INTERFACESINTERFACES EMEM MOTRICIDADEMOTRICIDADE OROFACIALOROFACIAL

Realização

ANAISANAIS Resumos expandidos

Organização Apoio anais

ix encontro Brasileiro de motricidade orofacial

Resumos expandidos ana paula Fukushiro alícia Graziela noronha silva salgueiro Gabriele Ramos de Luccas dra. Giédre Berretin-Felix dra. Katia Flores Genaro maria natália Leite de medeiros Renata paciello Yamashita (Organizadores)

anais ix encontro Brasileiro de motricidade orofacial

Resumos expandidos

Bauru Faculdade de odontologia de Bauru universidade de são paulo 2016 Comissão Científica Comitê de Pareceristas Giédre Berretin-Felix (coordenadora) Adriana Rahal Rebouças de Carvalho Ana Paula Fukushiro Ana Paula Fukushiro Katia Flores Genaro Cláudia Maria de Felício Renata Paciello Yamashita Daniele Andrade da Cunha Débora Martins Cattoni Alícia Graziela Noronha Silva Salgueiro Giédre Berretin-Felix Gabriele Ramos de Luccas Irene Queiroz Marchesan Letícia Korb da Silva Janaina de Alencar Nunes Maria Natália Leite de Medeiros Jeniffer de Cássia Rillo Dutka Raquel Rodrigues Rosa Katia Flores Genaro Marileda Cattellan Tomé Mirian Hideko Nagae Renata Pacielo Yamashita Viviane Cristina de Castro Marino Viviane Veroni Degan

Apoio Técnico Serviço de Comunicação / Eventos HRAC-USP Projeto gráfico e editoração: Marisa Romangnolli (HRAC-USP)

Ficha catalográfica elaborada pelo Serviço de Biblioteca e Documentação da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo

Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial (9.: 2016 : Bauru-SP). Anais do IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial : resumos expandidos [recurso eletrônico], 9., Bauru, 2016. / organização de Ana Paula Fukushiro ... [et al.]. -- Bauru : Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo, 2016.

Texto disponível na Internet.

ISBN: 978-85-65648-05-9

1. Fonoaudiologia. 2. Motricidade orofacial. I. Fukushiro, Ana Paula, org. II. T. III. Associação Brasileira de Motricidade Orofacial.

CDD 616.855

Os artigos e suas revisões são de responsabilidade dos autores.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial• Resumos Expandidos apResentação

No ano de 2016, o tema central escolhido para o IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial foi “Interfaces em Motricidade Orofacial”, o qual foi desenvolvido em 10 mesas compostas por profissionais de distintas áreas.

Tais profissionais deixaram registradas nos primeiros 24 capítulos informações desenvolvidas durante sua apresentação, os quais abordaram: Interfaces em Motricidade Orofacial; Métodos Instrumentais Aerodinâmicos e Acústicos Aplicados à Motricidade Orofacial; Diagnóstico Diferencial das Dores Orofaciais e Mecanismo da Dor; Terapia Intensiva e Prótese de Palato na Fissura Labiopalatina; Reabilitação Oral Protética e Funções Orofaciais; Testes Fonéticos em Reabilitação Oral; Atuação Fonoaudiológica na Equipe Craniofacial; Interfaces nas Síndromes Craniofaciais; Relação da Fonoaudiologia com a Ortopedia Funcional dos Maxilares; Discussão de Casos Clínicos de Ortopedia Funcional dos Maxilares e Paralisia Facial; Atuação Interdisciplinar na Apneia Obstrutiva do Sono; Fonoaudiologia em Casos de Cirurgia Ortognática; Interfaces no Pré e Pós-Operatório de Cirurgia Ortognática.

A partir do 25º até o 30º capítulo encontram-se aos conteúdos desenvolvidos pelos pesquisadores nas oficinas, que teve como tema Processos de Avaliação em Motricidade Orofacial: Avaliação e Diagnóstico Instrumental em Motricidade Orofacial; Avaliação Instrumental do Sistema Mastigatório; Biomecânica em Motricidade Orofacial; Instrumentos de Avaliação do Palato e Técnicas Instrumentais de Avaliação da Permeabilidade Nasal.

Na sequência estão 11 capítulos (31º ao 41º) que contêm os resumos expandidos das Comunicações Orais apresentadas e, em seguida, do capítulo 42º até o 63º capítulo podem ser encontrados os resumos expandidos dos trabalhos apresentados em forma de pôster.

A quantidade de trabalhos de pesquisa enviados para apresentação nesta 9ª edição do Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial evidencia o crescimento desta especialidade, que a cada ano se consolida enquanto área. Tal fato pode ser atribuído ao fortalecimentos dos grupos de pesquisa, cujos profissionais envolvidos desenvolvem estudos com rigor e, além disso, também incentivam os alunos desde a graduação para realizarem projetos de pesquisa.

A união do grupo de profissionais que atua em Motricidade Orofacial, somado às parcerias de estudo/pesquisa tem revelado que este é o caminho para a evolução da área, na busca do melhor tratamento para os indivíduos que procuram esta especialidade e da melhor formação para os acadêmicos de Fonoaudiologia.

Profa. Dra. Katia Flores Genaro Comissão Organizadora do IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 6 sumáRio página 18 Capítulo 1. Interfaces em motricidade orofacial. Esther Mandelbaum Gonçalves Bianchini 20 Capítulo 2. Interfaces em motricidade orofacial. Irene Queiroz Marchesan 22 Capítulo 3. Métodos aerodinâmicos e acústicos aplicados à motricidade orofacial. Adriana de Oliveira Camargo Gomes 24 Capítulo 4. Métodos aerodinâmicos e acústicos aplicados à mo tricidade orofacial. Hilton Justino da Silva 25 Capítulo 5. Métodos instrumentais aplicados à motricidade orofacial. Avaliação da função respiratória. Renata Paciello Yamashita 26 Capítulo 6. Diagnóstico diferencial das dores orofaciais. Paulo Cesar Rodrigues Conti 27 Capítulo 7. Mecanismos da dor. Patrick Raymond Nicolas Andre Ghislain Stump 29 Capítulo 8. Terapia intensiva e prótese de palato na fissura labiopalatina. Trixy Cristina Niemeyer Vilela Alves 30 Capítulo 9. Terapia intensiva e prótese de palato na fissura labiopalatina. Maria Inês Pegoraro-Krook, Homero Carneiro Aferri 31 Capítulo 10. Reabilitação oral protética e funções orofaciais. Lia Inês Marino Duarte 33 Capítulo 11. Reabilitação oral protética e funções orofaciais. Abordagem fonoaudiológica. Giédre Berretin-Felix 34 Capítulo 12. Testes fonéticos em reabilitação oral. José Henrique Rubo 35 Capítulo 13. Atuação fonoaudiológica na equipe craniofacial. Melissa Zattoni Antoneli, Nivaldo Alonso 36 Capítulo 14. Interfaces nas síndromes craniofaciais. Katia Flores Genaro 37 Capítulo 15. Interfaces nas síndromes craniofaciais. Nancy Mizue Kokitsu Nakata 38 Capítulo 16. Relação da terapia da fala / fonoaudiologia com a ortopedia funcional dos maxilares. Ricardo Santos 40 Capítulo 17. Ortopedia funcional dos maxilares e paralisia facial. Discussão de casos clínicos. Nise Alonso Manicardi

paLestRas41 Capítulo 18.paLestRasOrtopedia funcional dos maxilares e paralisia facial. Discussão de casos clínicos. Viviane Degan

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 7 página 42 Capítulo 19. Ortopedia funcional dos maxilares e paralisia facial. Discussão de casos clínicos. Adriana Tessitore 43 Capítulo 20. Apneia obstrutiva do sono: atuação interdisciplinar. Camila de Castro Corrêa 44 Capítulo 21. Apneia obstrutiva do sono: atuação interdisciplinar. Carlos Henrique Martins, Ivy Kiemle Trindade Suedam, Fabiane Kayamori 45 Capítulo 22. Cirurgia ortognática: interfaces no pré e pós-operatório. Ana Paula Fukushiro 46 Capítulo 23. Cirurgia ortognática: interfaces no pré e pós-operatório. Eduardo Sanches Gonçales 47 Capítulo 24. Fonoaudiologia em casos de cirurgia ortogn tica. LestRas Luciana Vitaliano Voi Trawitzki á

49 Capítulo 25. Processos de avaliação em motricidade orofacial Marileda Cattelan Tomé 50 Capítulo 26. Avaliação e diagnóstico instrumental em motricidade orofacial. Hilton Justino da Silva, Lucas Carvalho Aragão Albuquerque 51 Capítulo 27. Avaliação instrumental do sistema mastigatório. Katia Flores Genaro, Giédre Berretin-Felix 52 Capítulo 28. Biomecânica em motricidade orofacial. Andréa Rodrigues Motta 53 Capítulo 29. Instrumentos de avaliação do palato. Luana Cristina Berwig, Mariana Marquezan 54 Capítulo 30. Técnicas instrumentais de avaliação da permeabilidade nasal.

oFicinas Renata Pacielo Yamashita, Ana Paula Fukushiro, Bruna Mara Adorno Marmontel Araujo, Andressa Sharlene Carneiro da Silva

57 Capítulo 31. Articulações compensatórias na fala de indivíduos com fissura labiopalatina submetidos a um Programa de Fonoterapia Intensiva. Laura Katarine Félix de Andrade, Maria Daniela Borro Pinto, Jeniffer de Cássia Rillo Dutka, Maria Inês Pegoraro-Krook 64 Capítulo 32. Avaliação de um novo método de reabilitação da força da língua. Mariana Souza Amaral, Renata Maria Moreira Moraes Furlan, Estevam Barbosa Las Casas, Andréa Rodrigues Motta 69 Capítulo 33. Desenvolvimento de um banco de amostras de referência da oclusiva glotal oRais usando julgamento de fala por avaliadores múltiplos. Diana Conceição da Rocha, Thais Alves Guerra, Jeniffer de Cássia Rillo Dutka

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 8 página 74 Capítulo 34. Desordem temporomandibular e oclusão: o que a análise cinemática da mastigação mostra sobre esta relação? Claudia Lúcia Pimenta Ferreira, Francesca M.E. Rusconi, Aler Daniel Fuentes Del Campo, Matteo Zago, Chiarella Sforza 79 Capítulo 35. Efeito de terapias nos sinais/sintomas, dor à palpação e funções estomatognáticas de pacientes com desordens temporomandibulares. Barbara Z. Machado Cusumano, Cláudia L.P. Ferreira, Marco Antônio Rodrigues da Silva, Cláudia Maria de Felício 83 Capítulo 36. Efeitos da terapia miofuncional orofacial sobre a função mastigatória em indivíduos submetidos à cirurgia ortognática: aspectos clínicos. Daniela Galvão de Almeida Prado, Giédre Berretin-Felix, Renata Resina Migliorucci, Mariana da Rocha Salles Bueno, Raquel Rodrigues Rosa, Marcela Polizel, Maria Beatriz Duarte Gavião 89 Capítulo 37. Influência de diferentes aparelhos de contenção ortodôntica removíveis superiores nas funções orofaciais: percepção de pacientes. Letícia Korb da Silva, Diogo Coelho Lorenzoni, José Fernando Castanha Henriques, Giédre Berretin-Felix 95 Capítulo 38. O uso da classificação global perceptivo-auditiva da competência velofaríngea e a nasalância: correlação com o background linguístico do ouvinte. Rafaeli Higa Scarmagnani, Renata Paciello Yamashita, Ana Paula Fukushiro, Anette Lohmander 102 Capítulo 39. Recurso tecnológico para a educação em saúde: enfoque na desordem temporomandibular. Leandro de Freitas Silva, Maíara Alves do Nascimento, Renata Lígia Lima Batista, Victor Costa Alves Medeiros Vieira 108 Capítulo 40. Sucção não-nutritiva em recém-nascidos a termo: comparação entre avaliação clínica e instrumental. Daniela Matias Von Randow, Maila Gil Pedrosa, Camila Alexandra Vilaça Ramos, Estevam Barbosa Las Casas, Andréa Rodrigues Motta 112 Capítulo 41. Tipo mastigatório e coordenação neuromuscular em adultos com e sem fissura comunicações oRais labiopalatina. Tatiane Totta, Raquel Rodrigues Rosa, Estefânia Leite Prandini, Giédre Berretin- Felix, Cláudia Maria de Felício, Katia Flores Genaro

118 Capítulo 42. A cirurgia ortognática com avanço de maxila pode eliminar a hiponasalidade em indivíduos com fissura labiopalatina e retalho faríngeo? Maria Natália Leite de Medeiros, Andressa Sharllene Carneiro da Silva, Ana Paula Fukushiro, Flávia Ferlin, Renata Paciello Yamashita R e s

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 9 página 123 Capítulo 43. A interdisciplinaridade da Fonoaudiologia na reabilitação da paralisia facial periférica. Daniele Fontes Ferreira Bernardes, Maria Valéria Schmidt Goffi Gomez 127 Capítulo 44. A oxigenação do músculo masseter durante a mastigação padronizada pode diferenciar mulheres com desordem temporomandibular daquelas saudáveis? Claudia Lúcia Pimenta Ferreira, Giuseppe Bellistri, Cláudia Maria de Felício, Stefano Montagna, Chiarella Sforza 132 Capítulo 45. Análise de fala em crianças com fissura labiopalatina operada. Maria Gabriela Cavalheiro, Camila de Castro Correa, Laura Katarine Felix Andrade, Luciana Paula Maximino 138 Capítulo 46. Aspectos miofuncionais orofaciais e qualidade do sono em crianças. Camila de Castro Corrêa, Maria Renata José, Eduardo Carvalho de Andrade, Mariza Ribeiro Feniman, Luciana Paula Maximino, Ana Paula Fukushiro, Giédre Berretin-Felix, Silke Anna Theresa Weber 143 Capítulo 47. Autopercepção da função mastigatória em pacientes com fissura labiopalatina submetidos à cirurgia ortognática. Débora Natália de Oliveira, Andressa Sharllene da Silva Carneiro, Maria Natália Leite de Medeiros, Katia Flores Genaro, Inge Elly Kiemle Trindade, Ana Paula Fukushiro 150 Capítulo 48. Biodinâmica da mastigação: características clínicas e eletrofisiológicas. Gerlane Karla Bezerra Oliveira Nascimento, Patricia Mendes Balata, Hilton Justino da Silva 157 Capítulo 49. Características do olfato em indivíduos pré e pós-tratamento para aneurismas intracranianos. Sandro Júnior Henrique Lima, Hildo Rocha Cirne de Azevedo Filho, Daniele Andrade da Cunha, Maria de Fátima Leal Griz, Ana Cláudia Carvalho Vieira, Lucas Carvalho Aragão Albuquerque, Hilton Justino da Silva 164 Capítulo 50. Comparação da produção da fala em crianças com frênulo lingual normal e alterado. Irene Queiroz Marchesan, Roberta Lopes de Castro Martinelli 169 Capítulo 51. Desenvolvimento de um sistema móvel inteligente para registros do teste da linguinha. Hitalo Emanoel Gondim Bezerra de Medeiros, Roberta Lopes de Castro Martinelli, Renata Veiga Andersen Cavalcanti, Pedro Fernandes Ribeiro Neto, Cicília Raquel Maia Leite 174 Capítulo 52. Fissuras orais no Estado do Rio Grande do Norte, Brasil, entre 2009 e 2013: prevalência e caracterização do perfil dos recém-nascidos e das genitoras. Antonio Marcos Oliveira de Lima, Lidiane de Oliveira Carvalho, Renata Veiga Andersen Cavalcanti 178 Capítulo 53. Fonoterapia na esclerose sistêmica: relato de casos. teRes pôsteRes pôsteResLeylane Fonseca Almeida, Milena Cabral de Lima, Sílvia Elaine Zuim de Moraes Baldrighi

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 10 página 185 Capítulo 54. Habilidades de acadêmicos de fonoaudiologia em detectar mentiras por meio de sinais faciais. Isadora Diniz dos Santos, Manoel Moreira de Gois, José Fabricio de Jesus Andrade, Sílvia Elaine Zuim de Moraes Baldrighi, Carla Patrícia Hernandez Alves Ribeiro César 190 Capítulo 55. Habilidades em detectar emoções por acadêmicos de um curso de graduação em fonoaudiologia. José Fabricio de Jesus Andrade, Manoel Moreira de Gois, Isadora Diniz dos Santos, Silvia Elaine Zuim de Moraes Baldrighi, Carla Patrícia Hernandez Alves Ribeiro César 195 Capítulo 56. Impressão basilar e alterações fonoaudiológicas - revisão integrativa. Mayra Maria Oliveira de Lima, Joana Domitila Ferraz Silva, Lindenize Mota de Almeida, Victor Costa Alves Medeiros Vieira 203 Capítulo 57. Medida de pressão de língua em crianças respiradoras orais - pressure measurement in mouth children. Nayara Duviges de Azevedo, Josiane Célia de Lima, Renata Maria Moreira Moraes Furlan, Andréa Rodrigues Motta 207 Capítulo 58. Percepção de fonoaudiólogos acerca do tratamento com prótese de palato e fonoterapia para disfunção velofaríngea. Maria Tereza Maynard Santana, Bianca Mota dos Santos, Luiz Carlos Ferreira da Silva 214 Capítulo 59. Reabilitação fonoaudiológica - técnica do alongamento do músculo temporal na paralisia facial periférica (labbé). Marion Renée Mory, Adriana Tessitore, Jorge Rizzato Paschoal, Mário Bazanelli Junqueira Ferraz, Eduardo Tinois da Silva 219 Capítulo 60. Relato da abordagem fonoaudiológica conduzido na cidade de origem de pacientes com fissura labiopalatina. Laura Katarine Félix de Andrade, Maria Daniela Borro Pinto, Maria Inês Pegoraro-Krook, Jeniffer de Cássia Rillo Dutka 225 Capítulo 61. Validação do protocolo de avaliação do frênulo da língua em bebês para o diagnóstico das alterações do frênulo lingual. Roberta Lopes de Castro Martinelli, Irene Queiroz Marchesan, Reinaldo Jordão Gusmão, Giédre Berretin-Felix 231 Capítulo 62. Valores de pressão lingual, de lábios e bochechas em sujeitos chilenos sem alterações usando o IOPI - estudo preliminar. Felipe Inostroza Allende, Exequiel Plaza Taucare, Matías González Jara 236 Capítulo 63. Variáveis associadas ao diagnóstico de respiração oral baseado em uma avaliação multidisciplinar. Jovana de Moura Milanesi, Luana Cristina Berwig, Mariana Marquezan, Luiz Henrique Schuch, Ana Maria Toniolo da Silva, Eliane Castilhos Rodrigues Corrêa teRes pôsteRes pôsteRes

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 11 Índice (poR autoR e tipo de tRaBaLho) página « paLestRas 30 Aferri, Homero Carneiro (Capítulo 9) 35 Alonso, Nivaldo (Capítulo 13) 29 Alves, Trixy Cristina Niemeyer Vilela (Capítulo 8) 35 Antoneli, Melissa Zattoni (Capítulo 13) 33 Berretin-Felix, Giédre (Capítulo 11) 18 Bianchini, Esther Mandelbaum Gonçalves (Capítulo 1) 26 Conti, Paulo Cesar Rodrigues (Capítulo 6) 43 Corrêa, Camila de Castro (Capítulo 20) 41 Degan, Viviane (Capítulo 18) 31 Duarte, Lia Inês Marino (Capítulo 10) 45 Fukushiro, Ana Paula (Capítulo 22) 36 Genaro, Katia Flores (Capítulo 14) 22 Gomes, Adriana de Oliveira Camargo (Capítulo 3) 46 Gonçales, Eduardo Sanches (Capítulo 23) 44 Kayamori, Fabiane (Capítulo 21) 40 Manicardi, Nise Alonso (Capítulo 17) 20 Marchesan, Irene Queiroz (Capítulo 2) 44 Martins, Carlos Henrique (Capítulo 21) 37 Nakata, Nancy Mizue Kokitsu (Capítulo 15) 30 Pegoraro-Krook, Maria Inês (Capítulo 9) 34 Rubo, José Henrique (Capítulo 12) 38 Santos, Ricardo (Capítulo 16) 24 Silva, Hilton Justino da (Capítulo 4) 27 Stump, Patrick Raymond Nicolas Andre Ghislain (Capítulo 7) 44 Suedam, Ivy Kiemle Trindade (Capítulo 21) 42 Tessitore, Adriana (Capítulo 19) 47 Trawitzki, Luciana Vitaliano Voi (Capítulo 24) 25 Yamashita, Renata Paciello (Capítulo 5)

« oFicinas 50 Albuquerque, Lucas Carvalho Aragão (Capítulo 26) 54 Araujo, Bruna Mara Adorno Marmontel (Capítulo 30) 51 Berretin-Felix, Giédre (Capítulo 27) 53 Berwig, Luana Cristina (Capítulo 29)

autoR54 Fukushiro, autoR Ana autoR Paula (Capítulo 30) 51 Genaro, Katia Flores (Capítulo 27)

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 12 página 53 Marquezan, Mariana (Capítulo 29) 52 Motta, Andréa Rodrigues (Capítulo 28) 54 Silva, Andressa Sharlene Carneiro da (Capítulo 30) 50 Silva, Hilton Justino da (Capítulo 26) 49 Tomé, Marileda Cattelan (Capítulo 25) 54 Yamashita, Renata Pacielo (Capítulo 30)

« comunicações oRais 64 Amaral, Mariana Souza (Capítulo 32) 57 Andrade, Laura Katarine Félix de (Capítulo 31) 102 Batista, Renata Lígia Lima (Capítulo 39) 83 Berretin-Felix, Giédre (Capítulo 36) 89 Berretin-Felix, Giédre (Capítulo 37) 112 Berretin-Felix, Giédre (Capítulo 41) 83 Bueno, Mariana da Rocha Salles (Capítulo 36) 64 Casas, Estevam Barbosa de Las (Capítulo 32) 108 Casas, Estevam Barbosa de Las (Capítulo 40) 79 Cusumano, Barbara Z. Machado (Capítulo 35) 57 Dutka, Jeniffer de Cássia Rillo (Capítulo 31) 69 Dutka, Jeniffer de Cássia Rillo (Capítulo 33) 79 Felício, Cláudia Maria de (Capítulo 35) 112 Felício, Cláudia Maria de (Capítulo 41) 74 Ferreira, Cláudia Lúcia Pimenta (Capítulo 34) 79 Ferreira, Cláudia Lúcia Pimenta (Capítulo 35) 74 Fuentes Del Campo, Aler Daniel (Capítulo 34) 95 Fukushiro, Ana Paula (Capítulo 38) 64 Furlan, Renata Maria Moreira Moraes (Capítulo 32) 83 Gavião, Maria Beatriz Duarte (Capítulo 36) 112 Genaro, Katia Flores (Capítulo 41) 69 Guerra, Thais Alves (Capítulo 33) 89 Henriques, José Fernando Castanha (Capítulo 37) 95 Lohmander, Anette (Capítulo 38) 89 Lorenzoni, Diogo Coelho (Capítulo 37) 83 Migliorucci, Renata Resina (Capítulo 36) 64 Motta, Andréa Rodrigues (Capítulo 32)

autoR108 Motta, autoR Andréa autoR Rodrigues (Capítulo 40) 102 Nascimento, Maíara Alves do (Capítulo 39) 108 Pedrosa, Maila Gil (Capítulo 40) 57 Pegoraro-Krook, Maria Inês (Capítulo 31)

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 13 página 57 Pinto, Maria Daniela Borro (Capítulo 31) 83 Polizel, Marcela (Capítulo 36) 83 Prado, Daniela Galvão de Almeida (Capítulo 36) 112 Prandini, Estefânia Leite (Capítulo 41) 108 Ramos, Camila Alexandra Vilaça (Capítulo 40) 108 Randow, Daniela Matias Von (Capítulo 40) 69 Rocha, Diana Conceição da (Capítulo 33) 83 Rosa, Raquel Rodrigues (Capítulo 36) 112 Rosa, Raquel Rodrigues (Capítulo 41) 74 Rusconi, Francesca M.E. (Capítulo 34) 95 Scarmagnani, Rafaeli Higa (Capítulo 38) 74 Sforza, Chiarella (Capítulo 34) 102 Silva, Leandro de Freitas (Capítulo 39) 89 Silva, Letícia Korb da (Capítulo 37) 79 Silva, Marco Antônio Rodrigues da (Capítulo 35) 112 Totta, Tatiane (Capítulo 41) 102 Vieira, Victor Costa Alves Medeiros (Capítulo 39) 95 Yamashita, Renata Paciello (Capítulo 38) 74 Zago, Matteo (Capítulo 34)

« pôsteRes 157 Albuquerque, Lucas Carvalho Aragão (Capítulo 49) 231 Allende, Felipe Inostroza (Capítulo 62) 178 Almeida, Leylane Fonseca (Capítulo 53) 195 Almeida, Lindenize Mota de (Capítulo 56) 138 Andrade, Eduardo Carvalho de (Capítulo 46) 185 Andrade, José Fabricio de Jesus (Capítulo 54) 190 Andrade, José Fabricio de Jesus (Capítulo 55) 132 Andrade, Laura Katarine Felix (Capítulo 45) 157 Azevedo Filho, Hildo Rocha Cirne de (Capítulo 49) 203 Azevedo, Nayara Duviges de (Capítulo 57) 150 Balata, Patricia Mendes (Capítulo 48) 178 Baldrighi, Sílvia Elaine Zuim de Moraes (Capítulo 53) 185 Baldrighi, Sílvia Elaine Zuim de Moraes (Capítulo 54) 190 Baldrighi, Silvia Elaine Zuim de Moraes (Capítulo 55)

autoR127 Bellistri, autoR Giuseppe autoR (Capítulo 44) 123 Bernardes, Daniele Fontes Ferreira (Capítulo 43) 138 Berretin-Felix, Giédre (Capítulo 46) 225 Berretin-Felix, Giédre (Capítulo 61)

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 14 página 236 Berwig, Luana Cristina (Capítulo 63) 174 Carvalho, Lidiane de Oliveira (Capítulo 52) 169 Cavalcanti, Renata Veiga Andersen (Capítulo 51) 174 Cavalcanti, Renata Veiga Andersen (Capítulo 52) 132 Cavalheiro, Maria Gabriela (Capítulo 45) 185 César, Carla Patrícia Hernandez Alves Ribeiro (Capítulo 54) 190 César, Carla Patrícia Hernandez Alves Ribeiro (Capítulo 55) 132 Correa, Camila de Castro (Capítulo 45) 138 Correa, Camila de Castro (Capítulo 46) 236 Corrêa, Eliane Castilhos Rodrigues (Capítulo 63) 157 Cunha, Daniele Andrade da (Capítulo 49) 219 Dutka, Jeniffer de Cássia Rillo (Capítulo 60) 127 Felício, Cláudia Maria de (Capítulo 44) 138 Feniman, Mariza Ribeiro (Capítulo 46) 118 Ferlin, Flávia (Capítulo 42) 214 Ferraz, Mário Bazanelli Junqueira (Capítulo 59) 127 Ferreira, Claudia Lúcia Pimenta (Capítulo 44) 118 Fukushiro, Ana Paula (Capítulo 42) 138 Fukushiro, Ana Paula (Capítulo 46) 143 Fukushiro, Ana Paula (Capítulo 47) 203 Furlan, Renata Maria Moreira Moraes (Capítulo 57) 143 Genaro, Katia Flores (Capítulo 47) 185 Gois, Manoel Moreira de (Capítulo 54) 190 Gois, Manoel Moreira de (Capítulo 55) 123 Gomez, Maria Valéria Schmidt Goffi (Capítulo 43) 157 Griz, Maria de Fátima Leal (Capítulo 49) 225 Gusmão, Reinaldo Jordão (Capítulo 61) 231 Jara, Matías González (Capítulo 62) 138 José, Maria Renata (Capítulo 46) 169 Leite, Cicília Raquel Maia (Capítulo 51) 174 Lima, Antonio Marcos Oliveira de (Capítulo 52) 203 Lima, Josiane Célia de (Capítulo 57) 195 Lima, Mayra Maria Oliveira de (Capítulo 56) 178 Lima, Milena Cabral de (Capítulo 53) 157 Lima, Sandro Júnior Henrique (Capítulo 49) 164 Marchesan, Irene Queiroz (Capítulo 50)

autoR225 Marchesan, autoR IreneautoR Queiroz (Capítulo 61) 236 Marquezan, Mariana (Capítulo 63) 164 Martinelli, Roberta Lopes de Castro (Capítulo 50) 169 Martinelli, Roberta Lopes de Castro (Capítulo 51)

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 15 página 225 Martinelli, Roberta Lopes de Castro (Capítulo 61) 132 Maximino, Luciana Paula (Capítulo 45) 138 Maximino, Luciana Paula (Capítulo 46) 169 Medeiros, Hitalo Emanoel Gondim Bezerra de (Capítulo 51) 118 Medeiros, Maria Natália Leite de (Capítulo 42) 143 Medeiros, Maria Natália Leite de (Capítulo 47) 236 Milanesi, Jovana de Moura (Capítulo 63) 127 Montagna, Stefano (Capítulo 44) 214 Mory, Marion Renée (Capítulo 59) 203 Motta, Andréa Rodrigues (Capítulo 57) 150 Nascimento, Gerlane Karla Bezerra Oliveira (Capítulo 48) 143 Oliveira, Débora Natália de (Capítulo 47) 214 Paschoal, Jorge Rizzato (Capítulo 59) 219 Pegoraro-Krook, Maria Inês (Capítulo 60) 219 Pinto, Maria Daniela Borro (Capítulo 60) 169 Ribeiro Neto, Pedro Fernandes (Capítulo 51) 207 Santana, Maria Tereza Maynard (Capítulo 58) 207 Santos, Bianca Mota dos (Capítulo 58) 185 Santos, Isadora Diniz dos (Capítulo 54) 190 Santos, Isadora Diniz dos (Capítulo 55) 236 Schuch, Luiz Henrique (Capítulo 63) 127 Sforza, Chiarella (Capítulo 44) 236 Silva, Ana Maria Toniolo da (Capítulo 63) 118 Silva, Andressa Sharllene Carneiro da (Capítulo 42) 143 Silva, Andressa Sharllene Carneiro da (Capítulo 47) 214 Silva, Eduardo Tinois da (Capítulo 59) 150 Silva, Hilton Justino da (Capítulo 48) 157 Silva, Hilton Justino da (Capítulo 49) 195 Silva, Joana Domitila Ferraz (Capítulo 56) 207 Silva, Luiz Carlos Ferreira da (Capítulo 58) 231 Taucare, Exequiel Plaza (Capítulo 62) 214 Tessitore, Adriana (Capítulo 59) 143 Trindade, Inge Elly Kiemle (Capítulo 47) 157 Vieira, Ana Cláudia Carvalho (Capítulo 49) 195 Vieira, Victor Costa Alves Medeiros (Capítulo 56) 138 Weber, Silke Anna Theresa (Capítulo 46)

autoR118 Yamashita, autoR RenataautoR Paciello (Capítulo 42)

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 16 paLestRas

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 17 Capítulo 1 Interfaces em motricidade orofacial capítulo 1 inteRFaces em motRicidade oRoFaciaL

esther mandelbaum Gonçalves Bianchini

O universo de “saberes” na área de saúde e? tão complexo que inviabiliza a adoção de abordagem única. Exige a oferta ao paciente de várias abordagens, técnicas e procedimentos envolvendo profissionais que variam de acordo com a necessidade imposta pelo problema ou doença. Assim, uma ação de tratamento ou reabilitação devera? constituir-se por ampla interface em que possa ocorrer diagnóstico com visão geral das necessidades do paciente. Os distúrbios miofuncionais orofaciais, de causa congênita, adquirida ou próprias do envelhecimento, têm sido objetos de discussão entre clínicos e pesquisadores, culminando em diversos estudos nas últimas décadas. Nesse percurso percebe-se a preocupação em delinear as relações entre os problemas miofuncionais orofaciais com inúmeros aspectos que remetem ao estabelecimento das interfaces em Motricidade Orofacial tais como: as patologias respiratórias, de sucção, deglutição, mastigação, fala e configuração das vias aéreas superiores; anormalidades dentoclusais; deformidades dentofaciais; distúrbios temporomandibulares; anomalias craniofaciais; sequelas de traumatismos craniofaciais e de câncer de cabeça e pescoço; doenças do sistema nervoso central e/ou periférico; imaturidades do desenvolvimento do neonato; e mais recentemente os distúrbios alimentares, distúrbios do sono e efeitos do envelhecimento. Nesse grande âmbito interdisciplinar podemos citar a respiração, alimentação, fala, dor e sono como contínuos desafios, e possibilidade de intervenção fonoaudiológica miofuncional orofacial, desde os neonatos até os idosos, passando por todas as fases do desenvolvimento e por variados tipo de distúrbios. A atuação em Motricidade Orofacial inicialmente inclui avaliação miofuncional que deve ser ampla e cuidadosa. Definida a intervenção miofuncional - processo terapêutico com tempo determinado de acompanhamento sistemático - essa situação coloca o profissional fonoaudiólogo como aquele que poderá detectar outras particularidades do caso que se manifestem ao longo do tratamento. Nesse sentido, o fonoaudiólogo deve estar preparado para realizar as devidas orientações preliminares e encaminhar para os profissionais competentes. A maior parte dos estudos ainda é voltada para diagnóstico miofuncional orofacial, mas existem publicações mostrando que programas terapêuticos específicos constituem-se em tratamento efetivo para vários tipos de problemas. Como exemplo podemos citar estudos publicados sobre efeitos da terapia miofuncional nos casos de distúrbios da articulação temporomandibular, reabilitação de cirurgias ortognáticas, apneia do sono e ronco. Os estudos indicam que essa terapêutica, incluindo exercícios orofaríngeos e reprogramação funcional é

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 18 Capítulo 1 Interfaces em motricidade orofacial opção efetiva de reabilitação para esses pacientes. O que vemos hoje em termos de pesquisas, reflete a credibilidade das equipes interdisciplinares na terapêutica em Motricidade Orofacial, com estudos publicados envolvendo profissionais de diversas áreas como co-autores. Entretanto, necessitamos de maior número de pesquisas que divulguem a inclusão do fonoaudiólogo nas equipes interdisciplinares e o valor desse instrumento terapêutico. Um dos aspectos que deve ser ressaltado refere-se às abordagens de interdisciplinaridade no âmbito da pesquisa e no âmbito clínico. Muitas vezes o peso da interdisciplinaridade apregoado nas Instituições de ensino e pesquisa não aparece na clínica. Esse fato é verificado em relação aos encaminhamentos clínicos para diagnóstico e terapêutica interdisciplinar em alguns tipos de doença, ainda escassos. Com pesquisas de resultados terapêuticos, o futuro da Motricidade Orofacial certamente será promissor e visto como importante instrumento conservador de reabilitação.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 19 Capítulo 2 Interfaces em motricidade orofacial capítulo 2 inteRFaces em motRicidade oRoFaciaL

irene Queiroz marchesan coordenadora

A área de Motricidade Orofacial, dentro da Fonoaudiologia, cresceu muito nos últimos tempos tendo se subdividido em muitas outras subáreas. O objetivo principal do trabalho nesta especialidade é a habilitação ou reabilitação das funções orofaciais como a sucção, mastigação, deglutição, respiração e articulação da fala. Atualmente, a integração do fonoaudiólogo com a odontologia continua a ser muito forte, sendo que a Medicina também passou a buscar, de forma mais frequente, fonoaudiólogos especialistas em Motricidade Orofacial. Além da melhoria dos hábitos deletérios, das posturas e funcionamento das estruturas orais e faciais, outras interfaces de trabalho foram criadas. Hoje, vasto trabalho conjunto é desenvolvido com o odontólogo que trabalha com cirurgias ortognáticas, alterações das articulações temporomandibulares, próteses e implantes dentários, problemas periodontais e traumas de face, dentre outros. Em pacientes com alterações do tipo fissuras palatinas, paralisia cerebral, câncer de cabeça e pescoço e ronco, a Medicina, a Odontologia e a Fonoaudiologia têm realizado um trabalho conjunto bastante integrado. Os idosos, os bebês de risco, os pacientes com disfagia, paralisia facial, doenças neuromusculares, AIDs e os queimados de face e pescoço, também têm sido alvo do trabalho conjunto entre a Fonoaudiologia e a Medicina. Poderíamos aqui destacar, dentro da área da Motricidade Orofacial, três dos trabalhos conjuntos mais recentes, porém não menos importantes do que os demais. Um deles em conjunto com a Medicina e Odontologia, que é o excelente trabalho realizado com pacientes que roncam, outro, realizado com os especialistas em Medicina Estética, que é o trabalho com estética facial e o mais recente que é o trabalho desenvolvido com pacientes que recorrem à cirurgia ortognática. A preocupação da medicina com a apnéia do sono obstrutiva levou estes profissionais, assim como os dentistas e os fonoaudiólogos, a investirem em técnicas para solucionar ou minorar o problema. Com relação à estética facial, sabemos que a preservação da juventude está sendo uma das maiores preocupações da humanidade. Trabalhos recentes apontam que é na face onde se podem observar, mais precocemente, sinais de envelhecimento, principalmente quando a pele sofreu uma exposição exagerada ao sol. Como uma das principais causas do aparecimento de rugas faciais é a ação constante dos músculos da mímica facial sobre a pele, principalmente quando a sua elasticidade já se encontra diminuída, torna-se muito justificável a ação do fonoaudiólogo realizando exercícios isométricos, quando necessários, diminuindo a mímica facial ou mesmo relaxando a musculatura da face. Pacientes obesos que recorrem à cirurgia bariátrica também são auxiliados por fonoaudiólogos especialistas nesse

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 20 Capítulo 2 Interfaces em motricidade orofacial seguimento auxiliando os pacientes sobre melhores maneiras de mastigar e engolir dentre outros aspectos. Muitos campos de trabalho já estão estabelecidos na área da Motricidade Orofacial, outros ainda estão se estruturando e, provavelmente, muitos outros ainda irão aparecer. O que temos que ter em mente é que qualquer novo trabalho deverá ser muito bem documentado, estruturado e sempre testado de forma científica por meio de pesquisas para que se comprove a sua eficácia, ou mesmo necessidade.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 21 Capítulo 3 Métodos aerodinâmicos e acústicos aplicados à motricidade orofacial capítulo 3 mÉtodos aeRodinÂmicos e acÚsticos apLicados À motRicidade oRoFaciaL

adriana de oliveira camargo Gomes coordenadora

O estudo do Sistema Estomatognático envolve a avaliação das estruturas que o compõem, bem como suas respectivas funções. Técnicas instrumentais têm auxiliado o profissional da área de Motricidade Orofacial no diagnóstico e acompanhamento do tratamento das alterações e adaptações funcionais desse sistema, além de servirem como importantes recursos de biofeedback. Tais instrumentos contribuem com o avanço do conhecimento na área, pois permitem o melhor entendimento anatomofisiológico dos sistemas envolvidos e a mensuração das intervenções realizadas, de maneira mais precisa. Especialmente em relação às funções de respiração e fala, a avaliação instrumental das vias aéreas superiores pode ser feita pelos exames de rinomanometria, rinometria acústica, faringometria acústica e nasometria. Esses exames permitem a avaliação da permeabilidade nasal e nasofaríngea, tanto do ponto de vista estrutural (estático) quanto funcional (dinâmico). São técnicas não invasivas, de fácil aplicação, inclusive na população infantil, e que podem ser utilizadas na clínica fonoaudiológica e no desenvolvimento de importantes pesquisas da área. Por permitirem a mensuração de áreas e volumes da cavidade nasal até à naso e hipofaringe e a energia acústica durante a fala, os resultados desses exames trazem valores numéricos que auxiliam o diagnóstico, a comparação entre grupos estudados e resultados de intervenções terapêuticas e cirúrgicas. Além disso, por se tratar de equipamentos computadorizados, produzem gráficos que podem ser utilizados em terapia como um recurso de feedback visual. No Brasil, esses exames têm sido aplicados no estudo da permeabilidade nasal e nasofaríngea de indivíduos com obstruções nasais, respiradores orais, com fissura labiopalatina operada, roncadores ou com apneia obstrutiva do sono, após uso de expansores de maxila, nos momentos pré e pós-cirurgia ortognática, pré e pós-cirurgias nasais ou de tonsila faríngea, dentre outros. Além desses, há também pesquisas sobre a função velofaríngea na fala, por meio dos testes de nasalância (por meio da nasometria), fluxo-pressão (como uma variação da rinomanometria) e a própria rinometria acústica e faringometria acústica. Os resultados obtidos nesses estudos têm trazido importantes contribuições clínicas, pois quantificam com maior precisão o que dantes era avaliado subjetivamente ou de abrangência mais restrita. Desse modo, a perspectiva é de que tais métodos sejam utilizados em maior escala, como complemento importante na clínica em Motricidade Orofacial. Portanto, seu uso deve ser incentivado e estudado em diferentes populações de forma que as técnicas sejam ainda mais aprimoradas e a Fonoaudiologia contribua ainda mais no diagnóstico e tratamento, bem como no aprimoramento

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 22 Capítulo 3 Métodos aerodinâmicos e acústicos aplicados à motricidade orofacial das funções do Sistema Estomatognático. Por serem técnicas relativamente recentes na área de Fonoaudiologia, faz-se necessário o treinamento específico para o uso de cada uma delas, bem como o raciocínio clínico experiente, tendo em vista que o uso isolado de instrumentos de mensuração, sem o domínio da prática clinica podem induzir a erros de interpretação dos resultados. Além disso, fazem-se necessários estudos cada vez mais controlados para a padronização da técnica e da aplicabilidade na clínica fonoaudiológica. Estudos de referência já foram publicados para a população brasileira; porém, há que se ressaltar a importância do estabelecimento de valores de normalidade para outros grupos específicos.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 23 Capítulo 4 Métodos aerodinâmicos e acústicos aplicados à motricidade orofacial capítulo 4 mÉtodos aeRodinÂmicos e acÚsticos apLicados À motRicidade oRoFaciaL

hilton Justino da silva

O objetivo da palestra é apresentar as possibilidades clínicas e de pesquisa de métodos aerodinâmicos aplicados à Motricidade Orofacial. Assim serão apresentados os últimos achados desses métodos em nosso laboratório do Grupo de Pesquisa Patofisiologia do Sistema Estomatognático. O espelho milimetrado de Altmann consta também da placa metálica, porém com um lado liso e outro com marcação milimetrada e permite a mensuração precisa da área marcada pela expiração nasal. Nossas pesquisas tem mostrado a eficiência desse método para diagnóstico e comparações com outros métodos quantitativos. A rinometria acústica é uma técnica que permite medir a relação entre áreas seccionais nasais, ou seja, as constrições existentes ao longo da cavidade nasal e o volume de diferentes segmentos, além de possibilitar a identificação dos locais dessas constrições, por meio do cálculo da distância, a partir das narinas. Nossas pesquisas tentam mostrar as mudanças da geometria nasal em períodos pré e pós fonoterapia. A faringometria acústica pode ser um exame com potencial para ser um meio útil para localização de possíveis regiões de obstrução das VAS. Com a vantagem de avaliação de todo trato faríngeo possibilita um importante recurso para avaliação da geometria faríngea. Nossas pesquisas têm buscado a relação da geometria faríngea e os resultados da fonoterapia para o ronco e apneia obstrutiva do sono. A rinomanometria fornece dados de fluxo e pressão necessários para entendimento da evolução de nossos casos de alterações respiratórias. Nossas pesquisas tem tentado buscar relação do fluxo nasal comas alterações de fala e voz

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 24 Capítulo 5 Métodos instrumentais aplicados à motricidade orofacial. Avaliação da função respiratória capítulo 5 mÉtodos instRumentais apLicados À motRicidade oRoFaciaL. aVaLiação da Função RespiRatÓRia Renata paciello Yamashita

Os métodos instrumentais fornecem dados quantitativos que possibilitam diagnósticos mais precisos e definições de conduta mais apropriadas, bem como viabilizam o acompanhamento de intervenções cirúrgicas e terapêuticas, o que os torna, portanto, imprescindíveis na prática fonoaudiológica. Dentre os métodos instrumentais disponíveis para a avaliação da função respiratória estão a Técnica fluxo-pressão (rinomanometria) e a rinometria acústica. A técnica fluxo-pressão foi descrita por Warren e DuBois (1964) como uma variação da rinomanometria convencional. Trata-se de um método aerodinâmico que permite estimar a menor área de constrição da via respiratória nasal sendo, portanto, utilizado para avaliar a patência nasal de modo objetivo e quantitativo. A técnica baseia-se no princípio de que a área de secção transversa de uma constrição (ou orifício) pode ser calculada conhecendo-se a diferença de pressão existente entre os dois lados da constrição e o fluxo de ar que atravessa essa mesma constrição. Este método permite identificar obstrução da cavidade nasal e da região nasofaríngea. A área de secção transversa mínima nasal de um indivíduo adulto sem obstrução é, em média, de 0,60cm2. Valores inferiores a 0,40cm2 indicam uma via aérea obstruída, o que acontece frequentemente na fissura labiopalatina (Fukushiro e Trindade 2011). A rinometria acústica é considerada um método de avaliação da geometria nasal e representa um avanço em relação à rinomanometria por permitir não somente mensurar as áreas seccionais da cavidade nasal das narinas até a nasofaringe, mas também possibilita mapear os locais das principais constrições da cavidade nasal, determinar a distância das constrições relativamente às narinas e os volumes de diferentes regiões da cavidade nasal. Estudos realizados no Laboratório de Fisiologia determinaram os valores médios de referência para adultos normais: AST1=0,54cm2; AST2=0,98cm2 e AST3=1,42cm2 e dos volumes nasais: V1=1,68cm3; V2=3,98cm3 e V3=17,67cm3 (Trindade et al 2007; Gomes et al 2008). O método é especialmente útil no acompanhamento do efeito de intervenções clínico-cirúrgicas sobre a geometria nasal, como é o caso da rinosseptoplastia em indivíduos com fissura labiopalatina, por exemplo (Trindade et al 2009). Por avaliarem objetivamente a função respiratória e fornecerem informações quantitativas que complementam a impressão do avaliador, esses métodos instrumentais se tornaram indispensáveis na prática clínica fonoaudiológica.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 25 Capítulo 6 Diagnóstico diferencial das dores orofaciais capítulo 6 diaGnÓstico diFeRenciaL das doRes oRoFaciais

paulo cesar Rodrigues conti

O processo de diagnóstico diferencial das Dores Orofaciais constitui um desafio para a área da Saúde. A interação do sistema trigeminal com os demais componentes do sistema nervoso faz com que as manifestações de dores na face sejam influenciadas por diversos estímulos, o que resulta em uma grande variedade de combinações e sensações. Ainda, há frequentemente a existência de condições comorbidas às dores orofaciais, como as cefaleias primárias, cervicalgias e outras síndromes disfuncionais, como a fibromialgia, por exemplo. Ainda, a possibilidade de cronificação leva o sistema nervoso a criar mecanismos de auto sustentação da condição dolorosa, fato que faz com que se perca a relação entre estímulos periféricos e a sensação de dor percebida. Assim, objetiva-se discutir tais aspectos e propor uma sequência lógica de métodos para exame e interpretação dos achados em pacientes com dor orofacial crônica.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 26 Capítulo 7 Mecanismo da dor capítulo 7 mecanismo da doR

patrick Raymond nicolas andre Ghislain stump

1. Definição da dor pela International Association for the Study of Pain (IASP): experiência sensitiva e emocional desagradável associada ou descrita em termos de lesão tecidual.

2. Definição das síndromes dolorosas:

- Dor fisiológica (protetora): resposta a um estimulo nocivo agudo que provoca uma reação de defesa e cessa quando da retirada do estimulo.

- Dor nociceptiva: desencadeada por liberação, nos tecidos, de substâncias inflamatórias que desencadeiam os impulsos nociceptivos nas terminações nervosa livres.

- Dor neuropática: iniciada ou causada como consequência direta de lesão ou doença afetando o sistema somato-sensitivo (IASP, 2011).

- Dor “disfuncional”: com mecanismo associado à falha do sistema supressor de dor e estão incluídas neste grupo a fibromialgia, a cefaleia e a síndrome do intestino irritável.

3. Dimensões da dor:

- Sensitiva discriminativa (neoespinotalâmico).

- Afetivo - Motivacional (paleoespinotalâmico + espinorreticulotâlamico).

- Cognitivo – Avaliativa.

4. Dor mista: conceito e prevalência.

5. Mecanismos de sensibilização periféricos: demonstrar alterações plásticas que ocorrem nas terminações nervosas livres na dor crônica.

6. Mecanismo de sensibilização central: demonstrar as alterações do sistema nervoso central na perpetuação da dor.

7. Mecanismo de modulação da dor: demonstrar os mecanismos descendentes que modulam o estímulo nociceptivo.

Nos portadores de dor e disfunção temporomandibular o diagnóstico dos mecanismos da dor

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 27 Capítulo 7 Mecanismo da dor e das suas comorbidades (distúrbio do sono, ansiedade, depressão) é fundamental. A estratégia terapêutica com a associação de mais de um fármaco torna-se imperativo, assim como o uso de todas as ferramentas (Odontologia, Fonoaudiologia, Medicina Física, Terapia Cognitiva, etc.) para melhorar a qualidade de vida do doente no seu maior espectro BIOPSICOSOCIAL.

Dr. Patrick Stump (CRM 28.451-SP) - Fisiatra do Grupo de Dor do Departamento de Neurologia e do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

De acordo com a Norma 1595/2000 do Conselho Federal de Medicina e a Resolução RDC 102/2000 da Agência de Vigilância Sanitária declaro que: Esta palestra não foi patrocinada.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 28 Capítulo 8 Terapia intensiva e prótese de palato na fissura labiopalatina capítulo 8 teRapia intensiVa e pRÓtese de paLato na FissuRa LaBiopaLatina

trixy cristina niemeyer Vilela alves coordenadora

A fissura labiopalatina é uma malformação comum que requer correção cirúrgica. Após a cirurgia primária, pode haver, ainda, disfunção velofaríngea, envolvendo a presença de alterações na fala, como hipernasalidade, distúrbios articulatórios compensatórios, fraca pressão intra-oral e emissão de ar nasal. Essas alterações prejudicam a inteligibilidade e afetam a vida social e auto-estima do paciente. O tratamento das disfunções pode ser realizado por meio de cirurgias secundárias, prótese de palato e/ou terapia fonoaudiológica. As próteses de palato são aparelhos removíveis, podendo ser elevadoras ou obturadoras do palato. No caso das próteses obturadoras, mais comumente se utiliza as que contem bulbo faríngeo que atua em interação com a musculatura da faringe no controle do fluxo de ar oronasal. Ao colocar a prótese, há a necessidade de tratamento fonoaudiológico específico, envolvendo correção dos distúrbios articulatórios compensatórios e sistematização do fechamento velofaríngeo. Há poucos fonoaudiólogos com experiência na reabilitação da fala em casos com fissura. Assim, a terapia intensiva é uma prática realizada em centros de referência no tratamento da fissura labiopalatina para gerenciamento das articulações compensatórias. É realizado diariamente com sessões matutinas e vespertinas, ainda com a participação da família, demonstrando resultados favoráveis, em curto período de tempo, o que já está comprovado na literatura. Trata-se, portanto, de uma proposta de grande impacto na qualidade de vida do paciente.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 29 Capítulo 9 Terapia intensiva e prótese de palato na fissura labiopalatina capítulo 9 teRapia intensiVa e pRÓtese de paLato na FissuRa LaBiopaLatina

maria inês pegoraro-Krook homero carneiro aferri

A presença de disfunção velofaríngea (DVF) nos pacientes com fissura palatina está associada ao resultado cirúrgico (palatoplastia) desfavorável ou mesmo a impossibilidade de reabilitação cirúrgica do palato de maneira que este possa promover o correto funcionamento do mecanismo velofaríngeo. O diagnóstico diferencial da DVF deve ser realizado para definir se há falta de tecido no palato, desproporção nasofaríngea (insuficiência velofaríngea) ou se há alteração no funcionamento das estruturas do mecanismo velofaríngeo (incompetência velofaríngea). Nos casos de insuficiência velofaríngea é necessária a associação do tratamento físico (cirurgia ou prótese de palato) e da fonoterapia. Para indicar o melhor tratamento a equipe de reabilitação deve avaliar qual procedimento terá melhor prognóstico. A reabilitação cirúrgica será realizada nos casos que apresentam movimentação da musculatura faríngea satisfatória, já os casos de velofaringe hipodinâmica o tratamento físico eleito é o uso de um obturador faríngeo, podendo ser permanente ou temporário, combinado ao tratamento fonoterápico. A prótese de palato é um tipo de prótese bucomaxilofacial intrabucal removível, que possui três partes: uma anterior localizada no palato duro (fixada aos dentes), uma intermediária localizada no palato mole (elemento de conexão entre a parte anterior e a posterior - o bulbo faríngeo) e uma posterior, denominada de bulbo faríngeo que deverá preencher o espaço nasofaríngeo remanescente durante a emissão dos fonemas orais, promovendo o fechamento velofaríngeo. O uso da prótese de palato como meio de melhorar o prognóstico cirúrgico tem uma ótima aplicação nas equipes que reabilitam pacientes com DVF, pois seu uso associado à fonoterapia intensiva, pode modificar o padrão de mobilidade das paredes faríngeas e com isso promover o fechamento velofaríngeo para favorecer a melhora de fala, e criar as condições necessárias para a realização da cirurgia.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 30 Capítulo 10 Reabilitação oral protética e funções orofaciais capítulo 10 ReaBiLitação oRaL pRotÉtica e Funções oRoFaciais

Lia inês marino duarte coordenadora

Atualmente a área da Motricidade Orofacial estabelece interfaces com diferentes profissões, mas é com a odontologia que observamos as maiores interligações, em especial com a ortodontia e ortopedia funcional dos maxilares. No entanto, o fonoaudiólogo especialista em MO há algum tempo vem se inserindo em outras especialidades odontológicas: atendimento a pacientes submetidos à cirurgia ortognática, com traumas craniofaciais, portadores de disfunções da ATM, de doenças periodontais, de próteses dentárias e submetidos a implantes dentários. É fundamental o fonoaudiólogo ter conhecimento dos processos e transformações das estruturas e funções buco faciais, pois só assim terá condições de trabalhar com o que é patológico e prevenir alguns dos problemas que ocorrerão. Neste capítulo serão abordadas as alterações da fala de origem musculoesquelética, onde o que mais se altera é o ponto articulatório e não o modo de articulação. A fala envolve fenômenos acústicos e motores, sendo essencial a integridade das estruturas envolvidas. Sendo assim, tanto a falta de dentes como o uso de próteses podem comprometê-la. A odontologia, utilizando as próteses, repõe os dentes, devolvendo à estética e a função, porém, na adaptação das mesmas, a fala é um aspecto a ser considerado, pois alterações fonéticas devem ser eliminadas quando presentes, mas em decorrência de seu uso, pode haver alterações na articulação e na ressonância. Alterações na fala podem ocorrer tanto na colocação da prótese pela primeira vez como na substituição da mesma. Em geral a prótese dentária, quando não está bem adaptada, traz diversos problemas: o indivíduo fala com a boca mais cerrada para não perder a estabilidade da mesma, causando uma imprecisão articulatória; a diminuição dos movimentos mandibulares também fica evidente, assim como aparecem movimentos alterados da mandíbula e de lábios numa tentativa de compensar e melhorar a precisão da fala. Nos portadores de próteses dentárias, quer parciais quer totais é fundamental que as mesmas estejam bem adaptadas, o que resultará numa articulação da fala adequada, mas também na manutenção da alimentação sólida, numa deglutição segura além da estética facial. De acordo com Suzuki (1998) a redução do fluxo salivar no idoso, a reabsorção das estruturas ósseas e a redução da massa proteica, particularmente nos músculos esqueléticos, dificultam a retenção de próteses dentárias e afetam a função preparatória da mastigação. De acordo com DeBoer (1993), Molly et al (2008), as queixas de fala ocorrem tanto nas próteses mucosossuportadas como implantossuportadas, sendo relatado melhora da satisfação das funções de mastigação e fala, conforto oral e estético e qualidade de vida com a prótese implantossuportada.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 31 Capítulo 10 Reabilitação oral protética e funções orofaciais

Silverman, 1984, enfatiza a importância da terapia miofuncional para melhor adaptação das próteses dentárias. Acredita que o padrão mastigatório não se modifica apenas pela recolocação dos dentes, é preciso que se aprenda uma nova programação neuromuscular. Portanto, é importante ao fonoaudiólogo, em conjunto com o odontologista verificar a qualidade de vida durante o processo de adaptação da prótese dentária, propiciando ao indivíduo uma adaptação mais rápida e eficaz que traga somente benefícios a sua vida.

