As Relações Entre a Economia Solidária E O Estado
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As relações entre a Economia Solidária e o Estado Junho de 2016 FICHA TÉCNICA Edição Director / Editor-in-chief Jordi Estivill José Fialho Feliciano ACEESA (Per Review) Rogério Roque Amaro Universidade de Universidade Lusófona de Instituto Universitário de Lisboa Barcelona–Catalunha–Espanha Humanidades e Tecnologias–Portugal o N. de registo na ERC (ISCTE-IUL) – Portugal Rogério Roque Amaro José Manuel Henriques Nota: isenta de registo na ACEESA – Associação Centro de Instituto Universitário de Lisboa Instituto Universitário de Lisboa ERC ao abrigo do decreto Estudos de Economia Solidária do (ISCTE-IUL)–Portugal (ISCTE-IUL)–Portugal regulamentar 8/99 de 9/06 Atlântico – Portugal ACEESA–Associação Centro Leão Lopes artigo 12ª-1-a de Estudos de Economia Solidária Vice-Director / Deputy Editor Atelier-Mar–Cabo Verde Instituto do Atlântico–Portugal Universitário de Arte, Tecnologia Artur Martins Design Gráfico e Cultura – Mindelo – Cabo Verde Júlia Garcia ACEESA – Associação Centro Comissão Científica Cresaçor / Criações Periféricas de Estudos de Economia Solidária Internacional / International Luciene Rodrigues Paginação: Rita Batista do Atlântico – Portugal Advisory Board UNIMONTES – Universidade Estadual de Montes Claros – Minas e Maria João Ferreira KAIRÓS – Cooperativa de Incubação Rogério Roque Amaro de Iniciativas de Economia Solidária Instituto Universitário de Lisboa Gerais – Brasil (Açores) – Portugal (ISCTE-IUL)–Portugal Impressão Luís Inácio Gaiger Coingra ACEESA–Associação Centro UNISINOS – Universidade do Diretora Executiva de Estudos de Economia Solidária Vale do Rio dos Sinos – Rio Grande / Executive Editor do Atlântico – Portugal do Sul – Brasil ISSN Catarina Pacheco Borges 1647-5968 ACEESA – Associação Centro Jean-Louis Laville Maliha Safri de Estudos de Economia Solidária CNAM–Conservatoire National des Drew University – Estados Depósito Legal do Atlântico – Portugal Arts et Métiers–França Unidos da América 293560/09 Jordi Estivill Maria de Fátima Ferreiro Secretariado de Redação Universidade de Instituto Universitário de Lisboa / Editorial Office Tiragem Barcelona – Catalunha – Espanha (ISCTE-IUL) – Portugal 250 exemplares Marisa Silveira ACEESA–Associação Centro Ana Margarida Esteves Paul Israel Singer CEI-IUL–Centro de Estudos USP – Universidade de Junho 2016 de Estudos de Economia Solidária Internacionais–Portugal São Paulo – Brasil Papel 100% reciclado do Atlântico –Portugal António David Cattani Pedro Hespanha Conselho Editorial UFRGS–Universidade Federal do Rio Faculdade de Economia / Editorial Board Grande do Sul–Brasil da Universidade Artur Martins de Coimbra – Portugal ACEESA–Associação Centro Casimiro Balsa de Estudos de Economia Solidária Faculdade de Ciências Sociais Victor Pestoff do Atlântico–Portugal e Humanas da Universidade Nova Institute for Civil Society de Lisboa–Portugal –Ersta Skondal College–Suécia KAIRÓS–Cooperativa de Incubação de Iniciativas de Economia Solidária Cláudio Furtado Redação / Offices (Açores) – Portugal Universidade de Cabo Verde ACEESA – Associação Centro –Cabo Verde Catarina Pacheco Borges de Estudos de Economia Solidária ACEESA–Associação Centro Clébia Mardonia Freitas do Atlântico – Portugal de Estudos de Economia Solidária UNILAB–Universidade da Integração Rua D. Maria José Borges, 137 do Atlântico–Portugal Internacional da Lusofonia 9500–466 Ponta Delgada Afro-Brasileira–Brasil São Miguel – Açores – Portugal Célia Pereira CRESAÇOR–Cooperativa Regional Emanuel Leão [email protected] de Economia Solidária dos Instituto Universitário de Lisboa Açores–Portugal (ISCTE-IUL)–Portugal Plataformas On-line Latindex, socioeco.org Jean-Louis Laville Genauto França Filho CNAM–Conservatoire National des UFBA–Universidade Federal da Arts et Métiers–França Bahia–Brasil ÍNDICE 8 Nota Editorial 120 As estruturas de ação política Rogério Roque Amaro e de representação da Economia Solidária no Brasil Aline Mendonça dos Santos 22 O nome e a coisa. Vanderson Carneiro Sobre a invisibilidade e a ausência de reconhecimento institucional 162 Tensões, compromissos da Economia Solidária em Portugal e articulações entre o poder local Pedro Hespanha e as dinâmicas participativas Luciane Lucas dos Santos locais dos bairros da Adroana, Alcoitão e Cruz Vermelha 70 L’économie sociale et solidaire (Alcabideche, Cascais) face aux politiques publiques Mariana Lima Jean-Louis Laville Rogério Roque Amaro 102 Economia Solidaria Notícias 208 y Emancipacion Nacional Promoting Social and Solidarity Jordi Estivill Economy in Greece 210 Background: UN and Europe views on SSE 8 Nota Editorial Rogério Roque Amaro As relações entre a Economia Social e Solidária (ESS) e o Es- tado têm conhecido várias fases, com expressões e sentidos muito