MÚSICA POPULAR BRASILEIRA/EDUCAÇÃO – EXPERIÊNCIAS TRANSVERSAIS EM PRÁTICAS ESCOLARES

BRAZILIAN POPULAR MUSIC / EDUCATION - CROSS EXPERIENCES IN SCHOOL PRACTICES

Fernando da Conceição Barradas1

BARRADAS, F. da. C. Música popular brasileira/educação - Experiências transversais em práticas escolares. Akrópolis, Umuarama, v. 24, n. 2, p. 175-192, jul./dez. 2016.

Resumo: Pretende-se com esta pesquisa realizada em treze escolas públicas do município de Umuarama, demostrar a possibilidade trans- disciplinar de utilizar a MPB no âmbito escolar, prevista como exigên- cia dos parâmetros Curriculares nacionais (Lei de Diretrizes e Bases – 9349/96). Produziu-se na área de saberes e práticas escolares duas experiências didático pedagógicas. A primeira, com a orientação deste pesquisador e colaboração de professores e alunos sobe o tema “As quatorze músicas mais importantes do século XX”, segundo a escolha da ABL (Academia Brasileira de Letras). A segunda experiência sobre o Golpe de 1964, os anos de chumbo visto pela MPB. No contato havi- do com orientadores pedagógicos, diretores e professores de diversas áreas e particularmente com os professores de artes, aproveitou-se a oportunidade e efetuou-se um levantamento sobre as dificuldades, possibilidades e impossibilidades da utilização de MBP (Música Popu- lar Brasileira) no âmbito da Escola. Foi-se além; aproveitou-se o ensejo para levantar o gosto do aluno quanto a sua audição e apreciação musical. Palavras-chave: Ensino; Experiência didática; MPB; Música escolar. 1Docente e pesquisador da UNIPAR.

Abstract: This research was carried out in thirteen public schools in the city of Umuarama to demonstrate the cross-disciplinary possibility of using MPB in the school environment, in compliance to the require- ment in the National Curricular Parameters (Basis and Guidelines Law - 9349/96). Two didactic pedagogical experiences were produced in the area of ​​knowledge and school practices. The first, with the guidan- ce of this researcher and the collaboration of teachers and students on the theme, is referred to as “The fourteen most important songs of the 20th century”, according to the ABL (Brazilian Academy of Letters). The second experiment was related to the 1964 Coup, the lead years as seen by MPB. The researchers contacted pedagogical advisors, di- rectors and teachers from different areas and particularly teachers of arts. The opportunity was also used to hold a survey on the difficulties, possibilities and impossibilities of using MBP (Brazilian Popular Music) in the school context. It also presented the wish to elevate the students’ musical taste by exposing them to different music styles. Keywords: Didactic experience; MPB; School music; Teaching.

Recebido em dezembro de 2016 Aceito em março de 2017

ISSN 1982-1093 Akrópolis, Umuarama, v. 24, n. 2, p. 175-192, jul./dez. 2016 175 BARRADAS, F. da. C.

INTRODUÇÃO O desenvolvimento das técnicas de re- produção do som, especialmente os CDs, per- As leituras que se fez sobre música, arte, mitem ouvir em sala de aula uma obra para ser educação, e as experiências vivenciadas no en- estudada. O progresso técnico nos permite, com sino junto aos alunos, permitem levantar muitos extrema facilidade, estudar a MPB em seu con- problemas, situações que poderão ser melhor junto. O papel do professor será o de selecionar estudadas, posteriormente, por educadores in- as obras pela sua beleza e importância, de modo teressados no aprofundamento desses estudos. a sensibilizar o público juvenil. O estudo da MPB Antônio Flávio Moreira e Tomás Tadeu e do seu contexto social constitui-se eixo de re- Silva (1995), organizadores da obra Currículo ferência de nossa língua e de nossa cultura, sem cultura e sociedade, manifestam-se preocupa- invalidar a música estrangeira. Apesar da comu- dos com o descompasso do currículo em relação nicação intercultural e das músicas provenientes às transformações sociais, especialmente quan- dos mais diferentes países, a música nacional to à indiferença deste com a “cultura popular”. é mais suscetível de agradar aos alunos. Enrai- Este trabalho vem ao encontro dos reclamantes, zar-se na cultura nacional não é fechar-se, mas em textos que, pela sua importância transcreve- preparar-se para o internacional, para entender mos, apesar de extenso. a cultura dos outros. A MPB expressa uma certa compreensão As noções de conhecimento, característica do mundo, especialmente as sucessivas trans- das experiências curriculares presentemen- formações pelas quais tem passado a socieda- te propostas aos estudantes estão, também, de brasileira. Nela estão contidos os problemas em mais de uma dimensão, em descompas- decorrentes da urbanização, o desemprego, so com as modificações sociais, com as pro- alegrias, tristezas, prazeres e tragédias. Com- fundas transformações na natureza e exten- são do conhecimento e também nas formas portamentos sociais, interação com a cultura de concebê-lo. Em primeiro lugar, o currículo estrangeira e diversos problemas relacionados escolar tem ficado indiferente às formas pe- com a política podem ser explorados pelo pro- las quais a “cultura popular” (televisão, mú- fessor, tendo a MPB como material ilustrativo do sica, videogames, revistas) têm constituído conteúdo, integrador e fixador da aprendizagem. uma parte central e importante implicado nas O conceito de MPB é muito discutido e economias do afeto e do desejo utilizadas nele cabe as mais diversas produções. No seu pela “cultura popular”, o currículo tem ficado conjunto estão contidos o rock, o sertanejo, o solenemente indiferente a esse processo. reggae latino-americano e a música folk de gru- Embora pouco saibamos sobre como essa pos contraculturais, como ocorre agora de forma situação pode ser modificada, podemos es- perar que essa questão logo se torne uma muito forte com o rap da periferia das grandes das mais importantes no âmbito da teoriza- cidades. O universalismo, a globalização, levou ção educacional crítica. Para isso é necessá- nossos críticos especializados a alargarem a rio que os analistas críticos se tornem menos abrangência do universo emepebista. Da mes- “escolares” e mais “culturais” (p.32-33). ma forma que os críticos musicais, também os cientistas sociais e os ramos da estética pas- O aluno procura na música, momentos saram a considerar música popular brasileira de alegria e satisfação emocional, que se não aquela feita por brasileiros e destinada ao pú- forem realizados na escola, serão fora dela. blico brasileiro, sem levar em conta o ritmo ou Ao oportunizar a satisfação desse desejo instrumentos musicais utilizados para produzi-la. juvenil, a escola promoverá também, se souber Lima Júnior (1996) define MPB na revista da CE- fazer uso da oportunidade, a formação cultural BEP (Centro Brasileiro de Estudos Pastorais, n.º do aluno. Fascinado pela beleza e alegria da 7), da seguinte maneira: música, abre-se uma brecha para estudos inter- disciplinares, quer no campo da arte, como das ... aquele conjunto de canções que a gente ciências e das técnicas. O aluno não é só capaz conhece de cor... (quando somos capazes de pela sua inteligência, como também é sensível e assobiar a melodia, o ritmo e a harmonia de pode perceber a sonoridade de uma bela músi- uma determinada canção, observando espiri- ca, entender, aprender o seu significado estético tualmente seu mistério). (LIMA JÚNIOR, CE- e ético. BEP, P.21).

