MB), Programa de Treina- Preparo das Amostras do 7oTeste da Opaq utilizando a técnica mento e Testes para analítica de Cromato- os Laboratórios dos Estados Partes da grafia a Gás acoplada à Espectrometria Convenção para a Proibição de Armas de Massas (CG-EM). Nas seis amostras Químicas (CPAQ), sendo uma ferramen- foram identificados corretamente cinco

306 RMB1oT/2019 NOTICIÁRIO MARÍTIMO compostos: Tiodiglicol, Álcool Pinacolí- CFN) e Laboratório Farmacêutico da lico, 1,4-Ditiano 1,4-Oxatiano e Etildie- Marinha (LFM). tanolamina, confirmados pelo gabarito A participação no Programa de Testes divulgado pela Opaq. da Opaq tem contribuído para o desen- A conquista foi resultado do trabalho volvimento e a liderança da MB na área de militares e servidores civis das espe- de Defesa NBQR em âmbito nacional e cialidades de Defesa Química e Biológica na busca da designação do LFAQ como das seguintes Organizações Militares: laboratório de referência em análises CDefNBQR-MB, Instituto de Pesquisas de compostos químicos de guerra, com da Marinha (IPqM), Centro Tecnológico reconhecimento internacional da MB do Corpo de Fuzileiros Navais (CTec- no tema.

NPA GUARUJÁ APREENDE EMBARCAÇÕES IRREGULARES

A equipe de Inspeção Naval do Navio Patrulha Guarujá apreendeu, em 21 de janeiro último, as embarcações Felipe Rodrigues, JC Tabosa e Urso Branco, que transportavam sete balsas com aproximadamente 5.220 m3 de madeira. A ação ocorreu na região do Vira-Saia, próximo a Portel (PA), durante operação de Patrulha Naval para fiscalizar e reprimir o descumprimento da Lei de Se- Navio-Patrulha Guarujá escolta gurança do Tráfego Aquaviário. embarcações apreendidas Na ocasião, foram consta- tadas as seguintes infrações: ausência balsas. As embarcações apreendidas de condutor habilitado, ausência do foram conduzidas à cidade de Portel, certificado de inscrição na Capitania de onde foram lacradas. Os comandantes uma das embarcações, transporte ilegal foram transferidos para a autoridade de passageiros, tripulantes sem carteira policial local. de habilitação e excesso de carga nas (Fonte: www.marinha.mil.br)

NPa PAMPEIRO APREENDE DUAS BALSAS

O Navio Patrulha (NPa) Pampeiro, empurrador e duas balsas com excesso subordinado ao Comando do Grupa- de carga, transportando madeira, nas mento de Patrulha Naval do Norte, apre- proximidades do Furo do Mamão, que endeu, em 14 de fevereiro último, um dá acesso à Baía de Marajó (Pará). Na

RMB1oT/2019 307 NOTICIÁRIO MARÍTIMO ocasião, o navio realizava a Co- missão Patnav Tocantins II, que tinha como propósito patrulhar e inspecionar áreas dos rios Pará, Tocantins e Abaetetuba. Durante a inspeção das embar- cações, foram verificadas outras irregularidades como ausência de despacho do material transportado e uma arma de fogo sem registro. A embarcação foi notificada, apresa- da e encaminhada para a Capitania dos Portos da Amazônia Oriental Embarcação apresada com excesso de para adoção das medidas cabíveis carga durante Inspeção Naval quanto ao cumprimento da Lei de Segurança do Tráfego Aquaviário. A -Belém, onde o dono do armamento foi arma foi apreendida e encaminhada para preso em flagrante. a Delegacia Seccional Urbana de Icoaraci- (Fonte: www.marinha.mil.br)

