Uma andorinha s´on˜aofaz ver˜ao:160 anos do legado de Richard Carrington

(One swallow does not make a summer: 160 years of Richard Carrington’s legacy)

D. M. Oliveira1, 2, ∗ 1NASA Goddard Space Flight Center, Greenbelt MD, United States 2Goddard Planetary Heliophysics Institute, University of Maryland Baltimore County, Baltimore, MD United States No dia 1o de setembro de 1859, o astrˆonomobritˆanicoRichard Carrington observou um compor- tamento anˆomalono Sol. Aproximadamente 17 horas depois, efeitos magn´eticosde escalas globais foram observados na Terra: boreais e austrais em regi˜oesde baixas latitudes, e falhas em equipamentos telegr´aficosna Europa e Am´ericado Norte. Hoje, 160 anos depois, sabemos que essa conex˜aosolar-terrestre controla a atividade magn´eticano espa¸copr´oximoda Terra e sua superf´ıcie, e seus efeitos s˜ao objetos de uma disciplina denominada clima espacial. O objetivo principal deste modesto trabalho ´eapresentar brevemente ao leitor as observa¸c˜oesde Carrington e as descobertas que levaram `aconex˜aoentre fenˆomenosmagn´eticossolares e terrestres. Tamb´ems˜aobrevemente discutidas as implica¸c˜oesdesta descoberta ao clima espacial com ˆenfasena importˆanciada prote¸c˜ao de aparelhos tecnol´ogicospresentes no geoespa¸coe no solo, al´emde uma breve discuss˜aodo futuro da disciplina nas pr´oximasd´ecadas. Palavras-chave: Evento de Carrington, Intera¸c˜oesSol-Terra, Clima espacial.

On 1 September 1859, the British astronomer Richard Carrington observed an anomalous beha- vior on the Sun. Approximately 17 hours later, magnetic effects of global scales were observed at Earth: borealis and australis in low-latitude regions, and telegraphic equipment failures in Europe and North America. Nowadays, 160 years later, we know that solar-terrestrial connections control the magnetic activity in the geospace and on the ground, and their effects are subject of a discipline named . The main goal of this modest work is to briefly present to the reader Carrington’s observations and the discoveries that led to the connection between solar and terrestrial magnetic phenomena. Implications of this discovery to space weather with emphasis on the protection of technological systems in the geospace and on the ground, and a brief discussion on the future of the discipline, are briefly presented as well. Keywords: Carrington’s event, Solar-terrestrial interactions, Space weather.

Published in Revista Brasileira de Ensino de F´ısica,(2020), 42(1), http://dx.doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2019-0213

1. O astrˆonomoRichard Carrington aparecimento de novas manchas solares em extens˜oeslati- tudinais do equador solar, entre 30◦ e 40◦ dos dois hemis- frios, que diminuem com o avan¸codo ciclo solar [1, 3, 4]. Richard Christopher Carrington (1826-1875) foi um Devido a sua forma peculiar, os gr´aficosdos resultados astrˆonomobritˆanicoamador interessado em observa¸c˜oes dessas observa¸c˜oess˜aodenominados diagramas borbole- solares. Carrington observava diariamente a dinˆamica tas [5, 6]. Entretanto, tal fenˆomenofoi primeiramente da superf´ıciesolar, tomando notas e armazenando dados observado por Carrington. O livro de Stuart Clark conta em detalhes minuciosos. Com o resultado de sua an´alise a hist´oriados fatos que culminaram na trag´ediaque con- de manchas solares [1–3] ele descobriu que tais manchas sistiu a vida de Richard Carrington [7]. executam movimentos latitudinais e a contagem destas Em geral, Richard Carrington n˜ao´econhecido na co- apresenta n´umerosm´aximoscom per´ıodos de aproxima- munidade cient´ıfica atual somente pelo n˜aoreconheci- damente 11 anos, o que ficou posteriormente conhecido mento de seus trabalhos em sua ´epoca, mas tamb´em como ciclo de atividade solar, ou simplesmente ciclo so- ´econhecido por ser o primeiro a observar claramente lar. Infelizmente, devido a problemas pessoais e fami- uma erup¸c˜aosolar e associ´a-la,de maneira cuidadosa, liares, Carrington n˜aoteve a oportunidade de publicar a fenˆomenos magn´eticos terrestres. Curiosamente, o seu trabalho e apresentar seus resultados. A descoberta evento de Carrington, como ´econhecido hoje, n˜ao´eso- do ciclo solar ´ecreditada ao astrˆonomoalem˜aoGustav mente a primeira erup¸c˜aosolar a ser observada, mas ´e Sp¨orer(1822-1895), que executou suas observa¸c˜oesinde- tamb´ema erup¸c˜aosolar com as consequˆenciasmais in- arXiv:1910.02795v2 [physics.hist-ph] 17 Oct 2019 pendentemente de Carrington. Sp¨orertamb´em descobriu tensas ao ambiente terrestre observadas e registradas na a lei que leva seu nome, que consiste na observa¸c˜aodo hist´oria.O objetivo deste trabalho ´erevisar as descober- tas que levaram `aconex˜aoentre as atividades magn´eticas solar e terrestre, e reconhecer a importˆanciado evento de Carrington no avan¸co do entendimento desta conex˜aoe ∗Electronic address: [email protected] seu impacto na disciplina denominada clima espacial. 2

