CARTA DO EDITOR ÍNDICE 82 TEATRO EXPEDIENTE 6 | ENTREVISTA 52 | HOLOFOTES A terceira edição da Outra novidade para 2020 Entrevista exclusiva com HEATHER HEADLEY, Quem são os nomes de destaque NA WEB a estrela da Broadway de musicais como “Aida”, na atual cena teatral. Voltado para atores, Revista #INCITARTE vem é o novo site do Quero “The Lion King”, “The Color Purple” e “The Body- conheça o Teatro guard”, em Londres. Diretor de Redação: recheada de conteúdo Teatro (queroteatro.com.br), TEATRO PELO MUNDO Essencial on-line de Paulo Fernando Góes 10 | EM BOA COMPANHIA Denise Stoklos. interessante sobre o tea- a startup da qual fazemos Conheça Jacyara de Carvalho e PV Israel, atores tro nacional e internacio- parte. Além da comercia- da Cia Bagagem Ilimitada, responsável pelo 56 | NEW YORK sucesso “Furdunço do Fiofó do Judas”, indicado “Moulin !”: com músicas do filme e do uni- Colaboradores: nal. Nosso jornalista Paulo lização de ingressos pro- em 3 categorias do Prêmio do Humor. verso pop, a superprodução finalmente estreia Bruno Bernardino na Broadway e divide a opinião dos diretores Neto conseguiu uma en- mocionais sem taxa de Ulysses Cruz e Marcio Azevedo. Bruno Cavalcanti 17 | EVOÉ trevista exclusiva com conveniência, o site abri- Confira as últimas novidades do teatro carioca Cacá Valente por Leonardo Torres, do Teatro em Cena. 60 | LONDRES 74 | PONTE AÉREA Heather Headley, estrela gará também todo o con- O sucesso da experiência imersiva de “O Quatro dicas de espetáculos para assistir Cláudio Martins Lobo de Wall Street” e a remontagem de da Broadway que tem um teúdo que antes era publi- em São Paulo, por Ubiratan Brasil, jornalista Deolinda Vilhena 18 | REGISTRO “Tio Vânia” no West End. Tony de Melhor Atriz em cado em incitarte.com.br. do Estado de S.Paulo. Leonardo Torres Cia “Os Melhores do Mundo” disponibiliza nas 62 | PORTUGAL mídias digitais o acervo de seus espetáculos 76 | PALAVRA DE CAMAREIRA Luiz Felipe Botelho sua estante, e Deolinda A programação completa registrados em DVD. Com mais de 40 anos de estrada, a Companhia TIL (Teatro Infantil de Lisboa) apresenta “Heidi - Maquiador e camareiro Valtinho conta sobre o Marlon Zé Vilhena nos deleita com da cidade também estará O Musical”, em 10 sessões semanais. dia em que esqueceu o vestido de Lana Lee, 20 | CINEMA personagem de Edwin Luisi em “Tango, Bolero Paulo Neto outra entrevista exclusiva disponível ao público, em e Cha Cha Cha”, no congelador do hotel. Estreia no cinema o musical da Broadway, 64 | PARIS Ubiratan Brasil com Thomas Jolly, o novo ordem alfabética. “Cats”. No Brasil, Dulcina de Moraes e Sergio 78 | NAS REDES Britto ganham filmes documentais. Deolinda Vilhena conta quem é Thomas gênio do teatro francês. Jolly, o gênio do teatro francês que virá Confira os posts do réveillon de Mariana ao Brasil em 2020. Xavier, Carolina Dieckmann, Daniela Mercury, Designers: Os vídeos do Quero Teatro Bruno Cabrerizo, Claudia Raia, Jarbas Homem 24 | NA COXIA de Mello, César Boaes e Adeílson Santos. Arthur Felippe Enquanto isso, no Brasil, agora serão semanais, Os desafios da gestão teatral no Rio de Janeiro 70 | BUENOS AIRES em 2019 e as expectativas para 2020. “Don Gil de Las Calzas Verdes”: comédia de Rodrigo Almada os mesmos nomes que se no YouTube, Instagram, encontros e desencontros estreia em janeiro. 84 | LEITURA DE PALCO Pedro Barbosa Gerald Thomas lança “Um Circo de Rins e queixam que a arte está Facebook e no próprio site. Fígado”, livro com 24 peças de sua autoria. 36 | MEU OFÍCIO 72 | TEATRO PELO BRASIL Filomena Mancuzo e Diego Teza discorrem sendo atacada e que falta Mais curtos, eles trarão en- O dramaturgo Luiz Felipe Botelho fala sobre sobre o ofício da produção teatral e da 90 | MÚSICA Colunista Convidada: o teatro na capital pernambucana no espaço público no teatro carioca, trevistas, polêmicas, home- tradução, respectivamente. No palco sem personagens: estrelas do teatro tempo de uma lauda. Vilma Melo musical, Juliane Bodini, Beto Sargentelli e não ajudam a promover nagens, bastidores, games Sabrina Korgut estreiam em shows solo. um veículo como este, no- e números musicais. Um Edição: 93 | UMA PEÇA QUE NOS MARCOU Daniel Terra toriamente sério e criado rico material para aman- Ivan Parente fala sobre sua experiência tra- para preencher uma lacu- tes do teatro que buscam balhando com Marília Pêra e Miguel Falabella 40 em “Alô, Dolly!”. na na divulgação de espe- entretenimento. Que apro- Mídias Sociais: 94 | ESPECIAL Isabela Oliveira táculos teatrais. Às vezes é veitemos o verão mas que EDUARDO Conheça os vencedores do DID, o Prêmio Destaque Imprensa Digital, que celebra os mais fácil chegar nos bas- também aproveitemos o MARTINI destaques do Teatro Musical. Marketing: tidores da Broadway do que o teatro oferece de A INCANSÁVEL 100 | VAQUINHAS Rodrigo Medeiros que no teatro da esquina melhor pra assistir! É só na- Com financiamento coletivo permanente, o FÊNIX DOS PALCOS Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona, de José Celso de casa. Infelizmente. vegar por nossas redes e Drama, comédia, gestão Martinez Corrêa, em São Paulo, pede ajuda Produção: escolher. Bons espetáculos! teatral e indicação a para manutenção dos seus gastos fixos. Wanderson Neri prêmios. Confira a matéria Se nosso caminho até a 102 | COLUNISTA CONVIDADA completa sobre Eduardo A atriz e diretora Vilma Melo disserta sobre versão impressa e men- Martini, assinada por representatividade nos palcos cariocas em 2019. sal parece distante na ci- Bruno Cavalcanti. dade maravilhosa, a ver- www.queroteatro.com.br são paulista (ainda digital) 86 www.incitarte.com.br da Revista #INCITARTE é TV facebook.com/queroteatrorj uma realidade bem mais “O Cravo e a Rosa”: novela Instagram: @queroteatro próxima. Talvez até, já na ganha bem-sucedida YouTube.com/queroteatro próxima edição. O públi- adaptação teatral, [email protected] protagonizada por co paulista é muito mais Izabella Bicalho. generoso e os produtores de lá, no primeiro conta- to com nosso trabalho, entenderam logo o valor Paulo Fernando Góes aqui agregado. DIRETOR DE REDAÇÃO

4 JANEIRO 2020 ENTREVISTA ENTREVISTA

eather Headley nasceu na ex-colônia britânica Trinidad e Tobago H(pertinho do Brasil) mas radicou-se, desde adolescente, nos Estados Unidos. Filha de um pastor, sempre esteve em contato com a música. Aos 4 anos, começou a tocar piano. A atriz, cantora, compositora e pro- dutora musical acaba de completar 45 anos e tem no currículo uma exul- tante carreira. Foi Nala, no elenco original de “O Rei Leão” da Broadway, em 1997. Dois anos depois, ganhou o Tony de Melhor Atriz em “Aida”. Em 2009, ganhou o Grammy de Melhor Álbum R&B Gospel Contemporâneo. Em 2012, foi indicada ao Olivier Awards pela atuação como Rachel Marron, na montagem londrina de “The Bodyguard” (O Guarda-Costas). Em 2016, retornou à Broadway, depois de 17 anos, para assumir o pa- pel de Shug Avery, que havia sido de Jennifer Hudson no revival de “A Cor Púrpura”. Atualmente, está terminando as filmagens da série “Sweet Magnolias”, baseada no romance de Sherryl Woods, sobre a intensa amizade entre três mulheres, desde a adolescência à idade adulta, na Carolina do Sul. Uma história de sororidade e força feminina.

Na entrevista que Heather concedeu com exclusividade à Revista #INCITARTE, ela fala sobre sua transição, do palco para o streaming, além de sua temporada como Shug Avery em “A Cor Púrpura”. A atriz ainda so- nha em interpretar Maria, de “A Noviça Rebelde” e confessa que não sabia do atual momento que o Brasil vive em relação às produções teatrais.

O musical “A Cor Púrpura” ência muito engrandece- ele e com aquele elen- foi um sucesso no Rio dora quando fiz parte do co fabuloso. Nós éramos de Janeiro e agora está elenco, em 2016, em Nova uma família maravilhosa- em cartaz em São Paulo. York. John Doyle, nosso mente divertida e positiva. Conte-nos um pouco so- diretor, rapidamente, tor- Nós éramos uma igreja, às bre sua experiência quan- nou-se um dos melhores vezes: extraímos luz sem- do fez parte do elenco, na diretores com quem já tra- pre. Éramos irmãos, cole- montagem da Broadway, balhei. Uma das melhores gas e fazer parte de “A Cor há quatro anos. pessoas com quem já co- Púrpura” foi um dos meus laborei, dentro e fora do melhores trabalhos. Heather Headley: Que palco. Aprendi muito com felicidade saber que “A Heather Headley em O PODER DE Cor Púrpura” está sendo “A Cor Púrpura” (2016) bem-sucedido no Brasil! É como Shug Avery. HEATHER HEADLEY uma história muito dolori- FOTO: Matthew Murphy. da, mas belíssima. Dessas Vencedora do Grammy e do Tony que preenchem nossos Awards, estrela da Broadway con- corações. Um musical so- bre resiliência e força fe- cede entrevista exclusiva e opina minina, mas que também sobre a arte no Brasil atinge qualquer ser hu- Por PAULO NETO mano, de qualquer gênero

Heather Headley. FOTO: Divulgação. FOTO: Headley. Heather ou idade. Tive uma experi-

6 JANEIRO 2020 JANEIRO 2020 7 ENTREVISTA Como Nala, com Jason Raize. Heather integrou o elenco original de “O Rei Você terá cenas cantando Você sabia que o Brasil Leão” (1997) na Broadway. FOTO: Joan Marcus/Disney. na série “Sweet Magnolias”? é o terceiro celeiro mun- dial de musicais (depois HH: Quando estrear você da Broadway e do West verá (risos). End) e que as produções Com Sherie Rene Scott e Adam Pascal em “Aida” (1999), musical correm o risco de serem com canções de Elton John e Tim Qual papel do teatro musi- drasticamente diminuídas Rice que lhe rendeu o Tony de Melhor Atriz. FOTO: Greg Gorman. cal você ainda tem vonta- por conta das novas dire- de de interpretar? trizes do governo atual?

HH: Nossa, acho que Maria, HH: Eu não sabia. Que de “A Noviça Rebelde”. Mas complicado este momento já sou inteiramente grata por para vocês. Infelizmente, todas as mulheres guerrei- a cultura é uma das mais ras que pude interpretar. atingidas quando um go- verno começa a redire- cionar gastos. Entretanto, eu acredito que sempre existirão patrocinadores e entusiastas da arte que estarão sempre apoiando. Tenho essa crença positi- va. Eles conseguirão man- ter a arte viva. E o Brasil é um país com expressão ar- Com Lloyd Owen no musical “O Guarda-Costas” (2012), em tística forte e mundialmen- Londres, onde viveu o papel que imortalizou Whitney Houston. te conhecida. Então, acho FOTO: Geraint Lewis. que a arte estará sempre segura no país de vocês

Você está filmando agora O teatro musical é sua a série “Sweet Magnolias”, grande paixão? Você pre- para a Netflix. Como foi tende direcionar sua car- fazer esta transição do reira para plataformas pa- palco para a tela? ralelas, como o streaming e também o cinema? POR: HH: É uma disciplina com- PAULO pletamente diferente e de HH: É como ter vários filhos. NETO muito prazer. São horas e Você pode até se sentir mais horas de filmagens e meu próxima de um ou de outro, Jornalista, crítico de tea- cérebro é desafiado o tem- mas nunca você escolheria tro e cinema. Colaborou po todo com novas cenas apenas um, em detrimento com as revistas Drops e novos diálogos, a cada de outro. Entretanto, se eu dia, mas tem sido uma ex- fosse forçada a escolher, Magazine e Aimé. Jura- periência muito divertida. seria sempre o canto. Um do do Prêmio Guarani de É uma equipe talentosa e veículo onde eu pudesse Cinema-RS e votante do terei muita saudade deles cantar. O canto é o meu filho Prêmio Cenym de Teatro. quando encerrarmos estes mais velho e com o qual não dias de gravações. viveria sem.

8 JANEIRO 2020 JANEIRO 2020 9 EM BOA COMPANHIA CIA BAGAGEM ILIMITADA Em cena de “Furdunço do Fiofó do Judas”, musical costurado pelas emblemáticas músicas da Rainha COMPLETA CINCO ANOS do Xaxado, Marinês. FOTO: Eitô Muniz. COM FÔLEGO E RESISTÊNCIA Grupo se destacou na cena carioca com o musical “Furdunço do Fiofó do Judas”, indicado em 3 categorias ao Prêmio de Humor Por BRUNO BERNARDINO

ompanhias teatrais costumam ser ratura e abarque a abordagem de temas de “Chilenos ou franceses” (2016) e na de peça realizada pelo grupo foi “Furdunço feitas à base de sonhos – quem as que motivem seus integrantes. Assim foi “O mar já não existe” (2017). Antes disso, do Fiofó do Judas”, um musical com dra- Cconstrói costuma ser muito apaixo- com “Cotidianas”, que marcou a estreia ainda em 2014, a companhia foi contem- maturgia autoral que traz à cena a cul- nado pela arte de fazer teatro. É o caso da do grupo em 2015. A montagem, inspira- plada com o Prêmio Troféu Giostri Editora, tura popular nordestina costurada pelas dupla de amigos Jacyara e PV Israel, que da em livros de Heloísa Seixas e Edney pela peça “Funeral de Nininha”, um de músicas de Marinês, cantora e composi- trabalharam juntos em uma livraria. Em Silvestre, tinha como um de seus temas seus primeiros trabalhos. Além dos espe- tora pernambucana, conhecida como a meio aos livros, começaram a fomentar a a perda de memória e a convivência de táculos que mantêm em seu repertório, a Rainha do Xaxado. Confira a seguir a his- ideia do que viria a se tornar a “Companhia três senhoras, sendo uma homofóbica e dupla trabalha com contação de histórias tória do grupo na entrevista que a Revista Bagagem Ilimitada”, que tem como pro- outra travesti. A proposta se manteve na em escolas, editoras, praças públicas e #INCITARTE realizou em comemoração posta a construção de uma dramaturgia webserie “Jurema home house”, criada até ônibus, em um projeto itinerante que aos cinco anos do grupo, completos em 2 que alie a pesquisa de linguagem à lite- pelo grupo, assim como nas encenações realizaram com a empresa 1001. A última de fevereiro, dia de Iemanjá.

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Em apresentação em praça pública, em um Como manter acesa a rários. A “Bagagem” possui Como foi o processo de de seus trabalhos com vários braços. contação de histórias. chama do teatro em construção da dramatur- FOTO: Bruno Souza. um grupo quando não gia inédita de “Furdunço se está em cartaz com Jacyara: Há muito a ser do Fiofó do Judas”, que é um espetáculo? dito. Não vão derrubar a costurado pelas canções gente. Por mais que passe- de Marinês? mos dificuldades, há muito PV: Nós estamos sempre a ser feito, há muito o que Como foi o começo na ativa. Não temos mais PV: Foi uma loucura! Todos se manifestar, há muita 20 anos. Eu e Jacy já con- os textos da Bagagem são dessa história? arte a ser criada. Nosso versamos muito de que autorais e precisam fa- discurso social, artístico e Jacyara: Nos conhece- precisamos ressignificar zer algum sentido para político está em todo nos- mos na Livraria Travessa nosso trabalho. A gente tra- a gente, passar uma boa so trabalho. É uma sede de do Leblon, em 2014. Eu balha com teatro, passa vá- mensagem, sem fazer continuar falando e trans- comecei a fazer teatro aos rios perrengues. Mas pre- panfletagem. Não temos formar a realidade que ve- cinco anos e estava no cisamos trabalhar. Então, problema nenhum em mos e vivemos em arte. E meu primeiro trabalho fo- eu e Jacy já trabalhamos descartar textos, não te- assim, com leveza, levar ra da arte. Quando conhe- como camareiros, já fui di- mos apego. E começamos uma mensagem de positi- ci o PV, a gente se afinou retor de palco, maquiador, nesse processo de pesqui- vidade e reflexão. Dá para em um primeiro momento Vocês já foram con- lizar “Furdunço do Fiofó operador de som. Vamos sa, mas percebemos que o passar boas mensagens e já nos tornamos amigos. templados com o apoio do Judas”, não tivemos fazendo dinheiro dessa texto não estava compon- de uma forma leve, gos- Dividindo trajetórias pesso- patrocínio e fizemos um maneira. A gente não tra- do. Um dia, fomos para financeiro de patrocí- tosa e prazerosa. Mas que ais: eu com minha experi- empréstimo que ain- balha só pensando “temos casa e abrimos um vinho, nios ou editais? faça as pessoas saírem do ência de teatro em Brasília, da estamos pagando. uma companhia, estamos nos perguntando o que espetáculo reflexivas, que o PV formado na CAL. Arrecadamos dinheiro no palco”, mas atuando em poderia ser legal. Na épo- Jacyara: A gente enten- as faça pensar. Percebi que havia muito de que isso [a falta de com amigos e familiares. várias frentes. Somos ope- ca eu estava trabalhando em comum entre nós, mas verba para realização de Fizemos uma vaquinha. como diretor de palco e a estava resistente em for- peças] não é um proble- Não se consegue fazer Jacy como camareira, para nada sozinho. Nós esta- “Furdunço do Fiofó do Judas”: peça deve estrear juntar dinheiro e pagar as mar uma parceria, porque ma só nosso, todo mundo nova temporada em 2020. FOTO: Eitô Muniz. já vinha de companhias está trabalhando na raça mos em um momento de que não tinham dado certo. e na resistência. Então fi- resistência no máximo que O PV não desistia e, ficava zemos como muitas pro- essa palavra pode signifi- me falando para unirmos duções que hoje em dia car. Se a gente não abra- nossas forças e eu, mui- recorrem às vaquinhas, ça as pessoas que estão to canceriana, tinha medo pois este é um movimento próximas e vamos juntos que não desse certo. Mas que não é só da Bagagem para ganhar lá na frente, de tanto ele insistir, acabei Ilimitada. Fazemos tudo nós não conseguimos tirar topando e aqui estamos”. na ousadia, apostando nenhum projeto do papel. na ideia e no nosso amor Nós vínhamos em um pro- PV: Ali começou nossa his- pela cultura popular bra- cesso de fazer muitas pe- tória e hoje, nossa afinação sileira e, especificamente ças pequenas, sempre nos é tamanha, que a gente em “Furdunço”, a cultura apresentando em porões e escreve junto e eu não sei popular nordestina! Para teatros pequenos. Quando mais o que é meu e o que nossa próxima temporada terminamos “O mar já não é da Jacyara. Criamos uma de “Furdunço”, que talvez existe”, decidimos dar um conexão muito afinada. A aconteça em março, esta- passo maior. Foi um clique, cada jornada, nós chama- mos tentando editais. pois não nos vemos mais mos parceiros para parti- como amadores. Ambos ciparem do projeto conos- PV: Todo mundo no Rio vivemos da nossa compa- co, mas a princípio, somos está nessa loucura de nhia, vivemos de teatro. apenas nós dois. falta de grana. Para rea-

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contas. Ficamos nos per- Como tem sido o traba- ca atual. Então trouxemos Em tempos de polarização política como o que o guntando o que a gente lho da Cia com conta- uma nova temática: está- país está vivendo, vocês já sofreram algum emba- gostaria de ver em um mu- ção de histórias? vamos andando e encon- te ao abordarem temas controversos? sical. Foi o nosso primeiro tramos a Emília sentada em musical! Começamos pen- Jacyara: Temos cerca de uma praça em Botafogo. PV: Nunca. É uma preo- nosso desejo é que a pe- sando que gostaríamos de 50 histórias autorais, sobre Nessa hora, as crianças se cupação nossa não fazer ça termine e a pessoa vá falar sobre a força femini- os mais variados assun- surpreendem: “A Emília?!” panfletagem. Nosso traba- para casa refletindo sobre na, dali delineamos quem tos: sobre bullying, sobre E prosseguimos a história: lho já é político. Fazemos o que assistiu, com seus seria o vilão da história... E a questão dos indígenas, acontece que a Emília diz uma extensa pesquisa pa- próprios pensamentos. aí fomos brincando. A Jacy por exemplo. Contando que desde que Monteiro ra construir nossos textos ficou mergulhada no fol- histórias lúdicas consegui- Lobato escreveu o “Sítio do e, felizmente, consegui- Jacyara: “Cotidianas” se clore e cultura nordestina, mos representar situações Pica-pau Amarelo” muita mos passar nossa mensa- passa em um asilo e há estudando durante cinco da vida real que necessi- coisa mudou na cabecinha gem sem ter embate. Não duas personagens que meses, enquanto eu ouvia tam de reflexão. Já fize- dela. Ela viu que a realida- temos problema nenhum são muito amigas: uma música. Um dia, em casa, mos contação em editoras, de é diferente, que as flo- com o embate. A peça “O senhora homofóbica e ou- eu ouvi “Peba na Pimenta”, praças, dentro de ônibus restas estão sendo destruí- mar já não existe” era um tra travesti. A partir dessa da Marinês. Ela foi a pri- itinerante, escolas. Tem das, que é preciso cuidado espetáculo sem falas, que amizade, conseguimos meira mulher a cantar for- na forma como chamamos se passava em um porão atingir diferentes pessoas Jacyara em “Chilenos e Franceses”, sempre essa procura e es- uma das peças do catálogo da ró, na década de 50 e tem tamos atentos para renovar as pessoas (por exemplo, a em um ambiente de guer- com seus pensamentos Bagagem. FOTO: Daniel Debortoli. uma história belíssima. sempre nossas histórias. Tia Anastácia). Dessa for- ra. Falava da questão tão e preconceitos e fazê-las Recentemente, fomos cha- ma, estimulando as crian- latente nos dias de hoje se enxergar naquelas per- Jacyara: E nesse instante, mados para contar histórias ças a lerem Monteiro, por da violência contra a mu- sonagens. Em “Chilenos e tudo casou. Decidimos que de Monteiro Lobato, para ter sido um autor importan- lher. O público foi muito franceses” falamos sobre o vilão deveria ser o diabo. E te na literatura infantil bra- variado, pessoas da ex- a banalização da morte que as crianças passem a POR como o diabo é uma alego- ler o autor. Mas é preciso sileira, mas repensando-o trema esquerda à extrema por causa da busca pe- ria, pensamos “a quem re- pensar que as histórias de- no contexto atual. É preciso direita e todos tiveram a lo poder... A personagem BRUNO correr contra ele?” e vieram le muitas vezes têm cunho reinventar o que já foi feito. mesma reação de tensão assassinava seu marido e BERNARDINO as quatro prostitutas que pelo que assistiam. Eu fico depois viajava para Paris racista e, por isso, é preci- Formado em Jornalismo precisam ser fortes para com receio de falar qual- tomando champanhe com so reimaginá-las sob a óti- pela Universidade Veiga lutar contra o mal. Há toda quer coisa no final da pe- o dinheiro dele. São temas de Almeida. Com especial uma mensagem por trás, da ça, por exemplo. É preciso que estão muito em voga interesse por tudo que en- força feminina e a luta con- ter muito cuidado com o e precisam ser discutidos. volva cultura e artes, atual- tra a opressão, mas de uma que é dito no término, pois mente cursa Artes Visuais forma leve e divertida. na Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Quais são os planos para o futuro da Cia?

Devido ao sucesso de “Furdunço”, a PV: Estamos em proces- Jacyara: Estamos com do mundo em geral. Já es- Bagagem Ilimitada posteriormente apresentou o “Furdunço Forró sos. Estamos finalizando uma ideia bem legal, em tá claro para nós que pre- Show”. FOTO: Samyta Nunez. um musical de música fase de pesquisa para esse cisaremos pensar até em brega que está bem legal. projeto em que falaremos como produzir isso, já que Ajudamos na produção de sobre o consumo. Mas o o consumo está em tudo! “A Hora da Estrela”, que es- consumo de tudo, desde Desde o papel em que es- teve em cartaz em dezem- o plástico que utilizamos crevemos as ideias à ener- bro no Teatro Gláucio Gill. E quando bebemos uma gia elétrica que usaremos estamos pensando em um garrafa de água ao con- no teatro, por exemplo. E, novo projeto nosso, além sumo de pessoas (como a em breve, iniciaremos nova dos outros inúmeros traba- gente consome a si mesmo temporada de “Furdunço”! lhos que nos envolvemos. e aos outros), ao consumo

14 JANEIRO 2020 JANEIRO 2020 15 EVOÉ

TAL PAI, TAL FILHO O ator Diego Montez viverá um grande desafio em sua car- reira: interpretar o pai, Wagner Montes, no musical “Silvio Santos Vem Aí”, previsto para chegar aos palcos em março em São Paulo. “Está sendo muito emocionante, uma experi- ência muito doida”, diz Diego. Ele já passou por um workshop e por um teste de caracterização. “O momento de maior emoção para mim foi no teste, quando o pianista começou a tocar o ‘Wagner Montes lá lá lá lá’. Ali deu um baquezinho. Teve gente na banca que chorou. Eu chorei”, confidencia.