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Em todos os níveis de ensino, a música suas principais dificuldades. popular enfrentou resistências para ser acei- ta como disciplina curricular. O aprendizado de TRANSDISCIPLINARIDADE nossa cultura musical popular para os pragmá- O conceito como método é o de buscar ticos, não teria influência na formação profissio- nas ciências um conhecimento integral e totali- nal do aluno. Aqui se impõe uma contradição, zante do mundo frente a fragmentação do saber. nem tudo que se aprende na escola conteudista Na educação é uma forma cooperativa de traba- está próximo da vida ou prepara para o futuro. O lho para substituir procedimentos individualistas. ensino do cancioneiro popular brasileiro insere A confusão decorre das diferenças de culturalmente o aluno na alegria do hoje e não significado entre transdisciplinaridade e interdis- no do futuro. A satisfação dessa aprendizagem ciplinaridade. é imediata e decorre da percepção de parte do A interdisciplinaridade é uma forma de aluno, de que ele também é capaz de vivenciar desenvolver um trabalho de integração dos con- cultura, de participar da cultura e desfrutar das teúdos de uma disciplina com outras áreas de alegrias da música. Mais importante é que esse conhecimento. É possível a integração entre dis- ensino pode desenvolver a consciência estética ciplinas aparentemente distintas. do aluno, permitir que ele viva junto a seu grupo Um exemplo disso seria um trabalho uma experiência da beleza. A música é comuni- conjunto sobre diferentes aspectos das história cação e desenvolve no aluno, de modo belo, as e da cultura do país que abriga o campeonato grandes ideias ligadas a cultura dos homens. mundial de futebol, intersseleções nacionais, A melhor música, em geral, é desfrutada poderiam estar envolvidas disciplinas como edu- pelas classes sociais e economicamente supe- cação-fisica, geografia, história, artes, entre ou- riores, especialmente antes do advento da in- tras. A proposta interdisciplinar faria os professo- dústria cultural. A música é uma manifestação res trocarem informações entre e com os alunos, cultural em que aparecem, de maneira bem níti- a partir de pesquisas sobre o tema. da, diferenças entre os gêneros e os tipos de pú- Ivani Arantes Fazenda, coordenadora do blico. Música de elite não é aquela que coincide Grupo de Estudos e Pesquisas da Interdiscipli- com a das classes médias ou de público das pe- naridade (GEPI) PUC-SP, em sua obra interdis- riferias; cabe-nos questionar: um dos objetivos ciplinaridade: História, teoria e pesquisa relata ideológicos da escola é manter reservado aos um pouco da trajetória dos estudos interdiscipli- favorecidos socialmente, as grandes obras? O nares no Brasil e no mundo. jovem mais pobre pode viver aquém das obras O movimento da interdisciplinaridade, culturais de valor consagrado? Ser democrático segundo a autora, surgiu na Europa, principal- é gostar apenas da música das grandes mas- mente na França e na Itália, em meados da dé- sas? A democratização real não pode prescin- cada de 60, evidenciando o compromisso de dir das melhores obras? Para tocar um público alguns professores universitários que buscavam maior de alunos o professor deve estar prepa- “o rompimento com uma educação por miga- rado para escolher aquelas obras que agradam lhas”, com a organização curricular excessiva- mais. Esta pesquisa, ao lado de outras metodo- mente especializada e toda e qualquer propos- logias e transversalidades disciplinares, espera ta de conhecimento que incita o olhar do aluno ser enriquecedoras de variadas dinâmicas e me- numa única direção. todologias. Já a transdisciplinaridade é um conceito mais amplo. CONCEITOS FUNDAMENTAIS - TRANSDISCI- PLINARIDADE E ARTE Nesse sentido um ensino transdisciplinar não se restringe nem à simples reunião das disci- Conceitos e fundamentos essenciais plinas nem à possibilidade de haver diálogo para se produzir a pesquisa e as experiências entre duas ou mais disciplinas porque ultra- passa sua dimensão. Faz com que o tema propostas devem se embasar etimologicamente pesquisado passe pelas disciplinas, porém em três áreas: sem ter como objetivo final o conhecimento - da transdisciplinaridade; específico dessa mesma disciplina ou a pre- - da arte em seu conceito básico; ocupação de delimitar o que é o seu objeto - do ensino de educação artística em ou o que é de outra área inter-relacionada. A

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transdisciplinaridade se preocupa com a in- Toda obra de arte, seja erudita, de cunho teração contínua e ininterrupta de todas as popular ou da indústria cultural está permeada disciplinas num momento e lugar (SANTA- de sentido ideológico. O bêbado e a equilibrista ME, 2012, p. 93). necessita ser desvelada para o aluno.

Os problemas da vida estão ligados a um O artista, tal como qualquer outro indivíduo saber transdisciplinar. Os problemas do conheci- é um ser social e historicamente datado e mento tendem a seguir um raciocínio cartesiano “[...] por isso mesmo, sua posição ideológica de objetividade, linearidade e descontextualiza- exerce um certo papel na criação artística” ção. (PEIXOTO, 2003. P. 36). A transdisciplinaridade é a busca do sen- tido da vida por meio de relações entre os diver- Os avanços tecnológicos determinam sos saberes (ciências exatas, humanas e artes), novas formas de produzir e consumir música. O numa democracia cognitiva. disco no Brasil, gravado em 1902 pela primeira O modo de pensar disciplinar é meio mí- vez, era reproduzido com tiragem de duzentas ope. É o caso das guerras, atentados terroristas, cópias. Na Alemanha a música assim produzida massacres étnicos, que não têm o mesmo direi- para reprodução mecânica (gramofones de cilin- to de habitar o planeta terra. dro ou disco), acelerou a pesquisa tecnológica e Nenhum saber é mais importante que a produção musical tende a crescer. O cinema outro. Niels Bohr (prêmio Nobel de Física em mudo ganhou som ótico. No Brasil, em julho de 1975) já dizia: O problema da unidade do conhe- 1927, foi feita a primeira gravação elétrica (mi- cimento é intimamente ligado à nossa busca de crofone) de um disco. uma compreensão universal, destinada a elevar Acentuada melhora na qualidade sonora, a cultura humana. em 1931, o sucesso de , “Com Que Nossa proposta metodológica em seus Roupa”, vendeu 15 mil cópias, número impres- objetivos e métodos seguirá a linha curricular sionante para a época. O rádio fez ouvir a músi- emancipatória da transversalidade dos saberes ca dos discos à distância. A televisão juntou som escolares e da integração interdisciplinar entre à imagem em fita, videotape, aumentou-lhes as disciplinas que dialogam entre si. possibilidades com o advento do transistor. As atuais gravações por canais – voz, sessão-rítmi- ARTE ca, melodia – constituem partes de um todo que se juntam A capacidade do artista de ler e interpre- De acordo com Kealy (1979, p. 208). tar a vida com sensibilidade e a expressar em forma de pinturas, músicas e outras obras, é o [...] no estúdio de gravação, o trabalho do técnico de som ou do engenheiro de som re- que se denomina Arte. presenta o ponto onde convergem a música A arte é uma representação simbólica do e a tecnologia moderna. Entre outras coisas, mundo. O objeto artístico não precisa ser uma o técnico de som deve conhecer as carac- representação fiel das coisas do mundo natural terísticas de centenas de microfones e uma ou vivido, mas sim como podem ser de acordo variedade de ambientes acústicos, além de com a visão e o desejo do criador da obra. O como utilizá-los da melhor forma possível bêbado e a equilibrista, música de 1979 de João para gravar um instrumento musical; a capa- Bosco e Aldir Blanc é a representação de um cidade e as aplicações de um grande conjun- Brasil incerto, inseguro que vivia aquele momen- to de dispositivos de processamento sonoro; to de promessa democrática. Aldir Blanc, médi- as capacidades físicas do meio de gravação para aceitar e reproduzir os sons; a operação co, poeta, músico, um dos maiores expoentes de diversos aparelhos de gravação os impul- do uso da metalinguagem na letra das nossas sos eletrônicos que chegam à “sala de con- canções, expressou veladamente imagens re- trole” do estúdio provenientes de diversas ais, até para burlar a canseira do regime militar. fontes sonoras ao vivo e pré-gravadas, a fim O irmão do , o Betinho das campanhas do de obter uma gravação com uma experiência “Fome Zero”. As clarisses em referência à Cla- musical reconhecível e efetiva. risse, viúva do jornalista Wladimir Herzog, enfor- Em resumo, as novas tecnologias sus- cado numa prisão da ditadura em São Paulo. tentam novas propostas estéticas. A evolução

178 Akrópolis, Umuarama, v. 24, n. 2, p. 175-192, jul./dez. 2016 ISSN 1982-1093 Música popular brasileira/educação... tecnológica dos meios de produção e reprodu- ral e espontâneo como se constituíssem um cor- ção do som é intrínseca ao desenvolvimento da po único de saberes científicos. música. Estudiosos da área têm que levá-la em conta na datação da produção de um tempo. O AS QUATORZE MÚSICAS MAIS IMPORTAN- social e tecnológico devem estar acompanha- TES DA MPB dos. Uma das dificuldades para o aluno é SEEC – PARANÁ – ARTE – MPB NAS DIRE- reconhecer a obra-prima ou de importância. TRIZES CURRICULARES Ao professor não é difícil distinguir as grandes obras. Elas sobrevivem ao tempo, parecem ter A proposta da Secretaria de Estado do um caráter atemporal, simplesmente porque re- Paraná, que estabelece Diretrizes Curriculares fletem um todo histórico. A obra-prima emociona da Educação Básica – área de Arte – a partir das cada um de nós, pois esta lembra do passado discussões com os professores do Estado do vivido através de lutas. Paraná, sistematizou os conteúdos básicos da Muitas são as obras-primas na MPB. disciplina. A propósito, no ensino fundamental, Um catálogo de obras-primas e de músicas im- música popular brasileira, só aparece na grade portantes que pode ser utilizado pelo professor curricular na 8ª série / 9º ano, como música en- por expressar a evolução da MPB no século gajada. A abordagem pedagógica proposta é de XX foi publicado dia 21 de novembro de 1997, ênfase na arte como ideologia e fator de trans- pela Academia Brasileira de Letras (ABL). São formação social. No ensino médio, a abordagem 14 músicas anunciadas em cerimônia especial pedagógica é apenas “uma retomada dos conte- na sede da entidade no . A músi- údos do ensino fundamental”. ca do século escolhida foi “Aquarela do Brasil”, Nos dois níveis, a MPB está quase au- composta por Ari Barroso, em 1939, votada por sente, diluída com música africana, latino-ameri- um júri formado por 13 pessoas, críticos e pes- cana, ocidental de vanguarda, etc. quisadores da MPB (Folha de São Paulo, 1997, Os professores graduados em Arte pou- nov.22. p. 4.7). co sabem da história do cancioneiro popular bra- Estas 14 músicas são objeto da primeira sileiro. atividade que se desenvolveu. Apresenta-se a relação em ordem crono- A SÍNTESE DESTA PESQUISA lógica como segue. Ó abre alas, marcha-rancho de Chiqui- A síntese das experiências didático pe- nha Gonzaga composta em 1899 no carnaval de dagógicas junto às escolas, os resultados alcan- 1901; Pelo telefone, primeiro samba brasileiro, çados são objeto de “reflexão científica” deste de e Mauro de Almeida, lançado em dis- educador. Nas visitas “in loco” às escolas públi- co Odeon, em dezembro de 1916; Se você jurar cas de Umuarama, avalia-se junto aos profes- samba de carnaval, de , Nilton Bas- sores de arte e de outras áreas, as condições tos e Francisco Alves, de 1931, ritmo amaciado materiais e pedagógicas do ensino de MPB, da em relação ao ritmo da época, adaptado a um música em geral e secundariamente do ensino padrão menos sincopado que facilitasse a flui- de arte nas outras modalidades - visual, dança e dez do desfile de carnaval. Grande“ sucesso do teatro. A conclusão final é referente à “Aceitação carnaval de 31, nas vozes de Francisco Alves e ou Rejeição do Ensino Musical, especialmente Mário Reis” (SEVERINO; MELLO, 1997, p. 106). MPB, nas escolas públicas”. Na sequência, Carinhoso, samba-choro de Pi- xinguinha e João de Barro, oficialmente datado RELATO DAS EXPERIÊNCIAS DIDÁTICAS de 1937, e o gravou em disco, sem sucesso, em 1928. Em 1936, João de Barro pôs a letra em Foram realizadas duas experiências di- Carinhoso que foi gravado em 1937, por Orlan- dáticas transversais, sob orientação deste pro- do Silva, tornando-se um dos maiores clássicos fessor, envolvendo alunos, professores de Arte, da MPB; Chão de estrelas, canção de autoria Educação Física, História e Letras. Pela nature- de Orestes Barbosa e Silvio Caldas, título dado za transversal das experiências, a mistura dos pelo poeta Guilherme de Almeida, foi também temas de cada disciplina fluíram de modo natu- do ano de 1937. Gravado com sucesso por Sil-