NPA GUAÍBA APRESA BARCO DE PESCA

O Navio-Patrulha Guaíba apresou o Barco de Pesca Ca- pitão América, em 27 de no- vembro último, durante Patrulha Naval a cerca de 70 quilômetros do litoral entre os estados do Ceará e do Rio Grande do Norte. Durante a abordagem, o Gru- po de Visita e Inspeção do Guaíba identificou divergências entre os documentos do barco e os registros da Marinha. No interior da embarcação, foi encontrada, ainda, grande quan- tidade de carga incoerente com Momento da abordagem no barco de pesca a atividade de um pesqueiro, o que ocasionou o acionamento da Polícia seis tripulantes foram encaminhados Federal da cidade de Areia Branca (RN). ao Departamento de Polícia Federal No dia seguinte, com o apoio da para as providências administrativas e Agência da Capitania dos Portos em penais cabíveis. Areia Branca, a embarcação e seus (Fonte: www.mar.mil.br)

308 RMB1oT/2019 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

BRASIL SUBMETE À ONU DEFINIÇÃO DA PLATAFORMA CONTINENTAL

O Brasil apresentou, em 7 de fevereiro No encontro, foi apresentado aos 21 último, na 49a Sessão da Comissão de Li- peritos da CLPC o embasamento técnico- mites da Plataforma Continental Brasileira -científico utilizado pelo Brasil na aplica- (CLPC), na Organização das Nações Uni- ção dos critérios do Artigo 76 da Conven- das (ONU), em Nova Iorque (EUA), uma ção das Nações Unidas sobre o Direito do descrição geral da Submissão Brasileira Mar (CNUDM) para o traçado do limite Revista da Região Sul, que visa à definição exterior. Com base na apresentação e nas da plataforma continental além das 200 informações e análises conduzidas pela milhas náuticas nessa região. O intuito é subcomissão, com seis peritos que exa- determinar a área marítima na qual o Brasil minaram a submissão da Região Sul entre exercerá direitos de soberania para explora- 2015 e 2018, a CLPC avaliará a minuta de ção e aproveitamento dos recursos naturais recomendações para esta região. A decisão do leito e subsolo marinhos. final deve ser anunciada em julho deste A Delegação Brasileira foi composta ano, por ocasião da 50a Sessão da CLPC. por representantes diplomáticos e militares A DHN é o braço executivo do Plano da Missão Brasileira em Nova Iorque; pelo de Levantamento da Plataforma Conti- diretor-geral de Navegação, Almirante de nental Brasileira (Leplac), programa do Esquadra Leonardo Puntel; pelo diretor de Governo Federal instituído pelo Decreto Hidrografia e Navegação, Vice-Almirante nº 98.145, de 15 de setembro de 1989, sob Antonio Fernando Garcez Faria, e outros a coordenação da Comissão Interministe- militares daquela Organização Militar; e rial para os Recursos do Mar (Cirm), com por professores da Universidade Federal o propósito de estabelecer o limite exterior Fluminense e da Universidade Federal da plataforma continental brasileira. de São Paulo, além de um consultor com A definição do limite exterior da reconhecimento internacional nas áreas de plataforma continental será um legado Geologia e Geofísica. para as próximas gerações de brasileiros, que verão ampliadas as possibilidades de descobertas de novas reservas de hidrocar- bonetos, de exploração de recursos minerais e de recursos da bio- diversidade bentônica marinha, reconhecida- mente um dos campos mais promissores do desenvolvimento da biogenética. Delegação Brasileira, peritos da CLPC e pessoal técnico da ONU (Fonte: www.mari- reunidos em Nova Iorque nha.mil.br)

