Estudo de Impacto Ambiental

Condomínio Praia de Guadalupe Volume IV – Avaliação do Patrimônio Cultural

Recife – PE 2016

Sumário

APRESENTAÇÃO ...... 7 16. PATRIMÔNIO CULTURAL ...... 11 16.1. Metodologia ...... 15 16.2. Caracterização do Contexto Etno-Histórico dos Municípios da AII ...... 17 16.2.1. Sirinhaém ...... 21 16.2.2. Rio Formoso ...... 28 16.2.3. Tamandaré ...... 36 16.3. Bens Tombados ou em Processo de Tombamento nos Municípios da AII ...... 41 16.3.1. Sirinhaém ...... 41 16.3.2. Rio Formoso ...... 43 16.3.3. Tamandaré ...... 43 16.4. Estado Atual do Conhecimento Acerca do Patrimônio Arqueológico Existente na AII...... 63 16.4.1. Sirinhaém ...... 63 16.4.2. Rio Formoso ...... 63 16.4.3. Tamandaré ...... 64 16.5. Prospecção Arqueológica de Superfície ...... 66 16.6...... 75 16.6.1. Sítio Histórico de Interesse Arqueológico Registrado: PE 0650 LA/UFPE .... 105 16.6.2. Ocorrências Arqueológicas Localizadas ...... 113 16.6.3. Pontos de Interesse ...... 126 16.7. Considerações Finais ...... 134 17. IMPACTOS SOBRE O PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO ...... 135 18. PLANOS DE PROSPECÇÃO ARQUEOLÓGICA DOS IMPACTOS VOLTADOS AO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO ...... 138 18.1. Programa de Prospecção Arqueológica ...... 138 18.2. Projeto de Educação Patrimonial ...... 147 19. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...... 153

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RELAÇÃO DE FIGURAS

Figura 16.1 - Vila Formosa de Sirinhaém, Frans Post, 1645 ...... 23 Figura 16.2 - Detalhe do Forte de Vila Formosa de Sirinhaém, no mapa da Vila, autor desconhecido...... 31 Figura 16.3 - Capela de Nossa Senhora da Conceição ...... 46 Figura 16.4 - Capela de Santo Amaro ...... 46 Figura 16.5 - Capela de São Roque ...... 46 Figura 16.6 - Casa grande, roda d'água e capela do Engenho Jaguaré ...... 47 Figura 16.7 - Casa-grande do Engenho São José ...... 47 Figura 16.8 - Engenho Tinoco ...... 48 Figura 16.9 - Engenho Ubaca Grande ...... 48 Figura 16.10 - Casa de farinha de D. Isabel ...... 48 Figura 16.11 - Conjunto da antiga Usina Trapiche ...... 49 Figura 16.12 - Igreja Matriz de N. Sra. do Rosário de São José ...... 50 Figura 16.13 - Igreja de N. Sra. do Rosário dos Pretos ...... 50 Figura 16.14 - Igreja de Nossa Senhora do Livramento ...... 51 Figura 16.15 - Engenho Pedra de Amolar ...... 51 Figura 16.16 - Sítio Histórico do Reduto ...... 52 Figura 16.17 - Sobrados da Rua de São José ...... 52 Figura 16.18 - Sobrados da Praça Agamenon Magalhães ...... 53 Figura 16.19 – Igreja de São Pedro ...... 53 Figura 16.20 - Vista parcial da fachada principal do Forte de Tamandaré ...... 55 Figura 16.21 - Fachada da Igreja de São Benedito ...... 56 Figura 16.22 - Igreja de São Pedro voltada para o mar ...... 57 Figura 16.23 - Ao lado direito da Igreja de São João de Botas, a casa do Padre Rufino ...... 57 Figura 16.24 - Fachada da Casa dos Arcos ...... 58 Figura 16.25 - Farol ...... 59 Figura 16.26 - Foto existente na Escola de Pesca de Tamandaré ...... 60 Figura 16.27 - Conjunto remanescente do Lazareto, na extrema esquerda o prédio da padaria ...... 61 Figura 16.28 - Face do prédio onde se vê o bueiro da padaria ...... 61 Figura 16.29 - Fornos da padaria ...... 62 Figura 16.30 - Detalhe do material importado ...... 62 Figura 16.31 - Entrevista informal com o Sr. Manoel Teodoro dos Santos, morador da área há 40 anos ...... 66 Figura 16.32 - Cobertura Vegetal impedindo a visualização da superfície do terreno ...... 68 Figura 16.33 - Cobertura vegetal impedindo a visualização da superfície do terreno ...... 69 Figura 16.34 - Cobertura vegetal impedindo a visualização da superfície do terreno ...... 69 Figura 16.35 - Estado atual da Igreja Nossa Senhora de Guadalupe ...... 105 Figura 16.36 - Croqui da Igreja de Nossa Senhora de Guadalupe ...... 106 Figura 16.37 - Fachada da igreja onde se pode observar a base do cruzeiro ...... 107 Figura 16.38 - Detalhe do frontão da igreja ...... 108 Figura 16.39 - Cruz da igreja preservada em uma das casas da propriedade ...... 108 Figura 16.40 - Altar-mor e detalhe dos nichos decorados ...... 109 Figura 16.41 - Panorâmica da área interna da igreja tomada pela vegetação ...... 110 Figura 16.42 – Pontos de ocorrência de material arqueológico na área do pretendido empreendimento ...... 114 Figura 16.42 - Panorâmica da área de ocorrência arqueológica ...... 115 Figura 16.43 - Panorâmica da casa demolida ...... 116 iv

Figura 16.44 - Detalhe de tijolo batido e argamassa de cal utilizado na construção da casa ...... 117 Figura 16.45 - Faiança fina do tipo flow blue ...... 117 Figura 16.46 – Panorâmica da área da ocorrência arqueológica ...... 118 Figura 16.47 - Detalhe da falta de visibilidade do terreno ...... 119 Figura 16.48 - Estrutura recente localizada na área ...... 119 Figura 16.49 - Panorâmica da concentração 01 da ocorrência 04 ...... 121 Figura 16.50 - Panorâmica da concentração 01 da ocorrência 04 ...... 121 Figura 16.51 - Documentação da área da ocorrência 04, concentração 02 ...... 122 Figura 16.52 - A área do terraço que se encontra tomada por vegetação densa ...... 122 Figura 16.53 - Fragmento de base de garrafa de grés do século XIX/XX...... 123 Figura 16.54 - Fragmentos de faiança fina e cerâmica utilitária...... 123 Figura 16.55 - Fragmento de faiança com cronologia desconhecida...... 123 Figura 16.56 - Fragmentos de faiança sem decoração e faiança fina com técnica de decoração do tipo thin line e transfer azul...... 123 Figura 16.57 - Localização de material arqueológico em área de estrada no terraço marinho (ponto 073) ...... 125 Figura 16.58 - Localização de fragmentos de faianã fina sem decoração e fragmento de garrafa de grès ...... 125 Figura 16.59 - Material arqueológico. Faiança fina e peça de chumbo não identificada ..... 125 Figura 16.60 - Surgência de água mineral que brota da barreira. Na área onde foi localizada uma maior quantidade de material arqueológico...... 125 Figura 16.61 - Cacimbas localizadas na base do morro...... 126 Figura 16.62 - Outras cacimbas localizadas na base do morro126 Figura 16.63 - Vestígios de casa demolida dentro da propriedade ...... 127 Figura 16.64 - Casa-grande ...... 128 Figura 16.65 – (A) Fachada Literal onde se observa o estado de ruína da edificação (B) Resto de material construtivo. Telha canal e tijolos circulares de uma das colunas da varanda. . 128

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RELAÇÃO DE TABELAS

Tabela 16.1 - Levantamento dos bens históricos na AII ...... 45 Tabela 16.2 - Distribuição dos Pontos Documentados na Prospecção de Superfície...... 70 Tabela 16.3 - Coordenadas geográficas PE 0650 LA/UFPE ...... 105 Tabela 16.4 - Coordenadas geográficas ...... 115 Tabela 16.5 - Coordenadas geográficas ...... 116 Tabela 16.6 - Coordenadas geográficas ...... 118 Tabela 16.7 - Coordenadas geográficas ...... 120 Tabela 16.8 - Coordenadas geográficas ...... 124 Tabela 16.9 - Coordenadas geográficas ...... 127

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APRESENTAÇÃO

A empresa PROJETEC – PROJETOS TÉCNICOS LTDA apresenta o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) referente ao PROJETO CONDOMÍNIO PRAIA DE GUADALUPE, contratado por Costa de Guadalupe Empreendimentos Imobiliários para avaliação da viabilidade ambiental do empreendimento a ser implantado no município de Sirinhaém - . O presente documento foi elaborado por uma equipe técnica plural composta por especialistas das diferentes áreas abordadas pelo estudo, visando, assim, a um satisfatório atendimento das disposições apresentadas pelo Termo de Referência nº 07/2015 elaborado pela Agência Estadual de Meio Ambiente de Pernambuco (CPRH). Ressalta-se, ainda, que o presente documento e projeto são resultados de um esforço iterado de estudos ambientais. Tendo em vista que a região em questão foi alvo de avaliações anteriores, promovidas pelo empreendedor com vistas à obtenção de licença ambiental para outros projetos, foi acordado, junto à CPRH, o aproveitamento de tais estudos mediante sua complementação nos pontos definidos pelo que se convencionou chamar de “Documento Estruturador”, o qual foi apresentado ao órgão em reunião com o Núcleo de Avaliação de Impactos Ambientais no dia 03/11/2015. Chama-se atenção, também, para a metodologia utilizada na elaboração do Projeto Condomínio Praia de Guadalupe, a qual lançou mão dos resultados providos pelos especialistas de cada área do Estudo Ambiental para conformar o projeto às restrições ambientais verificadas. Portanto, o projeto ora apresentado, assim como o próprio EIA, também é fruto de um esforço plural de especialistas, tendo sido esse elaborado à luz das restrições ambientais verificadas para a localidade. O trabalho elaborado foi segmentado em capítulos conforme disposição presente no termo de referência que o orientou. Foram, portanto, compilados 20 capítulos com as informações entendidas como de interesse para a compreensão do empreendimento Projeto Condomínio Praia de Guadalupe e seus impactos ambientais. O capítulo primeiro apresenta o empreendimento, o proponente, a empresa consultora incumbida da elaboração do estudo e a equipe multidisciplinar

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responsável, bem como as funções de cada um dos seus integrantes dentro do trabalho realizado. O segundo capítulo aborda os objetivos e justificativas para realização do empreendimento. São abordados aspectos técnicos, ambientais, econômicos e político-governamentais, através da apresentação de justificativas para a implantação do empreendimento. A descrição e análise de alternativas locacionais para o projeto ora proposto é objeto do terceiro capítulo deste EIA, onde é feita avaliação dos aspectos técnicos, econômicos, sociais e ambientais envolvidos. Sequencialmente, é efetuada apreciação e comparação das alternativas apresentadas, indicando-se aquela escolhida. Ao longo do quarto capítulo, realiza-se a Descrição Técnica do Empreendimento em suas fases de implantação. A alternativa escolhida é apresentada de forma detalhada mediante caracterização da área onde está inserido o empreendimento e do uso atual dado ao solo da propriedade. Para o Projeto Condomínio Praia de Guadalupe, serão indicadas as áreas totais da gleba e dos parcelamentos projetados. Além disso, são explicitadas as diretrizes de ocupação, infraestrutura e paisagismo propostas, as quais foram desenvolvidas através da observância aos conceitos de uso sustentável compatíveis com a localidade. O capítulo trata ainda da descrição das estruturas necessárias à implementação do empreendimento. É realizada a descrição do canteiro de obra que será utilizado, especialmente nos aspectos relacionados ao abastecimento d’água, esgotamento sanitário, destinação de efluentes e resíduos sólidos. A mão-de-obra utilizada é, também, caracterizada quanto a qualificação, faixa etária e outros aspectos considerados relevantes. Os empreendimentos associados ao projeto e aqueles passíveis de serem atraídos pela implantação desse são descritos através de uma sumarização do perfil dos mesmos. Por fim, são expostas informações relativas ao planejamento do projeto: Prazo; Cronograma das etapas de execução; Recursos e Investimentos previstos. Em sequência, o quinto capítulo apresenta os Planos e Programas de Desenvolvimento existentes para a localidade. Foram levantados planos e programas de desenvolvimento propostos e em implantação na área de influência do Projeto Condomínio Praia de Guadalupe, tendo sido dada ênfase àqueles que guardam

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relação direta com o projeto. Por fim, é apresentada a relação do empreendimento com os preceitos do Plano Pernambuco 2035. O capítulo seis constitui a análise jurídica, na qual é contemplado o conjunto de leis e regulamentos federais, estaduais e municipais que incidem sobre o empreendimento em questão. Procede-se com uma análise das limitações impostas ao projeto e são apresentadas as medidas adotadas para promoção das compatibilizações necessárias. Ao longo do sétimo capítulo, são apresentadas as Áreas de Influência do Empreendimento e as justificativas adotadas para sua delimitação. Essas áreas foram delimitadas a partir de sucessivas reuniões realizadas entre o Núcleo de Avaliação de Impactos Ambientais (NAIA) e a equipe multidisciplinar responsável pela elaboração do estudo, de forma a atender às exigências do órgão licenciador. O oitavo capítulo abrange o diagnóstico ambiental detalhado das áreas de influência, o qual foi construído conforme preconizado pelo Documento Estruturador apresentado ao NAIA. Ao longo do diagnóstico, são caracterizados os meios Físico, Biótico e Socioeconômico mediante utilização de dados já publicados e exaustivas investigações de campo realizadas no período de estudos. Ao fim do diagnóstico, é apresentado o passivo ambiental verificado na área de influência do empreendimento. Mediante identificação das ações impactantes ao longo do capítulo nove, são analisados os impactos ambientais potenciais nos três meios diagnosticados, com relação às diferentes fases de implantação do empreendimento. A avaliação foi realizada em observância às propriedades cumulativas, sinérgicas e distributivas dos impactos identificados. Em sequência, o capítulo dez, discorre a respeito das medidas orientadas à minimização, eliminação, compensação ou mesmo potencialização dos possíveis impactos relativos ao empreendimento. No décimo primeiro capítulo, são abordados os Programas Ambientas propostos para as diferentes fases do projeto, sendo, portanto, consolidadas as medidas identificadas anteriormente. Os programas foram construídos de maneira a permitir o acompanhamento da evolução dos impactos ambientais do empreendimento, permitindo a adoção de ações complementares na medida que essas se mostrem necessárias.

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Os capítulos doze e treze discutem, respectivamente, os temas relativos à Compensação Ambiental e ao Prognóstico da Qualidade Ambiental. O último compara os cenários ambientais na presença e ausência do empreendimento tendo por base as informações advindas do diagnóstico realizado. Nos capítulos catorze e quinze são condensadas as conclusões da equipe técnica responsável quanto à viabilidade ambiental do empreendimento e as referências bibliográficas. O capítulo dezesseis envolve o diagnóstico do patrimônio cultural, abrangendo a caracterização etno-histórica dos municípios que compõem a área de influência do Projeto Condomínio Praia de Guadalupe. Os impactos que o pretendido empreendimento poderá causar ao patrimônio histórico e arqueológico são objeto do décimo sétimo capítulo. Em sequência, o capítulo dezoito elenca os programas voltados à minimização desses potenciais impactos. No capítulo dezenove são apresentadas as referências bibliográficas que subsidiaram a análise do patrimônio cultural. Por fim, no capítulo vinte estão dispostos os anexos, ou seja, documentos relevantes à elaboração do estudo ora apresentado. De forma a facilitar a consulta e a compreensão, os capítulos supracitados foram divididos em cinco volumes dispostos da seguinte maneira: Volume I: Caracterização do Empreendimento – Capítulos 1 ao 6; Volume II: Diagnóstico Ambiental – Capítulos 7 e 8; Volume III: Análise de Impactos, Prognóstico e Conclusões – Capítulos 9 ao 15; Volume IV: Análise do Patrimônio Cultural – Capítulo 16 ao 19 e Volume V: Anexos.

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16. PATRIMÔNIO CULTURAL

Como parte do EIA/RIMA do Projeto Condomínio Praia de Guadalupe, foi feita a avaliação do patrimônio cultural (arqueológico) da área no contexto de inserção macro-regional, assim como a caracterização etno-histórica e arqueológica da Área de Influência Indireta, com ênfase nos aspectos da cultura material e arrolamento dos bens legalmente protegidos pela União, por intermédio do IPHAN, e daqueles protegidos pelo Estado de Pernambuco, e ainda aqueles de interesse dos órgãos municipais de cultura e/ou educação, encarregados da proteção de bens culturais. O diagnóstico dos bens arqueológicos eventualmente existentes na Área de Influência Direta foi buscado através de:  Dados secundários, com base na produção acadêmica referente à arqueologia na área de influência;  Coleta de informações de campo, com base na:

o Prospecção de superfície na área do empreendimento; e

o Testemunhos orais dos habitantes daquela área.

A propriedade em que se pretende implantar o Projeto Condomínio Praia de Guadalupe está inserida no município de Sirinhaém, no litoral Sul do Estado de Pernambuco. Compreende uma área de 123,2 hectares, junto à foz do rio Formoso. Do ponto de vista do patrimônio histórico e arqueológico, foi considerada Área de influência Direta (AID) aquela onde esse patrimônio poderia vir a sofrer os impactos, de maneira primária, ou seja, onde haveria uma relação de causa e efeito. No caso, a área de implantação do empreendimento. Ainda sob o ponto de vista da preservação de sítios arqueológicos, obras que porventura incluam a mobilização de material, como abertura de vias de acesso etc., representam ações de intervenção. Desse modo, tanto as áreas que eventualmente fornecerão material de aterro ou aquelas que receberão o material de desmonte deverão ser consideradas para efeito de acompanhamento arqueológico (afeto à da licença de instalação - LI), e durante a execução da obra. A área de influência indireta corresponde às áreas onde os efeitos são induzidos pela existência do empreendimento e não como consequência de uma ação

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específica do mesmo; assim foi considerada como área de influência indireta os municípios de Sirinhaém, Rio Formoso e Tamandaré.

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16.1. METODOLOGIA

Neste Estudo, foram consideradas as áreas de influência direta e de influência indireta do Projeto, que foram submetidas a metodologias distintas de estudo, levando-se em conta a iminência dos riscos de destruição. O Diagnóstico do Patrimônio Histórico e Arqueológico da AII foi elaborado a partir do levantamento de dados secundários, enquanto que na AID, além do levantamento de dados secundários, foi realizado um levantamento arqueológico de campo e um levantamento da história oral da propriedade. O levantamento de campo contemplou todos os compartimentos ambientais significativos no contexto geral da área a ser implantada, restringindo-se a uma prospecção visual de superfície, sem coleta de amostras. A metodologia foi orientada de modo a atender o que preconiza o Art. 1º da PORTARIA IPHAN Nº 230, DE 17 DE DEZEMBRO DE 2002, publicada no D.O.U. de 18/12/02 para execução de Estudo Impacto Ambiental – EIA subitem Patrimônio Histórico e Arqueológico, relativo ao Empreendimento “Propriedade Guadalupe”, com vistas à obtenção da Licença Prévia.

 Etapa de Gabinete

Levantamento de dados secundários (bibliográfico) com vistas à contextualização arqueológica e etno-histórica da área de influência do empreendimento, que inclui o levantamento do estado atual do conhecimento acerca dos bens históricos existentes no entorno. Nesta etapa foram buscadas informações relacionadas às primeiras investidas colonizadoras, tanto de portugueses quanto de holandeses, assim como os escritos relativos à resistência indígena. Na contextualização etno-histórica foi considerada praticamente uma abrangência regional. Buscou-se ainda localizar e estudar informações acerca de sítios arqueológicos pré-históricos e históricos, com vistas a uma análise e avaliação de eventuais alterações que pudessem vir a ser provocadas, em locais de valor histórico e arqueológico, nas áreas de influência direta e indireta do empreendimento.

