ELSA PERALTA A integração dos “retornados” na sociedade portuguesa: identidade, desidentificação e ocultação Análise Social, liv (2.º), 2019 (n.º 231), pp. 310-337 https://doi.org/10.31447/as00032573.2019231.04 issn online 2182-2999 edição e propriedade Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Av. Professor Aníbal de Bettencourt, 9 1600-189 Lisboa Portugal —
[email protected] Análise Social, 231, liv (2.º), 2019, 310-337 A integração dos “retornados” na sociedade portuguesa: identidade, desidentificação e ocultação. Como resultado da descolonização estima-se que entre 500 000 e 800 000 colonos portugueses tenham abandonado a sua residência em África entre 1974 e 1979. Na sua maior parte, estas pes- soas vêm para Portugal, onde foram nomeadas de “retorna- dos”, um nome que adquire uma conotação pejorativa quando usado para identificar uma população, na sua maioria branca, subitamente deslocada devido ao colapso do sistema colonial português. Tendo por base fontes bibliográficas e de arquivo, bem como dados de entrevistas realizadas a esta população, este artigo procura abordar questões associadas a processos de identidade e de desidentificação desencadeados pela chegada dos retornados e pela sua integração na sociedade portuguesa. palavras-chave: descolonização portuguesa; retornados; integração, identidade. Integration of the “retornados” in the Portuguese society: identity, dis-identification, and concealment. It is estimated that as a result of decolonization between 500,000 and 800,000 Portuguese settlers left their residence in Africa between 1974 and 1979. For the most part, these people came to Portugal, where they were called “retornados”, a name that acquired a pejorative connotation used to identify a population of colonial migrants, mostly white, suddenly displaced due to the collapse of the Portuguese colonial system.