UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Curso de Ciências Biológicas - Bacharelado

Trabalho Acadêmico

ACIDENTES COM ANIMAIS PEÇONHENTOS NO EXTREMO SUL DO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL

Luciana Bandeira Gomes

Orientador: Prof. Dr. Althen Teixeira Filho

Pelotas, 2010

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Luciana Bandeira Gomes

Acidentes com animais peçonhentos no extremo sul do Rio Grande do Sul, Brasil

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Pelotas como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Ciências Biológicas.

Orientador: Prof. Dr. Althen Teixeira Filho

Pelotas, 2010

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Banca examinadora: ______Prof. Dr. Althen Teixeira Filho

______Prof. Dr. Juraci Almeida César

______Prof. Dr. Antônio Libório Philomena

______Prof. Dr. José Eduardo Dornelles

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à minha família, em especial à minha mãe, Rosane, e ao meu namorado, Filipe, pelo apoio e compreensão com que pude contar, os quais foram imprescindíveis à conclusão deste projeto de vida, e também aos meus amigos, que me ajudaram a realizar esta jornada com alegria e satisfação.

Ao meu orientador, prof. Dr. Althen Teixeira Filho, pela confiança em mim depositada, e por toda a dedicação, orientação e atenção com que sempre pude contar: muito obrigada!

Agradeço também a todos os professores que participaram de minha formação acadêmica e a todos aqueles que de alguma forma me ajudaram na realização e desenvolvimento deste trabalho, em especial à sanitarista da 3ª

Coordenadoria Regional de Saúde, Ana Lúcia Campelo Tavares, que sempre me atendeu com boa vontade, prestando as informações e o auxílio que estavam ao seu alcance, à Dra. Ana Maria Borges Teixeira e ao Prof. Dr. Juraci Almeida Cesar, pela atenção, ajuda e preciosas sugestões que me foram disponibilizadas.

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RESUMO

GOMES, Luciana Bandeira. Acidentes com animais peçonhentos no extremo sul do Rio Grande do Sul – Brasil. 2010. Trabalho Acadêmico (Graduação) – Curso de Ciências Biológicas - Bacharelado. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas.

Acidentes com animais peçonhentos são uma das maiores causas de intoxicação humana no Brasil e no estado do Rio Grande do Sul. Os que apresentam importância médica no estado são causados por aranhas, serpentes, lagartas, abelhas africanas e escorpiões. A notificação dos mesmos é obrigatória no país, mas os dados ainda não foram analisados de forma a fornecer informações completas, como variação sazonal e frequência anual. Tal conhecimento é de grande importância para a manutenção adequada de reservas de soros e implantação de programas de prevenção e controle; com base nisso, realizou-se este trabalho com o objetivo geral de quantificar e qualificar quanto ao agente causador dos acidentes com animais peçonhentos ocorridos na região de abrangência da 3ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS) do Rio Grande do Sul, no período de 2007 a 2009. Foram coletados dados através do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) na sede da 3ª CRS. Os acidentes se concentraram especialmente nos meses de janeiro, fevereiro e março e, foram causados na sua maioria por serpentes. A cura foi o desfecho da maioria das intoxicações e a soroterapia foi utilizada em mais de 50% dos casos. Identificou-se ampla distribuição dos acidentes e variações quanto à parcela correspondente a cada entre os anos estudados. A partir dos resultados obtidos, concluiu-se que o tratamento e manutenção de reservas sorológicas na região é eficiente, sendo sugerido, no entanto, a implementação de programas de prevenção e controle, com o intuito de diminuir prejuízos associados a estes eventos.

Palavras-chave: Serpentes. Aranhas. Acidentes. Peçonha, 3a Coordenadoria Regional de Saúde – RS.

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ABSTRACT

GOMES, Luciana Bandeira. Accidents involving poisonous in south Rio Grande do Sul, Brazil. 2010. Academic (Graduation) – Biological Science - Baccalaureate. Federal University of Pelotas, Pelotas

Accidents involving poisonous animals are among the main causes of human intoxications in Brazil and Rio Grande do Sul state. Injuries caused by spiders, , scorpions, african bees and caterpillars represent medical importance. The notification of those is mandatory in the country, but these data were not yet analysed to provide specific information, such as seasonal variation and annual frequency. Such knowledge is very important to keep proper serum reserves and to install control and prevention programs, based upon that, this paper’s main goal is to quantify and qualify according to agent, the accidents occurred in the coverage area of the 3rd Regional Health Coordination (CRS) of Rio Grande do Sul, from 2007 to 2009. Data were collected through Information System for Injuries Notification (SINAN) at the head office of 3rd CRS. The accidents occurred mostly in the months of January, February and March and, were caused, in their majority, by snakes. Healing was the closure of most cases and serum was used in more than half of them. A wide distribution was found, along with variation regarding the animal involved. Based on the results obtained, is possible to conclude that the treatment and serum reserve maintenance are properly working in the region, however, it’s suggested that programs of prevention and control are implemented in the area, aiming to reduce the damages associated to these events.

Keywords: Snakes. Spiders. Accidents. Poison, 3rd Regional Health Coordination of Rio Grande do Sul.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Localização do Rio Grande do Sul no Brasil, e da área de abrangência da 3ª CRS no Rio Grande do Sul ...... 15

Figura 2 Distribuição dos acidentes com animais peçonhentos segundo o mês de ocorrência, de 2007 a 2009. Fonte: SINAN, 2010 ...... 17

Figura 3 Distribuição mensal dos acidentes com animais peçonhentos nos anos estudados, relacionada às variações de temperatura no mesmo período no município de Pelotas...... 18

Figura 4 Partes do corpo onde foram registradas picadas por animais peçonhentos no período estudado...... 20

Figura 5 Acidentes por animais peçonhentos por tipo de acidente, de 2007 a 2009 Evolução da ocorrência e distribuição por classe de animal peçonhento dos acidentes registrados de 2007 a 2009. Fonte: SINAN, 2010...... 22

Figura 6 Evolução da ocorrência e distribuição por tipo de animal peçonhento dos acidentes registrados de 2007 a 2009...... 23

Figura 7 Precipitação pluviométrica em mm, registrada para o município de Pelotas em cada ano estudado. Fonte: Estação Agroclimatológica de Pelotas, 2010...... 27

Figura 8 Variação da ocorrência de acidentes com abelhas entre os anos estudados. Fonte: SINAN, 2010...... 28

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Acidentes com animais peçonhentos notificados entre 2007 e 2009, segundo período do ano, sexo e faixa etária do paciente...... 19

Tabela 2 Acidentes com animais peçonhentos por local da picada, uso de soroterapia e evolução do caso...... 21

Tabela 3 Acidentes por animais peçonhentos ocorridos na região entre

janeiro de 2007 e dezembro de 2009, distribuídos por tipo de 24 acidente e zona de ocorrência......