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 Etapa de Campo

A par dos estudos documentais, foi realizado um levantamento preliminar de campo restrito a uma prospecção visual de superfície na área de influência direta. Buscou-se ainda, através de contatos com moradores locais, obter informações acerca de vestígios que pudessem conduzir à localização de sítios arqueológicos naquelas cercanias. O levantamento de possíveis indicadores de registro arqueológico, através da prospecção visual de superfície em toda a área de interferência direta do empreendimento contemplou todos os compartimentos ambientais significativos no contexto geral da área a ser implantada, conforme preconiza o Art 2º da Portaria IPHAN Nº 230, supracitada. A metodologia previu, ainda, que os locais em que fossem observadas possíveis ocorrências de vestígios arqueológicos seriam georreferenciados, de modo a serem incorporados à planta do EIA do empreendimento. Tais ocorrências seriam ainda registradas em ficha compatível com o registro preliminar de sítios arqueológicos, atendendo apenas àqueles itens que não demandem interferência no solo (prospecção de subsuperfície). Com base no potencial arqueológico da área, estabelecido a partir dos dados secundários e da prospecção em campo, fez-se o diagnóstico, com a caracterização e avaliação da situação atual do patrimônio arqueológico da área de estudo. Por sua vez, o Prognóstico foi elaborado a partir da avaliação do nível de impacto que poderá advir da implantação do empreendimento, sobre o potencial patrimônio arqueológico da área. De forma integrada, foram sugeridas diretrizes a serem adotadas nas fases subsequentes de implantação do empreendimento, de modo a levantar e proceder ao resgate de eventuais bens arqueológicos ameaçados e de possíveis medidas mitigadoras a serem implementadas, se for o caso.

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16.2. CARACTERIZAÇÃO DO CONTEXTO ETNO-HISTÓRICO DOS MUNICÍPIOS DA AII

Pernambuco foi uma das áreas pioneiras na ocupação da América portuguesa. Na faixa de litoral que hoje pertence ao estado foram dados os primeiros passos na ocupação de uma vasta porção de território que posteriormente se tornou um dos maiores centros produtores de riqueza no império português. No contexto das primeiras expedições de reconhecimento e vigilância realizadas no início do século XVI, Pernambuco acolheu a instalação de feitorias que serviam ao mesmo tempo como ponto de acumulação de mercadorias locais – especialmente o pau-brasil – e como estrutura defensiva. As primitivas feitorias foram instaladas entre 1516 e 1526 nas margens do Canal de Santa Cruz, onde atualmente estão os municípios de e Ilha de Itamaracá. A ocupação efetiva e sistemática do território iniciou- se, entretanto, somente com a instalação do sistema de capitanias hereditárias. Em março de 1535, Duarte Coelho aportou em Pernambuco para tomar posse de sua capitania, que ele batizou de Nova Lusitânia. Os limites da capitania de Duarte Coelho eram bastante diferentes dos limites do atual estado de Pernambuco. A doação recebida em caráter vitalício e hereditário compreendia toda a faixa de litoral que ia da boca sul do Canal de Santa Cruz até a foz do rio São Francisco. Na doação estavam incluídas a margem esquerda, as águas e as ilhas do rio. Por isso a jurisdição de Pernambuco alcançou posteriormente áreas muito remotas no que viria a ser a comarca do São Francisco, que englobava territórios atualmente pertencentes ao estado da Bahia. Duarte Coelho, diferentemente de outros donatários, empenhou-se em consolidar uma economia baseada na produção de açúcar, evitando a realização de expedições na busca de metais preciosos, apesar das pressões da coroa nesse sentido. Homem enérgico impôs uma ordem rigorosa na capitania, que começou a ocupar pela sua porção mais ao norte, inicialmente fundando Igarassu e depois . O primeiro donatário faleceu em Portugal em 1554, mas sua esposa Dona Brites de Albuquerque e seus filhos continuaram a obra de colonização de Pernambuco. Durante a segunda metade do século XVI os colonizadores europeus se esforçaram em dar combates aos povos nativos da região, principalmente os caetés, expulsando-os das férteis terras da várzea do rio Capibaribe e das zonas mais ao sul da capitania. Nessa época, por suas riquezas, a capitania já chamava a atenção

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de outros europeus excluídos na divisão do mundo entre portugueses e castelhanos. Em 1561 uma parte dos franceses que haviam sido expulsos do Rio de Janeiro decidiu tentar a sorte num ataque a Pernambuco, mas foram energicamente enxotados por Duarte de Albuquerque Coelho, o segundo donatário. Ainda nessa década realizou- se uma grande expedição de ataque aos caetés que foram dizimados e expulsos da faixa de terra que ia do até o rio São Francisco. A partir da consolidação da ocupação nas excelentes terras da várzea do Capibaribe e nos férteis terrenos do litoral sul da capitania, a agro-indústria açucareira experimentou um verdadeiro boom em Pernambuco. O problema da mão-de-obra foi remediado com a importação de escravos negros africanos, uma vez que os nativos não se adaptavam ao trabalho compulsório e às lides sistemáticas da agricultura e não havia braços livres e brancos para o cultivo. O número de engenhos cresceu substancialmente, passando de 23 em 1570, para 66 em 1583, 90 em 1612 e 150 em 1629.1 A riqueza dos colonos de Pernambuco alcançou grande renome na Europa e foi destacada em repetidas ocasiões por viajantes e cronistas que visitaram a terra durante o final do século XVI e o início do XVII. Por outro lado, as zonas do interior, onde a cana não se adaptava ou que eram distantes demais para uma produção economicamente viável de açúcar, começaram a ser ocupadas pelas atividades pecuárias. O gado, como mercadoria que se transportava a si mesmo, permitiu o surgimento de uma ocupação rala, mas efetiva, das zonas do agreste e posteriormente do sertão da capitania. Os rebanhos criados nessas áreas forneciam carne e força motriz aos engenhos e núcleos de povoação do litoral, formando uma economia subsidiária. Os criadores utilizavam os rios como roteiros de penetração, especialmente o rio São Francisco, que chegou a ser conhecido como o “rio dos currais”. Ao longo do século XVII a criação expandiu-se alcançando zonas do sertão do Ceará e do Piauí cuja produção convergia, na forma de gado vivo, carne salgada e couros para Pernambuco e Bahia. Antonil estimava em 800 mil cabeças o rebanho existente em Pernambuco no início do século XVIII. Entre 1580 e 1640 Portugal e suas colônias passaram ao domínio espanhol em virtude da união das coroas dos dois reinos em Felipe II, rei da Espanha. Nessa fase, um evento marcante influenciou significativamente o desenvolvimento histórico de Pernambuco: a invasão holandesa em 1630. Promovida pela Companhia

1 SCHWARTZ, S., “O Brasil Colonial, c. 1580-1750: as grandes lavouras e as periferias”, in: BETHELL, L., História da América Latina: América Latina Colonial, v. II, p. 343.

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Holandesa das Índias Ocidentais, fazia parte de um plano maior para desestabilizar o império colonial espanhol nas Américas. Os invasores permaneceram em Pernambuco até 1654, havendo ocupado ainda a zona do litoral na franja que vai da foz do São Francisco até São Luís, assim como alguns dos mais importantes portos fornecedores de escravos na África. Foi um período de conflito praticamente constante, que obrigou o deslocamento de populações para a Bahia e Rio de Janeiro, desorganizou a produção de açúcar e permitiu a fuga de escravos que formaram o poderoso Quilombo dos Palmares. Entre 1637 e 1644 a conquista foi administrada por João Maurício de Nassau, nobre humanista de origem alemã que trouxe a Pernambuco uma verdadeira corte de artistas e estudiosos e que se empenhou pessoalmente na urbanização do , transformando-o num verdadeiro centro urbano e deslocando desde então o centro nevrálgico da capitania de Olinda para o seu porto, outrora um pequeno vilarejo de pescadores e gente do mar. A expulsão dos contingentes da Companhia das Índias Ocidentais se completou em 1654 depois de nove anos de combates. O esforço da guerra foi suportado quase exclusivamente pela elite luso-pernambucana, o que deu azo para que essa elite exigisse um tratamento diferenciado por parte da recémrestaurada coroa portuguesa. A política metropolitana, porém, foi extremamente negativa para Pernambuco, sobrecarregando a capitania com novos impostos criados para custear uma política de alianças portuguesa na Europa que permitisse fazer frente à ameaça de retomada castelhana sempre presente. O cenário negativo se completava com a baixa nos preços do açúcar provocada pela concorrência dos produtores holandeses nas Antilhas e com a alta do preço dos escravos, ainda mais caros depois do surgimento das primeiras notícias de ouro no centro-sul da América portuguesa. Durante essa segunda metade do século XVII se formou no Recife uma comunidade mercantil que lentamente amealhou significativas fortunas, passando posteriormente a pleitear os cargos políticos locais. Preocupados em manter seu status quo político, já que o econômico se encontrava bastante danificado, a elite açucareira se esforçou para evitar que os mercadores do Recife, muitas vezes credores de altas somas dos eternamente endividados senhores de engenho, conseguissem ter acesso aos cargos da Câmara de Olinda. As desavenças entre os dois grupos forçaram a coroa a tentar uma solução de acomodação criando uma nova câmara no Recife em 1709, ato que fez estalar um conflito civil de pequenas proporções conhecido como Guerra dos Mascates, que se estendeu até 1711 e

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terminou com saldo negativo para a elite açucareira. O Recife ganhou então ainda mais importância, eclipsando de vez o velho burgo duartino. Entretanto, ao longo do século XVIII os interesses dos dois grupos, terra tenentes e comerciantes, foi lentamente convergindo e as alianças de família estimularam uma aproximação reticente de parte a parte. Os ressentimentos com a política metropolitana foram se agravando com a crescente espiral de medidas que incrementavam a exploração colonial, como o estabelecimento da Companhia Geral do Comércio de Pernambuco e Paraíba, que funcionou de 1759 a 1779 e o alvará de proibição de manufaturas na colônia proclamado em 1785. No final do século XVIII um novo ramo de produção assume considerável importância: o cultivo de algodão, uma vez que problemas de fornecimento às nascentes indústrias inglesas obrigaram os consumidores britânicos a buscar novos provedores de matéria-prima. A transferência da família real para a América em 1808 representou para Pernambuco uma sobrecarga fiscal. As vantagens conseguidas pela Abertura dos Portos decretada pelo príncipe regente D. João não foram suficientes para contrabalançar o impacto de um crescente incremento dos tributos para a manutenção da corte no Rio de Janeiro. O descontentamento que se acumulava desde o último quartel do século XVIII somou-se às influências das idéias liberais e ilustradas que chegavam com intensidade cada vez maior através dos estudantes que haviam passado por Coimbra ou outras universidades européias e dos livros contrabandeados para a capitania. Com a fundação do Seminário de Olinda em 1800 surgiu um verdadeiro pólo de difusão de idéias libertárias. Todos esseS ingredientes resultaram no estalar do movimento revolucionário republicano de 1817, o mais importante já ocorrido no império português. Os revolucionários chegaram a tomar o poder durante 75 dias, mas a repressão brutal da corte do Rio de Janeiro esmagou o movimento. A rebeldia pernambucana voltaria a ameaçar o poder central em várias ocasiões, mesmo depois da independência, sendo os movimentos de maior destaque os da Confederação do Equador em 1824 e o da Revolta Praieira de 1848. Em represália aos movimentos de 1817 e 1824 Pernambuco perdeu territórios que hoje formam Alagoas e integram a Bahia. Ao longo do século XIX o centro econômico do Brasil se deslocou para o eixo centro-sul. As regiões de São Paulo e Rio de Janeiro se caracterizaram como áreas de produção do café, produto que passou a ser o carro chefe das exportações brasileiras até bem entrado o século XX. Em Pernambuco as tentativas de

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modernização da produção açucareira com a introdução das usinas não foram suficientes para deter a perda de importância do estado no cenário nacional. Embora tenha se mantido como principal centro regional durante todo o século XIX e boa parte do XX, o estado não acompanhou o ritmo do desenvolvimento industrial do centro-sul do país, perdendo posições inclusive no âmbito regional. Atualmente, aproveitando- se da boa conjuntura econômica nacional, ensaia-se uma retomada do desenvolvimento com o estímulo à fixação de indústrias no estado.

16.2.1. Sirinhaém

Sirinhaém é um município da região Mata Sul do Estado de Pernambuco, situado a 79 quilômetros do Recife. Sua área é de 379 quilômetros quadrados. Localiza-se a uma latitude 08º35'27" sul e a uma longitude de 35º06'58" oeste. O nome do município significa, segundo Teodósio Sampaio, viveiro ou bacia dos siris2 Do século XVI nos chegam as notícias mais antigas do entorno de Sirinhaém. A ilha de Santo Aleixo já aparece localizada na cartografia por volta da segunda década desse século. Em 1526, passou pela região e aportou na referida ilha o espanhol D. Rodrigo de Acuña acompanhado de alguns poucos marinheiros, integrantes de uma malograda expedição às Ilhas Molucas no Oriente e que fora interrompida na altura no Estreito de Magalhães. Sua nau o abandonou em mãos de franceses na altura do rio São Francisco. Depois de ser abandonado também pelos corsários, saiu em batel por vinte dias até topar com a ilha, onde se restabeleceram e seguiram até a Feitoria de Pernambuco. “Nessa ilha tiveram a fortuna de encontrar alguma farinha de trigo, uma pipa de bolacha molhada, um forno e anzóis com que apanhavam muito peixe”.24 Alguns poucos anos depois, a expedição de Martim Afonso de Sousa, de passagem pelo litoral pernambucano, deparou-se com várias naus francesas embarcando pau-brasil. Na Ilha de Santo Aleixo, segundo prisioneiros feitos pelo expedicionário português, estariam duas naus corsárias, que fizeram vela antes que pudessem ser alcançadas.3 A região só seria efetivamente ocupada após a dizimação dos indígenas. Uma vez conquistadas as terras do Cabo de Santo Agostinho, por volta dos anos 60 do século XVI, o donatário Duarte de Albuquerque organizou uma

2 PEREIRA DA COSTA, A. F. Anais Pernambucanos, v. III, p. 12. 2 Idem, v. I, pp. 105, 115, 116. 3 Idem, v. I, p. 132.

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expedição às terras que margeavam o Sirinhaém. Comandando a flotilha ia Jerônimo de Albuquerque enquanto os contingentes que foram por terra eram comandados por Filipe Cavalcanti. O próprio donatário integrou a expedição como soldado, na Companhia dos Aventureiros. “Foi cruel e terrível esta nova campanha, e a fama das vitórias dessas duas empresas foi tanta, que ficou todo o gentio desta costa até o Rio de São Francisco tão atemorizado, que se deixava amarrar dos brancos como se fosse carneiro ou ovelha; e assim iam em barcos por esses rios, e os traziam carregados deles a vender por dois cruzados ou mil réis cada um, que era o preço de um carneiro!”.4 Jerônimo de Albuquerque foi agraciado com terras na região, que passaram a integrar um morgadio.5 Após a conquistas aos índios, a região se tornou apta a receber as unidades de produção de açúcar. Um dos primeiros engenhos da região foi o Nossa Senhora do Rosário, fundado por Diogo Martins Pessoa. Este engenho estava instalado nas terras de sua mulher D. Filipa de Melo, falecida em 1612. A produção era escoada pelo rio e reembarcada em sua foz com destino ao Recife. A movimentação cada vez mais intensa deu origem a um pequeno povoado, que prosperou e tornou-se uma paróquia. Este povoado situava-se não muito distante da foz do rio Sirinhaém. Em 1612 faz-se a primeira menção à igreja matriz da freguesia de Sirinhaém no Livro de Razão do Estado do Brasil. Tratava-se de uma capela de engenho dedicada a Nossa Senhora da Conceição. Dez anos depois, o casal Jacques Peres e Catarina Álvares doaram terras ao patrimônio da igreja em troca da realização em caráter perpétuo de uma missa para os cônjuges doadores. Em 1621 foi convocada uma finta (contribuição extra) para a edificação de uma igreja na chapada de um outeiro que se localizava em terras que seriam posteriormente do engenho Palma. Os proprietários de fazendas e engenhos da freguesia deveriam ser fintados em até seis mil réis. O responsável pela arrecadação foi o mesmo Jaques Peres, a quem já nos referimos. Em 1 de junho de 1627, instalou-se a municipalidade de Sirinhaém. O ato formal foi realizado pelo Ouvidor Geral de Pernambuco, Dr. Diogo Bernardes Pimenta. A vila foi criada por ordem do quarto donatário da capitania, Duarte de Albuquerque Coelho, conde e senhor de Pernambuco e marquês de Basto. O termo da vila – isto

4 Idem, v. I, p. 399. 5 Idem, v. I, p. 226.

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é, a sua jurisdição territorial – era originalmente muito limitado. Foi ampliado por provisão do loco-tenente do donatário, o General Matias de Albuquerque que para isso emitiu provisão em 17 de dezembro de 1629. Por esse ato legal, passou a integrar o termo da Vila Formosa de Sirinhaém todo o terreno desde o rio Maracaípe, ao norte, até o Pirassununga, ao sul. A frente de costa da vila portanto, abarcava cerca de 14 léguas de extensão. Essa mesma extensão foi aplicada para o interior, ficando os limites territoriais identificados com marcos. Há constância de que possuía um pelourinho.

Figura 16.1 - Vila Formosa de Sirinhaém, Frans Post, 1645

Na década de 30 do século XVII, a vila contava com dezoito engenhos: Siberó de Baixo, Aratangil, Tapicuru de Cima, Tapicuru de Baixo, , Araquara, Cocaúpe (Cucaú), Enxagoa, Rio Formoso, Trapiche, Jaciru, Ilhetas, Una e mais cinco sem nomes conhecidos. Desses cinco engenhos se sabe que quatro tinham capelas dedicadas a Todos os Santos, Nossa Senhora da Palma, Nossa Senhora do Rosário e São Braz e um era chamado pelo nome da proprietária, D. Catarina de Ataíde, localizado no rio Jagoare. Assim como ocorreu em outras áreas de produção da capitania, a invasão holandesa em 1630 provocou a fuga de alguns dos proprietários destes engenhos, que acabaram confiscados pela Companhia das Índias Ocidentais e foram colocados em leilão. Vem do período holandês a informação de que a área tinha uma excelente produção de açúcar – tanto em quantidade como em qualidade. Pelo rio subiam pequenas embarcações para recolher nos engenhos as caixas de açúcar. Além do

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açúcar produzia-se também mandioca, fumo, cerais, hortaliças e frutas. Com o que se cultivava de mandioca produzia-se muita farinha. O entorno era farto em peixes, crustáceos e caça. As matas locais forneciam ainda madeiras de excelente qualidade, inclusive o valorizado pau-brasil. Na vila viviam cerca de 500 habitantes. A prodigalidade da natureza fazia de Sirinhaém um local onde se buscavam mantimentos em momentos de escassez, tal como ocorreu durante a seca de 1722 a 1724, quando, segundo Frei Jaboatão, muitas pessoas dirigiram-se à vila “em que pela amenidade e frescura do terreno era somente onde se achava alguma farinha”. A igreja matriz que foi edificada com os recursos da finta de 1621 foi posteriormente reconstruída em 1791, conforme consta de uma lápide que foi encontrada nos alicerces de suas ruínas em 1877. Nesse ano realizaram-se as obras para a construção do cemitério público da localidade. Este cemitério foi inaugurado em 9 de fevereiro de 1878. Com a ruína do antigo templo, erigiu-se a atual igreja matriz. Tanto a antiga, como a nova, abrigaram a irmandade de Nossa Senhora da Conceição, que já existia em 1701. Quase 150 anos depois, em 1842, a Irmandade do Santíssimo Sacramento teve seus compromissos aprovados por provisão provincial. A vitalidade da vila pode ser aferida pelo fato de que depois da igreja matriz, outros templos foram edificados. Ainda na primeira metade do século XVII foram construídas as Igrejas de São Roque, do convento de São Francisco e de Nossa Senhora do Livramento. Antes dos meados do século XVIII já existia a do Rosário dos Homens Pretos. Inicialmente projetou-se a edificação da igreja do Livramento num terreno doado por Lopo de Albuquerque, em 1631, em um outeiro situado fora da vila. Entretanto, o capitão-mor Antônio Feijó de Melo doou outro terreno dentro da vial, contando com seis braças e meia de frente e de profundidade até as margens do rio. A obra também foi financiada com as contribuições dos moradores e contava ainda com uma casinha de taipa nos fundos, para habitação do seu capelão. Esta igreja passou a sediar, por volta dos anos 30 do século XVIII, uma irmandade do Livramento. O templo foi totalmente reconstruído em 1768 e reformado em 1840. Como visto anteriormente, em 1630, ocorreu a invasão de Pernambuco pela Companhia das Índias Ocidentais Holandesas. A região foi cenário de intensa movimentação de tropas e de combates ferozes. No dia 11 de abril de 1635, deu-se o ataque à vila de Sirinhaém. O major Andreszoon, depois de renhido combate,