ISSN 1982-1093 Akrópolis, Umuarama, v. 24, n. 2, p. 175-192, jul./dez. 2016 179 BARRADAS, F. da. C. vio Caldas nesse mesmo ano, só se tornou um 1937) e As Rosas não falam (, 1976), fo- grande sucesso nacional quando Silvio Caldas ram escolhidas pela beleza dos versos. No ge- gravou-a em 1950, pela segunda vez; Último de- ral, as 14 músicas refletem a evolução histórica sejo, samba, 1938, que Noel Rosa fez em seu da MPB, no século XX. leito de morte em 1937, e não pode ouvi-la, pois sussurrou a letra em agonia para seu amigo Va- ANOS DE CHUMBO dico. Gravado por Araci de Almeida em 1938; Aquarela do Brasil, samba, de 1939, de autoria Quanto à segunda experiência, Os Anos de Ari Barroso. Cantada em revista teatral por de Chumbo ou a repressão no período militar, Araci Cortez, não fez sucesso, e com arranjos o autor deste projeto, no ano de 2004 publicou grandiloquentes de Radamés Gnatalli, Francis- na Revista Akrópolis (jan./mar., v. 12) da Unipar, co Alves gravou-a e fez enorme sucesso. Tem a pesquisa sobre o tema. Produziu-se também um primazia de ser a música brasileira mais gravada CD Room sobre o qual foi apresentado na Uni- e executada no exterior. Escolhida como música par/Cascavel, comemorativo aos quarenta anos do século da MPB pela ABL. O Mar, uma das do golpe de 1964. muitas canções praieiras de , do Alunos do ensino médio, escanearam a ano de 1939; Asa Branca, toada, de Luiz Gon- partir de livros didáticos, revistas e outros ma- zaga e , de 1947 é ainda uma teriais da biblioteca da escola, documentos es- das músicas brasileiras mais tocadas no exte- critos, pinturas, gravuras, charges, fotos e prin- rior, executada como peça de concerto; Chega cipalmente figuras de livros com imagens do de Saudade, samba do ano de 1958, de Antônio exército na rua em atos de repressão, figuras Carlos Jobim e Vinícius de Moraes, gravado por de tortura em instalações do DOI-CODI, etc. No João Gilberto, é por muitos considerado o mar- total mais de 50 fotos foram projetadas em data co zero da bossa nova; Alegria, Alegria, marcha show e expostas em varais. de , do ano de 1967, espécie Este professor na condição de historia- de manifesto precursor do movimento tropica- dor fez a abordagem do tema. Contou-se com lista; O que será, de 1956, canção, fez grande a participação de um professor de gramática e sucesso gravado em dueto, por literatura na análise da canção “O Bêbado e a e . Letra de sentido ambíguo equilibrista”, de 1979. O professor de Filosofia foi censurada pelo regime militar; As rosas não abordou o tema “A ética nas tiranias e ditaduras”. falam, canção lançada em 1976, de versos re- A MPB foi o principal instrumento de re- quintadíssimos, a sua escolha foi um reconhe- sistência ao regime. Cinema e literatura, instân- cimento tardio ao seu autor Cartola, sofisticado cias mais adequadas para denunciar crueldades poeta compositor da mais alta categoria; O bê- totalitárias foram manietadas durante todo perí- bado e a equilibrista, de 1979, de João Bosco e odo da ditadura. Aldir Blanc, “focaliza uma promessa de abertura O show Opinião realizado em fins de 64, democrática, na ocasião cercada de incertezas” com a participação de Zé Kéti, João do Vale e (SEVERIANO & MELLO, p.253, v.2). Nara, em clima ultrapolitizado, foi a inauguração da ideologia da pobreza (Castro, 1999, p.351). Nenhuma música composta durante os anos Daí para frente jamais se livrariam dos militares. 80 e 90 faz parte da relação. Por isso, com- Zé Kéti cantava “Podem me prender, podem me positores como , e Pau- bater/ Podem até deixar-me sem comer/ Que linho da Viola, por exemplo, ficaram fora da eu não mudo de opinião”. Ainda segundo Ruy lista elaborada pelos críticos e pesquisado- Castro parecia um livro de insistência aos maus res (FOLHA DE SÃO PAULO, 22 nov. 1997, p. 4.7). bofes dos milicos, perfeito para o momento. Ao escrever a peça teatral Roda Viva em A lista das 14 mais importantes coincide 1968, Chico Buarque foi chamado de débil men- com o nosso ponto de vista. Algumas das esco- tal por um censor; conforme cita em reportagem lhidas são canções manifesto ou marcam o sur- o jornalista Sanches (1998), da Folha de São gimento de novos gêneros musicais. Outras fo- Paulo: O sensor Mário Russomano chama Chi- ram escolhidas como forma de homenagear os co Buarque de débil mental por ter escrito a peça autores pelo conjunto da obra produzida. Chão Roda viva, que segundo ele, não respeita a for- de estrelas (Orestes Barbosa e Silvio Caldas, mação moral do espectador. Chico Buarque re-

180 Akrópolis, Umuarama, v. 24, n. 2, p. 175-192, jul./dez. 2016 ISSN 1982-1093 Música popular brasileira/educação... age às críticas no jornal O Estado de São Paulo: res das canções, fez-se um breve histórico da Eu assumo totalmente a responsabilidade pelo importância de cada uma delas e, ao final, a au- espetáculo. Era justamente aquilo que eu queria dição musical em sua versão original foi ouvida dizer. Se tivesse de escrever Roda viva nova- pelos alunos. mente, faria a mesma coisa (SANCHES, 1998). Caetano Veloso e Gilberto Gil, para o DESCRIÇÃO DA METODOLOGIA APRESEN- regime militar mandavam mensagens em suas TADA canções que incentivavam o mau comportamen- to sexual e o uso de drogas. O autor deste projeto, propõe em dinâ- Paulo Monteiro, agente do Dops, assim micas de sala de aula e apresentações para pú- relatou em documento de caráter oficial. “Quan- blicos maiores as seguintes etapas de trabalho. do em dupla com Gilberto Gil, acercava-se des- Introdutória e inicialmente, tem-se que te, mordiscando-o no pescoço, como uma fêmea apresentar como motivação a biografia do autor à procura do macho, faltando pouco para beijá- da obra que se pretenda estudar. A história de -lo. O beijo aconteceu em outro show (...) tendo vida do autor se reflete na sua produção cultu- Caetano recebido das mãos de Gilberto Gil uma ral como projeto estético, ideológico e emocio- rosa, dando-me como recompensa um beijo na nal. Num segundo momento se fará a audição boca” (MAGALHÃES, 2002). da música e, por último, o comentário histórico, Dezenas de grandes cancioneiros foram social, literário, filosófico ou musicológico espe- perseguidos e se exilaram. Considerações re- cífico da área que o utilize. As pesquisas feitas ferentes ao rock brazuca, à jovem guarda, que através deste trabalho têm o objetivo de contri- apenas queriam fazer música e eram cobrados buir para o repensar da utilização pedagógica pelos engajados a ter uma ação política ficam das canções populares do Brasil. de fora desta investigação. Restringe-se outras Entende-se que não se deve chegar ao considerações contidas pela amplitude do tema. exagero e à absurda pretensão, de que apenas a audição de uma canção popular seja suficiente DIFICULDADES E PONTOS POSITIVOS DAS a um professor de história, de letras, de músi- APRESENTAÇÕES ca, de educação artística, ou de qualquer outra área, para se trabalhar os conteúdos programá- PONTOS POSITIVOS ticos. Esta deve ter um caráter auxiliar.