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LISTA DE ABREVIATURAS

CEVS – Centro Estadual de Vigilância em Saúde CIT-RS – Centro de Informações Toxicológicas do Rio Grande do Sul CRS – Coordenadoria Regional de Saúde EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária FEPPS – Fundação Estadual de Produção e Pesquisa em Saúde FUNASA – Fundação Nacional de Saúde IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDH – Índice de Desenvolvimento Humano PIB – Produto Interno Bruto PNUD – Programa da Nações Unidas para o Desenvolvimento SINAN – Sistema de Informação de Agravos de Notificação SINITOX – Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas UFPel – Universidade Federal de Pelotas

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...... 10

2 OBJETIVOS...... 13

3 METODOLOGIA...... 14

3.1 Área de estudo...... 14

3.2 Procedimento de coleta e análise de dados...... 15

4. RESULTADOS...... 17

5. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO...... 25

REFERÊNCIAS ...... 31

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA...... 37

APÊNDICE...... 39

ANEXOS...... 50

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1 INTRODUÇÃO

Animais peçonhentos (como serpentes, aranhas, escorpiões) são aqueles que produzem substâncias tóxicas conhecidas como biotoxinas, sendo diferenciados dos venenosos por possuírem estruturas especializadas para inoculação destas secreções. Em geral, tais adaptações são utilizadas como forma de defesa quando se sentem ameaçados, ou como instrumento de predação (COELHO, s/d). Acidentes com estes animais são uma das maiores causas de intoxicação humana na África, Sudeste da Ásia e na América Latina (CHIPPAUX J.P., 2008). No Brasil, representam a segunda ocorrência de envenenamento em humanos, superadas apenas por aquelas causadas por medicamentos (BORTOLETTO & BOCHNER, 1999). No Rio Grande do Sul, foram realizados 19.644 atendimentos a pacientes com intoxicação no ano de 2006; destes, 5.647 foram causadas por acidentes com animais peçonhentos (CENTRO DE INFORMAÇÃO TOXICOLÓGICA DO RIO GRANDE DO SUL, 2002). Desde 1986 existe no país o Programa Nacional de Controle de Acidentes com Animais Peçonhentos, criado pelo Ministério da Saúde para monitorar os casos. Este programa exige que hospitais e centros de saúde notifiquem todas as ocorrências. Inicialmente, este registrava apenas acidentes ofídicos, mas, a partir de 1988, inclui também os aracnídicos e escorpiônicos (CRISTIANO et. al., 2009). Segundo relatório de atendimentos da Fundação Estadual de Produção e Pesquisa em Saúde (FEPPS) referente ao ano de 2006, divulgado pelo Centro de Informação Toxicológica do Rio Grande do Sul (CIT-RS), os envenenamentos de maior importância são aqueles causados por aracnídeos, ofídios, escorpiões, abelhas africanas e lagartas. Entre os aracnídeos, os casos registrados foram causados principalmente pelos gêneros Lycosa (aranha-de-jardim), Phoneutria (aranha armadeira) e Loxosceles (aranha marrom). Destes, o gênero Phoneutria representa a maior incidência, e o 11

Loxosceles, a maior importância médica, pois causa intoxicações mais severas que os demais (FEPPS1, 2006). O ofidismo é, na maioria, causado por serpentes do gênero Bothrops (jararaca e cruzeira), responsáveis por 98,7% das picadas registradas no estado, no ano de 2006, e por 90% dos ocorridos no Brasil (FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE – FUNASA2,1998). Outros gêneros relevantes no Rio Grande do Sul são o (cobra coral) e o Crotalus (cascavel) e a importância médica desses incidentes decorre do alto risco de vida a que os pacientes ficam expostos (FEPPS, 2002). Segundo o FEPPS (2006) o escorpionismo no estado do Rio grande do Sul representa menos de 7% do total de envenenamentos causadas por animais, sendo causados por quatro espécies de escorpião: Tityus bahiensis (escorpião marrom), Tityus serrulatus (escorpião amarelo), Tityus costatus (escorpião manchado) e Bothriurus bonariensis (escorpião preto), sendo que, destes, os de importância médica no país são os pertencentes ao gênero Tityus (SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES TÓXICO-FARMACOLÓGICAS – SINITOX, 20093). Entre os insetos, os de importância médica são as lagartas e as abelhas africanas, em especial as pertencentes, respectivamente, aos gêneros Lonomia e Apis (FEPPS, 2002). Os casos tratados são registrados em fichas padronizadas para acidentes com animais peçonhentos, as quais são preenchidas pelos centros de saúde nos quais os pacientes são atendidos (em sua maioria, hospitais e clínicas), ou por profissionais das respectivas Secretárias Municipais de Saúde. As fichas são encaminhadas para a Coordenadoria Regional de Saúde, que então insere as informações referentes à sua região no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN4) e os mantém atualizados e corrigidos. Segundo dados do censo populacional de 2007 para esta região, a população somada é de 865 350 habitantes (IBGE, 20075), sendo que 53,4% desses estão incluídos na faixa etária que compreende indivíduos com idade entre 20 e 59 anos.

1 FEPPS – Fundação Estadual de Produção e Pesquisa em Saúde 2 FUNASA – Fundação Nacional de Saúde 3 SINITOX – Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas 4 SINAN – Sistema de Informação de Agravos de Notificação 5 IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

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A região, em conjunto, apresenta taxa de urbanização de 84% e Produto Interno Bruto (PIB6) per capita de R$ 9.825, 00. Seu município sede apresenta IDH7 de 0.816, considerado elevado em relação aos níveis nacional e estadual (PNUD, 20008). O município de Rio Grande apresenta a maior taxa de urbanização entre os estudados, igual a 96, 07%, seguido por Pelotas, com 93, 02% (CEVS, 20059). Estudos sobre a incidência e o agente causador dos acidentes no Rio Grande do Sul ainda são escassos e, além disso, não foram realizados no extremo sul; embora exista o registro dos casos, estes ainda não foram examinados para utilização pelo poder público e por sua população em geral. É importante, também, a análise das variações sazonais e anuais na ocorrência destes acidentes na área de estudo, e se a ocorrência regional é semelhante à citada na bibliografia para outras regiões do estado e País. O conhecimento desses dados é fundamental para a manutenção de reservas de soros adequadas para a necessidade local, para conhecer os problemas atualmente existentes no atendimento, e também, para a adoção de estratégias adequadas de prevenção e controle. Além disso, os resultados alcançados pelo presente trabalho irão permitir a comparação do tipo de acidentes ocorridos na região com os dados estaduais e nacionais encontrados na bibliografia.

6 PIB – Produto Interno Bruto 7 IDH – Índice de Desenvolvimento Humano 8 PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento 9 CEVS – Centro Estadual de Vigilância em Saúde

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2 OBJETIVOS:

Objetivo geral:

Descrever os acidentes com animais peçonhentos ocorridos na área de abrangência da 3ª Coordenadoria Regional de Saúde do Rio Grande do Sul, no período de 2007 a 2009.

Objetivos específicos:

 Analisar quantitativamente as ocorrências e sua variação entre os anos estudados;  Verificar a variação sazonal destes envenenamentos;  Qualificar os casos da região quanto ao agente causador;  Verificar qual zona (urbana ou rural) concentra a maioria destes eventos;  Investigar em que percentagem foi utilizada soroterapia;  Estudar a eficiência do tratamento através da constatação acerca da evolução dos casos;  Analisar quais variáveis presentes nas fichas de notificação são mais comumente ignoradas no preenchimento, e propor estratégias para solucionar os problemas;  Apresentar brevemente a fauna de peçonhentos com importância médica da região, e o respectivo quadro clínico dos acidentes que os envolvem

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3 METODOLOGIA

3.1 Área de Estudo

O Rio Grande do Sul está dividido, administrativamente, em 19 Coordenadorias Regionais de Saúde (CRS10), cujo município sede era o de maior população no momento de sua implantação. A área de estudo do presente trabalho é a região de abrangência da 3ª CRS, localizada no sul do mesmo (Fig. 1), a qual atende 22 municípios: Amaral Ferrador, Arroio do Padre, Arroio Grande, Canguçu, Capão do Leão, Cerrito, Chuí, Cristal, Herval, Jaguarão, Morro Redondo, Pedras Altas, Pedro Osório, Pelotas, Pinheiro Machado, Piratini, Rio Grande, Santa Vitória do Palmar, Santana da Boa Vista, São José do Norte, São Lourenço do Sul e Turuçu. A sede da 3ª CRS encontra-se na cidade de Pelotas, a qual está localizada a 52° 35’ de latitude Oeste e 31° 77’ de longitude Sul (dado obtido através do Google Earth). Segundo a estação agroclimatológica de Pelotas (EMBRAPA - UFPEL11), a região possui clima temperado, tendo no inverno temperatura média de 13,2°C e a normal mínima absoluta igual a -3,0°C, no verão a média é de 22,9°C e normal máxima absoluta de 39,6°C. Apresenta chuvas bem distribuídas por todo o ano, sendo fevereiro o mês mais chuvoso, com média de precipitação pluviométrica anual 1366,9 mm (ESTAÇÃO AGROCLIMATOLÓGICA DE PELOTAS, 2009).

