Observatório da Discriminação Racial no Futebol

2º Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol Brasileiro – Ano 2015

www.observatorioracialfutebol.com.br/

Publicação: Agosto/2016

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RELATÓRIO ANUAL DA DISCRIMINAÇÃO RACIAL NO FUTEBOL BRASILEIRO 2015

Observatório da Discriminação Racial no Futebol

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EXPEDIENTE

Realização Observatório da Discriminação Racial no Futebol

Participação Escola de Educação Física Fisioterapia e Dança, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (ESEFID - UFRGS)

Patrocínio Sindicato dos Atletas Profissionais no Estado do Rio Grande do Sul (SIAPERGS)

Título Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol 2015

Edição 1° Edição - Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol 2015

Criação Março/2016

Produção Marcelo Carvalho e Débora Silveira

Diagramação Marcelo Carvalho

Ilustrações Deivy L. Costa – Desenhorama

Capa Andrenilson Rosa Silva

Impressão Gráfica LOGUS

Publicação Agosto/2016

Tiragem 1200 exemplares

Site www.observatorioracialfutebol.com.br

Contatos [email protected]

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“Nós acreditamos no futebol como um importante instrumento de inclusão social e luta contra a violência e a discriminação.”

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Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol Brasileiro 2015

Autores Débora Macedo da Silveira Manera e Marcelo Medeiros Carvalho

Co-autores Clézio José dos Santos Gonçalves e Edilson Amaral Nabarro

Revisão Cristina Couto Delprete

Texto Prefácio Professor Clézio José dos Santos Gonçalves

Texto de Análise do Relatório Edilson Amaral Nabarro

Texto O Negro no Futebol Brasileiro: Inserção e Racismo Marcelo Medeiros Carvalho

Colaborações Gisele Souza e Silva, João Bosco Vaz, Sóstenes Marchezine, Maurício Figueiredo Correia da Veiga e Alexandre Borba.

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)

R382 Relatório anual da discriminação racial no futebol - 2015 / Débora Macedo da Silveira Manera ...[et. al.] - Porto Alegre: Observatório da Discriminação Racial do Esporte , Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança/UFRGS, 2015.

55 p.: il.

1. Futebol. 2. Discriminação. 3. Racismo. 4. Esporte. I. Carvalho, Marcelo Medeiros. II. Gonçalves, Clézio José do Santos. III. Nabarro, Edilson Amaral. IV. Título.

CDU: 796.332:323.12

Elaborada por Biblioteca da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança da UFRGS

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SUMÁRIO

PREFÁCIO ...... 9 INTRODUÇÃO ...... 16 O NEGRO NO FUTEBOL BRASILEIRO: INSERÇÃO E RACISMO ...... 18 METODOLOGIA...... 26 MONITORAMENTO DOS CASOS ...... 28 OCORRÊNCIAS NO BRASIL ...... 29 1. INCIDENTES RACIAIS ...... 29 2. INCIDENTES HOMOFÓBICOS ...... 34 3. INCIDENTES XENOFÓBICOS ...... 34 4. OUTROS ESPORTES ...... 34 OCORRÊNCIAS NO EXTERIOR ...... 36 ANÁLISE ESTATÍSTICA DAS OCORRÊNCIAS NO BRASIL ...... 38 ANÁLISE DO RELATÓRIO ...... 41 CONSIDERAÇÕES ...... 50 BONS EXEMPLOS ...... 53 FONTES ...... 55

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O Observatório da Discriminação Racial no Futebol é um projeto que acredita no futebol como um importante instrumento de inclusão social e de luta contra a violência e o racismo. Com base nisso, visamos utilizar a força do esporte mais popular do Brasil, para debater sobre a discriminação racial e alertar que condutas preconceituosas e atitudes racistas nos estádios de futebol constituem-se em sério retrocesso à democratização das relações sociais no esporte e à construção de uma sociedade mais igualitária.

No atual momento onde se percebe um aumento da tensão racial no Brasil e no mundo o relatório se faz importante, pois traz os números dos incidentes e analisa as punições na tentativa de desmistificar que os casos de racismo “não dão em nada”. Nos últimos dois anos, foi possível notar algumas dezenas de campanhas contra o racismo nos estádios de futebol no Brasil, mas percebeu-se que poucas (ou nenhuma) foram efetivas e envolveram torcedores e/ou atletas em ações educativas. Não basta, apenas, asseverar que o racismo é crime, precisamos educar os torcedores para que entendam que o futebol não é um microcosmo da sociedade, e por ser um ambiente imerso em paixão cega, vale todos os tipos de demonstrações de preconceito e ódio para desestabilizar o adversário. Temos que unir forças para lutar contra o racismo e o relatório é um importante documento que comprova que os casos de racismo não são fatos isolados. Além disso, suspeitamos que a maioria dos casos não são denunciados pelos envolvidos e/ou noticiados na imprensa, já que em muitos casos a vítima não percebe a importância da sua denúncia ou não sabe quais são os seus direitos.

Diferente do Relatório 2014, este ano o Relatório 2015 apresenta denuncias de outras formas de preconceito e discriminação, e não só no futebol, mas também em outros esportes.

Denunciar e exigir punição não basta, mas é o primeiro passo na luta contra o racismo. E é este passo que estamos consolidando com a elaboração desta nova análise sistêmica dos casos de preconceito e discriminação no Brasil e com atletas brasileiros no exterior.

Vem junto na luta! #ChegadePreconceito

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PREFÁCIO

38ª CONFERÊNCIA ANUAL DE HISTORIOGRAFIA HUMANA – A BÁRBARIE DOS SÉCULOS XIX A XXI Clézio José dos Santos Gonçalves 1

É uma tarde ensolarada do dia 18 de setembro de 2287 d,c,. Uma leve brisa anuncia a primavera do hemisfério Sul, espantando as baixas temperaturas do típico inverno que ficou para trás A 38 Conferência sobre Historiografia Humana em breve iniciar-se-á. Uma multidão de jovens ansiosos se acotovela no Grande Auditório do Salão no Memorial Hall, prédio que abriga o que naquele tempo do século XX chamavam de universidades. Apesar de o ambiente estar carregado como uma turbina pronta a decolar, e de ter à sua disposição as mais avançadas tecnologias de neuroconexão sináptica Dr. Arduin Haersch (PhD em comportamentos humanos extintos) e a Dra Suelen Krischaw (PhD em Psicologia e ética) conversam entre si em tom baixo e cada um prepara-se para iniciar sua fala alternando suas apresentações com defletores holográficas e diálogos em tempo real pontuados de exemplos históricos.

Apesar das palestras serem transmitidas para todo o planeta, em tempo real, graças a tecnologia de transmissão de dados por raio laser permitindo que a audiência de conferências anteriores alcançassem cerca de dois bilhões de espectadores.

Mas com o movimento incessante no campo que cerca o Memorial Hall na estrutura da OHBEM (Organização Humana pelo Bem Estar Mundial – entidade que surgiu após os eventos que ocorreram no planeta em 2188 e que hoje responde por todas as formas com que a humanidade relaciona-se com seu planeta e com seus semelhantes) o Curador da Conferência Dra Nilva Relfot está impressionada com a presença maciça especialmente de jovens.

Em outras palestras a presença histórica de adultos era muito maior que a de jovens, porque neste caso estava sendo diferente? Não suportando a curiosidade a Dra Nilva aborda um jovem e pergunta:

- Meu jovem rapaz, qual a sua expectativa de vir tão afoitamente a esta palestra?

1 Dr. Educação e Neurociência, Pesquisador sobre tecnologias, subjetividade e risco social, Depto de Educação Física Fisioterapia e Dança. 9

O jovem segurando sua empolgação e procurando encontrar as melhores palavras

- Porque a Dra. Suelen e o Dr. Arduin são descendentes diretos de pessoas que viveram esta situação em tempo real?

Não satisfeita, Dra Nilva insiste.

- Mas nossa RQS (Rede Quântica de Saber – Um computador de nanotecnologia que torna acessível todo o conhecimento produzido pelos humanos em tempo real) também está repleta de histórias de pessoas que viveram naqueles tempos?

- Mas quando se tem a oportunidade de ouvir em tempo real a emoção de quem realmente viveu esta história no âmbito de sua família a perspectiva muda, pois falamos de emoções vivenciais e sentidas e não de uma simulação matemática que virtualiza a intensidade do vivo. Além disto, o programa da palestra é tão inacreditável que é quase impossível conceber-se que algo assim aconteceu realmente. Parece que foram apenas fatos literários criados para entreter uma época de transformações cujas pessoas não dimensionavam o impacto do que viviam. Afinal, como alguém podia sustentar uma superioridade sobre outro humano com base na cor da pele? Qualquer criança na pré-escola aprende que humanos nascem humanos, em qualquer tempo e lugar e por isto somos iguais. Fato científico e pronto.

- Você quer dizer então que viver é conhecer? Como dizia Maturana & Varela?

- Isto mesmo – disse o jovem – eram eles que eu queria lembrar. Desculpe o lapso Sra., mas preferi desconectar meu biotech para ouvir verdadeiramente a entonação de voz dos palestrantes.

Dra. Nilva sai satisfeita com a explicação e quando vai em direção ao palco relembra um pouco da historia dos palestrantes. Ambos são descendentes em 3 grau de bisnetos de humanos que viveram os últimos anos desta verdadeira aberração na história humana. Realmente será interessante ouvi-los e como o mundo reagirá ao resgatar um pedaço de história que se esquecida talvez não compreendesse o presente que hoje vivemos foi um futuro sonhado por muitos que morreram num passado longínquo, como pensava Arendt.

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Dr. Arduin é um homem de meia idade, em pleno vigor físico e intelectual, Se ele viajasse no tempo ao século XX possivelmente o confundiriam com alguém entre 35 ou 40 anos. Os avanços da Medicina nanotelemática permitem que por volta de seus 77 anos um sujeito ainda tenha muito a contribuir para a sociedade. Dra. Suelen também está elegantíssima em seus 68 anos.

Ao assentarem em seus lugares por breves segundos se encaram mutuamente com um olhar cúmplice como se dissessem um ao outro “acho que querem nos ouvir”.

Dr. Arduin é o que começa sua explanação.

- Boa noite senhoras e senhores. É um prazer estar aqui e resgatar para cada um presente nesta sala e cada expectador ao redor do planeta um pedaço de nossa história. Minha parte nesta conferência será falar sobre um comportamento cuja palavra vocês possivelmente nunca ouviram, mas acompanhou nossos antepassados durante muitos séculos... Palavra que era verbalizada em contos que enchiam o coração de crianças de terror quando a ouviam nas noites mal iluminadas por fogueiras .... e que era quase proibida de ser pronunciada por aqueles que eram apanhados por sua teia de interesses escusos.... tal palavra se chama escravidão.

Murmúrios na plateia confirmam a afirmação de Dr. Arduin. Alguns imediatamente acionam seus conectores biológicos a RQS e lá encontram uma definição para aquela palavra que não faz parte de seus vocabulários cotidianos. “Escravidão é um sistema de opressão que obriga uma pessoa cumprir tarefas que não condizem com a dignidade humana, mediante castigos corporais, morais e psicológicos, colocando o escravizado em condição degradante”.

Dr. Arduin continua:

- A esta altura alguns de vocês já encontraram a definição em nossa RQS. Apesar de academicamente escrita não chega perto do que os fatos se traduzem, Permitam que eu mostre uma holografia daquele tempo que resgatei de arquivos esquecidos de nossa RQS, encontrados depois de um verdadeiro trabalho arqueológico nesta montanha de dados.

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Inicia-se uma projeção holográfica em tamanho real da Idade Moderna em que é mostrado o rapto de humanos nativos do antigo continente da África. Humanos brancos possivelmente europeus literalmente os caçam como animais e os levam em condições degradantes de sujeira e doenças nos chamados navios negreiros para o “novo continente” conhecido como América – hoje chamado de terra multiculturas (local de efervescência cultural de diferentes estilos).

A visão de seres humanos acorrentados em porões escuros, comendo carne seca apodrecida com água suja de musgo e lascas de madeiras, morrendo de febre, infecções e pneumonias, entre outras doenças foi algo que levou aos prantos muitos dos presentes no auditório. Por um segundo se teve a sensação de aquilo era uma montagem impossível de ser real e parecia que o planeta assistia ao um evento da magnitude de 2187.

- Dr. Arduin um jovem gritou, como era possível esta barbárie?

Calmamente Dr. Arduin falou. Eu sei que a cena é forte e afeta nossa visão de mundo. Mas isto era mais comum do que vocês hoje realizarem uma teleconferência com uma parceira em qualquer lugar de nosso planeta. E o pior é que a maioria destes comportamentos era justificada através de um discurso de diferença de classe real (no sentido de nobreza, sangue real) ou de caráter religioso. Ou você nascia em uma família real – e teria diversos vassalos aos seus serviços. Ou você nasceria camponês e seu destino seria servir para toda a vida a algum membro da realeza. Frequentar a casa do senhorio era o máximo que se poderia esperar da vida. Para muitos dos escravizadores, existia uma “ordem natural” no mundo em que Deus daria alma para alguns humanos e não para outros. Isto justificaria então esta opressão escravagista.