A experiência relativa às 14 músicas mais [...] ao se estudar história através de canções, importantes foi mais dinâmica. A música O Abre não se pode perder de vista ou se desconsi- Alas de Chiquinha Gonzaga, foi alegoricamente derar os limites da canção, uma vez que esta apresentado por alunos, previamente ensaiados se constitui em uma obra de arte que não tem o compromisso cabal de de abarcar em pela professora de Arte, como carnaval de sa- seus limites todas as informações e/ou fatos lão. A música contagiou os alunos pela vibrante a respeito de temas aludidas, ao contrário do sonoridade. A professora de Língua Portuguesa discurso narrativo, que tem esse compromis- fez uma análise semiótica da canção “O Bêbado so específico ... (RESENDE, 1992, p. 84). e a equilibrista”. A professora de história fez refe- rência à música O que será?, de Chico Buarque, ANOS DE CHUMBO – DINÂMICA DA APRE- a partir dos arquivos da censura da ditadura mi- SENTAÇÃO litar, que foi aberto em 1992. A toada “Asa Branca”, foi dançada em 1 – Projetou-se fotos dos personagens ritmo de forró por três casais de alunos. Um pro- principais do período, como João Goulart, dos fessor de Educação Física, cantor e violonista presidentes militares, de Lula liderando as gre- profissional interpretou as canções “Chega de ves do ABCD, de ações militares de repressão Saudade”, considerada o marco zero da bossa e outras. Paulatinamente, fez-se a exposição nova e “O que será?” de Chico Buarque, enig- didático-histórica do conteúdo. mática e provocativa ao regime. 2 – Num segundo momento apresentou- Este coordenador em “power-point”, con- -se a canção O bêbado e a equilibrista na inter- tou a história, data e aspectos de cada canção pretação de João Bosco e também de Elis Re- no contexto de época. Projetou slides dos auto- gina; destacou-se o tema da canção produzida

ISSN 1982-1093 Akrópolis, Umuarama, v. 24, n. 2, p. 175-192, jul./dez. 2016 181 BARRADAS, F. da. C. em 1979, e o período de abertura política que 4 – Presença quase nula de algum estudo so- se vivia naquele momento da história brasileira. bre MPB, embora conste nas Diretrizes Curr- Leu-se o texto produzido, relativo à canção. riculares da SEED – PR? 3 – A projeção da letra na tela permitiu Nenhum professor evidenciou qualquer ao professor de Gramática e Literatura explorar conhecimento sobre MPB. O despreparo segun- recursos de comunicação. Como a letra da can- do todos os professores decorre da ausência de ção está repleta de signos de duplo sentido por estudo nos cursos de graduação. causa da vigilância da censura sobre a mídia, os autores utilizaram códigos conexos. Significado 5 – Falta de Equipamentos? e significante, associados a conceitos mentais, A alegação dos professores é que embo- propiciaram ao professor desenvolver uma aula ra existam aparelhos, como TV e outros, já não de semiótica pela atenção dada a sistemas, re- funcionam direito. Particularmente, o professor lações e formas. deve levar para as salas seu próprio equipamen- Trinta e dois alunos do ensino médio as- to. sistiram à aula e tiveram participação ativa no seu desenrolar. Pode se constatar a boa recepti- 6 – Quantidade Excessiva de alunos por sala? vidade da experiência, porque depois se repetiu Quantificaram de 30 a 36 alunos por sala. em diversas escolas. 7 – Falta de espaços e recursos? PERGUNTAS E RESPOSTAS – PROFESSO- Todos responderam que sim. Falta uma RES DE ARTES sala apropriada para a disciplina de artes. Qual- quer atividade fora do contexto usa-se o pátio ou 1 – É algo considerado complementar supér- salão de eventos. fluo e ornamental? Complementar e de grande importância 8 – Disciplina de arte isolada e não articulada segundo a maioria. É exigida pelas Diretrizes com outras disciplinas? Curriculares – SEED – PR e tem um programa Não se cumpre as exigências dos parâ- a ser seguido. No ensino fundamental a MPB metros curriculares nacionais quanto a interdis- só vai aparecer na 8ª série / 9º ano. Nestas sé- ciplinaridade ou transversalidade dos saberes ries, tendo em vista o caráter criativo da arte, a escolares. Quando ocorre alguma amostra cien- ênfase é ser ideológica, fator de transformação tífica e cultural os alunos participam com alguma social. Na abordagem pedagógica o enfoque produção – visual (gravuras ou pinturas) – sem SEED – PR é para música engajada e a expec- ser na área de música. tativa de aprendizagem acentua a compreensão da música como fator de transformação social. 9 – Dentre as artes previstas na legislação – música, artes visuais, teatro e dança – qual a 2 – Há alguma exigência quanto ao hino? mais bem aceita? Não há nenhuma exigência. Por unani- Em primeiro lugar todos citaram artes midade os professores levam os alunos ao pátio visuais, música a seguir e por último teatro e para o hasteamento da bandeira e canta-se o dança. Alguns professores relembraram que no hino nacional. tempo escolar deles (científico, normal), fizeram parte de coral, fanfarra e danças folclóricas, etc. 3 – Formação de bandas, coro ou convite a grupos de músicas para abrilhantar festas e 10 – Há diferenças nas diversas áreas entre eventos? alunos tímidos e extrovertidos? Nenhuma escola dispõe de coral ou Os professores salientaram que os tími- equivalente. Conservatórios musicais muito ra- dos não gostam de música, teatro e dança e se ramente fazem alguma apresentação para os destacam melhor nas artes visuais. alunos, a cada dois ou três anos. 11 – Há interação da música da comunidade com a música da escola? A realização de alguns raros festivais de talento mostra a dificuldade dessa integra-

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ção. Na área cultural pesquisada os professores 16 – Os diretores e pedagogos da escola constatam que os alunos gostam mais de funk aceitam bem as atividades com música? e sertanejo universitário. É feita uma espécie de Um professor salientou que “os direto- patrulha para que não deem destaque a gêne- res por certo, querem que façamos mais do que ros cujas letras estão associadas a drogas, sexo usar giz e quadro negro, mas a escola depende e outros temas inadequados. Em suma, música dos recursos que se tem em disponibilidade que mais refinada está ausente do universo musical são poucos e assim muita coisa fica a desejar”. do aluno. Música do aluno 12 – O aluno aceita bem uma audição musical Pesquisa efetuada em escolas da comunida- mais refinada em oposição ao rap, ao funk de Total de questionário respondidos = 118 ou sertanejo, proveniente de seu mundo cul- tural? 1 – Dentre os gêneros atuais, assinale com X Todos os professores afirmaram que aqueles que mais lhe agradam. não. Outro tipo de música só mesmo em traba- ( ) pagode lhos obrigatórios de pesquisa com atribuição de ( ) sertanejo nota. Espontaneamente o aluno só conhece a ( ) axé música popular da indústria da diversão. ( ) forró ( ) mangue-beat 13 – Desapareceu o professor de música na ( ) rock escola pública? ( ) funk Sim, responderam os professores. Existe ( ) rap apenas o professor de artes. O próprio conteúdo ( ) pop religiosa pedido pelas Diretrizes Curriculares, só permite Respostas - preferências (%). O aluno Optou por o ensinamento dos conteúdos teóricos concei- mais de um gênero musical tuais. A própria escola não está adaptada para a – sertanejo 88% ensinar a teoria musical. A música deveria ser b – funk 56% uma disciplina ou atividade à parte. Os profes- c – rap 51% sores não se sentem preparados para ensinar d – rock 29% teoria musical. e – pop religioso 16% f – pagode 13.5% 14 – Nas aulas de música, os alunos solici- g – forró 7,5% tam atividades práticas ao invés de trabalho h – axé e mangue beat não foram citados escrito? Segundo os professores, atividades com Considerações: A música sertaneja country música, inclusive audição musical das obras-pri- é herdeira da tradicional “caipira”, surgida no mas da MPB, se tornam inviáveis, porque não contexto interiorano de São Paulo, tendo como têm conhecimento do fluxo musical sistematiza- celeiro de artistas as regiões de Araraquara, Pi- do da MPB. Falta formação acadêmica acerca racicaba e Sorocaba, que demandaram à capital da história da MPB. Fica-se mais na teoria, po- paulista para as primeiras gravações da década rém, creem que o aluno goste mais de audição de 1920. musical e atividades práticas do que apenas A moda de viola tem andamento lento, pesquisa e teoria. com versos mais falados que cantados, encai- xados em melodias que se repetem. É cantada 15 – As famílias participam da atividade com geralmente em duo de vozes terçadas e parale- música? las, herança de modinha portuguesa do século Os pais participam pouco. Em geral, não XVIII. A permanência das duplas e das vozes em estão presentes na escola. A única atividade, terça é das poucas características ainda vivas rara, que cobra a presença de pais, ocorre quan- na herdeira, hoje chamada de country sertanejo. do a equipe pedagógica programa uma apresen- Os rodeios têm sido mercado garantido tação de show de talentos. para gênero country sertanejo, Gilberto e Gilmar, Christian e Ralf, Rick e Renner, Bruno e Marro- ne, Felipe e Falcão, Clayton e Camargo, Ataíde

