Ricardo Jorge Ferreira Gouveia

Requalificação das margens do : um Corredor Verde para

os cidadãos e para a estrutura verde da cidade de Rio Tinto

Dissertação realizada no âmbito do Mestrado em Riscos, Cidades e Ordenamento do Território, orientada pela Professora Doutora Helena Cristina Fernandes Ferreira Madureira

Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Dezembro de 2015

Requalificação das margens do rio Tinto: um Corredor Verde para os cidadãos e para a estrutura verde da cidade de Rio

Tinto

Ricardo Jorge Ferreira Gouveia

Dissertação realizada no âmbito do Mestrado em Riscos, Cidades e Ordenamento do Território, orientada pela Professora Doutora Helena Cristina Fernandes Ferreira Madureira

Membros do Júri

Professor Doutor José Ramiro Marques de Queirós Gomes Pimenta Faculdade de Letras - Universidade do Porto

Professora Doutora Cármen do Céu Gonçalves Ferreira Faculdade de Letras - Universidade do Porto

Professora Doutora Helena Cristina Fernandes Ferreira Madureira Faculdade de Letras - Universidade do Porto

Classificação obtida: valores

À minha orientadora, Professora Doutora Helena Madureira, por todo o exímio acompanhamento e por me ter feito crescer. Aos meus Pais que me deram esta hipótese, irmã e avô. À minha namorada Filipa, o meu maior suporte durante o final desta caminhada. A uma família que ganhei no Porto, Sr. Berto, Nuno, D. Gina, Quicas, D. Lorna e Sr. Raúl Ao Bruno, Barroso, Teotónio, Gustavo, Mendonça, Ricardo, Diogo, Daniel, Margarida, Albi, Flávio, Varela, Alfaia, Marcus, João, afilhados de Praxe, enfim, a todos aqueles que fizeram parte de um ciclo de licenciatura e mestrado. Carreiro, Cátia, Alexandre, Pedro, João, Ganhão, Rui, Fábio, Hugo, Pires, Samora, Ricardo, Ventosa, ao pessoal lá da minha Bolonha, por uma amizade que nunca cairá.

A ti, Diogo Freitas.

4

Sumário

Agradecimentos ...... 7

Resumo ...... 8

Abstract ...... 9

Índice de figuras ...... 10

Índice de tabelas ...... 12

Lista de abreviaturas e siglas ...... 13

Capítulo 1 - Introdução ...... 14

1.1. Enquadramento do tema ...... 14

1.2. Objetivos, metodologia e estrutura do trabalho ...... 14

Capítulo 2 - Corredores verdes: origem, evolução e conceitos afins...... 18

1.1. Espaço Verde Urbano...... 18

1.1.1. Do espaço verde singular à infraestrutura verde ...... 18

1.1.2. O paradigma da conetividade/continuidade ...... 23

1.1.3. Estrutura Ecológica e Estrutura Ecológica Municipal ...... 25

1.2. Corredores Verdes: conceito e tipologias ...... 28

1.2.1. Origem e evolução histórica do conceito ...... 28

1.2.2. Tipologia e funções dos Corredores Verdes ...... 32

1.2.3. Exemplos de concretização de Corredores Verdes ...... 36

1.2.4. A relevância da Estrutura Ecológica Municipal para a operacionalização dos Corredores Verdes urbanos em ...... 41

Capítulo 3 – Caraterização da área de estudo...... 44

1.1. Caraterização sociodemográfica da área de estudo ...... 45

1.1.1. Caraterização da população no contexto do município ...... 45

5

1.1.2. Caraterização da densidade populacional, no contexto do município e do „Grande Porto' ...... 46

1.1.3. Caraterização da densidade do edificado, no contexto do município e do „Grande Porto‟, e a problemática do EVU na cidade de Rio Tinto ...... 48

1.2. O rio Tinto e a problemática ambiental ...... 52

Capítulo 4 – A visão de um Corredor Verde para Rio Tinto ...... 55

1.1. A visão no território ...... 55

1.2. A visão da população ...... 63

1.3. A visão dos agentes locais ...... 67

Capítulo 5 - Propostas para um cenário de requalificação para as margens do rio Tinto ...... 73

Capítulo 6 – Conclusão ...... 83

Referências bibliográficas ...... 85

Anexos...... 90

Anexo 1 – Dados relativos à Densidade populacional no Grande Porto (NUTS III) nos anos de 1991, 2001 e 2011)...... 90

Anexo 2 – Dados relativos à densidade do edificado no Grande Porto (NUTS III) nos anos de 1991, 2001 e 2011 ...... 94

Anexo 3 – Inquérito à população ...... 98

Anexo 4 – Guiões das entrevistas aos agentes ...... 101

6

Agradecimentos

Ao Presidente da Junta de Freguesia de Rio Tinto, Dr. Nuno Fonseca, pela oportunidade concedida e por toda a ajuda disponibilizada para a realização deste trabalho. À Câmara Municipal de Gondomar, na pessoa do Presidente, Dr. Marco Martins e do Vereador do Ambiente, José Fernando Moreira, ao Movimento Rio Tinto, na pessoa do Sr. Paulo Silva, e à LIPOR, na pessoa da Sra. Diana Nicolau, por me facultarem toda a informação solicitada e pelo tempo dispensado no exercício desta investigação.

7

Resumo A consciencialização de que o corredor fluvial que percorre e designa a freguesia de Rio Tinto (Gondomar), não tem tido o devido reconhecimento como elemento promotor da sustentabilidade urbana, motiva este projeto que visa delinear estratégias para a promoção de um corredor verde multifuncional. Exploram-se vários resultados tendo em conta diversas metodologias aplicadas. Uma delas visa um questionário à população alicerçado em quatro questões-chave: a percepção da importância do rio e dos espaços verdes públicos nas cidades; a percepção da importância do rio e suas margens para a qualidade de vida na cidade; a avaliação da quantidade e qualidade de espaços verdes públicos; os elementos mais valorizados no quadro de um processo de requalificação das margens do Rio Tinto. Além dos questionários, exploram-se também resultados de entrevistas aos agentes de governança local e de outros agentes interessados como um movimento local e um agente público com interesses ambientais. Além das metodologias indicadas, são também analisados resultados derivados de uma análise cartográfica à área de estudo. Os resultados permitem-nos perceber como a população avalia e valoriza os espaços verdes e as margens do rio Tinto, qual a visão que os agentes locais têm do espaço verde urbano local e daquilo que é a realidade das margens do rio Tinto e quais os potenciais espaços permeáveis nas margens do corredor fluvial que podem ser explorados, tendo como finalidade auxiliar na delineação de estratégias de promoção do corredor verde do rio Tinto.

Palavras-chave: corredor verde, corredor fluvial, população, espaço verde urbano.

8

Abstract The awareness that the river corridor runs and assigns Rio Tinto (Gondomar), has not had due recognition as a promoter element of urban sustainability, motivates this project, which aims to outline strategies for the promotion of a multifunctional green corridor. Explores any results based on many applied methodologies. The first of them, through a questionnaire, is based on four key issues: the awareness of the importance of the river and public green spaces in cities; the perception of the importance of the river and its banks for the quality of life in the city; the evaluation of the quantity and quality of public green spaces; the most valuable elements in a process of a rehabilitation process of the banks in Tinto river. Beyond the questionnaires methodology, this thesis also explores results based on interviews to local governance agents and other stakeholders as local community initiatives or environment experts. In addition to the indicated methods, they are also analyzed results derived from a cartographic analysis to the study area. The results allow us to understand how the population evaluates and enhances the parks and the banks of the Tinto river, what the vision that local agents have to the local urban green space and what is the reality on the banks of the Tinto river and which potential of the permeable spaces on the banks of river corridor can be exploited, which ultimately have as an auxiliary purpose in drawing up strategies to promote green Tinto river corridor.

Keywords: green corridor, river corridor, population, urban green space.

9

Índice de figuras

Figura 1- Premissas que visem identificar propostas para um cenário de requalificação das margens do rio Tinto ...... 16 Figura 2 - Etapas do estudo “Requalificação das margens do rio Tinto: um corredor verde para os cidadãos e para a estrutura verde da cidade de Rio Tinto” ...... 17 Figura 3 - Diversas morfologias de EVU nas cidades de Lisboa e Porto ...... 20 Figura 4 - O desafio da continuidade em Copenhaga, através dos “green fingers” ...... 24 Figura 5 - Boston Park System, por Olmsted em 1870 ...... 29 Figura 6 - Landschaftspark ...... 37 Figura 7 - Mill River Park ...... 39 Figura 8 - Frente Ribeirinha do sul do concelho de Vila Franca de Xira ...... 40 Figura 9 - Corredor Verde de Monsanto ...... 41 Figura 10 – Enquadramento da freguesia de Rio Tinto e do rio Tinto ...... 44 Figura 11 - Densidade populacional no Grande Porto (NUTS III) nos anos de 1991, 2001 e 2011 ...... 47 Figura 12 - Densidade do edificado no Grande Porto (NUTS III) nos anos de 1991, 2001 e 2011 ...... 49 Figura 13 - Ocupação do uso do solo, segundo a COS_2007, na freguesia de Rio Tinto ...... 51 Figura 14 - Distinção dos diferentes setores nas margens do rio Tinto ...... 55 Figura 15 - Linha F do Metro do Porto. À esquerda, parque da Quinta das Freiras ...... 56 Figura 16 - Áreas permeáveis nas margens do rio Tinto (buffer de 100 metros), num contexto de ocupação da linha F do Metro do Porto, à escada da freguesia de Rio Tinto ...... 57 Figura 17 - Influências no Setor em contexto urbano (Norte)...... 58 Figura 18 - Áreas permeáveis nas margens do rio Tinto (buffer de 100 metros), em contexto urbano (norte), à escala da freguesia de Rio Tinto ...... 58 Figura 19 - Influências agrícolas e florestais no Setor em contexto urbano (Sul) ...... 59 Figura 20 - Contacto visual com o rio Tinto no Setor em contexto urbano (Sul) ...... 59 Figura 21 - Áreas permeáveis nas margens do rio Tinto (buffer de 100 metros), em contexto urbano (sul), à escala da freguesia de Rio Tinto ...... 60 Figura 22 - Influências no Setor fora do contexto urbano (Norte) ...... 60 10

Figura 23 - Áreas permeáveis nas margens do rio Tinto (buffer de 100 metros), a montante, à escala da freguesia de Rio Tinto ...... 61 Figura 24 - Influências no Setor fora do contexto urbano (Sul) ...... 62 Figura 25 - Áreas permeáveis nas margens do rio Tinto (buffer de 100 metros), a jusante, à escala da freguesia de Rio Tinto ...... 63 Figura 26 - Resultados obtidos relativos às questões sobre: importância do espaço verde público para a qualidade de vida numa cidade; frequência de deslocação a espaços verdes públicos na sua cidade; satisfação em relação à quantidade de espaços verdes públicos em Rio Tinto; importância do rio e das suas margens para a qualidade de vida em Rio Tinto...... 65 Figura 27 - Resultados obtidos à questão: motivo para a frequência de espaços verdes públicos ...... 65 Figura 28 - Resultados à questão: tipo de espaços preferidos num cenário de requalificação das margens do rio Tinto ...... 66 Figura 30 - Vetores para o desenvolvimento de uma proposta de requalificação para as margens do rio Tinto ...... 73 Figura 31 - Espaços e equipamentos hipótese num cenário de requalificação das margens do rio Tinto ...... 76 Figura 32 - Propostas para a requalificação das margens do rio Tinto na área de trabalho (buffer de 100 metros), a montante, à escala da freguesia de Rio Tinto ...... 77 Figura 33 - Propostas para a requalificação das margens do rio Tinto na área de trabalho (buffer de 100 metros), a norte (urbano), à escala da freguesia de Rio Tinto ...... 78 Figura 34 - Rio Tinto entubado, junto à rua da Lourinha ...... 79 Figura 35 - Propostas para a requalificação das margens do rio Tinto na área de trabalho (buffer de 100 metros), no setor influenciado pela linha F do Metro do Porto, à escala da freguesia de Rio Tinto ...... 80 Figura 36 - Propostas para a requalificação das margens do rio Tinto na área de trabalho (buffer de 100 metros), a sul (urbano), à escala da freguesia de Rio Tinto ...... 81 Figura 37 - Propostas para a requalificação das margens do rio Tinto na área de trabalho (buffer de 100 metros), a jusante, à escala da freguesia de Rio Tinto ...... 82

11

Índice de tabelas

Tabela 1 - Processo metodológico do estudo ...... 16 Tabela 2 - Tipologia de corredores segundo Little (1990) ...... 32 Tabela 3 - Objetivos dos diferentes tipos de Corredores Verdes e conceitos afins segundo Helmund & Smith (2006) ...... 33 Tabela 4 - Total da população das freguesias do município de Gondomar, segundo os censos de 1991, 2001 e 2011 (dados com os totais das uniões de freguesias da reforma administrativa de 2013) ...... 45 Tabela 5 - Área e densidade populacional das freguesias do município de Gondomar, segundo os censos de 1991, 2001 e 2011 (dados com os totais das uniões de freguesias da reforma administrativa de 2013) ...... 46 Tabela 6 - Área e densidade do edificado nas freguesias do município de Gondomar, segundo os censos de 1991, 2001 e 2011 (dados com os totais das uniões de freguesias da reforma administrativa de 2013) ...... 48 Tabela 7 - Especificidades relacionadas com a problemática ambiental no rio Tinto ...... 52 Tabela 8 - Problemas encontrados no rio Tinto, com ordem de prioridades ...... 53 Tabela 9 - Caraterização da amostra ...... 64 Tabela 10 - Dados relativos ao agente entrevistado (função e entidade) ...... 67 Tabela 11 - Temática da questão aplicada ao/aos agente(s) ...... 67 Tabela 12 - Sintetização dos resultados obtidos nos inquéritos e entrevistas ...... 74

12

Lista de abreviaturas e siglas

APA – Agência Portuguesa do Ambiente EE – Estrutura Ecológica EEM – Estrutura Ecológica Municipal ENCNB – Estratégia Nacional da Conservação da Natureza e da Biodiversidade ETAR – Estação de Tratamento de Águas Residuais EUA – Estados Unidos da América EVU – Espaço Verde Urbano IGT – Instrumentos de Gestão Territorial INE – Instituto Nacional de Estatística NUTS – Nomenclatura das Unidades Territoriais para fins Estatísticos PDM – Plano Diretor Municipal PIMOT – Plano Intermunicipal de Ordenamento do Território PMOT – Plano Municipal de Ordenamento do Território PNPOT – Programa Nacional da Politica de Ordenamento do Território POLIS – Programa de Requalificação Urbana e Valorização Ambiental de Cidades PORLISBOA – Programa Operacional Regional de Lisboa POSEUR – Programa Operacional de Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos PROT – Plano Regional de Ordenamento do Território PS – Plano Sectorial QREN – Quadro de Referência Estratégica Nacional RAN – Reserva Agrícola Nacional REN – Reserva Ecológica Nacional RFCN – Rede Fundamental de Conservação da Natureza RJIGT – Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial SNAC – Sistema Nacional de Áreas Classificadas

13

Capítulo 1 - Introdução

1.1. Enquadramento do tema

A questão do espaço verde urbano nas cidades é algo que ao longo do tempo tem conhecido uma evolução, adaptando-se aos diferentes contextos, necessidades e morfologias em que se encontram inseridos. A evolução das cidades levou a que a malha urbana dominasse a área das mesmas, e a que o espaço verde urbano se fosse reduzindo, de tal forma a que o mesmo representasse em diversos casos, apenas simples espaços singulares no meio de cidades dominadas pela construção. A evolução indicada no parágrafo anterior revela que o paradigma do espaço verde urbano passou por contornar esta ideia de espaços verdes singulares, olhando para a possibilidade de continuidade entre os mesmos, tentado ao máximo deixar de lado a ideia de fragmentação destes espaços. Este ideal de continuidade revela-se no território também através da conexão com elementos exteriores às cidades, como florestas, grandes espaços verdes ou até mesmos espaços agrícolas, dando aso àquilo que são as (infra)estruturas verdes. Dentro daquilo que são estes espaços de continuidade e conetividade, surgem os Corredores Verdes, enquanto espaços que ajudam a atenuar a perda de “espaço natural”, devido ao crescimento urbano, providenciando uma solução à expansão humana na paisagem (Searns, 1995), através de diversas finalidades, incluindo a ecológica, recreativa, cultural, estética, ou outras compatíveis com o conceito do uso sustentável do solo (Ahern, 1995). É através daquilo que é um elemento linear de continuidade como neste caso, o rio Tinto, na freguesia com o mesmo nome, que se pretende explorar a hipótese de formular um cenário de requalificação para as margens deste rio, à escala da freguesia. Este cenário visa, além da promoção de um corredor verde para a população, potenciar as margens de um rio que tem sido marginalizado ao longo dos anos, através daquilo que são os pressupostos que estão na base destes espaços, numa cidade com uma densidade demográfica e de construção elevadíssimas e que não viu correspondido no espaço áreas verdes que acompanhassem tais tendências.

1.2. Objetivos, metodologia e estrutura do trabalho

Este estudo tem como intuito o devido reconhecimento do rio Tinto como elemento promotor da sustentabilidade urbana, através da delineação de estratégias para a promoção de

14 um corredor verde multifuncional. O objetivo central do trabalho consiste, portanto, em identificar propostas para um cenário de requalificação das margens do rio Tinto. Tendo em vista a prossecução deste objetivo central, definiram-se três premissas, ou objetivos específicos, que resultam dos pressupostos dos corredores verdes identificados através da bibliografia (Figura 1), às quais se associam também três diferentes procedimentos metodológicos (Tabela 1). Uma dessas premissas baseia-se na ideia de que as propostas para um cenário de requalificação das margens do rio Tinto devem contabilizar-se com o contexto territorial em questão. Neste caso, tornou-se essencial o levantamento e análise territorial, designadamente dos espaços permeáveis nas margens do rio Tinto, áreas que poderão abarcar ideias resultantes deste estudo. Outra das premissas abrange a ideia de que as propostas para um cenário de requalificação das margens do rio Tinto devem ter em conta a visão dos agentes interessados, designadamente aqueles que de alguma forma estão ligados ao processo de gestão territorial, ou seja, agentes ligados à governança local, neste caso a Junta de Freguesia e a Câmara Municipal. Consideramos também como agentes interessados, elementos envolvidos nas questões ambientais do município de Gondomar, mais especificamente em processos associados à temática do “rio Tinto”, como é o caso da LIPOR. Além destes referidos, consideramos importante considerar enquanto agentes aqueles que, de alguma forma, estão envolvidos em ações reivindicativas, em prol de problemáticas ambientais associadas à cidade de Rio Tinto e ao corredor fluvial que atravessa a cidade, neste caso, o Movimento Rio Tinto. Por fim, a última premissa baseia-se na ideia que as propostas para um cenário de requalificação das margens do rio Tinto devem dar resposta às necessidades da população. Por essa razão considerámos essencial a aplicação de questionários à população de Rio Tinto que visam recolher informação sobre como a população avalia os espaços verdes urbanos locais, o reconhecimento da importância dos mesmos para a comunidade, assim como do corredor fluvial em estudo, e por fim, sobre cenários ideais que acabem assim por colmatar as necessidades e carências identificadas na primeira fase do questionário. É com base nestas três premissas que se estabelece uma visão estratégica para um corredor verde, apontando para um cenário de requalificação das margens do rio Tinto.

15

Que se compatibilizem com o contexto territorial

Identificar propostas para um cenário de requalificação das margens do rio Tinto

Que respondam à Que respondam às visão dos agentes necessidades da envolvidos população

Figura 1- Premissas que visem identificar propostas para um cenário de requalificação das margens do rio Tinto

A seguinte tabela sintetiza os processos metodológicos adotados para cada uma das premissas indicadas anteriormente.

