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1. Introdução

Este relatório intitulado “Paisagem e contributo para a classificação do Solo Rural” traduz o trabalho desenvolvido pela equipa do ICETA no âmbito do trabalho de elaboração do PDM da Póvoa de Varzim e trata, em articulação com o relatório dedicado à agricultura, a proposta de uma estrutura ecológica e a qualificação do Solo Rural. Apresenta-se: a caracterização da paisagem, a proposta de estrutura ecológica municipal, a contributo para a qualificação do solo rural e a articulação com outros instrumentos (a Reserva Ecológica Nacional, a Reserva Agrícola Nacional, o Plano de Ordenamento da Orla Costeira e a Zona Vulnerável). A transposição destes conteúdos para o Plano será feita em articulação com a equipa assim como a matéria de carácter regulamentar.

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2. Caracterização da paisagem

2.1. Clima

O estudo dos elementos climáticos do concelho tem como objectivo fundamental a delimitação e caracterização de zonas homogéneas que possam ser condicionadoras da actividade agrária e uso do solo. A escassa resolução da rede meteorológica no interior da área em estudo dificulta uma delimitação rigorosa de áreas com diferentes potencialidades agrícolas, circunstância que originou a necessidade de recorrer a estações climáticas e postos udométricos nas proximidades do concelho e cujas coordenadas e localização podem ser consultadas no quadro 2.1. e na figura 2.1.

Para determinar a área de influência de cada local de recolha dos elementos do clima recorreu- se à marcação de polígonos de Thiessen. Este método baseia-se no pressuposto de atribuir o mesmo valor ao elemento climático registado num determinado local a todos os pontos cuja distância aquele ponto é menor que a qualquer outro local da rede de registos utilizada.

O clima do concelho da Póvoa de Varzim está condicionado por dois aspectos fundamentais: a proximidade do Atlântico e a disposição paralela ao oceano do cordão de afloramentos de quartzitos com cristas aceradas e declives acentuados que retiram influência atlântica às freguesias mais interiores do concelho - e Balazar. A influência atlântica, enquanto moderadora do clima, é bem evidente nas temperaturas amenas, na existência de uma humidade relativa elevada e chuvas abundantes. As elevações do terreno comportam-se como uma barreira de condensação face aos ventos oceânicos húmidos que são determinantes no contraste do clima no concelho. Contudo a componente mediterrânea do clima ainda se faz sentir por uma diminuição acentuada e mesmo interrupção em alguns anos das precipitações nos meses de Verão.

Estes condicionalismos determinam uma seriação climática desde a orla marítima e zonas de aplanação litorânea até aos topos culminantes da vertente montanhosa e às freguesias mais interiores do concelho - Rates e Balazar em que começam a esboçar-se características crescentes de continentalidade.

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Quadro 2.1 – Elementos climáticos e classificação climática

Parâmetros climáticos Viana do Castelo Esposende Póvoa de Pedras Rubras Barcelos St. Tirso V. Nova de Varzim Famalicão Coordenadas 41º42’; 8º48’ 41º23; 8º45 41º14; 8º41' 41º31'; 8º37' 41º21'; 8º28' Temperatura média anual (ºC) 14,6 13,5 13,4 14,6 13,8 15,2 14,5 15 Temperatura (Maio Set.) (ºC) 17,7 16,4 16,2 17,6 17,0 18,8 18,4 18,4 Amplitude térmica (ºC) 10,5 8,3 9,0 9,7 9,1 12,0 11,8 11,6 Precipitação anual (mm) 1427 1253 1000 1167 1167 1541 1374 1650 Precipitação (Maio Set.) (mm) 71,2 58,2 45,5 56,1 56,1 67,1 65,3 82,7 Índice de humidade 115,1 99,9 72,3 82,1 85,6 133,5 107,7 136,8 Índice de aridez 15 16,6 12,1 19,2 17,8 15,7 18,8 12,6 Índice de hídrico 106,1 89,9 65 70,5 74,9 124,1 96,6 129,3 Concentração térmica 42,6 39,5 39,3 41,1 40,1 44,0 44,1 43,5 Fórmula climática AB’2 r s2 a’ B3 B’1 r s2 a’ B3 B’2 r s2 a’ B3 B’2 s s2 a’ B3 B’2 s s2 a’ AB’2 r s2 a’ AB’2 s s2 a’ AB’2 r s2 a’ Super húmido, Húmido, Húmido, Húmido, Muito húmido, Muito húmido, Muito húmido, Descrição da classificação mesotérmico, mesotérmico, mesotérmico, Húmido, mesotérmico, mesotérmico, mesotérmico, mesotérmico, climática nula ou pequena nula ou pequena nula ou pequena mesotérmico, moderada nula ou pequena moderada nula ou de Thornthwaite deficiência de deficiência de deficiência de moderada deficiência de deficiência de deficiência de pequena água no Verão, água no Verão, água no Verão, deficiência de água no Verão, água no Verão, água no Verão, deficiência de grande excesso grande excesso grande excesso água no Verão, grande excesso grande excesso grande excesso água no Verão, de água no de água no de água no grande excesso de água no de água no de água no grande Inverno e nula ou Inverno e nula ou Inverno e nula ou de água no Inverno e nula ou Inverno e nula ou Inverno e nula ou excesso de pequena pequena pequena Inverno e nula ou pequena pequena pequena água no concentração da concentração da concentração da pequena concentração da concentração da concentração da Inverno e nula concentração da eficiência térmica. eficiência eficiência eficiência eficiência eficiência ou pequena térmica. térmica. eficiência térmica. térmica. térmica. concentração térmica. da eficiência térmica.

