UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA VANEY NASCIMENTO DA CUNHA
VALUE INVESTING: ANÁLISE DE UMA CARTEIRA DE DIVIDENDOS A PARTIR DOS FILTROS DE GRAHAM
Rio de Janeiro 2019 VANEY NASCIMENTO DA CUNHA
VALUE INVESTING: ANÁLISE DE UMA CARTEIRA DE DIVIDENDOS A PARTIR DOS FILTROS DE GRAHAM
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Ciências Econômicas, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.
Orientadora: Prof. Dra. Joseane Borges de Miranda
Rio de Janeiro 2019
Dedico este trabalho à minha esposa Ane Ramaldes, amiga e companheira de todas as aventuras, à minha amada filha Lara e ao meu pequeno Theo, que chegou para alegrar as nossas vidas.
AGRADECIMENTOS
Uma jornada sempre conta com diversos participantes, de forma direta ou indireta, seja ela qual for. E alcançar a linha de chegada desta aventura pela graduação em Ciências Econômicas, só foi possível graças à participação da minha família, amigos e mestres.
Ane, Lara e Theo, cada um com a sua contribuição, foram a força para que eu pudesse seguir em frente. Desculpo-me pelas ausências e agradeço por sempre fazerem meus dias mais felizes.
Agradeço também aos grandes amigos Marcelo Batalha, Raphael Ayres e Jesulino dos Santos Júnior. A decisão de cursar Ciências Econômicas teve muito a ver com as nossas conversas iniciais sobre investimentos. Conversas que perduram até hoje e que já nos renderam bons frutos (e risadas).
Para finalizar, representado todos os professores da Faculdade de Ciências Econômicas, meu muito obrigado à Profa. Joseane Borges de Miranda, que me acompanhou ao longo de todo o curso, mantendo-me sempre motivado a continuar.
“O segredo para investir é descobrir o valor de alguma coisa, e então pagar muito menos por ela.” (Joel Greenblatt)
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo avaliar o grau de aderência da carteira Dividendos 8+, sugerida pela corretora Rico Investimentos, à filosofia de value investing , desenvolvida por Benjamin Graham (1894 – 1976) em sua obra Security Analysis (1934). Baseado na perspectiva da análise fundamentalista, que preconiza em sua metodologia a avaliação dos fundamentos econômicos e financeiros de uma empresa, o value investing está pautado na determinação do valor real dos negócios, com base em seu valor intrínseco. Para o desenvolvimento deste estudo, fazem parte as ações das empresas AES Tietê (TIET11), B3 (B3SA3), Braskem (BRKM5), Equatorial Energia (EQTL3), Itaúsa (ITSA4), Qualicorp (QUAL3), MRV (MRVE3) e Unipar (UNIP6). Com base nos referenciais teóricos, conclui-se que somente um dos ativos da carteira em referência possui total aderência à filosofia de value investing , embora todas as companhias listadas possam ser entendidas como sólidas em seus segmentos, com expressivo valor de mercado, resultados econômicos e financeiros.
Palavras-chave: value investing , análise fundamentalista, carteira de dividendos.
ABSTRACT
The feature academic work has as objective evaluate the degree of adherence of dividends portfolio 8+, suggest by the broker Rico Investimentos, value investing philosophy, developed by Benjamin Graham (1894 – 1976) in Security Analysis (1934). Based on the fundamentalist analysis perspective, that advocates on his methodology to evaluate the economical foundation and financial from a company, the value investing is guided on the determination on the real values of business, based on intrinsic value. For the development of this study, are included the stock from the companies AES Tietê (TIET11), B3 (B3SA3), Braskem (BRKM5), Equatorial Energia (EQTL3), Itaúsa (ITSA4), Qualicorp (QUAL3), MRV (MRVE3) and Unipar (UNIP6). Based on the theoretical framework, it is concluded that on the one of the assets on the reference portfolio possesses total adherence to the value investing philosophy, although all the companies listed can be understood as stable in theirs sectors, with expressive market value, economic and financial results.
