UNIVERSIDADE DE CUIABÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM ENSINO

TRAJETÓRIA COMPETITIVA DO ATLETA OLÍMPICO CUIABANO DE NATAÇÃO FELIPE

JEFFERSON CARVALHO NEVES

CUIABÁ – MATO GROSSO 2020 JEFFERSON CARVALHO NEVES

TRAJETÓRIA COMPETITIVA DO ATLETA OLÍMPICO CUIABANO DE NATAÇÃO FELIPE LIMA

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós- Graduação Stricto Sensu, Mestrado Acadêmico em Ensino na Universidade de Cuiabá (Programa Associado ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso - UNIC/IFMT), como parte do requisito para obtenção do Título de Mestre em Ensino, Área de Concentração: Ensino, Currículo e Saberes Docentes e da Linha de Pesquisa 2: Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Escolar, sob a orientação da Professora Dr.ª Cleonice Terezinha Fernandes

CUIABÁ/MT 2020

Dados internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca UNIC

N518t NEVES, Jefferson Carvalho Trajetória competitiva do atleta olímpico cuiabano de natação Felipe Lima / Jefferson Carvalho Neves – Cuiabá, MT 2020 94 p.: il.

Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-graduação stricto sensu, em Mestrado como parte do requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ensino, área de Concentração: Ensino, Currículo e Saberes Docentes e da Linha de Pesquisa: Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Educação Escolar. Universidade de Cuiabá – UNIC, 2020.

Orientadora: Prof.ª Drª. Cleonice Terezinha Fernandes

1. Ensino. 2. Alta Performance. 3. Formação Profissional. 4. Educação Fisica.

CDU: 796:797.2 Terezinha de Jesus de Melo Fonseca - CRB1/3261

SECRETARIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM ENSINO ATA DE DEFESA

Aos 14 dias do mês de dezembro do ano de 2020, na Universidade de Cuiabá, às 9 horas, reuniu-se a Banca Examinadora, composta por 1. Profa. Dra. Cleonice Terezinha Fernandes presidente da banca, 2. Profa. Dra. Cilene Maria Lima Antunes Maciel 3. Prof. Dr. Riller Silva Reverdito; 4.Prof. D. Alexandre Konig Garcia Prado(coorientador). A reunião teve por objetivo julgar o trabalho do aluno Jefferson Carvalho Neves sob o título “Formação e trajetória de um atleta de natação de alta performance”. Os trabalhos foram abertos pela presidente da banca. A seguir foi dada a palavra ao aluno para apresentação do trabalho. Cada Examinador arguiu o mestrando, com tempos iguais de arguição e resposta. Terminadas as arguições, procedeu-se ao julgamento do trabalho, concluindo a Banca Examinadora da Dissertação por sua aprovação. Houve sugestão de alteração do título da Dissertação pela Banca Examinadora? (X) Sim ( ) Não . Título sugerido Trajetória competitiva do atleta olímpico cuiabano de natação Felipe Lima

Cuiabá, 14 de dezembro de 2020

Examinadores:

Profa. Dra. Cleonice Terezinha Fernandes

Profa. Dra. Cilene Maria Lima Antunes Maciel

Prof. Dr. Riller Silva Reverdito

Prof. Dr. Alexandre Konig Garcia Prado

DEDICATÓRIA

A Deus, à minha família e aos incansáveis e maravilhosos professores que tive neste fantástico programa.

AGRADECIMENTOS

A Deus, por sempre colocar pessoas incríveis em meu caminho, as quais me fazem acreditar que a constante busca pela evolução me fará alcançar os meus sonhos. Obrigado por nunca desistirem de mim e, principalmente, me guiar em todos os momentos.

Aos meus pais, que nunca mediram esforços para me ensinar o caminho do bem e sempre me apoiaram em todas as etapas da minha vida, mesmo com inúmeras limitações. Com toda certeza sem vocês, eu não chegaria até aqui. Muito obrigado por tudo! O amor que sinto por vocês é gigante.

À minha linda família, sinônimo de amor, meus filhos lindos, que não tiveram o seu pai tão presente e à minha tão especial e maravilhosa esposa, pela força, companheirismo e união nos dias mais difíceis. Obrigado por acreditar em meu sonho e sempre me motivar a seguir em frente. É muito bom saber que posso contar com vocês em todos os momentos, os amo infinitamente!

Às minhas orientadoras, Professoras Dra. Cilene Maciel e Dra. Cleonice Terezinha, pela oportunidade de realizar este trabalho. Obrigado pela confiança e por me atender com paciência por todas as inúmeras vezes que tive de pedir socorro. Agradeço por todos os ensinamentos compartilhados de forma admirável e por guiar meus passos nesta maravilhosa jornada. Muito obrigado por tudo!

Ao meu coorientador, professor Alexandre Prado, por toda a ajuda e as brilhantes direções dadas durante a realização deste estudo. Sua contribuição foi essencial para a concretização de tudo neste trabalho. Muito obrigado!

Aos professores do programa de Pós-Graduação em Ensino UNIC/IFMT, pelos ensinamentos que transcendem os limites da Universidade;

Ao professor Dr. Riller Reverdito, por estar sempre pronto a ajudar e por todo conhecimento transmitido ao final desta jornada. Muito obrigado de todo coração a todos.

RESUMO

Em esportes olímpicos estar entre os melhores do mundo e conquistar direito de participação em uma Olimpíada é extremamente complexo e seletivo. Conseguir feito desta magnitude morando em um Estado longe dos grandes centros esportivos e especificamente no Centro- Oeste do Brasil deixa este sonho mais complexo e pela primeira vez na história da natação brasileira, tivemos a honra de ter um atleta cuiabano conquistando este feito e nos representando nos Jogos Olímpicos de Londres em 2012. Com isso temos como objetivo no presente estudo relatar parte da trajetória competitiva do atleta olímpico cuiabano de natação Felipe Lima, buscando compreender e identificar os elementos que o influenciaram ao longo da sua carreira esportiva. Esta é uma pesquisa qualitativa, de caráter exploratório, que utiliza a narrativa como método. Os participantes dessa pesquisa são: um atleta Olímpico, vice-campeão Mundial de natação e três de seus treinadores ao longo da carreira. Para coleta de dados foi utilizada de entrevista semiestruturada. Foram elaborados dois modelos, um para o atleta e um para os treinadores, com o roteiro elaborado a partir do modelo de desenvolvimento da participação esportiva (CÔTÉ, BAKER e ABERNETHY, 2007), além disso foi realizado um grupo focal com os treinadores. Com os resultados temos a demonstração de que o processo de desenvolvimento do atleta fora dotado de influências pessoais, interpessoais e contextuais, que em geral foram facilitadores do engajamento em níveis competitivos que ao longo da formação se tornaram cada vez mais elevados. O que também tivemos de resposta com o relato dos treinadores é que a quantidade de atividades vivenciadas, as estruturas e os materiais disponíveis para prática e os conhecimentos relacionados com etapas/estágios de desenvolvimento tem pouca eficiência se o treinador não souber gerir bem seus atletas criando uma atmosfera que fortaleça a relação entre atleta-atleta, atleta- treinador. Por termos tratado de um estudo retrospectivo, ficamos limitados a interpretar os fatos pretéritos, com isso, outros estudos de caráter longitudinal e com mais sujeitos se fazem necessários para que possamos observar a interação entre esses elementos e seus resultados ao longo do tempo.

Palavras-chave: Ensino; Alta Performance; Formação Profissional; Educação Física.

ABSTRACT

In Olympic sports being among the best in the world and winning right to participate in an Olympics is extremely complex and selective. Achieving made of this magnitude living in a state far from the major sports centers and specifically in the center west of makes this dream even more complex, but for the first time in the history of Brazilian swimming, we had the honor of having an Cuiabano athlete conquering this feat and representing us at the Olympics in 2012. With this, we aim in this study to report part of the competitive trajectory of an Olympic athlete Cuiabano swimming, seeking to understand and identify the elements that influenced him throughout his sports career. This is a qualitative research of exploratory character, which uses the narrative as a method. The participants in this research are an Olympic athlete, world-swimming runner-up and three of his coaches throughout his career. For data collection, a semi-structured interview was used in two models – for the athlete and for the coaches, with the script elaborated from the model of Development of Sports Participation (CÔTÉ, BAKER, ABERNETHY, 2007) and a focus group with the coaches. With the results, we have the demonstration that the development process of the athlete had been endowed with personal, interpersonal and contextual influences, which in general were facilitators of engagement at competitive levels that throughout the formation have become increasingly high. What we also had to respond to the coaches' report is that the amount of activities experienced, the structures and materials available for practice and the knowledge related to stages/stages of development, has little efficiency if the coach does not know how to manage his athletes well creating an atmosphere that strengthens the relationship between athlete-athlete, athlete-coach. Because we have dealt with a retrospective study, we were limited to interpreting the past facts, with this, other longitudinal studies and with more subjects are necessary so that we can observe the interaction between these elements and their results over time.

Keywords: Teaching; High Performance; Formative Path; Physical Education.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Tipos de preparação ao longo dos anos de treinamento ...... 21

Figura 2: Nado de peito moderno ...... 22

Figura 3: Diagrama de Bronfenbrenner ...... 25

Figura 4: Linha histórica dos eventos de relevância na formação do atleta Felipe Lima ...... 40

Figura 5: Publicação no Instagram Alexandre Pussieldi em 02 de novembro de 2020 ...... 57

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Evolução dos recordes mundiais nos 50,100 e 200m peito masculino ...... 23

Quadro 2: Evolução dos melhores tempos pessoais nos 50m e 100m peito do atleta Felipe Lima (de 2002 a 2018) ...... 23

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LISTA DE IMAGENS

Imagem 1: Iniciação à natação ...... 33

Imagem 2: Iniciação à natação ...... 33

Imagem 3: Iniciação à natação ...... 33

Imagem 4: Acervo do Autor: Satiro Sodré-CBDA ...... 34

Imagem 5: Acervo do Autor: Satiro Sodré-CBDA ...... 34

Imagem 6: Acervo do Autor: Satiro Sodré-CBDA ...... 34

Imagem 7: Seleção no Pan 2007 ...... 35

Imagem 8: Conquista do Índice Olímpico 2008...... 35

Imagem 9: Semifinal Olímpica 2012 ...... 38

Imagem 10: Vice-campeonato Mundial 2019 ...... 38

Imagem 11: Seleção Estadual 1999 ...... 51

Imagem 12: Equipe Uirapuru 2000 ...... 51

Imagem 13: Projeto Natação Uirapuru ...... 59

Imagem 14: Prof. Alexandre S., Felipe Lima e Prof. Vicente Soares ...... 60

Imagem 15: Projeto Natação Uirapuru 2000 ...... 60

Imagem 16: Equipe Uirapuru 2015 ...... 60

Imagem 17: Mundial de 2013 ...... 63

Imagem 18: Time Davie Nadadores 2013 ...... 63

Imagem 19: Troféu Chico Piscina 1999 ...... 64

Imagem 20: Felipe e Alexandre 2018 ...... 64

Imagem 21: Universidade 2011 ...... 65

Imagem 22: Sel. Pan-americana 2007 ...... 65

Imagem 23: Olimpíada 2012 ...... 65

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...... 12

2 MARCO TEÓRICO ...... 15

2.1 Contexto da pesquisa: Natação- Histórico, caracterização e cenário da modalidade .... 17

2.2 Histórico de Medalhas da Natação do Brasil em Jogos Olímpicos ...... 17

2.3 Desenvolvimento Motor em Meio Aquático ...... 19

2.4 Eficiência no Meio Líquido ...... 19

2.5 A Percepção do Nadador ...... 20

2.6 Nado de Peito ...... 21

2.7 Formação de Talentos e Carreira Esportiva...... 24

2.8 Metodologia da História Oral de Vida e Narrativas Autobiográficas ...... 27

3 METODOLOGIA ...... 31

3.1 Participantes ...... 31

3.2 Procedimentos/Instrumentos ...... 32

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ...... 32

4.1 Trajetória Esportiva do Atleta Felipe Lima ...... 32

4.2 Narrativas dos Treinadores Acerca do Atleta Felipe Lima (Grupo Focal) ...... 40

4.3 Entrevista individual com os Treinadores acerca de seu trabalho geral na modalidade natação ...... 61

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 75

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...... 77

APÊNDICES ...... 82

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1 INTRODUÇÃO

Conhecer a trajetória e em consequência o processo de desenvolvimento dos atletas, desde o momento em que os mesmos iniciam sua participação no esporte até a consolidação de uma carreira esportiva de sucesso se apresenta como caminho longo, cheio de influências resultantes das interações estabelecidas de forma direta ou indireta (CÔTÉ; VIERIMAA, 2016; DURAND-BUSH; SALMELA, 2002). A busca por estudos que relatam o desenvolvimento de atletas tem crescido de forma considerável nas últimas décadas (STAMBULOVA et al., 2009), sendo que boa parte desses estudos tem avançado nas discussões sobre estágios, fases, transição e toda uma gama de abrangência da carreira esportiva. Inicialmente focados em estudar o término da carreira, muito rapidamente os estudos passaram a uma compreensão mais abrangente dos fatores que permeiam o processo de desenvolvimento dos esportistas, situação essa que acabou trazendo o interesse e também a busca por sua relação com outros domínios da vida (DEBOIS; LEDON; WYLLEMAN, 2015). Nesses trabalhos são apresentados as contribuições de grande relevância para organização de uma carreira esportiva de excelência, no entanto, o contexto do nosso país e da América do Sul precisam de mais aprofundamento (BRUNER, et al. 2010; GALATTI, 2015; FOLLE; NASCIMENTO; GRAÇA, 2015). Por se tratar de um fenômeno dinâmico e complexo, que nos apresenta domínios de ordem pessoal, interpessoal e contextual, não conseguimos observar e muito menos compreender o desenvolvimento humano de forma não-sistêmica, trazendo assim grande complexidade na observação do fenômeno. Sobre esta complexidade vale trazer ao debate a contribuição de Bronfenbrenner (1997), acerca do desenvolvimento bioecológico humano. Para ele o ambiente em que nos desenvolvemos nos afeta e pode determinar muitos aspectos em nossas vidas: planos, maneira de pensar, como manifestamos as emoções ou não; os gostos e preferências, determinados pelos inúmeros fatores sociais envolvidos, ou seja, o modus operandis daquela sociedade vigente e seus paradigmas. Em sua teoria de compreensão bioecológica do desenvolvimento humano, a tônica está nas características biopsicológicas da pessoa e a interdependência sujeito/contexto, em processos proximais, o que oportuniza uma compreensão da pessoa em desenvolvimento, tal como ela se vê e compreende e se insere no seu contexto de vida. Este fenômeno é entendido como “formas particulares de interação entre organismo e ambiente, que operam ao longo do tempo e compreendem os primeiros mecanismos que

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produzem o desenvolvimento humano” (BRONFENBRENNER; MORRIS, 1998, p. 94), para tanto, consideram, em seu modelo, quatro aspectos multidirecionais inter-relacionados: pessoa, processo, contexto e tempo. O fato de possuirmos informações pouco consistentes em relação ao processo de desenvolvimento de atletas em nosso país restringe sobremaneira as possibilidades de formatação para o desenvolvimento dos mesmos, muitas vezes expondo a maioria dos praticantes a trabalhos empíricos, ou dependentes exclusivamente da massificação da modalidade. Por ser um esporte olímpico, a natação tem como palco maior das apresentações dos melhores atletas desta modalidade: os Jogos Olímpicos de Verão, evento este que acontece de quatro em quatro anos desde o século XIX, e que tem os melhores sujeitos do mundo da modalidade no ápice da sua forma física sonhando ficar entre os primeiros colocados neste momento tão único, fazendo com que seja bem difícil e seletivo estar entre os melhores de uma olimpíada. Conseguir feito desta magnitude morando em um Estado como Mato Grosso, que é longe dos grandes centros esportivos e, especificamente, no Centro-Oeste do Brasil deixa este sonho ainda mais complexo. Contudo, pela primeira vez na história da nossa natação, conseguimos ter o atleta cuiabano Felipe Ferreira Lima, nadador dos 100 metros nado peito, conquistando este desempenho e nos representando nos Jogos Olímpicos de Londres em 2012. Este fato nos motivou a buscar informações que possam colaborar para que aqueles que porventura tenham tal ambição possam ter uma direção inicial de possibilidade, ou seja, as diretrizes e caminhos de alguém que por mais que as circunstâncias fossem adversas, realizou tal feito. Para isso entramos em contato com o respectivo nadador e três de seus treinadores durante a carreira, para que nos relatassem algumas características, trabalhos e ocorrências que possam ter tido relevância para tal conquista. Um dos fatos relevantes deste feito é que o estilo em que o nadador se especializou é o nado peito, estilo este que representava até o começo dos anos 2000 os piores resultados em nível internacional da natação em nosso país, acontecimento que mudou de forma significativa, a partir daí se tornando uma das forças dos nossos resultados em competições internacionais. Considerando os excelentes resultados internacionais dos atletas brasileiros nos últimos quinze anos no referido estilo, o presente estudo tem por objetivo relatar parte da trajetória competitiva do atleta olímpico cuiabano de natação Felipe Lima, buscando compreender e identificar os elementos que o influenciaram ao longo da sua carreira esportiva.

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Neste sentido este estudo baseia-se teoricamente em estudiosos de carreira (CÔTÉ; VIERIMAA, 2016; DURAND-BUSH; SALMELA, 2002), percurso formativo (FOLLE; DO NASCIMENTO e DOS SANTOS, 2015; LIMA, 2018) e da natação de alta performance (COLWIN, 1998; MAGLISCO, 2003; COUNSILMAN, 1969); todavia, metodologicamente nos embasamos nos métodos e instrumentos das narrativas autobiográficas (CLANDININ e CONNELY, 2011), história oral de Thompson (2000); e também foi adotado como instrumento o grupo focal (GATTI, 2005), no qual fica evidente que a entrevista coletiva traz intersubjetividades impossíveis de serem acessadas individualmente em entrevistas pessoais.

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2 MARCO TEÓRICO

Entender que o processo de desenvolvimento de um atleta, desde a sua participação inicial no esporte até a consolidação de uma carreira esportiva de sucesso representa um caminho muito longo e de extrema complexidade e desafios. Buscando trazer à luz da ciência esse percurso, estudos sobre o desenvolvimento de atletas aumentaram consideravelmente nas últimas décadas (STAMBULOVA et al., 2009), apesar de que boa parte dos estudos no início tinham como aspecto principal os assuntos relativos a aposentadoria, principalmente focados nos estudos dos processos de envelhecimento, evidenciando transições para o pós carreira de maneira negativa e traumática, quase sempre desconsiderando a possibilidade de uma nova carreira após a participação esportiva, tratando o desenvolvimento de atletas como um fenômeno singular (LIMA, 2018). De forma mais recente, tivemos o foco dos estudos passando do término da carreira para uma compreensão mais abrangente dos fatores presentes durante o processo de desenvolvimento dos atletas (STAMBULOVA, 1994; CÔTÉ, 1999) e principalmente a sua relação com outros aspectos da vida (DEBOIS; LEDON e WYLLEMAN, 2015). Referidos estudos tiveram como precursores os trabalhos de Bloom (1985), o qual apresentou os estágios de desenvolvimento da carreira (anos iniciais, intermediários e finais), influenciados pelos estímulos que recebiam de pais, treinadores e ambientes de desenvolvimento (BOHME, 2011), bem como de Ericsson, Krampe e Tesch-Romer (1993) que compreendiam que 10 anos de prática deliberada era um fator para obtenção da excelência em diversos domínios (esporte, música etc.) (LIMA, 2018). Mesmo considerando suas particularidades, os estudos convergem no sentido de que a carreira esportiva de um atleta é composta pela fase de iniciação, especialização e investimento (GALATTI et al., 2017). Neste contexto os anos iniciais compreendendo as primeiras experiências esportivas de um praticante, onde se deve ter como objetivo o desenvolvimento das habilidades motoras básicas, que busquem despertar o prazer pela prática e promova o engajamento de crianças/jovens em atividades das mais diversificadas (experimentação de vários esportes ou na mesma modalidade) (CÔTÉ; BAKER e ABERNETHY, 2007; CÔTÉ; STRACHAN e FRASER-THOMAS, 2008). Para o período compreendido como especialização, a estrutura das atividades tende a ser modificada, buscando fazer com que o tempo da prática deliberada seja diminuída, visando o desenvolvimento de competências específicas de determinada modalidade. E por fim, os anos de investimento marcam a etapa de dedicação exclusiva a uma única modalidade. Fase essa

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onde os treinamentos apresentam maior intensidade, volume e dedicação, com o foco em se alcançar a excelência esportiva (GALATTI et al., 2017; CÔTÉ; BAKER e ABERNETHY, 2007; CÔTÉ; STRACHAN e FRASER-THOMAS, 2008; LIMA, 2018). Com isso podemos afirmar que a carreira esportiva é um conjunto de atividades em que um sujeito pratica por um período de tempo, buscando o ápice da performance atlética em um ou vários eventos esportivos, incluindo também uma sucessão de estágios e transições que finalizam no momento em que o atleta interrompe sua carreira (STAMBULOVA et al., 2009; STAMBULOVA e WYLLEMAN, 2014; LIMA, 2018). Pautado em um modelo que busca promover a diversificação inicial, onde múltiplas práticas devem ser estimuladas antes do foco no trabalho específico, buscando desenvolver a motivação intrínseca nos praticantes, o que entendemos ser um fator importante para manutenção da longevidade no esporte e que em longo prazo, pode evitar lesões físicas conduzindo ao aumento no nível de apreciação esportiva (CÔTÉ; BAKER e ABERNETHY, 2007; LAW; CÔTÉ e ERICSSON, 2007; CÔTÉ e VIERIMAA, 2014). Neste cenário, o atleta é estimulado a praticar várias modalidades, caracterizando o que podemos denominar como uma carreira esportiva generalizada, mas também poderá ter uma carreira esportiva praticando apenas um esporte, não sendo fator determinante ao processo de especialização precoce, pois a diversificação também pode ocorrer na mesma atividade (CÔTÉ e VIERIMAA, 2014; STAMBULOVA e WYLLEMAN, 2014). Outra perspectiva que podemos denominar de acordo com as etapas competitivas mais elevadas alcançadas pelo atleta, sua carreira poderá ser local, regional, estadual, nacional e internacional, sendo caracterizadas como elite, as carreiras internacionais amadoras ou profissionais (STAMBULOVA et al., 2009; STAMBULOVA e WYLLEMAN, 2014). Compreendendo que cada carreira esportiva é singular (VIEIRA; VIEIRA e KREBS, 1999; 2003), e que esses níveis de sucesso no esporte são resultantes do processo de desenvolvimento ao qual os atletas se envolveram, em que suas características e recursos físicos, psicológicos em interação com o ambiente podem ser (ou não) suficientes para atingir níveis de excelência. Com isso, podemos definir a excelência esportiva na perspectiva de um viés quantitativo, entendendo que atletas excelentes são aqueles que possuem um desempenho 5% acima da população de atletas que participam de competições de alto nível (internacionais) ou obtiveram resultados expressivos ao nível internacional (DEBOIS; LEDON e WYLLEMAN, 2015; LIMA, 2018).

