AS ALTERNATIVAS HABITACIONAIS DOS MOVIMENTOS SOCIAIS LUTAR OCUPAR RESISTIR Na virada do milênio, a antiga fábrica de leite CCPL no Rio de Janeiro foi ocupada por famílias vindas de favelas próximas ou conjuntos habitacionais distantes daquela área da Zona Norte carioca. Havia lá uma inteligência na implantação das improvisadas instalações e na distribuição das moradias, espaços coletivos, equipamentos sociais e comércio. O que despontava como uma alternativa urbana demandava uma estruturação que nunca ocorreu: o prédio industrial foi demolido, dando lugar a um pouco inspirador conjunto Minha Casa Minha Vida (MCMV). Em 2001 foi sancionado o Estatuto das Cidades, lei federal que regulamenta a função social da propriedade. Entretanto, tais normativas não se efetivam, escancarando que o problema habitacional e o justo acesso à cidade são questões ainda longe de uma solução. Desde então, as ocupações espalharam-se pelo Brasil. Os movimentos sociais de moradia fortaleceram suas ideias e sua organização com processos participativos que, por vezes, envolveram arquitetos e urbanistas. Enquanto, em grande medida, a discussão pública sobre habitação perdura concentrando seu foco nas favelas e no MCMV, as ocupações emergiram como uma alternativa de moradia coletiva que responde diretamente aos problemas urbanos nacionais. Parte da iniciativa Housing the Majority da rede global Studio-X, a pesquisa Lutar, Ocupar, Resistir: As Alternativas Habitacionais dos Movimentos Sociais trata deste controverso tema, visando compreender esses processos e como eles podem instruir no planejamento e na construção das urbes. Esta é a segunda versão do tabloide originalmente feito para a exposição de 2016 no Rio de Janeiro e agora ampliado no contexto da 11ª Bienal de Arquitetura de São Paulo. Aqui a publicação inclui a ocupação 9 de Julho, espaço parceiro da Bienal, onde a pesquisa está exposta. Nas páginas que se seguem, apresentamos as entrevistas completas com os líderes André de Paula (FIST), Carmen Silva (MSTC), Elisete Napoleão e Maria das Lurdes Lopes (MNLM-RJ), e Guilherme Boulos (MTST), revelando estratégias e análises gerais de movimentos. Após, temos as entrevistas com os arquitetos responsáveis por projetos participativos nas ocupações Hotel Cambridge e 9 de Julho (São Paulo, SP), Manuel Congo (Rio de Janeiro, RJ), Mariana Crioula (Rio de Janeiro, RJ) e a Comuna Urbana Dom Hélder Câmara (Jandira, SP). Não é fortuita a priorização do uso de fontes primárias. Pretende-se informar a respeito de ações e métodos de movimentos de habitação popular, de modo a oferecer ao leitor a liberdade e a responsabilidade de formular sua própria opinião sobre esta questão latente nas cidades brasileiras.

PEDRO RIVERA / FRANCESCO PERROTTA-BOSCH STUDIO-X RIO NOVEMBRO, 2017 NOVEMBER 2017 At the start of the millennium, the former CCPL milk plant was squatted by families who came from nearby favelas, or from housing complexes located in a good distance from that part of the North Side of the city. There was a rough intelligence in the installation of improvised facilities and in the distribution of the dwellings, collective areas, social equipment and commercial space. What emerged as an urban alternative demanded a structuring that never came to pass: the industrial building was demolished, giving rise to an uninspired “Minha Casa Minha Vida (MCMV)” complex. In 2001, the Cities Statute was sanctioned - this is a federal law that regulates the social function of properties. However, these regulations have not materialized, such that the housing problem and fair access to the city are issues that are still far from being resolved. Since then, squats have proliferated around Brazil. The social movements for housing have strengthened their ideas and their organization with participatory processes which have at times involved architects and urban planners. While the public discussion around housing has largely continued to focus on favelas and on the MCMV, squats have emerged as an alternative for collective housing that directly addresses urban problems in the country. As part of the Housing the Majority initiative by Studio-X’s global network, The Fight, Occupy, Resist: Housing Alternatives Of The Social Movements exhibit deals with this controversial topic, aiming to provide an understanding of these processes and how they can inform the planning and construction of cities. In this newspaper, we present the complete interviews with the leaders Guilherme Boulos (MTST), André de Paula (FIST), Elisete Napoleão e Maria das Lurdes Lopes (MNLM-RJ), revealing the general strategies and analysis of these three important housing movements. Also, there are the interviews with the architects responsible for the participatory design in the squats Dandara (Belo Horizonte, MG), Hotel Cambridge (São Paulo, SP), Mariana Crioula (Rio de Janeiro, RJ) e a Comuna Urbana Dom Hélder Câmara (Jandira, SP). The use of primary sources was prioritized on purpose. The intent is to inform people around the actions and methods by popular housing movements, in order to offer spectators the freedom and responsibility to form their own opinions on this latent issue in Brazilian cities. OS MOVIMENTOS THE MOVEMENTS A luta é a atividade, na essência e em síntese. O verbo lutar é tão repetido que acaba por dar forma às frases de cada pessoa envolvida com as ocupações. Com suas similitudes e diferenças, as falas dos líderes contêm as estratégias de ação, os gritos coletivamente expressos nos protestos, análises da situação da sociedade, posturas perante governos e imprensa. Se lutar por moradia digna é o objetivo fundamental que une MTST, MNLM-RJ, MSTC e FIST, também se reconhece que o problema habitacional brasileiro não será resolvido isoladamente: esses movimentos mobilizam-se pelo direito à cidade.

OS MOVIMENTOSThe fight is the activity, in essence and in summary. The verb “to fight” is so often repeated that it shapes the phrases of everyone involved in the squats. With its similarities and differences, the speeches of the leaders contain the action strategies, the cries collectively expressed in protests, analyses of society’s status, attitudes toward the government and the media. Fighting for decent housing is the fundamental objective that unites MTST, MNLM-RJ, MSTC and FIST, one can recognize that Brazilian housing problem will not be resolved in isolation: these movements mobilize for the right to the city. STUDIO-X Quais foram as principais pações Rosi Paes Barreto e Vila Joana, contra longe dos centros, em lugares sem infraestru- ENTREVISTA COM manifestações públicas do o governo do estado. Ganhamos a ocupação tura, sem saneamento básico, sem transporte, movimento? Vila da Conquista contra a prefeitura do Rio. muitas dessas áreas são tomadas por milícias. ANDRÉ DE PAULA Ganhamos e estamos mantendo outras ocupa- Além disso, as pessoas ficam pagando uma FIST Ano passado, nós fizemos uma manifes- ções contra a propriedade privada, o capital eternidade e, na verdade, ficam endividadas. ADVOGADO DA FRENTE tação em frente ao Fórum contra as remoções particular. Em um período de cinco anos, tive- e despejos. Nos incorporamos a todas as ma- STUDIO-X Como vocês analisam o mos apenas três despejos. INTERNACIONALISTA nifestações que acontecem. Fazemos o 1º de trabalho da imprensa brasileira DOS SEM-TETO Maio, participamos de atos conjuntos ou atos STUDIO-X Como vocês se apoiam perante o que ocorre nos movimentos? isolados. Também participamos do Grito dos financeiramente? 24 de janeiro de 2016 FIST A imprensa burguesa – a imprensa tradi- Excluídos. FIST As próprias ocupações que pagam, vinte STUDIO-X Como e quando o Movimento cional – é profundamente facciosa. Qualifica foi fundado? STUDIO-X Quais são os gritos de guerra reais por família, mas a maioria não paga. É a os ocupantes como invasores, quando, na ver- nas manifestações? nossa única fonte de renda essa. dade, só é invasão quando tem outras pessoas FIST O Antônio Louro, eu [André de Paula] e STUDIO-X No caso das ocupações que dentro. Invasão foi o que os Estados Unidos FIST “Ocupar, resistir e lutar para não sair” e o pessoal da Federação Anarquista do Rio de fizeram no Iraque. Invasão foi o que aconteceu cantamos também A Internacional. vocês conseguem manter, há um pro- Janeiro iniciamos o movimento, com nossa jeto de reforma ou de readequação dos aqui dos portugueses com os índios. Invasão primeira ocupação em 1999. Antes tínhamos o STUDIO-X Quais são os marcos do edifícios e consolidar a moradia? Há o por parte da Espanha massacrando os Aste- nome de Movimento de Ocupação Internacio- Movimento? apoio de assessorias técnicas? cas e os Incas. nal dos Sem-Teto. As ocupações mais antigas Mesmo sabendo que a Constituição protege a FIST Temos congressos anuais onde se encon- FIST Tem projeto. Existem lugares que não são a Olga Benário, no bairro de Campo Gran- posse, que não se pode manter uma proprie- tram todas as ocupações. Dez congressos já são prédios, mas terrenos. Nós conseguimos de, e a Vila da Conquista, em Jacarepaguá. o apoio técnico do companheiro Antônio Mar- dade sem função social, a imprensa facciosa Chegamos a ter 40 ocupações. Somos egressos da Central de Movimentos Populares (CMP) e do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM). Porém, como tí- nhamos uma posição de não ligação do movi- mento a partidos, resolvemos nos desligar do MNLM. Embora o Movimento no Rio de Janeiro tenha uma posição igual a nossa com relação ao voto nulo e a não votar, nós éramos minoria a nível nacional enquanto o MNLN era franca- mente aliado ao PT.

STUDIO-X Quais são os objetivos principais?

FIST Os principais objetivos são as lutas contra as remoções e despejos, pela reforma urbana sob controle dos trabalhadores, e por uma Pe- trobrás 100% estatal, também controlada por trabalhadores e sem leilões – o petróleo e o gás têm que ser todo revertido para benefício do povo brasileiro.

STUDIO-X Como é a estratégia de ação do movimento?

FIST A estratégia é ocupação, movimento de rua, pressão de todas as maneiras na luta contra o aumento das passagens e nas lutas gerais do povo. De vez em quando fazemos lu- tas específicas, por isso somos um movimento mais criminalizado, perseguido e processado.

STUDIO-X Como é a estrutura organizacional do movimento?

FIST A FIST tem uma coordenação estadual, porque o movimento não é nacional. Tem uma coordenação eleita no último congresso. Tem um secretário do departamento jurídico e a FIST companheira secretária Nancy, ambos são remunerados. O escritório também é fruto de uma ocupação. Este imóvel chegou a ser leiloado, nós questio- namos porque existe uma função social.

STUDIO-X Como são escolhidos os lugares a serem ocupados?

FIST São prédios ou áreas que não cumprem sua função social. A ocupação é feita após um levantamento através da certidão de ônus protege o tempo todo a propriedade abando- foram realizados. tins, do Sindicato dos Petroleiros, que é en- reais. genheiro eletricista e viu a parte de elétrica. nada e a especulação imobiliária. Em outros casos, as próprias ocupações es- Também participamos da ocupação da Petro- brás, contra o leilão do petróleo e gás, além Na Ocupação Olga Benário, tivemos apoio do STUDIO-X Quais são as expectativas pontâneas resolvem filiar-se à FIST: nós mos- Sindicato dos Professores da Rede Particular tramos o regimento interno, caso elas aceitem da luta contra as demissões da Companhia Si- para o futuro? derúrgica Nacional, em Volta Redonda, e ocu- para cercar o prédio e lá nós nos deparamos a nossa direção e nossos princípios, elas são FIST A expectativa é que aconteça uma refor- pamos a Agência Nacional de Petróleo duas contra a milícia, a “Liga da Justiça’, do Jeromi- incorporadas a FIST, sendo que elas podem ser ma urbana sob o controle dos trabalhadores, vezes. nho, Natalino e Batman. Eles tentaram se imis- cortadas caso não participem das manifesta- para que todos possam ter casa. Que a Petro- De modo geral, temos participado das lutas em cuir e venderam uma área comunitária; nós os ções, protestos e reuniões da FIST. brás possa ser nossa, para que, a médio pra- conjunto com os trabalhadores. denunciamos e por isso hoje estão presos. STUDIO-X Quais são as estratégias de zo, o gás possa custar um real. No longo prazo, comunicação internas e externas do STUDIO-X Quais são as grandes STUDIO-X De modo geral, como é a esperamos a transformação do país em uma movimento? conquistas? relação de vocês com as diferentes sociedade socialista. FIST A comunicação do movimento é falha, esferas governamentais? FIST Nós conseguimos ganhar e manter várias fraca. Nós temos um jornal e, a partir do 10º ocupações. Por exemplo, contra o Eike Batis- FIST Nenhum diálogo com a prefeitura, com congresso, temos uma secretária liberada ta, ganhamos nas ocupações Luiza Mahin e Es- estado e o governo federal. para organizar o blog, o email e o Facebook. crava Anastácia, ambas na Ladeira do Russel. Temos também um grupo de Whatsapp, para STUDIO-X Como vocês analisam o Da prefeitura de São Gonçalo, vencemos na mobilizar as pessoas. programa Minha Casa Minha Vida? ocupação Margarida Maria Alves. Consegui- mos manter a ocupação dos Cegos, na Urca, FIST “Minha casa minha dívida”. Achamos que contra o Governo Federal. Ganhamos as ocu- esse projeto é furado. Colocam as pessoas STUDIO-X What is the movement’s participate in FIST’s demonstrations, protests STUDIO-X What are the main INTERVIEW WITH strategy for action? and meetings. achievements? ANDRÉ DE PAULA FIST The strategy is squatting, street move- STUDIO-X What are the movement’s FIST We have managed to obtain and maintain ment, and pressure of all kinds in the fight internal and external communication several squats. For example, against Eike Ba- INTERNATIONALIST ROOFLESS against increased transportation costs and strategies? tista, we gained the Luiza Mahin and Escrava the general struggles of the people. From time Anastácia Squats, both in Ladeira do Russel. FRONT’S LAWYER to time we organize specific fights, which is FIST The movement’s communication is failing, Against the city of São Gonçalo, we gained the January 24, 2016 why we are the most criminalized, persecuted it’s weak. We have a newspaper and, as of the Margarida Maria Alves Squat. We managed to 10th congress, we have a secretary cleared STUDIO-X How and when was the and prosecuted movement. maintain the Cegos Squat, in Urca, against the to organize the blog, emails and the Facebook Movement founded? Federal Government. We gained the Rosi Paes STUDIO-X What is the movement’s profile. We also have a Whatsapp group for Barreto and Vila Joana Squats, against the FIST Antônio Louro, me [André de Paula] and organizational structure? mobilizing people. state government. We gained the Vila da Con- the members of the Anarchist Federation of FIST The FIST has a state coordination, be- STUDIO-X What were the movement’s quista Squat against the city of Rio. We gained Rio de Janeiro started the movement, with our cause the movement is not national. The coor- main public demonstrations? and are maintaining other squats against pri- first squat in 1999. Before we had the name dination was elected in the most recent con- vate property, private capital. Over a five-year International Roofless Squatters’ Movement. gress. It has a legal department secretary and FIST Last year, we held a demonstration in period, we have had only three evictions. The earliest squats were Olga Benário, in the a secretary assistant, Nancy, both of whom front of the Forum against removals and evic- neighborhood of Campo Grande, and Vila da tions. We have incorporated all of the demon- STUDIO-X How do you support yourself are compensated. financially? Conquista, in Jacarepaguá. We have had 40 The office is also the result of a squat. This strations that have taken place. We partici- squats. property was just auctioned, which we ques- pate in joint or individual acts on May 1st, In- FIST It’s the members of the squats themselves We are graduates of the Popular Movement ternational Workers’ Day. We also participate that pay twenty reais per family, though most don’t pay. This is our only source of income.

STUDIO-X In the case of squats that you manage to maintain, is there a project for renovation or updating the buildings and consolidating housing? Is there support from technical advisers?

FIST There is a project. There are places that are not buildings, but plots. We have the tech- nical support of Antônio Martins, of the Oil Workers Union, who is an electrical engineer and handles the electricity aspect. In the Olga Benário Squat, we had the support of the Pri- vate Network of Teachers Union to surround the building and there we stood up against the militia, the “Justice League” of Jerominho, Na- talino and Batman. They tried to interfere and sold a communal area; we denounced them and this is why they are in prison today.

STUDIO-X In general, how is your relationship with the different levels of government?

FIST We don’t have any type of relationship.

STUDIO-X How do you analyze the Minha Casa Minha Vida program?

FIST “My House My Debt”. We think that this program has holes. They place people far from downtown, in places with no infrastructure, without basic sanitation, without transporta- tion, and many of these areas are taken over by militia. In addition, people end up paying for eternity, and they actually become indebted. FIST STUDIO-X Do you analyze the Brazilian press’ coverage of what is occurring in the movements?