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Cunha CC, Felício CM, Bataglion C. Condições miofuncionais orais em usuários de próteses totais. Pró-Fono 1998; 11(1):21-6.

DeBoer J. Edentulous implants: overdenture versus fixed. J Prosthet Dent 1993; 69(4):386-90.

Felício CM. Fala: um índice sobre adaptação às próteses totais. Pró-Fono 1998; 10(1):66-72.

Marchesan IQ. Como eu trato os problemas de fala não neurogênicos. In: VII Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia. XII Encontro Nacional de Fonoaudiologia 1998. Natal, RN. Anais. São Paulo: Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia.

Marchesan IQ. Alterações de fala de origem musculoesquelética. In: Tratado de Fonoaudiologia da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia. São Paulo: Rocca; 2004.

Molly L, Nackaerts O, Vandewiele K, Manders E, Van Steenberghe D, Jacobs R. Speech adaptation after treatment of full edentulism though immediate loaded implant protocols. Clin Oral Impl Res 2008; 19(1):86-90.

Rodrigues LCB, Pegoraro LF, Brasolotto AG, Félix GB, Genaro KF. A fala nas diferentes modalidades de reabilitação oral protética em idosos. Pró-Fono 2010; 22(2).

Sansone KM, Filho HN, Berretin-Félix G, Brasolotto AG. Oral myofunctional and vocal characteristics in subjects subjected to oral rehabilitation with osseointegrated implants. Clin oral Impl Res 2006; 17(3):328-30.

Suzuki HS. O entardecer da deglutição: um estudo sobre modificações nos hábitos da rotina alimentar X fisiologia da deglutição do idoso normal. [monografia] São Paulo: CEFAC 1997.

Silverman ET. Reabilitação da fala, hábitos e terapia miofuncional nos processos restauradores. In: Seide LJ. Odontologia restauradora método dinâmico e integral. São Paulo: Médica Panamericana;1984.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 32 Capítulo 11 Reabilitação oral protética e funções orofaciais. Abordagem fonoaudiológica capítulo 11 ReaBiLitação oRaL pRotÉtica e Funções oRoFaciais. aBoRdaGem FonoaudioLÓGica

Giédre Berretin-Felix

A perda dos dentes acarreta modificações ao sistema estomatognático, bem como adaptações no desempenho das funções de mastigação, deglutição e fala. A reabilitação com próteses dentárias possibilita recuperar a anatomia oral, adequar a dimensão vertical de oclusão e a estética facial, além de criar condições para o reequilíbrio funcional orofacial. Nesse sentido, a atuação do especialista em Motricidade Orofacial, nas diferentes fases do tratamento odontológico, é fundamental. O preparo da musculatura e a abordagem sensorial oral contribuirão para a melhor adaptação do paciente às diferentes etapas da reabilitação protética. Testes de mastigação, deglutição e fala direcionarão os ajustes necessários para a melhor adaptação da prótese provisória, como também da prótese definitiva. Após a instalação das próteses devem ser estabelecidas as condições funcionais mais adequadas à reabilitação oral realizada pelo paciente. O padrão mastigatório será definido considerando o tipo de prótese (parcial, total, fixa ou removível) e a condição dos músculos mastigatórios e da articulação temporomandibular. Em relação à deglutição deve-se ter atenção aos idosos que podem apresentar presbifagia. Nesse sentido, a estabilidade das próteses é fundamental para que o paciente possa recrutar adequadamente a musculatura relacionada à estabilidade da mandíbula, bem como a correta ação da língua durante o processo de deglutição. Distorções na fala de origem fonética podem estar relacionadas às características da prótese, como dimensão vertical de oclusão, contorno palatino, tamanho e forma dos dentes. Cabe ao odontológo e ao fonoaudiólogo, conjuntamente, identificarem as possíveis causas das alterações de fala e ao último abordar as alterações de tônus, mobilidade, coordenação motora oral e produção da fala, quando necessário.Estudos têm sido realizados considerando a influência das diferentes modalidades de reabilitação oral no desempenho das funções orofaciais, porém ainda são escassos os trabalhos voltados à efetividade da reabilitação fonoaudiológica nessa população, sendo necessários estudos futuros, fortalecendo, assim, a interface entre a Fonoaudiologia e a Odontologia na área de prótese.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 33 Capítulo 12 Testes fonéticos em reabilitação oral capítulo 12 testes FonÉticos em ReaBiLitação oRaL

José henrique Rubo

O edentulismo é a perda total ou parcial dos dentes permanentes como consequência de eventos mutilatórios durante a vida do indivíduo. Decorre, na maioria das vezes, de uma prática voltada para extrações dentárias subsequentes a agravos bucais como a cárie dentária e problemas periodontais, porém, os fatores que culminam com a exodontia acabam sendo mais complexos e influenciados pela interação entre as doenças bucais; a frequência que o indivíduo procura o cuidado odontológico ou mesmo o acesso ao tratamento. Com todas as alterações físicas advindas da perda dentária, também são comuns alterações na fala devido às mudanças na morfologia e musculatura da cavidade oral. Desta forma, tanto a ausência dentária como o uso de prótese podem comprometer os fenômenos acústicos e motores envolvidos na fala. O posicionamento dos dentes é fundamental para o correto desempenho das funções de mastigação, deglutição e fala e o fonema /s/ é o escolhido para teste por sua pronúncia ser influenciada pelo trespasse vertical e horizontal durante o percurso da mandíbula. Outra etapa passível de alterações regidas pelos testes fonéticos é a determinação do contorno da prótese e a conformação do palato. Finalizado o trabalho protético, mesmo com todos os cuidados durante a etapa de planejamento e confecção, o paciente passará por um período de adaptação que levará de 6 a 8 meses. Uma das contribuições do fonoaudiólogo será na tentativa de redução do tempo de adaptação, submetendo o paciente a terapia miofuncional para acelerar a normalização da atividade muscular e reduzir a desistência ao uso da prótese. É dever do cirurgião-dentista o encaminhamento e a conscientização da necessidade de treino para uma correta adaptação, evitando o desenvolvimento de hábitos parafuncionais, por exemplo. Os testes fonéticos devem nortear as etapas de confecção da prótese e a atenção aos fonemas deve continuar durante o controle posterior. Cirurgiões-dentistas e fonoaudiólogos trabalhando em sintonia proporcionarão ao paciente não somente um tratamento protético reabilitador de qualidade, mas também uma atenção holística e benefícios estéticos e funcionais.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 34 Capítulo 13 Atuação fonoaudiológica na Equipe Craniofacial capítulo 13 atuação FonoaudioLÓGica na eQuipe cRanioFaciaL

melissa Zattoni antoneli nivaldo alonso

As anomalias congênitas do crânio e da face compõem um grupo bastante heterogêneo de malformações, podendo afetar as estruturas faciais, orais, auriculares, nasais, oculares, cranianas, dentre outras. Dessa forma, funções como a motricidade orofacial, a fala, a audição, a respiração, a visão, a linguagem e a cognição também podem sofrer prejuízos variáveis. Ao longo dos anos, distúrbios de fala e audição têm sido associados às síndromes genéticas e anomalias craniofaciais, muitas vezes fazendo parte do fenótipo de algumas condições. Todo paciente com esse tipo de malformação é considerado de risco e necessita acompanhamento específico, que pode ser estender durante muitas fases de sua vida. Dessa forma, podemos concluir que a atuação da fonoaudiologia numa equipe interdisciplinar que trata anomalias craniofaciais é absolutamente imprescindível. Muitas vezes o fonoaudiólogo lida com funções adaptadas como, por exemplo, deglutição adaptada, pontos articulatórios compensatórios ou adaptados, que não podem ser corrigidos em determinadas fases do tratamento, ou mesmo que permanecerão de forma adaptada devido ao prognóstico limitado. Outros fatores limitantes podem estar presentes, como a traqueostomia, a gastrostomia ou uma fissura de palato sem indicação cirúrgica, por exemplo. Alguns mecanismos de adaptação podem também ser trabalhados com o paciente quando a reabilitação morfológica atinge a melhor condição possível, mas ainda não é adequada. Em atendimento conjunto com a equipe, são fornecidas orientações específicas sobre o desenvolvimento da linguagem, possíveis alterações na fala, na audição, orientações com relação à alimentação (aleitamento, posição da amamentação, graduação da consistência alimentar), hábitos orais, dentre outros. Em atendimento fonoaudiológico individual, é realizada avaliação específica da fala e da audição. É importante ressaltar que esses casos seguem uma rotina diferente dos pacientes com fissura labiopalatina isolada. As alterações de fala devem ser avaliadas criteriosamente e sua etiologia definida. Usualmente, as opções de tratamento das disfunções velofaríngeas são mais limitadas. Cirurgias como o retalho faríngeo, por exemplo, não podem ser indicadas em pacientes com comprometimento respiratório, retrusão de terço médio da face e micrognatia. Um recurso bastante indicado para estes pacientes tem sido a prótese de palato. Com relação à audição, é sempre importante a avaliação audiológica nestes casos; entretanto, sempre que o paciente apresentar malformação da orelha ou síndrome conhecidamente associada à deficiência auditiva, o diagnóstico audiológico deve ser realizado o quanto antes.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 35 Capítulo 14 Interfaces nas síndromes craniofaciais capítulo 14 inteRFaces nas sÍndRomes cRanioFaciais

Katia Flores Genaro coordenadora

As síndromes craniofaciais estão entre as malformações congênitas que acarretam alterações morfológicas, com repercussões estéticas e funcionais, que podem, inclusive, ter implicações psicossociais. Em muitos casos, o sistema estomatognático evidencia alterações ósseas e dentárias, as quais afetam diretamente a realização das funções orofaciais. Em grande parte da vida, os indivíduos acometidos por essa malformação são submetidos a várias intervenções cirúrgicas e tratamentos diversos, na busca da correção do defeito anatômico e consequente repercussão estético funcional. Assim, a recuperação e integração do indivíduo na sociedade estão vinculadas a uma atuação adequada de equipe multiprofissional especializada, que execute um trabalho interdisciplinar, tendo em vista que as manifestações podem ser complexas e os sinais clínicos variáveis, se apresentando de forma leve ou marcante. Respeitando as especificidades de cada área profissional, o processo de reabilitação envolve uma importante interelação entre elas, sendo fundamental, muitas vezes, a definição, em conjunto, do plano de tratamento, como o tipo de procedimento a ser aplicado, assim como o melhor momento de sua execução, visando à recuperação mais rápida e bem sucedida. Nesta apresentação será possível conhecer um pouco da atuação, especificamente, da Fonoaudiologia, da Genética e da Cirurgia Craniofacial, a partir do relato de profissionais com vasta experiência no atendimento dessa população.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 36 Capítulo 15 Interfaces nas síndromes craniofaciais capítulo 15 inteRFaces nas sÍndRomes cRanioFaciais

nancy mizue Kokitsu nakata

As anomalias congênitas afetam cerca de 5% dos nascidos vivos em todo o mundo. Na América Latina estas anomalias já respondem por 10-25% das admissões hospitalares pediátricas, ocupando entre o terceiro e o quarto lugares dentre as causas de morte no primeiro ano de vida. No Brasil, os defeitos congênitos vêm se mantendo, consistentemente, como a segunda causa de mortes perinatais, representando 13% destas, no ano 2000. Dentre os defeitos congênitos, a fissura orofacial é um dos quatro mais comuns e são classificadas em não sindrômicas e sindrômicas, de acordo com a ausência ou presença de outras anomalias associadas. Cerca de 30% dos casos de fissura de lábio com ou sem fissura de palato e 50% dos casos com fissura de palato podem representar quadros sindrômicos. As fissuras labiopalatinas não sindrômicas têm etiologia multifatorial, onde o background genético de suscetibilidade interage com fatores ambientais para resultar no fenótipo e, as fissuras labiopalatinas sindrômicas, em muitos casos, são decorrentes de alterações cromossômicas ou de alterações gênicas. Atualmente, mais de 600 síndromes, cuja fissura orofacial faz parte do espectro clínico, têm sido descritas em base de dados ou em programas especializados em síndromes (Online Mendelian Inheritance in Man – OMIM; London Medical Database – LMD; Pictures of Standardized Syndrome and Undiagnosed Malformations – POSSUM). Dentre estas, muitas são as síndromes que cursam com alterações da motricidade orofacial. A partir da avaliação das alterações clínicas inerentes ao indivíduo com fissura labiopalatina não sindrômica ou sindrômica, torna-se de fundamental importância o conhecimento do quadro genético estabelecido. Assim, possibilita-se melhor direcionamento da conduta terapêutica de um indivíduo com alterações da motricidade orofacial, cujo diagnóstico genético já tenha sido definido. Isso torna relevante a conexão de diferentes áreas, como a genética e a fonoaudiologia, pois poderá fornecer novos conhecimentos em relação à etiologia, diagnóstico, prognóstico e eventuais caminhos terapêuticos, visando futura prevenção das complicações decorrentes dos defeitos congênitos e melhorando a qualidade de vida destes indivíduos.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 37 Capítulo 16 Relação da terapia da fala / fonoaudiologia com a ortopedia funcional dos maxilares capítulo 16 ReLação da teRapia da FaLa / FonoaudioLoGia com a oRtopedia FuncionaL dos maxiLaRes

Ricardo santos

O equilíbrio funcional do sistema estomatognático é fundamental para a estabilidade oclusal e harmonia dentofacial. As alterações miofuncionais podem condicionar a oclusão dentária e todo o crescimento craniofacial. Uma identificação, diagnóstico e intervenção precoce dessas alterações poderão influenciar positivamente a oclusão e todo o padrão de crescimento craniofacial, contribuindo para a sua estabilidade e harmonia, com especial relevo na fase interceptiva. Embora seja controverso se são as alterações funcionais que causam a maloclusão ou o inverso, o foco principal da atuação clínica não deverá ser dicotomizar forma e função, mas sim estabelecer uma metodologia de atuação assente numa dinâmica interdisciplinar de atuação integrada e verdadeiramente complementar, que permita a sua compreensão baseada na partilha de conhecimentos e decisão conjunta tão precoce quanto possível e ajustada à individualidade e especificidade de cada caso. Assim, o conhecimento e identificação das alterações miofuncionais orofaciais por parte do médico dentista torna-se extremamente relevante, contribuindo para uma visão holística do indivíduo e, assumidamente, interdependente. A Ortopedia Funcional dos Maxilares (OFM) baseia-se no princípio de Claude Bernard de que “a função cria o órgão e o órgão proporciona a função”. A intervenção precoce para a OFM assume um papel fundamental no que diz respeito à prevenção do crescimento craniofacial desfavorável, à prevenção das deformidades dentofaciais e à monitorização do crescimento facial. Os aparelhos ortopédicos funcionais agem através das forças naturais do crescimento e desenvolvimento, das forças de erupção dentária, da postura e movimento da mandíbula e da postura e movimento da língua. As novas posturas mandibulares induzidas pelos aparelhos ortopédicos funcionais induzem uma adaptação músculo esqueléticas que, em conjunto com a intervenção miofuncional orofacial, promovem uma reeducação da musculatura orofacial. Na perspectiva funcionalista, todas as más oclusões que trazem alterações nas funções orais, requerem tratamento intercetivo. Em todas as maloclusões a forma, posição e postura errada das estruturas, dificultam as funções orais que se adaptam a novas formas incorretas de funcionar, pois o organismo tenta compensar. Estas funções adaptadas, como uma respiração oral, uma mastigação unilateral viciosa, uma deglutição atípica, uma posição e postura incorreta da língua, agravam a má- oclusão num ciclo vicioso que deve ser rapidamente interrompido. Os procedimentos interceptivos nas más oclusões tornam-se fundamentais na recuperação funcional e morfológica do paciente pediátrico. A compreensão dos aspectos envolvidos no crescimento e desenvolvimento craniofacial e na fisiologia

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 38 Capítulo 16 Relação da terapia da fala / fonoaudiologia com a ortopedia funcional dos maxilares do sistema estomatognático é fundamental, pois temos a responsabilidade da supervisão do crescimento/desenvolvimento facial e também da monitoração da interdisciplinaridade necessária para o exercício de uma terapêutica integral. Só com esta visão multidimensional do paciente, conseguiremos tratar de uma forma mais fisiológica, com mais estabilidade, dando oportunidade à criança de crescer de forma hramoniosa e com as funções orais adequadas, num sistema a que se pode chamar “auto- sustentado”. Nesta conferência, os autores propõem-se a ilustrar a interdependência entre forma e função e a questionar a necessidade de uma reflexão sobre o papel que a componente miofuncional orofacial tem na Ortopedia Funcional dos Maxilares, assim como as possibilidades de atuação conjunta com a Terapia da Fala/ Fonoaudiologia nos casos onde se verifiquem alterações. Pretende também realçar a sua efetiva necessidade, considerando que a intervenção miofuncional orofacial, quando em idade e situação oclusal favoráveis, pode modificar posições dentárias e até produzir modificações ósseas. Serão apresentados casos clínicos de intervenção conjunta em diferentes fases do tratamento assim como uma descrição da aparatologia e técnicas terapêuticas utilizadas em cada situação.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 39 Capítulo 17 Ortopedia funcional dos maxilares e paralisia facial. Discussão de casos clínicos capítulo 17 oRtopedia FuncionaL dos maxiLaRes e paRaLisia FaciaL. discussão de casos cLÍnicos

nise alonso manicardi

O primeiro paciente, com 4 anos, apresentava as características da síndrome mais severas e foi preciso um trabalho de prevenção e condicionamento pois, por falta de mobilidade na língua e muita sialorréia, apresentava alto índice de cárie. Paciente portadora de micrognatia e primeiramente pensou- se em dar mais mobilidade mandibular com as Pistas Diretas de Planas. Depois disso ela iniciou tratamento fonoaudiológico. A colocação de um AOF foi mais para frente, com o objetivo de estimular crescimento mandibular. No segundo caso a paciente apresentava atresia de maxila, mandíbula e sobremordida. Colocou-se um AOF de Frankel e na aleta de resina do lado paralisado fez-se ranhuras e outros recursos para estimular a propriocepção. Estes estímulos foram mudados a cada 3 meses. Os dois casos foram trabalhados com o AOF de Frankel por não ocupar espaço intraoral, ajudar nas funções da fala, deglutição, mobilidade de língua e vedamento labial. O AOF de Frankel, pelas aletas vestibulares, estimulam os músculos afetados, tanto a propriocepção do lado paralisado, como o relaxamento do lado não paralisado. O principal estímulo deste AOF é a tração dos músculos, periodonto e osso basal pelas aletas vestibulares, promovendo o desenvolvimento. Os resultados obtidos junto com a fonoaudiologia são importantes, mesmo com limitação da síndrome. Há sempre um potencial de resposta a ser explorado, por mínimo que seja, pelos estímulos terapêuticos adequados.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 40 Capítulo 18 Ortopedia funcional dos maxilares e paralisia facial: discussão de casos clínicos capítulo 18 oRtopedia FuncionaL dos maxiLaRes e paRaLisia FaciaL: discussão de casos cLÍnicos

Viviane degan coordenadora

Os músculos e funções orofaciais estão intimamente relacionados com a oclusão e, portanto, a relação da Fonoaudiologia, na área de Motricidade Orofacial e a Odontologia estendem por diversas especialidades dentre elas a Ortodontia e a Ortopedia Funcional dos Maxilares. A Síndrome de Moebius se caracteriza por paralisia facial congênita não progressiva do VII e do VI nervos cranianos, quase sempre bilaterais, o que produz uma aparência facial pouco expressiva e estrabismo convergente. Frequentemente outros nervos cranianos apresentam-se comprometidos, uni ou bilateralmente, determinando ptose palpebral, estrabismo divergente, surdez, distúrbios da sensibilidade nos territórios inervados pelo trigêmeo, disfagia, disfonia e atrofia da língua, que podem ser verificados em diferentes combinações. Alguns casos acompanha-se de deficiência mental sugerindo que o envolvimento do sistema nervoso possa ser mais difuso do que o apontado pela presença maciça das paralisias de nervos craniofaciais. Malformações esqueléticas estão presentes em grande número de casos, especialmente pés. Pode apresentar hipoplasia mandibular e maxilar, sialorréia, palato estreito e profundo, sulco lingual profundo, língua geográfica, anquiloglossia, lábio superior encurtado, palato estreito e profundo, tônus e mobilidade de lábios e língua alterados, ausência de vedamento labial em repouso, úvula bífida, fissura palatina, alterações nos dentes e diminuição de força muscular na região superior do corpo. Desta forma, funções do Sistema Estomatognático como sucção e mastigação além da mímica facial ficam comprometidas e a Terapia Miofuncional está indicada. Por acometer tanto os tecidos moles quanto o tecido ósseo, É necessária a intervenção de vários profissionais, dentre eles o cirurgião plástico e maxilo- facial, odontólogos especializados em ortopedia funcional dos maxilares e ortodontia, pediatras, ortopedistas, fonoaudiólogos, psicólogos e geneticistas. Para favorecimento de melhores condições oclusais, a Ortopedia Funcional dos Maxilares pode ser indicada, pois é uma especialidade da Odontologia que visa prevenir, tratar más oclusões e suas consequências por meio de recursos que utilizam estímulos funcionais para oferecer condições para o equilíbrio morfo-funcional do Sistema Estomatognático.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 41 Capítulo 19 Ortopedia funcional dos maxilares e paralisia facial: discussão de casos clínicos capítulo 19 oRtopedia FuncionaL dos maxiLaRes e paRaLisia FaciaL: discussão de casos cLÍnicos adriana tessitore

Paralisia Facial advinda da Sequencia de Moebius incompleta, é um acometimento raro de malformação congênita dos nervos facial, abducente, hipoglosso e glossofaringeo, caracterizando uma paralisia bilateral completa ou incompleta dentre outros aspectos. Apresentaremos dois casos de Paralisia Facial Central, congênitos e com Sequencia de Moebius incompleta. Caso 1: ICG, gênero feminino, 10 anos. Alterações Miofuncionais presentes: Paralisia Facial Bilateral incompleta; Incompetência no fechamento labial; Língua presa ao soalho bucal, sem lateralidade e elevação de ponta; Disfonia; Eventuais disfagias (engasgos); Adaptações funcionais para deglutição e mastigação; Assimetria de forças musculares, com o lado D tendo mais força e mais resposta funcional que o lado E. Caso 2: HAM, gênero feminino, 13 anos. Alterações Miofuncionais: Paralisia Facial Unilateral incompleta; Dificuldade com funções visuais, que modifica o posicionamento craniocervical; Dificuldade na manutenção do fechamento labial; Apresentava bastante sialorreia, hoje tem um bom controle motor oral; Assimetria facial; Mastigação unilateral inicialmente; Engasgos sempre que comia rápido; Assimetria na língua na forma e na função. Os dois casos sempre tiveram uma equipe multidisciplinar com fisioterapia, fonoaudiologia, odontologia e medicina. A interação das terapias de reabilitação orofacial, no caso da fonoaudiologia e a odontologia com a visão funcional, se faz muito efetiva para estes tipos de casos clínicos. A reabilitação da motricidade orofacial através da terapia miofuncional, com abordagens específicas desde a regulação e estimulação da musculatura que atua nas funções estomatognaticas, com a atuação conjunta com a Ortopedia Funcional dos Maxilares, através de seus recursos diretos e indiretos, como Pistas Diretas de Planas e ajustes oclusais, até ao uso de aparelhos ortopédicos funcionais, com resultantes na musculatura também é muito importante para a reabilitação como um todo dos aspectos morfológicos e funcionais de cada caso clínico com suas diversas características individuais.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 42 Capítulo 20 Apneia obstrutiva do sono: atuação interdisciplinar capítulo 20 apneia oBstRutiVa do sono: atuação inteRdiscipLinaR

camila de castro corrêa coordenadora

A Apneia Obstrutiva do Sono (AOS) é um distúrbio respiratório em que ocorre a obstrução total e/ou parcial das vias aéreas superiores durante o sono, implicando na dessaturação da oxihemoglobina e aumento progressivo da pressão parcial de dióxido de carbono no sangue arterial. A abordagem interdisciplinar tem sido enfatizada devido às consequências diversas ao indivíduo, desde riscos a acidentes cardiovasculares, prejuízos na qualidade de vida, memória, atenção e rendimento escolar. Em uma escala mais ampla, as implicações da AOS incluem a mortalidade pela associação com a hipertensão, enfarte do miocárdio e acidente vascular cerebral, além do risco de acidentes de trânsito e ocupacionais, tornando-se assim, um problema de saúde pública. Quanto ao diagnóstico, se faz necessário o exame clínico do médico especialista em Medicina do Sono, aplicação de questionários de qualidade do sono e a realização do exame de polissonografia, que é considerado padrão ouro pela capacidade de gerar o registro gráfico de múltiplas variáveis biofisiológicas de um paciente enquanto dorme. Um dos resultados desse exame é o Índice de Apneia e Hipopneia (IAH) que determina a gravidade da AOS: grau leve 5 < IAH < 15/hora; grau moderado 15 < IAH < 30/hora; grau grave IAH > 30/hora. A partir do IAH e da investigação da causa da AOS, o médico irá indicar o melhor tratamento para o paciente. Na população infantil, a maior causa é a hipertrofia de adenoide e amígdalas, podendo ser indicado o procedimento cirúrgico de adenoamigdalectomia. Em relação aos adultos, o fator da obesidade prevalece entre as causas, sendo indicada a perda de peso. Entretanto, existem outras causas: discrepâncias maxilomandibulares (retrognatia) e distúrbios miofuncionais orofaciais (hipotonicidade dos músculos orofaciais). Nesses casos, outros profissionais devem ser envolvidos na abordagem dos pacientes com AOS. No que compete a Odontologia, têm sido desenvolvidos aparelhos intraorais com o intuito de promover o avanço mandibular, ampliando o espaço orofaríngeo durante o sono. Por fim, a atuação fonoaudiológica tem se justificado pela possibilidade do aumento da luz orofaríngea por meio de exercícios isotônicos e isométricos, com ênfase nos músculos da língua e palato mole.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 43 Capítulo 21 Apneia obstrutiva do sono: atuação interdisciplinar capítulo 21 apneia oBstRutiVa do sono: atuação inteRdiscipLinaR

carlos henrique martins ivy Kiemle trindade suedam Fabiane Kayamori

A Apneia Obstrutiva do Sono (AOS) é um distúrbio respiratório em que ocorre a obstrução total e/ou parcial das vias aéreas superiores durante o sono. Os eventos respiratórios obstrutivos ocasionam fragmentação do sono e hipóxia intermitente. A AOS pode ter vários sintomas e consequências que vão desde ronco alto, redução da memória, atenção e rendimento escolar, sonolência diurna excessiva, diminuição da produtividade e qualidade de vida, risco aumentado de depressão e risco aumentado de doenças cardiovasculares. A AOS é compreendida como um problema de saúde pública, por sua alta prevalência e grave consequência. Em estudo realizado na cidade de São Paulo, com 1042 voluntários adultos submetidos a PSG, a prevalência para o sexo masculino foi de 21,7% de AOS leve e 24,8% de AOS moderada e grave, já para a população do sexo feminino foi de 20,9% de apneia leve e 9,6% de apneia moderada e grave. A polissonografia (PSG) é considerada padrão-ouro no diagnóstico da AOS, rotineiramente indicada para o diagnóstico dos distúrbios respiratórios do sono. Múltiplos sinais fisiológicos são monitorados durante uma noite inteira, relacionados ao reconhecimento do sono (eletroencefalograma (EEG), eletro-oculograma (EOG), eletromiograma submentoniano (EMG)), monitorização cardíaca (eletrocardiograma (ECG) e a respiração (fluxo aéreo, movimentação torácica e abdominal e oximetria). A gravidade da AOS é determinada pelo índice de apneia e hipopneia (IAH), que é o número de apneias mais hipopneias dividido por hora de sono. A AOS leve é definida por IAH≥5 e < 15 eventos/hora, a AOS moderada por IAH ≥ 15 e < 30 eventos/hora, e a AOS grave por IAH ≥ 30 eventos/hora de sono no adulto. Atualmente o dispositivo que gera pressão positiva contínua na via aérea (CPAP – continuous positive airway pressure) aplicada por meio de máscara é o tratamento padrão- ouro para AOS grave. O CPAP é considerado um tratamento altamente eficaz, apesar das dificuldades de adesão. Entre outras terapias temos na parte odontológica as cirurgias de avanço maxilo-mandibular e os aparelhos intra-orais que minimizam o colapso da VAS durante o sono e o trabalho de fonoaudiologia com a TMO (Terapia Miofuncional Orofacial) surgiu como alternativa de tratamento para AOS por meio de exercícios isotônicos e isométricos, com ênfase nos músculos da língua e palato mole. A abordagem interdisciplinar (médico, dentista, fonoaudiólogo, entre outros) se faz necessário visando adequando diagnóstico e tratamento.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 44 Capítulo 22 Cirurgia ortognática: interfaces no pré e pós-operatório capítulo 22 ciRuRGia oRtoGnática: inteRFaces no pRÉ e pÓs-opeRatÓRio

ana paula Fukushiro coordenadora

O desequilíbrio entre os componentes do sistema estomatognático provocado pelas deformidades dentofaciais podem resultar em alterações estéticas, funcionais e psicossociais. No aspecto funcional, o adequado desempenho das funções de sucção, mastigação, deglutição e fala estará comprometido, bem como a postura corporal. Assim, o tratamento ortodôntico cirúrgico, por meio da cirurgia ortognática, visa o restabelecimento da harmonia facial, proporcionando o restabelecimento das funções orofaciais. Entretanto, as mudanças estruturais provocadas pela cirurgia ortognática podem alterar o esquema proprioceptivo, sendo necessário uma adaptação às novas relações estruturais, que, em muitos casos, não ocorre de forma espontânea. Nestas condições, o tratamento passará a envolver, também, a reabilitação da função muscular, envolvendo equipe interdisciplinar. Medidas terapêuticas específicas à reabilitação das funções orofaciais e postura corporal, selecionadas individualmente para cada caso, proporcionarão os ajustes musculares necessários à completa reabilitação do indivíduo, favorecendo a estabilidade do tratamento. A terapia miofuncional orofacial, por sua vez, envolve procedimentos e técnicas para a reeducação dos padrões musculares inadequados. O planejamento terapêutico deve ser distinto a cada fase da terapia odontológica, podendo ser aplicado desde a fase de preparação ortodôntica, no período pré-operatório, no pós-operatório imediato e tardio. O papel da equipe interdisciplinar é fundamental para o adequado prognóstico do tratamento. Objetivos comuns devem ser traçados, de acordo com a especificidade de cada área, valorizando o resultado em conjunto.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 45 Capítulo 23 Cirurgia ortognática: interfaces no pré e pós-operatório capítulo 23 ciRuRGia oRtoGnática: inteRFaces no pRÉ e pÓs-opeRatÓRio

eduardo sanches Gonçales

As deformidades faciais esqueléticas podem ser definidas como defeitos no crescimento e desenvolvimento da maxila e mandíbula, podendo ser de excesso ou deficiência. Ocorrendo tanto no sentido ântero-posterior (horizontal) quanto vertical e transversal, pode ocorrer isoladamente na mandíbula ou maxila, bem como em ambos simultâneamente. Os efeitos dessas deformidades não se fazem sentir somente nos ossos envolvidos, uma vez que podem ocorrer também, como consequência, em estruturas relacionadas à maxila e/ou mandíbula. O tratamento de escolha para as deformidades maxilo/mandibulares tem sido a cirurgia ortognática, que corrige, por meio de osteotomias, o posicionamento inadequado dos ossos envolvidos, alterando suas posições. Consequentemente, a cirurgia ortognática pode também gerar efeitos em órgãos e/ou tecidos adjacentes aos ossos operados. É bastante claro, por exemplo, que um avanço de mandíbula, por meio da osteotomia sagital bilateral, pode interferir com a motricidade oral, sensibilidade do lábio, posicionamento condilar e respiração. Por sua vez, reposicionamento anteriores da maxila, poderão interferir na voz do indivíduo operado. Alterações na força mastigatória, deglutição e dimensões do espaço aéreo faríngeo são comumente encontradas no pós-operatório de indivíduos submetidos a cirurgia ortognática. Ressalta-se, porém, que estruturas adjacentes à mandíbula e maxila, não são exclusivamente sujeitas aos efeitos da cirurgia; essas podem contribuir, positiva ou negativamente, para o sucesso, insucesso, ou estabilidade de resultados, mesmo a curto, médio e longo prazo. A necessidade de preparação ortodôntica, bem como da terapia fonoaudiológica pré-operatória nos indivíduos classe II, onde realiza-se o avanço de mandíbula e que pode ser influenciado pelo tônus da musculatura submandibular, poderes considerados bons exemplos. Assim, parece lícito concluir que o indivíduo com deformidade facial esquelética, precisa de tratamento multidisciplinar, visando qualidade e estabilidade dos resultados.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 46 Capítulo 24 Fonoaudiologia em casos de cirurgia ortognática capítulo 24 FonoaudioLoGia em casos de ciRuRGia oRtoGnática

Luciana Vitaliano Voi trawitzki

Indivíduos com desproporções maxilomandibulares, também denominadas deformidades dentofaciais, necessitam de um tratamento integrado de Ortodontia, Cirurgia Ortognática e Fonoaudiologia. Quais são as principais alterações miofuncionais orofaciais, em diferentes deformidades dentofaciais? Como deve ser o planejamento fonoaudiológico, diante das manifestações miofuncionais orofaciais? A atuação terapêutica pré-cirúrgica é bastante limitada e controversa, entretanto, após a correção da deformidade esquelética, essa atuação é mais ampla e acompanha evidências científicas. Adotar avaliações sistematizadas no controle terapêutico é fundamental no seguimento pós operatório, assim como acompanhar a evolução ortodôntica em cada caso. O propósito da apresentação será explanar sobre a atuação fonoaudiológica antes e depois da cirurgia ortognática, em casos submetidos aos diferentes procedimentos cirúrgicos.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 47 oFicinas coordenação: marileda cattelan tomé

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 48 Capítulo 25 Processos de avaliação em Motricidade Orofacial capítulo 25 pRocessos de aVaLiação em motRicidade oRoFaciaL

marileda cattelan tomé coordenadora

O tratamento das alterações miofuncionais orofaciais envolve, cada vez mais, o uso de ferramentas apuradas do ponto de vista tecnológico, resultando em uma série de dados que alimentam os constructos teóricos da área. No país, uma série de grupos de pesquisa tem contribuído muito com pesquisas que explicitam o avanço da Motricidade Orofacial nos processos de avaliação e, consequentemente, de tratamento de tais casos. Dessa forma, para a IX edição do Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial foram planejadas atividades práticas no formato Oficina, em que diferentes temáticas serão abordadas pelos pesquisadores responsáveis, proporcionando aos participantes conhecer o que tem sido produzido em cada temática, bem como apropriar-se dos resultados advindos do processo de pesquisa, que já podem ser desfrutados na pratica clínica. Temáticas tais como a Avaliação Instrumental do Sistema Mastigatório e das Vias Aéreas Superiores, Avaliação e Diagnóstico Instrumental Geral em Motricidade Orofacial, Biomecânica em Motricidade Orofacial, entre outras, vão mostrar os avanços da área nos processos de avaliação com ferramentas tecnológicas, além de colaborarem para divulgação da área de Motricidade Orofacial, enquanto uma das especialidades da Fonoaudiologia.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 49 Capítulo 26 Avaliação e diagnóstico instrumental em motricidade orofacial capítulo 26 aVaLiação e diaGnÓstico instRumentaL em motRicidade oRoFaciaL

hilton Justino da silva Lucas carvalho aragão albuquerque

Desde o surgimento da Motricidade Orofacial o exame das funções orofaciais sempre esteve nas preocupações de clínicos. A busca por uma atuação terapêutica baseada em avaliação minuciosa das estruturas passivas e ativas do sistema estomatognático, bem como da investigação das funções estomatopônicas clássicas e adaptativas, levou pesquisadores a questionarem cada vez mais o processo de avaliação em nossa especialidade. A avaliação é um procedimento continuo e fundamental na evolução e no tratamento das alterações do sistema estomatognático. Avaliar o Sistema estomatognático nunca foi uma tarefa simples, sua complexidade, diversidade funcional, assim como suas diferentes estruturas, por vezes, deixam os fonoaudiólogos intrigados. Com o avanço da Fonoaudiologia e a inserção de novas tecnologias nesse campo, torna-se cada vez mais importante conhecer e dominar novos métodos complementares ao diagnóstico fonoaudiológico. A avaliação e o diagnóstico em Motricidade Orofacial têm sido aperfeiçoados com o uso de instrumental, que oferece base para clínicos e pesquisadores na emissão de parecer e conclusões mais específicas dos trabalhos acadêmicos. O objetivo dessa oficina é apresentar algumas alternativas do uso de equipamentos para tornar a avaliação e o diagnóstico mais quantitativo. Desta forma, trazer a luz novas ferramentas tecnológicas e de eletrodiagnóstico, com uma diversidade de exames instrumentais e eletrofisiológicos aplicados às funções orofaciais e suas possibilidades de uso, aplicação e objetivo avaliativo de tais métodos, dentre eles: eletromiografia de superfície e o tratamento com biofeedback eletromiográfico, eletrognatografia e o tratamento com biofeedback da movimentação mandibular, transdutores de força de mordida, goniometria de boca e pressão da língua, rinometria acústica, faringometria, rinomanometria, a avaliação do olfato e do paladar, a avaliação da pressão de língua e o tratamento com o Biofeedback pressórico. O participante terá oportunidade de vivenciar técnicas de utilização desses equipamentos, que são resultados de pesquisas e vivências do Laboratório de Eletrofisiologia em Motricidade Orofacial do Grupo de Pesquisa Patofisiologia do Sistema Estomatognático da Universidade Federal de Pernambuco.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 50 Capítulo 27 Avaliação instrumental do sistema mastigatório capítulo 27 aVaLiação instRumentaL do sistema mastiGatÓRio

Katia Flores Genaro Giédre Berretin-Felix

O Sistema Estomatognático (SE) é composto por ossos, músculos, dentes, articulação temporomandibular (ATM), sistema vascular e nervoso e espaços vazios. Sobre os ossos estão as partes moles, responsáveis pelo desempenho de funções como a respiração, mastigação, deglutição e fala. Para a adequada execução destas funções, os integrantes do SE precisam estar equilibrados e atuar de forma conjunta. A mastigação é um processo complexo e considerada a função mais importante do SE, que envolve a atividade coordenada dos músculos mandibulares, faciais e da língua, dos dentes e das ATMs. Relaciona-se ao crescimento e desenvolvimento craniofacial, à maturação da musculatura orofacial, à estabilidade oclusal e das ATMs, além da nutrição. Uma vez que a integridade estrutural e funcional do SE é necessária ao adequado desempenho da mastigação, o comprometimento deste sistema pode acarretar alterações e adaptações, como nos casos de deformidade dentofacial (DDF), disfunção da articulação temporomandibular (DTM), falta de elementos dentários, frênulo lingual alterado, dentre outras condições. Assim, é essencial detectar e compreender as alterações para o adequado planejamento terapêutico, por meio de avaliação detalhada e, quando possível, exames instrumentais do sistema mastigatório podem ser utilizados, como a eletromiografia de superfície, a medida de força de mordida e a algometria. A eletromiografia registra e mensura os potenciais elétricos gerados pelos músculos, que permite verificar o estado funcional dos músculos e possibilita compreender a influência de diferentes condições dentárias e faciais no comportamento funcional dos músculos mastigatórios, bem como as modificações resultantes de diferentes modalidades de tratamento odontológico. A força de mordida, um dos componentes da função mastigatória, analisa a força contrátil dos músculos elevadores da mandíbula, a qual pode sofrer influência de fatores como idade, gênero, consistência do alimento, características esqueléticas e dentárias, estado geral dos dentes, doenças periodontais, uso de próteses, entre outros. A algometria de pressão permite mensurar o limiar de sensibilidade dolorosa e tem sido muito útil para obter os limiares de dor na musculatura mastigatória e nas ATMs. É importante para o diagnóstico nos casos com disfunção mastigatória, mas também pode verificar resultados de tratamentos aplicados, como nos indivíduos com DTM, nos quais há diminuição da sensação dolorosa após terapia miofuncional orofacial ou laserterapia de baixa intensidade. Cabe destacar que esse exame é um importante recurso no treinamento de profissionais para a avaliação clínica, a fim de calibrar o nível de pressão exercida sobre as ATMs e músculos.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 51 Capítulo 28 Biomecânica em motrocidade orofacial capítulo 28 BiomecÂnica em motRicidade oRoFaciaL

andréa Rodrigues motta

A Biomecânica caracteriza-se pela utilização de conceitos e ferramentas da Engenharia Mecânica aplicadas ao estudo de problemas de saúde. Trata-se, portanto de um campo transdisciplinar por definição. O Grupo de Engenharia Biomecânica da UFMG iniciou suas atividades em 1998, e contam com a participação de docentes, alunos de graduação e pós-graduação e profissionais das mais diferentes áreas, tais como Engenharias, Fonoaudiologia, Odontologia, Fisioterapia, Medicina Física, dentre outras. O Grupo tem por objetivo estudar o comportamento mecânico de tecidos, órgãos e biomateriais sob ação de esforços externos e outros tipos de solicitações, empregando para isto técnicas computacionais e numéricas. Em 2002 a Fonoaudiologia passou a integrar o Grupo e desde então diversos protótipos para avaliação e reabilitação da musculatura e das funções orofaciais foram desenvolvidos. Nesta oficina serão apresentados os protótipos frutos desta parceria. Pretende mostrar o Forlab portátil, o Forling portátil, o Sistema de medição de forças sobre os dentes, o Fonofort e o aparelho que mensura a pressão de sucção. Será realizada demonstração prática do T-Station e do IOPI, instrumento que mensura pressão e encontra-se disponível no mercado americano.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 52 Capítulo 29 Instrumentos de avaliação do palato capítulo 29 instRumentos de aVaLiação do paLato

Luana cristina Berwig mariana marquezan

O palato duro é parte integrante do sistema estomatognático, sendo este necessário nas funções de sucção, deglutição, mastigação e fala. Em vista disso, a avaliação miofuncional orofacial inclui a inspeção visual do palato duro, contemplando aspectos relacionados à integralidade e à forma desta estrutura. Em relação à forma, atuais protocolos clínicos na área de motricidade orofacial, incluem a avaliação da largura e da profundidade do palato duro, por meio da inspeção visual. O resultado desta avaliação é importante e deve ser considerado no planejamento terapêutico fonoaudiológico, uma vez que para o correto raciocínio clínico, é necessário estabelecer a relação entre as funções do sistema estomatognático com a morfologia das estruturas orofaciais. Apesar do exame anatômico do palato duro ser imprescindível, a avaliação clínica desta estrutura é subjetiva e de difícil realização. Dessa maneira, diferentes instrumentos objetivos de mensuração do palato têm sido utilizados em pesquisas. Dentre os instrumentos de avaliação frequentemente encontrados na literatura, têm-se o paquímetro e o compasso tridimensional de Korkhaus. Eles podem ser utilizados para avaliação do palato diretamente na cavidade oral ou ainda em modelos de gesso. Tem-se conhecimento de outro instrumento, o pantógrafo digital, que possibilita captar e gerar dados numéricos digitalizados de modelos de gesso para caracterizar a morfologia de superfícies curvas, como o contorno do palato. É possível ainda utilizar softwares para realizar mensurações do palato em modelos digitais ou em imagens de tomografias computadorizadas de feixes cônicos. No que tange à realização das mensurações, é de extrema importância a padronização dos pontos de referência adotados. Porém, na literatura, se observa a descrição de medidas equivalentes realizadas utilizando-se diferentes referências.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 53 Capítulo 30 Técnicas instrumentais de avaliação da permeabilidade nasal capítulo 30 tÉcnicas instRumentais de aVaLiação da peRmeaBiLitade nasaL

Renata pacielo Yamashita ana paula Fukushiro Bruna mara adorno marmontel araujo andressa sharlene carneiro da silva

Nesta oficina serão demonstradas as técnicas instrumentais mais utilizadas na avaliação objetiva do estado funcional das vias aéreas superiores as quais são de grande interesse para a fonoaudiologia: rinomanometria, rinometria acústica e nasometria. A Técnica Fluxo-Pressão (rinomanometria) permite estimar a permeabilidade nasal a partir da mensuração da menor área de constrição da via aérea nasal (Warren e DuBois, 1964). Baseia-se no princípio hidrocinético de que a área de um orifício pode ser calculada conhecendo-se a diferença de pressão entre os dois lados do orifício e o fluxo de ar que o atravessa. É um método aerodinâmico utilizado para avaliar de modo objetivo e quantitativo a respiração nasal e as obstruções respiratórias, tanto na cavidade nasal quanto na nasofaringe. Estudos mostraram que a área de secção transversa mínima nasal de um indivíduo adulto sem obstrução é, em média, 0,60cm2 e valores inferiores a 0,40cm2 indicam uma via aérea obstruída, o que acontece frequentemente na fissura labiopalatina (Hilberg et al, 1989, Fukushiro e Trindade, 2011). A rinometria acústica permite estimar a área seccional nasal e, ainda, identificar a localização da constrição. A técnica baseia-se no princípio físico de que um som ao atravessar um tubo é refletido frente a mudanças de impedância causadas por variações nas dimensões internas do tubo. Permite medições consecutivas de diferentes segmentos da cavidade nasal, desde as narinas até a nasofaringe possibilitando a identificação do local das diferentes constrições que contribuem para a resistência nasal, de forma rápida e não invasiva. Estudos realizados no Laboratório de Fisiologia determinaram os valores médios de referência para adultos normais de área de secção transversa nasal: AST1=0,54cm2; AST2=0,98cm2 e AST3=1,42cm2 e dos volumes nasais: V1=1,68cm3; V 2=3,98cm3 e V 3=17,67cm3 (Trindade et al, 2007, Gomes et al, 2008). Considerando que a fala é um ato respiratório modificado, o comprometimento da cavidade nasal pode comprometer, simultaneamente, a respiração e a fala. Em termos de ressonância, a obstrução nasal pode resultar em hiponasalidade, um distúrbio que se caracteriza pelo desvio das ondas sonoras para a cavidade oral, resultando em pouca ou nenhuma ressonância nasal durante a produção de sons nasais. A nasometria é um dos métodos instrumentais que permite estimar a ressonância nasal por meio da medida da nasalância (correlato acústico da nasalidade). Para a determinação da nasalância são

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 54 Capítulo 30 Técnicas instrumentais de avaliação da permeabilidade nasal utilizados trechos de fala comparando-se os resultados obtidos com dados normativos. Estudo conduzido no Laboratório de Fisiologia (Trindade et al, 1997) determinou como limite inferior de normalidade o valor de nasalância de 43% para a produção de um texto nasal (5 sentenças contendo sons predominantemente nasais), e, como limite superior de normalidade o valor de 27%, para a produção de um texto oral (5 sentenças contendo sons exclusivamente orais). Isto significa que valores inferiores a 43% no texto nasal devem ser considerados como sugestivos de hiponasalidade e valores superiores a 27% no texto oral, como sugestivos de hipernasalidade. As técnicas instrumentais, por fornecerem dados quantitativos, permitem diagnósticos mais precisos e definições de conduta mais apropriadas. Contudo, é imprescindível que a interpretação dos resultados seja feita por profissionais experientes.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 55 comunicações oRais

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 56 Capítulo 31 Articulações compensatórias na fala de indivíduos com fissura labiopalatina submetidos a um Programa de Fonoterapia Intensiva capítulo 31 aRticuLações compensatÓRias na FaLa de indiVÍduos com FissuRa LaBiopaLatina suBmetidos a um pRoGRama de FonoteRapia intensiVa

Compensatory articulation in the speech of individuals with cleft and undergo a program of Intensive Speech Therapy

Laura Katarine Félix de Andrade1, maria daniela Borro pinto2, Jeniffer de cássia Rillo dutka1,2, maria inês pegoraro-Krook1 Faculdade de odontologia de Bauru, universidade de são paulo, Bauru-sp hospital de Reabilitação de anomalias craniofaciais, universidade de são paulo, Bauru-sp

ARTIGO ORIGINAL

DESCRITORES: Fissura palatina. Distúrbios da fala. Reabilitação dos Transtornos da Fala e Linguagem. Fonoterapia.

INTRODUÇÃO

Após a correção cirúrgica primária da fissura labiopalatina (FLP) entre 20% e 30% dos pacientes podem apresentar alterações de fala decorrentes, resultantes da disfunção velofaríngea1 (DVF). A DVF ocorre quando há uma alteração no funcionamento do mecanismo velofaríngeo, e pode ser causada por insuficiência, incompetência ou erro de aprendizagem 2.

As articulações compensatórias (AC) são alterações na produção dos sons que se desenvolvem nas fases iniciais da aquisição fonológica da criança quando esta tenta compensar funcionalmente o mecanismo velofaríngeo (MVF) alterado em consequência da FP e/ou da DVF 3. Hipóteses mostram que as AC ocorrem como estratégias para regular as alterações da pressão de ar ao longo do trato vocal durante a fala, envolvendo processos fisiológicos inerentes ao sistema respiratório e aos seus reflexos e à resistência mecânica e aerodinâmica das vias aéreas superiores 4, apresentando pontos articulatórios em locais atípicos do trato vocal e modo, geralmente, preservado, envolvendo os níveis mais elevados do controle articulatório e do processamento da linguagem no Sistema Nervoso Central.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 57 Capítulo 31 Articulações compensatórias na fala de indivíduos com fissura labiopalatina submetidos a um Programa de Fonoterapia Intensiva

Estudos mostraram que há diversos tipos de AC descritos5, a oclusiva glotal é a mais ocorrente seguida da fricativa faríngea. Além da substituição do som alvo pela AC, o indivíduo pode realizar uma co-produção com o som alvo3, no qual são realizados dois movimentos articulatórios conjuntos para determinar o ponto de produção do som no trato vocal, porém realizando apenas um modo de produção6.

A reabilitação, nos casos das alterações de fala decorrentes da FLP e da DVF, requer um tratamento fonoaudiológico específico e apesar do atendimento fonoaudiológico estar presente na atenção básica, nem sempre são encontrados profissionais com experiência7 nem modelos de intervenção eficazes na correção das AC. Assim, a terapia intensiva é um modelo de intervenção proposto para o gerenciamento da AC, apresentando bons resultados de fala e embora a terapia intensiva seja realizada em uma grande quantidade de horas, por um curto período de tempo, pode haver uma diminuição no número total de horas necessárias para atingir os resultados de fala semelhantes . Além disso, o custo para realização de terapia convencional pode ser até duas vezes mais caro, quando comparado ao custo da terapia fonoaudiológica intensiva. Por fim, os programas de terapia intensiva, também apresentam bons resultados em pacientes que apresentavam AC resistentes a terapia convencional 8,9.

OBJETIVOS

Descrever a ocorrência de articulações compensatórias, em pacientes com fissura labiopalatina operada (FLP) antes (PEF) e depois da fonoterapia intensiva (POF).

MÉTODOS

Foram analisados 98 prontuários de pacientes com fissura labiopalatina operada e DVF e que tinham como diagnóstico fonoaudiológico distúrbio de fala caracterizado por alterações de fala do tipo AC. Todos os participantes foram atendidos no Programa de Fonoterapia Intensiva do Serviço de Prótese de Palato no Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofacial da Universidade de São Paulo.

A coleta de dados foi realizada a partir dos registros contidos no prontuário dos pacientes com particular atenção para as produções quanto ao ponto e modo articulatórios conforme relatado inventário fonético onde um fonoaudiólogo experiente no gerenciamento da FLP e DVF registrou o resultado da avaliação da fala com particular interesse nas ocorrências articulatórias observadas durante tentativa de produção dos sons da língua. Mais especificamente, os dados identificados pela pesquisadora foram registrados nos prontuários pelas fonoaudiólogas que conduziram a avaliação perceptivo-auditiva nos períodos pré e pós intervenção fonoaudiológica. As fonoaudiólogas observaram a produção de 16 consoantes do inventário fonético brasileiro, incluindo: /p/, /b/, /t/, /d/, /k/, /g/, /f/, /v/, /s/, /z/, /∫/,

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 58 Capítulo 31 Articulações compensatórias na fala de indivíduos com fissura labiopalatina submetidos a um Programa de Fonoterapia Intensiva

/ /, /l/, /r/, /t∫/ e /d /. As profissionais usaram a fala dirigida como meio para elicitar as amostras de interesseʒ durante avaliaçãoʒ ao vivo.

Os dados foram apresentados por meio de estatística descritiva, com o número de ocorrências de articulações compensatórias tanto do tipo substituição como co-produção antes e após intervenção do programa de fonoterapia intensiva. Considerando-se os 98 participantes e as 16 consoantes estudadas neste trabalho, houve uma possibilidade máxima de cada AC ocorrer 1.568 vezes, já que um mesmo falante poderia apresentar cada produção atípica para todos os sons.

RESULTADOS

Foram encontrados sete tipos de AC reportados nos prontuários estudados, conforme descrito a seguir:

• Oclusiva Glotal (OG)

A OG é o resultado da abertura seguida de fechamento abrupto das pregas vocais, aumentado a pressão subglótica, de modo que o ar é manipulado na válvula laríngea4. No período PEF, ao associar- se a produção com a co-produção da oclusiva glotal, observou-se que estas apareceram em 28% das tentativas de produção dos 16 alvos orais (440/1568). Destas 440 produções, 301 (68%) ocorreram durante tentativas de produção de sons plosivos. No perídio POF, a OG ocorreu em 13,50% das tentativas de produção dos 16 alvos orais (212/1568). Destas, 153 (72%) ocorreram durante tentativas de produção de sons plosivos.

PEF POF Produção 233 (14,85%) 84 (05,50%) Co-produção 207 (13,15%) 128 (08,00%) Total 440 (28,00%) 212 (13,50%)

Tabela 1: Ocorrência da OG nas condições PEF E POF.