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abandonou a peleja recuando de forma desordenada. Meses depois, no início de junho, Matias de Albuquerque levantou o acampamento que tinha em Sirinhaém e rumou para as Alagoas acompanhado de mais de três mil colonos e quatro mil índios. Os recursos para a defesa da capitania haviam se esgotado. O invasor pode então tomá-la e fortificá-la. Em 1638, Sirinhaém recebeu de Nassau um escudo. Nele figurava um bonito cavalo a passo, uma referência às excelentes montarias ali criadas. Um plano da vila que consta da obra de Barleus permite vislumbrar um núcleo urbano composto por cerca de cinquenta casas, formando uma via extensa e larga. Dispostas separadamente, figuram mais outras cinquenta habitações. Estavam presentes também uma grande igreja em forma de cruz latina, o convento franciscano e sua respectiva igreja, em frente a ele uma capela dedicada a Nossa Senhora do Bonsucesso e mais um templo em construção nas cercanias da fortaleza. Este forte, bem estruturado, possuía oito bastiões e defendia as entradas da vila por terra e pelo rio. Já não existia no final do século XIX. Em Sirinhaém instalou-se uma câmara de escabinos, versão holandesa da câmara municipal. A vila foi uma das contempladas com uma escola para crianças criada por determinação dos administradores eclesiásticos da conquista holandesa. Na Assembleia convocada por Nassau em 1640, a vila enviou um escabino e quatro moradores. Ao correr a notícia do regresso de Nassau a Europa, os escabinos de Sirinhaém manifestaram-se pela sua permanência, juntamente com várias outras câmaras dos domínios holandeses na América. A fortaleza foi tomada pelos luso-brasileiros em 1645, logo após o início da campanha da Restauração. Comandaram o cerco os mestres de campo André Vidal de Negreiros e Martins Soares Moreno. Em 1º de setembro a fortaleza entregou- se. Na ocasião foram rendidos os 62 soldados holandeses e os 49 índios que guarneciam o forte. Os indígenas foram sumariamente enforcados, enquanto que a maior parte dos holandeses se integrou ao exército restaurador. Tomado o forte, caiu a vila. O comandante holandês foi substituído por Álvaro Fragoso de Albuquerque. Já em outubro deste ano de 1645, a câmara de Sirinhaém havia retomado suas atividades. Em sessão do dia 7, assinou a adesão e aclamação da Liberdade Divina. Concluída a expulsão dos holandeses em 1654, a retomada no ritmo normal de cultivo e ocupação da região foi comprometida pelas constantes investidas dos quilombolas cujo centro mais importante era Palmares. Com o intuito de proteger a vila e os engenhos do seu entorno, o governo da capitania estabeleceu em 1661 um

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aldeamento indígena com seu respectivo contingente de tropas. Rezava o despacho do governador Brito Freire: “Convindo ao serviço de S. Majestade conservar os índios que tem o capitão-mor D. Diogo [Camarão], para cujo efeito é necessário fazer-lhe os favores possíveis, como também para que dê os índios que bastarem para formar uma aldeia no distrito da vila de Sirinhaém, para oposição dos negros levantados, que continuamente salteiam aqueles moradores, foi ordenado que se dê ao dito capitão- mor cem cruzados em fazendas, ao seu tenente sessenta cruzados e ao ajudante do tenente vinte e cinco cruzados por conta de seus soldos”6. O esforço de guerra no combate ao Quilombo de Palmares inclui ainda a instalação de um depósito de munições e provisões em 1674, por ordem do governador Pedro de Almeida. A região do engenho Cucaú, no termo de Sirinhaém, chegou a figurar em um dos acordos firmados entre os quilombolas e a administração colonial em 1678. Lá deveriam ser instaladas famílias de negros que seriam admitidos como vassalos do rei, mas permaneceriam sob a autoridade direta dos chefes quilombolas. Na localidade havia um engenho chamado Cucaú que foi destruído quando da instalação da Usina Cucaú, ao redor da qual surgiu um povoado7. A região foi ainda cenário para a instalação de outros aldeamentos indígenas além do referido de 1661. Havia um de índios carapotós entre os rios Sirinhaém e , que em 1699 já não existia. Em 1740, os aldeamentos que restavam foram reunidos em um único núcleo em Una, que deu origem a uma freguesia dentro do termo de Sirinhaém. O orago da aldeia era São Miguel e os religiosos responsáveis por ela eram os carmelitas. O aldeamento de Una foi destruído em 1711 como represália contra o apoio daqueles indígenas aos mascates do Recife. Na vila de Sirinhaém vários moradores aderiram ao partido da nobreza da terra, ou seja, aos senhores de engenho: o capitão-mor da vila, Francisco Fernandes Anjo, Rodrigo de Barros Pimentel, Amaro Lopes, Antônio Cavalcanti, Pe. José Maurício Vanderlei, capitão de ordenanças Antônio da Silva Maranhão. Todos sofreram represálias na fase posterior ao conflito. Em 1730, o Conselho Ultramarino autorizou a liberação de 600 mil réis para a construção de uma cadeia para a vila. A provisão de 9 de abril daquele ano atendia ao pedido da câmara Sirinhaém. Seguindo a arquitetura civil característica do

6 Citado em PEREIRA DA COSTA, A. F. Anais Pernambucanos, v. II, p. 497. 7 Idem, v. V, p. 228.

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período, o edifício tinha dois pavimentos: o superior para a câmara municipal e o inferior para a cadeia. Em 1746, o termo de Sirinhaém contava com 20 capelas. Os 4.166 habitantes se distribuíam em 804 fogos. O açúcar continuava a nortear a economia local: a vila possuía 25 engenhos moentes e 2 de fogo morto. Os contingentes militares estavam constituídos por 6 companhias de auxiliares, 3 de cavalaria, 1 de Henriques e 6 de ordenanças. Juntas, totalizavam um efetivo de 919 homens. Em 1826 a força miliciana da província tinha em Sirinhaém um de seus 11 regimentos de infantaria e um dos 4 de cavalaria. Em meados do século XVIII, um observador contemporâneo, o Pe. Loreto Couto, descrevia assim a vila: “A muito nobre vila de Sirinhaém, a que dá o nome de Formosa o delicioso rio que a banha toda por um lado, fica a quinze léguas ao sul de Olinda. O seu porto é frequentado de muitas embarcações da Bahia e Recife por causa do comércio. Está assentada na aprazível chã que forma um espaçoso e alegre outeiro, tem boas casas, e nelas são moradores mais de 500 vizinhos. Ao meio dia, em um alto, está fundado o magnífico convento do patriarca S. Francisco. Tem quatro suntuosos templos, onde se celebram os ofícios divinos com pompa, asseio e riqueza. Compreende seu termo parte da freguesia de Ipojuca, e da de Una e nela tem mais de 30 engenhos e 9.853 almas de confissão”8. O censo de 17779 indica uma população de 8.929 pessoas, número que se elevou para 9.796 em 178210. Em 1805, o município de Sirinhaém juntamente com o termo de Santo Antão somava 41.280 habitantes.11 Em 1743, a vila passou a contar com uma cadeira de gramática latina dirigida pelos franciscanos, em atenção aos pedidos da câmara e dos moradores da localidade. O professor seria o próprio presidente do convento, o Frei Mariano de Santo Antônio.12 Pela sua localização em área de grande presença de ancoradouros, Sirinhaém e seu entorno testemunharam um intenso tráfico de pessoas e mercadorias. Esses movimentos se tornavam mais intensos em momentos de conflitos, tais como foram os da invasão holandesa, da Guerra dos Mascates e, no século XIX, durante o ciclo de revoluções de Pernambuco. De Sirinhaém marcharam

8 Citado em PEREIRA DA COSTA, A. F. Anais Pernambucanos, v. III, p. 11 9 AHU_ACL_CU_015, Cx. 127, D. 9665. 10 AHU_ACL_CU_015, Cx. 145, D. 10638. 11 AP I:536. 12 AP V:80.

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ainda tropas para reprimir o movimento dos Cabanos, em 1835. Os inúmeros pontos de desembarque foram muito utilizados por traficantes de escravos após a definitiva proibição do comércio negreiro pela lei Eusébio de Queiroz de 1851. Em 11 de outubro de 1855, por exemplo, aportou um navio com mais de 200 africanos. As autoridades locais apreenderam todos os cativos.13 Em 12 de junho de 1895, a lei estadual n. 100 alçou Sirinhaém à condição de cidade. Em 1907, a lei municipal de 30 de dezembro criou o distrito de Cucaú. Em 1911, o município contava com três distritos: Sirinhaém, Cucaú e Pau Branco. A lei estadual n. 1365, de 16 de maio de 1919, alterou o quadro ao passar para Rio Formoso o distrito de Cucaú. Outra modificação ocorreu em 1920, quando a lei municipal n. 70, de 27 de maio, criou o distrito de Barra de Sirinhaém. Dessa forma, na divisão administrativa do ano de 1933, o município continha três distritos: Sirinhaém, Barra de Sirinhaém e Pau Branco, situação mantida nas divisões administrativas de 1936 e 1937. O decreto-lei estadual n. 235, de 9 de dezembro de 1938, modificou o nome do distrito de Pau Branco para Ibiratinga. Por isso, no quadro administrativo de 1944 a 1948 o município aparece constituído de três distritos: Sirinhaém, Barra de Sirinhaém e Ibiratinga. A mesma situação se mantém nas divisões territoriais de 1960 e de 2005.

16.2.2. Rio Formoso

Rio Formoso é um município pernambucano situado na macrorregião Zona da Mata e na Região de Desenvolvimento Mata Sul. Localiza-se a 92 quilômetros da capital do Estado. Suas coordenadas geográficas são 8º 39’ 39,9” Sul e 35º 09’ 11,6” Oeste. Sua área atual é de 240 quilômetros quadrados. A sede do município situa-se a 9 quilômetros da foz do rio Formoso. A área do atual município esteve originalmente vinculada ao termo da vila de Olinda. Em 1627 passou a integrar o termo da Vila Formosa de Sirinhaém. As terras deste município foram tomadas aos indígenas no ano de 1566, logo após a consolidação da presença portuguesa na área do Cabo de Santo Agostinho. A incursão foi organizada pelo donatário Duarte de Albuquerque. Por mar, as forças foram comandadas por Filipe Cavalcanti e por terra por Jerônimo de Albuquerque (o velho). Em 1578, a região foi cruzada pela expedição de Francisco

13 AP IX:389.

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Barbosa da Silva rumo ao São Francisco. O comandante margeou a costa em um caravelão, enquanto Diogo de Castro liderava uma coluna com 70 homens que avançaram por terra. Na passagem pelo rio Formoso o grupo foi vitimado por um insólito ataque de porcos selvagens. Após as campanhas militares dos colonizadores, os caetés fugiram do local e a área foi dividida em grandes sesmarias, uma delas entregue ao próprio Jerônimo de Albuquerque. O local passou a ser ocupado por engenhos. Em 1630, já eram 18 as unidades produtoras de açúcar.14 Segundo o relatório de Adrian Verdonck, os engenhos de Sirinhaém produziam muito açúcar e de boa qualidade. As safras rendiam de seis a sete mil arrobas por unidade. O próprio rio era usado como caminho de escoamento da produção. Durante a invasão holandesa a região de Sirinhaém foi cenário de intensa movimentação de tropas. O núcleo inicial do município foi o engenho que deu nome à localidade. A capela do engenho Rio Formoso tinha como invocação São José. Provavelmente já existia no início do século XVII. Em 1630, por ocasião da invasão holandesa, era sua proprietária D. Catarina Fontes. Assim como muitos outros proprietários que fugiram para as capitanias ao sul do rio S. Francisco, D. Catarina abandonou sua fábrica, que acabou leiloada pela Companhia das Índias Ocidentais em 1637, sendo adquirida por Rodrigo de Barros Pimentel pela quantia de 240.000 florins. Ainda durante a presença holandesa foi proprietário do engenho o holandês Roland Carpentier. A área permaneceu vinculada à produção de açúcar nos séculos seguintes, como atestam os pedidos de demarcação de terras de engenhos registrados no Conselho Ultramarino em 1776, 1803 e 180715. Uma outra estrutura vinculada à “civilização do açúcar” presente na área do município era um passo, isto é, um depósito para o embarque do produto. O referido passo se encontrava em uma camboa, conhecida como rio do Passo, que partia da margem esquerda do rio Formoso, a cerca de 3 quilômetros da foz. Esta camboa foi reunida a uma outra chamada Mangabeira em 1853, conectando-se assim com o rio Sirinhaém. Em 1844, a região permanecia ainda dominada pela produção

14 Sibiró de Baixo, Arantagil, Tapicuru de Cima, Tapicuru de Baixo, Camaragibe, Araquara, Cocaúpe (Cucaú), Enxagoa, Rio Formoso, Trapiche, Jaciru, Ilhetas, Una e mais cinco sem nomes conhecidos.

15 Em 1776, a viúva Joana de Brito e seus filhos, ao rei D. José I, pedindo que se faça o tombamento e demarcação das terras de seu engenho situado em Rio Formoso (AHU_ACL_CU_015, Cx. 125, D. 9473); em 1803, André Alves da Silva, ao príncipe regente D. João, pedindo provisão para tombar e demarcar suas terras (AHU_ACL_CU_015, Cx. 240, D. 16102); em 1807, Francisco Antônio da Cunha, por seu procurador José Antônio Pinto, ao príncipe regente [D. João], pedindo provimento para que se faça demarcação e tombamento das terras de seu engenho (AHU_ACL_CU_ 015, Cx. 265, D.17730).

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do açúcar. De 642 engenhos existentes em Pernambuco naquela data, 34 situavam- se em Rio Formoso (ou seja, mais de 5% do total). Na tentativa de defesa da barra do rio Formoso, estabeleceu-se em 1632 um reduto. Nesse ano, os holandeses queimaram duas caravelas e apreenderam cinco navios que tinham entrado no rio Formoso para socorrer a resistência. A fortificação acabaria – após dura batalha – conquistada no ano seguinte pelos holandeses. O reduto foi estabelecido por ordem de Matias de Albuquerque no esforço de guerra de resistência ao invasor. Sua estrutura era bastante frágil e contava apenas com duas peças de artilharia, de ferro e de pequeno calibre. A guarnição era de vinte homens capitaneados por Pedro de Albuquerque. O objetivo do reduto era dar cobertura aos navios que se encaminhavam para o porto fluvial do rio Formoso. As conexões com a mata sul eram importantes nessa fase. Por ela entravam e saíam homens, munições e provisões. Além disso, a posição do reduto permitia que servisse de posto de observação, pois de cima do outeiro onde estava situada pode-se divisar toda a área circunvizinha. Este outeiro situa-se na margem direita do rio, entre as povoações de Pedra e da Barra do Rio Formoso. Era conhecido como lugar do Reduto. Para o lado do rio, a encosta do outeiro é bastante íngreme e termina em uma ponta outrora denominada Focinho do Reduto. Esta área ficava em frente às terras da propriedade Mariassú, que faziam parte do engenho União. Ao tomar conhecimento da ereção do reduto, o comando holandês determinou que o mesmo fosse atacado a fim de desimpedir o acesso às localidades ao sul do Recife. Contando com a ajuda de Calabar, realizou-se o ataque na madrugada do dia 7 de fevereiro de 1633. Dez navios e quinze lanchões desembarcaram cerca de 600 atacantes. A pequena guarnição do reduto resistiu ferozmente mesmo vendo-se cercada por todos os lados conseguindo provocar 80 baixas mortais entre os atacantes. Restaram com vida apenas o comandante que sobreviveu a um grave ferimento e um soldado. Os próprios holandeses reconheceram a bravura dos defensores, dispensando bom tratamento ao capitão Albuquerque.

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Figura 16.2 - Detalhe do Forte de Vila Formosa de Sirinhaém, no mapa da Vila, autor desconhecido.

O reduto foi arrasado pelos invasores. O que se sabe sobre sua existência se deve a referências textuais e iconográficas. Em 1869 uma comissão do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano esteve no local em busca de vestígios do reduto. O local acima descrito foi identificado como provável sítio da fortificação. Segundo o relatório da visita, não se encontrou nenhum vestígio na parte superior do outeiro, embora, a toponímia conservasse a referência ao reduto. Apontaram-se algumas pedras nas margens do rio (que apareciam na maré baixa) como sendo vestígios da construção. Mas a comissão do IAHGP não concordou que pudessem ser da construção “por não serem elas semelhantes as que se costuma empregar em edificações desta ordem”. Na mesma área, entretanto, encontrou-se um pedaço de peça de artilharia de um palmo e meio. Informa ainda a comissão; “Convém igualmente notar, que ainda distinguem-se, segundo nos informaram, traços do fosso, que protegia o reduto, no qual é impossível penetrar-se em razão dos matos que cresceram no fundo e nas bordas; que nas vizinhanças se tem apanhado balas de diversos calibres, extraídas pelos proprietários e rendeiros do lugar; que finalmente é tradição geral entre as pessoas mais antigas,

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que o outeiro daquela fortificação é o que se confronta com a propriedade Mariassú”.16

Amparados na referência de Brito Freire de que o reduto servira mais como atalaia do que como fortificação efetivamente, e diante da existência daquele único outeiro no local, a comissão deu como inequívoca a localização, apesar da ausência de vestígios mais numerosos. Na realidade, as obras de defesa representadas em planta não foram localizadas.17 Em que pese a credibilidade deste e de outros estudos realizados pelo IHGP, a área apontada carece de uma prospecção arqueológica que traga à luz remanescentes materiais que possam vir a comprovar ou negar as assertivas fundamentadas em bases hipotético-dedutivas. Tal como ocorreu na identificação do Forte Real do Bom Jesus, construção em terra do mesmo período, onde a pesquisa arqueológica revelou de forma inequívoca sua localização e dimensões, além de resgatar detalhes relacionados ao armamento utilizado e o cotidiano de seus ocupantes.18 Durante a visita de D. Pedro II, o monarca já havia ordenado a colocação de uma bandeira imperial no local. O mastro durou alguns anos, mas parece já haver desaparecido uma década depois. Em 12 de outubro de 1928, colocou-se no local duas lápides comemorativas. Na ocasião, foi realizada uma grande solenidade com a presença de várias autoridades. Este episódio foi um dos que inspirou a inclusão de um leão no brasão do estado de Pernambuco, símbolo da bravura dos pernambucanos na defesa de sua terra. A localidade esteve posteriormente diretamente envolvida nos eventos da Guerra dos Mascates. Vários contingentes de apoio ao Recife foram recrutados ali. Paulo de Amorim Salgado, terra tenente em Rio Formoso, foi um dos comandantes de milícias que apoiou o governador Sebastião Castro e Caldas e a causa dos mascates recifenses. Curiosamente, outro proprietário de engenho do lugar –

16 COSTA, João B. R. Relatório sobre o local do reduto do Rio Formoso. Revista do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano. Recife: 1869, v. II, n. 24, pp. 747-755. 41 ALBUQUERQUE, Marcos. Fortes de Pernambuco: imagens do passado e do presente/Marcos Albuquerque, Veleda Lucena, Doris Walmsley – Recife: Graftorre, 1999. pp. 118-120.

17 ALBUQUERQUE, Marcos. Fortes de Pernambuco: imagens do passado e do presente/Marcos Albuquerque, Veleda Lucena, Doris Walmsley – Recife: Graftorre, 1999. pp. 118-120.

18 ALBUQUERQUE, Marcos; LUCENA, Veleda. Forte Real do Bom Jesus: resgate arqueológico de um sítio histórico. Recife: CEPE, 1988. 64 p. il.