ISSN 1982-1093 Akrópolis, Umuarama, v. 24, n. 2, p. 175-192, jul./dez. 2016 183 BARRADAS, F. da. C. e Alexandre, César e Paulinho, Milionário e José O funk, desde os anos 60, nos EUA, foi Rico, Gian e Giovani, são presenças constantes sempre considerado música grosseira ou rude, nos palcos de rodeio, do seleto clube da primeira que na época tinha como representantes prin- divisão do country. cipais James Brown, George Clinton e alguns conjuntos dedicados ao gênero. O funk contri- Hoje em dia os rodeios são responsáveis buiu para a música discoteca, tornou-se um me- pelos maiores shows do Brasil. São 1200 tagênero que engloba diversos estilos musicais eventos desse tipo por ano e, destes, 600 que se desenvolveram de finais dos anos 60 a têm shows musicais. Somados, juntam um finais dos anos 90. Influenciou o rap, música nor- público maior do que o total do campeonato te americana em evidência nos anos 80 e 90. brasileiro. Nos maiores shows de rodeio, o público chega a 80 mil pessoas (MARTINS, O funk é anterior ao rap e formador deste. Na Veja, n.35, jul. 1998, p. 117) formação do rap, foi nítida a influência gospel, música de chamada e resposta e o blues fala- O funk e o rap do que incluía narrações de histórias. Enfim, os dois gêneros se entrelaçam, porém o funk ab- Estão entre os principais gêneros musi- sorveu a parte mais anárquica e polirrítmica da cais na preferência dos alunos. Os músicos de música soul, uma espécie de black-rock´n´roll de rap praticamente não tiveram formação musical. alta energia. Em geral não tocaram instrumentos convencio- nais. Rock Brazuca e Pagode Os equipamentos básicos utilizados são os discos de vinil, o misturador ou mixers, Razoavelmente citados pelos alunos, que unem os toca discos ou pick-up, e sample- nos furtaremos a considerações sobre o rock, adores, que são os equipamentos digitais que cujas principais bandas no Brasil, se situam nos permitem o recorte, as montagens e a sobrepo- anos de 1980, como Barão Vermelho, Parala- sição de músicas que têm andamento, ritmo e mas do Sucesso, Titãs, Ultrage a Rigor, RPM, tonalidades diferentes. Nas mãos dos DJs tais Legião Urbana, Engenheiros do Havaí e Blitz, equipamentos transformam-se, verdadeiramen- para citarmos apenas as da primeira divisão. te, em instrumentos musicais (ANDRADE, 1999, O pagode é uma variante do samba que p.79). é um metagênero, no seu bojo congrega muitos São Paulo, centro do rap, tem no Largo subgêneros. O pagode é mais regionalizado no São Bento, na estação do metrô, o local princi- Rio e na Bahia. O do Rio de Janeiro é mais ca- pal onde, inicialmente, os amantes do gênero se denciado que o baiano. O samba cantado por reuniram para mostrar os fazeres artísticos. e tem relação No Rio predomina o funk. O funk carioca de cadência com o samba enredo, enquanto o no Brasil dos anos 70, era o soul muito compor- baiano sofre influência da velocidade rítmica do tado originário da música gospel, considerada axé music. As preferências aferidas dizem res- autêntica e sincera. Um dos precursores do funk peito a uma localidade (Umuarama) situada na e do rap é Gerson King Combo, chamado de área cultural caipira do Brasil. As áreas culturais “James Brown brasileiro” que, ao lado de Tony gaúcha, sertaneja(nordeste), crioula(litoral do Tornado, foram os maiores representantes do Rio ao Nordeste), e a cabocla(Amazônia), povo- movimento Black Rio. Gerson afirmou que nos ada por outros seres, devem ter diferentes pre- finais dos anos 60, está a origem desses gêne- dileções musicais. ros (rap e funk) no Brasil, pois já se realizavam bailes com sons mecânicos. O som em geral era 2 – Dentre os gêneros do passado musical brasi- o rock e o soul. Esses bailes foram levados para leiro, assinale aqueles que você conhece. a periferia pelos empresários, especialmente o ( ) lundu soul, dando origem ao Movimento Black Rio. Em ( ) maxixe entrevista à Folha de São Paulo, Combo afirmou ( ) marchinha carnaval que, “nosso trabalho era apurado, sofisticado e ( ) samba canção social. O funk atual não tem compromisso com ( ) samba carnavalesco nada”. (Folha de São Paulo, 26 fev. 2001, p.E. ( ) música caipira 8). ( ) frevo

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( ) valsa soluçado. O canto flui como uma fala normal. ( ) baião Não se cantou bossa nova, pelo menos na sua ( ) samba tradicional origem, com arrebatamentos grandiloquentes, ( ) samba de breque mas sem intensidade. Seria um canto falado ou o cantar baixinho. O solista da grande voz, o es- Respostas = gêneros citados (%) tilo bel-canto operístico, tido em outras épocas 1 – caipira 62% como modelo ideal de interpretação, não cabia 2 – valsa 49% na bossa nova. A introversão, a sutileza, os de- 3 – samba tradicional 48% talhes, foram as características das criações ar- 4 – frevo 38% tísticas do gênero. 5 – samba de carnaval 28% Embora a bossa nova fosse música po- 6 – marchinha de carnaval 23% pular, não poderia ser comparada ao sambão 7 – baião 20% tradicional. O povo reunido num largo ambien- 8 – samba-canção 12% te jamais poderia cantar desafinado em coro. O 9 – lundu, samba de breque e maxixe violão foi o instrumento de destaque na bossa não foram lembrados nova. A orquestra silenciava e o acompanha- mento do violão possuía uma batida e uma har- Recebeu-se com muito agrado alguma monia completamente diferente do que se esta- audição que o aluno teve com obras do pas- va acostumado a ouvir. João Gilberto foi o prin- sado musical brasileiro. Embora não estejam cipal responsável por essa transformação, pois disponibilizados para venda no mercado da in- foi intérprete, violonista, arranjador, compositor dústria cultural a tênue audição musical discente e coarranjador ao mesmo tempo. Quando em pode ser um fio condutor capaz de remetê-lo a 1958, lançou o LP Chega de Saudade, o impac- uma produção mais refinada, especialmente as to e a polêmica foram enormes. A bossa nova foi obras-primas do cancioneiro nacional. Oportu- uma resposta à cultura do que se pedia na épo- nidades pedagógicas para levá-los às melhores ca, um novo tipo de música para dançar, mais belezas de nossa música e as de valor interme- próximo do gosto internacional. Os jovens ama- diário (consagradas apenas pelo grande públi- dores gostaram do ritmo e o considerou ideal co), introduzir repertório para que o aluno possa para a superposição dos esquemas harmônicos sentir-se participante do mundo da cultura e ca- da música norte-americana que os fascinaram. pacitado a um ato estético fruto de uma recep- Com a bossa nova os impulsos do ritmo negro ção ativa. deixaram de ser sentidos; aquela intuição rítmi- ca de caráter improvisado, desapareceu. “O uso 3 – A bossa nova representa na música popular maior de modulações e acordes alterados exigiu brasileira pelo seu nível de sofisticação harmô- também o desenvolvimento da audição de har- nica, literatura, produção de obras-primas, gran- monias e da criação de novos dedilhados ou po- des letristas e instrumentalistas de prestígio in- sições instrumentais”. (CAMPOS, 1993, p.76). ternacional, nossa melhor música. Você conhe- Com o sucesso da bossa nova, artistas ce esse gênero? não cantores fizeram suas gravações como o ( ) sim ( ) não próprio Vinícius e Jobim, Nara Leão, Geraldo Vandré, Carlos Lyra e Astrud Gilberto; fizeram Resposta: Apenas 32% responderam sucesso, sem terem grandes recursos vocais. A afirmativamente. Uma tristeza em se tratando de bossa nova foi fornecida à classe média e alta nossa melhor música. pelos conjuntos de piano, violão elétrico, con- Este gênero esteve bem de acordo com trabaixo, bateria e pistom. O violão tornou-se o os ambientes urbanos modernos dos aparta- instrumento da moda. Carlos Lyra e Roberto Me- mentos, diferente do samba oriundo do terreiro nescal fundaram uma academia de violão para ou da Vila 2Isabel. Antônio Carlos Jobim definiu divulgar as composições do grupo. a concepção do canto da bossa nova como con- Em 1959, foi lançado o LP Chega de sistindo-se cantar cool. 6 Quer dizer, sem arrou- Saudade (Odeon), que fez sucesso e agluti- bos, sem “dó de peito”, sem voz cheia ou canto nou todo pessoal da primeira geração da bos- sa nova, como Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Baden Powell, Sílvia Teles, Alaíde Costa, Nara 2Brasil Rocha Brito, in: balanço da bossa, p.35.

