Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Sr. Presidente, 1º Vice-Presidente, Júlio Correia: - Srs. Deputados muito bom dia. Agradecia que ocupassem os vossos lugares para iniciarmos a nossa Sessão. Passo a palavra ao Sr. Secretário da Mesa para confirmar as presenças.

Sr. Secretário da Mesa, Eduardo Monteiro: -

Afonso Silva Mendes da Fonseca Ivete Helena Ramos Delgado Silves Agostinho António Lopes Ferreira Alberto Alves Janine Tatiana Santos Lélis Alexandre Ramos Jean Emanuel da Cruz Ana Augusta Vasconcelos Joana Gomes Rosa Antero Teixeira Joanilda Lúcia Silva Alves António Alberto Mendes Fernandes João Baptista Ferreira Medina António Delgado Monteiro João Carlos Cabral Varela Semedo António Pascoal Silva dos Santos João Lopes do Rosário António Pedro Pereira Duarte Joel Amarante Ramos Silva Barros Aristides Raimundo Lima Jorge Arcanjo Livramento Nogueira Arlindo Tavares Silva Jorge Pedro Maurício dos Santos Armindo Cipriano Maurício José Domingos António Lopes Austelino Tavares Correia José Luís Lima Santos Carlos Alberto Barbosa José Manuel Afonso Sanches Clemente Delgado Garcia José Manuel Gomes Andrade David Hopffer de Cordeiro Almada José Maria Vaz de Pina Domingos Mendes de Pina Joselito Monteiro Fonseca Eduardo Monteiro Júlio Lopes Correia Emanuel Pereira Garcia Almeida Justiniano Jorge Lopes de Sena Ernesto Che Guevarra Mendes Justino Gomes Miranda Barbosa da Silva Libéria das Dores Antunes Brito Eurico Correia Monteiro Lídio de Conceição Silva Eva Verona Teixeira Ortet Manuel Amaro Rodrigues Monteiro Felisberto Henrique Carvalho Cardoso Manuel Gomes Fernandes Fernanda Fidalgo de Pina Burgo Maria da Ressurreição Lopes da Silva Fernando Elísio Leboucher Freire de Mário Gomes Fernandes Andrade Mário Ramos Pereira Silva Fernando Lopes Vaz Robalo Miguel António Costa Filipe Baptista Gomes Furtado Miguel da Cruz Sousa Filomena de Fátima Ribeiro Vieira Moisés Gomes Monteiro Martins Nelson do Rosário Brito Filomena Maria Frederico Delgado Nilton Rocha Dias Silva Orlanda Maria Duarte Santos Ferreira Francisco António Dias Orlando Pereira Dias Hermes Silva dos Santos Pedro Amante Ramiro Furtado Hermínia Gomes da Cruz Curado Rui Alberto Figueiredo Soares Ferreira Rui Mendes Semedo Humberto André Cardoso Duarte Vanusa Tatiana Fernandes Cardoso

88 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Sr. Presidente: - A Assembleia tem quórum, com 52 presenças e 20 faltas.

[Eram 09 horas e 39 minutos.]

Anuncio o Período de Antes da Ordem do Dia. Há pedidos de declaração política, nos termos do artigo 96º do Regimento, pelo que solicito o representante da UCID a se dirigir à Tribuna para fazer a declaração política.

Sr. Deputado Lídio Silva (UCID): -

Sr. Presidente da Assembleia Nacional, Sras. e Srs. Deputados, Sra. Ministra, Excelências:

Num país onde as leis dão cobertura ao sistema democrático, a cultura tem que ser entendida como um pilar fundamental, pelo que deve ser preservada, sistematicamente promovida e colocada como referência do país real. Nesse contexto, há que tudo fazer para enaltecer os criadores, divulgando as suas obras nas mais variadas vertentes, porque toda essa diversidade patrimonial, seja de que natureza for, é que suporta o Estado, as suas referências, os seus valores, que torna o país mais rico culturalmente pela sua diversidade. Daí a importância também em preservar o património cultural edificado como referência dos homens e feitos do passado que marcaram épocas gloriosas que devem ser preservadas, valorizando assim as memórias e, por conseguinte, a história do país. Assim sendo, vem a UCID, através dos seus Deputados, lançar um apelo ao Governo e à Câmara Municipal de São Vicente mesmo sabendo que o município não é sujeito parlamentar, ele pode ser parte da solução, quanto mais não seja na cedência ou não do ex-matadouro municipal e é nesse sentido que vai essa referência, de preservar o edifício que foi residência e propriedade do Dr. Adriano Duarte Silva. Se levarmos em conta a época em que ele viveu, tem ainda mais valor os seus feitos, pelo que deve ser considerado um verdadeiro herói e, por isso, a UCID é da opinião que a melhor forma de reconhecer tudo que ele fez por Cabo Verde é manter a sua residência como casa de memória, recuperando-a mesmo que seja para funcionar só como residência oficial do delegado de saúde de São Vicente. Sras. e Srs. Deputados, é nossa opinião de que não podemos ignorar o articulado do artigo 78º, porque não só é claro no seu nº 3, passo a citar: “Para garantir o direito à cultura incumbe especialmente ao Estado: alínea c) promover a salvaguarda e a valorização do património cultural, histórico e arquitectónico”. Sras. e Srs. Sujeitos Parlamentares, é neste contexto que a UCID quer reforçar o seu apelo a todos, no sentido da preservação desse património, quanto a nós, histórico pela memória do Dr. Adriano Duarte Silva, pela traça da sua arquitectura e ainda pela sua majestosa escadaria única na Cidade do

89 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Mindelo. Sras. e Srs. Deputados, estamos a falar de uma casa que em 1870 já existia. O professor, Dr. João Lopes Filho, historiador e antropólogo, disse num artigo publicado no jornal literário Arte e Letra, passo a citar: “Impõe-se dar maior atenção às questões da defesa, conservação e reanimação dos nossos testemunhos histórico-culturais, visto neles se entrecruzarem diversas facetas de manifestações sócio-culturais, num encontro – reencontro da memória colectiva cabo-verdiana”. Não vamos falar dos feitos do Dr. Adriano Duarte Silva. Aproveitamos, no entanto, para citar um pequeno extracto da publicação D´outrora, da autoria do Sr. Manuel Nascimento Ramos sobre esta figura incontornável e filantrópica de Cabo Verde. Passo a citar: “Em 1937, por determinação superior, sem motivo justificado e arbitrariamente, o governo português, através do Ministro das colónias, Vieira Machado, manda encerrar o Liceu Infante Dom Henrique em São Vicente. A câmara municipal, a associação comercial, todos os clubes desportivos de Cabo Verde, variadíssimas comunidades cabo-verdianas espalhadas pelo mundo e o povo em geral, depois de se reunirem em todos os sectores e zonas onde viviam, enviaram vários telegramas ao governo português em sinal de protesto contra o encerramento do nosso liceu. Um dos textos destes telegramas ao governo português dizia que não podia acreditar que o Estado português cometesse tão grande injustiça para com os 160 mil habitantes de Cabo Verde. O Dr. Adriano que estava sempre pronto em defesa dos interesses da nossa terra teve um papel preponderante para que este estabelecimento de ensino reabrisse. Foi imediatamente a Lisboa e junto dos poderes superiores portugueses, depois de muita luta, bateu com insistência na tecla do bom senso, da razão, da justiça e da coerência até que conseguiu a grande e desejada vitória para Cabo Verde. Telegrafou de imediato para dar a boa nova de que o Liceu iria reabrir. À sua chegada a São Vicente o esforçado paladino das aspirações cabo- verdianas transmitiu logo a boa notícia de que a reabertura do nosso liceu estava decretada. Passaria a funcionar nos moldes habituais, mas com o nome de Liceu Gil Eanes em vez de Infante Dom Henrique. Assim, com toda a naturalidade o Liceu de São Vicente foi reaberto a 9 de Novembro de 1937. Se existiram bons cabo-verdianos dedicados à sua terra natal, o Dr. Adriano Duarte Silva, sem sombras de dúvidas foi um deles”. Portanto, Sras. e Srs. Deputados, esse filho de São Vicente que tanto bateu pela sua terra, Cabo Verde, deve merecer que a sua memória seja preservada e, se assim é, em nenhum outro local ela é tão patente como na sua residência. Como todos devemos estar lembrados, na Sessão Plenária de Junho do ano findo assumi pessoalmente o compromisso perante sua Excelência, o Ministro de Estado e da Saúde, em inventariar espaços alternativos, algo que em menos de 48 horas consegui e enviei de imediato, por e-mail, ao Sr. Ministro de Estado e da Saúde, posteriormente via fax ao gabinete do Sr. Ministro. São seis as alternativas apresentadas: A primeira, o espaço onde funciona o Jardim Amílcar Cabral, com três frentes, praça estrela, Rua do Coco e Rua Castilho, o que do meu ponto de

90 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010 vista é excelente e qualquer arquitecto consegue um projecto combinado para a delegacia de saúde, com entrada pela praça estrela e o referido jardim continuar com entrada pela rua de Castilho. O espaço é do Ministério da Educação. Segunda alternativa: a antiga esquadra do Mindelo, propriedade do Estado, é enorme e parede meias com o antigo matadouro municipal, propriedade da câmara municipal, ambos completamente desactivados. A terceira alternativa: Pontinha, antiga oficina do Sr. Kun na Avenida Marginal junto ao edifício onde funcionava a direcção geral de Marinha e Portos, com muito espaço e é propriedade do Estado. Quarta alternativa: o espaço na Avenida Capitão Ambrósio, entre o Hospital Velho e a OMCV, vendido pela câmara municipal nos anos 90. Quinta alternativa: espaço atrás do edifício da Alfândega do Mindelo. Sexta e última, Fonte de Meio, frente à estação da Enacol, espaço do lado esquerdo de quem sobe para Cruz.

Sr. Presidente: - Anuncio aqui um período de esclarecimentos. Pergunto se algum Deputado quer pedir esclarecimentos. Tem a palavra o Sr. Deputado João Medina.

Sr. Deputado João Medina (MPD): - Não será bem pedir esclarecimentos. Não sei se poderei sufragar também e apreciar algumas palavras à intervenção do Sr. Deputado que acabou de apresentar esta matéria.

Sr. Presidente: - Tem tempo para isso.

Sr. Deputado João Medina (MPD): - Penso que essa matéria deve interessar a todos nós, independentemente dessa situação se se circunscrever a um concelho ou a uma ilha. A história de um povo faz-se a todos os momentos e quando qualquer criança pergunta de quem é esta casa e lhe é dito como resposta que esta casa foi casa do Dr. Adriano Duarte Silva estamos a perpetuar a memória de homens valorosos que muito contribuíram para a edificação da Nação Cabo-verdiana que em 5 de Julho de 1975 se tornaria em Estado. Estou convencido que muitos daqueles como Aristides Pereira, Amílcar Cabral e outros que pugnaram para que a Nação Cabo-verdiana passasse a ser Estado muito devem ter aprendido com a história. História onde Adriano Duarte Silva é figura incontornável. Daí que, estranho que não seja possível manter esse marco visível, património de São Vicente, mas de Cabo Verde para continuarmos a fazer a história e a dignificar os vultos cabo-verdianos que a todos nós enobrece o nosso futuro porque o presente sabemos, mas temos que perpetuar essas memórias e esses marcos tão importantes. Foi aqui citado pelo colega Deputado que me precedeu lugares vastos que quem conhece São Vicente e que conhece talvez como eu, pois talvez conhecerão porque costumo dizer que conheço São Vicente de jogar futebol nesses sítios todos e conhecer esses espaços quando era garotinho. Desde que sou garoto. Portanto temos espaços que foram aqui citados, dois deles comportam não só uma Delegacia de Saúde, como também outras estruturas que eventualmente se tornam necessárias construir em São Vicente.

91 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

O chamado Matadouro Velho e toda aquela esquadra, até agora propriedade do Governo, não nos foi dito aqui que não pode ser utilizado porque tem um destino e muito menos qual é o destino a dar a esse espaço. O mesmo diria em relação a um espaço que passou aqui, como o colega Deputado, que foi o antigo Quartel General, que é um espaço de acessibilidade, que é uma coisa que se tem de construir – nossa preocupação quando se fala em estrutura de saúde é a acessibilidade – que é o antigo Quartel General. Quem não conhece o interior, pelo menos vê a frente, uma frente ampla e com uma profundidade muito maior. Portanto, o espaço que está aí sub aproveitado. Que destino é que o Estado tem para aquele espaço? De modo que, até diria mais: a partir do momento que o Estado diga que não tem terrenos, nem edifícios em São Vicente para construir uma Delegacia de Saúde, terei necessária e obrigatoriamente que chegar à conclusão que o Estado cessou, a partir desta afirmação que foi dita aqui ontem, qualquer construção pública em São Vicente porque já não tem espaço. De modo que, pelo menos esses dois que citei, retomei na intervenção do Sr. Deputado e mais esses que acrescento, os outros três, é verdade que é muito mais difícil por pertencerem já a privados e implicarem negociações... Chamaria atenção de nós todos para defendermos, talvez não só Dr. Adriano Duarte Silva, mas para defendermos todos aqueles homens que na sua época e da maneira como lhes foi possível, tudo fizeram para dignificar Cabo Verde e os cabo-verdianos.

Sr. Presidente: - Não havendo mais inscritos em relação a este ponto, pedido de esclarecimentos… Para fazer também uma declaração política convido o representante do Movimento para a Democracia para se dirigir à tribuna, Sr. Deputado Agostinho Lopes.

Sr. Deputado Agostinho Lopes (MPD): -

Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Colegas Deputados.

Cabo Verde viu sempre nas suas boas relações com o mundo uma forma de contribuir para a paz e para a tolerância e uma fonte importante para o financiamento do seu desenvolvimento. Por isso, desde a independência que a nossa diplomacia tem actuado nesse sentido e a Nação cabo-verdiana construiu um consenso à volta desta forma de nos relacionarmos no concerto das nações. E foi assim que um pequeno país e frágil como o nosso afirmou-se no mundo e atingiu um nível de desenvolvimento que lhe granjeou respeito e admiração da comunidade internacional. A nossa relação com a União Europeia foi também ela alicerçada na confiança que conseguimos construir ao longo dos tempos com todos os governantes europeus, independente dos partidos ou família a que pertenciam. Aliás, o recente processo de construção de uma parceria especial com a União Europeia contou com o envolvimento de vários desses governantes mas especialmente de um, o deputado no parlamento europeu, Dr. Ribeiro e Castro,

92 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010 na altura Presidente do CDS-PP de Portugal, partido de que continua a ser dirigente. É claro que, a par dos apoios que recebemos, esta parceria e outras, só são possíveis porque a nossa diplomacia tem sido dirigida e executada, de forma coerente com o consenso atrás mencionado. E faço esta introdução porque parece que o consenso em causa, construído ao longo dos anos, está sendo posto em causa com discursos irresponsáveis, intolerantes, feitos em defesa de interesses pouco claros. O último caso é do Deputado Manuel Monteiro que, num artigo publicado na edição de 17 de Dezembro do ano findo, do jornal electrónico Forcv, afirma e citamos: “Termino com uma inquietação, encarada com algum temor por muitos cabo-verdianos, “di dentu y di fora”. Um alto representante do CDS-PP, que luta pela imposição de severas barreiras à emigração em Portugal esteve na convenção do MPD. Semanas atrás tinha viajado para Alemanha, aonde assistiu ao congresso do PPE, partido racista e anti-negro, com um discurso, cujas baterias estão todas elas direccionadas à luta contra a emigração. Perante estes factos, caberá a Carlos Veiga explicar como é que um partido político, neste caso concreto, o MPD, pode falar com seriedade sobre a emigração”. Lembramos que este PPE, denominado de racista e anti-negro pelo Deputado em causa é o mesmo que preside e detém a maioria no Parlamento Europeu, na Comissão Europeia e no Conselho Europeu e cujos partidos membros governam na maioria dos países que constituem a União Europeia. Países como Luxemburgo, França, Itália, Alemanha, com uma forte comunidade cabo-verdiana e excelentes relações com Cabo Verde, de há muito, são governados por partidos da família do PPE. É com dirigentes do PPE que Cabo Verde iniciou e está construindo a parceria especial com a União Europeia, com o apoio expresso de todos os países governados por partidos filiados no PPE. Consideramos por isso, que as declarações do Deputado Manuel Monteiro são despropositadas e condenáveis a todos os títulos. Resulta claro que o objectivo do artigo é atacar o MPD e o seu presidente. Aceita-se! Só que o mesmo acaba por atacar também partidos e governos amigos de Cabo Verde; governantes de países onde temos grandes comunidades emigradas que necessitam destes governantes para a criação de um ambiente descomprimido para viverem e se integrarem socialmente; governantes de países que nos ajudam no nosso processo de desenvolvimento. E isto é institucionalmente inaceitável. Concluímos pois, que razões de índole partidária ditaram este discurso, lesivo aos interesses de Cabo Verde e dos cabo-verdianos “di dentu y di fora”, no curto e no médio prazos. Aliás, o Sr. Deputado Manuel Monteiro, no artigo em questão fez outras afirmações que vemos repetidas por outros dirigentes do PAICV e que vimos o Dr. José Maria Neves reafirmar no congresso do partido, que terminou no Domingo passado, no quadro de uma clara estratégia que pretende acabar com o pluralismo em Cabo Verde e que vê o PAICV como um partido hegemónico e totalitário e a oposição como mero adereço cordato para inglês ver. Claro que o PAICV está completamente enganado e fora da realidade do país. Mas, isso veremos em 2011.

93 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Em todo o caso é legitimo concluir que a posição do Sr. Deputado Manuel Monteiro não é apenas a sua posição pessoal, mas sim a posição do PAICV e do seu presidente. Por isso, é legítimo também pôr as seguintes questões ao Sr. Primeiro- Ministro, Dr. José Maria Neves: 1. Como vai o Governo actual de Cabo Verde continuar a negociar um acordo de parceria especial, que o MPD classifica de importante e fundamental para Cabo Verde, com um partido que o PAICV considera racista e anti- caboverdiano? 2. Como vai o actual Governo continuar a negociar acordos para financiamento de parte importante do nosso desenvolvimento com governos de países europeus, formados por partidos que o PAICV considera racistas e anti- caboverdianos? Em defesa dos interesses do país impõe-se, que o Sr. Primeiro-Ministro e o PAICV esclareçam ao país rapidamente.

Aplausos da Bancada do MPD.

Sr. Presidente: - Anuncio um período de esclarecimentos. Tem a palavra o Sr. Deputado Manuel Monteiro.

Sr. Deputado Manuel Monteiro (PAICV): - Primeiru pa N fla ma es artigu N skreve-l na sekuensia di infilis intervensãu di líder espiritual di MPD y atual prizidenti dês partidu fetu na São Vicente, kuandu mas un bez e ta tenta dividi kabuverdianus pa si linguajen ke ta utiliza na São Vicente undi ke ta fla ma tudu ta ser fetu na y ma na São Vicente nada ka sta ser feitu, ma mesmu aeroportu txiga tardi. Y, na kel mumentu e sta viajaba presizamenti pa Europa undi dje faze se kaza, se ninhu pratikamenti, tendu komu grandes parceiros elementus di direita na Portugal y na Europa, mais konkretamenti na Alemanha ke fala di PPE… É verdadi ki PPE es ten maioria… mas nãu é PPE alemon, nãu é partidu di Alemanha, nãu é. É europeu. E presizu distingi kel dôs kuza. Partidu Popular Europeu ka ten nada a ver ku kel partidu popular alemon. Relativamenti a Partidu Popular Alemãu é presizu fla Sr. Deputadu Agostinho Lopes y propi tanbe já agora ke foi porta-voz di kel pesoa ki faze kel artigu ta referi a el,ke prezidenti di si partidu, é presizu lenbra puzison ki PPE toma djuntu ku Front National na França, ku Partidu Popular di Paulo Portas na Portugal ki tanbe é aliadu di CDSPP, puzison kes ten tomadu es relason a emigrason. Kantu ki Paulo Portas éra ministru di interior, nu ten ki lenbra, seti mil kabuverdianus staba na lista pa ispulsu di Portugal, grasas a enbaxador di inton na Portugal ki pidi apoiu di prezidenti di repúblika na kel mumentu (Jorge Sampaio) y di kardeal patriarka di Lisboa pa evita kel ki seria grandi desgrasa pa nos emigranti na Portugal. Basta odja kuze ki PPE na Alemanha ten fetu en relason a imigrantis europeus, turkus é europeu, kes faze un livru famozu y polemiku kes da kel nomi (imperceptível). Sima nu ta fla na kriolu “óra ki bentu panha pilon ka pergunta pa balei”, ses fala ki turkus ke komunidadi mas grandi di imigrantis na Europa kuantu menus di otus (negrus) ki tudu algen sabe ma sa ta ser vitima di ataki rasista tudu dia.

94 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

So kenha ki ka ta segi inprensa europeia o ki ka kre odja inprensa europeia ka sabe di ataki ki partikularmenti minoria negru ten sufridu na Europa, purki óra kes ta papia di imigirason es ta papia, prezisamenti na Europa, es ta papia viradu pa imigrantis negru. Ken ki ten stadu ta paga fava di tudu polítika di emigrason é emigrantis negru, afrikanu partikularmenti. É nes otika ki N ta fla ma MPD en relason a polítika pa emigrason é ka ten lisãu pe da a ningen y es ten prublema ku isplika ki polítika es ten pa imigrason, purki un partidu ki ta kulabora ku partidus na Europa ki ta luta kontra nos emigranti nu ka pode di nenhun manera onbra ku es o trabadja ku es, mesmu ki nos é di mesmu linha ideolojika nu debe dimarka di ses polítika kes ten, ke polítikas rasistas. So pa fla u seginte: kel Partidu Popular Europeu é, nen mas nen menus, di ki un partidu lideradu pa europesimista, isu nu ten ki fla. N ta termina pa fla ma artigu é di nha autoria, ka foi inkumendadu na ningen moda foi inkumendadu es diklarason polítika.

Aplausos da Bancada do PAICV.

Sr. Presidente: - Para pedir ou dar esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Lídio Silva.

Sr. Deputado Lídio Silva (UCID): - Preciso intervir, mas há muito barulho, pelo menos aqui na minha zona.

Sr. Presidente: - Com , Sr. Deputado. Sras. e Sras. Deputados, peço silêncio na Sala para podermos ouvir e bem o Sr. Deputado Lídio Silva.

Sr. Deputado Lídio Silva (UCID): - Gostaria, para além de tudo, prestar um pequeno esclarecimento. É possível entender que a Alemanha, a minha segunda pátria, onde vivi e me formei homem, não tem partido PPE. A sigla, a estrutura, era a estrutura que antigamente foi a União Mundial Cristã. Portanto, transformaram isso em confederação, se assim se quiser, dos partidos que defendem essa filosofia e essa forma de vida na Europa. Não existe. É só para clarificar que não existe essa posição. Por outro lado, para dizer que é fundamental distinguirmos as coisas. Sabemos que a nossa imigração sofre. Não podemos colocar todos no mesmo saco, principalmente quando sabemos que a Europa, directa ou indirecta, desde há muitas décadas, suporta Cabo Verde, através da nossa emigração, a emigração voluntária dos cabo-verdianos, desde o tempo colonial, em que o governo colonial não nos prestava nenhuma assistência. Portanto, temos que ser mais diplomatas ao confrontarmos com essas situações para evitar desabores maiores porque, pessoalmente, digo que qualquer cabo-verdiano na Europa que aprende o idioma do país de acolhimento, que cumpre as regras das leis desses países e que é trabalhador, tem uma vida digna tal como os nacionais desses países. Essa é a minha experiência de três décadas na Alemanha. Portanto, peço a todos os colegas Deputados nesta Casa Parlamentar para antes de, se for possível, das nossas intervenções pensarmos em defender Cabo Verde no seu todo antes de criarmos outros problemas para Cabo Verde.

95 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Vejamos: no caso da Alemanha concretamente, a Alemanha tem um projecto fundamental, importante para Cabo Verde, no que diz respeito à oceanografia e não só. Portanto, a maior parte do nosso território é mar, precisamos dessa colaboração e cooperação.

Sr. Presidente: - Também para pedir ou dar esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Rui Semedo.

Sr. Deputado Rui Semedo (PAICV): - Aqui teria que fazer algumas afirmações e tinha que as fazer de forma clara para que todos entendam. Cabo Verde sempre se relacionou com os países do mundo. Mesmo nos momentos mais conturbados da história recente, no período da guerra-fria, Cabo Verde soube ter a inteligência suficiente para se relacionar com todos os países do mundo, independentemente de quem estivesse no poder, porque quem leva os partidos ao poder é o povo. Temos que ter a capacidade suficiente para reconhecer a capacidade, a legitimidade e o poder do povo em escolher o seu governo, escolher o partido que quer que lhe governe. Não temos capacidade de interferir na escolha, em nenhum país, que o povo faz sobre os seus partidos para serem governos. Temos que respeitar tanto os países, como os seus governos, como os seus partidos, que são instituições da república. Em Cabo Verde, recentemente no congresso, o Primeiro-Ministro e presidente do partido afirmou que todos os partidos em Cabo Verde são pessoas de bem e esta afirmação é extensiva a todos os partidos no mundo que pilares da democracia. Todos os partidos do mundo são pessoas de bem. Este é o raciocínio de base, do qual partimos. Portanto, não pomos em causa a parceria especial. Por outro lado, afirmou-se aqui que é o Partido Popular Alemão que foi posto em causa. Na Alemanha há neste momento a governar a União Cristã Democrática de Angela Merkel que tem boas relações com Cabo Verde mesmo no quadro dessa presidência. Portanto, respeitamos o partido, a presidente e as instituições alemães e não há nenhuma afirmação contrária. A afirmação oficial do Governo de Cabo Verde e do Partido Africano da Independência de Cabo Verde é no sentido de uma relação sã, respeitosa, com todos os partidos no mundo e, enquanto País, com todos os países do mundo. Enquanto Governo, com todos os governos do mundo porque os governos são pessoas de bem e nós nos relacionamos com os governos que estão espalhados pelo mundo.

Aplausos da Bancada do PAICV.

A afirmação de que queremos acabar com o pluralismo é uma afirmação gratuita, descabida, despropositada, porque em nenhum momento houve discurso no nosso congresso que pusesse em causa o pluralismo político em Cabo Verde. Houve, sim, momentos de enaltecimento do pluralismo e a democracia cabo-verdiana, de valorização dos partidos políticos cabo- verdianos. Esta época, o tempo de tentativas de acabar com os partidos acabou. Já não é possível sequer pensar nesta ideia de acabar com os partidos porque acreditamos, resistimos, conseguimos afirmar, demonstrar e ter o apoio da

96 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010 sociedade cabo-verdiana no sentido de que os partidos são úteis, importantes, fundamentais para a democracia. Portanto, esta ideia é uma ideia peregrina que não terá, seguramente, espaço para fazer caminho aqui em Cabo Verde. Continuaremos, sim senhor, a negociar a parceira especial. Não negociamos a parceria com os partidos. A parceira especial é negociada no quadro institucional. Há relações partidárias que são relações estabelecidas entre os partidos. Respeitamos as relações que fazemos com os partidos amigos e respeitamos também as relações que o MPD faz com os seus partidos amigos. Nesta questão é como na vida: cada um escolhe os seus amigos e a ninguém deve ser imposto a ideia de escolher amigo que não lhe convém. Portanto, continuaremos a negociar a parceria especial no quadro institucional, com as organizações, com os governos, com os países e com os partidos amigos também continuaremos a negociar e mesmo com os partidos que não pertencem à mesma família que nós continuaremos a criar espaços para negociar, conversar, dialogar e, através do diálogo, chegarmos a concretizar os sonhos ou os ideais da parceria especial porque não ignoramos que para Cabo Verde as relações internacionais são fundamentais. Elas são fundamentais para qualquer país, mas para Cabo Verde, que depende extremamente do exterior, as relações, a diplomacia, as relações internacionais são fundamentais e continuamos a cultivar estas relações que são importantes para o desenvolvimento de Cabo Verde. Portanto, estas ideias que querem ser transportadas para o PAICV não colam porque o PAICV soube ser, enquanto partido, desde a época da independência a esta parte, suficientemente responsável, mas suficientemente inteligente, para defender, acautelar os interesses de Cabo Verde e criar espaços de promoção do seu desenvolvimento. É claro que querem nos fazer esquecer que também foi pedido a uma embaixada para, praticamente, não acreditar no Governo do PAICV porque não teria a capacidade de gerir os meios postos à disposição. Se calhar, quer-se pagar esta ideia. Também nesta Casa, quando fomos seleccionados para o segundo compacto do Millenium Challenge Account, um Deputado do MPD disse que nos Estados Unidos não se sabia da discriminação que se faz em Cabo Verde e que os embaixadores em Cabo Verde deveriam ficar mais atentos, quase que para não seleccionar Cabo Verde para essas questões. Não houve demarcação política, não houve nenhuma afirmação que demarcasse desta afirmação. A afirmação estava a pôr em causa também, mais uma vez, o segundo pacote do Millenium Challenge Account. Portanto, aqui estamos conservados, para reafirmar que temos plena consciência da necessidade…

Sr. Presidente: - Sr. Deputado, deve terminar!

Sr. Deputado Rui Semedo (PAICV): - … temos plena consciência da necessidade de Cabo Verde se relacionar numa base de seriedade, de respeito, de compreensão mútua, de respeito pelas diferenças, pelas ideias e pela legitimidade que os governos têm em todos os países do mundo.