diferentes, conforme o tempo histórico, as localizações geográficas e os contextos culturais. Nas suas formulações mais espontâneas e originais, as di- versas expressões (comunitárias, populares, com origem em grupos, movimentos e interesses, mutualistas ou filantró- picos, de cidadãos e cidadãs) do princípio económico da Re- ciprocidade 1, que é o substrato e a base identitária da ESS, afirmaram-se e exerceram-se sem o Estado, na sua ausência ou nas suas insuficiências e, muitas vezes, contra o Estado. Quando a Economia Social se afirmou e ganhou força so- cial, primeiro, científica e política, depois, no século XIX, não havia ainda Estado Social 2, e, durante esses primeiros tem- pos, a relação com o Estado centrou-se essencialmente na reivindicação e na conquista de reconhecimento político-jurí- dico, para sair da informalidade e da subordinação às regras do Código Comercial e adquirir estatutos legais próprios, através de adaptações legislativas e da definição e aprova- ção de Códigos Cooperativos e de Leis de Associação. Professor Associado do Departamento de Economia Política da Escola de Ciências Sociais e Humanas do ISCTE-IUL. [email protected] Nota Editorial 10 11 Rogério Roque Amaro Mais tarde, as reivindicações, em relação ao Estado, pas- «isomorfismo institucional» 5, associado ao que se poderia saram sobretudo pela obtenção de situações mais favorá- apelidar de «promiscuidade com o mercado». veis, no acesso aos mercados públicos. No segundo caso, como aconteceu em Portugal com mui- Após a Segunda Guerra Mundial, com a generalização dos tas IPSS e outras organizações com respostas sociais con- sistemas públicos de Bem-Estar Social (o chamado Estado vencionais (para a infância, as famílias e as pessoas mais Social), nos países do Centro e do Norte da Europa Ociden- ACEESA velhas), a aproximação (normalmente protocolada) ao Es- tal 3, a Economia Social integrou-se nesse sistema, assumin- tado, sob a capa protectora do Estado-Providência, impôs- do-se muitas vezes como complementar do Estado-Providên- -lhes condições e lógicas de funcionamento «para-públicas», cia 4 e sendo reconhecida e apoiada financeiramente como tal. em troca de apoios financeiros, tornando-as uma espécie Mais tarde, sobretudo a partir dos anos 80 do século XX, de «outsourcing» das políticas públicas sociais e delegações com a predominância das abordagens de influência anglo- (embora juridicamente autónomas...) do Estado, sujeitas, -saxónica, de inspiração neo-liberal, a expressão «Economia na prática, à sua tutela, pervertendo assim, não em termos Social» (de origem mais francófona), passou a ser preterida, formais, mas sim reais, um dos princípios fundamentais a favor de «Terceiro Sector» ou «Organizações ‹Non-pro fit› ». originais da Economia Social – o da autonomia face ao Es- Nesta perspectiva, o «Terceiro Sector» é... o terceiro (dos tado. Neste caso, pode-se, por semelhança, também falar de pontos de vista da importância económica e do peso esta- «isomorfismo institucional», associado a esta dependência tístico), logo «sobrante», a seguir ao primeiro (e mais im- (financeira e quase orgânica) do Estado. portante), o sector empresarial de mercado, e ao segundo, Nesta lógica, as relações da Economia Social / Terceiro o sector público (ou seja, o Estado e as empresas públicas), Sector com o Estado assentam essencialmente na comple- cabendo-lhe um papel complementar e reparador das «fa- mentaridade e na expectativa e reivindicações de apoios fi- lhas de mercado» e das «falhas do Estado». Trata-se de uma AS RELAÇÕES ENTRE A ECONOMIA SOLIDÁRIA E O ESTADO nanceiros e de outros recursos, para as actividades sociais, concepção subsidiária da Economia Social/Terceiro Sector, mas também culturais, recreativas e desportivas. aspirando a beneficiar das proximidades, seja do mercado, Ao invés, nos países socialistas, após a Segunda Guerra seja do Estado, conforme os casos. Mundial, quando se constituiu e alargou o bloco geo-estra- No primeiro caso, como aconteceu em Portugal com tégico de inspiração e fidelidade assente na U.R.S.S., a Eco- muitas cooperativas do sector agrícola (vinho e leite, por nomia Social praticamente desapareceu, no sentido rigoroso exemplo) e com algumas mutualidades (como o Montepio dos seus princípios, uma vez que, dentro da ideologia mar- Geral e algumas da saúde), a aproximação e o «convívio» xista -leninista, posta em prática, competia ao Estado orga- com as lógicas, as regras e os critérios do mercado, provoca- nizar toda a vida económica de um país e assegurar directa- ram uma perversão dos seus valores e princípios originais, mente todas as necessidades e o bem-estar das populações, mantendo formas jurídicas próprias da Economia Social, REVISTA DE ECONOMIA SOLIDÁRIA/09 pelo que as organizações de Economia Social passaram, no mas funcionando, na prática, como uma