10 CRS – Coordenadoria Regional de Saúde 11 EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária 15

3a CRS

Figura 1 – Localização do Rio Grande do Sul no Brasil, e da área de abrangência da daª CRS no Rio Grande do Sul. Fonte: adaptado de IBGE, 2007 e de CIT12, 2002

3.2 Procedimento de coleta e análise de dados:

Foram coletados, junto à sede da 3ª CRS, os dados referentes a todos os casos notificados na sua zona de abrangência entre janeiro de 2007 e dezembro de 2009. Tal procedimento foi realizado através da base de dados do SINAN, a qual fornece as informações na forma de tabelas. Tal base é alimentada pelas variáveis contidas nas fichas de preenchimento padrão para agravos de notificação, entre os quais estão os acidentes com animais peçonhentos. Os resultados encontrados foram, então, analisados e descritos em relação às seguintes variáveis:  variação das ocorrências entre os anos e meses;

12 CIT-RS – Centro de Informações Toxicológicas do Rio Grande do Sul

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 sexo e idade do paciente;  local da picada;  uso de soroterapia;  evolução do caso;  zona de ocorrência (rural, urbana ou periurbana);  tipo de animal envolvido e,  para aranhas, serpentes e lagartas, gênero do animal causador.

Foi realizada, além disso, análise de tendência linear para o mês e ano de ocorrência, utilizando o programa STATA/SE 11.0, para verificar a relevância estatística de tais informações.

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4 RESULTADOS

Foram notificados na zona de abrangência da 3ª CRS do Rio Grande do Sul 1067 acidentes por animais peçonhentos no período estudado, sendo 359 no ano de 2007, 365 no de 2008 e 343 no de 2009, ou seja, o número total manteve-se constante, registrando um aumento de 1,4% de 2007 para 2008 e uma queda de 5% de 2008 para 2009. O período que registrou o maior número de eventos foi entre janeiro e março, meses que correspondem ao verão, com um total de 552 casos. Já entre julho e setembro, que coincide com o inverno, foi registrado o menor número, com apenas 71 eventos em três anos (Fig. 2), indicando uma relação entre o período climático e a ocorrência de acidentes.

80 73 70 69 70 60 56 57 55 62 50 54 56 47 39 39 39 2007 40 36 34 29 31 2008 30 26

Número deCasos Número 24 2009 20 16 17 18 14 15 12 14 8 9 11 10 5 9 7 7 3 2 4 0 jan fev mar abr maio jun jul ago set out nov dez Mês

Figura 2 – Distribuição mensal dos acidentes com animais peçonhentos de 2007 a 2009. Fonte: SINAN, 2010

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Como demonstrado na Figura 3, o fator climático que influi mais diretamente sobre a ocorrência de acidentes é a temperatura mínima absoluta, pois se nota que a incidência diminui na mesma proporção que esta variável.

40 250 35 200 30 C) o 25 150 ACIDENTES 20 Médias 15 100 Mínimas T emperatura(T 10 50 ocorrências de Número Máximas 5 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Mês

Figura 3 – Distribuição mensal dos acidentes com animais peçonhentos nos anos estudados, relacionada às variações de temperatura no mesmo período no município de Pelotas. Fonte: SINAN, 2010; Estação Agroclimatológica de Pelotas, 2010

Foi analisado também o sexo do paciente, encontrando-se 39,8% destes (N=425) eram do feminino e 60,2% (N=642) do masculino. Com relação à idade dos indivíduos afetados, foi encontrada uma ocorrência concentrada principalmente entre duas faixas etárias: entre 20 e 34 anos, e entre 35 e 49 anos. Estas duas, em conjunto, representam 50,5% de todos os casos, tendo a primeira 269 registros e a segunda, 270, conforme indicado na Tabela 1.

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Tabela 1 – Acidentes com animais peçonhentos notificados entre 2007 e 2009, segundo sexo e faixa etária do paciente

Ano 2007 2008 2009 Total

Sexo

Feminino 144 154 127 425

Masculino 215 211 216 642

Faixa etária

Menos de 1 2 0 1 3

1 – 4 13 24 7 44

5 – 9 32 24 12 68

10 – 14 22 29 30 81

15 – 19 24 20 26 70

20 – 34 101 77 91 269

35 – 49 82 94 94 270

50 – 64 62 62 62 186

65 – 79 21 32 14 67

80 ou mais 0 2 6 8

Total 359 365 343 1067

Fonte: SINAN, 2010

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O local mais recorrente da picada foi o pé, onde ocorreram 28,86% (N=308) das picadas, As partes do corpo mais comumente atingidas estão salientadas na Figura 4.

Figura 4 – Partes do corpo onde foram registradas picadas por animais peçonhentos no período estudado. Fonte: SINAN, 2010 *O tamanho da área destacada é diretamente proporcional ao número de casos em que o local foi picado.

Em 48,2% (515) dos acidentes foi utilizada soroterapia no tratamento do paciente e, em 46,8% (500), a soroterapia não foi necessária, nos 5% restantes não houve registro desta variável. Em 77% (829) dos casos houve cura, em 0,28% (3) ocorreu óbito do paciente por outras causas que não a intoxicação causada pela peçonha, e no restante dos casos (23%) a evolução não foi relatada, conforme demonstrado na Tabela 2.

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Tabela 2 – Acidentes com animais peçonhentos por local da picada, uso de soroterapia e evolução do caso.

Ano 2007 2008 2009 Total

Local da picada

Cabeça 18 39 23 80

Braço 26 25 26 77

Antebraço 18 16 13 47

Mão 30 46 30 106

Dedo da mão 29 30 26 85

Tronco 29 29 15 73

Coxa 17 17 26 60

Perna 46 35 37 118

Pé 107 99 102 308

Dedo do pé 21 14 18 53

Soroterapia

Sim 195 146 174 515

Não 144 210 146 500

Evolução do caso

Cura 307 296 226 829

Óbito pelo agravo do notificado 0 0 0 0

Óbito por outra causa 1 1 1 3

Total 359 365 343 1067

Fonte: SINAN, 2010

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Quanto ao animal causador do dano, 40% foram causadas por serpentes, 36% por aranhas, 12% por lagartas, 4% por abelhas, 1% por escorpiões e 2% por outros agentes. Nos outros 5% tal variável foi ignorada (Fig. 5).

2% 5% 4% Aranha Serpente 12% 36% Escorpião 1% Lagarta Abelha Outros Ignorado 40%

Figura 5 – Acidentes por animais peçonhentos por tipo de acidente, de 2007 a 2009. Fonte: SINAN, 2010

A distribuição dos acidentes por tipo de animal variou entre os anos estudados, como demonstrado na figura 6 abaixo.