Diego Montez. FOTO: Reprodução Twitter.

DE PORTAS ABERTAS QUESTIONANDO Afastado dos musicais desde PADRÕES 2009, Rodrigo Pandolfo não descarta a possibilidade de A nova peça da dramaturga Re- voltar a cantar no teatro. “Acho nata Mizrahi é o infantil “Gabriel que nenhum outro musical Só Quer Ser Ele Mesmo”, que ‘me chamou’. Daqui a pouco, questiona os padrões de gênero sinto que algum musical vai impostos pela sociedade, atra- me chamar e eu vou fazer no- vés de um menino criado só por mulheres, tão interessado em vamente. A porta não está fe- balé quanto em futebol. “A hi- chada. Quero mais é cantar à permasculinização e hiperfemi- vida!”, diz o artista. Atualmen- nilização se impõem às crianças te, ele pode ser visto no cine- desde o começo da vida. Com ma como o Juliano de “Minha este espetáculo, quero provocar Mãe É Uma Peça 3”. a reflexão sobre o quanto dei- xamos as crianças serem quem são”, adianta a autora. Rodrigo Pandolfo FOTO: Jeff Segenreich / Divulgação

POR: Jornalista cultural, escritor e crítico teatral com mestrado em Artes da Cena. É fundador do site Teatro em LEONARDO Cena, redator do Portal POPline e TORRES jurado do Prêmio Brasil Musical.

COM A BENÇÃO DE DUZENTOS LIKES DONA FERNANDA André Loddi recentemente TOM NO PETRAGOLD usou o Instagram para re- A superpremiada montagem Também vencedor de diversos clamar de algo que outros prêmios, o monólogo “Ricardo III” artistas de teatro já haviam brasileira de “Tom na Fazenda” reestreia neste mês de janeiro no tornado público: o número caminha para seu quarto ani- Teatro Poeirinha, em Botafogo. de seguidores como critério versário em cartaz. O espetácu- Fernanda Montenegro já assistiu para escalação de elencos. lo, eleito o melhor de 2019 pela e indica o espetáculo: “todas as “Tô perdendo trabalho pois APCA - Associação Paulista de glórias para Gustavo, pela inte- não tenho ‘ks’ o suficiente. (...) Críticos de Artes, já está com ligência, pela qualidade de ator, Aí quando divulgo minhas uma nova temporada marcada pela coragem de enfrentar um peças ou trabalhos não che- no Rio de Janeiro. Será em fe- texto dessa ordem e nos prender go a 200 likes”, escreveu. O vereiro no Teatro PetraGold, o ator tem 25,6 mil seguidores. o tempo todo com tanta integrida- antigo Teatro do Leblon. de e com tanto talento!”. Não é pouco! Tom na Fazenda FOTO: José Limongi/Divulgação.

JANEIRO 2020 17 REGISTRO REGISTRO “OS MELHORES DO MUNDO” NOS MEIOS DIGITAIS Prestes a lançar filme de sua peça mais famosa, Companhia “Os Melhores do Mundo” disponibiliza material na Internet

Por REDAÇÃO Documentário sobre os 18 anos do grupo: Sexo – A Comédia: Cia. de Comédia 1995, em Brasília, quan- sentações impulsiona- Quando completaram Gravado em 2013, no New “Os Melhores do do o grupo “A Culpa É ram a visibilidade do 18 anos de existência, o World Stages, em Nova AMundo” chega ao da Mãe” (1991-1995) se grupo, tornando-os co- grupo reuniu seus inte- Iorque, o show de 1h20 seus 25 anos colecio- desfez. Os fundadores nhecidos nacionalmen- grantes para relembrar está completo no canal nando risadas das diver- Adriana Nunes, Ricardo te. Na onda de suces- a história construída. da compania no Youtube . sas plateias que os as- Pipo e (o já citado) sos, vieram peças como Gravado em Nova Iorque, sistem. Os números não Welder Rodrigues, juntos “Hermanoteu na Terra o resultado está disponí- https://www.youtube. negam. São mais de 648 desde a peça “A Culpa é de Godah” (1995), “Sexo vel no Youtube, em um com/watch?v=DRxQb- mil curtidas no Facebook da Mãe” (1991), se uniram – A Comédia” (1996), vídeo de pouco mais de 5V7uOQ e 61,2 mil seguidores no a Adriano Siri, Jovane “Notícias Populares” 35 minutos com depoi- Instagram. O já consi- Nunes e Victor Leal. Em (1997) e “Dingou Béus” mentos que contam não derado clássico perso- 2000, de mudança para (1998). Em tempos de in- só a história do grupo, nagem Joseph Klimber o Rio de Janeiro, a trupe ternet, a Cia. disponibiliza mas como foi o processo (interpretado por Welder passou a fazer trabalhos muito de seu material no (que durou uma semana) Hermanoteu na Terra da criação do espetáculo Rodrigues) foi tão assis- na televisão, em pro- Youtube (youtube.com/ de Godah: Apresentado “Sexo – A Comédia”. há 23 anos pela compa- tido que virou figura do gramas como “Casseta ComediaMM). Confira nhia, é um dos maiores e imaginário popular. “Os e Planeta”, “Zorra Total”, um pouco do que você Encontre em: https:// mais longínquos suces- Melhores do Mundo” “Malhação” e “Linha pode encontrar na pági- www.youtube.com/wat- sos do grupo, que dis- se reuniram em Direta”. Essas apre- na deles a seguir: ch?v=yjhVjH71Lm0 ponibiliza vários trechos da peça em sua página no Youtube. Podemos rir com Micalatéia e a sa- ga de Hermanoteu, um obediente bom pas- Melhores Bandas do tor do tempo do Antigo Mundo: Na comemora- Testamento da Bíblia. O ção de 20 anos, o grupo sucesso do espetácu- lo rendeu a ele um DVD reuniu diferentes ban- Especial de Natal Dingou e prêmios, como o de das para interpretarem Béus: Com mais de 2 mi- “Melhor espetáculo de co- os sucessos musicais da lhões de visualizações média”, no Prêmio Smiles companhia. Participaram desde que foi postado, do Humor Brasileiro. O fil- do projeto bandas como: em 2017, a peça Dingou me da peça tem direção Raimundos, Maskavo, Béus está na íntegra na de Homero Olivetto (res- Criolina, Madrigal de página do grupo. ponsável pelo roteiro de Brasília, Móveis Coloniais Bruna Surfistinha). de Acaju e Plebe Rude. https://www.youtube. com/user/ComediaMM/ FOTOS: Divulgação

18 JANEIRO 2020 JANEIRO 2020 19 CINEMA CINEMA

“No centro deste incrivel- principal do Royal Ballet”. lembranças de infância na mente divertido, cômico Pensilvânia, já atuava. “Eu e fantástico musical, há Para Jennifer Hudson, é a adorava ser teatral, contar uma história muito opor- música que a conecta à uma história e sempre trouxe tuna sobre a importância arte. “Eu cresci cantando esse elemento narrativo da inclusão e da redenção”, na igreja e, por lá, é assim para os meus shows”, diz. conta o diretor, Tom Hopper. que nos conectamos e re- Ela é responsável, ao lado “Dirigir ‘Cats’ é como dirigir lacionamos. Por meio da de Andrew Lloyd Webber um grupo de atletas de música. Quando eu soube (ganhador do Oscar pela nível internacional. Pesso- que participaria de ‘Cats’, a música ‘You must love me”, as como ‘Le Twins’, talvez pressão foi quase imediata”, do filme ‘Evita’), pela nova os dançarinos de hip hop revela a atriz e cantora no composição feita espe- “CATS”: DA mais famosos do mundo. E papel de Grizabella. cialmente para o filme, Frankie Hayward é incrível! “Beautiful Ghosts”. “É um BROADWAY O cenário do filme era muito maior Uma das melhores bailari- Taylor Swift lembra-se musical atemporal”, conclui do que os atores, para que estes es- tivessem na perspectiva dos gatos. nas do mundo e bailarina que, desde suas primeiras a popstar, que interpreta a AO CINEMA FOTO: Divulgação. Clássico de Andrew Lloyd Webber Para transformar os ato- ganha as telonas com estrelas como res nos memoráveis ga- tos do musical, o diretor Jennifer Hudson, Taylor Swift, Ian Tom Hopper utilizou um McKellen e Judi Dench processo em tela verde Por REDAÇÃO que nomeou de “pelagem digital”, para criar uma versão cinematográ- Derulo, Ray Winstone, os transformação perfeita. fica de “Cats” acaba veteranos Ian McKellen e O design dos sets é um A de ser lançada (em Judi Dench, a dançarina caso à parte, com todo o 20 de dezembro de 2019), do Royal Ballet, Frankie cenário de três a quatro sob direção de Tom Ho- Hayward, entre outros. vezes maiores que os ato- oper (o mesmo que fez o res, para que estivessem

magistral “Les Misérables”). O filme, um musical de na perspectiva dos gatos. Jennifer Hudson, ga- Com um elenco estelar, o comédia dramática, conta nhadora do Oscar pe- lo filme “Dreamgirls”, filme é uma adaptação de a história de uma tribo de A popstar Taylor Swift, como a personagem interpreta Grizabella. FOTO: Divulgação. Andrew Lloyd Webber, do gatos chamada Jellicles, Bombalurina. FOTO: Divulgação. fenômeno felino do poe- que todo ano precisa to- ta T. S. Eliot, baseado no mar a grande decisão de personagem Bombalurina. sibilitou de prosseguir na foi obcecado por canto e musical homônimo. Entre escolher um dos gatos A veterana e conhecida produção. “Pensei que fosse dança. “Comecei na cozinha, as estrelas internacionais para ascender para o He- das telas, Judi Dench, se o fim da minha história praticando o moonwalk. presentes estão a ganha- aviside Layer, e conseguir emociona ao lembrar que com ‘Cats’, mas acabou E acredito que nesta vida dora do Oscar, Jennifer uma nova e melhor vida. participou e passou para o não sendo”, orgulha-se. precisamos escolher algo Hudson, a popstar Taylor Cada um dos gatos conta elenco de “Cats”, em 1981, que gostemos tanto que Swift, os atores James a sua história para a líder porém antes da estreia Participando como ator em queiramos fazer o tempo Corden, Idris Elba e Re- e anciã, Deuteronomy, in- lesionou seu tendão de seu primeiro filme, Jason todo”, diz o recém ator, bel Wilson, o cantor Jason terpretada por Judi Dench. aquiles, o que a impos- Derulo conta que sempre que interpreta no filme o

20 JANEIRO 2020 JANEIRO 2020 21 CINEMA CINEMA de seu camarim e de sua papel de Rum Tum Tugger. O ganhador casa para falar da vida, das do Tony Award, Andy Blankenbuehler, foi amizades, da velhice, da o coreógrafo responsável pelas danças no morte e, sobretudo, do filme, que foram ensaiadas diariamente à profundo amor pelo teatro. perfeição das telas. Ele usou como base A amizade com a diretora a coreografia original de Wayne McGre- perdurou até o fim da vida gor, não sem dar seu toque pessoal em de Sergio. “Nossa relação novos movimentos. A cereja final deste transitou por vários luga- “bolo” de dança, música e atuação fica res, de amigo, filho, ator, Judi Dench havia participado da audição a cargo de Steven Spielberg, que assina um companheiro artístico para “Cats” em 1981, mas agora, em 2019, brilha como a anciã e líder do bando, a produção executiva do filme. visceral.”, pontua Isabel. Deuteronomy. FOTO: Divulgação. O filme ainda não tem previsão para entrar em cartaz no circuito. VEM AÍ... 2Dulcina documentário é uma A última homenagem à atriz, FOTO: Divulgação. FOTO: gravação O diretora e produtora 1 Dulcina de Moraes. A dire- batalhadora, forte, deci- construção do teatro bra- tora Glória Teixeira utilizou dida, à frente do seu tem- sileiro. Num terceiro mo- como fonte de informações po, visionária. Dulcina não mento, já da edição, com olecionando elo- os depoimentos de famo- pensava somente em ser 40 horas aproximadas de gios do público no sos artistas, imagens de uma artista famosa, mas gravação, o editor Pablo Festival do Rio em C arquivo e pesquisas que direcionava suas habili- Ferreira e eu traçamos um dezembro do ano passado, ajudaram a elucidar a di- dades a formar pessoas e documento que retrata as o documentário “A Última mensão do que foi a vida da se entregou a esse sonho. principais mudanças que Gravação” trouxe imagens brilhante Dulcina, falecida Quando comecei a gravar ocorreram no teatro bra-

inéditas dos últimos quatro Divulgação. FOTO: em agosto de 1996. No os depoimentos, fui notan- sileiro desde a década de anos de vida do ator, diretor elenco, Françoise Forton, do que além da Dulcina, 30 até os momentos atuais. e produtor Sergio Britto. De peça “Ato sem palavras prefiro que seja homem”. Bidô Galvão e outros. eu apresentava também O filme mostra a imensa Isabel Cavancanti e Célia 1”, de Samuel Beckett, e O documentário é resultado dezenas de artistas, íco- contribuição dada por Freitas, o filme apresen- então passou a usar fralda de mais de 50 horas de Para a Revista #INCITARTE, nes da cultura brasileira, essa mulher ao país, não ta uma faceta mais ínti- durante as apresentações. gravações, entre 2008 e a diretora Glória Teixeira falando sobre suas vidas apenas às pessoas ligadas ma de Sergio, distanciada Em outra, o ator revela seu 2011. A diretora e narradora declarou: “Quando comecei pessoais - não enquanto ao fazer artístico e cultural, da imagem intelectual do despudor na busca por sexo, do filme, Isabel Cavalcanti, a escrever o filme “Dul- personagens -, relatando mas a um povo, pois se apresentador do programa aos 87 anos: “Cheguei em estava dirigindo uma peça cina”, tinha a intenção de suas experiências, falando faz conveniente conhecer- “Arte com Sergio Britto”. Em uma cidade e procurei sa- com Sergio e tão logo o homenagear e contar a de como construíram sua mos e homenagearmos uma das passagens, Sergio ber: Onde se trepa nesse espetáculo ganhou o palco, quem vier assistir quem foi história ao lado da grande os grandes nomes que conta que uma vez urinou lugar? Perguntaram se queria as câmeras começaram a e continua sendo Dulcina mestra. E estes, por sua marcaram nossa história.” em cena quando fazia a homem ou mulher. Disse: rodar. Ele abriu as portas de Moraes – uma mulher vez, também são pilares da

22 JANEIRO 2020 JANEIRO 2020 23 NA COXIA NA COXIA GESTÃO TEATRAL: OS DESAFIOS DE 2019 E AS EXPECTATIVAS PARA 2020 Entrevistamos os gestores do Teatro PetraGold, Clara Nunes e Espaço ABU para conhecer a visão empresarial destes espaços artísticos Por BRUNO BERNARDINO

erir um teatro não foi fácil em 2019. É o que mostrou a entrevista que a Revista #INCITARTE realizou com gestores de três distintos espaços no Rio Gde Janeiro – o Espaço Abu, recém-inaugurado em Copacabana, o Teatro PetraGold (antigo Teatro do Leblon, reaberto em junho após um período de casa fechada) e o Teatro Clara Nunes, no shopping da Gávea, que este ano completa 43 anos. Nas entrevistas, foram abordadas questões como a atual desvalorização do preço do ingresso e a consequente desvalorização da arte e do artista e a atual ne- cessidade do naming rights, o processo em que os teatros são rebatizados com o nome de uma empresa privada em troca de uma cota de patrocínio. Embora sejam tempos difíceis para o teatro, as pautas para espetáculos continuam disputadas e, na entrevista a seguir, questionamos sobre como funciona o processo de curadoria

que os gestores utilizam para escolher as produções que vão ao palco. Cada teatro Ana Gawry, Felipe Vasconcelos tem suas dificuldades e lida com elas de formas diferentes. Os desafios são muitos, e Beatriz Castier, responsáveis pelo Espaço Abu: “Estamos em um momento do país em que há pouco investimento no teatro (e na arte, em enfrentando as dificuldades relacionadas à formação de geral) e o público se acostumou a não pagar pelos ingressos. Porém, as expectati- plateia de um novo espaço vas para 2020 também são altas. Confira a seguir. cultural, que se agravam ainda mais com a situação da cidade e do país”. FOTO: Divulgação. ESPAÇO ABU Quais foram as prin- O naming rights é uma Quais são as dificuldades Atualmente, como você Quais os critérios de curado- O Espaço Abu foi inaugura- cipais dificuldades da tendência da administra- que os produtores trazem avalia a receptividade do ria para um espetáculo rece- do em julho de 2019, com gestão teatral em 2019? ção teatral? para um gestor teatral? público com os espetácu- ber a pauta do seu espaço? o espetáculo “Chuva”, da los, de uma maneira geral? Cia Tábula Rasa. A crise Espaço Abu: Nos qua- Espaço Abu: Entendemos Espaço Abu: Até o momen- Espaço Abu: Por ser um enfrentada pela cultura se 5 meses de vida do que sim, por ser uma for- to, não tivemos quaisquer Espaço Abu: Estamos en- espaço novo, no momen- carioca não foi empecilho Espaço Abu, podemos ma de garantia dada aos problemas com os produ- frentando as dificuldades to priorizamos espetácu- para que os sócios Felipe sinalizar que as princi- administradores de que, tores das peças que esti- relacionadas à formação los que já estiveram em Vasconcelos, Beatriz Castier pais dificuldades estão minimamente, parte das veram em cartaz no Abu. de plateia de um novo es- cartaz ou que tenham e Ana Gawry realizassem o relacionadas à falta de despesas ordinárias serão Poderíamos supor que as paço cultural, que se agra- sido recomendados. sonho de abrir um pequeno segurança da cidade, cobertas, uma vez que o dificuldades estejam rela- vam ainda mais com a situ- Adicionalmente, devido às teatro para receber projetos à crise econômica e montante proveniente do cionadas com a ausência ação da cidade e do país. características do Abu, é de artes cênicas, literatura, ao movimento contra a percentual de bilheteria/ de análise dos riscos finan- No entanto, focando espe- fundamental que o elen- cinema, fotografia e música, cultura do país, o que mínimo diário das pro- ceiros envolvidos nas pro- cificamente a receptivida- co seja formado por pou- com lotação para 40 pesso- fortalece a opção do duções é bem inferior ao duções, considerando o de do público que esteve cos atores e que o cenário as. Os três sócios respon- público por permane- custo de manutenção de contexto atual do país. presente no Abu, podemos possa ser montado e des- dem pela entrevista. cer em casa. um espaço cultural. dizer que ela foi muito boa. montado em cada dia de

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pois tudo está muito caro, apresentação, caso haja Um espaço teatral conse- eu e meu sócio fomos falar outras atividades na grade. gue viver só de bilheteria? com o CEO do PetraGold Por fim, destacamos que a e apresentamos o proje- abordagem na solicitação Espaço Abu: Não. A bilhe- to de ocupação do teatro da pauta e a qualidade do teria cobre apenas uma para diminuir os custos projeto têm grande peso fração pequena de todas da produção. Eu também nas nossas escolhas. as despesas do espaço. sou produtor e sei que nós, produtores, às vezes Como tem sido a atuação entramos em um teatro e, das ONGs em seu espaço? Quais as perspectivas pa- quando saímos, estamos ra a cena teatral em 2020? devendo mundos e fun- Espaço Abu: Por enquan- dos. E o público de uma to não tivemos nenhuma Espaço Abu: Não sabemos o maneira geral está mui- atuação com ONG’s, ação que está por vir. Então só po- to mal-acostumado. Hoje que está prevista para o demos afirmar que continu- em dia, parece que é uma próximo ano. aremos lutando pela cultura. ofensa pagar pelo ingres- so do teatro, porque as pessoas só vão se tiverem o convite ou um ingresso gratuito. Não sei o por- quê, se quando eu vou ao médico eu não peço uma consulta de graça; eu vou

Teatro PetraGold. ao supermercado, compro FOTO: Reprodução Facebook Quais foram as principais e pago pelos itens. A úni- dificuldades da gestão ca forma que o artista tem TEATRO teatral em 2019? para receber é o ingresso, é o meio de sobrevivência PETRAGOLD André Junqueira: Nós dele. Há um grande des- começamos em junho caso com a maneira que Espaço Abu. FOTO: Divulgação. Abu. FOTO: Espaço Reinaugurado em ju- de 2019, após o teatro fi- as pessoas estão pen- Espaço Abu. FOTO: Divulgação. nho de 2019, o antigo car um tempo fechado. O sando. E nem acho que Teatro Leblon trans- nosso grande desafio era a culpa seja totalmente formou-se em Teatro saber se conseguiríamos delas. Isso foi uma forma PetraGold, um espa- colocar público dentro do de pensar que veio sendo ço de cultura apoiado teatro. Precisamos pensar construída. A própria Lei pelo Grupo PetraGold, sobre quem viria assistir a Rouanet [recém-extinta e que revitalizou a Sala um espetáculo. Outro de- transformada em Lei de Marília Pêra para o pro- safio era saber quem ocu- Incentivo à Cultura] contri- jeto. O responsável por paria as pautas do teatro. buiu para isso. Os espetá- levar ao grupo a ideia Ele estava se formando, culos ganhavam milhões de reabrir o teatro foi queríamos dar uma iden- – não estou dizendo que André Junqueira, que tidade a ele. Muitas pro- sou a favor ou contra a lei atualmente administra duções não acreditavam – e tinham que dar uma o PetraGold e concedeu no potencial que o espa- contrapartida em ingres- à #INCITARTE uma en- ço tinha a oferecer. Então, sos gratuitos e as pessoas trevista contando sobre em 2019, indo na contra- acabaram se acostuman- sua experiência com a mão de tudo o que estava do a não pagar pelos in- administração nesta re- acontecendo, enquanto gressos. Para que alguém abertura. Confira. teatros estavam fechando, vai vir assistir um espetá-

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culo a R$ 30, se pode ver chegar ao teatro sem di- tem projetos como o “Eu De uma maneira geral, como um grande musical gra- nheiro para o transporte. faço cultura” [programa tem sido a receptividade do tuitamente? Eu acho que Este trabalho das ONG’s do Ministério da Cidadania público às peças da casa? o desafio maior foi colocar tem sido feito de uma ma- em parceria com a Caixa o público dentro do teatro neira errada e, ao invés de Seguradora], que é uma André Junqueira: Ao longo de novo. Trazer o público contribuir para a formação ferramenta do governo de 2019, nós tivemos vários pagante. Porque as pesso- de plateia, está destruin- que distribui ingressos espetáculos, todos com es- as vão ao cinema e pagam do-a e desvalorizando o subsidiados e, neste caso, te formato e conseguimos quase R$ 50 por pipoca e trabalho do artista. Aqui vale a gratuidade. Sem is- fazer bilheteria e colocar refrigerante, mas acham no PetraGold não traba- so, se eu deixar as pessoas gente pagando para estar um absurdo se um ingres- lhamos com ONG’s. Como entrarem no teatro de gra- no teatro e agradecendo so do teatro é R$ 20. Esse temos um subsídio e um ça, não consigo pagar meu pela programação. Estamos pensamento foi engendra- suporte financeiro que iluminador, meu técnico vindo de uma sucessão de do na população. nos ajuda a pagar o alu- de som e os atores das pe- peças boas, então as pes- guel do teatro (não paga ças. Não pode ser de gra- soas já identificam a nos- Como tem sido a atuação todas as despesas, mas ça, senão não há salários. sa programação como de das ONG’s em seu espaço? ajuda bastante), nós assu- Queremos colocar mais qualidade. As produções mimos o compromisso de pessoas dentro do teatro estão nos procurando e André Junqueira: A for- disponibilizar o ingresso e fazê-las entender que, nossa programação para mação de plateia é ne- social, que custa R$ 20. É ao pagar por um ingres- 2020 está bem bacana, te- cessária e eu acredito que um preço que se equipara so, elas não estão fazendo mos projetos até julho. as ONG’s também sejam, ao oferecido pelas ONG’s. isto apenas em benefício mas o que tem acontecido A pessoa deve chegar na próprio. Não é só neste Quais os critérios de curado- no Rio e em São Paulo é bilheteria e falar que não lugar de egocentrismo de ria para um espetáculo rece- que o público consumidor tem dinheiro para comprar “pagar para absorver cul- ber a pauta do seu espaço? André Junqueira, gestor do Teatro PetraGold: “A formação de plateia é necessária e eu destas ONG’s são pesso- um ingresso inteiro, então tura”, mas sim o de ser ci- acredito que as ONG’s também sejam, mas o que tem acontecido no Rio e em São Paulo as que podem pagar pelo terá acesso ao ingresso dadão. De contribuir para a é que o público consumidor destas ONG’s são pessoas que podem pagar pelo ingresso”. André Junqueira: Estamos FOTO: Divulgação. ingresso. Moram na zona social. São ingressos pa- geração de emprego e de querendo dar diversidade à sul e não na comunidade, ra pessoas que realmen- toda uma indústria cultural Quais as perspectivas para a cena teatral em 2020? programação e abraçar todo por exemplo. As pessoas te não podem pagar pelo que há por trás. Ao pagar tipo de espetáculo e público que realmente não podem preço original. O que não por um ingresso, você está André Junqueira: E m fazer algo em que as pes- que consuma estes espe- pagar pelo ingresso não podemos é dar o ingresso incentivando o crescimen- 2020, vamos tentar refor- soas possam vir ao teatro táculos. Temos um cuidado vêm, pois não têm como de graça. Para isso, exis- to do país, sabe? çar isso, associando o te- e ter outras experiências, muito grande em avaliar se atro PetraGold aos bares como por exemplo, poder é um elenco profissional tra- Teatro PetraGold. FOTO: Cristina Granato. da região (que hoje agra- ir a um bar e consumir dois balhando, pois somos uma decem a volta do teatro, pastéis e um chopp com o casa profissional. Eu procu- porque a galeria onde es- ingresso do teatro, que é ro trazer ao público apenas tamos localizados estava aqui do lado. Vamos criar peças de qualidade, então morrendo), e a outros lu- um Clube de Fidelidade priorizo a qualidade e a se- gares. Mais uma vez temos do Teatro PetraGold, para riedade da ficha técnica das a certeza de que a arte e estimular o consumo alia- pessoas envolvidas. Além o teatro movimentam não do. Para que tenhamos disso, temos um outro crité- só a cultura, mas o país. uma valoração do ingres- rio que é apostar em novida- Movimenta a economia e so e as pessoas entendam des, então estamos abertos a população de uma ma- porque precisam pagar a novos dramaturgos, por neira geral, porque as pes- por ele. Que ao ir ao cine- exemplo. Queremos trazer soas passaram a vir para ma, ao teatro e ao restau- ao PetraGold espetácu- cá. Tem bar aqui que só rante, estão contribuindo los que sejam legais, e que abria de quarta a domingo, para estes trabalhadores abranjam todos os gêneros: e agora abre de segunda possam sobreviver. dramas, comédias, roman- a segunda. Então vamos ces, besteiróis, musicais, etc.