Tabela 1 - Processo metodológico do estudo

Objetivo Central: Identificar propostas para um cenário de requalificação das margens do rio Tinto, através de: Premissas Metodologia Processo metodológico “Que se Levantamento e Identificação e vectorização dos diferentes tipos compatibilizem análise do contexto de ocupação do solo permeável nas margens do com o contexto territorial rio (buffer de 100 metros) na freguesia de Rio territorial” Tinto.

“Que respondam à Entrevistas, do tipo Abordagem aos principais agentes interessados visão dos agentes semi-estruturadas na questão da “problemática rio Tinto”: envolvidos” Movimento Rio Tinto, na pessoa de Paulo Silva; o Presidente da Junta de Freguesia de Rio Tinto, Nuno Fonseca; o Presidente da Câmara Municipal de Gondomar, Marco Martins; o Vereador da Câmara Municipal de Gondomar, 16

José Fernando Moreira; a LIPOR, através da técnica do departamento de comunicação, educação e relações institucionais, Diana Nicolau.

“Que respondam Reconhecimento da Aplicação de um questionário do tipo fechado, às necessidades da avaliação e entre 16 de Fevereiro e 6 de Março, a uma população” expectativas da amostra de 203 pessoas adultas, residentes na população cidade de Rio Tinto ou no município de Gondomar, estes últimos logo que fossem visitantes habituais da cidade.

A estrutura deste estudo conta com 5 etapas. Assim, o capítulo 2 visa compreender e interpretar os conceitos que estão na base dos Corredores Verdes, apresentando a sua evolução até à atualidade. O capítulo 3 tem como finalidade caraterizar a área em estudo, através de dados sócio-demográficos e de elementos que nos ajudem a interpretar o território e as problemáticas associadas ao mesmo. O capítulo 4 pretende explorar os resultados da metodologia aplicada para este estudo. Já o quinto capítulo visa, através da exploração dos resultados e daquilo que são os pressupostos teóricos dos corredores verdes, formular um conjunto de hipóteses para o espaço. E por fim, o sexto capítulo visa formular as considerações finais sobre este estudo (Figura 2).

Capítulo 3 - Capítulo 2 - Capítulo 4 - Exploração Caraterização da área Enquadramento teórico dos resultados em estudo

Capítulo 5 - Hipóteses Capítulo 6 - para o espaço Conclusões finais

Figura 2 - Etapas do estudo “Requalificação das margens do rio Tinto: um corredor verde para os cidadãos e para a estrutura verde da cidade de Rio Tinto” 17

Capítulo 2 - Corredores verdes: origem, evolução e conceitos afins

1.1. Espaço Verde Urbano

1.1.1. Do espaço verde singular à infraestrutura verde

O espaço verde urbano (EVU) é um conceito que evoluiu mediante a morfologia e as necessidades que as próprias cidades foram apresentando. Da mesma maneira que podemos afirmar que as cidades nem sempre foram (nem serão) como as conhecemos, os seus espaços verdes também não. É um conceito dinâmico e em constante adaptação, conhecendo ao longo do tempo, diversas morfologias e funções. Neste sentido, podemos olhar para a Ágora Grega como primórdio de EVU de encontro, de convívio, assim como mais tarde, este mesmo espaço é facilmente encontrado nos largos das igrejas ou nas praças das cidades. A partir do século XVIII, o espaço verde público é o espaço de encontro de classes dominantes nas esferas da sociedade de então, podendo-se dar como exemplo, o Passeio Público de Lisboa (Magalhães, 1992). Este tipo de espaço caracterizava-se por facultar uma recreação estética de natureza integrada com a construção residencial (Salgueiro, 2005 cit in Sá, 2013). No entanto, podemos denotar as maiores semelhanças aos EVU de hoje em dia, com os espaços que aparecem nas cidades, a partir do século XIX, sendo que os mesmos deixam de estar somente ligados a um cariz de encontros das ditas classes dominantes, para contemplar princípios ligados às questões ambientais (Sá, 2013). É um novo paradigma que se levanta e que tem sobretudo nas preocupações higienistas, o mote necessário para a criação de novos EVU (Madureira, 2012). Assim, estes espaços são vistos como uma solução para a melhoria do ambiente urbano, devido às condições insalubres relacionadas com as implantações industriais (refira-se que se vivia na plenitude da revolução industrial) e consequente migração da população rural para as cidades. Um dos melhores exemplos desta metamorfose encontra-se no Central Park de Nova York, um projeto de Frederick Olmsted, em que como espaço nuclear localizado no centro da cidade, transmite a ideia de “pulmão” que teria como função facultar o oxigénio necessário para um ar mais limpo e mais puro (Magalhães, 1992). Inerente à ideia de uma conetividade entre os diversos espaços verdes, também Olmsted propõe a ideia do parkway, desenvolvendo assim em 1870 o projeto do “Boston Park System” (Searns, 1995). Também na Europa por esta altura, encontramos exemplos de modelos urbanísticos que 18 salientam este paradigma associado aos EVU, como a Cidade Linear de Arturo Soria ou a Cidade Jardim de Ebenezer Howard, que fomentam o ideal da criação de uma estrutura composta por espaços verdes dentro da cidade, que aproximasse a mesma o mais possível da natureza, além da descentralização urbana e a diminuição das diferenças entre a cidade e o campo (Magalhães, 1992). É importante associar esta mudança também ao quotidiano da população urbana de então, que cada mais se ia afastando dos valores ligados ao campo e à natureza. Se por um lado, anteriormente a esta fase, as cidades eram mais pequenas, logo facilitariam pela sua dimensão, o contacto com a natureza, o crescimento das cidades, fruto sobretudo da industrialização, não só se manifesta nos efeitos nefastos causados pela insalubridade e poluição, mas também no afastamento das cidades relativamente à natureza. O conceito de EVU assumia nesta altura contornos bem mais abrangentes, como a capacidade de renovação e purificação do ar, fomentado o equilíbrio psicológico da população que vivia nas cidades, além de potenciar a articulação das estruturas verdes com as funções de circulação nas cidades. Este último aspeto é muito importante, dado o fluxo de circulação nas cidades se realizar mais intensamente no sentido periferia-centro/centro-periferia, sendo que estas estruturas serviam de suporte à circulação pedonal e ao enquadramento dos principais eixos urbanos (Magalhães, 1992). Com o passar dos anos, e já em pleno século XX, o funcionalismo e as teorias racionalistas implícitas na Carta de Atenas (1933), refletem uma vez mais alterações ao urbanismo e mais precisamente ao EVU. Assim, vislumbra-se a aplicação de um zonamento das diversas funções que a cidade comporta, além de linhas mestras de intervenção na cidade como separar o tráfego pedonal do motorizado (com primazia do último) ou a localização do edificado residencial em áreas verdes (onde o ar e a luz entrariam “janelas a dentro” livremente) (Sá, 2013). A Carta de Atenas enfatiza também a necessidade da construção em altura, deixando assim muito mais área livre para o EVU na cidade. Em paralelo com a ideia de que o EVU é importante para a qualidade de vida na cidade, enfatiza-se as necessidades da composição do seu traçado, tendo como resultado grandes áreas sem identidade, cujo elemento estruturante era uma rede pedonal (Magalhães, 1992). Também a introdução do conceito continnum natural no EVU foi importante até aos dias de hoje. A mesma baseia-se na importância da paisagem natural ser parte da cidade através da ideia da continuidade, por meio de várias funções importantes na cidade como espaços de produção agrícola, espaços de lazer e de recreio, enquadramento de edificado e infraestruturas e

19 integração da paisagem verde circundante. Através do continnum naturale promove-se a qualidade de vida dos cidadãos pela envolvência da natureza e preservação do ambiente urbano. Os corredores verdes transformam-se em fatores importantes, quer integrantes, quer integradores do espaço urbano, além do EVU assumir um papel de grande destaque no paradigma do desenvolvimento sustentável (Martins, 2010). Este ideal do desenvolvimento sustentável aparece nos últimos 20 anos do século XX e torna-se peça chave para o nascimento de novos conceitos relacionados com o planeamento urbano sustentável ou ecológico. Assim, um dos modelos ideais sugeridos é a promoção de espaços urbanos englobados dentro de uma matriz verde, com habitats diversificados, através do qual se fomentaria a biodiversidade. Este modelo asseguraria assim a conetividade entre os diversos habitats, promovendo em paralelo um efeito contrário àquele que a urbanização tem causado, como a fragmentação dos espaços verdes (Jim & Chen 2003). Quer pelo manancial de usos e funções, quer pela morfologia do EVU, é difícil atribuir- lhe uma definição consensual. No entanto, Kabische e Haase (2012) definem no geral EVU como qualquer tipo de vegetação encontrada na cidade, através de parques, jardins, vias arborizadas ou espaços abertos, que facultem benefícios ambientais importantes (Figura 3).

Figura 3 - Diversas morfologias de EVU nas cidades de Lisboa e Porto Fonte - http://recursos.visitporto.travel/; http://www.cm-lisboa.pt/; https://aviagemdosargonautasdotcom.files.wordpress.com/2014/01/dsc05343-960x.jpg

Nos dias de hoje, falar em EVU é falar num sistema complexo, pois estes são muito mais do que simples espaços isolados numa “floresta urbana”. A esta complexidade, é inerente a crescente percepção da importância de continuidade entre estes espaços, pelo que se constituiu apelidar os mesmos de Estrutura Verde ou de Infraestrutura Verde, tendo em conta o seu valor ecológico e cultural (Saraiva, 1989). A estrutura é um espaço de continuidade através do continnum naturale, indo contra a fragmentação das áreas verdes. Segundo Pereira (2011), é 20 possível considerar dois tipos de estruturas verdes: - A Estrutura Verde Principal, responsável por fazer a transição do ambiente rural para o ambiente urbano, através de elementos de maior impacto e dimensão na cidade, como leitos e cabeceiras de linhas de água, matas, áreas agrícolas, entre outros elementos naturais de continuidade. A legislação conforme veremos mais à frente, protege estes espaços através da REN (Reserva Ecológica Nacional), RAN (Reserva Agrícola Nacional), DPH (Domínio Público Hídrico), e pelas áreas de proteção aos Edifícios e aos Monumentos Nacionais. No aproximar do contexto urbano, adquire um caráter mais condizente com esse facto, através de parques suburbanos, parques urbanos, hortas urbanas, entre outros; - A Estrutura Verde Secundária, através de espaços de menor dimensão, diretamente implícitos de contexto urbano, que representam a extensão da Estrutura Verde Principal. Assim, apresentam-se como ruas, praças, logradouros ou jardins, podendo também adoptar outra morfologia, logo que assim seja permitido. Pegando neste segundo ponto relativo a uma Estrutura Verde Secundária, implícita em contexto urbano, é importante fazer a analogia àquilo que é um conceito em crescimento como o da infraestrutura verde. Tratando-se de um conceito que está cada vez mais presente naquilo que é a problematização dos espaços verdes e da sua configuração nas cidades (Azevedo, 2013), é segundo Madureira (2012) um sistema que integra áreas verdes multifuncionais, relacionando a cidade com a sua envolvente, enquanto infraestrutura biofísica e social que faz parte do território, sendo assim um conceito abrangente, integrativo, conceptual, que encontra uma tradução no terreno em exemplos como o green belt, o greenway ou o corredor ecológico. Assim, assiste-se a uma efetivação do conceito, mas não a um novo paradigma no terreno, pois esta importância das estruturas verdes dentro das cidades não é algo que faça apenas parte do pensamento dos dias de hoje. Segundo Ahern (2007) a importância da infraestrutura verde em ambiente urbano revela- se através de três funções, que têm como finalidade a sustentabilidade, sendo elas as funções abióticas (infiltração das águas à superfície; processos de desenvolvimento e uso dos solos; da manutenção do regine hidrológico; desenvolvimento do ciclo de nutrientes; limitação da emissão de gases poluentes; amenização e controle dos fenómenos climáticos extremos), as funções bióticas (habitats para todas as espécies; preservação das rotas e movimentos migratórios das espécies; produção de biomassa; manutenção das reservas genéticas (preservação in situ); suporte para as interacções fauna/flora) e as funções culturais (experiência de contacto direto com os ecossistemas; atividades de manutenção física; experiência da recreação histórica local; sensações como a inspiração e a harmonia do contacto com a natureza

21

(uma “solidão” em liberdade); oportunidade de interação social; estímulo para a expressão artística/para o abstrato; educação ambiental). O sucesso das infraestruturas verdes depende da formulação e cumprimento de alguns princípios estratégicos, visando que a potenciação dos seus serviços ecológicos, económicos, sociais e culturais se insiram adequadamente no quadro das políticas de ordenamento de território. Benedict & McMahon (2002) que já tinham anteriormente estabelecido os amplamente citados sete princípios base de uma infraestrutura verde, procederam recentemente à sua reformulação e atualização na obra “Green Infrastructure - Linking Landscapes and Communities” (2006): 1. Conetividade é a chave; 2. O contexto importa; 3. A infraestrutura verde deve ser fundamentada em conhecimentos científicos e na teoria e prática do planeamento do uso do solo; 4. A infraestrutura verde pode e deve funcionar como um quadro para a conservação e para o desenvolvimento; 5. A infraestrutura verde deve ser planeada e protegida antes do desenvolvimento; 6. A infraestrutura verde é um investimento p blico fundamental que deve ter prioridade de financiamento; 7. A infraestrutura verde proporciona benefícios para a natureza e para as pessoas; 8. A infraestrutura verde respeita as necessidades e os desejos dos proprietários e dos outros agentes envolvidos; 9. A infraestrutura verde implica a estabelecer redes entre diferentes agentes dentro e fora das comunidades; 10. A infraestrutura verde requer um comprometimento de longo prazo. A infraestrutura verde nas cidades surge então como resultado e potenciação dos recursos que as cidades proporcionam, sendo particularmente importantes os sistemas lineares como os sistemas fluviais ou ferroviários. Refira-se a importância crescentemente dada aos sistemas fluviais enquanto elementos conetores da estrutura verde, inclusivamente levando ao aparecimento e popularização do termo infraestrutura verde e azul (Madureira, 2012). Neste sentido, Ahern (2007) destaca os elementos na paisagem urbana que podem servir como recurso para o estabelecimento da infraestrutura verde: - Áreas Urbanas, como parques, campos para a prática desportiva, terrenos pantanosos, hortas urbanas, cemitérios, campus universitários ou espaços vazios dentro da cidade;

22

- Corredores Urbanos, como corredores fluviais, canais, canais de drenagem ou estradas; - Matrizes Urbanas, como bairros residenciais, zonas industriais, áreas de disposição de resíduos (como lixeiras), áreas comerciais e áreas com múltiplas funções. Conforme visto até agora, a promoção de infraestruturas verdes nas cidades tornou-se num paradigma que ganha cada vez mais ênfase nos dias de hoje, tendo em conta a promoção da tão almejada sustentabilidade. É notória a existência em paralelo de diversas definições e concepções acerca desta matéria, no entanto, destacam-se algumas ideias-chave, nomeadamente a importância da promoção da conetividade e a multifuncionalidade (Cornier & Madureira, 2013), conceitos que daqui para a frente serão alvo de desenvolvimento.

1.1.2. O paradigma da conetividade/continuidade

Um dos principais problemas de conservação da natureza e biodiversidade dos dias de hoje provém da conversão e fragmentação dos habitats naturais, que tem como resultado a perda de biodiversidade ou a destruição de ecossistemas (Sousa, 2008), designadamente pela redução da quantidade total de habitat, o aumento do número de manchas do habitat, a diminuição de área nessas manchas e o consequente isolamento das mesmas (Delgado, 2012). Estes factos dão- se sobretudo devido à ação antrópica, relacionados com o solo e com o uso, transformação e ocupação que é exercido sobre o mesmo, levando a que este problema esteja intrinsecamente ligado às questões do ordenamento do território (Sousa, 2008). No entanto, este paradigma não diz apenas respeito aos dias de hoje, encontrando as suas raízes nos finais do século XIX. Neste sentido, Madureira (2012) distingue três abordagens principais, intimamente associadas à importância da continuidade, que têm um importante destaque pela importância que preconizaram no planeamento da paisagem: - Uma primeira perspetiva sustentada na ideia de que as áreas verdes espacialmente contínuas, intensificam a sua percepção e fruição, por quem os usa. Este pensamento foi defendido em primeira instância por Olmsted no final do século XIX, através da definição do “parkway” como estrutura linear de ligação entre áreas verdes e parques, criando assim os primórdios daquilo que viriam a ser os futuros “greenways”; - Uma segunda perspetiva, com especial enfoque em Inglaterra e com uma data coincidente à da primeira perspetiva, foi idealizada por Ebenezer Howard e que resulta no movimento da cidade-jardim, que consiste numa cintura verde como elemento de contenção da crescente urbanização, sendo este movimento o primórdio daquilo que seriam anos depois, as várias experiências de “green belt”;

23

- Uma última perspetiva, resultante da importância da conetividade entre as áreas naturais tendo em vista a promoção e manutenção da biodiversidade, em que a premissa que tem sido alvo de estudo contínuo no ramo da ecologia da paisagem nos últimos é a já abordada questão da fragmentação e conversão dos habitats tendo como resultado a perda de biodiversidade e a destruição de ecossistemas. Assim, e apesar dos objetivos serem díspares, o desafio da continuidade dos espaços verdes urbanos faz uma ponte entre as diferentes perspetivas, culminando em soluções variadas como a necessidade de contenção da urbanização, com a formação de um elemento de separação entre a cidade e a periferia (exemplos do “green belt” em Londres ou do “green fingers” em Copenhaga (Figura 4)), ou com a exploração das potencialidades da penetração de sistemas lineares de espaços abertos no contexto do espaço urbano, tendo como exemplos mais conhecidos, as “greenway” norte-americanas (com fundamento inicial recreativo) ou os corredores ecológicos europeus (com cariz fundamentalmente ecológico) (Madureira, 2012).

Figura 4 - O desafio da continuidade em Copenhaga, através dos “green fingers” Fonte: www.sustainablecitiescollective.com

As estruturas verdes de cariz contínuo merecem especial enfoque até aos dias de hoje, sobretudo devido à crescente importância relativa à dimensão ecológica da conetividade em meios urbanos, havendo um paralelismo no tempo entre as políticas de conservação da natureza, que foram paulatinamente deixando de parte uma visão restrita de conservação exclusiva de habitats naturais e integrando a preservação de valores ecológicos de paisagens e habitats seminaturais, com o crescente reconhecimento da importância da biodiversidade em contexto urbano (Madureira, 2012). É assim importante o papel da infraestrutura verde como expoente do paradigma da 24 continuidade/conetividade dada a importância ecológica, social e de composição urbana que as mesmas têm. Neste sentido salientam-se também as suas mais-valias enquanto elementos estruturantes do sistema urbano, além da capacidade de promoverem experiências de lazer aos seus utilizadores, sendo que, é a partir das últimas décadas do século XX que a questão da necessidade das configurações contínuas tem o seu ponto alto, através da consolidação do conceito conetividade (Madureira, 2008). Como exemplo, dá-se a crescente importância à presença de massas de água no contexto metropolitano, salientando a conetividade que os sistemas fluviais proporcionam enquanto elemento de ligação da estrutura verde, o que leva também ao uso crescente, como já referimos, do termo “infraestrutura verde e azul” (Madureira, 2012), podendo também associar esta importância relativa ao paradigma da conetividade à preservação das sebes ou das faixas de terreno não cultivado (Comissão Europeia, 2009). A questão da conetividade/continuidade em Portugal, viu a sua importância consagrada na Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ENCNB), com a criação da Rede Fundamental de Conservação da Natureza (RFCN) através do Decreto-lei nº 19/93, de 23 de Janeiro, presentemente revogado pelo Decreto-lei nº 142/2008, de 24 de Julho, em que a mesma “é composta pelas áreas nucleares de conservação da natureza e da biodiversidade integradas no SNAC e pelas áreas de reserva ecológica nacional, de reserva agrícola nacional e do domínio público hídrico enquanto áreas de continuidade que estabelecem ou salvaguardam a ligação e o intercâmbio genético de populações de espécies selvagens entre as diferentes áreas nucleares de conservação, contribuindo para uma adequada proteção dos recursos naturais e para a promoção da continuidade espacial, da coerência ecológica das áreas classificadas e da conetividade das componentes da biodiversidade em todo o território, bem como para uma adequada integração e desenvolvimento das actividades humanas”. Assim, esta continuidade/conetividade espacial deverá ser efectivada através da configuração de corredores verdes, em espaços rural e/ou urbano, instrumentalizado através dos variados Planos Diretores Municipais (PDM).