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400

359 364 350 343

300

250 Aranha Serpente 200 Escorpião

150 Lagarta 143 Número deAcidentes Número 129 132 Abelha 116 114 100 97 total

62 50 42 38 10 16 21 7 0 4 9 2007 2008 2009 Ano

Figura 6 – Evolução da ocorrência e distribuição por tipo de animal peçonhento dos acidentes registrados de 2007 a 2009. Fonte: SINAN, 2010

As variações aconteceram especialmente naqueles episódios causados por insetos. Foi constatado um decréscimo de 38,7% nos acidentes envolvendo lagartas em 2009 com relação a 2008, no entanto, a ocorrência de erucismo em 2009 foi semelhante à de 2007 (variação de 9,5%). Os acidentes com abelhas também apresentaram queda, e, embora tenha havido um aumento em 2008, o número destes acidentes do último ano apresentou decréscimo importante tanto em relação ao ano anterior (queda relativa de 52,4%) quanto ao de 2007 (menos 37,5% casos). Com relação ao gênero do animal causador, foram investigadas lagartas, serpentes e aranhas. Dentre as lagartas, seis acidentes ocorreram com o Lonomia sp., 70 com outros gêneros e 66 não foram registrados na notificação. Entre as aranhas, 85 envolveram Loxsoceles sp., oito Phoneutria sp., 34 outros gêneros e 213 foram ignorados. 24

Para as serpentes foram registrados 332 acidentes com Bothrops, dois com Micrurus, um com Crotalus e dois com serpentes não peçonhentas, os restantes 54 acidentes não tiveram o gênero identificado, conforme tabela abaixo. Quanto à zona de ocorrência, 445 aconteceram na área urbana, 560 na área rural e seis na área periurbana; nos 60 casos restantes não houve registro de localidade (Tab. 3).

Tabela 3 – Acidentes por animais peçonhentos ocorridos na região entre janeiro de 2007 e dezembro de 2009, distribuídos por tipo de acidente e zona de ocorrência.

Ano 2007 2008 2009 Total

Tipo acidente

Aranha 129 97 114 340

Serpente 143 116 132 391

Escorpião 4 7 9 20

Lagarta 42 62 38 142

Abelha 16 21 10 47

Outros 8 15 6 29

Zona de ocorrência*

Urbana 140 166 135 445

Rural 196 182 182 560

Periurbana 2 2 2 6

Total 359 365 343 1067

Fonte: SINAN, 2010 *Em 60 casos, estas informações não foram registradas.

Dentre as variáveis estudadas, as mais frequentemente ignoradas na notificação foram: local da picada, zona de ocorrência, gênero do animal causador e evolução do caso. 25

Os testes de tendência linear não apresentaram nenhum resultado estatisticamente relevante, pois a distribuição das ocorrências apresenta alta variabilidade, com amplitude igual a 71 (P1=2 e P100=73); a relevância da tendência aumentou à medida que se diminuiu o número de meses avaliados e, em especial, quando a análise foi relacionada aos períodos climáticos. A média encontrada para o período estudado foi de 29,6 acidentes por mês, com um desvio padrão de 22,1. Tais valores evidenciam também a distribuição ampla dos casos.

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5 DISCUSSÃO

Após a análise e interpretação dos dados disponíveis para este trabalho, pode-se afirmar que a ocorrência anual de incidentes entre homens e animais peçonhentos se manteve constante entre os anos, sem variações estatísticas relevantes, apresentando números semelhantes aos encontrados na bibliografia disponível (CARDOSO et. al., 2007; CARVALHO & NOGUEIRA, 1998; CRISTIANO et. al., 2009; DA SILVA; JORGE & RIBEIRO, 2003;; OTERO-PATIÑO, 2009; RUSSEL et. al., 1997). Foi possível constatar, inclusive, a existência de uma distribuição que tem íntima relação com o período climático. A variação sazonal do número de ocorrências mostra um incremento que inicia na primavera e alcança seu pico no verão, o que é compatível com os resultados obtidos por Cardoso et. al. (2007) e por Cristiano et. al. (2009) em trabalhos semelhantes, sendo estes no estado de Santa Catarina. Não obstante, as diferenças encontradas no presente trabalho são mais acentuadas, com mais de 75% dos acidentes concentrados entre outubro e março, enquanto nos trabalhos citados anteriormente essa percentagem encontra-se entre 56 e 62% no mesmo período. Tal distribuição é justificada pela localização geográfica mais austral da região pesquisada no presente trabalho, que ocasiona temperaturas mais baixas no inverno do que no restante do país. Como os peçonhentos aqui encontrados são todos ectotérmicos e, por isso, altamente sensíveis à temperatura fria, diminuem suas atividades no inverno. Desta forma, a variação encontrada é consequência do clima rigoroso, que reflete em uma alteração no comportamento destes animais. Percebe-se, também, uma maior ocorrência nas faixas etárias que correspondem à massa trabalhadora (de 20 a 49 anos), o que se justifica por nela estar concentrada a maior parcela da população, e em indivíduos do sexo masculino, sendo que ambos achados são compatíveis com outros trabalhos (CARDOSO et. al., 2007; CRISTIANO et. al., 2009; OTERO-PATIÑO, 2009). 27

O resultado obtido para distribuição por localidade de ocorrência, com a maior concentração de acidentes registrados na zona rural, é diferente do encontrado nos estudos de Cardoso et al. (2007), e de Cristiano et. al. (2009). Estes encontraram números maiores na zona urbana do que na rural, sendo que o segundo avaliou apenas intoxicações envolvendo aranhas. No entanto, a distribuição encontrada é compatível com aquelas obtidas por Da Silva, Jorge & Ribeiro (2003) e por Carvalho & Nogueira (1998), em estudos epidemiológicos específicos para mordidas de serpentes, realizados no centro do Brasil, embora nestes a diferença entre localidades tenha sido maior do que no presente trabalho, com, respectivamente, 91% e 73,8% dos acidentes ocorrendo na zona rural. Tais resultados poderiam estar refletindo a característica sinantrópica dos animais peçonhentos de pequeno porte (aranhas, lagartas e abelhas) e o comportamento recluso das serpentes, as quais são dificilmente encontradas na zona urbana, causando, portanto, a maior parte dos acidentes na zona rural. A alta taxa de urbanização da área de estudo pode levar a se esperar que a maior incidência seja na zona urbana, no entanto, a grande ocorrência de encontro entre estes animais e as aglomerações humanas estão relacionadas a condições precárias de habitação, logo, a menor ocorrência nesta área pode ser justificada, em parte, pelo Índice de Desenvolvimento Humano da região, considerado alto quando comparado ao restante do país. Com relação ao aspecto clínico, é possível notar que a maioria dos casos resulta em cura do paciente, não tendo ocorrido nenhum óbito por ação direta do agente causador, apenas por fatores secundários, os quais podem ser, inclusive, agravamento de sequelas, como dermonecroses, resultantes de acidentes com aranhas marrom. A partir disto, pode-se inferir que o sistema de saúde na região é eficaz no que diz respeito ao tratamento dos casos e à manutenção correta de soros, sem se saber, no entanto, qual a quantia de estoque que possuem. Contudo, a medicação e a internação dos pacientes, juntamente com os prejuízos econômicos associados às sequelas consequentes das intoxicações, como perda de mobilidade, que pode até mesmo incapacitar o indivíduo para o trabalho, geram gastos à administração pública que seriam reduzidos com a prevenção. A variação na distribuição dos casos causados por insetos, relativa há alguns anos, é notável. Entre as lagartas, os anos de 2007 e 2009 apresentaram 28 números semelhantes, diferindo de 2008; tal fator indica que o comportamento anômalo foi o registrado em 2008, podendo ser resultado de fatores climáticos, como a menor precipitação, de 1188,2mm registrada para o referido ano, o que pode ter favorecido o crescimento da população de lagartas (Fig. 7).