FIST The bourgeois press - the traditional press - is deeply divisive. It describes the oc- cupants as invaders when, in fact, it is only invasion if there are other people inside. In- vasion was what the United States did in Iraq. Invasion was what happened here with the Portuguese and the indigenous. Invasion on behalf of the Spanish massacring the Aztecs Center (CMP) and the National Struggle for in Grito dos Excluídos (Cry of the Excluded). tioned because there is a social function. and the Incas. Housing Movement (MNLM). However, since STUDIO-X What are the battle cries Even though the Constitution protects own- our intention was to not link the movement to STUDIO-X In general, how is your during the demonstrations? ership, you cannot keep a property without any parties, we decided to disconnect our- relationship with the different levels of social function, and the divisive press always selves from the MNLM. Although the Rio de government? FIST “Occupy, resist and fight to not leave” and protects abandoned properties and real es- Janeiro Movement has the same position as we also sing The Internationale. FIST No dialogue with the city, state and fed- tate speculation. us with regard to null votes and not voting, we eral government. STUDIO-X What are the Movement’s were a national minority, while the MNLN [sic] STUDIO-X What are your expectations milestones? was openly linked to the Workers’ Party (PT). STUDIO-X How do you choose the places for the future? to be occupied? FIST We have annual congresses with all of the STUDIO-X What are the main FIST squats. Ten congresses have already taken The expectation is that there will be an ur- FIST They are buildings or areas that do not objectives? place. ban reform under the workers’ control, so that fulfill their social function. The squat is carried everyone can have a house. That Petrobrás FIST We also participated in the Petrobrás Squat, The main objectives are the fights against out after a survey through the in rem guaran- against the auctioning of oil and gas, in addi- can be ours, so that, over the medium-term, removals and evictions, for urban reform un- tee certificate. tion to the fight against lay-offs at Companhia gas may cost one Brazilian real. Over the long- der workers’ control, and for a 100% state- In other cases, spontaneous squats decide to Siderúrgica Nacional, in Volta Redonda, and term, we hope that the country transforms owned Petrobrás, also controlled by workers join the FIST: we show them the internal regu- we occupied the National Petroleum Agency into a socialist society. and not bids - oil and gas need to be entirely re- lations, and if they accept our guidance and two times. verted back to benefiting the Brazilian people. our principles, they are incorporated into the In general, we have participated in fights toge- FIST. However, they can be cut off if they do not ther with workers. Cambridge, como se deu o trabalho se o edifício pela primeira vez em 1997. Nós uma deficiência de uma assessoria técnica ENTREVISTA COM com as assessorias técnicas? saímos em 2003 com a promessa de volta no com a própria mídia, pois só tínhamos o en- ano seguinte com ele reformado. Porém, ele tendimento da mídia oficial que nos crimina- MSTC Quando a gente ocupa qualquer área, CARMEN SILVA ficou do mesmo jeito, o que nos levou a ocu- lizava de todas as formas. Depois, passamos independentemente de ter um compromisso parmos este prédio por mais de quatro vezes, a ter acesso direto à mídia alternativa, como LÍDER DO MOVIMENTO com o governo, ocupamos já tendo um pro- sendo a última vez no ano passado. Quando Jornalistas Livres e Mídia Ninja, e passamos jetinho em mãos. Temos um formato de estar nós retornamos recentemente, o prédio esta- a usar as redes sociais, o Facebook, o What- SEM TETO DO CENTRO sempre conversando com várias assesso- va bem mais deteriorado do que quando nós sApp, o Instagram. Assim, passamos a ter co- 17 de outubro de 2017 rias. O primeiro arquiteto com quem tivemos saímos. Deixamos esse prédio organizado na municação externa. Não adianta o movimento contato foi o Celso Sampaio. Tanto no Cam- STUDIO-X Como e quando o Movimento época, mas nesse meio tempo, várias pesso- ser sectário. Eu aprendi a trabalhar com vá- bridge como na 9 de Julho, tivemos a asses- foi fundado? as em situação de rua, moradores drogados rios coletivos. Todo mundo que tem uma pro- soria e assinatura dos projetos pelo arquiteto e traficantes ocuparam aqui para usos inde- posta de ajuda é bem-vindo. Especialmente, MSTC O Movimento Sem Teto do Centro Alexandre Hodapp da Peabiru. vidos. Teve até um incêndio que diziam ter aparecem coletivos de cultura: a maior co- surgiu em 2000 como uma dissidência de Não posso deixar de também citar a Eliane comprometido a estrutura do prédio – o INSS municação do movimento é com a arte, com a outro movimento com o qual não estávamos Caffé e a Carla Caffé. Veja o que está acon- (o proprietário) chegou a fazer um laudo que cultura. Eu digo que são dois pontos cruciais: satisfeitos com a liderança e as propostas. tecendo com a Bienal, todas as propostas de indicava a demolição do prédio. Contudo, assessoria técnica e cultura. Inclusive, o MTSC nasceu aqui na ocupação arquitetura aqui feitas com a Escola da Cida- quando reocupamos a 9 de Julho, chamamos Internamente, nós estamos trabalhando com 9 de Julho, que existe desde 1997 mas, ori- de, o Luís Felipe Abbud, o IAB, o Marcos Rosa, um expert da USP em laudos estruturais para um coletivo de psicólogos que trabalham ginalmente, com esse outro movimento. Em o coletivo Aparelhamento, o Jeroen Stevens e 2001, nós do MTSC e vários outros movimen- seus alunos da Univer- tos criamos a Frente de Luta pela Moradia. sidade de Leuven na A FLM é um guarda-chuva que abriga várias Bélgica – todos traba- entidades. lhando em rede. Essa STUDIO-X Quais são os objetivos troca faz com que to- principais? dos aprendam um pou- co. Como liderança do MSTC O objetivo é organizar o maior núme- movimento, eu me mo- ro possível de trabalhadores de menor renda delei bastante porque para que, juntos, conquistemos a nossa mo- aprendi como é impor- radia e nossos direitos. É uma luta por direi- tante ter uma Residên- tos. É a luta pela garantia de direitos à mora- cia Artística aqui, como dia, à educação, à saúde, ao lazer, à cultura, é importante ter uma à mobilidade, à qualidade de vida. Direitos rede de comunicação, básicos e também direitos que venham a ser uma rede de psicologia, acrescidos aos direitos básicos. uma rede de arquitetu- STUDIO-X Como é a estratégia de ação ra. Nós trabalhamos do movimento? com várias pessoas diferentes. MSTC Nos reunimos em bases, primeiramen- É fantástico como te, nas quais agrupamos todos aqueles que as assessorias téc- não têm onde morar. Nas bases, fazemos um nicas de arquitetura cadastro dessas pessoas e buscamos forta- têm contribuído para lecê-las para falarem de seus direitos. Leva- além do desenho. Nós mos ao governo todas as necessidades dessa tínhamos um grande população – como entidade, nossa obrigação preconceito com a é negociar com os três níveis governamen- figura do arquiteto: tais. Quando não são atendidas as necessida- achávamos que des básicas, como no enorme déficit habita- era uma atividade cional que há por aqui, nossa maior forma de somente estética. Mas luta é ocupar. arquitetura é vida. O Ocupamos espaços vazios, ociosos e que arquiteto é uma figura não cumprem a função social da propriedade tão importante quanto para denunciar a falta da moradia e a falta um professor e um de políticas públicas efetivas. Nisso, denun- médico na vida do ser ciamos também a especulação imobiliária: humano, porque uma aqueles que deixam um imóvel abandonado cidade sem arquitetura e se deteriorando para esperar um momento é totalmente morta. em que tal lugar terá um preço altíssimo. A arquitetura não MSTC STUDIO-X Como é a estrutura pode servir somente organizacional do movimento? para uma caixa emblemática, mas é o MSTC Enquanto liderança do movimento, eu local onde se planeja tenho um papel fundamental de formar novas como uma família vai lideranças: um verdadeiro líder subdivide viver, como um ser as tarefas e amplia seu quadro. No contexto humano vai viver. geral de um movimento, a gente tem que dar Eu aprendi até a formação: quando enxergamos uma pessoa importância da janela com potencial de ser coordenador, nós va- – a condição da luz que mos elevando ela. Dentro de uma ocupação, entra e a luz que sai, a gente vai formando mediadores por anda- de como o ar circula res. Estes mediadores são a voz que leva aos –, tudo isso eu apren- moradores as informações de organização, di com a figura do que fizesse uma avaliação: ele atestou que como mediadores com os moradores, fazen- de agenda, de trabalho interno e mesmo da arquiteto. não precisava demolir e aqui estamos fazen- do reuniões de andar em andar. parte burocrática do movimento. Também Com o prêmio APCA de Arquitetura [Associa- do a reforma. Essa estruturação do coletivo – de trabalhar formamos comissões: comissão de portaria, ção Paulista de Críticos de Artes, na cate- Às vezes, as pessoas perguntam: “Como é o coletivo – com várias entidades juntas é que comissão de cozinha etc. goria Apropriação Urbana], passei a refletir que vocês ousam reformar aquilo que não faz a comunicação do movimento ser cres- Por exemplo, nós estamos agora no processo que não basta um movimento ocupar só para têm posse?” Nós estamos aqui para zelar. cente. Cada dia eu vou aprendendo mais uma de reforma do prédio da ocupação 9 de Julho. denunciar, o movimento tem que ocupar para Temos consciência que isso aqui não é nosso. coisa, vou aprendendo um pouco mais com os Nessa obra tem o grupo de homens e mulhe- zelar, para transformar. Com o prêmio APCA, Alguma hora será preciso negociar definitiva- outros. res que trabalham na construção. Têm as mu- percebi a importância da preservação da ci- lheres que se organizam na hora do almoço – mente ou a gente vai ter que sair. Enquanto a dade para não matarmos nossa história. STUDIO-X Quais foram as principais a comissão de cozinha. Tem aquele que mexe gente utiliza, a zeladoria é nossa obrigação. manifestações públicas do especificamente com a hidráulica e o outro STUDIO-X Como são escolhidos os STUDIO-X Quais são as estratégias de movimento? que mexe com a elétrica, mas sempre sob a lugares a serem ocupados? comunicação internas e externas do batuta de um profissional. Quando entramos MSTC Já tivemos passeatas até o Palácio do MSTC Os lugares são escolhidos pela sua movimento? numa ocupação, entramos com uma assesso- condição de abandono, independente de se- Governo do estado de São Paulo no Morum- ria técnica. Tudo com desenho arquitetônico. rem edifícios particulares ou públicos. MSTC Olha, eu vou te confessar uma coisa: bi. Ida à Brasília, no Congresso e no STF. Até quanto mais tempo o movimento tem, mais acampamos na porta do Tribunal de Justiça. STUDIO-X Tanto em relação a ocupação A ocupação 9 de Julho, por exemplo, é um a gente vai aprendendo. Primeiro, tínhamos Pegamos os móveis de um local que nós se- 9 de Julho quanto na ocupação Hotel alvo pré estudado há muito tempo. Ocupou- ríamos despejados e depositamos na porta simplesmente fazer parte do Estado. Fazer fiscalizar e implementar. Então, eu acho que sa ter isso em vista. É seguir o exemplo das do Fórum João Mendes. Cada forma de luta parte do Estado quer dizer que nós temos de uma das maiores conquistas do movimento é Casas Bahia, da Magazine Luiza, do Ricardo é muito importante. Chamam a gente de vân- formar cidadãos de bem, com conhecimen- a participação efetiva em propostas dentro Eletro, da Marabrás que vivem cheios: nin- dalos, de baderneiros, porém, pelo contrário, to das leis, com seus documentos em dia, e dos órgãos que vão, de fato, criar a moradia e guém ficaria no vermelho, porque mesmo estamos brigando pelos direitos de todos os entendendo que nós não temos somente di- programas que venham a beneficiar o traba- devendo, as pessoas continuam pagando. brasileiros. Estamos brigando pelos direitos reitos mas deveres também. Essa é a gran- lhador de menor renda. O governo tem que seguir os exemplos das até desses que nos xingam. de conquista do movimento: a organização grandes redes de lojas de eletrodomésticos. STUDIO-X De modo geral, como é a inclusiva. A modelagem financeira do MCMV segue a STUDIO-X Quais são os gritos de guerra Por isso que nós somos temidos. Nossa or- relação de vocês com as diferentes lógica do mercado para rico, para quem tem nas manifestações? ganização faz com que o Estado nos tema, esferas governamentais? muita grana. Isso paralisa os processos de MSTC Temos vários gritos. Quando a gente porque somos um conjunto organizado, e não MSTC Nós, enquanto movimento, não coloca- financiamento de moradia. está fazendo uma ocupação, gritamos “Ocu- um conjunto alienado. É uma bobagem esse mos a política partidária acima de tudo. Essa STUDIO-X Como é a relação de vocês par e Resistir”. Também temos: “MSTC, a temor, porque a única coisa que queremos é compreensão, aliás, o governo também deve- com outros movimentos sociais? luta é pra valer”. E o lema: “Quem não luta, fazer parte desse Estado. E como a gente faz ria ter, mas as políticas públicas são mudadas tá morto”. Nós já tivemos uma interpretação parte do Estado? Participando dos conselhos de quatro em quatro anos, cada qual fazen- MSTC É uma relação grande de articulação. deste último como incentivo à violência, mas e suas respectivas eleições. Os conselhos do seu programa. Então, a gente procura se Não brigo com ninguém. Eu respeito, mes- não é nada disso: estamos nos referindo que são uma grande descentralização do poder separar dessa política partidária e temos o mo que cada um tenha diretrizes distintas. todo o direito sem ação está morto. A prova público que garante a participação popular. papel de negociar com os três níveis de go- O MSTC tem um grande relacionamento até verno. Sabemos que mesmo com o Poder Público: fiz parte de existem os conselhos uma curadoria dentro da Procuradoria Geral nacionais, estaduais do Ministério Público. Explicamos lá dentro e municipais, logo, te- como o movimento funciona. Fazemos isso mos gente participan- para que na hora de dizer “não”, nós possa- do desses conselhos mos dizer “não” contundentemente – por mais nas três instâncias que saibamos que o outro está errado, não governamentais. posso deixar de escutar. Ao ter assento nesses STUDIO-X Como vocês analisam o campos de discussão trabalho da imprensa brasileira real, procuramos man- ter nossa negociação perante o que ocorre nos em casos como agora, movimentos? por exemplo, de não MSTC Eu vejo a imprensa oficial como uma aceitar o corte a zero desinformante geral. Ela desinforma verda- para moradia em 2018 deiramente o brasileiro. Não dão a notícia do Governo Federal completa. O papel do jornalista é muito im- – estamos discutindo portante, mas ele também vive impossibili- isso em várias frentes tado de escrever aquilo que quer, já que tem e fazendo vários pro- que seguir aquilo que o patrão determina. O testos contra. nosso grande erro sempre é a má distribuição e a imprensa brasileira está mal distribuída, STUDIO-X Como você porque ela está na mão de algo como seis fa- analisa o programa mílias para um país que tem duas centenas de Minha Casa Minha milhões de habitantes. Essas poucas famílias Vida? têm um papel de vender a notícia de acordo MSTC É um ótimo pro- com o governo que lá está – são partidários. grama, mas é preciso E, não que seja totalmente nossa amiga, mas que seja ajustável de a mídia alternativa conta a verdade, doa a acordo com o tamanho quem doer. Não está presa às questões ofi- do estado da federa- ciais. Não é um serviçal. ção. Não se pode fazer STUDIO-X Quais são as expectativas um programa para o para o futuro? Brasil inteiro, compa- rando São Paulo e Rio MSTC Se você me perguntasse ano passado, de Janeiro com Amazo- eu estava muito otimista. Nós pensávamos nas ou Pará, onde o va- que iríamos entregar várias moradias, mas, lor da terra é mínimo, e, a cada ano que passa, a gente vai vendo que por aqui, o valor da ter- nossa perspectiva para o futuro é não parar. MSTC ra é altíssimo. Por isso, O que temos de fazer é educar – a educação o MCMV não teve qual- popular. Enquanto a gente tiver voz, preci- quer resultado em São samos de núcleos de educação popular. Nós Paulo capital. Deveria temos que cativar o coletivo e dizer a eles: ter tido um estudo “Nós podemos juntos fazer isso. Por esse mais aprofundado nos caminho que nós vamos.” Não adianta criar dois primeiros anos: a perspectiva de que vamos conseguir colo- eu falei na conferência car famílias em programas para ter moradia nacional que não era – para conseguir isso, é preciso ter primei- possível comparar o ro um conjunto de educação em todos os valor da terra em São parâmetros. Paulo com o do Acre. No norte, tem terra de- mais e não tem progra- disso é a Constituição: lembro do quinto e do Quando há participação popular dentro do ma, aqui tem pouca terra e o programa não sexto artigos, eles estão sendo executados? governo, você pode levar propostas, solicita- tem dinheiro para bancá-la. Para o estado de Não, então quem não luta tá morto. Se a gente ções de votos, dizer “isso aqui está errado”. São Paulo, o governador Geraldo Alckmin foi não grita por não termos casa, por não ter- Nós estamos em todas audiências públicas. muito esperto, aproveitou o MCMV Entidades mos educação, por não termos saúde, quem Nesse período, aprendemos o seguinte: quan- e construiu. Mas o estado e a capital são to- vai gritar por nós? Então, “Quem não luta, tá do há uma proposta ou uma resolução pelo talmente diferentes. morto” refere-se que o direito morre por não poder público que diga respeito à moradia ou O outro grande problema é a burocracia, isto se efetivar o que está no papel. qualquer outro direito, procuramos debater é, a modelagem do operador financeiro. Pois com quem está participando dessas discus- STUDIO-X Quais são as grandes não leva em consideração que a renda das sões e tentamos levar isso para os conselhos. conquistas do movimento? pessoas oscila – um dia, o cidadão está traba- Inclusive, no dia 24 de outubro, faremos um lhando e amanhã pode estar desempregado, MSTC Posso citar desde a luta por moradias seminário que chama “Alternativas e Pers- gerando dívidas por não ter salário. Se entrar definitivas até a proposta de leis e a partici- pectivas para um Programa Habitacional” no Cadin [Cadastro informativo de créditos pação efetiva do governo. Os governantes com o governo municipal e o Ministério Pú- não quitados do setor público], a pessoa não acham que nós queremos revolução, mas não blico. Não adianta estarmos próximos ao financia a casa de modo algum. Se o progra- se revoluciona e governa ao mesmo tempo. poder público sem a participação do Ministé- ma é destinado a um bem básico e um direito Não queremos revolucionar nada, queremos rio Público que é um órgão constituído para fundamental, a modelagem financeira preci- STUDIO-X In terms of the 9 de Julho Julho occupation, for example, is a target STUDIO-X What are the movement’s INTERVIEW WITH occupation as well as the Hotel that was previously studied for a long time. strategies for internal and external Cambridge occupation, what was the The building was occupied for the first time communication? CARMEN SILVA work with the technical advisors like? in 1997. We left in 2003 with the promise of MSTC Look I’m going to confess something: returning the following year with the building LEADER OF THE CITY CENTER MSTC the longer the movement goes on, the more Whenever we occupy any area, regar- renovated. But it was left in the same con- we learn. At first, we needed technical su- dless of whether we have a commitment with ditions, which led us to occupy this building HOMELESS MOVEMENT pport with the media itself, because the only the government or not, we occupy with a pro- four more times, the last time being last year. October 17, 2017 understanding we had was of the official me- ject in hand. We have a format such that we When we returned recently, the building was dia which criminalizes us in every way possi- STUDIO-X How and when was the are always conversing with various advisors. much more rundown than it had been when ble. Later on we got direct access to the alter- Movement founded? The first architect with whom we had contact we left. We left this building organized, but was Celso Sampaio. At both Cambridge and native media, like Jornalistas Livres and Mídia MSTC The Movimento Sem Teto do Centro since that time, a lot of people who had been 9 de Julho, we received support and design Ninja, and we began using social networks, [“The City Center Homeless Movement”] be- living on the streets, drug users and dealers from the architect Alexandre Hodapp of the Facebook, WhatsApp, Instagram. This is how gan in 2000 as a split from another movement occupied this place, putting it to unseemly firm Peabiru. we started to have external communication. with which we were dissatisfied in terms of use. There was even a fire that they say com- I also must mention Eliane Caffé and Carla It’s no use for the movement to be sectarian. leadership and proposals. In fact, the MTSC promised the building’s structure – the INSS Caffé. Look at what’s happening with the I learned to work with various collectives. was born here at the 9 de Julho occupation, (the owner) went so far as to get an appraisal Biennial, all the architecture proposals cre- Everyone who has a proposal to help is wel- which has existed since 1997 but, originally ated here with Escola with this other movement. In 2001, we at the da Cidade, Luís Felipe MTSC and a number of other movements cre- Abbud, IAB, Marcos ated the Frente de Luta pela Moradia [“Fight Rosa, the collective for Housing Front”]. The FLM is an umbrella Aparelhamento, Je- group that shelters various organizations. roen Stevens and his STUDIO-X What are your main students from the objectives? University of Leuven in Belgium – everyone MSTC - The objective is to organize the hi- working in a network. ghest number of low-income workers possi- This exchange makes it ble so that, together, we conquer our housing so that everyone lear- and our rights. It’s a fight for rights. It’s a fight ns a little. As leader of for the guarantee of rights to housing, to edu- the movement, I had to cation, to healthcare, to leisure, to culture, adapt a lot, because I to mobility, to quality of life. Basic rights and learned how important also additional rights that come with basic it is to have an Artistic rights. Residence here, how STUDIO-X What is the movement’s important it is to have strategy for action? a communications ne- twork, a psychology MSTC First, we meet at bases where we network, an architec- group together all those who have no place to ture network. We work live. At these bases, we create a register for with many different these people and we try to build them up by people. telling them about their rights. We take all the It’s fantastic how the necessities of this population to the govern- architectural technical ment – as an organization, it is our obligation advisors have contri- to negotiate with the three levels of gover- buted beyond just the nment. When the basic necessities are not architectural design. met, as is the case with the enormous housing We had a lot of preju- deficit you see out here, our main way of figh- dice against the figure ting back is by occupying. of the architect: we We occupy empty spaces that aren’t being thought it was solely used and which do not fulfill the social func- aesthetic activity. But tion of property in order to expose the lack of architecture is life. housing and the lack of effective public poli- The architect is as im- cies. With this, we are also exposing real es- portant a figure in the tate speculation: those who leave a building lives of human beings abandoned and deteriorating, waiting for the as teachers or doctors, moment when the value of that place rises MSTC because a city without sky high. architecture is totally STUDIO-X What is the movement’s dead. Architecture organizational structure like? cannot just serve as an emblematic box, MSTC As leader of the movement, I have a because it is the loca- fundamental role in forming new leaders: a le that’s planned for true leader subdivides tasks and expands a family to live, for a their framework. In the general context of a human being to live. I movement, we have to provide training: when have even learned the we see someone with the potential to be a co- importance of win- ordinator, we have to go about elevating them. dows – the condition Within an occupation, we train mediators for of the light that enters each floor. These mediators are the voice that and the light that goes bring residents information in terms of orga- come. In particular, culture collectives show out, the way the air circulates –, I learned all that recommended the building’s demolition. nization, agenda, internal work and even the up: most of the movement’s communication is this from the figure of the architect. But when we reoccupied 9 de Julho, we cal- bureaucratic part of the movement. We also with art, with culture. I’d say these are two With the Architecture Prize from the APCA led an expert in structural appraisals from form commissions: the commission of door- crucial points: technical support and culture. [the São Paulo Association of Art Critics, in the University of São Paulo to evaluate the men, the kitchen commission, etc. Internally, we’re working with a collective the category of Urban Appropriation], I star- building: he attested that it didn’t need to be For example, we are now in the process of of psychologists who act as mediators with ted to reflect that it isn’t enough for a move- demolished, and so here we are renovating it. renovating the building of the 9 de Julho oc- the residents, holding meetings from floor to ment to occupy only to expose. The move- Sometimes people ask: “How can you dare cupation. For this project, we have a group of floor. ment has to occupy to act as caretakers, to to renovate something that doesn’t belong to men and women working on the construction. This structuring of the collective – working as transform. With the APCA prize, I understood you?” We are here to act as custodians. We We have the women who organize lunch – the a collective – with various entities together is the importance of preserving the city so that are aware of the fact that this isn’t ours. The kitchen commission. We have someone who what makes the communication of the move- our history isn’t killed off. time will come that we will have to negotiate specifically works on the pipes and someone ment grow. Every day I learn something new. definitively or we’ll have to leave. While we’re else who works on the electricity, but always STUDIO-X How are the places chosen I learn a little more from the others. under the supervision of a professional. Whe- for occupation? making use of it, it is our obligation to take never we enter an occupation, we enter with care of it. MSTC Places are chosen based on their sta- technical support. Always with architectural te of abandonment, regardless of whether drawings. they’re private or public buildings. The 9 de STUDIO-X What have been are dead” refers to the fact that rights die period this is what we learned: when there Entidades and he built. But the state and the the movement’s main public when what is in writing is not put into effect. is a proposal or a resolution from the public capital city are totally different. demonstrations? authorities regarding housing or any other The other big problem is bureaucracy-- in STUDIO-X What have been the right, we try to debate with whoever is par- order words, the financial operator model. MSTC We’ve had marches to the São Paulo movement’s main achievements? ticipating in these discussions and we try to Because it doesn’t take into consideration State Government Palace in Morumbi. In Bra- MSTC I could mention anything from the fight bring this to the councils. the fact that people’s incomes fluctuate-- one sília, to Congress and the Federal Supreme for definitive housing to the proposal for laws In fact, on October 24th, we’ll be holding a se- day, an individual is working and the next he Court. We even camped out by the entrance and effective participation on the part of the minar called “Alternatives and Perspectives or she might be unemployed, generating debt to the Court of Justice. We took the furniture government. Those in government think that for a Housing Program” with the municipal by not collecting a salary. If you get put on from one locale where we were being evic- we want revolution, but you can’t revolutioni- government and the Public Ministry. It’s no Cadin [the register of unpaid public sector ted and left at the entrance to João Mendes ze and govern at the same time. We don’t want use for us to be close to the public authorities credits], you can’t finance a home anymore. If Court. Each form of protest is very important. to revolutionize anything. What we want is to without the participation of the Public Minis- the program is designated to provide a basic They call us vandals, hooligans, but, on the simply be part of the State. Being part of the try, which is an agency that was established asset and a fundamental right, the financial contrary, we’re fighting for the rights of all State means that we have to form good citi- to oversee and to implement. So I think that model needs to have this in view. It needs to Brazilians. We’re even fighting for the rights zens, with awareness of the laws, with their one of the movement’s biggest achievements follow the example of Casas Bahia, Magazine of those who curse us out. documents in order, and understanding that is our effective participation in proposals to Luiza, Ricardo Eletro, Marabrás, which are STUDIO-X What are the war cries heard we don’t just have rights, but duties as well. the agencies that will actually create housing always filled with customers: nobody ends and programs that will up in the red, because even when they’re debt benefit low-incomepeople keep paying. The government needs to workers. follow the examples of the big home applian- ce store chains. The financial model of MCMV STUDIO-X In general follows the logic of the market for rich people, terms, what is for people who have lots of money. This pa- your relationship ralyzes the processes of financing housing. like with the different levels of STUDIO-X What is your relationship like government? with other social movements?

MSTC As a movement, MSTC It’s a relationship of great articulation. we do not place par- I don’t fight with anyone. I respect, even when tisan politics above each one has their own distinct directives. everything else. Inci- MSTC has a great relationship even with the dentally, the govern- Public Powers: I was part of a curatorship ment should also have within the Public Ministry Office of the At- this same understan- torney General. We explained there how the ding, but public poli- movement functions. We do this so that when cies change every four it’s time time to say “no,” we can say “no” years, with everyone emphatically – no matter how much we know creating their own pro- that the other side is wrong, I can’t not listen gram. So we try to se- to what they have to say. parate ourselves from STUDIO-X How do you see the work of partisan politics and the Brazilian press in terms of what we have the role pf ne- goes on in the movements? gotiating with the three levels of government. MSTC I see the official press as a general mi- We know that there sinformant. It truly misinforms the Brazilian are national, state and people. It doesn’t give the complete news. municipal councils, so Journalists have a very important role, but we have people partici- they are also forever forbidden from wri- pating in these councils ting what they want to because they have to on the three govern- follow decisions made by their bosses. Our mental levels. biggest mistake is always uneven distribution In order to have a seat and the Brazilian press is unevenly distribu- in these fields of real ted because it is in the hands of something discussion, we try to like six families in a country that has 200 maintain our negotia- million inhabitants. These few families have a tions in cases, like ri- role in selling the news according to the go- ght now, for example, vernment that’s in power – they’re partisan. MSTC refusing to accept the And, though they’re not exactly our friends, Federal Government the alternative media tells the truth, no mat- cutting housing down ter who it hurts. They aren’t cuffed by official to zero for 2018 – we matters. They aren’t servile. are discussing this on STUDIO-X What are your expectations several fronts and or- for the future? ganizing various pro- tests against it. MSTC If you had asked me last year, I was really optimistic. We thought we were going STUDIO-X How to deliver a lot of housing units, but, with each do you see the year that passes, we realize that our pers- program Minha pective for the future is to keep going. Casa Minha Vida? What we have to do is educate – popular edu- MSTC It’s a fine pro- cation. While we have a voice, we need nuclei gram, but it needs to be adjustable according of popular education. We have to captivate at the demonstrations? This is the movement’s great achievement: to the size of the federation. It can’t be a pro- the collective and tell them: “Together we can MSTC We have a number of cries. When we inclusive organization. gram for all of Brazil, comparing São Paulo do this. This is the path we’re going to follow.” are occupying a place, we shout “Occupy That’s why we’re feared. Our organization and Rio de Janeiro with Amazonas or Pará, It’s no use creating the perspective that we’re and Resist.” We also have: “MSTC, the fight makes it so the State fears us, because we’re where the price of land is minimal, and here going to place families into programs to get is for real.” And our motto: “Those who aren’t an organized group, and not an alienated where the price of land is extremely high. housing – ito achieve this, first we need a set fighting are dead.” People have interpreted group. This fear is nonsense, because the That’s why MCMV hasn’t had any results in of education in all parameters. this last one as inciting violence, but it’s not only thing we want is to a part of this State. the city of São Paulo. There should have been that at all: we are referring to the fact that all And how do we become part of the State? By a more profound study in the first two years: rights without action are dead. The proof of participating in the councils and their res- I said at the national conference that it wasn’t this is in the Constitution: remember the fifth pective elections. The councils are a great possible to compare the value of the land in and sixth articles, are they being executed? decentralization of public power which gua- São Paulo with the land in Acre. In the north, No, so those aren’t fighting are dead. If we rantees popular participation. When there there’s so much land and no program for it. don’t holler about the fact that we don’t have is popular participation in the government, Here, there’s little land and the program do- homes, that we don’t have education, that we you can bring up proposals, solicitations for esn’t have money to afford it. For the state of don’t have healthcare, who’s going to holler votes, you can say “this here is wrong.” We São Paulo, the governor Geraldo Alckmin was for us? Therefore, “Those who aren’t fighting are there at all the public hearings. Over this really smart. He took advantage of MCMV STUDIO-X Como são escolhidos os para tanto. nismo, mas sim pela modificação da cidade ENTREVISTA COM lugares para serem ocupados? É uma relação de diálogo e muita tolerância, capitalista. uma tolerância insuportável. A gente está MNLM-RJ Um dos critérios é que o lugar esteja STUDIO-X Como vocês analisam o ELISETE NAPOLEÃO E abusando da capacidade do povo de aguen- dentro da malha urbana, com acesso a infra- tar as sacanagens das diversas esferas go- trabalho da imprensa brasileira MARIA DAS LURDES LOPES estrutura, água, esgoto, tendo escola, hospi- vernamentais. As esferas municipal, estadual perante o que ocorre nos tal e postos de saúdes próximos. A preferên- e nacional, no Rio de Janeiro, fazem coisas em movimentos? COORDENADORAS DO cia é pelos centros urbanos por ser onde há conluio. Nossa tolerância já deveria ter aca- mais acesso ao mercado formal de trabalho. MNLM-RJ Nós chamávamos a imprensa no MOVIMENTO NACIONAL bado. Nossa interlocução não só é diplomata passado para cobrir lutas e marchas, mas STUDIO-X Quais são as estratégias de como acaba sendo subserviente. sistematicamente não iam ou, quando iam, DE LUTA PELA MORADIA comunicação internas e externas do deturpavam – sempre virávamos os réus da STUDIO-X Como vocês analisam o movimento? história. Ultimamente, às vezes fazemos um programa Minha Casa Minha Vida? (RIO DE JANEIRO) release e mandamos para a mídia alternativa, 11 de fevereiro de 2016 MNLM-RJ Hoje em dia, as coisas são mais sim- MNLM-RJ O Minha Casa Minha vida é um pro- ples na comunicação. Com essa coisa What- para a comunicação popular. Não mandamos STUDIO-X Como e quando o Movimento grama ditado pela política econômica do go- sapp, tem grupos de tudo quanto é canto: gru- mais para a grande mídia, pois é difícil repa- foi fundado? verno, para incidir sobre a economia do país po de coordenadores, grupo de militantes, rar as porcarias que eles falaram já que não e não sobre o direito de morar. O MCMV sur- nos dão direito de resposta. MNLM-RJ A fundação do Movimento em 1990 grupo da comunicação, grupo da formação, giu para alavancar a indústria da construção foi um desafio que enfrentamos a partir da cada um tem um grupo. Utilizamos todos es- A imprensa brasileira criminaliza toda ação civil. O programa não se pautou pelo direito Constituinte. Por meio da Articulação Nacio- ses instrumentos da comunicação moderna: política coletiva e toda iniciativa de contesta- à cidade, mas pela necessidade das emprei- nal de Solo Urbano, nós conquistamos alguns Whatsapp, Facebook, email. Porém, dez anos ção da ausência de direito. Quando a impren- teiras de se reorganizarem e fazer caixa. Isso mecanismos na Constituição Federal para atrás era muito difícil, porque a maioria de sa brasileira não pode ignorar, ela faz cam- provocou tanto uma quebra dos paradigmas coibir a especulação imobiliária: por exemplo, nós nem tinha telefone. panha para tornar aquilo um crime e acabar que os movimentos tinham lutado a vida toda, a aplicação do IPTU progressivo, a edificação na cadeia. A imprensa brasileira é inimiga de STUDIO-X Quais foram as principais quanto resultou em uma cidade pior. compulsória no artigo 182. Vários desses mi- qualquer movimento cidadão. A menos que Com o MCMV, o governo federal fez coisas litantes viram a necessidade de articular as manifestações públicas do seja um movimento pelo direito de matar, de que questionamos nas últimas décadas em diversas experiências de luta pela moradia na movimento? reduzir a maioridade penal. A imprensa não outras gestões, na política nacional de habi- criminaliza o movimento por casualidade, cidade e fazer um movimento nacional. Não MNLM-RJ Nacionalmente, fizemos algumas tação, no BNH. Hoje, isso é repetido com re- mas porque está a serviço do sistema capita- que fosse um movimento pela construção de marchas pela reforma urbana articuladas quintes de crueldade e não encontra em nós a lista que é excludente e genocida. A imprensa casa, mas um movimento de luta pela cidade, com outros três movimentos nacionais, por pela reforma urbana. Assim que, em julho de meio do Fórum Nacional de Reforma 1990, em Goiânia, com militantes de vários lo- Urbana. Sempre nas semanas de cais do país, nós passamos a enfrentar esse Luta Internacional pelo Habitat, a primeiro desafio: de luta pela reforma urbana gente faz lutas mais articuladas na- e não luta pelo teto. cionalmente. Além, óbvio, das mani- festações corriqueiras de ocupação STUDIO-X Quais são os objetivos e para garantia do não despejo. principais? STUDIO-X Quais são os gritos de MNLM-RJ A missão principal do MNLM é conso- lidar e avançar na luta pela reforma urbana, guerra nas manifestações? que compreende primeiramente a questão MNLM-RJ “A Moradia não é Mercado- da desmercantilização da terra, para que ela ria”, “Povo Unido é Povo Forte”, “Re- seja democratizada. Não lutamos pelo título forma Urbana já”, “Função Social não de propriedade, mas pela a concessão real de é Servil Capital”, “Ocupar, Resistir uso. Nosso trabalho é para que a pessoa te- para Morar”. nha moradia digna. Isso aqui é um trabalho de luta, não é para vender a casa, colocá-la no STUDIO-X Quais são os marcos mercado, especular. Nossas crianças são pe- do Movimento? quenas, porém, caso os pais morram, é para MNLM-RJ Os marcos foram quando que continuem na luta. Por isso, lutamos pela nos articulamos nacionalmente para concessão com a finalidade de moradia. construir o Sistema Nacional de Ha- Em segunda instância que se melhorem os bitação de Interesse Social (SNHIS) serviços básicos para o desenvolvimento da e, por um pouco mais de uma década, vida urbana, a fim de que as cidades sejam o Estatuto da Cidade. Quer dizer, nos mesma resistência, o que é muito doído. mais democráticas e sustentáveis. Lutamos está a serviço dela mesma: são monopólios marcou muito porque tentamos colocar nos- Quando conseguimos conquistar uma parce- em relação à plataforma do trabalho, da mo- concedidos pelos governos e os governos fi- sa visão de cidade, o que demandou mobiliMNLM–RJ- la, com o Minha Casa Minha Vida Entidades, cam na mão dessa grande imprensa nacional. bilidade, da qualidade da moradia. zação, reflexão, formulação. Por isso ficamos foi para tentar não perder tudo. Já tínhamos Para não cair, o governo acaba sustentando tão frustrados hoje, quando vemos que ne- STUDIO-X Como é a estratégia de ação perdido do Fundo Nacional de Habitação de essa mídia e permite que ela criminalize tudo nhum dos dois foi reconhecido e respeitado do movimento? Interesse Social (FNHIS) e do SNHIS. O MCMV aquilo que é ideologicamente democrático, pelo poder público. não foi uma proposta da gente, mas acabou fazendo propaganda de uma hegemonia ex- MNLM-RJ Fazemos mobilização nas comunida- contando com a nossa cumplicidade. Dentro des, com o Movimento falando do seu funcio- STUDIO-X Quais são as grandes cludente do capital. dos movimentos populares nascidos na dé- namento e da sua forma de trabalhar política. conquistas? cada de 80 e 90, infelizmente, a maioria se STUDIO-X Quais são as expectativas Desse modo, vai se conhecendo as pessoas MNLM-RJ Ter conquistado o Estatuto da Cida- sente governo e acaba autografando as coi- para o futuro? de cada lugar. Um vizinho chama o outro, o de e a Lei do Sistema Nacional de Habitação sas destorcidas, equivocadas e erradas que MNLM-RJ Aqui no Rio, o MNLM tem a expectati- boca a boca, e mais pessoas agregam-se de Interesse Social foi uma grande missão o governo propõe. va de que a sede por justiça e transformação dentro do perfil do movimento. para nós, embora não sejam respeitados. Al- não seja amordaçada por casuísmos, par- No momento em que a gente ocupa, as assem- gumas ocupações também foram importan- STUDIO-X Como é a relação de vocês tidarismos, eleitoralismo. Que o movimento bleias são diárias: é o período de organização tes, mas são do cotidiano. Estamos vivendo com outros movimentos sociais? da classe trabalhadora continue criando e e estruturação do local, então muitas tarefas um processo de desconstituição daquilo que MNLM-RJ Nós temos uma relação nacional recriando instrumentos e organizações, não precisam ser divididas e conscientizadas nas tínhamos conquistado, então fica até difícil antiga com a União Nacional por Moradia perdendo os paradigmas. Quando o movi- quais todos têm que participar. identificar conquistas. O Minha Casa Minha Popular, a Confederação Nacional das Asso- mento perde o paradigma, que a classe pro- Temos uma carta de princípios que é ade- Vida Entidades é um esforço de reconstitui- ciações de Moradores (Conam) e a Central de picie o surgimento de outros movimentos que quada conforme a realidade das ocupações. ção do que o Governo Federal fez do SNHIS: Movimentos Populares (CNP). Em cada esta- engulam os que se renderam. É uma luta até Prima por manter a comissão de criança, a o pouco que se tem hoje é uma política com- do, a relação entre os quatro movimentos é contra nós mesmos: quando um partido so- escolinha, a comissão de infraestrutura, a pensatória para nos consolar da traição que o diferente, intensificando-se ou dispersan- cialista deixa de ser socialista, é necessário comissão da cozinha. governo fez conosco. do-se mais: há estados em que conseguimos que o espaço seja ocupado por outros da STUDIO-X Como é a estrutura STUDIO-X De modo geral, como é a fazer muita coisa juntos, outros dois ou três classe trabalhadora; o mesmo ocorre com um organizacional do movimento? relação de vocês com as diferentes se reúnem, e tem lugar que é cada um por si. movimento popular. A essência do movimen- A tentativa é que os quatro movimentos na- to popular é lutar por uma outra sociedade. É MNLM-RJ Temos uma coordenação nacional, esferas governamentais? cionais tivessem uma agenda, uma plata- o próprio capital quem dita a necessidade e uma estadual e uma municipal. Cada ocupa- MNLM-RJ A gente tem uma relação de diálogo. forma e uma estratégia comuns. Mas a dis- a urgência de ter sujeitos coletivos lutando ção tem seus coordenadores locais, que, por Sabemos perfeitamente que o papel do mo- persão da estratégia em algumas cidades, pela justiça. E o capital não para de agredir. vezes, vão para estas três esferas. Fazemos vimento popular é fazer a interlocução com devido ao comprometimento de movimentos A existência da utopia socialista comunista eleições gerais de dois em dois anos, e os o poder público. Participamos dos espaços com a chapa branca governamental, acabou é ditada pela própria assanha do capital. En- coordenadores locais são escolhidos anual- institucionais de gestão compartilhada, que ocasionando uma ausência de estratégia co- quanto tiver quem mata, haverá quem não se mente nas assembleias. ajudamos a construir na perspectiva de que mum para unidade dos quatro movimentos, a rende, haverá quem reaja. fossem deliberativas e realmente eficazes. qual não pode se dar por casuísmo ou gover- Embora não sejam, a gente continua lutando neighbor calls another, word of mouth, and STUDIO-X What are the Movement’s pressure and end up signing things that the INTERVIEW WITH more people are added to the movement’s milestones? government proposes, which are distorted, profile. misleading and wrong. MNLM-RJ The milestones were when we co- ELISETE NAPOLEÃO AND When we are occupying, the meetings are ordinated nationally to build the National STUDIO-X How is your relationship with daily: it’s a period of organizing and structu- MARIA DAS LURDES LOPES System for Housing of Social Interest (SNHIS) ring the location, so many tasks need to be other social movements? and, for a little over a decade, the City Stat- divided and assigned, and everyone needs to MNLM-RJ We have an old national relationship COORDINATORS OF ute. I mean, we had many milestones because participate. with the National Low-Income Housing Union, we are trying to spread our vision of the city, We have a charter of principles that is suited the National Confederation of Housing Asso- THE NATIONAL STRUGGLE which required mobilization, reflection and to the reality of the squats. We strive to main- ciations (Conam) and the Center for Popular formulation. This is why we are so frustrated FORHOUSING MOVEMENT tain the children’s committee, the school, the Movements (CNP). In each state, the relation- today, seeing that neither has been recog- infrastructure committee and the kitchen ship among the four movements is different, nized and respected by the government. (RIO DE JANEIRO) committee. whether that be more intensified or more February 11, 2016 STUDIO-X What are the main dispersed: there are states in which we are STUDIO-X What is the movement’s STUDIO-X How and when was the achievements? Any changes in laws able to do many things together, where two organizational structure? Movement founded? or public policies? or three get together, and there are places MNLM-RJ We have a national, state and mu- where it’s every man for himself. MNLM-RJ The foundation of the Movement MNLM-RJ Implementing the City Statute and nicipal coordination. Each squat has its local The intention is that the four national move- in 1990 was a challenge that we faced with the Law of the National System for Housing of coordinators, who sometimes visit these ments will have a common agenda, platform the Constituent Assembly. Through the Ar- Social Interest were big missions for us, al- three spheres. We hold general elections and strategy. But the dispersion of strategies ticulação Nacional de Solo Urbano (National though they are not respected. Some squats every two years, and the local coordinators in some cities, due to the impairment of move- Network for Urban Land), we implemented were also important, but they are everyday are chosen annually at the meetings. ments by government cronies, eventually led some mechanisms in the Federal Constitution occurrences. We are experiencing a process to the absence of a common strategy for to curb real estate speculation: for example, STUDIO-X How do you choose the of watching the dissolution of that which we fostering unity among the four movements, application of the progressive IPTU proper- have achieved, so it is difficult to identify places to be occupied? which cannot be implemented through ca- ty tax, compulsory building history in article achievements. The Minha Casa Minha Vida MNLM-RJ One of the criteria is that the place suistry or “governmentalism”, but rather 182. Several of these activists saw the need Entidades program is an effort to recover be within the urban area, with access to in- through the modification of the capitalist city. to coordinate the various experiences of what the Federal Government did with SNHIS: frastructure, water, sewage, schools, hospi- struggles for housing in the city and create the little that we have today is a compensato- STUDIO-X Do you analyze the Brazilian tals and nearby health clinics. The preference a national movement. It was not a movement ry policy to console us for the government’s press’ coverage of what is occurring betrayal of us. in the movements?