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Sabendo que estudos retrospectivos com atletas e ex-atletas que conquistaram níveis elevados de sucesso esportivo (nível nacional e internacional), demonstram não existir apenas um fator determinante para a obtenção ou manutenção de níveis elevados de rendimento, mas que a interação de diferentes fatores da vida de um atleta como domínios psicológicos, psicossociais, educacionais e atlético, são de extrema relevância (DEBOIS; LEDON e WYLLEMAN, 2015; LIMA, 2018). No entanto, no cenário da natação brasileira e sul- americana possuímos poucas informações em relação ao processo a descrição de desenvolvimento de atletas, sendo fator restritivo as possibilidades para o desenvolvimento de atletas e massificação da modalidade, conforme já citado.

2.1 Contexto da pesquisa: Natação- Histórico, caracterização e cenário da modalidade

Por uma questão de sobrevivência a natação foi utilizada na Antiguidade como uma arma de guerra visto que neste momento da história vencer obstáculos aquáticos muitas vezes determinavam vitórias nas batalhas, sem falar que no período a grande maioria das cidades eram constituídas entorno de fontes de água, pois delas dependiam humanos, animais e plantações, tornando as habilidades aquáticas essenciais para o desenvolvimento destas sociedades (CANCELLA, 2013). Nos dias atuais a natação pode ser vista de forma recreativa, preventiva, desporto e por necessidade, compreendendo que natação desportiva é o foco do referido trabalho, temos a mesma sendo caracterizada como a que a sua prática tem como objetivo o rendimento, a busca por resultados e o desenvolvimento do máximo desempenho. A natação tem capacidade de contribuir sobremaneira com o desenvolvimento das faculdades humanas, se tornando uma importante ferramenta pedagógica. Com isso a atividade tende a facilitar o processo de desenvolvimento dos jovens ao acostumá-los a orientarem sua conduta de acordo com um sistema de regras gerais: estimula a superação de dificuldades, seja guiado pelo espírito competitivo ou pelo desejo de vencer pessoalmente um desafio físico ou intelectual, representando em qualquer idade, uma forma de exercitar e aperfeiçoar as capacidades físicas, psíquicas e intelectuais, além de uma saudável forma recreativa (CORREA e MASSAUD, 1999).

2.2 Histórico de Medalhas da Natação do Brasil em Jogos Olímpicos

A natação no Brasil configura-se como um dos esportes mais tradicionais, onde os primeiros indícios de prática competitiva da modalidade se deram em 1898, quando o Clube de

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Natação e Regatas, do , organizou o primeiro campeonato nacional da modalidade, sendo a competição disputada em mar aberto, tendo as primeiras piscinas surgindo apenas em 1919, período onde a natação começou a expandir-se e passou a ser um dos esportes individuais mais praticados no país. O primeiro destaque na modalidade foi revelado em 1932, quando , naquele momento com 17 anos foi a primeira mulher sul-americana a disputar uma Olimpíada, nadando nos Jogos de Los Angeles, nos Estados Unidos. A atleta que em 1939 quebrou dois recordes mundiais (200 m peito e 400 m peito) e seria a grande possibilidade de medalhas para o Brasil nos Jogos Olímpicos do ano seguinte, competição essa que acabou suspensa por conta da Segunda Guerra Mundial, provocando o que a mesma considera como a maior frustração da sua vida. Com isso, a primeira medalha na principal competição mundial foi conquistada apenas em 1952, nos jogos de Helsinque, na Finlândia, quando Tetsuo Okamoto foi Bronze na prova de 1500 m livre. Apesar de a modalidade ser uma das mais praticadas no país, a nossa história de medalhas Olímpicas se resume a 14, sendo: Tetsuo Okamoto obteve a medalha de Bronze nos 1500 metros livre nos jogos de Helsinque 1952; Manoel dos Santos foi medalhista de Bronze nos 100m nado livre nos Jogos Olímpicos de Roma em 1960; Ricardo Prado, foi Prata nos 400 metros medley em Los Angeles 1984; Gustavo Borges é o brasileiro que mais subiu ao pódio da natação em Jogos Olímpicos, perfazendo um total de 4 medalhas. Prata nos 100 metros livre em Barcelona 1992, em Atlanta Gustavo Borges subiu duas vezes ao pódio, onde conquistou a medalha de Prata nos 200 metros livre e Bronze nos 100 metros livre, em Sidney 2000, participou do revezamento 4×100 metros livre que conquistou o Bronze; Fernando Scherer (Xuxa), medalha de Bronze em Atlanta 1996 e Bronze no revezamento 4x100 Livre em Sidney. César Cielo, único brasileiro campeão olímpico na natação até o momento, onde venceu os 50 metros livre. Além do Ouro, ele tem dois Bronzes; 100 metros livre em Pequim e 50 metros livre em Londres 2012; , Prata em Londres 2012 na prova dos 400 metros medley; Poliana Okimoto foi a única atleta da natação que conquistou uma medalha nas Olimpíadas do Rio em 2016. Além disso, ela também fez história e foi a primeira mulher a conquistar uma medalha olímpica na modalidade. Poliana foi bronze na Maratona Aquática 10 mil metros. Na Olimpíada de 1980 em Moscou, o revezamento brasileiro subiu pela primeira vez ao pódio, o quarteto composto por Marcos Mattioli, Jorge Fernandes, Cyro Delgado e Djan Madruga conquistaram a medalha de Bronze no 4×200 metros livre; em 2000 em Sidney,

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Edvaldo Valério, Carlos Jayme, Gustavo Borges e Fernando Scherer (Xuxa) levaram o Bronze no revezamento 4×100 metros livre.

2.3 Desenvolvimento Motor em Meio Aquático

Um dos fatores mais importantes para o desenvolvimento do indivíduo é a intervenção, saber quando, como e por que intervir, e neste sentido, Gutierrez Filho (2003), relata que o professor deve ter sensibilidade diante das necessidades de cada criança, respeitando sua realidade e assim levando em consideração a importância da qualidade do afeto nas relações corporais para uma melhor comunicação. Outra habilidade do professor em relação à psicomotricidade quando envolve o ambiente aquático é deixar a água atuar e tornar rica as experiências neste meio, pois o mesmo irá exigir mobilidade, curiosidade e experimentação para que manipulem e operem nela deixando ambas se encontrarem em sintonia, possibilitando a descoberta de si, da água e com o contexto no seu entorno. Dourado (2013), diz que estes são pontos muito negligenciados quando falamos de metodologias tradicionais de ensino, pois, segundo o referido autor não deixar a água atuar é impossibilitar o desenvolvimento da criança na sua totalidade corporal, seguindo seu ritmo e sua maneira e não apenas reduzir às ações natatórias. Assim, deve-se proporcionar formas e meios adequados que facilitam e permitem o desenvolvimento, otimizando as potencialidades dentro água, para que esse desenvolvimento ocorra na totalidade.

2.4 Eficiência no Meio Líquido

De acordo com Toussaint e Beek (1992), podemos dizer que o sucesso de um nadador equivale a habilidade do mesmo em gerar propulsão enquanto reduz a resistência ao avanço do seu corpo. Desta forma, com a compreensão dos mecanismos propulsivos temos a possibilidade de melhorar o desempenho na natação, como por exemplo, sabendo como as forças propulsivas são geradas pelo movimento das mãos e como podem ser maximizadas. Para melhor eficiência podemos utilizar alguns modelos a luz dos autores da área: por meio de experimentos físicos (SCHLEIHAUF, 1979; BERGER; GROOT e HOLLANDER, 1995; KUDO; VENNELL e WILSON, 2013). Por simulações numéricas (BIXLER e RIEWALD, 2002; ROUBOA et al., 2006; SATO e HINO, 2013). Por gravações subaquáticas de uma ação propulsiva (SCHLEIHAUF, 1979; BERGER; HOLLANDER e GROOT, 1999; BILINAUSKAITE et al., 2013). Por visualização do escoamento próximo as mãos em gestos

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propulsivos (TOUSSAINT; VAN DEN BERG e BEEK, 2002; KAMATA et al., 2006; MATSUUCHI et al., 2009. Apesar de todo o esforço para Arellano et al. (1992), determinarem as forças propulsivas e os fatores que as afetam, bem como, os mecanismos subjacentes à propulsão na natação ainda não estão bem esclarecidos, pois não há um instrumento que afira a força exata exercida pelo nadador, com isso temos todos os procedimentos de medidas como aproximações, tornando o estudo da propulsão na natação uma das áreas mais complexas de interesse na biomecânica. Entre os fatores que caracterizam uma condição como instável, a aceleração foi o primeiro a ser investigado na natação (PAI e HAY, 1988; BIXLER e SCHLODER, 1996). Com base no efeito da aceleração, Sanders (1999), desenvolveu um modelo para estimar as forças propulsivas que atuam na mão em uma situação real de nado, considerando o efeito de massa adicionada a partir da inclusão da aceleração da mão na direção do seu movimento, entre outras variáveis. Através de filmagens subaquáticas, e conhecendo a área, a velocidade e a aceleração da mão e os coeficientes das forças e definindo a massa específica da água, as forças propulsivas – a força de arrasto e os dois componentes da força de sustentação.

2.5 A Percepção do Nadador

Segundo Marinho (2002), a melhora da técnica constitui um aspecto importante no processo de preparação desportiva, visto que é a qualidade deste desenvolvimento que determinará o nível de rendimento do atleta. Corroborando com esta ideia, Starosta (2006), cita que todos os componentes da preparação motora são decisivos na conquista do sucesso, sendo que o resultado da competição desportiva depende da qualidade de movimentos e a sua precisão.

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Fonte: Adaptado de Starosta (2006). Figura 1: Tipos de preparação ao longo dos anos de treinamento.

É destacado no topo da pirâmide o termo “kinesthetics/ kinesthetics feeling”, que em uma tradução direta apresenta como resultado a palavra cinestesia ou sensação/percepção cinestésica. Wilke (1997), cita:

[...] na natação, esta capacidade diferenciada de sentir a água, interage especialmente com os analisadores táteis das palmas das mãos, além dos membros e do tronco. Pelo aprimoramento da capacidade de sentir a água, pode-se supor que ocorra o descrito por Colazo (2001), do aumento da acuidade perceptiva dos analisadores táctil e cinestésicos.

Sendo este desenvolvimento pelo que vemos na prática, o grande mecanismo que ajuda o nadador a fazer os ajustes necessários para a melhor eficiência na água, pois esta percepção a partir da pressão tátil entrega ao mesmo uma capacidade diferenciada de controle e de feedback de movimento, mesmo sendo aceita a capacidade de sentir a água como fator importante ao desempenho do nadador, situação que vivenciamos na prática de forma convicta, com a utilização dos parâmetros cinemáticos e cinéticos não conseguimos na literatura consultada encontrar estudos que apontassem diretamente a relação destes com a sensibilidade palmar.

2.6 Nado de Peito

O nado de peito pode ter sido a primeira forma que o homem encontrou para nadar, pois se acredita que esta forma de locomoção foi adquirida por meio da imitação do sapo, e como a posição permitia que a cabeça ficasse fora da água, não tinha dificuldades com a respiração. Os

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soldados também utilizavam o nado de peito, mas com o intuito de percorrer grandes distâncias carregando equipamentos pesados nas costas e permanecendo com a cabeça fora d’água, para poder visualizar eventuais inimigos ou obstáculos. Atualmente o nado de peito poder ser definido como: deslocamento humano na água em decúbito ventral, com o movimento simultâneo, simétrico e coordenado das extremidades superiores e inferiores, descrevendo um movimento circular na trajetória superior, e um pontapé na inferior, com um movimento de ascensão e depressão dos ombros e quadris que, coordenado com os membros superiores permite realizar a inspiração (ARELLANO, 1992). Dos estilos competitivos da natação, o nado de peito é o mais lento, devido aos componentes de arrasto e o mais complexo por conta da técnica empregada (OSTROVSKI, et al., 2007). Mccauley (2001), descreve a existência de três estilos distintos de nado de peito: convencional ou plano, ondulado e de onda ou moderno que é atualmente o mais utilizado por nadadores de elite; para a execução do mesmo, são necessárias mudanças no ângulo de lançamento das mãos, na velocidade de execução da pernada e momento da respiração. (MCCAULEY, 2001).

Fonte: Arilson Silva Figura 2: Nado de peito moderno.

A evolução na técnica do nado de peito, as alterações na regra e o uso de trajes tecnológicos permitiram um grande avanço nos tempos obtidos pelos nadadores. Em 1961 o

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russo Leonid Kolesnikov nadou os 100m peito para a marca de 1’11”40, o atual recorde mundial pertence ao sul-africano Cameron van der Burgh com o tempo de 58’’46 obtido no ano de 2012. A evolução do recorde mundial nas diversas provas de natação é um dos exemplos da influência da biomecânica no esporte. O nado de peito não fugiu à regra e apresentou grandes evoluções ao longo da história, que também se relaciona com os resultados do atleta em questão.

Quadro 1: Evolução dos recordes mundiais nos 50,100 e 200m peito masculino

Quadro 2: Evolução dos melhores tempos pessoais nos 50m e 100m peito do atleta Felipe Lima (de 2002 a 2018).

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2.7 Formação de Talentos e Carreira Esportiva Na Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano de Bronfrenbrenner (1997), os autores ressaltam que, o ambiente ecológico de desenvolvimento humano não é único e imediato, mas composto de um conjunto de estruturas encaixadas que interferem mutuamente entre si e afetam conjuntamente o desenvolvimento da pessoa, denominadas em cinco sistemas interligados, conforme segue:

I) O microssistema é formado pelos grupos que têm contato direto com o sujeito, como família e escola, numa evidente relação de mão-dupla: por exemplo, as crenças dos pais afetam diretamente a forma como a criança será, assim como, ela também é capaz de modificar as perspectivas de seus familiares, assim como, também, acontece com a escola e os demais grupos do microssistema; II) O Mesos sistema é formado pelas relações existentes entre os elementos do primeiro nível, como por exemplo, o impacto da relação dos pais com os treinadores do filho e educadores em geral; III) O Exossistema, está relacionado com os elementos que afetam, por meios indiretos, a vida da criança e influenciam no desenvolvimento dela, nesse caso, os locais/profissão onde os membros da família trabalham, pois afeta o sistema de crenças, o tempo livre ou o bem ou mal-estar dos cuidadores/pais/mães; IV) o Macrossistema é formado pela cultura em que a pessoa está imersa, ainda que influenciem indireta ou inconscientemente, modificando os demais grupos que afetam a vida da pessoa numa retroalimentação, num círculo em crescente espiral, V) o Cronossistema, relacionado ao momento da vida em relação às situações que está vivendo, que a leva a interpretá-las de forma diferente que seria em outros determinados momentos. Assim, para os autores, desenvolvimento é “o processo que se refere à estabilidade e mudanças nas características biopsicológicas dos seres humanos durante o curso de suas vidas e através de gerações” (BRONFENBRENNER e MORRIS, 1998, p. 995).

Nesta mesma perspectiva é interessante trazer a definição de ser humano, concepção que levamos em consideração neste estudo:

[...] um ser biológico e psicológico, que interage constantemente com seu contexto e é produto deste processo de interação. Ou seja, o desenvolvimento humano ocorre através de ampliações e aproximações entre a pessoa e os diversos elementos do contexto que se influenciam mutuamente de forma não linear e dinâmica, alterando- se qualitativamente ao longo do tempo -(BRONFENBRENNER, 1997, p.161).

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Fonte: Google imagens (2020) Figura 3: Diagrama de Bronfenbrenner.

Considerando que as pesquisas no âmbito da formação de talentos esportivos têm evoluído de forma substancial nos últimos vinte anos, e anteriormente, o foco era a busca/identificação de talentos, atualmente enfatiza-se o desenvolvimento atlético.

Neste estudo trabalharemos com dois modelos distintos: a) Sistema de identificação precoce de talentos, mais usado no Brasil; b) Modelo centrado no desenvolvimento atlético generalizado, que é atualmente uma tendência mundial (SILVA, 2010). Neste âmbito entendemos que o atleta Felipe Lima se enquadra no primeiro modelo, conforme discorreremos no trabalho, o que é justificado pelo contexto sócio-histórico do país, o que vem corroborar com a teoria bioecológica (BRONFENBRENNER, 1997). O sistema de identificação está pautado na noção de que se tem uma grande margem no talento inato e utiliza-se da avaliação de pré- requisitos para identificar uma provável obtenção de excelência esportiva. A abordagem de desenvolvimento foca na aquisição de habilidades motoras e psicológicas, situação essa que prioriza a quantidade e a qualidade do processo de formação, necessárias para se alcançar o alto nível de desempenho (HENRIKSEN, 2010).

Considerando-se que, segundo Marques (1991), o processo de identificação de atletas tem a sua eficiência e eficácia pautada em uma base alargada de recrutamento e com essa identificação ocorrendo no tempo certo, para se avançar nesse contexto, entende-se que, somente a partir da introdução em programas de formação, crianças e adolescentes são classificados como atletas em desenvolvimento, o que lhes devem proporcionar experimentar uma série de procedimentos de treinamentos com o potencial de conduzi-los a um processo de formação esportiva de longo prazo (FERREIRA; MARKUNAS e NASCIMENTO, 2005).

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Ao se trabalhar a abordagem de desenvolvimento de talentos esportivos é necessário enfatizar a aquisição de habilidades motoras e psicológicas, para uma melhor estabilidade emocional, e nas experiências sociais, as quais foram expostas pelos participantes do presente trabalho e serão apresentadas abaixo. Destaca-se que para se alcançar um desempenho desejado a quantidade e qualidade do treinamento precisam ser bem dosadas (medidas técnicas, pedagógicas, científicas, tecnológicas, sociais) para que se possa alcançar um desempenho desejável (SILVA; MARQUES e COSTA, 2009; HENRIKSEN, 2010).

E ao se levar em conta estas afirmações, um dos principais balizadores de um processo eficiente é a participação de treinadores capacitados, de experiências de participações em competições em níveis cada vez mais elevados e também de condições sociais adequadas que forneçam, de forma gradativa, os sucessos competitivos almejados (BÖHME, 2004, 2007). Ao se considerar todos estes fatores, nos aproximamos do modelo proposto por Bronfenbrenner, ou seja, um processo de desenvolvimento esportivo baseado fortemente a um processo de treinamento de longo prazo, levando em consideração tudo que permeia a vida do atleta e que permitiria futuramente a formação das novas gerações de atletas (BÖHME, 2007).

Quando se visa à identificação de talentos, os aspectos descritos pelos atletas que chamam a atenção de treinadores e dirigentes são os fatores físicos (velocidade, agilidade, coordenação, força, impulsão, potência aeróbia, flexibilidade e equilíbrio); psicológicos (motivação, disciplina, concentração, humildade, honestidade, controle emocional e da ansiedade, capacidade de trabalho e sacrifício, capacidade de aprendizagem, autoeficácia e autoconfiança); antropométricos (massa corporal e percentual de gordura, estatura e envergadura); técnicos (recepção, passe, drible, finalização, finta, domínio de marcação, estilos); e táticos (inteligência e leitura de jogo, tomada de decisão, habilidade perceptiva) (SÁENZ-LOPES et al., 2005; GULBIN et al., 2010; HENRIKSEN; STAMBULOVA e ROESSLER, 2011; MASSUÇA e FRAGOSO, 2010; CAVICHIOLLI et al., 2011). Os que menos são encontrados na literatura são os fatores psicossociais, tais como coletividade, comunicação, respeito, liderança e relacionamentos interpessoais, segundo Sáenz-Lopes et al. (2005). Fato este que foi diversas vezes relatado pelos entrevistados e sempre taxado como de extrema importância para o atleta Felipe Lima, sujeito principal do presente estudo.

No sentido contrário, há alguns aspectos negativos e que podem acabar atrapalhando a seleção de atletas para o cenário esportivo, alguns fatores antropométricos (acima do peso); físicos (lentidão); psicológicos (falta de empenho, ansiedade em competição); e táticos (ausência de noção de jogo coletivo) (CAVICHIOLLI et al., 2011).

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Portanto, quando uma apreciação geral é realizada nas transições vivenciadas pelos atletas fica evidente que, ao mesmo tempo eles passam por transformações no âmbito esportivo, os mesmos também experienciam situações nas demais esferas da vida (psicossocial, acadêmico-profissional), sendo que as mesmas acabam afetando o desenvolvimento de sua carreira esportiva. Em ambos os casos, os atletas e seus treinadores têm a necessidade de contar com recursos e estratégias nos âmbitos pessoais e interpessoais para que consigam superar os obstáculos encontrados.