RMB1oT/2019 309 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

NPqHo VITAL DE OLIVEIRA APOIA O LEPLAC

O Navio de Pesquisa Hidroceanográfi- passado, como resultado da inclusão das co (NPqHo) Vital de Oliveira suspendeu, regiões da Elevação do Rio Grande e em 8 de janeiro último, da Diretoria de offshore do Platô de São Paulo. Hidrografia e Navegação, em Niterói O levantamento em execução pelo (RJ), para a primeira de quatro pernadas NPqHo Vital de Oliveira conta com re- programadas para a coleta de dados cursos decorrentes da assinatura de um batimétricos e geofísicos nas regiões da termo de cooperação entre o Centro de Elevação do Rio Grande e do Platô de Hidrografia da Marinha, a Petrobras e a São Paulo. A comissão se dá em apoio Fundação de Estudos do Mar. A comissão ao Plano de Levantamento da Plataforma visa coletar parte dos dados geofísicos Continental Brasi- adicionais necessá- leira (Leplac). rios para respaldar O Leplac tem por o limite exterior da propósito definir a plataforma conti- área da plataforma nental brasileira, de continental brasi- acordo com o es- leira para além da tabelecido na Con- Zona Econômica venção das Nações Exclusiva. Em 8 de Unidas sobre o Di- dezembro de 2018, reito do Mar para o Brasil apresentou as margens oriental ao secretário-geral e meridional. das Nações Unidas Coleta dados para respaldar definição do limite Durante as qua- a terceira e última exterior da plataforma continental brasileira tro pernadas, estarão submissão parcial revista referente à embarcados pesquisadores e alunos da margem oriental e parte da meridional, Universidade Federal Fluminense, Uni- completando, assim, a cobertura de toda versidade de Caxias do Sul e Universidade a margem continental do País. A área pro- do Estado do Rio de Janeiro, entre outras posta como de direito do Brasil em 2004 instituições de ensino superior, na con- – da ordem de 1 milhão de quilômetros dição de representantes da comunidade quadrados – teve seu valor praticamente científica nacional. dobrado a partir de dezembro do ano (Fonte: www.marinha.mil.br)

CPAOR DIVULGA SEGURANÇA DA NAVEGAÇÃO E PREVENÇÃO AO ESCALPELAMENTO

A Capitania dos Portos da Amazônia e Fundamental Prefeito Laurival Cunha, Oriental (CPAOR) ministrou em 29 de em Barcarena (PA). novembro último, palestras referentes à O capitão dos Portos da Amazônia segurança da navegação e à prevenção Oriental, Capitão de Mar e Guerra José de escalpelamentos. O evento aconteceu Alexandre Santiago da Silva, fez a doa- na Escola Municipal de Ensino Infantil ção de coletes salva-vidas, e a equipe da

310 RMB1oT/2019 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

CPAOR fez a instalação de cobertura de eixo das embarcações. As palestras fazem parte dos projetos Educando o Pequeno Navegante, Educan- do o Pequeno Marinheiro e Educando para Evitar o Sofrimento, realizados em parce- ria com o Espaço Acolher e a Secretaria de Saúde Pública do Pará, como parte do Programa de Segurança da Navegação na Amazônia. O público-alvo foi composto por alunos e professores da instituição de ensino e condutores das embarcações de transporte escolar. Capitão dos Portos da Amazônia (Fonte: www.marinha.mil.br) Oriental entrega coletes salva-vidas

MB E MINISTÉRIO DA SEGURANÇA PÚBLICA ASSINAM PROTOCOLO DE INTENÇÕES

O Ministério da Segurança Pública A parceria justifica-se pela necessidade e a Marinha do Brasil (MB) firmaram de garantir a salvaguarda da segurança Protocolo de Intenções, em 30 de no- pública em nível nacional e a repressão à vembro último, que criminalidade e pela prevê a ampliação necessidade de incre- e a integração do mentar a consciência Sistema de Monito- situacional marítima ramento e Controle e fluvial da Marinha, de Embarcações e por meio de ferramen- o investimento para tas de informação e in- fomento à preven- teligência para apoio ção de ilícitos nas ao processo decisório. Águas Juridicionais Ferramentas como Brasileiras (AJB), essas já são empre- além de fortalecer gadas na MB, como as atividades e as é o caso do Sistema capacidades da MB de Gerenciamen- O comandante da Marinha, AE Leal Ferreira; o no Rio de Janeiro. O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann; e o to da Amazônia documento foi assi- chefe do Estado-Maior do Comando de Operações Azul (SisGAAz), nado pelo ministro Navais, VA Borges (da esq. para dir.) que consiste em um da Segurança Públi- conjunto de recursos ca, Raul Jungmann, e pelo comandante da que possibilita o monitoramento constante Marinha, Almirante de Esquadra Eduardo das AJB. Bacellar Leal Ferreira. (Fonte: marinha.mil.br)