STUDIO-X In general, how MNLM-RJ We have called the press in the is your relationship with past to cover struggles and marches, but the different levels of they systematically do not come or, when government? they come, they misrepresent it - we always become the culprits in the story. Lately, we MNLM-RJ We have a dialogue will sometimes draw up a press release and relationship. We know perfectly send it to the alternative media, for popular well that the role of the popular communication. We no longer send things to movement is to create dialogue the mainstream media, because it’s difficult with the government. We par- to repair the junk they say, since they don’t let ticipate in institutional spaces us respond. of management, solicitation and The Brazilian press criminalizes every col- sharing, where we help to build lective political action and every initiative the perspective that they are de- challenging the absence of rights. When the liberative and actually effective. Brazilian press cannot ignore it, they create Although they are not, and we a campaign to make it a crime and we end up are still fighting for this. in jail. The Brazilian press is the enemy of any It’s a relationship of dialogue and citizens’ movement. Unless it is a movement a lot of tolerance, an unbearable for the right to kill, to reduce the defense of tolerance. They are taking ad- infancy. The press does not criminalize move- vantage of people’s ability to en- ments for casualties, but this is because they dure the unfair nature of various serve the capitalist system, which is exclu- is for urban centers because that is where spheres. The municipal, state for the construction of housing, but a move- sionary and genocidal. The press serves the there is the most access to the formal job and national spheres in Rio de Janeiro are in ment to fight for the city, for urban reform. system itself: they are monopolies granted by MNLM–RJmarket. collusion. Our tolerance should already have Thus, in July of 1990, in Goiânia, with activists the governments and the governments are in run out. Our dialogue is not so diplomatic that the hands of the mainstream national press. from various parts of the country, we faced STUDIO-X What are the movement’s it ends up being subservient. To avoid falling, the government supports the the first challenge: to fight for urban reform internal and external communication STUDIO-X How do you analyze the media and allows it to criminalize anything and not for housing. strategies? Minha Casa Minha Vida program? that is ideologically democratic, advertis- STUDIO-X What are the main MNLM-RJ These days, communication is real- ing an exclusionary hegemony of the capital objectives? ly simple. With Whatsapp, there are groups MNLM-RJ The Minha Casa Minha Vida program system. all over the place: a coordinators group, an is dictated by the government’s economic po- MNLM-RJ The MNLM’s main mission is to con- licy, and focuses on the country’s economy STUDIO-X What are your expectations solidate and advance the struggle for urban activists group, a communication group, a training group, everyone has a group. We and not the right to housing. The MCMV emer- for the future? reform, which consists primarily of the issue ged to boost the construction industry. The use all of these modern communication tools: MNLM-RJ Here in Rio, the MNLM expects that of decommodification of the earth, so that it is program was not guided by the right to the democratized. We do not fight for ownership, Whatsapp, Facebook, email. However, ten the thirst for justice and transformation will years ago it was very difficult, because many city, but by contractors’ need to reorganize not be stifled by casuistry, partisanship and but for the real right of use. The purpose of and make cash. This caused a paradigm shift our work is for people to have decent hous- of us didn’t even have a telephone. electioneering. That the working class move- in what the movements had fought their who- ment continues creating and recreating tools ing. This is the struggle; not selling a house, STUDIO-X What were the movement’s le lives for, as it resulted in a worse city. placing it on the market and speculating. Our and organizations, not losing the paradigms. main public demonstrations? With the MCMV program, the federal gover- When the movement loses the paradigm, that children are young, however, if their parents nment did things, which we have questioned MNLM-RJ Nationally, we held some marches the class promotes other movements that die, they will continue the struggle. Thus, we in recent decades under different adminis- fight for the concession of right of use in or- for urban reform in conjunction with three swallow those who surrender. It’s a fight other national movements, through the Na- trations, with the national housing policy, even against ourselves: when a socialist par- der to ensure housing. the BNH (National Housing Bank). Today, this Secondly, we fight for the improvement of tional Urban Reform Forum. During Interna- ty stops being socialist, the space must be tional Fight for the Habitat weeks, we always is repeated with the utmost cruelty and you occupied by others from the working class; basic services required for the development do not find in us the same resistance, which of urban life, so that cities are more democra- implement fights that are more articulated the same is true for a popular movement. The nationally. In addition, of course, are the ordi- is just crazy. essence of the popular movement is fighting tic and sustainable. We fight for the issues of When we are able to obtain a parcel, with the work, mobility and housing quality. nary squat demonstrations for guaranteeing for another society. It is the capital itself non-eviction. Minha Casa Minha Vida Entidades program, that dictates the urgency and need to have it was to try not to lose everything. We have STUDIO-X What is the movement’s collective subjects fighting for justice. And STUDIO-X What are the battle cries strategy for action? already lost the National Fund for Housing of the capital does not cease their aggression. during the demonstrations? Social Interest (NFHIS) and the SNHIS. The The existence of a communist socialist utopia MNLM-RJ We mobilize within the communities, MCMV was not our proposal, but it ended up with the Movement discussing their opera- MNLM-RJ “Housing is not a Commodity, “Unit- is dictated by the capital’s own aggression. ed People are Strong People”, “Urban Reform relying on our complicity. Among the popular While there are those who kill, there will be tions and their political way of working. Thus, movements born in the 80’s and 90’s, unfor- you end up knowing people in each place. One now”, “Social Function is not Capital Subser- those who do not surrender, there will be vience”, “Occupy, Resist to Live”. tunately, the majority feel the government’s those who react. o problema da moradia. As cidades torna- não houver política pública habitacional, não STUDIO-X Quais são as estratégias de ENTREVISTA COM ram-se uma máquina de criar sem-tetos. se assegura a moradia popular no Brasil. comunicação internas e externas do O terceiro aspecto que valorizamos é o poder Outra linha de enfrentamento é composta por movimento? GUILHERME BOULOS popular. O objetivo do MTST é uma luta mais ações que causam impacto, por exemplo, blo- MTST Internamente, nosso principal meio ampla, que passa por formas de organização queios e travamentos de grandes avenidas e COORDENADOR NACIONAL de comunicação é a boa e velha assembleia. de base. Entende-se que o processo de ocu- grandes rodovias, pois são ações que afetam Todas as ocupações têm assembleias, no pação não é apenas de estabelecimento de a circulação nas cidades, afetando o funcio- DO MOVIMENTO DOS mínimo, semanais. Nas ocupações mais re- um local de reunião de pessoas lutando por namento normal do sistema e, portanto, po- centes, as assembleias chegam a ser diárias, casa, mas é um espaço para a vida comuni- dem trazer resultados mais efetivos. No dia TRABALHADORES SEM-TETO no período noturno, pois é necessário passar 28 de janeiro de 2016 tária e criação de vínculos de solidariedade, 18 de março de 2015, nós fizemos o travamen- muita informação e há muitas pessoas novas onde se constroem formas coletivas de po- to simultâneo de 35 rodovias e avenidas no STUDIO-X Como e quando o Movimento chegando. der e enfrenta-se uma lógica de sociedade país: isso cria um impacto e força o governo foi fundado? Nas assembleias, passam-se os informes dos de privilégios, individualista, consumista, de a vir para a mesa. processos de negociação, encaminham-se MTST O MTST foi fundado em 1997, na região negação de direitos para a maioria. Em suma, STUDIO-X Qual é o perfil dos moradores as lutas a serem efetivadas, e discutem-se de Campinas São Paulo (SP), a partir de uma a ocupação é um espaço de politização. questões internas, como mutirão de limpeza, iniciativa de militantes do Movimento dos O Brasil é um dos países com maior nível de das ocupações? organização da cozinha coletiva, cadastro. Sem Terra (MST). O MST estava construindo concentração de renda no mundo: o 1% tem MTST Há uma mistificação de que sem-tetos Como a opção do MTST geralmente é ocupar a Marcha Nacional para a Reforma Agrária, e mais dinheiro que os 99% restantes. Então, são moradores de rua. O déficit habitacional terrenos grandes, é inviável que sempre as avaliou que seria interessante estimular um não é possível que um movimento social po- é de 5 milhões e 800 mil famílias no Brasil. assembleias tenham 2000 ou 5000 pessoas. braço urbano, um movimento nas cidades pular travar uma luta apenas corporativa, Por volta de 95% dessas famílias não estão É preciso ter espaços menores. Logo, a gente com características próximas as do MST. nós entendemos que a sociedade precisa ser em situação de rua. São pessoas que pagam divide a ocupação em grupos de famílias, de A primeira grande ocupação foi a Parque transformada como um todo. Nosso papel é aluguel sem ter condições para isso (quando 200 a 500 famílias cada um. Estes se reúnem Oziel, hoje um dos maiores bairros da cida- construir novas formas de poder popular. A mais de um terço da renda total é destinada semanalmente para discutir os problemas de de Campinas. O nome é uma homenagem transformação da sociedade brasileira ocor- ao aluguel) ou moram em coabitação (morar mais cotidianos. Cada grupo elege seus co- a Oziel Alves Pereira, um garoto assassinado rerá com base na mobilização social. de favor em casa de parentes) ou em situação ordenadores (em média, quatro ou cinco), no Massacre de Eldorado dos Carajás. A par- de risco. São essas as pessoas que vão para STUDIO-X Quais são as estratégias de e estes vão compor a coordenação geral da tir dessa primeira ocupação, o Movimento foi as ocupações. crescendo e se nacionalizando. ação do movimento? ocupação, a qual se reúne pelo menos duas STUDIO-X O MTST tem concentrado vezes por semana para repassar as questões MTST A principal forma de luta do MTST é STUDIO-X Ele já surge independente do dos grupos e discutir os problemas gerais. a ocupação da terra. Pegar terrenos ociosos esforços mais em periferias do que MST? O movimento também produz jornal e vídeos – principalmente terrenos, nos centros. Como são escolhidos os MTST Não, em um primeiro momento, o MTST a ocupação de edifícios é surge como um movimento muito ligado ao em menor quantidade – uti- MST. Depois, pouco a pouco, vai ganhando lizados para a especula- sua autonomia, construindo suas próprias ção imobiliária, e atribuir linhas, tendo sua própria militância, até por- uma função social a esses que as características da luta rural e da luta terrenos. Ou seja, fazer urbana são muito diferentes. O MTST teve a disputa pelo território. que se reinventar, construir suas metodolo- É importante dizer que, gias, sua forma de atuação, estabelecer sua embora seja criminalizada própria estratégia. Hoje, há uma relação de com muita frequência, a parceria com o Movimento Sem-Terra, mas luta de ocupação de terra são movimentos bem diferentes. responde a um princípio constitucional. STUDIO-X Nesse período de fundação, o MTST já nasce com Estatuto Legal? Na Constituição Federal, a propriedade não é um di- MTST O MTST não tinha Estatuto Legal na reito absoluto, há o dever sua fundação, como não tem até hoje. É uma da função social da pro- opção para que não haja criminalização. Com priedade, a qual foi regu- nossa atuação focada em ocupações, gran- lamentada por lei federal: des mobilizações de pressão e no enfren- o Estatuto das Cidades. tamento com o poder público, se o MTST ti- Isso simplesmente não é vesse Estatuto Legal, já estaria cassado e os cumprido. A professora dirigentes estariam presos. Ermínia Maricato costuma dizer que no Brasil há leis que “pegam” e que lugares a serem ocupados? STUDIO-X Quais são os objetivos MTSTpara orientações internas. Feitos pelo setor “não pegam”. Em geral, as leis que enfrentam principais? MTST Consideramos fundamental a luta de de comunicação e projetados nas ocupações, interesses poderosos “não pegam”: o Estatu- ocupações nos prédios das regiões centrais, tais vídeos apresentam questões de conjun- MTST Podemos dizer que o MTST tem três to das Cidades foi uma lei que “não pegou” no porque está em jogo a recuperação do cen- tura, de política, da situação, das lutas. níveis de objetivos. O objetivo mais imediato é que se refere à função social. Então, o movi- tro como espaço de moradia para os pobres, A comunicação externa do movimento é feita a luta por moradia digna: motivo pelo qual mi- mento busca fazer, pela pressão e pela mo- enfrentando uma segregação urbana brutal. através das redes sociais: página de Face- lhares de pessoas procuram o MTST e mon- bilização, o que deveria ter sido feito porque Mas há um limite nessas lutas. Uma ocupação book, o site do movimento (em reformulação tam seus barracos em ocupações. Tem a ver está garantido na lei. no centro fica isolada, é um peixe fora d’água. neste momento), e de espaços que o MTST com o grave problema habitacional do país: A ocupação de terra tem esse papel: o mo- Há nela cinquenta ou cem famílias circunda- obtém na imprensa, seja esta de esquerda, um déficit extenso e crescente por conta do vimento foca em terrenos com dívidas tri- das em um ambiente absolutamente hostil. seja mídia corporativa. aumento da especulação imobiliária e, com butárias com poder público, ociosos há Então, uma ocupação no centro é um espaço a crise atual, a tendência é de crescimento e muito tempo, em zonas de especulação e de de resistência, mas não tem tanta capacidade STUDIO-X Quais foram as principais uma maior pauperização dos trabalhadores. valorização. de diálogo e não irradia para o entorno. manifestações públicas do O segundo objetivo é a luta pelo direito à cida- Esta é uma forma de ação que é um enfrenta- Por sua vez, a ocupação na periferia é um pei- movimento? de. A luta por reforma urbana. Podemos dizer mento direto do MTST com o setor imobiliário, xe n’água. A periferia é, praticamente, feita que a luta por moradia é incapaz de ser reali- com as grandes construtoras. MTST Muito expressiva foi a Ocupação João de ocupações. O avô ocupou, o pai ocupou, Cândido, em 2007, que chegou a ter 3500 fa- zada isoladamente. Um exemplo bem emble- O Movimento também faz uma linha de en- o filho ocupou, o outro construiu um cômodo mático é o Minha Casa Minha Vida (MCMV). frentamento com o poder público, que está mílias e deu origem ao condomínio João Can- em dido, uma experiência modelo do Minha Casa O programa surge em 2009 e produziu mais expresso nas nossas marchas, mobilizações, cima e, assim, formaram-se os bairros peri- de 2 milhões de casas até hoje. Em 2008, o em prédios públicos, tendo como alvo o go- Minha Vida Entidades – o maior apartamento féricos no Brasil. A ocupação integra-se no do MCMV no Brasil com 63m². déficit habitacional do país era de 5 milhões verno federal, estadual, municipais, a fim de território e permite uma irradiação das lutas. e 300 mil famílias. Por sua vez, em 2012 (úl- assegurar políticas públicas de moradia e Com 4000 famílias, a ocupação Vila Nova Por exemplo, a Ocupação Vila Nova Palestina, Palestina, em 2013, teve um processo de luta timo dado disponível pelo IBGE), o déficit garantir investimentos. Afinal, partimos do maior ocupação do município de São Paulo e habitacional do país é de 5 milhões e 800 mil pressuposto de que a moradia é um direito e intenso, desempenhando um papel decisivo uma das maiores do Brasil com cerca de 4000 na aprovação do novo Plano Diretor de São famílias. Ou seja, o déficit aumentou mesmo deve ser tratada como um direito, não como pessoas, irradiou o processo de luta com os depois do MCMV ter produzido, até então, uma mercadoria. Se o Estado não faz a regu- Paulo. bairros vizinhos na zona sul paulistana, con- A Ocupação Copa do Povo, em 2014, feita du- mais de 1 milhão de casas. Logo, lutar apenas lação, prevalece a lógica do mercado, da mo- seguindo reunir mais de cinquenta lideranças por moradia, sem confrontar a lógica urbana, radia como mercadoria: quem é sujeito a cré- rante a Copa do Mundo, teve cerca de 3000 de comunidades da região. Isso permite uma famílias e uma grande visibilidade internacio- não resolve o problema da habitação. O ritmo dito, leva, quem não é, está fora. O problema ampliação na rede de referências para além de especulação imobiliária, de expulsão, de é que 70% das pessoas que compõem o déficit nal. O MTST conseguiu que a Caixa compras- da moradia. Amplia a luta para o transporte se o terreno para o MCMV Entidades, deso- segregação e de aumento dos aluguéis trans- habitacional brasileiro não são sujeitos a cré- (como pela duplicação da estrada do M’Boi formou o problema da moradia cada vez mais dito, porque ganham menos de três salários cupamos o terreno e estamos no processo de Mirim, um problema grave do local), para a aprovação do projeto para iniciar a obra. parte do tecido urbano. Se não enfrentar esta mínimos. Logo, se não houver subsídio, se saúde, por creche. lógica de cidade do capital, você não resolve STUDIO-X Quais são os gritos de guerra ção com os governos não deve ser de troca pelo programa), é onde a gestão direta dá, enorme ocupação tinha um posto de gasolina, nas manifestações? por favores. Antes de ligar para o prefeito, aos movimentos, condições de desenvolver onde um assaltante trocou tiros com um se- nós vamos colocar dez mil pessoas na fren- um projeto diferenciado, com participação gurança do estabelecimento, tendo um deles MTST O grito mais frequente é “MTST, a luta te da prefeitura. A relação deve ser pautada associada à luta e à organização coletiva. atingido o fotógrafo La Costa da revista Épo- é para valer”. Outro é “Criar, por uma força social do movimento, por uma ca, que acabou morrendo em frente à ocupa- criar, poder popular”, que tomamos de em- STUDIO-X Vocês organizaram dois força de mobilização. Isso não quer dizer que ção. Foi um fato que ocorreu do lado de fora préstimo da resistência popular chilena, os o movimento não negocia: há momento cer- empreendimentos do Minha Casa da ocupação, mas gerou uma onda de crimi- Cordones, da época de Salvador Allende. to para isso. Nós costumamos dizer que tem Minha Vida Entidades, como é nalização brutal em torno do MTST, inclusive Tem um grito que se popularizou recente- duas formas de negociar: de pé ou ajoelhado. que isso se dá legalmente já que o com tentativas de prisão. mente que é “Pisa ligeiro, pisa ligeiro, quem Não é rejeitar negociação, é escolher uma Movimento não tem o Estatuto Legal? Em um caso mais recente, a revista Veja foi não pode com a formiga, não atiça o formi- forma em que tenha condições reais de nego- na Ocupação Vila Nova Palestina e colheu gueiro”, o qual tem a ver com força coletiva MTST O Movimento não tem estatuto, mas ciar e não só de ouvir o que o governo quer uma falsa entrevista de alguém dizendo que do movimento. Outro mais recente tem a ver cria associações/entidades habilitadas para fazer. eu [Guilherme Boulos] obrigo as pessoas a com a iniciativa política impulsionada pelo exercer esses projetos. Elas não são o MTST, Nesse sentido, as relações com o conjunto estarem lá, inventou uma narrativa e montou MTST que é a Frente Povo Sem Medo, a qual mas atuam junto com Movimento. Essas as- de governos não têm nenhuma diferença es- uma matéria. reúne vários setores da esquerda brasileira sociações são uma figura jurídica para poder sencial para o Movimento. Há diferenças de A Folha de São Paulo publicou uma matéria na tentativa de construir uma unidade por fazer o projeto. matizes: há governos mais repressivos, há em 2014, no Portal do Povo, outra ocupação mudanças estruturais, enfrentando o avan- governos que tratam o tema com diálogo, há STUDIO-X Essas associações são do MTST, dizendo que era uma ocupação fan- ço conservador no pais e a política adotada governos com maior disposição de atender as pontuais a cada projeto? tasma, sem explicar qual era a metodologia pelo governo: “Aqui está o povo sem medo de reinvindicações do movimento e há governos do movimento: nós não estimulamos as pes- lutar”. MTST Não, nós estamos trabalhando com com menos. Porém, a gente tem dito que so- uma em nível nacional: Associação Novo soas a morarem a maior parte do tempo nas STUDIO-X Quais são as grandes mente diálogo não resolve. O Governo Federal Milênio. ocupações; em geral, nossas ocupações são conquistas? nos chamou para dialogar em vários momen- ocupações de pressão, acampamentos tos, mas faz um ajuste fiscal e corta o dinheiro STUDIO-X Como é a relação de vocês Provisórios; não buscamos a consolidação MTST Quando homologado o Estatuto das da moradia. Não adiantou de nada, então só com outros movimentos sociais? naquele terreno porque hoje, em São Paulo, Cidades, o MTST ainda era muito novo e ti- ter diálogo sem ter gesto concreto de amplia- o despejo é certo, a dúvida é o prazo em que nha menos solidez de mobilização. Mais re- MTST O MTST busca manter uma relação ção de políticas públicas, não resolve o nosso será despejado. Os repórteres foram lá du- centemente foi uma conquista coletiva as de parceria com o conjunto dos movimen- problema. rante o dia, horário que as pessoas estão tra- intervenções em Planos Diretores por todo tos que fazem a luta por moradia. Porém, o balhando, e tiraram fotos para dizer que era o país, mas, em especial, no Plano Diretor de STUDIO-X Como vocês analisam o MTST surgiu, no final da década de 90, como uma ocupação fantasma. Esses são alguns São Paulo, de 2014, no qual o Movimento fez programa Minha Casa Minha Vida? resposta à institucionalização excessiva de movimentos que surgiram exemplos de tratamento midiático parcial e nos anos 80, que são, de com tentativas de criminalização e desmora- modo geral, atrelados ao lização do movimento. PT. As lideranças desses STUDIO-X Quais são as expectativas movimentos são ou foram para o futuro? candidatos ou dirigentes partidários. Da mesma for- MTST O quadro de 2016 e 2017 no Brasil é de- ma que o PT passou por um vastador. O país nunca teve dois anos segui- processo de perda do seu dos de recessão. E são dois anos seguidos de caráter combativo de base recessão brutal. Sendo que caminhamos para social para se tornar uma um possível um terceiro ano [2017] na mesma ferramenta institucional e situação. O desemprego começa a aumentar eleitoral, esses movimen- consideravelmente, a massa salarial caiu tos também passaram por cerca de 10%, nós caminhamos para um esse processo. Parte deles quadro de convulsão social no Brasil. Então, tornaram-se currais elei- nós avaliamos que se 2015 foi marcado pela torais e crise política, 2016 será marcado pela crise transformaram as ocu- social. pações nisso. Durante o Haverá um aumento da polarização no nível governo Lula, passaram a de enfrentamento, não na Avenida Paulista, focar em conselhos e “car- mas na quebrada, na periferia. Entrarão ato- guinhos” estatais, e isso res que não estavam muito na cena por conta evidentemente despoten- do aprofundamento da crise econômica do cializa a condição de luta, país. Isso vai pegar diretamente no tema da MTST É importante dizer que o Minha Casa moradia, porque o aluguel significa parte im- MTSTuma mobilização intensa – mais de vinte ma- de enfrentamento e de base social desses Minha Vida é um programa que não foi feito portante da renda familiar atual. Se aumenta nifestações na Câmara, acampamos nela por movimentos. Esta é uma leitura que fazemos, para resolver o problema de habitação do o desemprego e diminui a renda do trabalha- dez dias para marcar posição em votações. mas isso não impede que a gente mantenha, país. O MCMV foi feito para resolver o proble- dor, o problema do aluguel vai se tornar ainda Assim, conseguimos dobrar o número de Zeis sempre que possível, uma relação de ação ma de liquidez das grandes construtoras de- mais explosivo do que nos últimos anos, mes- no município, incluímos uma série de meca- conjunta. pois da crise de 2008, por isso é um programa mo que a inflação de aluguel esteja menos nismos criam dificuldades para especulação cheio de STUDIO-X Como vocês analisam o acelerada do que no período de crescimento. imobiliária, e aumentamos recursos para o vícios. No mesmo ano de 2009, tinha-se ela- trabalho da imprensa brasileira Será um período de grandes ocupações. O Fundo de Desenvolvimento Urbano (Fundurb), borado o Plano Nacional de Habitação, coor- perante o que ocorre nos MTST está se preparando para fazer um pro- que aumenta a outorga onerosa. denado pelo Nabil Bonduki, a partir do diálogo movimentos? cesso de enfrentamento, para canalizar essa Em 2015, conquistaram-se algumas mudan- com vários movimentos e setores da socie- insatisfação popular em luta organizada. ças normativas no programa Minha Casa Mi- MTST A mídia corporativa no Brasil constrói dade. O Plano Nacional de Habitação ficou Afinal, se a insatisfação não se organiza, ela nha Vida Entidades. Encampada pelo MTST ao um discurso sínico não apenas em relação às guardado na gaveta e se articulou, através do pode ir para qualquer lado, inclusive o lado da longo do ano passado com uma série de mobi- ocupações. O quadro geral do monopólio mi- setor de construção com a Casa Civil na épo- direita. Períodos de crise criam a possibilida- lizações em São Paulo, em Brasília e em onze diático no Brasil é desastroso: um monopólio ca em que Dilma era a ministra, um programa de de revoltas populares, de enfrentamentos, estados que tem a presença do Movimento, a da voz social que está posto em seis ou sete de aquecimento da construção civil e de pro- de mudanças estruturais, mas historicamen- batalha pelo MCMV 3 resultou não em uma vi- famílias de grandes empresários, que se uti- dução de moradia. No MCMV, o protagonismo te também criaram oportunidades para fas- tória completa, mas na incorporação de pon- lizam de concessões públicas para fazer seus é das construtoras, ou seja, o programa está cismo, para retrocessos. São períodos onde tos importantes defendidos por nós. negócios, para chantagear o poder público de pautado pela lógica do lucro, o que gera pro- acordo com seus interesses, e para difundir as coisas estão muito abertas, indefinidas. STUDIO-X De modo geral, como é a blemas de qualidade, de localização dos em- uma ideologia altamente conservadora na Se não tiverem movimentos populares fortes, relação de vocês com as diferentes preendimentos, e muitos limites do ponto de sociedade. Os movimentos sociais entram com condição de canalizar essa indignação esferas governamentais? vista habitacional. nesse pacote com a mídia criminalizando as popular para caminhos mais progressistas e No entanto, o Minha Casa Minha Vida tem transformadores, isso pode servir de bande- MTST O MTST preza por manter uma autono- ocupações e as lutas sociais. Por vezes, pior brechas. Uma delas é o subsídio, que é uma ja ao retrocesso. mia em relação a todos os governos. Dialoga- que a criminalização é a desmoralização: o reinvindicação histórica dos movimentos Esse é o desafio central no próximo período. mos com qualquer governo, independente do ataque rasteiro de dizer que ocupação é de populares: não se resolve o problema da mo- Vamos fazer isso através das nossas ocupa- partido. É um diálogo pautado pelo não atre- bandido, de quem rouba dinheiro do povo. radia com crédito bancário, se resolve com ções e impulsionando espaços mais amplos, lamento, o que significa não aceitar e nem in- Mais eficaz do que prender, é desmoralizar subsídio. Outro ponto é o volume total de lutando por moradia, mas o trabalho também dicar ninguém para cargos no governo, nem lideranças e desmoralizar movimentos, isso recursos envolvidos: não houve na história será um problema, os serviços públicos es- mesmo na participação em Conselhos das tem acontecido com muita frequência pela do país um programa com tal montante de di- tão entrando em colapso pela diminuição de Cidades e em Conselhos de Habitação. Esses mídia brasileira. nheiro investido na habitação. A terceira bre- investimento. Temos feito isso através da espaços funcionam mais para cooptação de Um caso emblemático foi a Ocupação Santo cha, a mais importante para nós, é o MCMV Frente Povo Sem Medo. movimentos populares do que como espaço Dias, no terreno da Volkswagen em São Ber- Entidades: embora seja uma gota no oceano de decisão e de real participação na política nardo do Campo, em 2003, ano que o Lula ti- (1,5% de todos os empreendimentos feitos pública. Essa autonomia significa que a rela- nha assumido a presidência. Em frente a essa and the rise in rent made the housing problem there is no public policy on housing, popular the M’Boi Mirim road, a serious local prob- INTERVIEW WITH even more a part of the urban fabric. If you housing in Brazil is not guaranteed. lem), health and childcare. don’t face the capital city’s logic, you don’t fix The other form of confrontation is composed STUDIO-X What are the movement’s GUILHERME BOULOS, the housing problem. The cities became ma- of impactful actions, for example, blocking chines for creating homelessness. Therefore, large roads and major highways, since these internal and external communication NATIONAL COORDINATOR to address the struggle for housing accord- actions affect circulation in cities, affecting strategies? OF THE ROOFLESS WORKERS’ ingly, there needed to be a struggle for urban the system’s normal operations and, there- MTST Internally, our primary means of com- reform and the right to the city. fore, possibly bringing more effective re- munication is the good old meeting. All squats MOVEMENT The third aspect that we value is the people’s sults. On March 18, 2015, we simultaneously hold meetings at least, weekly meetings. In 28 de janeiro de 2016 power. The MTST’s objective is a broader blocked 35 highways and roads within the the newer squats, the meetings are held dai- struggle, which involves grassroots organi- country: this creates an impact and forces ly, at night, since there is a lot of information STUDIO-X How and when was the zations. It is understood that the squatting the government to come to the table. to be relayed and many new people arriving. Movement founded? process is not only the establishment of a At the meetings, they address reports on ne- STUDIO-X What is the profile of the MTST The MTST was founded in 1997, in the meeting place for people fighting for housing, gotiation processes, fights to be implemented squats’ residents? Campinas São Paulo (SP) region, through an but a space for community life and the cre- and internal matters, such as a cleaning task initiative of the Landless Workers’ Movement ation of bonds of solidarity, where collective MTST There is a misconception that squat- force, a collective kitchen organization and (MST) activists. The MST was organizing the forms of power are built, faced with a socie- ters are roofless people. The housing deficit registration. National March for Agrarian Reform, and de- tal logic of privilege, individualism, consum- is 5 million and 800 thousand families in Bra- As the MTST usually has the option of occu- cided that it would be interesting to promote erism, and denial of rights for the majority. In zil. I don’t know the exact percentage, but pying large plots, it is impossible to always an urban branch, a movement with character- short, the squat is a politicized space. more than 95% of these families are not living have meetings of 2,000 or 5,000 people. It istics similar to that of the MST in the cities. Brazil is one of the countries with the highest on the street. They are people who pay rent must have smaller spaces. So, the people di- The first major squat was Parque Oziel, cur- level of income concentration in the world: without being able to do so (when more than vide the squats into family groups of 200 or rently one of the largest neighborhoods in the the 1% has more money than the remaining a third of their total income goes toward rent) 500 families each. These groups meet weekly city of Campinas. 99%. Thus, it is not possible for a popular or who cohabitate (living with relatives) or to discuss everyday problems. Each group The name is a tribute to Oziel Alves Perei- social movement to wage a merely corporate who are at risk. These are the people who go elects their coordinators (on average, four ra, a boy who was murdered in the Eldo- struggle, as we understand that society must to the squats. or five), and they make up the squat’s general rado dos Carajás Massacre. After the first be transformed as a whole. squat, the Movement continued growing and Our role is to build new nationalizing. forms of people’s power. The transformation of Bra- STUDIO-X Is it already independent of zilian society will be based the MST? on social mobilization. MTST No, initially the MTST appeared to be STUDIO-X What are a space very connected to the MST. Later, the movement’s little by little, it gained autonomy, building its own lines, with its own activists, because the strategies for action? characteristics of the rural struggle and ur- MTST The MTST’s primary ban struggle are very different. The MTST had way of fighting is by squat- to reinvent itself, constructing its methodolo- ting. Taking idle land - gies and form of action, and establishing its mostly plots, and squatting own strategy. Today, it has a partnership with in buildings to a lesser ex- the Landless Workers’ Movement, but they tent - used for real estate are very different movements. speculation, and assigning a social function to these STUDIO-X During this period of plots. In other words, establishment, was the MTST already causing a dispute over the established with Legal Status? territory. It is important MTST The MTST did not have Legal Status to mention that, while it at that time, nor does it have it today. It’s an is often criminalized, the option to avoid criminalization. With our form struggle for squatting re- of action focused on squats, large high-pres- sponds to a constitutional sure mobilizations and confronting the gov- principle. ernment, if the MTST had Legal Status, it In the Federal Constitution, MTST would already be revoked and leaders would the right to property is not absolute, and the STUDIO-X Has the MTST focused more coordination, which meets at least two time a be arrested. property must have a social function, which efforts on the periphery than city week to relay the group’s issues and discuss was governed by federal law: the City Sta- centers? How do you choose the general problems. STUDIO-X What are the main tute. This is simply not fulfilled. Professor places to be occupied? The movement also produces a newspaper objectives? Ermínia Maricato says that in Brazil there are and videos for internal guidance. Made by the MTST We consider it essential that the fight MTST One could say that the MTST has three laws that “catch” and laws that “don’t catch”. through squats take place in buildings in cen- communication sector and projected in the levels of objectives. The most immediate In general, the laws that confront powerful tral regions, because recovery of the city squats, these videos address issues related objective is the struggle for decent housing: interests “don’t catch”: The City Statute was center as a housing space for the poor is at to the crisis, the policies, the status and the why thousands of people seek out the MTST a law that “didn’t catch” with regard to the stake, as we face brutal urban segregation. struggles. and build their shacks in squats. This has to social function. Thus, through pressure and But, there is a limit to these struggles. A The movement’s external communication do with the country’s serious housing pro- mobilization, the Movement seeks to do what squat in the city center is isolated, it’s a fish takes place through social networks: Face- blem: an extensive and growing housing de- should have been done because it is guaran- out of water. The fifty or one hundred families book page, the movement’s website (cur- ficit due to the increase in real estate specu- teed under the law. are surrounded by an absolutely hostile en- rently under renovation), and spaces that lation and, with the current crisis, the trend Squatting on land has this role: the movement vironment. Thus, a squat in the city center is MTST obtains in the press, whether left wing suggests even greater growth due to the im- focuses on plots with government tax debts, a space for resistance, but there is not much or corporate media. poverishment of workers. which has been idle for a long time, in areas of capacity for dialogue and it does not radiate STUDIO-X What were the movement’s The second objective is the struggle for speculation or appreciation. to the surroundings. main public demonstrations? the right to the city. The struggle for urban This is the MTST’s form of directly confron- On the other hand, squats on the periphery reform. We are certain that the struggle ting the real estate sector and large cons- are “fish in water”. The periphery is, basi- MTST The 2007 João Cândido Squat was for housing cannot be undertaken alone. A truction companies. cally, made up of squats. The grandfather very significant, reaching 3,500 families and symbolic example of this is the Minha Casa The Movement also confronts the govern- occupied, the father occupied, the son oc- resulting in the João Cândido condominium, Minha Vida (MCMV) [My House My Life] pro- ment, which is expressed in our marches and cupied, and another built a room on top and, a model experience of the Minha Casa Minha gram. The program arose in 2009 and has mobilizations in public buildings, targeting the thus, the peripheral neighborhoods of Brazil Vida Entidades program- the largest MCMV produced more than 2 million houses to date. federal, state and municipal governments, in were formed. Squatting is part of the terri- apartment in Brazil, at 63m². In 2008, the country’s housing deficit was 5 order to ensure public policies on housing and tory and enables irradiation of the struggle. With 4,000 families, the Vila Nova Palesti- million and 300 thousand families. In turn, in to secure investments. Finally, we assume For example, the Vila Nova Palestina Squat, na Squat, in 2013, was an intense struggle, 2012 - based on the latest data provided by that housing is a right and should be treated which is the largest squat in the city of São playing a decisive role in the approval of the the IBGE -, the country’s housing deficit is 5 as a right, not as a commodity. If the State Paulo and one of the largest in Brazil with new Master Plan of São Paulo. million and 800 thousand families. In other does not regulate housing as a commodity, nearly 4,000 people to date, irradiated the The Copa do Povo Squat, in 2014, which took words, the deficit increased even after the the market logic will prevail: those eligible for process to neighboring districts in São Pau- place during the World Cup, had nearly 3,000 MCMV had produced, by then, more than 1 credit, get it, those who aren’t, are out. The lo’s south side, bringing together more than families and significant international exposu- million houses. So, fighting solely for hous- problem is that 70% of people who make up fifty leaders from the region’s communities. re. The MTST managed to get Caixa to pur- ing, without confronting the urban logic, does the Brazilian housing deficit are not eligible This enabled an extension of the network of chase the plot for MCMV Entidades, so we not resolve the housing problem. The pace of for credit, because they earn less than three references, beyond housing. It extends the vacated the plot and we are in the process of real estate speculation, eviction, segregation minimum wages. So, if there is no subsidy, if struggle to transportation (such as doubling obtaining approval for the project in order to cials, regardless of the party. It is a dialogue However, the Minha Casa Minha Vida program sonment, is demoralizing leaders and demo- begin work. guided by no linkage, which means not ac- has gaps. One of these is the subsidy, which is ralizing movements. This has occurred all too cepting or indicating anyone for government a historical claim of popular movements: the often in the Brazilian media. STUDIO-X What are the battle cries positions, not even participation in City Coun- housing problem is not resolved with a bank A symbolic case was the Santo Dias Squat, during the demonstrations? cils and Housing Councils. These spaces are credit, it is resolved with a subsidy. Another on Volkswagen’s land in São Bernardo do MTST The most frequent chant is “MTST, more for co-opting popular movements than point is the total volume of funds involved: in Campo, in 2003, the year in which Lula had the fight is real”. Another is “Create, create, for decision-making and real participation in the history of the country, there has not been assumed presidency. Across the street from people’s power”, which we borrowed from public policy. This autonomy means that rela- a program with this amount of money invest- this enormous squat was a gas station, where the popular Chilean resistance, the Cor- tionships with the government should not be ed in housing. The third gap, which is the most an assailant exchanged shots with a securi- dones, during the time of Salvador Allende. exchanged for favors. Before calling the may- important for us, is the MCMV Entidades: ty guard at the location, one of which hit the There is a chant that has recently become or, we are going to put ten thousand people in although it’s a drop in the ocean (1.5% of all Época magazine photographer La Costa, who popular, which is “Tread lightly, tread light- front of City Hall. The relationship should be projects are through the program), it is where ended up dying in front of the squat. This event ly, if you can’t handle the ant, don’t stir the guided by the movement’s social force, by the direct management makes the movements occurred outside of the squat, but it generat- anthill”, which has to do with the collective force of mobilization. This does not mean that capable of developing a differentiated proj- ed a wave of brutal criminalization around the strength of the movement. Another more re- the movement does not negotiate: there is a ect, and where participation is associated MTST, including attempted arrests. cent chant has to do with the political initia- right time for this. We often say that there are with the struggle and collective organization. In a more recent case, Veja magazine was at tive of the MTST, the Frente Povo Sem Medo two ways to negotiate: standing or kneeling. the Vila Nova Palestina Squat and got a fake STUDIO-X You organized two Minha (People Without Fear Front), which brings It’s not about rejecting negotiation, it’s about interview from someone saying that I [Guil- together several sectors of left-wing Brazil choosing a method with actual conditions Casa Minha Vida Entidades projects. herme Boulos] force people to be there. They in an attempt to build a unit for structural for negotiating and not just hearing what the How is this legal, since the Movement invented a narrative and put together a story. changes, facing conservative advancement government wants to do. doesn’t have Legal Status? The Folha de São Paulo newspaper published in the country and the policy adopted by the In this sense, relationships with all levels of MTST The movement doesn’t have legal sta- a story in 2014, on Portal do Povo, another government: “Here are the people not afraid the government make no essential difference tus, but it creates associations/entities au- MTST squat, saying that it was a phantom to fight”. to the Movement. There are varying shades thorized to implement these projects. They squat, without explaining the movement’s of differences: there are more representa- are not part of the MTST, but they operate methodology: we do not encourage people STUDIO-X What are the main tive governments, there are governments together with the Movement. These associ- to live in squats for a long time; in general, achievements? Any changes in laws ations are legal figures in our squats are pressure squats, temporary order to be able to do the camps; we do not seek consolidation on that project. plot because currently, in São Paulo, eviction is a certainty and the only question is when it STUDIO-X Are these will happen. The reporters went there during associations specific the day, when people are working, and took to each project? photos to say that it was a phantom squat. MTST No, we are working These are some examples of unfair media with one at a national level: treatment and attempts at criminalization Novo Milênio [New Millen- and demoralization of the movement. nium] Association. STUDIO-X What are your expectations STUDIO-X How is for the future? your relationship MTST The 2016 and 2017 framework in Brazil with other social is devastating. The country has never had two movements? consecutive years of recession. And they are MTST The MTST seeks two consecutive years of brutal recession. to maintain a partnership Now we move toward a possible third year with all movements that [2017] in the same situation. Unemployment are fighting for housing. has begun to increase considerably, payroll However, the MTST arose, has fallen nearly 10%, and we are heading during the late 1990s, as toward social upheaval in Brazil. Thus, we a response to the exces- predict that if 2015 was marked by political sive institutionalization of crisis, 2016 will be marked by social crisis. movements that emerged There will be an increase in polarization, in in the 1980s, which are terms of confrontation, not downtown on MTSTgenerally linked to the Workers’ Party (PT). Avenida Paulista, but in the ghetto, the pe- or public policies? that address issues with dialogue, there are The leaders of these movements are or were riphery. Actors who were not really in the governments that are more willing to address scene will come into play due to the country’s MTST When the City Statute was approved, party candidates or leaders. Just as the PT the MTST was still very new and had weaker the movement’s claims and there are govern- underwent a process of losing its combative, deepening economic crisis. This will directly mobilization. More recently, it was the col- ments that are less willing. However, we have socially-based nature in order to become an affect the issue of housing, because rent is an lective achievement of a broad movement for said that dialogue alone will not resolve this. institutional and electoral tool, these move- important part of the current household in- urban reform, during a period in which inter- The Federal Government has summoned us to ments also underwent this process. Some come. If unemployment increases and work- vention in the Master Plans throughout the engage in dialogue on several occasions, but of them became “electoral corrals” and they ers’ wages decrease, the rent problem will country were important, but especially the it makes tax adjustments and cuts funding for transformed the squats into this. During the become even more explosive than in previous Master Plan of São Paulo, in 2014, in which housing. It didn’t help at all, so just having di- Lula government, they became state councils years, even though rental inflation is less rap- the Movement coordinated an intense mobili- alogue without the concrete act of expanding and “minor posts”, and this clearly weakened id than during the growth period. zation - more than twenty demonstrations at public policy does not fix our problem. the ability to fight and confront, and the so- There is a period of large squats. The MTST is preparing to implement a confrontation pro- City Hall, where we camped out for ten days STUDIO-X How do you analyze the cial basis of these movements. This is our cess, to channel this popular dissatisfaction to make a point during voting. Thus, we were Minha Casa Minha Vida program? interpretation, but it doesn’t prevent us from able to double the number of Zeis (Special maintaining, whenever possible, a relation- into organized fighting. After all, if the dis- Zone of Social Interest) in the city, we cre- MTST It is important to mention that the ship based on joint action. satisfaction is not organized, it can go either ated a number of mechanisms that make real Minha Casa Minha Vida program was not cre- way, including to the right. Periods of crisis STUDIO-X Do you analyze the Brazilian estate speculation difficult, and we increased ated to resolve the country’s housing prob- create the possibility for popular uprisings, press’ coverage of what is occurring FUNDURB (Urban Development Fund) funding, lem. The MCMV was created to resolve the confrontations and structural changes, but in the movements? which increases the onerous grant. liquidity problem of the large construction historically they have also create opportu- In 2015, we achieved some regulatory chan- companies after the 2008 crisis, which is why MTST Brazil’s corporate media develops nities for fascism and regression. They are ges with the program Minha Casa Minha Vida the program is full of defects. That same year, cynical discourse not only with regard to the periods in which things are very open, indef- Entidades. Championed by the MTST over the in 2009, it had drafted the National Housing squats. The general framework of Brazil’s inite. If there were no strong popular move- last year, with a series of mobilizations in São Plan, coordinated by Nabil Bonduki, based media monopoly is disastrous: a monopolized ments capable of channeling this popular Paulo, Brasília and eleven states where the on dialogue with several movements and social voice that consists of six or seven fa- indignation into more progressive and trans- Movement is present, the MCMV 3’s battle sectors of society. The National Housing Plan milies of large entrepreneurs, who use public formative means of action, it could result in did not result in a complete victory, but in the was put on the back burner and articulated, concessions to conduct their businesses, to regression. incorporation of important aspects defined through the construction company and the blackmail the government according to their This is the central challenge in the coming by us. Civil House at the time when Dilma was min- interests, and in order to disseminate a highly period. We are going to do this through our ister, a construction and housing production conservative ideology in society. The social squats and by fostering larger spaces to fight STUDIO-X In general, how is your heating program. For the MCMV program, the movements enter this scenario with the me- for housing. But, work will also be a problem, relationship with the different levels protagonists are the construction compa- dia criminalizing squats and social struggles. as the public services are collapsing due to of government? nies. In other words, this program is guided Sometimes, worse than criminalization is the decreased investments. We have done this by the logic of profit, which leads to problems through the People Without Fear Front. MTST The MTST prides itself on maintaining demoralization: the sneaky attack of saying autonomy from all levels of governments. We with quality, the location of projects, and that squatting is for thugs, who steal money engage in dialogue with any government offi- many limits from a housing point of view. from the people. More effective than impri- OCUPAÇÕES E O DIA DE FESTA SQUATS AND THE CELEBRATION DAY Ocupar é fruto de grande preparação. Da mobilização até o Dia de Festa, data em que a ocupação efetivamente ocorre, é preciso identificar os espaços desocupados, analisar o lugar jurídica e urbanisticamente, angariar apoios. Após a ocupação, os desafios aumentam: é preciso resistência para permanecer, cuidar da infraestrutura, organizar a vida conjunta. Morar em uma ocupação implica renunciar a parte da sua individualidade em favor da luta e do coletivo. Assembleias semanais, espaços comuns, escalas de tarefas e participação constante são os pilares de ocupações como a OCUPAÇÕES Manuel Congo, no centro do Rio de Janeiro, e a 9 de Julho, no coração de São Paulo.