1.1.3. Estrutura Ecológica e Estrutura Ecológica Municipal

No quadro do planeamento e ordenamento do território, a importância dada ao reconhecimento das mais-valias dos elementos com valor ambiental nas cidades tem avançado, sendo que nos dias de hoje o reconhecimento dá-se através do seu imperativo reconhecimento nos PDM. Esta visão faculta a proteção de elementos importantes para a qualidade de vida,

25 designadamente de recursos culturais, recreativos, paisagísticos ou culturais. Assim, o processo de planeamento ambiental deve assegurar intervenções antrópicas adequadas, em que sejam salvaguardados os elementos anteriormente assinalados, que pela sua importância e caraterísticas únicas, merecem um planeamento e ordenamento sustentáveis, com repercussões na qualidade de vida nos locais onde se encontram presentes (Ferreira, 2010). É neste contexto que nasce a definição de Estrutura Ecológica, como “proteção e integração dos elementos biofísicos, culturais, recreativos e paisagísticos do território convergindo para a ideia de sustentabilidade. Deverá orientar as intervenções antrópicas no sentido de reconhecer, conservar e promover elementos naturais e culturais que, por terem características únicas, deverão ser sujeitos a um ordenamento e planeamento ambientalmente sustentável, contribuindo desta forma para a qualidade de vida dos munícipes” (Ferreira, 2010, p. 71,72). A EE proporciona assim o tratamento em conjunto de uma área coerente, ao invés do isolamento de manchas verdes, retirando assim dividendos superiores em termos de benefícios locais e em termos de sustentabilidade, equilíbrio e qualidade de vida, pois todos os componentes da estrutura passam a funcionar em uníssono em prol destes objetivos (Quintas & Curado, 2010). Em suma, a EE deve integrar áreas criticas e com elevada sensibilidade, procurando preservar os recursos naturais como o solo e a água, a fauna e a vegetação, entre outros elementos importantes dentro deste contexto, tentando ao máximo que a edificação seja totalmente ou parcialmente condicionada (Pereira, 2011), sendo que em territórios com elevada pressão antrópica, a EE assume-se como uma infraestrutura verde, fulcral ao equilíbrio e sustentabilidade do território (Ferreira, 2010). Conforme indicado anteriormente, a efetivação da importância das EE dá-se através de regulamentação, que em primeira instância se traduz num instrumento criado em 1983, a Reserva Ecológica Nacional. Assim, através do Decreto-lei nº321/83 (revisto com o Decreto-lei nº 166/2008 de 22 de Agosto), é introduzido na figura da REN, o elemento que será a base da EE, o “continnum naturale” (Andersen et al, 2004). A REN visa assim assegurar “(…) em determinadas áreas, a estrutura biofísica necessária para que se possa realizar a exploração dos recursos e a utilização do território sem que sejam degradadas determinadas circunstâncias e capacidades de que dependem a estabilidade e fertilidade da regiões, bem como a permanência de muitos dos seus valores económicos, sociais e culturais” devendo “(…) o território constituir suporte físico e biológico indispensável ao desenvolvimento económico, social e cultural” materializando-se os terrenos que a integram nos “(…) planos de ordenamento, planos diretores

26 municipais e planos de urbanização” (Decreto-Lei nº 321/83 de 5 de Julho do Ministério da Qualidade de Vida, 1983). É no entanto, no Decreto-lei nº380/99, que estabelece o Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial (RJIGT), que a EE aparece redigida e não subentendida como anteriormente, havendo uma clarificação clara da sua definição, bem como da sua instrumentalização através dos IGT. Então, o RJIGT, de acordo com a sua versão mais recente (Decreto-Lei nº 80/2015) “(…) desenvolve as bases da política p blica de solos, de ordenamento do território e de urbanismo, definindo o regime de coordenação dos âmbitos nacional, regional, intermunicipal e municipal do sistema de gestão territorial, o regime geral de uso do solo e o regime de elaboração, aprovação, execução e avaliação dos instrumentos de gestão territorial.”, indicando que, no que se refere à EE “(…) os programas e os planos territoriais identificam as áreas, os valores e os sistemas fundamentais para a proteção e valorização ambiental dos espaços rústicos e urbanos, designadamente as redes de proteção e valorização ambiental, regionais e municipais, que incluem as áreas de risco de desequilíbrio ambiental (…) os programas regionais, os programas especiais e os programas setoriais relevantes definem os princípios, as diretrizes e as medidas que concretizam as orientações políticas relativas às áreas de proteção e valorização ambiental que garantem a salvaguarda e a valorização dos ecossistemas (…) os planos intermunicipais e municipais estabelecem, no quadro definido pelos programas e pelos planos territoriais, cuja eficácia condicione o respetivo conteúdo, os parâmetros e as condições de ocupação e de utilização do solo, assegurando a compatibilização das funções de proteção, regulação e enquadramento com os usos produtivos, o recreio e lazer, e o bem-estar das populações” (Decreto-Lei nº 80/2015 de 14 de Maio do Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia, 2015). Fica então claro através do RJIGT que os Planos Municipais de Ordenamento do Território (PMOT) deverão definir a Estrutura Ecológica Municipal (EEM), além de que deverá constar dos IGT a qualificação do solo afeto a EE, dentro daquilo que é classificado como solo urbano. Constata-se assim portanto que a EE deverá incluir áreas “non aedificandi”, além de áreas com condicionantes à edificação, o que poderá traduzir que estas áreas têm elevado interesse ecológico, por possuírem determinados ecossistemas, ou serem áreas relativas a espaços verdes, ou áreas de cariz histórico e/ou cultural (Ferreira, 2010).

27

1.2. Corredores Verdes: conceito e tipologias

1.2.1. Origem e evolução histórica do conceito

O conceito “Corredores Verdes” (“greenways”), apesar das recentes definições apresentadas, possui já uma longa história, tendo na evolução das áreas verdes urbanas e periurbanas a razão e as motivações para a sua existência. Ou seja, este conceito pode ser perspetivado como uma espécie de resposta evolutiva à preocupação com a contínua pressão urbana exercida sobre o território, com as marcas negativas deixadas no território pelos processos de industrialização, sendo que as estruturas ecológicas são encaradas como um importante meio de devolver algum equilíbrio ecológico perdido pelos fatores acima descritos. Conforme referido anteriormente, falar de Corredores Verdes é abordar o passado e referir os esforços desenvolvidos neste domínio ao longo do tempo. Segundo Searns (1995), são identificáveis três fases evolutivas distintas, designadas por gerações de corredores verdes (greenways): a) Geração I – Primeira geração que abarca as conceções e os projetos desenvolvidos, desde cerca de 1700 até à década de 60 do século passado. Uma ideia inicial de corredor verde está presente, antes de mais, nos grandes eixos, boulevards e parques das grandes cidades que ligavam os espaços urbanos entre si, retribuindo aos utilizadores as funções de movimento, uso e visão/experiência. Formavam-se ligações a pontos-chave das cidades, motivando as pessoas a percorrê-las. São exemplos paradigmáticos os grandes boulevards que se vinham a desenvolver desde o século XVIII nas grandes cidades europeias e, muito particularmente em Paris, onde tiveram um franco desenvolvimento com as intervenções de Haussmann na segunda metade do século XIX. Nesta geração é também identificável a importância de aproveitar as estruturas naturais como os rios e as suas zonas ribeirinhas, enquanto corredores que permitem o acesso ao sol, ar e vistas, renovação do ar, potenciando-se o passeio e a “experiência visual”, ao longo dos passadiços construídos sobre estas estruturas (Mann, 1973 cit in Searns, 1995). Assim, cidades como Veneza, São Petersburgo e Amesterdão, aproveitaram toda a sua infraestrutura natural e valorizaram-na através das pontes e dos canais existentes, de modo a constituir elementos que favoreçam as experiências acima mencionadas. O Rio Sena em Paris é outro exemplo de uma estrutura natural que ao longo dos tempos foi aproveitada e valorizada, sendo então concebida uma estrutura pedestre ao logo do rio que une pontos importantes da cidade (de cariz arquitetónico e natural) (Mann, 1973 cit in Searns, 1995). Ainda que nem sempre integrando

28

áreas verdes de modo significativo, estes são alguns exemplos de arquétipos da ideia contemporânea de greenway, no sentido de serem corredores lineares mais ou menos naturalizados, elementos de amenidade e “experiência visual” no interior do espaço urbano. É ainda durante o que Searns (1995) identifica como a primeira geração de corredores verdes que é desenvolvida por Frederick Law Olmsted a ideia do parkway. Tendo sido influenciado pela experiência dos bloulevards Europeus, Olmested desenvolve em finais da década de 1870 o projeto do “Boston Park System”, mais conhecido por “Emerald Neckalce” (colar de esmeraldas), onde é criado um corredor (parkway) com um comprimento de cerca de vinte e cinco quilómetros que interliga diferentes parques verdes, e através deles ligando as cidades de Boston, Brooklyn e Cambridge às margens do rio Charles (Fabos, 2004) (Figura 5). Aproveitando esta ideia e expandindo-a, o aluno de Olmsted, Charles Eliot, propõe a criação de uma rede de parques e corredores verdes para toda a área metropolitana de Boston, com cerca de 600 km², através dos sistemas fluviais existentes (Fabos, 2004). Com os seus projetos, Olmsted introduz a ideia de buffer, despoletando o conceito de greenbelt que assumirá grande destaque na concepção da “Garden City” (Cidade Jardim) de Ebenezer Howard (Fabos, 2004). No seu modelo, Howard propõe que à volta de cada n cleo urbano exista uma “greenbelt” (cinturas verdes), que além de formar um limite para a contínua expansão urbana que se verificava no início do século XX, permitisse combinar as vantagens da cidade e do campo (Helmund & Smith, 2006).

Figura 5 - Boston Park System, por Olmsted em 1870 Fonte: ocw.mit.edu b) Geração II – A segunda geração de corredores verdes abrange o período temporal que decorre desde a década de 1960 até cerca de 1985. Segundo Herzog (2008, p.4) “com o aparecimento do automóvel e seu uso mais intenso no início do século XX, os parques lineares, que serviam para lazer e trânsito de carruagens e tinham belos cenários com ares “naturais”, passaram a ser 29 tratados de maneira muito diversa. Ao longo do tempo deram lugar às atuais estradas de grande velocidade”. Este aumento da intensidade do tráfego automóvel e consequente apropriação do espaço necessário à sua existência são o mote para o paradigma dos Corredores Verdes como alternativa de experiência, recreação e fuga ao quotidiano cada vez mas marcado pelo automóvel. Os corredores verdes passam assim a ser vistos como elementos naturais que potenciam o contraste com os corredores de trânsito cada vez mais congestionados. Em termos metodológicos é essencial neste período temporal o contributo de Phill Lewis em 1964, que através da sobreposição de mapas de recursos naturais e culturais relativos ao estado de Wisconsin nos Estados Unidos da América, chegou à conclusão que grande parte dos recursos naturais e culturais inventariados, se localizavam em corredores, sobretudo fluviais, propondo após esta análise o Wisconsin Heritage Trail (Fábos, 2004), denominando-os de “corredores ambientais”, e abrindo assim caminho à preservação e uso dos mesmos por parte dos cidadãos (Helmund & Smith, 2006). Já em 1969, Ian McHarg contribui fortemente para as metodologias de planeamento dos usos do solo, através do estudo do valor ecológico e da sensibilidade da paisagem, com a finalidade de criar áreas que aliem a sustentabilidade e preservação ambiental, de modo a minimizar os impactos ecológicos nesses espaços, e ao mesmo tempo fornecer um espaço que a população possa usufruir e que sirva de limite à expansão urbana (Helmund & Smith, 2006). c) Geração III – A terceira geração de corredores verdes que vai desde meados da década de oitenta do século passado, até finais do século XX. Segundo o autor, esta última geração abarca não só as problemáticas que estão na génese e desenvolvimento dos corredores verdes, como a função estética, a limitação do crescimento urbano, a mitigação dos efeitos adversos derivados do crescente trânsito automóvel, industrialização e crescente urbanização, ou a oferta de corredores naturais para usufruto da população, como também questões essenciais relativas à sustentabilidade ambiental, sendo elas a proteção do habitats das diversas espécies de fauna e flora, a mitigação dos riscos decorrentes de inundações, a preservação da qualidade da água, a conservação através destes corredores de elementos históricos, a educação e interpretação ambiental ou a inclusão de horas de urbanas. Todo este reconhecimento de um conjunto de elementos naturais existentes, sustentando pela evolução nas metodologias e conhecimento das diferentes paisagens e contextos ecológicos, gera o aparecimento de vários exemplos de Corredores Verdes, a maior parte ao longo de corredores fluviais, com funções recreativas distintas (Fábos, 1995, cit in Fábos &

30

Ryan, 2004). A evolução histórica do conceito de corredor verde, sobre a qual nos temos vindo a debruçar, revelou uma clara evolução, quer ao nível dos usos e finalidade, quer ao nível das estratégias de análise e planeamento dos corredores verdes. No entanto, subsistem dificuldades na identificação de uma definição consensual de “corredor verde”. Recorrendo novamente a Searns (1995), corredores verdes resultam de um esforço humano com raízes nos séculos passados. Mais que simples parques ou zonas de conforto, corredores verdes representam uma adaptação/resposta às pressões físicas e psicológicas da urbanização. Eles ajudam a atenuar a perda de “espaço natural”, devido ao crescimento urbano, providenciando uma solução à expansão humana na paisagem. Neste seguimento, Ahern (1995) define corredores verdes como redes que contêm elementos lineares que são planeados, projetados e organizados com diversas finalidades, incluindo a ecológica, recreativa, cultural, estética, ou com finalidades compatíveis com o conceito do uso sustentável do solo. Mais recentemente, outras ideias têm sido salientadas relativas àquilo que é o conteúdo e objetivo dos corredores verdes, estando para além das suas funções estéticas e de lazer, tendo objetivos não só relacionados com a proteção do ambiente, mas também relacionados com a educação, a preservação do património histórico e cultural, saúde pública, entre outros (Toccolini et al, 2006). Além da questão da preservação da paisagem, os corredores verdes têm um papel fundamental na reabilitação de terrenos abandonados, quer em contextos rurais, quer em contextos urbanos (Ribeiro & Barão, 2006). É importante salientar que estas estruturas têm contribuído fortemente para compatibilizar áreas ecologicamente sensíveis com o desenvolvimento e reestruturação da malha urbana, através da requalificação do tecido urbano, promovendo uma base que dê aso à regeneração ecológica (Ferreira & Machado, 2010). Num contexto sumário: “O movimento dos Corredores Verdes resulta como a ponta final de uma estratégia de planeamento iniciada no século XIX, não sendo atribuído especificamente a um autor, mas sim a vários indivíduos e vários esforços, que durante século e meio, foram sedimentando e alargando uma ideia. Durante este espaço temporal foi gradualmente reconhecida a importância de corredores, redes ou sistemas de corredores lineares na paisagem, formados por vegetação natural, ou que apresentam características mais naturalizadas do que o espaço envolvente, muitas vezes associados ao recreio, conservação ou proteção, diversidade biológica, equilíbrio ecológico, vistas cénicas/ históricas, geralmente baseados nas formas naturais do terreno” (Ramalhete et al., 2007, (p. 7).

31

1.2.2. Tipologia e funções dos Corredores Verdes

Segundo Ahern (1995), a diversidade encontrada no que diz respeito aos Corredores Verdes pode ser classificada em diversas tipologias, que por seu turno obedecem a noções relacionadas com o conhecimento do território, variando assim mediante: - A escala, já que o Corredor Verde pode ser classificado mediante a sua escala espacial, variando assim mediante o contexto de paisagem que ocupa, com ordens de grandeza diferente; - O objectivo, como noção importante para a definição da estratégia de planeamento, que provém de uma avaliação necessária que conjuga o que se perspetiva para a área, qual a área de implementação e as consequências da implementação do(s) objetivo(s) na área designada. Os objetivos variam essencialmente entre o recreio, proteção da biodiversidade, património histórico e cultural, controle da expansão urbana ou aproveitamento multifuncional do espaço ecológico; - O contexto da paisagem, no qual o Corredor Verde deve ser compreendido relativamente à paisagem em que está inserido, sendo que este contexto ajuda a definir o seu ambiente físico, as funções associadas à paisagem, além dos processos dinâmicos relacionados com mudanças na paisagem; - As estratégias de planeamento, que visem a salvaguarda de paisagens sustentáveis num quotidiano em que a mesma é cada vez mais fragmentada, que visem a não degradação dos solos, que limitem a expansão urbana descontrolada e consequente alteração de usos do solo. Estas estratégias passam por estabelecer uma rede inextinguível, com capacidade de suporte para funções ecológicas básicas, proteção dos recursos naturais e culturais fundamentais e que permita outros usos que não impliquem a perda da sustentabilidade da paisagem. Assim, segundo Little (1990) é possível enquadrar estas estruturas numa tipologia de corredores verdes (Tabela 2):

Tabela 2 – Tipologia de corredores segundo Little (1990) Rotas históricas e panorâmicas, geralmente ao longo de estradas e corredores fluviais, sendo que os mais representativos possuem acesso pedonal. Visam destacar as fases evolutivas da paisagem e Corredores cénicos/históricos as suas marcas no território enquanto testemunhos do passado, considerando-se estas marcas como uma mais-valia de integração da memória colectiva e identitária (a nível local, regional e até

32

nacional). Localizam-se ao longo de cursos de água ou linhas de festo, unindo fragmentos da paisagem natural, evitando assim o seu isolamento e promovendo a diversidade biológica e equilíbrio Corredores ecológicos ecológico. São importantes em termos de conservação da natureza, devendo conter áreas com características raras, com valor paisagístico e ecológico, com importância científica, cultural ou social. Podem ser espaços de sensibilização ecológica. Localizam-se ao longo de linhas de água em contexto urbano, funcionando muitas vezes como promotores de “redescoberta” do rio e sua devolução à comunidade local. Segundo a literatura, trata- se de um tipo de corredor com grande relevância na atualidade, já Corredores fluviais que o seu grande valor de recreio/lazer responde ao aumento da procura de espaços exteriores aptos à ocupação dos tempos livres, pelo que é importante na sua preservação e gestão. Verifica-se normalmente a presença de valores histórico/culturais, em coexistência com valores humanos/naturais, sendo também um recurso válido na manutenção das espécies São espaços de recreio local e de acesso a áreas naturais. Sendo baseados em corredores naturais, caminhos-de-ferro inativos, Corredores recreativos canais ou caminhos pré-existentes, dão aso a pistas pedonais ou ciclovias, funcionando como alternativa às redes viárias e seus inerentes problemas e contribuindo para melhorar a qualidade de vida nas cidades. Baseiam-se em formas naturais do terreno, como festos ou vales, Redes ou sistemas de corredores ou são simplesmente o resultado da articulação de Corredores verdes Verdes e espaços verdes de vários tipos, criando uma estrutura verde municipal ou regional.