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Quais foram as principais dificuldades da Um espaço teatral conse- TEATRO gestão teatral em 2019? gue viver só de bilheteria? CLARA NUNES Lidy Marx: Com a paralisação e diminuição da lei André Junqueira: Eu acre- Rouanet a maior dificuldade foi ter grandes e bons proje- dito que, atualmente, não. Em maio de 1977, a can- tora Clara Nunes abriu tos, que tenham apelo de público. O Teatro Clara Nunes Os valores são muito ca- é uma casa de grande porte com seus 750 lugares, na ros, a manutenção de as cortinas de um novo teatro carioca, o Clara Zona Sul carioca e tivemos muita dificuldade por sermos uma casa como o Teatro um teatro 100% particular. Hoje, sem o naming, sobrevi- PetraGold é um absurdo. Nunes. Desta forma, tornou-se a primei- vemos dos ingressos vendidos. Os produtores não têm Nos moldes em que esta- dinheiro para fazer uma boa divulgação ou para pagar va acontecendo, em que ra cantora brasileira a construir e inaugu- o mínimo que a casa precisa. Tivemos muita dificulda- os teatros particulares co- de em fechar projetos com o mínimo garantido. Assim, a bram o mínimo às produ- rar seu próprio teatro. Realização de um so- casa é sacrificada, porque sem o mínimo, nem todos os ções, porém ainda assim, André Junqueira e Eduardo Wanderley. FOTO: Divulgação nho, o teatro foi inau- projetos têm apelo de público. Há atualmente um esva- valores altos, os teatros até ziamento do público nos teatros e um vício nas promo- da produção que tivesse segue receber e abraçar gurado com um show sobrevivem, mas as pro- ções. Às vezes, o público tem condições de pagar pelo dinheiro para pagar. Então as produções que entram da própria cantora, o duções não. Sem produ- ingresso, mas espera entrar em uma lista de ONG, ou não há mais público cativo aqui. Para o futuro, meu “Canto de Três Raças”, ção, não há teatro. Deveria em uma promoção que barateie o ticket. Isso diminui o de teatros específicos. Se desafio é expandir isso sob direção de Arlindo haver uma lei para que as preço do ticket médio e, automaticamente, o teatro que entra qualquer produção, para mais dois ou três tea- Rodrigues. Ao longo dos casas de espetáculo sejam depende de ingressos vendidos, perde no valor destes como manter a qualidade? tros, fazer com que as pes- anos, a casa ficou fa- subsidiadas pelo governo, ingressos e mal consegue respirar e sobreviver. Temos O público vai assistir, não soas assistam a espetácu- mosa por receber gran- de alguma forma. Se isso funcionários e salários para pagar. As pessoas acham gosta, toma como verdade los de qualidade. Isso seria des espetáculos, musi- acontecesse, elas estariam que é tudo perfeito, mas o teatro precisa de dinheiro pa- que o teatro não é bom e para a cidade do Rio, de- cais e shows. A Revista abertas para receber as ra sobreviver e pagar suas contas básicas. Falta consci- passa a ir ao cinema. Tem pois para outras cidades. E #INCITARTE entrevistou produções de uma forma ência de que o ingresso é o verdadeiro patrocinador de sido uma mecânica difícil que seja dessa forma, que Lidy Marx, a atual ad- mais amável e carinhosa. teatros como o nosso, que é particular. É preciso mudar de chegar a um equilíbrio. as pessoas possam vir ao ministradora do espaço É o que estamos tentan- esta consciência, inclusive dos produtores, de enxerga- O projeto que fiz no teatro, teatro. Possam e queiram e o resultado você con- do fazer com a ajuda da rem o teatro como uma pessoa que precisa de um míni- com o Grupo PetraGold é pagar pelo ingresso. fere a seguir. iniciativa privada. O Grupo mo de porcentagem para sobreviver. PetraGold usa verba pró- algo que eu gostaria de pria, abrindo mão de lu- repetir em outros teatros e cros para investir em um apresentar ao governo. Por teatro como esse, para ser exemplo, o governo me possível que artistas su- daria uma quantia peque- bam ao palco. O que está na e eu faria com que to- acontecendo é que os ar- dos os teatros pudessem tistas não têm para onde ir receber todas as produ- e os teatros estão fechan- ções, como estamos rece- do. E os que permanecem bendo aqui no PetraGold, abertos, cobram valores sem a cobrança do míni- altíssimos que as produ- mo. Nós emprestamos a ções não têm como pagar. iluminação para as produ- E se eles não cobram isso, ções, ajudamos com a mí- não conseguem pagar os dia na rua, chamada na rá- aluguéis e funcionários. Ao dio, busdoors espalhados longo dos anos, pela falta pela cidade. Mas para isso, de verba, as casas de tea- eu fui atrás das empre- tro perderam o critério de sas de mídia e consegui avaliação de suas peças, as parcerias. Desta forma, o Teatro PetraGold con- Foto: Reprodução pois precisaram aceitar to- Facebook.

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O naming rights é uma Quais são as dificuldades que os produtores trazem Quais os critérios de curadoria para um espetáculo receber a pauta do seu espaço? tendência da administra- para um gestor teatral? ção teatral? Lidy Marx: A maior difi- Mas não é que seja ruim, quatro teatros dentro. Ou Lidy Marx: Os produtores teatro. Sem o palco, o ator culdade que temos hoje só está no lugar errado. seja, estes corredores do Lidy Marx: O naming é estão fazendo tudo sem não tem como se apresen- é a visão dos produtores. Automaticamente, o teatro shopping da Gávea são de quase necessário. Ter pa- dinheiro, então o primeiro tar. É claro que o teatro não Muitos produtores têm vi- não tem público e não tem frequentadores dos quatro trocinador equivale a ter item da lista a ser enxu- quer tirar tudo do produtor, sões equivocadas dos pró- dinheiro. Cada espetáculo teatros. Tem público circu- uma verba que está sain- gado é o pagamento do pelo contrário, estamos ali prios projetos e, às vezes, tem seu tipo de público e lando o tempo todo, é ar- do de outro lugar que teatro. Aqui falo com as para auxiliar e ser a casa do montam projetos que não de teatro específicos. Cada tista e produtor circulando não é apenas a bilheteria. duas visões, pois também produtor naquele momen- cabem no teatro, ou que um tem um perfil. Ao fazer o tempo todo. Mas ali no Com a atual bilheteria de- trabalho como produto- to. Mas o produtor precisa não é o público, ou a logís- um projeto, é preciso pen- Teatro Clara Nunes, nós fasada pela quantidade ra e pensava assim antes pensar em ajudar o teatro, tica não funciona. Antes de sar em qual teatro ele ca- temos um perfil diferente excessiva de promoções, de gerir teatro: às vezes, o que também está na ba- realizar um projeto, é pre- be. No Teatro Clara Nunes, dos outros três. Por sermos não temos mais venda de produtor acha que o tea- se da sobrevivência. Eu ciso entender que projeto temos brigado claramente a maior casa e a segunda ingressos com valor da in- tro já tem dinheiro. Hoje, só consegui enxergar es- é este sendo montado e com grandes casas para maior da zona sul, a gente teira ou mesmo meia. São como gestora, vejo que ses dois lados, por trilhar qual o perfil de cada teatro. grandes musicais. Estamos vem brigando para trazer muitas listas amigas, listas não funciona dessa ma- os dois caminhos, sendo Nem toda peça cabe em dentro do Shopping da grandes musicais e shows, promocionais, atuação de neira. É preciso educar um produtora e gestora. E sei qualquer teatro, em ter- Gávea, que é considera- o que tem dado certo. Na ONG’s. Acaba que o na- pouco os produtores para que é uma dificuldade, mos de estrutura e públi- da a Broadway carioca e é curadoria, eu analiso todo ming tem sido necessário que vejam que o teatro é mas precisamos fazer um co. Às vezes o produtor faz um lugar em que as pes- o perfil do projeto. Há pro- para manter os teatros. Por uma peça importante. Não exercício de enxergar que uma peça cult em um lu- soas amam fazer teatro. É jetos que não cabem na exemplo, o Teatro Clara adianta querer dar apenas é preciso manter a casa, gar em que o público não um shopping que respira casa, não por serem bons Nunes não tem naming. 15% ou 20% para o teatro, porque se mais uma casa é receptivo a este tipo de teatro e cultura. Você pas- ou ruins, mas por não se- Sobrevivemos com os in- porque senão a casa não fecha, é menos um espaço peça. Assim, tanto o espe- sa nos corredores e tem rem o perfil do público gressos vendidos. Se eles sobrevive. Precisamos to- para trabalhar e, automati- táculo quanto o teatro são artistas de quatro teatros. da casa. Os musicais vêm não são vendidos, como dos ser mantenedores dos camente, os outros espa- sacrificados e fica pare- É o único shopping da funcionando bem no Clara sobrevivemos? É nes- teatros, porque senão, é ços ficam mais concorridos. cendo que a peça é ruim. América Latina que tem Nunes, nós temos feito a ta hora que as empresas mais uma casa na cidade entram querendo ser par- que se fecha. Menos um ceiras dos teatros, com espaço para fazer cultura, patrocínios que ajudam os fazer teatro, ter seus tra- espaços a resistirem. O te- balhos sendo expostos. É atro é como toda empresa preciso mudar a consci- e tem contas para pagar: ência de todos, inclusive tem imposto, funcionário, dos produtores, de en- condomínio, conta de luz... xergarem o teatro como São várias as contas. Então uma pessoa que precisa se faz necessário ter um de um mínimo de porcen- investidor que traga um tagem para sobreviver. outro capital que não ve- Não adianta querer ficar nha única e exclusivamen- com a maior parte da bi- te do ingresso vendido. lheteria e não pensar no

Dedé Ferreira em “Palhaços” no Teatro Cla- ra Nunes. FOTO: Reprodução / Facebook.

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formação de um públi- Como tem sido a atuação das ONG’s em seu espaço? co que gosta e frequenta musicais. Ao mesmo tem- Lidy Marx: A ONG é uma prejudica. As pessoas já po, quando fazemos uma faca de dois gumes. Ao esperam para ver se o es- peça mais “cabeça”, mais mesmo tempo em que petáculo vai para a lista de “teatrão”, ela não funciona ela ajuda quando o espe- ONG. Automaticamente, aqui. Os próprios feedba- táculo está sem público, sacrifica-se o espetáculo cks dos frequentadores está viciando as pesso- e a casa. Particularmente, demonstram isso. Acaba as. Nem todo mundo que eu tenho me irritado bas- que você vai aprendendo está pagando mais bara- tante com as ONG’s e te- a lidar e enxergar o espaço to por meio das ONG’s de nho visto que vai chegar que está na sua mão para fato precisa pagar menos. em um ponto em que vou administrar e aprendendo, Qualquer pessoa coloca acabar criando uma regra em experiência de acer- o nome na lista. E, acaba que só pode ONG com tos e erros, o que funciona que hoje, às vezes, faze- peças que tenham patro- e o que não. Por sermos mos apenas peças para cínio e não precisem do Público aplaude o elenco Quais as perspectivas para a cena teatral em 2020? de “Palhaços” no Teatro uma casa muito grande, quem está nestas listas de valor dos ingressos neces- Clara Nunes. FOTO: Re- precisamos de peças que ONG. Elas viciam o público sariamente. Agora, com bi- produção / Facebook. Lidy Marx: O Clara Nunes “Vem cá, por que você não tenham apelo de públi- a pagar pouco e estamos lheteria, não vamos deixar vem com projetos muito vai nas minhas peças?”. E co. Duzentas pessoas em em um teatro que precisa mais. Estamos caminhan- grandiosos em 2020. Estou o dentista fala: “Você não um espetáculo no Clara do valor de sua bilheteria. do para esse corte. Pela sentindo uma grande me- me convida”. E o Fagundes Nunes, significa que o te- Ao mesmo tempo que a falta de organização, por lhoria para este ano. Estou responde: “Mas você tam- atro está com menos da ONG ajuda em peças sem ver nitidamente que es- bem confiante e otimista. bém não me convida para metade dos lugares ocu- patrocínio (porque as que sas pessoas conseguiriam O teatro está com pauta há vir aqui no seu consultório, pados. Tudo para mim ho- têm patrocínio, não sen- pagar os ingressos, sem o bastante tempo e eu tenho eu pago para vir aqui. Se je se resume em visão. É tem tanto essa diferença), benefício. Isso vicia o pú- recebido bons e elabo- você quer assistir minhas preciso saber qual é o seu em peças que precisam do blico em pagar barato e rados projetos, daqueles peças, precisa pagar por produto e onde ele cabe. valor do ingresso, a ONG castiga o teatro. que sabemos que vão dar elas também. Não me pe- certo. Além disso, o Teatro ça de graça a única coisa Clara Nunes vai vir com al- que eu tenho para vender”. gumas surpresas. Vamos O ingresso é o pagamen- voltar à formação de públi- to para consumir a arte co de teatro, à educação do artista. Falta valorizar a POR do público de chegar no arte, valorizar o nosso pro- horário e não ficar aque- duto, que é o espetáculo BRUNO la fila gigantesca antes teatral. O produto que o BERNARDINO do espetáculo, há muitos artista tem para vender é Formado em Jornalismo atrasos. Vamos voltar ao a sua arte, valorizada por pela Universidade Veiga que era antes, ao teatro de meio do ingresso. Compre de Almeida. Com es- verdade e estamos com ingresso, vá assistir ao te- pecial interesse por tu- muitos projetos legais para atro. As pessoas não pen- do que envolva cultu- 2020. Para concluir: eu es- sam, quando vão a um bar ra e artes, atualmente cuto muitas frases boas e ou restaurante, em pedir cursa Artes Visuais na estava conversando com o dois chopps de cortesia, Universidade do Estado Antônio Fagundes, que me mas estão viciadas em Lidy Marx, gestora do Te- do Rio de Janeiro. atro Clara Nunes, no sho- contou uma maravilhosa pedir ingressos gratuitos. pping da Gávea: “Às ve- zes, o produtor acha que que eu carrego para minha Valorizem os artistas e os o teatro já tem dinheiro. Hoje, como gestora, vejo vida. Ele conta sobre um espetáculos. Se ninguém que não funciona dessa diálogo que teve com o comprar os ingressos, essa maneira”. FOTO: Repro- dução / Facebook. dentista, em que pergunta: é uma arte que vai acabar.

34 JANEIRO 2020 JANEIRO 2020 35 MEU OFÍCIO Stella Freita, Analu Prestes e Mario Borges no sucesso “As Crianças”, também tradução de Teza. FOTO: Bárbara Lopes / Agência O Globo tado no tempo e no es- com o marido (“Meninas liga o trabalho do au- paço e, de repente, eu & Meninos”); e com um tor aos atores e do es- estou no convívio de homem que fala sobre petáculo montado até uma companhia de ato- a história da sua mãe os espectadores. E é res na Segunda Guerra (“Todas As Coisas Ma- na noite de estreia que Mundial (“O Camareiro”); ravilhosas”). No teatro, reencontro todos esses sou levado para uma a tradução continua nas personagens que me conferência de uma salas de ensaio, na ma- fizeram companhia du- médica sobre Alzhei- neira como o elenco lê rante todo esse proces- mer (“A Outra Casa”); me e diz o texto, e também so. E lá estão eles, tão o. p is vejo em Uganda, diante de como esse texto será familiares e por vezes B e de uma família com um montado. Mas acredito tão diferentes de como g r o grande dilema a ser re- que a parte mais im- eu os imaginei. Ver cada J

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O solvido (“O Jornal – The portante da tradução é peça encenada, ver os

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F Rolling Stone”); ou para o público. O especta- personagens tomando uma casinha onde três dor sai do teatro com vida, me dá prazer e me cientistas nucleares se a compreensão daqui- faz ter a certeza que eu DIEGO TEZA reencontram (“As Crian- lo que ele acabou de escolhi o caminho certo. Tradutor ças”); ou até em encon- assistir, e isso é o que tros pessoais, com uma mais me fascina nesse ofício de tradutor desconhecidos do pú- Essa ou aquela pala- mulher que conta sobre ofício. Ser tradutor é ser surgiu para mim blico brasileiro. Começo vra? Traduzir sotaques? o seu relacionamento uma ponte. A ponte que recentemen- lendo as peças, e me Como adaptar gírias e Kiko Mascarenhas e Tarcísio Meira em “O O Camareiro”, peça traduzida por Teza. te e quase por acaso. pergunto se aquele tex- expressões idiomáti- FOTO: Gal Oppido. Até poucos anos atrás, to escrito em um outro cas? Alguns questiona- eu nunca tinha lido ne- idioma conversa com a mentos que durante o nhuma peça de teatro realidade do nosso país. processo me enlouque- “na vida, e quando li me Me atraem temas uni- cem e me divertem. Tra- apaixonei perdidamen- versais e que reflitam o duzir é um ofício solitá- te. Meu primeiro im- momento atual, temas rio e, ao mesmo tempo, pulso foi transpor para esses que às vezes ain- não. Quando começo a o nosso idioma e co- da nem se apresentam traduzir eu me encon- mecei a traduzir várias, na nossa sociedade ou tro com um, dois, vários porque eu queria que se mostram de forma personagens que du- mais pessoas tivessem muito tímida. Faço isso rante um tempo convi- acesso às histórias que também considerando vem comigo. Com eles, eu li. Mal sabia eu que o interesse dos atores, eu converso, eu os es- aquela paixão se tor- diretores e produtores cuto, às vezes até trava- naria a minha grande e também, não menos mos algumas boas dis- vocação. O meu traba- importante, do público. cussões. Através dessas lho começa, na grande Os desafios do ofício histórias e desses per- maioria das vezes, com também me atraem: Fa- sonagens fico sabendo uma pesquisa de tex- zer ou não a transposi- de coisas que jamais tos contemporâneos: ção das características saberia. Em um piscar autores que ainda são do texto para o Brasil? de olhos sou transpor-

36 JANEIRO 2020 JANEIRO 2020 37 MEU OFÍCIO Produtora de grandes espetáculos do grupo “Os Fodidos Privilegia- dos”, Mancuzo é discípula de Antô- nio Abujamra: “Aprendi com ele que o palco é um abismo e, para estar seu imposto para a cul- resultados. Não enjoo ção cultural em geral. nele, é preciso ter asas!”. tura, mas isso foi mu- do trabalho, pois estou A empresas estão des- FOTO: Divulgação. dando. Depois de 2000 sempre fazendo novas crentes, segurando ver- e alguns anos, muitos produções. Volto sem- bas que poderiam des- projetos passaram a ser pre a fazer produções tinar à cultura. Apoios incentivados por leis com quem já fiz, por- estão sendo negados, culturais, mas eu, na que o trabalho de pro- mas a arte vence sem- maioria das produções, duzir não é constante pre.No próximo tri- fiz sem patrocínio. para quem idealiza, mestre, estreio “Homo mas sim para quem Tapiens”, 30 anos da Sobrevivo da arte faz 33 executa. Estou aqui Orquestra Brasileira de anos. Sou de São Pau- executando, hoje rees- Sapateado, reestreio lo, cheguei ao Rio em treando, ensaiando, em “Mona Canta Lisa”, com janeiro de 1986. Nun- turnê e em cartaz! Mes- Mona Vilardo e inicio ca desisti ou quis sair mo em tempos difíceis a turnê de “Loloucas”, deste meio artístico e talvez este tempo com Heloísa Périssé e e produtivo que amo que estamos vivencian- Maria Clara Gueiros. muito, sou feliz pois do agora seja o mais sempre temos bons hercúleo para a produ- Já trabalhei com gran- des artistas, atores, di- retores e gostaria de encerrar o texto falando FILOMENA MANCUZO sobre o maior deles e Produtora que muito me ensinou, o diretor de teatro An- tônio Abujamra, a quem rodução é uma arte: de repente, na década de trabalho que demanda dedico muito do que a arte de fazer acon- 1980, eu, uma jovem atriz muita responsabilidade, sei e em quem penso Ptecer aquilo que foi acabando de me formar não podemos errar. Mas interiormente sempre idealizado por alguém! A e comecei a fazer produ- sempre deu certo porque quando estreio algum produção está em tudo! ção com shows, eventos, o teatro é uma magia. trabalho. Aprendi com Produzo porque sou atriz, prêmios, dança, grupos ele que o palco é um sou artista. Sempre digo teatrais, famosos, anô- Entre os anos 1980 e abismo e, para estar “que a maioria das pes- nimos. Trabalhava com início deste século, fa- nele, é preciso ter asas! soas começam pela atu- quem estava começan- ziam-se espetáculos ação e, no decorrer dos do e com quem já tinha em sua maioria sem pa- trabalhos, vão desenvol- muito tempo de carreira, trocínio, somente com vendo outros ofícios, se mas sempre produzin- a bilheteria. A lei Sarney descobrindo. Por isso, do com o mesmo afinco, de 1991, que depois vi- sou também figurinista, dedicação e prazer. No rou Rouanet, não tinha iluminadora, cenógrafa e início, ficava muito nervo- visibilidade e muitos diretora, mas o que mais sa, achava que não daria não entendiam, muitas faço é produzir. Foi assim tempo e que não con- empresas achavam que Produção de Filomena, o espetáculo “Loloucas”, com que comecei a produzir: seguiria. Produzir é um não conseguiriam dar Heloísa Périssé e Maria Clara Gueiros, vai entrar em turnê em 2020. FOTO: Dado Marietti.

38 JANEIRO 2020 JANEIRO 2020 39 CAPA CAPA EDUARDO MARTINI A INCANSÁVEL FÊNIX DOS PALCOS Por BRUNO CAVALCANTI

uando chegou anos, aprendeu que a o afastamento de pes- em São Paulo, palavra-chave para se soas que considerava Qem meados dos manter em produção muito próximas. anos 2000, o paulista- é a reinvenção. “Me no de alma e criação considero uma fênix, já “Eu pensei que iria en- cariocas Eduardo Mar- caí muito, mas sempre louquecer”, diz, cien- tini considerava a mu- volto renovado”, diz. te, hoje, de que havia dança um renascimen- naquele cenário todo to artístico, pessoal e Foi nesta máxima que uma linearidade ne- profissional. Na época, Martini se agarrou en- cessária para que pu- gozando de certo su- tre o final de 2018 e desse seguir em fren- cesso e prestígio no início de 2019, quan- te. “O teatro sempre Rio de Janeiro, Martini do enfrentou um tur- me salvou, e foi atra- achou na terra da garoa bilhão de crises nos vés dele que percebi o terreno perfeito para campos financeiro, um monte de coisas semear trabalho que, pessoal e profissional. importantes para o com o tempo, germi- “Eu vivi um verdadeiro meu crescimento”. E foi naria, transformando o inferno que me deixou justamente essa fas-

nome do ator numa re- muito pra baixo, eu não cinação com o ofício Claudia Martini. FOTO: ferência para a produ- via muita perspectiva que exerce há mais ção do teatro cômico em tudo o que estava de 40 anos que vol- paulistano. acontecendo, só que- tou a dar um rumo ria parar”, garante. En- na vida e na carreira “Cheguei na cidade tre uma operação não do ator que cole- para ficar alguns pou- planejada e o pedido ciona sucessos cos meses em cartaz, de substituição de um do quilate de e estou há quase 20 espetáculo que não o “I Love Neide anos. São Paulo me satisfazia, Martini ain- - Manual de abraçou e não me lar- da precisou lidar com uma Cin- gou mais”, relembra o um golpe de uma an- quento- ator que, ao longo dos tiga produtora e com na…”.