Squatting is the result of extensive planning. From mobilization to the Day E O DIA DE FESTAof Celebration, the date on which the squat effectively takes place, we must identify unoccupied spaces, analyze the site legally and urbanistically and gather support. After the squatting, the challenges increase: it takes resistance to remain, take care of infrastructure and organize shared life. Living in an squat entails renouncing some of your individuality in favor of the struggle and the collective. Weekly meetings, common areas, work schedules and constant participation are the pillars of squats, such as Manuel Congo, in downtown Rio de Janeiro, and 9 de Julho, in the heart of São Paulo. OCUPAÇÃO MANUEL CONGO MANUEL CONGO SQUAT CINELÂNDIA-RIO

1 ACESSOS 4 ESCRITÓRIO Escritório do Movimento e da Associação de ACESS Apoio à Moradia. 2 RESTAURANTE E OFFICE CASA DE SAMBA Offices of the Movement and of the Housing Support Café, restaurante e centro cultural para Association. colaborar no custeamento das despesas. Atualmente serve de depósito para o material da 5 ASSEMBLEIA obra. Área de assembleias para discutir a vida da comunidade e o projeto de requalificação do RESTAURANT AND SAMBA HALL prédio. Auditório em construção. Café, restaurant and cultural center which is to be a source of income to cover expenses. It currently ASSEMBLY serves as a storage area for construction material. Assembly area to discuss life in the community and the building’s renovation project. Auditorium under 3 ESPAÇO CRIARTE construction. Espaço para a infância e adolescência. Space for children and youth. 6 COZINHA TEMPORÁRIA Cozinha temporária para os operários da construção e venda de quentinhas TEMPORARY KITCHEN Temporary kitchen for the construction workers and sale of hot meals. 6 5 4