Aplausos da Bancada do PAICV.

97 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Agostinho Lopes.

Sr. Deputado Agostinho Lopes (MPD): - Relativamente às intervenções do Deputado Manuel Monteiro, salvaguardando o desconhecimento de como é feito a organização política na Europa, damos de barato o que ele disse. Acaba por reconfirmar aquilo que está no artigo só uma ressalva: disse que o artigo é pessoal. Não pode ser! Um Deputado não pode ter esse tipo de afirmações, dizendo que é pessoal, ainda por cima para ter aplausos da Bancada do PAICV. Portanto, é preciso fazer essa demarcação porque senão vamos pensar que o PAICV pensa que o seu Deputado tem razão ao dizer que o Partido Popular Europeu - ninguém falou de Partido Popular Alemão, pelo menos não falei – é racista e anti-negro.

Sr. Deputado José Maria de Pina (PAICV): - Kela é bo ki sta fla.

Sr. Deputado Agostinho Lopes (MPD): - Não, isto está escrito no artigo, bastar ler. Tenha a santa paciência. Quanto ao Deputado Rui, inicialmente pensei que ele ia demarcar-se, mas no final disse que não se demarcava porque não se demarcou anteriormente de outros tipos de afirmação. Sr. Deputado, há afirmações com diversos graus de gravidade. Não sei o quê que foi dito pelo Deputado, peço desculpas, não estava na última Sessão, mas, de facto, é inaceitável que um Deputado da Assembleia Nacional, eleito pela imigração para a Europa, venha num artigo de jornal fazer as afirmações que o Sr. Deputado fez e ficarem como se não tivesse acontecido nada. Se o Governo e o PAICV não se pronunciarem, é legítimo pensar que partilham desta posição. A pergunta é: como é que se vai continuar a negociar a parceria especial com um partido ou com Governos cujos partidos pertencem a uma família de partidos que é considerada de racista e anti-negro? É uma afirmação grave a todos os títulos, lesiva aos interesses de Cabo Verde a nível nacional e na diáspora. Fico por aqui, Sr. Presidente.

Aplausos da Bancada do MPD.

Sr. Presidente: - O Sr. Deputado Manuel Monteiro está a pedir a palavra, mas devo recorda-lhe que o Grupo Parlamentar do PAICV já não dispõe de tempo. Sr. Deputado António Monteiro está a pedir a palavra, mas também os Deputados da UCID já não têm tempo. Sra. Ministra Presidência, está a pedir a palavra para que efeito?

Sra. Ministra da Presidência do Conselho de Ministros e dos Assuntos Parlamentares, Janira Hopffer Almada: - Tendo o Sr. Deputado Agostinho Lopes, na sua intervenção, feito alguns pedidos de esclarecimento e algumas afirmações, o Governo gostaria de reagir, em sendo assim entendido, ao abrigo do Regimento da Assembleia Nacional.

98 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Sr. Presidente: - Sra. Ministra, o hábito que temos aqui é do Governo falar no fim. Tem dez minutos, no Período de Antes da Ordem do Dia, que pode usar. Normalmente a alínea i) do 105º do nosso Regimento dá ao Governo a possibilidade usar dez minutos neste Período de Antes da Ordem do Dia para dar esclarecimentos em relações às intervenções feitas. Portanto, vamos continuar no Período de Antes da Ordem do Dia. A interpretação que temos feito no Parlamento é dos membros do governo, após as intervenções…

Protestos de alguns Deputados do MPD.

… é o que está, Srs. Deputados. O nosso Período de Antes da Ordem do Dia hoje está agendado para meia hora. Estamos a gerir este período nos termos do 95º e 96º do nosso Regimento. O Período de Antes da Ordem do Dia está agendado de meia hora por causa das declarações políticas. Quando conjugo o n.º 5 do 94º e a alínea i) do 105º, diz que o Governo tem minutos para, após todas as intervenções, usar esse tempo para dar esclarecimentos. Isso é que tem sido a prática, por forma que vamos continuar com o Período de Antes da Ordem do Dia. Esta é a interpretação da Mesa. Para uma intervenção nesse período, passo a palavra ao Deputado Afonso da Afonseca. Sras. e Srs. Deputados, se não havendo inscrições… recordo que um grupo parlamentar com tempo no período de declarações políticas é o Movimento para a Democracia. Pergunto aos Deputados do Movimento para a Democracia se querem usar o tempo que têm disponível neste período de declarações políticas.

Sr. Deputado Agostinho Lopes (MPD): - Quero interpelar a Mesa.

Sr. Presidente: - Tenha a bondade, Sr. Deputado.

Sr. Deputado Agostinho Lopes (MPD): - Temos dúvidas quanto à forma como está a dirigir a reunião e quanto à decisão que tomou agora. Gostaríamos de comentá-la. Não se pode depreender do Regimento que o Governo fala no fim do Período de Antes da Ordem do Dia. Não se pode, Sr. Presidente. Temos hábitos, aqui já feitos na Casa, de quando os grupos parlamentares tiveram tempo falarem depois. Já aconteceu várias vezes. Portanto, não é prática da Casa, não resulta do Regimento. Agradecíamos ao Sr. Presidente que revisse esta posição.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado, o n.º 3 do 96º dá tempo aos grupos parlamentares e o senhor sabe muito bem que esta tem sido a prática. Estamos num um Período de Antes da Ordem do Dia com precedência de declarações políticas havidas, que têm prioridade nos termos do nosso Regimento, não tem sido hábito e não pode, na nossa interpretação, o Governo falar no período de pedidos de declaração política. Esse tem sido o nosso hábito.

99 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Não temos aqui memória do Governo ter interferido neste período porque não tem tempo distribuído, simplesmente isso. Não vejo como o Sr. Deputado faz uma interpretação diversa desta. Admito que o nosso Regimento, o Sr. Deputado sabe como eu sei, apresenta incongruências, mas temos podido resolver essas incongruências com base naquilo que é a experiência de trabalho nesta Casa Parlamentar. Sr. Deputado Agostinho Lopes tem a palavra.

Sr. Deputado Agostinho Lopes (MPD): - De facto, não há memória de que o Governo fala no período das declarações políticas, o que não quer dizer que não faça. É a primeira vez que está a pedir, nunca o fez antes. Isso não significa que o Governo é o último a falar no Período de Antes da Ordem do Dia. Os partidos têm tempo, gerem o seu tempo em função da sua necessidade de intervenção política. Não pode a Mesa decidir que é o Governo porque não se depreende isto do Regimento. Não estou a falar do período de…

Sr. Presidente: - Sr. Deputado…

Sr. Deputado Agostinho Lopes (MPD): - Posso, Sr. Presidente, só para terminar?

Sr. Presidente: - É que está a dizer uma coisa que não disse. É por isso estou a querer interrompê-lo. Não disse que o Governo fala no fim do Período de Antes da Ordem do Dia. Não disse isso. O que disse é que não tem sido hábito do Governo falar no período de declaração política. Normalmente, neste Parlamento, quando estendemos o Período de Antes da Ordem do Dia para hora e meia com declarações políticas, até ao término dessas declarações, o Governo não fala. Depois, obviamente, haverá as intervenções normais do Período de Antes da Ordem do Dia. Aí não significa que o Governo fala no fim. O Governo tem dez minutos para, neste período, usar no período em que entender. É essa a explicação que devo dar, é essa explicação que quis dar desde o início. Agradecia a vossa colaboração, Srs. Deputados, para continuarmos com os trabalhos. Sr. Deputado David Almada, pede a palavra para que efeito?

[Não se ouviu a resposta do referido Deputado.]

Sra. Deputada Joana Rosa, pede a palavra para que efeito?

Sra. Deputada Joana Rosa (MPD): - Obrigada, mas extemporâneo, Sr. Presidente.

Sr. Presidente: - Prescinde, portanto. Vi vários braços no ar. A Sra. Deputado Filomena pediu a palavra também? Não. Sr. Deputado Clemente Garcia, pediu a palavra para que efeito?

Deputado Clemente Garcia (MPD): - Para uma intervenção.

100 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Sr. Presidente: - Uma intervenção para o Período de Antes da Ordem do Dia. Fica inscrito. Tem a palavra o Sr. Deputado David Almada.

Sr. Deputado David Hopffer Almada (PAICV): - Peço desculpas por intervir. Para ver se sanamos esta situação, vou ler o que diz a lei para não estarmos a discutir. A lei diz, é o n.º 3 do artigo 96.º, “cada grupo parlamentar após a produção da declaração política, há um período de pedido de esclarecimento com a duração de vinte minutos, repartidos proporcionalmente pelos grupos parlamentares ou partidos com assento no Parlamento”. Portanto, não sei porquê que estamos a fazer essa discussão, se a lei é clara. O instrumento que nos rege e que nos define os caminhos é o Regimento. O Regimento diz expressamente isso.

Sr. Presidente: - Suponho que a questão está sanada, que não há mais dúvidas em relação ao Regimento e à nossa prática parlamentar. Terminamos, então, aqui os pedidos de esclarecimentos com relação às declarações políticas. Para uma intervenção no Período de Antes da Ordem do Dia, tem a palavra o Sr. Deputado Afonso da Fonseca. Tenha a bondade, Sr. Deputado.

Sr. Deputado Afonso da Fonseca (PAICV): -

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Membros do Governo, Colegas Deputadas e Deputados:

Após o feito em Pedra Galinha, zona alta de , há menos de dois meses, várias localidades da Freguesia de Nossa Senhora da Luz beneficiaram da preciosa energia eléctrica, sendo de realçar que dentro em breve mais localidades desta aprazível freguesia, ela mesma, a Nossa Senhora da Luz, beneficiar-se-ão deste indubitável motor de desenvolvimento e promotor inequívoco do bem-estar das populações. Neste sentido, e imbuído de alegria, aproveito o ensejo para juntar a minha a voz às populações das localidades de Achada Baleia, , Achada Lama, Dobe e Tinca, Portal, Capela, Chã de Coqueiro e Pedra Galinha para agradecer ao Governo do PAICV, através do Ministério da Economia, Crescimento e Competitividade. Estes agradecimentos têm a ver com a inauguração de energia eléctrica nessas localidades no passado mês de Dezembro, acalentando, desde modo, um sonho. Sonho esse que se tornou realidade às gentes destas ribeiras. É incomensurável, e não imaginem, a alegria desmedida sentida por todos, quando alguém premiu o botão e a luz começou a cintilar, transformando a imensa escuridão num amável clarear, fazendo acreditar aqueles que defendiam a máxima “ver para crer”. É com satisfação que acompanhámos os trabalhos de electrificação, já bastante avançados, nas localidades de Fonte de Almeida, Rema Rema, Castelo Grande, Moia Moia e Baía, cujas inaugurações estão previstas para finais do primeiro trimestre. Com essas inaugurações, o Município de São Domingos passará a ter uma taxa de cobertura de mais de 90%, custando aos cofres do Estado cerca

101 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010 de 50 mil contos. No entanto, é nosso desejo e vamos batalhar para que assim seja, que a taxa de energia passe a ser de 100%, electrificando as localidades de Banana, Ribeirão de Cal, Mendes Faleiro Cabral, Chaminé, Achada Mitra, Cambodjane, Djanbam, e uma parte de Mato Afonso. É de realçar que existe uma verba de 20 mil contos inscritos no Orçamento de Estado para 2010 para a continuação dos trabalhos de electrificação, esperando que as pessoas dessas localidades possam conhecer também os benefícios trazidos pela energia eléctrica. O importante é que este processo de electrificação é acompanhado do programa de electrificação domiciliárias, em que o Governo disponibiliza uma verba de cerca de 60 mil contos em beneficiação das famílias mais carenciadas, esperando que o nosso concelho seja um dos beneficiários para que a melhoria das condições de vida seja cada vez mais efectiva, com a chegada da energia eléctrica. Não menos importante, quanto a nós, foi também a inauguração do bloco B da Escola Secundária Fulgêncio Tavares, no passado dia 15 deste mês, oferecendo ao concelho no geral e à comunidade educativa em particular uma bonita escola, com uma fachada singular, envolto a uma rampa que facilita o acesso a todos, sem excepção, particularmente os portadores de deficiências físicas. Portanto, uma escola moderna que responde aos desafios hodiernos, dando vazão à demanda de uma escola cidadã, inclusivista e democrática. Para não falar dos laboratórios devidamente equipados, placa desportiva, sala de informática, biblioteca, etc., contribuindo desde logo para a melhoria substancial do processo ensino-aprendizagem.

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Membros do Governo, Colegas Deputados:

Não obstante estes feitos, não queríamos terminar sem retorquir algumas preocupações, de uma certa forma já aqui por nós levantadas. Refiro- me, por exemplo, à definição do processo de desenvolvimento da localidade de Vale da Custa com a implementação do empreendimento turístico Sambala Village. Só para terem uma ideia, apenas essa localidade da freguesia de Nossa Senhora da Luz doravante fica ainda por electrificar. Ainda devo referir-me ao equipamento de vários furos, principalmente na localidade de Loura, furos esses realizados através da cooperação japonesa, há vários anos; a abertura, o quanto antes, do emprego público, principalmente na freguesia de Nossa Senhora da Luz. Para terminar, pensando já na próxima legislatura, acreditando que o povo cabo-verdiano irá premiar esse Governo pelo seu bom desempenho, levando às setes repartições do mundo a boa imagem desses dez grãozinhos de terra, votando massivamente no PAICV e no seu presidente, Dr. José Maria Neves, pelo excelente trabalho que vem fazendo ao longo dessas legislaturas. Gostaríamos, igualmente, de ver, pelo menos, implementado o projecto da bacia hidrográfica de São Domingos e a construção de uma residência estudantil, fazendo ganhar o Centro de Formação Profissional da Variante uma abrangência nacional e quiçá internacional.

102 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Aplausos de alguns Deputados do PAICV.

Sr. Presidente: - Para uma intervenção no Período de Antes da Ordem do Dia, tem a palavra o Sr. Deputado Clemente Garcia.

Sr. Deputado Clemente Garcia (MPD): - Antes, queria dar um esclarecimento ao colega Deputado.

Sr. Presidente: - Mas, se o Sr. Deputado tem a palavra para intervenção, vou sugerir que aproveite a intervenção para dar esclarecimentos. Tenha a bondade, Sr. Deputado.

Sr. Deputado Clemente Garcia (MPD): - Antes da minha intervenção queria aproveitar para dar alguns esclarecimentos ao meu colega que acabou de intervir, dizendo o seguinte: quanto à energia na freguesia, vou repetir isso, peca por tardia e nem preciso agradecer o Governo. O Governo está no governo, passe o pleonasmo, é para governar. Em relação à São Domingos, levou nove anos para que electrificasse a freguesia e a população cansou mesmo de esperar esta energia. Portanto, não é preciso agradecer aqui, deixo de barato esta intervenção, é uma obrigação. Agora, fazer minhas as palavras do Deputado para que o Governo, já agora na pessoa da Sra. Ministra Economia, o mais urgente possível, veja para a localidade de Vale da Custa, quase a única localidade que não está prevista a electrificação na freguesia. Já agora, aproveito para deixar aqui ao Sr. Deputado que não fica bem, isto mostra que o PAICV é um partido do Estado… aquando da inauguração da energia eléctrica, o Sr. Deputado aproveitou, em nome do PAICV, o sector de São Domingos, para distribuir convite, em nome pessoal, à população para assistir à electrificação. Não fica bem. O Governo é que fez a electrificação. O Deputado a distribuir convites, em nome do PAICV, com símbolo e tudo, aos munícipes, não fica bem. É um acto vergonhoso. Isso mostra que o PAICV é um partido do Estado.

Aplausos de alguns Deputados do MPD.

Quanto à inauguração do segundo bloco do Liceu de São Domingos, este liceu já foi inaugurado várias vezes. Já perdi a conta. De modo que aqui também não há nenhuma novidade nesse aspecto. Feito este reparo, vou me concentrar na minha intervenção.

Sr. Presidente: - Silêncio na Sala, por favor, Sras. e Srs. Deputados, para podermos ouvir.

Sr. Deputado Clemente Garcia (MPD): - Isto é com relação ao Deputado Afonso da Afonseca. Agora, vou cingir a minha intervenção na visita efectuada à ilha Brava. A Comissão Especializada da Educação, Juventude Cultura e Desportos, no âmbito das suas atribuições, realizou de 3 a 15 do corrente mês, uma visita de trabalho à querida ilha da Brava, com o fito de conhecer e se

103 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010 inteirar da real situação do sector da educação na ilha, tendo a respeito o seguinte diagnóstico. Mas, antes como nota de rodapé, importa compartilhar com os meus colegas Deputados o seguinte: os bravenses apreciaram a nossa visita, chegando mesmo a afirmar que é a primeira vez que uma comissão especializada vem à ilha auscultar os problemas da população. Na óptica de muitos bravenses, é a ilha menos visitada pelas autoridades. Neste sentido, a nossa visita foi muito bem recebida. Feito o intróito, constatámos que o pré-escolar está bem servido, cobrindo todas as localidades. Em relação ao ensino básico, verificámos que tem uma boa performance, abrangendo também todas as localidades da ilha, tendo 100% dos professores formados, o que é muito bom para o processo de ensino-aprendizagem. Encorajámos os responsáveis a prosseguir na mesma caminhada. Entretanto, a nível do secundário os bravenses exigem a construção de um liceu de raiz, de forma a albergar salas especializadas, auditório, laboratório, permitindo que os jovens possam competir em pé de igualdade com os demais colegas do País. Com efeito, constatámos, ainda na ilha das flores, que a juventude vem a braços com problemas de desemprego, a par do alcoolismo e da droga. Neste sentido, urge tomar medidas preventivas, como forma de se evitar que esses jovens continuem a entrar em caminhos triviais. A nível do desporto, os bravenses exigem o alargamento do parque desportivo, particularmente o arrelvamento do Estado Municipal, para que possam competir em pé de igualdade com os demais atletas do País. A esse respeito, fomos informados pela autoridade camarária que já existe financiamento e brevemente arrancar-se-á a referida construção. A nível cultural, por paradoxo que possa parecer, na terra de Nhô Eugénio, um dos maiores vultos da nossa cultura, depreende-se que a cultura está a decair, necessitando de uma dinamização, pois a ilha tem grandes potencialidades. À margem da nossa área de actuação, constatámos que a ilha precisa ser dinamizada, desde logo exigimos, urgentemente, que o transporte marítimo seja melhorado como condição de tirar a ilha do isolamento e atrair mais pessoas para a ilha. Os bravenses também não entendem porquê que a ilha tem maior de deportados e, no entanto, a sede fica na ilha do Fogo, concretamente nos Mosteiros, onde o número é manifestamente inferior, cerca de metade. Convém informar que o número de deportados vem aumentando de ano para ano, esperando algum cuidado por parte das autoridades e acusam o Instituto das Comunidades de lhes ter dado um magro apoio. Alguns deportados vivem do mísero apoio dos familiares emigrantes. Fora isso, os bravenses questionam a razão pela qual os serviços, como a emissão de bilhete de identidade, passaporte, continuam a ser feitos na ilha do Fogo. A televisão, praticamente, não manda mantenha à ilha. Consequentemente, a ilha, muitas vezes, fica despercebida no contexto nacional. Para terminar, em nome da Comissão Especializada, queríamos aproveitar a oportunidade para agradecer aos colegas Deputados, José Domingos e Fernanda Burgo, respectivamente, que, muito embora não fazendo

104 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010 parte da Comissão Especializada, deram-nos todos os apoios necessários para que a nossa visita tivesse eco junto dos bravenses; agradecimentos também extensivos ao Sr. Presidente da Câmara substituto pela morabeza.

Aplausos de alguns Deputados do MPD.

[Entretanto, o Sr. Presidente da Assembleia Nacional, Aristides Lima, assumiu a Presidência da Mesa.]

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Afonso da Afonseca, deseja a palavra para que efeito?

Sr. Deputado Afonso da Afonseca (PAICV): - Para esclarecimentos, Sr. Presidente.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Felisberto Cardoso, é para intervenção?

[Não se ouviu a resposta do referido Deputado.]

Prescinde. Sr. Deputado António Fernandes, deseja a palavra para que efeito?

Sr. Deputado António Fernandes (PAICV): - Para esclarecimentos.

Sr. Presidente: -Tem a palavra o Sr. Deputado Afonso da Afonseca.

Sr. Deputado Afonso da Fonseca (PAICV): - Si kalhar, intervenson di kulega Diputadu Clemente nen ka mereseba risposta. Di kualker manera, komu e labanta alguns kiston, N ta fla u seginte: primeru, N ta pensa ma Sr. Diputadu debe fika kontenti o ma sta kontenti ku iletrifikason di kes lokalidadi, prinsipalmenti maior parte di zonas iletrifikadu fika na si fregezia. Pa N lenbra-l tanbe ma ten un masima ki fla “mais vale tarde do que nunca”. Grasas a Deus ku isforsu des Guvernu iletrifikason di Konselhu di São Domingos dja sta na 90%. N ta spera ma djuntu nu ta luta pa nu atinje 100% di iletrifikason di lokalidadis, ma tanbe agradesendu óras ki kuzas sta ser fetu di forma dretu. Sobri konvite fetu a pupulason, realmenti nu faze konvite a militantis y amigus di PAICV pa siste inaugurason di iletrifikason. N ta pensa ma N faze ate dretu pamodi N ta ka odja mal ninhun. Mi komu Primeru-Sekretáriu di Setor di Partidu ten ki prima pa nha militantis sta informadu, pa odja kuze ki sta pasa. Dja sabenbu di antemão ki puder lokal si kalhar ka staba tãu interesadu na konvidaba pesoas purki obras é di Guvernu, kuantu mas populason sta la Guvernu ta parabeniza si obra. Foi nes sentiu, ma fika siente ma N ta kontinua ta faze óras ki kontese algu di jéneru. N ta pensa ma ka ten mal ninhun. Sobri inagurasãu di liseu, liseu é dos fazi. Pur isu inauguradu bloku A, ki dja staba prontu antes, kantu bloku B sta prontu inauguradu. Ten algun mal? Parse-m ma nãu.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado António Fernandes tem a palavra.

105 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Sr. Deputado António Fernandes (PAICV): - En relason a intervenson di kulega Diputadu Clemente Garcia ki faze riferensia a agradesimentu a Guvernu en relason a alargamentu di rede pa varius lokalidadi di Konselhu di São Domingos, undi ki el é kontra es agradesimentu y ki ta dexa transparese ma si kalhar el é kontra tanbe es benefisiu, é kontra rede iletrika ki txiga pa kes novus lokalidadi di Konselhu di São Domingos. Ali nu ta reafirma di ki nu ta kontinua ta agradese Guvernu pa tudu isforsu ke ten fetu na anbitu di alargamentu di kobertura di rede iletrika na tudu teritoriu nasional, prinsipalmenti duranti anu di 2009 ki serka di 55 novus lokalidadi, inlkuindu interior di ilha di Santiago, ilha di Fogo, benefisia di rede iletrika ki, komu kulega Afonso da Afonseca kaba di refire, é algu ki ta ba kontribui pa midjoria di kualidadi di vida di pupulasãu di kes lokalidadi li. Pa tudu pupulasãu di kes lokalidadi ta reprizenta serka di 10 mil novu família ki ta ba benefisia ku es alargumentu di redi. Pur isu, nu ta intende ma ki si kalhar MPD ka ta odja ku bons olhos es isforsu di Guvernu na sentidu di leba taxa di kubertura a nivel nasional pa prosimu di 100% y ki nes mumentu dja sta na 95%. Nu ta intende es dor, ma nu ta atxa ma kes família li ta merese y debe kontinuadu ta alarga rede. Nu ta fla ma tanbe kamaras munisipal ten un papel fundamental na alargamentu di rede, es pode faze isu y N ta supõi ki sima São Domingos foi tardi nu ta apelaba tanbe a Sr. Kolega Diputadu pa alertaba kamara ki podia fazeba tanbe intervensoins nes área. Tanbe N ta agradese en partikular na São Lourenço dos Órgãos ki mas kuatu novus lokalidadi foi kontenpladu ku kubertura di rede iletrika, ma falta tanbe otus zonas. Si nu ta konsideraba ma São Lourenço dos Órgãos éra un di kes konselhu ki staba ku taxa di kubertura di 35%, oji dje pasa pa mas di 60%, u ki nu ta kontinua ta reafirma. Purtantu, kongratulason pa ku Guvernu y tanbe ku enpenhu na sentidu di bai mas prujetu di iletrifikason pa zonas alta (, Montaninha, , Boca Larga) y tanbe pa tenta monta kel novu rede ki ten na Rubon Galinha ki foi fetu di raiz.

Aplausos da Bancada do PAICV.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Clemente Garcia, deseja a palavra para que efeito?

Sr. Deputado Clemente Garcia (MPD): - Para prestar um esclarecimento ao Colega Deputado António.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Filipe Furtado, deseja a palavra para que efeito?

Sr. Deputado Filipe Furtado (MPD): - Para esclarecimento em relação à intervenção do Deputado Clemente Garcia.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Filipe Furtado tem a palavra.

Sr. Deputado Filipe Furtado (MPD): - É pa N riforsa u ki Diputadu Clemente fla sobri inerjia na São Domingos ki fazedu desdi anus 90, ki ka tinha

106 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010 un lanpada antes di anu noventa na São Domingos. Na anus 90 fazedu redi iletrika na konselhu di São Domingos. Dipôs di novi anu komesa ta torna fazedu. N ka sabe si na São Domingos ta fazedu moda fazedu na São Miguel y na ki N tinha varius purgunta onti ki ka rispondedu, ma N ta torna ben faze-l prosimu mês. Sima istrada trasadu si ki rede bai, kes pupulason ki fika distanti di strada ka ten asesu a inerjia. Nos di MPD nu ka kontra inerjia, nos nu ka kontra agu, pamodi si ten kuza ki fazedu na anus noventa na Cabo Verde é rede di inerjia y rede di agu. Y nu lenbra óra ki ta inaugurada inerjia gentis di PAICV ta fla ma sta inaugurada podogó. Oji nu ka sabe ki dja muda di nomi o si kontinua si. Ma nos nu ka kre ten so rede iletrika, nu kre ten inerjia. Nhos imajina na konselhu di São Miguel na un anu bu ta ten seti mês y meiu di luz, kuatu y meiu bu ta fika sen inerjia pamodi fadja iletrika. Y otu óra ka ta ten inerjia pamodi ka ten dinheru pa kunpra kunbustivel. Kuza mas triste ki un sta verifika nes mumentu li, Iletra ku tudu difikuldadi ki ten ta ligadu pesoas inerjia sen kontador, pesoas ku inerjia na kaza mas ka ta paga pamodi ka ten kontador. Ta fazedu puramenti politikise na ligason di inerjia iletrika. Pur isu ki nu ta djunta nos voz a voz di Diputadu Clemente ki nu sabe tanbe ma Kamara di São Domingos faze rede iletrika nes ultimus anus tanbe. Pur isu nu ta pidi ki fazedu rede iletrika, ki fazedu teknikamenti dretu pa ka fika… inda onti ta podu prublema ki ka ta pagadu inerjia iletrika, tudu rede ki ta fazedu duranti tudu dia luz é sezu. Kenha ki ta paga kel luz sezu duranti dia? Ten ki fazedu rasionalizason di inerjia iletrika. Nu sabe me karu, ma ten pesoas ki ka ta paga, ten ki kriadu lei pa obriga pesoas paga y tanbe ten ki djobedu kenha ki sta ligadu luz sen kontador, pa ki motivu ki ta ligadu luz sen kontador, ku tudu difikuldadi ki Iletra ten.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Clemente Garcia, tem a palavra.

Deputado Clemente Garcia (MPD): - Rapidamenti pa N flaba nha kulega Diputadu António Fernandes u seginte: nhos gosta di enprega termu kontra, mo ki bo é kontra iletrifikason. U ki N fla en relason a São Domingos é ki e dura, e leba novi anu pa Guvernu ba iletrifika es lokalidadi, kes novi anu e keli ki N sta kestiona. N stevi na inaugurason, N sta kontenti y ka nu skese ma polítika ta viza ben komun. Ó ki pupulason xinti satisfetu nos polítiku tanbe nu ta fika satisfetu, ma ka signifika ma Guvernu ka devia fazeba mas isforsu pa iletrifikaba kes zona. Na dekada di noventa São Domingos, sima nha kulega Filipe fla, ka tinha inerjia. Nos nu parti di zeru, Guvernu devia apenas kontinuaba iletrifikason, mas e ka faze isu. So pa N da un izenplu paradigmatiku des kuza, un zona ki fika mutu pertu la di , menus di un kilometru, pa oji iletrifikason ka txiga la. So pa odja me falta di vontadi. Di kualker forma, N ta kongratula ku nha kulega Diputadu ki ta fla “mais vale tarde do que nunca.” Ten kel masima li. Dje txiga, ma ka nhos ben fla nunka ma nos é kontra iletrifikason. Na kel seis lokalidadi ki foi inauguradu, três lokalidadi kamara dja tinha inerjia la. Un isforsu pesoal, ma inerjia é konpetensia di Guvernu. Purtantu, nu ten ki valoriza kel isforsu ki kamara faze

107 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010 pa kes três zona sta iletrifikadu y sa ta faze isforsu pa stendeba a mas lokalidadi. Tanbe pa N fla nha kulega Afonso u seginte: iletrifikason ainda ka txiga 90%, basta nu ilenka lokalidadis ki falta. Vale da Custa ka tene inerjia ainda, Baía, Moia Moia, Saco, Castelo Grande, Banana, parti di Mato Afonso, Ribeirão de Cal, ka tene inerjia. É ka pode txiga 90%, ate N tive ta djobe-l ku tekniku. É es sklaresimentu ki N kria daba. N ta aproveitaba presensa di Sra. Ministra di Ikonomia pa apelaba ke pa faze un isforsu na kes lokalidadi ki iletrifikadu, ainda luz ka entra na kaza di pesoas, pes kumesa ten inerjia pa inerjia ka fika so na rua. Kumersiantis es ten stadu ta straga txeu ses prudutu la, pa faze un isforsu pa mas rapidamenti pusivel pes ten inerjia na ses kaza. N ta gostaba ki Sra. Ministra lebaba isu en konsiderason.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Afonso da Fonseca tem a palavra.