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Leão, Ronaldo Bôscoli e tantos outros. O pes- três milhões de cópias. O padre Antônio Maria soal da bossa-nova realizou apresentações em já vendeu perto de 1 milhão de cópias, compôs emissoras de rádio, auditórios de universidades, O rap do samaritano. Outros como padre Zeca, cujos shows chamaram de Festival de Samba do Rio de Janeiro, Irmã Inez, de Ponta Grossa Moderno ou Samba-Session ou Comando da – PR, que canta rock e reggae acompanhada Operação Bossa Nova. A palavra bossa nova por instrumentalistas ex-drogados recuperados pegou a partir do momento em que ela apareceu e o Frei Fábio de Melo, que está se revelando na letra de Desafinado (Tom Jobim e Newton como cantor e compositor, são os lançamentos Mendonça). As músicas da bossa nova supera- da hora, no mercado discográfico religioso, de ram o amadorismo e profissional. “O exercício, apelo pop. o estudo instrumental e vocal e a pesquisa so- Carlos Eduardo B. Calvani, em sua obra nora através da prática do próprio instrumento “Teologia e MPB”, faz reflexões sobre filosofia ou da audição de discos, ou seja, a busca de e religião, discorre sobre o espaço teológico e informação, tornou-se uma preocupação cons- defende que a teologia não pode ser mais con- tante desses músicos” (CAMPOS, 1993, p. 79). cebida como uma ciência de produção exclusiva O nível técnico profissional dos integrantes da da Igreja. bossa nova foi o mais alto atingido no populário da música brasileira. A revelação não está somente onde a Igreja diz estar, mas mais além, nos lugares onde a 4 – Em sua família tem alguém que ouve, fre- Igreja pouco se interessa em ir, nos cenários quentemente, música pop religiosa (gospel)? e figuras que pouco se interessa em contem- plar e nos sons que pouco se interessa em Dezesseis por cento responderam afir- ouvir (CALVANI, 1998. P.67-68). mativamente. A religião é considerada um pro- longamento da família. A música pop religiosa se O sucesso do gênero atrai elementos constitui num elemento novo no atual momento do círculo eclesiástico, de outras proveniências da música popular brasileira. Religião e música como as oportunidades que veem no religioso sempre estiveram historicamente unidas, caso um “veio de ouro”, gravadoras majors como a dos cantochões que atravessaram a Idade Mé- Universal e a Sony, e alguns artistas consagra- dia. O Concílio Vaticano II, mudou o comporta- dos, caso de Roberto Carlos, que cada vez mais mento dos padres nos anos 60. Ao lado disso, gravam na linha de Jesus Cristo e Nossa Se- ocorreu o avanço da religião nos meios de co- nhora. municação. Das 1931 emisssoras de rádio do país, pelo menos 450 estão nas mãos de gru- 5 – Você ou outro(s) da família preferem qual pos religiosos. Ocorre o mesmo com 95 dos 249 dos locais assinalados para dançar? canais de televisão (KLINTOWITZ, Veja, n.45 ( ) boates fechadas nov.99, p.174). ( ) locais populares ao ar livre O sucesso do gênero atualmente é o Pa- ( ) casas de baile, amplos, em geral, da dro Marcelo Rossi, que faz canções para empol- periferia gar plateias. O público canta e dança com ele, agitando os braços, no melhor estilo coreográ- Treze por cento afirmaram que não dan- fico denominado aeróbica do Senhor. Projetou- çam por não gostarem dessa atividade diversio- -se com apresentações no programa do Faus- nal. Os demais se dividiram nas outras modali- tão e do Gugu. Apresentou-se em programas dades: boates, ar livre, bailes de periferia. especiais de Natal e comanda três programas A partir do movimento hippie na Ingla- de rádio. Já vendeu mais 10 milhões de unida- terra, com o festival de Woodstock(1969), alte- des. Seu lançamento Um presente para Jesus, rou-se a forma de ouvir e consumir música. Os vendeu um milhão de cópias. O padre Marcelo avanços tecnológicos alteram completamente a Rossi não está sozinho no mercado. O Padre atividade humana em todos os grupos sociais e Zezinho é o pioneiro, gravando desde a década ramos de atividade. de 60, e tem na canção Oração da família, seu Os festivais ou concertos de rock ao maior sucesso. Já gravou 100 discos e vendeu ar livre, no mundo todo, alavancaram grandes 10 milhões de cópias. O bispo Marcelo Crivela, apresentações. O Rock In Rio, é o principal es- sobrinho de Edir Macedo, já deve ter vendido

186 Akrópolis, Umuarama, v. 24, n. 2, p. 175-192, jul./dez. 2016 ISSN 1982-1093 Música popular brasileira/educação... petáculo no Brasil, que contrata atrações inter- saber prévio dos alunos. O interesse por produ- nacionais de diversos gêneros musicais. tos sonoros específicos revelou a importância Os palcos são enormes, chegam a ter 55 da localidade e de que modo a música marcou metros de frente. O espetáculo de luzes e piro- identidades. Diversas histórias a respeito da tecnia acaba quase sempre ofuscando a apre- música popular referem-se a locais geográficos sentação das bandas. Segundo a reportagem específicos, habitualmente cidades, regiões, rios citada, atrás dos músicos, no fundo do palco, é ou acidentes geográficos. Salvador e o Rio de instalado um monitor de TV que mede 16 metros Janeiro têm sido os locais mais cantados. Em de altura, por 52 metros de largura, ocupando 1978, Caetano Veloso compôs e gravou Sampa, quase toda largura do palco. A tela pesa 30 to- homenagem do artista à cidade que o acolheu neladas e se compõe de centenas de cristais em no início de sua carreira. Rio de lágrimas (Pira- formato triangular. Para interligar todos eles, são ci, Lourival dos Santos e Tião Carreiro), também necessários 35 quilômetros de cabos. O efeito conhecido por Rio de Piracicaba, maior sucesso é hipnotizante. Imagens são projetadas na tela de Tião Carreiro, foi gravado por dezenas de in- gigante e contribuem para tornar o espetáculo térpretes e é uma das mais cantadas no gênero. monumental. Do surgimento do palco em cafés O Brasil de tantas belezas musicais, per- concerto na Europa em 1867, ao teatro de re- mite ao professor no campo da geografia, bus- vista no Brasil em 1911, de pequeno tamanho, car marcas de identidade das regiões brasilei- incapaz de abrigar um público de 500 pessoas, ras, através de um produto sonoro. O som da certamente que muita coisa mudou. João Gilber- Bahia, ou música do gênero Bahia(axé, pagode, to não gosta nem um pouco dos megaespectá- lundu), dos pampas (vaneira), do Rio de Janeiro culos, apenas de uma boa acústica, um público (samba, chorinho), de São Paulo(música caipi- silencioso, um banquinho, sua voz e o violão. Na ra), de Recife(frevo), de Alagoas(coco, embola- verdade, a audição é um processo físico situado da), do nordeste (xote, ciranda, quadrilha, forró), em contextos sociais, mediado pela tecnologia. apenas para citar algumas.

O ato de ouvir música é uma atividade que 7 – As músicas citadas abaixo lançaram para o acontece em graus de intensidade variáveis, sucesso as três duplas sertanejas mais famosas com influência do contexto de consumo e do gênero: pelo estilo do artista: o ambiente dispersivo ( 1 ) Chitãozinho e Xororó dos clubes e a típica concentração silenciosa ( 2 ) Zezé di Camargo e Luciano presente nos concertos dos cantores-com- positores, representam dois extremos (SHU- ( 3 ) Leandro e Leonardo CKER, 1999, p.27). Assinale com os números os sucessos A proliferação dos gêneros musicais e dessas duplas: estilos provocou uma fragmentação do público ( ) Entre tapas e beijos ouvinte. Fazer e executar música tornou-se uma ( ) Fio de cabelo atividade de outras épocas. ( ) É o amor

6 – As diversas regiões brasileiras produzem gê- Noventa por cento de acerto para esta neros musicais culturalmente diferentes. Veja se questão, a atestar a preferência dos alunos da você acerta preenchendo cada quadrinho com a atual geração pelo country sertanejo. O gênero sua região de origem. NE, RS, NORTE MG, BA é também o preferido da classe média brasileira. Lambada______Axé______Chitãozinho e Xororó abriram as porteiras para Forró______o sucesso popular do gênero com a música Fio Sertaneja/Caipira______de Cabelo. Vanerão______Apadrinhados pelo radialista Geraldo Meirelles, Chitãozinho e Xororó gravaram seu Oitenta por cento dos alunos souberam primeiro disco em 1970, com destaque para Ga- relacionar o gênero musical com a região geo- lopeira, gravado pela Copacabana. Com uma gráfica. Demonstração eloquente da presença série de gravações feitas na década de 70, fica- da música no mundo existencial do aluno. O ram razoavelmente conhecidas em todo o Bra- professor de geografia poderia explorar esse sil. Os irmãos sempre pretenderam dar à música