2. Conex˜oesentre efeitos magn´eticos solares e terrestres s˜aoestabelecidas

As manchas solares foram descobertas por Galileu Ga- lilei (1564-1642) atrav´esde observa¸c˜oespor telesc´opios no in´ıciodo s´eculoXVII [8]. Entretanto, houve pouco progresso nas observa¸c˜oesde manchas solares no s´eculo seguinte, com exce¸c˜ao `as observa¸c˜oes do astrˆonomo britˆanicoAlexander Wilson (1714-1786) que associou as manchas solares1 a “buracos”na superf´ıcie do sol [9]. Existem dados de manchas solares colhidos durante o s´eculoXVIII, mas estes dados n˜aos˜aoconfi´aveis devido sua esporacidade e m´etodos imprecisos utilizados em sua coleta [1, 3, 10]. O estudo de manchas solares teve um impulso consi- Figura 1: Diagrama esquem´aticoproduzido por Carrington mostrando as massivas manchas solares observadas por ele der´avel gra¸casao trabalho do farmac´ologoalem˜aoSamuel em 1o de setembro de 1859. Extra´ıdoda referˆencia[17]. Heinrich Schwabe (1789-1875), cujos resultados foram di- vulgados na revista Astronomische Nachrichten [11], uma das primeiras revistas cient´ıficasdedicadas `aastronomia. nos sub´urbiosde Londres, quando percebeu uma ati- Em seu trabalho, Schwabe identificou um ciclo de 10 anos vidade diferente na superf´ıciesolar. Carrington obser- associado ao n´umerode manchas solares. Ap´osrefinadas vou uma emiss˜aosolar extremamente brilhante que hoje observa¸c˜oesexecutadas por Rudolf Wolfe (1816-1893), ´edenominada erup¸c˜aosolar. Maravilhado por sua ob- o per´ıodo do ciclo solar foi corrigido para o valor mais serva¸c˜aoe na ˆansiade encontrar uma outra pessoa para real´ısticode 11 anos [12, 13], que consiste na alternˆancia observar e testemunhar o fenˆomeno,Carrington deixou entre dois m´aximosou m´ınimosconsecutivos. O trabalho seu laborat´oriomomentaneamente. Quando voltou, para de Schwabe ganhou importˆanciaap´osser popularizado sua “mortifica¸c˜ao”,o clar˜aohavia desaparecido. Gra¸cas pelo famoso cientista alem˜aoAlexander von Humboldt as suas habilidades observacionais, Carrington desenhou em seu livro Cosmos [14]. suas observa¸c˜oese enviou uma discuss˜aodos resultados O astrˆonomoe militar britˆanicoEdward Sabine (1788- `arevista Monthly Notes of the Astronomical Society, pu- 1883) teve um papel importante na execu¸c˜aodas Cruza- blicado em novembro de 1859 [17]. das Magn´eticas,financiadas pela Coroa Britˆanicana ten- O desenho publicado por Carrington ´emostrado na tativa de estudar o campo magn´eticoterrestre [15]. Por Fig. 1. A descri¸c˜aodo evento, assim como da figura, volta do in´ıciodo s´eculoXIX, era amplamente conhecido ´etraduzida abaixo diretamente do artigo de Carrington que o campo magn´eticoda Terra era altamente vari´avel, [17] (trˆespontos entre colchetes indicam texto omitido e tais varia¸c˜oes interferiam na orienta¸c˜ao de agulhas pelo autor e textos entre colchetes foram adicionados pelo magn´eticas,produzindo, por exemplo, grande impacto autor): nos instrumentos de navega¸c˜ao[7, 13, 15]. Ao analisar es- ses dados, Sabine descobriu que as varia¸c˜oesmagn´eticas “Enquanto trabalhava na manh˜ade ter¸ca- associadas com movimentos de agulhas magn´eticascoin- feira, 1o de setembro [de 1859], durante mi- cidiam estritamente com os n´umerosde manchas sola- nhas observa¸c˜oescostumeiras da forma e das res descobertos por Schwabe e refinados por Wolfe [16]. posi¸c˜oesdas manchas solares, eu presenciei Como resultado, uma eventual conex˜aoentre fenˆomenos uma apari¸c˜aoa qual acredito ser extrema- solares e magnetismo terrestre foi claramente identificada mente rara. A imagem do disco do Sol era, pela primeira vez na hist´oriada f´ısicasolar. Entretanto, como sempre, projetada por mim [...] para uma andorinha solit´ariaera necess´ariapara anunciar a produzir uma fotografia de aproximadamente chegada do ver˜ao. 11 polegadas [27.94 cent´ımetros]de diˆametro. No dia 1◦ de setembro de 1859, Carrington observava o Eu tinha diagramas confi´aveis de todos os Sol com seu telesc´opioem sua casa, na cidade de Redhill, grupos de manchas solares [...] quando dentro da ´areado grande grupo ao norte [...] duas ´areasintensamente brancas e brilhantes sur- giram, nas posi¸c˜oesindicadas no diagrama 1 Hoje, sabemos que manchas solares s˜aoregi˜oesde temperatu- anexado [Fig. 1] pelas letras A e B, e das for- ras superficiais reduzidas relativamente ao seu entorno, causa- mas dos espa¸cosdeixados em branco. Minha das por fluxos magn´eticosintensos, que inibem o processo de primeira impress˜ao foi que por alguma chance convec¸c˜aode plasma (por isso o car´aterescuro das manchas). um raio de luz tinha penetrado por um bu- Explos˜oessolares ocorrem devido a um processo denominado re- conex˜aomagn´etica que por sua vez lan¸camgrandes quantidades raco na tela anexada ao objeto, pelo qual a do plasma solar com energia cin´eticaintensa no espa¸cointerpla- imagem era direcionada `asombra, pois a lu- net´ario[5]. minosidade era muito semelhante `aluz solar 3

Figura 2: Perturba¸c˜oesda componente horizontal do campo magn´eticoterrestre, ou a soma vetorial de suas componentes nas dire¸c˜oesleste e norte, registradas por magnetˆometrosde solo localizados no observat´oriomagn´eticoKew (coordenadas geogr´aficas51◦28’ N, 359◦41.0’ L) durante o evento de Carrington (1-2 de setembro de 1859). A tempestade magn´etica occorreu devido `aintensifica¸c˜aoda corrente anelar e `aredu¸c˜aosevera da componente horizontal do campo magn´eticoterrestre [18, 19]. Este diagrama foi publicado originalmente na referˆencia[20], e aqui adaptado da referˆencia[13].