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9o DN APOIA VÍTIMAS DE INCÊNDIO EM MANAUS

O 1o Batalhão de Operações Ribeirinhas (1o BtlOpRib) e a Estação Naval do Rio Ne- gro (ENRN), organizações militares subor- dinadas ao 9o Distrito Naval (Manaus-AM), além de empresas privadas, mobilizaram-se, em 18 de dezembro último, para a arreca- dação de alimentos destinados às vítimas do incêndio ocorrido no dia 17, que atingiu cerca de 600 casas, no bairro Educandos, Zona Sul de Manaus. Foi realizada a arrecadação de 1,5 tonela- das de alimentos perecíveis e não perecíveis, A Defesa Civil recebeu a doação na Escola Estadual Machado de Assis além de água mineral, descartáveis, materiais de higiene pessoal e de limpeza. Cerca de 30 militares participaram da ação. Na cidade de Manaus e nos municípios amazonenses de Manacapuru, Itacoatiara e Parintins foram instalados mais de 45 pontos de arrecadação de doações para as vítimas do incêndio, localizados em instituições, igrejas e escolas. Foram doados alimentos não perecíveis e de consumo imediato, rou- pas, colchões, brinquedos, artigos de higiene pessoal e água em copo ou garrafa. Militares da MB durante a entrega de doações às (Fonte: www.marinha.mil.br) vítimas do incêndio

MB PARTICIPA DE APOIO A BRUMADINHO (MG)

Militares da Marinha do Brasil (MB), pertencentes ao Grupo de Bus- ca e Salvamento (GSAR) do Centro de Instrução e Adestramento Aerona- val Almirante José Maria do Amaral Oliveira (CIAAN), prestaram apoio, de 25 de janeiro a 3 fevereiro, às ações de busca das vítimas do rompi- mento da barragem de mineração em Brumadinho, Minas Gerais (MG). Uma aeronave Super Cou- o gar UH-15, do 2 Esquadrão de Militares que integraram a tripulação do UH-15 Helicópteros de Emprego Geral para ações em Brumadinho

312 RMB1oT/2019 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

(HU-2), foi deslocada para o transporte seus respectivos equipamentos. Foram da tripulação e do material empregados utilizadas técnicas de guincho duplo, nas atividades de resgate. apoiando embarques e desembarques de Os militares participaram ativa- pessoal em voos librados e nas situações mente na infiltração e exfiltração de de pousos em áreas de difícil acesso. bombeiros e de militares israelenses e (Fonte: www.marinha.mil.br)

AgCARACARAÍ REALIZA PRIMEIRA COMISSÃO NO RIO BRANCO

A Agência Fluvial de Caraca- raí (AgCaracaraí), subordinada à Capitania Fluvial da Amazônia Ocidental, realizou, de 3 a 13 de dezembro último, sua primeira comissão fluvial no médio e baixo Rio Branco, em Roraima, em apoio à Prefeitura Municipal de Caracaraí (RR), junto às Secretarias Munici- pais de Saúde e Assistência Social. Na ocasião, foram visitadas as comunidades ribeirinhas de Sacaí, Lago Grande, Caicubi, Cacho- eirinha, Canauiní e Terra Preta, Comunidades ribeirinhas atendidas localizadas até ao limite jurisdi- cional da AgCaracaraí, e navegadas 490 populações locais. Em ação paralela, milhas náuticas (aproximadamente 907 servidores da Prefeitura Municipal de Ca- quilômetros). racaraí, embarcados nas lanchas de apoio Durante a comissão, foram realizados da Agência, recadastraram 88 famílias levantamentos da demanda do Ensino em programas do Governo Federal e 507 Profissional Marítimo e inscrição de crianças foram vacinadas. embarcações, além de palestras para as (Fonte: www.marinha.mil.br)