1800 1700 1707,1 1600

1500 1478,7 1400 1366,9 Precipitação 1300 Normal 1200 1188,2

Precipitação anual (mm) anual Precipitação 1100 1000 2007 2008 2009 Ano

Figura 7 – Precipitação pluviométrica em mm, registrada para o município de Pelotas em cada ano estudado. Fonte: Estação Agroclimatológica de Pelotas, 2010

Os resultados mostram queda nas picadas por abelhas (fig. 8), o que merece especial atenção, pois está de acordo com a hipótese levantada por Sattler (2007) acerca do desaparecimento de abelhas no Rio Grande do Sul, e com diversos estudos que mostram dados alarmantes sobre a redução populacional destes hymenopteros no continente americano, ainda sem encontrar uma explicação conclusiva para o fenômeno (ELLIS J., 2007; STOKSTAD, E., 2007; WILSON & MENAPACE, 2007).

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20

15

10 Abelha

Número de Ocorrênciasde Número 5

0 2007 2008 2009 Ano

Figura 8– Variação da ocorrência de acidentes com abelhas entre os anos estudados. Fonte: SINAN, 2010

Os acidentes com serpentes são os mais numerosos, porém é sabido que existe subnotificação dos casos que expõem as vítimas a menor risco de vida, como abelhas, lagartas e algumas aranhas, o que subestima tanto a importância relativa destes envenenamentos, quanto o número total de ocorrências. A maioria das mordidas de serpente foram inferidas por animais do gênero Bothrops (84,92%), o que é condizente com o relatado na bibliografia (CARVALHO & NOGUEIRA, 1998; DA SILVA & RIBEIRO, 2003; DA SILVA et. al.,2003; OTERO- PATIÑO, 2009; RUSSEL et. al., 1997) e, embora haja variações nesta percentagem, dependendo da região analisada, o resultado foi como o esperado e pode ser explicado pelo comportamento tipicamente agressivo destes répteis. Entre os eventos de araneísmo, o gênero Loxosceles causou a maior parte dos envenenamentos, o que difere do que é registrado por FEEPS (2006) para o estado, onde a maior parte dos acidentes seria causado pelo gênero Phoneutria, devido à sua característica sinantrópica e ao seu comportamento agressivo. No entanto, levantamentos epidemiológicos recentes vêm mostrando uma ocorrência alta de casos envolvendo aranhas marrom na região sul do Brasil (CRISTIANO et. al., 2009; FUNASA, 2001), o que pode ser consequência de uma notificação proporcionalmente maior destes casos, devido à severidade geralmente relacionada aos mesmos. Com relação aos aspectos ignorados na notificação, sugere-se um trabalho de conscientização dos profissionais responsáveis pelo preenchimento das fichas do 30

SINAN, enfatizando a importância de registrar todos os casos notificáveis (e não somente os mais graves) e todas as variáveis identificáveis. Tal medida por si só, já seria de grande valia, pois permitiria a observação da real proximidade entre as populações humanas e os animais peçonhentos, elucidando o risco de encontro entre eles, o que é importante, já que muitos destes animais são sinantrópicos e podem causar quadros clínicos variados, dependendo das circunstâncias. Além disto, esta simples ação educativa tenderia a reduzir a percentagem de fichas não preenchidas quanto á zona de ocorrência (rural, urbana ou periurbana) e ao local anatômico da picada (parte do corpo), pois ambos são facilmente identificáveis pelo paciente ou pelo médico que tratou do agravo, ambas consideráveis fontes de informação no que diz respeito ao direcionamento de medidas profiláticas. Inclusive, para que o gênero do animal causador da agressão seja identificado, se faz necessário o uso de material de apoio, como chaves de identificação e uso de imagens ilustrativas. No caso de acidentes com animais de pequeno porte (todos, com exceção de serpentes), é recomendado também que, quando seja possível, o paciente leve o animal que o picou ao local onde será atendido para, desta forma, facilitar a identificação do mesmo. Não obstante, é recomendável que se realize um trabalho de conscientização da comunidade sobre como proceder no caso de encontro com algum peçonhento, pois a reação mais comum é exterminá-lo, já que são vistos como ameaças, que devem ser eliminadas. No entanto, tal comportamento aumenta o risco de tais encontros tornarem-se acidentes, pois a quase totalidade destes animais atacam apenas quando se sentem ameaçados, além disso, é importante também ressaltar a grande importância ecológica dos mesmos, tanto em relação ao valor que agregam a biodiversidade, quanto aos papéis ecológicos indispensáveis que desempenham, tanto na conservação da biodiversidade quanto no controle de pragas e vetores, e na polinização. Serpentes, muitas não-venenosas - e que, portanto, não representam qualquer risco para a saúde – se alimentam de roedores, controlando desta forma as populações de ratos, os quais são vetores de vários parasitas – como pulgas – e de doenças como a leptospirose, a qual é de grande importância na região. 31

Os insetos das ordens Lepidoptera e Hymenoptera desempenham valioso papel na conservação e disseminação de diversas espécies vegetais na natureza, pois são polinizadores notáveis. Nos táxons Aranea e Scorpiones, encontramos predadores de insetos e de pequenos vertebrados, que atuam no controle de diversas pragas. Se estes fossem eliminados haveria uma explosão populacional de várias espécies disseminadoras de doenças, como mosquitos, moscas e baratas.

32

6 CONCLUSÃO

O número de acidentes variou pouco no período, o que demonstra tanto a ausência de surtos quanto a deficiência na implantação de programas preventivos efetivos na região. A incidência é significativamente maior no verão, portanto tais programas devem ser implementados na primavera, com o intuito de preparar a população para o período de maior incidência. A maioria dos casos ocorre na zona rural, por isso, sugere-se a ampliação do atendimento médico em municípios de população essencialmente rural, disponibilizando soros nestas áreas menos urbanizadas, já que os registros se concentram principalmente nelas e atualmente o tratamento destes casos é feito unicamente nas cidades de Pelotas e Rio Grande. A disponibilização de reservas sorológicas nos demais municípios possibilita tratamento mais imediato, tendendo a reduzir óbitos e sequelas, além de eliminar custos de transporte. Com base nas informações obtidas, podemos definir que homens com idade entre 20 e 49 anos, compõem a parcela da população mais exposta e, desta forma, sugere-se que programas preventivos que venham a ser implantados na região sejam direcionados especialmente a estes indivíduos. O pé foi a parte do corpo atingida em 29% dos casos, por isso medidas preventivas que preservam tal parte do corpo, como a procura por aranhas e escorpiões em sapatos antes de vesti-los e o uso de calçados apropriados, devem ser fortemente estimuladas no extremo sul, pois ambas são capazes de evitar picadas ou reduzir sua gravidade. A partir das variáveis estudadas, conclui-se que, embora o tratamento sorológico utilizado seja eficaz, a região carece de medidas profiláticas efetivas que devem ser implantadas para reduzir danos econômicos, ecológicos e sociais, incentivando a preservação da biodiversidade e aumentando o bem-estar da população em geral.