Key words: value investing, fundamentalist analysis, dividends portfolio.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 10 1.1. EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA 10 1.2. OBJETIVOS 14 1.2.1. Objetivo geral 14 1.2.2. Objetivos específicos 14 1.3. JUSTIFICATIVA 14 1.4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 15 2. REFERENCIAL TEÓRICO 17 2.1. O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL 17 2.2. MERCADO FINANCEIRO 18 2.3. MERCADO DE CAPITAIS 20 2.4 MERCADO ACIONÁRIO 21 2.5 ANÁLISE FUNDAMENTALISTA 23 2.6. VALUE INVESTING E OS FILTROS DE GRAHAM 26 3. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS 29 3.1 SOBRE A RICO INVESTIMENTOS 29 3.2 CARTEIRA DIVIDENDOS 8+ 30 3.3 DESCRIÇÃO DOS ATIVOS 31 3.3.1 AES Tietê (TIET11) 31 3.3.2 B3 S.A. – Brasil, Bolsa, Balcão (B3SA3) 33 3.3.3 Braskem S.A. (BRKM5) 36 3.3.4 Equatorial Energia (EQTL3) 38 3.3.5 Qualicorp Soluções em Saúde (QUAL3) 41 3.3.6 Itaúsa (ITSA4) 43 3.3.7 MRV (MRVE3) 45 3.3.8 Unipar Carbocloro (UNIP6) 48 3.4 RESULTADOS E ATUALIZAÇÃO DA CARTEIRA DIVIDENDOS 8+ 50 3.5 ANÁLISE DA CARTEIRA DIVIDENDOS 8+ A PARTIR DOS FILTROS 56 DE GRAHAM CONSIDERAÇÕES FINAIS 60 REFERÊNCIAS 62
1. INTRODUÇÃO
Em muitos aspectos encarado com bastante desconfiança, o mercado de capitais no Brasil, em especial o acionário, tem se apresentado como alternativa de aplicação de recursos para uma parcela de nossos investidores. Produtos de renda fixa como CDBs, RDBs, LCIs, LCAs e títulos públicos têm dividido espaço com a renda variável, considerando suas possibilidades de retorno financeiro.
Dados os diferentes graus de complexidade dos tipos de investimentos e da migração de representativa parcela dos investidores da poupança para produtos mais sofisticados, têm ganhado bastante destaque as recomendações de inúmeras empresas especializadas em mercado financeiro, dentre elas bancos comerciais, corretoras, publicações especializadas, dentre outras.
Nesse contexto, lançar luz a parte dessas recomendações pode contribuir para um melhor entendimento de sua eficácia. Como base de análise, será utilizada a filosofia do value investing , cujas origens remontam à década de 1930, por meio dos estudos do professor norte-americano Benjamin Graham (1894 – 1976) e tem se mostrado de grande valia como método de aplicação de recursos.
1.1. EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA
Segundo Mannarelli Filho (2007), os princípios fundamentais da negociação de mercados futuros e as funções das bolsas de valores possuem séculos de existência.
Na Grécia e na Roma antigas, os mercados possuíam certo grau de formalização, com sistemas comuns de troca e de moeda. As bolsas modernas têm sua origem e fundamentos na Idade Média, na Europa, quando as comunidades eram muito isoladas e organizadas em um sistema de produção praticamente autônomo, onde o Sistema Feudal se caracterizava pela produção de poucos excedentes de produtos, o que tinha, como consequência, uma baixa relação de troca e comércio. Entretanto, é neste ambiente que, principalmente na estação do verão, as comunidades rurais afluíam para as pequenas cidades medievais para realizar festivais, e principalmente fazer trocas de seus excedentes [...]. Este ambiente caracterizava-se pela existência de um local físico, para realização das trocas, em que os agentes econômicos, de um lado vendedores e de
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outros compradores, procuravam determinar o justo valor de um produto qualquer (MANNARELLI FILHO, 2007, p. 111).