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Cristóvão da Rocha Vanderlei – assumiu o comando das milícias fiéis ao bispo D. Manuel Álvares da Costa e à Câmara de Olinda. Rio Formoso tem ainda seu nome inscrito nas cenas de heroísmo nacional também na guerra do Paraguai, para onde o município enviou muitos combatentes como voluntários da pátria. Outra glória histórica do município foi a acolhida favorável aos movimentos abolicionistas no final do império. Quando chegou a notícia da libertação dos escravos no Ceará, em 1884, vários proprietários imitaram a iniciativa, entre eles Sebastião Acioly, Barão de Goicana, Prisciliano Acioly e José de Amorim (Barão de S. André). Embora o açúcar tenha sido sempre a grande riqueza da região, a área do município oferecia ainda outros recursos importantes. Em 18 de março de 1789, por exemplo, um edital do governador da capitania de Pernambuco proibia o corte de madeiras que pudessem ser utilizadas na construção de embarcações militares de grande porte. Em 1791, outro edital, datado de 26 de janeiro, reservava entre outras áreas as matas ciliares do rio Formoso em toda a sua extensão para o interior. Nessa área se extraía sucupira. A disponibilidade de madeiras, a navegabilidade do rio e sua proximidade à baía de Tamandaré foram elementos elencados na defesa que fez o presidente da província José Carlos Mairinck da Silva Ferrão em 1827 da instalação de um arsenal da marinha neste local. Na segunda metade do século XIX registra-se ainda a presença do cultivo de café. As potencialidades minerais da região chegaram a ser investigadas, tanto para a extração de minério de ferro (areno-argiloso no lugar de Destilação), como de carvão mineral, do qual se encontraram algumas amostras no lugar de . Em 1833, em atendimento às disposições do Código de Processo Criminal de 1832, o ato da presidência da província datado de 17 de maio elevou a localidade à qualidade de vila. A câmara municipal ficou instalada em prédio doado pelo Coronel Francisco Casado Lima. A proprietária do engenho Serra d’Água, D. Francisca Antônia Lins, doou um prédio para servir de cadeia. Três dias depois da oficialização da criação da vila, determinou-se a criação da comarca por ato do Conselho Geral da província. A instalação da comarca se daria no ano seguinte, em 10 de março de 1834, sendo o seu primeiro magistrado o Dr. Manuel Teixeira Peixoto. A partir de 1893, já no regime republicano, passou a gozar do estatuto de município autônomo. Seu primeiro prefeito foi o Dr. Francisco Romano de Brito Bastos. A vila passou ao estatuto de cidade e sede municipal, por determinação da lei provincial nº 258, de 11 de junho de 1850. A lei provincial nº 496, de 29 de maio

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de 1861 e a lei municipal de 17 de maio de 1905, criaram o distrito de Propriedade. Também em 1905 foi determinado o estabelecimento e anexação ao município de Rio Formoso do distrito de Tamandaré. Em 1911, a divisão administrativa indica que o município estava constituído por 3 distritos: Rio Formoso (sede), Propriedade e Tamandaré. Este quadro foi alterado pela lei estadual nº 1365, de 16 de maio de1919, quando o município de Rio Formoso anexou o distrito de Cucaú, desmembrado que foi de Sirinhaém. Em 1927, uma lei municipal de 5 de janeiro criou o distrito de Santo André. A divisão administrativa referente ao ano de 1933 lista quatro distritos compondo o município: Rio Formoso, Cucaú, Santo André e Tamandaré. Não figura nesta divisão de 1993 o distrito de Propriedade do Una (ex-Propriedade). As divisões territoriais datadas de 31 de dezembro de 1936 e 31 de dezembro de 1937 mantêm o quadro inalterado. O decreto-lei estadual nº 952, de 31 de dezembro de 1943, altera o nome do distrito de Santo André para Saué. No quadro fixado para vigorar no período de 1944-1948, o município é constituído de 4 distritos: Rio Formoso, Cucaú, Saué e Tamandaré, situação mantida na divisão territorial de 1º. de julho de 1960. O distrito de Tamandaré foi desmembrado de Rio Formoso e elevado à categoria de município pela lei estadual nº 11.257, de 28 de setembro de 1995. Por isso, a divisão territorial datada de 15 de julho de 1997 lista apenas 3 distritos no município: Rio Formoso, Cucaú e Tamandaré. A situação se altera na divisão territorial datada de 15 de julho de 1999, quando o município fica constituído por 2 distritos: Rio Formoso e Cucaú. Em 1837, D. Francisca Antônia Lins, proprietária do engenho Rio Formoso, doou a capela de sua propriedade para servir de igreja matriz. Esta capela teria sido fundada em 1794. O patrimônio da freguesia ficou garantido com a doação de Francisco da Rocha Vanderlei de uma propriedade rural. A população das redondezas contribuiu para que as reformas necessárias fossem realizadas na capela, habilitando- a para servir de matriz. Em 4 de maio de 1840, a Lei n. 85 criou a freguesia de São José do Rio Formoso. Esta lei determinou que sua área territorial fosse desmembrada das jurisdições de Una e Sirinhaém. O primeiro vigário da localidade foi o Pe. Luis Guimarães. A capela de engenho, transformada em igreja matriz, passou a abrigar a partir de 1846 a irmandade do Santíssimo Sacramento. Outra irmandade, a de Santo Antônio, se instalaria também no templo, tendo seus compromissos aprovados em 1856. Em 1864, sob os auspícios do vigário Antônio Marques de Castilho, a igreja foi

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reformada. Outro templo da cidade foi fundado em 1843. Trata-se da igreja de Nossa Senhora do Rosário, edificada pelo capuchinho italiano Frei Plácido de Messina. Nesta igreja instalou-se a irmandade de Nossa Senhora do Livramento, estabelecida em 1860. Em 1862 a Irmandade erigiu igreja própria. O mesmo frade capuchinho fundou ainda a capela dedicada ao Coração de Maria em 1856. Esta capela fazia parte do cemitério da localidade, havendo tudo sido edificado em um terreno de 300 palmos quadrados doado pelo Major Francisco da Rocha Vanderlei. Registra-se ainda a existência de uma igreja dedicada a Nossa Senhora do Guadalupe, situada num alto, já na praia dos Carneiros, separada do reduto pela camboa de Ariquindá. A área quase a totalidade pertenceu aos herdeiros da Viscondessa de Rio Formoso. O nome “dos carneiros” refere-se provavelmente a um primitivo proprietário do local e seus herdeiros (José Henrique Carneiro)19. Em 1822 a Junta Governativa da Província de Pernambuco ordenou o estabelecimento de várias escolas de primeiras letras, inclusive em Rio Formoso. Em 10 de março de 1838 foi criada a escola de instrução primaria para meninas. Convém salientar que em 26 de junho de 1857 começou a circular o jornal O Vapor do Rio Formoso, impresso no Recife e redigido por Gaspar de Menezes Vasconcelos de Drummond. Em 7 de fevereiro de 1889 foi fundada a Sociedade Patriótica 7 de fevereiro para relembrar a batalha do reduto. Em 4 de fevereiro de 1901 foi fundado o Grêmio Agrícola RioFormosense, cujo primeiro presidente foi Manuel Xavier Paes Barreto. Os dados demográficos disponíveis para a área indicam um processo de adensamento populacional. Na época da invasão holandesa a vila de Sirinhaém contava, segundo testemunhos contemporâneos, com cerca de 500 habitantes. O censo de 177720 indica uma população de 8.929 pessoas, número que se elevou para 9.796 em 1782.21 Já no século XIX, o censo de 1872 especifica a população em Rio Formoso. Nele registra-se a presença de 7.664 pessoas distribuídas em 1.332 habitações.22 Em 1940 o município contava com 17.570 habitantes, número que se elevou para 37.723 em 1950.

19 BARRETO, C. X. P. O Rio Formoso, pp. 84 e ss. 20 AHU_ACL_CU_015, Cx. 127, D. 9665. 21 AHU_ACL_CU_015, Cx. 145, D. 10638. 22 Censo da Província de Pernambuco, 1872, p. 103 (Biblioteca do IAHGP).

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16.2.3. Tamandaré

Tamandaré é um município pernambucano da região de desenvolvimento Mata Sul. Localiza-se a 08º45'35" de latitude Sul e 35º06'17" de longitude Oeste, com área de 190 quilômetros quadrados. A localidade de Tamandaré foi alçada ao estatuto de município em 28 de setembro de 1997, beneficiando-se da lei estadual complementar nº 15, de 1990, que permitia a emancipação a uma localidade que tivesse população superior a 10 mil habitantes e eleitorado maior que 30% dessa população. Teodoro Sampaio afirma que Tamandaré vem de “tamanduá” (o que se assemelha ao tamanduá). Mas a grafia “Itamandaré”, que aparece em vários documentos, parece desautorizar esta interpretação. Uma outra versão é que “Tamandaré” vem do vocábulo tupi tamoindaré (tab-moi-inda-ré) que significa o repovoador. De acordo com a tradição dos índios tupis, Tamandaré seria um pajé a quem o grande dos trovões, Tupã, revelou que erradicaria os homens. Passado o cataclismo que inundou a terra, Tamandaré, escolhido por Tupã para repovoar a região, já estava abrigado numa arca gigantesca com sua família e assim permaneceram até cessar o dilúvio". Um Noé tropical.23 Do nome desta localidade se originou o título de nobreza dado por Pedro II a Joaquim Marques Lisboa, o marquês de Tamandaré, patrono da marinha brasileira. Em 1859, ele acompanhava a comitiva imperial. Na passagem pela localidade solicitou ao Imperador autorização para retirar do pequeno cemitério que lá havia os restos mortais de seu irmão, Manuel Marques Lisboa, falecido em combate durante a os conflitos da Confederação do Equador, em 1824. O município ainda é jovem, mas a localidade é antiga. O porto de Tamandaré era o melhor ancoradouro do sul da capitania.24 Seus moradores pediram ao rei no final do século XVII que o mesmo fosse melhorado com a instalação de um molhe para tornar mais segura a atracagem dos navios. Na grande enseada em que se encontra, localizava-se também o povoado com igrejinha e a fortaleza de Santo Inácio de Tamandaré. Situada a 132 quilômetros do Recife, guarnecia o ponto onde os arrecifes se interrompem formando a barra da baía de Tamandaré.

23 BARRETO, C. X. P. O Rio Formoso, p. 61. 24 Em 1815, Diogo Jorge de Brito produziu uma Planta Hidrográfica do Porto de Tamandaré (AP VII:266).

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Em setembro de 1645 uma esquadrilha holandesa atacou e destruiu os navios comandados por Jerônimo Serra Paiva, que vinha com reforços da Bahia, estava ancorada na baía de Tamandaré. O porto foi importante no esforço de guerra contra o holandês. Lá desembarcaram dois terços de combatentes, somando 800 homens, em parte comandados por André Vidal de Negreiros. De lá marcharam para o Cabo. Em 1646, João Fernandes Vieira, no esforço de guerra contra o invasor holandês, estabeleceu uma fortaleza precariamente edificada, que, acabando o combate, foi abandonada e ruiu. O mesmo Vieira, na qualidade de supervisor das fortalezas da costa, iniciou outro forte em 1677. Em 1680 estava posta em arrematação a obra da fortaleza de Tamandaré, sob a supervisão de João Fernandes Vieira. A obra iniciada era uma estrutura de pedra e cal com esplanadas de cantaria. Ergueram-se baterias que foram artilhadas, mas em 1683 ainda prosseguiam os trabalhos. Naquela altura era empreiteiro do forte o mestre Francisco Pinheiro, que recebeu 3.000 cruzados de pagamento, sendo 2.000 em açúcar e 1.000 em dinheiro. Apesar disso, em 1688 ainda não estava concluída, o que só ocorreu em 1691. a capela dedicada a Santo Inácio só foi concluída em 1780. Comandava o forte em 1710, quando do início da Guerra dos Mascates, o militar Fonseca Jaime, que apoiou a parcialidade do Recife. Em 19 de setembro de 1711, o pernambucano Francisco Gil Ribeiro pôs em sítio a fortaleza que havia se convertido em praça forte dos partidários do Recife. O sítio só foi levantado por ordem do governador Félix José Machado. Em 1745 o forte estava artilhado com 28 peças, delas 24 de ferro e 4 de bronze. Estava bem aprovisionada de munição e a guarnição de 44 homens era comandada por um sargento-mor. Em meados do século XVIII passou por reformas dirigidas pelo engenheiro militar Diogo da Silveira Veloso. Em 1812 a fortaleza foi reconstruída. Governava a capitania Caetano Pinto de Miranda Montenegro. Em 1817, a área do entorno do forte foi usada como acampamento das tropas realistas que marchavam da Bahia para reprimir o movimento republicano pernambucano. O comandante Cogominho de Lacerda instalou-se na fortaleza em 5 de maio de 1817. A fortaleza voltou a ser cenário de operações militares em 1824, quando as forças republicanas pernambucanas que haviam tomado o forte em 8 de junho, foram rudemente atacadas pelas tropas imperiais provenientes da Bahia em 2 de setembro.

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Um relatório militar de 1825 descreve da seguinte maneira a fortaleza:

“é um quadrilátero de 287 palmos de lado interior, fortificado segundo o sistema abaluartado, tendo as faces dos blauartes de 113 palmos; os flancos que são aproximadamente perpendiculares às cortinas, de 45 e a cortina de 220 palmos; as linhas de defesa são fixantes, sendo as faces dirigidas a 1/6 do ângulo do flanco; é bordado de um fosso de 38 palmos de largura defronte das faces, e de um caminho coberto de 12 palmos de largura.”

Em 21 de novembro de 1859 foi visitada por Pedro II, que sempre muito curioso da história dos locais, examinou detalhadamente o que restava das muralhas. No final do século XIX já estava em ruína havia tempo. De sua artilharia restavam 28 canhões, três deles de bronze, de fabricação holandesa (um de 1626 e dois de 1646). Destacava-se um obus de bronze com as armas de Portugal e Espanha, indicativo de ter sido produzido entre 1580 e 1640. A fortaleza conta com um farol. O primeiro aparelho era equipado com uma lâmpada de óleo mineral de três pavios fabricada na França por F. B. Bernard.25 As terras no entorno do povoado de Tamandaré eram bastantes férteis e nelas se cultivou além da cana-de-açúcar, o algodão, o café, o fumo e cereais. Contava ainda com curso d’água potável perene. Por conta das boas condições da região, da fartura de madeiras de qualidade e da excelência do porto natural, o governador de Pernambuco José Carlos Mairinck da Silva Ferrão chegou a propor em 1827 a criação de uma cidade e de uma arsenal da marinha na localidade. Reproduzimos aqui o ofício enviado pelo governador ao ministro da marinha: “Estando eu nessa corte, tive ocasião de conversar com o Exmo. Marquês de Paranaguá, então ministro e secretário de Estado da repartição que V.Exca. tão dignamente ocupa, sobre as vantagens que oferece o porto de Tamandaré, o melhor desta província, e um dos melhores de toda a costa do Brasil. Esse porto, que pode abrigar uma esquadra de grandes navios, está situado ao sul do Cabo de Santo Agostinho nos limites desta província. O seu ancoradouro é limpo, e a

25 BARRETO, op. cit., p. 76.

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sua entrada é fácil; e apenas tem uma fortaleza má e arruinada que o defende. Em ocasião de guerra oferece cômodo desembarque ao inimigo que nos quiser atacar; nem tem nas vizinhanças bastantes moradores, que se lhe oponham, estando em distância da mal situada e pouco populosa vila de Sirinhaém, a 22 léguas da capital. Por estas e outras razoes que ponderei aquele Ministro, ordenou-me ele que a minha chegada a esta província, examinasse bem a qualidade do porto, mandasse tirar a sua planta, e com ela desse conta do mais que achasse para se tomar as medidas que se julgassem convenientes. O arsenal de marinha que temos neste porto do Recife é quase inútil, porque nem o ancoradouro interior admite grandes navios, nem se proporcionam outros meios de construção naval pela carência de rios, de madeiras e de fáceis conduções, entretanto que Tamandaré oferece tudo a desejar; está vizinho das matas de Sirinhaém, que abundam em boas madeiras, tem légua e meia ao norte o Rio Formoso, por onde podem descer as madeiras do interior, e légua e meia ao sul o rio Una, cujas margens são cobertas de excelentes matas, e até fica mais perto das Alagoas, de onde podem vir com muita facilidade quantas madeiras se precisem. (...). O terreno é muito igual, o clima é muito saudável e até um regato perene e de boa água atravessa toda aquela planície, a qual está dividida em pequenas porções, cujos donos, como estou informado, não tendo meios de as cultivar e amanhar, as venderiam por cômodos preços”.26

A região teve em 1835 mais uma fase de grande movimento bélico, quando da repressão ao movimento dos Cabanos, na área sul da província. Vivia-se a fase da regência da minoridade do Imperador Pedro II, reconhecidamente conturbada pelos conflitos políticos provinciais derivados das mudanças nos arranjos políticos entre o centro e as periferias do Império. Tamandaré teve ainda um grande lazareto. O hospital contava com um pavilhão de isolamento constituído de quatro prédios em forma de T, comunicados por

26 Citado em PEREIRA DA COSTA, A. P. Anais Pernambucanos, v. IX, pp. 237-8.

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uma galeria com 5 metros de altura. Havia ainda um pavilhão para serviços gerais, que contava com forno de padaria e outros apetrechos para panificação. Os pavilhões de tratamento eram de três classes. No pavilhão da administração havia uma torre com relógio. Existiam ainda várias repartições auxiliares reunidas em um extenso barracão de madeira, que abrigava também uma serraria. Finalmente, constavam das estruturas do lazareto uma olaria mecânica, uma ponte de trapiche com 78 metros de comprimento e 7 de largura, um desinfectório abastecido com água corrente e um cemitério com área de 2.500 metros isolados por cerca de arame.27 Originalmente pertencente ao termo da vila de Sirinhaém, criada em 1627. Desta vila desmembrou-se o município de Rio Formoso, em 1833. Tamandaré foi elevado à qualidade de distrito pela lei municipal de 17 de maio de 1905, subordinado ao município de Rio Formoso. O distrito continuou vinculado a este município como se verifica das divisões administrativas de 1911, 1936, 1937, 1944, 1948 e 1960. Em 1995, como sabemos, foi elevado a município. Está composto por dois distritos, a sede Tamandaré e Saue, conforme se nota das divisões administrativas de 1997 e 2005. Atualmente o município experimenta forte expansão imobiliária provocada essencialmente por seu perfil de balneário de veraneio. Interessante salientar ainda que, entre 7 de setembro de 1859 e 15 de setembro de 1863, circulou o jornal O Independente de Tamandaré, dirigido pelo engenheiro francês Henrique Millet.

27 BARRETO, op. cit., pp. 80 e ss.

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16.3. BENS TOMBADOS OU EM PROCESSO DE TOMBAMENTO NOS MUNICÍPIOS DA AII

Apesar da intensidade com que se desenrolaram na área episódios registrados pela história, as transformações, seja no processo de ocupação, seja nas tecnologias, não cuidaram de preservar para as sucessivas gerações os marcos das conquistas realizadas ao longo dos séculos. Na realidade, as povoações, as defesas construídas sofreram transformações ao longo dos séculos que aparentemente não guardam os traços das primeiras ocupações. O levantamento de dados secundários foi efetuado através de fontes da documentação textual secundária (fontes bibliográficas) e de dados cadastrais do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (registros do IPHAN) e Prefeitura local.

16.3.1. Sirinhaém

O município de Sirinhaém possui 01 bem histórico tombado a nível Federal. No levantamento realizado na base de dados do IPHAN, no Livro de Tombo do Arquivo Noronha Santos, foi localizado o tombamento inscrito nos livros Histórico e de Belas Artes, como apresentado abaixo.

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Sirinhaém - Nível Federal LIVRO DO TOMBO - Livro Histórico e Livro de Belas Artes

NOME: Convento de Santo Antônio OUTRAS Convento de Sirinhaém; Residência de São Francisco DENOMINAÇÕES:

USO ATUAL: Província Franciscana de Sto Antônio da Bahia

ENDEREÇO: Sirinhaém - PE

PROCESSO: 0145-T-38

LIVRO: Histórico N° DE INSCRIÇÃO: 140 DATA: 08/07/1940

LIVRO: Belas Artes

N° DA FOLHA: N° DE INSCRIÇÃO: 286 DATA: 08/07/1940

Construído em 1630 pelos franciscanos, sob a invocação de Santo Antônio. Reconstruído em 1912, com modificações no seu estilo primitivo. Sua construção remonta ao segundo quartel do século XVII. Foi DESCRIÇÃO SUMÁRIA: reconstruído em 1912, quando foram modificados alguns dos aspectos primitivos. Através de sucessivas reformas, vem sendo descaracterizado. Sofreu restauração no início da década de 1960.

