Comparação Florística E Estrutural Entre Dois Trechos De Floresta Ombrófila Densa Em Diferentes Estádios Sucessionais, Juquitiba, SP, Brasil
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Hoehnea 37(4): 691-718, 2 fig., 8 tab., 2010 691 Comparação florística e estrutural entre dois trechos de Floresta Ombrófila Densa em diferentes estádios sucessionais, Juquitiba, SP, Brasil Rodrigo Trassi Polisel1,3 e Geraldo Antônio Daher Corrêa Franco2 Recebido: 04.06.2009; aceito: 28.10.2010 ABSTRACT - (Floristic and structural comparisons of two tracts in different successional stages in Rain Forest in Juquitiba, São Paulo, State, Southeastern of Brazil). This study was carried out in medium and late regeneration stage tracts. Medium regeneration stage tract was sub-divided in 4 community classes: Class 1 (DBH ≥ 10 cm); Class 2 (5 ≤ DBH < 10 cm); Class 3 (1 ≤ DBH < 5 cm) and Class 4 (0,1 ≤ height < 1,3 m). In late stage forest, 166 points centered-quarter was plotted to woody individuals sampling (DBH ≥ 10 cm). The floristic and phytosociological parameters of secondary forest were lower than mature forest ones. Futhermore, the low values on richness and abundance of late species in secondary forest demonstrates that some mature forest species have difficult in spreading due to the lack of dispersal species, mainly the big ones, and human impacts on these animals. Key-words: Atlantic Forest, regeneration, secondary sucession, understory RESUMO - (Comparação florística e estrutural entre dois trechos de Floresta Ombrófila Densa em diferentes estádios sucessionais, Juquitiba, SP, Brasil). Foi realizado o levantamento fitossociológico em dois trechos florestais, um em estádio médio e outro em estádio avançado de regeneração. A amostragem foi subdividida em quatro estratos para o fragmento em estádio médio: Estrato 1 (DAP ≥ 10 cm); Estrato 2 (5 ≤ DAP < 10 cm); Estrato 3 (1 ≤ DAP < 5 cm) e Estrato 4 (0,1 ≤ h < 1,3 m). Na floresta em estádio avançado, foram alocados 166 pontos quadrantes para a amostragem das árvores (DAP ≥ 10 cm). Os parâmetros florísticos e fitossociológicos da floresta em estádio médio atingiram valores inferiores ao verificado na floresta conservada. Os baixos valores de riqueza e abundância das espécies secundárias tardias na floresta em estádio médio sugerem sua dificuldade de se dispersarem na região. A falta de agentes dispersores, principalmente aqueles de maior porte, e a pressão antrópica sobre a avifauna podem ser um dos motivos para explicar o comportamento encontrado para as espécies secundárias tardias de diásporos maiores. Palavras-chave: floresta atlântica, regeneração, sucessão secundária, sub-bosque. Introdução manutenção da biodiversidade, por problemas relacionados principalmente ao efeito de borda e ação A Mata Atlântica representa um dos ecossistemas antrópica (Tabarelli et al. 1999). mais ameaçados do planeta, por possuir número de Kronka et al. (2005) mostraram que o Estado espécies endêmicas elevado, riqueza biológica e alto apresenta hoje apenas 13,94% da cobertura florestal grau de ameaça aos seus remanescentes florestais. Por original, entretanto a metade delas foi classificada como esses motivos, é considerada um dos 25 hot-spots de capoeira e mesmo na categoria Mata estão agrupadas megadiversidade no mundo (Myers et al. 2000). florestas em estádios sucessionais intermediários a Segundo levantamento realizado pela ONG SOS avançados e pouco como floresta primária, fitofisionomia Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas praticamente inexistente no Estado. Nessa perspectiva, Espaciais (INPE) (Fundação SOS Mata Atlântica/INPE grande parte da riqueza biológica da Mata Atlântica 2008), esse Bioma possuía 7,26% da cobertura original está concentrada nas formações secundárias, as quais já em 2005. Dessa cobertura, a maioria dos remanescentes passaram por diferentes tipos de impactos provocados é menor que 10 ha, o que denota a fragilidade na pelo homem no passado (Dean 1996). 1. Instituto Florestal do Estado de São Paulo, Seção de Ecologia Florestal, Rua do Horto 931, 02377-000 São Paulo, SP, Brasil 2. Instituto Florestal, Seção de Ecologia Florestal, Rua do Horto 931, 02377-000 São Paulo, SP, Brasil 3. Autor para correspondência: [email protected] 692 Hoehnea 37(4): 691-718, 2 fig., 8 tab., 2010 O estudo das formações florestais secundárias Foram comparados dois fragmentos de floresta contribui para o entendimento de diversos fatores nos estádios médio e avançado de regeneração a fim de relacionados à dinâmica e regeneração de florestas responder as seguintes questões: Quais são as espécies (Mantovani 1993). Segundo Klein (1980), a arbóreas presentes no fragmento de vegetação bem regeneração florestal é definida como o processo conservada? Elas estão se regenerando na vegetação pelo qual a floresta perturbada atinge características secundária estudada? Qual a