Comercial e financeiramente, a palavra bolsa se origina no final do século XIII, oriunda do nome de uma família de nobres belgas, os Van der Buerse. Seu brasão de armas era formado por três bolsas de pele, simbolizando honradez e méritos por sua atuação na área mercantil (PINHEIRO, 2018).
De forma embrionária, na Holanda do século XVII, experimentou-se a gênese do que viria a ser seu mercado financeiro, quando do advento da venda de bulbos de tulipa. Naquele período uma flor poderia custar o preço de uma casa. “Essas flores caíram no gosto dos endinheirados da Europa logo que foram trazidas da Turquia. [...] Em 1624, um botão custava, em florins holandeses, o mesmo que uma casa em Amsterdã” (VERSIGNASSI, 2015).
Tal momento histórico de grande relevância para o incipiente mercado financeiro encerrou-se após um longo ciclo especulativo, momento no qual entraram em cena contratos futuros de compra e venda, que deixaram de ser honrados, dados os elevados preços alcançados em um movimento irracional do mercado, configurando, de acordo com Versignassi (2015), a primeira bolha financeira que se tem notícia.
No Brasil, admite-se a formação de um mercado de capitais a partir do século XIX, quando da criação do Banco do Brasil, em 1808, cuja capitalização se deu por meio do lançamento de ações no mercado interno e em Angola. Em continuidade à formação desse mercado, são fundadas em 1845 e 1890 as Bolsas de Valores do Rio de Janeiro e de São Paulo, respectivamente. Já na primeira metade do século XX, o mercado de capitais teve um lento crescimento, tendo avançado nos anos 1960, a partir de medidas governamentais de fomento (PORTAL DO INVESTIDOR, 2018). Ao longo dos anos 1970, graças ao chamado “milagre econômico”, o mercado de capitais no país se desenvolve, já contando com instituições privadas de investimento. Nesta mesma década, é criada a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), com a finalidade, de disciplinar e fiscalizar atividades próprias do mercado
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mobiliário. Nos anos 1980 foram criados os bancos múltiplos, instituições que cresceram nos anos seguintes. Na década de 1990, após períodos hiperinflacionários, é criado o Plano Real, dando maior estabilidade à economia nacional, sendo um incentivo ao desenvolvimento do mercado de capitais, em especial o acionário (PORTAL DO INVESTIDOR, 2018).
Como evolução do mercado de capitais no Brasil, nos últimos anos, temos vivenciado um maior interesse da população, em especial a classe média, por assuntos vinculados a investimentos. Brasileiros de diferentes graus de instrução e financeiro têm na poupança o principal destino para os seus recursos, considerando a sua praticidade (INFOMONEY, 2018), mas principalmente o abismo de conhecimento em relação ao mercado financeiro.
Segundo o Banco Central (2018), atualmente estão investidos mais de R$ 750 bilhões na tradicional poupança. Além disso, de um modo geral, a população tem em seu gerente o principal assessor financeiro para as suas economias (UOL ECONOMIA, 2018), o que apresenta, por óbvio, uma leitura enviesada, considerando o seu compromisso com os produtos e metas da sua instituição financeira.
Esse quadro tem demonstrado uma incipiente mudança, principalmente pelo movimento de grandes e médias corretoras de valores, com argumentos voltados para a “desbancarização” 1 dos investimentos das pessoas físicas, destaque para a XP Investimentos, que apresenta uma comunicação mais massiva e agressiva sobre esse conceito, embora tenha sucumbido ao capital do Grupo Itaú-Unibanco.