Sr. Deputado Afonso da Fonseca (PAICV): - Komu fladu li ma kamara di São Domingos iletrifika alguns lokalidadi, N ta gostaba di purguntaba nha kulega Diputadu Clemente na ki anu y kal é kes tres lokalidadi. Sobri taxa di 90% di iletrifikason N fla ma taxa di 90% me óra ki ben inauguradu kes lokalidadi ki sta en fazi di trabadju mutu avansadu y ki na sugundu trimestri des anu ta ben inauguradu. Purtantu, si nu soma isu ku kes ki dja sta é ta atinji realmenti 90%, é u ki N fla.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Clemente Garcia faça o favor.

Deputado Clemente Garcia (MPD): - N kre fla nha kulega Diputadu Afonso me skese rapidamenti. Achada Baleia kel dia ki ba inauguradu luz ki tradu luz, tinha luz la (imperceptível). Achada Baleia, Cancelo, Dobe y Tinca ka tinha inerjia? Kantu ki nhos ba inaugura luz, nhos atxa inerjia la. Tinha o nãu? Nhu fla li na Sala.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Afonso da Fonseca faça o favor.

Sr. Deputado Afonso da Fonseca (PAICV): - Realmenti zona di Achada Baleia, Cancelo, Dobe y Tinca staba iletrificaku. Ma nu ta purgunta pamodi ki tres zona iletrikadu ta ser desletrifikadu pa ben ser iletrifikadu di novu. Algun kuza ka sta dretu. Kel trabadju ki foi fetu pa kamara ku presa, mal fetu, sen sustentabilidadi, é pur isu ki kes zonas ki foi iletrifikadu pa kamara foi di novu iletrifikadu. Aumentu di dispeza purki trabadju mal fetu, é keli ki kontise. N ka kre ben entra mas nes pormenor pamodi Diputadu Clemente sabe pamodi, na ki fazi, kuandu kes zona foi iletrifikadu y porkê. Purtantu, nu fika ti li si for kazu dipois nu pode…

Sr. Presidente: - Não tenho mais nenhum inscrito. Também o nosso tempo já se está a esgotar. Passo a palavra à Sra. Ministra da Presidência para, ao abrigo da alínea i) do artigo 105º, usar da palavra, em nome do Governo.

108 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Sra. Ministra da Presidência do Conselho de Ministros e dos Assuntos Parlamentares: - Serei muito objectiva, uma vez que os meus colegas do Governo também virão a seguir. Sobre a declaração feita aqui pelo Sr. Deputado Agostinho Lopes, gostaria de relembrar, novamente, que este Governo está a consolidar a Nação global cabo-verdiana, através de uma política externa que contribua para a transformação e modernização socio-económicas do País. Poderia aqui relembrar, mais uma vez, que fomos seleccionados para o segundo pacote do MCA, poderia relembrar também que estamos a implementar a parceria especial com a União Europeia, com adopção do quadro orientador desta parceria; podia também reafirmar que temos uma diplomacia ao serviço do desenvolvimento e que continuaremos fortemente engajados na mobilização de recursos externos, para responder directamente à questão que me colocou. Estou a fazer-lhe esse intróito, Sr. Deputado Agostinho Lopes, para dizer que Cabo Verde, o seu Governo reconhece plenamente o contributo que todos os nossos parceiros têm dado ao desenvolvimento do país, pretende continuar com esse sã relacionamento e mobilizar cada vez mais recursos porque acreditamos plenamente que estamos a reunir as condições e a dar provas para mostrar que esses recursos estão a ser bem aplicados, a tal boa governação que tanto se fala lá fora e que também é reconhecida cá dentro. Queria somente fazer essa pontualização, uma vez que o senhor pediu essa satisfação directamente ao Governo e à pessoa do Sr. Primeiro-Ministro. Queria também lhe dizer que nessa nossa perspectiva de consolidar a Nação global cabo-verdiana, com essa parceria com todos os nossos amigos, países, governos estrangeiros, teremos uma particular atenção à nossa diáspora, como temos vindo a ter. Temos estado a desenvolver vários projectos com esses países para a melhoria da condição de vida dos nossos cidadãos lá fora. Respondendo às afirmações e aos questionamentos feitos pelo Sr. Deputado Clemente Garcia, na sequência da sua visita à ilha da Brava, Sr. Deputado, vamos ser aqui claros. O Governo tem apostado fortemente em todas as ilhas. Se me disser que falta por fazer, dir-lhe-ei que concordo consigo. Mas que muito também já está feito, temos de concordar que é verdade. Vou lhe exemplificar apenas algumas obras do Governo na Brava. Já temos em construção as estradas Nossa Senhora do Monte – Lomba Tamtum, a estrada Salto – Salto Furna; temos em execução a expansão do Porto de Furna cuja rampa já está concluída; já criámos a Casa do Direito na ilha da Brava; já temos um núcleo de formação profissional pronto para iniciar, falta apenas seleccionar o técnico; temos em construção, quase para ser finalizada este ano, a escola de formação profissional Fogo – Brava; vamos reabilitar a Escola Secundária da Brava porque o financiamento já está garantido pelo Fundo Kuwait e o decreto já está publicado no boletim oficial. Abarcámos a ilha da Brava no Programa Nacional de Luta Contra a Pobreza, o senhor sabe que a terceira fase é no valor de 20 milhões de dólares, um milhão e 700 mil contos, para apostar nas actividades geradores de rendimento, no empoderamento das mulheres chefes de família, reduzir a pobreza, criar emprego, resolvendo as questões que o senhor colocou.

109 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Efectivamente, o grande problema da Brava continua a ser o transporte inter-ilhas. O Estado tem assegurado o serviço público, mas, efectivamente, temos de ter outras e melhores soluções. Porquê que estamos a incentivar os privados a investir nessa área? Porque acreditamos que mediante uma parceria público-privada conseguiremos essa questão do transporte público. Por isso mesmo, quando decidimos incentivar privados, como os accionistas da Cabo Verde Fast Ferry, como os promotores da Marine Business, várias foram as vozes aqui que se posicionaram contra. Mas, continuaremos a motivar os privados, continuaremos a apostar para resolvermos o problema da ligação inter-ilhas.

Aplausos da Bancada do PAICV e dos Membros do Governo.

Sr. Presidente: - Sras. e Srs. Deputados, gostaria de vos fazer presente que está entre nós um grupo de alunos da Escola de Ensino Básico Integrado Nova Assembleia, do quarto ano de escolaridade, juntamente com os respectivos professores. Uma salva de palmas.

Aplausos gerais.

Damos continuidade aos nossos trabalhos com uma intervenção de um representante do Governo. Sr. Ministro da Cultura, tem a palavra.

Sr. Ministro da Cultura, Manuel Veiga: - Como tenho pouco tempo, pedi a palavra, sobretudo, para dizer que como membro do Governo e como cidadão deste País registo com muita satisfação toda a movimentação dos cidadãos de São Vicente quando está em causa grandes causas. Considero, portanto, a preservação do património como sendo uma grande causa. Para dizer também que ninguém pode duvidar deste Governo, da sua grande sensibilidade relativamente à preservação do património histórico. Basta ver a questão da que, para além do seu valor intrínseco, todo o trabalho feito, conseguimos que fosse escrito como património da humanidade. Todo o trabalho que temos feito através desse País, em Santo Antão com a Igreja do Rosário onde colaboramos, no Fogo onde colaboramos também na recuperação do património cultural, em que o bispo na altura disse que era uma obra divina; em São Nicolau temos o ex-orfanato, Chã de Tanque onde temos a casa do morgado em recuperação, na Boa Vista, Trindade onde temos a capela da Trindade, enfim por todo esse Cabo Verde temos estado a fazer recuperação do património histórico. A casa do Dr. Adriano Duarte Silva efectivamente é um património, mas como disse ontem, está em conflito com um outro património que é o património humano que é preciso ver como fazer. Mas também é preciso dizer que não podemos homenagear o Dr. Adriano apenas por essa casa. O Dr. Adriano viveu pouco tempo nesta casa. Quem sabe a história dessa casa, foi construída pelo Dr. Sales que era director do hospital militar, depois foi comprada pelo Roberto Duarte Silva, o grande químico, depois passou para o filho que é o Adriano Duarte Silva. B. Léza viveu também nesta casa, o Dr. Fonseca esteve nessa casa. Penso que a única maneira de perpetuar a memória do Dr. Adriano não pode ser através dessa casa.

110 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Pensamos que se havendo conflito, esses espaços que foram apontados ou porque não reúnem condições em termos de funcionalidade de uma delegacia de saúde ou porque já há projectos concretos para esses espaços. Por exemplo, indicaram o espaço da antiga esquadra que é cultura mesmo. Vamos construir lá um palácio da cultura, já está destinado a isso.

Aplausos da Bancada do PAICV.

Portanto, há toda a abertura. Se os sanvicentinos estiverem de acordo e mesmo o grupo que está atrás dessa questão de valorização da casa do Adriano Duarte Silva podemos ver como criar um memorial para perpetuar a a sua memória. Já existe o busto mas nós podemos fazer um memorial caso este conflito continue entre o património humano e o património histórico.

Aplausos da Bancada do PAICV.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Agostinho Lopes, pede a palavra para que efeito?

Sr. Deputado Agostinho Lopes (MPD): - Para uma intervenção, Sr. Presidente.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado, o seu Grupo Parlamentar já não dispõe de tempo. A questão é a seguinte: o Período de Antes da Ordem do Dia tem normalmente uma hora. O artigo 95.º diz “o Período de Antes da Ordem é improrrogável, salvo se houver declarações políticas, caso em que será prorrogado por trinta minutos”. Tivemos duas declarações políticas que atingiram uma hora de tempo, portanto, só nos resta prorrogar por mais 30 minutos e fazer a distribuição do tempo proporcionalmente aos grupos parlamentares. Nessa distribuição, o seu grupo já ultrapassou o seu tempo. Por isso, lamento não lhe poder passar a palavra. Sr. Deputado António Monteiro, deseja a palavra para que efeito?

Sr. Deputado António Monteiro (UCID): - Para um esclarecimento.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Agostinho Lopes faça o favor.

Sr. Deputado Agostinho Lopes (MPD): - Queria interpelar a Mesa. É que tenho dúvidas sobre a sua interpretação. O Regimento não fala que quando há duas declarações políticas, o Período de Antes da Ordem do Dia passa a ser 30 minutos. Não creio que se possa depreender isso da leitura do Regimento, salvo o devido respeito pela interpretação diferente. Não parece que se possa depreender do texto do Regimento. Normalmente, quando se tem essas interpretações, são concertadas. Poderia até aceitar que na Conferência de Representantes se pudesse aceitar o figurino desse estilo e que nós, os Deputados, não tivéssemos tido conhecimento. Agora, uma interpretação dessa, feito dessa maneira, não concordo. Penso que viola o Regimento. Por isso, por violar o Regimento considero que é ilegítima.

111 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Sr. Presidente: - Sr. Deputado, em relação a isso devo lhe dizer o seguinte: o Regimento não diz, o Sr. Deputado tem razão, que o Período de Antes da Ordem do Dia passa a ser de meia hora. Não diz, estou de acordo consigo. O que o Regimento diz é o seguinte, volto a repetir: “o Período de Antes da Ordem é improrrogável, salvo se houver declarações políticas (houve duas), caso em que será prorrogado por trinta minutos”. Quer dizer que o período que é de uma hora fica prorrogado por mais trinta minutos e as declarações políticas fazem parte, Sr. Deputado, do Período de Antes da Ordem do Dia. É esta a minha interpretação e não tenho nenhuma dúvida em relação a isso.

Sr. Presidente: - Sra. Deputada Filomena Delgado, deseja a palavra para que efeito?

Sr. Deputado Filomena Delgado (MPD): - Sr. Presidente queria pedir um esclarecimento à Mesa.

Sr. Presidente: - Sim, faça o favor!

Sr. Deputado Filomena Delgado (MPD): - Considerando as suas afirmações, penso que neste caso a Mesa devia dar-nos uma nova distribuição do tempo, que não deu. Trabalhámos com a distribuição do tempo que recebemos no início da Sessão e que dizia que tínhamos 22 minutos. Toda a nossa gestão do tempo, foi feita com base na distribuição do tempo que recebemos da Mesa. Penso que neste caso teria de esclarecer isso.

Sr. Presidente: - Srs. Deputados, essa questão é muito simples. As pessoas podem ter os interesses que tiverem, é normal, é legítimo que tenham os interesses e façam as interpretações, às vezes até de acordo com os interesses. Isso é normal. Estou de acordo, Sra. Deputada, que a Mesa deve fazer sempre o seu máximo para dar as informações sobre a distribuição do tempo. A Mesa, como habitualmente, deu a distribuição do tempo no início da Sessão. Talvez o Sr. Secretário da Mesa não soubesse ainda, ele é que tem a responsabilidade de apresentar os tempos, que havia duas declarações políticas. Então, é isso. Mas, os Deputados devem saber que há uma regra que é fundamental, que é a distribuição proporcional em todas as situações. É o que se fez.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Agostinho Lopes pergunto se é sobre o mesmo assunto.

Sr. Deputado Agostinho Lopes (MPD): - É, Sr. Presidente.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado, já fez a interpelação. Disse que tinha as suas dúvidas, a Mesa já esclareceu a sua posição, Sr. Deputado. Penso que o Sr. Deputado, seguramente, há de estar interessado em que o trabalho avance, de acordo com as nossas regras.

112 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Sr. Deputado Agostinho Lopes (MPD): - Se me permite, penso que, à luz do Regimento, tenho inclusive o poder de recorrer da sua decisão.

Sr. Presidente: - È evidente. Então, faça o favor, Sr. Deputado.

Sr. Deputado Agostinho Lopes (MPD): - Mas, não vou recorrer. Quero é só dar um esclarecimento, não vou recorrer. O problema que se põe aqui é o seguinte: já tivemos outras situações com duas ou três declarações políticas e nunca se tomou essa decisão. Haverá razões, de facto, como o disse o Sr. Presidente, há interesses, para que não se dê a palavra, para que não se prorrogue.

Sr. Presidente: - Oh, Sr. Deputado! Isso aqui o Sr. Deputado está a querer dizer que a Mesa está a tomar uma decisão parcial. Penso que o Sr. Deputado, pela sua experiência como Deputado, pela sua hombridade que julgo que tem, não devia fazer uma insinuação desta, até porque já foi membro da Mesa. Isto é um desrespeito. Considero um desrespeito grave à condução dos trabalhos parlamentares, Sr. Deputado. Só porque o Sr. Deputado tem uma interpretação divergente da Mesa e essa interpretação é a interpretação que decorre de uma leitura do Regimento, o Sr. Deputado vem dizer uma coisa dessas. Tenho muita consideração por si, Sr. Deputado, por favor, não me leve a fazer outras interpretações. Sr. Deputado António Monteiro, tem a palavra.

Sr. Deputado António Monteiro (UCID): - Pedi a palavra para dar alguns esclarecimentos. Primeiro na questão do património que é a casa do Dr. Duarte Silva, ouvimos aqui o Sr. Ministro da Cultura a afirmar que no espaço onde era a antiga esquadra da polícia irá ser erguida um palácio da cultura, ficámos muito contentes com isso, mas o facto de se erguer ali o palácio da cultura não implica que não haja outros espaços para que, de facto, São Vicente…

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Agostinho Lopes, está a interromper a Sessão. O Sr. Deputado tenha modos! Queira continuar, por favor.

Sr. Deputado António Monteiro (UCID): - … para que São Vicente mantenha viva a memória daquele que foi um grande filho de Cabo Verde e de São Vicente em particular. Gostaríamos aqui de voltar a sugerir ao Governo que há espaços bastante interessantes que podem perfeitamente ser utilizados para que haja em São Vicente um novo edifício para se albergar a Delegacia de Saúde. Não vamos pela via que considero menos boa, que é fazer a demolição da casa do Dr. Duarte Silva e erguer ali. E se não houvesse espaço, nós gostaríamos ainda de apresentar uma outra solução. Mesmo no local onde se quer construir a Delegacia de Saúde existe a possibilidade, com um outro projecto adequado à situação, tentar juntar o antigo ao novo e permanecer ali a memória do Dr. Duarte Silva. Há sempre possibilidades técnicas, há sempre possibilidades arquitectónicas que permitem que essa casa, esse edifício emblemático em São Vicente, mantenha viva a memória de todos aqueles que por ali passaram.

113 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Uma segunda questão de esclarecimento que queria aqui trazer tem a ver com a declaração política e a resposta dada pela Sra. Ministra. Gostaríamos de dizer que, de facto, a UCID tem alguns partidos amigos dentro do PPE… (Sr. Presidente, estou a ouvir muito mal, não sei se o microfone está bom).

Sr. Presidente: - O microfone está bom, Sr. Deputado. O problema é que há Deputados que andam a interromper. Peço silêncio para que o Sr. Deputado se faça ouvir, que ele tem o direito de se fazer ouvir. Queira continuar.

Sr. Deputado António Monteiro (UCID): - Estava a dizer que temos partidos amigos dentro do PPE, da confederação do Partido Popular Europeu, e que não gostaríamos de mais tarde sermos chamados a atenção por este facto. São partidos amigos e como alguns Deputados aqui fizeram referência, vamos ter mais respeito por estes partidos porque é preciso sabermos estar juntos.

Sr. Presidente: - Peço a vossa atenção agora para a intervenção da Sra. Ministra da Economia.

Sra. Ministra da Economia, Crescimento e Competitividade, Fátima Fialho: - N kria rapidamenti fazeba referensia a kistoins di iletrifikasãu ki foi postu li. Primeru pa N fla ma N ta atxa me ka argumentu ben fla ma tevi dimora. Keli é ka é un argumentu seriu porki si tevi dimora é un paradoxu gosi ben pidi pa algen iletrifika zonas ki inda ka sta pamodi dja é tardi. Portantu, keli é ka un argumentu y N ka ta bai pa kela. Segundu pa N fla ma di faktu ten un grandi prugrama di iletrifikasãu rural em curso y un di kes zona dja foi ben binefesiadu y ki sta ba kontinua ta ser é São Miguel. U ki Sr. Diputadu Filipe Furtado fla li me pergunta e ka rispondedu tanbe é ka verdadi. Purgunta foi fetu N ka tevi tenpu onti di rispondi, pamodi periodu di trabadju termina, ma imediatamenti N manda nha gabineti manda riposta pur iskritu a Asembleia Nasional pa konhesimentu di Srs. Diputadus. Purtantu, é ka verdadi ma N ka risponde. Mi N ta risponde senpri y óra ki N ka tiver tenpu normalmenti N ta manda riposta pur iskritu. Pa N fla ma ten di fatu un grandi programa di iletrifikasãu rural, ma nu ka ta pode faze tudu. Moda dja nhos fla MPD komesa ta iletrifika São Domingos na anus noventa, ka konsigi termina. Tudu ka pode ser fetu au mesmu tenpu. Ma na São Miguel partikularmenti taxa di iletrifikasãu nes mumentu sta ultrapasa 75% y nes mumentu sta em curso dos grandi prujetu di iletrifikasãu na São Miguel, ke ribera di Flamengos y di Principal. Purtantu, nu ka ta konsigi tudu, nu ta ba ta faze poku poku. É ka seriu tanbe ben pa li fla ma tem prublemas ki di fatu N ta rikonhese ma ten, ten tidu prublemas di falta di inerjia na São Miguel, ma risentimenti nu riforsa potensia na Santa Catarina, na ta ben novu jerador ki pur akazu oji ta ser enbarkadu di Portugal pa li, purtantu ta riforsadu São Miguel. Ma N atxa me ka mutu seriu ben fla me ka ta ten inerjia pur falta di dinheru. Keli é ka verdadi y N ta atxa ma ta fika mutu mal un Diputadu, un figura publika, faze afirmasoins ki ka ta koresponde a verdadi.

114 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Pode ten falta di inerjia pur otus razon, menus pa falta di pagamentu di konbustivel. Pode ate ser ki konbustivel txiga tardi, ki Shell o Enacol dura ku leba. Agora pa falta di pagamentu N ta garante Sr. Diputadu ki a muitu tenpu a esta parte ka ten tidu falta di pagamentu di konbustivel. Purtantu, tudu menus isu. Kuantu a ligasoins domisiliárias ka ten tidu kuaker politikise, pesoas ten ki ten ses instalasoins na ses kaza preparadu, Electra ka ta risponzabiliza pur isu. Kes ligasoins ki Guvernu sa ta faze ta bai ate kontador, tudu ki seja instalasoins internas é di risponsabilidadi di pesoas y es ligasoins domisiliárias di Gurvernu é pa pesoas ku menus rikursu, é ka ta abranje tudu pesoas. Ka ten ninhun politikise, pode ten ate falta di kontador, pode ten atrazus, ma ka ten ninhun politikise. Kuantu a luz sezu duranti dia di fatu ten prublemas teknikus, ma keli N kre asegura Sr. Diputadu Filipe Furtado, nes mumentu ka ten nen ki sta, si kalhar, preokupadu, ma ningen ka sta paga-l nes mumentu. Iluminason públika ningen ka sta paga nes mumentu.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Filipe Furtado, deseja a palavra para que efeito?

Sr. Deputado Filipe Furtado (MPD): - Ao abrigo do 114º.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Fernando Elísio, deseja a palavra para que efeito?

Sr. Deputado Fernando Elísio Freire (MPD): - Para lavrar um protesto, Sr. Presidente.

Sr. Presidente: - O Sr. Deputado deseja lavrar um protesto em relação a quê?

Sr. Deputado Fernando Elísio Freire (MPD): - Em relação à forma como a Mesa tratou um Deputado do Grupo Parlamentar do MPD.

Sr. Presidente: - Primeiro, Sr. Deputado, o protesto respeita-se a uma intervenção. A Mesa não fez nenhuma intervenção. Em segundo lugar, o tempo do protesto conta no tempo do grupo e o seu grupo não tem tempo. Portanto, lamento não lhe poder passar a palavra. Já agora só uma explicação (porquê que não deve haver protestos à condução dos trabalhos): é que há um princípio, a vossa bancada tem inúmeros juristas qualificados, do respeito pela autoridade e da confiança, sobretudo o princípio da confiança que leva, exactamente, a que haja, na base de tudo, um princípio de respeito. Quando não se estiver de acordo com uma decisão, isso é natural, as pessoas podem, efectivamente, recorrer da decisão e é bom que seja. Como há esse princípio, normalmente o Regimento, como o nosso Regimento fez bem em afastar esse tipo de reacções. Confesso até que teria muito gosto em passar a palavra ao Sr. Deputado para também depois, como também sei falar a língua de Camões, responder nos termos do Regimento.

115 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Sr. Deputado Furtado, tem a palavra. Faça o favor. Ele há de dizer porquê que reage ao abrigo do princípio da reacção à ofensa à honra e consideração. Faça o favor de qualificar a sua intervenção.

Sr. Deputado Filipe Furtado (MPD): - Pa dos bês Sra. Ministra ta fla ma nha interveson é poku seriu, mesmu kuza ki txoma di dezonestu, pur isu ki N sta reaji au abrigu di 114º.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado, pode reagir, a Sra. Ministra pode depois dar explicações, ao abrigo do n.º 2.

Sr. Deputado Filipe Furtado (MPD): - Sra. Ministra, kantu N papia di purgunta ki N faze onti N fla ma ka tinha tenpu di rispondeba ma N ta torna faze-l, klaru. N ka fla ma nha ka risponde pamodi nha ka kre, ma tenpu ki ka tinha. Óra ki N ta fla trazedu lei li na Parlamentu pa ben aprovadu pa paga taxa di ilumison públika, nha ta atxa ma debe pagadu taxa di ilumison públika ki di dia ta sta sezu, di noti ta sta pagadu?

Risos da Bancada do MPD.

N fala li di txeu bês ki inerjia ka ta ten pur falta di konbustivel, nha atxa me ka si? Nha manda faze inkeritu nha odja si kantu bês ki ka ta ten inerjia se ka pa falta di konbustivel, non pa avaria teknika. N papia li di algen ki sta ligadu inerjia sen kontador. É ka robu nãu, é algen ki sta ligadu inerjia sen kontador. Pesoa ki sta trabadja ku luta kontra pobreza ta ka faze seleson subi na posti liga luz sen inerjia. En vez di nha manda djobe, averigua, nha ta ben fla ma nha intervenson é poku sériu? Ka sériu é manera modi ki nhos ta tenta kobri kuza. Keli ki N ta atxa me poku sériu, modi ta tentadu kobridu kuza li nes téra li.

Sr. Presidente: - A Sra. Ministra deseja dar explicações, ao abrigo do n.º 2, tem a palavra.

Sra. Ministra da Economia, Crescimento e Competitividade: - So pa N fla ma kantu N uza isprison poku sériu foi kantu Sr. Diputadu fla ma ka ta ten inerjia na São Miguel pa falta di pagamentu di konbustivel y N fla ma N ta asegura Sr. Diputadu ki di algun tenpu pa li prublemas di inerjia ka sta ligadu a falta di pagamentu. Era so isu.

Sr. Presidente: - Declaro encerrado o Período de Antes da Ordem do Dia e anuncio o Período da Ordem do Dia. Ponto III – 1: Proposta de lei que altera a Lei nº 8/V/96, de 11 Novembro, sobre a condução sob a influência do álcool. Tenho o prazer de convidar o Sr. Ministro da Administração Interna a se dirigir à Tribuna para a apresentação da iniciativa legislativa da autoria do Governo.

116 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Sr. Ministro da Administração Interna, Lívio Lopes: -

Sr. Presidente, Caros Deputados:

O Governo vem trabalhando em relação à questão de segurança interna, avaliando num diagnóstico pormenorizado os diversos subsectores. Realizou um diagnóstico aprofundado, particularmente no sector da segurança rodoviária e identificou alguns problemas que, julgamos, seriam importante intervir em várias dimensões. Por isso mesmo queria aqui apresentar alguns elementos que têm a ver com o procedimento que foi adoptado previamente à assumpção de algumas medidas legislativas. Na altura do levantamento da situação em matéria da sinistralidade rodoviária – e daquilo que acontece em termos institucionais, mas também em termos de acidentes e de outras situações preocupantes em termos de segurança rodoviária – constatámos que, em primeiro lugar, há um aumento exponencial do número de viaturas em Cabo Verde, basta ver que numa década, de 95 a 2006, tivemos um aumento de cerca de 245%, que se traduz num número, mais ou menos, aproximado de 55 mil viaturas registadas e cerca de 45 mil em circulação, o que representa cerca de 4 mil viaturas/ano e a emissão de cartas de condução de cerca de 4,45% por ano. Isto tudo representa muita preocupação para o sector rodoviário e há que preparar para respostas mais claras e em relação a essa questão se compararmos os dois primeiros semestres, o de 2008 e o de 2009, que embora tenha havido uma diminuição expressiva do número de acidentes, menos de 37% e de feridos em menos de 174% nesses dois primeiros semestres de 2008 e de 2009. Entretanto, houve um aumento do número de mortes de forma expressiva, cerca de mais de 15%. Esses dados têm como elemento de análise e factores causas, sem dúvida, o excesso de velocidade e o consumo de álcool em condução. Definimos um plano estratégico para a segurança interna que identifica como projectos fundamentais a serem implementados pelo Governo. Houve um projecto de redefinição do quadro legal institucional, um segundo projecto de sensibilização de condutores e peões, um outro de reforço da fiscalização e um último de garantia do rápido e adequado socorro às vítimas dos acidentes. Foram desenvolvidos um conjunto de acções entre os quais o Fórum sobre a Segurança Rodoviária e a campanha de sensibilização que lançámos a 14 de Outubro do ano passado e no ano anterior, já em Dezembro, também tínhamos desenvolvido com o Ministério da Saúde uma campanha de sensibilização contra o consumo do álcool e que veio a traduzir-se em algumas medidas, que foram levadas a cabo no decurso, particularmente, nos meses de Novembro e Dezembro, com resultados extremamente positivos. De todo o modo, e é precisamente por isso que solicitámos, em Novembro, o adiamento da discussão desse diploma para Janeiro, uma vez que tínhamos um fórum internacional muito importante e devíamos colher todas as contribuições possíveis para o enriquecimento deste diploma. Felizmente tivemos contribuições extremamente importantes que têm a ver em particular com o passo seguinte que é o da regulamentação desse diploma e que teremos todo o prazer em acolher os aspectos mais positivos.