ASSHOP ATENDE COMUNIDADES INDÍGENAS

A Marinha do Brasil, por meio do 9o O Navio de Assistência Hospitalar Distrito Naval, realizou, no período de (NAsH) Oswaldo Cruz, subordinado ao Co- 3 a 23 de dezembro último, Assistência mando da Flotilha do Amazonas, juntamente Hospitalar (Asshop) nas comunidades com um helicóptero Esquilo do 3o Esquadrão indígenas, a Asshop Indígena, ao longo de Helicópteros de Emprego Geral, realizou da calha do Rio Madeira, no Estado do atendimentos médicos de clínica geral, gine- Amazonas. cologia, pediatria e ortopedia e atendimentos

RMB1oT/2019 313 NOTICIÁRIO MARÍTIMO com foco na atenção básica. Foram realiza- dos, ainda, atendimentos odontológicos e de enfermagem e exames laboratoriais. A operação contou com o apoio da Secretaria Especial de Saúde Indígena. Durante a Operação, o NAsH Oswaldo Cruz percorreu o Rio Madeira, atendendo nas comunidades de Auxiliadora, no mu- nicípio de Humaitá, e Pontal, no município de Manicoré, ambos no Amazonas. A população indígena foi conduzida de suas comunidades pela equipe do Sesai, por meio Representantes do NAsH Oswaldo Cruz e da Sesai de lanchas e embarcações regionais. Foram realizados 1.538 atendimentos, 1.594 pro- cedimentos médicos, 6.308 procedimentos odontológicos e 499 exames laboratoriais. O apoio da Sesai aumenta o acesso e al- cance às comunidades indígenas da região. A Asshop Indígena foi a primeira operação de um projeto que visa integrar as ações en- tre as duas instituições, de modo a ampliar o atendimento aos indígenas, adicionalmente às operações de assistência hospitalar que já são conduzidas pela Marinha nas comu- nidades ribeirinhas da Amazônia. (Fonte: www.marinha.mil.br) Indígena em atendimento odontológico

MB E CAIXA AMPLIAM ATENDIMENTO A RIBEIRINHOS

A Marinha do Brasil (MB) e a Caixa Econômica Federal anunciaram, em 26 de ja- neiro último, parceria que prevê utilização de embarcações da Marinha para atendimento bancário às populações ribeirinhas no Ama- zonas. O anúncio foi feito a bordo do Navio de Assistência Hospitalar (NAsH) Soares de Meirelles, pelo presidente da Caixa, Pedro Guimarães, e pelo subchefe de Logística do Estado-Maior da Armada, Contra-Almirante Ricardo Pereira da Silva. De acordo com o presidente da institui- ção, a parceria com o Ministério da Defesa, Comandante da Flotilha do Amazonas apresenta começando pela Marinha, é um exemplo de trabalho desenvolvido pelos navios da Marinha na solução inovadora que permite a alocação Amazônia Ocidental

314 RMB1oT/2019 NOTICIÁRIO MARÍTIMO de estrutura ágil em resposta às necessi- dades de atendimento e negócios em locais institucionais rele- vantes para a Caixa. “Ainda estamos ope- racionalizando, e o início deve ser o mais rápido possível. São serviços relativamen- te simples, mas muito necessários, porque essas populações não dispõem de agência bancária”, explicou. Inicialmente, a Comitiva da Caixa e militares da Marinha após anúncio de parceria parceria vai englobar a utilização dos O Contra-Almirante Ricardo Pereira NAsH para a instalação de postos de destacou que a Marinha tem a especificidade atendimento da Caixa, podendo se de acessar comunidades isoladas com seus expandir para mais oito navios da Ma- navios. “A Marinha já trabalha com essa par- rinha subordinados ao 9o Distrito Naval te da saúde e, com essa parceria, vai ajudar a (Manaus-AM) – ampliando a rede de levar novos serviços aos mais necessitados. atendimento do banco em unidades mó- Os atendimentos vão variar principalmente veis fluviais – e, posteriormente, para com o regime de águas”, destacou. A previ- outras organizações militares do Exército são é que a ação deve beneficiar, em média, Brasileiro e da Força Aérea Brasileira, no 20 mil ribeirinhos por viagem. âmbito do Ministério da Defesa. (Fonte: www.marinha.mil.br)