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2007 2010 2014 2016 2017 DIA DE FESTA FORMAÇÃO CONTRATO PARA A PROJETO DE CONCLUSÃO DA OBRA Após duas semanas de peregrinação PROFISSIONAL REQUALIFICAÇÃO DA REQUALIFICAÇÃO Após um longo e árduo processo, a pelo Centro, cem famílias reunidas sob Com o intuito de garantir a manuten- OCUPAÇÃO MANUEL O projeto teve a assessoria técnica obra da ocupação Manuel Congo che- a bandeira do MNLM ocuparam o pré- ção de uma moradia no Centro, foram CONGO da arquiteta Ticianne Ribeiro, com ga a seu término com a requalificação dio número 20 da rua Alcindo Guanaba- realizados cursos de capacitação pro- Em 2014, com a assinatura do contra- ampla participação dos moradores. A dos apartamentos e áreas comuns do ra, no dia 28 de outubro 2007. No início fissional para os moradores da Manuel to com o programa Minha Casa Minha requalificação inclui a recuperação da prédio. Segundo a arquiteta Ticianne do mesmo mês, eles já tinham se esta- Congo e outros membros do MNLM, em Vida Entidades, o MNLM pode iniciar o infraestrutura do prédio (esgoto, água Ribeiro, ainda ficará faltando a reforma belecido no antigo Cine Vitória durante 2009. A Associação de Apoio à Mora- projeto de requalificação da ocupação e luz), a reforma de 42 apartamentos e dos espaços de trabalho e geração de uma semana. Porém, com a reintegra- dia, braço jurídico do MNLM, ganhou o Manuel Congo. Em 2008, o MNLM rece- do escritório do Movimento, o conser- renda para os moradores, o que é fun- ção de posse, o grupo teve de passar edital da Petrobrás Cidadania (Estação beu 700 mil reais do Fundo Nacional de to dos dois elevadores, a renovação damental para a manutenção econômi- por diferentes lugares no centro da Petrobrás) por meio do qual conse- Habitação de Interesse Social (Fnhis) do Espaço Criarte para a infância e ca da edificação. A ocupação Manuel cidade à procura de uma moradia até guiram verba e apoio para oferecer para o projeto. Quando o MCMV Entida- adolescência, além da criação de au- Congo transforma-se em um exemplo encontrarem esse prédio do INSS na cursos nas áreas de gastronomia, be- des foi criado em 2009, os recursos do ditório, restaurante, cafeteria, cozinha do potencial existente nos centros Cinelândia, abandonado por quase leza, serviço, construção e cooperati- Fnhis foram transferidos para a Caixa e da Casa de Samba para ser fonte de das cidades brasileiras quando seus vinte anos, onde permaneceram as 42 vismo. Tais aulas foram fundamentais Econômica Federal. Devido às dificul- renda. prédios abandonados são reabilitados famílias mais necessitadas do grupo. para a legitimação da ocupação e do dades com andamento dos processos Os trabalhadores da obra são os pró- e destinados ao uso habitacional para Movimento. de financiamento governamental, o prios moradores da Manuel Congo e de população de baixa renda. ORGANIZANDO outras ocupações da cidade. As obras A OCUPAÇÃO THE WORK’S Logo após a ocupação, as pessoas CONCLUSION se reuniram em uma assembleia para After a long and arduous estabelecer as bases da vida coletiva process, the work at the no edifício. O conjunto de princípios Manuel Congo Occupation adotados teve como base a Cartilha came to an end with the Nacional do Movimento. Os dois pri- rehabilitation of the build- meiros andares foram reservados ing’s apartments and com- para áreas de uso coletivo, como a mon areas. According to sala para assembleias, o escritório e architect Ticianne Ribeiro, o espaço destinado às crianças, en- CRONOLOGIA the building’s work spaces quanto, os andares superiores foram and areas that generate destinados à moradia das 42 famílias. income, fundamental for the Também foi instituída uma escala de CHRONOLOGICAL EVENTS building’s economic upkeep, tarefas: cada morador, maior de 18 are still in need of reno- anos, ficaria na portaria por duas ho- vation. The Manuel Congo ras e meia por semana, e cada andar Occupation has turned into teria mutirões de limpeza semanais. MNLM realizou várias manifestações foram iniciadas no lado da rua Alcindo an example of the potential that exists in Nos dois primeiros anos, mantiveram PROFESSIONAL no Rio e em Brasília, na frente das se- Guanabara, tendo ali sido concluídas. the centers of Brazil’s cities when their uma cozinha coletiva, porém aos pou- TRAINING WORKSHOPS des da Caixa, do INSS, do Ministério Enquanto esperam a finalização da abandoned buildings are rehabilitated and cos cada família passou a cuidar da In order to ensure the maintenance of a das Cidades e das secretarias muni- obra do lado da rua Evaristo da Veiga, designated as residences for the low-in- sua própria alimentação. dwelling in the city center, professional cipal e estadual de habitação. Com as famílias dividem os apartamentos. come population. training courses were held in 2009 for a licitação feita pela Sehab em 2013, As unidades residenciais foram sorte- the residents of Manuel Congo and other adas em função do tamanho da família. CELEBRATION DAY abriu-se caminho para a assinatura do members of the MNLM. The Residents’ contrato com a Caixa para readequa- After two weeks of pilgrimage around Support Association, the legal arm of the ção do prédio. RENOVATION the city center, on October 28, 2007, 100 MNLM, won the call for proposals from PROJECT families, gathered under the banner of the Petrobrás Cidadania (Estação Petrobrás), CONTRACT FOR The design for the Manuel Congo Squat MNLM, occupied building number 20 on through which they gained funding and THE RENOVATION OF was developed with the participation of Alcindo Guanabara Street. By the start of support to offer courses in cooking, the residents, and with technical support the same month, they had already set up MANUEL CONGO SQUAT beauty, service, construction and coop- In 2014, with the signing of the contract for from architect Ticianne Ribeiro. The reno- at the former Cine Vitória movie theater eratives. These courses represented an vation included the repair of the building’s for one week. However, with the revival the granting of funds through the Minha important victory for the legitimization of Casa Minha Vida Entidades program, the infrastructure (drainage, water and pow- of the squat, the group had to go through the squat and of the movement. er), the renovation of 42 apartments and several spaces in the city center, seeking MNLM was able to start the renovation project for the Manuel Congo Squat. In of the Movement’s office, repair of the two a place to live, until they found the INSS elevators, the creation of an auditorium, a (National Institute for Social Security) 2008, the MNLM received an initial grant from the National Fund for Social-Interest restaurant, a cafeteria, a kitchen, and the building in the Cinelândia area, which had Samba Hall, which would be a source of been abandoned for nearly twenty years, Housing (FNHIS) in the amount of 700,000 reais, for the housing project. When income, and the renovation of the “Espaço and where the 42 neediest families of the Criarte” for children and youth. group remained. MCMV Entidades was created in 2009, the FNHIS funds were transferred to the The workers on the project are the resi- Caixa Econômica Federal. Due to the dif- dents themselves, who were given pro- SETTLING IN fessional training, as well as residents of Just after the squat, people gathered in ficulties in the processes of government other squats in the city. The work began an assembly to set the basis for collective financing, the MNLM held several protests on the Alcindo Guanabara Street side, living in the building. The set of principles in Rio and in Brasilia, in front of the head and also finished there. While they waited adopted was based on the Movement’s offices of “Caixa”, the INSS, the Ministry for the completion of the project on the National Guidebook. Next was the distri- of Cities, and the municipal and state-lev- Evaristo da Veiga Street side, the families bution of the spaces: the first two levels el Housing Secretariat (SeHab). In 2013, divided up the apartments. A draw is held were reserved for collective use, such a bid process was held by SeHab, which for the residential units, based on family as a room for assemblies, the office paved the way for the contract with Caixa size. and the space reserved for children; the for the renovation of the building. higher floors, in turn, were designated as living areas for the 42 families. A duty roster was also instituted: each resident over 18 would remain at the entrance 2.5 hours per week, and each floor would have weekly cleaning crews. There was a collective kitchen for the first two years, but little by little each family started doing their own cooking. B

A OCUPAÇÃO 9 DE JULHO 9 DE JULHO SQUAT CENTRO / DOWNTOWN, SÃO PAULO

C

D

A ESPAÇOS COLETIVOS E ATIVIDADES CULTURAIS / COLLECTIVE SPACES AND CULTURAL ACTIVITIES B BIBLIOTECA E CRECHE / LIBRARY AND DAY CARE CENTER C QUADRA POLIESPORTIVA / SPORTS COURT D HORTA COMUNITÁRIA, GAZEBO E CHURRASQUEIRA / COMMUNITY GARDEN, GAZEBO AND BARBECUE I J H L M G N F

O E

E BRECHÓ E COSTURA THRIFT STORE AND SEWING F SALA DE ASSEMBLEIA G REFEITÓRIO / DINING HALL H COZINHA / KITCHEN I POSTO DE DISTRIBUIÇÃO DE PRODUTOS ORGÂNICOS DA PREFEITURA DE BARRA DO CHAPÉU / BARRA DO CHAPÉU CITY HALL ORGANIC PRODUCTS DISTRIBUTION CENTER J MARCENARIA / CARPENTRY L RESIDÊNCIA DE PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS / RESIDENCE FOR DISABLE PERSON M ADMINISTRAÇÃO / ADMINISTRATION N RESIDÊNCIA ARTÍSTICA / ARTISTIC RESIDENCE 1997 2000 2009-2011 2016 2017 DIA DE FESTA BERÇO DO MOVIMENTO IDAS E VINDAS A REOCUPAÇÃO REDE DE ATIVISTAS E Em 2 de novembro de 1997 foi ocupado Nas salas da ocupação 9 de Julho, Tendo em vista o não cumprimento pela Em 28 de outubro, no Outubro Verme- ATIVIDADES pela primeira vez o antigo prédio art nasce uma dissidência do movimento prefeitura dos planos de habitação po- lho, o edifício Nove de Julho é reocupa- Com a liderança de Carmen Silva e decó entre a avenida 9 de Julho e a rua que, três anos antes, ocupou o edifí- pular no edifício, o movimento reocupa do pelo Movimento Sem Teto do Centro incentivado pelo êxito do “Era o Hotel Álvaro de Carvalho. Projeto do arquite- cio. Com novas lideranças e diretrizes, o 9 de Julho por três vezes, seguido por (MTSC). O lixo e o entulho retirados do Cambridge” – com todo o trabalho da to Jayme Fonseca Rodrigues, o edifício surge o Movimento Sem Teto do Centro três truculentos processos de reinte- interior do prédio preenchem dezenas direção e da produção do filme feito foi construído entre 1940 e 1943 para (MTSC). No ano seguinte, o MTSC apro- grações de posse. de caçambas de caminhão. Os muti- em parceria com o movimento – e da receber o varguista Instituto de Apo- xima-se de vários outros movimentos rões de limpeza são os primeiros atos Residência Artística Cambridge, uma sentadorias e Pensões dos Emprega- de moradia da região central paulista- COMINGS AND GOINGS de reabilitação dos espaços da edifi- rede de atividades culturais está sendo dos em Transportes e Cargas (IAPETC). na: fundam a Frente de Luta pela Mo- Due to city hall’s unkept promises of plans cação para prepará-la para receber estabelecida para ativar os espaços da Originalmente era um prédio de uso radia (FLM), agrupamento que abriga for popular housing in the building, the novas famílias. Tal como na ocupação ocupação 9 de Julho. Uma marcenaria misto com escritórios e consultórios várias entidades. movement reoccupies 9 de Julho on three Cambridge, a ocupação 9 de Julho teve e uma cozinha comunitárias estão sen- médicos nos quatro pavimentos pró- occasions, followed by three aggressive a assessoria técnica e assinatura dos do montadas. O arquiteto e professor ximos à 9 de Julho, e 67 apartamentos CRADLE OF THE MOVEMENT processes of ownership repossession. projetos pelo arquiteto Alexandre Ho- belga Jeroen Stevens fez um mapa co- nos andares superiores. Em meados da In the rooms of the 9 de Julho Occupation dapp da ONG Peabiru. Para além dos letivo com as origens dos moradores década de 1970, o prédio foi esvaziado a dissidence is born from the movement trabalhos de implantação das instala- na sala onde será instalada a bibliote- pelo INSS para ser exclusivamente which, three years earlier, occupied the ções infraestruturais para a moradia, ca. A 11ª Bienal de Arquitetura de São a sede da repartição pública em São building. With new leaderships and direc- o movimento também teve o auxilio de Paulo traz para a ocupação as exposi- Paulo. Entretanto, o edifício nunca tives, the Movimento Sem Teto do Centro especialistas em engenharia da USP ções “Arquitetura da Apropriação”, do chegou a receber a instituição e ficou [“The City Center Homeless Movement”] para a elaboração de um novo laudo instituto holandês Het Nieuwe Insti- abandonado por mais de duas décadas (MTSC) emerges. The following year, que atestava a segurança estrutural tuut, e este “Lutar Ocupar Resistir”, do até o dia de festa. the MTSC reaches out to several other do edifício. Studio X. Para potencializar a luta pela housing movements in São Paulo’s cen- moradia, a ocupação 9 de Julho acolhe CELEBRATION DAY tral region: they found the Frente de Luta THE REOCCUPATION uma rede de coletivos de cultura de On November 2, 1997, the old Art Deco pela Moradia [“The Front for Housing On October 28, in Red October, the Nove todo mundo. building located between Avenida 9 de Movement”] (FLM), a conglomerate group de Julho building is reoccupied by the Julho and Rua Álvaro de Carvalho was that includes a number of organizations. Movimento Sem Teto do Centro [“City NETWORK OF ACTIVISTS occupied for the first time. Designed by Center Homeless Movement”] (MTSC). AND ACTIVITIES architect Jayme Fonseca Rodrigues, the The trash and debris removed from inside Led by Carmen Silva and fueled by the building was constructed between 1940 the building fill up dozens of dump trucks. success of “The Cambridge Squatter” – and 1943 to house the Vargas regime’s 2003 The cleaning task forces are the first ef- with all the work of the movie’s director Institute of Retirements and Pensions forts to rehabilitate the building’s spaces and production staff done in partnership for Transportation and Cargo Workers PROMESSA in order to prepare it to receive new fami- with the movement – and the Cambridge Os moradores desocupam o edifício (IAPETC). It was originally of mixed use, lies. Much like the Cambridge Occupation, Artistic Residency, a network of cultural com a promessa pelo governo mu- with offices and medical practices on the 9 de Julho Occupation was provided activities is being established to activate nicipal de transformar o edifício em the four floors near 9 de Julho, and 67 technical support and design from ar- the spaces of the 9 de Julho Occupation. um conjunto habitacional até o ano apartments on the upper floors. In the chitect Alexandre Hodapp of the NGO A community wood shop and kitchen are seguinte. As obras nunca foram ini- mid-1970s, the building was vacated by Peabiru. Aside from the work of imple- being set up. Belgian architect and pro- ciadas e os moradores não retornaram the INSS in order to serve exclusively as menting the residential infrastructure fessor Jeroen Stevens created a collec- para os anunciados apartamentos que São Paulo’s public administration head- facilities, the movement also received tive map of the residents’ origins in the surgiriam com a requalificação do pré- quarters. However, the institution never support from engineering specialists from room where the library is to be installed. dio. Para além da falta de manutenção actually moved into the building, which re- the University of São Paulo who produced The 11th São Paulo Architecture Biennial após a desocupação, as fachadas e os mained abandoned for over two decades a new technical report attesting to the brings to the occupation the exhibitions espaços internos da 9 de Julho degra- until the day of the party. building’s structural safety. “Architecture of Appropriation” by the daram-se consideravelmente com um Dutch institute Het Nieuwe Instituut, and incêndio em 2004. this one, “Fight Occupy Resist,” by Studio PROMISE X. To empower the fight for housing, the 9 de Julho Occupation accommodates a The residents vacate the building with the network of cultural collectives from all promise from the city government that the over the world. building will be transformed into a housing complex the following year. Construction never begins and the residents do not return to the promised apartments that were to be produced from the building’s rehabilitation. In addition to the lack of maintenance after the occupation was cleared out, 9 de Julho’s facades and in- ternal spaces are damaged considerably by a fire in 2004. O projeto arquitetônico é um potente instrumento de melhoria e consolidação da habitação. Visto que moradores e líderes dos movimentos anseiam ter voz ativa no processo de projeto, a equipe de arquitetura precisa ir às assembleias, utilizar- se de instrumentos para fomentar a participação, estabelecer métodos de apresentação, de OS PROJETOS compreensão e diálogo com os residentes por meio do desenho, a fim de aprimorá-lo com soluções para as reais necessidades da ocupação. As PARTICIPATIVOS qualidades arquitetônica THE PARTICIPATORY e urbanística resultantes DESIGNS distinguem-se em muito das carências espacial e construtiva de grande parte dos conjuntos habitacionais financiados pelo governo. Com suas particularidades, os projetos para as ocupações Mariana Crioula, Hotel Cambridge, Manuel Congo, 9 de Julho e a Comuna D. Helder Câmara, notabilizam-se pela qualificação das unidades de habitação e dos espaços de uso comum, soluções técnicas e infraestruturais, e, sobretudo, pelo comprometimento entre arquiteto e morador. OS PROJETOS PARTICIPATIVOS THE PARTICIPATORY DESIGNS

Architectural design is a powerful tool for improving and consolidating housing. Since residents and leaders of the movements long to have an active voice in the design process, the architecture team needs to go to the meetings, use their instruments to encourage participation, establish methods of presentation, understanding and dialogue with the residents through design drawings, in order to make improvements using solutions for the real needs of the squat. The resulting architectural and urbanistic qualities are very different from the spatial and constructive deficiency of most housing projects financed by the government. With their particularities, the designs for the Mariana Crioula, Hotel Cambridge, Manuel Congo, 9 de Julho and D. Helder Câmara Urban Comune squats are distinguished by the qualification of housing units and communal spaces, technical and infrastructure solutions and, above all, by the commitment between the architect and the resident. 15 de fevereiro de 2016 LF Isso é algo que os movimentos vivem até trâmites do município: do ponto de vista do lidávamos com o fato de que a obra era em um hoje: ou chamam arquitetos inexperientes, mercado, poucos escritórios iriam assumir lugar onde as pessoas precisam permanecer STUDIO-X Como vocês se associaram? mas dispostos a ajudar e escutar, não co- essa questão. Não é uma culpa do cliente, mas morando. Ficamos muito tempo planejando e NÚBIA FRANÇA Lucas e eu estagiamos e traba- brando ou cobrando muito barato; ou chamam do processo que isso representa. articulando com eles a habitação provisória lhamos no Núcleo de Assessoria, Planejamen- profissionais mais experientes, que cobrarão dentro do imóvel. to e Pesquisa (Napp), mas o projeto para a Ma- um pouco mais caro, mas têm vícios de mer- STUDIO-X Como o cliente – no caso, o riana Crioula foi feito por nós três de forma au- cado muito grandes e não estão dispostos a movimento – organizava-se para falar STUDIO-X Vocês poderiam citar algumas tônoma. Fomos contratados pelo MNLM para escutar. Isso acontece principalmente com com vocês? necessidades do Movimento para o projeto? fazer o projeto pelo Minha Casa Minha Vida engenheiros, mas também com arquitetos. A LF Quem lida diretamente com a gente é a co- (MCMV) Entidades. LUCAS FAULHABER Ori- ginalmente, a Maria- na Crioula seria feita pelo Napp através do Fundo Nacional de OCUPAÇÃO Habitação de Inte- resse Social (FNHIS). Naquele momento, o Movimento não tinha respaldo jurídico para MARIANA CRIOULA ser o responsável pelo empreendimento. Eles avaliaram que não podiam ficar depen- dendo de assessorias técnicas habilitadas MARIANA CRIOULA no Ministério das Ci- dades, e montaram um CNPJ para ter a li- berdade de contratar os profissionais que SQUAT quisessem, ter o pro- RIO DE JANEIRO – RJ cesso de autogestão como um todo. Assim, houve a mudança de LUCAS FAULHABER, NÚBIA FRANÇA, BRUNO CAIO modalidade para o MCMV Entidades: o ARQUITETOS / ARCHITECTS MNLM nos contratou para fazer o projeto e o Movimento gerencia todo o empreendimen- to, respondendo a Cai- xa Econômica.

STUDIO-X Como vocês se aproximaram do movimento e da ocupação?

LF Por meio do Es- critório Modelo da Arquitetura e Urba- nismo (Emau) da UFRJ, nós propusemos uma atividade na ocupa- ção Manuel Congo, também do MNLM, de reforma da área infan- til. Após, o contato se estreitou através do Napp. NF Passamos a ir à Manuel Congo, que é a sede do MNLM no Rio. Nos interessamos em ouvi-los. Íamos a eventos e palestras lá dentro: são momentos muito instigantes de reflexão sobre a cida- de. É um ambiente em que você aprende, às vezes, tanto ou mais do que na faculdade. LF Quando o Napp não ia fazer mais o projeto da Mariana Crioula, eles conversaram com outro arquiteto que questão de não viabilidade econômica ocorre ordenação do MNLM e a coordenação da ocu- LF A ideia é que a Mariana Crioula seja a sede se comprometeu a fazer o projeto, mas, pelo devido às várias idas e vindas, tanto com o go- pação. Eles eram responsáveis por articular do Movimento. Por isso, o prédio terá muitos contato com a galera do Movimento, me dis- verno quanto com o próprio movimento – são reuniões e assembleias nas ocupações, para espaços de uso coletivo, auditório, e até ves- pus a ser estagiário desse arquiteto. Só que clientes que mudam de opinião. Precisa-se discutirmos projeto: saber o que eles querem, tiário e alojamento para pessoas de fora quan- ele não fez nada, o que levou o movimento a estar disposto a aceitar e participar do tem- decidir tamanho, programa etc. do tiver seminário. Este forte aspecto político me chamar para tocar o projeto. Eu não era po deles de reunião e decisão. Um profissional NF Conversar com os moradores da Mariana está no desenvolvimento do projeto. formado na época, logo não podia assinar, mas mais cascudo, normalmente, não está dispos- Crioula: a convocação interna era geral, fazia BC Não é só um edifício residencial, a Mariana a Núbia tinha acabado de se formar, e assim to a isso. parte da rotina de todos os residentes sua pre- Crioula ganha essa característica institucio- começamos. BRUNO CAIO Não somente o tempo deles, mas o sença e participação nessas questões. Inclu- nal e também terá espaço para geração de NF Pelo contrato com a Caixa, o Movimento ti- tempo da complexidade de todo o processo. O sive, nesse caso, muitas pessoas estavam mo- renda, que será o restaurante. Isso complexi- nha um condicionante financeiro também. fato da prefeitura internamente não conhecer rando no imóvel. Então, nas primeiras reuniões ficou um pouco a relação com o MCMV, pois foi como funciona o MCMV Entidades, o longos preciso pedir uma série de flexibilizações no NF Tivemos que montar oficinas para explicar chegando no fim. Em 2015, passamos pelas arquiteto que será responsável pela execução programa. a eles como chegamos a determinada solução aprovações em todas as instâncias. Peguei o da obra e está fazendo o orçamento. LF O MCMV não permitido espaços comer- de projeto, as obrigatoriedades da legislação alvará no começo deste ano. LF A gente não tinha o selo técnico para esta ciais, então se precisa dizer que é um espaço e das normas do patrimônio, os motivos pelos tarefa, não preenchíamos os requisitos buro- STUDIO-X Vocês poderiam limitações de de uso comum. Além disso, a verba é por apar- quais achamos que são boas ideias. cráticos da Caixa. tamento, isto é, se você quiser fazer 1000m² projeto devido ao Minha Casa Minha STUDIO-X Que instrumentos foram STUDIO-X Vocês vão acompanhar a de área comum, a verba será a mesma. Por Vida? utilizados pelo escritório para se construção? isso, as construtoras fazem somente aparta- NF Um dado importante é que são 60 aparta- aproximar e estabelecer um diálogo mentos para o MCMV: espaços de uso comum mentos. Está no contrato com a Caixa e não LF Eu pretendo. O Movimento tem uma relação são um gasto a mais para elas. com o movimento? pode mudar no meio do processo: nem para de confiança com a gente, mais do que com E o MNLM tem a cooperativa chamada Liga Ur- LF Fizemos 3Ds e alguns pequenos esquemas 62, nem para 58. a equipe de engenharia. Durante a obra, nós bana. Tem diversos segmentos: da construção de insolação, ventilação, afastamentos. LF Com relação aos quartos, pelo MCMV, não seremos de certo modo fiscais. O pessoal do civil, o qual paga os pedreiros cooperados, da NF Para as assembleias, nós levávamos apre- estaria permitido fazer de um único quarto, Movimento diz: “Se fizerem uma solução ba- culinária, podem ter os de artesanato ou cabe- sentações, algumas bem caricatas em 2D, todas as unidades habitacionais deveriam ser rateira, é preciso que você fale para a gente.” lereiro. Quem define qual o uso das áreas do para explicar didaticamente a legislação, ou o de dois quartos. Mas conseguimos fazer essa STUDIO-X Qual será a mão de obra? Os edifício é a cooperativa e o movimento. movimento do sol, ou de passagem do vento. flexibilização. próprios moradores vão participar da NF Todos os prédios do MNLM têm áreas para Usamos o Revit para desenhar, logo tínha- BC Nas regras do MCMV, os espaços são muito construção?

