Net-Ativismo E Ações Colaborativas Nas Redes Sociais Digitais

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Net-Ativismo E Ações Colaborativas Nas Redes Sociais Digitais Net-Ativismo e Ações Colaborativas nas Redes Sociais Digitais Marina Magalhães de Morais Tese de doutoramento em Ciências da Comunicação Janeiro, 2018 1 Nª de aluno: 35532 Net-Ativismo e Ações Colaborativas nas Redes Sociais Digitais Marina Magalhães de Morais Tese de doutoramento em Ciências da Comunicação Orientador: Professor Doutor José Augusto Bragança de Miranda Coorientador: Professor Doutor Massimo Di Felice Janeiro, 2018 1 Tese apresentada para o cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Doutor em Ciências da Comunicação (Especialidade: Cultura Contemporânea e Novas Tecnologias), realizada sob a orientação científica do Professor Doutor José Augusto Bragança de Miranda e sob a coorientação do Professor Doutor Massimo Di Felice. Apoio financeiro da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). 1 [DECLARAÇÕES] Declaro que esta Tese de Doutoramento é o resultado da minha investigação pessoal e independente. O seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia. O candidato, Lisboa, 15 de janeiro de 2018. Declaro que esta Tese de Doutoramento se encontra em condições de ser apreciada pelo júri a designar. O orientador, O coorientador, _________________________ Lisboa, 15 de janeiro de 2018. 1 A Luther Blissett e Hakim Bey. Aos índios da Selva Lancadona. Às flores do norte da África e do Médio Oriente. Aos indignados de uma geração à rasca. Aos net-artistas e Anonymous espalhados pelas redes de redes: memórias afetivas da minha zona autónoma temporária. Esta tese é sobre nós. E sobre nossas conexões. 2 “Pelos alto-falantes do universo Vou louvar-vos aqui na minha loa Um trabalho que fiz noutro planeta Onde nave flutua e disco voa: Fiz meu marco no solo marciano Num deserto vermelho sem garoa Este marco que eu fiz é fortaleza Elevando ao quadrado Gibraltar Torreão, levadiça, raio-laser E um sistema internet de radar: Não tem sonda nem nave tripulada Que consiga descer nem decolar Construí o meu marco na certeza Que ninguém, cibernético ou humano Poderia romper as minhas guardas Nem achar qualquer falha no meu plano Ficam todos em Fobos ou em Deimos Contemplando o meu marco marciano O meu marco tem rosto de pessoa Tem ruínas de ruas e cidades Tem muralhas, pirâmides e restos De culturas, demônios, divindades: A história de Marte soterrada Pelo efêmero pó das tempestades Construí o meu marco gigantesco Num planalto cercado por montanhas Precipícios gelados e falésias Projetando no ar formas estranhas Como os muros Ciclópicos de Tebas E as fatais cordilheiras da Espanha Bem na praça central, um monumento Embeleza meu marco marciano: Um granito em enigma recortado Pelos rudes martelos de Vulcano: Uma esfinge em perfil contra o poente Guardiã imortal do meu Arcano” Bráulio Tavares e Lenine, 1997 1 AGRADECIMENTOS Ao meu pai, Nino Pinto, que tinha a essência net-ativista mesmo sem saber: partiu na reta final deste estudo, como um bom pirata, para desbravar outras ilhas, em novas dimensões, não sem antes espalhar as suas palavras andantes na minha embarcação. À minha mãe, Helena, professora por excelência, e à minha avó, Darcy Magalhães, mãe duas vezes, orientadoras fundamentais de toda a minha existência. À minha irmã, Luísa, e a Edison Melo, outro pai que encontrei pelo caminho, também partes do meu porto seguro do lado de lá do Atlântico. Aos professores, orientadores e amigos, José Augusto Bragança de Miranda e Massimo Di Felice, por estimularem a minha essência pirata, o meu navegar livre por rotas pouco conhecidas em mares digitais, com a segurança de contar com companheiros de tripulação anárquicos e atópicos – certamente por isso tão instigantes. Ao professor, editor e tio Henrique Magalhães, pela genética da inquietação, indubitavelmente a herança mais rica. Pelo incentivo às publicações, pela revisão incansável desta tese e pelos demais apoios nos maremotos em águas estrangeiras, toda a minha gratidão. Aos professores e também amigos Cláudio Cardoso de Paiva, Nadja Carvalho e Wellington Pereira, da Universidade Federal da Paraíba, por terem, ainda na Graduação, plantado a semente da pesquisa, regando-a no Mestrado e ao longo dos inúmeros e provocativos diálogos que se estenderam desde então. Ao Centro de Pesquisa Atopos, da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), e ao Centro de Investigação em Comunicação, Informação e Cultura Digital (CIC Digital) da Universidade Nova de Lisboa. Mais que instituições de acolhimento desta investigação, ambas configuram redes fomentadoras de uma inteligência coletiva essencial para a ampliação dos nossos horizontes – genuínas expressões das ações colaborativas sobre as quais tratamos no decorrer deste estudo. À Fundação para a Ciência