Já Helmund & Smith (2006) faz uma maior distinção dos tipos de Corredores Verdes, identificando então outras estruturas para além das acima referidas (Tabela 3):

Tabela 3 - Objetivos dos diferentes tipos de Corredores Verdes e conceitos afins segundo Helmund & Smith (2006) Proteger o movimento de vida selvagem e promover outros aspetos

33

Biocorridor da conservação da natureza. (Corredor Biológico) Bioswale Filtrar poluentes derivados da escorrência superficial (à escala (Biocanais) local). Corridor Conservation Conservação dos recursos ecológicos, proteção da qualidade da (Corredor de conservação) água e mitigação dos impactos das inundações. Combinar áreas rurais e urbanas, numa extensa rede de interações, criando elos de ligação entre os grandes núcleos urbanos e a sua Desokota envolvente na mesma paisagem (provém das palavras “Desa”, aldeia e “Kota”, cidade, em Indonésio). Facilitar a migração e outros movimentos da vida selvagem. Dispersal Corridor Também pode ser um corredor viário (estrada), que (Corredor de dispersão) involuntariamente facilita o movimento de ervas daninhas ou plantas rasteiras. Eco-corridors Facilitar o movimento ou outros processos ecológicos. (Corredores Ecológicos) Ecológical Networks Facilitar o movimento ou outros processos ecológicos. (Redes ecológicas) Environmental Corridor Conservar a qualidade ambiental. (Corredor Ambiental) Greenbelts Proteger solo agrícola e natural, limitando ou orientando a (Cinturas Verdes) expansão urbana. Promover o contacto da população com a natureza no seu dia-a- Green extensions dia, através de um sistema de espaços verdes residenciais, ruas (Extensões Verdes) arborizadas e faixas ripícolas. Green Frame Faculta uma rede de espaços verdes para uma metrópole ou área (Estrutura Verde) similar. Green Heart Proteger uma grande área de espaços verdes que está rodeada por (Coração verde) áreas construídas. Green Infrastructure Proteger espaços verdes multifuncionais com a mesma atenção que (Infraestrutura Verde) é dada à “infraestrutura cinza”. Green Fingers Purificar águas pluviais através de “bioswales” (biocanais). Green Links Conectar espaços verdes separados. (Conexões Verdes) Greenspaces Proteger solos do crescimento urbano. (Espaços Verdes)

34

Green Structure Conectar espaços verdes separados, dando aso a uma estrutura em (Estrutura Verde) torno da qual pode ocorrer o crescimento urbano. Ajudar a proteger a biodiversidade em contextos agrícolas, através Green Veins de redes de pequenos elementos da paisagem, maioritariamente elementos lineares. Green Wedges Manter as áreas urbanizadas separadas, trazendo as áreas verdes para mais perto do centro da área urbana. Landscape Linkages Conectar grandes ecossistemas através de estruturas lineares como (Conexões da paisagem) rios. Naturals Backbones Facilitar os processos ecológicos. Nature Frames Facultar funções de recreio, a qualidade da água e mitigar impactos ambientais. Open Space Proteger solos do crescimento urbano. (Espaços Abertos) Recreational Corridors Facultar funções de recreio. (Corredores de Recreio) River or other linear parks Proteger estruturas lineares como rios ou caminhos-de-ferro sem (Corredores Lineares) uso. Scénic Corridors Proteger a qualidade visual da paisagem. (Corredores Cénicos) Trail Corridors Providenciar funções de recreio. (Corredores de trilhos) Utilitarian Corridors Servir funções utilitárias, como rotas para canais ou linhas de (Corredores Utilitários) energia, mas que também podem providenciar funções de recreação ou proteção da natureza. Riparian Corridors Estabelecer uma faixa de proteção a um curso ou a uma massa de (Corredores Ripários) água de modo a proteger o mesmo e o ecossistema aí existente. Wildlife Corridors Proteger o movimento da fauna entre diferentes habitats. (Corredores Ecológicos)

Sintetizando a revisão elaborada até agora, as tipologias de corredores variam também pela função ou pelas várias funções que podem abarcar. Segundo Ramalhete (et al., 2007), os Corredores Verdes possuem as seguintes funções: 1) Função Recreativa, como espaços que facultam a possibilidade de atividade de recreio e lazer, além da criação de vias que funcionam como alternativa às redes viárias; 2) Função Ecológica, como áreas de proteção da natureza, originando habitats para 35 plantas e animais, sendo uma importante ajuda na manutenção da biodiversidade. Funciona também como prevenção para o isolamento das espécies, mantendo assim o processo demográfico das mesmas. Além do referido, atua na manutenção da vegetação ripícola, que por seu turno faculta através da produção de matéria orgânica alimento para os animais aquáticos, permitindo e ajudando na criação de estruturas ripícolas diversas e dinâmicas. Como função ecológica, estes corredores e a sua vegetação funcionam como filtro urbano natural, que assim melhora a qualidade da água e ar locais, sendo que promove também o transporte de matéria, organismos e energia. Em contexto urbano, estes corredores intervêm nos processos hídricos, com a diminuição do risco de erosão. Uma boa e bem estruturada rede de Corredores Verdes, pode a longo prazo, ajudar as comunidades bióticas a adaptaram-se às mudanças ambientais; 3) Função Cultural, como contributo para a preservação do património histórico e cultural, além da manutenção e valorização da qualidade estética da paisagem.

1.2.3. Exemplos de concretização de Corredores Verdes

A concretização dos Corredores Verdes depende, como vimos até agora, do contexto territorial, que por sua vez é influenciado e irá influenciar quer a tipologia do corredor, quer as múltiplas funções que o mesmo pode abarcar. É então facilmente perceptível que a concretização do corredor pode ter exemplos muito diversificados. Nesse sentido serão apresentados quatro exemplos (dois a nível nacional e dois a nível internacional) da concretização de corredores verdes. Estes demonstram como a requalificação do espaço, o aproveitamento dos corredores fluviais e a visão do EVU como hipótese para a concretização destas estruturas, dão aso a corredores verdes interessantes que abarcam neles funções distintas mas que, no seu todo, funcionam com o objetivo de devolver o “verde” às cidades.

Exemplos internacionais Landschaftspark, Duisburgo, Alemanha – Este corredor nasce através da requalificação do espaço onde estava instalada uma antiga área industrial dedicada à siderurgia (Figura 6). De acordo com a informação disponibilizada na página Web do próprio corredor/parque (landschaftspark.de), o parque nasce em 1989, concebido por Peter Latz, e estende-se por uma área de 180 hectares, onde se dá uma sinergia entre o património industrial existente e a natureza, dando aso a um espaço sui generis, diferente daquilo que estamos habituados a ver num corredor verde. Os terrenos baldios foram requalificados e deram lugar a espaços verdes, permitindo através desta estrutura, fazer a conexão com a restante paisagem, marcada pela floresta e pelo rio. 36

A maioria do edificado existente manteve-se, assim como a maquinaria desativada dentro dele, propiciando assim a experiência de viver a história daquele espaço importante para a região onde se encontra inserido. No entanto, o mesmo edificado propiciou a instalação de pequenos jardins em altura, prática de escalada, de atividades radicais em cordas suspensas, além de uma das torres ter sido convertida numa varanda para a observação de todo o espaço em redor. Além destas atividades de lazer mencionadas, aquilo que eram outrora tubos de refrigeração, hoje em dia são escorregas para as crianças. Nos largos hectares que compõem esta estrutura, encontramos também parques infantis, campos desportivos, trilhos pedonais e trilhos clicáveis, e até pequenas quintas com animais como galinhas ou cavalos. O espaço é de tal modo multifacetado, que além das experiências de lazer e recreio que foram ressalvadas até então, permite também um conjunto de eventos como feiras, mercados, concertos, teatros e exibição de filmes (landschaftspark.de).

Figura 6 - Landschaftspark Fonte: http://en.landschaftspark.de/

Mill River Park, Stamford, EUA – O Mill River Park (Figura 7), situado na cidade de Stamford, nos Estados Unidos da América, é um corredor verde inserido no coração da cidade, e numa área limitada em toda a sua extensão pelas redes viárias que atravessam a mesma. O elemento de continuidade deste corredor é o rio Mill, e é através de ambas as margens do mesmo, que as áreas verdes se estendem, numa extensão total de 19 hectares. A esta área soma- se a requalificação de um antigo parque com 7 hectares nas imediações do corredor projetado. De acordo com a página Web do próprio corredor/parque (millriverpark.com), para a constituição deste parque foram elaborados vários estudos, para que neste espaço se desse uma restauração dos ecossistemas locais, além de um conjunto de revisões nos instrumentos de planeamento da cidade. Nesse sentido, o Corpo de Engenheiros do Exércitos dos EUA (Corps) propôs um conjunto de critérios a levar em linha de conta: 1) Restituir a passagem para o curso

37 superior do rio de peixes anádromos, de modo a que os mesmos possam cumprir o seu ciclo de desova e desenvolvimento de uma forma natural; 2) Melhorar substancialmente a qualidade da água do rio Mill; 3) Reduzir a sedimentação no rio; 4) Restaurar o ecossistema dos pântanos em redor; 5) Criar condições de lazer e recreio ao longo do curso do rio. Assim, a união de esforços entre os elementos de governança da cidade e das propostas do Corps, deu origem a um conjunto de ações a aplicar como: a remoção das represas do rio, paredes de sustentação e sedimentos contaminados, restituindo o canal natural do fluxo do rio; a restituição da área de terrenos pantanosos e a constituição de um sistema de trilhos e de pontos para admirar a paisagem e a promoção da estabilização das margens do rio, através de flora nativa. Assim, conjugando esforços com equipas de design, o parque foi projetado e começou a ser concebido em 2005. Numa primeira fase, foi implantado em toda a sua extensão, um trilho multiusos ao longo do rio Mill, e um ano depois, um grande parque infantil foi também instalado, o Mill River Playgroung, onde no mesmo sobressaem paredes com pinturas de animais, tentado assimilar a estrutura ao ecossistema que ali se encontra. Nesta primeira fase foi também visada a implantação de flora, através de mais de 400 árvores, arbustos e plantas nativas, tornando esta comunidade um habitat propício à existência de várias aves nativas, abelhas, borboletas ou animais selvagens. Assim, hoje em dia, este corredor além do indicado, possui através de uma estratégia de um rio limpo, extensos hectares de relva e plantas silvestres e o maior pomar de cerejeiras do estado de Nova Inglaterra. No entanto, o processo evolutivo desta estrutura não para, e as próximas fases do projeto visam dotar o espaço de vários equipamentos de grande utilidade à comunidade como um pavilhão (Brownstein/Selkowitz Pavilion) para servir festas e eventos, além de abarcar um carrocel para crianças, um conjunto de estruturas arquitétonicas (Mill River Park Pergola), um espaço multifuncional que no inverno dará aso a uma pista de gelo e nas restantes épocas a um espaço interativo com fontes de água (Steven & Alexandra Cohen Skating Center & Fountain), e também um espaço edificado multifacetado onde funcionará um centro de estudos ambientais e serviços de restauração (Discovery Center Park Building) (Mill River Corridor Project Plan, 2001/ millriverpark.com).

38

Figura 7 - Mill River Park Fonte: http://www.millriverpark.com/

Exemplos nacionais Frente Ribeirinha do sul do concelho de Vila Franca de Xira – Localizado nos arredores de Lisboa, a Frente Ribeirinha do sul do concelho de Vila Franca de Xira (Figura 8) é um bom exemplo do paradigma da continuidade/conetividade em Portugal. Trata-se de um corredor verde que abarca dois espaços verdes diferentes, o Parque Urbano da Póvoa de Santa Iria e o Parque Linear Ribeirinho do Estuário do Tejo, e tem como fundamental elemento de conetividade o rio Tejo e todo o ecossistema envolvente. Naquilo que é hoje este corredor, havia uma antiga área industrial de depósitos de areia, sendo que por intermédio desta estrutura, foi possível reabilitar uma área com elevado interesse natural, localizado numa freguesia que conta com cerca de 60.000 pessoas e que já há muito via no Tejo uma solução para um espaço de lazer e recreio. A concretização deste projeto encontra- se englobada numa candidatura aprovada no âmbito do PORLISBOA dentro do QREN 2007- 2013, e no regulamento „Politica de Cidades – Parcerias para a Regeneração Urbana – Programas Integrados de Valorização de Frentes Ribeirinhas e Marítimas‟. Toda a Frente Ribeirinha encontra-se conetada através de um trilho pedonal e ciclável num total de 5,6 quilómetros e dispõe de uma área total de cerca de 15,5 hectares. Numa primeira parte desta frente, a sul da mesma, é possível encontrar o Parque Urbano da Póvoa de Santa Iria. Este parque encontra-se munido com espaços exteriores de lazer e recreio, um núcleo museológico que traduz um pouco da história da ligação entre a comunidade e o rio Tejo (mais precisamente a comunidade avieira) designado por “A Póvoa e o Rio”, uma cafetaria, equipamentos e cais de apoio à pesca para a comunidade avieira que habita nas imediações do espaço, além de um parque infantil, um anfiteatro e uma área com equipamentos de manutenção desportiva exterior. Prosseguindo para norte do concelho, “entramos” no Parque Linear Ribeirinho do Estuário do Tejo, que engloba a Praia dos Pescadores, um espaço que

39 proporciona áreas de lazer e recreio, um parque de merendas com assadores para churrasco, uma área desportiva (com um local para a prática de voleibol de praia), um centro de interpretação ambiental e paisagístico, além de uma cafetaria. Através da área da Praia dos Pescadores, existe um trilho de ligação pedonal e ciclável à localidade do Forte da Casa, onde já em contexto o trilho continua através de uma ponte superior sobre a estrada nacional (cm-vfxira.pt/ccdr-lvt.pt).

Figura 8 - Frente Ribeirinha do sul do concelho de Vila Franca de Xira

Fonte: http://www.ccdr-lvt.pt/

Corredor Verde de Monsanto, Lisboa – Apesar dos estudos terem começado a ser idealizados em finais da década de 70 do século passado, só em 14 de Dezembro de 2012 foi inaugurado o projeto concebido por Ribeiro Telles. O Corredor Verde de Monsanto (Figura 9), localizado na cidade de Lisboa, é um projeto que conta com cerca de 2,5 quilómetros integrados numa área de 51 hectares, fazendo a ligação da área mais urbana da cidade ao seu “pulmão verde”, neste caso o Parque Florestal do Monsanto, encontrando-se este corredor englobado na Estrutura Ecológica da cidade de Lisboa. Trata-se de um projeto financiado pela Câmara Municipal de Lisboa através de verbas cedidas por empresas, dividendos retirados do Casino de Lisboa e fundos relativos ao QREN 2007-2013. Em toda a sua extensão existe um trilho ciclopedonal, que fisicamente começa no Jardim Amália até ao Parque do Monsanto, onde ai é possível dar continuidade ao trilho através dos cerca de 40 quilómetros já existentes e conetando assim todos os EVU que o compõem. Este corredor é uma estratégia de conetividade através de vários EVU presentes na cidade de Lisboa, alguns deles construídos recentemente, que permitiram assim este corredor verde. Assim, a conexão até ao Monsanto é conseguida através (de sul para norte): Avenida da Liberdade; Parque Eduardo VII; Jardim Amália Rodrigues; Ponte Ciclopedonal sobre a rua Marquês de Fronteira; área de prado junto ao Palácio da Justiça (com cerca de 1 hectare de prado biodiverso de sequeiro); parque de skates; duas áreas de fitness: miradouros; Ponte 40

Ciclopedonal Gonçalo Ribeiro Telles; Jardins da Amnistia Internacional; Parque Hortícola dos Jardins de Campolide; Parque de recreio infantil e juvenil; Parque Urbano da Quinta José Pinto. Dentro do que é a EE da cidade de Lisboa, o Corredor Verde de Monsanto é um elemento fundamental, pois possibilita a articulação com sistemas e subsistemas do mesmo como o Sistema de Mobilidade, o Sistema de Circulação da Água e do Ar, o Sistema de Transição Fluvial-Estuariano e o Sistema de Unidades Ecológicas Estruturantes (onde se encontram o Corredor do Vale de Alcântara, o Corredor Verde de Chelas, o Parque Periférico e a Zona Ribeirinha) (Ramalhete et al, 2007 / cm-lisboa.pt/greensavers).

Figura 9 - Corredor Verde de Monsanto

Fonte: http://www.cm-lisboa.pt/; www.lifecooler.com

1.2.4. A relevância da Estrutura Ecológica Municipal para a operacionalização dos Corredores Verdes urbanos em Portugal

Voltando novamente ao que já foi abordado acerca dos corredores verdes, e antes de passarmos à EEM e à sua importância para a implementação dos corredores verdes, convém recordar a noção e a importância de um corredor verde. Nos corredores verdes encontramos uma resposta adaptativa às pressões físicas e psicológicas da urbanização (Searns, 1995), podendo ser enquadrados em qualquer curso natural ou paisagístico, através de um percurso pedestre e/ou ciclovia, não sendo limitados por barreiras e que possibilitem a conexão/conetividade (Little, 1990). São assim elementos que permitem uma série de funções desde a recreativa à cultural, estética, ou finalidades compatíveis com o conceito de uso do solo sustentável (Ahern, 1995). Desde 1999, e através do Decreto-lei nº380/99 (revisto com o Decreto-lei nº 46/2009 de 20 de Fevereiro), a EE passa a assumir uma figura de destaque enquanto elemento implícito dos IGT, que terão de identificar as áreas, valores e sistemas fundamentais para a proteção e valorização ambiental dos espaços rurais e urbanos. Nesse sentido, caberá aos IGT de âmbito 41 nacional (através do PNPOT e PS) e de âmbito regional (através do PROT e PIMOT) a definição de princípios e medidas orientadoras no que diz respeito às áreas a definir como de proteção e valorização ambiental, de modo a salvaguardar os ecossistemas e a intensificação dos processos biofísicos. Cabe por fim, aos IGT de âmbito local (na figura do PDM), assegurar a devida ocupação e uso do solo, permitindo a compatibilização das funções de proteção, regulação e enquadramento com os usos produtivos, o recreio e o bem-estar das populações. A forte pressão urbana e consequente reconfiguração de solo rural em solo urbano fez com que não tenha sido dada a devida atenção aos elementos naturais, em detrimento da construção massiva, quando ambos deveriam coexistir em sinergia. Assim, apontam-se falhas gritantes à figura do PDM, pois pelos mais diversos motivos, têm demonstrado uma grande ineficácia no que a este campo diz respeito (Ramalhete et al, 2007). Atentando a esta situação, e de modo a tornar mais eficaz o papel do PDM no que diz respeito aos elementos naturais, a EEM torna-se fundamental. Assim, em 2003, através do Decreto-lei nº 310/2003 (alteração ao Decreto-Lei n.º 380/99, revisto actualmente através do Decreto-Lei nº 80/2015), a EEM deve aparecer definida naquilo que são os PMOT, devendo através da figura do PDM assegurar “(…) os critérios de sustentabilidade a adotar, bem como os meios disponíveis e as ações propostas, que sejam necessários à proteção dos valores e dos recursos naturais, recursos hídricos, culturais, agrícolas e florestais, e a identificação da estrutura ecológica municipal” (Decreto-Lei nº 80/2015 de 14 de Maio do Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia, 2015). É no entanto através do Decreto Regulamentar n.º 11/2009, que define os critérios de classificação e de reclassificação do solo, além dos critérios e as categorias de qualificação do solo rural e do solo urbano, em que a questão da EEM ganha ainda maior ênfase, surgindo o mesmo documento como forma legal de “que a reclassificação do solo rural como solo urbano apenas seja admitida a título excepcional, combatendo -se a prática de aumento indiscriminado dos perímetros urbanos, com a consequente inutilização desproporcionada de espaços agrícolas, florestais ou verdes lúdicos. Simultaneamente, sinaliza-se de forma clara que os processos de reclassificação do solo devem ser criteriosa e tecnicamente justificados, em prol de melhores e mais qualificadas cidades” (Decreto Regulamentar nº 11/2009 de 29 de Maio), surgindo assim como clara a defesa contra o crescimento abrupto da mancha urbana. Este mesmo documento define a EEM como constituída por um conjunto de áreas, que por meio das características biofísicas ou culturais, da sua continuidade ecológica e do seu ordenamento, tenham como função fundamental o contributo para o equilíbrio ecológico e sustentável, além da proteção,

42 conservação e valorização ambiental e paisagística dos espaços rurais e urbanos. Neste sentido, os corredores verdes pelas suas características são estruturas que, pela sua riqueza paisagística, natural, e enquanto elementos de conexão/conetividade, se conjugam de modo importante naquilo que são as EEM.