LF Tem uma comissão de obra da ocupação. É um pessoal que está na obra da Manuel Congo agora. Estão trabalhando moradores de lá, da Mariana Crioula, de outras ocupações. Quando começarem os trabalhos na Mariana Crioula, acho que a Manuel Congo estará acabando ou terá termina- do, e esse pessoal vai para a obra na Gamboa. NF Por questões técnicas, existem tarefas que eles não conseguem abarcar: por exemplo, desmontar o telhado existente e refazê -lo, ou a montagem da es- trutura metálica. LF Com a autogestão, eles têm autonomia de escolher e contratar a empresa que quiserem.

crianças, para geração de renda, para encon- mos sempre o modelo em 3D. Eles chamavam amarrados. No caso da Mariana Crioula, essas tro. Independente do financiamento, é uma essas imagens de “video game”, e, em deter- regras ainda eram um pouco flexíveis, mas fo- premissa do MNLM que a moradia coletiva in- minado momento, só podia ser apresentação ram se adaptando o tempo todo. clua espaços coletivos. no “video game”. A gente sabe como é difícil LF São unidades bem variadas: tem até aparta- entender projeto, e, com o “video game”, eles mentos menores que 42m², mas com varanda. STUDIO-X Vocês poderiam descrever o conseguiam avaliar se a cozinha estava gran- BC Mesmo assim são maiores que os 39m² que processo? de ou pequena, se a varanda estava boa, entre a Caixa propõe. LF É um processo de idas e vindas. Houve outros casos. O tal do “video game” foi muito STUDIO-X Quais foram as maiores uma fase inicial mais intensa, em que se dis- importante para a nossa comunicação. cute e define o programa. Informa-se sobre condicionantes de projeto? STUDIO-X Qual foi a fase seguinte? quem são as famílias que vão morar, qual é o NF A legislação. Por exemplo, não pode fazer tamanho delas: a partir disso, projetamos 60 LF A gente partiu para a aprovação. É um apartamentos de um quarto. apartamentos com tipologias diferentes, de momento em que se faz algumas modifica- BC E, agora, o custo. Boa parte das decisões um quarto e dois quartos. O mesmo ocorreu ções, mas, de fato, vamos nos afastando das de projeto que traziam mais qualidade, em es- com os espaços da cooperativa. Primeiro, dis- assembleias e passamos a lidar mais com a pecial nos casos dos apartamentos térreos e cutimos o programa, depois, com o estudo de coordenação, a fim de dar mais agilidade ao da proteção solar de fachada, foi cortada pelo legislação, fizemos a proposta. processo. Depois de três anos, o projeto está February 15, 2016 project. At the time, I hadn’t graduated yet, so and coordinating with them temporary hous- NF For the meetings, we prepared presenta- I couldn’t head the project, but Núbia had just ing within the building. tions, some very detailed 2D diagrams, to di- STUDIO-X How did you team up? graduated and so we began. dactically explain the laws, or the movement STUDIO X Can you name a few of the NUBIA FRANÇA Lucas and I intern and work at NF Through the contract with the Federal Sav- of the sun, or the passage of wind. the Advising, Planning and Research Center ings and Loan Bank, the Movement also had a Movement’s needs for the project? We used Revit to design, so we always have a (Napp), but the design for Mariana Crioula was financial constraint. LF The idea that Mariana Crioula would be 3D model. They call these images “video game” created by the three of us independently. We LF This is something that the movements do the headquarters of the Movement. Thus, the and, sometimes, things can only be presented were contracted by the National Struggle for even to this day: they either hire inexperienced building would have many common use spac- in “video game”. We know that it’s difficult to Housing Movement (MNLM) to create a design architects, more willing to help and listen and es, an auditorium, and even a locker room and understand the design, and with “video game”, for the MMinha Casa Minha Vida (MCMV) Enti- who do not charge or do not charge much, or lodging for people from outside of the squat, they were able to assess if the kitchen was big dades program. they hire more experienced professionals, for when they had seminars. This strong polit- or small, if the balcony was good, among other LUCAS FAULHABER Originally, Mariana Crioula who charge a little more, but who have very ical element is present in the development of things. This “video game” was very important was going to be created by Napp through the significant involvement in the market and are the project. for communication. National Fund for Housing of Social Interest not willing to listen. This happens mainly with BC It’s not just a residential building, Mariana STUDIO X What was the next stage? (FNHIS). At that time, the Movement had no engineers, but also with architects. The issue Crioula has garnered an institutional charac- legal backing to be responsible for the proj- of non-economic viability is due to various teristic and it will also have a space for gener- LF We sought approval. It’s a time when some ect. They decided that they could not depend comings and goings, both with the government ating income, which will be the restaurant. This modifications are made, but, in fact, we move on technical advisory services from the Ur- and the movement itself - they are clients who slightly complicated their relationship with the away from the meetings and begin dealing ban Development Ministry, and set up a CNPJ change their minds. You need to be willing to MCMV program, since they often needed to more with coordination, in order to speed up to have the freedom to hire the professionals accept and participate on their time, in their ask for flexibility within the program. the process. After three years, the project is it wanted, becoming entirely self-managed. meetings and decisions. A professional with LF The MCMV program did not allow commer- reaching conclusion. In 2015, we received ap- Thus, there was a change in modality to the more clout is generally not willing to do this. cial spaces, so you need to say that it’s a com- proval at all levels. I obtained the permit early MCMV Entidades program: The MNLM hired us BRUNO CAIO It’s not just their time, but the mon use space. In addition, the budget is per this year. to create the design and the Movement man- complexity of the entire process. The fact that apartment, so, if you want to build a 1,000m² STUDIO X Did you have design limitations aged the entire project, according to the Fed- the city council does not know how the MCMV common area, the budget will be the same. due to the Minha Casa Minha Vida eral Savings and Loan Bank (Caixa Econômica Entidades program works internally, leads Thus, the contractors only build apartments Federal). to extensive formalities with the city: from a for the MCMV program: common use spaces program? market standpoint, few offices would take on are yet another expense for them. NF An important aspect is that there are 60 STUDIO X How did you become this issue. It’s not the client’s fault, but rather The MNLM has a cooperative called the Ur- apartments. There is a stipulation in the con- connected with the movement and the that of the process. ban League. It has several segments: the tract with the Federal Savings and Loan Bank squat? construction segment, which pays the coop- that you cannot change this number during the erative member process: not to 62, nor to 58. bricklayers, the LF As for the rooms, in the MCMV program, culinary seg- you are not allowed to make one-room apart- ment and pos- ments. All residential units must have two sibly craft and rooms. But we were able to be more flexible. hairdresser seg- BC According to the MCMV’s rules, the spaces ments. The coop- are too interconnected. In the case of Mariana erative and the Crioula, these rules were somewhat flexible, movement define but they were changing all the time. the use of the LF The units are varied: there are even apart- building’s areas. ments as small as 42m², but with a balcony. NF All of the MN- BC Even so, they are larger than the 39m² that LM’s buildings the Federal Savings and Loan Bank suggests. have areas for STUDIO X What were the project’s major children, for gen- erating income constraints? and for gather- NF Legislation. For example, you cannot make ing. Regardless one room apartments. of funding, it’s a BC And now it’s cost. Most of the design de- premise of the cisions that would increase the quality, espe- MNLM that col- cially cases of ground floor apartments and lective housing façade solar protection, were cut by the ar- includes collec- chitect responsible for executing the work and tive spaces. preparing the budget. LF We didn’t have the technical stamp of ap- STUDIO X Can proval for this task, because we didn’t fulfill you describe the Federal Savings and Loan Bank’s bureau- the process? cratic requirements. LF It’s a process STUDIO X Will you monitor construction? of comings and goings. There LF I intend to. The Movement trusts us, more was a more in- than they do the engineering team. During ex- tense initial ecution of the work, we will be supervisors of phase, in which sorts. The Movement members say: “If they we discussed make a solution look cheap, just talk to us”. and defined the STUDIO X Who will provide the labor? program. They Will the residents themselves informed us of participate in the construction? LF Through the Model Office of Architecture the families who would live there, and their STUDIO X How did the client - in this and Urbanism (Emau) at UFRJ. We proposed an sizes: from there, we designed 60 apartments LF There is a work committee in the squat. case, the movement - organize activity at the Manuel Congo Squat, also the of varying types; one room and two rooms. The The personnel are working at Manuel Congo speaking with you? MNLM’s, to renovate the children’s play area. same applies to the cooperative spaces. First, now. They are working residents there, from Afterwards, we were contacted by Napp. LF The MNLM coordination and squat co- we discuss the program, then, with the legality Mariana Crioula and from other squats. When NF We went to Manuel Congo, which is the ordination deal with us directly. They were study, we make the proposal. the work starts at Mariana Crioula, I think that MNLM’s headquarters in Rio. We were inter- responsible for notifying us of meetings and NF We had to hold workshops to explain to Manuel Congo will be finishing up or will have ested in hearing them. We went to events and assemblies within the squats, to discuss the them how we arrived at a given solution for the already completed, and they will go to work at speeches at the squat: they are very compel- project: to learn what they wanted, to decide project, the legal requirements and property Gamboa. ling moments of reflection about the city. It’s on size, the program, etc. standards, and the reasons why we think they NF For technical reasons, there are tasks that an environment where, sometimes, you learn NF Speaking with the residents of Mariana are good ideas. they cannot perform: for example, removing as much as or more than in college. Crioula: internal convening was comprehen- the existing roofing and redoing it, or assem- STUDIO X What tools were used by the LF When Napp was not longer going to do sive, it was part of every resident’s routine bling the metal structure. office to effectively communicate the Mariana Crioula project, they spoke with to attend and participate in these matters. LF With self-management, they have the au- another architect who committed to doing to Also, in this case, many people were living in and establish a dialogue with the tonomy to choose and hire the company they project, and, through contact with the Move- the building. So, during the first meetings, we movement? want. ment’s people, I was able to be this architect’s were dealing with the fact that the work would LF We used 3D and some small diagrams of intern. However, he didn’t do anything, which take place in an area where people needed to sun, wind and pitch. led the movement to ask me to take on the continue living. We spent a long time planning STUDIO-X Quem participava das reuniões de decisões?

CC Tínhamos apresentações de projeto para a comunidade, sempre com a presença da OCUPAÇÕES Carmen Silva, coordenadora da ocupação. Como o projeto era feito com eles – a mão de obra era de pessoas do movimento–, a gente precisava conhecer quem ali faz marcena- ria, serralheria, a elétrica. Em determinado HOTEL momento, nós decidimos trabalhar lá, proje- tar na própria ocupação. MANUELLA LEBOREIRO No dia a dia, a maior participação foi das crianças da ocupação. Sempre vinham perguntar o que estávamos CAMBRIDGE E 9 fazendo. Sempre queriam fazer com a gente. LUIS FELIPE ABBUD Há o horário dos morado- res da ocupação. Na etapa mencionada pela Manuella, nossa disciplina estava concen- trada nas manhãs e tardes, que é um horário DE JULHO em que a maioria dos ocupantes está traba- lhando. A partir da pós-produção, a equipe precisava trabalhar até altas horas, e come- çamos o clima da ocupação muda completa- mente a partir das 8 horas da noite, quando HOTEL CAMBRIDGE os moradores voltam do expediente. STUDIO-X Houve dificuldades de projeto devido a isso?

LAURA PAPPALARDO Quando se está traba- E 9 DE JULHO lhando em um lugar com uma vida consoli- dada, simplesmente não se pode projetar uma coisa de fora e colocar ali, pois não vai funcionar. Presenciamos as dificuldades de certas ideias que achávamos boas, mas não SQUATS faziam sentido para os moradores da ocu- SÃO PAULO - SP pação, ou com uma execução mais difícil do que imaginávamos. ML Foi interessante aprender a lidar com as CARLA CAFFÉ, LUIS FELIPE ABBUD, LAURA PAPPALARDO, MANUELLA LEBOREIRO frustrações. Você tem um ideal de projeto que você imagina que seria o melhor, mas ARQUITETOS / ARCHITECTS quando se está cara a cara com as pessoas, aquele ideal não cabe ali. É ideal para você, mas não para o dia a dia da ocupação, do que eles realmente precisam.

STUDIO-X Vocês poderiam descrever o trabalho de vocês em fases?

CC Na pré-produção do filme, primeiramen- te, tivemos uma etapa de investigação, em que incluo o conhecimento do roteiro e o conhecimento da ocupação. Com as neces- sidades do roteiro na cabeça, fomos para o Cambridge, batemos na porta de cada casa, entramos, conversamos, fizemos o levan- tamento do que tinha e do que não tinha. Fomos ali mapeando objetos existentes e figurino para combinar com determinados personagens. Por uns dois meses, fizemos esse reconhecimento dos quinze andares do prédio e sentimos as demandas de ne- cessidades da ocupação, a partir delas fo- mos para a segunda etapa: de projeto, de prospecção. Nesse momento, percebemos que não podíamos permanecer projetando na Escola da Cidade, e resolvemos projetar no Cambridge, como fez a Lina Bo Bardi no Sesc Pompéia. A princípio era complicado, pois nem tinha cadeira suficiente, mesa, tomada, internet, mas assumimos que era melhor fazer a etapa do projeto in loco. Também nessa época, decidimos trabalhar STUDIO-X Quais eram os objetivos da 23 de fevereiro de 2016 na oficina para as costureiras, que tem uma com o Mister, do coletivo Basurama, pela sua direção de arte? forte presença na ocupação, mas acabou por STUDIO-X Como o coletivo surgiu? ideia de que “lixo não existe”, de projeto a ser usada para brechó e encontros coletivos. CC Normalmente, a direção de arte está restri- partir da reciclagem de materiais. Afinal, es- CARLA CAFFÉ No início de 2014, a Eliane Caffé, Porém, como também tivemos que atender ao ta a satisfazer as demandas do roteiro, porém, távamos em um ambiente de reciclagem, de minha irmã, me chamou para fazer a direção roteiro, tinham cenas dentro dos apartamen- nesse caso, decidimos que era também desti- ressignificação. A ocupação é uma ressigni- de arte do filme. Desde o inicio, sabíamos que tos. Logo, os alunos tiveram oportunidade de nada a satisfazer as demandas da ocupação – ficação. Após um mês de projeto, tivemos as seria numa ocupação. Visitamos algumas até entrar nas casas, fotografá-las, ver como as o projeto da ocupação. Antes da participação apresentações, as devidas autorizações, e escolher o antigo Hotel Cambridge e perce- pessoas habitam. Nesse sentido, o cinema dos alunos, tivemos algumas reuniões com partimos para a parte de execução. Esta etapa bi que era um assunto importantíssimo para abre portas. O Cambridge é uma ocupação lideranças da Frente de Luta pela Moradia foi de parceria próxima com a FLM. Umas três uma faculdade de arquitetura. Pensamos em consolidada, organizada. É um espaço acon- (FLM) e foi quando decidimos que a contra- semanas de execução com a força de trabalho fazer um coletivo com alunos da Escola da chegante, receptivo, muito devido a arquitetu- partida do filme seria o projeto de arquitetura, do movimento. De pessoas como o Rogerio, Cidade, por meio de uma disciplina montada ra generosa dos anos 50 de quando era o Hotel benfeitorias no edifício. que tem uma serralheria dentro da ocupação, especialmente para o caso, que teve o Luis Cambridge. o Ronaldo, um marceneiro que é um artista, e Felipe Abbud como professor assistente e 21 STUDIO-X Quais foram essas outros que trabalham na manutenção elétrica estudantes. benfeitorias? e hidráulica do prédio. A pré-produção durou CC Nos concentramos nas áreas comuns do de agosto a outubro de 2014, em novembro e prédio: no saguão de entrada, na biblioteca; dezembro foi a filmagem. Esse projeto tem de inovador que a arquitetura é também o conte- Antes, a biblioteca era fechada, os livros 24 de outubro de 2017 Para mim foi um choque de realidade que me údo do filme. A arquitetura é o fio condutor. O amontoados eram trancados em um quarto comoveu muito pessoalmente, porque estáva- STUDIO-X Como vocês observaram Cambridge é o fio condutor. Ao fazer cinema, escuro, sem ventilação, nem iluminação natu- mos lidando com todo o frisson e prestígio de você pode fazer arquitetura. ral. Nós projetamos o contrário, fizemos uma a repercussão do filme Era o Hotel uma peça cinematográfica de longa-metragem biblioteca em um espaço aberto e convidati- Cambridge dentro do movimento? ganhadora de prêmios, e, quando fui falar com STUDIO-X Qual foi a intervenção vo, para quem estiver passando pelo edifício LFA Quando foi lançado o filme, toda equipe uma das atrizes principais, eu voltei à realida- arquitetônica feita no saguão? poder ver e ficar lá livremente. O ambiente prestigiava os festivais e sessões especiais, de: o movimento continuou lá, a luta continua. CC O saguão não tinha qualquer equipamento que tem iluminação natural, boa ventilação. participava de mesas e discussões, e enxer- Sendo aplaudidos no mundo inteiro, os mes- ou mobiliário. Por não ter nada, as crianças Colocamos um sofá para leitura uma banca- gava o Era o Hotel Cambridge como uma obra mos personagens estavam lá dormindo num corriam de um lado para o outro, pois era o da e equipamos com quatro computadores. completa. Até que teve uma festa de lança- colchão no chão improvisado e seguindo a luta único lugar que dava para correr. Havia uma Na estante, pode-se pegar emprestados os mento do filme no próprio Cambridge que deles para garantir a própria moradia. Esse quantidade absurda de papeis colados na pa- livros. Após a filmagem, a Silvana Kassab fez aconteceu pouquíssimo tempo após ocuparem fato me marcou muito, por me lembrar que rede, informativos de pagamento, do dia de um trabalho de seleção dos livros, passando a Nove de Julho. Nessa ocasião, os moradores movimento é uma coisa contínua: o filme foi um mutirão, de material para mutirão, informes do um pente finíssimo de escolha de livros, pois chamaram a Eliane Caffé, a Carla Caffé e mais episódio entre tantos outros que fizeram parte movimento. eles recebem doações de livros datados e sem um pessoal para conhecer a ocupação nova. da história do movimento. Não tinha pensado LP O saguão também é portaria, logo sempre sentido, como manual de informática Windows Quando lá chegamos tarde da noite, vimos nisso antes, mas acho que isso criou em mim tem alguém ali, com um caderno de anotações 93 ou Código Civil de 1970. Hoje são somente muita gente dormindo improvisadamente em uma espécie de responsabilidade de poder da hora em que cada um entrou e saiu. livros educativos. A biblioteca do Cambridge colchões, visto que tinham acabado de ocu- continuar atuando junto a eles para além do ML E tinha um cheiro forte de esgoto quanto o ficou bem montada. Ali costumava-se a tran- par. De repente, eu encontro com a Magali, episódio do filme. saguão quando se entrava. car os objetos em um depósito, com a nossa personagem com um dos papéis mais marcan- CC O que mais atraiu minha atenção foi a ida do CC Substituímos as tampas do esgoto, acer- intervenção, perceberam que as coisas deve- tes do filme, e falei pra ela: “Puxa, Magali, que movimento de moradia ao cinema. Consegui- tamos a infraestrutura hidráulica. Na oficina riam estar dispostas para a comunidade. As- legal! Fiquei super feliz em te ver. Você é uma mos oferecer ingressos em duas salas de exi- com o Basurama, fizemos muitas poltronas de sim, descobrimos que os móveis também têm das minhas personagens favoritas do filme!” bição próximas ao Cambridge: o Cine Olido e o pneu superconfortáveis. sua função social. E ela respondeu: “Nossa, sério? Você acre- Shopping Frei Caneca. E curiosas foram as vá- LFA Dois pneus, cinco parafusos, você corta dita que eu nem consegui ver o filme ainda?”. rias manifestações no Facebook, como o texto um pedaço, ajusta de um jeito, e pronto. CC Pintamos os pilares e as paredes com tinta de lousa (quadro negro), para instigar a comu- nicação sem papel. Mas o foco desse espaço eram as crianças: fizemos balanço de pneu, adesivamos percursos no chão – percurso do Saci, da Bailarina, do Elefante. LFA Como se fosse um jogo de tabuleiro e a criança era o pião. Quando acabou o filme, fizeram uma doação de brinquedos e ali os colocaram. CC Um comentário interessante da Carmen, a coordenadora, quando viu as poltronas de pneu: “Nossa, excelente para fazer barrica- da!” É luta mesmo.

STUDIO-X Qual foi o projeto feito na oficina?

CC Quando chegamos lá, a oficina de costurei- ras era um projeto do movimento, porque elas fazem as bandeiras e as camisetas, acabam por ajudar em várias comunicações. É um es- paço muito feminino. Tinha quatro máquinas de costura e uma mesa de corte, mas tinha muita sobra de tecido, era um lugar muito entulhado. E, no Cambridge, havia um espaço inóspito com problema de iluminação e mobiliário que- brado sem uso, mas tinha um pé direito majes- toso e piso de taco de madeira. Levamos para lá as quatro maquinas de costura, equipamos com muitos varais, bancadas de maquiagem, iluminação, vestiário. Porém, por ser uma área de passagem e acesso à rua, há ali um proble- ma de segurança. Embora a vontade das cos- tureiras é que as maquinas permanecessem lá, não puderam deixar no espaço, que se tor- nou uma área dos eventos da ocupação. Como nós reformamos e recuperamos o piso original de tacos de madeira, acabamos por ajudar que praticassem ali capoeira. Com a nova ilumina- ção e os equipamentos, nesse ambiente fazem brechós, umas feijoadas, uns encontros de cultos religiosos, na última vez em que estive lá estava tendo um casamento gay.

STUDIO-X E qual foi a intervenção arquitetônica para a biblioteca?

LFA A questão dos valores é curiosa. O salão para a oficina tem um pé direito gigante, reves- timento de madeira na parede, espelho, taco no piso, e a intenção da ocupação era tirar tudo aquilo, pintar de branco e azulejar tudo. Eles tiveram tempo de fazer isso na biblioteca, antes de nós chegarmos: o espaço tinha sido um salão de chá. pintado de um verde escuro, piso de taco, e trocaram tudo por um piso de porcelanato que imita taco. CC A Carmen deu um depoimento dizendo que, se não fosse o filme, ela já teria compartimen- tado aonde é a biblioteca, e colocado mais famílias lá, porém, com o nosso trabalho, ela descobriu a importância dos espaços comuns para a participação do movimento, para pro- vocar o sentido de comunidade, de encontro. de um cara que percebeu como era diferente mente a estratégia era: ocupou, fechou. Ano lecimentos locais, síndicos e moradores dos STUDIO-X Como vocês têm atuado na uma plateia do movimento de moradia: havia passado, quando a gente ocupou a Nove de prédios da vizinhança. É uma postura sempre ocupação Nove de Julho? Em que pessoas que nunca tinham ido ao cinema e, por Julho, fizemos questão de deixar um comuni- aberta a trocas: se a gente aprende muito com espaços vocês estão envolvidos e de não estarem formatados segundo os códigos cado para a vizinhança. Um comunicado, mais eles, eles também aprendem com a gente. É que maneira? de conduta de um espectador, eles interagiam ou menos, assim: “Desculpe o incômodo. As muito bacana ver como o movimento incorpo- com o filme. Outros mencionaram que essa ida famílias, mulheres e crianças do movimento rou a ideia de que a bandeira da habitação não CC Com esse grupo de artistas, estamos apa- dos moradores da ocupação realmente era um de luta por moraria estão trabalhando para a se esgota na moradia, mas também abrange relhando a cozinha, de modo a oferecer ofici- acontecimento, pois o filme ultrapassou essas limpeza do espaço e tirando focos de dengue os equipamentos urbanos que complementam nas de gastronomia, de trocas de experiências barreiras sociais muito impregnadas no nosso e doença.” Antigamente, fechavam-se as jane- o habitar. De certo modo, isso já podia ser ob- culinárias com os refugiados, além da possibi- dia a dia. Ir ao cinema é uma coisa de classe las para não mostrar muito movimentação. De- servado nas áreas comunais do Cambridge – lidade de uma renda extra para os moradores, média. E o pessoal do movimento pode ocupar pois do filme, a iniciativa passou a ser intera- no piso térreo, no brechó, na bolaria etc. e também falar um pouco da importância de uma sala de cinema. Achei isso uma coisa mui- gir. Vamos dizer à vizinhança as nossas ações. Eu continuo envolvido com o movimento para uma boa alimentação. A cozinha é interessan- to revolucionária. ajudar em ações como quando ocuparam a te por ser onde as pessoas se envolvem mais. STUDIO-X De que modo a atuação de O filme fomentou uma mudança para ambos os praça. Com estudantes de arquitetura, fize- Equipar a cozinha é um modo de instrumentali- lados. Mudando a perspectiva de alguns coor- vocês prosseguiu com o movimento? mos um coletivo [Coletivo Tobogã, composto zar o movimento com ferramentas. denadores do movimento: eles perceberam a LFA Acho que o maior exemplo disso foi jus- por Bárbara Fernandes, Bruna Marchiori, Ca- Por sua vez, a marcenaria é fruto um pouco da força da linguagem artística, de como ela pode tamente com o Abril Vermelho desse ano: pela tarina Calli, Fernanda Colejo, Giulia Godinho, relação que estabelecemos com o Ronaldo no quebrar paradigmas e alcançar a todos. Pelo primeira vez, o movimento resolveu ocupar, Laura Pappalardo e Luís Felipe Abbud] para filme. O Ronaldo é um artista. O cinto dele é fei- outro, Era o Hotel Cambridge ajudou a desmis- ao invés de um edifício para habitação, um projetar o mobiliário urbano dessa praça ocu- to de uma câmera de pneu de bicicleta. Ele me tificar as ocupações. Quem assistiu o filme, viu território urbano abandonado que eles pre- pada. Acabamos transformando-o em uma deu um lindo vaso feito de bulbo de lâmpada. famílias, mulheres, cuidadoras, sem aquele tendem usar como uma praça de uso público, disciplina eletiva na Escola da Cidade chama- Ele me inspirou e me fez pensar como seria se estigma de que são pessoas marginalizadas. reativado e gerido pelo pessoal do bairro – não da “Mobiliário para Ocupação Praça Aberta ele tivesse com todos os equipamentos e as Acho que isso também ajuda o movimento. somente o pessoal do movimento, mas tam- - Ladeira da Memória”.[realizada no segundo ferramentas. A ideia da marcenaria na ocu- Outro exemplo mencionado pela própria Car- bém outros coletivos de militância cultural que semestre de 2017, com a participação dos es- pação Nove de Julho surge dessa necessidade men é o dos fechamentos das janelas. Antiga- atuam no centro da cidade, donos de estabe- tudantes Beatriz Sallowics, Beatriz Coimbra, de um lugar equipado, onde se possa guardar Catarina Calil, Daniel Carvalho, Derek Orlan- e organizar as ferramentas e materiais. Faci- di, Giovanni Frazzatto, Graziela Godoy, Mably litará a manutenção do edifício. Quem quiser Rocha, Marcelo Moreno, Maytê Coelho, Noel ir trabalhar na marcenaria pode ajudar uma Lima, Pedro Cassiano e Pedro Norberto]. família a montar sua casa. É um local para pro- Acredito que tais ações derivam da consta- dução de mobiliário para o movimento. Uma tação de que, enquanto estudantes e profis- ocupação tem muitas necessidades – caixi- sionais, não precisamos nos ater a deman- lhos, portas, divisórias etc. – e a marcenaria das da academia e do mercado: acho muito será um lugar de muito aprendizado para res- importante que o arquiteto tente, na medida ponder a demandas reais. Essa força de lidar do possível, se envolver em determinadas com necessidades efetivas e urgentes tem ações de utilidade pública, visando contri- uma importância grande dentro do universo buir na efetiva transformação de problemas pedagógico – isso fará da marcenaria um lugar candentes da cidade, e também envolvendo muito interessante de aprendizado. instituições da sociedade civil que possam A marcenaria faz parte desse guarda-chuva colaborar com isso. que é o movimento na sua visão mais genuína Acho que o movimento está proporcionando do aprender, do fazer, do construir. A gente uma grande oportunidade de exercer esse acredita que instrumentalizando, aparelhan- novo tipo de arquitetura e urbanismo pauta- do e criando uma gestão, isso pode ser muito dos por uma ação colaborativa, diluída, mais valioso para as pessoas que fazem parte do preocupada em efetivamente resolver pro- movimento de moradia. A Nove de Julho têm blemas da sociedade do que aquela da genia- abraçado essas manifestações pedagógicas. lidade autoral dos arquitetos, que a acade- LFA O Aparelhamento é esse grupo de artistas mia e a mídia tendem a perpetuar e que segue que se formou a partir de um leilão coletivo de como um ranço de tempos mais heroicos da obras de arte na Funarte Ocupada em 2016, nossa forte tradição modernista. e que, desde então, promove estratégias de CC Depois do lançamento do filme, percebi a atuação em diversas frentes, incluindo ações necessidade de criar uma gestão daquilo que artísticas, projetos em ocupações e envol- ficou do filme. Não adianta somente equipar, vimento em processos colaborativos. É com é preciso criar uma gestão colaborativa – o essa estratégia que eles estão desenhando a que é ainda complexo para nós que somos cozinha e a bolaria na ocupação Nove de Ju- muito individuais em nossas vontades e ex- lho, como parte de uma série de programas pectativas. Minha experiência pessoal de que pretendem ser colocados nesse andar do morar dentro de um edifício de classe média prédio destinado a atividades comunais. No era viver fechado no meu apartamento, mal meu caso, acabei entrando, junto com a Carla conhecendo meus vizinhos. Caffé, para ajudar no projeto e estruturação Por sua vez, uma ocupação nos proporciona da marcenaria: um antigo desejo do movimen- viver coletivamente em um edifício: a limpeza to para dar conta das demandas internas de é compartilhada, a manutenção é comparti- construção, mas que também enxergo ter o lhada, a festa do dia das crianças é compar- potencial de ser um espaço maker do centro. tilhada, a festa do dia dos pais é compartilha- É um lugar ideal para fazer objetos de arqui- da etc. E isso não retira as identidades, pelo tetura e de design que possam contribuir para contrário, esse viver coletivamente provê as demandas urbanas urgentes próprias da uma identidade: abre uma possibilidade habitação, mas também para propor e cons- enorme para ações pedagógicas, para as ofi- truir equipamentos para ocupação cultural do cinas, para trabalhos colaborativos. No mo- espaço público. Dentro dessa proposta, uma vimento, você percebe a possibilidade de um série de mobiliários (desenvolvidos na discipli- convívio coletivo no habitar. Qualquer coisa na que citei) está prevista para ser construída feita numa ocupação tem uma amplitude co- nas áreas externas da Nove de Julho em uma oficina que fará parte do calendário de ativida- letiva: as escadas do edifício são como a rua a para uma cidade. des da 11 Bienal de Arquitetura de São Paulo. Desde que entrei no movimento, eu andei por alguns universos: no começo teve a história do brechó, depois imigrei para a experiência da horta na cobertura do Cambridge, agora estou trabalhando com a marcenaria e com a cozinha com um coletivo de artistas chamado Aparelhamento.