- Mas uma religião capaz de uma barbárie desta merece qualquer nome – menos de religião – bradou outro jovem. O que justifica esta conduta?

Hoje temos esta consciência meu jovem continuou Dr. Arduin, mas naquele tempo isto era algo tão comum como hoje vocês realizam impressão de próteses biosintéticas em 3D. O que se buscava com este comportamento? Aquilo que até 2187 se buscava: Poder e dinheiro. Com o passar do tempo as condições históricas foram mudando. Mas

12 a ganância por poder não. Garanto a vocês, não apenas pelo que meus antepassados relataram como forma de preservar esta memória em nossa carne, que os horrores infringidos a estes humanos não encontram correlatos em nossos tempos e o simples fato de lembrar que a escravidão existiu deve ser fator suficiente para continuar evoluindo no saber para que ela nunca mais retorne ao nosso ambiente. Esta escravidão metamorfoseu-se e ganhou outro nome. Mas esta parte é da Dra. Suelen.

- Obrigado Dr. Arduin. Realmente as condições históricas foram mudando e o sistema de escravidão foi sendo questionado. Mas isto não foi obra de uma súbita consciência como hoje todos nós compartilhamos. Foi pelo esgotamento deste modelo feudal de justificativa de acúmulo de riquezas e poder através da exploração explicita e degradante de alguns poucos para a grande maioria das pessoas.

Então, ao redor do planeta os sistemas escravagistas foram sendo abolidos – na maioria das vezes a custa do sangue de muitos que lutaram para tanto.

Vocês já estudaram isto, mas a chamada Revolução Francesa deu início ao fim deste sistema escravista. Mas com o fim dela iniciou-se uma nova fase de diferenciação entre os humanos daquele tempo que se denominou discriminação.

Não mais existia a escravidão. Então os escravos eram tratados como iguais? Absolutamente não. Um sistema de crenças que se auto-justifica – como dizia Bourdieu – não se encerra no ciclo de uma vida. Não era mais possível tratar alguém como escravo – impingindo castigos físicos e morais – mas podia descriminá-los limitando seus espaços de atuação e deslocamento e a justa remuneração.

Permitam exemplificar melhor estes tempo?

Vocês conseguem imaginar que não poderiam sentar em determinados lugares em uma nave orbital porque a cor da pele de vocês era mais escura? Conseguem imaginar- se proibidos de transitar em muitas áreas de nosso planeta simplesmente por terem uma cor diferente de pele? Ou recolher-se em suas moradias a partir de determinado horário para não misturar-se com outros humanos que tinham plena liberdade de ir e vir?

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Ou pior... vocês não poderiam frequentar os mesmos restaurantes que outros? Nem o mesmo banheiro?

Conseguem imaginar um país com uma zona de terreno separada entre os brancos e os não brancos? Pois isto existiu e chamava-se apartheid.

A perversidade da discriminação é o fato que ela não mais era uma escravidão, mas era uma forma veladamente de degradação do humano justificando esta distância através da oferta de tratamentos “civilizados” entre aspas, mas não retratava a realidade de não reconhecimento dos mesmos direitos.

E como isto mudou? – perguntou um jovem angustiado em sua voz.

Houve grandes homens que tiveram a coragem de enfrentar estas formas de discriminação racial em diferentes países. Pode-se citar, por exemplo, Martin Luther King nos antigos EUA, Zumbi dos Palmares no Brasil, Steve Biko e Nelson Mandela na antiga África do Sul. Seus atos inspiraram muitos ao redor do planeta. Além de suas ações serem notadamente contra a discriminação, muitos começaram a alavancar suas carreiras em diferentes áreas de atividade, como por exemplo, os esportes. Mas mesmo nesta área, a discriminação permanecia em muitos espaços esportivos.

- Mas ainda ficamos sem saber como tudo isto mudou

Dra Austin continuou... claro que 2187 é o grande marco. Mas ele somente foi possível porque existiram sonhadores.

Um murmúrio correu o auditório.

Sim meus jovens, sonhadores. Aqueles que não têm o alcance de um líder como Mandela. Mas suas ações, embora restritas a um espaço mais restrito tenham um impacto imediato e intenso por tratar de questões mais próximas das pessoas. É como uma gota que cai sozinha, mas ao impactar o solo, traz consigo outras, e quando se percebe a chuva está correndo o solo, formando pequenos fluxos de água, que se tornam riachos, que se tornam rios e chegam a um mar.

Um exemplo que resgatei de nossa RQS é este documento “Relatório de Discriminação Racial no Esporte em 2015”. Ele é fruto do sonho de jovens que tiveram a coragem de

14 denunciar os casos de racismo no esporte, quando muitos tentavam desculpar as atitudes discriminatórias ocultando-as na justificativa do calor da competição esportiva. Não foi fácil para eles, mas nunca esmoreceram e iniciaram um movimento que teve um impacto significativo no âmbito das atividades esportivas.

- Fale mais sobre este relatório professora.

Candidamente a palestrante disse: este é um assunto que veremos em nossos encontros subsequentes. Para tanto, recomendo que vocês leiam o presente documento. Vale a pena tal leitura, pois como dizia Morin sair de seu “eterno presente” e como recomendava Changeux, sair de sua bolha perceptiva-interpretatvia.

Tenho certeza que será um texto que surpreenderá vocês.

(A palestra se encerra com a audiência em aplausos efusivos)

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INTRODUÇÃO

Nos seus dois anos de atuação o Observatório destacou-se por alertar as autoridades, clubes, entidades, torcedores, atletas e a sociedade em geral sobre a grande incidência de práticas racistas no futebol brasileiro, através dos nossos canais na internet, participação em programas de rádio ou televisão, textos em jornais impressos ou virtuais, entrevistas e participando de diversos eventos pelo Brasil, como palestras e seminários onde foi possível divulgar nosso trabalho e os dados do “Relatório 2014”. Sendo a produção do Relatório Anual da Discriminação Racial, talvez, nossa mais importante produção, e que corresponde a uma análise sistemática sobre os incidentes raciais no futebol brasileiro em um período de 12 meses, referente a 01 janeiro a 31 de dezembro de cada ano. Ele apresenta os fatos ocorridos neste intervalo de tempo com uma análise de dados, desdobramentos dos casos e punições aos envolvidos. Conduto, temos ciência que a discriminação racial no futebol vai muito além dos incidentes que ocorrem nos estádios ou na internet. É preciso avançar na discussão dos motivos de termos um número inexpressivo de técnicos, dirigentes, conselheiro e diretores negros nos clubes brasileiros, assim como jornalistas nos veículos de comunicação, o tal “ racismo institucional” . Urge avançarmos nos debates, nas pesquisas e na produção de conteúdo onde a temática racial seja o foco principal, principalmente porque o esporte sempre foi utilizado ao longo da história como um importante instrumento de inclusão social.

Cientes da necessidade de avançarmos em debates e pesquisas convidamos a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) para participar da elaboração e analise dos dados estatísticos do “Relatório 2015”, instituição essa que tem diversas atividades de extensão que tratam da temática racial. A questão do racismo está presente em todos os debates da extensão universitária brasileira contemplada dentro de áreas temáticas como Educação, Cultura, Direitos Humanos, Saúde e Comunicação. Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul temos um conjunto de Atividades em todas as áreas de conhecimento e em diferentes Unidades Acadêmicas que vão desde a implementação e funcionamento do NEAB –Núcleo de Estudos Afro-

16 brasileiros passando pelos cursos de formação continuada de professores até as expedições etnoarqueológicas a sítios afromeríndios.

O conjunto de Atividades extensionistas determina que a Universidade Federal do Rio Grande do Sul tenha protagonismo no tratamento das questões raciais, o que evidentemente não impede reações preconceituosas em diferentes momentos da Instituição como aconteceu durante o processo de implantação da política de Ações Afirmativas que já completou dez anos com o aumento do número de alunos negros em todos os cursos de graduação. O importante, além do número de atividades registradas e sendo executadas na Universidade é a vigilância permanente através de observatórios e denúncias para que não se registre retrocessos.

"O racismo no Brasil se caracteriza pela covardia. Ele não se assume e, por isso, não tem culpa nem autocrítica. Costumam descrevê-lo como sutil, mas isto é um equívoco. Ele não é nada sutil, pelo contrário, para quem quer se iludir ele fica escancarado ao olhar mais casual e superficial. "

(Abdias do Nascimento )

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O NEGRO NO FUTEBOL BRASILEIRO: INSERÇÃO E RACISMO

“A entrada de jogadores negros nos times está intimamente ligada, ao capital e não a uma passagem do racismo ao não racismo”. (Ilustração: Desenhorama – www.desenhorama.com.br)

Marcelo Medeiros Carvalho 2

O futebol é reconhecido, historicamente, como uma importante opção de lazer à população mundial, especialmente a brasileira. Entretanto, o hoje reconhecido “esporte mais popular do Brasil”, capaz de unir pessoas de diversas etnias e classes sociais, um importante instrumento de inclusão social, não chegou assim ao país. No seu início, em meados de 1894, quando chegou ao país através dos estudantes de classe alta, que voltavam do Reino unido com bolas e chuteiras na bagagem, como foram os casos de Charles Miller e Oscar Cox, o futebol era elitista e praticado por clubes de engenheiros e técnicos ingleses, além de jovens da elite metropolitana que frequentavam estes espaços. Os negros e demais cidadãos pobres brasileiros não eram aceitos nos grandes clubes.

2 Administrador de Empresas e MBA em Gestão Empresarial (Fadergs). Diretor executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol. 18

No final do século 19, o mundo vivia o auge do pensamento racial, segundo o qual a miscigenação era considerada uma das causas da miséria e do atraso brasileiro. Era comum intelectuais da época emitirem opiniões como a do zoólogo suíço Louis Agassiz, que visitou o Brasil em 1865: “Que qualquer um que duvide dos males da mistura de raças [...] venha ao Brasil, pois não poderá negar a deterioração decorrente da amálgama das raças mais geral aqui do que em qualquer outro país do mundo”. Pouca gente queria se misturar. Ao que o sociólogo Mauricio Murad define:

“Uma longa e profunda herança colonialista e escravista pesava ainda nas nossas estruturas sociais, nas nossas instituições, e o futebol absorveu, diretamente e indiretamente, essas influências. Por isso foi, durante os primeiros tempos, elitista, racista e excludente, reproduzindo constantes estruturais de nossa formação, como a concentração e a exclusão. O racismo foi um dos traços mais pregnantes das conjunturas iniciais do futebol brasileiro. Um racismo acoplado a um elitismo social e cultural flagrantes na concentração de rendas, de poder e de oportunidades”.

Outro fator a deixar os negros de fora do futebol é a imagem que o esporte tinha quando chegou ao país. O football, como era chamado na época, era considerado um esporte de riquinhos, de ingleses.

No Brasil o futebol surgia como uma oportunidade de restabelecer a ordem social embaralhada pela abolição da escravatura, em 1888, e pela proclamação da República, em 1889. A formação dos times dentro dos clubes tinha forte orientação racial. Aqueles que não restringiam estatutariamente a brancos o acesso aos seus quadros eram seletivos por meio dos preços de mensalidade e título. Se tudo isso falhasse, ainda havia a condição de que um novo associado deveria ser aceito por dois terços dos sócios já existentes.

Alguns clubes fugiram a essas regras. A Associação Atlética Ponte Preta foi a pioneira em ter cidadãos negros em seus quadros, desde a fundação do time em 11 de agosto de 1900. Entre os fundadores da Ponte Preta existiam negros e mulatos, como Benedito Aranha, por exemplo, que fez parte da primeira diretoria alvinegra. Já Miguel “Migué” do Carmo tornou-se jogador titular do primeiro elenco pontepretano, ainda no ano da fundação. Contudo, o livro “O Negro no Futebol Brasileiro”, de Mário Filho,

19 aponta o The Bangu Athletic Club (que posteriormente se chamaria Bangu Atlético Clube), como o primeiro a escalar um jogador negro, Francisco Carregal, em 1905. O feito fez com que, em 1907, a Liga Metropolitana de Football (equivalente a atual FERJ – Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro) publicasse uma nota proibindo o registro de “pessoas de cor” como atletas amadores de futebol. O Bangu, então optou por abandonar a Liga e não disputar o .

Francisco Carregal, que utilizava um uniforme impecável para diminuir o preconceito por ser negro em um esporte da elite branca, foi o primeiro de muitos atletas negros no Bangu. Meses depois o time já contava com operários e negros juntamente com os ingleses. O time foi campeão carioca da segunda divisão em 1911 com quatro negros e seis operários no elenco.

Outra conquista do time da Zona Oeste da capital do Rio de Janeiro foi a quebra do preconceito entre os torcedores, já que na maioria dos campos os pobres assistiam às partidas em locais separados, que se chamaria geral, e não nas arquibancadas. O Bangu permitiu que todos acompanhassem juntos uma partida, sem distinção de classe ou cor de pele.