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Figura 2.1 – Temperaturas médias anuais nas estações climáticas seleccionadas para a caracterização climática

Com base na classificação climática de Thornthwaite e outros elementos do clima, é possível distinguir no concelho da Póvoa de Varzim três zonas climáticas (figura 2. 2):

Zona A: que abrange as zonas de aplanação litorânea do concelho da Póvoa de Varzim até à cota de 70 metros. As precipitações médias anuais variam de 1000 a 1250 mm sendo as precipitações no período de Maio a Setembro de 200 a 240 mm. A temperatura média anual varia entre 13,4 a 15,0 ºC. A amplitude térmica anual varia entre 8,3 e 10,0ºC. O Inverno é temperado, com um período livre de geadas superior a 7 meses.

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Considerando as estações de Pedras Rubras e Viana do Castelo, no mês de Abril, ocorre respectivamente uma ou duas geadas em cada 10 anos, seguindo-se um período sem geadas até finais de Outubro. Na estação de Pedras Rubras registam-se apenas 4,1 dias de geada por ano.

Figura 2.2 – Zonas climáticas homogéneas

Nesta zona predomina o vento norte com uma velocidade média de 12,4 km.h-1. Os “ventos de nortada”, por serem frequentes no Verão, coincidindo com o período de plena produção de algumas hortícolas, podem originar problemas para as culturas e manutenção de estruturas relacionadas.

De acordo com a classificação racional de Thornthwaite nesta zona, o clima é húmido, mesotérmico com nula ou pequena deficiência de água no Verão, grande excesso de água no Inverno e nula ou pequena concentração da eficiência térmica. As freguesias mais a Sul do concelho podem estar sujeitas a moderada falta de água no Verão.

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Zona B: Representada pelas freguesias do concelho a Leste do monte de S. Félix e com cotas inferiores a 70 metros. Relativamente à zona A verifica-se um regime hídrico mais favorável associado à ocorrência de precipitações orográficas referidas anteriormente. As precipitações médias anuais variam de 1374 a 1650 mm, mas irregularmente distribuídas ao longo do ano. No período de Maio a Setembro apenas ocorrem cerca de 20 % das precipitações anuais.

A temperatura média anual varia entre 14,5ºC a 15,2 ºC e a amplitude térmica anual varia entre 11,6 e 12ºC com um período livre de geadas de Maio a Setembro. Esta zona, quando comparada com a zona A, apresenta uma maior frequência de ocorrência de geadas. Em Abril, em Barcelos e Sto Tirso, em 10 anos, ocorrem 6 e 4 geadas respectivamente. O período livre de geadas mantêm-se até Outubro (Sto Tirso 1geada/10 anos) ou Novembro (Barcelos 3,3 geadas/10 anos). Nesta zona ocorrem entre 26,2 (Barcelos) e 25,5 (Sto Tirso) dias de geadas por ano.

De acordo com a classificação racional de Thornthwaite o clima da zona B é muito húmido, mesotérmico, com nula a moderada deficiência de água no Verão, grande excesso de água no Inverno e nula ou pequena concentração da eficiência térmica.

Zona C: representada pelas áreas do concelho com cotas superiores a 70 metros, para as quais a ausência de elementos climáticos não permitiu fazer a sua caracterização:

• parte Este das freguesias de Laúndos e e parte mais Ocidental da freguesia de Rates;

• parte mais Ocidental da freguesia de Balazar.

2.2. Relevo e hidrografia

A variação altimétrica no concelho da Póvoa do Varzim situa-se entre os 0 e os 190 metros. As zonas mais altas correspondem ao monte de S. Félix, em Laúndos, e Monte da Cividade, em Terroso. Os relevos são suaves, sendo o território predominantemente caracterizado por planícies e pequenos montes (figura 2.3)

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Figura 2.3 − Modelo digital de terreno

De um modo geral o declive é suave, prevalecendo as inclinações inferiores a 12%, sendo que em termos gerais apenas nas freguesias de Terroso, Laúndos, Rates e Balazar se pode encontrar declives superiores a 12% (figura 2.4).

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Figura 2.4 – Declives superiores e inferiores a 12%

A rede hidrográfica do concelho da Póvoa de Varzim apresenta-se, de um modo geral, pouco densa. O território litoral do concelho é drenado directamente para o Oceano Atlântico. O território do interior do concelho integra a bacia hidrográfica do Rio Ave, sendo drenado pelo Rio Este, estabelecendo assim duas realidades fisiográficas de características bem distintas, separadas pelas formações quartzíticas do Monte de São Félix. (figuras 2.5).