ISSN 1982-1093 Akrópolis, Umuarama, v. 24, n. 2, p. 175-192, jul./dez. 2016 187 BARRADAS, F. da. C. sertaneja o som da jovem guarda. Em 1982, lan- ções e movimentos para arrebatar o público. çaram o oitavo álbum, Somos Apaixonados, que alterou a sorte da dupla, pois continha a faixa Fio 8 - Ao ouvir música em casa você reproduz o de Cabelo, que puxou a venda de um milhão de som em volume. cópias. A partir desse oitavo LP, Homero Bétio, ( ) alto ( ) baixo filho do consagrado radialista Zé Bétio, passou a produzí-los e fez a carreira da dupla deslanchar. Quase todos optaram pelo som alto. O Importaram dos EUA, equipamentos de som e adolescente que reproduz som em alto volume luz cada vez mais potentes, sofisticaram o figuri- em casa, está em geral, apenas provocando os no e fizeram mega espetáculos sertanejos. Gra- adultos para ser levado a sério. O jovem, atra- varam intensamente na década de noventa e vés da música de sua idade vive o momento da suas produções atingiram sempre a marca milio- “moda”. O jovem se considera “na moda” e por nária superior a um milhão de cópias vendidas. isso vivencia gêneros desenfreados, e ritmos Gravaram até em espanhol com o nome de José quase “selvagens”. Viver agitado parece ser, no Y Durval e injetaram prestígio e muito capital na caso do rock, uma “angústia” de viver. Mais que carreira dos filhos de Xororó, Sandy e Junior. isso, parece ser uma forma de liberar o corpo e A dupla Leandro e Leonardo, foi constitu- o espírito. ída em 1983. O sucesso veio com o LP, Leandro Os gêneros musicais populares, em e Leonardo volume 3, com a faixa Entre Tapas e grande parte, são músicas que expressam re- Beijos( Nilton Lemos e Antônio Bueno), que ven- volta. Através delas o jovem acusa a sociedade, deu um milhão de cópias. O LP seguinte Pense rebela-se, mostra formas alternativas próprias em mim, puxado pela faixa do mesmo nome, dos de viver. O jovem exprime através da música compositores Douglas Maio, Zé Ribeiro e Mário o escândalo das guerras, do racismo, da des- Soares, vendeu 2,5 milhões de exemplares. O truição, das injustiças sociais. Temas de fundo sucesso não parou mais até que Leandro fale- moral como esses, contidos na cultura musical, ceu em São Paulo em junho de 1998, vítima de podem ser aproveitados pelo professor para tra- câncer. O CD lançado dos meses antes do seu balhar problemas sociais e políticos da contem- falecimento vendeu 3 milhões de cópias. poraneidade. O mercado fonográfico tem no jovem Em Goiânia, onde foi sepultado, o corpo de de até 20 anos o seu maior comprador, 75% da Leandro foi levado ao cemitério por um corte- música popular. O educador deve ter em mente, jo de 150 mil pessoas. Estima-se que 60 de- como alerta, essa cifra tão expressiva. Desqua- las passaram em frente do caixão do cantor lificar gêneros musicais como o axé, o rock, o durante o velório em Goiânia. (MASSON E sertanejo, que tanto agradam ao adolescente, MEZZAROBA, Veja, n.27, jun. 1998, p. 126). em detrimento de outros, é negar globalmente a cultura do jovem, ou a sua própria vida. Zezé di Camargo e Luciano, goianos de Por outro lado, a escola não conferir sta- Pirinópolis, formaram a dupla em 1988. Devido tus ou hierarquia às obras musicais, não é edu- a dificuldade inicial que tinham para gravar ofe- cativo. A escola deve acrescentar algo ao gosto reciam suas músicas para os cartazes do mo- dos jovens, educar no sentido pleno. Também mento, como Chitãozinho e Xororó, Leandro e não é democrático alhear-se para não ferir sus- Leonardo e Sula Miranda. Em 1991, logo no pri- ceptibilidades. meiro LP, o Brasil cantou com eles É o amor. Em 1993, a dupla assinou com a Sony e surgiram 9 – Algum professor seu em qualquer disciplina em sequencia, outros sucessos, como Coração utilizou MPB (Música Popular Brasileira), para está em pedaços, Saudade bandida, Vem cuidar reforçar ou fazer referência ao conteúdo? de mim e Salva meu coração. A maior parte dos ( ) Sim - Frequentemente? ( ) Sim sucessos da dupla é de autoria do próprio Zezé ( ) Não ( ) Não Di Camargo que recebeu nos EUA o título de melhor compositor latino de 1996. Inovaram na Noventa e cinco por cento responderam coreografia de palco. Sem exibirem instrumen- negativamente. Não se pode atribuir qualquer tos, imitam os integrantes das bandas de rock e culpa aos professores pelo desconhecimento to- de axé, correndo no palco e executando evolu- tal da história da MPB; daí não utilizá-la. A esco-

188 Akrópolis, Umuarama, v. 24, n. 2, p. 175-192, jul./dez. 2016 ISSN 1982-1093 Música popular brasileira/educação... la brasileira em todos os níveis ignora uma das des com cantos, são ações diárias. Os professo- maiores manifestações culturais do povo brasi- res de Arte só dão aulas teóricas de história da leiro – a MPB (Música Popular Brasileira). música. Sequer conhecem a história da MPB em Entende-se que a escola é um espaço seus pontos mais elementares. cultural capaz de preservar e transmitir as obras- Justamente a área de música que pode primas que lastreiam nossa cultura musical. En- promover a integração dos alunos das diversas tretanto, sem material escolar e didático elabora- áreas é uma área isolada e, por isso mesmo, re- do para a realidade escolar, fica difícil sequer fa- jeitada. zer um planejamento que possa incluir estudos Faltam espaços e recursos. As experi- sobre o tema. A escola deve produzir culturas ências pedagógicas efetuadas ao longo destas e metodologias nesta área, porque estas prati- pesquisas foram improvisadas nos pátios desti- camente inexistem nos cursos de licenciatura, nados ao recreio. Burburinho juvenil, conversas sequer como disciplinas complementares, intro- paralelas, inquietude dos adolescentes, rebai- dutórias, de iniciação ou opcionais. xaram o aproveitamento científico e cultural dos A proposta dos parâmetros curriculares objetivos colimados. Impossível ministrar aulas para a área de artes destaca não apenas a com- de arte sem laboratório de artes, água corrente, petência do aluno em produzir arte, mas com- pias, balcões, etc; são essenciais. A educação preendê-la e analisá-la no âmbito do desenvol- brasileira não pode almejar a prática de ativida- vimento do processo histórico cultural. No caso des artísticas apenas com quadro negro e giz. específico de música: Os professores receberam uma quantidade de flautas que estão “colocadas”, no almoxarifado, - analisar crítica e esteticamente música de amontoadas com tênis velhos e outros rejeitos. gêneros, estilos e culturas diferenciadas, uti- Mais importante que revisar o “Currículo lizando conhecimento e vocabulários musi- Atual”, pretensão do MEC, é dotar as escolas de cais; fazer interconexões e diálogos com va- salas ambiente e laboratórios, porque o aluno lores, conceitos e realidade, tanto dos criado- gosta de um ensino prático. O Estado oferece ao res como dos receptores, apreciadores das comunicações/expressões musicais; utilizar professor um notebook. Ocorre que as escolas conhecimento de “ecologia acústica”, enfo- não dispõem de wi-fi para os professores. Deci- cando diversos ambientes na análise e posi- diu-se que utilizem em casa para preparar aulas. cionamento frente a causas e consequências Não há integração entre a música da es- de variadas “paisagens sonoras”, projetando cola e a música do aluno. Vive-se envolto em um transformações desejáveis e de qualidade ambiente musical. O aluno só conhece a músi- para o coletivo das pessoas (Parâmetros ca mostrada com propósitos comerciais pela in- Curriculares Nacionais, p.177). dústria da diversão. Mas, ele gosta de música, vivencia música enquanto a escola brasileira ig- CONSIDERAÇÕES FINAIS nora esta que é uma das maiores manifestações de massa do povo brasileiro. “A escola “discur- Dificuldades e Possibilidades sa” sobre arte e não imerge o aluno no processo A área – música e MPB incluídas – é artístico criado” (TROPE, 1991, p.51). considerada na escola regular, como supérflua, Se o professor pelo menos conhecesse suplementar, “ornamental” e isolada do resto do as obras-primas do concioneiro, a partir da cultu- currículo. ra do aluno, poderia levá-lo a uma audição mas Os professores sequer conhecem o sig- refinada. nificado pedagógico de transdisciplinaridade Músicas meramente comemorativas, de dos saberes escolares. Em ações educativas um repertório básico, cavam um fosso ainda que enfocam na obrigatoriedade temas sociais maior entre a música do aluno e a do professor agudos como sexismo, drogas, dengue, doen- e “suas responsabilidades de planejamento e ças transmissíveis e temas ligados ao jogo das condução do processo de aprendizagem” (TOU- diferenças discriminatórias as disciplinas pro- RINHO, 1993, p. 97-98). movem ênfases estanques, sem características O barulho dos cantos perturba as aulas transdisciplinares. das outras disciplinas. O professor de arte foge Aula de música do 1º ao 5º ano do En- desse conflito, busca atividades de disciplina e sino Fundamental estão excluídas, mas ativida- silêncio. Nenhuma escola da rede pesquisada