February 23, 2016 not for daily life in the squat, for what they re- up helping with different communications. It is said to her: “Hey Magali, this is so cool! I’m re- ally need. a very feminine space. There were four sewing ally happy to see you. You’re one of my favorite STUDIO-X How did the collective come machines and one cutting table, but there characters in the movie!” And she answered: STUDIO-X Could you describe your work about? were a lot of fabric ends; there was a lot of “Wow, really? You know I haven’t even ma- in phases? CARLA CAFFÉ In early 2014, my sister, Eliane scrap there. And, at the Cambrigde, there was naged to see the movie yet?” That was like a Caffé, approached me to do the art direction CC In the film’s pre-production, first, we had a an inhospitable space with lighting problems wake-up call that really moved me personally, for the film. Right from the start, we knew it research phase, which included learning about and broken furniture that wasn’t being used, because we were dealing with all the frisson would be in a squat. We visited a few squats the script and the squat. With the needs of the but where the ceilings were high and the floor and prestige of an award-winning feature film, until we selected the former Hotel Cambridge, script in mind, we would go to the Cambridge, was hardwood. We took the four sewing ma- and when I got to talk with one of the lead ac- and I saw that this was an extremely important knock on the doors of each house, go in, chat, chines there, we set up several clotheslines, tresses, it brought me back to reality: the mo- subject for an architecture school. We thought and take note of what it had and what it didn’t. makeup dressers, lighting, change rooms. vement was still going on there, the struggle about doing a collective with students from We would go there mapping out existing ob- However, since it is an area that leads from one keeps going. Having gotten applause all arou- the Escola da Cidade, through a subject pot to- jects and wardrobe to suit certain people. For area to another and it has access to the road, nd the world, the same characters were there gether especially for the case, with Luis Felipe around two months, we did the reconnaissan- there was a security issue. Even though the sleeping on the floor on makeshift mattresses Abbud as assistant professor, and 21 students. ce of the building’s fifteen floors, and we took seamstresses wanted the machines to stay and still fighting to guarantee their own hou- in the needs of the squat, and based on that we there, they couldn’t leave them in the space, sing. This fact really struck me. It reminded me STUDIO-X What were the objectives of moved on to phase two: design, prospection. which became an events area for the squat. that a movement is something that’s ongoing: the art direction? At that time, we noticed that we couldn’t work Since we had renovated and resurfaced the the movie was one episode out of many others CC Normally, art direction is restricted to me- on our design in the Escola da Cidade, and we original hardwood floor, this ended up leading that were part of the history of the movement. eting the needs of the script; however, in this decided to do it in the Cambridge, as Lina Bo to people playing capoeira there. With the new I hadn’t thought about this before, but I think it case, we decided that its objective would also Bardi did at the Sesc Pompéia. In the beginning lighting and the equipment, thrift stores are instilled in me a kind of responsibility to make be to meet the needs of the squat – the design it was tricky, since there weren’t even enough set up there, feijoadas are held, along with re- me keep working with them beyond the episo- of the squat. Before including the participa- chairs, desks, outlets, internet, but we accep- ligious services, and the last time I was there de of the movie. tion of the students, we held a few meetings ted that it was best to do the design phase on there was a gay marriage taking place. CC What most caught my attention was the with the leadership of the Frente de Luta pela site. Also at that time, we decided to work with fact that the housing movement had made it STUDIO-X And what was the Moradia (literally, the Front for the Fight for Mister, from the Basurama collective, through into the movies. We were able to offer tickets Housing; FLM) and that was when we decided his idea that “garbage doesn’t exist,” to design architectural design for the library? at two movie theaters located near the Cam- that the film’s contribution would be design by based on the recycling of materials. After all, LFA The matter of values is curious. The room bridge: Cine Olido and Shopping Frei Caneca. architects, improvements to the building. we were in an environment of recycling, of for the workshop has an extremely high cei- And what was curious were all the manifes- redefinition. The squat is a redefinition. After ling, wood paneling on the walls, mirrors, tations on Facebook, like one text written by STUDIO-X What were these a month of design, we held presentations, hardwood floors, and the squat’s intent was to a guy who noticed the differences in an au- improvements? sought the required authorizations, and then take this all out, paint everything white and tile dience of people from the housing movement: CC We focused on the building’s common are- started on the execution phase. This phase the floor. They had had time to do this in the li- there were people who had never been inside as: the foyer, the library, and the seamstres- was done in close partnership with the FLM. brary, before we arrived: the space had been a a movie theater before and, since they had ne- ses’ studio, which has a strong presence in the About three weeks of execution with the mo- tearoom, with dark green paint, hardwood flo- ver been programmed according to the codes squat, but ended up being used as a thrift store vement’s workforce. There was Rogerio, who or, and they replaced everything with ceramic of moviegoing conduct, they would interact and for collective meetings. However, since we has a metalwork shop inside the squat, Ronal- tiles that look like hardwood. with the movie. Others mentioned that the pre- also had to meet the needs of the script, there do, a carpenter/artist, and others that worked CC Carmen made the statement that, if it sence of the occupation’s residents truly was were scenes inside the apartments. Soon, the in electrical and plumbing maintenance for the weren’t for the film, she would have already an event, because the movie broke through students had the chance to enter the houses, building. Pre-production lasted from August subdivided the library space and placed more these social barriers that are so ingrained in to photograph them, to see how the people to October 2014, and the filming took place in families there; however, with our work, she re- our daily lives. Going to the movies is a middle live. In this sense, film opens doors. Cambri- November and December. The innovative part alized the importance of common areas for the class thing to do. And the people from the mo- dge is a consolidated, organized squat. It is of this project is that the architecture is also participation of the movement, to encourage a vement were able to occupy a movie theater. I a warm, welcoming space, in no small part to the content of the film. The architecture is the feeling of community. Before, the library had saw this as something very revolutionary. the generous architecture of the 1950’s when main thread. The Cambridge is the main thre- been closed off, the piles of books were locked The movie fomented a change on both sides. it was the Hotel Cambridge. ad. When you do film, you can do architecture. in a dark room, with no ventilation or natural It changed the perspective of some of the light. We designed just the opposite; we made movement’s coordinators: they perceived STUDIO-X Who participated in the STUDIO-X What architectural design was a library in an open and inviting space, so that the power of the artistic language, the way it decision-making meetings? done in the foyer? anyone passing by the building could see in can break paradigms and reach everyone. On CC We had design presentations for the CC The foyer didn’t have any equipment or fur- and feel free to stay there. The area has na- the other side, The Cambridge Hotel helped to community, always with the presence of Car- niture. Since it didn’t have anything, children tural lighting and good ventilation. We put in a demystify the occupations. Those who went to men Silva, the squat’s coordinator. Since the would run from one side to the other, since it couch for reading, a table and four computers. see the movie saw families, women, caretake- project was done with them - the labor was was the only place they could run. There was The books can be borrowed from the shelves. rs, without the stigma that says that they’re by people from the movement - we needed to a ridiculous amount of paper stuck to the wall, After filming, Silvana Kassab took on a book marginalized people. I think this helps the mo- know who did the carpentry, the metalwork, notices of payment, for taskforces, material selection project, and went through the books vement too. the electrical work. At one point, we decided for taskforces, and movement reports. with a fine-tooth comb, since they receive do- Another example which Carmen herself men- to work there, to work on the design inside the LP The foyer was also the security entrance, nations of outdated and irrelevant books, like tioned is the closure of the windows. In the squat itself. so there is always someone there, with a no- the Windows 93 software manual or the 1970 past the strategy was: once a place was oc- MANUELLA LEBOREIRO Most days, the largest tebook to keep track of what time each person Civil Code. Nowadays they only have educa- cupied, it had to be closed up. Last year, when participation was from children. They would comes and goes. tional books. The Cambridge’s library ended we occupied Nove de Julho, we made a point always come ask what we were doing. They ML And there was a strong sewage smell in the up well appointed. Before, items used to be to post notices around the neighborhood. Noti- always wanted to work with us. foyer. locked in there, but with our intervention, they ces that went something like this: “Excuse the LUIS FELIPE ABBUD The residents of the squat CC We replaced the sewer lids, and repaired realized that things needed to be made availa- inconvenience. The families, women and chil- have their schedules. In the stage mentioned the plumbing. In the workshop with Basurama, ble to the community. That was how we lear- dren of the movement for housing are working by Manuella, our subject was concentrated in we made several super comfortable armchairs ned that furniture also has a social function. to clean up the space and removing hotbeds of the mornings and afternoons, which are times out of tires. dengue and disease.” In the past, people would that most of the occupants are working. When LFA Two tires, five screws, you cut off a bit, ------have shuttered the windows in order to not post-production started, the team needed to adjust it a bit, and that’s it! October 24, 2017 show the circulation inside. After the movie, work all hours, and we started to see the at- CC We painted the pillars and the walls with the initiative became one of interaction. We’re STUDIO-X How do you see the impact mosphere in the squat change completely at blackboard paint, to encourage paperless now going to announce our actions to the rest 8 o’clock in the evening, when the residents communication. But the focus of the space of the movie The Cambridge Squatter of the neighborhood. came home from work. were the children: we made a tire swing, and within the movement? STUDIO-X In what ways has your we stuck courses onto the floor, for different LFA When the movie came out, the whole STUDIO-X Was the design phase more involvement helped to advance the path configurations. crew had the prestige of attending festivals difficult because of this? movement? LFA As though it were a board game and the and special screenings, participating in rou- LAURA PAPPALARDO When you work on a pla- children were the pieces. When the film en- ndtables and discussions, and they saw The LFA I think the best example of this was Abril ce where people are already living, you sim- ded, toys were donated and that’s where they Cambridge Squatter as a complete work. Then Vermelho [“Red April”] of this year: for the first ply can’t design something from outside and stayed. there was a release party for the movie actu- time, instead of a building for habitation, the then just place it there - that won’t work. We CC One interesting comment was from Car- ally held at the Cambridge Hotel, and this was movement decided to occupy an abandoned had snags with some ideas that we thought men, the coordinator, when she saw the tire right after they had occupied Nove de Julho. urban space that they intended to turn into a were good, but that didn’t make sense for the armchairs: “Wow, great for making barrica- On that occasion, the residents called Eliane plaza for public use, reactivated and adminis- squat’s residents, or whose execution was des!” It really is a struggle. Caffé, Carla Caffé and some other people to tered by the people in the neighborhood. Not more difficult that we had imagined. visit the new occupation. When we got there just people from the movement, but also other STUDIO-X What was the project in the ML It was interesting to learn to deal with the late at night, we saw lots of people sleeping on collectives of cultural militancy active in the workshop? frustrations. You have this idealized view of mattresses, improvised beds, being that they city center, owners of local establishments, the design that you think will be the best, but CC When we got there, the seamstresses’ stu- had just occupied the place. Then suddenly, I supers and residents from the neighborhood when you are face-to-face with the people, dio was a design by the movement, because bumped into Magali, a character who has one buildings. It’s a posture that is always open to that view just doesn’t fit. It is ideal for you, but they make the banners and t-shirts, and end of the most prominent roles in the movie, and I exchange: at the same time that we’re learning a lot from them, they’re also learning from us. and also to talk a little about the importance It’s so cool seeing how the movement incorpo- of good nutrition. The kitchen is interesting rated the idea that the banner of housing isn’t because it’s where people interact more. Ou- just limited to homes, but it also extends to tfitting the kitchen is a way to equip the move- urban facilities that complement habitats. In a ment with tools. sense, this can already be seen in the commu- On the other hand, the wood shop is, to a cer- nal areas of the Cambridge – on the ground tain extent, the fruit of the relationship we es- floor, in the thrift shop, in the cake shop, etc. tablished with Ronaldo in the movie. Ronaldo I’m still involved with the movement, helping is an artist. The belt he wears is made out of out with certain actions, like when they oc- the tube of bicycle tire. He gave me a beauti- cupied the plaza. We formed a collective with ful vase made out of a lightbulb. He inspired architecture students, Coletivo Tobogã, com- me and made me wonder what he’d be like if prised of Bárbara Fernandes, Bruna Marchio- he had all the equipment and tools. The idea ri, Catarina Calli, Fernanda Colejo, Giulia Godi- for the wood shop in the Nove de Julho occu- nho, Laura Pappalardo and Luís Felipe Abbud] pation arose out of this necessity for a well-e- to design the urban furnishings for this occu- quipped place, that could be used to store and pied plaza. We ended up transforming it into organize the tools and materials. It makes the an elective course at Escola da Cidade called maintenance of the building easier. Anyone “Furnishings for the Open Plaza Occupation - who wants to work in the wood shop can help Ladeira da Memória” [realized in the second a family put up their house. It’s a place where semester of 2017 with the participation of the furniture for the movement is produced. students Beatriz Sallowics, Beatriz Coimbra, An occupation has lots of necessities – case- Catarina Calil, Daniel Carvalho, Derek Orlan- ments, doors, partitions, etc. – and the wood di, Giovanni Frazzatto, Graziela Godoy, Mably shop was meant to be a place for learning in Rocha, Marcelo Moreno, Maytê Coelho, Noel order to respond to real demands. This effort Lima, Pedro Cassiano and Pedro Norberto]. I to address effective and urgent needs is very believe that these actions stem from the as- important in the pedagogical world – which certainment that, as students and professio- makes the wood shop a very interesting place nals, we don’t need to abide by the demands for learning. of academia and the market: I think it’s very The wood shop is part of this umbrella that is important for architects to try, as much as the movement in its most genuine vision of le- possible, to get involved in certain actions of arning, creating and constructing. We believe public usefulness, in order to contribute to an that by providing tools, outfitting and creating effective transformation of the city’s pressing a new administration, this can be very valuab- problems, and also to involve civil society ins- le to the people who are part of the housing titutions that are able to contribute to this. movement. Nove de Julho has embraced these I think the movement is providing a great pedagogical manifestations. opportunity to exert this new kind of archi- LFA Aparelhamento is a group of artists that tecture and urbanism driven by collaborative, formed out of a collective auction of works diluted action that is more concerned with ef- of art at Funarte Ocupada in 2016, and which, fectively solving society’s problems than the since then, has been promoting strategies for usual authorial genius of architects, which is efforts on various fronts, including artistic what academia and the media tend to perpe- actions, projects in occupations and involve- tuate and which lingers like an odor left over ment in collaborative processes. It is with this from the more heroic days in our strong mo- strategy in mind that they are designing the dernist tradition. kitchen and the cake shop at the Nove de Julho CC After the movie came out, I realized the Occupation, as part of a series of programs to need to create the kind of management that be set on this floor of the building designated came out of the movie. It’s no use to just equip. for communal activities. There has to be collaborative management – In my case, I ended up entering, something which is still complex for us, being that we’re very individualistic in our desires together with Carla Caffé, to help and expectations. My personal experience of design and structure the wood shop: living in a middle class building was one of li- one of the movement’s old ambitions ving shut up inside my apartment, hardly even in order to deal with the internal knowing who my neighbors are. demands of the construction, but On the other hand, an occupation allows us something which I also see as having to live collectively in a building: the cleaning the potential to be a DIY space in the chores are shared, the maintenance is sha- city center. It’s an ideal place to make red, the party on Children’s Day is collective, architectural and design objects that the party on Father’s and Mother’s Day is col- are able to contribute to the urgent lective, etc. And this doesn’t remove people’s urban demands of the habitation itself, identity. On the contrary, this way of living but also to propose and construct collectively provides an identity: it opens an equipment for cultural occupation of enormous possibility for pedagogical actions, public space. As part of this proposal, for workshops, for collaborative work. In the a series of furnishings (developed in movement, you see the possibility of collective the course I mentioned) is in the works coexistence in the habitation. Anything that is for the outdoor areas around Nove de done in an occupation has a collective amplitu- Julho, in a workshop to be included in de: the staircases inside a building are like the the calendar of activities for the 11th streets of a city. Since I entered the movement, I’ve been cir- São Paulo Architecture Biennial. culating in a few walks of life: in the beginning there was the story of the thrift shop. After I migrated to the experiment of the garden on the roof of the Cambridge. Now I’m working with carpentry and in the kitchen with a col- lective of artists known as Aparelhamento.

STUDIO-X What have your functions been like in the Nove de Julho Occupation? In which spaces are you involved and how?

CC With this group of artists, we are equi- pping the kitchen so we can offer culinary workshops, culinary exchange experiences with refugees, as well as the possibility of earning some extra income for the residents,

11 Fevereiro, 2016 STUDIO-X Quem participava das na aprovação ou não da proposta. Uma estra- STUDIO-X Quanto tempo levou o decisões? tégia muito utilizada era fazer dois desenhos processo de projeto? STUDIO-X Qual é o nome do escritório? diferentes para determinado aspecto do pro- TCBL As pessoas da ocupação. Nós sempre TCBL A polícia reprimiu o processo de ocu- TIAGO CASTELO BRANCO LOURENÇO Trabalho em jeto, para depois ser votado. O resultado é um tivemos a preocupação de tornar o nosso dis- pação do terreno nos primeiros momentos, o três coletivos e todos fizeram parte do proje- documento que chamamos de Plano Diretor curso técnico de arquiteto e engenheiro em um que acabou por nos dar tempo para trabalhar to de Dandara: o Escritório de Integração da Coletivo. discurso que as pessoas pudessem manipular. no projeto de arquitetura. A polícia criou um PUC-MG, os Arquitetos Sem Fronteira e a Cor- Fazíamos maquetes e ficávamos discutindo STUDIO-X cordão de isolamento no terreno, forçando poração de Ofício de Arquitetura e Urbanismo Em que momento vocês com os moradores, por exemplo, como seria o todo pessoal a ficar amontoado em uma área (COAU). arquitetos são chamados para sistema viário e o parcelamento do solo. O mo- colaborar nesse processo? equivalente a 10% do total. Ali, nós fizemos STUDIO-X Como foi o envolvimento no vimento social tem um papel importante, mas a escondidos um projeto demarcando grandes TCBL Na realidade, tive um protagonismo pois projeto? decisão de fato era dos moradores. lotes no meio do terreno. Teve uma ocasião Uma primeira proposta nossa era de um siste- cheguei lá nos primeiros dias da ocupação. E em que cheguei com uma lapiseira Pentel, e TCBL Em eventos acadêmicos na PUC-MG, ma com poucas ruas e vários lotes coletivos, eu já conhecia muito bem o terreno, que tinha um policial me questionou o que eu fazia com tínhamos a presença de várias comunidades em por uma decisão exclusiva dos moradores, sido objeto de reflexão na minha graduação. aquela lapiseira ali – parecia que a lapiseira que demandavam serviços de arquitetos, e foi o sistema viário ganhou um maior número de Eu andei com eles pelo terreno já ciente das era uma bazuca. onde conheci uma das lideranças de um movi- ruas e lotes individuais. Teve um morador que várias condicionantes ambientais e urbanís- Num dia de julho de 2009, três meses após o mento social chamado Brigadas Populares. No questionou nosso entendimento da situação ticas que eram importantes respeitar. Assim, inicio da ocupação, nós fizemos uma ação reli- início de abril de 2009, eles fizeram a ocupa- e nós continuamos tentando fazer com que eles tiveram uma melhor condição na disputa giosa: chamamos um padre, um advogado mui- ção Dandara. Desde então passei a acompa- aquela maneira de pensar a cidade deles se do território: maior legitimidade sobre o que ia to religioso, e fizemos uma procissão no meio nhar Dandara, que se torna meu Trabalho Fi- adequasse à legislação urbanística, a fim de ser construído ali. da ocupação. A polícia ficou sem entender o nal de Graduação, e o projeto inicia dentro do que fosse regularizado e integrado à cidade Afinal, o discurso do poder público é que ali que estava acontecendo. Nesse momento, os Escritório de Integração da PUC, o qual, desde de Belo Horizonte. Para nós, como arquitetos seria formada uma nova favela. O que é uma moradores romperam com o cerco e foram a criação do curso de Arquitetura, promove e sonhadores de um mundo mais interessante, favela? Favela é um lugar de crescimento de- para o centro do terreno, de pronto fincando assessorias técnicas a várias comunidades de é um pouco frustrante, mas entendemos que sordenado. Mas nós chegamos com um projeto um monte de piquetes. Quando a polícia per- baixa renda na região metropolitana de Belo isso faz parte de um amadurecimento, tan- urbanístico, dentro dos parâmetros que a cida- cebeu, nossos advogados foram lhes dizer que de legal co- nós estávamos exercendo a posse do nosso loca e isso terreno, e os policiais não tiveram mais o que está sendo fazer. respeitado. O primeiro STUDIO-X A execução iniciou naquele OCUPAÇÃO agente pú- exato momento? blico a che- TCBL Sim, nós já tínhamos modulado os lotes gar nesse para cada morador, todos com o mesmo tama- lugar é a nho. Assim que o pessoal entrou, começaram polícia, mas a piquetar o terreno. No inicio de setembro DANDARA quando de 2009, já estava tudo demarcado, todos chegavam morando dentro dos lotes individuais, e cada pessoas morador começou a construir sua casa em portando um processo de autoconstrução como a que uma planta observamos nas periferias de todo o Brasil. O humaniza- que se estende até hoje. DANDARA da da área, As áreas coletivas tinham ficado em aberto. o policial No final de 2009, fomos convidados pelos mo- ficava atéradores para desenvolver o projeto do centro sem jeito de comunitário, cuja construção se estendeu até SQUAT confrontá 2013, com muitas alterações das mais bizarras -las. O pla- BELO HORIZONTE - MG possíveis no decorrer desse projeto. Em 2011, no urbano, fizemos o projeto do centro ecumênico que o projeto virou a Igreja Católica de Dandara. Primeira- de arquite- mente, fazíamos o desenho e levávamos para TIAGO CASTELO BRANCO LOURENÇO tura, é um ARQUITETOS / ARCHITECTS a reunião com os pedreiros, que eram mora- elemento dores, e nós íamos alterando no decorrer da de resis- obra. O desenho era só a conversa inicial. O tência para desenho era feito para ser alterado. que aque- las pessoas STUDIO-X Quais foram os principais fiquem nolimites de projeto? território. TCBL O maior limitador é o poder público, que não presta o serviço de assessoria técnica Horizonte. Posteriormente, o projeto foi apro- STUDIO-X to por parte dos moradores, da experiência para a população que necessita, não promove priado pelo Arquitetos sem Fronteiras e pelo Hoje em dia, os moradores têm a no espaço, quanto da nossa parte enquanto uma política habitacional para atender a de- COAU. Hoje, da minha parte, a vinculação aca- posse? técnicos. manda, e quando se faz isso como arquiteto dêmica para assessorias técnicas às ocupa- TCBL Eles têm uma posse na marra, porque voluntario ou através de uma entidade, como ções urbanas ocorre pela PUC-MG e também STUDIO-X Tinha algum membro do eles não têm posse na justiça. A reintegração foi meu caso, nós somos desrespeitados todo pela UFMG, onde também sou professor e nós governo presente nas reuniões? de posse ela pode ser reivindicada pelo pro- o tempo perante os nossos colegas e mui- temos a Oficina de Assentamentos Precários, prietário, porém ele tem poucas condições TCBL Não. Somos vistos como loucos por tas vezes impedidos de participar de outras a qual também acompanhou Dandara. várias pessoas dos órgãos públicos do muni- políticas e concretas de realizá-la. instancias. STUDIO-X Como se deu o processo cípio. Alguns falam que quando oferecemos STUDIO-X Em que estado o terreno foi STUDIO-X Quais foram os momentos de reunião desses grupos? Houve esse tipo de serviço, nós estamos desqualifi- encontrado? mais críticos? concorrência, concurso, convite? cando a nossa profissão. TCBL Dandara fica na nobre região da Pam- TCBL Um dos momentos mais críticos da ocu- TCBL Não teve uma concorrência. Estávamos STUDIO-X Que métodos foram utilizados pulha, mas com restrições de legislação para pação Dandara foi em 2011, quando houve uma lá como arquitetos na hora certa e começamos para se aproximar e estabelecer um se construir e adensar a área, o que levava o ameaça de despejo para todas as famílias. A a apontar os elementos importantes para que diálogo com os moradores? mercado imobiliário a não ter interesse em in- ocasião coincidiu com a possibilidade de par- aquele lugar fizesse parte da cidade formal. vestir ali. Em função disso, este terreno de 31 TCBL Levávamos materiais que podiam ser ticipar da Bienal de Arquitetura de São Pau- hectares estava vazio. O lote está no limite de STUDIO-X Vocês nunca tiveram um manipulados pelos próprios moradores em lo. Fizemos uso disto para a luta política que Belo Horizonte com as cidades de Contagem e contrato para esse trabalho? reuniões informais no meio dos barracos de aqueles moradores enfrentaram. A participa- lona: eram maquetes com curva de nível, nas Ribeirão das Neves, mas há de se ressaltar que ção em exposições é um modo de marcar pre- TCBL Nunca fomos contratados. Foi um traba- quais a gente ia traçando a rua com fita crepe, BH é um município praticamente todo ocupa- sença e mostrar que a arquitetura pode assu- lho voluntario ou vinculado aos trabalhos de de modo bem precário, mas que qualquer um do. Ou seja, uma área vazia como aquela era mir outros formatos, que pode ter outra pos- extensão que eram desenvolvidos dentro da podia manipular aquilo. Não chegávamos com uma afronta para a ideia de função social da tura diferente da mais tradicional que existe. universidade. um desenho pronto. Era um trabalho em campo propriedade – ainda mais que na vizinhança existia uma grande favela. Na primeira noite STUDIO-X Quem era o cliente? sendo realizado com os moradores e, depois, nós registrávamos aquilo em desenho.Quando em abril de 2009, a ocupação começa com TCBL As Brigadas Populares e os moradores a discussão estava mais consolidada entre pouco mais de cem famílias. Na segunda noi- da ocupação. Não tinha envolvimento do Poder te, já tinham mais de mil famílias dentro do Público. os moradores mais interessados, isso era le- vado para uma assembleia, na qual o debate terreno. era ampliado, e todos os moradores votavam STUDIO-X Who was the client?

TCBL The People’s Brigade and the residents of the squat. The Govern- ment was not involved.

STUDIO-X Who participated in decision-making?

TCBL The members of the squat. We always made sure to turn our tech- nical architecture and engineering discussions into discussions that the people could understand. We made mock-ups and discussed with the residents, for example, how the road system and division of land would work. The social movement has an important role, but the actual deci- sion was that of the residents. One of our first proposals was for a system with few roads and several collective plots, and at the sole dis- cretion of the residents, the road system gained more roads and in- dividual plots. There was a resident who questioned our understanding of the situation and we keep trying to find a way to make this opinion of their city comply with urban legisla- tion, so that it is regulated and inte- grated into the city of Belo Horizonte. For us, as architects and dreamers of a more interesting world, it’s a little frustrating, but we understand that this is part of the maturation process, by both the residents, their experience in the space, and by us as technicians.

STUDIO-X Do any members of the government attend the meetings?

TCBL No. We are seen as crazy by many people involved in the city’s public agencies. Some say that when we offer this type of service, we are discrediting our profession.

STUDIO-X What methods were used to effectively communicate and establish a dialogue with the residents?