Na esteira dessa mudança de paradigma, mesmo que ainda em fase embrionária, o mercado acionário tem atraído maior atenção dos investidores individuais. No entanto, levando em conta a sua complexidade e volume de
1 Trata-se de um neologismo criado com o objetivo de incentivar pequenos investidores a buscarem opções de investimentos fora das grandes instituições bancárias, buscando melhores taxas, condições e assessoria em instituições especializadas na oferta variada de produtos financeiros, com destaque para as corretoras de valores.
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informações e de empresas listadas, qual estratégia seguir? Focar no curto, médio ou no longo prazo? Especular ou investir?
Partindo desse dilema, este trabalho busca abordar o value investing , ou investimento em valor, como ferramenta metodológica para a definição de carteiras e estudos de empresas e segmentos de negócio. De acordo com Palazzo (2014), essa metodologia foi desenvolvida em 1934 por Benjamin Graham e David Dodd, a partir do livro Security Analysis , cuja principal filosofia prega a compra de bons ativos a preços descontados, para ganhos futuros em potenciais valorizações.
Benjamin Graham é considerado por muitos o pai da análise de títulos e valores mobiliários. Ele nasceu em Londres, em 1894, mas mudou-se para Nova York com a família quando tinha um ano. Conseguiu uma bolsa de estudos para a Universidade de Columbia, tendo se formado em 1914. [...] Graham tornou-se especialista em analisar as ações em seus mínimos detalhes. Muito embora tenha sofrido uma perda estimada em 70% durante o Grande Crash, de 1929 a 1932, foi capaz de prosperar nos anos seguintes, colhendo bons negócios no ambiente econômico depressivo e desvalorizado, cujo impulso especulativo havia derrubado os preços (PALAZZO, 2014, p. 38).
O conceito central da filosofia criada por Graham e Dodd (2009) está na determinação do valor real dos negócios. Esse é um parâmetro conhecido como valor intrínseco.
Em termos gerais [o valor intrínseco] é entendido como sendo aquele valor que se justifica pelos fatos, por exemplo, os ativos, rendimentos, dividendos, perspectivas definidas. [...] É um grande erro imaginar que o valor intrínseco é algo preciso e determinável como o preço de mercado (GRAHAM; DODD, 2009, p. 64).
Por meio do value investing , que tem como um dos seus maiores seguidores o megainvestidor Warren Buffett, busca-se uma análise aprofundada de cada um dos ativos, considerando suas perspectivas futuras, solidez dos negócios, resiliência e capacidade de gerar lucros crescentes (PALAZZO, 2014). Desse modo, a visão de longo prazo é fundamental, considerando que os bons resultados demandam tempo de maturação.
A partir dos conceitos de investimento em valor, muitas empresas de análise baseiam parte de seus relatórios analíticos a essa filosofia, materializando-a em 13
sugestões de investimentos conhecidas como carteiras de dividendos. Especificamente neste estudo, pretende-se avaliar as sugestões da Rico Investimentos, criada em 2011 e considerada a segunda maior corretora de valores do país.
Desse modo, o presente trabalho visa responder ao seguinte problema de pesquisa: qual o grau de aderência da carteira de dividendos apresentada pela corretora de valores Rico Investimentos à filosofia de value investing ?
1.2. OBJETIVOS
1.2.1. Objetivo geral
Avaliar o grau de aderência da carteira de dividendos apresentada pela corretora de valores Rico Investimentos à filosofia de value investing .
1.2.2. Objetivos específicos
- Apresentar os principais conceitos de value investing ; - Identificar as ações recomendadas pela Rico Investimentos; - Definir parâmetros de comparação à luz dos conceitos de value investing ; - Analisar comparativamente os principais múltiplos das ações recomendadas.
1.3. JUSTIFICATIVA
O presente trabalho se justifica, dado o maior interesse apresentado pela sociedade brasileira pelo mercado de capitais, em especial aos investimentos em ações, tornando-se relevante a investigação da coerência das publicações das casas de análises de investimentos aos conceitos de value investing , metodologia abordada como referência para a definição de suas respectivas carteiras de dividendos. Considerando o alcance dos relatórios elaborados por essas empresas e o potencial de gerar ganhos ou prejuízos ao investidor individual, é relevante a
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análise das carteiras sugeridas, à luz dos principais conceitos do investimento em valor.
