O Ciclo De Vida De Alguns Peixes Do Estuário Da Lagoa Dos Patos, Rs, Informações Para O Ensino Fundamental E Médio
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O CICLO DE VIDA DE ALGUNS PEIXES DO ESTUÁRIO DA LAGOA DOS PATOS, RS, INFORMAÇÕES PARA O ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO Antônio Farias de OLIVEIRA 1 & Marlise de Azevedo BEMVENUTI 2 Departamento de Oceanografia, Fundação Universidade Federal do Rio Grande -FURG, Campus Carreiros, Caixa Postal 474, Rio Grande, RS, 96.201-900 1 E-mail: [email protected] 2 E-mail: [email protected] RESUMO: O presente trabalho é um sumário sobre o ciclo de vida de alguns peixes que habitam o estuário da Lagoa dos Patos (RS), para ser trabalhado junto ao conteúdo “peixes” no ensino fundamental e médio. Seu desenvolvimento teve como objetivo suprir a carência de material didático observada nas escolas, de forma a auxiliar e complementar, de maneira didática, como se comportam os peixes, qual a época de reprodução, onde crescem os juvenis, etc. Através da pesquisa bibliográfica foi elaborado um texto ilustrado sobre alguns grupos de peixes que habitam o estuário da Lagoa dos Patos, mediante a classificação de: peixes estuarinos residentes (peixe-rei, barrigudinho e peixe-cachimbo), estuarinos dependentes (corvina, tainha e bagre), visitantes de água doce (lambari, pintado, dentudo) e visitantes marinhos (pampo, linguados). Para cada grupo estão disponíveis informações sobre o ciclo de vida, deslocamento no ambiente estuarino, aspectos de sua morfologia, onde vivem e de que se alimentam. Palavras-chave: ciclo de vida, reprodução, estuário, corvina, tainha, bagre INTRODUÇÃO Peixes são vertebrados aquáticos que apresentam, na sua maioria, sangue frio (ectotérmicos), respiração branquial, extremidades adaptadas à natação, tegumento lubrificado por secreção mucosa e recoberto por escamas de origem dérmica (Wootton, 1990). São encontrados em quase todos os ambientes aquáticos, desde as regiões congeladas do Ártico e Antártico, até as águas quentes das selvas tropicais. Vivem nas correntes de águas revoltas que descem as montanhas e nos quietos rios que correm subterraneamente. Alguns peixes fazem longas travessias oceânicas. Outros passam a maior parte de suas vidas enterrados na areia ou no fundo do oceano (Pough et al. 1993). No Brasil a fauna ictiológica é muito rica e variada, com enorme importância para o homem, principalmente porque proporciona alimento a milhões de pessoas. Os “Parâmetros Curriculares Nacionais, PCNs” (BRASIL, 1998), indicam que o processo de ensino-aprendizagem está relacionado com o incentivo às atitudes de curiosidade, à persistência na busca e a compreensão das informações de preservação do ambiente, sua apreciação e respeito à individualidade e à coletividade. Os “Seres Vivos” compõem um dos quatro eixos temáticos dos PCNs, os quais ressaltam que devemos nos desprender de esquemas detalhados de classificações biológicas entre espécies, e também de apresentar os seres a partir de agrupamentos (Reinos, Filos, Classes, Gêneros etc) pois, esta extensa nomenclatura vem se tornando desinteressante e desestimulante ao aluno. Ao contrário, pode-se mobilizar e motivar os estudantes se forem enfocadas as relações existentes entre o ser vivo e os fatores ambientais. Os PCNs também ressaltam a importância de produzir material didático complementar acessível aos professores do ensino fundamental e médio, utilizando como exemplo, ambientes mais próximos da realidade do aluno. Porém, estudos recentes em livros didáticos indicados pelo MEC (Vaniel, 2001), evidenciaram uma total falta de exemplos regionais referentes ao meio ambiente relacionado com estuários, principalmente o da Lagoa dos Patos (32ºS). Cadernos de Ecologia Aquática 1 (2) :16-29, ago –dez 2006 Ciclo de vida de alguns peixes... 17 Os estuários são de grande importância ecológica, econômica e social. Segundo Odum (1983), são ambientes mais produtivos do que a água doce ou marinha adjacente, devido em grande parte à abundância de nutrientes que propiciam uma grande variedade de recursos alimentares. O ESTUÁRIO DA LAGOA DOS PATOS O estuário da Lagoa dos Patos, no extremo sul do Brasil, ocupa uma área de 963,8 km² (10% da área total desta laguna), recebendo água dos rios localizados na sua porção superior, assim como da Lagoa Mirim ao sul, através do Canal São Gonçalo (Calliari, 1998). O estuário é normalmente caracterizado como a região compreendida entre os molhes da barra de Rio Grande e uma linha imaginária que liga a Ponta da Feitoria a Ponta dos Lençóis (Castello, 1986) (Fig. 1). Entre os ambientes disponíveis para os peixes, dois possuem importância destacada: as enseadas rasas, denominadas “sacos ou baixios”, formadas por áreas mais protegidas, com profundidade menor que 2 m e a região de águas abertas, que constituem o corpo central do estuário com uma profundidade