Em dezembro de 1917, o Diário Oficial carioca divulgou a Lei do Amadorismo, onde dizia: “Não poderão ser registrados os que tirem os meios de subsistência de profissão braçal [...] Aqueles que exerçam profissão humilhante que lhes permitam recebimento de gorjetas, os analfabetos e os que embora tendo profissão estejam, a juízo do Conselho Superior, abaixo do nível moral exigido.

O Bangu foi muito importante na inclusão de negros no esporte mais popular do Brasil. Entretanto, foi o Vasco da Gama, clube, que em 1904 já havia elegido um presidente mulato, Cândido José de Araújo, que entrou para a história ao adotar uma atitude que contribuiu decisivamente para a inclusão de atletas negros, mulatos e demais brasileiros que não pertenciam à elite. Após conquistar o campeonato carioca de 1923, ano de estreia na primeira divisão, com um plantel formado quase que inteiramente por jogadores negros, o clube despertou a ira dos rivais.

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No ano seguinte, Fluminense, Flamengo, Botafogo e outros times abandonaram a Liga e fundaram a Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (AMEA). A Associação formou uma comissão de sindicância que apresentou as condições impostas aos chamados pequenos clubes. Estes teriam que apresentar condições materiais e técnicas e eliminar de seus quadros sociais jogadores considerados profissionais. A acusação era que o São Cristóvão, clube suburbano repleto de negros, tinha jogadores, na prática, profissionais. A mesma acusação pesou sobre o Vasco da Gama de que incentivava o profissionalismo ao integrar jogadores de classes inferiores e pagar prêmio pelos resultados positivos, além de não ter estádio próprio. A entidade queria que o clube demitisse 12 atletas pobres, a maioria negros, o que foi recusado pelo, então presidente do clube, José Augusto Prestes, que no dia 7 de Abril de 1924 enviou a entidade um oficio declarando publicamente que o clube negava-se a participar da AMEA.

A fase de transição do futebol nacional coincidiu com a da própria sociedade brasileira. A primeira década do século XX terminaria ainda dividida entre o amadorismo e o profissionalismo, entre o caráter elitista e popular do futebol e entre a alvura dos seus jogadores e a introdução do elemento negro, que mudaria drasticamente o cenário do esporte no Brasil.

Apesar do grande racismo no futebol brasileiro no início do século XX, o primeiro grande ídolo da modalidade no país foi justamente um mulato. Filho de alemão com uma brasileira negra, Arthur Friedenreich foi o maior jogador brasileiro na época do futebol amador. Autor do gol que daria o primeiro título à Seleção Brasileira, o Sul- Americano de 1919. Contudo, o racismo arraigado na sociedade brasileira perpetrava que a presença de negros na Seleção Brasileira fosse vista com maus olhos.

Em 1921, por exemplo, o então presidente da república Epitácio Pessoa se reuniu com diretores da Confederação Brasileira de Desportos (CBD) para pedir que apenas jogadores de pele mais clara e cabelos lisos fossem convocados. “Os senhores absolutos do esporte, num golpe reprovável, sem base, antiesportivo, excluem do quadro nacional [...] os negros e mulatos”, publicou o jornal O País, em setembro de 1921. Apesar de pessoa ter negado publicamente que tenha feito tal pedido, o corte

21 de Luís Antônio da Guia, irmão de Domingos da Guia, foi a primeira prova da veracidade da história, confirmada com a equipe sem nenhum negro ou mulato que representou o Brasil – e que foi eliminada perdendo dois dos três jogos que disputou.

Brancos na sua essência, os clubes se organizavam em ligas, que eram desfeitas e reformatadas à medida que os negros ameaçavam tomar partes delas. Mas, o futebol, entretanto, havia trasbordado as mulharas dos clubes de ricos e brancos, e equipes se formavam em todos os cantos e se agrupavam em campos de várzea. O nome “várzea”, por essa razão, acabou servindo para designar qualquer time e qualquer campo com características amadoras.

Devido o estatuto das Ligas oficias vetar atletas amadores “de cor” surgem as Ligas Negras, como a Liga Suburbana de Futebol, criada em 1907 no Rio de Janeiro, assim como, a Liga Nacional de FootBall Porto Alegrense (pejorativamente conhecida como Liga da Canela Preta), no Rio Grande do Sul e a Liga Brasileira de Desportos Terrestres (pejorativamente chamada de Liga dos Pretinhos), na Bahia; entre outras tantas espalhadas pelo Brasil. A história nos mostra que as ligas não serviram apenas para competições em torno de uma bola de couro, mas eram também espaços voltados à sociabilidade e que serviram de resistência e luta no enfrentamento a discriminação racial.

Nos campos de várzea o jogador negro imprimiu um estilo próprio de magia e arte ao futebol brasileiro, diferente das formas arcaicas do jogo de bola. Os negros jogavam com mais ginga, com mais habilidade e reinventando os espaços, afinal o drible não é outra coisa que a criação de espaço, onde espaço não existe. Foi o que bastou para os clubes grandes realizarem um arrastão nos clubes das Ligas Negras. Contudo, a proibição de escalar jogadores negros criava um problema para técnicos e cartolas. Toda uma seleção de atletas com habilidade, porte físico e vontade de jogar bola ficava de fora dos gramados. Não demorou muito para dirigentes perceberem a vantagem competitiva que teriam caso deixassem ideologias antiquadas de lado e aceitassem atletas negros. Todavia as regras da época não permitiam que os jogadores fossem renumerados, e sem berço de ouro, os negros precisavam trabalhar não tinham tempo para gastar jogando futebol.

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A solução que os dirigentes dos clubes encontraram foi empregar nos seus negócios negros que, coincidentemente, eram bons de bola. Quem jogava bem poderia ser elevado à categoria de funcionário-fantasma. A proliferação do chamado “falso amadorismo” e do pagamento de prêmios por vitória, o “bicho”, era proibido pelos regulamentos da época, mas a enorme popularização do futebol verificada nos anos 1920, tornando-se o esporte de todas as classes sociais, levou os clubes a ignorar ou driblar as normas. A rivalidade entre os times os faria permeáveis a jogadores que, mesmo não sendo endinheirados ou brancos, pudessem ser garantia de vitória. O sucesso do Vasco em 1923 impunha às demais equipes um pacote pronto: para vencer era preciso ter negros no time. Negros precisavam de remuneração para sobreviver e jogar. Remuneração que precisava se adequar ao amadorismo vigente na época.

O aparecimento do 'operário-jogador' proporcionou aos operários a possibilidade de o esporte ser uma segunda fonte de renda, além de uma relativa mobilidade social dentro da fábrica. A prática começou então a ser vista como possibilidade de ascensão social. A tensão crescia com a difusão das gratificações do ‘profissionalismo marrom’. Em 1932 um grupo de jogadores publicou no jornal Gazeta Esportiva, um manifesto onde pediam pelo direito de exercer sua profissão de jogador de futebol. Ao clamor desses futebolistas foi se juntando também dirigentes de clubes, insatisfeitos com a situação de um “amadorismo marrom”, que não era nem amadorismo, mas também nem profissionalismo. Para tais, a profissionalização poderia transformar o esporte num espetáculo e, sobretudo assegurar a permanência dos craques nas equipes.

A adoção do profissionalismo no Brasil foi motivada por uma série de processos internos, mas ganhou força pela influência crescente do futebol estrangeiro. A Itália passou a importar jogadores sul-americanos com origens italianas, os oriundi. Já a Espanha sequer pedia uma relação familiar. A oferta financeira da Europa foi mais sentida na Argentina e no Uruguai, que com a perda massiva dos jogadores adotou a profissionalização entre os argentinos em 1931. Os países vizinhos passaram a atrair os jogadores brasileiros, em especial os negros, os mais talentosos. As ligas ainda propuseram um formato híbrido, que previa uma remuneração baixa e a manutenção do vínculo amador entre os clubes e jogadores. O amadorismo profissional foi recusado e, em 1933, São Paulo e Santos fizeram o primeiro jogo profissional.

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A profissionalização era numerosa entre os negros. Afinal, era entre eles que estavam os melhores jogadores. Com a profissionalização o futebol, muitas vezes, apresentou- se como um importante caminho de invenção de mercado para ascensão social dos negros. O primeiro grande ídolo do futebol profissional brasileiro, Leônidas da Silva levou o pagamento do bicho a outra dimensão. Leônidas é quem se pode chamar de primeiro garoto-propaganda do futebol brasileiro. Além do chocolate “Diamante Negro”, vendido até hoje, ganhou dinheiro anunciando diversos tipos de produto.

Compreendendo que os desportos, sobretudo o futebol, exercem uma função social importante, Getúlio Vargas através da legislação social e trabalhista, em 1934, regulamenta o futebol como profissão. Os atletas agora eram reconhecidos como empregados e com isso tinham toda cobertura legal, sob a égide do recém-criado Ministério do Trabalho. Para além das paixões clubistas, a democratização da prática do futebol, materializada na ascensão de jogadores negros e mestiços, permitiu que esse esporte viesse ocupar uma posição central na construção da identidade nacional. Concomitante a essa democratização o profissionalismo provocou um reflexo ainda mais profundo na sociedade. Mais do que a aproximação de classes, foi o responsável por integrar, em definitivo, aqueles que eram excluídos pela cor de sua pele.

A história da inserção do negro no futebol brasileiro é repleta de atos e atitudes racistas que não cessaram com a imensa participação e o sucesso de jogadores negros nas mais diversas equipes do Brasil e na seleção brasileira, afinal volta e meia esse racismo é reatualizado como na Copa de 1950, quando a Seleção Brasileira perdeu para os Uruguaios por 2 a 1 e a maior parte da culpa foi direcionada para os jogadores negros, em especial para o goleiro Barbosa. Ou então em 1958 quando o psicólogo da Seleção Brasileira barrou a dupla Pelé e Garrincha. E, assim, de tempos em tempos o racismo contra jogadores negros volta a se apresentar e se reatualizar sem ações de combate efetivas das entidades esportivas e com o silêncio constrangedor de clubes e atletas. Ao longo dos tempos ouve-se um grito aqui e uma ação acolá, mas precisamos de ações mais efetivas, afinal hoje o futebol no país é um esporte tipicamente popular, jogado por pessoas de origens sociais distintas. Contudo, percebido de maneiras também distintas. Para um negro pobre, com poucas oportunidades, o futebol, muitas vezes, apresenta-se como um importante caminho de invenção de mercado para sua

24 ascensão social e de sua família o que talvez seja um dos motivos do silêncio da maioria dos atletas que sofrem discriminação, mas não do silêncio e da omissão de clubes e entidades.

Precisamos avançar nos debates, medidas preventivas e ações afirmativas e que o futebol, por ser o esporte mais popular do país, consiga servir de exemplo.

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METODOLOGIA

“Se você não for cuidadoso, os jornais farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas, e amar as pessoas que estão oprimindo.” Malcolm X. (Ilustração: Desenhorama – www.desenhorama.com.br)

Para a produção deste relatório nós utilizamos a mídia nacional e internacional para a coleta de dados. Através de sistemas de monitoramento foram acompanhados e sistematizados os incidentes racistas e discriminatórios noticiados nos veículos de comunicação. Estes números podem, portanto, ser apenas um indicativo de um problema, ainda mais amplo, afinal, suspeitamos que há um grande número de casos os quais não são denunciados pelas vítimas e/ou pela imprensa.

Os resultados apresentados são referentes ao ano de 2015, de 1° de janeiro a 31 de dezembro, e são descritos como “supostos casos de racismo” sem a distinção entre racismo e injúria racial, que faz a legislação brasileira. No presente documento partimos da premissa de que os casos são julgados pelo Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD), o qual não faz distinção entre injúria racial e racismo, utilizando-se somente do termo “ ato discriminatório ”, conforme dispõe o Art.243-G do referido diploma legal:

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“Praticar ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito em razão de origem étnica, raça, sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência.”

Além dos “supostos casos de racismo” ocorridos no futebol brasileiro, o relatório apresenta alguns incidentes sucedidos em outros esportes no Brasil e com atletas brasileiros no exterior. Entretanto, na análise final, serão sistematizados apenas os casos decorrentes no futebol e no território nacional.

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MONITORAMENTO DOS CASOS

Este relatório irá apresentar casos discriminatórios sucedidos no Brasil, no futebol e em alguns outros esportes, além dos que aconteceram com atletas brasileiros no exterior. Desta forma, estão aqui descritos trinta e sete (37) casos envolvendo o futebol brasileiro; quatro (04) casos que aconteceram em outros esportes no território nacional e nove (09) casos envolvendo jogadores de futebol brasileiros que vivem no exterior ou que se envolveram em incidentes com torcidas de outros países, mas que atuam no Brasil.