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Figura 2.5 – Bacias hidrográficas

Figura 2.6 – Zonas inundáveis (CMPV, 2004)

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2.3. Geologia e solos

A análise das características geológicas foi elaborada com base na Carta Geológica n.º 9-A de 1965, na escala 1/50.000, dos Serviços Geológicos e Mineiros de . Geologicamente o concelho apresenta um cordão litoral caracterizado pela presença de areias dunares e alguns depósitos de praias antigas e de terraços fluviais. As freguesias de A-Ver-o-Mar, Amorim, Beiriz, Póvoa de Varzim e Argivai caracterizam-se por formações geológicas graníticas enquanto que nas freguesias de Laundos, Rates e Balazar predominam as formações xistentas. Desta forma, o concelho da Póvoa de Varzim apresenta predominantemente xistos e granitos, sendo estas formações interrompidas por uma formação de quartzitos que atravessa as freguesias de Rates, Laúndos e Estela, no sentido NW (figura 2.7).

Figura 2.7 – Carta geológica (IGM, 1965)

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A carta de solos foi elaborada com base na folha n.º 9 da Carta de Solos da Região entre Douro e Minho de 1996, na escala 1/100.000, da Direcção Regional de Agricultura de Entre Douro e Minho, segundo a terminologia usada pela Food and Agriculture Organisation. No concelho da Povoa de Varzim encontram-se seis tipos distintos de solos, sendo que prevalecem os cambissolos (figura 2.8): Cambissolos dístricos 44 % Cambissolos húmicos 24 % Leptossolos úmbricos 17 % Arenossolos háplicos 9 % Antrossolos cumúlicos 3 % Fluvissolos dístricos 2 %

Figura 2.8 – Carta de solos (DRAEDM, 1996)

No quadro 2.2 apresenta-se a representatividade de cada uma das classes de solos por freguesias do concelho:

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Quadro 2.2 – Representatividade dos tipos de solo nas freguesias do concelho da Póvoa de Varzim Solos (% e ha) Antrossol Arenossol Cambisso Cambisso Leptossol Leptossol os os los los os os cumúlicos háplicos dístricos húmicos úmbricos dístricos TOTAL a b a b a b a b a b a b FREGUESIA Freg. Conc. Freg. Conc. Freg. Conc. Freg. Conc. Freg. Conc. Freg. Conc. (ha) AGUÇADOURA 53 11 32 1 15 1 136

AMORIM 16 3 84 25 558 ARGIVAI 100 13 242 AVER -O-MAR 10 7 2 88 21 450

BALAZAR 2 11 43 15 40 36 14 100 1172 BEIRIZ 100 23 425 ESTELA 51 83 49 16 1125

LAUNDOS 12 48 78 20 2 1 9 6 920 NAVAIS 12 24 75 10 13 3 446 PÓ VO A D E VARZIM 100 12 220

RATES 3 18 68 27 29 31 1380 TERROSO 26 4 74 27 481 Concelho (ha) 226 690 3321 1846 1304 169 7555 Concelho (%) 3 9 44 24 17 2 100 a) área de um tipo de solo na freguesia sobre a área total da freguesia sem área social e prais b) área de um tipo de solo na freguesia sobre a área do mesmo tipo de solo no concelho.

De forma genérica os cambissolos apresentam um horizonte B câmbico e sem horizonte de diagnóstico que não seja um horizonte A ócrico, ou um horizonte A mólicos sobrejacente a um horizonte B câmbrico com grau de saturação em bases inferior a 50%. Os cambissolos representam cerca de 70% dos solos do concelho.

Os cambissolos dístricos têm um horizonte A ócrico e grau de saturação em bases superior a 50 %, sem propriedades vérticas, sem propriedades ferrálicas no horizonte B câmbrico; se m propriedades gleicas até 100 cm a partir da superfície. Os cambissolos dístricos ocorrem em 9 freguesias do concelho em diferentes formações geológicas e representam cerca de 50% dos solos do concelho.

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Os cambissolos húmicos são caracterizados por não apresentarem aspectos crómicos e possuírem horizonte A úmbrico, sem propriedades vérticas, sem propriedades ferrálicas no horizonte B câmbico; sem propriedades gleicas até 100 cm da superfície.

Os cambissolos húmicos derivados de rochas eruptivas possuem elevada permeabilidade, sendo pobres em calcário e duma maneira geral em bases de troca. São deficientes em ácido fosfórico e por vezes também em potássio assimilável não obstante o granito possuir minerais em cuja constituição entra o potássio, como sejam os felspatos potássicos e as micas. Devido à sua textura ligeira estes solos são fáceis e trabalhar.

Este tipo de solo representa cerca de 24 % dos solos do concelho e apresentam-se distribuídos por 8 freguesias. Nas freguesias de Amorim, Argivai, A-Ver-o-Mar, Beiriz e Póvoa de Varzim os cambissolos representam entre 84 a 100 % dos solos da freguesia.