O tombamento inclui todo o seu acervo, de acordo com a Resolução do OBSERVAÇÃO: Conselho Consultivo da SPHAN, de 13/08/85, referente ao Processo Administrativo nº 13/85/SPHAN.

FOTO:

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16.3.2. Rio Formoso

O município de Rio Formoso possui 01 bem histórico em processo de tombamento na esfera estadual. No levantamento realizado na base de dados da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco – FUNDARPE foi localizado o processo de tombamento deste bem.

Rio Formoso - Nível Estadual (em processo) FUNDARPE

NOME: Casa-grande do Engenho Estrela do Norte ENDEREÇO: Rio Formoso - PE ADMINISTRADOR: Francisco Julião de Oliveira Sobrinho Edificação localizada nas terras do Engenho , em bom estado de DESCRIÇÃO SUMÁRIA: conservação. Patrimônios de Pernambuco: Materiais e Imateriais, Recife: FUNDARPE, FONTE: 2009, p.52.

FOTO:

16.3.3. Tamandaré

O município de Tamandaré possui 01 bem tombado pelo Estado de Pernambuco. No levantamento realizado na base de dados da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco – FUNDARPE foi localizado o processo de tombamento deste bem.

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Tamandaré - Nível Estadual FUNDARPE

NOME: Fortaleza de Santo Inácio – Fortaleza de Tamandaré ENDEREÇO: Tamandaré - PE ADMINISTRADOR: Ministério da Marinha Fortaleza construída em pedra e cal no final do século XVII, sob o comando de João Fernandes Vieira. Foi ocupada pelos holandeses durante a invasão, recuperada pelos luso-brasileiros e abandonada com o fim da DESCRIÇÃO SUMÁRIA: guerra. Passou por inúmeras reformas e apresenta hoje aspecto gerado pela grande reforma de 1905. Grande parte das estruturas se encontra em ruínas. Atualmente encontra-se aberto à visitação pública. Patrimônios de Pernambuco: Materiais e Imateriais, Recife: FUNDARPE, FONTE: 2009, p.53.

Outro bem encontra-se em processo de tombamento pelo Estado, também através da FUNDARPE.

Tamandaré - Nível Estadual (em processo)

FUNDARPE

Nome: Igreja de São José de Botas

Endereço: Tamandaré - PE

Administrador: Família Accioly e outros A construção remonta a 1896, em área particular entre a praia dos Campas e a praia de Tamandaré (atual rua de São José). Apresenta estilo colonial maneirista com brasão da maçonaria no frontispício. Foi tombada pela Descrição Sumária: FUNDARPE a 24 de dezembro de 1999. Depois de ser recuperada pela comunidade, retomou as celebrações religiosas em 2001.

Patrimônios de Pernambuco: Materiais e Imateriais, Recife: FUNDARPE, Fonte: 2009, p.53.

Em resumo, o levantamento acerca dos bens históricos na área de influência indireta apresenta a seguinte síntese:

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Tabela 16.1 - Levantamento dos bens históricos na AII

Bens com Tombamento Bens em Processo de Definitivo Tombamento Município Total Estado de Estado de IPHAN IPHAN Pernambuco Pernambuco

Sirinhaém 1 0 0 0 1

Rio Formoso 0 0 0 1 1

Tamandaré 0 1 0 1 2

Além do levantamento documental dos bens tombados e em processo de tombamento, foi realizado um levantamento do estado atual de bens culturais não tombados, consideradas pela população como de importância para a história local e mesmo regional. Neste levantamento foram incluídos elementos da área urbana e da área rural. A seguir segue registro fotográfico dos referidos bens dos municípios que compõe a AII.

 Sirinhaém

 Casa de Câmara e Cadeia  Casa no Distrito de Barra de Sirinhaém  Igreja de N. Sra. da Conceição  Convento Franciscano

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Figura 16.3 - Capela de Nossa Senhora da Figura 16.4 - Capela de Santo Amaro Conceição

Figura 16.5 - Capela de São Roque

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Figura 16.6 - Casa grande, roda d'água e capela do Engenho Jaguaré

Figura 16.7 - Casa-grande do Engenho São José

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Figura 16.8 - Engenho Tinoco

Figura 16.9 - Engenho Ubaca Grande

Figura 16.10 - Casa de farinha de D. Isabel

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Figura 16.11 - Conjunto da antiga Usina Trapiche

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 Rio Formoso

 Casa-grande do Engenho Bom Jardim  Casa-grande do Engenho Mato Grosso  Casa-grande do Engenho Changuá  Ruínas da capela do Engenho Mamacaba  Senzala do Engenho Santa Cruz  Prédio da Sede do Centro Cultural Municipal, Museu Histórico  Casario (duas edificações com referências à arquitetura colonial)

Figura 16.12 - Igreja Matriz de N. Sra. do Rosário de São José

Figura 16.13 - Igreja de N. Sra. do Rosário dos Pretos

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Figura 16.14 - Igreja de Nossa Senhora do Livramento

Figura 16.15 - Engenho Pedra de Amolar

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Figura 16.16 - Sítio Histórico do Reduto

Figura 16.17 - Sobrados da Rua de São José

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Figura 16.18 - Sobrados da Praça Agamenon Magalhães

 Tamandaré

 Igreja de São Benedito  Casario da rua de São José  Ruínas da capela do Engenho Mamucabas

Figura 16.19 – Igreja de São Pedro

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Ainda, em levantamento realizado na base de dados do Laboratório de Arqueologia da UFPE, observou-se que a partir do século XVII, sobretudo após a Restauração Pernambucana, surgem edificações mais sólidas e que foram pelo menos parcialmente preservadas. Grande parte das edificações preservadas em Tamandaré, entretanto remonta ao século XIX. Tem-se aí deste período: a Fortaleza de Santo Inácio de Loyola ou Forte de Tamandaré, a Igreja de São Benedito, a Igreja de São Pedro, a Igreja de São José de Botas e a Casa do Padre José Rufino, a Casa dos Arcos e o Lazareto. A defesa do Porto de Tamandaré (da qual já se tratou) teve origem nas obras de defesa executadas às pressas pelas forças dos ‘campanhistas’ durante a guerra da Restauração; Abandonada por um longo tempo após a guerra, foi, no início de 1677, reconstruída (ou provavelmente construída uma nova obra) sob a responsabilidade de João Fernandes Vieira Novas obras foram encomendadas em 1683, que ficaram sob a responsabilidade do Mestre Francisco Pinheiro, que empreitou o serviço. Somente em 1691 as obras do forte foram concluídas. Sua capela, entretanto, apenas em 1780 foi construída. Posteriormente, em 1812 por ordem do Governador Capitão-General Caetano Pinto de Miranda Montenegro, o forte de Tamandaré foi reconstruído. Em 1822 sofreu novos reparos. Em 1880 estava armado com 18 peças e foi considerado fortificação de segunda.

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Figura 16.20 - Vista parcial da fachada principal do Forte de Tamandaré Foto: Doris Walmsley, abril de 1997

O forte de Tamandaré é uma fortificação regular com planta quadrangular, constituído com quatro baluartes que são ligados por terraplenos em três lados. A estrutura passou por inúmeras reformas e apresenta hoje aspecto gerado pela grande reforma de 1905. Grande parte das estruturas se encontra em ruínas. Atualmente encontra-se aberto à visitação pública.

 Igreja de São Benedito

Erguida no século XVII na Praia do Carneiros, a Igreja de São Benedito desde então é uma igreja particular de construção simples.

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Figura 16.21 - Fachada da Igreja de São Benedito Foto: Doris Walmsley, novembro de 1997

Como de costume àquela época, guarda em seu interior, nas laterais do altar, os restos mortais de seus antigos proprietários que ali foram sepultados. Uma prática que tem sido continuada, como se pode ver nas inscrições das lápides que chegam até 1986. Construída junto à foz do Rio Formoso, o avanço do mar naquele trecho da costa inspira cuidados quanto à preservação da igreja, que se refletem nas ações de proteção ali implantadas. Foi recentemente restaurada com recursos dos proprietários locais.

 Igreja de São Pedro

Localizada na Praia das Campas, a Igreja de São Pedro foi construída no século XVII tendo inicialmente como padroeira Nossa Senhora dos Navegantes e hoje é a Matriz de Tamandaré. Tendo atualmente como orago São Pedro, a igreja foi restaurada com recurso dos moradores locais.

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Figura 16.22 - Igreja de São Pedro voltada para o mar Foto: Doris Walmsley, novembro de 1997

 Igreja de São José de Botas e Casa do Padre Rufino

A igreja de São José de Botas foi construída no final do século XIX (1896) pelo Padre Rufino, em terreno particular, localizado ente as praias de Campas e de Tamandaré. Construída em estilo colonial maneirista, apresenta no frontispício um brasão da maçonaria com os instrumentos de trabalho do carpinteiro ao qual é consagrada, São José, que é seu oraga. Nesta igreja a imagem de São José se mostrava com botas, um cajado e trancelim de ouro.

Figura 16.23 - Ao lado direito da Igreja de São João de Botas, a casa do Padre Rufino Foto: Doris Walmsley, novembro de 1997

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Desativada a igreja por mais de 30 anos, neste ínterim a imagem foi roubada. Foi tombada como patrimônio estadual pela Fundarpe em 1999, e já em estado de pré-ruína, a igreja foi parcialmente recuperada com recursos doados pela comunidade, retomando suas atividades religiosas em 2001. Até 1930 o terreno nos fundos da Igreja serviu de cemitério para a população de Tamandaré. Consta que no terreno da igreja, possivelmente junto ao cruzeiro, estariam sepultados os dois membros da família Accioly que adquiriram a igreja. O levantamento da situação dos processos de tombamento do patrimônio de Pernambuco realizado por Rosa Bonfim, em abril de 2005, aponta que o processo de avaliação para tombamento da Igreja de São José de Botas em Tamandaré se encontra em andamento. Como grande parte do casario do século XIX, a casa do Padre José Rufino foi construída próxima ao mar (atual rua de São José). Sua fachada apresenta três janelas em verga reta e uma porta lateral. Do mesmo modo que a Igreja de São José de botas, a casa foi vendida no início do século XX à família Accioly.

 Casa dos Arcos

Construída também no século XIX, a Casa dos Arcos está localizada à beira mar, em Tamandaré (Rua São José). Apresenta uma fachada com duas janelas e uma porta em verga reta e varanda composta por quatro arcos.

Figura 16.24 - Fachada da Casa dos Arcos Foto: Doris Walmsley, novembro de 1997

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 Farol

É ainda do final do século XIX (1898) o início da construção de um farol metálico que foi instalado em um dos baluartes da fortaleza de Santo Inácio de Loyola. Naquela ocasião a fortaleza já havia sido desarmada e sua administração estava a cargo da Marinha, que mantinha o farol. Em 1932, o farol metálico foi substituído por outro de concreto, com altura de 18 metros no plano superior, e de 22 à altura do para- raios.

Figura 16.25 - Farol Foto: Doris Walmsley, novembro de 1997

 Lazareto

Moléstias como a lepra atormentaram por séculos a humanidade. Outras como a varíola e o tifo, atingiram mesmo o patamar de epidemias. Também a malária e a febre amarela constituíram-se em tormento, com altos índices de óbitos. No século XIX foi construído no em terras do atual município de Tamandaré um lazareto que serviria como depositório de doentes de malária, tifo e outras doenças contagiosas.

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O lazareto, parte permanece em pé, e parte foi recentemente demolido. Uma foto pouco mais antiga, mas de quando já fora construída a Escola de Pesca, ainda mostra o pavilhão demolido.

Figura 16.26 - Foto existente na Escola de Pesca de Tamandaré

O Lazareto representava uma complexa estrutura constituída por um Desinfetório (servindo recentemente para a carpintaria náutica e os serviços gerais do CEPENE); um Pavilhão de Serviços Gerais; um conjunto de três caixas d’água que atendiam em separado diferentes demandas, como o dispensário, os navios no porto. Outras estruturas compunham ainda o conjunto como “cafua” (prisão para escravos); o Pavilhão de Primeira Classe; o Pavilhão da Administração e ainda a primeira padaria de Tamandaré que atendia apenas ao hospital em funcionamento já em 1900.

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Figura 16.27 - Conjunto remanescente do Lazareto, na extrema esquerda o prédio da padaria Foto: Doris Walmsley, novembro de 1997

Da padaria, digna representante do processo de industrialização, restam ainda além da edificação em si, parte dos aparatos, peças importadas que chegavam com a modernização do Estado. O edifício, já sem coberta, ainda conserva seu forno.

Figura 16.28 - Face do prédio onde se vê o bueiro da padaria Foto: Doris Walmsley, novembro de 1997

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Figura 16.29 - Fornos da padaria Foto: Doris Walmsley, novembro de 1997

Figura 16.30 - Detalhe do material importado Foto: Doris Walmsley, novembro de 1997

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16.4. ESTADO ATUAL DO CONHECIMENTO ACERCA DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO EXISTENTE NA AII

O levantamento acerca do patrimônio arqueológico existente na área de influência indireta do Empreendimento foi realizado através de consulta ao Sistema de Gerenciamento de Patrimônio Arqueológico do IPHAN, das ocorrências arqueológicas catalogadas no Laboratório de Arqueologia da UFPE, além de publicações de órgãos gerenciadores de patrimônio cultural, histórico e arqueológico.

16.4.1. Sirinhaém

No cadastro do Laboratório de Arqueologia da UFPE consta 01 sítio arqueológico no município de Sirinhaém.

Sirinhaém Laboratório de Arqueologia da UFPE Sítio arqueológico: PE 0288 - Convento de Santo Antônio Coordenadas (UTM): 25L – 266896,30 – 9049907,54 Em 29/09/97, o Laboratório de Arqueologia da UFPE realizou um trabalho de prospecção arqueológica, georreferenciamento e Descrição sumária: documentação fotográfica, tendo avaliado as condições em que se encontrava e a sua potencialidade como monumento histórico. Observação: Localização de dados: Laboratório de Arqueologia da UFPE.

16.4.2. Rio Formoso

No município de Rio Formoso consta 01 ocorrência arqueológica no Sistema de Gerenciamento de Patrimônio Arqueológico do IPHAN.

Rio Formoso Sistema de Gerenciamento de Patrimônio Arqueológico - IPHAN Sítio arqueológico: Ocorrência 42 Coordenadas: Não informado Ocorrência de material arqueológico pré-histórico (cerâmica e lítico) em Descrição sumária: área de céu aberto, nas proximidades do rio Una, no município de Rio Formoso. Acervo UFPE - Núcleo de Estudos Arqueológicos Observação: Localização de dados: Fundação Seridó

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16.4.3. Tamandaré

No sistema de Gerenciamento de Patrimônio Arqueológico do IPHAN, consta 01 sítio arqueológico no município de Tamandaré.

Tamandaré Sistema de Gerenciamento de Patrimônio Arqueológico - IPHAN Sítio arqueológico: PE 0018 Ls ou Forte Tamandaré Coordenadas: 25L – 267892,32 – 9029861,96 Em 29/09/97, o Laboratório de Arqueologia da UFPE realizou um trabalho de prospecção arqueológica, georreferenciamento e documentação fotográfica, tendo avaliado as condições em que se encontrava. Concluiu-se que o Forte apresentava plenas condições para Descrição sumária: escavação, sobretudo na praça de armas, terraplenos e em seu exterior. Recomendou-se não executar obras antes da realização de escavações arqueológicas, haja vista o interesse histórico/científico do forte. Mesmo obras externas. Na ocasião, o Forte se encontrava ocupado com outra função: farol, residência (faroleiro).

Observação: Localização de Dados: Laboratório de Arqueologia da UFPE 29-9-1997

Foto:

Detalhe do acesso principal do Forte de Tamandaré Fonte: DML 1997

Em resumo, na área de influência indireta do Empreendimento foram localizados dois registros no IPHAN e um registro no banco de dados do Laboratório

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de Arqueologia da UFPE, sendo 01 ocorrência arqueológica pré-histórica e 02 sítios arqueológicos históricos.

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16.5. PROSPECÇÃO ARQUEOLÓGICA DE SUPERFÍCIE

A prospecção arqueológica na área em que se pretende implantar o Projeto Condomínio Praia de Guadalupe foi realizada entre os dias 24 e 29 de agosto de 2009. A metodologia utilizada em campo constituiu-se, inicialmente, na identificação do perímetro da área. Para tanto, em campo, os limites do terreno já haviam sido transferidos para o GPS, permitindo a recuperação de cada um dos vértices. A reconstituição dos limites do empreendimento foi efetuada com base nas coordenadas disponibilizadas pelo empreendedor, as mesmas que constam das plantas do Empreendimento. A área foi percorrida pela equipe de forma sistemática, de modo a abranger todos os compartimentos ambientais. Foram assinalados pontos que foram documentados fotograficamente e registrados na cartografia (pontos de referência). Buscou-se ainda levantar informações relativas à ocorrência de sítios arqueológicos através de contato direto e informal com a população local. Tais contatos foram particularmente úteis no sentido de se buscar transmitir à população local a importância e o interesse na preservação do patrimônio cultural das antigas populações.

Figura 16.31 - Entrevista informal com o Sr. Manoel Teodoro dos Santos, morador da área há 40 anos

Foto: Arqueolog Pesquisas, 2009

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Ainda no campo do resgate da memória, foram ouvidos representantes da família dos antigos proprietários. Trata-se da família de lô lô Cadete, que teria implantado os coqueirais de Guadalupe, o que remonta ao século XIX. A área do empreendimento apresenta, grosso modo, três feições distintas, que respondem diferentemente em termos de expectativa quanto ao potencial arqueológico de cada uma.  Área de Terraço marinho, atualmente com cobertura de coqueiros e gramíneas;  Área de morros, hoje com cobertura vegetal diversificada (antrópica e nativa), onde ocorrem trechos com remanescentes da Mata Atlântica, capoeira, coqueiros e gramíneas; e que outrora foi coberta pela Mata Atlântica;  Áreas alagadiças ribeirinhas com vegetação de mangue.

Do ponto de vista arqueológico, as áreas dos topos das elevações apresentam grande potencial arqueológico, por apresentar condições propícias à ocupação de grupos de cultivadores proto-históricos e históricos. Conforme têm demonstrado os estudos arqueológicos referentes a ocupações de grupos da tradição Tupiguarani, no litoral de parte do Nordeste, os sítio- habitação de tais grupos frequentemente incidem nas proximidades das cristas militares das elevações do terreno. Considerando que o litoral sul do atual Estado de Pernambuco foi uma área intensamente ocupada por grupos de cultivadores do tronco linguístico Tupi, há que se admitir o forte potencial arqueológico das áreas elevadas de Guadalupe. Nas áreas de terraço marinho, embora não referidas entre aquelas ocupadas por aldeias nativas, certamente o ecossistema ali existente representava um grande manancial complementar à economia horticultora. Do ponto de vista arqueológico, seu potencial está mais voltado à ocorrência fortuita de vestígios arqueológicos. As áreas alagadas, cobertas pela vegetação de mangue, têm seu delineamento bem mais mutágeno ao longo do tempo. Além de sofrer interferências diretas decorrentes dos processos de erosão e de deposição (tanto marinha quanto fluvial), são as áreas mais imediatamente afetadas por alterações dos níveis de água, tanto dos rios quanto do mar.

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Assim é que os manguezais, a par de representar um forte manancial como fonte proteica para as populações, não pode ter seus limites como parâmetro para o prognóstico de áreas de ocupação. Por outro lado, as terras baixas sob influência das marés são cortadas pelos riachos (braços de mar, camboas) Ariquindá, Graças e Mariassú, cuja importância se reflete no sistema de comunicação e de transporte da população. Deste modo, a navegação de porte variado, tal como ainda hoje, teria permitido a mobilidade de grupos humanos ao longo dos séculos, tanto no período histórico quanto no pré-histórico. Para a prospecção de superfície, com vistas a um levantamento de vestígios arqueológicos, o estágio atual da cobertura vegetal interferiu significativamente na visibilidade. Assim é que, em grande parte do terreno, a despeito dos esforços encetados, não foi possível uma postura conclusiva acerca da presença ou não de material arqueológico à superfície.