Os casos aqui apresentados estão separados em dois tópicos e subdividos da seguinte forma:

1. Casos ocorridos com atletas, árbitros, dirigentes, torcedores e funcionários dos clubes, etc, em território nacional ( Ocorrências no Brasil ); • Incidentes Raciais • Incidentes Homofóbicos • Incidentes Xenofóbicos • Outros Esportes

2. Casos ocorridos com atletas brasileiros no exterior ( Ocorrências no Exterior ).

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Em muitos casos de racismo muitos são complacentes com os agressores. E a vítima acaba castigada por exigir seus direitos. (Ilustração: Desenhorama – www.desenhorama.com.br)

Ocorrências no Brasil

1. INCIDENTES RACIAIS

21/01/2015: Caso Aranha, Atleta, Santos diferentes estados do país. Após um dos F.C. jogos o atleta Douglas Costa postou uma Internet foto através da sua rede social com a Fato: Após entrar na justiça devido a camisa do seu clube de formação, o problemas trabalhistas com o clube, o Grêmio. A postagem gerou comentários atleta sofreu insultos racistas que foram racistas por parte de alguns torcedores. publicados em uma comunidade de Como terminou: Caso não foi adiante, torcedores santistas no Facebook. atleta não prestou queixa. Sem registro de Como terminou: Caso não foi adiante, ocorrência e sem identificação dos atleta não prestou queixa. Sem registro de culpados. ocorrência e sem identificação dos culpados. 14/02/2015: Caso Vitinho, Atleta, S.C. Internacional 23/01/2015: Caso Douglas Costa, Atleta, Campeonato Gaúcho - Caxias x Inter F.K. Shakhtar (Donetsk /Ucrânia) Fato: Em partida realizada na cidade de Internet Caxias do Sul (Serra Gaúcha), o repórter Fato: Em excursão pelo Brasil o clube Igor Povoa registrou um torcedor do Caxias ucraniano realizou amistosos em

29 imitando um macaco para ofender o suspensão com base no artigo 221 do atacante Vitinho, do internacional. Código Brasileiro de Justiça de Desportiva Como terminou: Caso não foi adiante, (CBJD), que prevê punição por " dar causa, atleta não prestou queixa e torcedor não por erro grosseiro ou sentimento pessoal, à foi identificado. instauração de inquérito ou processo na Justiça Desportiva ". 19/02/2015: Caso Robério Epaminondas, Preparador de Goleiros, S.C. Lucena 25/02/2015: Caso Robinho, Atleta, C.E. Campeonato Paraibano - Lucena x Santa Naviraiense Cruz de Santa Rita Campeonato Sul-Mato-Grossense – Fato: Torcedor do Santa Cruz foi acusado Corumbaense x Naviraiense de xingar de “ macaco “ o preparador de Fato: O atleta alegou ter sido vítima de goleiros do Lucena, Robério Epaminondas. injúria racial cometida por torcedores do Como terminou: O torcedor foi Corumbaense. identificado e levado para a Central de Como terminou: Por falta de provas, o Polícia, para registro da ocorrência, o qual Corumbaense foi absolvido pelo TJD em três pessoas serviram como testemunhas. caso de racismo (por 3 votos a 1). Em suas O agressor pagou fiança de R$ 400,00 e foi alegações, os jurados da Justiça Desportiva liberado. O delegado informou que o alegaram falta de provas concretas de que inquérito foi instaurado. houve racismo, ou ao menos injúria racial, que pudesse fazer com que o clube fosse 22/02/2015: Caso Érico Araújo, Segurança, punido. S.C. Internacional Campeonato Gaúcho - São Paulo/RG x 11/03/2015: Caso Arouca, Atleta, S.E. Internacional Palmeiras Fato: A Brigada Militar presente no jogo Internet prendeu um torcedor da equipe de Rio Fato: Torcedor santista posta mensagem Grande, por injúrias raciais. O sujeito havia ofensiva contra o jogador na rede social. xingado um segurança da delegação “Chupa preto safado, fica nesse time ai de colorada com palavras de cunho racista. O segunda! ”. árbitro Francisco da Silva Neto registrou Como terminou: Caso não foi adiante, em súmula o caso de injúria. atleta não prestou queixa. Ministério Como terminou: Caso não foi adiante e Público manifestou-se via Twitter vítima não prestou queixa. Alegando prometendo encaminhar denúncia contra ausência de testemunhas no momento do o torcedor. registro, o Delegado não lavrou o flagrante e liberou o torcedor, embora o mesmo 15/03/2015: Caso Vitinho, Atleta, S.C. tivesse admitido a injúria no momento da Internacional prisão aos policiais. Na frente do Delegado, Campeonato Gaúcho - Brasil/Pel x o agressor negou o fato. Internacional Fato: O atacante Vitinho procurou a 22/02/2015: Caso Júnior Paraíba, Atleta, imprensa para relatar ofensas racistas que URT - União Recreativa dos Trabalhadores recebeu enquanto aquecia, atrás de um - URT x Vila Nova dos gols, durante o segundo tempo. Fato: O atleta afirmou que o árbitro da Segundo o jogador, palavras como partida, Ronei Cândido Alves, o chamou de “macaco” e ofensas a sua mãe foram “macaco ”. ouvidas. Como terminou: O atleta Júnior Paraíba Como terminou: Caso não foi adiante, decidiu não fazer Boletim de Ocorrência atleta não prestou queixa. Sem registro de (B.O.) contra o árbitro. Para o TJD da ocorrência e sem identificação dos Federação Mineira de Futebol, o árbitro foi culpados. absolvido. Já o atleta pegou um jogo de

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28/03/2015: Caso Alberto, Atleta, Fato: O coordenador técnico do Interporto F.C. Bandeirante, Hélio Geraldo, alegou ter Campeonato Tocantinense - Guaraí x sofrido ofensas racistas do árbitro Éderson Interporto Martins Deodato. A confusão foi registrada Fato: Torcedores proferiram insultos na súmula. racistas ao zagueiro Alberto. Como terminou: O caso não foi levado Como terminou: O Guaraí foi multado em adiante. O Delegado disse que foi tudo um R$ 500,00 pelo TJD. mal entendido, que ninguém seria incriminado e pediu para que ambos se 01/04/2015: Caso Elias, Atleta, S.C. desculpassem. Corinthians Paulista Copa Libertadores da América - Corinthians 20/04/2015: Caso Jemerson, Atleta, C. x Danúbio Atlético-MG Fato: Por volta dos 20 minutos do primeiro Internet tempo, o jogador Elias bateu boca com Fato: Em uma foto postada ao lado do Gonzalez e saiu reclamando de racismo por atacante Lucas Pratto, em uma rede social, parte do lateral do time uruguaio. um usuário fez comentários racistas, Como terminou: Caso não foi adiante, ofendendo Jemerson. atleta não prestou queixa. Como terminou: Caso não foi adiante, atleta não prestou queixa. Sem registro de 01/04/2015: Caso Fabrício, Atleta, S.C. ocorrência e sem identificação do agressor. Internacional Campeonato Gaúcho - Inter x Ypiranga 28/04/2015: Caso Luis Paulo Oliveira, Fato: Com base em vídeo-denúncia o TJD Atleta, C. Esportivo Bento Gonçalves abriu inquérito por suposta ofensa racista Divisão de Acesso Gaúcho - Nova Prata x dirigida ao atleta. Esportivo Como terminou: O Tribunal de Justiça Fato: O jogador do Esportivo, Luis Paulo Desportiva, da Federação Gaúcha de Oliveira afirmou em seu perfil no Facebook Futebol, absolveu por unanimidade o clube ter sido vítima de injúria racial durante a das acusações de injúria racial no Caso partida entre Nova Prata x Esportivo. Fabrício. O próprio jogador afirmou não ter Conforme a postagem do volante, as escutado nenhum insulto racista. agressões verbais teriam partido de um torcedor idoso do clube adversário 19/04/2015: Caso Amaral, Atleta, presente na tela de proteção do campo. No Francisco Beltrão F.C. entanto, mesmo o atleta tendo informado - Francisco ao árbitro da partida, Anderson da Silveira Beltrão x Pato Branco Farias, o caso não foi relatado na súmula Fato: Um torcedor do Pato Branco chamou do jogo. o volante Amaral de “ macaco ” durante a Como terminou: Até o momento do partida e foi preso pela Polícia Militar. fechamento deste relatório, não obtivemos Como terminou: Após identificado e informação sobre o desdobramento do conduzido à delegacia, juntamente com o caso. atleta e outras testemunhas, o torcedor foi preso, mas pagou fiança de R$ 800,00 e foi 03/05/2015: Caso Torcedor Gremista, liberado. Vai responder em liberdade o Grêmio FBPA processo por injuria racial. Campeonato Gaúcho - Internacional x Grêmio 19/04/2015: Caso Hélio Geraldo, Fato: Torcedor gremista é flagrado em Coordenador Técnico, Bandeirante E.C. suposta imitação de macaco a torcida - Osvaldo Cruz x colorado, no Gre-Nal realizado no Beira- Bandeirante Rio, pela final do Campeonato Gaúcho.

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Como terminou: TJD-RS considerou o vídeo Fato: Torcedor é detido acusado de que apresentava um torcedor, chamar atacante Miullen, do Corinthians, supostamente imitando um macaco, de “ macaco ”. insuficiente para denunciar o Grêmio por Como terminou: Torcedor acusado de injúria racial. proferir insultos racistas foi detido, interrogado e liberado. Boletim de 13/05/2015: Caso Eduardo Costa, Atleta, Ocorrência registrado. Avaí F.C. – Figueirense x Avaí 15/07/2015: Caso Funcionária do Inter, Fato: O atleta Eduardo Costa, do Avaí, S.C. Internacional acusa o técnico Argel Fucks de chamá-lo de Copa Libertadores da Ámerica – macaco nojento. Internacional x Tigres Como terminou: Jogador registrou Boletim Fato: Mulher que trabalhava na orientação de Ocorrência (B.O.). Em julgamento no do público afirmou ter sido agredida com a STJD Eduardo Costa foi penalizado com frase: " Suas negrinhas, vocês não deveriam cinco partidas de suspensão pelo soco estar aqui ", por torcedor colorado. desferido no rosto do técnico Argel Fucks, Como terminou: Com o apoio de do Figueira. O ato de racismo não foi testemunhas vítima registrou Boletim de julgado. Ocorrência.

20/05/2015: Panda, Atleta, Treze F. C. 25/07/2015: Caso Rhayner, Atleta, E.C. Campeonato Paraibano – Botafogo-PB x Vitória Treze Campeonato Brasileiro, Série B – Náutico x Fato: O gerente de futebol do Treze, Joba Vitória Barbosa (Panda), e jogadores do rival Fato: Alegando ter visualizado gestos Botafogo-PB acusaram o auxiliar de racistas, o jogador Rhayner, atleta do arbitragem Sousa Júnior de ter cometido Vitória, faz gestos obscenos para torcida do injúria racial contra Panda. Náutico, justificando que perdeu a cabeça. Como terminou: Como medida preventiva Como terminou: Atleta se desculpou a Federação Paraibana de Futebol afastou através de seu perfil em Rede Social pelos por tempo indeterminado o auxiliar de gestos obscenos. Caso não foi adiante, arbitragem, até que os fatos sejam ninguém prestou queixa e sem registro de apurados. Não encontramos a decisão ocorrência. definitiva. 06/09/2015: Caso Fred Nelson, Dirigente, 28/06/2015: Torcedor do Londrina, C. Andraus Brasil Londrina E.C. Taça FPF (Federação Paranaense de Campeonato Brasileiro, Série C – Brasil-PEL Futebol) – Andraus x Maringá x Londrina Fato: Após muita confusão e discussão, o Fato: Torcedor do Londrina é flagrado diretor do Andraus, Fred Nelson, disse ter supostamente imitando macaco. sido ofendido pelo árbitro com as Como terminou: O Londrina Esporte Clube seguintes palavras: “ Sai daqui, seu preto, foi absolvido em julgamento da Quinta macaco ”. Comissão Disciplinar do Superior Tribunal Como terminou: Boletim de Ocorrência de Justiça Desportiva (STJD) das supostas registrado. Em julgamento o TJD-PR acusações de racismo praticadas por um condenou dirigente Nadim Andraus, do torcedor alviceleste. Andraus, por 660 dias e multa de aproximadamente R$ 60 mil, pela confusão 12/07/2015: Caso Miullen, Atleta, S.C. na partida. Suposto caso de racismo não foi Corinthians Paulista julgado. Taça BH Sub-17 - S. E. Guaxupé x Corinthians

