Frankenstein (1931): Teoria Da Eugenia E a Representação Da Figura Do Monstro
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FRANKENSTEIN (1931): TEORIA DA EUGENIA E A REPRESENTAÇÃO DA FIGURA DO MONSTRO DE SOUZA, Paula Tainar. PPGH-FCL UNESP/Assis-SP RESUMO Esta proposta de pesquisa tem como objetivo central analisar historicamente o filme Frankenstein (1931), a fim de compreender a influência da teoria da eugenia na personagem do Monstro. Adaptado do romance Frankenstein, da Mary Shelley – um clássico do Romantismo produzido no século XIX – e dirigido por James Whale, o filme foi produzido pela Universal Studios. O século XIX foi marcado por investigações biométricas, além da tentativa de legitimação científica da teoria racial, diretamente relacionada com a teoria da eugenia. Apesar disso, nota-se a ausência dessa teoria no romance de Shelley, ao passo que no filme é a justificativa principal do comportamento desviante do Monstro, o que pode sugerir que, no contexto de adaptação da película no século XX, as ideias raciais do século XIX ainda exerciam influência. Assim, é o intento da pesquisa analisar Frankenstein (1931) como fonte histórica, para compreender a presença da teoria racial que buscava se propagar e legitimar também através do cinema, bem como a representação da figura do monstro e sua relação com o contexto no qual está inserido. PALAVRAS-CHAVE: Cinema; Whale; Literatura; Shelley; Teoria racial. ABSTRACT This research proposal has the central objective of historically analyzing the film Frankenstein (1931), in order to understand the influence of eugenics theory on the Monster’s character. Adapted from Mary Shelley’s novel Frankenstein – a classic of Romanticism produced in the 19th century – and directed by James Whale, the film was produted by Universal Studios. The 19th century was marked by biometric investigations, in addition to the attempt to scientifically legitimize racial theory, directhy related to the theory of eugenics. Despite this, the absence of this theory is noted in Shelley’s novel, where as in the film it is the main justification for the deviant behavior of the Monster, which may suggest that, in the contexto of adaptation of the film in the 20th century, the racial ideas of the 19th century still exercised influence. Thus, it is the intention of the research to analyze Frankenstein (1931) as a historical source, to understand the presence of the racial theory that sought to propagate and legitimasse also through cinema, as well as the representation of the figure of the monster and its relation with the contexto in which it’s inserted. KEY-WORDS: Cinema; Whale; Literature; Shelley; Racial theory. INTRODUÇÃO A presente pesquisa visa realizar uma análise histórica do filme Frankenstein (1931), dirigido por James Whale. O objetivo da presenta pesquisa é compreender a presença da teoria racial e antropologia criminal, legitimadas cientificamente no século XIX, a partir do recorte de algumas cenas do filme Frankenstein (1931). A película foi produzida pela Universal Studios no início do século XX e ainda possui influência da antropologia criminal, muito influente no século anterior, é uma adaptação do romance Frankenstein, escrito por Mary Shelley. A escrita da obra literária resultou de uma aposta realizada entre Mary Shelley, Percy Shelley e Lord Byron durante um encontro na Villa Diodati em Genebra. Percy escreveu A fragmente of a Ghost History e Lord Byron iniciou Fragment of a Novel – posteriormente, John Polidori se apropriou de parte da narrativa de Byron e escreveu The Vampyre. A competição dos escritores inspirou, inclusive, a produção do filme Gothic (1986), dirigido por Ken Russel. Frankenstein é categorizado não só enquanto uma obra do gênero de terror, mas também ficção científica, considerado um clássico do Romantismo. Narra a história de Victor Frankenstein, um estudante de ciências biológicas, que devido ao desejo de criar algo digno de ser lembrado pela humanidade se dedicou a tentativa de criação de um ser humano. Após abandonar a faculdade e isolar-se de seus parentes e amigos, dedicou-se aos estudos por conta própria em seu laboratório. Na narrativa literária, o cientista trabalha sozinho, ao passo que no filme, possui um assistente chamado Fritz. Após o sucesso de seu experimento, Victor Frankenstein fica atordoado devido ao desconhecimento de como inserir sua Criatura na sociedade e amedrontado pela possibilidade do julgamento alheio. O romance trata de temas e discussões atuais, tendo inúmeras adaptações para cinema, assim como teatro, rádio e televisão. A primeira adaptação para um filme ocorreu em 1910, produzida por Thomas Edison, é um curta metragem mudo com aproximadamente 13 minutos de duração. A versão clássica foi realizada em 1931 por James Whale. Entre outras adaptações cinematográficas, podemos destacar: A noiva de Frankenstein (1935), O filho de Frankenstein (1939), A verdadeira história de Frankenstein (1973), O jovem Frankenstein (1974), Frankenhooker (1990), Frankenstein: o monstro das trevas (1990), Frankenstein de Mary Shelley (1994), Frankeweenie (2012), Victor Frankenstein (2015), entre outros. O Cinema é um dos agentes mais influentes na sociedade de massa. Essa massificação influencia os setores sociais, econômicos, políticos e culturais. A arte que era restrita as camadas privilegiadas é democratizada com o surgimento da reprodução técnica (BENJAMIN, 2012). Esse fenômeno técnico possibilita a produção serial, mais produtos em menos tempo, que abala o costume e a tradição, pois com esses instrumentos torna-se incomum a existência única de algo. Quando os irmãos Lumière inventaram o cinematógrafo, a sociedade enfrentava tantas mudanças, que o cotidiano sofreu modificações e foi preciso se acostumar com as novas relações para tentar compreender esses instrumentos que estavam surgindo. Ao passo que, durante o período entre guerras, contexto de produção de Frankenstein (1931), o desespero era tão intenso, que o cinema pode ter sido uma das possibilidades de válvula de escape da crise. O que poderia justificar o grande público que frequentava as salas de projeções. NEOCOLONIALISMO E AS TEORIAS RACIAIS DO SÉCULO XIX No século XIX a Europa estava passando pela segunda Revolução Industrial e com ela, a consolidação do avanço tecnológico e científico. Em meio ao processo de industrialização, tornou-se necessário expandir os mercados consumidores, uma vez que só os países europeus não seriam capazes de absorver a própria produção. Com o objetivo de expansão do mercado e da produção, se tornou necessário buscar matéria-prima e mercado consumidor em outros continentes, colonizando-os. O fenômeno ficou conhecido como Neocolonialismo e teve seu auge com a Primeira Guerra que ocorreu no início do século XX, momento no qual os interesses capitalistas também colheram benefícios (FERGUSON, 2014). É sabido que todo processo colonial envolve vários níveis de violência, uma vez que o povo colonizado apresenta resistência ao poder que tenta se impor. Nesse contexto, surgem as teorias raciais com o objetivo de legitimar a exploração e domínio imperialista sobre outros continentes, principalmente africano e asiático. As teorias raciais tentaram legitimar cientificamente o processo colonial e a superioridade de um povo sobre outro através da criação do conceito de raça. Embasado em características fenotípicas e morfológicas, tais como a cor da pele, tipo de cabelo, conformação facial e do crânio, a teoria ficou conhecida como darwinismo social. Para o desenvolvimento do darwinismo social, Herbert Spencer se apropriou da teoria de evolução das espécies cunhada por Charles Darwin e o inseriu no plano social. Darwin (2018) defendia que alguns seres sobrevivem se estiverem mais aptos a se reproduzirem e/ou melhor se adaptarem ao meio no qual estão inseridos, mecanismo de seleção natural. O darwinismo social de Spencer (1936) defendia que, a lei que administra o desenvolvimento físico e mental do indivíduo, é a mesma para o progresso social e suas instituições, atividades, relações e afins. Ou seja, a evolução e o progresso são conceitos aplicáveis de forma universal e, portanto, equivalentes. Conforme o Homem dominasse o território, simultaneamente ele também sofreria uma evolução física. Na prática, isso teria se iniciado com o surgimento dos nossos ancestrais e desde então estaria evoluindo rumo ao progresso - conceito forte do Iluminismo. Sendo assim, em um primeiro momento o Homem vivia em uma condição de selvageria, onde dependia totalmente do que a natureza oferecia, por isso era nômade. Conforme evoluiu para o estágio de barbárie houve o desenvolvimento da agricultura e a domesticação dos animais, tornando possível a sedentarização, mas ainda é um domínio rústico e limitado. No terceiro estágio, de civilização, há o domínio total da natureza, onde as construções, organizações e relações sociais se tornaram complexas, marcada pelo processo de industrialização. Desse modo, a teoria racial defende que em alguns continentes os indivíduos estavam atrasados em seu processo de progresso, de modo que caberia ao homem europeu branco, o civilizado, auxiliar na agilização de evolução de povos ainda selvagens e/ou bárbaros. A teoria racial, com base na Taxonomia Moderna (1758), estabeleceu uma classificação biológica vinculando de maneira determinada território, características físicas e morais. Dividiu-se as supostas raças existentes da seguinte forma: Homo Sapiens Europaeus: Europa, homem branco, moralmente justo e forte; Homo Sapiens Americanus: América, homem vermelho, subjugável e não regrado; Homo Sapiens Asiaticus: Ásia, homem amarelo, ganancioso e melancólico; Homo Sapiens Afer: África, homem