Figura 16.32 - Cobertura Vegetal impedindo a visualização da superfície do terreno Foto: Arqueolog Pesquisas. 2009

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Figura 16.33 - Cobertura vegetal impedindo a visualização da superfície do terreno Foto: Arqueolog Pesquisas. 2009

Figura 16.34 - Cobertura vegetal impedindo a visualização da superfície do terreno Foto: Arqueolog Pesquisas. 2009 Na tabela abaixo é apresentada listagem dos pontos documentados na prospecção de superfície, com o resultado da campanha em relação aos mesmos, indicando-se suas coordenadas geográficas e ilustrando-se sua localização em mapa.

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Tabela 16.2 - Distribuição dos Pontos Documentados na Prospecção de Superfície

Coordenadas geográficas Ponto Altitude Material arqueológico Zona Leste Norte Não foi localizado material 001 25L 269735,281 9039447,000 15,507 arqueológico. Não foi localizado material 002 25L 270703,375 9039782,948 15,747 arqueológico. Não foi localizado material 003 25L 270549,302 9039383,910 10,460 arqueológico. Não foi localizado material 004 25L 270541,376 9039147,503 6,615 arqueológico. Não foi localizado material 005 25L 270530,134 9039231,963 10,220 arqueológico. Não foi localizado material 006 25L 270516,935 9039543,252 28,244 arqueológico. Não foi localizado material 007 25L 270233,831 9039175,548 13,825 arqueológico. Não foi localizado material 008 25L 270277,282 9039153,375 12,863 arqueológico. 009 25L 270637,874 9039222,160 12,383 Presença de material arqueológico Não foi localizado material 010 25L 270453,305 9039372,403 13,584 arqueológico. 011 25L 270494,877 9039405,059 15,026 Presença de material arqueológico Não foi localizado material 012 25L 270331,200 9039125,566 11,421 arqueológico. Não foi localizado material 013 25L 270417,810 9039575,328 28,725 arqueológico. Não foi localizado material 014 25L 270380,693 9039579,760 29,927 arqueológico. Não foi localizado material 015 25L 270269,643 9039568,958 23,918 arqueológico. Não foi localizado material 016 25L 270159,805 9039540,591 17,910 arqueológico. Não foi localizado material 017 25L 270054,340 9039644,793 18,151 arqueológico. Não foi localizado material 018 25L 269792,767 9039801,944 16,709 arqueológico. Não foi localizado material 019 25L 269632,569 9039723,280 21,515 arqueológico. Não foi localizado material 020 25L 269501,889 9039545,827 18,631 arqueológico. 021 25L 269462,414 9039442,755 15,507 Presença de material arqueológico Não foi localizado material 022 25L 269349,799 9039414,425 15,026 arqueológico. Não foi localizado material 023 25L 269190,776 9039450,712 14,065 arqueológico. 024 25L 269110,028 9039439,564 10,220 Presença de material arqueológico

025 25L 269128,206 9039441,046 10,460 Presença de material arqueológico

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Coordenadas geográficas Ponto Altitude Material arqueológico Zona Leste Norte 026 25L 269157,757 9039448,201 12,383 Presença de material arqueológico

027 25L 269024,205 9039460,185 12,142 Presença de material arqueológico

028 25L 268971,470 9039459,151 9,979 Presença de material arqueológico Não foi localizado material 029 25L 268897,944 9039461,776 10,220 arqueológico. Não foi localizado material 030 25L 268805,374 9039477,741 9,979 arqueológico. Não foi localizado material 031 25L 268764,395 9039543,101 9,258 arqueológico. Não foi localizado material 032 25L 269307,716 9039469,347 9,979 arqueológico. Não foi localizado material 033 25L 269417,195 9039419,035 9,739 arqueológico. Não foi localizado material 034 25L 270251,931 9039526,280 25,120 arqueológico. Não foi localizado material 035 25L 270102,847 9039418,479 36,415 arqueológico. Não foi localizado material 036 25L 269977,880 9039376,257 39,780 arqueológico. Não foi localizado material 037 25L 270233,846 9039392,346 41,943 arqueológico. 038 25L 270292,034 9039435,220 59,967 Presença de material arqueológico Não foi localizado material 039 25L 270291,590 9039435,532 59,727 arqueológico. Não foi localizado material 040 25L 270174,735 9039322,577 42,424 arqueológico. Não foi localizado material 041 25L 270189,749 9039257,045 35,214 arqueológico. Não foi localizado material 042 25L 270144,772 9039299,860 39,780 arqueológico. Não foi localizado material 043 25L 270013,771 9039284,469 40,501 arqueológico. Não foi localizado material 044 25L 269852,726 9039378,882 15,507 arqueológico. Não foi localizado material 045 25L 270004,969 9039413,331 42,664 arqueológico. Não foi localizado material 046 25L 270181,551 9039453,889 32,811 arqueológico. Não foi localizado material 047 25L 270426,661 9039626,896 19,592 arqueológico. Não foi localizado material 048 25L 270446,490 9039725,733 21,515 arqueológico. Não foi localizado material 049 25L 270474,277 9039805,344 18,871 arqueológico. Não foi localizado material 050 25L 270036,900 9039332,264 43,501 arqueológico.

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Coordenadas geográficas Ponto Altitude Material arqueológico Zona Leste Norte Não foi localizado material 051 25L 270448,532 9039914,751 19,833 arqueológico. Não foi localizado material 052 25L 270343,158 9040014,207 19,592 arqueológico. Não foi localizado material 053 25L 270229,202 9040034,796 18,871 arqueológico. Não foi localizado material 054 25L 270165,249 9040051,654 16,709 arqueológico. Não foi localizado material 055 25L 270071,532 9040041,300 15,988 arqueológico. Não foi localizado material 056 25L 269946,575 9039993,747 14,305 arqueológico. Não foi localizado material 057 25L 271076,867 9040276,769 13,584 arqueológico. Não foi localizado material 058 25L 270583,911 9039791,945 14,305 arqueológico. Não foi localizado material 059 25L 270434,358 9040099,675 6,855 arqueológico. Não foi localizado material 060 25L 270394,735 9040771,650 5,894 arqueológico. Não foi localizado material 061 25L 270128,472 9040577,924 4,692 arqueológico. Não foi localizado material 062 25L 269755,071 9040291,118 3,731 arqueológico. Não foi localizado material 063 25L 268660,500 9039739,435 3,731 arqueológico. Não foi localizado material 064 25L 270581,943 9039344,374 4,211 arqueológico. Não foi localizado material 065 25L 270549,386 9039353,588 4,211 arqueológico. Não foi localizado material 066 25L 270540,393 9039309,493 4,452 arqueológico. Não foi localizado material 067 25L 270600,455 9039580,524 11,181 arqueológico. Não foi localizado material 068 25L 270521,783 9039054,371 6,134 arqueológico. Não foi localizado material 069 25L 270601,541 9039090,825 7,336 arqueológico. Não foi localizado material 070 25L 270422,615 9039019,006 8,057 arqueológico. Não foi localizado material 071 25L 270424,598 9039191,824 8,057 arqueológico. Não foi localizado material 072 25L 270431,372 9039245,180 8,778 arqueológico. 073 25L 270458,171 9039262,825 7,095 Presença de material arqueológico

074 25L 270425,154 9039343,873 9,979 Presença de material arqueológico Não foi localizado material 075 25L 270384,130 9039307,382 10,700 arqueológico.

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Coordenadas geográficas Ponto Altitude Material arqueológico Zona Leste Norte Não foi localizado material 076 25L 270455,853 9039300,154 9,018 arqueológico. Não foi localizado material 077 25L 270667,125 9039678,486 17,910 arqueológico.

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16.6.1. Sítio Histórico de Interesse Arqueológico Registrado: PE 0650 LA/UFPE

Tabela 16.3 - Coordenadas geográficas PE 0650 LA/UFPE

PE 0650 LA/UFPE Coordenadas Geográficas WP Zona Leste Norte Altitude Descrição 38 25L 270292,034 9039435,220 59,967 Ponto central * Coordenadas geográficas (UTM)/Datum SAD69 /IBGE

Na área do empreendimento foi registrada a presença de uma igreja em ruínas conhecida pela população local como Igreja de Nossa Senhora de Guadalupe. Esta unidade religiosa está localizada no topo de uma das elevações e foi orientada para SW (Figura 16.35).

Figura 16.35 - Estado atual da Igreja Nossa Senhora de Guadalupe Foto: Arqueolog Pesquisas. 2009 A área escolhida para edificar a igreja lhe proporciona uma visão privilegiada para a foz do rio Formoso. Daquele local é possível avistar a Igreja de São Benedito, erguida, no século XVII, na Praia dos Carneiros, no Município de Tamandaré. Ainda no topo do mesmo morro pode-se avistar o obelisco do Reduto do

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Rio Formoso, construído em homenagem à resistência lusobrasileira contra a invasão holandesa. Seu traçado simples apresenta o corpo principal que abriga a nave e a capela–mor, tendo ao lado a sacristia. Com uma área total de 136,16m², a nave e a capela mor ocupam uma área de 18m x 6m, enquanto que a sacristia mede 6,40m x 4,40m.

Figura 16.36 - Croqui da Igreja de Nossa Senhora de Guadalupe

Sua estrutura construtiva, erigida em pedras irregulares e em tijolos, apresenta o reboco muito deteriorado com restos de uma pintura de cal branco. Evidências de interferências realizadas em momentos distintos podem ser observadas através de diferenças no material construtivo, estilo e até mesmo alteração da estrutura como, por exemplo, a ocorrência de entaipamentos,

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incompatibilidade entre as cotas, e o revestimento de algumas partes com cimento Portland e reforço de ferro na estrutura. Elementos característicos da arquitetura colonial do século XVIII e também do século XIX foram observados. No frontispício, a igreja apresenta uma porta única central, constatando-se a presença de trechos da parede em pedra e trechos em tijolo batido. O portal é trabalhado em pedra calcária com verga arqueada. O frontispício se encontra encimado por coruchél28 e apresenta volutas e flores com decoração em relevo, percebendo-se, inclusive, a figura de uma pomba iluminada. Observou-se ainda a ausência de cruz encimando o frontispício. Também não apresenta torre sineira. Em frente à Igreja há a base do cruzeiro sem a cruz. Existe uma cruz que se encontra sob a guarda do Sr. Jaciel Zacarias da Silva, em sua casa, localizada na área do empreendimento.

Figura 16.37 - Fachada da igreja onde se pode observar a base do cruzeiro Foto: Arqueolog Pesquisas. 2009

28 Coruchél: Torre pontiaguda que coroa um edifício.

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Figura 16.38 - Detalhe do frontão da igreja Foto: Arqueolog Pesquisas. 2009

Figura 16.39 - Cruz da igreja preservada em uma das casas da propriedade Foto: Arqueolog Pesquisas. 2009 Como citado anteriormente, a igreja é constituída por uma nave única, capela-mor e sacristia. O piso do interior da igreja foi removido, mas na nave e na área externa ao lado da igreja foram encontrados fragmentos de lajotas de cerâmica e

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ladrilho hidráulico. No que se refere à coberta, a igreja apresenta cumeeira única e telhado de duas águas. Algumas linhas ainda se encontram no lugar, porém nenhum vestígio do forro foi observado. No altar-mor há trechos em que o telhado se mantém coberto por telha canal e apresenta “eira e beira” na parte externa. A nave se comunica com o altar-mor através de um arco-cruzeiro ladeado por um nicho na lateral esquerda, localizados na área pública. Apresenta portas e janelas laterais em verga reta. A área do Altar-Mor é mais estreita que a área pública e apresenta porta de acesso à sacristia. O altar-mor apresenta três nichos, trilobados, sendo maior o central. O entorno dos nichos do altar recebeu a aplicação de uma decoração fitomorfa e volutas em alto relevo.

Figura 16.40 - Altar-mor e detalhe dos nichos decorados Foto: Arqueolog Pesquisas. 2009 A sacristia está localizada ao lado do altar-mor, no lado da epístola, com entrada independente. Esta entrada apresentada o portal em pedra com verga arqueada, onde foi localizada peça em ferro na qual se encaixava o pino de articulação da porta. Na parede lateral externa, pode-se observar janelas quadradas, com cercadura em massa, característica do séc. XIX. Há portas e janelas que apresentam evidências da grade de madeira. No interior da igreja, na parte superior do frontispício, a fragmentação do revestimento da parede permitiu a visualização de uma abertura quadrada que havia sido entaipada.

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Figura 16.41 - Panorâmica da área interna da igreja tomada pela vegetação Foto: Arqueolog Pesquisas. 2009 A unidade religiosa encontra-se em estado de abandono, tomada pela vegetação. Em seu interior, e ainda no entorno, observam-se as marcas das escavações, provavelmente resultantes dos caçadores de botijas. No levantamento histórico realizado da área foram encontradas apenas referências à igreja sem maiores especificações de localização, cronologia e histórico da edificação. No entanto, durante a pesquisa foi possível resgatar informações orais de antigos proprietários do local e moradores da área.

 Informações Orais

A par do levantamento expedito de campo, foram coletadas informações da tradição oral do local, segundo informações do Sr. Jaciel Zacarias da Silva, ao lado da igreja existia um cemitério. O Sr. Manoel Teodoro dos Santos, morador da área há aproximadamente 40 anos, relatou que tem na memória a igreja em funcionamento e que o padre de Sirinhaém ali celebrava uma missa semanal. Segundo ele, a festa da igreja era realizada todo dia 12 de dezembro. Informou, ainda, que quando a propriedade pertencia ao Sr. Manuel Pragana a igreja foi incendiada por um homem desconhecido que teria arrancado os olhos da imagem existente no interior da igreja. Este detalhe de vandalismo pode estar associado a um antigo relato europeu

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relacionado a uma imagem de N.S. de Guadalupe, cujos olhos teriam sido arrancados e aos quais se atribui peculiaridades remarcáveis. Ainda buscando reconstituir a história local com base na tradição oral foram ouvidos representantes da família Neri, recuperando-se informações que remontam a quatro gerações de antigos proprietários da área. Os senhores Francisco Néri Alves da Silva (80 anos) e seu filho Sr. José Carlos Néri dos Santos Silva (55 anos) traçaram um perfil da propriedade e de suas relações com as comunidades vizinhas, com o Recife, e mesmo com a Europa. Segundo eles, o início da propriedade Guadalupe, como tal, remonta ao século XIX, quando o avô do Sr. Francisco Néri Alves da Silva, conhecido na época e assim lembrado pelos familiares como lô-lô Cadete, teria dado início à plantação de coqueiros na área. A produção de coco, desde então, passou a ser a única atividade agrícola da propriedade. O coco seco era ali descascado e transportado em “barcaças” principalmente para o Recife, onde parte da produção era reembarcada para a Europa. As três barcaças que transportavam o coco para o Recife, e que eram de propriedade do lô-lô Cadete, retornavam do Recife com os mais variados produtos que iam desde a louça oriunda da Europa, à linhas, tecidos e toda sorte de produtos que eram comercializados na praça de Rio Formoso. Aquelas barcaças, além de atenderem ao transporte da produção da propriedade, estabeleciam o contato mais ou menos regular de produtos para as povoações que se distribuíam às margens dos rios Formoso, Ariquindá, Graças e Mariassú. O transporte marítimo e fluvial predominava então, e sobretudo no período das chuvas, praticamente não se dispunha de acessos terrestres. Mas os caminhos nos rios e sobretudo no mar, também não eram fáceis. Era necessário bons pilotos, homens conhecedores dos canais que permitiam a passagem de embarcações de maior calado; que a cada ano reconhecessem os novos bancos de areia e onde e quando, em quais marés, se expunham as perigosas pedras que acompanhavam todo o litoral; as sucessivas linhas de arrecifes com suas passagens – as barras –, que limitavam o horário e o calados das embarcações. Mesmo bons pilotos eventualmente se equivocavam. Os longos anos de serviços de cada uma daquelas barcaças foi interrompido por acidentes; sucessivamente, uma a uma veio a naufragar.

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Durante o período de maior produção e comércio de cocos da Propriedade Guadalupe, lô-lô Cadete teria mandado edificar a igreja de Nossa Senhora de Guadalupe. Todos os domingos um padre de Rio Formoso ia à propriedade celebrar missa na igreja. Pelo menos duas das imagens da igreja foram trazidas de Portugal: uma de São José e outra de Santo Antônio. Estas imagens existem até hoje, a de Santo Antônio que foi doada pela família a uma Igreja em Pontezinha; a de São José, que hoje pertence ao bisneto de lô-lô Cadete, o Sr. José Carlos Néri dos Santos Silva. Não houve menção a uma imagem de N.S. de Guadalupe. O Sr. José Carlos Néri dos Santos Silva, nascido em 1954, frequentou a propriedade até cerca de 1970, entretanto não alcançou a igreja em funcionamento. Referiu-se também ao episódio do incêndio da igreja, que teria sido ateado por uma pessoa que tomava conta do local. Com a perda das barcaças, já falecido lô-lô Cadete, o seu filho vendeu a propriedade à família Pragana, voltando-se para uma nova propriedade adquirida em Pontezinha. Avaliando-se comparativamente os depoimentos, um único ponto de conflito diz respeito à extensão do período de funcionamento da igreja. Embora tenha frequentado a propriedade entre 1954 e 1970, o Sr. José Carlos Néri dos Santos Silva era à época criança, até a faixa dos 16 anos, quando deixou de frequentar. Por outro lado, segundo os cálculos do Sr. Manoel Teodoro dos Santos, ele teria começado a frequentar a propriedade por volta de 1969, praticamente quando o Sr. José Carlos Néri dos Santos Silva deixava a propriedade. Provavelmente é este o período de transição entre os Neri e os Pragana como proprietários. É possível que àquela época, já então abandonada, a igreja tivesse sido restaurada e retomado suas atividades. Isto justificaria as interferências datadas do século XX, observadas nas ruínas da igreja. Um outro ponto de interesse arqueológico diz respeito ao afastamento da antiga casa-grande da linha de costa. Segundo o relato do Sr. Francisco Néri Alves da Silva, nascido na propriedade, na sua infância (cerca de 80 anos atrás), a porteira da casa grande distava da praia cerca de 200m. Ao longo deste tempo, o avanço do mar já o aproxima da casa-grande.

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16.6.2. Ocorrências Arqueológicas Localizadas

Durante a prospecção de superfície na área do empreendimento, em alguns pontos foi assinalada a presença de material arqueológico que foi documentado. Como referido acima, no período em que foi realizada a prospecção de superfície – o que ainda ocorreu no período de chuvas –, a vegetação herbácea se mostrava bastante adensada, cobrindo grande parte do terreno. Desse modo, as áreas onde foram localizadas as ocorrências arqueológicas, em grande parte, estão cobertas por uma vegetação densa que dificulta a visibilidade da superfície prejudicando a avaliação de elementos necessários para o registro de sítio arqueológico. Portanto, uma avaliação mais detalhada desses pontos apenas poderá ocorrer na fase seguinte do licenciamento, onde será possível realizar a limpeza da área e avaliar a dispersão horizontal e vertical do material arqueológico.

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 Distribuição dos Pontos de Ocorrência de Material Arqueológico

Figura 16.42 – Pontos de ocorrência de material arqueológico na área do pretendido empreendimento

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 Guadalupe - Ocorrência 01

Tabela 16.4 - Coordenadas geográficas COORDENADAS GEOGRÁFICAS WP ZONA LESTE NORTE Altitude Descrição 009 25L 270637,874 9039222,160 12,383 Ponto central * Coordenadas geográficas (UTM) / Datum SAD69 BRAZIL/IBGE

Ocorrência arqueológica histórica localizada em área de terraço marinho com coqueiros e gramíneas, próximo à faixa de praia. Ao lado da área existe uma casa à beira-mar. Foi localizado, na superfície do terreno, um fragmento de faiança fina do tipo Shell Edged, com cronologia do século XIX. A varredura superficial no local foi dificultada pela vegetação rasteira existente na área.