Esta pesquisa pode servir de base para trabalhos futuros, considerando a relevância dos estudos de investimentos financeiros para a área de ciências econômicas. Além disso, busca-se contribuir para a ampliação dos conhecimentos sobre metodologias de análises de empresas no mercado acionário, contribuindo para a consolidação do profissional de ciências econômicas como consultor independente de investimentos.
1.4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O presente estudo contemplará uma pesquisa aplicada e para que sejam atingidos os seus objetivos, pretende-se utilizar quanto ao tipo a pesquisa descritiva que, segundo Vergara (1998), expõe as características de determinada população ou fenômeno, estabelecendo correlações entre variáveis. Neste caso, serão correlacionadas com o princípios do value investing informações econômicas, financeiras e múltiplos da carteira Dividendos 8+, sugerida pela Rico Investimentos.
Quanto à natureza, a pesquisa terá abordagens qualitativa e quantitativa. “A pesquisa qualitativa proporciona uma melhor visão e compreensão do contexto do problema, enquanto a pesquisa quantitativa procura quantificar os dados e aplica alguma forma da análise estatística” (MALHOTRA, 2001, p. 155). Por meio da pesquisa qualitativa, será possível compreender os principais conceitos do value investing, conhecendo suas métricas e parâmetros de comparação e identificar as principais ações sugeridas pela Rico Investimentos. A pesquisa quantitativa tornará possível estabelecer cálculos e análises comparativas dos principais múltiplos das ações recomendadas.
O estudo levará em consideração a utilização de dados secundários a partir de levantamentos bibliográficos e documentais e tem por objetivo maior aproximação com o objeto empírico, neste caso os conceitos de value investing e a carteira de dividendos sugerida. Além disso, o pesquisador, por meio de métricas inerentes às
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premissas de investimento em valor, obterá dados primários, a partir dos cálculos dos múltiplos dos ativos objetos de estudo.
Como limitação ao método, podemos citar a temporalidade da pesquisa, considerando que os dados obtidos servirão para uma análise de ativos em um determinado período, sendo influenciada diretamente pelos fundamentos de cada ativo, bem como a sua cotação na bolsa de valores.
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2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL
O Sistema Financeiro Nacional (SFN) compreende um conjunto de instituições e instrumentos financeiros, objetivando a transferência de recursos entre agentes econômicos.
Essas instituições devem permitir, dentro das melhores condições possíveis, a realização dos fluxos de fundos entre tomadores e poupadores de recursos na economia. A necessidade de conhecimento do sistema financeiro é crescente ao longo do tempo, explicada pela importância que exerce na economia o segmento empresarial de um país, como também pela maior complexidade que suas operações vêm apresentando (ASSAF NETO, 2018, p. 39).
De acordo com a Comissão de Valores Mobiliários (2018), o SFN é composto tanto por instituições públicas quanto privadas, tendo por órgão deliberativo máximo o Conselho Monetário Nacional, órgão criado em 1964, cujo objetivo é formular a política da moeda e do crédito, visando promover o desenvolvimento econômico e social do país.
O SFN abrange dois grandes subsistemas, o normativo e o de intermediação, conforme a Figura 1. O subsistema normativo é formado por instituições voltadas para a definição e execução das normas vinculadas ao funcionamento do sistema, sendo composto pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), Banco Central (Bacen), Comissão de Valores Mobiliários (CVM), além do Banco do Brasil, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Caixa Econômica Federal.
O subsistema de intermediação é formado, por exemplo, por instituições financeiras bancárias e não bancárias, atuando na transferência de recursos entre os agentes de mercado, de acordo com as orientações definidas pelo subsistema normativo (TAMBOSI FILHO, 2015; ASSEF NETO, 2018; CVM, 2018).
