Trabalho Reflete Sobre As Mudanças No Cenário De Produção E Consumo De Fonogramas Digitais E Toda Relação De Poder Contida Entre Os Agentes Sociais Envolvidos
Total Page:16
File Type:pdf, Size:1020Kb
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 41º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Joinville - SC – 2 a 8/09/2018 Consumo de música na era digital: um estudo de caso da carreira de Pabllo Vittar1 Gustavo Garcia DA SILVA2 Sandro Tôrres de AZEVEDO3 Faculdades Integradas Hélio Alonso – FACHA, Rio de Janeiro, RJ RESUMO Este trabalho reflete sobre as mudanças no cenário de produção e consumo de fonogramas digitais e toda relação de poder contida entre os agentes sociais envolvidos. Através do estudo de caso da cantora Pabllo Vittar, conhecida por sua ascensão no ciberespaço, observa-se todas as particularidades exercidas por esses agentes. O objetivo é analisar regularidades que revelem novas práticas de distribuição e comercialização de produtos relacionados à música na era digital. Através de pesquisa bibliográfica, análise de sites especializados e perfis específicos nas mídias digitais, demonstra-se que práticas como a distribuição gratuita de fonogramas através de plataformas de streaming e também de merchandising são adotadas de forma sistemática pelo artista estudado. O trabalho aponta o início de uma nova fase de reconstrução da indústria fonográfica no Brasil. PALAVRAS-CHAVE: cibercultura; era digital; mercado fonográfico; streaming; Pabllo Vittar Introdução Este trabalho tem o propósito de abordar o consumo de música no cenário digital, com foco na identificação de novos padrões de interação no ciberespaço e na divulgação de produtos, nesse caso fonogramas. Baseia-se na análise de mídias sociais, como Facebook e Instagram, de plataformas de streaming, como Spotify e Deezer, e outra específica de compartilhamento de arquivos digitais de áudio, Soundcloud. Considerando o consumo de música um comportamento bastante significativo na cultura contemporânea, faz-se necessário lembrar que grande parte desse consumo se dá na forma de arquivos digitais, compartilhados e transmitidos diretamente pela internet. 1 Trabalho apresentado no IJ05 - Comunicação Multimídia, da Intercom Júnior – XIV Jornada de Iniciação Científica em Comunicação, evento componente do 41º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2 Recém-graduado em Jornalismo na FACHA, e-mail: [email protected]. 3 Orientador do trabalho. Professor da FACHA, doutor em Estudos de Linguagem (UFF), mestre em Comunicação e Cultura (UFRJ), graduado em Publicidade e Propaganda (UFF), e-mail: [email protected]. 1 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 41º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Joinville - SC – 2 a 8/09/2018 Observa-se, nesta última década, que a relação entre mídia e consumo tem mudado os formatos e modelos de comunicação entre os artistas e seu público, principalmente no contexto da cultura digital. Através da observação nas redes sociais, mergulha-se neste novo cenário a fim de identificar novos padrões de relacionamento praticados pelos agentes sociais, basicamente aqui identificados como consumidores, empresas de distribuição, gravadoras, artistas autônomos, entre outras possibilidades, e verificar regularidades que revelem se estes padrões de reestruturação já podem ser considerados institucionalizados. É visto também o processo de divulgação e de consumo de música através das plataformas de streaming, buscando compreender como essa mudança na indústria acontece e quais são os principais agentes sociais envolvidos no processo. A partir de estudo de caso, analisa-se como se dá esse processo na trajetória de Pablo Vittar, conhecida por sua ascensão meteórica no ciberespaço, pelo engajamento alcançado por seu trabalho no entorno online, que a levou ao mainstream via contrato com a gravadora Sony Music. É também analisada a estrutura de poder utilizada por esses agentes, levando em consideração todos os aspectos que constituem a cadeia propositora de conteúdos digitais. O panorama do cenário digital de fonogramas e o mercado fonográfico O hábito de encapsular-se em um ambiente sonoro personalizado desenvolveu-se a partir dos anos 1980, através da popularização dos fones de ouvido, que foi de grande relevância no processo de formação do consumidor e de digitalização do atual mercado de música. Aliado a isso, a popularização da internet, o crescimento das bandas de transmissão de dados, e, definitivamente, o desenvolvimento do smartphone – que desponta como o verdadeiro símbolo da mobilidade de consumo, cada vez mais atuante na indústria musical contemporânea (HERSCHMANN, 2010), serviram para aprimorar e contribuir para o aumento da produção, distribuição e o consumo de música no formato digital. É neste contexto que surgem as plataformas