ISSN 1982-1093 Akrópolis, Umuarama, v. 24, n. 2, p. 175-192, jul./dez. 2016 189 BARRADAS, F. da. C. possui sala ambiente com revestimento acústi- Fosse a história da MPB ensinada mini- co. mamente em alguns cursos de graduação: Le- No caso do uso dos instrumentos convencio- tras, História e Pedagogia – milhares de expe- nais, as questões do barulho, da ordem e da riências pedagógicas inter e transdisciplinares disciplina, voltam a interagir na prática pe- que contêm as sucessivas transformações da dagógica, criando novamente o pânico dos sociedade brasileira em problemas decorrentes professores em relação à perda do controle da urbanização, desemprego, alegrias, tristezas, do comportamento da classe (TOURINHO, 1993, p.104). prazeres, tragédias, aflorariam como material ilustrativo do conteúdo da aprendizagem. Nenhuma escola possui um professor O teor das letras, como já se indicou formado em música. O professor das séries ini- antes traz múltiplos desdobramentos sobre as ciais é polivalente e ministra todas as disciplinas. questões da cidade, do espaço, do território, Pesquisas efetuadas em outros estados, permitindo recortes e reflexões na área da ge- como o Rio de Janeiro, mostram que os profes- ografia humana. Utilizar letras de canções para sores de Artes se sentem rejeitados. se estudar geografia humana é gratificante para Nunes, doutor em educação, em sua qualificar a MPB como fonte de ensino. pesquisa “Aceitação ou Rejeição”: educação Os livros no campo da educação musi- musical na escola pública, coletou o seguinte cal compreendem, em sua maioria, gramática depoimento de uma professora de artes. musical (noções de teoria), organologia (estudo e discriminação dos instrumentos e formas de Eu às vezes trago CDs e o ‘colega’ entra na execução, história da música), em geral univer- minha sala e diz: ‘não dá para diminuir um sal, clássica erudita, históricos dos hinos, can- pouquinho o som, porque eu não posso tra- ções cívicas, folclóricas, e canções populares balhar (...) desenvolvi um projeto aqui e teve brasileiras, que contribuem para o ensino musi- um professor que não saiu da sala para as- cal, mas trazem pouco ao desenvolvimento da sistir, não prestigia (...) tem professor que criatividade. acha que é só ler, escrever e fazer prova (NUNES FERNANDES, pg. 88, Linhas críti- Gerações e gerações de brasileiros passa- cas, jan. a jun./00). ram pelas escolas cantando sempre as mes- mas canções: Atirei um pau no gato, Ciran- Esse antagonismo ocorre a partir do 6º da cirandinha, Marcha Soldado, Capelinha ano, pois os de ensino fundamental usam com de melão, Cai cai balão e outas nas escola aceitação plena, música, constantemente, com primária: enquanto que no ginásio e colégio, boa aprovação. a música se restringiu às canções cívicas e Nas duas apresentações efetuadas – “As algumas populares (COLARES, s.d., p.19). 14 mais importantes” e “Os anos de chumbo”, constatou-se que os alunos “gostam”, mas al- A música pode contribuir com muito mais guns grupo de alunos dificultam e parece que que isso para o processo educativo. estão na escola só para atrapalhar, fazer bagun- No contexto educacional, a música tem ça. aparecido no discurso de alguns educadores Embora não seja generalizado, consta- como recurso para alcançar as crianças, deixá- tou-se que diretores “encrencam” com os pro- -las mais tranquilas, canalizar suas energias, ou fessores quando se tem uma atividade fora da desenvolver a criatividade e a imaginação. As escola, por exemplo, a cessão de um funcionário propostas metodológicas de que a arte na es- para acompanhar os alunos. cola deve ser espontânea, apriorista, inata, me- A aceitação da música pelo aluno é mui- recendo apenas ser cultivada, não passam de to boa. Os levantamentos efetuados mostram formulações num nível de senso comum e, care- que os principais gêneros de música dos alunos cem de cientificidade ou pedagogias adequadas. são o country sertanejo, o funk e o rap. Também Ao situar a música como forma de entendimento apreciam gêneros do passado musical brasileiro dentro da história, do conflito de classes da pro- ouvidos em casa por parentes mais vivenciados. dução cultural de massa, é porque entende-se A partir do gosto musical do aluno, pode-se levá- necessária a produção de visões críticas sobre -lo a uma audição mais refinada. a arte, a educação, ou o ensino de música como um processo contraditório que exige múltiplas

190 Akrópolis, Umuarama, v. 24, n. 2, p. 175-192, jul./dez. 2016 ISSN 1982-1093 Música popular brasileira/educação... interações e contradições. nhar juntas, numa integração sólida, ca- paz de eliminar os esconderijos próprios da [...] A crise por que passa a pedagogia musi- aprendizagem, onde cada disciplina ocupa o cal pode ser reveladora tanto da negligência, seu devido lugar, acentuando cada vez mais, dentro e fora da escola, diante da premência o que tanto se comenta: a cultura ocidental por estudos, como da angústia de educado- se caracteriza pela compartimentalização res comprometidos com a qualidade do ensi- dos conhecimentos (COLARES, s.d., p.19). no (ROCIO, 1994, P.3). A música como saber escolar tem sido Porque o ensino da música não é muito vista, em geral, apenas para distrair e não para valorizado nem pelos alunos, nem pelos pais, instruir. A proposta é outra: a música como uma nem pelos outros professores? Por que, justa- possibilidade de uma educação ética e estética. mente a música, que fora da escola é tratada com tanta alegria, desperta paixões e entusias- REFERÊNCIAS mo é considerada marginal na escola? Na nossa concepção, ao contrário das SANCHES. M. O rodeio é sertanejo. Revista outas disciplinas, o ensino de MPB não se efe- Veja, São Paulo, v. 29, n. 35, p.117, jul.1998. tua pela mera transmissão de conhecimentos. ______. O velório em Goiânia. Revista Veja, Ao professor cabe à função pedagógica de sus- São Paulo, v. 31 n. 27, jun. 1998. citar a admiração e o interesse do aluno, esco- lher os conteúdos e a audição mais adequada, ANDRADE, E. N. de (Org.). Rap e educação, mas este pode não aceitá-la, assimilá-la e con- rap é educação. São Paulo: Summus, 1999. tinuar livre para recusar a admiração. Os argu- mentos do professor podem diluir-se. A afeição BARRADAS, F. MPB e repressão no período do aluno pelo professor é também fruto de uma militar. Akrópolis, Umuarama, v. 12, jan./mar. admiração cultural. Essa confiança cultural que 2004. p. 21-31. o aluno deposita no professor, antes de ouvir a obra proposta, é uma espécie de fiança a ele. O CALVANI, E. B. Teologia e MPB. São Paulo: professor sobre quem alimenta uma expectativa Loyola, 1998. positiva, acaba facilitando a aceitação da obra, que pode ser considerada bonita ou significativa CAMPOS, A. (Org.). Balanço da bossa e pelo aluno. outras bossas. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, As inúmeras metodologias revisadas, a 1993. dinâmica experimentada em sala de aula e as relatadas nesta investigação, permite-se concluir CASTRO. R. Show opinião – ideologia da quanto ao sistema pedagógico musical adotado pobreza. São Paulo: Companhia das Letras, nas escolas, que este envolve diversas dificul- 2008. dades teóricas e práticas, as quais se foi apre- COLLARES, J. sentando ao longo desta investigação. O próprio Aprendendo através da , o calendário escolar musicado. 5. ed. título, MPB – Educação Escolar, dificuldades música São Paulo: Triângulo, s.d. e possibilidades de ensino é bem significativo. Não se defende a inserção da música popular ENCICLOPÉDIA, música brasileira. 2. ed. São brasileira no currículo escolar como uma matéria Paulo: Publifolha, 1998. exclusiva. Defende-se que as prática pedagógi- cas precisam se preocupar em como deve ser ENCONTRO REGIONAL DE HISTÓRIA 11., estudada música popular na escola. As conse- 1998. Uberlândia. História da exclusão social. quências decorrentes dos diferentes gostos dos 1998. Uberlândia: ANPUH UFU/CEHAR, 1998. alunos e das escolas em relação à música popu- p. 27-31. lar, exacerba o conflito entre os valores culturais dos jovens. FANTAME, I. O. Educação e transdisciplinaridade. São Paulo: Triângulo, A utilização da música quando de forma co- 2008. erente, propõe uma íntima vinculação entre arte e educação, pois ambas devem cami- FAZENDA. I. A. História teoria e pesquisa.

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192 Akrópolis, Umuarama, v. 24, n. 2, p. 175-192, jul./dez. 2016 ISSN 1982-1093