MB E EB REALIZAM PARTO DE EMERGÊNCIA NA OPERAÇÃO ACOLHIDA

A Marinha do Brasil (MB) e o Exército “Eu e a médica do Exército utilizamos Brasileiro (EB) atuaram conjuntamente, na técnicas para desobstruir as vias aéreas noite de 19 de janeiro último, na realização do bebê, monitoramos os sinais vitais e de um parto no Abrigo Rondon III, locali- realizamos o corte do cordão umbilical. zado em Boa Vista (RR). Durante a Opera- Tanto a mãe, quanto a criança foram ção Acolhida, a Segundo-Tenente Médica monitoradas até a chegada à Maternidade Thalita (do EB) e o Suboficial Enfermeiro de Boa Vista”, explicou o suboficial. Se- João Henrique Cruz Carolino (da MB), gundo os médicos daquela maternidade, foram acionados para atender uma gestante os estados de saúde da recém-nascida e venezuelana que sentia fortes contrações. da mãe eram excelentes. Na sequência, os militares realizaram o A Operação Acolhida surgiu de uma parto natural. Medida Provisória editada pelo Presidente

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Michel Temer em fevereiro de 2018. A nor- ma criou a Força-Tarefa Logística e Huma- nitária, coordenada pelas Forças Armadas, que passou a executar a operação. Atualmente a operação mantém, com recursos do Ministério da Defesa, 13 abrigos, dois centros de triagem, um alojamento de passagem, um centro de informação com guarda volume e um pos- to avançado do hospital de campanha. As instalações são nas cidades de Boa Vista e Pacaraima, ambas em Roraima. Suboficial (MB) Henrique e a Segundo-Tenente (Fonte: www.marinha.mil.br) Thalita (EB) realizaram o parto da venezuelana

LANÇAMENTO DO FILME EM HOMENAGEM AO PATRONO DA CT&I NA MB

Foi lançado, em 31 de janeiro último, primeiro colocado da sua turma. Serviu na sede social do Clube Naval (Rio de nos seguintes navios: Encouraçados Janeiro-RJ), o filme em homenagem ao Riachuelo e Minas Gerais, Cruzador Almirante Álvaro Alberto, Patrono da Ciên- Rio Grande do Sul e Navio-Escola Ben- cia, Tecnologia e Inovação (CT&I) na Ma- jamin Constant. Em 1911, interessou-se rinha. Estiveram presentes o comandante por química dos explosivos e ingressou da Marinha, Almirante de Esquadra Ilques na Escola Politécnica do Rio de Janeiro Barbosa Junior, e demais autoridades a fim de aperfeiçoar-se na área, tendo, militares e civis, entre elas o presidente em seguida, concluído a pós-graduação da Academia Brasileira de Ciências, Luiz na Bélgica. Por tal motivo, passou a Davidovich. lecionar a matéria na Escola Naval. O filme, com dois minutos de duração, Sua relação com o meio acadêmico está sendo divulgado nas mídias sociais brasileiro o levou a ser presidente da da Academia Brasileira de Ciências e da Sociedade Brasileira de Química entre Marinha do Brasil. O propósito é infor- 1920 e 1928. Também foi membro e, mar a sociedade sobre a importante contribuição do Almirante Álvaro Alberto para o desenvolvimento tecnológico e científico do País. Durante o evento de lançamento, os convidados também visitaram uma exposição com peças do acervo pessoal do Almirante. Nascido em 22 de abril de 1889, no Rio de Janeiro, o Almirante Álvaro Alberto formou-se na Escola Naval em 1908, recebendo Comandante da Marinha enalteceu a parceria com o Prêmio Greenhalg por ter sido o a Academia Brasileira de Ciências