Os leptossolos são limitados a uma profundidade inferior a 30 cm, por rocha contínua e dura ou camada cimentada contínua ou com menos de 20 % de terra fina até 75 cm de profundidade. Os leptossolos úmbricos não possuem horizontes de diagnóstico além do um A úmbrico, com ou sem horizonte B câmbico.

Os leptossolos umbricos no concelho da Póvoa de Varzim aparecem em rochas quartzíticas numa pequena mancha das freguesias de Laundos, Rates e Terroso. Os leptossolos em xistos aparecem sobretudo nas freguesias de Balazar.

Os arenossolos háplicos apresentam textura mais grosseira que franco-arenosas até profundidade de pelo menos 100 cm. Apenas apresentam o horizonte de diagnóstico A ócrico, sem propriedades ferralíticas nem gleicas.

Estes solos caracterizam-se por apresentarem a toalha freática muito próxima da superfície e são beneficiados pela incorporação maciça de matéria orgânica (argaços e/ou estrumes). A boa drenagem destes solos permite um precoce e longo período de sazão, o que aliado ao rápido aquecimento do solo (baixa capacidade calorífica e condutividade térmica) no inicio da Primavera, tornam estes solos bastante favoráveis à cultura generalizada de primores. A baixa capacidade de retenção de água e nutrientes, originam a necessidade de regas e fertilizações frequentes e de pequena dotações.

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Os arenossolos háplicos estão concentrados na freguesia de Estela (83%) e ocupam uma área inferior a 10% dos solos do concelho da Póvoa de Varzim. Estes solos podem ainda ser encontrados nas freguesias de Aguçadoura e A-Ver-o-Mar.

Como o próprio nome sugere, os antrossolos são solos com forte influência antropogénica na sua formação. Estes solos sofreram uma modificação profunda por soterramento dos horizontes originais pela actividade humana ou perturbação dos horizontes superficiais por cortes, escavações, adições seculares de materiais orgânicos, rega contínua e duradoura. Os antrossolos cumúlicos correspondem à generalidade dos solos dos terraços ou socalcos, embora se encontrem também em áreas não terraceadas. Apresentam grau de saturação de bases inferior a 50% pelo menos entre 20 e 50 cm de profundidade e acumulação de sedimentos com textura franco-arenosa ou mais fina, em espessura superior a 50 cm. Embora com pouca expressão no concelho (2 %) representam uma fracção importante dos solos da freguesia de Laúndos (12 %) e Navais (12 %), estando ainda representados por uma percentagem inferior a 3 % em Rates e Balazar.

Manchas de aluv iões recentes marginando os cursos de água atravessam a freguesia de Balazar, sendo os fluvissolos os solos mais frequentes destas formações geológicas. Os fluvissolos representam cerca de 14% dos solos de Balazar, mas apenas 2% dos solos do concelho. Estes solos têm apenas um horizonte de diagnóstico A úmbrico sobre um horizonte C arenoso ou arenoso franco até mais de 50 a 150 cm de profundidade.

Estes solos derivados de xistos e demais rochas metamorfizadas são muito evoluídos, detendo um nível de fertilidade química elevado. Devido ao deficiente arejamento associado a processos de redução estes solos podem apresentar características gleicas abaixo de 100 cm. Têm por vezes alguma dificuldade na drenagem interna, diminuindo assim o tempo de sazão para a realização dos trabalhos de mobilização do solo. A mobilização destes solos fora do período de sazão e o sistema de mobilização baseado geralmente na charrua de aivecas e grades de discos, originam o aparecimento de camadas de impedância mecânica a cerca de 20 a 30 cm desfavoráveis para a drenagem interna do sol e crescimento radicular.

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2.4. Fauna e flora

O estudo e identificação das áreas com interesse ecológico, do ponto de vista da flora e da fauna, foram realizados no âmbito de um estudo de iniciativa da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Norte, denominado “Estrutura Ecológica Fundamental da AMP”, ainda em fase de conclusão, e igualmente da responsabilidade do ICETA.

Relativamente aos valores faunísticos, foram considerados diversos tipos de biótopos no concelho da Póvoa de Varzim: campos agrícolas, masseiras, sebes, bosques de caducifólias, pinhais, cursos de água e linha de costa. Foi considerado uma área de interesse faunístico, conforme representado na figura 2.9, e que entre as espécies presentes destacam-se a Doninha (Mustela nivalis), a Águia-de-asa-redonda (Buteo buteo), a Lagartixa de Bocage (Podarcis bocagei), o Fura-pastos-co mu m ( Chalcides striatus), o Sapo-de-unha-negra (Pelobates cultripes) e o Sapo-corredor (Bufo calamita).

Quanto ao reconhecimento da vegetação natural foi identificado um conjunto de áreas igualmente representadas na figura 2.9, onde se destaca a vegetação ripícola e palustre, assim como a vegetação específica das formações dunares. De acordo com o Anexo I da Directiva 92/43/CEE (Directiva Habitats) considera-se existirem os habitats indicados no quadro 2.4.1.