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APÊNDICES: Apêndice 1 – Breve apresentação da fauna de peçonhentos da região estudada: Com a finalidade de melhor elucidar o tema abrangido no presente trabalho, foi produzida uma caracterização da fauna estudada juntamente com os respectivos quadros clínicos dos acidentes que a envolvem. A seguir está uma organização taxonômica, baseada em BARNES & RUPPERT (1996) e em , na qual estão destacados em negrito os táxons de maior importância médica na região pesquisada. Estes, por sua vez, estão brevemente descritos logo após. A. Filo Arthropoda A.1 Subfilo Myriapoda A.1.1 Classe Chilopoda A.1.1.1 Ordem Scolopendromorpha A.2 Subfilo Hexapoda A.2.1 Classe Insecta A.2.1.1 Ordem Lepidoptera A.2.1.2 Ordem Hymenoptera A.3 Subfilo Chelicerata A.3.1 Classe Arachnida A.3.1.1 Ordem Aranea A.3.1.1.1 Família Sicariidae A.3.1.1.1.1 Gênero Loxosceles

A.3.1.1.2 Família Licosidae A.3.1.1.2.1 Gênero Lycosa A.3.1.1.3 Família Chtanidae A.3.1.1.3.1 Gênero Phoneutria A.3.1.2 Ordem Scorpiones A.3.1.2.1 Família Buthidae A.3.1.2.1.1 Gênero Tityus A.3.1.2.2 Família Bothriurus A.3.1.2.2.1 Gênero Bothriurus B. Filo Chordata B.1 Subfilo Vertebrata B.1.1 Classe Reptilia B.1.1.1 Ordem Squamata B.1.1.1.1 Subordem Serpentes B.1.1.1.1.1 Família Viperidae 42

B.1.1.1.1.1.1 Gênero Bothrops B.1.1.1.1.1.2 Gênero Caudisona B.1.1.1.1.2 Família B.1.1.1.1.2.1 Gênero Micrurus

A.1.1.1 Ordem Scolopendromorpha  Generalidades: As centopéias apresentam um corpo formado por uma cabeça e um tronco alongado, com muitos segmentos dotados de apêndices locomotores.  Hábitos: a ordem é formada por animais que vivem em fendas por baixo de rochas, cascas de árvores e troncos, e no solo. (BARNES & RUPPERT, 1996).  Distribuição geográfica: ampla, mas mais abundantes nos trópicos (BARNES & RUPPERT, 1996).  Veneno e estrutura inoculante: São predadores dotados de garras venenosas, as forcípulas, localizadas no primeiro segmento corporal, as quais contêm glândulas de um veneno constituído por uma complexa mistura de substâncias, contendo proteases, hialuronidases, carboxipeptidases, histamina, serotonina, lipídeos, lipoproteínas, polissacarídeos, esterases, fosfolipases, fosfatases e outras (MEDEIROS et. al., 2008).  Sintomatologia dos acidentes: Em geral, envenenamentos causados por estas centopéias não são letais em humanos, e os sintomas mais comuns são dor intensa (local ou irradiante), eritema, edema, hipertermia local e necrose superficial. Entretanto, já foram observados sintomas sistêmicos, como náusea, vômitos, sudorese, mionecrose, rabdomiólise e insuficiência renal aguda (RATES et. al., 2007).

A.2.1.1 Ordem Lepidoptera  Generalidades: A ordem é composta por animais de corpo mole e asas, recobertos por escamas pigmentadas. As formas larvais são as lagartas, geralmente herbívoras (BARNES & RUPPERT, 1996), algumas são urticantes, sendo popularmente denominadas Taturanas. As famílias cujos representantes provocam acidentes são Megalopygidae, Arctiidae e Saturniidae (FUNASA, 2001), sendo a última a de maior importância médica, pois nela está inserido o gênero Lonomia, o qual ocasiona os acidentes com maior risco de vida (Abdulkader et. al., 2008). 43

 Hábitos e comportamento: são arborícolas e dificilmente avistados em seu habitat. Não são animais agressivos, e os acidentes ocorrem devido a compressão do corpo do animal (Pinto et. al., 2009).  Distribuição geográfica: estão amplamente distribuídos na América (FUNASA, 2001).  Estrutura inoculante: Animais deste gênero possuem o corpo coberto por cerdas quitinosas e não apresentam glândulas de veneno especializadas, seu veneno é produzido por um tecido epitelial secretor localizado sob a cutícula, a inoculação ocorre quando estas cerdas são quebradas, e penetram o epitélio da vítima, chegando à corrente sanguínea (Veiga et. al., 2001, citado por Pinto et. al., 2009).  Veneno: Não se conhece exatamente a ação e composição do veneno destes animais, atribuindo-se seus efeitos a líquidos da hemolinfa (FUNASA, 2001).  Sintomatologia: As manifestações clínicas decorrentes destes acidentes variam desde uma simples irritação dérmica a queimaduras severas, reações alérgicas, falência renal e distúrbios hemorrágicos (Diaz, citado por Pinto ET.al., 2009).

A.2.1.2 Ordem Hymenoptera

 Generalidades: A ordem é altamente diversificada, compreende tentredéns, formigas, vespas e abelhas (BARNES & RUPPERT, 1996), sendo que as últimas, em especial as africanas ou africanizadas, causam acidentes de importância médica no Brasil. Abelhas africanizadas são o resultado do cruzamento entre subespécies européias e africanas de Apis mellifera, as quais foram introduzidas no Brasil em 1956 (WINSTON, 1992).  Hábitos e comportamento: São insetos altamente sociais, apresentam agressividade apenas sob ameaça ou para proteger a colméia, picando somente uma vez (BOFF & LESSA, 2008).  Distribuição geográfica: Os híbridos são hoje, juntamente com a subespécie africana, dominantes em toda a América do Sul, América Central e parte da América do Norte (FUNASA, 2001).  Estrutura inoculante: portam um ferrão, o qual é perdido após a picada causando a morte do animal (BOFF & LESSA, 2008). 44

 Veneno: Seu veneno é uma combinação de diversos componentes, entre eles melitina, apamina, fosfolipase, hialuronidase e serotonina (FERREIRA et. al., 2010; ROMANI et. al., 2006). No organismo humano estas biotoxinas produzem efeito neurotóxico, hemorrágico e hemolítico (CONSCIÊNCIA PREVENCIONISTA, s/d).  Sintomatologia: Segundo a FUNASA (2001) a reação à picada pode ser alérgica (mesmo uma única picada) ou tóxica (múltiplas picadas), sendo que a manifestação da reação alérgica pode ser local, caracterizada por dor aguda, edema e prurido; regional, edema evolui para enduração local; sistêmica, cefaléia, vertigens e calafrios, agitação psicomotora, sensação de opressão torácica e outros sintomas e sinais; ou tardias, se manifestam pela presença, em aproximadamente 48h, de artralgias, febre e encefalite. A manifestação de intoxicação causada por múltiplas picadas se dá através de um quadro clínico denominado síndrome do envenenamento, que se caracteriza por hemólise intravascular e rabdomiólise, além dos sintomas alérgicos. Podem ocorrer também alterações neurológicas e insuficiência renal aguda.

A.3.1.1 Ordem Aranea

 Gêneralidades: As aranhas são predadoras, alimentando-se predominantemente de insetos, embora algumas espécies maiores possam capturar pequenos invertebrados. O veneno da maioria das aranhas não é tóxico para humanos, mas algumas espécies representam risco á saúde (BARNES & RUPPERT, 1996), na nossa região as perigosas pertencem aos gêneros Loxsoceles (família Sicariidae), Lycosa (família Licosidae) e Phoneutria (família Ctenidae). A.3.1.1.1 Gênero Loxosceles  Hábitos e comportamento: A aranha marrom é construtora de teia, não sendo naturalmente agressiva, picando apenas quando comprimida (Funasa, 2001).  Distribuição geográfica: O gênero está amplamente distribuído no continente americano e, no Brasil, são encontradas sete espécies, presentes de norte a sul no país (CUNHA et. al., 2003).  Estrutura inoculante: Estes animais picam suas presas com as quelíceras, as quais são providas de glândulas de veneno, que se localizam dentro dos segmentos basais das mesmas. 45

 Veneno: Seu veneno apresenta essencialmente propriedades dermonecróticas e hemolíticas (CUNHA et. al., 2002), e é composto por uma grande variedade de enzimas: fosfatases, hialuronidases, fosfolipases e diferentes proteases. Dentre estes, destacam-se as proteínas necrotóxinas fosfolipases D que agem sobre a esfingomielina, sendo por isso, também chamadas de Esfingomielinases D. já foram identificadas cerca de dez isoformas desta proteína no veneno loxoscelico, no entanto, o mecanismo molecular de sua ação necrótica ainda não foi elucidado (VASSILEVSKI et. al., 2009).  Sintomatologia: A principal manifestação clínica do Loxsocelismo é a dermonecrose, eventualmente ocorrem sangramentos no local da picada, em alguns casos podem ocorrer também efeitos sistêmicos como agregação plaquetária causando trombocitopenia, hemólise, coagulação intravascular disseminada e insuficiência renal, que podem resultar na morte do paciente (VEIGA et. al., 2000), no estado do Rio grande do Sul, 0,1% destas intoxicações levaram os pacientes a óbito (FUNASA, 2001).