40 JANEIRO 2020 JANEIRO 2020 4141 CAPA CAPA MULHERES SEM ESTEREÓTIPOS UMA LÁGRIMA nterpretando a espa- lias pelo fato de ser um politicamente incor- PARA ALFREDO nhola Yolanda, Mar- homem interpretando reta, nunca teve uma Itini se diz ainda mais mulheres tão diversas. represália, e eu acho satisfeito pelo fato de “Eu acho isso mara- que é porque de fato ter conseguido cons- vilhoso. As mulheres eu acompanho esse om um texto em truir uma série de tra- se sentem homena- desenvolvimento das mãos e um or- balhos que, embora geadas e os homens coisas. Quando falo Cçamento de R$ dialoguem, sejam tão acham tudo aquilo di- como a Neide, tenho 340,00, o ator produziu, diferentes entre si. vertidíssimo. Mas tomo mais liberdade. Não dirigiu e atuou em “Uma muito cuidado, porque acredito, por exemplo, Lágrima para Alfredo”, “Eu fiz três mulheres, são personagens que que exista beijo gay, comédia do ator e dra- três personagens femi- podem cair facilmente existe beijo, uma boca maturgo Raphael Gama ninas completamente num estereótipo, que tocando a outra e pon- (com quem Martini divi- diferentes, e é isso que podem cair num debo- to. Quanto mais a gen- dia a cena) sobre o en- me deixa feliz, o fato de che, então tomo muito te separar fica pior”. contro de duas senhoras “Uma Lágrima para Alfredo”: comédia do ator e dramaturgo Raphael Gama (na foto, com Martini) foi produzida com orçamento de R$ 340, lotou o teatro às terças-feiras e concorre a minha personalidade cuidado para encon- em 3 categorias no Prêmio de Humor idealizado por Fábio Porchat. FOTO: Divulgação. na sala de espera de um não ser maior que a da trar o cognitivo dessas O ator acredita que o hospital. Ambas rece- personagem. Fiz a Nei- personagens. Elas pre- problema não esteja Em São Paulo, o espetá- Categoria Especial pelo bem a notícia de que de, em ‘I Love Neide’, cisam ter pelo menos necessariamente na culo foi um dos grandes conjunto da obra cons- seus respectivos ma- fiz a Valentina em ‘O uma dose cavalar de figura de um homem sucessos da temporada, truída na cidade. Figu- ridos estão internados Filho da Mãe’ e agora amor, como todo ser interpretando uma mu- com sessões lotadas no rando entre os favoritos em estado grave e criam essa Yolanda, que são humano tem, para se- lher, ou na revolução Teatro Folha em plenas a vencer a premiação, uma relação de cumpli- absurdamente diferen- rem críveis”, acredita. promovida através das terças-feiras. Não bas- que acontece em março cidade até descobrirem tes e complementares. “Mesmo a Neide Boa redes sociais, mas sim tasse o aval do público, o de 2020, o ator já se vê que são casadas com o Para um ator, não há fe- Sorte, que dizem ser no trabalho feito com o espetáculo acaba de re- como um vencedor. mesmo homem. licidade maior”. único intuito de chocar. ceber três indicações ao “É essa necessidade do Prêmio do Humor, a lau- “Ser indicado é uma coi- “As pessoas se matam Antenado com choque que causa tan- reação idealizada pelo sa muito grande, significa de rir e se emocionam a revolução to problema. Não tem ator e empresário Fábio que estão olhando para ao mesmo tempo, é uma de costumes porque. Quando você Porchat para homenage- o seu trabalho. A compe- coisa impressionante”, promovida coloca uma dose de ar os profissionais que fa- tição para mim não exis- contextualiza. O espetá- pela juven- humanidade na per- zem humor em São Pau- te, são todos trabalhos culo foi concebido para tude con- sonagem, todo mundo lo e no Rio de Janeiro. muito individuais, muito um festival de teatro na temporânea, se entende”, garante o diferentes. Eu já ganhei cidade de Mairiporã, na o ator diz não ator que, justamente A peça concorre nas um prêmio, que é esse região metropolitana temer represá- com uma personagem categorias melhor tex- reconhecimento saindo da capital paulistana, e feminina, ganhou a po- to, melhor espetáculo de uma crise pessoal e acabou fazendo carreira pularidade e o carinho e melhor performance entrando numa produ- pelo interior, além de ga- do público massivo. nhar o primeiro lugar na para Martini, que, no co- ção de R$ 340,00, de competição promovida meço deste ano, rece- onde eu ressurgi como pelo festival da cidade. beu o mesmo prêmio na uma fênix”, diz. “I Love Neide”: um dos maiores sucessos da carreira do ator. FOTO: Divulgação. 42 JANEIRO 2020 JANEIRO 2020 43 CAPA CAPA

nuísse meu tempo, e eu Castro que era um Lord “Eu tinha cenas mui- diminuí. Ele pediu para e me ensinava muita to legais com a Dercy eu cortar uma página coisa, eu só tive coisas Gonçalves, eram muito do meio, eu expliquei boas, fui muito feliz!” engraçadas, e isso nos que não era daquele dava a chance de cres- jeito que se fazia e ele O processo para entrar cer. Eu acho o Silvio de foi se queixar ao dire- na novela, contudo, não Abreu o melhor autor tor geral, que me cha- foi dos mais simples. In- de comédias que existe, mou. Eu provei que ele dicado a Silvio de Abreu e a Glória Perez é a me- estava mentindo, mas pela amiga Cláudia Raia, lhor no drama. Eu digo mesmo assim pediram com quem dividira o que ela é conectada para que eu saísse”, re- palco na clássica mon- com o astral”. O sucesso lembra o ator que, no tagem de “A Chorus da novela deu ao ator a mesmo momento, en- Line”, em 1986, Martini chance de trilhar cami- trou na sala de Regiane enfrentou uma grande nho ainda mais sólido de Souza, produtora de pressão, principalmente no teatro dentro daquilo Hebe Camargo. O su- do autor da novela. “O que sempre acreditou. “É cesso na TV, contudo, Silvio dizia: se você não essa dose de cognitivo não era novidade para for bem, o Querubim re- que eu gosto de colocar Rapha Veles, Dani Calabresa, Hebe Camargo, Fabio Rabim e Neide Boa Sorte no SBT. FOTO: Divulgação. o ator que, entre 1992 encarna e aí você sai da no meu trabalho, e acre- e 1993 compôs o elen- novela e acaba”, relem- dito que falte, porque co de “Deus nos Acu- bra Martini que, ao lon- somos seres humanos, SUCESSO NA TELEVISÃO da”, novela de sucesso go da exibição, recebeu passíveis do erro, mas o de Silvio de Abreu que cinco notas 10 na coluna importante é saber se re- o propor uma Hebe ria muito e pedia ne Galisteu na plateia, contava com um elen- da crítica de TV do jornal tratar para que deixemos brincadeira com para eu voltar, o público que não só adorou o es- co estelar formado por O Globo, Patrícia Kogut. uma sensação melhor”. a apresentadora gostava e, no meio dis- petáculo como convi- nomes como Francisco A Cuoco, Glória Menezes, Hebe Camargo, Martini so, teve aquele primeiro dou o ator para um nú- Marieta Severo, Jorge criou aquela que se tor- apagão dos aeroportos, mero em seu programa Como o anjo Querubim, com Dercy Gonçalves e Cláudio Corrêa e Castro, na novela “Deus Dória, Aracy Balabanian, nos Acuda” (1992): indicado a Silvio de Abreu pela amiga Claudia Raia, trabalho rendeu 5 naria sua personagem e no programa seguinte “É Show”, então na Rede notas 10 na coluna de Patricia Kogut. FOTO: Divulgação/TV Globo. mais icônica, a desboca- eu fiz uma crônica sobre Record. O sucesso foi Ary Fontoura, Cláudia da Neide Boa Sorte, que isso, e aí a Neide passou tão grande que o ator Raia, Edson Celulari e, não apenas divertida a a ser uma personagem permaneceu ao longo claro, Dercy Gonçalves, apresentadora, como do cotidiano do público”, de três anos, e depois de quem Martini lembra também se tornou uma relembra o ator, que fez seguiu com a apresen- com muito carinho. espécie de companhia da personagem outra tadora para o SBT para para o público acostu- forma de se reinventar. a estreia de “Charme”, “Trabalhar com ela era mado a acompanhar os onde ficou por mais dois sensacional. O Jorge programas de Hebe. Em 2000, após comple- anos até ser dispensa- Dória havia me alertado tar 40 anos e se mudar do por uma desavença de que ela era uma ví- “Eu queria criar uma para São Paulo para a com a produção. bora, porque eles tive- velha engraçada, des- temporada de sucesso ram uma briga, mas eu bocada. Eu tinha com- do monólogo “Na Medi- “Vários diretores passa- nunca tive um problema prado uma peruca em da do Possível”, Martini ram pelo programa da com ela, foi uma profes- Nova York e usava uma contou com a presença Galisteu, e aí um deles sora incrível. E também dentadura. E entrei. A da apresentadora Adria- pediu para que eu dimi- tinha o Cláudio Corrêa e

44 JANEIRO 2020 JANEIRO 2020 45 CAPA CAPA O TABLADO E A FAMÍLIA

oi essa confiança no trabalho e no cognitivo das persona- Fgens que fez com que Martini vencesse, por exemplo, a resistên- cia de seu pai para com a carreira que desejava desempenhar.

“Meu pai foi transferido para o Rio de Janeiro em 1975 para ser supe- rintendente financeiro da Itaipu, e queria que eu fosse prestar algum vestibular, construir uma carreira sólida, então fui e prestei arquite- tura na Universidade Gama Filho, no bairro da Piedade”, conta o ator Viviane Araújo e Eduardo Martini nos bastidores de “Até que o que, antes do dia da prova, já estu- Casamento Nos Separe”. FOTO: Thiago Bernardes/Editora Globo. dando no Tablado, descobriu que havia passado no teste de “Um “No dia seguinte, meu pai encon- Tango Argentino”, texto de Maria trou um amigo na praia que havia Clara Machado dirigido por Sura assistido ao espetáculo e o para- Berditchevsky. benizou pela minha estreia”, diver- te-se. O episódio rendeu a Martini Na montagem, Martini não só es- um gelo de pelo menos três me- treou escondido do pai, como tam- ses de seu pai, o superintendente bém foi colega de nomes como financeiro Milton Martini que, com Fernanda Torres e Elizângela. “Nin- o tempo, passou a acompanhar de guém soube da estreia porque no longe a carreira do filho, até per- dia havia uma festinha para come- to do fim da vida, quando revelou morar o aniversário do meu irmão, ser fã do jovem Martini. No dia da então estreei, fui pra casa e, no dia morte do pai, Eduardo subiu ao seguinte, prestei o vestibular”, re- palco para encenar “O Filho da lembra o ator que, teria passado “Papo com o Diabo”: Mãe”, um de seus sucessos mais sem mais problemas, não fosse um Espetáculo volta ao palco do Teatro União duradouros, no Teatro Vannucci, pequeno deslize do acaso. Cultural em janeiro. FOTO: Divulgação. no Rio de Janeiro.

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ntre outras “Não tem nada de ego tini pretende, agora, obras de suces- nessa história, princi- retomar de onde pa- Eso, o ator tam- palmente porque eu rou, tendo como prin- bém contabiliza tex- tenho muito mais con- cipal mote o desejo de tos como “Quem tem tas para pagar, muito formar público. SEM Medo de Itália Fausta”, mais responsabilida- “Quem Matou Maria des, não quero fazer “Eu pretendo que a Helena?” “Até que o um Teatro Eduardo pessoa que saia deste Casamento nos Se- Martini, mas precisei teatro procure outros. pare” e “Papo com o fazer isso porque as Outros teatros, outros Diabo”, estas últimas pessoas foram de- espetáculos, outras ex- duas componentes sistindo das pautas e periências tão bacanas da programação que, eu precisava colocar quanto as que eu gos- EGO a partir de janeiro, rei- espetáculos prontos. taria de proporcionar. naugurará o Teatro Mas não tem ego, se Formar e fomentar pú- União Cultural, centro o seu projeto for me- blico é essencial, atra- de cultura no bairro lhor que o meu, ele vai vés da boa experiência, do Paraíso que, gra- entrar, essa é a ideia, através da educação, ças a má administra- fazer um ponto de cul- através de cursos, pre- ções passadas, entrou tura onde as pessoas tendo fazer desse es- em processo de suca- tenham uma boa ex- paço um polo de cul- teamento até encerrar periência desde o mo- tura, um ponto para o atividades em mea- mento em que retiram encontro mesmo”. dos de 2018. os ingressos na bilhe- teria até o momento E nem mesmo o atual Além das duas comé- em que retiram o car- momento de desmon- dias, o ator também ro do estacionamento, te e sucateamento levará à cena o dra- nada além”, garante. amedrontam Martini, Suzy Rego e Martini também vive- ma “Chorávamos Ter- que garante: “Desde ram par romântico de “Até que o Casamento ra Ontem à Noite”, de Essa, contudo, não é que eu me entendo Nos Separe”. FOTO: Cláudia Martini. Eduardo Ruiz, que es- a primeira vez que o por gente o momento treou e cumpriu tem- ator assume o teatro. da cultura é sempre porada discreta no Te- Em 2015, Martini es- péssimo, horrível, es- atro Décio de Almeida teve à frente da pro- quisito, é sempre tudo Prado, e a triunfante gramação do espaço, de ruim. E eu acredito “Uma Lágrima para Al- que se tornou referên- que, se não temos o fredo”, todas estrela- cia na fusão de lingua- poder de mudar, nós das pelo próprio Mar- gens e manifestações precisamos nos mu- tini que, garante, não culturais. O trabalho dar, nos adequar e planejou a “mostra”. foi encerrado no final continuar fazendo. do mesmo ano, e Mar-

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Com Blota Filho em “Chá das 5”, milionário excêntri- sas, e isso não texto de Regiana Antonini: mulheres co viciado em sexo, poderia ser me- sem estereótipos. POR: FOTO: Divulgação. que deve chegar lhor”, finaliza o BRUNO às telonas ainda no Eduardo Martini CAVALCANTI primeiro semestre que, em 2020, Bruno Cavalcanti é jornalista de 2020, e deve ini- comemora 60 formado pelo Centro Univer- ciar o processo de anos de vida e sitário FIAM FAAM. Colabo- rou em publicações como gravação de duas planeja encenar, Revista BRAVO! e Sex Sites. séries para platafor- pelo menos, mais Atualmente, é repórter da mas de streaming. quatro espetácu- Folha de São Paulo, assina a los, fora os que, coluna “Conexão Sampa”, no portal da jornalista Anna Ra- “Trabalhar já é ma- com sua verve malho e é repórter e crítico ravilhoso, é isso que incansável, ainda teatral no site Observatório faz o meu dia ser um não escolheu. do Teatro. É jurado do Prêmio Destaque Imprensa Digital, enxame de felicida- autor do livro “Porque a Gen- de. Minhas coisas te é Assim - Música Popular maravilhosas estão e Comportamento” e da peça nas pequenas coi- “Papo com o Diabo”.

Em 2019, Martini ganhou o Prêmio de Humor na Categoria Especial pelos 40 anos de carreira com constante contribuição para o teatro de humor em São Paulo. FOTO: Divulgação.

Desde sempre a cul- Na programação, além Para a programação, tura está em crise, a das peças de Marti- Martini ainda nego- saúde está em crise, a ni estão agendados cia uma temporada educação está em cri- também shows de com Angela Ro Ro e se e ninguém faz nada Marquinhos Moura, um show com a can- para mudar. Fernan- Marcelo Nogueira in- tora Claudette Soares da Montenegro ia no terpretando Agnaldo e o pianista Caçulinha banco e fazia emprés- Rayol e espetáculos cantando o repertório timo, e pagava não sei como “Araca”, monó- de Noel Rosa. como. Eu faço a mes- logo de Raphael Gama ma coisa, não espero sobre a intérprete Ara- Em paralelo, se prepa- fomento, não espero cy de Almeida, “Veló- ra para o lançamento nada disso, porque rios”, de Patrícia Villela, de “Dois mais Dois”, não forma um espe- um projeto de contos filme dirigido e roteiri- táculo. O que forma é com Ailton Guedes e o zado por Marcelo Sa- ator e texto!”. infantil “Rei Mídias”. back, no qual vive um

50 JANEIRO 2020 JANEIRO 2020 51 HOLOFOTES HOLOFOTES Victor Maia vence mais um desafio Um autor e um recorde: no musical “Brilha La Luna” Gustavo Pinheiro estreia tor, bailarino, cantor fou o especial do “Criança 3 textos inéditos em um FOTO: Julia Assis. Julia FOTO: e coreógrafo, Victor Esperança” em 2016 e intervalo de 72 dias AMaia já participou 2018 e em 2014, trabalhou de vários musicais con- como preparador corpo- sagrados e, mais recen- ral e coreógrafo no qua- jornalista e dra- pel de Dizuite, temente, foi destaque no dro “Artista Completão”, maturgo Gustavo uma faxineira da papel de Thalia, em “Brilha no “Domingão do Faustão”. O Pinheiro estreou Central de Apoio La Luna - Um novo musi- Em 2019, foi preparador te- no dia 31 de outubro, no aos Desesperados cal”, com canções do gru- atral da comissão de fren- Sesc Ginástico, o espe- (CAD), uma espécie po Rouge. Ele interpretou te da Mangueira, campeã táculo “Os Impostores”, de CVV, que aten- uma drag queen empode- do carnaval. “A dança na dividindo a dramaturgia de aos telefonemas rada e humana, que luta minha vida me ajudou a com Rodrigo Portella dos insatisfeitos pelo preconceito dentro melhorar meu estado de (diretor de “Tom na com a vida quando de um reality show de mú- saúde, meu preparo físi- Fazenda”), que tam- a psicóloga planto- sica. O trabalho de Victor co, minha relação com a bém assina a direção nista falta o traba- merece muitos aplausos arte e exacerbou a minha da peça. No elenco, es- lho. A direção é de pela sua interpretação, sensibilidade em relação à tavam Carolina Pismel, Ana Paula Bouzas pelas coreografias, pe- música. A dança aproxima Guilherme Piva, Murilo e Lázaro Ramos. lo canto e também pelo as pessoas. Faz com que Sampaio, Pri Helena, Em 2015, Gustavo equilíbrio firme e forte no celebrem juntas, compar- Suzana Nascimento e venceu a seleção saltão da sua personagem. tilhem alegrias, amores Tairone Vale. Uma se- “Brasil em Cena”, do Victor é destaque há sete e emoções. E o mundo só anos na função de coreó- precisa disso para melho- mana depois, o autor CCBB, com o tex- grafo do programa sema- rar: amor e celebração. já estava vendo nas- to “A Tropa”. A peça nal “Caldeirão do Huck”, na Que se dance hoje e todos cer no palco do Teatro mostrava um acer- VICTOR MAIA Rede Globo. Já coreogra- os dias”, declara Victor. PetraGold mais um dos to de contas entre seus textos inéditos: um pai e seus qua- “Relâmpago Cifrado”. tro filhos tendo co- Dirigida por Leonardo mo pano de fundo a A APTR e sua incansável luta pelos direitos da classe artística Netto e Clarisse Derzié história do Brasil nos Luz, a peça com Ana últimos 50 anos: dos colegiado da Associação ocupações do MEI.Tem sido ral Marcelo Calero informou Beatriz Nogueira e escândalos de cor- Ode Produtores de Teatro uma verdadeira força-tarefa. que, mesmo com a revoga- está de olhos bem abertos Em sua página no Facebook, ção, existe a possibilidade de Alinne Moraes mostra rupção da Lava-Jato para o cenário político da a associação escreveu sobre manter a votação de Projeto o embate entre duas ao desaparecimento cultura. Mobilizando encon- o caso: “Ratificamos a impor- de Decreto do Legislativo médicas e suas diferen- de presos políticos tros com a classe artística e tância da continuidade de no Senado e na Câmara”.Os tes formas de enten- na ditadura. A peça políticos para discutir medi- mobilização do setor para encontros promovidos pela der a vida e a profissão. viajou por oito cida- das adotadas pelo governo, a garantir e preservar os recur- APTR costumam ter trans- Ana Beatriz foi indicada des e teve 10 mil es- APTR tem obtido êxito em al- sos do FUNDO ESTADUAL missão ao vivo pelas redes ao Prêmio Cesgranrio pectadores, além de gumas batalhas. Em dezem- DE CULTURA exclusivamen- sociais. Vale acompanhar. de Teatro pelo seu tra- estar disponível em bro do ano passado, conse- te para a cultura. Apesar da Instagram: @aptroficial. guiram reverter, no diálogo, promessa do Presidente balho.2020 mal come- livro. Atualmente, um projeto de lei que aca- da República em revogar a çou e outro texto iné- Gustavo participa do baria com a exclusividade da Resolução 150, que retira- dito de Gustavo estreia roteiro da série de Elisa Mendes. FOTO: utilização dos recursos para a va do MEI várias funções do no dia 10 de janeiro no televisão inspirada cultura do Fundo Estadual de setor cultural, lembramos da Theatro Bangu. “Antes na peça homônima. Cultura. Em outro momento, fundamental manutenção do Ano que Vem” traz conseguiram a revogação da vigília, até a publicação Mariana Xavier no pa- GUSTAVO PINHEIRO da resolução que excluía 14 deste ato. O deputado fede-

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Beà: 24 anos e duas indicações ao Prêmio Shell

ua pouca idade não deixa de mostrar o quanto a diretora Smusical, Beà, é afortunada por mentores que tornaram sua relação com a música e a arte ainda mais ví- vida. Aos 24 anos, a carioca da gema, nascida na Região da Lapa, contra- baixista, sonoplasta, compositora e diretora musical é, pelo segundo ano consecutivo, indicada ao Prêmio Shell de Teatro na categoria músi- ca, desta vez pelo espetáculo “Meus Cabelos de Baobá”. Em 2018, em 31 anos de existência da premiação, ela se tornou a primeira mulher negra a

ser indicada na categoria, pelo es- Habitá. Rizzia FOTO: petáculo “Esperança na Revolta”, da Confraria do Impossível. “Sou de 95, e naquela época a grande febre era o Mamonas Assassinas, eu era fanáti- ca por aquela guitarra, aqueles sons… E no auge dos meus 6 anos, já que- ria uma guitarra! Minha mãe me deu aos 11 anos uma e minha avó pagou aulas pra mim. Mas foi um homem preto, artista de rua, que me acon- selhou a experimentar o violão pri- meiro. E a partir dali, tudo começou”, BEÀ frisa. Mesclando entre o autodida- tismo e o encontro com professores única que ficou até o fim do semestre com como a musicista e professora co- aquele professor”, desabafa. A também munitária Regina Rocha e o produtor integrante, preparadora vocal e responsá- Marcelo Daguerre, responsável por vel pelos arranjos melódicos e harmônicos sua imersão no mundo da produção do grupo Dembaia, acredita e afirma que a e direção musical, Beà encontrou no vitória de um igual é uma vitória coletiva. baixo o som “que parecia o útero da “Quando a Larissa Luz ganhou com Elza no terra”, e neste som, se deixou ficar. O ano passado, comemorei junto. Era como caminho de estudo do baixo e dos se eu também tivesse ganhado, afinal, no outros instrumentos que toca não momento político que a gente tá vivendo, foram fáceis, “Foi um processo mui- nosso momento enquanto pretos que tem to doloroso, tive um professor que toda uma ancestralidade, ninguém ganha. dizia para os meninos que estavam São todas essas mulheres que vivem as tocando mal, que eles pareciam mu- mesmas coisas pra estudar música, afinal, lherzinhas. Eu era a única mulher da somos potência de Orunmilá, somos po- sala naquela época e fui também a tência do universo”, afirma