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Figura 2.9 – Área de interesse faunístico e vegetação natural (ICETA, 2004)

Quadro 2.3 – Habitats naturais (Anexo I da Directiva 92/43/CEE) com relevância cartográfica

Designação Habitat Descrição Depressão dunar 2190 Depressão dunar encharcadiça Duna embrionária 2110+2120 Duna embrionária com duna primária Vegetação de duna primária, sem vegetação de duna Duna primária 2120 embrionária. Em regressão Duna secundária 2130x Duna secundária, habitat prioritário Folhosas 9230 Carvalhais, incluindo orlas, não ripícolas nem palustres Matos climatófilos 4030 Matos climatófilos de tojos e urze Mosaico de matos climatófilos e matos higrófilos (habitat Matos higrófilos 4020x e 4030 prioritário) Outra vegetação dunar, indefinida, em recuperação, em Outra vegetação dunar regressão e vegetação dunar ruderalizada Inclui o Zonas de pinhal aberto com sub-coberto de mato higrófilo, Pinhal com mato higrófilo 4020x habitat prioritário Vegetação halo- casmofítica 1230 Vegetação casmofítica de zonas litorais Vegetação helofítica 6430 Vegetação helofítica dulceaquícola, como caniçais, ... Vegetação ripícola e palustre 91E0x Formações ripícolas e palustres, habitat prioritário

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2.5. Uso do solo

A carta de uso do solo foi produzida com base em ortofotomapa do ano de 2000 (INGA), na escala 1/5.000. Para efeitos de elaboração da referida carta foram definidas as seguintes classes de uso do solo: uso agrícola (culturas hortícolas e culturas forrageiras), uso florestal, praias, áreas de vegetação rasteira e arbustiva e rochedos, outros usos (áreas não impermeabilizadas) e outros usos (áreas dominantemente impermeabilizadas). A distribuição das áreas é apresentada no quadro 2.4.

A carta de uso do solo (figura 2.10) mostra claramente o domínio do uso agrícola sobre qualquer outro, representando 46% da área. O uso agrícola é constituído principalmente por culturas hortícolas (45 %) e forrageiras (55%) (figura 2.11). Quanto ao uso florestal constata-se que prevalecem o pinheiro e o eucalipto, sendo que existe uma forte predominância da presença florestal nas zonas mais declivosas, exceptuando a mancha contínua de pinhais e eucaliptais em Laúndos, Terroso e Estela.

Quadro 2.4 – Distribuição dos usos do solo em 2000 Us o Área (ha) % Uso agrícola 3.798 46 % Uso florestal 2.122 26 % Praias, áreas de vegetação rasteira e arbustiva e 212 3 % rochedos Outros usos (áreas não impermeabilizadas) 305 4 % Outros usos (áreas dominantemente 1.778 22 % impermeabilizadas)

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Figura 2.10 – Uso do solo em 2000 (ICETA, 2004)

Figura 2.11 – Uso agrícola em 2000 (ICETA, 2004)

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Figura 2.12 – Uso florestal em 2000 (ICETA, 2004)

2.6.Património construído

Figura 2.13 – Património construído (CMPV, 2004)

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Figura 2.14 – Património construído: muros e caminho de Santiago (ICETA, 2004)

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3. Estrutura ecológica municipal (em solo rural)

O DL nº 380/99 (artigo 10º) diz que os instrumentos de gestão territorial identificam a estrutura ecológica. Esta é definida como “o conjunto de áreas, valores e sistemas fundamentais para a protecção e valorização ambiental dos espaços rurais e urbanos, designadamente as áreas de reserva ecológica” (artigo 14º). O mesmo diploma determina que os objectivos dos planos municipais de ordenamento de território visam estabelecer a definição da estrutura ecológica municipal (artigo 70º). Esta estrutura ecológica municipal deve ser parte fundamental do modelo de organização municipal do território sendo constituída pelo conjunto dos sistemas de protecção dos valores e recursos naturais, culturais, agrícolas e florestais (artigo 85º).

Para a definição da estrutura ecológica foi definida a metodologia apresentada na Figura 3.1 onde também se toma em consideração a qualificação do solo rural apresentada no capítulo seguinte. A metodologia compreende os seguintes passos: definição do carácter da paisagem; análise das componentes biofísicas e do uso do solo; síntese tendo em vista a identificação das zonas de risco, leitos e cursos de água, protecção de áreas de recarga de aquíferos e valores únicos e proposta de delimitação da estrutura ecológica em solo rural.