2.8 Metodologia da História Oral de Vida e Narrativas Autobiográficas

Relativamente a opção pelo método de pesquisa da História Oral de Vida foi devido ao mesmo estar chamado a atenção de estudiosos imbuídos em compreender a sociedade e seus efeitos mais íntimos, pessoais e intransferíveis; e neste sentido tem ocupado o primeiro lugar do gênero; bastante desenvolvida na culturas anglo-saxônicas, as histórias de vidas se mostraram relacionadas a popularidade das biografias também comuns naqueles círculos e tem como expoente o estudioso Thompson (1992; 2000). Para os historiadores orais não bastam abordagens aleatórias para a escolha daqueles que serão escutados, pois isso enfraquece sobremaneira as conclusões que se pode tirar das entrevistas (THOMPSON, 2000). Em toda investigação é necessário dar atenção especial à formulação de estratégias apropriadas de amostragem e por este motivo a presente pesquisa teve como entrevistados três dos nove treinadores que foram ligados ao atleta Felipe Lima durante sua trajetória até o presente, incluindo o próprio pesquisador/autor do presente estudo. Profissionalmente, as pessoas de uma mesma profissão percebem partes de sua história nas histórias das outras (THOMPSON, 2000); e este foi o fio condutor e o motivo de termos escolhido a entrevista coletiva - grupo focal - como um dos instrumentos, complementado as entrevistas individuais, ou autonarrativas. Segundo esta linha de investigação, quando compartilhamos nossas histórias com os outros celebramos nosso lado mais humano oferecendo nossa história como uma dádiva. A História Oral, ao se submeter a esse campo dialógico, faz da escuta empática um dos seus procedimentos mais valiosos, “lança a vida para dentro da própria história e isso alarga seu campo de ação” (THOMPSON, 1992). Thompson (2000), contribui muito quando diz que aprender a ouvir é uma habilidade humana fundamental: a história oral está aí para nos ajudar a compreender melhor nosso

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passado e para criar memórias muito mais ricas, mas também para possibilitar a construção de um futuro mais fraterno, democrático e participativo. Graças à influência da corrente britânica liderada por Paul Thompson (1992; 2000), a história oral de vida tem se colocado como uma tendência fortíssima no Brasil, reconhecendo que todo ser humano tem uma história de vida para contar e que é importante para pesquisadores debruçarem-se sobre ela, quando a mesma tem conotação de interesse histórico e social. Os dados coletados são fundamentais para o estabelecimento de datas, lugares, sujeitos e nomes, cujas pistas levam à memória e identidades que está sendo buscada. Já que a pesquisa narrativa, segundo Clandinin e Connelly (2011), o texto de pesquisa é uma composição que tem como centro pessoas, lugares e coisas, que estão em constante processo de transformação, portanto, não são estáticos. Ainda na perspectiva das opções metodológicas presentes, outro ponto fundamental é que o reconhecimento da possibilidade de ver a si próprio como um elemento importante da pesquisa requer inevitavelmente uma reflexão profunda. Para Clandinin e Connely (2011), a narrativa autobiográfica possui uma proposta de formação que possibilita ao sujeito a tomada de consciência de si e de suas aprendizagens nas experiências de vida, alçando-o a uma postura crítica e autorreflexiva diante de si, de sua trajetória e de seu desempenho; ao agir de forma autônoma cria-se a possibilidade de construir um conjunto de conhecimento em ação, de reflexões em ação e de reflexões sobre a construção de significados dessa ação (CLANDININ e CONNELY, 2011). No que se refere a escolha da entrevista coletiva – grupo focal, a obra utilizada como referência foi escrita por Gatti (2005), e enfatiza sobre a técnica e o trabalho com grupo focal serem muito utilizados nas abordagens qualitativas em pesquisas sociais. O grupo focal, como instrumento de coleta de dados, tanto pode ser utilizado como única técnica de pesquisa, bem como também há casos em que é utilizado como uma técnica exploratória, não sendo a principal técnica de coleta de dados tanto na etapa inicial conquanto na etapa final da pesquisa, que foi o que ocorreu no presente estudo. Podendo ainda utilizar-se deste para suporte e apoio a outras técnicas e instrumentos de investigação, como a exemplo da observação. A importância dessa técnica, ainda que muito flexível, não é diminuída, pois, ao permitir que o pesquisador compreenda as práticas cotidianas, vivências e a realidade de grupos sociais, suas atitudes e comportamentos prevalentes compartilhados em comum no trabalho, são fundamentais para o estudo e investigação do problema proposto. Contudo, a aplicação da técnica, deve-se desenvolver de forma coerente e criteriosa alinhada aos objetivos da pesquisa.

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Gatti (2005), ressalta ainda que a técnica caracteriza-se derivando de trabalhos em grupo desenvolvidas na Psicologia Social sendo amplamente utilizada. Para Powell e Single (1996, p. 449), o grupo focal é “Um conjunto de pessoas selecionadas e reunidas por pesquisadores para discutir e comentar um tema, que é o objeto de pesquisa, a partir de sua experiência pessoal”. Há ainda, a necessidade de alguns critérios necessários para a realização do trabalho de acordo com o problema em estudo, uma vez que os participantes podem apresentar características em comum e vivências pertinentes ao tema discutido, por exemplo. Declara ainda que, o grupo focal como instrumento de levantamento de dados para investigação em Ciências Sociais, é uma boa técnica, sobretudo, utilizando-se de forma criteriosa e coerente com os objetivos do estudo. Fica evidente na obra que, no grupo focal o respeito ao princípio da não diretividade é fundamental, onde a condução da comunicação ou discussão pelo moderador deve-se dar sem interferências indevidas, evitando opiniões ou conclusões particulares, fazendo-se fluir a discussão entre os participantes. O moderador deve ter a consciência de que não está realizando uma entrevista, mas sim criando condições para que os participantes atuem efetivamente nas discussões, pois existe o interesse nos pensamentos e expressões e por que pensam dessa ou daquela forma. Morgan e Krueger (1993), apontam que o objetivo dessa técnica de pesquisa é entender, nas trocas de discussões no grupo, os conceitos, os sentimentos bem como atitudes, reações etc.; de forma específica como não seria viável o entendimento utilizando-se outras técnicas como entrevistas, questionário ou mesmo a observação. A compreensão por meio do trabalho do grupo focal de contraposições, contradições, diferenças e divergências é assertiva. Essa técnica de pesquisa permite alcançar diferentes perspectivas da uma mesma questão, permite ainda construir a concepção de realidade de diferentes grupos sociais, compreender práticas cotidianas, comportamentos e atitudes prevalentes comuns entre sujeitos relevantes para o problema em questão. O foco no assunto é muito importante para que os participantes do grupo focal se sintam em um clima aberto e confiante para exposição de opiniões, devendo ser proporcionado pelo moderador. O trabalho com grupos focais se constitui e se desenvolve em função do problema de pesquisa, desta forma, o pesquisador precisa ter claro o problema de pesquisa, bem como as questões a serem discutidas em grupo, organizando um roteiro preliminar para os encontros, com o assunto muito bem estudado e, cuidando para flexibilizar dando condições de estímulos as discussões tendo sempre em vista os objetivos da pesquisa. Sendo assim, não devendo os participantes obter informações detalhadas sobre o objeto de pesquisa, para que possa vir para o grupo sem informações pré-formadas (GATTI, 2005).

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A autora salienta ainda que na escolha e composição dos participantes, o pesquisador precisa ter em foco primeiramente o objetivo do estudo. Sendo assim, características homogêneas são importantes para o grupo, mas, para que as discussões possam ter divergências ou diferenças, suportar variações suficientes para tal situações. Tais características comuns podem ser, por exemplo, gênero, idade, condições socioeconômicas, escolaridade, etc.; no que tange as variações, devem considerar o problema da pesquisa, o referencial teórico e a finalidade da pesquisa (GATTI, 2005). No presente estudo foram elencados três treinadores dentre os 9 que passaram pela formação do Felipe Lima, o atleta em foco, cujo critério adotado para a formação do grupo será explicitado a seguir.

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3 METODOLOGIA

Utilizada neste estudo, as pesquisas narrativas são uma importante opção metodológica, conforme já mencionado, pois elas oportunizam ao pesquisador compreender o processo e o percurso de formação do sujeito e favorece a colocação desse sujeito em lugar de destaque, tornando-o um ator principal com autonomia nas questões relacionadas às suas aprendizagens (MONTEIRO, 2015). As entrevistas narrativas ocorreram em agosto de 2020 e por conta de estarmos sob uma pandemia mundial, tiveram que ocorrer de forma virtual por meio de aplicativos como Zoom e WhatsApp Web. Para coleta de dados foram utilizadas entrevistas semiestruturadas, sendo o roteiro elaborado a partir do modelo de Desenvolvimento da Participação Esportiva (CÔTÉ; BAKER e ABERNETHY, 2007) e do quadro de desenvolvimento de valores no esporte; com dois modelos distintos: um para o atleta e outro para os treinadores. Também foi realizado um grupo focal com a presença dos três treinadores e da moderadora. Para as análises dos registros das narrativas das histórias orais, levou-se em consideração a compreensão dos elementos existentes no processo de experiência e formação profissional, propondo o questionamento referente aos elementos (formação esportiva, elementos da carreira, relações sociais, caminhos percorridos...) que é a problematização deste estudo.

3.1 Participantes

Participou desse estudo Felipe Lima que é um atleta da Seleção Brasileira de Natação do sexo masculino, multimedalhista em competições internacionais e vice-campeão mundial no ano de 2019 (Campeonato Mundial Gwangju- Coréia 2019) com idade de 35 anos, nascido na cidade de Cuiabá, Mato Grosso. Para a definição dos três treinadores dentre os 9 que fizeram parte da carreira do atleta Felipe até o presente momento (2020), foram priorizados os seguintes critérios dentre aqueles que trabalharam por mais tempo com o mesmo: o treinador que trabalhou com o atleta no início do desenvolvimento e acompanhou as suas primeiras competições dos 12 aos 16 anos (Alexandre Soledade); o treinador que trabalhou com o mesmo por mais tempo dos 20 anos aos 26 (Jefferson Carvalho Neves) e ainda acompanha algumas ações e processos de treino atuais e um treinador que o acompanhou no exterior dos 26 aos 30 anos (Alexandre Pussieldi) e também continua acompanhando alguns processos de desenvolvimento atuais do atleta.

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3.2 Procedimentos/Instrumentos

Primeiramente foi realizado um contato prévio com os sujeitos de pesquisa, via telefone, explicando os procedimentos e os objetivos da mesma. Na medida em que obtivemos respostas, o cronograma de produção dos dados foi sendo organizado. No total, foram realizadas quatro entrevistas (roteiro semiestruturado em apêndice 1), sendo uma com o atleta e uma com cada treinador, das quais duas ocorreram via WhatsApp, uma via aplicativo Meet e uma presencialmente. Como estamos vivenciando uma pandemia, a entrevista por meio destas ferramentas foram a alternativa para adequação e realização do estudo. De acordo com o Código de Ética em pesquisa, o atleta e treinadores que consentiram em participar da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE; cujo parecer consubstanciado de aprovação da pesquisa consta sob o número 4.396.335. As entrevistas foram gravadas, sendo três por mensagens de texto e uma por vídeo, ocorrendo transcrições posteriores transformadas nas narrativas a seguir, sendo que procedimentos similares ocorreram com o grupo focal com os três treinadores, cujas perguntas eram de natureza distinta da entrevista individual (roteiro semiestruturado em apêndice 1).

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Desde muito cedo frequentando projetos esportivos, o cuiabano Felipe Lima construiu durante mais de 20 anos de prática, uma sólida carreira esportiva. Recheada de desafios e títulos, competindo até os dias atuais, ano de 2020 (aos 35 anos de idade) em altíssimo nível, o mesmo se tornou neste período uma das referências mundiais em suas provas, estando nas duas principais, entre as 5 melhores performances de todos os tempos.

4.1 Trajetória Esportiva do Atleta Felipe Lima

Felipe Ferreira Lima, nascido em Cuiabá Mato Grosso em 5 de abril de 1985, é nadador profissional especialista no nado peito, sendo um dos melhores do mundo na atualidade, tendo várias medalhas em Mundiais de Piscina Longa e Curta e a participação nos Jogos Olímpicos de Londres em 2012, onde ficou na semifinal na décima terceira colocação.

Esportista desde os oito anos, onde praticava modalidades como ginástica artística, karatê, futsal e futebol. Morava próximo a Universidade Federal de Mato Grosso que mantinha naquela época a escolinha de natação Uirapuru e lá, aos 12 anos, começou a praticar natação, por recomendação médica, devido ao seu crescimento acelerado.

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Comecei a dar algumas braçadas dentro do condomínio, brincava mais de coisa de criança. Nessa fase quando criança nas aulas de Educação Física na escola era basicamente jogar bola. Infelizmente o que é passado ainda hoje em dia nas escolas é o professor que joga aquela bola na quadra e assim foi até a quinta série. Depois mudei para uma escola cooperativa que tinha uma visão um pouco melhor, eles até planejavam fazer campeonatos de diversos esportes para ocorrer alternância, é claro que todo mundo gostava mais do futsal que já tinha quadra lá, mas eles também davam aquela iniciação ao basquete, ao handebol e voleibol, é claro, muito pouco, mas eles tentavam passar. Eu acho que o esporte dentro da escola já traz aquela chama, já acende essa chama dentro da criança pelo esporte, pela prática esportiva e pela competição. Lembro de participar das Olimpíadas escolares, aquele nervosismo, o friozinho dentro da barriga que eu tenho hoje em Provas e competições são os mesmos. Os jogos vão ser decisivos dentro das olimpíadas na escola e quando eu fiquei mais velho isso se aflorou ainda mais... quando eu fui estudar em um outro colégio maior depois da minha quinta série eu estava com meus 12/13 anos, já tinha iniciado a nadar, mas ainda participava dessas atividades escolares que era as Olimpíadas escolares. Fiz minha sexta série no Salesiano Santo Antônio, depois fui para o São Gonçalo, lá as Olimpíadas escolares é uma coisa bem grande, é importante que as crianças fantasiam bastante, essa é uma atividade que se empolga bastante a criançada, eu lembro que as salas tinham camisetas para jogar, patrocinador, com isso eu acho que incentiva bastante a prática.

Felipe Lima- 2005 Felipe Lima- 1989 Felipe, o pai Hélio Lima e a Irmã Livia Fonte: Acervo Hélio Lima Imagem 1, 2 e 3: Iniciação à natação.

Aos 15 anos, participou do primeiro campeonato brasileiro, quando ganhou sua primeira prova dos 100 metros nado peito e após este episódio recebeu o convite de ser membro da equipe do botafogo do RJ, onde ficou por aquela temporada, se mudando logo no ano seguinte para o Esporte Clube Pinheiros. Comecei a ir para o campeonato Centro-Oeste com 14 anos e fui medalhista e com 15 anos, fui para o meu primeiro campeonato

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brasileiro, lembro que meu técnico disse: “só vou te levar para um Campeonato Brasileiro quando você tiver chance de ser medalhista”. Não sei qual que era a ideia dele, mas ele falou, não vou te levar para Campeonato Brasileiro a não ser que você tenha a chance de ganhar medalha, daí eu falei, está bom então. A partir do momento que começou a ficar mais sério, lembro que nos meus 16 anos, fui para o Rio de Janeiro, para o Clube Botafogo, com dois meses no máximo, entrei na Seleção Brasileira absoluta. Os atletas que faziam final B nos campeonatos absolutos poderiam ir pagando para a etapa da Copa do Mundo no Brasil. Foi até quando eu participei da minha primeira etapa de copa do mundo que foi no Rio, daí com meus 17 anos eu entrei para o Esporte Clube Pinheiros, a partir daí não parei mais, virei profissional.

Felipe Lima e Jefferson Neves- 2006 Thiago P, Monick P, Rebeca G. e Felipe Lima- 2004/2006 Fonte: Acervo do Autor/Satiro Sodré-CBDA Imagem 4, 5 e 6: Acervo do Autor: Satiro Sodré-CBDA.

Participou do Campeonato Mundial de Natação em Piscina Curta em 2006, onde ficou em 12º nos 50 metros peito e 17º nos 100 metros peito. Bateu o seu primeiro recorde sul- americano de piscina Olímpica no revezamento 4x100 metros medley com a marca de: 3m39s30, marca essa obtida em 9 de setembro de 2006, junto com Leonardo Guedes, e César Cielo. Também bateu o recorde sul-americano dos 100 metros peito com 1m01s56, em 10 de setembro de 2006. Ele é o primeiro mato-grossense recordista sul- americano na natação. Em 16 de dezembro de 2006, melhorou seu recorde dos 100 metros peito para 1m01m52.

No Campeonato Mundial de Esportes Aquáticos de 2007, ficou em 24º nos 50 metros peito e 30º nos 100 metros peito. Participou também neste ano na Universidade de Bangcoc em 2007, na Tailândia, e ganhou a medalha de Prata nos 50 metros peito, batendo o recorde sul- americano da prova com a marca de 27s94. Aos 16 anos já participava de competições em que podemos chamar de esporte de elite, foi essa transição, nessa transição aí, onde saímos do Júnior e entramos no absoluto, onde já se começa uma grande pressão né Jefferson, porque até os nossos brasileiros de categoria agente tem

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aquela certa estabilidade, pois sempre estamos competindo com pessoas somente da mesma idade, e a partir dos 19 anos é mar aberto, então não tem mais essa questão de categoria, tinha três competições durante o ano. Se eu tivesse a mentalidade que eu tenho hoje no passado, mas podemos trabalhar para que o seja um futuro melhor. Acredito que o atleta deva trabalhar sempre com grandes objetivos, conjuntamente é claro vencendo os pequenos objetivos. Mas a partir do momento que eu volto para Cuiabá e que a gente começa a treinar junto aí eu tenho uma certa renovação vamos dizer assim. Neste período nós começamos a treinar um pouco mais voltado para a especialidade das minhas provas, com isso eu acho que da mesma forma que eu fiquei empolgado você como treinador também ficou empolgado, então acho que essa conexão foi muito boa, tivemos também aquele trabalho feito com o Dito lá na academia, trabalhos voltados especificamente para o meu nado, então foi sonho, foi um período muito bom de 2006 a 2009, fizemos um trabalho muito, muito bacana em Cuiabá. Neste período eu começo a ter resultados bem expressivos, assim depois de um tempo estagnado em alguns resultados a gente volta a ter resultados expressivos, chegamos a bater recorde sul-americano de revezamento, recordes sul americanos absolutos de 50 e 100 e a gente bateu o recorde sul-americano desbancando atletas de grande nome como , , e é claro passando por decepções também que fazem parte da carreira do atleta.

Felipe Lima, Fernando Scherer e Jefferson Neves Felipe Lima Fonte: Acervo do Autor/Satiro Sodré-CBDA Imagem 7 e 8: Seleção no Pan 2007 e Conquista do Índice Olímpico 2008.

Em 2008, Felipe Lima obteve índice para os Jogos Olímpicos em Pequim, na prova dos 100 metros peito, com o tempo de 1m01s21, porém não obteve a vaga pois ficou em 3º lugar na seletiva brasileira, e somente dois nadadores por país podem ir às Olimpíadas. Henrique Barbosa com 1m00s79, e Felipe França com 1m01s17, foram os nadadores selecionados. A nossa grande decepção foi 2008 na seletiva olímpica que a gente ficou de fora por três centésimos, mas são coisas que acontecem na carreira de um atleta. É claro que a gente não tinha toda estrutura

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necessária nessa época, eu acho que a gente trabalhou com tudo que tínhamos, eu me lembro que nessa seletiva nós conseguimos uma roupa (Traje tecnológico) de última hora para nadar a final. Isso foi coisa de doido, e pensando hoje, não parece ter sido uma boa ideia, pois não chegamos a treinar com o traje, chegamos lá no desespero mesmo porque tínhamos ficado de fora. Até acredito que falamos assim: vamos atrás de qualquer coisa que possa ajudar, mas pensando hoje, acredito que seria até melhor eu não ter nadado com a roupa, pois com a que estava antes, estava mais acostumado. Outra decepção que me lembro também foi em nossa preparação para o Pan de 2007 onde começamos a temporada em João Pessoa onde ficamos um mês lá em janeiro e depois no meio do ano a gente foi de novo. Depois de conseguir a vaga fomos pra Europa e em Barcelona tivemos que andar muito, subindo morros para encontrar piscina para treinar, daí apareceu aquela lesão, que acredito que serviu de aprendizado- Felipe Lima.

Depois desta imensa decepção o atleta passou o restante da temporada 2008 e todas as temporadas de 2009 e 2010 sem conseguir melhorar as suas marcas e nem resultados expressivos internacionalmente, mas em 2011 conseguiu a vaga para participar do Campeonato Mundial de Esportes Aquáticos, onde ficou em 24º nos 100 metros peito. E nos Jogos Pan- Americanos de 2011, Felipe Lima ganhou a medalha de Prata na prova dos 100 metros peito e medalha de ouro no revezamento 4x100 metros medley, por ter participado das eliminatórias. Eu me formei em Educação física licenciatura em novembro de 2009, com isso antes deste período eu não conseguia fazer as dobras com regularidade em Cuiabá, também por você trabalhar em outros lugares isso era muito difícil, mas de uma certa forma nós conseguimos treinar algumas vezes por semana de manhã e à tarde, por isso foi bem difícil para mim. Eu me lembro que tive que pedir arrego algumas vezes para o coach Alex devido essa questão de adaptação. Nesta mudança eles quiseram trabalhar comigo no começo a resistência do final de prova, então eles colocaram nos meus planos que eu tinha que estar trabalhando praticamente para prova de 200. Com isso treinávamos bastante ritmo e esse foi bem duro para mim, duro e sacrificante, mas deu bons resultados. Foi um aprendizado muito grande, hoje eu vejo como uma evolução de vida, de carreira profissional e a evolução de Cultura, foi uma opção que eu escolhi para abrir bastante portas. Conheci muita gente, aprendi novas línguas, hoje eu também sou cidadão americano, uma coisa que consegui batalhando muito, isso foi muito bacana, uma evolução muito grande que eu olho para trás hoje e vejo que valeu bastante a pena também com seu incentivo, Jefferson, com incentivo das pessoas que estavam lá, acredito que foi uma das coisas mais importantes que fiz. Mas o bom é que isso aconteceu em doses homeopáticas, isso foi muito bom, pois fui conhecendo o ambiente, conhecendo o pessoal.

