Santosdumont Catalogo.Pdf
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Borboleta voa. Passarinho voa. Libélulas voam. Bolhas de sabão voam. Balões de gás voam. Quem disse que o homem não poderia voar? Sumário 44 Para o alto e avante Uma máquina de criar 22 inventos aeronáuticos 48 em apenas uma década Uma figura memorável 88 O personagem Santos Dumont Inventando tendências O estilo de vida do brasileiro de 90 maior prestígio da Belle Époque O poeta da ciência e da arte 6 94 Múltiplas inquietações Voar é com os poetas Genialidade para todos 8 98 A patente aberta Ideias que movem o O propósito de uma vida mundo nos interessam 10 104 O desafio de voar Um recado para a De Da Vinci a Santos Dumont 12 106 juventude brasileira O homem que levou Asas, pra que te quero? o Brasil em suas asas 18 108 A era das navegações aéreas [English version] O século XX e Santos Dumont 20 113 O designer de sonhos 26 149 [Versión española] Hugo Barreto O poeta Secretário-Geral / Fundação Roberto Marinho da ciência e da arte Há uma tendência, comum ao ser humano, de Gabriel Voisin, que realizou estudos com uma lancha previsível trajeto da experimentação com um artefato transformar as Cataratas do Iguaçu – uma área até naturalizar o que se torna habitual. Foi assim com a fim de descobrir a potência necessária para levantar que já voava, o balão. “Progredia de manso”, como ele então privada – no Parque Nacional do Iguaçu, hoje a proeza de levantar voo com um artefato mais pesado um planador; Léon Levavasseur, inventor do Antoinette, acreditava ser da natureza de um inventor, perseguindo Patrimônio Nacional da Humanidade. que o ar e controlar os ventos para chegar ao destino um motor a explosão, leve e potente, capaz de fazer um a dirigibilidade. Quando a alcançou, voltou-se para desejado. Cento e dez anos depois da revolucionária aeroplano decolar, além de tantos outros dedicados o estudo de um planador estável. Projetou, então, seu No processo de criação do Museu do Amanhã, invenção do 14bis, por Alberto Santos Dumont, encaramos, ao sonho e à ciência de voar. famoso experimento, o 14bis, a partir da observação a Fundação Roberto Marinho propôs um novo olhar muitas vezes, com injusta indiferença, o ir e vir de aviões, dos erros e acertos de seus contemporâneos, e só sobre a ciência, tratada aqui como um organismo vivo em ritmo industrial, sobre nossas cabeças. Dos 25 aos 35 anos, petit Santos, como ficou conhecido quando dominou a estabilidade é que evoluiu para a ser experimentado pelo visitante de forma poética, na França, pesquisou, inventou, construiu e foi a a solução decisiva da decolagem. sensorial, inspiradora. Ao longo do percurso narrativo, Existe muita ciência, permeada por um vasto conhe- campo para testar mais de 25 inventos, em um esforço implode certezas, provoca perguntas que conduzem cimento sobre fenômenos hidrodinâmicos e aerodi- empírico-científico sem precedentes. Dotado de imensa A superação veio com o Demoiselle 20, o primeiro a infinitas formas de pensar e recriar a interação com nâmicos, na arte de fazer o homem voar. No fim do energia criativa e racionalidade construtiva, o inventor ultraleve da história, verdadeira obra-prima merece- o outro e com o planeta. século XIX, o mundo ainda estava se acostumando conseguia erguer em oito dias o que outros levavam dora de uma réplica em tamanho real nesta exposi- às novas invenções, como a luz elétrica, o telégrafo três meses para arquitetar. ção que, não por acaso, eclode no Museu do Amanhã. Ao celebrar a memória deste brasileiro visionário, e o automóvel, e uma ascendente legião de inventores Neste espaço em que ciência e arte projetam um nesta exposição que tem como curador Gringo Cardia, inquietos já perseguia o sonho de criar um objeto O brasileiro questionava tradições, testava novos materiais caminho de infinitas experimentações de amanhãs a consultoria do biofísico e pesquisador Henrique Lins capaz de navegar os ares. e novas formas, cercava-se dos melhores mecânicos possíveis, a memória deste poeta voador ressurge de Barros e o patrocínio exclusivo da Shell Brasil, a e buscava soluções para que o próprio processo criativo cristalina, atualíssima. Fundação Roberto Marinho reafirma seu objetivo pri- Santos Dumont, um jovem brasileiro apaixonado por fosse mais eficiente – como quando construiu um abrigo meiro: o de promover e ampliar o direito à educação, Paris, uniu os saberes da física, química, mecânica para balões, de modo a evitar o desperdício de tempo Desprovido de qualquer interesse comercial e movido conciliando e reorganizando diferentes metodologias, e eletricidade, os conceitos desenvolvidos por seus e de gás, criando, assim, o hangar, mais uma de suas pela vontade de compartilhar com a humanidade suas formas e tecnologias para garantir a melhor experiên- antecessores e a herança da família cafeicultora para invenções que se perpetuou na História. descobertas, Santos Dumont liberou, gratuitamente, cia possível de aprendizagem. testar máquinas e a natureza, inúmeras e incansáveis os direitos de todos os seus projetos, contribuindo, vezes, até a conquista do voo dirigido e