A.3.1.1.2 Gênero Lycosa

 Hábitos e comportamento: São predadoras que não constroem teias, tipicamente encontradas em jardins e gramados, por isso recebem o nome popular de aranha de jardim ou aranha da grama.  Distribuição geográfica: há uma grande quantidade de espécies descritas em todo o território brasileiro (FUNASA, 2001).  Veneno: é composto por enzimas complexas, peptídeos antimicrobianos e citolíticos, além de neurotoxinas. Porém os componentes do veneno responsáveis por cada manifestação clínica permanecem desconhecidos (ZHANG et. al, 2009).

 Sintomatologia: Envenenamentos por Lycosa podem causar eritema, dor forte, edema e alguns efeitos sistêmicos como sudorese excessiva, bradicardia e dispnéia (HUANG et. al., 1976, citado por ZHANG, 2009), contudo, na maioria das vezes os sintomas manifestados são apenas os dérmicos locais e, desta forma, estes acidentes não constituem grave problema de saúde pública (FUNASA, 2001). 46

A.3.1.1.3 Gênero Phoneutria

 Hábitos e comportamento: o táxon é constituído de animais de hábitos noturnos e comportamento agressivo, vulgarmente conhecidas como Aranhas armadeiras (BUCARETCHI et. al., 2008).  Distribuição geográfica: No RS, ocorrem duas espécies – Phoneutria nigriventer e P.

keiserfingi - e segundo o relatório de atendimentos da Fundação Estadual de Produção e Pesquisa em Saúde referente ao ano de 2006, divulgado pelo Centro de Informação Toxicológica do Rio Grande do Sul (CIT-RS), os acidentes com este gênero são os de maior incidência entre aracnídeos no estado.  Veneno: Seu veneno apresenta ação neurotóxica relacionada aos canais de sódio e cálcio (GOMEZ et. al., 2002).  Sintomatologia: pode causar dor severa e irradiante, além de diversos sintomas de intoxicação, como cãibras, tremores, convulsões, paralisia espástica, priapismo, sialorréia, arritmias cardíacas, distúrbios visuais e suor frio, podendo causar a morte na falta de tratamento adequado (BRAZIL & VELLARD, 1925; SCHENBERG & LIMA, 1966, citado por GOMEZ et. al., 2002).

A.3.1.2 Ordem Escorpiones

 Generalidades: Os escorpiões são em geral animais reclusos e noturnos, escondendo durante o dia, apresenta abdômen longo o qual termina em um aparelho do ferrão. A maioria das toxinas dos escorpiões não são perigosas para humanos, porém, cerca de 25 espécies (todas da família Buthidae) possuem um veneno altamente tóxico, acidentes envolvendo escorpiões de outras famílias causam, no máximo, dor intensa e irradiante (BARNES & RUPPERT, 1996). A.3.1.2.1.1 Gênero Tityus

 Distribuição geográfica: ocorrem na região Neotropical. No RS são conhecidas três espécies pertencentes ao gênero: Tityus bahiensis (escorpião marrom), Tityus serrulatus (escorpião amarelo) e Tityus costatus (escorpião manchado) (Fundação Estadual de Produção e Pesquisa em Saúde, 2006), sendo que, dentre eles, os 47

acidentes mais severos são atribuídos à espécie T. serrulatus (SEVERINO et. al., 2009).  Estrutura inoculante: possui um ferrão, que consiste de uma base bulbosa e de uma farpa inoculadora. O veneno é produzido em um par de glândulas ovais na base do aparelho, e é expelido através da contração do envelope muscular que as rodeia.  Veneno: a maior parte dos sintomas e sinais clínicos é causada pela liberação de adrenalina, noradrenalina e acetilcolina decorrente da atuação da toxina do veneno em sítios específicos dos canais de sódio (ALBUQUERQUE et. al., 2009).  Sintomatologia: Os sinais clínicos incluem dor local, hiperglicemia, hipertensão, manifestações cardiovasculares e edema pulmonar agudo, que pode ocasionar a morte (SEVERINO et. al., 2009), a maioria dos casos tem curso benigno, situando-se a letalidade em 0,58%. Os óbitos têm sido associados, com maior freqüência, a acidentes causados por T. serrulatus, ocorrendo mais comumente em crianças menores de 14 anos (FUNASA, 2001).

A.3.1.2.1.2 Gênero Bothriurus

 Distribuição geográfica: estes animais ocupam os mais diversos habitats e estão amplamente distribuídos na América do Sul, inclusive no Brasil (MATTONI, 2002). No RS, já foram registrados acidentes com a espécie Bothriurus bonarienses (FUNDAÇÃO ESTADUAL DE PRODUÇÃO E PESQUISA EM SAÚDE, 2006).  Sintomatologia: não representam risco de vida aos pacientes, ocasionando apenas sintomas locais dérmicos, e desta forma, estas intoxicações são pouco relevantes do ponto de vista da saúde pública (FUNASA, 2001).

B.1.1.1.1 Subordem Serpentes  Generalidades: São animais de corpo alongado, sem membros, revestido por escamas. Apresentam morfologia alongada da coluna vertebral e órgãos internos. Seu crânio é especialmente móvel e os dentes são afilados e curvados para trás (PRADO, 1945).

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B.1.1.1.1.1.1 Gênero Bothrops

 Hábitos e comportamento: habitam principalmente zonas rurais e periurbanas, ou locais onde haja propensão para proliferação de roedores, suas presas preferenciais, embora sua alimentação seja bem variada, incluindo aves, lagartos e outros pequenos animais. Comumente apresentam comportamento agressivo, atacando sem produzir ruídos, esta característica contribui na alta percentagem de ofidismo atribuída ao gênero, que é responsável por 90% dos acidentes com serpentes registrados no Brasil (FUNASA, 2001).  Distribuição geográfica: amplamente distribuída pela América do Sul, compreende aproximadamente 30 espécies ao longo do território brasileiro, são popularmente conhecidas como Cruzeiras, Jararacas ou Jararacuçus, no Rio Grande do Sul ocorrem principalmente 2 espécies: B. jararaca* e B. alternata (SILVA, M., 1956; FUNASA, 2001; MELGAREJO, A. R., s/d; HOLTHAUSEN et. al., 2010).  Estrutura inoculante: injetam o veneno com os dentes, através da mordida. Sua dentição é Solenóglifa, ou seja, o dente anterior é oco, formando um tubo e o osso maxilar é muito móvel (PRADO, 1945).  Veneno: pode variar de acordo com a idade, região geográfica, variação sazonal, sexo e alimentação do indivíduo (QUEIROZ ET.al., 2008), dentre seus componentes já foram identificadas toxinas de ação local aguda como metaloproteinases e fosfolipases, além de algumas responsáveis pelos sintomas sistêmicos, metaloproteases, proteinases serosas e outras (CHAVES, 2006). Dentre estas, a ação mais amplamente descrita é a das fosfolipases, que segundo Bonfim et. al. (2001), são enzimas cálcio-dependentes que provocam a hidrólise dos radicais éster dos fosfoglicerídeos, estão presentes no veneno botrópico na forma de fosfolipases A2(PLA2) e suas homólogas, sua ação no organismo da presa é neurotóxica, miotóxica, hemolítica, anticoagulante, cardiotóxica e formadora de edema.  Sintomatologia: As típicas manifestações clínicas locais destes envenenamentos incluem edema, sangramento, bolhas, dermonecrose e mionecrose, em casos sistêmicos ocorrem defibrinogenação, trombocitipenia, hemorragia sistêmica e hipotensão (OTERO-PATINO, 2009). Muitos destes quadros são desencadeados pela liberação (induzida pelo veneno) de substâncias *A espécie Bothrops jararaca está agora incluída no gênero Bothropoides, passando a ser classificada como Bothropoides jararaca. 49