direta; mas, [...] eu presenciei um fenˆomeno 3. A andorinha solit´ariado ver˜aode 1859 muito diferente. Ent˜aoeu anotei a hora pron- tamente pelo cronˆometro, e vi a explos˜aoau- O diagrama da perturba¸c˜aona componente horizon- mentar rapidamente, [...], eu apressadamente tal do campo magn´eticoterrestre reportada por Stewart corri para buscar algu´empara testemunhar (Fig. 2) tamb´emmostra uma outra perturba¸c˜aoque a exibi¸c˜aocomigo, mas retornando dentro de ocorreu aproximadamente `as05:00 h (hora local de Gre- 60 segundos, eu fui mortificado ao encontrar enwich), ou 17.6 h depois do crochˆemagn´etico. A per- que [o clar˜ao]tinha mudado e enfraquecido. turba¸c˜ao foi t˜aointensa que as medidas atingiram e ultra- Muito brevemente depois os ´ultimostra¸cosse pasarram a escala m´aximados instrumentos, saturando foram, e embora eu tenha permanecido assis- as medi¸c˜oes [20]. De fato, de acordo com o nosso co- tindo [o aparato] estritamente por aproxima- nhecimento atual, os ´unicosinstrumentos que fornece- damente 1 hora, nada ocorreu novamente. Os ram medidas n˜aosaturadas durante aquele evento foram ´ultimostra¸cosocorreram em C e D, as ´areas os instrumentos da esta¸c˜aomagn´eticaColaba, localizada que viajaram consideravelmente das suas pri- em Bombaim (hoje ), ´ [22]. meiras posi¸c˜oese desaparecendo como dois pontos brilhantes de luz branca. A hora da Os efeitos dessa perturba¸c˜aono campo magn´eticoter- primeira explos˜aon˜aofoi diferente de 15 se- restre, ou tempestade magn´etica,foram rapidamente no- gundos de 11 h:18 min, hora local de Gre- tados em escalas globais. Auroras boreais e austrais fo- enwich, e 11 h:23 min foi anotada como a hora ram vistas em diversas regi˜oesde baixas latitudes (me- do desaparecimento.” nores que 60◦), incluindo Hava´ı,Fl´orida,e Washington, D.C. nos Estados Unidos [23–25], M´exico[26], Colˆombia [27], Espanha [28], Austr´alia [29], Asia´ Oriental [30] De acordo com seu relato, Carrington observou a o e Chile, Portugal, leste da R´ussia, Austr´alia e Nova erup¸c˜aosolar entre 11 h:18 min e 11 h:23 min do dia 1 de Zelˆandia[31]. A Fig. 3 mostra um diagrama represen- setembro de 1859. Balfour Stewart (1828-1887) reportou tando uma aurora austral vermelha observada na cidade sobre a ocorrˆenciade uma perturba¸c˜aomagn´eticamo- de Melbourne, Austr´alia,no dia 2 de setembro de 1859 derada registrada pelo observat´orio de Kew, no sudoeste [25, 32]. Testemunhas reportaram ter visto fios e equi- de Londres, “o mais pr´oximode 11 h:15 min [hora local pamentos telegr´aficosem chamas nos Estados Unidos, de Greenwich] poss´ıvel”[20]. Esta perturba¸c˜ao´emos- Canad´ae Europa [33]. Em Washington, D.C., popula- trada na Fig. 2. Hoje sabemos que essa perturba¸c˜ao, 2 res solicitaram a ajuda de bombeiros porque interpreta- denominada crochˆe magn´etico,´euma perturba¸c˜aoda ram uma aurora vermelha intensamente brilhante como camada superior ionizada da atmosfera terrestre (isto ´e, um incˆendiode grandes propor¸c˜oesnos arredores da ci- a ionosfera) causada por erup¸c˜oes solares intensas [13]. dade [7, 34]. Ainda na mesma cidade, um operador de Coincidentemente, outro astrˆonomo,Richard Hodgson tel´egrafofaleceu em resultado de um choque el´etrico pro- (1804-1872) [21], tamb´emobservou, ao norte de Londres, veniente das teclas do aparelho, e uma outra fatalidade a mesma erup¸c˜aosolar em um intervalo de tempo coin- semelhante tamb´emocorreu na cidade da Filad´elfia,nos cidente com as observa¸c˜oesreportadas por Carrington Estados Unidos [7]. Entretanto, pelo menos com base na [17]. ausˆenciade relatos da ´epoca, auroras austrais n˜aoforam observadas no territ´oriobrasileiro durante o evento de Carrington devido a latitudes magn´eticasextremamente baixas do Brasil durante aquela ´epoca [31]. 2 Esta perturba¸c˜aotem esse nome por apresentar, quando repre- sentada por um gr´aficode s´erietemporal, uma semelhan¸cacom Apesar dessas evidˆenciasmarcantes representadas pe- uma agulha de crochˆe. las atividades magn´eticase seus resultados discutidos 4

Figura 3: Diagrama de uma aurora austral observada em Melbourne, Austr´alia,durante o evento de Carrington. Esta figura foi originalmente publicada na referˆencia [32], e mostrada aqui como extra´ıdada referˆencia[25]. acima, Carrington foi muito cuidadoso e tentou evitar c´alculosde Lord Kelvin estavam corretos quando con- uma poss´ıvel conex˜aoentre erup¸c˜oessolares e efeitos siderava o espa¸cointerplanet´ariocompletamente vazio. magn´eticosterrestres. Richard Carrington escreveu em No entanto, ele ignorava a existˆenciade um fluxo cons- seu artigo one swallow does not make a summer, ou uma tante de part´ıculaseletricamente carregadas provenientes andorinha s´on˜aofaz ver˜ao[17]. Esse mist´eriofoi ent˜ao do Sol viajando com um campo magn´eticoaprisionado a deixado para ser desvendado pelas futuras gera¸c˜oesde elas, conhecido hoje como o vento solar [19, 36, 37]. En- f´ısicossolares e geof´ısicos. tretanto, esta conex˜aocome¸coua ser mais aceita ap´osos trabalhos de E. Walter Maunder (1851-1926), que encon- trou uma rela¸c˜aorecorrente entre um per´ıodo de aproxi- madamente 27 dias (uma rota¸c˜aode Carrington) e ativi- 4. Uma explica¸c˜aodefinitiva ´efornecida dade magn´eticaterrestre [38]. Os trabalhos do cientista norueguˆes Kristian Bir- O progresso do entendimento das rela¸c˜oesentre ati- keland (1867-1917) com os “experimentos de ter- vidades magn´eticassolares e terrestres foi relativamente rela”contribu´ıramcom o entendimento da natureza f´ısica lento durante o final do s´eculoXIX e in´ıciodo s´eculoXX. do vento solar. Ao lan¸carum feixe de el´etronsna dire¸c˜ao Tal lentid˜aotem duas explica¸c˜oes: primeiro, os instru- de uma esfera met´alicamagnetizada (terrella), Birkeland mentos de medi¸c˜aoeram muito rudimentares e sat´elites notou o aparecimento de estruturas parecidas com auro- presentes no espa¸cointerplanet´arioinexistiam na ´epoca; ras boreais e austrais em ambos hemisf´erios[39]. Ele atri- segundo, devido a raridade de eventos intensos e a falta buiu esses efeitos `anatureza de radia¸c˜aocorpuscular do de uma amostra estat´ısticacom um n´umerorazo´avel de feixe de el´etrons.O matem´aticoe geof´ısicobritˆanicoSyd- eventos, tal conex˜aoera frequentemente desafiada, como ney Chapman (1888-1970) usou a hip´otesecorpuscular o fez Lord Kelvin (William Thonmson, 1824-1907). Lord de Birkeland para construir uma teoria de tempestades Kelvin, baseado em c´alculos de conserva¸c˜ao de ener- magn´eticas[40], gerando o conceito da estrutura que hoje gia, concluiu que nosso Sol ´eincapaz de gerar energia ´econhecida como a magnetosfera terrestre [5, 37, 41]. para produzir uma tempestade magn´etica[13, 35]. Os Com respeito ao evento de Carrington, duas perguntas 5

01/09/1859 [166.4] 25/09/1909 [64.7] 04/10/1957 (Sputnik) 04/02/1872 [200.3] 15/05/1921 [146.9] 07/09/2017 [43.7] M´ediaanual de manchas solares – Dados do SILSO 300 Era espacial 250 1989 [170.4] - 2003 [97.8]