maior que 2m. Nas zonas rasas ocorrem pequenos peixes, enquanto em águas mais profundas os indivíduos são maiores, servindo de corredor para peixes de grande motilidade (Chao et al ., 1985, Vieira et al ., 1998). Os estuários atuam como área de reprodução ou criadouro para o desenvolvimento de ovos e larvas de muitos organismos, entre eles os peixes. Alguns utilizam o estuário durante todo o seu ciclo de vida, outros passam parte inicial de sua vida ali, onde existem alimento abundante e proteção contra predadores, aumentando assim, sua sobrevivência (Chao et al ., 1985). Figura 1 . Mapa da região estuarina da Lagoa dos Patos, RS (32 O S 52 O Uma vasta W); a linha entre a Ponta da Feitoria e a Ponta dos Lençóis separa a bibliografia relata dados região do estuário do restante da Lagoa dos Patos. interessantes sobre as espécies que habitam a região do estuário da Lagoa dos Patos e áreas adjacentes. Também são encontradas informações sobre como vivem os peixes, onde desovam, para onde se deslocam durante o ano (Chao et al., 1982, 1985; Araújo, 1983; Pereira, 1986; Vieira & Scalabrin, 1991; Bemvenuti, 1987; Garcia, 1999; Garcia & Vieira, 2001). A maior parte desta informação está disponível em bibliotecas de Universidades, mas continua inacessível ao professor de ensino fundamental e médio. Cadernos de Ecologia Aquática 1 (2) :16-29, ago –dez 2006 18 A. F. Oliveira & M. A. Bemvenuti O “Guia dos Principais Peixes da Região Estuarina da Lagoa dos Patos e Área Adjacente, RS, Brasil” (Bemvenuti & Fischer, 1998), disponível no CEAMECIM – FURG e distribuído às escolas do município, juntamente com uma coleção de peixes, contém mais detalhes sobre características morfológicas, hábitat, alimentação, reprodução, distribuição e importância ecológica de alguns peixes do estuário. O objetivo principal deste trabalho foi o de elaborar um texto acessível aos professores do ensino fundamental e médio sobre o ciclo de vida de alguns peixes que vivem ou utilizam o estuário da Lagoa dos Patos. Inclui-se para cada espécie a descrição do período reprodutivo, deslocamento no estuário, hábitat e preferência alimentar. O CICLO DE VIDA A comunidade de peixes estuarinos da Lagoa dos Patos tem sido agrupada de diferentes formas ao longo dos últimos anos. Chao et al. (1985) num estudo de longa duração (1978-1984), capturaram aproximadamente 110 espécies, estabelecendo cinco categorias ecológicas: (1) estuarinos residentes, (2) marinhos dependentes do estuário, (3) visitantes regulares que utilizam o estuário nas fases juvenis, (4) peixes anádromos e (5) visitantes ocasionais. Vieira et al. (1998) propuseram sete categorias, as quais foram reduzidas para quatro, por Garcia (1999) e Garcia & Vieira (2001), com o propósito de obter um modelo simplificado do modo pelo qual os peixes utilizam o estuário da Lagoa dos Patos. A classificação das espécies neste trabalho é uma adaptação daquelas já propostas, seguindo principalmente Garcia & Vieira (2001): (1) estuarinos residentes, (2) estuarinos dependentes, (3) visitantes de água doce e (4) visitantes marinhos. As duas categorias de visitantes podem ter sua composição alterada de acordo com as condições climáticas no estuário da Lagoa dos Patos e na sua bacia de drenagem. Predominam as espécies de água doce quando houver elevada descarga fluvial provocada pelo excesso de chuvas, tornando o estuário menos salino. Os visitantes marinhos ocorrem em período de menos intensidade de chuvas com ventos de sul tornando o estuário mais salgado (Garcia & Vieira, 2001). 1) ESTUARINOS RESIDENTES São peixes que tem seu ciclo de vida inteiramente associado ao estuário, por exemplo, os peixes-rei Atherinella brasiliensis e Odontesthes argentinensis ( Fig. 2 ), o barrigudinho Jenynsia multidentata (Fig. 5 ) e o bagre Genidens genidens. São capturados quase que exclusivamente nas enseadas rasas abrigadas. A manjuba Lycengraulis grossidens também é abundante o ano todo no estuário (Chao et al., 1985). Seus juvenis são capturados nos baixios, enquanto os adultos estão em profundidades maiores (4 a 10 m), juntamente com o pequeno linguado Catathyridium garmani e o peixe-cachimbo Syngnathus folletti . PEIXE-REI Figura 2 . Peixe-rei Odontesthes argentinensis (Atherinopsidae); desenho obtido de Fischer (1999). O peixe-rei O. argentinensis tem o corpo fusiforme, coloração amarelada no dorso, esbranquiçada no ventre com uma faixa lateral prateada ( Fig. 2 ). As escamas são pequenas de 50 a 56 séries na longitudinal do corpo. Possui duas nadadeiras dorsais, a anterior com espinhos e a Cadernos de Ecologia Aquática 1 (2) :16-29, ago – dez 2006 Ciclo de vida de alguns peixes... 19 posterior com raios. A boca é pequena e terminal. Alcançam no máximo de 30 a 40 cm de comprimento total (Bemvenuti, 2002). Esta espécie distribui-se desde Santa Catarina, Brasil até Baía Blanca, na Argentina, sendo muito comum nas enseadas rasas