316 RMB1oT/2019 NOTICIÁRIO MARÍTIMO por duas vezes, presidente da Academia propostas de largo interesse estratégico e Brasileira de Ciências. científico para a Nação. Dentre as propostas O Vice-Almirante Álvaro Alberto da aprovadas, destacou-se a tese das compen- Mota e Silva foi o precursor da implan- sações específicas, segundo a qual os países tação da energia nuclear no Brasil, tendo detentores de matérias-primas nucleares, sido designado representante do Brasil na em vez de receberem compensações fi- Comissão de Energia Atômica da Organi- nanceiras, deveriam ter acesso à tecnologia zação das Nações Unidas no pós-Segunda nuclear. Também foi um dos organizadores Guerra Mundial, obtendo a aprovação de e primeiro presidente do Conselho Nacio- nal de Pesquisa (CNPq), hoje Con- selho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, criado em 1951. Como presidente do CNPq, estabeleceu a Política Nacional de Energia Atômica, traçando as metas que levariam ao domínio do ciclo do combustível nuclear. Por sua contribuição ao desenvolvimento da ciência e tecnologia no Brasil, o Vice-Almirante Álvaro Alberto da Mota e Silva foi instituído, em 31 de janeiro de 2011, Patrono da Ciência, Autoridades reunidas para homenagear Tecnologia e Inovação na Marinha. o Almirante Álvaro Alberto (Fonte: www.marinha.mil.br)

DPHDM LANÇA VERSÃO DIGITAL DE LIVRO

A Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha (DPHDM) traz aos leitores a versão digital do livro Recomendações para o futuro coman- dante, do Almirante Luis Sergio Silveira Costa. Esta é a primeira obra lançada pela Editora SDM no formato ePUB (padrão específico de arquivo para e-books), acessível aos principais dispositivos e aplicativos de leitura digital e já está disponível desde 13 de dezembro último. Para saber mais sobre o livro digital, como adquiri-lo e suas funcionalidades, visite a página www.marinha.mil.br/ dphdm/publicacoes/livros-digitais. (Fonte: Bono no 958, de 12/12/2018)

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MUSEU EM FÉRIAS

A alegria da folia chegou à Diretoria Museologia, a iniciativa contemplou do Patrimônio Histórico e Documentação públicos de três faixas etárias. As da Marinha (DPHDM) na quinta edição crianças de 4 a 6 anos participaram de do “Museu em Férias”, realizado de 23 oficinas de confecção de brinquedos e a 25 de janeiro último, no Museu Naval, máscaras carnavalescas; divertiram-se na Ilha Fiscal e no Espaço Cultural da com brincadeiras tradicionais, como Marinha. O evento incluiu uma série de peteca e amarelinha; assistiram a uma atividades educativas e recreativas com sessão de cinema com direito a pipoca; o tema “Carnaval” para crianças e jovens visitaram o circuito expositivo do mu- dependentes de servidores civis e milita- seu e brincaram carnaval com confete res da Marinha do Brasil. e serpentina no bailinho. Organizada pela Divisão de Educa- Para as crianças de 7 a 11 anos, a ção em Museus, do Departamento de recreação foi realizada na Ilha Fis- cal e contou com visita aos espaços expositivos, com mediação, dinâmica de “caça ao tesouro” e brincadeiras populares, como telefone sem fio e pique-bandeira, tudo ao som de marchinhas de carnaval. No último dia do even- to, os adolescentes de 12 a 15 anos revisitaram o pas- Crianças confeccionam máscaras de carnaval sado confeccionando pipas, em oficina de trabalhos manuais junto a outras atividades recreativas, além de co- nhecerem os meios navais em exposição no Espaço Cultural da Marinha, como o Navio-Museu Bauru. Aos interessados que não puderam participar, a DPHDM informa que o “Museu em Férias” vol- tará em julho, com novas atrações. (Fonte: Bono no 28, de Público infantil se divertiu soltando pipas 11/1/2019, www.marinha. no lado sul da Ilha Fiscal mil.br/dphdm)