200

150

100 anual de manchas solares # 50

0 1800 1820 1840 1860 1880 1900 1920 1940 1960 1980 2000 2020 ano

Figura 4: Gr´aficomostrando m´ediasanuais de manchas solares no per´ıodo 1800 a 2018. Os dados foram obtidos do SILSO website, veja se¸c˜ao5 (Sunspot Index and Long-term Solar Observations). As linhas tracejadas mostram tempestades magn´eticas conhecidas das quais alguns registros hist´oricostˆemsido encontrados recentemente. Os n´umeros entre colchetes correspondem `asm´ediasmensais de manchas solares registradas para o mˆesde ocorrˆenciada tempestade magn´etica. A ´areahachurada em cinza corresponde ao intervalo conhecido como Era Espacial, que se iniciou com o lan¸camento do sat´elitesovi´etico Sputnik, enquanto que a ´areahachurada amarela mostra o intervalo entre a tempestade magn´eticade mar¸code 1989 e as tempestades magn´eticasde 2003 que, por terem ocorrido no final do mˆesde outubro, foram denominadas como as tempestades de Halloween. ainda n˜aotinham sido respondidas: o que foi causado 5. Atividade solar e clima espacial na superf´ıcieda Terra, e/ou no ambiente espacial no en- torno desta pela erup¸c˜aosolar observada por Carring- A Fig. 4 mostra dados de m´ediasanuais de man- ton? O crochˆemagn´etico, a perturba¸c˜aomagn´eticasub- chas solares dispon´ıveis no website SILSO (Sunspot Index sequente, ou ambos? Uma evidˆenciade que perturba¸c˜oes and Long-term Solar Observations, http://www.sidc. magn´eticas,cujas assinaturas s˜aosemelhantes ao crochˆe be/silso/datafiles) [44, 45]. O gr´afico(linha preta magn´etico,podem ser causadas por erup¸c˜oessolares foi cont´ınua) mostra dados de manchas solares de 1800 at´e fornecida pelo cientista americano J. Howard Dellinger 2018. (1886-1962), que explicou que interferˆenciasem ondas A figura mostra claramente que o registro temporal de r´adiode curto comprimento de onda (10 cm – 10 do n´umerode manchas solares apresenta per´ıodos de al- m) podem ocorrer coincidentemente com erup¸c˜oessolares ternˆanciaentre m´aximose m´ınimos, cujo per´ıodo, de [13, 42]. aproximadamente 11 anos, ´edefinido como o ciclo solar. A figura tamb´emmostra um intervalo com aproximada- A resposta final `aquest˜aosobre o evento de Carrington mente 19 ciclos. A linha tracejada vermelha da Fig. 4 foi finalmente fornecida pelo geof´ısicoe estat´ısticoalem˜ao indica o evento de Carrington de 1o de setembro de 1859. Julius Bartels (1899-1964). Baseado nas descobertas de A m´ediamensal de manchas solares para aquele mˆesfoi Dellinger [42], Bartels [43] conectou o crochˆemagn´etico de 200.9. As caracter´ısticas da erup¸c˜aosolar e da ativi- registrado pelo observat´oriode Kew [20] `aerup¸c˜aoso- dade magn´eticaterrestre subsequente, principalmente ao lar observada por Carrington [17], e associou a ideia de que diz respeito a auroras brilhantes e efeitos em equipa- emiss˜oessolares corpusculares de Birkeland [39] e Chap- mentos telegr´aficos,tˆemsido amplamente discutidos na man [40] `aperturba¸c˜aogeomagn´etica intensa registrada literatura [7, 10, 13, 17, 22, 31, 33, 46]. pelo mesmo observat´orio[20]. Portanto, o evento de Car- A tempestade magn´eticade 4 de fevereiro de 1872 rington era explicado corretamente pela primeira vez na tamb´emcausou visualiza¸c˜oesdeslumbrantes de auroras hist´oriada geof´ısicae heliof´ısica. Depois de duas d´ecadas boreais e austrais em regi˜oesde baixas latitudes em ´areas do trabalho de Bartels, a explora¸c˜aodo geoespa¸cose ini- diferentes do globo, al´emde danos consider´aveis em sis- ciava. temas telegr´aficos[47–49]. A posi¸c˜aodesta tempestade 6 magn´eticana evolu¸c˜aotemporal das manchas solares ´e energia el´etricae transformadores), produzindo as de- mostrada na Fig. 4 por uma linha tracejada cinza. A nominadas correntes geomagn´eticas induzidas (do inglˆes m´ediamensal do n´umerode manchas solares para feve- geomagnetically induced currents, GICs) [60–62]. Al´em reiro de 1872 ´e200.3. A linha tracejada verde indica do blecaute em Quebec, GICs de alta intensidade causa- outra tempestade solar, no dia 25 de setembro de 1909, ram a completa destrui¸c˜aode um transformador de uma com m´ediamensal de manchas solares de 64.7. Esta usina el´etricano estado de Nova Jersey, Estados Uni- tempestade superintensa3 gerou auroras boreais e aus- dos, durante a tempestade magn´eticade mar¸code 1989 trais observadas na Africa´ do Sul, Jap˜ao,Austr´alia,Su- [63, 64]. deste Asi´aticoe Oceano ´Indico [50, 51]. A tempestade A linha tracejada roxa da Fig. 4 mostra, dentro do magn´eticade 15 de maio de 1921 (linha tracejada cor per´ıodo analisado, a ´ultimatempestade magn´eticade in- de laranja) causou s´eriosdanos a sistemas telegr´aficos, tensidade consider´avel que ocorreu em 7 de setembro de telefˆonicos,e ferrovi´ariosna cidade de Nova Iorque, nos 2017. Esta ´euma das tempestades magn´eticasmais in- Estados Unidos [52]. A m´ediamensal de manchas solares tensas do ciclo solar atual, o mais fraco da Era Espacial. para o mˆesde maio de 1921 ´e146.9. A m´ediamensal de manchas solares durante o mˆesde se- A regi˜aodestacada em cinza mostra a ´epoca deno- tembro de 2017 foi a mais baixa (43.7) das tempestades minada Era Espacial, que se estende do lan¸camento do magn´eticasrepresentadas na Fig. 4. Apesar disso, diver- sat´elitesovi´etico Sputnik (4 de outubro de 1957) at´eos sos efeitos de clima espacial tˆemsido associados `aquela dias atuais. Sputnik tem uma importˆanciahist´oricapor- tempestade, como, por exemplo, o aumento consider´avel que, al´emde ser um marco da aplica¸c˜aotecnol´ogicana do fluxo de part´ıulascarregadas no geospa¸co[65], inter- explora¸c˜aoespacial e desenvolvimento educacional [53], o ferˆenciaem sinais de sistemas de sat´elitesde GPS [66], e sat´elitetamb´emteve grande importˆanciana corrida ar- efeitos de GICs em transmiss˜oes el´etricase oleodutos na mament´ıciaentre os Estados Unidos e a Uni˜aoSovi´etica Finlˆandia[67]. durante o per´ıodo denominado Guerra Fria [54]. Dados Uma an´alisecuidadosa da Fig. 4 mostra que tempes- do Sputnik foram utilizados pela primeira vez para asso- tades solares superintensas tendem a ocorrer em torno ciar deca´ımentos bruscos de sat´elitesde baixas ´orbitas`a de n´umerosm´aximosde manchas solares, ou durante as tempestades magn´eticas[55, 56]. Com respeito `aativi- fases de decl´ınioe ascens˜aodo n´umerode manchas so- dade solar, curiosamente, os n´umerosm´aximosde man- lares. Os n´umerosanuais e mensais de manchas sola- chas solares tˆemsido cada vez menores em cada ciclo res associados a essas tempestades s˜aogeralmente altos, solar na Era Espacial, com exce¸c˜aodo n´umerom´aximo com exce¸c˜aoda tempestade magn´eticade setembro de de manchas solares que ocorreu por volta de 1970. Como 2017. Entretanto, esta ´ultimatempestade n˜aosatisfaz resultado, a atividade solar tem se reduzido enquanto a condi¸c˜oesbem estabelecidas para a classifica¸c˜aoda in- dependˆenciatecnol´ogicada sociedade moderna tem au- tensidade de tempestades magn´eticascomo superinten- mentado continuamente nas ´ultimasd´ecadas. sas, como por exemplo a varia¸c˜aoabrupta da componente horizontal do campo magn´eticoterrestre medida em solo A faixa hachurada em amarelo mostra um per´ıodo so- [68]. lar altamente ativo entre 1989 e 2003, com os conhecidos De acordo com a Fig. 4, as manchas solares apresen- eventos da tempestade magn´eticade mar¸code 1989, que tam outro comportamento peri´odicopeculiar. As ampli- causou a destrui¸c˜aode transformadores que levou ao ble- tudes m´aximasde cada ciclo solar, quando observadas em caute em Quebec, no Canad´a[57], e as conhecidas “tem- longo prazo (alguns ciclos solares), apresentam per´ıodos pestades de Halloween”de outubro de 2003 [58], que cau- mais longos que correspondem a 77-88 anos, ou 7-8 ciclos saram o cancelamento e adiamento de diversos voos na solares regulares. Tal fenˆomeno´edenominado ciclo de Am´ericado Norte [59]. Como resultado de erup¸c˜oessola- Gleissberg [10, 69, 70], descrito claramente por Wolfgang res intensas, part´ıculassolares provenientes do vento so- Gleissberg (1903-1986) ap´osan´alisesdos dados de man- lar [19, 36, 37] tˆemacesso a regi˜oesde altas latitudes das chas solares de Wolfe. H´aevidˆenciasde que esse padr˜ao regi˜oessuperiores da atmosfera terrestre. Tais part´ıculas tem se repetido nos ´ultimos12000 anos, como mostram 6 altamente energ´eticas(>500 MeV, or 1.0×10 el´ectron- resultados de an´alisede 14C das varia¸c˜oesde is´otopos volts) colidem mais frequentemente com as part´ıculas cosmogˆenicosassociados `aatmosfera terrestre [71]. Efei- neutras da atmosfera que por sua vez interagem com tos do ciclo de Gleissberg tˆemsido notados recentemente avi˜oes,aumentando doses de radia¸c˜aoem passageiros e em registros hist´oricosde auroras boreais no per´ıodo de tripula¸c˜ao, particularmente em voos transpolares [60]. 1600-2015 [70]. Durante tempestades magn´eticas intensas, varia¸c˜oesde campos el´etricosintensos na atmosfera terrestre ionizada geram correntes el´etricasque, por sua vez, se acoplam a condutores artificiais no solo (linhas de transmiss˜aode 6. Conclus˜ao