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Figura 1: Sistema Financeiro Nacional (ASSEF NETO, 2018, p. 40)
2.2. MERCADO FINANCEIRO
Embora possa ser empregado em diversas situações, abrangendo amplos significados, neste estudo, abordaremos a terminologia “mercado” como o “ locus abstrato em que ocorre a formação de preço a partir da contraposição entre oferta e demanda, sem maiores considerações de cunho institucional” (YAZBEK, 2017, p. 60).
Segundo Silva (2007, p. 61), o “mercado deve ser entendido como o local onde se encontram fornecedores e consumidores, oferta e demanda, cada qual visando atender seus interesses, ou mesmo interesses de terceiros”.
A partir das funções inerentes ao mercado, preços são determinados e negócios realizados, promovendo, assim, o equilíbrio e desenvolvimento econômico. 18
“Por meio do mercado, os fornecedores decidem quanto e quando produzir, com vistas a atender às demandas dos consumidores, que definem quanto e quando comprar” (SILVA, 2007, p. 61).
De acordo com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o mercado financeiro tem por objetivo viabilizar a transferência de recursos entre aqueles que dispõem de recursos financeiros (agentes econômicos poupadores) e os agentes tomadores, ou seja, aqueles que necessitam desses recursos, podendo ou não envolver intermediações financeiras.
No primeiro caso, a instituição financeira se coloca como parte na intermediação, assumindo o papel de devedor do poupador e de credor do tomador de recursos, sendo remunerada por uma diferença entre o seu custo de captação e o que cobra dos tomadores. É o caso, por exemplo, dos bancos comerciais nas operações tradicionais de crédito. Na segunda hipótese, a poupança é transferida diretamente dos poupadores para os tomadores, ainda que com a atuação de instituições financeiras na prestação de serviços necessários ou úteis à efetivação desse fluxo. Essa é a hipótese comum no mercado de capitais.
Nesse contexto, podem ser segmentados no mercado financeiro quatro grandes mercados, conforme Tambosi Filho (2015):
- Mercado monetário: controla a liquidez monetária através do monitoramento e intervenção na oferta da moeda e nas taxas de juros no curto prazo, regulando o seu funcionamento, bem como os fluxos monetários, para as atividades de produção e consumo. - Mercado de crédito: destina-se ao financiamento do consumo e do capital de giro das empresas no curto e médio prazo. - Mercado de câmbio: controla a troca das moedas estrangeiras por reais, definindo o valor da nossa moeda. - Mercado de capitais: destina-se principalmente ao financiamento de investimentos de médio e longo prazo, através da negociação dos títulos de valores mobiliários, em especial, das empresas de capital aberto.
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Figura 2: Mercado Financeiro (CVM, 2018)
2.3. MERCADO DE CAPITAIS
Tambosi Filho (2015) ressalta que o mercado de capitais está inserido no Sistema Financeiro Nacional (SFN), este composto por instituições responsáveis pela captação e distribuição de recursos financeiros. Tal mercado possui relevante papel no desenvolvimento econômico, considerando sua função de ofertar recursos financeiros para o sistema econômico, efetuando a conexão entre investidores e agentes econômicos que carecem de recursos de longo prazo (ASSAF NETO, 2018).
“O mercado de capitais é um mecanismo de distribuição de valores mobiliários, que tem o objetivo de gerar liquidez aos títulos emitidos pelas empresas e viabilizar o seu processo de capitalização” (TORO RADAR, 2018). Nesse contexto, a transação ocorre de maneira direta, onde agentes poupadores direcionam recursos às empresas, buscando melhor rentabilidade para os seu capital e, consequentemente, possibilitando o crescimento econômico.