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A versão teatral ganhou músicas de Lady Gaga, Beyoncé, Katy “MOULIN ROUGE!” FINALMENTE Perry e Adele, além da trilha CHEGA À BROADWAY original do filme. Espetáculo investe pesado em cenografia para recriar clima lancinante do filme de Baz Luhrmann Por CLÁUDIO SOUZA FOTOS de Matthew Murphy de Matthew FOTOS

pós longa espera Há quase pelo menos 20 no cinema) são vividos por Estão lá também todos os vivido pela atriz Jacqueline responsáveis por parte do por fãs do cine- anos, houve especulações nomes já conhecidos na outros famosos persona- B. Arnold. A trilha sonora deslumbre do público, são Ama e do teatro, a sobre uma versão teatral Broadway. Ele é interpre- gens que compõem a trama não decepciona os fãs, trabalho de Sonya Tayeh, adaptação teatral do filme do longa-metragem, que tado por Aaron Tveit, nome metalinguística (a famosa trazendo as canções que enquanto figurinos e ce- “Moulin Rouge!” chegou apesar do apelo junto ao que ganhou destaque no história dentro da história). fazem parte da memória nografia são assinados por à Broadway em julho de público, recebeu apenas musical “Next to Normal” O veterano da Broadway afetiva do público, como Catherine Zuber e Dereck 2019, após prévias na cida- prêmios técnicos no Oscar e depois foi visto em um Danny Burstein interpreta “Your Song”, “Elephant Love McLane. Baz Lurhmann su- de de Boston. A produção - melhor figurino e melhor papel coadjuvante na ver- o trapaceiro de bom cora- Medley”, “Lady Marmela- pervisiona a obra junto com se esmerou para levar o direção de arte. Agora, de- são cinematográfica de “Les ção Harold Zidler, enquanto de” e “Come What May”. Catherine Martins. famoso cabaré do longa- vidamente atualizado - di- Misérables”, que levou o Sahr Ngaujah dá vida ao Os acréscimos ficam por -metragem com todos os ga-se de passagem com musical para o cinema sob Toulouse-Latrec. O duque, conta de obras posteriores Por hora, o espetáculo se- detalhes para o palco, in- novas canções do mundo a direção de Tom Hooper. vilão da estória, está nas de nomes como Beyoncé, gue com uma já confirmada cluindo o famoso elefante pop -, o musical espera A cortesã que ilumina o mãos do ator Tam Mutu. Rolling Stones, Adele, Katy turnê pelos Estados Unidos onde acontece uma das alcançar algo a mais de Moulin Rouge chega aos Alguns personagens mu- Perry, Pink e Lady Gaga, em 2020 e duas estreias cenas icônicas do filme. sucesso que o filme. palcos na pele morena de daram de gênero, como entre outros grandes nomes. internacionais: no West Karen Olivo, destaque nos o dançarino Le Chocolat, End, em Londres e em O desejo de adaptar o filme Em cena, o casal protagonista musicais “In The Heights” que no filme é interpretado A direção é assinada por Melbourne, na Austrália, de Baz Luhrmann para os Christian e Satine (Ewan (2008) e na remontagem pelo ator Deobia Oparei e Alex Timbers, com libreto de ambas em 2021. palcos não é tão recente. McGregor e Nicole Kidman de “West Side Story”. na versão da Broadway é John Logan. As coreografias,

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: Robe OTO rto C F ar ow! Sold out todos os dias beleza de Nicole do so J e com ingressos disputados Kidman e da força r. Wpor 400 dólares, o musical é de Ewan. Apenas um sonho ao vivo em vermelho. Impe- no sagrado mo- cável! Irretocável! Moderno, dinâmico, mento do Tango excitante. Cheio de novidades, como de Roxanne, o o prólogo, onde boa parte do elenco filme é muito me- recebe o público e a entrada do ator lhor que a peça. “protagonista, Aaron Tveit (que prota- Mas, se eu pudes- gonizou “Catch me if you can” e “Next se destacar um único to normal”), que leva o público ao de- momento, seria a volta do segundo ato. lírio. O teatro inteiro envelopado, um Caramba… “Bad Romance”, o maior su-

FOTO: Emilio Madrid-Kuser/ figurino riquíssimo e coreografias de cesso de Lady Gaga, é a releitura mais BroadwayWorld.com tirar o fôlego de qualquer um. Os nú- bem sacada e cantada, misturado com meros musicais são 100% assertivos, “Toxic” de Britney Spears e do clássico SUPERPRODUÇÃO DA BROADWAY com destaque para as novidades de “Sweet Dreams”, do Eurythmics. É ge- Beyoncé com sua “Single Ladies” e nial. Enfim, se você estiver em Nova arpa / Braz Sc il N DIVIDE A OPINIÃO DOS DIRETORES la ew Adele com “Rolling in the Deep”, que York, permita-se lançar a sorte de con- e s nu a é o grande solo dramático de Aaron. seguir ingresso e viver essa hemorragia :M O TEATRAIS ULYSSES CRUZ T O O “Elephant Song” e sua torre Eiffel faz de sensações que é Moulin Rouge. Ah, F todo mundo se emocionar e torcer por detalhe! Tente a sorte de ser levado a E MARCIO AZEVEDO aquela história de amor. Nas quase três sentar num dos lugares reservados ao horas de musical, você se esquece da público no palco, dentro da cena. ão deu certo. Infelizmente. Pri- entra e sai de cená- meiro que não foi Baz Luhrmann rios, tudo para criar Nquem dirigiu. Ele declinou. Disse uma tentativa imersi- que já tinha feito o filme e que ele acha- va que... Tiraram, na mi- PROJETO DE INCENTIVO POR va melhor entregar para gente jovem nha opinião, o que sustentava o filme: A JOVENS ARTISTAS fazer. Entregaram. Todo mundo, exceto como Orpheu - ele de novo (também CLÁUDIO John Logan (escreveu o libreto), é bem está em “Hadestown”) - o herói românti- Levando em consideração os ideais boêmios SOUZA tão proclamados no texto - Liberdade, Beleza, jovem. Ficaram trabalhando durante 3 co desce ao inferno da prostituição e das Jornalista formado pe- “ Verdade e Amor - a produção do musical anos na construção dessa transposi- drogas para resgatar a heroína romântica la FACHA com MBA desenvolveu o “Bohemian Project”, em ção para o palco. Em 2017 fizeram um que morre no final. Não tem nada disso. em Comportamento parceria com a New York Academy of Art. A workshop de 6 semanas para entender É só um casal que não cria empatia com do Consumidor pela iniciativa visa fomentar a economia criativa e ESPM-RJ. É o criador melhor… Enfim, cercaram de todos os la- o público tentando escapar das garras proporcionar aos jovens do portal “A Broadway dos para não haver erro. E... Não deu cer- do vilão. A atriz tosse na primeira cena profissionais desse meio é Aqui!”, dedicado ao to. Começa no miscasting do casal prin- e na última antes de morrer???? Quem ingressos acessíveis, teatro musical e jura- cipal, passa pela coreografia repetitiva e não viu o filme se pergunta: por que ela oportunidades do do Prêmio Brasil chega numa música que ignora quase morreu? Como é difícil fazer um musical de trabalho Musical. Também atua e geração de como Coordenador de que totalmente a trilha do filme de 2001, dar certo. Esse tinha tudo. O público rea- Conteúdo no Mundo receita para acrescentando Beyoncé, Katy Perry e ge meio sem entender direito o que está do Marketing. dezenas de mash-ups... Hummmm. É rolando. Reage pouco e os aplausos são projetos, entre uma pena. Custou bem caro. Isso é visí- burocráticos. O teatro é bem grande - outras ações. vel pois enveloparam todo o teatro, pen- mais de 1.000 pessoas com certeza -, duraram lustres de cristal, construíram os ingressos estão esgotados e custam camarotes e é um tal de sobe e desce, bem caro, mas... Melhor esquecer. FOTO: Divulgação

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Dirigida por Alexander Wright, Serviço: responsável pela adaptação, Harold Pinter Theater nos mesmos moldes imersivos, Panton Street, SW1Y de “The Great Gatsby”, de F. Londres FOTO: Divulgação. FOTO: Scott Fitzgerald, a produção do “Lobo” é dúbia: consegue Ingressos a partir ser empolgante e asfixiante de 15 libras De 14/1/2020 em momentos distintos. Des- até 2/5/2020 confortável pode ser também para o elenco. Nas primeiras sessões, alguns membros do cast foram agredidos por alguns espectadores. Após o incidente, medidas de segu- FOTO: Divulgação. FOTO: “O LOBO DE Nas primeiras sessões, alguns mem- rança suplementares foram bros do cast foram agredidos por al- adquiridas: botões de alarmes guns espectadores. Após o incidente, WALL STREET” medidas de segurança suplemen- e gestos que indiquem que “TIO VÂNIA”, DE TCHÉKHOV, tares foram adquiridas: botões de alarmes e gestos que indiquem que o elenco esteja “em perigo”. EM LONDRES o elenco esteja “em perigo”. RETORNA AO WEST END Em suma, mergulhar no universo O clássico russo de Antón “A Gaivota”, de 2007), a nova Wall Street novaiorquina é transportada da Wall Street novaiorquina lado de Belfort. Ou contra ele” em pleno centro de Londres Tchékhov foi escrito em 1890 e montagem chega a Londres para dentro de um prédio de quatro - avisa a produção. Quem opta é inusitado e inovador, mas já foi montado diversas vezes em janeiro com dois nomes por filiar-se ao FBI terá uma no mundo todo. O tio do título famosos no elenco. Tio Vânia andares no centro de Londres não necessariamente, uma experiência mais low-profile, garantia de qualidade. Entre- é um homem desesperançoso, será interpretado pelo bai- Por PAULO NETO com menos interações. tanto, pode configurar-se uma na virada do século 20, esva- xinho e potente Toby Jones, experiência realmente singu- ziado de qualquer positividade, que tem uma enorme carreira xperiências teatrais Em Londres, o mergulho imersivo Montada em um prédio, no lar para quem se dispuser a cansado e embebido de um no cinema, onde já viveu o imersivas estão na do momento é a adaptação de “O centro de Londres, a em- tantos loopings e mergulhos. niilismo que o afoga. Mesmo escritor Truman Capote e o Emoda. São encenações Lobo de Wall Street”. Sucesso nos preitada convida o público diante de tanta falta de vida, diretor Alfred Hitchcock. É realizadas, não necessaria- cinemas, em 2013, pelas mãos a seguir os atores em suas o irascível Tio Vânia agarra- também conhecido como a mente dentro de salas ou de Martin Scorsese, a história mazelas e glórias. A classifi- STRATTON OAKMONT -se às poucas pessoas que voz de Dobby, o Elfo doméstico teatros, mas em ambientes narra a vertiginosa jornada ao cação indicativa é 18 anos. Há 5-15 SUN STREET, LONDON, restam diante de seu olhar dos filmes da saga Harry Potter. 360 graus (rooftops, galpões inferno do mundo financeiro avisos alertando para cenas EC2M 2PT de mundo, como a sobrinha ou prédios), onde o público do protagonista, Jordan Belfort, de forte conteúdo sexual. Há Ingressos a partir de 58 Sonya e o médico Astrov, que Outro nome conhecido do é convidado a mergulhar um corretor que aplica opera- também cartazes proclaman- libras. Até 19/1/20 preenchem seus dias nublados cast é o também britânico no universo reconstituído ções fraudulentas com seguros do o correto “Consentimento com conversas existencialistas. Richard Armitage, o Thorin da e a interagir com o elenco, vinculados à Bolsa de Valores é essencial”. O protagonista trilogia de filmes “O Hobbit”, se quiserem. Recentemen- novaiorquina. Belfort é perse- é um macho-alfa misógino, Além de constituir-se uma que retorna ao West End de- te, em São Paulo, houve a guido por agentes do FBI numa inconsequente, machista e peça sobre frustrações huma- pois de sua atuação em “As muito bem-sucedida mon- caçada empolgante e hilária. hedonista até a espinha. No nas, paixões ocultas e desen- Bruxas De Salem” (The Cru- POR tagem do musical “Zorro”, filme, Jordan Belfort narra e canto, a obra de Tchékhov é cible), de Arthur Miller. Ciarán onde esplêndidos números Nesta experiência imersiva, perpassa, em detalhes grá- PAULO também um retrato sardônico Hinds, das séries “Rome” e de flamenco se espalhavam não há assentos. Percorre-se ficos, todas as suas viagens NETO da Rússia pré-revolucionária, “Game Of Thrones” e Rosa- excessivas com drogas pe- ardendo com a derrocada lind Eleazar, da produção da pelo amplo salão, com um o local, seguindo o elenco, por Jornalista, crítico de tea- elenco fabuloso capitane- quatro andares e é possível sadíssimas. Na montagem tro e cinema. Colaborou dos Czares. Adaptada pelo BBC “Rellik”, também estão ado por Bruno Fagundes, escolher de qual lado você londrina, há um aviso para com as revistas Drops irlandês Conor McPherson, no elenco. A remontagem no papel-título. Em “Zorro”, quer ficar (pertencer): ao os espectadores: se alguém Magazine e Aimé. Jurado do musical “Girl From The estreia no West End no dia o público assistia sentado, lado do protagonista ou dos for pego com substâncias do Prêmio Guarani de North Country”, e dirigida 14 de janeiro. rodando o pescoço e atento investigadores do FBI que o ilícitas, serão sumariamente Cinema-RS e votante do por Ian Rickson (que volta ao ambiente inteiro. caçam. “Você pode ficar ao expulsos do local. Prêmio Cenym de Teatro. a montar Tchékhov depois de

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Animado o foi. Para o musical foram criadas formar público. Já está na plateia a tercei- canções originais que procuram transmitir ra geração. Os avós, pais, filhos e netos já ideias de igualdade e inclusão. Não há di- estiveram, e continuam a estar, a frente de ferença entre menina e menino – Heidi tem um de seus espetáculos. É um programa comportamentos mais livres, por ter sua vida para toda família. nos Alpes, diferente de uma menina criada na cidade da época. O importante é pensar. EQUIPA CRIATIVA “O grande poder está na mente e no coração Encenação e Coreografia: Victor Linhares Texto: Ana Saragoça (...) que bom é saber pensar”, diz a canção. Musica e direção musical: Quim-Tó Cenografia: Kim Cachopo A inclusão, a igualdade entre gêneros, a Figurinos, Caracterização e Adereços: Pessoa importância da educação são alguns dos Júnior temas mais destacados nesta produção. A Desenho de Luz: Tiago Santos “HEIDI – autora lembra que, no desenho animado, as INTERPRETAÇÃO crianças não iam à escola e reforça o esforço Catarina Ramos; Henrique Macedo; Kim O MUSICAL” de Heidi em incluir a menina Clara nas brin- Cachopo; Maria Curado Ribeiro; Marta Lopes cadeiras das crianças, não havendo limites Correia; Miguel Vasques; Paulo Neto; Tiago de Por CACÁ VALENTE e regras. Diferente da TV e do livro, a autora Almeida FOTO: Divulgação. FOTO: evitou cair no clichê da redenção: a Clara A inclusão, a igualdade entre gêneros e a não volta a andar, antes ela é integrada ao TEATRO ARMANDO CORTEZ uem não se lembra de alguma his- importância da educação são alguns dos temas Estrada da Pontinha, 7 destacados na produção da Companhia TIL, convívio das crianças como ela. E, mais uma tória de infância onde a protago- a mais antiga companhia de Teatro infantil de 1600-583 Lisboa Portugal, com mais de 40 anos de estrada. vez, a canção nos faz lembrar “momentos nista, ou o protagonista, tenha sido Q parvos nós temos, escusa estarmos a negar INFORMAÇÕES ADICIONAIS criada pela avó, avô ou um bom velhinho? (...) ninguém pode nada sozinho”. Sessões Público Geral (Famílias): Sábados, Da minha memória afetiva, lembro logo um pequeno pastor, e se tornam amigos. Domingos e feriados às 15h da novela da TV dos anos 60, “A peque- Já ambientada ao lugar e mais acarinhada A docilidade, pureza de pensamento e sabe- Sessões Escolares: de Terça a Sexta às 11h e às na órfã”, da extinta TV Excelsior. Reprisada 14h30 (mediante marcação prévia) pelo “velho da montanha”, Heidi é conven- doria ingênua da pequena Heidi encantam pela TV Globo no início dos anos 70. cida pela Tia a ir com ela para uma casa não só os pequenos, mas os pais também. em Frankfurt, Alemanha, fazer companhia a PREÇOS A Companhia, com mais de 40 anos de es- 11 € - adulto O bom velhinho Gui da TV, interpretado pelo uma menina. Lá, conhece uma menina pa- trada, a mais antiga companhia de Teatro 8,56 € - crianças ator Dionísio Azevedo, acudia a menina loirinha, raplégica confinada a uma cadeira de rodas, infantil de Portugal, está acostumada em 32,60 € - pack Família Toquinho, que sofria maus tratos no orfanato. Clara, e a ríspida governanta da casa, Sra. Rottenmeier, responsável pela educação e Em Portugal – creio que a novela não tenha bem-estar de Clara. sido exibida por cá –, podemos substituir a POR novela pelo desenho animado “Heidi” – este Este musical da Companhia TIL – Teatro CACÁ também exibido no Brasil. Sucesso nos anos Infantil de Lisboa –, estreou em novembro VALENTE 1970 e um clássico mundial escrito pela suíça do ano passado e pretende-se alongar até Designer, Mestre em His- Johanna Spyri, em 1880. junho de 2020. De terça a sexta-feira em tória da Arte, Gestor e Pro- duas sessões e sábado e domingo uma. dutor Cultural por mais de Heidi, a órfã, depois da morte dos pais, pas- Portanto, dez sessões por semana – quando 20 anos, tendo contribuído sa a viver com a Tia, Dete, mas esta, após a Companhia não vê a necessidade de fazer para Petrobras, Secretaria 5 anos, se vê impossibilitada de cuidar da uma extra no final de semana. Com capaci- de Estado de Cultura do pequena e transfere os cuidados para o avô dade para 300 pessoas, o Teatro Armando Rio de Janeiro e Secretaria “Heidi” está em cartaz de de Cultura do Rio de Janei- paterno da menina. Heidi passa a viver com Cortez tem andado lotado. terça a domingo, realizando 10 sessões por semana. Isso ro. Atualmente mora em o avô – um velhinho de poucas palavras e quando a Companhia não vê Portugal, onde desenvolve a necessidade de fazer uma temido na região – nos Alpes Suíços. Nesta A autora, Ana Saragoça, procurou ser fiel extra no final de semana. projetos de cultura, turismo nova vida, Heidi conhece o menino Pedro, ao livro de Spyri, assim como o Desenho FOTO: Divulgação. e artesanato.

62 JANEIRO 2020 JANEIRO 2020 63 TEATRO PELO MUNDO | PARIS TEATRO PELO MUNDO | PARIS

Thomas Jolly: sim- tes das 4h da manhã do dia plesmente genial. Henry VI: 18 horas FOTO: Divulgação 22 de julho de 2014, e gritar de espetáculo. “merci, merci, merci” ou ainda FOTO: Divulgação “Richard III, Richard III”, ou mais, “la suíte” – ou, em português, a continuação. Procurem es- sas imagens na Internet, é um dos mais belos momentos que o teatro já me proporcionou, ousaria dizer, o mais belo se lá eu estivesse.

THOMAS JOLLY Mas, minha companheira foi a Avignon única e exclusivamente OU DO PRAZER DE DESCOBRIR UM GÊNIO para ver Henry VI, a partir da Por DEOLINDA VILHENA sua narrativa e de suas im- até ele, me apresentei e disse apresentada ao trabalho genial pressões comecei a levantar que ao longo da temporada desse feiticeiro da cena. homas Jolly vem ao Hoje, é um dos mais cobiçados de Henry VI, um espetáculo-rio a ficha desse “menino” – ele ainda assistiria Le Radeau de Brasil pela primeira diretores da França. composto por três peças de tem a idade do meu filho, por la Meduse e que gostaria de No dia 27 de junho de 2017 lá Tvez. Mas quem é Tho- Shakespeare, quinze atos, cento isso sei que o chamarei eter- conversar com ele. Perguntou- estava eu lépida e fagueira nos mas Jolly? Essa pode ser a E como toda unanimidade é e cinquenta personagens, dez namente de menino. -me se tinha os seus contatos, Ateliers Berthier – segunda sala pergunta feita por nossos burra, dizia Nelson Rodrigues, mil versos ao longo de 18h, disse que não, mas saberia do Odéon Théâtre de l’Europe leitores. Poderia respondê-la enquanto o público aplaude ao final ele seria consagrado Desde então, muito tem sido como encontrá-lo. – para ver Le Radeau de la Mé- das mais variadas maneiras, e lota as salas por onde seus como o maior sucesso da 68ª escrito sobre ele e seu teatro, duse, criação de Thomas Jolly prefiro usar como resposta a espetáculos passam, a tal da edição do Festival de Avignon. as solicitações para entrevistas Após ver Fantasio minha cabeça com uma turma de formandos legenda da foto de capa do academia e alguns críticos – aumentam a cada temporada fervia diante da beleza e da da escola de atores do Teatro caderno especial da revis- a velha turma que em pleno Dois anos antes, em fevereiro e bendita seja a Internet que leveza de tudo que havia visto, Nacional de Strasbourg, ta L’Express em outubro de século XXI ainda acredita que de 2012, Brigitte Salino, crítica permite, a uma pessoa que trazia ainda todas as leituras 2018: Thomas Jolly – o novo sucesso e talento não com- mais importante do Le Monde mora em Salvador, “o melhor sobre o espetáculo feitas pelos gênio do teatro. binam – torcem um pouco dizia: “Esse garoto é uma pro- lugar do inferno”, acompanhar críticos e pelo público nas re- o nariz e ousam chamar de messa. O nome dele é Thomas a cena teatral francesa como des sociais. Sim, a encenação Ator, cenógrafo, encenador, “divertissement” um repertório Jolly, ele tem 30 anos, ele é se estivesse no Carrefour de de Thomas Jolly para a obra chefe de trupe – em 2006, criou que exibe Henry VI e Richard magro como um galho, com l’Odéon, sentada no Les Éditeurs. de Offenbach era ao mesmo com amigos La Piccola Familia III, uma tetralogia do bardo in- grandes olhos negros e de- tempo: inventiva, poética, ins- – e desde 1º de janeiro ocupa glês, também conhecido como terminação incomum. A prova: Entretanto, foi preciso esperar pirada e altamente lúdica. o cargo de Diretor do Centro Shakespeare e Thyeste, tragé- ele se atacou a Henri VI de 2017 para ver um espetáculo Dramático Nacional Le Quai, dia antiga de Sêneca, um dos Shakespeare, ou seja, três assinado por Thomas Jolly ao Eu, que até então conhecia na cidade de Angers, região mais cruéis textos escritos para peças raramente realizadas, vivo e em cores. Cheguei no suas obras principais – Henry do Pays de la Loire. o teatro. Freud deve explicar. das quais ele apresenta neste Théâtre du Châtelet na tarde VI e Richard III – apenas via na momento a primeira parte - do dia 18 de fevereiro, para o Internet, pois seus espetáculos Thomas Jolly exibe aos 37 anos Descobri Thomas Jolly em oito horas bem-sonhadas que encontro com o encenador têm sido transmitidos logo após um currículo invejável. Em me- 2014, aliás eu e o mundo bem testemunham um incontestável da ópera cômica Fantasio, de a estreia e os vídeos, na íntegra, nos de dez anos, trocou o lim- informado do teatro. Mais pre- sentido do palco.”. Offenbach, no Foyer Nijinski, permanecem disponíveis pos- bo sombrio em que vivem as cisamente no dia 21 de julho de antes da representação. De sibilitando aos que não podem jovens esperanças do teatro, 2014, quando La Piccola Familia Lamentavelmente, eu não es- cara fui seduzida pelo en- vê-los no teatro, o contato com pelos refletores do Olimpo onde subiu ao palco do La FabricA tava entre os 600 escolhidos tusiasmo, pela inteligência o trabalho desenvolvido por transitam apenas os que tiveram às 10h da manhã para dar início pelos deuses do teatro para e pelo carisma do jovem di- Thomas e La Piccola Familia. Fantasio: ópera cômica de Offenbach na encenação de Thomas Jolly. acesso ao panteão dos grandes. à primeira das apresentações aplaudir de pé, um pouco an- retor. Ao final do encontro fui Graças a Fantasio fui oficialmente FOTO: Divulgação

64 JANEIRO 2020 JANEIRO 2020 65 TEATRO PELO MUNDO | PARIS TEATRO PELO MUNDO | PARIS cidadã e que busca interrogar os fundamentos do ser humano. fundamental para que se ope- Thomas Jolly é Atrée rasse definitivamente a magia em Thyeste de Sêneca, Um pouco antes de voltar Avignon 2018. FOTO: ou que se quebrasse. Desde Jean-Louis Fernandez/ do meu exílio voluntário de que vi o DVD de Richard III Divulgação 15 meses em Paris, fui ver estava fascinada pelo trabalho uma palestra de Thomas no de ator de Thomas Jolly. Se- Louvre (31 de janeiro de 2018), duzida pelo monstro Richard Représentation du pouvoir et III a tal ponto que ver, ouvir théâtre. Mais uma vez nos en- e cantar I’m a dog em casa contramos e agora ele já sabia tornou-se algo muito natural. quem eu era. Conversamos alguns minutos, tempo sufi- Quando Olivier Py anunciou ciente para eu entender que a programação da 72ª edição Thomas Jolly tinha se transfor- do Festival de Avignon dei pu- Humanidade – título conferido contribuíram para o encan-