A delimitação das áreas a considerar para efeitos de integração na estrutura ecológica municipal da Póvoa de Varzim tomou em consideração a análise das seguintes variáveis: relevo, hidrografia e leitos de cheia, geologia, solos, fauna, flora tendo em vista a identificação das zonas de risco com destaque par a erosão do litoral, os leitos e cursos de água, a protecção das áreas de recarga de aquíferos e os valores únicos quer naturais quer culturais. A variável relevo valorizou as áreas com um declive superior a 12% sendo este um factor importante sobretudo para a identificação das áreas de protecção de recarga de aquíferos, na parte interior do concelho. A rede hidrográfica é bastante densa mas com comportamentos bem distintos, ou seja, um conjunto de linhas de água que corre perpendicularmente ao mar e, por outro lado, nas freguesias interiores, ela está associada a afluentes na margem esquerda e direita do rio Este definindo vales de características mais encaixadas. Os leitos de cheia correspondem a uma informação cedida pela CMPV que fez esse levantamento e agora integra-se a respectiva informação então colhida, que é igualmente relevante sob o ponto de vista das zonas de risco. Sob o ponto de vista das formações geológicas, no concelho prevalece um conjunto de formações recentes associadas sobretudo ao litoral assim como ao

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vale aluvionar ao longo do rio Este. Por outro lado, a presença de quartzitos determinam uma marca importante e de distinção na paisagem do concelho. Sob o ponto de vista dos solos, destacam-se os fluviossolos que por sua vez são uma forma de clarificar e complementar a deli mitação dos leitos de cheia e apresentam características próprias sob o ponto de vista de uma utilização agrícola. Por outro lado, os leptossolos e os arenossolos são os solos de menor interesse sob o ponto de vista agrícola. Quanto à fauna e flora destacam-se as áreas com valores de maior interesse conservacionista.

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CARÁCTER DA PAISAGEM

Os sistemas agrícolas. As bouças e os campos. As culturas forrageiras e as culturas

hortícolas. As masseiras. O litoral. O património natural e cultural. Os aglomerados populacionais.

ANÁLISE

Clima Relevo Hidrografia e Geologia Solos Fauna e flora Uso do solo Leitos de cheia

SÍNTESE

Zonas de risco Leitos e cursos de água Áreas de protecção de recarga de aquíferos Valores únicos

PROPOSTA

ESTRUTURA ECOLÓGICA EM DELIMITAÇÃO DA ESTRUTURA ECOLÓGICA EM SOLO RURAL QUALIFICAÇÃO DO SOLO RURAL POOC Caminha-Espinho SOLO URBANO

Transposição para a Carta de Ordenamento e Regulamento da proposta de PDM

Figura 3.1 – Metodologia de trabalho

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Para a delimitação das zonas de risco entrou-se em consideração com as formações geológicas mais recentes ao longo do litoral: Areias e cascalheiras de praia e as areias de dunas podendo também ser consideradas as áreas em que ocorrem Fluvissolos, de acordo com as Cartas de Solos e integrando a informação proveniente da carta de áreas de leitos de cheia. As fontes de informação são a Carta Geológica de Portugal na escala 1/50.000 (IGM, 1965), a Carta de Solos na escala 1/100.000 (DRAEDM) e a carta de áreas de leitos de cheias da CMPV.

A delimitação dos leitos e cursos de água tem apenas como fonte de informação as Cartas Militares na escala 1/25.000. Sendo algumas das linhas de água identificadas, linhas de drenagem natural, sem presença física no território (constituem ligeiras depressões por onde se processa a drenagem natural das áreas num território onde predominam os declives suaves), optou-se por cartografar apenas o rio Este, as linhas de água que se encontram associadas a zonas ameaçadas pelas cheias. No entanto torna-se importante referir que todas as linhas de água são fundamentais para a estrutura ecológica.

A identificação das áreas de protecção de áreas de recarga de aquíferos é particularmente pertinente, conforme já referido, para as freguesias interiores de Rates e Balazar que constituem pequenas bacias hidrográficas com os vales intensamente agricultados. A carta de declives foi particularmente relevante para este efeito, sendo que uma parte significativa das áreas declivosas que se pretendiam identificar estão maioritariamente ocupadas por floresta.

Sob o ponto de vista dos valores únicos, procurou-se integrar nesta delimitação de estrutura ecológica aqueles mais relevantes sob o ponto de vista da conservação da natureza resultantes do levantamento recentemente levado a cabo.

Da integração da análise das variáveis resultou uma primeira proposta de estrutura ecológica a que se seguiu uma verificação em consonância com o decorrer de outros trabalhos em curso no âmbito da revisão do PDM, nomeadamente o confronto com os perímetros urbanos, a Reserva Ecológica Nacional e a Reserva Agrícola Nacional.

Em síntese, a estrutura ecológica apresentada procura criar um sistema que considera o risco, a gestão da água, factores de distinção e que privilegia a aptidão em detrimento do uso do solo, privilegiado a identificação dos solos de menor aptidão para a construção e para a agricultura. A

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estrutura ecológica proposta para a Póvoa de Varzim (figura 3.2) representa cerca de 30% do total do território municipal (2.382 ha).

Figura 3.2 – Estrutura ecológica em Solo Rural

Esta estrutura deve articular-se com os espaços agrícolas e florestais, assumindo-os de forma multifuncional, ou seja, enquanto espaços de suporte de actividades produtivas, conservacionistas (natural e patrimonial) e recreativas. A proposta de estrutura ecológica para o solo rural pretende constituir um contributo para a viabilização da actividade económica agrícola, uma importante fonte de rendimento e emprego no concelho, sendo que estas actividades desempenham também um papel funda mental ao nível do funcionamento dos sistemas naturais e na definição do carácter e da qualidade da paisagem. Desta forma, e no âmbito do reforço da estrutura, importa referir que as categorias de espaço agrícola e florestal constituem um importante complemento da estrutura ecológica proposta pelo que se apresenta de seguir os princípios orientadores da proposta de qualificação do solo rural.