Neste trabalho, as observa¸c˜oesde Richard Carrington foram brevemente apresentadas e reconhecidas como a 3 Para mais detalhes sobre crit´eriosde categoriza¸c˜aoda intensi- primeira tentativa, embora de forma extremamente cau- dade de tempestades magn´eticas,veja, e.g., a referˆencia[18]. telosa, em conectar fenˆomenossolares com os subsequen- 7 tes fenˆomenosde atividade magn´eticana Terra. Foi mos- 7. Uma nota pessoal trado que ap´osas observa¸c˜oesde Carrington, a compre- ens˜aode tal conex˜aocome¸coua progredir, embora de De acordo com o website www.academictree.org, Ju- forma modesta, gra¸casa descoberta da correla¸c˜aoestreita lius Bartels (Universit¨atG¨ottingen, Alemanha) orientou entre atividade solar e atividade magn´eticaterrestre. Na o Ph.D. de Walter Kertz (Universit¨atG¨ottingen, Alema- primeira metade do s´eculoXX, ao associar os resultados nha), que orientou o Ph.D. de Fritz Manfred Neubauer experimentais obtidos por Birkeland e Dellinger, junta- (TU Braunschweig, Alemanha), que orientou o Ph.D. de mente com os resultados te´oricosde Chapman, Bartels Joachim Raeder (Universit¨atzu K¨oln, Alemanha), que foi capaz de explicar o evento de Carrington pela pri- orientou o Ph.D. do autor deste trabalho na University meira vez de maneira clara e conclusiva. De acordo com of New Hampshire, Estados Unidos. A descoberta desta Bartels, o crochˆemagn´eticofoi causado pela erup¸c˜aoso- conex˜aoentre o autor deste trabalho e Julius Bartels, o lar (observada por Carrington), enquanto que a tempes- cientista que claramente explicou a conex˜aoentre even- tade magn´eticafoi causada pela intera¸c˜aoda “radia¸c˜ao tos magn´eticossolares e terrestres, trouxe uma satisfa¸c˜ao corpuscular”(hoje conhecida como plasma) com a mag- pessoal e especial ao autor. netosfera terrestre. O evento de Carrington foi um dos primeiros sinais da concep¸c˜aoda disciplina de clima es- pacial, e claramente abriu o caminho para o desenvolvi- mento da disciplina, a qual decolou ap´oso in´ıcioda Era Agradecimentos Espacial (1957 em diante) [72]. A hist´oriada explora¸c˜ao do espa¸cointerplanet´arion˜aofaz parte do escopo deste O autor agradece a NASA (agˆencia espacial norte- artigo, mas certamente ´eum assunto interessante para americana) pelo apoio financeiro atrav´es dos projetos um trabalho futuro. 13-SRITM132-0011 e HSR-520 MAG142-0062 sob con- Atualmente, o clima espacial e seus efeitos tˆemgrande trato com a UMBC. O autor tamb´emagradece ao Dr. importˆanciadevido ao impacto que eles podem causar em Marcos Silveira (NASA/GSFC) e ao professor Alexan- nossa sociedade moderna e altamente tecnol´ogica.Danos dre Emygdio (Col´egioExatus) pela cuidadosa leitura do a sat´elitesde comunica¸c˜oese astronautas no geoespa¸co manuscrito e pelos valiosos coment´ariose sugest˜oes.Fi- causados pelo aumento excessivo de radia¸c˜ao,danos a re- nalmente, o autor agradece a dois ´arbitrosanˆonimospela des e sistemas de transmiss˜aoel´etricacausados por GICs, revis˜aodo manuscrito e pelas sugest˜oesfornecidas (prin- as quais tamb´emcausam corros˜aode oleodutos, s˜aoal- cipalmente com respeito ao idioma Portuguˆes)visando o guns exemplos [59, 60]. Como resultado, o governo dos aprimoramento deste trabalho. Estados Unidos tem recentemente reconhecido os efei- tos de clima espacial como amea¸casnaturais que podem causar s´eriosimpactos econˆomicose sociais na sociedade Referˆencias contemporˆanea[73, 74]. Esses relat´oriostamb´emenfati- zam o estudo de condi¸c˜oesextremas durante eventos de [1] J. A. Eddy. The Maunder Minimum. Science, 192(4245): clima espacial, no qual o evento de Carrington desempe- 1189–1202, 1976. doi: 10.1126/science.192.4245.1189. nha um papel importante como evento base para an´alise [2] E. Echer, N. Rodolfo Rigozo, D. J. R. Nordemann, de dados e simula¸c˜oesnum´ericas[75–77]. A combina¸c˜ao L. E. A. Vieira, A. Prestes, and H. H. De Faria. O n´umero de an´alisesde dados fornecidos por plataformas espaciais de manchas solares, ´ındiceda atividade do sol. Revista localizadas na vizinhan¸cado nosso planeta, bem como Brasileira de Ensino de F´ısica, 22(2):157–163, 2003. doi: de dados de instrumentos de solo aliadas a an´alisesde 10.1590/S0102-47442003000200004. modelagens computacionais aprimora o entendimento de [3] J. M. Vaquero. Historical sunspot observations: A re- clima espacial e suas consequˆenciasatrav´esde previs˜oes view. Advances in Space Research, 40(7):929–941, 2007. de tais eventos em curto, m´edioe longo prazos [77]. doi: 10.1016/j.asr.2007.01.087. [4] E. W. Maunder. Prof. Spoerer’s researches on Sun-spots. De volta `aFig. 4, ´eposs´ıvel ver claramente dois ciclos Monthly Notes of the Royal Astrononomical Society, 50 de Gleissberg, cujos m´ınimosest˜aonos intervalos apro- (4):251–252, 1890. doi: 10.1093/mnras/50.4.251. ximados de 1810-1885 e 1930-2010. Tendo em vista o [5] C. T. Russell, J. G. Luhmann, and R. J. Strangeway. ciclo de Gleissberg (e as manchas solares da Fig. 4), ´e Space Physics: An Introduction. Cambridge University razo´avel argumentar que nas pr´oximasd´ecadasa ativi- Press, Cambridge, , 2016. dade solar tem grande probabilidade de aumentar. Por- [6] B. M. Morris, J. R. A. Davenport, H. A. C. Giles, L. tanto, com a dependˆenciade tecnologias em n´ıveis ainda Hebb, S. L Hawley, R. Angus, P. A. Gilman, and E. Agol. maiores, pode-se concluir que o estudo de clima espa- The solar benchmark: rotational modulation of the Sun reconstructed from archival sunspot records. Monthly cial, suas aplica¸c˜oese previs˜oester˜aogrande importˆancia Notes of the Royal Astrononomical Society, 484(3):3244– e impacto no futuro de uma sociedade altamente tec- 3250, 2019. doi: 10.1093/mnras/stz199. nol´ogica. Como resultado, n˜ao´edif´ıcil imaginar que, [7] S. Clark. The Sun Kings – The Unexpected Tragedy of assim como previs˜oesdi´ariasdo tempo (meteorologia), Richard Carrington and the Tale of How the Modern As- previs˜oesperi´odicasde clima espacial marcar˜aopresen¸ca tronomy Began. Princeton University Press, Princeton, constante nos meios de comunica¸c˜aodo futuro. NJ, 2007. 8