Le Radeau de la mado numa estrela, e a paixão los de felicidade: Thomas Jolly pela Unesco. Quem faz teatro, tamento do espectador: “po- Meduse com os for- dos jovens fãs pelo ídolo era mandos da escola abriria o festival com Thyeste e reconhece Avignon como o dem dizer o que quiser: que do TNS. FOTO: Jean- emocionante, houve mesmo de Sêneca. Depois da explo- mais charmoso e importante Thomas Jolly exagerou, que -Louis Fernandez/ Divulgação quem levasse presentes por- são com Henry VI (2014), do festival de teatro do mundo, inundou seu espetáculo de que no dia seguinte ele fazia sucesso com Le Radeau de que se difere de todos pelo música, que o saturou com aniversário. O mais incrível é la Méduse (2016), a honraria seu incentivo à criação e sua efeitos especiais, que fez um dirigido por Stanislas Nordey uma meta, um objetivo a ser ver a tranquilidade com a qual maior lhe havia sido concedida: grande produção anual, a Cour show de rock e transformou o e do qual Thomas era artista alcançado. Ao lado de Ariane ele administra essa relação e a abertura oficial do festival e d’Honneur é a consagração palco em um set de filmagem associado. Apresentado em Mnouchkine e Gabriel Villela, sobretudo, a delicadeza e aten- na Cour d’Honneur do Palácio de um diretor, dentro do mun- de filmes de ficção científica. 2016 no Festival de Avignon, Thomas Jolly passou a com- ção dele para com todos que dos Papas. E em cena estaria do teatral francês com suas Tudo isso é verdade e tan- sucesso de público e merecedor por a minha trinca de ases do o procuravam. Não me lembro Thomas Jolly no papel de Atrée. regras e especificidades. to melhor. Porque é graças de excelentes comentários da teatro. Em comum, eles têm de, em quarenta e três anos de a tudo isso que se chega à crítica, como este de Fabienne a paixão por Shakespeare e o teatro ter encontrado, nesse Não conto para vocês o tama- Dizem que Aristóteles disse peça de Sêneca e o que ela Darge (Le Monde): “o diretor fato de fazerem o teatro que nível de genialidade, alguém nho da tristeza de não poder que “ver o horrível faz bem tem a dizer nos deixa (um adapta brilhantemente a peça amo: teatro popular de raiz. mais disponível. estar em Avignon nesse 6 de ao homem”. Chego a acreditar eufemismo) sem palavras.”1 do autor alemão Georg Kai- Aquele do serviço público julho de 2018, e o mais grave, que todos os que passaram ser sobre os náufragos”. Como como a água, a eletricidade Mas havia uma coisa que me tinha ido em 2017. E por mais pela Cour d’Honneur entre os Foi disposta a conhecer Tho- sempre faço, escolhi o dia em e o gás de Jean Vilar ou aque- entristecia: ainda não tinha visto que ver a Shizuoka Performing dias 6 e 15 de julho de 2018, mas Jolly ator que em janeiro que haveria o encontro com a le de Antoine Vitez: popular Thomas Jolly em cena. Ter sido Arts abrir o festival com uma serão beatificados, porque só de 2019 saí de Paris – missão equipe artística do espetáculo. é o teatro elitista para todos. apresentada ao diretor não me montagem de Antígona dirigida quem viveu as duas horas e quase impossível – para ir Detesto o processo, mas amo O teatro como uma arte bastava, vê-lo em cena era por Satoshi Miyagi tenha sido meia de Thyeste pode en- até Charleroi na Bélgica as- depois de ver o espetáculo uma experiência linda, nem tender a força dessa tragé- sistir a duas apresentações Thomas Jolly em Richard de longe se compara a ver a dia, a história de dois irmãos, de Thyeste. Não sei quan- conversar com quem o fez. III, de William Shakespeare. Ao final procurei Thomas Jolly FOTO: Divulgação estreia de Thyeste. Poucas Thyeste e Atrée, que dispu- tos dos leitores da Revista e disse a ele: “vou levá-lo ao vezes senti tanto não estar tam o trono de Argos, numa #INCITARTE já fizeram uma Brasil, pode demorar um ano presente a uma estreia, um disputa tão cerrada a ponto peregrinação em suas vidas. ou dez, mas vou levá-lo ao herdeiro direto de Jean Vilar, de o segundo assassinar os Eu já fui a Lourdes, a Lisieux, a Brasil”. Ele respondeu com o mais vilariano dos novos filhos do primeiro, cortá-los Jerusalém, ao Círio de Nazaré um sorriso sem igual: “avec diretores franceses em sua em pedaços, cozinhá-los e e à Lavagem do Bonfim, e no plaisir”. Ou seja, com prazer. ética e seu discurso ocuparia a oferecê-los como refeição para Tomou nota do seu e-mail no Cour d’Honneur, o mais bonito o irmão, que não suspeita de dos pátios de um palácio, o nada. Adepto do espetáculo 1 Joëlle GAYOT. Thyeste : cauchemar en programa da peça e a partir cuisine dans la Cour d'honneur. Visto em daí trazê-lo ao Brasil tornou- mais majestoso, o mais po- total, Thomas encheu a cena 25 de novembro de 2019. https://www. franceculture.fr/theatre/thyeste-cauchemar- -se não uma obsessão, mas pular, Patrimônio Mundial da de elementos fascinantes que en-cuisine-dans-la-cour-dhonneur

66 JANEIRO 2020 JANEIRO 2020 67 TEATRO PELO MUNDO | PARIS TEATRO PELO MUNDO | PARIS

Os agradecimentos jovens com menos de 25 anos, do grego pólis, que significa não os fizemos parceiros do na Cour d’Honneur FOTO: Christophe quando a média desse público a cidade, a unidade e não é teatro, o resultado das eleições Raynaud de Lage/ Divulgação não ultrapassa dez por cento isso que acontece. A cultura de 2018 no Brasil mostra que na maioria dos teatros. E eu é, em simultâneo, um recurso nossos políticos, infelizmen- preciso do otimismo de Thomas para vivermos em conjunto e te, aprenderam isso antes dos Jolly, quando ele responde a um instrumento narrativo. São nossos artistas. Passamos da uma pergunta sobre o fato de duas coisas que nos faltam hoje, hora de virar o jogo. Fui bus- ser ou não ser otimista: faltam histórias que nos tra- car o melhor técnico, agora é “Venho da região da Normandia gam sentido à vida, o futuro é captar todas as mensagens e portanto vou dar uma respos- muito vago, e isso gera uma sair para o abraço. ta típica de lá: sim e não. Sim angústia que anula a nossa porque quanto mais estivermos vivência em conjunto, por isso a olhar para as telas, quanto não entendo por que os políticos POR mais mergulharmos nas relações não impulsionam a cultura para quesito teatro, desde maio de Junte a esse talento todo a co- tempo de uma representação DEOLINDA virtuais, nas redes sociais, na combater todas essas divisões. CATARINA 2000, faço peregrinação anual erência do discurso de Thomas uma comunidade efêmera. O internet com os smartphones, A cultura e a indulgência po- à Cartoucherie de Vincennes, e suas ações. Ao ouvi-lo é im- teatro agrega porque a cultu- mais fará sentido nossa presença dem salvar o mundo, por isso, Deolinda Catarina França de mas ir a Charleroi e ver Thyeste possível não pensar em Vilar, ra é um bem comum. Nestes Vilhena, 60 anos de idade, 43 aqui, juntos, no mesmo lugar. continuo otimista.” de teatro dos quais 17 anos foi tão forte que precisei dias em Planchon, em Vitez, em tempos duvidosos de divisão, É essa a solução que precisa- trabalhando com e para Bibi depois, pegar um trem e ir a Chéreau e em Ariane, choro o teatro se torna um local de mos hoje em dia. Os teatros vão Na aula inaugural, Thomas Ferreira. Em 1999 a jornalista e Lyon, dias antes de voltar para emocionada porque isso sig- resistência e uma evidência continuar a ter muito público, Jolly certamente nos falará a produtora concordaram em o Brasil. Era uma necessidade. nifica que ao menos na França “la tranquilizadora de inteligência ceder espaço para a pesqui- as óperas também, todos os da trajetória de um menino sadora e professora univer- Pensam que foi suficiente? relève de la garde est assurée”. e de discernimento cidadão.” palcos das artes performativas, nascido em Rouen, que optou sitária: Mestre em Artes pela Thomas Jolly é um vírus muito O teatro francês tem uma nova e é assim há 2.500 anos, se não pelo teatro aos 11 anos de ida- Escola de Comunicações e forte. De férias em Paris desde geração de encenadores como Não foi por acaso que entre houvesse uma real necessidade de, que se reivindica um filho Artes da USP (2001), Mestre 14 de dezembro, nem esquen- Thomas Jolly, Julien Gosselin e tantos escolhi Thomas Jolly (2002) e Doutora (2007) para a existência das artes elas do teatro público, explicando em Estudos Teatrais pela tei a cama e já peguei o trem Jean Bellorini, todos na casa dos para fazer a aula inaugural já teriam desaparecido, mas que nunca precisou investir Université de la Sorbonne para Rouen, para ver mais duas trinta e poucos anos, que me do Programa de Pós-Gradu- continuam a existir. Ao mesmo um tostão em sua formação, Nouvelle – Paris 3. Pós- vezes Thyeste e dessa vez com deixa tranquila na garantia da ação em Artes Cênicas da tempo, e é algo que não con- graças a um sistema implantado Doutora pela Universidade a emoção maior de estar nas qualidade do teatro nas terras de Universidade Federal da Bahia, de São Paulo (2008-2010) e sigo entender, neste período no pós-guerra na França. Mas pela Université Paris Ouest terras de Monsieur Jolly. Molière para os próximos anos. PPGAC esse, do qual serei tão conturbado que estamos a nos falará também, e muito, da Nanterre La Défense (2017). coordenadora a partir de 3 de viver, com tantas fragmentações, relação da sua companhia La Desde 2011 sou Professora da Escola de Teatro da UFBA Aliás, para lá voltarei em breve, Enquanto no Brasil... Muitos do março – data de aniversário de a divisão esteja sendo usada Piccola Familia com o público, preciso ver Un Jardin de silen- que fazem teatro se perdem Ariane Mnouchkine, Antonio e Professora Permanente do como instrumento político, é esse que se conquista e que é Programa de Pós-Graduação ce, espetáculo com Raphaëlle em discursos vazios, outros Araújo e Pedro Carlos Rovai, perigoso. Para mim a política o único verdadeiro mecenas do em Artes Cênicas. Minhas Lannadère ou simplesmente pregam o ódio, incentivam data da passagem de Tônia é algo nobre, a palavra vem teatro, como diz Mnouchkine. pesquisas têm como objeto L e Babx, linda homenagem as lamentações, aplaudem Carrero, ou seja altamente de estudo a produção, a ad- E nos contará um pouco sobre ministração e a gestão teatral, à Barbara – ícone da canção os fundamentalistas iden- simbólica para mim. Thomas Jolly em Un Jardin de silence. as ações culturais desenvolvi- os festivais, a formação e qua- francesa que morreu em no- titários, sejam de esquerda FOTO: Divulgação das por eles ao longo desses lificação dos profissionais na vembro de 1997 – dirigido por ou sejam de direita. Queria Desde a primeira vez que ouvi quase quatorze anos de história, área da cultura. Trabalho 320 Thomas, que também está tanto ver nos jovens daqui a Thomas falar em público, a dias por ano para poder pas- em creches, escolas, pátios sar 45 dias de férias em Paris em cena como ator e cantor. preocupação em louvar o fato forma como ele se dirige aos de igreja, hospitais e prisões. fazendo o que mais gosto na Imperdível, na opinião da crítica de termos “em nossas cidades jovens me impressionou, os E do uso que fazem da nova vida: ver teatro. Pouca gente parisiense e segundo meus esses espaços negros vazios jovens o identificam como sendo tecnologia – Internet e redes na universidade e no teatro amigos Fabrício Matheus e e silenciosos onde a criação um deles, isso pode explicar o brasileiro conhece mais o te- sociais – para conquistar novos atro feito em Paris hoje que Tuna Dwek, que viram o es- pode surgir. É uma esperança porquê de seus espetáculos públicos. No Brasil, estamos essa abusada que escreve petáculo na temporada do ver o público se reunir lá, todos terem cerca de 35% da taxa atrasadíssimos em relação ao essas linhas...o detalhe é que La Scala Paris. os públicos que constituem o de ocupação composta por uso desses instrumentos, ainda eu viajo com o meu dinheiro!

68 JANEIRO 2020 JANEIRO 2020 69 TEATRO PELO MUNDO | BUENOS AIRES TEATRO PELO MUNDO | BUENOS AIRES

Dona Juana, esposa de Valladolid, nobre porém quem Dom Gil das calças verdes (Dona Ju- pobre, foi abandonada por seu prometido Dom ana) seduz para não levantar suspeitas, mas Martin, a favor da burguesa rica de Madrid, tanta mentira deslavada junta acaba sendo Doña Inês. Para não levantar suspeitas pela descoberta por Dona Inês. Para acalmar a con- mudança de matrimônio, Dom Martin se faz fusão de personalidades e desejos (e antes passar por Dom Gil de Albornoz. Dona Juana de confesar quem é), Elvira trama o encontro o persegue até Madrid, se fazendo passar de todos os apaixonados: Elvira, Inês, Martin, por um homen, também chamado Gil, vestida Juan e Clara, para descobrir quem de todos com calças verdes para seduzir Dona Inês e o Gil verde é. destruir o novo casamento. Dona Inês, que tem outro pretendente - o ciumento e violento DON GIL DE LAS CALZAS VERDES Dom Juan -, fica perdidamente apaixonada SIGLO DE ORO TRANS por este forasteiro de aparência delicada. Tirso de Molina, versão livre de Gonzalo Para complicar mais as coisas e manipular a DeMaria pobre Dona Inês, Dona Juana se faz passar também por outra mulher, Dona Elvira, in- Direção: Pablo Maritano ventando que foi abandonada por um tal de Música e adaptações: Dolores Costoyas Dom Miguel (inexistente) e que este Miguel Cenografia: Mariana Tirantte não é outro que, por sua vez, se faz passar Figurino: Maria Emilia Tambutti “DON GIL DE LAS por Dom Gil de Albornoz. Como Dona Elvira Iluminação: David Seldes está supostamente apaixonada por Dom Gil Assistência Dramatúrgica: Juan Dasso CALZAS VERDES” das calças verdes (ambos impressionados por Ensaio de “Don Gil de Las Dona Juana, disfarçada de homem e mulher), Elenco Calzas Verdes”, espetáculo do ESTREIA EM JANEIRO renomado diretor Pablo Mari- a ideia que Dona Inês propõe é que ela ignore Dona Juana: Payuca del Pueblo tano. FOTO: Divulgação Dom Gil de Albornoz/Dom Miguel - que na Dona Inês: Monina Bonelli verdade é Dom Martin - para então assim Dom Martin: Roberto Peloni Texto original de Tirso de Molina de 1615 ficar com Dom Gil verde. Soma-se ao enredo Caramanchel: Ariel Perez de Maria ganha versão atual de Gonzalo Demaria também Dona Clara, prima de Dona Inês, a Dona Ana: Maiamar Abrodos Dom Juan: Rodrigo Arena / Julian Rugnone Por MARLON ZÉ A Loucura: Ivan Garcia Osorio: Fabian Minelli relação entre corpo e identidade é que a transitoriedade do gênero atribuído é Quintana: Emiliano Figueredo um problema da Arte Barroca. Mas acompanhada mais pelo equilíbrio dos de- Dona Clara: Martina Nicolle Aa coisa não fica por aí. Em um giro sejos próprios e dos outros do que por uma Aguazil: Julian Rugnone / Rodrigo Arena contemporâneo surpreendente (mais que identidade imutável. Seríamos todos Trans Dom Diego: Naty Menstrual contemporâneo, o Barroco dá a sensação perante o desejo, devemos aceitar e seguir de que sempre está a frente dos nossos com ele, porque as consequências em não Duração: 70 minutos tempos, herdeiros de uma tradição român- fazer isso seriam terríveis. Isso é tão real Teatro San Martín tica), o tema desejo feminino é contrapesa- que o famoso Dom Gil do texto nem existe, Entradas em: alternativateatral.com do com um tema mais complexo: a função senão que é apenas uma projeção dos cor- de definição do olhar alheio sobre a identi- pos e desejos alheios. dade de cada um. Este seria o “tema princi- POR MARLON ZÉ pal” da montagem, tanto que o olhar (equi- Outro ingrediente fundamental da obra é o vocado ou não) das personagens sobre o “embrollo” (confusão) do enredo, que nesta Ator, Diretor e Figurinista Brasileiro, atualmente mora próprio desejo se reflete no “outro” como comédia alcança sua máxima expressão. Com na Capital Argentina e es- definição. Se levarmos em conta que para suas inumeráveis identidades mentidas e seu tuda Dirección Escénica de o Barroco o corpo não define identidade (o paradoxismo de maldade e riso, o século de Ópera no Instituto Superior

corpo é modificado pela alma), concluímos ouro espanhol era uma dívida na cena Portenha. Divulgação. FOTO: de Arte do Teatro Colón.

70 JANEIRO 2020 JANEIRO 2020 71 TEATRO PELO BRASIL | RECIFE TEATRO PELO BRASIL | RECIFE - c a de conteúdo e qualidade de experiência que não se en- contra na tela de um PC nem de um aparelho celular.

Foi-se o espaço, foi-se o tempo. TEATRO Outro algo já começa daqui. EM RECIFE O dramaturgo Luiz Felipe POR Botelho fala sobre o Teatro LUIZ FELIPE na capital pernambucana BOTELHO no espaço-tempo de Dramaturgo, mestre em Artes Cênicas, arquiteto, Atores e autores dialogam e exploram possibilidades de elaboração da cena, do olho no uma lauda olho do teatro domiciliar ao amplo escopo dos espetáculos ao ar livre. É o caso de “A Pai- ator, roteirista e diretor de te- xão de Cristo”, “O Baile do Menino Deus” e o recente “Boi Voador” (foto), todos apresentados atro e audiovisual. Trabalha Por LUIZ FELIPE BOTELHO na grande praça do Marco Zero do Recife. FOTO: Cesar de Almeida desde 1993 na Massangana

De memórias e vivências individuais tem surgido espetáculos como “Soledad - A Ter A - “Soledad como espetáculos surgido individuais tem vivências e De memórias E de Rick FOTO: Feminino. o sobre Torres, Hilda com Pés”, Nossos Sob é Fogo ra Produções Audiovisuais artistas de teatro no Recife. pesquisas e oficinas tem sur- e Educativas, ligada à São amadores, iniciantes, gido desse trânsito entre a Fundação Joaquim Nabuco. Nessa produtora, além de veteranos, profissionais. Por alma e o mundo, notadamente criar roteiros e dirigir séries ezembro de 2019. A foi incipiente por aqui, hoje os Cursos de Interpretação que insistem? Encantamento, no trabalho das atrizes Hilda e documentários para TVs datação é necessária não está melhor. Felizmente, para Teatro do SESC Santo paixão, resistência? Atores e Torres, sobre o Feminino, educativas, desenvolveu pois, se o agora avança apesar do desmantelamen- Amaro e SESC Piedade e a autores dialogam e exploram e Jhanaina Gomes, sobre cursos e oficinas de criação D focadas nos diálogos possí- forte e confuso, como garan- to do pouco que se tinha, a Licenciatura do Centro de possibilidades de elaboração o Ser Mãe. Também nesse veis entre linguagens como essência teatral É e pronto! Artes e Comunicações da da cena, do olho no olho do trânsito, vêm as dramatur- tir até quando irá perdurar teatro, cinema, TV, histórias o que aqui está registrado? Universidade Federal de teatro domiciliar ao amplo gias de jovens autores como em quadrinhos, videogames Mesmo com fortes marcas Já com vários anos de lida, Pernambuco. No âmbito das escopo dos espetáculos ao Alexsandro Souto Maior, e RPGs. Escreveu 31 peças locais, a cena teatral desta grupos daqui persistem pro- propostas também voltadas ar livre. Três destes últimos Alexsandro Silva, Cleyton (e dirigiu algumas delas) – 3 cidade obviamente reflete duzindo regularmente, como para o encontro da própria retornam anualmente atrain- Cabral e Giordano Castro. inéditas, 26 já encenadas, 5 um contexto maior: o país o Magiluth, O Poste, Teatro classe teatral, destacam-se do milhares de pessoas: A Independente de gênero, premiadas e 8 publicadas, como “Janos Adler”, “Menino de Fronteira e as companhias as múltiplas possibilidades Paixão de Cristo, O Baile do todos falam do humano nos- em crise explícita de huma- Minotauro”, “Reis Andarilhos”, nidade, o mundo sacudido Fiandeiros e Cênicas de Re- criativas do pequeno espaço Menino Deus e o recente Boi tálgico, da infância resgatada, “Os errantes de Barramal”, pelo acirramento de embates pertório, todos também ofe- da Casa Maravilhas, os en- Voador, todos apresentados da alegria que entremeia “Mau mau miau”, “O segre- político-econômicos, uma recendo opções específicas contros crítico-artísticos se- na grande praça do Marco dores de crescimento, do do da arca de Trancoso”, realidade inusitada cons- de atividades formativas e manais do Marsenal no Recife Zero do Recife. mundo em convulsão. “Coiteiros de Paixões” e truída ao longo de quase de compartilhamento de ex- Antigo, os saraus do Grupo “Cordéis Minimalistas”. “O se- gredo da arca de Trancoso”, periências. Tais iniciativas de João Teimoso e os diálogos Num foco oposto, intimista, O tempo da lauda se esvai. duas décadas de rápida de 1997, tem sido monta- evolução das tecnologias difusão de conhecimento, que virtuais e presenciais do grupo constroem-se narrativas com Estas palavras são um trailer da em vários estados do digitais de comunicação. se juntam às desenvolvidas Batendo Texto Nas Coxias. base nos meandros esque- de algo bem maior, com muito Brasil e já foi encenada pelo Antigos problemas estruturais também por muitos outros cidos da história – recente mais nomes, realizações, ex- elenco do Teatro Nacional se agravaram: divulgar, atrair veteranos da cena local, são Com repercussão que varia ou não – e no modo como periências, desdobramentos, D. Maria II, em Lisboa. público, carência de recursos, um complemento importan- do restrito à viralização, as memórias e vivências indivi- reflexões. Paciência. Aqui no “Coiteiros de paixões”, de 2004, foi montada pela te à ação dos três núcleos redes sociais são hoje o prin- duais podem dialogar com Recife ou em qualquer hora infraestrutura, escolas, po- Cia. Teatro Promíscuo de líticas. Se o mercado para o mais antigos de formação cipal veículo de divulgação a sensibilidade de qualquer e lugar, a experiência teatral São Paulo e traduzida para profissional de teatro sempre em Artes Cênicas da cidade: da grande quantidade de plateia. Vários espetáculos, oferece vida ao público, tipo o espanhol e o francês.

72 JANEIRO 2020 JANEIRO 2020 73 PONTE AÉREA | SÃO PAULO PONTE AÉREA | SÃO PAULO

LYSON GASTER QUATRO DICAS IMPERDÍVEIS PRETOPERITAMAR - NO BOROGODÓ EM SÃO PAULO O CAMINHO Por UBIRATAN BRASIL QUE VAI DAR AQUI A COR PÚRPURA O CAMAREIRO Sillas H FOTO: FOTO: Divulgação FOTO: FOTO: Duda Portella FOTO: Lyson Gaster era o nome artístico de Agostinha “Pretoperitamar – O Caminho que Vai Dar Belber Pastor, uma espanhola que foi criada Aqui” não é um simples musical biográfico, em Piracicaba, interior de São Paulo, e que que busca contar de forma linear a trajetória criou uma companhia teatral que levava seu de Itamar Assumpção, músico que faria 70 pseudônimo. Suas viagens pelo interior anos em 2019. Assim como ele, o espetáculo FOTO: Priscila Prade FOTO: do Brasil entre os anos 1920 e 1948 foram é múltiplo, assemelhando-se até a uma saudados por artistas como Procópio Ferreira O filme dirigido por Steven Spielberg em 1985 Só pela presença de Tarcísio Meira valeria opereta. Com direção geral e idealização e Eva Todor, que elogiavam seu pioneirismo. ainda é uma forte lembrança, mas que logo assistir a “O Camareiro”. O veterano ator, de Anelis Assumpção, Itamar é lembrado Tal personagem é o tema do espetáculo se dissipa quando o espectador assiste ao eterno galã de novelas, vive Sir, um velho por performances únicas no palco, com os “Lyson Gaster no Borogodó”, que apresenta número de abertura de “A Cor Púrpura, o intérprete que luta para manter seu repertório atores utilizando o marcante par de óculos a artista que, ao lado de outros, construíram Musical”: trata-se de um longo e maravilhoso de Shakespeare em cartaz, em meio aos escuros para declamar poesia marginal. Uma o que seriam os primórdios dos musicais conjunto de cantos, que mistura spirituals, bombardeios que ameaçam um teatro inglês, luta inglória do artista que queria ser popular de hoje a partir do teatro de revista. Com blues e gospels para apresentar a trama. É durante a Segunda Guerra Mundial. Seu ponto sem perder o preciosismo. A dramaturgia direção de Carlos ABC, o espetáculo traz o ponto de partida para um tour de force de apoio é Norman (Cassio Scapin), o fiel é assinada por Grace Passô e Ana Maria preciosidades do cancioneiro, como Rua do de um elenco formado apenas por atores camareiro que o ajuda tanto a se vestir como Gonçalves, artistas que souberam dimensionar Ouvidor, além de músicas já consagradas negros (uma raridade em montagens nacionais, a se lembrar do texto shakespeariano. Na a linguagem politizada de Itamar sem perder como “No Rancho Fundo” e “Luar do Sertão”. infelizmente) apresentar a história de Celie, verdade, ele é seu principal incentivador de o interesse e a dimensão dessa criação. Um Uma rara oportunidade de se (re)descobrir a jovem que, no início do século passado, vida. Escrito por Ronald Harwood e já duas espetáculo sensorial. é abusada pelo pai, que além de separá-la vezes levado ao cinema, o texto tem direção uma figura já esquecida. dos filhos, também a deixa longe da irmã segura de Ulysses Cruz, que cria um ambiente LOCAL: Sesc Pompeia LOCAL: Teatro Itália caçula. Casada com Sir, que a trata como de refúgio em meio ao caos do lado de fora, R. Clélia, 93 - Água Branca, São Paulo Avenida Ipiranga, 344 – República, São Paulo escrava, Celie vence os obstáculos até se uma bela metáfora aos dias atuais em que HORÁRIO: Quinta a sábado, 21h | Domingo, 18h HORÁRIO: Quinta a sábado, 21h | Domingo, 19h firmar como mulher independente. Nesse a arte, mesmo fustigada, ainda é o melhor De 9 a 19 de janeiro De 18 de janeiro a 15 de fevereiro momento, a plateia já está totalmente rendida caminho da salvação. PREÇO: A partir de R$ 12 PREÇO: R$ 30 à magia desse poderoso musical. CLASSIFICAÇÃO: 16 anos LOCAL: Teatro FAAP DURAÇÃO: 90 min LOCAL: Theatro Net SP R. Alagoas, 903 - Higienópolis, São Paulo CLASSIFICAÇÃO: Livre Rua Olimpíadas, 360 - 5° Piso, São Paulo HORÁRIO: Sexta e sábado, às 21h | Domingo, HORÁRIO: Sexta, às 20h30 | Sábado, às 17h e às 18h 21h30 | Domingo, às 19h PREÇO: A partir de R$ 100 PREÇO: A partir de R$ 37,50 DURAÇÃO: 120 minutos, com intervalo. POR Editor do Caderno 2, do Estado de São Paulo, desde 2011. Como DURAÇÃO: 180 min CLASSIFICAÇÃO: 12 anos repórter, cobriu desde a cerimônia do Oscar até a Feira do Livro de CLASSIFICAÇÃO: 12 anos UBIRATAN Frankfurt. Trabalhou também como repórter esportivo, com cobertu- BRASIL ras de duas Copas do Mundo e duas Olimpíadas.