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4. Contributo para a qualificação do solo rural

De acordo com o art. 72º do D.L. 380/99, “a classificação do solo determina o destino básico dos terrenos, assentando na distinção fundamental entre solo rural e solo urbano”. De acordo com o diploma referido, entende-se por: Solo Rural, “aquele para o qual é reconhecida vocação para as actividades agrícolas, pecuárias, florestais ou minerais, assim como o que integra os espaços naturais de protecção ou de lazer, ou que seja ocupado por infra-estruturas que não lhe confiram o estatuto de solo urbano”; e Solo Urbano, “aquele para o qual é reconhecida vocação para o processo de urbanização e de edificação, nele se compreendendo os terrenos urbanizados ou cuja urbanização seja programada, constituindo o seu todo o perímetro urbano”.

No que se refere à qualificação do solo (art. 73º), esta “atenta a sua classificação básica, regula o aproveitamento do mesmo em função da utilização dominante que nele pode ser instalada ou desenvolvida, fixando os respectivos uso e, quando admissível, edificabilidade”.

Assim, a qualificação do solo rural “processa-se através da integração nas seguintes categorias: a) Espaços agrícolas ou florestais afectos à produção ou à conservação; b) Espaços de exploração mineira; c) Espaços afectos a actividades industriais directamente ligadas às utilizações referidas nas alíneas anteriores; d) Espaços naturais; e) Espaços destinados a infra-estruturas ou a outros tipos de ocupação humana que não impliquem a classificação como solo urbano, designadamente permitindo usos múltiplos em actividades compatíveis com espaços agrícolas, florestais ou naturais”.

A proposta de distribuição do solo urbano e do solo rural no concelho da Póvoa de Varzim é apresentada na figura 4.1.

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Figura 4.1 – Solo Rural e Solo Urbano

No concelho de Póvoa de Varzim foram consideradas as seguintes categorias em Solo Rural: Espaço agrícola (68% do total de solo rural); Espaço florestal (29% do total de solo rural) e a área remanescente corresponde ao Espaço Natural. Desde já se refere que no Espaço Natural estão incorporadas as áreas das categorias do Plano de Ordenamento da Orla Costeira Caminha-Espinho, ou seja praias em APC (Área de Protecção Costeira) , áreas de vegetação rasteira em APC e rochedos em APC.

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Figura 4.2 – Qualificação do Solo Rural

Considerando o carácter da paisagem da Póvoa de Varzim, deve-se entender por espaço agrícola aquele com particular vocação para uma prática agrícola que simultaneamente está enraizada em práticas do passado mas que também atende às especificidades presentes da actividade agrícola e que atende ainda às perspectivas para o futuro dessa actividade, nomeadamente no âmbito do que está determinado para o próximo Quadro Comunitário no que diz respeito ao sector.

Quanto às práticas do passado que conferiram uma identidade própria ao concelho - e t a mbé m naturalmente à região do Entre Douro e Minho em que a Póvoa de Varzim se insere – considera-se de extrema importância a sua preservação quer por razões de ordem agrícola, quer conservacionista, quer ecológica. Referimo-nos concretamente ao sistema agrícola da ‘bouça e do campo’ associado a uma agropecuária de características próprias e que hoje está na origem de uma intensa actividade agro-industrial. Quanto à presença das culturas hortícolas, ela é suficientemente expressiva quer em termos de ocupação territorial quer enquanto actividade económica e por isso merece ser igualmente preservada havendo sempre que

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atender às especificidades conferidas pelo sistema de masseiras embora já hoje a cultura em estufa tenha uma forte predominância.

Ou seja, em termos concretos, na distinção entre Espaço agrícola e Espaço florestal respeitou- se prioritariamente o sistema agrícola o que significa que no Espaço agrícola estão incluídos espaços actualmente ocupados por bouças para além dos campos agricultados. Por sua vez, no Espaço florestal incluíram-se as zonas declivosas, sem ou com baixa aptidão agrícola, podendo no entanto incluir espaços actualmente agricultados se bem que com uma expressão reduzida.

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5. Outros instrumentos

5.1. Reserva Ecológica Nacional

Figura 5.1 – Reserva Ecológica Nacional (CMPV, 2004)

A figura 5.1 apresenta a distribuição da REN no concelho e que corresponde a cerca de 17% da área total (1.415 ha). A figura 5.2 apresenta a estrutura ecológica em solo rural e que representa cerca de 30% da área total do concelho (2.382 ha) sendo que a quase totalidade da REN se encontra na proposta de estrutura ecológica em solo rural.

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Figura 5.2 – Reserva Ecológica Nacional e Estrutura Ecológica em Solo Rural

5.2. Reserva Agrícola Nacional

Figura 5.3 – Reserva Agrícola Nacional (CMPV, 2004)

A figura 5.3 apresenta a distribuição da RAN que representa cerca de 41% da área total do concelho (3.323,15 ha) e a figura 5.4 apresenta a sobreposição da proposta de estrutura ecológica com a RAN.