117 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Em relação a esta lei diríamos que, na verdade, tendo em conta tudo aquilo que foi dito em relação à problemática da sinistralidade rodoviária que vem representando, o excesso de velocidade, a terceira causa deste problema em Cabo Verde é a condução sob a influência do álcool. Trata-se de um dos principais problemas que condicionam a segurança rodoviária, por isso constitui um dos factores até de comportamento desviantes que deveremos, com medidas preventivas, precaver. Neste contexto, esta proposta visa combater os comportamentos de riscos e promover o respeito pela lei, lutando contra o sentimento de impunidade. Para o efeito pretende-se dotar a autoridade fiscalizadora de mecanismos legais aplicáveis e alcoolímetros de última geração enquanto instrumento adequado com capacidade de emissão de recibos comprovativos da taxa de alcoolémia, o que faz fé em juízo e fora dele e que será, penso, ao processo enquanto elemento de prova. A lei do álcool actual, como se apresenta, tem-se revelado inaplicável e a experiência tem mostrado que a eficácia de qualquer sistema punitivo, afere- se pelo tempo que medeia entre a prática da infracção e a aplicação da sanção, tornando-se pois necessário adoptar medidas mais céleres e eficazes. Por outro lado, pretendemos também compatibilizar com a legislação existente neste momento, particularmente o Código de Estrada e o novo Código de Processo Penal. Assim, pretendemos, com esta medida, dividir a taxa de alcoolémia em duas partes, caracterizando uma delas como contra-ordenação muito grave e um outro como crime rodoviário, sendo este punível com sanção principal traduzida em pena de prisão de dois meses a um ano ou multa de cem dias e em sanções acessórias traduzidas na proibição do direito de conduzir de dois a vinte e quatro meses. A contra-ordenação muito grave estipula-se que quem estiver sob a influência do álcool e a taxa de alcoolémia for superior a 0,8 grama/litro, mas inferior a 1,2 grama/litro é considerado contra-ordenação muito grave, por isso sancionável com mais celeridade em sede da entidade administrativa, que neste caso é a Direcção-Geral dos Transportes Rodoviários. Por outro lado, numa segunda parte se sanciona a parte de crime que são todas as situações de condução sobre a influência do álcool de valor superior a 1,2 grama/litro, portanto sob a responsabilidade e tramitação judicial. Estamos, como eu disse, a adaptar esta nova lei ao novo Código de Processo Penal. A lei anterior configurava a forma de polícia correcional como forma de processo a ser adoptado, naturalmente que com a revisão do Código do Processo Penal adoptámos duas saídas mais céleres: forma de processo sumário e de processo abreviado, caso os pressupostos de processo sumário não sejam observados. Estabelecemos um conjunto de procedimentos mais céleres e claros em relação ao regime de contra-ordenações que não era exactamente isto que acontecia com a lei anterior. Outra alteração que consideramos de maior importância é também a resolução do problema de contra prova. Portanto, introduzimos o alcoolímetro como instrumento de fiscalização imediata da condução sob influência do álcool. Também estabelecemos a possibilidade de um condutor em caso de ser considerado infractor nestes casos também poder exigir a contra prova nos

118 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010 termos que estabelecemos aqui, recorrendo ao exame médico quando for necessário. Há um conjunto de outros elementos importantes também estabelecidos neste diploma, julgamos que a parte da regulamentação virá dar, também, um contributo importante em termos de meios de critérios a serem utilizados, mas será um procedimento posterior que teremos todo o prazer de desenvolver. Julgamos que com este diploma fizemos o que era necessário em relação ao diploma anterior que, como eu disse, era pouco claro e totalmente inaplicável. Os procedimentos eram morosos e inconsistentes. Clarificámos, também, um conjunto de competências dentro do quadro de contra-ordenações e do quadro judicial e criminal. Estabelecemos esses diversos níveis de álcool no sangue, quero aqui reafirmar que era necessário clarificarmos essa situação, porque no diploma anterior este assunto era tratado de forma completamente diferente e quase que essas duas situações se misturavam. Por isso mesmo pensamos que era necessário deixar bem claro, mas também ter em devida conta aquilo que acontece a nível do mundo em termos de parâmetros de álcool no sangue, que varia de país para país, mas que avaliando aquilo que é a posição da OMS em relação a essa questão entendemos que aquilo que definimos aqui como o nível de álcool no sangue são os parâmetros que mais se adaptam à situação de Cabo Verde e por isso a nossa opção. De modo que são essas as questões fundamentais que eu queria levantar aqui e apresentar como propostas de revisão à lei de 1996 e poder discutir e contar com o vosso apoio na aprovação desse diploma.

Sr. Presidente: - Pergunto se a primeira comissão, Comissão de Assuntos Jurídicos, está em condições de proceder à leitura do relatório/parecer.. Tem a palavra a Sra. Deputada Vanusa Cardoso.

Sra. Deputada Vanusa Cardoso (PAICV): -

Comissão Especializada de Assuntos Jurídicos, Direitos Humanos e Comunicação Social: (Artigo 51º do Regimento da Assembleia Nacional)

Relatório sobre a Proposta de Lei que altera a lei nº 8/V/96, de 11 de Novembro, sobre a Condução sob a influência do Álcool

I – Introdução:

Ao abrigo do disposto no artigo 42º do Regimento da Assembleia Nacional, a Comissão Especializada de Assuntos Jurídicos, Direitos Humanos e Comunicação Social reuniu-se, por convocação do respectivo presidente, no dia 19 de Novembro na Sala Multiuso da Assembleia Nacional para apreciar e emitir parecer sobre a Proposta de Lei que altera a lei nº 8/V/96, de 11 de Novembro, sobre a condução sob a influência do álcool.

II – Análise e enquadramento jurídico da matéria:

119 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

A proposta de lei em apreço pretende, por um lado, alterar a redacção de doze artigos da lei vigente sobre a condução sob a influência do álcool e, por outro, aditar mais um artigo. Em Cabo Verde a condução sobre a influência do álcool tem se revelado uma das principais causas da sinistralidade rodoviária, daí a necessidade de se adequar e clarificar alguns artigos da legislação actual, por forma a introduzir “medidas de coação mais célere e eficaz” para responsabilizar aqueles que contra a lei conduzem sobre o efeito do álcool, pondo em causa a segurança rodoviária e em risco a vida de muitas pessoas. É neste sentido que surge a Proposta de Lei que altera a lei nº 8/V/96, de 11 de Novembro, sobre a condução sob o efeito do álcool, proposta esta que está em conformidade com o estipulado nos artigos 140º, 141º, 146º, 147º, 148º e 152º do Regimento da Assembleia Nacional e o nº 1 alínea b) do artigo 156º da Constituição da República, cumprindo assim a referida proposta os requisitos regimentais e constitucionais, nomeadamente quanto ao poder e à forma da iniciativa.

III – Parecer:

Assim sendo a Comissão Especializada de Assuntos Jurídicos, Direitos Humanos e Comunicação Social entende que a referida Proposta de Lei que altera a lei nº 8/V/96, de 11 de Novembro, sobre a Condução sob o Efeito do Álcool está em condições de ser submetida ao Plenário da Assembleia Nacional para discussão e votação.

Palácio da Assembleia Nacional, relatório elaborado a 23 de Novembro de 2009, sendo o presidente da comissão o Deputado Armindo Cipriano Maurício e a relatora a Deputada Vanusa Cardoso.

Sr. Presidente: - Pergunto se há algum Deputado que deseja formular ou dar um pedido de esclarecimento. Tem a palavra o Sr. Deputado Mário Fernandes.

Sr. Deputado Mário Fernandes (MPD): - Ouvi atentamente a explanação do Sr. Ministro e confesso que fico muito preocupado com as motivações trazidas pelo Sr. Ministro de um Governo que está no poder há quase dez anos. Isto porque o sector de transportes, tenho um certo… não diria problema, mas normalmente evito falar do sector por uma questão ética e principio. É inaceitável que um Governo está…

Sr. Presidente: - Sr. Deputado desculpe!

Sr. Deputado Mário Fernandes (MPD): - Estou a fundamentar a minha…

Sr. Presidente: - Eu queria só alertar para o seguinte, Sr. Deputado, estamos no período de esclarecimentos e que depois a seguir há um período de debate. Era só para ter isso em conta. Faça o favor.

120 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Sr. Deputado Mário Fernandes (MPD): - Sr. Presidente, eu gostaria que me deixasse terminar o meu raciocínio e depois chama-me atenção, se não se importa. Eu não estou a sair fora…

Sr. Presidente: - Oh! Sr. Deputado, estamos aqui para servir não apenas a si, estamos aqui para servir a boa condução dos trabalhos. O Regimento diz que há um período dedicado a esclarecimentos. Pela linha de condução da sua intervenção estava a parecer-me, posso até estar errado, que o Sr. Deputado estava a fazer um debate. É por isso que lhe chamei atenção, tenho não só esse direito, mas esse dever de o fazer, Sr. Deputado, sem prejuízo da sua livre intervenção, nos termos do Regimento. Era só esse esclarecimento que eu queria dar.

Sr. Deputado Mário Fernandes (MPD): - Vou falar, mas não estou sendo livre aqui porque o senhor está a impor alguma norma, isto é que é verdade.

Sr. Presidente: - Oh! Sr. Deputado, é melhor ter respeito porque se continuar a desrespeitar-me eu tomarei a medida que está no Regimento. Faça o favor de continuar.

Sr. Deputado Mário Fernandes (MPD): - Francamente. Estamos na democracia há vinte anos, Sr. Presidente.

Sr. Presidente: - Não é o Sr. Deputado que ensina a ninguém democracia. Faça o favor de continuar.

Sr. Deputado Mário Fernandes (MPD): - Também o senhor não me ensina.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado, o respeito pela autoridade de quem conduz deve conduzir a um pouco mais de consideração, até para os seus colegas. Não estou interessado em fazer diálogo consigo.

Sr. Deputado Mário Fernandes (MPD): - Sr. Presidente, sabe uma coisa, vou ficar por aqui, na altura do debate… porque o senhor não quer que eu fale e tem sido assim nesta Casa, infelizmente. Não há nenhum princípio de autoridade que eu conheça.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado, todos os Deputados nesta Casa Parlamentar usam da palavra normalmente. Aqui ninguém impõe nada a ninguém. Entretanto, o Regimento tem de ser cumprido e há quem é responsável pelo seu cumprimento. O Sr. Deputado pode prescindir quando quiser. Há mais algum Deputado que deseja usar da palavra? Não havendo nenhum pedido de esclarecimento passamos ao debate. Estão abertas as inscrições. Tem a palavra o Sr. Deputado António Monteiro.

Sr. Deputado António Monteiro (UCID): - Primeiro para dizer que de facto é preciso que tenhamos em Cabo Verde leis que permitam garantir as

121 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010 famílias e a própria sociedade maior tranquilidade. Do nosso ponto de vista esta lei vem neste sentido, pelo que nós estamos de acordo com ela. No entanto há aqui algumas questões que gostaríamos de levantar: a primeira questão tem a ver com as sanções que os prevaricadores podem sofrer. Nós vemos que o tempo que um prevaricador pode sofrer uma sanção é muito dilatada, isto é, há casos que vai de dois a doze meses. Na nossa opinião, salvo o devido respeito, se fosse possível encurtar este timing penso que poderíamos estar a fazer uma maior justiça e a evitar que outros critérios interferissem na aplicação da medida. Um outro aspecto que também queremos aqui trazer, um aspecto pecuniário, tem a ver com a multa e vai também no mesmo sentido, isto é, aplicar uma multa de 25 mil escudos a 250 mil escudos deixa também uma margem muito grande para que consoante as interpretações, ou a amizade existente haver aplicação desta mesma multa. De forma que, de acordo com a lei, gostaríamos de propor que se revisse estas duas questões.

Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Mário Fernandes, para uma intervenção.

Sr. Deputado Mário Fernandes (MPD): - Vou começar por onde terminei. Eu disse que me preocupa bastante um Governo que há dez anos está no poder, praticamente, que tem uma lei desde 1997 e que depois vem justificar, dizendo, “a presente lei tem-se revelado inaplicável”. Até pergunto se alguma vez este Governo mandou aplicar esta lei nesta terra que se chama Cabo Verde? Tem dados que me permita convencer que de facto a lei é inaplicável? Criaram-se condições para que essa lei existente possa ser aplicada? Porque, repare, dos doze artigos que se propõe alterar é ridículo, passe a expressão, com todo o respeito, que no primeiro artigo ficou praticamente igual. No outro artigo mudou a entidade, a Direcção Geral dos Transportes por entidade administrativa, alteração feita pelo Governo. Num outro artigo, em vez de seis meses a três anos, de seis meses a trinta e seis meses, alteração feita. Portanto, a razão da alteração não é falta se não de meios para aplicar. Se os senhores mandarem aplicar, criarem as condições, porque a lei traz o regulamento de 5 de Março de 1997 que também disse que introduziu o material utilizado, aqui também diz que o material utilizado para a detecção da presença do álcool é o alcoómetro. Portanto, não há nenhuma falha, do meu ponto de vista, na lei. Entretanto, se me explicar qual é a falha, o que é que impediu a aplicação da lei eu estaria de acordo consigo. Alguma vez mandou aplicar a lei desde 2001 a esta parte? Que eu me lembre não. Mais ainda: as causas de acidentes de viação em Cabo Verde, com todo o respeito, embora não tenho a estatística, mas a verdade é que estou aqui atento, a maior causa é de certeza absoluta o excesso de velocidade. Há uma lei também de 1997 que diz que as viaturas que circulam muito mais neste País devem ser equipadas com tacógrafo. Mandou aplicar esta lei? Que eu saiba não. Há outra, a fiscalização que também é um grande handicap do seu Governo, porque infelizmente toda a experiência, o know-how que havia na

122 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Polícia de Trânsito foi destruída. Há formação dessa gente para controlar e fiscalizar o excesso de velocidade, que o senhor aqui disse que é uma das causas? Também, se calhar não há. A Polícia está devidamente equipada com equipamentos, tudo aquilo que é necessário, até combustível, viaturas adequadas e novas, não aquelas velhinhas que eu vi no Tarrafal, por exemplo, que não deviam circular. Se o senhor não fez nada disso, eu pergunto: como é que diz que a lei é pesada e inaplicável? Para o meu colega, a lei existe desde 1997 e tudo aquilo que se propõe aqui a lei dá satisfação de certeza absoluta. Há algumas alterações, a não ser que me explique o porquê, a fundamentação. Se já mandou aplicar a lei e teve alguma dificuldade na aplicação da lei? Se criou condições para que a lei seja, de facto, aplicada? Em 1997 e 1998 a lei começou a ser aplicada. Havia um problema, porque o país não tinha laboratórios competentes no hospital, não estava a nível de dar uma resposta em termos de contra-prova. É o único obstáculo que havia nessa altura. Hoje já não há, porque há laboratórios competentes aqui na cidade da Praia pelo menos. Embora não haja na Brava, infelizmente, e em outros pontos do país, mas aqui na ilha de Santiago, na Praia há de certeza. Portanto fico por aqui e gostaria que o senhor me desse esse esclarecimento que eu antes queria pedir e que me foi impedido pela Mesa.

Sr. Presidente: - Continuam abertas as inscrições Srs. Deputados. Tem a palavra o Sr. Deputado Manuel Fernandes.

Sr. Deputado Manuel Fernandes (PAICV): -

Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Colegas Deputados:

As bebidas alcoólicas são muito antigas, consumidas em todo o mundo e em Cabo Verde o seu consumo por habitante é muito elevado. A ingestão não moderada de bebidas alcoólicas, para além de graves consequências que acarreta para a saúde, está na base de inúmeros problemas financeiros, familiares e sociais e o seu consumo, mesmo que não excessivo, é a causa directa ou indirecta de inúmeros acidentes de viação ou de outras máquinas que resultam em milhares de vítimas anualmente. Muitas pessoas usam as bebidas alcoólicas como estimulantes físicos ou mentais, mas a verdade é bem diferente. O álcool é de facto um depressor, prejudica as capacidades psicofisiológicas mesmo quando ingerido em pequenas doses. Quando atinge o cérebro, órgão que necessita de muita irrigação sanguínea, afecta as capacidades sensoriais, perceptivas, cognitivas e motoras, incluindo os reflexos e o equilíbrio do corpo, interferindo deste modo negativamente na condução de veículos e máquinas. O processo de absorção do álcool é relativamente rápido, mas a eliminação é bastante lenta. Por exemplo, um indivíduo que atinge uma taxa de alcoolémia no sangue de 2 gramas por litro hoje às 22 horas, só amanhã às 18 horas é que o seu organismo elimina completamente o álcool do sangue. Os efeitos do álcool no sangue também prejudicam seriamente o sistema nervoso e perturbam o exercício da condução de veículos e máquinas,

123 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010 pois provoca perda da vigilância em relação ao meio envolvente, diminuição de capacidades de concentração, diminuição de reflexos, perturbação das capacidades visuais, etc. Um indivíduo que conduz sob o efeito do álcool tem um risco grande de acidente mortal ou de ficar eternamente com sequelas. Conforme a quantidade do álcool no sangue esse perigo se torna maior. Por exemplo, com 0,5 gramas por litro aumenta o risco duas vezes, com 0,9 gramas por litro aumenta cinco vezes e superior a 1,2 gramas por litro o risco é dezasseis vezes maior. Existem também vários factores que interferem na determinação da taxa do álcool no sangue, por exemplo: o peso da pessoa, o sexo, a absorção, as características das medidas etc. Por isso, posta essas considerações, e atendendo que o uso abusivo do álcool por pessoas que conduzem na nossa sociedade tem causado graves acidentes e tem deixado graves sequelas nas pessoas, condutores ou passageiros, por isso pensamos que era urgente esta lei ser melhor regulamentada e a proposta que o Governo apresenta para rever e adequar a legislação actual é bem-vinda e acolhe todo o apoio do nosso grupo parlamentar e certamente de todo o Plenário desta Assembleia.

Aplausos da Bancada do PAICV.

Sr. Presidente: - Há mais algum interveniente? Tem a palavra o Sr. Deputado Fernando Robalo.

Sr. Deputado Fernando Robalo (PAICV): - Gostaria, também, de apoiar esta proposta de lei que o Governo trouxe a esta Casa Parlamentar e dizer que este projecto visa, essencialmente, diminuir o número de acidentes e mortes nas estradas de Cabo Verde. Não temos informações seguras e confiáveis do número de acidentes que permitem avaliar o impacto dos mesmos, mas creio que estamos perante um fenómeno da sociedade que deve combatê-lo. A prevenção é uma tarefa multidisciplinar e intersectorial, por isso consideramos que devem ser feitos programas e campanhas pedagógicas de sensibilização sobretudo direccionadas aos jovens motoristas, taxistas, hiacistas e outros, no sentido de prevenirmos esse fenómeno. Temos a consciência dos perigos e dos riscos que a condução sob o efeito do álcool traz, não só nas nossas vidas como também nos nossos patrimónios. Daí que pensamos que essa lei deve merecer o apoio de todos os Deputados e também devemos trabalhar para criar instrumentos indispensáveis para a sua aplicação.

Aplausos da Bancada do PAICV.

Sr. Presidente: - Sr. Ministro deseja fazer algum comentário? Faça o favor.

Sr. Ministro da Administração Interna: - Eu queria, em relação à intervenção do Sr. Deputado Mário Fernandes, dizer o seguinte: na introdução e na apresentação da lei fui claro em relação às necessidades de alteração à lei, porque poderá até ter razão em relação à criação de condições para a

124 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010 implementação da lei anterior. Poderão não ter existido algumas das exigências, em termos da regulamentação, que foram estabelecidas para a implementação e não foram observadas na altura. Mais do que a criação de condições, a lei era em muitas situações confusas, com procedimentos morosos e pouco claro. Basta dizer-lhe que em termos de processo anterior estabelecido na lei de 1996 era difícil definirmos as condições ou apreender as condições de encaminhamento de um procedimento contra-ordenacional para a autoridade administrativa competente e o procedimento é a situação que deverá ser o Ministério Público a intervir. Esta situação era muito pouco clara, precisamente por isso é que pensamos definir a taxa de alcoolémia nessas duas dimensões contra- ordenacional e crime e clarificar os procedimentos em relação a esta questão. Veja o artigo 17º em relação à lei anterior, em termos de auto de notícia, tivemos a preocupação de esclarecer o procedimento necessário em cada uma das situações que propomos com a nova lei. Dizemos aqui que “o auto de notícia é assinado pela entidade que o levantou e deve ser obrigatoriamente remetido ao Ministério Público no prazo de 48 horas, consoante as situações, com conhecimento da entidade administrativa competente se a taxa de alcoolémia for igual ou superior a 1,2 para efeitos de procedimento criminal, à entidade administrativa competente se a taxa de alcoolémia for igual ou superior a 0,8 e inferior a 1,2 para efeitos de procedimento contra-ordenacional”. Para além de clarificar e adaptar o auto de notícia ao novo Código de Estrada que era necessário neste momento. Para além disso, tínhamos que adaptar ao novo Código de Estrada esta lei do álcool que é uma lei especial e que deverá, de alguma forma, estar em articulação com o outro quadro legal existente, não só do Código de Estrada, mas também do Código do Processo Penal. O senhor deve ter presente que, por exemplo, a forma de processo que se estabelecia na lei anterior era uma forma completamente ultrapassada, era do código de 1886. Era a forma de polícia correccional que não existe mais no quadro do processo penal cabo-verdiano. Portanto tem de ter em devida conta estas preocupações e nós não poderemos fazer as coisas avançarem se continuarmos com a proposta anterior. Até em termos de prova e contra prova o uso do alcoolímetro de última geração facilita a existência de prova imediata no acto de infracção e a possibilidade da contra prova que o senhor reconhece que não existiam laboratórios para a sua aplicação. Neste momento estamos a fazer todo o esforço para que as análises possam ser feitas, desta vez com capacidade e unidades nacionais públicas e privadas capazes de responderem a essas necessidades, com a certificação do Ministério da Saúde no caso dos laboratórios privados. Até porque nós preocupamos… há pormenores desta lei que provavelmente o senhor não teve a atenção necessária para verificar que é, por exemplo, o tipo de exame, desde o ar expirado até à análise de sangue ou exame médico, são vários graus…

[O Sr. Deputado Mário Fernandes (MPD) disse algo imperceptível, com o microfone fechado.]

125 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

… sim, mas não! Foi clarificado com essa nova lei para facilitar de alguma forma a aplicação também dessa lei. Portanto não estamos a falar apenas da existência de um meio de prova, mas de várias outras situações que poderão ser observadas e procedimentos que poderão ser observados para facilitar até quem queira, de alguma forma, ter a necessária contra prova. Penso que deixamos bem claro, aliás o sucesso dos últimos dois meses, em particular, em termos da campanha para a segurança rodoviária é do reconhecimento de todos tudo aquilo que foi feito, a articulação da DGTR, Polícia de Trânsito em termos de fiscalização. Aumentou-se no nível muito superior de fiscalização nesses últimos tempos, tendo em conta aquilo que foi a programação e decisão no quadro da implementação dos projectos identificados no quadro do plano estratégico. Em relação às questões levantadas pelo Deputado António Monteiro eu queria dizer aqui que estamos entre o máximo e o mínimo, tanto em termos de sanção acessória como em termos de contra ordenação. Temos um regime geral de contra ordenação que qualquer legislação em Cabo Verde deverá observar. Temos o limite máximo e o mínimo, fizemos constar desta lei aquilo que é o quadro geral definido para o regime de contra-ordenação, nem chegamos ao máximo neste âmbito. De 25 não chegamos a 300 mil, fomos até 250 mil, o que julgo que dentro dentro deste quadro a entidade que aplica a infracção fará a sua aplicação de forma razoável consoante o nível de infracção que se cometer. Penso que estamos com uma proposta razoável. De todo o modo, não quero aqui dizer que não haverá possibilidades de aprofundarmos na especialidade algumas questões e de revermos algumas propostas que poderão ser apresentadas na especialidade.

Sr. Presidente: - Tenho dois inscritos, os Srs. Deputados Júlio Correia e Mário Fernandes. O último orador foi o Sr. Deputado Fernando Robalo. Tem a palavra o Sr. Deputado Mário Fernandes.

Sr. Deputado Mário Fernandes (MPD): - O Sr. Ministro não respondeu a todas as perguntas. Questionei-lhe quanto ao número de casos que motivaram o nascimento desta proposta que foi apresentada e que estamos aqui a discutir. Quando diz que o processo existente, que a lei é lenta, é pesado e inaplicável, quais são as razões? Não disse, não explicou. Quantos casos o seu Governo identificou através da Polícia de Trânsito aqui de 2001 a esta parte? A verdade é que quer apenas mudar a lei ou teve dificuldades em aplicá- la? Quais são? Não nos explicou. Mais ainda, disse-nos que uma das causas mais importantes dos acidentes de viação em Cabo Verde, se calhar, é o excesso de velocidade. A outra, o não respeito pelo Código da Estrada, vejamos aqui a Praia: só a circular aqui da Avenida Cidade de Lisboa. Tem Policia competente e adequada, devidamente preparada, com equipamentos, com meios de comunicação, para fazer isso? Eu penso que não. Tem estado a fazer reciclagem dos seus polícias de trânsito quando em 2001 foram obrigados a sair, a maior parte daqueles que tinha uma certa experiência, um know-how? Também não está a fazê-lo.

126 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Por tudo isso, sinceramente penso que a razão não é por falta ou dificuldade de aplicação, é porque o Governo nunca aplicou esta lei. O que me estranha é que um Governo que nunca aplica a lei diz que ela é lenta e inaplicável. Quais são os motivos, as causas? Quais são as dificuldades? Eu não vi, porque não fez coisa nenhuma se calhar de 2001 a esta parte. Em 97/98 fizemos, havia essa parte. Quando disse que o artigo 2º diz claramente: “O exame de pesquisa do álcool do ar respirado é realizado por agente de autoridade que para o efeito deverá dispor de material adequado”. Está regulamentado no decreto que veio a seguir, de 11 de Março de 1998. Está a combater o excesso de velocidade? Também penso que não. Há lei que regula, daqui a nada traz uma outra lei para tirar aquela outra lei que nunca foi aplicada. Portanto, penso que quando estamos num país em que há várias pessoas atentas ao desenvolvimento do país, aos acidentes… muitas mortes neste país, que disse, se deve a quê? Gostaria que me explicasse, ao excesso de álcool ou de velocidade? O quê que fez para combater o excesso de velocidade? Há uma lei que existe e que podia substancialmente combater esse tipo de acidente. Também não se aplica. Como aqui, a não ser que o prove, nunca a sua polícia aplicou esta lei de 2001 a esta parte. Em 1998 temos aqui gente que assistiu e sabemos que foi aplicado, mas de 2001 a esta parte não foi. A não ser que não queira combater os acidentes de viação. Só para distrair as pessoas, porque um governo que queira combater acidentes de viação pega nessa lei e aplica, pode melhorá-lo porque concordámos com as medidas todas, não somos contra. Entretanto que não nos conduza a nada que seja ridículo, porque trazer a lei com o argumento de que há dificuldade na aplicação quando o senhor nunca aplicou é um bocadinho complicado aceitar esta argumentação. Quanto à taxa de álcool, também 0,8 está na lei, vem logo expressa aqui num dos artigos da lei de 1997, é 0,8 e 1,2. Isso é inicial porque se os senhores tivessem aplicado a lei, depois de dez anos, hoje poderiamos baixar essa taxa mínima para 0,5 como acontece noutros países e depois iria baixar para 0,3, mas os senhores nunca aplicaram esta lei e não têm elementos, nem estudos, nem nada que me possa convencer a não ser que anexasse, não tenho, que o senhor aplicou a lei e teve dificuldades, não vejo isso desta forma. Para não ser longo vou terminar dizendo, a única alteração substancial que fez foi o aumento do montante das coimas contra infracção que é de 25 para 250 contos. Sinceramente, aqui não concordamos. Pensamos que é um exagero as coimas existentes em Cabo Verde em tudo. Para as coimas que os senhores fizeram há tempos, o novo Código de Estrada não está interligado, que não houve fundamentação nenhuma, que eu não votei a favor e que está desde 2005, o regulamento ainda é deste código. Significa que não havia urgência nenhuma para alterar aquela norma, aquela disposição, aquele Código, melhor dizendo. Significa que os senhores estão a trazer aqui proposta para divertir a malta, que eu não estou nesta. Nós aqui nesse artigo, que diz 25 a 250 contos, somos contra. Não somos a favor de desculpar aqueles que são infractores ao Código de Estrada, que se aplique a lei, mas temos de aplicar montantes que venham ao encontro daquilo que podemos pagar.