• Plosiva dorso médio palatal (PDMP)

A PDMP ocorre com o contato do dorso médio da língua com o palato duro, gerando plosão4. No PEF, ao associar a produção com a co-produção, observou-se que estas apareceram em 02,55% das tentativas (40/1568), sendo 17 (1,08%) na tentativa de produção de sons plosivos. No POF a PDM ocorreu em 01,47% das tentativas (23/1568), sendo 8 (0,51%) na tentativa de produção de sons plosivos.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 59 Capítulo 31 Articulações compensatórias na fala de indivíduos com fissura labiopalatina submetidos a um Programa de Fonoterapia Intensiva

PEF POF Produção 38 (02,42%) 23 (01,47%) Co-produção 02 (00,13%) 00 (00,00%) Total 40 (02,55%) 23 (01,47%)

Tabela 2: Ocorrência da PDMP PEF e POF.

• Plosiva velar (PV)

A PV ocorre quando há um movimento do dorso da língua em direção ao véu palatino, de modo que este contato provoca um aumento de pressão seguido de uma plosão4. No PEF a produção da PV ocorreu 0,19% das tentativas (3/1568), sendo todas em sons plosivos. No POF estas produções não foram registradas. Não foi observado co-produção com plosiva velar.

• Plosiva faríngea (PF)

Na PF há um movimento do dorso da língua em direção à parede posterior da faringe, provocando aumento de pressão seguido de soltura súbita do fluxo aéreo4.

Ao associar-se a plosiva faríngea com a co-produção da plosiva faríngea, observou-se que esta ocorreu em 4,27% das tentativas (67/1468), sendo 57 (3,63%) na tentativa da produção de sons. No POF a PF ocorreu em 2,42% das tentativas (38/1568), sendo 35 (2,23%) em sons plosivos (tabela 3).

PEF POF Produção 48 (03,06%) 36 (02,29%) Co-produção 19 (01,21%) 02 (00,13%) Total 67 (04,27%) 38 (02,42%)

Tabela 3: Ocorrência da PF PEF e POF.

• Fricativa faríngea (FF)

Nesta produção o dorso da língua se aproxima da parede posterior da faringe a fim de gerar constrição do fluxo aéreo, resultando em fricção, abaixo da válvula velofaríngea4.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 60 Capítulo 31 Articulações compensatórias na fala de indivíduos com fissura labiopalatina submetidos a um Programa de Fonoterapia Intensiva

Ao associar-se a substituição por fricativa faríngea com a co-produção da fricativa faríngea, observou-se que no PEF, a produção ocorreu em 12/82% das tentativas (201/1568), sendo 157 vezes (10,1%) na tentativa de produção de sons fricativos. No POF a ocorrência foi de 4,65% (73/1568), sendo 62 vezes (3,95%), na tentativa de produção de sons (tabela 4).

PEF POF Produção 115 (07,33%) 40 (02,55%) Co-produção 86 (05,48%) 33 (02,10%) Total 201 (12,81%) 73 (04,65%)

Tabela 4: Ocorrência da PF PEF e POF.

• Fricativa nasal posterior (FNP)

Na FNP o palato mole se aproxima da parede posterior da faríngea, mas não permite fechamento velofaríngeo, gerando fricção4. No PEF a produção ocorreu em 0,95% das tentativas (15/1568), sendo 13 (0,83%) na tentativa de produção de sons fricativos. No POF a ocorrência foi de 0,06% (1/1568).

Não foi observado produção da fricativa nasal posterior associada à co-produção.

• Fricativa velar (FV)

A FV é caracterizada pela fricção do dorso da língua em contato com o palato mole4.No PEF a produção foi de 1,02% (16/1568), sendo 13 vezes (0,83%) na tentativa de produção de sons fricativos. No POF a ocorrência foi de 019% (3/1568) sendo todas na tentativa de produção de sons fricativos.

Não foi observado produção da fricativa velar associada à co-produção.

A ocorrência de todas as produções atípicas estudadas em PEF e POF, combinando substituição e co-produção, está ilustrada no gráfico 1.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 61 Capítulo 31 Articulações compensatórias na fala de indivíduos com fissura labiopalatina submetidos a um Programa de Fonoterapia Intensiva

Gráfico 1: Ocorrência (n) dos diferentes tipos de articulações compensatórias PEF e POF.

CONCLUSÃO

Observou-se diminuição da ocorrência das AC no POF, havendo melhora da produção oral em todos os sons estudados e para todas as AC documentadas sugerem que a fonoterapia intensiva pode trazer benefícios para a correção das alterações de fala na FLP num curto período de tratamento.

DISCUSSÃO

Apesar de não ocorrer a eliminação total das AC pós fonoterapia intensiva, observou-se melhora da produção oral de todos os sons afetados por AC, sugerindo que o tratamento intensivo pode trazer benefícios para a correção das alterações de fala na FLP e DVF num curto período de tratamento, conforme mostrado na literatura4. Ressalta-se que as AC com maiores ocorrências podem ser mais facilmente identificada através da avaliação perceptivo-auditiva, o que pode ter afetado os resultados sugerindo a importância de avaliações envolvendo mais de um avaliador.

Os casos estudados ainda precisam acompanhamento ao longo do crescimento buscando-se verificar se ocorre recidiva das AC, além da necessidade de repetição de módulos da fonoterapia para correção das alterações que não foram eliminadas nos módulos estudados. Um meio para acompanhamento dos pacientes que foram submetidos a esse tipo de tratamento é a teleassistência, o que permite o monitoramento do paciente à distância e o contato com a família e o terapeuta da cidade de procedência se for o caso.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 62 Capítulo 31 Articulações compensatórias na fala de indivíduos com fissura labiopalatina submetidos a um Programa de Fonoterapia Intensiva

REFERÊNCIAS

1. Pegoraro-Krook MI, Souza JCRD, Teles-Magalhães LC, Feniman MR. Intervenção fonoaudiológica na fissura palatina. In: Ferreira LP, Befi-Lopes DM, Limongi SCO, organizadores. Tratado de fonoaudiologia. São Paulo: Roca; 2004. p. 339-455.

2. Pinto JH, da Silva Dalben G, Pegoraro-Krook MI. Speech intelligibility of patients with cleft lip and palate after placement of speech prosthesis. Cleft Palate J. 2007;44(6):635-41.

3. Vicente MCZ, Buchala RG. Atualização da terminologia de distúrbios articulatórios encontrados em falantes portadores de fissura de lábio e palato. Dist Comum. 1991; 4(2):147-52.

4. Zajac DJ, Weissler MC. Air pressure to sudden vocal tract pressure bleeds during productions of stop consonantes: a new evidence of aeromechanical regulations. J Speech Lang Hear. 2004; 47(4):784-801.

5. Marino VCC, Dutka, JCR, Pegoraro-Krook MI, Lima-Gregio, AM. Articulação compensatória associada à fissura de palato ou disfunção velofaríngea: revisão de literatura. Rev. CEFAC. 2012; 14(3):528-543.

6. Peterson-Falzone SJ, Trost-Cardamone JE, Karnell MP, Hardin-Jones MA. The clinicians guide to treating cleft palate speech. St. Louis: Mosby; 2006.

7. Silva HS, Bordon AKCB, Duarte DA. Estudo da fissura labiopalatal. Aspectos clínicos desta malformação e suas repercussões. Considerações relativas à terapêutica. J Bras de Fonoaudiol. 2003; 4(14):71-4.

8. Skidmore E. Critical Review: What are the effects of intensive speech therapy intervention for speech outcomes in children with cleft lip and palate?. University of Western Ontario: School of Communication Sciences and Disorders. 2012; (1): 1-6.

9. Bessell A, Sell D, Whiting P, Roulstone S, Albery L, Persson M, Verhoeven A, Burke M, Ness AR. Speech and language therapy interventions for children with cleft palate: a systematic review. Cleft Palate Craniofac J. 2013; 50 (1):1-17.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 63 Capítulo 32 Avaliação de um novo método de reabilitação da força da língua capítulo 32 aVaLiação de um noVo mÉtodo de ReaBiLitação da FoRça da LÍnGua

Evaluation of a new method for tongue force rehabilitation

Mariana Souza Amaral, Renata maria moreira moraes Furlan, estevam Barbosa Las casas, andréa Rodrigues motta universidade Federal de minas Gerais (uFmG), Belo horizonte-mG, Brasil.

ARTIGO ORIGINAL

DESCRITORES: Língua, Reabilitação, Jogos de Vídeo, Força muscular, Equipamentos e provisões.

INTRODUÇÃO

A língua é um órgão que compõe o sistema estomatognático, sendo essencial para as funções de mastigação, deglutição, sucção e fonoarticulação. Sua força é gerada devido à gama de fibras musculares e à sua alta inervação, sendo que alterações em sua força podem resultar em prejuízo no desempenho destas funções (Zemlin, 2000). Diante disso foi desenvolvido um novo método para reabilitação da força e da mobilidade da língua que é constituído por um dispositivo de entrada não convencional para jogos digitais que é encaixado na cavidade oral do indivíduo e funciona como um joystick, movido pela língua (Furlan et al., 2014; Furlan, 2015).

O método tem a finalidade de melhorar a adesão do paciente ao tratamento, por meio de uma terapia mais agradável e dinâmica. Para que o instrumento possa ser utilizado na clínica, ele deve ser avaliado, por meio de testes tanto em pacientes sem alteração, quanto em pacientes com alteração na força e na mobilidade da língua.

OBJETIVO

Analisar a aplicabilidade de um método para reabilitação da força da língua em crianças e adolescentes saudáveis.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 64 Capítulo 32 Avaliação de um novo método de reabilitação da força da língua

MÉTODOS

O estudo de caráter transversal observacional analítico foi realizado com 15 crianças e adolescentes saudáveis, sem comprometimento do tônus da língua, de ambos os sexos, com idade entre 11 e 13 anos, alunos de uma escola pública de Belo Horizonte.

Foi realizada uma atividade de seis séries de um jogo de computador, para trabalhar a força da língua, que diferiam entre si quanto ao tempo de sustentação do movimento e a força realizada pela língua. Os jogos consistiam de alvos (imagens de frutas) que apareciam na tela e deviam ser alcançados pelo indivíduo (representado pela imagem de uma mão). Ao mover o joystick com a língua a imagem da mão move-se na mesma direção e sentido e com deslocamento proporcional a força por ele aplicada. Ao atingir o alvo, o indivíduo precisa manter a força por um determinado tempo para pontuar. O fonoaudiólogo pode ajustar o número de alvos que aparecem em cada direção, o tempo em que o indivíduo precisa sustentar a contração muscular para pontuar e a força a ser realizada pela língua para atingir o alvo. Um relatório de desempenho é gerado ao final de cada atividade, contendo informações sobre o número de tentativas realizadas para alcançar os alvos e o tempo de manutenção da contração isométrica realizada pela língua e tempo para pontuar. Ao final da atividade os participantes responderam um questionário sobre o instrumento e seu interesse pelo jogo.

As variáveis dependentes analisadas nesta pesquisa foram: número de tentativas (número de vezes que o participante atingiu o alvo, mesmo que não tenha conseguido manter a contração pelo período de tempo necessário) e tempo médio de contração (média do tempo, em segundos, que o indivíduo manteve pressionado o pino de interface lingual, para cada alvo). Quanto menos tentativas fossem necessárias e mais tempo o indivíduo mantivesse a contração muscular, melhor era considerado o seu desempenho na atividade. Estas duas variáveis foram analisadas de acordo com a ordem de aparecimento do alvo, com os diferentes sentidos de movimento, com a duração da sustentação do movimento (3 ou 5 s) necessária à execução do jogo e com os níveis do jogo (0,5 N, 1 N ou 2 N de força).

Para os cruzamentos entres as variáveis analisadas, foram realizados os testes de Wicoxon e Friedman, tendo sido considerado o nível de confiança de 95%.

A pesquisa foi aprovada pelo CEP da instituição de origem sob o nº 18614313.3.0000.5149

RESULTADOS

Foi observado que os primeiros alvos que apareciam em cada direção foram mais fáceis de serem alcançados do que os demais, apresentando menor número de tentativas e maior tempo de sustentação da contração. Com relação ao sentido do movimento verificou-se maior número de

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 65 Capítulo 32 Avaliação de um novo método de reabilitação da força da língua tentativas e menor tempo médio de contração, ou seja, pior desempenho, nos sentidos para esquerda e para cima. Os jogos de 5 s demandaram maior número de tentativas e maior tempo médio de contração do que os jogos de 3 s. Foi observado também aumento do número de tentativas e diminuição do tempo médio de contração nos jogos que requeriam 2N de força na língua em relação aos demais.

Quanto aos questionários de conforto e feedback sobre o instrumento, os valores médios das respostas dos indivíduos foram 9,78; 9,63; 2,59 e 2,86 para as questões “gostou”, “divertiu-se”, “dor” e “cansaço”, respectivamente. Dos 15 participantes, 11 (73,3%) disseram que acharam fácil jogar, três (20,0%) acharam um pouco difícil e apenas um (6,6%) achou difícil. Quando questionados se realizariam o jogo novamente, 14 (93,3%) crianças responderam que sim, evidenciando boa aceitação e bom interesse pelos jogos.

DISCUSSÃO

Os resultados deste estudo sugeriram um panorama do desempenho de crianças e adolescentes, sem comprometimento de tônus de língua, ao realizarem jogos que envolvem treinamento da força lingual com um novo instrumento.

Na avaliação da variável de interesse “número de tentativas”, no que se refere à ordem de aparecimento dos alvos, os primeiros alvos apresentaram maior número de tentativas do que os demais, o que pode ser explicado pelo efeito do aprendizado na tarefa. Esse achado corrobora o estudo de Kothari et al., (2012). Quanto à direção, verificou-se que os participantes apresentaram maior número de tentativas para esquerda. Tais diferenças podem estar relacionadas com a ordem de aparecimento dos alvos, uma vez que o lado esquerdo sempre foi o primeiro a aparecer na tela. A literatura aponta, em estudos que compararam a força da língua entre direita e esquerda, que não há diferenças significativas entre essas direções (Clark et al., 2009). Com relação ao desempenho dos participantes no tempo de sustentação da contração, com o aumento 3 para 5 s, houve também aumento significativo no número de tentativas, o que pode ser explicado pela dificuldade do indivíduo em manter a contração por um tempo maior. Na literatura não existe um valor padrão para a duração da contração em exercícios para ganho de força, sendo encontrados desde 1 s até 20 s (Clark et al., 2009; Cunha e Silva 2012). Na prática clínica, esse tempo é aumentado gradativamente ao longo do tratamento. Ao se comparar os níveis verificou-se aumento do número de tentativas para o terceiro nível, o que pode ser explicado pelo aumento da força necessária para se alcançar esses alvos (2 N).

Com relação à variável “tempo médio de contração”, todos os parâmetros investigados também mostraram associação. Nessa variável quanto maior o tempo médio de contração, melhor o desempenho do indivíduo, pois ele foi capaz de sustentar a contração muscular isométrica por mais tempo. No que se refere ao desempenho por ordem de aparecimento dos alvos foi observado que os

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 66 Capítulo 32 Avaliação de um novo método de reabilitação da força da língua segundos e terceiros alvos apresentaram maior tempo médio de contração, o que pode ser explicado mais uma vez pelo efeito do aprendizado. Sobre o sentido, os indivíduos mantiveram a contração por menor tempo para esquerda. Mais uma vez, acredita-se que isso aconteceu pelo fato de que os primeiros alvos a aparecerem nos jogos são sempre do lado esquerdo e que os indivíduos tenderam a manter a sustentar o movimento por menos tempo no primeiro alvo, por não estarem acostumados com o tempo certo de manutenção da contração. Conforme esperado, em decorrência da metodologia, notou-se que com o aumento da duração da sustentação do movimento de 3 para 5 s, houve aumento significativo na variável tempo médio de contração. Na análise dos níveis do jogo, os participantes, obtiveram menor tempo médio de contração para alcançar o alvo no terceiro nível. O fato pode ser explicado pelo aumento da força utilizada, e que dificulta a manutenção da contração por um tempo maior.

As respostas dos questionários de feedback revelaram altos níveis de conforto e divertimento e baixos níveis de dor e cansaço, o que corrobora os estudos de Kothari et al. (2012) e Kothari et al. (2013).

O novo método aqui apresentado oferece várias vantagens, como o feedback lúdico e a possibilidade de o fonoaudiólogo customizar os jogos de acordo com a necessidade do paciente. Posteriormente esse novo instrumento será aplicado em crianças com alterações, tais como respiradores orais, pacientes com disfunção neuromotora, e com outras alterações que afetam o tônus da língua, para confirmar sua aplicabilidade na clínica fonoaudiológica. Além disso será testado em indivíduos com alterações na mobilidade de língua.

CONCLUSÃO

Verificou-se que, para crianças e adolescentes saudáveis, os jogos que requereram 5 segundos de contração muscular foram mais difíceis de serem realizados, assim como os jogos que requereram 3 N de força. As direções esquerda e cima, assim como os primeiros alvos que aparecem na tela foram os mais difíceis de serem alcançados. Foi confirmada a aplicabilidade de um novo método de reabilitação da força da língua que pode ser eficaz e servir de motivação para pacientes na reabilitação fonoaudiológica.

REFERÊNCIAS

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Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 68 Capítulo 33 Desenvolvimento de um banco de amostras de referência da oclusiva glotal usando julgamento de fala por avaliadores múltiplos capítulo 33 desenVoLVimento de um Banco de amostRas de ReFeRÊncia da ocLusiVa GLotaL usando JuLGamento de FaLa poR aVaLiadoRes mÚLtipLos

Development of a bank of reference samples of glottal stop using ratings of speech by multiple listeners

diana conceição da Rocha1, Thais Alves Guerra1, Jeniffer de cássia Rillo dutka1, 2 1. Faculdade de odontologia de Bauru (FoB-usp), Bauru-sp 2. hospital de Reabilitação de anomalias craniofaciais (hRac-usp), Bauru-sp

ARTIGO ORIGINAL

DESCRITORES: Fissura palatina. Fala. Medida da Produção da Fala.

KEY WORDS: Cleft palate. Speech. Speech Production Measurement.

INTRODUÇÃO

As articulações compensatórias (AC) podem ocorrer em substituição às consoantes obstruintes, sendo a oclusiva glotal (OG) o tipo mais frequentemente encontrado. A identificação das AC envolve avaliação perceptivo-auditiva da fala que sofre influência de diversos fatores, como experiência do avaliador, tipo de amostra e estímulos utilizados para eliciar ACs. Há uma necessidade de padronizar os estímulos de fala, treinar e calibrar os profissionais para a identificação e caracterização das AC.

OBJETIVO

Estabelecer um banco de amostras de fala de referência constituídas por gravações julgadas, por avaliadores múltiplos, como representativas do uso de oclusiva glotal.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 69 Capítulo 33 Desenvolvimento de um banco de amostras de referência da oclusiva glotal usando julgamento de fala por avaliadores múltiplos

MÉTODOS

As gravações de fala foram selecionadas dos bancos de dados do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC) e, foram capturadas utilizando 12 estímulos do protocolo de gravação da Força-Tarefa Brasilcleft, incluindo seis sons oclusivos e seis fricativos. Foram selecionadas 480 frases que foram editadas e salvas em arquivos para cada som de interesse, resultando 12 arquivos, cada um com frases representativas tanto do uso da OG quanto da produção adequada do som alvo.

As 480 amostras foram submetidas ao julgamento perceptivo-auditivo por três fonoaudiólogas (avaliadoras) do HRAC-USP com 11 anos de experiência na avaliação diária da fala de indivíduos com FLP e AC. As avaliadoras realizaram o julgamento perceptivo-auditivo das 480 frases, de maneira individual utilizando seus próprios computadores e fones de ouvido. Cada avaliadora identificou a presença de OG sempre que presente em cada frase, de acordo com o estímulo apresentado. As frases puderam ser ouvidas quantas vezes a avaliadora considerasse necessário para identificar a produção analisada. As respostas foram anotadas na planilha Excel levando em consideração cada sílaba na qual o som alvo ocorreu.

Além de indicar a presença ou ausência da OG, as avaliadoras foram instruídas a relatar a presença de outras alterações como disfonia, escape de ar nasal (EAN) ou ronco nasal (RN), fraca pressão (FP) e outras alterações articulatórias se presentes. As planilhas de respostas preenchidas pelas avaliadoras foram devolvidas após duas semanas. Os dados anotados foram compilados pela investigadora em uma única tabela Excel, identificando, sílaba a sílaba, a ocorrência de consenso entre as três avaliadoras quanto à presença e ausência de OG.

As frases as quais a pesquisadora não identificou 100% de concordância entre as avaliadoras foram novamente organizadas para um segundo julgamento, desta vez com as avaliadoras reunidas em uma mesma sala para estabelecer consenso simultaneamente, usando três fones de ouvido individuais, conectados ao mesmo computador e a um divisor de sinais. As amostras foram apresentadas pela pesquisadora, que não participou da análise, e foram julgadas durante uma sessão de uma hora.

Após ouvirem cada frase as três avaliadoras indicaram o julgamento e discutiram as produções as quais não houve consenso. Quando não foi possível estabelecer acordo entre as avaliadoras, a amostra em questão foi excluída. Ou seja, trabalhou-se para que o Banco de Amostras de referência incluísse apenas gravações em que as três avaliadoras concordaram (100%) com o julgamento da presença ou ausência da OG para cada sílaba do material julgado.

Após os dois julgamentos todas as frases que apresentaram consenso total entre as três avaliadoras, foram incluídas no banco de amostras de referência.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 70 Capítulo 33 Desenvolvimento de um banco de amostras de referência da oclusiva glotal usando julgamento de fala por avaliadores múltiplos

RESULTADOS

Das 149 gravações de fala selecionadas foram identificadas 73 vozes femininas e 76 masculinas. O estudo, em sua proposta inicial, visava obter 30 frases para cada um dos 12 sons de interesse em que a pesquisadora identificasse ocorrência da OG e, também, 10 frases sem ocorrência de OG, resultando num total de 480 amostras (240 amostras para sons do modo oclusivo e 240 do modo fricativo). Porém, após analisar as gravações dos dois bancos de dados consultados, não foi possível encontrar a quantidade de amostras inicialmente proposta, para os seis sons fricativos. Para os sons oclusivos observou-se uma quantidade de frases com ocorrência da OG maior do que as 30 amostras inicialmente propostas no estudo, enquanto para os sons fricativos observou-se uma quantidade menor do que inicialmente proposto.

Utilizando as amostras identificadas manteve-se a proposta inicial de 480 frases, porém, não foi possível ater-se ao total de 30 frases representativas de OG para cada um dos 12 sons estudados. Das 480 amostras de fala selecionadas, 360 frases foram consideradas com OG e 120 sem OG. No julgamento individual verificou-se que das amostras de fala julgadas houve consenso entre as três avaliadoras em 316 (65,8%) das 480 frases. Destas 316 amostras julgadas com consenso, 120 (38,0%) foram consideradas sem OG e 196 (62,0%) com OG. Todas as 120 amostras sem OG foram identificadas por consenso pelas três avaliadoras.

Para as 196 frases com OG, as avaliadoras concordaram que todas as sílabas de cada frase apresentavam OG, exceto em uma das frases com /g/, a qual as avaliadoras identificaram OG em 2 das 3 sílabas possíveis. Após o julgamento individual verificou-se que não houve consenso quanto à presença de OG para 164 (45,6%) das 360 frases do grupo de amostras representativas de OG. Ressalta-se que, além de indicar a presença ou ausência da OG, as avaliadoras relataram a presença de outras alterações no campo da planilha de respostas reservado para observações.

Deste modo, das 164 frases que não apresentaram consenso 41 possuíam outras alterações, sendo: seis com disfonia, três com EAN, sete com FP, e 25 com outras AC. Estas 41 amostras foram automaticamente excluídas do estudo, resultando, então, em apenas 123 amostras que não apresentaram concordância entre as três avaliadoras para serem utilizadas no segundo julgamento.

A partir das 123 frases as quais não houve 100% de concordância no julgamento individual, foi realizado um julgamento simultâneo para os sons que não se obteve 30 amostras com consenso. No julgamento simultâneo somente 52 frases foram julgadas, sendo 18 constituídas por sons oclusivos vozeados e 34 por sons fricativos vozeados e não vozeados. As 52 amostras analisadas no julgamento simultâneo incluíram duas frases para [b], dez para [d], seis para [g], oito para [f], oito para [s], três para [∫], cinco para [v], quatro para [z] e seis para [ ]. Obteve-se consenso para 10 (55%) das 18 amostras com sons oclusivos vozeados (uma amostras paraʒ [b], seis para [d], três para [g]) e, também, para 26

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 71 Capítulo 33 Desenvolvimento de um banco de amostras de referência da oclusiva glotal usando julgamento de fala por avaliadores múltiplos

(76%) das 34 amostras com os sons fricativos (sete para [f], cinco para [s], um para [?], cinco para [v], quatro para [z] e quatro para [ ]). Ou seja, das 52 amostras 36 foram julgadas por consenso simultâneo como representativas do uso deʒ OG.

Após os julgamentos das avaliadoras, classificou-se 352 amostras como representativas da ausência e da presença de OG. Destas 352 amostras, 232 foram classificadas como representativas da presença de OG, e 120 como representativas da produção adequada dos 12 sons de interesse. As 352 amostras julgadas pelas avaliadoras experientes resultaram num banco de amostras de referência. Destas 352 amostras, 173 (49,1%) foram representativas de vozes femininas enquanto 179 (50,9%) foram representativas de vozes masculinas. Das 173 vozes femininas, 48 corresponderam à vozes de crianças, 67 corresponderam à vozes de adolescentes e 58 corresponderam à vozes de adultos. Das 179 vozes masculinas 57 corresponderam à vozes de crianças, 58 correspondem à vozes de adolescentes e 64 corresponderam à vozes de adultos.

Todas as amostras eram pertencentes a pacientes com fissura labiopalatina operada, exceto uma que pertencia a uma paciente sem fissura aparente, porém com articulação compensatória.

DISCUSSÃO

O presente estudo preocupou-se em estabelecer um banco de amostras representativas da presença e ausência da OG no intuito de contribuir com a Força-Tarefa Brasilcleft, buscando padronizar protocolos para identificação de resultados de fala para calibração e capacitação de profissionais (DUTKA, 2014). Como a literatura não descreve bancos de amostras de referência representativas das articulações compensatórias associadas à FLP, o estabelecimento do banco de amostras da OG é pioneiro neste sentido trazendo importantes contribuições para formação de fonoaudiólogos e para o desenvolvimento de materiais para ensino à distância, os quais permitam a identificação da OG, sua prevenção, diagnóstico e tratamento.

Visto que a literatura ressalta a importância da experiência dos avaliadores na identificação, caracterização e classificação das alterações de fala e voz (GOOCH et al., 2001; LOHMANDER; OLSSON, 2004; BRUNNEGARD; LOHMANDER, 2007; LEE; WHITHEHIL; CIOCA, 2009; EADIE; KAPSNER-SMITH, 2011), selecionou-se profissionais experientes para serem avaliadoras, estas realizaram o julgamento duas vezes, (individualmente e simultaneamente), similar ao estudo de Brunnegard e Lohmander (2007). As frases incluídas no banco de amostras de referência, foram aquelas que apresentaram 100% de concordância entre as três avaliadoras, ou seja amostras padronizadas com nível máximo de concordância interavaliadores (100%) concordando com Cordes e Ingham (1995) os quais sugerem a importância de selecionar como amostras de referência aquelas que estão associadas com níveis elevados de concordância interavaliadores. Não foram encontrados estudos na literatura com esse

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 72 Capítulo 33 Desenvolvimento de um banco de amostras de referência da oclusiva glotal usando julgamento de fala por avaliadores múltiplos mesmo cuidado para o estabelecimento de amostras de referência. Segundo estes autores, avaliadores experientes podem servir como fonte de decisões coerentes quando a meta é estabelecer um elevado nível de concordância.

CONCLUSÃO

Foram estabelecidas amostras de referência representativas da presença e ausência da oclusiva glotal conforme proposto.

REFERÊNCIAS

BRUNNEGARD, K.; LOHMANDER, A. A. Cross-sectional study in 10-year-old children with cleft palate: results and issues of rater reliability. Cleft Palate Craniofac J, v. 44, n.1, p. 33-44, Jan 2007.

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DUTKA, J. C. R. Brasil Cleft: uma força-tarefa nacional para o gerenciamento dos resultados da correção da fissura labiopalatina. Revista Comunicar, n. 61, maio/jul. 2014.

EADIE, T. L.; KAPSNER-SMITH, M. The effect of experience and anchors on judgments of dysphonia. J Speech Hear Res, v, 54, n. 2, p. 430-434, 2011.

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LEE, A.; WHITEHILL, T. L.; CIOCCA, V. Effect of listener training on perceptual judgement of hypernasality. Clin Linguist Phon, v. 23, n. 5, p. 319-334, May 2009.

LOHMANDER, A.; OLSSON, M. Methodology for perceptual assessment of speech in patients with cleft palate: a critical review of the literature. Cleft Palate Craniofac J, v. 4, n. 1, p. 64-70, 2004.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 73 Capítulo 34 Desordem temporomandibular e oclusão: o que a análise cinemática da mastigação mostra sobre esta relação? capítulo 34 desoRdem tempoRomandiBuLaR e ocLusão: o Que a anáLise cinemática da mastiGação mostRa soBRe esta ReLação?

Temporomandibular disorder and occlusion: what does the kinematic analysis of chewing show about this relationship?

Claudia L.P. Ferreira1, Francesca m.e. Rusconi1, aler daniel Fuentes del campo2, matteo Zago1, chiarella sforza1 1. università degli studi di milano (milão, itália) 2. universidad del chile (santiago, chile)

ARTIGO ORIGINAL

DESCRITORES: Transtornos da articulação temporomandibular, mastigação, sistema estomatognático

INTRODUÇÃO

O processo mastigatório pode refletir a condição de vários elementos do sistema estomatognático e sua análise pode ter importante valor na avaliação das disfunções deste sistema, como por exemplo, nos casos de desordens temporomandibulares (DTM).

Devido à etiologia multifatorial da DTM o diagnóstico preciso continua sendo um argumento bastante discutido. Além disso, a relação entre condições oclusais com a DTM, e mesmo com a função mastigatória, é ainda limitada e está longe de ser claramente compreendida(1).

Avaliações instrumentais, como a eletromiografia de superfície e a análise optoeletrônica tridimensional do movimento, têm fornecido informações úteis para compreensão das capacidades funcionais e níveis de inabilidade nestes pacientes(2).

OBJETIVO

Avaliar se alterações oclusais estão relacionadas à severidade dos sintomas de DTM, e analisar as características da cinemática mandibular durante a mastigação de pacientes com DTM, considerando

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 74 Capítulo 34 Desordem temporomandibular e oclusão: o que a análise cinemática da mastigação mostra sobre esta relação? além de seu diagnóstico, a presença e a ausência de alterações oclusais.

MÉTODO

Participaram 41 adultos-jovens com DTM (idade média 20,5 anos), classificada segundo o protocolo Research Diagnostic Criteria for TMD (RDC/TMD)(3) como artrogênica (grupos IIa e/ou IIb, e/ou IIIa), associada ou não à dor miofascial (grupo Ia), de início recente (<6 meses), e 40 adultos-jovens saudáveis, sem DTM (idade média 21,6 anos).

Os voluntários foram divididos em 4 grupos, segundo a presença de DTM e de alterações oclusais: DTM oclusão normal (DTMN, N=18) e oclusão alterada (DTMA, N=23), controle oclusão normal (CN, N=18) e oclusão alterada (CA, N=22). Todos foram avaliados segundo: protocolo RDC/TMD–Eixo I(3); questionário sobre severidade dos sinais/sintomas de DTM (ProDTMMulti)(4); avaliação miofuncional orofacial com escores (AMIOFE)(5); condição oclusal; análise optoeletrônica tridimensional dos movimentos mastigatórios.

Movimentos mandibulares durante mastigação de goma foram registrados usando o instrumento SMART System, E-motion (BTS, Itália). Os sujeitos mastigaram unilateralmente uma goma de mascar sem açúcar durante 30 segundos, à direita e à esquerda. Os movimentos mandibulares foram capturados e traçados por meio de 6 marcadores extraorais passivos. Um marcador mandibular passivo posicionado na extremidade da linha média da borda incisal foi usado como referência para identificar o marcador dental relativo ao plano craniano de referência e o dispositivo extraoral(2).

Foi desenvolvido um algoritmo para localizar e selecionar os ciclos mastigatórios, seguindo metodologia previamente descrita(6). O software MATLAB® permitiu computar: comprimento do ciclo mastigatório (mm) no plano frontal; duração do ciclo (segundos); área do ciclo (mm2); orientação do ciclo (Alfa: ângulo formado pelo principal autovetor com o eixo vertical). Foram computados médias, desvios-padrão e coeficientes de variabilidade (CV).

Com base na avaliação clínica da mastigação com biscoito recheado, os lados de preferência (LP) e não-preferência (LNP) mastigatória foram estabelecidos e utilizados para as análises dos dados cinemáticos.

Os testes Kruskal-Wallis, de correlação de Spearman e Exato de Fisher foram utilizados para comparar dados da severidade da DTM e da oclusão entre os grupos. A ANOVA 2-way (fatores: grupo, lado) foi utilizada para comparar parâmetros cinemáticos entre grupos ( : 5%). α

RESULTADOS

As alterações oclusais encontradas foram maloclusão Classe II/III de Angle (CA: 73%, DTMA:

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 75 Capítulo 34 Desordem temporomandibular e oclusão: o que a análise cinemática da mastigação mostra sobre esta relação?

74%); overjet/overbite aumentados, mordida cruzada anterior e/ou posterior, apinhamentos anteriores, desalinhamento dos dentes (CA: 86%, DTMA: 65%); e interferências mediotrusivas (CA: 68%; DTMA: 57%).

O escore total da severidade segundo o ProDTMMulti–parte II diferiu significantemente entre os grupos: CN, 1,9±2,5; CA, 7,1±12; DTMN, 15,9±16,3; DTMA, 24,4±34 (p=0,002).

Não houve correlação entre número de alterações oclusais e severidade dos sinais/sintomas de DTM (r=0,11; p>0,05), nem associações entre os sintomas de DTM e alterações oclusais, mas a presença de interferências mediotrusivas foi significantemente associada à severidade da DTM (p<0,005).

Os grupos se diferenciaram quanto ao escore total do AMIOFE: CN, 93,9±4,7; CA, 92,4±5,6; DTMN, 92,4±5,3; DTMA, 89,2±5,1 (p<0,05); e à soma dos escores da categoria mobilidade: CN, 51,79±4,17; CA, 50,82±3,57; DTMN, 51,06±5,03; DTMA, 48,35±4,05 (p<0,05), sendo o grupo DTMA diferente dos demais, segundo o pós-teste.

O comprimento dos ciclos mastigatórios foi maior no DTMN, durante a mastigação tanto no LP quanto no LNP (p<0,05). Os ângulos de inclinação (Alfa) do ciclo mastigatório foram diferentes entre LP e LNP e maiores no grupo CN (p<0,05). Houve diferença entre LP e LNP para o CV do Alfa, especialmente no grupo CN durante a mastigação no LNP (p<0,05). O índice de simetria das áreas foi significantemente menor no grupo CA para ambos os lados (p<0,05). Não houve diferença entre grupos, lados, nem efeito de interação grupo-lado, para as demais variáveis.

DISCUSSÃO

Enquanto estudos associaram a oclusão à DTM(7), outros concluíram que a maloclusão não causa DTM ou não está associada à presença dos sintomas mais frequentes(1).

Neste estudo a presença das interferências mediotrusivas foi associada aos sintomas de DTM, mas o número de alterações oclusais não pareceu influenciar a severidade dos mesmos. Além disso, modificações da função mastigatória não apresentaram forte relação com alterações oclusais. Como previamente descrito, a questão das alterações oclusais no desenvolvimento das DTM deve ser vista com cautela, pois a resistência muscular à sobrecarga pode ser mais importante do que a presença de certas maloclusões(7).

Nos quatro grupos estudados, os escores da condição miofuncional orofacial total foram superiores a 86, que seria o ponto de corte para a determinação de um distúrbio miofuncional orofacial relevante em sujeitos adultos(5). Apesar disso, diferenças significantes para o escore total do AMIOFE e para soma da categoria mobilidade, além dos escores da deglutição e da mastigação, evidenciaram déficits nas habilidades motoras orofaciais nos grupos com DTM, especialmente quando alterações

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 76 Capítulo 34 Desordem temporomandibular e oclusão: o que a análise cinemática da mastigação mostra sobre esta relação? oclusais estavam presentes.

Todos os grupos deste estudo apresentaram movimentos mandibulares direcionados para o lado de trabalho, verificado a partir do Alfa, como esperado em condições normais(8). Contudo, maior variabilidade entre os lados LP e LNP foram observadas, especialmente no grupo CN, durante a mastigação no LNP.

Contrariando o que geralmente se espera para pacientes com DTM, ou com maloclusão, menor variabilidade intra-sujeito e maior simetria para a mastigação dos lados LP e NLP estiveram presentes também nos grupos com DTM deste estudo. O ângulo de inclinação do ciclo mastigatório e seu CV, pareceram se diferenciar mais quanto aos lados LP e NLP do que quanto à presença da DTM e maloclusão em si.

A correlação das interferências oclusais com a DTM também poderia contribuir para variações no padrão dos movimentos mandibulares em todos os grupos, e assim como o maior comprimento do ciclo mastigatório (maior no grupo DTMN), poderiam ser justificadas por abaixamento excessivo da mandíbula e/ou maior esforço para mastigar, além de uma incoordenação na realização desta tarefa, especialmente no LNP mastigatória. A estratégia para recrutar unidades motoras pode ser modificada a fim de manter a homeostase para a conclusão da tarefa de mastigação(9). Assim, é possível que algumas modificações no comportamento mastigatório de pacientes com DTM possam ser mais influenciada por fatores mecânicos (como o deslocamento do disco articular), ou por respostas motoras incoordenadas.

Dentro dos limites deste estudo, a condição oclusal poderia explicar somente em parte as modificações na mastigação, observados clinicamente (AMIOFE) e na análise cinemática mandibular. Tais resultados são compatíveis com o grau da sintomatologia e duração da DTM na amostra.

CONCLUSÃO

A condição oclusal poderia explicar em parte as alterações encontradas na função mastigatória, mas não parecem fortemente relacionadas aos sintomas de DTM em si, pelo menos em casos leves- moderados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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9. Shimada A, Baad-Hansen L, Svensson P. Effect of experimental jaw muscle pain on dynamic bite force during mastication. Arch Oral Biol. 2015 Feb;60(2):256-66.

Resultados parciais do projeto de pós-doutorado. Bolsa CNPq, Processo PDE/CSF N. 246658/2012-6.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 78 Capítulo 35 Efeito de terapias nos sinais / sintomas, dor à palpação e funções estomatognáticas de pacientes com desordens temporomandibulares capítulo 35 eFeito de teRapias nos sinais/sintomas, doR À paLpação e Funções estomatoGnáticas de pacientes com desoRdens tempoRomandiBuLaRes

Effect of therapies in signs / symptoms, tenderness and stomatognathic functions of the patients with temporomandibular disorders

Barbara Z. machado cusumano1, cláudia L.p. Ferreira1, marco antônio Rodrigues da silva2, Cláudia Maria de Felício1 1. Faculdade de medicina de Ribeirão preto da universidade de são paulo (usp) 2. Faculdade de odontologia de Ribeirão preto (usp) 3. núcleo de apoio a pesquisa nap-cF (usp)

ARTIGO ORIGINAL

DESCRITORES: Articulação temporomandibular, terapia miofuncional, terapia combinada

KEYWORDS: Temporomandibular joint, myofunctional therapy, Combined modality therapy

INTRODUÇÃO

O efeito de tratamentos para aliviar os sinais e sintomas e reestabelecer as funções orofaciais em pacientes com desordem temporomandibular (DTM) têm sido pouco investigado. A DTM é um distúrbio músculo-esquelético1 (Chen et al, 2012) e a causa mais comum de dor orofacial crônica2, com maior prevalência em mulheres do que homens1. Estudos previos têm relatado alívio da dor relacionada à DTM e aumento da mobilidade mandibular, como resultado de terapia com laser de baixa intensidade (LT)3-6. Contudo, como verificado4,7, maiores limites de movimentos mandibulares não implicam a melhora da condição funcional orofacial e ausência de compensações negativas.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 79 Capítulo 35 Efeito de terapias nos sinais / sintomas, dor à palpação e funções estomatognáticas de pacientes com desordens temporomandibulares

OBJETIVOS

Analisar os efeitos de quatro programas terapêuticos: 1) LT combinada com Exercícios Motores Orofaciais (EMO), derivados da terapia fonoaudiológica, no tratamento de DTM; 2) protocolo de terapia miofuncional orofacial completo para DTM (TMO); 3) LT inativa (placebo) combinada com EMO e 4) LT exclusiva.

MÉTODOS

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP/USP). Processo N. 4118/2013. Participaram 20 sujeitos sem DTM (Grupo I: 30±9,59 anos de idade), pareados por gênero e idade com os grupos experimentais, e 82 pacientes com DTM de acordo com o “Diagnostic Criteria for the Most Common Pain-Related Temporomandibular Disorders” – DC/TMD8. Os sujeitos foram divididos aleatoriamente para os seguintes tratamentos: LT associada aos EMO (Grupo II, N=21; 36,43±12,87 anos); TMO (Grupo III, N=22; 33,14±12,63 anos); LT placebo + EMO (Grupo IV, N=21; 31,81±14,45 anos) e LT exclusiva (Grupo V, N=18; 34,56±12,07 anos). Todos foram avaliados quanto: a percepção da severidade dos sinais e sintomas de DTM (protocolo ProDTMmulti)9, a sensibilidade à palpação e a condição miofuncional orofacial (protocolo AMIOFE)10, na fase diagnóstica (FD), após 120 dias de terapia (FF) e na fase de seguimento de 3 meses após o término do tratamento (FS). Todos os pacientes foram tratados por uma única fonoaudióloga experiente, mas as avalições após o tratamento foram realizadas por um segundo examinador. Concordância intra e entre examinadores foi calculada. Na análise dos dados, os grupos de tratamento foram comparados ao grupo controle em cada fase por meio do teste Kruskal- Wallis, o pós-teste foi aplicado para diferenças com valor de P < 0,01. Também foi realizada análise intragrupo para os grupos com DTM por meio do teste de Friedman, com pós-teste para P < 0,05 a fim de verificar se havia diferença entre as fases. Foi empregado o software Statistica 13 (StatSoft Inc., Tulsa, OK, USA). O tamanho do efeito foi calculado comparando a FD à FS, usando o Effects Size Calculators (http://web.uccs.edu/lbecker/Psy590/escalc3.htm). A interpretação foi baseada em Cohen11: pequeno, d= 0.2; médio, d= .5, and grande, d= 0.8.

RESULTADOS

Na FD, antes da intervenção, a comparação intergrupos indicou diferenças significantes (P < 0,001), sendo que os grupos com DTM (GII, GIII, GIV, GV) mostraram maiores escores para os sintomas (ProDTMmulti), maior sensibilidade à palpação e pior condição miofuncional orofacial que o grupo controle (GI). Não houve diferença significante entre os grupos com DTM.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 80 Capítulo 35 Efeito de terapias nos sinais / sintomas, dor à palpação e funções estomatognáticas de pacientes com desordens temporomandibulares

Todos os grupos apresentaram feitos positivos após as terapias, contudo as modalidades com alguma estratégia de alívio da dor (LT ou relaxamento e massagens) e EMO combinados (GII e GIII) foram mais efetivas para a redução de sintomas de DTM. Em geral, eles melhoram em T2, comparado ao T1, e os resultados positivos foram matidos na FS (P < 0.01). O tamanho do efeito (Cohen d) foi grande para todos os grupos no ProDTMmulti, na palpação do músculo temporal e das articulações temporomandibulares. Também, foi grande nos grupos GII e GIII na palpação do músculo masseter. A reabilitação das funções estomatognáticas ocorreu nos grupos que realizaram exercícios motores orofaciais, inclusive superando a diferença pré-existente em relação ao controle, mas não no grupo que recebeu apenas laserterapia (GV). O tamanho do efeito para o escore total do protocolo AMIOFE foi grande para os grupos GII, GIII e GIV, mas não para o GV.

DISCUSSÃO

Efeitos positivos da TMO, como terapia exclusiva, nos sinais e sintomas de DTM e na condição miofuncional orofacial, foram previamente observados12. Da mesma forma, a laserterapia é um tratamento não invasivo que se mostrou neste e em outros estudos benéfico no tratamento da dor relacionado à DTM3,5,7, mas não promove mudanças nas funções do sistema estomatognático7, como observado também no presente estudo. Assim, junto com o alívio da dor, as metas do tratamento de DTM deveriam incluir a melhora da função2, restabelecendo a possibilidade de mastigar, deglutir e falar, sem sentir dor e ou exacerbar o problema10,12. Estudos prévios discutiram que o recrutamento muscular pode estar alterado em pacientes com DTM, como mecanismo compensatório para alívio da dor ou mesmo preceder os sintomas dolorosos dos músculos mastigatórios (Lobezzo et al., 2006)13. Também devem ser considerados os efeitos negativos de manutenção de comportamentos motores orofaciais mal adaptados, que como verificado nesse estudo não podem ser modificados apenas pelo alívio da dor e de outros sintomas.

CONCLUSÕES

A combinação de estratégias para o controle da dor e treinamento motor orofacial mostrou-se mais eficaz na reabilitação das DTMs crônicas, com redução dos sinais e sintomas, mas também reorganização das funções estomatognáticas.

REFERÊNCIAS

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Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 81 Capítulo 35 Efeito de terapias nos sinais / sintomas, dor à palpação e funções estomatognáticas de pacientes com desordens temporomandibulares

2. Michelotti A, Iodice G, Vollaro S, Steenks MH, Farella M. Evaluation of the short-term effectiveness of education versus an occlusal splint for the treatment of myofascial pain of the jaw muscles. J Am Dent Assoc 2012;143:47-53.

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4. Gökçen-Röhlig B, Kipirdi S, Baca E, Keskin H, Sato S. Evaluation of orofacial function in temporomandibular disorder patients after low-level laser therapy. Acta Odontol Scand 2013;71:112-7.

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12. De Felício CM, de Oliveira MM, da Silva MA. Effects of orofacial myofunctional therapy on temporomandibular disorders. Cranio 2010;28:249-59

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Fontes financiadoras: Este trabalho teve apoio da agência CNPq e da Pró-Reitoria de Pesquisa da USP.

Fonte dos dados: Esses dados são parte do conteúdo da Tese de Doutorado intitulada: Efeito de exercícios motores orofaciais e laserterapia nos sintomas de desordem temporomandibular e funções orofaciais. O trabalho foi desenvolvido junto ao Programa de Pós-Graduação de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia e Cabeça e Pescoço da FMRP-USP.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 82 Capítulo 36 Efeitos da terapia miofuncional orofacial sobre a função mastigatória em indivíduos submetidos à cirurgia ortognática: aspectos clínicos capítulo 36 eFeitos da teRapia mioFuncionaL oRoFaciaL soBRe a Função mastiGatÓRia em indiVÍduos suBmetidos À ciRuRGia oRtoGnática: aspectos cLÍnicos

Effects of orofacial myofunctional therapy on masticatory function in individuals submitted to orthognathic surgery: clinical aspects

Daniela Galvão de Almeida Prado1; Giédre Berretin-Felix2, Renata Resina migliorucci3; mariana da Rocha salles Bueno3; Raquel Rodrigues Rosa2; marcela polizel4; maria Beatriz duarte Gavião1 1. Faculdade de odontologia de piracicaba, universidade estadual de campinas, piracicaba-sp 2. Faculdade de odontologia de Bauru, universidade de são paulo, Bauru-sp 3. Fonoaudióloga clínica, Bauru-sp 4. Fonoaudióloga clínica, piracicaba-sp

ARTIGO ORIGINAL

PALAVRAS-CHAVE: Mastigação. Deformidades dentofaciais. Cirurgia ortognática. Terapia miofuncional.

INTRODUÇÃO

Pacientes com deformidades dentofaciais severas são submetidos ao tratamento ortodôntico e à cirurgia ortognática (CO), que tem por objetivo a melhora na estética facial, nas relações oclusais e na funcionalidade do sistema estomatognático (Di Palma et al., 2009). Os resultados estéticos e funcionais são previsíveis, porém existem divergências em relação aos efeitos no sistema estomatognático (Van den Braber et al., 2004; Trawitizki et al., 2010).

A atuação fonoaudiológica junto aos pacientes que se submetem à CO vem sendo descrita na literatura, porém são poucos estudos abordando estes aspectos. Trawitzki et al., (2006) analisaram

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 83 Capítulo 36 Efeitos da terapia miofuncional orofacial sobre a função mastigatória em indivíduos submetidos à cirurgia ortognática: aspectos clínicos pacientes com má oclusão classe III, submetidos à terapia miofuncional orofacial (TMO) e mostraram aumento na atividade eletromiográfica após seis meses da cirurgia. Pereira e Bianchini (2011), observaram melhora no padrão de mastigação e deglutição de indivíduos com má oclusão classe II, submetidos a TMO, quatro meses após a CO.

Assim, a eficácia da TMO deve ser mais precisamente investigada para conhecer a funcionalidade do sistema estomatognático e as possíveis alterações causadas pela manutenção inadequada do padrão adaptativo (Ko et al., 2015).

OBJETIVO

Este estudo buscou identificar o efeito da TMO sobre os aspectos clínicos da função mastigatória e do sistema estomatognático, incluindo tônus e mobilidade muscular, em indivíduos com deformidade dentofacial (DDF) submetidos à CO.

MÉTODOS

A pesquisa corresponde a um ensaio clínico longitudinal randomizado, aprovado pelo Comitê de ética em pesquisa da Faculdade de Odontologia de Piracicaba, Universidade Estadual de Campinas sob protocolo 074/2012.

Participaram do grupo experimental 23 indivíduos e os critérios de inclusão foram: indivíduos saudáveis, com idade entre 18 a 45 anos, independentemente do sexo, com pelo menos 24 dentes presentes, com má oclusão esquelética Classe II ou III. Vinte e três indivíduos foram incluídos no grupo controle que foi pareado por sexo e idade ao grupo experimental, os indivíduos deveriam apresentar boa relação entre os arcos dentários, trespasse vertical e horizontal entre 1 a 3 mm, todos os dentes naturais, pelo menos até o segundo molar, respiração nasal e tipo facial médio. Os critérios de exclusão de ambos os grupos foram déficits neurológicos, psiquiátricos ou intelectual, desdentados parcial ou totalmente e presença de fissura de lábio ou palato.

Após a CO, os 23 indivíduos do grupo experimental foram alocados em dois sub-grupos,13 indivíduos foram incluídos no grupo que recebeu a TMO (grupo tratado-GT) e 10 foram acompanhados (grupo não tratado-GNT).

No processo de tratamento foi aplicado o “Protocolo de terapia pós-cirurgia ortognática”. O protocolo constitui em 8 sessões semanais iniciando 30 dias após a realização da CO e abordou a sensibilidade, tonicidade, mobilidade, adequação de postura de lábios e língua em repouso, treino e adequação das funções miofuncionais orofaciais.

Foi realizada a avaliação da função mastigatória utilizando o protocolo de avaliação

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 84 Capítulo 36 Efeitos da terapia miofuncional orofacial sobre a função mastigatória em indivíduos submetidos à cirurgia ortognática: aspectos clínicos miofuncional orofacial AMIOFE expandido, com escores, por meio do qual foi avaliado a incisão, tipo mastigatório, movimentos ou alteração na postura de cabeça ou outras partes do corpo e escape de alimentos. A análise dos vídeos da mastigação, utilizando o protocolo e a atribuição de escores, foi realizada por três examinadores, profissionais especialistas na área, sendo então considerada como resultado a concordância entre, no mínimo, dois examinadores. Além disso, foram avaliados o tônus de lábios e língua e a mobilidade de lábios, língua e mandíbula utilizando o protocolo MBGR (Genaro et al., 2009). A avaliação da função mastigatória, da tonicidade e mobilidade foi realizada antes (P0), três (P1) e seis (P2) meses após a cirurgia.

Os dados foram comparados utilizando testes paramétricos e não paramétricos de acordo com a distribuição dos dados.

RESULTADOS

No grupo tratado os resultados mostraram aumento significativo nos escores máximos do protocolo AMIOFE-E (p≤0,05) de P0 para P1 e de P0 para P2 e no item “tipo mastigatório” (p≤0,05) em P2 estava significativamente maior que em P0, ocorrendo melhora da mastigação. Não foram encontradas diferenças significativas entre os períodos para o item “incisão”.

A maioria dos indivíduos de GT mostrou ausência de alterações nos movimentos da cabeça em todas as avaliações, bem como para o escape de alimentos, já que apenas um indivíduo apresentou escape de alimentos em P0 e P2. Ambos grupos controle não apresentaram alteração nesses dois itens do AMIOFE-E, como esperado. No entanto, para a postura da cabeça, os grupos experimentais e controle apresentaram de 2 a 8 indivíduos com alterações ao longo das avaliações.

Em relação a duração da mastigação o GT e GNT apresentaram valores superiores ao seu controle em cada período e não houve diferenças entre os três períodos do estudo.

Além disso houve melhora no tônus do lábio inferior (p≤0,01) e na mobilidade de língua (p≤0,01) no P1 e P2 comparativamente aos valores do pré-operatório.

DISCUSSÃO

Foram analisados os resultados referentes ao escore total do protocolo AMIOFE-E, de acordo com este protocolo, quanto maior o escore melhor a função mastigatória (Felício et al., 2010). Observou- se que no GT houve aumento dos escores no P1 e P2 comparativamente ao P0, ou seja, ocorreu melhora na função mastigatória e essa diferença não foi significativa no GNT. Pereira e Bianchini (2011) observaram melhora na função mastigatória após quatro meses da realização da CO em indivíduos com má oclusão classe II, os quais realizaram a TMO.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 85 Capítulo 36 Efeitos da terapia miofuncional orofacial sobre a função mastigatória em indivíduos submetidos à cirurgia ortognática: aspectos clínicos

Em relação ao “tipo mastigatório” antes da cirurgia, os grupos apresentaram alteração neste aspecto em comparação com o controle. Uma pesquisa que realizou avaliação clínica da função mastigatória em indivíduos com DDF também encontrou mudanças no tipo mastigatório (Pereira et al., 2005). No presente estudo, seis meses após a cirurgia, o GT apresentou aumento significativo nos escores do tipo mastigatório, inferindo melhora na função, e esses resultados não foram vistos no GNT. No entanto, comparando o GT e GNT com os seus respectivos controles, após a cirurgia, os escores do GT foram significativamente mais baixos do que o GC.

Em P0, quatro indivíduos do GT apresentaram alteração nos movimentos de cabeça durante a mastigação, no GNT dois indivíduos apresentaram a respectiva alteração. Uma relação funcional direta entre a postura da cabeça e pescoço durante a mastigação tem sido observada (Shimazaki et al., 2006). Em P1 somente o GNT diferiu do GC, mostrando uma melhora no GT, uma vez que apenas um indivíduo apresentou alteração neste aspecto.