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Figura 5.4 – Reserva Agrícola Nacional e Estrutura Ecológica em Solo Rural

5.3. Plano de Orla Costeira Caminha-Espinho

O Plano de Orla Costeira Caminha-Espinho (POOC), publicado pela Resolução de Conselho de Ministros n.º 25/99, de 7 de Abril tem natureza de regulamento administrativo e como tal, com ele se devem conformar os planos municipais de ordenamento do território, nomeadamente o PDM.

O âmbito territorial do POOC corresponde à Zona Terrestre de Protecção (faixas de protecção, com uma largura de 500 metros, contados da linha que limita a margem das águas do mar) e à Faixa Marítima de Protecção (faixa de protecção que tem como limite máximo a batimétrica - 30,constante das cartas do Instituto Hidrográfico).

Constituem objectivos do POOC Caminha-Espinho (art.º2): a) O ordenamento dos diferentes usos e actividades específicos da orla costeira; b) A classificação das praias e a regulamentação do seu uso balnear; c) A valorização e qualificação das praias consideradas estratégicas por motivos ambientais ou turísticos; d) A orientação do desenvolvimento de actividades específicas da orla costeira; e e) A defesa e conservação da natureza.

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Constituem elementos fundamentais do POOC o regulamento, a planta de síntese e a planta de condicionantes.

A planta de síntese, na escala 1:25.000, delimita as classes e categorias de espaços, em função do uso dominante, e estabelece unidades operativas de planeamento e gestão. São consideradas no POOC as seguintes classes e categorias de espaços (art.6º), identificadas na planta de síntese: Classe 1 — área de protecção costeira (APC), que compreende as seguintes categorias: 1) Categoria 1.1 — praias em APC; 2) Categoria 1.2 — áreas de vegetação rasteira e arbustiva em APC; 3) Categoria 1.3 — áreas florestais em APC; 4) Categoria 1.4 — áreas agrícolas em APC; 5) Categoria 1.5 — rochedos em APC; 6) Categoria 1.6 — zonas húmidas em APC; 7) Categoria 1.7 — estuários em APC; 8) Categoria 1.8 — equipamentos em APC;

Classe 2 — área de aplicação regulamentar dos PMOT São ainda consideradas áreas a sujeitar a planos específicos, que constituem unidades operativas de planeamento e gestão (UOPG).

Independentemente das classes de espaços referidas nos números anteriores, são ainda delimitadas na planta de síntese faixas de restrição específica, que traduzem a influência da erosão costeira na faixa litoral e que se designam por: a) Barreira de protecção; e b) Zona de risco.

A planta de condicionantes, na escala 1:10.000, assinala as servidões administrativas e restrições de utilidade pública, nomeadamente a Reserva Ecológica Nacional, a Reserva Agrícola Nacional, o Domínio Público Hídrico e as servidões aeronáuticas, de sinalização marítima e as relativas a instalações afectas às Forças Armadas e a forças e serviços de segurança.

A articulação das determinações do POOC, respeitantes ao concelho da Póvoa de Varzim, foram já articuladas no âmbito da proposta de qualificação do solo rural (ver figura 4.2)

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5.4. Zona vulnerável

O concelho da Póvoa de Varzim é atravessado pela zona vulnerável n.° l (figura 5.5), constituída pela área de protecção do aquífero livre entre Esposende e Vila do Conde, definida pela Portaria nº 1037/97, de l de Outubro.

Figura 5.5 – Zona vulnerável n.º 1: área de protecção do aquífero livre entre Esposende e Vila do Conde

Esta zona, ocupando uma superfície total de 55,2 km2, é delimitada pelo rio Cávado, o IC1, o rio Ave e a orla costeira. As condições de drenagem tornam esta zona particularmente sensível (vulnerável) à poluição azotada, com consequências nefastas para o meio hídrico superficial e subterrâneo, exigindo, por esse facto, a adopção de medidas especiais de protecção.

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6. Conclusões

Por último, apresenta-se a Figura 6.1 com a proposta de estrutura ecológica em Solo Rural e a sua articulação com a qualificação do Solo Rural. Na figura 6-1 são consideradas as categorias: Espaço agrícola; Espaço florestal e Espaço natural estando simultaneamente considerada a sobreposição da estrutura ecológica sobre estas categorias. Por sua vez, constata-se que a distribuição destes espaços na estrutura ecológica em Solo Rural é a seguinte:

Estrutura Ecológica em Solo Rural

Espaço Natural 6%

Espaço Florestal 34% Espaço Agrícola 60%

A Figura 6.2 traduz a transposição do POOC para o Solo Rural em que se salienta a Estrutura ecológica em Espaço natural integrando as designações de praias, áreas de vegetação rasteira e arbustiva e rochedos em APC.

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Figura 6.1 – Proposta de estrutura ecológica em Solo Rural em articulação com a qualificação em Solo Rural

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Figura 6.2 – O POOC em articulação com a qualificação do Solo Rural