[8] G. Galilei. Sidereus Nuncius. Thomas Baglioni, Venice, 3847/1538-4357/aae47c. Italy, 1610. [26] J. A. Gonz´alez-Esparzaand M. C. Cuevas-Cardona. Ob- [9] A. Wilson. I. Observations on the solar spots. Philosophi- servations of Low-Latitude Red Aurora in Mexico During cal Transactions of the Royal Society of London, 64:1–30, the 1859 Carrington . Space Weather, 1774. doi: 0.1098/rstl.1774.0001. 16(6):593–600, 2018. doi: 10.1029/2017SW001789. [10] D. H. Hathaway. The Solar Cycle. Living Reviews in [27] F. M. C´ardenas,S. C. S´anchez, and S. V. Dom´ınguez. Solar Physics, 12(4), 2015. doi: 10.1007/lrsp-2015-4. The grand aurorae borealis seen in Colombia in 1859. [11] S. H. Schwabe. Solar observations during 1843. Astrono- Advances in Space Research, 57(1):257–267, 2016. doi: mische Nachrichten, 21(495):233, 1844. 10.1016/j.asr.2015.08.026. [12] R. Wolfe. Sonnenflecken – Beobachtungen in der ers- [28] A. M. M. Farrona, M. C. Gallego, J. M. Vaquero, and ten H¨alfte des Jahres 1852; Entdeckung des Zusam- F. Dom´ınguez-Castro. Spanish eyewitness accounts of men[hanges zwischen den Declinationsvariationen der the great space weather event of 1859. Acta Geodaetica Magnetnadel und den Sonnenflecken. In Mitteilungen der et Geophysica Hungarica, 46(3):370–377, 2011. doi: 10. Naturforschenden Gesellschaft in Bern, pages 179–184. 1556/AGeod.46.2011.3.7. Naturforschende Gesellschaft in Bern, Bern, Switzerland, [29] J. E. Humble. The solar events of August/September 1852. 1859 – Surviving Australian observations. Advances in [13] E. W. Cliver. The 1859 space weather event: Then and Space Research, 38(2):155–158, 2006. doi: 10.1016/j.asr. now. Advances in Space Research, 38(2):119–129, 2006. 2005.08.053. doi: 10.1016/j.asr.2005.07.077. [30] H. Hayakawa, K. Iwahashi, H. Tamazawa, H. Isobe, R. [14] A. von Humboldt. Cosmos: Sketch of a Physical Des- Kataoka, Y. Ebihara, H. Miyahara, A. D. Kawamura, cription of the Universe, Vol. III. Wilson and Ogilvy, and K. Shibata. East Asian observations of low-latitude London, United Kingdom, 1852. aurora during the Carrington magnetic storm. Publica- [15] J. Cawood. The Magnetic Crusade: Science and Politics tions of the Astronomical Society of Japan, 68(6):1–13, in Early Victorian Britain. Isis, 70(4):492–518, 1979. doi: 2016. doi: 10.1093/pasj/psw097. https://www.jstor.org/stable/230719. [31] H. Hayakawa, Y. Ebihara, D. M. Willis, S. Toriumi, T. [16] E. Sabine. On periodical laws discoverable in the mean Iju, K. Hattori, M. N. Wild, D. M. Oliveira, I. Ermolli, effects of the larger magnetic disturbances. Philosophical J. R. Ribeiro, A. P. Correia, A. I. Ribeiro, and D. J. Transactions of the Royal Society of London, 142(2):103– Knipp. Temporal and Spatial Evolutions of a Large Suns- 125, 1852. doi: /10.1098/rstl.1852.0009. pot Group and Great Auroral Storms around the Car- [17] R. C. Carrington. Description of a singular appearance rington Event in 1859. Space Weather, 17, 2019. doi: seen in the Sun on September 1, 1859. Monthly Notes 10.1029/2019SW002269. of the Royal Astrononomical Society, 20(1):13–15, 1859. [32] G. Neumayer. Results of the meteorological observations doi: 10.1093/mnras/20.1.13. taken in the Colony of Victoria during the years 1859- [18] W. D. Gonzalez, J. A. Joselyn, Y. Kamide, H. W. Kro- 1862; and of the nautical observations collected and dis- ehl, G. Rostoker, B. T. Tsurutani, and V. M. Vasyli¯unas. cussed at the Flagstaff Observatory, Melbourne, during What is a geomagnetic storm? Journal of Geophy- the years 1858-1862. John Ferres, Government Printer, sical Research, 99(A4):5771–5792, 1994. doi: 10.1029/ Melbourne, Australia, 1864. 93JA02867. [33] E. Loomis. On the great auroral exhibition of Aug. 28th [19] E. Costa Jr., F. J. R. Sim˜oes,F. R. Cardoso, and M. V. to Sept. 4th, 1859 and on auroras generally. American Alves. O vento solar e a tempestade geomagn´etica. Re- Journal of Science, 32(2):318–335, 1861. doi: 10.2475/ vista Brasileira de Ensino de F´ısica, 33(4):4301, 2011. ajs.s2-32.96.318. doi: 10.1590/S1806-11172011000400001. [34] S. Odenwald. Solar Storms: 2000 Years of Human Ca- [20] B. Stewart. On the great magnetic disturbance which ex- lamity! CreateSpace Independent Publishing Platform, tended from August 28 to September 7, 1859, as recorded San Bernardino, CA, 2015. by photography at the Kew Observatory. Philosophical [35] L. Kelvin. On the Question of the Influence of the Sun Transactions of the Royal Society of London, 151:423– Upon Magnetic Storms on the Earth. Publications of the 433, 1861. doi: 10.1098/rstl.1861.0023. Astronomical Society of the Pacific, 5(28):44–45, 1893. [21] R. Hodgson. On a curious appearance seen in the Sun. doi: 10.1086/120596. Monthly Notes of the Royal Astrononomical Society, 20 [36] E. Echer, M. V. Alves, and W. D. Gonzalez. Collisi- (1):15–15, 1859. doi: 10.1093/mnras/20.1.15a. onless shock waves in the interplanetary space. Revista [22] B. T. Tsurutani, W. D. Gonzalez, G. S. Lakhina, and Brasileira de Ensino de F´ısica, 28(1):51–66, 2006. doi: S. Alex. The extreme magnetic storm of 1-2 September 10.1590/S0102-47442006000100008. 1859. Journal of Geophysical Research, 108(A7), 2003. [37] D. M. Oliveira and M. V. D. Silveira. Clima espa- doi: 10.1029/2002JA009504. cial e choques interplanet´arios. Revista Brasileira de [23] D. S. Kimball. A study of the Aurora of 1859. Techni- Ensino de F´ısica, 38(1):1–18, 2016. doi: 10.1590/ cal Report Scientific Report No 6, Geophysical Institute, S1806-11173812083. University of Alaska, Fairbanks, AK, 1960. [38] E. W. Maunder. Magnetic Disturbances as recorded at [24] J. L. Green and S. Boardsen. Duration and extent of the the Royal Observatory, Greenwich, and their Associa- great auroral storm of 1859. Advances in Space Research, tion with Sun-spots. Second Paper. Monthly Notes of 38(2):130–135, 2006. doi: 10.1016/j.asr.2005.08.054. the Royal Astrononomical Society, 55(6):538–559, 1905. [25] H. Hayakawa, Y. Ebihara, D. P. Hand, S. Hayakawa, S. doi: 10.1093/mnras/65.6.538. Kumar, S. Mukherjee, and B. Veenadhari. Low-latitude [39] K. Birkeland. The Norwegian aurora polaris expedition, aurorae during the extreme space weather events in 1859. 1902-1903, volume 1. H. Aschehoug & Co., Oslo, Norway, The Astrophysical Journal, 869(57):1–17, 2018. doi: 10. 1908. doi: 10.5962/bhl.title.17857. 9