composição de guildas da floresta madura, pressupondo modificações nas sucessionais entre os estratos e quais as espécies características da comunidade e mudanças direcionais mais representativas para cada estrato na floresta na composição de espécies, conforme explicitado por em estádio médio? Qual é a similaridade entre os Budowski (1965). diferentes estratos da floresta secundária e entre estes Nesse processo, a dispersão das sementes é e a comunidade arbórea da floresta madura? um processo chave, por representar a ponte que Espera-se que as respostas destas perguntas une a polinização com o recrutamento que levará levem a discutir questões referentes aos processos de ao estabelecimento de novas plantas adultas na regeneração florestal e a influência da antropização comunidade (Harper 1977). na composição de espécies lenhosas de um fragmento Uma das intenções em se estudar as formações em processo de enriquecimento florístico, o qual não secundárias, do ponto de vista fitossociológico, está possui Unidade de Conservação em seu entorno. em investigar o padrão de regeneração das espécies arbóreas ao longo do tempo. Nessa linha, alguns Material e métodos trabalhos procuram avaliar remanescentes próximos com diferentes idades e compará-los com a floresta Área de estudo - O estudo foi realizado no município madura, a fim de avaliar de maneira cronosseqüencial de Juquitiba, sudoeste da região metropolitana de as variações florísticas e estruturais dessas florestas São Paulo (RMSP). Esse município está localizado (Liebsch et al. 2007, Oliveira 2002 Tabarelli & na Sub-bacia do Rio Juquiá, afluente do Rio Ribeira Mantovani 1999a, Tabarelli et al. 1994). do Iguape. O clima é classificado como Cwa, Outros trabalhos avaliaram a estrutura vertical verões úmidos e invernos amenos, de acordo com de florestas secundárias de idades de regeneração a escala de Koeppen (CEPAGRI 2008). Segundo conhecidas classificadas em estádio médio a avançado coletas realizadas com auxílio de pluviômetro na (Dias et al. 2000, Dorneles & Negrelle 2000, Negrelle propriedade ao lado da área de estudo no período de 2006, Ogata & Gomes 2006, Oliveira et al. 2001). No 2004 a 2007, o índice pluviométrico anual atingiu o caso, são feitos levantamentos em diferentes classes valor médio de 1.743,01 mm. O mês mais chuvoso diamétricas ou de altura e realizadas comparações foi janeiro com valores entre 286 mm (jan/2006) até florísticas e estruturais entre classes, com o intuito 457 mm (jan/2005). O mês mais seco foi agosto com de indicar o grau de regeneração e substituição de índices pluviométricos entre 4 mm (ago/2004) a 48 espécies ao longo da estrutura, principalmente o das mm (ago/2005). Não há déficit hídrico no solo. As espécies secundárias tardias e umbrófilas. temperaturas média, mínima e máxima do município Esses trabalhos apontam em conjunto que a são, respectivamente, 20,3, 16,4 e 23,6 oC. A mínima proximidade e qualidade da matriz, assim como o verificada foi igual a 9,5 oC e a máxima, 29,1 oC tipo e intensidade do grau de perturbação sofrido (CEPAGRI 2008). A última geada verificada na área pelos remanescentes florestais, são os principais de estudo ocorreu em julho de 1998. fatores que atuarão no processo de regeneração e No interior da área de estudo foi aberta uma substituição de guildas de espécies ao longo do tempo trincheira para classificação do solo e com o auxílio (Souza 2002). Há outro aspecto apontado por Brown do Prof. Athylla Miklos da Faculdade de Filosofia & Whitmore (1992) de que o grau de competição Letras e Ciências Humanas da USP, o solo foi entre os indivíduos do sub-bosque é um mecanismo classificado em Podzólico Vermelho-Amarelo Álico importante para manter a coexistência de espécies (Prado 2005). A vegetação é classificada como nas florestas tropicais com alta diversidade. Floresta Ombrófila Densa Montana, de acordo com o A composição de espécies presentes no sub- sistema proposto por Veloso et al. (1991). bosque florestal é um importante indicador do O trecho em estádio médio encontra-se no potencial de regeneração do remanescente florestal interior de uma propriedade particular de 2 ha, cercada (Laska 1997). por outros lotes rurais. As coordenadas geográficas Polisel & Franco: Comparação entre dois trechos florestais em Juquitiba, SP, sudeste do Brasil 693 do local são 23º57´40´´S e 47º4´18´´O. Segundo entre estes e não no sentido de que se incluíram, em informações disponibilizadas pelos moradores do cada uma, somente as formas de vida respectivas. entorno, quase toda a região sofreu intenso corte raso Todos os indivíduos dos quatro estratos tiveram para a produção de carvão nas décadas de 1960 e seus valores de altura e espécie determinados. O DAP 1970. Especificamente no local estudado, a vegetação de todos os indivíduos dos estratos 1, 2 e 3 também encontra-se em regeneração a cerca de 40 anos. foram anotados.