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13/09/20105: Caso Jogadores do Fato: Usuários do Twitter denunciaram Corinthians, S.C. Corinthians Paulista Caio Blois de utilizar termos racistas em Internet suas postagens mais antigas (entre 2011 e Fato: Os jogadores do Corinthians (Wagner 2014) contra a torcida do Flamengo. Love, Gil, Elias e Malcon) foram ofendidos Como terminou: Jornalista pediu desculpa via Twitter por internauta. pelas postagens através de seu perfil na Como terminou: Caso não foi adiante, rede social. Sem registro de ocorrência, atletas não prestaram queixa. Sem registro caso não foi adiante. de ocorrência e sem identificação do agressor. 03/10/2015: Caso Kanu, Atleta, E.C. Vitória 16/09/2015: Caso Brinner, Atleta, Macaé Internet E.F.C. Fato: Internauta escreveu um comentário Campeonato Brasileiro, Série B – racista contra o zagueiro Kanu, do Vitória, Bragantino x Macaé no Facebook. Fato: Zagueiro Brinner, do Macaé, acusa Como terminou: Caso não foi adiante, torcedores do Bragantino de proferir atleta não prestou queixa. Sem registro de xingamentos racistas. ocorrência e sem identificação do agressor. Como terminou: Atleta registrou Boletim de Ocorrência e árbitro registrou o 14/10/2015: Caso Allano, Atleta, Cruzeiro incidente em súmula. Não encontramos E.C. informações sobre o julgamento do STJD. Internet Fato: Internauta publicou em seu perfil no 27/09/2015: Caso Diego Lima, Atleta, Facebook ofensas racistas onde dizia: Central S.C. “Allano não comeu banana. Tá fraco. ”. Campeonato Brasileiro, Série D – Como terminou: Caso não foi adiante, Lajeadense x Central atleta não prestou queixa. Sem registro de Fato: Em Rede Social, o atleta Diego Lima ocorrência sem identificação do agressor. diz ter sido vítima de injúria racial durante o jogo entre Lajeadense x Central, pelos 18/10/2015: Caso Cassiano, Atleta, torcedores do time local. Árbitro relatou o Gwangju F.C. (Coréia do Sul) episódio em súmula. Internet Como terminou: Caso não foi adiante, Fato: O atleta Cassiano foi vítima de atleta não prestou queixa. Sem registro de insultos racistas por um internauta ocorrência e sem identificação do agressor. brasileiro em sua conta no Instagram. Sem atuação do TJD. Como terminou: Atleta se manifestou em rede social que levaria o caso adiante. 01/10/2015: Caso Sebastião Fernandes, Entretanto não temos informação de Arbitragem (bandeira) registro de ocorrência e/ou punição ao Série A da Liga Josefense – SC – Ipiranga x agressor. Americano Fato: Sebastião Fernandes alega que sofreu 18/10/2015: Caso Adriano, Atleta, uma injúria racial de uma torcedora entre Figueirense-MG E.C. os torcedores do Americano. Campeonato Mineiro – Figueirense-MG x Como terminou: Torcedora foi Formiga identificada, Boletim de Ocorrência Fato: O atleta informou que um torcedor registrado. do Formiga o chamou de " macaco " e "crioulo ". Adriano falou com o árbitro, que 03/10/2015: Caso Caio Blois, Jornalista, parou o jogo, chamou a Polícia Militar e ESPN registrou o incidente em súmula. Internet

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Como terminou: Atleta registrou Boletim grito de " bicha " uníssono da torcida do de Ocorrência, contudo a Policia Militar Palmeiras. não identificou o agressor. Como terminou: Caso não foi levado a diante por nenhuma parte.

01/11/2015: Caso Michel Bastos, Atleta, São Paulo F.C. 3. INCIDENTES XENOFÓBICOS Internet Fato: O atleta Michel Bastos postou uma 20/08/2015: Caso “Paysandu” mensagem em que é chamado “de Copa do Brasil – Fluminense x Paysandu macaco” por um de seus seguidores no Fato: Em postagem na internet paraenses Instagram. são chamados de animais e índios por Como terminou: Jogador entrou com uma torcedores cariocas. queixa no DECREDI (Delegacia de Crimes Como terminou: Caso não foi adiante, Raciais e Delitos de Intolerância) contra a clube não prestou queixa. Sem registro de torcedora que foi identificada nas redes ocorrência e sem identificação do agressor. sociais, assim como seu endereço residencial, e o inquérito foi aberto para apuração. A torcedora foi denunciada por 4. OUTROS ESPORTES injúria racial. Processo segue em andamento. 27/01/2015: Caso Fabiana, Atleta, Sesi-SP Vôlei – Minas x Sesi-SP 07/11/2015: Caso Dante, Atleta, Fato: Fabiana Claudino, central do Sesi-SP Wolfsburg (Alemanha) e capitã da seleção brasileira, revelou ter Internet sido vítima de insultos racistas na derrota Fato: O zagueiro Dante, do Wolfsburg, foi da sua equipe para o Minas. Torcedor alvo de ataques racistas nas redes sociais proferia as expressões “ macaca quer acusado de ter “entregado” a Copa de banana ”. 2014 para a Alemanha. Como terminou: Torcedor foi identificado Como terminou: Caso não foi adiante, e encaminhado para delegacia, porém atleta não prestou queixa alegando não atleta decidiu não entrar com ação jurídica. querer dar voz a “esse tipo de gente”. Sem Caso não foi adiante. registro de ocorrência e sem identificação do agressor. 14/03/2015: Caso Torcedor do São José Basquete – São José X Mogi das Cruzes Fato: Torcedor do São José é acusado de 2. INCIDENTES HOMOFÓBICOS gestos discriminatórios e de chamar atletas do Mogi das Cruzes de "macacos " depois 25/03/2015: Caso Rogério Ceni, Atleta, da partida. São Paulo F.C. Como terminou: Caso não foi adiante, Campeonato Paulista - Palmeiras x São clube não prestou queixa. Sem registro de Paulo ocorrência. Fato: A cada tiro de meta cobrado pelo goleiro são-paulino era possível ouvir o

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Um vídeo gravado por integrantes da seleção brasileira de Ginástica Artística mostra membros da equipe fazendo brincadeiras de mau gosto com o colega Ângelo Assumpção, campeão da etapa da Copa do Mundo de Ginástica em São Paulo. (Foto: Paulo Pinto/ Fotos Públicas)

15/05/2015: Caso Ângelo Assumpção, 07/10/2015: Caso Fernanda Isis, Atleta, Ginasta, Seleção Brasileira Bauru Ginástica Artística – Seleção Brasileira Vôlei – Campeonato Paulista - Uniara x Fato: O atleta negro da Seleção Brasileira Bauru de Ginástica Artística, Ângelo Assumpção, Fato: A torcida do Uniara proferiu ofensas foi alvo de piadas racista pelos seus racistas a Fernanda Isis, atleta do Bauru, companheiros da seleção brasileira. expressões como “ bunda de macaco ” foram direcionadas a atleta. Como terminou: A Federação Paulista de Como terminou: A Confederação Brasileira Vôlei disse que não incluiu os eventos na de Ginástica (CBG) afastou todos os atletas súmula, pois o mesmo, segundo a envolvidos por 30 dias e os mesmos entidade, ocorreu fora do ginásio, no tiveram suas bolsas do Governo Federal estacionamento do local. Caso não foi suspensas pelo mesmo período. O STJD adiante, clube não prestou queixa. Sem não abriu denuncia contra os acusados registro de ocorrência. alegando que o fato ocorreu fora da competência do tribunal.

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Ocorrências no Exterior

26/01/2015: Caso Marcos Guilherme, 25/04/2015: Caso Neymar, Atleta, F.C. Atleta, Seleção Brasileira Barcelona/ESPANHA Campeonato Sul-Americano Sub-20 - Brasil Campeonato Espanhol - Espanyol x x Uruguai Barcelona Fato: Em jogo contra o Uruguai, o jogador Fato: A TV espanhola acusou torcida do Marcos Guilherme disse que foi chamado Espanyol de racismo contra Neymar. de “ macaco ” pelo atacante uruguaio, Como terminou: Apesar da Liga ter Facundo Castro. denunciado o Espanyol por racismo a Como terminou: Após consultar seu Neymar e a Dani Alves e por causa de mais departamento jurídico, a CBF descartou nove cantos discriminatórios de sua apresentar qualquer denúncia pelo torcida, o clube não sofreu punição. episódio. 18/08/2015: Caso Wendell, Atleta, Bayer 01/02/2015: Caso Torcedor no Sul- 04 Leverkusen/ALEMANHA Americano, Seleção Brasileira Champions League - Lazio X Bayer Campeonato Sul-Americano Sub-20 - Brasil Leverkusen x Argentina Fato: O brasileiro Wendell e o alemão Fato: Câmera de TV flagrou um torcedor na Johnathan Tah foram o alvo de cânticos de arquibancada do Estádio Parque Central, teor racial por parte da torcida italiana da de Montevidéu, chamando os jogadores Lazio, no Estádio Olímpico. brasileiros de “ macaco ” durante o jogo Como terminou: Caso não seguiu adiante. contra a Argentina. Como terminou: Caso não seguiu adiante. 26/09/2015: Caso Hulk, Atleta, F.C. Zenit St. Petersburg/RÚSSIA 07/02/2015: Caso Jogadores reservas da Campeonato Russo – Spartak Moscou x Seleção, Seleção Brasileira Zenit Campeonato Sul-Americano Sub-20 - Brasil Fato: Atacante Hulk acusa a torcida do x Colômbia Spartak Moscou de ofensas a ele. Fato: O goleiro reserva da seleção Como terminou: O Comitê Disciplinar da brasileira acusou um torcedor uruguaio de Federação Russa de Futebol informou que tê-lo chamado de " macaco ". Segundo os as ofensas racistas não foram registradas jornalistas que trabalhavam na partida, a na súmula da partida. Caso não seguiu polícia local identificou o agressor. adiante. Como terminou: Caso não seguiu adiante. 26/10/2015: Caso Nikão, Atleta, C. 15/03/2015: Caso Hulk, Atleta, F.C. Zenit Atlético Paranaense St. Petersburg/RÚSSIA Internet Campeonato Russo – Torpedo Moscou x Fato: O meia Nikão, do Atlético-PR, foi Zenit comparado a um macaco em uma Fato: Hulk ouviu imitações de macaco por montagem publicada no Facebook pelo parte dos torcedores do Torpedo Moscou, grupo "La Voz del Hincha Luqueño", em várias oportunidades quando tocava na formado por torcedores do clube bola. paraguaio Sportivo Luqueño. Como terminou: O Torpedo Moscou foi Como terminou: A esposa do atleta deu punido em jogar duas partidas sem público entrevista prometendo levar o caso à e teve que pagar uma multa de € 3,3 mil justiça, contudo não encontramos (aproximadamente R$ 11 mil). informações se o caso foi adiante. Como a discriminação aconteceu no Paraguai, a justiça brasileira não tem poder de ação.

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22/12/2015: Caso Neymar, Atleta, F.C. possivelmente do clube merengue, Barcelona/ESPANHA republicou a imagem comentando e Internet comparando Neymar a um macaco, em Fato: O jogador do Real Madrid, James post considerado racista e ofensivo. Rodríguez, postou uma foto sua segurando Como terminou: Caso não foi adiante. um macaco no colo. Um torcedor, Torcedor apagou a publicação.

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ANÁLISE ESTATÍSTICA DAS OCORRÊNCIAS NO BRASIL

ANÁLISE GERAL: Foram relacionados quarenta e um (41) casos discriminatórios no território nacional, sendo que trinta e sete (37) casos ocorreram relacionados ao futebol e quatro (04) relacionados a outros esportes.

Dos trinta e sete (37) casos relacionados com o futebol, trinta e cinco (35) estão atrelados a discriminação racial, um (01) com homofobia e outro (01) com xenofobia.

LOCAIS DOS INCIDENTES: Das trinta e cinco (35) ocorrências relacionadas como “supostos casos de racismo”, vinte e quatro (24) ocorreram dentro dos estádios e onze (11) casos ocorreram pela Internet.

ESTADOS: Pelo segundo ano consecutivo, o Estado do Rio Grande do Sul (RS) foi o que apresentou o maior número de incidentes, com nove (09) casos, aumento de 80% em relação a 2014. Ao todo nove (09) estados nacionais tiveram registros de algum incidente racial, redução de dois (02) estados em relação ao ano anterior. Comparando com os estados apresentados no levantamento de 2014, além do RS, apenas outros cinco (05) foram reincidentes, sendo eles: São Paulo (SP), Santa Catarina (SC), Paraná (PR), Paraíba (PB) e Minas Gerais (MG).

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Os casos identificados como ocorrências via internet não foram classificados neste item de identificação entre estados, pois a ofensa pode ter origem em qualquer lugar do mundo. Sendo assim, a análise em questão está relacionada apenas aos 24 incidentes que ocorreram dentro dos estádios e que foram identificados como “supostos casos de racismo”.

SITUAÇÃO DOS CASOS: A situação dos 35 casos em questão, até o fechamento deste relatório, tiveram as seguintes apurações:

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• Dois (02) casos foram julgados pelo STJD*; • Seis (06) casos foram julgados pelo TJD*; • Dezessete (17) casos não originaram registros de ocorrência do fato na polícia; • Dez (10) casos tiveram registro de Boletim de Ocorrência (B.O.)*; • Um (01) sem informação encontrada; • Um (01) caso com punição preventiva.

*OBS: Dois casos foram julgados pela Justiça Desportiva e foram registrados o Boletim de Ocorrência.