TCBL We bring materials that can be manipulated by the residents them- selves in informal meetings, in the middle of canvas tents: there were models with contour lines, where we would mark the streets with masking tape, quite precariously, but so that anyone could manipulate it. We didn’t arrive with a finished design. It was field work being carried out by the residents and, afterwards, we inclu- ded it in the design. When the discus- sion was more consolidated among the most interested residents, it was brought to a meeting where the dis- cussion was expanded and all of the residents voted to approve or reject the proposal. A frequently used stra- tegy was to prepare two different designs for a certain aspect of the project, to then be voted on. The re- 11 Fevereiro, 2016 April of 2009, they established the Dandara STUDIO-X What is the meeting process sult is a document that we call the Squat. Since then, I began following Dandara, like for these groups? Is there “Collective Master Plan”. STUDIO-X What is the office’s name? which became the topic of my Dissertation, competition, bidding, invitations? Tiago Castelo Branco Lourenço I work at three and the project began within the Integration STUDIO-X At what point are you, the TCBL There was not a bidding competition. We collectives and all of them are part of the Dan- Office of PUC-MG, which, since the creation architects, called to collaborate in this were there as architects at the right time and dara project: the Integration Office of PUC-MG, of the Architecture course, promoted techni- process? we began indicating important elements for the Architects Without Borders and the Archi- cal advisory services for several low-income the place to become part of the formal city. TCBL Actually, I had a leading role since I ar- tecture and Urbanism Cooperation (COAU). communities in the metropolitan region of Belo rived there in the first few days of the squat. Horizonte. Later, the project was taken over by STUDIO-X Did you ever have a contract STUDIO-X How were you involved in the And I already knew the plot really well, as it the Architects Without Borders and the COAU. for this work? project? had been the subject of my dissertation. I wa- Today, for my part, the academic link to techni- lked with them across the plot, already aware TCBL We were never contracted. It was vo- TCBL At academic events at PUC-MG, we had cal advising services for urban squats occurs luntary work or it was linked to the exten- of the various environmental and urban cons- several communities requesting architectu- through PUC-MG and UFMG, where I am also a sion works that were developed within the traints that were important to keep in mind. re services, and this is were I met one of the professor and where we have the Precarious University. Thus, they had a better stance when disputing leaders of the social movement called Bri- Settlement Workshop, which also monitored the land: greater legitimacy on what was going gadas Populares (People’s Brigade). In early Dandara. to be built there. Finally, the government’s argument is that STUDIO-X Did execution begin at that there will be a new favela (slum) there. What very moment? is a favela? A favela is a place of uncontrolled TCBL Yes, we had already modulated plots for growth. But, we have created an urban de- each resident, all the same size. As soon as sign, within the legal parameters imposed by people entered, they began staking out lots. the city, which are being respected. The first In early September of 2009, everything was public official to come here is the police, but already staked out, everyone was living in when people arrived carrying a humanized their individual plots, and each resident began plan for the area, the police were unable to building their house on their own, as we have confront them. The urban plan, the architectu- seen in the peripheries across Brazil. This is ral design, is a resistance tool for those people still happening today. to remain on the land. The collective areas have remained open. In STUDIO-X Do the residents currently late 2009, we were invited by the residents to have ownership? develop the community center project, who- se construction lasted until 2013, with many TCBL They have ownership by force, because changes of the most bizarre kind during this they have no legal ownership. Repossession project. In 2011, we did the ecumenical center can be claimed by the owner, but there are few project, which became the Dandara Catholic political and concrete conditions to do so. Church. First, we prepared the design and STUDIO-X What was the state of the plot brought it to the meeting with the bricklayers, when it was found? who were residents, and we continued making alterations throughout the work. The design TCBL Dandara is located in the prime district was just the initial conversation. The design of Pampulha, but there are legal restrictions was made to be altered. for building and increasing the population of the area, so the real estate market was not STUDIO-X What were the project’s major interested in investing there. As a result, this constraints? 31-hectare area of land was empty. The plot is TCBL The biggest constraint is the govern- on the border of Belo Horizonte and the cities ment, who doesn’t provide technical advisory of Contagem and Ribeirão das Neves, but it is services to the population in need, who do- worth mentioning that BH is a city that is al- esn’t promote a housing policy the meets the most entirely occupied. In other words, a va- demand, and when you do this as a voluntary cant area like that was an affront to the idea architect or through an entity, as was my case, of the social function of the property - even we are constantly disrespected before our more so, because in the vicinity was a large colleagues and often prohibited from partici- favela. On the first night in April of 2009, the pating in other forums. squat started with few more than 100 families. On the second night, there were already more STUDIO-X What were the most critical than one thousand families on the plot. moments?

STUDIO-X How long did the design TCBL One of the most critical moments of the process take? Dandara Squat was in 2011, when there was an eviction threat for all of the families. This TCBL The police cracked down on the squat- event coincided with the possibility of partici- ting process in the early stages, which gave pating in the São Paulo Architecture Biennial. us time to work on the architectural design. We used this for the political struggle that the The police created a cordon of the plot, for- residents faced. Participation in exhibitions is cing everyone to be piled into an area equaling a way of establishing a presence and showing about 10% of the total area. From there, we that architecture can assume other formats secretly created a design marking large lots that it can have a different stance from the in the middle of the plot. Once I arrived with a more traditional stance that prevails. Pentel mechanical pencil, and a police officer asked me what I was doing with that pencil - it was like the pencil was a bazooka. One day in July of 2009, three months after the squat began, we had a religious event: we called a priest, a very religious lawyer and we had a procession in the middle of the squat. The police didn’t understand what was happening. Then, the residents broke throu- gh the cordon and occupied the center of the plot, immediately putting down tons of stakes. When the police realized what happened, our lawyers went to them and said that we were exercising ownership over our plot, and there was nothing else the police could do. 23 Fevereiro, 2016 esse desenho coletivo. Numa escala um pouco terreno influenciou o projeto de Tivemos que voltar para os blocos cerâmicos maior que a da prancheta, esses mecanismos alguma forma? estruturais. STUDIO-X Quando e como surge a Usina? permitem desenhar com mais pessoas, em FM No meu entendimento, qualquer terreno STUDIO-X Qual foi a mão de obra FERNANDO MINTO A Usina inicia os trabalhos em uma tentativa de desmontar a prática do dese- é definidor do projeto de arquitetura. Nesse 1990, com o intuito de dar assessoria técnica nho enquanto instrumento de domínio. Se você utilizada? Os moradores participaram caso, em específico, era necessária uma de- aos movimentos de luta pela moradia. trabalha com pessoas que não têm a prática da construção? cisão técnica porque a declividade era muito do desenho, isto é, que não são arquitetos, FM Tiveram dois tipos ali de trabalho: a infra- STUDIO-X Como a Comuna Urbana Dom significativa. Para implantar as casas, era você pode interferir de maneira muito incisiva. estrutura foi feita pela prefeitura, e a constru- Helder Câmera entrou em contato com preciso um bom movimento de terra a fim de Desmontamos essa prática de modo que to- fazer patamares, o que demandava um tipo de ção das unidades habitacionais foi feita em um o escritório? dos fazem esse desenho: projetamos algumas obra custosa. A metragem quadrada de arrimo processo auto gestionário do movimento, das FM Várias famílias ocuparam uma área da Fe- imagens em um painel no qual temos a área, e era tão grande que geraria bastante impacto famílias, com a assessoria técnica da Usina. pasa (Ferrovia Paulista S.A.), no município de chamamos todo mundo para tentar distribuir no orçamento do projeto. A estratégia técnica A parte de responsabilidade da Prefeitura foi Jandira, e lá moraram por um bom tempo até as atividades. foi de não fazer arrimo: com casas geminadas, uma licitação vencida por uma empresa cha- ser feita a reintegração de posse. Coube a Ou seja, primeiro, o desenho enquanto atribui- elas teriam a intersecção de paredes, e, a cada mada Brasil Líder, a qual teve incumbência de um padre fazer a assistência e o acolhimento, ção de função ao espaço feito coletivamente, 1,80 metro, apoiávamos a casa de cima crian- fazer a infraestrutura urbana e a escola. mantendo unida uma grande parte dessas fa- depois a assessoria técnica faz a tradução do caixões perdidos, assim percebemos que As residências ficaram sob a gestão das fa- mílias, as quais passaram a ocupar um edifício para um desenho técnico, porém feito para não precisaria ter os muros de arrimo. Esse mílias. Inicialmente, fizemos um trabalho de de uma escola cuja obra foi paralisada. Nesse ser entendido em uma reunião seguinte, na impacto negativo no orçamento não aconte- formação dessas famílias, com a assessoria interim, houve a negociação com a prefeitura qual voltamos e discutimos opções em cima ceu, e conseguimos viabilizar as residências técnica da Usina. Nessa formação foram mon- e o governo do estado de São Paulo, que então da primeira distribuição. Assim, sucessiva- do jeito que queríamos. tadas comissões de obra, de compra, de segu- viabilizou, via Companhia de Desenvolvimen- mente, vamos deslanchando o projeto junto rança no trabalho, de dinheiro, o pessoal que to Habitacional Urbano (CDHU), um projeto numa área cedida pela Prefeitu- ra: eram edifícios de tipo- logia H, cuja implantação devia-se a um grande arri- COMUNA URBANA mo que aterraria parte do terreno que era um grande talvegue. Nesse momento, as famílias assessoradas pelo padre tiveram difi- D.HELDER CÂMARA culdade de entender que aquilo era bom, principal- mente pelo fato de irem morar em pequenos apar- tamentos, quando esta- vam acostumados a morar D.HELDER CÂMARA em casas com quintal. Devido a essa resistência ao projeto dos predinhos, os moradores pediram URBAN COMUNE ajuda a esse padre, que indicou que essas famí- JANDIRA, SP lias passassem a integrar um movimento: o Movi- FERNANDO CÉSAR NEGRINI MINTO mento dos Trabalhadores ARQUITETO, MEMBRO DO USINA ENTRE 2006 E 2012 Rurais Sem Terra (MST). ARCHITECT, MEMBER OF USINA BETWEEN 2006 AND 2012 Após a integração desses moradores de Jandira ao movimento, o MST indicou que o ideal seria procurar uma assessoria técnica STUDIO-X Quais foram a principais para que deixassem de ser reféns do projeto com as famílias na setorização urbana, depois cuidaria daquelas tabelas de medição mensais limitações de projeto? da CDHU. Por já estarem desenvolvendo outro dentro das unidades habitacionais, e traba- da Caixa Econômica Federal. Tinham dois tipos projeto na Grande São Paulo, o MST indicou a lhando com modelos para falar sobre hierar- FM O primeiro limite são os próprios recursos. de frentes de trabalho: durante a semana, era Usina. quias – por exemplo, o espaço de convívio e o Até hoje, ainda não se chegou a um recurso mão de obra com experiência na construção quintal maiores que o de serviços e a cozinha. ideal para que se tenha condições ideais de civil e empregada por uma empreiteira, a qual STUDIO-X Como eram as reuniões nesse Usamos projeções de desenhos em Sketch Up, trabalhar na implantação de um projeto de era contratada pelas famílias; e, nos finais de processo? Quem participava? que era uma plataforma muito fácil de fazer moradia. Para ter uma urbanização interes- semana, tinham os mutirões em que trabalha- FM Existiam algumas escalas de decisão. No alterações ao lado deles. Entre uma escala e sante, para ter equipamentos interessantes, vam as famílias, muitas das quais não tinham que diz respeito ao projeto, todas as decisões outra, trabalhamos com uma maquete física: para ter unidades habitacionais a contento, os experiência com canteiro de obra, o que fez eram tomadas em assembleia com as famílias, ela tinha o relevo esculpido em isopor e as uni- recursos ainda são escassos. Nesse contrato com que houvesse também um trabalho de desde o levantamento das reais necessidades dades habitacionais feitas em sabão, que são com a Caixa Econômica Federal, tivemos que formação para que aprendessem a trabalhar até o desenho em si. Outras decisões, que materiais fáceis de manusear e modificar. São batalhar por complementações de recurso com movimentação de terra, locação de obra, eu chamaria de restrições, eram feitas em plataformas de leitura bastante imediata, sem para poder viabilizar o projeto como achamos montagem das ferragens para as lajes e sua reuniões com o agente financeiro – a Caixa a necessidade de alguma grande abstração que seria o ideal e como as famílias realmente concretagem, assentamento de blocos es- Econômica Federal. Além das reuniões com a para entender. É uma tentativa de desalienar queriam. truturais, preparação dos kits de hidráulica e prefeitura, para que mostrássemos o projeto os participantes, no sentido de fazê-los com- Outro limite é a própria legislação, que não cria conduítes de elétrica. e tivéssemos as aprovações. Então, tínhamos preender aquele desenho. dificuldades, só estabelece os parâmetros de No meio do processo, as famílias começaram reuniões com decisões de projeto, de restri- Até o momento que temos situações mais com- projeto. E existem limites para a aprovação a se apropriar dessas operações, e alguns ção e de aprovação. plexas, como uma conversa com o calculista, na Prefeitura e, depois, do agente financeiro: se juntaram para montar uma cooperativa de que a assessoria técnica lidava diretamente por exemplo, a prefeitura demandou altera- trabalho, chamada Treme-Treme. A equipe STUDIO-X Você poderia descrever esse com o calculista, na maioria das vezes, sem ções nos tipos de janelas para as casas com de autogestão passou então a contratar essa processo junto aos moradores? a participação da população. Na parte de in- peitoril baixo, e, quando chegou na Caixa cooperativa também para fazer as operações FM Foram muitas assembleias com as famí- fraestrutura, conversamos com a população Econômica Federal, foi pedido alterasse de durante a semana. Foi uma transformação in- lias. O primeiro momento era de entender as sobre a circulação, redução do protagonismo novo o desenho dessas janelas. Também nós teressante, porque o processo passou a ser expectativas, tanto as deles quanto eles com- do carro, como as escadarias seriam, como pensamos em fazer, em um dado momento do inteiramente operado pelas próprias famílias. preenderem as nossas também. Tivemos algu- dariam acesso às pracinhas, estas decisões projeto, a construção das casas com bloco de STUDIO-X Como foi a distribuição das mas conversas iniciais sobre o que é a cidade, foram tomadas com eles, porém como seria terra comprimido. Ao invés de retirar a terra qual é essa relação deles com a cidade, como a condução dos cabos subterrâneos era uma do solo e jogar fora, havia a possibilidade de famílias nas unidades habitacionais? é a relação deles com a casa, qual a expectati- conversa com técnicos de infraestrutura. fazer uma pequena usina no próprio local para FM Foram criadas cinco diferentes tipologias va deles sobre casa, sobre modelos possíveis produzir blocos de terra – eles seriam usados para esse projeto. A ideia era que, no final, STUDIO-X E como o terreno foi de casa, a fim de que tivéssemos um espectro para construir as casas e poderiam ser um le- houvesse um sorteio para saber qual seria a selecionado, a condição inicial desse maior de opções na hora de decidir. gado para a geração de renda. A conta fechava unidade de cada uma das 128 famílias. Depois dessas conversas, passamos para o bem, mas, ao consultar a Caixa¸ isso foi veta- projeto propriamente dito. Existem alguns do por não ter na época uma norma técnica mecanismos nos quais a gente pode trabalhar para construção com esse tipo de material. STUDIO-X O projeto prevê espaços de 23 February, 2016 ments, when they were used to living in houses STUDIO-X Can you describe this process uso comum? with backyards. in conjunction with the residents? STUDIO-X When and how did Usina Due to this resistance to the small building FM O projeto prevê espaços comuns, de as- FM There were many meetings with the fami- emerge? project, the residents asked the priest for sembleia e de geração de renda. Alguns foram lies. The first was to understand expectations, FERNANDO MINTO Usina began work in 1990, help, who advised that these families involve executados, outros estão esperando recursos both theirs and for them to understand ours. with the purpose of providing technical assis- a movement: the Landless Workers Movement para serem construídos. We had some initial conversations about what tance to the housing struggle movement. (MST). After the integration of Jandira’s resi- Já que a organização política do movimento é the city is, what their relationship is with the dents in the movement, the MST advised that de trabalho em núcleos de famílias, o projeto STUDIO-X How did the Dom Helder city, what their relationship is with their hou- the ideal scenario would be to pursue techni- tenta traduzir espacialmente essa nucleação. se, what their expectations are for their hou- Câmera Urban Commune get in contact cal assistance in order to stop being hostages É organizado em pequenas praças, tendo um se, such as possible housing models, so that with the office? of the CDHU project. Since they were already grupo de casas voltados para elas. As escadas we could have a wider range of options when it FM developing another project in the Greater São de 1,70 metro fazem a comunicação, esse flu- Several families occupied an area owned was time to make a decision. Paulo, the MST suggested Usina. xo ascendente e descendente de pessoas. No by the railroad company Fepasa (Ferrovia After these conversations, we began the actu- Paulista S.A.), in the city of Jandira, and they centro das pracetas, essas escadas passam a STUDIO-X What were the meetings like al design. There are some mechanisms where- lived there for a good while until repossession. ter 3,20 metros, pois a ideia é que sejam um during this process? Who attended? by we can prepare this design collectively. On primeiro nível de agrupamento, de discussão, It was up to a priest to provide the assistance a slightly larger scale than that of the drawing FM There were some decision-making sca- em que todos pudessem sentar e conversar. and outreach, holding many of these families board, these mechanisms enable us to design les. With regard to the project design, all of O espaço maior fica no final da via central, no together, who ended up occupying a scho- with more people, in an attempt to dismantle the decisions were made at meetings with the ponto mais baixo do talvegue. Era um ponto ol building whose construction work was on the practice of designing as an instrument of families, from surveying their real needs to crítico do terreno por ser suscetível a ero- hold. In the meantime, there were negotiations ownership. If you work with people who do developing the design itself. Other decisions, sões. Por isso foi criada uma contenção desse with São Paulo city and state government, not have design experience, that is, who are which I would refer to as restrictions, were talude, cuja forma deu origem a uma grande which then enabled, via the Urban Housing not architects, you can intervene very incisi- made in meetings with the financial agent - the arquibancada, tendo ao centro uma praça: o Development Company (CDHU), a project in vely. We are dismantling this practice so that Federal Savings and Loan Bank (Caixa Econô- espaço de encontro para todas as famílias, de an area ceded by the city: they were H-type everyone creates this design: we design some mica Federal). There were also meetings with festas e manifestações. buildings, whose construction relied on a lar- images during a panel session for an area whe- the city, in order to show them the design and ge retaining wall that would protect part of the re we have space, and we invite everyone to obtain approval. So, we had meetings to make plot, which was a large thalweg. At this time, try to distribute the activities. decisions related to the design, to restrictions the families, assisted by the priest, had diffi- In other words: firstly, the design, which at- and to approval. culty understanding that this was good, mainly tributes a function to the space, is prepared because they were going to live in small apart- collectively. Then, the techni- cal assistant develops it into a technical design that can, however, be understood at the following meeting, in which we return and discuss options al- ternative to the first distribu- tion. Thus, we are off and run- ning with the design, working together with the families on urban sectoralization, then divisions within the housing units, and working with models to discuss hierarchies - for example, the living space and yards that are larger than the service and kitchen area. We use projections of drawings in Sketch Up, a platform on which it was easy to make changes alongside the residents. For all scales, we worked with a phy- sical model: the topography was carved out in Styrofoam and the housing units were made of soap, which are mate- rials that are easy to handle and modify. The platforms are quite easy to read, without the need for any large abstractions for understanding. It is an attempt to include the participants, in order to make them understand the drawing. This is the process until we have more complex situations, such as conversations with an engineering estimator, when the technical assistant works directly with the estimator, of- ten without the participation of the people. As for infras- tructure, we speak with the people about circulation, redu- cing the role of cars, what the staircases will be like and how to provide access to the small town squares. These decisions are made with them, but how the underground cables will be routed was a conversation that we had with infrastructure technicians. STUDIO-X How was the lot chosen and construction of the housing units was self-ma- During this process, the families began to take and downward flow of people. In the center of did the initial condition of this plot naged by the movement and the families, with ownership of these operations, and some even the small squares, these stairways are 3.20 influence the design in any way? technical assistance provided by Usina. gathered to form a work cooperative, called meters long, since the idea is that they are the The City’s responsibility was a bid won by “Treme-Treme”. The self-managed team then first level for gathering, for discussion, where FM From my understanding, all plots determi- a company called Brasil Líder, which was in hired this cooperative to also perform opera- everyone can sit and talk. ne architectural design. In this particular case, technical assessment was necessary because there was a significant slope. In order to cons- truct houses, a good amount of earth needed to be moved in order to create flat landings, whi- ch required an expensive type of work. The retai- ning wall’s square foo- tage was so large that it greatly impacted the pro- ject’s budget. The techni- cal strategy was to not build the retaining wall: with terraced houses, the walls would intersect and, every 1.80 meters, we supported the house above, creating crawl spaces, so we realized that we would not need the retaining walls. This did not negatively impact the budget, and we were able to make the homes the way we wanted.

STUDIO-X What were the project’s major limitations?

FM The first limit is fun- ding. To date, we have still not obtained ideal re- sources to foster the ide- al working conditions for implementing a housing project. The funds are still too scarce to have interesting urbanization, interesting equipment and satisfactory housing units. In our contract with the Federal Savings and Loan Bank, we had to fight for additional resources to implement the project in a way that would be ideal and in a way that the families ac- tually want. Another limit is legis- lation, which does not create difficulties, but just establishes design parameters. There are limitations due to appro- val from the City and then the financial agent: charge of the urban infrastructure and the tions during the week. It was an interesting The larger space is at the end of the main road, for example, the city required changes to the school. transformation, because the process became at the lowest point of the thalweg. It was a cri- windows for the houses with low sills, and The houses were managed by the families. entirely operated by the families. tical point on the plot, because it is susceptible when the Federal Savings and Loan Bank arri- Initially, we held a training course for these to erosion. Thus, a retaining wall was built on STUDIO-X How were the families ved, it asked that the window design be chan- families, with technical assistance provided this slope, the shape of which gave rise to a ged again. At one point in the design process, by Usina. Through these training courses, we distributed in the housing units? large grandstand, with a square in the center: we have thought about building houses using established committees for work, purchasing, FM Five different types were created for this the meeting space for all families, parties and compressed earth blocks. Instead of removing squatal safety and finance, where the person- project. The idea was that, in the end, there demonstrations. soil and disposing of it, we could create a small nel would handle the monthly measurement would be a lottery to decide the units for each factory on the property itself, to produce ear- tables of the Federal Savings and Loan Bank. of the 128 families. th blocks - they would be used to build houses There were two types of work fronts: during STUDIO-X Did the design include and could be legacy for generating income. the week, there was the workforce with expe- The budget was good, but, upon consulting rience in construction, and that was employed common use spaces? the Federal Savings and Loan Bank, it was by a construction company, which was con- FM The design included common spaces for rejected because, at the time, there was no tracted by the families; and, on the weekends, meetings and generating income. Some were technical standard for building with this type there was the task force in which the families implemented and others are awaiting resour- of material. We had to return to the structural worked, many of whom had no construction ces to be built. ceramic blocks. site experience, which meant that there was Since the movement is politically organized STUDIO-X What type of labor was used? also a training course so that they could learn into work performed by family nuclei, the de- Did the residents participate in the to hire labor, perform earthworks, install har- sign attempts to spatially translate this nucle- construction? dware for slabs and concreting, lay structural ation. It is organized into small squares, with blocks, prepare hydraulic kits and electrical surrounding groups of houses. The 1.70 meter FM There were two types of work there: the conduits. stairways are for communication, this upward infrastructure was performed by the city, and Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001 Law nº 10257, of july 10th, 2001 art. 2º: A política urbana tem por objetivo ordenar art. 2. Urban policy aims to direct full development o pleno desenvolvimento das funções sociais da of the social functions of the city and urban cidade e da propriedade urbana, mediante as property, according to the following general seguintes diretrizes gerais: guidelines: I – garantia do direito a cidades sustentáveis, I – the guaranteed right to a sustainable city, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, understood as the right to urban land, housing, ao saneamento ambiental, à infra-estrutura environmental sanitation, urban infrastructure, urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao transportation, public services, work and leisure, trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras for current and future generations; gerações; II – democratic II – gestão management democrática through por meio da participation by participação the population da população e and associations de associações representing representativas dos various segments vários segmentos ESTATUTO of the community, da comunidade in the formation, na formulação, implementation execução e and monitoring of acompanhamento DA CIDADE plans, programs de planos, and projects programas e CITY STATUTE for urban projetos de development; desenvolvimento III – cooperation urbano; between III – cooperação entre os governos, a iniciativa governments, the private sector and the other privada e os demais setores da sociedade no sectors of society in the urbanization process, in processo de urbanização, em atendimento ao compliance with social interest; interesse social; (…) (…) Art. 39. Urban property fulfills its social function Art. 39: A propriedade urbana cumpre sua when it meets the fundamental requirements for city função social quando atende às exigências planning, established in the master plan, ensuring fundamentais de ordenação da cidade expressas fulfillment of the citizens’ needs with regard to no plano diretor, assegurando o atendimento das quality of life, social justice and the development of necessidades dos cidadãos quanto à qualidade economic activities, pursuant to the guidelines set de vida, à justiça social e ao desenvolvimento das forth in Art. 2 of this Law. atividades econômicas, respeitadas as diretrizes previstas no art. 2º desta Lei. CURADORIA / CURATORSHIP PEDRO RIVERA CURADORIA ADJUNTA / ADJUNCT CURATORSHIP FRANCESCO PERROTTA-BOSCH

PROJETO GRÁFICO / GRAPHIC DESIGN FABIO ARRUDA & RODRIGO BLEQUE (CUBÍCULO) PRODUÇÃO / PRODUCTION GABRIELA WERNECK COORDENAÇÃO / COORDINATION 2017 SÃO PAULO LUIS FELIPE ABBUD COORDENAÇÃO / COORDINATION 2016 RIO DE JANEIRO PRISCILA COLI PESQUISADORA / RESEARCHER AXELLE DECHELETTE TRANSCRIÇÃO / TRANSCRIPTION CLARA VARANDAS ABUSSAMRA TRADUÇÃO/ TRANSLATION MATTHEW RINALDI, THAYS MIELLI, MARILIA REBELLO, AXELLE DECHELETTE DESENHOS / DRAWINGS LUIS FELIPE ABBUD, JAWAD WALID MAJID, MARCOS PAVÃO, MARIE SCHULZE, OLÍVIA VIGNERON

AGRADECIMENTOS / ACKNOWLEDGEMENTS 11ª BIENAL DE ARQUITETURA DE SÃO PAULO, ARQUITETOS SEM FRONTEIRA, AURORA FILMES, BRIGADAS POPULARES, CHIQ DA SILVA, CMP, COAU, COLUMBIA GLOBAL CENTER RIO DE JANEIRO, ESCOLA DA CIDADE, ESCRITÓRIO DE INTEGRAÇÃO DA PUCMG, FAU UFRJ, FIST, FLM, MNLM-RJ, MST, MSTC, MTST, NAPP, NUMENA, PROARQUITETURA, SUPER UBER, USINA. AMALE ANDRAOS, ADRIANA CARDOSO DE ASSIS, ADRIANA SILVA DOS SANTOS, AFONSO SILVA, ALEJANDRO DE CASTRO MAZARRO, ALEXANDRE DA SILVA SANTOS, ANDRÉ DE PAULA, ANDRÉ MONTENEGRO, BRUNO CAIO, CAROLINA REZENDE, CARLA CAFFÉ, CARLOS DE AQUINO, CARMEN FERREIRA DA SILVA, CAUÃ LOPES VELOSO, CLARA IRAZÁBAL, DANIEL WAGNER, DIÓGENES MUNIZ, EDUARDO SOUZA, ELIANE CAFFÉ, ELISETE NAPOLEÃO, EVA MARIA SILVA, FERNANDO MINTO, FLAVIO HIGUCHI, FLORA MILANEZ, GUILHERME BOULOS, GUILHERME SIMÕES, ISADORA GUERREIRO, JAILSON SAIDI DOS SANTOS, JEANE RODRIGUES DA SILVA, JEFFREY JOHNSON, JOÃO BARBOSA, JOSUÉ AUGUSTO DO AMARAL ROCHA, JULIO CESAR SOUZA, JUNIA MORTIMER, KAYA LAZARINI, LAURA PAPPALARDO, LEONARDO FINOTTI, LIANA VITAL BRAZIL, LUCAS FAULHABER, MANUELLA LEBOREIRO, MARCOS ROSA, MARIA APARECIDA, MARIA DAS LURDES LOPES, MAURÍCIO DUARTE, NELSON DA CRUZ SOUZA, NILSON PEREIRA DE ANDRADE, NÚBIA FRANÇA, PABLO GEORGIEFF, PEDRO ARANTES, PIETRO DEGLI ESPOSTI, PRISCILA MUSA, REGINE CESÁREA (“TIA PRETINHA”), RUI PIRES, SIDNEY MARCELO, THAIS MEIRELES, TIAGO CASTELO BRANCO LOURENÇO, TICIANNE RIBEIRO, TONI VENTURI, VITOR GUIMARÃES, WASHINGTON FAJARDO.

Este material foi reeditado e ampliado no contexto da 11ª Bienal de Arquitetura de São Paulo. This material was reissued and extended in the context of the 11th Architecture Bienal of São Paulo. HOUSING ALTERNATIVES OF THE SOCIAL MOVEMENTS FIGHT SQUAT RESIST