127 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Quando se aplica uma coima por estacionamento proibido aqui na Praia de dez contos, sabe quanto é em França? Onze euros para a mesma infracção. É inaceitável que se ponha 10 a 25 contos para quem parou mal. Não estamos a estimular isso, mas é um montante irrealista para o poder de compra dos condutores. Porquanto que vemos aqui camiões que transportam mercadorias, ferros, blocos, tudo mal arrumados com uma insegurança total e que até já provocou mortes aqui neste País. Os senhores não fazem nada e trazem só a alteração da lei. Pergunto agora, porque razão alterou o Código de Estrada, o senhor era Deputado e aprovou, eu não aprovei, não dei o meu voto. Ainda temos o regulamento de 2005, quer dizer que não havia necessidade. A polícia iria ter uma enorme dificuldade em aplicar esse regulamento, porque tem o Código actual com o regulamento que está aqui que é de 1997. Como é que pode conciliar um polícia para aplicar essa norma? Se calhar uma das grandes dificuldades que a polícia tem é de articular o Código com o regulamento que não tem a correspondência em termos de artigos. Fico por aqui, só lhe digo que na especialidade vamos dar também a nossa contribuição. Até recomendo que altere aquela norma que diz da coima que é de 25 a 250 contos, porque é exagerada e irrealista. Tudo aquilo que tem aqui, praticamente, está nesta lei, a desculpa que tem não corresponde à verdade porque o senhor, de certeza absoluta, sabe que desde 2001 a esta parte nunca mandou fazer controlo da condução sob a influência do álcool. Se tem prova que me apresente, eu ficaria muito contente.

Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Júlio Correia. A seguir o Sr. Ministro poderá usar da palavra.

Sr. Deputado Júlio Correia (PAICV): - Sr. Ministro da Administração Interna, as minhas primeiras palavras são para lhe parabenizar por ter trazido este diploma para a discussão e aprovação nesta Sessão. Considero que este diploma traz ganhos incrementais fortíssimos e fez muito bem em trazer a lei para ser aprovada. É evidente que não estamos aqui a aprovar uma lei para agradar este ou aquele Deputado. A lei visa essencialmente combater a sinistralidade rodoviária em Cabo Verde, reduzi-la. Aliás como e há aqui especialistas nestas questões dos transportes rodoviários, na circulação rodoviária intervém três factores essencialmente: o condutor, o veículo e as estradas. Julgo que é sempre necessário agir na vertente do utente, fiscalizando e punindo lá onde tenha que ser. Na vertente dos veículos, fiscalizando e inspeccionando e ter como estamos a ter em Cabo Verde melhores condições de circulação nas nossas estradas. Isto para dizer que estas medidas não são isoladas. Antes, elas inscrevem-se num contexto e numa visão muito mais vasta de combate à sinistralidade rodoviária em Cabo Verde. Mas permita-me, Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr. Ministro, que faça alguns comentários genéricos em relação a aspectos que me parecem serem importantes e é esta a oportunidade. Julgo que é urgente entre nós um verdadeiro despertar da consciência para a problemática que toca a todos e estou a referir-me a esta necessidade de garantir maior segurança nas estradas em Cabo Verde.

128 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Estamos todos cientes que a diminuição dos acidentes rodoviários constituem um desafio que todos temos de assumir, sendo certo que o Governo deve dispensar a esta matéria toda a atenção, como faz neste preciso momento. Vou dizer uma coisa que tenho dito várias vezes. Tenho por mim que não sendo apenas fatalidades, os acidentes rodoviários podem ser, em certas circunstâncias, perfeitamente evitados, tanto pela via do endurecimento das medidas de fiscalização e de prevenção, como pela via de sensibilização dos utilizadores das vias, pela melhoria das estradas como se tem vindo a fazer, mas também pela tomada e aprovação de medidas legais como também estamos a fazer neste momento. Porque a segurança nas estradas também é um acto de cidadania ou se quisermos é um desfio à cidadania cabo-verdiana. Aqui quando falamos de segurança rodoviária estamos a querer falar de um valor fundamental que é preciso preservar que é o valor da vida. A segurança nas estradas para além das medidas institucionais, depende claramente do exercício da cidadania que todos nós temos que fazer. Aliás tenho que dizer isso aqui, as estradas são de todos nós. Elas são construídas para nos servir e não para nos aproximar da morte ou para nos atirar para a invalidez. Por isso, Sr. Ministro, não sendo esta a medida de todas as medidas, considero-a obviamente uma medida importante neste momento, porque é este o espírito de responsabilidade na utilização das estradas que devemos desenvolver. Este espírito de responsabilidade não se desenvolve num ambiente de conformismo ou de candura em relação aos transgressores. Penso, por mais esta razão, que fez muito bem em trazer esta medida para a aprovação neste Parlamento. Aqui sempre também digo o seguinte, percebi na última intervenção a focalização do problema essencialmente no Governo. É evidente que o Governo assume a essencialidade deste combate, mas não é apenas ao Governo a quem compete este trabalho que todos temos que fazer quando nos referirmos à questão do cumprimento da lei. O quê que o Governo tem feito para se cumprir a lei? Penso que o Governo tem feito aquilo que deve fazer e deve continuar a reforçar, a endurecer as medidas de aplicação da lei. Mas sempre digo também o seguinte, qualquer legislação - não sou jurista mas vou dizer isso com todo à vontade - para se cumprir é necessário também que desenvolvamos uma cultura de obediência e de colaboração com relação às regras. É fundamental que desenvolvamos a cultura de denúncia em relação àqueles que prevaricam nas nossas estradas em Cabo Verde. Por isso que eu disse que também aqui há esta matéria em que cidadania não pode sacudir os ombros, é também uma matéria de cidadania. Termino, Sr. Ministro, dando-lhe os parabéns por ter trazido este diploma para a discussão e aprovação. Considero que vamos ter ganhos importantes no domínio da celeridade processual, que vamos ter ganhos importantes no reforço da autoridade policial e considero, no fundo, que há ganhos incrementais em relação à outra lei que tínhamos em Cabo Verde e é isto mesmo. Aqui as leis não podem ter este princípio da paternidade incontornável. O país vai mudando, as complexidades vão aumentando e é preciso que a cada momento estejamos à altura de rever e de confirmar as medidas legislativas a um processo permanentemente de complexificação das

129 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010 sociedades. É o que faz neste momento, Sr. Ministro, e eu agradeço-lhe por isso.

Aplausos da Bancada do PAICV.

Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Ministro. Já não há nenhum inscrito.

Sr. Ministro da Administração Interna: - Eu queria reafirmar aqui aquilo que foi feito durante muitos anos que é a aplicação dessa lei. Entretanto, é preciso reconhecer que a regulamentação que foi feita em relação à lei anterior é que provavelmente tornou inaplicável essa lei de 1996. Porque o tipo de alcoolímetro que foi estabelecido não dava possibilidade alguma da sua aplicação, nem a celeridade na sua aplicação. Por exemplo, não chegaram a estabelecer aquilo que estamos a pensar já nesta lei em termos de tipos de alcoolímetros e da diferenciação entre alcoolímetros qualitativo e quantitativos que favorecem e agilizam o procedimento tanto junto da entidade administrativa quanto à autoridade que aplica directamente no terreno esta nova lei. Esta questão se fosse regulamentada e fosse adoptada e fixada de forma mais correcta o tipo de alcoolímetro que é dessa última geração que estamos a pensar e que consegue emitir um recibo de prova de imediato, estaríamos em condições de fazer a sua aplicação de forma muito mais ágil e fazer com que o tempo entre o cometimento de infracção e a sua punição fosse muito mais curto e retirasse do nosso meio rodoviário esse sentimento de impunidade que o senhor reconhece, mas que sabe que na altura a regulamentação não foi a mais adequada para responder a essas necessidades de agilização dos procedimentos. Penso que o senhor reconheceu que uma das causas principais é do excesso de velocidade e do consumo do álcool. Penso que estamos mais do que identificados em termos da importância da apresentação dessa lei. Portanto, aqui penso que não estamos a divergir, estamos sintonizados em termos daquilo que são as motivações fundamentais para a revisão da lei de 1996. No entanto, como há a repetição em relação à questão das coimas, a moldura apresentada penso que não… é preciso estabelecer o seguinte, estamos a estabelecer coimas no quadro dos parâmetros definidos pelo Regime de Controlo Geral das contra-ordenações em Cabo Verde, mas a aplicação dela, a própria lei exige que seja aplicado o mínimo e será agravado em caso de reincidência, mas é esta a nossa preocupação em relação ao estabelecimento dessa moldura que definimos agora aqui para a sua implementação no futuro. São essas as questões que eu queria avançar em relação às questões levantadas pelos Deputados.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Mário Fernandes, deseja a palavra para que efeito?

Sr. Deputado Mário Fernandes (MPD): - Para intervir, Sr. Presidente.

130 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Sr. Presidente: - Faça o favor.

Sr. Deputado Mário Fernandes (MPD): - Pelos vistos, o Sr. Ministro e o seu Governo nunca aplicaram a lei, está aqui a trazer a mesma lei com alguns elementos, sejamos realistas. Até porque o jurista que fez isso devia ter um bocadinho mais de respeito por aquele que fez a proposta de lei antes, porque o jurista que a fez, copiou e alterou, em vez de autoridade pôs entidade, é isso mais ou menos. Portanto, infelizmente assim é, nós não somos contra qualquer melhoria introduzida. Entretanto, vou lhe dizer uma coisa, quando aprovámos essa lei aqui na Assembleia, coincidentemente quem a trouxe e teve a iniciativa fui eu, para o seu conhecimento, na altura a leitura não se fazia senão através do material que se chamava Balão, tinha um tipo terminal onde se esperava, depois o balão enchia, depois se fazia a leitura. Hoje a tecnologia avançou, treze anos depois, é natural que haja modificação e alteração ao progresso, hoje há sistema electrónico, mas não é por aí que o senhor vem justificar a não aplicação da lei durante dez anos praticamente, perante o crescimento galopante do nosso parque automóvel, perante números elevados de mortes. Mais grave ainda, há acidentes provocados por excessos de velocidade que, normalmente, têm consequências graves para os cabo-verdianos ou mortes com feridos graves. Aí nesta matéria este Governo não fez praticamente nada. Tem uma polícia sem o equipamento adequado, sem preparação adequada, sem meios de locomoção adequados. Como é que a Polícia pode trabalhar aqui neste país? Para dizer ao Sr. Deputado Júlio que quem tem a obrigação de fazer a fiscalização na estrada é o Governo, através dos seus organismos próprios, a Polícia de Trânsito e a Direcção Geral de Aviação que também tem que colaborar, mas é expressamente a Polícia de Trânsito que praticamente deixou de existir como existia antes, com aquela organização que tinha antes. Parece que intencional tirou-se o protagonismo à Polícia de Trânsito, que eu aqui discordo da forma como a Polícia de Trânsito vem trabalhando. É preciso dotar a Polícia de meios e também de preparação de actualização em termos de formação. Quando se faz o novo Código de Estrada é preciso que se dê formação, a nível nacional, a todos os polícias porque senão não vamos a parte alguma. Quanto à taxa de álcool também é a mesma depois de treze anos, já devíamos estar num grau mais baixo, é a prova que não fez, não tem estatística, não o fez de facto e infelizmente não combateu os acidentes de viação e pergunto: está a assistir nas horas de ponta como é que conduzimos aqui na Praia? Tem polícias suficientes para controlar isso? Tem polícias suficientes para fiscalizar o transporte de mercadoria que constitui uma autêntica ameaça à segurança de todos nós? Não vou dizer que tipos de condutores por uma questão de ética, por uma questão de princípios, mas os senhores sabem e não fizeram nada, não estão a fazer nada. Daqui a nada conduzir na Praia será um caos, porque não se faz nada em termos de fiscalização. Não podemos ter uma condução disciplinada e adequada se não tivermos uma Polícia de Trânsito devidamente capacitada, com meios adequados, com conhecimentos técnicos adequados, caso contrário estaremos

131 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010 aqui a fazer mil leis e nunca chegaremos aos objectivos pretendidos. Portanto fico por aqui, prometendo que não somos contra nenhuma alteração da lei desde que seja pela positiva, mas colocamos desde já uma objecção, o montante fixado para coima é irrealista e aí vamos ter que negociar para baixar. Não faz sentido que em Cabo Verde o vencimento mínimo deve ser de 10, 12 ou 20 contos e para os condutores se colocam coimas de 25 a 250 contos, em que o agente de autoridade vai julgar. Não concordo com essa margem tão grande para que a Polícia, em função disto ou aquilo, possa aplicar esta ou aquela coima para situações semelhantes. Até defendo que devia haver para cada tipo de infracção o mesmo montante, como se faz em França e noutros países que conheço, mas aqui é um problema jurídico, técnico que não vou entrar, mas sinceramente que não concordo. Hoje se tivesse a possibilidade de fazer uma proposta para alterar a figura de coimas nunca iria para margens entre 10 a 250 ou entre 15 a 300, isso penso que é um perigo até para a própria defesa dos interesses dos cabo-verdianos. Fico por aqui para já, avisando que nós não somos contra, mas estranhamos que um Governo que durante dez anos não aplica uma norma e vem dizer que é inadequada. Sinceramente, isto é coisa para distrair a malta que eu não comungo. Fico por aqui, espero que repense os dois artigos… há um outro artigo ali que na comissão especializada iremos fazer a proposta para alterar, sabendo que parece que esta proposta de lei reclama votação de dois terços porque tem a ver com a liberdade e garantia dos cidadãos. É preciso que a gente negoceie para que saia uma coisa que seja também agradável para todos os cabo-verdianos que nos estão a ouvir, não só para o Governo e os Deputados do PAICV, para todos nós. É preciso que isso fique bem claro.

Sr. Presidente: - Sr. Ministro, tem a palavra. Deseja fazer algum comentário? São considerações, julgo que finais, porque os grupos ainda têm tempo, mas não tendo nenhum inscrito, penso que temos condições para aprovar antes de suspendermos a Sessão.

Sr. Ministro da Administração Interna: - Para as considerações finais diria o seguinte: penso que as motivações, os fundamentos de apresentação desta proposta de revisão da lei de 1996 fui, suficientemente, exaustivo na sua apresentação para não ter que repetir e atender às preocupações do Deputado Mário Fernandes, porque seria repetir as mesmas coisas e fundamentações avançadas, aliás desde o início da apresentação deste diploma. Penso que as causas justificam assumir esta medida, mas mais do que esta medida dissemos claramente que esta é uma das medidas enquadradas dentro de um conjunto de outras medidas assumidas nesse sector e que virão, certamente, dar a sua contribuição para melhorias em termos de segurança rodoviária, mas também de sinistralidade rodoviária como uma das principais preocupações para este sector em Cabo Verde. Estamos neste momento numa reforma importante do quadro institucional da DGTR que poderá vir a responder às novas necessidades em termos de agilização da acção da DGTR no quadro do sector rodoviário. Estamos em articulação com o NOSI a modernizar todo o sistema de informatização dos serviços da DGTR importantes para novas respostas e

132 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010 articulação até da base de dados da Polícia de Trânsito com a Direcção Geral dos Transportes Rodoviários. Uma proposta no sentido de automatizar os procedimentos e fazer com que a acção da Polícia de Trânsito e da DGTR tenham a melhor articulação possível e precisamente, por isso, que julgo que é injusto essas considerações à volta do trabalho que está sendo feito pela Polícia de Trânsito, aqui avançadas. Essa polícia vem sendo formada ao longo de todos esses anos. Terminámos algumas acções de formação recentemente para a aplicação do novo código de estrada. Concluímos, há bem pouco tempo, o parque de recolhas de viaturas apreendidas que é mais uma das contribuições para a melhoria do processo de fiscalização que é evidente e que penso que deverá ser reconhecido por qualquer um, para além da montagem em curso do sistema multimédia de realização de exames de condução, que é uma das preocupações no sentido de evitar alguns problemas que vem acontecendo, em particular, na emissão de cartas de condução, para além da implementação da carteira profissional que é uma das preocupações em curso e que darão respostas, certamente, em melhoria do nível de exercício dessa profissão. Portanto, por todas essas razões julgo que estamos num bom caminho em termos de intervenção no sector da segurança rodoviária. De todo o modo, fica aberta esta possibilidade de, na especialidade, podermos discutir mais aprofundado alguns aspectos das propostas aqui avançadas, no quadro da revisão da lei anterior e o Governo estará certamente aberto às propostas que sejam razoáveis e serão incluídas sem qualquer problema. Só que existem já, de antemão, propostas que consideramos dever merecer uma discussão mais aprofundada e ver se poderíamos acolher ou não novas alterações a serem introduzidas.

Sr. Presidente: - Vamos passar à votação. Quem vota a favor? Quem vota contra? Quem vota abstenção? A proposta de Lei que altera a lei nº 8/V/96, de 11 de Novembro, sobre a condução sob a influência do álcool foi aprovada, na generalidade, por todos os Deputados presentes. Ela desce à primeira comissão para discussão e votação na especialidade e regressará na próxima Sessão para a votação final global. Está encerrada a nossa reunião da manhã. Retomamos às 14 horas e 45 minutos.

[Eram 12 horas e 50 minutos.]

------

[Após a suspensão]

Sr. Presidente: - Tenha a bondade, Sra. Ministra.

[Não se procedeu à chamada dos Srs. Deputados.]

[Eram 15 horas e 04 minutos.]

133 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Sra. Ministra da Educação e do Ensino Superior, Vera Duarte: -

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, Sras. e Srs. Membros do Governo:

Constitui para nós um motivo de grande contentamento estar aqui em nome do Governo para apresentar a esta augusta Assembleia a Proposta de Autorização Legislativa para a revisão da Lei de Bases do Sistema Educativo. Como todos sabem, a Lei de Bases do Sistema Educativo do ano de 1990, submetida a uma revisão em 1999, sobretudo tendo em atenção o Ensino Superior e volvidos mais de 10 anos sobre esta última revisão, era importante revisitarmos a lei e ver como é que ela deve ser actualizada, modernizada e poder contribuir para a modernização do sistema de ensino que estamos a fazer no nosso País. Como todos sabem, o sector da educação tem dado o seu contributo para o processo de desenvolvimento de Cabo Verde. Com certeza que muito do que determinou a passagem do nosso País do grupo dos países menos avançados para país de rendimento médio também se deve à performance do sector da educação e o que pretendemos é que cada vez mais este sector possa continuar a contribuir positivamente para o desenvolvimento sustentado de Cabo Verde. O Programa do Governo da VII Legislatura assinalou vários objectivos para o sector educativo. Devemos dizer que embora ainda seja um sector onde haverá sempre muito por fazer e sempre muito a exigir, demos praticamente cumprimento a todos os objectivos lançados no Programa do Governo da VII Legislatura e ousamos dizer que conseguimos ir mais além. Também devemos dizer que alguns dos objectivos de desenvolvimento do milénio, sobretudo ligados à educação, como seja a universalidade do acesso ao ensino, a paridade do sistema de ensino, são objectivos que Cabo Verde muito precocemente atingiu em relação à meta apontada que, como todos sabem, é 2015. O Governo tem-se orientado num processo permanente de inovação no sector do ensino, sobretudo tendo em atenção o lema que tem mobilizado todo o sector educativo sempre para novos desafios novas respostas. Devo dizer que três preocupações maiores têm orientado a nossa acção: antes de mais, a procura permanente de melhoria da qualidade de ensino em todos os subsistemas do ensino; a procura permanente da melhoria de qualidade do nosso sistema de ensino em articulação com o processo de transformacão em curso em Cabo Verde. Queremos que cada vez mais o sistema de ensino possa contribuir para este processo de transformação de Cabo Verde num país moderno, competitivo, inserido numa dinâmica mundial de desenvolvimento. Também há um terceiro objectivo que tem norteado a nossa acção que é termos cada vez mais uma educação inclusiva na base do princípio da UNESCO de educação para todos, sendo certo que entendemos que só quando todas as camadas, todos os sectores, todas as pessoas puderem ter o acesso pleno ao sistema de ensino é que nos daremos por satisfeitos.

134 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Nesta linha e na materialização desses três objectivos maiores, temos vindo a introduzir inovações no sistema de ensino e gostaríamos de aproveitar este momento para socializar com os Srs. Deputados e através dos Srs. Deputados com toda a Nação cabo-verdiana. Permitam-me referir a cada uma dessas inovações e depois farei um sobrevoo pela proposta de lei de revisão que estamos a apresentar à vossa consideração. Antes de mais, chamaria a atenção para a universalização do acesso ao ensino básico, o ensino formal aos seis anos de idade. Como todos sabem, houve algum momento em que se permitiu que alguns alunos pudessem entrar aos seis e outros aos sete, consoante tivessem ou não frequentado o pré- escolar. Desde o ano passado que uniformizámos a entrada aos seis anos, tendo ou não os alunos previamente frequentado o ensino pré-escolar, na base de que estamos também a fazer cada vez mais: a universalização do pré- escolar. Outra inovação que gostaria de apontar é a pluridocência no quinto e no sexto anos do ensino básico. Como todos sabem, tivemos durante muito tempo a monodocência ao longo do Ensino Básico. No Ensino Secundário iniciávamos imediatamente com a pluridocência por disciplina e o quê que fizemos a título experimental de há dois anos a esta parte? Iniciámos no ano lectivo 2008 a 2009 e alargado no ano lectivo 2009-2010 a pluridocência por áreas no Ensino Básico, ou seja, fizemos do primeiro ao quarto ano em monodocência, o quinto e o sexto em pluridocência por áreas e a partir do sétimo então, a pluridocência por disciplina. Gostaria também de chamar a atenção para o facto de termos estado a trabalhar cada vez com mais empenhamento na área da educação inclusiva, procurando alargar os mecanismos que contemplam os alunos com necessidades educativas especiais. O Governo e o ministério têm estado a trabalhar na formação, na criação de condições pedagógicas para que possamos alargar o sistema de ensino- aprendizagem a todos os alunos e àqueles com necessidades educativas especiais por deficiência ou os sobredotados. Desde 2008 também iniciámos uma experiência de criação de Salas de Recurso onde os alunos com necessidades educativas especiais seguem um complemento de formação que lhes permite seguir com mais cuidado o ensinamento ministrado na sala de aula. Gostaria de salientar que começámos com uma Sala de Recurso em São Vicente, depois uma outra na Praia no Liceu Pedro Gomes, seguido de uma sala para alunos surdos-mudos na Escola Básica Eugénio Tavares. Já no início do ano lectivo 2009-2010 abrimos uma Sala de Recurso no Sal. Vamos abrir uma Sala de Recursos para alunos surdos-mudos também em São Vicente e assim temos projectado continuamente o alargamento da abertura de salas de recursos lá onde se mostrar mais pertinente e mais urgente para contemplar as necessidades educativas especiais. Também nesta linha, temos vindo a adoptar cada vez mais os nossos estabelecimentos de ensino das acessibilidades e há uma preocupação constante que permitem a esses alunos terem uma vida mais desafogada no âmbito do recinto escolar. Gostaria de trazer o exemplo, porque foi falado aqui hoje de manhã, da Escola Secundária Fulgêncio Tavares em São Domingos que foi recentemente reinaugurada e que efectivamente penso que todos poderão ter visto, porque

135 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010 foi uma parte nova, a rampa que serve para os alunos com dificuldades motoras, como aquilo vem facilitar a vida desses alunos. Mas, é um exemplo do que queremos em todas as nossas escolas. Também gostaria de vos falar e socializar uma outra experiência que está a ter lugar de uma forma cada vez mais alargada no nosso sistema de ensino, que é a articulação entre a via académica e a via profissionalizante. Nas nossas escolas secundárias, como todos sabem, até há muito pouco tempo só tínhamos a via académica e iniciámos recentemente um processo de criação de unidades formativas nas escolas secundárias do País, que vão permitir que os alunos possam optar consoante a sua maior aptidão para o seguimento da via académica ou da via técnico profissionalizante, sendo certo que qualquer dessas vias pode dar saída para a formação superior e para o emprego, para aqueles que assim o desejarem. Já começamos a funcionar com as unidades formativas na Escola Secundária Baltasar Lopes da Silva, da Ribeira Brava, em São Nicolau, Coculi em Santo Antão, São Lourenço dos Órgãos em Santiago e estamos a trabalhar com outras escolas, nomeadamente o Liceu Domingos Ramos, a Escola de no Tarrafal e outras no horizonte. Temos também a Escola dos Mosteiros para irmos, a pouco e pouco introduzindo esta valência dessas unidades formativas. Portanto, o objectivo é atingir todas as escolas do País porque pensamos que é assim que damos aos alunos a oportunidade de poderem efectivamente decidir de uma forma mais consistente para a via que pretendem abraçar. Também gostaria de trazer aqui o processo de revisão curricular que aprovámos recentemente e que vem trazer inúmeras melhorias e inovações no sistema de ensino. Falaria claramente na possibilidade de termos melhorias pedagógicas, metodológicas no ensino das disciplinas que têm constituído a parte mais difícil do processo de ensino/aprendizagem aqui em Cabo Verde e refiro claramente às disciplinas de matemática e de português. Referir-me-ia à obrigatoriedade de aprendizagem de duas línguas estrangeiras – francês e inglês - de uma forma mais precoce a partir do sétimo ano de escolaridade. Também a introdução de áreas disciplinares novas sobre os quais depositámos fortes esperanças na melhoria cada vez mais do nosso sistema educativo e estou claramente a referir à educação para a cidadania que acreditamos que vai servir de complemento de formação e de educação para os nossos alunos, sendo certo que partimos do princípio que a educação começa em casa, mas passa pela comunidade e pela escola. Acreditamos que a educação para a cidadania vai permitir formar de uma forma integral os nossos alunos não só para os saberes, conhecimentos e as habilidades, mas também para tudo aquilo que constitui valores sobre os quais assenta a nossa qualidade de vida, a nossa sociedade. Falaria claramente em formações nas áreas dos valores e comportamentos, do meio ambiente, da equidade, da saúde reprodutiva, dos direitos humanos, da promoção da defesa do consumidor. Enfim, várias áreas sobre as quais se deverá estender esta – como eu chamo – área disciplinar da educação para a cidadania. Também estamos a introduzir com carácter de sabemos que deve fazer parte fundamental no processo de desenvolvimento da personalidade do jovem, a educação artística. É um processo que estamos a começar, vamos querer desenvolver cada vez mais. Pensamos sobretudo naquelas áreas

136 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010 tradicionais de expressão artística do cabo-verdiano, a música. Naturalmente todos concordarão connosco que esta é uma das áreas fundamentais de expressão artística do cabo-verdiano, sendo certo que a música também ajuda a desenvolver o intelecto, as áreas do cérebro humano e que ajudam no próprio processo de ensino/aprendizagem. Devemos dizer que uma série de iniciativas ligadas a esses níveis de ensino, que não terei todo o tempo para explicitar, mas que vão influir o próprio processo de revisão da Lei de Bases, vem tendo lugar nas nossas escolas. Por exemplo, para o ensino, como falámos na melhoria do ensino do português ou da matemática, estamos a fazer complementos de formação com os nossos professores de português e de matemática para que as aulas possam ser cada vez mais atractivas e possam trazer cada vez mais alunos para as áreas científicas e tecnológicas que consideramos também fundamentais para o processo de desenvolvimento de Cabo Verde. Este ano iremos organizar pela primeira vez a nível nacional as olimpíadas de matemática para ajudar os nossos alunos a criarem o gosto por esta disciplina base para o desenvolvimento e para a criação de uma consciência científica. Poderia enumerar aqui várias outras iniciativas. Devo dizer também que temos em curso um programa extraordinariamente rico e com objectivos ambiciosos de introdução das novas tecnologias no sistema de ensino cabo-verdiano. Como todos sabem, temos algumas escolas piloto. Na Praia temos a Escola Abílio Duarte, em São Vicente, a Escola Jorge Barbosa que funcionam como escolas de experiências piloto, com a introdução das novas tecnologias, não só no aprendizado dos alunos, mas também no sistema de gestão escolar. E esta é uma experiência que outras escolas também estão a abraçar com muito entusiasmo e acreditamos – e o objectivo é esse – vir a ter cada vez mais escolas ligadas à rede, à Internet, com acessibilidade, cada vez mais professores e alunos fazendo recurso aos conteúdos digitais para a transmissão cada vez mais completa do processo de ensino/aprendizagem. Também temos procurado desenvolver, de uma forma muito consistente, o ensino superior em Cabo Verde. Como todos sabem, a instalação da Universidade Pública começou em 2006 e em 2008 foi a instalação definitiva. Onde procedemos previamente à extinção de alguns institutos, o ISE, o ISECMAR, o INAG que antes laboravam nas áreas que passaram a ser cobertas pela própria Universidade Pública de Cabo Verde e nestes últimos anos temos um número de quatro universidades, sendo uma pública e três privadas. Quatro instituições de ensino superior que já estão em funcionamento em Cabo Verde. Obviamente que todo este alargamento do ensino superior exige uma actividade reguladora, de seguimento muito grande por parte do Governo, do Ministério da Educação e a sua Direcção Geral de Ensino Superior e Ciência. Neste sentido, temos estado a trabalhar com as instituições de ensino superior para articularmos as formas de relacionamento que possam levar cada vez mais à tal melhoria de qualidade do sistema de ensino, que nos possam ajudar a criar um alargado acesso ao ensino superior em Cabo Verde e que nos permitam ter cada vez mais a sustentabilidade financeira do ensino superior. Estas áreas também estarão contempladas na revisão da Lei de Bases. Devo dizer que temos tido um diálogo muito activo não só com estas

137 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010 instituições de ensino como também com as ordens profissionais que congregam os formados nas várias áreas, sobretudo a Ordem de Engenheiros, Ordem de Médicos no sentido de vermos as vias e os meios para levar cada vez mais qualidade e mais empregabilidade também à formação académica que é dada nessas escolas. Temos uma preocupação muito grande com a avaliação, com a qualidade do sistema do ensino superior. O Governo deu início a um processo de avaliação das instituições de ensino superior em Cabo Verde que naturalmente começou com as instituições mais antigas. Estas instituições já passaram por uma fase de avaliação interna, portanto, feita na base de um roteiro que homologámos e também feitas por elas mesmas. Neste momento temos em curso, ainda ontem reuni-me com a equipa, um processo de avaliação externa das instituições de ensino superior que nos vai dar, efectivamente, o ponto de desenvolvimento dessas instituições, indicar as lacunas, as fraquezas, as vias que de uma forma muito pedagógica devem ser seguidas para termos cada vez mais um ensino superior de qualidade. Neste sentido também estamos a trabalhar, a criar um conselho para a qualidade para poder seguir todo o processo de qualificação do ensino superior e devo dizer aqui também com muito contentamento que neste momento, como todos já sabem, temos mais alunos a frequentarem o ensino superior a nível interno do que aqueles que vão para fora fazer a sua formação superior. Todos estes sistemas de inovações e de melhoria da qualidade que queremos, têm estado a ser também apoiado por um desenvolvimento muito pronunciado do sector de apoio socio-educativos. Como todos sabem, o PAM desengaja-se completamente de Cabo Verde no ano de 2010, mas ao longo destes anos temos estado a criar as entidades que estão a substituir a acção do PAM e já temos em todos os concelhos as comissões concelhias das cantinas escolares, que efectivamente fizeram a substituição sem sobressaltos deste programa de fornecimento de refeições quentes aos alunos com necessidade, para permitir que estes na sala de aulas estejam em condições de igualdade, qualquer que seja o meio, a condição económica de onde venham. Obviamente que o sistema de apoios socio-educativos estende-se a outros items: subsídios, bolsas de estudo, transportes escolares, kits escolares, saúde escolar. Vamos lançar um programa neste mês de Fevereiro e diria que a projecção aponta o ano de 2010 apoios socioeducativos num montante que ronda à volta dos 311 mil contos e que pretendemos atingir cerca de 240 mil alunos com esses apoios socio-educativos. A Lei de Bases vai consagrar um aspecto que para nós é muito importante, a formação de professores. Queremos que em todos os níveis do sistema de ensino haja professores com formação e o nosso objectivo é termos professores com formação superior em todos os subsistemas. Devo dizer que estamos a trabalhar com a Universidade de Cabo Verde no sentido da formação contínua dos nossos professores e também dizer que para aqueles cidadãos que não podem seguir o sistema formal de ensino também temos um trabalho cada vez mais alargado da Direcção Geral que era de Educação e Alfabetização de Adultos, mas agora é Direcção Geral de Educação e Formação de Adultos, no sentido da alfabetização e também da formação profissional das pessoas que já estão fora da sala de aula.