CASOS ENCAMINHADOS À JUSTIÇA DESPORTIVA: Dos oito (08) casos encaminhados, dois (02) não foram objetos de decisão pela Justiça Desportiva:

STJD (02) TJD (06) 01 Clube Absolvido da acusação de racismo 01 Clube punido por racismo 01 Caso de racismo não julgado 03 Clubes absolvidos da acusação de racismo 01 Punido a vítima por denuncia inverídica e árbitro absolvido 01 Não julgou o caso de racismo

3Dentro deste universo temos um (01) caso no qual o denunciante/vítima pegou um jogo de suspensão com base no artigo 221 do Código Brasileiro de Justiça de Desportiva (CBJD), que prevê punição por " dar causa, por erro grosseiro ou sentimento pessoal, à instauração de inquérito ou processo na Justiça Desportiva ".

CASOS COM REGISTRO DE BOLETIM DE OCORRÊNCIA: Dos 10 casos com registro de Boletim de Ocorrência, em apenas dois (02) o agressor foi preso, identificado e liberado após o pagamento de fiança. Importante destacar que nos casos onde ocorre o registro do B.O., as partes são ouvidas, mas o delito de injúria racial depende da representação da vítima, e por se tratar de processo criminal não conseguimos informação de seu andamento, nem sequer se houve distribuição de ação penal.

PUNIÇÕES APLICADAS: Dos 35 casos de “suposto caso de racismo” em apenas um (01) houve punição pelo TJD por ato discriminatório. Em outros dois (02) casos o agressor foi preso, identificado e liberado pela polícia após pagamento de fiança. Já em um (01) caso, a Federação local suspendeu preventivamente o acusado. Nos demais casos de suposto racismo não houve punição ao agressor em nenhuma esfera.

3 Caso Júnior Paraíba 40

Atos racistas e atitudes preconceituosas representam um sério retrocesso a democratização do esporte. (Ilustração: Desenhorama – www.desenhorama.com.br)

ANÁLISE DO RELATÓRIO

O CONTEXTO DOS INCIDENTES RACIAIS E OS DESAFIOS AO SEU ENFRETAMENTO

Edilson Nabarro - Sociólogo 4

O Relatório 2015, do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, mesmo perseguindo os mesmos objetivos, externados no Relatório de 2014, objetiva agora destacar outras dimensões adjacentes às ocorrências e incidentes, que compõem o quadro explícito do preconceito e das intolerâncias, capturados pelo Observatório. Denunciar o racismo no futebol, nessa presente análise significa, ultrapassar, em primeiro lugar, o espaço geográfico dos incidentes e a personalização das vítimas, visualizando as origens presentes e remotas da “naturalização“ da intolerância e violência nas praças esportivas do Brasil e do Mundo, e em segundo situar esses fenômenos no contexto de uma conjuntura mundial marcada por grandes e permanentes conflitos entre grupos nacionais e religiosos, onde a cultura da paz se vê cada vez mais derrotada. E por último identificar as agendas e iniciativas construídas para o combate ao racismo que foram esboçadas bem como, os desafios já enfrentados no enquadramento aos marcos legais dos crimes efetuados.

4 Sociólogo (UFRGS), Mestrando em Economia (UFRGS). Diretor da Coordenadoria de Ação Afirmativa (UFRGS), Militante do Movimento Negro. 41

A dimensão dos incidentes registrados na investigação 2015 é semelhante aos de 2014, e mesmo que a maioria dos mesmos ocorressem no Brasil, indica que no período coberto pelas observações, nas praças esportivas e os ambientes vinculados com o futebol em várias partes do mundo e sob diversas formas esses incidentes se multiplicaram. Trata-se, pois, de um agravamento das intolerâncias envolvendo a origem étnica dos atletas, sejam eles em que hierarquia de prestígio esteja. Se for verdade, que incidentes envolvendo atletas famosos, como Neymar, por exemplo, possuem uma repercussão midiática mais intensa, bem como dinamizam um debate que ignora os componentes esportivos do fato, direcionando-se para a questão do racismo e das intolerâncias, o Observatório fez registros de incidentes no Brasil, ocorridas nas modernas arenas esportivas, bem como nos mais humildes estádios de campeonatos amadores. Além dos atletas outros agentes envolvidos com o futebol também foram vitimados, como juízes e dirigentes.

Constata-se que há um elemento comum aos incidentes de racismo, seja no Brasil como no exterior, e o “Caso Neymar” passa a ser paradigmático para essa análise. Houve a convergência de dois fatores, os insultos vieram dirigidos de coletividade de torcedores e tiveram como símbolo depreciativo a simbologia do macaco ou expressões análogas, com o intuito de inferiorizar as pessoas a partir de sua origem racial. Em se tratando de uma personalidade pública de grande prestígio, Neymar não ficou imune ao incidente racista, pois o seu prestígio esportivo não protegia sua condição de indivíduo negro. A trilha do racismo e do preconceito percorre a trilha que mais interessa a estratégia de perpetuação da ideologia do supremacismo branco.

No Brasil, segundo o Relatório 2015, os 34 incidentes registrados ocorreram em 14 estados, sendo que 50% dos mesmos ocorreram no RS, PR, SP e MG. Como a grande maioria dos incidentes ocorreram dentro dos estádios, caberá o registro de que dois fatores poderão estar contribuindo para essa liderança: o histórico de violência e intolerância das torcidas organizadas e o perfil étnico de sua população. Em relação a primeira dimensão, vimos que os incidentes racistas ocorrem em um contexto do aumento de outras modalidades de violência, como a briga de torcidas que nos últimos anos causou mais de uma centena de mortes. Os slogans racistas, são produzidos no interior das facções de torcedores e em muitos casos com a absoluta

42 cumplicidade dos dirigentes esportivos, bem como das próprias Federações esportivas. No tocante, ao perfil étnico, o RS, detém o maior número de incidentes registrados (9) e onde a participação de Pretos e Pardos é de apenas 16%. O incidente racista, envolvendo o Árbitro Márcio Chagas, de grande repercussão na imprensa, ocorreu em uma cidade gaúcha de hegemônica origem italiana. Conforme o árbitro, esse incidente foi o mais grave de outros ocorridos naquela região. Essa constatação, no entanto, não autoriza qualquer afirmativa de que nos estados, onde haja uma grande maioria populacional de negros, incidentes racistas tendem a terem menor potencial de ocorrência.

As várias iniciativas que estão sendo realizadas no combate ao racismo no futebol, devem, conforme já mencionado estar conectado com os fatores históricos e estruturais que motivam os comportamentos de violência e intolerância. As ações decorrentes das agendas de promoção da cultura da paz nos estádios e da redução dos incidentes racistas serão inócuas se não houver uma pressão organizada sobre o sistema de punição dos infratores. Nesse sentido, é preciso referir-se a existência dos inúmeros tratados humanitários de combate às discriminações, no qual o Brasil é signatário. E sobre essas questões que passaremos analisar.

O Brasil possui o maior contingente de população negra fora dos países do Continente Africano. A presença dos africanos, capturados na África para viabilizar o projeto econômico colonial, inaugurou um dos sistemas escravistas mais duradouros e perversos da história. Foram milhões de negros que morreram sob a ação do açoite e das torturas. Contudo, o ciclo da cana de açúcar, da mineração e do café se serviram do braço dos escravos para produzir as pré-condições para a acumulação de riquezas do país. Essas riquezas abocanhadas por poucos e com a aquiescência dos governos coloniais e da 1ª República instituíram a geração dos “coronéis” e dos “barões do café”, que dominaram por muitas décadas o poder político do estado brasileiro.

É neste contexto, que a sociedade brasileira estruturou todo o sistema de desigualdades raciais, sociais e econômicas. A Abolição da Escravidão, apesar do ato humanitário de abolir a formalidade do vínculo laboral, institucionalizou a discriminação racial, pois não ofereceu nenhuma possibilidade de integração dos ex-

43 escravos na sociedade brasileira. Pelo contrário, estipulou os critérios e valores que passariam a ser adotados pelo desenvolvimento nacional e sob a égide do trabalho livre.

O estímulo a imigração de trabalhadores não-nacionais, notadamente de alemães e italianos, sinalizou com a “cor do trabalho”. Essa “eugenia do mundo do trabalho” combinado com a “Lei de Terras” de 1850, sentenciou a população negra para a condição de “não proprietário” impedindo qualquer possibilidade de mobilidade social de toda uma geração de ex-escravos.

Vimos, portanto, que a cadeia de fortalecimento do preconceito, racismo e discriminação da população negra foi sistematizada para com base na cor das pessoas estipular as pré-condições para acesso a direitos e oportunidades.

O cineasta e professor Joel Zito de Araújo, na sua obra “Negação do Brasil” que trata da participação dos negros na televisão brasileira, lança um libelo acusatório sobre as formas estereotipadas pelo qual o discurso televiso reproduz as desvalorização do lugar e da participação do negro na sociedade. Esse Brasil que não quer se ver, nega a formação multiétnica da sociedade brasileira, impondo um padrão estético/cultural dissociado da realidade.

A negação do Brasil tem sido sustentada pelas virtudes colonizadoras dos imigrantes, em detrimento da aceitação e reconhecimento da importância das outras étnicas, negros e índios, em especial, na construção de uma identidade nacional. Não podemos esquecer que a crença no supremacismo biológico e cultural dos brancos, foi o substrato da ideologia que justificou a escravidão negra e promoveu a “coisificação” de seres humanos arrancados da África. A naturalização dessa crença nada mais é do que a banalização das condutas preconceituosas que percorrem todos os espaços privados e públicos e os eventos de grandes massas, como é o caso do futebol. Nesse sentido, parece que o Brasil envergonhado é o Brasil miscigenado e o outro Brasil é a negação do Brasil.

É paradoxal, no entanto, observar que as condutas preconceituosas e atitudes racistas em relação ao negro no futebol, constitui-se em sério retrocesso à própria

44 contribuição que os jogadores negros deram à democratização das relações sociais no campo do esporte e na construção de uma identidade nacional construtiva.

Esse aspecto, mereceu uma análise do cientista político e professor da Universidade Federal Fluminense Luis Fernandes, quando do lançamento da 4ª Edição da obra clássica de Mário Filho “O Negro no Futebol Brasileiro”, editada inicialmente em 1947.

Registrava Fernandes:

“Para além das paixões clubísticas, a democratização da prática do futebol, materializada na ascensão de jogadores negros e mestiços, permitiu que esse esporte viesse a ocupar posição central na construção da identidade nacional. Na ausência de um maior envolvimento brasileiro em guerras – matéria prima para a construção de fronteiras de identidade na formação dos estados nacionais unificados na Europa – o futebol forneceu um simulacro de conflito bélico para o qual era possível canalizar emoções e construir sentidos de pertencimento nacional.....” “.....em oposição ao racismo aberto das velhas oligarquias, o novo discurso oficial passou a valorizar a mestiçagem, associando-a aos sucessos de uma “escola brasileira” de futebol que expressaria a nossa singular maneira de ser no mundo( marcada pela criatividade, flexibilidade, informalidade e sensibilidade plástica).

É possível, a partir dessa perspectiva, concluir que tudo aquilo que foi construído para valorização do esporte como patrimônio cultural do Brasil estará ameaçado, sem que haja ações imediatas para resgatar o valor da diversidade e a guerra benéfica das emoções .

Especificamente em relação ao racismo no futebol, a escala de denúncias no plano nacional e internacional tem merecido da mídia, dos ativistas de direitos humanos e de vários setores da sociedade preocupação cada vez maior, seja pelos efeitos lesivos que produzem na subjetividade, autoestima, direitos e dignidades das vítimas, seja por um padrão de impunidade, desastroso para as condições de reversão dessas práticas.

As entidades futebolísticas brasileiras são as organizações públicas de maior apelo popular. São milhões de fanáticos torcedores que durante o calendário esportivo ouvem rádio, assistem televisão e vão aos estádios. As consequências dessa paixão,

45 em recorrentes casos tem ultrapassado o domínio do esporte e ingressado na esfera policial e criminal. Instâncias próprias do ministério público e das áreas de segurança estão sendo mobilizadas para acompanhar e estabelecerem procedimentos de controle e punição dos infratores, os quais se reproduzem de maneira incontrolável. As modalidades de celebrações nos estádios, que antes expressavam as tradicionais rixas entre as torcidas, evoluíram para ofensas, cânticos racistas, brigas entre facções “amigas”, confrontos pactuados via internet, perseguições a torcedores indefesos. Os descontentamentos com a performance dos clubes, transformaram-se em agressões a atletas e dirigentes, a depredações de dependências do clube e ameaças de morte. Lesões corporais e homicídios entraram na lista de crimes associados ao futebol.

Como consequência, os gastos públicos e das entidades futebolísticas com as consequências das turbulências nos estádios e fora dele, já estão incorporados aos balanços anuais ou são inesperadamente contabilizados, como é o caso das multas aplicadas (vejamos o recente caso do Esportivo). Sistemas de segurança privado e individuais já estão institucionalizados como indispensáveis à manutenção da ordem. Ora estamos diante de uma específica guerrilha urbana vinculada com a “paixão brasileira”, que é o futebol.