Figura 16.43 - Panorâmica da área de ocorrência arqueológica Foto: Arqueolog Pesquisas, 2009

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 Guadalupe – Ocorrência 02

Tabela 16.5 - Coordenadas geográficas COORDENADAS GEOGRÁFICAS

WP Altitude Descrição ZONA LESTE NORTE 011 25L 270494,877 9039405,059 15,026 Ponto central

* Coordenadas geográficas (UTM) / Datum SAD69 BRAZI L/IBG

Ocorrência arqueológica histórica localizada durante prospecção em área de casa demolida localizada entre a base de vertente e o terraço marinho. Foi localizado na casa um fragmento de faiança fina do tipo flow blue cuja procedência é Inglesa, do século XIX. Da casa, apenas restam a base e algumas paredes demolidas. A base da casa foi construída com tijolo batido e argamassa de cal, havendo vestígios de parede edificada com tijolo estrudado e cimento Portland (Figura 16.44, Figura 16.45 e Figura 16.46). Segundo informações do Sr. Jaciel Zacarias da Silva a casa foi destruída recentemente.

Figura 16.44 - Panorâmica da casa demolida Foto: Arqueolog Pesquisas, 2009

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Figura 16.45 - Detalhe de tijolo batido e argamassa de cal utilizado na construção da casa Foto: Arqueolog Pesquisas, 2009

Figura 16.46 - Faiança fina do tipo flow blue Foto: Arqueolog Pesquisas, 2009

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 Guadalupe – Ocorrência 03

Tabela 16.6 - Coordenadas geográficas COORDENADAS GEOGRÁFICAS WP Altitude Descrição ZONA LESTE NORTE 021 25L 269462,414 9039442,755 15,507 Ponto central * Coordenadas geográficas (UTM) / Datum SAD69 BRAZIL/IBGE

Ocorrência arqueológica histórica localizada em área de terraço marinho com vegetação densa dificultando a visibilidade da superfície do terreno. No local existe estrutura recente com tijolo estrudado e concreto (Figura 16.47). Porém, nas proximidades da estrutura foi localizado um fragmento de faiança fina do tipo Thin Line (Inglaterra – Século XIX) e outro fragmento sem decoração, além de fragmentos de telha manual.

Figura 16.47 – Panorâmica da área da ocorrência arqueológica Foto: Arqueolog Pesquisas, 2009

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Figura 16.48 - Detalhe da falta de visibilidade do terreno Foto: Arqueolog Pesquisas, 2009

Figura 16.49 - Estrutura recente localizada na área Foto: Arqueolog Pesquisas, 2009

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 Guadalupe – Ocorrência 04

Tabela 16.7 - Coordenadas geográficas COORDENADAS GEOGRÁFICAS WP Altitude Descrição ZONA LESTE NORTE 024 25L 269110,028 9039439,564 10,220 Concentração 01

025 25L 269128,206 9039441,046 10,460 Concentração 01

026 25L 269157,757 9039448,201 12,383 Concentração 01

027 25L 269024,205 9039460,185 12,142 Concentração 02

028 25L 268971,470 9039459,151 9,979 Concentração 02 * Coordenadas geográficas (UTM)/Datum SAD69 BRAZIL/IBGE

Ocorrência arqueológica histórica localizada entre a faixa de praia e o terraço marinho erodido, na foz do rio Formoso, defronte à Praia dos Carneiros. O trecho de terraço marinho encontra-se tomado por vegetação rasteira densa, o que prejudicou a visibilidade da distribuição do material em superfície. Na faixa de praia com vegetação de mangue foi localizada uma maior quantidade de material arqueológico devido à boa visibilidade da superfície. Na faixa de praia o material se estende por cerca de 200m, podendo-se perceber, a priori, duas concentrações distintas, uma de 50m e outra de 60m. Tais concentrações necessitam de uma avaliação mais detalhada. Na área do terraço marinho erodido foram localizados alguns fragmentos de material arqueológico no perfil. É provável que tenha havido uma migração vertical do material arqueológico por conta do avanço do mar na área do terraço. Estando, portanto, o material fora de seu contexto arqueológico primário. O material arqueológico localizado corresponde a fragmentos de faiança fina com decorações variadas e cronologia do século XIX/XX, fragmento de garrafa de grés com cronologia do século XIX e, um fragmento de faiança sem decoração.

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 Informações Orais

Segundo o Sr. José Carlos Néri dos Santos Silva, o mar se encontrava bem mais recuado na época em que sua família foi proprietária da região.

Figura 16.50 - Panorâmica da concentração 01 da ocorrência 04 Foto: Arqueolog Pesquisas, 2009

Figura 16.51 - Panorâmica da concentração 01 da ocorrência 04 Foto: Arqueolog Pesquisas, 2009

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Figura 16.52 - Documentação da área da ocorrência 04, concentração 02 Foto: Arqueolog Pesquisas, 2009

Figura 16.53 - A área do terraço que se encontra tomada por vegetação densa Foto: Arqueolog Pesquisas, 2009

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 Material Arqueológico Localizado

Figura 16.54 - Fragmento de base de garrafa de Figura 16.55 - Fragmentos de faiança fina e grés do século XIX/XX. cerâmica utilitária.

Figura 16.56 - Fragmento de faiança com Figura 16.57 - Fragmentos de faiança sem cronologia desconhecida. decoração e faiança fina com técnica de decoração do tipo thin line e transfer azul.

 Foto: Arqueolog Pesquisas, 2009

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 Guadalupe – Ocorrência 05

Tabela 16.8 - Coordenadas geográficas COORDENADAS GEOGRÁFICAS WP ZONA LESTE NORTE Altitude 073 25L 270458,171 9039262,825 7,095 074 25L 270425,154 9039343,873 9,979 076 25L 270455,853 9039300,154 9,018 * Coordenadas geográficas (UTM)/Datum SAD69 BRAZIL/IBGE

Material arqueológico histórico localizado nos arredores da cacimba, onde existe uma surgência d’água mineral, localizada entre a base do morro e o terraço marinho. Foram localizados, em sua maioria, fragmentos de faiança fina com decoração variada com cronologia do século XIX. Também foi localizada uma peça de chumbo, amassada, possivelmente um projétil de mosquete, que teria sofrido impacto em superfície resistente.

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Figura 16.58 - Localização de material Figura 16.59 - Localização de fragmentos de arqueológico em área de estrada no terraço faianã fina sem decoração e fragmento de marinho (ponto 073) garrafa de grès

Figura 16.60 - Material arqueológico. Faiança fina Figura 16.61 - Surgência de água mineral que e peça de chumbo não identificada brota da barreira. Na área onde foi localizada uma maior quantidade de material arqueológico.

Foto: Arqueolog Pesquisas, 2009

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16.6.3. Pontos de Interesse

Durante prospecção na área foram documentados alguns pontos de interesse para o resgate da memória do local. Tais pontos compreendem áreas de cacimbas e antigas residências.

 Cacimbas: Pontos 007, 010, 074 e 075

Foram localizadas quatro cacimbas, inclusive uma a 18m da linha de costa (faixa de praia). Em uma delas (ponto 074) foi localizada a presença de material arqueológico do século XIX.

Figura 16.62 - Cacimbas localizadas na base do morro. Foto: Arqueolog Pesquisas, 2009

Figura 16.63 - Outras cacimbas localizadas na base do morro Foto: Arqueolog Pesquisas, 2009

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 Casas Demolidas: Pontos 008 e 011.

Foram localizados restos de demolição de duas casas no interior da propriedade (). Ambas edificadas em área de terraço marinho, próximo ao Morro da Igreja. Nos arredores de uma delas (Ponto 11) foi localizada a ocorrência arqueológica 02, citada anteriormente.

Figura 16.64 - Vestígios de casa demolida dentro da propriedade Foto: Arqueolog Pesquisas, 2009

 Casa-Grande: Ponto 064

Tabela 16.9 - Coordenadas geográficas

COORDENADAS GEOGRÁFICAS WP Altitude Descrição ZONA LESTE NORTE 064 25L 270581,943 9039344,374 4,211 Ponto central * Coordenadas geográficas (UTM) / Datum SAD69 BRAZIL/IBGE

Trata-se da casa dos antigos proprietários do lugar e se encontra em processo de arruinamento. Está localizada em área de terraço marinho, voltada para o mar. A casa é circundada por alpendre de colunas de alvenaria circular, construídas com tijolos circulares. A casa originalmente foi coberta com telha canal assentadas em caibros de madeira redonda, com ripas de imbiriba, material muito utilizado até a década de

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50 do século XX. Parte da coberta mostra hoje linhas e caibros serrados, decorrentes de reformas mais recentes. Outras reformas foram ainda observadas, tais como a presença de janelas com basculantes, azulejos recentes e material hidráulico já moderno.

Figura 16.65 - Casa-grande Foto: Arqueolog Pesquisas, 2009

A B Figura 16.66 – (A) Fachada Literal onde se observa o estado de ruína da edificação (B) Resto de material construtivo. Telha canal e tijolos circulares de uma das colunas da varanda. Foto: Arqueolog Pesquisas, 2009

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 Informações Orais

Segundo informações do Sr. José Carlos Néri dos Santos Silva (55 anos), que freqüentou a casa até os 16 anos (cerca de 1970) o seu pai, Francisco Néri Alves da Silva e suas duas tias, hoje com idades entre 80 e 86 anos, nasceram naquela casa-grande da propriedade. Ainda segundo aquele depoimento, a casa-grande e a igreja foram ambas construídas por seu bisavô, Iô Iô Cadete, quando adquiriu as terras para o plantio de coco. Relatou ainda que, quando frequentava a propriedade, naquela época a casa-grande distava cerca de 100m do mar, mas que seu pai já comentava que a casa distava antes mais de 200m do mar. A história da família na região remonta ao século XIX.

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16.7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Além das ruínas da Igreja de Nossa Senhora do Guadalupe, foi constatada no local do Empreendimento a ocorrência de material disperso na superfície. Registrou-se a presença de fragmentos de peças vinculadas ao subsistema alimentar, mais especificamente ao preparo e armazenamento de alimentos e ao serviço de mesa, em faiança, faiança fina, vidro e cerâmica utilitária. Documentou-se no local fragmento de faiança policromática, fragmentos de faiança fina brancas não decoradas e apresentando decoração Shell Edged na cor azul, Mocha Ware, Transfer também na cor azul, inclusive Folw Blue, além de peças com frisos. Em vidro, há garrafas moldadas do século XX. Uma outra categoria de material encontrada se refere ao material construtivo: são fragmentos de lajota, tijolo, pedra, argamassa e telha, tendo-se inclusive documentado a ocorrência de fragmentos de parede, com e sem a presença de reboco. Quanto à origem e cronologia do material, pode-se afirmar haver representantes de peças produzidas na Inglaterra, a partir do século XVIII, como é o caso da Shell Edged e Flow Blue. Maiores informações só poderão ser obtidas após o resgate e análise do material em laboratório.

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17. IMPACTOS SOBRE O PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO

Com relação ao patrimônio arqueológico da AID, diante do exposto no Volume I – Caracterização do Empreendimento e no diagnóstico acima, infere-se que a implantação do empreendimento não interferirá fisicamente em áreas em que estejam registradas edificações oficialmente reconhecidas como de interesse histórico. Não se preveem, portanto, riscos em relação ao patrimônio arquitetônico. Por outro lado, a área por onde se desenvolve o empreendimento corresponde, em grande parte, a uma região de depósitos sedimentares terciários, conhecidos como pouco propícios à presença de fósseis e em parte a depósitos marinhos quaternários. Até o momento, ali não foi registrada a ocorrência de fósseis, quer animais quer vegetais. A área não atinge, também, áreas propícias à presença de cavernas de interesse espeleológico relevante. Do ponto de vista paisagístico, à excessão da área de mangue, o terreno se encontra bastante antropizado, tendo sido utilizado sobretudo em atividades agrícolas. Assim considerando, no estado atual do conhecimento, as obras do empreendimento envolvem unicamente riscos com relação ao patrimônio arqueológico. A expectativa de tais riscos converge para as áreas onde serão necessárias ações de movimentação de terra (quando existe a possibilidade de destruição total ou parcial de sítios arqueológicos ainda não manifestos). Tais áreas incluem além da área de implantação da infraestrutura, as áreas de instalação dos canteiros, de implantação dos acessos e de estocagem de material. Importam ainda as áreas de empréstimo e eventuais bota-foras a serem utilizados. Ainda, a prospecção de superfície não atingiu a totalidade da área, pelas razões já explicitadas no diagnóstico acima, deste modo, a avaliação do impacto da obras sobre o patrimônio cultural e, em particular, o patrimônio arqueológico, a despeito das ocorrências registradas, ainda é inconclusiva. Assim, considerando os trechos onde não foi possível o acesso visual à superfície do terreno, sobretudo em razão da densidade da vegetação, não se pode estabelecer áreas específicas que demandem um salvamento arqueológico. Antes, faz-se necessário atuar junto às ações de supressão de vegetação e, sobretudo, de destocamento e remoção do expurgo.

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Do ponto de vista do patrimônio arqueológico, embora seja diretamente inócuo, o cenário de não-implantação do projeto deixa espaço para ações fortuitas de destruição, intencional ou não, de registros arqueológicos presentes. Ou seja, à margem de um programa de educação patrimonial, que contribuísse para a identificação, para a valorização do legado de antigos habitantes da área, a ocupação não sistemática da área, tal como tem acontecido em vastas áreas do Brasil, representa amplo risco de destruição de sítios arqueológicos. Assim, malgrado os cuidados para com a não-ocupação de áreas mais amplas sem que haja prévio estudo de impacto ambiental, considerando que a não-implantação do Projeto não se contrapõe à utilização da área, há que se considerar a possibilidade de uso daquelas terras de modo intensivo ou não. Assim, no caso de outros projetos, que viessem a ser implementados na área, e que envolvessem ocupação do solo, não difeririam em seus impactos sobre um eventual patrimônio arqueológico da área. Atenção especial se deve à Igreja de Nossa Senhora de Guadalupe, cujo processo de arruinamento segue em ritmo acelerado, independentemente do empreendimento. A terraplanagem, a abertura de acessos com aporte de aterro ou nivelamento por supressão de camadas superficiais pressupõe dois tipos de risco a estruturas arqueológicas não manifestas: o soterramento de eventuais estruturas arqueológicas nos pontos aterrados, e a destruição de sítios arqueológicos eventualmente existentes nos locais de arrasamento ou de empréstimos. Por outro lado, a disposição de bota-foras poderá conduzir ao soterramento e destruição de estruturas arqueológicas não manifestas. Risco menor pode ser atribuído ao eventual uso de material proveniente de pedreiras, externas ao empreendimento, considerando-se que teriam sido alvo de licenciamento prévio. As obras que envolvem movimentação de terra, de um modo geral – aterros, cortes no terreno, abertura de estradas de serviço, implantação de infraestrutura, de canteiro etc. –, representam um risco potencial à exposição e destruição de estruturas arqueológicas superficiais e subsuperficiais. Sua ação se faz por meio da alteração na distribuição espacial (vertical e horizontal) de vestígios arqueológicos eventualmente presentes. Tais impactos são passíveis de produzir efeitos negativos, de caráter permanente, que atuam de forma direta, ocorrendo em

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curto prazo, de forma irreversível, com abrangência local que, embora sejam de pequena magnitude, são significativos.

Efeito Negativo Natureza Direto Periodicidade Permanente Temporalidade Curto Prazo Abrangência Restrita Reversibilidade Irreversível Probabilidade Certa Magnitude Pequena

Do ponto de vista do patrimônio arquitetônico, a igreja de Nossa Senhora de Guadalupe ainda que não seja tombada, se constitui em um remanescente da primitiva ocupação da área, fiel representante de parte do ideário da sociedade de então. O Plano Urbanístico do empreendimento, com suas obras não atinge a área ocupada pela igreja. Por outro lado, o empreendedor estuda a possibilidade de realizar ações de manutenção da ruína e a instalação de um equipamento de lazer e convívio próximo ao local para estimular a visitação e conhecimento da ruína. De forma a mitigar os referidos impactos negativos acerca do patrimônio arqueológico são propostos dois Programas, um voltado à Educação Patrimonial dos funcionários da obra e outro à Prospecção Arqueológica.

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18. PLANOS DE PROSPECÇÃO ARQUEOLÓGICA DOS IMPACTOS VOLTADOS AO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO

A seguir estão elencados os Programas voltados ao patrimônio arqueológico. Estes tem como principais objetivos

 Promover o conhecimento dos funcionários da obra acerca da importância da manutenção do patrimônio imaterial; e  Desenvolver prospecções intensivas com amostragem de subsuperfície, nos compartimentos de maior potencial arqueológico; e  O resgate de tais evidências de modo a garantir a preservação das informações quanto ao povoamento e aos antigos habitantes.

18.1. PROGRAMA DE PROSPECÇÃO ARQUEOLÓGICA

A implantação do Projeto Condomínio Praia de Guadalupe interferirá em área de potencial arqueológico reconhecido. O Art.216 da Constituição brasileira e legislação complementar estabelecem os procedimentos a serem adotados quanto ao licenciamento de empreendimento potencialmente capazes de provocar danos ao meio ambiente.

Este Programa de Prospecção Arqueológica visa ao cumprimento da legislação pertinente ao licenciamento para a implantação deste Projeto, em Pernambuco. De acordo com o que determina o Art 5° da Portaria IPHAN Nº 230, de 17 de dezembro de 2002, para a obtenção da Licença de instalação (LI) deverá ser implantado o Programa de Prospecção, o qual deverão prever prospecções intensivas no subsolo, nos compartimentos ambientais de maior potencial arqueológico da área de influência direta do empreendimento e nos locais que sofrerão impactos indiretos potencialmente lesivos ao patrimônio arqueológico, tais como áreas de reassentamento de população, expansão urbana ou agrícola, serviços e obras de infraestrutura.

Esse Programa concentra esforços no intuito de estimar a quantidade de sítios arqueológicos existentes na área a ser afetada diretamente pelo empreendimento, e buscará ainda avaliar a extensão, a profundidade, a diversidade

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cultural e o grau de preservação dos sítios arqueológicos eventualmente localizados, e promover o resgate do material arqueológico ali presente.

Considerando as etapas de licenciamento da obra e a busca pela preservação do patrimônio arqueológico eventualmente existente na área, o Programa apresentado abrange dois Projetos:

 O primeiro Projeto proposto prevê prospecções intensivas com amostragem de subsuperfície, nos compartimentos de maior potencial arqueológico; e o resgate de tais evidências de modo a garantir a preservação das informações quanto ao povoamento e aos antigos habitantes locais. Assim, o Programa deverá ser implementado, antecipando-se à execução das obras;  O segundo o Projeto de Educação Patrimonial, deverá ser implementado em duas fases, a primeira durante a execução do Projeto de Prospecção Arqueológica e complementados no início das obras, enfocando particularmente os trabalhadores, haja vista que a área praticamente não é habitada.

 Objetivos

De acordo com o que determina a Portaria n° 230 do IPHAN, datada de 17 de dezembro de 2002, em seu Artº 5, os estudos a serem desenvolvidos com vistas à obtenção de licença de instalação (LI) deverão propiciar as bases que fundamentem, em critérios precisos de significância científica, a seleção dos sítios arqueológicos ameaçados a serem objeto de estudo em detalhe, em detrimento de outros. O resultado final esperado é um Programa de Resgate Arqueológico detalhado, a ser implementado na fase seguinte. O objetivo central do Programa é estimar a quantidade de sítios arqueológicos existentes nas áreas a serem afetadas diretamente pelo empreendimento e a extensão, profundidade, diversidade cultural e grau de preservação nos depósitos arqueológicos, com vistas ao detalhamento de um eventual Programa de Resgate, a ser executado na última fase de licenciamento do empreendimento.