[40] S. Chapman. An outline of a theory of magnetic storms. 10.1590/1806-9126-RBEF-2016-0219. Philosophical Transactions of the Royal Society of Lon- [57] J. Allen, H. Sauer, L. Frank, and P. Reiff. Effects of the don. Series A, 95(666):61–83, 1919. doi: 10.1098/rspa. March 1989 solar activity. Eos Transactions AGU, 70 1918.0049. (46):1479–1488, 1989. doi: 10.1029/89EO00409. [41] E. Echer. Magnetosferas planet´arias. Revista Brasileira [58] R. E. Lopez, D. N. Baker, and J. Allen. Sun unleashes de Ensino de F´ısica, 32(2):2301, 2010. doi: 10.1590/ Halloween storm. Eos Transactions AGU, 85(11):105– S1806-11172010000200001. 108, 2004. doi: 10.1029/2004EO110002. [42] J. H. Dellinger. Direct Effects of Particular Solar Erupti- [59] National Research Council. Severe Space Weather Events ons on Terrestrial Phenomena. Phys. Rev., 50(12):1189– - Understanding Societal and Economic Impacts: A 1189, 1936. doi: 10.1103/PhysRev.50.1189. Workshop Report. Technical report, National Rese- [43] J. Bartels. Solar eruptions and their ionospheric effects – arch Council (NRC), The National Academies Press, A classical observation and its new interpretation. Ter- Washington, D.C., 2008. URL http://www.nap.edu/ restrial Magnetism and Atmospheric Electricity, 42(3): openbook.php?record_id=12507. 235–239, 1937. doi: 10.1029/TE042i003p00235. [60] C. J. Schrijver, K. Kauristie, A. D. Aylward, C. M. De- [44] F. Clette, E. W. Cliver, L. Lefvre, L. Svalgaard, J. M. nardini, S. E. Gibson, A. Glover, N. Gopalswamy, M. Vaquero, and J. W. Leibacher. Preface to Topical Issue: Grande, M. Hapgood, D. Heyndericx, N. Jakowski, V. V. Recalibration of the Sunspot Number. Solar Physics, 291 Kalegaev, G. Lapenta, J. A. Linker, S. Liu, C. H. Man- (9-10):2479–2486, 2016. doi: 10.1007/s11207-016-1017-8. drini, I. R. Mann, T. Nagatsuma, D. Nandy, T. Obara, [45] F. Clette and L. Lef`evre. The New Sunspot Number: T. P. O’Brien, T. Onsager, H. J. Opgenoorth, M. Ter- Assembling All Corrections. Solar Physics, 291(9-10): kildsen, C. E. Valladares, and N. Vilmer. Understan- 2629–2651, 2016. doi: 10.1007/s11207-016-1014-y. ding space weather to shield society: A global road map [46] S. Clark. Astronomical fire: Richard Carrington and the for 20152025 commissioned by COSPAR and ILWS. Ad- solar flare of 1859. Endeavor, 31(3):104–109, 2007. doi: vances in Space Research, 55(12):2745–2807, 2015. doi: 10.1016/j.endeavour.2007.07.004. 10.1016/j.asr.2015.03.023. [47] J. Meldrun. Aurora Australis. Nature, 5:392–393, 1872. [61] A. Viljanen. Relation of geomagnetically induced cur- doi: 10.1038/005392a0. rents and local geomagnetic variations. IEEE Transac- [48] S. M. Silverman. Low-latitude auroras: The great au- tions on Power Delivery, 13(4):1285–1290, 1998. doi: rora of 4 February 1872. Journal of Atmospheric and 10.1109/61.714497. Solar-Terrestrial Physics, 70(10):1301–1308, 2008. doi: [62] R. Pirjola. Geomagnetically induced currents during 10.1016/j.jastp.2008.03.012. magnetic storms. IEEE Trans. Plasma Sci., 28(6):1867– [49] H. Hayakawa, Y. Ebihara, D. M. Willis, K. Hattori, A. S. 1873, 2000. doi: 10.1109/27.902215. Giunta, M. N. Wild, S. Hayakawa, S. Toriumi, Y. Mit- [63] J. Kappenman. Geomagnetic storms and their impacts suma, L. T. Macdonald, K. Shibata, and S. M. Silverman. on the US power grid. Technical report, Metatech Corp., The Great Space Weather Event during 1872 February Goleta, California, 2010. Recorded in East Asia. The Astrophysical Journal, 862 [64] D. M. Oliveira and C. M. Ngwira. Geomagnetically Indu- (15):1–10, 2018. doi: 10.3847/1538-4357/aaca40. ced Currents: Principles. Brazilian Journal of Physics, [50] H. Hayakawa, Y. Ebihara, E. W. Cliver, K. Hattori, S. 47(5):552–560, 2017. doi: 10.1007/s13538-017-0523-y. Toriumi, J. J. Love, N. Umemura, K. Namekata, T. Sa- [65] A. Bruno, E. R. Christian, G. A. de Nolfo, I. G. Richard- kaue, T. Takahashi, and K. Shibata. The extreme space son, and J. M. Ryan. Spectral Analysis of the September weather event in September 1909. Monthly Notes of the 2017 Solar Energetic Particle Events. Space Weather, 17 Royal Astrononomical Society, 484(3):4083–4099, 2019. (3):419–437, 2019. doi: 10.1029/2018SW002085. doi: 10.1093/mnras/sty3196. [66] H. Sato, N. Jakowski, J. Berdermann, K. Jiricka, A. He- [51] J. J. Love, H. Hayakawa, and E. W. Cliver. On elbarth, D. Bany´s,and V. Wilken. Solar Radio Burst the Intensity of the Magnetic Superstorm of Septem- Events on 6 September 2017 and Its Impact on GNSS ber 1909. Space Weather, 17(1):37–45, 2019. doi: Signal Frequencies. Space Weather, 17(6):816–826, 2019. 10.1029/2018SW002079. doi: 10.1029/2019SW002198. [52] J. J. Love, H. Hayakawa, and E. W. Cliver. Inten- [67] A. P. Dimmock, L. Rosenqvist, J-O. Hall, A. Vilja- sity and impact of the New York Railroad superstorm nen, E. Yordanova, I. Honkonen, M. Andr´e,and E. C. of May 1921. Space Weather, 17, 2019. doi: 10.1029/ Sj¨oberg. The GIC and Geomagnetic Response Over 2019SW002250. Fennoscandia to the 78 September 2017 Geomagnetic [53] C. Wissehr, J. Concannon, and L. H. Barrow. Looking Storm. Space Weather, 17(7):989–1010, 2019. doi: Back at the Sputnik Era and Its Impact on Science Edu- 10.1029/2018SW002132. cation. School Science and Mathematics, 111(7):368–375, [68] X. Meng, B. T. Tsurutani, and A. J. Mannucci. The 2011. doi: 10.1111/j.1949-8594.2011.00099.x. Solar and Interplanetary Causes of Superstorms (Mini- [54] C. Peoples. Sputnik and ’skill thinking revisited: techno- mum Dst ≤ –250 nT) During the Space Age. Journal of logical determinism in American responses to the Soviet Geophysical Research: Space Physics, 124(6):3926–3948, missile threat. Cold War History, 8(1):55–75, 2008. doi: 2019. doi: 10.1029/2018JA026425. 10.1080/14682740701791334. [69] W. Gleissberg. Secularly smoothed data on the minima [55] L. G. Jacchia. Corpuscular radiation and the acceleration and maxima of sunspot frequency. Solar Physics, 2(2): of artificial satellites. Nature, 183(526):1662–1663, 1959. 231–233, 1967. doi: 10.1007/BF00155925. doi: 10.1038/1831662a0. [70] M. V´azquez,J. M. Vaquero, M. C. Gallego, T. Roca [56] D. M. Oliveira and M. V. D. Silveira. Rea¸c˜aoda ter- Cort´es,and R. L. Pall´e. Long-Term Trends and Gleis- mosfera a tempestades geomagn´eticas. Revista Bra- sberg Cycles in Aurora Borealis Records (1600 2015). sileira de Ensino de F´ısica, 39(3):e3305, 2017. doi: Solar Physics, 291(2):613–642, 2016. doi: 10.1007/ 10