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Como uma participação Olímpica, fato que ocorreu nos Jogos Olímpicos de 2012 em Londres, onde foi à semifinal dos 100 metros peito, terminando em 13º lugar. No Campeonato Mundial de Natação em Piscina Curta de 2012 obteve seu melhor resultado em mundiais até então, indo a três finais: nos 50 metros peito, terminou em sexto lugar, nos 100 metros peito, ficou em oitavo e nos 4x100m medley terminou na quarta posição. No Campeonato Mundial de Esportes Aquáticos de 2013, em Barcelona, Felipe Lima classificou-se para a final dos 100 metros peito em quinto lugar, com um tempo de 59s84, quebrando pela primeira vez a barreira do um minuto. Na final, superou-se novamente, chegando a sua melhor marca pessoal até então, 59s65, conquistando uma medalha de Bronze histórica para o Brasil. Foi a primeira vez na história que um brasileiro ganhou uma medalha nos 100 metros peito no Campeonato Mundial. Nos 50m peito, quase foi para outra final, mas fez um tempo mais fraco nas semifinais do que ele obteve nas eliminatórias, e terminou em 9º lugar. Com isso essas pessoas iam me passando confiança e mostrando os resultados, apesar de eles não terem nadadores tão renomados, eu sabia que poderia encontrar competitividade e estrutura muito forte ali. E acertei, pois, com eles consegui vaga para o meu segundo Pan- americano, daí 2012 veio carimbar a nossa vaga para Olimpíada em Londres e em 2013 ser medalhista campeonato mundial de piscina Longa em prova Olímpica, fato que até hoje me faz o único medalhista de peito em prova Olímpica em piscina longa.

Ao participar dos Jogos Sul-Americanos de 2014 ganhou duas medalhas de Ouro: nos 100 metros peito e 4x100 metros medley. Nos Jogos Pan-Americanos de 2015 de no Canadá, Felipe conquistou a medalha de Ouro no revezamento 4×100 metros medley, por participar das eliminatórias da prova. Antes, ele já havia ganho uma medalha de Prata nos 100 metros peito, repetindo assim os resultados de 4 anos antes em no México. No Campeonato Mundial de Esportes Aquáticos de 2015, Felipe terminou em nono lugar no revezamento 4x100 metros medley misto, décimo nos 4x100 metros medley, 12º nos 50 metros peito e 13º nos 100 metros peito. Felipe participou no ano seguinte do Campeonato Mundial de Natação em Piscina Curta, em Windsor, no Canadá, neste Felipe conquistou uma medalha de Prata no revezamento 4x50 medley, nos 50 metros peito também Prata com o tempo de 25s98, e também terminou em 10º nos 100m peito. Na temporada 2017 o mesmo participou do Campeonato Mundial em Budapeste na Hungria terminando em 4º lugar nos 50m peito e 10º nos 100 metros peito, integrando também o revezamento 4×100 metros medley do Brasil a ir às finais, nadando as eliminatórias.

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Em 2018 participou do Campeonato Mundial de Natação em Piscina Curta, em , , onde conquistou o Bronze nos 50m peito, e também no revezamento 4x50m medley do Brasil, onde nadou junto com , César Cielo e . O mesmo também participou do revezamento 4x100m medley onde terminou em 4º lugar no e também conquistou a 12º nos 100m peito. Em junho de 2019, no Mare Nostrum, etapa de Monte Carlo, já com 34 anos, bateu o recorde das 3 Américas na prova dos 50m peito, com a marca de 26s33. E mais recentemente no Campeonato Mundial de Esportes Aquáticos de 2019, em Gwangju, na Coréia do Sul, o mesmo conquistou a medalha de Prata nos 50 metros peito, ficando atrás apenas do britânico , detentor do recorde mundial dos 50 e 100m peito. Essa prova tem a curiosidade, pois foi a primeira vez que o Brasil conseguiu duas medalhas na mesma prova em um Campeonato Mundial: João Gomes Júnior ficou com o Bronze. Ele também terminou em 18º nos 100m peito.

Felipe Lima na Semi- final olímpica de Londres- 2012 Felipe, o Inglês Adam Peaty e João Luiz Jr.- Mundial de 2019 Fonte: Google imagens Imagem 9 e 10: Semifinal Olímpica 2012 e Vice-campeonato Mundial 2019.

Nos Jogos Pan-Americanos de 2019, realizados em Lima, Peru, ele ganhou uma medalha de Prata nos 4 × 100 m medley, por participar das eliminatórias da prova. Ele também terminou em 4º nos 100m peito. Além de todas estas conquistas internacionais ainda temos mais de 30 medalhas em copas do mundo de natação onde Felipe apenas na temporada de 2016 conquistou 18 delas, tem também muitas medalhas de Grand prix, circuitos, campeonatos sul americanos. A Figura 4 mostra a linha histórica dos eventos de relevância na formação do atleta Felipe Lima:

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Fonte: Elaborado pelo autor Figura 4: Linha histórica dos eventos de relevância na formação esportiva do atleta Felipe Lima.

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4.2 Narrativas dos Treinadores Acerca do Atleta Felipe Lima (Grupo Focal)

Em relação à práxis dos treinadores, é possível constatar que no processo de educação, muitas vezes é imperioso nos posicionarmos como treinadores, e que muitas vezes devido às obrigações que os pais têm durante o dia acaba-se por não experimentar o cotidiano próximo, corriqueiro, puro e simples com os filhos. E é justamente esse convívio, a presença e participação do treinador na formação do caráter desses sujeitos que seria fundamental e imprescindível até, para uma boa formação. Com isso os mesmos citam a insubstituível presença da família/cuidadores e o seu importantíssimo papel em direção ao desenvolvimento de um ser que em breve viverá em sociedade de forma autônoma, razão pela qual torna-se valioso esse momento de interação (CÔTÉ; TURNNIDGE e VIERIMAA, 2016).

A iniciação à natação do Felipe aconteceu entre seis e treze anos, fato que não impediu que o futuro atleta participasse de outras modalidades, participação essa em atividades diversificadas que compreendeu o período médio de 48 meses, sendo que as poucas competições nos casos destas outras modalidades foram em nível escolar e regional; todavia para competições federadas, o mesmo iniciou sua participação aos 12 anos, fato este que coaduna com a literatura pesquisada, tanto no que diz respeito ao momento de prática quanto à diversidade das modalidades no referido período (CÔTÉ; BAKER e ABERNETHY, 2007; LAW; CÔTÉ e ERICSSON, 2007; CÔTÉ e VIERIMAA, 2014). O atleta em questão, passou sua infância em uma capital, crescendo em ambientes urbanizados, e mesmo assim, isso não o impediu de ser uma criança ativa, participando de diversas atividades motoras e frequentando vários projetos de outras modalidades antes de definir a natação como alvo, fase essa que foi lembrada com muita alegria e satisfação pelo mesmo,

Eu passei por diversos esportes antes de começar a natação, como: Futebol, futsal, ginástica artística, artes marciais etc. a natação foi a minha parada final no esporte, onde eu encontrei o que eu realmente gostava. Um esporte que me abriu diversas portas, conhecimentos e que me fez conhecer muitas pessoas que eu levo para a vida.

Fato este bem comentando pelos treinadores, onde o Alexandre Pussieldi disse que: na sua opinião essa questão possui um sentido formativo muito grande, que de maneira

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geral enxerga a natação como algo além do âmbito esportivo, o considera como uma atividade capaz de salvar vidas;

Nesse sentido também o treinador Jefferson Neves complementa a fala do colega e destaca: que a natação deveria ser oportunizada a todos os jovens, desde a formação na infância, através da sua inserção no currículo escolar e no transcorrer do tempo, aquele que se destacar, como consequência, possa ter oportunidades de alcançar conquistas na atividade através do profissionalismo no esporte. Em tempo Alexandre Soledade ratifica que: a formação pessoal, social e da vida, em geral, é algo muito importante porque é exatamente neste momento, nesta faixa etária (da primeira infância até a adolescência), que tanto os pais, quanto os professores de sala de aula são beneficiados com a evolução dessa criança e, ou, adolescente, porque justamente além do trabalho técnico, físico, fisiológico e metabólico esse trabalho têm o escopo social, o que é de extrema importância na vida desse indivíduo que pratica a natação. Assim recorremos à teoria bioecológica (BRONFENBRENNER, 1997), para quem os vários sistemas imbricados formam este sujeito de tal maneira que é difícil até mesmo pensar em fazer uma separação didática dos mesmos. Neste caso as experiências motoras relacionadas ao microssistema são alargadas para o mesossistema, ampliando assim a zona de desenvolvimento do sujeito que é histórico e temporal. Estas informações são de extrema relevância quando falamos no sentido da interação dos elementos que compõem a construção ao longo da carreira do atleta, atuando de diferentes maneiras em razão das demandas específicas de cada etapa de desenvolvimento, sendo a construção de um ambiente que potencialize a ampliação das características pessoais ao longo de cada fase de desenvolvimento e a participação da família, treinadores e companheiros de equipe as grandes chaves para a qualidade, disposição, estrutura e organização dos processos ao longo da carreira. Novamente nos apraz trazer Bronfenbrenner (1997), afirmando acerca das interações dessas dimensões, quando produz-se uma notável complexidade e individualidade; para o estudioso os sistemas mostrados no diagrama anterior (figura 3), imbricam-se formando as influências igualmente potentes na formação do sujeito; ressaltando ainda que para o autor, a continuidade das mudanças no futuro perfil da pessoa é resultado da integração desses processos que possibilitam novos comportamentos

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capazes de responder às demandas ambientais e de atingir novos objetivos em quaisquer fases da vida. No caso de quaisquer futuros atletas, as oportunidades de estimulação motora, chamados affordances1, as habilidades motoras e um bom potencial de desempenho motor dependerão desses muitos fatores aqui considerados ecológicos (BRONFENBRENNER, 1997). Assim, do ponto de vista bioecológico (BRONFENBRENNER, 1996), tanto a família, como a escola e as demais escolinhas de interação do futuro atleta – bem como os já citados sistemas intermediários (meso e exo) a exemplo do trabalho dos pais, e sua cultura, seu nível de escolaridade, assim como as políticas públicas, como educação escolar, entre outros; influenciaram no desenvolvimento do mesmo, pois é por meio das experiências vividas no seu cotidiano que ele teve condições de desenvolver suas habilidades e ter controle sobre as mesmas (STEFANELLO, 1999). Aqui ressaltamos a vivência do atleta nos projetos sociais da Associação Atlética Uirapuru, pois em sua trajetória ora descrita percebe-se que o fato do mesmo ter oportunidade de vivenciar várias modalidades diferentes durante essa fase de desenvolvimento o oportunizou ter um domínio motor mais amplo, lhe permitindo mais facilidade nas correções dos movimentos (LIMA, 2018). Assim com conceito cada vez mais amplo e atualmente mais aceito e aplicável, a teoria ecológica interrelaciona o sujeito, o ambiente e a tarefa (BRONFENBRENNER, 1996) e considera o desenvolvimento dos múltiplos sistemas para o desenvolvimento motor e não só o do SNC: o controle do movimento é considerado como um sistema complexo, de tal maneira que a coordenação motora é considerada dinâmica e não linear. O planejamento motor e os movimentos coordenados são desta forma flexíveis e adaptáveis as diferentes situações, e também funcionais, resultado de vários sistemas dinâmicos e relacionados. Enquanto sistema é auto-organizando e composto por vários subsistemas: opera tarefas, ambiente e sujeito, separados e em conjunto, determinando a sequência, o nível e a extensão do desenvolvimento e controle motor. Por meio da exploração motora o pequeno atleta pode desenvolver a consciência do mundo que o cercava. E este controle motor possibilitou-lhe, certamente, experiências concretas, que

1 Oportunidades de Estimulação – recursos - qualidade de um elemento de permitir ao usuário identificar sua funcionalidade intuitivamente, sem a necessidade de explicação prévia.

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serviriam, futuramente, como base para a construção de noções básicas para o seu desenvolvimento intelectual (GALLAHUE; OZMUN e GOODWAY, 2013). Ainda na mesma direção, baseando-nos em Bronfenbrenner (1997), podemos entender que o desempenho da coordenação motora, por exemplo, pode sofrer maior influência e variabilidade nos ambientes escolar e familiar do que daquele oriundo das variáveis genéticas, devido o desenvolvimento das capacidades condicionantes e coordenativas advirem das experiências motoras diversas, ou seja, de advirem fortemente da influência dos affordances nos sistemas. O controle do movimento humano, portanto, é igualmente complexo como os demais sistemas (biológico e físico), cujas variações dinâmicas comportamentais podem não seguir uma progressão linear (BARREIROS, 2016). Assim, considerando que o desenvolvimento é não linear e passível de influências, o sistema motor não é, necessariamente regular e regulável, cujos níveis superiores e de complexidade e competências podem gerar processos de desenvolvimentos diferentes para cada pessoa (GALLAHUE, OZMUN e GOODWAY, 2013). Aqui salientamos a diferença do Felipe e seus affordances na fase da primeira e segunda infância, destacando os vários esportes do início da sua trajetória formativa, o engajamento da família, destacando o protagonismo da mãe, pai e padrasto, fatos estes que estão em conexão com a teoria bioecológica (FOLLE, 2010). Esta contextualização precisa ter uma grande atenção no caso em tela, pois quando falamos do nado de peito - estilo mais lento dentre os nados competitivos-, e principalmente de um atleta que teve o seu desenvolvimento e resultados evoluindo por mais de vinte anos. Por ter uma parte submersa mais longa, o nado peito obriga a valorizar de forma muito intensa a parte técnica, principalmente no que se refere a “timing” (tempo de resposta entre um movimento e outro), e “feeling” (percepção/tato) dos momentos de aplicação da força pelo nadador, e sua percepção da água timing e felling; aqui retomamos a pirâmide de Starosta tratado no item percepção do nadador dentro do marco teórico, quando é destacado no topo da pirâmide o termo “kinesthetics/ kinesthetics feeling” como partes fundamentais do processo de desenvolvimento do atleta. Conforme citado, em uma tradução direta apresenta como resultado a palavra cinestesia ou sensação/percepção cinestésica e que significa que o nadador que tenha pretensão de ser bem-sucedido neste estilo necessita buscar ao longo da sua formação desenvolver estas características, caso contrário corre-se o risco de se ter um nadador

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forte, resistente, potente, mas que tecnicamente não consegue desempenhar tão bem como um outro atleta sem tantos atributos físicos/fisiológicos (SILVA, 2010). No caso em tela, nosso atleta Felipe Lima, desde o início de sua formação observou-se que o mesmo tinha uma habilidade/sensibilidade diferenciada, fato este muito relatado pelos treinadores que trabalharam com o mesmo. Esta observação é muito pertinente considerando que o nadador desde a sua primeira competição nacional figura entre os melhores de seu país, fato este que se consolidou ao longo da sua carreira de mais de 20 anos, promovendo-o ao longo deste percurso a um dos melhores nadadores do mundo, e sempre com a característica de ser um atleta tecnicamente excelente e que mesmo não sendo tão forte como os adversários, venha obtendo resultados superiores. Isto se observa em outros casos similares quando o timing e feeling superam a força/potência (MAGLISCO, 2003). Se faz necessário trazer ao debate, a forma de como deve ser estabelecida a relação treinador, professor e atleta, pois a mesma tem papel importantíssimo na escolha das características que devam ser priorizadas no treinamento ao longo do tempo, pois nesta escolha reside a forma como será conduzido o desenvolvimento atlético do indivíduo. Toda a carreira e consequentemente os resultados em um planejamento de longo prazo devem ser pensados de forma a permitir que o atleta desenvolva e aprimore as características que o farão melhor a cada temporada, e principalmente com o menor número e gravidade possível de lesões (COUNSILMAN, 1969). Desta forma, o treinador recebe tipos de sujeitos com perfis totalmente diferentes, sendo este justamente o grande desafio, porque na sua maioria o comportamento e principalmente o trabalho do treinador irá influenciar os resultados e por que não dizer a vida do atleta, diz o treinador Alexandre P. que complementando afirma: para que o resultado seja adequado não julga ver um bom desenvolvimento se não existir uma harmonia entre todos os pontos desse processo, e ao se referir à harmonia trata-se de equipe, do trabalho desenvolvido, do atleta, do treinador e da família. Ele se mostra convicto que “se não existir essa harmonia, poderá haver lacunas a serem preenchidas, capacidades físicas, psicológicas, competitivas importantes podem ser deixadas de lado, e consequentemente teríamos limitações no desenvolvimento. O treinador Alexandre P. cita como exemplo, uma situação, onde, se o treinador possui uma boa relação com o atleta um resultado é alcançado; outra situação cujo o treinador e a família não se relacionam bem como uma equipe, todo o trabalho é perdido com essa equipe ou com o nadador, da mesma forma que se não houver uma boa relação

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com a família, poderá acarretar um problema de conflito, posicionando o nadador a ficar do lado da sua família, numa situação de embate. Conclui que: de qualquer maneira é a harmonia de todos os pontos que será fundamental para que tudo possa acontecer perfeitamente. Alexandre Soledade relata que houve um momento durante os treinos de um nadador que gerou uma grande expectativa em seu potencial, com a perspectiva de levá- lo a excelência futuramente, a julgar pelo grande potencial do Felipe Lima: Neste período haviam quatro nadadores com grande potencial e que poderiam ao longo de três a quatro anos alcançarem resultados fantásticos por questões fisiológicas e respostas ao treinamento, cujas envergaduras eram fantásticas, mas não conseguiram chegar ao topo principalmente, na minha opinião, por que os pais não quiseram esperar os resultados. Complementamos sua fala afirmando que o único cuja família demonstrou paciência para esperar, tornou-se o melhor atleta de Mato Grosso. Segundo Alexandre Soledade, os outros três nadadores, por falta de paciência, optaram pela busca de outros grupos e partiram para São Paulo, Minas Gerais, que nesse aspecto, não há como exercer controle sobre os pais, embora não tenham sido medidos os esforços nos trabalhos desenvolvidos pelos treinadores, assim como buscaram não criar expectativas nos atletas que não apresentavam potencial. Aqui ratificamos que certamente um ponto crucial e assertivo na trajetória de Felipe Lima, foi a boa condução dos trabalhos do primeiro treinador e da família justamente pela preocupação em não criarem expectativas no ainda garoto Felipe, cuja família, avisada pelo treinador, soube na época que havia a possibilidade do mesmo quebrar um recorde brasileiro; houve cuidados na formação sobretudo na infância, justificada pela ciência do quanto uma expectativa pode trazer resposta contrária dado o stress gerado, pois neste sentido, os fatores técnicos, físicos, táticos e psicológicos são componentes determinantes e intervenientes para um bom desempenho esportivo (KISS et al., 2004; WEINECK, 2000). Macedo et al. (2007), descrevem que muitos atletas, principalmente em períodos pré-competitivos, apresentam inúmeras e diferentes manifestações comportamentais, que quase sempre comprometem suas capacidades físicas e psicológicas. Neste é muito importante que o treinador observe e aprenda a lidar com as alterações nos aspectos psicológicos que assumem importante influência no desempenho dos atletas. Pois temos fatores como ansiedade e estresse (liberação dos hormônios cortisol e serotonina, com

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atuação direta no corpo/mente2) que interferem, direta e indiretamente, no desempenho esportivo (WEINBERG EGOULD, 2003, NICHOLLS; HOLT e POLMANE JAMES, 2005; THOMAS e HANTON, 2007). Por definição estresse pode ser considerado estado de instabilidade psicofísica ou uma à perturbação do equilíbrio entre o atleta e o ambiente que o cerca (SAMULSKI, NOCE e CHAGAS, 2009). Os momentos de estresse podem ser desencadeados pelos chamados agentes estressores, que dentre outros fatores conseguem influenciar de forma extremamente relevante o estado psicológico das pessoas por meio do ambiente em que estão inseridas (NOGUEIRA e GOMES, 2013). Mesmo sendo uma realidade no cotidiano dos atletas, o estresse, sobretudo, na rotina dos competidores de alto rendimento, precisam ser bem controlados, pois substâncias como os hormônios cortisol e adrenalina em grande quantidade e por período prolongado inibem a produção dos chamados hormônios construtores, como a testosterona e o Gh, podendo levar a perda de massa magra, diminuição do desempenho esportivo e consequentemente da capacidade de recuperação, ocasionando entre outros efeitos, também o acúmulo de gordura corporal, comprometendo com isso, o bem-estar físico e mental dos sujeitos em suas rotinas diárias (FRANÇA et al., 2006; NOGUEIRA e GOMES, 2013). Neste sentido Damásio (2012), cita que os mesmos hormônios em excesso e principalmente por tempo prolongado, podem ser responsáveis pelo estresse crônico, inflamações e sobrepeso, podendo desequilibrar o sistema como um todo. Ao definirmos o estresse numa perspectiva psicológica, poderíamos tê-lo como apercepção do sujeito em relação ao desequilíbrio entre demandas físicas ou psicológicas e seu cardápio de recursos para o enfrentamento do mesmo em atividades altamente significativas, por exemplo, como a ação esportiva é para o atleta (CERIN e BARNETT, 2006). Sendo assim, devemos relacionar o estresse com a percepção subjetiva do atleta no que se refere a potenciais situações estressantes, fato que tem uma relevância muito alta segundo Lonsdale e Howe (2004) pois a avaliação subjetiva do agente potencialmente

O cortisol é um hormônio produzido pelas glândulas suprarrenais, que estão localizadas acima dos rins, tem como função primária ajudar o organismo a controlar o estresse, reduzir inflamações, contribuir para o funcionamento do sistema imune e manter os níveis de açúcar no sangue constantes, assim como a pressão arterial. (WILMORE e COSTILL, 2001). A serotonina é um neurotransmissor produzido a partir de um aminoácido, o triptofano, que pode estar relacionada com várias funções no organismo como regulação do sono e da temperatura corporal, promoção do bom humor e da sensação de bem estar e melhoras das funções cognitivas. (MCARDLE; KATCH; KATCH , 2008).