Apenas um indivíduo do GT mostrou alteração na postura da cabeça em P1; no entanto, em P2, o número de indivíduos com alteração foi semelhante ao P0. Apesar disso, não foram encontradas diferenças significativas entre os períodos. Deve-se considerar que GNT diferiu do controle em P0 e P2, enquanto GT estava próximo ao GC com mais indivíduos sem alteração. Tem sido afirmado que as mudanças na oclusão podem influenciar o equilíbrio muscular e a posição de cabeça (Motoyoshi et al., 2002).

O escape de alimento foi avaliado e antes da cirurgia, a DDF não influenciou este aspecto, uma vez que os valores foram semelhantes ao controle; não foram observadas diferenças após a cirurgia. A literatura aponta que muitos pacientes apresentam parestesia após a cirurgia ortognática (Hanzelka et al., 2011), assim o escape de alimento seria esperado, mas não ocorreu. No entanto, a primeira avaliação ocorreu 3 meses após a cirurgia e este período pode ter sido suficiente para ajustar este aspecto.

Ao comparar a duração da mastigação, o GT e GNT diferiram do GC em todos os períodos, por isso, mesmo após a cirurgia os dois grupos apresentaram duração da mastigação significativamente mais longa do que o GC. Portanto, um período de seis meses, pode não ser suficiente para que o indivíduo realize a mastigação em tempo semelhante ao de um indivíduo com oclusão normal.

Antes da cirurgia o tônus do lábio inferior dos indivíduos do GT estava alterado e no GNT apenas um indivíduo apresentou normalidade. Correspondente com este achado, um estudo mostrou tônus reduzido dos músculos elevadores da mandíbula, bucinador e lábios em indivíduos com DDF (Alessio et al., 2007). Após a cirurgia no P1 e P2, o GT, apresentou melhora em relação ao P0 e o número de indivíduos estava próximo ao GC, mostrando melhora nesse aspecto; o mesmo não foi observado no GNT. Dessa forma, houve efeito da terapia em relação ao tônus do lábio inferior.

O GT apresentou maior número de indivíduos com mobilidade de língua adequada no P1 e P2

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 86 Capítulo 36 Efeitos da terapia miofuncional orofacial sobre a função mastigatória em indivíduos submetidos à cirurgia ortognática: aspectos clínicos em comparação ao P0 e no pós-operatório apenas o GNT diferiu do GC. Portanto, pode-se concluir que a TMO contribuiu para melhorar a mobilidade do músculo. Não foi encontrado estudo que descrevesse este aspecto em pacientes submetidos a CO, evidenciando a importância destes achados, enfatizando que a mobilidade deve ser avaliada e tratada durante a TMO.

Poucos estudos foram realizados considerando os aspectos clínicos miofuncionais orofaciais (Trawitzki et al, 2006; Pereira, Bianchini et al, 2011). Assim, o presente estudo contribui com estes resultados, ressaltando a importância da avaliação e TMO em casos de CO.

CONCLUSÃO

Neste trabalho foi possível comprovar a efetividade da TMO, uma vez que houve aumento no escore máximo do protocolo AMIOFE-E e especificamente quanto ao tipo mastigatório, com melhora na mastigação, além de adequação do tônus de lábio inferior e mobilidade de língua em indivíduos com DDF submetidos à CO.

REFERÊNCIAS

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Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 88 Capítulo 37 Influência de diferentes aparelhos de contenção ortodôntica removíveis superiores nas funções orofaciais: percepção de pacientes capítulo 37 inFLuÊncia de diFeRentes apaReLhos de contenção oRtodôntica RemoVÍVeis supeRioRes nas Funções oRoFaciais: peRcepção de pacientes

Influence of different removable retainer orthodontics appliances in the upper arch on the oral functions: perception of patients

Korb L1, Lorenzoni dc2, henriques JFc2, Berretin-Felix G1 Faculdade de odontologia de Bauru - universidade de são paulo 1. departamento de Fonoaudiologia 2. departamento de odontopediatria, ortodontia e saúde coletiva

DESCRITORES: Ortodontia; Fonoaudiologia; Recidiva; Desenho de aparelho ortodôntico; Sistema estomatognático.

INTRODUÇÃO

A fase de contenção tem como objetivo manter os dentes na posição correta após o tratamento ortodôntico ativo. Esta fase contrapõe-se à recidiva, que é a tendência natural de retorno dos dentes à sua posição inicial. Para prevenção da recidiva, normalmente utiliza-se algum tipo de contenção ortodôntica. Diversas formas de contenção são citadas na literatura mas, conforme importante revisão sistemática, inexistem dados que amparem cientificamente a escolha clínica da contenção, ou seja, não há evidência importante de que um tipo de contenção seja mais efetivo em sua função que os demais (Littlewood et al., 2006).

Como não existe comprovação científica da superioridade de um aparelho, o ortodontista normalmente se baseia em outros aspectos para definição da sua conduta na fase de contenção, como: preferência e experiência profissional, conforto do paciente, detalhes específicos do caso (como diastemas, realização de expansão dos arcos e extrações) e estética. Para a arcada superior, estão descritos diversos aparelhos de contenção, e os removíveis são os mais comuns, sendo o wrap-around, a placa de Hawley e a contenção termoplástica transparente os mais utilizados (Singh et al., 2009; Valiathan e Hughes, 2010).

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 89 Capítulo 37 Influência de diferentes aparelhos de contenção ortodôntica removíveis superiores nas funções orofaciais: percepção de pacientes

A fase de contenção inicia-se imediatamente após a remoção do aparelho fixo ao final do tratamento ortodôntico ativo, com a utilização dos dispositivos de contenção diariamente e, normalmente, em tempo integral. Pesquisa realizada no EUA para avaliar as práticas comuns na especialidade mostrou que 82% dos ortodontistas indicam uso diário da contenção em tempo integral na fase imediata pós ortodontia e, em sua maioria, mantêm este regime por, no mínimo, 3 a 9 meses (Valiathan e Hughes, 2010). Outros dados mostram que este tempo pode ser mantido por até 1 ano (Renkema et al., 2009), período a partir do qual a quantidade de horas diárias utilizadas é paulatinamente reduzida. Percebe-se que o tempo de utilização da contenção é longo e intenso, de forma que a mesma deve, além de manter os dentes em sua posição, ser confortável para o paciente durante a realização das funções diárias, característica que está diretamente relacionada à colaboração na utilização (Wong e Freer, 2005).

Dentre os diversos aspectos que envolvem o conforto, a interferência na pronúncia é ponto importante, visto que estes aparelhos apresentam componentes localizados na face lingual dos dentes e palato, que prejudicam os movimentos linguais durante a produção da fala. Entre 10 e 15% dos pacientes relatam que o prejuízo à fala é motivo para não usarem a contenção (Pratt et al., 2011). A influência de diferentes designs de contenções superiores na fala já foi motivo de investigação, constatando-se que a redução da cobertura de acrílico no palato minimizou prejuízos à pronúncia e aumentou o conforto do paciente (Stratton e Burkland, 1993). De fato a alteração criada na região anterior da cavidade bucal pelo aparelho de Hawley leva a distorções na produção de fala que podem persistir por até 3 meses (Kulak Kayikci et al., 2012).

Conforme revisão sistemática sobre este tema recentemente publicada (Mai et al., 2014), inexistem estudos clínicos prospectivos randomizados que avaliem a influência dos diferentes aparelhos de contenção utilizados após o tratamento ortodôntico no sistema estomatognático, considerando a percepção dos pacientes, através de análises qualitativas e quantitativas para as diferentes contenções.

OBJETIVOS

Verificar a percepção dos pacientes sobre o uso de placas de contenção superiores removíveis para as questões de fala, deglutição, estética, salivação, desconforto, náusea e interferência oclusal; verificar a preferência dos aparelhos utilizados por pacientes sobre o uso de placas de contenção superiores removíveis.

MÉTODO

Foram selecionados 19 sujeitos, voluntariamente, entre alunos de graduação e pós-graduação da Faculdade de Odontologia de Bauru a partir dos seguintes critérios de inclusão:

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 90 Capítulo 37 Influência de diferentes aparelhos de contenção ortodôntica removíveis superiores nas funções orofaciais: percepção de pacientes

- Brasileiros, que falem a língua portuguesa nativa;

- Presença de todos os dentes até o 2o molar. Reabilitações implanto-protéticas unitárias serão aceitas;

- Presença de relação oclusal aceitável, com relação de molares de classe I (variações até ? de classe II ou III serão aceitas).

Os indivíduos utilizaram 4 tipos de contenções removíveis superiores (Wrap-around convencional, Wrap-around como orifício em papila palatina, Wrap-around com alívio no palato e Placa Termoplástica Essix®) em tempos diferentes durante 21 dias cada uma e com intervalos de 7 dias sem utilização após cada aparelho. A percepção dos pacientes sobre diferentes aspectos dos aparelhos será avaliada com a Escala Visual Analógica de 100 mm (Figura 1), aplicada ao final do tempo de utilização de cada contenção. Além disto, foi questionada a preferência dos aparelhos por meio de scores de 1 a 4, sendo maior o score, menor a preferência. Foi realizada análise estatística (ANOVA para dados repetidos ou Teste de Friedman), adotando nível de significância de 5% e p<0,01.

Figura 1. Escala Visual Analógica

Figura 2. Wrap-around convencional Figura 3. Wrap-around com orífico

Figura 4. Wrap-around com alívio no palato Figura 5. Contenção termoplástica transparente

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 91 Capítulo 37 Influência de diferentes aparelhos de contenção ortodôntica removíveis superiores nas funções orofaciais: percepção de pacientes

RESULTADOS

Os resultados da presente pesquisa encontram-se distribuídos nas Tabelas 1 e 2.

Foi possível verificar que o Essix® se mostrou de maior impacto negativo nos quesitos avaliados (p<0,01), exceto para a questão estética (p>0,05). Entre os outros aparelhos do tipo Hawley não houve diferença estatisticamente significante para os aspectos avaliados (p>0,01).

Os aparelhos do tipo Wrap-around se mostraram de preferência dos participantes do estudo, apresentando diferença estatisticamente significante entre estes dispositivos e o Essix®.

Tabela 1. Medidas em milímetros da análise das EVA’s (mediana, desvio padrão, máximo e mínimo e quartis), mostrando as diferenças estatisticamente significantes.

Quartis Desvio Mediana Padrão Mínimo Máximo 1º quartil Média 3º quartil Fala Convencional 28.89 22.69 0.00 68.50 10.50 26.50 49.00 Orifício 32.86 26.05 2.00 87.00 11.00 25.00 57.50 Alívio 28.47 22.29 3.00 80.00 13.50 22.00 45.00 Essix 63.78 25.40 3.50 100.00 51.00 69.50 84.00 Deglutição Convencional 15.36 24.84 0.00 82.00 0.00 2.50 22.00 Orifício 15.78 18.97 0.00 53.00 0.00 11.00 22.50 Alívio 7.05 10.14 0.00 31.50 0.00 0.00 11.00 Essix 26.68 24.00 0.00 70.50 7.50 17.50 51.00 Estética Convencional 29.92 17.96 0.00 54.00 13.00 22.50 50.00 Orifício 23.68 16.98 0.00 53.00 9.50 23.50 38.00 Alívio 25.81 17.54 0.00 65.00 11.00 23.50 33.00 Essix 18.18 20.18 0.00 40.50 0.00 9.50 38.50 Salivação Convencional 21.02 22.41 0.00 87.00 2.00 20.50 31.50 Orifício 24.07 25.76 0.00 100.00 3.00 17.00 36.00 Alívio 10.05 12.32 0.00 45.50 0.00 6.00 14.50 Essix 61.73 34.60 0.00 100.00 31.50 76.00 92.00 Desconforto Convencional 29.07 26.90 0.00 91.00 9.00 19.50 45.00 Orifício 25.57 30.92 0.00 100.00 1.50 14.50 26.50 Alívio 21.28 20.26 0.00 75.00 3.00 13.00 33.50 Essix 67.23 25.94 13.50 100.00 50.00 72.00 93.00

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 92 Capítulo 37 Influência de diferentes aparelhos de contenção ortodôntica removíveis superiores nas funções orofaciais: percepção de pacientes

Tabela 2. Scores atribuídos à preferência do uso dos aparelhos testados.

Quartis Desvio Mediana Padrão Mínimo Máximo 1º quartil Média 3º quartil Preferência Essix 3.63 0.83 1.00 4.00 4.00 4.00 4.00 Convencional 2.31 0.88 1.00 4.00 2.00 2.00 3.00 Orifício 2.10 0.93 1.00 4.00 1.00 2.00 3.00 Alívio 1.78 1.03 1.00 4.00 1.00 1.00 2.00 Alívio 11.57 19.22 0.00 70.00 0.00 0.00 20.00 Essix 75.78 22.92 40.00 100.00 50.00 80.00 100.00

DISCUSSÃO

Os aparelhos de contenção de arco superior devem ser utilizados após o período de tratamento ativo ortodôntico (Valiathan e Hughes, 2010). Porém deve-se considerar a colaboração do paciente e também levar em conta as influências relatadas pelos usuários, uma vez que quesitos de interferência em funções são relatados. Autores sugerem o uso de contenção fixa (Loriato, Machado e Vieira, 2007) por dispensar a colaboração do paciente. Entretanto deve-se considerar que o paciente realiza adaptações funcionais para que consiga fazer o uso da contenção e estas adaptações devem ser avaliadas.

De acordo com os resultados deste estudo, foi possível perceber que apesar da satisfação com a questão estética, os indivíduos apresentaram queixas referentes a fala, deglutição, salivação, desconforto e náusea durante o uso da placa termoplástica, sendo esta a mais estética de todos os aparelhos testados, discordando com Caricati et al. (2005), os quais citam que a placa termoplástica não causa interferência na fala, tendo boa aceitação pelos pacientes por ser estética.

Não há na literatura estudos semelhantes para que os resultados da presente pesquisa sejam comparados à outras pesquisas já realizadas. Acredita-se que os aparelhos do tipo Wrap-around sejam de maior preferência e menor impacto funcional por não apresentarem recobrimento oclusal.

Além disto, uma visão multiprofissional pode vir a contribuir com o tratamento, visando o alívio do impacto funcional durante o uso dos aparelhos de contenção.

CONCLUSÃO

Apesar de muito descrito na literatura por ser altamente estético, o Essix® se mostrou de maior impacto negativo nas questões de fala, deglutição, salivação, desconforto, náusea e interferência oclusal, enquanto os do tipo Hawley foram de maior preferência para uso, de acordo com a percepção dos pacientes. Não houve diferença quanto a estética entre os tipos de contenção utilizados neste estudo.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 93 Capítulo 37 Influência de diferentes aparelhos de contenção ortodôntica removíveis superiores nas funções orofaciais: percepção de pacientes

REFERÊNCIAS

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VALIATHAN, M.; HUGHES, E. Results of a survey-based study to identify common retention practices in the United States. Am J Orthod Dentofacial Orthop, v. 137, n. 2, p. 170-7; discussion 177, 2010.

WONG, P.; FREER, T. J. Patients’ attitudes towards compliance with retainer wear. Aust Orthod J, v. 21, n. 1, p. 45-53, 2005.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 94 Capítulo 38 O uso da classificação global perceptivo-auditiva da competência velofaríngea e a nasalância: correlação com o background linguístico do ouvintes capítulo 38 o uso da cLassiFicação GLoBaL peRceptiVo - auditiVa da competÊncia VeLoFaRÍnGea e a nasaLÂncia: coRReLação com o BacKGRound LinGuÍstico do ouVinte

The overall velopharyngeal competence - rating (VPC-R) and the nasalance: relationship with the backgound linguistic of the listener

Rafaeli Higa Scarmagnani1, Renata paciello Yamashita1, ana paula Fukushiro2, anette Lohmander3 1. hospital de Reabilitação de anomalias craniofaciais da universidade de são paulo, Bauru-sp, Brasil 2. hospital de Reabilitação de anomalias craniofaciais da universidade de são paulo, Bauru-sp; Faculdade de odontologia de Bauru da universidade de são paulo, Bauru-sp, Brasil 3. instituto Karolinska, estocolmo, suécia

ARTIGO ORIGINAL

PALAVRA CHAVE: Insuficiência velofaríngea, Fissura palatina, Percepção da fala.

INTRODUÇÃO

O diagnóstico da disfunção velofaríngea (DVF) é feito, principalmente, por meio da avaliação perceptivo-auditiva da fala, que é considerada o principal indicador da significância clínica dos sintomas decorrentes da DVF1-3. Entretanto, por se tratar de uma avaliação subjetiva, recomenda-se o uso de métodos instrumentais, diretos ou indiretos, como complemento do diagnóstico da DVF, os quais permitem determinar a causa, a extensão e a localização da disfunção velofaríngea4,3,5. Alguns pesquisadores têm feito uso de uma ferramenta que utiliza as características perceptivo-auditivas da fala para prever ou classificar a função velofaríngea6-9. Uma classificação geral e simples da competência velofaríngea, baseada na produção da fala tem sido sugerida devido a sua fácil reprodução. Trata-se da Classificação da Competência Velofaríngea (C-CVF), conhecida como Velopharyngeal Competence

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 95 Capítulo 38 O uso da classificação global perceptivo-auditiva da competência velofaríngea e a nasalância: correlação com o background linguístico do ouvintes

Rating (VPC-R) a qual foi utilizada em um estudo multicêntrico escandinavo que avaliou resultados cirúrgicos de fala em pacientes com fissura8 e foi recentemente atualizada e validada9. Contudo, a relação desse tipo de classificação com métodos instrumentais objetivos como a nasometria, ainda não foi explorada. Tal investigação se faz importante, uma vez que a nasalância (correlato acústico da nasalidade) é um método frequentemente utilizado por clínicos e pesquisadores que avaliam os sintomas da DVF. A natureza subjetiva da avaliação perceptivo-auditiva da fala torna desafiador o processo de “mensurar” os sintomas da fala10,11, o que reduz a confiabilidade dos resultados de investigações baseadas em julgamentos de diferentes avaliadores. Assim, especula-se que investigações que relacionem informações objetivas e subjetivas da DVF, as quais permitem estabelecer parâmetros que possibilitem resultados mais confiáveis quanto ao julgamento da avaliação perceptivo-auditiva da fala, possam fornecer melhores condições para que clínicos e pesquisadores possam cada vez mais definir condutas de forma eficaz e segura. O background linguístico do ouvinte pode influenciar os resultados, devendo, portanto, ser considerado.

OBJETIVO

Investigar a correlação entre a C-CVF global e a nasalância, e o background linguístico do ouvinte.

MÉTODO

O presente estudo teve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Instituição (CAAE: 20412213.0000.5441) e todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Cinquenta e um indivíduos brasileiros, com fissura labiopalatina reparada e idade acima de 6 anos, foram submetidos à medida da nasalância e a gravação audiovisual de fala.

A nasalância foi determinada utilizando-se um nasômetro, durante a leitura e/ou repetição de cinco sentenças contendo sons exclusivamente orais, considerando como limite de normalidade o escore de 27%, ou seja, valores de nasalância acima de 27% foram eram indicativos de hipernasalidade. Para a gravação das amostras de fala utilizou-se a repetição de 12 sentenças compostas por consoantes de pressão presentes no idioma Português-Brasileiro.

As amostras de fala foram analisadas por duas fonoaudiólogas, sendo a avaliadora 1, dominante do mesmo background linguístico dos falantes das amostras e, a avaliadora 2, falante nativa da língua sueca. A partir da análise das amostras de fala, as avaliadoras realizaram a C-CVF utilizando escala de três pontos conforme proposto por Lohmander e colaboradores8, na qual a competência velofaríngea é classificada como 0=competente (sem alterações de fala relacionadas à DVF); 2=marginalmente

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 96 Capítulo 38 O uso da classificação global perceptivo-auditiva da competência velofaríngea e a nasalância: correlação com o background linguístico do ouvintes incompetente (pequenas alterações de fala relacionadas à DVF que não necessitam intervenção); 3=incompetente (alterações de fala significativamente perceptíveis que necessitam intervenção cirúrgica). Os valores de nasalância foram representados pelos escores: 1–valores de nasalância abaixo de 27%, indicativo de ressonância equilibrada e 2-valores de nasalância acima de 27%, indicativo de hipernasalidade. A correlação entre as variáveis foi determinada por meio do coeficiente de correlação de Spearman (p=0,05). A concordância entre as avaliadoras quanto à C-CVF foi determinada utilizando- se e o coeficiente Kappa Ponderado, com interpretação baseada em Altmam12 .

RESULTADOS

As tabelas 1 e 2, mostram os dados das análises das avaliadoras 1 e 2, respectivamente, quanto à associação da C-CVF e a nasalância.

Tabela 1. Distribuição dos pacientes de acordo com o julgamento da avaliadora 1 para a C-CVF e os escores de nasalância indicativos de ausência (≤27%) e presença (>27%) de hipernasalidade.

Avaliadora 1

C-CVF Nasalância ≤27% Nasalância >27% TOTAL Competente 10 2 12 Marginal 156 Incompetente 9 24 33 TOTAL 20 31 51

Tabela 2. Distribuição dos pacientes de acordo com o julgamento da avaliadora 2 para a C-CVF e os valores de nasalância indicativos de ausência (≤27%) e presença (>27%) de hipernasalidade.

Avaliadora 2

C-CVF Nasalância ≤27% Nasalância >27% TOTAL Competente 9615 Marginal 5 10 15 Incompetente 6 15 21 TOTAL 20 31 51

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 97 Capítulo 38 O uso da classificação global perceptivo-auditiva da competência velofaríngea e a nasalância: correlação com o background linguístico do ouvintes

As figuras 1 e 2 mostram a distribuição dos pacientes (em porcentagem) de acordo com o julgamento das avaliadoras 1 e 2, respectivamente, para a C-CVF e os escores de nasalância.

Figura 1 e 2. Porcentagem de pacientes distribuídos de acordo com o julgamento da avaliadora 1 e 2 quanto à C-CVF e os escores de nasalância ≤27% (figura 1) e >27% (figura 2)

A tabela 3 mostra os resultados da correlação entre o julgamento das avaliadoras 1 e 2 quanto à C-CVF e os escores de nasalância. Tais resultados apontam que existe correlação positiva, significativa (r=0,43; p=0,00) entre a C-CVF e os escores de nasalância para a avaliadora 1 (dominante do mesmo background linguístico dos falantes das amostras). Isto significa que, quanto maior o escore de nasalância, indicativo de hipernasalidade, pior a C-CVF, de acordo com o julgamento da avaliadora 1. O mesmo não ocorreu para a avaliadora 2 (falante nativa da língua sueca), cuja análise mostrou que a correlação entre as mesmas variáveis não é significativa (r=0,25; p=0,06).

Tabela 3. Valores da correlação de Spearman e valores de p na análise entre a C-CVF e os escores de nasalância para as avaliadoras 1 e 2.

Avaliadora 1 Avaliadora 2

Correlação de Spearman (r) 0,439* 0,258 valor de p 0,00* 0,06

*correlação positiva-siginificativa

No que se refere à concordância interavaliadoras quanto ao julgamento perceptivo-auditivo da C-CVF, o coeficiente kappa obtido foi de 0,54 mostrando concordância moderada entre ambas as avaliadoras.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 98 Capítulo 38 O uso da classificação global perceptivo-auditiva da competência velofaríngea e a nasalância: correlação com o background linguístico do ouvintes

DISCUSSÃO

Cada vez mais, tanto na prática clínica, como em pesquisas bem delineadas, inúmeros ensaios têm buscado alternativas que minimizem a subjetividade inerente à avaliação perceptivo-auditiva da fala13- 15. Investigações que relacionam resultados da avaliação perceptivo-auditiva da fala e de avaliações instrumentais são fundamentais, uma vez que possibilitam confirmar e complementar as impressões clínicas.

Alguns autores utilizam ferramentas que se baseiam nas características perceptivo-auditivas da fala para predizer o funcionamento do mecanismo velofaríngeo2,6,8,9, classificando e/ou graduando a competência velofaríngea. A Classificação da Competência Velofaríngea (C-CVF) é uma dessas ferramentas e foi utilizada em um estudo multicêntrico escandinavo que avaliou resultados cirúrgicos de fala em pacientes com fissura8 e foi recentemente atualizada e validada9. Assim, por serem essencialmente regidas pela percepção sendo, portanto, subjetivas, tais ferramentas demandam estudos que explorem sua relação com métodos instrumentais objetivos.

A escassez de estudos acerca deste tema despertou o interesse de fonoaudiólogas especialistas em fissura labiopalatina do Brasil e da Suécia16,17 a desenvolverem estudos com a finalidade de acrescentar informações objetivas às ferramentas subjetivas utilizadas para previsão da função velofaríngea. Além disso, há o interesse em se investigar a influência do background linguístico do ouvinte, o que pode impactar os resultados de investigações translinguísticas, prejudicando assim, a confiabilidade de estudos multicêntricos importantes.

Recentemente, Scarmagnani, Yamashita e Lohmander16, investigaram a correlação entre a C- CVF e as medidas da área do orifício velofaríngeo determinadas pela técnica fluxo-pressão e verificaram correlação positiva significativa entre a C-CVF e a área velofaríngea (quanto maior a área velofaríngea, pior a C-CVF). Neste caso, houve boa correlação (r=0,68; p=0,00) para a avaliadora com o mesmo background linguístico da amostra e moderada (r=0,48; p=0,00) para a avaliadora com background linguístico diferente da amostra analisada. No presente estudo, essa correlação foi moderada (r=0,43; p=0,00) para a avaliadora com o mesmo background linguístico da amostra e razoável, porém não significativa (r=0,25; p=0,06) para a avaliadora com background linguístico diferente da amostra analisada.

Uma hipótese que possa justificar esse resultado pode ser o fato de que a nasometria determina um único sintoma da DVF, a hipernasalidade, enquanto a C-CVF é julgada com base no funcionamento velofaríngeo global o que compreende todos os sintomas de fala relacionados à DVF.

Além disso, o background linguístico mostrou ter influência tanto na correlação da C-CVF com a nasalância, quanto na concordância interavaliadoras. No estudo de Lohmander e colaboradores8, onde a C-CVF foi feita por ouvintes com o mesmo background linguístico, a porcentagem de concordância interavaliadoras foi de 78%.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 99 Capítulo 38 O uso da classificação global perceptivo-auditiva da competência velofaríngea e a nasalância: correlação com o background linguístico do ouvintes

CONCLUSÃO

A boa correlação entre a medida objetiva da hipernasalidade (nasometria) e a C-CVF global sugere que tal instrumento pode ser uma ferramenta válida para estimar a função velofaríngea, auxiliando o fonoaudiólogo na avaliação, diagnóstico e tratamento. Contudo, os resultados também mostraram que o background linguístico do ouvinte pode influenciar na previsão da competência velofaríngea. Esta variável deve ser alvo de futuras investigações.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 100 Capítulo 38 O uso da classificação global perceptivo-auditiva da competência velofaríngea e a nasalância: correlação com o background linguístico do ouvintes

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Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 101 Capítulo 39 Recurso tecnológico para a educação em saúde: enfoque na desordem temporomandibular capítulo 39 RecuRso tecnoLÓGico paRa a educação em saÚde: enFoQue na desoRdem tempoRomandiBuLaR

Feature technology for health education: focus on temporomandibular disorder

Leandro de Freitas Silva; maíara alves do nascimento; Renata Lígia Lima Batista; Victor costa alves medeiros Vieira centro universitário de João pessoa (unipÊ), João pessoa-pB

ARTIGO ORIGINAL

DESCRITORES: Transtornos da Articulação Mandibular; Telemedicina; Sinais e Sintomas e Fonoaudiologia

INTRODUÇÃO

O funcionamento incorreto da Articulação Temporomandibular (ATM) recebe o nome de Desordem Temporomandibular (DTM) e pode ser classificado de origem muscular ou articular.1

A DTM é de etiologia não especifica, mas existem fatores desencadeadores, contínuos e colaboradores ao presente transtorno. A sintomatologia mais frequente é de dor2, sendo referida também otalgia, estalos, cefaleia, dificuldades para mastigar e limitações de abertura de boca. O tratamento pode ser multiprofissional, cabendo à Fonoaudiologia o papel de restabelecer o tônus da musculatura orofacial e cervical, as funções estomatognáticas, a mobilidade mandibular, resgatar a dimensão vertical para desenvolver o espaço articular e reduzir a dor das respostas dos pontos desencadeadores3 e também na conscientização dos mecanismos aliviadores de tensão4.

Para facilitar o processo de intervenção das problemáticas em saúde como a descrita anteriormente, buscam-se, continuamente, formas que favoreçam o alcance da população quanto ao conhecimento a cerca destas, sendo uma delas, a Tecnologia em Saúde. Tal recurso possui, cada vez mais, capilaridade na rotina fonoaudiológica, tendo em vista a praticidade e aceitabilidade junto aos pacientes. Esta pesquisa apresenta uma tecnologia diferenciada, com destaque para sua praticidade, podendo ser objetiva ao público com DTM.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 102 Capítulo 39 Recurso tecnológico para a educação em saúde: enfoque na desordem temporomandibular

OBJETIVO

Apresentar ferramentas de um aplicativo direcionado a pacientes com desordem temporomandibular (DTM).

MÉTODOS

A fundamentação científica para construção do aplicativo, denominado DTMais, constitui-se de artigos pesquisados nas bases de dados eletrônicos Scielo e Medline, publicados entre os anos de 2000 a 2015. Foram utilizados os descritores, no idioma Português: “Transtornos da Articulação Mandibular” “Telemedicina”, “Sinais e Sintomas” e “Fonoaudiologia”. Os critérios inclusão adotados foram: publicações dos últimos quinze anos, artigos publicados no Brasil e artigos enquadrados no escopo do objetivo da pesquisa. O aplicativo foi construído através de site flipgo.com.br/ que fornece ao usuário a possibilidade de criar aplicativos gratuitos. A partir deste, é fornecido um código, Qr código, que permite acesso gratuito e remoto aos usuários por meio do uso de smartphone/tablet conectado à internet.

RESULTADOS

O DTMais apresenta informações relevantes às pessoas com DTM, por meio de funções que o recurso vem a oferecer, tais como ilustrações dinâmicas da anatomia e movimentos da ATM, vídeos explicativos com massagens para DTM, reportagens, entrevistas com profissionais, artigos científicos, orientações, auto avaliação e contatos telefônicos para procurar um possível atendimento dentro do município de João Pessoa e cidades próximas, com uma linguagem de fácil entendimento pela população em geral. A seguir, encontram-se as telas disponibilizadas pelo recurso tecnológico em discussão:

Figura 1. Qr Código do aplicativo Figura 2. Logotipo do aplicativo DTMais. DTMais.

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Figura 3. Tela inicial do DTMais Figura 4. Tela de informações Figura 5. Tela de ilustrações do do DTMais. DTMais.

Figura 6. Tela de links sobre o Figura 7. Tela de Autoavaliação Figura 8. Tela que dá acesso assunto do DTMais. do DTMais. aos contatos do DTMais.

DISCUSSÃO

As queixas mais frequentes em casos de DTM são de dor, com maior prevalência, estalos, cefaleia e limitação na abertura de boca5, o que pode ocasionar dificuldades para articular a fala e incômodo no processo de mastigação, tendo em vista as limitações articulares. Há ainda, presença de sintomas auditivos em pacientes com DTM: plenitude auricular, otalgia e zumbido6.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 104 Capítulo 39 Recurso tecnológico para a educação em saúde: enfoque na desordem temporomandibular

A indicação terapêutica correta e segura é aquela realizada a partir de uma avaliação de todos os sintomas e da atuação de uma equipe multidisciplinar fundamental, composta por: cirurgiões dentistas, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, além de psicólogos, neurologistas e otorrinolaringologistas que juntos detectam os fatores causais, e realizam suas intervenções de acordo com sua área de atuação1. Estes profissionais devem demonstrar aprofundado conhecimento sobre: etiologia do problema, métodos de diagnóstico, hábitos do paciente, faixa etária onde mais ocorre a disfunção, e métodos de tratamento mais eficientes e adequados para cada caso5. É possível encontrar na literatura5, inúmeras formas de tratamento como as massagens, terapias miorelaxantes, terapia física, mioterapia, ajuste oclusal, dentística, placas e férulas, e, em últimos casos, as técnicas ditas como irreversíveis e as cirurgias.

Os indivíduos, atualmente, estão cada vez mais preocupados com sua saúde, adotando, assim, postura ativa diante do cenário de saúde e bem estar em que se encontram7, tornando o diagnóstico das doenças mais fáceis, tendo em vista que os mesmos estão apresentando frequência maior de idas às unidades de saúde. Os casos de DTM estão aumentando gradativamente8, devido a fatores como estresse, problemas emocionais, rotina, ansiedade, insônia, dentre outros, justificando a necessidade de um plano para educação em comunidade voltado tanto para os fatores causais das disfunções temporomandibulares - a promoção da saúde - como para o tratamento da mesma, preconizando o fato de que se trata de temáticas complementares.

A partir de Planos de Educação em Comunidade8, é possível prevenir e até mesmo diagnosticar pacientes com DTMs, levando os mesmos, por muitas vezes, a procurar o tratamento ainda no estágio inicial da disfunção, não acarretando assim, tanto desconforto em sua saúde e promovendo melhor qualidade de vida para o mesmo. Seguindo o pensamento de prevenção de doença e promoção em saúde, a Tecnologia em Saúde exerce papel de auxílio na execução desse trabalho, podendo ser aplicado como aprendizagem móvel, que se concretiza através de informações para ensino da população por meio de dispositivos móveis, como smartphones, ipods e tablets, trazendo ganhos e possibilidades de transmitir o conhecimento a qualquer momento e em qualquer lugar9.

O DTMais permite ao usuário a possibilidade de acessar informações desde a anatomia da ATM até a auto avaliação do quadro da DTM. Na página inicial do mesmo, é possível encontrar a área de informações, que apresenta as definições e principais informações acerca do tema abordado, ao lado, há um acesso à galeria, que traz imagens que ilustram a anatomia da ATM, bem como a representação da disfunção dessa articulação. Ainda na página inicial, é possível encontrar links que encaminham os usuários a uma ampla navegação pelo tema, destinando-os a sites e pesquisas cuja temática principal é a DTM. A auto avaliação é o espaço onde se torna possível responder perguntas que podem sugerir a presença ou não de uma alteração na ATM. A tela de contatos permite acesso aos números e e-mails que podem ser buscados para informações mais detalhadas acerca do atendimento fonoaudiológico gratuito para os casos de DTM.

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Dessa forma, o aplicativo desenvolvido pelos pesquisadores foi criado para beneficiar os pacientes que utilizam a tecnologia no seu dia a dia e também o profissional, a fim de propiciar novo meio de orientação, esclarecimentos, diagnóstico precoce e informações sobre onde localizar um campo para atendimento gratuito em João Pessoa e cidades circunvizinhas. O aplicativo apresenta-se com uma interface de rápido acesso e fácil entendimento, favorecendo ao usuário um menu em sua pagina inicial contendo os seguintes informes: Informações, Galeria, Links, Autoavaliação e Contato. O DTMais vem facilitar a vida do cliente, por ser um meio de fácil acesso e favorecer conhecimento em apenas um local, podendo ser acessado em qualquer lugar e horário, trazendo mais comodidade aos usuários.

CONCLUSÃO

O DTMais constitui uma ferramenta de fácil compreensão para favorecer as atividades de educação em saúde voltadas às pessoas com DTM. O recurso tecnológico visa a contribuir com orientações e informações quanto a um local gratuito para atendimento, sendo também, capaz de promover resultados expressivos no autocuidado.

REFERÊNCIAS

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otológicos e orofaciais. Rev. Brasileira de Otorrinolaringologia 2004, vol.70, n.6, pp. 786-93. Disponível em: << http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-72992004000600014&script=sci_arttext >> Acesso em: 24 de Novembro de 2015.

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Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 107 Capítulo 40 Sucção não-nutritiva em recém-nascidos a termo: comparação entre avaliação clínica e instrumental capítulo 40 sucção não-nutRitiVa em RecÉm-nascidos a teRmo: compaRação entRe aVaLiação cLÍnica e instRumentaL

Non-nutritive sucking in full-term newborns: a comparison between clinical and instrumental evaluation

daniela matias von Randow1, maila Gil pedrosa2, camila alexandra Vilaça Ramos3, Andréa Rodrigues Motta4 universidade Federal de minas Gerais – uFmG – Belo horizonte (mG), Brasil.

ARTIGO ORIGINAL

DESCRITORES: Fonoaudiologia, Comportamento de Sucção, Bioengenharia, Equipamentos de Medição, Comportamento Alimentar

INTRODUÇÃO

A sucção é uma das funções orais do ser humano, sendo essencial para a alimentação nos primeiros meses de vida. Além de sua importância na nutrição do recém-nascido (RN), é por meio da sucção que o sistema sensório motor oral se desenvolve. Existem dois tipos de sucção: nutritiva e não- nutritiva.

A sucção não-nutritiva envolve as mesmas estruturas orais da sucção nutritiva, porém ocorre na ausência do alimento em cavidade oral. Além disso, apresentam ritmos e padrões diferentes. A sucção nutritiva constitui-se de um padrão mais lento de sugadas, com longos grupos de sucção e curtos períodos de pausas enquanto que a sucção não-nutritiva constitui-se de grupos curtos de sucção, com longas pausas(1,2). Embora diferentes, é por meio da estimulação da sucção não-nutritiva que o recém- nascido se torna apto mais precocemente à sucção nutritiva. Portanto, o treino não-nutritivo é considerado uma intervenção essencial realizada pelo fonoaudiólogo.

No Brasil, em ambiente neonatal, o fonoaudiólogo é o profissional apto a avaliar clinicamente a anatomia e as funções do sistema estomatognático do recém-nascido, para detectar possíveis alterações

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 108 Capítulo 40 Sucção não-nutritiva em recém-nascidos a termo: comparação entre avaliação clínica e instrumental e intervir quando necessário, possibilitando uma maior maturação da função de sucção. Uma maior maturação desta se relaciona com melhores habilidades de alimentação e reflete em menor tempo de transição da alimentação enteral para a via oral plena(3) e, consequentemente, menor tempo de internação hospitalar(4). A longo prazo, uma sucção adequada reflete na melhora das estruturas e funções do sistema estomatognático como: mastigação efetiva, articulação correta dos sons da fala e padrão adulto de deglutição, habilidades orais que permitem uma adequada transição alimentar e erupção dentária(5,6).

OBJETIVO

Comparar os resultados da avaliação perceptiva com os resultados da avaliação quantitativa da pressão de sucção não-nutritiva em recém-nascidos a termo.

MÉTODOS

Participaram da pesquisa, 29 bebês nascidos com idade gestacional igual ou superior a 37 semanas (recém-nascidos a termo), sem intercorrências, que foram submetidos a dois tipos de avaliação: primeiramente à avaliação fonoaudiológica da sucção não-nutritiva (avaliação clínica de rotina) por meio de protocolo validado(7) e, em seguida, à avaliação da pressão de sucção não-nutritiva com um aparelho desenvolvido pelo Grupo de Engenharia Biomecânica da Universidade Federal de Minas Gerais, em conjunto com o Centro de Inovação e Tecnologia – SENAI FIEMG – Campus CETEC.

O aparelho é constituído por uma ponta probatória (que é introduzida na cavidade oral), conectores (que interligam a ponta probatória ao sensor de vácuo), um sensor de vácuo (que capta a pressão negativa e gera um sinal que devidamente tratado, é transmitido, processado e armazenado em meio digital) e um sistema de armazenamento e análise de dados. Por meio dele é possível obter as seguintes medidas: número de sucções, tempo de eclosão, tempo de sucção, tempo de pausa, frequência de sucção, período de sucção, valor máximo de pressão, valor mínimo de pressão e média dos picos de pressão. Foram realizadas três medições da sucção não-nutritiva com este aparelho para cada bebê (sendo cada uma de dois minutos) com intervalo de dois minutos entre elas.

Os resultados foram obtidos pela comparação dos achados da avaliação clínica fonoaudiológica da pressão de sucção com as medidas de pressão obtidas pelo equipamento, por meio do teste de Mann- Whitney, ao nível de 5%.

A pesquisa foi aprovada pelos dois CEP das instituições envolvidas no estudo, sob os números 806.1777 e 783.639.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 109 Capítulo 40 Sucção não-nutritiva em recém-nascidos a termo: comparação entre avaliação clínica e instrumental

RESULTADOS

Verificou-se um número semelhante de meninos e meninas na amostra, a maioria nasceu na faixa de 37 a 40 semanas de idade gestacional, foi avaliado no primeiro dia de vida, estando parte no estado comportamental de sonolência e parte em alerta inativo. Embora a avaliação tenha sido realizada em RN saudáveis, os valores dos parâmetros obtidos por meio da avaliação instrumental são bastante heterogêneos.

O número de sucções nos RN que iniciaram facilmente a função foi maior do que naqueles que não a iniciaram com facilidade, assim como nos RN que apresentaram sinais de estresse durante a avaliação perceptiva. O número de sucções na avaliação instrumental foi maior em RN que apresentaram acanolamento, peristaltimo, elevação e rebaixamento de mandíbula, força e ritmo de sucção durante toda a avaliação perceptiva.

Verificou-se maior pico de pressão na avaliação instrumental tanto nos RN que apresentaram força de sucção quanto ritmo ao longo de toda a avaliação perceptiva. A média dos picos de pressão foi maior nos RN que mantiveram ritmo de sucção durante o exame perceptivo “sempre”.

O tempo de eclosão e de sucção foi maior nos RN com acanolamento, elevação e rebaixamento da mandíbula, força e ritmo de sucção sistemáticos. Da mesma forma, o tempo de sucção também foi maior nos RN com peristaltismo avaliado como “sempre”. Observou-se tempo de pausa maior nos RN com elevação e rebaixamento da mandíbula em toda a avaliação perceptiva.

DISCUSSÃO

Diversos estudos relatam equipamentos que medem a pressão de sucção em RN, entretanto foi encontrado apenas um trabalho na literatura(8) que compara a avaliação clínica e a instrumental. No referido trabalho foi demonstrada a concordância entre os resultados de ambas as avaliações, sendo os achados da avaliação clínica valores aproximados e da instrumental valores precisos.

Diversas associações indicaram a relação entre a avaliação fonoaudiológica e a instrumental. Observou-se diferença estatisticamente significante tanto entre as variáveis incluídas nos itens positivos quanto nos itens negativos do protocolo. Dentre as variáveis perceptivas, o ritmo de sucção foi o que mais apresentou associação com a avaliação instrumental, seguido da força de sucção e dos movimentos mandibulares. As variáveis reflexo de procura, mordidas, excursões exageradas de mandíbula, vedamento labial e coordenação de lábio, língua e mandíbula não apresentaram associação com nenhum dos parâmetros da avaliação instrumental.

No presente estudo não foi possível distribuir uniformemente os indivíduos entre as variáveis do protocolo, o que levou a grupos de comparação com números muito diferentes entre si, podendo

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 110 Capítulo 40 Sucção não-nutritiva em recém-nascidos a termo: comparação entre avaliação clínica e instrumental gerar influência nos resultados. Para estudos futuros, sugere-se a coleta do mesmo RN em horários distintos do dia para realizar a avaliação em estados comportamentais adequados, como alerta, e analisar se há diferença da resposta da sucção não-nutritiva em diferentes momentos do dia. Além disso, é importante uma amostra com um número maior de participantes, permitindo uma análise com maior força estatística. Será importante também que outros fonoaudiólogos com experiência na área realizem a avaliação clínica para análise de concordância.

Considerando a escassez de publicações nessa área, torna-se evidente a importância desse estudo para os profissionais que atuam com a sucção não-nutritiva e o aleitamento materno. Os resultados reforçam a capacidade do fonoaudiólogo em realizar uma avaliação perceptiva confiável e adequada.

CONCLUSÃO

A avaliação instrumental utilizada e a avaliação fonoaudiológica obtiveram resultados que se associaram, o que indica que o fonoaudiólogo é capaz de avaliar de forma qualitativa e fidedigna a pressão intra-oral de sucção de RN, além de outros parâmetros da avaliação da sucção não-nutritiva.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 111 Capítulo 41 Tipo mastigatório e coordenação neuromuscular em adultos com e sem fissura labiopalatina capítulo 41 tipo mastiGatÓRio e cooRdenação neuRomuscuLaR em aduLtos com e sem FissuRa LaBiopaLatina

Types of mastication and neuromuscular coordination in adults with and without cleft lip and palate

Tatiane Totta1, Raquel Rodrigues Rosa2, estefânia Leite prandini1, Giédre Berretin-Felix2, cláudia maria de Felício3, Katia Flores Genaro1,2 1. hospital de Reabilitação de anomalias craniofaciais (hRac-usp), Bauru, sp. 2. Faculdade de odontologia de Bauru (FoB-usp), Bauru, sp. 3. Faculdade de medicina de Ribeirão preto (FmRp-usp), Ribeirão preto, sp.

ARTIGO ORIGINAL

DESCRITORES: Mastigação. Eletromiografia. Fissura palatina. Fissura labial. Má oclusão.

INTRODUÇÃO

O tipo mastigatório (TM) pode influenciar no sistema estomatognático (SE), como nos casos com disfunção temporomandibular (DTM), em que o padrão unilateral está geralmente presente1. O padrão bilateral alternado (BA) é considerado fisiológico2 e propicia melhor desempenho mastigatório3, embora a preferência unilateral possa ser encontrada na população em geral4. A fissura labiopalatina (FLP) favorece a discrepância maxilomandibular (DMM) como efeito iatrogênico das cirurgias primárias, o que demanda tratamento ortodôntico e ortognático5, pois altera a harmonia do SE. Entretanto, nessa população, ainda não há clareza quanto à influência do tipo mastigatório (TM) na coordenação neuromuscular da mastigação.

OBJETIVO

Avaliar a coordenação neuromuscular nos diferentes tipos mastigatórios em adultos com FLP unilateral, comparativamente a indivíduos normoclusais.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 112 Capítulo 41 Tipo mastigatório e coordenação neuromuscular em adultos com e sem fissura labiopalatina

MÉTODO

Estudo transversal aprovado pelo Comitê de Ética da instituição de origem (CAAE: 26648914.5.0000.5441), desenvolvido com 50 adultos entre 18 e 28 anos (média: 19,15±2,9), divididos em dois grupos. O grupo controle (GC) constituiu-se por 25 indivíduos (12 homens e 13 mulheres), com boa saúde geral e oral (mínimo de 28 dentes, sem má oclusão) e sem DTM conforme o protocolo Research Diagnostic Criteria for Temporomandibular Desorders - Eixo I6. O grupo Fissura (GF) formou- se com 25 indivíduos (15 homens e 10 mulheres) com FLP unilateral operada e não sindrômica, com mordida cruzada posterior bilateral, dos quais apenas uma paciente apresentou DTM articular à direita (deslocamento de disco com redução).

Avaliou-se a mastigação habitual de biscoito sabor chocolate7, cujas imagens foram registradas com câmera digital (Sony DSC-HX1 9.1MP) posicionada em tripé à frente do indivíduo sentado e com os pés apoiados. Três avaliadoras experientes classificaram o TM: Bilateral Alternada (BA), quando os ciclos mastigatórios (CM) ocorreram 50% em cada lado ou 40% de um lado e 60% do outro; Unilateral preferencial grau I (Uni1), quando um lado predominasse entre 61% e 77% dos CM; Unilateral preferencial grau II (Uni2), quando os CM ocorreram entre 78% e 94% em um único lado; Unilateral Crônico (UC), quando a trituração do alimento ocorreu entre 95% e 100% de um mesmo lado; e Bilateral Simultânea (BS), quando ambos os lados foram sincronicamente utilizados em 95% das vezes7,8.

A concordância (Kappa) de cada avaliadora com a opinião da maioria demonstrou concordância substancial para a avaliadora 1 e moderada para as demais. Na avaliação eletromiográfica realizou-se a limpeza da pele com álcool 70% na região dos músculos masseter e temporal anterior e posicionou-se eletrodos bipolares de superfície (AgCl) paralelos às fibras musculares. Um Eletromiógrafo BTS FREEEMG 300, de oito canais (BTS Bioengineering®) foi utilizado e na análise foram empregados os programas BTS Dental Contact Analyse e Smart Analyser-MatLab2011, seguido pelo “differential Lissajous EMG figure”. O sinal foi normalizado pela máxima contração voluntária com dois roletes de algodão posicionados, bilateralmente, na região dos primeiros molares/segundo pré-molares, que deveriam ser fortemente comprimidos por 5 segundos9.

Registrou-se a atividade eletromiográfica durante a máxima contração voluntária em intercuspidação dentária (MCV), sendo captado pelo software o melhor período de 3 segundos; e durante a mastigação unilateral (MU) de goma de mascar, por 15 segundos, em cada lado separadamente. Uma análise bivariada foi utilizada e relaciona-se à atividade diferencial dos músculos masseter e temporal, simultaneamente, denominada Lissajous plot9, representada por uma figura de forma elíptica formada por pontos que correspondem aos ciclos mastigatórios (CM), plotados em eixos cartesianos. Da MCV obtiveram-se os parâmetros: POC (simetria entre pares musculares contralaterais); TORQUE (força de deslocamento lateral gerada pela contração desequilibrada dos músculos contralaterais masseter e temporal); e Activity Index – Ac (determina se há predomínio da atividade de

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 113 Capítulo 41 Tipo mastigatório e coordenação neuromuscular em adultos com e sem fissura labiopalatina um par muscular)7,9. Da MU calcularam-se os parâmetros: IMPACTO (a energia muscular empregada no teste eletromiográfico da mastigação); Elipse de Confiança (corresponde à estatística computada para avaliar a reprodutibilidade dos padrões de contração dos músculos masseter e temporal direito versus masseter e temporal esquerdo); SMI (simetria das mastigações); frequência mastigatória (número de ciclos mastigatórios/tempo); e o parâmetro %Trabalho dos músculos masseter e temporal (percentual da atividade produzida pelos músculos de trabalho em relação aos de balanceio balanceio)7.

Na análise dos dados aplicou-se o teste Qui-Quadrado de Pearson nas comparações entre os TM para cada grupo; o teste ANOVA a um critério nas comparações dos parâmetros eletromiográficos relacionadas aos TM bilateral alternado versus unilateral (agrupando-se os tipos unilaterais) no GF e o teste T de Student no GC, pois somente dois indivíduos deste grupo apresentavam TM bilateral simultâneo e foram apresentados na forma descritiva. Em todas as análises o nível de significância adotado foi p≤0,05.

RESULTADOS

Os tipos mastigatórios encontrados, respectivamente, para GF e GC foram: BA=44% e 72%, BS=16% e 8%, Uni1=16% e 20%, Uni2=24% e 0%, com maior ocorrência de mastigação BA no GC (p=0,0001) e Uni2 no GF (p=0,001). Quando comparados os parâmetros eletromiográficos segundo o padrão mastigatório unilateral ou bilateral alternado, no GC verificou-se maior média de POC temporal (p=0,0165), menor média da elipse de confiança na mastigação à direita (p=0,0174) e menor média de IMPACTO (p=0,0363) nos indivíduos com mastigação BA, enquanto no GF não houve diferença entre os distintos TM para os parâmetros eletromiográficos avaliados.

DISCUSSÃO

A avaliação clínica da mastigação demonstrou predomínio de TM bilateral alternado no GC, concordando com um estudo semelhante que avaliou indivíduos normoclusais7, e pode ser justificado pela existência de uma relação oclusal adequada1, assim como pela ausência de sinais e sintomas de DTM, que se presentes, favoreceriam a ocorrência maior do tipo mastigatório unilateral10. A menor ocorrência dos TM unilaterais preferenciais e bilateral simultâneo no GC também concorda com a literatura7,11, assim como, a preferencial unilateral pode ser o padrão dominante em indivíduos sem DTM4.

Já no grupo GF, a variação entre os TM pode ser atribuída à desarmonia dento-oclusal que pode prejudicar a lateralidade mandibular e modificar o tipo mastigatório2, como ocorre na má oclusão classe III esquelética, em que há predomínio de mastigação unilateral crônica12, embora esse TM não

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 114 Capítulo 41 Tipo mastigatório e coordenação neuromuscular em adultos com e sem fissura labiopalatina tenha sido encontrado nos indivíduos desse estudo. No GF, uma paciente com DTM apresentou mastigação Uni11, sendo que a preferência mastigatória unilateral e o desempenho mastigatório podem estar vinculados às interferências oclusais e à severidade da DTM1, além do gênero feminino apresentar maior ocorrência devido a fatores hormonais, biológicos e emocionais13. O GF apresentou grande variedade na distribuição dos TM, semelhante ao ocorrido em indivíduos com DTM crônica7, no entanto, a DTM foi excluída para 96% desse grupo.

Quanto aos parâmetros eletromiográficos, os indivíduos com mastigação BA do GC apresentaram maior simetria na distribuição da atividade muscular entre os músculos temporais na MCV; maior reprodutibilidade dos padrões de contração dos músculos masseter e temporal direitos, e empregaram menor energia muscular no teste eletromiográfico da mastigação quando comparados àqueles com TM unilateral, o que demonstra maior coordenação neuromuscular mastigatória. Ainda assim, os diferentes TM no GC não evidenciaram alterações nas simetrias dos padrões mastigatórios unilaterais, no deslocamento lateral, no predomínio de par mastigatório, nas frequências mastigatórias e na atividade realizada pelos músculos dos lados de trabalho e balanceio.

Por outro lado, os achados do GF evidenciam que, embora a discrepância maxilomandibular possa afetar a coordenação muscular na mastigação em jovens14, nos casos avaliados neste estudo que apresentavam FLP associada à DMM, essa alteração não foi distinta entre os diferentes TM, para os parâmetros eletromiográficos avaliados. Considerando-se a FLP unilateral, a ausência de diferença entre os parâmetros concorda com a semelhante força de mordida entre os lados com e sem fissura demonstrada na literatura15.

CONCLUSÃO

A coordenação neuromuscular mastigatória para os diferentes tipos de mastigação foi semelhante no GF, enquanto no grupo controle os valores foram maiores para POC temporal, houve maior reprodutibilidade dos padrões de contração dos músculos mastigatórios direito, e verificou-se menor gasto energético muscular no teste eletromiográfico da mastigação.

REFERÊNCIAS

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Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 115 Capítulo 41 Tipo mastigatório e coordenação neuromuscular em adultos com e sem fissura labiopalatina

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Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 116 pôsteRes

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 117 Capítulo 42 A cirurgia ortognática com avanço de maxila pode eliminar a hiponasalidade em indivíduos com fissura labiopalatina e retalho faríngeo? capítulo 42 a ciRuRGia oRtoGnática com aVanço de maxiLa pode eLiminaR a hiponasaLidade em indiVÍduos com FissuRa LaBiopaLatina e RetaLho FaRÍnGeo?

Can surgical maxillary advancement eliminate hyponasality in individuals with cleft palate and pharyngeal flap?

Maria Natália Leite de Medeiros, andressa sharllene carneiro da silva, ana paula Fukushiro, Flávia Ferlin, Renata paciello Yamashita hospital de Reabilitação de anomalias craniofaciais (hRac-usp), Bauru-sp

ARTIGO ORIGINAL

DESCRITORES: Fissura palatina. Cirurgia Ortognática. Fala.