estável. Seus voos não eram lineares. Optou pelo caminho assim, com a rápida expansão da aviação, e, numa Recontar a história deste brasileiro que se dedicou Nas palavras de Isaac Newton, o inventor vê mais longe sinuoso, imprevisível como os ares, mas percorrido dimensão até então impensável, alterou as relações do à ciência e à tecnologia inspirado pela arte é, de certa “por estar de pé sobre ombros de gigantes”: pioneiros, com uma racionalidade ímpar: mesmo suas quedas homem com o planeta e a comunicação entre os povos. forma, redescobrir a nossa própria identidade. Sua como Octave Chanute, criador do “Biplano”; os irmãos derivavam de experiências calculadas. Enquanto outros Da mesma forma, muitas décadas antes de a preser- trajetória nos desafia a recriar novas formas de pensar Wright, que, em 1905, criaram os estabilizadores inventores de seu tempo apressavam-se na fórmula vação do meio ambiente ser parte da agenda mundial, e de se relacionar com o planeta, à luz de uma ciência frontais dos planadores, conhecidos como “Canard”; do voo planado, Santos Dumont parecia retroceder no o inventor intercedeu junto ao governo do Paraná para voltada para o bem comum. 6 7 Luiz Alberto Oliveira Voar é com Curador / Museu do Amanhã os poetas Sanford Kwinter, filósofo da arquitetura e do desenho de pleno século XX. Estamos, atualmente, convertendo batas aéreos; a esfericidade mesma da Terra, antes e um dos mais notáveis cientistas de seu tempo, em projeto (design), oferece uma perspectiva instigante acerca o conhecimento básico sobre o Micromundo aí inaugu- suspeitada na partida dos navios no porto, pode agora 1895!); a aplicação da solução de potência motriz com- do que constitui uma inovação. Segundo ele, para que rado em mais e mais desenvolvimentos, cada vez mais ser testemunhada diretamente, pela vista nua, no pacta encontrada para impulsionar os dirigíveis – o determinada propriedade de um material ou certo aspecto revolucionários; o milionésimo de grama, o bilionésimo horizonte que se encurva, e desde aqui se insinua o li- motor a explosão – também nos aeroplanos; a pesqui- de um fenômeno sejam convertidos em um objeto técnico, de metro e o trilionésimo de segundo são, hoje, escalas miar de uma nova infinitude, planetária, sideral. Hoje, sa empírica de modelos hidrodinâmicos para estudar ou seja, para que um artefato seja criado, é preciso que as suscetíveis de intervenção técnica. a cada momento, há cerca de 250 mil pessoas, os pas- o equilíbrio aerodinâmico, tendo a água como simula- dimensões que o caracterizam sejam trazidas ao alcance sageiros embarcados em linhas aéreas regulares, que ção do ar; a definição do manejo dos controles do voo da percepção e da manipulação humanas. Dito de outro Em síntese, um inventor faz ingressar no mundo humano estão em lugar nenhum, uma vez que se encontram, como extensões dos membros e dos movimentos do modo: para que uma invenção se realize, comprimentos uma modalidade nova de objetos, qual seja, de ritmos, literalmente, no ar. Voar é, pois, com as gentes! corpo – inspiração soberba que, como observa Miguel e durações que eram até então alheios à experiência tamanhos e intensidades. Um grande inventor, porém, Nicolelis, faz da inusitada ação de voar um afazer humana típica precisam ser engajados em uma ação é como um poeta: muda o sentido das palavras, transfor- É fascinante examinar o modo pelo qual essa transfor- tão integrado ao cérebro quanto pintar ou escrever... formadora que lhes confira alguma funcionalidade. ma todo o campo das experiências possíveis, reformata mação prodigiosa do estatuto humano, de pedestre Encontramos, nesse ponto, sínteses, deslocamentos, a própria humanidade. Tal é, sem dúvida, o caso de a pássaro, se desenvolveu ao longo do trabalho criativo amálgamas, recombinações, temperados tanto por Em um primeiro momento, esta observação parece Alberto Santos Dumont, pois, ao fazer do verbo “voar” de Santos Dumont. Intuição de artista, destreza de persistência quanto por improvisação – de fato, os óbvia: por demasiado extensos ou prolongados, não uma ação técnica plausível, agregou a dimensão da artesão, arrojo de pesquisador, praticidade de enge- elementos operativos de um conceito abrangente de há utensílios propriamente astronômicos ou geológicos. verticalidade ao espaço dos movimentos, ou seja, permi- nheiro – tantos e tão diversos atributos se combina- inovação cuja inegável atualidade não cessa de nos Mais interessante é notar que, assim sendo, o aumento tiu que nos deslocássemos no interior de volumes, e não ram na incrível série de avanços sucessivos e cumula- surpreender. Moderno no mais exemplar dos sentidos, da capacidade de sondar fenômenos em escalas mais apenas sobre a superfície dos solos e das águas. tivos que, no prazo quase absurdamente exíguo de dez o de contemporâneo constante do porvir, eis que des- inéditas – ao permitir que componentes e processos anos, o transformaram de maestro dos aeróstatos em se processo emerge um tipo original de criador: até então desconhecidos passem a ser explorados – A visão alargada desde as altitudes, antes laboriosa- capitão dos aeroplanos.