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 Procedimentos Metodológicos

O corte metodológico a ser utilizado nesta pesquisa face o iminente uso iminente do solo, não permite adotar-se uma abordagem teórica que privilegie quer o espaço, quer o tempo. Tem-se assim que buscar amostrar as diferentes fácies que integram a área em estudo, que representam distintos ecossistemas, o que conduz a uma abrangência que perpassa diferentes conjuntos paisagísticos. Na realidade, este projeto corresponde a uma segunda fase de pesquisa arqueológica intensiva sobre uma área, na qual se busca estabelecer inicialmente um panorama geral, superficial, para em seguida enfocar o levantamento sistemático de subsuperfície, por unidade espacial estabelecida. O critério estabelecido para a definição das unidades espaciais deverá levar em consideração as zonas ambientais atuais. Não cabe neste tipo de estudo, nesta fase prospectiva, privilegiar a compartimentação ambiental considerada a partir de qualquer período de tempo específico, frequentemente utilizada em estudos regionais29. Neste tocante apenas se pode permitir neste estudo a compartimentação temporal em termos do conhecimento referente à presença humana ou não. Assim, do ponto de vista da ocupação humana, a compartimentação ambiental enfocada mostra uma maior aproximação daquela observada sob o prisma geomorfológico. Deste modo será considerada a macro estratigrafia da área considerando-se, mormente as superfícies expostas em tempos da presença humana. No conjunto das ações prospectivas que orientam na seleção das áreas de maior potencial arqueológico, o passo inicial é uma avaliação geoarqueológica da AD. Com base nos resultados desta avaliação e considerando ainda o passivo ambiental, as ações poderão ser melhor detalhadas. As áreas de interesse apontadas avaliação geoarqueológica, serão alvo de prospecção intensiva, através de cortes-teste, no sentido de identificar-se e resgatar- se eventuais vestígios ou mesmo estruturas remanescentes. As coleções obtidas através dos cortes-teste visam a proporcionar informações relativas a cronologia, localização e extensão de cada ocupação e uso funcional de secções dos sítios30.

29 Thomas, D.H., 1969 30 Rechman & Watson, 1970; Whallon & Kantman, 1969

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Por outro lado, os resultados preliminares obtidos na primeira etapa não representam necessariamente o universo dos estudos subsequentes, pois, na ocasião, a visibilidade do solo se mostrava prejudicada em função da exuberância da vegetação. Com base em tais premissas, nesta etapa, quando se buscará estimar a quantidade de sítios arqueológicos eventualmente existentes na área, e a extensão, profundidade, diversidade cultural e grau de preservação dos depósitos arqueológicos, o estabelecimento da amostra não se fará com base no universo de ocorrências arqueológicas conhecidas. Antes se estabelecerá uma amostragem com base em critérios espaciais e do potencial geoarqueológico. Todos os sítios localizados serão registrados, assinalando-se suas características em termos de tamanho aproximado (distribuição horizontal e vertical) e o período de ocupação. A amostragem assim estabelecida permitirá dados efetivos para um inventário de localização e características dos sítios presentes na área. Assim, os princípios gerais que orientam o Programa de Prospecção apresentado, pode ser assim descrito:

 1 Avaliação geoarqueológica com base na macro estratigrafia da área, em termos da presença humana. Do ponto de vista da ocupação humana, quando se aborda a compartimentação ambiental em termos de potencial arqueológico, o ponto de partida adotado está calcado em uma abordagem geoarqueológica. Assim, uma primeira aproximação adotada tem por base o prisma geomorfológico, através do qual é possível identificar-se as superfícies expostas em um tempo compatível com a presença humana.  2 O segundo passo toma por base uma avaliação do passivo ambiental, tanto o natural quanto o antrópico.  3 A interação destes dois painéis permite elaborar-se uma compartimentação teórica do potencial arqueológico das áreas, e em particular assinalar as áreas de maior potencial em superfície e aquelas de maior potencial em subsuperfície. Ressalte-se, entretanto que o potencial avaliado se refere às áreas de assentamento, as superfícies de ocupação, tendo pouca significância na identificação de áreas de sepultamento.  4 Com base no potencial arqueológico de cada área serão estabelecidas as bases para prospecção de superfície e/ou de subsuperfície, inclusive os

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parâmetros a serem adotados em termos de profundidade dos cortes teste ou sondagens.  5 Quando da localização de áreas de ocorrência de vestígio arqueológico, a natureza dos vestígios localizados deverá servir para orientar as técnicas adotadas para escavação preliminar de avaliação do potencial da ocorrência, que poderá conduzir à necessidade de uma escavação extensiva. É ainda com base na avaliação geoarqueológica que serão estabelecidos os parâmetros que indicarão a profundidade das escavações.  6 Por fim há que se considerar que as práticas funerárias dos diferentes grupos nativos abrange uma gama de situações muito ampla que varia desde as áreas abrigadas (abrigos sob-rocha, cavernas, etc.) às áreas abertas nos topos das elevações ou mesmo nos terraços ribeirinhos. Por outro lado, ainda que a prospecção de subsuperfície seja suficientemente adensada para a identificação de eventuais áreas de assentamento, será certamente insuficiente para garantir a localização de sítios cemitérios. Todavia, o risco de impacto ao patrimônio arqueológico da área ainda que eventual, poderia ser controlado através do monitoramento arqueológico das obras de movimentação de terra.

 Metas  Licenciamento junto ao IPHAN para execução do Programa de Prospecção Arqueológica;  Prospecção sistemática, nas diferentes áreas a serem diretamente afetadas pelas obras, através de: o Cortes-teste, sistematicamente distribuídos, ao longo da área de influência direta; e o Plotar, com base no Sistema de Posicionamento Global (GPS), todos os locais onde foram realizados cortes-teste.

As etapas a seguir apenas terão lugar quando da localização de evidências arqueológicas.

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 Escavação de cortes-teste em cada um dos sítios arqueológios localizados para coleta sistemática de amostras suficientes para avaliação de cada sítio;  Análise preliminar dos vestígios localizados com vistas a avaliar-se seu potencial como sítio arqueológico, recomendando ou não um estudo exaustivo da área mediante um projeto específico de Salvamento Arqueológico;  Elaboração (se for o caso) de um Programa de Resgate Arqueológico a ser implantado na fase de obtenção da Licença de Operação. O Programa a ser apresentado deverá estabelecer uma seleção dos sítios arqueológicos eventualmente localizados na área, que deverão ser objeto de estudo em detalhe. A seleção dos sítios deverá obedecer a critérios precisos de significância científica que justifiquem a seleção de uns em detrimento de outros.

 Detalhamento do Projeto

 AÇÃO 1: Formulação de um Pedido de Permissão a ser apresentado ao IPHAN, com vistas à obtenção de Licença para execução do Programa de Prospecção e de Resgate Arqueológico;

Atividades Produto Gerado Público-Alvo Elaboração de Projeto que Pedido de Permissão para atenda as diretrizes da execução do Programa de IPHAN Portaria 7 do IPHAN, de 01 Prospecção e de Resgate de dezembro de 1988. Arqueológico

 AÇÃO 2: Avaliação geoarqueológica e do passivo, com vistas a identificar as áreas de maior potencial arqueológico, no contexto da ADA/AD;

Atividades Produto Gerado Público-Alvo

Mapa indicando teoricamente o Avaliação em campo dos ptencial arqueológico das áreas, e processos erosivos e em particular assinalando as áreas deposicionais (passivos natural e Comunidade / IPHAN de maior potencial em superficíe e antrópico) aplicados sobre carta aquelas de maior potencial e geomorfológica da área. subsuperfície.

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 AÇÃO 3: Execução do Programa de Prospecção Arqueológica sistemática na área da ADA/AD;

Atividades Produto Gerado Público-Alvo

Cortes-teste sistematicamente Prospecção sistemática, nas distribuídos ao longo da área diferentes áreas a serem de influência direta. Comunidade / IPHAN diretamente afetadas pelas obras, através de: Georeferencamento de todos os locais onde foram realizados cortes-teste.

 AÇÃO 4: Avaliação do potencial dos sítios arqueológicos localizados;

Ação Produto Gerado Público-Alvo Prospecção arqueológica na área dos sítios localizados objetivando coleta sistemática de amostras suficientes a sua caracterização Caracterização dos Análise preliminar dos vestígios sítios localizados arqueológicos coletados Profissionais envolvidos com os Avaliação preliminar dos vestígios estudos, relativos ao localizados. Patrimônio Catalogação, documentação e Cultural Brasileiro, acondicionamento do material IPHAN. coletado. Registros dos sitíos localizados Registro do sítio arqueológico nos termos do Cadastro Nacional de sítios Arqueológicos (CNSA)

Fornecer dados e suporte para o Programa de Educação Palestras/exposições Comunidade local Ambiental/Patrimonial

 AÇÃO 5: Análise preliminar dos vestígios localizados.

Ação Produto Gerado Público-Alvo

Tratamento preliminar do material arqueológico resgatado Caracterização dos Profissionais Análise preliminar das amostras de sítios localizados envolvidos material arqueológico coletadas com os estudos, relativos ao Avaliação preliminar dos vestígios Patrimônio Cultural localizados. Brasileiro. Registro e acondicionamento do material coletado em campo Relatório final para o IPHAN

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 Indicadores de Desempenho

Identificação de eventuais sítios arqueológicos existentes nas áreas a serem afetadas diretamente pelo empreendimento e detalhamento de um eventual Programa de Resgate, a ser executado na última fase de licenciamento do empreendimento.

 Período de Implantação

10 meses, antecipando-se às obras que envolvam movimentação de terra (estimando-se 3 meses para autorização do Iphan).

 Cronograma de execução do programa

Atividade/Mês 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Elaboração de Projeto que atenda às diretrizes da Portaria 7 do IPHAN, de 01 de dezembro de 1988. Sob análise do IPHAN Avaliação geoarqueológica e do passivo, com vistas a identificar as áreas de maior potencial arqueológico, no contexto da ADA/AD. Prospecção arqueológica dos sítios localizados objetivando coleta sistemática de amostras suficientes a sua caracterização Análise preliminar dos vestígios arqueológicos coletados Avaliação preliminar dos vestígios localizados. Catalogação, documentação e acondicionamento do material coletado. Registro do sítio arqueológico nos termos do Cadastro Nacional de sítios Arqueológicos (CNSA) Tratamento preliminar do material arqueológico resgatado Análise preliminar do material arqueológico resgatado Avaliação preliminar dos vestígios localizados Suporte para o Programa de Educação Ambiental/Patrimonial Registro e acondicionamento do material coletado em campo Relatório final

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 Interface com Outros Programas

Tem interface com o Programa de Educação Ambiental e de Prospecção Arqueológica.

 Custo Total Estimado

R$ 335.000,00 (trezentos e trinta e cinco mil reais)

 Equipe Técnica e de Apoio  01 Arqueólogo Sênior, com experiência em arqueologia preventiva, na área de Licenciamento, Articulação Institucional, Comunicação Social, Relacionamento com Comunidade e Coordenação de Equipe;  01 Arqueólogo com experiência em arqueologia preventiva, em campo;  01 Arqueólogo com experiência em arqueologia preventiva, em laboratório;  01 Técnico em Arqueologia com experiência em documentação arqueológica;  02 Auxiliares de pesquisa com experiência em escavação arqueológica;  03 Operários;  01 Auxiliar de pesquisa com experiência em técnicas de laboratório de arqueologia;  01 Suporte Técnico-Administrativo com conhecimento básico das atividades administrativas;  01 Técnico em Informática.

 Arranjo Institucional para o Programa

O empreendedor assume a responsabilidade pela implementação deste Programa diretamente ou através de parcerias, mediante convênios, contratação de empresas especializadas ou profissionais habilitados.

 Legislação Aplicável

Necessária Autorização do IPHAN, mediante Portaria publicada do Diário Oficial da União.

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18.2. PROJETO DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

Ações de Educação Patrimonial tem sido uma das exigências apontadas pelo Iphan para a concessão de anuência para com o licenciamento de empreendimentos potencialmente capazes de promover danos ao patrimônio arqueológico. O Programa deverá ser executado em todas as fases do licenciamento, e suas ações devem ser direcionadas à comunidade e aos trabalhadores que atuarão na área durante a execução das obras.

 Objetivos

Em atendimento à legislação, faz-se necessário privilegiar-se um programa de Educação Patrimonial, cujo ponto de partida corresponde ao treinamento dos trabalhadores das obras, de modo a capacitá-los para o reconhecimento expedito de vestígios arqueológicos. As atividades de Educação Patrimonial estarão também voltadas a outros segmentos da pirâmide etária, quando se buscará, através de palestras, seja em escolas da comunidade próxima, seja em associações. Ao público em geral serão divulgados os resultados obtidos através do site especializado, quando este resultado for positivo para vestígios arqueológicos.

 Metodologia

O Programa de Educação Patrimonial tem início com a identificação do público alvo (levantamento das escolas e centros comunitários locais), bem como a seleção de temas, com base nos resultados do levantamento do patrimônio cultural local (ou mais próximo), para as abordagens nas palestras, inserção no folder e oficinas. Este levantamento inclui a população local (ADA/AD) bem como das áreas circunvizinhas. Em se tratando de áreas com baixa densidade demográfica, as ações de educação patrimonial deverão se estender à sede municipal, atuando junto às escolas municipais, em particular, podendo ainda atuar junto ao público escolar da rede pública e privada.

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Uma segunda etapa de ações voltadas à educação patrimonial deverá se voltar aos trabalhadores que atuarão nas obras de implantação do Projeto Costa de Guadalupe. Deste modo, o Programa de Educação Patrimonial será desenvolvido em três etapas, a primeira, preparatória, quando se fará o levantamento de dados locais para o detalhamento da programação e cronograma, que deverá se ajustar ao calendário escolar. Nesta etapa deverá ser elaborado o material didático a ser utilizado na fase seguinte. A segunda etapa, a ser desenvolvida durante os trabalhos de campo, envolve duas abordagens distintas: a abordagem oportunística do público local, e a abordagem programada junto ao público escolar. A terceira etapa estará voltada aos técnicos e operários que atuarão na implantação do empreendimento

 Metas  Etapa Preparatória

o 1 Identificação do público alvo específico (levantar as escolas e centros comunitários locais);

o 2 Estabelecer contato e diretrizes para a programação – visita às escolas e Centros comunitários informando acerca do trabalho que está sendo realizado e abrindo um canal para futuras palestras com alunos (no caso das escolas) e membros da comunidade interessados;

o 3 Abordagem oportunística da população local disponibilizando catálogo com imagens de peças arqueológicas e mesmo uma coleção de amostras arqueológicas (da região) com dois objetivos:

o (i) informar a população acerca do trabalho que está sendo realizado; e

o (ii) buscar eventuais informações que facilitem a localização de sítios arqueológicos;

o 4 Selecionar temas, com base nos resultados do levantamento do patrimônio cultural local (ou mais próximo), para as abordagens do folder e inserção nas palestras, inclusive através de imagens;

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o 5 Elaboração do cronograma das palestras (o cronograma deverá ser ajustado ao calendário escolar);

o 6 Seleção de documentação fotográfica dos trabalhos arqueológicos em curso;

o 7 Seleção de documentação fotográfica de sítios e peças eventualmente localizadas durante a prospecção arqueológica local;

o 8 Elaboração de material a ser apresentado nas palestras em escolas e centros comunitários locais;

o 9 Elaboração e impressão de folders e material didático/de divulgação.

 Etapa de Execução

o 1 Execução da programação estabelecida junto às escolas e centros comunitários (ou associações).

o Palestras em escolas públicas e/ou centros comunitários enfatizando o patrimônio arqueológico local, sua preservação e uso.

o 2 Temática básica (ajustada, em cada caso, à faixa etária):

o Discussão e conceituação do que é Patrimônio Cultural;

o O Patrimônio Cultural Imaterial e Material;

o Apresentação de elementos do patrimônio cultural local (material e imaterial);

o Conceitos de preservação e legislação referente à preservação do Patrimônio Cultural, enfocando o patrimônio material, especificamente o arqueológico;

o Noções das etapas da pesquisa arqueológica;

o Resultado da pesquisa arqueológica realizada no local. Caso a pesquisa não tenha retornado com novas descobertas arqueológicas, enfocar aquelas já descobertas no município;

o Apresentar ao público, exemplares de material arqueológico

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tomando as devidas providências para a segurança dos vestígios;

o Distribuição de folder em escolas públicas e/ou centros comunitários enfatizando o patrimônio arqueológico local, sua preservação e uso.

 Público Alvo

 População estudantil da rede pública e privada da AII;  População local, em particular na área do entorno do empreendimento (AID e ADA).

 Indicadores de Desempenho

 Elaboração de folders, ou cartilhas explicativas acerca da atuação da equipe de arqueologia na área;  Palestras em escolas públicas e/ou centros comunitários enfatizando o patrimônio arqueológico local, sua preservação e uso;  Reuniões informais com o público local, e distribuição de material didático/explicativo ao público interessado;  Distribuição de folder em escolas públicas e/ou centros comunitários enfatizando o patrimônio arqueológico local, sua preservação e uso;  Realização de palestras com audiovisuais de orientação, direcionadas aos trabalhadores, técnicos e operários que atuarão na área, durante a execução das obras;  Distribuição de folhetos informativo-explicativos;  Disponibilização ao grande público dos resultados da pesquisa, por meio do site compatível.

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 Cronograma de Execução

Atividade 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Elaboração de diagnóstico do público-alvo Elaboração de material didático Atendimento ao público escolar com o desenvolvimento de atividades A ser definido conforme

educacionais e distribuição de material calendário escolar educativo. Atendimento oportunístico ao público local

interessado Atendimento ao público em geral com publicação digital de informações dos sítios arqueológicos localizados

 Período de Implantação

As etapas primeira (preparatória) e segunda serão implementadas durante os trabalha de Prospecção Arqueológica que deverão antecipar-se às obras de implantação do empreendimento. A terceira etapa se dará por ocasião das obras de implantação do empreendimento.  Interface com Outros Programas

Tem interface com o Programa de Educação Ambiental e de Prospecção Arqueológica

 Equipe Técnica e de Apoio

 01 Arqueólogo Sênior, com experiência em arqueologia preventiva, na área de Licenciamento; Articulação Institucional, Comunicação Social, Relacionamento com Comunidade e Coordenação de Equipe;  01 Educador com experiência em educação patrimonial;  01 Auxiliar de Pesquisa com experiência em atendimento ao público;  01 Suporte Técnico-Administrativo com conhecimento básico das atividades Administrativas;  01 Técnico em Informática.

 Custo de Implantação

R$ 35.000,00 (trinta e cinco mil reais).

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 Arranjo Institucional para o Programa

O empreendedor assume a responsabilidade pela implementação deste Programa diretamente ou através de parcerias, mediante convênios, contratação de empresas especializadas ou profissionais habilitados.

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19. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBUQUERQUE, Marcos. Fortes de Pernambuco: imagens do passado e do presente / Marcos Albuquerque, Veleda Lucena, Doris Walmsley – Recife: Graftorre, 1999. 204 p. il.

BARRETO, Carlos X. P. O Rio Formoso. 2ª. Edição. Rio de Janeiro: Aurora, 1955.

CNRPPN. Reservas particulares do patrimônio natural, RPPN – Brasil. Seminário Mata Atlântica e Serviços Ambientais. São Paulo, 21 e 22 de Março de 2007. Disponível em: . Acesso em: 20 ago. 2009.

COELHO, M. P. O episódio do Rio Formoso. Revista do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, Recife, v. XXXVIII, p. 176-178.

COSTA, João B. R. Relatório sobre o local do reduto do Rio Formoso. Revista do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, Recife, v. II, n. 24, p. 747-755, 1869.

DUSSEN, Adrian van der, Relatório sobre as capitanias conquistadas no Brasil pelos holandeses, Rio de Janeiro: 1947.

IBGE. Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Rio de Janeiro: IBGE, 1953, v. XVIII, pp. 246 e ss.

Informação Geral da Capitania de Pernambuco. in: Anais da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro: 1908.

LABORATÓRIO DE ARQUEOLOGIA DA UFPE. Brasil arqueológico. Disponível em: . Acesso em: set. 2009 PLANO de preservação dos sítios históricos do interior/PPSHI, primeira parte – Recife: Governo do Estado de Pernambuco/FIAM, 1982.

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PATRIMÔNIOS de Pernambuco: materiais e imateriais. Recife: FUNDARPE, 77 p. il., 2009.

PEREIRA DA COSTA, F. A. Anais Pernambucanos. Recife: Fundarpe, 1983. V. I, p. 475; v. II, pp. 112, 187, 460, 461, 591; V. III, pp. IX, 79, 97, 234; V. VI, pp. 510, 532; V. VII, pp. 3-5, 262; V. VIII, pp. 193, 194; V. IV, pp. 106-116, V. IX, pp. 238, 389; V. X, pp. 93, 153, 167, 213, 311.

PERNAMBUCO – Panorama Cultural do Estado, Governo do Estado de Pernambuco, Secretaria de Educação e Cultura, sd.

PLANO de preservação dos sítios históricos do interior/PPSHI, primeira parte – Recife: Governo do Estado de Pernambuco/FIAM, 1982.

SANTIAGO, D. L., História da Guerra de Pernambuco. Recife, 1943.

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