138 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Finalmente dizer que para todo este trabalho, também tem concorrido um trabalho muito intenso a nível de criação de infra-estruturas escolares. Portanto não só a construção de novas escolas lá onde elas não existem e poder fazer com que a educação esteja próxima das comunidades e das famílias, poupando despesas, evitando riscos, mas tendo escolas cada vez mais próximas e sobretudo, também, fazendo o upgrading daquelas escolas que, construídas em tempo anterior, não têm todas as valências que consideramos fundamentais para que o recinto escolar possa funcionar devidamente e começámos com a construção de casas de banho que algumas ainda não têm e estão-se a construir, a todas as outras valências que são, cada vez mais, o apanágio das escolas aqui em Cabo Verde. Queríamos trazer para socializar com os Srs. Deputados, porque ainda não tínhamos tido a oportunidade de fazer isso, essas principais inovações que dão continuidade àquilo que é e constituiu a Lei de Bases do Sistema de Ensino, constantemente sendo pertinentemente revisitado quando os passos dados assim o aconselham e são esses passos que vão provocar esse pedido de autorização legislativa, para revisitarmos a Lei de Bases do Sistema de Ensino. Para concluir, direi que o projecto já se encontra no site do Ministério da Educação, para ser socializado, podem ser trazidas achegas importantes para essa proposta de lei e com a permissão do Sr. Presidente da Assembleia, gostaria de dar a palavra ao Sr. Secretário de Estado para apresentação na especialidade, se for o caso.

Sr. Presidente: - O que está previsto para hoje é apenas a apresentação, na generalidade, do pedido de Autorização Legislativa ao Governo para alterar a Lei de Bases do Sistema Educativo. A discussão na especialidade far-se-á em sede da comissão e aí o Sr. Secretário de Estado poderá proceder à apresentação. Trata-se de autorização legislativa. Estou a referir ao processo de aprovação das leis que não sejam de autorização legislativa. A autorização legislativa normalmente pela sua relativa urgência fazemos depois a apresentação na especialidade e aprovamos aqui no Plenário, mas é óbvio que é o Plenário que decide esta situação. Portanto, só para recapitular, de momento fazemos a discussão na generalidade. A Sra. Ministra já fez a apresentação na generalidade, haverá depois uma discussão na generalidade e depois uma votação na generalidade e a seguir então haverá a apresentação dos artigos em particular, isto é, a apresentação na especialidade e aí perfeitamente poderá entrar o Sr. Secretário de Estado. Far-se-á o debate na especialidade, isto é, artigo a artigo, e depois a votação que também se faz artigo a artigo e no final haverá uma votação final global. Esta é a regra. Quando se trata de outras leis que não têm de ser aprovadas na íntegra no Plenário, elas baixam a uma comissão e esta comissão discute na especialidade e aprova também na especialidade. Convido o representante da comissão especial a proceder à apresentação do relatório/Parecer da Comissão Especializada de Educação, Cultura, Juventude e Desportos, Sr. Deputado Afonso Silva da Fonseca.

139 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Sr. Deputado Afonso da Fonseca (PAICV): -

Introdução

Ao abrigo do disposto no n.º 42 do Regimento da Assembleia Nacional, a Comissão Especializada de Educação, Cultura, Juventude e Desportos, por convocação do seu Presidente, esteve reunida no dia 21 de Janeiro de 2010 numa das salas do novo edifício para emitir o parecer sobre a Proposta de Lei que concede a Autorização Legislativa ao Governo para alterar a Lei de Bases do Sistema Educativo.

II – Análise da Lei de Bases Vigente

A Lei de Bases do Sistema Educativo data de 1990, Lei n.º 103/III/90, de 29 de Dezembro, tendo sido revista pela Lei n.º 113/V/99, de 18 de Outubro, que no essencial introduziu pequenas alterações no concernente à regulação do ensino superior. Esta Lei de Bases do Sistema Educativo cumpriu os seus objectivos, pois, durante duas décadas funcionou como instrumento regulador do sistema educativo, da democratização do ensino e da massificação do acesso a vários níveis do ensino. A lei ainda em vigor contribuiu de uma forma significativa para que Cabo Verde estivesse hoje mais perto de atingir os objectivos do desenvolvimento do milénio.

III – Fundamento da revisão da Lei de Bases do Sistema Educativo

O processo de transformação do País, do ponto de vista económico, político, social e cultural, a necessidade de um sistema educativo mais moderno, assente no conhecimento científico e tecnológico das novas tecnologias de informação e comunicação, demandam um sistema educativo moderno, assente numa economia de conhecimento, de saber científico e tecnológico. Por esta e outras razões se justifica plenamente uma revisão profunda da Lei de Bases do Sistema Educativo, em consonância com a nova realidade do País.

IV – Apreciação da proposta de autorização legislativa.

Ao analisar o documento em referência, a Comissão constatou que, em linhas gerais, a proposta de lei do pedido de autorização legislativa abarca os seguintes aspectos essenciais para o novo modelo do sistema educativo cabo- verdiano: 1) A revisão curricular em curso, que propõe novos planos de estudos, novos programas, nova metodologia de ensino e materiais didácticos; 2) A integração de novas tecnologias de informação e comunicação no processo educativo; 3) A revisão do instrumento e massificação do ensino à distância.

140 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Uma das medidas importantes da nova proposta de revisão do sistema educativo é o alargamento do ensino básico obrigatório de seis para oito anos, correspondendo a três ciclos: O primeiro ciclo de quatro anos, monodocência; o segundo ciclo de dois anos, em regime de áreas, e o terceiro ciclo de dois anos, ciclo de consolidação, informação, sensibilização e orientação escolar e vocacional. A par disso, prevê-se numa perspectiva futura, a implementação do ensino obrigatório para 10 anos de escolaridade, que se encaminha para 12 anos.

Conclusão:

A Comissão concluiu que a nova proposta de revisão do sistema educativo reveste-se de grande importância para o País, na medida em que irá dar respostas aos desafios globais da sociedade cabo-verdiana, já que a lei em vigor, com a duração de duas décadas, não se coaduna com as exigências de medidas de políticas educativas que assentam numa forte aposta da modernização de educação. Entretanto, em relação à metodologia utilizada para a apresentação do pedido de autorização legislativa ao Parlamento, os Deputados das duas Bancadas têm opiniões diferentes: Os Deputados do MPD entendem que pela importância da proposta de lei para a sociedade cabo-verdiana e pelo facto dela já ter sido elaborada e divulgada no site do Governo, deveria merecer uma ampla discussão e socialização no Parlamento, junto dos Deputados da Nação, à semelhança do que aconteceu com a revisão da lei de 1999. Os Deputados do PAICV têm uma outra posição, pois entendem que pelo facto dela ter sido divulgada no site do Governo, continua a receber as contribuições da sociedade civil para uma maior socialização até à data da sua aprovação no concelho de ministros. Sendo assim, analisada a pertinência e a importância da Proposta de Lei que concede a autorização legislativa ao Governo para alterar a Lei de Bases do Sistema Educativo, a Comissão entende que ela está em condições de ser submetida ao Plenário para a apreciação. Praia, aos 21 de Janeiro de 2010. O Presidente da Comissão: Fernando Lopes de Robalo. O Relator: Afonso da Fonseca.

Sr. Presidente: - Há também um parecer da primeira comissão que já foi distribuída aos Srs. Deputados. Algum Deputado deseja formular ou dar pedidos de esclarecimentos? Antes de passar a palavra aos Srs. Deputados, queria informar que foi distribuído um documento com a indicação dos tempos. O tempo previsto é de uma hora para a discussão na generalidade e meia hora para a especialidade. Pedia aos responsáveis de acompanhamento do tempo que entrassem em contacto aqui com a Sra. Secretária para esclarecer qualquer dúvida. Tem a palavra a Sra. Deputada Filomena Delgado.

Sra. Deputada Filomena Delgado (MPD): - Sra. Ministra, durante a apresentação utilizou pelo menos quatro vezes o termo socializar. O meu

141 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010 primeiro pedido de esclarecimento é relativamente à opção do Governo. Tendo em conta que falou várias vezes na socialização, pergunto por que não apresentar a Proposta de Lei que altera a Lei de Bases do Sistema Educativo ao Parlamento, em vez de optar pelo pedido de autorização legislativa? Aliás, pelo tempo que levou na apresentação, quem a ouviu poderia pensar que estaríamos em sede de discussão da Lei de Bases do Sistema Educativo e não de um pedido de autorização legislativa. Em 1999 foi o Parlamento que apreciou e aprovou tanto a lei como as alterações à Lei de Bases do Sistema Educativo. Eu tinha um outro pedido de esclarecimento relativamente à revisão curricular. O plano de estudos publicado em Setembro de 2009 fez algumas alterações à própria lei de bases. É um plano de estudos que está em contradição com a actual lei de bases. Pergunto também porquê essa opção de, antes de se alterar a lei de bases, na prática ela já é alterada por um diploma que é publicado pelo Governo? Um outro pedido de esclarecimento ainda, quanto ao ensino da língua portuguesa e de matemática, porque neste plano de estudos verifica-se que a carga horária da disciplina de matemática diminuiu. Tendo em conta a importância da disciplina de matemática, pergunto porquê essa opção pela diminuição da carga horária da disciplina de matemática no ensino básico, que passou de cinco horas e alguns minutos para quatro horas e tal? Portanto, que razões para essa diminuição?

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Humberto Cardoso, queria interpelar a Mesa? Faça o Favor.

Sr. Deputado Humberto Cardoso (MPD): - Na sequência do anúncio que o Sr. Presidente fez sobre o tempo dedicado à discussão desta matéria, queria interpelar a Mesa porque penso que é evidente para todos que é um tempo absolutamente insuficiente. Pela complexidade e implicações da matéria em discussão, é manifestamente insuficiente. Em termos da forma como os trabalhos devem ser conduzidos aqui nesta Assembleia… a Assembleia não é nenhum instrumento de socialização de alguma coisa, toma decisões de base sobre matérias estruturantes como o sistema do ensino, não pode discutir em meia ou uma hora e meia. Isso é demitir-se completamente das suas responsabilidades.

Sr. Presidente: - Aqui não posso ajudar muito, Sr. Deputado. Sabe porquê? Porque há um processo decisório para a fixação de tempo, que foi absolutamente acatado pela Mesa. Foi convocada uma conferência de representantes, estavam lá os representantes dos grupos parlamentares e houve um tempo que foi fixado por consenso. Foi isso. A Mesa não alterou nada. De maneia que não posso responder por isso. Há uns Deputados que consideram que o tempo é pouco, outros consideram que o tempo não é pouco… portanto há esse processo decisório e é assim que tomámos a decisão em relação ao tempo na sessão. É esse o esclarecimento. A Sra. Ministra pode dar resposta. Faça o favor!

142 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Sra. Ministra da Educação e do Ensino Superior: - Gostaria de dizer que em relação às questões postas pela Sra. Deputada Filomena,,sabemos que efectivamente a lei de 1990 e a revisão de 1999 vieram ao Parlamento e teríamos tido todo o gosto em discutir, artigo por artigo, a lei revisitada. Simplesmente, como eu disse, é uma proposta de revisão da lei. O Governo tem, neste momento, uma agenda legislativa extraordinariamente densa até terminar. Portanto, não podemos e nem teríamos até tempo suficiente para virmos discutir a lei artigo por artigo, como seria a nossa vontade. Pensamos que o facto dela estar publicada no site, permite que as pessoas possam ter acesso e até dar as suas sugestões e é por isso que nos limitamos a trazer aqui aquilo que a lei também nos permite, que é ter a autorização legislativa para fazer a revisão da lei. Portanto, entendemos que este é o método mais eficaz que temos para trazer à aprovação deste Parlamento as nossas inovações em relação à lei de bases. Queria dizer que em relação aos planos de estudo da revisão curricular, como todos sabem, ainda estamos na fase experimental. Acreditamos que a breve trecho iremos aprovar essa Lei de Bases do Sistema de Ensino revisitada e portanto aí não teremos problemas. Neste momento estamos numa fase experimental que é absolutamente necessária, não só para testarmos as matérias para começarmos a preparar os manuais, mas também estarmos a fazer a formação de professores que precisamos para implementar todo este projecto, que é muito ambicioso e que acredito ser muito bom (e é por isso que nós o defendemos), da revisão curricular em curso. Finalmente, em relação à questão das horas, dizemos, afirmamos e estamos a trabalhar na melhoria do ensino da matemática e do português. A melhoria do ensino da matemática e do português não se faz só através do número de horas. Faz-se através de melhorias pedagógicas, metodológicas e da melhoria de formação dos nossos professores para poderem ser capazes de levar às escolas e à sala de aula uma matéria de forma atraente e cativante para que os alunos, sobretudo em relação à matemática, deixem de ter medo e possam aproximar-se cada vez mais desta disciplina fundamental. O quê que temos feito? (e isso temos feito de uma forma cada vez mais intensa, devo dizer). De alguns anos a esta parte, estamos a fazer a formação dos professores de matemática e de português. Neste momento, claramente com o recurso à cooperação brasileira, com quem temos em curso um projecto em relação ao ensino da matemática - “Projecto Numeratizar José Parecido de Oliveira”; e outro em relação ao português, ”Projecto Leituralizar Amílcar Cabral”, em que fazemos, em cada ano, formação no Brasil e em Cabo Verde, de 40 professores de português e 40 professores de matemática. E devo dizer que esta formação tem merecido o olhar interessado dos outros Palop’s, que já começaram também a querer participar. Em Julho/Agosto deste ano teremos a formação, em Cabo Verde, de mais 80 professores de português e de matemática, com professores também vindos do português [Entende-se Palop´s]. Além disso, estamos a desenvolver outras vias de cooperação que nos permitem, como eu disse, a melhoria dessas disciplinas.

143 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Também temos em iniciativa (e eu o disse muito por alto), este projecto as olimpíadas de matemática. Também temos em projecto as olimpíadas de português. Temos em projecto a criação a hora do conto nas nossas escolas para levar os nossos alunos a melhor dominarem a expressão oral. É um projecto que estamos a preparar com a Direcção Geral do Ensino Básico e Secundário. Portanto, é na melhoria da formação dos professores, na melhoria do curriculum que estamos a trabalhar para conseguir fazer com que estas disciplinas do português e da matemática possam ser melhor leccionadas, pelo menos de uma forma mais atraente e atrair cada vez mais estudantes para essas áreas que queremos prioritárias das ciências e das tecnologias.

Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Felisberto Cardoso.

Sr. Deputado Felisberto Cardoso (MPD): - Sra. Ministra, a senhora fez referência a vários aspectos da lei e referiu-se bem da educação para a cidadania, como uma forma da integração dos alunos. Pensa-se que através de actividades complementares de educação física e do desporto escolar, será possível essa formação integral. Neste âmbito, perguntamos à Sra. Ministra ou ao Governo, como é que pensa o Governo desenvolver essa actividade de interesse e de grande importância curricular, para que essa educação para a cidadania tenha resultados na prática?

Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Rui Soares.

Sr. Deputado Rui Figueiredo Soares (MPD): - Na sequência da intervenção da Sra. Ministra relativamente à questão da autorização legislativa ou de discussão da Lei de Bases do Sistema Educativo, embora compreendendo as razões da rapidez que o Governo quer imprimir na produção legislativa, penso que, tratando-se da matéria que se trata, devíamos ter todas as cautelas e apesar de ser possível a autorização legislativa, esta matéria devia ser objecto de discussão no Parlamento. Isto permitiria uma produção legislativa mais cuidada. É uma matéria de reserva relativa da Assembleia Nacional. Parece-me que o Parlamento, nesta questão, não deve abrir mão e deve pedir, já que o diploma está publicado inclusive para ser discutido com a sociedade civil no geral, que seja trazido aqui também ao Parlamento, a sede do poder legislativo, para se discutir com os Deputados, numa produção legislativa “normal”. Que venha ao Plenário, que se discuta na generalidade e que na comissão especializada, que certamente está ansiosa dos seus poderes, se discutam em especial as soluções consagradas para a lei de bases. Compreendo as razões do Governo, a rapidez na produção legislativa, ou a pressa em alterar esta lei, datada de 1999 a última alteração, introduzindo a questão do ensino superior, como disse a Sra. Ministra, mas pensamos que aqui devemos ter mais cuidado. Todos os cuidados são poucos nesta matéria que interessa, sobremaneira, a toda a Nação cabo-verdiana e que devíamos transigir um pouco e pedimos ao Governo, em nome da nossa Bancada, que reconsidere a possibilidade de trazer o diploma, cancelando esta iniciativa de pedir a autorização legislativa.

144 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Se o diploma já está pronto, certamente será célere a produção e poder- se-á discutir na comissão especializada e a sua publicação poderá rapidamente também ver a luz do dia. Todos ganharemos com uma discussão aqui na Assembleia Nacional. Não descuido e nem descuro a sugestão trazida pela Sra. Ministra, de participarmos através do site, mas não é exactamente este o papel dos Deputados. O papel dos Deputados é exercer o seu poder aqui na Assembleia, discutindo, conversando, ouvindo as razões da Sra. Ministra directamente, porque se trata, como já se disse, não de uma matéria de competência concorrente mas de competência relativamente reservada do Parlamento. Por conseguinte, fica o nosso pedido ao Governo, de considerar a possibilidade de trazer o diploma em si e de cancelar este pedido de autorização legislativa.

Sr. Presidente: - Tem a palavra a Sra. Ministra.

Sra. Ministra da Educação e do Ensino Superior: -

Sr. Presidente: Sras. e Srs. Deputados; Srs. Membros do Governo:

Em relação à educação para a cidadania, devo dizer que é uma aposta forte desta revisão curricular. Acreditamos que vai trazer melhorias significativas ao processo de educação dos nossos jovens. Também devo dizer que a educação física faz parte desta revisão curricular. Apostamos fortemente também na educação física como meio de desenvolvimento da personalidade do jovem aluno, de ocupação de tempos livres e de desenvolvimento de princípios muito importantes de respeito, de solidariedade… enfim, de vários… que a educação física permite. Estamos também a dar uma dimensão muito grande… Já temos vindo a fazer, mas este ano estaremos a realizar os jogos escolares a nível de todo o território nacional e estamos também a dar uma importância muito grande, sobretudo nas escolas secundárias, ao desenvolvimento da educação física e do desporto escolar. Como todos sabem, a dotação dos estabelecimentos de ensino de placas desportivas tem sido uma preocupação constante e é algo que devo dizer que o Governo faz, mas também fazemos com o apoio das parcerias amigas e portanto estamos a trabalhar cada vez mais no desenvolvimento do desporto escolar. Sem prejuízo do que dirá a Sra. Ministra Janira Hopffer Almada, devo dizer que nós também compreendemos as razões que fazem com que se peça, eventualmente, a discussão da lei. Mas, não é (eu só queria deixar esta nota) pressa, urgência; é por causa do próprio desenvolvimento do sistema educativo no nosso País, sobretudo do desenvolvimento que estamos a ter a nível do ensino superior e nos vários subsistemas do ensino que reclamam essa modernização, actualização e aprofundamento da Lei de Bases. É a opção do Governo que possamos fazê-lo através dessa autorização legislativa que nos é facultada pela lei, sendo certo que compete aos Deputados discutir, aqui neste Plenário, as propostas legislativas. Mas,

145 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010 também, parece-nos de toda a coerência que possam, a partir do momento em que há a autorização na especialidade, com as linhas orientadoras da própria revisão, ver a proposta que está e dar, com toda a liberdade, as suas achegas.

Sr. Presidente: - Sra. Ministra da Presidência, tenha a bondade.

Sra. Ministra da Presidência do Conselho de Ministros e dos Assuntos Parlamentares: - Na sequência da intervenção dos pedidos de esclarecimentos e do pedido formulado pelo Sr. Deputado Rui Figueiredo Soares, gostaria de tecer o seguinte comentário e dar o seguinte esclarecimento: Sr. Deputado, antes de mais gostaria de lhe garantir que o Governo terá em devida consideração o seu apelo enquanto Deputado, legitimamente, para sempre que possível trazer a esta Casa Parlamentar as propostas de lei que têm essa complexidade que realçou. Gostaria também de lhe dizer que o Governo trouxe essa proposta de lei de autorização legislativa, não por estar apressado mas sim por estar dinâmico. Há uma clara diferença nisso. O que quero dizer com dinâmico? Esta proposta de lei do decreto legislativo tem efectivamente estado a ser socializada com a sociedade civil desde o início de 2009, há aproximadamente um ano. Já foi socializada com os professores, com os sindicatos, com as universidades, já foi feita a socialização em várias ilhas, em vários pontos do País (São Vicente, Praia, Santa Catarina e outros pontos). Portanto, aqui foi uma opção legislativa, porque a Constituição e frontalmente dá ao Governo essa possibilidade. Como o Sr. Deputado realçou, o artigo 176º nº2 diz que é competência exclusiva da Assembleia, salvo autorização legislativa. O Governo poderia ter trazido a proposta de lei para a discussão. Optou por trazer a proposta de autorização porque entendeu que já havia socializado e continua aberto para receber subsídios da sociedade civil e dos Deputados. Mas, naturalmente, terá em conta essa sua observação e acredito que é esse o seu apelo. Gostaria também de fazer aqui uma pequena observação. Pelo que pude compreender, a minha colega do Governo, a Sra. Ministra da Educação, não sugeriu que o Sr. Deputado desse a sua contribuição através do site do Governo. O que ela disse e pude compreender, é que depois de várias socializações feitas com vários sectores da sociedade civil e em especial dos aplicadores e beneficiários deste diploma em concreto, a lei de Bases do Sistema Educativo também está no site do Ministério da Educação e no site do Governo para a consulta e eventuais comentários de quem assim entendesse. Foi essa a informação que prestou porque naturalmente que o Governo sabe que os Deputados têm competências específicas em matéria legislativa e se for para socializar não caberia, naturalmente, que o Sr. Deputado, enquanto deputado, desse a sua opinião sobre um diploma no site do Governo.

Risos e protestos da Bancada do MPD.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Mário Silva, para que efeito deseja usar da palavra?

Sr. Deputado Mário Silva (MPD): - Para dar um esclarecimento à Sra. Ministra da Presidência.

146 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Humberto Cardoso, para que efeito deseja usar da palavra?

[Não se ouviu a resposta do referido Deputado.]

Sr. Deputado Rui Figueiredo Soares, para que efeito deseja usar da palavra?

[Não se ouviu a resposta do referido Deputado.]

Tem a palavra o Sr. Deputado Mário Silva.

Sr. Deputado Mário Silva (MPD): - Sr. Presidente, confesso que me chocou o argumento apresentado para não se trazer a lei para ser discutida no Parlamento. Não é um problema constitucional, é um problema político. O Governo está a fugir ao confronto político parlamentar de uma lei que é importantíssima para o País. E isso acontece pela primeira vez em Cabo Verde. Em 1990 e em 1999 foi aqui discutida e agora o Governo faz porque já socializou com meio mundo. Como já socializou com meio mundo, não é preciso vir cá discutir. Numa hora (vamos ter 20 ou 30 minutos) o Governo toma a autorização legislativa e já está. Sabe qual é o problema desta estratégia? É que depois o confronto político é inevitável porque podemos depois assumir a lei cá, o que podia ser evitada. No entanto, o argumento é um argumento que me choca. É a subalternização do Parlamento. A opção por autorização legislativa, não. Essa é do Governo. Mas o argumento de ter estado no site, do Governo ter dinâmica, de ter estado socializado com toda a gente. Sinceramente!

Sr. Presidente: - A Sra. Ministra está a invocar o 114º? Então, agradecia que justificasse o agravo.

Protestos da Bancada do MPD.

Sra. Ministra da Presidência do Conselho de Ministros e dos Assuntos Parlamentares: - O Sr. Deputado, na sua… (os Srs. Deputados do MPD podiam me deixar falar?) O Sr. Deputado Mário Silva acusou o Governo de covardia, quando diz que o Governo está a fugir ao confronto político, com a apresentação do argumento. Foram as palavras do Sr. Deputado: “O Governo está a fugir ao confronto político aqui no Parlamento”. Foge, quem é covarde. Portanto, isto é uma ofensa.

Risos da Bancada do MPD.

Sendo uma ofensa, penso que, enquanto membro do Governo, uma vez que ele fez essa consideração na sequência do meu esclarecimento, tenho o

147 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010 direito, como membro do Governo, de reagir em nome do Governo, Sr. Presidente.

Sr. Presidente: - Passei a palavra à Sra. Ministra para responder.

Sra. Ministra da Presidência do Conselho de Ministros e dos Assuntos Parlamentares: - Sr. Deputado, como o senhor referiu-se à eventual subalternização do Parlamento, queria, antes de mais, reiterar o profundo respeito que o Governo de Cabo Verde tem pelo Parlamento de Cabo Verde e por todos os Srs. Deputados. Portanto, nunca foi nesta perspectiva que trouxemos aqui esse pedido de autorização legislativa. O que referi, em resposta ao Sr. Deputado Rui Figueiredo Soares, é que foi uma opção legislativa, Sr. Deputado. E percebo que o senhor diga que, pela natureza e pela complexidade, do seu ponto de vista enquanto Deputado, legitimamente, que se trouxesse essa proposta de lei do sistema educativo para a sua discussão aqui nesta Casa Parlamentar. Mas referi-lhe que, compreendendo os argumentos da Vossa Bancada, mais concretamente do Sr. Deputado Rui Figueiredo Soares, é uma possibilidade que é dada ao Governo e este entendeu fazer uso dessa possibilidade que constitucionalmente nos é dada. Aqui terei de ser frontal consigo uma vez que o senhor me acusou de estar a fugir ao confronto político. Sr. Deputado, nós aqui estamos todos os dias em confrontos políticos. Temos sessões plenárias no final de cada mês. Eu, como Ministra de Assuntos Parlamentares e como fui eu que fiz essa intervenção e o senhor entendeu dizer-me que não percebeu a argumentação, que ficou perplexo, também, seguindo a sua confissão (o senhor me confessou essa perplexidade), confesso-lhe também que, enquanto Ministra de Assuntos Parlamentares, estou perplexa que o senhor considere estranho que o Governo use uma prerrogativa que a própria Constituição lhe dá. Tenho também de lhe dizer que estou perplexa! Então a Constituição me dá a possibilidade de pedir autorização legislativa para legislar sobre as bases do sistema educativo e eu, como o Governo, respeitando a Constituição vigente no País, que é a lei mãe, uso essa possibilidade e o senhor vem me dizer que não percebe o meu argumento!? Como jurista que o senhor é e eu também sou!? Também manifesto a minha perplexidade e faço questão de dizer, Sr. Deputado, em nome do Governo e como Ministra da Presidência de Conselho de Ministros, devo dizer-lhe e o senhor sabe disso que eu nunca fugi a nenhum confronto político aqui no Parlamento. Estou disposta a reconhecer quando não tiver razão, aberta e frontalmente, creio eu que estamos aqui todos a trabalhar para o povo, mas, neste caso em concreto não concordo com a sua posição. Também penso que, antes de me acusar de estar a querer fugir do confronto político, poderia ter ponderado melhor. Também, não aceito, definitivamente, a crítica ou o argumento de que possamos estar a não valorizar suficientemente o papel dos Deputados e do Parlamento. Essa não é a intenção do Governo de Cabo Verde.