de streaming. Analisando os números oficiais divulgados pela Associação Brasileira de Produtores de Discos (ABPD) a partir de 2007, primeiro ano a ser divulgados dados oficiais sobre o consumo de música digital, pode-se ver o crescente número de receita gerada por esse tipo de consumo. Nesse mesmo ano, a receita era capitaneada pela 2 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 41º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Joinville - SC – 2 a 8/09/2018 venda de toques personalizados para celular, chamados ringtones, e representavam 96% (ou R$24.287.188) da fatia total do mercado de música digital4. No ano seguinte, em 2008, as receitas provenientes das vendas digitais quase dobraram, chegando ao valor de R$ 43.503.539,00, confirmando o potencial deste mercado e oferecendo uma esperança à indústria fonográfica. Em 2009, é possível constatar uma queda de faturamento quase imperceptível de -1,7%, porém, em 2010, o crescimento é retomado, com uma porcentagem significativa de 26,2%, com o faturamento quase triplicado em apenas três anos, chegando a R$53.964.412,00. Essa tendência se solidifica nos anos seguintes, chegando em 2012 com um percentual de crescimento de 83% em relação ao ano anterior, somando um montante de R$111.435.842,00, quase o dobro do faturamento de 2011. Este total se refere a receitas advindas de downloads de músicas avulsas, álbuns completos, toques de celular, subscrição de serviços de streaming e das modalidades digitais remuneradas por publicidade, tanto na internet como na telefonia móvel. Nesse mesmo ano, a participação do mercado de música digital é de 28,37% de toda movimentação de toda a indústria fonográfica5. Impulsionado pelo aumento de 87,15% na receita proveniente, principalmente, de downloads de faixas avulsas e álbuns completos de artistas, o mercado digital alcança, em 2013, a marca de 36,46% do total de vendas de músicas gravadas no Brasil6. Em 2014, pela segunda vez nos últimos cinco anos, o déficit do mercado físico de música (-15%) foi compensado pelo aumento nas receitas digitais (+30%). Downloads de músicas avulsas e álbuns completos representaram 30%, telefonia móvel 19%, e serviços de streaming de áudio e vídeos musicais 51% das receitas de música digital no Brasil, apontando para uma tendência de mercado, impulsionados pelo crescente número de usuários de internet no País (+8,5%), em especial através do uso de smartphones (+35%), além da chegada dos principais operadores internacionais de streaming, criando para os próximos anos perspectivas positivas para os negócios com 7 música gravada no mercado brasileiro . 4 Disponível em: http://www.abpd.org.br/2008/01/25/ifpi-publica-relatorio-de-musica-digital-2008/, acesso em 24/10/2017. 5 Disponível em: http://www.abmi.com.br/website/arquivos/legislacao/mercado-fonogra-fico-brasileiro-em-2012- abpd.pdf, acesso em 24/10/2017. 6 Disponível em: http://www.abmi.com.br/website/arquivos/legislacao/mercado-fonogra-fico-brasileiro-em-2013- abpd.pdf, acesso em 25/10/2017. 7 Disponível em: http://abpd.org.br/wp-content/uploads/2015/06/PublicacaoABPD2014.pdf, acesso em 26/10/2017. 3 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 41º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Joinville - SC – 2 a 8/09/2018 Em 2015, a tendência de mercado se confirma com as vendas digitais chegando a 61% do total dos negócios praticados pela indústria fonográfica,com as subscrições nas plataformas de streaming em crescimento de 192,4%. Por fim, em 2016, o comércio digital já representa aproximadamente a metade (48,6%) de todo faturamento do mercado de música nacional, chegando ao valor de R$111,7 milhões, sendo que 39,5% desse montante proveniente de usuários das plataformas de streaming8. Com a digitalização e popularização do consumo de músicas via internet, acontece uma ruptura do processo anterior, e, ainda, observa-se o possível fim daquele mecanismo produtivo. Muitos artistas perceberam a necessidade e oportunidade da autogestão, e da possibilidade de sofrer menos influência das gravadoras, o que resulta em um trabalho de produção musical mais autêntico. Há, ainda, um aumento no número de pessoas, que, mesmo sem o grande aparato de uma grande gravadora, conseguem produzir o mesmo trabalho realizado por elas. Mercado e novas tecnologias Com o estabelecimento da descentralização, individualidade e democracia, um novo panorama provindo das novas tecnologias cria o alicerce ideal para o alargamento de uma cena independente, que, ainda que já existisse de forma tímida, não disputava terreno com o mercado das chamadas majors (grupo de grandes gravadoras que dominaram o mercado fonográfico até meados dos anos 2000). Constata-se, assim, a proliferação de artistas e de entusiastas que trabalham no ramo da música, seja no âmbito quase pessoal e desconectado das influências