s11207-016-0849-6. D.C., 2015. URL https://obamawhitehouse.archives. [71] A. N. Peristykh and P. E. Damon. Persistence of the gov/sites/default/files/microsites/ostp/final_ Gleissberg 88-year solar cycle over the last ∼ 12,000 ye- nationalspaceweatheractionplan_20151028.pdf. ars: Evidence from cosmogenic isotopes. Journal of Ge- [75] C. M. Ngwira, A. Pulkkinen, M. Leila Mays, M. M. Kuz- ophysical Research, 108(A1):SSH 1–1–SSH 1–15, 2003. netsova, A. B. Galvin, K. Simunac, D. N. Baker, X. Li, doi: 10.1029/2002JA009390. Y. Zheng, and A. Glocer. Simulation of the 23 July 2012 [72] W. B. Cade III and Christina C.-P. The origin of “Space extreme space weather event: What if this extremely rare Weather”. Space Weather, 13(2):99–103, 2015. doi: 10. CME was Earth directed? Space Weather, 11(12):671– 1002/2014SW001141. 679, 2013. doi: 10.1002/2013SW000990. [73] National Science and Technology Council. National [76] C. M. Ngwira, A. Pulkkinen, M. M. Kuznetsova, and A. Space Weather Strategy. Technical report, Executive Glocer. Modeling extreme “Carrington-type”space we- Office of the President of the United States, Washington, ather events using three-dimensional global MHD simu- D.C., 2015. URL https://obamawhitehouse.archives. lations. Journal of Geophysical Research: Space Physics, gov/sites/default/files/microsites/ostp/final_ 119(6):4456–4474, 2014. doi: 10.1002/2013JA019661. nationalspaceweatherstrategy_20151028.pdf. [77] N. Buzulukova. Extreme Events in Geospace - Origins, [74] National Science and Technology Council. National Predictability, and Consequences. Elsevier, Amsterdam, Space Weather Action Plan. Technical report, Executive The Netherlands, 1 edition, 2018. Office of the President of the United States, Washington,