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estressor pode ser tanto positiva - quando o atleta encara a situação como um desafio ou estímulo, quanto negativa - quando se encara a situação como excessiva para a capacidade de controle, provocando as reações de estresse. Neste sentido uma das principais virtudes do treinador é encontrar o timming de cada atleta, pois essa capacidade em muitas situações é o principal fator que separa uma prova de sucesso de uma malsucedida. A alta expectativa quanto ao desempenho nas competições, medo de falhar, não conseguir um bom tempo na prova em disputa, fatores como desapontamentos, situações de não ter atendido a expectativa dos familiares são intrínsecas a atividades esportivas, como por exemplo, em uma competição de natação (BARBANTI,1994). Fatos que nos ratificam a informação de que durante a iniciação deve-se investir nas relações sociais e em atividades que proporcionem sensações e sentimentos capazes de estimular o desejo de se divertir, ampliar seus conhecimentos e sentir-se competente (REVERDITO et al., 2017; COALTER e TAYLOR, 2010), por meio de treinos diversificados, que intercalem o tipo de prática com: i) Jogos deliberados - experiências intrinsicamente motivantes, imediatamente gratificantes e concebidas para proporcionar divertimento aos atletas); ii) Prática deliberada - concebida como a exercitação de atividades específicas de treino, nem sempre agradáveis, porém especialmente planejadas para melhorar a performance de um indivíduo; iii) Prática informal - tem a finalidade de desenvolver o indivíduo e sua formação para o exercício da cidadania e para prática do lazer, tem os seus conteúdos submetidos aos interesses dos alunos e processo pedagógico da formação; (CÔTÉ; BAKER e ALBERNETHY, 2003)

Neste âmbito realizado com, e por quem os lidera, sejam os próprios participantes ou treinadores, gerando ambientes de aprendizagem diversificados e que busquem facilitar as interações emocionais e sociais, provocando um maior engajamento e permanência no esporte (CÔTÉ; TURNNIDGE e VIERIMAA, 2016). Neste aspecto o treinador Alexandre Soledade ainda descreve que em sua metodologia de trabalho uma das principais propostas era a realização de exercícios que pudessem ao máximo estimular o desenvolvimento sem que junto a este, se tivesse também lesões. Sendo assim descreve

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ele: era um processo trabalhoso, longo, porém eficaz, essa eficácia era constatada no reconhecimento de um atleta de alto rendimento, de alta performance. Neste sentido sabemos que a adolescência é um dos períodos da vida onde temos maior parte das modificações psicológicas, físicas, hormonais e sociais. Neste momento temos um período de afirmação em que de forma involuntária os atletas são submetidos aos padrões físicos e sociais que mudam de forma muito intensa e de acordo com o tempo; atualmente a neurociência estabelece como final da adolescência a conclusão do desenvolvimento do córtex pré-frontal, mais ou menos aos 21 anos que assim marca o fim do desenvolvimento das funções executivas superiores - tomada de decisão; controle inibitório, organização; planejamento entre outros (EAGLEMAN, 2017; HERCULANO- HOUZEL, 2005). Com o trabalho de preparação física voltado para a natação nesta fase os atletas adolescentes procuram formas de se transformar e ficar mais assemelhados a esses padrões, com isso o treinador tem uma dura, porém gratificante missão que é fazer o que é certo e principalmente no tempo certo, pois o mesmo precisa buscar o aumento da performance em um momento que está acontecendo uma transformação muito grande naquele organismo3. Este é um dos fatores que tem a probabilidade de provocar lesões e consequentemente abandono da prática, por isso o papel do treinador neste momento deve ser muito conceitual, preservando as características específicas e individuais de cada atleta, entendendo os seus objetivos e compreendendo seus limites (AZEVEDO JÚNIOR e PEREIRA, 2006). Durante o grupo focal foi levantada a questão sobre as especificidades dos jovens de 13 (treze) a 15 (quinze) anos, sobre a participação dos mesmos nessa faixa etária e como foi o atleta Felipe Lima nesta fase. Alexandre Pussieldi aborda de maneira genérica sobre o processo competitivo nos Estados Unidos, onde ele atuou de 1999 a 2014, pois nesta faixa etária do atleta Felipe ainda não era treinado por ele (Felipe Lima foi treinado por Alexandre Pussieldi de 2011 a 2015, e o mesmo diz que: este processo se inicia tradicionalmente desde a base, e é justamente desenvolvido nessa fase dos 13 aos 15 anos, com característica mais intensiva devido à fase de início à natação escolar cujas

3 O cérebro adolescente age a partir de um emaranhado de sensações e comportamentos impulsivos, que se maturará completamente por volta dos 21 anos, momento em que o córtex pré-frontal estará formado por completo, oportunizando tomada de decisões mais coerentes, junto com o aperfeiçoamento do controle inibitório (JENSEN, 2016); é entretanto pouco provável que as variações hormonais estejam na primazia das mudanças comportamentais e cognitivas da adolescência, mas estas afinal sejam sim resultado da modificação estrutural e funcional do próprio cérebro adolescente que estará pronto aos 21 anos, conforme citado. (HERCULANO-HOUZEL, 2005).

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fortes disputas da chamada High School. Este momento trata-se de uma temporada extremamente competitiva, que durante a mesma chegam a competir na temporada de até duas vezes por semana, durante três quatro meses.

Ainda descrevendo a mesma fase disse que uma das características desta formação é que nos EUA possui uma intensa competitividade, o que difere do sistema competitivo no Brasil. Aqui salienta-se que o Brasil se enquadra no sistema de identificação precoce de talentos, enquanto os Estados Unidos seguem o modelo centrado no desenvolvimento atlético generalizado, que é atualmente uma tendência mundial (DE BOSSCHER et al, 2015), tema melhor explorado no grupo focal do referido trabalho. O treinador Alexandre Pussieldi explica também que o sistema competitivo americano não só valoriza o campeão da prova, mas também valoriza e muito as melhoras pessoais como os melhores tempos de cada atleta: Cada atleta no fundo, nesta faixa etária, deveria competir apenas consigo mesmo. Isto é salutar para o desenvolvimento da autoestima e autoconfiança, de forma que evita a produção de stress pré- competitivo, produção descontrolada de cortisol e impedimentos ao nível do SNC (BARBANTI, 1994; SAMULSKI, NOCE e CHAGAS, 2009; WEINBERG EGOULD, 2003, NICHOLLS, HOLT e POLMANE JAMES, 2005; THOMAS e HANTON, 2007). Ainda sobre este tema, segundo Alexandre P. isto passa a ser a essência ao título do atleta, desta forma, torna-se fundamental que a melhora do tempo resulta na vitória e a base justifica sua qualificação futura. Conclui dizendo que: para a formação de um atleta de alto rendimento é fundamental que este participe de um sistema competitivo bem aprimorado nessa fase de base. O Treinador Jefferson Neves destaca a importância do trabalho executado durante essa faixa etária, que os estímulos provocados pelo treinador, tanto pelo treinamento propriamente dito, quanto da motivação são fundamentais para a construção da performance que o nadador futuramente adquirirá. Todas estas descrições corroboram com o que foi relatado pelo atleta Felipe Lima, que ao ser perguntado sobre este momento disse: Os treinos eram mais regulares, eram treinos de segunda a sábado, me lembro de ter treino das 5 horas às 7 horas da noite, me lembro que era sempre no final do dia ali na piscina da UFMT. Lá tínhamos um grupo bem grande mesmo, até que as escolinhas eram separadas em grupo A, B e C. Eu acho que eu era equipe B e não treinavam todos os dias. Neste contexto fui evoluindo muito rápido entrei aos 12, dos 12 aos 15 foi aquele

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Jump, assim de campeão da competiçãozinha não federada, a ser campeão brasileiro. Tinha bastante gente boa que chegamos até a formar um grupo de elite nessa época. Para falar a verdade se você me perguntasse se eu pensava em ser um atleta profissional, eu te diria que não pensava chegar a esse nível. “Não tinha nada na cabeça sabe, eu pensava em estar lá no treino fazer o que tinha de ser feito, brincar com meus amigos e tudo, mas eu acho que eu fui começar a pensar nisso mesmo assim partir dos meus 16, 17 anos.

Fonte: Acervo Carolina Zanata Fonte: Acervo Felipe Lima Imagem 11 e 12: Seleção Estadual 1999 e Equipe Uirapuru 2000.

O Treinador Alexandre Pussieldi explana que em sua experiência e formação entende que a classificação de um atleta de alto rendimento não está relacionada à maturação dele, e sim, ao nível de performance sui generis que ele possui. Destaca que é de conhecimento do segmento esportivo muitos exemplos de atletas que foram campeões olímpicos aos 15 anos de idade, citando como exemplo o caso da atleta Katie Ledeck, afirmação que contraria parte da literatura consultada (MEIRA, BASTOS e BÖHME, 2012; REVERDITO, 2017).

Pussieldi considera que esse aspecto gera um desafio ao profissional treinador, requerendo a inteira capacidade de identificar o nível de performance que o atleta possui e o conduz a encontrar as cargas adequadas não só para idade e para seu desenvolvimento, como também para o aumento da sua performance. Pussieldi pondera também que se o treinador dispõe dentro do seu programa de um atleta com 15 anos de idade e este apresenta níveis altíssimos de performance, capazes de fazer marcas absolutas, assim, será inadequado o desenvolvimento do atleta ao ser alocado no grupo da faixa etária a qual pertence, pois na sua opinião o ideal será conceder ao mesmo a oportunidade de treinar no grupo de alto rendimento. Fundamenta que essa escolha precisa ser feita com base na realização de uma avaliação do profissional

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treinador, comparada aos demais atletas que possui e a partir de aí encontrar o trabalho adequado. Ainda Pussieldi enfatiza que muitas vezes os atletas têm seus níveis enquadrados pela idade, porém, defende que esta não é a forma adequada ao se tratar de natação de alto rendimento, pois em sua opinião a avaliação deve ser na performance e não na faixa etária. O Treinador Alexandre Soledade complementa que não somente na natação, mas como em outras modalidades seu grupo de colegas treinadores e formadores de atletas adotaram o entendimento de olhar o atleta de forma mais individualizada e pessoal. Faz uma abordagem sobre a intensidade das relações humanas dentro do grupo, citando como exemplo que muitos atletas se casaram entre si na equipe. Segundo Soledade, nos dias atuais se considerássemos o senso coletivo sugeriria para Felipe Lima aposentadoria das piscinas em razão da idade, por não considerar que a idade atual não oportunize performances de excelência, entretanto, orgulhosamente o mesmo encontra-se nos dias atuais ranqueado nas listas dos melhores do mundo, e que acredita se o tivesse pressionado por resultados, antes da hora isso não teria acontecido, conforme citados anteriormente Brito; Fonseca e Rolin (2004); Santana; França e Reis (2008) consagrados em relação ao stress competitivo e sua sobrecarga na psiquê do atleta, sobretudo. Soledade expõe ainda que essa assoberbada pressão possui menor incidência nos Estados Unidos da América, cujo número de atletas é maior e assim não há tanta preocupação com número de medalhas ganhas individualmente, já que há uma maior chance no ganho coletivo de número de medalhas; haja vista que assim, a dinâmica é distribuída segundo o modelo centrado no desenvolvimento atlético generalizado, conforme citado anteriormente. No Brasil, ocorre de maneira diferente tendo em vista a quantidade mínima de atletas participantes de uma olimpíada e o já citado modelo de identificação de atletas inatos, em oposição ao modelo centrado na ênfase no desenvolvimento generalizado; assim toda a atenção e pressão por resultados satisfatórios vêm colocar sobrecarregar em seu atleta representante, normalmente único. Aqui cabe ressaltar a questão das políticas públicas de formação de atletas e o fato de que não temos um sistema que permita a massificação de boa parte dos esportes olímpicos em nosso país, que inclui a natação. Situação essa que faz com que tenhamos

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pouquíssimos atletas chegando ao alto rendimento, fazendo a cobrança ser muitas vezes extremamente dura aos que chegam no topo. Um dos fatores mais fortes e citados pelos entrevistados neste sentido está a falta da estruturação de um programa esportivo no país, e para tentar fechar esta lacuna temos a atuação de organizações que desenvolvam processos de planejamento, implantação, operacionalização e controle. A estrutura e base geral do esporte em nosso país é deficitária e carente desde a base ao alto rendimento, pois em boa parte das nações onde temos o esporte como política consistente e sólida, elas acontecem nos níveis municipal, estadual, federal e internacional (MEIRA, BASTOS e BÖHME, 2012).

Um modelo desejável deve ter bons trabalhos nos níveis municipal e estadual, onde a organização ocorre por meio dos clubes, projetos sociais ou entidades de prática esportiva, que são filiadas a entidades de administração do esporte, como as ligas, as associações e as federações; contudo nos níveis nacional e internacional, a organização deve ocorrer por meio de centros de treinamento e seleções nacionais, controlados por confederações, comitês olímpicos e federações internacionais. Em diversos países, a estrutura organizacional voltada à implantação e controle das modalidades esportivas é definida por programas desenvolvidos pelo governo ou por entidades governamentais que visam a desenvolver o esporte como um todo, nas suas três formas de manifestação: educacional, participativo e de rendimento (MEIRA, BASTOS e BÖHME, 2012). No Brasil, assim como em países como Alemanha, Austrália, Japão e Reino Unido, o Governo, Entidades Governamentais e Instituições Nacionais de Esporte têm a responsabilidade de controlar o esporte de alto rendimento nacionalmente. Esses órgãos nacionais tem a missão de elaborar linhas e diretrizes para instituições subordinadas e parceiras: Ministérios, Comitês Olímpicos, Confederações, Federações, Ligas, Secretarias Estaduais e Municipais, etc. Para a análise de sistemas esportivos, são considerados os fatores que podem influenciar o sucesso esportivo internacional em três níveis: macro, meso e micro. O macro nível compreende as condições gerais (sociais, econômicas, históricas, culturais entre outras); o mesonível engloba as políticas da sociedade e do respectivo governo voltadas para o esporte; já o micro nível é constituído pelos aspectos específicos do treinamento físico e desempenho individual de atletas (MEIRA, BASTOS e BÖHME, 2012).

Para compararmos o nosso país em relação aos demais, temos uma ferramenta de análise sobre a organização, as estruturas e as políticas para o esporte de alto rendimento

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essa ferramenta se chama modelo SPLISS - Sports Policies Leading to Sport Success. No Brasil quando a referida análise foi realizada, verificou-se que o país possui ações voltadas para o desenvolvimento do esporte apenas ao nível de alto rendimento oriundas do Comitê Olímpico do Brasil (COB) e do Ministério do Esporte, as quais são isoladas, algumas delas semelhantes, mas segundo os estudos, as mesmas não têm diretrizes centrais norteadoras. (MEIRA, BASTOS e BÖHME, 2012; DE BOSSCHER et al, 2015).

De acordo com um destes estudos, o esporte brasileiro necessita de estruturação esportiva desenvolvida nacionalmente, para que programas e projetos esportivos funcionem regionalmente de maneira integrada com diretrizes propostas e coordenadas por órgãos governamentais e entidades nacionais do esporte (MEIRA, BASTOS e BÖHME, 2012).

Mesmo o Brasil não possuindo diretrizes nacionais centralizadas e com boa organização para o esporte, o país possui em algumas modalidades, bons resultados em Jogos Olímpicos, Jogos Pan-americanos e Campeonatos Mundiais, fator este que não exclui a necessidade de referida organização, já que em grandes potências esportivas este é um dos fatores de referência para tais conquistas. Na modalidade discutida neste estudo, a natação, ao se fazer uma análise de maneira particular no contexto estrutural e organizacional do esporte, de acordo com o desempenho da natação do Brasil nos últimos Jogos Olímpicos (1992, 1996, 2000, 2004, 2008, 2012) e Jogos Pan-americanos (1995, 1999,2003, 2007, 2010), verificamos que o desempenho dos atletas brasileiros da modalidade merece atenção em relação aos demais esportes no âmbito nacional.

Os atletas da natação conquistaram, nestas edições, 13 medalhas olímpicas e 145 medalhas em Jogos Pan-americanos. Tivemos também neste período a conquista de 37 medalhas em campeonatos mundiais de piscina curta e longa. Com um país da dimensão do nosso um dado que deve ser levado em consideração, é que em campeonatos nacionais, verificou- se que entre os 38 melhores clubes ranqueados no ano de 2010, por exemplo, nas 15 primeiras posições, sete deles pertenciam ao Estado de São Paulo. Isso pode ser resposta quando verificamos que existe uma falta de representatividade e políticas públicas consolidadas no restante do país, que com toda certeza é um fator que limita o desenvolvimento do esporte, visto que muitas vezes a falta de acesso a bons profissionais e estruturas consolidadas e contínuas impedem que atletas que residem em estados que não estejam nos chamados grandes centros às vezes nem sequer tenham a oportunidade

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de desenvolver o máximo do seu potencial, nos fazendo perder muitos talentos (COALTER, F. e TAYLOR, J. 2010).

Conforme já mencionado o Brasil é centrado no modelo de identificação precoce de atletas, considerados inatos, não em uma política nacional de desenvolvimento de atletas do “Oiapoque ao Chuí” - expressão que significa de norte a sul do país; ao contrário com claro desenvolvimento do eixo Sul/Sudeste evidenciando claramente que não há pesquisas de atletas nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste. Pode-se imaginar quantos atletas perdidos dentre aqueles de populações ribeirinhas que desde muito cedo exercem a natação como meio de sobrevivência para a pesca e manejo de práticas turísticas.

Este direcionamento ao esporte de alto rendimento sem a mesma atenção para a base, principalmente quando falamos de estruturas e espaços esportivos disponíveis e com a manutenção adequada para se promover a oportunidade de aprender e se desenvolver esportivamente, acaba sendo um dos principais problemas que o nosso país enfrenta para se ter uma base esportiva forte; o que traduz, na maioria dos esportes, uma base muito estreita, com poucos talentos a serem trabalhados no futuro, provocando uma dificuldade imensa de renovação no esporte de elite (MEIRA, BASTOS e BÖHME, 2012). Ao se fazer esta afirmação, uma pergunta que com toda certeza devemos fazer é: “quantos jovens como o Felipe não tiveram o mínimo de oportunidade de praticar ou dar continuidade a alguma modalidade esportiva em nosso país?” No alto rendimento, onde boa parte do engajamento é motivado pelo resultado e vontade de estar envolvido em atividades com alto grau de exigências, prática deliberada e competições amplamente estruturadas como mundiais e Jogos Olímpicos, para que o atleta mantenha o alto nível de performance exigido, há a necessidade de se adaptar ao treinamento estruturado, apresentando dedicação, foco, determinação, comprometimento, seriedade e responsabilidade com a prática esportiva, abrindo mão muitas vezes de recompensas imediatas em prol de um objetivo de médio a longo prazo (REVERDITO et al., 2017). Sendo assim poderíamos ter uma proposta onde o desenvolvimento passe a tratar o ser humano, atleta ou não de forma sistêmica, como preconiza a visão da teoria bioecológica de Bronfenbrenner (1997) citada neste estudo- e que envolve as várias dimensões dos atletas, como a física, técnica, social, psicológica, e com isso ser o ponto de partida para a construção de um aprendizado sólido e de sucesso em todas as áreas, o

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que proporcionaria a formação de pessoas mais preparadas para lidar com os desafios da modalidade e da vida, pois entenderão que a construção e desenvolvimento diário vão aprimorar estas habilidades e serão considerados mais preparados para lidar com as situações a serem enfrentadas ao longo da vida (LIMA, 2018; REVERDITO et al., 2017). Com isso temos o entendimento de que o olhar sobre a formação deve ser extremamente amplo, pois além dos fatores técnicos, físicos e táticos, os fatores pessoais, sociais, psicológicos, estruturais, devem ser pensados quando se fala em esporte de formação, de rendimento e principalmente longevidade de resultados esportivos, fatos estes relatados por todos os entrevistados e neste caso em especifico do atleta Felipe Lima, demonstrados pela sua carreira extremamente longeva para a modalidade e bem-sucedida. Durante a carreira desportiva o atleta se envolve e interage com contextos e situações esportivas, atividades distintas, constituindo assim, um processo sistêmico e único, recebendo ainda influências vindas de fatores contextuais de uma maneira geral (BRONFENBRENNER,1997), além das específicas da natação, de certa forma, com isso é possível identificar que o tempo de envolvimento na modalidade que hoje passa de 20 anos para o atleta Felipe Lima, foi ponto fundamental para os resultados do mesmo, sendo o nível de experiência fator primordial enquanto um indicador para explicar o desenvolvimento da excelência esportiva (PORATH et al., 2012; SAAD; NASCIMENTO e MILISTETD, 2013; SWANN; MORAN e PIGGOTT, 2015;), situação essa que demonstra mais uma vez que o esporte deve sempre ser trabalhado com uma perspectiva de longo prazo.

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Fonte: Acervo do Autor Figura 5: Publicação no Instagram Alexandre Pussieldi em 02 de novembro de 2020.