e a Tecnologia, instituição financiadora da presente pesquisa, responsável por levar o nosso olhar do Tejo (Portugal) ao Mar Mediterrâneo (Itália), do Mediterrâneo aos mares do Atlântico (Brasil), com um cruzamento de informações além- mar capaz de ampliar a visão do investigador para a pesquisa e para o mundo – inclusive para perceber como esses universos nunca deveriam estar dissociados. À Universidade Lusófona do Porto, por possibilitar as minhas primeiras experiências de docência em terras portuguesas, pelas oportunidades de colaboração com eventos e publicações sobre o Net-Ativismo. Agradeço a confiança, o respeito e a generosidade com os quais fui agraciada por toda a equipe. Aos amigos de Portugal, por mostrarem que existe família fora do Brasil e vida além da tese. Em especial a Raquel Lourenço, Mariana Liquito, Tarcineide Mesquita, Elisabeta Mariotto, Messias Crispim, Carlos Neto, Maria Rita Nunes e Igor d’Angelis, pelas contribuições preciosas nas revisões, traduções, artigos em co-autoria e debates. A Geanne Lima, Tyara Veriato e Daysi Lange, amigas de outros mares, pelas leituras deste estudo. Ao meu amor, Kassio, e ao meu filho felino, Pascoale Defrizze, companhias leves nesse nem sempre tranquilo navegar. 1 NET-ATIVISMO E AÇÕES COLABORATIVAS NAS REDES SOCIAIS DIGITAIS MARINA MAGALHÃES DE MORAIS RESUMO PALAVRAS-CHAVE: net-ativismo; redes sociais digitais; internet. Esta tese pretende contribuir para uma proposta investigativa sobre o habitar na época das redes sociais digitais, a partir da perspetiva que uma pesquisa sobre a qualidade das ações colaborativas pode nos apresentar. Tal escolha justifica-se não somente pelo espalhar-se no mundo de formas de protestos, conflitos e participação surgidas e veiculadas a partir dos social networks, mas pelas caraterísticas específicas dessas ações, que se apresentam não mais como desenvolvidas exclusivamente pelos ditos atores sociais. Hoje, assumem a forma de um agir reticular, integrando atores de naturezas diversas, através da colaboração de dados, dispositivos móveis de conectividade, circuitos informativos etc. Desse modo, a investigação estrutura-se em três níveis entrecruzados, uma vez que o pesquisar sobre as redes nos leva a uma diluição das fronteiras entre teorias, métodos e análises. Primeiramente, apresentamos uma revisão de literatura em torno da crise da política na contemporaneidade – que despontava antes mesmo do surgimento da Internet, no debate sobre o fim da modernidade – no intuito de compreendermos os seus novos significados e as formas de conflitualidades emergentes na cultura das redes. No segundo nível investigamos os significados da ação em rede através de três eixos teóricos distintos. As leituras iniciais os dimensionam nos quadros de um agir político: a primeira trata o net-ativismo como uma nova esfera pública digital, enquanto a segunda propõe um olhar crítico sobre as teorias da ação em rede – em seu sentido não somente digital – como algo restrito aos humanos, reconhecendo a participação dos não humanos nas ações e reivindicando a sua inclusão no debate sobre uma cosmopolítica. O terceiro eixo interpreta tais mobilizações como o advento de um novo tipo de ação, de uma rutura no paradigma do agir, não mais visto como essencialmente social e político, mas como um processo de transdução e transubstanciação na relação entre o homem, a natureza e a tecnologia. Por fim, na terceira parte, propomos um recorte temporal sobe a evolução das redes sociais digitais e a transformação destas novas formas de ação. Partimos dos conceitos relacionados ao ativismo em rede e seguimos rumo à construção de um panorama que transpassa desde as experiências pioneiras, em contextos mundiais distintos, até o mapeamento das ações colaborativas mais recentes, nas redes portuguesas, ressaltando os principais marcos. Como orientação teórico-metodológica, adotamos a tríade proposta por José Bragança de Miranda, que sugere três tipos de net-ativismo desenvolvidos pelos ditos utilizadores, os de natureza técnica, política e estética, para enfim analisarmos os recortes empíricos da Geração à Rasca, do LulzSec Portugal e do Me Myself and I. A partir das experiências encontradas no 2 mapeamento nacional, trabalhamos com a interpretação das formas do net-ativismo, inspirados na tipologia das dinâmicas ecológicas de interação nas redes, elaborada por Massimo Di Felice. Os casos, apresentados inicialmente segundo a predominância de seus conteúdos, passam então a ser observados quanto às formas de interação, de modo a investigarmos a aplicabilidade da combinação das tipologias e das suas respetivas categorizações, colocando-nos como desafio teórico a construção de um caminho que nos permita descrever as dimensões atópicas deste agir conectado. 3 NET-ACTIVISM AND COLLABORATIVE ACTIONS ON
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