Especificamente em relação ao racismo no futebol do Rio Grande do Sul, cabem considerações particulares. E sirvo-me do caso “Márcio Chagas” registrado no Relatório de 2014, para ir convergindo com as metas que o Observatório persegue.

Trata-se de um episódio que assumiu um impacto significativo, posto, tanto o grau de ostensividade e violência do ato, como pela exemplar (e difícil) iniciativa da vítima e sua condição de homem público.

Inicialmente não tratou-se de ato isolado, exceção a regra ou conflito de baixa intensidade. Se não é toda a sociedade que é racista, não são poucos, são numerosos e a ocorrência de práticas diretas ou indiretas que produzem estigmatizações, preconceitos e discriminações contra os negros estão no cotidiano das relações raciais no Brasil e só não são denunciadas e publicizadas, tanto pela crença das vítimas no vigor da impunidade e nas tentativas de desqualificações das vítimas e minimização dos danos. Não por acaso, o advogado do Esportivo, referiu-se que o ato não ocorreu

46 nas dependências do clube, o que poderia ensejar, transformar a vítima em ré, por falsidade ideológica. Essa tem sido uma das estratégias e manutenção do racismo.

Em relação a impunidade, percebemos que há toda uma hierarquia de cumplicidade com o convívio com práticas racistas. As organizações e aí incluem as entidades esportivas nada fazem para impor códigos e protocolos de condutas aos seus agentes ou torcedores na perspectiva da consolidação de uma cultura da paz e respeito às diversidades. As desculpas esfarrapadas são travestidas de pedidos de desculpas ou a clássica afirmação de que "não pactuamos e nem incentivamos tais práticas". Contudo nada fazer para restaurar as lesões produzidas nas vítimas. Hédio da Silva Júnior, eminente jurista negro, em sua obra "Anti-Racismo - Coletânea de Leis Brasileira”, registra que o racismo institucional e o imobilismo pela sua desconstrução está sustentado no "princípio do não racismo", isto é as organizações se omitem de tomar medidas concretas, pois reduzem a ocorrência do racismo, bem como suas responsa- bilidades, indicando tratar-se de desvios individuais de conduta, é que portanto, as instituições nada podem fazer. Podem sim, primeiro, prevenir com a sinalização de que racismo é crime, segundo, estimular as vítimas a denunciarem através de procedimentos internos, terceiro estabelecer os procedimentos de investigação e punição.

As reações de vários setores da sociedade contra a persistência da impunidade para casos com esse nível de gravidade, indicam que nem tudo está perdido, contudo antes da construção de um clima de euforia, é bom que buscamos a identificação dos fatores de manutenção do racismo que não serão afetados por “punições exemplares”. A negação do Brasil tem sido sustentado pelas virtudes colonizadoras dos não-negros, em detrimento da aceitação e reconhecimento da importância das outras étnicas, negros e índios, em especial, na construção de uma identidade nacional. Não podemos esquecer que a crença no supremacismo biológico e cultural dos brancos, foi o substrato da ideologia que justificou a escravidão negra e promoveu a “coisificação” de seres humanos arrancados da África. A naturalização dessa crença nada mais é do que a banalização das condutas preconceituosas.

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Os clubes brasileiros, pela sua grandiosidade e prestígio nacional e internacional pode dar uma contribuição inestimável para um novo ciclo de responsabilidades da sociedade na construção de novos marcos civilizatórios para o futebol e todas as práticas esportivas.

Essas iniciativas estratégicas e formalizadas se coadunam com a submissão aos dispositivos inclusos nas Convenções do Sistema ONU relativos aos Direitos Humanos, dos quais o Brasil é signatário.

Não é demais referir a duas delas; 1) Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (1966) – Ratificada pelo Brasil em 27 de Março de 1968; 2) Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a mulher – Ratificada pelo Brasil em 1º de Fevereiro de 1984.

Do ponto de vista das responsabilidades do conjunto das organizações sociais, cabe referir aos procedimentos de revisão do andamento da implementação da Declaração e Programa de Ações aprovadas na Conferência de Durbam(2001), realizada em 2011.

Destacam-se os seguintes pontos:

6. Reafirma que todos os povos e pessoas constituem uma família humana, rica em diversidade e que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direito e rejeita enfaticamente qualquer doutrina de superioridade racial juntamente com teorias que tentem determinar a existência das chamadas raças humanas distintas;

15. Reafirma que os princípios de igualdade e não discriminação são princípios fundamentais do direito internacional dos direitos humanos e do direito humanitário internacional e que são essenciais na luta contra o racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância correlata

18. Reconhece que a prevenção, combate e erradicação do racismo, discriminação racial, xenofobia, e intolerância correlata tem importância crucial e são elementos chaves para a promoção da coesão e resolução pacífica de tensões comunitárias;

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19. Enfatiza a necessidade de aumentar as medidas preventivas apropriadas para eliminar todas as formas de discriminação racial e o papel importante que os governos, organizações internacionais e regionais, instituições nacionais de direitos humanos, a Mídia, organizações não governamentais e sociedade civil desempenham no desenvolvimento destas medidas;

99. Conclama os Estados, de acordo com suas obrigações de direitos humanos, a declararem a ilegalidade de e a proibirem por lei todas as organizações baseadas em idéias ou teoria de superioridade de uma raça ou grupo de pessoas de uma cor ou origem étnica ou que tente justificar ou promover ódio nacional, racial e religioso e discriminação em qualquer forma a adotarem medidas imediatas e positivas destinadas a erradicar toda a incitação ou ato de tal discriminação;

A apropriação desse conjunto de responsabilidade sociais que todas as organizações possuem, a erradicação do racismo pode ser enfrentada por ações, projetos e programas que superarem as omissões e cumplicidades hoje existentes nas organizações em todos os seus níveis hierárquicos. A conduta das arquibancadas, o registro de ocorrência, os debates nos tribunais desportivos e o fim de um percurso que pode ser evitado.

A partir dessas considerações vinculadas com os outros resultados decorrentes da atuação do Observatório, será possível estabelecer propostas concretas, sejam elas de iniciativa governamental, como de todas as entidades vinculadas com o esporte.

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O Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol é o primeiro relatório sistêmico com os casos de discriminação no futebol brasileiro. (Ilustração: Desenhorama – www.desenhorama.com.br)

CONSIDERAÇÕES

Em relação à análise sistemática dos “supostos casos de racismo” ficam alguns questionamentos em relação às atitudes tomadas por atletas, clubes, dirigentes, Federações e Justiça Desportiva. Abaixo apresentaremos reflexões baseadas nesses dois anos de trabalho do Observatório no monitoramento dos casos de discriminação e preconceito no esporte:

1. Justiça Desportiva

Os casos julgados pela Justiça Desportiva são os relatados em súmula ou aqueles em que a Procuradoria oferece denúncia. Em cinco (05) casos os árbitros registraram em súmula o episódio, entretanto não identificamos motivo pelo qual a Justiça Desportiva não tomou nenhuma medida já que os fatos estavam relatados.

2. Da ausência de continuidade entre o registro da ocorrência e a ação penal

Observamos um aumento significante de vítimas que, de alguma forma, delataram que sofreram insultos raciais. Muitos expressaram suas indignações via redes sociais ou em algum veículo de comunicação, entretanto, esta ação não é suficiente ou efetiva. Cabe aqui a ressalva que o melhor caminho para combater o racismo é registrar o Boletim de Ocorrência (B.O.) e levar o caso adiante com a representação da vítima. É importante destacar que nos casos os quais ocorrem o registro do B.O., as partes são ouvidas, mas o delito de injúria racial depende da representação de quem sofreu a agressão, pois somente o B.O. não significa que automaticamente o caso será levado

50 adiante. Se a vítima não seguir com um processo contra o agressor, o B.O. valerá apenas como um documento oficial com o registro do fato.

3. Desconhecimento da Lei e de sua aplicação

Outro item percebido e que merece destaque é a falta de conhecimento para a aplicação da lei. Abaixo destacaremos um exemplo:

CASO ANDAMENTO Caso Érico Araújo (Segurança) O Delegado de Polícia não registrou a ocorrência alegando falta de testemunha. Entretanto, a lei diz que não é necessária a presença de testemunha para registrar o Boletim de Ocorrência.

4. Aumento dos incidentes na internet

Em relação ao Relatório de 2014, os casos de racismo via internet aumentaram de um (01) caso no ano passado, para 11 ocorrências em 2015. Além disso, observamos que os ataques racistas na internet contra negros, de uma forma geral, não foram exclusividade do futebol (artistas e outros esportistas também foram atacados pelos internautas). Dos onze (11) “supostos casos de racismo” que ocorreram via internet, apenas um (01) foi levado adiante e registrada a queixa no DECREDI (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância) contra a torcedora em questão. Em um (01) caso desse universo não houve uma vítima em específico, pois se referia a expressão “macacos ” para toda uma torcida. Entretanto, os demais nove (09) incidentes poderiam ser levados adiante e buscar responsabilizar os agressores. Neste ponto observamos que o discriminado alega não querer levar o caso adiante para não “ dar atenção ou voz” às pessoas que cometeram a ofensa ou então que esse tipo de caso não “ vai dar em nada ”, por conta do sentimento de impunidade.

5. Gritos homofóbicos no tiro de meta

Em vários estádios do Brasil as torcidas passaram a gritar “ puto ” ou “ bicha ” no momento em que o goleiro vai bater o tiro de meta. O grito preconceituoso começou no México e se alastrou por outros países da América Latina. A FIFA, que não puniu o México em 2014 por conta do grito de seus torcedores durante a Copa do Mundo, devido a falta de um comitê para julgar os casos de indisciplina, em dezembro do ano

51 passado decidiu agir e multou Argentina, Chile, Peru, Uruguai e México em decorrência dos gritos homofóbicos nos jogos das Eliminatórias da Copa do Mundo 2018, na Rússia.

(Desenhorama – www.desenhorama.com.br)

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BONS EXEMPLOS

Vale destacar alguns bons exemplos em outros esportes, no Brasil, na questão do combate ao racismo.

Um dos casos observados foi a rápida ação da CBV (Confederação Brasileira de Voleibol) que agiu após a ocorrência do segundo caso de racismo na sua competição nacional em 2015 e lançou a campanha: “ Não ao Preconceito ”. Outro exemplo foi da CBG (Confederação Brasileira de Ginástica) que afastou e suspendeu o pagamento de salários aos ginastas envolvidos no caso de racismo ao atleta Ângelo Assumpção.

CBV lança decálogo contra discriminação (imagem cbv.com.br)

Ao longo de 2015 muitos incidentes aconteceram também no exterior, entretanto alguns clubes e/ou entidades aplicaram suas próprias punições, não aguardando pela justiça desportiva. Destacamos alguns exemplos dos casos para que possamos conhecer as punições ou ações afirmativas no combate a discriminação.

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CASO PUNIÇÃO Clube suspendeu do estádio Stamford Bridge os CHELSEA: Torcedores do clube torcedores envolvidos do incidente. Posteriormente, a impediram a entrada de um justiça britânica puniu três torcedores com cinco anos homem negro no metrô de Paris. sem poder acessar qualquer recintos esportivos e um deles a três anos. APOEL: Dia Mundial Contra o Clube divulgou em suas redes que apoiava plenamente Racismo princípios e valores de igualdade humana, participando da Campanha Mundial Contra o Racismo, em março. Após punições devido a atos racistas, torcida criou CSKA: Torcida anti –racismo “Torcedores do CSKA Contra o Racismo” na luta contra o racismo e a xenofobia. Lançada junto ao Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial, 21 de março, a campanha “ Risque o Bundesliga: Campanha Risque o Preconceito ” estimulou clubes profissionais e escolas de Racismo base, bem como ONGs, instituições educacionais e governos regionais para promover uma cultura de boas- vindas para os refugiados na sociedade alemã através do futebol. Federação Rus sa: Torcida O Torpedo Moscou foi punido com dois jog os com Torpedo Moscou, insultos ao portões fechados devido a insultos ao jogador Hulk. Além atacante Hulk. do pagamento de uma multa no valor de € 3,3 mil. Campanha com ações dedicadas, através de mensagens Football People: Ação europeia de apoio e vídeos temáticos antes dos jogos e com contra a discriminação. atletas, que divulga mensagem de diversidade e inclusão social.

Outro bom exemplo a destacar no Brasil aconteceu na cidade de João Pessoa (capital da Paraíba) que saiu na frente no combate ao racismo e ao crime de injúria racial e sancionou a lei 13.009/2015 que pune de forma mais rígida o torcedor que for flagrado “ cometendo atos de discriminação racial ” em qualquer praça esportiva da cidade . Pela lei o torcedor em questão vai ser proibido de frequentar por cinco anos qualquer evento esportivo realizado dentro de João Pessoa. Caso a pessoa seja funcionário público ou alguém ligado ao esporte (jogador, treinador, dirigente ou associado de torcida organizada), a pena aumenta em 30%, pulando para seis anos e meio.