farmacologicamente ativas no organismo, como histamina, serotonina e bradicinina (RODRIGUEZ-ACOSTA et. al., 2010). A letalidade varia bastante entre as diferentes regiões do mundo, no Brasil, situa-se entre 0,3 e 0,4% (OTERO-PATINO, 2009).

B.1.1.1.1.1.2 Gênero Caudisona**

 Hábitos e comportamento: as cascáveis têm preferência por terrenos secos e hábitos noturnos e crepusculares. Alimenta-se principalmente de pequenos mamíferos e não costumam apresentar comportamento agressivo, quando se sentem ameaçadas, denunciam sua presença pelo som característico do guizo (FUNASA, 2001).  Distribuição geográfica: o gênero pode ser encontrado nas Américas Central e do Sul, do México até a Argentina (HOLTHAUSEN et. al., 2010).  Estrutura inoculante: são Solenóglifas.  Veneno: As principais toxinas de seu veneno são crotoxina, crotomina, convulxina e giroxina, sendo que a alta toxicidade do veneno é atribuida à primeira (SANO-MARTINS et. al., 1994). A crotoxina é composta por duas subunidades da fosfolipase A2, resultando em uma potente isoforma neurotoxica que age primariamente nas junções neuromusculares a nível pré-sinaptico, bloqueando a liberação do neurotransmissor (FAURE et. al., 1994). Outro importante componente já isolado do veneno é a convulxina, uma lectina cálcio dependende, que age como uma potente ativadora plaquetária, além de estimular a secreção de insulina (TOYAMA et. al., 2001).  Sintomatologia: dor, paraestesia ou anestesia, mas não ocorre inchaço nem edema, e raramente ocorre eritrema. Em casos sistêmicos verifica-se ptose palpebral, oftalmoplegia e ralaxamento muscular da face, mialgias, midríase (dilatação compulsória da pupila), raramente pode ocorrer falência respiratória ou cardíaca (SANO-MARTINS et. al., 2001). Acidentes com cascavéis são os que submetem as vítimas ao maior risco de vida, no Brasil ocorreu morte em 1,87% dos casos registrados entre 1990 e 1993 (FUNASA, 2001).

**O gênero Caudisona é a nova classificação do gênero Crotalus

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B.1.1.1.1.2.1 Gênero Micrurus

 Hábitos e comportamento: apresentam hábitos fossoriais (semi-subterrâneos) e comportamento pouco agressivo, o que justifica sua participação ínfima nos acidentes ofídicos no País (BORGES, R. C., 2001). Suas presas preferenciais são outras serpentes (HOLTHAUSEN et. al., 2010).  Distribuição geográfica: estão muito disseminadas nas Américas Central e do Sul, contando com várias espécies e subespécies, no Brasil, existem 18 espécies, sendo que no estado ocorrem apenas duas: M. corallinus e M. frontalis (FUNASA, 2001; HOLTHAUSEN et. al., 2010).  Estrutura inoculante: são as únicas serpentes peçonhentas do RS que são proteróglifas, apresentando presas anteriormente sulcadas, podendo ser protegidas por uma membrana, o que garante o perfeito escoamento do veneno (PRADO, 1945)  Veneno: a composição e o efeito específico de cada toxina contida no veneno ainda não foram amplamente descritos devido à dificuldade de obtenção deste, pois os animais o produzem em quantidades reduzidas e sua manutenção em cativeiro é difícil (MOREIRA et. al., 2010). Alguns de seus componentes, no entanto, já foram isolados, como Fosfolipases A2, anteriormente descritas para a família Viperidea, (FRANCIS et. l., 1997) e toxinas “thre-finger scafold”, que se ligam aos receptores nicotínicos acetil colínicos, afetando a transmissão sináptica (MOREIRA et. al., 2010), além desta, já foram detectadas hialuronidases, fosfodiesterases, acetilcolinesterases, e outras (DA SILVA et. al., 2001). Através de observações clínicas definiu-se a ação do veneno como sendo essencialmente neurotóxica pós-sináptica, mas também já foi relatada ação pré-sináptica na junção neuromuscular, mudanças neurofisiológicas, cardiotoxicidade, ação hemolítica e miotóxica associadas a estas intoxicações (OLIVEIRA et. al., 2003).  Sintomatologia: As manifestações mais comuns são, discreta dor local acompanhada de parestesia com progressão proximal, em casos mais graves ocorrem manifestações sistêmicas, caracterizadas inicialmente por vômito, seguido por um quadro de fraqueza muscular progressiva, onde ocorre ptose palpebral, oftalmoplegia, e fácies miastêmica ou neurotóxica. Associados a estes 51 sintomas podem surgir dificuldades de manter a postura ereta e de deglutir, mialgias e comprometimento dos músculos do sistema respiratório, causando insuficiência respiratória e apnéia (FUNASA, 2001).

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ANEXOS Anexo 1 – Ficha de investigação de agravos de notificação para acidentes por animais peçonhentos.

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Fonte: Sinan, 2010.

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ANEXO 2 – chave para diferenciação entre serpentes peçonhentas e não peçonhentas.

Fonte: FUNASA, 2001

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ANEXO 3 – Folheto informativo para prevenção de acidentes com animais peçonhentos, produzido e distribuído pela Secretaria de Saúde e Bem Estar, Departamento de Vigilância à saúde – Vigilância Ambiental da prefeitura municipal de Pelotas, RS, Brasil.

56

Fonte: Secretaria Municipal de Saúde e Bem Estar, s/d

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ANEXO 4 – Imagem ilustrativa da Jararaca – Brothopoides Jararaca (Bothrops jararaca):

Fonte: PROJETO COBRAS BRASILEIRAS. Imagem da Web.

ANEXO 5 – Imagem ilustrativa da Cruzeira – Bothrops alternatus

Fonte: PROJETO COBRAS BRASILEIRAS. Imagem da Web.

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ANEXO 6 - Imagem ilustrativa da Cobra Coral – Micrurus sp.

Fonte: Nogueira, C. Imagem da web.

ANEXO 7 - Imagem ilustrativa da Cascavel – Caudissona durissa(Crotalus durissus).

Fonte: PROJETO COBRAS BRASILEIRAS. Imagem da Web. 59

ANEXO 8 - Imagem ilustrativa da Taturana – Lonomia sp.

Fonte: ZIERELZ, F. Imagem da Web.

ANEXO 9 - Imagem ilustrativa do Escorpião Amarelo – Tityus serrulatus

Fonte: TAIPAN. Imagem da Web.

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ANEXO 10 - Imagem ilustrativa da Aranha Marrom – Loxosceles sp.

Fonte: LIMA, R. Imagem da Web.

ANEXO 11 - Imagem ilustrativa da Aranha Armadeira – Phoneutria sp.

Fonte: CAMPOS, R. Imagem da Web.