Sr. Presidente: - Tenho mais alguns inscritos. Sr. Deputado António Monteiro, há bocado eu não tinha perguntado para que fim desejava a palavra.

148 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Sr. Deputado António Monteiro (UCID): - Para uma intervenção.

Sr. Presidente: - Fica inscrito. Tenho, para esclarecimentos… um momento.

Protestos da Bancada do MPD.

Claro! Evidente! Há o nº2 e há esclarecimentos. Estou apenas a fazer a recapitulação. O Sr. Deputado Mário Silva tem a palavra e depois, para esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Humberto Cardoso e o Sr. Deputado Rui Figueiredo. Faça o favor.

Sr. Deputado Mário Silva (MPD): - Era para dizer à Sra. Ministra o seguinte: tomou a questão como pessoal. Eu disse que o Governo está a fugir ao confronto político. Isto não é covardia. No entanto, se diz… Sra. Ministra, vou também usar a mesma arma. A senhora não tem que aceitar ou deixar de aceitar; tem que ouvir. Tem que ouvir! A verdade é que o Governo está a fugir ao confronto político parlamentar e o argumento apresentado não convence ninguém. Isto não é ofensa! Pela primeira vez, desde que sou Deputado, alguém usa o 114º [contra mim] de uma forma que se vê claramente que não tem argumento para tal. Volto a dizer mais: é uma subalternização do Parlamento sim, senhor.

[Ouviu-se uma voz de um Deputado da Bancada do PAICV a dizer: “Não é! Não é!”]

É! É! Sr. Presidente, gostaria que mandasse a outra Bancada, como faz com a nossa Bancada, que escutasse. Use a mesma arma! Estou à espera que use a mesma arma. Como eu estava a dizer, é uma forma de subalternização do Parlamento. É a minha opinião. Pela primeira vez…, 1990, 1999, o diploma foi cá discutido e agora o Governo foge ao debate político parlamentar. Não é uma ofensa; é uma constatação. Mais uma coisa, só para lhe dizer que nestas coisas vou usar o mesmo argumento: nesta Bancada estão Deputados; não estão juristas. Eu nunca invoquei a minha qualidade de jurista e que ninguém me venha invocar a qualidade de jurista porque não me toca o coração.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Fernando Elísio, ouvi o que disse. Peço ao Sr. Deputado que cumpra o respeito que deve ter por toda a gente porque quem dirige o Parlamento sou eu. O Deputado pode estar de acordo ou não estar de acordo. O momento em que chamo atenção das pessoas, depende do meu critério, que pode não coincidir com o seu critério, Sr. Deputado. Portanto, não é necessário que o senhor esteja constantemente a chamar atenção à Mesa. O Sr. Deputado deseja a palavra para que fim?

149 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Sr. Deputado Fernando Elísio (MPD): - Para interpelar a Mesa, Sr. Presidente.

Sr. Presidente: - Faça o favor. Quero apenas lembrar ao Sr. Deputado que a interpelação à Mesa é uma figura regimental que está devidamente regulada no texto que tem à sua frente, que diz: “O Deputado pode interpelar a Mesa quando tenha dúvidas sobre as decisões desta ou a orientação dos trabalhos”. Faça o favor.

Sr. Deputado Fernando Elísio (MPD): - Enquanto Líder do Grupo Parlamentar do MPD, estou com muitas dúvidas sobre a imparcialidade do Sr. Presidente na condução dos trabalhos. Estou a interpelar, Sr. Presidente, deixe-me terminar.

Sr. Presidente: - Faça o favor de argumentar.

Sr. Deputado Fernando Elísio (MPD): - Porque hoje de manhã, da forma como reagiu em relação a um Deputado nosso, da forma como reagiu várias vezes, por exemplo, em relação ao Sr. Deputado Mário Fernandes; hoje, mais uma vez, recorrentemente, o Deputado Mário Silva estava a falar, um Deputado do PAICV estava a responder em voz alta, do outro lado, o Sr. Presidente não o chamou atenção. Enquanto Líder Parlamentar do MPD, disse-lhe: “É por essas razões que falha”. Porquê? Porque chama atenção a uns e não chama a outros. É isto que está em causa. E eu, como Líder Parlamentar, em representação do meu grupo parlamentar, considero que o Sr. Presidente está a ser parcial na condução dos trabalhos.

Aplausos da Bancada do MPD.

Sr. Presidente: - O Sr. Deputado começou por dizer que tinha dúvidas. No fim, afirmou. Portanto, o Sr. Deputado abusou de uma figura regimental. Mas, devo dizer ao Sr. Deputado o seguinte: tenho o maior respeito por todos e cada um dos Deputados.

Protestos do Sr. Deputado Mário Fernandes (MPD).

Srs. Deputados, estão a ver?! Estão a ver o Sr. Deputado Mário Fernandes a interromper a Mesa? Depois reclamam o respeito. O Deputado usa da palavra quando ela lhe for concedida. Sei muito bem que há quem tenha instruções para tentar provocar a Mesa, mas a Mesa não se deixa provocar. Devo dizer o seguinte: compreendo que os líderes parlamentares tenham uma lógica muito própria de defesa dos interesses da sua Bancada e respeito. A lógica do Presidente é defender a Casa Parlamentar e todos os Deputados, procurando garantir o equilíbrio. Vejo que nem sempre é fácil, sobretudo quando as pessoas desrespeitam os colegas e desrespeitam a Mesa.

150 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Não é verdade que eu tenha sido parcial. Se há razões que o Sr. Deputado parece querer dizer que tem, também ainda ontem chamei a atenção ao Líder do PAICV e ele referiu-se à questão da mesma forma. Não é verdade que alguém nesta Mesa seja parcial e não tenha conhecimento do seu trabalho. O que gostaria de pedir aos Srs. Deputados é que tivessem em conta que este trabalho que se está a fazer é para a melhor condução dos trabalhos para que todos possam expressar a sua opinião livremente. Não posso aceitar a tentativa de legitimar desrespeitos que outros sujeitos têm em relação ao Parlamento e nem de defender desrespeitos. Isso pessoalmente não vou tolerar. Tenho elevado sentido do meu dever e de certeza que as pessoas que acompanham este Parlamento sabem disso. Por isso, gostaria de pedir aos Srs. Deputados que não insistissem nessa via porque eu não vou permitir. Sr. Deputado Miguel Costa, deseja a palavra para que efeito?

Sr. Deputado Miguel Costa (PAICV): - Para esclarecimento.

Sr. Presidente: - Fica inscrito, Sr. Deputado. Sr. Deputado Rui Semedo, deseja a palavra para que efeito?

[Não se ouviu a resposta do referido Deputado.]

Tem a palavra o Sr. Deputado Humberto Cardoso, para esclarecimento.

Sr. Deputado Humberto Cardoso (MPD): - Na sequência da intervenção da Sra. Ministra da Presidência, nós não podemos…, mesmo com ela a dizer que é por causa da dinâmica do Governo é que se vai avançar com esse pedido de autorização legislativa para o Governo legislar basicamente sozinho sobre uma questão que é estruturante e que diz respeito a todos os cabo-verdianos e de uma forma como é a educação, um caso muito específico, não deixa de resultar, na prática, de facto, na subalternização do Parlamento com o suporte da Maioria, porque isso não seria possível sem o apoio da Maioria do PAICV. Nesse aspecto, os argumentos de socialização podem ser todo o processo do Governo tomar as suas decisões ou definir as suas políticas. Não tem nada a ver com a forma como na República se legitima o exercício do poder. Aqui passa pelos órgãos. E essas matérias de sistema de educação, como em toda a prática, são matérias estruturantes, com efeito nas gerações de cabo-verdianos (cabo-verdianos de hoje e de amanhã). Em Portugal, só para lhe dar um exemplo, o Presidente Sampaio vetou uma lei de bases aprovada pela maioria no Parlamento, precisamente porque não tinha o acordo dos outros partidos. Pela natureza da educação houve um veto político a uma lei passada pela maioria no Parlamento, em Portugal. Isso para termos uma ideia da importância do sistema educativo, que, para já, a própria Constituição, em pelo menos três artigos prioriza (da liberdade de ensinar, do direito das famílias, em relação às crianças e aos jovens). De maneira que o Governo, quando faz isso, tem os seus objectivos. E um dos seus objectivos, aparentemente escondidos, depois de todas essas

151 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010 razões, está na razão 15ª na apresentação da lei. Há a razão de fundo que é trazer o crioulo para a porta do quintal. Como não consegue fazer a oficialização da língua via mudança constitucional, vai introduzir o crioulo no ensino. É isso que o Governo já legislou sozinho em decreto-lei com o ALUPEC, em termos da forma de escrita do crioulo e agora o Governo quer outra vez legislar sozinho e introduzir o crioulo no sistema de ensino cabo-verdiano, com todas as consequências que devia saber porque sabe da experiência de Madagáscar, de outras experiências do Mundo o que é que aconteceu nessas situações. O Governo, irresponsavelmente, passando por cima de tudo o que vem sendo discutido na sociedade cabo-verdiana sobre esta matéria, dividindo o País (pela primeira vez na história de Cabo Verde o crioulo está a dividir os cabo-verdianos, pela culpa do Governo do PAICV…

Aplausos da Bancada do MPD.

E é por aí que está a 15ª razão. Está escondida! E é essa a razão pela qual o Governo quer legislar sozinho; não quer vir aqui ao Parlamento, sede cabo-verdiana, ver, observar, discutir, ver os estudos feitos, as experiências, analisar, ponderar essa situação. Uma situação que pode até provocar consequências nas gerações de cabo-verdianos. Isso é no mínimo uma irresponsabilidade impressionante.

Sr. Presidente: - Só para poderem compreender o seguinte: a Sra. Ministra interveio e está-se agora a fazer esclarecimentos em relação à sua intervenção. Portanto, poderá no final também replicar. Depois passaremos, obviamente, às intervenções. É sempre este o procedimento. Há um último pedido de esclarecimento, que é o do Sr. Deputado Rui Figueiredo.

Sr. Deputado Rui Figueiredo Soares (MPD): - Em relação às razões apresentadas pela Sra. Ministra para a opção do Governo, gostaria de perguntar se, tendo o Governo desde 2009 discutido essa questão com a sociedade civil no geral (e já se falou aqui dos principais operadores em relação a este diploma, tenho dificuldades em entender o que isso seja, porque somos nós os implicados e os interessados), para obviar questões que poderiam aqui aparecer naturalmente (tendo em conta até a prática desta Casa Parlamentar), não teria sido preferível também pedir um encontro pelo menos com a comissão especializada para discutir as grandes linhas do diploma que pretendia fazer? Parece-me estranho que no processo de produção legislativa, numa matéria de competência exclusiva, passível de autorização legislativa, [o Governo] esteja a discutir com toda a sociedade e, na recta final, no fundo, não discuta com os parlamentares. Haveria oportunidades e a possibilidade de se agendar aqui um debate sobre a reforma do sistema de ensino, por exemplo, trazer as grandes linhas, ouvir aquilo que os Deputados tinham a dizer e conferir, eventualmente, com os outros “interessados da sociedade civil”.

152 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Não me parece normal que o Governo só nesta recta final venha trazer uma questão de tão grande importância para não discutir com os Deputados. Não se pretende discutir! Não é certamente em uma hora que se vai discutir a Lei de Bases do Sistema do Ensino. Eu, como Deputado da Nação, sinto que deveria dar mais contribuições para aquilo que o Governo pretende fazer. Alerto de novo à Sra. Ministra e ao Governo em geral, que isto pode levar a soluções que não são as melhores, apesar de estarem discutidas (imagino que sim), até na Internet, com os ditos interessados, mas podem não coincidir com as melhores soluções. O processo legislativo poderá sobretudo demorar mais tempo do que demoraria, se tivesse aqui trazido, Se o diploma já está tão discutido, tragam- no ao Parlamento e permitam que os Deputados, no Plenário, na comissão especializada, discutam com o Governo e, certamente, como representantes do povo, teremos contribuições importantes a dar.

Sr. Presidente: - Tem a palavra a Sra. Ministra da Presidência.

Sra. Ministra da Presidência do Conselho de Ministros e dos Assuntos Parlamentares: - Sr. Deputado, já ouvi, novamente, a sua intervenção, com muita atenção e os argumentos que o senhor apresenta para estribar a sua posição de que efectivamente seria mais profícuo que o Governo trouxesse cá a Proposta de Lei de Bases do Sistema Educativo. Também registei com muito apreço que o senhor teria ou tem muitos subsídios para dar. O Governo agradece o Sr. Deputado e, como disse há pouco, estaremos atentos á esta sua observação e à da sua Bancada para trazer, futuramente e sempre que possível, as propostas de lei. Também, depois de ouvir a sua Bancada e em especial essa sua última intervenção, depois de lhe ter respondido que o Governo vai ter isso em devida consideração, devo lhe dizer, Sr. Deputado, que fiquei muito satisfeita, como Governo e como cidadã, por ver esses vários subsídios e contributos que o senhor poderá dar, mas penso também que aqui temos de ser um pouco frontais. O grupo parlamentar também pode ter iniciativa legislativa. Portanto, o Grupo Parlamentar do MPD pode propor. Não quer dizer que eu esteja a sugerir isso. No entanto, se tem tantos subsídios assim e o Governo tem em consideração esses subsídios, no futuro teremos toda a atenção nesse aspecto. O Governo também tem competência para legislar, mas o Grupo Parlamentar do MPD também pode legislar sobre a Lei de Bases do Sistema Educativo. O grupo parlamentar tem legitimidade para dizer a esta Casa Parlamentar se tem de facto todos esses subsídios para legislar. Estou a dizer isto, muito sincera e francamente, Sr. Deputado, com todo o respeito, porque penso que isto está consagrado na Constituição; essa competência dos grupos parlamentares, em especial, neste caso, o Grupo Parlamentar do MPD, pelas argumentações que apresentaram. Portanto, não percebo. Teria isso em devida consideração e teria de fazer, naturalmente, essa afirmação.

153 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Sobre a questão do crioulo levantada pelo Sr. Deputado Humberto Cardoso, penso que o Sr. Secretário de Estado já terá pedido a palavra para dar os esclarecimentos necessários.

Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado José Manuel Andrade.

Sr. Deputado José Manuel Andrade (PAICV): - Ainda é para esclarecimentos? Estamos ainda no período de esclarecimentos?

Sr. Presidente: - Os esclarecimentos foram em relação à intervenção da Sra. Ministra da Presidência. Ela já terminou. Portanto, tem de ser imediatamente o pedido de esclarecimento, de maneira que o Sr. Deputado já estava inscrito há bastante tempo. Pode usar da palavra para uma intervenção.

Sr. Deputado José Manuel Andrade (PAICV): - Era para me posicionar um pouco sobre esta discussão, sendo verdade que a Assembleia Nacional é a instância por excelência legislativa, não é menos certo também que, nos termos da Constituição, se confere ao Governo competência para legislar. Há aqui neste debate um entendimento (afinal estamos em democracia) de como as coisas devem acontecer e processar. Isto é uma opinião expendida aqui, que uma larga maioria dos Deputados do MPD se posiciona num determinado sentido formal e neste caso até debatendo sobre uma questão prévia. Porque o que temos entre-mãos é uma proposta de lei de autorização legislativa, sobre uma matéria em relação à qual há muita coisa importante e boa a decidir para o País. Mas, o processo legislativo, neste caso concreto, depende da opção do proponente.. Como bem disse a Sra. Ministra da Presidência do Conselho de Ministros (penso que o mais razoável é isso), quando o Governo traz uma proposta de autorização legislativa e já o fez várias vezes, designadamente com importância muito grande na sociedade cabo-verdiana… Já discutimos aqui a autorização legislativa para legislar sobre o código penal, sobre o código do processo penal, são matérias de suma importância e de grande impacto na sociedade, sobre os cidadãos, mas também vieram sobre a autorização legislativa. Houve um intenso debate aqui, material de substância, sobre o conteúdo dos diplomas sujeitos à autorização legislativa. Temos essa oportunidade agora, com relação a este diploma, de tecer as nossas considerações e nos posicionarmos em relação às opções que estão contidas na proposta de autorização legislativa para o Governo rever o sistema educativo. É sobre isso que penso que deveríamos debruçar-nos para podermos tomar posição e permitir que o Governo confira ao País uma Lei de Bases do Sistema Educativo consonante com as exigências actuais e com as perspectivas que Cabo Verde vem acompanhando no seu processo de desenvolvimento e de transformação. Respeitando a opinião contrária, julgo que de outro lado, há de se entender que esta opção do Governo é legítima à luz da Constituição, sendo certo que se pode sempre fazer o confronto político, a partir do debate sobre este diploma de autorização legislativa em concreto. Existindo esta proposta de autorização legislativa neste Parlamento desde 18 de Novembro, que deu a entrada, em tendo opções alternativas

154 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010 diferentes das que estão contidas neste diploma, poder-se-ia, qualquer Sujeito Parlamentar, apresentar as suas opções alternativas. É este o debate político que é necessário fazer neste Parlamento! De trazer as opções de substância para a política do sistema educativo que cada um entende para o País. O confronto político estará aí, com as opções alternativas. E essas não existem. Estão aqui contidas as opções para esta revisão da Lei de Bases do Sistema Educativo e estão, de facto, no projecto/diploma que toda a gente já sabe que está no site e que pode ser adquirido e pode-se perfeitamente tomar posições de substância em relação às opções aí contidas. Respeitando a opinião contrária, em democracia, cumprindo com os ditames constitucionais, penso que cada um se posiciona em relação às questões fundamentais para o País. Esta foi uma opção legítima, assim como é legítimo o entendimento que poderia ser de outra forma. Temos que ir para a frente!

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Mário Silva, deseja a palavra para que efeito?

Sr. Deputado Mário Silva (MPD): - Era para dar um esclarecimento, mas prescindo.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Rui Soares, deseja a palavra para que efeito?

Sr. Deputado Rui Figueiredo Soares (MPD): - Para prestar um esclarecimento.

Sr. Presidente: - Faça o favor.

Sr. Deputado Rui Figueiredo Soares (MPD): - Sr. Presidente, vou ser curto. Em relação às opções, o Governo tem toda a possibilidade e até a permissão constitucional para a opção que tomou. Estamos aqui a tentar demonstrar ou, pelo menos, pedir ao Governo que venha discutir com os Deputados. A questão do site, a que se referiu o Sr. Deputado José Manuel Andrade, já está esclarecida, espero bem, pela Sra. Ministra da Presidência, mas parece-me que as opções devem ser tomadas. O Governo tomou a sua, o Grupo Parlamentar do PAICV ao que parece toma a sua e o Grupo Parlamentar do MPD vai tomar a sua. A Sra. Ministra será obrigada a voltar ao Parlamento para discutir o decreto legislativo. Iremos evocar aqui nesta Assembleia Nacional…

Aplausos da Bancada do MPD.

… e será obrigada a vir cá discutir em, substância, com os representantes do povo.

Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Secretário de Estado.

155 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Sr. Secretário de Estado da Educação, Octávio Tavares: -

Sr. Presidente; Srs. Membros da Mesa; Srs. Membros do Governo; Srs. Deputados:

Queria dizer que registámos, com muita atenção, as várias intervenções havidas, as preocupações dos Srs. Deputados e também os esclarecimentos que foram sendo sucessivamente aqui prestados. Gostaria de dizer mais uma vez, embora esteja a repetir que, de facto, haveria estas duas possibilidades: ou vir discutir a lei aqui na Assembleia Nacional ou vir pedir a esta mesma Assembleia autorização legislativa para rever a Lei de Bases do Sistema Educativo. É uma lei de 1990, como aqui também já foi referido, com uma alteração muito ligeira em 1999. É uma lei que, apesar de estar próximo de completar 20 anos de vigência, ainda na sua estrutura fundamental, continua válida. Por isso mesmo é que não estamos a pedir a autorização legislativa para elaborar uma nova lei de bases, mas sim para a rever tendo em conta o estado de desenvolvimento de Cabo Verde neste momento e também as várias medidas que estão sendo implementadas no sistema educativo cabo-verdiano, aliás, medidas essas que alguns Deputados desta Casa Parlamentar vinham sempre reclamando da sua não conformidade com a actual Lei de Bases do Sistema Educativo. Por isso, a necessidade da sua revisão e como disse, compreendendo os argumentos que aqui foram avançados, o Governo pede a compreensão e colaboração dos Deputados no sentido de nos dar essa autorização legislativa para alterar a lei. É claro que, quando a proposta é colocada no site do Governo, isso mais não demonstra toda a disponibilidade do Governo em discutir com a sociedade, com os políticos e com todos, não significando com isso que se queira dizer que os Sr. Deputados teriam a oportunidade de dar as suas contribuições através do site. Não foi esse o pensamento, nem de perto nem de longe. O que o Governo quis, de facto, foi mostrar que tinha esse sentido de responsabilidade, que deveria colocar a proposta acessível a todos quantos quisessem e pudessem dar alguma contribuição. Ainda essa contribuição é aguardada por toda a sociedade para que se possa ter a melhor lei de bases possível. De maneira que, foi essa a razão que levou o Governo a tomar essa iniciativa para a qual queria aqui aproveitar para, em nome também do Governo, pedir a compreensão desta Assembleia e pedir a vossa colaboração no sentido de permitir que essa lei seja alterada para que ela venha a conformar-se com a realidade actual vivida pela sociedade, mas também no próprio sistema educativo. Devo dizer que o Governo, ao longo de 2009, aprovou uma revisão curricular cujo projecto vinha de há muitos anos. Portanto, a aparente contradição que possa existir entre a revisão curricular e a proposta de lei de autorização para rever a lei de bases, é normal se considerarmos que uma Lei de Bases do Sistema Educativo tem que ser muito mais avançada do que uma revisão curricular.

156 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Naturalmente que estamos aqui neste momento a rever uma lei que está a fazer 20 anos e portanto, a revisão que se irá fazer poderá também vir a permitir ao País dispor de uma lei de bases que poderá estar em vigor para mais cinco, para mais 10, para mais 15 ou até para mais 20 anos. De maneira que, ela, de facto, tem que ser uma lei muito mais avançada do que essa da revisão curricular aprovada. Queria dizer também que a questão que aqui foi colocada e que tem a ver com a redução de carga horária em certas disciplinas, poderemos ter entendido através da proposta apresentada, que se sugere uma reconfiguração do sistema educativo permitindo também que haja uma reconfiguração no sistema de docência, o que irá permitir com certeza aos professores no subsistema do ensino básico dispor de muito mais tempo para se preparar, por exemplo, a leccionação de uma determinada disciplina ou área curricular de onde a garantia de mais qualidade em certas áreas disciplinares ou em certas matérias também possa estar garantida através do regime de docência. Queria também dizer aqui que a questão da introdução da língua materna cabo-verdiana - o Crioulo -, que aqui foi referido pelo Sr. Deputado Humberto Cardoso, que a razão estaria no número 15. Devo dizer-lhe, muito sinceramente, que na altura em que esta proposta de autorização para rever a lei de bases foi preparada e aprovada, não se tinha ainda acordado os parâmetros da revisão constitucional. Nessa altura, era pensável que talvez fosse possível, na revisão constitucional, incluir-se a questão da língua materna cabo-verdiana e portanto, por ter sido um diploma que antecedeu o próprio acordo posteriormente chegado para a revisão da Constituição, permitiu que esta norma aparecesse aqui. É esta a razão porque ela aparece ainda no número 15. Não tem nada a ver com a interpretação. Podia também ter dado essa interpretação e deu-a, mas não tem absolutamente nada a ver com a interpretação que o Sr. Deputado deu. É essa a razão de fundo e a razão clara que lhe deixo aqui para ainda constar no diploma, embora eu também, nesses dias, ao ler a Constituição em relação às línguas oficiais pudesse ainda ter alguma dúvida sobre o quê que em sede de revisão da Lei de Bases do Sistema Educativo se poderia avançar ou não. Mas essa é uma discussão que poderá ser feita aquando da discussão na especialidade do diploma. Portanto, em linhas gerais, são esses os argumentos que, de facto, justificaram a opção do Governo em trazer o pedido de autorização legislativa à Assembleia, não por pretender fugir ao debate político porque este debate está a ser feito, pode também ser feito durante a discussão da proposta de lei, portanto, não há nenhuma razão, pelo menos da nossa parte, para que o Governo quisesse fugir a um debate político ou a um eventual confronto político com os Deputados. Aliás, este Governo tem todo o respeito por este Parlamento e entende que tem a confiança desse Parlamento e, havendo uma confiança recíproca não haveria como fugir ao debate político em sede da revisão da Lei de Bases do Sistema Educativo.

Sr. Presidente: - Para o normal andamento dos nossos trabalhos, queria dizer que a Sra. Ministra pode intervir quando quiser. Pode manifestar-

157 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010 se ou falar no fim. Quando quiser terá a palavra nos termos do Regimento, do agendamento e do jogo das alternâncias. Sr. Deputado Humberto Cardoso, deseja a palavra para que efeito?

[Não se ouviu a resposta do referido Deputado.]

O esclarecimento tem prioridade. Faça o favor.

Sr. Deputado Humberto Cardoso (MPD): - Das palavras do Sr. Secretário da Educação, posso retirar a ideia de que o Governo, de facto, não vai instituir o crioulo como língua do sistema de ensino. Porque o que se passa com esse número 15 é que se tem a impressão que diz “afirmação da escrita da língua nacional cabo-verdiana enquanto primeira língua de comunicação oral criando as condições para a sua padronização no sistema de ensino/aprendizagem, tendo em conta o processo da sua oficialização”. O que isso está a sugerir é que, padronizando o uso da língua, em termos da escrita e naturalmente oral, no sistema de ensino, porque a nível do sistema de ensino não vamos falar dos crioulos das várias línguas, ia-se padronizar a escrita que já está no ALUPEC. O Governo unilateralmente usou a sua prerrogativa legislativa (há quem discuta que tenha competência para fazer isso, mas de qualquer forma usou da prerrogativa) e, através do decreto- lei avançou com o ALUPEC. Padronizou em termos de escrita via um decreto- lei. Ir-se-ia fazer, via o sistema de ensino, a padronização da língua (já não é só a escrita, mas naturalmente a língua falada e culturalmente escrita) a introdução de uma língua no sistema de ensino, sem que a língua estivesse oficializada. Isto tem correspondência pelo menos no artigo 2º e na questão do nº 4 … O nº 4 também tem sequência, tem a tradução em termos de especialidade de uso da língua no sistema de ensino cabo-verdiano, no ensino primário particularmente. Penso que o Governo não desconhece como é que esta matéria já polarizou as opiniões em Cabo Verde. O Governo não desconhece que esta é uma matéria controversa em todo o lado. Em Uaruba, Suriname, Coração, Madagáscar tem uma experiência desastrosa nessa matéria e noutras partes do mundo a questão do ensino bilingue e a introdução dessas línguas maternas. De maneira que se o Governo não desconhecendo isso, opta por legislar sozinho, à parte da sociedade, é uma coisa que não podemos aceitar. E o Parlamento (aqui digo a Maioria do PAICV) deve assumir as suas responsabilidades. Porque a Maioria não é simplesmente para apoiar o Governo em tudo. Há este Parlamento, há esta República que temos que respeitar e fazer as instituições funcionarem. Há um exemplo claro do (Imperceptível) do sistema constitucional como o nosso que é o Português em que o Presidente da República… e aqui pedimos também ao Presidente da República para vetar a lei do Governo demonstrando que essas matérias que dizem respeito à Nação da forma como a educação é essencial (a educação universal foi introduzida com a ideia da República) de extrema importância e que o Governo não deve avançar sozinho e por trás da sociedade e da opinião do cabo-verdiano. O Presidente da República deve vetar essa revisão da Lei de Bases da Educação.

158 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Sr. Presidente: - Sr. Deputado David Almada, deseja a palavra para que efeito?

[Não se ouviu a resposta do referido Deputado.]

Fica inscrito. A Sra. Ministra deseja intervir sobre este assunto?

Sra. Ministra da Educação e Ensino Superior: - Não. Pode continuar com as intervenções, depois…

Sr. Presidente: - O Sr. Secretário de Estado é que deu origem ao esclarecimento, portanto ele é que, neste momento, pode replicar. Faça o favor. A Sra. Ministra fica inscrita.

Sr. Secretário de Estado da Educação: -

Sr. Presidente, Srs. Deputados:

Queria dizer ao Sr. Deputado Humberto Cardoso que tenho muita consideração por aquilo que diz, não o que disse hoje, mas o que diz sempre. Para lhe dizer que penso que alcançou a profundidade da sinceridade com que fiz a intervenção. Expliquei a questão da língua materna cabo-verdiana na proposta de lei. Expliquei porque a proposta é anterior ao memorando assinado que não incluiu a questão da língua cabo-verdiana na Constituição e deve estar claro para si que o Governo nunca poderia legislar em contrário ao que estabelece a Constituição em relação a esta matéria e portanto o Governo só iria legislar em conformidade com o que vem, de facto, na Constituição. A Constituição, por acaso, fala em línguas oficiais no seu artigo nono considerando que todos os cidadãos nacionais têm o dever de conhecer as línguas oficiais e o direito de usá-las. Até onde se pode ir com base na Constituição é uma discussão a fazer- se. Mas a verdade é essa. É que o Governo nunca iria produzir uma legislação contrária ao que vem estabelecido na Constituição. Em relação à questão do ALUPEC que se referiu, como sabe, a questão não é de hoje. Esta questão não é de 2009. Se não estou em erro, é uma questão que vem já desde 1998, se a memória não me trai. A questão do ALUPEC não é uma questão recente, portanto, não se pode vir dizer aqui que o Governo legislou unilateralmente em relação ao ALUPEC. Porque estaríamos a não valorizar o que o então governo de 1998 legislou em relação ao ALUPEC. São esses os esclarecimentos que queria prestar em relação ao ALUPEC e em relação à questão da língua materna cabo-verdiana.

Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado António Monteiro. A seguir, tem a palavra a Sra. Deputada Filomena Delgado.

159 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Sr. Deputado António Monteiro (UCID): -

Sr. Presidente; Sra. Ministra:

De facto, já ouvimos aqui hoje muito debate acerca desta Lei de Bases da Educação e gostaríamos também de dar a nossa contribuição. Para dizer que o País só conseguirá atingir os objectivos que estamos à procura no futuro se tivermos uma lei educacional que permita à sua população ou ao povo cabo- verdiano continuar a ter mais e melhores conhecimentos, mais e melhores infra-estruturas. E para dizer que uma Lei de Base da Educação é algo extremamente complexo e que exige, de facto, um debate político com toda a profundidade necessária. Não é que queremos retirar essa possibilidade que a lei dá a prerrogativa ao Governo de também apresentar esta lei. Não queremos fazer isso. O que queremos chamar a atenção é para a complexidade da lei e para a envolvência dos políticos que foram eleitos neste País para debater as questões de fundo que dizem respeito ao futuro deste País. Gostaríamos de ver, de facto, aqui no Parlamento, esta discussão a ter lugar tendo em conta segundo o que já se disse, que a lei está pronta (não tenho conhecimento porque não visitei o site do Ministério). Até porque há questões que penso que deveriam ser aqui analisadas. Por exemplo a questão do ensino profissional. Vejo aqui, nessa autorização legislativa que se pede, essa questão falada muito ao de leve e é a posição da UCID que o ensino profissional de Cabo Verde deve ser analisado de uma forma profunda. Temos exemplos da Escola Técnica de São Vicente que deu o fruto que deu a este País, que deu a contribuição para o desenvolvimento deste País e penso que, com esta oportunidade de termos uma nova Lei de Bases do Sistema Educativo pudéssemos aprofundar e apresentar à própria Nação um outro figurino para o ensino profissional e isso, do meu ponto de vista, não está muito bem apresentado neste diploma. De forma que, quero pedir ao Governo, na pessoa da Sra. Ministra, para ver se esse diploma possa vir à nossa Casa parlamentar e discutirmos independentemente de ter sido já socializado com os profissionais da área e os Sindicatos.

Sr. Presidente: - Tem a palavra a Sra. Deputada Filomena Delgado. para uma intervenção.

Sra. Deputada Filomena Delgado (MPD): - Vinte anos depois da sua aprovação e 10 anos após a primeira revisão, Cabo Verde precisa de uma nova Lei de Bases do Sistema Educativo que responda às necessidades de desenvolvimento e seja factor de competitividade da nossa economia. A importância e a relevância da Lei de Bases do Sistema Educativo justificam a sua discussão e aprovação pelo Parlamento com a participação de todos os Sujeitos Parlamentares. A opção do Governo pelo pedido da autorização legislativa impede que os Sujeitos Parlamentares dêem a sua contribuição para o novo sistema educativo.

160 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Considerando que o projecto do Decreto legislativo que altera a Lei de Bases do Sistema Educativo está há vários meses no site do Governo, pensamos que seria mais avisado - à semelhança do que aconteceu em 1990, altura da elaboração da lei e da primeira revisão de 1999 - a sua aprovação pelo Parlamento. É de ter em conta que o Governo, pelo menos duas vezes, desrespeitou a Lei de Bases do Sistema Educativo em vigor. O Plano de estudo já publicado tem como pressuposto alterações à lei de bases ainda não efectuadas. E, há vários anos, o Governo ao passar o acesso ao ensino secundário técnico, do nono para o décimo primeiro ano, desrespeitou a mesma lei. Esta é a contradição que eu me referi há pouco, Sr. Secretário de Estado, e não à interpretação que fez. O anteprojecto do decreto legislativo que altera a Lei de Bases do Sistema Educativo não apresenta o sistema educativo que o País necessita. As alterações são mínimas e, apesar de alterar a estrutura do ensino básico por exemplo e do ensino secundário, mantém nos objectivos. Pensamos que devemos ir um pouco mais além. E o anteprojecto que está para a socialização, e já se falou aqui muito hoje de socialização, pensamos que não responde àquilo que o País precisa. Daí essa necessidade de se discutir, na Plenária do Parlamento, a nova Lei de Bases do Sistema Educativo. E é por isso que já reafirmamos aqui, em várias intervenções, a necessidade de se trazer ao Parlamento a Lei de Bases do Sistema Educativo e não a autorização. Pensamos que o anteprojecto que está no site não satisfaz. Não moderniza nada. Há pouco ouvi dizer que moderniza, não moderniza. As alterações são mínimas. Temos um trabalho comparativo da lei de 1990 com as alterações de 1999 e do anteprojecto e as alterações são mínimas. Em vários capítulos mantêm-se. O texto é igual. As alterações são muito ligeiras e podemos, em devido tempo, apontá-las. Por isso é que dizemos que não nos satisfaz o anteprojecto que está no site do Governo e pensámos que não se pode estar também a remeter os Deputados para o site do Governo.

Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Rui Semedo.

Sr. Deputado Rui Semedo (PAICV): - Sr. Presidente, a minha intervenção está relacionada com esta questão da autorização legislativa. O Parlamento, várias vezes, ao longo da sua história debateu e aprovou autorizações legislativas sobre diversas matérias tendo em conta que é uma possibilidade que a Constituição dá a este Sujeito Parlamentar, ao Governo para pedir autorização legislativa ao Parlamento que concede se estiver de acordo. Nesta matéria o Governo também tem legitimidade para legislar e não há dúvida que tenha. Claro que é uma lei importante, mas o Parlamento já deu também a autorização legislativa ao Governo sobre outras leis importantes e estruturantes para outras áreas designadamente para o sector da Justiça que é também um sector complexo e matérias complexas foram autorizadas para serem legisladas através do Governo. Não entendo o barulho que se faz como se estivesse a cometer uma violação à Constituição ou ao Regimento. E ouvindo a oposição através do

161 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

MPD fica-se com a percepção de que, neste momento, estamos a violar as normas desta Casa. Não se está a violar nem a Constituição, nem o Regimento e estamos a agir de acordo com a Constituição e com a lei. Portanto, esta questão deve ficar clara que há esta possibilidade e se o legislador constitucional tomou uma posição de que esta matéria poderá ser legislada pelo Governo, através da autorização legislativa, não sei porque é que nós não poderemos cumprir a Constituição também nesta matéria. É claro que, se estivéssemos a discutir a lei aqui no Parlamento estaríamos também a cumprir a Constituição. Mas discutindo a autorização legislativa, estaremos a cumprir a Constituição, estaremos a cumprir as outras leis da República e estaremos a cumprir o Regimento desta Casa Parlamentar. Trouxeram o argumento de fuga ao debate. É claro que esta Maioria nunca fugiu ao debate porque esta Maioria debate sempre todas as matérias que forem necessárias aqui nesta Casa ou mesmo noutros espaços de debate, a Maioria discute perfeitamente essa questão. Entendi também como fuga ao debate desta matéria que vem nesta iniciativa de autorização legislativa, todo o expediente utilizado para impedir que o debate se procedesse aqui, nesta Casa, sobre a matéria constante da iniciativa da autorização legislativa.

Aplausos da Bancada do PAICV.

Houve uma fuga sim ao debate das matérias e temos a oportunidade de fazê-lo aqui ainda. O MPD vem nos dizer agora que devemos cancelar a iniciativa. Teve a oportunidade de fazer este pedido. Na altura da fixação da agenda, da Ordem do Dia, o MPD poderia ter dito: não estamos de acordo que esta iniciativa seja discutida nesta Sessão. Mas não disse nada. Fixámos a agenda, a Ordem do Dia e incluímos o debate desta iniciativa da autorização legislativa na agenda. Ninguém disse nada e depois da apresentação vêm nos dizer para cancelarmos a iniciativa. Isso também não é coerente e não deve ser feito. Vem dizer que há objectos não confessos. Penso que não faz sentido e esta ideia não deve fazer escola. Dizer que há sujeitos com ideias não confessas para legislar. Vem pedir autorização legislativa com ideias não confessas. Isso não é uma forma de tratar o Sujeito Parlamentar mas sim uma forma de o desrespeitar. Não devemos ir por este caminho porque não há, nunca houve e nem haverá objectos não confessos. Sabemos que sempre que se partir de uma autorização legislativa, se o sujeito fugir do âmbito da autorização que for dada há possibilidade dos outros sujeitos poderem pedir a discussão da iniciativa e corrigir. Há possibilidade dos outros sujeitos poderem pedir a discussão da iniciativa e corrigir sempre as anomalias que forem verificadas através da legislação que não terá, eventualmente, se o decreto legislativo não seguir o âmbito e a extensão fixada através da legislação que fixa a autorização legislativa. Portanto, essa questão também de objectivos não confesso, penso que deveremos pôr de lado porque é uma forma de desrespeitar, de desconfiar, de pôr em causa a seriedade dos outros sujeitos também. E quando não se acredita na seriedade dos outros dificilmente as questões poderão ser também levadas à sério porque ou somos todos sérios ou não somos. Não podemos dividir a Casa Parlamentar em pessoas sérias e pessoas não sérias. Penso

162 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010 que todos os Sujeitos são sérios, e suficientemente responsáveis e têm os seus objectivos. Aqui também o objectivo está tão claro que é de modernizar e adequar o sistema aos ventos modernos e às exigências tanto da sociedade, da modernidade como também dos sujeitos que executam ou implementam o sistema da educação. Os que exercem na educação, estou a falar dos professores, também vêem pedindo que se avance para esta via da reforma ou da alteração do estatuto ou da Lei de Base da Educação. Estamos também com um entendimento geral e nem o MPD conseguiu dizer que não é necessário. O MPD pediu sim que fosse discutida a questão aqui. Mas a questão poderá ser discutida aqui ou noutro espaço. Trás à liça a questão do crioulo. É claro que nenhuma lei de base poderá ir para além do que está fixado na Constituição. E o crioulo já é tratado e ensinado no sistema de ensino e há um comando constitucional que nos diz que deverão ser criadas as condições para que o crioulo seja oficializado. O MPD, na altura do debate para a revisão da Constituição, disse-nos que não deveríamos avançar para a revisão porque não estavam criadas as condições e estas deveriam ser criadas. Como é que as condições serão criadas sem que sejam implementadas todos os instrumentos que permitam criar essas condições que advêm do comando constitucional que diz que devem ser criadas as condições para a sua operacionalização? Os Deputados do MPD disseram aqui claramente que deveríamos ter o alfabeto, ensinar e ter a escrita e um conjunto de instrumentos para depois oficializar, mas agora vem dizer que não se deve fazer nada. Aqui, estamos a ver que quando é para oficializar não há condições, quando devem ser criadas as condições, não se devem criar as condições e ficamos aqui nesta corda bamba e neste jogo do gato e do rato e que mostra claramente que não há vontade política em relação a esta matéria. Em relação à exposição de iniciativa legislativa ou do estatuto através da Internet é tão normal neste mundo de hoje, de tecnologias modernas que o Governo utilize este instrumento de modernidade para permitir a comunicação com os cidadãos. Esta iniciativa deveria ser até elogiada porque o Governo disponibilizou já as propostas que tem para ser consultada pelos cidadãos para que os cidadãos reajam, avancem as propostas também que poderão ser levadas em conta no processo da legislação sobre a Lei de Bases da Educação. Penso que é tão normal o processo de socialização que pode ser com encontros, reuniões, debates e disponibilidade de informações nos meios de comunicação social, mas o MPD vem agora pôr em causa isso. Neste mundo moderno, as tecnologias de informação e comunicação têm que ser utilizadas e aqui não há crime nenhum em colocar estas propostas nos meios de comunicação ou na Internet. Isso demonstra, mais uma vez, uma boa fé. Demonstra a boa fé e a transparência do Governo. Demonstra que o Governo não veio e nem quis vir ao Parlamento pedir um cheque em branco. Para além da explicitação, do âmbito e da extensão do pedido de autorização legislativa, dispôs publicamente, e isso não é proibido porque o mandato que os Deputados têm advém do povo, que tem também a liberdade e a possibilidade de conhecer essas iniciativas e pode conhecer tanto antes, durante e depois dos Deputados. A qualquer momento o público pode

163 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010 conhecer essas iniciativas. E o MPD está a pôr em causa esta abertura para que o povo conheça as propostas que a Maioria tem. Isso não é normal. O Deputado Rui Soares diz que o Governo vai ser obrigado, vi quando encheu a boca aqui para dizer “obrigado”. O Governo, à luz da lei, da Constituição e do Regimento, a qualquer momento, pode ser chamado para vir ao Parlamento responder sobre as matérias que a lei. Portanto, não é essa a questão também do Governo vai ser obrigado. O Governo, naturalmente, sempre que chamado ao Parlamento, através do Presidente, da Mesa ou das comissões especializadas tem vindo sempre. O Governo não vinha no passado e há muitas matérias que não ficaram esclarecidas porque o Governo não quis vir às comissões especializadas. Mas hoje o Governo vem. A nossa democracia qualificou-se e o nosso Parlamento também qualificou-se mais. O que se faz hoje no Parlamento é muito mais avançado do que se fazia antes e é assim que tem que ser. Avançámos e hoje o Governo vem, responde prontamente, cumpre-se o Regimento, cumpre-se a Constituição.

Aplausos da Bancada do PAICV.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Rui Alberto Soares, deseja a palavra para que efeito?

Sr. Deputado Rui Figueiredo Soares (MPD): - Prestar um esclarecimento ao Sr. Líder Parlamentar.

Sr. Presidente: - Tem prioridade, faça o favor.

Sr. Deputado Rui Figueiredo Soares (MPD): - Vi os esforços que o Sr. Líder Parlamentar fez até para imitar “bocas cheias” e desejo-lhe sucessos neste caminho. Só para dizer que também vi os seus esforços, Sr. Líder Parlamentar, no sentido de distorcer aquilo que o Grupo Parlamentar do MPD disse. Nós não ousamos e nem poderia estar nas nossas intenções, dizer que o Governo não deveria discutir com toda a sociedade civil. Eu disse e repeti: discutiu-se já com a sociedade civil. Mas não entendemos que o Governo use a Internet, que ponha e que disponha, que chame pessoas, que faça reuniões de zona, que leve… é legítimo que não tenha feito com os Parlamentares, com os Deputados da Nação. Ninguém retirou, e parece-me que só o Sr. Líder Parlamentar ouviu aqui críticas do MPD ao facto do Governo ter feito. As críticas foram: o Governo fez esta parte, o Deputado Humberto Cardoso disse claramente, mas devia ter vindo aqui ao Parlamento. E fica a questão, Sr. Líder Parlamentar, à qual o senhor não respondeu. Se o Diploma já está pronto, tão transparente, tão discutido, se há um ano que se anda nesta roda-viva de discussão do diploma, não havia tempo para se trazer o diploma para este Parlamento? Não há aqui nenhuma questão de celeridade sequer. A questão é esta. O Sr. Líder Parlamentar deu voltas e voltas, fez as imitações que quis, mas não respondeu e continua a não responder à questão.

164 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Se o Governo já tem o Diploma praticamente pronto, e é isso que eu deduzo das intervenções das Sras. Ministras, e abre a boca para que se entenda bem a língua Portuguesa, deveria traze-lo ao Parlamento para o aprovarmos. Não é mais do que isso que estamos a discutir e a pedir ao Governo. Estaria ainda o Governo em tempo de o fazer? Certamente. Se já está praticamente pronto, poderíamos até poupar tempo na produção legislativa, no procedimento e todos sairíamos certamente a ganhar. É só um pedido que tem a ver com opções. O Sr. Líder Parlamentar escusa de dar voltas aqui em relação a outras coisas porque isto aqui não está em discussão.

Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Rui Semedo.

Sr. Deputado Rui Semedo (PAICV): - Sr. Deputado Rui Soares, em matéria de voltas, o Sr. Deputado me viu porque estivemos a dar voltas no mesmo círculo. Em relação ao Diploma pronto, o pedido de autorização legislativa é dado por um período de 60 dias. O Diploma está ainda a ser socializado, discutido e ainda nestes 60 dias poderão haver contribuições da sociedade cabo-verdiana. O Diploma só se fecha depois de receber e absorver todas as propostas que advém da sociedade. Ainda, depois da autorização legislativa, continua aberta o processo de receber propostas até que se feche o Diploma completamente. O Diploma não está totalmente pronto. Ele está em processo de construção e de consolidação e poderão ser recebidas ainda propostas. E temos entre-mãos uma autorização legislativa. O que não me disse também é que é normal o Parlamento autorizar o Governo para legislar sobre esta matéria. Se é normal, então pode ser feito normalmente sem que haja nenhum problema. Portanto, aí, Sr. Deputado, as voltas que foram dadas (eu vi as suas voltas), a imitação que fiz, há de convir comigo que esta expressão “obrigado” da forma como fez era uma expressão forte, mas de qualquer maneira, o normal é que temos a prerrogativa de conceder a autorização legislativa ou a possibilidade de conceder autorização legislativa ao Governo e estamos a conceder, através do Parlamento, espaço próprio, autorização ao Governo para legislar sobre esta matéria também importante, cumprindo a competência que tem também e cumpriremos a nossa competência que é aprovar a autorização legislativa.

Sr. Presidente: - Para esclarecimentos, tem a palavra a Sra. Ministra.

Sra. Ministra da Educação e Ensino Superior: -

Sr. Presidente; Srs. e Sras. Deputados; Sras. e Srs. Membros do Governo:

Se me permitem, com todo o respeito, que é muito, penso que a questão já está bem elucidada. Temos aqui duas opções em presença, ambas

165 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010 legítimas, válidas e o Governo trouxe aquela opção que se coadunou com o seu programa de trabalho. Estamos a falar da modernização de uma lei conhecida, de opções que têm estado a vir sendo materializadas, também a título experimental e parece- nos que o que se pede aqui, optar-se pela autorização legislativa, não é nada que efectivamente possa ferir a sensibilidade dos Sr. Deputados. E digo isso porquê? Porquê que se optou pela autorização legislativa? Como já dissemos, há uma densa agenda legislativa e devo dizer que a partir também da aprovação da revisão da Lei de Bases do Sistema de Ensino, naturalmente que decorrerá uma legislação complementar. Portanto, temos de trabalhar, a par e passo, para podermos, efectivamente estruturar, como todos aqui estão a desejar, todos os avanços e as modernizações que têm sido feitas no sistema de ensino. Ouvimos o Sr. Deputado António Monteiro a levantar problemas em relação ao ensino técnico. Está amplamente contemplado nesta revisão. Todos também temos conhecimento e apreço pela experiência da Escola Técnica do Mindelo e estamos a fazer o máximo possível de aproveitamento da reflexão que fazemos desta experiência, nesta lei. Também ouvimos a Sra. Deputada Filomena Delgado, dizer que poderia haver uma outra lei mais moderna, mais actual. Penso que nada impede que a Sra. Deputada Filomena Delgado ou o Grupo Parlamentar do MPD possa apresentar proposta de lei nesta matéria. Portanto, trazemos aquela que nos dá satisfação, que nos parece que corresponde às exigências de modernização e compatibilização do sistema de ensino que estamos a desenvolver em Cabo Verde. Temos tido, de todos os sectores, uma grande dinamização. Dos delegados, dos professores, dos coordenadores pedagógicos, dos gestores, todos os protagonistas do sistema de ensino estão amplamente empenhados nesta lei, nesta modernização e nesta revisão da lei que estamos a fazer. Então senhores, penso que, pondo as duas opções já expostas, já elucidadas, tanto é legitimo optarmos por uma como por outra porque nenhuma dessas opções cerceia a possibilidade de socialização da proposta. Penso que muito pouco teremos a acrescentar depois de tudo o que aqui já foi dito. De todo o modo, gostaria de dizer o seguinte: só nos incomoda que quando trazemos e justificamos porque é que trazemos uma proposta de autorização legislativa para a revisão da Lei de Bases, se venha de alguma forma com aquilo que chamamos de processo de intenções dizer que se está a pedir uma autorização para eventualmente fugir à discussão de algum ponto. Obviamente que a lei da autorização legislativa irá dar o âmbito e a extensão desta revisão e penso que por esta lei também os Srs. Deputados poderão fazer a limitação que pretenderem da adoptante do que vai ser esta futura lei. Também nos surpreende e nos choca um pouco algumas interpretações que se dão do facto do Governo, muito legitimamente, estar a exercer uma opção que lhe é concedida pela Constituição ao trazer aqui uma proposta efectivamente de autorização para a revisão da lei de base.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Fernando Robalo, deseja a palavra para que efeito?

166 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Sr. Deputado Fernando Robalo (PAICV): - Para uma intervenção, Sr. Presidente.

Sr. Presidente: - Tenho inscrito os seguintes Deputados: Clemente Garcia, Miguel Costa, João Medina, David Almada, Hermes Santos, Filomena Ribeiro e Fernando Robalo. Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Clemente Garcia.

Sr. Deputado Clemente Garcia (MPD): - Prescindo, Sr. Presidente.

Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Medina. Som para o Sr. Deputado que está na última fila. Pode trocar de lugar, por favor Sr. Deputado, se não se importa, para um lugar onde haja um micro a funcionar normalmente.

Sr. Deputado João Medina (MPD): - Não resta dúvidas a nenhum dos senhores titulares de órgãos de soberania que qualquer proposta de lei, sobretudo este pedido de autorização legislativa, seja respaldado pela nossa lei mãe que é a Constituição. Foi dito aqui, pelo Sr. Secretário de Estado em particular e especificamente, que a alínea 15 está cá no pressuposto de que a revisão constitucional daria cabimento e respaldo a este artigo. Eu poderia dizer que, quando se trata da lei mãe, não se pode pressupor que ela vai ser alterada e que a alteração vai consentir uma legislação diferente daquela que a própria Constituição consente. Mas dando o benefício da dúvida e até sendo benevolente, admito que, na presunção que essa alteração viesse a ser feita, consentindo este número 15, hoje todos sabemos que os consensos encontrados, não consentem qualquer alteração que dê respaldo e enquadramento a este número 15. Daí a minha pergunta: porque é que na apresentação duplamente feita deste pedido (primeiro pela Sra. Ministra, depois secundada pelo Sr. Secretário de Estado) não fizeram alusão a esse número 15 dizendo que esse número 15 caia e que o 16 avançava para 15? Porque, se aquilo que foi dito aqui, e acredito que é fiel a declaração daquilo que vai na ideia e em substância nesse diploma, na apresentação, minimamente, devia ter sido dito a esta Casa Parlamentar que este número 15 já não tem enquadramento. Mas não foi dito, antes pelo contrário, só se deu conta deste número 15 quando foi suscitado pelo Deputado Humberto Cardoso. De todo o modo, até agora, com toda essa discussão à volta dessa autorização legislativa, nenhum dos Membros do Governo aqui presentes nos disse que este número 15 sai e que o 16 avança para 15. Era só isso que queria trazer aqui à consideração de todos os Sujeitos Parlamentares. Neste momento, por aquilo que foi dito, o número 15 tem que sair e o 16 avança para 15. Porém, quem apresenta o diploma tem que o dizer.

Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Miguel Costa, para uma intervenção.

167 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Sr. Deputado Miguel Costa (PAICV): -

Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Colegas Deputados:

Na apresentação deste diploma foi dito que a Sra. Ministra, por três ou quatro vezes, utilizou a expressão socialização do documento. Isso é uma verdade. Depois veio um outro Deputado do MPD dizer que meio mundo já conhece o projecto, provavelmente não será meio mundo e vou explicar porquê. Devo dizer que já há um tempo, este diploma foi discutido com as associações de pais e encarregados de educação, com as associações de estudantes e debatido com os professores. O Governo disse e repetiu várias vezes que o diploma não está pronto e que pôs no site do Governo para exactamente receber subsídios de toda a população cabo-verdiana. E vou adiantar o seguinte: há poucos dias, a Comissão Especializada de Educação, Cultura, Juventude e Desporto esteve na ilha Brava e do programa constava exactamente debater com os professores o mesmo diploma. O que nos disseram foi o seguinte: Srs. Deputados, escusem de apresentar este projecto porque ele já foi apresentado, já discutimos e já apresentamos as nossas propostas. Portanto podemos discutir outras coisas. Para verem que, de facto, em termos de socialização nada poderia ter sido feito a mais, até porque o projecto continua ainda no site. De qualquer das formas, o Líder da minha Bancada, mais uma vez, já explicou essa questão, a Sra. Ministra também já tinha explicado, mas tenho que dizer novamente. Foi dito por um Deputado do MPD que o Governo está a subalternizar o Parlamento, outro disse que está a fugir ao debate político. O Governo tinha duas opções: (já foi dito e repetido, tenho que voltar a dizer) trazer a lei ou pedir autorização legislativa. Nada mais do que isso. E isso está na Constituição. Não sei qual é a preocupação que os Deputados do MPD têm em relação a isso. Para concluir. Nem sequer havia necessidade de falar sobre o crioulo. Fiquei perturbado porque, de facto, ou não querem entender ou há qualquer coisa que o MPD traz na cabeça contra o crioulo. O meu líder já explicou, o Sr. Secretário de Estado já explicou, mas, como disse o meu líder, o argumento que o MPD utilizou para não aprovar a questão da oficialização do crioulo foi exactamente porque disseram que não estavam criadas as condições para tal. O Sr. Secretário de Estado disse que poderemos rever o número 15 porque quando isso foi feito ainda não havia essa decisão do MPD de não aprovar a lei sobre o crioulo. Cheguei a pensar que este assunto estava fora de questão, mas como o Deputado João Medina provavelmente não esteve com muita atenção volta a trazer a questão. O Sr. Secretário de Estado foi claro, está na Constituição. A meu ver, é uma das formas até, de continuarmos a melhorar as condições para que o crioulo seja oficializado.

Sr. Presidente: - São 17 horas e 30 minutos. Terminamos aqui a nossa reunião, para retomarmos amanhã às 9 horas em ponto.

168 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

Lista de intervenientes

Membros da Mesa

Sr. Presidente, Aristides Raimundo Lima: 110, 111, 112, 113-114, 115-116, 121, 133, 139, 141, 142, 149-150. Sr. I Vice-Presidente, Júlio Lopes Correia: 99-100, 101.

Grupo Parlamentar do PAICV (Partido Africano para a Independência de Cabo Verde)

Srs. Deputados:

Afonso Silva Mendes da Fonseca: 101-102, 105, 108, 140-141. António Alberto Mendes Fernandes: 106. Fernando Lopes Vaz Robalo: 124. José Manuel Gomes Andrade: 154-155. José Maria Vaz de Pina: 98. Júlio Lopes Correia: 128-130. Manuel Amaro Rodrigues Monteiro: 94-95. Manuel Gomes Fernandes: 123-124. Miguel António Costa: 168. Rui Mendes Semedo: 96-97, 161-164, 165. Vanusa Tatiana Fernandes Cardoso: 119-120.

Grupo Parlamentar do MPD (Movimento para Democracia) Srs. Deputados:

Agostinho António Lopes: 92-94, 98, 99-100, 111, 113. Clemente Delgado Garcia: 103-104, 10-108. Felisberto Henrique Carvalho Cardoso: 144. Fernando Elísio Leboucher Freire de Andrade: 150. Filipe Baptista Gomes Furtado: 106-107, 116. Filomena Maria Frederico Delgado Silva: 112, 141-142, 160-161. Humberto André Cardoso Duarte: 142, 151-152, 158. João Baptista Ferreira Medina: 91-92, 167. Mário Gomes Fernandes: 120-121, 122-123, 126-128, 131-132. Mário Ramos Pereira Silva: 147, 149. Rui Alberto Figueiredo Soares: 144-145, 152-153, 155, 164-165.

169 Reunião Plenária de 26 de Janeiro de 2010

UCID – União Caboverdeana Independente e Democrática Srs. Deputados:

António Delgado Monteiro: 113-114, 121-122, 160. Lídio de Conceição Silva: 89-91, 95-96.

Membros do Governo

Sra. Ministra da Presidência do Conselho de Ministros e dos Assuntos Parlamentares, Janira Hopffer Almada: 98, 109-110, 146, 147-148, 153-154. Sra. Ministra da Economia, Crescimento e Competitividade, Fátima Maria Carvalho Fialho: 114-115, 116. Sra. Ministra da Educação e Ensino Superior Vera Duarte: 134-139, 143-144, 145, 146, 165-166. Sr. Ministro da Cultura, Manuel Veiga: 110-111. Sr. Ministro da Administração Interna; Lívio Fernandes Lopes: 117-119, 124-126, 130, 132-133. Sr. Secretário de Estado da Educação, Octávio Ramos Tavares: 156-157, 159.

170