Uma situação apresentada neste estudo e que já se torna muito evidente no mundo esportivo é que boa parte dos atletas com maior tempo de envolvimento na modalidade iniciaram nas etapas mais intensas de treinamento com idades mais elevadas, situação essa que pode estar relacionada ao fato de que atletas experientes tendem a se conhecer mais, inclusive administrando e respeitando melhor os limites fisiológicos e buscando contextos que possuam melhores condições para o desenvolvimento de suas carreiras (GOMES, 2009; MALINA, BOUCHARD e BAR-OR, 2009).

Relacionados às primeiras experiências motoras de Felipe Lima, ficou destacado um ambiente de prática espontânea, o qual permitiu desfrutar de uma infância ativa e prazerosa, caracterizada pelo envolvimento em atividades e jogos que lhe deram uma grande capacidade coordenativa e um domínio corporal que em prática facilitava e muito

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a correção dos gestos técnicos, importância citada pelos teóricos anteriormente citados, como Bronfenbrenner (1997) e Gallahue, Ozmun e Goodway (2013). A multiplicidade de práticas durante os anos iniciais é uma forma de produzir desenvolvimento positivo aos atletas e, principalmente pela garantia de experiências motoras e cognitivas variadas (CÔTÉ; BAKER e ABERNETHY, 2007; CÔTÉ; STRACHAN e FRASERTHOMAS, 2008), sendo estes resultados defendidos há muito tempo, principalmente por contribuir para elevar o nível da aptidão esportiva. O fato de se iniciar em competições estruturadas em idades mais avançadas, como é o caso do nosso atleta Felipe Lima é visto pela literatura como uma iniciativa muito positiva para o desenvolvimento de atletas ao longo dos anos, pois possibilita oportunidades de vivenciarem atividades esportivas diversificadas, podendo evitar alguns problemas psicológicos, físicos e sociais que são extremamente relacionados às cobranças precoces em torno de resultados como afirma De Rose Júnior (2002); sendo alterados pelos hormônios do estresse, conforme já tratado. Situação de extrema importância a ser levada em consideração é que a demonstração precoce de desenvolvimento não tem associação ao sucesso esportivo posterior (CAFRUNI; MARQUES e GAYA, 2006; BRITO; FONSECA e ROLIN, 2004; SANTANA; FRANÇA e REIS, 2008), e um fator que contribui e muito com isso é que os atletas que apresentam resultados de forma muito precoce, tendem a deixar de frequentar as competições das categorias de base, mudando de nível de exigência de forma muito rápida e às vezes deixando de lado muitos ensinamentos e características importantes para o desenvolvimento posterior e principalmente a permanência no esporte por mais tempo. Neste sentido, é importante lembrar que o treinador Alexandre Soledade afirmou anteriormente que é mais importante colocar o atleta em um grupo de performance relativamente igual do que pela faixa etária, destacando aqui que há que se ter cuidado com esta decisão. Esta dinâmica que a literatura chama de transições não normativas ou não previsíveis, afetam e ameaçam diretamente a carreira esportiva dos atletas em geral, provocando uma deficiência na continuidade dos processos de desenvolvimento e com isso em muitas ocasiões aumentando a incidência de lesões, a baixa na motivação, problemas de saúde, situações que podem provocar o desejo, mesmo que momentâneo de abandonar o esporte (DE ROSE JÚNIOR, 2002). A complexidade em se estabelecer um modelo para desenvolvimento de atletas no Brasil, dificulta sobremaneira a sistemática, organização e planejamento ao longo dos

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anos, tornando o trabalho da maioria dos treinadores essencialmente empírico, atrapalhando o crescimento e o desenvolvimento do esporte, conforme já citado quando da crítica a falta de continuidade de políticas públicas brasileiras para os esportes em geral, excetuando-se para os esportes de alto rendimento financeiro, que atinge as massas, como o futebol. Nestes pontos é com toda certeza de suma importância ressaltar os objetivos do projeto social onde o Felipe começou a treinar. Por filosofia e vocação a Associação Atlética Uirapuru, era, pois encerrou as suas atividades na natação há quase dez anos, um projeto de formação atlética aberto à comunidade e mantido pela UFMT4; a princípio cobrava-se uma taxa simbólica semestralmente, que permitia muitas vezes que crianças e adolescentes que não tinham capacidade financeira para pagarem uma academia de natação regular, pudessem acessar uma prática esportiva de qualidade, pois tinha professores de alta qualidade, apesar de muitas falhas na parte estrutural do parque aquático.

Fonte: Acervo Vicente Soares Imagem 13: Projeto Natação Uirapuru.

4Equipe de natação UIRAPURU– Equipe fundada por professores da Universidade Federal de Mato Grosso em 28 de março de 1974 e que durante mais de 40 anos trabalhou na formação e desenvolvimento de atletas. Esse projeto foi de fundamental importância na identificação/desenvolvimento do Atleta em questão e de inúmeros outros nadadores, se tornando uma das principais equipes esportivas da história do Estado de Mato Grosso, encerrando as suas atividades em 2015 devido à falta de apoio da universidade e aposentadoria de alguns dos seus professores.

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Fonte: Acervo Felipe Lima Imagem 14: Prof. Alexandre S., Felipe Lima e Prof. Vicente Soares.

Fonte: Acervo André Takano Fonte: Acervo Benedita Costa Imagem 15 e 16: Projeto Natação Uirapuru 2000 e Equipe Uirapuru 2015.

O fundador do projeto e quem montou a base de formação dos professores que passaram pelo mesmo, foi o professor Vicente Soares, experiente treinador que veio de Minas Gerais, após trabalhar por muitos anos em um dos mais renomados clubes brasileiros do esporte que é o Minas Tênis Clube. Fazia parte também do projeto o professor Koiti Anzai, experiente pesquisador que veio de São Paulo para assumir algumas disciplinas no curso de Educação Física na Universidade Federal de Mato Grosso e nos horários extraclasse trabalhava no projeto dando suporte para os treinadores e atletas. Segundo relatos de um dos entrevistados, o Prof. Alexandre Soledade, ambos foram fundamentais para a consolidação da filosofia de trabalho da equipe e que na opinião dele foi fundamental para os excelentes resultados alcançados pelos atletas originários da mesma. Ainda segundo Alexandre, com a ajuda dos dois desenvolveu-se uma metodologia própria e que foi sendo aprimorada ao longo dos anos, mas como era

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de consumo interno pouco ou quase nada se tem em registros públicos. A referida metodologia consistia basicamente em organizar os processos e planejamentos de treinos de acordo com o perfil pessoal e desenvolvimento biológico de cada atleta, com isso aguardando o momento ideal da inclusão dos conteúdos de treinos específicos e individualizados para cada atleta, o que segundo o Prof. Alexandre Soledade permitia o máximo de desenvolvimento esportivo com o mínimo de riscos de lesões musculoesqueléticas. Neste momento é importante falar sobre o organismo jovem e o treino de força: ter claro que o organismo jovem não é apenas a versão reduzida de um organismo adulto, é uma das mais relevantes considerações a serem feitas por quem trabalha com o esporte na sua formação. As especificidades com relação às capacidades motoras, estruturas articulares, funcionamento dos sistemas fisiológicos, etc. devem ser consideradas na prescrição do exercício físico e no direcionamento de toda e qualquer treinamento. Por isso, é importante que o treinador conheça o comportamento desse organismo quanto às exigências, potencialidade e limitações. Uma das capacidades motoras que mais despertam dúvidas, em relação ao funcionamento do organismo jovem é a força muscular, muito discutido nos últimos anos, o treino resistido entre crianças e adolescentes deve ser tratado com extrema cautela, e principalmente acompanhado de um conhecimento técnico especializado. Durante algum tempo os programas de treinamento direcionados ao desenvolvimento da força muscular em jovens foram dirigidos com um misto de experiência própria e de conhecimentos adquiridos em adultos (BENEDET, et al., 2013). Uma situação que é bem clara para nós treinadores e reforçada pelos autores, é que um treinamento administrado sem o devido conhecimento técnico e científico tem um grande potencial de provocar lesões musculares, ósseas e articulares. Quando é aplicado de forma segura, não se tem relato na literatura de prejuízos em relação à estatura ou no comprometimento musculoesquelético, desde que sejam respeitados o volume, a intensidade e o aporte energético o mesmo tem potencial de se tornar ainda, uma das melhores e mais eficientes estratégias para que os jovens sejam ativos fisicamente (MALINA; BOUCHARD e BAR-OR, 2009). São necessárias mais investigações sobre a análise do fechamento das epífises5 para que se estabeleça cargas seguras para o treinamento de força, pois a não observância

5A epífise corresponde às áreas dilatadas (uma inferior e uma superior) na extremidade dos ossos longos, sendo a zona responsável pela articulação com as estruturas ósseas adjacentes.

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deste fator pode implicar em problemas nas estruturas osteoarticulares. Antes deste fechamento ocorrer é sugerido que se realize treinos de resistência de força. Considerando esse aspecto, há um grande número de evidências científicas que apontam benefícios para a saúde geral e aptidão física proporcionados pelo aumento da força nessa população entre 30% e 50%, o que deve ser totalmente levado em consideração devido a sua efetividade e resultados (COSTA et al., 2017). Até os dias de hoje não há consenso para a prescrição do treinamento de força para crianças e adolescentes, pois este é um momento marcado por grandes transformações morfológicas, fisiológicas e psicossociais, o que fragiliza o estabelecimento de uma recomendação geral, mas que fortalece a tese de que devemos ao máximo respeitar os princípios do treinamento, neste caso com ênfase nos princípios da especificidade e principalmente no da individualidade biológica (BENEDET et al., 2013). Consideradas as ressalvas acima parece que ao longo da carreira do Felipe Lima, o treino de força realizado na Escolinha Uirapuru, segundo Alexandre Soledade, foi um importante diferencial para o atleta.

4.3 Entrevista individual com os Treinadores acerca de seu trabalho geral na modalidade natação

Com experiências e formações distintas os treinadores nos passaram uma visão bem rica sobre as experiências dos períodos que trabalharam com o atleta Felipe Lima e podemos verificar, assim como relatado anteriormente a importância da família e ambiente de treino (espaço físico, mas sobretudo, treinadores, colegas de treinos e viagens) no desenvolvimento, na evolução dos resultados em cada momento. Com toda certeza nos amplia muito o horizonte sobre a visão formativa e principalmente nos deixa uma direção sobre quais pontos tem potencial maior ou não de fazer a diferença para o alcance de resultados expressivos no futuro e principalmente preservando mental e fisicamente atleta.

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A história de Alexandre Pussieldi com a natação

Fonte: Acervo: Alexandre Pussieldi

Imagem 17 e 18: Mundial de Barcelona 2013 e Time Davie Nadadores 2013.

Ao serem questionados cada um individualmente sobre sua história com a natação, iniciamos por relatar a trajetória de Alexandre Pussieldi que foi nadador do Grêmio Náutico União por 14 anos, depois foi professor, treinador e hoje atua como empresário e na mídia esportiva. Em relação aos benefícios da modalidade para sua vida, afirma que dentre uma série deles o maior foi na esfera da saúde, do comportamento social, das amizades e nas oportunidades que conseguiu transformar em crescimento profissional e pessoal. Relativamente a formação acadêmica e profissional Pussieldi é formado em Comunicação Social com especialização em Jornalismo, curso incompleto na Educação Física e Provisionado pelo CREF desde 1987. Os valores humanos destacados por Pussieldi são a ação e influência da família, a valorização da educação neste processo e a atividade física como elemento integrador de todo processo; e acrescenta: o maior valor humano? As pessoas! Ao ser questionado sobre os resultados competitivos mais relevantes de sua carreira, Pussieldi conta que esteve em Jogos Olímpicos, Campeonatos Mundiais, Jogos Continentais, medalhas em diversos eventos internacionais, mas considera a conquista dos títulos brasileiros de categoria por um clube do Nordeste como a mais determinante em sua carreira. É um marco do qual se orgulha bastante. Ao lhe ser solicitada uma mensagem final diz: “Trabalhar com esporte e jovens é algo realizador, é o trabalho que dá prazer e satisfação. Transformar vidas e difundir o bem!”

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A história de Alexandre Soledade com a natação

Fonte: Acervo: Alexandre Soledade/ Felipe Lima

Imagem 19 e 20: Troféu Chico Piscina 1999 e Felipe e Alexandre 2018.

Já para Alexandre Soledade a natação surgiu casualmente. Conta que como aluno ainda da Faculdade de Educação Física da UFMT (FEF) pode ter contato com dois professores que foram meus mentores: Koiti Anzai e Vicente Soares. O primeiro o fez entender e pesquisar a fundo sobre efeitos hidrodinâmicos na execução dos 4 nados e o segundo, apelidado de segundo pai, achou que ele tinha talento para dar treinamentos. Era 1996 e com o apoio do Vicente Soares e seus filhos, pode se especializar em natação e em 1998, ficando conhecido pelo apelido que ele ajudou a construir. Foram 14 anos na beira da piscina... Seleção Brasileira, Mundiais, Sul-americanos, medalhas, mas para mim, os alunos iam além dos treinos... ficou algo do Koiti Anzai em mim. Quanto aos benefícios da modalidade em sua vida afirma que mesmo não dando mais aulas na piscina, por falta de espaços e clubes com maturidade esportiva a época, mesmo que esteja há 14 anos servidor público, professor, fisioterapeuta, ainda é lembrado por alunos e colegas de profissão pelo trabalho que executou, e afirma emocionado que isso não tem preço. Na formação acadêmica e profissional, Soledade além das já citadas faculdades de Educação Física e Fisioterapia, fez uma especialização e incontáveis capacitações nas áreas que mais o interessavam, quais sejam: Treinamento desportivo, hidrodinâmica, arrasto e técnica dos nados. Para ele os valores humanos relevantes para uma boa formação é o respeito ao tempo de um atleta; por mais que os suplementos, treinos, medicina melhoraram a expectativa de resultados em longo prazo, ainda precisa ser entendido que tudo passa. O ser humano por trás do atleta deve ser cuidado, mesmo sem resultados quantificáveis.

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Ao ser questionado sobre os resultados competitivos mais relevantes em sua carreira como treinador, Soledade afirma ter feito apenas um bom trabalho e ter visto outros profissionais chegarem e fazerem tão bem ou melhor que ele. E na sua humildade característica completa: O google deve contar o restante das coisas! Sua mensagem final para nossa entrevista: “Saiba o que quer. Queira muito. O piloto do carro (sua vida) consegue perceber os caminhos que deve seguir. Quem vai de passageiro nem sabe que rua entrou! Quer ser atleta? Pilote!

A história de Jefferson Carvalho Neves com a natação:

Fonte: Acervo: Jefferson Neves

Imagem 21, 22 e 23: Universidade 2011, Sel. Pan-americana 2007 e Olimpíada 2012.

A história de Jefferson Carvalho Neves com a natação inicia-se quando entrou na Faculdade de Educação Física, também casualmente: ainda como calouro, durante uma greve de mais de 90 dias foi forçado a buscar trabalho e por indicação de uma colega buscou uma academia tradicional em Cuiabá onde o carro chefe é, até hoje, a natação. E neste estágio relata que começou a trabalhar com esse esporte e já no começo gostou muito. Este início teve como trabalho principal a iniciação em crianças de 3 a 12 anos. Com o tempo foi se aperfeiçoando e trabalhando com outras categorias e níveis de desenvolvimento até que dois anos após este início o treinador chefe da equipe competitiva teve de voltar a sua cidade de origem, deixando a vaga e foi onde teve a oportunidade e pediu para o proprietário que ele lhe deu essa chance; participou inicialmente como treinador em competições regionais e conforme foi acontecendo o desenvolvimento dos atletas, competições nacionais e até internacionais. Jefferson diz ser extremamente grato ao esporte, pois através dele conheceu inúmeras pessoas incríveis, 5 continentes, formou boa parte da sua base profissional e

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acadêmica. Ter criado os seus filhos e construído uma família envolvida com o esporte, além de todo o trabalho de formação inclusive de caráter que ajudou em muitos jovens. Relativamente a formação acadêmica e profissional Jefferson tem graduação em Educação Física pela Universidade Federal de Mato Grosso (2001); Especialização em Treinamento Desportivo pela Universidade Estadual de Londrina; Especialização em Didática do Ensino Superior pela Universidade Pitágoras; Especialização em Esportes de Alto Rendimento pelo Comitê Olímpico do Brasil; atualmente cursando Mestrado em Ensino pela Universidade de Cuiabá/IFMT; além de inúmeros cursos de extensão e formação em muitas áreas do conhecimento. Quanto aos principais valores a desenvolver Jefferson crê que sem dúvida é o ser humano como um todo; afirma ele que com a maturidade compreendeu que nós humanos precisamos ser tratados/nos vermos de forma sistêmica e nunca por partes. Com isso aprenderemos a valorizar mais um bom caráter, honra, disciplina, hombridade, além de todos os valores familiares. Ao ser questionado sobre os feitos mais relevantes em competições dentro de sua trajetória, Jefferson diz que sem dúvida foi a conquista da vaga olímpica em 2012, mas os 8 recordes sul-americanos absolutos têm um espaço bem especial neste rol. A mensagem final de Jefferson: Nos dias de hoje o esporte junto a educação são as principais ferramentas de transformação da nossa juventude, precisamos aprender as lições de nações que são melhores sucedidas que nós nestas duas áreas e colocá-las em prática, pois como disse uma vez o grande Nelson Mandela “O esporte tem o poder de mudar o mundo”. Sem dúvida os três treinadores eleitos para este estudo dentre os nove treinadores da carreira de sucesso de Felipe Lima, constituem-se profissionais com muita experiência e grandes serviços prestados ao esporte nacional e que ao longo dos anos tem nos orgulhado sobremaneira com o seu trabalho e que servem de exemplo para as novas gerações de profissionais. Depois de muitos anos valorizando, medindo e quantificando o técnico, físico, tático os treinadores passaram entender que o ser humano necessita de um olhar mais sistêmico que significa funcionamento complexo e integrado em todos os sistemas, conforme afirma-se neste estudo, sobretudo, em Bronfenbrenner (1996); e que é muito mais complexo do que simplesmente as características físicas. Este olhar é predominante nos treinadores ainda em atividade e certamente representa um novo paradigma para o desenvolvimento esportivo (SAMULSKI, NOCE e CHAGAS, 2009).

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A seguir, após este breve relato histórico dos três treinadores do atleta Felipe Lima selecionados para o trabalho, iremos tratar as questões mais técnicas da entrevista aos mesmos a partir da questão 4 (conforme apêndice3), em blocos, segundo a resposta respectiva de cada treinador e depois triangular com os autores de referência nas questões:

Entrevista com os treinadores:

QUESTÃO 4 Na atualidade durante o desenvolvimento humano de maneira geral quais valores você acredita serem importantes? Acho importantíssimo a ação e influência da família, a valorização da educação neste processo e a atividade Alexandre Pussieldi física como elemento integrador de todo processo. O maior valor humano? As pessoas. O tempo de um atleta por mais que os suplementos, treinos, medicina melhoraram a expectativa de Alexandre Soledade resultados em longo prazo, ainda precisa ser entendido que tudo passa. O ser humano por trás do atleta deve ser cuidado, mesmo sem resultados. Sem dúvidas o ser humano como um todo, com a maturidade você compreende que nós precisamos ser tratados de forma sistêmica e nunca por partes. Com Jefferson Carvalho Neves isso aprendemos a valorizar mais um bom caráter, honra, disciplina, hombridade, além de todos os valores familiares.

QUESTÃO 5 Dos valores citados, quais você leva em consideração na elaboração e realização dos seus treinos? Uma de minhas características como profissional, sempre foi criar uma atmosfera positiva, onde as pessoas participantes do processo se sentissem Alexandre Pussieldi importantes. Presentes estavam os valores que reuniam os elementos familiares, de educação e os resultados sempre foram consequência de toda esta estrutura. 1) O que o atleta quer; 2) Se ele está apto a esperar pelo resultado; Alexandre Soledade 3) Maturidade esportiva...Saber que não vai dar resultado sempre. Valorizar o seu esforço e dos adversários, honrar a todos que estão a sua volta e fazem parte das suas conquistas, Jefferson Carvalho Neves crescer e se desenvolver a cada dia e nunca se cansar de aprender.

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Há indícios que os treinadores entrevistados utilizam toda uma gama de fatores humanísticos na preparação físico-esportiva. Valorizar o entorno, verificar os estágios maturacionais, criar uma atmosfera positiva, motivante, de responsabilidade e crescimento pessoal, tudo isso compreende a importância da valorização “todo”, no alcance dos resultados (BARBANTI,1994). Sendo, porém, os destaques distintos: um destaca a atmosfera, o outro a maturidade esportiva e outro ainda disciplina e aprendizados diários.

QUESTÃO 6 Como você realiza o planejamento dos seus treinos? Ao início da temporada, sempre elaboramos o programa do ano, sendo constantemente revisado, mas especialmente, no segundo semestre ao final e avaliação do que aconteceu na primeira etapa da temporada. Sobre os treinamentos da semana, o programa semanal Alexandre Pussieldi feito a cada semana, mas os treinamentos somente no dia anterior. Este elemento pontual sempre foi uma característica do trabalho, apontando de forma mais específica os pontos identificadores nas respostas dos atletas pelo trabalho e sobrecarga. 1) Ciclos bem definidos com objetivos claros e acordados; 2) Respeito ao modelo matemático usado e adaptado a Alexandre Soledade cada estilo e nado; 3) Respeito ao nível, tempo e ao foco do atleta; 4) Planejamento individual. Planejamento é a base de todo trabalho no esporte, sem ele não existe desenvolvimento e consequentemente resultado. Por isso, investimos tanto tempo no planejamento, pois com um plano de qualidade temos uma direção clara do que devemos fazer a cada dia e Jefferson Carvalho Neves com isso construir aquilo que desejamos. Na prática a minha organização de treino está altamente relacionada aos objetivos da temporada e dividida em ciclos de 1 a 4 anos ou 6 meses, dependendo do nível do grupo ou atleta.