43

Capítulo 3 – Caraterização da área de estudo

A cidade de Rio Tinto, elevada a esta categoria em 1995, encontra-se integrada como freguesia no município de Gondomar, distrito do Porto, região Norte (NUTS II) e o Grande Porto (NUTS III). Contando com uma área total de 9.5km2, localiza-se na periferia da cidade do Porto, fazendo fronteira através da estrada da circunvalação com a freguesia de Campanhã (a Sul e a Sudoeste) e com Paranhos (a Oeste). Estabelece também fronteiras com as freguesias de Pedrouços (a Noroeste) e Águas Santas (a Norte), do município da Maia, com a freguesia de Ermesinde (a Norte) do município de Valongo e com as freguesias de Baguim do Monte (a Nordeste e Este) e União de Freguesias de Fânzeres e São Pedro da Cova (a Este e Sudeste) do seu município (Figura 10).

Figura 10 – Enquadramento da freguesia de Rio Tinto (a verde no mapa) e do rio Tinto

A cidade deve o seu nome ao rio que a atravessa, o rio Tinto. Este corredor fluvial nasce a norte, na freguesia de Ermesinde, no lugar da Formiga (município de Valongo), tendo um comprimento total de 11,7 quilómetros, desaguando no rio Douro, na zona do Freixo, já na cidade do Porto. Naquilo que corresponde à área em que incide este trabalho, o rio percorre 5,4 quilómetros do seu troço total (RIOS, 2009) (Figura 10).

44

1.1. Caraterização sociodemográfica da área de estudo

1.1.1. Caraterização da população no contexto do município

No contexto do município onde se encontra inserida a freguesia em estudo, Gondomar, Rio Tinto é a freguesia que apresenta segundo os censos de 2011 (INE, 2011), o maior número de população residente, contabilizando então 50 713 habitantes, ou seja, 30,2% da população total do município de Gondomar. Olhando para os resultados dos censos dos anos de 1991, 2001 e 2011, é possível constatar que a cidade no espaço de vinte anos passou a contar com cerca de mais dez mil pessoas, sendo mesmo a freguesia do município que mais cresceu em termos de população (Tabela 4).

Tabela 4 - Total da população das freguesias do município de Gondomar, segundo os censos de 1991, 2001 e 2011 (dados com os totais das uniões de freguesias da reforma administrativa de 2013)

Fonte: INE

União das União das Freguesias União das Freguesias de União das Baguim Freguesias de Gondomar Freguesias Rio do de Foz do Lomba Total Fânzeres e (São de Melres Tinto Monte Sousa e São Pedro Cosme), e Medas Covelo da Cova Valbom e Jovim

1991 35149 9651 8321 41128 1851 6171 40907 143178 2001 39331 13943 8160 46958 1711 6298 47695 164096 2011 39586 14102 7701 48600 1505 5820 50713 168027

Os dados acima considerados representam já os totais das freguesias que se uniram após a reforma administrativa das freguesias em Portugal, sendo assim também importante considerar que até 2013, e antes da reforma, Rio Tinto já era a freguesia com mais população do município de Gondomar, e em 2001, se por ventura a reforma já tivesse existido, Rio Tinto seria também a freguesia com mais população do município, sem ter passado por qualquer processo de fusão.

45

1.1.2. Caraterização da densidade populacional, no contexto do município e do „Grande Porto'

Na mesma escala temporal e utilizando a mesma fonte estatística, percebe-se que a freguesia de Rio Tinto é densamente povoada (algo que mais à frente neste trabalho será escalpelizado através da problemática da pressão urbana na cidade), quer em comparação com as restantes freguesias do município em que se encontra, quer em relação às freguesias que fazem parte da sub-região NUTS III, Grande Porto. A freguesia de Rio Tinto possui um total de 9,38 km2 de área, representando após a reforma administrativa de 2013 ser a segunda freguesia mais pequena em área deste município, apenas suplantada por Baguim do Monte, representando 7,1% da área total do município. Assim, percebe-se facilmente o porquê da elevada densidade populacional auferida nesta freguesia, revelando ser a localidade com valores mais elevados neste campo ao nível do município em que se encontra inserida ao longo da escala temporal em análise (Tabela 5).

Tabela 5 - Área e densidade populacional das freguesias do município de Gondomar, segundo os censos de 1991, 2001 e 2011 (dados com os totais das uniões de freguesias da reforma administrativa de 2013) União das União das União das Freguesias de União das Freguesias de Baguim Freguesias Gondomar Freguesias Rio Fânzeres e do de Foz do Lomba (São Cosme), de Melres e Tinto São Pedro da Monte Sousa e Valbom e Medas Cova Covelo Jovim

Área/km2 21,96 5,46 30,24 23,32 13,7 27,81 9.38

Hab/km2 1600,6 1767,6 275,2 1771,2 135,1 221,9 4361,1 1991 Hab/km2 1791 2553,7 269,8 2013,6 124,9 226,5 5084,8 2001 Hab/km2 1802,6 2582,8 254,7 2084 109,8 209,3 5406,5 2011

No contexto do „Grande Porto‟, os valores de Rio Tinto no que diz respeito à densidade demográfica em comparação com as freguesias constituintes dos nove municípios desta sub- 46 região NUTS III demonstram que ao longo da escala temporal em análise, esta localidade tornou-se numa das mais densamente habitadas (c.f. anexo 1). Desde 1991 a 2011, Rio Tinto demonstrou um crescendo de densidade populacional, assim como as freguesias de Pedrouços (Maia), União das freguesias de São Mamede de Infesta e Senhora da Hora (Matosinhos) ou Ermesinde (Valongo), sendo que neste momento, além das quatro freguesias mencionadas, Espinho (Espinho), Bonfim, União das Freguesias de Cedofeita, Santo Ildefonso, Sé, Miragaia, São Nicolau e Vitória, União das Freguesias de Lordelo do Ouro e Massarelos, Paranhos, Ramalde (Porto), e a União das Freguesias de Mafamude e Vilar do Paraíso (Vila Nova

de Gaia), destacam-se no que diz respeito à questão da densidade populacional (Figura 11).

Oceano atlântico Oceano Oceano atlântico Oceano

Oceano atlântico Oceano

Figura 11 - Densidade populacional no Grande Porto (NUTS III) nos anos de 1991, 2001 e 2011 Fonte: INE; CAOP_2014 47

1.1.3. Caraterização da densidade do edificado, no contexto do município e do „Grande Porto‟, e a problemática do EVU na cidade de Rio Tinto

A questão da densidade materializa-se no terreno com o edificado que alberga a população, e que por seu turno terá influência no espaço pois ajudará a esclarecer até que ponto a maior urbanização poderá não ter sido acompanhada de um planeamento eficiente no que aos espaços verdes diz respeito. Fazendo uma análise à freguesia de Rio Tinto, antes de mais no contexto do município em que se encontra inserido, percebe-se que a densidade de edificado existente (número de edifícios por km2) é a maior do seu município desde o primeiro período em análise, o ano de 1991, obtendo valores à data de 2011 bastante superiores às restantes freguesias Gondomarenses (Tabela 6).

Tabela 6 - Área e densidade do edificado nas freguesias do município de Gondomar, segundo os censos de 1991, 2001 e 2011 (dados com os totais das uniões de freguesias da reforma administrativa de 2013) Fonte: INE

União das União das União das Freguesias de União das Freguesias de Baguim Freguesias Gondomar Freguesias Rio Fânzeres e do de Foz do Lomba (São Cosme), de Melres e Tinto São Pedro da Monte Sousa e Valbom e Medas Cova Covelo Jovim Área/km2 21,96 5,46 30,24 23,32 13,7 27,81 9.38 Edif/km2 323,6 435,3 62,3 341,3 42,7 53,1 919,4 1991 Edif/km2 362,2 548,2 72,1 427,6 47,4 64 1034,6 2001 Edif/km2 380,6 580 79.7 464,5 51 69,2 977.7 2011

Já no que diz respeito ao contexto do „Grande Porto‟, Rio Tinto é desde o primeiro período em estudo, uma das freguesias com maior densidade do edificado existente nesta sub- região NUTS III (c.f. anexo 2). Os resultados obtidos nesta análise acompanham de certa forma os resultados obtidos na questão da densidade populacional, demonstrando que as freguesias constituintes do município do Porto e as freguesias dos municípios limítrofes (especialmente as freguesias limítrofes), além da freguesia de Espinho, e União das Freguesias de 48

Póvoa de Varzim, Beiriz e Argivai são aquelas que ao longo do tempo demonstram maior densidade em termos de habitantes e edificado. Rio Tinto, apesar de uma pequena diminuição nos valores da densidade de edificado entre 2001 e 2011, continua a ser uma das freguesias com maior densidade, destacando-se também Espinho (Espinho), Pedrouços (Maia), Bonfim, União das Freguesias de Cedofeita, Santo Ildefonso, Sé, Miragaia, São Nicolau e Vitória, Paranhos

(Porto) e Avintes () (Figura 12).

Oceano atlântico Oceano atlântico Oceano

Oceano atlântico Oceano

Figura 12 - Densidade do edificado no Grande Porto (NUTS III) nos anos de 1991, 2001 e 2011

Fonte: INE; CAOP_2014

49

Conforme referido anteriormente, a questão da forte densidade demográfica acarreta a necessidade de uma maior densidade de construção (conforme comprovam as figuras 11 e 12), provindo assim habitações para as famílias que escolhem determinada localidade para residir. A freguesia em estudo é assim exemplo, quer de uma densidade demográfica, quer de uma densidade de construção muito altas, no contexto em que se encontra inserida e em comparação com as demais freguesias desses mesmos contextos. Através de uma análise cartográfica com recurso à Carta de Uso e Ocupação do Solo de Portugal Continental de 2007 (COS_2007, Nível 2) constata-se que a cidade de Rio Tinto possuía então cerca de 5,05 km2 de área em tecido urbano, ou seja, mais de metade da área total da cidade, em contraste com o 0,18 km2 encontrados de espaços verdes urbanos, equipamentos desportivos, culturais e de lazer (área inclusivamente inferior à auferida àquela que é disponibilizada para indústria, comércio e transportes, cerca de 0,73 km2). A cidade de Rio Tinto conta ainda com algumas áreas agrícolas e agro-florestais, o que no espaço se traduzia então em 1,05 km2 de área dedicada a culturas temporárias, 0,11 km2 dedicados a culturas permanentes e 1,17 km2 a áreas agrícolas heterogéneas. Importante ressalvar que estas áreas encontram-se localizadas nas margens do rio Tinto ou nos ribeiros afluentes. Rio Tinto conta também dentro das suas fronteiras com pequenas áreas florestais, que representam cerca de 0,51 km2 da área total da cidade, e com outras florestas abertas e vegetação arbustiva e herbácea, num total de sensivelmente 0,58 km2, localizando estes espaços florestados nos limites nortes e sul da cidade (Figura 13).

50

Figura 13 - Ocupação do uso do solo, segundo a COS_2007, na freguesia de Rio Tinto

51

1.2. O rio Tinto e a problemática ambiental

O corredor fluvial onde assenta o nosso caso de estudo, neste caso o rio Tinto, apresenta uma realidade ambiental bem diferente daquela que apresentou outrora. O rio Tinto vive um problema ambiental grave, que faz dele um rio extremamente poluído, ao que acresce a construção massiva “em cima” da linha de água (conforme será verificado mais à frente). A realidade do rio já foi bastante diferente. Se outrora o corredor fluvial era povoado por espécies piscícolas como a truta, por exemplo, além de albergar nas suas margens uma série de moinhos, e mesmo nos campos em redor havia culturas de um grande número de espécies agrícolas, desde há décadas que o rio tem sofrido uma série de agressões ambientais (RIOS, 2009). Segundo Teiga et al. (2006), é possível constatar um conjunto de situações que levam à problemática ambiental que o ecossistema ribeirinho do rio Tinto enfrenta, agrupando em três especificidades diferentes: especificidades ecológicas, especificidades hidromorfológicas e especificidades ligadas à qualidade de vida das pessoas (Tabela 7).

Tabela 7 - Especificidades relacionadas com a problemática ambiental no rio Tinto

Fonte – Adaptado de Teiga et al. (2006) Ecológicas ● Destruição total ou parcial da galeria ripícola nalgumas áreas do corredor fluvial; ● Inexistência de proteção das margens ribeirinhas por força de ações de limpeza; ● Existências de flora exótica: ● Presença de infestantes; ● Ausência de ictiofauna (espécies piscícolas locais) visível por método direto; ● Presença de espécies mamíferos conotadas a locais com níveis elevados de poluição; ● Ausência de planeamento dos bosques ribeirinhos, constatável através de cortes na vegetação e da já referida existência de flora exótica; ● Inexistência de dados históricos que sirvam de base a uma monitorização ecológica; ● Destruição total ou parcial da comunidade ecológica. Hidromorfológicas ● Vários locais com excessiva erosão; ● Leito do rio alterado, através do entubamento, linearização e regularização; ● Assoreamentos; ● Solo impermeabilizado; ● Depósitos de entulhos nas margens;

52

● Ocupação e redução do leito de cheia; ● Margens ocupadas até ao limite de escoamento por campos agrícolas; ● Presença de variadas infraestruturas. Qualidade de vida da população ● Água com aspeto e cheiro nauseabundo; ● Margens com impacto visual negativo; ● Perda de funções como o lazer e usufruto devido ao atual estado do corredor fluvial; ● Ausência de infraestrutura de apoio e informação; ● Depósitos de entulho; ● Paisagem alterada negativamente devido ao uso inadequado do solo e da poluição; ● Ausência de sensibilidade cívica e ecológica por parte das populações que vivem nas proximidades do curso de água; ● Corredor fluvial tratado como local de depósito de entulho e lixo doméstico.

Num sentido geral, Teiga (2011) distingue um conjunto de problemáticas encontradas no rio Tinto, atribuindo uma ordem de prioridades na sua resolução (Tabela 8).

Tabela 8 - Problemas encontrados no rio Tinto, com ordem de prioridades

Fonte – Adaptado de Teiga (2011) Prioridade Problema Má qualidade da água, originada pelas descargas diretas de saneamento doméstico, 1ª industrial ou agrícola. Sistema de drenagem, saneamento e tratamento inadequando, com localização no leito do

2ª rio e sem as devidas conexões com os proprietários drenantes. Além disso, a ETAR de Rio Tinto possui um funcionamento deficiente.

3ª Curso do rio entubado em 500 metros. 4ª Uso do solo marginalizado através da urbanização e da atividade agrícola 5ª Depósito de entulhos e resíduos nas margens do rio. 6ª Destruição total ou parcial da galeria ribeirinha em diversos pontos. 7ª Canal de escoamento obstruído através de ramos e vegetação infestante ou até por resíduos, em locais pontuais, proporcionando o agravamento do efeito de cheias.

Apesar de todas as condicionantes relacionadas com a problemática ambiental do rio Tinto, o corredor fluvial tem uma série de potencialidades e mais-valias, tendo em vista a sua valorização. Entre elas, destacam-se a existência de troços com galeria ripícola bem conservada (em contraste com diversos pontos onde a mesma, conforme assinalado anteriormente, se encontra total ou parcialmente destruída), o aumento da sensibilidade da população para o risco 53 de cheias e para a problemática da poluição no rio Tinto (através de ações como caminhadas de sensibilização pelas margens do rio) e uma cidade com uma malha fortemente urbanizada e com uma grande densidade populacional, que carece de EVU. Assim, surgem como visões ou propostas para o rio e para as suas margens o imperativo de melhorar a qualidade da água do mesmo, a requalificação das suas margens e leitos de cheia através de um corredor ecológico, o incrementar uma gestão ativa deste recurso natural e promover a participação pública nesta problemática (Teiga, 2011). Entretanto, e datado de 28 de Agosto de 2015, foi assinado um protocolo entre os presidentes das Câmaras Municipais de Gondomar e Porto, entre o presidente do conselho de administração da empresa de águas do Município do Porto e entre o administrador regional da Região Hidrográfica do Norte, que visa a candidatura à construção de um intercetor de esgotos em Rio Tinto, no âmbito de um programa de operacionalização da estratégia Portugal 2020, o Programa Operacional de Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos (POSEUR) (candidatura essa que já tinha sido assumida em entrevista com o Vereador do Ambiente da Câmara Municipal de Gondomar, conforme escalpelizado mais à frente neste trabalho). Este projeto de execução do intercetor será implantado entre a rotunda do Centro de Saúde de Rio Tinto (junto ao Metro da Levada) até ao rio Douro, local onde desagua o rio Tinto, passando pela descarga de efluente da ETAR do Meiral e da reunião de descargas da ETAR do Freixo, permitindo assim a salubridade do efluente e a qualidade ambiental de toda a área envolvente e possibilitando melhorias significativas na qualidade da água do rio Tinto. Este intercetor tem em vista servir uma população de cerca de 235 mil habitantes (cm-gondomar.pt)

54

Capítulo 4 – A visão de um Corredor Verde para Rio Tinto

1.1. A visão no território

Após a análise cartográfica à área correspondente à proposta do corredor verde para a cidade de Rio Tinto (Figura 14), auxiliada por diversas observações no terreno de modo a obter uma informação mais fidedigna daquilo que são as caraterísticas encontradas nas margens do rio Tinto, conseguiram-se distinguir três áreas distintas. Assim, as mesmas serão apelidadas no decurso deste trabalho de “Setor influenciado pela linha F do Metro do Porto”, “Setor em contexto urbano (subdividindo-se em Setor em contexto urbano Norte e Sul)” e “Setor fora do contexto urbano (subdividindo-se em Setor fora do contexto urbano Norte e Sul).

Figura 14 - Distinção dos diferentes setores nas margens do rio Tinto

É assim perceptível, e antes de passar às especificidades de cada setor, que a estrutura linear que serve de base à concepção deste corredor tem ao longo do seu curso, nas suas margens, diversas especificidades associadas ao contexto que as envolve, e que irá no fim ser base importante para o tipo de funções e equipamentos que o corredor poderá facultar aos cidadãos.

55

Saltará à vista também aquilo que traduz políticas de planeamento urbano deficientes, e que demonstrarão claramente o desrespeito pelo ecossistema que o rio e as suas margens poderiam facultar à cidade, nomeadamente pela construção desmedida, literalmente em cima do curso de água, o que se traduzirá também num constrangimento se pensarmos que poderia existir em toda a extensão das margens do rio Tinto um corredor verde continuo, com percurso pedestre ou clicável.

Setor influenciado pela linha F do Metro do Porto (Figura 16) – Setor onde o rio se encontra entubado em grande parte do seu troço, ou as suas margens extremamente artificializadas, sobretudo devido à passagem do troço da linha F do Metro do Porto. A existência deste ramal do Metro do Porto leva a que coexistam com a linha diversos espaços relvados nas margens artificializadas, facultando assim uma continuidade verde, pois os trilhos do metro de superfície estão assentes sobre um espaço relvado. Neste setor, assiste-se também a uma conetividade da infraestrutura verde entre os espaços relvados que linha F faculta e o Parque Urbano da Quinta das Freiras (Figura 15). Se por um lado, mais a norte deste setor, é possível denotar a existência de diversas superfícies agrícolas e margens fortemente urbanizadas (a caminho e junto à estação de Campainha), a sul do mesmo, é possível vislumbrar margens ocupadas neste momento por vegetação rasteira (junto à estação da Levada). Uma questão importante a ressalvar deste setor é a presença, em toda a sua extensão, de um percurso pedonal que permite já o aproveitamento desta infraestrutura, e quando possível, o contacto visual com o rio Tinto.