INTRODUÇÃO

Indivíduos com fissura labiopalatina (FLP) podem apresentar discrepâncias maxilomandibulares que, muitas vezes, necessitam de procedimento cirúrgico para sua correção, sendo a cirurgia ortognática com avanço de maxila (CO) o procedimento mais utilizado para reposicionar os arcos dentários1,2,3. Este procedimento tem um efeito potencialmente benéfico sobre a respiração ao aumentar o espaço nasofaríngeo, ampliar a válvula nasal e verticalizar o septo nasal4. No entanto, em pacientes com FLP reparada e ressonância oronasal equilibrada, a CO pode contribuir para o aparecimento da insuficiência velofaríngea (IVF), na medida em que o palato é tracionado para uma posição mais anterior4,5,6,7, sendo a hipernasalidade o seu sintoma mais comum8.

De modo geral, para a correção desse sintoma, é necessária uma cirurgia secundária do palato e o retalho faríngeo (RF) tem sido o procedimento cirúrgico mais utilizado9. Consiste na construção de uma ponte de tecido miomucoso que une a parede posterior da faringe ao palato mole, delimitando dois orifícios laterais com o objetivo de obstruir a nasofaringe, reduzindo a área de escape de ar

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 118 Capítulo 42 A cirurgia ortognática com avanço de maxila pode eliminar a hiponasalidade em indivíduos com fissura labiopalatina e retalho faríngeo? decorrente da IVF9,10. No entanto, embora este procedimento seja eficaz para a eliminação da hipernasalidade, pode levar ao aparecimento de sintomas como hiponasalidade e obstrução nasal crônica das vias aéreas superiores11.

Na cronologia do tratamento cirúrgico secundário da FLP, a CO deve ser realizada, idealmente, antes da cirurgia de RF, pois o retalho mantém o palato mole permanentemente aderido à parede posterior da faringe e, na ocasião da CO, a anteriorização das estruturas pode levar à deterioração ou mesmo à perda total do RF12. Entretanto, alguns pacientes com indicação para realizar a CO ainda não atingiram a idade adulta e, a presença da IVF representa prejuízo significativo da inteligibilidade da fala, o que torna prioritária a correção cirúrgica da IVF a fim de eliminar os sintomas de fala.

OBJETIVO

Investigar a influência da CO sobre a hiponasalidade da fala de indivíduos submetidos à cirurgia de RF antes da CO.

MÉTODOS

Foram analisados os escores de nasalância de 24 pacientes com FLP reparada e RF, de ambos os sexos, com idade entre 19 e 36 anos (23±4 anos).

Somente foram incluídos no estudo os pacientes que apresentavam valores de nasalância indicativos de hiponasalidade e trespasse horizontal negativo, confirmando a discrepância maxilomandibular antes da CO.

Todos os pacientes foram submetidos à nasometria em média, 03 dias antes (PRÉ) e, aproximadamente, 13 meses após a CO (PÓS).

O exame foi realizado utilizando-se um nasômetro (modelo 6200-3 Kay Elemetrics Corp.), cujo sistema é composto por dois microfones separados por uma placa de metal, posicionada acima do lábio superior do indivíduo mantida em posição por um capacete. O microfone superior capta os sinais do componente nasal da fala e o inferior, os sinais do componente oral, os quais são processados por meio de um software específico (versão 30-02-3.22). A Figura 1 mostra a configuração do sistema.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 119 Capítulo 42 A cirurgia ortognática com avanço de maxila pode eliminar a hiponasalidade em indivíduos com fissura labiopalatina e retalho faríngeo?

Figura 1. Instrumentação utilizada para determinação da nasalância (Nasômetro 6200-3 IBM, Kay Elemetrics Corp., Lincoln Park, NJ, USA).

A nasalância (correlato acústico da nasalidade) é determinada durante a leitura de 5 sentenças contendo sons predominantemente nasais (texto nasal) para identificação da hiponasalidade13, considerando-se como limite inferior de normalidade o valor de 43%. Assim, valores inferiores a 43% no texto nasal são considerados como sugestivos de hiponasalidade14.

A análise da diferença da nasalância antes e após a CO foi realizada por meio do Teste t pareado sendo considerado como significantes os valores de p<0,05.

RESULTADOS

Verificou-se após o avanço de maxila que 83% (20/24) dos pacientes passaram a apresentar escores de nasalância superiores a 43%, indicando ausência de hiponasalidade. Os demais 17% (4/44) mantiveram escores de nasalância indicativo de hiponasalidade. O valor médio de nasalância obtido antes da CO foi de 37%, indicativo de hiponasalidade. Após a cirurgia, o escore médio de nasalância passou a 47%, indicativo de ausência de hiponasalidade. A análise dos dados mostrou que a diferença entre os escores médios PRÉ e PÓS-CO foi estatisticamente significante (p<0,001). A Tabela 1 mostra esses resultados.

Tabela 1. Valores médios, mínimos e máximos dos escores de nasalância obtidos antes (PRÉ-CO) e após (PÓS-CO) a cirurgia ortognática com avanço de maxila.

Escores de Nasalância (%) Média (±DP) Valor Mínimo Valor Máximo

PRÉ-CO 37 (±5) 25 42 PÓS-CO 47 (±8)* 30 62

Escores de nasalância PRÉ-CO vs PÓS-CO – Teste t pareado – *Diferença estatisticamente significante (p<0,001)

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 120 Capítulo 42 A cirurgia ortognática com avanço de maxila pode eliminar a hiponasalidade em indivíduos com fissura labiopalatina e retalho faríngeo?

DISCUSSÃO

Os resultados mostraram que uma porcentagem expressiva de pacientes (83%) com retalho faríngeo e que apresentavam hiponasalidade da fala como um resultado deletério da correção da IVF passou a apresentar escores de nasalância indicativos de ausência de hiponasalidade após a cirurgia de avanço de maxila. Ressalte-se que em nenhum dos casos estudados foi identificada a perda, ou ainda, danos ao retalho faríngeo causado pelo avanço da maxila.

Estudo de Medeiros et al7, que também investigou o efeito do avanço cirúrgico da maxila sobre a hiponasalidade mostrou resultado semelhante de 80% dos indivíduos estudados que deixaram de apresentar o sintoma. No entanto, o estudo se difere pelo fato dos pacientes não terem sido submetidos à cirurgia de RF previamente à CO o que sugere que, independente da presença do retalho faríngeo, o avanço de maxila pode levar a um equilíbrio da ressonância da fala em indivíduos com hiponasalidade. Segundo a literatura4, essas variações na ressonância da fala, provavelmente, são causadas pelo aumento da área velofaríngea e à modificação das dimensões nasais internas promovidas pela CO associada, muitas vezes, a algum procedimento cirúrgico nasal. Os autores verificaram, por meio de exames instrumentais, aumento significativo dos escores de nasalância e dos valores de área velofaríngea e, identificaram, ainda, aumento significativo dos valores de área nasal em 73% dos indivíduos.

No presente estudo, dos 24 indivíduos avaliados, 21 realizaram procedimento cirúrgico nasal (septoplastia e/ou turbinectomia) no momento da CO, o que pode ter favorecido a eliminação da hiponasalidade.

Estudo anterior realizado por Medeiros et al14 mostrou que a CO foi responsável pela mudança da ressonância em apenas 31% dos indivíduos com retalho faríngeo e ressonância oronasal equilibrada da fala, os quais passaram a apresentar hipernasalidade. Se compararmos esses resultados à proporção de 83% de indivíduos do presente estudo em que houve a eliminação da hiponasalidade, pode-se constatar que as mudanças na ressonância da fala causadas pela CO foram mais evidentes em indivíduos cuja ressonância encontrava-se hiponasal antes do avanço de maxila. Isto reforça a possibilidade de que, as mudanças da ressonância da fala após a CO são decorrentes, também, do efeito da cirurgia sobre das vias aéreas nasais.

CONCLUSÃO

Os resultados do presente estudo sugerem que a CO, quando realizada em pacientes com retalho faríngeo leva à melhora da ressonância hiponasal, na medida em que pode eliminar o sintoma.

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Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 121 Capítulo 42 A cirurgia ortognática com avanço de maxila pode eliminar a hiponasalidade em indivíduos com fissura labiopalatina e retalho faríngeo?

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Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 122 Capítulo 43 A interdisciplinaridade da Fonoaudiologia na reabilitação da paralisia facial periférica capítulo 43 a inteRdiscipLinaRidade da FonoaudioLoGia na ReaBiLitação da paRaLisia FaciaL peRiFÉRica

Interdisciplinarity of speech therapy in the rehabilitation of facial paralysis

Daniele Fontes Ferreira Bernardes1, maria Valéria schmidt Goffi Gomez2 1. Fono santé, são paulo-sp 2. hospital das clínicas da Faculdade de medicina da universidade de são paulo, são paulo-sp

RELATO DE CASO

DESCRITORES: Paralisia facial. Eletromiografia. Terapia Miofuncional. Biofeedback.

KEYWORDS: Facial paralysis. Electromyography. Miofunctional Therapy. Biofeedback.

TEMA

Pacientes com lesão no nervo facial têm como característica a ausência da mímica facial. Diversas cirurgias têm como objetivo reparar as lesões do nervo fazendo uso de outro par craniano para reinervar o nervo facial, como a anastomose massetérico-facial. A avaliação fonoaudiológica do paciente candidato à cirurgia pode ser realizada com a eletromiografia de superfície para demonstrar quais músculos serão reinervados e através de qual comando motor estes músculos retornarão à mímica facial. A terapia miofuncional está embasada nos resultados desta avaliação objetiva e com o uso do biofeedback eletromiográfico. A monitorização por biofeedback pode ser definida como a técnica pela qual é possível obter informações auditivas ou visuais, da atividade elétrica dos músculos faciais, por meio de eletrodos de superfície inseridos à face.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 123 Capítulo 43 A interdisciplinaridade da Fonoaudiologia na reabilitação da paralisia facial periférica

OBJETIVO

Reabilitar a musculatura dos músculos zigomáticos que foi anastomosada ao nervo trigêmio usando o método de biofeedback eletromiográfico na terapia miofuncional.

PROCEDIMENTOS

Paciente sexo feminino, idade 35 anos, com paralisia facial periférica (PFP) lado direito após cirurgia de exérsere de neurinoma do acústico. Realizou avaliação eletromiográfica de superfície, com o equipamento New MiotoolFace USB Miotec® com 8 canais, software Suíte 1.0 e eletrodos de superfície Double Hal pré e pós-cirurgia para detectar a reinervação dos músculos zigomáticos. Foram realizadas 12 sessões de terapia miofuncional com biofeedback eletromiográfico. Os eletrodos de superfície foram inseridos nos músculos zigomáticos seguindo a direção longitudinal das fibras musculares na hemiface direita e esquerda, tanto para a avaliação da eletromiografia, quanto para a terapia miofuncional com o biofeedback.

Realizou-se a prova eletromiográfica onde o paciente deveria contrair os músculos zigomáticos, durante 8 segundos para se calcular o índice da atividade eletromiográfica (IEMG). Esta prova foi realizada no início de cada sessão de terapia miofuncional, e em seguida foram realizadas dez aquisições de biofeedback. Todas as aquisições de biofeedback eletromiográfico foram realizadas com apoio de apertamento dentário para estimular a inervação dos músculos através da anastomose do nervo trigêmio. Fotos foram registradas do paciente, na avaliação inicial e final durante o movimento de contração dos músculos zigomáticos antes e no final das aquisições de biofeedback eletromiográfico. As curvas das aquisições de biofeedback eletromiográfico, assim como os valores médios das atividades elétricas foram armazenadas para posterior análise.

RESULTADOS

O IEMG da avaliação inicial, pré-cirurgia de anastomose massetérico-facial, obtida nos músculos zigomáticos foi de 0,12. O IEMG da avaliação após 02 meses, da cirurgia de anastomose massetérico- facial, obtida nos músculos zigomáticos com apoio dentário foi de 0,35. Após 12 sessões de terapia miofuncional com as aquisições de biofeedback eletromiográfico realizadas com apoio de apertamento dentário para estimular a inervação dos músculos através da anastomose do nervo trigêmio o IEMG foi de 1,18. Nas aquisições de biofeedback que foram realizadas com apoio de apertamento dentário houve simetria das curvas ao final das 12 sessões de terapia miofuncional. A avaliação clínica registrada através das fotos também demonstrou o retorno da mímica facial dos músculos zigomáticos quando o comando motor dos músculos foi solicitado através do apoio dentário.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 124 Capítulo 43 A interdisciplinaridade da Fonoaudiologia na reabilitação da paralisia facial periférica

DISCUSSÃO

Algumas lesões do nervo facial são tão extensas que necessitam do uso de outro par craniano para reinervar o nervo facial, como a anastomose massetérico-facial1. O cirurgião plástico encaminhou a paciente para uma avaliação eletromiográfica de superfície, com o objetivo de avaliar se a paciente era ou não candidata à cirurgia de anastomose massetérico-facial. A avaliação eletromiográfica de superfície na avaliação fonoaudiológica mostrou a ausência de inervação do facial2. O IEMG de normalidade para os zigomáticos é de: 0.64 a 1.293, como o IEMG foi de 0,12 na avaliação, o IEMG inicia foi baixo3, porém houve referência de atividade muscular suficiente para o cirurgião plástico optar pela reconstrução do facial através da anastomose massetérico-facial. A paciente realizou a cirurgia e após 02 meses da cirurgia de anastomose massetérico-facial o IEMG mostrou o valor de 0,35, demonstrando a efetividade da cirurgia e a fase ideal para iniciar a terapia miofuncional com o biofeedback. A eletromiografia de superfície mostrou ser uma avaliação objetiva capaz de diferenciar as fases de evolução da PFP 4.

O cirurgião plástico encaminhou a paciente para terapia miofuncional com biofeedback após a cirurgia de anastomose massetérico-facial. Após 12 sessões de terapia miofuncional com o biofeedback o IEMG mostrou o valor de 1,18, demonstrando que o IEMG atingiu o valor de normalidade, conferindo a efetividade da cirurgia e da terapia miofuncional com o uso do biofeedback eletromiográfico.

O biofeedback eletromiográfico é um dos mais efetivos instrumentos de reeducação facial muscular, fornece informações (feedback) visuais ou auditivas extremamente sensíveis e em tempo real ao paciente5. Ao longo das 12 sessões de biofeedback a paciente aprendeu a usar o apoio do contato dentário para realizar a atividade de contração funcional dos zigomáticos, ou seja, a paciente mantinha um leve contato dentário ao sorrir. As curvas das aquisições de biofeedback ficaram simétricas ao longo da terapia miofuncional. O trabalho de condicionamento muscular foi reforçado ao longo da sessão de biofeedback e a paciente se conscientizou de seu novo padrão muscular adquirido. Esse treino deve ser realizado até o paciente atingir a automatização desse novo padrão muscular. A técnica de biofeedback eletromiográfico aplicada nas terapias da paralisia facial periférica apresenta as funções de contrair os músculos hipotônicos, monitorar a contração muscular e relaxar os músculos hipertônicos6. No presente caso a técnica foi usada para contrair os músculos zigomáticos7 associado ao apertamento dentário, pois o nervo ativador do facial neste caso é o nervo trigêmio.

CONCLUSÃO

A avaliação eletromiográfica de superfície foi fundamental para demonstrar a reinervação da mímica facial através do comando motor do nervo trigêmio e determinar a reabilitação miofuncional com o biofeedback eletromiográfico, no qual a partir do controle motor do ramo massetérico inserido

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 125 Capítulo 43 A interdisciplinaridade da Fonoaudiologia na reabilitação da paralisia facial periférica no nervo facial a paciente restabeleceu a contração dos zigomáticos, retomando o sorriso espontâneo. A interdisciplinaridade entre a fonoaudióloga e o cirurgião plástico foi fundamental para a boa evolução do caso acima.

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Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 126 Capítulo 44 A oxigenação do músculo masseter durante a mastigação padronizada pode diferenciar mulheres com desordem temporomandibular daquelas saudáveis? capítulo 44 a oxiGenação do mÚscuLo masseteR duRante a mastiGação padRoniZada pode diFeRenciaR muLheRes com desoRdem tempoRomandiBuLaR daQueLas saudáVeis?

Can masseter muscle oxygenation during stardardized chewing differentiate women with temporomandibular disorders from healthy women?

Claudia Lúcia Pimenta Ferreira1, Giuseppe Bellistri1, cláudia maria de Felício2, stefano montagna3, chiarella sforza1 1. università degli studi di milano (milão, itália) 2. universidade de são paulo (Ribeirão preto, Brasil) 3. profissional liberal (parma, itália)

ARTIGO ORIGINAL

DESCRITORES: Transtornos da articulação temporomandibular, espectroscopia de luz próxima ao infravermelho, músculo masseter, mastigação

INTRODUÇÃO

Alterações na função e coordenação muscular podem ser a base de diversos sinais e sintomas de desordem temporomandibular (DTM)(1). Algumas alterações podem estar relacionadas à hiperfunção muscular, por contração isométrica sustentada (ex. apertamento dental) ou por desequilíbrios funcionais, como sobrecargas durante a mastigação. Isto prejudica o fluxo sanguíneo, com consequente falha no suprimento da demanda metabólica, induzindo à isquemia local e hiperemia durante e/ou após a contração. Consequentemente, pode ocorrer sensação de fadiga nos músculos(2).

A Near-infrared spectroscopy (NIRS), em português “espectroscopia de luz próxima ao infravermelho”, é um método não-invasivo, e relativamente baixo-custo, que permite monitorar a oxigenação do tecido, baseado no princípio de que as características de absorção de hemoglobina (Hb)

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 127 Capítulo 44 A oxigenação do músculo masseter durante a mastigação padronizada pode diferenciar mulheres com desordem temporomandibular daquelas saudáveis? e mioglobina (Mb) na luz infravermelha-próxima dependem da sua saturação de oxigênio (StO2)(2,3).

Uma melhor compreensão do papel da StO2 nos mecanismos subjacentes a fadiga nos músculos mastigatórios em pacientes com DTM permite compreender o impacto metabólico nos mecanismos periféricos da dor miofascial, complementando assim, o diagnóstico.

OBJETIVO

Comparar a extração de oxigênio do músculo masseter durante uma tarefa de mastigação em pacientes com DTM miogênica e sujeitos saudáveis. Além disso, foram investigadas possíveis correlações entre a extração de oxigênio, a severidade da desordem e a condição miofuncional orofacial.

MÉTODO

Participaram 22 mulheres, distribuídas em dois grupos: GDTM (N=12; 37±16 anos; IMC: 22±3 kg/m2), de pacientes com DTM miogênica associada ou não ao deslocamento do disco com redução e/ou artralgia, e duração média de 39 meses; e GCTRL (N=10; 24±5 anos; IMC: 20±2 kg/m2), de sujeitos saudáveis. Não houve diferenças entre grupos quanto à idade e características antropométricas (teste Mann-Whitney; p>0,05).

Todos foram avaliados segundo protocolos previamente validados: Researche Diagnostic Criteria for Temporomandibular Disorders – RDC/TMD – Eixo I(4); questionário sobre severidade dos sinais/sintomas de DTM – ProDTMmulti-part II(5); protocolo de Avaliação Miofuncional Orofacial Myofunctional com escores – AMIOFE(6).

Mudanças na Hb oxigenada e desoxigenada e na Mb no músculo masseter foram registradas usando o sistema NIRS (Portamon, Netherlands), nas tarefas de máximo apertamento dental voluntário (MAV) e mastigação unilateral de um dispositivo de silicone, Alifix® (Punto8, Italy), com um intervalo de pelo menos 180 s de repouso entre os testes. Para maiores detalhes sobre o Alifix®, consultar Sforza et al. (2010) (7).

Como registro de normalização foi utilizada a prova de MAV pelo maior tempo possível. Para o teste de fadiga, os participantes mastigaram Alifix® do lado de preferência mastigatória, com sua parte mais espessa posicionada entre o primeiro e segundo molares, por 180 s, com diferentes ritmos incrementais, e com auxílio de um metrônomo: o teste foi iniciado com 0,67 golpes/s durante 30 s, e o ritmo era aumento de 0,25 golpes/s a cada 30 s, até atingir o total de 180 s.

Durante os testes, mudanças nas concentrações de Hb desoxigenada + Mb ( [desoxi(Hb + Mb)]) foram obtidas como variação de um valor arbitrário da linha de base, determinadoΔ como zero. Os dados da extração de oxigênio foram expressos como porcentagem da variação da linha de base,

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 128 Capítulo 44 A oxigenação do músculo masseter durante a mastigação padronizada pode diferenciar mulheres com desordem temporomandibular daquelas saudáveis? determinada após a máxima desoxigenação do músculo, obtida através do MAV mantido até que o resultado da equação [desoxi(Hb + Mb)] alcançasse o plateau. Δ As comparações entre grupos foram realizadas com os testes t-Student, para dados da NIRS, e Mann-Whitney para demais variáveis. O coeficiente de correlação de Spearman analisou correlações entre a extração de oxigênio e escores do AMIOFE e ProDTMmulti. ( : 5%) α

RESULTADOS

O GDTM apresentou menor capacidade de extração de oxigênio durante a mastigação do que o grupo controle (GDTM 63.12±17.58% vs. GCTRL 83.33±7.67%; p<0,01); relatou maior severidade total dos sinais/sintomas de DTM (GDTM 51,92±38,05 vs. GCTRL 8,7±18,4; p<0,05); maior escore total de dor à palpação (GDTM 41,17±25,37 vs. GCTRL 16,1±15; p<0,05); bem como pior condição miofuncional orofacial total (GDTM 84,75±9,46 vs. GCTRL 95,3±4,9; p<0,05), incluindo escores significantemente menores de aparência/postura dos lábios e língua, mobilidade de lábios e mandíbula e deglutição (p<0,05).

A extração de oxigênio (%) foi significantemente correlacionada ao escore total do AMIOFE (r=0,51; p=0,014) e negativamente correlacionada ao escore total do ProDTMmulti-parte II (r= -0,51; p=0,016).

DISCUSSÃO

O grupo de pacientes com DTM miogênica relatou maior severidade dos sintomas e pior condição miofuncional orofacial, e no teste com a NIRS, em média, este grupo apresentou capacidade de extração de oxigênio do músculo masseter durante a mastigação padronizada aproximadamente 20% menor do que o grupo controle.

Em condições de isquemia (ex. MAV) e não-isquemia (ex. mastigação) algum grau de redução na StO2 é esperado(2,3). Tais achados corroboram estudos prévios que mostraram uma tendência de maior redução do valor da StO2 em pacientes com prejuízos no sistema estomatognático, como sujeitos com dor crônica nos músculos mastigatórios(2) e usuários de próteses dentárias(8), quando comparados a sujeitos saudáveis.

Também, as correlações encontradas entre resultados dos exames clínicos e metabólico evidenciam a importância do elo entre a capacidade de máxima extração de oxigênio do músculo, o equilíbrio funcional e a DTM. A correlação negativa altamente significante encontrada entre a extração de oxigênio e a severidade da DTM sugere que sintomas como dor, fadiga e dificuldade para mastigar podem resultar da menor extração do oxigênio e outras mudanças metabólicas associadas, além dos

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 129 Capítulo 44 A oxigenação do músculo masseter durante a mastigação padronizada pode diferenciar mulheres com desordem temporomandibular daquelas saudáveis? fatores etiológicos mais comumente citados na literatura. Contudo, as manifestações e efeitos destas desordens dependem de uma variação individual na habilidade de adaptação do sistema estomatognático, o que pode estar relacionado à tolerância fisiológica de cada indivíduo.

Embora sujeitos com dor crônica nos músculos mastigatórios tenham o mesmo nível de força máxima nas tarefas de apertamento, eles mostraram menor oxigenação no músculo masseter quando comparados a sujeitos saudáveis, o que poderia ser explicado pela relação entre dor muscular e mudanças no metabolismo oxidativo(2). Além disso, o sistema vasomotor trabalha ativamente, mesmo que de maneira inadequada, para compensar a demanda metabólica e remover produtos residuais do tecido muscular, uma vez que se inicia a contração isométrica. Assim, a obstrução parcial ou total do fluxo sanguíneo poderia ocorrer tanto no apertamento dental sustentado como na contração habitual dos músculos mastigatórios(9), como acontece durante a deglutição, ou mastigação, por exemplo.

É possível sugerir que a mialgia e a fadiga características da DTM, podem não estar exclusivamente associadas a uma aumentada atividade muscular, mas também a uma inabilidade motora e à necessidade de empregar maior atividade muscular em tarefas que não requerem máxima energia. Isto poderia gerar distribuição desequilibrada das forças nos músculos mastigatórios, danificando o metabolismo oxidativo, como respectivamente verificado através dos menores escores do AMIOFE e da menor extração de oxigênio, e confirmado pela correlação entre estas variáveis.

CONCLUSÃO

Quando comparados a sujeitos controles, os pacientes com DTM tiveram menor capacidade de extração de oxigênio, a qual também foi significantemente relacionada à severidade dos sinais/sintomas de DTM e desordens miofunionais orofaciais. Tais achados poderiam ser úteis para complementar avaliações clínicas, favorecendo o diagnóstico e o fornecimento de dados extras para planejar a reabilitação de pacientes com DTM, especialmente aqueles com distúrbios miofuncionais orofaciais associados.

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Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 131 Capítulo 45 Análise de fala em crianças com fissura labiopalatina operada capítulo 45 anáLise de FaLa em cRianças com FissuRa LaBiopaLatina opeRada

Speech analysis in children with cleft lip and palate operated

maria Gabriela cavalheiro1, camila de castro correa2, Laura Katarine Felix Andrade3, Luciana paula maximino3 1. hospital de Reabilitação de anomalias craniofaciais (hRac-usp), Bauru sp, Brasil 2. departamento de oftalmologia, otorrinolaringologia e cirurgia de cabeça e pescoço, Faculdade de medicina de Botucatu (FmB-unesp), Botucatu sp, Brasil 3. departamento de Fonoaudiologia, Faculdade de odontologia de Bauru (FoB-usp), Bauru sp, Brasil

ARTIGO ORIGINAL

DESCRITORES: Fonoaudiologia. Linguagem. Fala. Fissura Palatina.

INTRODUÇÃO

A Fissura Labiopalatina (FLP) ocorre durante primeiro trimestre de desenvolvimento intrauterino, sendo de origem multifatorial (AQUINO et.al., 2011). Trata-se de uma das malformações mais comuns da infância (CANFIELD et.al., 2006), acometendo 1 em cada 650 nascidos vivos no Brasil (DERIJCKE et al.,1996). A FLP pode implicar na presença de distúrbios da comunicação, abrangendo diferentes aspectos, como: articulação, ressonância, audição, voz e/ou linguagem.

As consequências da FLP na fala são justificadas principalmente pelo comprometimento de estruturas anatômicas envolvidas na produção oral, relacionadas à disfunção velofaríngea e deformidade dentofacial. (HARDIN-JONES et al., 2002; CHAPMAN et al., 2011; GENARO et al., 2004; PEGORARO- KROOK et al., 2004).

As alterações de fala decorrentes da disfunção velofaríngea afetam a inteligibilidade de fala dos indivíduos podendo persistir mesmo após a correção cirúrgica do palato (DUTKA, PEGORARO- KROOK, 2014), sendo as mais comuns a hipernasalidade, a emissão de ar nasal e as articulações compensatórias.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 132 Capítulo 45 Análise de fala em crianças com fissura labiopalatina operada

Os riscos para alteração de linguagem, são atribuídos as alterações na orelha média, como episódios frequentes de otite média com privação sensorial, o que pode levar à erros fonológicos (AMARAL, MARTINS, SANTOS, 2010). Quanto aos diferentes aspectos da linguagem nos estágios iniciais do desenvolvimento linguístico, os problemas de ressonância e articulação podem acarretar alterações fonético e fonológicas e dessa forma interferir significativamente na qualidade da fala.

Entretanto, deve-se considerar que as simplificações fonológicas não esperadas para a idade cronológica, também interferem na inteligibilidade de fala (WERTZNER, 2002). A literatura não apresenta evidências conclusivas sobre o desenvolvimento do sistema fonológico em crianças com FLP, que pode ocorrer de maneira similar às demais crianças, como também podem apresentar o transtorno fonológico.

OBJETIVO

Analisar a ocorrência de alterações fonéticas e fonológicas em crianças de 3 a 3 anos e 11 meses com FLP operada.

MÉTODOS

• Aspectos Éticos:

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da instituição envolvida, sob o número de protocolo 1.155.108.

• Casuística:

Foram analisados os dados constantes nos prontuários de 30 crianças com FLP operada na faixa etária de 3 anos a 3 anos e 11 meses, devidamente matriculadas em um hospital referência do tratamento desta malformação. O modelo de classificação da FLP adotado no estudo foi proposto por Spina et al. (1972), modificado por Silva Filho et al.(1992), e toma como ponto de referência a morfologia do palato, o forame incisivo.

Como critério de exclusão, crianças com diagnósticos de síndromes genéticas e com histórico de otite não fizeram parte deste estudo.

• Procedimentos:

A coleta de dados se fez mediante as informações do prontuário da criança quanto a identificação, tipo de fissura e avaliação fonoaudiológica específica mais recente.

O item verificado na avaliação fonoaudiológica específica foi o quadro fonético, representado por determinada amostra de fala baseada em fala dirigida e imagens.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 133 Capítulo 45 Análise de fala em crianças com fissura labiopalatina operada

Desse modo, os achados desta avaliação foram classificados conforme detalhado a seguir (Quadro 1):

AVALIAÇÃO DA FALA EXEMPLIFICAÇÕES Articulações Compensatórias Golpe de Glote, Fricativa Faríngea, Fricativa Velar, Plosiva Faríngea, Plosiva Velar e Plosiva Dorso Médio Palatal Simplificações Fonológicas Processos de Substituição e Estrutura Silábica Distorções Articulatórias Ceceio Anterior, Ceceio Lateral e Distorções Orolaterais

Quadro 1. Classificação dos achados na avaliação fonoaudiológica específica

• Análise dos dados:

Os dados foram submetidos à análise descritiva de forma quantitativa e apresentados em tabelas e gráficos.

RESULTADOS

O tipo de FLP mais frequente nessa amostra foi transforame unilateral (46,7%). A caracterização da casuística demonstrou 16 crianças do gênero masculino e 14 do feminino, com idade média geral do grupo de 40 meses.

Tabela 1. Distribuição da amostra por tipo de Fissura Labiopalatina, considerando o número de sujeitos, porcentagem e média das idades em meses

TIPO DE FISSURA n%IDADE

Pós-forame completa 2 6,7 45,5 Pós-forame incompleta 10 33,3 41,2 Transforame bilateral 4 13,3 40,75 Transforame unilateral 14 46,7 39,64

Legenda: n – número de sujeitos; % - porcentagem de sujeitos em relação ao tipo de fissura

Quanto à qualidade da fala, observou-se que 10 crianças apresentaram Articulações Compensatórias, 22 apresentaram simplificações fonológicas não esperadas para a idade e 5 apresentaram Distorções Articulatórias, como indicado no Gráfico 1. Ressalta-se que a mesma criança pôde apresentar diferentes alterações da fala e que 3 crianças não apresentaram nenhuma alteração de fala.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 134 Capítulo 45 Análise de fala em crianças com fissura labiopalatina operada

Gráfico 1. Resultados da avaliação da fala em porcentagem

As Articulações Compensatórias presentes na amostra foram Golpe de Glote, Fricativa Faríngea e Fricativa Velar. As simplificações fonológicas não adequadas à idade cronológica foram em sua maioria do tipo substituição, sendo que apenas 2 crianças apresentaram redução de sílaba (estrutural). Em relação às Distorções Articulatórias, ocorreram com mais frequência o Ceceio Lateral.

DISCUSSÃO

A temática base do presente estudo se origina da preocupação em se analisar uma determinada função, neste caso, a fala, de uma forma abrangente, considerando diversificadas características que a compõe, para que desta forma, o delineamento do processo terapêutico seja fundamentado no processo da comunicação.

A amostra trouxe uma predominância do histórico dos tipos de fissura transforame unilateral e pós-forame incompleta, o que concorda com a literatura nacional (ALONSO et al., 2009; CYMROT et al., 2010). Houve predominância da ocorrência de simplificações fonológicas não adequadas para a idade. Embora seja prevista a aquisição do sistema fonológico similar entre crianças com e sem fissura, há relatos de atraso nessa aquisição nas crianças com fissura (LYNCH et al., 1983; SCHERER, D’ANTONIO, 1995; MORAES et al., 2011). Em seguida, verificou-se a presença de Articulações Compensatórias em 16,6% da amostra, valor inferior aos achados de Bzoch (1997) e Seguimotto (2002), que referiram a persistência de Articulações Compensatórias em aproximadamente 30% das crianças com FLP após a cirurgia, inseridas em atendimentos multidisciplinar.

As Distorções Articulatórias apresentaram-se em menor ocorrência, bem como os quadros fonéticos sem alterações. A ausência de alterações de fala em parte dessa população após a cirurgia é

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 135 Capítulo 45 Análise de fala em crianças com fissura labiopalatina operada prevista pela literatura (BZOCH, 1997; WILLIANS et al., 1998).

Correlacionando o tipo de fissura com a função de fala, a literatura ainda traz que a fissura transforame incisivo bilateral tem maior correlação com os distúrbios articulatórios compensatórios (KARLING et al., 1993; LOHMANDER-AGERSKOVA; SODERPALM, 1993), a qual correspondeu a 13,3% da amostra desse estudo. Segundo Fox et al. (1978), assim com as alterações de fala, as de linguagem estão diretamente relacionadas a fissuras mais extensas e completas.

Sabendo-se da abrangência do processo da comunicação, ainda deve-se investigar em futuras pesquisas a ocorrência das alterações da fala em função de possíveis alterações do sistema auditivo, considerando que a possibilidade de alterações no funcionamento da orelha média nessas crianças.

CONCLUSÃO

Além das Articulações Compensatórias, as simplificações fonológicas e as Distorções Articulatórias estiveram presente em crianças com FLP operada, acentuando o comprometimento da inteligibilidade de fala. Dessa forma, durante a avaliação de fala nessa população, faz-se necessário o olhar clínico não somente dos aspectos anatomofisiológicos alterados, mas também da função velofaríngea e do desenvolvimento fonológico.

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Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 137 Capítulo 46 Aspectos miofuncionais orofaciais e qualidade do sono em crianças capítulo 46 aspectos mioFuncionais oRoFaciais e QuaLidade do sono em cRianças

Orofacial myology aspects and sleep quality in children

Camila de Castro Corrêa1, maria Renata José2, eduardo carvalho de andrade2, mariza Ribeiro Feniman2, Luciana paula maximino2, ana paula Fukushiro2, Giédre Berretin-Felix2, silke anna theresa Weber1 1. departamento de oftalmologia, otorrinolaringologia e cirurgia de cabeça e pescoço, Faculdade de medicina de Botucatu (FmB-unesp), Botucatu, sp, Brasil. 2. departamento de Fonoaudiologia, Faculdade de odontologia de Bauru, universidade de são paulo (FoB-usp), Bauru, sp, Brasil.

ARTIGO ORIGINAL

DESCRITORES: Fonoaudiologia. Sistema Estomatognático. Respiração. Sono. Transtornos do Sono.

INTRODUÇÃO

Questionários de qualidade de vida auxiliam no diagnóstico e acompanhamento do paciente, como é o caso do -18-item questionnaire (OSA-18), que tem como objetivo mensurar a qualidade do sono de crianças, por meio das respostas de seus pais/cuidadores (FRANCO et al., 2000; FERNANDES, TELES, 2013).

Ressalta-se a relação estabelecida entre a qualidade do sono com o espaço orofaríngeo e a oclusão dentária em crianças (DEFABJANIS, 2003; KATYAL et al., 2013), além da relação com o modo respiratório (POPOASKI et al., 2012; BRANCO, FERRARI, WEBER, 2007; IZU, ITAMOTO, PRADELLA- HALLINAN, 2010). Porém não foram encontrados estudos abordando sua relação com aspectos específicos de tonicidade, mobilidade de órgãos fonoarticulatórios e função de fala.

OBJETIVO

Avaliar os aspectos miofuncionais orofaciais em crianças com queixas de sono.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 138 Capítulo 46 Aspectos miofuncionais orofaciais e qualidade do sono em crianças

MÉTODOS

O estudo obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da instituição envolvida (número CAAE 47871115.2.0000.5411).

Participaram deste estudo 46 crianças na faixa etária entre sete a 12 anos, sendo divididas em dois grupos: Grupo Controle (GC) composto por 19 crianças sem queixas relacionadas ao sono (idade média foi de 9,22 anos; desvio-padrão: 1,90) e Grupo Experimental (GE) composto por 27 crianças com queixas relacionadas ao sono (idade média foi de 7,66 anos; desvio-padrão: 2,11)

As crianças foram avaliadas por um médico otorrinolaringologista, que realizou a rinoscopia e oroscopia, investigando características estruturais que poderiam interferir na função respiratória.

• Critérios de inclusão: idade entre sete a 11 anos; não apresentar alteração na avaliação médica para a realização dos testes propostos; não apresentar alterações neurológicas.

• Critérios de exclusão: as crianças que não completaram todas as avaliações realizadas pelo médico Otorrinolaringologista e Fonoaudiólogo.

Os procedimentos realizados consistiram na aplicação da versão em português brasileiro do questionário OSA-18 (FERNANDES, TELES, 2013) com os responsáveis pelas crianças, visando quantificar a qualidade do sono. Por meio deste questionário foram avaliados cinco domínios que podem obter as seguintes pontuações: distúrbio do sono, sofrimento físico, sofrimento emocional, problemas diurnos e preocupações dos pais ou responsáveis. O total de escores do OSA-18, portanto, variou de 18 a 126 (FRANCO et al., 2000), sendo que quanto maior a pontuação pior qualidade de vida do sono. Ressalta- se ainda que foi considerado o índice de impacto na qualidade de vida, seguindo os seguintes intervalos de pontuação: < 60 leve, 60-80 moderado e > 80 grave (FERNANDES, TELES, 2013).

As crianças foram avaliadas por uma fonoaudióloga com formação e motricidade orofacial considerando os aspectos e funções orofaciais, seguindo o protocolo MBGR (GENARO et al, 2009): trespasse vertical e horizontal, oclusão, postura habitual de lábios, frênulo de língua, tonicidade de lábios, língua e bochechas, mobilidade de palato mole, atribuindo as pontuações de 0 para normalidade até 3 pontos (pior condição), variando para cada item. Quanto às funções orofaciais, considerou a respiração, quanto ao tipo, modo e possibilidade de uso nasal, e a fala, especificamente a análise dos aspectos de saliva, abertura de boca, posição de língua, movimento labial e mandibular, ressonância, precisão articulatória, velocidade e coordenação pneumofonoarticulatória. Também foi avaliada a circunferência cervical. Para a análise estatística, foi realizada análise descritiva e indutiva pelo teste T-student.

RESULTADOS

A avaliação pelo médico otorrinolaringologista não observou alteração na rinoscopia e oroscopia

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 139 Capítulo 46 Aspectos miofuncionais orofaciais e qualidade do sono em crianças

no GC e, para 100% do GE foi observada hipertrofia de tonsilas palatinas e/ou tonsila faríngea.

Em relação aos resultados da aplicação do OSA-18, verificou-se para o GC todas as crianças apresentaram um índice leve de impacto na qualidade de vida, enquanto que o GE apresentou a média de um índice moderado, sendo 8 leve, 13 moderado e 8 crianças o índice grave (Tabela 1).

Tabela 1. Resultados dos domínios do OSA-18, Escala Visual Analógica e Escore Global, considerando a média e desvio padrão nos grupos controle e experimental GC GE Desvio Desvio P Média Padrão Média Padrão Distúrbio do sono (domínio 1) 4,95 1,54 17,83 6,70 0,00 (*) Sofrimento físico (domínio 2) 5,74 2,62 18,28 6,01 0,00 (*) Sofrimento emocional (domínio 3) 4,47 2,63 10,14 5,15 0,00 (*) Problemas diurnos (domínio 4) 6,42 3,64 9,45 4,28 0,00 (*) Preocupação dos pais (domínio 5) 5,21 2,32 15,79 7,58 0,00 (*) Escala Visual Analógica 8,03 2,32 5,62 2,06 0,00 (*) Escore Total 26,79 8,89 71,48 19,43 0,00 (*) Legenda: Teste estatístico: Teste T; (*) p<0,05

Quanto aos resultados do MBGR, três itens avaliados obtiveram significância estatística, porém de um modo qualitativo, observou-se que o GC apresentou menor pontuação, indicativa de melhores condições, quando comparado ao GE (Tabela 2).

Tabela 1. Resultados dos domínios do OSA-18, Escala Visual Analógica e Escore Global, considerando a média e desvio padrão nos grupos controle e experimental

GC GE P Desvio Desvio Média Padrão Média Padrão Circunferência Cervical 29,13 2,48 31,28 4,10 0,03 (*) Trespasse vertical 2,24 3,85 2,27 3,40 0,98 Trespasse horizontal 3,27 2,27 3,91 1,66 0,27 Oclusão 2,79 1,81 2,93 1,24 0,76 Lábios 2,63 3,22 3,85 1,51 0,14 Frênulo 1,42 2,39 0,96 1,43 0,46 Tônus 2,84 1,64 4,63 1,31 0,00 (*) Mobilidade de palato mole 1,16 1,54 1,74 0,66 0,13 Função de fala 2,42 1,64 4,11 2,31 0,01 (*) Função de respiração 2,00 1,41 1,48 1,09 0,17

Legenda: Teste estatístico: Teste T; (*) p<0,05

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 140 Capítulo 46 Aspectos miofuncionais orofaciais e qualidade do sono em crianças

DISCUSSÃO

Foi observada significância estatística em todos os domínios, bem como na pontuação total do OSA-18, comparando os dois grupos. Este instrumento é importante na avaliação do impacto na qualidade do sono das crianças, que apresenta uma versão validada para o português do Brasil (FRANCO et al., 2000; FERNANDES, TELES, 2013).

Em relação a avaliação miofuncional orofacial, verificou-se para três itens significância estatística: circunferência cervical, tônus e fala. Para esses itens, não há literatura disponível, impossibilitando comparações com o presente estudo. Entretanto, existe relação da circunferência cervical com o Índice de Massa Corpórea (CASÉ LEÓN, HACHOUE SALIBA, 2013), que, por sua vez, se relaciona com a qualidade de sono em crianças (TRIPURANENI et al., 2013; MITCHELL, BOSS, 2009). Tais dados vão de encontro com os obtidos nesse estudo, de um modo indireto.

Especificamente em relação ao tônus e a função de fala que apresentaram significância estatística, ressalta-se a dependência dos músculos orofaciais no desempenho motor de fala para a produção precisa de uma sequência especifica de sons (WOHLERT, SMITH, 2002; FARIAS et al., 2006; GREEN et al., 2002).

Sugere-se a ampliação de pesquisas neste sentido com a população infantil, mediante a inexistência de outros trabalhos e considerando as correlações iniciais obtidas no presente estudo.

CONCLUSÃO

Portanto, os aspectos miofuncionais orofaciais diferiram-se em crianças com queixas de sono, com ênfase para a circunferência cervical, tônus e a função de fala.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 142 Capítulo 47 Autopercepção da função mastigatória em pacientes com fissura labiopalatina submetidos à cirurgia ortognática capítulo 47 autopeRcepção da Função mastiGatÓRia em pacientes com FissuRa LaBiopaLatina suBmetidos À ciRuRGia oRtoGnática

Self-perception of mastigatory function in cleft lip and palate patients submitted to orthognathic surgery

Débora Natália de Oliveira1, andressa sharllene da silva carneiro1, maria natália Leite de medeiros1, Katia Flores Genaro1,2, inge elly Kiemle trindade1,2, ana paula Fukushiro1,2 1. universidade de são paulo - hospital de Reabilitação de anomalias craniofaciais, Bauru, são paulo. 2. universidade de são paulo - Faculdade de odontologia de Bauru, Bauru, são paulo. programa de pós-Graduação em ciências da Reabilitação - hRac-usp.

ARTIGO ORIGINAL

DESCRITORES: Fissura palatina, Cirurgia Ortognática, Mastigação.

INTRODUÇÃO

Desproporções maxilomandibulares são alterações que acarretam no desequilíbrio estético facial, bem como em possíveis prejuízos no sistema estomatognático (SE). Nas fissuras labiopalatinas (FLP), os diversos procedimentos cirúrgicos pelos quais estes indivíduos são submetidos ao longo do seu processo de tratamento podem interferir diretamente no seu crescimento facial, principalmente no terço médio da face levando a um perfil côncavo e adaptações do SE (SILVA FILHO, 2007; DASKALOGIANNAKIS; MEHTA, 2009; GARIB et al., 2010).

A mastigação é definida como ato de morder, triturar e mastigar o alimento preparando-o para deglutição e digestão, sendo fundamental por atuar diretamente no crescimento e desenvolvimento dentofacial (TESSITORE, CATTONI, 2010). Na presença de deformidade dentofacial (DDF), a função

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 143 Capítulo 47 Autopercepção da função mastigatória em pacientes com fissura labiopalatina submetidos à cirurgia ortognática mastigatória torna-se fortemente comprometida podendo apresentar movimentos mandibulares predominantemente verticais com pouca ou nenhuma ação dos músculos bucinadores, utilização do dorso da língua para realizar o amassamento do alimento contra o palato, déficit do vedamento labial com lábios funcionalmente incompetentes e músculos mastigatórios hipofuncionantes (TESSITORE, CRESPO, 2004; PEREIRA et al., 2005; COUTINHO et al., 2009).

Na presença de FLP e DDF, a etapa inicial para adequação da função mastigatória consiste na correção das discrepâncias ósseas, por meio da cirurgia ortognática com avanço de maxila (CO) associada ao tratamento ortodôntico. De maneira genérica, a CO, ao promover o reposicionamento das bases ósseas, proporciona a condição esquelética necessária ao desempenho adequado das funções orofaciais (TRINDADE et al., 2003; DASKALOGIANNAKIS; MEHTA, 2009).

Entretanto, mesmo após o procedimento cirúrgico, faz-se necessário eliminar as alterações musculares e funcionais de maneira que estas não interfiram negativamente no equilíbrio do SE. Ainda que alguns estudos tenham verificado casos submetidos à CO com readaptações satisfatórias ao novo padrão facial após a cirurgia, sem intervenção fonoaudiológica (COUTINHO et al., 2009; SOUZA; FERNANDEZ, 2011), observa-se, em outros, que a remissão espontânea das compensações pode ser difícil por se tratar de movimentos automáticos e que ocorrem com um baixo nível de consciência (COUTINHO et al., 2009).

A literatura acerca das disfunções oromiofuncionais em indivíduos submetidos à CO é ampla (PACHECO, 2000; ENGLISH; BUSCHANG; THROCKMORTON, 2002; PEREIRA et al., 2005; COUTINHO et al., 2009, SOUZA; FERNANDEZ, 2011), porém, os estudos são escassos no que se refere à população com FLP, a qual pode apresentar características inerentes à presença da anomalia craniofacial que influenciem na função mastigatória.

Desta forma, este trabalho se propôs a estudar a função mastigatória, a partir da autopercepção do paciente com FLP após a CO, considerando-se a hipótese da presença de percepção quanto às modificações na função mastigatória, devido à correção cirúrgica das discrepâncias severas.

OBJETIVO

Verificar a autopercepção do paciente com FLP quanto à satisfação com a função mastigatória após correção cirúrgica da DDF, comparando seu relato com a avaliação clínica do padrão mastigatório.

MÉTODOS

Estudo retrospectivo desenvolvido no Laboratório de Fisiologia do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo (HRAC-USP), após aprovação do Comitê de Ética

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 144 Capítulo 47 Autopercepção da função mastigatória em pacientes com fissura labiopalatina submetidos à cirurgia ortognática em Pesquisa. Foram selecionados aleatoriamente, 20 pacientes com FLP previamente reparada, de ambos os sexos (14 masculino e 6 feminino), idade média de 24±4 anos e presença de discrepância maxilomandibular com mordida cruzada total, submetidos à CO. Não foram incluídos no estudo indivíduos com falhas dentárias importantes, síndromes ou outras anomalias craniofaciais associadas. A questão relativa à autopercepção da função mastigatória foi verificada antes e após a cirurgia, por meio do protocolo de avaliação oromiofuncional MBGR (Genaro et al 2009), utilizado na rotina clínica, no qual é perguntado ao paciente sobre o seu grau de satisfação com relação à mastigação (ótima, boa, regular, ruim ou péssima).

Adicionalmente, realizou-se a análise do padrão mastigatório pré (1 dia) e pós-cirúrgico (7 meses, em média), a partir das gravações digitais em sistema audiovisual da função mastigatória habitual de biscoito waffer, por meio de consenso entre três fonoaudiólogos com, no mínimo, 2 anos de experiência na avaliação das funções orofaciais. A classificação do padrão mastigatório utilizada foi: Unilateral Preferencial direito ou esquerdo (UP), Bilateral Alternado (BA), Bilateral Simultâneo (BS) e Unilateral Crônico direito ou esquerdo (UC).

Para fins de análise, o grau de satisfação foi classificado como “melhora” (M), quando houve mudança positiva na satisfação da função em pelo menos um grau após a CO; “piora” (P), quando a função piorou em pelo menos um grau e, “sem alterações” (S), quando o relato manteve-se idêntico ao da condição pré-operatória. Na análise do padrão mastigatório, verificou-se a proporção de casos com modificações no aspecto analisado. Os dados foram analisados de forma descritiva. A mudança na autopercepção foi comparada às mudanças no padrão mastigatório.

RESULTADOS

A Tabela 1 apresenta a análise individual do grau de satisfação da mastigação e o padrão mastigatório antes e após a CO. Observa-se que 17 (85%) pacientes continuaram com o mesmo grau de satisfação após a CO, enquanto 2 (10%) relataram mudança positiva e apenas um (5%) relatou piora. Quanto ao padrão mastigatório, antes da cirurgia, 6 (30%) apresentaram UP, 8 (40%) BA, 2 (10%) BS e 4 (20%) UC. Após a CO, as proporções foram de 25%, 35%, 20% e 20%, respectivamente, para UP, BA, BS e UC.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 145 Capítulo 47 Autopercepção da função mastigatória em pacientes com fissura labiopalatina submetidos à cirurgia ortognática

Tabela 1. Classificação individual do grau de satisfação do paciente e o padrão mastigatório atribuído pelos examinadores antes (Pré) e após (Pós) a CO.

Grau de Satisfação Padrão Pré Pós Pré Pós

1 Ótima Ótima UP UP 2 Regular Boa BA BS 3 Regular Regular BA BA 4 Boa Boa BA UP 5 Ótima Boa BS BA 6 Ótima Ótima UP BS 7 Boa Ótima UP BA 8 Regular Regular BA UC 9 Boa Boa BS BS 10 Ótima Ótima BA BA 11 Regular Regular UP UP 12 Boa Boa BA BA 13 Boa Boa UC UP 14 Regular Regular UC UP 15 Boa Boa UP BA 16 Ótima Ótima BA BA 17 Regular Regular UC UC 18 Boa Boa UC UC 19 Boa Boa BA UC 20 Ótima Ótima UP BS

A Tabela 2 compara a proporção de casos com sensação de M, P ou S após a cirurgia com as mudanças do padrão mastigatório. Os resultados mostram que os 2 (10%) pacientes que apresentaram melhora no grau de satisfação obtiveram mudanças no padrão mastigatório, assim como o paciente que relatou piora. Dos 17 (85%) pacientes que relataram sem alteração, 8 (47%) apresentaram mudanças e em 9 (53%) não se observou mudança no padrão mastigatório.

Tabela 2. Comparação entre autopercepção e padrão mastigatório após a CO.

Padrão Mastigatório Pós Interpretação da percepção Pós Com mudança Sem mudança

M 2 (10%) 2 (100%) 0 (0%) P 1 (5%) 1 (100%) 0 (0%) S 17 (85%) 8 (47%) 9 (53%)

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DISCUSSÃO

A alteração da função mastigatória é influenciada por diversos fatores, uma vez que envolve diferentes estruturas anatômicas e o ato reflexo neurológico. As razões para as disfunções podem ser justificadas pela malformação, assim como, alterações do tônus muscular, disfunção temporomandibular, DDF, entre outros (Duarte et al., 2014).

Há poucos estudos na literatura que analisaram a autopercepção dos pacientes em relação às mudanças das funções do SE após a CO, sendo ainda mais escasso em relação aos pacientes com FLP. No presente estudo, os resultados mostram que mesmo após a correção das DDF, a mudança na mastigação pode não ser percebida, fazendo com que o paciente relate alto grau de satisfação. Em um relato de caso de Souza e Fernandes (2011), o paciente avaliado não teve consciência quanto às modificações nas funções orofaciais, incluindo a mastigação, após a CO. Ao contrário dos resultados encontrados, Poole et al. (1986) realizaram um estudo com pacientes que apresentavam FLP e verificaram que após a CO, muitos relataram melhora na mastigação. O mesmo foi constatado por Rustemeyer et al (2010), ao constatarem que grande parte da população relatou melhora na mastigação após a CO.

Em relação ao padrão mastigatório, observou-se que a CO promoveu mudanças em 11 (55%) pacientes. O que pode justificar a permanência do padrão mastigatório é o fato de que, alguns indivíduos que apresentam uma determinada alteração da função mastigatória antes da CO, permanecem com o mesmo quadro de alteração após a cirurgia sem qualquer percepção do distúrbio miofuncional orofacial. Coutinho et al (2009) realizaram uma revisão de literatura das adaptações do sistema estomatognático em indivíduos com desproporção maxilomandibular e relataram que alguns estudos apontam para a adequação da mastigação e outros mostram que as adaptações persistem no pós-cirúrgico. Os músculos responsáveis pela mastigação também podem influenciar essa função. Ueki et al (2009) estudaram a morfologia do masseter antes e após a CO em pacientes com prognatismo, mostrando que o músculo não se readaptou à nova oclusão e morfologia esquelética. Picinato-Pirola et al (2012) compararam a função mastigatória em indivíduos com e sem DDF, comprovando que há alteração na função. Kobayashi et al (2001), analisaram as mudanças na função mastigatória em pacientes sem FLP, que realizaram CO constatando melhora após tratamento cirúrgico.

Assim, os resultados deste trabalho reforçam a importância da avaliação pós-operatória e intervenção fonoaudiológica em pacientes com FLP submetidos à CO.

CONCLUSÃO

A percepção do paciente quanto ao grau de satisfação com a mastigação parece não ter relação com as modificações do padrão mastigatório, observadas pelos clínicos.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 147 Capítulo 47 Autopercepção da função mastigatória em pacientes com fissura labiopalatina submetidos à cirurgia ortognática

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Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 149 Capítulo 48 Biodinâmica da mastigação: características clínicas e eletrofisiológicas capítulo 48 BiodinÂmica da mastiGação: caRacteRÍsticas cLÍnicas e eLetRoFisioLÓGicas

Biodynamic chew: clinical and electrophysiological characteristics

Gerlane Karla Bezerra Oliveira Nascimento1; patricia mendes Balata2; hilton Justino da silva3 1. universidade Federal de sergipe, Lagarto-se 2. secretaria de saúde do estado de pernambuco, Recife-pe 3. universidade Federal de pernambuco, Recife-pe

ARTIGO ORIGINAL

DESCRITORES: Mastigação; Sistema Estomatognático; Eletromiografia.

INTRODUÇÃO

A mastigação é uma função que desperta interesse aos profissionais da saúde(1) por sua complexidade e relevância. Essa função é considerada de fundamental importância para o crescimento e manutenção das estruturas do Sistema Estomatognático(2) sendo aperfeiçoada ao longo do desenvolvimento humano(3).