Na relação que se estabelece no mercado de capitais, os investidores, ao emprestarem seus recursos diretamente para as empresas, adquirem títulos, que representam as condições estabelecidas no negócio, chamados
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de valores mobiliários. Podem ser títulos de dívida, em que se estabelece uma relação de crédito entre as partes tomadora e poupadora, como é o caso das debêntures, ou podem ser títulos patrimoniais, ou de capital, em que os investidores se tornam sócios do negócio, com todos os direitos e deveres inerentes, como é o caso das ações (COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS, 2014, P. 35).
Os valores mobiliários são títulos ou contratos que dão direito de participação ao seu detentor (ASSAF NETO, 2018), e podem ser divididos, por exemplo, conforme produtos abaixo:
- Fundos de investimento: condomínios constituídos com o objetivo de realizar a aplicação coletiva dos capitais de seus participantes. São regidos por um regulamento e têm uma assembleia geral dos participantes para a análise do investimento dos recursos. - Debêntures: títulos, com garantia própria, que conferem ao seu titular direito de crédito contra o emitente, sobre o valor nominal e os juros nela estabelecidos. - Certificados de Crédito Bancário (CDBs): investimento de renda fixa emitido por bancos, caracterizando-se como um empréstimo do poupador a instituições bancárias, que disponibilizarão esse recurso em suas carteiras de crédito. - Letras de Câmbio (LCs): trata-se de um título semelhante ao CDB, no entanto, emitidos por financeiras ao invés de instituições bancárias. - Letras de Crédito Agrícola (LCAs): investimento emitido por bancos, voltado para o financiamento de atividades do setor agrícola. - Letras de Crédito Imobiliário (LCIs): título semelhante às LCAs, voltado para o financiamento de atividades do setor imobiliário. - Ações: títulos de renda variável, emitidos por sociedades anônimas e representam a menor fração de capital social de uma empresa.
2.4. MERCADO ACIONÁRIO
O mercado acionário atua na comercialização de valores mobiliários conhecidos como ações, dando direito à propriedade de parte de uma empresa a seu possuidor (TAMBOSI FILHO, 2015). “O detentor de uma ação não é um credor 21
da empresa, mas sim um de seus proprietários e, como tal, possui direito à participação nos resultados da empresa proporcionalmente ao número de ações que detém” (CAVALCANTI, 2001, p. 43).
As ações são negociadas em instituições conhecidas como bolsa de valores, responsáveis pelo desenvolvimento do mercado primário e secundário desses valores mobiliários. A principal função dos mercados de bolsa e de balcão é organizar, manter, controlar e garantir ambientes ou sistemas propícios para o encontro de ofertas e a realização de negócios com formação eficiente de preços, transparência e divulgação de informações e segurança na compensação e liquidação dos negócios (COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS, 2014, p. 230).
De acordo com a Comissão de Valores Mobiliários (2014), as bolsas de valores trazem consigo benefícios para a economia e para a sociedade, podendo-se destacar entre eles:
- Financiamento para a capitalização de empresas através da venda de ações; - Estímulo à aplicação de poupanças em ações de companhias, com benefícios para os diferentes setores da economia; - Facilidade nos processos de fusões e aquisições de companhias; - Estímulo à redução da desigualdade na distribuição de rendas da sociedade; - Aprimoramento da governança corporativa, com significativas melhoras nos padrões de administração e eficiência das empresas; - Abertura de oportunidades de participação no mercado de ações para pequenos e médios investidores; - Atuação como termômetro da economia do país; - Veículo para o financiamento das iniciativas públicas de desenvolvimento, pela capacidade de colocação de títulos públicos.
De acordo com Assaf Neto (2018), podem ser descritas as seguintes vantagens aos detentores de ações:
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Tipo Descrição
Parte dos resultados da empresa, determinada em cada exercício social e distribuída aos acionistas sob a forma de dinheiro. Todo acionista tem o direito de receber, no mínimo, o dividendo obrigatório fixado em lei. No Dividendos Brasil, foi introduzido o juro sobre o capital próprio (JCP) como forma adicional de remuneração dos acionistas de uma companhia. Seu pagamento é facultativo e, quando efetuado, é entendido como dividendo.