Nossos entrevistados têm posições semelhantes e complementares, quanto ao planejamento dos treinos. Todos fazem um planejamento, dividem em ciclos (semanas/meses/anos), consideram o objetivo e a individualidade, muito embora o Pussieldi não deixa isso claro nessa resposta, mas sim em outras adiante, conforme se constatará. Todavia um destaca um programa semanal, outro um modelo matemático e

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outro um plano diário retirado de um planejamento bienal ou quadrienal (temporadas ou ciclos). Todas as características citadas pelos três são muito importantes quando descrevem o desenvolvimento esportivo de longo prazo, a ponto de afirmarmos que se não se respeitarem as características individuais e acompanhar as cargas, processo de recuperação, e níveis de estresse das mesmas em tempo real e de forma efetiva, com toda certeza não se terá um atleta de bom nível por muito tempo (GOMES, 2009).

QUESTÃO 7 Quais os objetivos e/ou habilidades o seu treinamento busca desenvolver? Dependendo da parte da temporada em análise, mas no esporte da natação o mais simples de definir isso é Alexandre Pussieldi efetuar o nado de forma mais rápida, mais econômica e mais fácil. Feeling é o principal. Ele precisa aprender dar feeling e receber feeling do seu corpo quando está em Alexandre Soledade movimento. Sem esse “tato” pode morrer no final de uma prova. As chaves do sucesso na minha opinião é a sensibilidade e desenvolvimento progressivo das inúmeras capacidades físicas, mentais, pessoais e sociais necessárias para o resultado, pois devemos ao Jefferson Carvalho Neves mesmo tempo que desenvolvemos a força devemos desenvolver a habilidade de aplicá-la no momento exato, assim como em um momento de tensão, cobrança, ansiedade, o atleta tem de mostrar a sua melhor versão, situações de extrema complexidade.

Fator de extrema importância nos esportes aquáticos a sensibilidade ou feeling é abordada por Soledade, sobretudo, e tangenciada pelos outros dois treinadores, no sentido de que este desenvolvimento precisa acontecer de forma plena, pois na água o ganho de força, potência, resistência tem a necessidade de estar associada ao desenvolvimento da aplicação efetiva destes ganhos, caso contrário teremos um atleta muito forte, potente ou resistente, mas que que não consegue aproveitar estas características de forma plena. Um outro ponto abordado pelos treinadores e na literatura, é o desenvolvimento das características competitivas, ponto que deve estar muito presente no cardápio de treinadores, pois alinha com o fato de em muitas situações termos atletas extremamente bem-sucedidos em treinos, mas que nas competições deixam a desejar (SAMULSKI; NOCE e CHAGAS, 2009).Os destaques, todavia, são descritos de formas distintas:

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Pussieldi fala em nado econômico e rápido; Soledade especifica felling (mais que propriocepção) e Jefferson destaca capacidades sócio- emocionais associadas às físicas, que inclusive vem a ser citadas na BNCC como competências curriculares a serem desenvolvidas pelos alunos na escola em geral (BRASIL, 2013).

QUESTÃO 8 Quais características pessoais você acredita que são contempladas neste trabalho? A especificidade do treinamento traz um elemento de gratificação para o atleta, ele sabe que o trabalho está Alexandre Pussieldi sendo feito para ele, isso determina um ganho enorme na confiança e autoestima. Alexandre Soledade O não mensurável do treinamento Inúmeras, podemos citar a disciplina, foco, senso de responsabilidade, etc... as mesmas se utilizadas da Jefferson Carvalho Neves forma correta são aplicadas em todas situações e momentos da vida.

Podemos afirmar que Soledade e Jefferson caminham na mesma direção; Pussieldi vai para outra, porém não é uma postura contraditória, como se pode verificar: para Pussieldi o destaque é a especificidade, a personificação que faz com que o sujeito se sinta único; Soledade fala em “o não mensurável” que quando questionado ele diz que significa: “Os fatores gerais da formação humana, mais voltada a formação para a vida”; já a resposta de Jefferson nos traz elementos que sendo estimulados e fortalecidos nos treinos e competições podem ser utilizados por toda vida.

QUESTÃO 9 Como são realizadas as avaliações dos seus objetivos? O treinamento diário é contabilizado em números e fatores que são registrados para análise e comparação, Alexandre Pussieldi controle lactácido periódico, além das avaliações de PSE. Físicas: Pela obtenção dos resultados de Aeróbio 2 na Alexandre Soledade época certa ou janela de resultado; não mensuráveis: No feeling do atleta Sempre em competições. Durante muito tempo investi muito em avaliações em treinos e laboratórios, mas com o tempo fui observando que tudo é feito para o resultado Jefferson Carvalho Neves competitivo, com isso testar em um ambiente o mais próximo possível do que ele vai enfrentar na hora H é o que vale na minha opinião. Investi muito tempo em

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avaliações que no caso do meu esporte me trazia apenas números e com o tempo fui ajustando isso e conseguimos de forma muito objetiva construir ferramentas de aplicação prática que nos entregam resultados fantásticos.

Todos os treinadores realizam as avaliações quantitativas e mensuráveis de forma direta, porém com estratégias variadas. Soledade, entretanto, também associa sua avaliação quantitativa ao feeling, ou sensação e percepção; portanto, três características e formas de se visualizar as avaliações muito similares, primeiramente as tradicionais, como mensurar os tempos de treinos, controlar características físicas (como percentual de gordura, peso total, nível de força, etc...), e outra, que se baseia em avaliar as performances e comportamentos em competições, também quantitativas, que na visão de quem as aplica, tem a característica da ambientação competitiva, o que se aproxima mais dos fins (SILVA, 2010).

QUESTÃO 10 As características individuais de cada atleta são levadas em consideração? Como? Sempre! Elementos como idade, experiência de treinamento e resultados, sexo, provas a serem disputadas, são características que separam os atletas Alexandre Pussieldi em diferentes tipos de treinamento. Interessante dizer que a especificação de treinamento é algo que trabalho desde a década de 80, antes mesmo de ter nadadores de alto rendimento. Vai além do biótipo. A mecânica é mais importante às Alexandre Soledade vezes. Sempre, ela é a base para o desenvolvimento e na prática buscamos a mesma adaptando cada exercício ou Jefferson Carvalho Neves técnica as características de cada atleta, além dos estímulos mentais que devem ser extremamente individualizados e temporais.

Novamente treinadores convergem no sentido de aplicar este que é um dos princípios básicos do treinamento. A individualidade citada por Pussieldi que diz que sempre atuou com especificidades de cada atleta, avaliando inclusive a idade, sexo, experiência em competições, o que nos parece a priori uma posição a corroborar com aquela assumida anteriormente pelos treinadores de que mais importante que a idade cronológica, devemos considerar a idade biológica quando falamos de performance e desenvolvimento humano. Pussieldi diz também que ele pode competir em idades distintas da sua, considerando a habilidade sobretudo; são variáveis multifatoriais,

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consideradas globalmente; e Soledade afirma que a análise tem de ir muito além do biótipo, valorizando assim mais a mecânica na água; Jefferson cita que além de levar em consideração a individualidade física/biológica, deve- se considerar também a mesma no que se refere ao trabalho mental e social (SAMULSKI, NOCE e CHAGAS, 2009).

QUESTÃO 11 Você tem algum apoio institucional? Alexandre Pussieldi Jamais. Alexandre Soledade Nunca tive

Jefferson Carvalho Neves Sempre das instituições que trabalhei e algumas vezes estatais (Estado, ministério, CBDA, COB...).

Nesta questão temos que contextualizar o ambiente, pois temos três realidades diferentes: em relação ao professor Soledade, que trabalhou com o Felipe e os seus demais atletas na formação, sabe-se que em nosso país temos dificuldade em ter continuidade nos projetos esportivos de longo prazo, fato que já foi comentando anteriormente e precisa ser mudado em relação a elaboração de políticas públicas para desenvolvimento de atletas desde a base. Já para Pussieldi, muito embora tenha atuado nos Estados Unidos, onde a natação já tem uma característica mais profissionalizante, afirma não ter tido apoio institucional porque o seu projeto lá era 100% privado. Por fim, temos o momento do Professor Jefferson que trabalhou com Felipe, e aqui ele traz especificamente o caso, em um momento que o atleta já estava em altíssima performance e sendo convocado para todas as seleções brasileiras do período o que o capacitava a receber os incentivos da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos, Comitê Olímpico do Brasil e Ministério dos Esportes.

QUESTÃO 12 Como você orienta seus atletas em relação ao assunto doping? Sempre mantive um diálogo aberto com todos eles, Alexandre Pussieldi supervisiono e controlo os suplementos e medicamentos utilizados. Testou positivo? Sem razões*? Não aprovo em nenhuma situação. Alexandre Soledade *Entender razões com dopagem colaterais e não intencionais. Sou extremamente contra tudo que envolve substâncias Jefferson Carvalho Neves proibidas para ganho de performance, até por entender

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o sistema e saber que para uma substância ser considerada proibida leva-se muito tempo e estudo.

Ponto unânime entre os pares e que tem de ter este posicionamento elogiado e fortalecido na comunidade, pois nunca devemos fomentar a vitória a qualquer custo, muito menos baseada em ilegalidades. Os mecanismos de dopagem representam a face desonesta e desagradável do esporte, ponto que desqualifica os resultados, destrói sonhos e faz com que atletas que não mereciam, tenham resultados extraordinários. Falando especificamente das categorias de base, o doping nestas faixas etárias (12 a 17 anos) quase sempre representam uma carreira que não tem continuidade, pois ao se acostumar com resultados baseados na utilização de substâncias ilegais nestas categorias, onde não há controle antidopagem, ao transacionar as categorias adultas, nas quais há testagens, os mesmos se veem em um grande dilema, continuar dopando e ter a possiblidade de ser pego nos testes ou parar de utilizar as substâncias ilícitas e ver os seus resultados piorarem (DE ROSE JÚNIOR, 2002).

QUESTÃO 13 Em relação a vida acadêmica, como você acredita que deve ser o melhor modelo para que os atletas consigam ser bem-sucedidos? Uma visão pessoal de que o bom atleta é bom aluno, Alexandre Pussieldi esta combinação é determinante e sempre muito incentivada por mim em todas as faixas que trabalhei. Nosso modelo de exigência sobre os petizes e infantis não ajuda os adultos. Modelo precoce de resultados. Alexandre Soledade Professores não deviam estimular a medalha e sim o resultado individual assim o pódio não seria o foco. Que os atletas consigam ser bem-sucedidos. Na minha visão o modelo mais próximo ao ideal é o americano, Jefferson Carvalho Neves que envolve de uma forma muito sinérgica a vida acadêmica e esportiva desde a infância.

Pussieldi e Jefferson afirmam que a vida esportiva bem-sucedida e alinhada com a vida acadêmica parece ser uma fórmula que funciona, e neste sentido consideram o modelo americano um bom exemplo. Interessante associar-se esta ideia ao pensamento de Soledade, quando o foco nunca deve ser exclusivamente o pódio e sim o resultado/desenvolvimento individual, até para que quando o atleta tenha que interromper a carreira, o mesmo possa seguir a sua vida adiante pois terá se preparado para tal (CAFRUNI; MARQUES e GAYA, 2006; SANTANA; FRANÇA e REIS, 2008).

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QUESTÃO 14 Que tipo de estratégias você utiliza para que seus atletas consigam se fortalecer mentalmente para superarem os desafios competitivos e pessoais? Fazemos reuniões periódicas, estabelecemos metas, também incentivo a criarem formas de motivação Alexandre Pussieldi pessoal, como escrever tempos e objetivos mais específicos. Alexandre Soledade Aproximação com seus pais. Os desafiando de forma progressiva e adaptada ao Jefferson Carvalho Neves momento.

Modelos de trabalho distintos, porém, não antagônicos dos três treinadores, estratégias que se utilizadas em conjunto, de forma sistêmica e tendo as suas características complementadas umas com as outras, consolidam resultados extremamente positivos e de longo prazo, pois tudo isso aliado à aproximação e apoio da família, associada ao desenvolvimento progressivo e pautado em metas e em superação dos seus limites pessoais, criam um ambiente muito favorável ao trabalho bem-sucedido de longo prazo (SAMULSKI; NOCE e CHAGAS, 2009).

QUESTÃO 15 Como você entende o papel dos familiares e os amigos dos atletas em seus resultados e treinos? É importante sem dúvida, entretanto, para um atleta de alto rendimento, e com ambições de alta performance, Alexandre Pussieldi precisa ser diferenciado, independentemente de ter ou não tal tipo de apoio. Alexandre Soledade Tudo. Se conscientes = sucesso! Uma parte extremante importante, envolver os pais e Jefferson Carvalho Neves amigos em um modelo vencedor é uma das chaves para o sucesso.

Muito explícito a relevância, mas que deve ter as ponderações de Pussieldi levadas em consideração, pois em todas as faixas etárias a família tem o poder de tanto potencializar de forma fantástica os resultados, como o de atrapalhar os mesmos, caso não esteja envolvida e não se considere parceira no projeto. Pussieldi traz, portanto, essa ponderação importante neste sentido: independentemente de ter ou não tal apoio; sendo, portanto, um desejo genuíno e um talento do atleta.

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QUESTÃO 16 Defina por favor o termo liderança no esporte? Liderança é ser positivo, estar à frente, ser referência. Alexandre Pussieldi Estes elementos, na esfera esportiva, são determinantes. Aquele que consegue ser piloto de suas emoções (foco) Alexandre Soledade não se torna passageiro dos resultados Modelo, exemplo. No esporte você não consegue ser Jefferson Carvalho Neves líder pelo que fala e sim pelo que mostra, vive e apresenta e de resultados.

Ser exemplo, pilotar as emoções e principalmente ser líder positivo e referência pelo que apresenta de resultados, seja ele em que esfera for. Estas características distintas apontadas aqui por cada treinador, se complementam: se referem ao protagonismo que o sujeito tem nas suas escolhas e oportunidades, o que permite que o mesmo escolha a cada treino a posição que quer estar diante do treinador e do grupo, colocando a prova e aperfeiçoando a todo instante essa importante característica (SAMULSKI; NOCE e CHAGAS, 2009).

QUESTÃO 18 Você acredita que os seus ensinamentos por meio do esporte podem ser utilizados pelos atletas em outros contextos de suas vidas? Com certeza, um bom treinador é aquele que influencia Alexandre Pussieldi e gera efeitos positivos que ficarão marcados para sempre, na carreira e após ela. Fui atleta! Por causa de um professor me tornei professor! Graças a outros dois, virei técnico... precisa Alexandre Soledade mais? Carrego esses valores desde que quis competir pela primeira vez. Sem dúvida alguma, isso é o que me moveu no início e Jefferson Carvalho Neves o que me move até hoje, é a essência de tudo e o que faz valer a pena.

Dois dos treinadores respondem à pergunta com um exemplo: pautando- se em suas próprias vidas, mostrando quanto seus professores os inspiraram. Aqui trazemos uma consideração clássica de Sigmund Freud falando de seus professores e da importância da função/força formadora que exercem na vida de seus alunos: tanto para reforços positivos, quanto negativos. Neste contexto estamos diante de três exemplos de inspiração esportiva cujo conhecimento e experiência chegou a outros atores da comunidade esportiva conquanto profissionais, atletas, familiares, dirigentes (KUPFER, 2005).

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo teve como objetivo relatar parte da trajetória competitiva do atleta olímpico cuiabano de natação Felipe Lima, analisar os elementos que ao longo da carreira esportiva, foram capazes de influenciar o engajamento e a continuidade de bons resultados e consequentemente a permanência do mesmo no esporte durante tanto tempo. Os dados levantados nos mostram três elementos interligados, sendo os de ordem pessoal, interpessoal e contextual, que atuaram interferindo nos processos que contribuíram para constituição de uma carreira de excelência. O estudo sugere que atletas que possuem características psicológicas positivas tem uma tendência a enfrentar com mais facilidade as adversidades, assim continuando na prática esportiva. Além da competência para estabelecer relações interpessoais, capacidade que facilitou a convivência com outras pessoas e, também, a participação em contextos esportivos diversos: diferentes locais de treinos, diferenças culturais, metodologia distinta dos treinadores. O engajamento e a permanência do atleta foram muito influenciados pelas relações interpessoais estabelecidas nos contextos de desenvolvimento, as quais, sobressaíram diante de ter, às vezes, estruturas não muito satisfatórias e problemas financeiros, fato que reforça a necessidade de fortalecer os vínculos sociais dentro do ambiente esportivo com a mesma relevância dada às estruturas físicas ou equipamentos. Ficou muito claro que os conhecimentos interpessoais e profissionais dos treinadores, que foram demonstrados por meio de comportamentos que indicam a preocupação, o respeito e o cuidado deles para com as atletas, foram capazes e extremamente eficientes em estabelecer vínculos e atingir dimensões da vida social, proporcionando novas aprendizagens que ultrapassam o ambiente esportivo. Neste aspecto queremos destacar a dificuldade da análise de entrevistas como sendo um paradoxo: de forma geral o pesquisador se defronta com um conjunto de n entrevistas, neste caso quatro, cujo objetivo final é poder inferir algo, por meio dessas palavras, a propósito de uma realidade, representativa de um grupo afim de sujeitos, que fazem parte de um grupo social específico, neste caso sujeitos envolvidos com natação de elite. Mas o paradoxo está em que afinal, também encontramos pessoas na sua unicidade. Isto é particularmente visível em narrativas e neste sentido num esforço narrativo, em jus à fonte de Histórias Orais, buscamos preservar a equação particular do sujeito enquanto fazíamos a síntese da totalidade dos dados verbais dos participantes,

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juntos e separadamente. Assim, a excelência esportiva não deve ser compreendida simplesmente como uma sucessão de categorias e episódios que compõe a carreira dos atletas, e sim como um processo que ocorre a partir da interação de elementos contextuais, pessoais e principalmente interpessoais. Sendo assim, a quantidade de atividades vivenciadas, as estruturas e os materiais disponíveis para prática e os conhecimentos relacionados com etapas/estágios de desenvolvimento, serão de pouca eficiência se o treinador não souber gerir bem seus atletas criando uma atmosfera que fortaleça a relação entre atleta-atleta e atleta-treinador. Por termos tratado de um estudo retrospectivo, ficamos limitados a interpretar os fatos pretéritos, com isso, outros estudos de caráter longitudinal e com mais sujeitos se fazem necessários para que possamos observar a interação entre esses elementos e seus resultados ao longo do tempo. Conheci muita gente, aprendi novas línguas, hoje eu também sou cidadão americano, uma coisa que consegui batalhando muito, isso foi muito bacana, uma evolução muito grande que eu olho para trás hoje e vejo que valeu bastante a pena também com seu incentivo, com incentivo das pessoas que estavam lá, acredito que foi uma das coisas mais importantes que fiz e que foram fundamentais para a minha vida e para o que sou hoje- Felipe Lima.

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WILMORE JH; COSTILL, DL. Fisiologia do esporte e do exercício. São Paulo: Manole, 2001.

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APÊNDICES Apêndice I

Medalhas mais importantes em competições internacionais

Medalhas em Competições internacionais Campeonatos Mundiais- piscina Longa Prata Gwangju 2019 50 m peito Bronze Barcelona 2013 100 m peito Campeonatos Mundiais- Piscina Curta Prata Windsor 2016 4×50 m medley misto Bronze Windsor 2016 50 m peito Bronze Hangzhou 2018 50 m peito Bronze Hangzhou 2018 4×50 m medley Jogos Pan-Americanos Ouro Guadalajara 2011 4×100 m medley Ouro Toronto 2015 4×100 m medley Prata Rio 2007 4×100 m medley Prata Guadalajara 2011 100 m peito Prata Toronto 2015 100 m peito Prata Lima 2019 4×100 medley Universidade Prata 2007 50 m peito Jogos Sul-Americanos Ouro 2014 100 m peito Ouro Santiago 2014 4×100 m medley

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Apêndice II

APÊNDICES Transcrição na integra do Grupo Focal realizado com os Treinadores em dezembro de 2020:

Cleonice Terezinha: Muito obrigado pelo tempo de vocês a vamos tratar este momento como uma entrevista coletiva. Faremos os questionamentos e em ordem gostaríamos das respostas e de forma bem espontâneas, durante as mesmas os entrevistados que se sentirem contemplados com a resposta do colega, não precisam falar, mas se quiserem completar algo sintam- se a vontade. Então vamos para a primeira pergunta: O que vocês acreditam ser importante para se trabalhar com atletas/ alunos até 12 anos? E complementando, como deve ser a condução do trabalho nesta faixa etária? No caso do Felipe, como era nesse período? Alexandre Pussieldi: A natação para mim tem um sentido formativo muito grande, acho que de forma geral vejo ela como estilo de vida, acho que a natação é o único esporte que salva vidas. Logo a natação deve ser proporcionada a todos jovem e aqueles que se destacarem possam seguir adiante. É algo que deveria ser garantido na formação das crianças, uma das formas de garantir essa situação seria a inserção no currículo escolar, entendo que ela é mais formativa, esporte vem depois. Essa formação pessoal, de vida, social é algo muito importante porque quando é feito neste momento nessas faixas etárias elas facilitam muito a vida dos pais, dos professores de sala de aula, além do trabalho técnico, físico, fisiológico e metabólico esse trabalho social é de extrema importância na vida desse indivíduo que pratica a natação. Jefferson Neves: Alexandre disse que essa parte garante a formação pessoal, o Alex chama de estilo de vida, esse trabalho pessoal, social informativo que foi colocado é de extrema importância. Estava falando isso para minha esposa outro dia, em um momento em que um dos meus filhos estava desobedecendo, me veio um pensamento “está faltando para esse menino um treinador igual eu fui para os filhos dos outros”. Pois as vezes por conta das nossas obrigações que temos durante o dia acabamos não conseguindo vivenciar com nossos filhos seu cotidiano, com isso tem a necessidade da presença de alguém que ajude a formar esse caráter, esse serzinho que vai viver em sociedade ao longo de toda sua vida... isso é algo muito importante, precisamos valorizar essa situação.