Para que este processo ocorra de modo harmonioso, é necessária a contração coordenada de grupos musculares, sendo os músculos mastigatórios os mais atuantes(4). A eficiência da mastigação é garantida pela força exercida na contração desse músculo, além da modulação exercida pelas articulações temporomandibulares (ATM’s) e pelo sistema neuromuscular(5).

A fisiologia da mastigação é caracterizada por ciclos bilaterais que ocorrem alternadamente e conta com o suporte de uma atividade muscular sincrônica e força uniforme(6). Quando a mastigação ocorre predominantemente em um dos lados da cavidade oral, considera-se este o lado de preferência mastigatória (LPM) ou predomínio mastigatório(7). Para ser considerada unilateral a mastigação precisa apresentar 30% a mais do número de ciclos mastigatórios para o lado da preferência, em relação ao lado oposto(8).

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OBJETIVO

Realizar análise clínica e eletrofisiológica da mastigação como forma de caracterizar o comportamento dessa função estomatognática na fase adulta.

MÉTODOS

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (Nº 1.056.707) e todos os participantes foram apresentados aos objetivos da pesquisa por meio do termo de consentimento livre e esclarecido.

Tratou-se de um estudo transversal, analítico e observacional. Desenho do tipo série de casos.

A seleção dos voluntários obedeceu aos seguintes critérios de inclusão: ambos os sexos, adultos com faixa de idade entre 19 e 39 anos, sem queixas orofaciais. Participaram do estudo 35 voluntários, sendo 30 do sexo masculino e 5 do sexo feminino, com idade média de 32 anos.

Foi solicitado que o voluntário ficasse em postura sentada de forma confortável em uma cadeira com anteparo posterior para apoio da coluna, sem apoio para a cabeça, os joelhos e quadris em 90º de flexão e os pés totalmente apoiados no chão ou em anteparo apropriado (essa posição tem um nome: plano. A priori realizou-se a verificação da força de mordida por meio da execução de três mordidas (entre incisivos centrais e entre molares) com a máxima força em célula de carga (Miotec®), durante cinco segundos cada uma e intervalos de trinta segundos entre elas para repouso.

Concomitante à etapa de avaliação da mastigação realizou-se a tomada dos potenciais eletromiográficos dos músculos masseteres e ventres anteriores dos temporais. Para este fim o voluntário passou por uma inspeção para localização dos músculos alvos e limpeza prévia da pele com compressa de gaze embebida em álcool 70º, para alocação dos eletrodos.

Para a captação e condução do sinal eletromiográfico, utilizaram-se eletrodos hipoalergenos descartáveis de superfície da marca 3M®, constituídos de um material composto por Ag/AgCl, imerso em gel condutor.

Os eletrodos foram posicionados bilateralmente na face do voluntário numa configuração bipolar, na região de maior massa muscular e dispostos longitudinalmente às fibras musculares. O eletrodo de referência foi colocado em um ponto distante do local de registro dos músculos avaliados (olécrano da ulna do braço direito).

Antes de iniciar a mastigação, realizou-se o registro da atividade elétrica durante a contração voluntária máxima (CVM) mantida por cinco segundos e repetida por três vezes contando com intervalos de dez segundos entre as contrações e durante a contração voluntária máxima controlada (para fins de normalização do sinal eletromiográfico).

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 151 Capítulo 48 Biodinâmica da mastigação: características clínicas e eletrofisiológicas

Feito isto, ofertou-se um pão francês com 25g e o voluntário executou a mastigação de modo habitual.

Os participantes foram filmados durante todas as etapas do exame e após a análise das gravações, a mastigação habitual foi caracterizada segundo o número de ciclos mastigatórios, a preferência por lado de mastigação e a velocidade mastigatória.

A pesquisa não evidenciou riscos aos participantes, pois se tratou da realização de procedimentos simples e não invasivos. A população estudada recebeu os resultados gerais das avaliações, além de orientações para manutenção da saúde do Sistema Estomatognático.

RESULTADOS

Ao analisar o lado de preferência da mastigação foi verificado que 62,86% dos voluntários apresentavam o lado direito como preferido enquanto 37,14% apresentavam o lado esquerdo como o de preferência.

A média, mediana e desvio padrão dos valores percentuais da força de mordida encontrados na incisão e mordidas laterais direita e esquerda encontram-se descritos na Tabela 1.

Tabela 1. Expressão dos valores percentuais de média, mediana e desvio padrão encontrados durante a incisão e mordida entre os molares de ambos os lados da arcada dentária

Estatísticas Variável Média Mediana DP (1)

Força da mordida na incisão 30,96 24,03 20,68 Força da mordida no lado direito 47,03 43,9 28,71 Força da mordida no lado esquerdo 45,21 48,71 27,15 Valor de p P(2) = 0,746

(1): DP - desvio padrão; (2): Através do teste F (ANOVA) para medidas repetidas.

O lado de maior força de mordida correspondeu: ao lado de predomínio mastigatório em 68,57% dos casos analisados; ao lado de menor atividade eletromiográfica verificado durante a mastigação habitual quando se analisou o músculo temporal em 51,43% dos casos; ao lado de maior atividade eletromiográfica verificado durante a mastigação habitual quando se analisou o músculo masseter em 71,43% dos casos.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 152 Capítulo 48 Biodinâmica da mastigação: características clínicas e eletrofisiológicas

Durante a mastigação habitual a média da atividade elétrica dos masseteres direito e esquerdo, respectivamente, foi de 40,55% e 31,12% revelando diferença significativa entre os lados (p = 0,0026); enquanto a média de atividade elétrica dos temporais direito e esquerdo, respectivamente, foi de 30,28% e 32,35% (p = 0,4307) (Tabela 2).

Tabela 2. Relação entre atividade eletromiográfica dos músculos masseteres e temporais e mastigação habitual

Estatísticas Variável Média Mediana DP (1)

Masseter direito na mastigação habitual 40,55 32,6 24,86 Masseter esquerdo na mastigação habitual 31,12 26,7 23,48 Valor de p p(2) = 0,0026* Temporal direito na mastigação habitual 30,28 27,99 14,1 Temporal esquerdo na mastigação habitual 32,35 30,01 19,46 Valor de p p(2) = 0,4307*

(*): Diferença significativa entre os lados; (1): DP significa desvio padrão; (2): Através do teste t-Student pareado.

O lado de maior atividade eletromiográfica durante a mastigação habitual correspondeu ao lado de predomínio mastigatório quando se analisou o músculo masseter em 80% dos casos; o lado de menor atividade eletromiográfica durante a mastigação habitual correspondeu ao lado de predomínio mastigatório quando se analisou o músculo temporal em 54,29% dos casos.

Durante a mastigação habitual foi verificado o número de ciclos mastigatórios executados num intervalo de dez segundos e a média foi de 12,74 ciclos. A partir dessa verificação a velocidade mastigatória foi estimada em ciclos/segundos (c/s) (Tabela 3).

Tabela 3. Relação entre número de ciclos mastigatórios e velocidade de mastigação (ciclos por segundo)

Estatísticas Variável Média Mediana DP (1)

Númro de ciclos mastigatórios 12,74 13 2,8 VElocidade de mastigação 1,27 1,3 0,28 Valor de p p(2) = 0,146*

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 153 Capítulo 48 Biodinâmica da mastigação: características clínicas e eletrofisiológicas

DISCUSSÃO

A correspondência entre atividade elétrica muscular e força de mordida foi citada em um estudo(9) que verificou aumento da atividade dos masseteres durante movimentos mandibulares e diminuição da força de mordida molar máxima. Esses dados coincidem parcialmente com os achados da presente pesquisa, uma fez a atividade elétrica dos temporais apresentou-se de modo inversamente proporcional aos dados de força de mordida.

Pesquisadores(10, 11) evidenciaram a ocorrência de LPM, em mais de 80% da amostra de adultos estudada.

Esses dados corroboram com os resultados encontrados no presente estudo, onde 100% dos participantes apresentou o lado direito ou esquerdo como LPM.

Com relação à média dos potenciais mioelétricos captados durante o repouso foi encontrado um baixo percentual de atividade nos masseteres e temporais. Esses dados estão de acordo com os resultados encontrados em um estudo(12), que observou em indivíduos adultos sem queixas orofaciais a presença de mínima atividade elétrica da musculatura mastigatória durante repouso.

Verificou-se ainda que o lado de maior atividade eletromiográfica durante a CVM e mastigação habitual correspondeu ao LPM (80%); resultado este coincidente com os dados apresentados em uma pesquisa(13) envolvendo investigação eletromiográfica da mastigação de adultos, os quais apontaram maior frequência de um lado de preferência mastigatória durante mastigação habitual (82,8%), bem como maiores níveis de potencial eletromiográfico.

Um padrão de assimetria funcional entre os masseteres foi evidenciado nos achados desse estudo, assim como foi identificada assimetria entre as atividades elétricas dos temporais. Este fato ocorreu não apenas nas mastigações (habitual, unilaterais direita e esquerda), mas também durante a CVM. É provável que a ocorrência desse evento esteja relacionada ao fato dos 100% da amostra ter apresentado um LPM.

Em uma pesquisa(14) envolvendo a investigação da distinção entre os potencias elétricos dos masseteres durante a mastigação, foi verificada a existência de assimetria dentro dos padrões de normalidade entre os potenciais mioelétricos dos MD e ME.

Em contrapartida, outra pesquisa(15) constatou em seu estudo envolvendo adultos com boa saúde oral que durante a mastigação unilateral, seja ela direita ou esquerda, que não há diferença entre os potenciais mioelétricos dos masseteres e temporais.

As aferições dos ciclos e velocidade mastigatórios apresentaram números correspondentes aqueles encontrados em estudos eletrognatográficos de rastreio da biodinâmica mandibular(16).

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 154 Capítulo 48 Biodinâmica da mastigação: características clínicas e eletrofisiológicas

CONCLUSÕES

Indivíduos sem queixas orofaciais apresentam mastigação bilateral alternada com predomínio mastigatório para o lado direito ou esquerdo.

O potencial mioelétrico revelou assimetria funcional entre os pares musculares masseteres (direito e esquerdo) e temporais (direito e esquerdo) durante a função de mastigação habitual.

O lado de preferência mastigatória corresponde ao lado maior força de mordida e ao lado de maior potencial mioelétrico entre os músculos masseteres; comportamento inverso ao encontrado entre os músculos temporais, os quais apresentam menores potenciais mioelétricos no lado de preferência mastigatória e de maior força de mordida.

A velocidade da mastigação mostrou-se equilibrada, com valores estatisticamente iguais entre os voluntários analisados.

REFERÊNCIAS

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11. Oncins MC, Freire RMAC, Marchesan IQ. Mastigação: análise pela eletromiografia e eletrognatografia. Seu

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 155 Capítulo 48 Biodinâmica da mastigação: características clínicas e eletrofisiológicas

uso na clínica fonoaudiológica. Rev Dist Comun. 2006; 18(2):155-65.

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Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 156 Capítulo 49 Características do olfato em indivíduos pré e pós-tratamento para aneurismas intracranianos capítulo 49 caRacteRÍsticas do oLFato em indiVÍduos pRÉ e pÓs-tRatamento paRa aneuRismas intRacRanianos

Smell characteristics in individuals pre and post-treatment for intracranial aneurysms

sandro Júnior henrique Lima, hildo Rocha cirne de azevedo Filho, daniele andrade da cunha, maria de Fátima Leal Griz, ana cláudia carvalho Vieira Lucas carvalho aragão albuquerque, Hilton Justino da Silva programa de pós-graduação em neuropsiquiatria e ciências do comportamento, universidade Federal de pernambuco, Recife, pe.

ARTIGO ORIGINAL

DESCRITORES: Olfato, Hemorragia Subaracnóidea, Aneurisma Intracraniano, Círculo Arterial do Cérebro

INTRODUÇÃO

A hemorragia subaracnóidea (HSA) espontânea é considerada uma doença importante por possuir uma alta taxa de morbidade e mortalidade1-4. A HSA de origem aneurismática é descrita como um dos acidentes vasculares cerebrais que mais trazem repercussão na vida do paciente5, 6.

Grande parte dos aneurismas intracranianos acomete artérias do círculo arterial do cérebro, localizado na base do crânio e a proximidade com algumas estruturas nervosas pode determinar o tipo de alterações encontradas nesse paciente, sejam motoras ou mesmo sensoriais7,8. Uma alteração sensorial e consequentemente funcional que pode está relacionada à HSA aneurismática é a alteração olfatória.

OBJETIVO

Caracterizar o olfato de indivíduos pré e pós tratamento para aneurismas intracranianos rompidos.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 157 Capítulo 49 Características do olfato em indivíduos pré e pós-tratamento para aneurismas intracranianos

MÉTODOS

Estudo observacional, longitudinal, prospectivo de caráter quantitativo. Foram estudados 15 adultos com hemorragia subaracnóidea aneurismática, atendidos no Hospital da restauração de Pernambuco, avaliados em três momentos distintos: Após a hemorragia; com uma semana de pós- operatório e com três meses de pós-operatório.

Foi realizada a revisão do prontuário, entrevista com o participante e avaliação do olfato por meio de um teste de soluções aquosas, adaptado de outros estudos, construído pela farmácia escola da UFPE.

O teste foi composto de 13 soluções aquosas (erva doce, morango, hortelã, Sundown® (Protetor solar), eucalipto, chocolate, tutti-frutti, limão, canela, cereja, café, coco - fruto e rosa). A discriminação dos odores foi realizada com auxílio de figuras representativas9,10.

O resultado do teste do olfato foi baseado em uma classificação percentual. Podendo obter os seguintes resultados: 0 - 50% (entre 0 e 8 acertos); 51% - 100% (entre 9 e 16 acertos). Considerando, para nível classificatório e não de diagnóstico, normosmia a partir de 51% de acertos e hiposmia até 50% de acertos. Classificação proposta por Moura (2014)11.

Na estatística analítica foi aplicado o teste de correlação de Spearman para traçar a associação entre as variáveis, com a pontuação olfatória, o Teste Qui-quadrado ou Exato de Fisher para traçar a dependência entre a classificação olfatória e as variáveis: topografia do aneurisma e escolaridade e o teste Wilcoxon Pareado para observar as mudanças das pontuações olfatórias nos três momentos de avaliação.

Para todas as análises foi atribuído um nível de significância de 5% (p<0,05). Este estudo foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa (CAAE: 44315315.7.0000.5198).

RESULTADOS

Na apresentação dos resultados, dos 15 participantes coletados, 12 (80%) foram mulheres, e a média de idade foi de 45,5 anos. Na tabela 1, encontra-se a classificação olfativa geral e pontuação individual dos participantes. Observa-se que 13 (86,7%) da amostra apresentaram valores de discriminação olfatória de nove a 16 acertos, configurando normalidade olfativa (normosmia) nestes pacientes. Enquanto um (6,7%) participante apresentou hiposmia, pontuação menor ou igual a oito acertos e um, anosmia, neste caso com nenhum acerto na avaliação olfatória.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 158 Capítulo 49 Características do olfato em indivíduos pré e pós-tratamento para aneurismas intracranianos

Tabela 1. Classificação olfativa e pontuação individual dos indivíduos com HSA aneurismática antes e após o tratamento. Recife, PE. 2016 (n=15).

Discriminação olfatória Normosmia Hiposmia Anosmia >50% ≤50% 0% Frequência (%)1 Frequência (%)1 Frequência (%)1 Amostra pós HSA 13 (86,7) 1 (6,7) 1 (6,7)

Pré cirúrgico Pós cirúrgico Três meses da cirurgia Pacientes Pontuação1 Pontuação1 Pontuação1

1 11 12 13 2 9 9 10 3 14 14 14 4 12 68 5 13 12 13 6 10 10 11 7 12 11 12 8 11 10 12 9000 10 10 7 10 11 12 11 11 12 788 13 13 11 12 14 12 14 14 15 13 14 15

Legenda:1. Frequência absoluta e relativa; n= número da amostra; HSA= Hemorragia subaracnóidea; ≤50%= quantidade de acertos entre 0 e 8; >50%= quantidade de acertos entre 9 e 16; Os espaços vazios representam ausência de participante.

A segunda tabela mostra a comparação da classificação olfativa dos pacientes nas três avaliações realizadas (n=15). Na comparação entre os resultados da avaliação feita antes e após uma semana da cirurgia, verificou-se um aumento para 20% de hiposmia após a cirurgia (dois casos a mais). Ainda na análise classificatória na comparação entre os resultados da avaliação de uma semana após a cirurgia e três meses pós-cirurgia, houve a diminuição para dois casos de hiposmia (13,3%). Nas três avaliações foi apresentado apenas um caso de anosmia, que permaneceu inalterado.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 159 Capítulo 49 Características do olfato em indivíduos pré e pós-tratamento para aneurismas intracranianos

Tabela 2. Classificação olfativa dos indivíduos avaliados com HSA aneurismática antes e após do tratamento cirúrgico. Recife, PE. 2016 (n=15).

Discriminação olfatória Normosmia Hiposmia Anosmia >50% ≤50% 0% Frequência (%)1 Frequência (%)1 Frequência (%)1

Amostra pré-cirurgia 13 (86,7) 1 (6,7) 1 (6,7) Amostra pós-cirurgia 11 (73,3) 3 (20) 1 (6,7) Três meses da cirurgia 12 (80) 2 (13,3) 1 (6,7)

Legenda:1. Frequência absoluta e relativa; n= número da amostra; HSA= Hemorragia subaracnóidea; ≤50%= quantidade de acertos entre 0 e 8; >50%= quantidade de acertos entre 9 e 16.

Os dados acerca da pontuação individual obtida na avaliação do olfato (0 a 16 acertos) estão demonstrados na tabela 3. Comparando os acertos obtidos antes e após uma semana de cirurgia, não foram encontradas mudanças significativas (p=0,266). No entanto, considerando os acertos obtidos após uma semana da cirurgia e três meses depois, observa-se diferença estatística significativa, demonstrando mudanças no padrão de respostas (p=0,005), com melhora média de um acerto na pontuação olfatória.

Tabela 3. Pontuação média e geral dos indivíduos avaliados com HSA aneurismática antes e após o tratamento cirúrgico. Recife, PE, 2016 (n=15).

Pré cirúrgico Pós cirúrgico Três meses da cirurgia Pontuação1 p Pontuação1 p Pontuação1

Média 10.6±3,43 0,2662 9.9±3.67 0,0052 10.9±3,64 TOTAL 159 149 163

Legenda:1.Frequência absoluta;.2.Teste de Wilcoxon pareado;± Desvio Padrão; n= número da amostra; HSA= Hemorragia subaracnóidea

Não houve correlação quando comparada a pontuação olfatória com as variáveis: idade, Intervalo entre a HSA e avaliação. Na comparação entre a classificação olfatória com a topografia dos aneurismas e na comparação da classificação olfatória com a escolaridade dos pacientes, também não houve correlação.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 160 Capítulo 49 Características do olfato em indivíduos pré e pós-tratamento para aneurismas intracranianos

DISCUSSÃO

De acordo com a avaliação olfatória nos indivíduos pós hemorragia subaracnóidea aneurismática (HSA) do presente estudo, apesar da quantidade majoritária de classificação olfatória normal, foi evidenciada uma quantidade importante de alterações olfatórias, considerando o número amostral.

Outro estudo com amostra semelhante avaliando o olfato antes e após o tratamento cirúrgico dos aneurismas mostrou um percentual mais elevado de disfunção. De 13 pacientes avaliados, 10 (76,9%) apresentaram rebaixamento significativo nos resultados olfatórios12. Apesar das diferenças metodológicas é possível identificar uma prevalência expressiva de déficits olfatórios resultantes da HSA, mesmo com poucos estudos avaliando este sentido logo após a hemorragia.

De acordo com a relação da topografia, entende-se que pela maior proximidade do trato e bulbo olfatórios da circulação arterial anterior do cérebro a ocorrência de alterações do olfato seria maior quando o aneurisma estiver localizado nesta região13. Em um estudo realizado com pacientes embolizados não se observou relação significativa em relação ao sítio de ocorrência do aneurisma14. Wermer et al 200715, relataram como fatores de risco para alteração olfatória: Clipagem do aneurisma, retração cerebral e aneurismas em circulação anterior, mostrando que o procedimento neurocirúrgico tem um papel mais importante no surgimento do déficit, o que pode explicar a ausência de correlação evidenciada em outros estudos que pesquisaram o olfato em pacientes embolizados.

Apesar disso, um estudo evidenciou alteração olfatória presente tanto em pacientes embolizados como em clipados16, possivelmente porque outros fatores, como gravidade da HSA possuem influência importante no desencadeamento do déficit olfatório, como descrito por alguns autores12,15,17.

Com base nos resultados da avaliação olfatória nos três momentos distintos (antes, após a cirurgia e três meses do pós-operatório), o número limitado de piora do olfato após a cirurgia com ausência de mudanças significativas na pontuação da avaliação, pode estar relacionado ao desenvolvimento das técnicas de microcirurgia aplicadas sem a utilização de retratores cerebrais, conferindo características menos traumáticas ao procedimento17.

A diferença significativa observada nos resultados olfatórios três meses após a cirurgia, indicando melhora nos resultados, corrobora com o estudo de Bor (2009)14 que mostrou modificações nas classificações olfatórias após um período de seis meses. Neste estudo, de 35 pacientes com alteração olfatória 20 (57%) apresentaram melhora total da função e 3 (8,5%), melhora parcial.

Ao pensar na aparente piora da função olfatória após a cirurgia e a melhora no terceiro mês, é importante citar as hipóteses mais aceitas como causas para o surgimento do déficit. No estudo de Griz (2014)17, a autora comenta que produtos da degradação sanguínea no espaço subaracnóideo poderiam está participando desse processo. Para Crowley (2008)19, esses produtos como a bilirrubina, biliverdina

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 161 Capítulo 49 Características do olfato em indivíduos pré e pós-tratamento para aneurismas intracranianos e grupamentos heme após processos oxidativos agiriam como potencializadores do vasoespasmo cerebral. Outras causas possíveis citadas na literatura são a ocorrência de isquemia em regiões cerebrais ligadas ao processamento olfatório causada pela própria hemorragia

CONCLUSÃO

Foi observada presença de alteração olfatória nos participantes, como também foi constatada melhora significativa da pontuação do olfato três meses após a primeira avaliação olfatória, com uma semana de pós-operatório.

Este estudo fornece mais indícios sobre o efeito da hemorragia subaracnóidea no olfato, bem como a influência do tratamento cirúrgico na disfunção olfatória já instalada. Observou-se que apesar do aumento da classificação olfatória alterada pós-cirurgia, esta tende a diminuir com o tempo, possivelmente por mecanismos ligados a recuperação do nervo olfatório e a melhora do quadro clínico do paciente no pós-operatório.

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Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 163 Capítulo 50 Comparação da produção da fala em crianças com frênulo lingual normal e alterado capítulo 50 compaRação da pRodução da FaLa em cRianças com FRÊnuLo LinGuaL noRmaL e aLteRado

Speech production comparison in children with normal and altered lingual frenulum

Irene Queiroz Marchesan1, Roberta Lopes de castro martinelli2 1.Fonoaudióloga; ceFac, são paulo-sp; doutora em educação pela universidade estadual de campinas - unicamp 2. Fonoaudióloga; hospital santa therezinha, Brotas-sp; doutora em ciências pela Faculdade de odontologia de Bauru, universidade de são paulo

ARTIGO ORIGINAL

DESCRITORES: Fonoaudiologia, Freio lingual, Distúrbios da Fala, Avaliação em Saúde.

INTRODUÇÃO

O frênulo da língua é uma pequena prega de membrana mucosa, localizada na face ventral, que conecta a língua ao assoalho da boca (SINGH, KENT, 2000). Estudos referem que as variações anatômicas do frênulo da língua acontecem quando tecidos remanescentes, que deveriam ter sofrido apoptose durante o desenvolvimento embrionário, permanecem na face inferior da língua, podendo ou não restringir seus movimentos (KNOX, 2010).

Estudos em humanos sugerem que as alterações do frênulo lingual têm um caráter hereditário significativo, ocorrendo mais comumente no gênero masculino, podendo estar relacionado ao cromossomo X e ser resultado de mutações do gene T-box, com herança autossômica dominante e penetrância incompleta (MORITA et al., 2004; KLOCKARS, PITKARANTA, 2009; HAN et al., 2012), havendo, entretanto, necessidade de mais pesquisas nessa área.

As diferentes definições e classificações, bem como a escassez de parâmetros padronizados de avaliação e diagnóstico dessa alteração podem justificar a variação da prevalência de alterações de

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 164 Capítulo 50 Comparação da produção da fala em crianças com frênulo lingual normal e alterado frênulo reportadas na literatura: 2,8 a 12,8% (BALLARD et al., 2002; HOGAN et al., 2005; SEGAL et al., 2007).

Embora existam divergências quanto às implicações das alterações do frênulo lingual nas funções de sucção, deglutição, mastigação e fala, a literatura é consensual ao afirmar que o frênulo lingual, quando alterado, causa limitações dos movimentos da língua.

Considerando a diversidade de opiniões e a falta de critérios padronizados para diagnóstico, Marchesan (2010) propôs um protocolo de avaliação do frênulo lingual que considera os aspectos anatômicos do frênulo lingual e os movimentos da língua tanto isolados como durante a produção da fala.

OBJETIVO

O objetivo desse estudo foi comparar a produção da fala em crianças com e sem alteração do frênulo lingual.

MÉTODOS

Este foi um estudo clínico experimental observacional, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do CEFAC Saúde e Educação, sob o número CAAE 48132015.3.0000.5538.

A pesquisa incluiu 560 crianças saudáveis, com idade acima de 7 anos, que tinham autorização dos pais e ou responsáveis para serem avaliadas. Foram considerados critérios de exclusão: sujeitos portadores de desvios fonológicos, deficiência auditiva, deficiência mental, alterações neurológicas e síndromes genéticas.

Todas as crianças foram avaliadas por meio do Protocolo de avaliação do frênulo da língua. O referido protocolo é dividido em duas partes: provas gerais e provas funcionais. Para esse estudo, foram considerados os itens das provas gerais referentes ao formato da língua durante a elevação, bem como a fixação do frênulo no assoalho da boca e na língua. Quanto às provas funcionais, foram analisadas as provas referentes à fala: fala informal, fala automática, nomeação e repetição de sílabas.

Imagens dos movimentos da língua e do frênulo lingual foram registradas em fotos e filmes. A produção da fala foi registrada em filmes. As imagens e dados das 560 crianças foram analisadas por duas fonoaudiólogas, com especialização em Motricidade Orofacial e vasta experiência em clínica e pesquisa, previamente treinadas para a aplicação do Protocolo de avaliação do frênulo da língua.

Para a análise estatística foi utilizado o teste de Qui-quadrado para comparação das variáveis qualitativas estudadas, sendo que o nível de significância adotado foi de 5%.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 165 Capítulo 50 Comparação da produção da fala em crianças com frênulo lingual normal e alterado

RESULTADOS

Das 560 crianças avaliadas com o Protocolo de avaliação do frênulo da língua, 368 (65,71%) foram diagnosticadas com frênulo normal e 192 (34,29%) com frênulo alterado.

Quando comparada a fala das 368 crianças diagnosticadas com frênulo normal, 257 (69,84%) apresentaram fala normal e 111 (30,16%), fala alterada. Já, para as 192 crianças diagnosticadas com frênulo alterado, 71 (36,98%) apresentaram fala normal e 121 (63,02%), fala alterada.

Das 111 crianças diagnosticadas com frênulo normal e fala alterada, 11 (9,91%) apresentaram alteração na produção do flape alveolar; 19 (17,12%), alteração na produção dos grupos consonantais com o flape alveolar; 29 (26,13%), alteração na produção dos grupos consonantais com o líquido lateral [l]; 8 (7,21%) alteração nas fricativas anteriores [s] e [z]; e 4 (3,60%), alteração nas fricativas posteriores [ ] e [ ]. ʃ ᴣ Já, das 121 crianças com frênulo e fala alterados, 39 (32,23%) apresentaram alteração na produção do flape alveolar; 46 (38,02%), alteração na produção dos grupos consonantais com o flape alveolar; 32 (25,62%), alteração na produção dos grupos consonantais com o líquido lateral [l]; 6 (4,96%) alteração nas fricativas anteriores [s] e [z]; e 2 (1,65%), alteração nas fricativas posteriores [ ] e [ ]. ʃ ᴣ A análise estatística evidenciou que as crianças com frênulo alterado, quando comparadas com crianças sem alteração do frênulo lingual, apresentam mais alteração de fala (p<0,001).

DISCUSSÃO

Este estudo foi conduzido com o objetivo de comparar a produção da fala em crianças com e sem alteração do frênulo lingual.

A fala é considerada a função orofacial mais refinada e sua produção está altamente relacionada com a livre movimentação da língua, uma vez que essa função necessita de movimentos rápidos e encadeados para que ocorra de forma adequada. Entretanto, embora a língua seja essencial para a fala, assim como para as outras funções orofaciais, sua anatomofisiologia ainda é pouco compreendida por ser de grande complexidade. Como consequência, o diagnóstico e tratamento das alterações da movimentação da língua sofrem atrasos em relação a outras estruturas do corpo humano, podendo comprometer o desenvolvimento das funções relacionadas a ela.

A literatura refere que o frênulo lingual alterado, seja porque está fixado mais anteriormente, ou quando se encontra curto, dificulta os movimentos da língua. Também relata melhora tanto dos movimentos da língua, quanto da fala dos sujeitos, após a liberação cirúrgica do frênulo lingual (MARCHESAN, 2004; GONÇALVES, FERREIRO, 2006; MARCHESAN et al, 2012; DOLLBERG, 2011; MARTINELLI, MARCHESAN, 2015).

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 166 Capítulo 50 Comparação da produção da fala em crianças com frênulo lingual normal e alterado

Na prática clínica, tanto os pacientes adultos, como os pais das crianças submetidas à frenectomia, relatam que a fala fica mais clara, ou mesmo normal, após a cirurgia para liberação do frênulo lingual.

Contudo, na reavaliação fonoaudiológica realizada após o procedimento cirúrgico, muitas vezes é observado que os sons da fala que estavam alterados antes da cirurgia, permanecem alterados. Entretanto, a fala como um todo melhora, provavelmente pelo fato da boca abrir mais, porém, sem a língua perder o contato com o palato durante sua elevação. Esse contato é essencial para produzir os sons que necessitam o toque da língua no alvéolo superior, como no caso dos linguoalveolares.

Interessante, que os profissionais que realizam a frenectomia percebem a melhora da fala como um todo, porém não relacionam essa melhora com a maior abertura da boca durante a fala.

Um estudo realizado por Fletcher, em 1968, já relacionava o comprimento e fixação do frênulo da língua com a produção da fala. Mais recentemente, alguns autores, geralmente fonoaudiólogos, também fazem a correlação entre alteração do frênulo e os sons linguoalveolares (GONÇALVES, FERREIRO, 2006; MARCHESAN et al, 2012).

Estudos têm evidenciado que a cirurgia para liberar o frênulo é essencial para a melhor produção da fala (OSTAPIUK, 2006; MARCHESAN et al., 2012). No entanto, poucos são os autores que relacionam essa melhora com a adequada produção de determinados fones, tais como o flape alveolar e o líquido lateral. Em geral, apenas citam que a fala melhora, sem determinar a razão ou em quais sons essa melhora ocorre.

Este estudo mostrou que, de fato, o flape alveolar e o líquido lateral são os sons que mais sofrem interferência da alteração do frênulo lingual.

CONCLUSÃO

Os resultados desse estudo demonstram que existe relação entre a produção da fala e o frênulo lingual. Alterações do frênulo da língua predispõem a alterações na produção de alguns sons da fala, sendo as alterações mais frequentes às relativas ao flape alveolar e ao líquido lateral.

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Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 168 Capítulo 51 Desenvolvimento de um sistema móvel inteligente para registros do teste da linguinha capítulo 51 desenVoLVimento de um sistema mÓVeL inteLiGente paRa ReGistRos do teste da LinGuinha

Development of a system for intelligent mobile for neonatal tongue screening testerecords

hitalo emanoel Gondim Bezerra de medeiros1, Roberta Lopes de Castro Martinelli2, Renata Veiga andersen cavalcanti3, pedro Fernandes Ribeiro neto4, cicília Raquel maia Leite5 1. universidade do estado do Rio Grande do norte, mossoró-Rn, mestre em ciência da computação ueRn-uFeRsa 2. hospital santa therezinha, Brotas-sp; doutora em ciências FoB-usp 3. universidade Federal do Rio Grande do norte, natal-Rn; doutoranda em ciências da saúde pela universidade Federal do Rio Grande do norte 4. universidade do estado do Rio Grande do norte, mossoró-Rn; doutor em engenharia elétrica pela universidade Federal de campina Grande 5. universidade do estado do Rio Grande do norte, mossoró-Rn; doutora em engenharia elétrica e computação pela universidade Federal do Rio Grande do norte (uFRn)

ARTIGO ORIGINAL

DESCRITORES: Freio lingual; Tecnologia em Saúde; Aplicativos Móveis; Profissional da Saúde; Fonoaudiologia; Controle de Formulários e Registros.

INTRODUÇÃO

A aplicação do Protocolo de avaliação do frênulo lingual em bebês, conhecida popularmente como “teste da linguinha” se tornou obrigatória em todos os hospitais e maternidades do Brasil com a sanção da lei nº 13.002/2014. O objetivo do teste da linguinha é diagnosticar precocemente as limitações dos movimentos da língua causadas pelo frênulo lingual (língua presa), que podem comprometer as funções de sugar e deglutir em bebês, levando ao desmame precoce.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 169 Capítulo 51 Desenvolvimento de um sistema móvel inteligente para registros do teste da linguinha

Na realização do teste da linguinha, vários dados são coletados. Um fator importante a ser observado é a forma como esses dados são coletados (de forma manual em prontuários de papel) e como se dá o seu armazenamento (empilhados em gavetas em determinado espaço físico), fatores que implicam diretamente na disponibilidade, dificultando o acesso e a pesquisa às informações. É possível utilizar sistemas computacionais para dar suporte e auxiliar os profissionais de saúde em ambientes hospitalares. Módulos móveis inteligentes de cuidados neonatais podem apresentar benefícios para o desenvolvimento do processo, tais como: registro dos dados de forma móvel, bem como fornecimento de alertas e dicas, de modo a auxiliar os profissionais na tomada de decisão. Diante das dificuldades de armazenamento dos dados obtidos com a realização do teste da linguinha, bem como da escassez de recursos para auxiliar na sua execução, a utilização de técnicas baseadas em sistemas inteligentes é essencial, uma vez que, quando utilizadas em conjunto, podem colaborar com a rápida obtenção dos dados.

OBJETIVO

O objetivo desse trabalho foi apresentar um sistema móvel inteligente para dispositivos móveis, para registro dos dados obtidos com a realização do teste da linguinha.

MÉTODOS

No desenvolvimento do sistema, foram utilizadas técnicas de inteligência computacional visando o processamento e classificação dos dados de entrada, bem como, a geração de informações úteis.

Foi desenvolvida uma rede neural artificial para o processamento dos dados, contendo todas as informações referentes aos dados de identificação, à história clínica, à avaliação anatomofuncional e à avaliação da sucção nutritiva e não nutritiva do Protocolo de avaliação do frênulo lingual em bebês.

O sistema foi disponibilizado para a Fonoaudióloga do Hospital Santa Therezinha - SP responsável pelo teste da linguinha, tendo sido inseridos os dados no sistema, construindo assim, a base de dados que foi utilizada no desenvolvimento deste trabalho.

Os dados armazenados no banco de dados do sistema, foram extraídos dos protocolos de avaliação do frênulo lingual aplicados nos recém-nascidos do Hospital Santa Therezinha, constituindo um conjunto de dados padrão ouro, ou seja, com confirmação de normalidade ou alteração do frênulo. A utilização do banco de dados foi autorizada pelo referido hospital.

A base de dados foi gerada, contendo 186 registros da história clínica, da avaliação anatomofuncional e da avaliação da sucção não nutritiva e nutritiva do Protocolo de avaliação do frênulo lingual, sendo 148 bebês diagnosticados com frênulo normal e 38 com frênulo alterado.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 170 Capítulo 51 Desenvolvimento de um sistema móvel inteligente para registros do teste da linguinha

Foram selecionados todos os itens pontuados do protocolo. O sistema criado separou os itens e os preparou para a etapa de processamento. Os dados de entrada foram processados e os frênulos foram classificados em normal ou alterado.

Na etapa de pós-processamento, a saída da rede neural artificial foi interpretada e apresentada ao profissional responsável. Se o resultado da rede fosse igual ao resultado do sistema de pontuação, era considerado dentro da normalidade, seja qual for o diagnóstico (normal ou alterado) e não haveria necessidade de modificações. Porém, se o resultado da rede fosse diferente do resultado do sistema de pontos, havia a possibilidade de que o profissional responsável pelo teste tivesse cometido algum erro ao inserir algum dos dados no protocolo. Neste caso o sistema recomendava que o profissional revisasse os dados inseridos antes de definir o diagnóstico. Com isso esperava-se minimizar as falhas humanas que ocorreriam sem a utilização do sistema e maximizar a confiança no diagnóstico final do teste.

Visando a portabilidade e o baixo custo, o módulo móvel foi desenvolvido baseado no sistema operacional Android, uma plataforma de desenvolvimento para aplicativos móveis como smartphones.

A arquitetura do sistema foi composta por três componentes principais. Um servidor que está hospedado na nuvem, disponibilizando o banco de dados onde as informações foram armazenadas. Uma rede, permitindo o transporte das informações para o servidor e vice-versa por meio de conexões wifi ou internet móvel. E finalmente, um módulo móvel, acessado por meio de um smartphone, podendo realizar solicitações à máquina servidora e obter respostas independentemente de sua localização, mantendo todo o processo transparente aos olhos de quem opera o sistema.

Os dados provindos dos módulos móveis foram sincronizados com o servidor, gerando uma base de dados ampla, com todos os dados dos bebês. Para o armazenamento dos dados no servidor foi utilizado um sistema de gerenciamento de banco de dados.

RESULTADOS

Como resultado desse trabalho foi desenvolvido o T_Linguinh@ Móvel, um ambiente móvel que permite a seleção, processamento e classificação dos dados de entrada além de possibilitar o registro e acesso às informações referentes à aplicação do Protocolo de avaliação do frênulo lingual em bebês.

Ao iniciar, o profissional de saúde deve fazer login para poder acessar as funções do aplicativo. Se confirmado, é garantido ao profissional o acesso ao menu principal com as seguintes opções: Cadastrar, Buscar Cadastro, Sincronizar e Opções.

Com a opção “Cadastrar”, o profissional pode fazer o registro de recém-nascidos. As informações coletadas nesta etapa são voltadas para identificação da bebê. Ao final da tela de cadastro há um botão que salva as informações e redireciona o profissional para a tela inicial. Na tela inicial, o

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 171 Capítulo 51 Desenvolvimento de um sistema móvel inteligente para registros do teste da linguinha profissional pode escolher entre realizar apenas a triagem neonatal ou o reteste. Também é possível acessar essa tela, a partir da opção “Buscar Cadastro” do menu principal. Para isso, será solicitado que o profissional informe o CPF do responsável pelo Recém-nascido (RN). Com o RN selecionado, são apresentadas na tela as opções: Triagem Neonatal e Reteste.

Ao selecionar a opção Triagem Neonatal, o profissional é direcionado a uma tela que, além de um menu que permite editar ou excluir o RN selecionado, apresenta as opções para fazer o registro dos dados da avaliação anatomofuncional e para visualizar os dados. Nesta tela também é possível visualizar a pontuação e o resultado da triagem (normal, alterado, resteste).

Ao selecionar a opção Reteste, o profissional é direcionado a uma tela que, além de apresentar todas as funcionalidades da triagem neonatal, apresenta opções para cadastrar e visualizar a história clínica e avaliação da sucção não nutritiva e nutritiva. Também é possível visualizar a pontuação de cada parte e o resultado final do reteste (normal ou alterado).

A opção “Visualizar” permite ao profissional resgatar as informações previamente cadastradas a respeito do RN selecionado e mostrá-las na tela.

As opções “História Clínica”, “Triagem”, “AV. Anatomofuncional” e “AV. Snn e Sn” disponibilizam o respectivo formulário para fazer o registro das informações a respeito do RN selecionado. Esta tela possui ainda um menu que, além de permitir editar ou excluir os dados do RN, possui uma opção para fazer a avaliação por meio da rede neural e obter a classificação do frênulo (normal ou alterado).

Os dados são atualizados com a opção “Sincronizar” do menu principal. Ao selecionar essa opção, os dados cadastrados no dispositivo são enviados ao servidor para verificação. Se uma informação específica não existir no banco de dados do servidor, esta é inserida; se já existir, há uma verificação de qual dado é o mais atual, por meio de uma comparação da data e hora em que cada um foi registrado. Se os valores que estão chegando do dispositivo são os mais atuais, estes são atualizados no servidor, caso contrário, o dispositivo recebe uma resposta para atualizar aqueles dados com os dados do servidor, fazendo-o antes de prosseguir com a verificação dos próximos valores.

Ao selecionar “Opções”, o profissional pode alterar sua senha bem como o endereço do servidor.

DISCUSSÃO

A tecnologia tem apresentado grandes benefícios para humanidade e a área da saúde tem usufruído consideravelmente desses benefícios.

Esse trabalho permitiu a disponibilização de um sistema móvel inteligente para registro do teste

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 172 Capítulo 51 Desenvolvimento de um sistema móvel inteligente para registros do teste da linguinha da linguinha; a criação de uma rede neural artificial capaz de receber e processar dados do sistema, bem como retornar o resultado desse processamento; a disponibilização dos dados referentes à aplicação do referido protocolo; e a criação um banco de dados padrão ouro referente ao protocolo do teste da linguinha.

O T_Linguinh@ é uma plataforma que dá suporte e auxilia os profissionais de saúde na execução do teste da linguinha. Esta plataforma recebe os dados relativos aos atendimentos. Estes dados são processados, classificados (gerando indicadores e alertas) e armazenados em uma base de dados, estando, assim, acessíveis remotamente 24 horas por dia, facilitando o trabalho dos profissionais.

A partir desse projeto, novos trabalhos podem ser desenvolvidos futuramente, como treinamento e teste da rede com uma quantidade maior de registros; possibilidade da emissão de relatório e implantação do sistema em ambiente real.

CONCLUSÃO

O T_Linguinh@ Móvel se mostrou um importante sistema de apoio nas rotinas do teste da linguinha, possibilitando o cadastro e armazenamento das informações, bem como a facilidade para acessar os dados.

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Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 173 Capítulo 52 Fissuras orais no Estado do Rio Grande do Norte, Brasil, entre 2009 e 2013: Prevalência e caracterização do perfil dos recém-nascidos e das genitoras capítulo 52 FissuRas oRais no estado do Rio GRande do noRte, BRasiL, entRe 2009 e 2013: pReVaLÊncia e caRacteRiZação do peRFiL dos RecÉm- nascidos e das GenitoRas

Oral clefts in the state of Rio Grande do Norte, Brazil, between 2009 and 2013: Prevalence and profile characterization of newborns and progenitors

antonio marcos oliveira de Lima, Lidiane de oliveira carvalho, Renata Veiga Andersen Cavalcanti universidade Federal do Rio Grande do norte-uFRn, natal, Rn.

ARTIGO ORIGINAL

DESCRITORES: Prevalência, Fenda Labial, Fissura Palatina, Recém-nascido.

INTRODUÇÃO

As fissuras orais podem ser definidas como aberturas na região do lábio e/ou palato, ocasionada pelo fechamento incompleto destas estruturas, que normalmente se formam entre a 4ª e a 12ª semana de gestação, ou seja, da falta de fusão dos processos nasais mediais entre si, e destes com os processos maxilares laterais, ocasionando alterações orofaciais complexas e, que trazem problemas relacionados à deglutição, fonação, respiração, de ordem alimentar, problemas de má oclusão como a mordida cruzada posterior, além de acúmulo de líquido na orelha média e problemas relacionados à estética no lábio e/ou nariz da criança1,2,3,4,5. De etiologia ainda desconhecida, as causas podem ser multifatoriais, envolvendo causas ambientais e genéticas6. Sabe-se que, a incidência desta anomalia cresce com a presença de familiares fissurados2.

Países como Japão, México e Canadá têm estatisticamente maiores prevalências, estimadas em aproximadamente 9.92 por 10.000 nascidos. Enquanto que, as menores prevalências são encontradas

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 174 Capítulo 52 Fissuras orais no Estado do Rio Grande do Norte, Brasil, entre 2009 e 2013: Prevalência e caracterização do perfil dos recém-nascidos e das genitoras na África do Sul, Itália e parte dos Estados Unidos7. No Brasil, há referência de que uma em cada 650 crianças são portadoras de fissura labiopalatal1. O único estudo realizado sobre a prevalência de fissuras no Estado do Rio Grande do Norte entre os anos de 2000 e 2005 revela que a prevalência de fissuras orais no Estado é de 0,49 casos/1000 nascidos vivos (NV)8. No Brasil, os dados referentes à prevalência de anomalias congênitas são obtidos por meio da Declaração de Nascido Vivo. Trata-se de um documento oficial, instrumento básico do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC), de responsabilidade do Ministério da Saúde, implantada a partir de 1990 no Brasil. Desde então, o seu preenchimento tornou-se obrigatório nas maternidades.

OBJETIVO

Verificar a prevalência de fissuras orais entre os anos de 2009 e 2013 no Estado do Rio Grande do Norte e caracterizar o perfil dos recém-nascidos e das genitoras.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo transversal, com dados secundários referentes aos registros de casos de fissura oral entre recém-nascidos por residência da mãe no Estado do Rio Grande do Norte, Brasil, no período de 2009 a 2013. Os dados foram obtidos por meio do SINASC, disponibilizado pela Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde. A variável dependente foi presença de fendas de lábio e/ou palato, No entanto, o sistema não fornece a especificidade da fenda e/ou fissura. As variáveis independentes foram divididas em maternas e do recém-nascido, sendo as maternas, idade (em anos), escolaridade (em anos de estudo) e número de consultas realizadas no pré-natal. As variáveis coletadas do recém-nascido foram: peso ao nascer (kg), tipo de parto, duração da gestação (semanas gestacionais), sexo e etnia. Para o cálculo da prevalência de cada regional de saúde, dividiu-se o número de ocorrência de fissuras (desfecho) pelo total de crianças nascidas vivas registradas em cada regional no período estudado e, posteriormente, a razão obtida foi multiplicada por 1.000 nascidos vivos. Ressalta-se que, como no presente estudo trabalhou-se com dados secundários oficiais, não foi necessário submeter o projeto à apreciação e aprovação de um Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), bastando apenas citar a fonte governamental por não existirem variáveis que possibilitem a identificação dos sujeitos da pesquisa.

RESULTADOS

No período estudado, o número de nascidos vivos no Estado do Rio Grande do Norte foi de 238.491, dos quais 119 possuíam algum tipo de fissura de lábio e/ou palato, representando uma prevalência de 0,50 casos/1.000 nascidos vivos. Ao se avaliar a prevalência nas oito regionais de saúde,

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 175 Capítulo 52 Fissuras orais no Estado do Rio Grande do Norte, Brasil, entre 2009 e 2013: Prevalência e caracterização do perfil dos recém-nascidos e das genitoras

Grande Natal (0,60), João Câmara (0,74) e Santa Cruz (0,68), estes apresentaram índices um pouco acima da média do Estado. Entretanto, existiram municípios com valores mais elevados, como o município de Nova cruz, com uma prevalência de 1,10 casos/1.000 nascidos vivos e o de Currais Novos, com 1,04 casos/1.000 nascidos vivos. A maior frequência dos recém-nascidos é do sexo masculino (63,02%), o parto do tipo cesáreo (57,98%), assim como a etnia parda (66,38%). No que se refere ao tempo de gestação, 69,74% dos recém-nascidos apresentaram entre 37 e 41 semanas de gestação, bem como 52,94% destes nasceram com peso entre 3000 e 3999. Em relação ao perfil das mães, a idade destas variou, 27,73% possuíam idade entre 25 a 29 anos, 26,05% tinham entre 20 e 24 anos e 23,52% entre 30 e 34 anos, assim como o número de consultas de pré-natal realizadas, 53,78% realizaram mais de 7 consultas e 35,2% realizaram entre 4 e 6 consultas. Os dados sobre a escolaridade das genitoras mostra que, a maioria (42,01%) estudou entre 8 e 11 anos.

DISCUSSÃO

A prevalência das fissuras orais no estado foi baixa se comparada a outras localidades como, Porto Alegre (1,32/1.000 NV), Joinville (1,24/1.000 NV), Pernambuco (1,80/1000 NV) e aproximada aos dados do Estado do Mato Grosso do Sul (0,49) e Sergipe (0,49/1000NV)9,10,11,12,13. Contudo, um fator que pode explicar a prevalência baixa no Estado do Rio Grande do Norte seria a subnotificação dos dados fornecidos pelo sistema de informação. Embora se tenha observado uma melhora na coleta de dados pelo sistema, a prevalência encontrada em Sergipe obtendo-se dados de prontuários em Centro especializado para indivíduos com fissuras orais foi maior do que a realizada pelo sistema13. Entretanto, o Estado do Rio Grande do Norte ainda não dispõe de um Centro especializado para fissurados, o que permitiria uma análise mais crítica e fidedigna da subnotificação desses dados. Ao analisar os resultados encontrados, observa-se um pequeno aumento no número de casos em quase todas as cidades pesquisadas em relação ao último estudo, fazendo-se necessário a investigação deste aumento, pois se sabe que fatores ambientais podem interferir no desenvolvimento embrionário, como por exemplo, exposição a drogas, tabagismo, além da deficiência de ácido fólico, que frequentemente acomete mulheres grávidas13. Destaca-se neste estudo que outros municípios que tinham obtido índices elevadíssimos no último estudo, como o município de Maxaranguape (3,52) e o de Serra do Mel (2,52), no presente estudo obtiveram a prevalência de zero no número de casos. Entretanto, esses dados podem ser entendidos pelo fato de que, nessas localidades, o número de nascidos vivos é baixo8.

CONCLUSÃO

A prevalência das fissuras orofaciais no período observado foi de 0,50/1.000 NV. Os recém- nascidos são na sua maioria do sexo masculino, de etnia parda e que nasceram a termo de parto cesáreo

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 176 Capítulo 52 Fissuras orais no Estado do Rio Grande do Norte, Brasil, entre 2009 e 2013: Prevalência e caracterização do perfil dos recém-nascidos e das genitoras com peso entre 3 e 4kg. Em relação ao perfil das mães, verifica-se que estas são jovens com idade entre 20 a 29, que possuem entre 8 e 11 anos de estudos e que frequentemente realizam as consultas pré- natais.

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Speech therapy in systemic sclerosis: case report

Leylane Fonseca Almeida, milena cabral de Lima, sílvia elaine Zuim de moraes Baldrighi universidade Federal de sergipe - campus são cristóvão-se

RELATO DE CASO

DESCRITORES: Esclerodermia; Eficácia; Intervenção; Sistema Estomatognático.

TEMA

Esclerose Sistêmica (ES) é uma doença multissistêmica crônica que faz parte do grupo de distúrbios autoimunes sistêmicos. Rara, de etiologia desconhecida SKARE,2007). Atinge órgãos nobres e tecidos periorais. Estima-se incidência de dois a dez indivíduos para cada milhão de habitantes (COLLIER,2001).

Quanto aos aspectos que envolvem a motricidade orofacial, há lacunas na literatura especializada. Algumas manifestações, foram citadas em pesquisas realizadas por reumatologistas e ou cirurgiões dentistas, incluindo a microstomia, xerostomia, perda da mucosa gengival (MAGRO, 2009), acometimento da laringe, disfagia orofaríngea, dificuldade na mastigação, enrijecimento de língua, alterações na produção de sons bilabiais em decorrência da limitação dos movimentos mandibulares e alteração vocal (BALDRIGHI et al., 2011;2013).

OBJETIVO

Comparar os resultados pré e pós-intervenção fonoaudiológica em sujeitos com esclerose sistêmica.

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PROCEDIMENTOS

Estudo clínico exploratório. Aprovado pelo Comitê de Ética - CAAE-0132.0.107.000-10. Realizado no Ambulatório de Reumatologia de um Hospital Universitário e no laboratório de motricidade orofacial.

Participaram deste estudo cinco indivíduos, de ambos os gêneros, sendo quatro femininos e um masculino, com média de idade de 44,6 anos. A amostra foi constituída por conveniência, todos os sujeitos deveriam ter diagnóstico médico prévio realizado por um reumatologista.

A intervenção fonoaudiológica, foi realizada uma vez por semana, teve duração de oito meses (média de 36 sessões). Trabalhou-se o preparo da região escapular, cervical, facial e de musculatura específica, por meio de: alongamentos, massagens externas na região dos músculos temporais e masseteres e estimulação da musculatura do pescoço. Exercícios isotônicos e isométricos. As funções orais de mastigação e deglutição (MARCHESAN, 2005). Foi realizada mensuração da abertura de boca no início e no final de cada sessão, utilizando o paquímetro digital Western 6¨.

Ao final da intervenção os dados foram tabulados em um banco de dados do programa Excel e analisados por meio do programa Statistical Package for the Social Sciencies – (IBM SPSS) versão 16.

RESULTADOS

Tabela 1. Caracterização da amotras

Nº Sujeito Gênero Idade Idade de Anos de Anos entre o início Sintoma inicial atual início da evolução dos sintomas e o doença da doença diagnóstico 1 M 24 22 2 2 Fraqueza nos membros 2 F 43 33 10 2 Manchas pelo corpo 3 F 45 30 15 1 Manchas pelo corpo 4 F 51 33 18 2 Inchaço e dores nas articulações 5 F 60 55 5 1 Inchaco e manchas pelo corpo

Legenda: M - masculino; F - feminino

Tabela 2. Comparação dos resultados pré e pós-intervenção quanto à mobilidade e tonicidade de língua, lábios e bochechas.

Estruturas / Aspectos Língua Lábios Bochechas avaliados Pré-terapia Pós-terapia Pré-terapia Pós-terapia Pré-terapia Pós-terapia

Mobilidade 0% 100% 20% 80% 40% 80% Tonicidade 60% 100% 60% 60% 20% 60%

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 179 Capítulo 53 Fonoterapia na Esclerose Sistêmica: relato de casos

Gráfico 1. Presença de postura habitual de lábios em repouso (inicial e final do tratamento).

Tabela 3. Resultados iniciais e após a terapia da função de mastigação.

Nº Sujeito Pré-terapia Pós-terapia

1 Alterada Direita Bilateral 2 Alterada Esquerda Bilateral 3 Alterada Direita Alterada Direita 4 Alterada Esquerda Bilateral 5 Alterada Esquerda Bilateral

Legenda: Bilateral- competência mastigatória ideal.

Gráfico 2. Intercorrências da deglutição.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 180 Capítulo 53 Fonoterapia na Esclerose Sistêmica: relato de casos

Tabela 4. Demonstração da efetividade da intervenção fonoaudiológica para à abertura de boca inicial e final.

Nº Sujeito Avaliação 1º mês 4º mês 6º mês 6º mês terapia terapia terapia terapia

1 37mm 39.6mm 40mm 41mm 42.3mm 2 30mm 35mm 35mm 35.9mm 36.5mm 3 26.9mm 33.8mm 32mm 34.5mm 37.2mm 4 37mm 47mm 46mm 47mm 47mm 5 40mm 47.8mm 48mm 48mm 54.2mm

Legenda: mm- milímetros

Tabela 5. Demonstra os vlores iniciais e finais durante uma sessão de terapia

Nº Sujeito Início Final

1 38mm 43mm 2 31mm 36mm 3 33.8mm 36.6mm 4 38mm 49mm 5 47.8mm 52mm

Legenda: mm- milímetros

DISCUSSÃO

Alterações miofuncionais orofaciais e as possibilidades de intervenção fonoaudiológica na ES são escassas.

Autores internacionais (JAGADISH; MEHTA; JAGADISH, 2012) e nacionais (BALDRIGHI, 2014) também revelaram estudos voltados para grupos pequenos de indivíduos quando se trata desta afecção devido a sua raridade.

Quanto ao gênero, a predominância foi feminina, corroborando com os achados da literatura (MAYES et al.,2003), numa proporção de (3:1). A ES é citada como incomum em homens, configurando pior prognóstico, principalmente abaixo dos 30 anos (COLLIER, 2001).

Com relação aos órgãos fonoarticulatórios (OFAs), pôde-se perceber comprometimento na mobilidade, tonicidade e postura habitual de repouso dos lábios.

Baldrighi et al. (2013), citaram alterações nesses aspectos também, provavelmente essas sejam em decorrência da diminuição da função da musculatura da face, indicando aumento da rigidez, o que pode estar contribuindo na redução da amplitude dos movimentos mandibulares causando prejuízo nas

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 181 Capítulo 53 Fonoterapia na Esclerose Sistêmica: relato de casos funções estomatognáticas. Este dado pode ser em função da deposição crônica de colágeno, bem como na restrição da abertura da boca citada frequentemente na literatura, pois nessa afecção a pele vai se tornando progressivamente espessa e perde a elasticidade limitando os movimentos faciais (PEREIRA et al., 2009).

A dificuldade na mastigação na ES foi citada na literatura por Baldrighi et al. (2013;2014). Essa alteração na mastigação pode estar relacionada à desordem da articulação temporomandibular e de limitações dos movimentos mandibulares (BRUNO 2004), bem como, devido ao enrijecimento que leva a uma alteração nos movimentos das estruturas envolvidas nesse ato em decorrência da deposição de colágeno nos tecidos periorais (PEREIRA et al., 2009).

Magro (2009); relatou que a desordem na deglutição pode levar os pacientes a quadros de complicações pulmonares que, se não forem reconhecidos e tratados, levarão a hospitalizações frequentes desses indivíduos.

A análise dos dados revelou sinais e sintomas de alterações na deglutição. Após a terapia um dos sujeitos que inicialmente só se alimentava por dieta líquida, após a 17ª sessão passou a se alimentar na consistência pastosa. A contração de masseter, de mentual e a participação perioral ainda persistem em 20% da amostra, mesmo assim, já é possível observar melhora no quadro. O resíduo alimentar na cavidade oral e movimento associado de cabeça não foi mais notado em 100% dos sujeitos. Com relação à rigidez de laringe 40% da amostra ainda a apresenta, mas há relatos de melhora no quadro.

Existe na literatura relato de alteração no modo respiratório na ES e que pode ser justificada pela dificuldade apresentada para o fechamento labial sistemático em função da rigidez na musculatura orofacial, como também do espessamento da pele (BALDRIGHI et al., 2013).

A restrição na abertura da boca é um achado comum nos casos de ES e possivelmente está relacionada ao espessamento da pele pelo acúmulo crônico de colágeno, característico da doença (BARON et al., 2014). Pode-se observar que os participantes apresentaram abertura máxima de boca igual ou inferior a 40mm, dado este considerado como um alerta a possíveis problemas musculares ou articulares(MENDES; MENDES; RHEDER, 2006).

Nessa população, essa restrição é observada pela microstomia que ocorre devido à deposição de colágeno nos tecidos periorais, levando o indivíduo queixar-se de dificuldade na higiene oral, fala, nutrição, inspeção orofaringeana e no tratamento dentário, podendo afetar a qualidade de vida do paciente (DHANRAJANI; JONAIDEL,2002). Este dado foi confirmado durante entrevista, pelo relato de dificuldades em realizar manobras de higiene oral, tanto pela garra esclerodérmica nas mãos (BARON et al., 2014), dificultando o manuseio da escova para escovar os dentes, quanto pela dificuldade na abertura da boca, como também dificuldade durante a mastigação( BARON et al., 2014).

Apesar de ainda estar abaixo do padrão de normalidade de abertura de boca (BIANCHINI,

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 182 Capítulo 53 Fonoterapia na Esclerose Sistêmica: relato de casos

2012) 60% (n=3) dos sujeitos tiveram ganhos expressivos, sendo que dois apresentaram variação de 5 a 6mm, um aumentou 10,3mm e os outros dois já atingiram o padrão de normalidade com ganho variando de dez a 14,2mm.

CONCLUSÃO

Os resultados pós terapia, revelaram melhora significativa da efetividade do trabalho fonoaudiológico.

REFERÊNCIAS

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Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 184 Capítulo 54 Habilidades de acadêmicos de Fonoaudiologia em detectar mentiras por meio de sinais faciais capítulo 54 haBiLidades de acadÊmicos de FonoaudioLoGia em detectaR mentiRas poR meio de sinais Faciais

Skills of Speech, Language and Hearing Sciences scholars to detect lies trough facial microexpressions

isadora diniz dos santos, manoel moreira de Gois, José Fabricio de Jesus andrade, Sílvia Elaine Zuim de Moraes Baldrighi, carla patrícia hernandez alves Ribeiro césar universidade Federal de sergipe - campus Lagarto-se

ARTIGO ORIGINAL

RESUMO

A Motricidade Orofacial é uma das especialidades da Fonoaudiologia e é responsável pela análise das expressões faciais. A literatura tem apontado que dentre os sinais da mentira, estão as microexpressões faciais. Objetivo: Comparar a discriminação dos discursos verdadeiros dos falsos, por meio de sinais faciais, entre acadêmicos de Fonoaudiologia do primeiro e último ano de um curso de graduação. Método: A amostra foi constituída por 34 alunos (28 mulheres e seis homens), divididos em dois grupos, sendo dezessete sujeitos do primeiro ano (21,19±5,03 anos) e dezessete do último (24,21±7,34 anos). Oito vídeos contendo discursos verdadeiros (em três) e mentirosos (em cinco) foram apresentados aos sujeitos da amostra, sem que soubessem da veracidade dos discursos, sendo-lhes orientado que julgassem, por meio da avaliação de sinais faciais, se os vídeos apresentados representavam um discurso verdadeiro ou mentiroso. Para se avaliar a confiança dos participantes na detecção dos sinais faciais de discursos mentirosos, solicitou-se preenchimento de escala likert de zero a nove - sendo zero, o melhor valor (confiança satisfatória) e nove, o pior (confiança insatisfatória). Os resultados foram submetidos à análise estatística por meio do teste exato de Fisher, para comparar o número de acertos e erros dos participantes, sendo considerados significantes os valores abaixo de 5%. Resultados: A maioria dos acadêmicos detectou corretamente se o discurso era verdadeiro ou falso (67%), não sendo encontradas diferenças estatisticamente significantes entre os grupos (p=0,25647).

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 185 Capítulo 54 Habilidades de acadêmicos de Fonoaudiologia em detectar mentiras por meio de sinais faciais

Os principais sinais dos discursos desonestos foram detectados, por ordem decrescente, em: olhos, boca e alterações na intensidade das expressões faciais quando comparadas à linha de base como inexpressividade ou aumento da expressão facial. Ambos os grupos evidenciaram confiança em suas respostas (médias obtidas para o IV Ciclo: 3,41 e para o I Ciclo: 3,74). Conclusão: O conhecimento da musculatura do sistema estomatognático favorece a detecção de discursos mentirosos e permite confiança nessa avaliação, sendo que os principais sinais foram detectados em orbiculares (olhos e boca) e na mudança do grau de intensidade das expressões faciais.

DESCRITORES: Fonoaudiologia; Sistema Estomatognático; Decepção.

INTRODUÇÃO

A moral advém de um conjunto de regras cuja essência está respaldada no respeito que o indivíduo nutre pelas regras (PIAGET, 1992) e pelos atos e pensamentos relacionados à ajuda ao outro (EISENBERG, 1992), sendo que a noção de moralidade se modifica no decorrer da vida, sendo que há diferentes correntes teóricas (cognitivistas, comportamentalistas, psicanalíticas e sóciocognitivistas, por exemplo) que tentam explicar a aquisição do juízo moral (KOLLER; BERNARDES, 1997).

Um dos princípios morais é a verdade, sendo que sua busca é um impulso natural do homem e a mentira pode ser considerada como um ato de violência, uma vez que prejudica as relações humanas (ANDRADE, 1998).

Assim, detectar se um sujeito mente ou fala a verdade tem sido alvo de pesquisas brasileiras e internacionais, dentre as quais o foco deste estudo recai sobre a hipótese de que as pistas visuais (não verbais), como as expressões e demais sinais faciais, podem auxiliar nessa detecção.

Isto porque ao mentir o indivíduo pode deixar transparecer sinais não verbais através de suas expressões faciais, salientando-se que apesar de serem utilizados os mesmos músculos faciais durante a fala e a expressão emocional, os processos neurais parecem ser distintos, exigindo processos de complexidades diferentes (LEITE, 2014).

As microexpressões faciais são movimentos realizados de forma rápida e que informam sobre o estado emocional do indivíduo, podendo ser analisadas para a detecção da emoção, mesmo que não seja verbalizada oralmente (PORTER; BRINK, 2010).

Os sinais faciais relacionados à mentira descritos na literatura foram: sorriso – incluindo o assimétrico (GULOTTA, 1997), evitar contato ocular (BRITO, 2013), morder os lábios, engolir saliva várias vezes, movimentos faciais assimétricos (YAP et al., 2011), controle da expressividade facial e aumento no piscar de olhos (BRITO, 2013).

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 186 Capítulo 54 Habilidades de acadêmicos de Fonoaudiologia em detectar mentiras por meio de sinais faciais

De acordo com Honório (2012) e Brito (2013), no Brasil faltam estudos observacionais sobre detecção de mentiras, revelando a importância de pesquisas na área.

OBJETIVO

Comparar a discriminação dos discursos verdadeiros dos falsos, por meio de sinais faciais, entre acadêmicos de Fonoaudiologia do primeiro e último ano de um curso de graduação.

MÉTODOS

Projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CAEE Nº 42025115.9.0000.5546).

A amostra foi constituída por 34 alunos (28 mulheres e seis homens), divididos em dois grupos, sendo dezessete sujeitos do último ano (24,21±7,34 anos – grupo 1) e dezessete do primeiro (21,19±5,03 anos – grupo 2).

Em dia e horário pré-agendados, os participantes assistiram a vídeos contendo discursos verdadeiros e falsos e foram informados de que havia relatos verdadeiros e mentirosos, frente ao objetivo da pesquisa.

Foram apresentados oito vídeos, sendo quatro com sujeitos do gênero masculino e quatro do feminino, sem presença de sinais e cicatrizes na face, contendo discursos verdadeiros (37,5%) e falsos (62,5%). Os vídeos foram apresentados em local apropriado para a finalidade.

Foi utilizado o Questionário de Detecção de Mentiras (HONÓRIO, 2012) sendo atribuída uma nota para a veracidade do discurso assistido e outra para a confiança em seu próprio julgamento, por escala likert de um (totalmente verdadeira) a nove (totalmente mentirosa e sem confiança). No questionário havia espaço para que os participantes assinalassem os sinais faciais observados nos discursos.

O tempo estimado para o teste e preenchimento do questionário foi, em média, de 32 minutos.

Os resultados foram submetidos à análise estatística por meio do teste exato de Fisher, para comparar o número de acertos e erros dos participantes, sendo considerados significantes os valores abaixo de 5%.

RESULTADOS

A maioria dos acadêmicos detectou corretamente se o discurso era verdadeiro ou falso (67%), sem diferenças estatisticamente significantes entre os grupos (Tabela 1).

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Tabela 1. Resultados comparativos na detecção de discursos verdadeiros e mentirosos por acadêmicos de Fonoaudiologia do último e do primeiro ano.

VÍDEOS Último ano Primeiro ano ACERTO ERROS ACERTO ERROS

1 13 13 11 6 2 14 14 13 4 3 15 15 11 6 4 14 14 10 7 5 15 15 13 4 6 1 1 6 11 7 2 2 7 10 8 17 17 11 6 TOTAL 91 91 82 54

P= 0,25647

Os principais sinais dos discursos desonestos foram detectados, por ordem decrescente, em: olhos, boca e alterações na intensidade das expressões faciais quando comparadas à linha de base como inexpressividade ou aumento da expressão facial. Ambos os grupos evidenciaram confiança em suas respostas (médias obtidas para o último ano: 3,41 e para o primeiro: 3,74).

DISCUSSÃO

Nas interações sociais parte-se do pressuposto de que as pessoas estejam falando a verdade, porém nem sempre isso ocorre.

A mentira é utilizada para diversas finalidades e faz parte do cotidiano do ser humano, porém a Ciência tem evidenciado que alguns sinais podem ser detectados mediante discursos desonestos (GULOTTA, 1997, YAP et al., 2011, BRITO, 2013), com exceção nas psicopatias, em que esta tarefa é mais difícil (SILVA, 2014).

A maioria dos participantes obteve êxito e confiança na tarefa, provavelmente devido à habilidade oferecida pela graduação em Fonoaudiologia quanto ao reconhecimento da musculatura facial, evidenciando que os sinais faciais podem favorecer a detecção de discursos mentirosos.

CONCLUSÃO

O conhecimento da musculatura do sistema estomatognático favorece a detecção de discursos mentirosos e permite confiança nessa avaliação, sendo que os principais sinais foram detectados em orbiculares (olhos e boca) e na mudança do grau de intensidade das expressões faciais.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 188 Capítulo 54 Habilidades de acadêmicos de Fonoaudiologia em detectar mentiras por meio de sinais faciais

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Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 189 Capítulo 55 Habilidades em detectar emocões por acadêmicos de um curso de graduação em Fonoaudiologia capítulo 55 haBiLidades em detectaR emoções poR acadÊmicos de um cuRso de GRaduação em FonoaudioLoGia

Skills to detect emotions by scholars of a degree course in Speech, Language and Hearing Sciences

José Fabricio de Jesus andrade, manoel moreira de Gois, isadora diniz dos santos, Sílvia Elaine Zuim de Moraes Baldrighi, carla patrícia hernandez alves Ribeiro césar universidade Federal de sergipe - campus Lagarto-se

ARTIGO ORIGINAL

RESUMO

Para a conclusão da graduação em Fonoaudiologia, o acadêmico precisa atingir habilidades e competências para a atuação profissional, dentre as quais se destacam o reconhecimento das microexpressões faciais na detecção de diferentes emoções. Objetivo: verificar se acadêmicos do primeiro e último ano do Curso de graduação em Fonoaudiologia apresentam habilidades em detectar emoções, por meio de microexpressões faciais. Método: A amostra foi constituída por 34 alunos (28 mulheres e seis homens), divididos em dois grupos, sendo dezessete sujeitos do primeiro ano (21,19±5,03 anos) e dezessete do último (24,21±7,34 anos). Imagens representando as seis expressões faciais básicas foram apresentadas primeiramente com face neutra em velocidade normal de visualização e posteriormente, sob a forma de microexpressão (velocidade de 0,25 segundos). Os resultados foram submetidos à análise estatística por meio do teste exato de Fisher, para comparar o número de acertos e erros dos participantes, sendo considerados significantes os valores abaixo de 5%. Resultados: Não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes entre os grupos, sendo que a maioria dos acadêmicos percebeu corretamente as microexpressões relacionadas às emoções de alegria, nojo, raiva e susto. Já a detecção do medo e da tristeza foram as microexpressões em que a maioria apresentou dificuldades. Conclusão: A maioria dos acadêmicos de Fonoaudiologia, sem distinção entre a série cursada, apresentou facilidade em detectar emoções por meio de microexpressões faciais, embora as

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 190 Capítulo 55 Habilidades em detectar emocões por acadêmicos de um curso de graduação em Fonoaudiologia emoções relacionadas ao medo e à tristeza tenham sido aquelas em que houve maior dificuldade, evidenciando necessidade de maior treinamento para melhor reconhecimento dessas emoções, sob a forma de microexpressão facial.

DESCRITORES: Fonoaudiologia; Expressão Facial; Músculos Faciais.

INTRODUÇÃO

As emoções podem ser expressas de maneiras diversas, podendo se manifestar pelas expressões faciais, tidas como universais (LEITE, 2014), sendo realizadas de forma automática (OTTE et al., 2011). Teóricos consideram esta uma habilidade ou inata (OSTER; EKMAN, 1978) ou quepodem sofrer influência cultural no seu aprendizado (OSTER; EKMAN, 1978, MARSH; ELFENBEIN; AMBADY, 2003 e JACK; CALDARA; SCHYNS, 2012), evidenciando a necessidade de maiores estudos na área.

As expressões faciais emocionais podem ser interpretadas de forma rápida e podem ser aprendidas e modificadas a partir de consequências afetivas positivas ou negativas (AGUADO et al., 2013).

Como as expressões faciais são percebidas, na maioria das vezes, de forma inconsciente, o treinamento pode aprimorar sua interpretação (BORNEMANN; WINKIELMAN; VAN DER MEER, 2012).

Desta forma, parece pertinente que pesquisadores brasileiros detenham conhecimentos sobre o assunto, uma vez que diferentes profissionais e, em especial, o fonoaudiólogo, precisa ter habilidades na detecção de diferentes expressões faciais, quer seja para a intervenção no aperfeiçoamento, no trabalho com atores, por exemplo; para o trabalho clínico com pacientes que apresentam prejuízos na execução da mímica e da expressão facial emocional ou ainda para a perícia, em casos em que a análise das microexpressões faciais podem indicar, em conjunto com demais recursos expressivos, se um sujeito pode ou não estar mentindo.

OBJETIVO

Verificar se acadêmicos do primeiro e último ano do Curso de graduação em Fonoaudiologia apresentam habilidades em detectar emoções, por meio de microexpressões faciais.

MÉTODOS

Projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CAEE Nº 42025115.9.0000.5546), sendo que os participantes assinaram termo de consentimento.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 191 Capítulo 55 Habilidades em detectar emocões por acadêmicos de um curso de graduação em Fonoaudiologia

A amostra foi constituída por 34 alunos (28 mulheres e seis homens), divididos em dois grupos, sendo dezessete sujeitos último ano (24,21±7,34 anos – Grupo 1) e dezessete do primeiro (21,19±5,03 anos – Grupo 2) ano de um curso de graduação em Fonoaudiologia.

Vídeos com as seis emoções básicas (alegria, surpresa, raiva, tristeza, nojo e medo) foram apresentados aos participantes da amostra da seguinte forma:

1) Rosto inexpressivo (posição neutra), por dois segundos e

2) Rosto manifestando as microexpressões faciais por ? de segundo.

Os seis vídeos foram apresentados em dias e horários pré-agendados com cada participante. Foi utilizado o Questionário de Detecção de Emoções (LEITE, 2014) composto por seis possibilidades de emoções para se relacionar com o vídeo observado: raiva, alegria, surpresa, nojo, tristeza e medo, além de uma escala likert com pontuação variando de um a nove, para se avaliar a confiança no próprio julgamento daquele vídeo.

O tempo do teste de Detecção das Emoções foi de, no máximo, dez minutos (teste: 2,25 segundos por vídeo, preenchimento do questionário: entre um e dois minutos, sendo este o intervalo entre os vídeos).

Os resultados foram submetidos à análise estatística meio do teste exato de Fisher, para comparar o número de acertos e erros dos participantes, sendo considerados significantes os valores abaixo de 5%.

RESULTADOS

Não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes entre os grupos, sendo que a maioria dos acadêmicos percebeu corretamente as microexpressões relacionadas às emoções de alegria, nojo, raiva e susto. Já a detecção do medo e da tristeza foram as microexpressões em que a maioria apresentou dificuldades, independentemente do grupo a que pertenciam como pode ser observado na Tabela 1.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 192 Capítulo 55 Habilidades em detectar emocões por acadêmicos de um curso de graduação em Fonoaudiologia

Tabela 1. Comparação entre os grupos quanto aos acertos e erros na detecção de emoções.

Emoções Grupo 1 Grupo 2 P valor N % N %

Acertos 16 93,75 17 100 Alegria 0,234 Erros 1 6,25 0 0 Acertos 1 6,25 4 25 Medo 0,134 Erros 16 93,75 13 75 Acertos 12 68,75 14 81,25 Nojo 0,417 Erros 5 31,25 3 18,75 Acertos 11 62,5 10 56,25 Raiva 0,724 Erros 6 37,5 7 43,75 Acertos 16 93,75 12 68,75 Surpresa 0,062 Erros 1 6,25 5 31,25 Acertos 2 12,5 5 31,25 Tristeza 0,197 Erros 15 87,5 12 68,75

DISCUSSÃO

As microexpressões faciais são contrações musculares faciais que representam integralmente uma determinada emoção, porém produzidas de forma muito rápida e assume relevada importância no estudo da expressão facial da emoção (FREITAS-MAGALHÃES, 2014).

O reconhecimento das microexpressões faciais é útil tanto socialmente, para o ajuste emocional e aprimoramento nas interações sociais (DARWIN, 1872) quanto para diversos profissionais, tanto ligados às artes quanto à saúde e à criminalística, sendo que seu estudo no Brasil encontra-se em fase preliminar, o que justifica maiores estudos na área.

Assim, a motricidade orofacial, uma das áreas de estudo e conhecimento da Fonoaudiologia no Brasil, estuda a musculatura orofacial e suas funções (SOCIEDADE BRASILEIRA DE FONOAUDIOLOGIA, 2013), podendo favorecer a aquisição de habilidades e competências profissionais para a detecção de emoções.

Desta forma, foi realizado estudo preliminar investigando se acadêmicos desse Curso de graduação apresentam habilidades em detectar as emoções básicas, sendo possível constatar que mesmo aqueles que se encontram nas séries iniciais possuem destreza nessa detecção, não havendo diferenças entre os grupos 1 e 2 do estudo.

No entanto, as emoções relacionadas ao medo e à tristeza foram as que apresentaram maiores percentuais de erros por parte dos grupos investigados, o que justifica necessidade de maior treinamento

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 193 Capítulo 55 Habilidades em detectar emocões por acadêmicos de um curso de graduação em Fonoaudiologia dos grupos investigados para melhor atuação profissional futura, tendo em vista que a capacitação melhora o percentual de acertos, de acordo com a literatura (BORNEMANN; WINKIELMAN; VAN DER MEER, 2012).

CONCLUSÃO

A maioria dos acadêmicos de Fonoaudiologia, sem distinção entre a série cursada, apresentou facilidade em detectar emoções por meio de microexpressões faciais, embora as emoções relacionadas ao medo e à tristeza tenham sido aquelas em que houve maior dificuldade, evidenciando necessidade de maior treinamento para melhor reconhecimento dessas emoções, sob a forma de microexpressão facial.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGUADO, L.; ROMÁN, F. J.; RODRÍGUEZ, S.; DIÉGUEZ-RISCO, T.; ROMERO-FERREIRO, V.; FERNÁNDEZ- CAHILL, M. Learning of facial responses to faces associated with positive or negative emotional expressions. The Spanish Journal of Psychology, v. 16, p. 1-10, 2013.

BORNEMANN, B.; WINKIELMAN, P.; VAN DER MEER, E. Can you feel what you do not see? Using internal feedback to detect briefly presented emotional stimuli. International Journal of Psychophysiology, v. 85, n. 1, p. 116-124, 2012.

DARWIN, C. The expression of the emotions in man and animals. Chicago: University of Chicago, 1872.

FREITAS-MAGALHÃES, A. Micro-expressão e macro-expressão: vestígios e consequências. Porto: FEELab Sciences Books, 2014.

JACK, R. E.; CALDARA, R.; SCHYNS, P. G. Internal representations reveal cultural diversity in expectations of facial expressions of emotion. Journal of Experimental Psychology: General, v. 141, n. 1, p. 19-25, 2012.

LEITE, Y. B. P. Correlação entre identificação de emoções e detecção de mentiras. 2014. 48f. Dissertação [Mestrado em Ciências do Comportamento], Universidade de Brasília, Brasília.

MARSH, A. A.; ELFENBEIN, H. A.; AMBADY, N. Nonverbal “accents” cultural differences in facial expressions of emotion. Psychological Science, v. 14, n. 4, p. 373-376, 2003.

OSTER, H.; EKMAN, P. Facial behavior in child development. In: COLLINS, W. A. (Ed.) Minnesota symposia on child psychology, v. 11. Hillsdale: Lawrence Erlbaum, 1978. p. 231-276.

OTTE, E.; JOST, K.; HABEL, U.; KOCH, I. Exploring cross-task compatibility in perceiving and producing facial expressions using electromyography. Acta psychologica, v. 138, n. 1, p. 187-192, 2011.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE FONOAUDIOLOGIA. Respostas para perguntas frequentes na área de motricidade orofacial. São Paulo: SBFª, 2013.4

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 194 Capítulo 56 Impressão basilar e alteraçõs fonoaudiológicas - Revisão integrativa capítulo 56 impRessão BasiLaR e aLteRações FonoaudioLÓGicas - ReVisão inteGRatiVa

Basilar Impression and Speech Therapy Disorders - Integrative Review

Mayra Maria Oliveira de Lima, Joana domitila Ferraz silva, Lindenize mota de almeida, Victor costa alves medeiros Vieira centro universitário de João pessoa (unipÊ) - pB

REVISÃO INTEGRATIVA

DESCRITORES: Platibasia, Fonoaudiologia, Sistema Estomatognático

INTRODUÇÃO

Impressão basilar (IB) é uma malformação occipitocervical que consiste no encravamento da porção atlantoaxoideada raque no interior da fossa posterior do crânio1. Em casos mais avançados é denominado de invaginação basilar, podendo estar associado à platibasia, acutibasia, occipitalização do atlas, sendo a siringomielia e a malformação de Arnold-Chiarias comorbidadesmais frequentes.Tal anomalia óssea congênita é uma neuroplasia frequente no Nordeste do Brasil2,3,4,5, possivelmente associada ao biótipo braquicéfalo (cabeça chata), comum nesta região, o que foi destacado por alguns estudos2,3,6,7. Sugere-se ainda, que este fato esteja relacionado à época colonial8.

O diagnóstico é obtido por exames neurológicos e radiológicos, principalmente este último, através de raios-x craniano fazendo medições baseadas nas linhas de Chamberlain e McGregor. Normalmente, ambas as linhas passam pela ponta da apófise odontóide do áxis, ou muito próximo dela. Nos casos de impressão basilar, a extremidade do dente axóideo transpõe cranialmente as referidas linhas. O tratamento é essencialmente cirúrgico e visa a descomprimir as estruturas nervosas1. A IB trata- se de uma malformação óssea que achata a base do crânio sobre a base da coluna cervical, fazendo com que haja o deslocamento do processo odontoide pelo forame magno, provocando assim, a compressão de estruturas como: tronco encefálico, cerebelo, medula cervical e nervos cranianos. Possíveis lesões nessa área podem implicar importantes impactos no Sistema Estomatognático (SE), como por

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 195 Capítulo 56 Impressão basilar e alteraçõs fonoaudiológicas - Revisão integrativa exemplo: alterações na deglutição, hipotonia muscular e outras alterações inerentes à area Motricidade Orofacial (MO). Além disso, podem aparesentar outros comprometimentos fonoaudiológicos: rinolalia, disfonia, hipoacusia e afasia, por exemplo.Essas alterações são verificadas pelos neurocirurgiões antes da intervenção cirúrgica, mas que podem persistir mesmo no momento pós-cirúrgico.

OBJETIVO

Pesquisar, na literatura brasileira, publicações que contemplam as possíveis alterações fonoaudiológicas decorrentes de impressão basilar.

MÉTODO

Revisão integrativa por meio de seleção e análise de publicações que possuíam os descritores “transição crânio-cervical”, “impressão basilar” e “platibasia” como palavras-chave, sem corte temporal. Consideraram-se apenas os trabalhos completos disponíveis gratuitamente on-line, publicados na plataforma Scielo, podendo estarescritos em língua Portuguesa e Inglesa, e que abordaram o tema relacionado. Foram excluídos artigos que não atendiam plenamente aos critérios de inclusão e que não estavam diretamente relacionados ao tema, monografias, teses, capítulos de livros e artigos repetitivos.

RESULTADOS

Foram encontrados um total de 21 artigos, dos quais 11 deles evidenciaram alterações fonoaudiológicas, sendo os primeiros relatos datados em 1956. Todos os trabalhos caracterizavam-se como estudos de casos, totalizando 397 casos apresentados. Em 259 destes, houve paralisia ou lesão dos nervos cranianos Trigêmeo (V), Facial (VII), Auditivo (VIII), Glossofaríngeo (IX), Vago (X) e Hipoglosso (XII).

No que diz respeito aos sinais e sintomas clínicos pré-cirúrgicos, como pode ser identificado no Gráfico 1, identificaram-se 33 achados fonoaudiológicos, sendo 6% relacionado a alterações vocais (rinolalia e disfonia), 12% relacionado a alterações audiológicas (vertigem, hipoacusia, nistagmo, tontura), 3% relacionado a alterações de Linguagem (afasia), 3% de Disfagia e 76% relacionado a alterações de MO (distúrbios miofuncionais orofaciais e cervicais).

No que concerne aos aspectos clínicos pré-cirúrgicos referentes aos distúrbios miofuncionais orofaciais e cervicais (DMOCs), as regiões mais afetadas são a cervical e a velofaríngea, com 40% e 37% de frequência, respectivamente, de acordo com a Tabela 1. Em seguida, as áreas mais afetadas são: face (9%), outros (7%), músculos (6%) e língua (1%).

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 196 Capítulo 56 Impressão basilar e alteraçõs fonoaudiológicas - Revisão integrativa

Tabela 1. Distribuição dos distúrbios miofuncionais orofaciais cervicais no período pré-cirúrgico

Local DMOC Frequência %

Hipoestesia Facial 3 Espasmo Hemifacial (EHF) ou Facial 7 Face Hiperestesia tátil-dolorosa na Hemiface Esquerda (E) 1 Acometimento Facial Direito 1 9% Parestesia Facial 29 Dormência na Face 11 TOTAL 52

Língua Ageusia nos dois terços anteriores da língua 2 Desvio da ponta da língua para a direita à protusão 1 1% TOTAL 3 Assimetria do véu 1 Reflexo do véu abolido 3 Desvio do véu para a esquerda 1 Região Desvio da úvula para a direita (D) 1 37% Velofaríngea Náuseas (Reflexo Nauseoso) 4 Reflexo palatal e vômito abolidos 103 Refluxo Nasal 76 Paresia do Palato Mole 31 TOTAL 220 Região Cervical Dor no pescoço 135 Rigidez no pescoço 104 40% TOTAL 239 Atrofia muscular temporal e malar 1 Muscular Hipotonia 34 6% Hipertonia 3 TOTAL 38 Disartria 30 Outros Desvio da comissura labial para a esquerda 1 Desvio da mandíbula para a direita ao abrir a boca 1 7% Cabeça inclinada (head tilting) 8 TOTAL 40 TOTAL 592 100%

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 197 Capítulo 56 Impressão basilar e alteraçõs fonoaudiológicas - Revisão integrativa

Gráfico 1. Distribuição dos achados fonoaudiológicos quanto às suas respectivas áreas. João Pessoa, 2016.

Dos estudos que evidenciaram os resultados pós-cirúrgicos, alguns sinais e sintomas clínicos referentes aos DMOCs foram revertidos ou, ao menos, a maioria deles (71%), conforme nos apresenta a Tabela 02. Todavia, alguns distúrbios persistiram (23%) e outros não foram mencionados (6%). A região que mais evidenciou remissão pós-cirúrgica foi a cervical (55%). Vale ressaltar que mesmo que a região velofaríngea seja a segunda região com mais casos de remissão das alterações (27%), quase metade (43%) dos distúrbios persistiram, com destaque para o reflexo palatal e de vômito.

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Tabela 2. Distribuição dos distúrbios miofuncionais orofaciais cervicais no período pós-cirúrgico. João Pessoa, 2016.

Local DMOC R P NM

Hipoestesia Facial 3 -0- -0- Espasmo Hemifacial (EHF) ou Facial 5 2 -0- Face Hiperestesia tátil-dolorosa na Hemiface Esquerda (E) 1 -0- -0- Acometimento Facial Direito -0- -0- 1 Parestesia Facial 24 2 3 Dormência na Face 8 3 -0- TOTAL 41 7 4

Língua Ageusia nos dois terços anteriores da língua -0- -0- 2 Desvio da ponta da língua para a direita à protusão -0- -0- 1 TOTAL 0 0 3 Assimetria do véu -0- -0- 1 Reflexo do véu abolido -0- -0- 3 Desvio do véu para a esquerda -0- -0- 1 Região Desvio da úvula para a direita (D) 1 -0- -0- Velofaríngea Náuseas (Reflexo Nauseoso) 1 -0- 3 Reflexo palatal e vômito abolidos 29 73 1 Refluxo Nasal 64 11 1 Paresia do Palato Mole 21 10 -0- TOTAL 116 94 10 Região Cervical Dor no pescoço 133 2 -0- Rigidez no pescoço 97 7 -0- TOTAL 230 9 0 Atrofia muscular temporal e malar -0- -0- 1 Muscular Hipotonia 5 22 7 Hipertonia -0- -0- 3 TOTAL 5 22 11 Disartria 24 2 4 Outros Desvio da comissura labial para a esquerda -0- -0- 1 Desvio da mandíbula para a direita ao abrir a boca -0- -0- 1 Cabeça inclinada (head tilting) 6 2 -0- TOTAL 30 4 6 TOTAL 422 136 34

R: Regrediu; P: Persistiu; NM: Não Menciona

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 199 Capítulo 56 Impressão basilar e alteraçõs fonoaudiológicas - Revisão integrativa

DISCUSSÃO

A impressão basilar (IB) é uma anomalia de alta prevalência no Nordeste do Brasil2,3,4,5 e embora não haja nenhuma associação significativamente comprovada, uma pesquisa evidenciou que essa predominância se encontra historicamente associada ao biótipo braquicefálico (cabeça chata) comum nessa região, fenótipo este herdado de ancestrais pré-históricos (ameríndios) que já habitavam a região no momento da chegada do homem branco europeu8.

A IB em estado mais acentuado pode gerar uma invaginação basilar e normalmente se encontra associada à platibasia, por isso, vale salientar a diferença conceitual entre elas, uma vez que são comumente confundidos e utilizados de maneira errônea1,9. O termo platibasia consiste no aplanamento da base do crânio, caracterizado pelo aumento do ângulo basalde Welcher, formado por uma linha traçada do násion até o tubérculo anterior da sela turca e outra linha entre este último e o básion, tal ângulo deve ser sempre menor que 140 graus; a invaginação basilar ocorre quando a coluna vertebral se encontra elevada e protruída em relação à base do crânio e quando há o encravamento da porção atlanto-axóidea da raque no interior da fossa posterior, denomina-se impressão basilar1,9. Essas duas últimas condições são comumente mensuradas por meio da linha de Chamberlain e McGregor que se estende da porção posterior do palato duro até o ópstion ou, quando não visualizado, até a porção mais inferior do osso occipital. Essa linha é transpassada pela apófise odontoide e partes do atlas superiormente a 5milímetros nos casos de impressão basilar1,9.

A compressão que ocorre no tronco encefálico e no cerebelo devido à IB pode gerar sequelas importantes e de grande repercussão fonoaudiológica, uma vez que é nessa região a origem da maioria dos nervos cranianos. Uma lesão ou uma paralisia em mais de um dos pares dos nervos tais como trigêmeo, facial, vestíbulo coclear, glossofaríngeo, vago e hipoglosso foi relatado em diversos trabalhos em seus achados clínicos1,5,10,11,12. Estudos demonstraram que a maior parte dos pacientes apresenta distúrbios de deglutição e dos reflexos faringolaríngeos no pós-operatório imediato, o que pode caracterizar escopo de atuação do fonoaudiólogo1,13.

Os primeiros achados fonoaudiológicos foram evidenciados por volta de 1956 num estudo de que relatou sobre 20 casos de malformações occipitocervicais1. Suas evidenciações foram mais discretas em relação aos DMOCs, relatando apenas rigidez da musculatura cervical, hipoestesia facial e ageusia nos dois terços anteriores da língua. Essa primeira alteraçãofoi sendo bastante evidenciada em grande parte dos casos estudadosposteriormente5,12,14,podendo estar acompanhada de dor nessa região4,5,12. Déficit na sensibilidade e na mobilidade da face também é corriqueiramente descrita entre os sinais e sintomas clínicos, tais comohipoestesia facial, espasmos, dormência, hiperestesia tátil-dolorosa, parestesia e algum acometimento não detalhado seja na hemiface ou em sua totalidade1,5,7,10,12,15,16. Outra região alterada de vasta frequência é a velofaríngea.Muitas pesquisas relataram paresia de palato mole, refluxo nasal e reflexo de gag e palatal abolidos, esse último devendo estar presente4,5,10,12,14.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 200 Capítulo 56 Impressão basilar e alteraçõs fonoaudiológicas - Revisão integrativa

Verifica-se, em grande parte dos estudos, a preocupação em discutir qual a melhor intervenção cirúrgica que pudesse diminuir os casos de óbito e promovesse um prognóstico bom ao longo do tempo. Desse modo, alguns desses estudosexpuseram os achados clínicos pós cirúrgicos e possibilitou verificar, dentre os distúrbios miofuncionais orofaciais e cervicais,quais regrediram e quais persistiram. Os sintomas cervicais foram os que mais tiveram sucesso de reversão com tratamento cirúrgico, persistindo apenas na minoria dos casos1,4,5,12,14. Porém, houve casos em que a cirurgia não foi o suficiente para diminuir os DMOCs, principalmente na região velofaríngea e tônus muscular, uma vez que houve persistência em sua maioria dos reflexos de gag e palatal abolidos, estes que deveriam estar presentes, e hipotonia.

CONCLUSÃO

Ante o exposto, ressalta-se a necessidade de uma intervenção fonoaudiológica nos períodosprée pós cirúrgicos, uma vez que a presença de IB pode ocasionar inúmeras alterações fonoaudiológicas, principalmente relacionados aos distúrbios miofuncionais orofaciais e cervicais. Faz- se necessário uma análise dos aspectos clínicos fonoaudiológicos mais minuciosas para levantamento de dados específicos, pois os casos foram relatos de médicos neurocirurgiões que tinham como objetivo evidenciar a melhor forma de intervenção cirúrgica.

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Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 202 Capítulo 57 Medida de pressão de língua em crianças respiradoras orais capítulo 57 medida de pRessão de LÍnGua em cRianças RespiRadoRas oRais

Tongue pressure measurement in mouth breathing children

nayara duviges de azevedo, Josiane célia de Lima, Renata Maria Moreira Moraes Furlan, andréa Rodrigues motta universidade Federal de minas Gerais, minas Gerais (mG), Brasil.

ARTIGO ORIGINAL

DESCRITORES: Fonoaudiologia; Língua; Avaliação; Força muscular; Respiração Bucal; Criança.

INTRODUÇÃO

A respiração é um processo fisiológico que independe da vontade do indivíduo e, assim como a mastigação e a deglutição, é uma atividade inerente à vida1,2. A função respiratória é um dos principais objetivos das reabilitações fonoaudiológicas na área de motricidade orofacial. A respiração usual deve ser predominantemente nasal, pois o nariz tem a função de umidificar, aquecer e filtrar o ar; esta função serve também de estímulo primário para o crescimento dos espaços funcionais nasal, oral e faríngeo1.

Para que a respiração nasal ocorra de forma eficiente é necessário que exista condição de passagem de ar pelas narinas3. Quando por algum motivo, obstrutivo ou não, essa respiração torna-se prejudicada, desenvolve-se uma respiração oral de suplência que irá suprir as necessidades respiratórias2.

A língua é um órgão muscular que está envolvido nas funções de mastigação, deglutição, sucção, respiração e fonoarticulação e tende a estar alterada nos casos de respiração oral4. Embora as pesquisas tenham identificado clinicamente a redução do tônus de língua em respiradores orais3,5-7, são escassos os estudos que mensuram a força e ou pressão de língua nessa população. Informações dessa natureza podem, além de auxiliar na precisão do diagnóstico, auxiliar na comprovação da eficácia da terapia fonoaudiológica.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 203 Capítulo 57 Medida de pressão de língua em crianças respiradoras orais

OBJETIVO

Caracterizar a pressão de língua de crianças respiradoras orais.

MÉTODOS

Estudo observacional analítico do tipo transversal com amostra probabilística composta por 40 crianças, com idade entre 5 e 12 anos, sendo 20 do grupo caso (13 meninos e 7 meninas com média de 7,65 anos), respiradoras orais com diagnóstico multiprofissional, e 20 do grupo controle (13 meninos e 7 meninas com média de 8,25 anos), respiradoras nasais pareadas por sexo e idade (±2 anos).

A avaliação da pressão lingual foi realizada por meio do Iowa Oral Performance Instrument – (IOPI). Trata-se de um dispositivo portátil no qual a pressão da língua é medida por meio de um transdutor de pressão, sendo analisada a pressão máxima que um indivíduo pode exercer contra um bulbo preenchido com ar e calibrado, ao pressioná-lo contra o palato duro. Foi solicitado a cada avaliado que empurrasse o bulbo contra o palato com a maior força que pudesse e que sustentasse essa contração por 3 segundos. Foram realizadas três medidas de cada participante e utilizados 30 segundos de descanso entre as medições.

Para análise estatística aplicou-se: teste t, teste qui-quadrado, ANOVA e correlação de Pearson ao nível de significância de 5%.

A pesquisa foi aprovada pelo CEP da instituição de origem sob o nº 36663614.8.0000.5149.

RESULTADOS

A pressão média da língua do grupo com respiração modo oral foi menor do que a do grupo com respiração nasal (p<0,001). Houve diferença entre a classificação do tônus de língua sendo que apenas os respiradores orais apresentaram este diminuído (p<0,001). Na análise do tipo tratamento quando se considerou apenas as opções “cirúrgico” e “medicamentoso” verificou-se ausência de diferença com relevância estatística (p=0,193). Houve diferença ao se analisar as faixas etárias apenas no grupo com respiração modo nasal (p<0,001).

Os resultados indicaram que a pressão de língua aumentou de acordo com a faixa etária, embora da primeira para a segunda os dados tenham apenas ficado próximos ao ponto de corte. No grupo com respiração modo nasal houve correlação forte e direta entre pressão de língua e idade. A análise comparativa do gênero indicou ausência de diferença com relevância estatística nos dois grupos – p=0,866 no grupo caso e p=0,291 no grupo controle.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 204 Capítulo 57 Medida de pressão de língua em crianças respiradoras orais

DISCUSSÃO

De acordo com os achados da presente pesquisa crianças com respiração de modo oral apresentaram pressão lingual menor do que aquelas com respiração de modo nasal. Um único estudo com objetivo de mensurar força ou pressão de língua em respiradores orais foi localizado na literatura8 sendo que os autores concluíram que as forças média e máxima foram maiores nos respiradores nasais, seguidos por aqueles em tratamento fonoaudiológico e, por fim, os respiradores orais pré-cirúrgicos. A pressão e a força da língua são grandezas relacionadas - a pressão exercida sobre uma determinada área é diretamente proporcional à força aplicada, mas é inversamente proporcional à área. Assim, pode-se considerar que os estudos identificaram os mesmos achados.

Na avaliação clínica também verificou-se diferença entre os grupos, estando o tônus diminuído apenas nas crianças com respiração oral. Estes dados estão de acordo com a literatura pesquisada que em avaliações clínicas também observaram esta diferença significante3,5-7. Na literatura pesquisada3,4,9 há relatos que a respiração oral pode desencadear vários distúrbios, o que poderia causar desequilíbrio muscular, gerando diminuição da pressão/força de língua, o que pode justificar os achados clínicos e instrumentais do presente estudo. Outro dado encontrado na literatura afirma que a projeção anterior da cabeça causa também mudanças na tensão da língua, face e nos músculos supra e infrahioídeos10.

Na análise do tipo de tratamento, apenas ao se introduzir a variável “não se aplica”, referente aos 20 respiradores nasais obteve-se dados significantes. Isto significa que o fato do paciente ser alérgico ou apresentar obstrução de adenoide e/ou amigdalas não interferiu na pressão da língua.

No presente estudo a pressão de língua aumentou de acordo com a faixa etária no grupo de respiradores nasais, embora da primeira para a segunda faixa etária os dados tenham apenas ficado próximos ao ponto de corte. Já no grupo de respiradores orais esse aumento da pressão proporcional com o aumento da idade não ocorreu. Segundo dados levantados na literatura, a força da língua aumenta rapidamente entre 3 e 8 anos de idade, chegando ao seu pico no final da adolescência por volta dos 16 anos onde os valores estão próximos aos encontrados em adultos11. O teste de Pearson comprovou que a correlação só foi positiva e altamente significante no grupo controle.

Ao se comparar os valores de pressão de língua de acordo com o sexo, verificou-se ausência de diferença com relevância estatística tanto no grupo respirador oral quanto no nasal. Em um estudo, que mensurou a força de língua de 150 crianças, também não houve diferença significativa na pressão de língua em relação ao sexo, no entanto, nos resultados foram encontrados valores maiores de pressão de língua no sexo feminino11.

Considera-se que avaliações instrumentais não substituem a avaliação clínica, devendo ser complementares uma da outra. Assim, é necessário que outros estudos sejam realizados nessa área, envolvendo um maior grupo de participantes, para traçar com mais objetividade o perfil de força para

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 205 Capítulo 57 Medida de pressão de língua em crianças respiradoras orais cada idade, gênero e características clínicas. Como a idade teve um comportamento bem específico, sugere-se que em próximos estudos os pareamentos ocorram considerando a idade exata das crianças.

CONCLUSÃO

A pressão média da língua de crianças com respiração oral é menor que a das crianças com respiração nasal. Verificou-se também que nos respiradores orais a pressão de língua não aumenta proporcionalmente com a idade. Estes dados indicam o grande impacto do modo respiratório no desenvolvimento da pressão lingual.

REFERÊNCIAS

1. Junqueira P. Respiração oral: fonoterapia para adultos e crianças. In: Marchesan IQ (org.). Motricidade Orofacial. Como atuam os especialistas. São José dos Campos: Pulso; 2004. p.25-30.

2. Tessitore A, Cattoni DM. Diagnóstico das alterações de respiração, mastigação e deglutição. In: Fernandes FDM, Mendes BCA, Navas ALPGP (org.). Tratado de Fonoaudiologia. 2a ed. São Paulo: ROCA; 2010. p.457-67.

3. Silva MAA, Marchesan IQ, Ferreira LP, Schmidt R, Ramires RR. Postura, tônus e mobilidade de lábios e língua de crianças respiradoras orais. Rev CEFAC. 2012;14(5):853-8.

4. Junqueira PS, Marchesan IQ, Oliveira L, Cicconne E, Hadaad L, Rizzo MC. Speech-language pathology findings in patients with month breathing multidisciplinary diagnosis according to ethiology. The International Journal of Orofacial Myology, 2010;36: 27-32.

5. Di Francesco RC, Passerotti G, Paulucci B, Miniti A. Respiração oral na criança: repercussões diferentes de acordo com o diagnóstico. Rev Bras Otorrinolaringol. 2004;70(5):665-70.

6. Hermann JS, Sakai APC, Frutuoso JRC, Frascino SVM , Hitos SF, Júnior MC. Características clínicas de crianças respiradoras orais. RBM. 2013;49(9):385-92.

7. Coelho-Ferraz MJP. Respirador bucal - Uma visão multidisciplinar. São Paulo: Lovise; 2005.

8. Rodrigues HOSN, Faria SR, Paula FSG, Motta AR. Ocorrência de respiração oral e alterações miofuncionais orofaciais em sujeitos em tratamento ortodôntico. Rev. CEFAC. 2005; 7 (3): 356-62.

9. Perilo TV, Motta AR, Las Casas EB, Saffar JM, Costa CG. Avaliação objetiva das forças axiais produzidas pela língua de crianças respiradoras orais. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2007;12(3):184-90.

10. Branco A, Fleischer GF, Weber SATW. Alterações orofaciais em doenças alérgicas de vias aéreas. Rev Paul Pediatr. 2007;25(3):266-70.

11. Potter NL, Short R. Maximal tongue strength in typically developing children and adolescents. Dysphagia. 2009;24(4):391-7.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 206 Capítulo 58 Percepção de fonoaudiólogos acerca do tratamento com prótese de palato e fonoterapia para Disfunção Velofaríngea capítulo 58 peRcepção de FonoaudiÓLoGos aceRca do tRatamento com pRÓtese de paLato e FonoteRapia paRa disFunção VeLoFaRÍnGea

Speech Therapists perception about treatment with palatal prosthesis for Velopharyngeal Dysfunction

Maria Tereza Maynard Santana1, Bianca mota dos santos2, Luiz carlos Ferreira da silva3 1. Fonoaudióloga - mestre em saúde, interdisciplinaridade e Reabilitação (Fcm - unicamp); doutoranda em ciências da saúde (universidade Federal de sergipe - uFs). [email protected] 2. ortodontista -especialista e mestre em ortodontia (Faculdade de odontologia da universidade Federal do Rio de Janeiro - uFRJ); doutoranda em ciências da saúde (universidade Federal de sergipe - uFs). [email protected] 3. cirurgião Buco-maxilo-Facial – mestre em patologia oral (universidade Federal do Rio Grande do norte - uFRn); doutor em odontologia (universidade de pernambuco - upe); professor adjunto da Graduação em odontologia, mestrado em odontologia e programa de pós-graduação em ciência da saúde (universidade Federal de sergipe – uFs). [email protected]

ARTIGO ORIGINAL

PALAVRAS-CHAVES: Palato Mole, Fonoaudiologia, Comunicação.

INTRODUÇÃO

Disfunção Velofaríngea (DVF) é compreendida como uma incapacidade de fechamento do esfíncter velofaringeo, ocasionando alteração na produção de fala, com ressonância excessivamente nasal causada pelo escape de ar indevido pelas narinas durante a produção dos fonemas orais, fraca pressão consonantal e presença de articulações compensatórias (TRINDADE et al., 2007).

O tratamento da DVF é realizado com a possibilidade do fechamento velofaríngeo adequado.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 207 Capítulo 58 Percepção de fonoaudiólogos acerca do tratamento com prótese de palato e fonoterapia para Disfunção Velofaríngea

Por isso, é necessário primeiramente realizar uma avaliação criteriosa para compreender qual o melhor tratamento para cada caso.

Para a avaliação fonoaudiológica pode ser aplicado o protocolo de avaliação de Trindade et al. (2005), que comtempla informações com base na hipernasalidade, emissão de ar nasal e presença ou ausência de articulações compensatórias. Com a aliança dos escores obtidos nesses aspectos é realizado uma classificação em escala de pontos para ser constatada a DVF. A escala varia de 1 a 3, em que 1- função velofaríngea adequada, 2- função velofaríngea marginal e 3- função velofaríngea inadequada (TRINDADE et al., 2005). A fonoaudióloga também pode realizar o “Teste de Estimulabilidade” (GOLDING-KUSHNER, 2001), afim de verificar o modo de produção fonêmica e a eliminação de compensação fonêmica. Essa prova é de grande importância para o diagnóstico de DVF, pois se os distúrbios compensatórios forem eliminados, fica possível a identificação dos distúrbios obrigatórios, como emissão de ar nasal, fraca pressão intra oral, hipernasalidade e movimentação facial associdada (GENARO et al, 2007).

Foi realizada também a nasolaringoscopia, em que pode-se observar o gap velofaríngeo e o tipo de fechamento: coronal (quando o palato mole tem maior mobilidade); sagital (quando as paredes laterais tem maior mobilidade); circular (todas as estruturas possuem mobilidades semelhantes) ou circular com anel de Passavant (todas as estruturas faríngeas possuem mobilidade, mas apresenta uma prega na parece posterior da faringe) (GENARO, 2004; TRINDADE et al, 2007).

Outro aspecto importante a ser avaliado na nasofaringoscopia é a origem da DVD, esta pode ser estrutural ou funcional (TRINDADE et al, 2007). Se o paciente apresentar uma incapacidade do funcionamento velofaríngeo de origem estrutural, como por exemplo, por falta de tecido, ele apresenta insuficiência velofaríngea, mas caso o paciente apresente uma alteração funcional, ou seja, há pouca mobilidade das estruturas do esfíncter, mesmo o palato tendo uma boa extensão é denominado de incompetência velofaríngea (ROCHA, 2007; TRINDADE et al, 2007).

Em casos em que o paciente é diagnosticado com DVF, o tratamento pode ser cirúrgico, com prótese de palato aliados à fonoterapia (TRINDADE et al, 2007). Nesse trabalho será especificado a prótese de trabalho, pois foi o tratamento aqui pesquisado.

A prótese de palato é encaminhada em pacientes com gap velofaríngeo muito grande ou quando as cirurgias não são indicadas (ORTELAN, 2007; RODRIGUES, 2011; PEGORARO-KROOK E AFERRI, 2013). Dessa forma, o objetivo principal da prótese de palato é propiciar a separação das cavidades nasal e oral a fim de promover o vedamento velofaríngeo (ORTELAN, 2007; RODRIGUES, 2011; PEGORARO-KROOK E AFERRI, 2013). A prótese aumenta a pressão intra-oral e estimula diretamente as paredes faríngeas. Por isso, a fonoterapia é imprescindível para o melhor funcionamento das paredes da faringe e adequação dos padrões de fala (PEGORARO-KROOK et al., 2004).

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 208 Capítulo 58 Percepção de fonoaudiólogos acerca do tratamento com prótese de palato e fonoterapia para Disfunção Velofaríngea

OBJETIVO

Analisar a percepção de fonoaudiólogos quanto a diferença na produção da fala antes e após o tratamento com prótese de palato aliada a fonoterapia em um paciente com DVF.

METODOLOGIA

Essa pesquisa foi realizada com um paciente, L., de 19 anos, atendido por uma equipe multidisciplinar de uma clínica particular da cidade de Aracaju-SE. O paciente em questão, apresentou uma fissura pós-forâmica e foi submetido a cirurgias primárias na infância. L. iniciou o tratamento em outubro de 2015 e finalizou em março de 2016.

O paciente queixava-se do seu padrão de fala hipernasal e a dificuldade dos outros em te entenderem. A fonoaudióloga aplicou o protocolo de avaliação da função velofaríngea de Trindade et al. (2005). Além disso, foi aplicado o Teste de Estimulabilidade GOLDING-KUSHNER, 2001). Constatou- se que o paciente teve o funcionamento velofaríngeo inadequado e presença de articulações compensatórias (golpe de glote).

Na nasolaringoscopia, L. apresentou um gap velofaríngeo superior a 10mm com fechamento sagital.

Foi prescrita a prótese de palato, confeccionada por uma ortodontista com auxílio de uma fonoaudióloga e um otorrinolaringologista. Após, o paciente iniciou terapia fonoaudiológica para o tratamento do Distúrbio de Articulação Compensatória.

Finalizado o tratamento, o paciente e a equipe mostraram-se satisfeitos com o tratamento. Com esse intuito, a equipe quis realmente entender se tratamento foi eficaz.

Antes de realizar a reavaliação da função velofaríngea e a nasolaringoscopia, foi criado um questionário para compreender a opinião de fonoaudiólogos sobre a efetividade do tratamento.

Após a anuência do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelo paciente, foram enviados dois áudios, um antes (outubro de 2015) e outro após o tratamento (março de 2016) e um questionário por e-mail. Neste, apenas constava a informação que esta era uma pesquisa conveniada a Universidade Federal de Sergipe.

Para tanto, foram convidados 20 fonoaudiólogos cadastrados do Sindicato de Fonoaudiologia de Sergipe (Sinforse) e vale ressaltar que nenhum profissional faz parte da equipe do estudo e não sabia o que estava sendo estudado.

Todos os convidados responderam a um questionário simples (em anexo).

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 209 Capítulo 58 Percepção de fonoaudiólogos acerca do tratamento com prótese de palato e fonoterapia para Disfunção Velofaríngea

RESULTADOS

Todos os fonoaudiólogos sentiram a diferença na fala e/ou na voz comparando os dois áudios.

Sobre o questionamento em que os fonoaudiólogos descreveram o que mais havia chamado atenção e a sua percepção auditiva, segue abaixo o resultado:

Quando questionou-se qual dos dois áudios a pessoa apresenta a fala mais inteligível, 95% dos entrevistados referiu que seria o áudio 2, ou seja, áudio do paciente após o tratamento.

A quarta pergunta, em que se questiona sobre as características perceptivas auditivas do áudio 1 (antes do tratamento), 80% dos participantes responderam que a fala era hipernasal e com imprecisão articulatória, enquanto 15% ressaltaram somente a hipernalidade e 5% não ressaltou nenhuma dessas opções.

Na quinta pergunta, 80% dos fonoaudiólogos referiram uma melhoria na ressonância e na articulação dos fonemas, como a redução dos fonemas compensatórios; enquanto 15% dos participantes relataram somente a melhoria na ressonância, ressaltando a redução da nasalidade e a condição mais oral e 5% apenas falou que a fala estava mais inteligível, pois o áudio estava mais limpo.

Para a última pergunta, em que foi questionado se eles acreditavam que houve tratamento terapêutico, segue abaixo o resultado:

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 210 Capítulo 58 Percepção de fonoaudiólogos acerca do tratamento com prótese de palato e fonoterapia para Disfunção Velofaríngea

DISCUSSÃO

O bom resultado na produção de fala com a aliança da prótese de trabalho e fonoterapia já é referido na literatura, pois, para Pinto et al (2010) nos casos de DVF com pouca movimentação das estruturas, a prótese combinada com a fonoterapia é uma boa opção para estimular a movimentação das paredes e promover o vedamento velofaríngeo.

Além disso, os resultados obtidos concordaram com os estudos de Rodrigues (2011); Pinto et al. (2007) e Abreu et al. (2007), em que houve melhora na fala dos pacientes após o uso da prótese.

Conclusão

O trabalho teve como conclusão que um diagnóstico preciso e uma terapêutica multidisciplinar possibilita melhorias para o paciente com IVF. Além disso, a prótese de palato aliada a fonoterapia promove melhoria na qualidade ressonantal para a redução da nasalidade e da produção de fonemas compensatórios.

REFERÊNCIAS

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GENARO, K.F. A terapia fonoaudiológica para a correção da produção da fala nos casos com fissura labiopalatina já reparada. In Motricidade Orofacial: Como atuam os Especialistas. Comitê de Motricidade Orofacial – SBFa. Pulso, 2004.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 211 Capítulo 58 Percepção de fonoaudiólogos acerca do tratamento com prótese de palato e fonoterapia para Disfunção Velofaríngea

GENARO, K.F., FUKUSHIRO, A.P., SUGUIMOTO, M.L.F.C.P. Avaliação e tratamenti dos distúrbios de fala. In: TRINDADE, I.E.K., SILVA FILHO, O.G. Fissuras Labiopalatinas: Uma abordagem interdisciplinar. Livraria Santos Editora Ltda, 2007.

GOLDING-KUSHNER K.J. Techniques for elimination of abnormal compensatory erros. In: GOLDING-KUSHNER, K.J. Therapy Techniques for Cleft Palate Speech and Related Disords. Singular, 2001.

ORTELAN, R.R. Prótese de palato em sujeitos com disfunção velofaríngea: expectativa e ansiedade. Dissertação de Mestrado em Ciências da Reabilitação – Distúrbios da Comunicação Humana (HRAC/USP), 2007.

ROCHA, D.L. Tratamento cirúrgico da Insufiência Velofaríngea. In: TRINDADE, I.E.K., SILVA FILHO, O.G. Fissuras Labiopalatinas: Uma abordagem interdisciplinar. Livraria Santos Editora Ltda, 2007.

RODRIGUES, R. Funcionamento velofaríngeo com e sem prótese de palato após palatoplastia. Dissertação de Mestrado em Ciências da Reabilitação – Distúrbios da Comunicação Humana (HRAC/USP), 2011.

PEGORARO-KROOK, M.I., AFERRI H.C. Reabilitação protética da disfunção velofaríngea: prótese de palato e obturador faríngeo. 48º Curso de Anomalias Congênitas Adquiridas. Bauru, 2013.

PINTO, J.H.N; DALBEN, G.S.; PEGORARO-KROOK, M. I. Speech intelligibility of patients with cleft lip and palate after placement od speech prosthesis. Cleft Palate Craniofacial Journal, v. 44, n. 6, 2007.

PINTO, R.P.; MACEDO, C.C.; TRINDADE JR, A.S.; FENIMAN, M.R.; DUTKA, J.C.R. Prótese de palato em sujeitos com disfunção velofaríngea

TRINDADE, E.K; YAMASHITA, R.P., BENTO GONÇALVES, C.G.A. In: TRINDADE, I.E.K., SILVA FILHO, O.G. Fissuras Labiopalatinas: Uma abordagem interdisciplinar. Livraria Santos Editora Ltda, 2007.

TRINDADE, E.K., GENARO, K.F.; YAMASHITA, R.P.; MIGUEL, H.C.; FUKUSHIRO, A.P. A proposal for velopharyngeal function rating on a speech perceptual assesment. Revista Pro Fono, 2005.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 212 Capítulo 58 Percepção de fonoaudiólogos acerca do tratamento com prótese de palato e fonoterapia para Disfunção Velofaríngea

ANEXO

Questionário sobre a percepção de Fala e Voz.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 213 Capítulo 59 Reabilitação fonoaudiológica - Técnica do alongamento do músculo tempora na paralisia facial periférica (LABBÉ) capítulo 59 ReaBiLitação FonoaudioLÓGica - tÉcnica do aLonGamento do mÚscuLo tempoRaL na paRaLisia FaciaL peRiFÉRica (LaBBÉ)

Speech therapy rehabilitation - Lengthening temporalis myoplasty in facial peripheral paralysis (LABBÉ)

Fga. Marion Renée Mory, Fga. dra. adriana tessitore, prof. dr. Jorge Rizzato paschoal, dr. mário Bazanelli Junqueira Ferraz, eduardo tinois da silva pesquisa realizada no ambulatório da Base do crânio e paralisia Facial - otorrinolaringologia do hospital de clínicas da Faculdade de ciências médicas da universidade estadual de campinas -unicamp. campinas -sp

RELATO DE CASO

DESCRITORES: Paralisia Facial, Músculo Temporal, Face, Reabilitação,

TEMA: PARALISIA FACIAL PERIFÉRICA

OBJETIVO

Após a Cirurgia de Labbé nos casos de Paralisia Facial (PFP) de longa data, promover inicialmente o controle consciente da região anatômica transferida, impulsionando expressões faciais como sorriso e melhor adaptar as funções estomatognáticas (mastigação e fala), visando a tornarem-se automáticas posteriormente.

PROCEDIMENTOS

Consta do acompanhamento clínico de três pacientes do sexo masculino, entre 15 e 46 anos, acometidos de Paralisia Facial Periférica (PFP) grau 6 House Brackmann (HB) de longa data, submetidos

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 214 Capítulo 59 Reabilitação fonoaudiológica - Técnica do alongamento do músculo tempora na paralisia facial periférica (LABBÉ)

à cirurgia de Labbé no Hospital de Clínicas – UNICAMP.

As causas da PFP são: congênita, iatrogênica (cirurgia de Schwanoma do VII par) e Colesteatoma da orelha média.

Os pacientes foram avaliados e o seguimento fonoaudiológico pós-operatório foi de quatro meses.

Os pacientes foram acompanhados da seguinte forma:

a) Atuação no alongamento do Músculo Temporal transferido mediante manobras bi digital intra e extraorais com deslizamentos suaves sobre os músculos faciais.

b) Levar o paciente a perceber o papel do Músculo Temporal na gênese do movimento de sorriso, inicialmente de forma consciente mediante apertamento dentário estimulando o sorriso, levando-o posteriormente a automatizar o movimento sem recorrer ao apertamento.

c) Levar o paciente a usar espontaneamente o músculo temporal transferido nas expressões faciais e funções orais.

A comprovação dos resultados da reabilitação foi realizada de duas formas:

1. Mensuração com paquímetro digital do espaço entre o tragus e a comissura labial no sorriso aberto e no sorriso fechado, antes e após cada sessão com o objetivo de verificar comparativamente as amplitudes da excursão da comissura labial (4,11).

Para a mensuração:

a. Com o paciente sentado é solicitado cerrar os dentes para promover a contração do Músculo Temporal. São tomadas 3 medidas.

b. Após as manobras bi digitais intra e extraorais, as medidas são tomadas novamente da mesma forma.

c. O paciente recebeu orientação para estimular em domicílio a contração do Músculo Temporal mediante cerramento dos dentes e a promover o sorriso.

d. Após haver percebido a contração do Músculo Temporal associada ao sorriso, este é solicitado sem o apertamento dentário.

f. Numa terceira fase, o paciente deverá sorrir espontaneamente, visando-se à integração da função no nível cortical.

2. Aferição do ângulo da comissura labial (ACL) nas fotos pré e pós-reabilitação:

O ACL é formado pela linha mediana facial, determinada pela ligação dos pontos

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 215 Capítulo 59 Reabilitação fonoaudiológica - Técnica do alongamento do músculo tempora na paralisia facial periférica (LABBÉ)

antropométricos (10,12,13) glabella e gnathion e cheilion. Os pontos glabella e gnathion são fixos e o ponto cheilion do lado paralisado é móvel. O cruzamento destas linhas forma o ACL que foi medido com transferidor.

RESULTADO

Com 30 dias da cirurgia o músculo temporal tracionado ainda está supercorrigido. Através das manobras intra e extraorais auxiliamos na sua soltura e alongamento até atingir a estabilidade.

Isto pode ser observado pelas medidas do tragus comissura labial (TR-CL) antes e depois das manobras.

Os pacientes relatavam peso na região do Músculo Temporal transferido que desapareciam após as manobras orofaciais intra e extraorais.

Ao final do período de quatro meses houve uma melhora no repouso facial, um ganho tanto no sorriso aberto quanto no sorriso fechado e os pacientes relataram melhora nas funções de Mastigação e Fala.

Comparando-se o ACL dos 3 casos pré e pós-reabilitação foi observado que estes se aproximam do valor de 900 encontrado nos indivíduos normais.

CONCLUSÃO

Concluímos que a através das manobras orofaciais intra e extraorais auxiliamos no alongamento das fibras musculares e equilíbrio facial tanto estático quanto dinâmico.

O paciente teve maior consciência e propriocepção do músculo transferido e passou a usá-lo inicialmente de forma consciente com apertamento dos dentes e posteriormente sem o apertamento.

Observamos a melhora no alinhamento dos lábios tanto no sorriso fechado quanto no sorriso aberto comprovado pelo ACL.

Houve melhora na mastigação, com vedamento labial eficiente, redução no acúmulo de alimento no vestíbulo oral e controle no escape de ar na produção dos fones oclusivos e fricativos.

DISCUSSÃO

Nas Paralisias Faciais, onde a lesão do nervo é definitiva ocorre atrofia dos músculos da mímica facial. No prazo de seis meses a dois anos suas fibras terão sido substituídas, em sua maioria, por tecido fibroso.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 216 Capítulo 59 Reabilitação fonoaudiológica - Técnica do alongamento do músculo tempora na paralisia facial periférica (LABBÉ)

Os prejuízos estéticos e funcionais decorrentes causam transtornos psicossociais aos pacientes. As manifestações mais características causadas pela assimetria facial são dificuldade para falar, escape salivar, assimetria do lábio inferior e lagoftalmo.

A técnica da transposição de um sistema muscular vital e dinâmico numa face paralisada apresenta vantagens. A técnica de Labbé transfere toda função e força de contração do Músculo Temporal inervado pelo nervo trigêmeo, para a musculatura da região da comissura labial.

A tração do músculo previamente a sua sutura na comissura labial causa uma supercorreção. As manobras de soltura e alongamento do M. Temporal transferido trabalha no posicionamento desse músculo proporcionando uma simetria e equilíbrio â face.

A terapia de reabilitação deve ser iniciada com 15 dias de pós-operatório e é fundamental para a obtenção de resultados satisfatórios.

Inicialmente se reeduca a potencia do M. Temporal na sua função primária.

Na etapa do Sorriso Mandibular os pacientes são orientados a contrair o M. Temporal através do apertamento dentário. Essa contração levará a comissura labial para cima, promovendo um sorriso.

Este processo envolve a propriocepção e controle do músculo transferido.

Num segundo momento o Sorriso Temporal é obtido mobilizando-se o Músculo Temporal independente do apertamento dentário devido à neuroplasticidade.

Por último o Sorriso Espontâneo ou Voluntário, onde diante de uma situação engraçada o indivíduo é levado a rir, sem pensar na execução do movimento, ri espontaneamente.

Esta fase foi a mais difícil de ser conseguida, por ser espontâneo, não se pensa para realizar o ato de sorrir e o tempo que foram acompanhados, talvez não tivesse sido suficiente para que esse tipo de sorriso acontecesse.

Na literatura encontramos autores com a mesma opinião e sugerem que deva ser treinado por um período mais longo para que ocorra espontaneamente.

Na ausência de tônus muscular, o portador de PFP apresenta uma fala adaptada,

com alteração dos fones /F/, /V/, /P/ e /B/ que melhora com a transferência do M.Temporal para a comissura labial, diminuindo o escape de ar apresentado na articulação dos fones citados acima.

A Mastigação também se beneficiou com essa transferência. Com o cinturão oral mais tonificado possibilitou o selamento labial e diminuição do acúmulo de alimento no vestíbulo oral.

Com a fonoterapia, os pacientes puderam se apropriar da região transferida e perceber uma nova forma de realizar as funções, adaptando-se ao uso do M. Temporal como um músculo facial.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 217 Capítulo 59 Reabilitação fonoaudiológica - Técnica do alongamento do músculo tempora na paralisia facial periférica (LABBÉ)

A aderência do paciente ao protocolo de reabilitação é muito importante, pois dependerá dele o sucesso da reabilitação.

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Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 218 Capítulo 60 Relato da abordagem fonoaudiológica conduzido na cidade de origem de pacientes com fissura labiopalatina capítulo 60 ReLato da aBoRdaGem FonoaudioLÓGica conduZido na cidade de oRiGem de pacientes com FissuRa LaBiopaLatina

Review of the speech therapy approach as conducted at the city of origin of patients with cleft lip and palate

Laura Katarine Félix de Andrade1, maria daniela Borro pinto2, maria inês pegoraro-Krook1, 2, Jeniffer de cássia Rillo dutka1, 2 1. Faculdade de odontologia de Bauru, universidade de são paulo - Bauru-sp 2. hospital de Reabilitação de anomalias craniofaciais, universidade de são paulo - Bauru-sp

ARTIGO ORIGINAL

DESCRITORES: Características da população. Fissura palatina. Reabilitação dos Transtornos da Fala e da Linguagem. Fonoterapia.

INTRODUÇÃO

Aproximadamente 30% dos indivíduos com fissura palatina (FP), podem apresentar disfunção velofaríngea (DVF)1. A DVF é decorrente de alteração do funcionamento do mecanismo velofaríngeo2,3, e pode prejudicar a inteligibilidade de fala devido à presença de hipernasalidade e emissão de ar nasal, considerados sintomas passivos, e do uso de articulações compensatórias (AC), considerados sintomas ativos.

As AC são alterações na produção dos sons que se desenvolvem nas fases iniciais da aquisição fonológica da criança quando esta tenta compensar funcionalmente o mecanismo velofaríngeo (MVF) alterado em consequência da FP e/ou da DVF4, 5, 6, 7. Uma explicação para o desenvolvimento das AC é que o uso de pontos articulatórios atípicos ocorre como estratégias para regular a pressão de ar ao longo do trato vocal durante a produção de fala, envolvendo processos fisiológicos inerentes ao sistema

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 219 Capítulo 60 Relato da abordagem fonoaudiológica conduzido na cidade de origem de pacientes com fissura labiopalatina respiratório e aos seus reflexos, envolvendo o uso de pontos articulatórios em locais atípicos do trato vocal, principalmente na laringe e faringe.

A identificação e classificação das alterações de fala decorrentes da FP requerem avaliação perceptivo-auditiva-visual a qual pode ser corroboradas por exames instrumentais8, 9, 10, entretanto esse procedimento apresenta diversas limitações11, 12, 13, 14, de modo que até os profissionais experientes na avaliação e tratamento das alterações de fala decorrentes da fissura palatina e ou/ DVF podem apresentar dificuldades, sendo esta tarefa ainda mais difícil para os profissionais sem experiência. No Brasil, longe dos centros especializados serviços de alta complexidade para o gerenciamento da FLP, nem sempre são encontrados profissionais com experiência para o tratamento dos distúrbios de fala específicos na DVF13, 14, 15.

A fonoterapia intensiva é uma opção de tratamento em centros especializados onde é possível realizar um trabalho para sistematização do fechamento velofaríngeo e para a correção das AC, envolvendo várias sessões terapêuticas em um curto período de tempo, sendo uma alternativa para pacientes que residem em regiões distantes dos grandes centros e que não contam com fonoaudiólogos especializados.

A abordagem intensiva, nos distúrbios de fala relacionados à DVF, requer um diagnóstico preciso, uma abordagem específica e o compromisso do paciente diário e exclusivo, algo que dificilmente pode ser feito em serviços oferecidos na cidade de procedência. Sugere-se, portanto, que durante um programa de fonoterapia intensiva, o fato do paciente encontrar-se longe de sua residência e ter como compromisso único a realização das terapias pode ter um impacto importante no resultado do tratamento.

OBJETIVO

Caracterizar o enfoque terapêutico fonoaudiológico abordado na cidade de origem dos pacientes com fissura labiopalatina, atendidos no programa de fonoterapia intensiva, em um centro de Reabilitação de São Paulo.

MÉTODOS

Foi realizada a extração de dados a partir da análise de 156 prontuários de pacientes com fissura labiopalatina com disfunção velofaríngea e produção de articulações compensatórias, os quais foram atendidos no programa de fonoterapia intensiva do serviço de Prótese de Palato do HRAC-USP. As informações obtidas incluíram: gênero, idade, cidade e estado de origem, realização ou não de fonoterapia na cidade de origem (procedência), tempo de fonoterapia, se houve ou não parceria com

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 220 Capítulo 60 Relato da abordagem fonoaudiológica conduzido na cidade de origem de pacientes com fissura labiopalatina um centro especializado em FLP e DVF e qual a abordagem terapêutica realizada. As informações obtidas foram documentadas por fonoaudióloga do programa de fonoterapia intensiva a partir de entrevista com o paciente ou seu cuidador. Os dados obtidos são apresentados usando estatística descritiva.

RESULTADOS

Foram analisados 156 prontuários, sendo 52% de pacientes do gênero masculino e 48% do gênero feminino, nas idades entre 3 e 56 anos no momento da entrevista. Quanto ao estado, 73% dos pacientes residiam fora do estado onde foi realizado o programa de fonoterapia intensiva (SP). Quanto as alterações de fala 25% dos pacientes apresentavam alterações somente do funcionamento velofaríngeo enquanto os outros 75% apresentaram tanto alterações do funcionamento velofaríngeo (como escape de ar nasal e hipernasalidade) e faziam uso de AC.

Em relação à realização de fonoterapia na cidade de origem, 118 pacientes (77%) passaram por intervenção fonoaudiológica, 29 (19%) nunca fizeram tratamento fonoaudiológico e não haviam dados em 9 prontuários (5%). O tempo de intervenção fonoaudiólogica, para aqueles que realizaram terapia, variou entre um mês e 276 meses (23 anos), com tempo médio de 66,5 meses (5 anos e 6 meses). Desses pacientes, 85 (72%) informaram que houve contato entre o profissional responsável pelo tratamento na cidade de procedência e a equipe do centro especializado que recomendou a terapia, enquanto 33 (28%) pacientes não relataram tal informação.

Quanto à abordagem terapêutica utilizada na intervenção fonoaudiológica na cidade de origem, 33 pacientes (28%) não souberam relatar detalhes sobre o processo terapêutico e 83 (72%) reportaram abordagem incluindo enfoque em: motricidade orofacial e voz; fala e ponto articulatório; estimulação de linguagem; linguagem escrita; e abordagem específica para funcionamento velofaríngeo (DVF) e correção da AC. Dentre as abordagens terapêuticas adotadas, apenas 45,8% estavam diretamente relacionadas as alterações ocasionadas pela fissura labiopalatina (DVF e AC).

As abordagens agrupadas como representativas do trabalho com motricidade orofacial e voz incluíram exercícios para tonicidade e mobilidade dos órgãos fonoarticulatórios e exercícios para a disfonia com finalidade de melhorar a qualidade vocal nos casos de rouquidão e tensão durante a produção vocal. Em relação à e ponto articulatório foram realizados exercícios para conscientização da produção correta dos sons, quanto ao ponto articulatório utilizado, havendo relatos do uso de pistas visuais, auditivas e táteis. Em relação ao trabalho utilizado para estimulação da linguagem escrita, houve relato de tarefas relacionadas à estimulação da consciência fonológica, produção textual e sintaxe. Quanto as abordagens para estimulação do desenvolvimento de linguagem, observou-se que os profissionais trabalhavam a ampliação do vocabulário, sintaxe e pragmática.

As abordagens agrupadas como representativas do trabalho com DVF e AC incluíram percepção

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 221 Capítulo 60 Relato da abordagem fonoaudiológica conduzido na cidade de origem de pacientes com fissura labiopalatina do fluxo aéreo na cavidade oral, direcionamento do fluxo aéreo para a cavidade oral, exercícios com plosão e/ ou fricção havendo o aumento de complexidade do nível de acordo com a evolução do paciente, havendo uso de pistas táteis cenestésicas.

DISCUSSÃO

Apesar das alterações de fala decorrentes da DVF necessitarem de intervenção fonoaudiológica específica, nem sempre o paciente tem acesso à profissionais experientes em sua cidade de origem. Neste estudo, observou-se que grande parte dos pacientes que realizaram tratamento fonoaudiológico na cidade de origem não tiveram o enfoque terapêutico direcionado para a correção das alterações diretamente responsáveis pela ininteligibilidade de fala, o que pode resultar no aumento do tempo de intervenção e na falta de resultados satisfatórios. Nota-se que um dos pacientes relata realização de fonoterapia durante 23 anos antes da realização do programa de fonoterapia intensiva.

Parte dos pacientes entrevistados não souberam explicar a abordagem da terapia (mesmo em linguagem leiga) o que sugere que nem sempre os procedimentos realizados são explicados. Ou seja, um paciente que realiza corretamente um exercício em casa após a terapia (algo essencial para correção da AC e do funcionamento velofaríngeo para fala) deveria ser capaz de repetir este mesmo exercício durante uma entrevista permitindo a identificação da abordagem pelo fonoaudiólogo entrevistador.

No Brasil a resolução nº 320 (17/02/2006) do Conselho Federal de Fonoaudiologia (CFF) dispõe sobre o domínio do especialista em Motricidade Orofacial (MO) reportando que a atuação nesta área “inclui aprofundamento em estudos específicos e atuação em situações que envolvam alterações e/ou

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 222 Capítulo 60 Relato da abordagem fonoaudiológica conduzido na cidade de origem de pacientes com fissura labiopalatina anomalias estruturais craniofaciais- congênitas, de desenvolvimento e/ou adquiridas- ósseas, musculares, articulares, posturais, que comprometam e/ou que se associem às funções orofaciais, temporomandibulares e cervicais.” Os distúrbios da comunicação relacionados à FLP e DVF vêm sendo abordados nesta área com enfoque envolvendo abordagens voltadas para “modificações estruturais e/ou miofuncionais, associados aos problemas de fala, sucção, respiração, mastigação e deglutição” (CFFa nº 363/2009). Na prática, observa-se uma tendência nacional para o gerenciamento das alterações de fala decorrentes da FLP e DVF na área da MO, o que para alguns profissionais pode envolver enfoque apenas nas alterações e/ou modificações correlatas às funções orofaciais e motricidade orofacial. O comprometimento da inteligibilidade de fala na população com FLP e DVF, no entanto, envolve comprometimentos em linguagem, audiologia, voz e MO além de requerer gerenciamento por meio de políticas públicas envolvendo tanto áreas da saúde quanto da educação.

CONCLUSÃO

Observou-se que em grande parte dos prontuários estudados não houve relato do paciente ou seu cuidador sobre o enfoque da terapia realizada para o tratamento dos distúrbios da fala relacionados à FLP e DVF. No grupo Quando a abordagem terapêutica foi relatada apenas 45,8% do tratamento envolveu enfoque para correção das AC e do funcionamento velofaríngeo para fala. Sugere- se como essencial a realização de estudos que verifiquem como o tratamento dos distúrbios de fala relacionados à FLP e DVF é abordado durante a formação acadêmica do Fonoaudiólogo nos mais de 70 cursos de graduação em fonoaudiologia do Brasil. Programas de capacitação de profissionais para a correção de distúrbios de fala especificamente relacionados à DVF também podem contribuir para educação continuada dos profissionais que atuam na atenção básica nas cidades de origem de pacientes que recebem gerenciamento da FLP em centros especializados. Finalmente parcerias entre profissionais especializados e aqueles atuando na atenção básica são essenciais para prevenção e intervenção na área dos distúrbios da comunicação na FLP e DVF.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 224 Capítulo 61 Validação do protocolo de avaliação do frênulo da língua em bebês para o diagnóstico das alterações do frênulo lingual capítulo 61 VaLidação do pRotocoLo de aVaLiação do FRÊnuLo da LÍnGua em BeBÊs paRa o diaGnÓstico das aLteRações do FRÊnuLo LinGuaL

Validation of the lingual frenulum evaluation protocol in infants to diagnose tongue tie

Roberta Lopes de Castro Martinelli1, irene Queiroz marchesan2, Reinaldo Jordão Gusmão3, Giédre Berretin-Felix4 1. Fonoaudióloga; hospital santa therezinha, Brotas/sp; doutora em ciências Faculdade de odontologia de Bauru. universidade de são paulo 2. Fonoaudióloga; ceFac, são paulo/sp; doutora em educação unicamp 3. médico otorrinolaringologista; Faculdade de ciências médicas da unicamp, campinas/sp; doutor em ciências médicas 4. Fonoaudióloga; Faculdade de odontologia de Bauru – universidade de são paulo; pós-doutora em distúrbios da deglutição. Livre docente

ARTIGO ORIGINAL

DESCRITORES: Freio lingual; Protocolos Clínicos; Estudos de Validação; Profissional da Saúde; Fonoaudiologia

INTRODUÇÃO

Embora a língua humana seja uma das mais importantes estruturas do corpo humano, sua musculatura ainda é pouco compreendida, devido à complexidade da sua anatomia. Como resultado, o diagnóstico e tratamento de alterações da língua sofrem atrasos em relação a outras estruturas da cabeça e pescoço. Estudos nas áreas de anatomia e histologia têm evidenciado que o frênulo lingual não se rompe sozinho e não se modifica ao longo do tempo (MARTINELLI et al., 2014), enquanto a

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 225 Capítulo 61 Validação do protocolo de avaliação do frênulo da língua em bebês para o diagnóstico das alterações do frênulo lingual ultrassonografia (MCCLELLAN et al., 2015; SAKALIDIS et al., 2013) tem mostrado a importância da língua para as funções orofaciais.

Os movimentos da língua são muito refinados na espécie humana e importantes para a realização correta de todas as funções orofaciais. Sendo assim, qualquer restrição à movimentação da língua é prejudicial para sugar, deglutir, mastigar e falar. Nesse contexto, justifica-se a importância do uso e validação de protocolos específicos de avaliação do frênulo lingual, uma vez que as variações anatômicas dessa membrana mucosa podem limitar os movimentos da língua.

Assim, a validação completa do Protocolo de avaliação do frênulo da língua em bebês é importante e necessária, tendo em vista as políticas públicas envolvidas com a sanção da lei nº 13.002 em 20 de junho de 2014, que preconiza a obrigatoriedade da aplicação desse protocolo específico, popularmente denominado teste da linguinha, nos recém-nascidos de todas as maternidades do Brasil.

OBJETIVO

O objetivo desse estudo foi analisar as validades de conteúdo, critério e construto, analisar a sensibilidade, especificidade e valores preditivos, bem como, determinar a confiabilidade do Protocolo de avaliação do frênulo da língua em bebês.

MÉTODOS

Este foi um estudo clínico experimental, aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Odontologia de Bauru, número CAAE 38143814.8.0000.5417.

Foi realizado o cálculo amostral, considerando a estimativa do desvio, a diferença mínima entre grupo normal e alterado, com nível de significância de 5% e força de estudo de 80%, chegando-se ao cálculo amostral de 100 bebês para validação do protocolo completo.

A documentação, cujas avaliações realizadas no Hospital Santa Therezinha, foram registradas em prontuários e em vídeos, foi analisada.

Os bebês diagnosticados com alteração do frênulo lingual foram submetidos à frenotomia, e seus dados foram comparados com os dados de bebês sem alteração. Todas as cirurgias foram realizadas por um único otorrinolaringologista, usando a mesma técnica.

Foram considerados critérios de inclusão: possibilidade de aplicação completa do protocolo, com imagens nítidas, de bebês com nascimentos consecutivos, nascidos a termo, com 30 dias de vida, saudáveis, que estavam em aleitamento exclusivo.

Foram excluídos os casos de prematuridade, complicações perinatais, presença de anomalias

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 226 Capítulo 61 Validação do protocolo de avaliação do frênulo da língua em bebês para o diagnóstico das alterações do frênulo lingual craniofaciais, doenças neurológicas e síndromes genéticas investigadas por meio da análise dos prontuários dos bebês e/ou visíveis no momento da avaliação, bem como quando as imagens não contivessem todas as informações necessárias para o diagnóstico.

Para a validação de conteúdo foram analisados os itens do Protocolo por três examinadores com o título de mestre e/ou doutor, com experiência em clínica e pesquisa nas áreas de Motricidade Orofacial e amamentação. Os examinadores classificaram cada item quanto à clareza, sendo verificada a porcentagem de concordância, e aplicado o Índice de Validação do Conteúdo.

O Bristol Tongue Assessment Tool foi tomado como padrão de referência para a validade concorrente. Apesar de não ter sido totalmente validado, foi o instrumento publicado que cumpriu mais etapas do processo de validação. Para a validação de critério foi utilizada a análise do Avaliador2, aplicando o Protocolo de avaliação do frênulo da língua em bebês, e o BTAT, em 20% da amostra.

A validade de construto foi testada durante a reaplicação do protocolo, 30 dias após o procedimento cirúrgico, sendo analisados pela A2, comparando os dados dos bebês com alteração do frênulo lingual após a cirurgia com o mesmo número de bebês sem alteração do frênulo lingual para verificar as possíveis mudanças ocorridas.

Para análise de concordância entre avaliadores, foram comparadas as avaliações realizadas pelas A1 e A2, nos mesmos sujeitos com o Protocolo de avaliação do frênulo da língua. Para análise de concordância intra-avaliador foram comparados os dados da avaliação e da reavaliação de 20% da amostra pela A2. A reavaliação foi feita após 15 dias para se evitar o efeito de memória.

A sensibilidade foi calculada pelo número de participantes que foram diagnosticados com alteração do frênulo lingual por ambos os protocolos, divididos pelo total de participantes diagnosticados pelo BTAT. A especificidade foi calculada pelo número de participantes que não apresentaram alterações do frênulo lingual em ambos os protocolos, dividido pelo número de participantes que não apresentaram alteração do frênulo lingual pelo BTAT. O valor preditivo positivo foi calculado dividindo o número de verdadeiros positivos pelo total de participantes que apresentaram alterações do frênulo lingual pelo Protocolo de avaliação do frênulo da língua em bebês, e o valor preditivo negativo foi calculado dividindo o número de verdadeiros negativos pelo número total de participantes que não apresentaram alterações do frênulo lingual pelo Protocolo de avaliação do frênulo da língua em bebês.

Para análise da validade de critério, foi utilizado o Teste de Correlação de Spearman. Para a análise de reprodutibilidade, foi utilizado o Coeficiente de Correlação Intraclasse. Para a análise de concordância intra e entre examinadores foi utilizado o cálculo de erro do método. Para análise da validade de construto foram aplicados os testes de Wilcoxon e Mann-Whitney. O nível de significância adotado em todos os testes foi de 5%.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 227 Capítulo 61 Validação do protocolo de avaliação do frênulo da língua em bebês para o diagnóstico das alterações do frênulo lingual

RESULTADOS

Houve 100% de concordância na validação do conteúdo. A validade de critério apresentou correlações fortes dos itens correspondentes do Protocolo de avaliação do frênulo da língua em bebês e do instrumento BTAT, sendo o valor do coeficiente de correlação de Spearman igual a -0,997. Os resultados obtidos evidenciaram uma concordância muito boa intra e entre avaliadores, com valores baixos de erro casual e valores de p>0,05 (evidenciando que não há diferença entre a análise dos avaliadores) e Coeficiente de Correlação Intraclasse maior que 0,75. A validade de construto mostrou uma capacidade significativa do protocolo em mensurar as mudanças resultantes da frenotomia lingual, pela história clínica, avaliação anatomofuncional e avaliação da sucção não nutritiva e nutritiva (p<0,05). Quando comparados os resultados dos bebês com alteração do frênulo lingual (grupo experimental) e sem alteração (grupo controle), com 30 e 75 dias, houve diferença nos escores parciais e no escore total do exame clínico e do protocolo completo. Os índices de sensibilidade, especificidade e valores preditivos positivo e negativo foram 100%. A ocorrência das alterações do frênulo lingual nesse estudo foi de 21%.

DISCUSSÃO

Na validade de conteúdo, houve uma concordância de 100%, sendo esse percentual de concordância acima do estabelecido na literatura (ALEXANDRE; COLUCI, 2011) para um instrumento ser considerado validado.

Na validade de critério, quando comparados os resultados da aplicação do Protocolo de avaliação do frênulo da língua em bebês com o BTAT, a porcentagem de concordância entre os itens avaliados foi de 100%, evidenciando uma forte correlação. Ao se utilizar instrumentos com itens semelhantes, como é o caso dos referidos instrumentos, os resultados obtidos tendem a ser favoráveis, como mostra a literatura (FOLHA, 2010).

No presente estudo foram encontrados bons valores de sensibilidade, especificidade e preditivos, para o ponto de corte adotado. Não foram encontrados, na literatura, protocolos específicos de avaliação do frênulo lingual que tenham analisados os valores de sensibilidade, especificidade e valores preditivos. No entanto, existem protocolos publicados na área de Motricidade Orofacial que apresentaram bons índices de sensibilidade, especificidade e valores preditivos.

Para a validade de construto foram comparados os escores dos bebês com e sem alteração do frênulo lingual com 30 e 75 dias. Os escores do exame clínico e do protocolo completo, evidenciaram que os bebês submetidos à frenotomia lingual passaram a apresentar características anatômicas normais, bem como, eficiência nas funções de sucção e deglutição durante a amamentação. Tais achados indicam que o protocolo foi capaz de mensurar mudanças decorrentes de procedimentos de intervenção nos bebês com alteração do frênulo lingual, corroborando com a literatura.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 228 Capítulo 61 Validação do protocolo de avaliação do frênulo da língua em bebês para o diagnóstico das alterações do frênulo lingual

Com relação à concordância entre e intra-avaliadores, o teste realizado evidenciou a confiabilidade muito boa desse instrumento, permitindo afirmar que, desde que os examinadores sejam treinados e calibrados, os dados obtidos com a aplicação do Protocolo de avaliação do frênulo da língua em bebês são confiáveis e podem ser reproduzidos. Os valores de confiabilidade encontrados foram melhores que os apresentados pelo de Hazelbaker e pelo BTAT.

A ocorrência das alterações do frênulo lingual nesse estudo foi de 21%, tendo sido menor que a encontrada em um estudo realizado numa reserva indígena brasileira cuja ocorrência da anquiloglossia foi de 37,1%. Essa diferença pode ser explicada pelo fato de haver, na literatura, várias definições de alteração do frênulo.

As limitações da presente pesquisa devem ser consideradas, tendo em vista que o BTAT, além de não ter sido totalmente validado, nem ser considerado padrão ouro, não pode ser aplicado completamente. Além disso, não foi possível realizar exames instrumentais para a comparação.

CONCLUSÃO

O Protocolo de avaliação do frênulo da língua em bebês mostrou ser um instrumento válido e confiável de avaliação, assegurando acurácia em diagnosticar as alterações do frênulo lingual dentro dos parâmetros investigados.

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Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 230 Capítulo 62 Valores de pressão lingual, de lábios e bochechas em sujeitos chilenos sem alterações usando o IOPI - estudo preliminar capítulo 62 VaLoRes de pRessão LinGuaL, de LáBios e Bochechas em suJeitos chiLenos sem aLteRações usando o iopi - estudo pReLiminaR

Lingual, lip and cheek pressure values in Chilean subjects between the ages of without alterations using IOPI - preliminary study

Felipe Inostroza Allende1, 2, exequiel plaza taucare1, matías González Jara1 1. departamento de Fonoaudiología, Facultad de ciencias de la salud, universidad de talca, talca, Región del maule, chile. 2. departamento de Fonoaudiología, Facultad de medicina, universidad de chile, santiago, Región metropolitana, chile.

ARTIGO ORIGINAL

DESCRITORES: Lábio; Língua; Bochecha; Músculos Faciais; Sistema Estomatognático.

INTRODUÇÃO

Na motricidade orofacial a avaliação da condição muscular geralmente é subjetiva. O Iowa Oral Performance Instrument (IOPI) é um instrumento que possibilita a avaliação da pressão intraoral de um grupo muscular de forma objetiva (Adams, 2013) e que oferece uma quantificação em quilopascals (Kpa). O IOPI tem sido muito utilizado na medição da pressão lingual tanto em crianças, jovens, adultos e idosos, com e sem alterações (Steele, Bayley e Molfenter, 2010; Magalhaes Junior et. al., 2014; Adams et. al., 2014; Prandini, 2014; Farinha, 2015; Furlan, 2008), porém, na pressão do lábio tem poucos estudos publicados (Van Lierde et. al., 2014; Clark e Solomon, 2012) e na pressão de bochechas há um estudo de avaliação da condição muscular (Clark et. al., 2009). A correta funcionalidade da musculatura envolvida na obtenção das pressões de língua, lábios e bochechas, são

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 231 Capítulo 62 Valores de pressão lingual, de lábios e bochechas em sujeitos chilenos sem alterações usando o IOPI - estudo preliminar fundamentais para realizar funções orofaciais, principalmente a sucção, mastigação, deglutição e fala (Blanton, Biggs e Perkins, 1970). Além disso é importante o desenvolvimento equilibrado entre ambas hemifaces e entre as mesmas estruturas, uma vez que são os principais fatores de desenvolvimento das estruturas maxilo-faciais (Villanueva e Palomino, 2013). No Chile não existem estudos que caracterizam a pressão dos lábios, língua e bochechas, pelo que se faz necessário medir esses valores no IOPI.

OBJETIVO

Caracterizar os valores de pressão de língua, lábios e bochechas em sujeitos sem alterações do sistema estomatognático, com uma proposta de protocolo de avaliação usando o IOPI.

MÉTODO

Participaram do estudo 26 indivíduos sendo: 5 homens de idade média 20,4 anos; e 21 mulheres, com idade média de 23,95 anos. Sem antecedentes de doenças sistêmicas, músculo- esqueléticas, neurológicas, oncológicas ou malformações craniofaciais, nem alterações dento-maxilares ou das funções do sistema estomatognático. O equipamento utilizado foi o Iowa Oral Performance Instrument modelo 2.3 equipado com o tubo conector e o bulbo lingual. Durante as captações cada sujeito ficou sentado em uma cadeira enquanto o avaliador colocava o bulbo no grupo muscular mensurado, solicitando verbalmente ao sujeito a maior pressão da estrutura avaliada contra o bulbo. Foi confeccionado uma pauta de registros onde foi mensurado o valor máximo obtido em cada uma das medidas. As pressões mensuradas na língua foram: ”pressão do ápice lingual contra o palato duro” e “pressão do ápice lingual contra o palato duro durante a deglutição de saliva”. O bulbo ficava entre as estruturas, tendo o cuidado de que o sujeito não mordesse o tubo conector. As pressões mensuradas nos lábios foram: “pressão das regiões laterais (esquerda e direita) do vestíbulo do lábio superior contra a face vestibular dos incisivos laterais, os caninos e as gengivas correspondentes da arcada superior” e “pressão das regiões laterais (esquerda e direita) do vestíbulo do lábio inferior contra a face vestibular dos incisivos laterais, os caninos e as gengivas correspondentes da arcada inferior”. O sujeito permanecia com as arcadas dentarias em máxima intercuspidacão. Outra medida realizada para avaliar a pressão entre os lábios superior e inferior foi solicitando que o indivíduo inflasse as bochechas, enquanto o bulbo estava posicionado entre os lábios. Finalmente para caracterizar a condição muscular das bochechas, foi utilizada a proposta de avaliação de Clark et al. (2009), onde o sujeito com as arcadas dentarias em máxima intercuspidacão deveria realizar “sucção de bochecha”, enquanto o bulbo recebia “pressão do vestíbulo lateral contra a cara vestibular dos pré-molares e molares”. Todas as medidas foram realizadas três vezes. Após a coleta dos dados foram calculados a média de cada região avaliada.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 232 Capítulo 62 Valores de pressão lingual, de lábios e bochechas em sujeitos chilenos sem alterações usando o IOPI - estudo preliminar

RESULTADOS

Os valores obtidos são presentados nas seguintes tabelas:

Tabela 1. Pressões da Língua (Kpa)

Língua no palato Deglutição de saliva Media 47 32

Tabela 2. Pressões dos lábios (Kpa)

Lábio superior Lábio inferior Ambos lábios

Lado esquerdo Lado direito Lado esquerdo Lado direito Media 22.54 21.6 22.54 21.21 6.56

Tabela 3. Pressões das bochechas (Kpa)

Sucção de bochechas

Lado esquerdo Lado direito

Media 20,86 21,17

DISCUSSÃO

Os escores médios de pressão de todos os parâmetros mensurados foram consideravelmente menores que os achados na literatura no uso de IOPI em lábios e língua. Stierwalt, JAG e Youmans, no 2007 analizaram 95 pacientes achando uma pressão lingual média de 62,02 Kpa, enquanto o presente estudo só achou uma pressão média de língua de 47 Kpa, usando o mesmo método de avaliação de pressão do ápice lingual contra o palato duro. Vanderwegen, et. al., 2013, observaram que realizar uma pressão com uma porção mais anterior da língua consegue maior quantidade de pressão que a porção posterior da língua, além de outros fatores como a idade, sexo, raça, feedback visual, posição do bulbo, entre outros podem afetar o resultado esperado. Outro achado observado no estudo é a diminuição da pressão do ápice lingual contra o palato duro durante a deglutição de saliva quando se compara com a pressão lingual no palato, realizando uma pressão média de 32 Kpa, 15 Kpa a menos que a média da pressão máxima lingual.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 233 Capítulo 62 Valores de pressão lingual, de lábios e bochechas em sujeitos chilenos sem alterações usando o IOPI - estudo preliminar

Na mensuração da pressão dos lábios superior e inferior não houve diferença considerável entre o desempenho de ambos lados do lábio. A média das pressões dos vestíbulos superiores direito e esquerdo foram 22,54 e 21,6 Kpa respectivamente, e dos vestíbulos inferiores direito e esquerdo foram 22,54 e 21,21 Kpa respetivamente. O que é similar aos achados por Clark et. al., (2011) que mensurou a pressão do lábio em jovens em 25 Kpa, porém, usando uma metodologia diferente. A avalição dos lábios, proposta neste estudo, permite sua utilização na avaliação objetiva de assimetrias musculares na região orofacial, como as doenças do nervo facial, que podem significar dificuldade em um dos lados do lábio (Falavigna et. al., 2008), sendo possível de mensurar e comparar com o protocolo apresentado. O exercício de inflar as bochechas obteve escores de pressão media muito baixos (6,56 Kpa), mas pode mostrar a funcionalidade dos lábios na fala e na respiração, onde a função principal do orbicular dos lábios é servir como esfíncter, para conseguir adequada pressão intraoral em fonemas oclusivos ou nasais, e permitir o selamento para evitar o escape de ar na respiração, e do alimento na deglutição (Jaque, Jeldes e Mieres, 2011). Por fim, as mensurações das bochechas mostraram que ambos os lados realizaram pressões medias similares, 20,89 Kpa no lado esquerdo e 21,17 Kpa no lado direito. Os resultados corroboraram a cerca dos registrados por Clark et. al., (2011) em seus estudos em jovens homens (25 Kpa).

CONCLUSÃO

O presente estudo apresenta uma proposta de protocolo de avaliação e escores preliminares de pressão de língua, lábio e bochechas em uma população de sujeitos chilenos usando IOPI. Os valores de pressão obtidos neste estudo permitem observar que existem resultados similares de pressão nos mesmos músculos de ambos os lados da face em sujeitos sem alterações estomatognáticas. Permite também ter uma base preliminar de referência para avaliação objetiva em sujeitos com alterações da condição dos músculos envolvidos na realização da pressão em um ou ambos os lados da face. Sendo necessário expandir o estudo, abrangendo outras faixas etárias e comparando as diferenças entre ambos sexos com grupos homogêneos.

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Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 235 Capítulo 63 Variáveis associadas ao diagnóstico de respiração oral baseado em uma avaliação multidisciplinar capítulo 63 VaRiáVeis associadas ao diaGnÓstico de RespiRação oRaL Baseado em uma aVaLiação muLtidiscipLinaR

Variables associated with Mouth Breathing diagnosis in children based on a multidisciplinary assessment

Jovana de moura milanesi, Luana Cristina Berwig, mariana marquezan, Luiz henrique schuch, ana maria toniolo da silva, eliane castilhos Rodrigues corrêa universidade Federal de santa maria (uFsm), santa maria - Rs

ARTIGO ORIGINAL

PALAVRAS-CHAVE: Respiração bucal, obstrução nasal, diagnóstico, sistema estomatognático.

INTRODUÇÃO

A respiração oral (RO) tem sido objeto de interesse de muitos estudos nas últimas décadas, sendo considerada um problema de saúde pública no Brasil1. As consequências da respiração oral não incluem somente alterações craniofaciais, podendo atingir o corpo todo2,3. Muitas características são tipicamente atribuídas aos respiradores orais, mas a associação de algumas características com este modo respiratório ainda não foi completamente confirmada2,3. O diagnóstico da RO é predominante clínico, atinge vários sistemas orgânicos e a obtenção do mesmo não é padronizada entre os profissionais4.

OBJETIVO

Este estudo foi conduzido para identificar as variáveis associadas ao diagnóstico de RO, baseado nos domínios multidisciplinares, incluindo anamnese e avaliações otorrinolaringológica, fonoaudiológica, odontológica e fisioterapêutica.

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 236 Capítulo 63 Variáveis associadas ao diagnóstico de respiração oral baseado em uma avaliação multidisciplinar

MÉTODOS

119 crianças entre seis e 12 anos realizaram avaliação completa composta de anamnese e exames otorrinolaringológico, fonoaudiológico, odontológico e fisioterapêutico (postura corporal e medida da permeabilidade nasal). A anamnese e o exame fonoaudiológico foram baseados no Protocolo MBGR (protocolo de Avaliação Miofuncional Orofacial). A avaliação otorrinolaringológica (ORL) foi composta de exame físico e endoscópico, nos quais foram observados sinais e sintomas de rinite, assim como possíveis fatores obstrutivos das vias aéreas superiores. A avaliação odontológica considerou aspectos como as alterações oclusais nos planos horizontal, vertical e transversal, além da classificação de Angle e a conservação dentária e gengival. A permeabilidade nasal foi avaliada por meio da medida do Pico de Fluxo Inspiratório Nasal (PFIN) e o exame postural por biofotogrametria computadorizada. O modo respiratório oral foi estabelecido pela concordância entre o relato de RO por mais de seis meses e nos diagnósticos do modo respiratório obtidos nas avaliações fonoaudiológica e otorrinolaringológica. Foi realizada regressão logística múltipla considerando o modo respiratório como variável dependente e as co-variáveis de cada domínio multidisciplinar como variáveis associadas. Foi utilizado nível de significância de 5%.

RESULTADOS

Foi observada associação do diagnóstico de RO com: relato de obstrução nasal (OR =5,55; IC95%=2,44-12,64; p=0,000), tempo de uso de chupeta (OR=1,25; IC 95%=1,02-1,53; p=0,029), tonsilas faríngeas obstrutivas (OR=8,37; IC 95%=2,29-27,6; p=0,001), tipo facial convexo (OR=3,78; IC95%=1,45-9,82; p=0,006), ângulo nasolabial obtuso (OR=4,30; IC95%=1,1-16,84; p=0,032), postura de lábios entreabertos ou abertos (OR=4,13; IC95%=1,15-14,79; p=0,030), postura de língua no assoalho da boca (OR=5,88; IC95%=1,12-30,82; p=0,036), largura do palato duro reduzida (OR=2,99; IC95%=1,02-8,74; p=0,045), contrações não esperadas dos músculos orbiculares e mentual durante a mastigação (OR= 2,97; IC95%=1,03-8,60; p=0,044), má oclusão classe II de Angle (OR= 10,85; IC95%=2,37-49,61; p=0,002) e conservação gengival regular (OR=2,89; IC95%=1,06-7,93; p=0,039). As variáveis relacionadas a permeabilidade nasal e postura corporal não foram associadas ao diagnóstico de RO.

DISCUSSÃO

Os aspectos mais importantes deste estudo, relacionados com a respiração oral, procederam da maioria dos domínios profissionais que atuam nesta condição. Com base na anamnese, foi verificado que a criança com obstrução nasal apresenta chance de 5,55 vezes para o diagnóstico de RO quando comparada a criança sem obstrução nasal. Com relação ao uso da chupeta, foi observado que cada ano

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 237 Capítulo 63 Variáveis associadas ao diagnóstico de respiração oral baseado em uma avaliação multidisciplinar de uso aumenta em 25% a chance deste diagnóstico. As variáveis ORL que mostraram associação com o diagnóstico de RO foram o relato de obstrução nasal e a presença de tonsilas faríngeas obstrutivas com, respectivamente, 8,37 e 7,95 vezes chance do diagnóstico de RO. O aumento da resistência nasal e o uso prolongado da chupeta são fatores etiológicos comumente relacionados à respiração oral5,6. O uso da chupeta também foi associado com a redução da distância intercanina, postura de lábios entreabertos ou abertos, postura de língua alterada, presença de mordida cruzada posterior e alterações na deglutição6. A identificação dos fatores etiológicos da RO desempenha papel importante no diagnóstico desta condição.

A literatura descreve uma ampla variedade de características tipicamente atribuídas aos respiradores orais, como tipo dolicofacial3,7, perfil facial convexo8, palato profundo e estreito7,9, postura de lábios abertos e língua rebaixada8, má oclusão Classe II de Angle3,10 e alterações nas funções estomatognáticas11.

O domínio fonoaudiológico apresentou o maior número de variáveis associadas ao diagnóstico de RO. A chance do diagnóstico de RO foi de 3,78 vezes nas crianças com perfil facial convexo e 4,30 vezes nas crianças com ângulo nasolabial obtuso. O tipo facial convexo apresentou relação com a respiração oral e oronasal, assim como o padrão mastigatório unilateral crônico, contração excessiva da musculatura perioral e mentual na mastigação e a língua anteriorizada na deglutição8. A chance do diagnóstico de RO foi de 4,13 vezes nas crianças com posição de lábios entreabertos ou abertos e 5,88 vezes nas crianças com posição de língua no assoalho da boca. Estas características foram observadas em outros estudos sobre RO12,13. Nas crianças com largura reduzida do palato, o diagnóstico de RO foi de 2,99 vezes quando comparada a crianças com altura do palato normal. Autores encontraram forte associação entre palato estreito e profundo e RO7,9. Este achado pode ser explicado pela ausência da função expansão da língua sobre o palato devido ao tônus orofacial reduzido nos respiradores orais9. Entre as funções estomatognáticas, apenas a presença de contrações não esperadas durante a mastigação apresentou associação com a RO, com uma chance de 2,97 vezes este diagnóstico. Durante a mastigação, o aumento da tensão da musculatura perioral e mentual podem ser necessários para manter o alimento dentro da boca nos pacientes com RO11.

No domínio odontológico, a oclusão classe II de Angle e a conservação gengival regular apresentaram, respectivamente, 10,85 e 2,89 vezes a chance do diagnóstico de RO. Um estudo recente, com 487 crianças de cinco a 12 anos, encontrou a oclusão classe II de Angle, a retrusão mandibular e o tamanho mandibular diminuído como fatores que aumentam a probabilidade do diagnóstico de RO14.

As alterações craniocervicais e da coluna lombar não apresentaram associação com o diagnóstico da respiração oral. Entretanto, considera-se que, na presença deste diagnóstico, seja importante a avaliação fisioterapêutica. Contrariamente ao esperado, os valores do PFIN também não apresentaram associação com o diagnóstico de RO. Tal achado pode ser explicado pelo caráter volitivo

Anais • IX Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial • Resumos Expandidos 238 Capítulo 63 Variáveis associadas ao diagnóstico de respiração oral baseado em uma avaliação multidisciplinar do exame, que pode interferir na sua realização, principalmente na população infantil. Mesmo assim, este instrumento tem demonstrado boa aplicabilidade para verificação de efeitos de terapias medicamentosas ou cirúrgicas nasais.

CONCLUSÃO

Pode-se concluir que o diagnóstico multidisciplinar é importante, uma vez que cada domínio avaliado mostrou variáveis associadas com o diagnóstico de RO. Assim, sugere-se que, para o diagnóstico de RO, sejam considerados os sinais e sintomas estabelecidos pela literatura, como ronco, baba noturna e boca aberta durante o dia e a noite, conjuntamente aos fatores identificados nesta pesquisa. As variáveis relacionadas à permeabilidade nasal e postura corporal não foram associadas a RO, entretanto, salienta-se que na presença deste diagnóstico, as crianças devem ser encaminhadas para avaliação fisioterapêutica.

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