74 JANEIRO 2020 JANEIRO 2020 75 COM A PALAVRA, O CAMAREIRO Valtinho, dos hospitais às maquiagens Profissional conta sobre o dia em que esqueceu o vestido de Lana Lee, personagem de Edwin Luisi em “Tango, Bolero e Cha Cha Cha”, no congelador do hotel

Por REDAÇÃO Valter Rocha. FOTO: arquivo pessoal alter Rocha, mais Clínica, atuando por mais fazia o premiado espetá- conhecido como de 10 anos em hospitais culo “Tango, Bolero e Cha VValtinho, respira te- e laboratórios”, conta. cha cha”. Trabalhava como atro desde que era crian- Paralelamente, fez cur- camareiro e maquiador do ça, quando, ainda muito sos, workshops de ma- ator Edwin Luisi, que fazia novo, tinha aula de artes quiagens e cabelos, po- a personagem de Lana cênicas como matéria rém atuando muito como Lee, uma atriz trans bra- curricular, ao lado de ma- autodidata. Até que um sileira com carreira em térias como matemática dia, o indicaram para ma- Paris. “Um dia, não sabe- e português. “Gostava quiar e pentear em um es- mos como, tinha um chi- de atuar, mas não segui petáculo profissional. “Foi clete colado no primeiro a carreira, não dava pra quando pedi licença sem vestido com o qual ele co- mim, acabei m e vencimentos no hospital meçava a peça. Pesquisei formando e fui fazer a temporada e para tirar o chiclete sem em Patologia de ‘Péricles, O Príncipe de problemas, era preciso Tiro’. Foi meio assustador, colocar a peça no con- um elenco de primeira li- gelador para, depois que nha. Achava até que era endurecesse, saísse com demais para mim, um mais facilidade. Coloquei mero mortal. o vestido no congelador Mas dei con- da geladeira no quarto do ta do reca- hotel”, conta. “No dia se- do e nunca guinte, cheguei no teatro, mais larguei fiz a maquiagem, coloquei o teatro. Pedi a peruca, os enchimentos demissão e já quase na hora de ele do hospital”, entrar, fui pegar o vesti- recorda-se. do... Cadê? Havia esqueci- Nesse tempo, do dentro da geladeira do Valtinho passou hotel, que era bem longe a trabalhar como do teatro. Gelei, foi horrí- maquiador e cama- vel! Pegamos um vestido reiro, costurando, ma- já velho, com um rasgo. quiando e penteando os Rapidamente, costurei, atores quando necessário. passei a ferro e o vesti! Foi Colecionando histórias, muito tenso! Hoje, rimos ele se recorda de quando muito dessa história. Ufa”! Edwin Luisi em “Tango Bolero e Cha Bolero em “Tango Luisi Edwin no congelador. vestido Cha Cha”: de Novo. Novo Tudo FOTO: 76 JANEIRO 2020 NAS REDES NAS REDES

rindando a chegada de 2020, César Boa- es e Adeílson Santos casal mais famo- tem muito o que co- so do teatro musi- memorar. A trupe de cal, Claudia Raia e BSão Luís do Maranhão volta ao Jarbas Homem de cartaz com o Cabaré Pão com Mello, passou o ré- Ovo no lindíssimo Teatro Arthur Oveillon na badalada cidade de Azevedo, de 16 a 19 de janeiro. Trancoso, na Bahia. Eles fize- Em agosto de 2019, a Cia Santa ram curtíssima temporada no Ignorância se apresentou por Rio de Janeiro do espetáculo lá lotando todos os 756 lugares “Conserto Para Dois” e prome- da casa, inclusive nas sessões tem reestreiar o elogiado musi- extra. A gente foi até lá pra cal em junho, em São Paulo. conferir o sucesso do grupo e o vídeo com a cobertura do Quero Teatro estará disponível em YouTube.com/queroteatro a partir de 12 de janeiro. ntusiasta do teatro, a cantora Daniela Mercury lançou nas inda como sempre, plataformas digitais Carolina Dieckmann a música “Triatro”, também postou foto Eque promete agitar os foli- desejando feliz ano ões no Carnaval 2020. Danie- novo aos seus 5,4 mi- la já homenageou o teatro Llhões de seguidores no Ins- no trio, com direito a cantoria tagram. No ano passado, a com Wilson di Santos, vesti- cantora apresentou “Karolkê”, do como a freira Maria José, espetáculo despretensioso sua personagem na comédia onde canta músicas popula- “A Noviça Mais Rebelde”. Para res acompanhada pelo músi- o clipe de “Banzeiro”, Daniela co Feyjão. Na apresentação do convidou a Companhia Baia- Teatro Fashion Mall, uma ilus- na de Patifaria, trupe capita- tre da plateia se animou e le- neada por Lelo Filho que está vantou para cantar no karaokê em cartaz há mais de 30 anos de Carol. Quem? Ivete Sanga- com o besteirol “A Bofetada”. lo! Sorte de quem estava lá.

78 JANEIRO 2020 JANEIRO 2020 79 NAS REDES #TEATRO

ator ítalo-brasileiro Bru- no Cabrerizo passou o réveillon na Itália, visi- tando seus dois filhos, Gaia e Elia. Namorado Oda atriz Carol Castro, Cabrerizo vai beijar em cena o ator Ciro Sales, no espetáculo off Broadway “O Ma- rido de Daniel”, que estreia no dia 15 de janeiro no Teatro PetraGold, no Leblon. A direção é de Gilberto Gawronski e no elenco, também es- tão Alexandre Lino, Dedina Bernar- delli e José Pedro Peter.

ariana Xavier está com tudo em 2020. Suces- so nas telonas como a Marcelina do filme “Mi- nha Mãe É uma Peça 3”, Ma atriz vai estrear seu primeiro monó- logo, dirigida por Ana Paula Bouzas e Lázaro Ramos, em texto inédito de Gustavo Pinheiro. No dia 10 de janei- ro, as cortinas do Teatro Bangu (RJ) abrem-se ao público para apresentar Dizuite, uma faxineira da Central de Apoio aos Desesperados (uma espé- cie de CVV) que passa a atender as ligações quando a psicóloga planto- nista falta ao trabalho. Já estão con- firmadas temporadas da comédia em Campinas, São Paulo e Brasília.

80 JANEIRO 2020 TEATRO NA WEB TEATRO NA WEB

DENISE STOKLOS 9 passos para criação da sua solo performance: E SEU TEATRO É um programa onde Denise mostra passo a passo como criar uma solo performance do zero. “Para que você possa transformar ESSENCIAL sua forma de atuar através da metodologia do teatro essencial, para que você possa se tornar capaz de criar suas próprias ON-LINE oportunidades sem depender de convites para trabalhar com sua paixão”! Direcionado para atores, aulas vão de vídeos Treinamento ator essencial: gratuitos a lives e Neste curso, Denise reúne de maneira estruturada orientações que propõe aos mentorias presenciais participantes para que estes possam para pequenos grupos desenvolver, fortalecer e expandir seu próprio trabalho artístico por meio do teatro essencial. Imersão Ao Vivo Teatro Essencial: Por REDAÇÃO Evento ao vivo de 3 dias, que acontece 1 vez ao ano, na cidade de São Paulo.

enise Stoklos Mentoria Teatro Essencial: nasceu em Irati, A “Mentoria” é um programa intenso Dno Paraná e é uma sobre transformação com artistas de importante dramaturga, en- teatro e também profissionais de outras cenadora e atriz brasileira áreas. Direcionado para grupos pequenos com ascendência ucraniana. (entre 4 a 10 participantes), aqui Denise proporciona uma atenção personalizada, Começou sua carreira em acompanhando um estudo de caso

1968, enquanto cursava so- Hiperconectada, as vídeo aulas de Denise no YouTube específico sobre cada participante. ciologia e jornalismo. fazem sucesso entre os atores. FOTO: Lee Kyung Kim Os encontros ocorrem quinzenalmente Trabalhou no Rio e em São Paulo, an- cerca de trinta países e escreveu sete com a duração total de seis meses, em tes de mudar-se para Londres, em livros. É ela a responsável pelo impor- Confira a seguir algumas das aulas que o sujeito traz um desafio central que 1977, onde estudou mímica e desen- tante método do teatro essencial. disponíveis no site de Denise: é encarado com força e potência através volveu um estilo próprio. Nos anos dos princípios bases do Teatro Essencial. 1980, foi para a Califórnia, onde mon- Na internet, a dramaturga tem uma forte Treinamento Teatro Essencial: Este programa inclui: encontros on-line, seminários, laboratórios temáticos, estudo de tou o espetáculo “Elis Regina”. Nos presença, sendo responsável por ministrar É um curso que reúne de maneira estruturada as orientações que Denise propõe para que caso, workshop de imersão presencial, oficinas anos seguintes, participou de uma diferentes cursos (alguns 100% on-line os participantes possam desenvolver uma técnicas customizadas, acompanhamento novela da Rede Bandeirantes, apre- e gratuitos) que estão disponíveis tanto mudança significativa na sua expressão e personalizado, coaching de vida e profissão, sentou “Mary Stuart” em Nova York e em sua página na web, quanto em seu na sua vida, pra que elas se tornem cada vez participação em comunidade exclusiva no chegou a receber um Prêmio da Fun- canal no Youtube. Por lá, ela costuma mais essenciais e conectadas com seu jeito Facebook e eventos culturais acompanhados dação Guggenheim (dona de uma fazer lives e postar muito conteúdo di- de ser. “É um programa que criei com base por Denise Stoklos, dentre outras surpresas. série de museus internacionais). De- recionado para atores. nos meus 50 anos de carreira, e inclui a maior nise já representou suas vinte peças sistematização e organização sobre as técnicas em sete idiomas, apresentou-se em DENISESTOKLOS.COM.BR que utilizo no meu trabalho e que desenvolvi junto aos meus alunos”, escreve Denise.

82 JANEIRO 2020 JANEIRO 2020 83 LEITURA DE PALCO LEITURA DE PALCO

do teatro brasileiro. exploração das partes para Criado pela Tuut design, formar um todo que traduza UM CIRCO DE o projeto gráfico do livro a sua essência. tomou como ponto de RINS E FÍGADOS: partida uma declaração Atualmente, Gerald Thomas de Gerald Thomas, que está preparando “Gastroin- O TEATRO DE define uma peça de teatro testinal Prayer”, um solo com como um organismo vivo. a atriz Lotte Andersen que Segundo ele: “Quando o estreia em Copenhagen, GERALD THOMAS ator respira, o público está em março de 2020. Para o respirando junto, então Brasil, ele está escrevendo Diretor de teatro o nosso pulmão atinge o uma nova peça inspirada em com carreira pulmão do público. Logo, Rembrandt, prevista para internacional o teatro funciona como um estrear em São Paulo no órgão enorme, um coração, segundo semestre de 2020. lança livro por exemplo, que inspira e reunindo 24 peças expira, e o público inspira Um circo de rins e fígados: Marco Nanini e Fabiana Gugli no espetáculo e expira junto com o ator. o teatro de Gerald Thomas Por REDAÇÃO “Um Circo de Rins e Fígados” (2005). Isso faz com que o teatro se FOTO: Flavio Colker transforme em um pequeno Organizadora: universo”. O conceito adotou Adriana Maciel ecentemente, em uma estética que transmite Edições SESC São Paulo dezembro de 2019, ousadia e experimentação, 2019 Rfoi lançado o livro marcas do trabalho de Páginas: 594 “Um Circo de rins e fíga- Gerald. A lombada do Preço: R$ 95,00 dos: o teatro de Gerald livro fica exposta quando Thomas”, que consiste em a capa é aberta, revelando uma reunião das peças que a marca desse projeto escritas e montadas por é sua estética visceral na Thomas no Brasil e no exterior. A obra apresenta os textos integrais de 24 peças acompanhadas de suas respectivas críticas

de época, e traz ainda produção autoral desse vivos: emolduram-se à ensaios da organizadora dramaturgo brasileiro, vivacidade dos atores Adriana Maciel, do jorna- abrangendo até mesmo em cena. Organizá-los lista Dirceu Alves Jr. e da o texto de sua peça mais em um único volume é professora de teoria do recente, “Dilúvio”, encenada um registro importante da teatro Flora Süssekind. no Teatro SESC Anchieta força da palavra no palco, no final de 2017. sem que seja somente O livro configura-se como ela a motriz de um diretor o mais completo em língua Os textos teatrais escritos inquieto, provocador e tão O texto de sua peça mais recente, “Dilúvio”, encenada no Teatro SESC Anchieta no final de Gerald Thomas. FOTO: Jair Magri Jair FOTO: Thomas. Gerald portuguesa sobre a profícua por Gerald Thomas são importante para a história 2017, também está registrado no livro. FOTO: Ramón Vasconcelos

84 JANEIRO 2020 JANEIRO 2020 85 TV TV

pel destinado às mulheres ca usual em montagens “O CRAVO da sua época. Petruchio de formatura - o elenco também não acredita no se sobressai como um casamento e quer apenas todo e está pronto pra E A ROSA, cuidar da sua produção entrar no circuito com a de queijos da fazenda e mesma grandiosidade O MUSICAL” praticar seu hobby pre- de musicais estrelados ferido: as artes culinárias. e com patrocínio. A ousada e bem-sucedida ideia de Izabella Bicalho de transformar O jogo de mandos e O cenário traz panelas de uma novela em teatro musical desmandos entre o ca- cobre suspensas que lo- sal rende divertidíssimas go remetem ao universo Por REDAÇÃO cenas ao espectador do rural pra onde a trama musical, como a cena em caminha. A direção mu- m dezembro do ano Adriana Esteves e que Petruchio pega caro- sical do espetáculo é de passado, cumpriu Dú Moscovis. A do- na no carro de Catarina, Cláudia Elizeu e as músi- Eapenas uma semana ce Bianca, irmã de duvidando da sua direção. cas originais ficaram por de temporada no Teatro Catarina, quer se Os atores se revezam no conta de Tony Lucchesi PetroRio das Artes, no sho- casar com Lucêncio, papel de galinhas, figu- e Menelick de Carvalho, pping da Gávea, o espe- mas para tal, seu rantes, coro e arrancam dupla do teatro musical táculo “O Cravo e a Rosa, pai coloca como boas gargalhadas da pla- em ascensão meteórica. o Musical”, uma prática de condição o casa- teia. A direção de Rafaela A trilha escolhida inclui montagem com produção mento da geniosa Amado soube explorar a clássicos como “Rosa”, de do CEFTEM (Centro de Catarina. Atraído qualidade e a quantidade Pixinguinha, canções ori- Estudo e Formação em pelo dote, do elenco. Revezando- ginais e também a música Teatro Musical), em parceria Petruchio se em dois grupos nos tema da abertura da no- com a atriz e produtora aceita a di- papéis principais - práti- vela, “Jura”, um samba da Izabella Bicalho, que as- fícil missão sina o texto da produção. de con- quistar a Livremente inspirada na megera. novela homônima de Walcyr Catarina Carrasco, a peça traz à é uma memória do espectador mulher cenas clássicas da novela à fren- que já foi reprisada quatro te do seu vezes, desde sua primeira tempo, femi- exibição em junho do ano nista e idealista 2000. Baseada no clássico que luta pelo direito de Shakespeare “A Megera das mulheres, para Domada”, a história mos- poderem votar e Adriana Esteves e Dú Paulo Oliveira Moscovis como Ca- tra a relação incendiária conquistar respeito. (Petruchio) e Iza- tarina e Petruchio, na bella Bicalho (Ca- novela dos anos 2000 de Catarina e Petruchio, Ela não quer casar tarina): química en- que já foi reprisada tre casal de atores. quatro vezes. FOTO: vividos na novela por e nem ocupar o pa- FOTO: Rodrigo Lopes. Divulgação/TV Globo.

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década de 1920 composto Até o fechamento desta por Sinhô e já gravado edição, o musical não por Noel Rosa e Zeca tinha retorno aos palcos Pagodinho. Faltou ape- confirmado. Porém, o es- nas a canção “Tua Boca” petáculo tem potencial (Mel, tua boca tem o mel…), para ser um novo “Book que, embora se inclusa of Mormon”, a montagem destoasse das demais, foi universitária da Unirio trilha marcante da novela que rompeu as barreiras na voz de Belo. do campus estudantil e fez diversas temporadas Sobre como surgiu a ideia de sucesso no Rio de do espetáculo, Bicalho Janeiro. “O Cravo e a Leandra Leal e Rodrigo Faro viveram Bianca e Heitor na novela das 18h. Pedro Paulo Rangel e Suely Franco: Mimosa e Calixto marcaram a carreira do casal de explica: “A ideia nasceu FOTO: Divulgação/TV Globo. atores. FOTO: Divulgação/TV Globo. Rosa, o Musical” pode da minha paixão pela ficar anos em cartaz sus- novela, visto que no- para o público das 18h musical veio da paixão Heitor e Professor. Este tentado pela bilheteria, velas foram as minhas que sutilmente discutia a que tenho por este tra- também ganhou um final visto que certamente primeiras experiências transformação dos papéis balho tão significativo”. inesperado. Tudo inspirado agradará jovens e ido- artísticas quando eu do homem e mulher na pelas discussões contem- sos que assistiram ou era criança! Esta novela instituição do casamento. No teatro, a versão apre- porâneas sobre o papel não a novela. especificamente foi uma Um trabalho único que sentada ganhou ares mais de ambos na sociedade das últimas de direção juntava o entretenimento feministas e políticos que atual. As Sufragistas, mu- Para acompanhar o espe- do Walter Avancini, um com a reflexão de forma o folhetim leve apresen- lheres que lutavam pelo táculo, siga no Instagram diretor incrível que divertida e emocio- tado primeiramente no direito de voto, também @ocravoearosa.musical. trouxe coisas ma- nante. Portanto, a horário das 18h. Algumas estão fortalecidas na nossa ravilhosas para ideia de fazer um tramas foram atualizadas trama” – completa a TV. No caso em seu discurso, sem nada Bicalho. de ‘O Cravo afetar a graça e leveza e a Rosa’, foi da novela original. uma novela direcionada “No musical, a discus- Lis Maia (Mimosa) e Ro- drigo Becker (Calixto): são sobre os papéis dos como na novela, casal arrancou boas garga- homens e da mulher no lhadas da plateia. FOTO: Rodrigo casamento é o tema cen- Lopes. tral, como pano de fundo as mudanças políticas importantes que acon- teceram neste período da década de 1920. Outra mudança diz respeito ao triângulo amoroso de Bianca,

Hugo Minervini (Heitor) e Luiza Lewicki (Bianca). FOTO: Rodrigo Lopes. 88 JANEIRO 2020 JANEIRO 2020 89 MÚSICA MÚSICA

De que forma a experiên- Juliane Bodini: Estar em ce- cia com musicais reflete na é o que eu mais amo fa- na sua carreira solo? E zer na vida, sendo um espe- NO PALCO SEM nas escolhas daquilo que táculo apenas com texto ou um espetáculo musical. Sou você canta? muito apaixonada pela ideia PERSONAGENS de atrelar a canção a um Cantar sem- Sabrina Korgut: texto teatral, por isso o meu pre fez parte da minha vi- Estrelas do teatro musical, amor pelos musicais tam- da, desde criança e da mi- bém. Quando estou em car- Sabrina Korgut, Beto nha carreira com musicais. taz em algum musical, eu O canto me permite muitas Sargentelli e Juliane Bodini fico sempre muito radiante coisas. Me permite tocar co- pela oportunidade que es- estreiam em shows solo rações, ativar memórias, tra- tou tendo de juntar as duas zer alegria e o trabalho co- Juliane Bodini (ao centro), com o elenco de “Dançando no Es- coisas que mais amo fazer: Por REDAÇÃO curo” (2017), adaptação do filme de Lars von Trier, onde viveu a mo atriz me permite ir mais atuar e cantar. Certamente, “Mesmo com toda experiência e carreira, protagonista Selma. FOTO: Nana Moraes. fundo nas interpretações. ainda assim é um lugar novo e confesso o musical me dá uma ba- que fascinante.” FOTO: Roberto Cardoso Jr. se muito sólida e me pre- Engraçado, antar é um chamado. É o que percebemos entrevistando três cantores Beto Sargentelli: para para me aventurar na pois ao mesmo tempo que música, pois tenho a opor- Como foi a descoberta da que, acostumados ao universo dos musicais, resolveram se arriscar há relação por se tratar do tunidade de interpretar as música para você? em carreiras solo. São eles: Sabrina Korgut, que despontou com o canto em si, não vejo influên- C canções através dos perso- show “Femminile”, um especial de músicas italianas; Beto Sargentelli, que foi cia alguma dos espetáculos nagens que me são dados Sabrina Korgut: Eu sempre que fiz em minhas compo- destaque em “2 Filhos de Francisco” e agora, em carreira solo, lança “Nas 4 e isso me faz adquirir certo gostei do repertório italiano. sições e/ou escolha de re- estações”; e Juliane Bodini, que estreou o show “Brio”, com repertório eclético estado interno que tanto me A língua já traz uma sonori- pertório para os meus shows. ajuda na hora de interpre- dade interessante. E quando de releituras que vão de Sade a Dominguinhos, Adriana Calcanhotto e Whitney Claro que incluo algumas tar uma canção. Engraçado resolvi pesquisar com mais Houston. Confira a entrevista que a Revista #INCITARTE realizou com os três canções dos musicais que que a maioria dos musicais atenção o que as músicas para saber como tem sido esse novo passo na carreira dos artistas. fiz em meu show, mas são que eu fiz foram musicais diziam, percebi que existia basicamente canções que brasileiros e todos eles mui- algo que dialogava com o já eram do mercado fono- to alinhados ao meu gos- feminino. Amor, dor, paixão, Quais as principais dife- estilo e tipo de personagem. Juliane Bodini: Nossa! A maior gráfico, músicas do Queen e to musical. Gosto muito de a sedução… E resolvi resgatar Especificamente nos musi- e mais desafiadora diferença Elton John, por exemplo. renças entre cantar em MPB, Bossa Nova e tudo esse repertório e decifrar as cais, é fundamental que se entre as duas situações é, sem um musical e cantar em que é muito brasileiro. O pri- suas camadas. estude muito para cantar to- dúvida, que quando estou um show solo? meiro musical da Broadway dos estilos de música, o ideal cantando em algum musical que eu fiz foi esse ano, o Beto Sargentelli: A música é que nos tornemos um Ator/ não sou eu quem está ali, é Sabrina Korgut: A grande “Company” e amei cantar sempre foi algo muito laten- Cantor Crossover (Versátil, a personagem do momento, novidade é me redescobrir aquelas músicas superdifí- te desde sempre em minha que passeie pelos estilos). dando voz a algum discurso, em cena. A Sabrina Korgut ceis e de arranjos compli- vida, assim como o teatro. Em minha trajetória tive e te- seja ele qual for. Quando es- despida de qualquer per- cados. Confesso que depois Nasci em família de artistas, nho o prazer de utilizar esti- tou cantando no meu show, sonagem. Mesmo com toda dessa experiência, fiquei meus avós eram músicos los de canto variados, Legit, por exemplo, ou no karaokê, experiência e carreira, ain- encantada pela Broadway mesmo não tendo isso co- Belting, MPB, Rock, Pop e ou no chuveiro, sou eu que da assim é um lugar novo e mo principal profissão, meu Sertanejo. Já na música, jun- estou ali desnuda, sem poder também. Quero mais! confesso que fascinante. pai era ator, cantor e músi- to ao meu produtor musical, usar a bengala de uma per- co, além de fotógrafo. Minha definimos o estilo POP, que sonagem que vem antes de Beto Sargentelli: As diferen- mãe é cantora e também pe- abraça e agrega muitas va- mim para dar conta daquela ças para cantar já existem dagoga. Recentemente des- riações de estilo, como nor- canção. Isso é desesperador. tanto entre os musicais e cobri que meu tio, mesmo te da carreira solo e lança- Fico com muita vergonha. Para seus estilos quanto na carrei- não tendo seguido carreira, mento de minhas músicas, mim, cantar sendo eu mesma ra fonográfica. Na carreira de fez parte da companhia de justamente pelo estilo ser é muito mais difícil, mas ao ator, é fundamental que haja Plínio Marcos na adolescên- abrangente e me deixar livre mesmo tempo instigante. versatilidade vocal e cênica cia. Sem contar o fato de eu para “temperar” as canções para viver personagens dis- “Recebi o convite de Hélio Bernal, o ser sobrinho neto de Osvaldo e composições livremente a tintos sem se tornar um ator empresário de Zezé Di Camargo e Sargentelli (que era sobrinho cada lançamento. Luciano, para me lançar na carrei- limitado a viver apenas um ra Pop.” FOTO: Cíntia Carvalho. de Lamartine Babo!), que dei-