Figura 15 - Linha F do Metro do Porto. À esquerda, parque da Quinta das Freiras Fonte: Própria.

56

1

1

2

2

3 3

Figura 16 - Áreas permeáveis nas margens do rio Tinto (buffer de 100 metros), num contexto de ocupação da linha F do Metro do Porto, à escada da freguesia de Rio Tinto

Setor em contexto urbano (Norte) (Figura 18) – Numa primeira fase deste setor, a sul (após o setor marcado pelo Metro do Porto), é possível verificar que as margens do rio Tinto são fortemente influenciadas pela presença de espaços agrícolas de maior ou de menor dimensão. Além disso, a influência urbana começa a fazer-se sentir, pois vislumbra-se construção em altura a ladear a linha de água, a pouquíssimos metros de distância (Figura 17). Podemos também observar margens ocupadas somente por vegetação rasteira. Já mais a norte neste setor, após o atravessamento da linha de caminho-de-ferro que percorre a cidade, a construção, quer em altura, quer por habitação de piso térreo, e os seus terrenos adjacentes ocupam por completo as margens do rio, não permitindo sequer a passagem a pé nas suas margens (Figura 17).

57

Figura 17 - Influências no Setor em contexto urbano (Norte) Fonte: Própria

Figura 18 - Áreas permeáveis nas margens do rio Tinto (buffer de 100 metros), em contexto urbano (norte), à escala da freguesia de Rio Tinto

58

Setor em contexto urbano (Sul) (Figura 21) – Neste setor é possível constatar, antes de mais, uma forte presença em quase toda a sua extensão de diversas áreas agrícolas. Além desta caracterização mais agrícola, a menor intensidade da Figura 19 - Influências agrícolas e florestais no Setor em urbanização permite também contexto urbano (Sul) numa primeira fase deste setor, a ocorrência de diversas Fonte: Própria superfícies marcadas pela presença de pequenos espaços florestais ou arborizado (Figura 19). Constata-se também a presença entre estes espaços, de diversas áreas sem qualquer tipo de utilização, ocupadas apenas por vegetação rasteira. Se por um lado a primeira fase deste setor denotava a existência de espaços florestais ou arborizados, numa segunda fase assiste-se à presença de margens um pouco mais ocupadas, não por construção com fins habitacionais, mas sim por pequenos espaços industriais dentro da cidade de Rio Tinto. Há que ressalvar, no entanto, que ao contrário do que se passa no lado norte deste setor, a sul é praticamente possível atravessar desde o seu início até ao seu término (já na ponte de Rio Tinto), a pé, sem que se perca o contacto visual com o elemento linear chave desta proposta de corredor verde para a cidade de Rio Tinto (Figura 20).

Figura 20 - Contacto visual com o rio Tinto no Setor em contexto urbano (Sul) Fonte: Própria 59

Figura 21 - Áreas permeáveis nas margens do rio Tinto (buffer de 100 metros), em contexto urbano (sul), à escala da freguesia de Rio Tinto

Setor fora do contexto urbano (Norte) (Figura 23) – O sub-setor norte é marcado, numa primeira fase mais a sul, por uma ocupação diferente de ambas as margens do rio. Se por um lado, a margem do lado esquerdo é ocupada Figura 22 - Influências no Setor fora do contexto fortemente pela urbanização, urbano (Norte) sobretudo pela presença de diversas Fonte: Própria indústrias, a margem do lado direito 60

é marcada pela ocupação de pequenas áreas arborizadas ou arbustivas e áreas agrícolas (no sentido montante para jusante) (Figura 22). Já mais para norte, e até aos limites da freguesia, a presença de áreas arborizadas ou arbustivas e áreas agrícolas, marcam a paisagem encontrada em ambas as margens do rio. De salientar a possibilidade, através sobretudo da margem direita do rio, de atravessar todo este setor sempre contemplando visualmente o rio. Além deste aspeto importante, a possibilidade de conetividade a norte com o Parque Aventura, em Ermesinde, e que coincide também com a nascente do rio Tinto, é algo a ser levado em linha de conta para a elaboração de propostas para o corredor verde.

Figura 23 - Áreas permeáveis nas margens do rio Tinto (buffer de 100 metros), a montante, à escala da freguesia de Rio Tinto

61

Setor fora do contexto urbano (Sul) (Figura 25) – Numa primeira fase, observa-se uma ocupação sobretudo relacionada com edifícios residenciais, como já observado no setor em contexto urbano. Denotam-se margens artificializadas com paredes de Figura 24 - Influências no Setor fora do contexto urbano betão que separam o edificado da (Sul) linha de água. Constata-se a Fonte: Própria presença de uma antiga indústria desmantelada a ocupar uma das margens do rio. Além disto, a imagem mais forte deste sub-setor é a presença de áreas arborizadas até ao limite da freguesia, a sul (Figura 24), sendo possível observar também a presença de várias áreas ocupadas pela agricultura. Além desta marca na paisagem, a presença da ETAR do Meiral é outro elemento importante que faz parte deste sub-setor. Apesar da forte presença urbana nas margens do rio numa primeira fase, existe a possibilidade de percorrer esta área até ao limite sul da freguesia a pé, sendo de salientar a potencial conetividade com o Parque Oriental da Cidade do Porto.

62

Figura 25 - Áreas permeáveis nas margens do rio Tinto (buffer de 100 metros), a jusante, à escala da freguesia de Rio Tinto

1.2. A visão da população

A visão da população acerca da importância dos espaços verdes urbanos e das margens do rio Tinto para a qualidade de vida na cidade, e sobre as diferentes funções e equipamentos que o corredor verde pode abarcar, encontra-se plasmada naquilo que foram os resultados de um inquérito efetuado no âmbito deste estudo (c.f. anexo 3). Assim, o mesmo foi aplicado a 203 individuos que se caraterizam por serem 41% do sexo masculino e 59% do sexo masculino, sendo 76% do total residente na cidade de Rio Tinto e o restante em freguesias vizinhas pretencentes ao municipio de Gondomar. Quanto à idade dos questionados, 22% situava-se na faixa entre os 18 e 24 anos, 69% entre os 25 e os 64 e os

63 restantes acima do 65 anos. Já no que diz respeito à sua escolaridade, 10% quedou-se pelo primeiro ciclo do ensino básico, 12% no 2º ou 3º ciclos, 45% no ensino secundário e 33% no ensino superior (Tabela 9).

Tabela 9 - Caraterização da amostra

Variáveis Respondentes (%)

Local de residência Rio Tinto 76% Outra freguesia 14%

Sexo Masculino 41% Feminino 59% 18 – 24 22% Idade 25 – 64 69% Mais de 65 9% 1 º Ciclo 10% 2º ou 3º Ciclo 12% Escolaridade Ensino secundário 45% Ensino universitário 33%

Numa segunda fase, visou-se então cumprir os objetivos propostos para a elaboração deste questionário. Na tentativa de perceber a importância que os inquiridos atribuem aos espaços verdes públicos para a qualidade de vida nas cidades, 84% revelaram que estes espaços são muito importantes, 16% que são importantes, não havendo qualquer resposta que atribuísse uma importância de indiferença ou de pouca ou nenhuma importância (Figura 26). Tentando auferir a frequência de deslocação a espaços verdes na sua cidade, sensivelmente um terço (34%) desloca-se apenas algumas vezes por ano, sendo que 21% se desloca uma vez por mês, 27% uma a duas vezes por semana, 10% três a quatro vezes por semana e 8% diariamente (Figura 26). Quando questionados sobre a satisfação quanto à quantidade de espaço verdes públicos em Rio Tinto, mais de 50% declararam estar no geral insatisfeitos, enquanto que 26% declaram estar nem satisfeitos nem insatisfeitos, 20% satisfeitos e apenas 4% muito satisfeitos (Figura 26). Quanto à importância que os inquiridos atribuem ao rio Tinto e às suas margens para a qualidade de vida na cidade de Rio Tinto, ficou clara a importância atribuída as estes elementos pois quase 90% assim o declaram, havendo 9% dos inquiridos que declaram ser indiferente e 2% ter pouca importância (Figura 26).

64

Figura 26 - Resultados obtidos relativos às questões sobre: importância do espaço verde público para a qualidade de vida numa cidade; frequência de deslocação a espaços verdes públicos na sua cidade; satisfação em relação à quantidade de espaços verdes públicos em Rio Tinto; importância do rio e das suas margens para a qualidade de vida em Rio Tinto.

Procurando aferir os motivos pelos quais os inquiridos se deslocam a espaços verdes públicos, o contacto com a natureza (60%) e relaxar (55%) foram as opções mais selecionadas, seguindo-se a prática de exercício físico (44%) e a procura de ar fresco/ar puro (41%), seguido de passear as crianças (31%), e por fim passear o cão ou procurar o silêncio (Figura 27).

Figura 27 - Resultados obtidos à questão: motivo para a frequência de espaços verdes públicos

65

Por fim, as últimas duas questões visaram saber os espaços preferidos num cenário de requalificação e os equipamentos a dotar num cenário de constituição de um parque público. No que diz respeito aos espaços preferidos, 97% atribuem importância (34%) ou muita importância (63%) à constituição de um parque público, seguindo-se 87 % a espaços arborizados e 84 % a espaços relvados, aparecendo num plano menos escolhido as hortas urbanas, com 77% e por fim os grandes espaços agrícolas com 55% (Figura 28).

Figura 28 - Resultados à questão: tipo de espaços preferidos num cenário de requalificação das margens do rio Tinto

Em relação aos equipamentos que atribuem maior importância num cenário de requalificação, o grande destaque vai para o percurso pedestre, com 95% de importância atribuída, seguindo-se a opção mobiliário urbano, com 87% e os 85% atribuídos a uma ciclovia. Já os equipamentos de manutenção física, equipamentos de diversão infantil e o mobiliário urbano desportivo revelaram 83% de importância, sendo a menos escolhida a opção assadores para churrasco, com 62% da importância (Figura 29).

Figura 29 - Resultados à questão: equipamentos preferidos num cenário de requalificação

66

1.3. A visão dos agentes locais

Através das entrevistas foi possível recolher a opinião dos principais agentes interessados na questão da “problemática rio Tinto”, tentando obter assim qual a sua visão enquanto agentes responsáveis para as margens do rio, além de confrontar os mesmos com as opiniões da população recolhidas no questionário (Tabela 10 e 11).

Tabela 10 - Dados relativos ao agente entrevistado (função e entidade)

Código do Função que Entrevistado Entidade/organização entrevistado desempenha Membro do E1 Paulo Silva Movimento Rio Tinto “Movimento Rio Tinto” Presidente da Junta de Junta de Freguesia de E2 Nuno Fonseca Freguesia de Rio Tinto Rio Tinto Presidente da Câmara Câmara Municipal de E3 Marco Martins Municipal de Gondomar Gondomar Vereador do Ambiente Câmara Municipal de E4 José Fernando Moreira da Câmara Municipal Gondomar de Gondomar Técnica do departamento de E5 Diana Nicolau LIPOR comunicação, educação e relações institucionais

Tabela 11 - Temática da questão aplicada ao/aos agente(s)

Entrevistado / E1 E2 E3 E4 E5 Temática Pretensões e preocupações do X X X organismo/instituição Preocupação em relação à quantidade X X X X de espaço verde público Questão identitária entre o rio Tinto e os X riotintenses

67

Análise à questão sobre a satisfação com o X X X X espaço verde público da cidade Análise à questão sobre as funções no espaço X X X X num cenário de requalificação Análise à questão sobre o equipamento a dotar X X X X no espaço, num cenário de requalificação A sua visão estratégica X X X X X

Temática “Pretensões e preocupações do organismo/instituição” A matéria relacionada com o espaço verde público da cidade de Rio Tinto e com o rio que lhe dá nome já é algo que tem sido alvo de profunda preocupação, quer pelo organismo que tem a tutela de o planear e conceber, neste caso e por hierarquia de governança local, a Câmara Municipal de Gondomar, quer por agentes privados com interesses ambientais como o caso da LIPOR, quer ainda pelos cidadãos locais, aqui representados pelo Movimento Rio Tinto. Começando por este último, o E1 esclarece que o movimento tem o objetivo de promover iniciativas de recuperação do rio, quer em termos ambientais, margens e de património, de modo a tornar o rio Tinto um elemento polarizador da cidade, facto ao qual não se alheia o E5, dado que a mesma esclarece que a biodiversidade é uma preocupação inerente à LIPOR, e que em termos do rio e das suas margens têm sido parceiros com a APA, Águas do Porto, Águas de Gondomar e Universidade Fernando Pessoa, no desenvolvimento de uma investigação, o “Projeto Rio Tinto”, que numa primeira fase visa monitorizar a qualidade da água e sedimentos, tendo também reuniões periódicas com os municípios e freguesias por onde o rio passa, de modo a que hajam acções de melhoramento do próprio rio, frisando também que se pretende fazer o que é possível dentro dos 150m que ladeiam o rio das suas instalações. Já no que diz respeito ao E3, o espaço verde público no seu todo é uma das prioridades, com interesse também na requalificação do espaço verde já existente que assim necessitar. Temática “Preocupação em relação à quantidade de espaço verde público”

68

A preocupação com a existência de espaço verde público, assim como com a qualidade do mesmo num contexto de uma cidade fortemente urbanizada como é o caso de Rio Tinto, ganha uma importância fulcral, sendo uma preocupação transversal aos diversos agentes de governança local, sendo também um dos motes das reivindicações do Movimento Rio Tinto. Enquanto vereador do ambiente do município onde se insere Rio Tinto, o E4 revelou que os espaços verdes não acompanharam o fenómeno da urbanização (apontando erros à anterior gestão autárquica), salientando que tem que haver reabilitação do espaço verde público e a criação de condições para que a população possa usufruir deles. A mesma visão de insuficiência tendo em conta a cidade de Rio Tinto foi constatada pelo E3, frisando que a oferta de espaço verde público em Rio Tinto tem de ser aumentada, sendo essa a visão do E2, que assume também a importância de diversificar o espaço verde público tendo em conta a realidade da cidade de Rio Tinto. Já o E1 possui uma visão muito mais crítica pois para ele, o espaço verde público não existe, nem vale a pena especular sobre isso, apresentando como solução elaborar um parque no centro cívico de Rio Tinto e conetá-lo ao Parque Oriental e à nascente do rio e não dotar essa zona de mais construção. O E1 neste contexto olha para as margens do rio Tinto com a visão de que é necessário recuperar e permitir que em áreas muito significativas sejam usadas por parte da população, o que no entanto, só pode ser possível com uma melhor qualidade do rio. Temática “Questão identitária entre o rio Tinto e os riotintenses” Uma cidade com nome do seu rio, traduz a questão da identidade inerente ao rio e a história que o mesmo tem nesta freguesia. Além disso, os símbolos da freguesia como a bandeira e o logotipo da junta de freguesia possuem como elemento importante, o rio. Tratando- se de um elemento que a governança local tenta ao máximo defender, foi questionado ao E2 até que ponto a questão da identidade da população local com o seu rio seria algo a defender. Nesse sentido, o mesmo assume como fundamental, e não só por uma questão de identidade, mas também por uma questão de mais valia(…) O curso de água está virado para a cidade logo tem de haver uma sinergia entre a cidade e o rio. Temática “Análise à questão sobre grau de satisfação com o espaço verde público da cidade” Pretendeu-se com esta questão, confrontar os agentes de governança local e o Movimento Rio Tinto com os resultados obtidos à questão “Satisfação em relação à quantidade de espaços verdes p blicos em Rio Tinto”, relativo ao inquérito efetuado à população no âmbito deste estudo (Figura 26), tentando aqui validar ou não a visão negativa que a população assinalou.

69

Assim, E4 assume que concorda, e se me fizesse essa questão eu concordava, assumindo que essa insatisfação se deve a 20 anos em que não houve qualquer preocupação com o espaço verde no município. Houve um completo desleixo da autarquia em Rio Tinto. Esta opinião é partilhada pelo E2, que refere que durante os longos anos que antecederam os elementos de governança atual, as políticas urbanas que não se preocuparam com a criação destes espaços, indicando também que a insatisfação se deve à má qualidade do que existe e à falta de espaços verdes, algo que o E4 assume também, pois segundo o mesmo em Rio Tinto só existe a Quinta das Freiras e está em más condições. O E3, antigo presidente da junta local, além de partilhar a opinião dos restantes, indica que esta insatisfação deve-se à falta de estratégia de planeamento, ausência de regras de construção e respectiva qualidade de espaço público. O E1 reflete também um pouco do sentimento aferido nesta questão, pois a cidade tem 60.000 pessoas e essas não têm um parque verde, acabando as pessoas por fluir para outras zonas do Porto e não potenciam a cidade, fazendo dela um dormitório (… ) a cidade exige mais que aquilo que há. O E4 assume no entanto que a missão é requalificar esses espaços e facultar mais espaços à população, num conceito familiar, para que a população possa usufruir das mesmas. Temática “Análise à questão sobre as funções no espaço num cenário de requalificação” No mesmo sentido da temática anterior, visa-se aqui tentar obter a opinião dos anteriores intervenientes sobre a visão da população daquilo que seriam os usos ideais para as margens do rio Tinto num cenário de requalificação (Figura 28). No que diz respeito ao E2, o mesmo não concorda totalmente com os resultados pois um espaço público relvado já existe, no entanto uma grande parte da freguesia está longe dele, assumindo no entanto serem necessários mais espaços idênticos àqueles existentes na Quinta das Freiras. Já o E1 concorda perfeitamente com a opinião, indicando que no centro de Rio Tinto não faz sentido haver um espaço agrícola, mas sim um espaço de lazer, no entanto fora do centro poderiam existir pequenas hortas comunitárias por exemplo. Relativamente à autarquia local, o E3 subscreve as funções que a população vislumbra para as margens do rio Tinto, assumindo que está projetado por parte da Câmara Municipal um plano pedonal entre o Metro da Levada e a zona do Meiral e a possibilidade de um parque para o centro cívico de Rio Tinto. Da mesma maneira o E4 subscreve a opinião da população, assumindo que Rio Tinto tem a especificidade de nesse espaço já existir árvores, existir um rio, o parque da Quinta das Freiras, ou seja, é exequível tentar criar um parque urbano através do que já existe.