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Cleonice: Como deve ser a relação treinador/professor/atleta e como é que vocês acreditam que essa relação seja? Explique essa relação? Alexandre Pussieldi: Você vai ter que lidar com o atleta, mas não necessariamente podemos escolher o comportamento ou o perfil do Pai, então você vai receber tipos de sujeitos com perfil totalmente diferente, esses são os grandes desafios, porque na sua maioria irá influenciar o resultado do atleta. Para que o resultado seja adequado não consigo ver um bom desenvolvimento se não existir uma harmonia entre todos os pontos desse processo, e quando falo harmonia eu falo da equipe, do atleta, do treinador e da família, tenho convicção que que se não existir essa harmonia, sempre vai ficar faltando um pedaço. Por exemplo, se você tem uma boa relação com o atleta, com o treinador e a família não se relaciona bem com a equipe, você perde todo o trabalho com a equipe ou com o nadador, da mesma forma se você não tem uma boa relação com a família, você pode gerar um problema de conflito, com isso ele passa a ficar do lado da família, enfim, de qualquer maneira é a harmonia de todos os pontos que será fundamental para que tudo possa acontecer perfeitamente. Houve um momento durante os treinos dele que gerou uma grande esperança e vi que poderíamos levar ele a excelência um dia, pelo grande potencial do Felipe Lima, neste período tínhamos quatro nadadores com grande potencial e que poderiam ao longo de 34 anos alcançar resultados fantásticos por questões fisiológicas e respostas ao treinamento, a envergadura era fantástica. Neste período os pais não quiseram esperar os resultados, o único que teve paciência para esperar, virou o melhor atleta de Mato Grosso, ou outros três por falta de paciência procuraram outros grupos e mandaram seus filhos para São Paulo, para Minas Gerais, é neste aspecto que falamos, não tem como controlar os pais. Claro que nós fomos técnicos maravilhosos, fizemos o possível e o impossível para não criar expectativas em atletas que não tinha potencial no caso do Felipe ele quebrou o recorde brasileiro, com isso partimos para meta de quebrar o recorde do Eduardo Fischer em dois anos. Essa meta surgiu por conta do Eduardo Fischer ser a referência nacional e no continente no estilo peito. Mas até o Felipe chegar para disputar um campeonato absoluto em Santos muita coisa foi construída. Uma coisa muito importante é que eu nunca deixei de ver o adolescente e a criança dentro dele, pois sempre foi um cara muito divertido.

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Cleonice: Que lindo ver essa postura sua Alexandre, durante seu trabalho sempre preocupou em não criar expectativas no Felipe, mesmo sabendo que ele tinha a possibilidade em quebrar um recorde brasileiro, essa formação sobretudo de criança, sei o quanto uma expectativa pode trazer resposta contrária. Alexandre Soledade: A preocupação de assustar o Brasil era grande, porque ninguém conhecia ele, então montamos a estratégia de nadar tranquilo, buscando gradativamente os resultados, campeão brasileiro, campeonato sul-americano, Jogos Escolares brasileiros, campeão dos jogos escolares americanos até chegar o momento que ele olhou para minha cara e falou: Quero buscar o Eduardo Fischer, que hoje é muito amigo dele, como é que faz então, sob minha tutela estava um rapaz que tinha entre 14 e 15 anos. Como estratégia, buscamos a ficha do Eduardo, fomos para prova depois do treinamento que eu fiz, procurei sempre dizer e aplicar objetivos realistas para que nosso nado levasse ao resultado esperado. Neste momento passa um filme em minha cabeça, no dia falei para o Felipe, está pronto para fazer história? Ele desconfiado falou “Como assim fazer história? Reforcei você vai ser o primeiro cara a fazer a marca abaixo de um minuto, vai fazer pode acreditar, fechou com 59 segundos a prova. E ele conseguiu, aí ele virou para plateia apontando para mim falando que eu tinha acertado, que ele sabia que eu tinha falado que ia ganhar acho que talvez foi uma das fotos eu guardo na minha imagem. Foi dessa forma que abriu as portas para a Seleção Brasileira, neste momento conquistamos nosso reconhecimento e visibilidade de grandes clubes como, Vasco da Gama, Botafogo, Pinheiros, todo mundo começou a enxergar aquele menino que estava vindo do Estado de Mato Grosso. O legal é que nesta época nós tínhamos mais três nadadores com o mesmo potencial, só que os pais não tiveram paciência. Nós criamos uma metodologia própria em que sabíamos quando o atleta ia fazer nas provas, nós treinávamos sabendo qual tempo seria realizado na prova. Mas o principal objetivo desta metodologia era que os atletas alcançassem o máximo do seu potencial sem se machucar, a meta era trabalhar a vida toda do atleta sem lesão. Por isso falamos que o trabalho era muito eficiente, fico feliz por ter conseguido levar um de nossos atletas a integrar a Seleção Brasileira, um jovem menino que se transformou em um atleta de alto rendimento, de alta performance.

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Para que isso ocorra temos que entender que o processo competitivo é muito válido no desenvolvimento do nadador, acredito que seja uma das grandes vantagens do sistema americano, é pelo sistema competitivo que os Estados Unidos aceleram esse processo de forma incrível, garante a formação de talentos a cada temporada. Então há um processo competitivo que começa desde a base é desenvolvido nessa fase que você cita especificamente dos 13 aos 15 anos nos Estados Unidos ele é um pouco mais intensivo porque a fase que entra a natação escolar é muito forte na disputa da chamada High School que é extremamente competitiva. Durante a temporada eles competem de umas duas vezes por semana durante três quatro meses, existe toda uma formação competitiva muito intensa e isso necessariamente é uma das coisas que se diferem um pouco do sistema competitivo no Brasil. O sistema competitivo americano não só valoriza o campeão da prova, ele é muito em cima de você melhorar o tempo, esse é o título do atleta, então todos aqueles que estão melhorando eles estão ganhando e a base que é extremamente importante e para o futuro. Para que você tem um atleta de alto rendimento é fundamental que você tenha um sistema competitivo bem aprimorado nessa fase. Cleonice: Agora a gente vai a terceira etapa, queria que vocês falassem um pouco da Condução do trabalho, de horas semanais de treino para um atleta de 16 anos pouco mais que ainda não é de Elite, qual seria essa carga, e daí se vocês tiverem alguma especificidade do Felipe vocês falam: Alexandre Pussieldi: Então, o que classifica um atleta de alto rendimento não é nem a maturação dele e sim o nível de performance que ele tem, então nós tivemos muitos exemplos de atletas que foram campeões olímpicos com 15 anos de idade que é o caso da Katie Ledeck, esse aspecto já coloca um desafio para o profissional, a inteira capacidade de identificar tal tipo de nível de performance do Atleta e encontrar as cargas adequadas não só para idade, não só para o desenvolvimento dele mas também para o aumento de performance dele. Eu quero dizer assim claramente que se você tiver dentro do seu programa um atleta com 15 anos de idade e ele tem níveis altíssimos de performance, capazes de fazer marcas absolutas você não está ajudando o desenvolvimento dele colocando no grupo da faixa etária deles, o certo seria dar a ele a oportunidade de treinar com o grupo de alto rendimento. Então essa seleção e essa escolha precisam ser feitas embasadas em avaliações do profissional comparando com os atletas que ele tem, depois disso encontrar o trabalho adequado. Sei que muita gente acaba determinando o nível pela idade, mas não

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deve ser assim, se tratando de natação de alto rendimento avaliação deve ser na performance e não na faixa etária. Alexandre Soledade: Aqui em nossa equipe não era somente a natação, aqui também, nós gostávamos de entender e olhar de forma mais pessoal, tivemos muitos atletas que se casaram entre si na equipe, com isso víamos que as relações humanas eram intensas também, hoje quando a gente vê o Felipe disputando com pessoas que são muito mais novas que ele, então você percebe que alguma coisa foi bem-feita no passado, um cara que na nossa época era para estar parando de nadar porque não haveria mais condição de ter performances de excelência, e que até hoje está nas listas dos melhores do mundo. Quando todo mundo esperava que ele não teria mais rendimento, pois quantas vezes ele teve um desempenho de altíssima qualidade já pouco mais velho, na contramão disso tivemos ótimos resultados no Brasil com atletas mais novos, como a Ana Marcela que com 14 anos já ganhava competições absolutas de mar aberto. Com isso acredito que não devemos dar pressão demais nos atletas pois com isso pode acontecer com eles que se não tiverem uma boa estrutura psicológica e familiar, e ao chegar nas Olimpíadas eles não conseguem bons resultados, pois vejo isso como um grande sinal da pressão assoberbada sobre as pessoas, as vezes muito difícil de aguentar. Carrego comigo uma frase de um técnico americano, que dizia que “nos Estados Unidos eles não ficam muito preocupados com medalhas, pois se o meu atleta não ganhar medalha outro atleta americano o fará, com isso se consegue distribuir a responsabilidade”, no Brasil às vezes se tem um cara fora de série e todo o país fica em suas costas, e as vezes essa cobrança começou lá atrás, e como o professor falou, se ele não foi trabalhado isso lá atrás, pode ser que ele não aguente a pressão. Cleonice: Gostaria que vocês falassem um pouquinho dessa precariedade do Brasil nos esportes e também que o professor Alexandre Pussieldi falasse de como é nos Estados Unidos esta situação de não estarem tão preocupados com esse, ou aquele porque eles têm 100 competidores do mesmo nível na mesma categoria. Jefferson: Faz um paralelo para nós Alex sobre a importância da estrutura comparando a alguns dos espaços que você vivenciou no Brasil e o que você teve nos Estados Unidos à disposição. Alexandre Pussieldi: Aqui talvez devamos ir para o espírito e cultura esportiva que talvez seja a grande diferença quando se analisa o esporte de alto rendimento especificamente a natação do Brasil e como ela é nos Estados Unidos. Lembrando que nós estamos comparando um país que pertence ao bloco intermediário com outro que é a maior potência da natação no mundo. Eu não vejo diferenças expressivas na questão do

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treinamento, eu não acho que o treinador americano é melhor que o brasileiro, mas eu acho que existe um sistema muito bem organizar e muito bem administrado, e além disso uma cultura muito forte uma cultura muito, e ela nada mais é de olhar para natação como se fosse um esporte coletivo e não individual. Outra situação é que o americano é extremamente competitivo, desde o princípio ele entende o processo competitivo como formativo, nós do Brasil ainda temos uma certa restrição as competições. Então eu vejo que isso impacta e também acho que é determinante e o fato de como você tem essa organização e cultura, você já sabe exatamente como as coisas vão funcionar não só nessa temporada, mas nas próximas. Quando serão os eventos, quem poderá participar, onde será, então há uma certa tranquilidade para você fazer um planejamento. Com isso eu não falo apenas do planejamento técnico ou estratégico, mas também financeiro. Então acho que esse aspecto para mim é que realmente faz a grande diferença entre as duas estruturas. Jefferson: Na verdade nós temos tão bons resultados em estruturas às vezes não tão boas, mas esse sistema olhando por tudo que a gente já viveu aqui no Estado também inclusive esse sistema ou a falta de sistema de forma organizada também é uma das coisas mais importantes que vemos. Apenas para citar um exemplo, sofremos uma intervenção na federação local em 2003/2004 que a confederação teve de nomear um interventor, e isso fez com que a gente não conseguisse inscrever os nossos atletas nas competições regionais nacionais e isso foi um fato fundamental para perda de muitos atletas por conta exatamente de que o sistema estava muito falho. As estruturas não tinham mudado, os atletas eram os mesmos, porém o sistema estava com uma grande falha fazendo com que muitos atletas abandonassem o esporte de uma maneira geral aqui no estado. Nos anos de 2014 a 2018 o esporte foi abandonado, largado de lado aqui no Estado, inclusive sem o mesmo cumprir com o mínimo de suas obrigações como comprar as passagens para competições nacionais que eram de sua obrigação, mesmo recebendo recursos federais para isso. O resultado disso foi que perdemos uma geração de atletas, pois os que tinham resultados mais expressivos procuraram outros estados para continuar no esporte, e os que ainda tinham resultados intermediários pararam para fazer outras coisas, com isso o Estado ganhou novos frentistas, balconistas novos motoristas e perdemos muitos atletas aí por falta de um sistema organizado, por falta de um sistema eficiente. Alexandre Soledade: Ao olhar por esse prisma você me acendeu bastante a luz para o que realmente fez muita diferença nos resultados e nas performances que a gente

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teve aí entre boas e ruins e mesmo competindo com pouca estrutura para os treinos, mesmo assim a nossa equipe teve um número bem grande de atletas de boa performance nas categorias de base. Jefferson: O que na opinião de vocês é importante nesta transição entre o esporte formativo e o esporte de Elite? O que vocês acham mais importante que façamos para perder o mínimo possível de atletas neste de transição? Alexandre Pussieldi: De maneira geral não existe uma resposta muito precisa porque a gente não sabe quem serão, quantos serão, quais serão os atletas que chegarão ao alto rendimento, então por conta disso quando eu acho que você estabelece um parâmetro de trabalho eu acho que você tem que dar a oportunidade para que todos possam postular essa posição. Eu acho que talvez também seja um outro elemento que na natação americana acontece, me lembro muito bem que antes de ir para os Estados Unidos eu trabalhava em um clube do Brasil e neste clube eu chegava a rejeitar alguns atletas e quando vim trabalhar nos Estados Unidos a gente aceitava todo mundo porque a natação americana, ela tem um contexto de business. Também para mim hoje é muito importe este contexto inclusivo, pois até mesmo dentro dos Estados Unidos muitos nadadores vieram a se destacar mais tarde graças a essa oportunidade inclusiva que se estende para carreira universitária onde os nadadores atingem a magnitude física de todos os seus desenvolvimentos. Então essa abordagem um pouco mais inclusiva está no americano, é essa perspectiva um pouco maior quando eu acho que nós fazemos um determinado programa. Eu acho que você tem que fazer um trabalho já prevendo que determinado tipo de talento venha aparecer no seu programa. Então quando você começa o programa por menor que ele seja você vai oferecer o trabalho e assim que o mesmo for sendo desenvolvido e sim e por algum aspecto você tiver o aparecimento de algum atleta você vai ter que fazer este ajuste, caso contrário você poderá perder esse talento. Se você tem um nadador se destacando você tem que fazer um determinado ajuste no seu programa que permita e continue a trabalhar esse talento. Pode ser que às vezes até mesmo o programa que você tenha seja um pouco limitado e você não consiga oferecer tal tipo de ambiente de alta performance. Com isso você mesmo acaba sendo sugestionando um determinado programa para que este talento seja desenvolvido. Mas de qualquer forma o que eu acho é que quando você está no comando de um programa, você tem que trabalhar já pensando na possibilidade de que haja a necessidade você venha ampliar para o alto rendimento. Uma outra situação é que nos Estados Unidos

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não se comemoram resultados de escola, pois ao invés disso comemora- se resultados de universitários de uma forma absurda. Jefferson: Qual é o papel na sua opinião do treinador e a relação do Atleta no esporte Elite e os companheiros de equipe? Alexandre Soledade: Sobre o Felipe, eu só tenho coisas boas a falar, porque para mim é uma honra ter oportunidade de ter trabalhado com ele. Não há dúvida de que se trata de um fora de série, é um cara que acrescentou muito no programa que a gente trabalhava, o Felipe para mim foi dentre os vários atletas que eu tive, aquele que foi mais profissional. Com ele vivenciei um profissionalismo muito forte, vi uma seriedade muito grande e os resultados não vieram por acaso. Ele é merecedor de todo sucesso e reconhecimento que ele alcança, para mim posso ser sincero de que fico extremamente impressionado em vê-lo aos 35 anos de idade conseguindo fazer melhores marcas pessoais. Isso me deixa extremamente feliz. Assim até não surpreso, mas impactado, e isso só é possível graças a este super- profissionalismo que ele tem, ao cuidado que ele tem com as mínimas coisas. Alexandre Pussieldi: O Felipe tem uma outra característica que eu acho que difere ele dos demais, pois o vejo como uma pessoa extremamente meticulosa, ele administra os horários dele, a hora que come, o lugar que ele come, o que ele come primeiro o que ele come, depois lugar que ele senta, é toda uma sistemática que faz parte da carreira dele, e isso é uma parte muito importante para a manutenção desta longevidade. Outra coisa que me chamou atenção e é algo que falado mais cedo eu queria ter dito, mas eu vou falar agora, o Felipe se cuidava muito, porque naqueles períodos tínhamos poucos atletas com lesões, mas eu sempre tive problemas de atletas com lesões quando chegavam no meu programa. Eu sempre acreditei que quando você troca de técnico em uma troca de programa, existe uma fase de adaptação, então o grande número de lesões que eu tinha no meu programa era de atletas novos que entravam no programa, e no caso do Felipe isso não aconteceu, e não aconteceu porque ele se cuidava muito, ele é um cara que tinha uma responsabilidade muito grande. Jefferson: Eu sinto que uma das coisas que ajudou um pouco nisso, foi que quando ele foi para o seu programa, foi experimentando aos poucos. Primeiramente passou pouco mais de dois meses, pois ficava pensando “vai que não dá certo”. Com isso ele ficou um tempo e vocês fizeram com que ele sentisse confiança, interagisse com todo mundo dentro da equipe e funcionou tanto que ele se tornou até cidadão americano depois de um tempo.

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Toda essa adaptação que ele teve nesse período aí e esse profissionalismo, não foi assim tão rápido. Felipe na fase de juvenil, ele era meio displicente, foi por um período bastante grande ali, acredito eu até os 19 mais ou menos quando voltou a morar em Cuiabá e aí ele começou a ser um pouco mais profissional porque além de tudo, foi se tornando muito metódico no sentido financeiro, então ele começou a investir financeiramente de forma pessoal em sua carreira, claro que como estudante ele sempre fez isso, daí nunca deixou de investir na carreira, mas quando ele viu que o negócio ia muito longe, isso foi ficando mais sério ao ponto de que ele fosse ficando cada vez melhor. Além de tudo isso, todos esses fatores que vocês estão falando, tenho de destacar o que já falei algumas vezes para ele, e o Alex também já ouviu isso de mim, o Felipe é uma das pessoas mais incríveis que eu conheço no sentido humano de uma maneira geral, ele é um cara de um caráter absurdo, sendo uma das coisas que fazem com que ele seja um dos caras mais respeitados da nossa comunidade aquática. E para finalizar, me desculpem qualquer coisa, muito obrigado de coração mais uma vez pela presença e contribuições de vocês, um grande abraço a todos.

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APÊNDICE

Apêndice III

Termo de Consentimento Livre Esclarecido

UNIVERSIDADE DE CUIABÁ - UNIC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO - STRICTO SENSU MESTRADO ACADÊMICO

TERMO DE CONSENTIMENTO E LIVRE ESCLARECIDO (TCLE) Título da Pesquisa: “Trajetória competitiva do atleta olímpico cuiabano Felipe Lima”

Nome do Pesquisador: Jefferson Carvalho Neves

Natureza da Pesquisa: O Sr. (a) está sendo convidado (a) como voluntário (a) para participar da investigação científica intitulada “Trajetória competitiva do atleta olímpico cuiabano de natação Felipe Lima”que tem por objetivo: Descrever parte da trajetória do atleta Olímpico cuiabano Felipe Ferreira Lima.

1.Envolvimento na Pesquisa: ao participar deste estudo o Ser (a) permitirá que o pesquisador Jefferson Carvalho Neves, realize os procedimentos necessários da entrevista com o atleta e seus treinadores, com gravador. Na entrevista utilizará como instrumentos o roteiro de entrevista, sendo ainda que o Senhor (a) tem a liberdade de recusar a participar, em qualquer fase da pesquisa, sem qualquer prejuízo. Caso aceite e esteja participando, sempre que necessitar poderá pedir mais informações sobre a pesquisa através do telefone (65) 99972-8939 ou pelo e-mail: [email protected]. Permanecendo a dúvida poderá consultar o CEP: são colegiados interdisciplinares e independentes, de relevância pública, de caráter consultivo, deliberativo e educativo, criados para defender os interesses dos participantes da pesquisa em sua integridade e dignidade e para contribuir no desenvolvimento da pesquisa dentro de padrões éticos: Endereço no rodapé.

1. Riscos: a participação nesta pesquisa poderá ocasionar risco mínimo, talvez desconforto oportunizando o direito de retirar-se a qualquer momento do processo. 2. Confidencialidade: todas as informações coletadas neste estudo são estritamente confidenciais. Somente a pesquisadora terá acesso e conhecimento dos dados. 3. Benefícios: Benefícios são evidentes, visto que serão sujeitos da pesquisa atleta e treinadores, que poderão evidenciar suas fraquezas e transformar em acertos na atuação profissional. 4. Pagamento: o Ser (a) não haverá pagamento e nem recebimento de nenhum pró-labore por participar desta pesquisa. Estando ciente deste esclarecimento, solicitamos o seu consentimento de forma livre para participar desta pesquisa. CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Tendo em vista os itens acima apresentados, eu, de forma livre e esclarecida, declaro que me foi dada à oportunidade de ler e esclarecer as minhas dúvidas. Declaro ainda que recebi uma via deste termo de consentimento e autorizo a realização da pesquisa e a divulgação dos dados obtidos neste estudo.

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CONSENTIMENTO DA PARTICIPAÇÃO DA PESSOA COMO SUJEITO Eu, ,RG/CPF , abaixo assinado, aceito em participar do estudo como sujeito. Fui informado sobre a pesquisa e seus procedimentos e todos os dados a meu respeito não poderão ser identificados por nome em qualquer uma das vias de publicação ou uso. Ficarei com uma via do presente termo. Cuiabá-MT, de de 2020. Assinatura: Pesquisador: