Peter Wilhelm Lund: O Auge Das Suas Investigações Científicas E a Razão Para O Término Das Suas Pesquisas

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Peter Wilhelm Lund: O Auge Das Suas Investigações Científicas E a Razão Para O Término Das Suas Pesquisas UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA SOCIAL PETER WILHELM LUND: O AUGE DAS SUAS INVESTIGAÇÕES CIENTÍFICAS E A RAZÃO PARA O TÉRMINO DAS SUAS PESQUISAS Pedro Ernesto de Luna Filho Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em História Social, do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, para obtenção do título de Doutor em História. Orientador: Prof. Dr. Shozo Motoyama São Paulo 2007 2 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA SOCIAL PETER WILHELM LUND: O AUGE DAS SUAS INVESTIGAÇÕES CIENTÍFICAS E A RAZÃO PARA O TÉRMINO DAS SUAS PESQUISAS Pedro Ernesto de Luna Filho São Paulo 2007 3 4 AGRADECIMENTOS Como muitas teses de doutoramento, este trabalho já teve várias formas, questionamentos e direcionamentos até assumir sua forma final. Ele nasceu em meados de 2001, de uma conversa com o Prof. Dr. Shozo Motoyama, titular de História da Ciência da FFLCH-USP. Meu desejo inicial era estudar a História Ecológica do Brasil, especificamente a transição dos períodos Pleistoceno ao Holoceno, no final da Idade do Gelo há 13 mil anos. O assunto era novo para o Prof. Shozo, que nem por isso se desinteressou. Pelo contrário, ele me incentivou a ingressar no programa de mestrado da Faculdade de História em 2002 e perseguir este desejo, incentivo que foi fundamental e pelo qual eu só tenho que me sentir grato. O passo seguinte foi encontrar o material e as fontes de pesquisa. Havia duas possibilidades. A primeira era trabalhar com os dados multidisciplinares coletados pela equipe do Prof. Dr. Eduardo Góes Neves, do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP. Ele efetua escavações há mais de uma década na confluência dos rios Negro e Solimões, no Amazonas, procurando entender a ocupação da Amazônia central em tempos pré-históricos. Seu projeto, como se vê, é fascinante. Procurei o Eduardo e ele se mostrou tremendamente simpático às minhas aspirações, que discutimos sempre em conversas inteligentes e muito agradáveis. A segunda hipótese era trabalhar com os dados multidisciplinares produzidos pelo Projeto Origens e Microevolução do Homem na América, realizado desde os anos 90 nas cavernas da região de Lagoa Santa, em Minas Gerais. O líder desta empreitada é o biólogo Prof. Dr. Walter Alves Neves, do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos (LEEH) do Instituto de Biociências da USP. Eu só conhecia o Walter, o pai de Luzia, “a primeira brasileira”, através do jornalismo científico, carreira a que me dedico desde 1993. Fui visitar seu laboratório em novembro de 2002, quando Walter ouviu com interesse o meu desejo de estudar a história ecológica da região de Lagoa Santa. O resultado foi que me convidou para participar dos trabalhos de campo, que ocorreriam no inverno de 2003. Como eu viria a perceber mais tarde, aquele convite foi um divisor de águas na minha vida, e por isso o Walter tem um papel muito especial nesta minha trajetória intelectual. 5 Julho de 2003. Era a minha primeira visita a Lagoa Santa e às cavernas estudadas por Peter Wilhelm Lund. Passados mais de 120 anos da sua morte, fiquei surpreso ao perceber que o nome do naturalista dinamarquês ainda estava presente nas ruas, na praça principal e na escola municipal da cidade. Estava eu visitando as escavações dirigidas pelo Walter com a ajuda do arqueólogo Renato Kipnis, quando caiu nas minhas mãos – presente do geólogo Luís Beethoven Piló – um exemplar de janeiro de 2002 de O Carste, revista do Grupo Bambuí de Pesquisas Espeleológicas, de Belo Horizonte. Tratava-se de uma edição comemorativa dos 200 anos de nascimento de Peter Lund (1801-1880), com diversos artigos sobre o naturalista, sua obra e a importância desta para a história da ciência no Brasil. Não é preciso dizer que devorei a revista de cabo a rabo naquela mesma noite. Pronto. Eu havia sido fisgado. De uma hora para a outra, entrei para o grupo dos aficionados por Lund, grupo este que conta com grandes figuras como o Walter, o Beethoven e também o Prof. Dr. Augusto Auler, geólogo da UFMG que conheci em agosto de 1994, quando fui fazer uma reportagem para a revista ISTOÉ na maior caverna do Brasil, a Toca da Boa Vista, no sertão da Bahia, explorada pelo Grupo Bambuí. Resolvi abandonar (pelo menos temporariamente) meus planos de estudar a história ecológica brasileira para me dedicar à vida de Lund. Queria saber mais sobre aquele homem que, entre outras coisas, tinha descoberto e descrito o Smilodon populator, o terrível tigre dentes-de-sabre que, ao lado de mastodontes e homens pré-históricos, povoou os meus sonhos de infância. Caro Beethoven, eu lhe devo essa. Foi folheando a revista que vim a saber da coleção de cartas de Lund, arquivadas na Biblioteca Real de Copenhagen. Era aquilo! Eu havia encontrado a fonte para investigar a vida do naturalista Lund. Estava tudo resolvido: eu iria aprender dinamarquês e ler as cartas de Lund! Fácil assim! Quanta pretensão a minha... Se eu soubesse a dor de cabeça que estava comprando, certamente teria desistido ou procurado um caminho mais fácil. Mas o problema é que eu sou teimoso, obstinado e teimoso. Consultei o Walter sobre a minha idéia e ele reagiu com um incentivo duvidoso. Talvez estivesse pensado: “será que ele sabe o que está pretendendo fazer?”. É, Walter, eu não sabia... De volta a São Paulo, falei com o Shozo, então já meu orientador, que me incentivou a perseguir esta nova vertente, inclusive me transferindo para o programa de doutoramento direto. O passo seguinte foi entrar em contato com a Biblioteca Real de Copenhagen, 6 através dos senhores Palle V. Ringsted, bibliotecário aposentado em 2005, e Karsten Bundgaard, fotógrafo, que entre 2004 e 2006 tiveram a bondade e a paciência de me fornecer rolos e mais rolos de microfilmes com as mais de mil cartas e sete mil páginas de documentos do arquivo Lund. Nesse meio tempo, tratei de aprender o dinamarquês, tarefa que achava ser fácil em função dos meus conhecimentos de alemão e de inglês. Ledo engano. Na falta de um curso fixo de dinamarquês em São Paulo (o único curso regular que descobri é dado pelo Prof. Karl Erik Schollhammer na PUC-RJ), acabei tendo aulas particulares com dois nativos. O primeiro foi Søren Skov, um dinamarquês apaixonado por futebol que na época, entre 2004 e 2005, estava morando em São Paulo. Com a volta deste a Copenhagen, meu professor ao longo de 2006 foi Morten Soubak. Søren e Morten: sem vocês, essa tese não teria sido possível. Ao longo de todo este trajeto, recebi o auxílio e o companheirismo de toda a equipe do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos, em especial do jovem biólogo Danilo Bernardo Vicensotto. Assim como Danilo, toda a equipe de LEEH é composta por jovens brilhantes que, sob a batuta de Walter Neves, estão ajudando a redescobrir a história do povoamento do Brasil. Uma palavra de agradecimento vai para Augusto Auler, que me cedeu gentilmente alguns trechos traduzidos de cartas de Lund para seus irmãos, e também para Ana Paula Marchesotti, moradora de Lagoa Santa e que completou seu mestrado em 2005 com uma bela dissertação sobre Peter Wilhelm Lund. Ana Paula me ajudou tanto através da leitura de sua dissertação quanto conseguindo cópias de textos que foram de grande ajuda. Quero ainda agradecer à equipe do Centro Interunidade de História da Ciência, liderada pelo Prof. Shozo Motoyama, mandando um abraço carinhoso à historiadora Marilda Nagamini e às secretárias Joana Maria da Costa e Adriana Antunes Casagrande, que tanto me ajudaram e ouviram nesses anos todos. Por fim, nunca é tarde repetir, meus maiores agradecimentos são aos professores Shozo Motoyama e Walter Alves Neves. O primeiro é meu orientador. O segundo, meu mestre. E os dois, meus amigos. Pedro de Luna 26 de abril de 2007 7 8 “Meus esforços foram recompensados com sucesso irretocável e o ganho que trago para casa tanto em objetos quanto em informações e observações é extraordinariamente grande. Quase todas as espécies tiveram esclarecimentos consideráveis; diversos pontos obscuros se iluminaram; dúvidas foram solucionadas; teorias se confirmaram, foram corrigidas e surgiram. A massa de objetos que neste período passou por entre as minhas mãos, uma infinita multiplicidade de variedade de vida e de fenômenos geológicos, me forneceu a oportunidade de examinar (cerca de 200 cavernas foram examinadas neste ano) e formar uma enorme base para as minhas teorias sobre os principais problemas geológicos: sobre a destruição das cavernas e da Terra, e a introdução dos ossos nelas. Tais teorias surgiram tão completamente a partir da simples generalização dos fatos observados, que se pronunciaram dentro de mim num grau de convicção que me despertou gratas tranqüilidade e satisfação. Isto contrasta muito com o descontentamento instintivo, a partir do qual minhas teorias anteriores relativas a estes pontos foram abandonadas quando não tive sucesso em perceber fenômenos específicos em harmonia. Por outro lado, não posso negar que aspectos de pontos anteriores, que eu já acreditava estabelecidos, foram cobertos por nova escuridão, e aquilo que eu pensava ter sido esclarecido não foi totalmente ultrapassado. Isto se refere, por exemplo, à outra importante questão concernente às circunstâncias relativas à sucessão das eras e à identificação das espécies, e à questão não menos importante da linha separadora entre elas. Esta última tornou-se para mim totalmente obscura. Eu observo várias espécies extintas, como aquelas que descobri, moverem-se por baixo dessa linha em direção do presente, e diversas das espécies do presente moverem-se por cima dela em direção ao passado.
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