Emissão e distribuição gratuita aos acionistas, em quantidade proporcional à participação de capital, de novas ações emitidas em função do aumento de capital efetuado por meio de incorporação de reservas. Esse tipo de Bonificação vantagem ao investidor é conhecido por “bonificação em ações”. Algumas vezes uma companhia pode pagar dividendos adicionais aos seus acionistas na forma de “bonificação em dinheiro”.
Subscritores de capital podem ainda beneficiar-se das valorizações de suas ações no mercado, ganho este que dependerá do preço de compra, Valorização da quantidade de ações emitidas, da conjuntura de mercado e do desempenho econômico-financeiro da empresa. Acionistas gozam do direito de serem previamente consultados (preferência) em todo aumento de capital, visando a aquisição de novas ações emitidas, em quantidade proporcional às ações possuídas. Com essa preferência, os atuais acionistas podem manter sua participação no capital da empresa. O direito de subscrição pode também ser vendido em Direito de subscrição bolsa a terceiros, constituindo-se em novo tipo de remuneração. Esse ganho ocorre quando o preço fixado pelo mercado para determinada ação se apresentar valorizado em relação ao seu preço de lançamento. Nesse caso, o investidor negocia o direito no mercado por um preço superior ao de subscrição. Quadro 1: Mercado Financeiro (ASSAF NETO, 2018, P. 82)
Além das vantagens apresentadas acima, segundo Lund, Souza e Carvalho (2012), dentre inúmeras razões, o investimento em ações se justifica pela rentabilidade obtida no longo prazo, sendo potencialmente superior às aplicações em renda fixa. Segundo a autora, a compra de ações oportuniza a participação como beneficiário da geração de valor obtida pelas empresas. Para tanto, é de fundamental importância a observância a métodos que auxiliem a potencialização dos ganhos, com a manutenção dos riscos em patamares aceitáveis, sem comprometer o patrimônio do investidor.
2.5. ANÁLISE FUNDAMENTALISTA
A análise fundamentalista preconiza em sua metodologia a avaliação dos fundamentos econômicos e financeiros de uma empresa. Trata-se de uma técnica baseada em informações internas e externas ao negócio, adotando a hipótese da 23
existência de um valor intrínseco ao ativo, com base nos resultados apurados pelo emitente da ação (ASSAF NETO, 2018).
Avaliado o valor intrínseco, é possível definir um preço para novos ativos ou para aqueles já existentes, atividade que, segundo Testa (2011), é de suma importância aos investidores no mercado de capitais, utilizando-se, por exemplo, de técnicas vinculadas ao Modelo de Precificação de Ativos Financeiros (MPAF) ou CAPM (Capital Asset Pricing Model), desenvolvido por Sharpe (1964), Lintner (1965) e Mossin (1966).
A técnica fundamentalista considera a análise das variáveis internas e externas à empresa, às quais exerceram influências sobre seu desempenho e, em consequência, sobre o valor intrínseco de suas ações. Os principais subsídios desse critério de análise são os demonstrativos financeiros da empresa e os diversos dados e informações referentes ao setor econômico de atividade, ao mercado acionário e à conjuntura econômica. De posse deste elenco de informações, são aplicados modelos quantitativos e financeiros com o objetivo de relacionar as decisões de compra ou venda de determinada ação com seu valor de mercado (ASSAF NETO, 2018, p. 251).
Para Damodaran (2002, apud TESTA, 2011), pode-se definir o preço de um ativo por meio do desconto dos fluxos de caixa futuros, a uma taxa mínima, complementado com os dividendos descontados na avaliação do valor presente de uma ação, sendo igual ao valor presente dos dividendos futuros.