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PORTÕES ABERTOS 2018

O evento Portões Aber- tos 2018, promovido pela ALA 9, organização militar da Força Aérea Brasileira, foi realizado em 2 de dezembro último, em Belém (PA), com a participação da Marinha do Brasil (MB). Entre as atrações ofereci- das ao público presente, fo- ram realizadas exposições de aviões e helicópteros militares Vice-Almirante Edervaldo e crianças na Ala 9 e civis, demonstrações opera- cionais e de paraquedismo, ae- romodelismo, shows musicais, atividades para as crianças e ações cívico-sociais. Uma aeronave UH-12, do 3o Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral (EsqdHU-3), subordinado ao Comando do 9o Distrito Naval (Manaus- -AM), e a aeronave Tucano 58, trouxeram aos visitantes informações das atividades da MB na região amazônica. O Comando do 4o Distrito Naval (Belém) e as organiza- Oficina de nós desperta atenção de jovens e crianças ções militares subordinadas ofereceram diversos serviços e atividades, em Belém e pelo Comando do Grupamen- como orientações sobre as formas de to de Patrulha Naval do Norte. ingresso na Força, mostra de materiais A atividade que mais atraiu a atenção das usados em missões de combate e de crianças foi a oficina de nós marinheiros, sob uniformes utilizados pelo 2o Batalhão de a orientação dos militares da Base Naval de Operações Ribeirinhas, e informações Val de Cães (Belém). Os visitantes também sobre faróis do Centro de Hidrografia e tiraram dúvidas sobre segurança da navega- Navegação do Norte. Foi possível, ainda, ção com a equipe da Capitania dos Portos da conhecer as atividades desenvolvidas pela Amazônia Oriental. Estação Radiogoniométrica da Marinha (Fonte: www.marinha.mil.br)

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CURITIBA RECEBE A MAIS NOVA SOAMAR

Foi criada, em 23 de no- vembro último, a Sociedade de Amigos da Marinha Curitiba (Soamar-Curitiba), com cerimô- nia presidida pelo comandante de Operações Navais, Almirante de Esquadra Paulo César de Quadros Küster, que represen- tou o comandante da Marinha. A mais nova Soamar une-se às demais 64 sedes localizadas no Brasil e em Portugal. Cerimônia de criação da Soamar Curitiba A solenidade contou com a imposição da Medalha Amigo da Marinha do estadual Ney Leprevost; e os capitães aos 22 novos soamarinos de Curitiba e dos Portos do Paraná, Capitão de Mar e com a posse do presidente da recém- Guerra Germano Teixeira da Silva, e de -criada Soamar, o economista Newton Santa Catarina, Capitão de Mar e Guerra Vasniewski Ribeiro, e da nova diretoria. Emerson Gaio Roberto. O evento contou com a presença O Paraná, que já contava com três de cerca de 150 pessoas, incluindo Soamar – Paranaguá, Foz do Iguaçu e o comandante do 8o Distrito Naval, Guaíra –, passa agora a ter uma na capital, Contra-Almirante Claudio Henrique centro das decisões políticas e econômicas Mello de Almeida; o diretor do Centro do Estado, o que certamente contribuirá de Comunicação Social da Marinha, para aumentar a divulgação das ações e Contra-Almirante Luiz Roberto Caval- dos valores da Marinha do Brasil junto à canti Valicente; o presidente da Soamar população curitibana e paranaense. Brasil, César Amorim Krieger; o deputa- (Fonte: www.marinha.mil.br)

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