70

Temática “Análise à questão sobre os equipamentos a dotar, num cenário de requalificação” No mesmo sentido das duas questões anteriores, os mesmos intervenientes foram confrontados com a opinião da população relativo àquilo que seriam os equipamentos ideais a dotar, num cenário de requalificação das margens do rio Tinto (Figura 29). Por parte do E3, o mesmo corrobora a opinião dos inquiridos, assumindo que a visão corresponde ao que é a vertente desportiva e lazer que está no projeto da Câmara Municipal de Gondomar para o seu município, sendo que o E4 acrescenta a este ponto a necessidade de se diversificar o espaço e equipamentos, para que toda a população possa usufruir. Quem corrobora completamente com esta visão da população é o E2, pois o próprio indica que a avaliação é pertinente, que a Junta de Freguesia tem um levantamento de necessidades deste tipo para a freguesia, estando em processo de implementação destes equipamentos noutras zonas da freguesia. Por seu turno, o E1 afirma que a opinião vai ao encontro das expetativas que já tinha (…) a população não tem uma visão de picnics e churrascos para este tipo de espaços. Temática “A visão estratégica” Terminando o ciclo de entrevistas, foi solicitado que dessem a sua visão estratégica para o que pretendem para as margens do rio Tinto, fazendo assim, cada um dos entrevistados, um sumário daquilo que é a sua visão para a área em estudo. Assim, o E1 declara que a estratégia ideal seria a recuperação troço a troço e ir disponibilizando à população, de modo a que sentissem que o espaço pode ser usado e que elas próprias ajudassem a preservar, de modo a serem aproveitadas, sem nunca se artificializar demasiado as margens do rio, frisando no entanto que isto apenas será possível se houver previamente a recuperação da qualidade da água do rio Tinto. Mais pragmático, o E2 assume que a visão é aproximar o rio da cidade e fazer com que as pessoas possam interagir com o rio. Margens que afastam o rio das pessoas são contraproducentes com esta ordem. O E3 tem como pretensão devolver à população as margens do rio, como era no passado, para que possam ser percorridas em todo os seu leio, tentando ligar o POLIS da Ribeira de Abade até ao Parque Aventura em Ermesinde, olhando para os fundos do Portugal 2020 como hipótese de financiamento para esta estratégia, existindo já contactos por exemplo com a Câmara Municipal do Porto. Esta visão de aproveitamento de candidaturas a fundos foi apontada pelo E4, indicando a hipótese de aproveitar e estar atentos ao POSEUR (através de 3 eixos) de modo a ajudar primeiro num programa para o tratamento de águas residuais, sendo

71 os restantes eixos o aproveitamento de fundos para recuperar e requalificar as margens do rio, assumindo a existência de um problema relacionado com a problemática da Etar do Meiral. Por fim, tentar aproveitar o envolvimento do setor privado nesta questão do rio Tinto (apontando como exemplo a LIPOR). Por fim, a E5 assume que a visão passa aproximar Rio Tinto cada vez mais do paradigma da cidade sustentável, através de um curso de água e de margens despoluídas, pois falar de um curso de água é falar de um agente com diversas funções, desde a promoção da biodiversidade, lazer, entre outras, ou seja, sem dúvida nenhuma, que águas com boa qualidade são também sinonimo de cidades inteligentes, salientando que o projeto do qual a LIPOR é promotora só terá fim quando a água do rio estiver com uma qualidade boa, para que haja a preservação do ecossistema e os valores ambientais estejam assegurados, no entanto, cada entidade terá que assegurar a sua parte, sendo que até ao momento os parceiros estão motivados e empenhados a dar uma nova vida ao Rio Tinto.

72

Capítulo 5 - Propostas para um cenário de requalificação para as margens do rio Tinto

Os Corredores Verdes enquanto componentes essenciais da infraestrutura verde das cidades, devem premiar, entre outros ideais, as “necessidades e os desejos dos proprietários e dos outros agentes envolvidos” (Benedict & McMahon, 2006), algo que foi escalpelizado no capítulo anterior, através dos questionários e entrevistas aplicadas aos agentes e à população local. Além destes factos, compreender o território, percebendo as vicissitudes do mesmo ao longo da área em estudo, levou a que se levantassem interpretações várias, que em conjunto com a análise das entrevistas e questionários leva a que neste ponto, se possam encetar um conjunto de propostas para um cenário de requalificação para as margens do rio Tinto (Figura 30).

Agentes interessados

Propostas para População um cenário de requalificação

Análise territorial

Figura 30 - Vetores para o desenvolvimento de uma proposta de requalificação para as margens do rio Tinto

O cenário de requalificação avançado neste estudo visa validar através da requalificação das margens do corredor fluvial, a proposta de um Corredor Verde para a cidade de Rio Tinto. O mesmo deverá contemplar as ideias-chave para sua composição, conforme a bibliografia analisada, a salvaguarda das funções recreativas, ecológicas e culturais (Ramalhete, et al.,

73

2007), permitindo também a reabilitação de terrenos abandonados em ambiente urbano (Ribeiro & Barão, 2006). Assim, o Corredor Verde deverá permitir: - A multifuncionalidade, enquanto espaço que permita aliar a vertente ecológica de preservação do ecossistema local com a vertente de providenciar funções de recreio e lazer; - A conetividade, enquanto corredor verde que encontra na paisagem diversos elementos como o Parque Aventura, em Ermesinde, Parque da Quinta das Freiras, no centro da cidade de Rio Tinto e o Parque Oriental da Cidade do Porto, em Campanhã, que atenua a fragmentação dos EVU, numa área extremamente urbanizada; - A identidade local, enquanto elemento importante de identificação, não só pela questão histórica que nos faz encontrar no nome do rio o nome da cidade, mas também pelo facto de poder ser um elemento que ligará a população ao seu local de residência, diminuindo a procura de EVU fora da cidade. Toda esta ambição carece no entanto de um evoluir na qualidade da água do rio Tinto, algo que apesar de tudo o que foi analisado aqui, tem tendência a melhorar, havendo inclusive iniciativas recentes para tal, algo que será sempre uma enorme mais-valia para a comunidade local. Após a análise das entrevistas e dos questionários, a tabela visa sintetizar as opiniões recolhidas (Tabela 12):

Tabela 12 - Sintetização dos resultados obtidos nos inquéritos e entrevistas

População ● Clara insatisfação com a oferta de EVU que a cidade lhe faculta; ● População está identificada com a importância que a qualidade da água do rio e das suas margens tem influência na qualidade de vida da cidade de Rio Tinto; ● As funções mais procuradas pela população inquirida num EVU são o contacto com a natureza, relaxar, fazer exercício e procura de ar fresco/puro; ● Num cenário de espaço ideal, a população inquirida dá preferência a espaços arborizados, espaços relvados e um parque público; ● No que toca a equipamentos, a população dá preferência à implementação de equipamento de diversão infantil; mobiliário urbano; mobiliário urbano desportivo. Agentes ● O EVU não acompanhou o fenómeno da forte pressão urbana; ● Clara noção da ausência de EVU na cidade de Rio Tinto; ● É importante que haja diversas tipologias de EVU na cidade;

74

● É necessária a criação de um sentimento de identidade com o rio que dá nome há cidade. A população deve-se identificar com este património natural; ● Criar condições para que a população se fixe na cidade e não tenha a necessidade de procurar EVU em outras localidades; ● Existe um pensamento para a criação de uma pista pedonal entre a nascente e a foz do rio Tinto; ● Há a noção da conetividade, a montante com o Parque Aventura em Ermesinde/Baguim do Monte, e a jusante com o Parque Oriental da Cidade do Porto, e posteriormente com o POLIS do Freixo; ● Pensamento que vise a promoção da biodiversidade, ambiente e qualidade da água.

A tradução do cenário de requalificação, através da interpretação daquilo que são as visões dos agentes e da população, e levando em linha de conta aquilo que são os princípios e os objetivos daquilo que se prevê que seja um Corredor Verde, leva a que sejam equacionadas um conjunto de hipóteses de equipamentos e espaços para a formulação desta proposta (Figura 31). Pequenos espaços arborizados Cenário possível de requalificação de espaços sem uso ou de vegetação rasteira em ambiente urbano, criando pequenos pulmões verdes em m alhas densamente urbanizadas.

Fonte – www.cm-lisboa.pt Pista pedonal Cenário comum nos corredores verdes, enquanto elemento que faculta ao utilizador a possibilidade de percorrer o mesmo, interagindo com o ecossistema, ao mesmo tempo que proporciona a prática desportiva.

Fonte – www.roteiro-campista.pt Mobiliário urbano

75

Equipamentos que permitem ao usuário a interação com o local, facultando-lhe assim sensações de descanso, relaxamento e até interação social.

Fonte – www.cm-cascais.pt Equipamentos de manutenção desportiva Equipamento que faculta ao utilizador do Corredor Verde a prática de atividades desportivas em contexto outdoor.

Fonte – www.uf-massamamabraao.pt Parque infantil Equipamento destinado à diversão infantil, que permite aos mesmos a interacção social e a função de recreio.

Fonte – pelapagrande.blogspot.com Elementos de sensibilização e interpretativos Através de placas ou placards informativos, a função destes elementos resume-se a informar o utilizador do Corredor Verde, por exemplo, da fauna e flora encontrados, da história local, da rota do corredor, entre outros. Além disso, estes elementos podem sensibilizar a

Fonte – patflor.com preservação de todo o espaço.

Figura 31 - Espaços e equipamentos hipótese num cenário de requalificação das margens do rio Tinto

76

Novamente utilizando a distinção através das três áreas, conforme executado no estudo de caso deste trabalho, pretende-se com a seguinte cartografia projetar então as propostas num cenário de requalificação das margens do rio Tinto. Setor fora do contexto urbano (Norte) (Figura 32) – De destacar neste setor primeiramente, a hipótese de uma conexão com o Parque Aventura em Ermesinde, freguesia onde aliás, nasce o rio Tinto. O percurso pedestre poderia partir daqui, sendo depois devidamente aproveitado com a conexão ao Parque Aventura, até porque a presença junto deste do apeadeiro Palmilheira/Águas Santas poderia ser um fator importante para o aproveitamento e exploração do Corredor Verde. Tratando-se de uma área marcada por uma maior presença de área arborizada ou arbustiva e de terrenos agrícolas, seria de todo importante manter este panorama, primando por localizar aqui elementos de sensibilização e elementos interpretativos, dando a descobrir o ecossistema aqui presente à população. Além disso, estes elementos interpretativos, poderiam também ter um sentido de explicar ao longo do percurso, trechos da história da cidade de Rio Tinto, aproximando assim os utilizadores do Corredor Verde com a identidade local. Primando por ser um contexto menos densamente urbanizado, a implementação de algum mobiliário urbano poderia promover a sua utilização, designadamente na procura de contextos de silêncio e tranquilidade.

Figura 32 - Propostas para a requalificação das margens do rio Tinto na área de trabalho (buffer de 100 metros), a montante, à escala da freguesia de Rio Tinto 77

Setor em contexto urbano (Norte) (Figura 33) – Neste setor encontram-se as maiores dificuldades de implementação da pista pedonal, pois a ausência e ou ineficiência de medidas de planeamento resultaram na ocupação das margens, por construção em altura a ladear a linha de água, a pouquíssimos metros de distância. No entanto, nesse pequeno troço, pode ser pensada uma alternativa em contexto urbano, começando na Rua Garcia de Orta (ponto 1) e passando pela Travessa Padre Joaquim das Neves (2), Rua Padre Joaquim das Neves (3), Rua dos Moinhos (4), Rua do Caneiro (5), culminando na Rua de Medancelhe (6), chegando aqui novamente a uma localização que permite o percurso pedestre sobre as margens do rio. Assim, assinalamos na Figura, quer a hipótese de um corredor junto do curso de água, de muito difícil execução, quer a alternativa de um corredor alternativo, em contexto urbano. Neste setor, e ainda aproveitando um pouco daquilo que se encontrou no setor anterior, a implementação de mobiliário urbano e de elementos interpretativos seria uma hipótese a considerar (isto na área mais a norte deste setor). A introdução de elementos interpretativos também seria interessante na zona do Caneiro onde há contacto visual Figura 33 - Propostas para a requalificação das margens com o rio, pois antigamente dava- do rio Tinto na área de trabalho (buffer de 100 metros), a norte se aqui algo que a memória (urbano), à escala da freguesia de Rio Tinto guarda no terreno, como a zona onde as “lavadeiras de Rio Tinto” executavam o seu trabalho nas pedras das margens do rio. Já a caminhar para sul, encontra-se uma área dominada pela vegetação rasteira, na margem direita do rio, em que poderia ser considerada um pequeno arborizado.

78

Por fim, e já junto ao setor dominado pelo Metro do Porto, onde a pista pedonal se encontra consolidada, ladeando o rio encanado começa-se a vislumbrar um espaço relvado que pode aqui ser aproveitado para a localização de equipamentos de manutenção física, começando aqui um pequeno circuito dos mesmos, aproveitando também a conjuntura com a pista pedonal.

Setor influenciado pela linha F do Metro do Porto (Figura 35) – Este setor é marcado conforme visto no estudo de caso, pela presença da linha F do Metro do Porto. Esta presença tem repercussões no curso do rio pois o mesmo encontra-se encanado a chegar à estação de Campainha e entubado desde sensivelmente o metro da Levada até à Rua da Lourinha (figura 34). Estas transformações efetuadas tendo em conta a construção do Metro, levaram a que nesse espaço estejam neste momento consolidadas diversos espaços relvados, que são inclusivamente aproveitados para a prática de aulas de ginástica de grupo ao ar livre (junto à estação de Metro de Rio Tinto). Estes espaços relvados atravessados pelos carris, são também de Rio Tinto. Assim, propunha-se que se desenvolve-se nesse espaço relvado, a prossecução do circuito com equipamentos de manutenção física, aproveitando-se a pista já existente.

Figura 34 - Rio Tinto entubado, junto à rua da Lourinha

Fonte - GoogleMaps

79

Dado ser uma área central da cidade, seria interessante pensar também num parque infantil para um destes espaços relvados. Além disto, após o terminus do entubamento do rio, existe uma área arborizada, que permitiria também a introdução de elementos interpretativos. Dado ser uma área extremamente frequentada, a introdução de elementos de sensibilização cuja importância vem sendo abordada neste projeto, faria todo o sentido aqui.

Figura 35 - Propostas para a requalificação das margens do rio Tinto na área de trabalho (buffer de 100 metros), no setor Setor em contexto urbano (Sul) influenciado pela linha F do Metro do Porto, à escala da (Figura 36) – Imediatamente após a freguesia de Rio Tinto estação de Metro da Levada, junto ao Centro de Saúde de Rio Tinto (ponto 1), o rio é claramente observável, e aqui, além da nossa proposta de continuação do percurso pedonal, a colocação de algum mobiliário urbano poderia ser uma pertinente. Neste contexto menos urbanizado, as margens do rio vão sendo ocupadas por espaços agrícolas e espaços arborizados, onde seria interessante a colocação de elementos interpretativos quer sobre a flora encontrada, quer sobre a história local, já que aqui proliferavam, no passado, moinhos de antigos moleiros. Além disso, e até por ser uma área ocupada e usada por agricultores, a sensibilização contra a poluição quer do rio, quer das margens do mesmo, também poderia aqui ser aplicada.

80

Por fim, e já junto ao final deste setor, num contexto densamente povoado, e que encontra na margem esquerda do rio uma área dominada por vegetação rasteira, a localização de um pequeno parque infantil poderia ser equacionada.

Figura 36 - Propostas para a requalificação das margens do rio Tinto na área de trabalho (buffer de 100 metros), a sul (urbano), à escala da freguesia de Rio Tinto

Setor fora do contexto urbano (Sul) (Figura 37) – Já num setor a jusante do rio Tinto, numa área conhecida como Porte de Rio Tinto. Aí, e além da presença agrícola, ocorre uma significativa densidade populacional, pelo que a prossecução da sensibilização seria interessante. Após esta fase, o rio entra num contexto semelhante ao verificado no setor fora do contexto urbano (Norte), no entanto aqui mais dominado por espaços arborizados e arbustivos do que propriamente pela agricultura. Sendo o contexto semelhante, a visão para o território

81 seria também a mesma analogia, onde além do trilho pedonal, seria importante introduzir mobiliário urbano que facultasse um espaço onde o utilizador procurasse o ar puro, silêncio e tranquilidade. Por outro lado, elementos interpretativos da fauna e flora local poderiam ser aqui localizados. De destacar aqui ainda a hipótese de promoção da conetividade através da ligação com o Parque Oriental da Cidade do Porto, em Campanhã, freguesia que o rio Tinto percorre até chegar à sua foz na zona do Freixo, já na cidade do Porto.

Figura 37 - Propostas para a requalificação das margens do rio Tinto na área de trabalho (buffer de 100 metros), a jusante, à escala da freguesia de Rio Tinto

82

Capítulo 6 – Conclusão

A evolução das cidades fez com que a forte urbanização pressionasse o EVU, fragmentando-o em muitos casos, e não permitindo que os espaços verdes remanescentes na cidade se conetassem com os espaços naturais da envolvente regional. Ao longo dos tempos, a preocupação com a necessidade das cidades terem o contacto com a natureza restabelecido, por diversos motivos, levou a que se pensasse colmatar esta situação, devolvendo a natureza às cidades através de diversas estruturas, contornando assim a fragmentação a que estes espaços foram sujeitos. Rio Tinto não foi uma excepção à regra. Com uma área densamente habitada e consequentemente densamente urbanizada, a cidade apresenta uma área muito reduzida de EVU, apresentando apenas um parque urbano de maiores dimensões junto ao centro da cidade, o que não é manifestamente suficiente perante uma população de cerca de 50.000 habitantes. Esta visão é constatada através da cartografia analisada neste estudo, sendo também confirmada por parte dos agentes entrevistados e da população inquirida, que validam aquilo que a análise territorial nos revelou. A esta manifestação de insuficiência, acresce a opinião de agentes e da população de que a cidade de Rio Tinto precisa de mais EVU e que o mesmo é algo importante na qualidade de vida da cidade. Se é um facto que o EVU é pouco existente, factual é também a marginalização do corredor fluvial que dá nome à cidade. Esta marginalização, consequência da forte urbanização exercida no território (e de erros de planeamento urbano segundo os agentes locais, erros deste tipo que estão também na origem da problemática dos poucos espaços verdes em Rio Tinto), traduz-se num corredor muito pouco aproveitado como solução para o problema da ausência de EVU na cidade, onde em vários trechos do mesmo, as margens encontram-se completamente ocupadas pela urbanização. Os Corredores Verdes enquanto estruturas que visam a continuidade dos espaços verdes, têm por base suportar uma série de funções importantes para a população e para o ecossistema local, como as recreativas, ecológicas e culturais, provindo assim o território de uma área multifuncional. Neste caso, a oportunidade do corredor verde explora-se por meio do corredor fluvial enquanto elemento linear, como já referido anteriormente, pouco aproveitado enquanto elemento importante para a estrutura verde da cidade de Rio Tinto, e que, dada a importância que os agentes e a população atribuem ao mesmo, pode ser explorado e as suas margens requalificadas.

83

Essa visão de requalificar as margens do rio Tinto obedeceu a uma metodologia que permitiu não só perceber quão importante é para os agentes e população o EVU, o rio e as suas margens para a cidade, como também quais os cenários ideais, quer em termos de caraterísticas estruturais, quer em termos de equipamentos, o que culminou naquilo que é o capítulo cinco deste estudo, “Propostas para um cenário de requalificação para as margens do rio Tinto”. A multifuncionalidade é uma premissa importantíssima neste estudo. A visão num cenário de requalificação visa permitir no mesmo espaço funções de recreio e lazer, funções que permitam a interpretação do ecossistema local e que eduquem para a manutenção do mesmo e funções que permitam a interpretação da história local, aproximando os riotintentes e os visitantes da cidade que suporta o corredor. O estudo efetuado pretende ser uma base relevante para um futuro projeto de requalificação do corredor fluvial em questão, uma requalificação extremamente pertinente por todas as razões auferidas e indicadas neste processo metodológico. Esta necessidade terá de “andar de mãos dadas” com a problemática da poluição do rio Tinto, ou seja, a qualidade da água ou neste caso, a falta dela, será uma condicionante importante a todo o processo de requalificação. No entanto, já há esforços efetuados no sentido da melhoria da qualidade da água, além de que têm existido variadíssimas ações de sensibilização para a problemática ambiental vivida. Estas atitudes e a visão da população e dos agentes sobre a importância do rio Tinto para a qualidade de vida na cidade são uma oportunidade importante para a emergência e consolidação de um corredor verde para os cidadãos e para a estrutura verde na cidade de Rio Tinto.

84

Referências bibliográficas

Ahern, J. (2007). Green Infrastructure for Cities: the spatial dimension. In V. Novotny, L. Breckenridge e P. Brown (Eds.), Cities of the Future: Towards integrated sustainable water and landscape management (pp. 267-283). London: IWA Publishers.

Ahern, J. (1995). Greenways as a planning strategy. Landscape and Urban Planning, 33, 131- 155.

Andresen, T. (2004). Estrutura Ecológica da Área Metropolitana do Porto. ICETA - Instituto de Ciências e Tecnologias Agrárias e Agro-alimentares.

Azevedo, I. (2013). Os Jardins da Cidade: do jardim privado aos espaços verdes enquanto elementos estruturantes do espaço urbano. Dissertação de Mestrado em Arquitetura, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.

Benedict, M. e McMahon, E. (2002). Green Infrastructure: smart conservation for the 21st century. Renewable Resources Journal, 20(3), 12-17.