90 JANEIRO 2020 JANEIRO 2020 91 MÚSICA UMA PEÇA QUE ME MARCOU

xou seu legado junto ao sam- Juliane Bodini: Quando eu ba e a história da música no tinha 11 anos, meu pai me “ALÔ, Brasil. Enfim, aos 12 anos co- apresentou Jessé e Elis. mecei a cantar e tocar violão Fiquei muito encantada com e bateria, tive 5 bandas de va- aquilo tudo, com aquela so- DOLLY!” riados estilos como vocalista noridade tão brasileira e e paralelamente a isso, com a de tanta qualidade para os Trabalho com mesma idade, comecei a fazer meus ouvidos e comecei a teatro e entrei em minhas pri- futucar tudo que conversa- Miguel Falabella meiras companhias de teatro va com aquilo ali. Eu ouvia ainda muito moleque. Eu ja- Chico, Tom, Vinicius, Novos e Marília Pêra mais deixei a música (enquan- Baianos, Gal, Caetano, Gil, marcou a carreira to mercado) de lado, mas ela Maysa, Doces Bárbaros, Nara acabou ficando em segundo Leão, Dolores Duran, Carmen de Ivan Parente “Quando estou cantando no meu show, ou plano quando comecei a ser Miranda, Bethânia, Clara no karaokê, ou no chuveiro, sou eu que es- bem-sucedido na carreira de Nunes, Pixinguinha, Adoniran tou ali desnuda, sem poder usar a bengala Por REDAÇÃO “Ninguém saía da sala de ensaios nem para tomar água quando Miguel e Marília estavam de uma personagem que vem antes de mim contracenando”, relembra Ivan. FOTO: Caio Gallucci. ator, devido à falta de tempo Barbosa, Dominguinhos, para dar conta daquela canção. Isso é de- hábil, pois foquei na gradu- Elba, Zé Ramalho... Enfim, sesperador. Fico com muita vergonha.” ação em artes cênicas e as eu era uma criança velha. FOTO: Los Padrinos Fotografia. peça que mais me a atuar nos musicais de São (risos). Ninguém saía da sala temporadas também são mui- Eu descobri que eu can- marcou foi a que me Paulo ou que o mercado não nem para tomar água quan- Beto Sargentelli: Tem si- to exigentes e tomam a maio- tava quando eu tinha 8 trouxe de volta aos iria me absorver mais, mas do os dois estavam contrace- do uma delícia. O primei- A ria dos dias da semana. Além anos. Um belo dia, ouvindo palcos dos musicais de São Falabella me chamou dois nando. Eu fui premiado com ro single lançado, “Nas 4 também de agora ser produtor Ivete Sangalo cantando “Sá Paulo, através das mãos do meses depois para integrar uma cena ao lado da Marília Estações”, está sendo um e produzir meus próprios es- Marina” num cassete lá em diretor Miguel Falabella, em o Ensemble do musical “Alô, que me marcou pra sempre, sucesso de streamings em petáculos e estar sempre mi- casa, eu percebi que quan- 2012: Alô, Dolly! Fiquei ‘afas- Dolly”, onde ele seria o pro- fazia um juiz e ela se fazia de todas as plataformas de mú- nistrando meus workshops e do imitava a Ivete cantando, tado’ por seis anos viajando tagonista ao lado da gran- advogada, hilária, presente, sica e visualizações do clipe aulas particulares pelo Brasil. eu fazia igual. Aí eu pensei: com os espetáculos da Black de Marília Pêra. Os ensaios humilde e pronta para o que no Youtube, além de nosso Mas meu retorno na marra pa- “ih, eu acho que sei cantar”. & Red, do diretor Billy Bond, eram regados à gargalhadas eu precisasse. Nessa cena, show de lançamento no Paris ra o mercado fonográfico se Minha mãe não aguentava onde eu atuava, escrevia e e aprendizados. Marília e eu era um juiz que se emo- 6 Burlesque, onde tivemos a deu quando, logo após prota- mais, porque era todo dia também dirigia. Quando eu Miguel nos brindavam com cionava com tudo e um dia casa lotada. E vem mais coisa gonizar o musical “2 Filhos de um tal de “canta, canta” pra resolvi sair da companhia, foi cenas hilárias e improvisos ela tirou da bolsa dela um boa por aí, acredito que até a Francisco”, recebi o convite de cá, um “canta, canta” pra lá. totalmente sem perspectiva milimetricamente perfeitos. lenço de pano e deu pra eu publicação desta entrevista Hélio Bernal, o empresário de Pedia de presente: microfo- de trabalho. Cheguei a ouvir Aprendíamos com eles e enxugar minhas lágrimas. Ela já teremos lançado a segun- Zezé Di Camargo e Luciano, nes, karaokês, DVDs da Elis e que estava velho para voltar ainda ganhávamos para isso fez isso a temporada toda, da música e seu respectivo para me lançar na carreira Pop. por aí ia... Acho que não da- até que no meu último dia do clipe que vem com muitas Mesmo em meio a loucura de va pra fugir do meu destino. musical (porque tive que sair surpresas bacanas! agenda venho tirando tempo e Precisava da arte para viver. antes para começar a ensaiar Ivan guarda com cari- madrugadas para dar conta de ‘A Madrinha Embriagada’ e Juliane Bodini: Minha car- nho o lenço que recebeu tudo e não me arrependo nem de Marília Pêra quando ela ficou bravíssima), ela me reira solo ainda é um em- teve de deixar o espe- um minuto. Estou amando fa- deu esse lenço, que guar- Como tem sido a experi- brião que estou estudando táculo para ensaiar “A zer tudo e de tudo. Madrinha Embriagada”. do na minha gaveta até ho- ência da carreira solo? milímetro por milímetro para FOTO: Mila Maluhy. je. Sempre me emociono que seja exatamente o que quando me lembro desse Sabrina Korgut: Um momen- eu gostaria ou sempre so- musical porque, primeiro, to para eu olhar com carinho nhei que fosse. Sou muito é o musical que o Miguel para mim e para a artista que detalhista. Vou gravar um sin- mais ama, segundo, foi mi- sou. Escutar a minha voz, li- gle e vou lançá-lo depois do nha volta aos palcos do ei- bertar meus movimentos, carnaval. Depois disso, devo FOTO: Osmar Lucas. Osmar FOTO: xo Rio-São Paulo, e terceiro, ser plena do meu feminino e fazer um show de lançamen- FOTO: Paula Kossatz. por contracenar com Marília proporcionar um belo espe- to, mas tudo com muita cal- Pêra e ao lado de um dos táculo para o público. ma para que eu esteja exa- elencos mais amorosos que tamente certa do que estou já participei na minha vida fazendo. Mas confesso que toda. Coxia incrível! Pessoas estou começando a gostar Beto Sargentelli e Bruno Fraga como Zezé incríveis! Aprendizados mil! di Camargo e Luciano no musical “2 Filhos dessa coisa de cantar sendo de Francisco” (2017). Difícil de esquecer… FOTO: Manuela Scarpa / Brazil News. eu. É tudo novo e excitante!

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revelados em uma transmis- - O Musical da Broadway” e original (Fernanda Maia), ator são ao vivo no Teatro Doutor contou com um dueto de Ma- coadjuvante (Diego Velloso) e Botica. E, como não poderia teus Ribeiro e Karina Mathias. atriz coadjuvante (Carol Costa). faltar, a cada ano, os artistas Também de inspiração latina relembraram músicas dos es- Vencedores edição 2019 vem outro vencedor: “Zorro petáculos que concorreram Em 2019, o musical “Elza”, - Nasce Uma Lenda”, que naquela edição. que levou ao palco a traje- faturou o prêmio de melhor tória de Elza Soares, faturou coreografia (Bárbara Guerra Ao longo de seis apresen- quatro troféus no DID: des- e Johnny Camollese). tações, participaram neste taque para atriz (Larissa Luz), ano Sara Sarres, João Felipe direção (Duda Maia), desta- O novato Arthur Berges, pro- Saldanha, Thiago Machado, que musical brasileiro (Sarau tagonista da montagem de Giulia Nadruz e Bruno Narchi Agência) e direção musical “Escola do Rock” foi o vence- acompanhados ao piano por (Pedro Luís, Larissa Luz e An- dor na categoria de melhor Anderson Beltrão e Rodolfo tônia Adnet). Já “Chaves - Um ator, enquanto o destaque de Schwenger. A abertura, ficou a Tributo Musical”, que celebra musical estrangeiro ficou para cargo dos vencedores do ano o conhecido humorístico de “Billy Elliot”. As duas produções anterior na categoria melhor Roberto Gómez Bolaños le- são assinadas pela produtora musical estrangeiro “Peter Pan vou três troféus: melhor roteiro Atelier de Cultura.

Giulia Nadruz, Thiago Machado e Bruno Narchi: Companhia Paralela con- correu na categoria Des- FOTO: Luís França Luís FOTO: taque Musical Estrangeiro por “Tick, Tick... Boom!” FOTO: Luís França PREMIAÇÃO ON-LINE CONECTA TEATRO À INTERNET Destaque Imprensa Digital celebra os melhores do teatro musical e une veículos de imprensa cultural da web Por CLÁUDIO SOUZA

m 10 de dezembro de temporada. Idealizado por tas que se destacaram no 2019, o público conhe- Joaquim Araújo, o prêmio palco ao longo do último Eceu os vencedores da conta ainda com organi- ano. A cerimônia completa terceira edição do prêmio zadores de outros veículos de 2019 dos anos anteriores Destaque Imprensa Digital da imprensa digital on-line está disponível em desta- (ou DID, como também é especializada em cultura. A queimprensadigital.com.br. conhecido), uma cerimônia premiação reúne também 18 completamente on-line que jurados de diversos portais Ao todo, 32 musicais foram ava- reconheceu os talentos do digitais no intuito de prestar liados em 2019 e 10 categorias teatro musical na última uma homenagem aos artis- contempladas com troféus,

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INDICADOS/VENCEDORES DESTAQUE DIREÇÃO MUSICAL • Carlos Bauzys | Sunset Boulevard DESTAQUE COREOGRAFIA • Daniel Rocha | Billy Elliot – O Musical • Alberto Venceslau | Se Essa Lua Fosse Minha• • Fernanda Maia | As Cangaceiras – Alonso Barros | Pippin Guerreiras do Sertão • Bárbara Guerra (Coreografia) e Johnny • Jules Vandystadt | 70? Década do Divino Camollese (Coreografia de Flamenco) | Zorro – Maravilhoso – Doc. Musical Nasce Uma Lenda • Pedro Luís, Larissa Luz e Antônia Adnet | • Deborah Colker | O Frenético Dancin’ Days Musical Elza • Victor Maia | 70? Década do Divino Maravilhoso – Doc. Musical DESTAQUE MUSICAL BRASILEIRO • As Cangaceiras – Guerreiras do Sertão | DESTAQUE ROTEIRO ORIGINAL Velloni Produções Artísticas e SESI – SP • Fernanda Maia | Chaves – Um Tributo Musical • Chaves – Um Tributo Musical | Move • Marcos Nauer | 70? Década do Divino Concerts João Felipe Salda- Maravilhoso – Doc. Musical • Musical Elza | Sarau Agência nha, protagonista de “Pippin”: musical • Newton Moreno | As Cangaceiras – Guerreiras • Merlin e Arthur – Um Sonho de Liberdade ao da dupla Möel- ler&Botelho concor- do Sertão Som de Raul Seixas | Aventura Entretenimento reu em 5 categorias, • Vinicius Calderoni | Musical Elza incluindo Destaque • Se Essa Lua Fosse Minha | Lumus Ator para Saldanha. • Vitor Rocha | Se Essa Lua Fosse Minha Entretenimento FOTO: Luís França

DESTAQUE ATOR COADJUVANTE Sara Sarres concorreu na ca- • Beto Sargentelli | Billy Elliot – O Musical tegoria Destaque Atriz pelo seu trabalho em “Escola do Rock - • Cleto Baccic | Escola do Rock – O Musical O Musical”. FOTO: Luís França DESTAQUE MUSICAL ESTRANGEIRO Karina Mathias e Mateus Ribeiro: a dupla vencedora de 2018 na • Diego Velloso | Chaves – Um Tributo Musical categoria Melhor Musical Estrangeiro por “Peter Pan - O Musical (Versão brasileira) • Pedro Arrais | As Cangaceiras – Guerreiras do da Broadway”, abriu a noite da premiação com um dueto. Mateus Ribeiro também foi indicado na categoria Destaque Ator por seu • Billy Elliot – O Musical | Atelier de Cultura Sertão trabalho como protagonista de ‘’Chaves – Um Tributo Musical”. Produções Artísticas FOTO: Luís França • Thiago Machado | Tick, Tick… Boom! • Escola do Rock – O Musical | Atelier de Cultura Produções Artísticas DESTAQUE ATRIZ DESTAQUE ATRIZ COADJUVANTE • Pippin | Möeller & Botelho • Amanda Acosta | As Cangaceiras – Guerreiras • Bel Lima | Pippin • Sunset Boulevard | IMM Entretenimento e do Sertão • Carol Badra | As Cangaceiras – Guerreiras do EGG Entretenimento • Larissa Luz | Musical Elza Sertão • Tick, Tick… Boom! | Companhia Paralela • Marisa Orth | Sunset Boulevard • Carol Costa | Chaves – Um Tributo Musical • Sara Sarres | Escola do Rock – O Musical • Inah de Carvalho | Billy Elliot – O Musical • Totia Meireles | Pippin • Lia Canineu | Sunset Boulevard

DESTAQUE DIREÇÃO DESTAQUE ATOR • Duda Maia | Musical Elza • Arthur Berges | Escola do Rock – O Musical • Fred Hanson | Sunset Boulevard • João Felipe Saldanha | Pippin • Mariano Detry | Escola do Rock – O Musical • Julio Assad | Sunset Boulevard • Sergio Módena | As Cangaceiras – Guerreiras do Jornalista formado pela FACHA com MBA em Comportamento • Marco França | As Cangaceiras – Guerreiras do POR do Consumidor pela ESPM-RJ. É o criador do portal “A Broadway Sertão Sertão é Aqui!”, dedicado ao teatro musical e jurado do Prêmio Brasil • Zé Henrique de Paula | Chaves – Um Tributo CLÁUDIO • Mateus Ribeiro | Chaves – Um Tributo Musical Musical. Também atua como Coordenador de Conteúdo no Musical SOUZA Mundo do Marketing.

96 JANEIRO 2020 JANEIRO 2020 97 EM CARTAZ EM CARTAZ A MENTIRA A GOLONDRINA RICARDO III DIVALDO FRANCO E JOANA DE ÂNGELIS - UMA MISSÃO DE AMOR

Autor: Florian Zeller Autor: Guillem Clua Direção e adaptação: Miguel Falabella Tradução: Tania Bondezan Autor: William Shakespeare Elenco: Miguel Falabella, Zezé Polessa, Direção: Gabriel Fontes Paiva Adaptação: Gustavo Gasparani e Sergio Módena e Frederico Reuter. Elenco: Tania Bondezan e Luciano Andrey Direção: Sergio Módena Elenco: Gustavo Gasparani Sinopse: Um grande sucesso em sua Sinopse: Texto do espanhol Guillem Clua, Texto e direção: Cyrano Rosalém Sinopse: “Ricardo III” narra um pedaço da temporada européia, o espetáculo “A “A Golondrina” foi inspirado no ataque Elenco: Rogério Fabiano e Érica Collares história da Inglaterra. É um dos primeiros Mentira”, de Florian Zeller, ganha em homofóbico que aconteceu na Bar Pulse, Sinopse: Um encontro emocionante de dramas históricos escritos por William julho sua primeira montagem brasileira. em Orlando/EUA, e discute liberdade, fé, amor e caridade entre o médium Shakespeare e encerra em si um dos contos Com assinatura da Atual Produções, o diversidade e aceitação. A montagem Divaldo Franco, um dos mais importantes mais tenebrosamente sedutores que já se brasileira tem produção de Odilon Wagner, divulgadores da Doutrina Espírita, e sua espetáculo foi adaptado e dirigido por ergueram em cena. O texto traz uma visão direção de Gabriel Fontes Paiva e os atores mentora espiritual, Joanna de Ângelis. Miguel Falabella, que também protagoniza rica dos bastidores políticos no que se refere Tania Bondezan e Luciano Andrey no elenco. Duração: 60 minutos a peça ao lado de Zezé Polessa, Karin Hils à imoralidade e à ambição desmesurada O que nos torna humanos? Para Amélia Classificação: Livre e Frederico Reuter. Com uma brilhante para se alcançar o poder. Mesmo tendo se narrativa, “A Mentira” abre um diálogo (personagem de Tânia Bondezan) a resposta Teatro: Teatro Vannucci, encontra-se na capacidade de sentir a dor passado pouco mais de quatro séculos, os instigante sobre fidelidade, honestidade e a Rua Marquês de São Vicente 52, dos outros como se fosse nossa. E este é o temas abordados servem para refletirmos realidade da monogamia em casamentos, Shopping da Gávea sentimento que corre ao longo da espinha sobre o mundo em que vivemos. “Ricardo conseguindo momentos tensos de Dias/Horários: De 2 de janeiro a 20 de dorsal de “A Golondrina”, sucesso de crítica III” discute a luta por poder, intrigas, e a mentiras – ou confissões acidentais fevereiro. Quintas às 18h e público em São Paulo. hipocrisia da política. – que fazem a audiência prender sua Preço: R$ 70 Duração: 90 minutos Duração: 90 minutos Ingressos: tudus.com.br respiração, dosados habilmente com Classificação: 14 anos Classificação: 12 anos momentos de grande comédia. Teatro: Sesc Ginástico Teatro: Teatro Poeirinha, Classificação: 14 anos Av. Graça Aranha, 187, Centro R. São João Batista, 104 Botafogo Teatro: Oi Casa Grande, Dias/Horários: De 16/01/2020 a 06/02/2020. Dias/Horários: De 2 de janeiro a 16 de fevereiro. Av. Afrânio de Melo Franco, 290 - a De quinta a sábado, às 19h, e Domingos, às 17h Quinta à sábado às 21h e Domingo às 19h Dias/Horários: Sexta e sábados, às 20h Preço: R$ 30 (inteira) Preço: R$ 30,00 (meia) e Domingo, às 18h Descontos: Leve 1 kg de alimento e pague Ingressos: Tudus.com.br Preço: A partir de R$ 40 (meia) meia entrada. Instagram: @ricardoiiiteatro Ingressos: tudus.com.br Ingressos: Somente na bilheteria Instagram: @amentirabr Instagram: @agolondrinateatro Acesse queroteatro.com.br/emcartaz/ e confira a programação completa do teatro carioca!

98 JANEIRO 2020 JANEIRO 2020 99 VAQUINHAS VAQUINHAS

60 pessoas. O trabalho depósito no sacolão, tombado como patrimônio é caro, valioso e exige embaixo do minhocão, nacional e está localiza- dedicação. Manter a para grandes objetos. do numa área que é um companhia ao longo do Além da montagem dos mangue fértil da cidade, ano, seguir montando os espetáculos, existe uma que luta para não ter toda espetáculos e manter o despesa mensal para esse forma de vida, diversa e teatro que foi eleito o acervo e para o time que potente, esmagada pela melhor do mundo pelo realiza esse trabalho, sem especulação imobiliária. jornal The Guardian, é falar na necessidade de No Teat(r)o Oficina, ar- um desafio complicado. treino dos atores e cybe- quitetura e encenação Além do prédio do Te- rartistas, nos trabalhos di- são indissociáveis e, por at(r)o Oficina, que é de ários de música, dança, essa alquimia, em 2015, foi propriedade do Estado tecnologias e estudos. reconhecido pelo jornal de São Paulo, mas tem Criado coletivamente há 6 britânico The Guardian todas as despesas – água, décadas por quase 2.000 como o teatro mais bo- luz, limpeza, reparos – pessoas, entre artistas e nito e intenso do mundo, inteiramente mantidas atuadores de todas as áre- seguido pelo Epidaurus, pelo grupo, a Compa- as, o Teat(r)o Oficina tem na Grécia. nhia mantém a casa de em seu diretor e encena- TEAT(R)O OFICINA produção, um depósito dor, Zé Celso, um símbolo Confira em: de objetos de cena na de resistência. O prédio https://benfeitoria.com/ UZYNA UZONA rua São Domingos, um que sedia a companhia, teatroficina?ref=benfei- acervo de figurinos na uma obra de arte de Lina toria-pesquisa-projetos ABRE FINANCIAMENTO rua major Diogo e um Bo Bardi e Edson Elito, é COLETIVO PERMANENTE Localizado no bairro do Bixiga, em São Paulo, a obra de arte de Lina Bo Bardi e Edson Elito PARA MANUTENÇÃO foi tombada como patrimônio nacional. FOTO: Divulgação. Zé Celso, após sessão de “Roda Viva”, no Teat(r) Oficina. O espetáculo esteve em cartaz recen- temente na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro. DE DESPESAS FOTO: Jennifer Glass. Espaço que sedia companhia de Zé Celso foi reconhecido pelo jornal britânico ‘The Guardian’ como o teatro mais bonito e intenso do mundo Por REDAÇÃO o ano passado, anos de investimento no contínuo na Benfeitoria, o Teat(r)o Oficina trabalho da companhia visando a continuidade NUzyna Uzona com- e, consequentemente, na de suas produções e ma- pletou 61 anos sem ter manutenção do espaço em nutenção do acervo e do grandes presentes de bo- que trabalham. Após três edifício utilizado por eles, das de diamante. Segundo anos sem patrocínio, em no Bixiga, em São Paulo. o grupo de José Celso colapso e precariedade do Martinez Corrêa, o Zé Celso, trabalho, o Teat(r)o Oficina Os espetáculos têm em estes têm sido os piores criou um financiamento sua equipe por volta de

100 JANEIRO 2020 JANEIRO 2020 101 COLUNISTA CONVIDADA COLUNISTA CONVIDADA

de tal forma que já não VILMA é possível ignorar. Está sendo tranquilo? Fácil? Claro que não! Mas não MELO vim a essas páginas fa- lar sobre o que todos já sabem: Da nossa batalha Falamos na Magia do bem que a lista de espe- contra a invisibilidade, da Teatro, mas penso: E táculos é enorme, tanto nossa luta diária por mais Magia Negra do Teatro? que não seria possível representatividade, por Sim, porque existe uma escrevê-los aqui, pois poder ser, por poder estar. nítida defasagem entre sem dúvida acabaria a representatividade no com o espaço que me O Rio é uma vitrine. teatro, e a representati- resta e ainda necessitaria Colonial. A escalação “vidade negra na magia de muito, muito mais. A de artistas é de uma da cena carioca. Mas o cena preta carioca existe, responsabilidade so- que é a cena negra? A re-existe, resiste brava e cial tamanha, pois dela quantidade de artistas linda! Tanto que cito aqui também advém a mu- negros atuando dentro o espetáculo “Esperança dança. A sociedade se de qualquer dramaturgia, na Revolta”, que teve o vê retratada ou, o que ou dramaturgia delineada diretor André Lemos, co- desejam retratar dela. especificamente para a mo primeiro negro em 31 Neste próximo ano pre- atuação de artistas negros? edições do Prêmio Shell cisamos realmente agir de Teatro do Rio, digo como agentes transfor- Em 2017 houve uma vi- trinta e um anos, a ser madores, ao pé da letra, rada na cidade, intensi- laureado nesta categoria. já que em 2019 começa- ficou-se a produção de E para nossa felicidade mos a deixar reto o que espetáculos negros, ao este ano não está dife- antes era curva. menos alguns estiveram rente: das 9 categorias, mais fora da margem e temos 7 indicações para Estamos atrasados em inseridos no eixo cultu- temática negra: drama- relação a história? Sim! ral, que nos foi imposto turgia, ator, atriz, figuri- Porém firmes, fortes, socialmente. Ele existe, no, iluminação, música e íntegros e dignos. Não está aí e não podemos inovação, além, é claro, sei se em 2020, mas eu ignorá-lo. Muitos destes do espetáculo “Ombela- espero que ainda nesta espetáculos mantém uma A origem das chuvas”, minha humilde existência, t. trajetória que atravessa liderando o Prêmio CBTJ eu não precise mais falar e este fatídico ano de 2019, com 15 indicações. sobre a cena para artis- onde somos especta- tas negros, e sim sobre dores e alvo de vários A produção de espetáculos a cena para nós: Artistas. naufrágios. Mas, ainda negros vem se impondo FOTO: Karen Gadr Karen FOTO: 102 JANEIRO 2020 ” JANEIRO 2020 103