Durante o ano de 2015 algumas campanhas foram lançadas na luta contra o racismo. Entre elas podemos citar a campanha “ #SPContraoRacimo ” (SP Contra o Racismo) realizada pela Federação Paulista de Futebol (FPF). O Ministério do Esporte lançou no final do ano um manifesto contra o racimo, durante a IV Conferência Internacional Educação, Conhecimento, Diversidade e Ações Afirmativas que discutiu o Racismo no

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Esporte. Diversas outras ações foram realizadas, no entanto, percebemos que poucas foram as campanhas efetivas que envolveram torcedores, dirigentes ou atletas em ações educativas. Não basta, apenas, asseverar que o racismo é crime, precisamos educar os torcedores para que entendam que o futebol não é um microcosmo da sociedade, e por ser um ambiente imerso em paixão cega, vale todos os tipos de demonstrações de preconceito e ódio para desestabilizar o adversário.

FONTES

Texto: O negro no futebol brasileiro: Inserção e Racismo

FILHO, Mario . O negro no futebol brasileiro . Rio de Janeiro: Mauad, 2003.

GUTTERMAN, Marcos. O futebol explica o Brasil: uma historia da maior expressão popular do país . São Paulo: Contexto, 2010.

ROSSI, Jones. Guia politicamente incorreto do futebol . São Paulo: LeYa, 2014 “Complexo de Zé Carioca” , Revista Brasileira de Ciências Sociais, número 29, 1995.

STEIN, Leandro. Como futebol e sociedade se uniram para integrar os negros . Site: Trivela

BRASIL - Ocorrências no Brasil

1. Caso Aranha – Santos Zero Hora: http://goo.gl/M237AS Estadão: http://goo.gl/5NdTzk Que Notícias: http://goo.gl/k8vygD

2. Caso Douglas Costa – Shakhtar Donetsk 7. Caso Júnior Paraíba – URT ZH Esportes: http://goo.gl/ahx7mQ UOL Esportes: http://goo.gl/xfnkqP Globo Esporte.com: http://goo.gl/HSYT0S 3. Caso Fabiana – Vôlei Globo Esporte.com: http://goo.gl/rr7smx ESPN: http://goo.gl/G1fL7H Esportes Terra: http://goo.gl/sZspMu 8. Caso Robinho – Naviraiense YouTube (Globo Esporte): https://goo.gl/FFfDQr Globo Esporte.com: http://goo.gl/zXMe2n Globo Esporte.com: http://goo.gl/i2mRWx Midia Max: http://goo.gl/Bk88Vm

4. Caso Vitinho (Caxias/RS) – Internacional 9. Caso Arouca – Palmeiras ESPN: http://goo.gl/E9JXwf Globo Esporte.com: http://goo.gl/zDb76S Globo Esporte.com: http://goo.gl/l1TSoU 5. Caso Robério Epaminondas (Preparador de Goleiros) Estadão: http://goo.gl/NccD4O – Lucena Fox Sports: http://goo.gl/5IEkHe Globo Esporte.com: http://goo.gl/pjIMeH PB Agora: http://goo.gl/n6QiC6 10. Caso torcedores do São José – Basquete (NBB) Cofemac.com.br: http://goo.gl/7EjswJ Globo Esporte.com: http://goo.gl/uzZJw5 Globo.com: http://goo.gl/OdSXMI Globo Esporte.com: http://goo.gl/i2mRWx

6. Caso Érico Araújo, Segurança do Clube – 11. Caso Vitinho (Brasil-Pel) – Internacional Internacional : http://goo.gl/BqDHOm Globo Esporte.com: http://goo.gl/pjM78e Globo Esporte.com: http://goo.gl/LyAg5G 12. Caso Rogério Ceni - São Paulo Globo Esporte.com: http://goo.gl/i2mRWx UOL Esportes: http://goo.gl/HG1QHG Esportes Terra: http://goo.gl/Cb6sMi

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13. Caso Alberto – Interporto 27. Caso Rhayner – Vitória/BA Guaraí Notícias: http://goo.gl/CMpZq6 Globo Esporte.com: http://goo.gl/nslCcH Globo Esporte.com: http://goo.gl/ogIV1n Bom Dia Goiás: http://goo.gl/Jey6Cm 28. Caso Paysandu Diário Online: http://goo.gl/c3E7c3 14. Caso Elias – Corinthians UOL Esportes: http://goo.gl/J9bywY 29. Caso Fred Nelson (Dirigente) – Andraus Futebol Amador: http://goo.gl/Akmx8N 15. Caso Fabrício – Internacional Gazeta do Povo: http://goo.gl/jYRbvY Zero Hora: http://goo.gl/AqCPuq Zero Hora: http://goo.gl/u4F5yO 30. Casos jogadores do Corinthians TV Bandeirantes: http://goo.gl/Oqp7Vd 16. Caso Amaral – Beltrão FC RBJ: http://goo.gl/681755 31. Caso Brinner – Macaé Paraná RPC: http://goo.gl/T5rly2 Globo Esporte.com: http://goo.gl/EF3DPb Globo Esporte.com: http://goo.gl/0wF6TI 17. Caso Coordenador Hélio Geraldo – Bandeirante Esporte IG: http://goo.gl/zbDC5g Globo Esporte.com: http://goo.gl/xQ1cqs 32. Caso Lima – Central 18. Caso Jemerson – Atlético-MG Globo Esporte.com: http://goo.gl/qun7EN Globo Esporte.com: http://goo.gl/RsTwyI 33. Caso Auxiliar Sebastião Fernandes 19. Caso Luís Paulo Oliveira – Esportivo/RS Clic RBS: http://goo.gl/lvuexe Leouve: http://goo.gl/OXksgC 34. Caso Caio Blois, ESPN 20. Caso Torcedores Gremistas - Grêmio Jornal Opção: http://goo.gl/cImKqF UOL Esportes: http://goo.gl/sA6oMP Portal Imprensa: http://goo.gl/4gBYju UOL Esportes: http://goo.gl/xia3sj 35. Caso Kanu – Vitória/BA 21. Caso Eduardo Costa – Avaí Bahia no Ar: http://goo.gl/zwbfz4 Globo Esporte.com: http://goo.gl/jnfOlC Info Esporte: http://goo.gl/Faje49 36. Caso Fernanda Isis – Vôlei Diário Catarinense: http://goo.gl/ubYxXc ESPN: http://goo.gl/E4FMwR CBF: http://goo.gl/NknQHP 37. Caso Allano – Cruzeiro 22. Caso Ângelo Assumpção – Ginasta Olímpico UOL Esportes: http://goo.gl/HRis5I O Globo: http://goo.gl/1994fM Estadão: http://ow.ly/Z857u ESPN: http://goo.gl/0auR9m O Tempo: http://ow.ly/Z859q Globo Esporte.com: http://ow.ly/Z8FHm Terra: http://ow.ly/Z8FUn 38. Caso Cassiano - Gwangju da Coréia do Sul Plantão do Futebol: http://goo.gl/viOeET 23. Caso Auxiliar de Arbitragem – Treze/PA Globo Esporte.com: http://goo.gl/t4pI4y 39. Caso Adriano – Figueirense/MG Globo Esporte.com: http://goo.gl/hI4UmY Globo Esporte.com: http://goo.gl/Z1ZX1G Globo Esporte.com: http://goo.gl/i2mRWx VAN – Vertentes Agência de Notícias: Globo Esporte.com: http://goo.gl/stsEUW http://goo.gl/YnJguJ

24. Caso Torcedor do Londrina – Londrina 40. Caso Michel Bastos – São Paulo Esporte Interativo: http://goo.gl/2s4CRx UOL Esportes: http://goo.gl/cFAFUs Futebol Paraense: http://goo.gl/ir5dJq Estadão: http://goo.gl/6dTNvI Gazeta do Povo: http://ow.ly/Z8xDJ Globo Esportes.com: http://goo.gl/V54eEV YouTube: http://ow.ly/Z8xyO 41. Caso Dante – Wolfsburg 25. Caso Miullen – Sub 17 do Corinthians Extra: http://goo.gl/Zo8bjh Futebol Interior: http://goo.gl/5NAZLI Globo Esporte.com: http://goo.gl/eRCK25 Esportes Terra: http://goo.gl/QSffU7 Globo Esporte.com: http://goo.gl/i2mRWx BRASILEIROS PELO MUNDO - Ocorrências no Exterior Estadão: http://ow.ly/Z8lqI 1. Caso Marcos Guilherme - Seleção 26. Caso Funcionária do Inter – Internacional Brasileira/URUGUAI Zero Hora: http://goo.gl/A4wL4F Gazeta do Povo: http://goo.gl/vejZhC Correio do Povo: http://goo.gl/vespE1 Estadão: http://goo.gl/qs5iHS Globo Esporte.com: http://ow.ly/Z8jVE Sportv: http://goo.gl/AL1fGd

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Esportes Terra: http://goo.gl/w1nb4Q 10. Caso Neymar e torcedor Real Madrid – Barcelona/ESPANHA 2. Caso Torcedor Sul-Americano Sub-20 Bandeirantes: http://goo.gl/hVLMef Jovem Pan: http://goo.gl/oD9jq3 Extra: http://goo.gl/1t8MMI Globo Esporte.com: http://goo.gl/nwSIUy A Tarde: http://goo.gl/vLOdbQ

3. Caso Goleiro Reserva – Seleção Brasileira/URUGUAI PUNIÇÕES E AÇÕES AFIRMATIVAS UOL Esportes: http://goo.gl/HZB5jZ

Esportes Terra: http://goo.gl/AmcJNJ 1. Chelsea e incidente no metrô de Paris

O Tempo: http://goo.gl/D6LgFu 4. Caso Hulk – Zenit/RÚSSIA Globo Esporte.com: http://goo.gl/ZICJYE UOL Esportes: http://goo.gl/GjWXZr ESPN: http://goo.gl/KF5RqO Folha: http://goo.gl/SalrWx Globo Esporte.com: http://goo.gl/gm1neg Esporte IG: http://goo.gl/0bbU0t A Bola: http://goo.gl/0qREGH Gazeta: http://goo.gl/Nsaaey

2. Apoel e apoio Dia Mundial Contra o Racismo 5. Caso Neymar e torcida Espanyol – Site Apoel: http://goo.gl/Krxv9f Barcelona/ESPANHA

ESPN: http://goo.gl/zehmgL 3. Torcida CSKA UOL Esportes: http://goo.gl/YQdfFf Futbolgrad: http://goo.gl/jU6yAI O Globo: http://goo.gl/AfM9z5

4. Bundesliga 6. Caso Wendell – Bayer Leverkusen/ITÁLIA Fare Network: http://goo.gl/30NuvU Zero Hora: http://goo.gl/thRscH

Globo Esporte.com: http://goo.gl/rn4rDb 5. Torcida Torpedo Moscou Esportes Terra: http://goo.gl/wmWXVT Mais Futebol: http://goo.gl/53ksF4 Vavel Brasil: http://goo.gl/TejyGF

B04 Repórter: https://goo.gl/6I0ZcA 6. Football People

Fare Network: http://goo.gl/X1TyYO 7. Caso Hulk – Zenit/RÚSSIA

Globo Esporte.com: http://goo.gl/QdBvPg 7. Manifesto do Esporte Estadão: http://goo.gl/L6q0yQ Ministério do Esporte: http://goo.gl/1msFh1 Esporte Interativo: http://goo.gl/iKC61G

8. Conferência Interacional em SP 8. Caso Nikão – Atlético PR/PARAGUAI Flink Sampa: http://goo.gl/WuCLks UOL Esportes: http://goo.gl/r9TA89

Banda B: http://goo.gl/vwsyOq 9. Campanha #SPContraoRacismo Terra: http://ow.ly/Z80Gy Governo de SP: http://goo.gl/qZrRhC Gazeta do Povo: http://ow.ly/Z80Kx DCI:http://goo.gl/cH06Ad Zero Hora: http://ow.ly/Z80QW UOL Esportes: http://ow.ly/Z80UD

9. Caso Feijão, TÊNIS/ARGENTINA Sportv: http://goo.gl/UyLKQZ Tênis News: http://goo.gl/VVFahx Estadão: http://goo.gl/2T80O7

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"O esporte tem o poder de mudar o mundo. Tem o poder de inspirar, tem o poder de unir as pessoas de um jeito que poucas coisas conseguem". (Nelson Mandela)

Faça parte da nossa luta! Compre e vista nossa camiseta. Vamos juntos lutar por um mundo livre de discriminação #ChegadePreconceito

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Ou nossos canais na web

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Participação Escola de Educação Física Fisioterapia e Dança, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (ESEFID - UFRGS)

Patrocínio Sindicato dos Atletas Profissionais no Estado do Rio Grande do Sul

Av. José de Alencar, 386/401 – CEP: 90880-480 – Porto Alegre – RS – Brasil

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