Benedict, M. e McMahon, E. (2006). Green Infrastructure: Linking Landscaps and Communities. The Conservation Found.

Câmara Municipal de Gondomar. (2015). Dia histórico para Rio Tinto, a Área Metropolitana e a região. Acedido a 30 de Agosto, 2015. Disponível em http://www.cm- gondomar.pt/frontoffice/pages/278?news_id=1465.

Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo CCDR- LVT.PT. (2013). Inauguração Requalificação da Frente Ribeirinha Sul de Vila Franca de Xira. Acedido a 27 de Abril, 2015. Disponível em http://www.ccdr-lvt.pt/pt/inauguracao- requalificacao-da-frente-ribeirinha-sul-de-vila-franca-de-xira/7959.htm.

Câmara Municipal de Lisboa. (2012). Corredor Verde do Monsanto. Acedido a 28 de Abril, 2015. Disponível http://www.cm-lisboa.pt/viver/ambiente/corredor-verde-de-monsanto.

Câmara Municipal de Vila Franca de Xira. (2013). Parque Urbano da Póvoa de St.ª Iria (1.ª e 2.ª fases): concurso público aprovado. Acedido a 27 de Abril, 2015. Disponível em http://www.cm-lisboa.pt/viver/ambiente/corredor-verde-de-monsanto. Comissão Europeia. (2009). Uma infraestrutura verde. Natura 2000. Boletim de informação Natura 2000. Dezembro.

85

Cormier, L. e Madureira, H. (2013). Which local approaches for European green infrastructures concept? Case analysis of the Angers and Porto. Actes du 4eme colloque Fábos conference on landscape and greenway planning. 12-13 April, Amherst (USA).

Decreto-lei nº 46/2009, de 20 de Fevereiro. Diário da República nº36, 1.ª série. Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional.

Decreto-lei nº 80/2015, de 14 de Maio. Diário da República nº 93, 1.ª série. Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia.

Decreto-lei nº 142/2008, de 24 de Julho. Diário da República nº 142, 1.ª série. Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional.

Decreto-lei nº 166/2008, de 22 de Agosto. Diário da República nº 162, 1.ª série. Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional.

Decreto-lei nº 310/2003, de 10 de Dezembro. Diário da República nº284, 1.ª série. Ministério das Cidades, Ordenamento do Território e Ambiente.

Decreto-lei nº 321/83, de 5 de Julho. Diário da República nº 152, 1.ª série. Ministério da Qualidade de Vida.

Decreto-lei nº 380/99, de 22 de Setembro. Diário da República nº 222, 1.ª série A. Ministério do Equipamento, do Planeamento e da Administração do Território.

Decreto Regulamentar n.º 11/2009, de 29 de Maio. Diário da República nº 104. Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional.

Delgado, C. (2012). Reserva Agrícola Nacional, expansão urbana e fragmentação da paisagem na “bacia leiteira primária” de Entre-Douro-e-Minho. Revista da Faculdade de Letras - Geografia, III(1), 185-212.

Fábos, J. (2004). Greenway planning in the United States: its origins and recent case studies. Landscape and Urban Planning, 68, 321-342.

Fábos, J. e Ryan, R. (2004). International greenway planning: an introduction. Landscape and Urban Planning. 68, 143-146.

Ferreira, J. (2010). Estrutura Ecológica e Corredores Verdes. Estratégias territoriais para um futuro urbano sustentável. Livro de resumos, 4º congresso Luso-Brasileiro para o Planeamento Urbano, Regional, Integrado, Sustentável. 6-8 Outubro, Universidade do Algarve, Faro.

86

Ferreira, J. e Machado, J. (2010). Infraestruturas verdes para um futuro urbano sustentável. O contributo da Estrutura Ecológica e dos Corredores Verdes. Revista Labverde, 1, 68-91.

Greensavers. (2012). Vodafone inaugura ponte pedonal e lança app para corredor verde de lisboa. Acedido a 27 de Abril, 2015. Disponível em http://greensavers.sapo.pt/2012/12/18/vodafone-inaugura-ponte-pedonal-e-lanca-app-para- corredor-verde-de-lisboa/.

Hellmund, P. e Smith, D. (2006). Designing Greenways: Sustainable landscapes for nature and people. Washington: Island Press.

Herzog, C. (2008). Corredores verdes: expansão urbana sustentável através da articulação entre espaços livres, conservação ambiental e aspectos histórico-culturais. Rio de Janeiro: PROURB – FAU/UFRJ.

Instituto Nacional de Estatística. (2007). Edifícios (N.º) por Localização geográfica (à data dos Censos 2001); Decenal. (Dados de 1991 e 2001). Acedido a 1 de Agosto, 2015. Disponível em https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_indicadores&indOcorrCod=0000967& contexto=bd&selTab=tab2.

Instituto Nacional de Estatística. (2007). População residente (N.º) por Local de residência (à data dos Censos 2001); Decenal. (Dados de 1991 e 2001). Acedido a 1 de Agosto, 2015. Disponível em https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_indicadores&indOcorrCod=0000972& contexto=bd&selTab=tab2.

Instituto Nacional de Estatística. (2012). Edifícios (N.º) por Localização geográfica; Decenal. (Dados de 2011). Acedido a 1 de Agosto, 2015. Disponível em https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_indicadores&indOcorrCod=0005892& contexto=bd&selTab=tab2.

Instituto Nacional de Estatística. (2012). População residente (N.º) por Local de residência e Sexo; Decenal. (Dados de 2011). Disponível em https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_indicadores&indOcorrCod=0005889& contexto=bd&selTab=tab2.

Jim, C. e Chen, S. (2003). Comprehensive greenspace planning based on landscape ecology principles in compact Nanjing city, China. Landscape and Urban Planning, 998, 1-22.

Kabisch, N. e Haase, D. (2013). Green spaces of European cities revisited for 1990–2006. Landscape and Urban Planning, 110, 113-122.

Landschaftspark. (1989). Landschaftspark. Duisburg-Nord. Acedido a 26 de Abril, 2015. Disponível em http://www.landschaftspark.de/startseite. 87

Little, C. (1990). Greenways for America. Baltimore: Johns Hopkins University Press.

Madureira, H. (2008). A infraestrutura da bacia do Leça: uma estratégia para o desenvolvimento sustentável na Região Metropolitana do Porto. Dissertação de Doutoramento em Arquitetura Paisagistica, Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.

Madureira, H. (2012). Infraestrutura verde na paisagem urbana contemporânea: o desafio da conetividade e a oportunidade da multifuncionalidade. Revista da Faculdade de Letras - Geografia, III(1), 33-43.

Magalhães, M. (1992). A evolução do conceito de Espaço Verde Público Urbano. AGROS, nº2 (Julho - Dezembro).

Martins, M. (s/d). Espaços Verdes em Meios Urbanos. Provedoria do Ambiente e da Qualidade de Vida Urbana de Coimbra.

Mill River Park. (2001). Mill River Park Collaborative. Acedido a 25 de Abril, 2015. Disponível em http://www.millriverpark.org/.

Pereira, M. (2011). Espaços Verdes Urbanos: Contributo para a optimização do planeamento e gestão. Freguesia de Oeiras e São Julião da Barra. Dissertação de Mestrado em Arquitetura Paisagistica, Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Lisboa.

Projeto Rios (2009). Rede de Parques Metropolitanos na Grande Área Metropolitana do Porto - Relatório Final. Porto: Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto.

Quintas, A. e Curado, M. (2010). Estrutura Ecológica Urbana: sistema multifuncional de desenvolvimento urbano. Actas do XII Colóquio Ibérico de Geografia. 6-9 Outubro. Porto.

Ramalhete, F., Marques, L., Leitão, N., Costa, P., Pontes, S. e Gary, S. (2007). Corredores Verdes: Conceitos base e algumas propostas para a Área Metropolitana de Lisboa. Lisboa: Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente. Outubro.

Ribeiro, L. (2006). Greenways for recreation and maintenance of landscape quality: five case studies in Portugal. Landscape and Urban Planning, 76, 79-97.

Sá, J. (2013). Espaços verdes em meio urbano: uma abordagem metodológica com base em serviços de ecossistema. Dissertação de Mestrado em Urbanismo e Ordenamento do Território, Instituto Superior Técnico.

88

Saraiva, M. (1989). Estrutura verde da Região de Lisboa, esboço para uma quantificação. Sociedade e Território, 10/11, 101-114.

Searns, M. (1995). The evolution of greenways as an adaptative urban landscape form. Landscape and Urban Planning, 33, 65-80.

Sousa, V. (2008). Integração de objetivos de conservação da natureza nos Planos Diretores Municipais - O caso de estudo da Região Centro de Portugal. Dissertação de Mestrado em Gestão e Conservação da Natureza, Faculdade de Ciências do Mar e do Ambiente, Universidade do Algarve.

Teiga, P. (2011). Avaliação e mitigação de impactes em reabilitação de rios e ribeiras em zonas edificadas. Uma abordagem participativa. Dissertação de Doutoramento em Engenharia do Ambiente, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.

Teiga, P., Gomes, F., Maia, R. e Pinto, F. (2006). Estudos de reabilitação de cursos de água. Porto: Primeiras jornadas de Hidráulica Recursos Hídricos e Ambiente.

The Stamford Urban Redevelopment Commission (2001). Mill River Corridor Project Plan. Stamford: The urban redevelopment commission.

Toccolini, A., Fumagalli, N. e Senes, G. (2006). Greenways planning in Italy: the Lambro River Valley Greenways System. Landscape and Urban, 76, 98-111.

89

Anexos

Anexo 1 – Dados relativos à Densidade populacional no Grande Porto (NUTS III) nos anos de 1991, 2001 e 2011).

Fonte: INE

Hab/Km2 Hab/Km2 Hab/Km2 Freguesia 1991 2001 2011

União das Freguesias de Anta e Guetim 1388,7 1524,1 1476,3

Espinho 6716,4 5776,8 5554,8

Paramos 650,8 645,5 598,8

Silvalde 1498,2 1380,1 1222,2

União das Freguesias de Fânzeres e São Pedro da Cova 1600,6 1791 1802,6

União de Freguesia de Foz do Sousa e Covelo 275,2 269,8 254,7

União das Freguesias de Gondomar (São Cosme), 1771,2 2013,6 2084 Valbom e Jovim

Lomba 135,1 124,9 109,8

União das Freguesias de 221,9 226,5 209,3

Rio Tinto 4361,1 5084,8 5406,5

Baguim do Monte (Rio Tinto) 1767,6 2553,7 2582,8

Águas Santas 2218,8 3212,3 3494,9

Castêlo da Maia 688,6 798,1 950,2

Folgosa 315,4 349,8 359,6

Cidade da Maia 2396,8 3298,6 3716,1

Milheirós 1101,8 1238,9 1421,3

Moreira 895,5 1174,6 1473,1

90

Nogueira e Silva Escura 586,2 682,3 826,1

São Pedro Fins 311,7 351,4 351,2

Vila Nova da Telha 668 885,8 971,3

Pedrouços 4577,8 5274,7 5399,6

União das freguesias de Custóias, Leça do Balio e 2205,5 2391,2 2517,4 Guifões

União das Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira 4025,1 4051,7 4387,1

União das freguesias de Perafita, Lavra e Santa Cruz do 1021,9 1102,9 1166 Bispo

União das freguesias de São Mamede de Infesta e 4490,1 5558,8 5645,8 Senhora da Hora

União das Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e 4492,7 4273 3920,9 Nevogilde

Bonfim 11310,5 9369,8 7955,7

Campanhã 6040,2 4767,2 4017,1

União das Freguesias de Cedofeita, Santo Ildefonso, Sé, 12309,2 8848,3 7734,6 Miragaia, São Nicolau e Vitória

União das Freguesias de Lordelo do Ouro e Massarelos 5947 5612 5441,8

Paranhos 7632,1 7299,3 6641,4

Ramalde 6390,8 6628 6692,3

União das Freguesias de Aver-o-Mar, Amorim e 594,3 858,8 840,6

União das Freguesias de Aguçadoura e Navais 845,9 839,6 775,1

Balazar 201,3 213,2 219

Estela 207,9 225 200,7

Laundos 248,4 249,8 240,9

União das Freguesias de Póvoa de Varzim, Beiriz e 2336,3 2637 2719,5 Argivai

91

Rates 168,8 182,7 180,2

Alfena 772,5 870,4 968,9

União das Freguesias de Campo e Sobrado 450,1 475 493,5

Ermesinde 4498,7 5008,5 5071,6

Valongo 543,7 775,9 992,7

Árvore 519,2 649,5 792,1

Aveleda 390,8 399,7 355,1

Azurara 830,6 937,1 1067,1

União das Freguesias de Bagunte, Ferreiró, Outeiro 141,8 140,2 130,2 Maior e Parada

Fajozes 244,4 246,1 239,1

União das Freguesias de Fornelo e Vairão 282,3 270,3 265,1

Gião 257,4 271,2 271,8

Guilhabreu 291,8 369,3 364,7

Junqueira 282,4 327,1 295,6

Labruge 425,8 487,6 533,5

Macieira da Maia 315,3 335,4 391,4

União das Freguesias de Malta e Canidelo 364,7 392,5 418,8

Mindelo 498,1 592,7 608,2

Modivas 460,5 463,2 440,5

União das Freguesias de Retorta e Tougues 273,7 276,3 313,3

União das Freguesias de Rio Mau e Arcos 180 176,8 170,8

União das Freguesias de Touguinha e Touguinhó 304 371,5 438,6

Vila Chã 628,1 614,8 643,2

Vila do Conde 2948,4 3795,1 4223,6

União das Freguesias de Vilar e Mosteiró 345,2 358,5 350,5

92

Vilar de Pinheiro 600,3 682,3 671,2

Arcozelo 1130,6 1458 1688,5

Avintes 6032,9 6327,8 6313,6

Canelas 1199,3 1783 1950,6

Canidelo 1908,7 2667,1 3120,1

União das Freguesias de Grijó e Sermonde 760 892,9 927,6

União das Freguesias de Gulpilhares e Valadares 1354,4 1593,4 1866

Madalena 1428,1 1554,2 1667,8

União das Freguesias de Mafamude e Vilar do Paraíso 4499,7 5446,2 5483,5

Oliveira do Douro 3072,2 3479,8 3330,8

União das Freguesias de 898,1 949,1 960,8

União das Freguesias de Sandim, Olival, Lever e 493,2 501,9 480,3 Crestuma

União das Freguesias de Santa Marinha e São Pedro da 5017,6 4885,7 4816,3 Afurada

São Félix da Marinha 1090,7 1241,2 1411,8

União das Freguesias de 933,3 1094,6 1155,7

Vilar de Andorinho 1766,6 2562,9 2784,5

93

Anexo 2 – Dados relativos à densidade do edificado no Grande Porto (NUTS III) nos anos de 1991, 2001 e 2011

Fonte: INE

Edif./Km2 Edif./Km2 Freguesia Edif./Km2 1991 2001 2011

União das Freguesias de Anta e Guetim 304,9 348,3 389,2

Espinho 1593,2 1294,4 1407,3

Paramos 180,7 187,1 219,4

Silvalde 300,7 340,3 366,8

União das Freguesias de Fânzeres e São Pedro da 323,6 362,2 380,6 Cova

União de Freguesia de Foz do Sousa e Covelo 62,3 72,1 79,7

União das Freguesias de Gondomar (São Cosme), 341,3 427,6 464,5 Valbom e Jovim

Lomba 42,7 47,4 51

União das Freguesias de Melres e Medas 53,1 63,6 69,2

Rio Tinto 919,4 1034,6 977,7

Baguim do Monte (Rio Tinto) 435,3 548,2 580

Águas Santas 395,8 508,2 402,9

Castêlo da Maia 147 194,7 216,8

Folgosa 77,8 98,6 127,5

Cidade da Maia 452,6 527,7 575,5

Milheirós 276,9 335,4 369,9

Moreira 211,7 262 281

Nogueira e Silva Escura 131,6 164,1 203,3

São Pedro Fins 77,4 94,5 106,1

Vila Nova da Telha 184,5 276 290,1

94

Pedrouços 1085,3 1025,2 1150,2

União das freguesias de Custóias, Leça do Balio e 514,9 538,5 559,8 Guifões

União das Freguesias de Matosinhos e Leça da 712,4113475177 725,7 679,6 Palmeira 305

União das freguesias de Perafita, Lavra e Santa 279,4 292,9 304 Cruz do Bispo

União das freguesias de São Mamede de Infesta e 852,7 927,2 875,6 Senhora da Hora

União das Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e 742,8 689,9 688,9 Nevogilde

Bonfim 1490,9 1904,6 1779,7

Campanhã 1027,4 1001,6 877,4

União das Freguesias de Cedofeita, Santo 2168,5 2010,3 1907,2 Ildefonso, Sé, Miragaia, São Nicolau e Vitória

União das Freguesias de Lordelo do Ouro e 739,9 714,6 705,1 Massarelos

Paranhos 1190,3 1092,2 1167,7

Ramalde 862,3 839,9 842,1

União das Freguesias de Aver-o-Mar, Amorim e 168,6 218,1 252,5 Terroso

União das Freguesias de Aguçadoura e Navais 230,1 248,8 270,7

Balazar 53 61 75,5

Estela 54,4 70,7 77,3

Laundos 63,1 73,2 91,1

União das Freguesias de Póvoa de Varzim, Beiriz 498,5 542,3 590,6 e Argivai

Rates 43,8 54,2 62,4

Alfena 161,7 297,9 231,9

95

União das Freguesias de Campo e Sobrado 95,7 118,2 130,7

Ermesinde 795,3 868,2 842,9

Valongo 128.4 161,4 173

Árvore 191,5 227 266,9

Aveleda 84,6 120,1 124,9

Azurara 242,1 258,2 320,4

União das Freguesias de Bagunte, Ferreiró, 32,3 38,2 43,2 Outeiro Maior e Parada

Fajozes 53,5 59,2 72,1

União das Freguesias de Fornelo e Vairão 80,1 79,7 90

Gião 58,8 70,1 91,7

Guilhabreu 65,8 112 101,9

Junqueira 80,2 97,6 104,5

Labruge 112 148,5 170,8

Macieira da Maia 72 88,7 107,1

União das Freguesias de Malta e Canidelo 86,7 101,6 115,2

Mindelo 235,5 269,7 285,7

Modivas 116,6 126,5 134,9

União das Freguesias de Retorta e Tougues 73,3 78,3 91,7

União das Freguesias de Rio Mau e Arcos 44,3 46,9 59,5

União das Freguesias de Touguinha e Touguinhó 82,1 101,4 132,3

Vila Chã 194,8 237 213,2

Vila do Conde 644,4 818,3 876,1

União das Freguesias de Vilar e Mosteiró 86.1 104,2 116,9

Vilar de Pinheiro 164,6 214,3 216,4

Arcozelo 338 429,8 454,4

96

Avintes 1288,9 317,6 1590,9

Canelas 246,2 343,9 336,8

Canidelo 487,5 532,9 609,8

União das Freguesias de Grijó e Sermonde 191,5 259,9 289,4

União das Freguesias de Gulpilhares e Valadares 352,6 413,6 462,3

Madalena 429,9 637,4 503,3

União das Freguesias de Mafamude e Vilar do 773,5 863,5 814,1 Paraíso

Oliveira do Douro 671,6 631,1 576,2

União das Freguesias de Pedroso e Seixezelo 212 264,5 279

União das Freguesias de Sandim, Olival, Lever e 119,3 132 146,5 Crestuma

União das Freguesias de Santa Marinha e São 930,8 872,9 846,3 Pedro da Afurada

São Félix da Marinha 266,6 407,5 357,3

União das Freguesias de Serzedo e Perosinho 241,7 304,2 317,9

Vilar de Andorinho 336,7 358,3 381,7

97

Anexo 3 – Inquérito à população

98

99

100

Anexo 4 – Guiões das entrevistas aos agentes

101

102

103

104

105